Narrativas em Bustos e Estátuas
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE HUMANIDADES
Profa. Dra. Fernanda Leal
Diretora
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FICHA CATALOGRÁFICA
/Juciene Ricarte Apolinário, Edvânia da Silva Nascimento e Rodrigo Ribeiro de Andrade (Org.).
– Campina Grande
2020.
ISSN: 21764514
1. História. 2. Fontes. 3. Documento. 4. Cultura 5. Poder. 6. Sociedade. 7. Identidade
3
COMISSÃO ORGANIZADORA
COMISSÃO CIENTÍFICA
4
Ricardo Pinto de Medeiros (UFPE)
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APRESENTAÇÃO
Além do que foi exposto, é preciso que cada vez mais as instituições e a
sociedade desenvolvam uma consciência de que a preservação das fontes
documentais possibilita a valorização da memória local, regional e nacional.
Contribuindo para estabelecer um elo entre passado e presente através das
pesquisas históricas. As fontes históricas, registradas de diversas formas e em
diferentes suportes, devem ser uma preocupação de todos os pesquisadores,
não só da área da História, mas de diferentes saberes.
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SUMÁRIO
GRUPO DE TRABALHO 01: ..................................................................................................................... 9
SUJEITOS E FONTES PARA A HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL: POSSIBILIDADES DE
PESQUISA ................................................................................................................................................... 9
GRUPO DE TRABALHO 02: OS POVOS INDÍGENAS NA HISTÓRIA DO BRASIL: UMA
PERSPECTIVA PARA O USO DE FONTES NO ENSINO E NA PESQUISA HISTÓRICA ................ 43
GRUPO DE TRABALHO 03: LINGUAGENS HISTORIOGRÁFICAS E AS FONTES HISTÓRICAS
.................................................................................................................................................................. 105
GRUPO DE TRABALHO 04: A ARQUITETURA DA CIDADE E SUA DOCUMENTAÇÃO........... 180
GRUPO DE TRABALHO 05: FONTES HISTÓRICAS PARA OS ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE
AFRO-BRASILEIROS. ........................................................................................................................... 292
GRUPO DE TRABALHO 06: METODOLOGIA DA HISTÓRIA ORAL: USOS E DESAFIOS NO
OFÍCIO DO HISTORIADOR .................................................................................................................. 311
GRUPO DE TRABALHO 07: ARQUIVOS, FONTES E NARRATIVAS PARA A HISTÓRIA DAS
CIÊNCIAS E DA SAÚDE ....................................................................................................................... 352
GRUPO DE TRABALHO 08: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: TRILHAS INVESTIGATIVAS,
INDÍCIOS DE PESQUISA, FONTES E ARQUIVOS ............................................................................ 393
GRUPO DE TRABALHO 09: HISTÓRIA CULTURAL DAS PRÁTICAS EDUCATIVAS ................ 527
GRUPO DE TRABALHO 10: ENSINO DE HISTÓRIA E FORMAÇÃO DE DOCENTE ................... 686
GRUPO DE TRABALHO 12: FONTES PARA A HISTÓRIA AMBIENTAL NO BRASIL
CONTEMPORÂNEO: DEBATES TEÓRICOS, ENFOQUES CRIATIVOS E TENDÊNCIAS ATUAIS
.................................................................................................................................................................. 757
GRUPO DE TRABALHO 14: MULHERES NA CIÊNCIA E TECNOLOGIA: GÊNERO, MÍDIA,
PADRÕES DE MASCULINIDADES E FEMINILIDADES .................................................................. 818
GRUPO DE TRABALHO 16: PATRIMÔNIO CULTURAL E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL:
DIFERENTES FONTES HISTÓRICAS E DIÁLOGOS INTERDISCIPLINARES ............................... 879
GRUPO DE TRABALHO 17: DESVELAR OS MONSTROS, DAR VOZ AOS INTOLERADOS...
INQUISIÇÃO E RELIGIOSIDADES NO MUNDO IBÉRICO E COLONIAL ..................................... 938
GRUPO DE TRABALHO 18: HISTÓRIA E LITERATURA: DIÁLOGO INTERDISCIPLINAR
ENQUANTO FONTES E ABORDAGENS TEMÁTICAS..................................................................... 974
GRUPO DE TRABALHO 19: ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E INSTITUIÇÕES NO BRASIL
COLONIAL ........................................................................................................................................... 1009
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COMUNICAÇÃO ORAL
Rodrigo Ceballos
rcovruski@gmail.com
Fundada em 1580, quando da união das coroas ibéricas, não tardou para que
Buenos Aires se tornasse um porto estratégico, não apenas militarmente, mas também
de entrada e saída de mercadorias em rotas interioranas e atlânticas paralelas às
controladas pelos centros administrativos e comerciais do Alto Peru. Devido às
denúncias de contrabando, em 1593, o vice-rei do Peru, o marquês de Cañete, proibiu
qualquer tipo de comércio atlântico em Buenos Aires e o desembarque de passageiros
no seu porto. No ano seguinte, o monarca Felipe II de Castela ratificou tal decisão por
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Em 1602 o rei voltou a emitir uma série de cédulas reais que reforçaram a
proibição do desembarque de portugueses (e de outros estrangeiros) sem licenças, mas
deu a liberdade, mesmo que limitada, de comércio dos vecinos do porto com o Brasil
através da emissão de licenças pelos seus representantes régios. Estas cédulas
permitiram por seis anos que em navios próprios fossem transportados anualmente ao
Brasil e Guiné, assim como a outras terras vizinhas de domínio espanhol, até 2.000
fanegas de farinha, 500 quintais de carne seca e 50 arrobas de sebo.1 Em seu retorno,
podia-se trazer roupas, lenços, calçados, ferro, aço e outros produtos para serem
consumidos unicamente em Buenos Aires.2
As r str s p rm n r m om s ul s r s mt s m 6 8 m 6
Em 6 8 o un l n s mC r o o r n o mpostos t 5 os
produtos que obrigatoriamente passavam pelo interior, rumo ao Alto Peru. A coroa
mostrava-se atenta às práticas comerciais dos vecinos r nt o nt r ss n
m nut n o Carrera de Indias ontr u n o p r o s nvolv m nto o monop l o
1
Uma fanega espanhola equivale aproximadamente a 4,68 arrobas portuguesas (68,8 kg) e um quintal a
100 arrobas espanholas (50,8 kg).
2
Real Cédula de 20 de agosto de 1602, permitiendo la exportación de frutos al Brasil y Guinea. In
Archivo de la Nación Argentina. Reales Cedulas y Provisiones (1517-1662). Tomo 1. Buenos Aires,
1911. pp. 52-53.
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Em 1536, o conquistador espanhol Dom Pedro de Mendoza fundou um porto na embocadura do Rio da
Prata. O isolamento deste povoado nomeado de Nuestra Señora Santa María del Buen Aire motivou, em
grande parte, o seu abandono em 1541. Em 1580, o teniente de gobernador do Rio da Prata e Paraguai,
Juan de Garay, partindo de Assunção com alguns colonos fundou novamente a estratégica cidade com o
título de Santísima Trinidad y Puerto de Santa María de los Buenos Aires.
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Ocidentais. Uma proximidade exercida mais em sua prática cotidiana do que por meio
das regulamentações régias.
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A qualidade de vecino permitia ao morador comprar cargos de regidor no Cabildo (Senado da Câmara),
dando-lhe maiores oportunidades de assegurar mercês de terras, encomiendas, licenças de vaquerías (caça
ao gado selvagem) e permissões para exportação (restringidas por ordens régias). Para obter o direito de
vecindad r n ssár o tr v s p t o o C l o t r ― s po l ‖ possu r rm s v los
residir na cidade há alguns anos e oferecer-se a sustentar a cidade de acordo com os preceitos do Cabildo.
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Apesar da união ibérica, Portugal continuou regido por suas próprias leis,
costumes e instituições. Nobres lusos sobreviventes da batalha de Alcácer-Quibir foram,
inclusive, libertados mediante volumosas quantias repassadas pela corte espanhola. A
fidalguia lusa pós-un o orr spon u m r n m um ― n ros ‖
de fortes interesses políticos de Felipe II. Em 1640, ano da Restauração, das cinquenta
casas titulares lusitanas existentes, 41 foram criadas durante a dinastia dos Habsburgos
m Portu l E m smo p s ―r l r nt n ‖ F l p IV C st l ont nuou
instituir títulos a muitos lusitanos como mercê pela fidelidade mantida. (SCHAUB,
2001, 35)
Esta foi uma estratégia apropriada encontrada pela corte para manter vínculos de
interdependências com Portugal após o tênue equilíbrio obtido pela união. Não tardou
muito para que boa parte da nobreza lusitana – principalmente os de fidalguia –
percebesse as vantagens que a união dinástica poderia significar, possibilitando-lhe
ampliar sua participação em redes clientelares. O Portugal dos Felipes, assim, foi
mantido em uma frágil e estreita aliança entre um rei ausente e uma nobreza mediadora.
(BOUZA ÁLVARES, 2000, 23)
Em caso de ausência, deveria deixar um representante armado e com montaria para que mantenha sua
vecindad t s u r torno ―h r u r to s l s os s y sos qu omo t l s v nos s l m n r n
y u r n o l os‖ D qu lqu r orm s un o L u nt M h n r uma condição favorável,
pr t m nt sv o n to rm r qu r s o om ―h j o n t onqu st or y pr m r
po l or‖ (LAFUENTE MACHAIN, 1931, 47).
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Foi nessa malha social, comercial e política que o piloto e mestre do navio recém
chegado em 1619 viu-se repentinamente envolvido. Não era a primeira vez que
Bartolomé Fernandez aportava em Buenos Aires. Para o ano de 1615 há registros de que
esteve junto com o comerciante e também piloto de navio Gonzalo Rodrigues Minaya.
Num primeiro momento, o mestre Minaya foi proibido de levar os escravos para
a cidade, devendo aguardar na praia do Riachuelo. Finalmente, a decisão do defensor de
la real hacienda o pun o o m str m r o por r l z r ― rr orzos y
5
Archivo General de la Nación (Argentina) – Registros de Navíos, Navío Nuestra Señora de Gracia,
1613. Sala 9, 45 5 2. fls. 21, 21v e 22. [AGN-Registros de Navíos].
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AGN-Registros de Navíos, Navío Nuestra Señora de Gracia, 1613. Archivo General de Indias,
Escribanía de Cámara y Justicia del Consejo de Indias, Residencias de la Audiencia de Buenos Aires,
Escribanía, 892A, fl. 12. [AGI-Escribanía].
7
Carta do governador Hernan Arias de Saavedra, 15 de fevereiro de 1618. (SALVADO; MIRANDA,
2001, 255-258).
8
Memorial del procurador general de las provincias del Río de la Plata, en España, Capitán Manuel de
Frías, dirigido al Rey y visto en Consejo en que puntualiza las necesidades de cada una de las principales
ciudades.... In LEVILLIER, Roberto (coord.). Correspondencia de la Ciudad de Buenos Aires con los
reyes de España (1615-1635). Madrid, 1918. Tomo 2. p. 71-72.
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nome do lisboeta Bartolomé Fernandez. Ele desembarcara no porto naquele ano de 1615
para cobrar dívidas de vecinos por um navio vendido.9
9
AGI - Escribanía 892A, fls. 13 e 13v.
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REFERÊNCIAS
Fontes:
Fontes Impressas:
TRELLES, Manuel Ricardo (org.). Registro Estadístico de Buenos Aires (1864). Tomo
Bu nos A r s: ―El N on l‖ 866
SALVADO, João Paulo; MIRANDA, Susana Münch (ed.). Livro Primeiro do Governo
do Brasil (1607-1633). Brasília: Centro de História e Documentação Diplomática,
MRE, 2001.
Bibliografia:
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HANKE, Lewis. The portuguese in Spanish America, with special reference to the Villa
Imperial de Potosí. In Revista de Historia de América, n. 51, p. 1-48, 1961.
LAFUENTE MACHAIN, Ricardo de. Los portugueses en Buenos Aires. Siglo XVII.
Madrid: Ologáza, 1931.
MOLINA, Raul. Una historia desconocida sobre los navíos de registro arribados a
Buenos Aires en el siglo XVII. Historia, año 5, n.16, p. 11-100, 1959.
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É necessário dizer que neste levantamento sobre os viajantes limitei-me aos trabalhos dos que
descreveram o Brasil, mais especificamente os autores que em suas descrições citaram os ciganos.
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Além disso, para Saint-Hilaire fica claro que os ciganos não são brasileiros,
embora se vestissem como tal, sendo, portanto, estrangeiros, onde a barba e os cabelos
longos servem como traços distintivos.
É preciso atentar para uma associação ou vinculação feita pelos viajantes entre
ócio, pobreza e marginalidade para definir os ciganos. Além da ausência de trabalho
regular e de disciplinas, os ciganos também são acusados de morar em péssimas
habitações, de t r m ostum s susp tos l r m um ―gíria própria ‖ tr os
selecionados para ressaltar o caráter de suspeição e miserabilidade desta gente.
Tais apreciações serviram como suporte ideológico para a crença no perigo que
r pr s nt r m os nos A p r o so l m n nt ss ―abominável raça‖
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Os ciganos e o Degredo
Nas Ordenações de Filipinas o Brasil aparece como o pior lugar para o degredo;
apresentando cerca de 90 tipos de delitos punidos com o degredo para o Brasil. E entre
os ― n tos‖ st v m os nos p ra quem as autoridades portuguesas promulgaram
leis a fim de conte-los, buscando controlar seus fluxos migratórios, impor a
sedentarização e transformar seus costumes.
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REFERÊNCIAS
CAMINHA, Pero Vaz. Carta ao Rei D. Manuel. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997.
CAMPOS, Cláudia Camargo de. Ciganos e suas Tradições. São Paulo: Madras, 1999.
COSTA, Elisa Maria Lopes da. O povo cigano e o degredo: contributo povoador para o
Brasil colônia. Textos de história: Revista do programa de Pós-Graduação em
História da Unb, v. 6, nº 1 e 2, Brasília; Unb, 1999.
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KOSTER, H. Viagens ao Nordeste do Brasil. São Paulo: Ed. Nacional, 1942 (1816).
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NASH, Roy. A Conquista do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1950.
OLIVEIRA, João Pacheco de. (org.) Por uma sociologia dos viajantes. Sociedades
Indígenas e Indigenismo no Brasil. Rio de Janeiro: Marco Zero/UFRJ, 1987.
SALVADOR, frei Vicente. História do Brasil (1500-1627). São Paulo, 1976 (1918).
SAINT-HIAIRE, A de. Viagem à Província de São Paulo. São Paulo: Ed. da USP,
Belo Horizonte: Itatiaia, 1976.
TAPAJOS, Vicente. História do Brasil. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1953.
VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História do Brasil. São Paulo: Itatiaia – USP, 1981.
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PÔSTER
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RESUMO
INTRODUÇÃO
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declarado guerra às Províncias Unidas do Rio da Prata, o que nos levou a outra busca,
entender o significava tal confronto, chegando assim à guerra da Cisplatina, que tratou-
se de um confronto armado pela posse do território da atual República Oriental do
Uruguai, que promoveu o aumento da dívida externa, a perda de território, e um
desgaste político do imperador, que já estava com sua popularidade bem baixa por
ont t m m s su s ―pul s r ‖ t l omo o s u so om M rqu s
S ntos qu s r ot ‘á u qu o t r l v o romp r om o s u n lu nt M n stro
José Bonifácio de Andrada e Silva, pessoa da maior importância no contexto da
independência. Tais fatores somados a outros culminaram mais tarde na abdicação do
Imperador ao Trono, alguns anos depois, em 7 de abril de 1831.
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fizera com o Império da Áustria, então uma das mais importantes potências mundiais e
peça-chave na política internacional, além de terra natal da recém-finada Imperatriz
Leopoldina, que muito fizera para garantir o reconhecimento da Independência. O papel
da Áustria era vital nesse contexto marcado pela deposição de Napoleão Bonaparte anos
antes (1815) e pela reordenação da política internacional, de tons bastante
ons rv or s tr v s o Con r sso V n r o ―S nt Al n ‖
idealizada pelo Ministro austríaco Príncipe Klemens Wenzel von Metternich, um dos
signatários do Tratado que estudamos.
REFERÊNCIAS
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Imagens:
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
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Diante dessa junção e a apropriação das culturas e ritos, permitiu-se que o negro
e o aborígene – aqui presentes e hostilizados – sentirem-se parte do todo, identificados
com o outro, o colono. Logo, é entendido que as danças juntaram e, de fato,
transformaram as culturas distintas que se fizeram presentes no Brasil, e, à vista disso,
criaram uma multiplicidade de identidades dos povos aqui instalados. Neste ensaio, a
obra primorosa da historiadora Mary Del Priore, Festas e utopias no Brasil colonial
(2000), foi explorada em demasia para o entendimento das danças e sua relação com a
identidade; além disso, outros livros e artigos a respeito desse dançar identitário foram
igualmente analisados para os fins deste texto.
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O ser dançante escapa, por vezes, à análise, é expressivo em seu ápice, a arte de
performar a vida vai além do que é denominado de profano ou sacro; o dançar é
sinônimo de transformação e representação. Sendo assim, a construção da identidade no
que se refere a dança denota, além do transcendente em uma espacialidade e
temporalidade, a fortificação de certos desequilíbrios sociais com festividades que
s m ol z v m on l tos mu t s v z s rv l sr s n ―[ ] ol or o
que eventualmente teriam a oferecer à metrópole, e o signo de sua dominação sobre os
m s s m ntos so s n Colôn ‖ (DEL PRIORE, 2000, p. 62).
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conseguiam burlar esse regimento, de certa forma, através das danças presentes nas
festividades – suas danças, pois, eram tratadas pela Igreja como profanidades; e havia,
então, a interação destes e demais sujeitos que buscavam momentos lúdicos. Mediante o
exposto, as danças profanas foram uma das vias em que a manifestação das
religiosidades indígena e africana permaneceram vivas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ademais, as festas eram uma forma de fuga da rotina castigada pelo sistema e
p l n tur z omo x mpl o por D l Pr or ―o r so típ o st omp nh v
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o alívio e também a revanche dos homens, agora 'urbanos', contra as forças naturais e
s lv ns o mpo mont nh os s rt s ‖ (DEL PRIORE, 2000, p. 54)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BURKE, Peter. A Cultura Popular na Idade Moderna. São Paulo: Companhia das
Letras, 1989.
DEL PRIORE, Mary Lucy. Festas e utopias no Brasil colonial. São Paulo: Brasiliense,
2000.
TINHORÃO, José Ramos. As festas no Brasil Colonial. São Paulo: Editora 34, 2000.
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COMUNICAÇÃO ORAL
INTRODUÇÃO
Versando por essa linha discursiva, partimos para a seguinte reflexão: o que
pensam os estudantes indígenas sobre seu papel na história do Brasil? Para sabermos, a
melhor forma é buscar ouvi-los e fornecer espaços de diálogos para que sejam ouvidos.
Deste modo, este artigo apresentará os primeiros resultados do projeto O Ensino de
História no contexto da Educação Escolar Indígena Potiguara da Paraíba-PB, produto
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Pesquisa de doutorado que se encontra em andamento está ligada ao Programa de Pós-Graduação em
História da Universidade Federal de Goiás e ao Grupo de Pesquisa Abaiara – Estudos Indígenas da
Paraíba - UFPB, coordenado pela professora Doutora Cláudia Cristina do Lago Borges.
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A questão da educação indígena propicia uma importante reflexão: qual terá sido
o contexto dentro do qual a comunidade Potiguara passou a ter como pauta a
reinvindicação por escolas indígenas em suas aldeias? O que se sabe sobre esse assunto
é que coube à Igreja Católica a responsabilidade por administrá-la. Não diferente da
realidade das demais aldeias espalhadas pelo Brasil, desde a colonização até os anos
1970, essas questões se relacionavam diretamente com os interesses das igrejas, isso
porque, não apenas a instituição Católica se manteve frente à organização das escolas,
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mas os protestantes também passaram a olhar com interesse pelo domínio das questões
educacionais em muitas aldeias da Paraíba (GRÜNEWALD, 2009, p. 22-23).
A partir dos anos 1990, o governo, por meio da Secretaria Estadual de Educação,
passou a articular junto às comunidades, através do diálogo com professores e
lideranças indígenas, encontros que tiveram como eixo debates focados na Educação
Escolar Indígena. O objetivo foi o de promover reflexões acerca das demandas das
escolas já implantadas no território.
Os anos 2000 foram marcados por uma série de acontecimentos que foram
fortalecendo a Educação Escolar Indígena Potiguara. Em 2001, por exemplo, ocorreu
um curso de capacitação para técnicos, promovido pelo Ministério da Educação, que
teve como objetivo preparar corpo administrativo para exercerem suas funções nas
escolas indígenas. Já em 2002 houve uma capacitação que teve como propósito a
promoção de debates acerca dos Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação
Escolar Indígena. No ano seguinte, em 2003, foram realizadas duas oficinas que tiveram
como finalidade possibilitar diálogos e reflexões acerca dos Fundamentos Legais da
Educação Escolar Indígena, momento no qual foram levantados os desafios da educação
Potiguara e a realidade de cada escola em suas respectivas aldeias (GRÜNEWALD et
al., 2009).
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Ao ser indagado sobre o que aprende nas aulas de história e se gosta dos
conteúdos estudados na disciplina, um estudante Potiguara, matriculado no 2° ano do
Ensino Médio da Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental e Médio
Akajutibiró, localizada na aldeia Akajutibiró, município de Baía da Traição, na Paraíba,
r spon u s u nt m n r : ―Eu pr n o so r ssuntos nt os‖ (ESTUDANTE
A12, 17 anos). E informou ainda que sim, que gosta muito do que estuda na matéria.
12
Não serão apresentados os nomes dos estudantes. O mais importante, aqui no caso, é o ano no qual o
participante está matriculado e a sua idade. Assim, optou-se por apenas identificar como ESTUDANTE
A, B, C e, assim, sucessivamente no decorrer do trabalho.
13
O trabalho já passou pela avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás
e já recebeu a aprovação do referido órgão.
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Interessante a maneira como o estudante ilustrou aquela que ele conhece como
sendo a sua história. Para isso, três cenas são representadas no desenho, mas não é
possível informar em qual ordem elas foram ilustradas, nem se fazem parte ou não de
uma sequência cronológica que anuncie um processo histórico. Em todo caso, ao
analisar os traços, percebe-se que, de um lado, existe um navio a aportar em terras que
seriam do litoral nordestino, trazendo europeus com ambiciosa sede de conquista. De
outro, estão os indígenas encorajados a enfrentarem o invasor ainda desconhecido.
14
No desenho nota-se a presença de um sino, objetivo símbolo das instituições católicas.
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Além disso, outro aspecto que chama atenção é o fato do estudante representar
as moradias indígenas em formato de ocas, quando as atuais residências dessa região
são, em sua maioria, casas de alvenaria. Possivelmente, ele relacionou a palavra
história, que aparece no enunciado da questão, com esse tipo de moradia que era comum
no passado desses nativos. Ao ser solicitado para que elucidasse o que buscou informar
com o desenho desenvolvido, o estudante deu a seguinte resposta:
O jovem estudante pode ter aprendido isso na escola, com sua professora de
História, por exemplo. Mas esse conhecimento pode ser resultado, ainda, das narrativas
que comumente vão passando de geração em geração, sempre resguardadas pelos mais
velhos, prática frequente em muitas comunidades indígenas. Muito provavelmente, tem
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No decorrer do trabalho, será mantida a escrita de cada estudante, tal qual consta no questionário
respondido, inclusive com os erros gramaticais que possam ter ocorrido.
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um pouco das duas. Contudo, ao ser indagado sobre com quem ele aprendeu a história
qu hoj l ont omo s n o o s u povo r spost o : ―Apr n om m us vôs
to m nh míl ‖ (ESTUDANTE A ° ANO) Isso on rm rt orm
segunda hipótese levantada: a de que não só a escola ensina história a esses estudantes,
eles também recebem esse tipo de formação em suas casas, com os familiares mais
velhos. Afinal, conforme pondera Paulinho Rikbaktsa, um educador indígena do Mato
Grosso: ―[ ] pr m r u o n amília e com outros parentes. A segunda é da
s rt o pr n z o s ol p r ompl m nt r‖ (CONSELHO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA, 1997, p. 18).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta perspectiva do espaço educacional, cada vez mais jovens indígenas têm
ingressado nos diversos espaços e níveis acadêmicos, o que permite não somente uma
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busca pelas suas próprias origens, mas, principalmente pelo respeito e valorização de
sua cultura.
REFERÊNCIAS
BERGAMASCHI, Maria Aparecida; SILVA, Rosa Helena Dias da. Educação escolar
indígena no Brasil: da escola para os índios às escolas indígenas. Ágora (Unisc), v.13,
p.124150, 2007.
CUNHA, Manuela Carneiro da. (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1992.
CUNHA, Manuela Carneiro da. Índios no Brasil: história, direitos e cidadania. São
Paulo: Claro Enigma, 2012.
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PPGE-UFPB
julianabarroshistoria@gmail.com
Ainda no que diz respeito à Educação Superior cabe, a nosso ver, a máxima de
Selbach et al (2010) ao tratar sobre o Ensino de História para aqueles (as) que não
pretendem ser tornar historiadores (as), enfatizando que o (a) professor (a) da disciplina
deve selecionar os conteúdos úteis aos estudantes, visto que
Essa seleção precisa levar em conta que a História possui indiscutível valor
formativo, que ajuda estruturar o pensamento e agilizar o raciocínio dedutivo,
m s t m m um ― rr m nt ‖ qu s us m tu o ár qu s
emprega em qualquer profissão. (SELBACH et al, 2010, p.123).
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Assim, tomando por base uma perspectiva temática, por exemplo, buscou-se
trabalhar a respeito dos povos indígenas e suas contribuições para a formação cultural
brasileira distanciando-se da fragmentação e da falta de criticidade. A nosso ver, as
discussões sobre a temática são necessárias no âmbito das instituições educacionais,
corroborando, dessa maneira, a ideia de Bittencourt (2008) ao asseverar que
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Tal processo, de acordo com Moonen (2008), contou com a resistência das
autoridades então instituídas à época em reconhecer as terras ancestrais dos potiguara
como áreas validadas para compor a demarcação. Por essa razão, invasores das terras
indígenas aliados a representantes do Poder Público impuseram uma demarcação que,
de fato, não correspondia à realidade ou fazia jus ao que merecia o povo potiguara da
Paraíba.
Mais uma vez, de nada valeram Leis, Decretos e Constituições que, pelo
menos em teoria, garantem aos índios a posse permanente das terras que
tradicionalmente habitam, que afirmam que as terras indígenas são bens
inalienáveis da União, que declaram solenemente que as terras indígenas são
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A visita ao território potiguara por parte dos alunos (as) do 9º Ano do Ensino
Fundamental II foi organizada após iniciativa dos (as) discentes da turma. Em um
primeiro momento, os alunos (as) propuseram a realização de uma atividade que
envolvesse teatro, música e a temática indígena, dada aproximação do dia 19 de abril,
t om mor no l n ár o s ol r omo ―D o In í n ‖ Os lunos ( s)
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62
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Após isso, os (as) estudantes de ambos os grupos foram direcionados (as) à área
de convivência e reunião do povo indígena potiguara. Nesse local também ocorre a
recepção aos turistas antes que adentrem ao espaço da aldeia. Lá os (as) estudantes
puderam fazer perguntas, bem como receber instruções referentes à maneira de se portar
ao adentrarem à aldeia São Francisco.
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Ainda com relação ao experimento, pode-se afirmar que a mediação da visita por
parte da liderança indígena local ultrapassou a condição de ser simplesmente um guia
ante a permanência da turma do 9º Ano nas terras potiguara, visto que os alunos (as)
convidaram o pajé para estar na escola no dia 11 de maio de 2018 não apenas para
ss st r m s s m p r p rt p r t v m nt n n o ―Ín o o Br s l‖ pr sentada
para as demais turmas do Ensino Fundamental II do turno manhã e preparado pelos (as)
estudantes e pela docente em alusão à situação dos povos indígenas no Brasil, do
― s o r m nto‖ os s tu s
Já no que se refere à avaliação da experiência por parte dos alunos (as) dos
cursos de Bacharelado em Serviço Social e Administração, a professora solicitou
64
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Assim, pela temática trabalhada, observa-se que este escrito adequa-se ao grupo
tr lho ―Os povos n í n s n H st r o Br s l: um p rsp t v p r o uso
fontes no Ensino e na Pesqu s H st r ‖ r ss lt n o qu p rt r um xp r ên
de ensino de História relacionada aos povos indígenas foi possível propor esta nossa
pesquisa, calcada na vivência in loco relacionada aos entendimentos, construções,
alteridade e combate a visões estereotipadas a respeito dos povos indígenas do Brasil,
em especial no que se refere ao povo potiguara na Paraíba.
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REFERÊNCIAS
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PÔSTER
INTRODUÇÃO
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Graduada em História (licenciatura) e integrante do Grupo de Pesquisa Abaiara/UFPB.
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Professora associada do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba. Coordenadora
do Grupo de Pesquisa Abaiara/UFPB.
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O rt 5 o D r to nº 8 7 / 9 pr v o st l m nto ― s ol s para o
ensino primario, aulas de musica, officinas, machinas e utensílios agricolas, destinados
a beneficiar os productos das culturas, e campos apropr os pr n z m rí ol ‖
Percebe-se do extrato que, ao mesmo tempo em que se estabelecia a criação de escolas
dentro das povoações indígenas, seu funcionamento estaria vinculado a procuradores
legais nomeados pelo órgão, ou seja, aos inspetores, cargos esses ocupados por não
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indígenas. Fica em exposto, assim, que o ensino nessas áreas não representava uma
política para se estabelecer a solidificação cultural desses povos, mas a de inserção de
uma cultura que se autocompreendia superior, e ao determinar a nomeação de
procuradores legais, corroborava-se a ideia da incapacidade dessas populações de
gerirem seus próprios interesses.
É inserto nessa realidade que a educação dos índios se apresenta como estratégia
fundamental na incorporação desses povos à sociedade do progresso, autodenominada
vlz t n o m v st ―[ ] o umpr m nto os v r s ív os tr v s o
conhecimento da higiene, da escola primária, de exercícios físicos, da instrução militar,
da educação moral e cívica, do culto à bandeira, do canto dos hinos, do conhecimento
s t s n on s ‖ (GAGLIARDI 989 p 77) nt r n o ss m o s st m
tutela operado pelo SPI atendendo à ideia de nação e identidade que se pretendia
construir.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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atuação de visão laica entre os povos indígenas, uma vez que se buscava segregar o
poder estatal do poder eclesiástico. No entanto, se por um lado o idealismo progressista
afastava a tutela religiosa já há tantos séculos, por outro, sedimentou as vigas de um
projeto de assimilação indistinta desses povos à sociedade.
REFERÊNCIAS
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GARFIELD, Seth. A luta indígena no coração do Brasil. São Paulo: Ed. Unesp, 2011.
GARFIELD, Seth. As raízes de uma planta que hoje é o Brasil: os índios e o Estado-
Nação na era Vargas. Revista brasileira de história, v. 20, n. 39, 2000, p. 13-36.
LIBANIO, Pedro; FREIRE, José Ribamar Bessa. Rondon, o Brasil dos sertões e o
projeto de nação. In: FREIRE, Carlos Augusto da Rocha. MEMÓRIA do SPI: Textos,
imagens e documentos sobre o serviço de proteção aos índios (1910-1967). Rio de
Janeiro: Museu do Índio-FUNAI, 2011, 169-177.
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Graduanda em História/UFPB
yrisoliveirac@gmail.com
claudialago.rn@gmail.com
INTRODUÇÃO
18
A pesquisa de que trata o artigo é parte do projeto Indígenas da Paraíba sob a tutela do SPI, vinculado
ao Abaiara – Grupo de Estudos Indígenas da Paraíba/UFPB.
19
Em 1918 há uma separação entre o SPI e a LTN, a partir do Decreto-Lei nº 3454, de 6 de janeiro de
1818.
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por outros eixos da população, mas preservando a cultura e as artes, trazendo com o
documento a figura dos inspetores que seriam procuradores dos índios, ou nomeando outros
para representá-los.
escolarização, organização dos postos de saúde e outros serviços ligados aos povos indígenas.
Entre as medidas tomadas pelo SPI, foi instaurado o projeto de promover saúde para a
comunidade indígena (Decreto 736, de 06 de abril de 1936 do SPI,) que era responsável pela,
entre outras coisas, realizações de medidas preventivas a surtos endêmicos e demais doenças,
o que, de forma teórica, solucionaria boa parte dos problemas relacionados a esses aspectos na
região atendida pelo Posto em questão.
METODOLOGIA
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estrutura física do posto estar pronta, conforme o documento 4-71/1-12, porém a próxima
compra de materiais só iria acontecer quase um ano após, em outubro de 1943. Desta vez
eram de bens permanentes, de acordo com a descrição da fatura 4-71/1-24 que descrevia mesa
ginecológica, escadinha com degraus, esterilizador, lavatórios e bacias, o que caracterizaria
uma perspectiva de intervenção inclusive no parto das índias e na intervenção de doenças
ginecológicas conhecidas na época, sabendo que, em paralelo, surgia à criação da Inspetoria
de Profilaxia da Lepra e das Doenças Venéreas, no âmbito do Departamento Nacional de
Saúde Pública, primeira ação pública relacionada à doença e ao câncer, conforme o decreto-
lei 3.643 de 23 setembro 1941. Em 30 agosto de 1944 uma nova compra de insumos como
ataduras, gaze, água oxigenada, éter, vaselina e soro foi efetivado (Documento 4-71/1-34),
entretanto, observa-se que a data do recibo referente a essas aquisições precedeu em um dia o
início da atividade de enfermagem no posto, demonstrando uma necessidade latente em fazer
com que o funcionamento do posto fosse uma realidade, até mesmo para que fossem prestadas
contas desta atividade ao Ministério da Agricultura, segundo o item i do Art.10 do decreto
10.652 e Portaria n. 1, de 10 de fevereiro de 1944 do Ministério da Agricultura.
Um dos documentos mais relevantes deste período no Posto Nísia Brasileira é sem
dúvidas o inventário sob o número 4-71/1-50 que se refere ao cumprimento da Portaria n° 1
de 10 de fevereiro de 1944 no qual é possível identificar duas partes: material permanente e
material flutuante, descrevendo máquinas e objetos de escritório; máquinas e instrumentos
agrícolas; máquinas, instrumentos e ferramentas e utensílios de oficina; aparelho, instrumento
e utensílio de engenharia, veículos e acessórios, arreios e pertences, aparelhos e utensílios de
laboratório, aparelhos e instrumentos médicos-cirúrgicos, livros e folhetos. Esse documento
relata balanças de precisão, funis, bastonetes, espátulas, bisturis, pinças, tesouras, além de
drogas e medicamentos manipuláveis, sendo todos estes itens quantificados e com preços,
pois além do levantamento dos materiais, este documento era uma prestação de contas de todo
consumo, estrutura e funcionamento das leis e decretos promulgados e vigentes na época pelo
Presidente da República e competentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GURGEL, Cristina. Doenças e curas. O Brasil nos primeiros séculos. São Paulo:
Contexto, 2011.
MEDEIROS FILHO, Olavo de. Índios do Açu e Seridó. Brasília: Centro Gráfico do
Senado Federal, 1984. P.21.
PAIM, J.; TRAVASSOS, C.; ALMEIDA, C.; BAHIA, L.; MACINKO, J. O sistema de
saúde brasileiro: história, avanços e desafios. The Lancet, Saúde no Brasil maio de
2011, p.14.
SOUZA, Gabriel Soares de. Tratado descritivo do Brasil em 1587. 5. Ed. São Paulo:
Ed. Nacional, 1987. (Col. Brasiliana, vol. 117 (GONÇALVES, 2007, p. 38)
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Cleyson Pinheiro
Graduando em História UFCG
cleyson.pinheiro15@gmail.com
Lana Gomes de Araújo
FACISA/UFCG/PPGH
lanacamilagomes@gmail.com
Juciene Ricarte Apolinário
PPGH/UFCG Campina Grande (UFCG).
apolinarioju@gmail.com
INTRODUÇÃO
Historiadores como Robert Darnton e Jacques Le Goff são exemplo desse novo
tipo de abordagem histórica, que leva em consideração uma pesquisa que se debruça
nos estudos dos hábitos e costumes de uma sociedade, buscando através do contexto
sociocultural entender os acontecimentos de cada época. Jacques Le Goff (1993) dizia
qu ― s m nt l s r m ox ên o à h st r ‖ E s nt o mu tos h stor or s
influenciados pelas suas análises vem utilizando esse tipo de abordagem, o que
certamente tem contribuído para abertura do campo da pesquisa observando o
comportamento dos diferentes agentes históricos, que por muito tempo foram
esquecidos das pesquisas historiográficas.
Nesse sentido, este trabalho busca ressaltar sobre a história dos povos indígenas
no nosso país a partir dos sepultamentos nas aldeias indígenas, tomando como base o
capítulo décimo quinto Da cura dos seus enfermos e enterro dos mortos, do primeiro
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livro História do Brazil , escritos pelo Frei Vicente do Salvador. Partindo da premissa
de que no Brasil há uma diversidade e a presença de muitas comunidades indígenas,
sendo que cada grupo apresenta suas particularidades culturais, transfiguradas nos
rituais, crenças, modos de se vestir, comportar, etc, analisaremos como os homens e
mulheres indígenas são representados no livro do Frei Vicente a partir do ritual de
enterrar os mortos.
De acordo com as fontes, no início do século dezessete, ele teria viajado para
Olinda, onde lecionou até 1612, já que os padres naquela época eram os responsáveis
não somente pela catequização, mas pelo ensinamento da gramática, por exemplo, até a
expulsão dos jesuítas no século XVIII pelo Marques de Pombal.
Ainda na primeira metade do século XVII, Frei Vicente partiu para o convento
da Bahia, onde passou a exercer a função de guardião do convento. Foi quando, o dito
Frei foi passar um certo tempo em Portugal, onde publicou sua primeira obra: uma
crônica que relatava como eram os serviços de catequização no Brasil Colônia.
81
ISSN 21764514
Os estudos apontam que Frei Vicente do Salvador teria escrito esta obra a partir
de um pedido de Manuel Severim de Faria, quem teria conhecido durante umas de suas
viagens entre Portugal e Salvador, quando este último teria solicitado que Frei Vicente
s r v ss so r ― o s s o Br s l‖
História do Brazil possui cinco livros, com conteúdo distintos entre eles.
Basicamente os dois primeiros tratam da história do Brasil em seu descobrimento e as
políticas da coroa portuguesa, para dividir o território entre capitanias hereditárias,
estratégia de administração e outros assuntos, ou seja, ele descreve os primeiros
momentos do Brasil.
Além disso o autor busca fazer descrições geográficas de sua impressão sobre o
recém território conquistado, descrevendo os animais, a floresta e o cotidiano dos
índios. O primeiro livro contém 17 capítulo, cujo faz parte do material selecionado para
esta pesquisa. Nele são descritas a chegada da frota de Pedro Álvares Cabral em Porto
S uro no no 5 s uss o so r r z o s olh o nom ―Br s l‖ p r o
novo território, sobre a existência de minas de metais preciosos, sobre as faculdades
curativas das plantas e árvores, da fauna e as características climáticas e geográficas do
território da América lusa e as práticas de enterros, como mostra Mariana Souza
(2016).
A arte de enterrar
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Para Jane Felipe Beltrão, Rhuan Carlos dos Santos et al em 2015, publicaram as
suas pesquisas sobre como vários povos indígenas lidavam com os seus mortos. Para os
autores, ao problematizarem sobre os rituais dos povos indígenas, era evidente as suas
diferentes formas de sepultamento e como cada cultura lidava com esse momento.
Dentre esses povos estudados, os Tapirapé estudado pelos os pesquisadores, tinha a
tradição de sepultarem os mortos dentro de casa, outro fator relevante que os autores
destacaram são os locais escolhido para a sepultura, o mesmo está relacionado com o
local da rede do indivíduo antes de morrer.
Sendo assim, os autores dizem que o ritual de morte estava atrelado também ao
s u t mpo v Já os povos K ‘ por s o st os p l profundidade de suas
covas e objetos que os mortos levavam com eles, tal acontecimento e destacado por
Ribeiro (1996):
[f]incam dois paus no fundo e neles atam a rede com o defunto. Por cima sem
tocar no cadáver, fazem uma armação de paus que cobrem com folhas e
depois, a enterram até o nível do chão. Então arrumam um pequeno tapiri em
cima e dentro dele deixam farinha, água tabaco e um foguinho aceso. Além
do fogo e alimentos, o morto recebe suas armas, mas o homem vai nu e a
mulher apenas com a tanguinha usual, ambos sem qualquer adorno
(RIBEIRO, 1996, p. 121).
Vale mencionar que os povos indígenas tinham e tem a tradição de enterrar seus
mortos, como uma série de prática e costumes, como observado, era comum covas
grandes, acompanhando de objetos e muitas desses sepultamentos se davam em suas
próprias residências.
Outra característica é o corte dos cabelos das mulheres. Como forma de luto pela
perda de seus maridos, além disso outra forma de viver o luto é pitando-se de jenipapo
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sendo comum em ambas as culturas, essa prática acontece no início do luto e no fim.
Segundo os mencionados autores acima
Algo que chama bastante atenção no texto do Frei são ás festas em meio ao
v l ro l s r v ―[ ] r n s r volt s nt r l r r n st s st s s
nt m s pro z s o unto ou unt o qu t r o [ ]‖ os r stros h st r os
sobre essas práticas são bastantes escassos. Existe, entre os Tapirapé, a festa dos
mortos, ocasião na qual são preparadas bebidas muito cobiçadas entre adultos e crianças
de ambos os sexos, no entanto não há tanta riqueza de detalhes sobre essas práticas,
como se davam, suas particularidades e a razão desse acontecimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Estudar sobre História Indígena e sobre os povos indígenas ainda é muito difícil
no nosso país, onde temos que lidar com uma historiografia que perdura nos ensinos nas
escolas que trata os povos indígenas como pessoas que ficaram no passado,
determinando aos homens e mulheres indígenas o período colonial. Além do mais, as
temáticas que envolvem os indígenas são pouco valorizadas na nossa sociedade, que
não tem conhecido acerca desses povos, fazendo difundir regimes de memórias
estereotipados e ideias errôneas sobre a cultura desses povos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Fonte Documental
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SALVADOR, Fr. Vicente do. História do Brasil (1627). 5a edição, São Paulo,
Melhoramentos, 1965.
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Resumo
A cultura indígena é bastante diversificada e possui um enorme valor social. Ela está
interligada com todas as outras culturas na sociedade brasileira mais do que podemos
imaginar, inclusive nas nossas práticas cotidianas e através dos alimentos que
consumimos. Não podemos mais tratar a história dos povos indígenas como algo que
ficou no período colonial e como uma herança deixada pelos os nossos antepassados.
Precisamos desconstruir os estereótipos que foram perpetuados no nosso país durante
tanto tempo, principalmente nas escolas. Estas, continuam reservando um lugar ao
indígena num passado remoto e um tema exclusivo às comemorações do Dia do Índio.
Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é apresentar uma proposta para se
trabalhar a questão da cultura indígena no ensino fundamental, através da história da
alimentação, e do conceito de cultura e etnicidade evidenciados por Frederick Barth. A
cultura, sendo um processo contínuo e mutável, estruturado e expresso nas interações
sociais entre os agentes, o que gera processos de transformação e variação cultural
dentro de todos os grupos sociais envolvidos. Para tanto, além do levantamento
bibliográfico, foram realizadas entrevistas orais com dois indígenas Potiguara: Daniel
Potiguara que é professor indígena e Caboclinho, antigo cacique geral dos Potiguara,
para saber sobre as práticas alimentares pessoais e da realidade atual do povo Potiguara
e como eles tem lidado com o consumo de outros alimentos não-indígenas,
20
GRADUANDA EM LICENCIATURA EM HISTÓRIA PE LA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
CAMPINA GRANDE (UFCG ). E-MAIL: EMILLY.ALVESF26@GMAIL.COM
21
Bacharel em Direito. Graduada e Mestre em História pela Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG). E-mail: lanacamilagomes@gmail.com
22
Profa. Dra. Juciene Ricarte Apolinário. Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) E-mail:
apolinarioju@gmail.com
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industrializados, fastfoods, etc. Por fim, verificou-se que na atualidade tem sido muito
corriqueiro nas aldeias Potiguara a entrada de alimentos industrializados e que isso está
trazendo sérias consequências para a saúde dos indivíduos desses lugares. O que nos
mostra que isso não é um motivo de privilégio para eles como muitos podem pensar. Na
verdade, o fato deles comerem esses tipos de alimentos está mais relacionado ao
costume inserido e estimulado pelos tempos modernos do que por escolha própria.
Além disso eles expressaram a importância dos alimentos naturais e destacaram que é
muito frequente para o povo Potiguara ingerir peixes e crustáceos, o que se pode
relacionar claramente a etimologia da própria palavra Potiguara, que significa comedor
de camarão.
INTRODUÇÃO
Dessa forma, realizamos entrevistas com dois indígenas Potiguara, os quais tem
propriedade para discorrer sobre o tema, que são eles: Daniel Potiguara, professor de
escola indígena e Caboclinho, antigo cacique geral dos Potiguara, na concepção de
sabermos quais as suas opiniões sobre a alimentação tradicional e as mudanças na
alimentação nos últimos anos nas aldeias Potiguara. Nessas entrevistas eles apresentam
práticas alimentares pessoais, preferencias e como se encontra a alimentação atual do
povo Potiguara.
Assim sendo, é importante pontuar que a alimentação indígena não está limitada
a aquilo que foi por um longo período disseminado até mesmo nas escolas, como
alimentos provenientes de raízes e a pesca apenas. Embora esses sejam muito
decorrentes do dia-a-dia do indígena, não se resume só a isso sua base alimentar, o que
não seria nenhum pouco ruim uma vez que os alimentos naturais são bem mais
saudáveis do que aqueles que conhecemos hoje como famosos fastfoods.
89
ISSN 21764514
Além disso, muito do que ingerimos no nosso cotidiano possui uma grande
influência indígena e vice e versa. Então, a história indígena não é algo que ficou
meramente no passado. É algo vivo, que se ressignifica dia após dia e por isso é
fundamental transferir esse entendimento para as próximas gerações através da prática
do ensino. A qual pode se dá de maneira prática e interativa visando a aproximação do
aluno com a sua realidade e despertando nele o conhecimento mais aprofundado daquilo
que na maioria das vezes é extremamente corriqueiro para ele, mas que geralmente
passa despercebido, muitas vezes por não haver alguém que o estimule a isso.
E se tratando dessa temática indígena, infelizmente por muito tempo ela ficou
restrita ao dia do índio, que é comemorado no dia 19 de abril, sendo apresentada repleta
de visões equivocadas e estereotipadas sobre essas pessoas. Por esse motivo, com o
artigo poderemos analisar também que ainda é possível transmitir para os brasileiros
que a cultura indígena está totalmente relacionada e interligada com as demais culturas
na sociedade brasileira e que não é sábio isolá-la para adquirir um entendimento melhor.
Pelo o contrário, é necessário observá-la em conexão com todas as outras que compõe a
grande diversidade do nosso país.
Não é de hoje a ideia que foi construída de que indígena só come macaxeira,
batata-doce, peixes, crustáceos e tantos outros alimentos de origem natural apenas. Foi
exatamente essa visão equivocada que foi transmitida para as gerações ao longo da
história da sociedade brasileira, expondo assim uma limitação e ainda mais,
pr s nt n o os n í n s omo um povo ― tr s o‖ por onsum r m ss t po
alimento se comparado a tudo que a indústria alimentícia produz na atualidade.
Sabemos que esses são alimentos tradicionais, mas que com os processos
culturais e de contato, outros alimentos chegaram nas aldeias, assim como, muitos
indígenas ao saírem das aldeias, se deparam com comidas diferentes das tradicionais de
sua região. O que, vale salientar que, o fato de novos alimentos estarem sendo
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consumidos pelos indígenas, não descaracteriza de forma alguma uma etnia, pois
compreende-se cultura como um processo amplo, e que não se perde. Muito pelo
contrário.
Além disso, colocando dessa forma a população não indígena como privilegiada
por abraçar aquilo que a modernidade oferece. No entanto, não é bem assim que
funciona. Na verdade, as comidas industrializadas entraram nas aldeias indígenas com
os processos interétnicos e os indígenas reconhecem que elas trazem muito mais
prejuízos do que benefícios para o ser humano e também para o meio ambiente, o que
nos mostra que não se sentem nenhum pouco privilegiados por isso como muitos podem
prever, pelo o contrário.
É interessante observar que o fato deles comerem esses tipos de alimentos está
mais relacionado ao costume inserido e estimulado pelos tempos modernos do que por
escolha própria e que os observam como algo comum e não como algo extraordinário
ou revolucionário como muitas pessoas podem imaginar, por isso que é tão considerável
conhecer a opinião daqueles que são originalmente nativos e expor assim em aulas,
23
DANIEL SANTANA NETO. Professor Potiguara. Membro da Organização dos Professores Indígena
Potiguara da Paraíba – OPIP/PB. Coordenador Geral – Sec. Educ. do município de Baia da Traição.
Especialista em Educação.
24
Entrevista eletrônica prestada a Emelly Alves Farias em 24/10/2019.
25
Nativo da aldeia Potiguara na região da Baia da Traição – PB.
26
Entrevista eletrônica prestada a Emelly Alves Farias em 25/10/2019.
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tendo em vista que na maioria das vezes em que aspectos da história indígena são
retratados, são abordados sempre a partir de uma visão de quem não é indígena.
Além disso, ainda é válido pontuar que mesmo com toda essa forte presença da
industrialização alimentícia na contemporaneidade, é crucial destacar que os alimentos
de origem indígena ainda predominam bastante não apenas no cotidiano das aldeias,
mas também em muitos outros lugares a nível nacional e até mesmo internacional como
bem cita Caboclinho em entrevista pessoal27. Ele afirma que há muita exportação
daquilo que é produzido nas terras Potiguara tanto para o próprio país mais
precisamente para a parte sul, quanto para países no exterior.
A partir disso, se torna muito importante retratar em sala de aula essa interação
étnico-cultural, possibilitando ao aluno um contato direto e mais amplo com aquilo que
já faz parte da sua vivência diária e inúmeras vezes ele nem se dá conta. Para tanto, é
imprescindível ressaltar o valor social de cada cultura e apresentar que o fato de os
indígenas aderirem aos alimentos industrializados não faz com que eles deixem de ser
indígenas, assim como o ato de comer alimentos típicos não transforma nenhum
individuo em um nativo.
Além do mais, é fundamental expor que a história indígena não é algo que ficou
no passado, mas que é de fato mais presente do que possamos imaginar, ela é
intrinsecamente viva, multifacetada e ressignificada. O que podemos verificar nas
27
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28
Fonte: <https://www.significadodonome.com/potiguara/>.
29
Realizada através do meio eletrônico em 24/10/2019.
30
Entrevista eletrônica prestada a Emelly Alves Farias em 24/10/2019
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assim, os Potiguara constituem 32 aldeias que estão distribuídas nos municípios de Baia
da Traição, Marcação e Rio Tinto.31
CONSIDERAÇÕES FINAIS
31
Fonte: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Potiguara.>.
32
Graduado em medicina e fisioterapia e Mestre nas Arts of Coach pela Florida Christian University.
33
Fonte: <https://drjulianopimentel.com.br/alimentacao/nao-consumir-fast-food/>.
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Então, a partir disso com as entrevistas com membros da aldeia Potiguara foi
possível analisar que verdadeiramente não é assim na realidade. Que eles aderiram sim
por aquilo que os tempos modernos oferecem e que isso não é um fator de privilégio
para eles como muitos indivíduos podem pensar. Na verdade, o fato deles aderirem a
alimentos considerados típicos da modernidade está mais relacionado ao costume e ao
hábito introduzido há um tempo considerável por seus familiares do que por escolha
própria e oportunidade.
Além disso, podemos entender que essas informações precisam ser mostradas e
transferidas para as próximas gerações, ressaltando também a importância dos alimentos
típicos indígenas que fazem tão bem para a saúde e que não devem ser tratados como
―ultr p ss os‖ m s v m s r v lor z os t porqu st o mu to pr s nt m nosso
cotidiano e às vezes as pessoas nem se dão conta da origem que eles possuem. E por
isso através da prática do ensino para crianças e pré adolescentes isso pode ser
repassado, o que poderá possibilitar a eles o conhecimento dessa cultura tão valiosa que
é a cultura indígena e suas multifaces, trabalhando-a sempre em conexão com as outras
e nunca isolada, não deixando a importância da história indígena restrita ao dia do índio
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mas trazendo ela para o dia-a-dia pontuando que não é algo que ficou no passado mas
sim que vive e que está inteiramente presente entre nós.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Introdução
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s popul s vlz s qu s m s tv s rí ol s‖ (M n st r o Gu rr
13 de novembro de 1939, Inspetoria Regional 2, documento nº 85).
Durante o período Vargas, entre os anos de 1941 a 1945, o SPI atuará como
propulsor da política expansionista, porém, a ideia de tutelagem não representava
exclusivamente a condição de dependência, mas de controle, isto é, as populações
indígenas sob a administração do órgão estariam a ele submetidas nas suas ordens de
demarcação e defesa territorial, assistências na área de saúde e educação, entre outros,
mas deveriam disponibilizar de recursos próprios para seu sustento e para o auxílio da
n o t l omo rmou o SPI ―Não queremos que o índio permaneça índio. Nosso
trabalho tem por destino sua incorporação à nacionalidade brasileira, tão íntima e
ompl t qu nto possív l‖ (GARFIELD p 8)
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Estado Nacional destinava ao SPI e esse repassava as demais instâncias, a análise destes
documentos, referente aos anos de 1941 a 1945, está nos permitindo traçar um
mapeamento orçamentário do PI Nísia Brasileira, nos dando assim uma dimensão das
condições financeiras do posto.
Todas as taxas atribuídas aos supracitados serviços são pautadas na Lei N° 183 do
decreto de 13 de janeiro de 1936, que correspondem às quantias percentuais, que cada
funcionário ligado ao governo ou que preste serviço para o mesmo deve receber.
Ademais, neste decreto expõe o recebimento de 6% (entre 90:000$000 e 100:000$000)
de verba vinda do governo para o Ministério da Guerra, o qual a SPI fez parte entre os
anos 1934-1939.
100
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Ademais, o ano de 1944, teve 22,5% mais gastos que o anterior. Entretanto, a
contratação e pagamento de enfermeiros e prestadores de serviço, se estenderam da
Aldeia São Francisco para também São Miguel; além da construção de casas para índios
e a restauração de 8 km de estrada no sentido da São Francisco. Portanto, ele fechou
seus gastos com Cr$ 63.100,50 (Sessenta e três mil e cem cruzeiros).
101
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Agricultura - o qual esteve sob o comando de João Maurício de Almeida de 1942, até
fins de 1944 - recebeu um crédito de Cr$ 22.500,00 (vinte e dois mil e quinhentos
cruzeiros), mas, assim como já citado, não se tem referências de repasses de parte dessa
quantia para o SPI, em consequência disso, não se sabe o valor X que cada IR recebia
do governo.
Principais Resultados
Referências
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GAMBINI, Roberto. Espelho índio. A formação da alma brasileira. São Paulo: Axis
Mundi, 2000.
GARFIELD, Seth. As raízes de uma planta que hoje é o Brasil: os índios e o Estado-
Nação na era Vargas. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 20, nº 39, p. 15-42.
2000.
103
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SILVA, José Bonifácio de Andrade e. Projetos para o Brasil. São Paulo: Cia das
Letras, 1998. (Retratos do Brasil).
104
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105
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COMUNICAÇÃO ORAL
INTRODUÇÃO
34
Data emblemática, pois marcava a entrada em vigor do NAFTA (North American Free Trade
Agreement), ou TLCAN (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio), novo bloco econômico dos
países americanos do Norte. Elaborado em fevereiro de 1991 pelos presidentes Brian Mulroney, do
Canadá, George Bush, dos Estados Unidos e Carlos Salinas de Gortari, do México, o tratado foi aprovado
em 17 de novembro de 1993 e entrou em vigor no dia primeiro de janeiro de 1994, representando um
avanço da política econômica neoliberal no continente – não à toa, a dará foi, também, escolhida para ser
o dia da insurgência zapatista.
35
Indígenas de origem maya representantes das etnias tzeltales, choles, tzotziles e tojolabales.
(Buenrostro y Arellano, 2002, p. 18).
36
Al uns utor s ut l z m o t rmo ―n oz p t st s‖ p r s r r r m o mov m nto nsur o no l v nt
994 l v n o m ons r o qu os ―z p t st s‖ s r m os próprios da Revolução Mexicana, os
quais lutaram ao lado de Emiliano Zapata. Todavia, por mais que reconheçamos as diferenças,
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ressignificações e particularidades pertinentes a essa distinção, ainda assim optamos por utilizar o termo
―z p t st s‖ ons rando que isso não provoca nenhuma distorção anacrônica para a compreensão do
movimento.
37
Sobre esta distinção entre revolucionário e rebelde os z p t st s st l m qu : ―N s nos n mos
mais como um movimento rebelde que luta por mudanças sociais. O termo revolucionário não é tão
apropriado porque todo dirigente ou movimento revolucionário tende a querer se tornar dirigente ou ator
político. Enquanto que o rebelde social não para nunca de ser um rebelde social. O revolucionário quer
sempre transformar as coisas a partir de cima, enquanto o rebelde social quer transformá-las a partir de
baixo. O revolucionário se diz: eu tomo o poder e, por cima, eu transformo o mundo. O rebelde social age
diferente. Ele organiza as massas e, a partir de baixo, ele transforma pouco a pouco as coisas sem se
colocar a questão da tomada do poder. O EZLN é um movimento insurrecional sem ideologia
estritamente definida. Ele não corresponde a nenhum dos tipos políticos clássicos: marxismo-leninismo,
social-comunismo, castrismo, guevarismo, etc. Nós pensamos que os movimentos revolucionários,
mesmo os mais revolucionários, são no fundo arbitrários. O que deve fazer um movimento armado é
resolver um problema – falta de liberdade e democracia – e depois sumir. Como nós tentamos fazer
tu lm nt ‖ (V r s 9 p Apu R mon t p 5 -51).
107
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38
O embrião zapatista se deu a partir da hibridação de um núcleo composto por anciãos indígenas mayas,
um núcleo guerrilheiro marxista-leninista e um grupo de lideranças indígenas formados na Teologia da
Libertação, da Igreja Católica. O encontro desses diferentes núcleos, somados situações outras de
transformações e vivências na Selva Lacandona, formou o Exército Zapatista.
108
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Portanto, entendemos que o discurso não deve ser pensado enquanto um conjunto de
palavras que pretendem um significado em si, mas sim enquanto um sistema que está
diretamente ligado a relações de poder e controle, o que está associado, diretamente,
com o lugar de fala.
DESENVOLVIMENTO
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Desta forma, a luta dos zapatistas não se resume aos problemas peculiares dos indígenas
de Chiapas em fins do século XX, atrelados à política hegemônica do Partido
Revolucionário Institucional (PRI), na presidência39, mas sim a uma conjuntura política,
econômica e social de mais amplo e largo processo histórico. Ao anunciarem que são
produto de 500 anos de lutas, os zapatistas apontam para um caráter de longa duração
histórica que culminou em seus despojos de condições básicas de vida como um teto
digno, terra, trabalho, saúde, alimentação, educação, democracia, independência e
justiça. Dentro desta perspectiva, compreendemos, pois, a luta zapatista enquanto uma
luta frente ao que Aníbal Quijano (2005) veio a conceituar como colonialidade do
poder ou s j ― ulm n o um pro sso que começou com a constituição da
América e do capitalismo colonial/moderno e eurocentrado como um novo padrão de
po r mun l‖ (p 7) por ons u nt r l ou os povos olon z os ntr l s
os indígenas, a uma condição social de subjugados, inferiorizados, ou, primitivos.
39
Após o sucesso da Revolução Mexicana, o Partido Revolucionário centralizou o poder em si e
governou o México por mais de 70 anos. Resguardados pela Constituição elaborada após a Revolução,
este partido exerceu um poder hegemônico, o que levou estudiosos sobre a problemática a tratar como a
― t ur p r t ‖
40
De acordo com Aníbal Quijano (2005), um dos eixos fundamentais do padrão de poder hegemônico
nst tuí o p l olon z o o ― l ss o so l popul o mun l or o om
110
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Ainda no ano de 1994, seis meses após o levante, os zapatistas lançaram sua
Segunda Declaração. Remetendo à condição de povos subjugados historicamente de
suas terras, direitos e representatividade na formação da sociedade moderna mexicana,
os zapatistas enfatizam o caráter nacional de sua luta, ao enfatizarem que rechaçam a
manipulação e as tentativas de separar suas demandas das do povo mexicano. Mais do
qu sso rm m qu : ―somos m x nos y no pon r mos n nu str s m n sn
nu str s rm s s no son r su lt s l D mo r l L rt y l Just p r to os‖
(EZLN, Segunda Decalración de La Selva Lacandona, 1994). Com isso, a Segunda
Declaração traz à tona de forma mais direta a discussão da participação efetiva dos
povos marginalizados, a partir da colonização, na construção democrática do México
enquanto país, enquanto nação e enquanto sociedade, nos termo que sejam capazes de
―h r r los mexicanos de pasado mañana un país en el que no sea una vergüenza
v v r‖ (EZLN S un D lr n L S lv L n on 994) S n o ss m
convocam uma Convenção Nacional Democrática e ainda distintos grupos que
representam as parcelas minoritárias e excluídas das demandas e da participação ativa
democrática na construção do México moderno para se juntar à luta e resistir junto aos
zapatistas:
E n n t z m onvo n o to os qu ― n y v r ü nz t n n to os
llamamos a que con nosotros resistan, pues quiere el mal gobierno que no haya
mo r n nu stros su los‖ (EZLN S un D lr n L S lv L n on
1994).
raça, uma construção mental que expressa a experiência básica da dominação colonial e que desde então
permeia as dimensões mais importantes do poder mundial, incluindo sua racionalidade específica, o
uro ntr smo‖ (p 7)
111
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Como de praxe, novamente, o ano novo mexicano inicia-se marcado pelos fogos
e pelas vozes zapatistas. No dia 1 de janeiro de 1996, é lançada a Quarta Declaração, na
qual os zapatistas explicitam, ainda mais, a longa duração histórica de suas demandas e
o pertencimento de suas ambições não a este grupo guerrilheiro de fins do século XX,
mas a todos que resistiram ao colonialismo imperante que perpassou as épocas. A flor
da palavra, que veio do fundo da história e da terra42, portanto, não pôde ser arrancada
pelos colonizadores e seus projetos de México. E afirmam:
41
Indígena de origem zapoteca que governou o estado mexicano de Oaxaca (1847 - 1853) e se tornou um
líder na oposição aos conservadores, após a independência mexicana.
42
Parafraseando a Quarta Declaração da Selva Lacandona (1996): "No morirá la flor de la palabra. Podrá
morir el rostro oculto de quien la nombra hoy, pero la palabra que vino desde el fondo de la historia y de
la tierra ya no podrá ser arrancada por la soberbia del poder".
112
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Una ley indígena nacional debe responder a las esperanzas de los pueblos
indios de todo el país. En San Andrés estuvieron representados los indígenas
de México y no sólo los zapatistas. Los acuerdos firmados lo son con todos
los pueblos indios, y no sólo con los zapatistas. [...] En los Acuerdos se
reconoce el derecho a la autonomía indígena y el territorio, conforme al
convenio 169 de la OIT, firmado por el Senado de la República. Ninguna
legislación que pretenda encoger a los pueblos indios al limitar sus derechos
a las comunidades, promoviendo así la fragmentación y la dispersión que
hagan posible su aniquilamiento, podrá asegurar la paz y la inclusión en la
Nación de los más primeros de los mexicanos. Cualquier reforma que
pretenda romper los lazos de solidaridad históricos y culturales que hay entre
los indígenas, está condenada al fracaso y es, simplemente, una injusticia y
una negación histórica (EZLN, Quinta Declaración de la Selva Lacandona,
1998).
Na mesma declaração, ainda temos uma epígrafe remetendo ao Popol Vuh, uma espécie
de livro sagrado dos mayas, através do qual busca-se explicar a origem do mundo e dos
homens. Sendo assim, trazem à tona uma discussão que, para além da liberdade, justiça
113
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Porque resulta que nosotros del EZLN somos casi todos puros indígenas de
acá de Chiapas, pero no queremos luchar sólo por su bien de nosotros o sólo
por el bien de los indígenas de Chiapas, o sólo por los pueblos indios de
México, sino que queremos luchar junto con todos los que son gente humilde
y simple como nosotros y que tienen gran necesidad y que sufren la
explotación y los robos de los ricos y sus malos gobiernos aquí en nuestro
México y en otros países del mundo (Sexta Declaración de la Selva
Lacandona, 2005).
114
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CONCLUSÃO
Com isso, inseridos nessa construção histórica que perpassou as épocas, os zapatistas
nsur m p r o mun o nun n o o s u ―já st !‖ n on o povos qu n o
falam somente por si, mas suas vozes ecoam os gritos e demandas desde a chegada dos
colonizadores até os dias de hoje.
115
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BIBLIOGRAFIA
GENNARI, Emilio. EZLN Passos de uma rebeldia. São Paulo: Expressão Popular,
2005.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In.:
LANDER, Edgardo (org.). A Colonialidade do Saber - Eurocentrismo e Ciências
Sociais - Perspectivas Latino-americanas. Buenos Aires: Clacso, 2005.
VARGAS NETTO, Sebastião Leal Ferreira. A MÍSTICA DA RESISTÊNCIA:
culturas, histórias e imaginários rebeldes nos movimentos sociais latino-americanos.
São Paulo, USP. Tese (Doutorado em História Social) – Programa de Pós-Graduação
em História Social, Universidade de São Paulo, 2007
VARGAS, Sebastião. COM A ARMA DA PALVRA: TRAJETÓRIA E
PENSAMENTO DO SUBCOMANDANTE MARCOS. Revista Territórios e
Fronteiras, Cuiabá, v.2, n.2, p. 202-222, 2009.
117
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Apresentação
43
Identificamos esse método de trabalho para historiadores a partir da sistematização em compêndios,
como a Introdução aos estudos Históricos de Charles-Victor Langlois e Charles Signobos, como
representativo para a idéia de corpo documental “canônico”. (Bernardo, 2011 ,p.2)
118
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44
Para Will Eisner: “Arte seqüencial”; Scott McCloud: “Imagens pictórias de vários tipos justapostas em
sequencia deliberada, cujo objetivo é produzir uma resposta estética ao leitor; já Luiz Antônio Cagni diz
que: “Elas são unidades mínimas de imagens que se articulam em sequência na linearidade temporal da
ação”, Sonia M. Bibbe-Luyten, diz que “são dois códigos de signos gráficos: a imagem e a linguagem da
escrita”, enquanto que Thierry Groensteen: “Uma definição impossível” fico com essa por não ser
necessária uma definição do que são as hq’s para a compreensão do trabalho.
45
Moacy Cirne fala da importância das imagens como elemento narrativo, para ele as imagens são
subversivas, são perturbadoras da racionalidade histórica dos sentidos, pois o homem contemporâneo é
instigado a viver das sensações, especialmente as do olhar. (Cirne, 200, p.134)
119
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Pois toda e qualquer expressão que contribua para um melhor entendimento das
formas, e dos meios pelos quais nos encontraremos no passado de um ponto de vista
metodológico, são essenciais para uma melhor compreensão do evento histórico.
Nesse tocante existe nesse processo comunicativo uma relação que não é apenas
de transmissor de conhecimento histórico, mas também um construtor a partir de dada
narrativa, no tocante à sua historiografia, o caminho escolhido por onde iria narrar deter
minada história, esse caminho possui especificidades, pois não apenas escreve a
história, como também a representa pelo intermédio das imagens, construídas e
significadas.
46
Segundo o dicionário Oxford, narrativa é qualquer relato de eventos conectados (causal ou casual)
real ou imaginário, apresentado em uma sequência oral ou escrita.
120
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Saliento que essa pequena proposta não se encerra em si, e tem mais aberturas e
dúvidas do que certezas e afirmações, a intenção é delinear um primeiro passo para a
construção de algo mais pungente e menos vacilante.
Desenvolvimento
Ao mesmo tempo, que se possa pensar a narrativa como algo dentro da história
como disciplina, tentando colocar em evidência um aspecto pouco valorizado no
trabalho do historiador que é a prática, a dimensão literária de seu trabalho, e porque
não dizer para o professor em sala de aula.
O que a narrativa constrói, são ficções verbais cujos conteúdos são inventados e
descobertos, cujas formas tem mais em comum com a literatura do que com a ciência, a
narrativa não tem um sentido imanente, seu sentido é produzido na interação social a
partir do seu resgate com a sociedade.
Mas não devemos ser tão rígidos quanto a posição de fronteira ocupada pela
narrativa no campo da história, devemos sim, privilegiar as possibilidades de aplicação
em práticas interdisciplinares, estabelecendo, procurando diálogos com outras áreas do
conhecimento histórico e nos valendo de novos procedimentos, experiências e conceitos
ofertados pelo uso e porque não, abuso da narrativa.
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Ou seja, são sempre lidas diversamente em cada época, por cada observador, de
acordo com os valores, as preocupações, os conflitos, os gostos os projetos, portanto
fontes e versões carregam em si temporalidades distintas, porque são construídas e
reconstruídas a cada época.
Para tanto, há que se decidir se ela será linear, avançando em linha continua do
passado para o presente ou no destaque de uma realidade histórica por vez que levará
em conta as diversas temporalidades que estão envolvidas em um determinado recorte
temporal.
123
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124
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―Um os m nhos p r nt n r os s nt os tr uí os
h stor m nt às Hq‘s p ss p l n ls su s
representações construídas por normas de expressão como
cinema e literatura, nomes importantes da literatura do século
XX iseriram personagens, narrativas e refrências gráficas das
HQ‖s m s us proj tos st t os‖ Gom s ( 6 p 43-259)
Conclusão
48
Desde os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) ao Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE)
, com isso tem gerado novos desafios aos professores e trazido à tona uma adiada necessidade de se
compreender melhor a linguagem, seus recursos e obras..
125
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Referências
HELENICE, Rocha, CAIMI, Flávia. A(s) história(s) contadas no livro didático hoje:
entre o nacional e o mundial. Revista brasileira de história, São Paulo, V.34, n° 68, p.
125-147.
126
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FONSECA, Thais Nivia de Lima. História & Ensino de História. Autêntica. Minas
gerais, 2003.
PAIVA, Eduardo França. História & imagens, autêntica, Minas Gerais, 2002.
SILVA, Renán. Lugar de dúvidas, sobre a prática de análise histórica, Autêntica, Minas
Gerais,2015.
WHITE, Haiden. Trópicos do Discurso, Ensaios sobre a critica da cultura, Edusp, São
Paulo, 2014.
127
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arthur_andrade2011@hotmail.com
INTRODUÇÃO
49
Ver: BARBOSA, Arthur Manoel Andrade. Justiça do Trabalho e classe operária: a relação entre o
capital e o trabalho na Paraíba entre 1941-1945. Dissertação de Mestrado, Campina Grande, 2019.
128
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50
O historiador Marcelo Badaró Mattos destaca a importância do contato entre as trajetórias de
escravizados, ex-escravos e homens livres para o processo de formação da classe trabalhadora brasileira,
ver: MATTOS, Marcelo Badaró. Escravizados e livres: experiências comuns na formação da classe
trabalhadora carioca. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2008.
129
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51
Sobre um dos estudos mais recentes sobre a história da justiça trabalhista, dos caminhos da legislação
trabalhista, ver: GOMES, Angela de Castro; SILVA, Fernando Teixeira da. A Justiça do Trabalho e sua
história: os direitos dos trabalhadores no Brasil. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013.
52
A produção historiográfica paraibana acerca dos desdobramentos da Justiça do Trabalho é crescente,
principalmente diante da abertura de possibilidades proporcionadas eminentemente pelo campo da
história social do trabalho e o crescente aumento da organização e operacionalização de fontes produzidas
por essa justiça. Trabalhos voltados para perspectivas relacionadas aos acidentes de trabalho, questões de
gênero, trabalho infantil, dentre outros, vêm paulatinamente contribuindo com o avanço das pesquisas
abarcadas nos mundos do trabalho. No estado da Paraíba destacam-se pesquisadores da Universidade
Estadual da Paraíba, campus de Guarabira, através do Núcleo de Documentação Histórica do Centro de
Humanidades da UEPB (NDH-CH/UEPB); além de recentes pesquisas oriundas da Universidade Federal
da Paraíba, campus de João Pessoa. Campina Grande e outras cidades do interior do estado também
possuem considerável contribuição nessas temáticas, distribuindo as pesquisas, concluídas ou em
andamento, entre os trabalhadores do campo e da cidade.
53
Mesmo não tendo os processos trabalhistas como fontes de pesquisa, é interessante destacar a
importância dos estudos do historiador Sidney Chalhoub com relação às investigações historiográficas
130
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Para as pretensões deste artigo, que discute a luta de classes via Justiça do
Trabalho, contamos com a utilização de quase 500 processos trabalhistas preservados
junto aos arquivos da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-13),
localizada na capital do estado da Paraíba, João Pessoa. O Arquivo contém em seu
tendo a justiça como objeto de estudo. Destacam-se, desse modo, Trabalho, lar e botequim (1986) e
Visões da liberdade (1990).
54
Ata de inauguração.
131
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espaço, desde o processo mais antigo preservado, de 1935, até os mais recentes, datados
de 1969. Numa forma de preservação desse rico acervo histórico, a direção do tribunal,
que foi o primeiro no país a implantar o processo eletrônico, organizou o Memorial da
Justiça do Trabalho e os mais de 20 mil processos catalogados. A riqueza do acervo
pode ser destacada diante dos percalços da Lei 7.627 de 10 de novembro de 1987,55 que
legisla a fim de descartar arquivos com mais de cinco anos. Nas palavras da historiadora
Chr st n D t: ―[ ] os m nsos r ursos os rqu vos Just o Tr lho têm um
papel de destaque no horizonte de evolução do saber histórico, sobretudo em relação aos
tr lh or s‖ (DABAT 5 p 367)
Quadro 1: Processos que tramitaram na JCJ- João Pessoa entre 1941 e 1945
55
―LEI Nº 7 6 7 DE DE NOVEMBRO DE 987 D sp so r liminação de autos findos nos
órgãos da Justiça do Trabalho, e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber
que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1º. Fica facilitado aos Tribunais do
Trabalho determinar a eliminação, por incineração, destruição mecânica ou por outro meio adequado, de
autos findos há mais de 5 (cinco) anos, contado o prazo da data do arquivamento do processo. Art. 2º. A
eliminação de autos findos, nos termos do disposto no artigo anterior, será decidida pelo Tribunal Pleno,
m nt propost r unst n o s u Pr s nt JOSÉ SARNEY‖
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Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base no Livro de Registros da Junta de
Conciliação e Julgamento de João Pessoa
A maioria dos casos era resolvida já na 1ª instância (João Pessoa), outros iam
parar na 2ª instância (Recife) e poucos na 3ª e última instância (Rio de Janeiro). Os
trâmites seguiam seus ritos, de trocas de defesas e acusações dos reclamados e dos
reclamantes no dia do julgamento, onde as partes apresentavam documentos
comprobatórios (recibos, certidões, laudos), além da presença das testemunhas..
Sobressaía, no fim, a decisão dos tribunais, onde continuava a luta pela obtenção de
direitos ou de privilégios. O título deste trabalho traz a indagação de uma empresa ao
ser condenada ao pagamento de indenização e a garantir o retorno do empregado aos
seus serviços após o mesmo ser acusado de indisciplina. Daí a pergunta aos membros da
3ª nst n ―Po sso E r o Cons lho?‖
133
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foram preservados e podem ser pesquisados. Ressalta-se nesses dois gráficos detalhes
referentes a questões de gênero, ao número de processos protocolados via sindicato ou
de forma individual, além dos processos realizados em grupo ou ainda os Inquéritos
Administrativos perpetrados pelos empregadores.
134
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Assim como nos gráficos acima expostos, os dados das tabelas abaixo nos
mostram de forma detalhada os motivos mais recorrentes pelos quais os trabalhadores
entravam na Justiça do Trabalho (Tabela 1), enquanto que o outro mostra o resultado
desses processos (Tabela 2).
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Tabela elaborada pelo autor com base nos dados do Livro de Registro da Junta de
Conciliação e Julgamento de João Pessoa entre os anos de 1941-1945
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Tabela elaborada pelo autor com base nos dados do Livro de Registro da Junta de
Conciliação e Julgamento de João Pessoa entre os anos de 1941-1945
CONCLUSÃO
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BIBLIOGRAFIA
138
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FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social. 3 ed.São Paulo: Difel, 1983.
139
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140
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57
Viviane Carneiro de Oliveira, mestranda do Programa do PPGH – UFCG (CAPES).
viviioliveira@hotmail.com
RESUMO
56
De acordo com José Joffily, a maioria dos autores que se ocuparam em sua biografia cometeram
equívocos. Baseado em documentos brasileiros recebidos da Dinamarca, Christiano Lauritzen nasceu em
Thy, Boddum, e não em Alheir, no Reino da Dinamarca, como está registrado na certidão da Diocese de
Campina Grande. Ainda de acordo com José Joffily, ele nasceu em 10 de novembro de 1846; Seus pais
são Laurids Nielsen Kirk e Maren Christensdatter.
57
Gazeta do Sertão – 21-11-1890.
141
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58
CORREIO DE CAMPINA, 14 de março de 1915, nº12.
59
CORREIO DE CAMPINA, Nº 6, 1913
142
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―M o sur o m s ot o lá t v nt sm m o m pou o
tempo assumia a liderança da tradicional família cujo prestígio se fortaleceria
por lon o t mpo po s qu Ep tá o P sso s proj tou no nár o n on l ‖
(Joffily, p.135 – ibidem).
Em contraponto à visão negativa dos partidários de Irinêo Joffily, Elpídio de
Almeida em seu livro História de Campina Grande, demonstrava apreço pela jornada
apaixonada do prefeito:
Uma análise mais clara dos eventos da época em Campina Grande certamente
pode ser feita sob à ótica de Michel de Certeau e a sua história do cotidiano. Em seu
livro A invenção do cotidiano, Certeau nos mostra a relação entre os mecanismos de
poder com a vida social, podendo ser mudados através de estratégias e táticas dos
n ví uos ons r n o qu s tát s omo ―continuidades e permanências‖ Ess s
s os n ví uos ou su s ―m n r s z r‖ ―constituem mil práticas pelas quais
os usuários se reproporiam do espaço organizado pelas técnicas de produção
sociocultural” (CERTEAU, 1994, p. 41), ele ainda enfatiza que todo tipo de ação está
diretamente relacionada com o social. São justamente essas táticas que são explícitas no
Correio de Campina, principalmente nas que estão inseridas na lógica dos mecanismos
de poder.
143
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estudos dos textos (literários ou não) entrelaçando-se com a análise das práticas e
símbolos, cada uma com significações próprias, exigindo assim análises também
diferenciadas. Ao estudar o Antigo Regime, Chartier destaca a importância dos jornais
mpr ssos: ―A r ul o mult pl o s r to mpr sso mo ou s orm s
sociabilidade, autorizou novos pensamentos, transformou s r l s po r‖
(CHARTIER, 1998, p.178). Assim, percebemos que o jornal aqui analisado foi
largamente utilizado como ferramenta na construção do poder, nos fornecendo reflexões
acerca os pensamentos e práticas existentes no cotidiano da sociedade no começo do
século XX.
O jornal aqui analisado, o Correio de Campina foi criado em 1911 e durou até
1932, tendo como proprietário e diretor o cel. Christiano Lauritzen. Grande parte do
jornal não está mais disponível, contudo, pode ser encontrado no Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba (IHGP), o qual digitalizou 3 anos do jornal, de 1913 até 1916. A
estrutura do Correio de Campina é fixa, o período contém quase sempre quatro páginas,
três de notícias cotidianas e uma de propagandas de estabelecimentos que patrocinaram
o jornal. A manchete é quase majoritariamente sobre um assunto envolvendo Campina
Grande ou a Paraíba, geralmente a primeira página é dedicada aos assuntos políticos
campinenses, envolvendo os partidos walfredistas e epitacistas. O jornal é
declaradamente epitacista, inclusive Christiano Lauritzen era o chefe do partido
conservador em Campina Grande, sendo um grande aliado de Epitácio Pessoa. Além
disso, o jornal possui um espaço cultural, onde podemos ver poemas ou contos,
geralmente de membros da redação do jornal, a exemplo do major Lino Gomes, também
delegado da polícia de Campina Grande. As notícias sobre a Paraíba como um todo são
bastantes presentes no jornal, inclusive notícias de outras cidades do estado também
ganham espaço no jornal, relatos de crimes, de júris, seca, manifestações, cotação do
comércio, situações das escolas e da educação campinense, sobre o andamento primeira
Guerra Mundial, dentre outras notícias.
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Sendo assim, é interessante analisar os dois lados da história, uma vez que pode
existir diferentes interpretações e representações de um determinado fato. No caso da
identidade e a realidade em que está inserida, ela é – ― ontr tor m nt onstruí
p los r nt s rupos qu omp m um so ‖ (CHARTIER, 1998) – ou seja,
dos grupos que são detentores do poder e como representantes disto, acabam moldando
a existência da sociedade, comunidade ou classe. Nesse sentido, de um lados temos a
perspectiva de Irinêo Joffily, inimigo declarado de Christiano Lauritzen e que através da
Gazeta do Sertão, buscava descontruir a personalidade política do prefeito. José Joffily
(1980) – salienta esse fato quando elabora sua própria imagem de Christiano:
história de Christiano Lauritzen, temos duas imagens suas, a construída por ele próprio
(sua identidade) e a construída por outros, no caso, a de Irinêo Joffily. Em ambos os
casos, no presente momento da nossa análise, temos essa imagem ausente o que acaba
por abrir caminhos às diversas interpretações de quem realmente foi Christiano, ou se
ele estava agindo, de acordo com o seu jornal, corretamente e para o desenvolvimento
de Campina ou, se seria como seus opositores afirmam: reacionário até a medula!
60
CORREIO DE CAMPINA, Nº 6, 1913.
146
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Além dessas perspectivas, Zygmunt Bauman (1998) nos esclarece mais a fundo
sobre as identidades modernas. Ele considera que antes dessa modernidade, o indivíduo
não poderia escolher quem se desejava ser. Cada indivíduo nascia com um status na
sociedade e dificilmente um esforço individual mudaria isso. Contrariamente a esse tipo
de pensamento, a modernidade privilegiou esse esforço individual, como forma de
crescimento e realização social:
147
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148
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61
Graduado em História pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), especializando em História pelo
Núcleo de Pesquisa e Extensão em História Local (NUPEHL/UEPB) e mestrando em História pela
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
62
Fundação Getúlio Vargas: FGV. Arquivo: Getúlio Vargas, Classificação: GV c 1929.09.18, Data:
18/09/1929. Qtd.de documentos: 1 (2fl.)
149
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Como visto, o gringo era colocado como um benfeitor para a cidade e sua figura,
atrelada ao seu partido, continuaria buscando para si a tarefa de levar o progresso para
Campina Grande.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz. A invenção do Nordeste e outras artes. 5º ed. São
Paulo: Cortez, 2011.
150
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JOFFILY, José. Entre a monarquia e a república: ideias e lutas de Irenêo Joffily. Rio
de Janeiro: Kosmos Editora, 1982
OLIVEIRA, Deuzimar Matias de. Nas trilhas do cangaceiro Antonio Silvino: tensoes,
conflitos e solidariedades na Paraiba (1897-1914). Campina Grande, 2011.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Além das fronteiras In: MARTINS, Maria Helena.
Fronteiras Cultuais: Brasil – Uruguai – Argentina. Cotia – SP: Ateliê Editorial, 2002.
151
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* * *
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153
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Cultura. A estratégia era divulgar o então pequeno programa, sugerindo sua ampliação e
replicação em várias regiões do estado. O coração de um programa mínimo de cultura
ideal seria a biblioteca pública do município. A ela se agregariam a biblioteca infantil, o
conselho municipal de cultura e o museu municipal. Sobre os museus, Vingt-un destaca
no plano a necessidade de três museus temáticos que, se instalados estrategicamente,
cobririam as principais regiões do estado e formariam uma rede temática:
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C - Livros
D - Cordéis
E - Periódicos
F - Memorial dos Mossoroenses
G - Falas e Relatórios dos Presidentes da Província do RN (FELIPE, 2001:
118)
Da lista de mais de 4.000 mil títulos Vingt-un figura como autor, co-autor ou
organizador de cerca de 550 obras (mais ou menos 200 títulos da Série C e
mais de 300 plaquetas da Série B); ele também foi o responsável pela
publicação de obras (acadêmicas ou não) de mais de 200 novos escritores; e
na coleção contam centenas de títulos (técnicos ou acadêmicos) das Ciências
Exatas e da Terra, Ciências Biológicas, Engenharias e Ciências Agrárias.
Portanto, o gigantismo dos números e a variedade de focos flagram a atuação
de um intelectual interessado, antes de tudo (ou apesar de tudo), na difusão
das letras. (MENDES, 2018: 50-51)
156
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As coleções, como as definiu Mollier, faziam parte de uma política editorial que
se constituía em projeto cultural e que, em última instância, fazia parte, ou era, em si
mesma, uma política cultural.
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158
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Referências bibliográficas
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PÉCAUT, Daniel. A geração dos anos 1920-40. In: _____. Os intelectuais e a política
no Brasil: entre o povo e a nação. Trad.: Maria Júlia Goldwasser. São Paulo: Ática,
1998.
160
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Introdução
Dentro do campo da política, não há sucesso sem que haja comunicação, seja do
lí r polít o om o ―povo‖ ou m smo om s us l os polít os Portanto, a narrativa
deste texto busca identificar como o ator político Epitácio Pessoa Cavalcanti
Al uqu rqu ―s rv u‖ s r l onou om o v r u smo P r sso nos propr mos
sobretudo da escrita epistolar. Nos idos da metade do século XX, as correspondências
eram responsáveis por boa parte da comunicação entre as pessoas no Brasil e o tempo
generosamente permite que essas conversas cheguem ao historiador em maior ou menor
quantidade e qualidade de preservação — algo que se traduz em desafio ao profissional
da história — porém não retira a rica possibilidade de construir um passado verossímil
através das correspondências trocadas entre os sujeitos.
63
Para lê-la na integra: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/carta-testamento.
161
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As cartas que utilizaremos aqui são todas que envolvem Epitácio Pessoa
Cavalcanti Albuquerque e Getúlio Vargas, fazem parte de um arquivo que se encontra
hoje parcialmente digitalizado pela Fundação Getúlio Vargas, disponibilizados à revelia
dos seus produtores, algo que, de acordo com PROCHASSON (1998), se traduzem nos
64
C PROCHASSON Chr stoph ―At n o: V r !‖ Arqu vos pr v os R nov o s Prát s
Historiográficas. Revista Estudos Históricos. V.11, n.21, 1998. Rio de Janeiro.
65
JOÃO PESSOA NETO, n. 01-09-1938 no Rio de Janeiro, f. 02-11-1985 no Rio de Janeiro. Advogado
formado no Rio de Janeiro. Suplente de deputado federal pela Paraíba. A respeito ver:
https://www.parentesco.com.br/index.php?apg=arvore&idp=22450&ver=por&ori=&c_palavra=.
162
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66
João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque nasceu em Umbuzeiro (PB) no dia 24 de janeiro de 1878, filho
de um modesto funcionário público, Cândido Clementino Cavalcanti de Albuquerque e de Maria Pessoa
Cavalcanti de Albuquerque. Sua mãe era sobrinha de Henrique Pereira de Lucena, barão de Lucena,
diversas vezes presidente da província de Pernambuco durante o Império, presidente desse estado em
1890 e ministro da Fazenda de Deodoro da Fonseca. Era também irmã de Epitácio Pessoa, presidente da
República de 1919 a 1922, e de Antônio Pessoa, vice-presidente da Paraíba em 1915 e pai de Carlos
Pessoa, deputado federal por esse estado de 1925 a 1929. A respeito ver:
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/joao-pessoa-cavalcanti-de-albuquerque
67
Nome com que é tradicionalmente designado na historiografia brasileira o período ditatorial que, sob a
égide de Getúlio Vargas, teve início com o golpe de estado de 10 de novembro de 1937 e se estendeu até
a deposição de Vargas, em 29 de outubro de 1945.
68
Secretário de Educação do governo da Paraíba. Foi ainda depositário de justiça, oficial do 5º Ofício de
Registro Civil, presidente do Banco Nacional de Depósitos e proprietário dos jornais Folha
Trabalhista, editado na Paraíba, e Diário Popular.68
A respeito ver: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/albuquerque-epitacio-
pessoa-cavalcanti-de.
163
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anos, ainda marcado pela morte do pai, chega à cidade que seu pai foi responsável por
mudar o nome: João Pessoa, capital paraibana, antes chamada de Parahyba e rebatizada
após a chamada Revolução de 1930. Como comissionado, ocupou brevemente um posto
na Força Pública da Paraíba, responsável por combater os revoltosos do motins
constitucionalistas de 1932, algo efêmero, tendo logo retornado ao Rio de Janeiro.
Já no Rio de Janeiro, deu continuidade aos seus estudos e, assim como muitos da
sua família, se formou em direito pela Faculdade Nacional do Rio de Janeiro em 1937,
justamente no ano de implementação do Estado Novo69, onde a constituição foi jogada
fora e iniciou-se no Brasil uma fase ditatorial do governo Getúlio Vargas, amigo pessoal
de Epitacinho.
