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Recife
2016
SIMONE ROSA DA SILVA
Recife
2016
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Universidade de Pernambuco – Recife
CDD: 628.1
Aos meus filhos, pelas horas roubadas do convívio familiar,
Vinícius e Gabriel.
À equipe do AquaPOLI,
pela dedicação e empenho na pesquisa.
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor Vanildo Souza de Oliveira, meu marido, pelo apoio incondicional ao
desenvolvimento deste trabalho. Aos meus filhos, Vinícius e Gabriel, pela compreensão do
tempo dedicado à realização desta pesquisa. Aos meus pais, pelo permanente incentivo no
meu avanço profissional.
Aos docentes da Escola Politécnica da UPE, especialmente aos colegas do PEC, do Mestrado
Acadêmico em Engenharia Civil e do curso de Engenharia Civil da POLI/UPE pelas
discussões e troca de experiências. Um agradecimento especial à Professora Doutora Kalinny
Patrícia Vaz Lafayette, pelo apoio e consideração na realização da pesquisa e ao Professor
Doutor Willames de Albuquerque Soares, pelo suporte na metodologia de análise estatística
do trabalho, por compartilhar ideias e experiências e pela sua disponibilidade em colaborar.
ABSTRACT
The growing concern with water scarcity, especially in urban areas, has prompted studies to
improve water efficiency in buildings. Schools' buildings have particular characteristics and
the pattern of water consumption can vary depending on the type of school and regional
characteristics. This research aimed to set a water consumption indicator (CI) to the public
schools of Recife-PE, representing the local reality. The water consumption in buildings is
typically estimated by a CI, defined as the ratio between the volume of water consumed in a
given period of time and the amount of consumer agents. The methodology consisted of
surveying historical water consumption data and the population of all state public schools at
Recife, cadastral survey of buildings, calculation of consumption indicators for the period
2012-2014 and the calculation of benchmarks. This study found the CI reference values for
public schools at Recife, according to the typologies of school buildings and water service
rate in the neighborhoods. The results pointed out to a reference water consumption indicator,
for the set of all school types at Recife, of 13,0 ± 2,0 L/student/day, with 95% confidence.
The analysis of schools, classified into four different types, conducted the following reference
ranges: 10,5 ± 1,5 L/student/day for regular schools, 14,0 ± 4,0 L/student/day for EREM
semi-integral type, 22,0 ± 7,0 L/student/day for EREM integral type, and 20,5 ± 8,5
L/student/day for technical schools. It was also performed a second analysis considering the
criterion of water services provided by the local water concessionaire, and reference ranges
varied between 15,5 ± 2,5 L/student/day for schools that are daily supplied, and 9,5 ± 2,5
L/student/day in schools that are supplied in less than 50% of the time. Comparison between
the results found for the regular schools group and results from other studies found in the
literature indicates that the outcomes obtained in this study corroborate the national and
international authors. The results from this study serve as reference for the development of
water conservation programs for or public schools in the region and others capitals of the
Northeast.
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................. 10
1.1 Relevância da Pesquisa ................................................................................................................................ 12
1.2 Objetivos ..................................................................................................................................................... 14
1.2.1 Objetivo geral ....................................................................................................................................... 14
1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................................................................ 14
2. REFERENCIAL TÉORICO .............................................................................................................................. 15
2.1 Conservação de Água em Edificações ......................................................................................................... 15
2.1.1 Ações de conservação de água no Brasil .............................................................................................. 16
2.1.3 Ações do AQUAPOLI .......................................................................................................................... 18
2.2 Estudos de Conservação de Água em Edificações Escolares ...................................................................... 19
2.3 Indicador de Consumo de água (IC) ............................................................................................................ 20
2.3.1 Parâmetros internacionais ..................................................................................................................... 22
2.3.2 Parâmetros Nacionais ........................................................................................................................... 25
3. METODOLOGIA ............................................................................................................................................. 28
3.1 Levantamento dos dados históricos ............................................................................................................. 28
3.2 Cálculo das estatísticas de consumo de água potável .................................................................................. 30
3.3 Cálculo do indicador de consumo de água .................................................................................................. 31
3.4 Cálculo dos indicadores de referência ......................................................................................................... 32
3.5 Levantamento dos Dados Cadastrais ........................................................................................................... 33
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................................................... 35
4.1 Indicadores por tipologia escolar ................................................................................................................. 35
4.2 Indicadores por índice de atendimento de água ........................................................................................... 46
4.3 Análise comparativa com estudos anteriores ............................................................................................... 52
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ......................................................................................................... 54
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................... 57
APÊNDICE A ....................................................................................................................................................... 63
8
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 4.1 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) de todas as escolas de Recife dos anos de 2012-2014. ..... 38
Gráfico 4.2 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das escolas regulares de Recife dos anos de 2012-2014. . 39
Gráfico 4.3 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das escolas EREM Semi-Integral de Recife dos anos de
2012-2014.............................................................................................................................................................. 41
Gráfico 4.4 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das escolas EREM Integral de Recife dos anos de 2012-
2014. ...................................................................................................................................................................... 42
Gráfico 4.5 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das Escolas Técnicas de Recife dos anos de 2012-2014. . 44
Gráfico 4.6 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) de referência das escolas de Recife, por tipologia, nos anos
de 2012-2014. ........................................................................................................................................................ 45
Gráfico 4.7 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das escolas Grupo I do Recife dos anos de 2012-2014. ... 48
Gráfico 4.8 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das escolas Grupo II do Recife dos anos de 2012-2014. .. 49
Gráfico 4.9 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das escolas Grupo III do Recife dos anos de 2012-2014. . 50
Gráfico 4.10 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) de referência das escolas de Recife, por calendário de
abastecimento, nos anos de 2012-2014. ................................................................................................................ 51
Gráfico 4.11 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das escolas Grupo II do Recife dos anos de 2012-2014. 53
9
LISTA DE TABELAS
LISTA DE SIGLAS
1. INTRODUÇÃO
A demanda total de água doce no mundo é de cerca de 11% da vazão média dos rios, dos
quais 70% são utilizados pelas atividades agrícolas, 20% pelas industrias e 10% são referentes
à demanda do consumo doméstico e uso consuntivo municipal (REBOUÇAS, 2001). No
entanto, Richter et al. (2013) defendem que o fato da agricultura representar uma proporção
tão grande do consumo de água não absolve os centros urbanos da responsabilidade pela
escassez desse recurso, pois as cidades são diretamente dependentes da agricultura para seu
sustento.
