Literatura e Diversidade
Literatura e Diversidade
Literatura e Diversidade
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
MESTRADO EM EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO HUMANA
Belo Horizonte
2019
SHIRLEI MARTINS DUARTE
Belo Horizonte
2019
Dissertação apresentada ao programa de Pós- Graduação Stricto Sensu Mestrado em
Educação e Formação Humana da Faculdade de Educação da Universidade do Estado de
Minas Gerais como requisito à obtenção do título de Mestre em Educação.
Aprovada em ____/_____/_____
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________________
Prof. Dra. Daniela Perri Bandeira – UEMG – SUPLENTE
Mais uma etapa vencida! Agora, mudam-se as metas e as expectativas para novas conquistas.
Como Pedagoga, sei o quanto são importantes as pessoas em nossa vida: não há ser humano
no mundo capaz de levar a vida isoladamente. É com essa certeza que agradeço,
primeiramente, a Deus por ter me dado força e me guiado nesta longa caminhada; a toda
minha família, por serem minha base e sustentação; à universidade, seu corpo docente,
direção e administração que oportunizaram os conhecimentos adquiridos ao longo destes
anos; aos mestres, pelos ensinamentos transmitidos; às minhas professoras-orientadoras,
Profa. Dra. Karla Cunha Pádua e Profa. Dra. Santuza Amorim Silva por me conduzirem
na construção deste trabalho com suas orientações e incentivos; ao Prof. Wander Augusto
que acreditou em mim e não me deixou desistir.
Muito obrigada!
Este estudo visa realizar uma análise do kit de literatura Afro-Brasileira disponibilizado às
escolas de Educação Infantil do município de Belo Horizonte, em 2016. Buscou-se
compreender de que modo essas obras tematizam importantes questões como: a valorização
da diversidade o combate ao preconceito e à discriminação. A questão que norteou a
investigação pautou-se na compreensão de como os negros, os indígenas e suas culturas vêm
sendo representados nesses livros. Nessa perspectiva, pretendemos refletir acerca do que vem
sendo exposto pelas leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que definem a obrigatoriedade do ensino
da história e cultura africana, Afro-Brasileira e indígena no âmbito do currículo escolar, em
especial nas áreas de educação artística, de literatura e história brasileira, em todas as redes de
ensino da educação básica. Adotou-se como base teórico-metodológica as contribuições
apresentadas pela perspectiva decolonial e o multiculturalismo crítico ou perspectiva
intercultural crítica, nesta linha trazemos as considerações de alguns autores como;CANEN,
(2003-2014) CANDAU, (2008) FREIRE ( 1979-1996-1999) GOMES, (2007) SANTOS,
(2001) entre outros. Sobre a estratégia metodológica, optou-se pela utilização de alguns
pressupostos da ACD (Análise do Discurso), que segundo Van Djik (2008), estuda como as
desigualdades e o racismo são produzidos, como persistem e resistem, sobretudo através da
fala e da escrita. No decorrer das análises percebemos nas obras analisadas, novas
considerações acerca do lugar social dos negros e indígenas e sua cultura, antes representados
como sujeitos escravizados, selvagens e sem história, e, nesse sentido, tanto para os afro-
brasileiros quanto para os indígenas, constata-se e reitera os diferentes estudos do campo, que
ao ver a sua imagem refletida em um livro de forma positiva contribui para que esse sujeito se
aceite e se valorize. E, ao mesmo tempo, conduz os alunos a refletirem sobre as suas origens
reconhecendo e respeitando a diversidade.
This study aims to perform an analysis of the kit of Afro-Brazilian literature available to the
schools of Early Childhood Education of the municipality of Belo Horizonte in 2016. It was
sought to understand how these works theme important issues such as; the valorization of
diversity, the fight against prejudice and discrimination. The question that guided the
investigation was based on the understanding of how blacks, natives and their cultures are
represented in these books. In this perspective, we intend to reflect on what has been exposed
by laws 10.639 / 2003 and 11.645 / 2008 that define the obligation of teaching African, Afro-
Brazilian and indigenous history and culture within the school curriculum, especially in the
areas of artistic education , of Brazilian literature and history, in all education networks of
basic education. The contributions presented by the decolonial perspective and the critical
multiculturalism or critical intercultural perspective were adopted as a theoretical-
methodological basis, in this line we bring the considerations of some authors as: CANEN,
(2003-2014) CANDAU, (2008) FREIRE (1979-1996 Gomes, (2007) SANTOS, (2001)
among others. On the methodological strategy, it was decided to use some assumptions of the
ACD (Discourse Analysis), which according to Van Djik (2008), studies how inequalities and
racism are produced, how they persist and resist, especially through speech and writing. In the
course of the analyzes, we see in the analyzed works new considerations about the social
place of blacks and Indians and their culture, previously represented as enslaved subjects,
savages and without history, and in this sense, for Afro-Brazilians as well as for Indians, one
can see and reiterate the different studies of the field, which, when seeing their image
reflected in a book in a positive way, contributes to this subject being accepted and valued.
And at the same time, it leads students to reflect on their origins by recognizing and
respecting diversity
Keywords: Ethnic-racial diversity. Children's literature. Law 10.639 / 2003. Law 11.645 /
2008.
LISTA DE FIGURAS
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 12
2 POR UMA PROPOSTA DECOLONIAL E DE INTERCULTURALIDADE
CRÍTICA............................................................................................................................ 17
2.1 O pensamento decolonial e suas implicações.......................................................... 17
2.2 Descolonização do saber: o currículo numa perspectiva multicultural................... 19
2.3 Noções de direitos humanos e a formação de uma consciência crítica.................... 21
2.4 O que dizem os documentos oficiais........................................................................ 23
2.5 Refletindo acerca do multiculturalismo: assimilações e definições......................... 25
3 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA.................................................................. 27
3.1 Proposições de um diálogo com pesquisas que abordam o objeto em estudo......... 27
3.2 O Núcleo de Relações Étnico-Raciais e de Gênero e os Kits de Literatura Afro-
Brasileira da Rede Municipal de Belo Horizonte................................................................ 39
3.3 Organização dos Kits de Literatura Afro-Brasileira................................................ 40
3.4 Pressupostos metodológicos.................................................................................... 44
3.5 Sobre a Análise Crítica do Discurso (ACD)............................................................ 48
4 INFÂNCIA, LITERATURA E DIVERSIDADE................................................ 50
4.1 Concepção de infância e o papel da literatura infantil............................................. 50
4.2 As origens da literatura infantil no Brasil................................................................ 52
4.3 Literatura para infância............................................................................................ 53
4.4 Literatura infantil e a temática étnico-racial............................................................ 55
4.5 Sobre a literatura com a temática afro-brasileira e indígena.................................... 58
4.6 Literatura e Diversidade........................................................................................... 61
4.7 Educação, literatura e cultura................................................................................... 62
5 OS LIVROS DE LITERATURA INFANTIL SELECIONADOS POR MEIO DO
KIT (2016): ALGUMAS PERSPECTIVAS DE ANÁLISE........................................... 67
5.1 Análise dos livros selecionados............................................................................... 67
5.2 Caracterização das histórias..................................................................................... 69
5.3 Caracterização dos personagens............................................................................... 77
5.4 Caracterização da diversidade cultural presente nas histórias................................. 81
5.5 Com relação às obras analisadas.............................................................................. 84
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 87
REFERÊNCIAS................................................................................................................. 91
ANEXO A: KIT DE LITERATURA AFRO-BRASILEIRA (2016)............................
