Vitor Aleixo Ppgs Ufmg Dissertacao 2014
Vitor Aleixo Ppgs Ufmg Dissertacao 2014
Vitor Aleixo Ppgs Ufmg Dissertacao 2014
Belo Horizonte
2014
VÍTOR CORRÊA ALEIXO
Belo Horizonte
2014
301 Aleixo, Vítor Corrêa
A366d "Deus faz, o Templo dos Anjos mostra" [manuscrito] :
2014 perfil eclesial e adesão religiosa na Igreja do Evangelho
Quadrangular em Belo Horizonte / Vítor Corrêa Aleixo. -
2014.
105 f. : il.
Orientadora: Cristina Maria de Castro.
Agradeço à Profa. Cristina Maria de Castro pela orientação atenta, pelas análises precisas,
pelo apoio constante e pelos diálogos esclarecedores.
Aos professores Alexandre Antônio Cardoso e Renan Springer de Freitas pelas
contribuições indispensáveis no exame de qualificação e na banca de defesa.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) que através de
seu financiamento possibilitou a realização dessa pesquisa.
Aos professores e colegas do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade
Federal de Minas Gerais.
Aos professores Geraldo Élvio Magalhães, Maria Amália de Almeida Cunha e Yurij
Castelfranchi.
Aos amigos de ofício Bruno Lucas Saliba de Paula, Francisco Neto Alves, Glauber
Loures de Assis e Vinícius do Prado Monteiro.
Aos meus pais, Olady e Fabrícia, e aos meus irmãos, Túlio e Raul, que apesar da distância
foram fontes irrestritas de incentivo.
E à minha esposa Joane pelas longas e entusiasmantes conversas sobre o trabalho de
campo e pela paciência e sensibilidade durante esses dois anos.
E, de repente, veio do céu um som, como de um
vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa
em que estavam assentados. E foram vistas por
eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais
pousaram sobre cada um deles. E todos foram
cheios do Espírito Santo e começaram a falar em
outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes
concedia que falassem (BÍBLIA, Atos, 2: 2-4).
RESUMO
This dissertation investigates the ruptures and continuities between the Brazilian religious
syncretism and the Foursquare Church, emphasizes its theological principles, its foundational
myth, its liberality in customs and its evangelists innovations. Also addresses to the repercussions
of mass evangelism model launched by the “Cruzada Nacional de Evangelização” (1953) on
emergence from the pluralistic and competitive religious marketplace in Brazil, emphasizing its
reflections in the classical Pentecostal denominations and historic Protestant. Then, the analysis
addresses the “IEQ Templo dos Anjos”, Pentecostal church located in Belo Horizonte,
characterized by a hybrid theology, varied symbolic offering, large media investment, and a
flexible organizational structure. The methodologies employed in field research were participant
observation, document analysis, informal interviews and recording of testimonies. Thus, this case
study identifies elements of religious life that contribute to the elucidation of how this Pentecostal
agency regulates its numerous clients, divided between fixed and regular members and episodic
and fluctuating members.
AD Assembleia de Deus
BPC Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo
CCB Congregação Cristã do Brasil
CBB Convenção Batista Brasileira
CBN Convenção Batista Nacional
CND Conselho Nacional de Diretores
CNE Cruzada Nacional de Evangelização
EMJJ Escola de Ministério Jeová-Jiré
IARC Igreja Apostólica Renascer em Cristo
IBL Igreja Batista da Lagoinha
IEQ Igreja do Evangelho Quadrangular
IEQ-TA Igreja do Evangelho Quadrangular – Ministério Templo dos Anjos
IIGD Igreja Internacional da Graça de Deus
INV Igreja de Nova Vida
IPDA Igreja Pentecostal Deus é Amor
ITQ Instituto Teológico Quadrangular
IURD Igreja Universal do Reino de Deus
MCIP Método de Crescimento da Igreja Primitiva
RCC Renovação Carismática Católica
RMBH Região Metropolitana de Belo Horizonte
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 12
1 PESQUISA DE CAMPO E METODOLOGIA ..................................................................... 15
2 PENTECOSTALISMO E AS RELIGIÕES DOS BRASILEIROS ..................................... 20
3 A IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR ........................................................... 36
4 O TEMPLO DOS ANJOS EM BELO HORIZONTE .......................................................... 53
4.1 O método de crescimento da igreja primitiva ................................................................. 53
4.2 “Tramas sincréticas” entre quadrangulares e neopentecostais ..................................... 65
4.3 Correntes de oração: regulação institucional e trânsito religioso ................................. 74
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 95
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 98
12
INTRODUÇÃO
“Deus faz, o Templo dos Anjos mostra”, o título dessa dissertação se refere ao slogan
usado pela Igreja do Evangelho Quadrangular, Ministério Templo dos Anjos (IEQ-TA),
localizada em Belo Horizonte. Com profusa veiculação pelo programa de rádio “Visita ao seu
lar”, apresentado pelo Pr. Jerônimo Onofre da Silveira, esse slogan proclamado de modo enfático
e com forte apelo emocional precede uma seleção dos mais impactantes testemunhos e milagres
experimentados nos cultos ao longo da semana. A escolha desse título se deve ao caráter
ilustrativo dessa mensagem publicitária em relação ao perfil eclesial da IEQ-TA, pois expressa o
matiz empresarial e mágico dessa agência religiosa especializada na oferta de bens e serviços
religiosos. Esse templo quadrangular seria marcado por elaborações teológicas híbridas e por uma
estrutura organizacional flexível, dado seu trânsito entre o sectarismo e o evangelismo de massa
que termina por conjugar elementos tanto do pentecostalismo clássico quanto do
neopentecostalismo. Tais traços de seu perfil eclesial refletiriam diretamente nas formas de
adesão religiosa de sua membresia que, devido a seus laços de pertença mais ou menos estáveis,
demandam instrumentos institucionais variados para que os grupos de convertidos sejam
conservados e os novos públicos sejam arrebanhados. Afinal, “em todo o pentecostalismo está
latente um potencial de „desordem‟, que desafia os líderes a um permanente controle.
Naturalmente, na medida em que os movimentos se institucionalizam e se rotinizam, esse
potencial de desordem diminui a um nível sustentável” (MENDONÇA, 2004, p.72).
Fundada em 1980, sete anos após a chegada da IEQ em Belo Horizonte por meio do
evangelismo do Rev. Mário de Oliveira e Rev. Antônio Genaro, a IEQ-TA alcançou seis milhares
de conversões e uma ampla clientela sazonal, o que contribuiu para a arrecadação de recursos
financeiros suficientes para a construção de um megatemplo, no início dos anos 1990, e para que
13
seu pastor titular Jerônimo Onofre da Silveira ampliasse gradativamente seu empreendedorismo
religioso. Seu atual templo conta com dois andares, capacidade para receber cerca de quatro mil
pessoas sentadas, salões para reuniões e sofisticado aparato audiovisual (alto-falantes e telões).
Ao longo dessas três últimas décadas, a IEQ-TA se tornou uma espécie de “catedral evangélica”
ao atrair um público numeroso e diversificado oriundo de igrejas quadrangulares menores, de
cidades da região metropolitana e, até mesmo, de outras denominações religiosas. Além disso,
seu perfil organizacional, teológico e ritualístico reproduziria a identidade quadrangular marcada
pela união sincrética de elementos provenientes de diferentes matrizes religiosas: o
protestantismo metodista, os elementos cúlticos afro-americanos, a Teologia da Prosperidade e a
Confissão Positiva. A International Church of the Foursquare Gospel, nome original da Igreja do
Evangelho Quadrangular, foi criada nos anos 1920 em Los Angeles, Califórnia, em um momento
de efervescência religiosa em que surgia uma miríade de novos movimentos autônomos e
pequenos grupos pentecostais. Herdeira das primeiras irrupções reavivalistas norte-americanas,
como o Latter Rain Movement de final do século XIX, o Apostolic Faith Movement e o Azusa
Street Revival de início do século XX, a IEQ liderada por sua fundadora Aimee Semple
McPherson foi uma das principais denominações que protagonizaram a expansão pentecostal
tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Desde sua origem seu perfil eclesial se distingue pela
ênfase no evangelismo de massas, na difusão midiática, nos rituais performáticos, nas
apresentações de música gospel, no diálogo com a cultura popular, nas pregações didáticas e
teatrais, na liberalidade dos usos e costumes e nas campanhas missionárias transnacionais.
Com a Cruzada Nacional de Evangelização (CNE) iniciada nos anos 1950, o modelo
evangelístico massificado e midiático da Igreja Quadrangular repercutiria no mercado religioso
brasileiro e impulsionaria a emergência do pluralismo competitivo em detrimento do monopólio
da Igreja Católica. O período norte-americano do pós-guerra, com o baby boom e a abertura dos
mercados internacionais, refletiria seu otimismo nos investimentos em campanhas missionárias
transnacionais, enquanto o contexto brasileiro se mostrava propício ao surgimento de um
mercado religioso pluralista, devido ao emergente processo de industrialização e urbanização e à
consolidação dos ideais democráticos e das instituições seculares, que contribuíram para uma
maior tolerância da sociedade civil e para um abrandamento da vigilância policial frente às
minorias religiosas (GIUMBELLI, 2008, pp.89-91). Ademais, a empreitada missionária bem-
sucedida da CNE apresentaria um modelo de evangelismo radicalmente distinto dos pentecostais
14
clássicos e dos protestantes históricos. Poucas semelhanças tinham com os cultos em templos
fechados, com o rigorismo moral, com a organização sectária, com a rígida exegese bíblica, com
os hinários tradicionais e com o caráter excepcional dos milagres. Já que seus cultos eram
realizados em espaços abertos, ginásios e em tendas de lona, seus rituais de cura divina e de
exorcismo eram apresentados a grandes públicos, suas campanhas eram propagandeadas por
rádio, panfletagem e jornais, seus ritos de louvor eram embalados por ritmos musicais seculares e
suas pregações eram marcadas pelo didatismo e pelo emocionalismo. Com isso, seu sucesso
conversionista não se limitou apenas ao período das cruzadas pentecostais, mas atravessou as
décadas e provocou importantes deslocamentos doutrinários e proselitistas em muitas
organizações eclesiais brasileiras. Sendo que hoje, conforme o Censo Demográfico de 2010, a
IEQ teria o quarto maior número de filiados pentecostais no país e a maior membresia dentre os
evangélicos de origem pentecostal na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Atenta a esses deslocamentos no mercado religioso brasileiro ao longo do século XX,
essa pesquisa qualitativa se dedica a um fenômeno que conjuga o âmbito institucional das igrejas
quadrangulares com os perfis de adesão religiosa da membresia, isto é, as estratégias de
regulação eclesial frente a uma clientela numerosa e diversificada. Ressalta as formas de controle
institucional, expressas pela centralização administrativa e ministerial, pelo planejamento
sistemático do proselitismo, pela diversificação da oferta religiosa e pelo evangelismo midiático,
frente à figura do convertido e do peregrino evangélico. Essa questão suscitada em “O peregrino
e o convertido: a religião em movimento” pela socióloga francesa Danièle Hervieu-Léger (2008),
refere-se a como as instituições religiosas nas sociedades contemporâneas reagiriam ao desafio
apresentado pelas novas formas de crer e pertencer, que variariam entre os seguintes tipos ideais:
o adepto estável com forte laço de pertença (figura do convertido) e o adepto autônomo e com
intenso trânsito religioso (figura do peregrino). Desse modo, essa pesquisa se debruça tanto sobre
o processo sócio-histórico de desmonopolização católica e de pluralização do mercado religioso
nacional, em que emergiria formas mais autônomas e flexíveis de adesão pentecostal. Para isso,
analisa as singularidades do pentecostalismo quadrangular e a repercussões de seu evangelismo
de massa a partir da CNE. Mas também atenta para uma dimensão microanalítica, apresentada
pelo estudo de caso realizado na IEQ-TA, que desde os anos 1980 vem elaborando estratégias
institucionais variadas para atrair e conservar os perfis de adeptos fixos e flutuantes.
15
1
A medição anual da audiência radiofônica na RMBH é realizada pelo Instituto Ibope. Os resultados da pesquisa de
2013 foram divulgados no seguinte site: <http://tudoradio.com/noticias/ver/8511-audiencia-bh-bh-fm-e-107-
avancam-na-medicao-jovem-pan-fm-encosta-na-alvorada>. Já os dados referentes ao ano de 2012 podem ser
encontrados no site da “Rádio do Provo de Deus”: < http://radio107fm.com/plus/modulos/conteudo/?tac=pesquisa-
de-audiencia>. Acesso: 29 out. 2013.
17
2
O caso da IURD foi detalhadamente analisado no livro “Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no
Brasil” (MARIANO, 2010, pp.75-98), a partir de uma descrição minuciosa de fatos polêmicos como: os processos
judiciais, a prisão do Bispo Macedo, “o chute” na imagem de Nossa Senhora Aparecida, a veiculação do vídeo que
explicava aos pastores iurdianos como se conseguir dízimos mais altos.
3
Sobre o processo judicial contra os líderes da IEQ-TA (2006) há informações disponíveis no site do Jornal Última
Instância: <http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/noticias/22372/apoiadores.php/>. Acesso em: 26 set. 2013.
19
4
Essa tipologia encontrada em “Católicos, protestantes e espíritas” (CAMARGO et al, 1973, pp.110-111) foi
construída em diálogo com a proposta de Roger Bastide apresentada em 1959, na obra “Brasil, terra de contrastes”,
que definia o primeiro tipo como “protestantismo estrangeiro”, por causa de sua restrição à comunidade de
imigrantes, e o segundo como “protestantismo nacional”, em decorrência de seu evangelismo direcionado à
sociedade brasileira. Por sua vez, Mendonça (2004) acrescenta a definição “protestantismo de invasão” com o intuito
de destacar a importância histórica do credo reformado no período colonial.