A UNESCO (2016) estima que desde 1980, a captação de água doce tem aumentado cerca de
1% ao ano mundialmente, principalmente devido à crescente demanda dos países em
desenvolvimento. O uso da água nas cidades tem aumentado em consequência da rápida
urbanização, do aumento da industrialização, e da melhoria no padrão de vida em geral,
enquanto que mudanças climáticas, poluição e má governança afetam a disponibilidade de
água potável, causando um desequilíbrio entre oferta e demanda de água. Segundo Gonçalves
et al. (2005), essa realidade tem provocado a adoção de medidas que objetivam disciplinar o
uso da água nas cidades, como programas de conservação e uso racional da água em
edificações.
Pernambuco é o estado brasileiro com a menor disponibilidade hídrica per capita, com parte
de seu território na região do semiárido, sofre com eventos de seca no interior e de
racionamento na Região Metropolitana de Recife (RMR). A região Nordeste do Brasil desde
12
2012 enfrenta a pior seca dos últimos 30 anos, conforme têm sido amplamente divulgado pela
mídia, repercutindo em eventos críticos de seca em vários municípios.
Com relação às tipologias não residenciais, de acordo com Nunes (2000), um aspecto
importante a ser considerado é que os usuários, por não serem responsáveis diretamente pelo
pagamento da água consumida, muitas vezes não se encontram motivados para a sua
conservação.
Melo et al. (2014) destacam que em unidades escolares públicas é frequente o uso inadequado
da água e também perdas pelas condições de conservação dos sistemas hidrossanitários.
Gonçalves et al. (2005) acrescentam que o índice de patologias dos sistemas prediais de água
é significativo em edificações escolares. Essa realidade é decorrente de várias causas, entre
elas a falta de sensibilização dos usuários com relação à conservação do meio ambiente e a
inexistência ou ineficiência de um sistema de manutenção. Estes fatos ressaltam a importância
de se estudar essa tipologia de edificação e desenvolver programas de conservação de água
específicos para esse público.
Para cumprir o seu papel, a SAD mapeou os maiores consumidores de água potável entre os
prédios públicos do governo estadual, estando a SEE incluída nesse grupo, especialmente
devido ao consumo dos prédios escolares sob sua coordenação. Portanto, evidencia-se aí a
necessidade de conhecer o padrão de consumo de água das escolas para buscar soluções
eficientes de gestão de consumo de água para as mesmas.
14
Neste contexto, o presente estudo visa diagnosticar o consumo de água nas escolas públicas
estaduais do Recife através do cálculo do Indicador de Consumo de referência para essa
tipologia predial. Esta é a primeira etapa para o desenvolvimento de um futuro programa de
conservação de água para as escolas públicas estaduais do município, com possibilidade de
ser replicado em outras regiões do Estado.
1.2 Objetivos
2. REFERENCIAL TÉORICO
Para a redução do consumo, Oliveira (1999) destaca três possibilidades de ação: econômicas,
sociais e tecnológicas. As ações econômicas compreendem incentivos e desincentivos
econômicos, como o aumento de tarifas ou subsídios para aquisição de equipamentos
economizadores. As ações sociais caracterizam campanhas educativas para conscientização
dos usuários. As ações tecnológicas, consideradas de maior impacto, constituem em
implantação de sistemas de medição setorizada do consumo de água, substituição de
equipamentos, e detecção e correção de vazamentos.
Kiperstok et al. (2009) apontam três níveis sistêmicos em que o gerenciamento da utilização
sustentável dos recursos hídricos pode ser realizado:
Macro - está relacionado aos sistemas hidrográficos;
Meso – é associado aos sistemas públicos urbanos de abastecimento de água e de
coleta de esgoto sanitário;
Micro - está ligado às ações que se concentram nos sistemas prediais. Algumas
medidas passivas de gestão da demanda, como as ações educativas voltadas ao usuário
de água e a adoção de tarifas para inibir o consumo, são contempladas neste nível.
A ANA; FIESP; SINDUSCON (2005) consideram conservação de água como qualquer ação
objetivando a redução do volume de água extraído de mananciais, do consumo deste insumo
propriamente dito e do seu desperdício, além de ações que aumentem a eficiência dos
sistemas hidrossanitários e que promovam o reuso de água. O conceito da conservação de
água é a evolução do conceito do uso racional de água, passando a considerar não somente a
gestão da demanda, mas também da oferta de água, incentivando o uso de águas de qualidade
inferior para suprir usos menos nobres.
16
Alguns estados investiram ações em programas específicos para edificações públicas, entre
eles destacam-se: Minas Gerais e Bahia. Em Minas Gerais foi criado o Programa Estadual de
Gestão de Água e Esgoto em Prédios Públicos (PEGAE) pelo Governo do Estado, que tem
como objetivo gerenciar os gastos e o consumo de água potável nestes prédios (BRASIL,
2008).