69
Com o aprofundamento da crise do Estado Novo e o início do processo de redemocratização do país,
abriu-se um espaço para o surgimento de novos partidos políticos. Nessas circunstâncias, a partir da
promulgação do Ato Adicional nº 9, em 28 de fevereiro de 1945, determinando que no prazo de 90 dias
seria baixado um decreto fixando a data das próximas eleições presidenciais, estaduais e municipais,
começou-se a articular a criação do Partido Trabalhista Brasileiro sob a inspiração do próprio presidente
Getúlio Vargas. Segundo Alzira Vargas do Amaral Peixoto, o PTB, na concepção V r s ― st n v -
se a ser um anteparo entre os verdadeiros trabalhadores e o Partido Comunista — que tinha então voltado
à legalidade. Os trabalhadores não se filiariam ao PSD [Partido Social Democrático] nem à UDN [União
Democrática Nacional]. Iriam com mais facilidade engrossar os quadros do comunismo. O PTB, sendo
dos operários, um veículo para que eles possam expressar seus anseios e suas necessidades, servirá ao
m smo t mpo r o ontr o omun smo t p r o PSD‖ A r sp to v r:
http://fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/partido-trabalhista-brasileiro-1945-1965.
70
A Un o D mo rát N on l un 7 rl 945 omo um ― sso o p rt os
st u s orr nt s op n o‖ ontr t ur st onov st aracterizou-se essencialmente pela
oposição constante a Getúlio Vargas e ao getulismo. Embora tenha surgido como uma frente, a UDN
organizou-se em partido político nacional, participando de todas as eleições, majoritárias e proporcionais,
até 1965. A respeito ver: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/uniao-
democratica-nacional-udn.
164
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O viés articulador
Ao tratar sobre política, Bourdieu (1989) deixa claro que a luta no campo político
prevê, sobretudo, a tentativa de monopolizar o campo político para si. Neste sentido, o
autor discorre ainda acerca de como um capital político, esse que Epitacinho se apropria,
pode influenciar uma sociedade e a própria construção do sujeito que herda esse capital,
po s o polít o v s mpr ― onqu st r postos de decisões capazes de assegurar um
po r so r os s us r pr s nt os‖ (p 69)
71
A respeito ver: AIRES, J. L. Q.. A fabricação do mito João Pessoa: batalhas de memórias na Paraíba
(1930-1945). 1. ed. Campina Grande: EDUFCG, 2013. v. 500. 252p.
72
João Batista Luzardo, também conhecido como O Embaixador, bem como Hombre de la Guerra pelos
argentinos, foi um político e diplomata brasileiro.
165
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73
Arquivo: Getúlio Vargas, Classificação: GV c 1947.05.08, Data: 08/05/1947, Qtd.de documentos:1
(2fl.).
74
Idem.
75
Arquivo: Getúlio Vargas, Classificação: GV c 1950.12.00/2, Data: 12/1950, Qtd.de documentos: 1(4
fl.).
166
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circulação, e que, publicou o artigo que vai junto. Nele se diz que o sr. é o
ùnico homem do nosso paìs que pòde tirar a meia sem descalçar o sapato...76
Agora um outro assunto, - por intermédio dos Santos Vahlis soube que está
em Buenos Aires o principal assistente do professor Schats que foi, como o
senhor sabe, Ministro da Economia de Hitler. Êste frequês que é ligado
Larragoiti tem desejo de se avistar com o Senhor e de lhe levar uma palavra
sôbre economia. Santos Vahlis pergunta se o Senhor está disposto a recebê-lo
e quando? - Peço que - me mande deizer alguma coisa77
76
Arquivo: Getúlio Vargas, Classificação: GV c 1947.05.08, Data: 08/05/1947, Qtd.de documentos:1
(2fl.).
77
Arquivo: Getúlio Vargas, Classificação: GV c 1950.04.20/1, Data: 20/04/1950, Qtd.de documentos: 1
(2fl.)
167
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Na carta que iremos expor, fica claro que Epitacinho foi à Argentina em uma
visita de cunho política, buscando identificar a angariar modelos de gestão para o
governo de Getúlio Vargas que seria instaurado um ano depois. Essa relação de amizade
e troca entre os dois governos sul-americanos já foi amplamente debatido, mas
identificar esses personagens que foram capazes de mediar essas relações é ainda pouco
explorado. Com isso, a carta de Perón endereçada à Vargas deixa claro que as instituição
do peronismo estão disponíveis ao governo Vargas conforme forem necessárias.
Juan Perón
Buenos Aires, 20 de Abril
Año del Libertador General San Martín 1950.
Señor Senador
Doctor Don GETULIO VARGAS
RIO DE JANEIRO
78
Trabalho; ofício.
168
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Considerações finais
A partir do que foi exposto, podemos concluir que este trabalho busca resgatar a
história de um ator político paraibano pouco explorado historiograficamente, no intuito
de apontá-lo como um articulador político de Getúlio Vargas, algo que fora proposto a
partir das correspondências localizadas no Centro de Documentação e Pesquisa da
Fundação Getúlio Vargas, onde foi possível identificar essa relação de idas e vindas de
79
Optamos em nosso trabalho por transcrever na íntegra e na grafia original quando foram publicadas as
notícias das fontes hemerográficas.
169
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Referência bibliográficas
CORRESPONDÊNCIAS CPDOC
170
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PÔSTER
E-mail: oslan@hotmail.com.br
E-mail: janetermacedo@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO
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Nas notícias são altamente perceptíveis a insatisfação dos padres sobre o descaso em
qu s n ontr v v lh m tr z on l m n o os s tom r m um t tu p r ― r
D us um s n n qu l ‖ qu om v us r mo ernidade em
diversas reformas urbanísticas que viria a ocorrer nas décadas seguintes.
METODOLOGIA
173
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Figura 1 C lho o jorn l ―Mon tor o Sul‖ Ano VII nº 469 julho 908.
Fonte: Arquivo da Biblioteca Pública do Estado da Bahia. Foto: Oslan Costa Ribeiro (2011).
174
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Eduardo Campos era médico e jornalista, foi redator e chefe do jornal até pouco antes
de sua morte em 1908, quando aparece no cabeçalho do jornal novo proprietário
Antôn o Nun s omo r tor ―vár os‖
175
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Semana Santa
A única traducção religiosa, durante toda a quaresma, de que é a população
desta cidade em sua maioria catholica foi na sexta-feira santa estar em funeral
o pavilhão nacional no paço municipal, nas sociedades Instructiva Educação e
Recreio, Lyra do Commercio, nos navios surtos no nosso porto, em redacção e
a abertura da egreja matriz.
Nesta, entretanto notamos tudo quanto possa indicar o despreso e o desleixo do
encarregado dos misteres80 de zelal-a e acceial-a.
Os altares não apresentava uma cobertura preta, o Senhor Morto, estava em
baixo do altar Mór sem um círio acceso e para constraste no centro da egreja
havia um enorme formigueiro.
Tudo em abandono, a matriz de portas abertas sem ter uma pessoa que velasse
pelo respeito e decoro necessários a casa de Deus a ponto de alguns moços
empregados no nosso commercio infileirarem-se defronte do altar Mór,
prohibindo que os fieis, os crentes depos aos pés do Senhor as offerendas do
seu amor e do seu devotamento á religião do Crucificado. 81
A questão também foi o pouco empenho dos padres nessa empreitada, mas, a primeira
visita pastoral do Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil, dom Jerônymo Tomé da Silva
a cidade de Canavieiras em 1903, contornou a letargia dos clérigos e da população, os
impelindo a planejar alguma resolução para sanar esse problema.
80
Graduado pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e Mestrando pela Universidade Federal de
Campina Grande (Bolsista CAPES- PPGH/UFCG).
81
Conferir em Sousa (2001, p. 10 – 12)
176
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A autora diz que Glénisson endossou as palavras de outro historiador Pierre Renouvin,
Devemos nos ater a criticidade às fontes hemerográficas da nossa pesquisa, para não nos
alienarmos às mesmas como palavra final, verdade irrepreensível sobre uma
problemática que almejamos fazer a História. Devemos sempre investigar.
177
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Os jornais de Canavieiras não são diferentes dessa preocupação levantada por Luca
(2015), pois, os periódicos pesquisados eram chefiados sim, por partidos políticos,
grupos econômicos anônimos, e por personalidades de grande vulto social na elite
cacaueira de Canavieiras.
Em cada discurso publicado poderá existir uma mensagem subliminar, e não queremos
passar desapercebidos do cunho dessas intenções, das jogadas políticas, e que
influenciaram diretamente no decorrer do processo construtivo de uma nova igreja
matriz e a demolição da antiga, por uma cidade regenerada, uma cidade bela e moderna.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossa pesquisa está em pleno desenvolvimento. Toma nova orientação, quando nos
preocupamos com a qualidade de nossas fontes, qual discurso predominou na produção
de tal fonte, quais interesses permeavam seus discursos, pois, inquirindo-a sempre,
buscamos continuar trilhando o caminho da imparcialidade historiográfica.
178
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REFERÊNCIAS
LUCA, Tânia Regina de. Fontes impressas: História dos, nos e por meio dos
periódicos. In: PINSKY, Carla B. (Org.). Fontes históricas. 3ª edição. São Paulo:
Contexto, 2015, p. 111-153.
179
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180
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COMUNICAÇÃO ORAL
RESUMO
Este projeto de pesquisa tem por objetivo analisar a influência, participação e relevância
do arquiteto francês Georges Henry Munier em obras de significativa importância no
processo de modernização da cidade de Campina Grande (PB) no período entre 1935 a
1945. Como também, identificar qual estilo adotado pelo arquiteto nas obras efetivadas.
George Henry Munier foi um arquiteto francês que viveu no início do século XX. Ele
atuou em vários outros estados do nordeste como Ceará, Rio Grande do Norte e
Pernambuco; deixando sua marca e estilo arquitetônico. No estado de Pernambuco, na
R proj tou o í o ―B nk o Lon on & South Am r L m t‖ (B n o
de Londres e da América do Sul. Atualmente o local funciona como a Caixa Cultural de
Recife, localizado no espaço central da capital pernambucana, área também conhecida
como o Marco Zero da cidade) em 1912; como também, a Igreja de Nossa Senhora de
Fátima, inaugurada em 1935 (a igreja se localiza na rua - Oliveira Lima, 824, Soledade,
Recife-PE) No C rá n Fort l z m r ou pr s n proj t n o o pr o ―O
P lá o Com r o‖ (O í o s lo l z no ntro Fort l z m r nt
ao Largo da Assembleia, atual museu do Ceará) em 1940. No estado da Paraíba, na
cidade de Campina Grande o arquiteto francês marcou presença efetuando projetos
como os Frontões de casas residenciais, o Armazém do Algodão e o famoso Grande
Hotel (Prédio onde atualmente funciona a Secretaria de Finanças da Prefeitura de
Campina Grande, localizada na Avenida Floriano Peixoto) em 1942; nos quais se
tornaram símbolos do processo de modernização ocorrido em Campina Grande. A
metodologia do trabalho se pauta no Método Indiciário, em entrecruzamento de fontes,
nas quais estão disponíveis em: sites, trabalhos acadêmicos, periódicos e revistas
históricas; nos quais serão expostos e identificados no decorrer do texto.
82
Conferir em Gomes (2017, p. 8)
181
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INTRODUÇÃO
Tal processo fez com que as cidades sofressem modificações profundas, afetadas
pela necessidade de modernização. Em Londres, Paris, São Paulo, Rio de Janeiro,
Recife, Parayba do Norte, Campina Grande e etc., tiveram suas experiências singulares
de modernização e urbanização84.
Cabe ressaltar, que este trabalho prioriza analisar a atuação do arquiteto Munier
em Campina Grande – PB. Não abordaremos a participação do arquiteto em outras
cidades e estados, como também, comenta um pouco a respeito da história da vida do
83
Conferir em Filho (2009, p. 45).
84
Conferir em Gomes (2017, p. 19).
182
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2. Contextualizando
85
O primeiro mandato foi de 1935 a 1938 e o segundo de 1940 a 1945.
86
Na Verdade, já em 1933, o interventor Gratuliano de Brito e o secretário de Segurança Pública de
Campina Grande da época, Argemiro de Figueiredo, fizeram um convite ao urbanista e arquiteto Nestor
de Figueiredo para que esquematizasse um plano de extensão, embelezamento e remodelação para a
cidade campinense. Desejava-se, com o plano urbanístico, elevar Campina Grande ao título de cidade
moderna, no qual seus espaços fossem disciplinados e ordenados de acordo com as demandas do capital,
183
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E é neste contexto que entra em cena o arquiteto Geoge Henri Munier. Diante
de um momento no qual a cidade de Campina Grande estava destinada a se modernizar,
a urbanizar seus espaços. Munier adentra nos planos urbanísticos campinense com o
objetivo de complementar as perspectivas desejadas par a urbe.
tendo em vista a potencialização econômica da cidade e seu embelezamento. Porém, os planos com
Nestor de Figueiredo não vingaram, devido à instabilidade política nacional e s sucessivas trocas de
gestores na prefeitura campinense. Ver mais detalhes em Queiroz (2006, p. 165).
87
Conferir em Queiroz (2006, p. 169), nota de rodapé.
184
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Diante de tais fatos, é percebível que o arquiteto George Henri Munier teve um
papel marcante na história de Campina Grande, haja vista que participou, a pedido do
atual prefeito da época, da elaboração de um plano urbanístico89 em um período
importantíssimo pelo qual passava a cidade.
88
Conferir em Gaudêncio (2009, p. 70), nota de rodapé.
89
Prédio onde atualmente funciona a Secretaria de Finanças da Prefeitura de Campina Grande, localizada
na Avenida Floriano Peixoto.
185
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Mas não para por aqui, o arquiteto também projetos de prédios que
r mo l r m o sp to ís o x mplo os ―Front s‖ s s s ru
Maciel Pinheiro90, onde proprietários tiveram o privilégio de terem em suas
propriedades um toque do arquiteto Munier. Outra construção na qual tem a marca do
arquiteto é o Armazém do Algodão, onde funciona atualmente o Museu do Algodão,
localizado na Rua Benjamim Constant, s/n, prédio onde funcionava a velha estação
ferroviária de Campina Grande.
90
Con r r rt o F o Gut m r : ―C rto r s um r orm ur n no nor st o Br s l ( 93
– 945)‖
186
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91
O Pronaica era um programa do Ministério da Educação e do Desporto criado para coordenar o desenvolvimento
de ações de atenção integral à criança e ao adolescente, de forma descentralizada, articulada e integrada, por meio de
órgãos federais, estaduais e municipais, organizações não-governamentais e com a cooperação de organismos
internacionais (SOBRINHO e PARENTE, 1995, p.08).
187
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Flor no P xoto‖92. Assim, o Grande Hotel foi projetado para atender as exigências de
uma arquitetura moderna. Queiros nos mostra que,
Fonte: http://cgretalhos.blogspot.com/2009/11/ontem-e-hoje-o-grande-hotel.html#.XS5zMIgvyyL.
Acessado em 16/07/2019
92
Para maior entendimento da metodologia usada pelo GRUPAL/Grupo de Pesquisa Arquitetura e Lugar. UFCG,
coordenado pela professora Alcilia Afonso, ler: AFONSO, A. Proposta metodológica para a pesquisa arquitetônica
patrimonial. Belo Horizonte: 3º Simpósio Científico do ICOMOS BRASIL, 2019.
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Conclusão
Referências Bibliográficas
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QUEIROZ, Marcos Vinicius Dantas. Quem te ver não te conhece mais: Arquitetura e
cidade de Campina Grande em transformação (1930 – 1950). Dissertação (Mestrado-
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo e Área de concentração
Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo) Escola de Engenharia de São Carlos
da Universidade de São Paulo, 2008;
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1_INTRODUÇÃO
O presente trabalho possui como objeto de estudo, a análise do estado de conservação
documental de uma obra singular no quadro nacional da arquitetura escolar de cunho
social. Trata-se do Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente – CAIC, José
Joffily, localizado no bairro das Malvinas, Campina Grande-PB. Projeto proposto
dentro de um programa de desenvolvimento nacional de educação em tempo integral
para a população de baixa-renda, tendo seu protótipo desenvolvido no início da década
de 90, pelo arquiteto João da Gama Filgueiras Lima – Lelé, em Brasília-DF, e replicado
nos anos seguintes em diversas cidades brasileiras.
Para tanto, a metodologia que respalda este produto apoia-se num esquema
metodológico estudado por Ribeiro (2016) que compreende a leitura da edificação a
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2_OBJETO HISTÓRICO
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Sobre seu processo de construção, o CAIC José Joffily teve o fornecimento de suas
peças pré-fabricadas pela multinacional Techint Engenharia, na cidade de Mossoró
(RN), com instalações que atendiam a serviços da Petrobrás. Essa empresa estaria ainda
responsável pela distribuição e manutenção dos componentes em argamassa armada de
CAICs distribuídos por toda a região. O cálculo estrutural foi executado pelo escritório
Promon Engenharia, com sede em São Paulo, sob a responsabilidade do engenheiro
Shigueru Yamamoto, obedecendo a mesma lógica de padronização para todas as
unidades.
93
Residente do subprojeto de História pelo Programa Residência Pedagógica vinculado a CAPES;
193
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3_OBJETO FÍSICO
Contudo, foram concedidos os acessos às copias das pranchas técnicas (sete pranchas,
ao total) e páginas de registros, pela Secretaria de Obras do município de Campina
Grande, onde foi possível o desenvolvimento do estudo da obra. Entretanto, a
documentação original – localizada na própria instituição, não foi cedida para fins de
estudos acadêmicos, registros fotográficos ou digitalização.
Importante frisar, que todo o material coletado foi redesenhado com o auxílio de
softwares computacionais CAD, a exemplo do AutoCad, garantindo a preservação desse
acervo e facilitando o acesso e manipulação dos arquivos para pesquisas posteriores.
Bem como, contribuiu como base para reconstruções virtuais tridimensionais dos
edifícios, a fim de produzir a própria documentação de inventário da obra, assegurando
194
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A deliberação de uma visita técnica ao CAIC José Joffily só foi possível pelo apoio da
Defesa Civil do município de Campina Grande, ao autorizar e acompanhar uma vistoria
técnica de análise de verificação de riscos, em virtude das ameaças patológicas
indiciadas pelo edifício que vem comprometendo a segurança de seus respectivos
usuários, além de contribuir para um possível colapso da edificação, à longo prazo.
São dois blocos de um único pavimento (creche/ pré-escola e núcleo básico de apoio)
interligados por uma passarela coberta e jardins internos, e um bloco de dois
pavimentos (setor administrativo e salas de aula – nível fundamental e médio), que
conecta-se por uma escadaria (em seu nível inferior), e uma passarela elevada (no nível
superior), ao volume principal do ginásio. As passarelas, bem como, os edifícios adotam
elementos compositivos pré-moldados de concreto e argamassa armada no piso, pilares,
vigas-calhas e cobertura (sistema de placas capa-canal).
195
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Quanto a análise espacial interna dos blocos de atividades, percebe-se que os mesmos
― ot r m omo solu o proj tu l um pl nt mo ul racional, com setorização dos
espaços, usando os princípios projetuais da modernidade arquitetônica, que facilitou a
solu o onstrut v ‖ (AFONSO 9 p 9)
4_CONSIDERAÇÕES FINAIS
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5_REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Resumo
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Introdução
Figura 2 - Mapa de Localização do Calçadão da Cardoso Vieira. Fonte: Produzido pelos autores.
O presente artigo tem como questão norteadora: como se deu o processo
histórico do Calçadão da Rua Cardoso Vieira? Quais foram as decisões projetuais que
minaram a legitimidade espacial do local? Para tal, será feita análise arquitetônica e
urbanística, com enfoque patrimonial, dos processos e dinâmicas referentes ao objeto de
estudo, a partir do levantamento de fontes primárias, como os desenhos de projetos
urbanísticos, arquivados e catalogados na Secretaria de Planejamento de Campina
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Grande – SEPLAN. Tem como referencial teórico o trabalho feito por Carvalho (2017)
e as contribuições de autores como Januzzi (2006) e Lacerda et al (2010) para a
compreensão de como as reformas do Calçadão fizeram parte de um ideal maior de
embelezamento e higienização da cidade.
Discussão
A partir da década de 1970, o êxodo rural ganha força no cenário nacional, com
a modernização do campo, desencadeando a necessidade da construção de conjuntos
habitacionais para abrigar as pessoas que migravam para os centros urbanos. No intuito
de resolver essa e outras questões das novas cidades modernas brasileiras, o Governo
Federal criou o Serviço Nacional de Habitação e Urbanismo (SERFHAU). O Brasil era
então governado pelo presidente General Médici, époc m qu o h m o ―M l r
r s l ro‖ pro uz u r n s o r s ur níst s
Para articular a cidade com o SERFHAU, foi criada uma comissão denominada
Companhia de Desenvolvimento de Campina Grande (COMDECA). A mesma, tinha
como objetivo geral planejar a cidade dentro de um sistema regional que funcionasse
como área polarizadora da região do planalto da Borborema, considerando sua história e
suas perspectivas para o futuro.
Pernambuco (UFPE). Seu primeiro trabalho foi ainda na administração do prefeito Luiz
Motta Filho em 1971 por meio do SERFHAU. Entretanto a sua grande produção
ocorreu nos mandatos de Evaldo Cavalcanti Cruz (1973-1977) trabalhando na
COMDECA e no mandato de Enivaldo Ribeiro (1977-1983) quando retorna à cidade e
assume a coordenação da COMDECA.
O Calçadão
Figura 02 - Redesenho da planta baixa e do corte do projeto para o Calçadão da Cardoso Vieira de 1972
do arquiteto Renato Azevedo. Fonte: SEPLAM, modificado pelos autores;
Segundo Januzzi (2006), a criação de zonas de pedestres em áreas históricas
pode desenvolver um novo sentido para o centro das cidades. Muitas ruas de pedestres
foram construídas em centros históricos para restaurá-los e revitalizá-los, promovendo
seu valor como centro social e melhorando as suas funções. A estrutura da malha
urbana, os edifícios, espaços livres e os monumentos contribuem para valorizar as
características do local e atuar como um atrativo especial, criando uma imagem própria
e dando um sentido único para quem caminha no local.
Figura 03 - Redesenho da planta baixa e do corte do projeto para o Calçadão da Cardoso Vieira de 1982.
Fonte: SEPLAM, modificado pelos autores;
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Bombeiros, ora fosse necessária uma incursão de socorro no local, levaram a Prefeitura
Municipal a destruir parte dos calçadões do centro. Uma tentativa de diminuir a
legitimidade espacial do local, ao destruir possíveis permanências estruturais, como
propõem Lacerda, et al (2010). Todavia, a porção original de 1975 do Calçadão da
Cardoso Vieira foi preservada, em detrimento ao seu valor para a cidade de Campina
Grande:
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Figura 04 - Redesenho da planta baixa e do corte do projeto para o Calçadão da Cardoso Vieira de 1993
dos arquitetos Veronica Costa e Anselmo Dantas. Fonte: SEPLAM, modificado pelos autores;
Figura 04 - Redesenho da planta baixa e do corte do projeto para o Calçadão da Cardoso Vieira de 1993.
Fonte: SEPLAM, modificado pelos autores;
A reforma de 1993 é o último testemunho projetual encontrado no Arquivo
Municipal da SEPLAM, o que leva a pensar que as demais reformas que o local passou
– como por exemplo a retirada das grelhas no ano de 2017 – foram tratadas de forma
pontual, sem um projeto arquitetônico. Entretanto, ao se comparar o projeto de 1993
com o desenho urbano indicado por Dantas (2018) pode-se perceber como as duas
situações conversam pouco entre si (ver fig 05). Os fiteiros que na planta de reforma de
1993 estavam no meio do espaço do calçadão foram relocados para a parte superior
direita do local. Atualmente apenas o fiteiro da Oi (empresa de telefonia) nº 6 está
disposto de forma livre no meio do calçadão, como indicado na reforma de 1993. As
grelhas (nº 10) foram retiradas no fim de 2017 e cimentadas, para dar continuidade ao
piso. O número de jardineiras é o mesmo nas duas propostas, mas seus locais de
implantação diferem da proposta de 1993 para o desenho atual.
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Figura 06: Mapa detalhando os dispositivos legais de proteção no Calçadão da Cardoso Vieira e no seu
entorno imediato. Fonte: Dantas (2018).
Mesmo estando dentro da Poligonal de Proteção Rigorosa (APR), é percebido
que o nível de conservação do Calçadão atualmente é muito baixo, sendo considerado
por Dantas (2018) como o destaque negativo nessa categoria se comparado com o seu
entorno imediato. O Calçadão apresenta parte dos seus elementos degradados, o que
comprova que os instrumentos urbanísticos de proteção não estão sendo suficientes para
a salvaguarda do bem, como pode ser visto nas imagens a seguir.
Figura 07: Mural e base de poste alocados no Calçadão. Fonte: Dantas (2018).
Mesmo apresentandos sinais de má conservação, o Calçadão foi e atualmanete
ainda é um dos espaços livres mais utilizados pela população campinense (ver fig 08). O
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Figura 09 – Evolução fotográfica do Calçadão da Cardoso Vieira. 1 - Rua Cardoso Vieira antes da
implantação do Calçadão. Fonte: http://cgretalhos.blogspot.com.br/ acessado em 25/08/2018 as 11:40; 2 –
Calçadão da Cardoso Vieira em 1982. Fonte: http://cgretalhos.blogspot.com.br/ acessado em 25/08/2018
as 12:20; 3 - Calçadão da Cardoso Vieira atualmente. Fonte: http://cgretalhos.blogspot.com.br/ acessado
em 25/08/2018 as 12:40 4 – Arquivo Pessoal (2018).
Conclusão
no tratamento das fachadas do conjunto Art Déco como aponta Rossi (2010) –, a
história do Calçadão da Rua Cardoso Vieira não é contada a partir de políticas de
preservação, mas sim a partir de rupturas históricas, reformas que tentam deslegitimar
formas de apropriações que estão em desacordo com o interesse público e o privado.
Referências bibliográficas
CRISPIM, Breno. As Boninas e a antiga Firma Oliveira Ferreia & CIA. Anamnese
do Patrimônio Industrial Campinense. Monografia (Graduação em arquitetura e
Urbanismo) – UFCG. Campina Grande, 2018.
209
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ROSSI, Lia Mônica. Art Déco Sertanejo: O Batismo. In. Revista UFG, v. 12, n.8, 2010.
210
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pqueiroz.arq@gmail.com
Resumo
Introdução
211
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repestinações e John Ruskin, que abominava o ato da restauração, sendo por ele
considerada [...] "a mais total destruição que um edifício pode sofrer" (RUSKIN, 2013
p. 79), a reflexão de Cesare Brandi vem suprir uma dívida implícita após a contribuição
de Alois Riegl, expondo uma experiência crítica pessoal, o chamado restauro crítico.
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A obra de arte, para Brandi, só passa a ser assim considerada, de fato, após o
seu reconhecimento como tal, pois, antes disso, ela só é uma obra de arte em potencial
e, a partir deste reconhecimento, serão levados em consideração não só a matéria
através da qual a obra de arte subsiste, mas também sua bipolaridade de instâncias
estética e histórica. Dessa forma, ao conduzir o restauro como a relação direta com o
reconhecimento, se tem o primeiro cololário que "qualquer comportamento em relação à
obra de arte, nisso compreendendo a intervenção de restauro, depende de que ocorra o
reconhecimento ou não da obra de arte como obra de arte" (BRANDI, 2004, p. 28).
Entende-se, portanto, uma ligação indissolúvel que existe entre a restauração e a obra de
arte e o conceito de restauração será, então, articulado, não com base nos procedimentos
práticos que caracterizam o ato da restauração de fato, mas com base no conceito da
obra de arte que recebe tal qualificação [...] "pelo fato de a obra de arte condicionar a
restauração e não o contrário" (Brandi, 2004, p. 29).
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Faz-se importante salientar que, para Brandi (2004), algumas obras de arte,
como produtos industriais, a restauração será levada em consideração a restabelecer a
funcionalidade do produto. Mas, ao se tratar de obras de arte, mesmo as obras
arquitetônicas, o "restabelecimento da funcionalidade, se entrar na intervenção de
restauro, representará, definitivamente, só um lado secundário ou concomitante"
(BRANDI, 2004, p. 26), onde o fundamental seria reestabelecer a obra de arte como
obra de arte. Por essa razão, segundo Khul (2006), às vezes considera-se que o
pensamento de Brandi não poderia ser aplicado à arquitetura, por relativizar as
essenciais questões de uso. Castriota (2006) reforça essa ideia ao comentar que existe
uma crítica sobre a teoria de Brandi, com certa intolerância, que categoriza seus
pensamentos como abstratos e incapazes de responder a objetivos práticos, sem
qualquer fundamento, pois, desde a fundação do Instituto ao qual dedicou suas
pesquisas, ele se preocupou em fazer experimentações práticas com aplicação de
conceitos teóricos sempre de altíssimo nível e plenamente consciente dos próprios
referenciais de método.
O o j t vo r st ur o m Br n stá xposto m s u s un o x om : ―
restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde
que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem
canc l r n nhum tr o p ss m o r rt no t mpo‖ (BRANDI 4 p 33)
Ele entende que a obra de arte possui uma unidade e não pode ser considerada como a
soma de suas partes e, ainda que fracionada, deve subsistir potencialmente como um
todo em cada um de seus fragmentos. Assim, a instância estética se mostra mais uma
vez a mais importante, pois a imagem se projeta como arte através dela, porém, sem
deixar de lado a sua instância histórica. A partir deste axioma ele elenca alguns
princípios práticos. O primeiro diz respeito a uma eventual integração que necessite ser
feita em uma obra de arte:
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Brandi trata como lacunas aquilo que concerne à obra de arte uma interrupção
no tecido figurativo, tanto para uma parte faltante como para o que se insere de modo
indevido ao qual se proíbe integrações fantasiosas. Era necessário reconstituir
continuidade entre fragmentos, mas, ao mesmo tempo, a intervenção não poderia
confundir com o original, induzindo o observador ao engano. "A lacuna, com efeito,
terá uma forma e uma cor, não relacionadas com a figuratividade da imagem
representada. Insere-se em outras palavras, um corpo estranho" (BRANDI, 2004, p. 49),
assim, a lacuna, mesmo de forma não intencional, figura em relação a um fundo em
relação à pintura. E para que isso não acontecesse, segundo Khül (2007), Brandi
desenvolve de forma empírica um método de integração de lacunas na pintura com
linhas verticais feitas com aqu r l s rt s n lm nt omo ― l m ntos‖ ( 945)
em texto de 1946 assumiria a denominação atual, tratteggio. Assim, reafirma seu
conceito de distinguibilidade, onde, examinadas de perto, as partes integradas se
distinguem dos fragmentos originais, mas, vistas de longe, promovem a integração da
imagem. Ao mesmo tempo em que prova a reversibilidade, pois, pinturas em aquarela
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Segundo Guerra (1952), Rio Branco, atual capital do estado do Acre, surge no
final do século XIX a partir de uma concentração de população que cresceu
espontaneamente e se transformou em vila comercial para controle e logística do
escoamento da produção do látex ao longo do rio acre, rumo aos portos de Belém e
Manaus, se firmando como um dos centros urbanos mais importantes do território na
época. A região foi muito visada por seringalistas nordestinos, dentre eles o cearense
Neutel Newton Maia que, em 1882, ao atracar na frondosa árvore da gameleira avistada
ao navegar pelos meandros do rio Acre, funda o Seringal Empresa, constituindo, assim,
o primeiro arruamento que conforma a atual Rio Branco do lado direito do rio, margem
oposta da sede estabelecida (GUERRA, 1951, CARVALHO, 2018b).
Logo, Neutel Maia percebeu que podia lucrar mais com o comércio do que
com o funcionamento do seringal, devido às muitas terras alagadiças que haviam no
local, abrindo as primeiras casas comerciais. Assim, aos poucos, o que era pra ser um
seringal transformou-se em povoado. O alinhamento de casas comerciais de diferentes
proprietários, em sua maioria sírio-libaneses, deu origem a um logradouro público e se
constituiu na primeira rua do povoado que se tornou um dos portos economicamente
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mais movimentados e importantes de todo vale do rio Acre sendo a primeira delas a rua
Abunã, atual rua Senador Eduardo Assmar, que margeia o rio Acre (PREFEITURA DE
RIO BRANCO, 2013).
Figura 3 - Residência do Prefeito do Alto Acre, Figura 4 - Casas Comerciais na primeira rua da
1906-1907 cidade, 1906-1907
Fonte: Álbum do Rio Acre. IN: Prefeitura de Fonte: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural
Rio Branco, 2013. - FEM
Num segundo momento segundo Carvalho (2018a), por volta da década de 1920, a
arquitetura antes efêmera passa a ser fixada na paisagem, atrelada a consolidação da cidade de
Rio Branco como uma área de escoamento da produção gomífera. Assim, a arquitetura rústica
passa a ser um pouco mais elaborada com requintes nas fachadas, variações de arcos e demais
aberturas que marcam o ritmo das esquadrias, a nova presença de sobrados, substituição da
palha por telhas metálicas tipo onduladas e a introdução, mesmo que tímida, da telha de barro.
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conforme se observa alguns desses modelos repetidos ao longo da margem do rio acre, na
Figura 4. Passa-se então a praticar um hibridismo entre os conhecimentos construtivos locais
e as novas técnicas mais eruditas de demais fluxos culturais externos, produzindo chalés que
absorvem algumas características dos palacetes mais requintados, ao qual Costa (2010)
denomina de arquitetura "cabocla" o resultado dessa associação.
Por muito tempo, alimentou-se no imaginário popular de Rio Branco, que o solo
natural não suportaria construções em alvenaria, fato este evidenciado pela grande difusão da
técnica construtiva em madeira, presença quase total na paisagem da cidade até a década de
1930 (CARVALHO, 2018a).
Figura 4 - Casario da Rua Primeiro de Maio, expansão do primeiro arruamento de Rio Branco-AC na
década de 1940
Essa realidade começa a mudar drasticamente por volta de 1927, quando Hugo
Carneiro é nomeado governador do então território do Acre. Segundo Souza (2018),
transformar Rio Branco em uma cidade com um novo padrão arquitetônico se torna uma
meta, surgindo, assim, as primeiras e monumentais construções em alvenaria na cidade
causando alvoroço na sociedade acreana na época. Assim, com o passar do tempo, as casas de
madeira foram literalmente devastadas, sumindo ou dando lugar a novas construções em
alvenaria.
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Fonte: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM. Modificada pelo autor, 2019.
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Aplicando os conceitos de Brandi para uma intervenção nesse tipo de obra de arte, no
caso um sítio histórico, voltamos ao seu segundo axioma, onde, segundo o autor, para
conseguir atingir a unidade potencial da obra de arte, seria necessário um estudo aprofundado
para reconhecimento da obra de arte como obra de arte, para fim de compreendê-la antes de
qualquer proposta de intervenção, tendo o cuidado de que as novas construções não se
constituam como um falso histórico, com vista para sua transmissão futura da forma mais fiel
possível, deixando nítida para o observador a diferença temporal entre o que é antigo e o novo
proposto.
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Figura 6: Calçadão da Gameleira em 2019. Tentativa de recuperação do conjunto com a inserção de novas
fachadas
Esse tipo de intervenção se estende por todo o trecho das quadras, preenchendo todas
as lacunas. Também é possível observar a presença de construções criadas com uma
linguagem colonial, onde se tentou recriar uma versão dos tradicionais balcões dos sobrados
dessa arquitetura, guarnecidos com guarda-corpo metálico (Figura 7), ao lado dos chalés de
madeira que, apesar de algumas alterações, ainda guardam características originais das
construções (Figura 8). Um deles pegou fogo no começo de 2018, subtraindo mais do pouco
que ainda resta de autenticidade neste conjunto.
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Conclusão
Rerefência Bibliográfica
CARVALHO, Marcio Rodrigo Coêlho de. Arquitetura no/do território federal do Acre.
IN: III Seminário de Arquitetura Moderna na Amazônia. Belém, 2018a.
224
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CARVALHO, Marcio Rodrigo Coêlho de. Quando a arquitetura menor é maior. IN:
Anais do Arquimemória 4 - Encontro Internacional Arquimemória 4 Sobre
Preservação do Patrimônio Edificado. Salvador, 2013.
KHÜL, Beatriz Mugayar. Cesare Brandi e a teoria da restauração. São Paulo, 2007.
PREFEITURA DE RIO BRANCO. A Rio Branco que vivemos. Rio Branco, 2013.
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INTRODUÇÃO
APORTE TEÓRICO-METODOLÓGICO
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Preceptora do subprojeto de História pelo Programa Residência Pedagógica vinculado a CAPES.
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Quanto à dimensão histórica, está relacionada ao fator tempo, ao recorte temporal, corte
cronológico, ao contexto social, econômico e cultural, no qual o objeto estudado surgiu,
desenvolveu-se, consolidou-se e foi transformado. Para tanto, apoia-se em SERRA (2006),
autor de um guia prático para pesquisadores em pós-graduação, que descreve processo
omo ―mo o omo s su m os st os r nt s o s st m no t mpo‖ (SERRA
6 p 7 ) s st m omo ―um onjunto o j tos nt n o omo um tot l
v ntos p sso s ou s qu nt r m uns om os outros ‖ (SERRA 6 p 7 )
Imagem 01: Holismo, sistema, totalidade e interação. Metodologia de SERRA (2006) aplicada à pesquisa.
Fonte: Elaborado por GARCIA, 2018.
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A arquitetura é uma arte que a nosso juízo, traduz a organização dos recursos sociais que a
encomenda, reparte em termos de custos pela sociedade. Por isso mesmo, e graças ao grau
de saber invertido, seu resultado final acaba transcendendo ao governante que a solicitou.
Por outro lado, é também revestida de um caráter socializante, porque contém todo o
esforço de uma sociedade historicamente localizada... o governante constrói o que lhe
parece ser o reflexo de sua grandeza e que lhe propaga o poder. Na verdade, a obra é uma
projeção espacial de uma sociedade e de suas contradições, encarada plasticamente numa
obra que aparentemente deveria refletir sua personalidade e um sistema de representação
política. (BERMAN, 1954, p. 31 apud AFONSO, 2019)
Para isso, acredita-se que a pesquisa em jornais será útil, podendo as informações
coletadas serem comparadas à uma outra fonte de suma importância, trata-se das
informações orais, visando suprir a deficiência dos arquivos e acessar informações não
oficiais. Obviamente, o significado do relato particular é considerado mediante
significados mais amplos do contexto histórico, das estruturas sociais e culturais ou das
interações sociais, a fim de alcançar uma compreensão globalizante de acordo com a
interpretação do investigador.
Serão realizadas cinco entrevistas, com diversos atores sociais, são eles: político ou
secretário de planejamento urbano, arquiteto, ativista patrimonial, representante do
instituto histórico e morador do bairro. Como critério de seleção dos entrevistados, seguiu-
s s or nt s l v nt s por ALBERTI ( 5) m pítulo nt tul o ―H st r s ntro
H st r ‖ o l vro Font s Históricas, referenciado ao final desse texto. Acredita-se que
a variedade de funções desempenhadas pelos entrevistados, além da diversidade de
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Imagem 02: Localização geográfica do Brasil, estado da Paraíba, cidade de Campina Grande e do bairro Prata.
Fonte: Elaborado por GARCIA, 2017.
Assim, a antiga trama viária campinense foi sendo redefinida e sua expansão estimulada
pela abertura de ruas sobre os subúrbios, que em sua maioria foram elaboradas seguindo
traçados retos que desafiavam até mesmo a topografia dos sítios. Decorrente dessas
mudanças surgiram empreendimentos imobiliários, como os loteamentos que deram
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origem ao bairro da Prata, são eles: Raimundo Viana (Jardim da Prata registrado em
1953), e Floripes Pontes. Essa informação foi levantada no Arquivo da Secretaria de
Planejamento de Campina Grande, tornando-se importante destacar, que o acervo desse
órgão ainda se encontra em fase de catalogação, dispondo de muito material, porém ainda
desorganizado. O trabalho de organização começou a ser feito por alunos voluntários do
Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFCG, mas caminha a passos lentos.
Na imagem é possível notar que os lotes que antes pertenceram a Raimundo Viana
abrigam edificações importantes, que sobrevivem até a atualidade como marcos histórico,
arquitetônico e cultural. Algumas delas já aparecem indicadas na documentação, como por
exemplo, a Igreja Nossa Senhora do Rosário, a casa de saúde e maternidade Dr. Francisco
Brasileiro, (que viria a se tornar referência em toda região Nordeste cerca de 20 anos
depois, estando atualmente abandonada), o mercado conhecido como a grande Feira da
Prata, um instituto de educação (Colégio Estadual da Prata), o SENAI (Centro de
Educação Profissional Professor Stenio Lopes) e uma fábrica de óleo (ainda não
identificada).
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Uma outra fonte de pesquisa foi produzida pelas autoras em Pesquisas de Iniciação
Científica e em Trabalho de Conclusão de Curso. Na oportunidade, foram catalogadas
residências da década de 1960, levantadas no Arquivo Público Municipal, sendo possível
identificar no bairro, a intensa construção de programas residenciais e equipamentos com
repertório formal e soluções projetuais que seguiam os princípios racionalistas do
Movimento Moderno, sinônimos de progresso e prosperidade. O arquivo dispõe de um
extenso acervo de solicitações de construções organizadas por ano em pastas nomeadas
por ruas. No entanto, essa organização merece ser melhorada, bem como o prédio em que
está localizado, devido suas condições insalubres.
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Imagem 05: Parte do acervo residencial moderno construído na década de 1960 no bairro da Prata.
Fonte: Elaborado por GARCIA, 2018.
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princípio não só o fato do bairro ser considerado classe média alta, desde sua formação,
mas também sua acessibilidade e localização na cidade. (APOLINÁRIO, 2011, P.01)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em nível estadual, de 1997 a 2015, foram tombados por meio de seis decretos estaduais,
aproximadamente 40 ruas, praças e prédios situados no Centro Histórico de Campina
Grande, constituído por uma arquitetura de estilo arte déco. Este perímetro foi considerado
no Plano Diretor do município em 2006, ainda em vigor atualmente e em revisão desde
2016. No entanto, a preservação deveria ser mais eficiente em outras áreas da cidade,
também valorosas se considerados fatores históricos, sociais e econômicos. As chamadas
Zonas Especiais de Preservação, onde são exigidos parâmetros e índices de ocupação
diferenciados, merecem ser revistas e ampliadas, e edificações dotadas de significados,
inclusive aquelas constituintes do patrimônio recente - influenciadas pelo Movimento
Moderno, devem ser tombadas.
Obviamente o tombamento deve seguir critérios sólidos, e nem todos os imóveis do bairro
estão aptos, mas a preservação de alguns exemplares, tendo em vista a intensa
descaracterização do conjunto, torna-se importante para que as adaptações aos novos usos
sigam princípios éticos de intervenção, possibilitando a manutenção e aprimoramento das
técnicas construtivas para gerações futuras.
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Partindo dessa premissa, deve-se buscar, para conservação do meio urbano, articular
políticas urbanas com preservação dos valores patrimoniais, além do engajamento entre
sociedade e setores governamentais. Logo, não se pode perder a consciência de que as
intervenções e transformações urbanas devem considerar a relação dialética entre
conservação e inovação, valendo ressaltar que:
A morte atinge tanto as obras quanto os seres. Quem fará a discriminação entre aquilo que
deve ou não substituir ou aquilo que deve desaparecer? O espírito da cidade formou-se no
decorrer dos anos; simples construções adquiriram um valor eterno na medida em que
simbolizam a alma coletiva; constituem o arcabouço de uma tradição que, sem querer
limitar a amplitude dos progressos futuros, condiciona a formação do indivíduo, assim
como o clima, a região, a raça, o costume. Por ser uma pequena pátria, a cidade comporta
um valor moral que pesa e que lhe está indissoluvelmente ligado. (CARTA DE ATENAS,
1933)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AFONSO, Alcília. Proposta metodológica para pesquisa arquitetônica patrimonial. Belo
Horizonte: 3º Simpósio Científico do Icomos Brasil. IEDS, UFMG, 2019.
AFONSO, Alcilia. O processo de industrialização na década de 1960 e as transformações
da paisagem urbana do bairro da Prata, em Campina Grande. Barcelona: Seminário
Internacional de Investigação em Urbanismo. UPC, 2017.
APOLINÁRIO, O; ALMEIDA, N; VALVERDER, A. Especulação e verticalização:
reflexos na paisagem do bairro da prata em Campina Grande-PB e o uso do
georreferenciamento. Anais do 9º Encontro latino Americano de pós-graduação e
iniciação cientifica. UNIVAP. São José dos Campos, 2011.
CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 4 ed. São Paulo: Vozes,
2011.
GARCIA, Marjorie. Prata que vale ouro: a casa moderna da década de 60. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Arquitetura e Urbanismo). Campina Grande: UFCG,
2018.
237
ISSN 21764514
238
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PÔSTER
analiviafm@gmail.com
mclarahr7@outlook.com
1. INTRODUÇÃO
seria a única obra que representa o trabalho do arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé) na
cidade, entendendo o impacto social, histórico, econômico e cultural do complexo. Assim,
as fontes documentais em análise possuem importância que permeia os mais diversos
campos da contemporaneidade, a partir do entendimento e interpretação das múltiplas
significações que podem ser obtidas a partir destas documentações, sendo a preservação
necessária e educação patrimonial duas delas.
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Figura 1 – Implantação do CAIC José Jofilly. Fonte: MINÁ, Ana Lívia. 2019;
PEREIRA, Ivanilson. 2019.
5. A DOCUMENTAÇÃO DA EDIFICAÇÃO
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Figura 3 – Cópias de desenhos originais de planta baixa e cortes feitos por Lelé.
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6. CONCLUSÃO
A proposta desse artigo consistiu em expor a situação atual do CAIC José Jofilly
enquanto patrimônio arquitetônico e a contribuição da documentação histórica para sua
anamnese. A obra é recente, considerada patrimônio histórico moderno por sua marca no
período histórico em que foi construída, bem como por caracterizar a linha projetual do
arquiteto Lelé. No entanto, encontra-se descoberta de proteção patrimonial legal e, com a
documentação adquirida, compreenderam-se as necessidades da edificação para sua
preservação e conservação, através de condutas a serem feitas com relação às patologias e
futuras intervenções arquitetônicas contemporâneas possíveis. Por fim, aponta-se a
necessidade de ação dos órgãos responsáveis pela proteção patrimonial dessas obras com
valor histórico na cidade, associada à sensibilização e valorização do mesmo, bem como a
educação patrimonial em todas as camadas da sociedade.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
G1 Paraíba. Estudante é atingida na cabeça por uma barra de ferro dentro de escola
em Campina Grande. Disponível em:
<https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2018/11/24/estudante-e-atingida-na-cabeca-por-
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kakiafonso@hotmail.com
O trabalho apresentado nesse seminário possui como objeto de estudo a relação entre
concepção arquitetônica e estrutura no edifício que sediou a fábrica da Wallig Nordeste
S.A., instalada na cidade de Campina Grande, agreste da Paraíba, durante a década 60 do
séc. XX. Sendo r sult o s tv s qu or m s nvolv s n p squ s ―A Relação
entre Concepção Arquitetônica e Estrutura em Projetos Industrias Modernos em Campina
Grande. Estudos de Casos‖ , cadastrada no CNPq e pertencente à linha de pesquisa
―HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DA CIDADE MODERNA FORM CG‖ o qu l
prossegue as investigações relacionados ao patrimônio industrial moderno na cidade,
sendo parte do grupo de pesquisa Arquitetura e Lugar/GRUPAL, vinculado ao curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Campina Grande.
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Esse investimento através do caráter mercantil que a cidade de Campina Grande possui,
inserida no Agreste da Paraíba, é considerada polo de oito microrregiões, exercendo assim
uma influência geoeconômica em limites que transpõem fronteiras estaduais, tornando-se,
uma das mais importantes de toda região nordestina. O objetivo da SUDENE era
equilibrar o crescimento fabril e econômico com a região centro-sul, colaborando com a
criação de novos bairros na cidade, incluindo um distrito industrial localizado na (Figura
1), como aponta AFONSO e RODRIGUES (2018).
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Ainda tratando de conceito (REBELLO 2000, p.21) define a estrutura como um conjunto,
formado de elementos inter-relacionados para desempenhar uma função permanente ou
não. A estrutura específica das edificações também é um conjunto de elementos, a saber:
lajes, vigas e pilares que se inter-relacionam. A laje apoiando em viga, viga apoiando no
pl rp r s mp nh r um un o omo rm (REBELLO p ) ― st onjunto
de elementos é o caminho pelo qual os esforços que atuam sobre ela devem transitar até
h r os u st no n l o solo ‖
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Ao conceber uma estrutura existe uma inevitável relação com o espaço gerado, e segundo
(REBELLO, 2000 p.26) essa concepção implica consequentemente na concepção dos
materiais e processos para materializá-la, considerando que a estrutura e a forma são um
só objeto. Portanto, para a pesquisa arquitetônica o edifício em si e seus materiais de
projeto, encontrados no Arquivo Municipal, tornam-se fontes documentais primárias de
grande importância, analisando as duas fontes em conjunto é possível obter informações
acerca das técnicas construtivas propostas, as soluções espaciais e formais, o traço do
arquiteto e o quanto este se repercute na obra, assim como as patologias que trataram de se
manifestar ao longo do tempo.
Associado a essas, pode-se afirmar a importância de trabalhar com outras fontes que
auxiliaram nesse processo tais como registros fotográficos do período de funcionamento
da fábrica, recortes de jornais, propagandas de época, as quais foram encontradas em
acervos do Arquivo Municipal e da SECULT – Secretaria de Educação e Cultura de
Campina Grande; também foi de igual importância a análise das documentações que
tratavam da aprovação do investimento realizado pela SUDENE para construção da
fábrica, tal pesquisa foi possibilitada pelo acesso ao acervo da superintendência na cidade
do Recife-PE. Documentar os dados então coletados, através de fichamentos e redesenho,
é de extrema importância como ferramenta para salvaguarda ao menos da memória do
patrimônio industrial moderno campinense.
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A Wallig Nordeste S/A, fábrica de grande porte que se instalou na cidade como produtora
de fogões a gás liquefeitos, inserindo-se no Distrito Industrial I em um lote de esquina
entre a Av. Assis Chateaubriand (BR-104) e a Rua João Wallig. O projeto arquitetônico,
encomendado ao escritório de Porto Alegre - RS ―S r o P ll r n C Lt Estú o
rqu t tur ur n smo or s‖ o prov o m 965 s n o o r onstruí no
período de 5 nos n u ur m 97 Em 97 n ústr o s ―Cosmopol t ‖
(situada em São Paulo), do mesmo grupo, se encontrava com muitos débitos, o que
resultou na falência da Wallig por ter que subsidiar as dívidas do grupo. Nessa conjuntura,
a fábrica fecha suas portas em setembro de 1979, demitindo cerca de 1500 empregados e
gerando um sentimento de mal-estar na cidade, o qual por muitos anos foi utilizado como
252
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mote em discursos políticos que propunham uma reabertura. Entretanto, apenas em 2006,
a indústria foi alvo de uma intervenção que originou um condomínio industrial, que abriga
cerca de 16 empresas.
Após todos os estudos que vem sendo realizados em relação ao patrimônio industrial
campinense, fica ainda mais claro os desafios recorrentes de não apenas documentar e
resgatar historicamente esse patrimônio, mas também de buscar soluções de preservá-lo e
reabilitá-lo. Tendo em vista a dificuldade dessa segunda etapa, que envolve questões
econômicas e políticas, nosso papel limita-se ainda, nas ações de salvaguarda,
documentando, analisando, e divulgando para a comunidade acadêmica e principalmente,
para a comunidade local através de exposições em espaços públicos e escolas, em especial
na divulgação da história e projeto da antiga fábrica da Wallig Nordeste S/A.
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INTRODUÇÃO
Este trabalho possui como objeto de estudo, um olhar sobre as fontes documentais,
primárias e secundárias, que deram subsídio no desenvolvimento do projeto de iniciação
científica intitulado TECTÔNICA DA MODERNIDADE: DESAFIOS PARA A
PRESERVAÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA EM CAMPINA GRANDE-PB, a
partir da investigação e compreensão do edifício construído, das pranchas do projeto
original e o próprio autor da obra enquanto fontes primárias, e das publicações em revistas
e jornais de época, enquanto fontes secundárias. Tomando como estudo de caso,
especificamente o Teatro Municipal Severino Cabral (1962 – 1988) e a Residência Heleno
Sabino (1962), ambos projetados pelo arquiteto autodidata Geraldino Duda. Tem como
objetivo expor os resultados, enquanto novas fontes documentais, e as dificuldades
encontradas para a realização de coletas em arquivos públicos e privados e justifica-se pela
necessidade de trazer à tona os desafios encontrados para se preservar tais acervos. Tem
como referencial teórico os trabalhos que vem sendo desenvolvidos por MENESES E
AFONSO (2017) e ALMEIDA (2010), entre outros, no campo da história da arquitetura e
cidade a partir de pesquisas de investigação dos edifícios enquanto fontes documentais e
seu diálogo com o lugar onde estão inseridos. A metodologia de pesquisa segue a linha de
investigação sobre a história da arquitetura proposto por SERRA (2006) no qual o objeto é
analisado como um sistema formado por um conjunto de partes entre as quais se observa
interações e os diversos condicionantes que o sistema assume ao longo do tempo que foi
sintetizado na Dimensão Histórica por AFONSO (2019).
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OBJETIVOS
JUSTIFICATIVAS
Justifica-se pela necessidade de trazer à tona os desafios encontrados para se preservar tais
acervos, tendo em vista a falta de espaço, recursos e especialistas adequados para
manusear, tratar, conservar e documentar digitalmente tais acervos, que são tão
importantes na documentação da arquitetura e da cidade.
REFERENCIAL TEÓRICO
Tem como referencial teórico os trabalhos que vem sendo desenvolvidos por MENESES E
AFONSO (2017) e ALMEIDA (2010), entre outros, no campo da história da arquitetura e
cidade a partir de pesquisas de investigação dos edifícios enquanto fontes documentais e
seu diálogo com o lugar onde estão inseridos.
MENESES (2018) faz um apanhado histórico da vida e obra de Geraldino Duda, no qual
r l t qu ―Hoj G r l no t m 8 nos m smo t n o s posentado, ainda mantém seu
s r t r o om v rsos o um ntos m t r s proj tos su utor ‖ (MENESES
2017, pg. 43).
Ainda segundo os relatos de MENESES (2018), Geraldino teve primeiro encontro com a
arquitetura moderna por meio de leituras em revistas, surgindo dessa forma, o desejo de
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Em 1961, Duda viajou para conhecer a recém inaugurada Brasília, quando teve um
breve encontro com Niemeyer. Após esta viagem, em 1962, o arquiteto autodidata foi
incubido de projetar o Teatro Municipal Severino Cabral, obra que teve sua
inauguração parcial em 1963. (MENESES, 2017, pg. 44)
ALMEIDA (2010), relata que em entrevista com Geraldino Duda, o mesmo afirmou nos
anos 1960, limitou-se apenas na elaboração de residências, onde inicialmente era realizado
contato com os proprietários e suas famílias onde seria definido o programa das casas.
Geraldino indicava o engenheiro, e logo em seguida realizava o levantamento topográfico
do terreno para elaboração do projeto arquitetônico. Em seu processo projetual procurava
aproveitar as declividades dos terrenos, evitando a necessidade de aterros.
É interessante comentar que os projetos residenciais que eram apresentados aos órgãos
competentes, eram quase sempre apresentados em uma única prancha, contendo as plantas
baixas, um ou dois cortes, uma ou duas elevações, perspectiva e a planta de coberta, além
de elevação do gradil e croquis de localização. Ainda segundo ALMEIDA (2010), como
não podia assinar os projetos, abaixo do carimbo era deixado uma rubrica, e devido a isso,
é possível identificar os projetos de sua autoria.
METODOLOGIA
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Dessa forma, segundo AFONSO (2019), a Dimensão Histórica está relacionada com o
tempo, contexto social, econômico e cultural no qual o objeto arquitetônico foi projetado e
onstruí o ut l z n o ―( ) ont s pr már s s un ár s m v s t s rqu vos pú l os
privados, bibliotecas; trabalham-se também com ferramentas da história oral,
entrevistando atores envolvidos no processo projetual, construtivo e de uso da obra
n ls m l v nt r n orm s n t s ( )‖
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Como meio para o desenvolvimento da pesquisa de iniciação científica citada acima, foi
necessário fazer uma coleta, catalogação, e redesenho dos arquivos do Teatro Municipal
Severino Cabral e da Residência Heleno Sabino, entre outros objetos que não serão
apresentados devido ao recorte deste trabalho.
O primeiro desafio é saber onde poderia estar cada projeto específico, já que não existe um
arquivo único com todo o material. O segundo desafio é encontrar dentro da diversidade
de caixas e envelopes que são geralmente separados por década e rua. O fator agravante
disso é que as ruas geralmente não possuem o mesmo nome, então encontrar o que se
procurar passa a ser um desafio ainda maior.
Além disso, existe o desgaste natural do material que impossibilita a leitura completa das
pranchas e até mesmo a identificação da autoria. Geraldino, especificamente, como não
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assinava seus projetos, busca-se geralmente associar pela forma de projetar e pelos
engenheiros que geralmente trabalhavam juntos.
CONCLUSÕES
Porém é fundamental que hoje se pense em utilizar ferramentas digitais que possibilite
mapeamento e salvaguarda do vasto arquivo presente em Campina Grande. É fundamental
que os grupos de pesquisas da Universidade Federal de Campina Grande, assim como os
pesquisadores interessados tenham apoio e incentivos das gestões públicas com suporte de
profissionais, equipamentos e espaço para formar um banco de dados digital de acesso
democrático.
Além disso, é urgente que os arquivos públicos sejam tratados, catalogados e conservados
para que as gerações futuras possam ter acesso a tais informações. Hoje são inúmeros os
casos de incêndios em arquivos e museus, e isso ocorre exatamente devido às más
condições físicas desses acervos, falta de condicionamento e adequação as legislações de
incêndio, não existindo em muito dos casos, nem um extintor de incêndio.
O caso dos arquivos particulares não são muito diferentes, apesar de existir uma
organização e instalações físicas melhores, ainda assim existe os ricos de acidentes
provocarem o desaparecimento de tais documentos. Isso implica questionar a falta de um
258
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REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
MENESES, Camilla. A casa segundo Geraldino Duda. Orientador: Alcília Afonso. 2018. TCC
(Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Paraíba, 2017.
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lebomfim0@gmail.com
paulapequeno13@hotmail.com
INTRODUÇÃO
Depois de ter mudado de local diversas vezes depois da sua criação, em 1864 a feira
foi deslocada para a Rua do Seridó, atual Maciel Pinheiro, em decorrência da construção do
―M r o Novo‖ p lo om r nt Al x n r no C v l nt Al uqu rqu on
permaneceu até o ano de 1941(COSTA, 2003). Em 1939 foi iniciada a construção do novo
mercado no bairro das Piabas, atual Largo da Feira, pelo prefeito Bento Figueiredo e em
agosto de 1941, o então prefeito Vergniaud Wanderley transferiu definitivamente a feira
para o inacabado mercado público do bairro das Piabas (COSTA, 2003). A Feira de
Campina Grande foi registrada como Patrimônio Cultural do Brasil em setembro de 2017,
onde o bem imaterial foi inscrito no Livro de Registros dos Lugares pelo IPHAN após dez
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anos do pedido formal de reconhecimento feito pela prefeitura juntamente com feirantes e
fregueses.
A Feira Central de Campina Grande é tombada pelo seu patrimônio imaterial, mas
é imprescindível preservar o local físico para que assim haja a verdadeira continuidade de
suas tradições culturais. Desse modo, o presente artigo pauta-se em realizar o
levantamento no campo legislativo, histórico e físico para o edifício Pau do Meio, e
através do estudo das suas patologias, construir a anamnese para o atual estado da obra,
servindo para fornecer estudos que ajudem na preservação da edificação.
MATERIAIS E MÉTODOS
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
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que muitos feirantes locais desconhecem a edificação, o que dificulta a existência de lutas
locais para a permanência do patrimônio edificado.
Análise legislativa
Esfera Municipal: A Lei Orgânica do Município (Art. 269) estabelece a Feira Central como
área de preservação permanente, afirmando que não será permitido atividades que
contribuam para a descaracterização do espaço ou que prejudique suas funções essenciais
(Campina Grande, 05 de abril de 1990). A Zona de Preservação 1 (1999) abrange somente o
conjunto Arte Déco (figura 1) e a Zona Especial de Interesse Cultural (Plano Diretor de
Campina Grande, 2006) não atinge toda a feira, apenas a Rua Vila Nova da Rainha,
logradouro onde inicia a feira de flores.
Esfera Federal: A Feira Central de Campina Grande é tombada como Patrimônio Cultural
do Brasil, recebendo o título em 14 de junho de 2018 pelo Instituto de Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (IPHAN). Ainda na esfera federal está sendo realizado o processo de
salvaguarda, que constitui em documentar, investigar, preservar, proteger e revitalizar o
Patrimônio em seus diferentes aspectos (IPHAN, 2017).
263
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A edificação foi construída, entre o final da década de 30 e início dos anos 40 (figura
) on nt s r v um ―p p u‖ no m o o l r o qu n o o í o o n lz o
população ainda conhecia o local popul rm nt omo ―P u o M o‖ p rm n n o ss
nome até os dias hoje. Atualmente a construção encontra-se em abandono, o pavimento
inferior serve de depósito e a edificação foi completamente circundada por barracas, o que
impede sua visualização. Em conversa com o administrador da Feira Central foi observado
que o edifício privado foi invadido. Em visita ao pavimento superior nota-se o completo
descuido e os inúmeros problemas presente. O atual dono também comentou que a
cobertura de fibrocimento foi colocada recentemente, para fins de diminuir as patologias no
pavimento inferior.
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dano, manifestação, causa, fenômeno e conduta, sendo assim foi observado que a maioria
dos danos teriam sido evitados com manutenção periódica e que o período em que a
edificação permaneceu sem cobertura contribuiu negativamente para o agravamento do seu
estado e gerando novos danos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
267
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TINOCO, Jorge Eduardo. Mapa de danos. Recomendações básicas. Recife: CECI/MDU. 2009
RIBEIRO,R; NOBREGA C. Projeto e patrimônio: Reflexões e aplicações. Rio de Janeiro: Rio books,
2016
LICHTENSTEIN, Noberto. Patologia das construções. Boletim Técnico Nº06, São Paulo. USP, 1986
Decreto Estadual n°25.139/2004. Delimitação do Centro Histórico de Campina Grande. João Pessoa, 2013
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INTRODUÇÃO
Como forma de salvaguardar a memória de bens materiais, preservar os registros
e as fontes documentais de edificações na contemporaneidade se pretende apresentar por
meio deste trabalho uma análise das fontes documentais da Residência Duarte, tendo como
proprietário o Sr. Francisco das Chagas Duarte, projetada pelo arquiteto recifense
Tertuliano Dionísio (1931/1983) que estaria localizada nas ruas Afonso Pena e Tiradentes,
no bairro centro da cidade de Campina Grande, no ano de 1960. Tal obra é um estudo de
caso que faz parte da pesquisa que vem sendo desenvolvida em nível de PIVIC, pelo grupo
de pesquisa Arquitetura e Lugar/ GRUPAL- vinculado ao curso de Arquitetura e
Urbanismo da UFCG, sobre um conjunto de obras modernas do arquiteto. Possui como
objetivo, refletir sobre as dificuldades e desafios encontrados para a coleta das fontes
primárias e secundárias da obra para possibilitar o levantamento volumétrico-projetual e
o redesenho da edificação como forma de resgatar a sua história e importância de sua
arquitetura localizada no perímetro protegido legalmente pelo IPHAEP, do centro
histórico da cidade de Campina Grande.
METODOLOGIA
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edificação em estudo. A figura 1 retrata a situação dos documentos originais, que estão
bastante deteriorados, mas, mesmo com as dificuldades existentes foi possível o
levantamento volumétrico-projetual e o redesenho da edificação contribuindo no resgate
da sua história e de sua importância arquitetônica para a cidade.
Figura 1 – Arquivos originais do projeto da Residência Duarte projetada por Tertuliano Dionísio.
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Figura 3 – Arquivo original da planta de locação da Residência Duarte e Suposto terreno atualmente
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Fon
te: DIONÍSIO, Tertuliano, 1960 modificado por PEREIRA, Geisyane e SOARES, Vitória Catarine, 2019.
Fonte: DIONÍSIO, Tertuliano, 1960 modificado por PEREIRA, Geisyane e SOARES, Vitória Catarine,
2019.
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do limite da rua o que lhe conferia certa leveza e uma boa relação externo e interno,
permitindo tanto a permeabilidade visual como diferentes níveis de privacidade.
A volumetria da residência é resultado de adições e subtrações que geraram um jogo de
cheios e vazios, principalmente em duas das quatro fachadas. Devido a falta de
especificações nos desenhos do Arquivo Municipal não foi possível reproduzir com
exatidão a materialidade original do projeto, mas é notória a preocupação do arquiteto com
o uso de diferentes materialidades como exemplo a parede localizada no terraço que é
composta por pedras, trazendo uma variação textural a edificação. Embora a limitação de
informações não tenha possibilitado fidelidade nos resedenhos, de forma geral a
Residência Duarte possui volumetria de fácil compreensão e é arquitetônicamente bem
resolvida, sendo estas caracteristicas próprias das residências modernas.
CONCLUSÃO
Através deste resgate arquitetônico e imagético pretende-se inserir o bem na
discussão do patrimônio arquitetônico campinense com o intuito de salvaguardar a
memória da Residência Duarte, além de incentivar a preservação e conservação de demais
bens materiais e imateriais que possuem grande importância arquitetônica e histórica,
embora não possuam reconhecimento merecido pela comunidade leiga e acadêmica. Este
trabalho é uma parcela de estudos sobre as obras de arquitetura moderna da cidade de
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Campina Grande projetada por Tertuliano Dionísio entre os anos 1960 a 1980, fruto da
pesquisa que vem sendo desenvolvida em nível de PIVIC, pelo grupo de pesquisa
Arquitetura e Lugar/ GRUPAL, e pretende-se dar continuidade com as análises
arquitetônicas sobre o objeto de estudo em questão.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Adriana Leal de. Arquitetura Moderna Residencial de Campina Grande:
registros e especulações(1960-1969).Monografia(graduação) – Curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa 2007.
AFONSO, Alcilia.Proposta metodológica para pesquisa arquitetônica patrimonial.
Belo Horizonte: 3° Simpósio Cientifico do ICOMOS Brasil.2019.
GASTÓN, Cristina, ROVIRA, Teresa. El Proyecto moderno. Pautas de Investigación.
Barcelona: Ediciones UPC, 2007.
PEREIRA, Ivanilson. Tertuliano Dionisio. A presença do arquiteto em obras
modernas de Campina Grande. 1960-1980. Campina Grande: Relatório Parcial de
PIVIC 2018-2019. UFCG
QUEIROZ, M e ROCHA, J.Caminhos da arquitetura moderna em Campina Grande:
emergencia, difusão e a produçãodos anos 1950.Recife1° Seminário DOCOMOMO
Norte-Nordeste. 2006
SERRA,Geraldo.Pesquisa em arquitetura e urbanismo.Guia pratico para o trabalho
de pesquisadoresem pós-graduação.São Paulo,EDUSP, 2006.
275
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INTRODUÇÃO
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METODOLOGIA
Esse fato permeado por um sistema de acontecimentos que se relacionam entre si,
interage de forma a construir um fio condutor que acarreta a compreensão do que pode ter
ocorrido para a concretização da construção da cidade moderna. Nessa metodologia os
aspectos sociais, políticos, culturais, e econômicos são compreendidos como caminhos que
se cruzam e giram em torno do processo que ocorria e que resultou no cenário que foi
construído e consolidado em Campina Grande.
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
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É necessário evidenciar que o estado atual dos arquivos dificultou a realização das
pesquisas, tendo em vista que estão descentralizados, com os documentos sem a devida
catalogação e armazenados de forma equivocada, estando alguns desses acervos até
mesmo sendo deteriorados devido as condições de humidade existentes nas construções.
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Durante a pesquisa, percebe-se que o acervo industrial não foi inventariado devidamente,
bem como protegido legalmente pelas instituições de preservação do patrimônio
arquitetônico. E que, por se tratar de bens privados, estão sujeitos a modificações
continuamente, portanto, compete aos acadêmicos e profissionais da área o início deste
processo, através da divulgação do valor de tal acervo, da criação de acervos digitais, e da
busca por soluções para este em conjunto com as instituições municipais, estaduais e
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Infelizmente, foi identificado que o patrimônio industrial moderno não tem obtido o
reconhecimento devido por parte da população. Tal fato decorre, principalmente, por se
tratar um patrimônio recente e que não possui um uso monumental. Outra razão está no
fato de que o patrimônio industrial moderno, ainda não foi absorvido pelos órgãos
preservacionistas como acervos possuidores de valores. Entretanto, deve se considerar,
ainda, que com a lentidão com a qual trabalham estes órgãos, em conjunto com o
acelerado crescimento das cidades, tem contribuído para os processos de
descaracterização, destruição e do descaso ao presente tipo de patrimônio cultural. Tendo
isso em vista, busca-se documentar tal acervo de forma digital, como uma solução
emergencial a este cenário atual, bem com sua divulgação em eventos, congressos e
trabalhos acadêmicos.
282
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Carta de Veneza (1964) in Cartas Patrimoniais. CURY, I (org). Rio de Janeiro: IPHAN. 3ª.
Edição. 2000.
LIMA, Damião et al. Estudando a história da Paraíba: Uma coletânea de textos didáticos.
4. ed. Campina Grande: Meta, 2001.
283
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objeto de estudo o levantamento das fontes documentais
aplicadas no desenvolvimento do projeto de iniciação científica intitulado Renato
Azevedo: O Arquiteto E sua produção na cidade de Campina Grande. 1968-1997.
Levantamento das obras.
O trabalho é resultante de pesquisa que vem sendo realizada pelo grupo de investigação
str o n Un v rs F r l C mp n Gr n CNPQ ―Grupo Arqu t tur
Lu r‖ (GRUPAL) so r s o r s o rqu t to mp n ns qu tuou m proj tos
públicos, tanto arquitetônicos, como urbanísticos em Campina Grande, Paraíba.
Em Campina Grande, foi autor de diversos projetos arquitetônicos, tais como a sede atual
da Secretaria de Educação e Cultura, SECULT, Escola de Dança do Parque do Povo
(atualmente conhecido como o Centro Cultural Lourdes Ramalho), Shopping Campina
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Grande (Largo do açude novo), bem como, projetos urbanísticos como o canal do Prado, o
Parque Evaldo Cruz e Parque da Criança, Avenidas Canal e Manoel Tavares.
METODOLOGIA
Por processos, SERRA (2006), compreende o objeto como um sistema composto por um
conjunto, observando a comunicação da edificação com os componentes sob o contexto de
sua época, e aos que o mesmo adquire ao passar do tempo.
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A realização da pesquisa que teve duração de um ano foi dividida em duas fases
semestrais. A princípio, durante o primeiro mês, foram feitas leituras bibliográficas sobre
o referencial teórico e contextualização do objeto de estudo, estando constantemente
atualizado sobre a bibliografia pertinente e atualizado na área.
Juntamente com as leituras, durante os dois primeiros meses, foram feitos levantamentos
arquitetônicos e fotográficos das principais obras, mapeando e coletando material sobre as
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Durante a primeira fase, mediante entrevistas realizadas, elucidou-se que o arquiteto após
meados de 1982 deixou a cidade de Campina Grande e foi trabalhar em Recife, capital do
estado de Pernambuco, levando consigo a sua equipe de projeto, o que dificultou o acesso
à informação e contato com estes.
A segunda fase da pesquisa, realizado no segundo semestre, ocorreu-se por meio das
análises de estudo das obras, catalogação mediante fichas no formato do grupo de
pesquisa, bem como a produção de artigos para a divulgação do acervo moderno
campinense produzido pelo arquiteto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Vilna Serpa, arquiteta e urbanista da equipe de Renato Azevedo, graduada pela Faculdade
de Arquitetura da UFPE, relatou que enquanto integrou à equipe, seguiam as tendências da
época, priorizando a verdade do material, usando tijolo aparente e estrutura de concreto
aparente, quanto aos espaços projetavam os espaços com integração dos jardins, estes com
pérgolas de concreto, grandes portas de vidro e volumes curvos nos interiores.
Uma importante fonte no processo de investigação foi o ex-prefeito Enivaldo Ribeiro, que
narrou sobre a experiência profissional de Azevedo, enquanto trabalhou na gestão
municipal do prefeito Evaldo Cavalcante da Cruz.
Quando Enivaldo Ribeiro foi eleito em 1977, viu a atuação de Renato Azevedo e decidiu
continuar com o mesmo, sabendo do seu potencial decidiu que ele seria uma peça
fundamental para o desenvolvimento de Campina Grande. Assim que assumiu o cargo na
nova gestão, foi chamado para fazer parte da equipe de planejamento e confecção de
projetos, para organizar a CONDECA, onde foi coordenador.
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Os materiais de projeto sob a retratação das imagens tem grande relevância em detrimento
os t xtos qu just p l oor n or Dr T r s Rov r l nh p squ s ―
orm mo rn ‖ o pro r m outor o m proj tos arquitetônicos da ETSAB/UPC de
Barcelona, que, tanto em forma como estão realizados os planos, como o ponto de vista
das imagens, por si só, permitem explicar a obra. justificam a linha adotada por esta
pesquisa, que é realizada em rede com toda a América Latina, afirmando que:
―Trata de explicar visualmente una manera de entender la arquitectura, desde
su emplazamiento en el lugar a su formalización gráfica, en la que el énfasis
está puesto en el papel formalmente estructurante de los elementos de soporte y
cerramiento... Buscando valores formales y visuales de la edificación a través
de fotografías que ilustran el edificio‖ (ROVIRA p 6)
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CONCLUSÃO
Espera-se que este trabalho contribua com a discussão acadêmica sobre a pesquisa
documental histórica arquitetônica e urbanista, com finalidade de divulgar o processo do
levantamento sobre o arquiteto e sua contribuição à cidade campinense, dando o seu
devido valor para a preservação de seus exemplares, mas que também compreenda-se os
critérios projetuais de inserção do edifício em seu contexto, considerando não apenas os
fatores de construção, programa de necessidades e a estrutura , mas também de como o
edifício se relaciona com o lugar, e sua inserção na cidade.
REFERÊNCIAS
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COMUNICAÇÃO ORAL
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grupos subalternos eram ideologicamente omitidos, mas, suas histórias ganham espaço
qu n o s ont s s o mpl s s n o ― h ur s l m ‖ s r v o
O ―o í o o h stor or‖ um o í o hom ns qu s r v m h st r no
masculino. Os campos que abordam são os da ação e do poder masculinos,
mesmo quando anexam novos territórios. Econômica, a história ignora a mulher
improdutiva. Social, ela privilegia as classes e negligência os sexos. Cultural ou
―m nt l‖ l l o hom m m r l t o ss xu o qu nto Hum n
Célebres – piedosas ou escandalosas -, as mulheres alimentam as crônicas da
―p qu n ‖ h st r m r s o juv nt s H st r (PERROT; 7 p 97)
Duas partes e dois subconjuntos que estão inter-relacionados, mas que devem
ser analiticamente diferenciados. O núcleo definição repousa uma conexão
integral entre duas proposições: (1) o gênero é um elemento constitutivo de
relações sociais baseados nas diferenças percebidas entre os sexos e (2) o gênero
é uma forma primária de dar significados às relações entre os sexos. (SCOTT;
1995, p. 86)
James Scott (2013, p. 19) defende que todos os grupos subordinados criam, a partir
su xp r ên so r m nto um ― s urso o ulto‖ qu r pr s nt um rít o
poder expressa nas costas dos dominadores e que por outro lado os poderosos também
elaboram discursos ocultos que enunciam as práticas e exigências da dominação sem que
venham a público e comparando os discursos dos dois grupos e estes ao discurso público
das relações de poder proporciona a compreensão da resistência à dominação. Para o autor
de A dominação e a arte da resistência –Discursos ocultos, os grupos subordinados
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tendem, por prudência, medo e desejo de agradar aos mais fortes, moldar o
comportamento público como estratégia para atender as expectativas dos grupos
dominantes. Scott afirma utilizar o termo discurso público como forma de designar as
relações explicitas entre subordinados e os detentores do poder.
Não seria, no entanto, descabido identificar na prática do aborto e do infanticídio
uma forma de resistência da escrava, seja às péssimas condições oferecidas à
procriação, seja ainda à inevitável condição escrava que legaria em herança aos
filhos. Os infanticíos, vistos sob esse prisma, seriam, sobretudo, a única e trágica
forma visualizada pela mãe escrava para livrar seus filhos da escravidão. (
GIACOMINI, 1988, p. 26)
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São Paulo do século XIX. Na segunda edição de Quotidiano e Poder, Maria Odila Dias (1995; p. 50)
defende que o processo histórico das mulheres em sociedade as apresenta em papéis informais, a mudança, o
vir a ser, se opõe ao domínio dos mitos e normas culturais. Segue afirmando que seus papéis históricos
podem ser observados nas tensões, mediações, nas relações sociais que integram mulheres, história, processo
social, podendo ser resgatados das entrelinhas e do implícito nos documentos escritos. Informações omissas,
casuais, no contexto ou da intencionalidade formal do documento. Para a historiadora (2012, p. 360) a
historiografia atual favorece a história social das mulheres, pois vem se voltando para a memória de grupos
marginalizados do poder, abrindo espaço para uma história macrossocial do cotidiano.
[...]A pesquisa feminista recente por vezes contribuiu para essa reavaliação do
poder das mulheres. Em sua vontade de superar o discurso miserabilista da
opressão, de subverter o ponto de vista da dominação, ela procurou mostrar a
presença, a ação das mulheres, a plenitude dos seus papéis, e mesmo a coerência
su ― ultur ‖ x stên os s us po r s Fo o qu po r a se chamar a
era do matriarcado [..]. (PERROT, 2017; p. 179)
Dias (1995, p. 40), afirma existir entre os cientistas sociais uma tendência a
nr o omín o o m n no omo lt r l ―o outro um ultur
propr m nt m s ul n ‖
Nos documentos e fontes oficiais, símbolos e metáforas escondem informações
mais objetivas, imagens genéricas, depreciativas, recobrem referências às
mulheres escravas, forras, brancas pobres, critérios próprios do maniqueísmo da
contra reforma a que se somam nuanças clássicas, que se referem ao corpo
feminino como a um objeto de conquista e prazer sexual. As mulheres raramente
apresentam a individualidade de personagens históricas. São forças outras,,
misteriosas, desconhecidas, às vezes perigosas. (DIAS; 1995, P. 40)
Para Michelle Perrot (2017, pp. 15,16 e 26) a história das mulheres partiu de
uma história de corpo e papéis desempenhados na vida privada, da história de mulheres
vítimas para a história de mulheres ativas no espaço público, do trabalho, da política,
dentre outros espaços. Para a autora o silenciamento das mulheres é o mesmo no qual se
nul m ss hum n ―m s so r l s qu o s lên o p s m s‖ Apont
fonte judicial e policial como as mais ricas para a construção de narrativas sobre as
mulheres. Perrot, considera que a invisibilidade e silêncio fazem parte da ordem das
coisas, para muitas sociedades. Assim seria garantida a tranquilidade de uma cidade, pois
o ajuntamento causa medo, desordem e suas falas em público eram consideradas
indecentes.
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Segundo Maria Odila Dias (1995, p. 50) o processo histórico das vidas das
mulheres se opõe ao domínio dos mitos e normas culturais, onde os espaços femininos são
resultados de conquistas próprias e não aqueles que foram prescritos e por essa razão são
ocultados, são calados e omissos. Para a autora os papéis desempenhados pelas mulheres
passam por tensões e conflitos do cotidiano dos espaços públicos e ou privados que podem
ser resgatados nas entrelinhas de documentos, processos judiciais e devassas policiais.
A presença das mulheres, tão forte na rua do século XVIII, persiste na cidade do
século XIX, onde elas mantêm circulações do passado, cercam espaços mistos,
constituem espaços próprios. Por outro lado, nem todo o privado é feminino. Na
família, o poder principal continua a ser o do pai, de direito e de fato. (PERROT,
2017; pp.187-188)
Ser mulher e escravizada, era ser tratada como mercadoria, reduzida ao status
de coisa, numa sociedade com práticas patrimonialistas, patriarcais, onde a condição de
mulher era considerada objeto de prazer sexual por parte do grupo dominante, estupradas,
carregavam em seus ventres o fruto da violência, o filho de seu algoz.
Para a historiadora Sandra Graham (2005) a fonte judicial, seria atraente, uma vez
que em seus textos legais é possível visualizar os conflitos e os dramas de uma
determinada época. Através dos documentos judiciais é possível visualizar as dores e a
força que moveram mulheres escravizadas, numa sociedade adversa a condição de
mulheres e escravizadas ao mundo de homens que era a arena judicial como uma última
instância que lhes concederia a possibilidade de proteger seus direitos e por sua via seria
concebida as liberdades.
No ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e oitenta, aos
nove dias do mês de fevereiro, nesta cidade do Recife, e em meu cartório, foi- me entregue
uma petição acompanhada de um documento por parte de Maria Rosa e seu filho Luiz a
fim de ser autuada e preparada. Recolhida a Casa de Detenção do Recife, por ordem do
Chefe de Polícia, Maria Roza, através de seu representante, que assina petição a rogo,
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requer sua liberdade e a de seu filho Luiz, argumentando que seu senhor Joaquim Alves
Barbosa, não os havia dado à matrícula, bem como, a nenhum outro escravo sob seu
domínio.
Mulher e mãe, Maria Roza, escravizada, não sabia ler nem escrever, nos autos nada
consta a respeito da sua idade, da sua cor, e nem quem seria o pai de Luiz, questionava a
propriedade sobre si e seu filho. Como estratégia de luta, Maria Rosa denuncia que ela, seu
filho Luiz e os demais l m ntos s rv s so o omín o o ―s u s nhor‖ n o st v m
matriculados. Munida de certidão da Recebedoria de Rendas, chega ao chefe de polícia e
ao Juiz da 1ª Vara Cível, apresentando a queixa que tornaria, ela e Luiz fossem
considerados libertos.
As notas foram publicadas antes da autuação da petição. Maria Roza não estaria
sozinha na sua luta. Além da imprensa divulgando e clamando apoio dos abolicionistas, o
fato de Roza está com a certidão em mãos pressupõe que ela teve apoio de sua rede de
sociabilidade e mais, tinha percepção da agência escrava, seus direitos e a sua estratégia
lhe garantiria liberdades.
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O sentimento que envolve a maternidade vem à tona. Maria Roza, recolhida numa
casa de detenção, seu filho sob domínio daquele que se dizia seu senhor, que em inúmeras
vezes a espancara, enquanto Maria tornava pública a situação dos cativos e cativas daquele
que se dizia seu senhor, um gesto que pode ser compreendido como estratégia movida pelo
desejo de que seu filho não tenha o mesmo destino, a escravidão. Havia, claramente a
percepção dos direitos assegurados pela primeira lei positiva a escravizadas e
escravizados.
Maria Roza possivelmente seria uma escrava de ganho, o que teria facilitado seu
deslocamento de São Lourenço, arrabalde do Recife, ao centro da cidade, onde a parte
administrativa pública funcionava, em busca da certidão junto a Recebedoria de Rendas,
uma rede de sociabilidade e de solidariedade facilitou seu acesso àquela repartição pública,
a imprensa local e ao representante para acompanha-la ao Cartório onde começaria a
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dirimir o conflito judicialmente, em seu nome e em nome do filho, Luiz, a liberdade que
lhes era de direito.
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mobilidade de ação, as estratégias utilizadas e as redes criadas para que essas hoje possam
através de suas lutas ocuparem lugar no novo fazer História, um lugar de sujeito ativo,
uma lugar de protagonismo. Nem dóceis, nem heroínas, mulheres, no plural, com as
diversidades possíveis, fizeram ecoar e hoje podem ocupar espaço no caminho que
traçaram ao darem passos em direção às ações por liberdades.
FONTES
REFERÊNCIAS
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FARGE, Arlete. Lugares para a História. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.
MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Ser escravo no Brasil. .São Paulo: Brasiliense, 2003.
PERROT, Michele. Minha história das mulheres. (tradução Ângela M.S. Côrrea). –
2.ed. 5ª reimpressão- São Paulo: Contexto, 2017.
SCOTT, James C. A dominação e a arte da resistência – Discursos ocultos. São Paulo:
Livraria Letra Livre, 2013.
SILVA, Maciel Henrique. Pretas de Honra. Vida e trabalho de domésticas e vendedoras
no Recife do século XIX (1840-1870). Editora Universitária da UFPE, co-edição,
Salvador: EDUFBA, 2011.
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XAVIER, Giovana, Farias, Juliana B., Gomes, Flávio. Mulheres Negras no Brasil
escravista e do pós-emancipação. São Paulo: Selo Negro, 2012.
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PÔSTER
Por meio da filosofia da escola, assim como por intermédio da lei 11.645/08, que
vem tornar obrigatório através da Lei de Diretrizes de Base (LDB) localizada no artigo 25-
A (Brasil, 2018, p. 20) o estudo sobre a cultura afro-brasileira durante o ensino
fundamental e ensino médio, sendo de responsabilidade em especial da educação artística,
literatura e história brasileira, sendo um tema dialogado durante todo o currículo escolar.
Dessa maneira dentro da Escola Monsenhor Borges foi possível trabalhar a temática
durante as aulas de história, na aula em questão foi discutida a temática sobre intolerância
Autor: Ivo Fernandes, mestrando em História pela UFCG, e pesquisador pelo CNPQ,
http://lattes.cnpq.br/2067839557975139. E-mail: Historivo@hotmail.com
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-As sensibilidades seriam, pois, as formas pelas quais indivíduos e grupos se dão a perceber,
comparecendo como um reduto de tradução da realidade por meio das emoções e dos sentidos. [...] O
historiador precisa, pois, encontrar a tradução das subjetividades e dos sentimentos em materialidades,
objetividades palpáveis, que operem como a manifestação exterior de uma experiência íntima, individual
ou coletiva. [...] Sensibilidades se exprimem em atos, em ritos, em palavras, em objetos da vida material,
em materialidades do espaço construído.
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religiosa, com um foco maior na umbanda. A grande maioria dos/as alunos/as ali
localizados/as não conheciam a religiosidade ou se conheciam, pouco compreendiam,
tendo uma visão por vezes estereotipada sobre o que vem a ser essa religião. Um fato que
muito chamou a atenção foi como os alunos, por virem de um contexto cristão não
percebiam a importância da mulher dentro da religiosidade e também como tiveram uma
rejeição quando se começou a debater sobre a figura da pomba gira, de modo que muitos
falaram que era uma personagem má, que existia apenas para causar a discórdia,
principalmente dentro de casamentos, levando em conta essa fala foi necessário explicar a
turma qual a importância das partes femininas dos exus catiços e como elas trabalham em
prol do bem estar de inúmeras pessoas e famílias. Se tornou pertinente trabalhar o tema
pois a comunidade é pequena e por momentos não tem ações onde se trabalham temas
transversais como religiosidade afro-ameríndia, gênero, feminismo entre outros, sendo
assim discutir de maneira didática o tema religião e feminismo, conversar sobre as
impressões dos alunos/as e compartilhar experiências foi o que guiou a pesquisa e a tornou
rica.
Por ser uma turma com uma faixa etária entre treze em quinze anos se optou por
trabalhar com aula expositiva e a utilização de histórias em quadrinhos, de autoria de dois
cartunistas brasileiros, Carlos Ruas e Hugo Canuto, onde o primeiro trabalha com a charge
em seu site Um Sábado Qualquer e o segundo tem uma graphic novel chamada de Conto
dos Orixás.
DESENVOLVIMENTO
Segundo a Lei n° 9.459/97 fica decretado que qualquer crime que resulte de
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional será
punido com reclusão de três ano ou multa, mesmo com a lei decretada muito se discute
acerca da discriminação e preconceito, já que se convencionou na sociedade ver o
diferente como algo hediondo, maldoso ou deturpado, características que são atribuídas
para as religiões de matriz afro-brasileiras, onde a grande massa entende devido a um
imaginário estabelecido que aqueles que não são cristãos trabalham em prol de um mal.
Então quando se discute por exemplo a umbanda, uma religião que tem sua origem na
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Quando se apresenta essa temática surge um mistério acerca dessa religião, além
de inúmeras dúvidas e rejeições por parte daqueles que dela não participam, porém vale
salientar que há não praticantes que respeitam a temática, por ambos os motivo se torna
pertinente discutir o tema com as crianças para que elas cresçam buscando compreender o
outro com empatia, tendo em vista que todos os dias a população é assaltada com notícias
em que vítimas são feitas, apenas por pensarem ou professarem ideias de maneira diferente
daquela que está em ascensão. Além da intolerância religiosa, também é importante
trabalhar a figura da mulher dentro os cultos religiosos assim como dentro da própria
sociedade, e a escola é um dos principais locais para se vincular informação, segundo
Silva (2018) a escola é um lugar produtora e consumidora de práticas culturais, isso
porque aqueles que nela estão inseridos tiveram uma formação dentro e fora do espaço
escolar, onde se pode perceber que há uma luta cultural entre uma comunidade que é vista
pelo sistema educacional como homogênea, porém na prática é heterogênea.