23
eram filiados em Chicago. Em alguns meses, suas pregações inspiradas no nascente reavivalismo
norte-americano atraíram maiores públicos aos cultos e deram novo ânimo aos membros da
igreja. Porém, mesmo os evangelistas sendo convertidos batistas e tendo alcançado certo sucesso
proselitista, suas mensagens reavivalistas incomodaram os lideranças pastorais brasileiras, cujos
princípios doutrinários eram mais afinados com a tradição protestante histórica. Contudo, em
1911 os dois missionários e treze fiéis foram expulsos da igreja batista sob a acusação de que
pregavam no templo e em cultos domiciliares a glossolalia e a operação de milagres, preceitos
doutrinários dissonantes da teologia batista tradicional. Da separação desse pequeno grupo
surgiria uma das mais proeminentes precursoras do pentecostalismo no país, incialmente
chamada Missão da Fé Apostólica, nome inspirado no movimento de Charles Fox Parham, seria
renomeada para Assembleia de Deus (AD) em 1914 (ARAÚJO, 2007 pp.39-41). Essa
denominação pentecostal teria hoje o maior número de filiados evangélicos do país, contando
com mais de doze milhões de membros.
Enquanto o pentecostalismo teria nos Estados Unidos uma considerável função
desenvolvimentista, ao aportar no Brasil se fecha em relação ao mundo externo, sendo que
apenas nos anos 1970 e 1980 que esses grupos religiosos se voltariam para as campanhas
eleitorais e para o crescimento socioeconômico, porém, com uma visão individualista da
prosperidade e com interesses políticos particularistas. Esse retraimento dos pentecostais
clássicos estaria relacionado à condição de minoria religiosa dos protestantes e aos esforços para
não entrar em conflito com as autoridades brasileiras, mas também por questões teológicas e
doutrinárias, como o destaque ao milenismo ou à segunda vinda de Cristo. Assim como no
contexto norte-americano, a crença no milênio prevaleceu entre os pentecostais brasileiros nas
primeiras décadas do século XX, constrangendo quaisquer ações de ordem individual ou
institucional frente à política ou às desigualdades sociais (MENDONÇA, 2004, p.68).
De acordo com Paul Freston, a expansão do pentecostalismo no Brasil poderia ser
compreendida a partir de três ondas. A primeira onda seria representada pela CCB e pela AD e se
estenderia de 1910 a 1950, essas denominações evangélicas se caracterizariam por uma
organização sectária, por um estrito rigorismo moral e por princípios teológicos baseados no
pentecostalismo clássico, isto é, sua ênfase doutrinária estaria no batismo espiritual e na
glossolalia. No caso da CCB o crescimento de sua membresia teria sido maior durante o período
fundacional, mas nas décadas posteriores se manteve estagnada na região Sudeste. Essa
26
não carregarem uma tradição de meio século, como as pentecostais clássicas e as protestantes
históricas, teriam melhores condições de se adaptarem à sociedade urbana por meio de inovações
em sua oferta simbólica, de técnicas modernas de evangelização e de novas formas de se
relacionar com a cultura local (Idem, 1993, p.82). Ora, se entre os protestantes históricos a
transmissão religiosa ocorre a partir de uma rigorosa exegese bíblica e de uma pedagogia
racional, no caso dos pentecostais o que predominaria seria uma ritualística estetizada e uma
evangelização de forte apelo emocional, em que o livro sagrado ganha novas representações, por
exemplo, torna-se um signo identitário, um amuleto contra os demônios ou, ainda, uma fonte
ilustrativa das pregações dada sua variedade de mitos, símbolos e narrativas.
Diante da mobilidade social de parte dos fiéis, das promessas da sociedade de consumo,
dos serviços de crédito ao consumidor, dos sedutores apelos do mundo da moda, do lazer
e das opções de entretenimento criadas pela indústria cultural, essa religião ou se
mantinha sectária e ascética, aumentando sua defasagem em relação à sociedade e aos
interesses ideais e materiais dos crentes, ou fazia concessões. Diante das mudanças na
sociedade e das novas demandas do mercado religioso, diversas lideranças pentecostais
optaram por ajustar gradativamente sua mensagem e suas exigências religiosas à
disposição e às possibilidades de cumprimento por parte dos fiéis e virtuais adeptos. O
sectarismo e o ascetismo cederam lugar à acomodação ao mundo, acompanhando o
processo de institucionalização, ou a rotinização do carisma, do pentecostalismo
(MARIANO, 2010, p.148).
5
Uma das referências bíblicas mais citadas nas pregações para legitimar o dom pentecostal da cura divina seria:
“Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do
Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometidos pecados, ser-lhe-ão
perdoados (BÍBLIA, Tiago, 5: 14-15).
6
Por sua vez, também não faltam excertos bíblicos para dar credibilidade ao dom da prosperidade, por exemplo:
“Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim,
diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos
advenha a maior abastança” (BÌBLIA, Malaquias, 3: 10).
29
7
A divisão sistemática das pesquisas nacionais e norte-americanas dedicadas à Sociologia do Pentecostalismo,
durante a segunda metade do século XX, foi elaborada na tese de doutoramento de Ricardo Mariano, intitulada
“Análise sociológica do crescimento pentecostal no Brasil” (2001), tendo sido publicada esquematicamente no artigo
“Sociologia do crescimento pentecostal no Brasil: um balanço” (2011).
30
8
Sobre a questão da “segurança ontológica” relacionada às cosmologias religiosas e às comunidades locais, cf. “As
consequências da modernidade” de Anthony Giddens (1991, pp.91-93).
31
serviu para atenuar as frustrações, para resolver certos problemas pessoais e sociais
resultantes do colapso das comunidades tradicionais, das doenças e da pobreza, da
desorientação das cidades modernas e das fronteiras com o mundo rural. Assim, o
protestantismo parece realizar uma função adaptativa frente a uma série de
transformações altamente perturbadoras, que não poderiam ser controladas nem
advertidas. E se demonstra capaz de desempenhar essa função porque é parte
constitutiva das mudanças culturais – um novo recurso, mas não o único, para a solução
dos problemas modernos (Ibidem, p.256, tradução nossa).
De modo similar a certas concepções que tomam o protestantismo como uma força
civilizatória e modernizante, essa obra pioneira apresenta certa “ética pentecostal” que teria
contribuído para a incorporação dos valores democráticos e liberais pelos brasileiros e chilenos.
Tais igrejas devido ao maior acesso aos cargos ministeriais, aos bens de salvação e aos dons
espirituais, abrandariam as relações hierárquicas e motivariam o surgimento de lideranças leigas,
compondo um modelo eclesial mais flexível do que o observado na organização eclesiástica e na
ortodoxia católica (Ibidem, p.139). Enfim, o autor identifica um significativo fenômeno de
transição cultural que influenciaria as pesquisas posteriores, qual seja, de que a expansão do novo
credo não traria tão somente rupturas com as religiões tradicionais dos brasileiros e chilenos, mas
também determinadas continuidades com o catolicismo popular. Apesar dos preceitos contrários
ao caráter mágico e emocional herdados da Reforma Protestante, seu escopo doutrinário e
ritualístico estabeleceria uma ponte entre o catolicismo folk e as seitas pentecostais por meio de
símbolos e práticas amplamente difundidas na América Latina, por exemplo, as crenças em
“experiências místicas, possessões, milagres, espíritos do mal, feitiçarias e demônios”, o que
contribuiria para sua maior receptividade pelos grupos de migrantes desenraizados dos contextos
tradicionais (Ibidem, pp.133-138; MARIANO, 2011, p.13).
Outra obra que inaugurou as análises do pentecostalismo pela perspectiva estrutural-
funcionalista, publicada em 1969, foi “O refúgio das massas” do sociólogo suíço Lalive d‟Epinay
– esse título faz uma referência à obra “La rebelión de las masas” (1930) do filósofo espanhol
José Ortega y Gasset. Talvez por inspiração do filósofo espanhol que não via a proeminência do
homem médio nem os fenômenos de massas como salutares à sociedade contemporânea, esse
trabalho se mostra mais pessimista do que o citado anteriormente. Considera que a expansão
pentecostal apresentaria apenas soluções superficiais para o estado anômico gerado pela
modernização e pelo declínio do modelo oligárquico, não traria em si elementos da cultura
moderna nem refletiria os princípios democráticos, sua função seria de apaziguar as demandas
individuais mais prementes daqueles que se encontravam na miséria e na marginalidade da
32
dimensões internas do fenômeno religioso que teriam sido negligenciadas pelas pesquisas
precedentes, por enfatizarem as transformações macroestruturais e a função de integração social.
Camargo atenta para o âmbito microanalítico das igrejas pentecostais, para a função terapêutica
dos rituais de cura, para o caráter associativista das comunidades de fé, para a dominação
carismática exercida pelos líderes pastorais, para os constrangimentos da organização sectária,
para as redes de ajuda mútua e para os intercursos simbólicos com as religiosidades populares
(MARIANO, 2011, pp.15-17).
9
Por exemplo: tradição-modernidade, folk-urbano, ordem-anomia (MARIANO, 2011).
10
Enfatizava-se a necessidade de pesquisas que fundamentassem empiricamente as análises excessivamente teóricas,
abstratas e especulativas. Para tanto, foram defendidos investimentos tanto em pesquisas etnográficas, quanto
demográficas, com vistas a levantar dados sobre as dinâmicas migratórias, as relações de parentesco, as práticas
religiosas, etc..
34
explosion of Protestantism in Latin American”, de David Stoll, “Is Latin American turning
protestant?: the politics of evangelical growth”, resgataram o argumento de que o
pentecostalismo carregaria em seu seio escopo doutrinário preceitos e valores liberais,
democráticos e racionalizados, representando uma espécie de “reforma protestante tardia” na
América Latina (Ibidem, pp.21-24). Essas análises foram amplamente acolhidas pelos estudiosos
da religião que passaram a ver nas igrejas pentecostais uma nova força cultural que transformaria
o Brasil, superando sua condição política e cultural arcaica, autoritária, subdesenvolvida e
socialmente iníqua. Se os republicanos e liberais da virada do século XIX tomaram a ética
puritana dos protestantes históricos e as reformas político-econômicas como as principais vias de
superação do regime oligárquico nos países latino-americanos, com essa perspectiva os
pentecostais se tornariam os novos promotores do ideário moderno, capitalista e democrático.
Já a perspectiva baseada na teoria da escolha racional da religião foi elaborada na
década de 1980 por sociólogos norte-americanos como Rodney Stark, Laurance Iannaccone e
Roger Finke. Nessa vertente a atenção se volta para a emergência de um mercado religioso
baseado na competitividade e no empreendedorismo, sendo a análise teórica análoga à
desenvolvida pelos pensadores liberais clássicos, em que não a intervenção estatal, a iniciativa
privada e a livre concorrência favoreceriam a expansão e diversificação do mercado capitalista.
Argumenta-se que com a menor regulação do Estado frente ao mercado religioso, exemplificado
pelo processo de secularização e pela garantia constitucional da liberdade religiosa, as igrejas
tenderiam a se proliferar gerando um maior pluralismo cultural e uma intensa concorrência
interdenominacional (FRIGERIO, 2000, pp.130-132). Essa tese defendida pelos teóricos da
escolha racional se contrapõe às abordagens sociológicas clássicas de que o processo de
secularização estatal estaria diretamente relacionado a uma secularização cultural, ou seja, ao
declínio da religião na modernidade (ZEPEDA, 2010, p.130). Também discorda de perspectivas
como a de Peter Berger que, embora relacionasse o aumento do pluralismo e da concorrência à
menor regulação estatal do mercado religioso, pressupunha não um fortalecimento, senão uma
relativização e afrouxamento das crenças e valores religiosos. Perante esse debate, os exponentes
dessa teoria propõem que o processo desenrolado na modernidade ocidental mais relevante, não
seria a da secularização que abarcaria tanto a dimensão estatal e pública quanto a cultural e
privada, mas sim o processo de dessacralização.
35
Na medida em que uma firma religiosa alcance o monopólio, tentará exercer sua
influência sobre outras instituições e, dessa maneira, a sociedade se verá sacralizada. Por
sacralizada entendemos que os aspectos principais da vida, da família à política, estarão
imbuídos de símbolos, retórica e rituais religiosos. [...] A sacralização da esfera política
é o quid pro quo mediante o qual uma determinada firma religiosa recruta os poderes
coercitivos do Estado contra firmas com as quais concorre. [...] Quando o Estado, pelo
motivo que seja, já não reconhece as exigências de uma firma monopolista à
legitimidade exclusiva, ocorre a dessacralização. Quando existe uma pluralidade de
firmas religiosas, nenhuma tem poder suficiente para manter a sacralização (STARK &
IANNACCONE apud FRIGERIO, 2000, p.131).
Fomes e guerras suscitam profetas, heresias: contatos violentos influem sobre a própria
repartição da população e sua natureza, mestiçagens de sociedades inteiras (é o caso da
colonização) fazem surgir forçosamente novas ideias e novas tradições. Não se deve
confundir essas causas coletivas, orgânicas, com a ação dos indivíduos que delas são
muito mais intérpretes do que senhores. Não se deve, portanto, opor a invenção
individual ao hábito coletivo. Constância e rotina podem ser obra de indivíduos,
inovação e revolução podem constituir a obra de grupos, de subgrupos, de seitas, de
indivíduos agindo por e para os grupos (MAUSS apud BOURDIEU, 2007, p.74).
modo, essa singularidade foi estrategicamente usada pela missionária para promover sua imagem,
chamando a atenção pública e da mídia secular, o que acabou por reforçar o marketing religioso
já empregado pela missionária canadense com a publicação de sua revista The Bridal Call e em
programas radiofônicos. A Foursquare Church foi a precursora no uso do rádio com fins
proselitistas, levando ao ar as pregações de Aimee ainda no início dos anos 1920, sendo que em
fevereiro de 1924 teria inaugurado a primeira rádio de propriedade de uma denominação
religiosa, a Kall Four Square Gospel (KFSG), com estúdio situado no Angelus Temple e com
transmissões que alcançavam grande parte dos Estados Unidos, além de países como Canadá,
México, Panamá e as ilhas do Pacífico Sul.
