Anais I Seminario Pesquisa
Anais I Seminario Pesquisa
Anais I Seminario Pesquisa
Comissão organizadora
Afonso Henrique Leal
Caren Cristina Dalmolin
Eglaísa Sousa
Eurípia Maria da Silva
Helena Krieg Boscolo
Ivan Salzo
Katia Torres Ribeiro
Marília Marques Guimarães Marini
Ronaldo Morato
Organização do conteúdo
Afonso Henrique Leal
Katia Torres Ribeiro
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
Apresentação
Além das palestras, são 54 trabalhos apresentados por 18 unidades do ICMBio que
traduzem a atribuição legal do instituto de realizar pesquisa (inciso III do Artigo 1º da
Lei 11.516/07). Pesquisa sim, em parceira com a academia e voltada para responder a
demanda pelo conhecimento voltado à gestão ambiental, onde são abordados temas
relacionados a riqueza e uso da biodiversidade das unidades de conservação, métodos
de manejo de paisagem e espécies, envolvimento social e avaliação das espécies
brasileiras e sistematização do conhecimento.
Estes resumos demonstram que a pesquisa não está longe do nosso dia a dia e sua
importância fundamental para o nosso trabalho, precisamos apenas aprender a olhar
a nossa rotina de uma forma mais ampla.
Ciente que estes projetos são apenas uma amostra do que ocorre dentro do ICMBio e
uma pequena parcela do potencial que podemos chegar, parabenizo o esforço
daqueles que apresentaram seus projetos de pesquisa e viabilizaram este evento e
encorajo aos demais servidores do ICMBio a apresentarem seus trabalhos no próximo
ano.
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
Introdução
Este volume está organizado em duas sessões. A primeira contém os resumos dos
trabalhos dos alunos de iniciação científica e dos trabalhos enviados por servidores
para apresetnação na forma de painel, classificados em três temas:
o Uso, manejo e conservação da biodiversidade
o Pesquisa e gestão de UC
o Ferramentas para sistematização de dados e modelagem
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
Sumário
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Sessão I – Resumos
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
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Sessão II
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Resumos
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
O Jalapão (TO) abriga uma das maiores áreas contínuas de Cerrado. Baixa densidade
populacional, solos arenosos pouco propícios à agricultura e o isolamento garantiram a conservação
do Cerrado na região. As UC criadas a partir de 2001: Estação Ecológica Serra Geral de Tocantins
(716.000ha), Parque Estadual do Jalapão (158.000ha) e Parque Nacional das Nascentes do Parnaíba
(733.000ha, no sul do Piauí) formam a maior área contínua de Cerrado em UC de proteção integral.
A economia jalapoeira foi historicamente baseada na agricultura de subsistência e na pecuária
extensiva, enquanto o artesanato de capim dourado (Syngonanthus nitens, sempre-viva da família
Eriocaulaceae), confeccionado na região desde os anos 1920 era produzido para uso doméstico e
trocas eventuais. A partir dos anos 1990, o artesanato de capim dourado – que é costurado com uma
fibra retirada das folhas de buriti (Mauritia flexuosa) – passou a integrar a economia da região,
provocando um aumento significativo no número de artesãos e extrativistas. Preocupada com a
sobre-exploração do capim dourado, a comunidade da Mumbuca, primeira a produzir e divulgar o
produto, procurou o Núcleo de Plantas Medicinais, Ornamentais e Aromáticas do Ibama (hoje
integrado ao COPOM-ICMBio) solicitando apoio para garantir o uso sustentável da planta. Desde
2001, estudos etnobotânicos e ecológicos vêm sendo realizados em parceria com as comunidades
locais, o Naturatins – Instituto Natureza do Tocantins e a ONG PEQUI – Pesquisa e Conservação do
Cerrado. Além de publicações, as atividades de pesquisa geraram políticas públicas que
regulamentam a colheita, transporte e venda de hastes de capim dourado e colheita de folhas de
buriti. Portarias publicadas pelo Naturatins desde 2004 estabelecem que as hastes de capim dourado
devem ser colhidas apenas após 20 de setembro – quando as sementes já foram produzidas – e que
os capítulos (infrutescências onde estão as sementes) devem ser cortados no momento da colheita e
dispersos nos campos úmidos onde a espécie ocorre. Estudos de curto prazo indicam que o manejo
tradicional com fogo induz o aumento da floração do capim dourado, e estudos de longo prazo
sobre os efeitos do fogo na dinâmica desta e outras espécies do campo úmido estão em andamento.
Os estudos iniciais sobre os efeitos do extrativismo de folhas na dinâmica populacional de buriti
mostram que o extrativismo não prejudica as populações. Recomendações baseadas nos resultados
das pesquisas e no conhecimento tradicional foram reunidas numa cartilha distribuída para todas as
comunidades jalapoeiras e outras comunidades no Tocantins, onde o artesanato de capim dourado e
buriti vem recentemente tornando-se importante economicamente. A colaboração entre diferentes
tipos de instituições, incluindo as comunidades locais, tem sido essencial para avançar nos esforços
de conservação do Cerrado e geração de renda no entorno das UC da região.
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Atualmente, a perda de habitats nativos pode ser considerada como a principal causa do declínio ou
extinções de populações no planeta (Mace et al., 2005). A expansão descontrolada do agronegócio e
a ocupação humana não planejada são as principais causas geradoras dessa degradação ambiental
no Brasil. A influência da heterogeneidade espacial na distribuição de recursos e a estrutura da
paisagem refletem na seleção do hábitat pelas espécies animais e na estrutura das populações locais.
Em estudos em áreas de reflorestamento foi observada uma menor diversidade e riqueza de espécies
de mamíferos do que a encontrada em áreas naturais (Dietz et al. 1979). Entretanto, áreas de
reflorestamento de Pinus spp. e Eucalyptus spp. que apresentam sub-bosque com vegetação nativa
favorecem a manutenção da riqueza e diversidade da fauna ao permitir o deslocamento dos
indivíduos e o uso dos diferentes recursos na área (Dietz et al. 1975; Stallings 1991; Reis 1993);
apresentando uma maior abundância de indivíduos que as áreas plantadas homogêneas (Dietz et al.
1975). O estudo aqui apresentado foi realizado em uma área de ecótono entre o Cerrado e a
Caatinga, numa fazenda de 90 mil hectares, onde 60% da área foi utilizada na década de setenta
para reflorestamento (Pinus spp. e Eucalyptus spp.). O plantio foi efetuado no platô, deixando
corredores de vegetação nativa entre os talhões de reflorestamento (a cada 2 km), ligando as áreas
naturais adjacentes. O local apresentava uma das maiores e melhores populações remanescentes de
tatu-bola – Tolypeutes tricinctus no Cerrado e nos anos de 92/93, 2004 a 2005 e 2007 a 2009 foram
efetuadas amostragens da mastofauna, utilizando a técnica de captura-marcação e recaptura, com
captura manual para os tatus e armadilhagem para os pequenos mamíferos não-voadores, além de
observação direta e indireta para os animais de maior porte, tanto nas áreas de plantio, como nas
áreas naturais (corredores). Durante as duas primeiras amostragens, a fazenda tinha como atividade
principal o beneficiamento da madeira do reflorestamento (estacas e resina). Nesse período, os
resultados demonstraram que o local manteve a riqueza original, inclusive com a manutenção de
populações de espécies raras e ameaçadas de extinção, assim como em relação aos pequenos
mamíferos, que além de serem espécies bio-indicadoras da qualidade ambiental, são fundamentais
como fonte proteica (presas) para espécies maiores. Portanto, o manejo utilizado (corredores)
demonstrou ser eficiente como forma de manutenção da biodiversidade silvestre local (manejo
sustentado), inclusive com um aumento na riqueza de espécies na segunda amostragem. Em relação
à população de tatu-bola, não só a presença dos corredores de vegetação nativa contribuiu para a
sua manutenção, como também a proteção contra queimadas e a caça, exercida na Fazenda.
Entretanto, a partir de 2007 se iniciou a atividade de carvoaria nas áreas plantadas e substituição das
áreas de reflorestamento por plantio de soja. Nessa etapa, com a mesma velocidade que as áreas de
cerrado e reflorestamento eram transformadas em plantios de soja, foi verificada uma drástica e
rápida diminuição da riqueza e diversidade local, sendo que a espécie mais atingida foi a do tatu-
bola, com praticamente sua extinção da área do platô. Infelizmente, o atual processo de
licenciamento de empreendimentos agrícolas, não tem sido efetuado com eficiência para impedir a
extinção de populações de espécies bastante vulneráveis, como é o caso do tatu-bola.
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Rodrigo Silva Pinto Jorge1,2,3,6 (rspjorge@gmail.com), Monicque Silva Pereira1, Ronaldo Gonçalves
Morato1,6,7, Karin C. Scheffer4, Pedro Carnieli Jr.4, Fernando Ferreira2, Mariana Malzoni Furtado2,5, Cyntia
Kayo Kashivakura5, Leandro Silveira5, Anah T. A. Jacomo5, Edson Souza Lima6, Rogério Cunha de Paula1,7,
Joares Adenílson May-Junior2,7.
1
Centro Nacional de Pesquisa para a Conservacão dos Predadores Naturais (CENAP) /ICMBio; 2Veterinária
e Zootecnsta, Universidade de São Paulo; 3 Instituto Brasileiro de Medicina da Conservação-Tríade; 4
Instituto Pasteur de São Paulo; 5 Instituto para a Conservação da Onça-Pintada; 6 Projeto Cachorro-Vinagre; 7
Projeto Lobo-Guará, Instituto Pró-Carnívoros.
O vírus da raiva é um patógeno de alta preocupação para a conservação dos carnívoros em
várias regiões do mundo. No entanto existe pouca informação sobre sua circulação nos carnívoros
silvestres brasileiros. Devido a essa carência, um esforço colaborativo de diversas instituições
permitiram a análise de amostras de soro sanguíneo de 211 carnívoros em vida livre, capturados de
2000 a 2006 em cinco localidades diferentes de dois biomas brasileiros (Pantanal e Cerrado). Testes
para a determinação de títulos de neutralização de anticorpos para o vírus da raiva foram realizados
através do Microteste Simplificado de Inibição de Fluorescência (SFIMT). Os resultados apontaram
26 indivíduos (12,32%) apresentando títulos de neutralização de anticorpos ≥ 0,10 IU/mL,
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
considerados assim positivos para a exposição do vírus. Entre estes, observamos 13 lobos-guará
(Chrysocyon brachyurus) (n=91), 4 cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) (n=69), 1 cachorro-
vinagre (Speothos venaticus) (n=1), 3 onças-pintadas (Panthera onca) (n=13), 2 jaguatiricas
(Leopardus pardalis) (n=10), 1 onça-parda (Puma concolor) (n=5), 1 gato-palheiro (Leopardus
colocolo) (n=5) e 1 mão-pelada (Procyon cancrivorus) (n=13). Dos animais com exposição, 17
foram monitorados usando radio-telemetria por período variável de 6 a 39 meses, sem apresentar
nenhum sinal clínico de raiva durante o acompanhamento. Ainda, nenhum dos animais apresentou
indícios clínicos da patologia durante a captura. As cinco áreas de amostragem apresentaram
animais positivos, o que sugere-se que o vírus da raiva é circulante em todas elas. Os resultados
mostram o risco imposto pela raiva para a conservação destas espécies, bem como a possibilidade
de indivíduos selvagens funcionarem como reservatório do vírus no meio selvagem.