é um homem, tendo em vista que a grande maioria da turma se identificava com a matriz
cristã (catolicismo e protestantismo), ou seja, quando as figuras femininas presentes na
umbanda foram inseridas na discussão causou um certo descontentamento em alguns
discentes assim como também a curiosidade em outros/as, a principal figura que causou as
reações foi a Pomba gira, uma figura vista inicialmente por muitos como má, agressiva e
que se presta a trabalhos que visão destruir laços, principalmente os afetivos. Entretanto
segundo Gomes et al(2017):
À mulher sempre foi legado um espaço abaixo dos homens, sendo um ser
subalterno que deveria renegar a muito de sua própria natureza, foi construído uma ideia
de que as mulheres deveriam ter vergonha de quem são, dessa maneira gerações de
meninas cresceram com esses ideais, repassando às próximas gerações quando adultas.
Então quando uma figura surge indo contra todos os padrões impostos, é tida como
maléfica, algo que só é reforçado pelo fato das pombas giras estarem ligadas aos cultos
afro-brasileiros, religiosidades que são vinculadas a figura do Diabo através do
cristianismo.
METODOLOGIA
Por meio da explicação seguido de debate com a turma do 8° ano foi possível
perceber como os jovens se percebem enquanto sujeitos, além de ser possível compreender
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como os mesmos percebem um universo onde muitos não estão inseridos, ou seja, os
terreiros de matriz africanas, dessa forma durante a apresentação do tema, os discentes
perguntaram, analisaram, buscaram compreender como uma religiosidade diferente poder
funcionar. Em meio a conversa foi apresenta a figura das entidade conhecidas por Pombas
giras e foi questionado se a turma já teria ouvido falar na imagem feminina de exu, muitos
responderam que não e alguns responderam que sim, e que era um personagem negativo,
que trabalhava para trazer discórdias.
Depois que o debate foi desenvolvido, se explicou a turma que não só as pombas
giras não são entidades negativas, como a umbanda trabalha com inúmeras figuras
femininas, desde a mãe de santo que cuida dos filhos de santo da casa, como acredita-se
que entre os entes queridos que guiam os médiuns estão presentes as figuras de mulheres
que em vida sofreram e morreram de maneira trágica, e assim ao partirem para o outro
plano puderam obter um desenvolvimento maior para assim ajudar aqueles que estão
vivos. Entre essas figuras estão as baianas, as malandras, as marinheiras, as mestras, as
caboclas, as boiadeiras, as erês meninas, além das pombas giras já comentadas. Para os
adolescentes foi uma enorme surpresa saber que aquelas que eles veem como indivíduos
negativos são considerados espíritos, a partir da visão umbandista, que trabalham em prol
do bem.
CONCLUSÃO
Pode-se concluir assim que trabalhar determinados temas em sala de aula, além
de ampliar a visão dos jovens, traz maiores possibilidades para que eles se tornem
empáticos acerca do outros, assim é importante que a inclusão seja trabalhada na escola,
de modo a não impor uma ideologia, mas sim dialogar, já que inúmeras visões estão ali
presentes. É importante aulas assim, já que traz um universo conhecido dos estudantes, no
presente caso as histórias em quadrinho, assim como a história sobre uma religião que
convencionalmente foi caracterizada como má, pertencente a indivíduos excluídos,
existindo assim um preconceito entorno de elementos africanos e ameríndios.
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BIBLIOGRAFIA
ELIADE, Mircea. A estrutura dos mitos. In: ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. 6. ed.
São Paulo: Perspectiva, 2000. Cap. 1. p. 07-23.
MACEDO, José Rivar. História da África. São Paulo: Contexto, 2018. 190 p.
SILVA, Thaís de Oliveira e. Religiões que fazem oferendas para prejudicar pessoas?: A Intolerância e as
religiões afro-brasileiras no ensino de história.. 2018. 115 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de História,
Departamento de Educação, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2018.
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COMUNICAÇÃO ORAL
RESUMO:
O presente artigo tem como objetivo principal analisar a importância da oralidade como
fonte para o estudo da tradição das rezadeiras, aqui representada pelas irmãs Júlia Bezerra
conhecida na comunidade como Júlia Neco e Maria Bezerra, mais conhecida como dona
Noquinha, ambas residente no município de Salgadinho – PB, onde nessa localidade
estiveram durante as décadas de setenta a noventa o oficio de rezadeira e por meio dessas
práticas conquistaram uma grande admiração não só da população local, mas de pessoas
de municípios vizinhos, devido a sua fama era comum ir as suas respectivas residências
pessoas de outros municípios como Taperoá e Assunção; percebemos aqui como a teia de
poder que envolve essas mulheres podem ser ampla. Sendo assim analisaremos esses
relatos aqui por meio do conceito de cultura popular, pois o oficio da rezadeira é uma
manifestação dessas tradições populares, que permanece na memória da comunidade local,
por isso recorremos às fontes orais nessa pesquisa, para tentar compreender os aspectos
relacionados às práticas desenvolvidas por essas rezadeiras, é nesse universo do sagrado
feminino que iremos percorrer por meio de nossa pesquisa tentando desvendar como essas
mulheres aprenderam esse oficio, como elas colocavam em exercício esse saber e como a
comunidade recepcionava esses saberes.
ARTIGO
Desde a antiguidade o ser humano buscou no divino a cura para os males que o
afligia. Inúmeros são os ritos de curas ao longo do tempo nas mais variadas culturas,
alguns desapareceram, outros ainda estão presentes hoje como chás, garrafadas,
beberagens, rezas e etc. isso evidencia como a humanidade associou determinados usos a
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ritos de cura. Nesse artigo pretendemos explorar um desses usos os das rezadeiras,
mulheres que durante o período em estudo foram bastante procuradas pela comunidade
local. Trataremos da cura pelo aspecto popular, longe do controle e das normas científicas
e institucionais.
A história cultural tem permitido lançar um olhar mais apurado sobre agentes
que antes estavam à margem da produção historiográfica, principalmente a história das
mulh r s t m to um or m outr s ont s l m s s r t s ―O qu h st r
das mulheres vem fazendo é utilizar fontes iconográficas, religiosas, demográficas e
folclóricas a fim de obter um conjunto mais diversificado de informações a respeito das
prát s os v lor s s mulh r s‖ (MARTINS 4 p 67)
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Maria Santina que era mãe delas aprendeu a rezar com sua mãe e com o tempo
ensinou a suas duas filhas, como Júlia Neco se casou tarde para a época teve mais tempo
de aprendizado junto com sua mãe, diferente de Maria Bezerra que casou aos 16 anos e
foi logo morar com o seu marido, percebemos aqui a importância das fontes orais para o
estudo das praticas das rezadeiras, pois se trata de um oficio onde a oralidade associada á
memória se tornam essências não só no aprendizado, mas também no exercício do
mesmo.
O segundo ponto em comum entre elas era sua jornada de trabalho múltiplo, pois
eram donas de casa e mães de família, passavam parte de seu tempo dedicadas a
agricultura e cuidado com os animais da família e em meio a todo esse ritmo do dia ainda
encontravam tempo para atender quem vinha a sua casa em procura de suas rezas e seus
conhecimentos sobre uso de ervas e chás, sem falar que alguns doentes não podiam vir a
casa da rezadeira elas prontamente iam a casa do doente rezar.
O terceiro ponto em comum entre elas era sua devoção aos santos uns do
catolicismo oficial era comum na casa delas ter varias imagens como a Sagrada Família,
Coração de Jesus, inúmeras imagens relacionadas à Maria, mas também podemos
encontrar imagens de frei Damião e seu companheiro de missões frei Fernando e o
conhecido padre Cícero, demonstrando que esse ofício é resultado de uma crença popular
que escapa ao controle da Igreja.
O quarto ponto em comum era que como residiam em uma comunidade marcada
pela ausência de médicos e padres essas mulheres irão suprir a ausência desses dois
profissionais por meio do conhecimento de rezas associadas às rezas, e sua atuação não
estava restrita ao lar, pois elas rezavam novenas, faziam procissões, conduziam velório e
sepultamentos, e por serem alfabetizadas faziam a leitura da bíblia.
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O quinto ponto em comum entre elas era que tratamos aqui de mulheres viúvas,
que se casaram, mas que perderam o seu marido muito cedo ficando assim com sua
pensão, em um contexto de pobreza muitas pessoas costumavam irem a casa de uma
delas não só em busca de seus conhecimentos, mas também de uma refeição para si ou
alguma coisa de comer para levar para casa.
O sexto ponto em comum tem relação com o anterior que pelo fato de ficarem
viúvas essas mulheres tiveram responsabilidade de conduzir suas famílias, tratamos, pois
aqui de duas famílias matriarcais, onde a mãe teve que arcar com toda a responsabilidade
familiar sem a presença do marido, isso dificulta ainda mais o exercício do ofício.
Nono ponto em comum entre elas era que suas rezas não ficavam restritas as
pessoas, no saber dessas duas mulheres elas aprenderam também o cuidado com os
animais, pois rezavam de vários males que os assolavam, era comum elas serem
procuradas em caso de bicheiras, partos dificultosos, desaparecimentos, infestação de
carrapatos, fraturas de membros entre outros elas rezavam em roçados para impedir ou
afastar as pragas e incêndios descontrolados para apagarem.
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Júlia Bezerra foi uma rezadeira que atuou no município de Salgadinho – PB, mais
pr s m nt l xou r s ên n omun Olho ‘Á u zon rur l o
município, casou-se muito nova com o senhor Sebastião Gomes de Araújo conhecido
como Paizim Neco, ficando logo viúva ela criou filhos do primeiro casamento de seu
marido que eram seus sobrinhos, contam os familiares que sua irmã antes de morrer pediu
que ela cassasse com o seu marido e cuidasse de seus filhos, dona Júlia Neco, como ficou
mais conhecida não teve filhos.
Segundo os familiares começou a rezar muito cedo, era neta de uma rezadeira, e
filha de outra conhecida como Maria Santina Bezerra, foi com essa mulher que ela
aprendeu a rezar e por ser a mais velha das irmãs ela teve facilidade de aprender mais, já
que sua irmã Maria Bezerra, conhecida como Noquinha também era rezadeira, mas era
considerada pela comunidade como uma rezadeira menos experiente que sua irmã, pois
dona Júlia rezava de mais doenças que sua irmã de uma forma que era bastante procurada
Maria Santina de Bezerra dos Santos, foi uma mulher sertaneja que morava no
município de Salgadinho – PB, nascida em 21 de janeiro de 1921, filha de uma rezadeira
Santina Maria da Conceição, que casou com senhor José Maria de Bezerra um homem
influente que na década de 60 foi um dos responsáveis pela emancipação política de
Salgadinho, dona Noquinha como ficou conhecida pela comunidade trabalhou desde cedo
fato que a afastou da escola, não sabia ler casou muito cedo aos 16 anos de idade e teve 16
filhos.
Para que haja um melhor entendimento de nossa pesquisa dividimos essa parte,
em três na primeira iremos responder a seguinte pergunta: de que elas rezavam? Tentando
fazer um levantamento das principais doenças populares que aflingia a população local; na
segunda iremos responder a seguinte pergunta, com que elas rezavam, aqui buscaremos os
usos desenvolvidos por Júlia Bezerra e Maria Santina para chegar a cura; e por ultimo
iremos responder a seguinte pergunta, quais eram suas rezas. Nessa parte iremos
mergulhar fundo no universo mítico da rezadeira e nos depoimentos que usamos para
construção de nossa pesquisa.
317
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Pelo tópico anterior percebemos que era vasto o campo de doenças que eram
rezadas por Júlia e Noquinha, e se eram vasto o campo de doenças também era vasto os
usos feitos por ela durante o processo de cura, pois para cada doença era um uso diferente,
a senhora Maria Gorete quando perguntada sobre o que elas usavam para rezar ela nos
responde: ―D ―olh o‖ l p v um r mo r mo bassorinha p nh o‖ já sol
lua na cabeça a senhora Efigênia Fernandes nos diz que elas:
p v um rr nh ‘á u ss m o r v um to lh butava
assim no mei da cabeça ai ela ficava rezando, rezando oxe chega subia
aquela escuma assim dentro do vidro e agente sentia aquela quintura na
cabeça era como fogo ai ela rezava com um vidro ela chega espalhava, ia
espalhando e esfriando ai quando ela terminava de rezar a pessoa já ia
esfriando.
De espinhela caída a senhora Rosemira nos conta ―qu media agente, media com
um pano ou toalha ai rezava, mandava agente ficar assim, (levantando os braços e
s n o) r ss m l v nt n o x n o três v z s nt v o ‖ os r z r
ur ―espinhela caída‖ nvolv pr m ro r m om um p no p r mostr r
abertura da mesma depois de rezar media novamente para mostrar que fechou. De carne
tríada enquanto elas rezavam ia costurando um pano que depois era colocado nos pés de
um santo de seu altar. Já de ventre caído que era uma doença que atingia as crianças
Como eram diversas as doenças que eram rezadas pelas irmãs rezadeiras,
acreditamos que muitas eram as rezas que eram feitas por elas no exercício do oficio,
engraçado que ouvimos muito das pessoas entrevistadas que não se lembravam mais das
318
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rezas, mas as poucas que chegaram ao nosso conhecimento iremos descrever aqui. De
olhado s un o s nhor Gor t r z r ss m ― om o s t butaram, com três eu te
tiro com as três pessoas da santíssima trindade, é pai, filho, espírito santo; m m‖ ss r
uma reza freqüente pequena e fácil de decorar por isso foi facilmente memorizada e
chegou até nosso conhecimento.
Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo, para sempre seja louvado
nossa mãe Maria santíssima.
Muitas eram as orações usadas por elas no ofício de cura, mas com o passar do
tempo percebemos que na memória da população local essas já não são revividas de forma
clara, já que muitos só estavam em busca de cura e não de aprenderem o saber para dar
continuidade. Mas com o que recuperamos esperamos demonstrar a importância que teve a
atuação dessa mulher para a comunidade local.
CONCLUSÃO
Dona Júlia e sua irmã Maria Santina são um claro exemplo de mulher sertaneja
que foram criadas em um espaço onde a dominação masculina era quase hegemônica elas
nessa sociedade conquistaram o espaço de poder para si, sendo mais reconhecidas na
comunidade que os seus respectivos maridos.
319
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Com a palavra ora aprendendo o oficio de rezar com sua família, ou buscando a
cura para aqueles que na comunidade marcada pelo desprezo dos governantes buscavam
em seus conhecimentos a cura para seus sofrimentos foram essas mulheres que marcaram
uma geração por meio de sua fé e seus exemplos na comunidade que atuaram.
REFERECIAL BIBLIOGRÁFICO
ALMEIDA, Suely Creusa Cordeiro de. O Sexo Devoto: normatização e resistência
feminina no império Português. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2005.
BOSI, Ecleá: Cultura de massa e cultura popular: leituras de operários. 12. Ed. Vozes,
2008.
CASCUDO, Luis da Câmara: Dicionário do Folclore Brasileiro. 8 ed. São Paulo: Global,
2000.
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ISSN 21764514
LE GOFF, Jacques: História e Memória; trad. de Bernardo Leitão... [et al.]. 5 ed,
Campinas, SP: Editora UNICAMP, 2003.
MARTINS, Ana Paula Vosne. Visões do Feminino: a medicina da mulher nos séculos
XIX e XX. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2004.
SANTANA, Flávio Carrero de, MONTEIRO, Luíra Freire (orgs.). História: leituras do
passado, escrita do presente, João Pessoa: Ideia, 2016.
FONTES ORAIS
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email. afranio.carla.300@hotmail.com
Resumo
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Nesse sentido o nosso trabalho torna-se relevante a medida que buscamos construir
novas narrativas historiográficas, capaz de conformar uma história política e social por
meio da história oral. Assim, a pesquisa através da oralidade se constitui como novas
abordagens, novas fontes – os relatos orais oportuna no diálogo com pessoas, levando a
percepção da história de vida e das memorias de sujeitos anônimas e esquecidas pela
historiografia oficial.
Para esse artigo, optei por dividi-lo em três tópicos assim distribuídos. No
primeiro, abordo a relevância da Historia Oral como fonte de pesquisa. No segundo,
destaco a importância da memória e do uso da metodologia da História Oral como
procedimento para o trabalho do historiador no processo rememorativo como um elemento
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1. A História Oral como fonte de pesquisa e seus desafios para dar visibilidade e
dizibilidade aos invisíveis da sociedade.
Uma história revelada nas suas mais intimas memórias, as lembranças sensíveis
invocam uma sintonia de sensibilidade e subjetivadas nos prismas mnemônico de
representatividade. Assim o imaginário se releva na memória como digna de lembranças e
percorre as narrativas conscientes daqueles que procuram rememorar o passado. Essas
memorias muitas vezes invocam os dilemas sociais das camadas mais humildes e
verdadeiras protagonistas da história vista de baixo, histórias que narram: dor, sofrimento
angustias, alegrias, vidas, mortes e que se faz presentes nas mais intimas memorias de
pessoas que são guardiães de fragmentos de um passado importante de um lugar. Os
sentimentos são subjetivados pelo ser humano, essa revelação do passado feita a luz do
presente pode ser (re) memorada pelos historiadores através da metodologia da História
Oral que busca ouvir e registrar as vozes dos sujeitos excluídos da história oficial e inseri-
los dentro dela, dando visibilidade e dizibilidade as pessoas que vivem à margem da
história of ou s j os nv sív s so ―A h st r or l volv h st r ás
325
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pessoas em suas próprias palavras. E ao lhes dar um passado, ajuda-as também a caminhar
p r um uturo onstruí o por l s m smo‖ (THOMPSOM 998 p 337)
Nesse novo caminho onde se busca resgatar uma história através de seus próprios
326
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P r Ro r Ch rt r o pr n p l o j t vo H st r Cultur l ― nt r o mo o
como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída,
p ns l r ‖ (CHARTIER 99 p 7) As questões apresentadas pelo autor a
História Cultural destacam aspectos inerentes a metodologia histórica, no trato com as
ont s so r os s n os qu st po omport r sto omo o h stor or po ―l r
p ns r onstru r‖ t rm n r l e social em determinado período, através das
análises quantitativas e qualitativas das fontes históricas. Dessa forma segundo Chartier,
― tr o o l smo r t o s n ss m por orm s m l to s s t or s
todos os processos que constroem o mun o omo r pr s nt o‖
Com relação as fontes orais o que importa são os focos e modos narrativos, bem
como as relações de representatividade ali sobrepostas, importando as afirmações e as
327
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97
- Alguns historiadores criticam a História Oral quando argumentam existir “distorções” inerentes a arte
de rememorar o passado. Todavia, as dimensões alcançadas apontam que distorções em vez de serem
problemas tornam-se um recurso para a interpretação histórica. Ver THOMSON, Alistair, FRISCHI, Michael e
HAMILTON Paula. Os debates sobre Memoria e História: alguns aspectos internacionais.
98
O bairro da Liberdade localizado na Zona Sul da cidade de Campina Grande, foi fundado nos primeiros
anos do século XX, e teve um maior desenvolvimento a partir dos anos de 1930 com o crescimento
populacional da cidade, porém melhorias de caráter estrutural como chegada de água e luz elétrica só
apareceram no bairro no final da década de 1950. Para mais informações sobre o bairro da Liberdade vê
PORTELA, Daniella Karla. Quando o apito tocava no bairro da Liberdade: Memórias e representações
na SANBRA. 2013. Dissertação (Mestrado em Mestrado em História) - Universidade Federal de Campina
Grande.
328
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Por isso, ponto central importante quando se trabalha com a História Oral se refere
as entrevistas e forma como se colhe os depoimentos, vários autores da Historia Oral tem
destacado a relevância da qualidade da relação que se constrói entre pesquisador e
pesquisado. O Sucesso das entrevistas inicia bem antes dela começar, quando é feita a
preparação para sua realização quando ocorre o contato e um compartilhamento da
realidade a ser enfocada entre pesquisador e o sujeito a ser entrevistado, nesse sentido
Thompson ons r qu ― Há l um s qu l s qu o ntr v st or m-sucedido
deve possuir: interesse e respeito pelos outros como pessoas e flexibilidade nas reações em
relação a eles: capacidade de demostrar compreensão e simpatia pela opinião deles; e
m tu o spos op r r l o s ut r‖ (THOMPSON 998 p 54)
329
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É relevante destacar também que um dos objetos mais estudados nas últimas
décadas pelos historiadores foi a memória, tanto individual quanto coletiva, cujos
mecanismos são fundantes para a construção das subjetividades das pessoas na qual se
busca representar na escrita. Concernente à memória individual desses sujeitos, Fernando
Cartroga afirma que ela [...] é formada pela coexistência, tensional e nem sempre pacífica,
de várias memórias (pessoais, familiares, grupais, regionais, nacionais, etc.) em
permanente construção devido à incessante mudança do presente em passado e às
consequentes alterações ocorridas no campo das re-presentações do pretérito... (Cartroga,
2001, p, 16).
Dessa forma, Bosi acredita que a memória demanda uma reelaboração do presente
para que possa ser evocada e assumida. Por essa razão também, a rememoração é tomada
como uma situação de reflexão, de novas formulações sobre o narrado, possibilitando,
com isso, a quem fala, uma oportunidade de refletir sobre si mesma. Assim a metodologia
da Historia Oral toma o processo rememorativo como um elemento importante para se
retomar o estudo de épocas passadas.
330
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subjetividade, é construída na relação com o outro, com as coisas e com o mundo. Nesse
sentido, não pode ser tomada como a representação da coletividade, mas, como uma
perspectiva desse coletivo.
Considerações finais
Acredito que este artigo apresenta alguns aspectos relevantes sobre a importância
da Historia Oral, na busca por uma metodologia de pesquisa onde se propõem ouvir e
registrar as vozes dos sujeitos excluídos da história oficial e inseri-los dentro dela, dando
visibilidade e dizibilidades aos invisíveis da sociedade. Assim, a pesquisa através da
oralidade se constitui como novas abordagens, novas fontes – os relatos orais oportuna no
diálogo com pessoas, levando a percepção da história de vida e das memorias de sujeitos
anônimas e esquecidas pela historiografia oficial.
Enfim, nos revela uma história revelada nas suas mais intimas memorias, nas
lembranças sensíveis que invocam uma sintonia de sensibilidade e subjetivadas no prismas
mnemônico de representatividade. Assim o imaginário se releva na memória como digna
de lembranças e percorre as narrativas conscientes daqueles que procuram rememorar o
passado. Essas memorias muitas vezes invocam os dilemas sociais das camadas mais
humildes e verdadeiras protagonistas da história vista de baixo.
331
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Os novos desafios dos historiadores que utilizam a oralidade como fontes, são
imensos e desafiador, da visibilidade e escuta aos narradores provoca a desiherarquisação
dos sujeitos e das próprias fontes. (SILVA,2017).
Bibliografia
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade. Lembranças de Velhos. São Paulo: companhia das
Letras, 1995.
CARDOSO JR., Hélio Rebello. Para que serve uma Subjetividade? Foucault, tempo e
corpo. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2005, p. 345.
332
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FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Antiguidade Clássica: a história e a cultura a partir dos
documentos. 2. ed. Campinas: Unicamp, 2003.
PORTELLI, Alessandro. O que fez a História Oral diferente? Projeto História, vol 1, nº
14, p, 25-39. São Paulo, 1997.
THOMPSON, Paul. A voz do passado. Trad. Lolio Lourenço de Oliveira. São Paulo: Paz
e Terra, 1998.
334
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RESUMO: Com as inúmeras transformações que ocorreram no fazer história durante todo
o século XX, o trabalho com a História Oral foi um dos campos que possibilitou ao
historiador ampliar o campo de interpretação sobre o passado. Dessa maneira, a história
os suj tos qu n o possuí m su s m m r s ―r str s‖ m o um ntos pon r m s
tornar agentes construtores nas narrativas do passado ajudando na compreensão do
presente e construindo uma nova versão sobre alguns fatos histórico. Dessa forma, esse
artigo tem como objetivo analisar sobre a história da formação da Escola de Samba Unidos
da Liberdade, discutindo como a metodologia da História Oral ajuda o pesquisador a
contar a história a partir das memórias dos sujeitos, neste caso os populares que não
possuem as suas histórias sobre as práticas carnaval s s r str s n h st r ―o l‖
da cidade de Campina Grande. O seguinte trabalho propõe uma reflexão sobre qual o lugar
do historiador quando se trabalha com esse tipo de fonte, como construir as narrativas
históricas através de uma história vista de baixo. Para construção dessas análises alguns
caminhos foram trilhados, primeiramente o uso dos depoimentos de alguns membros da
escola de Samba Unidos da Liberdade e documento dos arquivos da própria escola, após a
coleta desses dados, Luca (2005) auxiliou na compreensão que os depoimentos são
versões de uma história e como as demais fontes elas necessitam ser analisadas. Como é
um trabalho que aborda sobre Carnaval, e também sobre agenciamento dos populares
Certeau (2012) dá o suporte para compreender as inúmeras formas que o homem inventa o
cotidiano, e também como esse trabalho perpassa pelo campo da história local, Portella
(2013) e Souza (2015) auxilia para o entendimento de como o campinense participava do
carnaval durante o período estudado e como é local de origem da escola de Samba Unidos
335
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INTRODUÇÃO
Os usos das fontes orais não é algo novo: ouvir atores e testemunhas de
acontecimentos já era uma estratégia utilizada por Heródoto, Tucídides e Políbio, na
Antiguidade, como forma de melhor compreender os eventos de sua época. Todavia, o
aumento da utilização dessa fonte bem como o seu reconhecimento só se mostrou possível
após a transformação do pensamento de que haveria apenas uma verdade e uma única
História, para a noção de reconhecer a existência de múltiplas histórias, memórias e
identidades, levando à desmistificação do pensamento positivista predominante no século
XIX que exaltava o legítimo documento escrito como a única forma de registro histórico.
Como posteriormente circulou, agora qualquer registro histórico seja ele oral, escrito,
p t r o ons r o um ont h st r n o h v n o r n o m s r ―m s
to‖ ou ―m nos to‖ s m h r rqu z o s ont s to s l s s o vál s p r
contribuir à análise e ao estudo da história.
336
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As entrevistas feitas para esse trabalho são de caráter temático, em que um tema
prévio foi escolhido, neste caso o Carnaval e os depoentes teceram suas narrativas sobre a
fundação da Escola de Samba Unidos da Liberdade e suas sociabilidades com o bairro da
Liberdade99, algumas vezes os entrevistados misturaram suas memórias individuais com as
memórias coletivas criando um panorama da sua história de vida junto com o Carnaval.
99
Os Festejos carnavalescos da cidade de Campina no início do século XX era realizado por algumas
famílias no centro da cidade, principalmente na rua Maciel Pinheiro, com o crescimento econômico, a cidade
aumenta o seu crescimento populacional principalmente a partir dá década de 1930 com o apogeu da
produção de algodão. Os novos sujeitos que chegam a cidade contribuem para as modificações dos festejos,
l t qu nt s ― om n v ‖ to o o sp o o ntro p ss s n l usur r nos lu s so s
os populares passam a frequentar o centro com seus blocos, escolas de samba e outras agremiações. Para
informações sobre a história do Carnaval Campinense. SOUZA, Antonio Clarindo Barbosa de. No passo do
urubu malandro: Uma História social do Carnaval Campinense. Pará de Minas: VirtualBooks, 2015.
337
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DESENVOLVIMENTO
Diferente dos outros membros da escola, o senhor José Neto possui uma
organização cronológica dos fatos bem melhor, talvez por ter sido e ser alguém que é
bastante ativo com os festejos Carnavalescos e até o ano de dois e dezoito participava da
escola de samba, mas também porque era alguém que possuía a sua memória individual
atrelada com muita força a memória coletiva. O que é possível perceber é que algumas
pessoas do bairro já participavam de outra escola de samba existente no bairro São José, e
por brigas com o presidente da Gremista do Samba foram para o bairro da Liberdade e lá
fundaram a escola de samba objeto deste estudo. O depoente não deixa claro quais foram
os motivos que fizeram com que ele deixasse de participar daquela agremiação.
Possivelmente, por queixas do Carnaval passado, divergências de opiniões sobre o samba-
100
Trecho do depoimento de José Alexandre Neto, concedida a autora em setembro de 2014.
101
Trecho do depoimento de José Alexandre Neto concedido à autora em setembro de 2014. Aqui o nome
das pessoas que ele cita são apelidos, ficou uma lacuna para saber qual o verdadeiro nome porque muitas
pessoas que ele cita, como Carlota já morreram.
338
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enredo, tema, ou até mesmo por motivos pessoais com o presidente da Gremista do
Samba.
Esses nomes que o senhor José Alexandre cita são de pessoas do bairro, que
moravam nos arredores de onde a escola foi fundada e participaram anualmente dos
festejos carnavalescos da cidade. Algumas das pessoas que o depoente cita já faleceram,
mas assim como o seu nome é lembrado por Zé Neto, são lembrados também pelo bairro
da Liberdade, por causa do sucesso que faziam quando chegava o Carnaval.
102
LURDES, Maria. Uma das fundadoras da Escola. Durante o período da entrevista ela estava um pouco
chateada com os últimos acontecimentos da escola de Samba, porém, ela consegue lembrar onde a escola
funcionou no primeiro ano, por isso que ela fala da SAB e do Clube de mães, ficam na mesma rua que sua
casa e a SAB e o clube de mães são vizinhos. Depois que saem desse local a sede da Escola fica na sua até
quando para de desfilar na década de 1990.
103
Francinete Alves da Silva: mais conhecida como Francis, foi uma das fundadoras da Escola de Samba.
Ela informou que em 2016 está com 59 anos, fazendo os cálculos na época da fundação ela possuía 17 anos.
Era comum a participação de crianças nas escolas de samba desde que tivessem autorização dos pais e do
juizado de menores.
339
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A gente veio do Grêmio que era no (bairro) São José, foi onde eu desfilei uma
vez e acabou o Grêmio e nós viemos para a Liberdade. Aí juntamos a turma que
tinha no Grêmio e abriu a Unidos da Liberdade. Eu era criança na época e foi
on u om s r‖104
(...) Tinha gente que nunca tinha participado de nada na Liberdade e então nós
começamos a envolver na escola a partir do segundo ano, que foi o caso de
R mun onh hoj omo ―Mun nh ‖ M r lo Sous L m qu
também, não era, não participava da Escola, e alguém que agora me falha a
memória que era presidente da SAB, sim Emanoel Paulista, que deu a maior
força também para que essa escola fosse crescendo e crescendo. Esse foi o maior
prêmio que nós conseguimos até agora. 105
Ele reconhece que muitas pessoas contribuíram para o sucesso da escola de Samba.
Lembra de cada nome e como a participação dessas pessoas foi importante e mostra que
para ele esse foi o maior prêmio. Não adiantava se eles tivessem vindo de outra escola e
não envolvessem o bairro. Além disso eles envolviam as suas famílias. O senhor Marcelo
é irmão de José Neto. Então era como um sonho que todos possuíam o desejo de realizar e
por isso se uniam.
104
Trecho da entrevista do senhor José Alexandre Neto. Concedida à autora em setembro de 2014.
105
Trecho da entrevista do senhor José Alexandre Neto. Concedida à autora em setembro de 2014.
340
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As dificuldades para colocar a escola de Samba para desfilar sempre foram muitas.
Havia problemas principalmente por causa das verbas que eram distribuídas pela
Prefeitura Municipal, muitas vezes tardiamente, na semana que antecedia os festejos
carnavalescos. Então esses membros da escola tentavam arrumar dinheiro com festas na
SAB, pedindo a alguns empresários da cidade, ou reciclando (como mostra no trecho
seguinte), visto que para fazer a primeira bateria da escola eles reciclaram lixo que
acharam no centro da cidade durante o período da noite.
O primeiro ano da escola da Liberdade é um troço engraçado nós não tinha (sic)
instrumento de qualidade nenhuma, para dizer que nós não tinha (sic)
instrumento, nós tinha(sic) vindo com dois ou três surdos, Tarôs, Tamborim para
que a gente pudesse fazer a bateria. Começamos a sair toda noite na rua de
Campina, principalmente nas ruas João Pessoa, na Maciel Pinheiro, na João
Suassuna, pegamos Tambores de Carbureto, os caras colocavam lixo, e foi com
esses tambores que a gente fizemos (sic) a bateria da escola de Samba Unidos da
Liberdade, onde a gente passava a noite no lugar de tá recolhendo lixo, a gente
tava (sic) colocando lixo na calçada e trazendo os tambores. Foi aí que a Unidos
da Liberdade surgiu com bateria que o primeiro ano foi esse sacrifício. Já a
partir do segundo ano, a gente já teve um desenvolvimento maior. 106‖
106
Trecho da entrevista de Francinete Alves, concedida à autora em 17 de fevereiro de 2016.Bairro da
Liberdade
341
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de outras alas pelas ruas do bairro pedindo contribuição dos moradores para que a escola
pudesse sair no Carnaval de rua. Os depoentes narram que era emocionante esse
envolvimento do bairro, é uma questão de pertencimento de valorização daquele lugar e do
que ele pode oferecer.
Hoje em dia é tudo diferente. De mulher era só eu que pedia para financiar
minha fantasia e os batuqueiros saiam comigo. O resto esperava dinheiro da
Federação. Esse dinheiro não demorava, mas eu queria ser diferente, queria
ajudar a escola. Comprar mais coisas, sair bonita, entendeu? A gente bebia, para
a bebida, para a comida para a gente. As farrinhas da gente. 107
Ao falar desse momento em que ela saia pelas ruas do bairro para ajudar a escola
de samba, Francis se emociona muito, seus olhos brilhavam, foram tomados por lágrimas
de saudade de uma época que não volta mais. Ela fala nos dias atuais porque a escola
voltou a desfilar depois de muito anos parada e as coisas não são mais como nos anos
passados, falta união e organização. Falta essas sociabilidades que iam além dos dias de
Carnaval, como ela narra em cima, eram grupos de amigos que bebiam juntos, saiam
juntos e planejavam um sonho de escola de samba.
No primeiro ano da escola saiu apenas a bateria e no segundo ano ela já coloca alas
com samba e enredo na rua. Nos primeiros anos as escolas de samba da cidade cantavam
sambas das escolas do Rio de Janeiro e São Paulo, para só depois começar a produzir seus
próprios sambas junto com artistas locais ou até por membros da escola.
Foi difícil e foi fácil porque foi até pelas circunstâncias, mas a gente ia e corria
atrás. A gente se juntava, corria atrás. Eu Zé Neto, Teinha . Um incentivava o
outro, mesmo assim eu sempre fui danada demais. Eu nega Neta, bora vamos
atrás! A gente ia hoje em dia não existe isso. Hoje as pessoas chegam na hora do
desfile, no mês de desfilar. Isso é muito errado, antigamente a gente tava sempre
junto e não tinha esse negócio, era sempre junto, todo mundo junto, todo mundo
reunido (...) 108
Ela coloca que foi difícil e ao mesmo tempo fácil porque todos se ajudavam: difícil
porque as dificuldades financeiras no momento eram enormes, e fácil porque todos se
107
Trecho da entrevista de Francinete Alves, concedida à autora em 17 de fevereiro de 2016.Bairro da
Liberdade
108
Trecho da entrevista de Francinete Alves, concedida à autora em 17 de fevereiro de 2016.Bairro da
Liberdade
342
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ajudavam, as mais determinadas iam atrás de seu objetivo. Ela critica as práticas de hoje
porque não há mais as sociabilidades de antes, o Carnaval termina e cada um vai para o
seu lado agora. Antes não, quando o carnaval terminava eles já estavam juntos planejando
os festejos do ano seguinte e vendo como poderiam arrecadar dinheiro para colocar a
escola na avenida.
Aqui percebemos que mesmo com o fim da Escola Grêmio, as relações com seus
membros continuavam. A escola acabou, mas a amizade não. Eles iam para lá discutir
sobre a escola, e também beber. É claro que nesse momento se de todos os assuntos,
inclusive os mais cotidianos, porém, não há como negar que a escola estava sempre na
pauta do assunto. Mais uma vez ela critica como o carnaval e as pessoas que o organizam
agora, o sentimento de nostalgia toma conta dessas pessoas. São saudades de práticas e
sentimentos que não voltam mais e ficam apenas na memória, que faz o papel de
selecionar o marcante.
CONCLUSÃO
109
Graduando em História pela UFCG.
343
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cidade. A história desses sujeitos não aparece em jornais impressos ou falados, é através
da oralidade dos participantes e moradores do bairro da Liberdade que a memória
carnavalesca dos grupos populares é preservada. E a história Oral como uma metodologia
auxilia para a construção das narrativas desses grupos e através das análises das fontes
compreender, porque os poderes públicos da cidade tentam todos os anos inviabilizar os
festejos.
REFERÊNCIAS
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Históricas. São Paulo: Contexto, 2010. p. 155 – 202
______. Manual de história Oral.3. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013.
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______. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi
(org.) Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2010, p. 111-153.
344
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PÔSTER
110
Orientadora. Graduada e mestre em História pela UFCG.
111
Depoimento concedido por LIMA, Klaudiany. Ex funcionária de empresa de Call Center. Depoimento
concedido em junho de 2019. Campina Grande, 2019.
345
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Decca coloca a sociedade do trabalho como uma utopia criada pela burguesia, onde
está irá glorificar a fábrica e criar um sonho para o trabalhador. O processo de mudança da
concepção do significado pode ser percebido através de alguns pensadores entre o século
XVII e XIX, começando por Locke que coloca o trabalho como fonte de toda a
propriedade; já Adam Smith acreditava que era fonte de toda a riqueza; e para Marx a
346
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II
Quando pensamos numa empresa onde a maioria de seus funcionários são jovens
estudantes e mulheres, logo fica subtendido que são pessoas muito propensas a problemas
psicológicos. Portanto farei um breve trajeto a respeito da história da melancolia para
maior compreensão dos prejuízos ao qual o novo proletariado de serviços – e esse incluí os
conhecidos telemarketings – está sujeito. Os dilemas ao longo da história em torno da
mente do homem se fazem importantes, por isso é necessário falar sobre a que foi e é hoje
a melancolia. Muitos tentaram explicar o sofrimento melancólico, foram eles: Filósofos,
religiosos, poetas, médicos e psicanalistas. Na Antiguidade Grega, com Hipócrates e
Aristóteles, a melancolia é explicada pela presença de uma quantidade excessiva de bile
negra no corpo, e entre os religiosos da Idade Média é reconhecida como um adoecimento
espiritual. No entanto, anterior aos estudos de Hipócrates, a melancolia era um castigo dos
deuses, algo muito comum para a época antiga, onde tudo se explicava através da
mitologia. Na Idade média como foi dito, a Igreja quebra essa ideia e coloca como falta de
347
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É com Freud que, no final do século XIX para o início do século XX que teremos
maior conhecimento a respeito e tratamentos para o problema, e a psiquiatria passa a ser
vista como uma especialidade médica e temos a inserção da melancolia como uma doença,
no nt nto n s m rr r t rm nolo pr ss o ―[ ] o t rmo depressão
somente veio aparecer, com certa força, em lugar de melancolia, como forma de
r n r nov ên t or humor l n m t o s ulo XIX‖ (AMARAL 6
p. 26). Ele observa que muitos pacientes demonstravam sintomas que de alguma forma
estavam relacionados a traumas ou algo que precisava ser de alguma forma colocado para
fora pela pessoa (tensão psíquica), levando a histerias, por exemplo. Hoje é muito do senso
comum essas explicações, podemos assim dizer, no entanto também temos a questão da
n lz o o pro l m ou mu tos r m ons r n o pr ss o ― r s ur ‖ ou
até mesmo falta de Deus, resgatando aí o imaginário medieval. só na segunda metade do
século XX surge então o termo depressão e com ele a melancolia cai em desuso ―A
m l n ol o p r o ‗sp ‘ m r u su s st p n s omo um su t po um orm
r v pr ss o m or om s ntom s ís os orr spon n o o on to n no‖
(CORDÁS, 2002, p. 95).
III
Após fazer algumas conceituações que situam o leitor a respeito das discussões em
torno de trabalho e sua precarização no contexto em que vivemos – como também da
sociedade que adoece em virtude do mesmo –, apontarei o cenário em que se deu a
consolidação de uma nova onda de proletariados no Brasil, os proletários de serviços. Mas
especificamente a partir das últimas três décadas do século XX o capitalismo sofrerá
transformações que impactam diretamente no mundo do trabalho. Após 1970 não teremos
348
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mais aquele grande crescimento que vinha se dando desde o pós-guerra, sendo assim,
medidas vão ser tomadas, desenhando a divisão internacional do trabalho e causando
mudanças na composição da classe trabalhadora em escala global. Com a nova divisão do
trabalho grande parcela das atividades produtivas se deslocam para as periferias do
sistema, reduzindo o proletariado industrial nos países de capitalismo avançado.
―In r ss n ss n os 9 nos o m u pr m ro n l zm nt
traumático, emprego. Minha função era em um setor comissionado, o que, à
349
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primeira vista, parece um bônus positivo, porém, bem desgastante, uma vez que
as cobranças para atingir metas estipuladas pela empresa são desumanas. Eu
cansei de atender ligações de clientes em um estado emocional perturbador,
omo r s horo p n o qu ―p lo mor us‖ u n l ss s u
contrato, esses geralmente, já tinham entrado em contato diversas vezes tentando
o fazer, suas ligações geralmente eram desligadas ou enviadas pra outro setor de
forma interminável. Clientes que mudaram de endereço e não tinha mais como
utilizar o serviço, pagavam há meses indevidamente. Seguindo um mecanismo
infindável, por medo da empresa e de ter seu nome negativado, e os
funcionários, medo de serem demitidos por cancelarem um contrato. Não
consigo deixar de relatar a situação que causou minha primeira crise nervosa na
empresa. Atendi uma cliente, de Fortaleza. Excedi o tempo de ligação com ela
em linha, pois, ela chorava tanto que eu não a entendia com clareza. Vi no
sistema o registro das diversas vezes que essa consumidora havia entrado em
contato tentando cancelar seu serviço. Ela havia mudado para outro estado pra
fazer o tratamento de sua filha com câncer. Eu não conseguia mais achar aquilo
normal. Quanto transtorno em prol de lucro aquele lugar nos fazia causar. Esse
foi só um exemplo. Em outubro de 2018 fui afastada da empresa por
encaminhamento de meu psiquiatra. Eu havia adquirido Transtorno de
Ansiedade, que evoluiu posteriormente para uma Depressão. Todos naquele
ambiente sabiam do meu estado emocional, meus colegas de trabalho e meus
gestores. Frequentemente, era aconselhada por supervisor e coordenador a pedir
demissão ou eles me demitiriam por justa causa. No estado frágil que eu estava
na época, me causou medo. Mas por que eu seria demitida por justa causa?
Legalmente, não havia justificativas para esse possível feito. Hoje é dia 25 de
junho de 2019. Ainda sou acompanhada por psiquiatra, e tomo três tipos de
remédios tarja preta. Tenho crises frequentes, as quais iniciaram-se durante esse
tempo de trabalho. Meu psiquiatra já me relatou diversas vezes que boa parte de
seus pacientes vieram da empresa em questão. Isso me assusta. Quantos ainda
pr s m p r r s ú omo u p r ? ‖ (In orm o v r l) 112
D po s o r l to m sm p r mos o qu o s st nt po s r um ―s mpl s‖
emprego com jornada de seis horas por dia. O trabalho, tão dignificante para muitos, pode
causar a ruína e o mal-estar de muitos também. Controle de tempo rígido acaba por reduzir
a liberdade de trabalho, onde o funcionário da empresa fica sempre a mercê da máquina
realizando movimento e diálogos repetitivos. Você percebe a hierarquia de poderes onde
os operadores são os últimos ao qual sempre irá recair as maiores pressões. Metas e
campanhas para alcança-las são as maiores jogadas dos patrões para lucrarem mais,
112
Gomes (1994), em seu estudo sobre as relações entre o governo Vargas e as classes trabalhadoras, definiu
ss olo omo ―tr lh smo‖ S un o utor o ―tr lh smo‖ o um olo polít
estruturada pelo Estado, visando estabelecer um vínculo entre o presidente e os trabalhadores. Para isso, o
governo apropriou-se dos resultados das lutas proletárias para constituir uma noção de cidadania fundada nos
r tos o tr lho Est s nhos m t r s r m pr s nt os p l prop n o l omo um ― o o‖
estimulando-s ―r pro ‖ os tr lh or s m r l o o ―Est o p t rn l st ‖ M s o tr lh smo
não era apenas uma estrutura de dom n o: o orr um r l o so l ―tro ‖ m qu os tr lh or s
também eram agentes do processo (GOMES, 1994, p. 162 – 166).
350
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campanhas essas que só estimulam a rivalidade e muitos não se dão conta das reais
nt n s ss s v ntos qu s o m s r os omo um ― n nt vo mot v on l‖
CONCLUSÃO
Por fim, vimos o quão precário é o sistema de trabalho dos chamados proletários de
serviços, em específico em empresas de Call center, que é meu objeto de estudo, onde o
jovem que está mais vulnerável psicologicamente é também a maioria nesses ambientes.
Vimos que a nova morfologia da classe trabalhadora no Brasil se deu muito em virtude
dos desígnios neoliberais, tendo como consequência a flexibilização do trabalhador, que
agora desempenha várias funções ao mesmo tempo, e os efeitos disso são vistos na relação
direta do trabalho terceirizado com altos índices de acidente de trabalho, adoecimentos de
nexo laboral e transtornos mentais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DECCA, Edgar Salvadori De. O nascimento das fábricas. São Paulo-SP. Editora
Brasiliense, 1982.
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COMUNICAÇÃO ORAL
leonardoqbf@hotmail.com
jmaxsuel17@hotmail.com
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Neste texto, buscamos demonstrar como o saber médico atuou na articulação entre
a política social projetada pelo Estado brasileiro e a disciplinarização das classes
trabalhadoras paraibanas em dois importantes períodos da história do Brasil: os anos 1930,
marcados pela ideologia de valorização do trabalho113 construída pelo governo Vargas, e a
década de 1970, caracterizada pela modernização conservadora, que é um aspecto
fundamental da manutenção da Ditadura civil militar, na sua radicalização da ideologia
varguista sobre o trabalho. Mais precisamente, problematizamos como o saber médico foi
op r on l z o n P r í p r ―m l z r‖ o proletariado, sob o pretexto de formar
tr lh or s ―l mpos‖ ort s‖ ―s u áv s‖
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A União ―As nt rv n s rúr s m Jo o P sso ‖ z m ro 933
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Como mencionado acima, neste item sobre os anos 1930 analisamos os discursos
médico-jornalísticos publicados pelo jornal A União. Editado em João Pessoa, é o mais
antigo jornal paraibano em circulação. Sua primeira edição data de 02 de fevereiro de
1893. A União foi criado no governo de Álvaro Lopes Machado, presidente da Paraíba em
dois mandatos: de 1892 a 1896, e de 1904 a 1905. Fundado como jornal oficial, financiado
pelo erário e dirigido por funcionários públicos nomeados em comissão, A União fora
projetado para ser o principal canal de comunicação do governo estadual com a sociedade
paraibana.
Desse modo, fica muito claro que a linha editorial de A União estava intimamente
atrelada aos interesses e à visão de mundo das elites políticas locais. Ele era o ― r uto o
po r‖: n lt s r lz s o ov rno omun v vs o mun o s lt s
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políticas. Neste ponto, lembremos a reflexão feita pelas historiadoras Ana Luiza Martins e
Tania Regina de Luca (2018, p. 08) sobre a imprensa ser, ao mesmo tempo, objeto e
sujeito da história: jornais como A União não apenas informam o que aconteceu. Em certo
s nt o l s t m m ―pro uz m‖ ont m ntos on orm m m nár os t m
comportamentos. Inserido neste contexto, o discurso médico-jornalístico adquire novos
significados: além de comunicar uma certa percepção sobre o corpo e as doenças, ele
divulga e legitima práticas sociais e visões de mundo.
Nos anos 1930, o jornal A União assemelhava-se ao que Foucault (2017, p. 367)
h mou ― spos t vo‖ sto ― str t s r l s or sust nt n o t pos
s r s n o sust nt s por l s‖ P r st utor o spos t vo m r
[...] um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos,
instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas
administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais,
filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O
dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre esses elementos
(FOUCAULT, 2017, p. 364, grifos nossos).
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Fotografias publicadas por A União do menor Francisco de Assis antes e depois da intervenção
cirúrgica realizada pelos Drs. Nelson Carreira e Aluisio Raposo no Instituto de Proteção e Assistência
à Infância de João Pessoa. Imagens extraída de A União ―As nt rv n s rúr s m Jo o
P sso ‖ z m ro 933
116
De acordo com Hochman e Fonseca (1999, p. 75 – 76) o movimento sanitarista brasileiro surgiu no início
do século XX e pode ser dividido em duas fases. A primeira, marcada pela gestão de Oswaldo Cruz à frente
dos serviços federais de saúde, entre 1903 e 1909, teria se restringido ao saneamento do Distrito Federal e
dos portos. A segunda, entre as décadas de 1910 e 1920, traria a ênfase no saneamento rural. Segundo Lima
358
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Por outro lado, preocupada com a sua legitimação, a Ditadura produziu, através da
Agência Especial de Relações Públicas – AERP, um modelo de propaganda que fez da
educação sanitária de toda a população o núcleo da representação da limpeza que o regime
estaria fazendo no país (FICO, 1997). Se, do ponto de vista político, a corporação agia na
os ― n m os nt rnos‖ os su v rs vos os omun st s; o ponto v st ultur l su
ação tinha duas frentes: o ataque conservador aos artistas através da censura e a produção
de uma bandeira própria, uma positividade, uma ação que, ao invés de proibir, calar,
eliminar; pretendia produzir novas subjetividades: o sujeito ordeiro e limpo, numa
retomada do entusiasmo pela educação sanitária que marcou as primeiras décadas do
século XX.
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Filha- Eu não mãe, mas não tinha nada de mais eu me interessar por ele. É um
rapaz honesto, trabalhador, caprichoso e limpo.
Mae -Que deus te proteja minha filha. Conjuro que homem feio, ele que não se
meta com você.
Homem- Beleza não põe mesa dona Dazinha. Limpeza está certo, ele sabe
como é bom viver com higiene. E higiene é o ponto de partida para saúde, quem
tem saúde tem tudo120.
120
Nessa pesquisa, irei citar na íntegra a linguagem dos depoentes.
362
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Considerações Finais
ALVES, José Maxsuel Lourenço. Entre vacinas e canetas: as apropriações dos saberes
médicos nas publicações do Movimento Brasileiro de Alfabetização - Mobral (1970 –
1985). Campina Grande: Dissertação (Mestrado) – UFCG/CH, 2015.
CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte imperial. 2. ed. São
Paulo: Companhia das Letras, 2017.
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MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tânia Regina de (orgs.). História da Imprensa no Brasil.
2. ed., 3ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2018.
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RESUMO
Esse artigo tem por objetivo estudar as memórias dos entrevistados (idosos) da
Comunidade Moita de Boqueirão-PB, especificamente sobre as dores alimentícias que os
depoentes relatam estarem inscritas e escritas em suas almas. Problematizamos como essas
dores alimentícias são apresentadas e representadas nas sensibilidades desses documentos,
buscando evidências do sensível no tipo de dieta, nas formas de cultivos e conservação dos
alimentos, no tempo de preparo e nos utensílios usados na elaboração das refeições. Para
degustarmos o sabor dos vestígios de vida (FARGE, 2009) presente nessas fontes raras,
que documentam a vida, os sentimentos e as emoções (ALBUQUERQUE, 2019), fizemos
uma análise do discurso (FOUCAULT, 2008) de seus antigos (re) memoradores,
possibilitada pela história oral. Inspirados em Certeau (1998), construímos uma história do
cotidiano, observando que as dores desses arquivos vivos nos levam às experiências
(LARROSA, 2016) que os tocaram e os constituíram, nos permitindo reintroduzir
existências e práticas alimentares saudáveis de personagens comuns, raramente visitados
pela história no discurso histórico (FARGE, 2016). Reintrodução essa atrelada à leitura
das sensibilidades desses sujeitos que sentem e agem de forma diferente (PESAVENTO,
2007) através e pela dor. Conforme esses arquivos, além da idade (são idosos acima de 62
anos), as dores alimentícias que sentem foram e são provocados pelos alimentos cultivados
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INTRODUÇÃO
―S nto m un o
To s s or s o mun o ‖
Elias José
múltiplo que as raízes das moitinhas de pereiro, dos cactos e das bromélias e daqueles que
se estabeleciam na região se misturaram. Passaram a nutri-se do mesmo solo. A sentirem o
meu calor, a compartilharem o mesmo espaço.
Foi nesse contexto que entre as décadas de 1920 e 1930, os arquivos vivos
brotaram e ousaram em embrenhar-se nas fissuras do tempo, através da memória
(CANDAU, 2008). Hoje, velhos, rotos, desbotados, entrevados, visão curta, peles enrugadas,
almas marcadas pela escrita e leitura dos amores e das dores. Sujeitos que atualmente a
história da cultura dar visibilidade ao alimentar-se deles.
As or s ss s ont s s o um ― r h no t o os s‖ o B nqu t Mo t
N l s s ―o lz m l uns nst nt s v p rson ns omuns r r m nt
v s t os p l h st r ‖ (FARGE 9 p ) Ess s ont s s o mu to r r s ―porqu
o um nt m v os s nt m ntos s mo s os ont m ntos v ‖
(ALBUQUERQUE JR 9 p 8 ) n ví uos omuns nos p rm t n o ― on ront r o
passado e o presente interrogando de outra forma os documentos e os acontecimentos,
us n o rt ul r o qu s p r om o qu p r ‖ (FARGE p 9)
Esses arquivos vivos não só constituíram quem eu sou, mas, também me lançaram
na estrada da vida. Por ter as minhas raízes fincadas nesses documentos, retornei a eles em
2008, para realizar umas entrevistas sobre suas práticas alimentares para conclusão do
urso H st r Un v rs Est u l P r í Compr n qu ―o tr lho
histórico se faz desde então a partir da função sempre movente, cambiante entre os ditos
so r m nto‖ (FARGE p 7) Fo n ss mom nto qu t m m s nt s or s
alimentícias dessas pessoas, ou seja, suas queixas e lamentações devido às restrições
alimentares escorreram para dentro de mim.
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Esses arquivos vivos passaram associar o estado de saúde atual deles, não só a
idade, mas a chegada dos produtos industrializados e dos alimentos cultivados com
agrotóxicos, após a construção do Açude de Boqueirão, na década de 1950.
Nesse sentido, passei a observar que ao sentir as dores alimentícias desses sujeitos, é
possível compreender suas experiências, através da sensibilidade, e, ao mesmo tempo, dar
visibilidades a hábitos que podem nos ajudar a ter uma alimentação mais equilibrada e
uma vida mais saudável nos dias em que, o que entra tem proporções semelhantes ao que
sai da nossa boca para uma boa qualidade de vida.
METODOLOGIA
Por compreender que a linguagem é um tipo de poder que os sujeitos têm para se
comunicar, trocar experiências e estabelecer vínculos sociais, usei nesse artigo à análise do
discurso para ler as dores alimentícias dos depoentes. Para Foucault (2008, p.133) a noção
s urso mpr omo ―um onjunto r r s nôn m s h st r s s mpr
determinadas no tempo espaço, que definiram em uma dada época, e para uma área social,
econômica, geográfica, ou linguística dada, as condições de exercício da função
nun tv ‖
tempo e os utensílios usados para o preparo das refeições desses sujeitos. Alinhada a essa
discussão, problematizei como essas dores foram provocadas e sentidas nesses e por esses
arquivos vivos.
RESULTADOS E DISCUSSÕES:
Eu já nutria muita admiração por esses arquivos vivos por saber que eles são
responsáveis pelo ser que sou. Sempre que podia, eu parava para aprender com esses seres
incríveis. Todo o meu conhecimento frente aquelas experiências se evaporava. O silêncio
em mim reinava para dá passagem ao barulho das vozes trêmulas, ofegantes, frágeis e ao
mesmo tempo carregadas de um poder transformador. Parei (LARROSA, 2016, p. 25) para
escutá-los, para ouvir os seus sussurros (ERTZOGUE; PARENTE, 2006) a respeito dos
seus hábitos alimentares. Entre tantas histórias ouvidas e sentidas no decorrer das
existências desses depoentes a partir da alimentação, algumas situações me marcaram
profundamente, após vestir a pele (VIDAL, 2005) desses arquivos vivos. Não dá para
esquecer as expressões de angústia e dor provocada pelas restrições alimentares por conta
de problemas de saúde, mas também ficaram inscrita e escrita em mim as evidências do
sensível (PESAVENTO, 2007) das dores de saudade de um tempo marcado pela ausência
de doenças provocadas pelos alimentos.
121
Entrevista concedida ao autor pelo senhor Pedro Ferraz de Oliveira, no dia 07/03/2008.
122
Entrevista concedida ao autor pela senhora Rosa Maria da Conceição, no dia 07/03/2008.
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―s m n p ss ompr um rn o om or ur p ss um o o r m‖
Sentado na cadeira de balanço de sua casa, o senhor Inácio também enveredou nas
or s o p l r ―As om s hoj u ho r nt As nt m nt u ho
melhor. Hoje compra uma carne bota todos os temperos e não vale nada. (...). O
x qu x qu r m m lhor o qu o p o u á‖ O po nt S v r no n su o n
olar z qu ―o osto s om s mu ou mu to n o s s o nt s v
ou s om A nt om x qu x qu n u z tu o no mun o‖ Já Al uqu rqu
afirma que as dores alimentícias estão sendo provocadas pelas mudanças na obtenção dos
alimentos e nos instrumentos usados para preparar as refeições.
É evidente que algumas dores (doenças) desses sujeitos são provocadas pela idade.
Contudo, a quantidade e a intensidades dessas dores estão relacionadas ao tipo de dieta
adotado por esses depoentes ao longo de suas vidas. Então, tenho razões e emoções
suficientes para analisar as práticas (de obtenção dos alimentos, armazenamento,
conservação, tempo de preparo e utensílios usados na preparação das refeições) presentes
nas memórias desses documentos vivos.
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Consegui entender que uma parte desses alimentos era cultivada em roçados. Uma
pequena quantidade era comprada em Campina Grande e em Pernambuco. Já uma boa
parte desses alimentos era obtida da própria fauna e flora da localidade. Comiam frutas,
frutos e raízes in natura. Alimentavam-se de xiquexique assado ou cozido e do cuscuz da
macambira com leite de cabra. Colhiam essas plantas e produziam os próprios alimentos,
sem conservantes e agrotóxicos. Assim o senhor Inácio nos narra
―Há m u om r u m uz ro r z roá x quexique, cortava no
mato aquelas varas de xiquexique e o caba ia comer com piaba do açude (rio),
cortava as varas de xiquexique e comia bem assadin, cumbeba, raiz de caroá pro
caba chupar, pão de macambira, quando pisava a macambira fazia aquele pão e
ia comer. Era desse jeito meu fi antes do açude encher, era memo assim, fruita
de paima a gente ia buscar, de xiquexique e o caba ia comer, era, fruita de
ro ‖
O senhor Inácio não só mostra como os alimentos eram obtidos. Mas ele relata
como essa dieta diária afeta na produção das dores alimentícias (as doenças provocadas
pelos alimentos). Acerca da temática, Giard (1996), fala dessa alimentação diária na sua
quantidade e qualidade que implica necessariamente na conservação da saúde do sujeito
como também na proteção das adversidades do meio ambiente e dos agentes que
provocam doença. Carneiro (2005), também versa sobre as dores provocadas pelos
alimentos ao dizer que praticamente em todas as culturas, os alimentos foram associados à
saúde pela abundância ou escassez e pelo tipo de dieta adequada a certas idades, gênero,
constituições físicas ou enfermidades presentes.
A senhora Conceição fez uma breve discussão acerca das doenças provocadas
pelas comidas de hoje, tendo como principais responsáveis os produtos com agrotóxicos e
o óleo. Segundo ela, as crianças de hoje estão adoecendo com muita facilidade:
― s om s hoj m st o provo n o o n s n s p sso s Vo ê s
pruque ? Essa comida que nós estamos comendo está toda envenenada. Isso é
aduba no veneno. Essa meninada pequena é tudo se queixando de uma dor de
barriga, doente de vez em quando no remédio. Naquele tempo, nessa idade, não
123
s o qu r o n ! O qu s nt r um or nt ‖ .
Dona Conceição narrou que no lugar do óleo colocava-se banha de porco. Mas
123
Entrevista concedida ao autor pelo senhor Antonio Néri de Albuquerque, no dia 14/03/2008 .
372
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po s on orm l o h n o outro t po om ―o r n n o tu o‖
124
Entrevista concedida ao autor pelo senhor Severino Manoel da Silva, no dia 07/03/2008.
125
Entrevista concedida ao autor pelo senhor Antonio Néri de Albuquerque, no dia 14/03/2008.
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americana no Brasil e sua interiorização nos anos 1970. Na Comunidade Moita não foi
diferente. Foi nesse mesmo período que os alimentos industrializados passaram a chegar
em quantidades maiores em Boqueirão, devido a construção de estradas e de rodovias.
A dispensa do Banquete
Esses relatos deixam nítido que os depoentes do Banquete da Moita, entendiam que
deixar o xiquexique no seu hábitat natural era a forma mais adequada de conservação e
armazenamento, evitando desperdícios. Retirar essa planta e consumi-la quase in natura,
com peixe, camaleão ou sem acompanhamento, resultaria em uma vida mais saudável, e,
portanto, com menos dores (doenças).
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Entrevista concedida ao autor pelo senhor José Inácio da Silva, no dia 14/03/2008
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panelinha, nesse tempo era panela de barro, ai ela colocava uma panela pra
cozinhar e enquanto aquele xiquexique ia cozinhando ele ia assando pra gente
aquelas varinhas de xiquexique (...) parecendo macaxeira e ela com uma panela
no o o om um t l nh p x ‖
Ao mesmo tempo em que capturei, também fui capturado pelos laços afetivos que
escorriam para dentro das panelas de xiquexique cozido ou assado. As sensibilidades
adentravam as tigelas e pratos feitos de barros, servidos com peixes fresquinhos, pescados
pela manhã ou no final da tarde. Tentei em vão usar os talheres. Mas, fui advertido por um
os u r s o t mpo o z r qu ― pr m ro n o x st olh r nt z qu l s
127
olos n m o Com o x qu x qu om m o‖ . Nesse instante, aprendi mais uma
lição, que o tocar também é uma forma de comer. O tato saboreava os alimentos antes do
paladar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
―F o p ns n o: s or s o mun o
pedem canções ou exigem ação?"
Elias José
127
Em tradução significa 50, que corresponde aos 50 dias de ventos fortes que não param, e espalham as
areias rapidamente.
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REFERÊNCIAS
ALBERTI, Verena. Ouvir Contar: textos em história oral.- RJ:E.FGV, 2004. p. 9-109.
ALBUQUERQUE, Guilherme S. C. de; LOPES, Carla V. Alves. Agrotóxicos e seus
impactos na saúde humana e ambiental: uma revisão sistemática. SAÚDE DEBATE. Rio
de Janeiro, V. 42, N. 117, P. 518-534, abr-jun 2018.
ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz. O tecelão dos tempos: novos ensaios de teoria da
história. Intermeios: São Paulo, 2019.
CANDAU, Joel. Memória e identidade. 1ª Ed. 5ª reimp.. – São Paulo. Contexto, 2019.
CARNEIRO, H. Comida e Sociedade: Uma história da alimentação. RJ, Campus, 2005.
CASCUDO, Luis da Câmara. História da Alimentação no Brasil. Belo Horizonte: Ed.
Itatiaia; São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1983.
CERTEAU, M. de. A Invenção do Cotidiano: morar, cozinhar. Pet..: Vozes, 1998. v. 1.
ERTZOGUE, M. H.; PARENTE, T. G.. História e sensibilidade. Brasilia: Par. 15, 2006.
FARGE, Arlete. Lugares para a história. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. p. 7 a 39
_____________. O sabor do arquivo. São Paulo: Edusp, 2009.
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PÔSTER
Resumo:
O presente artigo é fruto de uma pesquisa bibliográfica sobre a História das Doenças no
Brasil, que tem como intuito de compreender a propagação do vírus da Cólera Morbus, no
estado da Paraíba no século XIX. Nos anos 1840, o vírus chega a terras brasílicas através
dos portos da região sul, que recebiam navios provenientes de diversos continentes,
inclusive de regiões da Ásia, como a Índia e a China, onde havia pandemias da doença.
Está moléstia adentra no território paraibano pela província pernambucana, na figura do
porto de Recife, que recebia e escoava parte da produção da região. A falta de
infraestrutura das cidades, de saneamento de básico e de cuidados básicos de higiene pela
população se constituíam como facilitadoras do contagio, principalmente entre a camada
social mais desafortunada da sociedade, os escravos. Pesquisadores apontam que a cólera
atingiu também os escravos, que estavam sujeitos aos trabalhos mais degradantes nos
portos e nas cidades. Devido à escassez de estudos sobre doenças e seu efeitos sobre a
sociedade brasileira ao longo do tempo, fez-se necessária uma extensa pesquisa
bibliográfica, tendo como referência a obra de Sidney Chalhoud (Cidade Febril,1996), e
alguns trabalhos de historiadores regionais tais como Rosilene Gomes Farias (2007),
Silveira Vieira de Araújo (2016) e Larissa Bagano Dourado (2017), que abordam a
questão sanitária e médica na Paraíba, bem como as relações escravistas no interior da
província.
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Introdução
A cólera
Tratamos a cólera como uma epidemia, porém é considerada uma pandemia, já que
se espalhou para vários continentes, tomando uma proporção maior do que o imaginado.
Facilitando o contágio em um curto espaço de tempo, dificultando a ação da ciência para o
tratamento da doença, levando muitos à morte em poucos dias. A demora para a solução
do tratamento da cólera e também de outras doenças epidêmicas, como a febre amarela,
varíola e malária levantou questionamentos mundiais para entender e solucionar a
transmissão dessas enfermidades. O que resultou em várias teorias sobre como o patógeno
era transmitido, a que ganha destaque é a teoria miasmática e a microbiana.
Uma das primeiras teorias em que creditava os setores de salubridades foi a teoria
epidemiológica que se dava ao alto grau de miasma presente em matérias em
decomposição no solo e no subsolo, por isso o lugar arejado era considerado livre da
128
Nome cientifico da bactéria da cólera Morbus.
380
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doença, enquanto aquele que fosse pequeno ou fechado era um campo propício ao
contágio. Essa teoria mudou o cotidiano de muitas cidades, o medo do contágio da doença
tornava cemitérios, igrejas e até lugares quentes, um possível campo de contaminação,
além da exclusão dos doentes e dos lugares considerados socialmente inferiores. Esta
teoria foi derrubada posteriormente pelas considerações da hipótese microbiana, em que a
bactéria Vibrio cholerae129, que poderia ser transmitida pelos alimentos e água
contaminados, que por ventura entraram em contato com fezes, levando a um círculo
vicioso.
Mas como o porto de Recife teria se tornado um ambiente propício? Com o fim do
comércio atlântico, as navegações intra-marinha130 continuaram sobre o litoral brasileiro,
levando e trazendo cargas, inclusive para o porto da capital pernambucana que apesar de
pequeno concentrava um uso muito grande por sua serventia. A Paraíba, por não ter o seu
129
Navegações que locomoviam apenas entre os portos brasileiros
130
Relatório do presidente da província de Pernambuco a assembleia legislativa 1857. Pg. 22 arquivos
público estadual de Pernambuco.
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porto, utilizava o da capitania vizinha para receber e despachar suas cargas. Este, no
entanto, enfrentava grande dificuldade em abarcar essa carga, por sua lotação em fluxo
grandes de cargas e descargas. Tornando não só o porto como a cidade insalubre, um
campo propício para a expansão da pandemia mais rápido (FARIAS,2007). Vejamos sobre
essas citações a seguir a descrição da cidade e o discurso miasmático:
131
Tabela apresentada na tese de Silveira Vieira. Grifos em destaque feitos pela autora do artigo
382
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132 Graduanda em Licenciatura Plena em História pela Universidade Regional do Cariri – URCA.
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Sobre a tabela que Silveira Vieira apresenta a comarca de Pilar, algo que desperta
minha analise crítica à fonte é o grande número de mortos sobre Cólera Morbos nas
cidades em que se faz divisa com Pernambuco indicando a sua rota vindo do porto de
Recife. Destacando o sítio Mogeiro na comarca de Pilar, que na época era apenas um sítio
pertencente ao Distrito de Itabaiana. Por Mogeiro ser apenas um sitio pertencente à
comarca de Pilar, podemos compreender grande possibilidade desse grande número de
mortos serem escravos ou pessoas portadoras da bactéria, já que o fluxo de escravos era
constante.
Luana Teixeira em sua tese acerca dos cativos da comarca de Pilar dá destaque aos
grandes números deles que sempre estão sujeitos a transferências de comarca para
comarca ou até mesmo províncias diferentes. E por Pilar ter o maior número de escravos
registrado em sua tabela, podemos dar como exemplo a cativa Damiana que sempre estava
em constante transferência, que em 1872 estava sendo vendida várias vezes durante um
curto espaço de tempo.
O caso da cativa Damiana acontece em 1877, porém vai refletir em tantos outros
casos de vendas de escravos constante durante esse grande fluxo de venda de cativos intra-
marinhos. Era comum essa comercialização, que também tinha interesses em cortar os
vínculos dos cativos com sua identidade, porém não temos ainda comprovado que todos os
escravos possuíam a doença da cólera. Mas pelo tratamento em que o cativo tinha de
exclusão social, e a sua escassez historiográfica é de grande importância nos debruçarmos
a analisar este processo de contagio da cólera e as relações sociais.
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Referências Bibliográficas:
ARAÚJO, Silvera Vieira de. Entre o poder e a ciência: história das instituições de
saúde e de higiene da Paraíba na Primeira República (1889-1930). 2016. 330 f. Tese
(Doutorado) - Curso de Pós-Graduação em História, Centro de Filosofia e Ciências
Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2016. Cap. 5. Disponível em:
<https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/18557/1/TESE%20-
Silvera%20Vieira%20UFPE.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2019.
CHALHOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e epidemias na corte imperial. São Paulo:
Companhia das Letras, 1996.
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RESUMO:
Tendo como inspiração a Historiografia das Doenças, desenvolvida nas últimas décadas do
século XX, mais precisamente por volta da década de 1970, o trabalho busca fomentar o
debate em torno da epidemia do Cholera Morbus em Crato, ocorrida na segunda metade
do século XIX. O cholera aporta ao Brasil no ano de 1855, pela porta de entrada do Grão-
Pará, chegando ao interior caririense em 1862, momento em que a Medicina, enquanto
ciência, ainda se consolidava concomitantemente às práticas de cura costumeiras e se
mesclavam com as crenças da população. A falta de médicos se mostrava uma realidade
quase que presente em grande parte das províncias. As condições e estruturas de saúde
eram precárias na época, ou até mesmo inexistentes. Partimos das discussões
empreendidas pelas pesquisas bibliográficas e documentos, buscando uma análise das
repercussões (consequências ou efeitos) da epidemia do Cholera Morbus através dos
principais meios de comunicação de então e de relatórios acerca das estruturas de Saúde e
das práticas de Cura da Doença.
133 Doutora em educação pela Universidade Federal do Ceará- UFC. Mestre em Ciência Política pela
UFPE e graduada em História pela mesma instituição.
134 Ver mais em: <https://umpouquinhodecadalugar.com/europa/franca/a-cidade-de-beaune-na-borgonha-e-
o-incrivel-hotel-dieu>Acesso dia 10 de outubro de 2019.
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segunda metade do século XIX (1862-1864), no interior do Ceará, tendo como recorte
espacial a cidade de Crato. De maneira enfática, faremos um estudo em torno das fontes
vistas até o presente momento, sujeito à identificação e análise de diferentes olhares sobre
as estruturas de saúde e os tratamentos no período da epidemia na cidade.
Na história geral dos povos, as datas mais remotas apontam que os primeiros
hospitais sugiram por volta de 431 a.C. no Ceilão, que hoje é conhecido por Sri Lanka, no
Sul da Ásia. Na Europa, os romanos construíram os chamados valetudinarias, para cuidar
dos soldados feridos em batalha. Com o crescimento do cristianismo, os hospitais
um nt r m om ju r l osos D‘H u ourt n rr qu ― r e ativa dos ricos,
senhores ou burgueses – ou da gente simples animada por um pregador devoto –, fazia-os
fundarem hospitais- s los‖ (D‘HAUCOURT 984 p 5) Um s s un s o
Hotel–Dieu de Beaune,135 no qual nos permite constatar à beleza e a feição que era
colocada a serviço dos doentes.
Esta situação narrada por Vieira foi a que se apresentou no ano de 1862, quando,
por ocasião do Cholera Morbus, no interior do Ceará. Foi enviado para a província,
especificamente para as comarcas de Crato e Jardim, o médico e militar Antônio Manoel
de Medeiros. Será o seu relatório de atividades a fonte aqui utilizada para a aproximação
de partes dos eventos. Seu relato descreve que partira da capital do Ceará, Fortaleza, no
dia 14 de março, chegando no dia 8 de abril na região, seguindo em uma viagem que
durou dias, por vezes a pé, por ora a cavalo, devido a um clima de muitas chuvas e a falta
de cavalos velozes em certos trechos da viagem. No final de sua jornada, Medeiros escreve
um relatório médico para o então Presidente da província do Ceará, Dr. José Bento da
Cunha Figueiredo Junior, no qual faz uma exposição circunstanciada de todas as
ocorrências, observadas por ele.
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Diante das questões levantadas, cabe, por fim, salientar que, em relação às fontes,
ainda será realizada uma leitura bem detalhada, assim como uma fundamentação teórica
mais aprofundada, bem como será feito um apanhado geral das estruturas de saúde e os
tratamentos do cholera no momento da epidemia entre os anos 1862-1864 no Crato, não
só na comarca mas os conhecidos pela medicina de então.
140
Historiador e professor do curso de Arquivologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), líder do GEPHEAS
(Grupo de Estudos e Pesquisas, História, Educação, Arquivologia e Sociedade).
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REFERÊNCIAS
BURKE, Peter. A Escrita da história: novas perspectivas / Peter Burke (org.); tradução
de Magda Lopes. - São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992. -
(Biblioteca básica).
FOUCAULT, Michel. O nascimento da clínica. 6ª. ed. Tradução: Roberto Machado. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
SCLIAR, Moacyr. História do conceito de saúde. Phisis[online]. 2007, vol.17, n.1. pp. 29-
49. ISSN 0103-7331. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/physis/v17n1/v17n1a03
>. Acesso dia 08 setembro de 2018.
Jornais
Jornal O Araripe, Crato-CE. Edições de 1862 a 1864. Setor banco de imagens- CEDOC da
universidade Regional do Cariri.
Jornal O Cearense, fortaleza- CE. Edições de 1862 a 1864. Hemeroteca Pública Nacional.
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COMUNICAÇÃO ORAL
M ss o um nt l ss p ssív l tr to v rs o qu nto à r sp t v
nstrum nt l z o por um pro ss on l p t o m sp o dest n o p r t l t v
141
No respectivo colégio estamos a desenvolver um projeto de PIBIC, que consiste no mapeamento documental do
respectivo colégio. Participam da investigação as alunas: Rayhanne Maria de Araújo Jatobá, Teresa Rachel Grangeiro
Araújo. Ambas, graduandas do curso de Arquivologia da Universidade Estadual da Paraíba.
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Mu t s s o s s tu s qu n m um s r s nt os sp í os encaminhados
para dadas massas documentais e sua instrumentalização, assim como nos alerta Zazo
(2012). P rt l s mport nt rs r n m nh s s m r t r os qu poss m r ul r
um m ns o h st r e social. Aspecto investigativo coerente com o que se esper um
sp o rqu víst o mo rno n m o m n m m nt pr p r o p r t n r às
m n s st o n t s so lm nt nos sp os tr lho rqu víst o
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Es ol s -s qu possu m to o um l ont s qu po m lu r um
po qu nos ju m r l t r so r u o universo com fundo documental
proprio. Fundo documental a ser explorado de forma a elaborarmos um ambi nt tív l
n r ul o n orm o
142
O arquivo da Escola Estadual Jo o Goulart lo l z o m Jo o Pessoa por
x mplo v m s r noss s nv st tv Es ol qu relevante junto a comunidade
escolar da capital do estado da Paraíba, p rt ul rm nt por s r um sp o u on l m
143
ontínuo funcionamento, desde os anos 1970 por t r um m ss o um nt l n
n o or n z ntro os p r s on s materiais, suscetíveis ao desenvolvimento
da pesquisa.
142
Como escola polivalente obedecia a Lei n. 5692, de 11 de agosto de 1971.Nesse período, já funcionava como escola
atendendo a comunidade escolar do Bairro do Castelo Branco, na capital do estado da Paraíba.
143
Documentos que possuem formatos e linguagem diferentes dos convencionais. (DICIONÁRIO BRASILEIRO DE
ARQUIVOLOGIA, 2015).
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D qu lqu r orm o álo o reflexivo, que nos propomos a realizar, no tocante aos
acervos escolares, do tipo de nos fala Vidal (2005), Medeiros (2003) e Mogarro (2005) e
Bonatto (2005), no pr pr o tr ns urso p squ s s rá propí o p r r or n o um
outro nt n m nto so o mont nt m ss o um nt l m n pul r m nt m
sp o destina o o uso s st m t z o n orm s or un s o un v rso s ol r Est
o qu l or un mport nt m ss o um nt l Con o m to ol s m n st r
qu n o nqu r rmos sp os de arquivamento numa escola, de cunho ou tipologia
centrados naquele universo.
Sendo assim, inicialmente tendo por base o que Karnal (2011) chama de memória
evanescente, percebendo-a no universo escolar, do qual nos fala Carvalho (1998), foi feito
um levantamento do local dos depósitos em que os documentos se encontram. Espaços
onde ainda tentamos responder a alguns questionamentos: qual a situação estrutural atual?
Existiriam materiais/suportes suficientes que comportassem toda documentação? O local
estaria adequado para tratar de documentações mais delicadas? Alguns indicativos
patrimoniais se apresentam problemáticos.
144
Após mudança na administração da escola, foi acordado com o atual diretor, professor Felipe Baunilha , uma parceira
entre o Grupo de Estudos e Pesquisas, História, Educação, Arquivologia e Sociedade (GEPHEAS).
145
Os cinco que receberam os títulos foram: Flávio Clementino da Silva Freire (Barão de
Mamanguape – em 1860), José Teixeira de Vasconcelos (Barão de Maraú – 1860), Estevam José da
Rocha (Barão de Araruna – em 1871), Silvino Elvídio Carneiro da Cunha (Barão de Abiahy – em
1888) e Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque (Visconde de Cavalcanti – em 1888). Todos,
pertencentes ao Partido Conservador e, cujos títulos, foram concedidos nos anos em que a
Assembleia Legislativa Geral era composta, em sua maioria, por conservadores. (SEGAL, 2014;
CARVALHO, 2010)
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realização do nosso trabalho. A vista deste fato, criamos duas tabelas sobre este
levantamento, tendo como objetivo de identificar com mais rapidez os problemas e o
aproveitamento de alguns materiais que estavam em bom estado e que poderiam auxiliar
no nosso trabalho, necessitando apenas limpeza.
Conclusões
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aberturas para parcerias, como as que andamos a realizar, ainda há um longo percurso a
percorrer.
Bibliografia
BACELLAR, Carlos. Uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.).
Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2011.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro, 1999.
BELLOTO, Heloísa Liberali. Arquivística: objeto, princípios e rumos. São Paulo:
Associação de Arquivistas de São Paulo, 2002.
BONATO, N. M. C. Os arquivos escolares como fonte a história da educação, In: Revista
Brasileira de História da Educação, 10, 07-12, 2005.
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Documentos:
404
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PPG - MCE/ACU
E-mail: secdorientadoremanuel@gmail.com
PPGH/UFPE
E-mail: paulo.nascimento@ifam.edu.br
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
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mundo físico e a nova realidade escolar parecia mais desafiadora do que havíamos
imaginado.
Para além dos professores, que sempre estavam preocupados com o andamento das
aulas (conteúdos, alunos mal comportados, horários), dos inspetores, que se esforçavam
p r ―m t r m o‖ n nt r tor s mpr mu to o up sur u n qu l m nt
escolar uma outra personagem. Alguém cuja atenção não estava voltada para nenhuma
qu l s outr s o s s qu t nh um ―olh r sp l‖ p r n s N o s í mos o rto
qu s r m s su s ― nt n s‖ m s s ntí mos qu n o r mos m s nv sív s qu
alguém se importava conosco, para além de trabalhos, provas, horários, comportamento.
Era uma moça chamada Rosinete, a primeira Orientadora Educacional de Picuí, que nos
acompanhou durante o ano 2000, quando estudávamos no então Complexo Educacional
Cônego José de Barros.
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É sabido que a História da Educação tem se tornado, a cada dia, importante elo
entre a História e a Educação, congregando epistemologias tanto de uma quanto de outra
destas ciências, na medida em que se busca uma historicidade dos processos educacionais.
Questões relacionadas às práticas pedagógicas, aos processos de ensino e aprendizagem,
às culturas escolares, bem como a composição da comunidade escolar para além do
professor e do aluno têm despertado o nosso interesse (NEVES, 2009, p. 13). Atenção
especial também tem sido dada à composição dos espaços escolares, bem como a sua
transformação, num movimento que acompanha a percepção da Pedagogia em relação à
importância que tais espaços têm nos processos educacionais. A crescente
profissionalização dos trabalhadores da educação – professores/as, coordenadores/as
pedagógicos/as, diretores/as, orientadores/as educacionais, etc. – também tem despertado o
interesse dos estudos do campo da História da Educação (NEVES, 2009, p. 14). Das fontes
históricas para tais estudos, podemos destacar fotografias, boletins e históricos escolares,
diários escolares, atas de reuniões, relatórios pedagógicos, ruínas prediais, memórias e
tantos outros.
A Memória
Sobre o estudo da Memória, faz-se necessário atentar para o seu caráter seletivo, na
medida em que compõe-se a partir das escolhas que os sujeitos (re)produtores destas
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memórias fazem. Conformo afirma Michel Pollack, a Memória está intimamente ligada
tanto ao Esquecimento e aos Silêncios, o que revela o seu caráter hierárquico,
classificatório e seletivo (POLLACK, 1989, p. 3b). Estas características acabam por se
manifestarem quando, por exemplo, estamos diante de alguém a quem desejamos
entrevistar, em razão de um trabalho com a memória. Pausas dramáticas, momentos de
reflexão, inclinação da cabeça, alteração no tom da voz, silêncios, elaborações mentais,
estas e outras são algumas das situações que podemos presenciar quando fazemos
determinadas perguntas, geralmente aquelas que causam desconforto ou que trazem
lembranças dolorosas para os entrevistados.
Neste sentido, a memória individual pode ser capaz de ser inserida naquilo que
Maurice Halbwachs vai chamar de memória coletiva. Para este autor, a memória coletiva
diz respeito à recordação e localização das lembranças enquanto um exercício que ocorre
num determinado contexto social, onde diferentes atores contribuem para a composição
daquilo que tornar-se-á comum ao grupo (HALBWACHS, 2003, p. 30).
Para que este processo de inserção das memórias individuais ocorra, faz-se
necessário que ocorra um processo de negociação, quando os testemunhos precisam estar
em concordância com aquilo que vai se tornar a base comum do grupo em questão
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Questão importante a ser pensada quando tratamos da Memória diz respeito aos
h m os ― m t s‖ p l m m r T s m t s t nto po m z r r sp to às
negociações a serem realizadas no interior de um grupo específico ou em relação ao grupo
e outros grupos. Para se compreender melhor esta colocação, pensemos na oposição entre
um ―m m r o l‖ – quase sempre, uma memória nacional – e as chamadas
―m m r s su t rr n s‖ qu s r m qu l s m m r s p sso s ou rupos qu n o
seriam hegemônicos nas sociedades (POLLAK, 1989, p. 4a); em outras palavras, os
h m os ― x luí os h st r ‖ (PERROT )
São, pois, estas memórias subterrâneas, que estão sendo reabilitadas, ou seja,
slo s op r r o o m r n l p r s r m post s m ontr pos o à ―m m r
o l‖ s rv n o omo o j to ont st o rm luta por aqueles que
h stor m nt or m ― x luí os‖ os pro ssos h st r os m r n l z os
invisibilizados pela memória oficial. E, neste processo de reabilitação destas memórias
subterrâneas, a História Oral tem desempenhado um papel fundamental (POLLAK, 1989,
p. 4a). Mas afinal, o que é História Oral?
História Oral
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Mas quando devemos recorrer à História Oral? Para responder à esta instigante
questão, Verena Alberti afirma serem duas situações específicas em que podemos lançar
mão deste campo da História. A primeira delas diz respeito aos resultados a serem obtidos,
o que deve levar o pesquisador a refletir se, de fato, a História Oral possui condições de
responder às perguntas feitas. A segunda condição está intimamente ligada à existência, ou
não, de outras fontes capazes de responder às perguntas feitas (ALBERTI, 1996, p. 1).
Quando tratamos do objeto em questão, a História Oral mostrou-se fundamental, na
medida em que são as Memórias dos entrevistados que têm norteado os trabalhos de
pesquisa ora empreendidos, nos conduzindo para os caminhos da escrita de um dos
capítulos da História da Educação em Picuí – PB.
Para além da simplificação que o termo História da Educação pode encerrar, faz-
se necessária uma dissecação destas duas palavras, na medida em que a compreensão deste
campo do conhecimento requer tanto a análise das palavras quanto das coisas. Se por um
lado, a palavra História vem do grego Histor qu r m t ―sá o‖ ― onh or‖
(CUNHA, 2007, p. 414). Para Marc Bloch (2001), a história se ocupa de entender o
homem no tempo, a partir da análise e intepretação dos documentos. Estes documentos,
por seu turno, são vestígios do passado, única forma de acessarmos um outro tempo, que
nos escapa e que nos chega através das pistas deixadas nas fontes históricas. Em outras
p l vr s ―( ) o o um nto s p r o jul m nto h st r o‖ (KARNAL; TATSCH
2011, p. 9) e constitui-se não apenas um resto do passado, mas um produto do passado,
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onstruí o p rt r ―r l s or s ss m tr s s u s s mpr um p ss o
nt ôn o rr ul r ont n nt ‖ (BLOCH pu SALIBA p 3 7) O o um nto
pois, uma memória preservada pela história, uma memória que é humana, visto que tudo o
que é humano é documento (BLOCK apud KARNAL; TATSCH, p. 14).
Neste sentido, faz-se necessário que estes pesquisadores não percam de vista (a) os
marcos temporais, (b) as fontes históricas e (c) as relações entre o presente e o passado. No
que tange aos marcos temporais, é necessário que se atente par ― m nú o porm nor‖
(Idem, p. 26), quando deve-se recorrer aos recortes espaço-temporais como elementos
definidores dos objetos estudados. Das fontes já tratamos acima, o que nos leva às relações
entre o presente e o passado. Sobre este terceiro ponto, somos remetidos aos conceitos de
história-problema, fato histórico, anacronismo, entre outros, de ordem epistemológica do
campo da Ciência Histórica pós-Annales, mas que ainda aparecem como problemas a
serem sanados em determinados textos ditos historiográficos. Neste sentido, a autora
acima citada nos aconselha um aprofundamento dos estudos, com vistas em nos
apropriarmos daquelas ferramentas epistemológicas quando formos tratar da escrita da
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A Orientação Educacional
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adestramento físico (LEME; SILVA, 2014, p. 23), mas o seu papel vem sendo
transformado ao longo do século XX e nestes primeiros anos do século XXI, papel este
que ainda não foi devidamente esquadrinhado pela História da Educação.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, em seu artigo 61, trata de forma
de forma indireta do papel do Orientador Educacional, quando diz o seguinte:
―Cons r m-se profissionais da educação escolar básica os que são (...) trabalhadores em
educação portadores de diploma de pedagogia, com habilitação em administração,
planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacional (...) (BRASIL, 1996). Como
po mos o s rv r LDB pr on z n ss st ―pro ss on l u o‖
colocando-o no cerne das políticas públicas para a educação e considerando uma ligação
entre a escolarização (educação) e este profissional da educação (LEME; SILVA, 2014, p.
24).
Atualmente, a Orientação Educacional é entendida como uma função que tem por
objetivo principal colaborar com a construção coletiva do ideal de cidadania, preconizado
nos diplomas legais e nos saberes pedagógicos vigentes (LEME; SILVA, 2014, p. 32). Na
nova prática do profissional, o serviço não deve ser a parte da escola, como fosse um
serviço que adentrasse no ambiente escolar, aplicasse uma técnica e determinasse o futuro
do aluno. Pelo contrário, deve contribuir com a formação de cidadão, que reconhece seus
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Das primeiras entrevistas, podemos perceber alguns fatos que podem nos ajudar a
compreender como tem se construído esta profissão, não apenas no município de Picuí –
PB, mas também a nível regional e, quiçá, nacional.
O segundo ponto a ser ponderado acerca do nosso objeto diz respeito ao conjunto
de ações institucionais promovidas pela Prefeitura e Secretaria de Educação, sejam (a) a
oferta de vaga em concurso, em 1999, e (b) a promulgação da já citada Lei Complementar
n ―qu sp so r Estrutur o Est tuto o M st r o Mun p l‖ (PMP 8)
trata especificamente da função do Orientador Educacional.