Entretanto, para melhor se compreender a construção da identidade quadrangular, de
seu escopo teológico e de suas inovadoras técnicas proselitistas, faz-se necessário ressaltar a
trajetória biográfica e pastoral de sua fundadora Aimee Semple McPherson e suas interconexões
com o contexto sociorreligioso estadunidense. Eventos da infância e da juventude dessa
proeminente liderança pentecostal, considerada pela Revista Time como uma das pessoas mais
influentes do século XX, permitem identificar aspectos individuais e dimensões dos contextos de
socialização religiosa que influíram diretamente na formação dessa personagem carismática que
conjugaria preceitos do protestantismo histórico e do pentecostalismo clássico com práticas
modernas de evangelismo midiático e de concorrência interdenominacional. Conforme sugere
Leonildo Campos, vasculhar os traços biográficos e as trajetórias de vida dos principais agentes
religiosos pode revelar mais do que “o simples exame dos dados estatísticos e das listagens
comparativas sobre o crescimento de cada grupo”, afinal, o pentecostalismo se caracterizaria pela
proeminência de lideranças carismáticas, “pessoas que lideram multidões de fiéis em processos
coletivos de recomposição de crenças e práticas, gerando em consequência de suas pregações
formas alternativas às principais receitas religiosas monopolizadas pelas igrejas” (2005, p.107).
Com isso, poder-se-ia contribuir com a proposta de Pierre Bourdieu de “acabar de vez com a
representação do carisma como propriedade associada à natureza de indivíduo singular”, ao se
investigar “as características sociologicamente pertinentes de uma biografia singular” (2007,
p.74), isto é, em que medida o contexto social influiria nas disposições éticas e religiosas de
Aimee Semple McPherson e, mais do que isso, quais seriam as consonâncias entre seu discurso
reavivalista e as demandas implícitas dos destinatários do evangelho quadrangular.
38
quadrangular descreve sua reação: “eu soube então que havia um Deus e que eu era uma
pecadora perdida. Em pânico cego levantei-me e fugi. Mas, tarde demais. O anzol do evangelho
do Pescador de homens me apanhara firmemente” (Ibidem, p.33). Diz ainda que passou três dias
escutando música secular para apaziguar o desespero, para enfim se converter e queimar as
sapatilhas de dança, as partituras de jazz e os romances. Com esse evento que marca a adesão da
missionária ao reavivalismo, as experiências místicas, revelações e profecias se tornaram uma
constante em sua trajetória religiosa, conferindo-lhe um caráter de “profetisa contemporânea”,
isto é, de líder pentecostal marcada pelo carisma pastoral, que afirmava ser capaz de dialogar com
o Espírito de Deus e que proclamava uma mensagem de caráter extraordinário – embora atenta às
demandas espirituais e materiais dos grupos marginalizados e das classes médias. Sua primeira
experiência extática e mística teria ocorrido em seu batismo espiritual motivado pelos cultos de
Robert Semple e por técnicas sacrificiais, evento que receberia grande centralidade em sua
trajetória pastoral e na identidade quadrangular. Eis a narrativa referente à possessão batismal da
irmã Aimee:
“Senhor”, clamei, “não vou mais comer e dormir até que me encha com o Espírito de
poder prometido!” “Estou mais disposto a dar do que você a receber”, disse a Bíblia
aberta. “Perdoei-me!”, murmurei. “A espera deve ser a minha parte e não a sua”. A
glória então caiu. Meus olhos cerrados vislumbraram o homem da Galileia, sangrando,
morrendo, coroado de espinhos na árvore do Gólgota. Lágrimas corriam pelo meu rosto.
Descobri que meus lábios trêmulos cantavam: Permite que o ame, Salvador, / Tome
minha vida para sempre, / Nada senão o seu serviço, / Satisfará a minh‟alma. “Glória,
glória a Jesus”, repeti muitas vezes. Depois meus lábios começaram a tremer e passei a
falar outras línguas, como aquelas do antigo cenáculo. Ondulações, ondas, vagalhões,
oceanos, aguaceiros de bênçãos inundaram meu ser. Meu corpo caiu ao chão e ficou ali
submerso debaixo da chuvarada. Uma pequena poça d‟água marcava o tapete. Tremi
como se estivesse segurando os cabos negativos e positivos da bateria elétrica no
laboratório da escola (MCPHERSON & COX, 2002, pp.42-43).
evangelizar, “Ele proverá os meios para levá-lo até lá. A pessoa pode ser testada. Pode até chegar
ao porto sem ter ainda a passagem, mas alguém chegará e colocará o dinheiro em suas mãos antes
que levantem a ponte levadiça” (Ibidem, p.53). O breve casamento com esse líder reavivalista
deixaria marcas profundas no evangelismo da missionária quadrangular, que acompanhando seu
marido nos trabalhos da igreja e nas missões transnacionais, gradativamente, interiorizaria a
prédica pentecostal e as estratégias de evangelização. Nas semanas posteriores Robert Semple
intensificou seu trabalho missionário na igreja local, ampliando o público e número de
conversões, em seguida, partiu com Aimee para Londres, Ontário e Chicago o que permitiu que
arrecadassem doações suficientes para a viagem. Essa narrativa, comumente expressa por
evangelistas pentecostais, defende que em momentos de dificuldades no campo missionário é
preciso esperar que Deus “toque o coração” dos fiéis para que assim doem quantias superiores às
ofertas habituais – obviamente, não há referências à eficácia das estratégias proselitistas.
A China sempre representou um grande desafio para os missionários cristãos, devido
à numerosa população e ao predomínio de adeptos budistas, confucionistas e de outras religiões
tradicionais. Sendo assim, a realização de missões nesse país seria uma oportunidade de intenso
treinamento, mas também uma eficaz estratégia promocional, ainda mais se ao retornar para o
país de origem o missionário interpretasse sua viagem como um terrível martírio, repleto de
provações e perseguições, em defesa do evangelho – similarmente ao descrito nas epístolas do
apóstolo Paulo. Não foi diferente para o casal, essa campanha se transformou em um evento
central na trajetória biográfica e pastoral de Aimee. Houve um momento de forte sofrimento para
a missionária, quando seu marido morre de malária, logo após ela dar à luz a sua primeira filha,
Roberta Semple Salter. Mas também foi na China em que ela se convenceu de seu “ethos
missionário”, ao ser convocada inadvertidamente para realizar sua primeira pregação para uma
plateia de cerca de quinze mil pessoas. Ela conta que estava em pânico perante o público sem
saber o que dizer, mas novamente passa por uma experiência mística que, de certa forma,
comprovaria o chamado de Deus:
O poder do Espírito Santo caiu sobre mim até que comecei a tremer como vara verde.
Então o Senhor tomou posse de minha língua, como fizera naquele dia memorável em
que me batizara com o fogo pentecostal, só que desta vez falei em inglês. As palavras
pareciam fluir sem volição consciente ou iniciativa própria. Era como se eu tivesse sido
envolvida pela oratória de outrem. [...] Tão depressa quanto o fluxo de palavras
começara, ele estancou. O poder que me galvanizara manifestando-se em uma torrente
de palavras cessou como se alguém tivesse apertado um interruptor. Senti-me vazia
41
como um balão sem ar. Fiquei imaginando vagamente por que tantos ministros estavam
apertando minhas mãos. O mar de pessoas batia palmas e enxugava os olhos. Robert
envolveu-me com o braço e levou-me para o carro. “Não acredito! Como é que você
conseguiu? Eu não sabia que tínhamos um segundo pregador na família. Você vai
melhorar fazendo o trabalho daqui em diante”. O louvor de Robert era um bálsamo para
os meus ouvidos. “Quanto tempo você levou para preparar o sermão?” “Oh, Robert”,
comecei a chorar. “Não fui eu que o fiz. Foi como se estivesse falando em línguas, só
que em inglês” (MCPHERSON & COX, 2002, pp.68-69).
FIGURA A:
SIMBOLOGIA QUADRANGULAR – OS QUATRO ROSTOS
Fonte: http://www.quadrangular.com.br/
43
FIGURA B:
SIMBOLOGIA QUADRANGULAR – OS QUATRO SÍMBOLOS
Fonte: http://www.foursquare.org
convidados por Aimee Semple McPherson para pregarem no Angelus Temple (ROMEIRO, 2007,
pp.21-24).
Não levante mais as mãos duvidosas, ou a voz incrédula, nem pense que tais poder,
sinais e prodígios foram somente para os dias dos apóstolos. Vivemos ainda na
dispensação do Espírito Santo que começou no dia de Pentecostes e que não terminará
enquanto Jesus não voltar. Este é o último dia, e, de acordo com sua palavra através do
profeta Joel, Deus está derramando do seu Espírito sobre toda a carne. Em lugar de opor-
nos ao seu plano divino, vamos inclinar-nos humildemente aos seus pés, debaixo do
sangue protetor, e, de acordo com seu propósito e decreto divinos, peçamos ao Senhor
chuva na estação da chuva serôdia, até que os aguaceiros e chuvas torrenciais do seu
Espírito transformem o deserto em jardim irrigado, onde os olhos dos cegos se abrem, os
ouvidos surdos passam a escutar e o coxo salta de alegria, enquanto aguardamos a vinda
do Senhor (MCPHERSON & COX, 1991, p.131).
Esse trecho do sermão “Os dons do Espírito Santo”, elaborado pela fundadora da
International Church of Foursquare Gospel, a missionária canadense Aimee Semple McPherson
(1890-1944), enfatiza a herança dispensacionalista que estrutura a teologia pentecostal clássica e
que permanece nas dominações quadrangulares contemporâneas. Seus princípios básicos seriam a
contemporaneidade dos dons pentecostais e o milenarismo, isto é, a crença de que o
reavivamento iniciado com os apóstolos no dia de Pentecostes prepararia a igreja para a segunda
vinda de Cristo que reinaria por mil anos até o juízo final. Enquanto o Messias não vem, a
missionária aconselha aos cristãos para que orem e se sacrifiquem para que Deus conceda o
batismo espiritual e para que o Espírito Santo derrame suas dádivas sobre a igreja. Observa-se,
ainda, que o dom pentecostal da cura divina é ressaltado, corroborando sua centralidade na
doutrina e na oferta simbólica desde o período fundacional da denominação quadrangular, o que
viria a refletir nas categorizações sociológicas da segunda onda pentecostal brasileira – definida
por Mendonça como “pentecostalismo de cura divina” (GIUMBELLI, 2000, pp.96-98).
Todos concordamos que a salvação tem o primeiro lugar, é claro. Todos concordamos
que, por melhor que seja a cura divina, ela tem os seus pontos fracos. A pior coisa que
conheço sobre a cura é que ela não é definitiva. Sou muito franca em admitir que a cura
divina é apenas temporária, não dura para sempre. As pessoas ficam novamente
enfermas e morrem. A cura pode durar dez ou vinte ou cinquenta, ou até cem anos; mas
se Jesus demorar você morrerá e estará com o Senhor. Até as pessoas curadas por Jesus
nos dias bíblicos morreram. A obra feita em favor da alma, porém, dura para sempre. Ela
vive eternamente no mundo do além. Mas, enquanto estamos aqui, a cura divina ajuda
muito (MCPHERSON & COX, 1991, p.159).
45
e velhos, em busca de cura, da salvação do corpo de seus entes amados, apelando pela mística, já
que os homens haviam-nos condenado à imobilidade, à cegueira, à loucura, enquanto vivessem”
(ROSA, 1977, p.26).
A cruzada nacional inauguraria uma nova forma de se viver a prédica cristã, uma
maneira pouco ortodoxa de interpretar os textos bíblicos e de se relacionar com o Espírito Santo.
Seus cultos realizados em tendas de lona chamavam a atenção das pessoas que passavam pelo
local e viam os anúncios religiosos e não de atrações artísticas, por exemplo: “alerta, povo do
Cambuci – cura divina pela oração – todos são bem vindos – entrada franca” (ROSA, 1977, pp.
15-16). A cura divina, um dos dons do Espírito Santo apresentado pela teologia pentecostal,
marcaria essa fase do pentecostalismo e seria um importante fator de atração de novos adeptos.
Mas também há outra novidade ritualística, os louvores incorporavam guitarras e ritmos da
música popular, como melodias de filmes de faroeste americano, de maneira bastante distinta dos
corais e hinários das igrejas tradicionais. Já no primeiro culto da cruzada no bairro do Cambuci,
foram recebidas cerca de mil pessoas, sendo que em poucos dias uma multidão de mais de cinco
milhares de fiéis obstruía o tráfego nas ruas próximas à tenda (ROSA, 1977, pp.23-24). A CNE
aceleradamente arrebanhava em São Paulo e no interior do estado um número considerável de
pessoas, repetindo o sucesso no nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.
O “pentecostalismo das tendas de lona” teria realizado uma espécie de
aggiornamento pentecostal, um processo de abertura dos templos à modernidade, de liberalização
dos perfis eclesiais e de democratização dos bens de salvação. Suas inovações evangelísticas
lançadas em um contexto sociopolítico favorável, de maior tolerância religiosa e de crescimento
49
Por razões históricas bem conhecidas, o processo de pluralização deu seus frutos em
primeiro lugar nos Estados Unidos, resultando no estabelecimento de um sistema de
denominações mutuamente tolerante que persistiu até hoje. A denominação de tipo
americano já foi definida como uma Igreja que teve de aprender a conviver com a
presença permanente – e com a competição – de outras Igrejas dentro de seu próprio
território. No tipo americano de denominacionalismo (o qual, ao contrário de outras
instituições americanas, mostrou-se um produto de exportação com atração
internacional), diferentes grupos religiosos, todos com o mesmo status legal, competem
uns com os outros (BERGER, 1985, pp.148-149).
