R - T - Murilo Prado Cleto
R - T - Murilo Prado Cleto
R - T - Murilo Prado Cleto
CURITIBA
2024
MURILO PRADO CLETO
Curitiba
2024
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SISTEMA DE BIBLIOTECAS – BIBLIOTECA DE CIÊNCIAS HUMANAS
TERMO DE APROVAÇÃO
Os membros da Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Pós-Graduação HISTÓRIA da Universidade
Federal do Paraná foram convocados para realizar a arguição da tese de Doutorado de MURILO PRADO CLETO intitulada: Novas
direitas, memória e revisionismo: como a Brasil Paralelo contou a história do Regime Militar, sob orientação do Prof. Dr.
ANDRÉ ACASTRO EGG, que após terem inquirido o aluno e realizada a avaliação do trabalho, são de parecer pela sua
APROVAÇÃO no rito de defesa.
A outorga do título de doutor está sujeita à homologação pelo colegiado, ao atendimento de todas as indicações e correções
solicitadas pela banca e ao pleno atendimento das demandas regimentais do Programa de Pós-Graduação.
Assinatura Eletrônica
27/02/2024 10:10:51.0
ANDRÉ ACASTRO EGG
Presidente da Banca Examinadora
Rua General Carneiro, 460, Ed.D.Pedro I, 7° andar, sala 716 - Campus Reitoria - CURITIBA - Paraná - Brasil
CEP 80060-150 - Tel: (41) 3360-5086 - E-mail: cpghis@ufpr.br
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Para Lívia e Renata
AGRADECIMENTOS
Hannah Arendt
Persiste o fato de que entender direito as pessoas não é uma coisa própria da vida,
nem um pouco. Viver é entender as pessoas errado, entendê-las errado, errado e
errado, para depois, reconsiderando tudo cuidadosamente, entender mais uma vez
as pessoas errado.
Philip Roth
RESUMO
The main objective of this work is to understand, after all, how the production
company Brasil Paralelo — a success among the new right-wing audiences —
portrayed the history of the Brazilian military regime. To do this, first, the elements
that make up the crisis of social knowledge in the contemporary world are discussed,
relating them to the actions of Olavo de Carvalho and his followers in the public
debate. Next, the main values that guide these anti-structural audiences and their
relationship with the political-partisan rise of Bolsonarism are debated within a new
anti-communist wave. Another object of attention in this contextual framework is the
uses that Brasil Paralelo makes of the past in general, notably from its elaborations
on Portuguese colonization and black slavery. Furthermore, the main arguments
mobilized by the production company specifically about the military regime regarding
different themes, such as Castelism, repression, armed struggle, censorship, cultural
and intellectual lives, foreign interferences, and the coup, are scrutinized. Finally, it is
concluded that, under the pretext of combating possible distortions and omissions of
the memory consolidated by dominant audiences about the period, what the
production company does is produce simplifications that subsidize its main intention,
which is to denounce the communist invasion in Brazil, if not more by arms, now by
books, thanks to the hegemony of what it calls "cultural Marxism". According to the
propaganda, the idea would be to produce an unveiling of truths deliberately hidden
by political and cultural elites. This is a way to discredit professional historiography,
journalism, and schools — seen as a homogeneous bloc — to occupy their space.
On the other hand, the observation of sources reveals some counterintuitive
positions, such as the absence of an emphatic defense of the dictatorship and, even
more, the uncompromising rejection of repression instruments, especially AI-5. But
this does not exactly represent opposition to the regime. There is even a significant
adherence to basic tenets of military memory. To achieve these results, a qualitative
analysis of the documentary 1964 - Brazil between weapons and books and
numerous other videos, books, and articles from blogs, among other products from
figures like Brasil Paralelo on the subject, was conducted.
PRÓLOGO ……………………………………………………………..…………..11
1. INTRODUÇÃO: REDPILLADOS ..……………………………………………...14
2. GRAMSCISMO ANTIGRAMSCISTA …………………………………………...31
3. ECOS TRADICIONALISTAS …………………………………………………….52
4. COMO VENCER UM DEBATE NAS REDES SOCIAIS.………………………63
5. O TERCEIRO SURTO ANTICOMUNISTA NO BRASIL ……………………...79
6. O TEATRO DAS TESOURAS: AS DIREITAS RADICAIS E A NOVA
REPÚBLICA……………………………………………………………………...101
7. O PASSADO ENTRE A HISTÓRIA E A MEMÓRIA ………………………..120
8. NEGACIONISMO E REVISIONISMOS ……………………………………….128
9. A ÚLTIMA CRUZADA: COLONIZAÇÃO E ESCRAVIDÃO NAS LENTES DA
BRASIL PARALELO...…………………………………………………………..137
FONTES DOCUMENTAIS………………………………………………………315
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………...326
11
PRÓLOGO
Era 17 de março de 2019 quando Walter Russell Mead, Gerald Brant, Matt
Schlapp, Chris Buskirk, Roger Kimball, Steve Bannon, Paulo Guedes, Ernesto
Araújo, Sergio Moro e outros próceres das direitas norte-americana e brasileira se
reuniram para ouvir o que a estrela da noite tinha a dizer na casa do embaixador do
Brasil em Washington, Sergio Amaral. Empossado há apenas dois meses e meio
como o 38º presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro se antecipou à degustação
da entrada daquele jantar, ainda intacta nos pratos sobre a ampla mesa, para se
levantar e se dirigir aos convidados. O mandatário ligou o microfone e, um pouco
tímido, começou o discurso entrecortado por flashes de fotógrafos que cobriam o
evento: “É com muita alegria e satisfação que eu visito os Estados Unidos.
Permitam-me dizer: eu estou me sentindo quase que em casa [...]. Sempre tive
muita admiração para com o povo americano”.1
Depois de brincar com a anedota, repetida em outras ocasiões, de que nem
Michelle, sua esposa, acreditava no triunfo eleitoral de 2018, Bolsonaro disse que
sua campanha foi baseada no versículo bíblico de João 8:31: “Conhecereis a
verdade e a verdade vos libertará”. E prosseguiu: “E o que eu sempre sonhei foi
libertar o Brasil da ideologia nefasta de esquerda. Um dos grandes inspiradores
meus…”. Neste momento, o presidente vira-se para a direita e olha em direção ao
ocupante da cadeira imediatamente ao lado, que põe a mão no peito em sinal de
agradecimento, para continuar com o raciocínio:
1
JANTAR de Bolsonaro em Washington teve Olavo de Carvalho e Steve Bannon. Poder 360, 18 mar.
2019. Disponível em:
https://www.poder360.com.br/governo/jantar-de-bolsonaro-em-washington-teve-olavo-de-carvalho-e-s
teve-bannon/. Acesso em: 31 jan. 2023.
2
Id, ibid. Grifos meus.
12
Para quem acompanha de perto a trajetória das novas direitas pelo mundo,
esse episódio é significativo por pelo menos três razões. Primeiro porque resta claro
que, como sublinhou o politólogo holandês Cas Mudde, a quarta onda da extrema
direita, de 2000 para cá, está muito mais naturalizada, levando ao centro do poder
figuras de notória oposição ao establishment político. Enquanto esse encontro
acontecia, três dos cinco países mais populosos do mundo eram governados por
extremistas de direita: Estados Unidos, Índia e Brasil. Hungria e Polônia, na Europa,
também juntam-se a esse quadro, que pode ser ainda maior se forem considerados
Bulgária, Estônia, Itália e Eslováquia, que incluíram partidos assemelhados nas
coalizões de governo.4
Outro fator importante a destacar sobre o discurso de Bolsonaro é que seu
raciocínio destoa radicalmente do que costuma ser observado entre o período
eleitoral e os primeiros meses de gestão. Em geral, políticos prometem realizações,
projetam cenários de melhorias e usam a exposição como oportunidade para a
exploração de determinados consensos tidos como fundamentais para o próximo
quadriênio. Não é por acaso que o semestre inaugural de todo ciclo presidencial é
tido como “mágico”, posto que o novo governo apresenta mais chances de fazer
tramitar com êxito propostas legislativas que exigem mais capital político, como é o
caso de emendas constitucionais.5 Mas 2019 não era o início de um mandato
3
Id, ibid.
4
MUDDE, Cas. A extrema direita hoje. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2022. p. 17-24.
5
Um exemplo de abordagem nesta direção está em diversas declarações de Ciro Gomes, candidato
à presidência em 2018 e 2022 pelo PDT. CARDOSO, Daiene. Ciro diz que se eleito vai propor
reformas nos primeiros seis meses. Exame, 26 abr. 2018. Disponível em:
https://exame.com/brasil/ciro-diz-que-se-eleito-vai-propor-reformas-nos-primeiros-seis-meses/.
Acesso em 16 jan. 2023.
13
6
BOSCO, Francisco. A vítima tem sempre razão?: Lutas identitárias e o novo espaço público
brasileiro. São Paulo: Todavia, 2017. p. 57-88.
14
1. INTRODUÇÃO: REDPILLADOS
7
ERNANI, Felipe. Ricardo Confessori diz que é “roqueiro raiz” em explicação bizarra sobre o fim do
Shaman. Tenho Mais Discos Que Amigos, 14 jan. 2023. Disponível em:
https://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2023/01/14/ricardo-confessori-roqueiro-raiz/. Acesso
em: 01 mar. 2023.
8
SILVA, Bruna Camilo de Souza Lima e. Masculinismo: misoginia e redes de ódio no contexto da
radicalização política no Brasil. 240 f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) — Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2023. p. 102 e seguintes. Para mais sobre o
Gamergate, ver FISHER, Max. A máquina do caos: como as redes sociais reprogramaram nossa
mente e nosso mundo. São Paulo: Todavia, 2023. p. 53-92.
15
9
ENTENDA o que é ‘red pill’ e história de coach acusado de misoginia, que foi rejeitado por mulher
em reality. O Globo, 27 fev. 2023. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2023/02/entenda-o-que-e-red-pill-e-historia-de-coach-acusado-
de-misoginia-que-foi-rejeitado-por-mulher-de-50-anos.ghtml. Acesso em: 01 mar. 2023.
10
SARMENTO, Ana. ‘Redpillado’: como ‘Matrix’ inspira grupos machistas e a extrema-direita. TAB
UOL, 23 nov. 2021. Disponível em:
https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2021/11/23/redpillado-como-matrix-inspira-grupos-machistas-e
-a-extrema-direita.htm. Acesso em: 01 mar. 2023.
11
Id, ibid.
12
GAGLIONE, Cesar. Como o filme ‘Matrix’ se tornou símbolo na extrema direita. Nexo Jornal, 20
mai. 2020. Disponível em:
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/05/20/Como-o-filme-%E2%80%98Matrix%E2%80%99-
se-tornou-s%C3%ADmbolo-na-extrema-direita. Acesso em: 01 mar. 2023.
16
E prossegue:
16
ROQUE, Tatiana. A queda dos experts. piauí, mai. 2021. ed. 176. Disponível em:
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/queda-dos-experts/. Acesso em: 13 abr. 2023.
17
Id, ibid.
18
ORESKES, Naomi; CONWAY, Erik. Merchants of doubt. Nova Iorque: Bloomsbury, 2010.
19
Alguns deles são listados por Tatiana Roque no artigo, a saber: a) quando, em outubro de 2020, o
médico David Nabarro disse que o lockdown não poderia ser a principal ferramenta de controle do
vírus; b) quando, dois meses depois de orientar somente doentes e profissionais da saúde a fazê-lo,
conclamou a população em geral a utilizar máscaras; e c) quando Maria Van Kerkhove disse que
assintomáticos raramente transmitiriam a doença. Id, ibid.
20
ROQUE, op. cit.
18
21
CESARINO. O mundo do avesso. op. cit. p. 205 e seguintes.
22
MUDDE, Cas. A extrema direita hoje. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2022. p. 66-70.
23
EMPOLI, Giuliano da. Os engenheiros do caos. São Paulo: Vestígios, 2022. p. 21.
24
JORNAL do Ku Klux Klan declara apoio a Trump na eleição dos EUA. G1, 22 nov. 2016. Disponível
em: http://glo.bo/2fwGa0m. Acesso em: 01 abr. 2023.
25
CESARINO. O mundo do avesso. op. cit. p. 226-228.
19
26
Id, ibid. p. 77-78.
27
ASSAD, Paulo; GRINBERG, Felipe; AGUIAR, Felipe. O que pensam os youtubers de Jair
Bolsonaro? O Globo, 17 nov. 2018. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/epoca/o-que-pensam-os-youtubers-de-jair-bolsonaro-23237031. Acesso em:
02 abr. 2023.
28
CESARINO. O mundo do avesso. op. cit. p. 185-195.
29
FISHER, Max. A máquina do caos: como as redes sociais reprogramaram nossa mente e nosso
mundo. São Paulo: Todavia, 2023. p. 64-73.
30
SCOFIELD, Laura. A campanha bolsonarista contra o PL das fake news. Nexo, 25 abr. 2023.
Disponível em:
https://www.nexojornal.com.br/externo/2023/04/25/A-campanha-bolsonarista-contra-o-PL-das-fake-ne
ws1. Acesso em: 15 dez. 2023.
20
Sem dúvidas, uma das características mais marcantes destes grupos é sua
faceta radical. As novas direitas formatadas por esse novo espaço público não são
exatamente conservadoras, na acepção basilar do termo. Pelo contrário, até. São
disruptivas e, em alguma medida, revolucionárias. De certa forma, elas se associam
muito mais a concepções libertarianas, de defesa intransigente de um capitalismo
sem quaisquer restrições.31 Os libertários não podem ser confundidos com os
liberais de sempre, como convenientemente se poderia argumentar para descartar o
que há de novidade nesse movimento. Para o historiador argentino Pablo Stefanoni,
o libertarismo costumava mesclar o antiestatismo com certo progressismo nos
costumes — porque fundamentado pelo individualismo —, o que o permitiria
navegar “em águas movediças entre a esquerda e a direita”, mas tem se
aproximado cada vez mais do reacionarismo extremista.32
Não se trata exatamente de uma contradição, ao menos aos olhos desses
atores. Como defensor de Bolsonaro e antiesquerdista convicto, Confessori
provavelmente se considera um conservador. Mas ele relaciona a blue pill e ser
“todo certinho” à esquerda. Isso ocorre porque a percepção de que o “verdadeiro
poder” estaria nas mãos dos progressistas se encastelou nesses grupos de tal
forma que a única forma de eles se enxergarem na arena política contemporânea é
como oposição, mesmo quando estão no governo.
Derrotada nas armas ao longo do século XX, a esquerda teria conseguido
executar com sucesso uma estratégia sorrateira atribuída ao filósofo italiano Antonio
Gramsci de ocupação de espaços na cultura, dominando as universidades, o
jornalismo e as artes, incluindo o showbusiness — razão pela qual as novas direitas
radicais odeiam os conservadores tradicionais, chamados de cuckconservatives
(algo como “conservadores cornos”) por sua capitulação diante do progressismo. A
tese do “marxismo cultural”, também chamada de “gramscismo”, serviu para manter
aceso o discurso anticomunista em baixa após o desmantelamento da União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas.33 Sob o domínio do “politicamente correto”, uma
das expressões da suposta hegemonia gramscista, é como se o fato de ser
31
ROCHA, Camila. “Menos Marx, mais Mises”: uma gênese da nova direita brasileira (2006-2018).
232 f. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. p. 44-49.
32
STEFANONI, Pablo. A rebeldia tornou-se de direita? Como o antiprogressismo e a anticorreção
política estão construindo um novo sentido comum (e por que a esquerda deveria levá-los a sério).
Campinas: Editora da Unicamp, 2022. p. 79-81.
33
Id, ibid. p. 48-57.
21
39
Id, ibid. p. 98-107, 122-131 e 169-172.
40
SALLES, D; MEDEIROS, P. M. de, SANTINI, R. M.; BARROS, C. E. The Far-Right Smokescreen:
Environmental Conspiracy and Culture Wars on Brazilian YouTube. Social Media + Society, v. 9, n. 3,
p. 1-22, jul-set. 2023. https://doi.org/10.1177/20563051231196876.
41
ALEGRETTI, Laís. Eleições 2022: boicote a pesquisas por eleitores de Bolsonaro pode distorcer
resultados? BBC News Brasil, 11 out. 2023. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63200355. Acesso em: 2 jun. 2023.
42
SATIE, Ana. Datafolha x datapovo: Por que não dá para comparar pesquisa e manifestação? UOL,
7 set. 2022. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/09/07/datafolha-x-datapovo-por-que-nao-da-para-comparar-
pesquisa-e-manifestacao.htm. Acesso em: 14 dez. 2023.
43
CESARINO. O mundo do avesso. op. cit. p. 122-131.
23
44
Ver, por exemplo: LULA diz que ‘Veja’ é panfleto da oposição e pede indiferença à revista. Rede
Brasil Atual, 30 out. 2014. Disponível em:
https://www.redebrasilatual.com.br/politica/lula-diz-que-veja-e-panfleto-da-oposicao-e-sugere-postura-
de-indiferenca-a-revista-6963/. Acesso em: 2 jun. 2023.
45
CESARINO. O mundo do avesso, op. cit. 108-114.
24
46
MONTEIRO, Renan. Brasil Paralelo surfa na polarização e tem crescimento exponencial. Veja, 8
jul. 2022. Disponível em:
https://veja.abril.com.br/economia/brasil-paralelo-surfa-na-polarizacao-e-tem-crescimento-exponencia
l. Acesso em:
47
ZANINI, Fábio. Produtora Brasil Paralelo vive crescimento meteórico e quer ser ‘Netflix da direita’.
Folha de S. Paulo, 29 mai. 2021. Disponível em: https://folha.com/ny8ichvu. Acesso em: 20 dez.
2023.
25
48
STEFANONI. op. cit. p. 19.
49
ORTELLADO, Pablo. Precisamos escutar. O Globo, 11 nov. 2021. Disponível em:
https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/precisamos-escutar.html. Acesso em: 20 dez. 2023.
26
porém, não são comuns defesas explícitas do fascismo histórico, que costuma ser
associado por elas à esquerda. O que havia, neste caso, era precisamente o
contrário: bolsonaristas denunciando o passaporte vacinal como uma medida
nazista.
Trata-se de uma ideia esdrúxula, sem dúvidas. E a oposição às medidas de
enfrentamento à pandemia de covid-19 é bastante temerária. Além disso, é bem
provável que esses manifestantes tenham mais em comum com o nazismo do que
imaginam. Mas não é correto dizer que eles estavam pedindo por um Terceiro Reich
à brasileira. Já em 2022, durante a transição de governo, viralizou um vídeo que
mostrava bolsonaristas com os celulares equilibrados na cabeça e uma legenda
indicando que aquilo era um pedido de socorro para extraterrestres. Vários veículos
de jornalismo repercutiram sem checar. Alguns dias depois, a Folha publicou uma
errata assumindo a imperícia: filmado por um drone, o pedido na realidade era para
as Forças Armadas, que deveriam intervir contra a posse de Lula. Nada
democrático, é verdade, mas tampouco ufológico.50
Para Ortellado, essa disposição anti-Bolsonaro também está presente nos
circuitos acadêmicos. “Nos estudos sobre movimentos sociais”, diz, “a extrema
direita ainda é tratada na chave da anomia social, como se o apoio às suas causas
fosse uma espécie de disfuncionalidade”. Ele complementa, incluindo-se na
categoria: “Estudamos os movimentos de extrema direita como se fossem causados
por um desarranjo profundo, um desespero irracional gerado pela rápida mudança
nas relações sociais e nos valores, pelo desemprego, pela falta de instrução ou pelo
baixo capital cultural”.51
Não se trata, aqui, de comprar pelo valor de face as ideias defendidas por
esses grupos, de buscar um inalcançável meio-termo conciliatório entre o rechaço e
sua incorporação ou, pior ainda, de chegar ao que seria a verdade absoluta dos
fatos, num exercício autossuficiente de fact-checking histórico. Se essas iniciativas
já são um fracasso no jornalismo, que dirá na história.52 Essa opção também pode
frustrar aqueles que eventualmente esperam desta tese um nocaute no revisionismo
de direita sobre a ditadura, como num exercício reverso de “lacração”. Nascida em
50
OLIVEIRA, Rebeca. Disponível em: https://folha.com/mk4s83br. Acesso em: 20 dez. 2023.
51
ORTELLADO. op. cit.
52
AMARAL, Olavo. Checagem de fatos científicos: crônica de um fracasso anunciado. Nexo, 27 set.
2022. Disponível em:
https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2022/Checagem-de-fatos-cient%C3%ADficos-cr%C3%B4ni
ca-de-um-fracasso-anunciado. Acesso em: 21 dez. 2023.
27
53
VANINI, Eduardo. Nascido em ambientes LGBTs, termo ‘lacração’ sofre apropriações e
perde força nas redes. O Globo, 24 nov. 2019. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/ela/nascido-em-ambientes-lgbts-termo-lacracao-sofre-apropriacoes-perde-fo
rca-nas-redes-24092018. Acesso em: 20 dez. 2023.
54
Ver, sobre o tema: BARROS, José D’Assunção (org.). História digital: a historiografia diante dos
recursos e demandas de um novo tempo. Petrópolis: Vozes, 2022.
55
COUTO, Marlen. Após eleições, canais bolsonaristas retiram do ar mais de 4 mil vídeos no
YouTube. O Globo, 3 nov. 2022. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/blogs/sonar-a-escuta-das-redes/post/2022/11/apos-eleicoes-canais-bolsonar
istas-retiram-do-ar-mais-de-4-mil-videos-no-youtube.ghtml. Acesso em: 20 dez. 2023.
28
56
Ver, por exemplo: ROXO, Sérgio; LEALI, Francisco. Eduardo Bolsonaro divulga documentário que
defende a ditadura. O Globo, 5 fev. 2019. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/politica/filho-de-bolsonaro-divulga-documentario-que-defende-ditadura-2343
1083. Acesso em: 10 jun. 2023.
29
ditatoriais desde sua mais tenra idade, o que me permite utilizar ambas as
expressões ao longo do texto, para evitar repetições e melhorar seu estilo. A adoção
do termo “regime” também não procura suavizar, como podem sugerir alguns dos
seus críticos, seu caráter repressivo.57
Num primeiro momento, este trabalho apresentará de modo mais detalhado
seu objeto de pesquisa, discutindo os principais valores da Brasil Paralelo, suas
estratégias de colocação no mercado de ideias e filiações político-ideológicas.
Passeio, nos primeiros capítulos, pelo contexto que envolve a ascensão das novas
direitas brasileiras na Nova República e sua surpreendente chegada ao Palácio do
Planalto. Adiante, a partir de “O passado entre a história e a memória”, busco
entender os usos que a produtora faz do passado em geral, especialmente a partir
da série documental Brasil - A Última Cruzada.
O capítulo 10 inaugura os debates mais específicos sobre a temática
abordada por Entre armas e livros. Para isso, retoma alguns preceitos consagrados
pelo que o historiador Marcos Napolitano chamou de “memória hegemônica” do
regime militar e busca relacioná-los às posições defendidas no documentário sobre
o governo Castelo Branco, o nacional-desenvolvimentismo, a luta armada e o AI-5.
Depois disso, a pesquisa se detém à noção de “marxismo cultural”, difundida no
Brasil sobretudo por Olavo de Carvalho a partir da década de 1990, mas com lastro
nas Forças Armadas e no exterior. Essa ideia ocupa, como veremos, fatia
expressiva da produção.
Nos capítulos 16 e 17, também a título de contextualização, ofereço um olhar
panorâmico sobre a relação dos militares com a Nova República, políticas de
reparação e, ainda, a memória militar sobre a ditadura, com destaque para as
especificidades do discurso e das ações de Jair Bolsonaro sobre o tema. Por fim,
mas não menos importante, este trabalho visita e escrutina os argumentos,
baseados sobretudo em arquivos abertos do serviço de inteligência do regime
comunista tcheco e recentemente descobertos pela direita brasileira, que justificam
e celebram a derrubada do presidente João Goulart em 1964.
Essa tese é resultado de quase cinco anos de pesquisa sobre revisionismos
ideológicos da ditadura como aluno isolado e regular no Programa de
Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná, entre uma década
57
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Passados presentes: o golpe de 1964 e a ditadura militar. Rio de
Janeiro: Zahar, 2021. p. 18.
30
2. GRAMSCISMO ANTIGRAMSCISTA
58
OLAVO de Carvalho já rendeu mais de R$ 11 milhões para editora Record. UOL, 28 jul. 2021.
https://tvefamosos.uol.com.br/noticias/redacao/2021/07/28/olavo-de-carvalho-editora-record.htm.
Acesso em: 12 abr. 2023.
59
MONNERAT, Alessandra; SARTORI, Caio. Vendas de livros de Olavo de Carvalho triplicam desde
eleição. Estadão, 19 de janeiro de 2019. Disponível em:
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,vendas-de-livros-de-olavo-de-carvalho-triplicam-desde-el
eicao,70002686383. Acesso em: 12 abr. 2023.
32
60
FERNANDES, Dmitri Cerboncini; VIEIRA, Allana Meirelles. A direita mora do mesmo lado da
cidade: especialistas, polemistas e jornalistas. Novos estudos. Vol. 38, núm. 1, jan-abr 2019. p.
157-182.
61
CESARINO, Letícia. O mundo do avesso: verdade e política na era digital. São Paulo: Ubu Editora,
2022. op. cit. p. 75-85.
62
RODRIGUES. Lidiane Soares. Uma revolução conservadora dos intelectuais (Brasil/2002-2016).
Política & Sociedade. v. 17, n. 39, p. 277-312, mai.-ago. 2018.
63
BRASIL Paralelo: em entrevista exclusiva, conheça a origem dos documentários que fazem
sucesso na Internet. Boletim da Liberdade, 19 jul. 2018. Disponível em:
https://www.boletimdaliberdade.com.br/2018/07/19/brasil-paralelo-em-entrevista-exclusiva-conheca-a
-origem-dos-documentarios-que-fazem-sucesso-na-internet/. Acesso em: 26 abr. 2023.
33
64
Um bom debate pelo autor sobre história pública nas ferramentas digitais contemporâneas, além
de dicas para produção de conteúdo nas plataformas, pode ser conferido em RODRIGUES, Icles.
Usos pedagógicos para YouTube e podcasts. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.).
Novos combates pela história. São Paulo: Contexto, 2021. p. 175-197.
65
GRANJEIA, Julianna; ALMEIDA, Rodolfo. Por dentro da máquina do Brasil Paralelo para dominar
as buscas no Google. Núcleo, 31 jan. 2023. Disponível em:
https://nucleo.jor.br/especiais/2023-01-31-a-maquina-do-brasil-paralelo/. Acesso em: 12 jun. 2023.
66
AMORIM, Lucas. Com 500 mil assinantes, Brasil Paralelo quer evitar polêmicas e sonha ser a
“Disney brasileira”. Exame, 17 fev. 2023. Disponível em:
https://exame.com/negocios/com-500-mil-assinantes-brasil-paralelo-quer-evitar-polemicas-e-sonha-s
er-a-disney-brasileira/. Acesso em: 27 abr. 2023.
34
67
ZANINI, Fábio. Produtora Brasil Paralelo vive crescimento meteórico e quer ser ‘Netflix da direita’.
Folha de S. Paulo, 29 mai. 2021. Disponível em: https://folha.com/ny8ichvu. Acesso em: 27 abr.
2023.
68
Id. Trilogia sobre educação mostra nova trincheira do bolsonarismo contra a esquerda. Folha de S.
Paulo, 5 abr. 2020.
69
GRANJEIA; ALMEIDA. op. cit.
35
70
Id, ibid.
71
Ver, por exemplo BRASIL PARALELO. Ministério da Cultura | Rasta News. YouTube, 25 fev. 2023.
Disponível em: https://youtu.be/NcxXNxdZIMQ. Acesso em: 29 mai. 2023.
72
Ver, por exemplo BRASIL PARALELO. Paulo Kogos | Contraponto. YouTube, 3 jan. 2022.
Disponível em: https://youtu.be/HXrbNU39hq4. Acesso em: 29 mai. 2023.
73
Ver, por exemplo. BRASIL PARALELO. A história dos cavaleiros templários | Insight BP. YouTube,
15 out. 2021. Disponível em: https://youtu.be/0oIr9HvbSY8. Acesso em: 29 mai. 2023.
36
74
Apesar de os podcasts serem caracterizados fundamentalmente pela transmissão em áudio, em
2020 explodiram vários programas que mais parecem talk shows, mas, diferentemente do que
predomina nas TVs, com veiculação ao vivo e sem limite de tempo ou vocabulário. Tornaram-se
comuns, portanto, transmissões de 2 ou 3 horas com convidados de todo tipo, desde influenciadores
digitais sem profissão definida a ex-presidentes, passando por jogadores de futebol e artistas. Apesar
das longas transmissões, esses programas e canais satélites se especializaram na produção de
“cortes” potencialmente virais. Nestas rodas, predomina o tom informal — que também,
naturalmente, trouxe grandes problemas. Um bom balanço da trajetória do primeiro grande podcast
brasileiro nestes moldes, o Flow, pode ser conferido em GAGLIONI, Cesar. Podcast ‘Flow’: do
sucesso de audiência à demissão de Monark. Nexo, 8 fev. 2022. Disponível em:
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2022/02/08/Podcast-%E2%80%98Flow%E2%80%99-do-suc
esso-de-audi%C3%AAncia-%C3%A0-demiss%C3%A3o-de-Monark. Acesso em 29 mai. 2023.
75
Ver, por exemplo BRASIL PARALELO. O confronto entre Rússia e Ucrânia - Conversa Paralela
com Flávio Morgenstern e Lucas Ferrugem. Disponível em: https://youtu.be/tpJp8R2qF_Y. Acesso
em: 29 mai. 2023.
76
Ver, por exemplo BRASIL PARALELO. Feminismo e as princesas da Disney | Red Pill [com
Mariana Brito e Pietra Bertolazzi]. YouTube, 23 out. 2021. Disponível em:
https://youtu.be/dAFgsCa1bXY. Acesso em: 29 mai. 2023.
77
ÚLTIMA chamada: garanta sua vaga na primeira turma da Travessia. Brasil Paralelo, 17 mai. 2023.
Disponível em:
https://www.brasilparalelo.com.br/noticias/ultima-chamada-garanta-sua-vaga-na-primeira-turma-da-tra
vessia. Acesso em: 29 mai. 2023.
78
ZANINI, Fábio. Produtora conservadora Brasil Paralelo oferece filmes e ‘escola da família’ a
Paraisópolis. Folha de S. Paulo, 19 out. 2021. Disponível em:
https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/?p=5153. Acesso em: 15 jan. 2024.
79
BRASIL PARALELO. UMA BREVE HISTÓRIA DA RÚSSIA: O Reino do Terror Vermelho |[Reprise]
Aula Aberta#2 Núcleo de Formação. YouTube, 3 abr. 2022. Disponível em:
37
https://youtu.be/F4oGRnzvQaA. Acesso em: 5 abr. 2022. 3:36 e 1:56:30. Link alternativo no Internet
Archive:
https://web.archive.org/web/20220407120433/https://www.youtube.com/watch?v=F4oGRnzvQaA.
80
BRASIL PARALELO. Você precisa retomar o controle. YouTube, 28 jul. 2021. Disponível em:
https://youtu.be/pHzo_xNXw_0. Acesso em: 29 mai. 2023.
81
POR que a aprovação de Lula é maior por quem se informa pela televisão? Brasil Paralelo, 16 nov.
2023. Disponível em:
https://www.brasilparalelo.com.br/noticias/por-que-a-aprovacao-de-lula-e-maior-por-quem-se-informa-
pela-televisao. Acesso em: 15 dez. 2023.
38
82
RAMOS, Jair de Souza. Machines among the crowd: on the political effects of algorithmic
production of social currents. Vibrant: Virtual Brazilian Anthropology, Brasília, v. 16, p. e16210, 2019.
83
CESARINO. O mundo do avesso. op. cit. p. 108-114.
39
84
MORAES, Everton de Oliveira; CLETO, Murilo Prado. A última cruzada: tempo e historicidade na
série da produtora Brasil Paralelo. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 15, n. 38, e0108, abr. 2023.
85
MAIA, Flávia. Mendes libera quebra de sigilo telefônico de produtora Brasil Paralelo por CPI. Jota
Info. 10 ago. 2021. Disponível em
https://www.jota.info/stf/do-supremo/mendes-libera-quebra-de-sigilo-telefonico-de-produtora-brasil-par
alelo-por-cpi-10082021. Acesso em 31 mai. 2023.
86
BRASIL PARALELO. Decisão de Gilmar Mendes + próximos passos. YouTube, 10 ago. 2021.
Disponível em https://youtu.be/GKdwTZ8JzlM. Acesso em 30 mar. 2022.
87
BRASIL PARALELO. Por uma Brasil Paralelo inabalável. YouTube, 7 ago. 2021. Disponível em
https://youtu.be/-ooc1KK7aS4. Acesso em 30 mar. 2022.
88
BRASIL PARALELO. Não é hora de recuar. YouTube, 11 ago. 2021. Disponível em
https://youtu.be/RZCG7hPznhA. Acesso em 30 mar. 2022.
89
O vídeo “Foi necessário mudar” explica a campanha. BRASIL PARALELO. Foi necessário mudar.
YouTube, 12 ago. 2021. Disponível em https://youtu.be/EFNtMGwnzvY. Acesso em 30 mar. 2022.
Mas quase todos os outros, antes e depois desse, reforçam-na. Um contador de membros chegou a
ser exibido no canto superior da tela nas publicações e a última delas, uma live react da votação do
relatório da CPI (BRASIL PARALELO. Requerimento 13/62 - Entenda a votação hoje. YouTube, 19
ago. 2021. Disponível em https://youtu.be/EEP1fZVUj84. Acesso em: 20 ago. 2021), tinha um
temporizador para os últimos momentos da promoção.
90
COSTA, Ana Clara. Distanciamento social. piauí, set. 2021, n. 180. Disponível em
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/distanciamento-social/. Acesso em: 17 mai. 2023.
40
91
PEREIRA, Eduardo; BALESTRO, Mayara. Por que a Brasil Paralelo está perseguindo alunos e
professores? Esquerda Online, 24 ago. 2021. Disponível em:
https://esquerdaonline.com.br/2021/08/24/por-que-a-brasil-paralelo-esta-perseguindo-alunos-e-profes
sores/. Acesso em: 14 dez. 2023.
92
GRUNER, Clóvis Mendes; CLETO, Murilo Prado. “7 denúncias”: guerra cultural e retórica
antissistema no documentário da Brasil Paralelo sobre a pandemia. In: OLIVEIRA, Rodrigo Cássio;
CHRISTINO, Daniel; MACHADO JR, Eliseu Vieira (orgs.). Covid-19 e a comunicação. Goiânia:
Cegraf UFG, 2021. p. 357-382.
41
93
Um resumo do episódio pode ser conferido em CINEMARK diz ter errado ao exibir filme
pró-ditadura. O Globo, 1 abr. 2019. Disponível em
https://oglobo.globo.com/cultura/filmes/cinemark-diz-ter-errado-ao-exibir-filme-pro-ditadura-23566389.
Acesso em 29 mai. 2023.
94
Ver CORDEIRO, Tiago. Duplo padrão: universidades barram filme sobre a ditadura, mas liberam
eventos de esquerda. Gazeta do Povo, 15 abr. 2019. Disponível em
https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/universidades-barram-filme-ditadura-1964-liberam-event
os-esquerda/. Acesso em 29 mar. 2022.
95
“Acuse-os do que você faz. Xingue-os do que você é”. A origem está bem explicada aqui: LIMA,
Samuel. Boato sobre ‘decálogo de Lênin’ adapta farsa difundida na época da Guerra Fria. Estadão
Verifica, 6 ago. 2020. Disponível em
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/boato-sobre-decalogo-de-lenin-adapta-farsa-difu
ndida-na-epoca-da-guerra-fria/. Acesso em 11 jan. 2024.
96
FILIPE BARROS. Facebook, 5 abr. 2019. Disponível em
https://www.facebook.com/watch/?v=341893343122400. Acesso em 21 dez. 2023.
97
CASTRO, Gabriel de Arruda. Militantes de esquerda tentam impedir exibição de filme sobre Olavo
de Carvalho em universidade. Gazeta do Povo, 14 nov. 2017.
42
https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/militantes-de-esquerda-tentam-impedir-exibicao-de-filme
-sobre-olavo-de-carvalho-em-universidade-420nm0nfbwatzz1n9o0a5qgh6/. Acesso em 29 mai. 2023.
98
ZANINI, Fábio. Campanha no Twitter quer impedir exibição de filme da Brasil Paralelo em
universidade. Folha de S. Paulo, 3 mar. 2022. Disponível em: https://folha.com/m4zrsgkc. Acesso em
29 mar. 2022
99
POR que querem censurar o conteúdo da Brasil Paralelo como se fosse um crime? Brasil Paralelo,
3 mar. 2022. Disponível em https://www.brasilparalelo.com.br/noticias/censura-brasil-paralelo. Acesso
em 29 mai. 2023.