Para além dos fatos acima elencados, as Memórias até agora captadas nos levam à
identificação dos seguintes marcos temporais para a História da Orientação Educacional
em Picuí – PB. Nisto, temos o seguinte: a) da década de 1980 até o ano de 1999 -
momento em que prevalece o trabalho de uma equipe multidisciplinar, formada por
Coordenadores Pedagógicos e Supervisores Escolares, cujas atribuições incluíam aquelas
ações que hoje classificamos como próprias do Orientador Educacional; b) de 1999 até
2008 – período que se inicia com a nomeação, via concurso público, da primeira
Orientadora Educacional, e que culmina com a promulgação da já citada Lei
Complementar n. 2; c) de 2008 à 2014 – período marcado pela vigência desse diploma
legal e pela nomeação da segunda Orientadora Educacional e; d) de 2014 até os dias atuais
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– período que se inicia com a nomeação de mais dois profissionais, que compõem a equipe
de Orientadores Educacionais atualmente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALBERTI, Verena. Fontes Orais: histórias dentro da História. In: PINSKY, Carla
Bassanezi (org.). Fontes históricas. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2011, pp. 155 - 202.
417
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LEME, Erika Souza; SILVA, Jaqueline Luzia da. Supervisão e Orientação Educacional:
entre a teoria e a prática. In: SILVA, Jaqueline Luzia da (org.). Orientação e supervisão
educacional: reflexões sobre o fazer pedagógico. Rio de Janeiro, Wak Editora, 2014, pp.
15 – 38.
418
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MOTTA, Márcia. História, memória e tempo presente. In: CARDOSO, Ciro Flamarion;
VAINFAS, Ronaldo. Novos domínios da história. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, pp. 21-
35.
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Introdução
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Dentre essas características, adesista e liberal, dos debates trazidos por Carneiro da
Cunha, destacam-se vários momentos como na defesa da propagação da instrução para o
povo, instrução para os ingênuos após a Lei do Ventre Livre, instrução destinada aos
libertos após o fim da escravidão, o ideário do Ensino Livre, criação de aulas noturnas
para o público adulto trabalhador.
1. Barão de Abiahy: trajetória intelectual e política
Silvino Elvídio Carneiro da Cunha nasceu em 31 de agosto de 1831. Faleceu em 8
de abril de 1892 a bordo de um vapor próximo ao litoral recifense. Foi presidente da
província paraibana (1874 -1875) e das províncias do Rio Grande do Norte (1870-1871),
Alagoas (1873) e Maranhão (1873). Ingressou no Partido Conservador, fundado por sua
família, elegendo-se deputado provincial para as legislaturas de 1856-1857 e de 1862. Era
membro do Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco. Em 1868 assumiu o cargo de
diretor de Instrução Pública do Lyceu Parahybano - instituição de ensino secundário que
desempenhou um papel fundamental na formação da intelectualidade na província
paraibana. (FERRONATO, 2012).
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146
Sobre a padronização dos pesos e medidas, coube a Carneiro da Cunha durante sua presidência na
província paraibana implementar a padronização e disso surgiu o Movimento de Quebra Quilos que lutava
contra a implementação do decreto imperial. Foi durante o governo de Silvino Elvídio Carneiro da Cunha na
presidência da Província da Parahyba do Norte (1874 - 1876) que a revolta dos quebra-quilos deflagrou.
Sobre a forma como o presidente atuou e como os periódicos relataram estes acontecimentos ver dissertação
de mestrado de Costa (2017).
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m tá or qu os ons rv or s op p l― n u r no po r os ovos qu s o s
r orm s pos t s m s u n nho p lo P rt o L r l‖ (NABUCO 884 p 39)
A lei do Ventre Livre de 1871, por exemplo, de atuação reformista, ainda mais em
assunto ligado às elites agrárias, sobretudo conservadora, levou à progressiva perda de
legitimidade política, contribuindo ainda mais para a fissura dos partidos, iniciada na
década de 1860. Para alguns, ela foi um reflexo do caráter abolicionista do reinado de
Dom Pedro II. Já para outros, foi uma forma encontrada pelo Império para agradar os
abolicionistas e garantir segurança aos proprietários de escravos por pelo menos uma
geração. (COSTA, 2017).
Por isso, chama a atenção a relação feita por Carneiro da Cunha, então presidente
da província alagoana, sobre a instrução através de aula noturnas destinadas aos ingênuos
após a promulgação da Lei do Ventre Livre na província de Alagoas. Percebe-se o caráter
adesista em seu pensamento educacional. Para ele,
As aulas nocturnas por toda parte têm produzido tão benéficos resultados, que
dispenso-m ‘ n r r-vos tão importante melhoramento. Ellas têm até sido
inauguradas com enthusiasmo. Com efeito, esta generosa idéa virá preencher
uma grande lacuna no ensino primário, e principalmente depois da reforma do
estado servil. (PROVÍNCIA DAS ALAGOAS, Relatório, 1872, p. 23).
Na fala do presidente, observa-se que a educação noturna não era tida como um
direito, mas sim, como um favor, ou ato de caridade dos seus idealizadores. Haveria uma
demanda de libertos sem instrução e as aulas noturnas entrariam como alternativa para
essa parcela da população associada ao processo de civilização dessas pessoas. Carneiro da
Cunha afirmou que os órgãos de imprensa divulgaram essas notícias a fim de propagar
suas ações diante da Lei do Ventre Livre:
Tenho a satisfação de communicar-vos (e será esta a chave do presente artigo)
que a provincia de Alagôas, acompanhando o sentimento geral do paiz acerca da
civilisadora lei da emancipação do estado servil, manifestou-se pelos órgãos da
imprensa, por algumas de suas primeiras corporações, e diversos funccionarios
públicos, de modo superior à todo elogio. (PROVÍNCIA DAS ALAGOAS,
Relatório, 1872, p.7).
Uma leitura superficial da citação, poderia levar o leitor a pensar que a postura de
Carneiro da Cunha era de defesa ao fim da escravidão e que estava preocupado com o que
seria dos filhos dessa população e assim pensou uma proposta de instrução a partir de
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aulas noturnas e construção de uma escola destinada à formação de primeiras letras para os
ingênuos, os filhos dos escravizados beneficiados com a Lei do Ventre Livre.
Entretanto, se tomarmos essa citação como reflexo das ideias sobre a escravidão e
seu fim que circulava, entre a elite conservadora ou entre as pessoas que integravam em
grupos de movimento abolicionistas, o que vemos na postura de Carneiro da Cunha
evidencia o paradoxo da sociedade escravista do oitocentos que esbarrava na relação entre
o fim da escravidão e as razões morais, religiosas e humanitárias, como podemos perceber
na citação a seguir:
A lei n. 2.040 de 28 de Setembro do anno próximo passado, satisfazendo á uma
das vivas e ardentes aspirações do paiz, já em relação aos sentimentos elevados
e generosos dos brasileiros, e já em relação ao espirito do século, que não tolera
a perpetuidade da escravidão á par do christianismo, vein pôr em contribuição a
prudencia e sabedoria do governo, a abnegação e patriotismo do paiz. A
prudencia e sabedoria do governo; porque é preciso não despertar de qualquer
modo da parte dos escravos outros sentimentos, que não sejam de muito amor e
de muita obediência á seus senhores. A abnegação e patriotismo do paiz; porque
é preciso que de qualquer modo não seja perturbada a obra muito gloriosa da
regeneração social, embaraçando-se os seus benéficos effeitos. Sendo a idéa
capital desta lei a emancipação do ventre, as vistas do governo e do paiz devem
volver-se para a geração nascente, preparando-lh st l m ntos ‘ u o
(PROVÍNCIA DAS ALAGOAS, Relatório, 1872, p.5).
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Pelo menos, no que tange a instrução dos filhos desses escravizados, podemos
inferir que locais como os que fora pensado por Carneiro da Cunha para educação dos
libertos do Ventre Livre, seriam uma das estratégias utilizadas para a instrução dessa
população.
Compenetrado deste elevado pensamento, e interpretando fielmente as vistas
magnanimas do Governo Imperial, tomei a resolução de reunir no dia 2 de
Dezembro proximo findo neste paço o maior numero de cidadãos de todas as
opiniões politicas, afim de, entre outros nobres commettimentos, despertal-os no
da construção de asylos apropriados á criação e educação dos libertos da nova
lei. Para isto nomeei uma comissão de cinco membros em cada comarca,
encarregada de organisar a respectiva associação, que deverá conter um duplo
fim: Emancipação dos escravos, criação e educação dos libertos. (PROVÍNCIA
DAS ALAGOAS, Relatório, 1872, p.5).
O gabinete Rio Branco efetuou muitas outras reformas além da Lei do Ventre
Livre, tais como: reforma judiciária, reforma educacional, introdução do sistema métrico
que padronizou pesos e medidas147; expansão da rede ferroviária, etc. Essas duas últimas
tiveram participação efetiva do Carneiro da Cunha, na década de 1870. (COSTA, 2017).
O debate em torno da liberdade de ensino, (ou ensino livre) estava na pauta do dia
em todo Império. Instituída em 1879 pelo ministro Leôncio de Carvalho, essa reforma
educacional definia a instrução primária como um ensino obrigatório e livre. Carneiro da
Cunha expôs, anos antes do decreto, seu posicionamento contrário ao ensino livre:
Reconheço que nos primeiros dias de nossa existência política seria um erro, até
um perigo, o ensino livre, quando os princípios de ordem e liberdade, o amor ao
trabalho, e o incentivo pelos grandes commettimentos não se achavam ainda
bem radicados no espirito público, podendo ser facilmente abalado pelas falsas e
perigosas douctrinas. (PARAHYBA DO NORTE, Província da, Relatório, 1874,
p.27).
Sua postura contra esta reforma pôde ser identificada também quando presidiu a
província de Rio Grande do Norte, em 1870:
Dever-se-há estabelecer a liberdade do ensino? É minha opinião, que em nosso
paiz actualmente não é conveniente, ou antes é ella susceptível de perigos
sociaes. Conquanto, saiba que o coração do menino se forma primeiramente no
seio da família, dos conselhos, dos exemplos, das virtudes de seus pais, força é
confessar que ou pela fraqueza da infância, ou pela força do ensino, póde
modificar-se, senão degenerar. (RIO GRANDE DO NORTE, Província do.
Relatório, 1870, p. 28. Grifos nossos).
147
O termo ‘Silvinista’ remete-se à Silvino Carneiro da Cunha, o barão de Abiahy.
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A preocupação naquele momento estava relacionada com o modo por meio do qual
esse ensino livre transmitiria doutrinas para a construção de um modelo de sociedade. O
Estado não apresentava as devidas condições de sustentar tal reforma, pois exigia uma
prática de liberdade num país marcado pela centralização, impedindo a implementação de
uma ordem liberal. Mas, anos depois, em 1874, Carneiro da Cunha mudou o discurso
acerca do ensino livre passando a ser amplamente defendido:
Hoje, porém, que todos os partidos, todas as opiniões disputam entre si a
primazia no amor por estes bons princípios, hoje que todos, sem excepção de
classes e condições, procuram illustrar-se para melhor servirem à causa
publica: será um grande erro não deixar largar ás nossas aspirações. Quem
souber ensinar que ensine; quem quiser aprender que procure o seu melhor
preceptor. O Governo dê a instrucção pública, á que é obrigado: mas
aprenda cada um onde quiser, e com quem julgar mais apto. O correctivo
do mau professor estará no abandono dos discípulos. (PARAHYBA DO
NORTE, Província da, Relatório, 1874, p.27. Grifos nossos).
A mudança de opinião de Carneiro da Cunha pode ser compreendida pelo fato de
que o dever de ofertar o ensino e de frequentá-lo são transferidos para a sociedade, a
iniciativa educacional não é mais do Estado, o que torna um discurso característico dos
grupos liberais do século XIX. O ensino livre, seria, portanto, a expressão ideológica de
um liberalismo formal nas elites intelectuais e políticas daquele período.
A presença de Carneiro da Cunha (que meses mais tarde, em agosto daquele ano,
receberia o título de Barão de Abiahy), enquanto 1º vice-presidente da província,
substituiu a presença do próprio presidente de província, torna explicita seus mecanismos
de estratégias em manter sua influência e se perpetuar no poder:
[...] Para o dia seguinte (2ª feira) fora convidado por boletins o público
parahybano para a festa promovida pela redação do Despertador. A copiosa
chuva que cahio no correr do dia mencionado, não permitiu o sahimento da
passeata realisando-se porém no dia imediato (3ª feira). O comendador Silvino,
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em seu palacete, tratando igualmente da grande questão, disse que ella não era
de nenhum dos partidos políticos, e lembrou o Visconde de rio Branco e
conselheiro Dantas, Saraiva e João Alfredo, cooperadores fortes da realização da
questão do elemento servil. (ARAUTO PARAHYBANO, 1888).
Considera-se, assim, que o controle político acaba refletindo, nesse sentido, nas
honras que o poder imperial, reconhecendo a predomínio sobre a província, concedia e
reforçava tal poderio ao mesmo tempo legitimava a própria monarquia, reforçando suas
instituições, sujeitos, valores e revigorando o seu discurso.
148
Graduado em História pela Faculdade Integrada de Patos (FIP). Mestrando pelo Programa de Pós-
Graduação em História da Universidade Federal de Campina Grande (PPGH/UFCG) onde desenvolve a
pesquisa intitulada “Por Deus e pela Pátria”: por uma educação confessional e civilizadora na cidade de
Patos-PB (1937-1945), sob a orientação do Prof. Dr. Ramsés Nunes e Silva.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atuação política de Silvino Elvídio Carneiro da Cunha coincidiu no mesmo
período da radicalização do reformismo da segunda metade do século XIX. O panorama
político liberal encontrava-se marcado pelo brado da urgência de reformas e neste contexto
as ideias do sujeito aqui debruçado começaram também a se adequar. Na medida em que a
própria campanha abolicionista tomava corpo, Carneiro da Cunha dilatou seu reformismo.
Ainda que sua imagem se associasse parcialmente ao seu esforço de auto definição,
ao longo das últimas décadas do oitocentos de fato ele se notabilizou como aguerrido
adesista. Suas propostas foram sendo buriladas em seu conjunto de ideias, conforme o
intelectual e o político amadureciam.
REFERÊNCIAS
RÉMOND, René. Por uma história política. Rio de Janeiro: FGV, 2003.
SILVA, Lucian Souza da. Nada mais sublime que a liberdade: O processo de abolição
da escravidão na Parahyba do Norte (1870-1888). Dissertação de Mestrado, PPGH, UFPB,
2016.
Fontes
presidente, exm. sr.dr. Silvino Elvídio Carneiro da Cunha. Parahyba, Typ. do Jornal da
Parahyba, 1874. Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/601/ Acesso em 12/09/2015.
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RESUMO: O presente trabalho procura fazer uma análise das práticas educativas do
Ginásio Diocesano, localizado na cidade de Patos (PB) entre os anos de 1930-1945. O
Ginásio Diocesano, era uma instituição escolar católica, dirigida pela Diocese da Paraíba,
a qual destinava-se a pedagogização de meninos, em parte, oriundo da elite agrária
regional da cidade. Ao problematizar essas questões, acreditamos estar contribuindo para o
entendimento das discussões que se preocupam em entender o sistema de educação
desenvolvida na Paraíba e na cidade de Patos, entre os anos 30-40, bem como,
contribuiremos para os debates que se dedicam em problematizar os modelos de educação
diocesana desenvolvida no estado paraibano. Assim, intenta-se problematizar através de
uma análise das práticas escolares desenvolvida por essa instituição de ensino e sua
relação com o poder clerical. Buscando compreender através das fontes documentais
práticas que se desenvolveram para disciplinar os meninos através do que acreditavam ser
uma moral crista. Nesse contexto, teremos como suporte metodológico às análises e
práticas apresentadas por Dominique Julia (2001), que pensa o campo escolar como
produtor de cultura. Tendo em vista esses aspectos, foi possível observar o quanto o
Ginásio Diocesano, financiado pelo poder estatal, pelo episcopado paraibano e pela elite
patoense, fez parte de um jogo de poder e interesses, particularmente da Igreja Católica e
do estado paraibano, que durante esses anos, lutou para configurar uma nova roupagem a
sociedade brasileira vindoura, consolidada pela moral do catolicismo e dos sentidos
patrióticos.
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Para sentidos práticos e, com o intuito de não cansar o leitor, buscarei usar essas abreviações para se
referir ao Ginásio Diocesano de Patos.
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Primeiras Palavras...
150
Movimento cívico criado no período do Estado Novo pelo Decreto-Lei nº 2.072, de 2 de março de 1940,
que o qualificava como uma corporação formada pela juventude escolar de todo o país, com a finalidade
de prestar culto à pátria.
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Na visão de Ana Palmira Casimiro (2010), esse saber, pode ser considerado a
primeira medida educacional existente no Brasil, trazida pelas ordens jesuítas,
fundamentada pela doutrina de Santo Inácio de Loyola, que se instalaram no Brasil
durante séculos e construíram uma base educacional. Assim, esse sistema de educação, foi
durante muito tempo uma das principais bases educacionais e que moveram a política
educacional da história brasileira. Para, Sérgio Junqueira e Valéria Andrade Leal (2017), a
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Assim, sustentada na filosofia francesa por meio das ideias de liberdade, que
defendia o sistema educacional, nos estabelecimentos públicos, leigo, legitimada pelo
saberes científicos, que não tivessem liames com as propostas ligadas a fé, como tinha
feito em outrora. Assim, a educação confessional cristã, antes valorizada, passaria aos
cuidados de pessoas físicas ou por parte jurídica, e não mais aos saberes públicos, como
nos mostra Valéria Leal (2017, p. 338):
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modeladora do sujeito e do espaço social. Sobre esse contexto nos afirma Dermeval
Saviani (2004, p. 16)
Isto posto, podemos entender as falas de Antônio Cunha (2010, p. 196) ao afirmar
que o retorno da religião às escolas públicas foi uma espécie de corolário dessa pedagogia
preventiva de carácter político- ideológico. E assim, essa educação de modelo
confessional, teve uma resistência duradoura, pois em muitos casos, o próprio governo
usava desse lugar como espaço de veículo para suas propagações políticas e reafirmações
de suas ideologias. Dessa forma, a hegemonia católica se reafirmava sobre esses discursos.
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Durante o Estado Novo, valorou-se a formação cristã dos jovens e afirmava ser este
o complemento para educação que visava o patriotismo e a formação da brasilidade,
reestabelecendo um elo entre Igreja, Educação e Estado, que foi inviabilizado com o
advento da República no ano de 1889. Mas que durante os anos 30 o governo entendeu
que a Igreja Católica seria a última opção pela qual o governo deveria criar
desentendimentos, pois essa ainda compreendia uma grande força hegemônica no país.
Sua aliança tornou-se fundamental para seus interesses pessoais, e, sobretudo, políticos.
152
Foi o primeiro bispo e arcebispo da Paraíba, entre os anos de 1914-1935, e foi o mentor do Ginásio
Dicesano de Patos, inaugrado em sua homegam.
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Por meio dessa fala, podemos perceber como o Ginásio Diocesano da cidade de
Patos, durante os anos 30 e 40, pôde colocar em prática sua missão educativa. Projetada
para os preceitos da instrução religiosa e patriótica. Assim como tinha nos alertado o D.
Adauto153 e seu modelo educador. O Ginásio Diocesano de Patos, tinha como princípio
orm r s pl n r os ―jov ns mo os‖ Esp lm nt n t or de militância jovem.
153
Os ― n ênuos‖ z r sp to os lhos/ s s m s t v s p rt r L o V ntr L vr 87 A
t or ― s r vo/ t vo‖ por su v z r r -se aqueles/as que viviam subjugados sob o regime da
s r v o; os ―l vr s‖ r m os qu n s m n on o os port nto n o r m on on os o
tr lho s r vo; os ―l rtos/ orro‖ r m os qu n s m omo s ravos e viveram por um período de suas
vidas nessa condição, mas posteriormente conquistaram a sua liberdade, sendo um dos instrumentos a
alforria;
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Portanto, segundo a Igreja, havia uma necessidade de educar esses sujeitos a partir
de suas sensibilidades e subjetividades, para que esses pudessem perceber o que seria
viável à condução de sua moralidade.
Por meio desse dialogo, postulados nos discursos do D. Adauto, em uma de suas
cartas pastorais, é possível perceber que ele cria uma teoria de justificação para a
internalização e aceitação dos saberes e de seus ensinamentos religiosos. Justificando sua
importância a partir de princípios moralizantes, e de uma educação dos sentidos, que, por
consequência, iria refletir na pátria ideal: religiosa e patriótica.
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Ter como objetivo analisar esta escola Diocesana, de educação masculina, privada
ligada à Cúria Metropolitana da Paraíba, entre os anos 30-40, na cidade de Patos, foi de
fundamental importância para que se construir algumas problemas acerca da educação dos
anos trintas, e sobre o modelo de educação diocesano na cidade de Patos, bem como, sua
forma de educar o masculino daquela região. Nos permitindo perceber o quanto o Ginásio
Diocesano, custeado pelo Estado da Paraíba e pela Governo Federal, e, dirigido pela Igreja
Católica, e a elite eclesiástica, fez parte de um jogo de relação de poderes. No intuito de
moldar um novo projeto, diante da necessidade do Estado, que tinha em sua finalidade
criar um corpo educado a partir dos sentidos patrióticos e religiosos. Acreditando ser,
ss s n t vos sp tos mport nt s p r ―s lv o‖ o hom m mo rno qu
segundo os ditames religiosos e políticos, encontravam-se perturbados pelo advento do
mundo moderno do século XX.
Referências
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RESUMO:
O construto tem como proposta apresentar uma discussão em torno da escolarização de
meninos negros na Escola Central de Maceió no Império. A referida instituição foi
fundada em 22 de abril de 1887, por iniciativa da Sociedade Libertadora Alagoana. A sua
criação foi um dos desdobramentos do projeto de lei apresentado na Câmara dos
Deputados em 12 de maio de 1871, sendo promulgada posteriormente em 28 de setembro
do mesmo ano, como a Lei nº 2. 040 nominada de Lei do Ventre Livre. O escopo dessa
instituição, sob a organização dos intelectuais abolicionistas da Sociedade, era o de
escolarizar os meninos negros nascidos livres do ventre escravo. A partir disto, os
objetivos do texto incide em: descrever o cenário histórico em que a Escola Central de
Maceió foi gestada; traçar os interesses político-ideológicos das elites que justificaram a
necessidade de criação da instituição; reconstruir a partir dos indícios alguns traços da
cultura escolar da Escola Central de Maceió; e por fim problematizar o papel da instituição
na formação profissional de meninos negros. Definidos os objetivos, considera-se que a
pertinência deste estudo reside em dar visibilidade a um projeto educacional pensado para
a população negra livre como um meio de viabilizar o seu acesso ao universo elementar
das letras, mas, sobretudo ao aprendizado de um ofício. Somado a isto, a discussão
contribuirá para ratificar a tese de que a população negra livre, conseguiu lograr os bancos
escolares das instituições de ensino e, assim continuar desmitificando a falácia de que na
história da educação brasileira e, em especial na história da educação alagoana não houve
casos de sujeitos negros que dominaram a escrita e leitura dentro dos seus limites. As
oficinas ofertadas eram: marcenaria, sapataria, carpintaria, alfaiataria e tipografia. Os
sujeitos ali matriculados eram submetidos ao regime de externato ou internato. Nas
oficinas era ministrado os saberes de Física e Botânica com aplicação na produção de
artefatos fabris que eram confeccionados pelos meninos e revertido em verbas para a
escola. Logo, entende-se que a finalidade pedagógica era iniciar precocemente esses
meninos no trabalho a fim de garantir o controle social sobre eles Entre 1893 a 1894 a
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Escola Central fecha as suas portas, pois nesse período o governo provincial tinha a
pretensão de unificá-la com mais duas instituições, o Liceu de Artes e Ofícios e o Colégio
Orfanológico, como meio de reter os gastos públicos.
Considerações Iniciais
Con orm Const tu o 8 4 ― nstru o pr már r tu t to os os
os‖ Fun m nt nos ideais do liberalismo europeu que apregoava que todos os
homens eram livres e [teoricamente] iguais, isto não foi o suficiente para que a legislação
considerasse os negros escravos como cidadãos e, assim vedando a estes/as o direito de
acesso ao universo letrado. O impedimento legal do acesso às letras pelos sujeitos de cor
se agravava mais, uma vez que na província das Alagoas, por exemplo, a população era
composta majoritariamente por negros (pretos, pardos e mestiços). Entretanto, a
participação desse grupo étnico na instrução pública era ínfima se comparada aos de etnia
branca.
É nestes termos que o presente texto irá esboçar nas próximas linhas que segue
algumas considerações sobre uma experiência escolar ocorrida na província das Alagoas
no Império, que evidencia o acessa da população negra aos bancos escolares. Tal
experiência ocorreu no contexto do abolicionismo, movimento este que tinha como escopo
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o fim gradual do sistema escravagista. Nas Alagoas, tivemos o caso da Escola Central de
Maceió, fundada em 22 de abril de 1887, por iniciativa da Sociedade Libertadora
Alagoana, e que abrigou meninos negros nascidos livres após a promulgação da Lei nº 2.
040, nominada de Lei do Ventre Livre, a fim de iniciá-los no aprendizado de um ofício.
Chiavenato (1980, p. 215) ao discutir sobre o abolicionismo interpreta que por ele
ter sido um movimento que teve suas primeiras manifestações vindas da classe abastada,
ons qu nt m nt o m r o p los nt r ss s l ss ―pro ur n o n tur lm nt
maiores vantagens nas mudanças estruturais do sistema trabalho, e não se preocupando
om o st no os t lh or s s r vos‖
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Outro intelectual que debateu sobre a escravidão foi Rui Barbosa. Para o jurista
baiano, o trabalho livre iria civilizar e industrializar o país, ou seja, este seria um dos
meios de o Brasil se tornar uma nação moderna, pois a escravidão era entendida como uma
espécie de chaga, assim como um estorvo para a civilização. Maria Cristina Machado
(2000, p. 35-36) om nt qu p r Ru B r os ―o tr lho l vr s n r um s r
de mudanças necessárias ao progresso do país, como a viação férrea, colonização,
n ústr ntr outr s‖ Como mostra a fala do presidente da província alagoana, Antonio
C o S lv Pr o m 888: ― v n ê or no sp r to pu l o n ss
apagar da face do paiz a feia macula do captiveiro, avessa á moral e á civilização do tempo
atual, por const tu r nsup ráv l o st ulo nosso pro r sso nt m nto‖ (Diário das
Alagoas, 20 de abril de 1888, n. 92, ano XXXI, p. 1).
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E foi nesse contexto de jogo de interesses de classes que a abolição tornava-se uma
realidade distante para os cativos negros, em que a liberdade esteve mais no campo das
ideias, com o movimento abolicionista, do que necessariamente a sua efetivação ante a
resistência dos senhores de engenho que se deixavam cegar por seu egoísmo por riquezas e
terras. No transcorrer das tensões entre a elite abolicionista e a elite agrária, foi
apresentado um projeto de lei na Câmara dos Deputados em 12 de maio de 1871, sendo
promulgada posteriormente em 28 de setembro do mesmo ano, como a Lei nº 2. 040
nominada de Lei do Ventre Livre. A dita lei foi uma forma gradual de se lograr o fim do
sistema escravista. Para alguns historiadores da escravidão a referia lei não trouxe
mudanças e efeitos práticos na vida dos escravos e nem mesmo das crianças que nasceram
livres.
154
O presente artigo é fruto de uma pesquisa de mestrado em andamento no Programa de Pós- graduação
da UFCG.
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obrigadas a criar e tratar os menores, além de constituir para cada menor um pecúlio
(poupança).
E foi a partir desse dispositivo legal que foi criada em 22 de abril de 1887, a Escola
Central de Maceió. A referida instituição foi uma iniciativa da Sociedade Libertadora
Alagoana, fundada em 28 de setembro de 1881, dez anos após a promulgação da Lei do
Ventre Livre de 1871. A Sociedade tinha como alguns de seus membros professores de
primeiras letras e ensino secundário, como Francisco de Paula Leite e Oiticica, Francisco
Domingues da Silva e Francisco Dias Cabral, por exemplo. O propósito da Sociedade,
como é possível observar no discurso de sua fundação publicado na imprensa, era o de
promover a libertação dos escravos de forma pacífica, de modo a não comprometer os
interesses da elite latifundiária (Gazeta de Noticias, 04 de outubro de 1881, ano III, n.
214). Para os membros da entidade a abolição traria melhorias para a vida econômica da
província, ou melhor dizendo, a extinção da escravidão era uma necessidade da sociedade
em geral (SANTOS, 2006). Sendo assim, a Escola Central tinha o propósito de atender o
que prescrevia a referida lei, a saber: instruir crianças negras.
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Escola Central era mantida pela Sociedade Libertadora Alagoana com verba proveniente
da extração de loteria, concedida pelo Governo da Província e pela venda de artefatos
fabricados pelos próprios alunos, além de donativos doados pelas elites. Segundo Leite e
Oiticica, para a sua fundação, a Escola Central contou com a quantia de 24:000$00 (vinte
e quatro contos de réis) provenientes das loterias concedidas pela Assembleia Provincial.
Tal quantia, segundo o mesmo, garantiu a montagem do internato, das oficinas e das
demais despesas da instituição. E ressalta que o estabelecimento não teve outro recurso
para a sua instalação.
Com a Escola Central os seus fundadores tinham a intenção de criar outras escolas
em cidades da província alagoana, cuja matriz seria a capital Maceió, por isso, a
denominação de Escola Central, como revela a fala de Francisco de Paula Leite e Oiticica,
membro da Sociedade, ao escrever em 1890 para a Gazeta de Noticias do Rio de Janeiro,
sol t n o uxíl o p r m nut n o nst tu o: ―O pr prio nome do estabelecimento
mostra que elle obedecia ao plano de fundação de outras escolas nos differentes
mun p os prov n hoj Est o t n o ntro op r s s C p t l‖
(Gutenberg de 08 de junho de 1890, ano IX, n. 122, p.1). Mas isso não chegou a se
concretizar. A causa da não realização desse propósito possivelmente foi devido ao alto
custo de sua manutenção. Muitas das intuições fundadas para atender às crianças
desamparadas sobreviviam por pouco tempo em razão da escassez de recursos financeiros.
Normalmente as instituições filantrópicas recebiam dinheiro do governo provincial por
meio da arrecadação de loterias, das elites e dos sócios das entidades fundadoras.
desvalidos que não tem quem se incumba de sua educação; como externos todos que
necessitam de instrucção litteraria ou profissional, qualquer que seja a sua idade, estado ou
n on l ‖ (p 68) No r l t r o pr s nt provín 888 onst qu
escola ofertava aulas de primeiras letras, desenho aplicado às artes, música e as oficinas de
sapataria, tipografia, tornearia, alfaiataria, marcenaria, tamanqueiro e bauleiro (fabricante
de baús). As oficinas de marcenaria produziam as mobílias para as instituições públicas de
ns no omo n orm L t Ot : ―As mo l s p r s s ol s pu l s o Est o
estão ultimamente sendo feitas nas officinas da escola, onde os alumnos trabalham com
p r o no r o m l s hus p r t m nt s m lh nt às m l s n l z s‖
(Gutenberg de 08 de junho de 1890, ano IX, n. 122, p.1). Observa-se que a instituição
estava aplicando o que permitia a Lei do Ventre Livre, ou seja, a utilização gratuita do
trabalho do menor.
Quanto aos alunos, têm-se poucas notícias, apenas uma breve nota jornalística
m n on um l s or t r um po s m hom n m Tr nt s: ―O m nor Jo qu m
C s m ro Es ol C ntr l r tou um on t po s ‖ (Gutenberg, 23 de abril de 1890).
Era frequente a participação dos alunos da Escola Central nas festividades cívicas e da
própria instituição, nas quais apresentava-se a Banda de música dos alunos, cujo professor
era Francisco Domingues, como publicou o jornal Gutenberg:
A‟s hor s m nh o o corrente os alumnos da escola central,
acompanhados de seu digno e encançavel director: professor Francisco
Domingues, tendo á frente a banda de musica dos alumnos galantemente
fardados dirigiram-se a matriz desta capital onde assistiram á uma missa em
acção de graça pelo 3º anniversario da fundação da Escola. (Gutenberg, Maceió,
23 de abril de 1890, ano IX, n. 85, p. / não identificada).
Entre 1893 e 1894 a Escola Central fecha as portas. Nesse período, o governo
alagoano tinha a pretensão de unificá-la com mais duas instituições, o Liceu de Artes e
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Considerações Finais
Em linhas gerais, a Escola Central foi criada a fim de profissionalizar os meninos
negros nascidos do ventre cativo a partir da promulgação da Lei do Ventre Livre de 1871.
Ao que tudo indica o propósito principal da instituição havia sido alcançado, o que pode
ter causado a falta de interesse em dar prosseguimento com as suas atividades, uma vez
que após a abolição dos escravos em 1888, as autoridades públicas passaram a cogitar o
seu fechamento.
Referências Bibliográficas
ALAGOAS, Estado de. Almanaque do Estado de Alagoas de 1891, ano XX.
ALAGOAS, Província das. Diário das Alagoas, 20 de abril de 1888, n. 92, ano XXXI, p.
1.
ALAGOAS, Província das. Gazeta de Noticias, 04 de outubro de 1881, ano III, n. 214.
ALAGOAS, Estado de. Gutenberg, Maceió, 23 de abril de 1890, ano IX, n. 85, p. / não
identificada.
ALAGOAS, Província das. Gutenberg, 1 de junho de 1887, p.1.
ALAGOAS, Estado de. Gutenberg de 08 de junho de 1890, ano IX, n. 122, p.1.
ALAGOAS, Província das. Jornal o Orbe, de 19 de julho de 1885.
ALAGOAS, Estado de. Relatório do Presidente de Estado de Alagoas de 1893.
CHIAVENATO, Julio José. O Negro no Brasil: da senzala à Guerra do Paraguai. 2 ed.
São Paulo: Brasiliense, 1980.
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454
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RESUMO
155
Patricia Isabella Guimarães Azevedo Silva, Graduada em História, com especialização em História do
Brasil e Paraíba, mestranda no programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal da
Paraíba. Matricula: 201911230 e-mail: patriciaisabella@yahoo.com.br
156
O ato de ler não se resume apenas ao suporte material. Roger Chartier destaca que existe um conjunto
de dispositivos que possibilitam a prática de leitura – protocolos de leitura. Em sua opinião “o protocolo de
leitura define quais devem ser a interpretação correta e o uso adequado do texto, ao mesmo tempo em
que esboça seu leitor ideal” (CHARTIER, 1996, p. 20).
455
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INTRODUÇÃO
A história das culturas escolares e religiosas se interlaçam como uma trama de fios
quando são estudadas as Instituições educacionais de cunho confessional. O estudo da
História da Educação, sobretudo a Educação Confessional, possibilita uma análise de
diversos processos políticos e sociais. Ao observarmos a história da escolarização do
Brasil, percebemos que esta é marcada por diversos momentos, porém foi o início do
século XX, um tempo em que as mudanças sociais, políticas e curriculares influenciavam
diretamente a cultura escolar das instituições de ensino e suas relações políticas com a
República. Considerando a história da educação uma área de bastante abrangência e que se
vem crescendo desde 1990 (NOSELLA 2005), sendo um campo de saber que abre espaços
para o estudo de aspectos singulares na vivência escolar, existindo uma gama de aspectos
a serem investigados.
Instrução Cristã, entre 1930-1950. A cidade atingia seu auge na economia algodoeira nos
anos de 1930, sendo assim, teria condições de sustentar um colégio da Instituição Damas
da Instrução Cristã, fato que possibilitou as matriculas das filhas da elite algodoeira de
Campina Grande – PB.
Mesmo com sua importância para cidade ainda são escassos os registros
historiográficos sobre a cultura escolar dessa instituição confessional de ensino, fazendo-
se necessária a investigação de suas práticas culturais. Tendo conhecimento do grande
acervo documental presente no Colégio Imaculada Conceição, por trabalhar no local como
professora, tive acesso a alguns documentos que retratam a suas práticas educativas nos
anos de 1953 e 1959. O primeiro é uma caderneta individual, onde encontram-se presentes
as regras que deveriam ser cumpridas por parte da aluna e da respectiva família, como
também as notas de cada disciplina da grade curricular e anotações da professora. O
segundo é uma livro de dispensas médicas para aulas de Educação Física Escolar, onde
encontram-se registrados os motivos pelos quais as alunas não poderiam participar de tais
aulas.
457
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Diante disso, o estudo das Instituições Confessionais, nos permite entender melhor
como se deu aquele modelo de processo educacional no Brasil. A escola confessional de
base católica teve seu início com as ordens religiosas, podendo citar em primeiro lugar,
por exemplo, os jesuítas e em seguida, outras ordens como as Irmãs do Sagrado Coração
de Jesus, Damas da Instrução Cristã, Irmãos Maristas, etc,. É importante pensar que tais
instituições à luz da historiografia ainda carecem de investigação, em relação as suas
memórias e seus papéis na História da Educação do Brasil.
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para educar suas filhas, como contratar professores particulares, que ensinariam a essas
meninas no interior de suas casas, outra alternativa seria colocá-las em internatos. A
maioria desses eram mantidos pelas congregações católicas, que se estabeleceram desde a
metade do século XIX.
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Para a instalação do internato numa cidade, uma pesquisa de mercado foi realizada.
Prática e estratégia que se repetia, todas as vezes que se planejava uma Fundação de uma
Maison das Damas. Com isso, eram mensuradas as condições para que houvesse a
instalação de um colégio-internato em dada cidade. Para isso, a instituição ressaltava a
sustentabilidade das cidades, seu perfil urbano, centralidade, e dinamismo financeiro.
460
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pais haviam prosperado com a produção do algodão, como também filhas de ricos
comerciantes.
Com esses dois documentos dos anos 1953 e 1959, percebe-se parte do cenário
escolar e de como funcionava o colégio sob as lideranças confessionais que se sucederam
ao logo dos anos.
461
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Diante da análise desses dois documentos, percebemos que ainda existe um amplo
caminho a historicizar, pois como nos diz Manoel (1996), a implantação dos colégios
confessionais representava um projeto bem elaborado e em escala mundial, que buscava a
arrecadação de recursos financeiros, como também afastar os educandos das ideias
462
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modernas e do ensino leigo. O que, de certa forma, nos permite perceber a importância dos
estudos voltados para instituições escolares e em especial, quando se trata da história da
educação. Com isso, temos um vasto campo do saber a ser explorado, em sua cultura
escolar, lembrando que essa expressão cultura escolar tem sido usada como uma categoria
extensa, nos oferecendo um leque de possibilidades. Dominique Julia (2001) define
cultura escolar:
A cultura escolar não pode ser estudada sem a análise precisa das relações
conflituosas ou pacíficas que ela mantém, a cada período de sua história, com o
conjunto das culturas que lhes são contemporâneas: cultura religiosa, cultura
política ou cultura popular. Para ser breve, poder-se-ia descrever a cultura escolar
como um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a
inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses
conhecimentos e a incorporação desses comportamentos. (Julia, 2001, p.10-11).
REFERÊNCIAS
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: Artes de fazer. 13º ed. Tradução de
Ephraim Ferreira Alves - Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. São Paulo: Paz e Terra, 2014.
463
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_______. Vigiar e punir: nascimento da prisão, 4 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. In: Revista Brasileira de
História da Educação. Campinas/ SP: Autores Associados, nº1, jan. jun. 2001.
MANUSCRITOS
Caderneta individual da aluna Maria Oriêta – Ano letivo 1953 DO Colégio Imaculada
Conceição – Damas da Instrução Cristã.
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Esta narrativa tem por objetivo empreender uma reflexão acerca da relevância da Revista do Colégio
Diocesano Pio X, para a construção de uma cultura escolar na Paraíba, entre os anos de 1919 a 1954, período
em que tal periódico circulou, abordando, em suas páginas, assuntos de caráter científico, religioso
educativo, o papel da família na educação, a importância da educação religiosa na formação moral das
crianças e adolescentes, cobrança e preço das mensalidades, conselhos higiênicos, importância da saúde
bucal, a contribuição da cultura física e para o cultivo de um corpo são e vigoroso, o civismo como ideal
social. Esse impresso se destacou por abordar em suas páginas, a opinião de alunos, educadores, políticos,
médicos e intelectuais locais sobre diversos assuntos. Assim, levamos em consideração as contribuições do
aporte teórico-metodológico da Nova História Cultural, principalmente a partir das discussões feitas por
Michel Foucault, enfatizando o conceito de discurso. Outro conceito importante na condução da presente
escrita é o de cultura escolar elaborado por Dominique Juliá. Percebemos que a fonte analisada contribuiu
para a propagação dos projetos de educação idealizados pelo Colégio Diocesano Pio X, promovendo uma
cultura escolar, atuando na formação corporal e intelectual, disciplinado corpo e mentes e gestando uma
nova sensibilidade em relação ao cuidado/educação corporal e intelectual dos sujeitos.
O presente artigo tem por objetivo empreender uma reflexão acerca da relevância
da Revista do Colégio Diocesano Pio X, para a construção de uma cultura escolar na
Paraíba, entre os anos de 1919 a 1954, período em que tal periódico circulou, abordando,
em suas páginas, assuntos de caráter científico, religioso educativo, o papel da família na
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Através dos temas abordados em suas páginas, o Colégio Diocesano Pio X, forjou
sua identidade pedagógica – pautada na defesa de uma instituição de ensino que inspirava
o respeito; a organização; que atendia os objetivos da modernidade; civilizada; com
professores capacitados; com laboratórios equipados; apta para receber os filhos de parte
da elite política e econômica do Estado; que zelava pela disciplina e ordem; com uma
sólida formação intelectual e moral, religiosa e científica. Após sua criação o impresso
p ssou t r um ― nt nso tr ns to‖ tr v s de sua leitura é fácil perceber a quantidade de
escritores que nela expressaram suas ideias e concepções de pensamento, é possível
encontrar artigos escritos por médicos, religiosos, diretores, professores, alunos e ex-
alunos do próprio Colégio, textos de convidados de outros estados, homenagens prestadas
ao papa Pio X, a Dom Adauto, a Getúlio Vargas, aos Interventores do Estado (Argemiro
de Figueiredo e Ruy Carneiro), a membros da Igreja Católica, aos diretores do Colégio, a
―h r s n on s‖ omo Duqu de Caxias, Rui Barbosa, Tiradentes, dentre outros. No
p río o m pr o o p r o smo p o ― onst tu u-se em produção fundamental
p r v lor z o E u o por ons quên mpl o o pú l o l tor‖
(MARTINS, 2008, p. 322).
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O foco dos discursos publicados nas páginas da Revista do Colégio Diocesano Pio
X eram os leitores que formavam parte da elite paraibana, pessoas que tinham acesso à
leitura e condições materiais e financeiras, de adquirir, os exemplares do impresso. Tendo
sso m v st Ro r Ch rt r ( p 7) r or qu ―[ ] não existe nenhum texto
fora do suporte que dá a ler, que não há compreensão de um escrito, qualquer que ele seja,
qu n o p n s orm s tr v s s qu s l h o s u l tor‖ No rt o: O nosso
Collegio, publicado pela Revista do Colégio, em 1928, José Borges de Sallles, destaca
que:
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famílias parahybanas que veem os fructos odoríferos que seus filhos aqui
colhem (REVISTA DO COLÉGIO DIOCESANO PIO X, 1928, p. 41).
Foi com o objetivo de tornar publico, a imagem do Colégio, que a Revista do Pio
X, assumiu o papel de ser a responsável pelo marketing da instituição: divulgando seus
feitos, seus eventos, projetos pedagógicos, métodos disciplinares, estrutura, higiene e
disciplina. É bom deixar claro que o Colégio Diocesano Pio X no início do século XX, já
era um dos principais estabelecimentos de ensino do Estado, responsável pela educação
religiosa e cientifica de parte dos filhos das famílias mais tradicionais. Por isso, é
importante frisar que os discursos veiculados em suas páginas eram intencionados, ou seja,
eram produzidos com a intenção de chegar e sensibilizar membros da elite local,
responsáveis por manter financeiramente o Colégio, com a matrícula de seus filhos.
Este artigo é fruto de um trabalho de conclusão de curso em Licenciatura Plena em História.
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padronização sobre a quantidade de páginas de cada número. Nos exemplares que tive a
oportunidade de analisar, encontrei edições com apenas dez páginas, como o segundo,
publicado em setembro de 1910, e edições com uma quantidade de páginas bem maior.
Com o passar dos anos, a quantidade de páginas, textos, fotografias e anúncios
publicitários foi aumentando gradativamente. De início o preço da assinatura custava
5$000 reis o ano, 3$000 reis o semestre e 1$500 reis o trimestre. À medida que o número
de assinantes da Revista ia aumentando, a introdução de algumas mudanças passou a ser
necessária. A primeira e mais importante diz respeito ao design da capa. Em todos os
números passou-se a estampar a fachada principal do Colégio, como pode ser visto na
imagem 2, do ano VI, publicada em 15 de setembro de 1915, numero 2.
Com o passar dos anos outras novidades foram sendo inseridas. O avanço das
técnicas de impressão e a invenção da fotografia trouxe um colorido todo especial a
Revista do Colégio Diocesano Pio X. Novas cores foram ganhando espaço na capa e nas
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imagens publicadas. O preço também sofreu alterações. Em 1924 o leitor que desejasse
adquirir um exemplar teria que desembolsar a quantia de 6$000 reis pela assinatura anual,
7$000 reis por um número avulso e caso tivesse a intenção de utilizar uma de suas páginas
para divulgar algum de seus produtos, devia entrar em contato com a redação da mesma,
p lo s u nt n r o: ―C st Post l 33 P r hy o Nort ‖ (REVISTA DO COLÉGIO
DIOCESANO PIO X, 1924). A Revista do Pio X tornou-se um dos principais veículos de
publicidade do Estado. Em suas páginas eram anunciados quase todos os tipos de
produtos. Os mais frequentes, eram as propagandas de consultórios de advocacia,
medicina e odontologia, a exemplo, dos advogados Dr. Antônio Sá, com escritório
localizado na Rua Barão do Triunfo, 34, Residência na Rua Cardoso Vieira, 272; Dr.
Irineu Joffily, com escritório na Rua Philiphea; os médicos Dr. Adhemar Londres,
consultório e laboratório clínico na Rua Maciel Pinheiro, 148; Dr. Jayme Lima, com
residência na Avenida General Osório; Dentistas Dr. Elvídio A. Ramalho, com endereço
fixo na Rua Barão do Triunfo, 271, telefone, 258 e Dr. Francisco Ramalho, com
consultório na Avenida General Osório. O caráter mercadológico se tornou numa das
principais fontes de lucro da Revista. O fato de ser lida por pessoas com certo poder
aquisitivo, contribuía para que os anunciantes buscassem anunciar seus produtos em suas
páginas.
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Nas primeiras décadas do século XX, o gênero Revista foi um dos suportes que
ons u u m lhor omt mpl r prop n pu l ―a revista talvez tenha sido
dos mais efetivos, concentrando a força da propaganda e a evolução dinâmica da
publicidade, expressando- s m su s r pr s nt sm s s‖ (MARTINS 8 p
244). Tornou-se veiculo ideal para a divulgação e circulação de determinados produtos:
dando-se a divulgar, conhecer-se, consumir-se.
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Grande e no Estado, nas primeiras décadas do século XX. Meu interesse inicial era
identificar e catalogar fontes impressas (jornais e revistas), que abordassem em suas
páginas, assuntos relacionados ao ensino de educação física, higiene e práticas de
pedagogização do corpo. Foi numa dessas visitas a Biblioteca Átila da Almeida, que
acabei me deparando com alguns exemplares dessa impressa educacional. O encanto foi de
imediato. Ao folhar algumas de suas páginas, percebi que se tratava de uma fonte com
inestimável valor histórico. Em seguida, passei a pesquisar em outros arquivos do Estado,
os outros exemplares do impresso. Com o andamento da pesquisa, cheguei ao Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano - IHGP, localizado no centro de João Pessoa. No
acervo desse arquivo, abriga boa parte das edições do impresso em bom estado de
conservação e disponíveis para a consulta. O quadro 3, traz algumas informações a
respeito da fonte, como os anos de publicação, os números e acervos onde os exemplares
estão disponíveis para pesquisa.
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1910 2, 3 e 4 (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1911 5e6 (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1912 1, 2, 3, 4, 6 e 8. (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1913 1, 2, 6, 7 e 8. (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1914 2, 3, 4 e 8. (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
474
ISSN 21764514
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1916 8 (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
Biblioteca Átila de
Almeida, campina
Revista do Colégio 1917 - Grande.
Diocesano Pio X
Biblioteca Átila de
Almeida, campina
Grande e Instituto
Histórico e Geográfico
Revista do Colégio da Paraíba (IHGP). João
Diocesano Pio X Pessoa, Paraíba.
1918 9
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1919 4 e 5. (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1923 8 (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
(IHGP). João Pessoa,
Paraíba e Biblioteca
Revista do Colégio 1924 3 Átila de Almeida.
Diocesano Pio X Campina Grande.
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1926 6 (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1928 - (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1930/1931 10 (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1932 10 (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
475
ISSN 21764514
Biblioteca Átila de
Almeida. Campina
Revista do Colégio 1933 - Grande.
Diocesano Pio X
Biblioteca Átila de
Almeida. Campina
Revista do Colégio 1935 - Grande.
Diocesano Pio X
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1936 1 (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
Biblioteca Átila de
Almeida. Campina
Revista do Colégio 1937 - Grande.
Diocesano Pio X
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1938 2e3 (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
Revista do Colégio 1939 1 (IHGP). João Pessoa,
Diocesano Pio X Paraíba.
Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba
(IHGP). João Pessoa,
Paraíba e Biblioteca
Revista do Colégio 1941 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8 e 9. Átila de Almeida.
Diocesano Pio X Campina Grande.
Revista do Colégio
Diocesano Pio X (Edição
Comemorativa) 1954 - Acervo Eclesiástico da
Paraíba.
primeira edição fora publicada no mês de agosto de 1910, funcionado até 1954, em
tiragem mensal. No ano de 1954, foi lançada pela direção do Colégio Diocesano Pio X sua
última edição, organizada pelos Irmãos Maristas. O impresso educacional buscou abordar
em suas páginas os principais temas de interesse do Colégio, divulgando sua
―mo rn p ‖ (ANDRADE 4 p 44)
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também indagar-se a respeito das possíveis ligações que um determinado discurso mantém
com aquilo que o cerca. É preciso buscar informações detalhadas sobre a datação,
localização, autoria, o momento histórico em que foi produzido e dado a circular, as
circunstâncias em que veio a público, os interesses envolvidos, os objetivos, o público a
quem se destina. O contexto social, político, econômico e cultural de sua produção, as
relações sociais envolvidas. As relações e jogos de poder e saber que o autor de
determinado discurso esta/estava inserido. Quais os interesses envolvidos por traz da
publicação de tal discurso. Que jogos de poder e relações de força é possível identificar.
Esse tipo de dúvida e questionamento é importante tendo em vista que todo tipo de
dis urso qu mt o h t o l tor/r ptor ―vêm on on os p l s nst tu s
que os produziram e os guardaram ou acolheram. A produção do arquivo é também uma
atividade social e politicamente orientada. Nenhum discurso que chegou até nós foi
guar o no nt m nt por so‖ (ALBUQUERQUE JÚNIOR p 39) Por ss
e outros motivos é de fundamental importância que o historiador esteja atento para os
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inúmeros interesses e jogos de poder que existe por traz da publicação e circulação dos
discursos e impressos.
FONTES
REFERÊNCIAS
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CHARTIER, Roger. Do livro à leitura. Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade,
1996.
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Resumo: Na primeira metade do século XX, a cidade de Campina Grande-PB, passava por um cenário de
efervescência econômica, devido ao comercio do algodão. Nesta conjectura surgia a necessidade de
instituições educacionais que ofertassem a educação adequada aos filhos da elite campinense. Essa parcela
da população terá seus anseios atendidos com a fundação de instituições confessionais particulares na cidade.
Porém, aqueles que não advinham de famílias ricas, ainda necessitavam de espaços, que ofertassem os
cuidados e educação básica. É na década de 1940, com a morte de uma das figuras publicas da cidade o
médico pediatra João Moura, que detinha em vida, o desejo de fundar uma instituição que acolhesse e
educasse crianças em situação de carência e desvalia. Que a Casa da Criança Dr. João Moura iria nasce.
Fundada pelos esforços dos familiares do falecido médico, com o intuito de fazer concretizar o desejo que o
mesmo detinha em vida. A instituição que viria a ser tornar referência institucional na cidade é criada no ano
de 1948. Temos como proposta, debate as conjecturas políticas e sociais que levaram a fundação da
instituição Casa da criança Dr. João Moura, analisando os seus primeiros anos de funcionamento, no recorte
temporal dos anos de 1948 a 1964. Utilizando de uma metodologia qualitativa, analisando fontes
documentais e imagéticas advindas da massa documental da instituição, também utilizando da História Oral,
para obter as memórias de dois personagens ligados a História da instituição, a Irmã Creusa do Menino
Jesus, religiosa mais antiga residente na Casa da Criança, e o senhor Onildo Moura, irmão do médico João
Moura.
Palavras chaves: Casa da Criança Dr. João Moura, Infância Desvalida, História da
Educação.
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ISSN 21764514
partida a nossa caminhada nesta trajetória de pesquisa. Caminho este, que em alguns
momentos tem se mostrado dificultosos. Porém, também tem se mostrado belo e
revigorante. Ao ponto que percebemos em nossa pesquisa, que ao narrar a História da
Casa da Criança Dr. João Moura, também estamos construindo narrativas sobre as
memórias da História da Educação campinense e da infância desvalida e em situação de
carência, que era o publico acolhido pela instituição. É sabendo que o nosso caminho
ainda não chegou ao fim, que convidamos aos leitores a caminharem conosco neste texto.
Nosso trabalho é fruto de um trabalho de conclusão de curso, onde tivemos a
oportunidade de pesquisar a Casa da Criança Dr. João Moura, estes foram os nossos
primeiros escritos, que foram traçados com o entusiasmo e medo que todo pesquisador
detém no começo de sua jornada.
Para a produção deste artigo, tivemos como fontes a massa documental
disponibilizada pela instituição. Entre elas fontes documentais e imagéticas que foram por
nós analisadas. Além destes, utilizamos as memórias de dois sujeitos intrinsicamente
relacionados com a História da instituição. A Irma Creusa do Menino Jesus, religiosa
membro das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição. Sua chegada à
instituição remete aos idos de 1955, sendo atualmente a irmã mais antiga a residir na
instituição. Fora ela, obtivemos as emocionadas memórias do senhor Onildo Moura, irmão
do médico João Moura. O senhor Onildo presenciou todo o processo de fundação da
instituição, fazendo parte dele juntamente com sua família.
Não há como compreender a fundação desta instituição, sem saber quem é aquele
que doou seu nome a ela. A instituição nasce pela morte de uma das figuras públicas da
sociedade campinense, no ano de 1947. O médico pediatra João Moura. Vindo de uma
família abastada da cidade, o jovem de 32 anos era conhecido pelos populares e, atuava em
uma clinica pediátrica particular. Segundo as memórias de seu irmão, era um rapaz calmo
e atencioso com seus pacientes, conseguindo logo o apreço das pessoas que atendia. A
morte do jovem médico ocorreu de forma repentina, no ainda distrito de Massaranduba159.
Ao tentar separar uma briga iniciada por motivações politicas, entre seu cunhado Pedro
159
A mesma só viria a se emancipar como município nos anos de 1965.
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Ele como médico pediatra, ele era muito compadecido, da assim dos pobres,
então ele pensou, tinha esse projeto de fundar uma creche, para como é? Ajudar
a mãe proletária né? E deixa os filhos pra poderem trabalhar, e essas coisas. Ele
tinha esse projeto, mas antes disso ele morreu. Então começou, tinha outro rapaz
aqui, que quis botar o projeto pra frente e tudo, e tal, ai falou com a minha irmã,
que era bem dinâmica e outra, falou pra elas se aliarem e tal. Finalmente se
organizou uma como é que se diz? Uma, uma sociedade lá, entre ela, ela com as
amigas, e pra, trabalhar pra criar a Casa da Criança. Então ai se foi pra comercio,
ai ela mesmo se destinou e tudo, Ascendino161 também entrou no meio, e tudo,
depois Campina Grande nessa época, existia uma festa da padroeira, em frente
da catedral, que era muito animada, com pavilhões, pavilhões individualizados,
nt o l s t m m r solv r m ― ut ‖ p v lh o to o mun o n st p r
angariar dinheiro (ONILDO MOURA, 2018).162
160
Grande comerciante de algodão da época, no período que o produto se destacava no comercio
campinense na primeira metade do século XX.
161
Irmão de João Moura e, também Deputado pelo estado da Paraíba na primeira metade do século XX.
162
Optamos por mante a falar dos entrevistados, transcrita de mesmo modo ao qual foram emitidas.
484
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Com o surgimento da Casa da Criança Dr. João Moura, a instituição passou a ter
sua administração regida por uma ordem de religiosas católicas. Que devido a não
aceitação popular, pois havia boatos que circulavam entre os cidadãos, que esta ordem
detinha a prática de enviar as doações recebidas para a sua matriz fora da cidade. Esta
congregação, após perceber o descontentamento da população, fugiu da cidade sem avisos
prévios, inclusive deixando as crianças residentes da instituição sozinhas durante a fuga163.
Como fala do senhor Onildo:
Pronto, então depois de um tempo se veio, ainda veio umas freiras de Recife, ai,
já tinha uns três meninos dois ou três, não me lembro, mas as freiras recebiam
dinheiro todinho, e tinha a matriz em Jo [...] em Recife, ai o dinheiro levava tudo
pra Recife, e a casa da Criança não progredia. Ai depois acalmaram um pouco,
por qu povo ―t v ‖ r l m n o E l s um no t u m nh u l s
deixou os meninos sozinhos lá, dois meninos. [..], o vizinho que veio avisar que
s r r s t nh m o m or qu os o s m n nos ―t v ‖ lá s p r qu
era até um casal, ai meu irmão foi a João Pessoa, por que ela não podia
consegui, arranjou por lá uma creche pra colocar os meninos, enquanto se
resolvia. (ONILDO MOURA, 2018).
163
A origem e os fatos que remetem a esta ordem de religiosas, ainda é bastante obscuro. Fato este devido
à ausência de fontes referentes ao período da administração dela na instituição. Os poucos relatos que
conseguimos encontra sobre, advém das memórias do senhor Onildo Moura.
164
Congregação fundada em Lisboa, no ano de 1871, pela iniciativa da Irmã Clara do Menino Jesus e do
Padre Raimundo dos Anjos Beirão. Tendo como carisma a Hospitalidade, a Congregação atua em várias
áreas do assitencialismo social, promovendo a pessoa humana. Possuem casas nos continetes da África,
Ásia, Europa e América.
485
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(Moura, 2014)
A partir da criação da Casa da Criança Dr. João Moura, entendemos que houve o
preenchimento de uma lacuna existente até aquele momento, no sistema educacional
vigente na cidade. A infância pobre, desvalida e em situação de carência encontrava nesse
momento, um espaço onde teriam a possibilidade de receber cuidados e a educação nas
primeiras fases escolares. Serviço este, que até então, não era prestado por nenhuma
instituição.
Porém, é interessante percebermos que havia motivações além da benemerência,
observa-se que existiam outras conjecturas, que influenciaram a fundação da intuição.
Analisando o cenário referente aos espaços educacionais existentes na cidade no mesmo
período, percebemos que já existiam colégios que atendiam os filhos das elites
campinenses. Tais como as instituições confessionais do Colégio Imaculada Conceição
(1931), que atendia as moças das famílias abastadas da cidade, o colégio Pio X (1931)
direcionado apenas para meninos e o Ginásio Alfredo Dantas (1919) também particular.
Existia também o Grupo Escolar Clementino Procópio (1937), que era público, porém não
atendia crianças no estagio da primeira infância exercendo a função de creche. E nesse
contexto, os filhos das camadas pobres da cidade não eram assistidos, incluindo também
os órfãos, que eram acolhidos e instruídos pela instituição.
Mas por que voltar os olhos para a infância desvalida e em situação de carência
social? A reposta vem quando analisamos as iniciativas do Estado perante a infância
desvalida, advindas desde o século XIX. Esses sujeitos eram renegados pelas autoridades,
até o momento que se percebe, que se tais indivíduos não recebessem algum tipo de
instrução, os mesmos ao decorrer dos anos se tornariam um problema a ser solucionado
pelas autoridades. Ao ponto que tais crianças e jovens se tornariam marginais e
criminosos, caso não recebem uma formação que os encaminhassem para um oficio em
seu futuro.
Desta forma, entender os processos educativos, as práticas de ensino e docilização
(FOCUALT, 1987), pensadas e verticalizadas a partir do poder do Estado, para a
população. Esclarecem-nos, quais eram as intenções de controle, e quais perspectivas e
possíveis metas pensadas pelos poderes públicos para a população.
486
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Neste sentido, são criadas, em todo país, instituições que serão responsáveis por
amparar, educar e reformar as crianças pobres, abandonadas, órfãs e delinquentes, afinadas
com regulamentos e decretos criados para determinar o lugar que cada criança irá ocupar.
Estas instituições tiveram a sua origem no intuito de salvar a infância pobre brasileira
(CALLOU, 2016).
Desta forma teríamos por parte da população uma crescente procura destas
instituições, onde para muitos pais as mesmas representavam a possível saída de
seus filhos de uma condição de misér omo t C llou: ―Po -se inferir que
para muitas famílias pobres estas instituições representavam a saída para salvar
s su s r n s po r z qu s t n um nt r‖ (CALLOU 6 p 48)
487
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regiões do país não era disponibilizado, deixando desamparada esta parcela da população
que era a infância pobre brasileira.
Com esta ação do Estado sobre a infância em estado de carência, percebemos o que
Dom n qu Júl nt n por ultur s ol r s n o: ―um onjunto norm s qu n m
o onh m nto ns n r on ut s n ul r [ ]‖ (JULIA 995 p ) An l s n o
assim quais eram os conhecimentos necessários de acordo com a conjectura histórica do
período a serem ensinados, a estas crianças, quais disciplinas necessárias a ser lecionado, o
qu to o Est o p ns v s r n ssár o s r n ul op r st s possív s ― uturos
na o‖
Tudo isso, corrobora para várias estancias da educação proposta para estes
indivíduos, desde os quadros de funcionários que iram integrar estas instituições
especificas, até os espaços físicos direcionados a esse público. Sendo muitos em sua
maioria internatos, ou semi-internatos, como a instituição por nós pesquisada.
Er r n po r ―pro r z nh ‖ m smo or s m s u n o s s r
casada, ou era solteira, eu sei que era criança muito pobre, pobre, pobre tinham
―mu t ‖ qu n o t nh m n m roup nh pr v st r A s o r p l s rm s
portuguesas, mas era tudo pobre, tudo crianças pobre, nunca teve mãe mais ou
menos era tudo pobre, domestica, tinha muitas que nem emprego tinha [...]
(IRMÃ CREUSA, 2018).
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Desta maneira, tornar-se de extrema importância trazer tais memórias à tona, pois
estas são capazes de nos mostrar com bastante relevância como parte da nossa sociedade
foi formada, educada e docilizada. Como também, nos proporcionam um maior e mais
claro entendimento sobre as conjecturas educacionais, que eram pensadas e postas em
práticas, a serviço da infância desvalida e em situação de carência social.
REFERÊNCIAS
ALBERTI, Verana. Ouvir Contar Textos em História Oral, Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2004.
CALLOU, Maria Lucirene Sousa. A Infância Desvalida como Problema Social, Belém,
PA: UFPA, 2016.
CRUZ, Onildo de Moura. A História da Vida de Dr. João Moura. [Folheto de cordel].
2014.
LOPES, Eliane Marta Teixeira, História da Educação, Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
MEIHY. História Oral: como fazer como pensar, São Paulo: Contexto, 2007.
MELLO, Jose Baptista De, Evolução do Ensino na Paraíba, João Pessoa, PB: Biblioteca
paraibana, 1996.
SAVIANI, Dermeval, História das Ideias Pedagógicas no Brasil, Campinas, SP: Autores
Associados, 2013.
SANDRA, Jathy Pesavento, História & História Cultural, Belo Horizonte: Autêntica,
2008.
Entrevistas:
492
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RESUMO:
O construto tem como proposta apresentar uma discussão em torno da escolarização de
meninos negros na Escola Central de Maceió no Império. A referida instituição foi
fundada em 22 de abril de 1887, por iniciativa da Sociedade Libertadora Alagoana. A sua
criação foi um dos desdobramentos do projeto de lei apresentado na Câmara dos
Deputados em 12 de maio de 1871, sendo promulgada posteriormente em 28 de setembro
do mesmo ano, como a Lei nº 2. 040 nominada de Lei do Ventre Livre. O escopo dessa
instituição, sob a organização dos intelectuais abolicionistas da Sociedade, era o de
escolarizar os meninos negros nascidos livres do ventre escravo. A partir disto, os
objetivos do texto incide em: descrever o cenário histórico em que a Escola Central de
Maceió foi gestada; traçar os interesses político-ideológicos das elites que justificaram a
necessidade de criação da instituição; reconstruir a partir dos indícios alguns traços da
cultura escolar da Escola Central de Maceió; e por fim problematizar o papel da instituição
na formação profissional de meninos negros. Definidos os objetivos, considera-se que a
pertinência deste estudo reside em dar visibilidade a um projeto educacional pensado para
a população negra livre como um meio de viabilizar o seu acesso ao universo elementar
das letras, mas, sobretudo ao aprendizado de um ofício. Somado a isto, a discussão
contribuirá para ratificar a tese de que a população negra livre, conseguiu lograr os bancos
escolares das instituições de ensino e, assim continuar desmitificando a falácia de que na
história da educação brasileira e, em especial na história da educação alagoana não houve
casos de sujeitos negros que dominaram a escrita e leitura dentro dos seus limites. As
oficinas ofertadas eram: marcenaria, sapataria, carpintaria, alfaiataria e tipografia. Os
sujeitos ali matriculados eram submetidos ao regime de externato ou internato. Nas
oficinas era ministrado os saberes de Física e Botânica com aplicação na produção de
artefatos fabris que eram confeccionados pelos meninos e revertido em verbas para a
escola. Logo, entende-se que a finalidade pedagógica era iniciar precocemente esses
493
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meninos no trabalho a fim de garantir o controle social sobre eles Entre 1893 a 1894 a
Escola Central fecha as suas portas, pois nesse período o governo provincial tinha a
pretensão de unificá-la com mais duas instituições, o Liceu de Artes e Ofícios e o Colégio
Orfanológico, como meio de reter os gastos públicos.
Considerações Iniciais
Con orm Const tu o 8 4 ― nstru o pr már r tu t to os os
os‖ Fun m nt nos s ol r l smo urop u qu pr o v qu to os os
homens eram livres e [teoricamente] iguais, isto não foi o suficiente para que a legislação
considerasse os negros escravos como cidadãos e, assim vedando a estes/as o direito de
acesso ao universo letrado. O impedimento legal do acesso às letras pelos sujeitos de cor
se agravava mais, uma vez que na província das Alagoas, por exemplo, a população era
composta majoritariamente por negros (pretos, pardos e mestiços). Entretanto, a
participação desse grupo étnico na instrução pública era ínfima se comparada aos de etnia
branca.
É nestes termos que o presente texto irá esboçar nas próximas linhas que segue
algumas considerações sobre uma experiência escolar ocorrida na província das Alagoas
no Império, que evidencia o acessa da população negra aos bancos escolares. Tal
experiência ocorreu no contexto do abolicionismo, movimento este que tinha como escopo
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o fim gradual do sistema escravagista. Nas Alagoas, tivemos o caso da Escola Central de
Maceió, fundada em 22 de abril de 1887, por iniciativa da Sociedade Libertadora
Alagoana, e que abrigou meninos negros nascidos livres após a promulgação da Lei nº 2.
040, nominada de Lei do Ventre Livre, a fim de iniciá-los no aprendizado de um ofício.
Chiavenato (1980, p. 215) ao discutir sobre o abolicionismo interpreta que por ele
ter sido um movimento que teve suas primeiras manifestações vindas da classe abastada,
ons qu nt m nt o m r o p los nt r ss s l ss ―pro ur n o n tur lm nt
maiores vantagens nas mudanças estruturais do sistema trabalho, e não se preocupando
om o st no os t lh or s s r vos‖
495
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496
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Outro intelectual que debateu sobre a escravidão foi Rui Barbosa. Para o jurista
baiano, o trabalho livre iria civilizar e industrializar o país, ou seja, este seria um dos
meios de o Brasil se tornar uma nação moderna, pois a escravidão era entendida como uma
espécie de chaga, assim como um estorvo para a civilização. Maria Cristina Machado
(2000, p. 35-36) comenta que para Ru B r os ―o tr lho l vr s n r um s r
de mudanças necessárias ao progresso do país, como a viação férrea, colonização,
n ústr ntr outr s‖ Como mostr l o pr s nt provín l o n Anton o
Caio da Silva Prado, em 1888: ― v n ê or no sp r to pu l o n ss
apagar da face do paiz a feia macula do captiveiro, avessa á moral e á civilização do tempo
tu l por onst tu r nsup ráv l o st ulo nosso pro r sso nt m nto‖ (Diário das
Alagoas, 20 de abril de 1888, n. 92, ano XXXI, p. 1).
497
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E foi nesse contexto de jogo de interesses de classes que a abolição tornava-se uma
realidade distante para os cativos negros, em que a liberdade esteve mais no campo das
ideias, com o movimento abolicionista, do que necessariamente a sua efetivação ante a
resistência dos senhores de engenho que se deixavam cegar por seu egoísmo por riquezas e
terras. No transcorrer das tensões entre a elite abolicionista e a elite agrária, foi
apresentado um projeto de lei na Câmara dos Deputados em 12 de maio de 1871, sendo
promulgada posteriormente em 28 de setembro do mesmo ano, como a Lei nº 2. 040
nominada de Lei do Ventre Livre. A dita lei foi uma forma gradual de se lograr o fim do
sistema escravista. Para alguns historiadores da escravidão a referia lei não trouxe
mudanças e efeitos práticos na vida dos escravos e nem mesmo das crianças que nasceram
livres.
165
Os ― n ênuos‖ z r sp to os lhos/ s s m s t v s p rt r L o V ntr L vr 87 A
t or ― s r vo/ t vo‖ por su v z r r -se aqueles/as que viviam subjugados sob o regime da
s r v o; os ―l vr s‖ r m os qu n s m n on o os port nto n o r m on on os o
tr lho s r vo; os ―l rtos/ orro‖ r m os qu n s m omo s r vos e viveram por um período de suas
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E foi a partir desse dispositivo legal que foi criada em 22 de abril de 1887, a Escola
Central de Maceió. A referida instituição foi uma iniciativa da Sociedade Libertadora
Alagoana, fundada em 28 de setembro de 1881, dez anos após a promulgação da Lei do
Ventre Livre de 1871. A Sociedade tinha como alguns de seus membros professores de
primeiras letras e ensino secundário, como Francisco de Paula Leite e Oiticica, Francisco
Domingues da Silva e Francisco Dias Cabral, por exemplo. O propósito da Sociedade,
como é possível observar no discurso de sua fundação publicado na imprensa, era o de
promover a libertação dos escravos de forma pacífica, de modo a não comprometer os
interesses da elite latifundiária (Gazeta de Noticias, 04 de outubro de 1881, ano III, n.
214). Para os membros da entidade a abolição traria melhorias para a vida econômica da
província, ou melhor dizendo, a extinção da escravidão era uma necessidade da sociedade
vidas nessa condição, mas posteriormente conquistaram a sua liberdade, sendo um dos instrumentos a
alforria;
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em geral (SANTOS, 2006). Sendo assim, a Escola Central tinha o propósito de atender o
que prescrevia a referida lei, a saber: instruir crianças negras.
Com a Escola Central os seus fundadores tinham a intenção de criar outras escolas
em cidades da província alagoana, cuja matriz seria a capital Maceió, por isso, a
denominação de Escola Central, como revela a fala de Francisco de Paula Leite e Oiticica,
membro da Sociedade, ao escrever em 1890 para a Gazeta de Noticias do Rio de Janeiro,
sol t n o uxíl o p r m nut n o nst tu o: ―O pr pr o nom o st l m nto
mostra que elle obedecia ao plano de fundação de outras escolas nos differentes
mun p os prov n hoj Est o t n o ntro op r s s C p t l‖
(Gutenberg de 08 de junho de 1890, ano IX, n. 122, p.1). Mas isso não chegou a se
concretizar. A causa da não realização desse propósito possivelmente foi devido ao alto
custo de sua manutenção. Muitas das intuições fundadas para atender às crianças
desamparadas sobreviviam por pouco tempo em razão da escassez de recursos financeiros.
Normalmente as instituições filantrópicas recebiam dinheiro do governo provincial por
meio da arrecadação de loterias, das elites e dos sócios das entidades fundadoras.
Quanto aos alunos, têm-se poucas notícias, apenas uma breve nota jornalística
menciona um deles ao recitar um po s m hom n m Tr nt s: ―O m nor Jo qu m
C s m ro Es ol C ntr l r tou um on t po s ‖ (Gutenberg, 23 de abril de 1890).
Era frequente a participação dos alunos da Escola Central nas festividades cívicas e da
própria instituição, nas quais apresentava-se a Banda de música dos alunos, cujo professor
era Francisco Domingues, como publicou o jornal Gutenberg:
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Entre 1893 e 1894 a Escola Central fecha as portas. Nesse período, o governo
alagoano tinha a pretensão de unificá-la com mais duas instituições, o Liceu de Artes e
Ofícios e o Colégio Orfanológico. Da fusão o novo estabelecimento de ensino seria uma
instituição de artes, ofícios e agricultura. No relatório do governador do Estado de 1893 há
r um ntos qu x v tr nsp r r qu n o r justo r om Es ol C ntr l: ―N o
é justo consentir que se aniquile a escola Central, instituição que tão meritos beneficios
tem prestado à sociedade alagoana, e que relembra os tempos das gloriosas lutas do povo
l o no p l l r os m s ros s r v z os‖ (Relatório do Presidente de Estado de
Alagoas de 1893). Esta passagem possibilita entender que a escola servia como
instrumento de propaganda para a abolição da escravatura, dado o desinteresse em mantê-
la após o êxito do movimento.
Considerações Finais
Em linhas gerais, a Escola Central foi criada a fim de profissionalizar os meninos
negros nascidos do ventre cativo a partir da promulgação da Lei do Ventre Livre de 1871.
Ao que tudo indica o propósito principal da instituição havia sido alcançado, o que pode
ter causado a falta de interesse em dar prosseguimento com as suas atividades, uma vez
que após a abolição dos escravos em 1888, as autoridades públicas passaram a cogitar o
seu fechamento.
Referências Bibliográficas
ALAGOAS, Estado de. Almanaque do Estado de Alagoas de 1891, ano XX.
ALAGOAS, Província das. Diário das Alagoas, 20 de abril de 1888, n. 92, ano XXXI, p.
1.
ALAGOAS, Província das. Gazeta de Noticias, 04 de outubro de 1881, ano III, n. 214.
ALAGOAS, Estado de. Gutenberg, Maceió, 23 de abril de 1890, ano IX, n. 85, p. / não
identificada.
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PÔSTER
166
Aluna do Doutorado em Educação da Universidade Federal da Paraíba (CE/PPGE/UFPB). Bolsista do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
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1. Introdução
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preciso no trabalho com as fontes, a sua periodização dentro do contexto histórico que
foram produzidas. Nessa pesquisa, as fontes subsidiam toda a análise, de modo, que cabe
destacar a importância do registro, bem como a manutenção dos arquivos.
Para versar acerca do contato com os arquivos, se faz necessário, preceder como se
deu a relação com o objeto em estudo.
167
O PET é norteado pelo princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e da educação
tutorial. Relacionando esses três princípios, contempla-se uma formação ampla para o bolsista/graduando.
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168
A Revista do Ensino da Paraíba consiste em um periódico educacional da Diretoria de Ensino Primário,
editado pela Imprensa Oficial durante dez anos, de 1932 a 1942. E o desenvolvimento da pesquisa
compreendeu entre vários momentos de estudo e organização de dados a digitalização e divulgação dos
exemplares da Revista do Ensino, disponíveis no site <https://issuu.com/revistadoensino>.
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Consideramos como uma contribuição rica o relato de memória, no entanto, nossa pesquisa não possui
tal elemento, desse modo, neste momento procuramos responder nossas inquietações através do
documento escrito.
170
A cidade de Campina Grande contava, até o início da década de 1960, apenas com instituições
equiparadas à Escola Normal, o Instituto Pedagógico, atual Colégio Alfredo Dantas (CAD) e o Colégio
Imaculada Conceição, ambas pertencentes à rede privada de ensino.
171
O Histórico Escolar compõe o atual Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição.
172
Conforme levantamento realizado no acervo digital da Sociedade Brasileira de História da Educação
(SBHE) e no Banco de Teses e Dissertações da CAPES não existem estudos de caráter cientifico que
remontem o processo histórico da Escola Normal Estadual de Campina Grande.
173
Mais à frente, no tópico 1.2 O objeto, a periodização e os objetivos será melhor esclarecido os objetivos
dessa pesquisa de mestrado.
174
Integram essa equipe de técnica da pesquisa: as Professoras. Dra. Melânia Mendonça Rodrigues –
UAEd/CH/PPGEd/UFCG; Niédja Maria Ferreira de Lima – UAEd/CH/PPGEd/UFCG, e Vívia de Melo
Silva – DFE/CE/UFPB; Pâmella Tamires Avelino de Sousa, mestranda bolsista Capes PPGEd/UFCG e
Stéfany de Almeida Marques – Graduanda em Pedagogia, Integrante do Grupo PET/Pedagogia/UFCG. E
colaboradoras eventuais:Bruna IsmaeleCunha Silva – Graduanda em Pedagogia, Integrante do Grupo
PET/Pedagogia/UFCG; Mirele Islane dos Santos Pereira – Graduanda em Pedagogia, Integrante do Grupo
PET/Pedagogia/UFCG e Meryglaucia Silva Azevedo – Mestre em Educação/PPGE/UFPB.
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175
Essa constatação evidencia-se por um levantamento bibliográfico e documental em anais de eventos da
área de História da Educação brasileiros (SBHE e HISTEDBR), bem como no acervo digital do Banco de Teses
e dissertações – Capes. O levantamento dispôs da periodização 2014-2016 e evidenciou os programas de
pós-graduação nordestinos.
176
O acervo da biblioteca constituía o acervo pessoal do Professor Átila Almeida. Desde o ano de 2004, a
Universidade Estadual da Paraíba é a responsável pelo acervo e gerencia o acesso ao meio acadêmico.
177
Fonte de dados para essa pesquisa. É um importante meio de informações da cidade de Campina
Grande, possuía grande relevância social e destacava-se por publicar inúmeras notícias acerca do
desenvolvimento campinense (FERNANDES, 2011).
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pastas dos governos paraibanos e pudemos ter acesso às mensagens de tramitação, atas e
decretos que registraram a criação da escola.
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No que diz respeito à Instituição em estudo, esta nos surpreendeu por possuir um
arquivo próprio, com um funcionário disponível para consulta no arquivo,178 bem como
responsável pela organização do material. O arquivo possui um local onde têm grandes
quantidades de fichas de alunos, registros de atas, fotografias e outras informações.
Ademais, cabe destacar que a pesquisa foi aceita pelos funcionários da escola como algo
positivo, devido à importância da instituição para Campina Grande, a qual aparenta ter
uma visibilidade social ainda não revelada.
Considerações Finais
Pontuar essa fase é um momento agradável, pois a pesquisa é/foi repleta de muitos
momentos dos quais estarão sempre na minha trajetória enquanto professora e
pesquisadora. Essa satisfação, ou ao menos o cumprimento dela, teve origem ainda na
graduação, quando tive os primeiros contatos com a atividade de pesquisa no Grupo PET
Pedagogia/UFCG. A curiosidade foi um dos grandes motivadores dessa construção e
principalmente o apoio e generosidade de uma professora e tutora do PET Pedagogia que
me ajudou a seguir em frente.
O percurso até esse momento foi longo, pois ao tratar de uma escola sem qualquer
dimensão de sua criação estudada nos motivava a cada passo que conhecia a desejar
estender e ampliar esse objetivo. O acesso aos arquivos e mais precisamente as fontes
178
Apesar do arquivo ser organizado e mantido por uma funcionária que acumula algumas funções na
instituição, consideramos enquanto positivo o suporte dado ao arquivo, bem como a atuação e
colaboração dos funcionários envolvidos para realização do estudo.
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permite o reconhecimento de abrir leques com questões que nos alegra e motiva a perceber
que o conhecimento é uma construção sem fim.
Foi durante o período de estruturação que também teve início a consulta e a coleta
dos dados. Apesar da história da educação anunciar por meio das pesquisas que os
arquivos são os cenários desagradáveis para consulta, confesso ter me sentido voltando ao
tempo e tendo a oportunidade de conhecer a cidade dos meus avós, que na verdade não se
difere muito da minha, pois Campina Grande continua auspiciosa e mesmo diante do
acesso à tecnologia e novas ferramentas de vivenciar as experiências, ainda temos muito
arraigado no pensamento o senso político e moral das atitudes e, porque não dizer,
machistas e coronelistas.
Os fatos aqui apresentados não nos foram entregues de forma simples, exigiram
muito cuidado, estudo e atenção. Pontos como a centralidade do que estudar, os aspectos
sociais e seus desdobramentos a serem conhecidos favoreceram a construção do texto
apresentado, bem como um conhecimento breve acerca desse momento político e
educacional no contexto da cidade de Campina Grande/PB. Ademais, o contato com os
periódicos diários destaca uma visibilidade de uma série de ações sociais, no nosso caso,
em relação a educação, devido ao tempo e o cumprimento dos prazos não nos estendemos
aos olhares de momentos que norteavam a cidade, como festas, passeios, entre outras
atividades da sociedade campinense no período de 1955 – 1960, no entanto, o primeiro
olhar motiva a curiosidade de retomar a fonte e quem sabe trazer mais questões para outros
estudos.
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Referências
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NOSELLA, Paolo. BUFFA, Ester. Instituições escolares: por que e como pesquisar.
Campinas, SP: editora Alínea, 2013. 2ª edição.
Leis e Decretos
ESTADO DA PARAÍBA. Atos do Poder Executivo. Diário Oficial, Ano III, Nº 226, 14 de
abril de 1960
Jornais
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Resumo:
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Introdução
Levando em consideração a amplitude de possibilidades para as pesquisas no
campo da História da educação, é essencial que o(a) pesquisador(a) esteja atento(a) para os
procedimentos teórico-metodológicos que podem ser fundamentais para o
desenvolvimento das investigações e, consequentemente, para o tratamento com as fontes
utilizadas.
179
http://lattes.cnpq.br/6190925965820163
180
O APEJE é responsável pela guarda de uma parte significativa da História de Pernambuco em
documentos, mapas, leis, jornais, livros e manuscritos. Estes documentos ficam acessíveis para
pesquisadores(as) das mais diversas áreas do conhecimento e são organizados para melhor
manuseio e preservação das fontes.
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181
Para maior aprofundamento, ler: SILVA, Adriana M. P. da. Processos de construção das práticas de
escolarização em Pernambuco, em fins do século XVIII e primeira metade do século XIX. Recife: Editora
Universitária da UFPE, 2007; SANTOS, Yan Soares. A sociedade propaganda da instrução pública e suas
ações de qualificação profissional em Recife (1872-1903). 2014. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 2014; LIMA,
Dayana Raquel Pereira de. S n s o ― s on orto‖ no x r í o o ên pú l mR Ol n
(1860-1880). 2014. 176f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação,
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 2014.
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o trabalho de pesquisa exige uma atenção ampla com o material a ser trabalhado,
no sentido de perceberem-se todas as nuances que o envolvem. Os
acontecimentos históricos devem ser questionados, para que possam ser
verificados segundo o entendimento do pesquisador que o inquire, quais são os
caminhos e pontos que guarda. Sempre se deve analisar sob todos os ângulos
possíveis o objeto colocado como centro de uma investigação, para evitarem-se
os enganos. O trabalho de pesquisa exige uma atenção ampla com o material a
ser trabalhado, no sentido de perceberem-se todas as nuances que o envolvem.
Os acontecimentos históricos devem ser questionados, para que possam ser
verificados segundo o entendimento do pesquisador que o inquire, quais são os
caminhos e pontos que guarda. Sempre se deve analisar sob todos os ângulos
possíveis o objeto colocado como centro de uma investigação, para evitarem-se
os enganos (PRADO, 2010, p. 124).
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administrativa do Estado Pernambuco (que antes era a Província), os registros indicam que
assuntos educacionais, o controle do trabalho docente e dos (poucos) espaços escolares
públicos e privados permaneceram sob o comando dos potentados locais, conforme as
pesquisas do grupo indicaram a respeito de todo século XIX.
15
10
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Considerações finais
Referências
BECELLAR, Carlos. Uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.).
Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
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HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos: o breve século XX. São Paulo, Companhia das
Letras, 1995.
SILVA, Adriana Maria Paulo da; LIMA, Dayana Raquel Pereira de Lima. MOBILIDADE
ESPACIAL E RESISTÊNCIA DOS(AS) DOCENTES PÚBLICOS(AS)
PRIMÁRIOS(AS) DO RECIFE (1860-1880). Revista Tópicos Educacionais, Recife, n.1,
jan/jun. 2016, p. 22-44.
525
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526
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COMUNICAÇÃO ORAL
182
Atualmente, mestranda no Programa de Pós-graduação em História da UFCG na linha de História
Cultural das Práticas Educativas, a autora desenvolve pesquisas relacionadas a História do Corpo, da Dança
e aos Estudos Pós-estruturalistas de Gênero. É orientada pelo professor doutor Azemar Soares dos Santos
Júnior que atua como professor Adjunto do Departamento de Práticas Educacionais e Currículo na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus Natal, e é professor colaborador do Programa de
Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Campina Grande.
183
Fragmento extraído da carta de Mónica, publicada no livro Dançaterapia (María Fux, 1988).
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O método desenvolvido por María Fux foi nomeado como dançaterapia. O que é a
dançaterapia? A sua desenvolvedora o compreende como um método de reapropriação da
linguagem corporal por meio de estímulos criativos. Na dançaterapia o foco não é o
desenvolvimento de coreografias ou uma dança uniforme, mas o respeito as
individualidades e multiplicidades. As pessoas participantes são incitadas a desenvolverem
movimentos a partir do sentir – e o sentir é muito particular – eis o motivo de cada
participante vivenciar essa experiência de maneira, essencialmente, singular.
É importante ressaltar que a página supramencionada deixa claro que essa prática
não substitui intervenções clínicas, médicas ou psicológicas, mas as complementa
percorrendo caminhos outros ligados à afetividade, sensibilidade, emoção. A Dançaterapia
possui uma ampla área de atuação, pois se dirige às crianças, adolescentes, adultos, idosos,
e se aplica no campo da educação e da reabilitação com pessoas que têm dificuldades
relacionais ou psíquicas, deficiências físicas ou sensoriais. Sendo bastante utilizada
184
http://dancaterapia.org/dancaterapia/ <acesso em 04/11/2019>.
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também nos trabalhos de superação dos bloqueios emocionais, no contato com o outro e
com o próprio corpo.
María Fux desenvolveu também técnicas para ajudar aqueles que possuíam alguma
deficiência sensorial e motora a despertarem os potenciais adormecidos no corpo. Embora,
a princípio, ela não utilizasse a palavra terapia, a forma como seu trabalho foi
recepcionado por psicólogos e psiquiatras da época, reconhecia naquilo que ela estava
desenvolvendo possibilidades de mudanças positivas no corporal e psíquico dos indivíduos
que passavam por essa experiência na qual eram provocados a se autoconhecerem, e,
consequentemente, transformarem as relações que estabeleciam com seus próprios corpos.
A autora alerta que o silêncio que rodeia aqueles que ouvem nunca é total, pois a memória
auditiva impede que as músicas, vozes, palavras etc. sejam esquecidas. Entretanto,
trabalhar a dança com deficientes auditivos demandava pensar outras possibilidades de
práticas educativas que saíssem do modelo que costumava ser reproduzido nas aulas de
dança.
As práticas educativas do corpo por meio da dança podem possibilitar aos sujeitos
constituírem experiências estéticas inovadoras que se expressam na criação de um
indivíduo autônomo - que escapa às normas, os padrões e transgride espaços - que é capaz
de fazer emergir novas poéticas. Neste momento trago ao texto um fragmento de uma das
cartas endereçadas a María Fux. Na correspondência, escrita por uma mulher que assina
com o nome de Mónica, pode-se ver um relato de alguém que vivenciou um processo de
autoconhecimento e despertar para outras formas de ser, após tocada, afetada e
transformada na experiência com a dança. Mónica relata:
185
Todos os fragmentos de cartas que aparecerão nesse texto foram extraídos de María Fux (1988).
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A dança, assim como a música, para Nietzsche, são expressões da vida e tem um
valor transformador. Na dança, os impulsos vitais conduzem o ser a transcender para além
de si mesmo. Tendo em vista essa discussão, retomo a carta de Mónica, onde ela relata:
Por meio da carta de Mónica é possível perceber que o discurso que ela constrói
acerca de sua experiência com a dança fala de uma dança que transforma as subjetividades
dos sujeitos que a praticam. Ela aponta para a produção de um processo de
uto onh m nto r o (r ) onstru o o pr pr o ― u‖ Pr so r ss lt r
contudo, que por meio de outras pesquisas já desenvolvidas, pude constatar que nem todas
pessoas que vivenciam a experiência com a dança passam por esse processo de
transformação de si, mas como o trabalho em questão discute a dançaterapia, o foco está
direcionado para análise de uma carta de quem afirma ter vivenciado esse processo de
desterritorialização e de devir, após ter o encontro com a dança.
