Acordao Paradigma
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Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho
PROCESSO Nº TST-RR-638-91.2017.5.09.0024
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A C Ó R D Ã O
2ª Turma
GMJRP/lbm/pr/li
V O T O
AGRAVO DE INSTRUMENTO
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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
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PROCESSO Nº TST-RR-638-91.2017.5.09.0024
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O Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região denegou
seguimento ao recurso de revista interposto pela reclamada nos termos
seguintes:
“PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS
Recurso tempestivo (decisão publicada em 15/07/2019 - Id. e74a36d;
recurso apresentado em 25/07/2019 - Id. b6beda5).
Representação processual regular (Id. 3e8d7dd).
PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO/ATOS
PROCESSUAIS / NULIDADE / NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL.
Alegação(ões):
A ré pede que seja declarada a nulidade do acórdão por negativa de
prestação jurisdicional. Alega que a Turma deixou de se manifestar sobre
aspectos tratados em contestação; sobre o fato de o autor obter cópias das
RAIS diretamente junto ao Ministério do Trabalho e sobre o fato de o
sindicato não ter comprovado prejuízo decorrente do alegado
descumprimento de Cláusula Coletiva.
De acordo com o artigo 896, inciso IV, da CLT, incluído pela Lei
13.467/2017, a parte que recorre deve transcrever o ‘trecho dos embargos
declaratórios em que foi pedido o pronunciamento do tribunal sobre questão
veiculada no recurso ordinário e o trecho da decisão regional que rejeitou
os embargos quanto ao pedido (...)’:
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A Lei 13.015/2014 acrescentou o § 1º-A ao artigo 896 da Consolidação
das Leis do Trabalho:
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É inviável o conhecimento do recurso de revista porque a parte
recorrente não atendeu o inciso I do § 1º-A do artigo 896 da
Consolidação das Leis do Trabalho.
Denego.
CONCLUSÃO
Denego seguimento” (págs. 394-396, grifou-se).
“2. MÉRITO
ENTREGA DA RAIS - MULTAS CONVENCIONAIS –
ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO
Consta da r. Sentença (fls. 245/248):
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da inércia do Sindicato ao longo de anos de forma a acumular
diversas multas em seu favor.
Estes novos elementos resultaram na alteração de
posicionamento pelo Juízo em outras ações que também se
reconheceu a improcedência da pretensão.
2. Fato é que o Sindicato autor não reivindica direito em
favor de trabalhadores da reclamada. De mais a mais sequer o
autor pretende através desta ação a entrega da RAIS de forma
que possa realizar a fiscalização que afirma necessária e que teria
resultado na imposição da obrigação normativa. Busca o
Sindicato o recebimento de multa normativa em seu favor, mas
até a presente data não há notícias de que tenha em algum
momento reivindicado o atendimento de eventuais trabalhadores
que tenham passado pela reclamada.
Ao contrário, o Sindicato autor trata da exigência da multa
normativa previstas nas normas coletivas de 2012/2013 até
2016/2017. Não pretende o cumprimento da obrigação
propriamente dita, ou seja, a entrega da RAIS.
Não se trata de pretensão de defesa do trabalhador, de
direito do empregado em si (finalidade da existência do
Sindicato). A pretensão não tem como objeto de fundo a relação
de trabalho, mas a obrigação perante o Sindicato obreiro, no seu
interesse, tanto que reivindica tão somente a multa em seu
próprio favor, como prejudicado.
Não se trata de relação trabalhista propriamente dita pelo
que não há se falar em prazo prescricional de 5 anos o qual se
refere aos cinco anos anteriores ao término do contrato de
trabalho. Se contrato de trabalho não há, não há se falar em prazo
retroativo a partir da rescisão contratual.
Neste cenário também é de se destacar o fato de que o
Sindicato não é subordinado a empresas, não é hipossuficiente na
relação apontada, pelo que não há se falar em interpretação da
forma mais favorável ao Sindicato.
Deste fato, temos que o prazo prescricional para cada
obrigação de entrega da RAIS conta-se da data de exigibilidade
do cumprimento da obrigação, ou seja, trinta dias após o término
do prazo de entrega da RAIS. Deste ângulo, grande parte das
obrigações ora reivindicadas estariam alcançadas pela
prescrição, ante ao prazo de cumprimento da obrigação de fazer
o qual coincide com o marco prescricional em relação a cada
instrumento normativo discutido.
