Primazia Da Realidade - RR-850-71 - 2020 - 5 - 11 - 0018
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Justiça do Trabalho
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ACÓRDÃO
(2ª Turma)
GMMHM/mm/ms
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inúmeros contratos de prestação de serviços, a
Reclamante foi efetivamente contratada como
empregada da Reclamada”. Constou do acórdão
recorrido que as atividades da reclamante
inseriam-se na atividade principal da
reclamada, sendo desempenhadas nos moldes
por ela determinados e sob suas ordens
diretas. Constou, ainda, que a reclamante
“ficava submissa à direção, supervisão, ordens e
horários determinados pela Reclamada”; além de
que “não assumia riscos e nem atuava por conta
própria, situações afetas ao trabalhador
autônomo”. 2. Os elementos descritos na
sentença, que foi transcrita no acórdão
regional, evidenciam a presença dos requisitos
previstos nos arts. 2.º e 3.º da CLT, quais sejam
prestação de serviços "de natureza não
eventual", subordinação, pessoalidade e
onerosidade, de modo a revelar o vínculo de
emprego e descaracterizar os contratos de
prestação de serviços autônomos firmados. 3.
Os contratos de prestação de serviços
celebrados, por si só, não têm o condão de
afastar a existência do vínculo de emprego,
uma vez que o liame existente entre as partes
era de típico vínculo empregatício, sobretudo
em se considerando o princípio da primazia da
realidade, onde prepondera a efetiva situação
fática sobre a forma. 4. Restabelecida a
condenação das reclamadas ao pagamento dos
direitos trabalhistas oriundos do
reconhecimento do vínculo de emprego, nos
termos da sentença. Recurso de revista
conhecido e provido.
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TEIXEIRA e são Recorridos J S AZEVEDO SERVICOS DE ENGENHARIA - EIRELI - EPP E
OUTROS.
VOTO
I - AGRAVO
II - AGRAVO DE INSTRUMENTO
Conheço do agravo de instrumento, uma vez que atendidos os
pressupostos de admissibilidade.
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A controvérsia diz respeito à caracterização de vínculo de
emprego entre as partes, na função de engenheira, não obstante a existência de
contratos de prestação de serviços de engenharia celebrados entres as partes,
relativamente aos períodos de 11/8/2018 a 19/3/2019 e outro de 26/3/2019 a
15/7/2019.
Indica ofensa aos artigos 2.º, 3.º e 818 da CLT; 373, II, do CPC; e
422 do Código Civil, bem como contrariedade à Súmula 212 do TST.
Analiso.
A Vice-Presidência do Tribunal Regional denegou seguimento ao
recurso de revista da reclamada pelos seguintes fundamentos:
“[...]
CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO (1654) / RECONHECIMENTO DE
RELAÇÃO DE EMPREGO DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO (8826) /
PROCESSO E PROCEDIMENTO
Assinado eletronicamente por: ORMY DA CONCEICAO DIAS BENTES -
Juntado em: 27/09/2022 15:30:00 - 75887cf
(8960) / PROVAS (8990) / ÔNUS DA PROVA
Alegação(ões):
- contrariedade à(ao): Súmula nº 212 do Tribunal Superior do Trabalho.
- violação da(o) inciso II do artigo 373 do Código de Processo Civil de
2015; artigo 818 da Consolidação das Leis do Trabalho; artigo 3º da
Consolidação das Leis do Trabalho.
Requer o reconhecimento do vínculo empregatício na hipótese, pois
presentes todos requisitos elencados no art. 3º da Consolidação das Leis do
Trabalho, bem como seja atribuído o encargo probatório às reclamadas, visto
que “não provaram os fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito
da autora, não arrolaram testemunhas, não juntaram
(sic) ”.uma prova material que se oposesse aos direitos da autora
Fundamentos do acórdão recorrido (ID. fa20524):
[...]
O Colegiado decidiu com amparo nos elementos probatórios contidos
nos autos. Conclusão diversa da adotada remeteria necessariamente à
reapreciação do contexto fático-probatório da causa, o que é inviável na
instância extraordinária. Óbice da Súmula 126 do Tribunal Superior do
Trabalho.