Neste projeto foram realizadas visitas em oito escolas públicas estaduais do Recife,
ministrando palestras para turmas de ensino fundamental e médio, com os seguintes
conteúdos: propriedades físicas, químicas e biológicas da água, conceitos de saneamento,
disponibilidade hídrica no Brasil e no mundo, informações para reduzir o consumo de água
potável dentro e fora da escola. Algumas escolas também receberam material de divulgação
para serem fixados nos principais pontos de consumo de água da escola, visando incentivar os
19
alunos a utilizarem a água de forma racional. Também havia programação extra-classe, como
visitas guiadas ao museu à céu aberto, o Espaço Ciência.
Desde então, o AquaPOLI vem trabalhando com a temática em diversos prédios públicos do
estado de Pernambuco, podendo destacar os trabalhos de Moura (2015), Silva (2015), Silva
(2016) e Figueiredo (2016) que apresentaram estudos em edificações administrativas. Nunes
(2015) e Soares (2016) estudaram escolas-piloto da rede estadual localizadas na cidade do
Recife.
Oliveira e Gonçalves (1999) e Nunes (2000) relatam em seus trabalhos estudos de caso em
prédios de tipologia escolar em São Paulo, onde foram realizados conserto de vazamentos e
instalação de tecnologias economizadoras, resultando numa redução de consumo de água de
até 94%.
Campello e Engelberg (1993 apud Araújo et al., 2004) observaram, em uma amostra de 13
escolas da RMR, em Pernambuco, que a falta de manutenção e outros danos diversos
contribuem mais para a degradação dos edifícios escolares que os danos por vandalismo, já
que estes são pequenos e implicam em menores custos de reparação. Assim, a aparência de
abandono e a má manutenção das escolas, de certo modo, incentivam a ocorrência de
vandalismo, pois gera uma falta de apego entre o espaço físico e o usuário.
20
Araújo et al. (2004) realizaram uma avaliação dos sistemas prediais hidráulicos e sanitários
durante a operação em unidades escolares da rede municipal de Campinas (SP), apresentando
uma avaliação dos índices de vazamentos, de perdas por vazamentos e de patologias, tanto no
estado de conservação do aparelho/equipamento sanitário em questão, como na condição de
operação. Este estudo concluiu que a falta de uma política de manutenção nas escolas
visitadas vem deteriorando os sistemas prediais hidráulicos e sanitários, devendo ser criado
um plano de manutenção corretiva e preventiva, onde haja envolvimento de equipes volantes
e incentivo à participação da comunidade local. O índice de patologias na condição de
operação variou de 25% a 38%.
Ywashima (2005) desenvolveu uma metodologia para aferir o índice de percepção dos
usuários para o uso racional da água (IU) e aplicou em escolas da cidade de Campinas (SP).
Através da aplicação de questionários, entrevistas e formulários de observação sobre as
atitudes dos usuários ao empregar este recurso, as mesmas são quantificadas e utilizadas para
determinar o nível de compreensão dos mesmos quanto à preservação dos recursos hídricos.
Esta metodologia foi replicada por Oliveira (2013) no Triângulo Mineiro (MG), Nunes (2015)
e Soares (2016), ambos na cidade do Recife (PE). Todos os autores concluíram que ações
educativas deveriam ser fortalecidas nas escolas, pois em geral todas as atividades
consumidoras de água estavam sendo realizadas de maneiras desperdiçadoras.
Roccaro et al. (2011) investigaram na Sicília (Itália) prédios de diversas tipologias, dentre os
quais duas escolas. Em ambas, foram realizadas correções de vazamentos, substituição dos
equipamentos hidrossanitários para aparelhos com tecnologias economizadoras, além de
realização de campanhas educativas, resultando numa redução, em média, de 50% do
consumo de água das escolas.
Gonçalves et al. (2005) destacam a importância do IC como valor de referência a ser utilizado
para estimativas iniciais, na avaliação da sustentabilidade de edifícios a construir e na tomada
de decisão quanto à implementação de programas de uso racional da água em edificações
existentes. Farina et al. (2011) também pontuam a importância do IC como referência para
projetos de instalações hidráulicas, principalmente em escolas, onde não se tem muitos dados
disponíveis.
Na literatura há registro de valores de IC para projeto, que são indicadores adotados para
elaboração de projetos de instalações prediais de água fria, a fim de garantir o bom
funcionamento dos equipamentos hidrossanitários, e podem ser encontrados em livros
didáticos ou normas governamentais. Porém, o real consumo de água de uma edificação deve
ser medido e o IC real pode ser calculado relacionando o volume consumido de água num
determinado período pelo número de agentes consumidores. Dessa forma, pode ser obtido o
valor que representa o consumo real de uma edificação, refletindo suas características
particulares bem como os padrões de consumo de sua população.
climáticos, entre outros. Assim, essas diferenças devem ser consideradas quando do
uso de um indicador de consumo levantado para uma dada edificação num
determinado local.” (ANA; FIESP; SINDUSCON 2005, p. 28.)
Destaca-se que as referências elencadas por Tomaz (2000) são registros históricos
importantes, mas podem não representar adequadamente a realidade atual, pois a maioria dos
estudos citados remonta algumas décadas, quando a conservação de água ainda não era tão
amplamente disseminada quanto atualmente.
para beber e realizar a higiene pessoal, e para preparação de alimentos, limpeza e lavanderia
quando aplicável.