Ainda que assim não fosse, necessário considerar, no caso
concreto, que a requerida comprova a alegada alteração de seu
contrato social (primeira alteração contratual - ID. b831ef3),
quanto ao ramo de atividade, que era ‘Comércio de Confecções
artigos do vestuário e armarinhos, enxovais e lingerie, comércio
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de calçados, artigos de couro, bolsas, bijuterias, artigos para
presentes’, passando para ‘Restaurantes, Comércio de refeições,
Lanchonete, Comércio de lanches, bebidas e refrigerantes,
sorvetes, sucos e Chopp, Confeitaria, Comércio de produtos de
confeitaria bolo doces e salgados’.
Tal alteração se deu em 4 de dezembro de 2013, data de seu
averbamento na Junta Comercial do Paraná, pelo que, até este
marco efetivamente não integrava a categoria econômica
representada pelo sindicato autor, conforme estatutos dessa
entidade, não sendo exigíveis as obrigações convencionais por
esta pactuadas.
3. Por fim, ainda que afastadas todas as razões de
improcedência acima citadas fato é que a obrigação normativa é
de entrega dos dados da RAIS até trinta dias após a entrega da
RAIS. A norma coletiva não trata do cumprimento da obrigação
de entrega da RAIS, mas de outra obrigação, esta acessória a
partir do momento da entrega da RAIS.
O Sindicato autor tem acesso à regularidade da obrigação
da RAIS pelas empresas, embora não tenha acesso aos dados
registrados e constantes da RAIS. Isto porque o acesso público
apenas acusa ‘regular’ ou ‘não regular’.
Como a obrigação normativa nasce com a regularidade da
RAIS, ou seja, a partir da entrega da RAIS, incumbia à parte
autora comprovar a entrega da RAIS pela reclamada, ônus do
qual não se desincumbiu.
De outra forma deveria exigir da reclamada o cumprimento
da obrigação de entrega da RAIS ou de outro documento que
atenda a finalidade (como, aliás, consta da própria norma
coletiva), situação, porém, que não enseja a multa normativa.
4. A reclamada cumpriu a obrigação normativa a partir do
ajuizamento da presente ação. Não há se falar em multa
normativa, vez que esta está atrelada ao descumprimento da
obrigação e da constituição em mora do devedor. O Sindicato
não notificou a reclamada para apresentação da RAIS, não há nos
autos demonstração da exigência da obrigação de fazer.
Veja que não se trata de obrigação de pagar, nem tampouco
de obrigação de fazer direta ao trabalhador. O que se vê é uma
obrigação acessória do empregador em relação ao sindicato
profissional, esta fixada em norma coletiva.
A obrigação de fazer se exige o cumprimento mediante a
fixação de astreintes as quais são devidas somente a partir do
cumprimento da obrigação. Em se tratando de relação sindical a
obrigação deve guardar conexão com a atividade sindical em
prol do trabalhador, de forma que o cumprimento da obrigação
em si é a razão de sua existência.
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Daí porque não há se falar em imposição de multa
normativa pelo não cumprimento de obrigação de fazer em favor
do Sindicato quando a este não interessa o cumprimento da
própria obrigação.
Rejeito.
5. Ainda que improcedentes as pretensões formuladas pela
parte autora, certo é que o ânimo de pedir ou de se defender
notadamente ilegal, imoral e ardiloso, resulta na condenação pela
litigância de má-fé. Não é esse o caso dos autos, sendo que o
mero exercício do direito de ação, garantia constitucional que
representa, não induz à condenação pretendida pela ré’.
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pessoalmente para o cumprimento da , consistente na entrega dos referidos
documentos ao citado Sindicato, o que NÃO ocorreu’ (fl. 152).
A cláusula 56ª da CCT 2014/2015 estabelece que (fl. 88):
(...)
Há semelhante previsão nas CCT’s 2012/2013 (fl. 63), 2015/2016 (fl.
107), e 2016/2015 (fl. 132).
