Discriminação Positiva
Discriminação Positiva
Discriminação Positiva
As raízes do conceito se encontram nas lutas raciais nos Estados Unidos, nas
reivindicações dos movimentos pró direitos civis da população afro-americana. Trata-se
da chamada “Affirmative Action”, incluída na legislação, durante o governo Kennedy,
para garantir o acesso ao trabalho sem discriminação racial, religiosa ou de origem.
Movimentos que representavam minorias apoiaram as políticas de discriminação
positiva como estratégia de “empowerment”, através da criação de medidas destinadas a
prevenir ou atenuar mecanismos de discriminação, ou a compensar desvantagens
independentes da vontade dos sujeitos que as padecem. Essas medidas supõem um
tratamento desigual de modo a igualar as oportunidades de grupos desfavorecidos.
Progressivamente foram disseminando-se em diferentes legislações, em especial por
meio das “cotas”, que obrigam as instituições a incorporar, em proporções
juridicamente estabelecidas, minorias excluídas e estigmatizadas (uma porcentagem de
minorias nas vagas escolares, nas listas de candidatos a cargos políticos, etc.).
Essa noção tem contribuído para evidenciar as limitações do direito burguês em garantir
a plena vigência dos direitos a toda a população, independentemente de sua origem
étnica, nacionalidade, gênero, orientação política ou sexual. No campo escolar,
inscreve-se entre os desenvolvimentos teórico-políticos que questionam um dos
princípios centrais dos sistemas educacionais nacionais – a igualdade de oportunidades
para avançar segundo o mérito como garantia de justiça –, questionando a histórica falta
de consideração das desigualdades reais dos estudantes frente à igualdade formal ante a
escola. As análises desenvolvidas a partir dessa perspectiva questionaram a concepção
de igualdade própria do modelo da escola liberal por assimilá-la à homogeneidade na
oferta, nas regras e no trato.
No cenário das reformas educativas dos anos 90, a discriminação positiva foi concebida
como estratégia política para operacionalizar o conceito de equidade (FEIJOÓ, 2002),
centrando sua atenção nas desigualdades de êxito. Uma escola justa, nessa perspectiva,
seria aquela que conseguisse igualar o acesso a competências e conhecimentos. Mas, ao
reconhecer que a aquisição de conhecimentos e competências se encontra socialmente
condicionada, propõe a compensação como estratégia de política educativa para
consegui-lo (BOLÍVAR, 2005).
Diversos autores consideram que esses magros resultados se devem à redução que essas
políticas efetuaram sobre o problema da desigualdade, limitando-o à desigualdade
econômica e por se situar só no plano das evidências visíveis sem transformar as causas
estruturais que a geraram (WIEVIORKA, 2004). Na escola em particular, o viés
economicista implicou na redistribuição de recursos sem alterar os padrões de privilégio
cultural que intervêm nos processos de reprodução da desigualdade escolar (GLUZ,
2006).
NORA GLUZ
DUBET, F. O que é uma escola justa? Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 34, n. 123,
p. 539-555, set./dez. 2004.
FEIJOÓ, M. Argentina: equidad social y educación en los años ´90. Buenos Aires:
IIPE-UNESCO, 2002.