Bororo
Bororo
Bororo
Resumo: A partir dos estudos sobre a história e a cultura do Povo Bororo, o grupo-
pesquisador Coeduc foi constituindo o campo de conhecimento necessário para a elaboração
de projetos pedagógicos voltados à formação contínua de professores em Cuiabá-MT. Com
mais de três anos de atenção à formação de professores de educação infantil, de Educação
Física, de Arte e de gestores escolares da rede municipal de educação, o grupo-pesquisador
criou uma metodologia voltada à educação intercultural, de forma que durante o
desenvolvimento dos cursos se articulam pela pesquisa-ação acadêmicos da graduação e pós-
graduação e professores da educação básica. O resultado evidencia a relevância dessa
metodologia para a formação, que possibilita o enfrentamento do racismo enraizado no
imaginário social e reproduzido nas relações cotidianas da escola tanto em nível das relações
afetivo-sociais quanto das hierarquizações dos saberes e práticas educativas presentes na
escola.
Palavras-chave: Educação Intercultural. Metodologia. Formação de Professor. História e
Cultura Indígena.
Abstract: From the studies on the history and culture of the Bororo People, the research
group was a constituting the field of knowledge necessary for the elaboration of pedagogical
projects aimed at the continuous training of teachers in Cuiabá-MT. With more than three
years of attention to the training of teachers of early childhood education, Physical Education,
Art and school managers of the municipal education network, the research group created a
methodology focused on intercultural education, so that during the development of the
courses are articulated by action-research, undergraduate and graduate students and teachers
of basic education. The result evidences the relevance of this methodology for training, which
enables the confrontation of racism rooted in the social imaginary and reproduced in the daily
relations of the school, both at the level of affective-social relations and in the hierarchies of
educational knowledge and practices present in the school.
Keywords: Intercultural Education. Methodology. Training. Indigenous History and Culture.
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Pós-Doutora em Antropologia Social e Doutora em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina, é
Graduada em Educação Física pela Universidade Federal de Mato Grosso onde é professora (2011) da Faculdade
de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação em Educação (2009).
2
Possui graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Mato Grosso (1986) e mestrado em
Ciências do Desporto pela Universidade do Porto (1999). Atualmente é técnico desportivo da Universidade
Federal de Mato Grosso.
3
Possui graduação em Educação Física pela Universidade do Estado de Mato Grosso (2012), mestrado em
Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso (2014) e atualmente é doutorando do Programa de Pós-
Graduação em Educação, da Universidade Federal de Mato Grosso, integrando-se ao Grupo de Pesquisa Corpo,
Educação e Cultura (COEDUC/PPGE/UFMT). É professor substituto da Universidade do Estado de Mato
Grosso (UNEMAT) e da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
1. Introdução
Neste texto, trazemos alguns dados das formações desenvolvidas por três anos
consecutivos, 2016, 2017 e 2018, com os professores da educação básica – educação infantil e
anos iniciais – na rede pública do município de Cuiabá, Mato Grosso. Os dados foram obtidos
por meio de um processo de pesquisa-ação, envolvendo o grupo de Pesquisa Corpo, Educação
e Cultura (Coeduc) vinculado ao Programa de Pós-graduação em Educação, cujo recorte
temático é o estudo das relações étnico-raciais, educação e povos indígenas. A fim de dar
visibilidade à práxis pedagógica tecida na experiência problematizada pelo grupo-
pesquisador, pautada na Educação Intercultural Crítica (WALSH, 2010), apresentamos a
proposição teórico-metodológica da formação-ação-intercultural, desenvolvida por meio de
estratégias formativas que, intencionalmente, buscavam o enfrentamento do racismo na
educação escolar.
O foco das formações contínuas de professores foi o ensino da história e cultura do
povo Bororo, cuja territorialidade foi ocupada pela cidade de Cuiabá. A proposição buscou
atender a obrigatoriedade da Lei n.º 11.645/08 – história e cultura indígena na escola
(BRASIL, 2008). Os participantes que compõem o grupo-pesquisador são acadêmicos de
graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Mato Grosso, estudiosos do corpo
como centralidade da pessoa que se educa na relação com o outro, mediada pela cultura. Com
diferentes identidades – idade, gênero, sexualidade, formação acadêmica, religiosa, familiar e
cultural –, o grupo se constitui num potencial humanizador da experiência pedagógica para a
promoção da educação intercultural pretendida pelas formações que promovem e na qual se
formam continuamente.