Dialogando com Gilles Deleuze e Félix Guattari (2010), entendo esse conceito de
desterritorialização como um movimento pelo qual se abandona o território, que é o lugar
da estabilidade e da ordem. Assim, o sujeito que se permite desterritorializar é aquele que
se abre à experiência e transformação de si, e, em concomitância, vivencia a desordem de
quem não permanece no mesmo lugar e navega pelo desconhecido descobrindo novas
percepções, novos saberes, novas formas de construir a si mesmo.
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A dança pode reforçar a visão dionisíaca da vida. Pode ser superação, paixão,
êxtase. A transformação do espírito em pássaro, que leve e ligeiro, voa livremente acima
de todas as coisas e além do bem e do mal. Ela pode ser um lugar de potencialização de
uma vida livre possibilitando aos sujeitos investirem e si mesmos, aguçando a percepção,
os sentidos e melhor assumindo desejos interiores e também toda as potencialidades do
corpo. Ao relatar sobre como a dança mudou sua relação com seu corpo, Mónica diz:
A narrativa de Mónica alerta para como a dança teria lhe possibilitado melhor
conhecer o seu corpo e as suas limitações para, assim, poder transpassá-las. De acordo
com a sua fala, a dançaterapia proporcionou melhorias não apenas no que concerne ao
equilíbrio, coordenação e segurança, mas também acerca das suas percepções sobre seu
próprio corpo. Após essa experiência ela tem aprendido a melhor governar o seu corpo e
viver harmonicamente com ele e as singularidades que o constituem.
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FONTE
REFERÊNCIAS
FREIRE, Ana Vitória. Angel Vianna: uma biografia da dança contemporânea. Rio de
Janeiro: Dublin, 2005.
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masculinidade. Editora da UFPR. Revista: História: Questões & Debates, Curitiba, n. 34,
p. 45-63, 2001.
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Jacyan. GOMES, Simone. (orgs.) Dança e educação em movimento. - São Paulo: Cortez,
2003.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém.
Tradução, notas e posfácio Paulo César de Souza. - 1ª ed. - São Paulo: Companhia de
Bolso, 2018.
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SANT‘ANNA Denise Bernuzzi de. Corpo: objeto de estudo. In: Corpos de passagem:
ensaios sobre a subjetividade contemporânea. São Paulo: Estação Liberdade, 2001.
SANT‘ANNA D n s B rnuzz É possív l r l z r um h st r o orpo? In:
SOARES, Carmen Lúcia. (org). Corpo e História. - Campinas, SP: Autores Associados,
2006. - 3ªed.
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tizinha-rivelli@hotmail.com
Resumo
186
Mestranda em História pelo programa de pós-graduação da Universidade Federal de Campina Grande
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educativas da escola à qual leciono há mais de uma década, mostrando como a escola é um
mundo plural e não um continente isolado como muitos imaginam, a partir de suas fontes
que são fotografias já em mãos e em processo de análise.
Este trabalho discute a função da escola enquanto produtora de cultura e não apenas
como uma instituição que foi construída para seu objetivo inicial, não estamos
conversando sobre espaços físicos ou sobre o currículo escolar, mas sobre a importância
das práticas educativas na escola para a pesquisa histórica dentro de uma perspectiva da
História cultural. Práticas que mostram que o espaço escolar vai muito mais além que uma
construção institucional com o objetivo apenas de ensinar conteúdos sistemáticos e formar
os sujeitos para exercer uma futura profissão e que assim é objeto de estudo do historiador
deste século no desejo de compreender como se deu o processo histórico e cultural da
instituição.
Formar sujeitos para uma cidadania integral é uma obrigação da escola, mas o que
nos interessa é que esta mesma escola que é espaço de aprendizagem, lugar físico
específico para isso, é também espaço de uma aprendizagem decorrente de práticas
r tu l z s s ursos sím olos ― z r s‖ qu mol m r strutur m m nt s F z r s
que são resultados de ações cotidianas e que produzem uma cultura que coloca a escola em
um estatuto de possuidora de uma cultura própria e por tanto um espaço a ser estudado.
Mas do que uma aprendizagem que são decorrentes dessas práticas, uma ritualização de
costumes.
Essas ações coletivas moldam o ambiente escolar que deixam de ser apenas um
lugar de ordem e passa a ter movimentos carregados de sentidos que a transforma em um
espaço dinâmico e com novas situações educativas. Os fazeres deixam registros e marcas
que podem ser verificados nos objetos no interior das escolas como: cadernos de alunos e
professores, trabalhos, fotografias e até testemunhos. Imperceptivelmente esses objetos
vão se tornando fontes fecundas para um pesquisador criterioso e curioso em estudar a
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escola como um mundo rico em cultura, desvendando este vivo ambiente, que não é
monolítico, mas polifônico e carregado de intenções. Esses fazeres mostram que a escola
n o p n s um ―lu r‖ ís o ou m t r l m s um ― sp o‖ mov m nto qu u r
acontecimentos que ampliam seu tamanho, e que ambos convivem e não anulam o lugar
do outro, como nos mostra Michel de Certeau.
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Assim considerando a escola não apenas como um lugar mas como espaço
produtor de cultura e que vai muito além do visível, consideremos o conceito abordado por
CERTEAU (p, 201) que:
Contudo consideramos a escola como uma instituição para além de sua finalidade,
pois sua cultura está presente nas ações e fazeres, na organização da sua gestão, currículo
que onst tuí o mu t s v z s p l s v rs s s ―A s ol um nst tu o ímp r qu
se estrutura sobre processos, normas, valores, significados, rituais, formas de pensamentos
onst tuí os pr pr ultur ‖ (SILVA 6 p 5) S n o ss m s ol é um campo
de investigação de pesquisa histórica, porque ela não se repete e não é monolítica, mas
longe de ser neutra.
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Fica assim, evidente que a escola não é monolítica ou neutra, mas que carrega
outras intenções que não é apenas o de ministrar os conteúdos. A escola possui uma
―tr o pr pr ‖ ou um pr pr ultur qu r n outr s un s ns no
localização próxima. A análise de fotografias já coletadas até então, está sendo o primeiro
passo para a investigação dessas práticas. Nas fotografias contém diversas cenas de alunos
jogando na quadra de areia, como também, gincanas entre alunos, circuitos de motos,
campeonatos de futebol, corridas de jegue entre outros. Um parque de diversão está
presente na maioria destas imagens, algo comum em festa da padroeira local presente em
pequenos povoados rurais, mas o parque também faz parte do dia-a-dia das atividades da
semana na escola. Percebemos aí, um cruzamento cultural entre a igreja e a escola.
Verificamos assim, que a escola referida é maior que os metros quadrados a ela destinada,
possui um tamanho subjetivo, que não é visível, mas sentido.
dos sujeitos históricos acerca da própria existência e sua importância está no tempo da
experiência. Embora, muitas vezes os testemunhos orais escondem falseamentos que
precisam de uma interpretação criteriosa do pesquisador que deve ter em mente que as
falas coletadas não são reveladoras da verdade.
Considerações finais
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Desse modo percebemos que a escola não é apenas um lugar predestinado para seu
fim institucional, mas um espaço dinâmico composto por práticas que educam através de
rituais, eventos, símbolos e discursos. É um espaço barulhento, não porque possui um
pátio cheio de crianças e adolescentes que se reúnem na hora do intervalo para merendar,
brincar ou conversar, mas porque possui diversas vozes que modelam o seu cotidiano,
vozes presentes nas práticas que ampliam seu lugar, transformando em espaço sentido,
vivido, produtor e revelador de cultura.
Nada é aleatório em um espaço composto por seres humanos com sua diversidade,
identidades e fazeres individuais e coletivos. Estes espaços estão longe de ser mecânicos,
mas são vivos, polifônicos.
Referências
546
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PINTO, Júlio Pimentel; TURAZZI, Maria Inês. Fotografia e Ensino de História. Ensino
de História: diálogos com a literatura e a fotografia. (coleção cotidiano escolar- Ação
Docente). São Paulo: Moderna, 2012.
VIDAL, Diana Gonçalves. Cultura e Práticas Escolares: Uma Reflexão sobre documentos
e arquivos escolares. In: CD-ROM Escola de Aplicação: O arquivo da escola e a memória
escolar. São Paulo, 2004.
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Esse estudo vem a contribuir para entender algumas normas e formas de vivência
diante das práticas culturais estabelecidas na Sociedade de Amparo ao Estudante de
Remígio – S.A.E.R.-, uma instituição filantrópica que surgiu a partir dos interesses que
estavam voltados para a criação de uma sociedade que viesse amparar e ajudar aos
estudantes de Remígio. Esse espaço surgiu na sociedade remigense para exercer atividades
sociais e culturais, destinando-se às finalidades de cunho cultural, a exemplo de palestras,
seminários, exposições de arte e outras do gênero.
187
Distancia-se há 132 Km da capital João Pessoa e a 36 Km de Campina Grande, em um entroncamento
rodoviário onde se encontram três rodovias e diversas estradas e rodagens. Ver. SERAFIM, Péricles Vitório.
Remígio Brejos e Carrascais. Editora Universitária, 1992.
548
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188
Sobre os conceitos de Cultura no campo teórico historiográfico com contribuição antropológica, ver:
Burke, Peter. O que é História Cultural? Trad. Sergio Goes de Paula 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editora. 2008; GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa; Tradução
de Vera Mello Joscelyne. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
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De acordo com Chartier, a história cultural deve ser entendida como uma
p rsp t v p r nt r ―o mo o omo m r nt s lu r s mom ntos um
r l so l onstruí p ns l r ‖ (CHARTIER 99 p 7) S undo o
autor, trata-se de compreender como o objeto histórico é produzido, em determinado
contexto histórico, permitindo aos pesquisadores a ter um olhar mais direcionado no que
diz respeito à sociedade e suas formas de representação do mundo social, portanto,
preocupa-se em explicar que as percepções/representações não são discursos neutros, pois
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Reconhecida de utilidade pública pela Lei Estadual nº 1963 de 26 de janeiro de 1959.
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caso das escolas, se restringia a duas ou três, com ensino primário e para dar continuidade
aos estudos, alguns pais de família matriculavam seus filhos em outras cidades, caso
contrário as crianças e jovens eram obrigados a trabalhar com seus pais.
Muitos foram os serviços oferecidos pela S.A.E.R. para os estudantes e, como nos
informa o estatuto e nossos colaboradores, a sociedade distribuía bolsas de estudos aos
estudantes carentes e possuía um transporte que levava os estudantes para instituições
educacionais na cidade de Areia. Assim, a S.A.E.R. buscava auxiliar alguns estudantes
para acompanhar a aprendizagem e o seu desempenho. Os recursos eram obtidos por meio
de uma verba do governo federal, bem como da contribuição mensal de cada sócio e/ou
190
Ata de Fundação e Estatuto da Sociedade de Amparo ao Estudante de Remígio (S.A.E.R.) em 10 de
novembro de 1958.
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doações, assim, procuravam auxiliar e amparar os estudantes, embora na prática isso não
acontecesse a todas as crianças e jovens do lugar.
191
Atual Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus II.
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Pra estudar e fazer pesquisa, algumas vezes usávamos, porque nós tínhamos
alguns livros, não era uma biblioteca grande, mas era uma pequena biblioteca,
mas era boa, nós frequentávamos, tinha mesas lá, tinha uma radiola para se
fazer, naquele tempo se chamava Assustados. Os estudantes, pronto, no dia dos
estudantes era uma folia muito grande, jogos nós organizávamos, fazíamos jogos
de baleada para as meninas, o campo de futebol era para os rapazes. Tudo isso
existia, era coisa maravilhosa.192
Posteriormente, o meio utilizado para levar os alunos era através de um ônibus que
foi adquirido pelo Projeto de Lei 433/1959 do Deputado Luiz Bronzeado (UDN/PB).
Segundo a Ementa o Poder Executivo autorizou a abrir, pelo Ministério da Educação e da
Cultura, o crédito especial de Cr$ 1.200.000,00, para atender à despesa de aquisição de um
ônibus pela Sociedade de Amparo ao Estudante de Remígio. 193 Assim constam dos artigos
do projeto:
192
Maria do Carmo Henriques Meira. Entrevista concedida a autora no dia 04 de janeiro de 2018.
193
Brasil.CâmaradoDeputados.Disponívelem:http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegr
a;jsessionid=5866298D2AE950B1AFA60D033DF2C31B.proposicoesWeb2?codteor=1206481&filename=
Avulso+-PL+433/1959, página 3. Acesso no dia 15 de junho de 1959.
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Durante muitos anos o ônibus da S.A.E.R. fez parte da história de muitas pessoas
que utilizavam esse transporte para estudar em Areia, pois diante das dificuldades de
deslocamento para estudar em outra cidade, o ônibus, considerado de grande importância
para a época, foi responsável por contribuir na educação dos estudantes remigenses.
Existiam diversas atividades educativas que eram oferecidas aos jovens estudantes
que frequentavam esta sociedade. Por meio da oralidade que nos chegaram pelos
depoimentos concedidos, debruçamo-nos sobre os sujeitos atuantes desse período, junto à
atuação no espaço do vivido. As atividades socioeducativas que eram realizadas no
interior da S.A.E.R. estavam presentes na realização de diversos cursos, a exemplo do
curso de datilografia, com duração de três meses, oferecido pela Prefeitura Municipal em
194
Brasil.CâmaradosDeputados.http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=
5866298D2AE950B1AFA60D033DF2C31B.proposicoesWeb2?codteor=1206481&filename=Avulso+-
PL+433/1959,página 3. Acesso em 16/09/2017.
555
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parceria com o Senac, a professora era Rita de Cássia Cavalcante, e a mesma nos informa
detalhes desse período:
Era três meses. Três e as vezes até quatro meses, dependendo. Mas o certo era
de três meses, era 90 dias de curso. Aí ensinava nesse tempo pela S.A.E.R. e
pelo SENAI e pelo SENAC. Eles mandavam as bolsinha azul, por sinal ainda
tenho uma, guardei uma bolsinha azul, foi a única coisa que eu guardei, foi a
bolsinha azul.196
A S.A.E.R. é lembrada pelo amparo aos estudantes, bem como por suas frequentes
st s v ntos so s Ess s l m r n s qu z m om qu ― s prát s os h t nt s
195
Rita de Cássia Cavalcanti. Entrevista concedida a autora no dia 20 de abril de 2017.
196
Rita de Cássia Cavalcanti. Entrevista concedida a autora no dia 20 de abril de 2017.
197
Fernando Mota Peixe era professor e instrutor de bandas colegiais da cidade de Areia -PB
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criam no próprio espaço urbano uma multitude de combinações possíveis entre lugares
nt os s tu s nov s ‖ (CERTEAU 3, p.199). É possível perceber a influência
que essa sociedade exercia no meio sócio cultural da cidade de Remígio através dos
desfiles cívicos realizados no dia 07 de setembro em comemoração à independência do
Brasil, e como nos conta Maria do Carmo Henriques Meira
A educação de Remígio hoje ainda deve a algum resíduo da SAER. Foi tudo. A
SAER foi tudo. Aquela leva de estudante que terminava o quarto ano primário,
minha mãe preparava eles para o exame de Admissão e muitos prestavam o
exame de admissão em Areia. A partir da SAER quem fazia o exame de
admissão passou a cursar o primeiro ano ginasial em Areia, no colégio estadual
ou então no colégio Santa Rita, quer dizer tudo isso foi uma ajuda muito grande.
198
Maria do Carmo Henriques Meira. Entrevista concedida a autora no dia 04 de janeiro de 2018.
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BIBLIOGRAFIA
ALBERTI, Verena. Manual de História Oral.. 3ª edição. Rio de Janeiro: Editora: FGV,
2005.
Burke, Peter. O que é História Cultural? Trad. Sergio Goes de Paula 2ª ed. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editora. 2008;
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer; 18. Ed. Tradução de
Epharim Ferreira Alves. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
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Introdução
Constantemente em todos os cantos do Brasil, geralmente em fins de semanas,
pessoas se reúnem em templos chamados terreiros de candomblé com o objetivo religioso
de louvar e invocar em longas cerimônias os orixás, inkissses e voduns por meio de
cânticos e danças culminando com uma alimentação sagrada dessas divindades oferecida
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aos visitantes e membros do terreiro, fator determinante para a união de uma comunidade
de terreiro e a preservação das ações dos deuses. É neste cenário que encontramos um
Candomblé sobrevivente da cultura e forma de resistência negra frequente na década de
1780.
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culto como na vida particular de seus adeptos. A comida no cotidiano do terreiro ganha
dimensão valorativa, tendo em sua representatividade um alimento para o corpo e também
para um bem espiritual. O enfoque da pesquisa, conforme citado, consiste nos alimentos
ofertados nos processos ritualísticos às divindades e as influências dessas alimentações na
vida dos adeptos.
Com uma abordagem qualitativa, a pesquisa tem como base um conjunto de dados
produzidos que devem ser interpretados, compreendidos e contextualizados e não
quantificados ou mensurados. Antônio Chizzotti (2003, p. 221) em relação às abordagens
qu l t t v s rm qu ―o t rmo qu l t t vo mpl um p rt lh ns om p sso s tos
e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados
visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção s nsív l ( )‖ Ap s st
experiência o pesquisador em uma hermenêutica traduz em texto os significados patentes
ou ocultos do seu objeto de pesquisa.
O terreiro, local dos costumes e preceitos dos deuses africanos, revela uma cultura
ressignificada oriunda dos negros escravizados, onde momentos de africanidade são
preservados em sua representatividade se adaptando a vários contextos, preservando uma
identidade. Sendo assim, a comida ritual de um terreiro expressa, com sua organização,
ingredientes e cores, o ordenamento de um sistema cultural simbólico (DOUGLAS, 2014).
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para arriar uma mesa de alimentos aos orixás, e exigem rituais, é acendida (sic) uma vela e
acompanha um copo de água, para que h j r n s m nto luz‖ (Y m njá)
Cada Orixá possui suas predileções alimentares e suas interdições. Assim, temos os
alimentos que os fortalecem e são bons para seus filhos e os alimentos que causam danos
aos Orixás e, por consequência, a seus filhos e filhas. Os pratos sagrados e seus
ingredientes singularizam as divindades:
Oferendas de comida fazem parte da rotina das mães e filhos de santo, marcam o
cotidiano de um terreiro, desde a mais simples – um pratinho de milho branco
cozido para Oxalá e pipoca para Obaluaê – até as mais elaboradas, que
envolvem diversos materiais e preparativos mais trabalhosos. As comidas
ofertadas para os orixás, depositadas ao pé dos assentamentos, são feitas com os
ingredientes prediletos de cada um e exibidas em belas composições de cor e
textura, que não raro desenham algum elemento distintivo da divindade.
(RABELO, 2013, p. 253)
Poulain (2004) ao se referir a uma determinada sociedade afirma, que ela pode ser
distinguida de outras pelos alimentos que consome, mediante os simbolismo neles
presentes. Nos terreiros de candomblé, a simbologia das comidas rituais está presente na
mitologia africana que são repassadas no ensino aprendizagem em seu cotidiano. Por
intermédio de práticas educativas, nas relações interpessoais, os neófitos aprendem com
seus mais velhos, receitas específicas direcionadas à representatividade de cada orixá no
intuito de agradecer por dádivas alcançadas.
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Isso or n ―n om o r o‖ n ompr ns o um ― r ul o
á v s‖ (MAUSS 8) m qu os pr tos x ut os s o or nt os p los mitos,
efetuados por meio de ritos, tendo representatividade no valor das suas mensagens que são
trocadas quando são consumidos pelas comunidades, que agregam valores éticos e
religiosos (SANTOS, 1997, p.162).
Nesse sentido a mitologia africana, com seus itans é instrumento fundamental para
compreensão do simbolismo existente nas comidas ritualísticas articulando os alimentos às
vn s ―Ox lá um or xá lmo s r no nt o o r mos om s r s l omo
o mugunzá branco, já Xangô por ser um orixá do fogo, seu prato votivo, amalá, é servido
qu nt om st nt p m nt ‖ (Oyá) nn o ntificando-as com os arquétipos dos
orixás.
Uma das alimentações proibidas para mim na Casa Fanti, foi à carne de carneiro,
e o jerimum moranga, até os dias de hoje eu não como e minha família também
não. Diz o itan que Oyá queria ter filhos e não conseguia, porque comia carne de
carneiro, sua quizila. Então foi consultar um Babalaô que mandou ela fazer uma
oferenda com carneiro, desta oferenda ele preparou um remédio e Oyá pode
engravidar, porém o carneiro ela nunca mais pode comer. Então a carne de
carneiro é proibida para seus filhos. Assim eu aprendi e assim eu conduzo minha
casa. (Oyá)
Quizila, termo bantu, ou èèwò, termo iorubá, é tudo aquilo que provoca uma reação
contrária ao axé de um neófito ou de um terreiro de candomblé. Vale ressaltar que existem
as quizilas do Orixá, ou seja, o que nunca se pode dar ao orixá, e quizila dos filhos do
orixá, que o neófito não pode ingerir por ser contra-axé em sua vida, como no caso do
566
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carneiro pelo nosso interlocutor, e tem também algumas comidas que tem sua simbologia
ligada ao Orixá, mas que o filho não pode comer, e aqui especificamos a não ingestão da
abóbora pelo nosso interlocutor, pois há um itan de Iansã que revela que ela quase foi
morta por um carneiro que a traiu chamando seus inimigos para matá-la. Para fugir destes
inimigos, Iansã precisou se esconder no meio de uma plantação de abóboras por toda uma
noite disfarçada como tal, e por gratidão de ter escapado da morte jurou nunca mais comer
abóbora (PRANDI, 2001).
Os èèwòs não são atos somente dos neófitos em relação aos seus orixás, as diversas
nações existentes nas religiões de matriz africana também apresentam suas quizilas:
Na minha nação os filhos têm restrições alimentares, não podem roer osso de
forma alguma, não pode comer miúdos dos animais que são sacralizados em
nossa nação Angola, não podem comer carne de caranguejo, arraia e tem
restrições a algumas frutas tais como melancia, abacaxi, abacate e outras. Isto é
para todos os filhos que são iniciados no inkisse, após a obrigação dos sete anos,
quando se tornam ebomis, algumas das vezes eles questionam sobre essas
proibições, aí a gente fala tentem comer, caso faça mal pode se tornar uma
quizila para toda vida. Mas existem alimentos que serão quizilas para toda vida,
pela história de seu orixá (Oxalufã).
567
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espaço sagrado, do portão de entrada para cá não entra tangerina. Os iaõs são
proibidos de comer, aliás nem eu, Iyalorixá, como, porque todo o axé de Efón
pertence a Oxum. Os iaôs além da tangerina que é a quizila da nação, eles
também terão interditos alimentares, vai variar das vontades de seus orixás. E se
a casa estiver em obrigação nem café se faz dentro da casa, porque é quizila de
meu pai Oxaguiã. Quizila não tem uma regra definida, é o orixá quem coloca
seus interditos. (Oxaguiã).
Considerações finais
568
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Referências Bibliográficas
LIMA, V. C. Introdução. In: REGIS, Olga Francisca. A comida de santo numa casa de
queto da Bahia. Salvador: Corrupio, 2010.
569
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PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das letras, 2001.
SANTOS, C.R.A. dos. Por uma história da alimentação. História: Questões & Debates,
Curitiba, v. 14, n. 26/27, p. 154-171, jan./dez., 1997.
SOUSA JÚNIOR, Vilson Caetano de. Na palma da minha mão: temas afro-brasileiros
e questões contemporâneas. Salvador: EDUFBA, 2011.
WOORTMANN, Ellen. A comida como linguagem. In: Habitus, Goiânia, v. 11, n.1, p. 5-
17, jan/jun. 2013.
570
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Resumo: Esse trabalho tem por objetivo analisar a implementação do escotismo na cidade
de Ceará-Mirim, no estado do Rio Grande do Norte, a partir da instalação do Centro
Regional de Escoteiros de Ceará-Mirim – CRECM, no Grupo Escolar Barão de Ceará-
Mirim a partir do ano de 1946, sendo então o primeiro Grupo Escoteiro criado na cidade.
O escotismo no Rio Grande do Norte teve seu início no ano de 1917, servindo de proposta
de educação extraescolar, em consonância com a legislação nacional desde o ano de 1928.
Aos poucos, se espalhou pelo estado, por meio da criação de Associações Escoteiras e dos
Centros Regionais de Escoteiros, sendo estas diferentes nomenclaturas e formas para
instalação de grupos de escoteiros no estado, que por sua vez estavam vinculados à União
dos Escoteiros do Brasil. Metodologicamente, analisamos o discurso de criação do
escotismo na referida cidade, a forma como esta instituição foi caracterizada e exaltada e a
identificar quais os jovens que a mesma se propôs a atender. Debrucei-me então à leitura
do o Livro de Têrmos e Atas de Promoções no período que vai de 1946 a 1956; a
Caderneta de matrícula e diaria do referido grupo escolar. Nesse documento, foi
registrado em sua primeira página a Ata de Creação do Escotismo no Grupo Escolar
199
Pesquisa financiada pela CAPES
200
Orientador. Professor do Departamento de Práticas Educacionais e Currículo da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte. É vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEd/UFRN). Doutor
em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (PPGE/UFPB). E-mail: azemarsoares@hotmail.com
571
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“Barão de Ceará-Mirim” principal item para análise, junto dos registros de matrícula do
CRECM. Para discussão da temática, me amparo nos estudos de Azemar dos Santos
Soares Júnior (2015), Iranilson Buriti de Oliveira (2017) e Marta Carvalho (2003), que
tecem análises sobre o escotismo/escoteirismo enquanto instituição formadora e
modeladora de uma juventude alinhada a ideais republicanos que exigiam uma formação
para o desenvolvimento físico, moral e cívico, uma docilização dos corpos e mente dos
jovens escoteiros. Com isso, percebe-se então que esta instituição atuou paralelamente ao
Grupo Escolar da cidade tendo como pressuposto anunciado na sua criação de ser um
suporte fundamental para formação moral e incentivadora de um nacionalismo patriótico,
de forma em que contribuísse também para que os escoteiros passassem a tomar a sua
formação escolar e extraescolar como elementos de sua responsabilidade e enquanto
compromisso para com o seu próprio desenvolvimento.
Introdução
201
Centro Regional, Confederação, federações ou Associação de Escoteiros eram denominações existentes
até então para criação de núcleos/grupos de escoteiros.
572
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Passei então neste trabalho a analisar a criação do escotismo nessa cidade a partir
do discurso de criação lavrado desta sessão solene, junto também dos registros de
matrícula do CRECM, em busca de compreender quais características lhe foram
atribuídas, como fora exaltada e, por fim, a identificar quais os jovens que se tornaram
público alvo de seu atendimento. Para tanto, amparo-me nas concepções apresentadas por
Iranilson Buriti e Andressa Leandro (2017) que trata do escotismo enquanto uma
organização de caráter extraescolar criada para complementar a educação formal nos
estabelecimentos de ensino. Logo, o escotismo estava sendo criado para promover
atividades concomitantes às atividades do Grupo Escolar onde foi instalado, visando
consolidar práticas impregnadas do discurso político, educacional e cívico que estava
sendo disseminado na época. Importava, pois, nesse cenário a promoção de uma disciplina
moral, física e intelectual dos jovens. Toma, portanto, importância nesse sentido o estudo
de Azemar Soares Júnior (2016) em que compreende o escotismo/escoteirismo como uma
modalidade esportiva nas escolas que visou formar corpos disciplinados e fisicamente
vigorosos enquanto parte da formação dos escolares.
Nesse artigo, que se caracteriza também como uma contribuição para as discussões
acerca do escotismo no Brasil, em especial no Rio Grande do Norte, apresentei e analisei
as características atribuídas às práticas educativas exaltadas no discurso e registradas nos
documentos citados. Prossegui identificando dados sobre os escolares e não escolares que
foram matriculados no CRECM durante os seus três primeiros anos de atividade (1946-
1948), de forma a perceber ainda as propensas contribuições dessa instituição sobre as
573
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demandas escolares desses educandos. Para então tecer minhas considerações finais
compreendendo a projeção de uma educação moral, intelectual, física e cívica por meio do
escotismo na cidade e sua ideia de colaboração para com a educação formal na localidade
enquanto promotora de práticas disciplinares.
Expunham e registravam dessa forma louvor e graças à criação, pelo general inglês
aposentado Robert Stephenson Smyth Baden-Powell, conhecido também por muitos
escoteiros pelo apelido B-P, que na Inglaterra no ano de 1907 realizou um acampamento
experimental com 21 rapazes para por em prática atividades que sugeria em seus livros de
educação e adestramento de rapazes e assim inaugurava o Escotismo; Aids to Scouting
traduzido em português como “ajuda à exploração militar” foi um dos livros de Robert
Baden-Powell bastante difundido entre escolas masculinas inglesas. Esse não foi o único
livro instrutivo por ele produzido. Fruto de sua experiência no acampamento experimental,
que foi realizado no Canal da Mancha, mas especificamente na conhecida Ilha de
Brownsea, publicou em fascículos o livro Scouting for Boys, com tradução para Escotismo
para rapazes, onde assumiu a nomenclatura e técnicas enquanto escoteiras (BADEN-
POWELL, 2008). O livro proporcionou a multiplicação das suas ideias por varias partes
do mundo, a ponto de que em 6 de agosto de 1920 escoteiros de diversos países se
reunirem em Londres e aplaudirem-no aclamando-o como Chefe Escoteiro Mundial, como
574
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apresenta a União dos Escoteiros do Brasil (2014). Passou-se então a construir-se uma
imagem de B-P como um herói para os escoteiros.
Quem seria o público-alvo do CRECM e por qual motivo? Uma possível resposta a esta
questão daria, portanto, indícios da compreensão daqueles sujeitos, que se propuseram à
criação do escotismo a cidade, sobre a relevância do tema para a formação de alguns
jovens. Como também sobre uma percepção de que aqueles jovens necessitavam ser
impregnados dos preceitos previamente enunciados e exaltados.
Deveriam tornar-se fortes para servir ao seu país. Aliás, é com palavras de projeção
qu pr s nt v m no Br s l o l vro ―Guia do escoteiro‖ qu ntr u p r ompor
biblioteca do Grupo Escolar estampava em sua capa o r to u rr : ―P lo uturo o
Br s l‖ N st o r o V lho Lo o202 (1932) descreveu elementos tais como: o fazer-se
escoteiro com sua vida seguindo seus códigos, a forma de organização do grupo escoteiro,
as vestimentas escoteiras, as formas como deveriam saudar-se utilizando de sinais que
representavam seus deveres, como organizar e respeitar as cerimônias com uso dos
símbolos da pátria, técnicas de orientação, excursões, marchas, higiene, acampamentos e
demais atividades escoteiras e uso e organização dos diferentes materiais necessários.
202
Velho lobo era o pseudônimo utilizado por Benjamin de Almeida Sodré nas obras escoteiras que escrevia,
foi um almirante da marinha do Brasil (1955), jogador da seleção brasileira de futebol (1910-1916), maçom
e escoteiro fundador do 4º Grupo Escoteiro do Rio de Janeiro e presidente da União dos Escoteiros do Brasil,
se configurou um idealizador no escotismo brasileiro, sobre o qual se dedicou desde meados da década de
1920.
576
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Percebo então, que essa literatura escoteira descrevia, através desse conjunto de
elementos, um jovem (do sexo masculino) com vestimentas escoteiras, em postura reta
física e moral, apoiado nos seu bastão ou totem de patrulhas de escoteiros, bem calçado
protegendo seus pés por seu coturno e meião à altura do joelho, protegido do sol com seu
chapelão, vestido numa indumentária que lhe permitia flexibilidade para correr, saltar,
escalar, marchar, e ainda cobrando-lhe que olhasse à para frente, inspirando a sensação de
estar almejando seu futuro, bem equipado e preparando um futuro homem forte para seguir
adiante em suas atividades pelo bem do seu país e pelo exemplo que iria transpor para a
sociedade. Com isso o Guia do escoteiro idealizava um escoteiro completo, que seria
aquele que aprendesse todas as orientações e técnicas escoteiras necessárias para ser
destacar socialmente.
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de família com melhores condições financeiras, o que ajudaria para manutenção desses
jovens na instituição, que demandava vestimentas exclusivas como os uniformes
escoteiros, por exemplo. E, também, significaria maior possibilidade de frequência devido
estarem residindo próximo daquela instituição para participar das atividades escoteiras.
Assim, passo a problematizar as razões que levaram essas crianças a serem selecionadas
como escoteiros, e quais outros elementos poderiam ser percebidos além dos já suscitados.
578
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Mas o problema residiria não na turma a qual era oriundo, mas no fato de terem na
mesma série alunos com disparidades de idades, a ponto de que os alunos/escoteiros no 1º
ano variavam com idades entre 10 e 15 anos de idade, no 2º ano entre 10 e 16 anos, no 3º
ano, entre 12 e 17 anos, no 4º ano entre 11 e 15 anos e no 5º ano entre 11 e 14 anos de
idade. Ou seja, foram selecionados, em sua maioria, os alunos repetentes, os alunos que
estavam em idade adversa ao ensino primário e também matricularam em alguns casos, os
seus irmãos. Quanto aos demais escoteiros, ainda não foi possível o encontro de
documentos que possibilitassem analisá-los. Mas, aos escolares este era um elemento de
tensão a ser resolvido. Tentar transformá-los em escoteiros foi então uma medida tomada.
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físicas, por meio de constantes marchas e exercícios, de cuidados com o corpo e por meio
de práticas saudáveis de higiene e asseio. Era necessário ainda transfigurar a imagem
aluno fracassado, repetente, indisciplinado, em um escoteiro responsável pelo seu
desenvolvimento, obediente aos seus superiores (pais, professores e autoridades políticas),
respeitosos aos símbolos da Pátria e aptos a servi-la. Era então um discurso que previa um
processo de esquadrinhamento e desarticulação do corpo irregular para recompô-lo na
pt um ― n tom s ot r ‖ N ss s nt o xpr ss o s ot ro v l m um
mero explorador do mundo, configura-se enquanto idealização dos educadores da época
enquanto sujeito leal a seus direitos e deveres cívicos, morais, físicos e intelectuais para
que se tornasse cada vez mais útil para a sociedade que lhe demandava esforços para
construir uma nação que prosperasse diante das suas dificuldades, que demonstrasse sua
força e poder de constitu or um t mpo promo o ―p z‖ o r sp to por m o
da subordinação, do disciplinamento, representado ainda por uma "figura masculina ideal",
concordo então com Iranilson Oliveira e Andressa Leandro (2017, p.154), quando afirmam
qu ―o s ot smo ‗ nv ‘ R o Nor st num mom nto m qu st n ss t v
referenciais de masculinidade para a sua sociedade. O escotismo passou então a
representar uma forma para construção de uma masculinidade inculcada na juventude
desde a infância.
Considerações finais
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tempo, pautada nos ideais do homem republicano obediente ao sistema de governo e alerta
para servi-lo ao invés de prestar resistência, indisciplina ou inutilidade. O discurso
preconizava, portanto, uma juventude incompleta, que deveria ser formada, disciplinada
para que fosse possível desfrutar de um futuro saudável, o que seria possibilitado pela sua
imersão nas práticas escoteiras. Estudar sobre o escotismo fundado junto a uma instituição
escolar é ainda destacá-lo enquanto parte da história educacional dessa cidade potiguar.
Referências
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Resumo
A história se constrói nas relações humanas, ou seja, em todos os aspectos da vivência dos
seres humanos a teia da história é tecida, o que significa dizer que não há história sem o
homem (gênero humano) como também não existe homem sem história. Nesse contexto, o
brincar e tudo que está relacionado com ele como brincadeiras e brinquedos, são
percebidos como construtos histórico-culturais que, como tantos outros são passíveis de
mudanças, descontinuidades ou permanências. Muitas brincadeiras e brinquedos que
foram criados por civilizações muito antigas permanecem em uso até os dias atuais, é certo
que, na maioria das vezes, com algumas modificações, enquanto outras dessas brincadeiras
e brinquedos simplesmente desapareceram. Outro aspecto a ser analisado é o caráter
pedagógico que muitos brinquedos e brincadeiras carregam e de forma sutil cumprem ou
cumpriram a tarefa de inculcar nas jovens mentes muitos valores, usos, costumes e
atitudes estabelecidos em uma sociedade. Observando o comportamento dos alunos de
uma turma do 6º ano, nos intervalos de recreação, percebi que as brincadeiras
desenvolvidas por eles eram diferentes das que eu e meus colegas costumávamos brincar
quando tínhamos a mesma idade que eles têm hoje (cerca de 11 anos de idade), vi nesse
fato, uma boa oportunidade de levá-los a compreender as mudanças e permanências que
fazem parte da história/cultura, em um simples ato de brincar pode estar presente
elementos materiais e/ou imateriais da cultura e é justamente o processo de
descontinuidades/permanências sofridas por esses elementos que denominamos de
―h st r ‖ R onh r-se como agente histórico, é sem dúvida muito importante para que
o educando valorize e envolva-se cada vez mais nos estudos da disciplina escolar
―H st r ‖ O r n r nos p r t r um r n ontr uto r os pro ssor s
principalmente aos estudantes, no que se refere à facilitação da aprendizagem. Aqui,
n l s r mos pl o o Proj to ―A h st r o r n r o pr n r r n n o‖
real z o om r r turm o 6º no pr m o om o ―Prêm o M str s
E u o‖ o r o p lo Gov rno P r í n o 4
1. Introdução
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história sem o homem (gênero humano) como também não existe homem sem história.
Nesse contexto, o brincar e tudo que está relacionado com ele como brincadeiras e
brinquedos, são percebidos como construtos histórico-culturais que, como tantos outros
são passíveis de mudanças e permanências.
Muitas brincadeiras e brinquedos que foram criados por civilizações muito antigas
permanecem em uso até os dias atuais, é certo que, com algumas poucas modificações,
enquanto outras dessas brincadeiras e brinquedos simplesmente desapareceram. É
possível, dessa forma, fazer com que os alunos identifiquem nas práticas cotidianas do
passado em comparação com as do presente as mudanças e permanências buscando dar
sentido ao que na escola estudam como o conhecimento histórico.
Fazer com que os educandos descubram como as crianças de sua faixa etária se
divertiam no passado é possibilitar uma viagem no tempo e a redescoberta do brincar em
grupo, uma forma de valorizar a afetividade e a convivência social.
Nessa direção, é importante também fazer com que os estudantes conheçam formas
de produzir seus próprios brinquedos utilizando-se de diversos materiais recicláveis, isto
pode contribuir tanto para o divertimento dos mesmos como para a conscientização acerca
da preservação ambiental.
Fo o s rv n o o omport m nto os lunos o 6º no ―B‖ nos nt rv los
recreação, que percebi que as brincadeiras desenvolvidas por eles eram diferentes das que
eu e meus colegas costumávamos brincar quando tínhamos a mesma idade que eles têm
hoje (cerca de 11 anos de idade), vi neste fato, uma boa oportunidade de levá-los a
compreender as mudanças e permanências que fazem parte da história/cultura dos seres
humanos. Desse modo, constatamos que em um simples ato de brincar pode estar presente
584
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Nesse cenário, o brincar pode, portanto, ser utilizado como estratégia de integração
entre as duas referidas fases da educação escolar, propiciando o despertar do interesse dos
educandos pelos conteúdos curriculares e facilitando o seu entendimento.
No caso das aulas de história, nós, professores dessa disciplina sabemos como é
difícil fazer com que uma classe de alunos se interesse pelos conteúdos. É tudo muito
― h to‖ l s z m ou ―o pro ssor l mu to‖ R lm nt mu to ont ú o mu tos
textos, muitas informações, mas, podemos fazer com que tudo isso se torne menos
enfadonho, basta utilizarmos o brincar associado ao aprender.
585
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203
Magnabosco (2007, p. 27) afirma que os japoneses produziam bolas com fibras de bambu há
aproximadamente 6.500 anos, já os chineses utilizavam como matéria-prima, crina de cavalos. E os romanos
e gregos tinham preferência pelas tiras de couro, penas de aves e até bexiga de boi, para confeccionar esse
brinquedo.
586
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Por fim, a produção dos brinquedos e jogos com materiais recicláveis apresentou-
se como ponto culminante do projeto, momento de materialização de tudo o que foi
proposto.
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Quadro 1: Fotos dos estudantes confeccionando e apresentando cartazes contendo imagens e informações
sobre brinquedos e brincadeira do passado. Fonte: arquivo pessoal do autor.
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A turma mostrou-se bastante animada com as descobertas realizadas por meio das
pesquisas. Os mais desinibidos apresentaram com certa desenvoltura, os resultados de seu
trabalho aos colegas.
Essa primeira fase permitiu que os alunos interagissem com os adultos de sua
família e, em alguns casos, com vizinhos. O encontro de diferentes gerações proporcionou
a troca de conhecimentos, desse modo, a historicidade da vida cotidiana foi revelada.
Nessa fase, foram apresentados diversos tipos de brinquedos que serviram de base
para a confecção de brinquedos com materiais recicláveis. Os alunos decidiram quais
brinquedos queriam produzir e a partir desta escolha souberam quais materiais deveriam
conseguir. Brinquedos como vai-vem, feitos com garrafas PET, ônibus com caixa de
papelão e com rodas de tampas de garrafas PET, telefone feito com copos plásticos e
cordão, aviãozinho feito com prendedor de roupas e palitos de picolé, jogo de damas,
jogo-da-velha, estes e outros estão na lista dos escolhidos.
591
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Na terceira e última fase, a turma já de posse dos materiais recicláveis e com outros
materiais que eu forneci puderam iniciar as produção de diversos brinquedos, que foram
escolhidos por eles na fase anterior, os modelos foram novamente expostos em slides para
que os educandos pudessem basear sua produção nos modelos escolhidos. Na ocasião,
supervisionei e auxiliei a turma na produção dos brinquedos.
Quadro 3: Fotos dos alunos produzindo brinquedos com materiais recicláveis. Fonte: arquivo pessoal do
autor.
Essa última etapa foi dividida em dois momentos, o primeiro, apresentados nas
imagens do quadro 3, consolidou-se com a produção dos brinquedos, já o segundo, se deu
com a produção do jogo de trilha (com temas históricos), com a exposição dos brinquedos
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confeccionados e com a exposição oral das conclusões finais do projeto. Esse foi o ponto
de culminância do projeto. No final, agradeci e parabenizei a turma pelo empenho e
participação de todos. Na ocasião, a coordenadora pedagógica da escola assistiu ao
momento de exposição dos resultados. Como forma de agradecimento e reconhecimento
pela atuação da turma distribuímos lancheiras contendo pipoca e doces.
Considerações finais
A concretização do projeto ―A h st r o rn r o pr n r r n n o‖ o
m uv r st nt prov tos p r turm o 6º no ―B‖ E E E F Ant nor N v rro O
envolvimento dos alunos nas atividades do projeto, a alegria em descobrir novas
brincadeiras (novas para eles, mas antigas em suas origens), o prazer em produzir o
próprio brinquedo e ainda contribuir para preservar o meio-ambiente e, por fim, o
reconhecimento da importância do cotidiano na construção do conhecimento histórico-
cultural dentro e fora da escola, foi muito significativo para mim como professor e
acredito que da mesma forma para os alunos.
Não é fácil colocar em prática projetos como esse, bom seria se pudéssemos
trabalhar sempre dessa forma, mas a realidade que vivenciamos não é esta, nós professores
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não temos apenas uma turma e, dificilmente poderíamos realizar um projeto assim em
todas as turmas que lecionamos, mas, trabalhar com projetos, apesar de desafiador, nos faz
refletir sobre nossas práticas docentes cotidianas e nos estimula a nos reinventarmos como
professores.
Referências
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Introdução
No contexto da década de 1920, o Brasil vivia sob os auspícios do movimento
sanitar st r t r z o p lo nt r ss nt r r tr v s o s n m nto os ―s rt s‖ o
homem sertanejo relegados ao abandono do poder público e às doenças endêmicas que
afetavam grande parte da população do interior no Brasil. Como tributário desse
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movimento, foi criado em 1920 o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), por
força do Decreto nº 3.987 que reorganizava os serviços de Saúde Pública, subordinado ao
Ministério da Justiça e Negócios Interiores, com o objetivo de se tornar o órgão federal
mais importante da área de saúde (BRASIL, 1920a; HOCHMAN, 1998).
205
Eduardo Rabello (1867-1940), foi um médico higienista e sifilógrafo brasileiro de prestígio acadêmico,
nacional e internacional pelo trabalho desenvolvido no campo da sifilografia e dermatologia. Doutorou-se
pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro m 9 3 om t s ―H m tolo nqu lost mí s ‖
206
Doença secular caracterizada como uma infecção sistêmica que tem como agente etiológico a bactéria
Treponema pallidum, sendo transmitida sexualmente ou de forma congênita.
596
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207
Preparado químico feito à base de arsenobenzóis, altamente tóxico, desenvolvido na Alemanha em 1909
pela equipe dos médicos Ehlrich e Hirata, que foi apresentado com a promessa de ser um medicamento
específico para destruir o T. pallidum (CARRARA, 1996).
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A sífilis, como esclareceu Susan Sontag (2007), dentre todas enfermidades sociais
ao menos não era misteriosa, uma vez que era a consequência em geral de contrair o
flagelo era de fazer sexo com um portador da doença. Desse modo, em seu papel de flagelo
a sífilis implicava um julgamento moral quer sobre uma vida sexualmente imoderada e
promíscua, quer sobre a prostituição (SONTAG, 2007, p. 38-39). Carregada de uma conotação
moral, a doença era revestida de vergonha e pudor, o que levaria, segundo o médico, a
população a não procurar os serviços sanitários. Aliado a isso, o desconhecimento dos meios
de profilaxia e higiene do sexual do corpo por parte da população leiga em geral
possibilitariam a sífilis se propagar de forma quase irrefreável.
598
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O mal poderia estar oculto não somente nos beijos e prazeres da prostituta do
bordel mais próximo, mas também em atos cotidianos e aparentemente desprovidos de
qualquer perigo como a amamentação. O médico José Maciel narrou nas páginas da
revista Era Nov o so um m qu ―[ ] m m nt n o o lho v z nh qu r
uma syphilitica completa e de cujas mazelas já participava a creança, se havia
infeccionada na mama e pela mesma as transmitindo ao seu inocente filhinho que nascêra
solut m nt s o‖ (Era Nova, 15 jun. 1922).
Situações como a acima descrita eram utilizados como elemento retórico de modo
a fomentar medo na população diante do flagelo da sífilis. O documento informa que a
contaminação pela sífilis estava para além do estereótipo vinculado a prostituição. Com
efeito, urgia a necessidade de empreender uma educação sanitária para a população e
ensinar as maneiras de se prevenir contra o perigo venéreo. Essa missão saneadora seria
entregue ao profissional da medicina, uma vez que conforme afirmou André de Faria
Pereira Neto (1995), para legitimar o seu papel na sociedade, a classe médica precisava
599
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[...] essas palestras assumem real importância, quando proferidas, nas fábricas,
nas officinas, nos quartéis, nas sociedades particulares, em núcleos operários,
nos meios collectivos, emfim, sem a presença de creanças, onde certos
assumptos, como o das doenças venéreas á frente, podem ser tratados
livremente, sem rodeios e sem palavras e phrases veladas (MAROJA, 1927, p.
11. Grifos meus).
600
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Vera Regina Marques Beltrão (1994, p. 118), argumentou que a proposta de uma
u o s n tár r p ut p lo pr n íp o qu ―[ ] os ultos n o r u r
m s nstru r‖ Ess mo lo u o s n tár s inseria em uma estratégia de
r n m nto popul on l ntr n on p o o ― orpo-máqu n ‖ o orpo
suscetível a ser moldado, esculturado, tornado saudável e apto para os processos
produtivos. A educação higiênica, por meio de palestras ou propaganda sanitária, almejou
transvestir profilaticamente os hábitos dos trabalhadores e suas famílias através da
―h nz o norm l z or ‖ mol os o proj to v l z t r o qu s pr t n p r
Paraíba como parte da construção da nação brasileira.
Disciplinar o corpo para se livrar das doenças por meio da educação sanitária não
se limitava a orientá-lo pela cabeça, mas sim para o bem-estar da saúde, levando-se em
conta uma higiene corporal, o cuidado com os alimentos, bebidas, ares, exercícios, em
suma, educar higienicamente representava a imagem do funcionamento do organismo sob
o signo da saúde. Um elemento importante para as pretensões sanitaristas de curar o Brasil
e o brasileiro. Com efeito, conselhos sobre como executar uma boa higiene após o ato
sexual eram divulgados na imprensa de modo a orientar o público leitor sobre como evitar
o contágio da sífilis. O uso de soluções antissépticas era incentivado como, por exemplo:
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venéreos, se bem que não mereçam uma confiança absoluta (A União, 13 jun.
1936).
Os doentes acometidos pela sífilis e outras doenças venéreas seriam atendidos nos
dispensários antivenéreos208 sp o t r pêut o on ―[ ] os n ví uos m tr ul os
depois do exame clínico, são submetidos a um tratamento completo, obtendo quase sempre
uma melhora sensível e a cura l s s vár s n tur z s‖ O tr t m nto os s lít os
no sp nsár o ons st no ―[ ] mpr o um ou outr s r pr p r os rs n s
de bismutho ou mercúrio [...] até o reestabelecimento do doente assegurado pelo médico e
pela Warsserman209 (Era Nova, 01 jun. 1924). No entanto, havia resistências, pois, muitos
doentes abandonavam o tratamento (Era Nova, 26 mar. 1922). Nesse caso, os doentes
passariam a receber visitas domiciliares, que eram feitas por médicos ou enfermeiras, na
tentativa de dissuadir os doentes ou suspeitos de estarem enfermos a procurar os hospitais
ou dispensários para fazer o tratamento (CARRARA, 1996). Do dispensário à casa, da
casa ao trabalho, o discurso médico-pedagógico se pretendia presente para disseminar
conselhos higiênicos, panfletos educativos, para instruir higienicamente o trabalhador
pobre no sentido de formar corpos saudáveis. Tratava-se de uma vigilância para disciplinar
o doente e transformar suas condições de saúde.
208
Com base nos dados levantados pela pesquisa, na Paraíba foram instalados quatro postos antivenéreos: O
Dispensário Eduardo Rabello, na cidade Parahyba do Norte (20/12/1921); o Dispensário Silva Araújo em
Cabedelo (29/09/1923); o Dispensário Leitão da Cunha em Campina Grande (16/12/1923) e o Dispensário
Antivenéreo de Mamanguape (15/09/1924).
209
Teste sorológico desenvolvido em 1906 pelo médico alemão August Paul von Wassermann e sua equipe,
capaz de detectar alterações sanguíneas provocadas pela presença do T. pallidum.
602
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Segundo Sérgio Carrara (1996), a década de 1930 vai ser marcada por um contexto
de críticas relativas à profilaxia pautada na educação higiênica e no tratamento individual.
Cons r m s o― r n ‖ ―l r l‖ l sl o qu or n z v lut ontr
sífilis e doenças venéreas não incluía o exame, a notificação e a hospitalização obrigatória,
bem como não procurava instituir a obrigatoriedade do exame pré-nupcial, que deveria
apenas ser incentivado por meios persuasivos (CARRARA, 1996, p. 96). Tais críticas
on r m om o m IPLDV m 934 qu ―[ ] no ojo r orm o D p rt m nto
Nacional de Saúde Pública empreendida pelo governo Vargas, a inspetoria seria
n lm nt xt nt ‖ (CARRARA, 1996, p. 229).
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210
A afirmação feita pelo jornal, de que este seria o único serviço de profilaxia noturna antivenérea, é
equivocada. Ricardo dos Santos Bastista (2017, p 181), ao analisar o combate a sífilis e os impactos da
reforma sanitária na Bahia, demonstrou que em 1936 já se organizava naquele estado um serviço noturno
antivenéreo.
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Considerações finais
Referências
ARAÚJO, Silvera Vieira. Entre o Poder e a Ciência: História das Instituições de Saúde e
de Higiene na Paraíba, na Primeira República (1889-1930). 2016. Tese (Doutorado em
História) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2016.
BASTISTA, Ricardo dos Santos. Sífilis e Reforma da Saúde na Bahia (1920-1945).
Salvador: EDUNEB, 2017.
BRASIL. Decreto n. 3.987, de 2 de janeiro de 1920. Reorganiza os serviços da Saúde
Pública. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, seção 1, 08 jan. 1920a, p. 437.
CARRARA, Sérgio. Tributo a Vênus: a luta contra a sífilis no Brasil, da passagem do
século aos anos 40. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1996.
CASTRO, Oscar de Oliveira. Sessão Inaugural da Semana Médica. In: Semana Médica.
Realizada sob o patrocínio da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba. Imprensa
Official: Parahyba do Norte, 1927.
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A modernidade trouxe uma nova concepção do que seria o belo. Ou seja, como o sujeito
deveria se portar consigo mesmo para, assim, atingir o belo considerado moderno, para o
modelo de beleza do século XX. A beleza para a modernidade se comporta como uma
revelação de si; a consciência de uma interioridade bruscamente ampliada. Sendo assim,
tendo por objetivo perceber nas práticas esportivas do football e do boxer, ilustradas na
Revista O Cruzeiro, o presente artigo versará pela problematização em torno da prática
esportiva como meio de se obter a beleza masculina desejada pelos homens da época.
Desta forma, a beleza se apresentará, no contexto moderno, como uma forma de
transformar-se, abrindo as portas para o novo. Mas também de purificar-se, pois o
indivíduo deixa de lado heranças do antigo, trazendo a salvação e a luz para o sujeito
moderno. Para embasar teoricamente o presente artigo, irei buscar nas análises feitas por
Foucault e suas problematizações sobre o corpo e o cuidado de si, em contraponto com as
questões de higiene e sanitarização que vigoravam durante os anos de 1928 e 1931 na
Revista O Cruzeiro.
PALAVRAS CHAVES: Boxe, Beleza, Football, Masculinidade, Modernidade
Introdução:
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Resolvi escolher dois esportes que obtiveram grande frequência nas páginas da
revista O Cruzeiro: o football e o boxe. A escolha também advém do fato de serem
esportes que foram considerados por muito tempo como exclusivamente do meio
masculino. Para tanto, nos dias atuais, eles ainda são práticas esportivas que permeiam o
imaginário e cotidiano dos homens de nossa época. Historicamente e sociologicamente, o
homem pode demostrar sua virilidade e masculinidade, tanto pela prática quanto pela
apreciação de ambos os esportes. Todavia não irei fazer esse movimento de comparação
entre os homens de nossos dias, e as práticas dos homens do século XX – ao qual me
detenho nesse artigo. Pretendo atender as demandas históricas que vão além da
polarização de lugares através do gênero de cada indivíduo: práticas masculinas e práticas
femininas.
Com isso, o presente artigo nasceu de problematizações que fiz durante a minha
pesquisa de mestrado, em que boa parte das indagações imagem e perspectivas teóricas
também fizeram parte do terceiro tópico do terceiro capítulo da minha dissertação. Para
tanto, desejo ao interlocutor leitor desses meu texto uma ótima viagem no football e no
boxer, esportes esses que escolhi para dar prosseguimento a minha narrativa.
Demostrando, como uma prática esportiva, muito da ressignificação dos homens da época
estiveram presentes.
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Será de suma importância relatar ao leitor que, neste artigo, irei não só me
aprofundar nas atribuições dos esportes para os homens modernos, como também me
centralizarei na própria concepção da beleza – um desdobramento da estética, visto que a
estética é formada através da divisão entre o que é belo e o que é feio (não desejado) –
para a sociedade moderna do recorte temporal de 1920 a 1930.
A modernidade trouxe uma nova concepção do que seria o belo. Ou seja, como o
sujeito deveria se portar consigo mesmo para, assim, atingir o belo considerado moderno,
para o modelo de beleza do século XX. A beleza para a modernidade se comporta como
uma revelação de si; a consciência de uma interioridade bruscamente ampliada. Baudelaire
problematiza o que seria a beleza, para ele, enquanto espectador daquele momento de
mudanças significativas:
Sendo assim, a beleza tanto poderia ser adquirida por um processo natural do
indivíduo moderno, ou seja, uma beleza de nascença; ou uma artificio que a moda poderia
p rm t r S un o V r llo B l z vr s r ―um r t ríst ntr l
mo rn r n o um ‗s nv nt r s pr pr o‘‖ (VIGARELLO 6
p).Desta maneira, a beleza moderna demostrada da revista Cruzeiro, está ligada ao cuidado
consigo, a uma forma de interiorização da reflexão que se tem consigo próprio; seria uma
prática que cabe apenas ao indivíduo o cuidado de si:
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Nesse meio modernizante, processo pelo qual o Brasil estaria passando, havia, ainda,
a concepção de que os homens ainda seriam os principais encarregados do sustento
familiar e da administração social. Desta maneira, o cuidado com a questão da
masculinidade esteve presente em vários setores da vida do homem citadino. Não apenas
em seu corpo, como em seus gestos, suas práticas do cotidiano, e na sua vestimenta em sua
forma de entender o mundo ao qual ele estava inserido. Por esse motivo, algumas
estéticas, ou melhor, estereótipos, foram sendo inseridos no cotidiano desses homens. E as
páginas das revistas que circulavam no Brasil nesse momento – como é o caso da Revista
O Cruzeiro, à qual me debruço em sua problematização nesse artigo – se viu como
reforçadora desses estereótipos.
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A vinda dos esportes para a sociedade moderna se mostrou com uma nova
referência de civilidade que passava a causar não só a adesão e atração, como euforia e
expectativa nos mais diversos segmentos da sociedade brasileira. Como já mencionado no
capítulo anterior, a prática esportiva também estava vinculada com a própria ideia de
melhoramento da raça brasileira, provocando a regeneração da raça e excluindo os vícios e
promiscuidades de um passado colonial e imperialista. Muito dos incentivos para a prática
esportiva vinha da ideia da higiene e educação.
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p.261). Sendo assim, a prática dos esportes tinha imbricada em seus discursos a
perspectivas de saúde, higiene, educação, disciplina, limpeza, beleza e eficiência.
612
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O football foi um dos esportes que mais observei sendo representado nas
ilustrações e reportagens da Revista O Cruzeiro, demonstrando tanto a apreciação do
público masculino por esse tipo de esporte, não só na sua prática em si, mas também como
espectadores - de forma assídua – para essa determinada prática esportiva. Esta primeira
matéria que trago, datada do dia 17 de novembro de 1928, foi um dos primeiros
exemplares que mostravam como se processava a cobertura de jogos de football na
Revista. Desta maneira, pode-se perceber a retratação do jogo entre Fluminense e Mato
Grosso do Sul:
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Por ter sido um esporte trazido por influência inglesa, o futebol sofria críticas por
seu estrangeirismo, apesar de ter em sua composição práticas que ajudavam a corroborar
para a disciplina dos corpos. Então, me propus a pensar nessa disciplina através de uma
apropriação que faço do pensamento de Foucault quando ele passou problematizar a
disciplina dentro de instituições, como o sistema fabril e escolar, que possuíam – e ainda
possuem- perspectivas de disciplina e vigilância de corpos. Sendo assim, penso o futebol,
n oos u rát r prát s pl n or omo s ― v r áv l ss or – vigor,
rapidez, habilidade, constância – pode ser observada, portanto caracterizada, apreciada,
contabilizada e transmitida a quem é o agent p rt ul r l ‖ (FOUCAULT 8
p.124).
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A matéria que trago mais acima diz respeito à luta de Boxe entre André Miguéz e
Joe Assobrad, realizada no estádio Werneck. Analisando a imagem, podemos notar a
presença exclusiva de homens, que poderiam fazer parte da equipe de treinamento de um
dos atletas, mostrando o quanto esse esporte estava sendo algo que era voltado ao público
masculino.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ELIAS, Nobert. Capitulo I. Do Controle Social ao Auto Controle. ______ In: Processo
Civilizador II: Formação do Estado e Civilização. Trad: Ruy Jungmann. 1ed. Rio de
Janeiro, RJ. Zahar, 1993
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade III: O Cuidado de Si. Tradução: Maria
Thereza da Costa Albuquerque; Revisão: José Augusto Guilhon Albuquerque. 5ºed, Rio de
Janeiro, RJ.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: O Cuidado de Si. Tradução: Maria
Thereza da Costa Albuquerque; Revisão: José Augusto Guilhon Albuquerque. 5ºed, Rio de
Janeiro, RJ.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir – Nascimento da Prisão. Tradução: Raquel
Ramalhete. 35ª Edição. Petrópolis; Editora: Vozes, 2008
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Palavras Iniciais
A escolha do objeto de pesquisa que trata esse artigo, se deu pela necessidade de
apresentar, mesmo que de maneira ligeira, a história de uma instituição que agrupou
profissionais do magistério em torno de discussões sobre o ensino, num período emergente
na educação, no âmbito local e nacional.
Para a realização desse estudo, fizemos pesquisas nos acervos do Sindicato dos
Trabalhadores em Educação Pública do Rio Grande do Norte/ SINTE-RN, no acervo da
Biblioteca Central Zila Mamede da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na
Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Sociais Aplicadas/CCSA e em acervos
particulares de pesquisadores locais. Neles encontramos livros de professores que atuaram
na referida Associação, impressos periódicos também produzidos pelos professores dessa
instituição, além de trabalhos acadêmicos já concluídos que faziam alguma referência ao
objeto dessa pesquisa.
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Além de exprimir nos detalhes, a não neutralidade dos discursos sociais. Os quais
representam um grupo, produzem estratégias e práticas, que de alguma maneira, impõe
suas ideias, e desvalorizam outras, as quais julgam desnecessárias ao conhecimento desse.
Por esse modo operante, as representações sociais são tão fundamentais, quanto lutas de
cunho econômico, por exemplo, pois permitem a compreensão de mecanismos pelos quais
uma instituição, impõe ou tanta impor a sua concepção do mundo social, seus valores e
domínios.
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campo educacional do estado do RN. Tornou-se um assunto interessante não somente para
os envolvidos com a educação, mas para os governantes estaduais, considerando a grande
ênfase dada à educação, por parte dos poderes públicos com o advento da República. O
investimento em professores e numa escolarização moderna significava um avanço
nacional, afim de colocar o Brasil no caminho das grandes nações. (NAGLE,1976)
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da primeira turma de professores do Estado (27, ao todo) formados pela Escola Normal de
Natal, razão pela qual essa data foi escolhida para fundação da entidade. (PEDAGOGIUM,
1921)
Sua instalação ocorreu no salão nobre do Palácio do governo em uma sessão solene
e bastante pomposa, com a presença de várias autoridades educacionais e políticas a
exemplo do governador do estado, no período de fundação da instituição.
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A entidade tinha por primeiro objetivo criar escolas e defender o ensino público,
gratuito, leigo, misto relacionado à vida e ao trabalho. Desta maneira, os professores
acreditavam contribuir para formação da nacionalidade brasileira e para construção de uma
nov so Con orm pont C v l nt ( 999 p 3) ―Ess pro r m r n r to o
o st o m or om m or on ntr on p t l ‖ O s gundo objetivo era defender os
interesses da categoria. Como nos apresenta Cavalcante.
A tentativa de mobilizar a sociedade e os governantes para maior efetividade desse
movimento educacional; a atuação, tendo em vista o exercício da profissão docente em
outros estados do país; por último, a assistência financeira a ser prestada aos professores e
seus familiares, através de Caixas de auxílio mútuo.
1920;
Efetivos Categoria onde estava incluído todo e
qualquer professor da rede pública ou
privada do Estado;
Benfeitores Pessoas que fizessem à Associação
donativos iguais ou superiores a duzentos
mil réis;
Beneméritos Pessoas que prestassem importantes
serviços à entidade ou à causa educacional;
Correspondentes Professores que residissem em outros
estados e desejassem fazer parte dessa
sociedade;
Honorários Pessoas que tivessem prestado serviços
relevantes às letras, às artes, à categoria dos
professores ou à educação.
A maioria dos sócios que participavam da APRN que não pertencessem a classe de
professores eram intelectuais influentes em outras instituições, a exemplo de médicos,
advogados e políticos. Essa questão facilita o entendimento que a elite intelectual e social
da cidade estava presente nas reuniões e que as causas defendidas pelos professores,
receberam apoio das pessoas influentes do RN.
Para serem eleitos nos cargos da instituição, os sócios deveriam ser sócios
fundadores ou efetivos, esses poderiam votar e serem votados em ocasião. Além dos
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presidentes eleitos em Assembleia Geral, a APRN, tinha uma Presidência de Honra, como
destaca Cavalcante:
Considerações Finais
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Percebemos com esse estudo, que muito ainda precisa ser feito para se conhecer
melhor a trajetória da instituição estudada, assim como dos docentes que faziam parte dela
e outras instituições a ela, ligadas. Essa é uma pesquisa que suscita muitas outras,
externalisamos o desejo de continuarmos a investigar fragmentos da história da APRN,
que de maneira clara nos mostrou novos objetos de estudo. A pesquisa em história da
educação Norte rio-grandense está em amplo crescimento, mas ainda precisamos avançar,
é necessário apoio público para o melhoramento dos acervos públicos e incentivo a
preservação de documentos que narram à história educacional do estado.
Referências
CARVALHO, Marta Maria Chagas. Molde Nacional e Forma Cívica. São Paulo: Edusf,
1998.
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Introdução:
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Como aponta Thomas Laqueur (2001), antes do século XVIII os órgãos sexuais
tanto feminino quanto masculino não eram pensados enquanto totalmente opostos entre si,
mas como um mesmo órgão que apresentava duas variações. Enquanto os ovários eram
associados aos testículos, a vagina era associada ao pênis. A única diferença encontrada
seria a ordem que esse mesmo órgão sexual se apresentava em cada corpo, se nos homens
ele estava exteriorizado, nas mulheres aparecia internamente. Esta maneira de pensar o
corpo muda com o advento da medicina moderna onde os corpos feminino e masculinos
passam a ser pensados como totalmente o oposto um do outro, não mais um órgão sexual
que se apresentava de duas formas, mas sim dois órgãos sexuais, dois corpos humanos,
totalmente diferentes entre si.
Esta diferenciação não atende apenas ao campo biológico visto que estas diferenças
corporais foram usadas para justificar os lugares a serem ocupados por homens e mulheres
no meio social (LAQUEUR, 2001, p. 242), houve, inclusive uma total separação das
esferas a serem ocupadas por estes sujeitos. Enquanto aos homens coube a esfera pública,
assim como a política e a administração do Estado às mulheres reservou-se o espaço
privado do lar e o cuidado dos filhos. A medicina passa a ser o campo do conhecimento
que definirá estas ocupações, assim como se preocupará o tempo todo em demarcar a
diferença sexual entre homens e mulheres e, consequentemente os espaços a serem
ocupados por estes corpos.
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É neste contexto que o tônico a saúde da mulher surge como um remédio eficaz
p r pôr um m st s ―m l s‖ qu t m o corpo feminino. Mas que males seriam
st s? O lm n qu ‘ s ú mulh r st r l uns:
Assim o almanaque apresenta o seu tônico como o meio mais eficaz de pôr fim ao
sofrimento feminino causado pelo seu corpo, o nome do medicamento vem em letras
maiúsculas para que fique bem claro e não haja nenhum erro na hora de solicitá-lo na
farmácia. Embora uma lista grande de males causados pelo útero e pelos ovários já tenha
sido evocada no início da propaganda em forma de artigo, são acrescentadas mais algumas
para que as mulheres estejam realmente cientes de todos os perigos que não tratar seus
órgãos reprodutores pode lhes causar. Um fator interessante e que deve ser mencionado é a
constante menção da biologia feminina como naturalmente patológico, proposição esta
feita sobretudo pelo saber médico e científico, entretanto, a solução dada pelo periódico
não é a consulta com um médico ou algum tipo de intervenção cirúrgica, inclusive
recomendada por esses profissionais em casos extremos (RODHEN, 2001), mas sim a
automedicalização por meio da ingestão do tônico.
Como típico dos enunciados assim como entendido por Michel Foucault (2008).
Definido como átomo do discurso, o enunciado emerge como uma proposição vinculada a
um tipo de formação discursiva que possibilita a sua aparição, o enunciado portanto, está
ligado a uma rede de correlações que o tornam possível (FOUCAULT, 2008). Seguindo
essa lógica, as propagandas do tônico a saúde da mulher se apresentam como enunciados,
pois estão ligados a uma ordem discursiva que não apenas patologizou o corpo feminino
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como tornou a ciência e o saber médico os meios principais para tratar deste corpo doente .
Mesmo que o almanaque proponha que a mulher trate sozinha suas doenças a através de
uma automedicação o tônico e suas propagandas só se tornam possível diante destas
condições de possibilidade que fizeram o saber médico e científico emergir como
proposições verdadeiras na modernidade.
Assim, o almanaque mostra que a própria mulher deve assumir o controle de sua
saúde ao ingerir o tônico. É criado um lugar de sujeito próprio desse modo de
endereçamento das propagandas (ELLSWORTH, 2001) que designa às mulheres uma
postura ativa diante das s doenças próprias de seus organismo. Os modos de
endereçamento consistem em problematizar os tipos de sujeito que determinados filmes
buscam alcançar e afetar para que possam alcançar o sucesso, trazendo esta problemática
para as propagandas, estas também visam construir posições de sujeitos que tornem
possível o público de identificar com os anúncios e assim o objetivo de vender o
medicamento ser alcançado. Agora pretendemos analisar como o apelo também voltou-se
para a mulher enquanto ser que trabalha e tem uma vida para além do âmbito familiar,
entretanto os deveres cívicos permanecem sendo objeto principal de intimação para a mulher
se ocupar de sua saúde:
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A figura da imagem também nos chama atenção. Nesta propaganda não é uma mãe
ou uma esposa que vem trazer o tônico como a solução para a boa saúde feminina, mas
sim uma enfermeira, ou seja, uma mulher que além de mãe e esposa (ou não) também tem
um trabalho fora de casa. Como já dito, o trabalho feminino fora de casa, principalmente a
partir da década de 1930 vai ser bastante condenado por vários intelectuais de áreas
diversas, Igreja, Estado, médicos e juristas convergiam na ideia de que o lugar principal
que as mulheres poderiam ocupar era a casa, cuidando dos filhos e do marido, sendo assim
aquelas que trabalhavam nas fábricas ou em qualquer outro lugar que não fosse a casa
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eram mal vistas dentro da sociedade. Mas a mulher que aparece na propaganda não é uma
trabalhadora qualquer, não faz parte da maioria das mulheres que davam seu suor nas
fábricas ou em outros locais onde o trabalho era extremamente exaustivo, a mulher que se
apresente nesta divulgação do tônico é uma enfermeira.
Margareth Rago (2014) mostra que as mulheres que se tornavam enfermeiras eram
as que podiam pagar por algum tipo instrução, enquanto as que não podiam seriam
domésticas, telefonistas operárias e etc. o lugar social de uma enfermeira era privilegiado
em relação às outras profissões que eram delegadas para as mulheres. Mas ser enfermeira
não significava estar em um patamar profissional tão alto, Rago também nos chama
atenção para o fato de que as profissões reservadas para as mulheres devido a crescente
desvalorização de suas capacidades intelectuais, política e profissional eram profissões em
que as mulheres se encontravam em um grau sempre abaixo de algum homem. Já
evidenciamos que o lugar social do médico desempenha nas sociedades modernas
ocidentais um dos mais privilegiados e bem quistos e mesmo as mulheres brasileiras
podendo adentrar na profissão médica desde o final do século XIX (ROHDEN, 2001), é
como enfermeiras que as mulheres que faziam parte do saber médico são sempre
associadas.
Mas mesmo não estando em um lugar social tão prestigiado como o de médico, as
enfermeiras são, mesmo assim, representantes do saber médico e em nome dele agem no
meio social. Muito antes da implantação do Estado Novo as enfermeiras já eram tidas
como agentes principais do sanitarismo, pois como estavam subordinadas aos médicos,
eram elas tinham contato direto com a população pobre que deveria ser gerida pela saúde
pública (SANTOS 2008).
Considerações finais
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Referências:
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FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: a vontade de saber. 2ª. ed. São Paulo: Paz
e Terra, 2015. 174 p.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 3°. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1982.
LAQUEUR, Thomas Walter. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio
de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: A utopia da cidade disciplinar. 4. ed. São Paulo: Paz
e Terra, 2014. 279 p.
ROHDEN, Fabíola. Uma ciência da Diferença: sexo e gênero na medicina da mulher. 2ª.
ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2001.
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PÔSTER
RESUMO
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1 INTRODUÇÃO
Não pode haver direito coletivo à memória se a história não compuser a construção
desse direito. Com isso, quer-se dizer que a própria maneira de representação do
patrimônio histórico e cultural nos espaços públicos e, por consequência, os próprios
elementos considerados como patrimônio são históricos, portanto disputáveis e fabricados
social e historicamente.
A memória construída pela narrativa oficial não deve ser excludente, por isso é
preciso resgatar sistemas de representações informais que subvertem a ordem instituída
pelos discursos dominantes e dão outros sentidos às coisas, e propor uma educação
p tr mon l pro l m t z or ―C om to os pro ss on s ntí os
memória: antropólogos, historiadores, jornalistas, sociólogos, fazer luta pela
mo r t z o m m r so l‖ (LE GOFF, 2012, p. 457).
Sendo assim, visa-se incomodar, fazer tremer as evidências que apontam para a
existência de uma prática política e histórica de se monumentalizar sujeitos como
estratégia político-partidária de manutenção do poder local a partir de elementos de uma
memória pública fabricada nos gabinetes parlamentares, uma memória que se pretende
coletiva, mas é evidentemente familiar, elitista e masculina, pois pertence a um grupo
dominante que prioriza a homenagem a ex-políticos, juristas e empresários, em detrimento
de uma memória coletiva e plural. Ora, como é possível democratizar essa prática de
monumentalização para torná-la representativa da coletividade e da pluralidade como o
centro das decisões políticas?
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
preciso lembrar que por muito tempo o memorável esteve ligado ao universo masculino.
Desde os romanos, o patrimônio representa algo que vem do passado e por esse motivo é
uma palavra que remete ao mesmo universo semântico da palavra memória.
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3 METODOLOGIA
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Figura 6 e 2 – À esquerda, arquivo dos Projetos de Leis da Câmara Municipal de Campina Grande. À direita, imagem de
alguns monumentos de Campina Grande
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE JUNIOR. Durval Muniz. O tecelão dos tempos (novos ensaios de teoria
da história. São Paulo. Intermeios, 2019.
647
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212
Mestrando em História no Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Campina
Grande.
213
Doutor em Educação (PPGE/UFPB), Pós-Doutor em História pela Universidade Federal de Campina
Grande. Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de Práticas Educacionais e Currículo, na área de
Didática e Ensino de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DPEC/UFRN), Campus Natal.
É professor credenciado no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (PPGEd/UFRN) e ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Campina
Grande (PPGH/UFCG). Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN).
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Introdução
Este trabalho é parte de uma pesquisa214 maior que está sendo desenvolvida no
âmbito do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Campina
Grande215. Temos como objetivo neste texto, problematizar as leis que proíbem a
s uss o ― olo ên ro‖ prov s nos mun íp os p r nos C mp n
Grande e Santa Rita no ano de 2017. Nos debruçamos sobre essas leis para compreender
como estas afetam e/ou podem afetar a autonomia docente nos referidos municípios
[...] propicia sobretudo fazer da História uma atividade mais democrática, [...] já
que permite produzir história a partir das próprias palavras daqueles que
vivenciaram e participaram de um determinado período, por intermédio de suas
referências e também do seu imaginário. O método da História Oral possibilita o
registro das reminiscências das memórias individuais, a reinterpretação do
passado, enfim, uma história alternativa à história oficial (FREITAS, 2006, p.
79-80).
214
A referida pesquisa está sendo realizada no âmbito do Programa de Pós-graduação em História da
Universidade Federal de Campina Grande. A mesma tem como título: O fantasma da “ideologia de
gênero” e as ameaças à autonomia do professor no contexto político-educacional paraibano (2017-
2018).
215
Este trabalho tem como objetivo analisar as práticas educativas em defesa da autonomia docente na rede
municipal de educação de três municípios paraibanos (Campina Grande, Santa Rita e Patos) a partir dos
proj tos l qu proí m s uss o ― olo ên ro‖ no ns no ás o
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das leis. É importante ainda destacar que, ao trabalhar com documentos do poder
legislativo municipal, devemos ter o cuidado de não tomar essas fontes como verdade, por
seu caráter oficial, pois como chama atenção Arlete Farge (2009),
[...] o arquivo mexe de imediato com a verdade e com o real: ele impressiona
também por essa posição ambígua em que, ao se desvendar um drama, erigem-
se atores que caíram na rede, cujas palavras ali transcritas encerrem mais
intensidade do que verdade [...] esse traçado incerto do arquivo, tão prenhe do
real apesar de suas possíveis mentiras, induz a reflexão (FARGE, 2009, p. 32).
O ano de 2017 foi um ano que contou com a aprovação de duas leis com teor
parecido em municípios diferentes. No município de Santa Rita, foi aprovada a Lei nº
650
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No Brasil, a partir dos anos 80 do século XX, os estudos de gênero vão ganhando
força. Na historiografia paraibana, os trabalhos acerca das questões de gênero têm
crescido, especialmente graças ao advento da História Cultural que tem correspondido
cerca de oitenta por cento dos trabalhos da área de História, conforme anunciou Sandra
Pesavento (2007).
216
A redação desta lei na íntegra se encontra disponível em sites e portais que divulgaram a aprovação da lei.
Link de acesso: https://portalcorreio.com.br/mais-um-municipio-proibe-mencao-ideologia-de-genero-em-
escolas/
217
A redação desta lei na íntegra não está disponível na internet, mas conseguimos ter acesso à mesma
solicitando ao gabinete do vereador proponente na Câmara Municipal de Campina Grande.
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[...] quando nós trazemos para as crianças um tema [...] ainda em formação, pra
uma criança e um adolescente que também está em formação, no término do
ensino médio, aquela teoria, que na realidade [...] ainda não é uma teoria é
apenas uma discussão, pode sofrer um revés totalmente diferente e no final,
aquilo que a criança tinha aprendido lá na escola no ensino fundamental, pode
sofrer um revés e não ser a mesma coisa no ensino médio (Pereira Júnior,
2019).
A partir desse trecho da fala do vereador percebemos que, para ele, os estudos de
gênero não são consolidados ainda. Para ele, não são teorias e ainda não possuem um
caráter científico. Ao contrário do que foi colocado pelo vereador, os estudos de gênero
são sim estudos consolidados e com teor acadêmico/científico. P ns mos ― olo
ên ro‖ p rt r n o Junqu r ( 7 p 6) o stu oso pont qu
― olo ên ro‖ um ―[ ] nv n o t l qu m r u so os designíos do
Conselho Pontifício para a Família e de conferência episcopais, entre meados da década de
99 nos ní o os ‖ Ess utor n r ss lt qu o s urso ― olo
ên ro‖ n o s tr t um on to ntí o:
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[...] primeiro eu quero desmistificar essa questão, pois disseram que o meu
projeto ia amordaçar o professor. E isso não é verdade. Isso foi um item que
colocaram pra ver se barravam o nosso projeto de lei. Primeiro, porque seguinte:
a nível nacional, foi quando se constrói a grade curricular, assim falando de um
palavreado mais corriqueiro claro para as pessoas entenderem, [...] Tentaram
colocar a ideologia de gênero. [...] tentaram colocar e foi barrado, barrado por
cientistas, tanto na área de medicina, como também, da área de educação foi
barrado. Depois tentaram a nível Estadual quando veio tratado do estadual para
o municipal e também foi retirado. Essa questão de ideologia de gênero, e aqui
no município, no município e na grande maioria dos municípios também não
aceitaram e proibiram a questão da ideologia de gênero. Porque é um
pensamento, não tá na grade curricular. Não faz parte. As pessoas queriam
confundir a população com o gênero, falar de gênero. Ninguém proibiu falar de
gênero (risos) (Pimentel Filho, 2019).
De acordo com o entrevistado não houve uma proibição de falar sobre gênero. Foi
aí que pedimos que ele explicasse o que de fato foi proibido pela lei e ele tentou nos
explicar da seguinte maneira:
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[...] ninguém proibiu senão seria um absurdo, ninguém proibiu falar de gênero.
Ideologia de gênero é totalmente diferente da questão de discutir e de estudar
gênero. Ideologia é um pensamento que acaba com a questão biológica de se
você nasceu homem ou mulher, essa é a tese. [...] pode ser discutido o gênero, o
gênero humano, o gênero é as plantas, de tudo. Ninguém tirou isso aí. A
ideologia de gênero é totalmente diferente, ela não discute essa questão, ela
apenas diz que você nasce um gênero indefinido e cientificamente,
biologicamente você nasce com o gen masculino ou o gen feminino e isso é
ciência não é um pensamento. Um pensamento é coisa que eu crio, eu posso
criar aqui o pensamento das flores, não posso? (Pimentel Filho, 2019).
Dizer que o gênero é uma construção social e histórica não é negar a biologia e sim
refletir essa questão com um olhar mais amplo em que não aprisiona corpos em caixinhas
homogêneas que guardam comportamentos e ações de sujeitos por nascerem com
determinado sexo biológico. Relacionando a fala do vereador com os estudos de gênero
respaldados em Louro (1997), percebemos que as afirmativas do parlamentar nesse
momento não foram felizes vistas por esse lugar, já que os estudos de gênero não tem a
intenção de negar a biologia como bem afirmou a estudiosa.
Pensamos a discussão de gênero, percebendo ela como algo que problematiza, mas
problematiza o quê? Problematiza relações, comportamentos e formas de ser e agir que são
naturalizadas e muitas vezes cristalizadas. A problematização que este conceito nos
permite fazer é no sentido de mexer naquilo que foi construído socialmente, mas de tanto
ser reproduzido, cristalizou-se e tornou-se algo naturalizado, como, por exemplo, o lugar
social ocupado pelas mulheres por muito tempo. Situações como essas que hoje começam
a ser desconstruídas, por muito tempo foram naturalizadas.
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As duas leis citadas acima tem em comum o objetivo de vetar as discussões ligadas
― olo ên ro‖ A p rt r o qu o pr s nt o possív l r l t rmos om
preocupação sobre como nós professores somos vistos e interpretados por nossos
representantes. Para os proponentes das leis, os estudos acadêmicos de gênero são uma
ideologia perigosa e sem um cunho acadêmico sólido.
Eu mando vocês obedecem: uma análise do poder por meio das leis aprovadas nos
municípios paraibanos de Campina Grande e Santa Rita
Considerações não-finais
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Ressaltamos que não poder discutir gênero ou qualquer outra temática que tenha
um cunho acadêmico-científico é sim uma espécie de mordaça e ataque, neste caso
específico das leis é um ataque a autonomia docente.
Referências
BACELLAR, Carlos. Fontes Documentais: uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKI, Carla
Bassanezi (org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005, 22-79.
CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de. Consciência de Gênero na escola. João Pessoa:
Editora Universitária, 2000.
FREITAS, Sônia Maria de. História oral: possibilidades e procedimentos. 2º ed. São
Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2006.
________. Uma leitura da história da educação sob a perspectiva do gênero. In: Proj.
História, São Paulo, Nov. 1994.
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Resumo: Este artigo tem por objetivo analisar os concursos públicos para ingresso de
professores na Escola Aprendizes de Marinheiros na primeira metade do século XX, na
cidade do Natal-RN. A Companhia Aprendizes de Marinheiros do Rio Grande do Norte,
foi inaugurada em agosto de 1873. Tinha como propósito, recrutar crianças desvalidas,
para disciplinar seus corpos formando-os marinheiros prontos para constituir o corpo da
Marinha. A partir de 1885, a instituição passou a ser chamada de Escola de Aprendizes
Marinheiro, funcionando na cidade do Natal até 1942. Dialogamos com o texto produzido
por Laelson Francisco (2018) que discute a formação e atuação da Companhia nos
primeiros anos de seu funcionamento na cidade do Natal. Faz-se fundamental ainda o
conceito de disciplina postulado por Michel Foucault (2014), bem como, o conceito de
arquivo a partir de Arlete Farge, responsável por atribuir as fontes sabores.
Metodologicamente, analisamos o Livro de Termos de Concursos, no qual foi registrado a
punho o processo de seleção de docentes para a referida instituição. Esse livro encontra-se
disponível no Arquivo da Marinha do Brasil, e foi transcrito como uma das etapas da
pesquisa sobre a Companhia/Escola de Aprendizes Marinheiro do Rio Grande do Norte
desenvolvida no Centro de Educação da UFRN. Para tanto, nos debruçamos sobre esse
livro na intenção de entender os requisitos pedagógicos e disciplinares observados acerca
dos docentes que se candidatavam a uma vaga na escola da marinha brasileira. Conclui-se
que os docentes precisavam estar aptos às reivindicações pedagógicas e corporais para
tornarem-se efetivos da corporação.
Palavras-chave: Escola de Aprendizes Marinheiro, docentes, concurso.
218
Professor do Departamento de Práticas Educacionais e Currículo da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Graduado em História. Mestre em História. Doutor em Educação. Atualmente é professor do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(PPGEd/UFRN) e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Campina Grande
(PPGH/UFCG).
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Introdução
Este texto faz parte da pesquisa de iniciação científica que busca compreender as
particularidades da Escola Aprendizes Marinheiros do Rio Grande do Norte. Essa
instituição foi criada em 1873, e tinha como alvo aumentar o corpo das forças navais de
forma vantajosa. Entre as estratégias usadas, estava a de moldar crianças pobres,
moradoras de rua, ou em estado de vulnerabilidade, com idade entre doze e dezessete anos
em marinheiros capazes de prestar serviço ao país (FRANCISCO, 2018). A partir do ano
de 1884, a instituição que nasceu com o nome de Companhia de Aprendizes Marinheiros,
passou a se chamar Escola de Aprendizes Marinheiros. De caráter profissional, seu
principal objetivo parecia ser formar futuros marinheiros.
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A partir disso, esse estudo tem como objetivo examinar as provas de concurso
desta escola, analisando metodologicamente o documento e lhe atribuindo sabores, como
expressa Arlete Farge (2009), para revelar o encantamento do pesquisador para com suas
fontes, sendo responsável por problematizar outros sujeitos históricos antes relegados ao
esquecimento. Assim, buscamos problematizar através desse documento, as condições
pedagógicas atribuídas aos docentes, as considerações didáticas dos professores e como
essas questões conversavam com o propósito principal da instituição. Dessa forma, será
possível esclarecer características sobre as práticas escolares dentro da Escola Aprendizes
Marinheiros do Rio Grande do Norte.
Foi somente no início de 1912 que o professor normalista começou a fazer parte do
corpo formador da escola, não podendo ser substituído por auxiliares de ensino. Foi neste
momento também, que o estudo da educação escolar passou a ser significativo para
entrada à docência das Escolas de Aprendizes, embora ainda não fosse critério ou pré-
requisito para o cargo¹. Para ser professor dessas escolas, era necessário as seguintes
características:
[...] ser diplomado por qualquer Escola normal do Brasil, ter mais de 21 anos de
idade, pelo menos três anos de magistério, ser cidadão brasileiro ou naturalizado,
ter sido vacinado ou afetado de varíola, não ter nenhum problema psíquico. O
acesso ao cargo de professor normalista nas Escolas de Aprendizes Marinheiros
se dava mediante concurso de prova escrita, de tema sorteado, com duração de
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Ao total, o livro tem vinte e uma páginas, incluindo as provas dissertativas de cada
um dos dois candidatos, assinatura dos responsáveis e a apresentação da banca
examinadora, composta pelo Capitão de Corveta e Comandante Leonel de Magalhães
Bastos, o Professor Luiz Antonio Ferreira Souto dos Santos Lima e o Professor Luiz
Correja Soares de Araújo. O termo informa também que o on urso ―[ ] v o orr r
or o om o M mor n o r ul r 4 outu ro o no nt r or‖ (LIVRO DE
TERMOS DE CONCURSO PARA PROFESSORES, 1933).
219
Esse documento é manuscrito e encontra-se disponível para consulta no Arquivo da Marinha do Brasil
localizado na Ilha das Cobras, na cidade do Rio de Janeiro. O documento foi transcrito como uma das fases
dessa pesquisa de iniciação científica.
220
Nesse texto, optamos por problematizar apenas a avaliação de Língua Portuguesa.
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Foi elencado por ele um grande problema: o de se ensinar na escola o que as crianças
pr n m n ―Es ol o Mun o‖ Ou s j n su v vên m so m s
[...] Se ela [a pessoa] tivesse frequente ocasiões de lêr, de ouvir, os mais belos
modelos e de se compenetrar dêles, então a simples imitação que lhe seria um
impossível evitar, ensinar-lhe-ia perfeitamente a sua lingua materna [...] É um
erro repetir na escola o que as crianças já aprendem em casa, é um erro ainda
maior alias mais frequente consagrar uma parte do tempo da escola a causas que
não podem deixar de ser aprendidas na Escola do Mundo (LIVRO DE TERMOS
DE CONCURSO PARA PROFESSORES, 1933).
[...] a escola primaria tem de lutar contra o carater pouco elevado dos habitos
encontrados na casa paterna, tanto em relaçao a linguagem como em toda as
outras coisas. A escola secundaria continua a mesma tarefa, exercitando-lhe a de
corrigir o que há de incorreto mesmo na linguagem dos que recebem uma certa
educação: incluindo misturar de joio e trigo do campo literário (LIVRO DE
TERMOS DE CONCURSO PARA PROFESSORES, 1933).
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[...] é necessario não esquecer que ensinar uma lingua não é ensinar qualquer
ciencia pelo menos no sentido que a lingua habitualmente a esta expressão, que se
explica principalmente a um estudo como a historia, a geografia, as ciencias as
artes etc. Também não se deve expressar ao espirito ideias élevadas, praticas ou
morais. Nesses estudos, a lingua não é senão o instrumento, o meio de
comunicação (LIVRO DE TERMOS DE CONCURSO PARA PROFESSORES,
1933).