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Edson Souza Lima1, Rodrigo Silva Pinto Jorge1,2,3,4 (rspjorge@gmail.com), Maria Luisa Silva Pinto Jorge1,5
Ronaldo Gonçalves Morato1,2
1
Projeto Speothos; 2Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação dos Predadores Naturais (CENAP) /
ICMBio; 3Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo; 4 Instituto Brasileiro de Medicina da
Conservação-Tríade; 5 Vanderbuilt University.
O cachorro-vinagre (Speothos venaticus) é considerado ameaçado pelo Ministério do Meio
Ambiente e listado como vulnerável pela CITES – Apêndice I. Habita campos, cerrados e florestas,
mas é naturalmente raro e de difícil visualização. Por isso, até hoje, a maioria das informações ainda
provêm de animais cativos. O presente estudo traz informações sobre a área de vida e padrões de
movimentação de uma matilha de 10 indivíduos, monitorada semanalmente por terra, desde maio de
2008. A matilha foi capturada na região de Água Boa, Leste do Estado do Mato Grosso, Brasil. A
vegetação natural da região é Cerrado. No entanto, a maior parte da vegetação natural foi removida
para o cultivo de lavouras e pastagens. Inicialmente, a matilha era composta por 10 indivíduos: dois
adultos dominantes (macho e fêmea), três adultos jovens (duas fêmeas e um macho) e cinco juvenis
(quatro machos e uma fêmea). Durante o período de acompanhamento, quatro indivíduos morreram
(uma fêmea da primeira cria e dois machos e uma fêmea da segunda) e três nasceram
(aparentemente todas fêmeas). Atualmente o grupo conta com nove indivíduos. No momento da
captura, os adultos foram marcados com rádios transmissores. Durante dez meses, acumulamos 136
localizações exatas. A matilha usou uma área surpreendentemente grande (Mínimo Polígono
Convexo - MPC 100% e 95%: 617,5 km2 e 524,3 km2; Kernel fixo, 95%, 75% e 50%: 549,1 km2,
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149,0 km2 e 38,5 km2, respectivamente), atingindo dimensões superiores a do maior carnívoro
brasileiro, a onça pintada (Pantera onca) e a de dois outros grupos de S. venaticus acompanhados
anteriormente em regiões próximas. Duas podem ser as causas da diferença entre as matilhas: (1) o
presente grupo é composto por mais indivíduos; (2) a região que ocupam é mais fragmentada. Além
disso, a matilha atual apresenta padrão semi-nômade de movimentação, raramente retornando aos
sítios de forrageamento/abrigo já utilizados. Este padrão também foi observado para as duas
matilhas acompanhadas anteriormente. Curiosamente, S. venaticus parece sobreviver em áreas
perturbadas, porém necessita de extensões gigantescas para a manutenção do grupo, o que
provavelmente afeta negativamente sua densidade.
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ameaçados globalmente pela IUCN, devido à fragmentação do seu hábitat. Igualmente, a população
oriental de A. belzebul, por compartilhar a mesma distribuição e tipo de hábitat, apresenta-se em
situação análoga. Entre os anos de 2006 e 2008 foram realizadas 13 expedições objetivando o
mapeamento das populações destes primatas em Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.
Foram percorridas áreas entre os paralelos 5º10’ e 8º50’S, nas microrregiões zona da mata e agreste.
O método empregado foi o de entrevistas, com auxílio de pranchas pictóricas, sendo agricultores,
técnicos agrícolas e fazendeiros o público alvo. Foram realizadas 194 entrevistas. As respostas
foram categorizadas em relatos de ocorrência (RO), relatos de extinção (RE) e desconhecimento
sobre ocorrência (DO). C. flavius foi citado em todas as entrevistas e A. belzebul em 87. Os dois
táxons citados apresentaram os seguintes valores: RO: 23 – 14; RE: 8 – 14; DO: 163 – 59,
respectivamente. Entre as 22 localidades com relato de macaco-prego, 10 foram confirmadas por
vocalizações, fotografias ou visualizações dos animais. Para os guaribas, das 10 localidades
relatadas, 6 foram igualmente confirmadas. Atualmente, apenas quatro localidades apresentam
simpatria entre as duas espécies, todas na zona da mata norte da Paraíba. Não foram encontradas
populações de C. flavius e A. belzebul em áreas adjacentes ao bioma Mata Atlântica stritu sensu.
Analisando o número de fragmentos florestais existentes nos três estado com os resultados obtidos,
percebe-se a fragilidade em que as populações destes dois primatas se encontram. O número de
populações é pequeno, freqüentemente composta por poucos indivíduos já que os fragmentos não
são grandes, e elas estão relativamente distantes entre si, impedindo seu fluxo gênico.
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Cpc (173; 7,58; 5), Pd (116,32; 34,51; 22), Ctd (22,06; 2,95; 18), Ltd (12,95; 3,10; 18), Cte (23,02;
3,35; 18), Lte (14,03; 3,01; 18); Para categoria “fêmea” os valores foram: P (2046,82; 362,60; 22),
Cc (350,30; 35,19; 20), Ccd (413,52; 24,56; 21), Cpt (242,25; 21,50; 20), Cpc (145; 17,32; 10), Pd
(111,95; 24,60; 22). Com exceção da medida Pd, todas as outras foram significativamente
diferentes para as duas categorias, demonstrando que existe dimorfismo sexual relacionado ao
tamanho corporal dentro de Cebus libidinosus. Estes dados servem como parâmetros biométricos
tanto para espécie citada como para comparação com outras espécies do gênero Cebus.
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
de 51,4 no Corredor Verde a 4,6 no Morro do Diabo) e pelo crescente isolamento demográfico entre
as mesmas. Ao mesmo tempo, análises genéticas identificaram evidência de conexão demográfica
recente entre áreas (um migrante entre Porto Primavera e Morro do Diabo e outro entre Porto
Primavera e Ivinhema, assim como cinco indivíduos com ancestralidade miscigenada),
sugerindo que este processo de conectividade natural deve ser mantido ou restabelecido para
garantir a viabilidade destas populações em longo prazo. Os resultados obtidos serão integrados ao
plano de manejo que vem sendo desenvolvido para este felídeo, subsidiando o desenvolvimento e a
implementação de esforços urgentes para a sua conservação nesta ecorregião (Apoio: CAPES,
Companhia Energética de São Paulo [CESP], Instituto Pró-Carnívoros, Instituto
de Pesquisas Ecológicas [IPÊ], CENAP/ICMBio).
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susceptibilidade à extinção. Para algumas destas espécies a conservação dos ambientes aquáticos
parece ser relativamente suficiente para a sua manutenção. No Brasil ocorrem seis espécies, sendo
todas da família Alligatoridae. Para a Amazônia são quatro: Caiman crocodilus Linnaeus 1758,
Melanosuchus niger Spix 1825, Paleosuchus palpebrosus Cuvier 1807 e Paleosuchus trigonatus
Schneider 1801. Para Roraima eram listadas apenas as três primeiras espécies, as mesmas que já
haviam sido encontradas na Estação Ecológica de Maracá, embora oficialmente apenas a ocorrência
de C. crocodilus tivesse sido registrada para a Unidade de Conservação. Em dezembro de 2008,
durante expedição de ictiologia, integrante do Sistema de Monitoramento da Biodiversidade
(SIMBIO) da Estação Ecológica de Maracá, foi encontrada e fotografada no furo Santa Rosa (03º
33’ 58,05 N/61º 37’ 26,69” W), nas corredeiras do Tiporém, o jacaré do buraco (P. trigonatus) como
é conhecido pelas comunidades indígenas do entorno da ESEC Maracá. O presente trabalho teve
por objetivo registrar a ocorrência de P. trigonatus para a ESEC Maracá extremo norte da Amazônia
brasileira e por conseqüência para o Estado de Roraima. A observação e registro foi realizado
através do Projeto de Pesquisa “Ocorrência, distribuição e seleção de ambientes por crocodilianos
(Alligatoridae) na Estação Ecológica de Maracá, extremo norte da Amazônia brasileira”, registrado
no SISBIO sob o número 20.116. Nenhum estudo sobre bioecologia de jacarés foi realizado, mesmo
no decorrer do Projeto Maracá que foi o mais robusto de todos os levantamentos já desenvolvidos.
Apesar dos estudos ocorridos até agora, ainda há muito a ser conhecido sobre a biologia e ecologia
e conservação das espécies de jacarés. É necessário intensificar pesquisas ligadas ao conhecimento
do comportamento e o grau de suscetibilidade frente às modificações antrópicas no ambiente.
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etapas do trabalho os valores para estes parâmetros devem ser utilizados dos disponíveis na
literatura para C. olivaceus, a espécie filogeneticamente mais próxima. Diferentes mudanças em
parâmetros ambientais (intensidade e freqüência de catástrofes, perda da capacidade de carga,
capacidade de carga inicial, total de indivíduos caçados e proporção entre sexos de indivíduos
caçados) e demográficos (tamanho populacional inicial, número de populações e diferentes
tamanhos iniciais das populações) tiveram importantes impactos nas populações simuladas e devem
ter seus valores refinados com os números prováveis de populações e testados em populações
pequenas nas próximas etapas do trabalho. (Apoio: Trabalho desenvolvido com apoio do Programa
Alβan- Programa de bolsas de alto nível da Comissão Européia para América Latina-, Bolsa no
E07M400539BR)
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
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sobre quais manchas terão a maior probabilidade de se fundir e expandir, será possível fazer um
levantamento de áreas prioritárias para realização de ações de controle/combate à exótica.
(Financiamento: da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza/ Apoio: Instituto Guaicuy/SOS
Rio das Velhas).
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Flavio Henrique Guimarães Rodrigues1, Nucharin Songsasen2, Ronaldo Gonçalves Morato3,4, Fabiana Lopes
Rocha5, Jean Pierre Santos4, Ricardo Corassa Arrais4, Katerinne Maria Spercoski6, Marcelo Ximenes
Bizerril7, Manoel L. da Fontoura-Rodrigues8, Eduardo Eizirik4,8, Fernanda Calvancanti Azevedo9, Joares A.
May Jr.10, Rogério Cunha de Paula3,4 (rogerio.paula@icmbio.gov.br)
1
Universidade Federal de Minas Gerais; 2Conservation and Research Center - Smithsonian’s National
Zoological Park; 3Centro Nacional de Pesquisas para Conservação de Predadores Naturais (CENAP)
/ICMBio; 4Instituto para Conservação dos Carnívoros Neotropicais (Pró-Carnívoros); 5Programa de
doutorado em Biologia Parasitária. Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ; 6Universidade Federal do Paraná;
7
Universidade de Brasilia; 8Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; 9Programa de
Conservação Mamíferos do Cerrado; 10 Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São
Paulo (USP)
O projeto Lobos da Canastra iniciou-se em 2004 a partir de um esforço multidisciplinar e
multi-institucional para o monitoramento a longo prazo e conservação da população do lobo-guará
no Parque Nacional da Serra da Canastra e regiões adjacentes. Aproveitando uma área com diversos
cenários, os diversos objetivos foram propostos para testar também o papel de uma Unidade de
Conservação de proteção integral na conservação de espécies ameaçadas. Os objetivos desde seu
início foi avaliar diversos aspectos da biologia e ecologia da espécie e determinar as pressões
antrópicas sobre ela traçando um comparativo entre os parâmetros encontrados nos animais
habitantes das áreas protegidas no entorno do parque nacional. Nos últimos 5 anos, 43 lobos foram
capturados e equipados com rádio-colar além de terem amostras biológicas (sangue, urina, fezes,
pêlos) coletadas para análises da saúde e genética. Amostras de fezes também foram coletadas
oportunisticamente nas armadilhas e estradas para análises de metabólitos hormonais (corticóides).