104
12
1 INTRODUÇÃO
Outro elemento importante que levou à definição por este objeto de estudo deveu-
se à participação da pesquisadora durante o PIBID/UEMG2, no Subprojeto Interdisciplinar
Cultura Afro-Brasileira e Educação, o que a possibilitou atuar no ambiente escolar e trabalhar
com a ancestralidade dos povos africanos e indígenas, assim como observar a forma como
alguns professores vêm lidando com a implantação das leis.
Por meio da participação no PIBID/UEMG, foi possível perceber, mediante
observações no contexto escolar, o quanto ainda existem preconceitos e estereótipos
enraizados no imaginário dos estudantes com relação ao negro e aos indígenas, demonstrados
por meio do desconhecimento que manifestam a respeito da riqueza cultural desses grupos
étnicos.
Diante desse quadro, e com a intenção de refletir acerca do que vem sendo
exposto pelas leis 10.639/2003 e 11.645/2008, coloca-se como uma questão norteadora desta
pesquisa a compreensão de como a cultura e os próprios integrantes desses grupos étnicos
vêm sendo representados nas obras distribuídas por meio do kit de literatura Afro-Brasileira,
dada a importância da promoção da diversidade e do combate ao preconceito.
Em vista disso, para uma melhor exposição da pesquisa dividimos nossa
dissertação em quatro capítulos, que serão explicitados a seguir:
No primeiro capítulo, Por uma proposta decolonial e de interculturalidade
crítica, explicitamos o pensamento decolonial,atentamos para as políticas implantadas a partir
das leis 10.639/2003 e 11.645/2008 e exprimimos um melhor entendimento de aspectos
relacionados ao multiculturalismo, visto que esse é um conceito que perpassa a problemática
abordada.
1
Para o pensamento decolonial a colonização é entendida como um grande evento prolongado de muitas rupturas
e não como uma etapa histórica já superada, a intenção não é desfazer o colonial ou revertê-lo, trata-se de
provocar um posicionamento contínuo de transgredir e insurgir (COLAÇO, 2012).
2
PIBID: Programa Institucional de Iniciação à Docência, Aperfeiçoamento e Valorização para a formação de
professores.
16
O multiculturalismo nos faz lembrar que a igualdade não pode ser obtida
simplesmente através da igualdade de acesso ao currículo hegemônico
existente. A obtenção da igualdade depende de uma modificação substancial
do currículo existente o currículo tem que levar o educando a mais do que
aceitar e respeitar, mas refletir as formas pelas quais as diferenças são
produzidas (SILVA, 2001, p. 90).
culturais. Por conseguinte, o currículo deixaria de ser folclórico3 para se tornar profundamente
político (SILVA, 2001).
Para uma melhor ponderação a cerca dos direitos humanos, vê-se pertinente
recorrer às reflexões apresentadas por Marilena Chauí (1989), nas quais estabelece uma
relação entre direitos humanos e medo. Segundo a autora, com o passar do tempo foi possível
observar uma mudança histórica no conceito de medo em virtude dos direitos humanos. Até a
Idade Média, os cidadãos não se afligiam com relação às mudanças sociais, mas, em
contrapartida, possuíam medo das ditas forças sobrenaturais perversas que desejassem
modificar a sociedade, estabelecendo assim, uma submissão ao que julgavam como soberano.
Nesse sentido, Chauí (1989) considera que com o surgimento da modernidade ocorre um
deslocamento do medo para o interior da própria sociedade, promovendo desta forma a
constituição do pensamento moderno sobre os direitos humanos. De acordo com Chauí (1989,
p. 1)
3
Em um currículo folclórico, os privilégios das identidades dominantes são reiterados, enquanto tratam as
identidades dominadas como exóticas ou folclóricas ( SILVA, 2011) .
22
onde por um lado, fazem tábua rasa dos direitos de cidadania e humanos,
incluindo os que estão consagrados pelo direito internacional, e por outro
lado, reprimem brutal e impiedosamente todos aqueles que desejam resistir-
lhe, é possível que estejamos diante uma nova forma de fascismo social ou
fascismo desenvolvimentista (SANTOS; CHAUÍ, 2013, p. 122).
Os autores argumentam sobre tal concepção refletindo que se trata de uma luta
com fortes proporções civilizatórias e apontam a necessidade de novas dimensões de direitos
fundamentais, entre eles, o direito à terra como condição para uma vida digna, sendo este
mais amplo, a título de exemplo, do que o direito à reforma agrária. Dentre outros, também
citam o direito à diversidade cultural e à saúde coletiva.
Essas premissas apontam ao que nos expõe Manoela Carneiro Cunha (2009), que
salienta ter sido esta a posição dos positivistas desde o final do século XIX, pela qual os
direitos originários dos indígenas decorrem da posse territorial, antecedendo o próprio Estado.
Tal pensamento foi manifestado na constituição de 1988, mas todas as constituições
brasileiras a começar de 1934 já garantiam as terras indígenas.
A esse respeito, Cunha (2009) argumenta sobre a exploração da borracha no final
do século XIX e início do XX nas localidades dos povos indígenas, que, por sua vez,
conseguiram manter suas terras apenas em regiões onde elas não eram ainda cobiçadas. “É
fácil, pois, estigmatizar as lutas pela terra e pelo território como lutas de minoria que não
podem ter um direito do veto sobre os desígnios do desenvolvimento econômico que
favorecem a maioria” (SANTOS; CHAUÍ, 2013, p. 124).
Tal constatação aproxima-se da ponderação manifestada por Zygmunt Bauman
(2015), na qual evidencia que na atualidade presenciamos um modelo de desenvolvimento
econômico equivocado, uma vez que seguimos o padrão de desenvolvimento capitalista. Em
face dessa contingência, pressupõe que nós, dos países periféricos, deveríamos criar nosso
próprio modelo de desenvolvimento, estabelecendo, assim, uma capacidade de enfrentamento
a essa ordem política, econômica e também cultural. Torna-se papel da educação construir no
educando esta consciência crítica, a educação como um ato de conhecimento ligado à
sociedade para além da prática pedagógica pura e simplesmente, uma vez que, na atualidade,
muitas de nossas escolas estão sendo guiadas não pela construção da cidadania, mas pelo
consumo.