Um desses dois tipos de métodos foi considerado pelo candidato como ideal para
se ensinar português nas Escolas Aprendizes Marinheiros. Segundo o texto, a língua
portu u s ―[ ] rt m n st r o p ns m nto p l p l vr l s r t [ ] um
os m s ort s l os r on l ‖ (LIVRO DE TERMOS DE CONCURSO PARA
PROFESSORES, 1933). Para isso, o ensino da língua materna deveria se dar pelo método
analítico-intuitivo. Usar o que os alunos já sabem em favor de aprimorar o seus próprios
conhecimentos.
Segundo Tenente Honorário Gonçalo Augusto Baptista, esclarece mais a questão sobre o
método de como ensinar gramática. Enquanto o Segundo Tenente Honorário Arthur Celso
Aranha, foi mais sucinto e se concentrou em explicar o que entendia sobre a Gramática e
quais os pontos da língua materna que considerava importante. A didática, nesses dois
casos, é menos observável no primeiro caso, e mais explícita e detalhada na segunda
prova, embora os dois tenham sido julgados aptos para ocupar o cargo de professor
normalista.
Considerações finais
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que esses professores foram aprovados nessa etapa do concurso, concluímos que suas
ideias estavam de acordo com as propostas da instituição.
Referências
FRANCISCO, Laelson Vicente. “Um passo para o homem, um salto para a marinha‖:
a Companhia de Aprendizes Marinheiro do Rio Grande do Norte (1872-1890). 66 f.
Monografia (Graduação em Pedagogia). Licenciatura em Pedagogia, Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, Natal, 2018.
LOPES, Antônio de Padua Carvalho; CASTRO, Rozenilda Maria de Castro. Não basta ser
oficial: o professor normalista nas escolas de aprendizes marinheiros do brasil e a cultura
escolar institucional. Revista Latino-americana de História, v. 7, n. 19, p.267-283, jan,
2018.Disponível em:
http://projeto.unisinos.br/rla/index.php/rla/article/view/rlah.v7i19.733. Acesso em: 15
maio 2019.
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Resumo:
O presente trabalho propõe pensar a construção do gênero feminino a partir do corpo e por
meio do olhar da medicina e dos discursos midiáticos, partindo dos princípios das relações
sociais produzidas no século XX. Período em que o corpo foi estudado por diferentes
campos do saber, em que o mesmo foi fixado em territórios da beleza, da saúde, mídia e da
identidade moderna. No qual iremos apresentar como foi sendo construído a imagem do
sujeito através da moldura do seu corpo. Portanto, vamos estudar o corpo feminino como
sendo um instrumento de oficialização de determinados padrões, que se tornou
responsável por criar uma imagem corpórea idealizada dentro das normalidades,
gerenciando um cuidado mais de si, como também utilizaremos os discursos midiáticos
para expor o corpo como recurso visual e comercial. E, para a construção desse discurso
ut l zo Fou ult ( 984 999 7) Nov s ( ) S nt‘ nn ( 3) V r llo ( 6)
INTRODUÇÃO
Entretanto, o pudor sempre foi presente no cotidiano feminino, por causa dos
discursos morais, culturais e religiosos de cada época. No qual preparavam as mulheres
apenas para o casamento, como se fossem encontrar nele a verdadeira felicidade, e
colocando na figura feminina a responsabilidade do sucesso na vida familiar.
Assim, viabilizou um campo maior de visão, pois o que era restrito apenas ao espaço
privado do lar ganhou às capas das revistas, propagandas e principalmente nas telas de
cinema. Criando um estereótipo do corpo feminino, como símbolo de beleza e
sensualidade. Além de contribuir para oficialização de um corpo aparentemente saudável,
no qual a medicina vem dar outro olhar para o corpo feminino, e, a mesma possibilitar
uma emancipação com a descoberta dos anticoncepcionais221, na qual não se limitando
apenas ao espaço vivido, mas rompendo as barreiras que impediam ao contato com o
prazer e o desejo.
221
A primeira pílula anticoncepcional, Enovid-R, lançada no mercado em 1960, foi descoberta por acaso.
Por estranho que possa parecer, interessados em descobrir um caminho para combater a esterilidade
feminina, os pesquisadores chegaram a uma fórmula com ação contraceptiva. Esse achado foi de extrema
importância para o sucesso da Revolução Sexual, que pôs fim a séculos e séculos de repressão, sobretudo
para as mulheres, e alterou padrões de comportamento, visão de mundo e estilo de vida dos dois gêneros.
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O GRITO DO CORPO
Foi no período entre guerras222 que a mulher deu os primeiros gritos de liberdade,
não apenas na forma de vestir, de se expressar, mas, mudou a própria rotina do lar,
mostrando para os homens que elas também poderiam trabalhar, dirigir automóveis, não
abandonando a feminilidade. Naquele momento, tinha início o rompimento com a ideia de
que o papel da mulher restringia-se ao lar. Os anúncios apresentavam mulheres
independentes, lindas, esbeltas, vigorosas. Os vestidos longos cediam lugar à calça. Essas
peças de roupa não eram tão justas como nos dias atuais, apenas com o passar do tempo
elas foram se ajustando ao corpo feminino, como também encurtaram as barras dos
vestidos. Esses serviam não apenas para encobrir o corpo, mas para moldar, sensualizar,
com decotes mais amostra, curvas acentuadas, silhuetas definidas, corpos esquálidos,
limpos e sensuais.
222
Entre guerras é a denominação dada ao período que se estende do fim da primeira guerra mundial, em 11
de novembro de 1918, até o início da segunda guerra mundial, em 1 de setembro de 1939. O período foi
marcado pela carne da Grande Depressão, associada a graves tensões políticas, culminando com a ascensão
dos regimes totalitários em alguns países europeus, mas sendo assim esse período ocorreu também no resto
do mundo. Na Alemanha e na Itália, surgiram o nazismo e o fascismo, respectivamente.
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E 1970, como nos fala Joana Novaes (2011), há reivindicações pela autocracia
corporal a partir dos movimentos feministas223 a favor do aborto, fez com que o corpo
oss ‗ nv st o omo r to s m nor s um s jo l r torn n o-o o lugar de
so r n s olh ‘
Nos anos 1980, percebemos que a padronização do corpo volta no cenário social, e à
cobrança por hábitos saudáveis, faziam com que as mulheres se laçassem a busca por uma
padronização estética influenciada pela mídia. E por fim nos anos 1990, a exposição maior
da mulher na mídia em geral, os corpos femininos começaram a estampar as revistas
principalmente às direcionadas ao alvo masculino.
223
Feminismo deve ser entendido como um conjunto de teorias que, segundo as feministas e intelectuais,
dividiram a história do movimento em três momentos: o primeiro refere-se fundamentalmente à conquista do
sufrágio feminino, movimentos do século XIX e início do XX preocupados principalmente com o direito da
mulher ao voto. O segundo grande movimento diz respeito às ideias e ações associadas com os movimentos
de liberação feminina iniciados na segunda metade da década de 1960, que lutaram pela igualdade jurídica e
social das mulheres. O terceiro grande momento, tendo iniciado na década de 1990, pode ser considerado
uma continuação e uma reação às falhas do segundo movimento. Para melhor compreensão pesquisar no
site: http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/feminismo-que-e.htm
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Durante todo o vigésimo século, a medicina tratou de buscar a cura para a fealdade.
Surgiram os remédios milagrosos, pós compactos, cremes importados, maquiagem
revitalizadora. A guerra agora era contra a feiura224. É possível encontrar nos anúncios da
época pomada para afinar a cintura, para deixar a pele clara e tirar pêlos, tintura para
cabelos, dentre outros.
224
O termo feiura tem sua raiz no latim foeditas e quer dizer, simultaneamente, sujeira e vergonha. No
francês, a palavra laider é uma derivação do verbo laedere e significa ferir. Já no alemão, o termo utilizado
para designar feiura é hässlishkeit, derivado da palavra hass, que quer dizer ódio. E finalmente, em japonês,
p l vr o m n ku qu s n ― í l v r‖ P r m lhor ompr ns o v r Beleza e feiura: corpo
feminino e regulação social. Psicanalista Joana de Vilhena Novaes.
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O corpo feminino irá entrar nesse mercado não apenas como consumidora dos
produtos, mas, ele estampará as carpas de revistas, comerciais de TV e também no próprio
cinema que desde 1940 já trazia a imagem feminina fazendo a publicidade de cosméticos,
como por exemplo: os xampus (shampoos) e sabonetes, que passava através da sua
propaganda, a mulher na sua intimidade criando uma relação de prazer de está consigo
mesma, sugerindo aos consumidores que façam o mesmo. E, em 1960, a imagem do corpo
feminino se torna mais expressiva, ligando o banho ao prazer e a sua própria sexualidade
não como uma forma punitiva, mas, a possibilidade de conhecer o seu próprio corpo e o
prazer de cuidar de si mesma.
Mas, esse corpo não somente exposto pelas propagandas de cosméticos, ele vai
emergir para outros produtos de mercado, alimentos, eletrodomésticos, e, para agradar ao
público masculino, ele será bastante utilizado nas propagandas de cervejas, como também
nas revistas endereçadas ao público exclusivo masculino, principalmente no final do
século XX.
Nos anos de 1990, podemos perceber uma exposição maior do corpo feminino,
apesar dessa exposição não ser um fenômeno recente, mas que a partir dessa década o
corpo feminino como a sua sexualidade foi colocada no cenário midiático de forma vulgar
e por que não falar machista? Pois, há um uso desproporcional do corpo feminino, se for
comparar como é mostrado o corpo masculino na mesma linha de publicidade percebemos
a exposição apenas do corpo feminino além, da exaltação a sua sensualidade que na
maioria das propagandas, ela tem que se mostrar sensual. No entanto, esse mesmo corpo
para ser visualizado, precisa está dentro dos padrões estabelecidos pela sociedade, vale
ressaltar que essa padronização só aconteceu a partir dos discursos médicos e midiáticos
que oficializaram esse padrão corpóreo.
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Portanto, o reforço dado pela mídia em mostrar corpos considerados atraentes, faz
com que uma parte de nossa sociedade se lance na busca de uma aparência física
idealizada e personificada por determinadas modelos ou atrizes. Com isso, torna-se
historicamente instigante estudar a imagem e o uso do corpo feminino na propaganda
v ul p l mí n on l ―O orpo v sto omo um p t l t l qu l s r v st s
informam, precisa ser investido e trabalhado para ser valorizado e possuir condições
omp t t v ‖ (NOVAIS p 485)
Podemos perceber com essa citação que há uma necessidade de investir no corpo
para que haja uma valorização de si mesmo, pois o mesmo se tornou um objeto de
consumo do capitalismo atual, você passa a servir ao seu corpo e não a servir-se dele.
Ligando as condições sociais ao embelezamento, pois, você precisa ter certo capital para
que possa comprar o ideal de beleza.
Entretanto, é na mídia que vai concretizar-se essa visualização, como sendo um meio
de comunicação que atinge não apenas as camadas intelectuais, como também as camadas
populares, fez com que o corpo feminino fosse exposto, e sendo alvo de várias críticas por
essa exposição.
Considerações finais
Portanto, o corpo feminino desde o século XX era visto como um produto, e por isso
pode ser comercializado, e dar lucro, para alguns ramos e principalmente para aqueles
empreendedores que investe em produtos direcionados a necessidade e ao gosto e muitas
v z s ― ut l ‖ mnn qu pro ur orpo s modelos ou atrizes, como padrão
corporal para si. A propaganda utiliza dessa imagem idealizada para reforçar o discurso de
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que para ser bela, a mulher tem quer ser alta, magra, corpo sarado e seios fartos e bumbum
grande. No qual, vivemos em um tempo em que o corpo malhado, pernas definidas,
cintura fina e barriga sarada valem mais que mil palavras. O corpo belo, saudável supõe a
uma beleza comparada, e essencial para a vida social e cultural de alguém, está dentro de
um padrão corpóreo é sinal que você é aparentemente uma pessoa que possui beleza, que
se cuida, e procuram mantê-las através dos recursos que são oferecidos todos os dias nas
revistas, propagandas de cosméticos, na mídia em geral, mostrado as facilidades que se
têm para ficar bonita.
É por isso que vemos academias cheias de homens e mulheres buscando uma
imagem melhor se si, uma procura quase irreal, quase absurda, causando nos próprios
sujeitos obsessões pela perfeição idealizada. Todavia, o corpo agora perpassa por
procedimentos que normalizam através de uma alta valorização desses corpos, mais que
não viabiliza ainda aqueles corpos que são considerados anormais pela cultura corpórea.
Comungamos com Novaes (2011, p. 494) ao afirmar que não é à toa, que muitas
mulheres trataram seu corpo com profunda tirania, privando-o de alimentos, mortificando-
o em inúmeras cirurgias ou submetendo-o a exercícios físicos torturantes.
Significativamente, o verbo é malhar – como se faz com o ferro. Não é sem razão que a
expressão é utilizada nas academias de ginásticas na tentativa de adquirir a estética
desejada. Tais técnicas, apreendidas inicialmente como uma disciplina, com o passar do
tempo são incorporadas ao cotidiano do sujeito e, sem que este perceba, acaba por
reproduzi-las, sem que haja uma dimensão crítica ou reflexiva sobre tais
atividades/comportamentos.
Referências Bibliografias
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SHAW, Inês Senna. O corpo na propaganda. In: LYRA, Bernadette; SANTANA, Gilson
(Orgs). Corpo e Mídia. São Paulo: Arte e Ciência, 2006.
SOHN, Anne-Marie. O corpo sexuado. In: CONBIN, Alain; COUTRINE, Jean-Jacques;
VIGARELLO, George (orgs.). História do Corpo: as mutações do olhar. O século XX.
Petrópolis: Vozes, 2008.
Fontes
http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/feminismo-que-e.htm
https://drauziovarella.com.br/mulher-2/pilula-anticoncepcionais
https://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_entreguerras
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raqueltbarb@gmail.com
Introdução
Criado pelo escritor e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna, este Movimento foi
lançado oficialmente em 18 de outubro de 1970, no bairro de São José, no Recife, na
igreja barroca de São Pedro dos Clérigos. Apesar de ser frequentemente lembrado pela
produção literária, a atuação artística de Ariano Suassuna vai além, em que cruza
elementos variados da Arte. Isso implica que o próprio Movimento por ele capitaneado
tinha, também, o propósito de congregar diversos elementos artísticos, a fim de criar algo
maior, que englobasse não só a música, ou a gravura, ou a tapeçaria, mas um conjunto
formado por todas essas manifestações, sempre em prol da cultura popular.
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viria a se aproximar da sonoridade que pretendia Suassuna com seu Movimento e sua
estética armorial.
225
Compositor do fim do século XVII e meados do século XVIII, oriundo do Sacro Império Romano-
Germânico, atual Alemanha
679
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A questão de identidade, já muito discutida pelo teórico Stuart Hall, pode ser vista,
na prática, nos trabalhos do Quinteto Armorial. A cultura popular, apesar das
transformações ao longo do tempo, é a expressividade artística e cultural que mais busca
preservar as influências que recebera desde o período da colonização, em que foi possível
uma troca de culturas luso-brasileiras. Tendo isso em vista, o grupo tencionava, a partir da
apropriação musical erudita europeia – especialmente da região da Península Ibérica – e
da fusão desta com a cultura popular criar uma (ou várias) identidade nacional, e mais
especialmente regional, notadamente a partir das manifestações artísticas encontradas no
estado de Pernambuco, por ser esse o local de partida do Movimento Armorial e do
Quinteto. A ideia era utilizar como referência o cavalo-marinho, os caboclinhos, o
maracatu, os cocos, o baião e os cantadores.
226
Instrum nto sur o tr v s o ― r m u l t ‖ or m r n qu r mu to v sto m t mpos
idos, nas feiras, m s qu pr t m nt s p r u o lon o os nos ―A pr n p l r n ntr o r m u
de lata pro marimbau é que o berimbau de lata é uma madeira, com duas latas e uma corda por cima, como já
disse; ele tem duas caixas de ressonância: a primeira lata e a segunda lata e que dão a ele uma sonoridade um
pouco diferente da do marimbau. Essa característica das duas caixas às vezes produz dois sons simultâneos
quando se toca, porque a corda vibra do lado de uma lata e vibra do lado da outra. O marimbau é uma caixa
r sson n ún v r um not ún ‖ (BARBOSA 9)
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artísticas que se fazem presentes desde os tempos da colonização, caso do Maracatu 227 e
Caboclinhos228 – que tiveram influências africanas e indígenas, respectivamente – ou que
sofreram influências de manifestações artísticas ibéricas, presentes, por exemplo, no
Cavalo Marinho229. Isso significa que preservá-las significa salvaguardar, também, a
tradição.
227
Ritmo musical que une música e dança, sendo, também, um ritual de sincretismo entre religiões de
matrizes africanas e o catolicismo. Tem origem em Pernambuco, no século XVII. Possui dois tipos:
Maracatu Rural (também conhecido como maracatu de baque solto) e Maracatu Nação (também conhecido
como maracatu de baque virado).
228
Dança folclórica que tem relação com o culto da Jurema e seus integrantes participam do Carnaval
somente após tomar a bebida de Jurema.
229
Folguedo do agreste da Paraíba e da Zona da Mata Setentrional de Pernambuco que reúne em dança,
música, poesia e teatro que surgiu com o movimento dos cortadores de cana. Conta com mais de 70
personagens, humanos e fantásticos.
681
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A nt n on l ou os l m ntos qu nvolv m o on to ―s r
r s l ro‖ por x mplo orm por um onjunto de representações, entre as quais se
encontra a cultura nacional. A sociedade de uma nação contribui para ideia que se tem
dela e que é formada através da cultura nacional e de suas representações (HALL, 2006).
O Movimento Armorial e o Quinteto Armorial buscavam a construção ou reformulação
dessa cultura nacional a partir do regional, ou até mesmo atuar de forma contributiva para
essa representação cultural por meio da Arte e da Música, respectivamente.
Giddens (1990), citado por Hall (2006), abarca as diferenças entre sociedades
tradicionais e modernas, revelando que na primeira há uma grande valorização do passado
e que, em decorrência disso, há consequentemente uma elevação dos símbolos, uma vez
que esses servem também para perpetuar gerações passadas. As sociedades modernas, em
ontr p rt s o ―por n o so s mu n onst nt ráp p rm n nt ‖
(HALL, 2006, p. 14), ou seja, à medida que novas informações são agregadas, novas
práticas surgem. É, em suma, uma sociedade de mudanças. O Movimento Armorial
pretendia se apoiar nas tradições da Cultura Nordestina e ao mesmo tempo ressignificá-la,
ao contrário do caminho que trilhava a modernidade.
682
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Essas culturas nacionais são compostas de símbolos e significados com quais nos
identificamos e representam a concepção que criamos de nós mesmos (HALL, 2006). Há
memórias que, invariavelmente, conectam o presente e o passado, que Durval Muniz
também relaciona à saudad o rm r qu ― s u t m m po s r um s nt m nto
coletivo, pode afetar toda uma comunidade que perdeu suas referências espaciais ou
t mpor s‖ (ALBUQUERQUE JUNIOR p 65)
Através da identificação de uma nação, por meio dos costumes e símbolos, surge o
sentimento de pertencimento àquele lugar. A partir disso, em consequência das mudanças
constantes da modernidade, em que tudo se apresenta como efêmero e volátil, pode
florescer a saudade. Um sentimento muito pessoal, mas passível de ser encontrado como
saudosismo: saudade de tempos idos, saudade das tradições. Uma comunidade pode sentir
falta, inclusive, de algum tipo de manifestação artística que, já extinta (ou quase), reside
apenas na memória pessoal ou coletiva de determinado povo.
683
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Considerações finais
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE JR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. 4ª Ed.
Recife: FJN; Ed. Massangana; São Paulo: Cortez, 2009.
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COMUNICAÇÃO ORAL
Max Alves230
luanmaxwell@gmail.com
Naquele contexto educacional, a disciplina de História ainda contou com mais uma
influência que viria a contribuir para sua modificação a partir de então: a Nova História.
230
Luan Maxwell Alves da Silva.
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Difícil de ser definida justamente por conta de suas pluralidades, segundo Peter Burke
( ) m s u l vro ―A s r t H st r : nov s p rsp t v s‖ Nov H st r
associada à historiografia da Escola dos Annales, da primeira metade do século XX, que
orbitou em torno da revista Annales: économies, societés, civilisations e tendo Lucien
Febvre, Marc Bloch e Fernand Braudel como seus principais expoentes. Ela seria, grosso
modo, uma oposição ao Positivismo, contando com objetivos plurais, com análises de
pequenas estruturas como partes de um todo conjuntural, com um viés não-historicizante e
com uma defesa de uso documental diverso para se interpretar os acontecimentos
(BURKE, 2011).
E é diante deste desafio que este artigo se propõe a discutir a contribuição dos
parâmetros da articulação musical da canção na aprendizagem de História por pessoas
leigas em música, exemplificando com uma experiência própria vivenciada no final do
688
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Mas frente a essa questão, não podemos esquecer que a canção se comunica com
uma população majoritariamente leiga em música. Mesmo sem dominar a linguagem
musical e todas as particularidades do campo da música, o leigo em música não consegue
perceber que Luiz Gonzaga canta Triste Partida de uma forma melancólica, completando o
sentido da letra de Patativa do Assaré, por exemplo? Será que o leigo em música não
consegue perceber que a agressividade faz parte da canção Comida dos Titãs?
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A proposta de aula foi aplicada após as aulas de História do Brasil sobre Ditadura
Militar (1964-1985) e Redemocratização, portanto tinha um intuito de mobilizar
conhecimentos previamente trabalhados, e para isto realizaria uma atividade com canções
como documento em sala de aula. Aqui cabe uma breve descrição.
Mais adiante a turma recebeu a letra impressa, que explicitava a faixa como sendo
um medley composto por duas canções, e três pequenos textos que se referiam, cada um, a
um momento histórico diferente do Brasil: Anos 1970 – Ditatura, Anos 1990 –
Redemocratização e, por fim, Anos 2010 – Atualmente. Os alunos ouviram o medley mais
uma vez, leram os textos e foram solicitados a responder: A qual das três épocas descritas
nos textos pertence esta canção? Por que vocês defendem esta posição? Que aspecto,
verso, estrofe e/ou parte da canção mais se relaciona com o tema da valorização de uma
vida digna? Vale salientar que não se tratou de um jogo de adivinhação ou sorte, mas da
mobilização de conceitos previamente trabalhados agora postos em uma problemática. As
canções se realizam em tempos e espaços específicos e falam desses tempos e espaços; o
medley tem um tema e este tema, de acordo com o que havia sido estudado, estaria
confirmando ou confrontando algum conceito de alguma temporalidade estudada, por
692
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exemplo? Era mais um documento apresentado sobre os assuntos estudados, desta vez tido
como alternativo (CALISSI, 2003), para ser analisado assim como outros em outros
momentos.
Na turma não havia músicos, no entanto, os alunos foram capazes de notar aspectos
dos parâmetros da articulação musical que auxiliaram na compreensão da mensagem da
canção e, por sua vez, na interpretação temporal a partir de seus conhecimentos prévios. O
medley, composto por duas canções de tempos diferentes, a depender do enfoque de cada
aluno, desembocou numa interessante discussão acerca de sua temporalidade.
Três grupos acreditavam que essa indiferença colocava a canção no contexto atual.
Como a canção critica principalmente a indiferença, esta seria objeto de composição
apenas nos dias de hoje, no qual as garantias de direitos de vida e de dignidade já estão
consolidados pela Constituição Federal de 1988. Para eles, seria estranho uma indignação
como objeto temático de uma canção num período em que esses direitos não eram
assegurados, tendo em vista o regime de exceção no qual passávamos em 1970.
Um dos grupos questionou, então, se isto não poderia inserir o medley na década
de 1990 — temporalidade defendida por eles. Os primeiros argumentavam que esses
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direitos ainda não estavam tão fortes no seio da sociedade em 1990 e por mais que a
indignação existisse a preocupação maior era em consolidar a democracia, ainda mais
depois dos escândalos de 1992. O grupo questionador reafirmou que o que foi garantido a
partir de 1988 na Constituição Federal não surgiu no momento de sua promulgação, então
o debate já estava maduro o suficiente para que tal indignação fosse objeto de uma canção.
Outro grupo ainda contestava que tais debates não dependeram de normas jurídicas
existentes ou por existir para ganharem corpo. Que durante a ditadura, que englobou a
década de 1970 — temporalidade defendida por este grupo —, já havia pessoas
preocupadas com os direitos suprimidos aos cidadãos e não apenas com a democracia e o
direito de votar. As canções estariam mostrando a realidade da década de 1970 e a
indignação de uma pessoa em relação a essa realidade.
Mais do que acertarem que o medley era composto por duas canções com datas
distintas, o mais importante era a mobilização de conhecimentos e isto aconteceu. Foi a
partir dela, como documento, servindo para reflexão, que saberes construídos
anteriormente foram colocados em prova. Os parâmetros da articulação musical auxiliaram
em grande parte essa tarefa, uma vez que foi a partir deles que por parte dos alunos
algumas inferências puderam ser feitas: temporalidades da canção e temática (indignação
frente a indiferença) articulada com essas temporalidades. Nota-se que nenhum saber
específico do campo musical foi exigido ao ponto de ser um pré-requisito para realizar a
atividade. Todos os leitos em música puderam, a partir de uma escuta atenta e livre e de
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um direcionamento para tal, tornar os elementos pertencentes aos parâmetros musicais das
n s nt l ív s ―p l táv s‖
Para concluir
A resposta que nos parece mais adequada a essa questão do desafio que a dupla
articulação da canção pode oferecer ao professor de História e ao historiador é que
exercitar a sensibilidade — ou pelo menos reconhece-la em si, já que somos dotados de tal
— pode vir a abrir sua mente e seus ouvidos às viagens históricas que as harmonias
musicais estão para nos oferecer. É um exercício válido e que tem resultados positivos a
oferecer ao processo de ensino, aprendizagem e construção do conhecimento histórico.
695
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REFERÊNCIAS
BOSCO, João. et al. De Frente Pro Crime/Ninguém Liga Pra Você. Intérprete: Roupa
Nova. In: ROUPA NOVA. Ouro de minas. [S. l.]: Universal Music, 2001. 1 CD (ca 46
min.). Faixa 11 (2 mim. 44 s.).
______. De frente pro crime. 23º prêmio da música brasileira, 2012. 9 min. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=OmPIUPTbFXM>. Acesso em 15 ago. 2017.
BURKE, Peter (org.). A escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Editora
Unesp, 2011.
MORAES, José Geraldo Vinci de. História e música: canção popular e conhecimento
histórico. Revista Brasileira de História, São Paulo, vol. 20, n. 39, p. 203-221. 2000.
NAPOLITANO, Marcos. História & Música: história cultural da música popular. Belo
Horizonte: Autêntica, 2002.
XAVIER, Érica da Silva. O uso das fontes históricas como ferramentas na produção de
conhecimento histórico: a canção como mediador. Antíteses, vol. 3, n. 6, p. 1097-1112,
jul.-dez. de 2010.
696
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ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
697
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INTRODUÇÃO
É com esta proposta que o PNE – Plano Nacional de Educação de 2014, prevê em
sua meta 06, a proposta do aumento da jornada escolar para estudantes, professores e
gestores, afim de sanar as exigências em que a atualidade desafia a educação, e por
consequente o meio do trabalho. Surgem, pois, as Escolas em tempo integral em todo o
pais, nas quais encontram suporte legal na constituição de 1988, que prevê a formação
integral dos alunos e seu preparo para o mercado de trabalho.
231
Licenciado em História pela Universidade Federal de Campina Grande, professor na ECI Assis
Chateaubriand e supervisor do PIBID Subprojeto/História da UFCG.
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232
O Instituto de Corresponsabilidade pela Educação é uma entidade sem fins lucrativos, surgida em 2003
para reformar e propor uma nova pedagogia de ensino para o decante e secular Ginásio Pernambucano, que
recebeu apoio da iniciativa privada do Instituto Natura e do Instituto Sonho Grande.
233
A Tecnologia da Gestão Educacional é responsável pela garantia da teoria educacional a prática
pedagógica, responsabilidade do Gestor, que alinha todos os segmentos e ferramentas que fundamentam o
modelo.
234
O Projeto de Vida r s no ― or o‖ o proj to s ol r Es ol Es olh Ele é o seu eixo, sua
centralidade e sua razão de existir. É fruto do foco e da conjugação de todos os esforços da equipe escolar. É
nele que o currículo e a prática pedagógica realizam o seu sentido, no aspecto formativo e contributivo, na
vida do jovem. (ICE, 2016).
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Para COLL (1999), uma proposta curricular deve ser concreta, flexível e
operacional, garantindo a ordenação contínua de cada disciplina, pautado no respeito das
diferenças regionais e locais, assim como, o nível e escolarização do público que se
destina. Ainda segundo o autor, os componentes do currículo devem agrupar quatro
grupos; 1. O que ensinar? 2. Quando ensinar? 3. Como ensinar? e 4. O que, quando e
como avaliar. Devemos levar em conta o que o aluno pode aprender sozinho e o que o
necessita de auxílio do professor, bem como, dar significado do que está sendo estudado
ao aluno, onde o mesmo será motivado a busca do conhecimento. É neste estágio que se
possibilita o quando ensina, assim como a metodologia a ser utilizada, onde serão
definidos os objetivos que pretendem ser alcançados.
Alinhados aos eixos formativos já citados, e uma proposta curricular que seja elo
entre a teoria educacional e a prática pedagógica, perpassam os quatro pilares da educação
(a saber, Aprender a Ser, a Fazer, a Conviver e Conhecer) propostos pelo Comitê
Internacional de Educação para o século XXI da UNESCO (1996), que se caracterizam
como fundamentais para a desenvolvimento do indivíduo plenamente. Estas aprendizagem
estão presente na vida escolar no tocante ao incentivo do protagonismo juvenil, afim de
que os mesmos possam potencializar suas habilidades de produção e interação social.
701
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A Pedagogia da Presença tem origem com o ensino religioso, entre os Maristas 235 e
Salesianos, esta corrente de pensamento permite ao estudante oportunidades de participar,
sugerir e se fazer parte do processo educativo, contudo que esteja ligada a doutrina de
ordem e disciplina institucional. De acordo com os Maristas, o propulsor desta pedagogia
é o padre Marcelino Champagnat, em que a presença educativa se faz com alegria e querer
estar presente, sabendo os momentos oportunos de afastamento necessário contribuindo
para o desenvolvimento da autonomia do estudante.
235
Fundado em 1817, na França, por São Marcelino Champagnat, o Instituto dos Irmãos Maristas promove a
evangelização de crianças, adolescentes, jovens e adultos. (UNIÃO MARISTA DO BRASIL)
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Para COSTA (1999) o fazer presente na vida do educando precisa ser voluntário e
construtivo, não convém estar presente e não querer se fazer presente, caso o contrário a
presença torna-se mera existência sem princípio educativo, tampouco transformador. No
entanto, não tira responsabilidade por parte de educando, é preciso, abertura, disposição
interior e compromisso para que seja necessário a obtenção dos resultados esperados.
Analisemos o que o autor diz a respeito:
O ICE, toma como base as teorias de COSTA (1999), e as alinha com os princípios
de ajuda educativas desenvolvidas por CARKHUFF (1983), que as detalha em quatro
fases de relação e ajuda mútua, são elas:
1. O educador entende e transmite sua disponibilidade em auxiliar o educando
de maneira não verbal, mas sim através de ações que evidenciem tal, assim
o educando entra em diálogo e envolve ao processo de ajuda de forma
verbal e corporal;
2. O educador responde de forma verbal ao educando, demostrando
compreensão e retorno, o educando localiza suas angústias, problemas e
dificuldades, para entendimento pessoal de onde está;
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No segundo plano, esta prática também recebe a equipe escolar, pais e responsáveis
dos estudantes, e diariamente durante o ano letivo para os alunos. O acolhimento diário
deve ser realizado de forma intencional e programada, onde os protagonistas e líderes
planejam sob orientação da gestão e equipe escolar podendo serem temáticos e
informativos. Trata do primeiro contato do dia do estudante com os professores,
praticando assim de forma intencional e deliberada a Pedagogia da Presença. São estes
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Segundo o ICE, a ação tutorial nas escolas é importante na medida que o professor
assume um caráter articulador do modelo pedagógico, e o próprio estudante pode exercer a
função de tutor. Isto comumente ocorre quando o professor conta com a ajuda do aluno
para esclarecer dúvidas dos colegas e contribuir para a educação curricular dos demais
estudantes. Neste caso a tutoria funciona como monitoria, onde orientado pelo professor o
monitor veterano contribui no processo ensino-aprendizagem dos novatos.
As aulas e encontros de tutoria no modelo ECI não possuem hora marcada, elas
devem ocorrer de forma espontânea, podendo acontecer no espaços entre aula, intervalos,
almoços e até mesmo durante as aulas. O que pode ser realizado é encontros coletivos, nos
quais a escolas inserem nos s us l n ár os ―O D‖ tutor on r lz um
acompanhamento grupal do seu tutor com todos seus estudantes tutorados, neste momento
são realizados dinâmicas de interação social entre os estudantes e aplicações de
questionários com a função mais sistemática.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, Antônio Carlos da. A presença da Pedagogia: teoria e prática da ação sócio-
educativa. 2ª Ed. São Paulo: Global: Instituto Ayrton Sena, 2001.
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/a-pedagogia-presenca-tutoria-no-
programa-ensino-integral.htm#capitulo_2 << acesso em 22/11/2019 >>.
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Max Alves236
luanmaxwell@gmail.com
Naquele contexto educacional, a disciplina de História ainda contou com mais uma
influência que viria a contribuir para sua modificação a partir de então: a Nova História.
Difícil de ser definida justamente por conta de suas pluralidades, segundo Peter Burke
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Luan Maxwell Alves da Silva.
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E é diante deste desafio que este artigo se propõe a discutir a contribuição dos
parâmetros da articulação musical da canção na aprendizagem de História por pessoas
leigas em música, exemplificando com uma experiência própria vivenciada no final do
curso de licenciatura em História pela Universidade Federal de Pernambuco em 2017,
mostrando que um exercício de sensibilidade pode ser uma resposta a esta demanda.
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Mas frente a essa questão, não podemos esquecer que a canção se comunica com
uma população majoritariamente leiga em música. Mesmo sem dominar a linguagem
musical e todas as particularidades do campo da música, o leigo em música não consegue
perceber que Luiz Gonzaga canta Triste Partida de uma forma melancólica, completando o
sentido da letra de Patativa do Assaré, por exemplo? Será que o leigo em música não
consegue perceber que a agressividade faz parte da canção Comida dos Titãs?
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foi voltada a lançar bases teóricas e bibliográficas acerca da canção como documento nas
aulas de História — já para uma apropriação temática de uma pesquisa de mestrado que
viria a seguir —, e então lá fomos impelidos a elaborar uma proposta de aula a partir dos
apontamentos acadêmicos estudados e em seguida a aplicar tal proposta e discutirmos os
resultados. Várias conclusões pudermos tirar daquela experiência, mas aqui nos interessa o
que se refere ao modo como o leigo em música pôde inferir sobre temporalidades, lugares
e contextos a partir de elementos como o ritmo, a vocalização, o timbre e outros
parâmetros da articulação musical da canção trabalhada.
A proposta de aula foi aplicada após as aulas de História do Brasil sobre Ditadura
Militar (1964-1985) e Redemocratização, portanto tinha um intuito de mobilizar
conhecimentos previamente trabalhados, e para isto realizaria uma atividade com canções
como documento em sala de aula. Aqui cabe uma breve descrição.
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Mais adiante a turma recebeu a letra impressa, que explicitava a faixa como sendo
um medley composto por duas canções, e três pequenos textos que se referiam, cada um, a
um momento histórico diferente do Brasil: Anos 1970 – Ditatura, Anos 1990 –
Redemocratização e, por fim, Anos 2010 – Atualmente. Os alunos ouviram o medley mais
uma vez, leram os textos e foram solicitados a responder: A qual das três épocas descritas
nos textos pertence esta canção? Por que vocês defendem esta posição? Que aspecto,
verso, estrofe e/ou parte da canção mais se relaciona com o tema da valorização de uma
vida digna? Vale salientar que não se tratou de um jogo de adivinhação ou sorte, mas da
mobilização de conceitos previamente trabalhados agora postos em uma problemática. As
canções se realizam em tempos e espaços específicos e falam desses tempos e espaços; o
medley tem um tema e este tema, de acordo com o que havia sido estudado, estaria
confirmando ou confrontando algum conceito de alguma temporalidade estudada, por
exemplo? Era mais um documento apresentado sobre os assuntos estudados, desta vez tido
como alternativo (CALISSI, 2003), para ser analisado assim como outros em outros
momentos.
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Na turma não havia músicos, no entanto, os alunos foram capazes de notar aspectos
dos parâmetros da articulação musical que auxiliaram na compreensão da mensagem da
canção e, por sua vez, na interpretação temporal a partir de seus conhecimentos prévios. O
medley, composto por duas canções de tempos diferentes, a depender do enfoque de cada
aluno, desembocou numa interessante discussão acerca de sua temporalidade.
Três grupos acreditavam que essa indiferença colocava a canção no contexto atual.
Como a canção critica principalmente a indiferença, esta seria objeto de composição
apenas nos dias de hoje, no qual as garantias de direitos de vida e de dignidade já estão
consolidados pela Constituição Federal de 1988. Para eles, seria estranho uma indignação
como objeto temático de uma canção num período em que esses direitos não eram
assegurados, tendo em vista o regime de exceção no qual passávamos em 1970.
Um dos grupos questionou, então, se isto não poderia inserir o medley na década
de 1990 — temporalidade defendida por eles. Os primeiros argumentavam que esses
direitos ainda não estavam tão fortes no seio da sociedade em 1990 e por mais que a
indignação existisse a preocupação maior era em consolidar a democracia, ainda mais
depois dos escândalos de 1992. O grupo questionador reafirmou que o que foi garantido a
715
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partir de 1988 na Constituição Federal não surgiu no momento de sua promulgação, então
o debate já estava maduro o suficiente para que tal indignação fosse objeto de uma canção.
Outro grupo ainda contestava que tais debates não dependeram de normas jurídicas
existentes ou por existir para ganharem corpo. Que durante a ditadura, que englobou a
década de 1970 — temporalidade defendida por este grupo —, já havia pessoas
preocupadas com os direitos suprimidos aos cidadãos e não apenas com a democracia e o
direito de votar. As canções estariam mostrando a realidade da década de 1970 e a
indignação de uma pessoa em relação a essa realidade.
Mais do que acertarem que o medley era composto por duas canções com datas
distintas, o mais importante era a mobilização de conhecimentos e isto aconteceu. Foi a
partir dela, como documento, servindo para reflexão, que saberes construídos
anteriormente foram colocados em prova. Os parâmetros da articulação musical auxiliaram
em grande parte essa tarefa, uma vez que foi a partir deles que por parte dos alunos
algumas inferências puderam ser feitas: temporalidades da canção e temática (indignação
frente a indiferença) articulada com essas temporalidades. Nota-se que nenhum saber
específico do campo musical foi exigido ao ponto de ser um pré-requisito para realizar a
atividade. Todos os leitos em música puderam, a partir de uma escuta atenta e livre e de
um direcionamento para tal, tornar os elementos pertencentes aos parâmetros musicais das
n s nt l ív s ―p l táv s‖
716
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Para concluir
A resposta que nos parece mais adequada a essa questão do desafio que a dupla
articulação da canção pode oferecer ao professor de História e ao historiador é que
exercitar a sensibilidade — ou pelo menos reconhece-la em si, já que somos dotados de tal
— pode vir a abrir sua mente e seus ouvidos às viagens históricas que as harmonias
musicais estão para nos oferecer. É um exercício válido e que tem resultados positivos a
oferecer ao processo de ensino, aprendizagem e construção do conhecimento histórico.
REFERÊNCIAS
717
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BOSCO, João. et al. De Frente Pro Crime/Ninguém Liga Pra Você. Intérprete: Roupa
Nova. In: ROUPA NOVA. Ouro de minas. [S. l.]: Universal Music, 2001. 1 CD (ca 46
min.). Faixa 11 (2 mim. 44 s.).
______. De frente pro crime. 23º prêmio da música brasileira, 2012. 9 min. Disponível
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ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
718
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719
ISSN 21764514
PÔSTER
janiellysouza@yahoo.com.br
No cotidiano dos anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) das escolas da
rede pública da Paraíba, sejam elas municipais ou estaduais, o ensino de História Local é
proposto, principalmente se levarmos em consideração a História da Paraíba, isso porque
as escolas, a partir do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) adotam (no 4º e 5º
ano) livros didáticos específicos para estudo e reflexão da História da Paraíba.
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Aluno 1: O que mais me chamou atenção na pesquisa foi saber que naquele
tempo eles viviam sem celular e internet, e ele viviam muito feliz.
Aluno 2: Que tipo tinha coisas que eu não sabia que existia antigamente
exemplo é o cinema de Adonias.
Aluno 3: Fiquei muito surpreso, pois não sabia que a história de Nova Palmeira
era assim.
Aluno 6: A história de Nova Palmeira foi o que nos chamou mais atenção, pois
falar sobre Nova Palmeira é como se nós tivéssemos no passado.
Aluno 9: O que me chamou mais atenção é que Nova Palmeira antes de ser
elevada a categoria de município foi pertencente aos municípios de Pedra
Lavrada e de Picuí.
A história do cinema de Adonias chamou a atenção de muitos alunos, tanto dos que
pesquisaram sobre o tema quanto daqueles que assistiram o documentário. Alguns alunos
se surpreenderam com as atividades culturais existentes em Nova Palmeira no seu
passado. Outros alunos ainda, fazendo a relação do passado com o presente, se assustaram
com fato de no passado as pessoas serem felizes mesmo sem o uso do celular e da internet.
Essa afirmativa do Aluno 1 pode até parecer estranha aos olhos das pessoas que
fazem parte do grupo dos imigrantes digitais, mas não o é para o grupo dos nativos
digitais, que já nasceram na era digital. Sobre a definição dos nativos digitais e dos
imigrantes digitais PRESNKY (2001) nos propõe:
Para as escolas se adaptarem aos hábitos dos Nativos Digitais e à maneira como
eles estão processando informações, os educadores precisam aceitar que a
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Aluno 2: Sim, para saber mais do lugar onde moro, e ter experiência quando me
perguntarem sobre a história da minha cidade.
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Aluno 3: Sim, pois precisamos saber da história que faz parte da nossa história.
Aluno 4: Sim, pois trabalhamos com histórias que talvez não sabíamos nem que
tinha acontecido.
Aluno 6: Sim, porque muitas vezes a pessoa mora num canto mas não sabe nada
sobre ele, daí com esse trabalho nós conhecemos mais.
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Figuras 1 e 2: Exposição dos documentários produzidos durante a realização da Mostra Pedagógica ICD
2019.
Aluno 1: Sim, pois a pessoa sabendo sobre sua cultura poderá assimilar com os
povos estudados na disciplina.
Aluno 3: Sim, porque eu não sabia tanta coisa de Nova Palmeira não.
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Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, mesmo que,
em certas condições, precise falar a ele. O que jamais faz quem aprende a
escutar para poder falar com é falar impositivamente [...] O educador que escuta
aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao
aluno, em uma fala com ele.
Falar com o aluno de igual para igual, percebendo suas necessidades, reconhecendo
sua capacidade, observando seus limites, admirando seu talento, estabelecendo
afetividades faz com que ele se sinta participante do processo ensino-aprendizagem, e
727
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REFERÊNCIAS
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culturais. 15. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
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francinyraqueltorres@gmail.com¹
virginiagenuínolira@gmail.com²
reginacgn@gmail.com³
INTRODUÇÃO
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UM CAMINHO DE APRENDIZADO...
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238. Filme australo-estadunidense de 2013, do gênero drama romântico, dirigido por Baz Luhrmann, com
roteiro de Craig Pierce e do próprio diretor baseado no romance homônimo de F. Scott Fitzgerald.
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Através desta experiência, observamos que nem sempre estar diante dos discentes
na sala de aula problematizando um determinado assunto vai atingir a todos de modo geral
e em um mesmo grau. Partindo de outras experiências com a turma e observando o
desempenho dos alunos, vimos que em alguns casos, alunos que em uma aula expositiva
e/ou dialogada nem sempre participaram e demonstraram interesse, mas que ao partir para
uma amostra prática daquilo estudado em sala, demonstravam um domínio e interesse que
o modelo tradicional de lecionar não pode enxergar.
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Ao observar a fala dos alunos, de modo geral foi possível verificar que houve uma
boa receptividade da atividade e também nos revela algumas noções deles em relação ao
processo de ensino aprendizagem. Um s l s lustr st nt st sp to: ―P r m m
l o qu n o s j s o pro ssor l n o so r o ssunto s torn nt r ss nt ‖ V v mos
em um contexto em que a profissão docente vem sendo colocada em questão, e não é de se
admirar, pois, se ser pro ssor l u m qu ―tr nsm t onh m nto‖ qu no o
onh m nto t m m s stor om ― n orm o‖ to pl usív l p ut A
internet é atualmente um dos principais se não o principal veículo de informação no
mundo. Apesar de ter um grande alcance de usuários, nem todo mundo possui o seu
acesso, mas muitas vezes possuí-la significa deter o conhecimento. Basta em alguns
cliques para encontrar respostas sobre o que se deseja saber. Mas possuir informação é ter
conhecimento?
CONSIDERAÇÕES
Diante dos dados supracitados por meio da análise dos questionários, concluímos
que a recepção da atividade, enquanto construção do jornal pelo público discente da turma
referente foi bastante positiva. Os alunos sentiram-se satisfeitos com o trabalho coletivo e
se mostraram mais ativos com relação à aprendizagem. Portanto, a depender da estrutura
do espaço escolar, é importante que o docente busque investir em atividades diversas,
sempre ressaltando a importância do aluno como protagonista do saber, pois o
conhecimento construído de forma coletiva é mais proveitoso e satisfatório.
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REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo.Ação Cultural para a Liberdade: e outros escritos. 6 ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1982.
2010.
LIMA, Aline Mendes. Narrando o passado: o jornal nas aulas de História. Revista Lhiste:
n.1, v.1. 2014.
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Introdução
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Metodologia
1) Em sala de aula, sendo realizado aulas dialogadas com os alunos para que se fosse
debatido a temática, devidamente como a LEI Nº 10.639 de 9 de janeiro de 2003 exige,
problematizando as populações indígenas através das construções imagéticas do senso
comum, abrangendo a complexidade desses grupos étnicos e historicizar esses grupos. No
processo de problematizar e de pensar os povos originários de maneira não-imutável,
trabalhamos com alguns aspectos contemporâneos, com a utilização de imagens
transmitidas por um datashow, a exemplo de grupos musicais de rap, de rock, moradias
urbanas, se discutiu com os alunos a comunidade potiguara na região da Baía da Traição
no estado da Paraíba.
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4) Na data 13/06/2019 foi realizada a atividade, com a exposição dos materiais produzidos
pelos alunos e a degustação de comidas típicas da culinária indígena.
Resultados e Discussão
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Conclusão
Referências
ADRIANO, Fabricio. A temática indígena no contexto escolar: Uma proposta de
intervenção diagnóstica, In: III SEMINÁRIO INTERNACIONAL HISTÓRIA DO
TEMPO PRESENTE, UDESC 2017, Florianópolis, SC.
BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência, In: I
SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO DE CAMPINAS, 2001, Campinas,
SP.
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natachapolicarpo@gmail.com
Resumo: O presente trabalho gira em torno de uma breve discussão sobre as fragilidades
da formação docente e as contribuições do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência (PIBID) a partir das experiências vivenciadas neste, assim como as
possibilidades de oposição às medidas e tendências educacionais que afetam o programa.
A proposta é que através da minha experiência como pibidiana de História da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) no período de 2018-2019 e o conteúdo
presente no questionário aplicado aos bolsistas do programa, seja possível trabalhar
pressupostos teóricos que envolvem Políticas Públicas, aprendizagem compartilhada e
resistência docente. Desta forma, podemos fazer uma reflexão mais crítica sobre nossa
conjuntura atual e programas de formação, a intenção é alimentar o debate sobre a
importância de políticas públicas e incentivo da prática docente, ao mesmo tempo que
busco relatar as inquietudes que proporcionaram uma resistência à tentativa de
decomposição do programa, mas que hoje seguem um caminho incerto.
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241
Resposta concedida por Atencioso no mês de Outubro de 2019 através de formulário do Google.
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O PIBID acaba sendo fundamental para enxergar essa realidade o quanto antes,
outro aspecto que gostaria de destacar no programa é a construção de saberes docentes a
partir do compartilhamento de experiências. Algumas das experiências compartilhadas
pelos pibidianos consistem nas oficinas pedagógicas e reuniões, que nos ajudam a
melhorar como professores; o desenvolvimento de práticas de ensino da História e o
intercâmbio entre Universidade e Escola Básica, especificamente um evento realizado na
Universidade com o objetivo de trazer os alunos das escolas públicas para compartilhar o
espaço e os projetos desenvolvidos com os pibidianos.
Ao serem questionados, Dedicada relatou que o contato com os alunos fez com que
ela percebesse como sua presença pode ser um elemento de suporte dentro da sala de aula.
Por outro lado, o supervisor Compreensivo considerou um desafio organizar as aulas em
conjunto, possibilitando aprendizados para todos. A seguir, temos Atencioso que se
estendeu um pouco mais, de ínicio, contou sobre como foi afetado por uma das primeiras
atividades que fez enquanto bolsista do PIBID, como supervisor, declarou que a
responsabilidade que tem como uma pessoa, de certo modo, que serve de exemplo, foi
242
As identidades dos pibidianos ganharam novos sentidos, sendo caracterizadas com algo que considero
uma de suas qualidades, preservando seus nomes para evitar qualquer desentendimento.
243
Resposta concedida por Resiliente no mês de Novembro de 2019 através de formulário do Google.
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algo que mais chamou sua atenção. Para pontuar, referiu-se como foi fundamental as
reuniões com os pibidianos para crescerem juntos.
Percebe-se como esse processo é diferente para cada um, particularmente, algo que
me deixou marcas foi o compartilhamento da docência com a minha companheira de
turma, com ela pude pensar, escutar e refletir sobre as subjetividades da prática. Acredito
que ambas participamos da caminhada uma da outra e nos permitimos aprender e
compartilhar essa experiência que é ser professora. Assim como compartilhamos a
docência, também possuímos preocupações semelhantes.
Essa inquietação não é apenas algo entre duas pessoas, quando perguntei aos
pibidianos sobre o futuro do PIBID, recebi respostas relacionadas às incertezas que o
governo atual proporciona e a preocupação de encerramento do programa, principalmente
por verem este como uma ferramenta de complementação curricular e ampliação das
experiências. Cabe-nos perguntar, porque essa preocupação e o que está afetando o
programa? quais as alternativas que estão sendo tomadas? quem são as pessoas
prejudicadas?
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A pesquisadora relata que em março do mesmo ano, dois novos editais interligando
o PIBID ao novo programa Residência Pedagógica foram publicados pelo MEC,
garantindo 45 mil vagas para cada um deles. Lembrando que apenas o PIBID concedia 70
mil bolsas, um corte de 25 mil. O programa voltou em meados de agosto de 2018 com
atrasos nas bolsas, normalizando apenas no ano seguinte. Atualmente não sabemos se terá
novo processo seletivo para 2020, de acordo com Taffarel e Neves (2019) estamos em um
contexto político que se mostra cada vez mais ultraconservador e neoliberal, no qual
possui como protagonista o desmonte da educação. Em poucos meses do governo
Bolsonaro (2019-) a ascensão conservadora foi capaz de reduzir verbas e fazer cortes
orçamentários gigantescos, atacando principalmente as bolsas de pesquisas, tais medidas
geraram diversas manifestações que levaram pessoas a rua, em maioria estudantes.
(TAFFAREL, NEVES, 2019. p.328). Outro ponto das tendências educacionais
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Observa-se como nos últimos anos viemos sofrendo com medidas de sucateamento
e precarização da educação, tendendo a piorar com o atual governo, assim, manifestações
vem tomando conta do país, mas também acabam se desgastando com a postura do
governo de não ouvir as reivindicações das minorias. Essa falta de diálogo foi algo que
uma das pibidianas também se mostrou preocupada quando questionei sobre quais as
medidas que deveriam ser tomadas para combater o fim do programa. Os demais falaram
sobre buscar fazer mais ações de mobilizações levando os projetos para a rua, trazer mais
visibilidade através das rede sociais e também publicações de trabalhos, campanhas para a
valorização de professores, entre outros.
O programa tem uma avaliação positiva, consta-se também que possui suas falhas
e dificuldades como qualquer programa que tem como base a convivência entre um grupo
de pessoas. No entanto, é algo que construímos juntos e temos muito o que trabalhar,
acabar com o PIBID sem alternativas equivalentes é deixar explícito o desrespeito ao
longo caminho que ainda precisamos percorrer para melhorar a educação e a formação
docente no país. Com isso, o presente trabalho, através de pesquisa qualitativa, buscou
fazer algumas breves considerações sobre a importância de políticas públicas para a
formação docente, abordando como as preocupações que cercam a unidade acadêmica
nesses últimos anos sucedeu em movimentações de resistência docente e estudantil,
reforçando sua importância diante de governos que fragilizam o ensino público. Por fim,
considero importante que os cursos de licenciatura pensem em preparar seus alunos com o
244
Saiba mais sobre o Future-se na Carta de Vitória publicado pela ANDIFES <Disponível em:
http://fasubra.org.br/wp-content/uploads/2019/07/Carta-de-Vit%C3%B3ria.pdf>
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constante diálogo entre vivência prática e a teoria, ainda no começo de sua trajetória, não
deixando o PIBID acabar tão facilmente, resistiremos.
REFERÊNCIAS
749
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(edvanianascimento504@gmail.com)245
(eryklesufcg@gmail.com)246
(apolinarioju@hotmail.com)247
INTRODUÇÃO
Após décadas de lutas do movimento negro brasileiro, o ano de 2003 foi marcado
por uma grande conquista para todos os negros e negras, cujas histórias e a dos seus
ancestrais foram negligenciadas e silenciados durante séculos, tanto no meio social
intelectual, em especial na educação públicas brasileiras. A Lei Nº10.639/2003, que
instituiu o ensino da História e Cultura Afro-brasileira nos currículos e bancos escolares de
nossa educação, desta forma, a lei tentar trazer em evidencia a cultura e história negra.
Dezesseis anos após esse marco que efervesceu ainda mais os debates étnicos
raciais, o objetivo central desse trabalho é a análise e debate da aplicação exigida por lei de
conteúdos voltados ao ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, em escolas
que o Programa de Educação Tutorial- PET Educação Conexão de Saberes desenvolveu
atividades nos anos de 2018 e 2019. Escolas estas localizadas no periférico bairro José
245
Autora, graduanda pela UFCG, bolsista pelo programa PET Educação - Conexão de Saberes;
246
Autor, graduando pela UFCG, bolsista pelo programa PET Educação - Conexão de Saberes;
247
Orientadora do trabalho, professora doutora na UFCG e tutora do PET Educação - Conexão de Saberes
(UFCG).
750
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Esta pesquisa nos mostrou que ainda há diversas lacunas a respeito de sua
aplicação efetiva.
METODOLOGIA
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pelo livro didático, o Plano Político Pedagógico das escolas e os questionários dos
professores já respondidos.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apósa análise dos textos da Lei Nº10.639/2003, dos livros didáticos citados, do
Plano Político Pedagógico das escolas analisadas e dos questionários respondidos pelos
professores das escolas recortadas no bairro José Pinheiro, em Campina Grande- PB- BR ,
os resultados da pesquisa apresentaram resultados muitos interessantes a respeito da
formulação e aplicação da lei nas escolas em xeque.
Quanto aos livros didáticos, percebemos que estes apresentam de maneira regular
o que a lei propõe, buscando relatar mais sobre a história geral da África, porém levando
aos discentes links de ideias nos quais estes e seus professores podem enriquecer seus
conhecimentos à respeito da cultura africana e afro-brasileira, como por exemplo, a
sugestão da visitação em um terreiro de candomblé e/ou umbanda.
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Imagens 03 e 04: Fotografia de exemplar de livro didático utilizado com as turmas do oitavo ano
do ensino fundamental da Escola Estadual do José Pinheiro- CG/PB. (fonte: acervo pessoal dos autores).
Imagem 05: Fotografia retirada em exemplar de livro didático utilizado com as turmas do oitavo ano do
Ensino Fundamental da Escola Estadual do José Pinheiro- CG/PB. A fotografia diz respeito a uma atividade
reflexiva sobre a lei n° 12.519. (fonte: acervo pessoal dos autores).
vezes vêm à sala de aula sem muito aprendizado prévio sobre a história e cultura da África
e afro-brasileira, como pelo fato da demonização social que há contra o povo negro e
alguns aspectos deste, como por exemplo, as religiões de matriz africana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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COMUNICAÇÃO ORAL
Apresentação
Este artigo versa sobre a temática ambiental cuja relação sociedade e espaço
sintetiza um dos nexos estruturantes da geografia. É no legado do naturalista Manuel
Arruda da Câmara que centraremos nossa discussão. Dentre os documentos escritos por
l l mos p r nál s ―D ss rt o so r s pl nt s o Br s l‖ s r to m 8 O
nosso ponto de partida para a análise da referida fonte documental, baseia-se no seguinte
questionamento: Que interesses levaram o naturalista, Arruda da Câmara a elaborar uma
dissertação sobre as plantas no Brasil?
Esta discussão faz parte de reflexões da tese de doutorado em curso, que está
diretamente relacionada com a temática e com o naturalista, em apreço. Na busca de
responder o questionamento, necessitamos não apenas debruçar no uso da fonte
248
Doutoranda.
249
Orientador.
250
Co-orientador.
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documental per si, mas, analisá-lo dentro do contexto histórico e do espaço vivido pelo
naturalista.
251
Coligida no estudo biográfico, organizado em forma de livro “Manuel Arruda da Câmara: Obras reunidas
(1752-1811)” pelo pesquisador José A. Gonsalves de Mello, publicada em 1982.
252
Ler: Eric HOBSBAWM “A era das Revoluções (1789-1848)” (1977).
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magnitude distinta, abalou e destruiu boa parte do seu território, como a catástrofe natural
do terremoto253, que de alguma maneira contribuiu para a ascensão da política pombalina.
253
LER: “O TERRAMOTO DE 1755, A TORRE DO TOMBO E M ANUEL DA MAIA”. FONT E:
ARQUIVO NACIONAL – TORRE DO TOMBO. HTTP://ANTT.DGLAB.GO V.PT/EXPOSICOES-
VIRTUAIS-2/O-TERRAMOTO-DE-1755-A-TORRE-DO-TOMBO-E-MANUEL-DA-MAIA/. ACESSO
EM 17 DE AGOSTO DE 2019.
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Não se sabe ao certo a sua data nascimento, haja vista a polêmica que alguns apontam
ora, nascido em Pernambuco, ora na Paraíba254. O ponto consensual desta discussão
consiste nos registros documentais que identificaram o seu pai como Capitão-Mor,
Francisco de Arruda Câmara e que residiu no sertão de Piancó 255 (Jurisdição de Pombal)
na Paraíba do Norte, beneficiário de sesmarias, que objetivava a produção agrícola e o
povoamento do sertão da Capitania da Paraíba.
242, 243* e 10/03/1735 Sertão dos Cariris: Onde se encontra o riacho da Caraibeira, que parte da Serra
246* da Borborema e atravessa a Serra Timbaúba fazendo ao atravessar esta serra
"uma grande cachoeira". Tais terras "fazem pião" na dita cachoeira; uma légua
e meia pelo riacho da Caraibeira abaixo, e outra légua e meia de tal cachoeira
para cima, pelo riacho Gado Bravo, por serem sobras de terras.
245 e 286* 22/07/1741 Rio Salgado: buscando o noroeste ate uma légua de largura, meia para sudoeste
e meia para o nordeste, e pelo mesmo riacho acima ate completar as três léguas e
meia de largura para cada banda do riacho.
254
Artigos de Octacilio N. de QUEIROZ “Da Paraíba o Naturalista Arruda Câmara” e de M. Tavares
CAVALCANTI “Uma dúvida biográfica: O célebre Naturalista Arruda Câmara era Paraibano”. In:
Revista/IHGP, v. 13º, 1958, p. 39-52. Essa discussão encontra-se no livro de José A. Gonsalves de MELLO In:
Manuel Arruda da Câmara - obras reunidas, 1982.
255
(Voc. Ind., contraç. De pi-ang-ecó: que produz tristeza, desolação. É tradicional que “Piancó” foi o nome
de um valente chefe corema). Atual Município central do alto sertão paraibano. [...] os primitivos
habitantes de Piancó foram os cariris, subdivididos em várias tribos, ente estas a dos Coremas [...] e
panatis. João R. Coriolano de MEDEIROS. Dicionário Corográfico do Estado da Paraíba. (2016 p. 192-193).
256
As alegações e justificativas do suplicante em adquirir as sesmarias são diversas como “*...+ possuir gado
vacum e vacular, que as terras poderiam servir de logradouro para o “o tempo do verde”, que era
descobridor de terras com risco de vida, pretensão de plantar, terras devolutas e para recreação do gado,
não compreender viveiros ou minas. Fonte: Plataforma S.I.L.B: Sesmarias do Império Luso-Brasileiro.
http://www.silb.cchla.ufrn.br/busca. Acesso em 21 de outubro de 2019.
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"Curnichava".
728* 09/06/1777 Serra da Borborema: Ribeira do Piancó; riacho Cravata, onde desaguava no
riacho dos Macacos. Ao Sul, a sesmaria confrontava com o riacho Cravata,
sendo acima do riacho com Lourenço de Brito Correa (PB).
809* 08/08/1781 Vila do Pombal: Confrontante Norte, Riacho do Cipo; confrontante Sul, sítio
Porocon.
Quadro 2- Propriedades
Quantidade de propriedades Localização/Atual
04 Icó/Icó-CE
05 Crato/Crato-CE
257
O livro de Ângelo Emílio PESSOA, “As ruínas da Tradição: A Casa da Torre de Garcia d’Ávila” (2017) traz
uma contribuição esmiuçada sobre o papel da Casa da Torre, da estrutura familiar patriarcal no processo
de domínio territorial no sertão colonial.
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Assim sendo, podemos inferir que o então, Frei Manuel Coração de Jesus - nome de
Manuel Arruda da Câmara adotado pela ordem religiosa acima mencionada – pôde alçar
voos para além dos domínios da Capitania da Paraíba e de Pernambuco, matriculando-se
na Universidade de Coimbra para cursar filosofia e matemática e, no ano da Revolução
Francesa, matricular-se na Universidade de Montpelier, concluindo a tese de doutorado em
1791.
Arruda da Câmara viveu dentro desse contexto histórico europeu e ao retornar dos
estudos, em 1793 encontra um quadro político-econômico colonial acima mencionado.
Para além politicamente está em consonância com ideias revolucionárias republicanas, ao
r torn r os s us stu os t m o j t vos l ros rm M llo ( 98 p 5) ―[ ] por os
onh m ntos qu qu r r s rv o su t rr o m omum‖ A su p ul r
frente aos naturalistas de sua época está, sobretudo nos territórios ambientais, por ele
elegido: A caatinga.
258
Aroldo de AZEVEDO em “Vilas e cidades do Brasil Colonial” (1992, p. 41) traz um quadro espacial e
histórico do aumento de povoações, vilas e cidades no setecentismo, que demonstra o elevado número de
118 vilas que foram criadas e, de 57 povoações viram-se elevadas à categoria de vilas.
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259
Dos registros que se tem Essa rota n foi Em 20/09/1795 o naturalista responde à Carta enviada em
fevereiro de 1794 por Frei Veloso, estudioso de ciências naturais os enviou oferecendo documentos, uma
espécie de “guia de naturalistas viajantes”.
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Neste sentido, a botânica desenvolvida por Manuel Arruda da Câmara teria uma
particularidade nas anotações sobre as espécies brasileiras, devido à prática do trabalho de
campo. No trabalho biográfico sobre o naturalista em questão, o historiador, José A.
Gonsalves de Melo (1981, p. 11) menciona outra peculiaridade em que afirma que Arruda
―[ ] n o s sn on l zou om a vida fora do Brasil. Pelo contrário, viveu fora, porém
voltado para o seu país, e regressou a ele para pôr os conhecimentos adquiridos a serviço
r l o s nvolv m nto o Br s l‖
Para além desses dois traços que demarcam o trabalho diferenciado do naturalista
viajante em apreço, antecipamos em afirmar que o percurso geográfico por ele escolhido,
singulariza seus trabalhos botânicos a de outros naturalistas de sua época, tendo optado
pelo reino da flora260 da caatinga.
3. Notas sobre o linho e seus usos nos estudos botânicos de Manuel Arruda
da Câmara: A dissertação sobre as plantas do Brasil (1810)
260
Pablo Marcelo Diener Ojeda explica que a expressão “Reino da flora” ou “paisagem fisionômica” são
expressões do período oitocentista que os naturalistas viajantes designavam ao que hoje chamamos de
bioma, incluindo a caatinga. Fonte: TV PUC RIO: A viagem do naturalista Von Martius pelo Brasil. Disponível
em: https://www.youtube.com/user/TvPucRio1/search?query=Pablo+Diener.
261
“Aviso aos Lavradores” em 1792, “Anúncio dos descobrimentos feitos em Pernambuco” em 1796 e,
“Memória sobre a cultura dos algodoeiros” em 1799 e “Discurso sobre a instituição de jardins” de 1810.
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Quadro 3- Secção I
DAS PLANTAS QUE DÃO LINHO PROPRIAMENTE DITO
Espécies Usos Geografia das Plantas
Caroá: (Bromélia Fibra de linho, cordoalhas, pano grosseiro, rede de Curimataú e Cariri –
Variegata) pescar. Capitania da Paraíba.
Crauatá de Rede: Fibra de linho, amarras e cordoalhas e lonas. Beira mar de Pernambuco,
(Bromélia Sagenária) Paraíba e Rio Grande.
Ananás de Agulha: Linho, produção de frutos e cercas. (Não fez a Sul de Recife e afogados.
(Bromélia Muricata) descrição por não ter feito a experiência do uso de
linho de suas folhas).
Caroatá: (Bromélia Linho, mas não é forte, para uso vulgares. Sem localização.
Karatas)
Caroatá Açu ou Piteira: Conservação do fogo na madeira do Scapo, cercas Capitania de Pernambuco.
(Agave Vivipara) nativas, panos, cordões.
Coqueiro: (Cocos Linho, cordas, refrigerante, adubo, azeite puro, Originário da Índia.
Nucífera) luzes e sabão.
Macaíba ou Macaúba: A polpa oleosa dos frutos e amêndoas do interior Pernambuco e em outras
(Cocos Ventricosa) do caroço para venda nos mercados, a folha partes do Brasil.
contém um linho fino e forte.
Fonte: José A. Gonsalves de. Mello In: Manuel Arruda da Câmara - obras reunidas, 1982. Organização da autora.
Quadro 4 - Secção II
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DAS PLANTAS CUJO LINHO NÃO É FLAMENTOSOS, OU QUE DÃO LINHO DE FIBRAS
UNIDAS É FEIÇÃO DE FITAS
Espécies Usos Geografia das Plantas
Fonte: José A. Gonsalves de. Mello In: Manuel Arruda da Câmara - obras reunidas, 1982. Organização da autora
Das notas sobre os o linho e seus usos nos estudos botânicos de Manuel Arruda da
câmara, percebemos que o empirismo está presente em todo o trabalho de campo do
naturalista Arruda da Câmara, aliado a experimentação das plantas e do que seria possível
aos usos utilitários para o desenvolvimento da agricultura na colônia da América
portuguesa com espécies nativas da flora da caatinga. Observamos ainda, que o seu
trabalho de campo empírico e experimental desenvolvido que o animava, colaborou num
esforço de reunir espécies distintas dos trabalhos desenvolvidos pelos naturalistas de
gabinete que ele criticava. Evidenciamos também que o naturalista, Arruda da Câmara
teria interesse em realizar este estudo botânico sobre os vegetais da caatinga - cujo
propósito maior seria extrair linhos – por compatibilizar com os interesses de um dos
projetos de desenvolvimento da Coroa portuguesa no incremento do cultivo do cânhamo
na colônia compreendido entre 1747 a 1824, caso viesse a fracassar ou não ter esse
vegetal, por se tratar de uma planta da família da Cannabis, originária da Ásia Central.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
AGUIAR, José Otávio. A botânica como missão pedagógica: Manuel Arruda da Câmara
e a peculiaridade de suas interpretações sobre as espécies brasileiras (1752-1811). Dossiê:
História Colonial. Parte I. Clio: Revista de Pesquisa Histórica, Recife, v. 29, nº 1, p.180-
205, 2011.
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AZEVEDO, Aroldo de. Vilas e cidades do Brasil Colonial. Geografia: Espaço &
Memória. nº 10, São Paulo: Terra Livre/AGB, 1992.
CÂMARA, Manuel Arruda da. Dissertação sobre as plantas do Brasil [1810]. In:
MELLO, José Antônio Gonsalves de. Manuel Arruda da Câmara – Obras reunidas (1752-
1811). Recife, PE: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1982.
HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
FONTE DOCUMENTAL:
CÂMARA, Manuel Arruda da. Dissertação sobre as plantas do Brasil [1810]. In:
MELLO, José Antônio Gonsalves de. In: Manuel Arruda da Câmara – Obras reunidas
(1752-1811). Recife, PE: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1982.
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qualidade de vida através de Produtos naturais. Surgem assim novas subjetividades nas
relações entre os homens e a natureza, no contato com o destrutivo mercado político-
ambiental na pauta do dia dia, imediatista em influir e generalizar a produção e a procura
de acordo com o saber científico ante ao regionalismo e suas características.
O CONSUMO VERDE
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demonstra uma ruptura no modo de lidar com as plantas medicinais. Por outro lado, os
fitoterápicos são apresentados de forma sofisticada apresentando nomenclatura botânica
completa, destacando a parte da planta utilizada, bula e embalagem, seguindo as normas
do regulamento técnico sobre registro de medicamentos fitoterápicos.
Ao longo dos últimos dez anos, esse mercado foi crescendo consideravelmente,
alicerçado num discurso que reforça a necessidade de cuidar de si a partir de uma
alimentação natural e do uso de produtos o mais próximo da forma encontrada na
n tur z m um mom nto no qu l o s rv mos um s uss o so r ― olo lo l
sust ntáv l‖ (SHIVA 3) Al m pr o up s so r o prolon m nto juv ntu
também é um tempo em que todos tem medo de morrer ou de adoecer, e esse tipo de
―r m o‖ pont o omo m s ol o s u áv l n lus v om mp nh s
marketing significativas nos últimos anos (TAVARES, 2016) em meio ao aumento da
―n tur z líqu ‖ o onsum smo lo l n r l z nt (DELEUZE 8)
Segundo a legislação, plantas medicinais podem ser definidas como sendo toda
― sp v t l ult v ou n o ut l z s om prop s tos t r pêut os‖ (R solu o
ANVISA n.18/2013). De acordo com o regulamento técnico sobre registro de
medicamentos fitoterápicos item s o ons r os tot ráp os ― ro v t l pl nt
ou suas partes, após processos de coleta, estabilização e secagem, podendo ser íntegra,
r sur tr tur ou pulv r z ‖ (BRASIL )
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Para que o fitoterápico seja comercializado, ele deve ser registrado no Ministério
da Saúde, que autoriza sua introdução no mercado para comercialização ou consumo, após
avaliar o cumprimento de caráter jurídico-administrativo e técnico-científico relacionado
com sua eficácia, segurança e qualidade.
ideológica aos produtos naturais por aqueles que controlam a grande mídia com a ideia de
demonizar a milenar prática do curandeirismo que em muitas regiões são a única fonte de
tratamento de doenças (SHIVA , 2003).
Durante séculos a cura pela natureza foi praticada espontaneamente pelo homem e
fez parte do cotidiano das mais distintas civilizações, sendo desconsiderada a partir das
descobertas da ciência moderna com objetivos muitas vezes diferentes do objeto inicial,
mascarados em intenções distorcidas que condenaram e condenam em proveito de ideais
distópicos com possibilidades convencionadas a grupos específicos que se tornam espelho
entre os distintos meios sociais. Na busca da verdade absoluta a ciência muitas vezes
destruiu valores e conhecimentos sedimentados a pretexto do bem e do progresso
(THOMAS, 1988).
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p.6). A partir do texto de Platão, especialmente o diálogo Alcibíades, no qual afirma que
Sócrates era apresentado com alguém que estimulava os sujeitos a ocuparem-se de si.
776
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círculos sociais, mas nos setores que consomem e mantém estes espaços? Esta medicina
― lt rn t v ‖ n o po r so r puj r o p p l ― n r o‖ m r l o os m m ntos
adquiridos nas grandes redes de farmácia?
Dependendo do ponto de vista de quem observa tais fatos, podemos dizer que
existe ainda um maniqueísmo na relação doença/tratamento ou enfermidades/profilaxia,
num paradoxo que a ciência moderna considera o jogo do racional (razão) contra o
empirismo (animismo) presente ao longo dos tempos mas que adquire agora nos rumos da
genética aplicada e da medicina ortomolecular uma epistemologia de novo milênio sem
uma conclusão a curto prazo. Outrora a simplicidade da natureza bastava aos homens, veio
a religião pra dizer que não, e agora o cientificismo diz que tudo tem solução com
experimento, ensaio e erro. O mundo pós moderno não pretende conciliar tais parâmetros
a luz do saber, o possível cada ser tende a procurar por conta própria (THOMAS, 1988).
777
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REFERÊNCIAS
ALBERTI, Verena. Histórias dentro da História. In. PINSKY, Carla (Org.). Fontes
históricas. São Paulo: Contexto, 2010, p. 155-202.
ARAÚJO Cristina Ruan Ferreira de. et al. Tradição popular do uso de plantas medicinais:
ação extensionista sobre crenças, uso, manejo e formas de preparo. In. Revista Saúde e
Ciência online, 2015; 4(3): 55-69. Disponível em <
http://www.ufcg.edu.br/revistasaudeeciencia/index.php/RSC-UFCG/article/view/298/203
>. Acesso em: 30 Abr. 2019.
LUZ, Madel Therezinha. Natura, Racional, Social. Rio de Janeiro. Campus: 1988.
THOMAS, Keith. A religião e o declínio da magia. São Paulo: companhia das X: 1988
THOMAS, Keith. O Homem e o Mundo Natural. São Paulo. Companhia
779
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Introdução
É qu s um ‗lu r- omum‘ rm r qu p squ s ntí p r orr nov s trilhas
a partir dos problemas que são apresentados pelo tempo presente. E, neste caso, é da
atualidade que emergem novos objetos responsáveis pelo revigoramento do campo da
investigação científica em várias áreas do conhecimento. Dito isto, podemos asseverar que
há uma urgência na contemporaneidade em compreender o porquê da disjunção entre duas
dimensões que compõem a vida em sociedade: a dimensão cultural e a dimensão natural.
Entretanto, a inquietação atual em entender a causalidade desta dissolução implica em
analisar algo que os estudos científicos vêm indicando. Qual seja? A necessária integração
entre a cultural263 e a natureza264 como forma irredutível de compreender a complexa
dinâmica social concebida pela realidade contemporânea.
262
Título da tese de doutorado defendida em maio de 2019 na Universidade Federal de Sergipe.
263
Embora o conceito de cultura seja considerado vasto, a ideia de cultura adotada na pesquisa visa
apreender desta categoria a noção de cultura como “um modo de vida” (incluindo ideias, atitudes práticas,
língua, instituições, estrutura de poder) e uma “série de práticas culturais” (formas artísticas, arquiteturas,
bens produzidos pelo consumo de massa, etc.) Cf. WILLIAMS, Raymond In. Cultura e Sociedade: de
Coleridge a Orwell. 2011. Petrópolis (RJ): Editora Vozes. In Culture and Materialism: selected essays. UK:
London. Published by Verso, 2005.
264
Tão complexo quanto o conceito de cultura, a noção de natureza pode apresentar inúmeras
compreensões. Neste caso, a abordagem do conceito de natureza visa compreender as relações da
sociedade com a natureza refletindo sobre “a nossa visão de natureza”, sobretudo, “(...) a concepção de
uma natureza-objecto, exterior ao homem, e da qual ele se separou ao instrumentalizá-la”. Cf. LARRÈRE,
Catherine. In. Do Bom Uso da Natureza: Para uma filosofia do meio ambiente. 1997. Lisboa (Portugal):
Editora Instituto Piaget.
780
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área do conhecimento que nos últimos anos têm suscitando inúmeros debates no sentido
de ampliar as fronteiras epistemológicas existentes a fim de incorporar novas temáticas
para seu âmbito de pesquisa. A visível expansão do campo patrimonial se constitui numa
realidade uma vez que as abordagens decorrentes convencionais não mais produzem
efeitos satisfatórios. A porosidade das fronteiras no campo patrimonial tem sido
observada, sobretudo, com a introdução da questão ambiental no seu âmbito de pesquisa e
de políticas públicas, inserindo o tema em questão numa abordagem interdisciplinar.
Deste modo, este artigo tem como principal objetivo analisar a incorporação da dimensão
ambiental na política de preservação do patrimônio cultural brasileiro.
Do Quadro Teórico
O principal legado que esta Declaração (1975) deixa para o campo patrimonial é a
importância do planejamento e da gestão territorial na consecução da política ambiental
urbana compreendendo todo o envoltório do patrimônio material. A carta de Amsterdã
265
Embora a Carta de Veneza (1964) recomende relacionar o patrimônio ao meio onde se encontra situado
o monumento histórico, as diretrizes desta carta patrimonial se voltam em favor da restauração tão
somente dos monumentos, tendo em vista assegurar a autenticidade do patrimônio em detrimento da
falsificação artística e histórica (LEMOS, 2010). A concepção de integralidade entre ambiente e cultura é
abordada nas cartas patrimoniais muito recentemente. A Declaração de Amsterdã de 1975 é um
importante marco nesse sentido.
781
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266
Em 1967, num encontro promovido pela OEA (Organização dos Estados Americanos), fora patrocinado
pelos signatários presentes as “Normas de Quito”. Esse texto propunha relacionar o patrimônio cultural ao
turismo, visando à promoção do desenvolvimento econômico e social tendo na atividade turística seu
principal catalisador.
267
Considerado um dos mais importantes conceitos-chave da Geografia, a noção de paisagem cultural
transita entre a materialidade da transformação da natureza pela ação humana ao simbolismo e significado
dos valores culturais que estão impregnados na paisagem. Cf. COSGROVE, Denis. Realtà Sociali e Paesaggio
Simbolico. Milano (IT): Edizione Unicopli, 1997. JACKSON J. B. et al. The Interpretation of Ordinary
Landscapes: geographical essays. New York (USA): Oxford, 1979. CONSGROVE, Denis. In: Social Formation
and Symbolic Landscape. United States of American: The University of Wisconsin Press, 1988. Cf. CORREA,
Roberto. L; ROSENDAHL, Zeny. Geografia Cultural: Introduzindo a temática, os textos e uma agenda. In:
Introdução à Geografia Cultural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
782
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783
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268
BRASIL. Decreto Federal Nº 3.551, de 04 de agosto de 2000. Os registros são classificados em quatro
segmentos: Livro de Registro dos Saberes; Livro de Registro das Celebrações; Livro de Registro das Formas
de Expressão e Livro de Registro dos Lugares. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3551.htm
Acesso em: 15 de novembro de 2018.
269
O termo paisagem cultural apareceu conceitualmente na obra do geógrafo Carl Sauer em 1925, com a
publicação do clássico “Morfologia da Paisagem”. Entretanto, o termo paisagem remete a landschaft,
palavra de origem germânica que apareceu para significar os elementos naturais de uma região. Com a
publicação da obra de Sauer houve uma ressignificação, incluindo elementos naturais e culturais, o sentido
original fora paulatinamente deixado de lado uma vez que não abarcava a ação humana na paisagem.
784
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cidades históricas foram assentadas em ambientes naturais de tal modo que o conceito de
paisagem cultural é imprescindível para abarcar a integração da cultura urbana
patrimonializada ao meio natural amalgamando-se numa só paisagem. Assim, atualmente,
é impossível abordar a questão patrimonial sem fazer referência ao tangível e ao
intangível, sobretudo em sua extensão paisagística cultural cuja patrimonialização é
ns r t no ―L vro R stro B ns Cultur s N tur z Im t r l‖
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Este é o caso das cidades Olinda e São Cristóvão, localizadas nas regiões
metropolitanas de suas respectivas capitais (Recife/PE e Aracaju/SE), tais cidades
históricas foram tombadas pelo Iphan270 em virtude de seus conjuntos urbanos e
arquitetônicos que remetem ao período colonial, no que toca o tempo histórico e o estilo
barroco; expressividade artística e histórica valorizadas à época do tombamento. No
entanto, com o complexificação da ideia de patrimônio, decorrente da assimilação de
novos objetos ao campo patrimonial, essas cidades passaram a ser interpretadas
culturalmente não apenas pela materialidade que as caracterizam, mas, pelas
manifestações culturais imateriais que em interface com a cultura material lhe imprime
uma paisagem idiossincrática.
270
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Fundado em 1937, mediante o Decreto Federal Nº
25. O instituto, que antes era Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, foi presidido por Rodrigo
de Melo Franco de Andrade, responsável pela organização administrativa e as diretrizes da recém-
instituída autarquia cultural. IPHAN. Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional.
http://portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/Decreto_no_25_de_30_de_novembro_de_1937 . Acessado
em 16 de novembro de 2018.
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A pesquisa trilhou dois caminhos: uma de ordem teórica e outra de ordem empírica
e documental. A primeira (teórica) visou através do estudo da fonte bibliográfica analisar
os conceitos das principais categorias analíticas da pesquisa, ou seja, o conceito de cultura
e o conceito de natureza à luz da ideia de patrimônio. O segundo caminho trilhando
buscou através de dois documentos oficiais (PCH e Programa Monumenta) e nas práticas
institucionais do Iphan como a dimensão ambiental foi inserida em duas cidades históricas
tombadas (Olinda e São Cristóvão).
Ainda que duas cidades históricas tenham sido selecionadas para entender o
universo das cidades históricas do Nordeste, o método comparativo271 adotado serviu
p r ―prov r‖ s p rt ul r s -patrimônio mesmo que tenham
características em comuns. O método comparativo aplicado não teve por propósito
estabelecer classificação ou hierarquizar os objetos de estudo. Mas, para dar respaldo às
diferenças existentes entre as duas cidades que embora contempladas com os mesmos
programas de preservação patrimonial e práticas patrimoniais institucionais, possuem suas
singularidades.
Considerações Finais
Procuramos apontar os limites do modelo apresentado pelos programas de
preservação patrimonial que tem privilegiado o desenvolvimento econômico e social pela
via do turismo cultural de massa. Neste tocante, a pesquisa visa contribuir para a discussão
em torno da temática ambiental que processualmente vem sendo incorporada ao campo de
preservação patrimonial. Acompanhando a questão ambiental, o conceito de
sustentabilidade tem sido explorado nos projetos de preservação patrimonial aproximando
a dimensão cultural da dimensão ambiental, assim sendo, o resultado da pesquisa espera
contribuir na reflexão acerca da ideia de desenvolvimento sustentável uma vez que se trata
de uma pesquisa vinculada ao programa de pós-graduação em estudos de
Desenvolvimento e Meio Ambiente.
271
Por se tratar de um estudo que requer conhecimento histórico, o método comparado adotado foi O
método comparativo em história, pois visa estabelecer as singularidades entre as unidades postas em
comparação, sem necessariamente emitir juízo de valores de natureza hierárquica entre tais unidades.
Neste tocante, o método utilizado tem por base o historiador “comparativista” DETIENNE, Marcel.
Comparar o incomparável. São Paulo: Ideias Letras, 2004.
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Referências
BRASIL. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Decreto Nº 3.551, de
04 de agosto de 2000. Disponível em: http://www.iphan.gov.br/arquivos/decretos
Acessado 02 de janeiro de 2019.
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LEMOS, Carlos A. C. O que é patrimônio histórico. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2013
(Coleção Primeiros Passos).
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272
Acesso ao documento através do Projeto Resgate de âmbito nacional que tem como proponente a
Fundação Parque Tecnológico em parceria com UFCG, foi aprovado no Edital da Petrobrás Cultural - 2010 e
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Brasil a partir do início do século XVII. O rei Felipe III, da então União Ibérica 273, aos
9 de agosto de 1602 concedeu o alvará durante dez anos para a caça da baleia. Os
licenciados foram dois sócios: Capitão Pêro de Urecha e Julião Miguel, pouco se sabe
sobre estes dois homens, a historiadora Myriam Ellis (1969), apresenta o documento
encontrado no Arquivo Histórico Ultramarino, em que a licença é dada pelo senhor Rei
do Império Ibérico, aqui transcrito
Eu el-R y o s r os q‘ st m u lv rá v r m qu p‘ m r
licemça a pero de Urecha e a Julião Miguel Biscainhos vezinhos de
Bilbao da prouincia de Biscaya que por tempo de des anos cotados
des do dia de São João de seis cemtos e dous e doze possão ir cõ três
navios as costas do Brazil a pescar Baleas posto que não seião
naturales plo que mando ao gouvernador das ditas partes do Brasil que
ora e E ao diamte for e ao meu provedor da fazemda e estas e a
qualquer Capitão ou offcial de justiça ou fazemda a que este for
aprezemtado e o conhecimento dele com direito pertemçer deixe
pescar ao dito pero de urecha e julião miguel ou seus feitores na parte
omde eles mais quiserem continuar na dita pescaria de baleias e lhes
darão todo o favor e ajuda para o ditto efeito.
pela Lei de Incentivo a Cultura do MINC, desenvolvido, em grande parte, na cidade de Campina Grande-PB,
objetivando catalogar e publicar duas coleções de verbetes dos documentos manuscritos avulsos e em
códices referentes à História Indígena e Escravidão Negra do Brasil Colonial. Os milhões de imagens
o um nt s m ro lm s t l z s p lo Proj to R s t ―B r o o R o Br n o‖ o M n st r o
Cultura, que foi Coordenado pela Dra. Esther Caldas Bertollete, respeitantes ao período colonial brasileiro e
encerrados no Arquivo Histórico Ultramarino – Lisboa/Portugal. Em meio à procura dos documentos
referentes ao Projeto, me deparei também, com documentação referente às baleias no período colonial em
diversas capitanias do Brasil. Essas novas fontes reacendeu a empolgação e me trouxe a possibilidade de
estudar a Baleia no Brasil Colonial, através de novas fontes e documentos que poderiam permitir um novo
olhar sobre esse capítulo da história.
273
União Ibérica foi a unidade política que regeu a península ibérica de 1580 a 1640, resultado da união
entra as monarquias de Portugal e da Espanha.
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França Antártica. Foi ele quem criou a expressão França Antártica (1557) e posteriormente
culpou os huguenotes, como eram chamados os calvinistas franceses, pelo fracasso da
colônia. Esse ataque envolveu uma grande polêmica religiosa com o calvinista Jean de
Léry (1534-1611), justificando a obra deste último Histoire d'un voyage faict en la terre du
Brésil, autrement dite Amérique (1578), sobre a mesma aventura. Também escreveu La
Cosmographie Universelle, Paris (1575). Foi também guarda das curiosidades reais, abade
de Masdion, em Sanitonge, e morreu em Paris, aos 88 anos. Escreveu, em português
atualizado, ... Ostras agarravam-se às raízes das árvores de mangue, formando verdadeiros
cachos. Estas raízes eram cortadas pelos indígenas quando em maré baixa, que preferiam
as ostras menores do manguezal às maiores do mar por serem aquelas mais saborosas e
s s st s us or s r s El ss ur v m s us s r tos qu os ―s lv ns‖
da América não viviam nos campos e florestas como animais e nem tinham seus corpos
recobertos de pêlos, como ursos, cervos ou leões, afirmando seguramente que a aparência
dos nativos era exatamente o oposto do que os pintores do Velho Mundo pincelavam os
selvagens ameríndios. Seus escritos e ilustrações comprovavam a existência de homens
com corpos lisos e bem cuidados.
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depreender – a partir do nosso olhar sobre a xilogravura de Thevet - que aos fins do
século XVI havia aproveitamento da baleia para extração, de pelo menos, o óleo; e que
essa atividade poderia ser vista como algo pavoroso, exótico, estranho; e ainda que
usava-se técnicas rudimentares para este fim. Estas informações geram a problemática
do capítulo: quando ocorreu o início dessas atividades de caça a baleia? Quais eram as
características desta atividade? Quando ocorreu o entendimento do caráter comercial e
lucrativo da caça a este animal?
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chegou a Cônego da Sé baiana e Vigário-Geral. Conta-se que aos trinta e cinco anos
ordenou-se frade, vestindo o hábito de São Francisco e trocando o nome de batismo
pelo de Frei Vicente de Salvador. Nome pelo qual entrou para a História do Brasil.
Fr V nt o S lv or on lu u no no 6 7 ―H st r s o Br z l‖ o r
densa com 38 capítulos e 267 páginas que registram aspectos da vida política, social,
econômica e do cotidiano de um Brasil em processo de gestação. Este livro é
considerado por especialistas como primeiro trabalho de cunho histórico sobre um
Brasil recém conquistado pelos portugueses. Discorre Salvador em sua obra, dentre
outros fatos, sobre guerras entre brancos e índios, expondo os esforços dos
colonizadores para consolidar o domínio sobre o território e sobre o trabalho de índios e
escravos negros nas primeiras décadas do século seguinte à ocupação lusitana. Dentre
as várias temáticas abordadas em seu livro, encontram-se ainda aspectos relacionados à
atividade baleeira na Bahia que, segundo ele registrou, foi introduzida pela primeira vez
em 1603 na região do Recôncavo Baiano.