13
Todos os dados foram retirados da publicação “Tendências Demográficas, uma análise dos resultados da amostra
do Censo Demográfico 2000” (2004) e do “Censo Demográfico 2010”, ambos disponíveis no site institucional:
<http://www.ibge.gov.br/>.
14
Essa tipologia das igrejas de transfundo pentecostal é tratada detidamente por Mariano (2010, pp.23-49).
15
Dados apresentados pelo “Censo Demográfico 2010” disponível no site: <http://www.ibge.gov.br/>.
51
mais significativa com a emergência do neopentecostalismo nos anos 1970. Esse quadro poderia
ser compreendido devido ao maior empenho proselitista, ao intenso marketing institucional, à
oferta atrativa de bens e serviços religiosos e à capacidade de renovação teológica e ritualística
dos pentecostais, enquanto suas concorrentes apresentariam impedimentos estruturais na
competição por membresia (MARIANO 2010). Haveria uma escassez de templos e de párocos
católicos para atender aos amplos contingentes de migrantes que se instalaram nos grandes
centros urbanos, por sua vez, entre os protestantes históricos seriam seus perfis eclesiais
tradicionalmente conservadores e fechados nas comunidades de fé os maiores entraves na atração
de novos adeptos (MENDONÇA 2004).
Na década de 1970, os missionários Rev. Mário de Oliveira e o Rev. Antônio Genaro
chegaram à capital mineira e estabeleceram as duas primeiras igrejas quadrangulares na RMBH,
uma no bairro Carlos Prates e outra na Cidade Industrial no município de Contagem. A atração de
novos fiéis não fora menor do que as experiências anteriores. Nesse período a RMBH estava
passando por uma reconfiguração radical, a densidade demográfica atingia números expressivos,
a construção civil deslanchava, a conurbação da região metropolitana se concretizava, o cenário
econômico se mostrava promissor e as promessas de ascensão econômica continuavam a atrair
massas migratórias do interior do estado. Essa consonância entre o processo de urbanização e a
expansão do pentecostalismo pode ser observada em diversos centros urbanos da época, sendo
detalhadamente analisada pelos trabalhos pioneiros de Emilio Willems (1967) e Lalive d‟Epinay
(1970) que atentaram para a modernização da América Latina dividida entre o secularismo e a
religiosidade.
De acordo com dados do Censo 2010, o cenário pentecostal contemporâneo
apresentaria a seguinte distribuição da população brasileira16: 48,5% dos pentecostais são filiados
à Assembleia de Deus; 9% à Congregação Cristã do Brasil; 7,3% à IURD; 7,1% à IEQ e 3,3% à
Deus é Amor. No entanto, ao se considerar a Região Metropolitana de Belo Horizonte o arranjo
pentecostal se apresenta distinto17: 25% dos pentecostais são filiados à IEQ; 19% à Assembleia
de Deus; 10% à IURD; 7% à Deus é Amor e 2,5% à Congregação Cristã do Brasil. Em ambos os
níveis em que se observa o número de adeptos da Igreja do Evangelho Quadrangular se encontra
16
Esses números se referem à população de pentecostais que correspondem a 13,3% da população brasileira,
conforme dados do Censo 2010.
17
Na RMBH aproximadamente 59% da população total se diz católica, 27,5% evangélica, 14,2% pentecostal, 6,3%
de missão e 7% evangélicos não determinados – dados presentes no Censo 2010.
52
percentuais significativos, sendo que no contexto nacional a IEQ se apresenta como a quarta
maior igreja pentecostal (1,8 milhões de adeptos em números absolutos), enquanto na RMBH
possui o maior número de filiados pentecostais (170 mil de fiéis quadrangulares). Essa
peculiaridade regional é ainda mais representativa se comparada a outras regiões metropolitanas
do país, como Rio de Janeiro e São Paulo, em que a igreja pentecostal com maior número de fiéis
seria a Assembleia de Deus, refletindo o quadro nacional.
53
E disse-lhes: Ide por todo mundo, pregai o evangelho a toda a criatura. Quem crer e for
batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que
crerem: em meu nome, expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão nas
serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e imporão as
mãos sobre os enfermos e os curarão (BÍBLIA, Marcos, 16: 15-18).
e prodígios espirituais nos programas “Visita ao seu lar” e “Cadeia da prece”, ambos transmitidos
pela Rádio Itatiaia.
Apesar da família de Jerônimo ser convertida a uma igreja batista, em um momento
de forte crise de angina pectoris, sua mãe Dona Geralda recebeu o convite de Dona Inês, sua
lavadora de roupas, para ir aos cultos do “menino-prodígio” da evangelização. Durante o ritual de
cura divina o mal foi solucionado o que motivou Dona Geralda a deixar o protestantismo batista e
a se transferir com o marido e os 17 filhos para a 1ª IEQ-BH. Nesse período muitas igrejas
batistas da capital mineira passaram pelo processo de renovação espiritual, isto é, pela
incorporação do batismo espiritual representado pela glossolalia. Só que essa pentecostalização
era restrita a elementos do pentecostalismo clássico, deixando de fora de seu escopo doutrinário
os polêmicos ritos de cura divina e exorcismo – tratados pela opinião pública e pelos religiosos
mais conservadores como charlatanismo e curandeirismo. Desse modo, a adesão anterior ao
protestantismo renovado contribuiu para que o trânsito de uma denominação para outra fosse
menos abrupto para a família Silveira, já que seus membros teriam interiorizado os preceitos
éticos e o escopo teológico de uma religião evangélica avessa ao tradicional catolicismo.
O Rev. Mário de Oliveira afirma em diversos registros que, em pouco tempo, o
jovem Jerônimo se tornou seu braço direito nas atividades eclesiais, tendo se destacado tanto na
evangelização quanto no gerenciamento da 1ª IEQ-BH. Ainda nos anos 1970, Jerônimo se
graduaria em Administração de Empresas, mas motivado por sua estreita relação com o
pentecostalismo quadrangular e com a liderança pastoral de sua igreja acabou optando pela
carreira pastoral. Durante as últimas décadas, “pai e filho de fé”18 mantiveram uma relação
amistosa, expressa nas ocasiões de cerimoniais e eventos institucionais em que esses pastores não
medem elogios e demonstrações de afeto. Mas também foram sócios em negócios seculares,
como no escândalo que veio a público há sete anos sobre o desvio de R$1,1 milhão por meio do
convênio, para tratamento de alcoólatras e dependentes químicos, entre a Prefeitura de Contagem
e a Escola de Ministério Jeová-Jiré (EMJJ). A investigação apontava que o tratamento durava
apenas 15 dias e consistia apenas em palestras e audições de música gospel. Conforme
reportagem do jornal Estado de Minas, publicada em junho de 2007, a denúncia da Promotoria de
Defesa do Patrimônio Público acusava os seguintes envolvidos: Ademir Lucas, ex-prefeito de
18
“Pai de fé” é um termo frequentemente usado entre grupos evangélicos para se referir ao líder religioso
responsável pela conversão, evangelização e formação pastoral de seu “filho de fé”.
55
Contagem e ex-deputado estadual pelo PSDB; Mário de Oliveira, ex-deputado federal pelo PSC e
presidente nacional da IEQ; Jerônimo Onofre da Silveira, ex-secretário de Defesa Social do
munícipio de Contagem, pastor titular da IEQ-TA e dirigente da EMJJ; e Germano Aguiar da
Silveira, vice-presidente da EMJJ, pastor auxiliar da IEQ-TA e filho do Pr. Jerônimo. Apesar dos
burburinhos que circularam na época entre os membros quadrangulares e da perda de prestígio
dos pastores envolvidos, a notícia não ultrapassou os limites da mídia local e foi abafada pelo
discurso tão frequente entre os grupos evangélicos envolvidos em escândalos de corrupção: “de
que tudo não passava de perseguições seculares, de provações para a igreja e de armadilhas do
demônio”.
A Igreja do Evangelho Quadrangular Ministério Templo dos Anjos (IEQ-TA) foi
fundada no dia 30 de junho de 1980 pelo Pr. Jerônimo Onofre da Silveira, em Belo Horizonte.
Com 26 anos o pastor reproduzia o perfil dos missionários mais aguerridos da CNE, de jovens
solteiros com dedicação exclusiva ao trabalho evangelístico. Em contraponto, o pentecostalismo
clássico e o protestantismo histórico prezavam por um pastorado de homens casados e maduros,
devido à centralidade da instituição familiar e à importância da conduta exemplar do líder
ministerial. De acordo com Ricardo Mariano, essa corrente pentecostal “além de liderada por um
clero jovem, avesso ao ascetismo e cuja adolescência transcorreu em plena revolução cultural,
não teve de enfrentar internamente os constrangimentos típicos do tradicionalismo das
denominações pentecostais precedentes” (MARIANO, 2010, p.149). Além disso, a narrativa
compartilhada entre os membros mais antigos da igreja sobre sua fundação e expansão, e que em
datas comemorativas é reafirmada nos sermões do pastor titular, relata um percurso de martírios,
provações e intervenções divinas que abarcam tanto a figura do líder quanto a comunidade
religiosa. Em sua origem estava localizada na Rua João da Cunha no bairro Barroca, em um
galpão alugado onde havia funcionado uma antiga marcenaria, suas paredes não eram rebocadas
e como a igreja não tinha recursos financeiros, a alternativa foi pintá-la com cal. Conta-se que
nesses meses iniciais o público nos cultos não passava de algumas dezenas, fato que motivou a
seguinte provocação do Rev. Jaime Paliarin frente ao trabalho do pastor iniciante.
Conheci o Pastor Jerônimo há muitos anos atrás, quando ele ainda pregava numa
pequena congregação situada numa favela. Fui visitá-lo por ocasião do aniversário
daquela igrejinha e havia aproximadamente cinquenta pessoas presentes. Então, disse-
lhe: “A Igreja é, realmente, do tamanho do Pastor”. Eu não disse aquilo para desanimá-
lo, mas para despertá-lo para um grande ministério. Hoje, depois de muitos anos, este
Pastor é titular de uma das maiores Igrejas do País (SILVEIRA, 1983, p.08).
56
Eu nunca li um livro, cujo autor falasse sobre o dom de adquirir riquezas e nem ouvi
nenhum pregador falar a respeito desse dom, portanto eu creio que Deus ungiu-me de
maneiro muito especial, dando-me esta revelação com o objetivo de arrancar os cristãos
da miséria e da penúria para que o cristianismo também obtenha recursos para a
evangelização do mundo nestes últimos dias do cristianismo sobre a terra. Eu creio, por
isso profetizo: os cristãos terão todo o dinheiro necessário para a realização das obras de
Deus, pois nestes últimos dias, Deus selará o seu povo com uma nova unção de
prosperidade; com o poder de Jeová-Jiré, Deus ungirá as mãos de milhares de filhos com
o poder de adquirir riquezas e através dessas riquezas o reino de Deus será estabelecido
de maneira especial (SILVEIRA, 1989, p.33).
A afirmação do pastor de que nunca leu ou ouviu falar sobre o dom de adquirir
riquezas evidencia uma tentativa de demonstrar para a comunidade religiosa o quanto sua
mensagem era singular e especial, ou melhor, que era radicalmente distinta do que se observava
nas três linhas de frente de divulgação da Teologia da Prosperidade no Brasil: o televangelismo
norte-americano, o emergente neopentecostalismo e a literatura gospel dedicada à Confissão
Positiva (MARIANO, 2010, pp.150-160). Apresentar esse novo construto teológico como uma
57
revelação do Espírito Santo ou como uma dádiva divina seria uma forma de reforçar a
credibilidade e a santidade dessa liderança pentecostal que, ao longo das últimas décadas, vem
justificando suas inovações eclesiais e empresariais através de referências ao mundo espiritual e
às experiências místicas. Afinal, o prestígio eclesial e o carisma pastoral poderiam perder sua
legitimidade se a clientela passasse a considerar os princípios teológicos e a oferta simbólica
como meras reproduções das três linhas de frente do dom da prosperidade ou como arbitrárias
criações do pastor, motivadas por interesses econômicos e não pelas narrativas bíblicas. Desse
modo, o pastor leva ao público sua nova mensagem de forma estrategicamente planejada,
diversificando a oferta dos bens e serviços religiosos e aprimorando o atendimento das demandas
espirituais e financeiras, mas sem comprometer a competitividade de sua agência religiosa, sem
alterar os ânimos das lideranças denominacionais e sem se afastar da identidade quadrangular.
Entretanto, essa análise do período fundacional da IEQ-TA permite observar que tais
elementos mágicos e carismáticos seriam relativamente secundários se comparados às estratégias
proselitistas e empresariais acionadas pela liderança pastoral. Em 1982, o Pr. Jerônimo elaborou
um novo planejamento da organização eclesial e propôs para a comunidade religiosa o que
chamou de “Método de Crescimento da Igreja Primitiva” (MCIP). Esse método se basearia no
compromisso de cada adepto em se tornar um “pequeno missionário” em seu cotidiano, dando
testemunhos e evangelizando as pessoas de círculos sociais mais próximos, como grupo familiar,
vizinhança, ambiente profissional, colegas de escola, dentre outros. O pastor pregava para os
adeptos que o campo missionário era o mundo todo, portanto, poderia ser “o colégio onde você
estuda, a firma onde trabalha, o ônibus que viaja, sua vizinhança, seus parentes, enfim, o campo
ainda continua grande, como nos tempos de Jesus, afinal nós temos tantas pessoas que nos são
queridas mas ainda não são cristãos (SILVEIRA, 1983, p.31). Nessa fase o pastor realizou um
sistemático trabalho pedagógico e motivacional junto à membresia, com frequentes referências
bíblicas relacionadas ao proselitismo, por exemplo, a seguinte passagem que se tornou o lema da
igreja: “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (BÍBLIA,
Mateus, 18: 20). Contudo, esse planejamento de expansão institucional também precisaria de uma
justificativa com maior apelo emocional e espiritual, que complementasse os interesses
particulares do pastor e a fundamentação bíblica, ou seja, seria indispensável uma prova de que o
método era fruto de inspiração divina. Assim, o Pr. Jerônimo narra como recebeu essa revelação
do Espírito Santo:
58
19
Referência ao seguinte trecho bíblico: “Mas agora, conhecendo a Deus ou, antes, sendo conhecido de Deus, como
tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? [...] Meus filhinhos, por quem
de novo sinto as dores do parto, até que Cristo seja formado em vós; eu bem quisera, agora, estar presente convosco
e mudar a minha voz; porque estou perplexo a vosso respeito” (BÍBLIA, Gálatas, 4: 9, 19, 20).