23
Tal constatação aproxima-se dos estudos de Ribeiro (2002, p. 12), ressaltando que
mudanças desse tipo ocorrem “[...], somente nas raras instâncias em que o povo-massa de
uma região se organiza na luta por um projeto próprio e alternativo de estruturação social,
[...].” Em síntese foi preciso que movimentos por direitos de igualdade conquistassem por
meio da legislação favorável suas reivindicações no âmbito da escolaridade e cultura
asseguradas pela Lei 11.645/2008.
Em 2004, o Conselho Municipal de Educação de Belo Horizonte, através da
Resolução n° 003, instituiu as Diretrizes Curriculares Municipais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira na
Educação Básica. Este documento busca amparar o trabalho com as relações étnico-raciais no
sistema municipal de ensino de Belo Horizonte, assim como é de sua responsabilidade a
criação de materiais e estratégias para o trabalho com a temática.
Segundo os PCNs, (1997) na apresentação do item que trata da pluralidade
cultural, encontramos menção das diversidades culturais na formação da população brasileira:
“Há muito se diz que o Brasil é um país rico em diversidade étnica e cultural, plural em sua
identidade: é indígena, afrodescendente, imigrante, sertanejo, caiçara, caipira [...]” (BRASIL,
1997, p. 15). Sobre esse assunto, Ribeiro (2002, p. 14) ressalta que:
Tendo em vista as questões que estão em pauta nesta pesquisa, faz-se necessário
uma melhor compreensão de aspectos relacionados ao multiculturalismo, visto que esse é um
conceito que perpassa a problemática abordada. Considerando as discussões anteriores, de
acordo com Moreira (2016), o multiculturalismo vem surgindo periodicamente em pesquisas
no campo da educação. Isso demonstra interesse dos pesquisadores no tocante às questões
relacionadas à diversidade cultural, dado que, na atualidade, vivenciamos um momento de
lutas e reivindicações, sendo estas de cunho social, cultural, de gênero, racial, entre tantas
outras.
Dessa forma, é possível perceber que o multiculturalismo não surgiu no âmbito
acadêmico, pois vem das lutas de grupos sociais discriminados e excluídos, colocando-nos
diante dos sujeitos históricos que resistiram e ainda resistem em prol de seus direitos de
cidadania (CANDAU, 2008). Segundo Candau (2008, p. 17),
3 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
Quadro 1. Descrição de Teses e Dissertações levantadas a partir dos descritores “Diversidade Étnico-Racial”,
“Literatura Infantil”, “Lei 10.639/2003”, “Lei 11.645/2008” na base de dados da Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações (BDTD) do Ibict.
Título Autor/Autora Instituição Tipo Objeto
Quadro 2. Descrição de Teses e Dissertações levantadas a partir dos descritores “Diversidade Étnico-Racial”,
“Literatura Infantil”, “Lei 10.639/2003”, “Lei 11.645/2008” No Portal de Periódicos CAPES/MEC.
Título Autor/Autora Instituição Tipo Objeto
Diálogos BRANDES UEPG Dissertação Refletir sobre a literatura
interculturais na (2017) indígena escrita em língua
literatura indígena portuguesa como uma
contemporânea: literatura que é fruto dos
Uma perspectiva diálogos interculturais e que
bakhtiniana revela e promove o diálogo
intercultural.
Representações da SILVA, R. USP Dissertação Compreender as
temática afro- (2014) representações presentes na
brasileira na literatura infantil e juvenil
literatura infantil e frente às demandas
juvenil educacionais presentes na
Lei 10.639/2003.
Literaturas BUENO USP Dissertação Analisar junto a professores
africanas e afro- (2015) do EF-II da rede pública, a
brasileira no ensino presença de literaturas
fundamental II africanas e afro-brasileiras
31
à apresentação destes
personagens nas obras de
modo a romper com
estereótipos antes atribuídos
a este grupo étnico.
Literatura infantil e MEIRELES UEMG Dissertação Compreender como as
juvenil e o ensino (2016) práticas pedagógicas
da Históriada utilizando a literatura
África a da Cultura infantil e juvenil têm
Afro-Brasileira nas referenciado a Lei
práticas e nos 10.639/2003 em escolas
Projetos Políticos públicas de Belo Horizonte.
Pedagógicos das
escolas públicas
FONTE: Autora
Quadro 3. Descrição de artigos levantados a partir dos descritores “Diversidade Étnico-Racial”, “Literatura
Infantil”, “Lei 10.639/2003”, “Lei 11.645/2008” na base de dados da SciELO.
Título Autor/Autora Instituição Tipo Objeto
A linguagem DEBUS E Revista Conjectura Artigo Análise de livros de
literária e a VASQUES literatura da editora SM,
pluralidade cultural (2009) tendo em vista a
contribuições para necessidade de viabilizar a
uma reflexão étnico- inserção da temática no
racial na escola ensino fundamental e
médio, como demanda a
Lei 10.639/2003, que
institui a inclusão da
cultura e da história
africanas e afro-brasileiras
nesses níveis de ensino e,
mais recentemente, a Lei
11.645/2008.
A Literatura infantil VASQUES Evento: Simpósio Artigo Dar visibilidade aos livros
e a temática africana (2011) sobre formação de literários que tratam a
e afro-brasileira professores - temática da diversidade
SIMFOP cultural, a partir da análise
do texto. O estudo
problematiza os discursos
literários de diferentes
autores.
33
pesquisada, a fim de
proporcionar aos
estudantes o
conhecimento das
identidades e alteridades
que constituem os povos
negro e indígenas.
A Literatura dos THIÉL PUC-PR Artigo Refletir sobre como o
povos indígenas e a (2013) contato com a literatura
formação do leitor indígena pode promover a
multicultural formação de leitores
multiculturais ou
multiletrados.
FONTE: Autora
Com relação às obras de literatura infantil e juvenil que vêm sendo manuseadas
nas escolas de educação básica, Debus e Vasques (2009), Barreiros e Vieira (2011) e Vasques
(2011) estabelecem ponderações a respeito da representação do negro nesses livros e indicam
considerações para o trabalho com essas bibliografias em sala de aula, dando visibilidade às
obras consideradas adequadas para o trabalho a respeito da diversidade.
Durante muito tempo, a literatura encobriu a representação da história e da cultura
dos negros e indígenas. Em poucas obras onde estes eram representados, apareciam de forma
estereotipada, como selvagens ou desempenhando papéis de subserviência.
Debus e Vasques (2009) analisam em sua pesquisa cinco títulos da Editora SM,
sendo que no catálogo editorial para 2008/2009, dos 173 títulos publicados, 20 trazem a
presença da cultura Afro-Brasileira. Desses 20, as autoras optaram pela análise de cinco.