A partir do monitoramento dos animais aparelhados, obtivemos pouca variação de áreas de vida
entre machos e fêmeas: média de 15,56 a 114,29 km2 ± SEM: 50,97 ± 32,47 km2. Entretanto, a
sazonalidade reprodutiva influenciou significativamente o tamanho das áreas de vida,
principalmente de fêmeas com áreas iniciais pequenas. Indivíduos habitantes do interior da UC
apresentaram áreas de vida maiores que os que vivem exclusivamente no entorno. Resultados
preliminares das análises genéticas (n=16) mostraram que os lobos da região amostrada, se agrupam
em três grupos familiares distintos, além de pelo menos quatro indivíduos não relacionados a
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parcelas de 100 m2 localizadas em cada transecto. A composição das comunidades foi reduzida a
uma dimensão pela Análise de Coordenadas Principais, utilizando-se o índice de dissimilaridade de
Sorensen. A composição de espécies apresentou relação com a estrutura da floresta (R2 = 0,693; F2,9
= 9,023; P = 0,009), sendo afetada negativamente pela abertura do dossel (p = 0,024) e
positivamente, mas de forma marginalmente significativa, com o tamanho das árvores (p = 0,057).
A abertura do dossel tem sido descrita como um dos mais importantes fatores da estrutura da
floresta e pode ser usada para caracterizar a produtividade, distribuição e abundância da biomassa
em ambientes de floresta. Além disto, está fortemente associada a outros atributos como a
distribuição da cobertura foliar, dimensão e sobreposição das copas, produção de troncos mortos
caídos, permeabilidade à luz, temperatura, umidade e crescimento primário da floresta. O diâmetro
das árvores é um parâmetro comumente utilizado em análises de estrutura da floresta. Esta variável
ambiental pode representar a altura e a estratificação vertical, o estágio sucessional e
consequentemente a idade da floresta. A abertura do dossel e o DAP das árvores, além de
influenciarem as comunidades de mamíferos terrestres, são fatores de fácil mensuração e podem ser
eficientes em programas de monitoramento, principalmente em sistemas baseados em amostragens
de parcelas permanentes. Estes fatores podem também ser captados por tecnologias de
sensoriamento remoto, tornando-se ferramentas importantes na elaboração de modelos preditivos de
diversidade de mamíferos, inclusive em escalas regionais. Os resultados deste estudo podem ser
utilizados para predizer características estruturais da composição de espécies de mamíferos no
Parque Nacional de Anavilhanas através da análise dos componentes de estrutura da floresta. Este
conhecimento pode também auxiliar na seleção de áreas prioritárias para a conservação das espécies
de mamíferos e seus habitats, bem como subsidiar oportunamente a revisão do Plano de Manejo e o
zoneamento desta importante Unidade de Conservação do Baixo Rio Negro.
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mesma forma que a tolerância dos fazendeiros ao lobo. Testamos alguns métodos de proteção da
criação, sendo planejado para tal experimento um módulo de galinheiro desenhado para isolar a
criação mantida solta, de acordo com a cultura local. Instalamos assim, os galinheiros para testar e
provar a efetividade de métodos preventivos contra predadores, com uma redução de 80% na taxa
de predação pós-instalação. Para motivar a população local a discutir os próprios problemas com a
finalidade de aumentar a sensibilidade, vimos fornecendo oportunidades para debates locais sobre
questões ambientais da região. Seguindo essa metodologia, conduzimos a produção de um livro
comunitário sobre a região e implementamos o “Cine-Lobo”. O livro comunitário (“Um Lugar
Chamado Canastra”) consistiu em uma reunião de 30 moradores locais que trabalharam juntos na
pesquisa e redação de temáticas como cultura, história, natureza e economia. O livro foi
posteriormente distribuído na comunidade e seu impacto vem sendo avaliado periodicamente. O
resultado principal foi ter a população local representada por um grupo que discutiu exaustivamente
questões polêmicas e transformaram pensamentos em um produto real. O “Cine-Lobo” consiste em
exibições de curtas-metragem de 15 minutos, produzidos pela equipe do projeto, sobre aspectos
gerais do lobo-guará, sobre as belezas naturais, fauna e flora locais, sobre conflitos entre o homem e
o lobo, sobre questões ligadas a saúde da população e sua relação com a fauna, apresentados em
escolas da região, fazendas e vilarejos. A apresentação dos curtas são seguidos por filmes sucesso
de bilheteria e uma discussão geral. Associando educação e entretenimento visamos estimular,
através dos filmes, debates sobre temáticas diversas e principalmente as questões ambientais. O
projeto já gerou 4 filmes curta-metragem, e apresentamos até o momento 32 seções do Cine-Lobo,
somando mais de 2.200 pessoas participantes destes eventos.
Midiã Larine Colares Gualberto¹; Silvia Carla Galuppo²; João Ricardo Vasconcellos Gama³; Renato Bezerra
da Silva4
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condições do PNA tornaram-se menos favoráveis, tendo o contexto da UC e da sua região passado
por profundas transformações. O planejamento da revisão deve embasar-se nesta avaliação,
buscando identificar aquelas experiências que contribuíram positivamente na execução das ações
definidas no plano de manejo e evitar incorrer sobre os mesmos aspectos falhos que dificultaram ou
impediram o efetivo desenvolvimento dos programas de manejo e do zoneamento.
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
pressão para a extinção de um conjunto de espécies. Vários resultados indicam que a pressão de
caça é um dos fatores de maior impacto para os mamíferos de médio e grande porte em paisagens
fragmentadas. Desta forma, o controle efetivo da caça é política fundamental para a manutenção da
diversidade de mamíferos carnívoros. O fato das comunidades perceberem o PNSI positivamente e
compreenderem o seu papel, possibilita uma aproximação para que em parceria a preservação dos
carnívoros seja efetivada. Vários aspectos observados neste diagnóstico demonstram que o caminho
para a reversão do atual quadro está principalmente na informação, conscientização e fiscalização.
(silvia.galuppo@icmbio.gov.br)
1
Bolsista PIBIC/ ICMBio, Estudante da Universidade Luterana do curso de Engenharia Agrícola, Santarém,
Pará, 2 Gestora da RESEX Marinha Chocoaré Mato-Grosso/ ICMBio.
O piquiazeiro (Caryocar villosum (Aubl.) Pers. – Caryocaraceae) é uma árvore emergente oriunda
da Amazônia, chegando a ter tronco de 2 a 5 metros de circunferência; espécie importante
economicamente pela qualidade da madeira e produção de frutos para populações humanas e
animais. Também, pode ser produzido o óleo de piquiá através da polpa do fruto, que é medicinal e
rico em betacaroteno, componente reconstituinte de tecidos. O óleo de piquiá é um importante
recurso na economia da Comunidade de Maguari, Floresta Nacional do Tapajós, Pará; onde é
exportado para uma indústria de cosmético francesa. Esta pesquisa teve como objetivo o estudo do
manejo dos frutos para a produção de óleo de piquiá. Buscaram-se metodologias ligadas à
etnobotânica, através de questionário semi-estrurado e acompanhamento da produção do óleo, além
de serem quantificados o número de árvores e frutos utilizados na produção, e caracterizadas as
formas de extração do óleo. Constatou-se que para cada 8 kg de polpa é possível obter-se 1 litro de
óleo de piquiá o que totaliza uma média de 200 frutos para cada 1 litro de óleo. Estes dados estão
sendo subsídios para o entendimento da cadeia produtiva deste produto e no auxílio aos produtores
no planejamento das próximas produções e no manejo deste recurso. Além disso, foram avaliadas as
formas de manipulação e higiene na confecção do produto.
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
1
Parque Nacional da Chapada Diamantina/ICMBio; 2Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq); 3Instituto de Gestão das Águas e Clima do Estado da Bahia (INGA).
O envolvimento da comunidade direta e indiretamente relacionada com uma unidade de
conservação é tido como uma das principais alternativas para minimizar os efeitos negativos do
entorno sobre a unidade, como a fragmentação ambiental e consequente insularização. Na busca de
identificar a relação da comunidade com o ambiente natural, foi aplicado um questionário em
alunos do Grupo Escolar Souto Soares, uma escola de ensino fundamental e médio do município de
Palmeiras (BA), como parte de um projeto de conhecimento das opiniões da comunidade escolar
sobre o ambiente natural. O questionário abordou questões relativas a fauna, a flora, a degradação
ambiental e a postura frente aos problemas apontados. As respostas foram analisadas dando ênfase
ao conhecimento dos alunos em relação à fauna e à flora. Os alunos foram divididos em dois
grupos, para cada turma: os que trabalham e estudam (ET) e os que apenas estudam (E). Os dados
foram comparados utilizando o programa MULTIV0, com distância de corda como medida de
semelhança e analise de coordenadas principais para ordenação. A significância dos eixos foi
testada utilizando autorreamostragem com 10000 iterações. A analise dos questionários mostra que
a maioria dos animais citados são domésticos (42,95%, principalmente gatos e cachorros) ou
exóticos (29,53%, como canários-belgas e leões). Apenas 15% das citações foram de espécies
animais nativas da Chapada Diamantina, principalmente coelhos e onças. Entre as espécies
vegetais, 50% das citadas são nativas, principalmente orquídeas e samambaias. Quando perguntados
sobre problemas ambientais, 43,05% das respostas indicaram o desmatamento como principal
questão, seguido de poluição (34,02%) e de ocorrência de fogo (11,11%). A ordenação dos dados
mostrou que os grupos ET ficaram distribuídos na porção inferior do gráfico, indicando uma
possível diferença de opiniões em relação aos grupos E. Porém, o teste de autorreamostragem
mostrou que os eixos 1 e 2 da ordenação não são significativos (P=0,63 e P=0,68, respectivamente).
Chama a atenção, nos resultados, o fato de que os alunos demonstraram conhecer melhor a flora do
que a fauna local. Também chama a atenção que os incêndios florestais são citados como terceiro
problema ambiental pelos alunos. Isto pode ser creditado à ênfase da mídia ao desmatamento e a
poluição ambiental. Os resultados da ordenação mostraram que será necessário amostrar novas
turmas para buscar o entendimento da comunidade escolar sobre os temas abordados.