59
Hoje eu sou um homem salvo, cheio de poder do Espírito Santo e, pela graça de Deus,
um grande ganhador de almas. Posso dizer: “eu e minha casa servimos ao Senhor. Mas
você nem imagina como foi que hoje eu estou pregando”. Há muitos anos atrás minha
mãe sofria de angina no coração e o meu lar era completamente desiquilibrado, um
verdadeiro inferno. Quando tudo parecia perdido e minha mãe condenada à morte, veio o
socorro. Uma senhora chamada Dona Inês, que lavava as roupas lá de casa, chegou à
beira da cama, onde minha mãe agonizava e disse-lhe: – Dona Geralda, eu conheço um
médico que pode curá-la, imediatamente. Minha mãe perguntou aflita: – Quem é ele?
Onde posso encontrá-lo? – Seu nome é Jesus Cristo, o médico dos médicos. Ele pode
curá-la agora. Minha mãe creu em Jesus e foi curada. Aceitou Jesus e tornou-se uma
missionária e pregou para toda a sua família, ganhando a maior parte para Jesus. Caro
leitor, Jesus quer trabalhar através de você. Abra o seu coração, pois a ordem é: “Ide por
todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura” (SILVEIRA, 1983, p.40).
Você precisa ser útil aos seus vizinhos, lembrar-se da data do aniversário deles. Se
preciso for, conserte a torneira estragada, carregue a sacola, ajude-o a pintar a casa, abra
o portão, cuide das crianças. Faça tudo, para transformar-se no melhor vizinho. Muitas
pessoas conseguiram levar seus vizinhos a Jesus através desse tipo de evangelismo.
Convide-os a participarem dos cultos. Quando não vierem, vá até a casa deles e procure
saber o motivo da ausência e ajude-os no que for possível. Orando, jejuando,
aconselhando, enfim, dando-lhes uma assistência pastoral. Só assim você os ganhará
para Cristo (SILVEIRA, 1986, p.35).
20
A fundamentação bíblica que foi usada como lema desse tipo de evangelismo na nascente IEQ-TA foram os
seguintes versículos: “Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque, se um cair,
o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante” (BÍBLIA,
Eclesiastes, 4 : 9-10).
62
estaria apenas seguindo o preceito bíblico, ele se tornava uma espécie de funcionário de sua
igreja, que trabalhava por sua expansão e que representava a mensagem quadrangular. Já os
relatórios eram ainda mais minuciosos, dando ao pastor detalhes suficientes para que
aconselhasse e avaliasse rigorosamente o trabalho proselitista. Observe que os relatórios
semanais pediam as seguintes informações: 1) Quantas visitas realizadas? 2) Quantas orações
feitas por ele? 3) Quantos telefonemas? 4) Quantas cartas mandou pelo correio? 5) Quantas vezes
orou e jejuou por ele? 6) Quantas vezes buscou com ele o batismo com o Espírito Santo? 7) Ele já
é dizimista? 8) Ele é identificado em todos os lugares como um cristão? 9) Você já fez estudos da
palavra de Deus com ele? 10) Você tem tido dificuldade para cuidar do novo cristão?
(SILVEIRA, 1983, p.42).
Como se pode notar, era um relatório de fácil preenchimento, com perguntas curtas e
objetivas, mas que apresentavam um quadro satisfatório sobre o andamento da evangelização. As
questões relativas ao estreitamento dos laços sociais e à interiorização dos preceitos éticos e
pentecostais ganhavam maior relevo, o que evidencia o interesse dos agentes religiosos no
arrebanhamento de novos conversos. A partir das informações registradas pelos “cristãos
maduros” o Pr. Jerônimo aconselhava e avaliava o desempenho missionário, reafirmando sua
autoridade ministerial e demonstrando sua capacidade de gestão dos fiéis dentro e fora da igreja.
Ademais, as reuniões semanais ofereciam um espaço para se discutir os problemas mais
recorrentes e para se compartilhar as experiências bem-sucedidas, o que reforçava os laços entre
os adeptos e sua identificação com a instituição religiosa.
Por fim, a terceira responsabilidade do cristão dedicado ao método seria a de tornar o
seu lar uma Mini-Igreja, essa proposta seria inspirada no modelo de organização eclesial da
“igreja em células”, apresentada no início dos anos 1960 pelo pastor coreano David Yonggi Cho,
fundador da Igreja do Evangelho Pleno de Yoido, e aperfeiçoada duas décadas depois pelo pastor
colombiano César Castellanos, criador da Missão Carismática Internacional, que sistematizou o
método e o renomeou para G12, ou melhor, para Igreja em Células no Governo dos 12. Baseado
em cultos domésticos e grupos de oração liderados por leigos esse modelo de organização
religiosa informal é comparada pelos fiéis às reuniões privadas realizadas pelos cristãos
primitivos. Aliás, não teria sido durante uma dessas reuniões que o Espírito Santo desceu sobre os
apóstolos? Essas reuniões informais também seriam frequentes entre grupos religiosos
minoritários que, pressionados pela religião majoritária, realizavam seus cultos em espaços
63
Para haver êxito neste processo, todos os membros precisam ser doutrinados quanto às
três responsabilidades do Cristão: ▪ ser um missionário, ganhador de almas; ▪ ser um
Pastor, cuidar das almas; ▪ fazer do seu lar uma mini-igreja. Algumas atitudes a serem
tomadas pelo Pastor. ▪ Promover cursos de preparação para líderes das mini-igrejas. Sem
este devido incentivo não se deve esperar muito de um obreiro. ▪ Fazer uma divisão por
setor, de acordo com a localização da Igreja. ▪ Fazer planos para a renovação das mini-
igrejas, com a distribuição de convites com endereços da mini-igreja e visitas. ▪ Planejar
cuidadosamente o horário de cultos, com duração de uma hora. Oração inicial, cânticos,
orações especiais, mensagem, etc... Organização para o crescimento. ▪ Os pregadores de
Mini-Igreja devem prestar contas semanalmente através de relatórios ao seu líder de
setor; e por sua vez, os líderes de setor prestarão contas, através de um relatório geral ao
Pastor titular. ▪ O pastor da Igreja-Mãe deverá promover semanalmente, reuniões com
líderes (pregadores) das Mini-Igrejas para instrução e prestação de contas. ▪ O líder de
setor é o responsável pela abertura de outras Mini-Igrejas. ▪ O líder (pregador) da Mini-
Igreja será responsável por toda a direção do culto (SILVEIRA, 1986, pp.34-35).
Para sobreviver e crescer no Brasil de hoje cada vez mais secularizado, cada vez mais
indiferente às instituições religiosas e aos poderes e eclesiásticos tradicionais, cada vez
mais radicalmente avesso às regras e imposições reguladoras da intimidade e do tempo
de lazer e cada vez mais liberal no plano comportamental, várias igrejas pentecostais
resolveram, esperta e realisticamente, abrir mão de preceitos, valores, tradições, tabus e
verdades anacrônicos, disfuncionais e impopulares (MARIANO, 2010, p.234).
21
Sobre os escândalos que envolveram a IURD nos anos 1980 e 1990, cf. nota de rodapé 02.
66
apontaram para certo efeito mimético22 provocado pela IURD, que por meio de sua maior
“acomodação ao mundo” teria mobilizado outros grupos religiosos a reverem suas relações com
diferentes âmbitos da vida social, até então concebidos como profanos e corruptores do
“verdadeiro cristianismo”, por exemplo: a participação política, o empreendedorismo secular, o
evangelismo midiático e a prosperidade material.
Entretanto, a pesquisa aqui apresentada argumenta que as hibridizações no campo
religioso brasileiro não se dariam unilateralmente, nem tampouco que as representantes
neopentecostais seriam o único polo irradiador das transformações eclesiais observadas na
segunda metade do século XX. Propõe uma perspectiva que destaca a reciprocidade e
23
flexibilidade das instituições religiosas, em que as “tramas sincréticas” perpassariam as
fronteiras doutrinárias e institucionais, sendo que mesmo as igrejas neopentecostais refletiriam
“antecipações e rumos tomados por algumas de suas predecessoras” (MARIANO, 2010, p.47).
Portanto, defende que os elementos que caracterizariam o neopentecostalismo, como a maior
liberalidade dos usos e costumes, a abertura às mídias seculares, o empreendedorismo secular e o
hibridismo com diferentes credos, já estariam presentes no campo religioso nacional décadas
antes da fundação da IURD, da IIGD e da IARC. Afinal, tais traços doutrinários e proselitistas
poderiam ser identificados nos primórdios do pentecostalismo e no período fundacional da
International Church of the Foursquare Gospel, tendo sido introduzidos no contexto brasileiro
através das cruzadas das tendas de lona e disseminados por meio do televangelismo norte-
americano e do mercado editorial gospel. Desse modo, o processo de neopentecostalização seria
um fenômeno resultante da consolidação do pluralismo religioso no país, que com seus
intercursos simbólicos através das campanhas missionárias e dos veículos midiáticos delinearam
as condições de possibilidade para o surgimento do neopentecostalismo brasileiro.
Os investimentos em campanhas missionárias (locais e internacionais) associados ao
evangelismo midiático (jornais, revistas, rádio e televisão) seriam aspectos constitutivos e
distintivos do perfil quadrangular em relação às demais igrejas precursoras do reavivamento
pentecostal (FRESTON, 1994). Tais matizes institucionais se devem, em grande medida, às
22
Ronaldo de Almeida e Paula Montero (2001, p.99) discutem o trânsito de pessoas e de ideias entre as diferentes
igrejas do campo religioso brasileiro. A respeito do efeito mimético difundido pela Igreja Universal no âmbito
político, cf. Ari Pedro Oro (2003, pp.107-108).
23
Referência ao artigo de Pierre Sanchis (1995), “As tramas sincréticas da história: sincretismo e modernidades no
espaço luso-brasileiro”.
67
particularidades biográficas de sua fundadora, Aimee Semple McPherson, que desde sua cisão
com o metodismo do Exército de Salvação se dedicou a missões locais e internacionais. Além
disso, durante o processo de institucionalização da Foursquare Church, a missionária canadense
se tornaria a pioneira no evangelismo radiofônico, ao transmitir um programa religioso com fins
proselitistas em 1922 e ao fundar o canal de rádio KFSG no Angelus Temple. Quanto à mídia
impressa, sua incorporação pelas igrejas protestantes se constituiu como uma prática tradicional,
consubstanciada pelo espírito reformista do século XVI, tendo seus exemplos na tiragem mensal
da revista The Bridal Call e no jornal brasileiro “Voz Quadrangular”. Por sua vez, os programas
religiosos radiofônicos e televisivos, desde suas primeiras transmissões públicas na primeira
metade do século XX, foram criticados por vertentes protestantes mais conservadoras, embora
tenham sido rapidamente conjugados às campanhas missionárias de igrejas doutrinariamente
mais liberais e afinadas com as demandas do mundo secular. É válido destacar que o Pr.
Jerônimo Onofre da Silveira comprou um horário na televisão aberta (Rede Bandeirantes) para a
exibição do programa “Visita ao seu Lar”, dedicado aos milagres e pregações realizados na IEQ-
TA, porém, as transmissões saíram logo do ar devido aos elevados custos, levando o pastor a
concentrar seu proselitismo na “Rádio do Povo de Deus” – veículo menos oneroso e com maior
alcance de seu público alvo.
Sendo assim, desde seus primórdios a IEQ se constituiu como uma “igreja de
massas”, favorável ao evangelismo midiático, a campanhas missionárias e ao “ecumenismo
protestante”. A presença de elementos do metodismo, da cultura popular e dos cultos afro-
americanos comporiam as bases do sincrético pentecostalismo quadrangular, o que se somaria ao
diálogo interdenominacional estabelecido nos cultos do Angelus Temple, que recebiam
pregadores de diferentes igrejas pentecostais, dentre os quais estariam destacados precursores da
Teologia da Prosperidade. Um fato ilustrativo desse caráter dialógico e ecumênico seria a
iniciativa de Rolf McPherson de criar a Associação Pentecostal da América da Norte24 em 1948,
com o intuito de estabelecer um centro institucional para o pentecostalismo norte-americano e de
promover uma aliança interdenominacional das autônomas e desconexas vertentes do
protestantismo pentecostal. A partir de 1953 com a Cruzada Nacional de Evangelização, observa-
se a repercussão no mercado religioso brasileiro desses elementos fundacionais e organizacionais
24
Desde 1994, essa associação foi renomeada para “Associação das Igrejas Pentecostais e Carismáticas da América
do Norte”, sendo que atualmente conta com a filiação de mais de três dezenas de vertentes cristãs.