Ademais, a decisão da Turma está em consonância com a manifestação
reiterada do TST, vejamos:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. LEI 13.467 /2017. VÍNCULO DE EMPREGO.
NÃO CONFIGURAÇÃO. EMPREITEIRO DE OBRAS. NATUREZA CIVIL DO
CONTRATO. TRANSCENDÊNCIA. Não há transcendência da causa relativa à
decisão do eg. TRT que indefere pedido de vínculo de emprego, porque
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ausentes os requisitos do art. 3º da CLT, ante o reconhecimento da validade
do contrato de natureza civil celebrado. Transcendência do recurso de revista
não reconhecida e agravo de instrumento desprovido”. (TST - AIRR:
10012632720185020717, Relator: Aloysio Correa Da Veiga, Data de
Julgamento: 05/02/2020, 6ª Turma, Data de Publicação: 14/02 /2020)
“AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO EM
FACE DE DECISÃO PUBLICADA ANTERIORMENTE À VIGÊNCIA DA LEI
13.015/2014. VÍNCULO DE EMPREGO. CONTRATO DE NATUREZA CIVIL.
SÚMULA 126/TST. Caso em que o Tribunal Regional, com amparo no conjunto
fático-probatório dos autos, concluiu que a prestação de serviços se dava com
base em contrato de natureza civil, não restando configurados os elementos
necessários ao reconhecimento do vínculo de emprego. Logo, a pretensão do
Agravante importaria necessariamente no reexame de fatos e provas, o que
encontra óbice na Súmula 126 /TST e inviabiliza o seguimento do recurso.
Agravo de instrumento a que se nega provimento”. (TST - AIRR:
12636720105010421, Relator: Douglas Alencar Rodrigues, Data de Julgamento:
27/05/2015, 7ª Turma, Data de Publicação: 29/05 /2015)
Inviável o seguimento do apelo.
CONCLUSÃO
Denego seguimento.
[...]”
Conhecimento
Eis o teor do acórdão regional:
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específicos, como ela mesma narra e contraprestação especificada, mas
jamais sobre salário. Dizem que o caso em tela se trata de empresa micro,
que tem em seu proprietário o próprio Engenheiro das obras, uma vez que
dada a sua natureza e poucas obras e de pequeno tamanho, não suportaria a
contração de profissional em tempo integral e nem mesmo tinha obra para
tal, razão por que se valeu dos serviços de freelancerda reclamante que já
tinha outras obrigações naquelas localidades, para fins específicos de curto
período dividindo com ela o valor da obra na forma de percentual, 3% sobre o
valor bruto, ou seja, contrato de natureza civil para obra certa com divisão do
valor auferido, o que foi confirmado pela reclamante em audiência. Requerem
o afastamento do reconhecimento do vínculo empregatício ou, pelo menos, a
redução do período correspondente, conforme contratos juntados pela
própria autora. Por fim, pedem o afastamento da multa do art. 477 da CLT,
pois a reclamante reconheceu que recebeu verbas após o término do
contrato entabulado por percentual, bem como não dispensou a reclamante,
mas ela própria deixou de trabalhar por finalização do contrato civil.
Eis os fundamentos da sentença, Id. 2ab1c13 (Fls. 162/167):
"DO RECONHECIMENTO DO VÍNCULO
Pretende a Autor o reconhecimento de dois vínculos
empregatícios com a Reclamada sendo um de 11/08/2018 a
19/03/2019 e outro de 26/03/2019 a 15/07/2019, na função de
engenheira, com a respectiva anotação de sua CTPS e pagamento
das verbas contratuais e rescisórias. Argumenta que teve que
assinar contrato de prestação de serviços com o 2º Litisconsorte
firmado para fins de mascarar o vínculo trabalhista com a
Reclamada, sendo as empresas do mesmo proprietário.
As demandadas rebateram a pretensão ressaltando a tese de
inexistência de vínculo empregatício e sim de trabalhos de
natureza civil autônoma. Alegam que os valores devidos pelo
serviço prestado conforme contrato já foram devidamente pagos.
Passo a analisar.