O percurso dessa caminhada teve início no ano de 2016, sendo atendidos professores
de Educação Física e Artes, dentre outros educadores que complementam os estudos no
contraturno escolar. Participaram dessa primeira jornada 418 professores, envolvendo 96
unidades escolares, culminando ao final em 25 projetos pedagógicos desenvolvidos nas
unidades, apresentados e discutidos por todos os professores, divididos em dois períodos,
conforme o horário de trabalho na escola.
Em 2017, a proposta para a formação-ação intercultural foi que em cada unidade
escolar, a atenção da prática pedagógica fosse dada às crianças que participaram dos projetos
pedagógicos da formação no ano anterior. Após os coordenadores pedagógicos levantarem as
memórias das aprendizagens e revitalizarem os projetos da formação realizados em 2016, em
abril de 2017, realizamos a Semana dos Povos Indígenas na Universidade Federal de Mato
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4 Optamos por educadores, nesse caso porque temos na formação da Educação Infantil merendeiras, guardas,
gestores, cuidadores e outros agentes de formação da criança pequena nos espaços (unidades de educação da
infância em Cuiabá-MT) de cuidar e educar nas creches e centros de educação infantil, que participaram de todo
o processo de formação, produzindo pela orientação dos estudos e projetos de intervenção pedagógica pautados
na investigação coletiva (grupos constituídos nas turmas).
5 Os participantes do grupo-pesquisador atuaram na formação de professores pelo grupo de pesquisa vinculado
específicos de cada participante. As formações são imbricadas aos objetos de investigação que
surgem a partir da própria formação-ação-intercultural do grupo-pesquisador.
Tendo isso por referência inicial, neste texto, buscamos explicitar, a partir dos dados
da realidade e da construção teórico-metodológica tecida pela metodologia do grupo-
pesquisador, o diálogo com os resultados das pesquisas-ações que problematizam as relações
étnico-raciais presentes no cotidiano da escola. As formações em diferentes dimensões
buscam, pela educação do corpo, decolonizar saberes, seres e poderes ao evidenciar as
relações de racismo, do etnocentrismo e do autoritarismo que marcam as práticas pedagógicas
institucionais no âmbito da educação escolar brasileira. Ao problematizarmos tais contextos,
nas práticas pedagógicas próprias do grupo na universidade e nas escolas onde atuamos,
delimitamos um fazer intercultural mediado pelos corpos em relação, pois é na experiência
com o Outro que são geradas inúmeras situações de conflito e, nesse processo, aprendizagens
que implicam se colocar na relação de forma mais respeitosa para reconhecer a diferença e
nela o sentido da igualdade.
Podemos afirmar que as condições complexas estabelecidas por diferentes frentes de
ação formativa do grupo, intencionalmente, têm viabilizado aprendizagens conjuntas com os
professores indígenas e não indígenas, com pesquisadores experientes e iniciantes, com
jovens no início da graduação e outros com perfis diversos, entre eles, educadores
aposentados, que contribuem significativamente para nosso processo formativo como
educadores.
Ao problematizamos esse processo para o ensino da história e cultura do Povo Bororo,
evidenciamos nas práticas pedagógicas organizadas com projetos interdisciplinares,
vivenciadas nos corpos educadores, uma dinâmica complexa de aprendizagem que garante às
crianças compreensões sobre si e sobre o Outro, explicitadas nas relações étnico-raciais da
escola.
Tendo isso por orientação como cuidados necessários para a construção de uma ação-
reflexiva que garanta a construção de uma formação-ação-intercultural, que é pesquisa em
ação formativa, buscamos construir essa metodologia a partir das nossas experiências, que
vão consolidando no Coeduc acúmulos críticos que orientam as formações de professores em
Mato Grosso, tomando esta realidade complexa resultante de processos coloniais racistas
estruturados nas relações que se mantêm no imaginário social que naturaliza a eliminação dos
povos dos territórios para o “desenvolvimento” socioeconômico e político há 300 anos.
A formação é, assim, objeto permanente das nossas pesquisas realizadas no âmbito da
graduação e pós-graduação, sem desvinculação do espaço/tempo da educação popular,
indígena ou escolar, fundamentalmente presente para o grupo de pesquisa a partir das
inserções dos seus pesquisadores ou mesmo por opção política de comprometimento com a
extensão, por meio de projetos assumidos em diálogo com os movimentos sociais e grupos
marginalizados em seus territórios e suas formas diversas de identificar-se e reconhecer-se
como coletividade.