68
da Foursquare Church, que contribuem para a ampliação das campanhas missionárias nacionais,
intensificam a concorrência religiosa, favorecem a diversificação do proselitismo midiático, além
de difundirem um novo paradigma eclesial: o evangelismo de massas baseado em ritos coletivos
de cura divina e exorcismo25 (FRESTON, 1994; ANTONIAZZI, 2004). É relevante destacar que
a Igreja do Evangelho Quadrangular apresenta em sua chegada ao Brasil uma maior liberalização
dos usos e costumes, avessa às estritas proibições comportamentais, ao rigorismo moral e ao
caráter sectário dos pentecostais clássicos e protestantes históricos, o que tornou sua mensagem
mais afinada à cultura brasileira e mais atrativa a um público acostumado à flexibilidade do
catolicismo popular, avesso à hierarquia sacerdotal e ao rigorismo ético (SANCHIS, 1997). De
acordo com Maria das Dores Campos Machado, a conversão ao pentecostalismo clássico
representaria uma ruptura com a cultura popular brasileira.
Porém, o intercâmbio material e simbólico entre a IEQ brasileira e sua matriz em Los
Angeles não se limitou ao período das cruzadas, manteve-se intenso durante as três décadas e
meia em que as igrejas locais foram administradas pelas lideranças norte-americanas. Durante os
anos 1950 e 1960, as campanhas missionárias e as novas igrejas fundadas pela CNE dependiam
forçosamente dos recursos financeiros enviados pela sede em Los Angeles (ROSA, 1977),
entretanto, com a proeminência alcançada no mercado religioso brasileiro, refletida no crescente
número de fiéis e de templos, a IEQ se desligaria formalmente da matriz em 1988. Um fator que
teria contribuído substancialmente para a independência administrativa da IEQ brasileira
corresponderia à maior autonomia eclesial e administrativa conferida pela sede quadrangular,
25
Os ritos de exorcismo e os fenômenos de possessão já estavam presentes no deuteropentecostalismo, embora não
apresentassem o considerável sincretismo com os cultos afro-brasileiros, como o que se observa nas representantes
neopentecostais: a Igreja Universal do Reino de Deus, criada no Rio de Janeiro (1977) pelo Bispo Edir Macedo; e a
Igreja Mundial do Poder de Deus, fundada no munícipio de Sorocaba (1998), Região Metropolitana de São Paulo,
pelo Apóstolo Valdemiro Santiago.
69
Não existe outra maneira de se chegar às massas, foram necessários 5830 anos para que
a terra tivesse um bilhão de habitantes, depois com apenas 100 anos chegamos há dois
bilhões e mais tarde, com 32 anos alcançamos uma população de 3 bilhões de pessoas.
Nos últimos 10 anos nasceu outro bilhão, está nascendo tanta gente tão depressa que não
há tempo de ensinar a todos a ler e a escrever . Mas podemos nos comunicar e a
televisão e o rádio são os únicos meios que temos de chegar às massas para educá-las e
lhes dar uma religião e uma fé. É com a eletrônica que atingiremos o mundo inteiro 27.
26
Sobre o contexto social e econômico de expansão do evangelismo midiático e do fenômeno denominado “igreja
eletrônica” no Brasil e nos Estados Unidos, cf. Lima (1987) e Gomes (2010).
27
Depoimento do percursor do televangelismo, Rex Humbard, em entrevista concedida à Rede Globo (1978).
70
difundidos, ao mesmo tempo, tem-se um novo impulso missionário com os altos investimentos
no televangelismo.
Robert McAlister, fundador da Nova Vida, parece ter sido pioneiro no trato da questão
da prosperidade financeira nos meios pentecostais, mas não da Teologia da Prosperidade
propriamente dita. Já no começo dos anos 60 ele publicou o livreto Como prosperar
(1978), orientando os crentes a serem fiéis no pagamento do dízimo para terem as
finanças abençoadas. Em 1981, publicou Dinheiro: um assunto altamente espiritual, no
qual criticava, por um lado, os pastores que viam o dinheiro como “raiz de todos os
males” e, por outro, o triunfalismo dos “supercrentes”, pregadores da Teologia da
Prosperidade, que viam a prosperidade como “prova da espiritualidade e das bênçãos de
Deus”, tratando este como “um empregado sempre à disposição” ou tentando “fazer
negócios” com Ele. Embora crítico dos “negociadores de bênção”, McAlister dizia com
muita tranquilidade: “Se você deseja garantir seu futuro financeiro, pague seu dízimo.
Dê também ao Senhor ofertas de amor” (MARIANO, 2010, pp.156-157).
Conforme Ricardo Mariano, “ao lado da Brasil para Cristo, a Nova Vida foi pioneira
no uso da TV. Entre 1965 e 1967, McAlister protagonizou um programa na TV Tupi.
Televangelismo que retomou, também no Rio de Janeiro, entre 1978 e 1981” (2010, p.53). Não
por acaso, o fundador da BPC também compôs o quadro missionário da CNE, assim como o “pai
de fé” dos criadores das duas principais igrejas neopentecostais brasileiras, a IURD e a IIGD28.
Afinal, o surgimento do neopentecostalismo brasileiro foi impulsionado pela dissensão dos
pastores Edir Macedo e R.R. Soares29 com a Igreja de Nova Vida (INV), em 1977. A partir da
iniciativa desses dois pastores, surge a Cruzada do Caminho Eterno, campanha evangelista que
após sua institucionalização passa a ser chamada de Igreja Universal do Reino de Deus. Desse
modo, o fato dos dois maiores líderes neopentecostais brasileiros terem se formados pastores sob
a orientação de McAlister na Nova Vida, trouxe uma marca singular a esse novo movimento
cristão. Por exemplo, elementos basilares do perfil neopentecostal refletem diretamente alguns
dos aspectos teológicos e institucionais presentes na IEQ e refletidos na INV, tais como: a
organização episcopal, a guerra contra o diabo, a prosperidade material e a “liberalização dos
usos e costumes”. Ademais, o bispo Edir Macedo e o missionário R.R. Soares seriam os lideres
pentecostais contemporâneos mais proeminentes no evangelismo televisivo, fato que se deve
tanto ao papel de McAlister em suas formações pastorais, por favorecer a mediação entre o
28
Em 1997, R.R. Soares lança o programa brasileiro de maior cobertura mundial, o “Show da Fé”; em 1999 compra
a Rede Internacional de Televisão (RIT) com transmissões na Europa, norte da África, Oriente Médio, América do
Norte e América Latina; em 2007 funda a Nossa TV, rede de televisão por assinatura com programação gospel e com
restrições a cenas de violência e erotismo.
29
Após se desentender com Edir Macedo, R.R. Soares funda a Igreja Internacional da Graça de Deus em 1980.
71
30
Em entrevistas concedidas às revistas Istoé Senhor e Veja em 1990.
72
investimentos publicitários e estratégias midiáticas bastante similares aos empregados por grupos
neopentecostais e pela chamada “igreja eletrônica”.
Há evangelistas famosos que reúnem milhares de cristãos em estádios, pois têm à sua
disposição modernos meios de comunicação, como TV, rádio, outdoors, milhares de
dólares para gastar numa só campanha, e até mesmo transmissão via satélite. Suas
cruzadas evangelísticas lotam estádios, não de incrédulos, mas sim na maioria de
crentes. Isto nos leva a perguntar: será que estão evangelizando mesmo? Mas existem
outros evangelistas de massa que chegam a uma cidade onde não são conhecidos, sem
dinheiro, com apenas a roupa do corpo, e pela Fé começam a pregar em uma praça
pública, tendo apenas um caixote por púlpito. E permanecem ali, erguidos diante de
todas as oposições, no início com duas ou mais pessoas, indo, aos poucos, arrebanhando
milhares para o reino de Deus, formando em pouco tempo grandes igrejas com pessoas
que não foram atraídas pela força de um evangelismo semelhante aos grandes Shows de
Hollywood, mas sim atraídas pela pregação do evangelho com demonstração do Espírito
Santo e do poder de Deus (SILVEIRA, 1989, p.51).
31
O dom pentecostal do discernimento de espíritos se refere à capacidade de discriminar qual a fonte da
manifestação espiritual: Espírito Santo, demônio ou espírito humano. Para que esse dom seja eficaz se aconselha que
o fiel se devote à oração e que tenha recebido os dons da profecia e da interpretação de línguas.
32
A respeito das ofensivas simbólicas, das invasões de terreiros e das violências físicas provocadas por grupos
evangélicos frente ao candomblé e à umbanda, cf. os trabalhos de Reginaldo Prandi (2004; 2011).
74
restrito de virtuosos, mas sim às massas e aos potenciais convertidos33. Nesse novo perfil eclesial
surgiria a figura do “peregrino evangélico”, do fiel de adesão temporária, autônoma e episódica,
cuja trajetória de identificação religiosa se orientaria por demandas pessoais, emocionais e
estéticas, afastada dos princípios doutrinários, do controle pastoral e dos constrangimentos da
comunidade de fé (HERVIEU-LÉGER, 2008, p.98).
33
A respeito da religião voltada para as massas ou para uma “comunidade de eleitos”, cf. “Rejeições religiosas do
mundo e suas direções” de Max Weber (1982b, pp.173-175).
76
34
Haveria dois batismos dentro do pentecostalismo, um institucional denominado “batismo nas águas”, que
simboliza a conversão do adepto e que se efetiva com os rituais de imersão realizados pelo pastor, geralmente em
piscinas montadas no altar. O outro seria um batismo espiritual, chamado de “batismo no espírito”, que se daria com
a intervenção direta do Espírito do Santo, sendo identificada quando o fiel recebe o dom de línguas (glossolalia) ou é
possuído por Pentecostes. Os dons da glossolalia ou da possessão se constituem como fenômenos individuais ou
coletivos que podem acontecer de forma consciente ou não, podem derrubar o fiel ou mantê-lo de pé, podem gerar
palavras desconhecidas e sem normas gramaticais (“falar em línguas”) ou ocorrer de forma silenciosa. Quem avalia
se foi um contato com Pentecostes ou com o Diabo é o pastor ou as autoridades ministeriais, que observam se foi
uma experiência prazerosa, alegre e reveladora para o adepto (indicação de um espírito bom) ou se foi dolorosa,
confusa e angustiante (indicação de um espírito mau) (SANTOS, 2002, pp.33-42).
80
A tenda sempre teve um papel fundamental para o povo de Deus, ela já foi chamada de
tenda da congregação, tenda do encontro, tabernáculo e hoje ela é a poderosa tenda dos
milagres. A tenda representava a presença de Deus, a vontade de Deus revelada e a
liberação de grandes milagres. Abraão, o pai da fé, recebeu a promessa de Deus dentro
da tenda. Há 60 anos no Brasil, paralíticos andaram, cegos enxergaram, mudos falaram,
na tenda dos milagres. Agora é a sua vez! A era dos milagres não acabou! Venha passar
pela tenda dos milagres no Templo dos Anjos. Tragam os enfermos, os paralíticos, os
cegos, mancos, surdos, mudos, desenganados pelos médicos para passar na tenda dos
milagres. Pai, aqui meu Deus nesse lugar santo, onde Abraão morou, na tenda sagrada de
Abraão e Sara, eu consagro meu Deus e meu Pai o óleo de mirra, a essência da mirra,
meu Pai! Quem for ungido com esse óleo, ele vai receber beleza no seu corpo e no seu
espírito na autoridade e no poder que há no nome de Jesus! Amém, Senhor, amém!
(Corrente Tenda dos Milagres IEQ-TA, junho de 2013).
Eis uma breve descrição de algumas dessas correntes quadrangulares, por exemplo,
aos sábados as correntes de oração se dirigem aos problemas na vida amorosa e matrimonial,
atendendo um público que varia desde solteiros que oram para que Deus conceda um parceiro
cristão, até cônjuges que sofrem por causa de uma traição, agressão física, divórcio ou vício do
parceiro. Nos cultos de sexta-feira, as campanhas são marcadas por ritos de exorcismo que lidam
com “causas impossíveis”, ocultas e de difícil resolução, como parentes desaparecidos,
diagnósticos inconclusos, problemas emocionais, dentre outros. Geralmente o fiel expõe que já
tentou de todas as formas lidar com o problema (como promessa a um santo católico, trabalho em
terreiro de candomblé ou umbanda), mas que não encontrou nenhuma solução, em seguida o
pastor explica que isso seria obra do diabo e realiza um ritual de exorcismo individual para
“desamarrar” a vida da pessoa e de sua família. Já as correntes de segunda-feira se dedicam à
prosperidade financeira, tendo por objetivo o pagamento de dívidas, a superação de crises
financeiras, a proteção da vida profissional. Embora a chamada publicitária da corrente se remeta
ao ambiente hospitalar (“o maior pronto-socorro financeiro do país”), não se encontra elementos
de cura divina, mas sim da Teologia da Prosperidade associada a ritos de exorcismo, com
recorrentes referências ao espiritismo kardecista e a categorias nativas de cultos afro-brasileiros.
Para ilustrar esse hibridismo da IEQ-TA com elementos neopentecostais e do espiritismo popular,
segue um trecho de uma pregação na Corrente do Socorro Financeiro.
Os pastores, esses homens de Deus, estão aqui no altar todos de preto. Pastor, por que
vocês estão de preto? Porque nós estamos de luto. Por que, pastor? Porque essa dívida,
esse fracasso, esse problema financeiro e profissional, ele tem que morrer hoje. Diga
assim: a minha vitória vai chegar essa noite, em nome de Jesus! Nós vamos clamar ao
Deus de Israel agora para matar da sua vida financeira e profissional esse espírito que faz
você ficar preso, que faz você não vencer, que constrói uma barreira, e ele vai ser morto
essa noite! O demônio na sua vida vai morrer essa noite! Diga assim: essa é a noite da
82
minha virada! Fique de pé agora, porque é uma guerra, no momento de guerra você tem
que gritar, no momento de guerra você tem que determinar: meu Deus, eu não aceito isso
na minha vida! Seja uma pessoa revoltada! Grande Deus e poderoso Pai, Jeová-Sebhãôh
o Deus da guerra, a corrente essa noite, meu Deus e meu Pai, é pra queimar esse mal na
vida dessa pessoa, o espírito da morte que está matando a vida financeira dessa pessoa, é
pra desfazer o trabalho que amarrou a vida dessa pessoa na cascata, na cachoeira, que
amarrou a riqueza, que amarrou o nome dessa pessoa no saco, que está amarrando a vida
dessa pessoa! Vai dizendo queima, queima, queima! Queima, queima, queima! Eu te
desafio agora Tranca-rua, você que recebeu três moedas para trancar a vida profissional,
a vida financeira e a vida econômica dessa pessoa, eu te desafio agora! Vamos
manifesta, manifesta! Ah meu Deus! Mata, meu Pai, esse demônio chamado dívida,
mata esse demônio chamado desemprego! (Corrente Socorro Financeiro IEQ-TA,
setembro de 2012).