O primeiro relato sobre as baleias faz Salvador logo no início da obra quando
passa a relatar das mais variadas espécies de animais que há na Bahia do século XVII,
ele diz
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natação lenta, além de serem dóceis e navegarem próximo às costas. Um fator que
facilita a captura do mamífero é sua possibilidade de flutuação, quando abatida, por
causa da sua espessa camada de gordura. Uma baleia franca pode medir 18 metros de
comprimento e chegar próximo de 40 toneladas. O tempo de vida desses mamíferos
varia entre 70 e 80 anos podendo se prolongar por mais alguns anos. As baleias francas
são pretas e preferem as águas mais quentes o que explica, em parte, a migração destas
para a costa brasileira. (PESAVENDO, 2009.
Em ―H st r o Br z l‖ V nt o S lv or ( 6 7: 7 ) tr u u o nt r ss
sobre a atividade baleeira à necessidade de importação de alguns produtos o impulso
determinante para o início da atividade baleeira no Brasil. Seus escritos atestam que
durante a União Ibérica (1580-1640), havia a necessidade de se ter atendida uma
demanda local por alguns produtos para a agroindústria açucareira e para uso diário dos
mor or s Colôn Um ss s pro utos r o l o ou ― z t p x ‖ omo r
também conhecido. As casas, os prédios comerciais, os fortes militares e as unidades de
produção agroindustrial, principalmente os engenhos para fabricação do açúcar
necessitavam de óleo para se manter o mínimo de claridade quando a noite caía e
encobria o horizonte com seu manto escuro.
camadas de gordura das baleias, além do óleo, também passaram a produzir uma
espécie de pasta mais vigorosa e densa que era utilizada para calafetagem de barcos e
servia como matéria-prima para produzir sabão e velas no atendimento de um comércio
regional que embora incipiente, tendia ao crescimento.
274
Embora Frei Vicente do Salvador indique o ano de 1603 como aquele em que foi introduzida a
atividade baleeira no Brasil, o alvará de Felipe III, rei da Espanha, autorizando Pêro de Urecha e seu
sócio Julião Miguel, biscainhos, a caçar baleias no Brasil por um período de dez anos, data do ano de
1602, conforme se pode atestar no documento do Arquivo Histórico Ultramarino, nas caixas da Bahia I, e
que transcrevemos no capítulo primeiro dessa monografia.
800
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O r l to Fr V nt o S lv or so r ss t po ―p s ‖ no Br s l
fornece indícios para se entender como esta atividade econômica passou a ser
estruturada com base inicialmente no atendimento de uma demanda local e,
posteriormente, como se tornou objeto de interesses mercantis e metropolitanos
crescentes após o domínio dos colonos luso-brasileiros de técnicas necessárias para
caçadas mais intensas e mais frequentes do cetáceo. Domínio de técnicas que não tardou
a ocorrer, pois já em 1614 a Coroa Portuguesa estabeleceu o monopólio estatal sobre a
atividade baleeira que iniciou a partir de então um processo de expansão para outras
áreas da costa do Brasil. A justificativa dada pelo Provedor da Fazenda, Sebastião
Borges e do Governador-G r l G sp r Souz ― str o o Prov or no on to
que, sendo peixe-real, era o cetáceo propr Coro ‖ (ELLIS 969) Ass m
s n o ―propr oro ‖ o nst l o o monop l o r l l no Br s l
em 1614. Durante os séculos XVII e XVIII os instrumentos que regulamentavam este
monopólio foram surgindo, eram contratos que determinavam os direitos e obrigações
das partes contratantes que eram a Coroa e o contratador da pesca da baleia. Entre os
direitos e obrigações estavam: administração da caça, comércio do óleo, preços – que
variavam de acordo com as arrematações – entre outras coisas. Os contratos eram feitos
no mínimo por um ano, podendo durar mais. Normalmente o coincidia o início do ano
contrato com a migração dos cetáceos às águas litorâneas brasileiras e com a temporada
da caça que se abria oficialmente no mês de junho e se prolongava por três meses. O
negócio tornava-se lucrativo e não tardou para que a Coroa Portuguesa, por meio de
Tratados de Concessão, expandisse a atividade baleeira para outras áreas do litoral da
Colônia. Assim, a caça da baleia que foi estabelecida no século XVI, no Brasil segue-se
até o século XIX.
Quanto aos primeiros caçadores biscainhos, ao que tudo indica, após o término
do tempo estabelecido pelo Rei de dez anos voltaram para a Europa, embora tenha
cogitado a Coroa de ainda manter biscainhos nas atividades da caça da baleia, segundo
801
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Myriam Ellis. Os biscainhos partiram deixando no Brasil certa estrutura que pudesse
dar continuidade ao empreendimento. Sobre o fim da missão dos biscainhos Ellis
comenta,
275
S un o M r m Ell s ( 969) m l um s r s o l tor l r s l ro s h m s ―Arm s‖ qu
contavam fundamentalmente com mão-de-obra escrava, se apresentavam como um complexo núcleo
social e produtivo semelhante ao que se observava em torno dos engenhos da indústria açucareira:
contava com casa-grande, senzalas, área destinada à extração de madeira, roça para cultivo de produtos
de subsistência e áreas destinadas ao comercio dos produtos derivados das baleias.
802
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A caça predatória, realizada sem qualquer tipo de controle, era distribuída a partir
de quatro áreas de atuação para os contratos de arrendamento da caça às baleias, eram elas
a área fluminense, a área paulista, da Bahia e Costas do Brasil, esse longo período
representou, sob a ótica dos ambientalistas, um desastre que se arrastou por séculos e até
passando pela administração colonial, imperial e republicana, o extermínio das baleias
803
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chegou ao século XX marcada pelo esgotamento dos estoques e pela crise de sua indústria.
Foram necessárias ações enérgicas para controlar os estoques representados por algumas
espécies que foram reduzidas drasticamente em razão da falta de limites e controle à sua
captura. Um exemplo muito usado para ilustrar esse raciocínio é o da baleia franca,
Eubalaena australis, que praticamente desapareceu do litoral brasileiro e ainda hoje é
considerada uma espécie ameaçada de extinção.
Referências
804
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DRUMMOND, José Augusto. Por que estudar história ambiental do Brasil? - ensaio
temático. Várias Histórias, nº 26. Janeiro, 2002.
SALVADOR, Frei Vicente do. História do Brazil, 1500-1627. 3. ed. rev. São Paulo:
Melhoramentos, s.d.
WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental. Estudos Históricos, Rio de Janeiro.
Vol. 4, n 8.
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PÔSTER
Digo isso pois ao empreender uma pesquisa histórica sobre o Pau-brasil, árvore
típica da Mata Atlântica brasileira, em suas relações socioambientais entre diferentes
grupos étnicos, na primeira metade do século XVI, cheguei a conclusões antes não
imaginadas.
Nessa pesquisa, me pareceu óbvia a ideia de que inicialmente esta árvore, tão
singular e facilmente encontrada em todo litoral das terras brasílicas – entre os séculos
XVI e XVII – era, sobretudo, alimento para o afã de uma economia extrativa e predadora.
Porém, no processo de pesquisa, percebi também que: essa árvore desde as primeiras
décadas da colonização portuguesa foi sendo derrubada, apanhada e por muito tempo
apagada da história brasileira. Parte em culpa de uma historiografia que silenciou os
sujeitos ligados a natureza de suas narrativas.
806
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E isso foi, sem dúvidas, uma ruptura importante para os modos de se fazer
história(s): as mulheres souberam aproveitar dessas recentes (e ainda vagas) introduções, a
história dos negros e indígenas de igual forma ganham novos olhares a partir dos novos
stu os ss s h stor or s; n m po mos z r qu ―os x luí os h st r ‖
ganharam voz. Se pesarmos por meio de um olhar retrospectivo avançamos um passo
largo e muito importante no ato de historiar.
807
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276
O conceito de natureza é múltiplo, ou seja, a palavra natureza pode possuir vários significados. Podemos
dizer que desde a antiguidade a natureza em seu significado, seu simbolismo, vem sendo pensado e
repensado por inúmeros intelectuais – filósofos, biólogos, geógrafos etc. –, de Aristóteles até Darwin, e
mais, muitos outros discutem sobre o conceito de natureza. Logo podemos perceber que não se trata de
algo uniforme e homogêneo. Apesar de ter o sentido amplo de ser aquilo que se relaciona com o mundo
físico, concreto, estabelecido naturalmente – como a vida –, veremos que a natureza é também construção
cultural.
808
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Homo e suas passagens através do tempo. Mas não podemos simplesmente relegar todo o
resto dessa história. A história – a nossa história – é muito mais que o homem (aí lê-se as
diferenças de sexo, gênero, cor, classe social etc.), é tudo que o circunda; é também a
natureza, pois não vivemos no vácuo espacial.
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① ②
Fonte: Estrutura de brasilina (1), produto natural isolado de Caesalpinia echinata e de brasileina (2),
derivado oxidado de 1 e responsável pela cor vermelha do Pau-brasil.
Algum historiador mais conservador poderia (e ainda pode) dizer que seja algo
desnecessário para o pensar e fazer histórico ter o meio ambiente como objeto de estudo,
contudo, não passaria de um tolo desavisado ou mero ignorante. A história do Brasil – e do
resto da Terra – está ligada ao uso de plantas na medicina ou relacionada a sua circulação
enquanto comércio de produtos naturais, como as especiarias e os corantes vegetais, que
serviram de modelos para o desenvolvimento da química e da produção sintética de
produtos naturais.
Visto isso, um grito à uma história verde, ecológica, ambiental, é antes de tudo
imprescindível. É urgente alargar mais os diálogos, pois o conhecimento histórico deve
buscar comunicação com as mais diversas áreas, incluindo a geografia, a geologia, a
botânica, a zoologia, biologia, a paleontologia, a agronomia, a ecologia, a química, a
história da ciência e tantas outras quantas se tornarem necessárias (DUARTE, 2013) –
acredito que o papel da ciência é promover o diálogo.
Segundo Julio Aróstegui (2006), houve uma grande guinada nos anos de 1970,
que interrompeu uma certa trajetória da historiografia, mas propiciou o nascimento de
muitas direções novas. E foi justamente a partir dessa tal renovação que surgiu a História
Ambiental, domínio que podemos desenvolver uma interação mais próxima entre
so n tur z An lo m nt s M r Blo h z qu h st r : ― ên os
hom ns ou m lhor os hom ns no t mpo‖ (BLOCH p 55) po mos z r qu
810
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História Ambiental é o estudo das relações entre homem e meio ambiente ao longo do
tempo.
Por fim, podemos apontar que, pensando nas recentes inovações nos estudos da
história, estamos diante de algo que não é simplesmente e apenas uma árvore. Pois há mais
que seiva no alburno, e brasilina no cerne do pau-brasil – há história(s). São histórias que
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representam diálogos. Diálogos que muitas vezes ultrapassam a própria história humana e
do Brasil. Sabendo disso, é fundamental superarmos alguns preconceitos acadêmicos.
Mas, nem sempre seguimos o mesmo caminho, nem sempre fazemos aquilo que
socialmente nos compete. Ainda, muitos – tolos, desavisados –, pejorativamente situam a
natureza como puro objeto inanimado, crentes de uma falsa imunidade humana. Para
esses, que acreditam que a história também não pode ser feita a partir de nossas relações
com as árvores, tenho em mente que preconceitos (acadêmicos) também podem ser
historicamente desconstruídos.
BIBLIOGRAFIA
SAGAN, Carl. Bilhões e Bilhões: reflexões sobre vida e morte na virada do milênio.
Tradução Rosaura Eichenberg. – 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
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jespmelo@live.com
otavio.j.aguiar@gmail.com
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as suas viagens que ocorreram entres os anos de 1816 a 1818, sempre escrevendo aos
domingos, fazendo anotações acerca dos ocorridos durante a semana. Por esse hábito
peculiar podemos fazer duas inferências: primeira é que as atividades comerciais as quais
se dedicava deixam-lhe pouco tempo para fazer um relato diário ou, segundo, talvez
Tollenare assim o fizesse por entender que desta forma conseguiriam uma melhor
organização na sua escrita. O que fica claro para nós é que à medida que as coisas vão
acontecendo ele v nos n orm n o omo l pr pr o rm : ―m xponho sor n r
muito as minhas notas‖ n ―um x mplo ss on us o s qu m smo: vou o up r
dos meus passeios em volta da cidade, e deveria certamente fazel-os proceder de notas
geraes geoghaphicas e estatísticas‖ .
Nosso objetivo nesse texto é tratar apenas sobre as três primeiras Notas
Dominicales, ou seja, as três primeiras semanas em que o viajante francês Tollenare se
encontrou no Brasil. Buscaremos perceber suas primeiras impressões e a forma como ele
relata tudo aquilo que lhe é interessante sendo digno de nota. Bem como as possibilidades
de análise que essa fonte nos apresenta.
Todavia a descrição talvez mais marcante dessa primeira semana esteja relacionada
com o que pode observar sobre a população de origem africana. Ele comenta desde a
habilidade que os negros tinham para navegar as jangadas anteriormente citadas, como de
seu contínuo movimento na cidade e sua atuação no mercado. O filtro de seus preconceitos
se faz perceber em diversos momentos, a exemplo de suas observações sobre os corpos
s mulh r s n r s qu s u v r ― pr s nt m pou tr t v ‖ por m ― s r p r s
conservam os contornos graciosos da adolescência; a côr preta em pouco prejudica o
n nto s su s r nt s H ‖ Su m l s r mr o p los orpos
femininos negros é refratada por seu zê-lo em dizer-s por l s s mulh r s ro ―pou o
tr í o‖ Tr nsp r í um l p r s us l tor s El p r pr v r-se de possíveis
julgamentos, ao mesmo tempo em que denota admiração mal disfarçada. Tollenare
também se refere de forma um tanto quanto moralist à ― n r n r l‖ om r l o o
pudor no mercado de escravos, onde estes eram expostos trajando nada mais que uma
t n Lo o m s u just s u zêlo om o r um nto qu qu ― r n núm ro
dentre elles padece de molestias de pelle e está o rto pustul s r pu n nt s‖ O que,
p r o r n ês qu ssum o lu r m ro o s rv or s nto ― l m provo r um o or
s r áv l t m m ons u r r no ― str n ro‖ um s nt m nto omp x o‖ o
se deparar com tal cena. No parágrafo seguinte, crianças negras são comparadas a
n m s : ―os n r nhos rn m ntr s omo m qu nhos os qu s mu to s
ss m lh m nos mov m ntos‖ To ss s r o rr pr on to t nto m
relação aos negros, como em relação à população luso-brasileira em geral, que,
naturalizando tais situações, não seria tocada da compaixão que alcançava os demais
europeus ao se depararem com tais quadros de desumanidade.
Em 24 de novembro de 1816, uma segunda nota foi escrita por nosso viajante
francês. Ele escreve da cidade do Recife, mas, se refere a uma viagem que fez a Olinda,
por ter sido essa uma viagem muito breve, pouco pôde observar. Essa é uma nota
relativamente curta, e o que mais chama atenção aqui é o interesse demonstrado por
Tollenare por plant s po s h v m Ol n ―um j r m lm o s pl nt s
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x t s qu o ov rno st l u on ou um r n z C y nn ‖ Ap s r o pou o
tempo que teve para apreciar tal jardim, ele sente-s ‖ m r o‖ om tu o o qu po
ver. Ele se comprometeu então com Mr. Germain, seu compatriota e diretor do jardim, a
voltar em outra ocasião e com mais tempo, para apreciar mais do lugar. O dia então
termina com um jantar no Convento de Santa Thereza, que segundo nos diz esse viajante
francês deveria pertencer a Terceira Ordem de São Francisco ou mais conhecida como
Carmelitas Descalços. Após o jantar ele se encontra numa conversação com o guardião do
onv nto outro r os qu s ― monstr v m su ru o o s jo s nstru r;
mas, não contribuíam a instruir-m o qu um str n ro s j s r so r o Br s l‖
Chega-se então à terceira semana, a nota data do dia 01 de dezembro de 1816. Essa
foi uma semana bastante agitada e proveitosa, tendo resolvido os seus negócios, ele pôde
desfrutar da lo l ― z n o lon os p ss os p m volt ‖ do Recife.
Durante o período colonial muitas histórias foram contadas na Europa sobre o Brasil,
narrativas de selvagens antropófagos que comiam os viajantes perdidos, entre outras
histórias absurdas. Assim para se livrar dessas falsas impressões em sua narrativa,
Tollenare decide por primeiro escrever um panorama da história do Brasil. Ele parte desde
o século XV com as hábeis navegações, passando pela chegada dos portugueses e seus
embates com os índios, findando com a ocupação holandesa da capitania de Pernambuco.
Logo após fazer todo esse panorama histórico sobre a capitania de Pernambuco, ele
volta sua atenção a descrever o que viu durante os seus agradáveis passeios. São longas
descrições sobre o meio ambiente, os corais, os mangues, os animais. Contudo sua atenção
é maior para a flora. As árvores e plantações lhe trazem grande satisfação e fascínio.
Descreve em detalhes as flores e os frutos, fala dos coqueiros, das palmeiras, do
dendezeiro, tomando todo o cuidado para determinar as suas diferenças, a alguns até os
denomina por seus nomes científicos, o que nos demonstra que entendia pelo menos um
pouco de taxonomia. A variedade das fruteiras lhe causa espanto, são um espetáculo à
parte. De algumas frutas ele muito se agrada, enquanto que outras lhe são repugnantes.
Tollenare apresenta uma vasta lista – laranjeiras, mangueiras, bananeiras, jaqueiras,
goiabeira e outras tantas. É importante salientar que todas essas descrições são feitas por
um verdadeiro apreciador, e não de um verdadeiro botânico, porque isso de fato ele não
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era, mas que estava sendo movido por sua paixão e curiosidade. Já para o final do seu
relato ele desprende um bom tempo para falar a respeito da mandioca e de sua importância
para a alimentação. Ele descreve desde o processo de cultivo até a preparação final.
Bibliografia
Fonte
Referências
CARVALHO, Mary Lucia Alves de. Os comerciantes cronistas: Henry Koster; Louis
François de Tollenare no Piauí do início do século XIX. Contraponto: Revista do
Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História do Brasil da
UFPI. Teresina, v. 2. n. 1, fev. 2015.
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COMUNICAÇÃO ORAL
fabiocg@gmail.com
raquel.silva.guedes@gmail.com
RESUMO: O artigo aqui apresentado traz um estudo de caso com análise de algumas
letras de músicas sertanejas em que a mulher é apresentada como um ser desmoralizante
que, por ser quem é e por ocupar determinados espaços ou profissões, contribuem para que
os homens sintam-se fracos, impotentes e aptos a caírem na sedução dessa mulher.
Reforçando discursos machistas que, há décadas, vem sendo reproduzido pelos
dispositivos midiáticos, essas canções contribuem para reforçar ideias de uma cultura
machocentrica, rivalidade entre gêneros, práticas de violência e desrespeito as profissões.
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INTRODUÇÃO
Além disso, o legado patriarcal, incluiu o feminino para os dotes do lar, na maioria
das vezes era proibida de estudar, ou somente lhe permitido o acesso às primeiras fases da
alfabetização e letramento. Não estudava. Por proibição ou por desestímulo. Sendo
motivada a aprendizado das prendas domésticas, costurar, bordar, cozinhar
(CAVALCANTI, 2000).
A família seguiu esse costume até a ascensão da burguesia. A partir de então, a elite
burguesa, julgando desnecessário a esse regime, decidiu criar uma República liberal,
moderna e urbana, se diferenciando do patriarcalismo que era seguido até então. As
instituições modernas serão responsáveis por essas mudanças, reordenando a tutela
familiar em uma nova ordem social burguesa onde as mulheres poderiam frequentar o
espaço público dentro da modernização e da moralização
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Ainda assim, viver o espaço público para o feminino era difícil. Os percursos de
tais profissões levava a convivência direta com homens e isso ainda era julgado perante a
formação cultural patriarcal, de forma que, o corpo feminino e as profissões passaram a ser
sexualizadas, nas ruas, nos corredores dos hospitais ou nas salas de aula. Cumprimentar,
trabalhar em conjunto com outros homens, atender pessoas do sexo oposto e cuidar delas
não era visto com bons olhos pela população imiscuída na formação patriarcal.
A mulher que via, cumprimentava e trabalhava com outros homens não era
confiável, tratava-se de um comportamento transgressor e, por isso, de estranhamento.
Para além disso, apenas o fato de estar no espaço público trabalhando, para o pensamento
patriarcal e de alguns homens, já era motivo para o julgamento, o desrespeito e
principalmente, o assédio. Desse modo, a formação discursiva de que as profissionais da
enfermagem, por lidarem com cuidados de pacientes e trabalharem diretamente com
homens, na década de 1920 e 1930, passou a ser sexualizada. A enfermeira, mulher dos
cuidados, voluntárias nas guerras, doce e profissional estava sendo confundida com um
corpo sexualizado, um fetiche masculino, uma fantasia e até aquela que poderia estar
disponível para aventuras extraconjugais.
Como toda formação discursiva, essa visão sexista e machista acabou por incluir
tal profissão a uma formação cultural limitada e desrespeitosa para com as mulheres. O
discurso para Foucault (2014) está em todo conjunto de formas que comunica um
conteúdo, qualquer que seja a linguagem à qual pertençam, uma vez que, mais importante
que o conteúdo dos discursos, é o papel que eles desempenham na ordenação do mundo.
277
https://sengece.org.br/numero-de-engenheiras-no-mercado-brasileiro
821
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Um discurso dominante tem o poder de determinar o que é aceito ou não numa sociedade,
independentemente da qualidade do que ele legitima, ou seja, embora o discurso
dominante não esteja comprometido com uma verdade absoluta e universal, tem o poder
de se tornar uma verdade pública e/ou um discurso dominante sob algo ou alguém.
A troca das profissões para homens e mulheres é entendido como uma traição a
natureza, ou seja, a transgressão de uma norma. Esse processo, de acordo com Foucault
(2012) é a consequente transformação em monstros (por fugir da regra natural). Embora os
limites da feminilidade sejam em dada época determinadas pelos homens como uma
maneira clara de demarcar a sua identidade, a troca de papéis sociais, ou mesmo a mistura
deles, lhes tiraram o solo seguro (FOUCAULT, 2012).
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passar dos anos, a desconstrução de tal visão foi iniciada, mas tal pensamento ainda é
reforçado não só no pensamento patriarcal, mas também através dos meios midiáticos.
O mais jovem, aluno do 6º ano de Medicina, oferece seus serviços médicos em prol
dos brasileiros. Ana Neri não resiste à separação da família e escreve ao Presidente da
Província, colocando-se à disposição de sua Pátria. Em 15 de agosto parte para os campos
de batalha, onde dois de seus irmãos também lutavam. Improvisa hospitais e não mede
esforços no atendimento aos feridos. Após cinco anos, retorna ao Brasil, é acolhida com
carinho e louvor, recebe uma coroa de louros e Victor Meireles pinta sua imagem, que é
colocada no Edifício do Paço Municipal.
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(auxiliares e técnicos, que iniciam com 18 anos; e enfermeiros, com 22) até pessoas
aposentadas (até 80 anos)278.
A música, entendida como fonte histórica, está presente nas experiências sociais
dos sujeitos (meninos e meninas) e usá-la para fins de pesquisa e ensino torna-se, aos
alunos/as, uma prática diferenciada à disciplina de História. Aborda diversas temáticas,
misturando sonoridades múltiplas, mexendo com a emoção de quem ouve, despertando
sentimentos, desejos, construindo sentidos, conceitos, valores e imaginários.
278
http://www.cofen.gov.br/pesquisa-inedita-traca-perfil-da-enfermagem
279
https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisa-inedita-traca-perfil-da-enfermagem-no-brasil
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que por sua vez, são reelaborados nas suas vivências cotidianas. Esses sentidos consistem
em discursos presentes num elemento constitutivo da cultura social.
280
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/10/brasil-e-o-pais-mais-isolado-musicalmente-no-
mundo.shtml
826
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O fato é que a música tem reforçado estereótipos e formações discursivas que não
só intensificam pensamentos patriarcais, como desrespeitam a imagem da mulher,
sexualizam o corpo feminino e estereotipam profissões. A primeira fonte analisada, de
281
uma forma geral, foi a canção de Munhoz M r no om o título ―P nt r or ros ‖
o no 3 on l tr z ―j t nho s nt nh l s u s o pr p r r
linha me chama pra dançar, eu não tô aguentando ela tá provocando o Munhoz e o
M r no‖ (MUNHOZ; MARIANO 3).
Sabemos que qualquer discurso, bem como o seu dispositivo institucional e social,
só se mantém enquanto a conjuntura histórica não o substitui por outro discurso. Isso é o
que será chamado de a priori h st r o p ssív l mu n ―M s l n onsciente:
os contemporâneos sempre ignoram onde estavam seus próprios limites e nós mesmos não
po mos v st r os nossos‖ (VEYNE p 5 ) O qu s lê s s ut n mús
dupla Munhoz e Mariano é uma reafirmação de um discurso que pode ser percebido na
sociedade brasileira no que se refere a ideia de que a mulher, por sair sozinha para uma
st l s som nt stá m us v ntur s s xu s m smo s ―p ss n o‖ por um
p sso pu t n o ―j t nho s nt nh ‖ N ss ont xto l ― ulp ‖ por
―provo r‖ s uz r s n o s vít m s os hom ns qu l m nt Ess orm p ns r
é corriqueira em sociedades machistas, que acredita que a mulher deve ter um
comportamento, que deve se vestir de determinada forma e que não deve frequentar
determinados tipos de ambientes pois, se assim o faz, isso indica que ela não é mulher para
s r po s n o um ―s nt nh ‖ ou s j n o r t o l r m s um ―p r u t ‖
será esse o tema da próxima canção analisada.
281
Álbum Pantera Cor de Rosa, 2013, autoria de Munhoz e Mariano.
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internet, rapariga digital, nunca vão superar uma mulher real. Essas piriguetes de internet
que todo mundo mordeu Qu r tr r ê tr om um m s on t o qu u‖ (AZEVEDO
NAIARA, 2017).
Por fim, a última música que analisaremos diz respeito a questão da profissão
atrelada a sexualidade que, neste caso é enfermeira tida como uma rapariga. A canção
―Boqu r ‖ G l M n s tr z ur um mulh r r volt t lv z por um to
infidelidade o omp nh ro z qu ―( ) o qu u qu ro qu l p u um oqu r
qu r p r n o s j n rm r ‖ (MENDES GIL 9) Como m n on o
durante o corpo desse texto, a enfermeira, na contemporaneidade, continua sendo vista
como uma mulher indecente, aquela pessoa suja, que carrega doenças não por ter contato
com pessoas enfermas, mas por ser e ocupar determinado espaço como se, em pleno
século XXI, o estar e ocupar esses lugares e profissões fosse algo não permitido para as
mulheres ou a fizesse menos digna por ali estar.
Entre uma festa e outra, um gole de cerveja ou cachaça, essas e outras músicas de
cunho machista, cheia de preconceitos vão sendo cantadas, sentidas e sofridas por quem
ali está. Mesmo após a festa, essas letras com discursos preconceituosos camuflados ficam
na memória e, ao final, mesmo com tantas lutas, corpos violentados e estraçalhados dentro
ou fora de casa, atitudes violentas, sejam sociais e/ou de homens contra mulheres
continuam sendo promovidas. Obviamente que não estamos dizendo aqui que as letras
dessas músicas ou os cantores são culpadas por tal violência, mas elas acabam
contribuindo para reforçar tais discursos de formação cultural centralizada, excludente e
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FONTES
REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS
DEL PRIORY, Mari. Corpo a corpo com a mulher: pequena história das
transformações do corpo feminino no Brasil. São Paulo: Editora SENAC, 2000.
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VEYNE, Paul. Foucault: Seu pensamento, sua pessoa. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2011.
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PPGH/UFCG
rosilenemontenegro@gmail.com
INTRODUÇÃO
O debate sobre as questões de gênero surge a partir dos anos oitenta do século
passado como um dos desdobramentos do movimento feminista. Um deslocamento criado
em decorrência de novas teorias filosóficas e sociais, especialmente o pós-estruturalismo,
que ensejam novos sentidos, formas de pensar e práticas que permitem novos
enfrentamentos para as questões naturalizadas e normatizadas pelo regime de verdade.
tecnologia não têm as mesmas oportunidades que os homens? Não deveria ser
inadmissível que mulheres não estejam ocupando na mesma proporção que homens os
lugares de mais elevado status cientifico, ou mais elevada importância política
administrativa? Por que essas desigualdades não incomodam a sociedade?
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Essa é uma das questões mostradas no estudo “Qual foi o impacto do feminismo na
ciência?”, de Evelyn Fox Keller (2006), que apresenta aos leitores as principais ideias e
buscas de confirmação científica da superioridade dos homens sobre as mulheres desde a
“A Origem das Espécies” (1859), passando pela “A descendência do homem e seleção em
relação ao sexo” ( 87 ) h n o os ― tos mo rnos‖ os v n os nos stu os
olo volut v n olo p rt r 97 ―qu n o os lo os p r r m qu
h v m s os sn s l o s xu l‖ ou s j m s um s ulo p s Ch rl s D rw n
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É pertinente ressaltar que todo tema que se relaciona com gênero já enfrenta de
imediato o preconceito: ―Isso os m n st ‖ As p squ s or s p squ s or s o
tema podem ser os mais brilhantes e reconhecidos pela qualificação e competência
acadêmica e intelectual, mas parece sempre terem seus estudos resumidos a algum
om ntár o o t po ―qu nt r ss nt !‖ Porqu ―o nvolv m nto om s qu st s
gênero e feministas ainda pode gerar preconceito entre os pares, uma vez que isso
representa um questionamento sobre o discurso hegemônico da ciência e tecnologia.
assim, pode dificultar parcerias e alian s ‖ (LIMA; COSTA 6 p 5) Asp to já
observado em trabalho clássico Joan Scott sobre esse assunto, […] a reação da maioria
dos(as) historiadores(as) não feministas foi o reconhecimento da história das mulheres
para depois descartá-la ou colocá-la em um domínio separado (“as mulheres têm uma
história separada da dos homens, portanto, deixemos as feministas fazer a história das
mulheres, que nãos nos concerne necessariamente” ou “a historia das mulheres Trata do
sexo e da família e deveria ser feita separadamente da história política e econômica”).
(SCOTT, 1989, p.5).
Talvez essa subjetividade faça parte das razões conscientes ou não conscientes do
fato de no Brasil serem raros os trabalhos de mulheres cientistas ou mulheres engenheiras
se interessarem por pesquisas sobre as questões de gênero em suas áreas de formação,
segundo trabalho citado de Betina Lima (2016).
Os vídeos e as redes sociais são objeto para o estudo da história. Trazemos para
análise representações e discursos presentes em vídeos produzidos com o objetivo de
divulgação no YouTube. Antes, contudo, apresentamos um pouco a referência teórica de
nosso uso do vídeo como fonte e documento para pesquisa histórica.
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vídeo surgiu como uma ampliação dos horizontes da comunicação (nos anos setenta em
que a tecnologia era predominantemente eletrônica). O vídeo permitia o experimento de
outras possibilidades de utilização, e reverter a relação de autoridade entre produtor e
consumidor (1990, p.10). O vídeo permitiria novas experiências da produção de
significados e da realidade, sua relação com a estética, e outras questões que se relacionam
com a imagem e imaginação. E por serem produzidos fora da lógica de dominação da
televisão tendiam a democratizar e diversificar a circulação de opiniões e visões (1990, p.
27).
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vídeo, de conteúdo, interação e interoperação. Aqui nos interessa identificar nos discursos
dessas produções, as ideias, as narrativas e as visões sobre gênero.
O vídeo tem uma música de fundo, mas não tem narrador. São um
minuto e dez segundos que se repetem sucessivamente até que o usuário interrompa. O
vídeo mostra as imagens com respectiva legenda, conforme tradução nossa a seguir: O
aplicativo foi criado por Filhas da Evolução. Uma organização que acredita que as
crianças precisam de modelos femininos inspiradores. Segue o sucesso de livros como
Goodnight Stories for Rebel Girls. Especialistas dizem que serão necessários 108 anos
para fechar a lacuna global de gênero na taxa atual. De que outra forma podemos
iluminar as histórias das mulheres? Este aplicativo coloca as mulheres nos livros de
história em tempo real. Corrigir o desequilíbrio de gênero no que ensinamos a nossos
filhos. Os leitores de um livro de história seguram o telefone sobre a foto de um homem…
E o aplicativo faz a informação sobre uma mulher que fez a diferença aparecer. As
mulheres são muitas vezes esquecidas quando estudamos história. Representando menos
de 11% das pessoas mencionadas nos livros didáticos. Não é de surpreender quando 75%
da história é masculina. Enquanto isso, 72% das biografias são sobre homens. E não são
apenas os livros de história que deixam as mulheres de fora Nos EUA, menos de 5% dos
marcos históricos comemoram as conquistas das mulheres. E 92% das esculturas públicas
de pessoas são de homens. (Deisponível em lingual inglesa em:
<https://www.instagram.com/p/ByQix5Gh-H7/?igshid=thv7yvfh1kol>).
É impactante pensar que seriam hoje necessários cerca de 110 anos de trabalho de
educação para a igualdade de gênero, para ao final de mais de século igualar a proporção
de homens e mulheres na História. Uma desigualdade que não aparece como injustiça uma
que não é aceita como desigualdade. Mas tão somente como consequência natural de algo
que ninguém saber explicar onde, como ou por que aconteceu e se naturalizou.
Natural z or lm nt qu st on por S mon B uvo r o z r ―n o n s mos
mulh r nos torn mos mulh r s‖ Po rí mos r l z r um pou o m s rm n o qu
―n o n s mos mulh r somos transformadas m mulh r s‖
O debate tem início com uma provocação trazida pela mediadora, a jornalista
Sabine Righetti. Ela informou que nos EUA existe desde a década de setenta uma
experiência de um projeto que visita escolas do ensino fundamental e médio com o
objetivo de registar a representação de cientista dos jovens. A atividade consiste em pedir
para a criança desenhar the cientist e dizer qual cientista conhece ou já ouviu falar. As
palavras the e cientist são comuns de dois gêneros na língua inglesa. Nos anos setenta,
raramente uma criança desenhava ou lembrava uma cientista mulher. Esse mesmo projeto
afirma que atualmente pouco menos de um terço das respostas tem citado mulheres
cientistas. Logo, houve uma mudança importante dos resultados dos anos setenta para os
atuais, embora seja ainda aquém. Outra conclusão significativa é a de qu ― x st o
estereótipo de que cientista omum o ên ro m s ul no‖ Um st r t po t m m po
ser entendido pelo que não mostra, pelo que não diz, e por aquilo que silencia.
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A maioria dos vídeos que aqui analisados podem ser caracterizados como discurso
nt r ss o m mostr r qu s mulh r s têm h st r ― m ontr ponto o suj to h st r o
m s ul no un v rs l‖ (MELLO p ) A H st r s Mulh r s stá m s suj t os
lmt s― s or ns s r t v s qu n o qu st on m os on tos om n nt s no s o
da disciplina ou pelo menos não os questionam de forma a abalar o seu poder e talvez
transformá-los ‖ (SCOTT 989 p 5)
Outro aspecto que aqui enunciamos como assunto para reflexão e análise que
deixaremos para detalhar em próximo trabalho, refere-se às buscas realizadas no Google.
Ainda não tínhamos percebido que os resultados do Google mostram a exclusão, se não a
invisibilidade das mulheres cientistas. Usamos os procedimentos padrões de busca, a
saber: informar as palavras- h v por ssunto r l: ―mulh r ên ‖ ―mulh r s ên
t nolo ‖; p lo nom s nt st s; pelas palavras-chave da contribuição
(descoberta, invento) das cientistas. Os resultados desse último procedimento de busca são
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840
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CONCLUSÃO
O debate sobre as desigualdades entre homens e mulheres deveriam ter mais ênfase
na perspectiva da política de gênero e despertar maior interesse na comunidade acadêmica.
Mas, haja vista, não ser essa a realidade, que esse debate fosse mais frequente na área da
História, por ser esse o campo de conhecimento que mais apropriadamente contribuir para
mostrar como surgiu a naturalização das desigualdades de gênero e proporcionar
instrumentos analíticos para a desconstrução dessa naturalização, pois sendo uma
construção histórica, teve um começo e tudo que tem um começo com certeza terá um fim.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CORRÊA, Mariza. Cara, cor, corpo. Cadernos Pagu. No. 54. 2018, pp. 01-13.
IRIGARAY, Luce. A questão do outro. Labrys, estudos feministas. No. 1-2, Jul/Dez.
2002. Disponível em:
<http://www.historiacultural.mpbnet.com.br/feminismo/irigaray1.pdf>. Acesso em: 10
Set. 2019.
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KELLER, Evelyn Fox. Qual foi o impacto do feminismo na ciência? No. 27. Jul/Dez,
2006, pp. 13-34.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. 1989, pp.1-35.
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Resumo
Este artigo visa conversar sobre a relação profícua da história com a etnografia quanto a
arte de construir arquivos e narrativas envolvendo relações de gênero em situações
cotidianas ordinárias. Com isso, busca cartografar histórias, por vezes invisibilizadas,
que envolvem o corpo escolar(izável) e contam pedagogias educacionais que
ultrapassam a escola, as rotinas domésticas, e a construção de laços relacionais de fora.
Para tanto, uso de uma atividade de campo desenvolvida em uma escola pública
paulista, sob um olhar treinado ao microssocial, para contar histórias de vidas cruzadas,
que naturalizam posições-de-sujeitos, passam pelo silêncio, e desconhecimento da
historicidade cravada em categorias como gênero e sexualidades, e afetam corpos
jovens, no amor ou na dor.
Ao reler Zizek (2012), pensando esse mesmo contexto, não se tratava apenas de
textualidades questionadas. A década de 1980, com a queda do muro de Berlim, a
debilidade dos sistemas organizacionais socialistas, e das ideologias marxistas, que
p r m or nt ss s nov s on ur s so s on uz o ― n l os
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t mpos‖ Em r m p rguntas e objetos, que os usos binários das lutas de classes, com
base na economia, pareciam não mais responder. Eram precisos novos métodos de
investigação histórica, que sugerissem formas de tratamentos outras, pois os cenários já
não eram os mesmos.
―E onsiderando que não há prática ou estrutura que não seja produzida pelas
representações, contraditórias e afrontadas, pelas quais os indivíduos e os grupos dão
sentido ao seu mundo (CHARTIER, 2002, p. 66), a história tem se permitido a recente
relação com as concepções de representações e sentidos, de forma aberta e plural, para
entender indivíduos e grupos, nas formas de construir seus mundos. Logo, ler a história
a contrapelo, rejeitar determinismos, saber o que a história não aceita como dado é uma
realidade que permite colocar em questão: quais as possibilidades de historicizar
categorias como gênero e sexualidades interseccionadas no cenário escolar, a partir de
exercícios etnográficos?
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Quando tive oportunidade de entrar em uma escola pública na grande São Paulo,
já tendo realizado exercícios investigativos em um cenário escolar1, com o olhar
treinado para relações de gênero e sexualidades, aquele espaço novo, no qual não
conhecia os sujeitos, e não reconhecia certas formas de organização, soou promissora.
Ler sem saber ler me desafiava enquanto historiadora, em novas habitações, inclusive
literárias. Partindo da proposta de estudo de campo no cenário da escola, sugerida pela
disciplina de Etnografia Aplicada à Pesquisa Educacional, com o intuito de possibilitar
a construção de monografia de conclusão da mesma, passei a procurar escolas no
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distrito do Rio Pequeno, espacialidade que passei a habitar em São Paulo durante o
primeiro semestre de 2018.
Em meio as investidas pelo bairro, consegui permissão para entrar em uma
escola estadual de ensino médio de codinome Professor Zezuíno Clemente. Era manhã
quando visitei a escola pela primeira vez, e fui recepcionada pela coordenadora, que fez
uma rede de contatos entre mim, a diretora e a inspetora. Enquanto me direcionava a
1
Faço referência a pesquisa que desenvolvi durante o mestrado em História na Universidade Federal de
C mp n Gr n (UFCG) qu r sultou n ss rt o nt tul : ―Gên ro S xu l s m nt rs o
e mo(vi)mento no cenário escolar cub t ns ‖ Disponível em:
http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UFCG_4713f011692a87bbc816cb021fcc8ad4.
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sala da coordenação, por volta das 9:30 horas, meu olhar se dirigia para os alunos que
circulavam pelos corredores, era horário de intervalo. Neste momento, meu olhar só
buscava entender como aqueles adolescentes se socializavam e o que pensavam sobre
a escola. Foi assim, nesse primeiro encontro, que lancei mão da proposta que
apresentei a diretora, leia-se: ir à escola no turno da manhã, no horário do intervalo
das aulas (9:30 às 9:50 horas), observar como aqueles jovens praticam o intervalo, e
ao surgir oportunidade, ter conversas informais sobre seus anseios, as relações que
estabelecem com a escola, e o que pensam da mesma.
O objetivo era observar como os alunos praticam a escola e constroem redes
de sociabilidades fora da sala de aula, tendo o intervalo como escopo. Deste modo,
como os discentes se relacionam no horário do intervalo e contam a escola por meio
de conversas informais? Além disso, como contam seus corpos, desejos, escolhas, e
vexames, a partir de falas catárticas? Que leituras de gênero atravessam e marcam os
corpos jovens, daqueles adolescentes? E, na busca de responder tais questões – ainda
que brevemente – passei a construir registros escritos que partiram de 28 visitas quase
diárias durante pouco mais de dois meses na escola e o que considero uma vigésima
nona, em uma tarde de visita na casa de três alunas noviças que são parte da voz dos
pobres, uma instituição, segundo elas, de leigas celibatárias que vivem da providência
divina. Ao final, foram 153 páginas de registros escritos sobre essa vivência.
Essas relações, foram lidas ciente de que há sérias diferenças na forma de
olh r o ―o j to‖ stu o vv r o mpo p squ s ―L ntropolo í so l
nació con una fuerte ruptura epistémica con el estudio de la evolución temporal de los
n m nos so l s (ROCKWELL 9 p 44)‖ É pr pr o p squ s etnográfica
a vivência do campo, o alargamento do olhar que quebra qualquer sistemática linear
de tempo ou espaço pré-definido. Nesse sentido, o etnógrafo constrói seu próprio
arquivo e documentação. E é esse, o momento em que trafega para o ofício do
historiador, que por sua vez tende a confrontar diferentes fontes, na busca de um
ont ú o qu st j p r l m l tur um ― ron st ‖ P r Ro kw ll ( 9
p 44) ― l rá t r m smo su n orm n mplí su m r más llá l
circunscripción espac ot mpor l un stu o tno rá o‖
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O que não significa uma disputa sobre precisão de análise, pois são formas
diferentes de olhar o cenário social. Na ausência, ou pouca produção escrita de
documentações que pensam o cenário cultural e as práticas cotidianas, o historiador
tem se aproximado das formas antropológicas para realizar estudos subalternos,
estudar sujeitos excluídos e marginalizados da historiografia tradicional, somando a
contribuições da história das mentalidades e da história cultural. Especialmente
depois da entrada em cena das produções francesas com os Analles historiográficos,
as aproximações com as análises culturais, e com o passar das gerações, com a
própria semiótica e a psicanálise, o que levou caminhos aparentemente divergentes,
p r pontos ruz m nto s n t vos n s pro u s êm s tu s ―C
disciplina ha buscado en la otra lo que no encontraba en su propia historia (p 46)‖
Nesse sentido, ainda percebo outro encontro desses campos, quando Geertz
(1978, p.4) sugeri qu ―pr t r tno r st l r r l s s l on r
informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um
diário, e assim por diante. São ações que se aproximam de inúmeras formas do campo
da história oral (ALBERTI, 2005), o qual tateio nas produções que desenvolvo, da
monografia de graduação (2008) a atual pesquisa de doutoramento. Volto a concordar
om G rtz ( 978 p 7) qu ―nos s r tos tno rá os os n lus v os qu
selecionados, esse fato – de que o que chamamos de nossos dados são realmente
nossa própria construção das construções de outras pessoas, do que elas e seus
compatriotas se propõe –― ons nt qu nossos s r tos s o nt rpr t s
segunda ou terceira mão.
A cultura do nativo é dele e dos seus, são suas vivências, e por isso, enquanto
pesquisadora outsider, preciso da sensibilidade de reconhecer que o resultado do
texto, deste artigo, não é mais importante que os percursos e os sujeitos que encontrei
pelo caminho (LATOUR, 1997). Ao contrário disso, enquanto produto do campo,
desejo fazer ver e sentir, mesmo nesse curto espaço, a riqueza da relação com e não
sobre o outro. Algo próximo dos perceptos e afectos provocados na arte do filme-
o um ntár o ―pro n s r l z‖ rot ro r o João Jardim. Esse cineasta
ao ler pelos olhos do jovem o cenário escolar, consegue captar na poesia de Keila,
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uma aluna de 16 anos, as dores da exclusão, na negação que o mundo lhe impõe em
forma de normatizações que tendem a apagar os artifícios culturais que lhes dão
sentido. Perceba:
―D z m qu sou o nt m s m nh o n so lm nt o nt n o
tem cura, nem mesmo é doença. Se chama amor pelo sexo que
tenho [...] eu não sou fraco, sou apenas reprimido por ser a minoria
que até Deus despreza. Quero apenas ter direitos como os outros
porqu n o sou o nt Sou p n s r nt [ ]‖
Logo, isso é sério, denuncia a morte social de uma menina de apenas 16 anos,
que começou cedo a trabalhar numa fábrica dobrando calças. Ela se empolgava com
os debates de gênero promovidos por sua professora, era um espaço ao qual se sentia
pertencer, sem necessidade de reprimir-se, e na medida que esse cotidiano escolar foi
s n o mo o ss l : ― u ost v s ol [ ] hoj m n o onv rso
tanto ass m s s ol pro tr lho mu ou um pou o‖ s m m s Ou s j
escola pode ser potência de vida, ou não. Cabe perguntar: que marcas de gênero se
apresentam nesse ou em outro corpo escolar(izável), e qual o papel da escola nessa
negociação com o mundo e consigo?
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ganhar força na década de 1960, contribui com a literatura de gênero ao refletir sobre
os impactos que a metade do século passado provocou na vida de homens e mulheres,
o curto espaço histórico que modificou o que milênios não conseguiram quanto a
redefinição de lugares sociais ditos femininos e masculinos. Uma leitura em que
revolução e permanência dividem a mesma balança. Nesse sentido, há aspectos
convergentes entre esses escritores, que dizem que muitas mulheres estão para o
público, alçaram voos, mas, resta a essas, a nós – eu e você –, fingir limites
socialmente aceitáveis, para não emascular o homem, não perder ― ssên ‖
Ao colocar essa epígrafe, e trazer esses arranjos culturais, que contam
armadilhas das leituras binárias de gênero, que parecem estar para natureza das
relações, quis dizer, usando da sábia ironia de Adichie que precisamos fugir do
―p r o h st r ún ‖ Ess propos o homôn m o título um s p l str s
em que a autora questiona hegemonias que são dadas sobre muitas formas de
inteligibilidade, que vão dos livros aos filmes, contando marcas de normatizações
presentes no corpo negro, feminino, pobre, excluído, não-europeizado, encaixado, em
caixinha, mas também de mulheres de múltiplas cores e lugares.
Por marcas leiam-se práticas, performances, e sentimentos legitimados ou não
pelos olhos dos outros, com o peso social capaz de nomear, categorizar, e
esquadrinhar, como certo ou errado o corpo educado por pedagogias sexuais, e de
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gênero (LOURO, 1999). São leituras que trabalham sobre relações de poderes tão
desiguais, que conseguem dizer pelo outro e de si para consigo, como habitar
cenários, na busca de evitar processos de exclusão, como se fosse possível tal
previsão. Faz ver e crer, sob efeitos de verdade que jogam com vidas, sob arranjos
pedagógicos que (ultra)passam o cenário escolar na atualidade (DELEUZE, 1992),
escondendo a historicidade e diversidade cultural que envolve tempos e contextos.
Sabendo disso, volto a escola paulista, para contar que no primeiro dia que
cheguei na escola, ansiosa quanto a recepção, ainda a buscar contato com a direção,
na tentativa de ter minha entrada em campo autorizada, deparei-me com uma situação
complexa envolvendo gênero inteligível e um corpo fora da agenda convencional, aos
olhos da direção. Havia ali um esforço de tentar superar arranjos dados, no incomodo
anunciado quando se falava da aluna Sophia, nome social escolhido por Leandro, que
passara a assumir sua feminilidade na escola, no uso das vestimentas e na tentativa
frustrada de frequentar o banheiro das meninas.
―[ ] Ent o qu om qu tr lh om sso ên ro vê s
estamos com um problema sério aqui, um aluno chamado Leandro
que hoje quer ser chamado de Sofia pelos professores, está
utilizando o banheiro feminino e causando desconforto as meninas,
po s l n o lto p s o t po; ‗qu rr o ss ul n ?‘
‗tá om pr n r s rrum r n ‘ outros outros om ntár os
de mal gosto. Agora veja bem, ele é de menor, eu sei que existe a
lei do nome social, que ele tem direito a ter o nome social na
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caderneta, mas tem que ser assinada alguma declaração pelos pais
que respondem por ele ainda, e que eu vou ter que chamar pra
conversar, é o jeito, porque ele é atrevido e agressivo demais, e está
incomodando as alunas. E eu sei que a lei que vale pra ele, não dar
o direito de ferir o direito dos outros, por isso vou chamar sim os
pais aqui e dizer que não quero isso dele entrando no banheiro das
meninas, pra ver o que resolvemos. É complic o‖ [ ] Er t
bom a gente ver depois uma capacitação sobre isso de gênero,
porque ficamos eu e os professores sem saber o que z r‖
Mencionar que fazia pesquisa na área de gênero foi uma espécie de gatilho,
mesmo casual, que automatizou uma fala mais confortável e aberta comigo, parecia
st r à vont p s t nt r r nh r um ― p t o so r sso ên ro‖
A r to n r tor qu n o z― ompl o‖ n o ju o n m os pro ssor s
por se sentirem provocados por esse corpo de menino, que invade um espaço
feminino privativo, deixando-os ―s m s r o qu z r‖ Posto qu s o s tu s qu
escapam a normalidade da escola, mas também das convenções e normas sociais que
os precedem para além dela, enquanto parte de uma sociedade heteronormativa,
machista e violenta com esses corpos estranhos (LOURO, 2004). É perceptível
estranheza, e o descompasso entre a aluna Sophia e as marcas de Leandro que a diz
nqu nto m n no ―El m nor‖ ― l tr v o r ss vo demais [ ]‖
Assim, no primeiro dia de visita a uma escola nova a minha vivência, ouvi e
assisti por tabela uma situação que nem era a mira ao adentrá-la, por mais que
questões de gênero não seja apenas um tema a ser abordado, mas um olhar treinado e
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político que trago comigo por onde ando. Em meio a situação rapidamente descrita
nesse curto texto, busquei em fala leve e não reativa apresentar para além do decreto
nº8.727, de 28 de abril de 2016, que confere não apenas o uso do nome social, mas o
reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais, nas
administrações públicas, a necessidade primeira de ser explicada e abordada a quem
norteia os processos de escolarização, para que seja efetiva a sua aplicabilidade no
chão da escola, que pode ser multiplicadora de novos afetos e relações empáticas,
respeitosas e livres.
Para tanto, narrar falas e cenas como essas, só foi possível a partir do
exercício etnográfico que me levou a escola, fazendo-me olhos e ouvidos atentos. Ao
perceber a banalização de cenas ordinárias geradoras de tensões, estereótipos e
preconceitos, passei a acreditar que ali tudo era digno de nota, que pesquisar escola é
estar nela metódica e diariamente, posto que mesmo resistente escola muda, pois a
sociedade em que se insere e insere também. Assim, contar histórias de gênero do
corpo escolar(izável), é dar-se a aprender mais sobre mim e você, questionando a
mesmidade, e colocando gênero como problema em aberto e transdisciplinar.
Referências bibliográficas
ADICHIE, C.N. Sejamos todos feministas. São Paulo: Companhia das Letras,
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PÔSTER
Introdução
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Análise do Discurso
Existe para além do enunciado um sentido que está oculto, não-verbal, mas que
está presente no entendimento e na fala. Essa parte do discurso é composta por signos e
símbolos (Bakhtin apud Brandão,1997, p. 10-12).
O discurso possui na sua formação uma base ideológica, como foi mencionado
anteriormente, e está propensa a esta variável de acordo com estruturas sócio-político-
culturais. Segundo Althusser (1983, p. 81), a ideologia trata-s ―um s st m
ideias, de representações que domina o espír to um hom m ou um rupo so l‖
percebemos isso principalmente em discursos que são lançados, os quais podem
representar também os próprios meios de conduta de controle do Estado para e sobre a
sociedade.
Feminicídio na Paraíba
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A violência a partir do gênero é uma realidade pela qual até mesmo a norma
culta padrão está se adequando ainda. Tanto é que, ao buscar pelo significado de
feminicídio em dicionários antigos, esta tipificação é inexistente. Apenas é atribuído ao
homem a possibilidade de ter sofrido alguma violência, quando é citado o termo
homicídio. É o caso do tradicional Aurélio (2001), que desconhece a existência do
feminicídio.
Foucault (1979, p. 29) descreve que o problema da justiça popular não é a sua
existência, mas as bases que constroem ideológicas que compõem esse julgamento,
como os métodos e o lugar sócio-político-cultural.
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282
Link da matéria: https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2019/04/19/vai-acabar-nesta-quinta-diz-
mensagem-publicada-por-homem-que-se-matou-apos-feminicidio-na-pb.ghtml
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companheiro pela ameaça iminente283. O perfil feminino, neste caso, é marcado pela
passividade por parte do veículo que se isenta de colocar a culpa no ex-companheiro
mesmo com o delegado, segundo a matéria, afirmando inclusive as ferramentas
utilizadas pelo homem ao cometer o feminicídio. Até este ponto, tudo estaria bem se
n o oss o s n o olo o ―susp t ‖ o hom m o qu l us s ns o
de receio em julgá-lo e deixar isso nas mãos da justiça. O que não se considera,
entretanto, é que mesmo se ele não fosse o autor das 50 facadas, ele continuaria sendo
acusado, e não um suspeito, pois há denúncia sobre ele. Só que, na busca pelos cliques,
o G1 isola o caso do assassinato e o coloca no escopo da proteção quando evita colocá-
lo como acusado.
Como quarto e último caso, discorremos sobre o episódio de um casal que foi
encontrado morto285. O G1 demonstra incoerência ao evitar mais uma vez dar juízo de
valor, contudo para o portal há uma suspeita de feminicídio seguido de suicídio. Ora, se
283
Link da matéria: https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2019/01/31/mulher-e-morta-com-mais-de-20-
facadas-na-pb-e-ex-companheiro-e-principal-suspeito.ghtml
284
Link da matéria: https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2019/10/21/homem-e-preso-suspeito-de-
agredir-companheira-na-frente-da-filha-de-5-anos-em-joao-pessoa.ghtml
285
Link da matéria: https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2019/10/03/casal-e-encontrado-morto-dentro-
de-casa-em-areia-pb-suspeita-e-de-feminicidio-seguido-de-suicidio.ghtml
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a perícia comprovasse que não tinha sido o esposo que cometeu o assassinato, deixaria
de ser feminicídio? Por quê então, segundo o G1, ainda há uma suspeita?
Considerações finais
Esta falácia é tomada como verdade absoluta para a população de modo que
portais de notícias como o G1 se inserem num círculo vicioso ao se auto-afirmarem
isentos, o que deixa a entender para a população que eles nada têm a ver com situações
de agressão impostas à mulher. Porém, este estudo comprova algo contrário, visto que
há discursos imbuídos de expressões pelas quais se compreende os seguintes pontos: 1)
Não há neutralidade nas narrativas observadas, visto que elas demonstram um
posicionamento claro à reprodução de uma cultura machista; 2) O papel social da mídia
enquanto instrumento ideológico é um fato e isto se apresenta explicitamente ao se
considerar que uma ideologia é um mundo de ideias soltas, colocadas para deturpar ou
movimentar uma realidade de modo que esta esteja a favor de um escopo de ideias, e o
ideal machista é exposto nas entrelinhas; 3) A repetição destes ocorridos em um período
considerável de tempo, como foi o analisado, permite compreender as situações muito
além de um equívoco, mas como uma demonstração de posicionamento por parte do
veículo midiático.
Em vista disso, podemos refletir acerca das noções atuais de juízo de valor
atribuídas às diferentes formas de se fazer notícia. Pois, caso existisse uma noção
coerente, este juízo de valor seria dado tão somente ao final de um inquérito, o que não
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foi o caso dos exemplos citados nesta análise. O que se observa é uma tentativa de
construir uma realidade baseada no discurso de se ausentar das responsabilidades,
porém, por detrás desta afirmativa há posicionamentos em que não consideram a mulher
como voz ativa do contexto opressor com o qual ela tem de conviver diariamente em
sociedade.
Portanto, devemos analisar muito além deste simulacro criado em torno de nós.
Primeiramente, como forma de dividir assertivamente as responsabilidades sobre o por
quê temos que conviver com o machismo, apesar da divulgação constante das mídias
investindo em discutir o feminicídio para chamar atenção da sociedade sobre os casos.
Será que a responsabilidade limita-se apenas em narrar? Será que os instrumentos da
narrativa reforçam a existência do machismo? Ao refletirmos estas condições, haverá a
capacidade de assimilar os âmbitos para, algum dia, evitar de responsabilizar apenas o
estado como origem de todos os males, uma vez que ele tem seus símbolos e, em um
deles, é dito que a intenção é isenta. E este símbolo se chama mídia.
Referências
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo, v.I, II. Tradução Sérgio Milliet. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
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gioberlandia29@hotmail.com
rosilenemontenegro@gmail.com
RESUMO
286
Graduanda do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal de Campina Grande/UFCG.
Aluna bolsista do Programa de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq/UFCG. E-mail:
gioberlandia29@hotmail.com
287
Professora Titular da Unidade Acadêmica de História da Universidade Federal de Campina
Grande./UFCG Coordenadora do Projeto Memória da Ciência e da Tecnologia/UFCG. E-mail:
rosilenemontenegro@gmail.com
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relatar as histórias dessas mulheres passa pelo conhecimento e investigação sobre a construção que elas
têm de si e das escolhas profissionais que fizeram.
INTRODUÇÃO
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A EDUCAÇÃO UNIVERSITÁRIA
No Brasil dos anos cinquenta a educação pública superior era destinada aos
homens de classe média ou alta, oriundos de famílias tradicionais que encaminharam
seus filhos às cidades que possuíam universidades, geralmente capitais, para inseri-los
em uma elite. As mulheres só foram adentrar nesses espaços de ensino superior mais
tarde.
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A pesquisa documental foi realizada com base nos dados da Pró Reitoria de
Graduação da Universidade Federal de Campina Grande, pesquisadas junto ao site da
UFCG e também na coordenação do curso de Computação, que forneceu as
informações quantitativas sobre o ingresso e presença das discentes no curso de Ciência
da Computação e Física, no campus localizado no município de Campina Grande,
trazendo os históricos dos cursos a partir do prisma do gênero, mostrando como se
materializa em dados estatísticos a desigualdade de gênero no contexto analisado.
Ao analisar os relatos que nos foram concedidos por alunas e professoras dos
cursos de Ciências da Computação e Licenciatura em Física da Universidade Federal de
Campina Grande, procuramos saber principalmente sobre suas origens
socioeconômicas, as motivações que as levaram a escolher a formação profissional em
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CAIRES, Luanne; BALBI, Maria Isabel. Crescem iniciativas que dão visibilidade a
mulheres cientistas e divulgadoras de ciência Disponível em:
<https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2018/12/14/crescem-iniciativas-que-dao-
visibilidade-mulheres-cientistas-e-divulgadoras>. Acessado em: 30 de set. de 2019.
BOLZANI, Vanderlan da Silva. Mulheres na ciência: por que ainda somos tão
poucas? Disponível em:
<http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-
67252017000400017>. Acessado em: 30 de set. 2019.
GUEDES, R qu l S lv ―Você vai fazer engenharia menina?” – As mulheres na
ciência e tecnologia. Uma história a ser escrita. Dissertação de Mestrado.
PPGH/UFCG, jun. 2016.
JORNAL DO BRASIL. Mulheres assinam 72% dos artigos científicos publicados
pelo Brasil. Disponível em:
<https://www.jb.com.br/ciencia_e_tecnologia/2019/03/991242-mulheres-assinam-72--
dos-artigos-cientificos-publicados-pelo-brasil.html>. Acessado em: 30 de set. de 2019.
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THOMPSON, Paul. História oral e contemporaneidade. História Oral (5). São Paulo:
Associação Brasileira de História Oral, 2002.
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RESUMO:
Nesta pesquisa temos como objetivos problematizar a vida do apresentador, compositor
e músico mineiro Ary Barroso (1903-1964), como incentivador e crítico impiedoso, dos
calouros que passavam pelo auditório da Rádio Cruzeiro do Sul, Tupi e da Rádio
Nacional, no seu programa Calouros em Desfile, nas duas últimas emissoras e Hora do
Calouros, na primeira. A escolha do objeto foi motivada por pesquisa bibliográfica e
pela representatividade de Ary como um dos mais temidos apresentadores e críticos, da
era do rádio no Brasil. Quando a TV era inexistente nos anos 30 e 40, ou de difícil
acesso para a maioria dos brasileiros, nos 50, o Rio de Janeiro era o caminho de
qualquer calouro que sonhasse com a fama. Desta época, algumas cantoras brasileiras
que se tornaram famosas, foram calouras, como Dalva de Oliveira, Angela Maria e Elza
Soares. Dalva, nervosa, foi orientada por Ary que fosse lavar roupa e não cantasse mais;
em momento menos grosseiro, segundo Angela Maria, Ary Barroso pensou que ela não
cantaria coisa alguma, mas foi surpreendido e a orientou que estudasse mais, em um dia
de apresentações de operetas e cantores clássicos, entre os calouros. Por fim, Elza
Soares, com um vestido emprestado, ajustado por alfinetes, magra, negra, foi ironizada
pela plateia e pelo apresentador no dia da sua apresentação, que perguntou de qual país
l t r s í o l n o morou r spon u: ―Do pl n t om ‖ An l Elz s ír m
v tor os s om os prêm os m nh ro D lv ― on ‖ hor n o Elas sabiam
como ele era temido, mas era o jeito de tentar uma sorte diferente, mesmo que os pais
de Angela e Elza fossem contra a carreira artística das filhas. Depois, famosas, todas
foram amigas de Ary Barroso. A documentação selecionada no decorrer da pesquisa
consta das biografias as três cantoras citadas, a de Dalva, por Duarte e Ribeiro (2009);
de Angela, por Faour (2015) e Elza, por Camargo (2018). O contexto do Rádio
brasileiro e o tempo do apresentador Ary Barroso, dialogamos com alguns autores, a
exemplo de Lenharo (1995), Calabre (2004) e Aguiar (2007).
PALAVRAS-CHAVE: Rádio Tupi. Ary Barroso. Dalva de Oliveira. Angela Maria.
Elza Soares.
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DESENVOLVIMENTO:
Um sp l ―M m r ‖ 3 n MG-TV, afiliada da Rede Globo, fez
uma homenagem ao Ary Barroso, compositor, letrista, pianista, apresentador e político,
do século XX, no Brasil, lembrando suas canções como: Camisa Amarela, É luxo só, No
Rancho Fundo, Na Baixa do Sapateiro, Risque, e a sempre mencionada, Aquarela do
Brasil288, composta em 1939. Ary nasceu em Ubá- Minas Gerais. Perdeu os pais ainda
cedo, aprendeu a tocar piano por obrigação de uma tia, seguindo os caminhos de uma
família musical. Aos 17 anos, ganhou uma herança de 40 contos, despediu-se da família
e foi para o Rio de Janeiro. Cursou Direito, mas demorou 9 anos para concluir o curso,
gastou toda a herança e, a partir daí, foi tocar nos cabarés para sobreviver.
288
Link do vídeo que fala dos 80 anos de Aquarela do Brasil, com suas mais de 500 gravações, apenas no
Brasil, passando, também, pela Europa, América Central e Estados Unidos.
http://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/mgtv-1edicao/videos/v/memoria-mg1-saiba-mais-sobre-ary-
barroso-compositor-de-aquarela-do-brasil/7905137/. Acesso em: 19 out de 2019.
289
Documentário O Brasil Brasileiro de Ary Barroso. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=NabA0W2h2us. Acesso em: 19 out de 2019.
290
ELE ESCREVEU O LIVRO NO TEMPO DE ARY BARR OSO, LUMIAR, 1993.
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em agradecimento. Ele compôs Faixa de Cetim, mas, segundo ela, diziam que ele era
baiano, que não compunha músicas para Minas, seu estado de origem.
Há que se mencionar, que os compositores dos anos 30, como Ataulfo Alves,
Herivelto Martins, Dorival Caymmi e Ary Barroso, foram de uma época original na
música brasileira, sem uma influência direta de outros compositores como inspiração, a
exemplo das gerações futuras da música popular brasileira (Ribeiro e Duarte, 2009)291.
Quando Angela Maria era caloura, imitando Dalva de Oliveira, ela foi caloura
do Ary, no Calouros em Desfile, da Tupi. Angela sabia da fama de severo do
apresentador, ele até a subestimou, mas quando ela cantou Estrellita, percebeu que ela
tinha talento, sugerindo qu l stu ss mús z n o: ―M n n vo ê t m um voz
m r v lhos sopr no lír o Estu rá no S l no Mun p l‖ F our ( 5
p. 25). Neste dia, Angela ganhou, com outros dois calouros de ópera, com quem dividiu
o prêmio do programa de Ary. Cantar ópera em um programa de auditório popular, era
uma das diversidades dos programas daquela época. Ary foi um dos frequentadores do
show Coisas e Graças da Bahia, com as canções de Dorival Caymmi, cantadas pelo
próprio Caymmi e por Angela, em 1952 (Faour, 2015).
Angela ficou famosa, eles ficaram amigos, mas Ary tinha uma preocupação com
o repertório ruim dela, para ele e para muitos críticos. Antes, Angela saiu escondida da
291
Quando não havia direitos autorais para compositores ou intérpretes, Ary Barroso, Herivelto Martins,
Dorival Caymmi, entre outros, articularam-se para fazer um trabalho de conscientização da sociedade
civil e do governo. Este trabalho foi feito por compositores dos anos 40 e 50 e deu certo (Ribeiro e
Duarte, 2009).
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família para cantar outra vez no programa de Ary, mas seu irmão reconheceu sua voz e
contou para sua mãe. Quando ela chegou em casa, apanhou de cinto e sua mãe não
acreditava que o dinheiro que ela tinha guardado em uma caixa de sapato, era todo
proveniente das participações nos programas de calouros, inclusive no de Ary Barroso
(Faour, 2015). Famosa, Angela recebeu críticas construtivas de Ary Barroso ao seu
repertório, mesmo ela mantendo seu repertório extremamente popular. Seu lado crítico
era tão aguçado e atento, que ele culpou os compositores de marchinhas dos anos 50,
por comercializarem suas composições no carnaval, que eram muitas vezes pobres nas
melodias, ou que os compositores, com os discotecários, combinavam para executar
determinadas canções e sufocar a dos compositores rivais, de acordo Lenharo (1995).
Em uma sexta feira, de agosto de 1953, quando Angela estava entre os artistas
mais cobiçados dos anos 50, ela saiu de Casablanca, para o Clube da Chave, em
Copacabana, onde artistas prestavam homenagem a Ary Barroso, um compositor
famoso desde os anos 30. Entre os presentes naquela noite, estavam Elizeth Cardoso,
Sílvio Caldas e Linda Batista. A Revista do Rádio l u ―Os M lhor s 953‖ qu
embora Ary Barroso estivesse longe dos sucessos, foi premiado como o melhor
compositor (Faour, 2015).
Neste mesmo ano, foi a vez de Elza Soares ir ao programa do temido Ary
Barroso, na Rádio Tupi. Elza disse a Camargo (2018). Que muitas vezes os calouros
iam cantar, mas que em outras, iriam imitar animais, fazer número circenses. O calouro
subia no palco, conversava um pouco, depois, ao comando do apresentador, fazia o que
tinha para fazer. Mas ela também disse que os calouros ensaiavam antes, com
Claudionor Cruz e que ela tinha a impressão que ele informava a Ary, os que tinha
talento ou os que serviriam para desdém do apresentador e da plateia, nas apresentações
ao vivo. Os calouros tinham que dar os nomes dos compositores das canções que iriam
n r Qu n o Ary h mou ―Elz Gom s Con o‖ su roup hum l sou
riso na plateia. Ele perguntou o que ela fora fazer ali, ela respondeu que cantar.
Debochando da caloura, perguntou de qual planeta ela era, prontamente ela respondeu,
m s um v z: ―Do pl n t om ‖ El ntou Lama, o gongo não soou. Elza estava
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Vale salientar uma informação da coluna Cotações da Semana, da Revista do Rádio, p. 48, nº 241, de
4/ 4/ 954 qu v um ―m u‖ p r s í Ary B rroso Tup Ass m n o n ontr mos
referência precisa se houve uma segunda saída dele da Tupi, ou se entre 1954 e 1956, na afirmação de
Aguiar (2007), Ary Barroso ficou sem contrato com alguma emissora. Na página 37 da mesma Revista,
Sílv o C l s ons r o t nt o r not o omo um om novo s o nt tul o: ―Mús s Ary
B rroso‖ n olun ―Bolsa de Valores‖ xo os mpeões de popularidade da semana, onde se
escreveu que o próprio compositor, Ary, difícil de agradar, estava contente com o disco. Link da Revista
do Rádio: http://memoria.bn.br/pdf/144428/per144428_1954_00241.pdf. Acesso em: 19 de out de 2019.
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Neste momento, segundo Camargo (2018), o programa se chamava Hora dos Calouros. Apenas na
Tupi, que teria o nome de Calouros em Desfile.
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Em 1957, um ano após a morte de Carmen Miranda, quando seus objetos foram
trazidos dos EUA, onde ela falecera, Ary Barroso sugeriu e foi acatado, que os artistas
se unissem e fizessem shows em torno da memória de Carmen, para que o evento não se
tornasse triste. Juscelino Kubistchek abriu o evento, o público compareceu e os artistas
como Angela Maria e Herivelto Martins, nos dias 20 e 28 de outubro, dividiram as
homenagens (Faour, 2015).
Quando Ary faleceu, aos 60 anos, no dia 9 de fevereiro de 1964, motivado por
uma cirrose, fruto do alcoolismo, em um domingo de Carnaval, Angela Maria estava
hospitalizada, por conta de uma gestação malsucedida. Sem poder comparecer ao
velório ou falar de Ary, para evitar emoção, por ordem médica, enviou uma coroa de
lor s om s u nt r s : ―Ao mort l Ary lour An l M r ‖ (F our 5
p.418).
CONSIDERAÇÕES:
Este trabalho, teve como base biografias e livros que falavam da era do rádio no
Brasil, citando a vida pessoal e profissional de Ary Barroso, como apresentador dos
seus programas de calouros, na Tupi, na Nacional e depois na Tupi, mais uma vez.
Além do mais, salientamos uma parcela da atuação combativa e de direcionamento, para
seus calouros ou até mesmo para os compositores que vendiam suas músicas,
articulavam para prejudicar outros, deixando de lado, a qualidade de suas canções,
como nos disse Lenharo ( 995) Ass m s l nt mos l uns sp tos o ―t m o‖ Ary
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REFERÊNCIAS:
CALABRE, Lia. A era do rádio. 2ª. Edição. Jorge Zahar. Rio de Janeiro. 2004.
DUARTE, Ana; RIBEIRO, Pery. Minhas duas estrelas- Uma vida com meus pais
Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. Globo. 2009.
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COMUNICAÇÃO ORAL
romerosnogueira@yahoo.com.br
1 INTRODUÇÃO
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Um dos pontos fulcrais para estas novas disposições sobre o sistema prisional
seria a tentativa de certa humanização do novo sistema carcerário. Ou seja, ocorre uma
alteração do entendimento de uma instituição de encarceramento meramente punitiva,
para a compreensão de que o sistema necessita ser direcionado para a ressocialização e
reinserção dos apenados na sociedade após o cumprimento de suas penas. Fato que
ocorre, é importante salientar, na última década do regime ditatorial inaugurado com o
golpe de 1964. Há indícios desta preocupação na elaboração da lei nº 7.698 de 24 de
julho de 1978, além do Decreto nº 7.420 de 31 de agosto de 1981, que cria a Chefia de
Divisões e Serviços e, por fim, com o Ofício nº 602 de 13 de dezembro de 1985 que
autoriza a criação da Superintendência Adjunta, Divisão de Psicologia, Serviço de
Nutrição e Casa de Albergado, que darão melhores e mais humanitários aportes para os
detentos.
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Diante disso, um dos primeiros aspectos que precisam ser considerados é sobre o
próprio estatuto dos sujeitos envoltos neste processo na condição de encarcerados.
Enquanto ainda estava como principal casa de detenção do estado, o atual edifício da
Casa da Cultura abrigava no centro da cidade àqueles que eram considerados a escória
do social. Sujeitos marginalizados pela sociedade pelos crimes que cometeram, num
lugar institucional onde não havia reflexão sobre as condições a que eram submetidos,
isto é, aqui, os sujeitos em questão não aparentam ser sujeitos de direito tal qual a
população de não encarcerados.
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desde o início da história das prisões e que coloca a prisão como forma de reter os
indivíduos (MAIA, 2009), forçando-os a situações que envolvem o apagamento da
identidade, o afastamento familiar, a marginalização social (PERROT, 2017)
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Foucault (2012) nesse modelo a arquitetura dos edifícios é pensada de tal forma que
facilite a vigilância, a sensação de observação constante intimidaria delitos, fazendo
com que a punição deixe de ser exclusivamente física e passe a ser um estado
psicológico constante de atenção aos próprios atos em virtude dessa certeza de que há
sempre outros observando.
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Diante desse aspecto a reflexão que se faz é sobre a contingência entre memória
e patrimônio que se dá na narrativa da Casa de cultura do Recife. Nesse sentido,
recorrendo a Le Goff (1990), compreende-se que o conceito de memória diz respeito
aos fenômenos que possibilitam a humanidade atualizar impressões ou informações
passadas Esse fenômenos de acordo com o autor só se mantêm à medida que sistemas
de organização mantêm ou reconstituem tais informações do passado.
Tal como o passado não é a história, mas o seu objeto, também a memória não
é a história, mas um dos seus objetos e simultaneamente um nível elementar de
elaboração histórica. [...] Tal como as relações entre memória e história,
também as relações entre passado e presente não devem levar à confusão e ao
ceticismo. Sabemos agora que o passado depende parcial- mente do presente.
Toda a história é bem contemporânea, na medida em que o passado é
apreendido no presente e responde, portanto, aos seus interesses, o que não é só
inevitável, como legítimo. (LE GOFF, 1990, pp. 49,51. Grifos meus)
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constitui o vivido nessa relação entre passado e presente. Portanto, olhando a forma
como o edifício da antiga Casa de Detenção do Recife foi ocupado enquanto centro
cultural de venda de artesanato e também tombado como patrimônio, urge para os
processos de elaboração histórica que intentam se concretizar através da memória
pensar ações de educação patrimonial mais sistemáticas como um museu que
apresentasse a narrativa do que foi aquele cárcere.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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Museu Vivo do Nordeste - foi criado como Projeto de Extensão da Universidade Estadual da
Paraíba – UEPB em 2009 pelo Professor Adhoniran Ribeiro dos Santos, que transformou o
quintal de sua casa em um espaço cheio de memória, rico em cultura e com um acervo histórico
de mais de 600 peças. Em 2019 estar completando 10 (dez) anos de atuação e está integrado ao
mapa do IBRAM e à Semana Nacional de Museus, desde 2013, oferecendo várias atividades para a
omun x mplo o urso ―Est t o C n o‖ r l z o p lo M str rt s o B o Gr s
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Introdução
Desta forma, objetiva-se neste artigo visualizar como o projeto Museu Vivo do
Nordeste nos seus dez anos de atuação vem despertando o interesse da comunidade em
prol do conhecimento e da preservação das culturas nordestinas, bem como apresentar
as formas como o museu se utiliza das peças para mostrar que os indivíduos no seu
tempo histórico atuam na invenção dos seus cotidianos e como é possível conciliar
espaços de preservação com atuações cotidianas de forma dinâmica e interativa.
Devido ao vasto acervo com o qual o Museu Vivo do Nordeste conta não daria
para fazer uma análise de cada peça individualmente. Desta forma, elegeu-se algumas
peças para se fazer algumas considerações, em razão de sua importância e significação
para o projeto e para o processo de rememoração. Com isso, buscar-se-á desenvolver
um trabalho não apenas marcado por leituras objetivas e técnicas, mas por construções
no qual o aspecto hermenêutico fundante seja o conhecimento, os sentimentos, as
perpetuações, memórias e lembranças. E assim, todos juntos entrelaçam os fios que liga
295
Versos de autoria própria.
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uma coletividade a uma mesma realidade, a uma mesma tradição e a um mesmo lugar
social. Portanto, a construção desse trabalho se deu por meio de uma pesquisa
qualitativa que mesclou pesquisa bibliográfica e o acervo do Museu Vivo do Nordeste,
tomando-o enquanto quadros sociais de memórias.
Nessa perspectiva, o Museu Vivo do Nordeste traz uma proposta que propicia
ao visitante uma dinâmica de compartilhamento de informações, ou seja, não se
constitui apenas como espaço de admiração e contemplação de objetos, mas atua no
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sentido de fazer com que a população sinta que os bens culturais lá existentes fazem
parte da sua vida, história, identidade e da sua própria construção enquanto cidadão. O
espaço que hoje leva o nome de Museu Vivo do Nordeste296 nasceu já com o intuito de
ser um espaço dinâmico, como destaca o professor Adhoniran Ribeiro:
[...] surgiu aqui mesmo no quintal da minha casa, nós sempre gostamos de
fazer reuniões musicais aqui e a partir dessas reuniões aqui na varanda, a
gente aproveitando esse espaço assim, parecido com um espaço de um sítio a
gente passou a decorar como é é artefatos típicos do semiárido tanto artefatos
vinculados a arte quanto como também artefatos vinculados ao cotidiano né o
fazer nordestino e os visitantes começaram a fazer doações cada um tinha
uma peça em casa ia trazendo vinha tomar umas cachaças aí, dizia ô eu tenho
um ferro em casa, um ferro de brasa vou trazer, aí chegou tanta coisa que o
pessoal começou a chamar de museu e eu levei a sério, aí transformei num
projeto de extensão e levei lá pro departamento da da universidade estadual
onde eu trabalho, foi aprovado e a partir disso a gente passou a trabalhar de
uma maneira mais sistemática, mais organizada, mas mantendo essa
característica de museu vivo com um fogão a lenha funcionando né, com
mesa, com espaço pra pessoas escutarem música, tocarem, dançarem, enfim
aqui é um museu com vida literalmente (ADONHIRAN, 2012).
296
Bairro de Bodocongó/ Lugar de inspiração/ Nos é um exemplo vivo de espaço de modificação/ Neste
espaço se localiza nosso museu em questão/ Originário de uma paixão de um professor piradão.
Quem ainda não conhece, venha logo conhecer/ E não tenha receio com medo de se perder/ Pois é só
acessar o blog para o mapa logo ver.
Localizado à rua: Manoel Joaquim Ribeiro/ Lá mora o professor de nome Adonhiram Ribeiro/ Que faz o
cabra amufiado logo quebrar o gelo/ Com um dos seus causos do nordeste brasileiro.
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Em meio a tudo isso, está um fogão de lenha (foto: 1), que é aceso em ocasiões
especiais para a apreciação da culinária regional, bem como para ressaltar a
especificidade de ―v vo‖ nt r t vo qu o mus u us t v r O fogão a lenha, se
constitui um dos utensílios doméstico popular mais importante, principalmente no meio
rural, onde apesar de haver muitas residências que já contam com o fogão a gás, o
mesmo continua tendo lugar de destaque na hora do preparo das comidas.
Esse utensílio reúne em torno de si os saberes ligados ao saber fazer nos modos
de preparo das comidas típicas que envolvem também as memórias afetivas. Pois, no
s u pr p ro s o nvolv os ot n m nt r ss n os ― onh m ntos
acumulados durante gerações e gerações, relativos ao uso dos ingredientes variados, de
vasilhames apropriados, de equipamentos de preparação, de fogões e até ao modo de
o t n o n r t rm ‖ (LEMOS 4 p 3) Ass m o o o l nh t m m
conhecido como fogão no chão ou fogão de barro em alguns lugares interioranos do alto
sert o p r no s torn um ―monum nto‖ r m mor z o tos p ss os
presentes, principalmente ligados ao quadro familiar, o mesmo evoca lembranças
relacionadas às emoções e experiências vividas ou vivenciadas.
Por sua vez, o Pilão (foto: 2) que pela quantidade e variedade de modelos
encontrados no museu se tornou símbolo do projeto, sendo eternizado em uma
xilogravura confeccionada por Emídio Medeiros. Esse instrumento possui grande
utilidade na cultura nordestina, seja para descascar ou fazer massa de arroz para a
produção de mingau, para quebrar o milho para fazer o mungunzá, o colorau, o café,
etc. e pela quantidade e variedade existente no espaço.
Foto 2: Pilões
Acervo do museu (fotografa: Flávia Mentor de Araújo)
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Outra peça imortalizada nas lembranças dos nordestinos é o oratório (foto: 3).
Os oratórios tornaram-se peças obrigatórias nas residências familiares a partir do século
XIX, este artefato ocupava lugar de destaque nas casas, dentro deles eram colocadas
imagens de vários santos, terços, e objetos sagrados. Na foto abaixo se observa a
imagem de um oratório simples e dentro dele se encontra duas imagens: à esquerda a de
São Francisco e a direita a de Nossa senhora, imagem sagrada e indispensável nos
oratórios familiares uma vez que é tida como a mãe protetora e acolhedora dos seus
filhos aflitos. Dessa forma, pelo seu caráter a longo prazo e suas evoluções lentas no
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O oratório é uma peça que apesar de ser geralmente talhado em madeira, sua
magnificência aumentava conforme o grau de riqueza da família que o encomendava.
Nesta peça em particular é possível visualizar que houve todo um trabalho de pintura
dentro e fora do mesmo. Essa peça em suas dimensões permite se ter uma ideia de como
as devoções populares vão ao longo do tempo se conservando, mas também se
reinventando e transformando seus elementos culturais característicos, pois:
A religião popular que se pode propor como objeto de estudo, não é uma
realidade imóvel e residual ujo nú l o s r um ―outr r l o‖ v n o
paganismo e conservada pelo mundo rural: pelo menos não exclusivamente.
Ela inclui todas as formas de assimilação ou de contaminação e, sobretudo, a
leitura popular do cristianismo pós-tridentino, como também as formas de
criatividade especificamente populares s (VOVELLE apud SOUZA, 2012, p.
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05).
Essa peça que se encontra instalada no quintal da casa onde está localizado o
museu, veio através de Ismael que é pedreiro, sertanejo e consultor do museu, sua
instalação só foi feita no início do ano de 2012, após muitas consultorias e estudos sobre
a montagem da peça. Como pode ser observada na foto a prensa é composta de uma
estrutura na qual no meio se encontra o parafuso responsável por prensar a massa de
mandioca, essa prensagem era para enxugar a mandioca ralada tirando assim sua água.
Diante dessa pequena exposição, buscou-se demonstrar a riqueza que pode ser
descoberta por meios das peças expostas no museu, visualizando que da mesma forma
que o espaço de uma varanda foi transformado para se adequar as exigências requeridas
p r um mus u pr s rv n o su r t ríst pr mor l ou s j sp o ―v vo‖ s
práticas culturais que são representadas por meio do acervo também desenvolvem a
mesma capacidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelo seu valor histórico e cultural o museu acabou sendo inserido no roteiro de
aulas de algumas disciplinas da universidade, de escolas públicas, bem como integrar-se
na vida cultural da população da comunidade do entorno. A rápida aceitação se deve ao
to o proj to t r opt o p l l n u m o ―v r‖ o ―s nt r‖ qu p rm t os s us
visitantes estabelecer relações inteiramente novas com objetos que lhes são familiares
no seu quotidiano ou mesmo relações inimagináveis para aqueles que desconheciam a
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REFERÊNCIAS
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PÔSTER
eucharlesandrade@gmail.com | nycoleregis@gmail.com
INTRODUÇÃO
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DOCUMENTAÇÃO IN LOCO
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tais reformas a diferentes fatores, que somados, geraram essa grande quantidade de
descaracterização do patrimônio edificado.
Por fim, além dos fatores citados, o visto como mais crucial, seria a
deficiência de uma educação patrimonial no local, o que geraria uma série de
comportamentos incoerentes por ausência de informação e interesse por parte da
população, que poderiam ser contornados com um melhor acompanhamento e instrução
para com os moradores, deficiência essa intensificada pela ausência de um
impulsionamento dos órgãos gestores quanto ao tratamento patrimonial. Afinal, como
rm o p l t r Fr n o s Cho y ( 99 ): ―o p tr môn o um m st n o o
usu ruto um omun ‖ t mos ons ên nt o qu os nt s m s afetados
e endereçados ao ser tratamento são os próprios habitantes.
CONCLUSÕES
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REFERÊNCIAS
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RESUMO:
297
Estudante de graduação do curso de licenciatura em História da Universidade Federal de Campina
Grande, e integrante do Programa de Educação Tutorial (PET) de História. E-mail:
henriquemineracao2015@gmail.com.
298
Estudante de graduação do curso de licenciatura em História da Universidade Federal de Campina
Grande, e pesquisadora da linha de patrimônio do Laboratório de História-UFCG. E-mail:
vitoriagondim2@gmail.com.
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INTRODUÇÃO
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METODOLOGIA
por meio da História Oral e patrimônio, tendo como referência teórica, os estudos de
Michel de Certeau, Jacques Le Goff, João Jorge de Martini Moraes e Viviane Pedroso
Domingues.
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Figura 1: Cristal Bacarat do século XVIII, peça que integra o acervo do memorialista, fotografia retirada
da entrevista a Revista AlgoMais.
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FOTO 2: O Sr. Luís Gomes em seu ateliê na cidade de Goiana-PE. Fotografia pertencente ao acervo
pessoal da família.
O Sr. Luís Gomes sofreu influência direta da Igreja Católica ainda durante a
infância, fato este que o influenciaria por toda a vida, e exemplificado pela coleção de
imagens sacras dos séculos XVIII e XIX em seu acervo. No que diz respeito a sua
tu o omo ― nt pr s rv o o p ss o‖ st o s p ntur s produzidas
retratando os grandes eventos da história nacional brasileira, a restauração de peças de
arte e imagens sacras seja para a Igreja ou para seu acervo pessoal, bem como de
documentos eclesiásticos, em paralelo a isso havia as atividades culturais patrocinadas
pelo estudioso, como os carnavais dos clubes e escolas de samba.
914
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS:
CERTAU, Michel de. História de Psicanálise: entre ciência e ficção. Belo Horizonte:
Autêntica, 2011.
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MORAES, João Jorge de Martini; LOPES, Rodrigo Touso Dias. O papel dos
memorialistas na conservação do patrimônio cultural no interior do estado de São
Paulo. Revista Linguagem Acadêmica, v. 6, nº 3; p. 55-68. Batatais-SP: Rede
Claretiano de Educação, jul./dez. 2016. Disponível no site: <
https://intranet.redeclaretiano.edu.br/download?caminho=/upload/cms/revista/sumarios/
506.pdf&arquivo=sumario3.pdf. >. Acesso: setembro de 2019.
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INTRODUÇÃO
Após o estudo das narrativas que circundam a literatura de cordel, e das relações de
poder que regem tanto campo oral como do campo editorial do cordel nordestino,
constatamos que na maioria das vezes, estes espaços são hegemonicamente masculinos,
e que a mulher nunca teve o seu espaço de voz neste âmbito literário, tendo em vista que
― ur mulh r ut l z p r n r o m lhor omport m nto s rs u o
partir de folhetos que contêm exemplos para admoestar àquelas que fugissem aos
p r s so lm nt mpostos‖ (MELO 8 p 65) O m h smo strutural fez com
que as mulheres para publicarem seus escritos tinham que criar pseudônimos
masculinos, pois assumindo uma identidade masculina não seria vista com maus olhos
pela sociedade, pois como apontado as representações da mulher na literatura de cordel
era de santas e virgens.
299
Estudante de Graduação em Letras-Língua Portuguesa e bolsista PET/SESU, UFCG, Campina Grande-
PB.
300
Estudante de Graduação em Letras-Língua Portuguesa e voluntário PET/SESU, UFCG, Campina
Grande-PB.
301
Professora Doutora, Unidade Acadêmica de História e Geografia, Universidade Federal de Campina
Grande, UFCG, Campina Grande-PB.