E, no que tange à penalidade, dispõe a cláusula 63ª, à fl. 90, da CCT
2014/2015 (com a mesma previsão nas CCT’s 2012/2013 - fl. 63; 2015/2016
- fls. 110/111; e 2016/2017 - fl. 136):
(...)
A Ré colacionou os Recibos de Entrega da RAIS, referente aos
anos-base 2014, 2015 e 2016, que foram encaminhadas ao Ministério do
Trabalho e Emprego (fls. 190/231).
Contudo, não apresentou os Comprovantes de que teria entregado
tais Documentos ao Sindicato-Autor. Por tratar-se de obrigação
imposta pela Norma Coletiva à Ré, era dela o ônus de comprovar a
entrega da RAIS ao Sindicato-Autor. Até mesmo porque, não há como
exigir, da Parte contrária, prova de fato negativo.
A ausência de prova documental, a fim de comprovar a entrega da
Rais ao Sindicato-Autor, poderia ser suprida pela prova testemunhal, o
que não ocorreu, já que não houve produção de prova oral (Ata de
Audiência de Instrução de fls. 242/243).
A Ré, portanto, não obteve êxito em desvencilhar-se de seu ônus
probatório (art. 818 da CLT c/c art. 373, I, do CPC/2015).
Cabíveis, então, as multas convencionais pleiteadas, à exceção da
prevista na cláusula 63ª da CCT 2012/2013 (fl. 63), tendo em vista que,
no período de vigência do referido Instrumento Normativo (de
01-10-2012 a 30-09-2013 - fl. 50), a Ré estava em ramo de atividade
diverso daquele abrangido pelo Sindicato da Categoria Econômica. In
verbis, a cláusula 1ª da Primeira Alteração Contratual da Ré, datada de
20-11-2013 (fl. 143):
(...)
Por fim, não há prescrição a ser declarada.
A regra do art. 7º, XXIX, da CF, inaplicável ao caso, pois
pretensão não diz respeito a créditos resultantes das relações de
trabalho. Aplica-se, então, o prazo prescricional previsto no art. 206,
§5º, I, do Código Civil:
(...)
Ante o exposto, REFORMO, em parte, para condenar a Ré ao
pagamento das multas convencionais, constantes nas cláusulas 63ª da
CCT 2014/2015, na 77ª da CCT 2015/2016; e na 79ª da CCT 2016/2017”
(págs. 298-303, grifou-se).
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“MÉRITO
Inexistência de prévia notificação para cumprimento da obrigação
- Súmula 410 do STJ - relação anual de informações (RAIS) que pode
ser obtido pelo Sindicato junto ao Ministério do Trabalho - inexistência
de prejuízo ao Sindicato Autor
A ré alega que o v. acórdão foi omisso, pois não se manifestou sobre a
alegação trazida em defesa quanto à necessidade de prévia notificação
pessoal do devedor imposta em razão da obrigação de fazer. Afirma que em
momento algum o Sindicato autor sustentou ter notificado previamente a
embargante para o cumprimento da obrigação imposta, tampouco apontou a
existência de recusa quanto ao fornecimento dos documentos.
Argumenta, ainda, que o Sindicato autor não postulou o cumprimento
das Cláusulas normativas que teriam sido descumpridas, assim como não
pediu para que a embargante fosse condenada a efetuar a entrega da RAIS.
Assevera que o sindicato reclamante postulou, exclusivamente, a
condenação da embargante "ao pagamento de multa normativa de R$
4.120,00 e dos honorários de sucumbência de 20%, no valor de R$ 824,00,
revelando, data venia, interesse exclusivamente econômico, desnudando a
real pretensão perseguida na presente ação, qual seja, tentativa de
locupletamento absolutamente indevido." (fl. 311). Aponta, em adição, que o
documento pode ser obtido junto ao Ministério do Trabalho e Emprego.
Por fim, sustenta que a cláusula normativa que regulamenta a cláusula
penal estabelece que a multa normativa deve reverter em prol da parte
prejudicada, o que não ficou demonstrado no caso em análise.
Sem razão.
Consta do v. acórdão (fls. 296/298):
(...)
A matéria foi abordada de forma clara por esta E. 1ª Turma, não
havendo qualquer vício passível de correção pela via estreita dos
Embargos Declaratórios.
