Questão Social e Estado-Providência: Respostas Do Estado À Pobreza Enquanto Expressão Social
Questão Social e Estado-Providência: Respostas Do Estado À Pobreza Enquanto Expressão Social
Questão Social e Estado-Providência: Respostas Do Estado À Pobreza Enquanto Expressão Social
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Recebido em:15/3/2021
Aprovado em: 26/10/2021
Introdução
A questão social, enquanto objeto de análise, assim como o
debate crítico que dele decorre, é a pedra fundamental e principal
alicerce da especialização da profissão do Assistente Social2. Como se
sabe, este fora um tema muito importante, promotor de intenso debate
no século XIX, em cujo cerne deu-se origem às pesquisas e reflexões
das Ciências Sociais. Tal processo fora movido pelas conquistas do
sistema capitalista e por meio dos impactos da Revolução Industrial,
os quais puseram em pauta os problemas oriundos do contexto laboral
e econômico, em cuja discussão, ao ocuparem-se do espaço político,
acabaram por finalmente dar voz e visibilidade ao movimento da classe
operária. É imprescindível entender o caminho percorrido por essas
discussões que trouxeram as pautas das condições dos explorados
que, a princípio, eram naturalizadas e não problematizadas para bem
dos interesses e demandas daqueles que lucravam com tal empresa
exploratória. É, pois, neste sentido, que o escopo fundamental da
investigação que se apresenta a seguir, será perpassado pela análise
da relação do Quase-Estado-Providência3 com o processo de
2 “Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões
quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na
saúde, na assistência social pública etc. Questão social que, sendo desigualdade é também rebeldia, por
envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem e se opõem. É nesta tensão entre
produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais,
situados nesse terreno movidos por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles
fugir porque tecem a vida em sociedade”. (IAMAMOTO, 2000. p. 28 grifo da autora.)
3 cf. SANTOS; FERREIRA, 2002.
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17 cf., para um aporte mais detalhado aos impactos destes modelos, MIOTO, 2008; e SILVA,
2002.
18 cf., para uma análise detalhada deste processo, GUIMARÃES, 1979. p. 13, 14 et seq; e
IANNI, 1992. passim.
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Notas conclusivas
Como vimos, no capitalismo, a pauperização é resultado da
acumulação concentrada e desigual do capital entre as classes dos
dominadores e exploradores e os dominados. Desta feita, quanto maior
a riqueza, maior a desigualdade e maior a busca por uma acumulação
de capital. Após ter-se conseguido alocar a questão social na esfera
pública, exigindo a interferência do Estado, expressam-se disparidades
das classes sociais, marcando o início de um Estado-Providência
cujo papel é de reconhecimento legal de direitos e deveres do sujeito
social. A tendência de naturalizar a questão-social é acompanhada pela
transformação das suas expressões sociais que obtêm uma resposta
estadual de criminalização e programas assistenciais28. Com isso, as
expressões da questão social expressas na pobreza e na segregação
ou marginalização social são respondidas com o aumento de medidas
de filantropia e da transferência da responsabilização das respostas
competentes do Estado para a sociedade, apelando à solidariedade
da população portuguesa, por meio de redes informais – parentes ou
familiares – ou redes institucionais – ações de caridade ou instituições
privadas de seguridade social, constituintes do terceiro setor29.
O Quase-Estado-Providência traz às costas meio século de um
regime ditatorial e autoritarista com um forte peso criminalizador,
repressor e reclausorador da pobreza, que intervém de acordo com as
27 RUFINO, 2017. pp. 20-21.
28 cf. IAMAMOTO, 2001. passim.
29 cf. MARIA DE OLIVEIRA, 2004. p. 16.
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Referências
ABOIM, S.; VASCONCELOS, P.; WALL, K. Support, social networks
and the family in Portugal: two decades of research. Abingdon:
International Review of Sociology, 2013, v. 23, n. 1, p. 47-67.
ESTANQUE, E. A questão social e a democracia no início do século
XXI. Participação cívica, desigualdades sociais e sindicalismo. Lisboa:
Revista Finisterra, 2006, n. 55/56/57, p. 77-99.
GUADALUPE, S.; CARDOSO, J. As redes de suporte social informal
como fontes de provisão social em Portugal: o caso da população idosa
30 cf. SANTOS, 2002; e MONTAÑO, 2012.
31 SPOSATI; RODRIGUES, 1995, pp. 100-102.
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