Segundo UNICEF (2012), a quantidade mínima de água necessária para atividades básicas
(beber e higiene pessoal), em escolas de apenas um período, é de 5 L/pessoa/dia. Em escolas
integrais, o mínimo exigido é 20 L/pessoa/dia. Além da demanda básica, deve ser considerado
uma demanda para descargas nos banheiros. Esse valor é de 10 a 20 L/pessoa/dia quando a
escola usa sistemas de descarga convencional. Para escolas integrais, deve-se considerar o
dobro (20 a 40 L/pessoa/dia). Sendo assim, infere-se que o indicador de consumo indicado
pela UNICEF (2012) para atendimento da demanda básica e de banheiros é de 15 a 25
L/pessoa/dia em escolas convencionais e de 30 a 60 L/pessoa/dia em escolas integrais.
O United Kingdom Department for Education and Skills (2002) sugere indicadores de
desempenho para acompanhar o consumo de água em escolas. Para escolas primárias,
considera-se com bom desempenho a escola que consome até 2,86 m³/aluno/ano (cerca de 11
L/aluno/dia considerando 22 dias úteis por mês), e com desempenho fraco a escola que
consome mais de 4,73 m³/aluno/ano (aproximadamente 18 L/aluno/dia, considerando 22 dias
úteis por mês). Em escolas de ensino médio, o indicador de consumo considerado bom é de
até 3,65 m³/aluno/ano (14 L/aluno/dia). Acima de 5,44 m³/aluno/ano (21 L/aluno/dia)
considera-se o indicador de consumo como sendo ruim.
Farina et al. (2011) monitoraram 600 edifícios escolares públicos durante um período de 5
anos (2005 e 2010), na cidade de Bolonha na Itália, buscando estabelecer uma taxa diária de
consumo de água para essa tipologia predial. A investigação integrou dados quantitativos de
consumo de água por meio de medição setorizada e dados históricos sobre os usuários dos
edifícios. Três tipos de escolas foram analisados: berçários (crianças de 0-3 anos de idade),
jardins de infância (3-6 anos) e ensino fundamental (6-11 anos).
24
Cheng e Hong (2004) estudaram o consumo de água em escolas primárias de Taiwan visando
estabelecer um IC como parâmetro de referência para promover a conservação da água nas
escolas. Os autores calcularam a demanda básica (para beber e promover a higiene pessoal) de
água por aluno por dia e também uma segunda demanda, a demanda mutável (rega de jardim,
lavagem de salas de aula, preparação de alimentos e recreação). A pesquisa estimou que a
demanda básica da água é de 17 L/aluno/dia, e a mutável é de 13 L/aluno/ dia em média.
Sendo assim, o consumo médio estimado para escolas foi de 30 L/aluno/dia.
No entanto, os autores defendem que o consumo pode variar muito entre escolas e enfatizam a
importância do cálculo das demandas, principalmente a mutável, pelo método empírico para
estabelecimento de critério de referência, que deve ser comparado com o consumo real e
utilizado para regular o consumo e promover a conservação de água.
O estado de São Paulo adotou como referência o IC de água em escolas públicas estaduais de
1º e 2º graus de 25 L/aluno/dia, de acordo com O “Manual de gerenciamento para
controladores de consumo de água” disponível no site da SABESP.
26
Nunes (2015) e Soares (2016) estudaram duas escolas públicas estaduais na cidade de Recife
(PE) durante o ano de 2014, uma de médio porte e outra de pequeno porte, e encontraram um
IC médio de 3,9 e 4,9 L/aluno/dia, respectivamente. Os valores obtidos nesses estudos são
baixos quando considerado que nenhuma das escolas dispunha de equipamentos
hidrossanitários economizadores ou desenvolviam programas de conservação de água.
A Tabela 2.3 apresenta um resumo com os indicadores de consumo de água para escolas no
Brasil, elaborada a partir dos dados obtidos na literatura.
27
3. METODOLOGIA
As escolas regulares são aquelas em que o corpo discente estuda apenas em um turno,
atendendo alunos do ensino fundamental e/ou médio. Além disso, a escola regular pode
atender à Educação de Jovens e Adultos (EJA), nesse caso funcionando em três turnos.
As escolas do tipo EREM Integral possuem apenas alunos do ensino médio que permanecem
em dois turnos na escola todos os dias da semana. A maioria destas escolas sofreu reformas
recentes, tendo em vista que todas elas devem ter laboratórios, cozinha e uma infraestrutura
adequada para recepcionar os alunos diariamente, sendo mais bem estruturadas que as demais
tipologias escolares.
29
As escolas o tipo EREM Semi-integral são escolas que, teoricamente, deveriam ter apenas
alunos do ensino médio. Contudo, na prática, elas estão em transição entre escolas regulares e
EREM Integral. Portanto, esta tipologia atende alunos do ensino médio e do fundamental,
sendo que o primeiro grupo fica três dias da semana nos dois turnos (manhã e tarde), enquanto
o segundo grupo tem aulas em apenas um turno. O horário de funcionamento pode ser de até
três turnos e sua infraestrutura também se assemelha às escolas do grupo EREM Integral.
Por fim, as Escolas Técnicas são aquelas que oferecem cursos de capacitação profissional,
como cursos do nível médio em administração, edificações, sistema de redes, entre outros.
Sua estrutura contempla laboratórios e outras dependências atendendo às especificidades de
cada curso. Os alunos podem estudar em um ou dois turnos. Quanto ao funcionamento, cada
prédio tem horários bem distintos, funcionando entre dois e três turnos por dia.