Como resultado, averiguaram que um dos caminhos para o entendimento e a consciência para
a pluralidade cultural está “na apropriação da leitura literária produtora de identidade e
inclusão social” (DEBUS; VASQUES, 2009, p. 133).
Outro trabalho que contribui para nossas reflexões, intitulado Literatura infantil
para uma formação leitora multicultural (BARREIROS; VIEIRA, 2011), parte da hipótese de
que o trabalho com a literatura infantil e juvenil africana (aqui também consideramos a
indígena) é capaz de promover conhecimentos dessas culturas e também o respeito à
diversidade cultural.
36
realizadas uma pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa e uma análise das obras de
literatura infantil e juvenil apoiadas no campo da educação intercultural. Conforme as autoras
Por fim, a autora sinaliza para a necessidade de mais estudos sobre estas
produções, considerando o pouco reconhecimento dessa literatura, além do preconceito com
relação às obras indígenas existentes.
Dentro desta ótica, percebemos que a Lei 11.645/2008 provocou uma mudança no
tocante às discussões sobre a temática indígena, estabelecendo um caminho para que aconteça
a interculturalidade no ensino. Nesse aspecto, as duas coleções analisadas por Nobre (2017),
referentes ao PNLD (2014), exprimem uma maior visibilidade dos povos indígenas, no
entanto grande parte deste material ainda representa estes grupos étnicos de forma
estereotipada. “Com isso a compreensão da complexidade que envolve a questão indígena na
contemporaneidade fica prejudicada” (NOBRE, 2017, p. 201). Contudo, mesmo com as
38
4
PNBE - Programa Nacional Biblioteca da Escola, desenvolvido desde 1997. Tem o objetivo de promover o
acesso à cultura e o incentivo à leitura nos alunos e professores por meio da distribuição de acervos de obras de
literatura, de pesquisa e de referência. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/programa-nacional-biblioteca-da-
escola. Acesso em: 16 fev. 2018.
39
Freitas (2014) analisou grande parte deste acervo em sua tese, conferindo a
política de distribuição dos kits como um importante recurso para o trabalho com as relações
étnico-raciais. “Todavia sobram possibilidades [...] de tecer narrativas que reposicionem as
relações de poder travadas entre os grupos sociais” ( FREITAS, 2014, p. 244). Dessa forma,
analisar como esses grupos étnicos e suas culturas são abordados nesse material pode
proporcionar ao educador a construção de um olhar crítico e criterioso em relação às obras
que chegam até eles.
Ainda hoje as populações Afro- Brasileiras e indígenas são as mais afetadas com
relação à desigualdade social em nosso país, logo, apenas com a implantação de políticas
públicas de longo alcance poderíamos tentar superar tais desigualdades (SANTANA, 2017).
Sendo assim, acreditamos ser papel da educação proporcionar ao educando uma formação
humana e integral, postulado que se encontra vinculado às ideias defendidas por Freire
(1979), ou seja, a necessidade de formar um ser crítico, consciente do seu papel no mundo,
coerente com os princípios da diversidade de manifestações artísticas, culturais, políticas dos
direitos e deveres de cidadania.
41
fracionamento das obras do kit por ciclo escolar, diminuindo deste modo o número de livros
entregues neste último kit (2016).
Ainda com relação ao último kit, “há que se destacar que, enquanto os quatro
primeiros eram distribuídos apenas nas escolas de ensino fundamental, os últimos também
foram distribuídos nas unidades municipais de educação infantil e em creches conveniadas
com a prefeitura” (FREITAS, 2014, p. 57). Sendo assim, os kits detêm a finalidade de
contribuir com a realização de projetos que abordem a temática da diversidade.
Segundo Patrícia Santana (2017), a intenção de colocar estes títulos ao alcance
dos alunos e professores foi o de possibilitar o conhecimento de autores que produzem uma
literatura de qualidade. O trabalho desenvolvido pelo núcleo é orientado pelo seguinte eixo:
assegurar o cumprimento das diretrizes dos Conselhos Nacional e Municipal de Educação
sobre a Lei 10.639/03 e a Lei 11.645/08.
Sobre os parâmetros utilizados para a avaliação e seleção das obras que compõem
o kit de literatura Afro-Brasileira, em anexo único da Portaria SMED nº 241/2013, são
apresentados os seguintes critérios:
1 - CRITÉRIOS DE SELEÇÃO
1.4. Audiovisual
que inclui a diversidade cultural e identitária, bem como a desconstrução de discursos que
disseminam estereótipos e preconceitos.
A presente pesquisa se insere em uma abordagem qualitativa, portanto cabe ao
pesquisador problematizar o objeto de estudo, assim como realizar uma interpretação dos
dados, o que dependerá da articulação entre objeto, referencial teórico e metodologia. Nesse
sentido, a pesquisa qualitativa é caracterizada por Minayo (1998, p. 14) como:
6
A linguagem enquanto discurso é interação e um modo de produção social, ela não é neutra, inocente ( na
medida em que está engajada em uma intencionalidade) e nem natural, por isso o lugar privilegiado de
manifestação ideológica (BRANDÃO, 2006).
46
Com referência à coleta dos dados para posterior análise, julgamos pertinente a
realização de uma síntese de cada obra com os seguintes eixos norteadores: 1) Caracterização
da história; 2) Caracterização dos personagens; 3) Caracterização da diversidade cultural
presente na história.
Refletindo a respeito da análise dos dados, interrogamo-nos sobre qual seria a
técnica mais adequada em busca de respostas para nossas indagações. Ao estudar as
possibilidades optamos por seguir algumas orientações da análise do discurso, embora, como
já dito, não se pretenda aplicar essa técnica na íntegra.
A AD concerne em uma teoria da linguagem que consiste em analisar a estrutura
de um texto e a partir de então compreender as construções ideológicas presentes no mesmo.
47
Dito isso, observamos que neste sentido resulta a construção de outro olhar sobre
os textos e o redimensionamento do objeto de análise. Ao pesquisador cabe compreender que
a busca de significados realizada na análise deve ter como foco os objetivos e a temática da
pesquisa. Dessa forma as formações discursivas assumem o caráter de conexão entre os
discursos e o referencial escolhido (RAMOS; SALVI, 2009).
Sobre a análise dos dados, acreditamos não caber ao pesquisador produzir
intervenções, uma vez que analisar um discurso se trata de identificar nele lacunas e
incongruências, propondo reflexões em torno do objeto, contribuindo assim para
ressignificações, tornando, dessa forma, a análise do discurso eminentemente descritiva
(ORLANDI, 2005).
Contudo, a AD se interessa por toda situação em que há pessoas falando,
conversando oralmente ou por escrito. Em todas essas práticas há discurso, ou melhor, efeito
de sentido entre interlocutores, e isto se estende a situações em que se lê um livro.