No direito do trabalho prevalece o princípio da primazia da
realidade, significando que no contrato de trabalho sobrepõe-se a
realidade laborativa sobre os documentos. Nem a celebração de
contrato de prestação de serviços, por si só, tem o condão de
afastar a possibilidade de vínculo empregatício.
Nesse diapasão, a definição do vínculo empregatício nos casos de
prestação de serviços circunda em área nebulosa e cinzenta, pois
tanto no autônomo quanto no empregado, ocorre pessoalidade,
onerosidade e não eventualidade, restando apenas a
configuração do requisito subordinação.
Nos termos da definição expressa no art. 3º da CLT, temos que:
"empregado é toda pessoa física que prestar serviços de natureza não
eventual a empregador sob dependência deste e mediante salário". A
não eventualidade corresponde que a força de trabalho, como
fator de produção, corresponda às necessidades normais da
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atividade econômica. Dependência nada mais é que
"subordinação jurídica", com conceito sedimentado pela doutrina
e o que efetivamente define o contrato de trabalho.
A subordinação jurídica, como dito acima, corresponde ao ponto
de distinção entre o autônomo e sob a égide da CLT. Segundo o
ilustre Evaristo de Moraes Filho por subordinação jurídica
entende-se um estado de dependência real criado por um direito,
o direito do empregador de comandar, dar ordens, donde nasce a
obrigação correspondente do empregado de se submeter a essas
ordens.
Quanto à habitualidade, assim define Délio Maranhão que "... os
serviços contratados devem ser prestados de modo não eventual, isto
é, que a utilização da força de trabalho, como fator de produção,
deve corresponder às necessidades normais da atividade econômica
em que é empregada..."(Instituições do Direito do Trabalho, 12ª
Edição, pág. 291), desta forma os serviços podem ser prestados
em dias alternados ou quando houver solicitação, desde que não
seja excepcional ou transitório em relação à atividade do
estabelecimento.
Desse modo, para fins de se configurar a relação de emprego é
indispensável a presença concomitante de todos os requisitos
citados (pessoalidade, onerosidade, não-eventualidade e
subordinação jurídica), não sendo possível a ausência de qualquer
deles, já que, nesta hipótese, não se tratará da modalidade
contratual regulada no Texto Consolidado.
A Reclamada admitiu em contestação a prestação de serviços
autônomo, invocando contrato diverso do de emprego, de
forma que atraiu para si o ônus da prova deste fato
impeditivo dos direitos do autor, consoante previsão contida
nos arts. 818 da CLT e 373, II, do CPC.
Com efeito, não há controvérsia sobre a prestação de serviços
dz Reclamante. O que resta a se dissipar, portanto, é a
natureza jurídica da relação que existiu entre as partes e o
período em que se deu tal relação.
Analisando os documentos juntados aos autos em cotejo com
os depoimentos das partes, considero robustas as provas nos
autos que indicam que embora tenham sido firmados
inúmeros contratos de prestação de serviços, a Reclamante
foi efetivamente contratada como empregada da Reclamada.
A Ré embora tenha alegado a validade dos contratos de
prestação de serviço, sequer juntou aos autos qualquer
documentação que comprove os valores por ela defendidos à
título de faturamento sobre as obras.
Por outro lado, evidenciam os autos que as atividades
desempenhadas pela Autora em benefício da Ré inserem-se
inequivocamente no core business da empresa demandada e
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eram desempenhadas nos moldes por ela determinados e sob
suas ordens diretas, indo desempenhar seu trabalho nos
Municípios e nas obras indicadas.
Sendo assim, era inerente ao pacto firmado que a
Reclamante estava a aos dias, horários e localidades
definidos pela Reclamada, de acordo com as necessidades
deste e cumprindo ordens de seus superiores, demonstrando
a ingerência técnica nos serviços prestados, pelo que não há
que se falar em inexistência de subordinação, principal
característica do trabalho autônomo.
Todos os fatores supracitados, em paralelo com o princípio da
primazia da realidade e em cotejo com a inversão do ônus da
prova face à admissão da prestação de serviço, ônus do qual não
se desincumbiu a Reclamada, levam este juízo ao reconhecimento
da existência do liame empregatício.
