Dicasterium Pro Doctrina Fidei
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Respostas a algumas questões de S.E. Dom José Negri, Bispo de Santo Amaro, acerca da
participação aos sacramentos do Batismo e do Matrimônio por parte de pessoas transexuais e
de pessoas homoafetivas
Aos 14 de julho de 2023, chegou a este Discastério uma carta de S.E. Dom José Negri, Bispo de
Santo Amaro (Brasil), contendo algumas questões a respeito da possível participação aos
sacramentos do Batismo e do Matrimônio por parte de pessoas transexuais e de pessoas homoafetivas.
Depois de estudar a respeito, este Dicastério respondeu como segue.
1
Cf. CONGREGAÇÂO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Nota reservada sobre algumas questões canônicas inerentes ao
transexualismo (21 dicembre 2018), Città del Vaticano, Sub secreto pontificio.
2
Catecismo da Igreja Católica, n. 1121.
3
SANTO TOMÁS DE AQUINO, I Sent. IV, 4, 3, 2, 3: «est inmediata causa disponens ad gratiam»; IDEM, S. Th. III, q.
69, a. 9, ad 1: «Et sic omnes induunt Christum per configurationem characteris, non autem per conformitatem gratiae»
(«E, neste sentido, todos se revestem de Cristo mediante a configuração a Ele com o caráter, não porém com a graça»).
mesmo que o homem caia no pecado, Cristo não destrói o caráter recebido por ele no Batismo e busca
(quaerit) o pecador, no qual foi impresso este caráter que o identifica como sua propriedade4.
Assim podemos compreender a razão pela qual Papa Francisco quis sublinhar que o Batismo
«é a porta que permite a Cristo Senhor habitar a nossa pessoa e, a nós, imergir-nos no seu
Mistério»5. Isto implica concretamente que «nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam
fechar por uma razão qualquer. Isto vale sobretudo quando se trata daquele sacramento que é a
«porta»: o Batismo. (…) a Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos
com a sua vida fadigosa»6.
Desse modo, mesmo quando permanecem dúvidas sobre a situação moral objetiva de uma
pessoa ou senão sobre as suas disposições subjetivas para com a graça, não se deve jamais esquecer
este aspecto da fidelidade do amor incondicional de Deus, capaz de gerar também com o pecador uma
aliança irrevogável, sempre aberta a um desenvolvimento igualmente imprevisível. Isto vale até
mesmo quando no penitente não aparece de modo plenamente manifesto um propósito de emenda,
porque frequentemente a previsibilidade de uma nova queda «não prejudica a autenticidade do
propósito»7. Em todo caso, a Igreja deverá sempre convidar a viver plenamente todas as implicações
do Batismo recebido, que se deve sempre compreender e desdobrar dentro do caminho integral da
iniciação cristã.
4. Duas pessoas homoafetivas podem figurar como genitores de uma criança que deve ser
batizada e que foi adotada ou concebida com outros métodos, como a “barriga de
aluguel”?
4
Cf. SANTO AGOSTINHO DE HIPONA, Sermo ad Caesariensis Ecclesiae plebem, 2 (PL 43, 691-692): «Nunc vero
ipse desertor, characterem fixit imperatoris sui. Deus et Dominus noster Iesus Christus quaerit desertorem, delet erroris
criminem, sed non exterminat suum characterem».
5
FRANCISCO, Audiência geral (11 de abril de 2018), disponível online em:
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2018/documents/papa-francesco_20180411_udienza-
generale.html
6
FRANCISCO, Exortação Apostólica Evangelii gaudium, sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual (24 de
novembro de 2013), n. 47.
7
JOÃO PAULO II, Carta ao Card. William W. Baum, por ocasião do curso sobre o foro interno organizado pela
Penitenciaria Apostólica (22 de março de 1996), 5: Insegnamenti XIX/1 [1996], 589.
Para que a criança seja batizada deve existir a fundada esperança de que será educada na
religião católica (cf. can. 868 §1, 2° CIC; can. 681 §1, 1° CCEO).
8
Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1277.