Este E. Colegiado entendeu que restou descumprida a cláusula
normativa que referente à obrigação de entregar, às Entidades
Sindicais, uma cópia da Relação Anual de Informações Sociais - RAIS, a
exemplo da Cláusula 56ª da CCT 2014/2015 transcrita no v. acórdão,
tendo em vista que a reclamada não comprovou a entrega de tais
documentos ao Sindicato autor.
Assim, nos exatos termos da cláusula normativa que regulamenta
a cláusula penal, condenou-se a ré ao pagamento de multa normativa
em razão do descumprimento de obrigação de fazer.
Note-se que não há exigência de prévia notificação para
cumprimento da obrigação de fazer. De outro lado, observa-se que a
norma apenas estabelece a parte que obterá o proveito econômico, que,
no caso, é a entidade sindical que deixou de receber as RAIS.
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Na verdade, a ré demonstra mera irresignação com a conclusão
deste E. Colegiado. Deve, então, veicular sua insurgência, no momento
oportuno, através do remédio processual hábil à reforma do v. acórdão.
Outrossim, a apresentação dos motivos do v. julgado, de forma
clara e fundamentada, é suficiente para fins de prequestionamento (OJ
nº 118, da SBDI-I, do C. TST).
REJEITO” (págs. 325-328, grifou-se).
RECURSO DE REVISTA
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EXIBIÇÃO DE RAIS. NÃO FORNECIMENTO À ENTIDADE
SINDICAL. POSSIBILIDADE DE ACESSO DO DOCUMENTO NO MINISTÉRIO DO TRABALHO.
MULTA CONVENCIONAL INDEVIDA
I - CONHECIMENTO
“2. MÉRITO
ENTREGA DA RAIS - MULTAS CONVENCIONAIS –
ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO
Consta da r. Sentença (fls. 245/248):
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Sindicato). A pretensão não tem como objeto de fundo a relação
de trabalho, mas a obrigação perante o Sindicato obreiro, no seu
interesse, tanto que reivindica tão somente a multa em seu
próprio favor, como prejudicado.
Não se trata de relação trabalhista propriamente dita pelo
que não há se falar em prazo prescricional de 5 anos o qual se
refere aos cinco anos anteriores ao término do contrato de
trabalho. Se contrato de trabalho não há, não há se falar em prazo
retroativo a partir da rescisão contratual.
Neste cenário também é de se destacar o fato de que o
Sindicato não é subordinado a empresas, não é hipossuficiente na
relação apontada, pelo que não há se falar em interpretação da
forma mais favorável ao Sindicato.
Deste fato, temos que o prazo prescricional para cada
obrigação de entrega da RAIS conta-se da data de exigibilidade
do cumprimento da obrigação, ou seja, trinta dias após o término
do prazo de entrega da RAIS. Deste ângulo, grande parte das
obrigações ora reivindicadas estariam alcançadas pela
prescrição, ante ao prazo de cumprimento da obrigação de fazer
o qual coincide com o marco prescricional em relação a cada
instrumento normativo discutido.
Ainda que assim não fosse, necessário considerar, no caso
concreto, que a requerida comprova a alegada alteração de seu
contrato social (primeira alteração contratual - ID. b831ef3),
quanto ao ramo de atividade, que era ‘Comércio de Confecções
artigos do vestuário e armarinhos, enxovais e lingerie, comércio
de calçados, artigos de couro, bolsas, bijuterias, artigos para
presentes’, passando para ‘Restaurantes, Comércio de refeições,
Lanchonete, Comércio de lanches, bebidas e refrigerantes,
sorvetes, sucos e Chopp, Confeitaria, Comércio de produtos de
confeitaria bolo doces e salgados’.
Tal alteração se deu em 4 de dezembro de 2013, data de seu
averbamento na Junta Comercial do Paraná, pelo que, até este
marco efetivamente não integrava a categoria econômica
representada pelo sindicato autor, conforme estatutos dessa
entidade, não sendo exigíveis as obrigações convencionais por
esta pactuadas.
3. Por fim, ainda que afastadas todas as razões de
improcedência acima citadas fato é que a obrigação normativa é
de entrega dos dados da RAIS até trinta dias após a entrega da
RAIS. A norma coletiva não trata do cumprimento da obrigação
de entrega da RAIS, mas de outra obrigação, esta acessória a
partir do momento da entrega da RAIS.
