A Prisão Ilegal e A Responsabilidade Civil Do Estado
A Prisão Ilegal e A Responsabilidade Civil Do Estado
A Prisão Ilegal e A Responsabilidade Civil Do Estado
MASZNER, Eunice1
RESUMO
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Professora de Direito.
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1 INTRODUÇÃO
No momento em que o Estado, por meio de seus agentes, decreta uma prisão
ilegal, está interferindo diretamente nos direitos e garantias individuais estabelecidos
pela Constituição Federal da República do Brasil de 1988. Ocorre que, o Estado
tem responsabilidade em decorrência de erro judiciário, conforme artigo 5º, inciso
LXXV, da Carta Magna. Neste sentido, o Estado fica obrigado a indenizar quando o
erro judiciário for evidenciado, por exemplo, o indivíduo preso injustamente, sem
motivo aparente, seja por excesso de prazo, omissão, ou prisão sem as
formalidades legais.
2 A PRISÃO
A “prisão indevida” ocorre nos casos previstos pelo art. 5º, inciso LXXV, da
Constituição Federal, que trata do erro judiciário e excesso de prisão – quando
alguém permanece preso além do tempo fixado na sentença. Já a “prisão ilegal” diz
respeito a todas as maneiras não elencadas pela prisão indevida, em outras
palavras, quando decretada fora dos parâmetros estabelecidos em lei.
além da prisão temporária, mencionada em leis específica própria, sendo a Lei n°.
7.960, de 21 de dezembro de 1989 (GOMES 2020).
Diante disso, fica evidente que a prisão é uma medida excepcional, cuja
pessoa conserva-se inocente até a decisão da sentença penal condenatória. Desse
modo, não importam as punições ou medidas preventivas adotadas, contanto que
obedeçam à lei atual, na qual a interferência do estado na liberdade individual será
mínima.
Conforme Arnaldo Quirino (1999), este tipo de prisão não possui conceito de
punição penal, tornando-se constantemente incerta e sua medida é de prisão
preventiva e material. Esta prisão ocorre da obrigação de ser protegida a eficiência
da ação penal e o fim por este apontado, que é o absoluto exercício de condenar do
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(SCATOLINO, 2018)
ilegal e que de fato provoque um dano para a outra parte. Desta forma, destaca-se
que a obrigação é do Estado, pessoa jurídica, sendo assim a responsabilidade civil,
por ser de ordem pecuniária, não cabendo para a Administração Pública tal
responsabilidade.
Não existem vantagens para o poder público ou regalias que sejam capazes
de esquivar da obrigação, que a todos estabelece, de cuidado da imparcialidade de
bens ou direitos assegurados pela garantia da ordem jurídica (STOCO, 2004).
Desse modo, o Estado mostrou um tremendo progresso ao reconhecer suas
responsabilidades como ações, começando com o respeito aos princípios
constitucionais.
ilegal. Em face da responsabilidade civil do Estado por seus atos arbitrários e ilegais,
o cidadão receberá apoio jurídico para exigir indenização.
Art. 5º. [...] LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória; [...] LXV - a prisão ilegal
será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; [...] LXXV - o
Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que
ficar preso além do tempo fixado na sentença.
No Código Civil de 2002 nos arts. 186, 927, 954 "caput" e parágrafo.
No que diz respeito ao dano material, para que ocorra reparação, ou seja,
configurada a responsabilidade civil do Estado, é imprescindível a ocorrência de um
dano indenizável. Assim, “resume-se o dano à conseqüência de uma desacertada
atuação do poder público” (HENTZ, 1996).
dano material for causado por prisão ilegal, precisa ser analisado de acordo ao
prejuízo provocado ao indivíduo. Os casos mais comuns são a perda de
remuneração ou renda causada pela incapacidade de exercer sua profissão e os
danos causados pela reputação da vítima em seu círculo comercial (QUIRINO,
1999). Nesse caso deve ser feita uma avaliação justa da medida em que os
indivíduos não receberam salário ou remuneração devido a prisão ilegal.
No que tange ao dano moral, no preceito civil, existe um dever legal de não
causar danos ou prejudicar outras pessoas e, na hipótese de prejuízo, a pessoa que
provocou o dano deve recompensar ou reparar.
Ademais, o dano moral sofrido pela vítima de prisão ilegal é presumido, não
sendo necessária sua comprovação. Haja vista a Carta Magna ter consagrado o
direito à indenização pelo intitulado dano moral puro (art. 5º, V). Dessa maneira não
há necessidade do ofendido provar incômodos, bastado simplesmente a este provar
o ato ou fato danoso e o seu causador.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, insta destacar que uma vez comprovada à irregularidade, a prisão
ilegal deve ser relaxada imediatamente. Cabendo, conforme legislação
complementar, em especifico no Código Civil brasileiro, que o Estado deve indenizar
qualquer dano praticado por seus agentes, incluindo a prisão ilegal.
Daí a importância de um processo penal mais eficiente para que haja uma
aplicação mais acertada de medidas não previstas de forma expressa pela lei. O
ideal seriam mais investimentos em cursos preparatórios e treinamentos mais
eficazes, a fim de capacitar aqueles que se encontram na linha de frente das prisões
a serem adotadas, bem como dos reais objetivos do instituto e do significado dos
seus papéis nesse novo espaço de atuação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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