100
PEREIRA, Mateus; ARAUJO, Valdei. Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século
XXI. Vitória: Editora Milfontes; Mariana: Editora da SBTHH, 2019. p. 29-48.
101
MIROWSKI, Philip. Hell is truth seen too late. Boundary 2, [s.l.], v. 46, n. 1, 2019. p. 10.
43
Sempre por um fio, sempre alvo de uma conspiração tramada pelos públicos
dominantes, é desta forma que a Brasil Paralelo articula uma espécie de
revisionismo populista, que reivindica a enunciação de verdades livres de quaisquer
interferências ideológicas — porque produzidas fora do círculo das elites culturais —
e por isso mesmo sempre na mira dos poderosos. Thomas Giulliano, organizador da
coletânea Desconstruindo Paulo Freire e um dos participantes mais assíduos das
produções da BP, é, de modo significativo, chamado por seus seguidores de
“Historiador do Povo”.103
Para divulgar o trailer de Entre armas e livros, Eduardo Bolsonaro — que
mais tarde compararia professores a traficantes104 — disse que o filme revelaria
“verdades nunca antes contadas, muito menos pelo seu professor de história”. A
promessa no site da produtora era a de “resgatar a verdade sobre o período mais
deturpado da nossa história”.105 Num anúncio veiculado pelo Facebook em 2017, a
Brasil Paralelo insta seus seguidores a pararem “de acreditar nas mentiras do seu
professor de história”, prometendo desbancá-lo.106
Algumas das interações nesta direção foram reunidas pelo professor
Fernando Nicolazzi numa thread publicada no X (então Twitter): “Brasil Paralelo.
Ensinou algo que Professores Canalhas, nunca tiveram a honradez de nos ensinar
nessa porcaria de sistema de ensino Brasileiro”, diz uma delas. Outra reclama que
seus professores, “comunistas dos infernos”, mentiram para o autor do comentário.
Para outro seguidor, a vontade é de “processar todos os meus professores de
história”. Há também quem diga sentir ódio de todos os docentes.107
102
REINALDO JOSÉ LOPES. Brasil Paralelo: erros bizarros e alguns acertos no ep. 1. YouTube, 1
dez. 2017. Disponível em: https://youtu.be/7yCzari77PM. Acesso em: 15 mai. 2023.
103
OSCAR, Brás. Tapa Cultural - Ep #13 - O historiador do povo. Brasil Sem Medo, 5 dez. 2023.
Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2023.
104
AZEVEDO, Luis Felipe. Eduardo Bolsonaro é processado por comparar traficantes e professores
em ação que pede R$ 60 milhões em indenização. O Globo, 23 out. 2023. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2023/10/23/professores-processam-eduardo-bolsonaro-por-fa
la-em-que-compara-educadores-a-traficantes.ghtml. Acesso em: 21 dez. 2023.
105
CINEMARK diz ter errado ao exibir filme pró-ditadura. O Globo, 1 abr. 2019. Disponível em
https://oglobo.globo.com/cultura/filmes/cinemark-diz-ter-errado-ao-exibir-filme-pro-ditadura-23566389.
Acesso em 29 mai. 2023.
106
Ver em PEREIRA; BALESTRO. op. cit.
107
FERNANDO NICOLAZZI. Twitter, 13 abr. 2023. Disponível em:
https://twitter.com/fnic0lazzi/status/1646903572095725571. Acesso em: 17 abr. 2023.
44
111
Id, ibid.
112
GULLINO, Daniel. Bolsonaro afirma que TV Escola ‘deseduca’ e tem programação ‘totalmente de
esquerda’. O Globo, 16 dez. 2019. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-afirma-que-tv-escola-deseduca-tem-programacao-totalment
e-de-esquerda-1-24140804. Acesso em: 29 mai. 2023.
113
Id, ibid. p. 245-269.
114
DE onde vem o dinheiro da Brasil Paralelo? Brasil Paralelo, 14 set. 2022. Disponível em:
https://www.brasilparalelo.com.br/noticias/de-onde-vem-o-dinheiro-da-brasil-paralelo. Acesso em: 1
jun. 2023.
46
115
ROBERTO NETTO, Paulo. TSE desmonetiza Brasil Paralelo e intima Carlos Bolsonaro por fake
news. UOL, 18 out. 2022. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/10/18/tse-desmonetiza-brasil-paralelo-e-intima-carlos-bolson
aro-por-fake-news.htm. Acesso em: 1 jun. 2023.
116
De onde vem o dinheiro da Brasil Paralelo. op. cit.
117
CESARINO. O mundo do avesso. op. cit. 229-245.
118
Id, ibid. 131-142.
47
conteúdo que circulava nas plataformas, mas também médicos — alguns até com
doutorado.119 Esse quadro, por si só, ajuda a demonstrar os muitos limites do
argumento de autoridade para os públicos dominantes preocupados com a atual
onda de desinformação. Durante a crise político-institucional no Brasil, com a
explosão de pedidos por uma nova intervenção militar, era comum ver progressistas
mandando-os, ironicamente, estudar história ou jactando-se de não repetir as
mesmas coisas por terem estudado.120 Mas o caso é um tanto mais complexo do
que isso.
Nas produções da Brasil Paralelo, não são chamados a depor os usuários
comuns que, como reza a cartilha da reorganização epistêmica promovida pela
plataformização, desbancariam as elites culturais e científicas corruptas, mas
pretensos pares supostamente libertos de seu aliciamento ideológico. Esse não se
trata de um elemento distintivo trivial, afinal as entrevistas configuram a principal
parte do corpus documental das séries e dos filmes. No documentário 1964 - O
Brasil entre armas e livros, os entrevistados são apresentados como jornalistas,
escritores, presidentes de institutos, autores, pesquisadores, filósofos, diretores de
arquivos e cientistas políticos.
O padrão se repete em outras produções. Preferencialmente, são utilizadas
nas obras as credenciais acadêmicas dos entrevistados, ainda que estes não
tenham carreiras acadêmicas notáveis. Um exemplo paradigmático é o de Luiz
Philippe de Orléans e Bragança, eleito pela primeira vez deputado federal na esteira
do bolsonarismo em 2018, frequentemente introduzido no debate público como
“príncipe herdeiro” da família real, legendado no documentário da Brasil Paralelo
sobre a pandemia como “mestre em ciências políticas pela Stanford University”.121
Influenciador digital bolsonarista penalizado pela justiça e pelas plataformas graças
119
CASARÕES, Guilherme; MAGALHÃES, David. The hydroxychloroquine alliance: how far-right
leaders and alt-science preachers came together to promote a miracle drug. Revista de
Administração Pública. Rio de Janeiro v. 55(1), jan.-fev., 2021. p. 197-214.
120
Esse post da página progressista Quebrando o Tabu em 2018, compartilhado mais de 18 mil
vezes, pega carona no meme “o brasileiro precisa ser estudado” para inverter sua lógica e cravar: “o
brasileiro não precisa ser estudado, o brasileiro precisa estudar”. Na imagem, um homem aparece
segurando um cartaz pedindo “liberdade”, “democracia” e “intervenção militar”. QUEBRANDO O
TABU. Facebook, 1 jun. 2018. Disponível em:
https://www.facebook.com/quebrandootabu/photos/a.177940715595657/1935298513193193/.
Acesso em: 2 jun. 2023.
121
GRUNER; CLETO. op. cit.
48
122
PLASSE, Marcel. Comentaristas da Jovem Pan News têm perfis bloqueados no Twitter. Terra, 30
dez. 2022. Disponível em:
https://www.terra.com.br/diversao/comentaristas-da-jovem-pan-news-tem-perfis-bloqueados-no-twitte
r,0fb4ed1ab9f84980c8b57f3fbfaf88d6m7o1lcd4.html. Acesso em: 05 abr. 2023.
123
LOS FILMEIROS. 7 Denúncias: As Consequências do Caso Covid-19 (2020) Filme e
Documentário Lançamento HD. YouTube, 15 jul. 2020. Disponível em: https://youtu.be/VbtsXkrtxEA.
Acesso em: 2 jun. 2023. 28:45.
124
GRUNER; CLETO. op. cit.
125
SAYURI, Juliana. Brasil Paralelo faz ‘guerra de edições’ e disputa narrativas na Wikipédia. TAB
UOL, 9 set. 2020. Disponível em:
https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/09/09/guerra-de-edicoes-a-disputa-politica-de-narrativas-
na-wikipedia.htm. Acesso em: 26 mai. 2023.
49
126
LIMA, Samuel. É falso que 'The Washington Post' tenha publicado capa chamando Bolsonaro de
'melhor presidente de todos os tempos'. Estadão, 4 out. 2021. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/estadao-verifica/washington-post-bolsonaro-capa-melhor-presidente/.
Acesso em: 13 abr. 2023.
127
MINISTRO divulga capa falsa de revista e atribui a Bolsonaro saída de tropas russas da fronteira
com Ucrânia. G1, 15 fev. 2022. Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/02/15/ministro-posta-capa-falsa-da-revista-time-que-relacion
a-ida-de-bolsonaro-a-russia-e-retirada-de-tropas-na-fronteira-com-a-ucrania.ghtml. Acesso em: 13
abr. 2023.
128
NYT alerta para capa falsa com textos pró-Bolsonaro. Poder 360, 5 mai. 2021. Disponível em:
https://www.poder360.com.br/midia/nyt-alerta-para-capa-falsa-com-textos-pro-bolsonaro/. Acesso em:
13 abr. 2023.
129
BORTOLON, Bianca; RUDNITZKI, Ethel; BARBOSA, João; MANGABEIRA, Milena; FAUSTINO,
Marco. Aos Fatos, 19 out. 2022. Disponível em:
https://www.aosfatos.org/noticias/gerador-tuite-falso-g1-falso/. Acesso em: 17 abr. 2023.
130
7 Denúncias. op. cit. 53:51 e 1:30:50.
50
131
7 Denúncias. op. cit. 1:24:28 e 1:25:55.
132
Id, ibid. 1:25:55.
133
Apesar de publicado antes da mais severa onda da pandemia de covid-19, um dos estudos mais
completos já realizados sobre as declarações e ações do governo Bolsonaro em 2020 pode ser
conferido em VENTURA, Deisy de Freitas Lima; REIS, Rosana. A linha do tempo da estratégia
federal de disseminação da covid-19. Direitos na pandemia: mapeamento e análise das normas
jurídicas de resposta à Covid-19 no Brasil, p. 6-31 n. 10, jan 2021. Disponível em:
https://static.poder360.com.br/2021/01/boletim-direitos-na-pandemia.pdf. Acesso em: 20 abr. 2023.
134
7 Denúncias. op. cit.
51
135
A expressão originalmente formulada é “antigramsciano gramsciano” para definir Olavo de
Carvalho. MARQUES, Victor. Olavo não tinha razão, mas tinha faro. Jacobin Brasil, 25 jan. 2022.
Disponível em: https://jacobin.com.br/2022/01/olavo-nao-tinha-razao-mas-tinha-faro/. Acesso em: 2
jun. 2023.
52
3. ECOS TRADICIONALISTAS
136
CARLOS AUGUSTO FAVORETTO BÁRBARO. Homenagem a um gênio chamado Olavo Pimentel
de Carvalho. YouTube, 24 jan. 2023. Disponível em: https://youtu.be/9ACw7L68JgM. Acesso em: 2
jun. 2023. 10:00.
137
MONARK. O Brasil Paralelo só quer lucrar? YouTube, 26 jul. 2022. Disponível em:
https://youtu.be/PxYXTDUV8Zk. Acesso em: 26 jul. 2022.
138
LIMA, Luciana. Olavo de Carvalho frequentava casa da esquerda estudantil em SP. Metrópoles,
10 fev. 2020. Disponível em:
https://www.metropoles.com/brasil/politica-brasil/olavo-de-carvalho-frequentava-casa-do-estudante-d
e-sao-paulo. Acesso em: 15 fev. 2023.
53
139
FELLET, João. Olavo de Carvalho, o parteiro da nova direita que diz ter dado à luz flores e
lacraias. BBC News Brasil, 15 dez. 2016. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-38282897. Acesso em: 13 abr 2022.
140
Detalhes do envolvimento de Olavo com o esoterismo e a tariqa Maryamiyya podem ser
conferidos em TEITELBAUM, Benjamin R. Guerra pela eternidade: o retorno do Tradicionalismo e a
ascensão da direita populista. Campinas: Editora da Unicamp, 2020. p. 117-129.
141
Id, ibid. p. 17-28.
142
MARQUES, Victor. Olavo não tinha razão, mas tinha faro. Jacobin Brasil, 25 jan. 2022. Disponível
em: https://jacobin.com.br/2022/01/olavo-nao-tinha-razao-mas-tinha-faro/. Acesso em: 15 fev. 2023.
143
FELLET, op. cit.
54
144
DUARTE, Letícia. “Destruição é a agenda do Tradicionalismo”, a ideologia por trás de Bolsonaro e
Trump. El País Brasil, 12 dez. 2020. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2020-12-12/benjamin-teitelbaum-destruicao-e-a-agenda-do-tradicionali
smo-a-ideologia-por-tras-de-bolsonaro-e-trump.html. Acesso: em 01 fev. 2023.; e TEITELBAUM,
Benjamin R. Guerra pela eternidade: o retorno do Tradicionalismo e a ascensão da direita populista.
Campinas: Editora da Unicamp, 2020. p. 223-232.
145
THE USA AND THE WORLD NEW ORDER. Disponível em:
http://debateolavodugin.blogspot.com/. Acesso em: 26 jan. 2023.
146
GUIMARÃES, Gabriel Fernandes Rocha. Ocidente, direitas e Islã: a perspectiva de Olavo de
Carvalho. Locus: Revista de História, Juiz de Fora, v. 27, n. 2, p. 150-178, 2021.
55
sentido, parece querer reivindicar mais legitimidade à sua própria forma de rejeitar a
herança iluminista, assentado numa espécie de amálgama grego antigo e cristão,
que une um longo arco de filósofos como Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, São
Tomás de Aquino, Edmund Husserl e Louis Lavelle.147
Por isso, Olavo estaria mais próximo da chamada Christian Right
norte-americana, mais voltada à percepção de uma moral absoluta, que conecta
política, metafísica e costumes, e que entende que os governos devem operar
dentro dos parâmetros judaico-cristãos. É o que, em linhas gerais, o afasta de
Dugin, já que, por esta forma de ver o mundo, embora rejeite o liberalismo
popperiano, as sociedades não devem ser completamente fechadas e podem
compartilhar valores entre si — desde que pré-modernos e calcados na teologia
cristã.148
147
Id, ibid.
148
Id, ibid.
149
PRAZERES, Leandro. Qual a posição do Brasil sobre a invasão russa na Ucrânia?. BBC News
Brasil, 10 mar. 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60690024.
Acesso em 19 abr. 2022.
56
150
CARRANÇA, Thais. Como a guerra na Ucrânia tem causado rachas dentro da direita e da
esquerda no Brasil. Folha de S. Paulo, 26 fev. 2022. Disponível em: https://folha.com/nz3bl5og.
Acesso em 19 abr. 2022.
151
A ativista Sara Winter, por exemplo, que teve breve passagem pelo Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos sob o comando da pastora evangélica Damares Alves, alega ter sido
treinada para combate na Ucrânia e reivindicou a liderança do movimento “300 do Brasil”, nome em
alusão à lenda de espartanos na Batalha das Termópilas. Em maio de 2020, esse grupo acampou em
frente ao Supremo Tribunal Federal para protestar contra o ministro Alexandre de Moraes e o
inquérito das fake news. Presa e abandonada pelo governo, Winter disse que partiram dele as
instruções para os protestos. LIMA, Eudes. Sarah Winter, um arquivo vivo. Isto É, 19 nov. 2021.
Disponível em: https://istoe.com.br/sara-winter-um-arquivo-vivo/. Acesso em: 19 abr. 2022.
152
Em discurso durante evento alusivo ao Dia do Defensor da Pátria, em fevereiro de 2023, o líder
russo acusou o Ocidente de normalizar a pedofilia, criticou a ideia de que Deus teria um “gênero
neutro” e defendeu a família como a união entre homem e mulher. METRÓPOLES. “Deus, pátria e
família” | A íntegra do discurso de Putin para estádio lotado. YouTube, 22 fev. 2023. Disponível em:
https://youtu.be/RHsKj2rmDfA. Acesso em: 23 fev. 2023.
153
CARRANÇA. op. cit.
154
BRASIL PARALELO. Instagram. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/CadUHOhgQP2/.
Acesso em: 19 abr. 2022.
155
Os nomes dos usuários foram mantidos como aparecem nas redes, antecedidos pelo símbolo
“@”. Todos os comentários estão transcritos exatamente como publicados pelos usuários,
mantendo-se as características e erros típicos da escrita em caixas de comentários ou aplicativos de
mensagem. Optou-se por não indicar erros com a expressão “sic”.
57
@arsilva099 vai na mesma linha: “Calma aí, a união soviética de antes, nada
tem haver com a Rússia de hoje.na atual conjuntura mundial, a chamada Nova
ordem mundial, agora tendo a frente o esquerdista Biden, esse sim merece que
fiquemos temerosos…”. A seguir, é a vez de @tintoripiqueira dizer que “pelo menos,
o atual governo russo combate o globalismo que tanto criticamos. Fora que há
fascistas na Ucrânia que provocaram a guerra também. Não há inocentes nesta
história”.
Para @rosicannavo,
Putin está correto! Ele teve que atacar para se defender do futuro
ataque! Isto que da eleger humoristas para governar uma nação! A
Ucrânia dobrou a aposta, achando que tinha 30 países para ajudá-la!
Desceu para o play sozinha! Agora é hora de brincar! Infelizmente!
Acho que o atual momento não dá pra linkar Putin a Lênin. A treta
está nitidamente sendo teatral! Sim puro teatro midiático por parte da
Ucrânia e o seu presidente-comediante. Todas as TVs e jornais do
mundo são comprometidas com a esquerda e portanto as mesmas
estão tentando fazer o cancelamento da Rússia no cenário
geopolítico internacional
156
OKUMA, André. A Brasil Paralelo na Guerra Cultural. In: JORGE, Marina; GOLDSTEIN, Ilana;
MATOS, Yanet; HOFFMANN, Ana; ARANTES, Pedro; SQUEFF, Leti. (orgs.) Perspectivas de
pesquisa em imagem e gênero (livro eletrônico). Brasília: PPGHA/Unifesp, 2023. p. 35-53.
157
BRASIL PARALELO. O CONFRONTO ENTRE RÚSSIA E UCRÂNIA - Conversa Paralela com
Flávio Morgenstern e Lucas Ferrugem. YouTube, 05 mar. 2022. Disponível em:
https://youtu.be/tpJp8R2qF_Y. Acesso em 15 fev. 2023. 1:28:53.
158
CARRANÇA. op. cit.
159
GUIMARÃES, op. cit.
160
BOLSONARO reproduz “desinformação russa”, diz Ernesto Araújo. Poder 360, 01 mar. 2022.
Disponível em:
https://www.poder360.com.br/europa-em-guerra/bolsonaro-reproduz-desinformacao-russa-diz-ernest
o-araujo/. Acesso em: 26 abr. 2022.
59
Resistência, que desde o ano anterior vinha ganhando espaço no interior do Partido
Democrático Trabalhista, o PDT.161
Seja como for, resta claro que o olavismo partilha da mesma aversão que os
duguinistas ao arranjo social do Ocidente pós-iluminista. A Revolução Francesa, tida
como o lamentável resultado de um processo de secularização do pensamento,
teria começado, “para os mais atentos”, nas obras dos enciclopedistas.162 Para
Olavo, o iluminismo inaugura, a partir de Kant, uma tradição política que gera
personagens abomináveis, de Darwin a Pol Pot, passando por Marx, Mussolini,
Lênin e Hitler, por exemplo.163 Descende daí a frequente reclamação das novas
direitas radicais de que o nazi-fascismo seria, apesar da variação discursiva, de
esquerda.
No corte “Comunismo, fascismo e liberalismo: adversários ou irmãos?”, da
trilogia Pátria Educadora, da BP, Carvalho diz que o regime fascista não tem nada a
ver com a ideologia anti-iluminista fascista, saudosa das identidades nacionais do
início do século XIX. Ele surge, argumenta, “de uma cisão dentro do movimento
revolucionário”.164 Para Olavo, o regime fascista é, na verdade, um espelho do
iluminismo, pois ambos concentram poder na administração estatal: “a política
estatizante foi a mesma no fascismo e no comunismo”, numa citação literal do
vídeo. Neste momento, é exibida uma sequência de imagens de ditadores
comunistas e fascistas. Olavo completa:
161
GHIROTTO, Edoardo; BARRETTO, Eduardo. Palestrantes acionam produtora bolsonarista por
acusação de terrorismo. Metrópoles, 25 jun. 2022. Disponível em:
https://www.metropoles.com/colunas/guilherme-amado/palestrantes-acionam-produtora-bolsonarista-
por-acusacao-de-terrorismo. Acesso: em 25 jun. 2022. No mesmo mês de junho, o PDT alegou
desconhecimento sobre o movimento no partido e anunciou a expulsão de seus membros. NEIVA,
Lucas. Grupo de extrema-direita se infiltra no PDT, que anuncia sua expulsão. Disponível em:
https://congressoemfoco.uol.com.br/area/pais/grupo-de-extrema-direita-se-infiltra-no-pdt-que-anuncia
-expulsao-de-membros/. Acesso em: 25 jun. 2022.
162
BRASIL PARALELO. Para os mais atentos, a Revolução Francesa começou nos livros. YouTube,
15 set. 2022. Disponível em: https://youtu.be/8b8Z8OtMU1o. Acesso em 20 jan. 2023.
163
GUIMARÃES, op. cit.
164
BRASIL PARALELO. COMUNISMO, FASCISMO E LIBERALISMO: ADVERSÁRIOS OU
IRMÃOS? Youtube, 17 abr. 2020. Disponível em: https://youtu.be/IECP2VuGlj4. Acesso em 16 jan.
2023.
60
165
Ibid.
166
Ibid.
167
BRASIL PARALELO. Quais políticos defendem o fascismo hoje? YouTube, 28 out. 2018.
Disponível em: https://youtu.be/3gCW0AcezX4. Acesso em: 16 jan. 2023.
168
IDEIAS RADICAIS. O que é Coletivismo? YouTube, 17 mar. 2017. Disponível em
https://youtu.be/1R067F4a2G4. Acesso em 20 jan. 2023.
169
ROCHA, Camila. “Menos Marx, mais Mises”: uma gênese da nova direita brasileira (2006-2018).
232 f. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. p. 51-52.
61
170
LYNCH, Christian; CASSIMIRO, Paulo Henrique. O populismo reacionário: ascensão e legado do
bolsonarismo. São Paulo: Contracorrente, 2022. p. 138-140.
171
Id, ibid. p. 23-24.
172
CARVALHO, Olavo de. Fórmula da minha composição ideológica. Sapientiam autem non vincit
malitia, 23 dez. 1998. Disponível em:
http://olavodecarvalho.org/formula-da-minha-composicao-ideologica/. Acesso em: 01 fev. 2023.
62
173
DUARTE, Letícia. Bônus: Como o olavismo explica o bolsonarismo. In: PIRES, Carol. Retrato
Narrado. revista piauí & Spotify Studios, 18 nov. 2020. Podcast. Disponível em:
https://open.spotify.com/episode/1yeM1KrhNq06y5ck8Z4X4n?si=df0c899d0d144af2. Acesso em: 13
fev. 2023. Ver em 32:11.
63
174
SCARDOELLI, Anderson. “Guru bolsonarista”, Olavo de Carvalho teve palco na imprensa.
Comunique-se, 25 jan. 2022. Disponível em:
https://portal.comunique-se.com.br/antes-de-ser-guru-bolsonarista-olavo-de-carvalho-teve-palco-na-i
mprensa/. Acesso em: 25 jun. 2023.
175
ROCHA, Camila. “Menos Marx, mais Mises”: uma gênese da nova direita brasileira (2006-2018).
232 f. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. p.
101-103.
64
quem faz isso? Aceitar esse jogo é mais que covardia, é trair a
própria causa, é prostituir a própria consciência. [...] Não, meu caro
amigo, tratar esses indivíduos com a rispidez que merecem não é
jamais rebaixar-nos ao seu nível. Nem mesmo se os xingássemos
dos piores nomes e o fizéssemos o dia inteiro, sem parar, com a
mesma obsessividade persistente e psicótica com que eles sonham
com a nossa morte, estaríamos nos igualando aos bandidos das Farc
e aos seus parceiros no governo federal. Nenhum de nós é traficante,
sequestrador, assassino, nem parceiro político e bajulador de quem o
seja. Muito menos somos consciências morais deformadas como o sr.
Presidente da República, para quem a prática desses crimes
hediondos não desqualifica ninguém para o exercício dos mais altos
cargos numa democracia. Endereçado a quem de direito, nada que
saia da nossa boca, por mais ofensivo e brutal que soe, pode jamais
nos tornar tão sujos e desprezíveis quanto eles.176
176
CARVALHO, Olavo de. O dever de insultar. Sapientiam autem non vincit malitia, 12 nov. 2010.
Disponível em: https://olavodecarvalho.org/o-dever-de-insultar/. Acesso em: 31 jan. 2023.
65
Num post de agosto de 2015, Olavo diz que usa palavrões porque
Cada dia um pouco menos frequente nos grandes jornais, Olavo encontrou a
ferramenta ideal para denunciar, nos termos que queria, a nova marcha comunista.
Sua emigração para os Estados Unidos, em 2005, coincide com a popularização de
177
OLAVO DE CARVALHO. Facebook, 02 dez. 2014. Disponível em:
https://www.facebook.com/carvalho.olavo/photos/%C3%A9-claro-que-sou-a-favor-do-impeachment-d
a-dilma-mas-sou-muito-mais-a-favor-do-de/411841992301214/. Acesso em: 22 fev. 2023.
178
Id. Geração maldita. Sapientiam autem non vincit malitia, 8 dez. 2009. Disponível em
http://olavodecarvalho.org/geracao-maldita/. Acesso em 31 jan. 2023.
179
Id. Facebook, 25 ago. 2015. Disponível em:
https://www.facebook.com/carvalho.olavo/posts/535327239952688/. Acesso em 31 jan. 2023.
66
uma das primeiras redes sociais digitais de sucesso no Brasil: o Orkut. O Orkut foi
fundado em 2004, originalmente para atender ao público norte-americano. Em
janeiro de 2006, no entanto, já tinha 75% dos seus usuários sediados no Brasil, que
chegou a ultrapassar a marca de 30 milhões de inscritos. Essas cifras despertaram
a atenção da filial local do gigante Google, que passou a gerir o negócio por aqui.180
Além de conectar amigos, o Orkut também funcionou como uma importante
ferramenta de disseminação e troca de ideias através das “comunidades”, que, em
moldes similares aos “grupos” da rede Facebook, reuniam diferentes sujeitos com
interesses comuns, desde clubes de futebol a preferências gastronômicas,
passando por gêneros musicais e, claro, agremiações políticas.
Nessa seara, desde os primórdios, as direitas foram hegemônicas. Para se
ter uma ideia, quando, em 2006, Lula era reeleito com 60,83% dos votos válidos,181
as comunidades “Fora Lula 2006” e “Eu odeio o PT” já reuniam, respectivamente,
110 mil e 93 mil membros. Ao mesmo tempo, “Lula presidente 2006” e a
comunidade oficial do PT não ultrapassavam, juntas, a marca de 42 mil. Olavo de
Carvalho também foi logo agraciado com fóruns do Orkut em seu nome. Entre seus
admiradores, figuravam as comunidades “Olavo de Carvalho” e “A Filosofia de
Olavo de Carvalho”. Mais tarde ele também batizaria fóruns de detratores, como
“Olavo de Carvalho nos odeia” e “Eu odeio Olavo de Carvalho”.182
Uma das principais contribuições do Orkut para as novas direitas brasileiras é
a formatação dos seus chamados “contrapúblicos digitais”. Para quem se habituou a
compreender o conceito de “contrapúblicos” a partir da definição de Nancy Fraser, a
ferramenta pode soar inadequada, afinal, para a filósofa norte-americana, estes
seriam compostos fundamentalmente por cidadãos subalternizados que, à margem
da sociedade, teriam ficado de fora da esfera pública habermasiana. A politóloga
Camila Rocha, em sua tese de doutoramento sobre as novas direitas brasileiras, no
entanto, vai além e, a partir das contribuições de Michael Warner, Natalie Fenton e
John Downey, entende como “contrapúblicos” quaisquer grupos que, sentindo-se
mal representados entre os “públicos dominantes” que ocupam os espaços
180
ANJOS, Lígia dos. Como era o Orkut? Super Interessante, 23 nov. 2017. Disponível em:
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-era-o-orkut/. Acesso em: 22 set. 2022.
181
PRESIDENTE Lula é reeleito com mais de 58 milhões de votos. Senado Notícias, 30 out. 2006.
Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2006/10/30/presidente-lula-e-reeleito-com-mais-de-58-
milhoes-de-votos. Acesso em: 22 set. 2022.
182
ROCHA, Camila. op. cit. p. 120-121.
67
183
id, ibid. p. 24-41.
184
Id, ibid. p. 44-49.
185
CESARINO, Letícia. O mundo do avesso: verdade e política na era digital. São Paulo: Ubu
Editora, 2022. p. 131-142.
186
Id, ibid. p. 139.
68
Olavo, que admitia não ter como forte uma agenda propositiva, já era um
usuário experiente da internet quando apareceu o Orkut. No entanto, o que a rede
fez por ele foi aumentar expressivamente a abrangência de seu público num
contexto em que poucas pessoas se assumiam no país como “de direita”, com
receio dos estigmas que poderiam carregar.188 A primeira navegação do autor de O
imbecil coletivo (1996) em águas digitais foi através do blog Sapientiam autem non
vincit malitia (“A sabedoria não é vencida pela malícia”, do latim), a partir de 1998,
que reproduzia artigos escritos para a imprensa. Mais tarde, em 2002, o site Mídia
Sem Máscara passou a difundir textos do próprio Olavo e de interlocutores
convidados. O programa True Outspeak, muito antes dos podcasts
contemporâneos, esteve no ar entre 2006 e 2012 com monólogos do fundador
sobre temas da semana. No episódio de estreia, Carvalho já lamentava a ausência
de respostas, por parte da direita, às articulações esquerdistas no campo dos
saberes.189 Seu Curso Online de Filosofia (COF), fundado em 2009, abrigou
milhares de estudantes em busca de orientação no campo conservador.190
No episódio derradeiro do True Outspeak, Olavo comenta a herança deixada
para os ouvintes:
187
Id, ibid. p. 138.
188
ROCHA. op. cit. p. 111-112.
189
CARVALHO, Olavo de. True Outspeak. Episódio 1. Internet Archive, 06 dez. 2006. Disponível em:
https://archive.org/details/TrueOutspeak/001.+True+Outspeak+-+4-12-2006.mp3. Acesso em: 31 jan.
2023.
190
BURGIERMAN, Denis Russo. O curso de Olavo de Carvalho, o artista da ofensa. O Globo Época,
14 mar. 2019, disponível em
https://oglobo.globo.com/epoca/o-curso-de-olavo-de-carvalho-artista-da-ofensa-23521208. Acesso
em: 31 jan. 2023.
69
chamar de filho da puta e assim por diante. E isso eu acho que foi um
progresso enorme.191
Numa das aulas do COF, Olavo rejeita qualquer disposição para o embate de
ideias com representantes do marxismo cultural e dobra a aposta no estratagema
do insulto. Conforme o relato de um repórter da revista Época:
191
OLAVO DE CARVALHO. True Outspeak - Olavo de Carvalho - 5 de dezembro de 2012, YouTube,
5 dez. 2012. Disponível em: https://youtu.be/hRYwIi751_E. Acesso em 31 jan. 2023.
192
BURGIERMAN, op. cit.
193
OLAVO DE CARVALHO. Facebook, 20 jun. 2016. Disponível em:
https://www.facebook.com/carvalho.olavo/posts/654414911377253. Acesso em: 14 dez. 2023.
194
Id. Facebook, 9 fev. 2019. Disponível em:
https://www.facebook.com/carvalho.olavo/posts/1227342774084461. Acesso em: 14 dez. 2023.
70
195
Em GABRIEL WALACHESKI. Não respeite comunistas, destrua-os!!! YouTube, 8 nov. 2016.
Disponível em https://youtu.be/2dIXgHL7Nl0. Acesso em: 1 fev. 2023.
196
CARVALHO, Olavo de. Introdução crítica à dialética de Schopenhauer. In: SCHOPENHAUER,
Arthur. Como vencer um debate sem precisar ter razão, em 38 estratagemas. Rio de Janeiro:
Topbooks, 1999. p. 42.
197
DUARTE. Como o olavismo explica o bolsonarismo. op. cit.
71
Uma coisa é o que o sujeito pode falar numa conversa informal. Você
sabe perfeitamente que o Bolsonaro não é propriamente um sujeito
especialista em se expressar e explicar suas ideias. Ou não sabe?
Não. O cara dizer isso não quer dizer que ele tenha uma concepção
política e pretenda realizá-la. Não quer dizer. A linguagem do
Bolsonaro está cheia de hipérboles, expressões, piadas. Está cheio
disso. E vocês não sabem distinguir uma coisa da outra.205
204
Id, ibid.
205
DUARTE, Letícia. Bônus: Como o olavismo explica o bolsonarismo. op. cit. 40:06
206
NUNES, Felipe; TRAUMANN, Thomas. Biografia do abismo: como a polarização divide famílias,
desafia empresas e compromete o futuro do Brasil. Rio de Janeiro: HarperCollins Brasil, 2023. p.
36-59.
207
ROCHA, Camila. Bolsonaro e o marketing do “homem cordial”. piauí, 11 ago. 2022. Disponível em:
https://piaui.folha.uol.com.br/eleicoes-2022/bolsonaro-e-o-marketing-do-homem-cordial/. Acesso em:
22 fev. 2023.
208
KUHL, Nathalia. Assessor de Bolsonaro diz que ajeitava lapela: “Mentes doentias”. Metrópoles, 24
mar. 2021. Disponível em:
73
https://www.metropoles.com/brasil/politica-brasil/assessor-de-bolsonaro-diz-que-ajeitava-lapela-ment
es-doentias. Acesso em: 22 fev. 2023.
209
PINTO NETO, Moysés. Política na era da visibilidade total: observações conjunturais a partir do
episódio The Waldo Moment, de Black Mirror. Galáxia, n. 45, p. 144, set-dez, 2020.
210
Id, ibid.
211
LINHARES, Carolina; ZANINI, Fábio. MBL admite culpa por polarização no país e exagero em sua
agressividade retórica. Folha de S. Paulo, 28 jul. 2019. Disponível em: https://folha.com/s1dufzkl.
Acesso em: 22 fev. 2023.
212
OLAVO DE CARVALHO. Facebook, 02 dez. 2014. Disponível em:
https://www.facebook.com/carvalho.olavo/photos/%C3%A9-claro-que-sou-a-favor-do-impeachment-d
a-dilma-mas-sou-muito-mais-a-favor-do-de/411841992301214/. Acesso em: 22 fev. 2023.
74
acabaria morto com diagnóstico positivo para a doença no início de 2022, por ironia
do destino.220
Indicado pelo mestre ao Ministério das Relações Exteriores, Araújo manteve
um blog dedicado a denunciar o que o olavismo chama de “globalismo”,
“globalização econômica que”, segundo o diplomata, “passou a ser pilotada pelo
marxismo cultural”. Na descrição do espaço virtual, ele prossegue:
220
O teste foi realizado no dia 16 de janeiro. Seu médico particular, no entanto, atribuiu a causa da
morte, no dia 24, a um quadro de “insuficiência aguda respiratória”. MÉDICO de Olavo de Carvalho
nega morte por covid-19. IG, 25 jan. 2022. Disponível em:
https://ultimosegundo.ig.com.br/2022-01-25/medico-nega-morte-olavo-covid-19.html. Acesso em: 4
jun. 2023.
221
O blog não se encontra mais no ar. Mas essa citação, entre outras de teor similar, pode ser
conferida em CALEIRO, João Pedro. As opiniões polêmicas do novo chanceler sobre raça, fake news
e 8 temas. Exame, 11 nov. 2018. Disponível em:
https://exame.com/brasil/as-opinioes-polemicas-do-novo-chanceler-sobre-raca-fake-news-e-8-temas/.
Acesso em: 20 jan. 2023.
76
222
Id, ibid.
223
BALLOUSSIER, Anna Virginia. Brasil sairá da ‘ONU comunista’ se eu for eleito, diz Bolsonaro.
Folha de S. Paulo, 18 ago. 2018. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/08/brasil-saira-da-onu-comunista-se-for-eleito-diz-bolsonar
o.shtml. Acesso em: 15 fev. 2023.
224
Ver DANTAS, Dimitrius. Olavo de Carvalho está errado e não entendeu Kant, dizem três nomes de
destaque da academia brasileira. O Globo, 10 fev. 2019. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/brasil/olavo-de-carvalho-esta-errado-nao-entendeu-kant-dizem-tres-nomes-
de-destaque-da-academia-brasileira-23440419. Acesso em: 13 fev. 2023; e PERES, Daniel. Quão
obscurantista é o emplastro filosófico de Olavo de Carvalho. Le Monde Diplomatique Brasil, 12 fev.