Com efeito, revela-se a não eventualidade na prestação de
serviços e o elemento subordinação, na medida em que a
obreira ficava submisso à direção, supervisão, ordens e
horários determinados pela Reclamada. Nota-se, ainda, que a
obreira não assumia riscos e nem atuava por conta própria,
situações afetas ao trabalhador autônomo.
Contudo, quanto ao salário, não há como depreender dos autos
que a Reclamante tivesse jornada de 8 horas como por ela
defendida, pelo que reconheço a jornada de 6 horas com o salário
respectivo equivalente a 6 salários-mínimos, conforme a Lei nº
4.950-A/1966.
E, por fim, considerando os dois interregnos indicados, impossível
reconhecê-los como diferentes contratos, impondo-se o
reconhecimento de contrato único, por força do disposto no art.
452, da CLT, bem como em face das determinações contidas na
Portaria 384/92, do MTE.
Nesse diapasão, RECONHEÇO o vínculo empregatício nos moldes
do art. 3° da CLT, e, por decorrência lógica, DEFIRO o pedido de
assinatura e baixa da CTPS, devendo ser registrada a data de
admissão em 11/08/2018 e fim do contrato em 15/07/2019, na
função de engenheira, e salário de R$ 5.724,00 na contratação,
com evolução para R$ 5.988,00 em 01/01/2019.
Para tanto, deverá a Reclamante depositar sua CTPS na secretaria
da Vara no prazo de 10 dias a contar do trânsito em julgado da
presente decisão. Após a entrega da CTPS, deverá a Secretaria da
Vara providenciar a notificação da Reclamada para que retire a
CTPS da Autora e proceda às devidas correções quanto a data de
entrada, entregando-a à Secretaria, tudo no prazo de 48 horas.
Não havendo cumprimento da obrigação, deverá a Secretaria da
Vara proceder às anotações.
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Na inicial há a confissão do recebimento do valor total de R$
9.750,00 a título de salário no decorrer do contrato, e na instrução
confessou o recebimento de mais R$ 1.000,00 após a demissão. A
Reclamada não comprovou o pagamento de nenhuma parcela.
Sendo assim, uma vez que reconhecido o vínculo são devidas as
verbas contratuais e rescisórias, pelo que julgo PARCIALMENTE
PROCEDENTEo pedido, deferindo o pagamento das seguintes
parcelas: aviso prévio (30 dias); 13° salário integral; férias simples
+ 1/3; FGTS de todo o período laborado acrescido da multa de
40%; multa do art. 477, §8º, da CLT; saldo de salários não pagos
do período.
Os pleitos deferidos deverão ser apurados por cálculos de
liquidação de sentença, considerando os parâmetros descritos, a
evolução salarial reconhecida, bem como compensando-se o
valor de R$ 10.750,00 já pagos pela Reclamada, limitando-se aos
quantitativos e valores postulados.
DO GRUPO ECONÔMICO. DA SOLIDARIEDADE.
O grupo econômico para fins trabalhistas não precisa sequer
estar formalizado na forma da lei comercial, incidindo a norma
desde que evidenciado, no plano dos fatos, sua existência,
conforme os arts. 2°, § 2° da CLT e 3º, §2º, da Lei 5.889/73.
São elementos que caracterizam a existência de grupo econômico
para fins trabalhistas: duas ou mais empresas, cada qual com
personalidade jurídica e organização própria; atividade
econômica; atuação subordinada ou coordenada, auferindo as
empresas ou uma delas benefícios econômicos em razão da
atuação conjunta.
Assim, considerando os documentos juntados aos autos bem
como o depoimento das partes, RECONHEÇOa caracterização de
grupo econômico conforme vindicado na inicial, de modo que os
créditos constituídos referente a esta condenação representarão
o regime da responsabilidade solidária entre os demandados,
tudo nos termos do art. 2º, §2º da CLT c/c art. 275 do CC."
Correta a decisão.
Explico.
A CLT disciplina em seu texto o que vem a ser a figura do empregado e
os requisitos para que seja possível se chegar à concretização desse vínculo.
Dessa forma, entende-se como empregado:
Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de
natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
Parágrafo único - Não haverá distinções relativas à espécie de emprego e à
condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico e manual.