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
em todo o período, mas quando comparadas com a altitude já se observa uma diferença nas
temperaturas, onde a estação a 2140 metros (Sino), apresenta uma média abaixo das outras duas
estações que tem 980 metros (Teresópolis) e 660 metros (Garrafão), uma diferença de 320 metros e
de 1 a 2 graus uma da outra, atingindo um pico no mês de junho onde ocorre a maior diferença entre
as estações, (6,4 ºC), onde o Garrafão marcava 23,5ºC e a Teresópolis 17,1ºC. Verifica-se que
quando se compara a altitude com a temperatura, que há uma relação inversa entre elas, quando
maior for a diferença de altitude menor e mais constante será a temperatura média. (Agradeço as
parcerias com INMET, Universidade de Leipzig e CRT, nas implantação das estações
meteorológicas e ao ICMBio pela bolsa de iniciação cientifica)
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
parte do Espinhaço, conhecida como Serra do Lobo. A análise de distância Euclidiana, que
considera a distribuição de todas as áreas de ocorrência simultaneamente, mostra que as manchas da
Serra do Lobo encontram-se em maior isolamento em relação às demais, espacialmente. Não se
conhece ainda o polinizador efetivo da espécie em questão, mas sabe-se que existem distâncias e
barreiras significativas entre estas regiões. A dispersão de pólen provavelmente é a principal forma
de fluxo gênico entre populações de V. gigantea, por ser transportado por polinizadores, enquanto as
sementes não apresentam características que indiquem boa dispersão (essencialmente barocórica).
O isolamento deve ser ainda mais severo na Serra do Lobo do que indica a geometria - a análise
realizada não leva em consideração a qualidade e geografia da matriz – as manchas da Serra do
Lobo encontram-se separadas das demais por altitudes muito mais baixas, e áreas bastante
perturbadas por fogo, plantios e pastoreio. Estes contrastes e distâncias devem dificultar o
movimento dos polinizadores. As presentes análises estão sendo confrontadas com dados de
variabilidade e similaridade genética entre as regiões. (Fundação O Boticário de Proteção à
Natureza, USFish & Wildlife Service).
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YAMAMOTO, O. H.; MENANDRO, P. R. M.; KOLLER, S. H.; LoBIANCO, A. C.; HUTZ, C. S.;
BUENO, J. L. O.; GUEDES, M. C. Avaliação de periódicos científicos brasileiros da área da
psicologia. Ciência da Informação. v. 31, n. 2, p. 163-177, 2002.
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hábito, sendo 35 epífitas, 29 rupícolas, 12 epífitas e rupícola e seis terrestres e saxícolas. Quanto ao
habitat, essas espécies ocorrem, predominantemente, em dois ambientes contrastantes: as florestas e
os afloramentos rochosos. Informações sobre o habitat foram encontradas para cerca de 80% das
espécies, estando 34 espécies em afloramentos rochosos, 35 em formação florestal, 11 em ambos e
oito em margem de rio, restinga aberta e campo úmido.
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brasileiros e com datas variando de 1847 a 2008. Foram gerados 9 mapas temáticos a partir da
importação dos dados armazenados para o software de SIG ArcGis 9.3, utilizando-se a função “Add
XY Data” e diferentes camadas temáticas (Unidades de Conservação de Uso Sustentável, UC de
Uso Integral, malha municipal, hidrografia e limites estaduais). O aplicativo SIG tem se
demonstrado uma ferramenta eficiente para avaliar a distribuição geográfica de espécies, visto que
possibilita uma análise ampla por permitir uma sobreposição de camadas temáticas, gráficos
integrados em única base de dados, e funções de análise espacial como a seleção por localização. Os
quatro primatas brasileiros vulneráveis que ocorrem na Mata Atlântica e áreas de transição com
Caatinga e Cerrado concentraram 81,93% dos registros de ocorrência, variando entre 31
(Callicebus melanochir) e 137 (Cebus robustus) registros/táxon. Já os seis táxons amazônicos
apresentaram apenas 18,07% do total de registros, variando entre 3 (Saimiri vanzolinii) a 21
(Cacajao calvus calvus) registros/táxon. Isto evidencia o histórico de concentração de investigações
primatológicas na Mata Atlântica e reforça a prioridade do desenvolvimento de pesquisas
biogeográficas na Amazônia. Dentre os táxons avaliados 5 tiveram ocorrência registrada em pelo
menos uma Unidade de Conservação de Proteção Integral e 8 em Unidades de Conservação de Uso
Sustentável. Para Cacajao calvus novaesi não há novos registros desde 1999 e não há ocorrência
confirmada em UC. Populações destes táxons mais desprotegidos devem ser priorizadas na criação
e ampliação de UC. Este mapeamento contribui para evidenciar disparidades regionais, lacunas de
proteção e região prioritária para a pesquisa de primatas vulneráveis. (Agências financiadoras:
ICMBio e PIBIC/CNPq)
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
foi feita uma busca exaustiva de referências bibliográficas sobre as seis espécies de canídeos
brasileiros: Cerdocyon thous, Lycalopex gymnocercus, Speothos venaticus, Chrysocyon brachyurus,
Lycalopex vetulus e Atelocynus microtis; sendo encontradas 663 referências, das quais foram
extraídos os dados mais importantes para a conservação dos canídeos brasileiros. As informações
encontradas foram principalmente relativas à distribuição geográfica das espécies, dieta e área de
uso dos animais, fontes de mortalidade, exposição a patógenos e doenças clínicas apresentadas
pelos indivíduos. Além disso, foram evidenciadas as carências de pesquisas relacionadas a algumas
características importantes para a conservação, como idade da fêmea na primeira prole, número de
filhotes/ prole, número de filhotes/ ano, tempo de dependência dos filhotes, sexo que dispersa, idade
ao dispersar, supressão reprodutiva e Unidades Evolutivas Significantes (UES). Tais resultados
confirmam a possibilidade do uso da informação científica no planejamento da conservação, bem
como a importância de sua sistematização a fim de apontar lacunas geográficas e temáticas de
conhecimento.
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
Atualmente no Brasil existe uma lista federal e seis estaduais de espécies da fauna ameaçadas de
extinção, totalizando 46 espécies de anfíbios. A destruição de habitats é o fator que mais contribui
para o declínio das populações e, certamente, as espécies que têm pequena área de distribuição são
as mais afetadas. O objetivo deste trabalho foi modelar a distribuição potencial das espécies de
anfíbios que constam nessas listas, quantificar o quanto dessas distribuições está em remanescentes
de vegetação nativa, em Unidades de Conservação (UC), e em Áreas Prioritárias devido à
importância biológica. Dos anfíbios ameaçados, foram analisadas as espécies continentais que
tinham pelo menos dois pontos diferentes de ocorrência, totalizando 32 espécies. O programa
computacional utilizado foi o Maxent e a classificação do tamanho da distribuição seguiu a IUCN.
Os resultados predisseram distribuições potenciais restritas para Adelophryne maranguapensis,
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
captação de água. Diante do enorme potencial espeleológico da Serra da Bodoquena, este Banco de
Dados propicia aos gestores uma fonte de informações organizada sobre as CNS conhecidas, além
de permitir a organização dos dados a serem descobertos futuramente.
Referências
BOGGIANI, Paulo C.; SALLUN FILHO,William; KARMANN, Ivo; GESICKI, A.L.; PHILADELPHI,
N.M.; PHILADELPHI, M. Gruta do Lago Azul, Bonito, MS - Onde a luz do sol se torna azul.
In: WINGE, M.; SCHOBBENHAUS, C.; SOUZA, C.R.G.; FERNANDES, A.C.S.; BERBERT-
BORN, M.; QUEIROZ, E.T. (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. p. 1-11,
2.008. Disponível em: http://www.unb. br/ig/sigep/sitio107/sitio107.pdf. Acesso em fev. 2.008.
SALLUN FILHO, W. ; KARMANN, I. ; BOGGIANI, P. C. Paisagens Cársticas da Serra da
Bodoquena, MS. In: Virginio Mantesso-Neto; Andrea Bartorelli; Celso Dal Ré Carneiro e
Benamin Bley de Brito-Neves. (Org.). Geologia do Continente Sul-Americano. 1ª ed. São
Paulo: BECA, 2004. v. 01, p. 423-433.
SALLUN FILHO, William; KARMANN, Ivo. Geomorphological map of the Serra da Bodoquena
karst, west-central Brazil. Journal of Maps, Surrey (Reino Unido), Special Issue n.0. p.
282-295, 2007. Disponível em <http://www. journalofmaps.com>. Acesso em dez. 2007.
BOGGIANI, P.C.; COIMBRA, A.M.; GESICKI, A.L.; SIAL, A.N.; FERREIRA, V.P.; RIBEIRO,
F.B.; FLEXOR, J.M. Tufas Calcárias da Serra da Bodoquena. In: SCHOBBENHAUS, C.;
CAMPOS, D.A.; QUEIROZ, E.T.; WINGE, M.; BERBERT-BORN, M. (Edit.) Sítios
Geológicos e Paleontológicos do Brasil. 1999. Disponível em: http://www.unb.br/ig/sigep/
sitio034 /sitio034.htm. Acesso em mai. 2.007
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Programação
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26 de agosto, 1º dia
Palestras
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
internacional (SCARANO; OLIVEIRA, 2005). No entanto, como destacam estes autores, este
conhecimento não se reverte em geração de teoria ecológica inovadora, ou em clara melhora nas
práticas de gestão, ou mesmo de manejo das áreas protegidas. Por que este hiato?
De certa forma é fácil (ou estamos treinados para) ver inovação e tecnologia onde o meio
ambiente tem suas facetas químicas, físicas, ou na engenharia – de fato são notáveis as inovações
nas formas de utilização de materiais, re-usos, otimizações, nas alternativas de geração de energia e
uso do calor, descarte de materiais e esgotamentos, por exemplo. Ou ainda inovação no
gerenciamento da informação, na criação de bancos de dados, na aquisição de informações.
Mas ainda existe uma forte resistência para enxergar a gestão de unidades de conservação
como passível de uma abordagem científica. É uma atividade extremamente complexa que envolve
decisões em diversos níveis, muitos atores, imensa subjetividade e complicada legislação, além dos
problemas trazidos com a irregularidade no aporte de recursos. Para muitos pesquisadores, não é
terreno para a pesquisa científica, pois é difícil ou quase impossível propôr e testar hipóteses
reducionistas. No entanto, é justamente um contexto fértil para novas perguntas, novas abordagens e
novos entendimentos. É preciso, como diz Morin (2005):
“ver se há um modo de pensar, ou um método capaz de responder ao
desafio da complexidade. Não se trata de retomar a ambição do
pensamento simples que é a de controlar e dominar o real. Trata-se de
exercer um pensamento capaz de lidar com o real, e de com ele dialogar e
negociar (p. 6).”
A busca de tais métodos está em curso, e nesta caminhada temos que aprender a usar e fazer
ciência, e desmistificá-la, mantendo o rigor, e ampliando as questões trabalhadas.
A pesquisa não é uma atividade isenta de valores e perfeita em si mesma - é também vítima
de priorizações, vaidades, miopias, oportunidades conforme a disponibilidade de recursos, e todos
os outros vieses que afetam todas as outras atividades humanas. Pertencemos a uma sociedade forte
e crescentemente associada ao conhecimento científico, cujo vocabulário e forma de abordar o
mundo permeiam todos os setores da vida sem que tenhamos plena consciência disso, e por isso
mesmo precisamos ficar atentos aos seus potenciais bem como aos limites, sem dispensá-lo ou
idealizá-lo, mas temos de usá-lo como uma excelente ferramenta de geração, organização e
comunicação de conhecimento.