Além disso, pretende-se também lançar mão de pressupostos da análise crítica do
discurso (ACD), visto que nessa perspectiva o discurso se constitui como uma prática social
que representa o mundo. Segundo van Dijk (2008), a ACD estuda como as desigualdades e o
racismo são produzidos, como persistem e resistem, sobretudo, através da fala e da escrita.
Para o autor, por meio do discurso alguns “princípios organizadores globais do racismo” se
revelam, como por exemplo: “enfatizam os aspectos positivos do nós, do grupo de dentro;
enfatizam os aspectos negativos do Eles, do grupo de fora; a repetição de pontos negativos
nas histórias cotidianas”, dentre outros (VAN DIJK, 2008, p. 18-19).
48
A análise crítica do discurso (ACD) é uma perspectiva que estuda de que modo as
estruturas sociais de poder são produzidas e reproduzidas através da linguagem. Desse modo,
utilizar-se de aspectos dessa técnica, levando em consideração a diversidade cultural, faz-se
pertinente por apresentar possibilidades de análise dos meios pelos quais a desigualdade racial
advém. Segundo a definição de van Dijk (2008, p. 113):
À vista disso, a ACD nos permite estabelecer relações entre o discurso presente
no texto e os aspectos sociais. Uma vez que “discurso é mais que apenas o uso da linguagem,
é uma prática social de representação e significação do mundo” (STEFFENS, 2017, p. 2). Por
conseguinte, essa autora ainda justifica que discurso e estrutura social estão relacionados, já
que são influenciados um pelo outro. Esta colocação da autora vem ao encontro das
apresentadas por (VAN DIJK, 1993, p. 101 apud STEFFENS, 2017, p. 6) quando argumenta
que a dominação discursiva pode ser estipulada como “o controle comunicativo de
conhecimento, crenças e opiniões daqueles que possuem poucos recursos para se opor a tal
influência”.
Em nosso país, até o século XIX, a literatura destinada a crianças era importada de
outros países, em sua maioria composta por traduções realizadas em Portugal. Tratava-se de
uma literatura de alto valor aquisitivo, assim sendo, poucos poderiam ter acesso às obras.
“Não havia editoras no país e mesmo os autores brasileiros tinham seus textos impressos na
Europa” (CAVÉQUIA, 2010, p. 2).
No começo do século XX, ocorre no mercado editorial um fato que viria a mudar
o rumo da literatura infantil brasileira. Monteiro Lobato publica Narizinho Arrebitado em
1921 e distribui exemplares da obra para escolas públicas do estado de São Paulo. O escritor
dedicou especial atenção ao segmento infantil, atuando tanto na escrita de histórias como na
fundação de editoras (VIEIRA, 2016). No Brasil quando se fala em literatura infantil, logo se
lembra da figura de Monteiro Lobato:
compuseram e ainda compõem uma literatura com fortes traços Lobatianos” (CAVÉQUIA,
2010, p. 4). Segundo Girotto,
Ao falarmos de literatura infantil, não podemos deixar de aludir mais uma vez sua
origem, ligada à escola e destinada a ensinar condutas morais e religiosas às crianças (REIS;
TORRES; COSTA, 2016). Segundo os autores, no Brasil, a origem do gênero literatura
infantil ocorreu a partir do século XIX com a publicação de livros escolares traduzidos ou
adaptados dos clássicos europeus. Atualmente, “tais obras contemplam temas mais
específicos e ligados a preocupações cidadãs como: as diferenças sociais, os problemas
ambientais e o respeito à diversidade” (REIS; TORRES; COSTA, 2016, p. 193).
54
Atualmente, um dos assuntos mais recorrentes nas escolas vem a ser o respeito
pelas diferenças. Embora concordando com Reis, Torres e Costa (2016) de que não seja
possível eliminar todas as formas de preconceito, podemos tentar eliminar a organização
sistêmica dos preconceitos e um dos caminhos indicado pelos autores seria a construção da
capacidade de julgar corretamente o singular, em que “a literatura infantil vem a ser um
caminho para se refletir sobre o tema” (REIS; TORRES; COSTA, 2016, p. 188-189).
Essa colocação vem ao encontro das observadas por Souza (2015), em sua
pesquisa de mestrado na qual realizou uma análise de materiais didáticos e constatou a sub-
representação dos grupos étnicos negros e indígenas, assim como uma visão estereotipada
sobre estes grupos na representação dos estudantes. Os achados dessa pesquisa só reafirmam
o que outros estudos indicam, ou seja, a necessidade de se abordar a diversidade cultural em
sala de aula.
Sobre esse assunto, Peres, Marinheiro e Moura (2012) afirmam que os contos de
fada clássicos ainda são os mais utilizados em sala de aula, “ocupando um lugar
extremamente significativo na representação das crianças” (PERES; MARINHEIRO;
MOURA, 2012, p. 12). Segundo os autores, essas obras apresentam características
explicitamente européias, assim sendo, as concepções ligadas a esses contos é formada por
um ideal étnico branco, e, assim, contribui para uma construção de estereótipos, posto que os
grupos étnicos negros e indígenas não se percebem nessas histórias. Conforme os autores:
A esse respeito, Thiél e Quirino (2011) evidenciam que abordar a literatura Afro-
Brasileira e indígena é uma forma de promover o respeito pela diversidade cultural
reconhecendo e principalmente respeitando as diferentes etnias. De acordo com as autoras:
Sobre esse assunto, em sua dissertação de mestrado, Souza (2015, p. 23) sinaliza
que “pesquisas recentes continuam a revelar a sub-representação dos Afro-Brasileiros e
indígenas em obras literárias presentes nas escolas e no Programa Nacional Biblioteca da
Escola (PNBE)”. Nesse sentido, a autora vem dizer:
60
Como resultado das lutas dos movimentos sociais, as leis discutidas ao longo
desta dissertação, 10.639/2003 e 11.645/2008, buscam valorizar as contribuições das etnias
referidas na constituição do povo brasileiro, tornando o ensino sobre as mesmas obrigatório
em todas as escolas tanto da rede pública quanto privada, em especial nos campos de história,
artes e literatura. Desse modo, acreditamos que a literatura infantil pode ser utilizada com o
intuito de refletir sobre a diversidade levando os estudantes a compreender e respeitar as
diferenças.
Por conseguinte, as produções literárias passaram a demandar novos protagonistas
em suas narrativas, crescendo o número de produções “não somente sobre mitos, contos, e
lendas africanas e indígenas, mas também de personagens felizes no processo de construção
sociocultural” (MARTINS, 2018, p. 1). Dentro dessa ótica, inferimos que na educação infantil
os alunos expressam suas emoções e se comunicam de diversas formas, tornando-se a
oralidade a mais comum entre elas, além de muito utilizada no ambiente escolar (ARAUJO;
MORAIS, 2014).