2019. Disponível em:
https://diplomatique.org.br/resposta-a-pergunta-quao-obscurantista-e-o-emplasto-filosofico-de-olavo-d
e-carvalho/. Acesso em 13 fev. 2023.
225
FAUSTO, Ruy. Única coisa rigorosa no discurso de Olavo são os palavrões, diz Ruy Fausto. Folha
de S. Paulo. 30 nov. 2018. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2018/11/unica-coisa-rigorosa-no-discurso-de-olavo-sao-os-
palavroes-diz-ruy-fausto.shtml. Acesso em: 25 dez. 2023.
226
ROCHA, João Cezar de Castro Rocha. Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil
pós-político. Goiânia: Caminhos, 2021. p. 89.
77
227
LYNCH, Christian; CASSIMIRO, Paulo Henrique. O populismo reacionário: ascensão e legado do
bolsonarismo. São Paulo: Contracorrente, 2022.. op. cit. p. 94-95.
228
TAGUIEFF, Pierre-André. La foire aux illuminés: ésoterisme, teorie du complot, extremisme. Paris:
Fayard/Mille et une nuits, 2005. p. 401 e seguintes.
229
MAHL, Daniela; SCHÄFER, Mike S.; ZENG, Jing. Conspiracy theories in online environments: An
interdisciplinary literature review and agenda for future research. New Media & Society, v. 25, n. 7, p.
1797. jul. 2023.
230
CESARINO, Letícia. O mundo do avesso: verdade e política na era digital. São Paulo: Ubu
Editora, 2022. p. 229.
231
CARVALHO, Olavo de. O jardim das aflições. De Epicuro à ressurreição de César: ensaio sobre o
materialismo e a religião civil. Campinas: Vide Editorial, 2015. p. 215-216.
78
232
ROCHA, João Cezar Castro. op. cit.
233
VEJAPONTOCOM. ‘O comunismo foi fundado por meio do assalto e da corrupção', diz Olavo de
Carvalho. YouTube, 16 mai. 2015, disponível em: https://youtu.be/E-IAzX8qPEk. Acesso em: 14 fev.
2023.
79
acusado de pedofilia depois que circularam imagens de uma criança tocando seus
pés durante a performance La Bête, inspirada pela série Bichos, de Lygia Clark.236
A ideia de um marxismo repaginado é fundamental para a compreensão
daquilo que o sociólogo norte-americano James Davison Hunter chamou de
“guerras culturais”, um fenômeno que, desencadeado pela reação conservadora aos
novos movimentos sociais na segunda metade do século XX, empurra as disputas
políticas no interior de uma nação para o campo moral. Essa é uma luta, diz Hunter
no subtítulo da primeira obra de referência sobre o tema, “para definir a América”.237
Anos mais tarde, Andrew Hartman classificou as guerras culturais como “uma
batalha pela alma da América”.238
A emergência das guerras culturais coincide com o momento de aparente
pacificação das maiores tensões políticas no mundo ocidental, representada pela
derrocada da União Soviética e pelo prognóstico de que estaríamos presenciando
aquilo que Francis Fukuyama chamou de “fim da história”.239 De mudanças
legislativas para garantia de direitos básicos, os movimentos de minorias sociais
passaram a discutir também relações interpessoais e exigir novas e mais
adequadas políticas de reconhecimento.240 Setores conservadores e reacionários,
sentindo-se acuados, resolveram agir.
Nos Estados Unidos, o primeiro candidato das guerras culturais à presidência
foi o republicano Pat Buchanan, em 1992. Ele acabou sendo derrotado ainda nas
prévias por George Bush, mas deu a tônica de como seriam, a partir daquele
momento, os discursos políticos, cada vez mais capturados pela moral. Em 2018, a
versão brasileira de Buchanan, anabolizada pela centralidade das redes sociais
digitais no debate público e por uma profunda crise política, foi eleita para a
presidência da República.241
236
Id, ibid.
237
HUNTER, James. Culture Wars: The Struggle To Define America. Nova Iorque: Basic Books,
1991. O livro de Hunter permanece inédito no Brasil. Em 2022, o periódico Políticas culturais em
revista, da Universidade Federal da Bahia, publicou uma tradução da jornalista Cássia Zanon para o
artigo “A guerra cultural contínua”, originalmente publicado por James Hunter numa coletânea sobre
o tema. HUNTER, James Davison. A guerra cultural contínua. Políticas Culturais em Revista, v. 15, n.
1, Salvador, p. 22–6, jan./jun. 2022.
238
HARTMAN, Andrew. A War for the Soul of America: A History of the Culture Wars. Chicago:
University of Chicago Press, 2016.
239
FUKUYAMA, Francis. O fim da história e o último homem. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.
240
NUNES, Rodrigo. Do transe à vertigem: ensaios sobre o bolsonarismo e um mundo em transição.
São Paulo: Ubu, 2022. p. 105-136.
241
ORTELLADO, Pablo; MARTINS, Elisa. Podcast disseca debate moral que dominou a política
brasileira; leia a transcrição do primeiro episódio. O Globo, 29 ago. 2022. Disponível em:
81
https://oglobo.globo.com/podcast/guerras-culturais/noticia/2022/08/podcast-disseca-debate-moral-qu
e-dominou-politica-brasileira-leia-transcricao-do-primeiro-episodio.ghtml.ghtml.
242
ORTELLADO, Pablo. Guerras culturais no Brasil. Le Monde Diplomatique Brasil, 1 dez. 2014.
Disponível em: https://diplomatique.org.br/guerras-culturais-no-brasil/. Acesso em: 12 dez. 2023.
243
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o perigo vermelho: o anticomunismo no Brasil
(1917-1964). Rio de Janeiro: Eduff, 2020. p. 201-254.
244
Para uma história do movimento integralista no Brasil, ver GONÇALVES, Leandro Pereira;
CALDEIRA NETO, Odilon. O fascismo em camisas verdes: do integralismo ao neointegralismo. Rio
de Janeiro: Editora da FGV, 2020; e DORIA, Pedro. Fascismo à brasileira: como o Integralismo,
maior movimento de extrema-direita da história do país, se formou e o que ele ilumina sobre o
bolsonarismo. São Paulo: Planeta, 2020.
82
245
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o perigo vermelho. op. cit. p. 255-304.
246
Id, ibid. p. 63-72.
247
Id, ibid. p. 42-54.
83
248
Id, ibid. p. 54-63.
249
Id, ibid. p. 309-317.
250
ROCHA. “Menos Marx, mais Mises”. p. 119-120.
251
“MENSALÃO” derruba Dirceu, ex-superministro de Lula, Folha de S. Paulo, 17 jun. 2005,
disponível em https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1706200502.htm. Acesso em: 15 set. 2022.
252
ESCÂNDALO derruba Palocci; Mantega assume Fazenda. Folha de S. Paulo, 28 mar. 2006.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2803200602.htm. Acesso em: 15 set. 2022.
No governo Dilma, Palocci voltou ao primeiro escalão, desta vez como ministro-chefe da Casa Civil,
mas durou poucos meses no cargo. Uma reportagem da Folha de S. Paulo revelou que ele havia
aumentado o próprio patrimônio 20 vezes entre 2006 e 2010. FELLET, João. Antonio Palocci pede
demissão da Casa Civil, BBC News Brasil, 07 jun. 2011. Disponível em
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/06/110607_paloccirenuncia_jf. Acesso em: 15 set.
2022.
84
movimento Cansei, que surgiu em 2007 como uma resposta ao “caos aéreo”,
suposta causa dos acidentes com aviões da Gol e da Tam.258 Mesmo à direita, o
grupo não escapou de duras desqualificações graças à sua composição
majoritariamente elitista, já que contava com a liderança de figuras como os
empresários João Doria Jr. e Ana Luiza Massari, a cantora Ivete Sangalo e a
apresentadora Hebe Camargo. Cláudio Lembo, ex-governador de São Paulo e
filiado ao Democratas, disse que o movimento era formado por “dondocas”. No site
UOL, dizia-se que o ato foi caracterizado por “reunir grifes [...] com direito a
fotógrafos da revista Caras, equipe do programa TV Fama, bolsas Prada e óculos
Dior para as mulheres e blazer com abotoaduras, gel no cabelo e colarinho branco
para os homens”. Doria reclamou à Veja que os protagonistas do Cansei viraram
“alvos fáceis para a caricatura” por, dentre outras coisas, transmitirem a imagem de
que não usam drogas ou falam palavrões.259
Ao Cansei, seguiram-se algumas outras iniciativas de pouco impacto. Meses
depois, o Tributo Contra o Tributo reivindicava a abolição do imposto CPMF,
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira. A manifestação foi
organizada pela Frente Nacional da Nova Geração e bancada pelo Comitê de
Jovens Empreendedores da Fiesp e pela Associação Comercial de São Paulo. A
despeito das destacadas atrações musicais, o público não compareceu como
esperado.260 Novas convocações desse tipo só seriam retomadas em 2014.261
No entanto, o fracasso na arregimentação de novos adeptos para oposição
ao PT à direita nas ruas não implicou na debacle desses movimentos. O que se viu,
pelo contrário, é a intensificação das atividades antipetistas, mas em outra esfera.
Enquanto Lula acomodava-se com cada vez menos resistências no poder, uma
verdadeira revolução ocorria na internet.
Impulsionadas pelas ferramentas digitais, as novas direitas expandiram
rapidamente seu campo de atuação a partir do primeiro mandato de Lula e não
258
RIBEIRO, Silvia. Protesto contra caos aéreo reúne 300 pessoas, diz PM. G1, 29 jul. 2007,
disponível em:
https://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL79468-5605,00-PROTESTO+CONTRA+CAOS+AERE
O+REUNE+PESSOAS+DIZ+PM.html. Acesso em: 22 set. 2022.
259
ROCHA. “Menos Marx, mais Mises”. op. cit. p. 119-120. Ver nota 84.
260
NOBRE, 2022. op. cit. p. 141-142.
261
TATAGIBA, Luciana; TRINDADE, Thiago; TEIXEIRA, Ana Claudia Chaves. Protestos à direita no
Brasil (2007-2015). In: VELASCO E CRUZ, Sebastião; KAYSEL, André; CODAS, Gustavo (orgs.).
Direita, volver!: o retorno da direita e o ciclo político. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2015. p.
197-212.
86
262
Originalmente publicado no Diário do Comércio. CARVALHO, Olavo de. Monstruosa e abrangente
estratégia. Sapientiam autem non vincit malitia, 11 jan. 2008. Disponível em:
https://olavodecarvalho.org/monstruosa-e-abrangente-estrategia/. Acesso em 30 jan. 2023.
263
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Anticomunismo, antipetismo e o giro direitista no Brasil. In:
BOHOSLAVSKY, Ernesto.; MOTTA, Rodrigo P. S.; BOISARD, Stéphane. (orgs.). Pensar as direitas
na América Latina. São Paulo: Alameda, 2019. p. 75-98.
264
Id. Em guarda contra o perigo vermelho, op. cit. p. 177-182.
87
265
Id, ibid. p. 255-304.
266
SANTOS JUNIOR, Marcelo Alves dos. Vai pra Cuba!!!! A rede antipetista na eleição de 2014. 199
f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2016.
267
Ver, por exemplo: BRASIL PARALELO. Fomos até a Venezuela, e foi isso que encontramos.
YouTube, 12 jul. 2023. Disponível em: https://youtube.com/shorts/0LYpWuCDlJg. Acesso em: 25 dez.
2023.
268
BRASIL PARALELO. NICARÁGUA: Liberdade Exilada | Um novo original Brasil Paralelo.
Disponível em: https://youtu.be/4TE__qOPsco. Acesso em: 25 dez. 2023.
269
JOVEM PAN NEWS. A QUEDA ARGENTINA | EPISÓDIO 3/3 - A Conta | PANFLIX + BRASIL
PARALELO. YouTube, 6 abr. 2021. Disponível em: https://youtu.be/gVMrnoGX1MY. Acesso em: 25
dez. 2023.
270
BRASIL PARALELO. A China não esconde sua força. YouTube, 14 mar. 2022. Disponível em:
https://youtu.be/sIm1y60J8WY. Acesso em: 25 dez. 2023.
88
271
CARVALHO, Olavo. Intelligentzia (mas pode chamar de máfia). In:_____. BRASIL, Felipe Moura
(org.) O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Rio de Janeiro: Record, 2013. p.
236-341. Ver artigo “Da fantasia deprimente à realidade temível”, originalmente publicado no Diário
do Comércio, em 11 de setembro de 2006. p. 309-314.
89
Olavo, como vimos, também foi um importante difusor da teoria que busca
vincular o PT ao crime comum, num contexto em que o medo do comunismo já não
tinha tanto apelo popular quanto no passado. Para Olavo, o PT teria estabelecido
laços não apenas com narcotraficantes de origem revolucionária, como as FARC,
mas com facções sem orientação ideológica alguma, como o Primeiro Comando da
Capital, justamente para colocar em marcha seu próprio projeto revolucionário.273
Essa percepção do Partido dos Trabalhadores como a grande encarnação do
espírito revolucionário da esquerda durante a crise política no Brasil não foi
exclusividade desses públicos marginais, no entanto. Após as eleições de 2014, o
ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes se engajou na PEC da
Bengala, que elevou a idade de aposentadoria compulsória dos juízes da Corte
porque, sendo ele o único representante indicado pelo PSDB, o PT transformaria o
STF numa “corte bolivariana”.274
Foi imbuído desse espírito de indignação que movimentos como Revoltados
Online, MBL e Vem Pra Rua, nascidos de articulações virtuais ainda no rescaldo de
Junho de 2013 e fomentados pela oposição partidária ao PT,275 lideraram grandiosas
manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff, consolidando o protagonismo
das direitas extrainstitucionais no debate público nacional. Pouco mais de um ano
depois, o quarto mandato presidencial do PT seria interrompido por, nas palavras de
Marcos Nobre, uma “parlamentada” que tentou fazer da esquerda o boi de piranha
272
CARVALHO, Olavo de. A Nova Era e a Revolução Cultural: Prefácio à segunda edição.
Sapientiam autem non vincit malitia, 9 fev. 1994. Disponível em:
https://olavodecarvalho.org/a-nova-era-e-a-revolucao-cultural-prefacio-a-segunda-edicao/. Acesso
em: 15 fev. 2023.
273
Ver, por exemplo: CARVALHO, Olavo. Criminalidade. In: BRASIL. (org.) op. cit. p. 502-518.
274
LIMONGI, Fernando. Operação impeachment: Dilma Rousseff e o Brasil da Lava Jato. São Paulo:
Todavia, 2023 p. 63-64.
275
Ib, ibid. p. 59-84.
90
domar Bolsonaro, tido como um ignorante, para realizar o que realmente importaria,
que são as reformas liberais.281 Como se sabe, o engajamento de liberais a pautas
conservadoras no campo moral é também uma estratégia de expansão eleitoral,
considerando a popularidade da agenda de costumes nas guerras culturais. Esse
movimento consolida, para Camila Rocha, a debacle da hegemonia
“liberal-libertária” em favor do amálgama “ultraliberal-conservador”.282
Mesmo entre conservadores cristãos, maior fatia do eleitorado bolsonarista
em 2022, com 29% dos votantes ao todo,283 há importantes clivagens, no entanto.
Os evangélicos, que cresceram exponencialmente nas últimas décadas, tendem a
ser mais pobres, o que deu a Lula alguma competitividade no segmento —
amplamente dominado pela direita. Enquanto isso, Bolsonaro era preterido entre
católicos.284 O olavismo, por sua vez, embora entusiasta declarado de um “Brasil
profundo” — constituído por um conjunto de pessoas simples e naturalmente
conservadoras distantes dos centros cosmopolitas285 —, é próximo do catolicismo e
tem aspirações mais elitistas, notáveis no seu modo de fazer história, como
veremos adiante, e no desejo, várias vezes expresso por Olavo, de formar uma
casta pensante no Brasil. Mas não restam dúvidas de que tanto a Brasil Paralelo
quanto seu guru buscaram conectar-se com esse grupo em sua totalidade,
presumivelmente com pretensões diretivas.
Para Bolsonaro, a agenda de costumes foi crucial no seu desempenho
eleitoral. Um estudo coordenado pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital —
projeto do Grupo de Políticas Públicas para Acesso à Informação, da Universidade
de São Paulo — em 2018 mostra que, nesta eleição em que a internet superou a
televisão em influência,286 páginas pró-Bolsonaro no Facebook priorizaram as
dimensões antissistêmica e conservadora de sua candidatura, praticamente
ignorando as agendas liberal ou nacionalista, a despeito da grande atenção dirigida
281
NOBRE, op. cit. p. 145-159.
282
ROCHA. “Menos Marx, mais Mises”. op. cit. p. 109-192.
283
NUNES, Felipe; TRAUMANN, Thomas. Biografia do abismo: como a polarização divide famílias,
desafia empresas e compromete o futuro do Brasil. Rio de Janeiro: HarperCollins Brasil, 2023. p.
126.
284
PRAZERES, Leandro. BBC News Brasil, 14 set. 2022. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62896472. Acesso em: 14 dez. 2023.
285
TEITELBAUM, Benjamin R. Guerra pela eternidade: o retorno do Tradicionalismo e a ascensão da
direita populista. Campinas: Editora da Unicamp, 2020. p. 223-232.
286
PASSOS, Paulo; HOUS, Débora Sögur. Internet supera TV em influência na eleição, Folha de S.
Paulo, 07 out. 2018, disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/internet-supera-tv-em-influencia-na-eleicao.shtml.
Acesso em: 07 fev. 2023.
92
287
ORTELLADO, Pablo; MORETTO, Márcio. Nota Técnica #03 - 40 dias da campanha de Jair
Bolsonaro. Monitor do Debate Político no Meio Digital, 25 set. 2018. Disponível em:
https://www.monitordigital.org/2018/09/25/nota-tecnica-03/. Acesso em: 07 fev. 2023.
288
NUNES; TRAUMANN. op. cit. p. 133-155.
289
NEONAZISTAS ajudam a convocar ‘ato cívico’ pró-Bolsonaro em São Paulo. UOL, 06 abr. 2011.
Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2011/04/06/neonazistas-ajudam-a-convocar-ato-civi
co-pro-bolsonaro-em-sao-paulo.htm. Acesso em: 07 fev. 2023. Em 2021, a antropóloga Adriana Dias
encontrou uma carta redigida pelo mandato parlamentar de Bolsonaro em 2004 publicada em três
diferentes sites neonazistas. DEMORI, Leandro. Pesquisadora encontra carta de Bolsonaro
publicada em sites neonazistas em 2004. The Intercept Brasil, 28 jul. 2021, disponível em:
https://theintercept.com/2021/07/28/carta-bolsonaro-neonazismo/. Acesso em: 07 fev. 2023.
290
VEJA 11 frases polêmicas de Bolsonaro. Folha de S. Paulo, 06 out. 2018, disponível em
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/veja-11-frases-polemicas-de-bolsonaro.shtml. Acesso
em 07 fev. 2023.
93
291
“NÃO tento agradar”, diz Bolsonaro, o deputado federal mais votado no RJ. G1, 6 out. 2014,
disponível em: http://glo.bo/1BJKcBm. Acesso em: 13 fev. 2023.
292
PODER 360. Bolsonaro cita Ustra no voto pelo impeachment de Dilma Rousseff. YouTube, 17 abr.
2021. Disponível em: https://youtu.be/WvN7nYxbH-o. Acesso em: 08 fev. 2023.
293
BILENKY, Thais. Viagem no vagão, revista piauí. ed. 162, mar. 2020. Disponível em:
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/viagem-do-vagao/. Acesso em: 08 fev. 2023.
294
TEITELBAUM. Guerra pela eternidade. op. cit. p. 17-44. e 201-209.
295
BILENKY. Viagem no vagão. op. cit.
296
Id. Bannon anuncia Eduardo Bolsonaro como líder sul-americano de movimento de direita
populista. Folha de S. Paulo, 01 fev. 2019, disponível em https://folha.com/vtra28iy. Acesso em: 08
fev. 2023.
94
Eduardo, em entrevista para o perfil escrito por Bilenky, justificou assim seu
interesse pela obra de Carvalho:
297
BILENKY. Viagem no vagão. op. cit.
298
BOLSONARO elogiou Chávez e disse não ser anticomunista em 99. Gazeta do Povo, 12 dez.
2017. Disponível em:
https://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/eleicoes-2018/bolsonaro-elogia-chavez-e-diz-nao
-ser-anticomunista-foi-em-99-mas-a-web-nao-perdoa-e7rbqjuflfudbw18w3dnbk5sc/. Acesso em: 22
fev. 2023.
299
BOLSONARO fala em combater ideologia de gênero; veja íntegra do discurso. UOL, 1 jan. 2019,
disponível em:
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/01/01/bolsonaro-fala-em-combater-ideologia-
de-genero-veja-integra-do-discurso.htm. Acesso em: 13 fev. 2023.
95
300
JAIR BOLSONARO. Jair Bolsonaro é eleito o 38º Presidente da República Federativa do Brasil!,
YouTube, 28 out. 2018. Disponível em: https://youtu.be/3gZ3WfVagoo. Acesso em: 07 fev. 2023.
301
DUARTE, Letícia. Bônus: Como o olavismo explica o bolsonarismo. In: PIRES, Carol. Retrato
Narrado. revista piauí & Spotify Studios, 18 nov. 2020. Podcast. Disponível em:
https://open.spotify.com/episode/1yeM1KrhNq06y5ck8Z4X4n?si=df0c899d0d144af2. Acesso em: 13
fev. 2023. Ver em 31:18
302
MARQUES, Hugo. A herança maldita de Olavo de Carvalho para o governo de Jair Bolsonaro,
Veja, 26 jan. 2022. Disponível em:
https://veja.abril.com.br/politica/a-heranca-maldita-de-olavo-de-carvalho-para-o-governo-de-jair-bolso
naro/. Acesso em: 13 fev. 2023.
303
COLETTA, Ricardo Della. Bolsonaro concede a Olavo de Carvalho condecoração igual à de
Mourão e Moro. Folha de S. Paulo, 01 mai. 2019. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/05/bolsonaro-concede-a-olavo-de-carvalho-condecoracao-i
gual-a-de-mourao-e-moro.shtml. Acesso em: 20 fev. 2023.
304
MATOS, Vitor; BARBIÉRI, Luis Felipe; MAZUI, Guilherme; D’AGOSTINO, Rosanne. Ex-juiz Sergio
Moro anuncia demissão e deixa o governo Bolsonaro. G1, 24 abr. 2020. Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/04/24/moro-anuncia-demissao-do-ministerio-da-justica-e-dei
xa-o-governo-bolsonaro.ghtml. Acesso em: 13 fev. 2023.
305
TRISOTTO, Fernanda. Citando dados errados, Bolsonaro critica IBGE e volta a colocar em dúvida
estatísticas de desemprego. O Globo, 09 abr. 2021. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/economia/emprego/citando-dados-errados-bolsonaro-critica-ibge-volta-coloc
ar-em-duvida-estatisticas-de-desemprego-24962630. Acesso em: 13 fev. 2023.
306
KRUSE, Tulio Kruse. Na era Bolsonaro, Inpe chega ao maior estágio de penúria de sua história.
Veja, 12 dez. 2021. Disponível em:
https://veja.abril.com.br/brasil/na-era-bolsonaro-inpe-chega-ao-maior-estagio-de-penuria-de-sua-histo
ria/. Acesso em: 13 fev. 2023.
96
315
ABREU, Allan de; RAMOS, Marcella. “Despetização’ de Onyx só tem 1% de petistas. revista piauí,
11 jan. 2019. Disponível em:
https://piaui.folha.uol.com.br/despetizacao-de-onyx-tem-so-1-de-petistas/. Acesso em 24 jan. 2023.
316
GODOY, Marcelo Godoy. Após apoio a Moro, bolsonaristas chamam Santos Cruz de comunista,
Estadão, 15 nov. 2021. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/politica/apos-apoio-a-moro-bolsonaristas-chamam-santos-cruz-de-comun
ista/. Acesso em: 13 fev. 2023.
317
NOBRE, Marcos. Ponto-final: a guerra de Bolsonaro contra a democracia. São Paulo: Todavia,
2020. p. 11-12.
318
QUINTINO, Larissa. Atos bolsonaristas bloqueiam estradas em 7 estados pelo país. Veja, 09 nov.
2022. Disponível em
https://veja.abril.com.br/economia/atos-bolsonaristas-bloqueiam-estradas-em-17-estados/. Acesso
em: 14 fev. 2023.
319
PERON, Isabela. Em menor número, bolsonaristas seguem acampados no quartel-general do
Exército mesmo após posse de Lula. Valor Econômico, 02 jan. 2023. Disponível em:
https://valor.globo.com/politica/noticia/2023/01/02/bolsonaristas-se-mantem-acampados-no-quartel-ge
neral-do-exercito-mesmo-apos-posse-de-lula.ghtml. Acesso em: 14 fev. 2023.
320
CARROS e ônibus incendiados, botijões de gás, ataque a delegacia e sede da PF: como foram os
atos de bolsonaristas radicais em Brasília. G1, 13 dez. 2022. Disponível em:
https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2022/12/13/como-foram-os-atos-de-bolsonaristas-radica
is.ghtml. Acesso em: 14 fev. 2023.
98
aeroporto de Brasília. O objetivo era "dar início ao caos" que levaria à "decretação
do estado de sítio no país", que por sua vez implicaria numa intervenção das Forças
Armadas.321 Em 8 de janeiro de 2023, já nos primeiros dias de governo Lula,
bolsonaristas invadiram as sedes dos três poderes em Brasília, destruindo quase
tudo que encontraram pela frente.322
O ensaísta Francisco Bosco escreveu sobre a experiência para a Folha de S.
Paulo especificamente acerca da vandalização das obras de arte presentes nesses
espaços, como peças de Di Cavalcanti, Burle Marx, Bruno Giorgi, Franz Krajcberg e
Victor Brecheret, que, note-se, nada têm a ver com aquelas repudiadas nos
episódios de 2017. No artigo, pergunta-se: “O que levou os bolsonaristas a expandir
sua fúria sobre essas obras de arte, com o requinte de ódio de urinar sobre o tapete
do maior entre nossos paisagistas, internacionalmente reconhecido?”. A resposta,
argumenta, passa pela compreensão da face cultural do bolsonarismo, inaugurada,
como vimos, pelo episódio do programa escolar anti-homofobia, em 2011. Num
artigo assinado pelo ex-chanceler em 2019,323 Bosco encontra um Ernesto Araújo
para quem o Brasil só existe enquanto projeto expansionista cristão, incapaz de ver
legitimidade em qualquer expressão de brasilidade, concebida aqui como sinônimo
da mestiçagem e do modernismo.324
O podcast Brasil Partido, da BBC Brasil, divulgou, pouco mais de uma
semana após os ataques, uma série de declarações de lideranças religiosas nas
redes sociais que incitam os fiéis/seguidores a não aceitarem o resultado das urnas
através de alegadas profecias que projetam, num cenário mais apocalíptico, a
destruição do Brasil ou, em outras versões mais realistas — como se viu logo
depois —, a depredação das casas do poder em Brasília. Enquanto parte do mundo
evangélico ensaiava um exercício de acomodação com a gestão petista, vários
pastores ou meros influenciadores digitais cristãos dobravam a aposta na
radicalização.325
321
BOLSONARISTAS são condenados por bomba em caminhão perto de aeroporto em Brasília.
Folha de S. Paulo, 11 mai. 2023. Disponível em: https://folha.com/cldv0zrk. Acesso em: 12 dez. 2023.
322
GABRIEL, João. Golpistas invadem áreas do Congresso, Planalto e STF. Folha de S. Paulo, 8 jan.
2023. Disponível em: https://folha.com/yqvdwrm7. Acesso em: 12 dez. 2023.
323
ARAÚJO, Ernesto. Agora falamos. New Criterion, jan. 2019. Disponível em:
https://newcriterion.com/issues/2019/1/agora-falamos. Acesso em: 13 fev. 2023.
324
BOSCO, Francisco. Face cultural do bolsonarismo explica destruição de obras de arte. Folha de
S. Paulo, 13 jan. 2023. https://folha.com/go05czvj. Acesso em: 13 fev. 2021.
325
FELLET, João. Guerra santa por Bolsonaro. In: _____. Brasil Partido. BBC News Brasil, 14 jan.
2023. Podcast. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/podcasts/p0cyhvny. Acesso em: 14
fev. 2023.
99
326
ALCÂNTARA, Thays. Vídeo de Olavo de Carvalho defendendo invasão inspirou bolsonaristas.
Metrópoles, 8 jan. 2023. Disponível em:
https://www.metropoles.com/brasil/video-de-olavo-de-carvalho-defendendo-invasao-inspirou-bolsonar
istas. Acesso em: 13 fev. 2023.
327
MENA, Fernanda. Entrevista: Comparar ataques em Brasília a Capitólio oculta dedo de militares,
diz antropólogo. Folha de S. Paulo, 14 jan. 2023. Disponível em https://folha.com/80octlnx. Acesso
em: 13 fev. 2023.
328
VEJA a situação dos militares envolvidos nos atentados golpistas que já foram identificados. O
Globo, 08 fev. 2023. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2023/02/veja-a-situacao-dos-militares-envolvidos-nos-atentad
os-golpistas-que-ja-foram-identificados.ghtml. Acesso em: 13 fev. 2023. Sobre a atuação de um dos
principais grupos de elite do Exército, ver ABREU, Allan de. Os kids pretos. piauí, 6 jun. 2023.
Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/teia-do-golpe/. Acesso em: 12 jun. 2023.
329
MUDDE, Cas. A extrema direita hoje. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2022. p. 67.
100
330
Ver, por exemplo: OLAVO DE CARVALHO. Facebook, 29 out. 2014. Disponível em:
https://www.facebook.com/carvalho.olavo/photos/h%C3%A1-muitos-homens-de-talento-alguns-bem-j
ovens-que-podem-de-um-momento-para-outro/396595373825876/?paipv=0&eav=AfYw7JCggDkEI4d
fKjMTekEr12GyyAaBsqXVpsrprapinmMMV8hfV5WUC_auYrL0SlI&_rdr. Acesso em: 20 fev. 2023; já
durante o governo Bolsonaro: OLAVO DE CARVALHO. Twitter, 7 abr. 2019. Disponível em:
https://twitter.com/opropriolavo/status/1114895361582215169. Acesso em: 20 fev. 2023.
331
DUARTE. Como o olavismo explica o bolsonarismo. op. cit. Ver em 12:00.
332
SUZUKI, Shin. Como Olavo de Carvalho influenciou radicalização bolsonarista que levou ao 8 de
janeiro. BBC News Brasil. 15 jan. 2023. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64256711. Acesso em: 22 fev. 2023.
333
OLAVETE. Olavo de Carvalho explica quem tem o poder no Brasil. YouTube, 17 nov. 2022.
Disponível em: https://youtu.be/rTgQ5uCTJbA. Acesso em: 22 fev. 2022.
101
337
CARVALHO, Olavo de. Império do fingimento. Sapientiam autem non vincit malitia, 20 jun. 2002.
Disponível em: https://olavodecarvalho.org/imperio-do-fingimento/. Acesso em: 30 mai. 2023.
338
TAGUIEFF, Pierre-André. La foire aux illuminés: ésoterisme, teorie du complot, extremisme. Paris:
Fayard/Mille et une nuits, 2005. p. 401 e seguintes.
339
MORGENSTERN, Flavio. O que raios é socialismo fabiano? Senso Incomum, 08 jul. 2017,
disponível em: https://sensoincomum.org/2017/07/08/o-que-raios-socialismo-fabiano/. Acesso em: 14
fev. 2022.
340
BRASIL PARALELO. O Reino do Terror Vermelho com Lucas Ferrugem. YouTube, 12 jun. 2019.
Disponível em: https://www.youtube.com/live/DGMay1kwETA?feature=share. Acesso em: 23 fev.
2023. 32:50.
103
344
BRASIL PARALELO. Descortinando o Teatro das Tesouras. YouTube, 23 mai. 2022. Disponível
em https://youtu.be/0EtSf5vnm4I. Acesso em: 19 ago. 2022.
345
Embora, do ponto de vista editorial, os principais jornais do Brasil — caso mais explícito do
Estadão — tenham continuado insistindo na tese de equiparação entre Lula e Bolsonaro, tomados
como ambos igualmente maléficos à democracia brasileira, os anos que se seguiram à ascensão de
Bolsonaro revelaram algumas conversões curiosas. A mais conhecida delas talvez seja a de
Reinaldo Azevedo, que em 2013 chegou a comparar a política urbanista do prefeito petista Fernando
Haddad em São Paulo ao Estado Islâmico (AZEVEDO, Reinaldo. Haddad é o Taliban de bicicleta; é o
Estado Islâmico sobre duas rodas. Veja, 20 nov. 2015. Disponível em:
https://veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/haddad-e-o-taliban-de-bicicleta-e-o-estado-islamico-sobre-du
as-rodas/. Acesso em: 25 dez. 2023.) e que passou a defender praticamente todas as teses petistas,
chegando a entrevistar Lula de modo totalmente leniente em 2021 (RÁDIO BAND NEWS FM. O É da
Coisa Especial - Reinaldo Azevedo entrevista Lula. YouTube, 1 abr. 2021. Disponível em:
https://youtu.be/vlvjciPQrq4. Acesso em: 25 dez. 2023). Outro é o do comentarista da GloboNews
Merval Pereira (BITTENCOURT, Julinho. Merval Pereira: “a vitória do Lula é a melhor solução para a
situação brasileira. Revista Fórum, 21 out. 2022. Disponível em:
https://revistaforum.com.br/midia/2022/8/21/merval-pereira-a-vitoria-do-lula-melhor-soluo-para-situao-
brasileira-122006.html. Acesso em: 25 dez. 2023).
346
BRASIL PARALELO. EP 1 - O Teatro das Tesouras | 1989. YouTube, 21 ago. 2018. Disponível em:
https://youtu.be/Ue77esm5Kqs. Acesso em: 1 jun. 2023.
105
Embora não seja exatamente uma novidade no Brasil do século XXI, chama
atenção o modo com que a produção se refere ao Partido dos Trabalhadores. A
moderação discursiva na campanha de Lula em 2002, por exemplo, é descrita como
resultado de uma mera manipulação estratégica do marqueteiro Duda Mendonça:
“assim a máfia petista se estabeleceu no poder”,350 diz o texto. Na abertura do
347
Como a candidatura de Silvio Santos foi oficializada somente na reta final do período eleitoral, não
houve tempo para que o TSE substituísse as cédulas de votação. Assim, o nome do candidato
anteriormente anunciado pelo Partido Municipalista Brasileiro (PMB), Armando Corrêa, fundador da
sigla, teve que ser mantido. As pesquisas mostravam que o apresentador era favorito. Mas, além de
PT e PDT, diretamente ameaçados pelo novo rival, o PRN de Collor também protestou. Por
unanimidade, a justiça eleitoral barrou a candidatura por considerar que o partido não havia realizado
o mínimo de convenções exigido por lei. Mas outras irregularidades também grassavam, como,
sobretudo, o fato de que Silvio Santos controlava uma rede de televisão. Uma matéria mais recente
da Folha explica o caso: BÄCHTOLD, Felipe. Candidatura de Silvio Santos levou eleição presidencial
à Justiça em 1989. Folha de S. Paulo, 18 fev. 2018. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/02/candidatura-de-silvio-santos-levou-eleicao-presidencial-
a-justica-em-1989.shtml. Acesso em: 1 jun. 2022.
348
EP 1 - O Teatro das Tesouras | 1989. op. cit.
349
BRASIL PARALELO. EP 2 - O Teatro das Tesouras | 1994. YouTube, 28 ago. 2018. Disponível em:
https://youtu.be/4aqhPpHlm1c. Acesso em: 13 dez. 2023. 16:13.
350
BRASIL PARALELO. EP 4 - O Teatro das Tesouras | 2002. YouTube, 10 dez. 2018. Disponível em:
https://youtu.be/UKsZUVVjRyU. Acesso em: 13 dez. 2023.
106
quinto episódio, Flavio Morgenstern diz que “o Mensalão foi um golpe totalitário”.351
Os minutos que se seguem sintetizam e unificam diferentes escândalos de
corrupção, atribuídos todos ao governo federal.
Mas o mais importante vem a seguir. Para o documentário, Geraldo Alckmin
teria deixado sua campanha esfriar no segundo turno da eleição de 2006. O texto
diz que o tucano “criticou Lula de maneira fraca e defensiva. Era como se ele
estivesse entregando a vitória ao petista”.352 Mais ainda, a tese sustentada pela
produtora é a de que FHC teria sido um dos pilares da reeleição de Lula: “o
ex-presidente concordou em tranquilizar a oposição para não criar uma divisão no
Brasil. Os tucanos aceitaram a ordem de FHC, e a ideia de derrubar o PT do
governo definhou”,353 diz o narrador. Depois, finalmente, é apresentado o
diagnóstico conclusivo: “as eleições de 2006 não foram disputadas por dois partidos
rivais. PT e PSDB agiram como aliados”.354
Nesse sentido, surpreende também a relação da série com a Operação Lava
Jato. O episódio 6 toma a corrupção no Brasil como endêmica e faz questão de
destacar que a Odebrecht, uma das maiores empreiteiras implicadas nas
investigações, também doou muitos recursos à campanha tucana.355 Enquanto as
esquerdas passaram anos tentando emplacar esse discurso para relativizar a
prática ou mesmo complexificar a avaliação sobre o escândalo revelado, a Brasil
Paralelo o toma como uma ilustração de sua teoria: “a eleição de 2010 não foi
disputada por rivais [esse início, note-se, repete a formulação do episódio anterior].