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Reconhecendo os avanços dos direitos civis das mulheres, o presente trabalho tem
como objetivo verificar seu espaço nas aulas de literatura. Entretanto, após a análise dos
depoimentos selecionados para o corpus deste trabalho, contatamos que esses avanços
não adentraram as salas de aula. Por essa razão propomos a educação patrimonial
transformadora, baseada em Chagas (2006), para que possamos superar os paradigmas
sexistas e misóginos que norteiam a comunidade cientifica e, consequentemente, os
estudos acerca da literatura popular. Por fim, propomos sua didatização, com base em
Conceição e Gomes (2016), de forma que os alunos tenham interesse pelo cordel, e
prazer em seu estudo, analisando desde a estrutura, estilo e suas autorias.
METODOLOGIA
RESULTADOS
Para a produção desse artigo fizemos uma pesquisa bibliográfica, por meio da leitura
de artigos acadêmicos e foi aplicado um questionário online para os professores de
língua portuguesa e literatura da rede de ensino pública da Paraíba, responderam ao
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questionário cinco professores, que atuam na rede municipal, como também na rede
estadual de ensino. Analisamos as respostas obtidas com base nos postulados de
Magalhães (2011), Conceição e Gomes (2016) e Santos (2009) e Flach e Behrens
(2008). Portanto, o trabalho transcorrerá de modo conceitual-analítico.
919
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mesmo, para as ricas não era permitido mais do que aprender a ler e a escrever com um
professor particular, e a possibilidade de entrada numa universidade era completamente
aquém das suas possibilidades e expectativas. Esse, portanto, configurava um impasse
para que os cordéis passassem da oralidade para escrita, a historiografia as registrou
como leitoras, quando tinham oportunidade de aprender a ler e a escrever de forma
rudimentar, e a realização oral era apenas para o deleite da família.
Diante disso, chegamos à conclusão de que tínhamos repentistas, a presença feminina
era inegável no campo da oralidade e na contação de histórias, e que o argumento da
― n pt o‖ s mulh r s m ompor v rsos n rr t v s ulos s n o sust ntáv l
Trata-se, portanto, da proibição imposta pelos valores patriarcais arraigados que
impedia as obras femininas de vir a público.
A Academia Brasileira de Literatura de Cordel, que se configura como principal fonte
de pesquisa para pesquisadores e professores sobre literatura de cordel, também excluiu
as mulheres, na seção302 dedicada aos grandes cordelistas não há nenhuma mulher,
somente homens. O que justifica, de certo modo, a resposta dada no questionário por
um dos professores entrevistados da rede pública de ensino, quando disse que:
―M t r s mpr ssos utor m n n s o s ssos‖ n houv r spost outro
pro ssor qu rmou: ‖D s onh o utor m n n ‖ Isso demonstra, que os cordéis
de autoria feminina, mesmo nos dias atuais, não tem a visibilidade devida, nem na
academia, na formação de professores, pois alguns que responderam o questionário
estão em formação, tanto nos órgãos dedicados a sua divulgação, como a Academia
Brasileira de Literatura de Cordel, que não apresenta nenhuma cordelista na sua seção
de grandes cordelistas, isso nos parece sintomático, principalmente, por estarmos num
momento político-histórico-social marcado pela luta afirmativa feminista e LGBTQIA+
no Brasil.
Ainda há outro impasse, o próprio plano pedagógico das escolas e os que compõem a
administração das escolas, impedem cordéis de autoria feminina serem trabalhados em
sala de aula, um dos professores entrevistados pontuou como principal impasse para
302
Disponível em: http://www.ablc.com.br/o-cordel/grandes-cordelistas/
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Essa é, segundo MORAES (2005), um ato político, que visa a formação de pessoas
capazes de reconhecer sua própria história cultural, deixando de ser espectador. Como
vemos, somente num paradigma transformador de educação patrimonial seria possível o
questionamento da supremacia masculina e da invisibilidade feminina no universo do
cordel.
Levando em consideração a conjuntura política que se faz pedra no caminho, cabe
propor a educação patrimonial transformadora, tendo como meio para sua efetivação o
cordel de autoria feminina, vinculado ao propósito da formação de leitores críticos, afim
de que analisem a sociedade e as injustiças sociais que, ainda, se configuram como
impasse para as cordelistas e para uma educação reflexiva.
A literatura é um agente de formação humana, além disto,
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Denunciar o machismo
Esta mazela medonha
E fazê-lo sem cinismo
Sem que ninguém se oponha
Na academia, na feira
Na URCA6, na Batateira
Para findar a vergonha
(Mulheres do Cariri: mortes e perseguição, 2004)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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erik.montecarvalho@gmail.com
yonakferreira@gmail.com
INTRODUÇÃO
Tendo em vista que a escola funciona como um espaço mediador entre o aluno e
o conhecimento da história, o ensino da educação patrimonial também deve estar
presente nesse núcleo. Entretanto, observa-se que a falta de questionamentos e
discussões voltados para a temática do patrimônio levam aos alunos e as alunas pouco
ou nenhum entendimento do lugar onde vive, ocasionando também a falta do
sentimento de preservação com relação a esse local. Assim sendo, o PET-Educação vem
trabalhando nas escolas públicas do bairro José Pinheiro em Campina Grande – Paraíba
utilizando das ferramentas do ensino e da história, pois se faz imprescindível que todos
e todas viventes desse lugar entendam a importância de suas participações na
preservação do seu bairro.
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METODOLOGIA
Malvinas pela próprio PET em gestões anteriores, de modo a estarem aptos para aplicá-
la.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação patrimonial vem se tornando cada vez mais necessária a medida que
o pequeno número de ações do governo para sua preservação se torna cada vez mais
insignificante e com o tempo até mesmo a população acaba abandonado e vandalizado
aqueles lugares de memória. Durante o período de atuação no bairro de José Pinheiro, o
PET educação buscou justamente reverter essa situação em um dos bairros mais antigos
e históricos da cidade de Campina Grande.
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GURJÃO, Eliete. et al. O Bairro de José Pinheiro: Ontem e Hoje. - João Pessoa,
Secretaria da Educação e Cultura, Governo do Estado da Paraíba, 1999.
O direito à memória: patrimônio histórico e cidadania/ DPH. São Paulo: DPH, 1992.
OTTO, Claricia. Memória e patrimônio no ensino da história local para os anos iniciais
da educação básica. XXVIII Simpósio Nacional de História. - Florianópolis, 2015.
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1 INTRODUÇÃO
Patrimônio é tudo o que criamos, valorizamos e queremos preservar: são os
monumentos e obras de arte, e também as festas, músicas e danças, os folguedos e as
comidas, os saberes, fazeres e falares. Tudo enfim que produzimos com as mãos, as
ideias e a fantasia. (Cecília Londres, mestre em Teoria da literatura pela UFRJ, doutora
em sociologia pela UNB e estudiosa de patrimônio cultural.)
Bambas é tradição
Bambas é alto-astral
Bambas, 50 anos de samba desse carnaval
Suas cores preto e vermelho
É o orgulho de José Pinheiro
A preto e vermelho chegou
Com seus tamborins ecoou
E na avenida ecoou 50 anos de muito valor.
(Bois Campina, G.R.E.S Bambas do ritmo, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=OR2vjLggq9E, acesso em 18/12/2019).
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2 FONTES E METODOLOGIA
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Outra reflexão que pudemos trazer à tona trata acerca dos locais utilizados para a
apresentação dos blocos carnavalescos da cidade: o Açude Velho, a avenida principal
do bairro de José Pinheiro, são um reflexo do que a escola busca apresentar, a
valorização das ruas como ambiente de resistência. Esta é uma das funções do estudo de
manifestações culturais e patrimônio imaterial: conservar e preservar a memória destas
pessoas, dos locais que frequentam, de sua arquitetura e não apenas incentivando o
apego ao moderno.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após ser campeã pela 17° vez do carnaval campinense, a escola Bambas do
ritmo adquiriu um reconhecimento inegável, com fundamental importância na questão
do turismo e na defesa da cultura carnavalesca do bairro e da cidade, que teve a
principal festa cancelada no presente ano de 2019. Entretanto, isso não impediu q festa
de acontecer, já que a apresentação da escola aconteceu em seu bairro de origem.
Mesmo sem um apoio governamental, os integrantes realizaram o festejo, demonstrando
a resistência da cultura carnavalesca do interior da Paraíba, que é feita pela tradição.
Além da apresentação atípica deste ano, que aparentemente trouxe bons frutos
por ter sido o primeiro desfile de carnaval da zona leste, o grupo teve outros temas
mport nt s omo o s l 6 qu s ír m ― omo l n tur z ‖ Fo um
ano em que pretendiam educar para que a população conheça, e incentive a protegê-la.
Em outro ano saiu exaltando um grandioso patrimônio local, que é a feira central,
lembrando sua importância na geração de empregos, comércio de orgânicos, utensílios
diversos, e também seu valor para o turismo local. Ou seja, são extremamente ativos na
proteção do patrimônio, material ou imaterial, da cidade em que habitam, promovendo
conhecimento e informação.
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4 CONCLUSÕES
5 BIBLIOGRAFIA
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COMUNICAÇÃO ORAL
A realização desse costume, fora recorrente por exemplo, em todos os relatos dos membros da
família Soeiro. Uma família cristã nova da Capitania de Itamaracá, cujos membros se apresentam ao
Visitador Heitor Furtado de Mendonça, para confessar as próprias culpas ou denunciarem-se mutuamente.
Assim, aos 12 dias do mês de dezembro de 1594 compareceu a mesa da visitação uma senhora chamada
Isabel de Paiva, para denunciar Guiomar Soeiro, que mandara vazar a água dos potes de sua casa, quando
do falecimento de sua bisneta, e quando questionada a respeito de tal pratica, sorriu dizendo que ―[ ] na
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sua terra lançavam agoa fóra quando alguém morria ‖304 Ora, como exposto anteriormente, este
costume era bastante difundido na colônia a época da primeira visitação, sendo
realizado até mesmo por cristãos velhos. Contudo, questionamo-nos qual o simbolismo
presente neste ato? Que nojo faziam as águas conservadas nas jarras para os cristãos
novos? Qual o mito diretor que fundamenta esta prática e o que ele nos revela a respeito
da realidade dos cristãos novos da colônia?
Aquele que tocar um cadáver, qualquer que seja o morto ficará impuro sete
dias [...] Todo aquele que tocar um morto, o corpo de alguém que morreu, e
304
Cf. MELLO, José Antônio Gonçalves de. (Org.). Primeira Visitação do Santo Oficio as Partes do
Brasil: Denunciações e confissões de Pernambuco: 1593- 1595. Recife: FUNDARPE, 1984, p. 372.
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Contudo, a Teoria do Imaginário proposta por Gilbert Durand, nos oferece mais
subsídios para a interpretação deste gesto, no intuito de nos aproximar ainda mais do
imaginário que permeava a realidade dos cristãos novos da colônia. Para tanto,
precisamos esclarecer alguns conceitos fundamentais desta teoria: O primeiro conceito
que precisamos entender é o de Schème. Palavra francesa que não tem uma tradução
x t p r o portu uês É um str t nt r or m m ―[ ] orr spon
uma t n ên r l os stos l v m ont s mo s s r pr s nt s‖
(PITTA, 2005, p. 18). Exemplos: schèmes da subida, da divisão, do aconchego etc. Em
seguida, temos o conceito de Arquétipo, que é a representação dos schèmes. Os
arquétipos são imagens universais de caráter coletivo e inato. Exemplo: O shéme da
su s rá r pr s nt o p lo rqu t po o h o lto oh r t ―O rqu t po
constitui o ponto de junção entre o imaginário e os processos racionais. É aqui que o
―s hèm ‖ s su st nt É nt ss l ‖ (CAVALCANTI 5 p 4 )
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Por fim, outro conceito importante a ser considerado pela Teoria Geral do
Imaginário, é a ideia da constelação de símbolos. Para o autor, as imagens se organizam
tr v s ―nú l os‖ ou ― onst l o m ns‖ m torno de temas específicos.
Sintetizamos de forma didática as principais constelações de imagens dos regimes
outrora apresentados.
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ESTRUTURA
HERÓICA
Regime Símbolos Angelicais: asa, pássaro, luz, anjo.
Diurno
ESTRUTURA
MÍSTICA
Símbolos da Maternidade: água que gera vida, frutas,
fontes subterrâneas.
CONSTELAÇÃO DE
IMAGENS DA Regime Ciclo Lunar: percepção da passagem do tempo, ciclo,
ESTRUTURA Noturno oferenda para renovar o ciclo.
DISSIMINATÓRIA
Espiral: caracóis, conchas, ritmo, sequência
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Outro aspecto destacado pelo autor, é a relação entre esta água noturna, e as
lágrimas. Lágrimas, são símbolo de dor e de luto. Dessa maneira, compreendemos que a
água dos potes que se tornam impuras, passam a participar da mesma impureza
tr uí o orpo morto p rt p o s u ― st o mort l‖ s m lm por t nto s m
vida. Além deste simbolismo, destacamos a feminilidade da água como um elemento
importante para a compreensão do mito que fundamenta este gesto. De acordo com as
estruturas antropológicas do Imaginário, as imagens se agrupam em torno de núcleos
organizadores. Seguindo essa ideia, Durand nos esclarece que existe uma profunda
relação entre o sangu m nstru l mnl á u n st : ―Po -se dizer que o
rqu t po o l m nto quát o n sto o s n u m nstru l ‖ (DURAND p
101).
O autor vai chamar a atenção para o fato de que, em várias culturas, o sangue
menstrual é considerado impuro, ele constitui-se como símbolo de infertilidade, durante
o período menstrual as mulheres passam por vários interditos. Leis que consideram o
sangue menstrual como algo impuro pode ser observada na bíblia, no Talmude, entre os
Bambaras e até mesmo entre os camponeses europeus dos tempos hodiernos. Assim, da
mesma maneira que a imagem do sangue correndo nas veias é representativo da vida, de
modo oposto, o sangue que se derrama, ou o fluxo sanguíneo passa a ser, por sua vez
símbolo da morte, daí a expr ss o ― rr m r s n u ‖ omo m tá or p r s r rr
um s tu o mort Not qu o l m nto ―s n u ‖ stá r l on o r lm nt om
mortes de forma violenta e nessa perspectiva, Durand (2001) vai propor que o
simbolismo dos fluxos menstruais, constitui irremediavelmente a feminilidade da água
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Assinalemos, pois, que essa ação simbólica desenvolvida largamente por cristãos
novos e velhos na colônia, constitui uma reminiscência de um rito judaico de
pur o qu o s tr ns orm n o strutur n o t h r n ― r ão
305
sm l ‖ , preservando-se apenas a ideia de que a água dos potes deve ser
descartada por seu estado de impureza, e em seu lugar, se faz necessário o uso da água
nova. É verdade que muitos cristãos novos, desconheciam o significado doutrinal e até
mesmo a narrativa do anjo da morte, no entanto, preservavam uma lembrança distante
de uma prática religiosa comum entre os seus antepassados.
Assim, concluímos que o mito diretor presente no ato de vazar a água dos potes,
o ―pur o lm ‖ P r o reconhecimento desse mitologema, é necessário a
compreensão de alguns pontos importantes da teologia judaica. Assim, nota-se que, no
ju ísmo o hom m or r o p lo pr pr o D us p rt r o ― rro t rr ‖ ms u
st o or n lm nt ―puro‖ à su ―m m s m lh n ‖ No nt nto om
desobediência, o pecado e a morte passaram a existir no mundo natural, e o homem
passou a ser mau, sujeito ao pecado. Desde então, a morte como consequência, passou a
fazer parte da realidade humana.
305A ideia da degradação dos símbolos nos é apresentada por Eliade (2008). O autor afirma que
muitos mitos vão se “degradando” com o tempo, sendo transformados e resinificados com o tempo,
perdendo seu simbolismo original.
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condição estrutural, e todo aquele que foi contaminado tem o direito à expiação ou
pur o ‖ (TOPEL 3 p. 218). Os ritos de purificação, portanto, preenchem toda
a vida do judeu desde o seu nascimento, indicando o modo como deve se vestir, comer,
copular, e até mesmo, na hora da morte, o modo como deve ser enterrado. Ressalte-se
que, o sentido dos ritos de purificação, é o de ―r n r r‖ qu lo que foi perdido, ou seja,
a ―pur z or n l‖ perdida no jardim do Éden. Trata-se mesmo, de um retorno ao estado
original da alma no momento da criação. Este é o mito fundante, diretor dos ritos
judaicos, que os cristãos novos receberam por tradição familiar.
REFERÊNCIAS
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Edição Claretiana. Edição revisada. São Paulo:
Ave- Maria, 2010.
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Para começar este artigo, respondo a pergunta que a grande maioria das pessoas
fazem desde que comecei a estudar o estabelecimento das comunidades judaicas no
Brasil Oitocentista na região amazônica. E, é claro, verbalizada inúmeras vezes por
colegas durante o curso.
- Você é Judeu?
- Mas então, por que estuda os judeus? Você é descendente de judeus, cristão-
novos ou marranos? Você segue o judaísmo? Por que você morando na Paraíba, decidiu
estudar judeus logo na Amazônia? E tem Judeus na Amazônia?
Pois bem, acho que na verdade não é uma pergunta, são inúmeros
questionamentos que me fazem frequentemente, quando apresento meu universo de
pesquisa na Academia, eventos, conversas informais ou quando sou indagado acerca do
que realizo em meus estudos.
O interesse pela História dos judeus no período Imperial brasileiro se deu por
duas inquietações, a primeira na ordem da interação social, a partir de uma criação
dentro de um lar cristão na qual sempre fui apresentado aos judeus enquanto estranhos,
306
Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú. UVA - 2003 e
graduação em História pela Universidade Estadual da Paraíba. UEPB -2008. Especialista em História do
Brasil e da Paraíba pelas Faculdades Integradas de Patos (FIP), em 2008. Mestre em História pela
Universidade Federal de Campina Grande – PB. UFCG - 2013. Doutorando em História Social pela
Universidade de São Paulo USP (DINTER/UFCG). Professor da rede pública e privada do Estado da
Paraíba e Rio Grande do Norte. Professor Formador da UFCG. Professor da Universidade Maurício de
Nassau - Uninassau/Campina Grande.
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afirmando quase sempre que possuíam atributos que fogem do campo, da categoria
imposta como normal, e, a outra de ordem historiográfica acerca das abordagens da
presença judaica no Brasil Oitocentista, carecendo ainda de muitos estudos quando
comparamos as demais temporalidades da História do Brasil. E assim, acreditando que,
a compreensão do Outro ocorre quando se conhece o Outro, enquanto distinto do Eu
que o concebe.
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Muitos desses povos que descendem dos hebreus foram revestidos de muitas
identidades, às vezes forçadas, às vezes disfarçadas, em meio a fugas, adaptações,
resistências e aculturações, povos de um tronco comum foram divididos e
transformados em cristãos novos, marranos e somente no século XIX aqui no Brasil
puderam começar a ser judeu.
307
Doutor em teologia pelo Union Theological Seminary, em Virgínia, EUA.
308
Demarcadas no sentido de propor a diferença, o ser judeu, o ser cristão. Diluídas no sentido da
vivência em meio a culturas plurais, no momento que nos remete a um compartilhamento de práticas, na
proposta de Ginzburg (2006) quando um bebe na cultura do outro.
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O ser judeu, portanto, no período oitocentista, foi escrito sob a pena que
outorgou diversas leis, nas quais os judeus, judaizantes e não judaizantes, tiveram
muitas vezes que negociar sua cidadania em meio à formação de um Brasil que
almejava ser independente, e o progresso alijado à constituição do povo enquanto nação
lhes proporciona uma nova terra, para poder constituir suas vidas em meio a um
conjunto de significados partilhados.
309
A noção de estigma da qual fazemos uso corresponde aos estudos de Erving Goffman em sua obra:
Estigma. Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. No qual
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Isso não nos leva a pensar ou cair no mérito de quem é ou foi mais
estigmatizado: índios, negros, judeus, protestantes, ciganos e outros que pelo
estranhamento sofrerão todas as mazelas de serem marcados, como no dizer da
historiadora Tucci Carneiro, etiquetados310 com uma série de atributos indigestos,
resultantes do processo de estigmatização, fazendo necessário, portanto, pontuar que a
chegada, a presença judaica, o seu corpo físico, sempre será precedido por suas marcas,
por um conjunto de condutas desviantes.
concebe o estigma enquanto uma situação do indivíduo está inabilitado para a aceitação social plena, pela
abominação do corpo, do caráter e da raça.
310
Imigrantes indesejáveis. A ideologia do etiquetamento durante a Era Vargas. Maria Luiza Tucci.
Revista USP/ São Paulo - n 9•p 5- 3 • outu ro/nov m ro/ z m ro 2018
311
O uso do termo sutil e sutileza aqui nos a ideia de um detalhe pouco perceptível, o que é dito as vezes
nas entrelinhas. Ou ainda a intensidade em que um fato, um discurso é posto.
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312
Jornal O Liberal. Órgão do Partido Liberal. ANNO XV, Nº 84. Belém do Pará, 16 de Abril de 1885.
Acervo da Biblioteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional – BNDigital. Rio de Janeiro/RJ. Acesso
em 09 de Novembro de 2018.
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O olhar preconceituoso em torno do judeu, fora uma marca que lhes era
imputada, mesmo não sendo judaizante313, o fato de ser judeu impregnava no
imaginário de onde estiver ou não habitando uma visão preconceituosa e depreciativa,
sempre com ações acusatórias e condenatórias. Atiradiço, sovina, monopolizador do
comércio, assim foram descritos os judeus que fizeram dos rios da Amazônia suas
estradas e seus pontos do comércio, colocando mercadorias em pequenas embarcações e
assim de modo itinerante e sábio inovando na arte de comerciar.
Muito teremos ainda a falar sobre os judeus da Amazônia, muito teremos ainda a
investigar sobre a Canaã brasileira e, mais ainda a refletir sobre a construção da
Intolerância contra os Judeus em todo o Brasil.
REFERÊNCIAS
BARNAVI, Elie (dir.) História Universal dos Judeus – da gênese ao fim do século
XX. Editora Cejup. São Paulo/Belém, 1995.
313
Aqueles que seguem os preceitos ou parte da religião, tradição ou cultura judaica.
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__________. Dez Mitos sobre os Judeus. São Paulo; Atelie Editorial, 2014.
958
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LUCCA, Tânia Regina de. A Revista do Brasil: um diagnóstico para a (N)ação. São
Paulo: Unesp, 1999.
959
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WOLF, Frieda e Egon. Judeus no Brasil Imperial. Uma Pesquisa nos Documentos e
Noticiários Carioca da Época. Centro de Estudos Judaicos, Rio de Janeiro. 1975.
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PÔSTER
GT 17 – Desvelar os monstros, dar voz aos intolerados... Inquisição e religiosidades no mundo ibérico e
colonial
INTRODUÇÃO
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Com relação ao processo inquisitorial em si, o autor diz que era composto por
três meios: a verdade real e/ou material, o sistema de provas legais, e por fim, a tortura
como forma de investigação. Vale ressaltar que as denúncias poderias ser anônimas e
muitas vezes sem provas concretas, e que ― prov n o r tor onv n m nto o
juiz, mas instrumento para este convencer os outros do acerto da acusação que
pr s nt r l m n rm nt ‖ (PINTO p.193).
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da população de Lisboa. E, a maioria dos mouros que eram perseguidos pela Inquisição
eram de originários da África, como afirma Rogério Ribas.
Segundo ele, os mouriscos por sua vez eram os cativos de origem muçulmana
qu or m ―o r os s tz r m s torn r m r st os‖ (RIBAS APUD
ESPALZA, 2001, p.3). No tocante à Inquisição Portuguesa com relação aos mouros
Sua pena foi, assim como consta no documento: ―Abjuração em forma, cárcere e
hábito penitencial perpétuo e da excomunhão de que incorre seja absolvida.Por provisão
do Cardeal Infante Inquisidor Geral foi tirado o hábito e levantado o cárcere a 12 de
Outubro de 1557.‖
Mas o que é facto é que essas pessoas, pelo seu estatuto social e pela sua
grande mobilidade, dificilmente teriam tido oportunidade de deixar traços da
sua experiência. Se, por um lado, o controlo social produzido pelo Santo
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OBJETIVOS
METODOLOGIA
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oriundos de África e cativos em Portugal neste século, para que torne-se um trabalho
relevante e efetivo nesta área de estudos étnicos e religiosos da época.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
A Inquisição foi uma Instituição que visou a dominação total dos povos de
diferentes filosofias, seitas, etnicidades e religiosidades por onde passou. No caso dos
muçulmanos residentes em Portugal, essa Instituição se mostrou mais repressiva, tendo
em vista a dominação anterior pelos mouros da Península Ibérica, e a ótica visionária
dos monarcas e inquisidores para retomada cultural e religiosa do território, além da
formação de uma identidade e unidade nacional formada a partir dos dogmas da Igreja
Católica. A partir dos processos de Joana Fernandes e Isabel Afonso podemos constatar
a perseguição que havia as práticas muçulmanas no Portugal quinhentista, além de
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atestar quem eram a maioria desses muçulmanos que lá residiam, tendo em vista que a
maioria eram africanos trazidos em forma de escravos. Compreende-se ainda que,
mesmo sob o olhar vigilante do Tribunal Inquisitório, as práticas dos muçulmanos
continuarem sendo exercidas e podendo ser observadas nas resistências e
ressignificação de sua crença, mesmo terem sido obrigados a se batizarem e serem
instruídos na fé católica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Na primeira visita do Santo Oficio, nos anos de 1591 a 1595 o inquisidor Heitor
Furtado de Mendonça investigou as práticas dos judaizantes dos cristãos velhos já
radicados aqui, no entanto, de acordo com as informações impostas através do livro de
Denúncias e Confissões durante a presença do inquisidor sob as terras luso brasileiras,
foi encontrado uma grande predominância de processos contra mulheres praticantes do
judaísmo.
De acordo com Sampaio e Silva (2012), a visita de Heitor Furtado tinha como o
foco principal o propósito de investigar as práticas dos judaizantes entre os cristãos-
velhos já radicados aqui, tal devassa veio revelar os segredos mais ocultos da sociedade
da Colônia. Nunca tantos fatos e segredos foram reunidos, sob forma juramentada,
fornecendo ao analista social dos dias atuais um retrato vivo da vida doméstica e social
os pr m ros nos olon z o portu u s ‖
foi gradativa a ampliação de seus objetivos até buscar diversos tipos de comportamentos
e crenças. As heresias em matéria de fé juntaram-se feitiçaria, bruxaria, sodomia,
bigamia, blasfêmia, proposições, desacato e problemas diversos de outras sexualidades.
(NOVINSKY, 1987, P. 92)
Dito isso, é sabido que as perseguições da Inquisição não eram apenas para
aqueles que pregavam outra fé, como também outros costumes e práticas atrelados
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naquele cotidiano, a exemplo, do que já foi mencionado, a Igreja invadia o cotidiano das
pessoas. Ao adentrarmos no reino da feitiçaria, podemos percebermos o quanto aquelas
mulh r s ―m l t s‖ or m m ltr t s nun s tortur s por ont s
condutas dessas mulheres.
Narra Souza e Silva (2012) que muitas dessas mulheres eram consideradas
damas da magia, ao analisar casos de mulheres feiticeiras residentes na Capitania de
Pernambuco. Algumas dessas mulheres, prestavam-se a serviços relativos ao amor,
mulheres possuidoras dos segredos capazes de inclinar vontades e propiciar amores
desejados, muitas delas já eram degredadas do Reino por usarem esses saberes.
A autora analisa ainda que como a Igreja se inseria nesse contexto, quando
tentava dizer as pessoas como deveriam lidar com seu corpo e sexualidade. Isso porque
se acreditava que, assim como a alma, o corpo também deveria ser casto e puro para que
os fiéis alcançassem a salvação. Sabemos que a vigilância e repressão Eclesiástica não
foram tão eficazes devido ao vasto território da América Portuguesa e dos processos em
que aparecem os padres como investigados.
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A autora nos traz reflexões, de como era visto o Brasil em seu passado colonial,
que fora através do sincretismo religioso adotados pelos povos em que habitavam no
Brasil, teve-se de maior alvo de acometer às figuras femininas, o elemento feminino foi
apresentado com mais ênfase nos processos inquisitoriais, pois muitas mulheres que
viviam sozinhas, ou até mesmo trabalhavam para se auto sustentarem eram consideradas
― rux s‖ ou prost tut s n olôn portu u s Am r Ass m s m s st v m
muito ligadas ao conceito de prostituição. (SOUZA, L. M. O Diabo, 97-98)
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A ré irá ao público a auto público em corpo com uma vela acesa na mão e com uma
carocha infame na cabeça, ficará em pé enquanto se celebrar a missa e ouvirá ler a sua
sentença, será embarcada para o reino, cumprirá penitencias espirituais, instrução na fé
e pagamento de custa. (TRIBUNAL DO SANTO OFICIO, Inquisição de Lisboa, proc.
10748)
Nas denúncias feitas a Maria Gonçalves Cajada, consta que ela praticava
t r nt n ― s r rt o o‖ A lustríss m t r V ol nt C rn r
da Capitania da Bahia foi pega pelo Licenciado Heitor Furtado e, em seus processos
declarou-se fazer pactos diabólicos com Maria Gonçalves Cajada de que
[...] ela era feiticeira diabólica e fazia feitiços com ajuda dos diabos, e lhe mostrou uma
chaga em um pé todo inchado, e lhe disse que em certos dias da semana os diabos lhe
tiravam daquela chaga um pedaço de carne e quando ela chamava os diabos, se lhe não
v mu t o up o lh t r v m l nt o t h rn ‖ ‖ op o om r
de mergulho tirar certas cousas para fazer feitiços, e que com feitiços sabia e fazia o que
queria. (CONFISSÕES DA BAHIA, 119- 121)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COZER, Priscilla. As práticas mágicas nas Minas Gerais do Século XVIII. XVI
Encontro Regional de História. Universidade Estadual do Paraná/PR. (2014).
GINZBURG, Carlos. História Noturna – decifrando o Sabá. 2ª ed. São Paulo:
Companhia das letras, 1991.
___________________. O queijo e os vermes. São Paulo: Companhia das letras, 2006.
SAMPAIO, Juliana Cunha; SILVA, Kleber. Mulher e feitiçaria na América
Portuguesa no século XVI: cotidiano, magia e inquisição. X Encontro Estadual da
Anpuh – PE. História e Contemporaneidade, articulando espaços, construindo
conhecimentos (2012).
SOUZA, Laura de Mello e. O Diabo e a terra de Santa Cruz. São Paulo: Companhia
das Letras, 1986.
DEL PRIORE, Mary. Ao sul do corpo: condição feminina, maternidade e mentalidade
no Brasil Colônia. São Paulo: Editora UNESP,2009.
NOVINSKY, A. O Tribunal da Inquisição em Portugal. Revistas da Unidade de São
Paulo. São Paulo, (5): 91-98, jun. 1987.
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COMUNICAÇÕES ORAIS
gutierrefariasalves@gmail.com
1. Problemática inicial
Por muito tempo caracterizaram o Brasil como um país pacífico. Os intelectuais
do IHGB e muitos cientistas sociais, a posteriori s r v r m ―sort v n ‖ qu
tínhamos em nascer em um país sem vulcões, sem guerras e com abundância nos
recursos naturais. O marco inicial deste Brasil imaginário foi o contato harmonioso
entre Colonizadores e Nativos, que se relacionaram a partir das primeiras trocas
comerciais.
Assim, por intermédio dos textos literários, o historiador pode mergulhar nos
costumes de um povo, na vida social e política de uma época, nos conflitos entre
gerações distintas, e também nos sonhos e esperanças de uma Classe Social. No entanto,
não devemos ver tais textos como cópias de uma realidade, mas como representações
(verossímeis ou não) de um dado contexto histórico.
314
―M n no En nho‖ pu l o m 93 o pr m ro Rom n o s r tor p r no Jos L ns o
Rego.
315
Atu lm nt p rt po o rupo P squ s : ―H st r L t r tur M m r :R m s x on
Am r L t n ‖ oor n o p lo pro ssor Dr G rv o B t st Aranha, na UFCG.
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Confesso que conheci a obra de José Lins do Rego tardiamente, após 27 anos de
existência. O primeiro livro que li foi O Moleque Ricardo. Li não: devorei. As aventuras
do Moleque na cidade foi o ponto de partida para buscar conhecimento sobre o aporte
―Z L ns‖ omo h m m os ínt mos D nt o om r por or m ronol
de publicação, sendo assim, Menino de Engenho foi o segundo livro que conheci desse
extraordinário autor.
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Neste sentido, ao ler e reler a obra percebe-se que todo o enredo é marcado por
autoritarismos, que se expressa de várias maneiras, e atravessam – direta ou
indiretamente - a vida de Carlinhos.
Como já frisamos, Menino de Engenho foi publicado em 1932, ou seja, isto nos
leva a conceber que 44 anos após o fim da Escravidão, os afrodescendentes ainda não
t nh m s o v m nt n luí os n so r s l r Os tos um ― ol o
ons rv or ‖ (COSTA, 2010) e o lugar social dos descendentes de escravizados nesse
contexto, podem ser sentidos assim que o menino Carlinhos chega de trem, ao engenho
do seu avô:
E na primeira parada deixamos o trem, com grande saudade para mim.
Na estação estava um pretinho com um cavalo, trazendo umas
esporas, um rebenque e um pano branco. O meu tio estendeu o pano
branco na anca do animal, montou, e o pretinho me sacudiu para a
garupa (REGO, 2018, pg. 30)
Para Carlinhos existia uma harmonia social entre senhores e empregados, e seu
avô não era um senhor cruel, pois dava comida, roupa e moradia. Apanhavam só
―qu n o m r m‖ r nt m nt os ―n ros Ursul no qu to m nh l v v m
um h t n port s nz l p r squ nt r o orpo‖ (REGO 8 p 9 )
Em uma dessas ocasiões, o avô José Paulino reflete sobre o Treze de Maio, o dia
da abolição. Consoante ele, este evento não trouxe nada de bom para os negros
alforr os: ―N o m s u um n ro s P r st nt po r ol o n o s rv u p r
nada. Vivem hoje comendo farinha seca e trabalhando a dia. O que ganham nem dá para
oB lh u‖(REGO 8 p ) m s m rto s nt o o om p r os s nhor s
Engenho já qu ―s v m nh r nh ro m ú r om ol o Tu o o qu z
nt s r pr ompr r v st r os n ros‖ (REGO 8 p )
Sendo assim, o Brasil Pós-Sistema Escravista era marcado tanto pelo Racismo,
quanto pela desigualdade social, já que os Direitos Sociais não eram fornecidos pelo
Estado, deixando a população mais pobre, e à mercê do autoritarismo/benevolência dos
coronéis e das intempéries da natureza. Esse fato evidencia-se quando Carlinhos recorda
uma grande enchente ocorrida no Engenho Santa Rosa que culminou na destruição de
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Neste caso, já que a atuação do Estado Brasileiro era ineficiente, a partir de uma
ideologia liberal conservadora, os coronéis é quem possuíam o poder de barganha,
fornecendo algum tipo de ajuda social em troca de voto e submissão dos estratos
inferiores. Além disso, tinham autoridade de Mando e Desmando, pois através do Poder
econômico tinham a legitimidade da violência e da administração – não só dos
Engenhos –mas também das cidades e dos estados Brasileiros.
José Paulino gostava de gritar com os empregados, dar ordens, dizer que ia
― ot r pr orr r‖ qu l s qu n o qu r m tr lh r qu r m pr u osos Em su
propriedade quem mandava era ele, e todos o procuravam quando tinham algum
problema e precisavam de alguma solução. Foi o que aconteceu com a mulata Maria
Pia, que, supostamente, teria perdido a virgindade com Chico Pereira, como este não
quisera casar-s o Coron l ―m n ou ot r o r no tron o‖ (REGO 8 p 63)
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Doutor Juca já era conhecido pelos casos sexuais com algumas mulheres do
En nho D or o om Z Gu s ―pro ssor o s s ru ns‖ C rl nhos o outor
―m n v ‖ m vár s m n n s r o Isto s mulh r s r m vistas pelos homens
como objetos sexuais, que serviam para o prazer masculino. Além disso, sofriam
violência física, como a de Judite, uma das primeiras professoras de Carlinhos:
― nqu nto u v soz nho n s l om m nh rt n m o ouv no nt rior da casa
um ruído de pancadas e uns gritos de quem estivesse apanhando. Compreendi então que
m nh l Ju t p nh v o m r o‖ (REGO 8 p 54)
317
A história brasileira não teve grandes rupturas ou Revoluções (seja Burguesa ou Socialista). Todos os
projetos que, de algum modo, pensaram em romper, total ou parcialmente,as tradições que privilegiavam
os estratos superiores, foram duramente reprimidas, seja no Período Colonial, Imperial ou nas diversas
fases do Período Republicano.
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Velha Totonha é uma contadora de histórias. Histórias que serviam não apenas
para entreter, mas que davam sentido para a vida daqueles que a escutavam. Ela, de
or o om C rl nhos n rr v so r ―lo som ns qu om m í o ms n u
r n s‖ m s o qu s t mát s or s r orm ont r qu h m v
a atenção do pessoal do Engenho, dos empregados, e do povo que tinha poucos
divertimentos. Ela era, então, a telenovela das pessoas comuns do início do século XX.
Su l nh m r ou m m r C rl nhos p r st ―h st r
madrasta que enterrara uma menina era sua obra-pr m ‖ (REGO 8 p 7 ) Em
resumo, trata-se de um pai que saíra para viajar e deixou sua filha com a madrasta. A
madrasta, que tinha ciúmes do marido, passou a explorar a pobre menina, forçando-a a
tr lh r ―sol sol‖ om núm ros z r s om st os C rto ―m r st
mandou que ela ficasse debaixo de um pé de figueira, com uma vara na mão espantando
os s ás s rut s‖ (REGO 8 p 73) A m n n orm u Fo s ulp p r
que a madrasta desse-lhe uma surra de matar, enterrando-a viva, na beira do rio. Quando
o pai chegou de viagem, a madrasta contou que a menina adoecera e que morreu algum
tempo depois que ele partira. Entretanto, certa manhã, um capineiro escutou uma voz de
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Significa dizer que todo o imaginário social era marcado pela violência. O
autoritarismo não era apenas do Coronel com seus empregados, do marido que batia na
mulher, das crianças que maltratavam os animais318.
Considerações finais
318
Carlinhos rememora com prazer a matança de arribaçãs (capítulo 9) e de passarinhos (capítulo 25),
porém, vale salientar que, nesse contexto, não existia uma sensibilidade para com o direito dos animais.
Nesse sentido, era comum para as crianças da época divertirem-se maltratando animais domésticos ou
selvagens.
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Neste caso, entendemos a literatura enquanto fonte histórica, não como um mero
documento auxiliar. É importante lembrar que a literatura se caracteriza pela exploração
da linguagem, onde o literato tem uma margem de liberdade maior que o historiador, já
que o ultimo tem uma preocupação com o verossímil.
Como fica evidente em todo o exposto, entendemos que existem vários Brasis
representados em Menino de Engenho: O Brasil racista e desigual que submetia os
descendentes de escravizados, os pobres em geral, e as mulheres, ao poder dos Coronéis
e seus herdeiros. E, por mais que as memórias de Carlinhos - que se confundem com as
memórias de Zé Lins - sejam, por vezes, idealizadas a partir da figura do Engenho do
avô José Paulino, cabe ao historiador buscar informações daquilo que não foi dito
diretamente pelo autor.
Sabemos que existem outras interpretações acerca da obra, mas para nós é
urgente trazer que - no diversificado Brasil que encontramos nas memórias de Carlinhos
- o autoritarismo se fez/faz presente. Apesar de descrever um mundo Patriarcal que
estava em decadência no contexto do nordeste brasileiro, ainda se encontravam os usos
e abusos de violência, em suas diversas formas.
319
Segundo Ginzburg (1647 – 2007), a literatura é imprescindível para o trabalho do historiador, pois a
p rt r ― s n rr s o possív l xtr r os t st munhos m s u os por m m s pr osos
justamente porque se trata de n rr s o‖GINZBURG C rlo P r s 647 p 84: Um diálogo
sobre ficção e história. IN: O fio e os rastros: verdadeiro, falso e fictício. Tradução de Rosa Freire
d'Aguiar e Eduardo Brandão. Companhia das letras, 2007.
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Bibliografia
ARANHA, Gervácio Batista. História e representação hoje: por uma nova mímese?
In: ARANHA, Gervácio Batista; FARIAS, Elton John da Silva (org). Epistemologia,
historiografia e linguagens. Campina Grande: EDUFCG, 2013,p. 27-46.
COSTA, Emília Viottida.A abolição. 9 ed. – São Paulo: Editora UNESP, 2010.
DANTAS, Cauby. Gilberto Freyre e José Lins do Rego: diálogos do senhor da casa
grande com o menino de Engenho. Campina Grande, EDUEPB, 2015.
REGO, José Lins do. Menino de Engenho. Apresentação Ivan Cavalcanti Proença.
110ª Ed, - Rio de Janeiro: José Olympio, 2018.
320
Escrito na página do facebook do autor:
https://www.facebook.com/poetasergio.vaz2/posts/1393902717355808/ acessado em 11 de Novembro de
2019.
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985
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dantasaurelio@hotmail.com
321
Em meados do século XIX o Brasil começa a abraçar com simpatia as mais variadas tendências
ideológicas ancoradas no positivismo.
986
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Antônio Conselheiro iniciou sua peregrinação pelo sertão, pregando suas ideias
igualitárias em 1874. Foi atacado pelo clero, perseguido pelos latifundiários, preso,
espancado pelas autoridades monárquicas vários anos antes da proclamação da
Republica.
322
Exemplos típicos desse autoritarismo se deram em acontecimentos como A Revolta da Vacina, As
medidas higienistas de Pereira Passos nas Ruas do Rio de Janeiro e a repressão aos movimentos
populares do Contestado e Canudos.
323
Vale salientar que a Eugenia estava em voga nas discussões dos cientistas brasileiros e perdurou ate a
década de 1940.
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Quando Euclides da Cunha partiu para Canudos como representante do Estado de São
Paulo acreditava que a Guerra no sertão da Bahia tinha como objetivo a restauração da
monarquia324.Não tardou porém, em verificar o seu erro. E disse categoricamente em Os
Sertões qu ― o Cons lh ro s us partidários não traduzia o mais pálido intuito
politico: o jagunço é tão inapto para aprender a forma republicana como a monárquico-
onst tu on l‖ (CUNHA 3 p9 )
Antônio Conselheiro não foi um fanático nem um beato manejado por bandidos que
não sabiam ler ou escrever. Foi o fundador de Canudos e dirigente incompatível da
r s stên mpon s n m or ― u rr so l qu lou o s rt o o p s‖
(MONIZ,1982,p.14)
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busca de trabalho nos seringais amazônicos. Algumas cidades de Recife e Fortaleza, que
se modernizavam nessa época criaram mecanismos de controle para evitar que esses
pobres chegassem a tais espaços. Nó Ceará, por exemplo, as elites das cidades
metropolitanas criaram campos de concentração para barrar a chegado dos
‗l l os‘326. É nesse clima de dor, miséria e sofrimento que eclode o movimento
messiânico de Canudos:
326
Raquel de Queiroz narrou essa tragédia da seca em seu Romance O Quinze.
327
Nessa obra Platão idealiza seu sonho de elaboração de um Estado racional liderado por “reis
filósofos”
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É nesse espirito de revolta assolado pela seca e pela miséria que eclodirá o movimento
messiânico de Conselheiro, indicando a resistência do sertanejo perante tais mazelas. Os
adeptos da causa de Conselheiro se rebelam contra a cobrança de impostos. Segundo
Euclides da Cunha, o primeiro incidente do gênero ocorre em Bom Conselho, num
movimentado dia de feira, quando estava reunida ali não só a população da localidade,
m s su s r on z s O Cons lh ro m n ― rr n r os t s o r n s
impostos om l s z um o u r m pr pú l ‖ (FACÓ 963 p88)
A tentativa de criar uma comunidade igualitária não tardaria em despertar o temor dos
fazendeiros que viviam da exploração dos camponeses. Seria perigoso para eles se as
ideias de Conselheiro se entendessem pelo sertão e surgissem outros Canudos. O clero
p rm n host l p s r Cons lh ro ont nu r l I r j C t l ―to os os s us
seguidores submetiam-se às principais exigências dos párocos: casavam-se no religioso,
batizavam s us lhos m às m ss s os om n os‖ (MONIZ 98 p 34)
A literatura de testemunho é um conceito que, nos últimos anos, tem feito com
que muitos teóricos revejam a relação entre a literatura e a realidade. O conceito
t st munho slo o ‗r l‘p r um ár som r T st munh -se, via de
regra, algo de excepcional, e que exige um relato. Esse relato não é só
330
O presente termo tem uma relação especifica com as obras escritas durante a Segunda Guerra
Mundial, a chamada literatura da Shoa.
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Assim sendo, aquele que testemunha uma situação de catástrofe em sua narrativa é um
sobrevivente da morte, e, portanto tem a necessidade de narrar para afugentar a sua
― or‖ Al m o m s o s r tor o n rr r os ont m ntos st t os s carnificinas
ssum t m m um omprom sso t o om v r po s s u t xto v ―m nt r
m m r pr s n os mortos r um túmulo l s‖ (SELIGMANN 3 p 55)
331
Não queremos aqui cair no anacronismo, pois os contextos são diferentes.
332
Pensadora de origem judaica que escreve sobre temáticas ligadas a segunda Guerra e a violência de
Estado.
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O tema do Mal, em Arendt, não tem como pano de fundo, a malignidade, a perversão
ou pecado humano. A novidade da sua reflexão reside justamente em evidenciar que os
seres humanos podem realizar ações inimagináveis, do ponto de vista da destruição e da
morte, sem qualquer motivação maligna.
Euclides registra que Canudos se transforma numa verdadeira cena dos horrores, na
medida em que a morte não causava mais espanto; as pessoas conviviam com ela e as
or ns os o s r m qu n o p rm n ss n nhum v no rr l: ―to nt s
adaptara a situação. O espetáculo diário da morte deram-lh spr o up o v ‖
(CUNHA, 2003, p.479). Desse modo, o Estado republicano que levaria a razão aos
― n r os‖ ― ár ros‖ o s rt o no no n l lut onsol n o
993
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333
Termo cunhado pelo filosofo camaronês Achile Mbembe ao analisar a soberania, o biopoder e a
politica da morte nos Estados Contemporâneos.
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Enlear ao pescoço da vítima uma tira de couro, num cabresto ou numa ponta de
chiqueirador; impeli-la por diante; atravessar entre as barracas, sem que ninguém
se surpreendesse; e sem temer que se escapasse a presa, porque ao mínimo sinal
de resistência ou fuga um puxão para trás faria que o laço se antecipasse á faca e
o estrangulamento à degola. Avançar ate a primeira covanca profunda, que era
um requinte de formalismo; e, ali chegados, esfaqueá-la. (CUNHA, 2003, p.494).
Após tais cenas de carnificina narrada por Euclides da Cunha, é impossível não nos
p r unt rmos: ―o qu z um ser humano normal realizar os crimes mais atrozes em
nom l ou or m?‖ A r spost stá no m l n l Tr t -se de uma prática do
mal promissora nas sociedades massificadas no qual os indivíduos estão condicionados.
Vivendo como animal laborante os homens burocratizam as suas obrigações e se tornam
desse modo incapazes de pensar as consequências das ordens dadas pelos seus
superiores ou grupos. Dessa forma, assim como Eichmann foi incapaz de pensar sobre
seus crimes contra os judeus, as tropas republicanas em nome da Lei renunciaram o
pensamento que distingui o bem do mal, cometendo talvez uma das piores chacinas já
registrada na história do Brasil.
Referências Bibliográficas
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rayanprofhistoria@gmail.com
INTRODUÇAO
IMAGINANDO O NORDESTE
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disputam o direito de delimitar o que é uma região. (BOURDIEUR, 1989). Em que pese
a multiplicidade de caminhos possíveis, nosso olhar será pautado pela história. Neste
sentido uma pergunta é posta quase que de imediato: Como surgiu o Nordeste?
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Conceituar as representações desta forma não significa dizer que seu estudo deve
ser feito pensando o cultural enquanto instancia separada do social. Pesavento, citando
n r t m nt C stor s n qu s ―[ ] r pr sentações teriam, [...], um fundo de
apoio na concentricidade das condições reais de existência. Ou seja, as idéias-imagens
precisam ter um mínimo de verossimilhança com o mundo vivido para que tenham
t o so l p r qu s j m rív s‖ ( 995 p )
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criação, uma vez que seus temas, motivos, valores, normas ou revoltas são fornecidos
ou su r os p l so s u t mpo E st s qu l s l m‖ ( 989 p )
Diante de tais definições acredito ser possível pensar que o Nordeste, enquanto
região, foi instituído imaginariamente. Partimos do pressuposto de que as múltiplas
representações formuladas a respeito da região, especialmente a literatura regional de
30, formaram um sistema de ideias-imagens a respeito da mesma.
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histórico, marcado pelo atraso nas relações sociais, nas formas de exercício de poder,
nas expressões religiosas e etc. (BERNARDES, 2007)
A força deste preconceito é tão grande que torna difícil construírem novas
representações a respeito da região. Não obstante esta situação, existem discursos que
visam enfrentar estes preconceitos. Analisar dois destes discursos é o objetivo da
próxima seção deste artigo.
É neste –e sobre este - contexto que Ronaldo Correia de Brito escreve suas
obras. O escritor, nascido no sertão do Ceará mas radicado em Pernambuco, formou-se
médico pela UFPE e foi escritor residente na universidade de Berkley. Publicou, entre
outras coisas, três livros de contos, um de crônicas e três romances. Neste artigo iremos
nos centrar em dois de seus romances: Galileia (2008) - livro vencedor do prêmio São
Paulo de literatura- e Dora Sem Véu(2018).
romance ele volta com outros três primos para a fazenda onde nasceu em virtude do
aniversário e do adoecimento do avô, Raimundo Caetano.
Já em Dora sem Véu o escritor assume a voz feminina para narrar a volta de uma
socióloga à região onde seu pai nasceu. Francisca percorre as ruas de Juazeiro em busca
de Dora, a avó que nunca conheceu e que, até pouco tempo, sequer sabia que existia.
Em ambos escritos fica latente uma das principais características de Brito: o seu
―olh r l t rár o‖ ou s j su p r onstru r ―[ ] m t r l p r
so orm um t xto ‖ (PESAVENTO p ) Extr m m nt t nto às
questões que permeiam o mundo à sua volta, especialmente no que está relacionado ao
Nordeste, ele faz constantemente uso da história e da análise social para construir seus
escritos.
O que parece ficar evidente é que o autor busca mostrar que a globalização,
entendida neste trabalho como processo de integração econômica e sociocultural entre
as sociedades, chegou ao mundo sertanejo e está mudando as formas de agir e de pensar
das pessoas daquela região. Esta conexão é repleta de contradições e tensões pois ao
mesmo tempo em que moderniza, causa uma série de problemas.
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A nova atividade não trouxe prosperidade. Pelo contrário, guiados pelo olhar de
A on s po mos p r r r o: On nt s x st r qu z l v st ―[ ] o
curral vazio ao lado da casa, velho, sem vacas nem bois, sem cheiro de esterco, as
p r s smoron n o s tr v s p rt s‖ (BRITO 8 p 35) S tu s s m lh nt s
s o o s rv s por Fr n s qu m n r po t ―[ ] nx r pl n tu
ms r m torno o l xo s n o p l s n ost s r stos m to po s ‘ u r hos
que no passado eram exuberantes e agora são indefinidos como as pinturas de um
Mon t v lho qu s o‖( BRITO 8 p 5)
Para Santos
Seja qual for o ângulo pelo qual se examinem as situações
características do período atual, a realidade pode ser vista como uma
fábrica de perversidade. A fome deixa de ser um fato isolado ou
ocasional e passa a ser um dado generalizado e permanente. [...] O
desemprego é tornado algo comum. Ao mesmo tempo, ficou mais
difícil do que antes atribuir educação de qualidade e, mesmo, acabar
com o analfabetismo. A pobreza também aumenta.(2010, p.58-59)
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p lo r o já qu o t l on rou o ―N m p rp Po p ros u or
t st r P ?P n o! El v u n t l v s o hou on to‖ (BRITO 9 p38)
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Diante das passagens analisadas acima é possível perceber que Brito realiza, em
sua literatura, um questionamento a respeito da própria imagem do Nordeste. O autor
visa, ao mesmo tempo, combater os estereótipos existentes a respeito da região e
problematizar as dificuldades e problemas enfrentados pelos habitantes da mesma.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PENNA, Maura. "O que faz ser nordestino: identidades sociais, interesses e o
"escândalo" Erundina".São Paulo: Cortez, 1992.
1007
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1008
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PÔSTER
INTRODUÇÃO
A partir dos documentos digitalizados pelo Projeto Nacional Catálogo Geral dos
Manuscritos Avulsios e em Códices Referentes à Escravidão Negra no Brasil Existentes
no Arquivo Histórico Ultramarino. Os documentos arrolados, são ofício do governador
Tomé Joaquim de Costa Corte Real para o Conselho Ultramarino Português que remete
as relações dos navios que poderiam ser empregados no comércio de escravos da Costa
da Mina e Angola para a Capitania de Pernambuco na segunda metade do século XVIII.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
As arqueações, são as medidas que cada navio pode transportar, esse valor é
dado em toneladas. Neste sentido, a lei das arqueações foi promulgada por Pedro II de
Portugal em 1686, com intuito de fazer com que o comércio de escravos fosse
or n z o po s h v mu t s ―voz s‖ so o r no portu uês qu st v m
reclamar dos maus tratos que os escravos sofriam, uma vez que se morria muitos
escravos em decorrência das más condições de transporte nos navios negreiros
(OSÓRIO, 2015), por outro lado se tem um debate na historiografia se realmente essa
era a finalidade das arqueações, uma questão humanitária ou uma questão
econômica/lucrativa. Os navios que eram empregados no comércio de escravos no reino
português, sendo a lei das arqueações deveriam ser arqueadas pelos ministros ou
oficiais, tanto no porto de origem, quando no do destino. Esses indivíduos que
arqueavam os navios, eram pessoas indicadas pela aristocracia portuguesa, como cita
Schw rt z ―A un ás strutur m n str t v ju l portu u s r o
Conselho. Cada Conselho mantinha um determinado número de funcionários que
x r m s un s m n str t v s ju s n ssár s à v ur n ‖
(SCHWARTAZ 2011, p. 23) Esses indivíduos da aristocracia que na maioria das vezes
não tinha formação para ocupar certos cargos, como o de juiz nas cidades e cargos
administrativos, mas eram homens brancos, que mais uma vez ressalto, ligados a
r sto r qu qu r m ―s rv r‖ coroa. Em todos os portos havia essa pessoa que
ordenava a partida e a chegada dessas embarcações como cita a o oficio do governador
1012
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Pode observar-se através do relato da fonte, o papel que havia nas mãos dos
arqueadores, pois eles eram quem faziam se cumprir a lei, mas como afirma
RODIGUES (2005) mesmo assim não havia o cumprimento da lei das arqueações por
parte dos comerciantes, mas segundo a lei os navios deveriam ser arqueados na saída e
na chegada dos navios. Com isso subtendi-se que há possibilidade de corrupção dos
responsáveis pelas arqueações.
Por outro lado, havia o tempo que cada embarcação demorava a ir dos portos de
África até o seu destino, que poderia demorar 120 dias nos séculos XVI - XVII e
depois 30 a 20 dias nos séculos XVIII e XIX, isto porque, a própria Lei das arqueações
possibilitou uma modificação técnica nos navios negreiros que possibilitaram uma
diminuição no tempo de transporte. Neste sentido, cabe pontuar que as arqueações
contribuíram para uma eficiência na velocidade das embarcações e outras
1013
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especificações, como mostra a fonte, quando fala sobre os navios que saiam de
Pernambuco para África para transportar escravos, os navios
que pode e deve sustentar com largueza em aguada e mantimentos cada uma
das referidas toneladas de porão pela outra o número de escravos, que pode
trazer sem opressão, e perigo cada tonelada de coberta, sai das pontes
naquelas embarcações, que tivera, de sorte que tenha espaço necessário para
se moverem sem aperto, e o ar para respirarem com liberdade e desafogo,
que é indispensavelmente necessário para alimentação da vida humana, e
ultimamente as copias de todas as leis e ordens, que até o presente se tem
expedido por este governo. (AHU_ACL_CU_015, Cx.87, D.7129).
É certo que nem todos os navios que aportavam na costa brasileira eram
arqueados pela lei, muitas vezes eram transportados para praias desertas em
embarcações menores. Estes por sua vez, traficavam sem respeitar nenhuma regra e
mesmo os que seguiam a lei das arqueações tentavam de qualquer forma conseguir um
lucro maior com o comércio pensavam em táticas e
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Fonte:
Referências Bibliográficas:
ALMEIDA, Suely Creusa Cordeiro de; SOUSA, Jéssica Rocha de. O Comércio
de Almas: As rotas entre Pernambuco e costa da África-1774/1787. Ultramares, nº 3,
jan-jul 2013.
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1016
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COMUNICAÇÃO ORAL
jjossenildo@gmail.com
ecalima@terra.com.br
334
Professora orientadora do trabalho
1018
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Trabalhar com fontes como os sites de redes sociais, como é o facebook, guarda
os seus perigos e, por vezes, limitações. Isso porque, esses sites oferecem ao usuário
não apenas a possibilidade de se mostrarem ao público, mas também de manipularem a
informação, tanto de sua autoria quanto das demais pessoas que venham a publicar
textos e imagens. O próprio facebook tem como um dos seus dispositivos, um ícone que
permite ao internauta, que desfruta de uma página em sua rede, deletar as suas
informações publicadas, bem como a informação publicada por outros em sua página.
1019
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Buscando seguir esses pontos, podemos recorrer a autoras como Recuero (2009)
que faz um importante debate sobre esses novos veículos de comunicação, enfatizando
n s omo ―sites r s so s‖ Tr t n o sp m nt ss
qu st o l rm : ―os sites de redes sociais seriam uma categoria do grupo de
softuawares sociais, que seriam softwares om pl o r t p r omun o‖
(RECUERO, 2009, p. 102).
Historicamente, vemos que o facebook foi lançado em 2004 nos Estados Unidos
pelo estudante Mark Zuckeberg, no período em que estudava na Universidade de
Harvard, recebendo originalmente o nome de thefacebook. De acordo com Recuero
(2009), o objetivo inicial do facebook era facilitar a comunicação entre alunos que
estavam saindo da escola básica, secundário, para as universidades, sendo um
instrumento que facilitaria a comunicação entre esses estudantes que entrariam num
momento crucial das suas vidas: a mudança para outras cidades e outros espaços de
relação social.
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Na figura acima, aparece Wilson (no centro), à sua direita, sua esposa Lúcia e, à
esquerda, a filha do casal, Marianna. A publicação foi efetuada nas vésperas do novo
ano, 2015, e faz parte do cículo de homenagens que o ex-governador divulgou na sua
linha do tempo durante esses últimos momentos de 2014. O texto escrito, caracteriza-se
pelo ort unho r l oso on W lson s j o povo votos ― mor r sto‖
― sp r n s prosp r s‖ no no 5 rm n o s r ss o s jo s u to
a sua família.
Usar sites de redes sociais para atestar uma posição familiar, calcada numa visão
religiosa, não é uma iniciativa apenas do político Wilson Braga. Até porque, cada vez
mais vemos a popularização dos dispositivos de acesso a esses sites, como o celular e o
tablet, que atigem hoje um número cresente da população mundial. Com esse atual
crescimento do acesso à internet e, particularmente, de sites de redes sociais como o
antigo Orkut e o Twiter e os novos facebook e Whatsapp, os políticos têm se apropriado
desses instrumentos de comunicação para promoverem a sua imagem pública.
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Figura 23: Wilson apresentando para os amigos do facebook a sua filha Marianna
Fonte: http://www.facebook.com/wilson.braga.104?fref=ts.
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REFERÊNCIAS
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elissandra_maria@hotmail.com
335
Os documentos do Fundo SNI- Agência Recife, bem como os documentos que foram produzidos ou
circulados pela ASI/UFPB, encontram-se arquivados no acervo da Comissão Estadual da Verdade e
Preservação da Memória do Estado da Paraíba (CEVPM-PB), na Fundação Casa de José Américo de
Almeida – João Pessoa/PB.
1031
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336
Sobre o termo ―mo rn z o ons rv or ‖ o pro sso r v o ss proj to mo rn z or p r s
universidades durante a ditadura miliar, ver: MOTTA, Rodrigo Patto Sá. As universidades e o regime
militar: cultura política brasileira e modernização autoritária. Rio de Janeiro, Editora Zahar. 2014.
337
Chamadas inicialmente de Assessorias Especiais de Segurança e Informações (AESI), as Assessorias
também foram chamadas, posteriormente, com uma nova reformulação a partir de 1975, de Assessorias
de Segurança e Informações (ASI). Como ambas as siglas são recorrentes tanto na documentação
analisada, quanto nas bibliografias existentes sobre o tema, utilizaremos as duas nomenclaturas ao longo
do texto.
1032
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Educação (MEC), que também fazia parte do complexo sistema de informações 338 que
visava manter o Estado autoritário informado. Com isso, as Assessorias, que surgiram
ou se consolidaram a partir de 1971, e, desempenharam papel indispensável no apoio a
repressão por meio da vigilância a comunidade acadêmica das universidades. Acerca
disso, Pereira (2016: 126), nos diz:
Vimos que Pereira (2016), realça a existência das AESI como parte integradora
do sistema de vigilância, além de destacar a eficácia que as Assessorias
desempenhariam a partir daquele momento no que tange ao levantamento de
informações, posto que, direcionavam e circulavam informações das e para as suas
r sp t v s DSI un on n o s un o utor omo um ― n l h rárqu o‖ N ss
sentido, as AESI presentes nas universidades, colaboravam no processo de triagem
ideológica, levantando informações sobre estudantes professores, funcionários e
entidades que fossem considerados subversivas.
338
Como isso, nos referimos a ampliação pela qual o SNI passou a partir do final da década de 1960.
Nesse processo, é de fundamental importância considerar a emergência do Ato Institucional Nº 5, que
demonstra o recrudescimento do regime a partir de medidas ainda mais repressivas. A partir do
recrudescimento, entendemos que os serviços de informações seguiram a tônica da repressão,
aumentando a necessidade de levantar informações no intuito de desbaratar movimentos considerados
subversivos. Com isso, surge o Sistema Nacional de Informações (SISNI), onde o SNI era o seu principal
órgão, além do SNI, o SISNI contava com outros órgãos setoriais, a exemplo dos Sistemas Setoriais de
Informações dos Ministérios Civis e Militares – uma verdadeira comunidade de informações. É desse
contexto que é criado o Plano Nacional de Informações (PNI); a Escola Nacional de Informações (EsNI);
as Divisões de Segurança e Informações (DSI) – ligadas aos Sistemas Setoriais de Informações dos
Ministérios Civis, e as Assessorias Especiais de Segurança e Informações (AESI), subordinadas as DSI.
Sobre a estrutura e atuação do SISNI, ver: FICO, Carlos. Como eles agiam: os subterrâneos da Ditadura
Militar: espionagem e polícia política. Rio de Janeiro: Record, 2001.
1033
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outra administrativa. Embora nem todas as assessorias espalhadas pelo país funcionasse
de forma plenamente igual, ao menos em tese, as ASIs operavam com até oito
servidores, funcionando em salas da própria reitoria. (MOTTA, 2014:199). Ainda de
acordo com o autor:
1034
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339
O Relatório Final da Comissão Estadual da Verdade e Preservação da Memória do Estado da Paraíba
(2017), traz os números e punições em forma de expurgos e afastamentos temporários relacionados a
alunos e professores UFPB durante o regime militar.
1035
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Em relação aos órgãos de informações, o projeto de abertura teria que lidar com
r n r r os n orm s x st nt ―G s l n o po n o nem desejando
extingui-los, precisava, ao menos, controlá-los‖ (FICO : ) O ―p r o
v rm lho‖ já n o r pr s nt v um r n m no nt nto o pr v r m nu o
1036
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[...] é preciso lembrar que o SNI foi bastante reforçado durante a gestão do
general Otávio Medeiros, justamente no governo Figueiredo, consolidador da
abertura [...] Como explicar, então, que o general-presidente responsável pela
fase final da abertura estivesse investindo tanto no SNI? A explicação
provavelmente decorre do fato de que seria relativamente mais simples
justificar a necessidade de um órgão central de informações – comum em
diversos países democráticos – do que um sistema de segurança. [...]
1037
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Como vimos, a recomendação estava pautada no alerta aos antecedentes dos que
tencionavam ingressar nas universidades brasileiras, portanto, diante dessa
recomendação os órgãos integrantes da comunidade de informações mantiveram-se
atentos, elaborando longos e detalhados históricos sobre pessoas consideradas suspeitas.
De acordo com Motta (2014), os grandes expurgos feitos nas universidades com a
colaboração dos serviços de informações ocorreram em grande escala nos momentos de
maior repressão do regime, e que, após passado esse período, as assessorias de
informações trabalharam muito mais no sentido de monitorar a comunidade acadêmica.
1 – Dados conhecidos:
- Realizou-se no dia 21 jun 75, em São Paulo, um Congresso Estudantil com
a finalidade de eleger a Direção Política do DCE/USP e reestruturar a União
Estadual dos Estudantes de SÃO PAULO e União Nacional dos Estudantes.
2- Dados Solicitados
- Informar a esta AESI se algum estudante dessa Unidade viajou para o
citado Encontro. Caso positivo, remeter o nome e a filiação.
- Outros dados julgados úteis. (AESI_UFPB_Pedido de informação nº
25/75. Acervo da Comissão Estadual da Verdade e Preservação da Memória
do Estado da Paraíba - Fundação Casa de José Américo).
1038
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340
A documentação analisada evidencia uma grande produção de informações, a partir do processo de
retomada do movimento estudantil, acerca de processos de eleição para entidades, listas contendo nomes
e dados pessoais de alunos que foram a encontros, bem como detalhes sobre as atividades culturais
organizadas por estudantes; o que colabora com o que a autora citada diz sobre o parcial consentimento
das atividades estudantis ter relação com uma possível forma de facilitar o controle sobre os passos dados
por esse seguimento e mantê-los dentro uma normalidade permitida.
1039
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341
Nos documentos examinados a ADUF/PB, entidade de representação de docentes criada em 25 de
outubro de 1978 (seção João Pessoa), figura em boa parte dos documentos como uma entidade suspeita,
comprometida com ideais de esquerda, sendo, portanto, suas atividades e membros vigiados pelos órgãos
de informações.
1040
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processo de demonstre das ASI não foi tão simples e uniforme. Segundo Motta (2014),
a proposta de extinguir as assessorias foi pauta nos encontros de professores e levada
aos reitores em algumas universidades, como foi o caso da UFPB. Todavia, a
ASI/UFPB permaneceu operante até 1984. Os documentos analisados até então,
evidenciam que o monitoramento a estudantes, professores e funcionários ocorreu até o
último momento de existência da ASI/UFPB.
ANTUNES, Priscila C. B.. SNI e ABIN: Uma Leitura da Atuação dos Serviços
Secretos Brasileiros ao longo do Século XX. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas
Editora, 2001.
1041
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Resumo: Este artigo busca compreender o que estava ao revés desse processo de
―r rtur ‖ mpr n o a partir de o penúltimo governo militar e solidificado em seu
último – sob a liderança do general João Batista Figueiredo. Traçaremos uma análise que
busque colocar em uma perspectiva crítica a forma que este processo foi guiado e suas
fragilidades em decorrência de múltiplas formas de violência que atingiram de forma direta
ou indireta vários brasileiros, fosse esta uma violência crua e evidente ou fosse ainda uma
violência contra a dignidade da condição de vida de milhões indivíduos.
“É para abrir mesmo e quem não quiser que abra, eu prendo e arrebento.”
342
Figueiredo Eleito oferece a conciliação. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, p.01, 16/10/1978.
1042
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343
ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposição no Brasil (1964-1984). Petrópolis: Vozes, 1984,
p.292.
1043
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344
Fome, patologia nacional. Folha de São Paulo. São Paulo. P.10, 28 de agosto de 1983.
345
ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposição no Brasil (1964-1984). Petrópolis: Vozes, 1984,
p.293.
346
IDEM.
1044
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Todavia, a chaga que corroborava com todo este estado de penúria, segundo
Maria Helena Alves351, referia-se ao mau uso extensivo da terra e a concentração de sua
posse. Desde o governo Geisel o governo já adotava uma postura de multiplicação de
347
Isto É, 14 de agosto de 1983, p.40 APUD ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposição no Brasil
(1964-1984). Petrópolis: Vozes, 1984, p.293-294.
348
Cada vez menor, a renda dos pobres constrói a penúria. Folha de São Paulo. São Paulo. P.10, 28 de
agosto de 1983.
349
Fome: “A solução é distribuir rendas”. Jornal da Paraíba, Campina Grande, p.02, 19 de Março de
1983.
350
Além de diminuir o cavalar êxodo rural da época que levou massivas quantidades de camponeses
expulsos do campo para a cidade. Pessoas sem emprego e que muitas vezes tonavam-se pedintes,
mendigos ou até passavam a viver na criminalidade.
351
ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposição no Brasil (1964-1984). Petrópolis: Vozes, 1984,
p.294.
1045
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Como efeito disto soma-se ainda aos efeitos da inflação galopante que era um
problema grave já no início do governo Figueiredo, quando seu índice atinge um pico
elevado353 em meados de agosto a outubro de 1980, como podemos constatar nas
matérias de jornais que denunciam o grande aumento do preço de alimentos essenciais
na mesa do brasileiro, como é caso do feijão, que passava a custar Cr$140,00 o Kg354.
352
IBIDEM, p.294.
353
Que já ultrapassava mais de 100%. Ao fim do ano a média da inflação seria de 110%.
354
"Feijão some da mesa dos pobres: Cr$140,00 quilo". Diário da Borborema. Campina Grande, p.01.
Dia 17 de Outubro de 1980.
1046
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Figura 1: Preço da carne continua subindo. Diário da Borborema. Campina Grande, p. 04. Dia 14 de
Agosto de 1980.
355
À redação. Jornal da Paraíba, Campina Grande, p.07, 19 de outubro de 1982.
356
Isto É, 14 de agosto de 1983, p.40 APUD ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposição no Brasil
(1964-1984). Petrópolis: Vozes, 1984, p.294.
1047
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E como bem retrata a charge de Kennyo, no Jornal da Paraíba, quem pagava por
tu o sso r o ―Z Povo‖ o tr lh or r s l ro o m s po r s vor o qu
tinha que arcar com o ônus e a desgraça de uma economia que o violentava dia após dia.
Essas matérias jornalísticas, charges e cartas de opinião de leitores só nos revelam a
gritante contradição da lógica econômica empregada pelo regime em uma política de
austeridade contra os mais pobres e de favorecimento aos mais ricos.
357
Fome, patologia nacional. Folha de São Paulo. São Paulo. P.10, 28 de agosto de 1983.
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1050
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358
PADRÓS, Enrique Serra. Conexão repressiva internacional: o Rio Grande do Sul e o Brasil na rota do
Condor. IN PADRÓS, Enrique Serra et al (org.). A ditadura de segurança nacional no Rio Grande do Sul.
Vol.3. Porto Alegre: Corag, 2010.
359
JOFFILY, Mariana. No centro da engrenagem: os interrogatórios na operação bandeirante e no DOI
de São Paulo (1969-1975). São Paulo: EDUSP, 2013, p.93.
1051
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data – desde 1962, quando explodiram uma bomba no pavilhão de uma exposição
comercial soviética no Rio de Janeiro, com participação de oficias360.
360
GASPARI, Elio. A Ditadura Acabada. – Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016, p.183.
361
Extrema direita assume em Minas a culpa. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro. P.18, 01 de outubro de
1978.
1052
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Quiçá, nas universidades, como relata Rodrigo Patto Sá Motta363, há vários casos
nos campi de todo o Brasil de agentes que perseguiam, ameaçavam alunos
(principalmente aqueles ligados a movimentos estudantis e sociais) ou proibiam certas
atividades como exibição de filmes, encenações teatrais ou atrações musicais, além de
t nt r o ot r l s p r DCE‘s ou DI‘s364 em plena reabertura.
Como um efeito dominó, uma série de atentados foi se espalhando pelo país
inclusive com novas variações, como as cartas bombas.
362
Bispo vê perseguição. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro. P.20, 01 de outubro de 1978.
363
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. As universidades e o regime militar. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
364
Na UFRN, por exemplo, foram proibidas exibições de filmes, houve interferência na escolha de
dirigentes do DCE e coação ostensiva a líderes estudantis (MOTTA, 2014, p.202). Na UFC, no fim dos
anos 1970, alunos de Engenharia Elétrica percebem a infiltração de um agente nas suas reuniões de
chapa para a eleição do Diretório Acadêmico (IDEM, p.204).
365
GASPARI, Elio. A Ditadura Acabada. – Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016, p.185.
366
IBIDEM, p.185.
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taxava como armação dos terroristas da esquerda que, inconformados com a derrota,
tentavam se vingar de forma covarde.
Para além destes atentados a estes órgãos, houve o famoso atentado do Rio
Centro, em 30 de Abril de 1981, que para a sorte de muitos foi frustrado graças ao
imprevisto acidental que fez com que a bomba explodisse no colo de um sargento
dentro de um carro, acompanhado de um capitão que se feriu gravemente, mas
367
Figueiredo tem firme compromisso com a democracia. Diário da Borborema. Campina Grande, p.01,
05 de outubro de 1980.
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sobreviveu. A bomba poderia ter feito várias vítimas, caso o plano tivesse ocorrido
como o planejado, já que no local estava acontecendo um show em comemoração ao 01
de Maio, com vários ícones da música brasileira e opositores convictos à ditadura como
Gonzaguinha, Gilberto Gil, entre outros e contava com aproximadamente 18 mil
pessoas. Como várias portas do lugar onde ocorria o show estavam estranhamente
fechadas, sobrariam apenas duas portas para esses milhares de pessoas passarem
desesperadas com as explosões e o possível escuro ocasionando um esperado
pisoteamento de até centenas de pessoas, gerando feridos e mortos.
Depois das bombas do atentado no Riocentro, Golbery, que era então ministro
da casa Civil do governo Figueiredo pede demissão devido ao episódio por saber da
participação de militares comandados pela linha dura contrária à distensão, que, embora
tenha fracassado o atentado, pôs em risco a vida de milhares de civis além de
representar retrocesso em relação à abertura política que tentou implementar desde
Geisel.
368
Polícia Federal prende 84 membros do PC. Jornal da Paraíba. Campina Grande, p.01, 14 de setembro
de 1982.
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Conclusão
Este último ponto, por sinal, é outro ponto vital para a conclusão desta pesquisa.
Observamos que com certo arrefecimento do regime militar, as formas de repressão e
violência se sofisticam. Passam a existir de duas formas: uma mais caótica e fora das
cadeias de comando, com as explosões a bomba e atentados sem autoria certa que surgia
como própria insatisfação de núcleos militares em direcionar o país rumo a uma
―r mo r t z o‖ A s un r n so os om n os ntr s s st mát os o
governo militar em que funcionavam justamente para manter o projeto distensor sempre
nos trilhos, reprimindo aqueles que tentassem extrapolar os limites impostos. Para tanto
369
“Polícia prende 3 dissidentes do PCdoB”. Jornal da Paraíba. Capina Grande. P.01. 03 de Janeiro de
1985.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOMES, Rômulo Gabriel de Barros & SILVA, Marcília Gama da. Humor em tempos
de chumbo: uma análise da censura durante a ditadura militar através das charges
publicadas em periódicos de circulação em Pernambuco IN Anais Eletrônicos do V
Col qu o H st r ―P rsp t v s H st r s: h stor o r p squ s p tr môn o‖
Luiz C. L. Marques (Org.). Recife, 16 a 18 de novembro de 2011. p. 1183-1193.
Disponível em: http://www.unicap.br/coloquiodehistoria/wp-
content/uploads/2013/11/5Col-p.1183-1194.pdf. Acesso em 06 de Agosto de 2018.
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RESUMO
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INTRODUÇÃO
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Acreditamos que propor tal interseção, tomando como caso para análise a
construção das imagens públicas da ex-Presidenta Dilma Rousseff e do Presidente Jair
Bolsonaro pelas mídias mencionadas, nos parece interessante na medida em que a
visibilidade nos meios de comunicação de massa é um fator fundamental na produção
de capital político nas sociedades contemporâneas. Em outras palavras, a mídia pode e
deve ser pensada como uma esfera de representação. Como um espaço privilegiado de
difusão de representações do mundo social e que, por isso mesmo, se estabelece como
momento de uma representação especificamente política.
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vida política. A autora acredita que a ideia de defender a presença feminina na política
baseia-se na lógica da política de presença, na crença de que as melhores representantes
para a população feminina são elas próprias.
Entretanto, as representações de que caberiam as mulheres se inserir na política
para alterá-la, ressignificá-la, imobilizam inúmeras possibilidades de compreender as
transformações na esfera política, impulsionadas pela entrada desse novo agente
político. Pinheiro (2007, p. 21) assevera que não há nada que garanta que a maior
presença feminina signifique maior defesa dos interesses femininos. Pelo contrário, por
essa lógica ocorre à naturalização de um fenômeno que é socialmente construído e
mesmo que demonstrem maior participação em áreas de maior vulnerabilidade da
sociedade e aos papéis que exercem dentro da esfera privada, não significa, porém que
exista uma espécie de vocação inata. Pinheiro (2007) complementa:
A noção de gênero constitui-se em um elemento central para a
explicação do comportamento das mulheres na política institucional.
Assim, há reconhecimento da existência de construções sociais a
definirem o que é ser homem e o que é ser mulher, e de que essas
mesmas construções orientam o estabelecimento de relações sociais,
onstru n o ―pr rên s‖ qu r sult m m omport m ntos e em
representações diferenciadas entre os sexos. (PINHEIRO, 2007, p. 21)
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Para iniciarmos uma análise mais detalhada sobre a capa e a manchete da capa
das Revistas IstoÉ, de 06 de abril de 2016 e de 06 de novembro de 2019 é preciso fazer
uma análise cuidadosa dos discursos construídos para dar conta dos estereótipos de
gênero nelas presentes.
Abaixo, as capas das revistas e suas respectivas manchetes:
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Num primeiro momento pode nos parecer que as duas manchetes buscam fazer
críticas contundentes aos dois governos, mas se observarmos com mais cuidado as
palavras usadas para caracterizar uma e o outro estadista, será patente o uso de
estereótipos de gênero e a tentativa muito clara de desconstrução da imagem da ex-
Pr s nt D lm Rouss l ss omo ―lou ‖ do Presidente Jair Bolsonaro
omo um ― st mp r o‖
Nessa manchete a primeira ideia que fica sobre a imagem é a de uma Presidenta
berrando, atacando, como se estivesse completamente desequilibrada.
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Já na capa que traz o Presidente Jair Bolsonaro, este está com cara de fera, mas
ele, mesmo fera, está tranquilo. Vamos, a seguir, estabelecer uma comparação entre as
duas manchetes:
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revista com relação ao destempero do Presidente, mas o discurso ainda é muito suave se
comparado aos adjetivos para classificar o estado mental da ex-Presidenta Dilma.
O outro tr ho: ―D lm rt xn t ‖ st n l s r os v r os p r
novamente, passar a ideia de uma louca, fora de si. Dilma aqui, não é mais sequer uma
mulher, o que dizer, uma Presidenta, ela é somente, uma louca. Aqui o que se tem é
descontrole, irresponsabilidade e ação instintiva. Ausência total de raciocínio. Já no
t xto Bolson ro: ―tr t to os omo s oss m n m os orr o r s o r
soz nho‖ O orr r o r s o n o s n rt z o que possa vir a acontecer, é
possível que acabe sozinho, é um texto que traz a ideia de isolamento, intolerância e
falta de capacidade de ponderar, é uma atitude desequilibrada, aqui, novamente, há uma
ausência de raciocínio, de um comportamento instintivo, no entanto, colocado de
maneira muito mais leve do que com relação a Dilma.
E n lm nt r s m qu há rm o qu D lm ―p r (t m m) s
on s mo on s p r on uz r o P ís‖ A p l vr t m m ntr p rênt s s um
maldosa e misógina tentativa de reforçar a ideia de que o País não pode mais continuar a
ser governado por uma louca. É a louca, que demonstra um comportamento irracional,
inabilidade cognitiva, inabilidade para governar, para continuar no cargo, incapacidade
profissional, alguém que precisa de intervenção psiquiátrica. E por último a frase sobre
Bolson ro: ―M l t r s Juíz s o STF x-aliados e entidades de comunicação reagem
ssust os‖ ou s j qu o qu s t m um s r s o Pr s nt omo
resultado se passa a mensagem para o leitor de que os Juízes do STF, os ex-aliados e
meios de comunicação estão acuados, assustados, ou seja, com medo do Presidente
Leão. Qual a ideia que suscita tal frase? Que Bolsonaro tem controle, tem domínio da
situação, tem poder e total controle da situação, que no máximo, ele está a assustar
nt s po r s so qu l po roso o L o qu s m ol z o ―R
S lv ‖ o r n lí r o st st qu o ―R o Br s l‖
A propósito dessa capa de Bolsonaro, dias antes, dia 28 de outubro de 2019, foi
postado no perfil oficial de Bolsonaro em uma rede social, um vídeo em que o
Presidente é retratado como um leão acossado por hienas. Tais hienas representam
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O que tal vídeo quer nos dizer? Ao modo da capa da revista, esse leão, descrito
omo ― ons rv or p tr ot ‖ um m stura de messias com o salvador da pátria, de
alguém ungido de poderes sagrados que vem para redimir o seu reino marcado por
injustiças e perseguições.
O efeito de sentido esperado pela matéria da aludida revista não é outro senão o
de desqualificar Dilma Rousseff de suas competências para continuar a exercer o cargo
de presidenta do Brasil. Como o leitor pode continuar a apoiar uma gestora cuja saúde
mental se encontra tão debilitada? Ao passo que Bolsonaro permanece intacto em sua
imagem de estadista, pois diante de tantas perseguições, ao contrário de enlouquecer,
omo ― z r ‖ D lm n urr l s us opos tor s ssust n o-os quanto a sua capacidade
de força e de superação.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando Dilma Rousseff disputou pela primeira vez as eleições para Presidenta
no ano de 2010, teve que lidar com inúmeros desafios, o maior deles talvez, o
machismo e a misoginia. Sua imagem pública foi atacada de diversas formas.
Questionaram sua sexualidade, sua vida íntima, sua racionalidade, sua competência para
governar o Brasil. Na disputa de 2014 não foi diferente, apesar de estar no cargo há
quatro anos, Dilma sofreu os mesmos ataques da eleição anterior, com o diferencial do
uso exagerado das mídias sociais para atingir sua imagem, o que eclodiu no seu
afastamento definitivo do cargo de Presidenta, ao completar um ano e oito meses de
governo, no dia 31 de agosto de 2016, a partir da votação de seu impeachment no
Senado Federal, com 55 votos a favor, 22 contra, 01 abstenção e 03 ausentes.
Como vimos ao longo do artigo, não é fácil ser do gênero feminino em uma
sociedade marcada pela dominação masculina; mais difícil ainda, parece ser a disputa
por espaços de poder político. Tal ambiente, marcado em sua maioria pelo gênero
m s ul no n o vê om ― ons olhos‖ onv vên o álo o o tr lho m omum
com o outro gênero.
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Pela primeira vez assistimos a ascensão de uma mulher ao mais alto cargo do
Brasil, a Presidência da República, e por ironia, assistimos, igualmente a sua queda.
Assim, como uma última reflexão nos perguntamos e, ao mesmo tempo, deixamos para
análises posteriores, se uma das causas que motivaram as práticas de misoginia e de
desrespeito à mulher Dilma Rousseff e que eclodiu com o seu afastamento, para além
dos interesses econômicos e dos embates sociais, não se deve à sua identidade de
gênero? Os discursos de emocionalmente doente, como alguns dos que reproduzimos
neste texto intencionam abalar o feminismo, personificado na primeira mulher eleita
Presidenta do Brasil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MIGUEL, Luis Felipe & BIROLI, Flávia. Caleidoscópio Convexo. Mulheres, política e
mídia. São Paulo, Editora UnesP, 2011.
PINHEIRO, Luana Simões. Vozes Femininas na Política: uma análise sobre mulheres
parlamentares no pós-constituinte. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres, 2007.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Sociedade.
Porto Alegre, v. 20, n.2, p. 71-99, jun./dez, 1995. Disponível em:
<http://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71721/40667>. Acesso
em: 27 nov. 2017.
STRECKER, Marcos. Bolsonaro – Ele – não se porta como o Rei da Selva. IstoÉ, São
Paulo, ano 42, n° 2601, p.22-27, 2019.
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PÔSTER
karolmiranda03@gmail.com
michellycordao@gmail.com
INTRODUÇÃO
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sobre as formas com que elas encaravam e viviam o ser mãe, o ser mulher e o ser
feminista na sociedade brasileira daquela época.
Uma das características dos movimentos feministas desse período foi a intensa
produção de uma imprensa, tomada como veículo de promoção de debates e de
divulgação de suas pautas. Um desses impressos produzidos foi o jornal Mulherio
(1981-1988). Sediado em São Paulo, o jornal recebeu apoio financeiro da Fundação
Carlos Chagas (até 1983) e da Fundação Ford (até 1987). Conforme Cardoso (2004),
podemos localizar o Mulherio na segunda geração da imprensa feminista brasileira pós-
1974, cuja principal característica era a de ser um jornal que privilegiava a discussão
das questões de gênero, sendo uma delas a luta por creches.
Apesar dessa luta não ter sido uma pauta apenas das feministas – nem tampouco
apenas daquelas vinculadas ao Mulherio –, conseguindo reunir uma diversidade de
mulheres para além daquelas que militavam no movimento (TELLES, 2015),
percebemos que ela foi, em grande medida, uma luta específica do gênero feminino. E
isso não é de se estranhar pois, ao analisarmos sob a perspectiva da longa duração
(BRAUDEL, 1965), reconhecemos que as funções sociais relacionadas à reprodução e
ao cuidado foram – e permanecem – , quase sempre, associadas ao gênero feminino
(BADINTER, 1985; SCAVONE, 1985).
S o P ulo qu z qu ―T r lhos p r n s tr lh or s o nv s
alegria, muitas vezes é uma verdadeira tragédia. Não temos local adequado para deixar
os nossos lhos nqu nto tr lh mos‖371.
É muito triste a situação da mãe rural. Ela muitas vezes deixa os filhos
também e vai cortar cana, plantar cana, semear a bandeira da cana e,
enquanto isso, os meninos ficam arengando com os vizinhos, jogando pedra,
brincando de espingarda quando o pai, às vezes, deixa fácil por descuido, e já
tem morrido criança por falta de tiro de espingarda. Isso porque as mães não
podem dar assistência aos filhos: elas não querem ver o menino morrer de
fome, então vão ganhar um diazinho de serviço 372
Para essa época, no referente ao acesso a creches, alguns podem argumentar que,
em termos jurídicos, de fato as mulheres-mães que trabalhavam no campo viviam uma
situação bem pior do que as que trabalhavam nos grandes centros urbanos do país. Claro
que, entre ambas, havia grandes diferenças, mas, ao analisarmos as fontes, percebemos
que a falta de creche era um problema constante na vida das mulheres trabalhadoras,
independente de seus espaços ocupacionais.
No artigo A lei existe. Mas, ora, a lei, por exemplo, vemos o Mulherio fazer uma
denúncia da ineficiência da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) no referente à
garantia do acesso à creche às mulheres trabalhadoras. De acordo com o
posicionamento do jornal, era falho o artigo da CLT que determinava que empresas com
mais de 30 mulheres empregadas, em idade entre 16 e 40 anos, deveriam ofertar creches
para suas funcionárias, porque, segundo o jornal:
371
Mulherio, novembro-dezembro de 1981, p. 11.
372
Idem.
373
Idem.
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E nesse anseio por creche, algo interessante que aparece nas representações do
Mulherio é que, nelas, a defesa da creche não se dá apenas no sentido de garantir o
direito de as mulheres participarem da vida produtiva. Analisando as fontes,
constatamos que, para as mulheres e, sobretudo, para as feministas desse momento,
lutar por creche também significava combater a divisão sexual do trabalho, bastante
xpr ss no s urso qu ―[ ] u r prot r u r r n p qu n t
como um problema da mãe, e só m ‖374.
Gostaríamos de ressaltar que nas creches não queremos que nossos filhos
sejam p n s ―v os‖ ur nt noss jorn tr lho Como pr pr
lei determina, queremos que sejam também assistidos. E assistidos para nós
é: cuidados higiênicos, cuidados médicos, alimentação adequada, estímulos
para o desenvolvimento intelectual etc. 377
A análise dessa mudança é interessante, pois ela aponta para o potencial crítico
do movimento de luta por creches encabeçado pelas mulheres. Se antes a defesa da
creche estava associada ao direito de trabalho das mulheres-mães, depois essa visão
374
Mulherio, novembro-dezembro de 1981, p. 9.
375
Idem.
376
Mulherio, novembro-dezembro de 1981, p. 11.
377
Idem.
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muda, com a noção de que a creche era um direito não apenas da mulher, mas também
de seus filhos, que, desde crianças, deveriam ter acesso à educação (MACEDO, 2015).
Para isso, a hipótese lançada é de que essa mudança esteve associada à evolução
do pensamento feminista aqui no Brasil. É fato que o movimento de luta por creches
não esteve subordinado ao feminismo, no entanto, nele encontrou grande potencial
crítico. Assim, na medida em que os grupos e organizações feministas romperam com
os partidos de esquerda, que privilegiavam a dominação de classe, suas integrantes
puderam aguçar seus olhares para as invisíveis opressões que se davam na esfera
privada, e que atingiam, sobretudo, mulheres e crianças.
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