Na UFMT, esses projetos de pesquisa-ação pela extensão nos possibilitam evidenciar
os pontos de convergência que caracterizam a metodologia da formação-ação-intercultural,
tendo o corpo como centralidade das ações humanas, que evidenciam as questões étnico-
raciais e apontam a Educação Intercultural Crítica como potencialidade de questionar a
estrutura-social-colonial por meio da formação de professores em Cuiabá-MT, assim
concebida:
A formação-ação-intercultural [...] pauta-se em uma prática pedagógica intencional e
planejada para ações que garantam a formação a desconstrução de práticas
educativas coloniais e racistas, além de promover a descentralização das relações
autoritárias e hierarquizadas que colocam pessoas com diferentes experiências como
desiguais e inferiorizadas – como a relação professor-aluno, por exemplo. A
formação visa, assim, possibilitar a construção coletiva e individual de identidades
que possam ser valorizadas e reconhecidas como potencial de saber e referência para
a produção de conhecimentos interculturais e interdisciplinares. (GRANDO, 2019,
p. 19).
O diálogo entre a Educação Intercultural Crítica e os pressupostos metodológicos da
pesquisa-ação contribuem com as possibilidades do grupo-pesquisador apresentar suas opções
metodológicas para mobilizar os participantes da formação-ação-intercultural, trazendo as
dimensões necessárias de compreensão da Educação Intercultural nos processos de
aprendizagens deles próprios e com as crianças, a partir da cultura do Povo Bororo, primeiros
habitantes do território cuiabano.
A delimitação do Povo Bororo para a formação-ação-intercultural expressa o
reconhecimento dos processos históricos desse território tradicional, cujos conhecimentos de
domínio da natureza material e simbólica do ambiente partilhado entre humanos e não
humanos são construídos e mantidos por saberes milenares para garantia do equilíbrio entre os
mundos atravessados pela vida e pela morte.
Essa compreensão reconhece a complexidade da perspectiva humanizadora Bororo,
que abriga os humanos (vivos e mortos) e os não humanos – animais, vegetais, minerais, as
águas, o ar, o vento, a terra, o fogo e tudo mais que podemos considerar como seres vivos que
constituem nosso mundo, que resultam das interações conflitivas e negociadas, controladas e
ampliadas, a fim de garantir a vida em equilíbrio. Portanto, é a perspectiva que possibilita a
complexidade da sua Cosmovisão, que hoje também é partilhada com os humanos, não
Bororo (ADUGOENAU, 2015).
A compreensão dos estudos com e sobre a história e cultura Bororo nos possibilita
reconhecer que esse movimento do viver em um território tradicional – Ikuia-Pá – rico na
presença dos nomes atribuídos a muitos locais da cidade atual, assim como nas formas de
falar com um “linguajar” característico cuiabano, a particularidade da cerâmica e do peixe
ensopado, do domínio de navegar em pé na canoa para lançar-se à pesca, assim como desse
corpo que se expressa de forma sagrada nas danças circulares do siriri, dos cantos e dos mitos
Bororo presentes nos rituais atuais, constitui a base fundamental para as opções que garantem
o compromisso epistemológico do Coeduc.
A confirmação da herança histórica e cultural desse encontro, desde os primeiros
estudos que fundamentam sua criação, em 2004, nos faz compreender a relevância das ações
que dão a conhecer a história e a cultura do Povo Bororo nesse território tradicional como
possibilidade de pesquisar sobre o reconhecimento de si e do outro. Nesse movimento,
acreditamos que nos aproximamos do que Candau (2012, p. 224) chama de capacidade de
“construir relações novas, verdadeiramente igualitárias entre os diferentes grupos
socioculturais” historicamente marginalizados porque inferiorizados. Em nossa forma de
entender esses corpos produtores de cultura marginalizada, eles são roubados em suas
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6Essa ação em que as crianças protagonizaram as falas foi durante o evento-Projeto de Extensão “Semana dos
Povos Indígenas” da UFMT, realizado em 2017, sob a coordenação do grupo de pesquisa, que envolveu
diferentes espaços de trocas de saberes para professores e estudantes em Cuiabá-MT.
Extensão, em 2018, sob o título “Ikuia-Pá: história e cultura Bororo na perspectiva da
educação intercultural na primeira infância”, foram inscritos 783 educadores de 63 unidades
da educação infantil (creches e centros de atendimento da educação infantil/CMEI), uma vez
que as demais unidades haviam sido atendidas com os professores de Arte e Educação Física
e coordenadores pedagógicos, além de termos socializado os resultados das formações em
eventos e publicações organizadas pelo Coeduc, sobre a Lei n.º 11.645/08 (GRANDO;
PINHO; RODRIGUES, 2018).
Essa ação efetiva nas unidades de educação da criança pequena em Cuiabá, demandou
do grupo-pesquisador a preparação de uma equipe de formadores para atender 10 grupos-
turmas considerando a especificidade metodológica, a História e Cultura Bororo e a Educação
Intercultural pretendida que teve a carga horária de 100 horas aulas.