O Sindicato autor tem acesso à regularidade da obrigação
da RAIS pelas empresas, embora não tenha acesso aos dados
Firmado por assinatura digital em 10/08/2020 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP
2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
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registrados e constantes da RAIS. Isto porque o acesso público
apenas acusa ‘regular’ ou ‘não regular’.
Como a obrigação normativa nasce com a regularidade da
RAIS, ou seja, a partir da entrega da RAIS, incumbia à parte
autora comprovar a entrega da RAIS pela reclamada, ônus do
qual não se desincumbiu.
De outra forma deveria exigir da reclamada o cumprimento
da obrigação de entrega da RAIS ou de outro documento que
atenda a finalidade (como, aliás, consta da própria norma
coletiva), situação, porém, que não enseja a multa normativa.
4. A reclamada cumpriu a obrigação normativa a partir do
ajuizamento da presente ação. Não há se falar em multa
normativa, vez que esta está atrelada ao descumprimento da
obrigação e da constituição em mora do devedor. O Sindicato
não notificou a reclamada para apresentação da RAIS, não há nos
autos demonstração da exigência da obrigação de fazer.
Veja que não se trata de obrigação de pagar, nem tampouco
de obrigação de fazer direta ao trabalhador. O que se vê é uma
obrigação acessória do empregador em relação ao sindicato
profissional, esta fixada em norma coletiva.
A obrigação de fazer se exige o cumprimento mediante a
fixação de astreintes as quais são devidas somente a partir do
cumprimento da obrigação. Em se tratando de relação sindical a
obrigação deve guardar conexão com a atividade sindical em
prol do trabalhador, de forma que o cumprimento da obrigação
em si é a razão de sua existência.
Daí porque não há se falar em imposição de multa
normativa pelo não cumprimento de obrigação de fazer em favor
do Sindicato quando a este não interessa o cumprimento da
própria obrigação.
Rejeito.
5. Ainda que improcedentes as pretensões formuladas pela
parte autora, certo é que o ânimo de pedir ou de se defender
notadamente ilegal, imoral e ardiloso, resulta na condenação pela
litigância de má-fé. Não é esse o caso dos autos, sendo que o
mero exercício do direito de ação, garantia constitucional que
representa, não induz à condenação pretendida pela ré’.
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via nos sindicatos profissional e patronal ou outro documento equivalente
ao órgão competente, o que não ocorreu para o Sindicato profissional,
restando descumpridos os instrumentos normativos e, portanto, incide
referidas multas’ (fl. 254). Expõe que ‘é evidente a inocorrência de
prescrição, em razão da referida Ação se tratar de natureza civil, devendo
ser aplicadas as Leis estabelecidas em legislação própria, observando-se o
prazo de 05 (cinco) anos’ (fl. 257). Requer a reforma da r. Sentença para que
a Ré seja condenada ao pagamento das multas convencionais.
Com, parcial, razão.
O Sindicato-Autor ajuizou esta Ação de Cumprimento de
Convenção Coletiva cumulada com Cobrança em 18-04-2017.
Aludiu, na Inicial, ao descumprimento das cláusulas 61ª da CCT
2012/2013; 56ª da CCT 2014/2015; 69ª da CCT 2015/2016; e 71ª da CCT
2016/2017, referentes à obrigação de entregar, às Entidades Sindicais, uma
cópia da Relação Anual de Informações Sociais - RAIS (fls. 08/11). Pleiteou
o pagamento de 04 (quatro) multas convencionais, no valor de R$ 4.120,00,
com expressa menção às cláusulas 63ª da CCT 2012/2013; 63ª da CCT
2014/2015; 77ª da CCT 2015/2016; e 79ª da CCT 2016/2017 (fl. 13).