Foi necessária uma análise prévia da consistência dos dados disponibilizados pela SEE-PE,
pois observou-se que entre os prédios escolares existiam prédios administrativos de
responsabilidade da SEE-PE, além de outros prédios sem informações relativas à população
e/ou consumo de água do prédio, conforme Tabela 3.1. Após a triagem preliminar restaram
137 edifícios que correspondem de fato à tipologia escolar. Quatro prédios não possuíam
informações sobre o tipo de escola, mas possuíam histórico de consumo e população e foram
incluídos no grupo de escolas regulares para a análise geral. Contudo, estas escolas não
fizeram parte do estudo detalhado das escolas deste grupo. Portanto, ao final da triagem, 141
prédios possuíam dados de consumo de água e o seu respectivo quantitativo de alunos.
Registra-se que neste estudo o consumo de água potável dos prédios escolares foi considerado
de acordo com os valores obtidos da concessionária. Caso haja alguma fonte de abastecimento
alternativa como águas subterrâneas (poço) ou carros-pipa, essa disponibilidade adicional não
foi considerada. Entretanto, o atendimento por carros-pipa, caso exista, não é comum na
cidade de Recife, devido aos altos custos associados. Quanto ao abastecimento através de
poços, geralmente não há monitoramento dos valores captados, tornando inviável obter dados
relativos ao consumo de água dos poços. Importante destacar que no cadastro de 60 escolas
públicas do município do Recife realizado pela equipe do AquaPOLI em 2016, apenas 2
escolas possuíam poços, embora as escolas cadastradas não tenham sido selecionadas
previamente considerando critérios de índice de abastecimento de água. O critério de seleção
das escolas foi a distribuição geográfica no município e a localização em bairro acessível para
que garantir a segurança dos cadastradores.
Para cada ano analisado (2012, 2013 e 2014) foram calculadas as médias anuais de consumo
de água mensal de cada escola. Neste estudo uma amostra é considerada como o período de
um ano letivo para uma determinada escola. Portanto, cada escola analisada pode representar
até três amostras.
31
(1)
Onde:
Cm é o consumo médio anual em m3/mês,
NA é o número de agentes consumidores,
Dm é a quantidade de dias úteis por mês.
Para o número de agentes consumidores (NA) foi adotado o quantitativo de alunos e analisado
o período em que esses alunos permanecem na escola. Os dados relativos à população escolar
obtidos da SEE-PE já computavam a taxa de evasão e apenas consideravam como aluno
matriculado o aluno que frequentou a escola durante todo o ano letivo. O índice de faltas dos
alunos à escola não foi avaliado devido à falta de disponibilidade de informações relativas à
frequência dos alunos. Os professores e demais funcionários não foram considerados, pois
como o IC é uma referência de consumo em função de um agente específico, comumente em
escolas a referência utilizada é o número de alunos. O cálculo do IC considerando os
professores e funcionários não permitiria a comparação dos resultados obtidos com estudos
anteriores. Para a quantidade de dias úteis foi adotado o número padrão de 22 dias úteis.
Portanto, a quantidade de alunos do ensino médio dos EREM integral é multiplicado pelo
fator 2, enquanto os do EREM Semi-integral, pelo fator 1,6. O fator aplicado aos EREM
Semi-Integral (1,6) foi obtido considerando que os alunos permanecem, em média, 8 turnos
por semana na escola, ou seja, 3 turnos além dos 5 turnos normais para as escolas regulares.
Os alunos da tipologia técnica devem ser analisados caso a caso, enquanto os da tipologia
regular não possuem fator de ajuste.
32
Para cada escola foram obtidos até três indicadores de consumo, correspondentes aos anos
estudados (2012, 2013 e 2014). Essa metodologia foi adotada, visto que algumas
características do prédio escolar podem variar a cada ano, tais como: número de alunos e
funcionários, presença de patologias hidrossanitárias, alteração na postura administrativa da
escola, entre outros fatores diversos.
Por exemplo, uma escola que tiver os dados de consumo de 2012, 2013 e 2014, terá três
indicadores, sendo considerados os três valores na análise estatística. Destaca-se que algumas
escolas não possuíam dados de consumo de água históricos devido a diversos fatores
(ausência do hidrômetro, impossibilidade de leitura do mesmo, entre outros), portanto não foi
possível calcular os três indicadores para todas as escolas.
Os dados obtidos foram plotados em um gráfico que relaciona o código da escola (que varia
de 01 a 180) e o(s) respectivo(s) indicador(es) de consumo (L/aluno/dia), de acordo com a
metodologia de Oliveira (1999) adaptada por Nunes (2015). Assim obteve-se uma faixa de
referência geral com o conjunto de todas as amostras.
Além da análise geral do conjunto de dados de IC’s, mais dois tipos de análises foram
realizadas, considerando os seguintes critérios: tipologia da escola e índice de atendimento da
concessionária.
referências dos IC’s para cada uma dessas tipologias escolares, utilizando separadamente os
dados relativos as amostras de cada subgrupo.
A segunda análise, focada no índice de atendimento de água das escolas, buscou avaliar se o
baixo consumo de água de uma escola seria explicado pela restrição ao atendimento de água
no bairro. Para considerar este aspecto, as escolas foram subdivididas de acordo com o regime
de abastecimento de água, conforme informações da concessionária local (COMPESA, 2016),
e classificadas em três grupos, conforme descrito a seguir:
Grupo I: bairro sem restrição de abastecimento (atendimento em 100% do tempo);
Grupo II: bairro com restrição de abastecimento (atendimento em média de 50% do
tempo);
Grupo III: bairro com severa restrição de abastecimento (atendimento inferior a 50%
do tempo).