Em 2019, foi o ano de comemoração dos 300 anos de história da fundação de Cuiabá,
e para contar outra história, o Coeduc organizou um espetáculo no Teatro da UFMT aberto
para as escolas e comunidade em geral que lotou os 500 lugares disponíveis. No espetáculo
“Ikuia-Pá 300 Anos”, apresentamos a história e cultura do território ancestral Bororo desde
antes da chegada dos colonizadores até a cultura atual da cidade, passando pelo encontro
desastroso na primeira aldeia onde atualmente se revitaliza permanentemente a história e
cultura cuiabana – a comunidade ribeirinha, urbana, de São Gonçalo Beira Rio. Esse fato
também mobilizou o grupo-pesquisador a uma ação formativa voltada à produção do
espetáculo com múltiplas linguagens para contar outra história da cidade. O espetáculo
envolveu crianças, jovens e adultos do Grupo Flor Ribeirinha, da comunidade ribeirinha de
São Gonçalo, estudantes de graduação e de pós-graduação e artistas da dança popular e
clássica na montagem e apresentação do “Ikuia-Pá 300 Anos”7.
Assim, finalizamos em 2019 um ciclo com a produção de processos formativos que
nos propomos a revisitar e analisar coletivamente, a fim de melhor compreender o papel dos
conteúdos e procedimentos pedagógicos adotados para recontar a história e cultura do Povo
Bororo e suas implicações para a compreensão das identidades, dos saberes e práticas da
cultura cuiabana e suas implicações para refletirmos sobre o cumprimento da Lei n.º
11.645/08.
7O espetáculo contou com apresentações de liderança Bororo, da turma de estudantes do segundo semestre do
curso de Educação Física, de estudantes de outras turmas em apresentações solos de dança e poesia, de todos os
músicos, cantores e principais dançarinos do Grupo Folclórico Flor Ribeirinha e do grupo de crianças que
compõem o Grupo “Sementinha” do mesmo grupo folclórico tradicional da comunidade ribeirinha São Gonçalo
Beira Rio, de Cuiabá-MT.
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Pensar um ensino de qualidade, no que se refere à história e cultura dos povos indígenas,
perpassa a necessidade de perceber os valores das tradições e da transmissão dos
conhecimentos em uma lógica que rompa com a existência dos preconceitos criados ao redor
da imagem do indígena genérico, romantizado e cristalizado no tempo e na cultura.
Outro elemento que surge nas falas das participantes refere-se às aprendizagens
trazidas sobre a cultura do povo Bororo como potencialidade de transposição pedagógica das
ações nas escolas para articular os conhecimentos da cultura cuiabana no período festivo da
cidade, enfatizando a interculturalidade como possibilidade de construção da práxis
pedagógica:
[...] percebemos que se trata de um conhecimento rico que nos oportuniza enquanto
professores formadores a ampliar nosso conhecimento com o objetivo de incluir
dentro da perspectiva pedagógica a inclusão do conhecimento sobre o Povo Bororo
em detrimento de um ensino de qualidade focado na cultura da nossa região,
contribuindo para o resgate da identidade cuiabana que esteja associada a uma
práxis pedagógica intercultural. (Professora TISCL/CMEI AFM, grifos nosso).
Diante desse contexto, tomamos como base as palavras de Gomes (2010, p. 41),
quando a autora trata da diversidade étnico-racial como direito à educação: “[...] assumir a
diversidade é posicionar-se contra as diversas formas de dominação, exclusão e
discriminação. É entender a educação como um direito social e o respeito à diversidade no
interior de um campo político”. Nesse sentido, a Educação Intercultural Crítica se apresenta
como uma possibilidade de diálogo com as diferenças que constituem a humanidade,
compreendendo-as como elementos para o respeito e as potencialidades educativas, na escola.
Ainda na esteira da diversidade, a avaliação feita sobre as estratégias metodológicas da
formação-ação-intercultural, na perspectiva de reconhecimento das diferenças e ao mesmo
tempo das afinidades com outras formas de educação e de aprender e ensinar, é reconhecida
pelos participantes, como evidencia a fala da professora:
Pude compreender também, que devemos respeitar e valorizar a diversidade
cultural de cada comunidade e de cada cidadão através da exposição de objetos da
cultura indígena, como a rede, as máscaras usadas em rituais e também dos filmes
do acervo do Cine Clube Coxiponés que tratam da cultura Regional como a Festa
de São Gonçalo, Festança de Vila Bela. (Professora GDMF/Creche BDE).