Em Defesa, a Ré alegou que ‘considerando-se o caráter geral e
abstrato da CCT, o cumprimento da obrigação a que alude a Cláusula
normativa objeto da discussão, depende na prévia notificação pessoal do
devedor, posto que, trata-se de interesse próprio do Sindicato autor, qual
seja ‘entrega de uma cópia da RAIS ao Sindicato profissional de patronal’
(fl. 152). Disse, ainda, que ‘para que a ré estivesse sujeita a multa normativa
ora cobrada pelo Sindicato autor, a ré deveria ter sido previamente intimada
pessoalmente para o cumprimento da , consistente na entrega dos referidos
documentos ao citado Sindicato, o que NÃO ocorreu’ (fl. 152).
A cláusula 56ª da CCT 2014/2015 estabelece que (fl. 88):
(...)
Há semelhante previsão nas CCT’s 2012/2013 (fl. 63), 2015/2016 (fl.
107), e 2016/2015 (fl. 132).
E, no que tange à penalidade, dispõe a cláusula 63ª, à fl. 90, da CCT
2014/2015 (com a mesma previsão nas CCT’s 2012/2013 - fl. 63; 2015/2016
- fls. 110/111; e 2016/2017 - fl. 136):
(...)
A Ré colacionou os Recibos de Entrega da RAIS, referente aos
anos-base 2014, 2015 e 2016, que foram encaminhadas ao Ministério do
Trabalho e Emprego (fls. 190/231).
Contudo, não apresentou os Comprovantes de que teria entregado
tais Documentos ao Sindicato-Autor. Por tratar-se de obrigação
imposta pela Norma Coletiva à Ré, era dela o ônus de comprovar a
entrega da RAIS ao Sindicato-Autor. Até mesmo porque, não há como
exigir, da Parte contrária, prova de fato negativo.
A ausência de prova documental, a fim de comprovar a entrega da
Rais ao Sindicato-Autor, poderia ser suprida pela prova testemunhal, o
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que não ocorreu, já que não houve produção de prova oral (Ata de
Audiência de Instrução de fls. 242/243).
A Ré, portanto, não obteve êxito em desvencilhar-se de seu ônus
probatório (art. 818 da CLT c/c art. 373, I, do CPC/2015).
Cabíveis, então, as multas convencionais pleiteadas, à exceção da
prevista na cláusula 63ª da CCT 2012/2013 (fl. 63), tendo em vista que,
no período de vigência do referido Instrumento Normativo (de
01-10-2012 a 30-09-2013 - fl. 50), a Ré estava em ramo de atividade
diverso daquele abrangido pelo Sindicato da Categoria Econômica. In
verbis, a cláusula 1ª da Primeira Alteração Contratual da Ré, datada de
20-11-2013 (fl. 143):
(...)
Por fim, não há prescrição a ser declarada.
A regra do art. 7º, XXIX, da CF, inaplicável ao caso, pois
pretensão não diz respeito a créditos resultantes das relações de
trabalho. Aplica-se, então, o prazo prescricional previsto no art. 206,
§5º, I, do Código Civil:
(...)
Ante o exposto, REFORMO, em parte, para condenar a Ré ao
pagamento das multas convencionais, constantes nas cláusulas 63ª da
CCT 2014/2015, na 77ª da CCT 2015/2016; e na 79ª da CCT 2016/2017”
(págs. 298-303, grifou-se).
“MÉRITO
Inexistência de prévia notificação para cumprimento da obrigação
- Súmula 410 do STJ - relação anual de informações (RAIS) que pode
ser obtido pelo Sindicato junto ao Ministério do Trabalho - inexistência
de prejuízo ao Sindicato Autor
A ré alega que o v. acórdão foi omisso, pois não se manifestou sobre a
alegação trazida em defesa quanto à necessidade de prévia notificação
pessoal do devedor imposta em razão da obrigação de fazer. Afirma que em
momento algum o Sindicato autor sustentou ter notificado previamente a
embargante para o cumprimento da obrigação imposta, tampouco apontou a
existência de recusa quanto ao fornecimento dos documentos.
Argumenta, ainda, que o Sindicato autor não postulou o cumprimento
das Cláusulas normativas que teriam sido descumpridas, assim como não
pediu para que a embargante fosse condenada a efetuar a entrega da RAIS.