A partir das falas apresentadas, verifica-se que a diversidade cultural enquanto
princípio educativo se estabelece a partir de nossas experiências, vivências sociais e culturais.
Refletir a respeito das diferenças nos propõe rever alguns valores consolidados em nossa
62
sociedade (SILVA, 2011). Assim “do ponto de vista teórico, conceber a diversidade cultural
como princípio educativo exige certos cuidados” (SILVA, 2011, p. 14), carecemos de
aprender a respeitar e reconhecer o outro, tornando-se função da escola transmitir as
contribuições culturais dos diferentes grupos étnicos que compõe nossa nação. Nesse sentido
Silva (2011, p. 5) explica:
Antonio Candido
Se parássemos para refletir sobre a temática que nos últimos anos vem sendo
recorrente nos livros de literatura para crianças, Silveira, Bonin e Ripoll (2010) revelam que
nos depararíamos com a questão da diferença e da diversidade.
Por conseguinte a literatura atua no caráter e na formação dos sujeitos, fazendo
parte dos mais distintos níveis de sociedade, que por este motivo criam suas manifestações
literárias em decorrência de suas crenças, fortalecendo sua existência e atuação no meio social
(CANDIDO, 1989).
Estabelecendo uma relação com os discursos decoloniais, os multiculturais e as
lutas dos grupos étnicos tradicionalmente excluídos. Outro fator relevante diz respeito à
“concepção do discurso como constituidor da própria realidade, trazendo novos argumentos
63
para as discussões sobre a diferença” (SILVEIRA; BONIN; RIPOLL, 2010, p. 100). Sobre
esse assunto, Souza e Sodré (2011, p. 10) inferem que
para crianças tornam-se veículos para tais abordagens” (SILVEIRA; BONIN; RIPOLL, 2010,
p. 101).
Com relação à representação do negro e do indígena na literatura infantil,
inferimos que ainda vem ocupando um espaço pequeno, devido ao número de outras obras
como os clássicos por exemplos ainda ser muito maior (DEBUS, 2007). A mesma autora
indica que
Nesse sentido, Carreira (2015) considera que os estudos literários, tendo em vista
a efetivação de um trabalho a respeito da diversidade, devem promover no ouvinte uma
análise, uma reflexão de como os negros e os indígenas estão sendo representados e como eles
se autorrepresentam. Acreditamos assim que “a literatura possa contribuir para reflexões que
rompam com uma visão construída sob o pilar de uma desigualdade étnica e se solidifique sob
uma base de valorização da diversidade” (DEBUS, 2007, p. 1).
A criança compreende melhor o mundo através da fantasia, já que ela preenche as
lacunas oriundas da falta de conhecimento do real neste período da vida (ZILBERMAN,
2003). Assim a fantasia presente no livro literário colabora para a ordenação das experiências
na infância, levando a criança a vivenciar diferentes realidades e situações.
Desse modo, considerando a necessidade de pensar uma educação de qualidade e
comprometida com a cidadania, Gomes (2007, p. 17) ressalta que “do ponto de vista cultural,
a diversidade pode ser entendida como uma construção histórica, cultural e social das
diferenças”. A esse respeito, a autora refere-se ao ser humano como um ser complexo, pois,
ao mesmo tempo em que somos iguais enquanto gênero humano, todos apresentamos
diferenças com relação a etnia, cor, idade, culturas, experiências, entre outras questões.
Segundo Gomes (2007, p. 22),
Ainda de acordo com Gomes (2007), com relação à forma como a escola trabalha
com a diversidade no seu cotidiano e no seu currículo tem a ver com as cobranças dos grupos
humanos tidos como diferentes. Esses grupos vêm se destacando politicamente, cobrando um
tratamento justo e igualitário.
Assim, acreditamos que a educação pode ser um caminho importante para se
superar a discriminação e o preconceito, aspirando um reconhecimento e respeito pela
diversidade cultural de nosso país (SILVA, 2008). No entanto, pesquisas sinalizam que nas
escolas ainda há uma tendência em se reproduzir estereótipos, posto que as obras literárias
que circulavam em seu espaço representavam esses povos de forma inferiorizada, como
selvagens e escravos, priorizando conteúdos da cultura eurocêntrica e, mais ainda, que as
culturas africanas, indígenas e asiáticas recebem um tratamento secundário, sendo a
diversidade cultural que deu origem ao povo brasileiro, quase sempre, negligenciada (SILVA,
2008).
Dentro dessa ótica, as leis 10.639/2003 e 11.645/2008 vêm promovendo
discussões acerca do desenvolvimento de ações políticas de inclusão social, impulsionando o
tratamento da temática no contexto escolar. Dessa forma, as Diretrizes Curriculares Nacionais
Gerais da Educação Básica indicam que:
Para ter acesso aos livros, visitamos duas escolas públicas próximas a minha
residência. Nas bibliotecas foram possíveis empréstimos e efetuamos cópias destes livros,
para então realizar as análises com calma. No entanto, nem todas as obras foram encontradas
e foi necessário adquirir algumas.
A análise dos livros se orientou de acordo com os critérios apresentados na
metodologia. Desse modo, no que diz respeito à coleta dos dados, realizamos uma síntese de
cada obra com os seguintes eixos norteadores: 1) Caracterização da história; 2) Caracterização
dos personagens; 3) Caracterização da diversidade cultural presente na história. Optamos
nesses itens por analisar as obras de uma forma ampla, levando em consideração que alguns
livros se sobressaem em relação a outros em número de páginas, textos e ilustrações. Em um
segundo momento, buscamos respostas para as questões norteadoras desta pesquisa.
Lembrando: quais significados são produzidos com relação ao negro, ao indígena e suas
culturas nesses livros? Tais obras são capazes de proporcionar uma reflexão no tocante às
temáticas afetas ao campo das relações étnico-raciais? Além disso, levamos em conta texto e
ilustrações, uma vez que, de acordo com Colomer (2004), a literatura infantil se produz na
mescla entre imagens e palavras. No entanto,
Apesar de ser inegável o poder da imagem, ela não pode e não deve sufocar
o texto, tão pouco deixar-se suplantar-se por ele. Deve tratar-se de uma
relação de equilíbrio em que as duas linguagens coexistem e se inter-
relacionam para alimentar no leitor a fruição e a emoção estética e também a
compreensão da leitura (MENDES; VELOSA, 2016, p. 122).
A articulação entre texto e imagem nos livros de literatura infantil se torna hoje
um consenso de que estas duas linguagens se complementam de forma a tornar o livro infantil
um artefato cultural com múltiplas possibilidades de leitura devido aos inúmeros significados
presente nos textos e nas imagens (MENDES; VELOSA, 2016).