Sentir-se tocada foi um aspecto fundamental para olhar a diversidade de outro modo,
reconhecendo-a como elemento de compreensão da própria diferença e identidade com os
povos indígenas, por trazer na experiência corpórea a sensibilidade para o outro.
Percebemos que as expressividades em relação à cultura cuiabana e a etnia dos
povos Bororos estão bem destacadas apresentando um conjunto de imagens e peças
que resgatam os saberes, as danças e rituais que são significantes para nossa
formação, pois poderemos refletir sobre nossa prática pedagógicas tendo a
sensibilidade de mudar conceitos, fugindo do senso comum sobre as etnias
indígenas, abrindo espaço para novos saberes que certamente contribuirão para um
ensino que estimule nossas crianças a valorizar e respeitar a diversidade cultural.
(Professora MdeL/CMEI-AFM).
histórico nos apresentará riquezas de nossa história que contribuirão para novas
práticas interculturais. As evidências através das informações históricas
apresentadas pelos universitários tornaram nossa visita ao museu atrativa e rica
para nosso crescimento profissional. (Professora ML/CMEI AFM).
O que mais me chamou atenção na visita itinerante, foi o livro Saberes que mostra
como fazer a viola de cocho, lá conta a história de como é passado para as
próximas gerações, através da simplicidade do modo de falar de cada cuiabano, o
pai que ensina o filho, como surgiu as primeiras violas, mas apenas em Mato
Grosso que a viola resistiu sendo um instrumento muito usado no cururu e siriri.
Seu som em particular, se difere muito dos outros instrumentos musicais, fabricação
dela é feita de forma artesanal com matérias-primas existentes na nossa região,
considerado patrimônio segundo o IPHAN. (Professora ML/CMEI AFM).
Ao acessar os saberes e práticas do Povo Bororo e sua atualidade, como ora expressam
as educadoras, passaram a valorizar os conhecimentos da cultura local como patrimônio que a
criança tem direito ao acessar a educação escolar. E, nesse sentido, reconhecemos que a
proposição da formação-ação-intercultural qualificou o curso, pois potencializou a
compreensão das relações entre o eu e o outro para além do indígena.
Essas percepções, portanto, vão ao encontro do que o grupo-pesquisador buscou
garantir durante o processo de formação com educadores para a Educação Intercultural
Crítica, rompendo com a manutenção de uma educação colonial (WALSH, 2002, 2008,
2010).
5. Considerações
Em nossa reflexão-ação, a partir dos dados produzidos pelo grupo-pesquisador e a
leitura críticas das produções dos participantes do processo de formação contínua, a exemplo
do E-book aqui referenciado (GRANDO et al., 2019), podemos afirmar que ela atendeu a Lei
n.º 11.645/08, especialmente apresentando uma nova proposição metodológica para o ensino
da história e cultura do Povo Bororo em Cuiabá.
No ano seguinte, a constatação de que as crianças assumiram o protagonismo de
apresentar suas aprendizagens confirmam que a proposição da interculturalidade se deu
também em nível de rompimento com as hierarquias da escola, pois lá eram elas a trazer o
projeto pedagógico realizado e a avaliar o processo de ensino e aprendizagem. As
coordenadoras pedagógicas que organizaram a vinda das crianças para relatar a experiência
do ano anterior mobilizaram saberes e fazeres coletivos, interdisciplinares e interculturais, e
estavam orgulhosas das aprendizagens humanizadoras relatadas pelas crianças, que
emocionaram todos os presentes.
A proposição implicou em entrelaçamento das diferentes autoridades dos processos de
ensino-aprendizagens, que são relatados a partir das memórias das crianças que viveram na
experiência pedagógica na escola práticas sociais fomentadoras para a potencialidade da
Educação Intercultural Crítica como uma proposta planejada e fomentada na quebra das
relações de poder nas relações professor-estudante, pesquisador-professor, etc..
Com isso, destacamos a relevante contribuição dos estudantes e das práticas
pedagógicas desenvolvidas nas escolas que são suporte para o aprofundamento das reflexões
sobre a formação de professores para as relações étnico-raciais como experiências que são
vivenciadas com diferentes estratégias didáticas potencializadoras do viver com o Outro – o
con-viver é fundamental para uma outra possibilidade de humanização na escola. É nessa
proposição que o grupo-pesquisador reconhece em sua práxis uma metodologia de formação-
ação-intercultural que tem coincidindo com as dimensões sistematizadas por Walsh (2010),
como a Educação Intercultural Crítica.
6. Referências
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escolar intercultural indígena. 2015. 119 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa
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