Serra e Dilma apenas disputavam a sua proporção de propina e, em troca,
governariam para quem pagasse mais”, diz o texto narrado.356
A primeira vez que a expressão “terceira via” — comum sobretudo desde a
consolidação dos blocos petista e bolsonarista no cenário eleitoral brasileiro — é
utilizada na série é durante o sexto episódio. Nele, Marina Silva e Plínio de Arruda
Sampaio ocupariam esse papel em 2010, minimizado graças à pregressa filiação de
ambos ao PT. É o que explicaria, segundo a BP, a ausência de alternativas reais a
petistas e tucanos, que por sua vez já seriam suficientemente semelhantes. A
351
BRASIL PARALELO. EP 5 - O Teatro das Tesouras | 2006. YouTube, 17 set. 2018. Disponível em:
https://youtu.be/3YbrdaoWLuY. Acesso em: 13 dez. 2023.
352
Ibid. 17:39.
353
Ibid. 20:50.
354
Ibid. 21:12.
355
BRASIL PARALELO. EP 6 - O Teatro das Tesouras | 2010. YouTube, 24 set. 2018. Disponível
em:https://youtu.be/ZmP1h7GKZ8o. Acesso em: 13 dez. 2023. 19:30.
356
Ibid. 21:09.
107
Neste caso, a aplicação da noção de uma estratégia das tesouras opera não
apenas como ferramenta diagnóstica, mas transformadora da realidade. Um
exemplo disso está no que aconteceu com o PSDB, principal força de oposição ao
PT durante todo primeiro ciclo do partido no poder. Durante todos os 13 anos de
governos petistas, os tucanos foram o seu principal antagonista, disputando o
segundo turno das eleições e liderando a oposição parlamentar no Congresso
357
Ibid. 7:56.
358
Descortinando o Teatro das Tesouras. op. cit.
359
LEIA a íntegra: primeiro pronunciamento de Bolsonaro após a derrota durou dois minutos. O
Globo, 1 nov. 2023. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2022/noticia/2022/11/leia-a-integra-primeiro-pronunciament
o-de-bolsonaro-apos-derrota-durou-dois-minutos.ghtml. Acesso em: 1 jun. 2023. Grifo meu.
108
Nacional. Em 2014, Aécio Neves chegou perto de derrotar Dilma Rousseff.360 Mas
não demorou muito para que a tradicional direita antipetista também fosse atingida
pela rejeição que, menos de dois anos depois, apeou o PT do poder.
Quando o Movimento Brasil Livre — cujas lideranças tinham participado da
campanha tucana pela presidência — descobriu que não teria a prometida presença
de Aécio Neves nos trechos finais da fracassada marcha para Brasília iniciada em
abril de 2015, publicou o seguinte protesto no Facebook: “o PSDB anunciou que não
vai aderir à pauta do impeachment, traindo assim os mais de 50 milhões de votos
adquiridos na última eleição dos brasileiros que apostaram nessa falsa oposição
que continua nos decepcionando todos os dias”.361 Geraldo Alckmin e Aécio Neves
apareceram nos protestos em favor do impeachment somente em 2016362 e
acabaram hostilizados: “você é lixo também”, captou o microfone da CBN apontado
para uma mulher que participava do ato e, assim como muitos dos colegas ao lado,
não aprovava a presença dos tucanos.363
Em 2017, a Lava Jato avançou sobre diversos personagens do establishment
antipetista e, junto à delação que tentou comprometer o presidente Michel Temer, os
irmãos Batista, sócios do gigante frigorífico JBS, implicaram também Aécio
Neves.364 Jair Bolsonaro, enquanto isso, estreitava laços com Olavo de Carvalho e,
embora ainda não despontasse como figura relevante no cenário eleitoral, já se
consolidava como o candidato favorito dos mais ricos.365 Durante a greve dos
360
APURAÇÃO 2º turno 2014. UOL, s/d. Disponível em:
https://placar.eleicoes.uol.com.br/2014/2turno/. Acesso em 11 jan. 2024.
361
Ver LIMONGI, Fernando. Operação impeachment: Dilma Rousseff e o Brasil da Lava Jato. São
Paulo: Todavia, 2023. p. 83. Grifo meu.
362
Embora tenha inflamado o discurso ao longo de 2015, Aécio manteve-se reticente quanto à
participação nas manifestações de rua pelo impeachment. Ao programa Pingos nos Is, da Jovem
Pan, o senador disse que não iria aos protestos de 15 de março “para não dar ideia de terceiro
turno”. AÉCIO diz que não irá à manifestação ‘para não dar ideia de 3º turno’. Estado de Minas, 11
mar. 2015. Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2015/03/11/interna_politica,626546/aecio-diz-que-nao-ira-a
-manifestacao-para-nao-dar-ideia-de-3-turno.shtml. Acesso em: 7 jun. 2023.
363
ALCKMIN e Aécio são hostilizados na chegada à manifestação na Paulista. G1, 13 mar. 2016.
Disponível em: http://glo.bo/1YOnsNW. Acesso em 29 jul. 2022.
364
BOMFIM, Camila. Conversa revela detalhes do acerto de R$ 2 milhões de Joesley com Aécio. G1,
18 mai. 2017. Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/operacao-lava-jato/noticia/conversa-revela-detalhes-do-acerto-de-r-2-mi-
de-joesley-com-aecio.ghtml. Acesso em 29 jul. 2022.
365
SILVA, Fernando Barros e. Entre os mais ricos, Bolsonaro lidera corrida presidencial. piauí, 18 abr.
2016. Disponível em
https://piaui.folha.uol.com.br/entre-os-mais-ricos-bolsonaro-lidera-corrida-presidencial/. Acesso em:
29 jul. 2022.
109
366
PINHEIRO-MACHADO, Rosana. A revolta da caçamba. Amanhã vai ser maior: o que aconteceu
com o Brasil e possíveis rotas de fuga para a crise atual. São Paulo: Planeta do Brasil, 2019. p.
53-63. Num dos relatos mais contundentes sobre a paralisação de caminhoneiros em 2018, a
antropóloga Rosana-Pinheiro Machado relativiza o apoio desses profissionais a Bolsonaro e chama
os pedidos por uma intervenção militar de “grito de socorro”. A relação do capitão reformado com a
categoria é complexa. Embora tenha apoiado a greve, Bolsonaro criticou os bloqueios de rodovias na
ocasião e chegou a pedir pelo fim do movimento quando Temer cedeu às demandas mais
programáticas. Um volume expressivo da categoria o endossou à presidência, mas diversas fissuras
nesse apoio foram se apresentando ao longo do mandato. Com a popularidade em baixa, o governo
passou a pagar um auxílio robusto aos profissionais a dois meses da eleição presidencial. Disponível
em: DALL’AGNOL, Luísa. Parcelas de R$ 1.000 do Auxílio Caminhoneiro começam em agosto; veja
datas. Veja, 27 jul. 2022.
https://veja.abril.com.br/coluna/radar/parcelas-de-r-1-000-do-auxilio-caminhoneiro-comecam-em-agos
to-veja-datas/. Acesso em: 29 jul. 2022.
367
MOURA, Maurício; CORBELLINI, Juliano. A eleição disruptiva: por que Bolsonaro venceu. Rio de
Janeiro: Record, 2019.
368
LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. How democracies die. Nova Iorque: Crown Publishing, 2018.
369
BARROS, Celso Rocha de. O Brasil e a recessão democrática. piauí, ed. 139, abr. 2018.
Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-brasil-e-recessao-democratica/. Acesso em 29
ago. 2022. A partir deste artigo, um bom debate se deu entre Celso Rocha de Barros, colunista da
Folha de S. Paulo e intelectual vinculado ao PT contrário ao impeachment, e os economistas de
orientação liberal Marcos Lisboa e Samuel Pessôa, com réplicas e tréplicas nas páginas da própria
revista. Ele deu origem a um livro organizado pelos dois últimos autores. LISBOA, Marcos; PESSÔA,
Samuel (orgs.). O valor das ideias: debate em tempos turbulentos. São Paulo: Companhia das
Letras: 2019.
110
370
LEVITSKY; ZIBLATT. op. cit. p. 11-32.
371
Id, ibid. p. 11-32.
372
Id, ibid. p. 21-24.
111
medidas, mais e menos recentes. Entre os mais, estão Áustria e França, em que
importantes coalizões foram formadas pelas forças democráticas para barrar o
extremismo já no final da segunda década do século XXI.373
Num artigo de outubro de 2021 para a revista piauí, o professor de Relações
Internacionais da FGV em São Paulo Oliver Stuenkel conta o que a República
Tcheca — outro exemplo nesse sentido — fez para frear a escalada autoritária de
Andrej Babiš. A estratégia é resumida em 6 pontos:
373
Produções como a de Levitsky e Ziblatt também receberam inúmeras críticas ao longo dos anos.
Para Marcos Nobre, por exemplo, “o elemento mais característico das posições hegemônicas no
debate atual em torno da ‘crise da democracia’ é um embaralhamento de ‘crise da democracia’ e
‘determinadas teorias da democracia’”. Com isso, o professor quer dizer que um dos efeitos dessa
confusão é sugerir que o único ponto de fuga das autocracias contemporâneas está em algum lugar
do passado, quando supostamente as democracias funcionavam bem. Neste caso, é como se o
populista autoritário fosse uma espécie de elemento intruso, quase acidental, o que parece pouco
lógico. NOBRE, Marcos. Limites da democracia: de junho de 2013 ao governo Bolsonaro. Todavia:
São Paulo, 2022. p. 68.
374
STUENKEL, Oliver. Como tirar um autocrata do poder. piauí, 19 out. 2021, Disponível em
https://piaui.folha.uol.com.br/como-tirar-um-autocrata-do-poder/. Acesso em 26 ago. 2022.
112
375
Uma das mais contundentes vozes nesse sentido foi a do filósofo Marcos Nobre, professor da
Unicamp e então presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Um exemplo
de sua abordagem pode ser conferido em NOBRE, Marcos. A frente ampla é para ontem. Le Monde
Diplomatique Brasil, 1 mar. 2021. Disponível em:
https://diplomatique.org.br/a-frente-ampla-e-para-ontem/. Acesso em: 30 ago. 2022.
376
ENTENDA por que líderes de esquerda não participam dos atos deste domingo. Exame, 12 set.
2021. Disponível em
https://exame.com/brasil/entenda-por-que-lideres-de-esquerda-nao-participam-dos-atos-deste-domin
go/. Acesso em: 30 ago. 2022.
377
ZANINI. Chapa Lula-Alckmin prova ‘teatro das tesouras’ criado por Lênin, dizem bolsonaristas. op.
cit.
378
BRASIL PARALELO. Lula e Alckmin, Facebook, 13 mai. 2022. Disponível em
https://www.facebook.com/brasilparalelo/videos/1861158570892779/. Acesso em 2 fev. 2023.
113
379
POR que querem censurar o conteúdo da Brasil Paralelo como se fosse um crime? Brasil
Paralelo, 3 mar. 2022. Disponível em:
https://www.brasilparalelo.com.br/noticias/censura-brasil-paralelo. Acesso em: 11 jan. 2024.
380
SAYURI, Juliana. Brasil Paralelo faz ‘guerra de edições’ e disputa narrativas na Wikipédia. TAB
UOL, 9 set. 2020. Disponível em:
https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/09/09/guerra-de-edicoes-a-disputa-politica-de-narrativas-
na-wikipedia.htm. Acesso em: 25 mai. 2023.
381
DUARTE, Letícia. Bônus: Como o olavismo explica o bolsonarismo. In: PIRES, Carol. Retrato
Narrado. revista piauí & Spotify Studios, 18 nov. 2020. Podcast. Disponível em:
https://open.spotify.com/episode/1yeM1KrhNq06y5ck8Z4X4n?si=df0c899d0d144af2. Acesso em: 13
fev. 2023. Ver em 41:16.
114
382
Ver COSTA, Ana Clara. Distanciamento social. piauí, set. 2021, n. 180. Disponível em:
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/distanciamento-social/. Acesso em: 25 mai. 2023.
383
Ver DIREITO de Resposta Brasil Paralelo. O Globo, 25 jun. 2019. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/politica/direito-de-resposta-brasil-paralelo-23761972. Acesso em: 25 mai.
2023.
384
ZANINI, Fábio. Brasil Paralelo reclama de ter anúncios classificados como políticos pelo Google.
Folha de S. Paulo, 12 jul. 2022. Disponível em: https://folha.com/s38k7bhu. Acesso em: 2 jun. 2023.
115
385
SANTOS, Mayara Aparecida Machado Balestro dos. Agenda conservadora, ultraliberalismo e
“guerra cultural”: “Brasil paralelo” e a hegemonia das direitas no Brasil contemporâneo (2016-2020).
147 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal
Cândido Rondon, 2021. p. 78-106.
386
GOMES, Pedro Henrique; BORGES, Beatriz; OLIVEIRA, Paloma. Após dois anos sem partido,
Bolsonaro se filia ao PL, nona legenda da carreira política. G1, 30 nov. 2021. Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/11/30/apos-dois-anos-sem-partido-bolsonaro-se-filia-ao-pl-n
ona-legenda-da-carreira-politica.ghtml. Acesso em: 1 jun. 2023.
387
Jair Bolsonaro participou, como entrevistado, da série Congresso Brasil Paralelo. RUDNITZKI,
Ethel; SCOFIELD, Laura; OLIVEIRA, Rafael. A boiada invade a tela. Agência Pública, 29 jul. 2021.
Disponível em: https://apublica.org/2021/07/a-boiada-invade-a-tela/. Acesso em: 1 jun. 2023.
388
ROXO, Sérgio; LEALI, Francisco. Eduardo Bolsonaro divulga documentário que defende a
ditadura. O Globo, 5 fev. 2019. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/politica/filho-de-bolsonaro-divulga-documentario-que-defende-ditadura-2343
1083. Acesso em: 29 mai. 2021.
389
COUTO, Marlen. Eduardo Bolsonaro pede que seguidores assinem canal conservador que já
compartilhou fake news sobre urnas eletrônicas. O Globo, 17 jun. 2020. Disponível em:
https://blogs.oglobo.globo.com/sonar-a-escuta-das-redes/post/eduardo-bolsonaro-pede-que-seguidor
es-assinem-canal-conservador-que-ja-compartilhou-fake-news-sobre-urnas-eletronicas.html. Acesso
em: 29 mai. 2023.
116
da empresa.390 E ele está longe de ser seu único entusiasta. Em abril de 2023, uma
pesquisa Genial/Quest registrou que a Brasil Paralelo figura como um dos principais
portais informativos entre eleitores de Bolsonaro.391
A produtora encampou diversas pautas caras ao bolsonarismo. Além da
pandemia, seu discurso também foi consonante na denúncia de uma suposta fraude
nas urnas eletrônicas, maior obsessão de Bolsonaro desde a declaração de
elegibilidade do ex-presidente Lula, em 2021.392 Em O Teatro das Tesouras, diz-se
que “a apuração dos votos [em 2014] foi feita de maneira secreta. E não teve a
participação de nenhum integrante do PSDB”. E é de Olavo de Carvalho a maior
citação sobre o tema:
Não precisa ter havido fraudes aqui e ali. Apuração secreta é fraude.
Se você não tem meios de verificar os votos, pronto e acabou. Não é
válido. A apuração secreta simplesmente não é válida. O sistema
hegemônico chegou a tal ponto que o pessoal aceitou isso. Então
entra naquele negócio do Stálin falando “não interessa quem vota;
interessa quem conta os votos. E eles mesmos contratam parece que
23 pessoas apenas. Então o sistema é fraudulento em si. Não precisa
ter havido fraudes pontuais para piorar o negócio.393
390
ROMANO, Giovanna. Eduardo Bolsonaro estuda história em canal acusado de ‘fake news’. Veja,
15 out. 2019. Disponível em:
https://veja.abril.com.br/politica/eduardo-bolsonaro-estuda-historia-em-canal-acusado-de-fake-news.
Acesso em: 29 mai. 2023.
391
NUNES, Felipe; TRAUMANN, Thomas. Biografia do abismo: como a polarização divide famílias,
desafia empresas e compromete o futuro do Brasil. Rio de Janeiro: HarperCollins Brasil, 2023. p.
53-54.
392
RIBEIRO, Amanda; MENEZES, Luis Fernando. Como a desinformação sobre urnas abasteceu a
artilharia de Bolsonaro contra o sistema eleitoral. Aos Fatos, 6 jun. 2022. Disponível em:
https://www.aosfatos.org/noticias/desinformacao-urnas-abasteceu-artilharia-bolsonaro-contra-sistema
-eleitoral/. Acesso em: 29 mai. 2023.
393
BRASIL PARALELO. EP 7 - O Teatro das Tesouras | 2014. YouTube, 1 out. 2018. Disponível em:
https://youtu.be/lsHYv9euzv8. Acesso em: 13 dez. 2023. 31:22.
117
Ana Prudente, do Partido Trabalhista Cristão (PTC), então candidata ao Senado por
São Paulo, se indignou com a soma de sete mil votos recebidos e resolveu botar a
boca no trombone. A reclamação poderia ter passado despercebida não fosse a
atenção recebida justamente por Olavo.394
No episódio derradeiro de O Teatro das Tesouras, Jair Bolsonaro aparece
discursando na tribuna da Câmara: “Mas tem algo que está na cabeça do povo. Eles
não acreditam nas nossas urnas eletrônicas. Assim sendo, eu tenho já o apoio de
alguns líderes, a emenda número 10 permite o voto impresso ao lado da urna
eletrônica”.395 Se em 2018 o tema ainda parecia mais coadjuvante — até porque
Bolsonaro liderou as pesquisas desde a impugnação da candidatura de Lula —, em
2022 o sistema eleitoral tornou-se nevrálgico para a direita bolsonarista. O
presidente insistiu no assunto durante o exercício do mandato e não poupou
esforços para descredibilizar a contagem de votos. Consumada a derrota de
Bolsonaro, em 2022, o seu partido, o PL, encorajado pelo aumento da desconfiança
sobre o sistema eleitoral,396 ingressou com uma ação no TSE reivindicando a
anulação de votos em milhares de urnas tidas com “problemas crônicos de
desconformidade irreparável no seu funcionamento”.397
Além da série, que explorou a questão tangencialmente, a Brasil Paralelo
também se engajou no tema com outras intervenções específicas, como na
produção Operação Antifraude, publicada também em 2018. Na chamada de
divulgação, Hugo César Hoeschl diz que o risco de fraude nas eleições de 2014 foi
estimado por “estudos com reconhecimento internacional” em 73,14%. Hoeschl,
invocando o argumento de autoridade, se apresenta como “PhD em inteligência
aplicada e pós-doutor em governo eletrônico”. Como também debatemos
anteriormente, o âncora diz que a missão dos espectadores é compartilhar a
mensagem.398
394
LIMONGI. op. cit. p. 59-72.
395
Ibid. Ver em 31:05.
396
BORBA, Felipe; DUTT-ROSS, Steve. Quem (não) confia nas urnas eletrônicas. Insight
Inteligência, ed. 96, s/d. Disponível em:
https://inteligencia.insightnet.com.br/quem-nao-confia-nas-urnas-eletronicas/. Acesso em: 1 jun.
2023.
397
ROCHA, Marcelo; GALF, Renata. Moraes nega ação do PL sobre urnas e condena partido a pagar
R$ 23 milhões por má-fé. Folha de S. Paulo, 23 nov. 2022. Disponível em: https://folha.com/o9limg0f.
Acesso em 2 dez. 2022.
398
O vídeo foi excluído do canal oficial da produtora, mas um link arquivado dele está disponível em
BRASIL PARALELO. Urnas eletrônicas | Operação antifraude. YouTube/Internet Archive, 4 out. 2018.
Disponível em:
118
https://web.archive.org/web/20181011074208/https://www.youtube.com/watch?v=FgpYrXN00Sw.
Acesso em: 30 mai. 2023.
399
COSTA, Ana Clara. A teia do golpe de 8 de Janeiro. piauí, ed. 201, jun. 2023. Disponível em:
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/teia-do-golpe/. Acesso em: 12 jun. 2023.
400
Ciente, a Brasil Paralelo pediu desvinculação. REZENDE, Constança. Folha de S. Paulo, 16 nov.
2022. Disponível em: https://folha.com/5fc792vo. Acesso em: 12 jun. 2023.
401
ZANINI, Fábio. Trilogia destrincha ascensão da direita e discute seu futuro após queda de
Bolsonaro. Folha de S. Paulo, 23 mar. 2023. Disponível em: https://folha.com/bul0ir2k. Acesso em: 12
jun. 2023.
402
O QUE é homeschooling e como funciona? 8 benefícios em relação às escolas. Brasil Paralelo, 30
mai. 2022. Disponível em: https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/o-que-e-homeschooling. Acesso
em: 23 ago. 2023.
403
A live acabou excluída, mas a conta “Brasil para lerdos”, crítica da produtora, publicou um
printscreen da atividade. BRASIL PARA LERDOS. Twitter, 25 abr. 2023. Disponível em:
https://twitter.com/brparalerdo/status/1651007430526992386. Acesso em 11 jan. 2024.
119
404
PL das fake news: 3 pontos para entender disputa entre governo e Google. BBC News Brasil, 2
mai. 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/crg2jx75y40o. Acesso em: 30
mai. 2023.
405
BRASIL Paralelo esclarece participação em evento com Lula. Gazeta do Povo, 29 set. 2022.
Disponível em:
https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/brasil-paralelo-esclarece-participacao-em-evento-co
m-lula/. Acesso em: 2 jun. 2023.
120
Em 1948, Lucien Febvre queixou-se de que “não temos uma história do amor,
da morte, da piedade, da crueldade, da alegria”. É basicamente esse o projeto
assumido pela Nova História, que se deslocou das bases econômicas para o que
Marx chamava de “superestrutura”, num movimento que Le Roy Ladurie sintetizou
como “do porão ao sótão”. Essa geração de historiadores ampliou significativamente
o universo de temas e abordagens na história, que se aproximou — ou reaproximou
— de outras áreas importantes do conhecimento, como a psicologia, a antropologia
e até a informática, que ainda dava os seus primeiros passos.406
As relações entre história e memória não são, claro, uma invenção desse
processo de renovação. Boa parte dos escritores que levaram o título de
historiadores foi, na verdade, composta por memorialistas. E foi daí que surgiram os
primeiros escritos na Antiguidade. Mas é verdade que, com o processo de
cientificização da história no século XIX, o uso da memória como fonte tornou-se
obsoleto. Para os expoentes da história metódica, interessava a materialidade dos
documentos escritos, especialmente os oficiais, para dar conta da arrojada — e,
admitiu-se depois, impossível — tarefa de descrever os fatos com objetividade para
constituição da “verdade histórica”. A memória, imprecisa e subjetiva demais, não
servia a esses interesses. Não por acaso, vem da sociologia durkheimiana de
Maurice Halbwachs no primeiro quarto do século XX a principal obra de referência
para os historiadores engajados na questão da memória a partir da Nova História.407
Sem dúvidas, esse reencontro só foi possível graças a um exercício de
distinção mais clara entre história e memória. Em linhas gerais, enquanto a história
é um exercício intelectual que se volta ao passado para responder a inquietações do
presente a partir da análise crítica — e fundamentada por um método — de
vestígios deixados por esse passado, a memória é um conhecimento que se
fundamenta em lembranças ou relações de poder sem o escrutínio
metodologicamente orientado das fontes, tendendo a glorificar ou demonizar, graças
ao seu potencial fortemente afetivo, fragmentos do passado de acordo com
interesses do presente.
406
BURKE, Peter. A revolução francesa da historiografia: a escola dos Annales (1929-1989). São
Paulo: Editora da Unesp, 1991. p. 57-76.
407
Id, ibid. p. 24-25.
121
408
Um excelente balanço didático dessa relação, sintetizado aqui, pode ser conferido em LEITURA
OBRIGAHISTÓRIA. Qual a diferença entre memória e história? YouTube, 20 jul. 2017. Disponível
em: https://youtu.be/XRDzvuc4AAU. Acesso em: 5 jun. 2023.
409
CATROGA, Fernando. Memória, história e historiografia. Rio de Janeiro: FGV, 2015. p. 16-20.
410
Id, ibid.
122
sociais porque sugere que a memória é algo que está acima dos indivíduos, como
se fosse deles independente. Há quem prefira falar em “memórias compartilhadas”,
porque “sobrepostas, fruto de interações sociais múltiplas, que acontecem dentro de
marcos sociais e relações de poder”.411
Em Memória e Identidade, Joel Cändau parte em defesa de Halbwachs,
minimizando a possibilidade de confusão entre memórias individuais e coletivas ao
sustentar que as duas primeiras modalidades de memória, a protomemória e a
memória propriamente dita, não podem ser externalizadas. Para Cändau, a
protomemória é aquela fruto do habitus e fonte do agir nas pequenas atitudes do
cotidiano. A memória propriamente dita, segundo o autor, enfatiza a lembrança e a
recordação. A metamemória, por sua vez, define as representações que o indivíduo
produz do que recorda. É a terceira que acentua, diz o autor, as características
inerentes às memórias coletiva e histórica. O próprio Halbwachs revisou sua
posição adiante e admitiu a interiorização da própria experiência do tempo social,
abrindo as portas para a memória pessoal na socialização e transformação do que
cada sujeito recebe como herança. Há, portanto, um papel de destaque do indivíduo
no processo criador do habitus como se cada eu fosse formado por duas
personalidades unificadas pela dialética entre a inclusão e a exclusão, entre a
mesmidade e alteridade.412
No passado, Santo Agostinho havia centrado a recordação na alma, a
medida do tempo. O tempo, por sua vez, é experienciado em Agostinho como a
tensão entre a lembrança e as saudades do futuro. Foi a inauguração de um modo
de pensar que inscreveu a memória a um olhar interior. Mas, conforme destaca
Catroga, “a relação com o passado não se esgota numa evocação em que o eu se
evoca a si mesmo como um outro que já foi (embora a sua coerência narcísica
tenda a escamotear esta diferença temporal, em nome da onipresença da
mesmidade em todas as fases da vida)”.413 Desta forma, a recordação envolve
sujeitos diferentes, mesmo para tornar-se mais verossímil, “e a consciência do eu”,
segue Catroga, “se constrói em relação com camadas memoriais adquiridas” e
estas “só se formam a partir de narrações contadas por outros, o que prova que a
memória é um processo relacional e intersubjetivo”.414
411
Qual a diferença entre memória e história. op. cit. 10:30.
412
CÄNDAU, Joel. Memória e identidade. Campinas: Contexto, 2011.
413
CATROGA, op. cit. p. 17.
414
Id, ibid. p. 18
123
415
Id, ibid. p. 19.
416
Id, ibid.
417
Id, ibid.
418
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n.
3, 1989, p. 3-15.
124
419
CATROGA, op. cit. p. 55-56.
125
420
RIVEIRO, Felipe. Nazistas nos bancos dos réus: há 77 anos, começava o julgamento de
Nuremberg. Aventuras na História, 20 nov. 2021. Disponível em:
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/ha-76-anos-comecava-o-julgamento-de-nu
remberg.phtml. Acesso em: 9 jun 2023.
421
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Depois de “depois de aprender com a história”, o que fazer com o
passado agora. In: NICOLAZZI, Fernando; MOLLO, Helena Miranda; ARAUJO, Valdei Lopes de
(orgs.). Aprender com a história?: o passado e o futuro de uma questão. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2011. p. 25-42.
422
MORAES, Everton de Oliveira; CLETO, Murilo Prado. A última cruzada: tempo e historicidade na
série da produtora Brasil Paralelo. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 15, n. 38, e0108, abr. 2023.
p. 3-4.
126
Chegamos até aqui. A nossa trajetória tem nome. E cada vez que
olhamos para trás, lembramos de cada personagem que construiu o
palco de nossas vidas. Temos a oportunidade de escolher nossas
referências, aprender com os nossos erros e elevar a nossa moral.
Em algum lugar, sempre haverá o panteão daqueles que nos
trouxeram até aqui. Lá estão as paixões, os méritos, os sacrifícios e
todo heroísmo da humanidade. Não foi fácil. A preservação desse
lugar cabe a nós. Não podemos deixar que roubem os degraus da
nossa civilização. Sempre que estivermos perdidos e sem saber para
onde ir, eles estarão lá, de braços abertos, para nos contar tudo que
sacrificaram para dar um passo além do que parecia possível. Não se
trata apenas de não esquecermos de onde viemos. Se trata de não
esquecermos para onde estamos indo. Nos momentos mais difíceis, a
história deve ser lembrada.423
Por outro lado, a mesma série localiza o que seriam, para a produtora, as
origens da decadência civilizacional no Ocidente. O terceiro episódio, “A Guilhotina
da Igualdade”, desvia da rota que até então reconstituía o passado brasileiro para
localizar o que seriam as origens da mentalidade revolucionária da esquerda. Entre
as conclusões mais eloquentes, está a de que a ascendência jacobina impediria as
esquerdas de adotarem qualquer outra conduta que não seja inerentemente violenta
e destrutiva.425
423
BRASIL PARALELO. Capítulo 1 - A Cruz e a Espada | Brasil - A Última Cruzada. YouTube, 19 set.
2017. Disponível em: https://youtu.be/TkOlAKE7xqY. Acesso em: 13 dez. 2023. 47:04.
424
Ibid. 03:07.
425
MORAES; CLETO. op. cit. p. 14.
127
8. NEGACIONISMO E REVISIONISMOS
426
TRUMP fala em injeção de desinfetante contra coronavírus e médico rebate: ‘irresponsável e
perigoso’. G1, 24 abr. 2020. Disponível em:
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/04/24/trump-fala-em-injecao-de-desinfetante-contra-coronav
irus-e-medico-rebate-irresponsavel-e-perigoso.ghtml. Acesso em: 29 mai. 2023.
427
NY registra aumento de intoxicação por desinfetante após sugestão de Trump. Exame, 26 abr.
2020. Disponível em:
https://exame.com/mundo/ny-registra-aumento-de-intoxicacao-por-desinfetante-apos-sugestao-de-tru
mp/. Acesso em: 29 mai. 2023.
428
PINTO, Ana Estela de Souza. Com ‘lei do coronavírus’, premiê húngaro obtém poderes ilimitados
para governar. Folha de S. Paulo, 30 mar. 2020. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/03/primeiro-ministro-da-hungria-obtem-poder-para-govern
ar-por-decreto.shtml. Acesso em 25 mai. 2023.
129
429
BRITO, Adriane Sanctis de; MENDES, Conrado Hübner; SALES, Fernando Romani; AMARAL,
Mariana Celano de Souza; BARRETO, Marina Slhessarenko. O caminho da autocracia: estratégias
atuais de erosão democrática. São Paulo: Tinta-da-China Brasil, 2023. p. 52-56.
430
LIPSTADT. Deborah. Negação: uma história real. São Paulo: Universo dos Livros, 2017.
130
direitos humanos reagiram e uma verdadeira batalha judicial se estendeu até o ano
de 2003, quando, depois de quase um ano de análise, o Supremo Tribunal Federal
finalmente condenou Ellwanger a dois anos de prisão pela prática de racismo —
embora a pena tenha sido convertida em serviços comunitários.431
Já em 2023, no contexto da escalada no conflito Israel-Hamas após o 7 de
Outubro, o governo estadual de São Paulo, comandado por Tarcísio de Freitas —
eleito sob forte recomendação de Bolsonaro —, sancionou lei que proíbe
professores de ensinarem o holocausto a partir de um ponto de vista negacionista:
“O Holocausto tem dimensão única, a ele não cabe diferentes interpretações dos
fatos ocorridos”, conforme justificaram os deputados autores do projeto.432 Esses
episódios demonstram como esse é um debate que dificilmente vai permanecer
restrito ao ambiente acadêmico.
Para o historiador Mateus Pereira, a negação é a “contestação da realidade,
fato ou acontecimento que pode levar à dissimulação, à falsificação, à fantasia, à
distorção e ao embaralhamento”. “Em geral”, explica, “percebemos uma
dissimulação e uma distorção da factualidade que, ou procura negar o poder de veto
das fontes, ou fabrica uma retórica com base em ‘provas’ imaginárias e/ou
discutíveis/ manipuladas”. O negacionismo, para ele, seria a “radicalização da
negação e/ou do revisionismo”, ou seja, a própria “falsificação do fato”.433
Essa é uma definição bastante ampla e que não tem uma bandeira ideológica
específica. O negacionismo, portanto, não precisa ser entendido apenas como a
negação absoluta da existência de determinados acontecimentos (por exemplo, que
o holocausto não teria existido), mas também distorções que servem para falsificar
eventos que são consensualmente reconhecidos como existentes. Irving mesmo
não negava a existência dos campos de concentração, mas tão somente o
massacre perpetrado contra os judeus no interior das câmaras de gás.
Símbolo dos desafios à frente das sociedades contemporâneas, uma questão
não trivial é perceber a linha que separa o erro — afinal historiadores e intelectuais
431
CALDEIRA NETO, Odilon. Memória e justiça: o negacionismo e a falsificação da história.
Antíteses, v. 2, n. 4, p. 1097-1123, jul.-dez. 2009.
432
TARCÍSIO sanciona lei que proíbe professores de ensinarem Holocausto de um ponto de vista
negacionista. Terra, 30 out. 2023. Disponível em:
https://www.terra.com.br/noticias/educacao/tarcisio-sanciona-lei-que-proibe-professores-de-ensinare
m-holocausto-de-um-ponto-de-vista-negacionista,ab6557844fbeb15fc2cfb6f42c44f6fcw4x84mxz.html.
Acesso em: 10 dez. 2023.
433
PEREIRA, Mateus. Nova direita? guerras de memória em tempos de Comissão da Verdade
(2012-2014). Varia História, Belo Horizonte, v. 31, n. 57, p. 863-864, dez. 2015.
131
434
CALDEIRA NETO, op. cit.
435
Ele utiliza o termo “revisionismo”, que será debatido a seguir. VIDAL-NAQUET, Pierre. Os
assassinos da memória: “Um Eichmann de papel” e outros ensaios sobre o revisionismo. Campinas:
Papirus, 1988. p. 11.
436
TRAVERSO, Enzo. O passado, modos de usar: história, memória e política. Edições Unipop:
Lisboa, 2012. p. 149-164.
437
HABERMAS, Jürgen. Tendências Apologéticas. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n.
25, out. 1989, p.16-27.
438
NAPOLITANO, Marcos. Negacionismo e revisionismo histórico no século XXI. In: PINSKY, Jaime;
PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). Novos combates pela história. São Paulo: Contexto, 2021. p.
85-111.
132
perspectiva liberal contemporânea.439 Aqui, mais uma vez, cabe o reforço de que
essa não se trata de uma prática exclusiva das direitas. É amplamente conhecido o
esforço revisionista de historiadores brasileiros entre as décadas de 1960 e 1980
para oferecer uma explicação “anti-imperialista” para a Guerra do Paraguai, tratando
Solano López como um desafiante da hegemonia britânica no século XIX.440
E, por fim, também haveria o revisionismo “fecundo”, que teria duas
expressões inter-relacionadas. “Revisionismo” é um termo que foi muito utilizado no
interior do movimento socialista alemão no fim do século XIX a partir de uma
querela bastante usual no campo da esquerda marxista, a relação entre teoria e
prática. Aqui, o termo não apresenta conotação negativa alguma. Nenhum dos
revisionistas foi expulso do partido graças às suas teses. Essa é uma realidade que
só mudaria décadas mais tarde, com a consolidação do Estado soviético, que
passou a tomar a ideia de revisionismo quase como sinônimo de traição.441
Sem dúvidas, essa última expressão também tem a ver com a própria
natureza da atividade historiográfica, que é a produção de novos olhares acerca de
fenômenos já conhecidos do passado, seja através da descoberta de novas fontes,
da adoção de novos procedimentos metodológicos e/ou através de novas
interpretações, que são parte fundamental do trabalho de pesquisa nas ciências
humanas. Sabe-se que a monumental história do medo de Jean Delumeau, por
exemplo, pela qual clamou Lucien Febvre em 1948, só foi possível graças a uma
nova perspectivação sobre a Europa medieval tardia e moderna pela geração das
Mentalidades, que recorreu a diálogos interdisciplinares inéditos, como com a
psicologia, e a aspectos tradicionalmente ignorados pela historiografia profissional
em fontes razoavelmente bem conhecidas dos acadêmicos.442 Como a história só
acontece como um movimento do presente em direção ao passado, é natural que o
aparecimento de novos interesses acabe por instigar novas perguntas para os
vestígios disponíveis para escrutínio.