O contato com a literatura na infância possibilita não apenas criar o prazer
estético, lúdico ou o desenvolvimento da imaginação e da sensibilidade como também leva à
compreensão dos sentidos subentendidos nas narrativas, por viabilizar a capacidade da criança
68
Nesta obra o pequeno indígena retrata seu dia a dia e os costumes herdados de
seus ancestrais, o que também é bem representado nas ilustrações do livro. Vejamos um
trecho:
Meu nome é Kabá Darebu. Tenho 7 anos e sou do povo munduruku. Meu
povo vive na floresta amazônica e gosta muito de natureza. Recebemos os
mesmos nomes de nossos antepassados, e meu avô escolheu este para mim,
para homenagear um sábio ancestral que não suportava a violência. [...] Meu
povo vive em casas feitas de barro, coberta com folhas de palmeiras, é
gostoso morar nesta casa porque de dia fica bem ventilado e a noite ela é
bem fresquinha. Na nossa língua nós a chamamos de UKA’A
(MUNDURUKU; KOWALCZYK, 2002, p. 3-4).
Quanto ao livro Tanto Tanto! (COOKE, 2008), trata-se da história de uma família
de classe média, em que a narrativa gira em torno do bebê. Apesar da pluralidade étnico-racial
presente nos dias de hoje nas famílias brasileiras, todos os membros da família são
71
identificados como negros. Reúnem em uma tarde para comemorar o aniversário do papai e
enquanto esperam pelo aniversariante não faltam paparicos para o bebê. A narrativa nos leva
a um dia na vida de uma família comum.
Figura 6 – Ilustração de página inteira do livro Ndule Ndule assim brincam as crianças
africanas.
Desse modo, a obra citada acima busca associar a presença da África em alguns
costumes brasileiros, mas, além disso, também expõe brincadeiras novas que podem ser
apresentadas às crianças, mostrando-se como um excelente mediador em direção à educação
para as relações étnico-raciais.
há obstáculos que se vencem com a força física, há outros mais difíceis que se vencem com o
pensamento e a inteligência.
Segundo o autor do livro, quando chega a noite, trata-se de um costume indígena
as pessoas sentarem ao redor da fogueira para ouvir e contar histórias de antigamente, muitas
dessas histórias são de ensinamento “contadas para dizer as crianças e jovens o que precisam
aprender” (MUNDURUKU, p. 4). Os contos desse livro acontecem na floresta e grande parte
dos personagens são animais.
Por que o Elefante tem tromba? (GAKUYA; LLOYD, 2012) conta a história de
um elefante que não tinha nariz, por este motivo não sentia seu “cheirinho fedido” e vivia
cheio de moscas ao seu redor. Um dia foi tomar banho no lago e lá encontrou o crocodilo que
puxou o nariz dele até que seu nariz se transformou em uma enorme tromba. É uma história
onde os personagens são animais selvagens, passa-se em uma savana africana e as cores das
ilustrações nos remetem à África.
O dia em que Ananse espalhou a sabedoria pelo mundo (MIRANDA, 2013) conta
uma lenda Africana. Kwaku Ananse, protagonista da história, é um homem que se achava
muito inteligente.
- “Realmente sou muito esperto. Não acredito que haja alguém mais
inteligente do que eu.” Mas, no mesmo instante veio-lhe uma dúvida e
Ananse ficou preocupado,
- “É certo que sou inteligente, mas existem tantos povos diferentes... Eu
posso não ser o mais sábio de todos, pode haver alguém mais sábio do que
eu!” Isso o incomodou muito e depois de refletir um pouco, teve uma ideia.
- “Vou sair pelo mundo e pedir um pouco de sabedoria a cada pessoa que eu
encontrar pelo caminho” (MIRANDA, 2013, p. 4-5).
E lá foi Ananse coletar sabedoria pelo mundo, com uma grande cabaça pendurada
nas costas, onde depositava toda sabedoria que recebia pelo caminho. Logo a cabaça ficou
cheia.
Olhando ao seu redor encontrou uma árvore, e decidiu esconder a cabaça em sua
copa. Tirou a cabaça das costas e amarrou em sua barriga imaginando que assim seria mais
difícil da cabaça cair durante sua escalada. Tentou subir na arvore inúmeras vezes sem
sucesso. Naquele momento o filho mais novo de Ananse apareceu, vendo a situação
perguntou ao pai se não seria mais fácil escalar com a cabaça nas costas. Ao refletir sobre a
fala do filho, percebeu que sempre haverá alguém mais sábio do que ele e que podemos
aprender muito uns com os outros.
Então Ananse levantou a grande cabaça no sentido do vento espalhando toda
sabedoria que coletou em cada canto do mundo. “E assim conta como a sabedoria veio ao
mundo” (MIRANDA, 2013, p. 15). A narrativa acontece aparentemente em uma savana
Africana, as pedras presentes nas planícies e a vegetação rasteira e seca confirmam a
representação de um espaço Africano. No entanto, trata-se da representação de uma África
exótica, o que reduz o continente a uma savana, minorando a existência de outras estruturas
geográficas.
77
outros. Em todas as obras onde os indígenas aparecem como personagens, eles vivem em
aldeias com os corpos despidos.
Desse modo percebemos que alguns dos livros analisados reiteram ícones e
estereótipos, retomando um passado bucólico, restringindo as possibilidades de produções de
práticas culturais que são produzidas e por vezes modificadas pelos diferentes grupos
culturais (FREITAS, 2014), devido até mesmo às transformações que o mundo atual vem
enfrentando. No mais,
Logo, alguns objetos das culturas africana e indígena se destacam, assim como a
cabaça no livro O dia que Ananse espalhou a sabedoria pelo mundo. O personagem principal,
Ananse, e seu filho são negros, os trajes e o ambiente nos remetem a uma savana da África.
Aparecem também personagens de outras culturas como chineses e indianos. As orelhas do
elefante no livro Por que o elefante tem tromba? aparecem nas cores vermelho e preto, além
das formas geométricas o que nos assinala a simbologia Africana.
79
Figura 13 – Ilustração de página inteira dos livros O dia que Ananse espalhou a
sabedoria pelo mundo e Por que o elefante tem tromba?
Outro fator relevante sobre as obras da cultura africana diz respeito aos trajes
utilizados pelos personagens negros: são roupas muito coloridas, lenços na cabeça e adereços,
o que também nos remete a uma perspectiva plural desta cultura; os livros cujos personagens
são apenas animais nos reportam uma savana africana.
Essas discussões não estão presentes apenas nesse tipo de texto, mas
permeiam a sociedade de maneira global, pois são temas que dizem respeito
à nossa sociedade como um todo, isso é, a literatura para crianças, hoje,
guarda características primordiais da arte, ou seja, olhar a sociedade e
devolver a essa sociedade uma matéria passível de discussão e mudança
(GREGORIN FILHO, 2009, p. 111).
