Filósofos Pré-Socráticos - Cosmologia
Filósofos Pré-Socráticos - Cosmologia
Filósofos Pré-Socráticos - Cosmologia
Chamam-se filósofos pré-socráticos, aos filósofos que viveram antes de Sócrates (470-
299 a.C.), considerado um divisor de águas na filosofia, na antiga Grécia e nas suas
colónias. Apenas fragmentos das suas obras chegaram aos nossos tempos. O primeiro
filósofo que conhecemos com uma obra sistemática e livros completos é Platão, depois,
o seu discípulo, Aristóteles.
A escola pitagórica foi fundada por Pitágoras de Samos (571-70 – 497-96 a.C.) na cidade
de Crotana. Diz uma lenda que a doutrina pitagórica lhe foi transmitida diretamente de
seu deus protetor Apolo, pela boca da sacerdotisa de Delfos, Temistocleia. A doutrina
fundamental dos pitagóricos é que a substância das coisas é o número. É a partir dessa
crença que Filolau de Crotana, discípulo de Pitágoras, que viveu em meados de séc. V
a.C., irá propor o seu sistema cosmológico. Para Filolau, a diversidade de elementos
corpóreos (água, terra, ar e fogo) dependia da diversidade da forma geométrica das
partículas mínimas que os compunham. Pelo que sabemos, foi o primeiro a supor que a
Terra caminha pelo espaço, idealizando o chamado sistema pirocêntrico. Neste sistema,
o centro do universo era ocupado por um fogo central denominado a casa de Zeus.
Girando em órbitas circulares, estariam os demais astros, inclusive o Sol, a Lua, a Terra
e a contra-Terra. A contra-Terra tinha a função de completar 10 astros, número
considerado perfeito pelos pitagóricos e também impedir a visão do fogo central. Há
autores que defendem que a contra-Terra foi inventada para dar conta da frequência dos
eclipses lunares. Este sistema sintetiza uma primeira visão do cosmos com os planetas
conhecidos na antiguidade.
TALES DE MILETO -
Mileto era a mais importante cidade da Jônia. Berço dos epos homéricos, famosa
pela atividade comercial de seus navegadores, que percorriam quase toda a bacia
do Mediterrâneo. Sobre a vida de Tales, pouco se sabe. Um efeito notável – a
previsão do eclipse total do sol de 28 de maio de 585 a.C. – permitiu estabelecer,
como data prováveis, o ano de 624 a.C. para seu aniversário e 547 a. C. para sua
morte. Aristóteles o chama de fundador da filosofia. Atribui-se a Tales a afirmação
de que “todas as coisas estão cheia de deuses”. Acredita-se que ele elaborou uma
teoria para explicar as inundações do Nilo e a solução de diversos problemas
geométricos
Doxografia –
1 – Tales afirmava que a terra flutua sobre a água. Mover-se-ia como um navio; e quando
se diz que ela treme, em verdade flutuaria em conseqüência do movimento da água.
(Sêneca, Nat. Quaest. III, 14).
2 — Outros julgavam que a terra repousa sobre a água. Esta é a mais antiga doutrina por
nós conhecida e teria sido defendida por Tales de Mileto. (Arist., De Coelo B 13, 294a
28).
3 — A maior parte dos filósofos antigos conc ebia somente princípios materiais como
origem de todas as coisas ... .). Tales, o criador de semelhante filosofia, diz que a água é
o princípio de todas as coisas (por esta razão afirmava também que a terra repousa sabre
a água). (Arist., Metap/i., 1, 3).
4 — Entre os que afirmam um único princípio móvel – por Aristóteles chamados
propriamente de físicos — uns consideram-no LIMITADO, assim, Tales de Mileto, filho
de Examias e Hipo — que parece ter sido ateu. Dizem que a água é princípio. As
aparências sensíveis os conduziram a esta conclusão; porque aquilo que é quente necessita
de umidade para viver e o que é morto seca, e todos os germes são úmidos, e todo alimento
é cheio de suco; ora, é natural que cada coisa se nutra daquilo de que provém; a água é o
princípio da natureza úmida que mantém tôdas as coisas; e assim concluíram que a água
o princípio de tudo e declararam que a terra repousa sobre água. (Simplicius, Phys. 23,
21).
5 — Tales e sua escola: o cosmos é um. (Aet., II, 1, 2).
6 — Parece que também Tales se conta entre aqueles que segundo se diz, supuseram a
alma como algo móvel, assim com sustentava também que a pedra magnética possui uma
alma po que move o ferro. (Arist., De Anima 1, 2).
7 — E alguns sustentam que a alma esta misturada com universo; talvez por isto chegou
Tales à opinião de que todas as coisas estão cheias de deuses. (Arist., De Anima 1, 5).
8 – Tales: a inteligência do cosmos é o deus; porque o universo é animado e cheio de
deuses; o úmido elementar esta penetrado do poder divino, que o põe em movimento.
(Aet. 1,11).
9 — Tales de Mileto, o primeiro a indagar estes problema disse que a água é a origem das
coisas e que deus é aquela inteligência que tudo faz da água. (Cícero, De Deorum Nat.,
10, 25).