Para que haja relação de emprego, deve ser comprovada a ocorrência
dos seguintes requisitos: trabalho realizado por pessoa física, pessoalidade, não
eventualidade, onerosidade e subordinação jurídica e a falta de qualquer um
deles descaracteriza a relação jurídica empregatícia.
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Ao admitir a prestação de serviços pela autora, as demandadas
atraíram para si o ônus de provar a inexistência dos elementos inerentes à
relação de emprego previstos nos art. 2º e 3º da CLT, pessoalidade,
não-eventualidade, onerosidade e subordinação.
Tais elementos caracterizadores do contrato de trabalho devem
coexistir numa mesma relação jurídica, a fim de que se possa reconhecer sua
existência nos moldes previstos no art. 3º da CLT. Por outro lado, ausente
qualquer dos elementos: pessoalidade, onerosidade, não-eventualidade ou
subordinação, não estaremos diante de um contrato de trabalho, e fora,
portanto, do âmbito de incidência da legislação trabalhista.
Na audiência de Id. df280a9 (fls. 138/140), foram ouvidas as partes, que
declararam:
"INTERROGADO(A) O(A) RECLAMANTE, RESPONDEU: que
confirma os termos da inicial; que foi contratada pelo Sr. Josias
como representante da reclamada, sendo inicialmente um
contrato verbal; que não houve um acerto de pagamento
mensal e no final do primeiro mês ficou cobrando; que tinha
apenas a hospedagem e a alimentação paga, bem como os
deslocamentos pagos pela reclamada; que já estava graduada
quando iniciou na reclamada e já tinha o CREA inscrito em Santa
Catarina; que foi para Itapeaçu, um distrito de Urucurituba, para a
obra de uma UBS; que ficou responsável pela continuação da
obra e esta não chegou a ser entrega pela reclamada; que tinha
dois serventes e dois pedreiros; que ficou direto nessa obra até
16/02/2019; que não havia medição e a reclamada ficava de
pagar um percentual só que nem isso ocorria; que em
fevereiro em 2019 foi determinada a sua volta para Manaus,
já que não havia materiais para a obra; que ficou em fevereiro
esperando que fosse paga e voltasse as obras pois não tinha
outra ocupação; que final de março foi chamada pelo Sr. Josias
para acompanhar obra de módulos sanitários no município
de Urucará; que ficou um mês trabalhando no local; que em
seguida foi para outra obra em Nova Olinda do Norte; que
continuou sem receber pagamentos; que a última obra que
acompanhou para a reclamada foi em Nova Olinda do Norte e
depois ainda acompanhou licitação para obra em Urucará;
que pela obra de Nova Olinda do Norte chegou a receber o
valor de R$ 1.000,00 depois de uns 5 meses do seu
desligamento; que a partir de 15/07/2019 ficou sem prestar
serviços para a reclamada;que a reclamada não mandava
materiais para a obra de Nova Olinda do Norte; que começou no
outro emprego no dia 27/04/2020; que ficou parada sem serviços
até iniciar na outra empresa. NADA MAIS. ÀS PERGUNTAS DO(A)
ADVOGADO (A) DO(A) RECLAMADO(A), RESPONDEU: que ficou um
mês trabalhando em Urucará e antes ficou uma semana
organizando o início da obra; que não se recorda a data de
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emissão no CREA; que teve registro no CREA no dia 10/05/2018;
que só uma obra teve contrato de prestação de serviços e as
outras não. NADA MAIS.