No roteiro metodológico para elaboração de planos de manejo de Parques, Reservas
Biológicas e Estações Ecológicas (IBAMA, 2002), propõe-se claramente que o planejamento pode
partir de uma base simples de informação, orientando os anos logo seguintes de gestão de uma UC,
com diretrizes para suas diversas áreas de atuação, incluindo a pesquisa, que deve ser conduzida de
forma a atender as demandas de manejo sem que se cerceie a liberdade de se propôr temas diversos
de pesquisa, claro que respeitando a legislação e o bom senso.
No entanto, diversas situações fazem com que os planos de manejo se tornem peças pesadas
de informação, pouco integrada, e que sejam usados por muitos anos sem revisão – a falta de
recursos e/ou sua irregularidade, numerosas UCs sendo criadas ou ampliadas com prioridade de
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
planejamento, etc. Assim tende-se a enxergar uma peça de planejamento como um produto final, e
não como o início de um longo processo de estudo, planejamento, implementação, avaliação e
replanejamento.
A falta de registro organizado de informações cotidianas sobre gestão e sobre os dados de
pesquisa também contribui fortemente para este descolamento entre as peças de planejamento. Este
entendimento é compartilhado por vários gestores, e se reflete em diversos dos trabalhos de
servidores lotados em unidades de conservação contidos neste volume - são esforços de
sistematização de dados de publicações, políticas públicas, avaliações de gestão. Não basta
tampouco ter extensos bancos de dados – é preciso domínio sobre os temas, sobre a teoria, contexto
e gestão para que as informações possam ser integradas e usadas (integração em que mais valem a
clareza das idéias do que os algoritmos matemáticos).
Quando a pesquisa é vista como atividade cotidiana, uma forma de abordar os problemas,
como uma ferramenta, atividade que precisa ser alimentada como todas as demais em uma área
protegida, e que não se desvincula, pelo contrário, se integra a todas as demais, com seus potenciais
e dificuldades, torna-se fácil inseri-la no ciclo de gestão, bem como usar seus recursos sem
melindres e sem também idealizar demais suas contribuições. E cultiva-se então o hábito de discutir
todas as demais informações de forma menos apaixonada e mais objetiva.
Todo conhecimento é limitado – nenhum gestor, pessoa ou instituição toma decisões com
plena certeza e convicção – precisamos fazer apostas e pactos de gestão (pactos devem ser
conhecidos e efetivamente acordados) com base na comunicação das premissas e informações
prévias consistentes que pautaram propostas. Mais um motivo para se destacar a importância dos
processos de planejamento participativo, e que estes sejam cada vez mais bem instruídos e com
retorno consistente à sociedade.
Com as duas considerações acima, tem-se que o conhecimento pauta decisões que vão ser
encaminhadas e monitoradas, com novos aportes de informação que gerarão novos conhecimentos,
abordagens e por vezes novas visões sobre um assunto.
Apresento como estudo de caso de integração de vários temas de pesquisa o manejo do fogo
na Serra do Cipó. O combate ao fogo era visto, como em muitas UCs, como uma atividade
consumidora de energia, cotidiana, exaustiva, a ser repetida todo ano, uma batalha de Sísifo.
Trazemos uma experiência em que o desafio de entender o fogo trouxe mais vida à unidade de
conservação, uma integração entre manejo, relação com o entorno e ex-moradores, e pesquisas
realizadas de modo independente, por servidores ou fomentadas pela instituição.
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
de plantio e também vingança contra a UC. No fim de 2002 e nos anos subseqüentes, a constatação
de que a situação fundiária estava bem encaminhada permitiu a retirada do gado e o combate ao
discurso de que ninguém havia sido indenizado. O Parque Nacional da Serra do Cipó tem hoje cerca
de 95% da situação fundiária resolvida.
O programa de prevenção e combate aos incêndios ficou alicerçado, de início, na busca de
soluções e entendimento da questão fundiária e retirada do gado, e na definição de áreas prioritárias
para proteção, que contou com apoio da Conservação Internacional, para montagem de um
laboratório de geoprocessamento e contratação de bolsistas, com nossa orientação. Questionou-se
primeiro quais fisionomias seriam mais sensíveis ao fogo – as florestais, p.ex., e quais devem ser
protegidas para que retornem à sua condição original. Dentre estas, deveriam ser priorizadas
aquelas que, uma vez reconstituídas, servissem de barreiras à propagação do fogo.
Nesta ocasião constatarmos quão pouca memória se tem da vegetação original, e passamos a
investigá-la com base em testemunhos antigos de naturalistas (ex. Saint Hilaire, Gardner,
Langsdorff), espécies indicadoras, dados climáticos, dentre outros para inferir qual vegetação
deveria ocorrer em cada trecho e pensar quão sensível deve ter sido à passagem do fogo, definindo
novas prioridades, com que se chegou a uma nova delimitação dos biomas na região (RIBEIRO et
al., 2009), agora parcialmente inserida no bioma Mata Atlântica, com conseqüências para o
licenciamento e para propostas de uso sustentável de outros recursos. Solicitou-se um mapeamento
de vegetação potencial, com base em dados de solos, geomorfológicos e outros, pensando-se em
uma ‘arqueologia da paisagem’ (SCHAEFFER et al., 2008). São estudos que têm estimulado maior
associação entre pesquisas biológicas e conhecimento do meio físico, bem como a exploração das
vertentes orientais bem como a ampliação do parque. A espacialização dos dados de pesquisa, por
temas (MADEIRA et al., 2008), também tem sido importante base para novas pesquisas, e vem
sendo feito por várias UCs.
O intenso combate aos incêndios, que se revelou eficaz, suscitou novas polêmicas e
investigações. As críticas se davam (e ainda se dão) em torno de dois argumentos principais – que o
cerrado precisaria queimar, que o acúmulo de combustível é risco de desastres e que práticas antigas
sustentáveis estavam se perdendo. Levaram a investigações sobre que proporção do parque e seu
entorno podem ser considerados como integrantes do Cerrado e pesquisas visando a distinção entre
uso do fogo para prevenir desastres e uso do fogo para manter dinâmicas populacionais naturais,
envolvendo muitos pesquisadores (UFMG, UFABC, UnB) e financiamento do parque (USFish &
Wildlife Service). Já se tem fortes indícios de que o fogo no auge da estação seca pode ser bastante
daninho (ex. Vellozia gigantea, Actinocephalus polyanthus) e que maior freqüência de incêndios por
raio, naturais e menos extensos, decorrem da supressão do fogo antrópico. Também temos
questionado se o uso pregresso do fogo era de fato tão racional ou se apenas alguns donos de terra
adotavam tais práticas. É necessário ainda avaliar que condições sócio-econômicas e culturais
favoreceriam o uso de técnicas mais amenas de uso do fogo. Como subsídio a estes estudos, fez-se
o mapeamento das queimadas a partir de imagens de satélite desde 1984 até 2004 (FRANÇA;
RIBEIRO, no prelo).
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
Considerações finais.
Tenho certeza de que temos uma forte contribuição a dar à ciência, justamente em função
desta nossa posição múltipla de usuário da informação, demandante, sistematizados e realizador da
pesquisa. Temos que dar respostas à sociedade, e por isso temos que contextualizar nossas pesquisas
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
e em determinados momentos atribuir-lhes juízo de valor, ou mesmo reconhecer que para uma certa
decisão ainda não temos dados palpáveis, mas que temos discernimento e capacidade de reavaliar
decisões. Enfim, temos que aceitar que decisões também se pautam em aspectos subjetivos.
Para nos fazermos respeitar como instituição de pesquisa temos ainda o desafio de nos
reconhecermos como tal, respeitarmos e buscarmos atendem a algumas das métricas em Ciência e
Tecnologia, selecionando as que nos são pertinentes. Precisamos compôr grupos de pesquisa, nos
cadastrar nas plataformas diversas, e precisamos publicar nossos resultados nas mais diversas áreas,
buscando fóruns e publicações de visibilidade para que possamos mostrar a complexidade com que
lidamos e as ferramentas que vimos construindo ao longo dos anos.
Por fim, uma rápida análise dos trabalhos enviados a este primeiro seminário de pesquisa
evidencia a visão predominante em relação à pesquisa - algo muito objetivo, delimitado, feito por
especialistas e que, no âmbito desta instituição, trataria de questões da Natureza, como
biodiversidade. Muitas das nossas atividades, que são mensuradas, analisadas e refletidas, não
foram trazidas a este momento de debate, e esperamos que venham a compor os próximos
encontros, como as informações usadas e integradas para planejamento do uso público, avaliação
das ferramentas de educação e comunicação, eficácia e planejamento das ações de fiscalização,
situação fundiária nas unidades de conservação, estudos sócio-econômicos, dentre tantos outros.
Referências
FRANÇA, Helena; RIBEIRO, Katia T. Mapeamento de queimadas no Parque Nacional da Serra
do Cipó e na Área de proteção ambiental Morro da Pedreira - MG: 1984-2007. Brasília:
Ministério do Meio Ambiente, no prelo. 76p.
IBAMA. Roteiro Metodológico de Planejamento: Parque Nacional, Reserva Biológica, Estação
Ecológica. Brasília, DF. 2002. 136p.
MADEIRA, João A.; RIBEIRO, Kátia T.; OLIVEIRA, Marcelo J. R.; NASCIMENTO, Jaqueline.
S.; PAIVA, Celso. L. Distribuição espacial do esforço de pesquisa biológica na Serra do
Cipó, Minas Gerais: subsídios ao manejo das unidades de conservação da região.
Megadiversidade (Belo Horizonte), v. 4, n. 1-2, p. 255-269, 2008.
MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Editora Sulina, 2005. 120p.
RIBEIRO, Katia T., NASCIMENTO, Jaqueline S.; MADEIRA, João A.; RIBEIRO, Leonardo C.
Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil: visando maior
compreensão e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado. Natureza &
Conservação, v. 7, p. 30-49, 2009.
RIBEIRO, Kátia T.; DE FILIPPO, Daniela C. Breve história do combate a uma planta invasora na
Serra do Cipó, ou como agir evitando a xenofobia. Revista Brasileira de Educação
Ambiental, submetido.
SCARANO, Fábio R.; OLIVEIRA, Paulo E. A. M. Sobre a importância da criação de mestrados
profissionais na área de ecologia e meio ambiente. Revista Brasileira de Pós Graduação,
v. 2, n. 4, p. 90-96, 2005.
SCHAEFER, Carlos E. G. R.; MICHEL, Roberto F. M.; CHAGAS, César S.; FERNANDES-
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
FILHO, Elpídio I.; VALENTE, Elton L.; SOUZA, E.; VASCONCELOS, B. N. F.;
RIBEIRO, A. S. S. Diagnóstico do Meio Físico da APA do Morro da Pedreira e Parque
Nacional Serra do Cipó, Subsídios ao Plano de Manejo. Viçosa: Universidade Federal de
Viçosa. Relatório técnico. 2008, 78p.