Os dados das amostras foram reorganizados segundo os critérios dos grupos, e foram
determinadas as faixas de referências dos IC’s para os Grupos I, II e III, utilizando
separadamente os dados relativos às amostras de cada subgrupo.
Os dados obtidos através do levantamento cadastral das escolas indicam o número e tipos de
equipamentos dos pontos de consumo de água, avaliação das instalações hidrossanitárias,
fontes de abastecimento, reservação de água e hábitos de consumo. O formulário de cadastro
das escolas foi adaptado a partir de Nunes (2015) e encontra-se no Apêndice A.
34
Porém, como os dados coletados não correspondem ao período dos dados estudados (2012-
2014), para este trabalho foi levado em consideração apenas as informações quanto ao
funcionamento dos prédios.
35
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Das 355 amostras, 221 delas encontram-se com o IC abaixo do limite inferior da faixa de
referência calculada. Este fato pode ser justificado por diversos problemas, tais como: maus
hábitos de higiene por parte do corpo discente; a ineficiência do abastecimento de água em
alguns bairros da cidade; a precariedade ou a inexistência de equipamentos hidrossanitários
nas escolas; a dificuldade do acesso do corpo discente à água; ou a escola possui outra(s)
fonte(s) alternativa(s) de abastecimento de água além da concessionária, como captação de
águas subterrâneas, por exemplo.
características muito peculiares. A Escola 100 está alocada num prédio alugado, com todas as
instalações hidrossanitárias destinadas ao corpo discente em estado precário, o que minimiza a
oferta de água. Em contrapartida, dentro dos limites do terreno do prédio, há uma casa na qual
vive uma família que é abastecida pelo mesmo ramal de distribuição da escola, onde todo
consumo da residência é contabilizado como consumo da escola. Estas informações descritas
foram obtidas em campo, em 2014. Portanto, esta situação ilustra os 5% de erro esperado
nesta pesquisa.
Outras escolas, como a Escola 68, apresentaram em dois dos três anos, o indicador dentro da
faixa de referência. Esta unidade faz parte do subgrupo de escolas técnicas, que apresenta uma
rotina de um EREM, com os alunos estudando em horário integral. Outro diferencial é que a
instituição recebe apoio privado, que realiza manuntenção preventiva, corrigindo com eficácia
os vazamentos detectados.
Nunes (2015) estudou detalhadamente a Escola 28 no ano de 2014 e traçou hipotéses como
justificativa para o baixo consumo, dentre elas, o difícil acesso dos alunos aos banheiros, que
era condicionado mediante autorização do monitor que abriria duas grades de acesso. Além
do que, os alunos não podiam tomar banho na escola, mesmo parcela dos alunos estudando
em horário integral, pois se trata de um EREM Semi-Integral.
Soares (2016) apresenta resultados da Escola 33, também para o ano de 2014. Nesta
edificação ocorre que apenas os professores e funcionários tinham acesso a água da
concessionária local. As dependências hidrossanitárias de acesso do corpo discente eram
abastecidas através da captação de águas subterrâneas, o que acaba mascarando o consumo de
água da instituição. Outras escolas que apresentaram um consumo muito baixo podem estar
incluídas nesse grupo. Por serem abastecidas por fontes alternativas, não contempladas nesse
estudo, seus IC’s podem não corresponder a realidade.
Muitas escolas apresentam um consumo uniforme com pouca variação de um ano para outro,
como as supracitadas. Outras, como a Escola 06, apresentam grande variação entre seus
indicadores anuais, além de todos os consumos estarem acima da referência. Esta amostra, em
especial, está localizada em uma comunidade de baixa renda, o que pode significar baixa
consciência ambiental por partes dos alunos e funcionários, ou elevado índice de patologias.
37
Oliveira (2013) supõe que valores de IC para as escolas de ensino fundamental e médio
superiores a 10 L/(agente consumidor.dia) possam ser consequência de um desperdício
associado a diferentes fatores.
38
Gráfico 4.1 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) de todas as escolas de Recife dos anos de 2012-2014.
70 2013
2014
Indicador de Consumo (L/aluno/dia)
60
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Escola
Gráfico 4.2 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das escolas regulares de Recife dos anos de 2012-2014.
70 2013
2014
60
Indicador de Consumo (L/aluno/dia)
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Escolas
A análise do grupo das escolas regulares conduziu a uma faixa de referência para o IC de 10,5
± 1,5 L/aluno/dia. Do total, 141 amostras estão abaixo do limite inferior e 66 amostras acima
do limite superior, dos 245 valores de IC’s de escolas regulares analisadas.
Para esta tipologia nenhuma escola apresentou os três anos inseridos na faixa de referência. A
Escola 100, que no cenário anterior com o universo de todas as tipologias de escolas possuía
os valores de IC para todos os anos inseridos na faixa de referência, agora não apresenta
nenhum IC dentro da faixa.
Comparando com a faixa de referência obtida para o conjunto total das escolas, percebe-se
que os hábitos de consumo das escolas regulares corroboram para esse indicador inferior, pois
nas escolas regulares, em geral, não é ofertado almoço para seus alunos. Além que, o corpo
discente permanece apenas um turno na escola, não havendo utilização dos chuveiros.
Algumas escolas sequer possuem esse tipo de equipamento.
Outro ponto a se destacar, a partir do Gráfico 4.2, é à disposição dos pontos por escola. Na
maioria dos casos verifica-se que as escolas apresentam IC’s muito próximos em todos os
anos, indicando a realidade da escola.