Assevera que o sindicato reclamante postulou, exclusivamente, a
condenação da embargante "ao pagamento de multa normativa de R$
4.120,00 e dos honorários de sucumbência de 20%, no valor de R$ 824,00,
revelando, data venia, interesse exclusivamente econômico, desnudando a
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real pretensão perseguida na presente ação, qual seja, tentativa de
locupletamento absolutamente indevido." (fl. 311). Aponta, em adição, que o
documento pode ser obtido junto ao Ministério do Trabalho e Emprego.
Por fim, sustenta que a cláusula normativa que regulamenta a cláusula
penal estabelece que a multa normativa deve reverter em prol da parte
prejudicada, o que não ficou demonstrado no caso em análise.
Sem razão.
Consta do v. acórdão (fls. 296/298):
(...)
A matéria foi abordada de forma clara por esta E. 1ª Turma, não
havendo qualquer vício passível de correção pela via estreita dos
Embargos Declaratórios.
Este E. Colegiado entendeu que restou descumprida a cláusula
normativa que referente à obrigação de entregar, às Entidades
Sindicais, uma cópia da Relação Anual de Informações Sociais - RAIS, a
exemplo da Cláusula 56ª da CCT 2014/2015 transcrita no v. acórdão,
tendo em vista que a reclamada não comprovou a entrega de tais
documentos ao Sindicato autor.
Assim, nos exatos termos da cláusula normativa que regulamenta
a cláusula penal, condenou-se a ré ao pagamento de multa normativa
em razão do descumprimento de obrigação de fazer.
Note-se que não há exigência de prévia notificação para
cumprimento da obrigação de fazer. De outro lado, observa-se que a
norma apenas estabelece a parte que obterá o proveito econômico, que,
no caso, é a entidade sindical que deixou de receber as RAIS.
Na verdade, a ré demonstra mera irresignação com a conclusão
deste E. Colegiado. Deve, então, veicular sua insurgência, no momento
oportuno, através do remédio processual hábil à reforma do v. acórdão.
Outrossim, a apresentação dos motivos do v. julgado, de forma
clara e fundamentada, é suficiente para fins de prequestionamento (OJ
nº 118, da SBDI-I, do C. TST).
REJEITO” (págs. 325-328, grifou-se).
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A insurgência recursal contra a condenação ao
pagamento de multas convencionais está fundada nas alegações de
contrariedade à Súmula nº 410 do STJ e de divergência jurisprudencial.
Inicialmente, ressalta-se que a Súmula nº 410 do STJ
não viabiliza o processamento do recurso de revista, porquanto
incompatível com a hipótese de cabimento prevista na alínea “a” do artigo
896 da CLT.
Por outro lado, nos termos do aresto indicado como
paradigma, à pág. 461, oriundo do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª
Região, “a RAIS não é documento exclusivo do empregador. O Sindicato é o litigante mais apto a
produzir a prova dos filiados, eis que é ele o detentor das fichas de filiação. Ademais, o objetivo da
entrega da RAIS é viabilizar o cálculo das contribuições objeto do pedido, que se revela prejudicado em
razão da improcedência da postulação. Nesse contexto, não há falar na obrigação da exibição da
RAIS, tampouco no pagamento de astreintes, ou multas convencionais e legais, obrigações
acessórias, devendo, pois, seguir a sorte do pedido principal”.
Constata-se que o TRT da 2ª Região, em exame sobre a
mesma controvérsia dos autos, decidiu em sentido diametralmente oposto
ao entendimento adotado no acórdão regional, ora recorrido.
Assim, constatada a especificidade do aresto indicado
como paradigma, nos termos da Súmula nº 296, item I, do TST, conheço do
recurso de revista por divergência jurisprudencial.
II – MÉRITO
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Discute-se no caso a possibilidade de aplicação de
multa convencional à empresa que não cumprir a previsão normativa quanto
à apresentação de cópia da RAIS à entidade sindical.
Com efeito, prevalece nesta Justiça especializada o
entendimento de que a RAIS não é documento exclusivo do empregador,
podendo a entidade sindical requerer o seu acesso ao Ministério do
Trabalho.
Desse modo, considerando que, no caso dos autos, a
reclamada efetivamente apresentou os recibos de entrega da RAIS ao
Ministério do Trabalho, cujas cópias estavam à disposição da entidade
sindical caso quisesse acessá-las para conferência, não subsiste a multa
convencional imposta.
Nesse sentido, o seguinte precedente:
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