Esses novos olhares também podem subsidiar decisões políticas do presente
que eventualmente têm o potencial de corrigir injustiças e mudar o rumo da história,
não só para trás, como também para frente. Vale lembrar que, na França, os
439
TRAVERSO, op. cit.
440
MARTINS, Giovanna de Oliveira. Guerra do Paraguai: diferentes perspectivas e interpretações
historiográficas. O Cosmopolítico. v. 4, n. 1, p. 98-107, dez. 2016.
441
TRAVERSO, op. cit.
442
DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
133
443
TRAVERSO, op. cit.
444
VIDAL-NAQUET. op. cit.
445
BEN ABRAHAM. Programa Silvia Poppovic debate Neonazismo parte 1. YouTube, 2 out. 2020.
Disponível em: https://youtu.be/tBGG0Gr-j0s. Acesso em: 18 mai. 2023.
134
451
AS GUERRAS de Palmares. Criação: Luiz Bolognesi. Brasil: Buriti Filmes, 2019. 26 min, son.,
color. Temporada 1, episódio 2. Série exibida pela Netflix Brasil. Disponível em:
https://www.netflix.com/title/81091385. Acesso em: 25 mai. 2023.
452
GONÇALVES, Géssica Brandino. Portugueses nem pisaram na África, diz Bolsonaro sobre
escravidão. Folha de S. Paulo, 31 jul. 2018. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/07/portugueses-nem-pisaram-na-africa-diz-bolsonaro.shtm.
Acesso em: 25 mai. 2023.
136
série documental Brasil - A Última Cruzada, que exprime bem sua forma de
enxergar o fenômeno e relacioná-lo com o presente.
137
453
CASARÕES, Guilherme; MAGALHÃES, David. The hydroxychloroquine alliance: how far-right
leaders and alt-science preachers came together to promote a miracle drug. Revista de
Administração Pública. Rio de Janeiro v. 55(1), jan.-fev., 2021. p. 197-214.
454
E se o 6 de Janeiro tivesse dado certo? Essa é a pergunta que motivou os americanos Alan
Jenkins e Gan Golan a produzir uma graphic novel distópica que projeta um segundo governo Trump,
com uma estátua de ouro maciço do presidente erguida e milicianos patrulhando as ruas de
Washington DC e reprimindo a resistência civil sob a bandeira confederada. DAVIES, Dominic. What
if the January 6 insurrection at the US Capitol had succeeded? A graphic novel is uniquely placed to
answer. The Conversation, 6 jan. 2023. Disponível em:
https://theconversation.com/what-if-the-january-6-insurrection-at-the-us-capitol-had-succeeded-a-grap
hic-novel-is-uniquely-placed-to-answer-197330. Acesso em: 14 dez. 2023.
455
MORAES, Everton de Oliveira; CLETO, Murilo Prado. A última cruzada: tempo e historicidade na
série da produtora Brasil Paralelo. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 15, n. 38, e0108, abr. 2023.
p. 18.
138
brasileira, nos anos 1850, está diretamente relacionada a uma perspectiva de futuro.
Varnhagen foi protegido de D. Pedro II e cumpriu bem a missão de produzir uma
história sem dissensos, de orgulho nacional e, sobretudo, de formatação de uma
identidade brasileira assentada sobre os pilares erigidos pelos colonizadores
portugueses, tornando o Brasil independente mera continuidade de um projeto
iniciado pela Coroa.459
Para Olavo de Carvalho, já no primeiro episódio, que delimita os anseios da
iniciativa, “a história é a própria identidade nacional” e, ainda, “a identidade nacional
é a memória coletiva de feitos realizados em comum, que dão às pessoas um senso
da retaguarda das suas próprias vidas, da origem dos seus sentimentos e
valores”.460 O cronotopo historicista, segundo Estevão Martins, coloca o presente em
perspectiva através do passado vislumbrado e de um futuro ainda a ser realizado.461
Buscando “se resguardar da instabilidade provocada pela ‘aceleração do tempo’”,
típica da modernidade, essa narrativa historicizada é marcada, nos termos de
Marcelo Rangel e Thamara Rodrigues, “por uma espécie de recurso derradeiro à
ideia de progresso”.462 Aqui, uma vez mais, cabe recuperar o debate sobre a filosofia
da história desenvolvida por Olavo, para quem o cristianismo instaurou, ao
apropriar-se do legado greco-romano, um caminho para o progresso da civilização
ocidental. Essa busca pela constituição de uma ética humana universalizável,
note-se, é elemento chave de distinção entre seu pensamento e outros intelectuais
orientados pelo Tradicionalismo, a exemplo de Alexandr Dugin, como vimos
anteriormente.
Como em outras produções nesses moldes, há um festival de etnocentrismo.
As Cruzadas medievais são o ponto de partida para essa narrativa justamente
porque o objetivo da série é inscrever a história do Brasil nessa ofensiva
civilizacional do Ocidente, primeiro com a Reconquista do continente europeu —
através de uma perspectiva maniqueísta que opõe árabes muçulmanos bárbaros
aos europeus civilizados — e, depois, com a própria colonização. De acordo com
Rafael Nogueira, “a civilização ocidental é o ponto mais alto que a humanidade
459
REIS, José Carlos. As identidades do Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 23-50.
460
A Cruz e a Espada. op. cit. 3:50.
461
MARTINS, Estevão Rezende. Historicismo: o útil e o desagradável. In: VARELLA, Flávia; et. al
(orgs.). A Dinâmica do Historicismo: Revisitando a historiografia moderna. Belo Horizonte: Fino
Traço, 2011. p. 17.
462
RANGEL, Marcelo de Mello; RODRIGUES, Thamara de Oliveira. História e modernidade em Hans
Ulrich Gumbrecht. Revista Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, Rio de Janeiro, v.
4, n. 1, p. 63-71, 2012.
140
chegou até agora, e o Brasil é fruto disso”. Esses juízos, claro, também se voltam
contra os indígenas no país. Para Thomas Santos, a historiografia teria
negligenciado um conjunto de evidências robustas sobre a brutalidade dos povos
originários. “Uma sociedade que tem esse costume”, Olavo então o complementa,
“não é um primor de moralidade”. De acordo com ele, “o parâmetro ocidental é
racionalmente defensável. Você tem dois milênios de tradição, de argumento,
exame, análise etc. e etc. E a cultura indígena não tem sequer alfabeto”.463
Para Narloch, a culpa desse atraso civilizacional seria do isolamento vivido
pelos indígenas:
463
BRASIL PARALELO. Capítulo 2 - A Vila Rica | Brasil - A Última Cruzada. YouTube, 18 out. 2017.
Disponível em: https://youtu.be/svViHH8IBVg. Acesso em: 13 dez. 2023. 29:19.
464
Ibid. 9:45.
465
Ibid. 28:55.
466
ARAUJO, Valdei. A experiência do tempo: conceitos e narrativas na formação nacional brasileira
(1813-1845). São Paulo: Aderaldo e Rothschild, 2008. p. 160 e seguintes.
467
A Vila Rica. op. cit. Ver entre 41:33 e 42:56.
141
468
LEMOS, Flávio. Veja a importância da Batalha dos Guararapes. Brasil Paralelo, 8 set. 2022.
Disponível em: https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/batalha-dos-guararapes. Acesso em: 22 mai.
2023.
469
A Vila Rica. op. cit. 29:19.
470
BRASIL PARALELO. Capítulo 4 - Independência ou Morte | Brasil - A Última Cruzada. YouTube,
21 dez. 2017. Disponível em:https://youtu.be/YpjDmTdsJac. Acesso em: 13 dez. 2023. 39:21.
471
BRASIL PARALELO. Capítulo 5 - Brasil - O Último Reinado | Brasil - A Última Cruzada. YouTube,
20 mar. 2018. Disponível em: https://youtu.be/J8hnQcNyoXU. Acesso em: 13 dez. 2023. 4:56.
472
A Cruz e a Espada. op. cit. 11:10.
473
Um deles, também publicado pelo site Mídia Sem Máscara, de Olavo de Carvalho, pode ser
conferido em RIBEIRO, Daniel. Legítima defesa: uma questão de dignidade. Instituto Defesa, 9 mai.
142
É sob essa perspectiva que deve ser compreendida a relação da série com a
escravidão negra. Apesar de ter ocupado oficialmente três séculos e meio da
história do Brasil, a escravização de africanos e seus descendentes ocupa pouco
espaço na produção. Cerca de 20 minutos, entre o segundo e o quinto episódios, a
abordam, mas com dois principais objetivos. O primeiro deles consiste em combater
a historiografia profissional dedicada ao tema, tida como excessivamente simplista
ao analisar o fenômeno. Para relativizar sua brutalidade no país, a Brasil Paralelo
detalha aspectos envolvendo a escravidão praticada por muçulmanos na África.
Olavo de Carvalho diz que:
Aqui, mais uma vez, é acionado o dispositivo pelo qual as novas direitas
radicais buscam se colocar nesse debate. É insistente a menção à escravização de
negros por outros negros. Ao escalar Paulo Cruz para a formatação de sua
narrativa, um intelectual conservador negro, a Brasil Paralelo também busca
curto-circuitar uma noção amplamente acionada pelas esquerdas contemporâneas
nas guerras culturais, o “lugar de fala”.477 Thomas Giulliano, aparentemente o único
mais preocupado com o destaque para as nuances, complementa:
476
A Vila Rica. op. cit. 34:58.
477
Entre muitas produções, destaca-se RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte:
Letramento, 2017.
478
A Vila Rica. op. cit. Ver entre 35:39 e 36:17.
479
O Último Reinado. op. cit. 48:28.
480
Ibid. 49:47.
144
Dom Pedro II, inclusive, para que o seu exemplo público fosse visto
como um símbolo abolicionista, ele não andava com escravos na rua.
Ele mandou abolir aquela coisa de andar com escravos carregando
ele. Então ele, pelo exemplo, ele tentava contagiar a sociedade
brasileira e os próprios escravocratas para que a abolição fosse uma
realidade.484
485
ALCÂNTARA, Mauro Henrique Miranda de. D. Pedro II e a emancipação dos escravos. 165 f.
Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2013. p.
118-151.
486
BRASIL PARALELO. A mídia esconde os fatos envolvendo a princesa Isabel e a abolição da
escravidão? YouTube, 13 ago. 2022. Disponível em: https://youtu.be/liKvt2VWrZM. Acesso em: 2 jun.
2023.
487
QUEIRÓZ, Suely Robles Reis de. A escravidão negra em debate. In: FREITAS, Marcos Cezar de
(org.). Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 2007. p. 103-117.
488
PINTO, João Alberto da Costa. Gilberto Freyre e a intelligentsia salazarista em defesa do Império
Colonial Português (1951-1974). História, Franca, v. 28, n. 1, p. 445-482, 2009.
146
que, por fim, levou os sujeitos escravizados à coisificação. Daí a leitura a partir de
uma perspectiva traumática.489
A partir dos anos 1980, no entanto, um importante movimento de renovação
se desdobrou do próprio marxismo para oferecer outras leituras possíveis acerca do
fenômeno, admitindo subjetividades e outras modalidades de resistência. Manolo
Florentino e José Roberto Góes, por exemplo, lançaram mão do conceito de
“negociação” para pensar estratégias adotadas por senhores e escravos para
assegurar vantagens nessa relação, ainda que reconhecendo sua assimetria. Em
1999, o livro Na senzala, uma flor, do historiador americano Robert W. Slenes,
causou grande repercussão ao responder criticamente ao olhar etnocêntrico de
viajantes europeus no Brasil, como Charles Ribeyrolles, para quem não havia flores
nas senzalas — uma evidência da ausência de memórias e da perspectiva de futuro
entre os negros escravizados.490 Essa corrente, distante das elaborações racistas
oitocentistas mas também da historiografia brasileira predominante nas décadas de
1960 e 1970, chegou a ser acusada de reabilitar a escravidão pelos marxistas mais
ortodoxos.491 O aprofundamento da historiografia brasileira sobre o tema extrapola
os limites desta tese, mas mesmo uma síntese rápida como a que foi possível fazer
nesta seção evidencia o quão caricata é a interpretação oferecida pela série. Afinal,
de que historiografia a Brasil Paralelo está falando quando critica a história que se
conta sobre a escravidão? Não se sabe, mas provavelmente tem a ver com a
Escola Paulista de Sociologia. De todo modo, a produção ignora tendências e
dissensos para simplesmente performar seu antagonismo.
Acontece que, junto às transformações no olhar de historiadores sobre o
passado escravista no Brasil, também a cultura e a política brasileira apresentavam
importantes pontos de inflexão a elas relacionados. Nos anos 1980, os Racionais
MCs romperam com a forma de se fazer canção no Brasil, mesmo depois da
ascensão da chamada “MPB”. Com uma linguagem direta, inspirada pelos
movimentos racialistas que pululavam nos Estados Unidos, esses quatro jovens da
periferia de São Paulo fizeram dos seus versos um poderoso instrumento de
denúncia. Mas, ao contrário de vozes mais hegemônicas do cancioneiro nacional,
489
QUEIRÓZ, op. cit.
490
PALERMO, Luis Claudio. Uma análise sobre aspectos da historiografia da escravidão brasileira
pós-1980: permanências, mudanças e matizes no interior dessa tendêcia. Clio: Revista de Pesquisa
Histórica. v. 37, p. 214-235, jul.-dez. 2019.
491
QUEIRÓZ, op. cit.
147
492
BOSCO, Francisco. A vítima tem sempre razão?: Lutas identitárias e o novo espaço público
brasileiro. São Paulo: Todavia, 2017. p. 31-54.
493
CALDEIRA NETO, Odilon. Memória e justiça: o negacionismo e a falsificação da história.
Antíteses, v. 2, n. 4, p. 1097-1123, jul.-dez. 2009. Ver nota 14.
148
494
PEDRETTI, Lucas. Documentos mostram como a ditadura negou o racismo - e o mesmo
argumento é usado até hoje. The Intercept Brasil, 3 out. 2023. Disponível em:
https://www.intercept.com.br/2023/10/03/documentos-mostram-como-a-ditadura-negou-o-racismo-e-o
-mesmo-argumento-e-usado-ate-hoje/. Acesso em: 12 dez. 2023.
495
BOSCO. A vítima tem sempre razão?. op. cit. 53-54.
496
SANTOS, Débora. STF decide, por unanimidade, pela constitucionalidade das cotas raciais. G1,
26 abr. 2012. Disponível em: https://glo.bo/1mPOZ48. Acesso em: 31 mai. 2023.
149
Para a BP, a relação com o passado tem sempre uma dimensão afetiva ou
porque pautada pelo desejo de espelhar-se nos heróis e de combater os vilões de
outrora ou, no mínimo, porque nascida de um profundo sentimento de rejeição
àqueles que ajudaram a consolidar outra memória. Tudo indica serem as duas
coisas no caso da série sobre a história geral do Brasil. No caso do documentário da
497
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Raça Humana: bastidores das cotas raciais na UnB [2010].
YouTube, 5 jan. 2021. Disponível em: https://youtu.be/fCcyxahMDBk. Acesso em: 27 dez. 2023.
498
CAMPOS, Luiz Augusto. Em busca do público: a controvérsia das cotas raciais na imprensa. Rio
de Janeiro: EdUERJ, 2019.
499
Id. A reemergência do debate racial na grande imprensa. Nexo, 6 nov. 2021. Disponível em:
https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2021/A-reemerg%C3%AAncia-do-debate-racial-na-grande-impr
ensa. Acesso em: 31 mai. 2023.
500
A Vila Rica. op. cit. 43:25.
150
Adiante, o mesmo Ferrugem explica por que haveria essa “carga ideológica”:
501
THE NOITE COM DANILO GENTILI. Entrevista com os produtores de “1964: o Brasil entre armas
e livros”. YouTube, 6 abr. 2019. Disponível em https://youtu.be/-cbyRJnZExk. Acesso em 27 dez.
2023. 5:38.
502
Ibid. 6:08. Grifos meus.
151
espaço público cada vez mais condicionado às dinâmicas próprias das redes
sociais, às mais legítimas, como o instinto de autopreservação diante de uma
múltipla escalada autoritária.
Para responder à pergunta “a Brasil Paralelo defende a ditadura?”, é preciso
antes esquadrinhar as memórias do regime e a quais delas eventualmente se filiam
a produtora, uma tarefa instigante que exige distanciamento duplamente desafiador:
como sugerido, em primeiro lugar por tratar de um objeto tão delicado, afinal muitos
dos envolvidos ainda estão vivos e carregando as marcas desse passado que
insiste em não passar, e, segundo, por ser protagonizada por fiadores, ainda que
parciais, de um robusto projeto político que, no presente, trata a ditadura como
utopia.
153
506
CARVALHO, Olavo de. A história oficial de 1964. Sapientiam autem non vincit malitia, 19 jan.
1999. https://olavodecarvalho.org/a-historia-oficial-de-1964/. Acesso em: 15 fev. 2023
507
NAPOLITANO, Marcos. História do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014. p.
282-283.
508
NAPOLITANO, Marcos. Recordar é vencer: as dinâmicas e vicissitudes da construção da memória
sobre o regime militar brasileiro. Antíteses, Londrina, v. 8, n. 15esp., p. 09-44, nov. 2015.
509
DINES, Alberto; et al. Os idos de março e a queda em abril. Rio de Janeiro: José Álvaro Editor,
1964.
154
517
Id, ibid.
518
NAPOLITANO. Recordar é vencer. op. cit.
519
NAPOLITANO. A imprensa e a construção da memória do regime militar brasileiro (1965-1985).
op. cit.
520
NAPOLITANO. História do regime militar. op. cit. p. 286-287.
157
521
REIS, Daniel Aarão. As armadilhas da memória e a reconstrução democrática. In: Abranches,
Sérgio; et al. Democracia em risco?: 22 ensaios sobre o Brasil hoje. São Paulo: Companhia das
Letras, 2019. p. 274-286.
522
PEDRETTI, Lucas. A conciliação que nos trouxe até aqui. piauí, 24 jan. 2023. Disponível em:
https://piaui.folha.uol.com.br/conciliacao-que-nos-trouxe-ate-aqui/. Acesso em: 15 jun. 2023.
158
523
Ver em Id, ibid.
524
Id, ibid.
525
VICTOR, Fabio. Poder camuflado: os militares e a política, do fim da ditadura à aliança com
Bolsonaro. Companhia das Letras. São Paulo, 2022. p. 48-53.
159
526
NAPOLITANO. História do regime militar. op. cit. p. 291-292.
527
NAPOLITANO. A imprensa e a construção da memória do regime militar brasileiro (1965-1985).
op. cit. p. 22-23.
528
A exemplo de DREIFUSS, René Armand. 1964, a conquista do Estado. Ação política, poder e
golpe de classe. Petrópolis: Vozes, 1981.
529
NAPOLITANO. História do regime militar. op. cit. p. 291.
160
530
XAVIER, Ismail. A ilusão do olhar neutro e a banalização. Revista Praga. São Paulo: Editora
Hucitec, v. 3, p. 141-153, set. 1997.
531
SELIPRANDY, Fernando. Imagens divergentes, “conciliação” histórica: memória, melodrama e
documentário nos filmes O que é isso companheiro? e Hércules 56. 230 f. Dissertação (Mestrado em
História Social) — Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. p. 121-125.
532
NAPOLITANO, Marcos; SELIPRANDY, Fernando. O cinema e a construção da memória sobre o
regime militar brasileiro: uma leitura de Paula: a história de uma subversiva (Francisco Ramalho Jr.,
1979). In: MORETTIN, Eduardo; NAPOLITANO, Marcos. O cinema e as ditaduras militares:
contextos, memórias e representações audiovisuais. São Paulo: Intermeios, 2018. p. 77-100.
533
SELIPRANDY, Fernando. Documentário e memória intergeracional das ditaduras do Cone Sul.
378 f. Tese (Doutorado em História Social) — Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
161
534
NAPOLITANO; SELIPRANDY, op. cit.
162
“então existe uma força — embora ela não tenha o poder total, ela
não exerça o poder total —, ela se sente no direito de obrar acima da
Constituição. Então você pode falar que é uma meio-ditadura, vamos
dizer assim. Uma ditadura abstrata. Uma ditadura iminente, pairando
sobre as regras.”535
O Lacerda é cassado, preso, faz greve de fome. Falam para ele que
essa greve de fome não vai dar em resultado nenhum. Ele para,
depois ele é solto, mas continua sem os seus direitos políticos. E
esse é o fim do Lacerda como político, porque ele não vive para ver
os seus direitos políticos serem recobrados. Ou seja, começa a tomar
forma, de uma maneira mais definitiva e irresgatável, a aniquilação
das lideranças civis. O regime começa a assumir a cara que a
linha-dura queria: um regime tecnocrático, um regime dos militares,
promovendo desenvolvimento de cima, da sociedade, das instituições
e da economia. A partir daí não há como tratar essa situação política,
tecnicamente falando, de outra forma que não como uma ditadura. Há
uma ditadura militar no Brasil a partir de 1968.536
535
BRASIL PARALELO. 1964 - O Brasil entre armas e livros. YouTube, 2 abr. 2019. Disponível em
https://youtu.be/yTenWQHRPIg. Acesso em 15 fev. 2023. 1:11:52
536
Ibid. 1:30:38
537
VILLA, Marco Antonio. Ditadura à brasileira. Folha de S. Paulo, 5 mar. 2009. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0503200908.htm. Acesso em: 24 jun. 2023.
163
538
REIS, Daniel Aarão. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
539
Ver MELO, Demian Bezerra de. O Golpe de 1964 e meio século de controvérsias: o estado atual
da questão. In: _____ (org.). A miséria da historiografia: uma crítica ao revisionismo contemporâneo.
Rio de Janeiro: Consequência, 2014. p. 157-188.
540
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:11:37.
541
Ibid. 1:12:10.
542
Ibid. 1:13:29.
543
Ibid. 1:13:01.
164
544
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Passados presentes: o golpe de 1964 e a ditadura militar. Zahar: Rio
de Janeiro, 2021. p. 122-139.
165
545
Id, ibid. p. 136-139.
546
NAPOLITANO, Marcos. História do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014. p. 68.
547
Ibid. 1:13:15. Grifo meu.
166
Mas, como se sabe, não foi o que ocorreu. Conforme a narração de Filipe
Valerim:
Segundo essa linha de interpretação, Castelo Branco teria sido vítima de uma
manobra que o manteve no poder por dois anos além do combinado e ampliou de
maneira expressiva as atribuições da presidência durante o processo de
“normatização autoritária” do regime, nos termos de Napolitano.552 Lacerda é mais
uma vez acionado, dessa vez por Grimaldo, para destacar que a extensão do
mandato seria o primeiro grande sinal de endurecimento do governo:
Castelo Branco e Costa e Silva são tratados mesmo como adversários, como
na narração em off que descreve a transição de seus governos:
554
Ibid. 1:18:02.
555
Ibid. 1:19:38.
556
Ibid. 1:12:38.
557
Ibid. 1:19:19.
168
558
Ver FICO, Carlos. Como eles agiam: Os subterrâneos da ditadura militar: espionagem e polícia
política. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 33-70; e NAPOLITANO. História do regime militar. op. cit.
66-88.
559
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:18:33.
560
Ibid. 1:16:54.
561
Ibid. 1:17:18.
562
Ibid. 1:19:03.
169
Olavo não explica em detalhes o que entende por “cagada” dos militares
pós-golpe, mas fica mais do que sugerido que ele, alinhado com boa parte dos
setores liberais que apoiaram a derrubada de Jango, entende a prorrogação do
mandato de Castelo Branco como um equívoco. Entretanto, não o suficiente para
qualificá-lo como uma ditadura e, mais ainda, para manchar a imagem do general, já
que, como vimos, o documentário entende a manobra como uma obra exclusiva da
linha-dura.
569
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:14:12.
570
ALVES, Márcio Moreira. Torturas e torturados. Rio de Janeiro: Editora Idade Nova, 1966.
571
THE NOITE COM DANILO GENTILI. Entrevista com os produtores de “1964: o Brasil entre armas
e livros”. YouTube, 6 abr. 2019. Disponível em https://youtu.be/-cbyRJnZExk. Acesso em 27 dez.
2023. 5:32.
572
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:17:26.
171
A relação da memória social com Pedro Aleixo dá uma dimensão das muitas
ambiguidades envolvidas na relação do presente democrático com o passado
autoritário no Brasil. Apoiador de primeira hora do golpe, o liberal Aleixo foi o único
dos 23 membros do Conselho de Segurança do regime a votar contra o AI-5, em
dezembro de 1968. Ele desvinculou-se da Arena e tentou, sem sucesso, acabar
com o bipartidarismo fundando o que seria o Partido Democrático Republicano
(PDR). Seu irmão Alberto acabou morto em 1975 graças às sessões de tortura. Em
2011, um projeto de lei assinado pelo deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG)
incluiu Pedro no rol de presidentes da república.575 Quer dizer, a Junta Militar foi
considerada suficientemente ilegítima para restaurar a posse de Aleixo, mas sua
cadeira de vice, só possível graças ao engajamento na deposição ilegal de Jango,
não.
A crítica à ditadura, tal como periodicizada por Entre armas e livros, se
resume a três aspectos, fundamentalmente, dos quais dois serão observados aqui:
a progressiva adoção de fundamentos estatistas na economia a partir de Costa e
Silva, o que ajuda a explicar a simpatia da ultraliberal Brasil Paralelo a Castelo
Branco, e a tecnocracia militar, que minou o exercício da política.
Para Olavo de Carvalho,
573
Ibid. 1:31:38.
574
Ibid. 1:31:52.
575
FRANCO, Luiza. Quem foi Pedro Aleixo, que apoiou o golpe, mas foi o único a votar contra o AI-5
na reunião que decidiu pela decretação do ato. BBC News Brasil, 13 dez. 2019. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50750811. Acesso em: 27 jun. 2023.
172
576
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:20:08.
577
Ibid. 1:19:55.
578
Ibid. 1:21:03
579
NAPOLITANO. História do regime militar. op. cit. p. 66-88.
580
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:33:24. Grifos meus.
173
Seu complemento fica a cargo de Hélio Beltrão Jr., filho de um dos mais
longevos ministros da ditadura e presidente do think tank Mises Brasil:
A seguir, Thomas Giulliano lembra que “ele (Médici) tinha uma presença de
palco que era impressionante, a começar pelo seu próprio timbre. A voz dele era
uma voz impactante”.583 Adiante, Nogueira complementa:
581
Ibid. 1:33:51.
582
Ibid. 1:32:18.
583
Ibid. 1:32:55.
584
Ibid. 1:34:16.
585
GASPARI, Elio. A ditadura derrotada. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. p. 23-24.
174
desportivos e o apoio da imprensa liberal tinham para dar a Médici índices robustos
de popularidade. Por outro lado, também não se pode deixar de levar em conta que
este era o auge dos “anos de chumbo” no Brasil e que, por autocensura dos
entrevistados ou alguma ingerência do governo nos institutos de pesquisa, esses
dados carecem de confiabilidade, como já destacou o historiador Demian Melo.586
Há outras questões importantes a ponderar, entretanto. Fechadas as urnas
das eleições de 1974, ainda no rescaldo do “milagre” e da exploração do imaginário
patriótico, os militares colheram péssimos resultados. E fosse mesmo tão
acachapante o apoio social ao regime, não haveria necessidade da adoção de
medidas autoritárias, bastando a adesão espontânea dos cidadãos. Mas os anos de
maior popularidade da ditadura foram seguidos de perto pelos mais repressivos.587
586
MELO. op. cit. 170-173.
587
MOTTA. Passados presentes. op. cit. p. 145-149.
175
588
CORDEIRO, Janaina Martins. Anos de chumbo ou anos de ouro? A memória social sobre o
governo Médici. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 22, n. 43, p. 85-104, jan.-jun. 2009.
589
BRASIL PARALELO. 1964 - O Brasil entre armas e livros. YouTube, 2 abr. 2019. Disponível em
https://youtu.be/yTenWQHRPIg. Acesso em 15 fev. 2023. 1:21:12. Grifo meu.
590
GASPARI, Elio. A ditadura escancarada. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. p. 55.
176
591
CARVALHO, Luiz Maklouf. As armas e os varões. piauí, ed. 31, abr. 2009. Disponível em:
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/as-armas-e-os-varoes/. Acesso em: 27 jun. 2023.
592
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:23:01.
593
Ibid. 1:23:30.
594
Ibid. 1:23:42.
177
595
VERA Sílvia Magalhães - A História de uma Guerrilheira. Câmara dos Deputados, 15 jan. 2004.
Disponível em:
https://www.camara.leg.br/tv/212737-vera-silvia-magalhaes-a-historia-de-uma-guerrilheira/. Acesso
em: 27 jun. 2023.
596
Id, ibid.
597
JOSÉ Manoel da Silva. Memorial da Resistência de São Paulo, s/d. Disponível em:
https://memorialdaresistenciasp.org.br/pessoas/jose-manoel-da-silva/. Acesso em: 27 jun. 2023.
598
Ver em ROBERTO MONTE. Retratação política em Toritama PE - A volta dos restos mortais de
José Manoel da Silva. YouTube, 8 set. 2013. Disponível em: https://youtu.be/1gKlK_bJ1bg. Acesso
em: 27 jun. 2023. 3:10. Uma produção de TV Memória Popular/CDHMP.
178
contrário. Aqui, são eles os protagonistas de uma era de “crime, medo e sangue”. A
longuíssima intervenção da narração em off de Valerim confirma esse pressuposto:
607
Ibid. 1:24:22.
608
LOYOLA, Leandro. Uma breve história de Dilma Rousseff, da luta armada ao Palácio do Planalto.
Época, 25 out. 2014. Disponível em:
https://epoca.globo.com/tempo/eleicoes/noticia/2014/10/uma-bbreve-historia-de-dilma-rousseffb-da-lu
ta-armada-ao-palacio-do-planalto.html. Acesso em: 27 jun. 2023.
180
609
MAGALHÃES, Luiz Antonio. Folha publicou ficha falsa de Dilma. Observatório da Imprensa, 25
abr. 2009. Disponível em:
https://www.observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/folha-publicou-ficha-falsa-de-dilma
/. Acesso em: 27 jun. 2023.
610
“MENTIR sob tortura não é fácil”, reage ministra. Folha de S. Paulo, 8 mai. 2008. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0805200823.htm. Acesso em: 27 jun. 2023.
611
COSTA, Flávio; AZEVEDO, Guilherme. Atentado a bomba matou 2 pessoas durante campanha
presidencial na ditadura. UOL, 6 set. 2018. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/09/06/atentado-a-bomba-matou-2-pess
oas-no-aeroporto-do-recife-em-1966.htm. Acesso em: 27 jun. 2023.
612
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:26:28.
613
Ibid. 1:50:54.
181
Entre os mortos pela ditadura, dúvida: cada lado apresenta seus números e a
verdade, diz a narração, “deve estar em algum lugar no meio”. Já os tombados pela
esquerda são 119 cravados, embora esse levantamento tenha sido feito
originalmente pelo coronel Brilhante Ustra, chefe do Doi-Codi do II Exército em São
Paulo.615 Diante da desproporção entre os números da direita e da luta armada, o
documentário recorre, como vimos no texto que abre o trecho sobre os “anos
tenebrosos”, à genérica estimativa de “50 milhões de assassinatos” no mundo.
Como vimos anteriormente, a superlativização é um recurso retórico importante para
o olavismo. O desejo de ilustrar o terror da luta armada brasileira era tão grande que
a Brasil Paralelo incluiu — sem autorização — uma fotografia feita por Sebastião
Salgado no garimpo de Serra Pelada, no Pará, sem conexão alguma com os
eventos debatidos. Mais tarde, ela acabaria suprimida do vídeo após interpelação
judicial do autor.616
A narração prossegue, adiante, atribuindo o “ambiente de guerra” no país à
ação de “psicopatas, torturadores e criminosos de ambos os lados”:
614
Essa conta ainda subestima em 10 o número de vítimas da ditadura apresentado pela Comissão
Nacional da Verdade em 2014, que foi de 434 entre mortos e desaparecidos. Ibid. 1:27:12.
615
CLUBES militares listam os mortos pela esquerda. Folha de S. Paulo, 11 dez. 2014. Disponível
em: http://folha.com/no1561302. Acesso em: 27 jun. 2023.
616
PAULO, Diego Martins Dória. Brasil Paralelo tenta censurar debate. Le Monde Diplomatique
Brasil, 21 jul. 2020. Disponível em: https://diplomatique.org.br/brasil-paralelo-tenta-censurar-debate/.
Acesso em: 14 dez. 2023.
617
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:27:34.
182
618
OLIVEIRA, David Barbosa; REIS, Ulisses Levy Silvério dos. A teoria dos dois demônios:
resistências ao processo brasileiro de justiça de transição. Rev. Direito e Práx, v. 12, n. 1, p. 48-76.
jan.-mar. 2021.
619
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o perigo vermelho: o anticomunismo no Brasil
(1917-1964). Rio de Janeiro: Eduff, 2020. p. 201-253.
620
JANSEN, Roberta. Human Rights Watch: ditadura no Brasil torturou 20 mil pessoas; 434 foram
mortas ou desapareceram. Estadão, 27 mar. 2019. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/politica/human-rights-watch-ditadura-no-brasil-torturou-20-mil-pessoas-4
34-foram-mortas-ou-desapareceram/. Acesso em: 27 jun. 2023.
621
NAPOLITANO, Marcos. A imprensa e a construção da memória do regime militar brasileiro
(1965-1985). Estudos Ibero-Americanos, vol. 43, n. 2, mai.-ago. 2017. p. 353.
183
Na verdade, mais do que uma “ideia”, há boas razões para sustentar que a
tortura era uma política de Estado na ditadura. Essa, aliás, é a conclusão do
coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, sobre os dois anos
de pesquisa.623 A tortura, como se sabe, também foi fundamental para desbaratar a
luta armada. Vivendo na clandestinidade, muitos dos guerrilheiros só “caíram”
graças a longas sessões de tortura que resultaram em delações. Nos cursos sobre
técnicas de interrogatório, especialistas estrangeiros justificavam a sevícia para os
que resistiam à prática com o argumento de que ela poderia salvar a vida de
inocentes.624 Desde pelo menos 2018, também não é possível afirmar que os
generais não sabiam das execuções sumárias feitas pelo regime. Um memorando
da CIA, descoberto pelo pesquisador Matias Spektor, descreve em 11 de abril de
1974 a anuência de Geisel na continuação da política de extermínio do Centro de
Inteligência do Exército, embora tenha alertado para que esse destino fosse
reservado somente para “subversivos perigosos”.625
A parte final do trecho, assim como a narração em off que abre a discussão
sobre luta armada, menciona a prática de justiçamentos no campo da esquerda, um
tema de fato bastante sensível e que colocou suas vítimas numa espécie de limbo
nas políticas de memória desenvolvidas pelo Brasil. Na primeira aparição, o
documentário diz que “os revolucionários assassinavam até os próprios colegas que
queriam desistir da luta armada”.626 A imagem que ilustra o trecho é uma fotografia
dos guerrilheiros de Três Passos, do Movimento Revolucionário 26 de Março,
presos já em 1965. A seu despeito, no entanto, os “tribunais revolucionários” só
622
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:28:06.
623
BETIM, Felipe. “Provamos que a tortura foi uma política de Estado durante a ditadura”. El País
Brasil, 10 out. 2014. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2014/10/09/politica/1412885347_047042.html. Acesso em: 27 jun.
2023.
624
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Passados presentes: o golpe de 1964 e a ditadura militar. Zahar: Rio
de Janeiro, 2021. p. 187-188.
625
BORGES, Rodolfo. Documento da CIA relata que cúpula do Governo militar brasileiro autorizou
execuções. El País Brasil, 10 mai. 2018. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/10/politica/1525976675_975787.html. Acesso em: 27 jun.
2023.
626
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:21:46
184
tiveram início em 1969, após o AI-5, e perduraram até 1973, quando os últimos
focos da guerrilha já agonizavam diante da repressão.
Com o desafio de contar as histórias dessas vítimas sem reproduzir a versão
dos militares, o jornalista Lucas Ferraz publicou em 2021 o livro Injustiçados,
resultado de uma pesquisa iniciada ainda em 2007.627 Ferraz, como muitos dos
pesquisadores afins, foi tragado pelo tema a partir da trajetória de José Anselmo
dos Santos, popularmente conhecido como Cabo Anselmo, o mais famoso infiltrado
da ditadura, responsável pela execução de ao menos 20 companheiros da luta
armada, incluindo a de uma namorada.628 Morto aos 80 anos por causas naturais, o
militar sergipano nunca chegou perto de ser justiçado pelos colegas, a despeito das
muitas suspeitas que pairavam sobre ele na época. A principal conclusão de
Injustiçados, como o título do livro sugere, é que todos os pares vítimas da luta
armada no Brasil foram equivocadamente julgados como traidores pelos tribunais
revolucionários, a despeito de sua evidente ilegitimidade.629
Ao todo, foram quatro os executados nesses termos durante a ditadura:
Márcio Leite de Toledo, Carlos Alberto Maciel Cardoso, Francisco Jacques de
Alvarenga e Salatiel Teixeira Rolim. Os números, de acordo com Ferraz, são
proporcionais à dimensão do movimento revolucionário armado brasileiro. Mas, ao
contrário do que sugere Entre armas e livros, esses episódios foram amplamente
explorados e até superestimados pelo regime, que fez circular na imprensa versões
ainda mais aterrorizantes deles. Para a ditadura, os justiçamentos foram tão
convenientes que eventualmente serviram para tentar atribuir alguns dos seus
cadáveres à luta armada, o que levou a família de Márcio, o primeiro justiçado, a
acreditar por um tempo que ele teria sido morto num teatro armado pela repressão.