O subgrupo das escolas do tipo EREM Semi-Integral e EREM Integral, conforme Gráfico 4.3
e Gráfico 4.4, mostrou um cenário muito próximo ao das escolas regulares. A faixa de
referência do IC das escolas do tipo EREM Semi-Integral foi de 14,0 ± 4,0 L/aluno/dia,
enquanto as do grupo EREM Integral foi de 22,0 ± 7,0 L/aluno/dia. No Gráfico 4.3, 11
indicadores de consumo encontram-se acima do limite superior e 18 abaixo do inferior, dos 39
dados amostrais. No Gráfico 4.4, o universo é composto por 47 amostras, sendo que 13 estão
acima do limite superior e 25 abaixo do limite inferior.
Em ambos os gráficos (4.3 e 4.4) os IC’s por escola mostraram que a maioria das escolas tem
um comportamento muito similar, apresentando pequena variação entre os anos. Outro
aspecto evidente é que os IC’s são maiores que a média geral, conforme já esperado, uma vez
que são escolas com alguns diferenciais, tendo em vista que elas são consideradas escolas-
modelo da cidade. Dentre as principais diferenças podemos elencar a presença de copas que
servem até 5 refeições diariamente, além da presença de laboratórios, o que influencia no
consumo de água da escola.
41
Gráfico 4.3 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das escolas EREM Semi-Integral de Recife dos anos de 2012-2014.
70 2013
2014
Indicador de Consumo (L/aluno/dia)
60
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Escolas
Gráfico 4.4 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das escolas EREM Integral de Recife dos anos de 2012-2014.
70 2013
2014
60
Indicador de Consumo (L/aluno/dia)
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Escolas
O Gráfico 4.5 apresenta os dados das Escolas Técnicas que possuem faixa de referência
correspondente a 20,5 ± 8,5 L/aluno/dia. Diferentemente dos gráficos apresentados para as
outras tipologias escolares, uma escola apresenta todos os IC’s na faixa do indicador de
referência.
A Tabela 4.1 resume os valores de IC’s obtidos para as distintas tipologias escolares para o
município do Recife e os respectivos quantitativos de dados utilizados na análise. O Gráfico
4.6 ilustra os resultados obtidos.
44
Gráfico 4.5 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das Escolas Técnicas de Recife dos anos de 2012-2014.
70 2013
2014
60
Indicador de cosnumo (L/aluno/dia)
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Escolas
Gráfico 4.6 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) de referência das escolas de Recife, por tipologia, nos anos
de 2012-2014.
35
Indicadores de Referência das escolas de
Recife, por tipologia
30
Indicador de Consumo (L/aluno/dia)
25
20
15
10
0
TODAS REGULARES EREM-SEMI EREM TECNICAS
Tipo de Escolas
A partir do Gráfico 4.6 verifica-se que todas as tipologias estão contempladas na faixa de
referência de IC de água para escolas do Recife. Podemos elencar também o fato das Escolas
Técnicas e EREM Integral possuírem a maior faixa de variação, pois são as escolas que
apresentam os hábitos de consumo mais distintos, analisando entre si. As escolas regulares,
por apresentarem comportamentos e rotinas mais semelhantes possuem a menor faixa de
variação de consumo. Após as visitas realizadas para cadastro das escolas, constatou-se que as
escolas regulares possuem as piores instalações hidrossanitárias dentre as demais tipologias
escolares.
46
O Grupo I, contendo 71 escolas que são abastecidas todos os dias, apresentou faixa de
referência de IC de 15,5 ± 2,5 L/aluno/dia. As 23 escolas com abastecimento em 50% do
tempo (Grupo II) apresentaram uma faixa de referência de IC de 14,0 ± 4,0 L/aluno/dia. Para
o Grupo III, das 47 escolas que são abastecidas em menos de 50% do tempo, a faixa de
referência foi de 9,5 ± 2,5 L/aluno/dia. Os gráficos 4.7, 4.8 e 4.9 ilustram os resultados
obtidos para esta análise, por índice de abastecimento.
Na análise dos três cenários, a maioria das escolas não se encontra na faixa de referência. No
Grupo I, das 169 amostras, 47 delas estão acima do limite superior e 97 estão abaixo do limite
inferior. Por sua vez, o Grupo II apresenta 14 indicadores acima do limite superior e 37
abaixo do limite inferior, de um universo de 59 amostras, enquanto o Grupo III possui 28
acima do limite superior e 67 do limite inferior, de 125 indicadores de consumo. Esse grande
número de indicadores fora do intervalo de confiança pode ser justificado pelo fato da
comparação incluir escolas de tipologias distintas com hábitos de consumos diferentes,
conforme já apresentado anteriormente.
Verifica-se que as escolas com maior disponibilidade de água apresentaram a maior média de
consumo, como esperado, enquanto as escolas com os menores índices de atendimento os
indicadores mais baixos. Registra-se que os dados referentes aos calendários de consumo
foram obtidos em 2016, podendo haver diferenças em anos anteriores.
No Gráfico 4.7 percebemos que três edificações apresentam todos os IC’s dentro da faixa de
referência, sendo elas: a Escola 48, Escola 68 e Escola 100, sendo respectivamente, EREM
Semi-Integral, Escola Técnica e escola regular. Dentre as três escolas, apenas as duas últimas
foram visitadas, e destas, a segunda apresentou uma das melhores instalações hidrossanitárias
do município, parte disso, devido à parceria público-privada existente na mesma.
47
Nos Grupos II e III, nenhuma escola apresentou todos os IC’s na faixa de referência. Vale
destacar que no Grupo III, apenas duas escolas apresentaram IC superior a 30 L/aluno/dia.