Mesas Redondas
Análises de cenários de exploração florestal por meio de modelos de simulação são úteis e
muito importantes para a análise da dinâmica temporal e espacial em sistemas complexos de
florestas tropicais úmidas, para avaliar os possíveis efeitos a longo prazo sobre a diversidade
genética. Especialmente devido ao fato de essas espécies arbóreas serem centenárias, o que
praticamente impede um estudo real do seu ciclo de vida. Essa realidade faz com que a modelagem
seja a alternativa mais robusta e indicada para estudos que visem a definição de estratégias
eficientes de conservação e manejo da biodiversidade a longo prazo.
A fragmentação florestal reduz a continuidade da floresta, criando pequenos fragmentos
florestais, gerando o risco de perda de populações e isolamento. Esta alteração causada pela
remoção de árvores, e conseqüentemente alelos pode levar a uma alteração da estrutura genética
devido a alterações no fluxo gênico da população remanescente, afetando a habilidade reprodutiva
dos indivíduos. Áreas fragmentadas onde existem pequenas populações estão propensas à
endogamia e deriva genética resultantes da subdivisão. A endogamia pode atuar desmascarando
alelos deletérios recessivos, levando a diminuição do valor adaptativo da população a curto prazo,
causando redução da heterozigosidade, podendo resultar em perda de diversidade alélica.
Estudiosos acrescentam que este declínio na variação genética pode inibir no futuro a
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
Simulações de diferentes cenários, desde uma floresta intacta, sem corte, até uma floresta
com cortes intensos podem ser realizadas. Os resultados obtidos a partir de diferentes cenários de
exploração permitem, portanto, quantificar o impacto na estrutura genética populacional, bem como
na demografia da espécie. Com base nesses resultados torna-se possível buscar um ponto de
equilíbrio satisfatório entre a exploração e a conservação florestal. Além disso, por considerar as
características intrínsecas de cada espécie, com esse programa é possível identificar as diferentes
conseqüências de um mesmo modelo de exploração em espécies que possuem diferentes
características ecológicas e genéticas. Portanto, torna-se possível verificar que um modelo de
exploração madeireira que seja eficiente para a conservação a longo prazo de uma espécie pode não
ser eficiente para outras. A partir dessas informações, o manejo florestal pode se tornar cada vez
mais eficiente no sentido de garantir a manutenção dos estoques exploráveis das mais diferentes
espécies.
Uma série de fatores deve ser considerada na formulação de um sistema de manejo. Um dos
importantes pontos a serem abordados para a exploração florestal é a definição do ciclo de corte,
além do conhecimento de como as árvores por classe de diâmetro desenvolvem-se ao longo do
tempo e o diâmetro mínimo de árvores reprodutivas. Dentre outros, devem ser considerados fatores
como suscetibilidade das espécies florestais à exploração; a viabilidade econômica do manejo
sustentado; maior eficiência no processo de beneficiamento e aproveitamento da madeira; a
racionalização das técnicas de exploração e transporte, dentre outras. Para a definição de todos esses
fatores é fundamental que se tenha um bom conhecimento da dinâmica populacional.
Neste sentido, os objetivos do Eco-Gene são promover análises de interações genéticas em
populações complexas, visando compreender a complexidade das interações; testar hipóteses no
sistema genético de populações arbóreas; analisar os efeitos da atividade humana na estrutura
genética de populações naturais e a partir desses resultados abrir uma discussão mais ampla para o
manejo sustentável de recursos florestais incluindo uma base genética.
Vale ressaltar, entretanto, que a modelagem é um indicativo do cenário futuro da população,
e devido à diversas variáveis, não deve ser considerada como capaz de fornecer resultados absolutos
e precisos a respeito do futuro da floresta, mas deve ser considerada como um indicativo de que as
atitudes adotadas podem não ser eficientes para a manutenção da floresta a longo prazo. A
importância da utilização deste tipo de ferramenta está no fato de ser possível realizar previsões a
longo prazo, i.e., centenas de anos, estudos esses impossíveis de serem conduzidos de forma real,
para impedir perdas significativas na biodiversidade das florestas tropicais.
66
1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
Introdução
Modelos de seleção de reservas são programas de computador desenvolvidos para avaliar a
representatividade de sistemas de unidades de conservação voltadas para a proteção da
biodiversidade e encontrar locais adicionais que complementem a proteção inicialmente promovida
pelas áreas existentes. De acordo com Pressey et al. (2008), os ingredientes básicos para o
funcionamento dos modelos são a definição de unidades de planejamento para a região sob análise,
a elaboração de mapas de distribuição da biodiversidade, a definição dos objetos de conservação e
suas respectivas metas e a construção de uma matriz mostrando o grau de ocorrência dos objetos
nas unidades de planejamento. Com base nesses elementos, os modelos de seleção de reserva
procuram encontrar soluções espaciais que indiquem regiões não protegidas que sejam essenciais
para a construção de sistemas representativos e eficientes para a conservação, ou seja, sistemas que
protejam adequadamente todos os objetos de conservação previamente selecionados.
O grau de importância das áreas não protegidas (as unidades de planejamento) necessárias
para a incorporação no sistema existente de unidades de conservação é denominado
insubstituibilidade (Pressey et al. 1994). O termo refere-se à probabilidade de uma unidade de
planejamento ser necessária para o cumprimento das metas de conservação dentro da região de
análise, sendo tal medida representada em uma escala de 0 (unidades totalmente substituíveis ou
baixa importância) a 1 (unidades totalmente insubstituíveis ou essenciais para o cumprimento das
metas de conservação). Embora o uso da estimativa de insubstituibilidade represente um importante
avanço no planejamento de sistemas mais representativos e otimizados de proteção da
biodiversidade, a abordagem assume que as unidades de conservação existentes estariam cumprindo
o seu papel de maneira satisfatória. Contudo, essa não é a realidade das unidades de conservação
brasileiras. De acordo com o Grupo de Trabalho sobre Sustentabilidade Financeira do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza- SNUC (MMA 2007), as unidades atuais
carecem de recursos (seriam necessários R$ 1,8 bilhões de reais para novos investimentos [nota:
valores sem correção monetária]) e de pessoal (as unidades existentes no Brasil possuem apenas 1/6
do que seria minimamente adequado). Uma outra estimativa, baseada nos valores do orçamento do
governo federal sugere que as unidades de conservação do Cerrado receberiam apenas a metade dos
recursos financeiros necessários para uma manutenção condizente (Fonseca et al. 2008).
Além da falta de recursos, aspecto que demandaria o estabelecimento de prioridades de
investimentos para implantação, não existe uma avaliação clara do papel que cada unidade de
conservação desempenha dentro do SNUC. Sem tal informação não é possível avançar nos
trabalhos de planejamento, pesquisa e monitoração da biodiversidade das unidades de conservação.
Neste ensaio pretende-se demonstrar que os modelos de seleção de reservas e a abordagem do
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
planejamento sistemático para a conservação (Cowling & Pressey 2003; Margules & Pressey 2000)
podem ser ferramentas extremamente úteis para a solução dessas duas questões: como definir
prioridades de implantação e qual é o papel de uma determinada unidade de conservação dentro do
SNUC. Para tanto, foram utilizados dados do exercício de identificação das áreas insubstituíveis da
Cadeia do Espinhaço, estudo esse conduzido por Silva e colaboradores (Silva et al. 2008). No
estudo do Espinhaço foram considerados 648 objetos de conservação, incluindo espécies de animais
e plantas raros e ameaçados, tipos de ecossistemas (combinação de tipos de vegetação com
topografia) e recursos hídricos (nascentes de rios). Na região avaliada, que cobre uma área que vai
desde as proximidades de Belo Horizonte-MG até o Morro do Chapéu na Bahia, existem 31 áreas
protegidas, formadas por unidades federais, estaduais e municipais. Contudo, nessa avaliação foram
consideradas somente 25 unidades de conservação, sendo que a análise de lacunas realizada
mostrou que tais unidades protegem adequadamente 318 objetos de conservação (considerando o
cumprimento de 50% da meta estabelecida para cada objeto).
A avaliação do papel de cada unidade de conservação nessa proteção inicial indicou uma
grande discrepância entre elas. O Parque Nacional da Serra do Cipó (MG) é a unidade que mais
contribuiu para o cumprimento inicial das metas: proteção de 193 objetos ou 60,7% daquilo
inicialmente protegido. Em seguida vieram as unidades RPPN Serra do Caraça (19,5% de
contribuição), Parque Estadual do Itacolomi-MG (4,1%), Parque Estadual Grão Mogol-MG (3,1%)
e Parque Estadual do Rio Preto-MG (3,1%). Essas seriam as unidades de conservação mais
prioritárias para implementação, pois a definição de um sistema de unidades de conservação que
seja representativo na região depende do bom desempenho dessas unidades, que respondem por
90,6% das metas estabelecidas.
Embora o método utilizado contribua para a definição de prioridades de implementação de
unidades de conservação e também ressalte o papel de cada área dentro do SNUC, aspecto que
facilita a definição de estratégias de pesquisa, manejo e monitoração, é preciso lembrar que o
conhecimento científico é ainda bastante incipiente na região, pois a grande maioria dos dados de
espécies está concentrada na porção sul do Espinhaço, em especial no Parque Nacional da Serra do
Cipó. Um outro aspecto a ser considerado é que a análise de priorização de áreas para serem
implementadas é muito influenciada pelos valores definidos para as metas de conservação.
Entretanto, mesmo com essas ponderações, a análise pode ser aplicada em qualquer região e pode
revelar, inclusive, em quais unidades devem ser feitas novas pesquisas para confirmar a presença
dos objetos de conservação previamente selecionados.
Referências
Cowling, R. M., and R. L. Pressey. 2003. Introduction to systematic conservation planning in the
Cape Floristic Region. Biological Conservation 112:1-13.
Fonseca, G. A. B., R. B. Machado, and A. C. A. Prado. 2008. A falta de investimentos como ameça
à integridade do Cerrado. Pages 1185-1198. Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio
entre sociedade, agronegócio e recursos naturais. Embrapa Cerrados, Brasilia-DF.
Margules, C. R., and R. L. Pressey. 2000. Systematic conservation planning. Nature 405:243-253.
MMA. 2007. Pilares para o Plano de Sustentabilidade Financeira do Sistema Nacional de Unidades
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
Introdução
O Brasil é o país com a maior diversidade de anfíbios do mundo, com 849 espécies, e com o
maior número de endemismo, e, em relação aos répteis, é o terceiro, com 708 espécies (SBH, 2009).
Atualmente no país, existe uma lista federal e 6 estaduais de espécies da fauna ameaçadas de
extinção, totalizando 46 espécies de anfíbios e 68 de répteis. A destruição de habitats é o fator que
mais contribui para o declínio das populações (SILVANO; SEGALLA, 2005), sendo que, espécies
com pequena área de vida estão positivamente correlacionadas ao risco de extinção (LIPS et al.,
2003; HERO et al., 2005; WATLING; DONNELY, 2007).
Quando se pensa em conservação das espécies do planeta, surgem à mente as seguintes
perguntas: Quantas espécies existem? Como elas se distribuem? Como são afetadas pelas mudanças
ambientais? Essas informações são escassas para a maioria das espécies, a busca é um desafio, pois
exige tempo, dinheiro e pessoas qualificadas.