INTERROGADO O(A) PREPOSTO(A) DOS RECLAMADOS,
RESPONDEU: que confirma os termos da contestação; que é
sócio da reclamada e da 2ª litisconsorte; que executa obras por
meio das empresas; que a reclamante apareceu no escritório
indicada por outra engenheira; que fez o acerto com a
reclamante igual o que faz com os outros engenheiros de
receber 3% sobre a fatura paga para a empresa; que a
reclamante assinou contrato da obra de Itapeaçu e era uma
obra pequena, não precisava de engenheiro, mas resolveu dar
oportunidade para a reclamante que era recém-formada; que a
obra foi dando início e o prefeito não fez pagamentos, pois a
medição seria ao final; que não se recorda quando deixou a obra
de Itapeaçu; que depois a reclamante não ficava indo ao
escritório porém questionava por oportunidades de trabalho;
que daí apareceu a obra de Urucará, na qual a reclamante
trabalhou por uma semana e não pôde continuar nessa obra
por causa da exigência do prefeito de que tinha que ser um
engenheiro da localidade; que daí contratou um engenheiro do
local que lhe foi apresentado; que não pôde firmar contrato com
a reclamante e ela só trabalhou uma semana; que não se recorda
quanto foi pago à reclamante pelo serviço de acompanhamento
da licitação por uma semana; que apareceu a obra de nova
Olinda do Norte e como tinha pedido da outra engenheira
para arrumar serviço para a reclamante, a chamou e ela foi
para lá; que a reclamante ficou uns 10 dias e pagou R$ 1.000,00
por esse período; que resolveu trazer a reclamante de volta para
Manaus; que a reclamante chegou a assinar contrato para
receber 3% do valor da obra; que não se recorda em que época
isso ocorreu; que depois desta obra não mais a reclamante
prestou serviços; que na primeira obra comprou uma motocicleta
para a reclamante se locomover no valor de R$ 5.000,00 e a
mesma está com a motocicleta até os dias de hoje mesmo o
depoente solicitando a devolução; que a motocicleta encontra-se
em nome de uma engenheira amiga da reclamante, Sra.
Reginilda; que tem o comprovante do pagamento da motocicleta.
NADA MAIS. ÀS PERGUNTAS DO(A) ADVOGADO(A) DO(A)
RECLAMANTE, RESPONDEU: que a reclamante trabalhou de 3 a
4 meses na obra de Itapeaçu sem que a reclamada recebesse
pagamento do prefeito; que deve ter sido uns 4 meses de
trabalho da reclamante nessa obra pois os operários foram para a
justiça do trabalho em dezembro; que em dezembro de 2019 fez
um depósito na conta da reclamante para pagar os operários
e outra parte foi para ela; que não se recorda a data precisa
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se foi realmente em 21/12/2019; que tinha o compromisso de
pagar 3% da fatura para a reclamante e não pôde cumprir
porque não recebeu do prefeito; que daí fazia alguns
pagamentos para a reclamante como no caso de fevereiro de
2019; que na obra as ordens eram dadas pela reclamante que foi
contratada para essa finalidade; que o Sr. Alisson era responsável
pelo departamento de pessoal; que não se recorda se foi
depositado R$ 2.000,00 para a reclamante adiantar folha de
pagamento; que foi sua empresa que pagou a estadia e despesas
de permanência da reclamante em Itapeaçu; que ia levar a
reclamante para a obra de São Sebastião do Uatumã mas o
engenheiro Emanuel que ia casar e resolveu continuar a obra e
iria morar por lá; que a reclamante chegou a assinar o contrato
dessa obra de São Sebastião, mas a via do contrato da reclamada
desapareceu do escritório. NADA MAIS." (Grifos acrescidos)
Pois bem.
Em verdade, a própria autora, juntou aos autos os Contratos de
Prestação de Serviços (fls. 34/36 - datado de 11/08/2018); (fls. 30/32 -
datado de 05/06/2019) e (fl. 33 - datado de 11/06/2019), onde consta que a
autora foi contratada para execução específica de serviços de
engenharia.
Ora, a reclamante, sendo Engenheira, não há dúvida de que tinha
conhecimento pleno do que havia firmado com as reclamadas e anuiu à
relação posta, não podendo agora alegar desconhecimento e
consequentemente ignorar o princípio da boa-fé objetiva entre as partes.
O princípio da boa-fé objetiva, com previsão no art. 422 do Código Civil
e aplicável ao contrato de trabalho, impõe aos contratantes um conjunto de
deveres relacionados à honradez, honestidade e probidade, consoante se
verificam do citado dispositivo, in verbis: "Art. 422. Os contratantes são
obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução,
os princípios de probidade e boa-fé".
Também é sabido que a melhor doutrina e jurisprudência estendem os
deveres decorrentes do princípio da boa-fé também às fases pré e
pós-contratual.