ANAXÍMENES DE MILETO
Anaximenes nasceu, provàvelmente, no ano 585 a.C., e sabe--se que morreu durante a
63ª Olimpíada, isto é, entre 528 e 525 a.C. De sua vida nada mais é conhecido.
O ar, segundo Anaxímenes, é o elemento originante de todas as coisas; elemento vivo,
que constitui as coisas através de condensação ou rarefação. Assim, o fogo é ar rarefeito,
e pela condensaçao progressiva formam-se o vento, as nuvens, a água, a terra e
finalmente a pedra. Anaxímenes foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe a sua luz do
Sol.
FRAGMENTO
1 — Como nossa alma, que é ar, nos governa e sustém, assim também o sopro e o ar
abraçam todo o cosmos. (Este é o único fragmento conhecido de Anaxímenes, embora
não haja certeza de sua autenticidade. )
DOXOGRAFIA
3 — Do ar dizia que nascem todas as coisas existentes, as que foram e as que serão, os
deuses e as coisas divinas (Hip.; Ref. 1, 7).
5 — (...) nem afirmo que o homem é totalmente ar, como Anaxímenes (Gal. in Hip. d.
nat. /i.XV 25 K).
6 — Outros dizem que a alma é ar, como Anaxímenes e alguns estóicos (Filop., de anima
9, 9).
8 — Afirma que, pela condensação do ar, formou-se pela primeira vez a Terra, sendo
completamente plana. Por isto, compreende-se, flutua ela sabre o ar (Pseudoplut., Strom.
3).
ANAXIMANDRO DE MILETO
FRAGMENTOS
1 — Todas as coisas se dissipam onde tiveram a sua gênese, conforme a necessidade;
pois pagam umas as outras castigo e expiação pela injustiça, conforme a determinação do
tempo.
2 — O ilimitado é eterno.
3 — O ilimitado é imortal e indissolúvel.
DOXOGRAFIA
1 — Entre os que defendem um único princípio móvel e ilimitado, Anaximandro,
filho de Praxíades, de Mileto, e discípulo e sucessor de Tales, diz que o ilimitado é o
princípio e elemento das coisas, tendo sido o primeiro a empregar a palavra princípio.
Afirma que é, não a água ou algum dos outros assim chamados elementos, mas uma outra
natureza diferente, ilimitada, da qual seriam formados todos os céus e os cosmos naqueles
contidos. “Todas as coisas se dissipam onde tiveram a sua gênese, conforme a
culpabilidade; pois pagam umas as outras castigo e expiação pela injustiça, conforme a
determinação do tempo.” É evidente que Anaximandro, ao observar a transformação
recíproca dos quatro elementos, não quis tomar um destes como substrato, mas um outro
diferente. (Simpl., Phys. 24, 13).
8. Anaximandro não explica a gênese pela mudança do elemento primordial, mas pela
separação dos contrários em conseqüência do movimento eterno. (Simpl., Phys. 24, 13).
9. Contrários são quente e frio, sêco e úmido, e os outros. (Simpl.,. Phys. 150, 24).
10. Anaximandro afirma que, por ocasião da gênese dêste cosmos, a força criadora do
princípio eterno separou-se do calor e do frio, formando-se uma esfera deste fogo ao redor
do ar que envolve a Terra, assim como a casca em torno da árvore. Quando esta se
rompeu, dividindo-se em diversos círculos, formaram-se o sol, a lua e as estrêlas.
(Pseudoplut., Strom. 2).
11. (...) ele também construiu uma esfera. (Diog. Laert. II, 2).
12. O sol está situado acima de tudo; em segundo lugar está a lua; e mais abaixo as estrelas
fixas e os planetas. (Aet. II, 15, 6).
13. Há os que afirmam, como Anaximandro entre os antigos, que a Terra, em virtude de
sua igualdade, permanece fixa em seu lugar. Pois, o que está situado no centro e a igual
distância dos extremos, não se pode mover para cima ou para baixo ou para os lados.
Impossível é também que se mova, ao mesmo tempo, em direções contrárias. Acha-se,
portanto, necessariamente, em repouso. (Arist., De Coelo, II, 13, 295b).
14. Entre os filósofos que admitiam um número infinito de mundos, afirmava ainda
Anaximandro estarem muito distanciados uns dos outros. (Aet. II, 1, 8).
15. Anaximandro: os primeiros animais nasceram do úmido, circunvoltos por uma casca
espinhosa; com o progredir do tempo, subiram ao seco, e rompendo-se a casca, mudaram
de forma de vida. (Aet., V, 19, 4).
16. Diz ainda que, no princípio, o homem nasceu de animais de outra espécie, porque,
enquanto os outros animais logo aprendem a nutrir-se por si mesmos, o homem necessita
de um longo período de lactação; por esta razão, não teria podido sobreviver, em sua
origem, tivesse sido assim como é agora. (Pseudoplut., Strorn. 2).
17. Opina que, originalmente, desenvolveram-se os homens no interior dos peixes, e após
terem sido nutridos — assim como os tubarões —, e adquirido a capacidade de proteger-
se, foram expelidos e arrojados à terra. (Plut., Symp., VIII, 8, 4).
ATIVIDADE: Escvreva um texto de, no máximo, vinte linhas traçando uma comparação
entre a cosmologia de Hesíodo e aquela desenvolvida pela escola jônica, a partir dos
fragmentos acima.