A avaliação permanente da distribuição geográfica das espécies é importante para definição
e validação das ações conservacionistas, entretanto, a obtenção de dados em campo é dispendiosa e
às vezes incerta. Para contornar esses problemas os pesquisadores têm utilizado modelos
computacionais que associam informações de ocorrência das espécies com dados ambientais, para a
predição da distribuição geográfica potencial das espécies (SILVA et al., 2007), facilitando o
planejamento de expedições e tomadas de ações conservacionistas.
Neste sentido, o RAN buscou modelar a distribuição potencial de répteis e anfíbios
ameaçados de extinção, visando quantificar o quanto dessa distribuição está em remanescente de
vegetação nativa, em unidades de conservação e em áreas prioritárias para conservação.
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
Material e métodos
Na coleta de dados, utilizou-se como base as listas oficiais brasileiras da fauna ameaçada de
extinção dos Estados de São Paulo, Minas Gerais (BIODIVERSITAS, 2007); Rio Grande do Sul
(MARQUES et al., 2002); Rio de Janeiro (BERGALLO et al., 2000); Paraná (MIKICH; BÉRNILS,
2004); Pará (SECTAM, 2006), e a lista federal (MACHADO et al., 2008); contabilizando um total
de 68 espécies de répteis e 46 anfíbios.
Os registros de ocorrência foram obtidos através de artigos, teses, relatórios, periódicos,
dissertações, revistas e livros presentes no RAN/ICMBio, na Universidade Federal de Goiás-UFG e
na internet. Os registros de ocorrências e as informações eco-biológicas foram lançados em uma
planilha eletrônica Excel, contabilizando 160 publicações para répteis e 136 para anfíbios.
Das espécies de anfíbios e répteis ameaçadas, foram analisadas as espécies continentais que
tinham pelo menos 2 pontos diferentes de ocorrência, totalizando 32 espécies de anfíbio e 17 de
répteis. O programa computacional utilizado foi o Maxent. Para modelagem foram utilizadas 8
variáveis climáticas e topográficas. Os mapas foram feitos utilizando-se a distribuição potencial
contínua. Os modelos de espécies com até 10 registros de ocorrência foram cortados com o limiar
Minimum Training Presence e para espécies com mais dados foi utilizado o limiar Maximum
training sensitivity plus specificity. A partir desses modelos, foram realizadas análises para estimar a
área de distribuição potencial de cada espécie e para quantificar o quanto da distribuição está em
remanescentes de vegetação nativa. Em seguida, avaliou-se o quanto dessas ultimas áreas está em
unidades de conservação e em áreas prioritárias, através do programa Arcview 3.2. As espécies
foram classificadas de acordo com o tamanho da distribuição, seguindo os parâmetros da IUCN em
bastante restritas (até 100 km2), restritas (até 5.000 km2), intermediárias (até 20.000 km2) e amplas
(acima de 20.000 km2).
Resultados e discussão
Na Tabela 1, observa-se, que apesar dos anfíbios modelados estarem em listas de espécies
ameaçadas, 21 espécies possuem menos de 20% da sua distribuição dentro de unidades de
conservação (UCs). Entretanto, 23 espécies possuem mais de 50% de sua distribuição dentro de
áreas prioritárias. Os resultados predisseram distribuições históricas potenciais restritas para
Adelophryne maranguapensis, Holoaden luederwaldti, Physalaemus soaresi e Melanophryniscus
cambaraensis. As espécies Bolitoglossa paraensis, Paratelmatobius lutzii e Thoropa petropolitana
obtiveram distribuições intermediárias. As outras espécies apresentaram distribuições potenciais
amplas, como Rhinella ocellata, mas esta, teve uma perda de 94,8% de seu habitat. Todavia,
considerando-se apenas a vegetação remanescente, Holoaden bradei e Melanophryniscus
macrogranulosus passam a constar no grupo de espécies com distribuição intermediária. Todos os
modelos gerados obtiveram AUC superior a 0,9.
Tabela 1: Apresenta o tamanho da distribuição histórica (Dist. Hist.) das 32 espécies de anfíbios
modeladas, tamanho de remanescentes de vegetação nativa (Dist. Reman.), porcentagem da
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
Espécie Dist. Hist. (Km2) Dist. Reman. (Km2) Porc. Porc. Porc.
Reman. AP (%) UC
(%) (%)
Adelophryne maranguapensis 2609,034 (a) 2146,141 (a) 82,3 96,1 0
Bokermannohyla izecksohni 415152,079(c) 143686,257(c) 34,6 55,2 19,7
Bolitoglossa paraensis 14433,852 (b) 8142,712 (b) 56,4 71,1 1,0
Brachycephalus pernix 339511,122 (c) 168282,719 (c) 49,6 58,2 19,4
Dendropsophus anceps 1140337,398 (c) 372292,376 (c) 32,6 43,8 7,2
Elachistocleis erythrogaster 154774,654(c) 77071,718(c) 49,8 44,8 2,7
Eleutherodactylus binotatus 626399,703(c) 257200,294(c) 41,1 58,2 14,8
Holoaden bradei 36821,050(c) 16159,181 (b) 43,9 71,9 38,4
Holoaden luederwaldti 1914,695 (a) 1220,355 (a) 63,7 94,8 91,4
Hyalinobatrachium
uranoscopum 700694,061(c) 287498,758(c) 41,0 8,0 12,9
Hylodes magalhaesi 155363,790(c) 61122,943(c) 39,3 63,8 27,3
Hylomantis granulosa 281186,578(c) 69097,330(c) 24,6 58,6 7,4
Hypsiboas beckeri 90516,661(c) 39914,018(c) 44,1 66,1 25,9
Hypsiboas cymbalum 313946,793(c) 120920,328(c) 38,5 58,5 21,1
Hypsiboas stenocephalus 73452,735(c) 33265,189(c) 45,3 69,5 34,0
Limnomedusa macroglossa 606348,011(c) 286173,201(c) 47,2 49,2 10,0
Melanophryniscus
cambaraensis 4881,419 (a) 1514,923 (a) 31,0 97,2 16,7
Melanophryniscus dorsalis 149956,356(c) 50602,643(c) 33,7 49,6 12,0
Melanophryniscus
macrogranulosus 28068,160(c) 13381,822 (b) 47,7 45,0 13,2
Odontophrynus moratoi 181853,906(c) 55147,413(c) 30,3 37,6 12,6
Paratelmatobius gaigeae 46247,239(c) 22850,092(c) 49,4 83,1 55,0
Paratelmatobius lutzii 19315,271(b) 11572,330(c) 59,9 84,9 53,1
Phyllomedusa ayeaye 203904,455(c) 75199,104(c) 36,9 58,0 19,6
Physalaemus soaresi 673,299 (a) 147,284 (a) 21,9 28,6 0
Pseudopaludicola canga 2114685,503(c) 1068168,140(c) 50,5 59,8 9,3
Rhamphophryne proboscidea 311821,692(c) 81890,015(c) 26,3 50,7 5,6
Rhinella ocellata 32749799,103(c) 1712683,799(c) 05,2 59,4 7,0
Scinax caldarum 202515,775(c) 89653,997(c) 44,3 64,1 26,8
Sphaenorhyncus surdus 308097,506(c) 164011,477(c) 53,2 47,4 13,3
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
(a) (b)
Figura 1: (a) Distribuição potencial de Adelophryne maranguapensis; (b) Foto de A. maranguapensis, por
Diva Borges-Nojosa.
(a) (b)
Figura 2: (a) Distribuição potencial de Physalaemus soaresi; (b) Foto de Physalaemus soaresi, por Ivan
Sazima.
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
(a) (b)
Figura 3: (a) Distribuição potencial de Rhinella ocellata; (b) Foto de R. ocellata, por Antônio
Sebben.
Tabela 2: Apresenta o tamanho da distribuição histórica (Dist. Hist.) das 17 espécies de répteis
modeladas, tamanho de remanescentes de vegetação nativa (Dist. Reman.), porcentagem da
distribuição histórica em remanescentes de vegetação nativa (Porc. Reman.); porcentagem da
distribuição em remanescentes de vegetação nativa que se encontra em unidades de conservação
(Porc. UC) e em áreas prioritárias (Porc. AP).
Espécie Dist. Hist. (Km2) Dist. Reman. Porc. Porc. Porc.
(Km2) Reman. AP (%) UC
(%) (%)
Anolis meridionalis 522101,448 (b) 257515,903(b) 49,3 11,7 62,1
Anolis nitens brasiliensis 221915,208 (b)
150293,006 (b)
67,7 27,2 69,3
Bothrops bilineatus 621265,796(b) 184757,509(b) 29,7 17,6 65,8
Bothrops cotiara 1202849,021(b) 450289,881(b) 37,4 9,2 9,0
Bothrops fonsecai 155363,790(b) 54705,560(b) 35,2 18,9 18,8
Bothrops jararacussu 441242,423(b) 150271,965(b) 34,1 19,3 55,2
Caiman latirostris 1082517,829(b) 337322,899(b) 31,2 9,1 52,0
Chironius flavolineatus 1013715,067(b) 398256,477(b) 39,3 5,5 51,1
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
(a) (b)
Figura 2: a) Foto de Cnemidophorus nativo; b) Distribuição potencial de Cnemidophorus nativo.
Conclusão
- O modelo escolhido foi adequado, pois apresentou um bom ajuste para as espécies analisadas.
- Uma maior busca de informações também poderia melhorar a acurácia da modelagem.
- Muitas espécies tiveram poucos dados de ocorrência, provavelmente por serem realmente raras ou,
talvez, porque os inventários são insuficientes.
- Considerando que as análises não foram feitas com dados independentes, torna-se necessário a
validação dos modelos com novos registros que possam ser obtidos na literatura ou por meio de
novos inventários.
- Os anfíbios, Adelophryne maranguapensis, Physalaemus soaresi e Rhinella ocellata devem ter
prioridade para a implementação de UCs em suas áreas de ocorrência, devido ao tamanho de sua
distribuição, o quanto de sua distribuição em áreas de remanscentes de vegetação está inserida em
APs e UCs, aos biomas em que ocorrem e à perda de hábitat.
- Das espécies de répteis analisadas o lagarto Cnemidophorus nativo é a espécie prioritária para a
implementação de UCs em sua área de ocorrência, considerando, principalmente, o porcentual de
indicação de Área Prioritária para conservação e a área de ocorrência.
- O planejamento de conservação brasileiro é abrangente para a maioria das espécies avaliadas,
porém, a implementação das ações é insatisfatória.
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
Referências
BERGALLO, H. G.; ROCHA, C. F. D.; ALVES, M. A. S.; SLUYS, M. V. A fauna ameaçada de
extinção do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Ed.UERJ, 2000, 168 p.
FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS. Revisão das listas de espécies da flora e fauna ameaçadas de
extinção do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, Vols. I, II e III, 2007.
HERO, J. M.; WILLIAMS, S. E.; MAGNUSSON, W. E. Ecological traits of declining amphibians
in upland areas of eastern Australia. Journal of Zoology, Londres, v. 267, p. 221-232, 2008.
LIPS, K. R., REEVE, J. D.; WITTERS, L. R. Ecological traits predicting amphibian population
declines in Central America. Conservation Biology, v. 17, p. 1078-1088, 2003.
MACHADO, A. B. M; DRUMMOND, G. M; PAGLIA, A.P. Livro vermelho da fauna brasileira
ameaçada de extinção, 1 ed., Brasília, DF / Belo Horizonte, MG: MMA / FUNDAÇÃO
BIODIVERSITAS, Vols. I e II, 2008.