Por fim, nas correntes pentecostais realizadas às quartas-feiras e aos domingos, dias
em que os cultos evangélicos recebem os maiores públicos, são ressaltados os milagres de “cura
divina”, voltados para males espirituais, doenças físicas, dependência química e dores agudas –
com destaque para o “milagre do emagrecimento” e o “milagre de Efraim e Manassés35”. Em
certos períodos do calendário anual, a ênfase no dom da cura é substituída por correntes voltadas
à prosperidade espiritual e financeira, como a “Jeová Jiré Deus Provedor”, “Exterminadores de
Riqueza” ou “Produzindo por Mil Homens”. Porém, a prosperidade da IEQ-TA se apresenta em
moldes distintos da Teologia da Prosperidade de grupos neopentecostais, já que seu pastor
fundador teria elaborado, ainda no início dos anos 1980, uma perspectiva teológico-ritualística
adaptada ao perfil eclesial quadrangular, mesclando preceitos do pentecostalismo clássico, do
pentecostalismo de cura divina e da Teologia da Prosperidade. Jerônimo Onofre da Silveira é
autor de livros como “O Dom de Adquirir Riquezas”, “Provisões de Riquezas”, “Os
Exterminadores de Riquezas” e “Produzindo por Mil Homens”, que teriam vendido mais de um
milhão e meio de exemplares em português, espanhol e inglês36. Essas cartilhas evangelizadoras
somadas aos óleos perfumados, águas consagradas, pulseiras e amuletos - vendidos ou
distribuídos gratuitamente durante os cultos – contribuiriam para a “eficácia simbólica” das
correntes de oração e para a integração da comunidade de fé, pois serviriam como “pontos de
contato” entre os adeptos e a mensagem pentecostal. O estatuto da IURD, apresentado por Clara
Mafra, justifica o uso de objetos consagrados: “nem todas as pessoas necessitam de “pontos de
contato” para despertarem fé suficiente, mas a maioria precisa, razão pela qual realizamos nas
35
Ritual de cura divina em que se apaga da memória do fiel todos os traumas (morte, doença, violência) e vícios
(drogas, pornografia, jogos de azar). Esse rito mágico-religioso se baseia em Gênesis 41 e na crença pentecostal de
que todo registro bíblico relativo a promessas divinas e milagres de Jesus Cristo podem se repetir na atualidade.
36
Dados acessados no site oficial da igreja, em agosto de 2012: <www.ieqtemplodosanjosbh.com.br>.
83
Sanchis, em seu estudo, também ressalta o reencontro dessa “terceira vaga pentecostal”
– da qual a Universal do Reino de Deus é exemplar – com a tradição brasileira do
catolicismo inclusivista através da escolha/repetição por essa igreja de “processos de
intensa ritualização, de mediação institucional e, senão de „sacramentos‟, pelo menos de
sacramentais múltiplos […] como o sal grosso, o óleo, a água”. No que tange à força de
permanência dos conteúdos da crença anterior afro-brasileira, agora rejeitados, mas
sempre implicados, ele chama atenção para como “o terreiro é reconstituído no interior
mesmo do culto pentecostal, quando exus e pombagiras são adorcizados para serem
triunfalmente exorcizados. É o mesmo universo, nunca totalmente desencantado, que
parece agora ser assumido como assombrado, numa apropriação com inversão de
sentido” (CAMURÇA, 2009, p.180).
Durante a pesquisa de campo foi possível identificar uma das principais composições
ritualísticas oferecidas pela IEQ-TA, a corrente pentecostal “Exterminadores de Riquezas”, que
teria destacada centralidade no marketing institucional, na atração de público e na produção de
artigos gospels, além de ser bastante representativa da identidade eclesial construída entre os
grupos evangélicos do mercado religioso local. Compartilha-se entre os membros estáveis da
igreja que o Espírito Santo teria revelado essa corrente de oração ao Pr. Jerônimo da Silveira,
portanto, seria como que uma dádiva divina oferecida ao pastor e à igreja que em retribuição
deveriam se empenhar na evangelização e na conversão de mais almas. É importante frisar que as
revelações de Pentecostes por sonhos, orações, leituras bíblicas e transes espirituais se mostram
recorrentes entre os pentecostais e protestantes renovados, sendo inúmeros os casos de fiéis que
afirmam ter recebido uma solução para problemas cotidianos (familiares, profissionais,
amorosos) e de pastores que legitimam inovações teológicas e ritualísticas por meio de
experiências místicas com o Espírito Santo. Entretanto, merece ser realçada aqui a associação
entre os dons pentecostais e a diversificação da oferta simbólica, no momento em que as
lideranças pastorais justificam o surgimento de novas correntes pentecostais e a inovação das
composições rituais através do caráter repentino, mágico e incontrolável das intervenções divinas.
Deus me ungiu como profeta e quando o profeta fala Deus move os céus e a terra para
fazer o que ele falou virar realidade. Diga para o seu irmão assim: se você crê no que o
Pr. Jerônimo vai falar você vai prosperar! Repete para ele ouvir, vamos lá! Assim diz o
Senhor, até a Santa Ceia Deus vai fazer uma reviravolta na sua vida. Diga assim: de
Manassés pulando pra Efraim! Repete aí, vamos lá! Olha o que Deus disse: assim os
abençoou (Gênesis 48:20), naquele dia declarando (“declarando”, olha a palavra de um
profeta), por vós Israel abençoará dizendo, Deus te faça como a Efraim e como a
84
Manassés e pôs o nome de Efraim na frente de Manassés. Diz pro seu irmão assim:
Efraim vai na frente de Manassés! Ou seja, a prosperidade vai na frente do sofrimento, a
alegria vai na frente da tristeza, o sucesso vai na frente do fracasso, a vitória vai na frente
da derrota. Quem crê dá glória! Então, presta atenção, presta atenção! Nós vamos orar de
maneira violenta para que isso se torne verdade (Corrente de Efraim e Manassés IEQ-
TA, julho de 2013).
37
O termo “espiritismo popular” se refere aos cultos espiritualistas afro-brasileiros, como o candomblé e a umbanda,
com o intento de se distinguir do espiritismo kardecista.
38
O Bispo Edir Macedo em seu livro “Orixás, caboclos e guias” (1997) elabora uma estreita perspectiva
maniqueísta, em que as igrejas evangélicas representariam o bem supremo, a salvação e a bem-aventurança, por sua
vez, os cultos afro-brasileiros corresponderiam ao mal, à perdição e à queda ao inferno.
39
Os termos “macumbaria” e “trabalho de macumba” são usados por grupos evangélicos com intenção difamatória
frente aos cultos afro-brasileiros – o que reforça a perspectiva teológica da “guerra espiritual” (MARIANO, 2010).
85
Eu tenho uma notícia pra te dar: Deus não está limitado ao tempo. Ele volta no passado e
Ele vai no futuro! Então eu quero falar sobre o seu futuro. Onde você quer chegar, Deus
já está lá há muito tempo! Presta atenção! Você nem comprou o lote ainda, mas pra Deus
sua casa já está pronta! Pra Deus você já é empresário! Pra Deus já está tudo pronto,
porque ele está lá na frente! Dá os gritos de glória! Agora, e a respeito do seu passado?
Os gafanhotos do inferno, Joel 1:4, cortador, migrador, devorador e destruidor,
Jesus chama eles de ladrão, porque eles trabalham para roubar tudo que eles
podem – eles roubam o carro, a casa, o emprego, o salário, eles roubam a saúde,
roubam o marido, o filho, o pai, a mãe, rouba tudo! E o que que Deus disse? Que Ele
é poderoso para repreender o cortador, o migrador, o devorador e o destruidor. Ele fala
assim: Ei Israel, agora que os gafanhotos estão repreendidos, restituir-vos-ei os anos que
foram consumidos pelos gafanhotos cortador, migrador, devorador e destruidor. Lá em
Jó 42:10 Deus fala assim, que Deus mudou a sorte de Jó e fez ele ficar rico novamente, e
devolveu a ele o dobro de tudo que o diabo roubou dele. Diga assim, vamos lá, para o
diabo ouvir: restituição em dobro! (Corrente Milagre da Restituição em Dobro IEQ-TA,
abril de 2013, grifo nosso).
40
Através do trabalho de campo foi possível estabelecer três tipos de experiências sacrificiais empregadas nas
correntes de oração: física (jejum e vigília), financeira (dízimo e oferta) e social (conversão e disciplinarização).
88
parte do ritual, com curta duração (de um a dois minutos), o pastor pergunta ao fiel se consegue
se lembrar do que aconteceu, sendo que nenhum dos casos presenciados afirmou estar consciente
durante a possessão. Por fim, o pastor proclama que Jesus Cristo libertou o fiel para uma nova
vida, feliz e próspera, então, o público arremata o exorcismo com fortes aplausos, “aleluias e
glórias a Deus”.
As semelhanças rituais, sacrificiais e das demandas por milagres, permitem
identificar certa continuidade das correntes de oração pentecostais com práticas religiosas do
catolicismo popular, por exemplo, com as penitências realizadas em novenas e na quaresma com
vistas a alcançar algum milagre ou tão somente agradecer por uma graça alcançada. A principal
característica compartilhada entre as correntes aos moldes católico e evangélico estaria na junção
entre orações e práticas sacrificiais (jejum, dízimo, caridade, vigília) durante um período
predeterminado (nove dias, quarenta dias, sete domingos, sete semanas). Entretanto, o
pentecostalismo ressalta o preceito ético de professar testemunhos públicos41, pois seria um dever
do cristão professar a vida em pecado, a conversão e o milagre conquistado, tanto para os pares
religiosos durante as celebrações religiosas, quanto para os colegas de trabalho e membros
familiares na vida cotidiana. Por sua vez, o catolicismo também apresenta uma preocupação com
os testemunhos de pecados e de bênçãos, embora não sejam realizados publicamente no altar,
mas sim nos espaços confidenciais e reservados dos confessionários.
Apesar das promessas de milagres difundidas pelas pregações e pelo marketing
institucional se concentrarem no âmbito individual, na solução de problemas particulares e no
bem-estar pessoal, o que se observa nos cerimoniais não seria um destaque para as demandas
intimistas e psicológicas, mas sim para as relações estabelecidas entre o adepto e seus pares de
diferentes grupos sociais. Os métodos investigativos empregados no trabalho de campo permitem
identificar diversos elementos que indicam para o caráter relacional, não individualista, do
projeto pastoral da IEQ-TA. De acordo com Patrícia Birman, “a prosperidade almejada está em
dependência estreita dos elos que o religioso consegue cultivar com os outros”, sendo que o
evangelismo pentecostal seria orientado para o indivíduo como “membro de diferentes grupos –
em que o „pertencimento‟ a uma família, a um trabalho, a um grupo de amigos, a um casamento é
41
O incentivo das igrejas pentecostais para o testemunho através de atos ou discursos tem suas bases no “sacerdócio
universal” reivindicado por Martinho Lutero no século XVI. Esse preceito visava confrontar o dogma católico que
restringia a prática sacerdotal apenas às autoridades eclesiais, para tanto, propunha que o acesso e a disseminação do
evangelho bíblico se desse sem intermediários, ou seja, individualmente e orientado pelo livre exame.
89
o objeto das atividades rituais desenvolvidas na igreja” (BIRMAN, 2001, pp.66-67). Esse papel
mediador se expressa, regularmente, tanto nos discursos dos pastores da IEQ-TA quanto em seu
marketing religioso, como nessa propaganda veiculada no programa “Visita ao seu lar”.
De primeira mão para você: o casamento com a prosperidade. O casamento é uma união
entre duas pessoas, no casamento tudo que uma pessoa tem passa a ser da outra também.
Isso também acontece no casamento com a prosperidade, tudo que Jeová-Jiré tem
passará a ser seu também. Uma grande cerimônia em que será celebrada esta união entre
você e a prosperidade, entre você e Jeová-Jiré. Casamento com a prosperidade! Milhares
de pessoas se veem diariamente casadas com a miséria, vivendo uma vida de fracassos,
humilhações e derrotas, pelo grande fato de estarem casadas com a miséria. Estão
acompanhadas por esse espírito chamado miséria. Só existe uma maneira de dar um
basta nesse casamento com a miséria. Primeiro: nós vamos te divorciar dessa vida de
miséria, porque a vossa aliança com a miséria será anulada. Segundo: o Pr. Jerônimo
Onofre da Silveira e o Pr. Ricardo César realizarão o seu casamento com a prosperidade.
Assim está escrito: “como o jovem que se casa com um donzela, eu Jeová-Jiré vou me
casar com os meus filhos”42. Uma vez casado com a prosperidade, o espírito de miséria
nunca mais vai te acompanhar. Um casamento para ser validado diante das autoridades
necessita-se de testemunhas, só assim será confirmado. No grande casamento com a
prosperidade, você trará uma testemunha, alguém que testemunhará o seu casamento
com a prosperidade (Propaganda da IEQ-TA, Rádio 107,5 FM, novembro de 2013).