Já o contrário seria muito improvável, posto que os guerrilheiros costumavam deixar
longas cartas assinadas pelas organizações junto aos corpos tombados à guisa de
conferir legitimidade às execuções.630
627
FERRAZ, Lucas. Injustiçados: execuções de militantes nos tribunais revolucionários durante a
ditadura. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.
628
Trata-se da paraguaia Soledad Barrett Viedma. A história do Cabo Anselmo é contada, entre
outras produções, pela série documental Em Busca de Anselmo, na HBO. EM BUSCA de Anselmo.
Criação: Carlos Alberto Jr. Brasil: WarnerMedia Latin America e Clariô Filmes, 2021. son., color. Série
exibida pela HBO Brasil. Disponível em:
https://play.hbomax.com/page/urn:hbo:page:GYLlDXwqoYrGLCwEAAAck:type:series. Acesso em: 30
jun. 2023.
629
FERRAZ. op. cit. p. 17-18.
630
Ib, ibid. p. 77-78.
185
631
Bem descrita na obra de Ferraz como “síndrome de Severino”. Militante da Aliança Libertadora
Nacional, José da Silva Tavares, codinome Severino, tinha sido preso na primavera de 1970 em
Belém pelo Cenimar, serviço de inteligência da Marinha. Mas voltou ao encontro dos companheiros
com uma história de fuga cinematográfica pelo hospital depois de uma tentativa de suicídio. Para
encurtar o enredo: na verdade, ameaçado de morte, ele havia fechado um acordo com o delegado
Fleury, do temido Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, para entregar
Câmara Ferreira, experiente guerrilheiro sucessor de Marighella no comando da organização. Velho
ou Toledo, como era conhecido o líder comunista, foi alertado da possibilidade de traição, mas
defendeu o companheiro. Tavares forneceu informações sobre mais de 100 militantes treinados em
Cuba e entregou o paradeiro de quatro militantes de uma só vez, incluindo Câmara, que morreu sob
tortura. Id, ibid. p. 45-66.
632
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:28:57.
633
Ibid. 1:29:07.
634
Ibid. 1:29:34.
186
635
Ibid. 1:30:07.
636
Ibid. 1:29:46.
637
FERRAZ. op. cit. p. 14.
638
Mais sobre o atentado mal sucedido em MURILO CLETO. Twitter, 17 mai. 2022.
https://twitter.com/MuriloCleto/status/1526602779879518208. Acesso em 28 jun. 2022
639
Ver em MOTTA. Em guarda contra o perigo vermelho. op. cit. p. 182.
187
640
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:52:06.
641
BATISTA, Liz. Atentado do Riocentro: as bombas que tentaram parar a abertura política. Estadão,
30 abr. 2021. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/acervo/atentado-do-riocentro-as-bombas-que-tentaram-parar-a-abertura-
politica/. Acesso em: 28 jun. 2023.
642
MOTTA. Em guarda contra o perigo vermelho. op. cit. p. 178.
643
Ibid. p. 177-182.
188
mórbido (434 pela ditadura e 119 pela esquerda) sejam admitidos friamente, é
preciso considerar que 90% das mortes de autoria da luta armada decorreram da
troca de tiros com agentes de segurança, enquanto o leque de vítimas do regime foi
muito mais variado. A versão simpática à ditadura, de que ela só executou
opositores altamente periculosos, também é falaciosa: entre suas vítimas, estão
estudantes desarmados, parlamentares, jornalistas, mães de desaparecidos e até
crianças, muitas das vezes utilizadas em sessões de tortura. Isso sem contar as
inúmeras mortes de guerrilheiros em que a caserna forjou como resultantes da troca
de tiros. Se fossem incluídas as execuções de camponeses e indígenas,
predominantemente perpetradas por matadores a serviço de grupos privados em
colaboração com a ditadura, esse montante saltaria exponencialmente.644
Além da ação de grupos terroristas marginais e da leniência das autoridades
no seu trato, a direita autoritária também contava com um aparelho estatal
repressivo pré-existente mas em franca evolução desde o golpe, incluindo as
seguintes criações: o Serviço Nacional de Informações (SNI), ainda em 1964,
dirigido diretamente pelo Exército; o Centro de Informações do Exército (CIE), em
1967; o Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa), em 1968; o Departamento de
Polícia Federal (DPF), uma espécie de polícia nacional que mais tarde se ocupou da
censura, e a Inspetoria Geral das Polícias Militares (IGPM), em 1967; os Doi-Codi,
em 1970, inspirados pela experiência da Operação Bandeirantes no ano anterior,
que contou com o apoio de empresários; Divisões de Segurança e Informações
(DSI) e Assessorias de Segurança e Informação (ASI), no início da década de 1970.
Também não se pode perder de vista que a Lei de Segurança Nacional, que
vigorava desde 1953, sofreu atualizações em 1967 e 1969 para aumentar as opções
de enquadro da subversão. Toda essa estrutura, destaca Rodrigo Motta, à exceção
dos Doi-Codi, já existia antes de a luta armada começar a dar dor de cabeça aos
militares.645
E se a esquerda recebeu ajuda internacional, notadamente de Cuba, o
regime militar contou com o suporte bélico, técnico e tático de EUA, Inglaterra e
França.646 Isso sem contar a cooperação estratégica entre as ditaduras do Cone Sul
644
MOTTA. Passados presentes. op. cit. 192-196.
645
Id, ibid. p. 176-182.
646
Id, ibid. p. 192-193.
189
647
ROSSI, Marina. A regra de sangue da Operação Condor, a aliança mortífera das ditaduras do
Cone Sul. El País Brasil, 30 mar. 2019. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/29/politica/1553895462_193096.html. Acesso em: 30 jun.
2023.
190
649
Ibid. 1:35:29.
650
Ibid. 1:36:54.
651
Ibid. 1:37:16.
652
Ibid. 1:37:40.
192
653
Ibid. 1:38:01.
654
Ibid. 1:39:35.
193
655
CARVALHO, Olavo de. A Nova Era e a Revolução Cultural: Prefácio à segunda edição.
Sapientiam autem non vincit malitia, 9 fev. 1994. Disponível em:
https://olavodecarvalho.org/a-nova-era-e-a-revolucao-cultural-prefacio-a-segunda-edicao/. Acesso
em: 15 fev. 2023.
194
656
Id, ibid.
657
Id, ibid.
658
CARVALHO, Olavo de. A Nova Era e a Revolução Cultural: Introdução geral à Trilogia. Sapientiam
autem non vincit malitia, 22 ago. 1996. Disponível em:
https://olavodecarvalho.org/a-nova-era-e-a-revolucao-cultural-introducao-geral-a-trilogia/. Acesso em:
15 fev. 2023.
195
recebeu grande atenção até os anos 1990.659 Em 1989, William Lind foi o primeiro a
adotar o uso da expressão “guerra de 4ª geração”, que pressupõe o uso de
ferramentas políticas, sociais, econômicas e também tecnológicas para o combate a
adversários não estatais. Um dos seus pilares, argumenta o professor Eduardo
Costa Pinto, é o pressuposto de que o Ocidente cristão estaria sob ameaça diante
da emergência do multiculturalismo.660
Dois anos antes do lançamento da obra que inaugura a série de Olavo, o
norte-americano Michael Minnicino publicou, na revista do movimento LaRouche, o
artigo The New Dark Age: The Frankfurt School and `Political Correctness’, que
acusa Theodor Adorno de participar de um experimento social cujo objetivo final
seria manipular as massas em favor de um novo paradigma cultural:
659
CHIRIO, Maud. Da linha dura ao marxismo cultural. O olhar imutável de um grupo de extrema
direita da reserva sobre a vida política brasileira (Jornal Inconfidência, 1998-2014). In: MARTINS
FILHO, João Roberto (org.) Os militares e a crise brasileira. São Paulo: Alameda, 2021. p. 173-187.
660
Ibid. PINTO, Eduardo Costa. Bolsonaro, quartéis e marxismo cultural: a loucura como método. p.
232-246.
661
MINNICINO, Michael. A nova idade das trevas: a Escola de Frankfurt e o “politicamente correto”.
Políticas Culturais em Revista, v. 15, n.1, Salvador, jan./jun. 2022, p. 229 e 240.
196
662
HORKHEIMER, Max; ADORNO, Theodor. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação de
massas. In: LIMA, Luiz Costa. Teoria da cultura de massa. São Paulo: Paz e Terra, 2002. p. 169-214.
663
ORTELLADO, Pablo; MARTINS, Elisa. Podcast ‘Guerras culturais: Uma batalha pela alma do
Brasil’; leia a transcrição do terceiro episódio. O Globo, 31 ago. 2022. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/podcast/guerras-culturais/noticia/2022/08/podcast-guerras-culturais-uma-bat
alha-pela-alma-do-brasil-leia-a-transcricao-do-terceiro-episodio.ghtml. Acesso em: 15 fev. 2023.
664
WOLF, Eduardo. Plágio, politicamente correto e paranoia no Inep de Bolsonaro. Veja, 19 jan.
2019. Disponível em:
https://complemento.veja.abril.com.br/pagina-aberta/plagio-politicamente-correto-e-paranoia-no-inep-
de-bolsonaro.html. Acesso em: 15 fev. 2023.
197
665
SILVA, Wellington T.; SUGAMOSTO, A; IRIGARAY A. U. O marxismo cultural no Brasil: origens e
desdobramentos de uma teoria conservadora. Revista Cultura & Religión, v. 15, n. 1, p. 180-222,
jan.-jun. 2021.
666
VICTOR, Fabio. Poder camuflado: os militares e a política, do fim da ditadura ao governo
Bolsonaro. Companhia das Letras: São Paulo, 2022. p. 117-128.
198
667
MACIEL Lício; NASCIMENTO, José Conegundes (orgs.). Orvil: tentativas de tomada do poder.
Salto: Schoba, 2012. p. 23.
668
VICTOR, op. cit. p. 122-123.
669
Port nº 391-Cmt Ex, de 21 JUL 99. SECRETARIA-GERAL DO EXÉRCITO. Almanaques.
Disponível em: http://www.sgex.eb.mil.br/almanaques/Almanaques/. Acesso em: 30 jan. 2023.
199
670
CHIRIO, op. cit. p. 180.
671
VICTOR, op. cit. p. 121-122.
672
Narciso em férias. Dir.: Renato Terra; Ricardo Calil. Globoplay, 2020. Disponível em
https://globoplay.globo.com/v/8836951. Acesso em 23 jan. 2023. 51:22.
200
intérpretes do Brasil no século XX, mas cuja produção sobre a relação entre
militares e sociedade civil permanece subexplorada.673
Freyre, que, como se sabe, foi apoiador do golpe de 1964, tinha o Exército
como um “coordenador de contrários”, uma força que paira acima dos brasileiros e
pacifica seus conflitos. Fulcral para a construção da memória militar nacional, a
Batalha de Guararapes, no século XVII, simbolizaria a harmonização das diferenças
sociais em nome de um projeto comum de nação. Foi nela, afinal, que negros,
indígenas e brancos uniram-se, sob o manto da instituição castrense, para a
expulsão do inimigo invasor. Assim como a mestiçagem, o pacifismo configura, para
Freyre, uma marca indispensável da identidade brasileira. Nesse sentido, a
emergência de pelejas societais, morais e culturais estimuladas pelos novos
movimentos de esquerda não representaria outra coisa senão uma ameaça à
unicidade da nação.674
O “politicamente correto”, ideia que exerce protagonismo no artigo de
Minnicino, para quem a obra de Adorno seria uma espécie de “apologia à feiúra”,
também ocupou lugar importante nas preocupações de oficiais brasileiros nos
últimos anos. Ao antropólogo Celso Castro, que fez do diálogo o livro Conversa com
o comandante, o general Eduardo Villas Bôas, líder do Exército entre 2015 e 2019,
admitiu que o anticomunismo havia se institucionalizado nas Forças Armadas
porque, “com pautas esvaziadas desde a queda do comunismo”, a esquerda
brasileira teria aderido ao “politicamente correto”, convertendo-o a uma ideologia. “A
partir daí”, diz:
673
MELLO, Wallace da Silva. Análise do pensamento conservador culturalista do Exército no Brasil.
In: Tensões Mundiais, Fortaleza, v. 18, n. 37, p. 187-212, 2022.
674
Id, ibid.
675
CASTRO, Celso (org.) General Villas Bôas: conversa com o comandante. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2021. p. 164-165.
201
676
Ver CARVALHO, Olavo de. O império ecológico e o totalitarismo planetário. Sapientiam autem non
vincit malitia, 14 mar. 1999. Disponível em:
https://olavodecarvalho.org/o-imperio-ecologico-e-o-totalitarismo-planetario/. Acesso em: 15 fev.
2023; e BERNARDIN, Pascal. A face oculta do mundialismo verde. Sapientiam autem non vincit
malitia, 13 mar. 2001. Disponível em:
https://olavodecarvalho.org/a-face-oculta-do-mundialismo-verde/. Acesso em: 15 fev. 2023.
677
ROCHA, João Cezar de Castro. Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil
pós-político. Caminhos: Goiânia, 2021. Abordagem semelhante é desenvolvida pelo historiador Lucas
Pedretti nesta entrevista ao The Intercept Brasil. DIAS, Tatiane. Entrevista: “Delírios de Olavo de
Carvalho aprofundaram ideias surgidas nos quartéis brasileiros”. The Intercept Brasil, 29 jan. 2022.
Disponível em:
https://theintercept.com/2022/01/29/olavo-de-carvalho-teorias-militares-esquerda-lucas-pedretti/.
Acesso em: 30 jan. 2023.
678
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o perigo vermelho: o anticomunismo no Brasil
(1917-1964). Rio de Janeiro: Eduff, 2020. p. 73-114.
679
BAUER, Caroline. Um estudo comparativo das práticas de desaparecimento nas ditaduras
civil-militares argentina e brasileira e a elaboração de políticas de memória em ambos os países. 446
f. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universitat de
Barcelona, Porto Alegre e Barcelona, 2011. p. 40-74.
202
680
#OLAVO. O que é o Politicamente Correto. YouTube, 2 abr. 2018. Disponível em:
https://youtu.be/q4CIbQxL1JE. Acesso em: 30 jan. 2023.
681
VICTOR. op. cit. p. 205-228.
203
Há coisas que nunca esperei para ver, mas estou vendo. A pior delas
foi altos oficiais militares, acossados por afirmações minhas que não
conseguem contestar, irem buscar proteção escondendo-se por trás
de um doente preso a uma cadeira de rodas. Nem o Lula seria capaz
de tamanha baixeza.682
O cabo de guerra com os militares tem duas razões de ser para Olavo.
Primeiro, como sugere o episódio com Santos Cruz, ele revela uma intensa batalha
na ocupação de espaços dentro do governo Bolsonaro. E, segundo, porque
Carvalho atribui aos militares a culpa pelo avanço da esquerda no tecido social
brasileiro ainda durante a ditadura. Para Olavo, “a esquerda já dominava a imprensa
brasileira inteira” durante o regime. E, “na década de 1990, a revolução cultural no
Brasil [já] estava 100% vitoriosa”.683 Em outra publicação, diz que “foi a brandura do
governo militar que permitiu a entronização da mentira esquerdista como história
oficial”.684 Entre armas e livros também traz uma abordagem sua, entre uma
baforada e outra no cachimbo, sobre o assunto:
682
OLAVO de Carvalho chama Villas Bôas de “doente preso a uma cadeira de rodas”. Portal IG, 7
mai. 2019. Disponível em:
https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2019-05-07/olavo-de-carvalho-chama-villas-boas-de-doente-p
reso-a-cadeira-de-rodas.html. Acesso em 31 jan. 2023
683
ORTELLADO; MARTINS. Podcast ‘Guerras culturais: Uma batalha pela alma do Brasil’; leia a
transcrição do terceiro episódio. op. cit.
684
Artigo originalmente publicado no jornal O Globo. CARVALHO, Olavo de. A história oficial de 1964.
Sapientiam autem non vincit malitia, 19 jan. 1999.
https://olavodecarvalho.org/a-historia-oficial-de-1964/. Acesso em: 15 fev. 2023.
685
BRASIL PARALELO. 1964 - O Brasil entre armas e livros. YouTube, 2 abr. 2019. Disponível em
https://youtu.be/yTenWQHRPIg. Acesso em 15 fev. 2023. Ver entre 1:41:56 e 1:42:38
204
686
DUARTE, Letícia. Bônus: Como o olavismo explica o bolsonarismo. In: PIRES, Carol. Retrato
Narrado. revista piauí & Spotify Studios, 18 nov. 2020. Podcast. Disponível em:
https://open.spotify.com/episode/1yeM1KrhNq06y5ck8Z4X4n?si=df0c899d0d144af2. Acesso em: 13
fev. 2023. 11:00.
687
CARVALHO. A história oficial de 1964. op. cit.
688
VILLAS-BÔAS, Eduardo. Ficaremos de um projeto nacional. Estadão, 10 jul. 2020. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/politica/carecemos-de-um-projeto-nacional/. Acesso em: 16 fev. 2023.
Grifo meu.
205
689
CARVALHO. A história oficial de 1964. op. cit.
690
MARTINS FILHO, João Roberto. O palácio e a caserna: a dinâmica militar das crises políticas na
ditadura (1964-1969). 239 f. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 1993. p. 144-177.
691
SCHWARZ, Roberto. Cultura e política (1964-1969). In: _____. O pai de família e outros estudos.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. p. 62.
692
RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV.
Unesp, 2014.
206
699
VICTOR. op. cit. p. 120.
700
CARVALHO. A história oficial de 1964. op. cit.
701
Id, ibid.
208
Embora não ocupe tanto tempo de 1964 - O Brasil entre armas e livros, a
censura é objeto de significativas intervenções no documentário. A abertura do
tema, através da narração em off de Filipe Valerim, já demonstra como seria difícil a
taxativa classificação da abordagem como meramente “negacionista”:
702
BRASIL PARALELO. 1964 - O Brasil entre armas e livros. YouTube, 2 abr. 2019. Disponível em
https://youtu.be/yTenWQHRPIg. Acesso em 12 abr. 2022. 1:45:30. O AI-5 é de 13 de dezembro de
1968.
703
Ibid. 1:45:58.
704
Ibid. 1:46:34.
705
FICO, Carlos. “Prezada Censura”: cartas ao regime militar. In: _____; GARCIA, Miliandre. (orgs.).
Censura no Brasil Republicano (1937-1988): sociedade, música, telenovela e livros. Salvador: Sagga,
2021. p. 31-32.
209
706
Ib, Ibid. 33-35
707
Id, ibid. p. 21-57.
708
Id, ibid.
210
709
Id. Twitter, 13 mai. 2023. Disponível em:
https://twitter.com/CarlosFico1/status/1657394087379582978. Acesso em: 30 ago. 2023.
710
BRASIL. Decreto-lei nº 1077. Dispõe sobre a execução do artigo 153, § 8º, parte final, da
Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 26 de janeiro de 1970. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/del1077.htm. Acesso em: 30 ago. 2023.
711
Correspondências disponíveis e discutidas em FICO. “Prezada Censura”: cartas ao regime militar.
op. cit. p. 29-30.
712
Em Id. HEREDIA, Cecília. A censura musical no regime militar brasileiro. p. 87.
211
Ele complementa:
Embora Chico, Gil e Caetano não tenham organizado eventos deste tipo no
período, é fato que os festivais de música viveram sua apoteose durante o regime,
especialmente entre 1967 e 1972, período que inclui seu recrudescimento. Mas,
primeiro, havia diferenças significativas entre os artistas citados. Enquanto a
Tropicália estava um tanto mais próxima dos movimentos contraculturais, o
sambista Chico Buarque, por outro lado, costumava seguir padrões estéticos mais
tradicionais. A falta de unidade nas esquerdas era tamanha que, de um lado, os
revolucionários da luta armada chamavam os colegas desertores de “desbundados”,
em referência à suposta alienação de tropicalistas e artistas relacionados; de outro,
é bastante conhecida a passeata realizada por representantes da “música engajada”
contra a guitarra elétrica no Brasil, tida como um símbolo do “imperialismo
norte-americano”. O instrumento era utilizado tanto pelos grupos de rock,
713
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:48:31.
714
Ibid. 1:40:23
715
Ibid. 1:41:10.
212
Mas é isso que diz a juventude que quer tomar o poder? Vocês têm
coragem de aplaudir este ano uma música, um tipo de música, que
vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado. São a mesma
juventude que vão sempre matar amanhã o velhote inimigo que
morreu ontem. Vocês não estão entendendo nada! Nada! Nada!
Absolutamente nada! [...] Vocês estão por fora. Vocês não vão me
dizer… Mas que juventude é essa? Que juventude é essa? [...] Se
vocês forem em política como são em estética, estamos feitos.717
720
HAMBURGER. Esther. Diluindo fronteiras: a televisão e as novelas no cotidiano. In: SCHWARZ,
Lilia Moritz (org.). História da vida privada no Brasil: contrastes da intimidade contemporânea. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 439-487.
721
STEFANONI, Pablo. A rebeldia tornou-se de direita? Como o antiprogressismo e a anticorreção
política estão construindo um novo sentido comum (e por que a esquerda deveria levá-los a sério).
Campinas: Editora da Unicamp, 2022. p. 57-58.
722
HAMBURGER. op. cit.
723
FERNANDES, Guilherme Moreira; SACRAMENTO, Igor. “Liberdade, a melhor coisa do mundo”:
uma análise do processo de censura à Despedida de Casado (TV Globo, 1976). In: FICO; GARCIA.
op. cit. p. 93-124.
724
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:46:14.
214
725
BATISTA, Liz; SACONI, Rose; LEITE, Edmundo. Há 50 anos, o Estadão começava a publicar
poemas de Camões no lugar de notícias censuradas. Estadão, 2 ago. 2023. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/acervo/ha-50-anos-o-estadao-comecava-a-publicar-poemas-de-camoes-
no-lugar-de-noticias-censuradas/. Acesso em: 6 set. 2023.
726
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:47:39.
727
CARVALHO, Olavo de. Um cadáver no poder. Sapientiam autem non vincit malitia, 21 jan. 2015.
Disponível em: https://olavodecarvalho.org/um-cadaver-no-poder-i/. Acesso em 6 set. 2023.
215
728
LYRA, Rubens Pinto. Catolicismo e práxis política: da ditadura à atualidade. A Terra é Redonda,
28 ago. 2020. Disponível em:
https://aterraeredonda.com.br/catolicismo-e-praxis-politica-da-ditadura-a-atualidade/. Acesso em: 02
out. 2023.
729
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:49:03.
730
MOTTA, Rodrigo. As universidades e o regime militar: cultura política brasileira e modernização
autoritária. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p. 27-28.
731
Id, Ibid. p. 317-319.
216
732
CZAJKA, Rodrigo. “Quem não lê mal fala, mal ouve, mal vê”: repressão e censura à Editora
Civilização Brasileira (1963-1970). In: FICO; GARCIA. (orgs.). op. cit. p. 153-178.
733
1964 - O Brasil entre armas e livros. 1:45:14.
217
734
MOTTA. As universidades e o regime militar. op. cit. p. 221.
735
MARCELINO, Douglas Attila. Livros acadêmicos nos anos 1970: uma das facetas da censura. In:
FICO; GARCIA. (orgs.). op. cit. p. 179-194. E REIMÃO, Sandra. Autores estrangeiros, vetos
nacionais — livros e censura no Brasil (1964-1985). In: FICO; GARCIA. (orgs.). op. cit. p. 195-210.
218
736
BRASIL PARALELO. 1964 - O Brasil entre armas e livros. YouTube, 2 abr. 2019. Disponível em
https://youtu.be/yTenWQHRPIg. Acesso em 12 abr. 2022. 1:40:07.
737
MOTTA, Rodrigo. As universidades e o regime militar: cultura política brasileira e modernização
autoritária. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p. 23-37.
738
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:46:49.
739
Ibid. 1:47:07.
219
740
Os exemplos são abundantes. Mas cabe menção ao caso do professor Luiz Roberto Salinas
Fortes, professor de filosofia da USP, que, falsamente acusado de ligação com a luta armada,
acabou barbaramente torturado na Operação Bandeirante (Oban) e no Departamento de Ordem
Política e Social de São Paulo (Deops). Pela influência e pela posição social, professores
universitários eram muitas vezes poupados da tortura física, embora os casos de sevícia psicológica
sejam muitos. MOTTA. As universidades e o regime militar. op. cit. p. 321. Ver também p. 53 e
175-184.
220
Qual era o grande barato para quem fazia Humanas na USP entre
1971 e 1974? Tomar batida escondido ali perto da avenida Rebouças.
Aí ficava todo mundo bêbado, às 2 horas, 3 horas da tarde, ficava
falando mal dos milicos. O grande barato naquela época.744
741
Id, ibid. p. 31-32 e 331.
742
Id, ibid. p. 193-241.
743
Id, ibid. p. 48-60 e 148-192.
744
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:40:53.
221
747
BRASIL PARALELO. Pelas Barbas do Profeta | Pátria Educadora - Capítulo 2 | Filme Completo.
YouTube, 1 abr. 2020. Disponível em: https://youtu.be/UPDjFGGN2w0. Acesso em 18 ago. 2023.
53:29.
748
Ibid. 55:40.
749
Ver, por exemplo, sobre a ascensão da nova direita autoritária no Brasil a partir de 2013,
DIEGUEZ, Consuelo. O ovo da serpente. Nova direita e bolsonarismo: seus bastidores, personagens
e chegada ao poder. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
750
MOTTA. As universidades e o regime militar. op. cit. p. 224-236.
223
751
Id, ibid. p. 196-197.
752
Id, ibid. p. 24. e 242-287.
753
Id, ibid. p. 303 e 321.
754
Id, ibid. p. 184-192.
224
A principal crítica que ele [o filme] faz aos militares… Ele faz uma
dura crítica nesse sentido, que, além de ele ter aparelhado o Estado,
inflado o Estado, ele deixou uma brecha gigantesca para que se
criassem movimentos de massa, culturais, etc. E depois, quando
acabou o regime, o único partido de massa que surgiu foi o PT, que
protagonizou, depois, mais à frente, os próximos anos da política
brasileira. E o fato de eles terem aparelhado todo esse Estado, eles
entregaram isso de bandeja para uma oposição tenaz, que se criou
755
Id, ibid. p. 87-95.
756
Pelas barbas do profeta. op. cit. 56:58.
757
Ibid. 57:05.
758
MOTTA. As universidades e o regime militar. op. cit. p. 339-345.
759
Na verdade, o Ministério da Educação e Saúde Pública nasceu pouco após a chegada de Vargas
ao poder, após um golpe de Estado, mas muito antes da ditadura do Estado Novo. A atual
denominação, MEC, surgiu em 1953, também sob Vargas, mas em regime democrático. BRASIL.
Ministério da Educação. História. Ministério da Saúde, 3 abr. 2023. Disponível em:
https://www.gov.br/mec/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/historia. Acesso em: 23 ago. 2023.
760
Pelas barbas do profeta. op. cit. 52:32 e 56:48.
225
Quer dizer, o maior problema do regime militar não é, para a Brasil Paralelo,
a supressão violenta do Estado democrático de Direito, as intervenções sobre o
Parlamento, nem as execuções, as torturas, o ocultamento de cadáveres, nem
mesmo a corrupção, a grave crise econômica e a concentração de renda ou, como
vimos nesta seção, a censura, mas uma presumida tolerância excessiva com a
esquerda, especialmente na esfera cultural.
voto vencedor nos embates internos do partido sobre o trato com as instituições
castrenses.765
Lula respeitou a fila da antiguidade, como sugeriu enfaticamente Oliva, e
nomeou o general Francisco Albuquerque para o posto de comandante do Exército.
Irmão de Mercadante, o coronel Oswaldo Oliva Neto foi seu auxiliar. A sintonia era
flagrante. O governo, de cara, só não cedeu à pressão da caserna por um militar à
frente do Ministério da Defesa, que ficou a cargo do diplomata José Viegas, filho de
militar que estudou em escolas castrenses.766
Fora isso, no entanto, tudo corria bem entre Lula e a caserna. Em abril de
2004, o ministro Viegas anunciou que o Brasil havia sido convidado para comandar
uma missão de paz no Haiti pela ONU. As Forças Armadas viram o caso como uma
janela de oportunidade para aumentar seu protagonismo, em queda desde a
redemocratização. Para o governo Lula, também era a chance de obter destaque
junto à comunidade internacional. A Minustah (Missão das Nações Unidas para
Estabilização do Haiti) começou naquele ano e durou até 2017, com um legado no
mínimo questionável.767
No terreno da memória da ditadura, também parecia prevalecer a paz. Lula
afagou diversas vezes as lideranças militares diante do tema, dizendo que elas, no
presente, não tinham culpa pelo que fizeram seus veteranos no passado. Em 2014,
admitiu em entrevista a membros da Comissão Nacional da Verdade que não queria
que nenhum militar de hoje se sentisse responsável:
765
VICTOR, op. cit. p. 69-84.
766
Id, ibid. p. 77-78.
767
MACEDO, Leticia. Haiti: 13 anos de missão do Exército brasileiro deixou legado questionável.
UOL, 11 jul. 2021. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2021/07/11/haiti-minustah-missao-de-paz-onu
-exercito.htm. Acesso em: 4 out. 2023.
768
LULA conta que pedia a comandantes militares para reconhecerem erros do passado. Rede Brasil
Atual, 9 dez. 2014. Disponível em:
https://www.redebrasilatual.com.br/politica/lula-conta-que-pedia-a-comandantes-militares-para-reconh
ecerem-erros-do-passado-9501/. Acesso em: 4 out. 2023.
229
773
LEIA a íntegra da nota divulgada pelo Exército. Folha de S. Paulo, 19 out. 2004. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1910200417.htm. Acesso em: 4 out. 2023.
231
774
DOMINGOS, Marina. Em nova nota, Exército lamenta a morte de Vladimir Herzog. EBC, 19 out.
2004. Disponível em:
https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2004-10-19/em-nova-nota-exercito-lamenta-morte-d
e-vladimir-herzog. Acesso em: 4 out. 2023.
775
VICTOR. op. cit. 82-84.
232
776
VIANA, Natália. Dano colateral: a intervenção dos militares na segurança pública. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2021. p. 35-58.
777
Id, ibid. p. 47.
778
VICTOR. op. cit. p. 85-87.
233
para 35%, sem contar o desequilíbrio ainda mais flagrante em cargos de nível
superior ou intermediário.779
Essa escalada, como se sabe, chegaria ao seu auge depois da eleição de
Jair Bolsonaro. Mas o fato é que os militares seguiram acompanhando de perto
temas de seu interesse na Nova República, seja com relação ao presente, seja com
relação ao seu passado autoritário na direção do regime de 1964.
779
CORTINHAS, Juliano da Silva; VITELLI, Marina Gisela. Limitações das reformas para o controle
civil das Forças Armadas nos governos do PT (2003-2016), Revista Brasileira de Estudos de Defesa,
[S. l.], v. 7, n. 2, p. 186-216, 2021.
780
VICTOR, op. cit. p. 54-56.
781
Id, ibid. p. 58-60.
234
782
Id, ibid. p. 59-60.
783
FIGUEIREDO, Lucas. Lugar nenhum: militares e civis na ocultação dos documentos da ditadura.
São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 57-58.
784
NAPOLITANO. Recordar é vencer. op. cit. p. 25-32.
785
VICTOR. op. cit. p. 61-68.
786
Id, ibid.
235
seu chefe de gabinete admitiria que o governo fez o mínimo para os familiares das
vítimas e o máximo para os militares.787
Nas primeiras versões do discurso em que apresentaria o PL da CEMDP, o
presidente dizia: “É em nome da consciência de que só o estado de direito garante a
liberdade que eu, ao enviar ao Congresso esta lei, escuso-me perante a nação, na
qualidade de presidente da República e chefe de Estado, pelos abusos que foram
cometidos”. O trecho acabou substituído no pronunciamento por uma exortação ao
“deixa disso”: “[...] conclamo a Nação a virar esta página da história e a olhar o
futuro com a convicção de que episódios semelhantes nunca mais se repetirão”.788
Sem as escusas, a nova conclusão da fala ficou mais adequada à tônica das
políticas de memória do Estado brasileiro sobre o regime, resumida por Napolitano
através da tríade “reparação, alguma verdade e nenhuma justiça”.789
Quer dizer, enquanto avançou na concessão de certidões de óbito a
desaparecidos e de indenizações, o Estado brasileiro permaneceu reticente quanto
à abertura de arquivos e especialmente refratário a qualquer revisão da Lei da
Anistia. A ausência de uma ruptura drástica entre os períodos ditatorial e
democrático também criou alguns embaraços para as redes institucionais da Nova
República, com sinalizações contraditórias quanto à memória do regime convivendo
sob os mesmos governos. Por exemplo, como houve em 1985 com Médici, a morte
de Geisel ensejou a decretação de luto oficial pelo presidente Fernando Henrique
em 1996 — o mesmo que homenagearia Rubens Paiva, deputado cassado e
executado pela ditadura. Coisa parecida não se viu no continente com Augusto
Pinochet e Jorge Videla, ditadores de Chile e Argentina mortos em 2006 e 2013,
respectivamente — o segundo inclusive estava na prisão.790
Ao menos no que diz respeito ao item “verdade”, os primeiros governos Lula
representaram alguma esperança de evolução nas políticas de Estado quanto ao
regime. Primeiro porque foi composto por opositores à ditadura (apoiadores
também) e tinha como base movimentos que pleiteavam uma inflexão na relação
com esse passado. Em 2005, arquivos do extinto SNI foram transferidos para o
Arquivo Nacional, sob responsabilidade da Casa Civil. No primeiro ano do segundo
787
Id, ibid.
788
MESTRE da palavra. Fundação Fernando Henrique Cardoso, s/d. Disponível em:
https://fundacaofhc.org.br/exposicoesvirtuais/mestre-da-palavra/. Acesso em: 9 out. 2023.
789
NAPOLITANO. História do regime militar. op. cit. p. 293.
790
Id. Recordar é vencer op. cit. p. 26-28.
236
795
VICTOR. op. cit. p. 90-91.
796
DUAILIBI. op. cit.
797
VICTOR. op. cit. p. 90-94.
798
MACEDO, Fausto; NETTO, Paulo Roberto. Tribunal mantém nome do pai de Etchegoyen no
relatório da Comissão Nacional da Verdade. O Estado de S. Paulo, 27 jun. 2020. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/politica/blog-do-fausto-macedo/tribunal-mantem-nome-de-general-no-rela
torio-da-comissao-nacional-da-verdade/. Acesso em: 13 out. 2023.
238
799
VICTOR, op. cit. 21-37.
800
MONTEIRO, Tânia; TOSTA, Wilson. Militares repudiam relatório da comissão. O Estado de S.
Paulo, 10 dez. 2014. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/politica/militares-repudiam-relatorio-da-comissao/. Acesso em: 15 out.
2023.
801
BONIN, Robson. STF rejeita ação da OAB e decide que Lei da Anistia vale para todos. G1, 29 abr.
2010. Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2010/04/stf-rejeita-acao-da-oab-e-decide-que-lei-da-anistia-vale-p
ara-todos.html. Acesso em: 16 out. 2023.
802
MELO, Karine; BRITO, Débora. Parlamentares querem desengavetar proposta que revisa Lei da
Anistia. Agência Brasil, 14 mai. 2018. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-05/parlamentares-querem-desengavetar-propost
a-que-revisa-lei-de-anistia. Acesso em: 16 out. 2023.
239
ignoradas até agora pelo país.803 A promessa do terceiro governo Lula é retomar o
cumprimento às recomendações, embora até agora não haja nada de concreto.804
Seja como for, os militares fizeram de tudo para garantir sua impunidade. E
mandaram recados claros. Em agosto de 2012, o Estadão repercutiu a participação
do cientista político Eliézer Rizzo de Oliveira, professor da Unicamp apresentado
como especialista em assuntos militares, no 6º Encontro Nacional da Associação
Brasileira dos Estudos da Defesa, em São Paulo. Oliveira dá razão às inquietações
da caserna, segundo ele provocadas pelo governo, e alertou sobre o risco de uma
nova ruptura institucional:
803
QUATRO anos depois, Brasil ignora maioria das propostas da Comissão da Verdade. Aos Fatos,
29 mar. 2019. Disponível em:
https://www.aosfatos.org/noticias/quatro-anos-depois-brasil-ignora-maioria-das-recomendacoes-da-co
missao-da-verdade/. Acesso em: 25 out. 2023.