MARQUES, A. A. B.; FONTANA, C. S.; VÉLEZ, E., BENCKA, G. A.; SCHNEIDER, M.; REIS,
R. E.. Lista das espécies da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul. Decreto
nº. 41.672, de 21 junho de 2002. Porto Alegre, RS: FZB/MCT-PUCRS?PANGEA, 2002, 52
p.
MIKICH, S. B.; BÉRNILS, R. S. Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná. 1.
ed. Curitiba: Instituto Ambiental do Paraná, 2004. v. 1. 763 p.
SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIAS, TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE (SECTAM).
Lista de espécies da flora e da fauna ameaçadas no Estado do Pará. 2007 Disponível em:
<http://www.sectam.pa.gov.br/relacao_especies.htm> Acesso em: 07 abr. 2009.
SILVA, J. M. C; ALBERNAZ, A. L. K. M.; KASECKER, T. P. Modelagem ambiental e a
conservação da biodiversidade. Megadiversidade, Conservação Internacional-Brasil, v. 3,
n.1-2, dez. 2007.
SILVANO D. L.; SEGALLA, M. V. Conservation of Brazilian amphibians. Conservation Biology.
v. 19, n. 3, p. 653-658, 2005.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE HERPETOLOGIA (SBH). Lista de anfíbios e répteis.
Disponível em: <http://sbhherpetologia.org.br> Acesso em: 21 mai. 2009.
WATLING, J. I.; DONNELLY, M. A. Multivariate correlates of extinction proneness in a naturally
fragmented landscape. Diversity and Distributions. v. 13, n. 4, p. 372-378, 2007.
27 de agosto, 2o dia
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Palestras
Mesa Redonda
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toda a alimentação humana é baseada em somente cerca de 30 espécies, revela-se que a agricultura
é extremamente dependente de uma parcela mínima do reino vegetal, da qual se exige o máximo de
eficiência produtiva para suprir a demanda por alimentos. Neste contexto, fica fácil perceber o
quanto uma flora diversa, como a do Cerrado, pode contribuir nessa busca por ampliação de
recursos. Para isto é necessário investigar, pesquisar, “explorar”. Explorar com e visando a
sustentabilidade.
Referências
MENDONÇA, R. C.; FELFILI, J. M.; WALTER, B. M. T.; SILVA-JÚNIOR, M. C.; REZENDE, A.
V.; FILGUEIRAS, T. S.; NOGUEIRA, P. E.; FAGG, C. W. Flora vascular do bioma Cerrado:
um checklist com 12.356 espécies. In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P.; RIBEIRO, J. F.
Cerrado: ambiente e ecologia. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, v.2., p.421-
1279, 2008.
SEVILHA, A. C.; MACHADO, A. T. Manejo sustentável da agrobiodiversidade nos biomas
Cerrado e Caatinga: fase preliminar. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, 2005. 168p. il. (Relatório de pesquisa).
SCARIOT, A.; SEVILHA, A. C. Biodiversidade, estrutura e conservação de Florestas Estacionais
Deciduais no Cerrado. In: SCARIOT, A.; FELFILI, J. M.; SOUZA-SILVA, J. C. (Orgs.).
Cerrado: ecologia, biodiversidade e conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente,
p.121-139, 2005.
TOWNSEND, C. R.; BEGON, M.; HARPER, J. L. Fundamentos em ecologia. 2. ed. Porto
Alegre: Artmed Editora Ltda, 2006. 592p.
VIEIRA, D.; LIMA, V.; SEVILHA, A. C.; SCARIOT, A. Consequences of dry-season seed
dispersal on seedling establishment of dry forest trees: should we store seeds until the rains?
Forest Ecology and Management, v. 256, p. 471-481, 2008.
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
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1º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio
1. Introdução
O conceito de conservação da natureza proposto no Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC) (BRASIL, 2000) se constitui no “manejo do uso humano da natureza”,
compreendendo, entre outros aspectos, “a utilização sustentável do ambiente natural.” Na Lei
11.516, que cria o ICMBio, está disposto, já em seu Art. 1º, que cabe ao Instituto “fomentar e
executar programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade” (BRASIL,
2007). Considerando que a utilização sustentável do ambiente natural é uma das bases da
conservação da biodiversidade, e considerando os objetivos institucionais do ICMBio, é
fundamental o fomento e a execução de pesquisas visando a sustentabilidade deste uso humano, a
partir da instituição.
De fato, tal objetivo está longe de representar uma demanda isolada ou de baixa abrangência
geográfica. Em 1990, estimava-se que de duzentos a quinhentos milhões de pessoas viviam no
interior das florestas tropicais do mundo (LYNCH, 1990). No Brasil, estima-se que
aproximadamente um quarto do território nacional esteja de alguma forma influenciado por
sistemas de produção e reprodução social típicos de populações tradicionais, as quais formam um
contingente de aproximadamente 25 milhões de pessoas (CONSEA, 2008), “usando” a natureza de
múltiplas formas, muitas das quais potencialmente mais conservacionistas que os modelos
produtivos convencionais. Assim, conhecer estas formas de uso e avaliar a sustentabilidade
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Referências
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The New York Botanical Garden, 1996.
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Rio Grande do Sul: fundamentos para o manejo e monitoramento da atividade.
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plantas e paisagens. In: CLEMENT, C. Origem e domesticação das plantas cultivadas.
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inventariamentos mais profundos, gerando informações mais sólidas sobre as comunidades naturais
envolvidas. A contratação de empresas de consultoria ambiental através de licitações possui também
efeitos negativos sobre a aplicação do método. Muitas empresas ganham licitações através da
diminuição dos seus custos operacionais, o que representa a contratação de técnicos pouco
qualificados, no atendimento mínimo do método e no baixo investimento em ganho de informações.
No meu entendimento, as licitações deveriam ser eliminadas e tais estudos conduzidos pelos
próprios órgãos ambientais em convênio com universidades ou, no caso da manutenção das
licitações, as empresas deveriam ser proximamente fiscalizadas. Um problema típico do uso de
metodologias como a avaliação ecológica rápida no zoneamento de unidades de conservação é
transformar um conjunto de pontos de ocorrência de espécies, dispersos na paisagem da unidade de
conservação, em uma camada de informação espacial, que realmente represente uma ferramenta de
gestão, diminuindo a subjetividade na delimitação das zonas de manejo e que possa ser replicada
em diferentes estudos. O desenvolvimento de índices biológicos a partir da informação
espacializada da riqueza e de espécies indicadoras da fauna e da flora, em pontos amostrais
localizados em diferentes unidades da paisagem natural, representa um avanço conceitual na
aplicação de inventários expeditos da diversidade.
Outra ferramenta importante é o uso de estimadores de diversidade e de curvas de rarefação
para avaliar o comportamento de incremento de espécies, a suficiência amostral e a comparação de
diversidade biológica entre áreas. A aplicação de análises quantitativas, o aumento no conhecimento
da diversidade em unidades de conservação, a popularização de ferramentas e programas
computacionais de sistemas de informação geográfica e o barateamento de computadores são
fatores relevantes, que devem contribuir para a evolução dos estudos de levantamentos expeditos.
A Ordem Chiroptera compreende um total de 1.045 espécies viventes, sendo um dos mais
diversificados grupos de mamíferos (SIMMONS, 2005; WILSON; REEDER, 2005). Existem duas
grandes subordens (Megachiroptera e Microchiroptera) que correspondem grosseiramente aos
morcegos da Oceania e África (regiões da Afro-Troical, Indo-Malaia e Australiana) e da Europa e
Américas (regiões Paleártica, Neoártica e Neotropical), respectivamente. No Brasil estão registradas
pelo menos 173 espécies de morcegos, o que coloca o pais dentre o mais megadiverso para o grupo,
com 16,5% da diversidade global.
A diversidade dos morcegos no Brasil pode variar regionalmente, sendo que as regiões
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florestais quentes (Amazônia e Mata Atlântica do Sul da Bahia) possuem expressiva riqueza de
espécies. Uma compilação de dados publicados em revistas especializadas revelou que em algumas
localidades do estado do Pará podem ser encontradas até 53 espécies de morcegos, número que
corresponde a 30% das espécies que ocorrem no país.
O Cerrado brasileiro é outra região com uma riqueza de espécies bastante expressiva. De
acordo com registros de coleções científicas e publicações especializadas, podem ser encontradas
106 espécies de morcegos, aspecto que torna o grupo como o mais diversificado dentro do bioma
(AGUIAR, 2000). Comparado à riqueza total de espécies de mamíferos do Cerrado (MARINHO-
FILHO et al., 2002; AGUIAR et al., 2004), os morcegos chegam a representar mais da metade dos
mamíferos registrados no bioma.
Embora o grupo dos morcegos seja bastante importante no Cerrado, tanto pela diversidade
quanto pelo papel ecológico como dispersor de semente, polinizador e predador de espécies praga, o
conhecimento científico sobre as espécies é bastante precário, pois as pesquisas, além de poucas,
estão concentradas em determinadas regiões. Com o objetivo de avaliar o estado atual de
conhecimento de ocorrências de espécies no Brasil e em especial nas unidades de conservação, foi
utilizado um banco de dados com 5.536 registros de morcegos no Brasil que foi cruzado com um
mapa com as unidades de conservação existente. Tal análise permitiu responder às seguintes
perguntas: onde estão os locais com maior concentração de espécies? Qual é a proporção de
unidades de conservação com inventários de morcegos? Existem espécies que são lacunas de
proteção?
Registros de morcegos no Brasil
O cruzamento dos registros da base de dados utilizada, que vem sendo organizada pela
autora desde 1992, com as unidades de conservação (1.213 unidades consideradas, sendo 517 de
proteção integral e 696 de uso sustentável1) revelou que somente em 87 unidades existem registros
de morcegos. Considerando-se um patamar mínimo de 20 espécies como indicador da qualidade do
inventário, pode-se dizer que apenas 15 (17,2%) das 87 unidades de conservação com registros de
morcegos seriam consideradas minimamente inventariadas. Desse total, oito unidades estão sob a
administração do ICMBio (FN Tapajós, PN Amazônia, PN do Jaú, PN Serra do Divisor, RB Tinguá,
APA Nascentes do Rio Vermelho, EE Serra Geral do Tocantins e EE Serra das Araras). A despeito
desse fato, 125 espécies (72,3% do total) estão presentes nas unidades de conservação. Isso
significa que outras 48 espécies (27,7%) do total não possuem registros nas áreas e poderiam ser
consideradas lacunas de conservação. Contudo, os dados sobre os morcegos nas unidades de
conservação referem-se somente à presença ou ausência das espécies e pouco se sabe sobre a
abundância ou mesmo a dinâmica das mesmas dentro de cada área.
Uma análise específica para o Cerrado indicou que a maior parte das áreas do bioma não
está sequer inventariada. O cruzamento dos pontos de ocorrência das espécies com as microbacias
de 4a ordem (ottobacias2) indicou que somente 12 das 655 unidades estão minimamente
1
Base de dados da Coordenação Geral de Zoneamento e Monitoramento Ambiental - IBAMA
2
Base de dados da Agencia Nacional de Águas – ANA.
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