A reclamante repito, em sendo Engenheira, ao assinar os Contratos
de Prestação de Serviços sabidamente sem vínculo empregatício, não
pode vir agora, a Juízo requerer o reconhecimento de vínculo
empregatício, e ao fazê-lo, acabou por violar o princípio da boa-fé
objetiva. E não é só: ela se beneficiou de uma circunstância então válida e
acordada entre as partes. Todavia, após sair da empresa bate às portas desta
Justiça alegando fraude no referido contrato que ela própria assinou e dele fez
parte. Não bastasse isso, ela deixou para propor a presente ação trabalhista
em 11/12/2020, quando já transcorridos quase um ano e cinco meses da sua
dispensa que ocorreu em 15/07/2019, conforme narrado na inicial.
O princípio da boa-fé objetiva é inerente a qualquer relação jurídica, não
se podendo admitir o desvirtuamento da finalidade da norma protetiva para
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se converter em fonte de enriquecimento sem causa àquele que se nega à sua
observância. O Julgador deve agir com certa ponderação ao interpretar a lei,
pois a sua aplicação deve ser busca da realização de sua finalidade ética e
social, de modo a impedir o abuso do direito.
Considerando, portanto, o princípio da boa-fé objetiva, previsto no
transcrito art. 422 do CC, o provimento do recurso das reclamadas se impõe,
razão por que reformo a sentença de origem para reconhecer como ato
jurídico válido, perfeito os Contratos de Prestação de Serviços juntados
aos autos, não havendo falar em vínculo empregatício, tampouco em
pagamento de verbas rescisórias e multa do art. 477 da CLT.
Por estas razões, conheço do recurso das demandadas e, no mérito,
dou-lhe provimento para reconhecer como ato jurídico válido, perfeito os
Contratos de Prestação de Serviços juntados aos autos, e como tal não
há falar em vínculo empregatício entre as partes, pelo que reformo a
sentença de origem e afastado o vínculo empregatício reconhecido e julgo
improcedente a ação, tudo nos termos da fundamentação. Inverto o ônus da
sucumbência e arbitro custas pela reclamante, calculadas sobre o valor
atribuído à causa R$171.057,00, no importe de R$3.421,14, para cujo
recolhimento fica isenta, em razão dos benefícios da justiça gratuita deferidos
em sentença.”
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onerosidade, são suficientes para evidenciar o vínculo de emprego e descaracterizar os
contratos de prestação de serviços autônomos firmados.
Relativamente aos contratos de prestação de serviços
celebrados, estes, por si só, não têm o condão de afastar a existência do vínculo de
emprego, uma vez que o liame existente entre as partes era de típico vínculo
empregatício, sobretudo em se considerando o princípio da primazia da realidade, onde
prepondera a efetiva situação fática sobre a forma.
Pelo exposto, conheço do recurso de revista por violação do art.
3.º, caput, da CLT.
Mérito
Conhecido o recurso de revista, por violação do artigo 3.º, caput,
da CLT, dou-lhe provimento para restabelecer a condenação das reclamadas ao
pagamento dos direitos trabalhistas oriundos do reconhecimento do vínculo de
emprego, nos termos da sentença. Custas em reversão pela reclamada. Mantido o valor
da condenação.
ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros da Segunda Turma do Tribunal Superior
do Trabalho, por unanimidade: I – dar provimento ao agravo para exame do agravo de
instrumento; II - dar provimento ao agravo de instrumento da reclamante por possível
violação do artigo 3.º, caput, da CLT, determinando o processamento do recurso de
revista, a reautuação dos autos e a intimação das partes e dos interessados para seu
julgamento, nos termos dos arts. 935 do CPC e 122 do RITST; III – conhecer do recurso
de revista quanto ao tema “VÍNCULO DE EMPREGO. ENGENHEIRA. CONTRATOS DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA REALIDADE”, por violação do
artigo 3.º, caput, da CLT, e, no mérito, dar-lhe provimento para restabelecer a
condenação das reclamadas ao pagamento dos direitos trabalhistas oriundos do
reconhecimento do vínculo de emprego, nos termos da sentença. Custas em reversão
pela reclamada. Mantido o valor da condenação.
Brasília, 18 de outubro de 2023.