No entanto, Mariosa e Reis (2011) ressaltam que ainda hoje, na grande maioria
dos livros presentes nas bibliotecas escolares, o que encontramos nas histórias infantis são
personagens de origem europeia, “mocinhas brancas, frágeis esperando por príncipes
encantados também brancos” (MARIOSA; REIS, 2011, p12). Em vista disso, as crianças que
fazem parte de outro grupo étnico não se identificam nessas obras, crescem com a sensação de
que o padrão do “belo e do bom” são aqueles com os quais se depararam nos livros infantis.
Sobre este assunto, Debus (2012) aponta que a presença de personagens negras e
elementos da cultura africana na literatura infantil quase que não existia até a década de 1970.
Ione Jovino (2006) agrega que grande parte desses textos, até 1930, trazia a personagem negra
representada como a empregada da família, retratada com um lenço na cabeça e um avental,
passava a maior parte do tempo na cozinha e não tinha voz nos enredos.
81
No que diz respeito aos personagens negros nos livros de literatura infantil,
vinham sendo representados de maneira estigmatizada, sempre ocupando o
papel de empregados. As mulheres, geralmente com lenço na cabeça e
avental, eram consideradas a eterna cozinheira e babá.
RIPOLL, 2010). No entanto, reconhecer que as pessoas são diferentes não é suficiente, é
preciso respeitar as diferenças, já que compreender a diversidade na perspectiva multicultural
nos possibilita falar das contribuições dos variados grupos étnicos.
Neste seguimento, estamos de acordo com Tomaz Tadeu da Silva (2001) quando
diz que o multiculturalismo é um movimento legítimo de reivindicações dos grupos culturais
dominados na busca por dispor suas práticas culturais, tornando-as reconhecidas e
representadas na cultura nacional, um importante instrumento de luta política em favor da
compreensão da diversidade cultural e da ideia de que não se pode estabelecer uma hierarquia
entre as culturas humanas, todas as culturas são equivalentes.
Dentro dessa ótica, foi possível observar na obra kabá Darebu o modo como
retratam a cultura indígena de uma maneira bastante enfática, tanto em suas narrativas quanto
nas ilustrações. No entanto, concordamos com Silveira, Bonin e Ripoll (2010),
frequentemente as obras que abordam a cultura indígena apresentam certas marcas de
exotismo, distanciando-se do cotidiano dos leitores.
Um fator relevante a se destacar vem a ser que na obra analisada a cultura
indígena é descrita no ambiente das aldeias, ademais, são apresentados muitos objetos como
arco e flecha e o maracá utilizados pelos povos indígenas para caça e rituais de cura, bem
como as pinturas corporais desenvolvidas por estes grupos étnicos. Atualmente nem todos os
povos indígenas são assim, hoje eles usam roupas da cultura urbana tem telefone celular
freqüentam escolas e faculdades.
Outro aspecto importante observado nas obras do kit refere-se à valorização das
pessoas mais velhas, visto que para esses povos representados as histórias, geralmente
contadas pelos mais velhos, desempenham um importante papel no tocante à transmissão
cultural (PAIVA, 2015). Isso evidencia, assim, na contemporaneidade, a importância de
registrar essas narrativas como fazem vários autores, proporcionando a inserção dos leitores
neste universo e impedindo que essas histórias se percam no esquecimento. Segundo Paiva
(2015, p. 160),
83
Nossas avós nos dizem que a tinta pode nos tornar invisíveis diante de
animais e peixes, mas para isso é preciso cantar e dançar para os espíritos da
floresta (MUNDURUKU; KOWALCZYK, 2002, p. 16).
tromba?, O dia que Ananse espalhou a sabedoria pelo mundo, O menino e o jacaré, kabá
Darebú e As peripécias do Jabuti. Assim, observa-se um paradoxo: ao mesmo tempo em que
essas imagens fazem alusão à valorização das práticas culturais desses grupos étnicos,
também nos leva a associá-las a algo primitivo, atrasado, distante das inovações tecnológicas.
Figura 15 – Ilustração de página inteira dos livros O menino e o jacaré e Por que o
elefante tem tromba?
Figura 16 – Ilustração de página inteira dos livros Lulu adora a Biblioteca e Tanto
Tanto!
Em suma, o que se percebe nas obras analisadas do kit é uma superação da forma
como os negros e os indígenas vêm sendo representados, os negros em contexto de estudo e
no convívio familiar o que já é uma mudança em como eles eram representados
anteriormente, quanto aos indígenas fica evidenciado a importância da cultura desses grupos
étnicos na formação de nosso país. Sem dúvida, as discussões relacionadas às diferenças
culturais e o trabalho com a diversidade vêm crescendo no ambiente escolar, no entanto ainda
são muitos os desafios para superar a forma estereotipa e superficial de tratar o tema.
87
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
7
Trecho retirado do livro O dia em que Ananse espalhou a sabedoria pelo mundo.
88
perspectiva, a educação deve voltar sua atenção para as questões das minorias e das
diversidades étnicas.
Na última alteração da LDB, os parâmetros curriculares nacionais e a inserção dos
chamados temas transversais aspiram à discussão de questões que fazem parte da formação
étnica e social do povo brasileiro (GREGORIN FILHO, 2009). Segundo este autor, tais temas
não necessariamente precisam vir explicitamente colocados nas obras, determinadas ações ou
cenas contidas nas fabulações já trazem essas discussões.
A esse respeito, as leis 10.639/2003 e 11.645/2008, ao determinarem a
obrigatoriedade do ensino da história e cultura dos grupos étnicos negros e indígenas em todas
as escolas do país, alertam para um horizonte de possibilidades e ao mesmo tempo conduzem
para um tratamento perante a interculturalidade no ambiente escolar, valorizando a
perspectiva dos referidos grupos étnicos na história, o que nos leva a entender que tais leis
abriram um campo de possibilidades.
As crianças, desde muito pequenas, são expostas a toda ordem de estímulos; pelos
discursos, vocabulário, imposições de referências únicas de estética e corpo, através dos mais
diversos agentes, incluindo a própria escola, refletindo a necessidade da ótica e da prática da
interculturalidade crítica (NUNES, 2017).
Atualmente, a literatura infantil constitui um espaço propício para a fruição
estética, até porque, sua finalidade primeira, como de qualquer obra de arte é promover na
criança o gosto pela beleza da palavra (MENDES; VELOSA, 2016, p. 122). Desse modo, “a
ilustração deve ser entendida como uma interpretação do texto, e não como uma mera
tradução ou explicação do legível.” Ainda a esse respeito,
Assim termina a história [...]. História essa que será contada e recontada
enquanto houver ouvidos curiosos dispostos a ouvir... (O menino e o jacaré – MATÉ, 2003).
91
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