Portanto, não seria de se estranhar que durante a pesquisa de campo a maioria dos
participantes das correntes de oração chegava aos cultos acompanhados por familiares, vizinhos
ou colegas de trabalho, que durante a operação de milagres se envolviam nos testemunhos, nas
orações glossolálicas e nos pedidos por intercessões divinas. Enquanto as promessas dos cultos
professadas pelos pastores se remetiam à prosperidade financeira e ao bem-estar individual, as
declarações feitas ao público pelos membros envolvidos na corrente tendiam a se concentrar em
como que as “legiões de demônios” impediam o crescimento profissional, o reconhecimento dos
colegas de trabalho e a segurança material e afetiva de seu grupo familiar. Ora, as demandas
simbólicas dos participantes das correntes enfatizavam questões como “ser um bom marido”, “ser
um profissional reconhecido” ou “ser respeitado pelos amigos e pela vizinhança”, sendo que o
bem-estar individual se mostraria na maioria dos casos em segundo plano.
A mediação entre o adepto e seus pares sociais se daria com a operação bem-sucedida
do milagre, representada pelo pagamento de dívidas, pela promoção de cargo e aumento salarial,
pela libertação de vícios (cigarro, bebidas alcoólicas, crack) e pela superação de experiências
42
“Porque, como o jovem se casa com a donzela, assim teus filhos se casarão contigo; e, como o noivo se alegra com
a noiva, assim se alegrará contigo o teu Deus” (BÍBLIA, Isaías, 62:5). Refere-se à esperança de regresso do povo
judeu à Jerusalém, quando Deus se casaria com seus escolhidos.
90
traumáticas. Após passar por essa experiência simbólica de se ter vencido as forças demoníacas
graças ao poder do Espírito de Deus, o adepto retornaria ao altar, muitas vezes acompanhado pelo
cônjuge, familiares ou colegas, para testemunhar a transformação ocorrida em sua vida após a
realização da corrente de oração. É válido ressaltar que as lideranças pastorais afirmam,
categoricamente, que o testemunho da bênção alcançada seria um dever cristão, pois estaria
contribuindo para que o evangelho fosse pregado a toda criatura (BÍBLIA, Marcos, 16: 15). A
proeminência ocupada pelo testemunho público teria significativa consonância com a “eficácia
simbólica” das correntes pentecostais, pois contribuiria para a formação de um consenso coletivo
frente à mensagem da igreja e para o fortalecimento dos laços de pertença religiosa 43. Contudo,
esse estudo de caso identifica um duplo papel das correntes de oração na vida religiosa
evangélica: o fortalecimento dos laços de pertença entre os adeptos estáveis e o poder de atração
de adeptos flutuante. Por um lado, a profusão de milagres e a numerosa clientela seriam
elementos estratégicos do proselitismo midiático e do marketing institucional, por outro,
contribuiriam para o fortalecimento das filiações religiosas e para o incremento do poder
simbólico da igreja no mercado religioso local.
Um dos indícios mais significativos a respeito da relevância eclesial de uma
determinada corrente de oração estaria em sua alocação em certos dias da semana. Assim como a
missa dominical seria um importante referencial na vida religiosa católica, as celebrações aos
domingos e quartas-feiras seriam centrais na oferta simbólica das igrejas pentecostais, enquanto
que as cerimônias realizadas nos demais dias da semana teriam caráter secundário44. Além disso,
as correntes de oração realizadas em cultos secundários teriam um caráter experimental, em que
novas estratégias proselitistas e novas composições rituais seriam testadas. Se agradarem ao
público e alcançarem grandes ofertas financeiras, tais correntes secundárias podem ser
transferidas para os cultos principais. Já nos casos de fracasso se observa algumas medidas
gerenciais, como a mudança de liderança pastoral, a ampliação do marketing institucional e o
convite de pregadores e cantores prestigiados no mercado gospel. No entanto, com a persistência
do afastamento e do desagrado da membresia, encerra-se ao final das sete primeiras semanas a
corrente que duraria cerca de três meses. Observou-se que na oferta simbólica da igreja
43
Para um maior detalhamento sobre a “eficácia simbólica”, cf. “Antropología estructural” de Lévi-Strauss (1995).
44
Dentre as principais correntes pentecostais secundárias na programação semanal da IEQ Templo dos Anjos estão:
a “Corrente do amor na fé de Sansão e Dalila” aos sábados, a “Sexta-feira Forte” marcada por rituais coletivos de
exorcismo e a “Segunda-Feira dos Vencedores” dedicada à prosperidade material.
91
pesquisada a duração média das correntes de oração e de seu período sacrificial seria sete
semanas, podendo se repetir em caso de sucesso de público e de ofertas financeiras.
Meu Deus e meu Pai, como homem de Deus, eu te peço agora, que envie seu anjo agora
naquela empresa e desamarre agora a vida financeira, a vida profissional desse
empresário, desse comerciante, dessa pessoa, em nome de Jesus! Diga assim: em nome
de Jesus! Diga assim: todo o mal na minha vida foi cancelado essa noite, em nome de
Jesus! Se você acredita nisso aplauda e glorifica! Durante sete segundas-feiras nós
estamos passando aqui nesse altar, neste caminho, o caminho da riqueza. O caminho do
crédito financeiro. Como funciona isso, pastor? Funciona da seguinte forma, você passa
aqui determinado, você passa aqui para Deus abrir as portas de emprego, abrir sua vida
financeira, abrir sua vida econômica, abrir sua vida profissional. Toda segunda-feira eu
oriento a igreja para trazer três moedas, três moedas, uma representando a sua vida
econômica, a outra representando a sua vida financeira e a outra profissional. Porque lá
no centro espírita eles fazem um trabalho que amarra a vida das pessoas, amarra a vida
financeira, amarra a vida econômica, amarra a vida profissional. E os pastores aqui na
segunda-feira fazem um trabalho para Deus soltar a sua vida financeira. Diga glória a
Deus! Pegue aí três moedas de um real, de cinquenta, de vinte cinco, mas venha
determinado, venha para Deus abrir os seus negócios, abrir a sua vida profissional, a sua
vida econômica, a sua vida financeira! Venha determinado! (Corrente do Socorro
Financeiro IEQ-TA, julho de 2012).
45
Uma polêmica liderança da IEQ em Governador Valadares, o Pr. Flamarion Rolando, amplamente conhecido pelo
“milagre do emagrecimento”, formou-se no ITQ e teve sua prática pastoral orientada pelo Pr. Jerônimo da Silveira.
92
48
As “catedrais evangélicas” são frequentemente concebidas pelos pentecostais como “igrejas abençoadas”, isso se
deve ao fato de que sua grandiosidade, seu luxo, sua ampla clientela e sua profusão de milagres seriam sinais da
aprovação divina frente aos trabalhos do pastorado.
49
O “dom da palavra” corresponderia ao dom pentecostal da “palavra de sabedoria” (BÍBLIA, 1 Coríntios, 12),
sendo empregado na cultura gospel com relação a pregadores de excepcional poder carismático. Acredita-se que a
mensagem proferida durante o evangelismo seja produto de uma revelação direta do Espírito Santo.
94
terem alcançado o milagre, decidiram participar da corrente de oração nessa outra igreja
evangélica. Em seguida, o marido justificou sua escolha pelo Templo dos Anjos: “aqui a gente vê
o tanto de gente que sai curada em nome de Jesus, o Espírito de Deus acolhe as necessidades e as
doenças de todo mundo, por isso aqui a igreja é mais abençoada, é por ser uma igreja viva”. E
continuou: “hoje eu não consegui o meu milagre, mas é porque o Pr. Jerônimo não ministrou a
palavra, ele é que tem o dom da palavra, o filho dele ainda está começando, mas no domingo com
fé em Deus eu saio sem muleta”.
Esse valor expresso pelo depoimento do casal de adeptos flutuantes às ministrações
do pastor titular seria apenas um exemplo do quanto que as atividades eclesiais e administrativas
da IEQ-TA convergem na figura carismática do Pr. Jerônimo Onofre da Silveira. Embora seu
poder carismático seja responsável pela atração de grandes públicos e tenha sido fundamental
para o crescimento de sua igreja, atualmente representa um empecilho para que o evangelismo se
amplie e para que se forme um herdeiro pastoral. Apesar dos altos investimentos em marketing
institucional para que os pastores assistentes alcancem maiores públicos nos cultos secundários e
para que a comunidade religiosa legitime o pastorado de Germano Silveira50, a membresia
continua se aglutinando nas celebrações do pastor titular. Outra dificuldade se deve às diferenças
geracionais entre as novas lideranças pastorais e o núcleo duro da igreja, composto por membros
convertidos no período fundacional da igreja e que se identificam com o pastor fundador.
Possivelmente, enquanto não ocorrer a rotinização ou a transferência do poder carismático, a
oferta de bens e serviços religiosos, o evangelismo midiático e as demais atividades eclesiais
permanecerão centrados na figura do fundador do Templo dos Anjos.
50
O pastor titular da IEQ Templo dos Anjos, o Pr. Jerônimo Onofre da Silveira, vem apresentando consideráveis
esforços para promover seu filho, o Pr. Germano Silveira, como seu sucessor pastoral.
95
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na grande maioria dos casos, uma religião de redenção, anunciada profeticamente, teve
seu centro permanente entre as camadas sociais menos favorecidas. Entre elas tal
religiosidade foi um sucedâneo, ou um suplemento racional, da mágica. Sempre que as
promessas do profeta ou do redentor não atenderam suficientemente às necessidades das
camadas socialmente menos favorecidas, uma religião de salvação, secundária,
desenvolveu-se regularmente entre as massas, sob a doutrina oficial (WEBER, 1982a,
p.317).
pentecostal ao público brasileiro. Seu enfoque analítico se dirige para a dimensão institucional da
denominação quadrangular, atentando para suas repercussões nos perfis eclesiais das igrejas
concorrentes e nas formas individualizadas de pertencimento religioso. Por um lado, resgata o
contexto religioso norte-americano em que surge a Foursquare Church e suas relações com as
singularidades de seu mito fundacional, de sua identidade institucional híbrida e da trajetória
pastoral de sua fundadora Aimee Semple McPherson. Por outro, discute as consonâncias e
conflitos da cultura religiosa nacional, marcado pelo sincretismo religioso e pelo catolicismo
popular, com o evangelismo de massa, a liberalidade nos usos e costumes, as pregações
teatralizadas, os performáticos rituais milagrosos e o proselitismo midiático.
Conforme Pierre Sanchis haveria uma “sobreposição sincrônica” no Brasil das
diferentes fases da história ocidental – a pré-moderna, a moderna e a pós-moderna –
representada, respectivamente, pela filiação tradicional ao catolicismo, pela conversão
autoconsciente, exclusivista e racionalizada, e pela bricolagem religiosa, marcada pelo
subjetivismo e por laços de pertença flexíveis (2001, p.45). O antropólogo ainda sugere que essas
religiosidades autônomas e fluidas que irrompem no mercado religioso fossem concebidas como
um fenômeno de “idiossincretismo religioso”, estabelecendo, assim, uma continuidade das tramas
sincréticas tradicionais com as tendências pós-modernas, expressas na figura do peregrino
evangélico. Nas palavras do autor, esse fenômeno seria “uma construção eclética mais ainda do
que um verdadeiro sincretismo, que recorta os universos simbólicos – o do seu grupo e os
alheios, todos igualmente „virtuais‟ – e multiplica as „colagens‟, ao sabor de uma criatividade
idiossincrática („idiossincrética‟…)” (SANCHIS, 1997, p. 104-105). O “peregrino evangélico”
transitaria por diferentes templos, experimentaria variados bens e serviços religiosos, não se
orientaria a partir de tradições ou lideranças religiosas, mas sim por suas preferências, afinidades
e demandas pessoais. Sua emergência estaria estreitamente associada ao pluralismo religioso, à
concorrência eclesial, às inovações ritualísticas, à liberalização moral e à menor regulação
institucional, o que conferiria ao pentecostalismo contemporâneo um caráter duplo, tanto
empresarial e racionalizado, quanto emocional e mágico.
A pesquisa de campo na IEQ Templo dos Anjos incrementa, ainda, a discussão com
dados empíricos sobre as estratégias institucionais empregadas pelo líder quadrangular, Pr.
Jerônimo Onofre da Silveira, para regular a vida religiosa de sua membresia. Remete-se à
chegada da CNE em Belo Horizonte, ao período de fundação da IEQ-TA, ao método de
97
crescimento da igreja primitiva e aos traços neopentecostais presentes em seu perfil eclesial.
Porém, identifica que a incorporação da Teologia da Prosperidade, da Confissão Positiva e do
empreendedorismo religioso não seriam reflexos do nascente neopentecostalismo brasileiro, mas
teriam suas fontes simbólicas já na cruzada quadrangular, na disseminação do televangelismo
norte-americano e na consolidação do mercado editorial gospel. Aliás, esse argumento não
invalidaria as teses de que o neopentecostalismo da IURD e da IIGD contribuiria para o processo
de pentecostalização das igrejas tradicionais, expresso pelo protestantismo renovado, pelo
catolicismo carismático e pela liberalização do pentecostalismo clássico. Ao invés disso, pretende
trazer uma proposta analítica fundada nas dimensões histórica e institucional da expansão do
pentecostalismo no Brasil, e do deslocamento do sincretismo hierárquico para o pluralismo
competitivo.
A metáfora do “mercado religioso”, que muitas vezes serve para descrever esta situação
da religião nas sociedades contemporâneas, ainda parece por demais definidora. Num
mercado, o consumidor compra os produtos prontos e acabados que as empresas lhe
propõem; aqui, neste mercado aberto dos produtos simbólicos, o homem contemporâneo
tende a adquirir elementos das várias sínteses que se lhe oferecem, para ele mesmo
compor seu próprio universo de significação. Um universo, aliás, no mais das vezes não
definitivamente articulado, em constante refazer e de acabamento sempre protelado
(SANCHIS, 2001, p.36).
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