804
CHADE, Jamil. Governo retomará recomendações da Comissão Nacional da Verdade. UOL, 1
mar. 2023. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2023/03/01/governo-retomara-recomendacoes-da-com
issao-da-verdade-sobre-a-ditadura.htm. Acesso em: 16 out. 2023.
805
ARRUDA, Roldão. Comissão da Verdade incomoda militares. “Eles têm certeza de que ela levará
ao fim da Anistia”, diz especialista. O Estado de S. Paulo, 7 ago. 2012. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/politica/roldao-arruda/comissao-da-verdade-incomoda-militares-eles-tem-
certeza-de-que-ela-levara-ao-fim-da-anistia-diz-especialista/. Acesso em: 17 out. 2023. Embora não
seja um defensor do legado da ditadura, o professor Oliveira advoga pelos princípios consagrados
pela Lei da Anistia e lançou um livro crítico à parcialidade da Comissão da Verdade. GARDENAL,
Isabel. Eliézer Rizzo lança obra que analisa Comissão da Verdade. Portal Unicamp, 23 dez. 2015.
Disponível em:
https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2015/12/23/eliezer-rizzo-lanca-obra-que-analisa-comissao-d
a-verdade. Acesso em: 17 out. 2023.
240
depois de condenar com veemência a luta armada no país e no mundo, exorta seus
colegas a abandonarem o pacto de silêncio na Nova República:
E não calaram. Como vimos, o Orvil foi finalmente publicado por uma editora
comercial justamente em 2012. Mais até do que seu conteúdo, importa notar aqui a
significativa mudança de conjuntura que deu as condições para que o livro
circulasse fora da caserna, que internamente também vinha se agitando. O general
Augusto Heleno, também certamente motivado pelo avanço da CNV nas casas
legislativas, preparou para a celebração do golpe em 2011 a palestra intitulada “A
contrarrevolução que salvou o Brasil”, cancelada após intervenção de Jobim. No
ano anterior, o general Maynard Marques acabou exonerado da chefia do
Departamento-Geral do Pessoal do Exército depois de chamar a CNV de “comissão
da calúnia”. O mesmo aconteceu em 2015 com o general Hamilton Mourão, então
comandante militar do Sul e futuro vice-presidente de Bolsonaro, depois de fazer um
chamado pela destituição de Dilma Rousseff e sediar uma homenagem a Ustra em
uma de suas unidades.807
Naturalmente, a Comissão Nacional da Verdade provocou um boom
memorialístico sobre o regime. Além da CNV, também foram instituídas outras 45
comissões estaduais e municipais pelo país.808 Testemunhas, historiadores, agentes
públicos e vítimas da ditadura produziram uma infinidade de relatos, cujo conteúdo
ainda está para ser suficientemente examinado pela historiografia. Como sugerido
pelo general Pereira, os agentes da repressão também falaram bastante, seja nos
806
PEREIRA, Romulo Bini. Lei do silêncio. O Estado de S. Paulo, 12 mai. 2012. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/opiniao/lei-do-silencio-imp-/. Acesso em: 13 out. 2023.
807
VICTOR. op. cit. 97-98.
808
HOLLANDA, Cristina Buarque de; ISRAEL, Vinícius Pinheiro. Panorama das Comissões da
Verdade no Brasil: uma reflexão sobre novos sentidos de legitimidade e representação democrática.
Revista de Sociologia Política. v. 27, n. 70, e006, 2019.
241
809
VICTOR. op. cit. p. 122.
810
SANTOS, Clarissa Grahl dos. Das armas às letras: os militares e a constituição de um campo
memorialístico de defesa à ditadura empresarial militar. 184 f. Dissertação (Mestrado em História
Cultural) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016. p. 183.
242
811
Id, ibid. p. 183.
812
Id, ibid. p. 26.
813
MOREIRA, Fernanda Teixeira. “Só os vitoriosos esqueceram”: intelectuais de direita e as disputas
pela memória da ditadura civil-militar brasileira. 238 f. Dissertação (Mestrado em História) -
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2013.
814
CARDOSO, Lucileide Costa. Criações da memória: defensores e críticos da ditadura (1964-1985).
Cruz das Almas: Editora UFRB, 2012.
815
MARTINS FILHO, João Roberto. A guerra da memória: a ditadura militar nos depoimentos de
militantes e militares. Varia Historia, Belo Horizonte, n. 28, p. 178-201, dez. 2002.
816
D'ARAUJO, Maria Celina; SOARES, Gláucio Ary Dillon; CASTRO, Celso. Visões do golpe: a
memória militar sobre 1964. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
243
817
Id. Os anos de chumbo: a memória militar sobre a repressão. Rio de Janeiro: Relume Dumará,
1994.
818
Id. A volta aos quartéis: a memória militar sobre a abertura. Rio de Janeiro: Relume Dumará,
1995.
819
MÉDICI, Roberto. Médici: o depoimento. Rio de Janeiro: Mauad, 1995.
820
D'ARAUJO, Maria Celina; CASTRO, Celso. Ernesto Geisel. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, 1997.
821
CHIRIO, Maud. Da linha dura ao marxismo cultural. O olhar imutável de um grupo de extrema
direita da reserva sobre a vida política brasileira (Jornal Inconfidência, 1998-2014). In: MARTINS
FILHO, João Roberto (org.) Os militares e a crise brasileira. São Paulo: Alameda, 2021. p. 173-187.
822
SANTOS, Eduardo Heleno de Jesus. Grupos de pressão política formados por militares da reserva
no Mercosul. 321 f. Tese (Doutorado em Ciência Política - Universidade Federal Fluminense, Niterói,
2015. p. 7-8 e 66-108.
823
D'ARAUJO; SOARES; CASTRO. Visões do golpe. op. cit. p. 5-17.
244
824
CARVALHO, Olavo de. Arredondando os quadrados. Sapientiam autem non vincit malitia, 8 jan.
2010. Disponível em: https://olavodecarvalho.org/arredondando-os-quadrados/. Acesso em: 17 out.
2023.
825
Id. A rotina das cobras. Sapientiam autem non vincit malitia, 22 mar. 2012. Disponível em:
https://olavodecarvalho.org/1352-2/. Acesso em: 17 out. 2023.
245
826
Id, ibid.
827
Id. Promessa cumprida. Sapientiam autem non vincit malitia, 28 mai. 2012. Disponível em:
https://olavodecarvalho.org/promessa-cumprida/. Acesso em: 17 out. 2023. Grifo meu.
828
Id, ibid.
829
Id. O mito da imprensa nanica - I. Sapientiam autem non vincit malitia, 24 nov. 2011. Disponível
em: https://olavodecarvalho.org/o-mito-da-imprensa-nanica-i/. Acesso em: 17 out. 2023.
246
830
Id. A esquerda e os mitos difamatórios. Sapientiam autem non vincit malitia, 10 jul. 2013.
Disponível em: https://olavodecarvalho.org/a-esquerda-e-os-mitos-difamatorios/. Acesso em: 17 out.
2023.
831
Id, ibid.
247
seu lado em campanha; Lula e Dilma sobre carro durante ato eleitoral; e a famosa
pichação com os dizeres “ditadura assassina”.832
Um importante corte mostra então o jovem militante José Dirceu partindo
para o exílio e, logo depois, ele já maduro concedendo entrevista. É a deixa para
incluir a manchete da Folha de S. Paulo no dia seguinte à denúncia do escândalo do
Mensalão pelo deputado Roberto Jefferson, em 2005. A seguir, Dirceu aparece
conduzido por agente da Polícia Federal após mandado de prisão, em 2015. A ficha
de Lula preso na ditadura, logo depois, é rapidamente sucedida pelo ritual de
passagem da faixa presidencial em 2003, que por sua vez antecede chamada sobre
a prisão do mandatário petista pela Lava Jato. Procedimento semelhante ocorre
com Dilma, também fichada na ditadura e cassada pelo impeachment.833
Neste momento, aparece a primeira referência à política de reparação. Uma
manchete do jornal O Globo em 2014 diz: “O custo da reparação: indenizações
aprovadas na Comissão da Anistia chegam a 3,4 bilhões”. Outro recorte de jornal
fala no “salto das indenizações durante o governo Lula”. Adiante, outro título, sem
identificação de fonte, diz que o custo das indenizações é de R$ 13,4 bilhões. Outro
relacionado pelas imagens à luta armada e à corrupção nos governos petistas, José
Genoíno, ex-guerrilheiro do Araguaia, integra uma arte que atribui a ele e a Dirceu
grandes montas de indenização: R$ 100 mil e R$ 66 mil, respectivamente. Também
na imagem, Lula e Dilma aparecem como pensionistas; ele com R$ 56 mil e ela com
R$ 10,7 mil.834
A crise político-institucional brasileira também fez explodir o número de
notícias falsas sobre a reparação a perseguidos do regime e é com esse público
que a Brasil Paralelo conversa. Em 2021, um extrato atribuído a Lula aparecia com
o valor mensal de R$ 35.065,88.835 Outro boato em texto e vídeo chamando de
“Bolsa Ditadura” o benefício também circulou nas redes com os nomes dos políticos
Lula, Dilma, Fernando Henrique, José Dirceu e José Genoino, dos artistas Chico
Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Marieta Severo e da jornalista Miriam
832
BRASIL PARALELO. 1964 - O Brasil entre armas e livros. YouTube, 2 abr. 2019. Disponível em
https://youtu.be/yTenWQHRPIg. Acesso em 25 out. 2023. 2:04:42.
833
Id, ibid. 2:05:19.
834
Id, ibid. 2:05:28.
835
BARROS, Gisele. É #FAKE que Lula recebe aposentadoria de R$ 35 mil como anistiado político.
G1, 19 nov. 2021. Disponível em:
https://g1.globo.com/fato-ou-fake/noticia/2021/11/19/e-fake-que-lula-recebe-aposentadoria-de-r-35-mi
l-como-anistiado-politico.ghtml. Acesso em: 23 out. 2023.
248
836
COELHO, Gabi. FHC, Lula e Dilma não recebem 'bolsa ditadura' nem aposentadoria de
ex-presidentes. O Estado de S. Paulo, 26 nov. 2021. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/estadao-verifica/fernando-henrique-lula-dilma-bolsa-ditadura/. Acesso
em: 23 out. 2023.
837
ÉBOLI, Evandro. Dilma ganha na Justiça condição de anistiada e indenização de R$ 400 mil. Blog
do Noblat/Metrópolis, 14 fev. 2023. Disponível em:
https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/dilma-ganha-na-justica-condicao-de-anistiada-e-indenizac
ao-de-r-400-mil. Acesso em: 23 out. 2023.
838
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 2:04:22.
249
839
Id, ibid. 1:28:39.
840
MONTELEONE, Joana. Sobre as fontes de Hugo Studart em "Borboletas e Lobisomens". Opera
Mundi, 21 jul. 2018. Disponível em:
https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/53867/sobre-as-fontes-de-hugo-studart-em-borbol
etas-e-lobisomens. Acesso em: 23 out. 2023.
841
QUADROS, Vasconcelo. Militares teriam levado presos políticos para matar no Araguaia. Agência
Pública, 14 jul. 2021. Disponível em:
https://apublica.org/2021/07/militares-teriam-levado-presos-politicos-para-matar-no-araguaia/. Acesso
em: 23 out. 2023.
842
FIGUEIREDO, Lucas. Lugar nenhum: militares e civis na ocultação dos documentos da ditadura.
São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 57-73.
250
843
Id, ibid. p. 83-84.
844
Id, ibid. p. 61.
845
Id, ibid. p. 133-154.
846
VICTOR. op. cit. p. 129-148.
251
847
Id, ibid. p. 129-148.
848
Id, ibid. p. 170-171.
849
CIPRIANI, Juliana. HC de Lula: Comandante diz que Exército está 'atento' contra impunidade. O
Estado de Minas, 3 abr. 2018. Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2018/04/03/interna_politica,948823/hc-lula-comandante-di
z-que-exercito-esta-atento-contra-impunidade.shtml. Acesso em: 24 out. 2023.
252
seis votos a cinco, o STF rejeitou o pedido da defesa e Lula teve a prisão
determinada por Sergio Moro já no dia seguinte.850
Dias Toffoli assumiria a presidência do tribunal alguns meses depois. Ainda
antes da posse, esteve com Villas Bôas para estreitar laços e, de acordo com
Monica Gugliano e Tânia Monteiro em reportagem com depoimentos de
interlocutores do general colhidos em off (sem comprovação documental, portanto)
para a piauí em março de 2021, garantir que, no que dependesse dele, os
interesses dos militares seriam preservados sob sua gestão: Lula permaneceria
preso até o fim do ano, impedido de concorrer nas eleições, e a Lei da Anistia não
seria revisada.851
A “onda verde-oliva” também chegou às urnas. Em 2018, foram mais de 1300
candidatos de todas as forças de segurança. 73 foram eleitos para os legislativos
estaduais e federal. Na Câmara dos Deputados, em Brasília, seis egressos das
Forças Armadas ganharam assentos para a próxima legislatura, ante apenas um até
então.852 Era justamente Jair Bolsonaro, que deixou o Congresso após quase três
décadas direto para o Palácio do Planalto. Indispensável para a compreensão do
contexto político-social do Brasil na virada da última década, sua relação particular
com a memória da ditadura demanda um capítulo à parte.
850
VICTOR. op. cit. p. 171-175.
851
GUGLIANO, Monica; MONTEIRO, Tânia. O general, o tuíte e a promessa. piauí, 21 mar. 2021.
Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/o-general-o-tuite-e-promessa/. Acesso em: 24 out. 2023.
852
VICTOR. op. cit. 181-201.
253
853
KOTSCHO, Ricardo. De volta ao lugar onde Lamarca foi emboscado e fuzilado no sertão baiano.
UOL, 17 set. 2021. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/colunas/balaio-do-kotscho/2021/09/17/memoria-50-anos-os-ultimos-mome
ntos-de-lamarca-fuzilado-no-sertao-da-bahia.htm. Acesso em: 14 nov. 2023.
854
PIRES, Carol. 1. Em busca de Eldorado. In: _____. Retrato Narrado. revista piauí & Spotify
Studios, 30 set. 2020. Podcast. Disponível em:
https://open.spotify.com/episode/1YZtqK4nc6ivsJHZXHtA6v?si=026d3dd0ceea4a7e. Acesso em: 30
out. 2023. 7:48.
254
ditadura, "não foi nenhum santo". Ele acusava o deputado do PTB — sem quaisquer
evidências, claro — de esconder o capitão desertor em casa.855
Jair Bolsonaro ingressou no Exército em março de 1973, pouco antes de
completar 18 anos, através da Escola de Cadetes de Campinas-SP. Logo no ano
seguinte, entrou na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende-RJ,
onde concluiu curso básico de paraquedismo e foi declarado aspirante a oficial de
artilharia em 1977.856 Os instrutores de sua turma eram justamente os oficiais que
atuaram, quase paralelamente, no combate à Guerrilha do Araguaia. Numa
reportagem de 2009, a Folha de S. Paulo conta que os alunos os adoravam. E que
as aulas chegavam a ter slides de fotografias de corpos dos guerrilheiros
executados. Para Bolsonaro, era a chance de saber sobre as intenções “daquela
cambada comunista”.857
O jovem paraquedista foi promovido a capitão em 1983. Três anos depois, já
no governo Sarney, pegou 15 dias de prisão disciplinar por reclamar dos soldos
militares num artigo para a revista Veja. O periódico divulgou, pouco depois, um
plano do capitão junto a um colega para explodir banheiros de academias militares e
até a adutora de um rio em protesto com o mesmo fim. Duramente criticado pelos
insubordinados, Leônidas Pires Gonçalves os defendeu num primeiro momento,
mas depois passou a atuar pela condenação. E Bolsonaro foi de fato condenado por
uma espécie de primeira instância da justiça castrense. No entanto, uma confusão
induzida pela defesa quanto aos laudos grafotécnicos do croqui publicado pela
revista e a ojeriza dos militares à imprensa foram decisivas para sua absolvição no
Superior Tribunal Militar.858
O capitão da força terrestre passou para a reserva em 1988, graças à eleição
para a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Em 1991, Bolsonaro foi para o
Congresso como deputado. Suas atividades continuaram vigiadas de perto pelo
855
FAGUNDEZ, Ingrid. Bolsonaro: a infância do presidente entre quilombolas, guerrilheiros e a rica
família de Rubens Paiva. BBC News Brasil, 16 jan. 2019. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46845753. Acesso em: 14 nov. 2023.
856
ARAGÃO, Alexandre. Jair Bolsonaro: a trajetória militar e política do presidente que busca a
reeleição. Jota Info, 13 mai. 2022. Disponível em:
https://www.jota.info/eleicoes/jair-bolsonaro-a-trajetoria-militar-e-politica-do-presidente-que-busca-a-r
eeleicao-13052022. Acesso em: 30 out. 2023.
857
GOMIDE, Raphael; TORRES, Sergio. Araguaia era referência em aulas do Exército. Folha de S.
Paulo, 26 jul. 2009. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2607200906.htm.
Acesso em: 30 out. 2023.
858
VICTOR, Fabio. Poder camuflado: os militares e a política, do fim da ditadura à aliança com
Bolsonaro. Companhia das Letras. São Paulo, 2022. p. 104-116.
255
comando do Exército, que por algum tempo o tratou como pária. Aos poucos,
porém, os militares se convenceram de que era melhor tê-lo como aliado em
Brasília, considerando o relativo isolamento político das Forças Armadas na Nova
República. Leônidas e ele inclusive fizeram as pazes na segunda metade dos anos
2000. Muitos anos depois, em 2015, já durante a jornada que o levaria à presidência
da República mas muito antes de alguém conseguir prever o feito, ele receberia o
primeiro apoio de um oficial com grande influência na força terrestre: o general
Augusto Heleno, que foi seu instrutor na Aman, também comandou a missão
brasileira no Haiti e assumiu em 2019 o Gabinete de Segurança Institucional
(GSI).859
862
ARAGÃO, Alexandre. Em 1999, Bolsonaro defendeu tortura e guerra civil “matando uns 30 mil”.
BuzzFeed News, 10 out. 2017. Disponível em:
https://www.buzzfeed.com/br/alexandrearagao/em-1999-bolsonaro-defendeu-tortura-e-guerra-civil-ma
tando. Acesso em: 06 nov. 2011.
863
CARTAZ contra desaparecidos do Araguaia irrita deputados. O Estado de S. Paulo, 25 set. 2009.
Disponível em:
https://www.estadao.com.br/politica/cartaz-contra-desaparecidos-do-araguaia-irrita-deputados/.
Acesso em: 6 nov. 2023.
864
BRAGA, Catharina. “Bolsonaro cuspiu na estátua do meu pai”, recorda o escritor Marcelo Rubens
Paiva. Agência de Notícias CEUB, 23 out. 2022. Disponível em:
https://agenciadenoticias.uniceub.br/destaque/bolsonaro-cuspiu-na-estatua-do-meu-pai-recorda-o-es
critor-marcelo-rubens-paiva/. Acesso em: 6 nov. 2023.
865
ÉBOLI, Evandro. Alvo de Bolsonaro, busto de Rubens Paiva “resistiu” a ataques do dia 8.
Metrópolis, 21 jan. 2023. Disponível em:
https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/alvo-de-bolsonaro-busto-de-rubens-paiva-resistiu-a-ataqu
es-do-dia-8. Acesso em: 6 nov. 2023.
257
Matheus Leitão, filho de Miriam, foi entrevistá-lo para o livro Em nome dos pais.866
Em 2022, foi a vez de Eduardo Bolsonaro repetir o insulto.867
O evento mais emblemático da relação entre Bolsonaro e a memória da
ditadura, no entanto, ocorreu durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff
na Câmara dos Deputados, em abril de 2016. Depois de receber o sinal verde de
Eduardo Cunha para falar, o deputado começou o breve discurso: “Perderam em
Meia Quatro. Perderam agora em 2016”. Então anunciou voto “pela família e pela
inocência das crianças em sala de aula, que o PT nunca teve. Contra o comunismo,
pela nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo”. Longe de ser um especialista em
oratória, ele se prepara para o arremate, pronunciado de maneira mais pausada:
“Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma
Rousseff”. Ele conclui a seguir, subindo o volume para encobrir as vaias dos
colegas: “Pelo Exército de Duque de Caxias, pelas nossas Forças Formadas. Por
um Brasil acima de tudo, Deus acima de todos, o meu voto é sim!”.868
Note-se que, diferente do que fez o próprio Ustra ao longo da vida na Nova
República, Bolsonaro não o considera exatamente um injustiçado pela memória
hegemônica da ditadura. Ao lado de Joselita Ustra, viúva do coronel, o próprio
deputado havia se empenhado pessoalmente na disseminação de sua “verdade
sufocada”, como o chefe do Doi-Codi batizou o livro de memórias sobre a
repressão.869 Aqui, no entanto, o coronel não é um inocente caluniado que apenas
cumpriu com a missão de salvar o país do comunismo, mas o pavor de Dilma
Rousseff. Bolsonaro não apenas admite a tortura, mas jacta-se dela.
Jair também sempre deu um show particular no 31 de Março. Em 2004,
prestou tributo aos militares mortos pela luta armada com cruzes no gramado da
Esplanada e, durante discurso na tribuna da Câmara, se ajoelhou para “reverenciar
a memória dos militares que, em 1964, evitaram [que] fosse instalada no país [uma]
ditadura totalitária de esquerda”. No ano seguinte, reclamou que não houve festa:
“Infelizmente, interesses mais fortes e escusos fazem com que esta data passe
866
ARAGÃO, Alexandre. Há 3 anos, Bolsonaro zombou da tortura sofrida por Miriam Leitão. Hoje à
noite eles estarão frente a frente. BuzzFeed News, 3 ago. 2018. Disponível em:
https://www.buzzfeed.com/br/alexandrearagao/ha-3-anos-bolsonaro-zombou-da-tortura-sofrida-por-mi
riam. Acesso em: 6 nov. 2023.
867
EDUARDO Bolsonaro ironiza tortura sofrida pela jornalista Miriam Leitão. Folha de S. Paulo, 3 abr.
2022. Disponível em: https://folha.com/6c20t1jb. Acesso em: 6 nov. 2023.
868
ESTADÃO. Bolsonaro exalta Ustra na votação do impeachment em 2016. YouTube, 8 ago. 2019.
Disponível em: https://youtu.be/xiAZn7bUC8A. Acesso em: 9 nov. 2023.
869
VICTOR, op. cit. p. 242-268.
258
que se fixou em lei. Entre os temas mais relacionados durante seus discursos sobre
a comissão, estão a luta armada, o comunismo internacional e até o assassinato do
prefeito petista de Santo André, Celso Daniel.875
Jair Bolsonaro distinguiu-se significativamente dos colegas parlamentares na
temática. Até a legislatura de 2010-14, o capitão reformado do Exército foi
praticamente o único deputado federal a defender o regime militar com ênfase. A
nova direita parlamentar que se desenhava no início do século, a despeito do
alinhamento parcial com a velha direita herdeira da ditadura, parecia disposta e
conviver pacificamente com governos de esquerda, inclusive compondo, como
vimos, parte de suas coalizões. Mais do que isso, tomando a América Latina em
conjunto, essa nova direita também buscou defender a democracia e se desvincular
da memória dos regimes militares.876
Um exemplo importante dessas dinâmicas está na campanha promovida pelo
governo Lula pelo desarmamento civil, em 2005. Maioria no Congresso, sua base se
dividiu e alguns partidos de direita se juntaram à oposição para combater a
proposta. Hoje, depois do terremoto que atingiu a política brasileira na última
década, pode soar como uma grande idiossincrasia o fato de defensores de um
governo de esquerda serem favoráveis ao armamentismo — pauta quase
monopolizada agora pela direita —, mas aqueles tempos eram outros. Seja como
for, a propaganda eleitoral gratuita que foi ao ar pelo “Não” lançou mão de quase
todos os mesmos argumentos utilizados pelas novas direitas radicais consolidadas
na arena política contemporânea sobre o tema, à exceção de um: a ditadura, vista
como um exemplo negativo de restrição de liberdades individuais.
No programa 1, exibido em 2 de outubro, referências do Brasil e do mundo
aparecem para subsidiar a posição do grupo: “Mais do que uma simples proibição, o
que está em jogo é um direito seu. É não abrir mão da sua liberdade. Pense
comigo”, diz a apresentadora na abertura. A seguir, a narração em off complementa:
O ser humano nasceu para ser livre. Tem sido assim em todo mundo.
Há poucos anos vimos Nelson Mandela sair da prisão para acabar
com o apartheid e libertar os negros na África do Sul. Na China, um
875
ALMADA, op. cit.
876
CODATO, Adriano; BOLOGNESI, Bruno; ROEDER, Karolina Mattos. A nova direita brasileira: uma
análise da dinâmica partidária e eleitoral do campo conservador. In: VELASCO E CRUZ, Sebastião;
KAYSEL, André; CODAS, Gustavo (orgs.). Direita, volver!: o retorno da direita e o ciclo político. São
Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2015. p. 115-143.
260
Inimaginável nos dias de hoje, a campanha diz muito sobre 2005, mas
também sobre o estado atual do debate sobre a memória social da ditadura no
Brasil. Seria evidentemente ilógico dizer que Bolsonaro sozinho provocou uma
mudança dessa magnitude, mas não há dúvidas de que ter forçado os limites do
aceitável neste campo produziu efeitos expressivos. Em seu O mundo do avesso,
Letícia Cesarino fala sobre os chamados “balões de ensaio” promovidos por
políticos como Bolsonaro, quando medidas absurdas são propostas e
eventualmente voltam para gaveta a depender da reação da opinião pública. Esses
avanços e recuos, segundo a antropóloga, produzem na verdade um efeito de
“histerese”: o sistema não retorna para sua posição basal, mas tende à inércia,879
como numa espécie de laceamento. Parece possível pensar em termos similares no
que diz respeito à memória do regime. Em alguma medida, a posição de Bolsonaro
— e sobretudo a associação de setores expressivos da sociedade brasileira a ela —
sobre o tema escancarou os limites da chamada Janela de Overton880 para a direita
autoritária, que perdeu o receio de defender publicamente a ditadura e ainda
angariou novos adeptos.
877
CHICOSTARITA. Referendo 2005, Programa 1 a Eleitoral Campanha do NÃO. YouTube, 16 nov.
2009. Disponível em: https://youtu.be/S4M0ol0YRkg?si=DjWz80W5wCKRe9JT. Acesso em: 4 dez.
2023.
878
Id, ibid.
879
CESARINO, Letícia. O mundo do avesso: verdade e política na era digital. São Paulo: Ubu
Editora, 2022. p. 145-203.
880
LISSARDY, Gerardo. ‘Janela de Overton’: como ideias políticas consideradas tabu em uma época
passam a ser aceitas. BBC News Brasil, 5 out. 2023. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cw0kq417qx4o. Acesso em: 13 nov. 2023.
261
É uma ferida que tem que ser cicatrizada. Esquece esse aí. É daqui
para frente. O povo está sofrendo, com 14 milhões de
desempregados, com 60 mil mortes por ano, violentas, com 50 mil
mulheres estupradas. É daqui para frente. Vamos tocar esse barco
para frente. E eu tenho falado: se eu chegar lá, é daqui para frente. O
passado, a justiça e a história… os historiadores.881
881
RODA VIVA. Jair Bolsonaro abrirá os arquivos da ditadura? YouTube, 31 jul. 2018. Disponível em:
https://youtu.be/u1shvXtzUxU. Acesso em: 10 nov. 2023.
882
PODER360. Jair Bolsonaro cita apoio do Grupo Globo ao golpe de 1964. YouTube, 5 ago. 2018.
Disponível em: https://youtu.be/aL3NlWj5gy4. Acesso em: 10 nov. 2023.
883
MIRIAM Leitão lê nota da Globo ao vivo e vira assunto na internet. Veja, 4 ago. 2018. Disponível
em: https://veja.abril.com.br/politica/miriam-leitao-le-nota-da-globo-ao-vivo-e-vira-assunto-na-internet.
Acesso em: 10 nov. 2023.
262
rumo que, salvo melhor juízo, se isso não tivesse ocorrido, hoje nós
estaríamos tendo algum tipo de governo aqui que não seria bom para
ninguém.886
886
VIDELA, Pedro Rafael. Bolsonaro autoriza celebração do 31 de março de 1964. Agência Brasil, 25
mar. 2019. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2019-03/bolsonaro-autoriza-celebracao-do-31-de-mar
co-de1964. Acesso em: 10 nov. 2023.
887
OLIVEIRA, Mariana. Defensoria Pública pede que Justiça proíba comemorações sobre golpe de
64. G1, 26 mar. 2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/03/26/defensoria-publica-pede-que-justica-proiba-comemor
acoes-sobre-golpe-de-64.ghtml. Acesso em: 10 nov. 2023.
888
MOTTA, Rayssa. MPF aciona Justiça para obrigar Defesa a apagar nota que celebra ditadura.
CNN Brasil, 31 mar. 2023. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/mpf-aciona-justica-para-obrigar-defesa-a-apagar-nota-que-celeb
ra-ditadura/. Acesso em: 10 nov. 2023.
889
VALENTE, Rubens. Ordem para celebrar golpe de é inédita nos últimos 20 anos e incomoda
também militares. Folha de S. Paulo, 29 mar. 2019. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/03/ordem-para-celebrar-golpe-e-inedita-nos-ultimos-20-ano
s-e-incomoda-tambem-militares.shtml. Acesso em: 13 nov. 2023.
264
de hoje o Brasil foi liberto. Obrigado militares de 64! Duvida? Pergunte aos seus
pais ou avós que viveram aquela época como foi”.890
Nos 4 anos de governo Bolsonaro, vários de seus integrantes também deram
diversas declarações que ilustram essa mudança radical de perspectiva em curso.
Os generais Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos, ministros da Defesa e da
Secretaria-geral da Presidência, em comissão na Câmara dos Deputados, disseram
que “não houve ditadura no Brasil” e que a caracterização do regime é uma questão
de ordem “semântica”.891 Quando protestos de esquerda tomaram as ruas do Chile,
em 2019, o ministro da Economia Paulo Guedes disse que não era para ninguém se
assustar caso alguém pedisse por um novo AI-5. Sua declaração veio cerca de um
mês após Eduardo Bolsonaro promover uma clara ameaça diante do tema, embora
tenha sido depois desautorizado pelo pai: “Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a
gente vai precisar ter uma resposta. E uma resposta pode ser via um novo AI-5,
pode ser via uma legislação aprovada através de um plebiscito como ocorreu na
Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada”.892
Além do discurso, o governo Bolsonaro também produziu medidas para
impactar diretamente as políticas de memória sobre o regime. A Comissão da
Anistia foi realocada do Ministério da Justiça para o Ministério da Mulher, da Família
e dos Direitos Humanos, então comandado por Damares Alves, que se recusou a
admitir que o Brasil teve uma ditadura militar e deu declarações contraditórias sobre
a continuidade das obras do Memorial da Anistia Política do Brasil, envolvido em
suspeitas de corrupção.893 Alegando falta de espaço, o ministério anunciou o
descarte de 17 mil itens relacionados à memória da ditadura.894 Damares também
890
GESTÃO Bolsonaro celebra golpe de 64 pelo quarto ano seguido. UOL, 31 mar. 2022. Disponível
em:
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2022/03/31/gestao-bolsonaro-celebra-golpe-
de-64-pelo-quarto-ano-seguido.htm. Acesso em: 13 nov. 2023.
891
COSTA, Mariana. Ramos concorda com Braga Netto e diz que ditadura é “semântica”. Metrópoles,
18 ago. 2021. Disponível em:
https://www.metropoles.com/brasil/politica-brasil/ramos-concorda-com-braga-netto-e-diz-que-ditadura
-e-semantica. Acesso em: 13 nov. 2023.
892
BETIM, Felipe. Paulo Guedes repete ameaça de AI-5 e reforça investida radical do Governo
Bolsonaro. El País Brasil, 26 nov. 2019. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/22/politica/1574424459_017981.html. Acesso em: 13 nov.
2023.
893
PRAZERES, Leandro. Damares promete memorial para anistiados políticos. O Globo, 23 out.
2023. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/politica/damares-promete-memorial-para-anistiados-politicos-24036516.
Acesso em: 13 nov. 2023.
894
ÉBOLI, Evandro. Governo se desfaz de 17 mil obras do acervo da memória da ditadura.
Metrópoles, 17 set. 2021. Disponível em:
265
https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/governo-se-desfaz-de-17-mil-de-obras-do-acervo-da-me
moria-da-ditadura. Acesso em: 13 nov. 2023.
895
ALVES, Juliana; FARAH, Tatiana. Damares Alves anula anistia política de 112 pessoas, a maioria
militares. Veja, 22 fev. 2021. Disponível em:
https://veja.abril.com.br/coluna/maquiavel/damares-alves-anula-anistia-politica-de-112-pessoas-a-mai
oria-militares. Acesso em: 13 nov. 2023.
896
MADEIRO, Carlos. Com verba cortada por Bolsonaro, análise de ossadas da vala de Perus para.
UOL, 31 mar. 2022. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/colunas/carlos-madeiro/2023/03/31/com-verba-cortada-por-bolsonaro-anali
se-de-ossadas-da-vala-de-perus-para.htm. Acesso em: 13 nov. 2023.
897
HOLANDA, Marianna. Bolsonaro veta nome de João Goulart para trecho da rodovia
Belém-Brasília. Folha de São Paulo, 14 out. 2021. Disponível em: https://folha.com/b6734ons.
Acesso em: 13 nov. 2023.
898
PARREIRA, Marcelo. No fim do mandato, governo aprova relatório e encerra Comissão de Mortos
e Desaparecidos na Ditadura. G1, 31 dez. 2022. Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/12/31/no-fim-do-mandato-governo-aprova-relatorio-e-encerr
a-comissao-de-mortos-e-desaparecidos-na-ditadura.ghtml. Acesso em: 13 nov. 2023.
266
899
BRASIL PARALELO. 1964 - O Brasil entre armas e livros. YouTube, 2 abr. 2019. Disponível em
https://youtu.be/yTenWQHRPIg. Acesso em 21 nov. 2023. 04:44
900
Id, ibid. 5:15.
901
Id, ibid. 6:01.
902
Id, ibid. 6:34.
267
903
Id, ibid. 6:18.
904
Id, ibid. 6:06.
905
Id, ibid. 15:58.
906
Id, ibid. 15:33.
268
907
Id, ibid. 12:58.
908
Id, ibid. 13:20.
909
Id, ibid. 13:40.
910
Id, ibid. 19:01.
911
SALVADÓ, Francisco J. Romero. A guerra civil espanhola. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 93-130.
269
912
Id, ibid. 8:16.
913
Id, ibid. 9:42.
914
Id, ibid. 11:20.
915
Id, ibid. 10:51.
916
Id, ibid. 16:20.
917
SOBREIRA FILHO, Enoque Feitosa. O marxismo e o problema da escolha moral. 223 f. Tese
(Doutorado em Filosofia) — UFPB, UFPE, UFRN, Recife, 2010. p. 121-132.
270
918
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 16:27.
919
Id, ibid. 17:50.
920
BOSCO, Francisco. O diálogo possível: por uma reconstrução do debate público brasileiro. São
Paulo: Todavia, 2022. p. 81.
921
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 29:05.
271
Para sugerir o que ocorreria com o Brasil em caso de êxito nas maquinações
comunistas, Entre armas e livros destaca as características autoritárias do regime
tcheco. Petr Blazek fala em “desapropriação de bens”, temática especialmente
sensível para o matiz liberal do anticomunismo brasileiro, e até em “experimentos
sociais”.924 Avessa às políticas vigentes de Direitos Humanos, tidos como parciais925
922
BORGES, Rodolfo. Ditadura militar: serviço secreto soviético considerou “causar guerra civil no
Brasil” em 1961. El País Brasil, 6 jun. 2018. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/04/politica/1528124118_758636.html. Acesso em: 29 nov.
2023.
923
1964 - o Brasil entre armas e livros. op. cit. 30:03
924
Id, ibid. 29:35.
925
BRASIL PARALELO. É possível reverter a imagem que o brasileiro tem em relação aos Direitos
Humanos? YouTube, 5 set. 2022. Disponível em: https://youtu.be/bYVRe0VfHXI. Acesso em: 6 dez.
2023.
272
Quando Lima diz “eu estou dentro dos arquivos da KGB”, emulando a
correspondência de Kraenski, o silêncio temporário da trilha é interrompido pelo
926
BRASIL PARALELO. O terrível sistema que cria direitos e benefícios para os bandidos. YouTube,
7 jun. 2022. Disponível em: https://youtu.be/VnHf06riUQc. Acesso em: 6 dez. 2023.
927
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 29:13.
928
Id, ibid. 34:11.
929
Id, ibid. 24:05.
930
Id, ibid. 24:07.
273
Embora seja de fato mais cuidadoso nas inferências, como chamou atenção
Olavo,932 Kraenski persiste num estratagema também característico de públicos
antiestruturais, adepto e disseminador de conteúdo potencialmente conspiratório,
que consiste em apresentar sua oferta no mercado de ideias como algo único,
deliberado ou inconscientemente ignorado pelos públicos dominantes. Petrílak o
corrobora:
935
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Passados presentes: o golpe de 1964 e a ditadura militar. Rio de
Janeiro: Zahar, 2021. p. 40-44.