48
Gráfico 4.7 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das escolas Grupo I do Recife dos anos de 2012-2014.
70 2013
2014
Indicador de cosnumo (L/aluno/dia)
60
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Escolas
Gráfico 4.8 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das escolas Grupo II do Recife dos anos de 2012-2014.
70 2013
2014
Indicador de cosnumo (L/aluno/dia)
60
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Escolas
Gráfico 4.9 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das escolas Grupo III do Recife dos anos de 2012-2014.
2014
Indicador de cosnumo (L/aluno/dia)
60
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Escolas
A Tabela 4.2 resume os valores de IC’s obtidos para os distintos Grupos para o
município do Recife e os respectivos quantitativos de dados utilizados na análise. O
Gráfico 4.10 ilustra a variação dos IC’s de acordo com os Grupos I, II e III, e traz o
comparativo com o IC de referência para todas as escolas.
Gráfico 4.10 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) de referência das escolas de Recife, por calendário
de abastecimento, nos anos de 2012-2014.
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
TODAS GRUPO I GRUPO II GRUPO III
Escolas por Sub-Grupo
Gonçalves et al. (2005) monitorou sete escolas em Campinas (SP), sendo três do ensino
fundamental e quatro estaduais, como resultado encontrou um indicador de consumo
médio de 21,33 L/aluno/dia para escolas fundamentais e 10,68 L/aluno/dia para escolas
estaduais. Oliveira (2013) estudou escolas no Triângulo Mineiro (MG) e encontrou
indicadores de consumo que variavam entre 6,42 L/aluno/dia a 62,82 L/aluno/dia.
Farina et al. (2011) investigaram na Bolonha (Itália) 600 prédios escolares, creches e
ensino fundamental, encontraram para as escolas fundamentais um IC na faixa de 10 a
30 L/aluno/dia. Cheng e Hong (2004) estudaram cerca de 300 escolas em Taiwan e
obtiveram um IC médio de 30 L/aluno/dia.
Gráfico 4.11 – Indicadores de Consumo (L/aluno/dia) das escolas Grupo II do Recife dos anos de 2012-2014.
100
Indicadores de consumo (L/aluno/dia)
80
60
média
40
20
0
Todas as escolas, Regulares, Recife Faixa de Gonçalves et al. Gonçalves et al. Oliveira (2013), Farina et al. Cheng e Hong
Recife (2016) (2016) Referência, (2005), (2005), Triângulo Mineiro (2011), Itália (2004), Taiwan
Recife (2016) Campinas, Esc. Campinas, Esc.
Ensino Estaduais
Fundamental
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Esta pesquisa apresenta uma contribuição importante para avaliar a situação geral dos IC em
escolas públicas do município estudado, bem como servir de parâmetro para municípios
próximos ou com características físicas, culturais e sócio-econômicas semelhantes, tais como
as demais capitais da região Nordeste.
O critério utilizado para a análise das escolas (por tipologia) permitiu considerar alguns
fatores importantes no consumo de água, tais como: número de turnos de funcionamento da
escola, tempo de permanência dos alunos na escola e o preparo de refeições. Entretanto,
outros fatores relevantes, que não foram considerados nesse estudo, merecem ser
investigados, entre eles: os tipos de equipamentos hidrossanitários, a existência de
manutenção preventiva, a existência de reúso de água e o nível de percepção dos usuários
para o consumo da água.
A análise comparativa dos dados obtidos nesta pesquisa com estudos anteriores indicou que
os valores de referência encontrados são compatíveis com a maioria dos trabalhos publicados
na literatura. Porém, diversos fatores devem ser considerados, especialmente, a diversidade
das características das demais regiões estudadas por outros autores e a representatividade das
amostras estudadas.
Para uma análise mais detalhada, deve-se avaliar particularmente caso a caso. Tendo em vista
que, o estudo admite 5% de erro. Sendo assim, mesmo uma escola que apresente os
indicadores de consumo em todos os anos dentro da faixa de referência, pode estar
representando o erro estatístico. O mesmo é válido para os pontos fora da faixa de referência.
As escolas que apresentam consumo acima do limite da faixa de referência devem ser
investigadas, buscando identificar se há particularidades que justifiquem esses valores acima
da média. A identificação das patologias hidrossanitárias é um fator relevante, bem como a
proposição de metas para redução do consumo a médio prazo.
O consumo de água abaixo do limite da faixa de referência das escolas também deve ser
investigado. Caso haja outras fontes de abastecimento, além da concessionária, um novo valor
55
Ressalta-se que os resultados dessa pesquisa indicam as faixas de consumo de referência para
o município estudado e os valores obtidos podem não garantir o bem-estar dos seus usuários.
Portanto, as faixas de referência não devem ser consideradas como valores de consumo ideal,
mas como o consumo de referência atual.
Outro aspecto a ser analisado em estudos futuros é a avaliação da percepção dos usuários para
o consumo de água nas escolas, pois o comportamento do usuário reflete diretamente no
consumo. Também já foram iniciados trabalhos de coleta de dados nessa linha pela equipe do
AquaPOLI, e atualmente encontra-se em andamento aplicação de questionários nas escolas
públicas cadastradas. A análise destes dados permitirá uma avaliação, através de índices, do
uso indevido da água, que será resultado de futura dissertação de mestrado orientada pela
autora deste trabalho.
Por outro lado, é importante desenvolver atividades de extensão junto à comunidade escolar,
buscando sensibilizar esse público-alvo (alunos, professores e funcionários) para a
56
REFERÊNCIAS
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APÊNDICE A