936
BORGES, op. cit.
937
Segundo Petrílak: “Quanto à existência dessa célula do serviço de inteligência nas embaixadas,
somente o embaixador sabia a respeito e mais ninguém. Isso era oculto e secreto. Então, os
funcionários profissionais do serviço de inteligência, ou seja, os espiões da Tchecoslováquia,
passavam por um treinamento curto de diplomacia para que pudessem fingir serem diplomatas. Mas,
na realidade, a principal atividade deles era o trabalho de espionagem”. 1964 - O Brasil entre armas e
livros. op. cit. 31:24.
275
938
LEITÃO, Matheus. O novo revés para as viúvas da ditadura. Veja, 31 ago. 2023. Disponível em:
https://veja.abril.com.br/coluna/matheus-leitao/o-novo-reves-para-as-viuvas-da-ditadura/. Acesso em:
1 dez. 2023.
939
MOTTA. Passados presentes. op. cit. p. 42-44.
276
Mil vezes eu desafiei essa gente. Se a CIA tramou todo esse negócio,
então vocês, por favor, me indiquem o nome de pelo menos um
agente da CIA lotado no Brasil na época. Nunca apontaram nem um
único. Então toda a história da CIA é de ficção do começo ao fim. E
isto é vendido por professores universitários, por professores de
história, pessoas que aparentemente se dizem respeitáveis. Eles
usam provas, no sentido oposto. “Então, está aqui a prova de que
eles interferiram”. Está lá o telefonema do Lincoln Gordon para o
Johnson: “presidente, os militares colocaram tanque na rua. O que
nós vamos fazer?” O presidente responde: “faça alguma coisa”. Isso
já no dia 31, você está entendendo? Então isso, quer dizer, claro que
o Lincoln Gordon estava informado que eles estavam fazendo alguma
coisa, mas se tivesse participado da preparação do golpe, já estaria
agindo antes e não depois. Depois mandaram um porta aviões que
940
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:07:46.
941
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o perigo vermelho: o anticomunismo no Brasil
(1917-1964). Rio de Janeiro: Eduff, 2020. p. 255-303.
942
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:08:27 e 1:09:00.
277
943
Id, ibid. 1:09:20.
944
CESARINO, Letícia. Pós-verdade e a crise do sistema de peritos: uma explicação cibernética.
Ilha-Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 73-96, 2021.
945
NAPOLITANO, Marcos. O regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014. p. 56.
946
MOTTA. Passados presentes. op. cit. p. 76.
278
947
Id, ibid. 73-76.
948
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. As universidades e o regime militar. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p.
110-118.
949
MOTTA. Passados presentes. op. cit. p. 80.
950
FICO, Carlos. O grande irmão. Da Operação Brother Sam aos anos de chumbo: o governo dos
Estados Unidos e a ditadura militar brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p. 77.
951
MOTTA. Em guarda contra o perigo vermelho. op. cit. 273-275.
279
Como não houve resistência, a força naval foi desmobilizada no meio do caminho.
Mas é difícil imaginar que, em hipótese contrária, Washington teria permanecido
impassível, como indicam inúmeras experiências pelo mundo. Sua excitação com o
sucesso da empreitada insurrecional no Brasil foi tão grande que em menos de 24
horas o novo governo já estava reconhecido. Entre o descaso e o protagonismo, o
mais razoável seria pensar, como diagnosticou Rodrigo Patto Sá Motta, que EUA e
militares brasileiros tinham interesses convergentes diante da remoção de
Goulart.952
Uma questão importante para destacar nesse debate, porém, é que,
diferentemente dos arquivos tchecos, que foram liberados integralmente para
consulta por governos sobre órgãos já desativados de regimes enterrados, muitas
articulações americanas permanecem sob sigilo, pois sua estrutura continua em
funcionamento.953 Desta forma, muito ainda pode vir à luz sobre o tema. Nada disso,
entretanto, é ponderado também em Entre armas e livros.
E, embora a historiografia tenha de fato buscado estabelecer uma linha de
continuidade entre a campanha de desestabilização que mirou Jango e a articulação
que o derrubou, notadamente a partir de Dreyfuss no início dos anos 1980, outras
perspectivas mais nuançadas são até hegemônicas hoje entre os públicos
dominantes. Elas reconhecem a incontroversa participação ativa dos americanos na
primeira, mas compreendem que a segunda é basicamente obra dos militares
brasileiros, ainda que com algum apoio, nem que seja majoritariamente simbólico
— o que não é pouca coisa.954 Ao ignorar completamente a existência dessas
correntes, a Brasil Paralelo reforça sua disposição em reduzir a produção
acadêmica a caricaturas convenientes. Mas, mais do que isso, ao simplesmente
negar o envolvimento dos EUA com a queda de Goulart, a produtora exagera nas
doses de revisionismo ideológico para provar um ponto insustentável.
952
MOTTA. Passados presentes. op. cit. 81-84.
953
Id, ibid. p. 82.
954
FICO, Carlos. O grande irmão. op. cit. p. 75-77.
280
Os arquivos tchecos não são caso isolado para a produção, como anuncia
Kraenski:
Para Olavo de Carvalho, é a deixa para reforçar a ideia de uma luta armada
anterior ao golpe militar:
955
BRASIL PARALELO. 1964 - O Brasil entre armas e livros. YouTube, 2 abr. 2019. Disponível em
https://youtu.be/yTenWQHRPIg. Acesso em 21 nov. 2023. 32:47.
956
Id, ibid. 51:31.
957
GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. p. 181.
281
pouco tem a ver com cumplicidade. Jango, assim como Castelo Branco no caso
Kvita, preferiu a discrição para evitar melindrar as boas relações entre os dois
países.958 Obviamente, no entanto, a Brasil Paralelo não considera o primeiro
presidente do regime militar um cúmplice do comunismo internacional. E, se havia
um princípio de movimentação armada das esquerdas no campo, conforme
enfatizado por Entre armas e livros,959 ela nem se compara, em volume e estrutura,
às ligas anticomunistas formadas por fazendeiros no interior do Brasil.960
O que está em jogo para a produtora é forçar a relação entre o governo
trabalhista e Moscou, numa linha de continuidade que começa na Revolução
Bolchevique, passa pela fundação do Partido Comunista Brasileiro, pela Quarta
República Brasileira e desemboca no presidente João Goulart. De acordo com
William Waack,
o PCB nunca teve vida própria. Ele sempre foi uma uma seção da
Internacional Comunista. E era assim mesmo que o movimento
comunista internacional se entendia nas décadas de 1920 e 1930,
como um movimento que instauraria o comunismo no planeta: na
Argentina, no Chile, no Brasil, na Alemanha, na Itália, na China, nos
Estados Unidos, onde fosse. Todos eles estavam subordinados às
diretrizes rígidas de Moscou.961
Ele foi entrevistado por uma jornalista e a jornalista pergunta para ele:
“Só supondo, senador, se houvesse uma guerra entre Brasil e União
Soviética, de qual lado o senhor ficaria?” E ele disse: “Olha, eu ficaria
do lado da União Soviética, porque a União Soviética representa a
classe dos trabalhadores. Não é já uma questão nacional, é uma
questão de união de classes. Beleza, não importa a explicação. O
que o povo entende? Numa guerra entre Brasil e União Soviética, o
cara ficaria contra o Brasil!964
964
Id, ibid. 22:39.
965
MOTTA. Em guarda contra o perigo vermelho. op. cit. p. 79-81.
966
Id, ibid. p. 81-88.
967
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 34:34.
283
968
Id, ibid. 23:10.
969
Id, ibid. 36:07.
970
Id, ibid. 37:00.
284
971
Id, ibid. 43:03.
972
Id, ibid. 37:31.
973
VICTOR, Fabio. Poder camuflado: os militares e a política, do fim da ditadura à aliança com
Bolsonaro. Companhia das Letras. São Paulo, 2022. p. 119.
974
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 37:59.
285
975
MOTTA. Em guarda contra o perigo vermelho. op. cit. 155-156.
976
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 53:51.
977
Id, ibid. 1:07:11.
978
Id, ibid. 44:00.
979
Id, ibid. 42:47.
980
MOTTA. Passados presentes. op. cit. p. 43.
981
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 46:55.
982
Id, ibid. 52:38.
983
MOTTA. Passados presentes. op. cit. p. 79-80.
286
984
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 47:46.
985
Id, ibid. 48:23.
986
Id, ibid. 53:44.
987
NAPOLITANO, Marcos. História do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014. p. 39-40.
988
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:06:38.
287
989
Id, ibid. 1:05:43.
990
Id, ibid. 1:02:21.
991
Id, ibid. 1:07:33.
992
Id, ibid. 1:03:54.
993
Id, ibid. 1:04:15.
288
Essa não seria a única vez que a Brasil Paralelo admitiria o cometimento de
ilegalidades contra a esquerda no jogo político. No documentário A direita no Brasil,
por exemplo, Silvio Grimaldo fez questão de destacar os abusos da Operação Lava
Jato durante a crise que desaguou no impeachment de Dilma:
994
Id, ibid. 1:04:29.
995
Id, ibid. 1:04:49.
996
ZANINI, Fábio. Trilogia destrincha ascensão da direita e discute seu futuro após derrota de
Bolsonaro. Folha de S. Paulo, 23 mar. 2023. Disponível em: https://folha.com/bul0ir2k. Acesso em: 4
dez. 2023.
997
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:02:06.
289
998
Id, ibid. 1:05:10.
999
BRASIL PARALELO. 15 de Novembro: a história da Proclamação da República. YouTube, 15 nov.
2022. Disponível em: https://youtu.be/G877zfAArow. Acesso em: 4 dez. 2023.
1000
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 56:11.
1001
Id, ibid. 56:31.
290
1006
Id, ibid. 58:26.
1007
DITADURAEPROPAGANDA. Brasil: Ontem, hoje e amanhã. YouTube, 3 jul. 2013. Disponível em:
https://youtu.be/HzD3muJcUSE. Acesso em: 5 dez. 2023.
1008
FANJUL, Adrián Pablo. “Num dia comum de hoje”: transfigurações entre discursos de
reivindicação da ditadura em 1975 e em 2019. Fragmentum, Santa Maria, v. 54, p. 71-94, jul./dez.
2019.
1009
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:06:15.
1010
Id, ibid. 1:06:54.
1011
Id, ibid. 1:01:27.
292
populares em apoio a Dom Pedro e à monarquia” e “justamente para não criar uma
guerra fratricida”,1012 encara a de Jango como covardia, ao menos de acordo com
Luiz Giorgis e Rafael Nogueira. O primeiro diz que “o Brizola era deputado federal.
Por que ele não voltou para Brasília? Ele tinha imunidade parlamentar. E o Goulart,
por que ele não pegou um avião e não foi para Brasília e chegou lá e ‘eu tô aqui,
ó’?. Não, os dois resolveram fugir”.1013 Para o segundo, “ele [Jango] ficou com
medo”.1014
De todo modo, a voz do “povo” se fez ouvir para além do que supõe o
documentário e revela disposições bastante heterogêneas e, em alguma medida,
surpreendentes. Pode-se dizer, em síntese, que, como vimos até aqui, Entre armas
e livros atribui a rejeição dos brasileiros a Jango graças ao seu projeto esquerdista
de poder, representado através das reformas de base e da aproximação com os
comunistas e radicais nacionalistas como Brizola.
Em seu Passados presentes, Rodrigo Patto Sá Motta apresenta um
importante levantamento sobre o que se sabe até agora a respeito do tema, a partir
das fontes disponíveis. Cumpre destacar, em primeiro lugar, que, embora
presumivelmente menor do que a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, o
comício na Central do Brasil foi uma grande demonstração de força do presidente,
independente do julgamento de valor que possa haver sobre sua agenda. Além
disso, pouco se sabe até aqui sobre o número real de participantes,
costumeiramente inflados pelos seus entusiastas de lado a lado. Mas não há muitas
dúvidas sobre o recorte de classe/grupo social nas mobilizações, que, a despeito
das intersecções, dispuseram os mais pobres com Jango e os mais ricos com a
oposição, que tinha todos os grandes jornais a seu favor.1015
Apesar dos seus muitos limites, outra ferramenta importante para perceber a
mentalidade da época são as pesquisas de opinião. Uma enquete do Ibope
realizada entre 20 e 30 de março de 1964, por exemplo, aferiu a aprovação ao
governo João Goulart em 42% entre os paulistanos, mais que o dobro dos que o
rejeitavam. Sobre as reformas de base, a mesma pesquisa encontrou apenas 7%
que as consideravam desnecessárias, ao passo que 79% as viam como
1012
BRASIL PARALELO. Capítulo 5 - O Último Reinado | Brasil - A Última Cruzada. YouTube, 22 mar.
2018. Disponível em: https://youtu.be/J8hnQcNyoXU. Acesso em 5 dez. 2023. 1:07:53 e 1:11:26
1013
1964 - O Brasil entre armas e livros. op. cit. 1:06:24.
1014
Id, ibid. 1:01:27.
1015
MOTTA. Passados presentes. op. cit. p. 127-128.
293
necessárias, sendo que 40% do total ainda diziam ser urgentes. Realizado em
várias capitais, outro levantamento assinalou 70% de apoio específico à reforma
agrária. A única reforma malquista era a que permitia o voto de analfabetos, com
49% de oposição.1016
Possivelmente pela mesma razão — ou seja, a rejeição à esquerda —, 80%
dos paulistanos eram contra a legalização do PCB, índice muito expressivo. 68%
ainda consideravam o comunismo um “perigo”, mesmo que estes tenham se diluído
entre uma pequena maioria que dizia se tratar de um perigo imediato e aqueles que
o imaginavam apenas no futuro. No entanto, os dados de São Paulo revelam que
mais da metade atribuía as medidas do presidente neste período como de interesse
público, enquanto somente 10% diziam tratar-se de demagogia eleitoral e 16% viam
nelas o caminho para a instauração de um regime comunista.1017 Uma possível
conclusão para esse aparente paradoxo é que os cidadãos não percebiam as
reformas de base e a administração de Jango como comunistas, mas simplesmente
nacionalistas ou socialmente justas.
Em maio de 1964, já sob o governo Castelo Branco, o instituto voltou a
campo e os números mostram uma importante inflexão. 54% dos paulistanos já
avaliavam a queda de Goulart como benéfica, ante 20% de contrários e 26% de
indecisos. Segundo a mesma enquete, 34% diziam que o chefe do Executivo caiu
porque estava levando o país para o comunismo e 21% porque queria fechar o
Congresso e converter-se num ditador, ao passo que somente 17% tiveram como
diagnóstico a ideia de que ricos e poderosos o teriam derrubado por terem seus
interesses contrariados. Também importa saber que, entre as classes A e B, o
índice de apoio ao golpe e o temor de uma escalada comunista eram
substancialmente maiores. Entre as hipóteses para essa virada, estão a possível
falta de medição das opiniões no calor dos episódios derradeiros do governo
deposto e o embalo da vitória militar — amplamente celebrada pelos meios de
comunicação —, que pode ter convertido de última hora os menos convictos. É fato
que o apoio à ruptura institucional aumentou, mas ainda longe de ser uma
unanimidade, no entanto.1018
1016
Id, ibid. 129-130.
1017
Id, ibid. 130-131.
1018
Id, ibid. 131-134.
294
1019
GIELOW, Igor. Datafolha: 52% acham que Brasil corre risco de virar comunista. Folha de S.
Paulo, 1 jul. 2023. Disponível em: https://folha.com/esk3x6lt. Acesso em: 2 mar. 2024.
1020
MOTTA. Passados presentes. op. cit. p. 128-129.
295
1021
Id, ibid. p. 36-45.
296
1022
PACHECO, Clarissa. George Orwell não é o autor de frase sobre ‘mentiras universais’. O Estado
de S. Paulo, 3 mar. 2022. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/estadao-verifica/george-orwell-mentira-verdade-ato-revolucionario/.
Acesso em: 9 dez. 2023.
1023
1964 - O Brasil entre armas e livros. 2:05:51.
1024
FERRAZ, Lucas. Injustiçados: execuções de militantes nos tribunais revolucionários durante a
ditadura. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 21.
297
No dia em que redijo estas linhas, o economista Javier Gerardo Milei toma
posse como 52º presidente da República Argentina. Sua ascensão representa um
forte abalo numa máxima que desde os anos 1990 circulou entre acadêmicos e
militantes por justiça de transição no Cone Sul, que garantia que a punição a
agentes da repressão funcionaria como antídoto, a um só tempo, contra a extrema
direita e contra revisionismos “nefastos” ou “problemáticos/ideológicos” da ditadura.
Numa entrevista de 2022 para a BBC News Brasil, a historiadora argentina Marina
Franco, questionada sobre quais seriam “as consequências desse processo de
memória limitado e a justiça de transição frouxa do Brasil no pós-ditadura”,
respondeu sem pestanejar: “numa palavra, Bolsonaro”.1025
Pode-se argumentar, claro, que Milei não é Bolsonaro. Mas tratar-se-ia de um
truísmo: ninguém é igual a ninguém. Projetado sob os preceitos libertarianos, de
defesa radical do livre mercado e da liberdade individual, o novo presidente
argentino foi se aproximando, no entanto, da agenda conservadora. E seus eleitores
também. De acordo com os resultados de uma pesquisa feita em conjunto pelo
Monitor do Debate Político, da USP, e da Universidade de Lanús, apoiadores de
Milei convergem com os apoiadores resilientes de Bolsonaro em diversas pautas
importantes.
Por exemplo, para 87% dos mileistas e 82% dos bolsonaristas, “auxílios do
governo desestimulam as pessoas a trabalhar”. Ambos também concordam
majoritariamente com a ideia de que leis trabalhistas "mais atrapalham o
crescimento das empresas do que protegem os trabalhadores" e que o Estado "não
deve pagar por todas as necessidades do povo". Como o discurso de fraude nas
urnas chegou mais tarde na Argentina — e Milei venceu os únicos pleitos que
disputou —, pode ser que ainda não tenha dado tempo de incorporá-lo tanto quanto
a direita o incorporou no Brasil. Mas ainda assim os números são alarmantes: só
28% dos entusiastas conservadores em Buenos Aires confiavam no sistema
eleitoral, ante 6% de bolsonaristas.1026
1025
MOTA, Camilla Veras. Brasil é país que menos julgou e puniu crimes da ditadura na região, diz
historiadora argentina. BBC News Brasil, 24 abr. 2022. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-61171113. Acesso em: 10 dez. 2023.
1026
AZEVEDO, Luis Felipe. Levantamento aponta o que eleitores de Milei e Bolsonaro têm em
comum. O Globo, 28 nov. 2023. Disponível em:
298
E não para por aí. Para as duas direitas, “os direitos humanos atrapalham o
crime”; “na escola se ensinam temas que contrariam os valores da família”; e “os
artistas não respeitam os valores morais da nação” (“apenas” 49% no caso
argentino e 78% no brasileiro). Impressionantes 96% e 98% de mileistas e
bolsonaristas, respectivamente, também dizem que “a internet permite descobrir
verdades que os jornais e a TV querem esconder”. Como chamou atenção Pablo
Ortellado, coordenador do levantamento, a semelhança entre os dois grupos é ainda
mais notável se se considerar que a nova direita argentina é mais recente e de perfil
bem mais jovem. Trata-se, segundo o pesquisador, “da consolidação de uma nova
direita bem assentada no combo liberal-conservador”.1027 A Brasil Paralelo, muito
entusiasmada com a candidatura de Milei, chegou a investir quase R$ 10.000,00 em
anúncios na Meta às vésperas da eleição.1028
De acordo com esses números e tantas outras medições similares, é possível
concluir que Letícia Cesarino estava certa: a crise é das ciências — ou dos experts,
como ponderou Tatiana Roque —, mas também e sobretudo das democracias. O
fato de a Argentina ter sido exemplo para a região em termos de justiça de transição
não impediu que a extrema direita voltasse ao poder, nem que ganhasse tração
outra memória da ditadura. Por trás da candidatura de Milei esteve Alberto Benegas
Lynch, cujo pai foi pioneiro na disseminação das ideias de Mises e Hayek na
Argentina e apoiador de Videla e Pinochet.1029 No fim da campanha, ele prometeu
romper relações com o Vaticano, ecoando a histórica rejeição da direita à Teologia
da Libertação.1030
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2023/11/28/levantamento-aponta-o-que-apoiadores-de-milei-
e-bolsonaro-tem-em-comum.ghtml. Acesso em: 10 dez. 2023.
1027
ORTELLADO, Pablo. Combo liberal-conservador é o mesmo na Argentina e no Brasil. O Globo, 2
dez. 2023. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/opiniao/pablo-ortellado/coluna/2023/12/combo-liberal-conservador-e-o-mes
mo-na-argentina-e-no-brasil.ghtml. Acesso em: 10 dez. 2023.
1028
VALDRÉ, Vinícius; GALZO, Weslley. Brasil Paralelo ‘bombou’ documentário pró-Milei com
propaganda vista 1,7 milhão de vezes. O Estado de S. Paulo, 21 out. 2023. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/politica/coluna-do-estadao/brasil-paralelo-bombou-documentario-pro-mile
i-com-propaganda-vista-17-milhao-de-vezes/. Acesso em: 15 jan. 2024.
1029
QUIÉNES son y cómo piensan los Benegas Lynch, los "próceres" de Javier Milei. Página 12, 17
ago. 2023. Disponível em:
https://www.pagina12.com.ar/579851-quienes-son-y-como-piensan-los-benegas-lynch-los-proceres-d
e. Acesso em: 10 dez. 2023.
1030
LAMBERTUCCI, Constanza. Una propuesta para romper relaciones con el Vaticano agita la
ultraderecha argentina. El País, 19 out. 2023. Disponível em:
https://elpais.com/argentina/2023-10-19/la-ultraderecha-argentina-propone-romper-relaciones-con-el-
vaticano.html. Acesso em: 10 dez. 2023.
299
1031
BARBON, Júlia. Milei diz em debate que não houve 30 mil desaparecidos na ditadura argentina.
Folha de S. Paulo, 2 out. 2023. Disponível em: https://folha.com/tmakizn8. Acesso em: 10 dez. 2023.
1032
PALÁCIOS, Ariel. Os 47 anos da ditadura mais sanguinária do século XX na América do Sul.
CBN, 23 mar. 2023. Disponível em:
https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/403873/os-47-anos-da-ditadura-mais-sangrenta-da-hist
oria-.htm. Acesso em: 10 dez. 2023.
1033
CUÉ, Carlos. Polêmica na Argentina pelos dados sobre desaparecidos da ditadura. El País Brasil,
28 jan. 2016. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/01/27/internacional/1453931104_458651.html. Acesso em: 10
dez. 2023.
1034
CASTRO, Manuela. Eleições argentinas: quem é Victoria Villarruel, vice na chapa do
ultradireitista Javier Milei. CNN Brasil, 14 ago. 2023. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/eleicoes-argentinas-quem-e-victoria-villarruel-vice-na-chap
a-do-ultradireitista-javier-milei/. Acesso em: 29 dez. 2023.
1035
A exemplo da tentativa de tomada do 3º Regimento de Infantaria Mecanizado, em La Tablada,
pelo Movimento Todos Pela Pátria, em 1989. SANTOS, Eduardo Heleno de Jesus. Grupos de
300
objetivo de lançar luz sobre as mortes provocadas por ela e reabilitar a imagem dos
agentes que atuaram na repressão, surgiram, já a partir de 1984, grupos de pressão
formados por militares da reserva. O primeiro foi o Familiares y Amigos de los
Muertos por la Subversión (FAMUS), formado ainda no governo de Raul Alfonsín, da
União Cívica Radical (UCR). Até o governo Néstor Kirchner surgiram mais cinco.1036
Com a revolução digital, outros grupos apareceram, encabeçados também
por civis identificados ou relacionados com militares. É o caso da AFyAPPA -
Asociación de Familiares y Amigos de los Presos Políticos de la Argentina
(https://afyappa.blogspot.com/). A exemplo das novas direitas brasileiras
congregadas em torno do bolsonarismo, ele inverte a lógica das organizações de
direitos humanos para fazer dos agentes da repressão na ditadura os verdadeiros
presos políticos. Essa estratégia dá uma aura antissistema e (paradoxalmente)
subversiva para o movimento. Filho de um tenente-coronel da reserva condenado à
prisão perpétua em 2010, Aníbal Guevara diz que, em caso de vitória de Milei,
"sería esperable que el trabajo de CELTYV se incorpore a las políticas de memoria,
incluyendo el reconocimiento a las víctimas de la violencia política y las
organizaciones armadas". Ele é um dos fundadores da associação Hijos y Nietos de
Presos Políticos.1037
Eventos de grande impacto no presente também ensejam analogias com o
passado, como nesta carta, repercutida pela AFyAPPA,1038 de uma leitora do La
Nación sobre a incursão israelense de 2023 em Gaza:
pressão política formados por militares da reserva no Mercosul. 321 f. Tese (Doutorado em Ciência
Política) - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2015. p. 31.
1036
Id, ibid. p. 22-65.
1037
ARCOMANO, Raúl. El multiverso negacionista: cómo es el entramado de “memoria completa”
que se entusiasma con un gobierno de Milei. elDiarioAR, 17 set. 2023. Disponível em:
https://www.eldiarioar.com/politica/multiverso-negacionista-entramado-memoria-completa-entusiasma
-gobierno-milei_1_10519179.html. Acesso em: 29 dez. 2023.
1038
AFyAPPA. Twitter, 16 out. 2023. Disponível em:
https://twitter.com/FyAppa/status/171392871205016398. Acesso em: 29 dez. 2023.
1039
CARTAS de lectores. Gira; demoras al votar; tema salud, ausente. La Nación, 16 out. 2023.
Disponível em:
301
https://www.lanacion.com.ar/opinion/carta-de-lectores/cartas-de-lectores-gira-demoras-al-votar-tema-
salud-ausente-nid16102023/. Acesso em: 29 dez. 2023.
1040
ARCOMANO. op. cit.
302
não experimentaram nada do tipo têm demanda sólida e estão apenas à espera de
uma oferta à altura.1041
A heterogeneidade desses movimentos também impede a formatação de
uma resposta única para a legítima e inevitável inquietação de setores da sociedade
civil quanto aos rumos de seus pactos democráticos. “Por exemplo”, diz Mudde,
“lidar com um partido de um homem só (PVV) ou com um partido de massa (BJP)
exige respostas profundamente diferentes”.1042 Convém sublinhar, além disso, que
nem todas essas expressões são necessariamente autoritárias e violentas. Dado
que esse é um fenômeno perene, convém reformular a pergunta original: como lidar,
então, com o negacionismo histórico e a extrema direita? É inevitável que eu a ouça
ao final de toda apresentação acadêmica. O diagnóstico está mais ou menos claro.
Mas o que fazer?
Como toda questão difícil, talvez seja imperativo começar a responder por
eliminação, destacando e subtraindo o que não fazer. Primeiro, por esses motivos,
parece importante não generalizar. Manifestantes contra o passaporte vacinal de
Porto Alegre não são nazistas da década de 1930. Para compreender as novas
direitas, inclusive as radicais, não basta ler sobre seus precedentes históricos. Uma
pesquisa Genial/Quaest às vésperas do segundo turno de 2022 revela que há vários
eleitores de Bolsonaro. Com ele, estiveram “empreendedores”, que representam
cerca de 4% do eleitorado; “conservadores cristãos”, que são expressivos 29%;
identificados com o “agro” (14%); e somente 2% de fascistas, absolutamente
intolerantes com a esquerda, preconceituosos, racistas e defensores de uma
guinada autoritária capitaneada por Bolsonaro.1043
Esse levantamento é fundamental para mostrar que, no interior das novas
direitas brasileiras, mesmo aquelas congregadas em torno de um único candidato —
que de fato tem inclinações autoritárias —, existem várias facetas e que demandam,
portanto, várias abordagens distintas. Numa coluna de julho de 2023, Fernando
Gabeira dá uma boa dica:
1041
MUDDE, Cas. A extrema direita hoje. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2022. p. 189-191.
1042
Id, ibid. p. 192.
1043
NUNES, Felipe; TRAUMANN, Thomas. Biografia do abismo: como a polarização divide famílias,
desafia empresas e compromete o futuro do Brasil. Rio de Janeiro: HarperCollins Brasil, 2023. p.
123-128.
303
1044
GABEIRA, Fernando. Os caminhos da polarização. O Estado de S. Paulo, 21 jul. 2023.
Disponível em: https://www.estadao.com.br/opiniao/fernando-gabeira/os-caminhos-da-polarizacao/.
Acesso em: 29 dez. 2023.
1045
PINOTTI, Fernanda. Quem foi Luiz Carlos Cancellier, reitor homenageado por Lula. CNN Brasil,
19 jan. 2023. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/quem-foi-luiz-carlos-cancellier-reitor-homenageado-por-lula/.
Acesso em: 30 dez. 2023.
1046
A exemplo da recente decisão de Dias Toffoli que julgou procedente ação peticionada pelo
escritório de advocacia da própria esposa para suspender multa bilionária de acordo de leniência da
J&F. PIRES, Breno. Toffoli suspende multa bilionária do acordo de leniência da J&F. piauí, 20 dez.
304
Direitos Humanos Silvio Almeida disse, em virtude do trágico suicídio de uma jovem,
após boatos de que estaria em relacionamento com um influenciador digital, que “a
regulação das redes sociais torna-se um imperativo civilizatório”.1051 Neste caso, é
claro que a circulação de uma falsificação deliberada exige alguma
responsabilização, mas a posteriori e não das plataformas. Trata-se de uma
confusão que alimenta, ainda mais, a desconfiança daqueles que temem pela
institucionalização da censura.
A meu ver, a restrição de conteúdos precisa ser encarada como uma
excepcionalidade e devidamente justificada como tal a partir de parâmetros legais
sobriamente discutidos pelo parlamento e pela sociedade civil. É fácil responder aos
anseios pela disciplinarização deste novo espaço público com platitudes
imperativas, do tipo “liberdade de expressão não é autorização para cometer
crimes!”, “fake news são crime!” e similares. A realidade tem se mostrado bem mais
desafiadora do que isso. Entre as exceções, considero razoável que o período
eleitoral tenha regras específicas e um tanto mais duras. Mas tudo dentro dos
limites da democracia liberal, que pode não ser perfeita, mas é o regime que mais
tem condições de resguardar direitos, sejam quais forem. Como defende Cas
Mudde, “cercear a liberdade de expressão e coibir o direito de manifestação não
apenas viola os direitos democráticos de ativistas de extrema direita, mas também
enfraquece os direitos de toda população e, portanto, o regime liberal-democrático
como um todo”.1052
Os progressistas também parecem superestimar uma eventual abertura da
“caixa preta” dos algoritmos, que explicam alguma coisa mas certamente não tudo
sobre a radicalização online, já que alguns dos aplicativos mais usados por
membros desses grupos sequer têm algoritmo, como nos casos de WhatsApp e
Telegram. Como mencionado, não se trata de renunciar aos marcos regulatórios,
mas de reconhecer seus limites e, principalmente, o papel ativo que têm os próprios
cidadãos nesse mundo em ebulição. O Brasil passa por uma grave crise do pacto
social consagrado pela Constituição de 1988 e só vai conseguir superá-la, penso, se
desarmar os atuais impulsos para a radicalização política e voltar a construir
1051
APÓS morte de jovem, ministro dos Direitos Humanos diz que regulação das redes é ‘imperativo
civilizatório’. G1, 24 dez. 2023. Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/12/24/apos-morte-de-jovem-ministro-dos-direitos-humanos-
diz-que-regulacao-das-redes-e-imperativo-civilizatorio.ghtml. Acesso em: 30 dez. 2023.
1052
MUDDE. op. cit. p. 193.
306
o tema escrutinado. Noutro, uma pílula vermelha que, do nada, promete acesso a
um mundo inteiro finalmente revelado via uma instantânea virada de chave.
E também nisso há, na atuação da Brasil Paralelo, um importante
estratagema: embora o conhecimento acadêmico seja de antemão desqualificado, é
através das titulações acadêmicas de seus entrevistados que a produtora busca se
legitimar no debate público. Como também já apontado por Cesariano, públicos
antiestruturais se notabilizam por emular públicos dominantes, buscando com isso
confundir a audiência para bifurcá-la.
Enquanto os públicos dominantes tentam atrair uma audiência renovada pela
plataformização descontraindo sua apresentação e incorporando elementos
estéticos heterodoxos, a Brasil Paralelo, por sua vez, percorre caminho contrário ao
simular seriedade e ortodoxia nas produções mais elaboradas. As aulas do Núcleo
de Formação da produtora, algumas disponíveis no YouTube, têm um cenário que
em muito se assemelha a programas tradicionais da intelectualidade consolidada,
algo como o Café Filosófico, da TV Cultura.
Isso já mostra que ignorar esse conteúdo também não parece uma opção,
especialmente para professores da educação básica. É natural que, imersos no
ambiente digital, os alunos sejam bombardeados com essas produções, de modo
que o seu descarte de antemão pode soar arrogante e representar uma boa perda
de oportunidade para discutir questões de interesse público, inclusive histórico.
Descartadas — pelo menos a princípio — as saídas criminais para a questão,
convém pensar em como agir para lidar com o fenômeno da melhor maneira
possível.
Para Marcos Napolitano, o conhecimento e a cultura histórica do estudante
devem fazer parte do repertório trabalhado pelo professor em sala de aula, inclusive
quando carregado de negacionismo, mas sempre cotejados “com os resultados da
historiografia, permitindo que o aluno perceba semelhanças e diferenças, polêmicas
e consensos, memórias de grupos sociais e seus valores”.1053 Sua lista de
recomendações para docentes e pesquisadores, com as quais me identifico, inclui
itens como explicitar “posições teóricas e metodológicas ao aluno, com base em
literatura acadêmica reconhecida”, e “valores ideológicos e morais que guiaram a
pesquisa”; “dialogar com a historiografia sobre o tema, valorizando o debate entre
1053
NAPOLITANO, Marcos. Negacionismo e revisionismo histórico no século XXI. In: PINSKY, Jaime;
PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). Novos combates pela história. São Paulo: Contexto, 2021. p. 108.
309
1054
Id, ibid. p. 107.
1055
NAPOLITANO. Negacionismo e revisionismo histórico no século XXI. op. cit. p. 106.
310
1056
Entre o final de 2023 e o início de 2024, um artigo assinado por Franco e três colegas publicizou
os resultados de um levantamento inédito sobre autocensura nas universidades brasileiras. Vale a
leitura: FRANCO, P. D.; LUZARDO, A.; BAILONI, L. F.; FASSULA, F. C. Medindo Autocensura e
Polarização na Educação Superior. Educação & Sociedade, Campinas, v. 44, e272100, 2023.
1057
INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS DA USP. Liberdade Acadêmica e Diversidade de
Pensamento na Educação Brasileira Hoje. YouTube, 16 dez. 2020. Disponível em:
https://youtu.be/eRJi3kasF90. Acesso em: 30 dez. 2023. 4:48.
1058
Id, ibid.
311
1059
Liberdade Acadêmica e Diversidade de Pensamento na Educação Brasileira Hoje. op. cit.
1:06:45.
312
1060
SAAB, Luiza Abi. Londrina: Professor universitário apoia atos terroristas em Brasília e pede
intervenção militar. Jornalistas Livres, 13 jan. 2023. Disponível em:
https://jornalistaslivres.org/londrina-professor-universitario-apoia-atos-terroristas-em-brasilia-e-pede-i
ntervencao-militar/. Acesso em: 9 jan. 2023.
313
à história atuar como juíza do tempo, a memória tem o papel de encarar essa
realidade para aproximar-se ou distinguir-se dela. Em ambos os casos, no entanto,
só se pode chegar a melhores avaliações com a verdade histórica.
Além disso, como defendo no capítulo específico sobre o tema, é
perfeitamente possível enquadrar as vítimas da luta armada à conjuntura de
paranoia instituída pela própria ditadura, que jogou brasileiros uns contra os outros
instigando delações e promovendo irreconciliáveis cisões no interior da sociedade
civil. A responsabilidade pelos poucos — mas reais — cadáveres da guerrilha é, ao
meu ver, compartilhada entre ela e a caserna. Nesse sentido, acho que seria
importante que esses mortos fossem igualmente reconhecidos pelo Estado
brasileiros como seus, e suas famílias também indenizadas. Como vimos
rapidamente no caso argentino, essa é uma questão particularmente importante
para aqueles que não necessariamente apoiam o legado da ditadura, mas que
tiveram as vidas fortemente afetadas graças à atuação de grupos armados em sua
oposição. A sensação é que esses personagens ficaram de fora, à sua revelia, do
pacto da redemocratização. De todo modo, há muito por fazer.
Por um tempo, tentei fugir do clichê de Millôr para encerrar esse trabalho.
Bobagem. Não é por acaso que existem os clichês. E os que resistem ao tempo
merecem atenção especial. O mais famoso aforismo do escritor brasileiro é a razão
em forma de síntese: o Brasil tem um passado enorme pela frente.
Ditadura, nunca mais.
315
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