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No mundo criado por mim…

O mundo, o que é? O mundo nu é lindo. O mundo vestido pelos humanos é deturpado. E


os anjos veem tudo. Anjos convivem com o bom e com o ruim, andam pelas ruas e
avenidas vendo a realidade da humanidade. E há aqueles que rondam o mundo
selecionando e reportando os comportamentos humanos. Esses são os Epifylakés,
vigias.
Epifylakés nunca andam sozinhos, sempre há mais de um para que o relatório do
cotidiano humano seja confiável. E é dentro de uma das patrulhas pressentes no solo
terrestre que nossa história começa. Kai e Kazumi, epifylakés do pitoresco litoral
da Europa. Com praias brancas e águas claras. Onde o céu é limpo e o ar respirável.
Eles nunca dormiam, mas viam cada nascer e por do sol juntos.As estrelas do céu
eram o arranjo de suas noites juntos e as árvores o presente para o dia.
A vida era fácil e a rotina era simples. Eles decidiam o que era puro ou não e
reportavam ao Criador. Cada grão da areia perolada era contado e cada segundo das
vinte e quatro horas cronometrados. Em meio ao serviço pacato dos serafins apenas
uma coisa era agitada: seus corações. Anos com os humanos os mostraram que o amor é
a droga mais pesada de todas. Muda seu comportamento, sua adrenalina e bom senso.
Viram pessoas caírem e levantarem em nome do amor, mas nunca pensaram que o amor os
atingiria.
Seres de luz, é o que os anjos são. Atração baseada na identidade criada pela
sociedade da Terra é algo que não os atinge. Mas mesmo assim, anjos não se
apaixonam. Eles trabalham, eles protegem e consertam. Anjos não vivem pois a vida é
um conceito humano. São satisfeitos e por isso felizes.
Mas Kai e Kazumi eram diferentes, e eles mesmos não sabiam. Não se sabe ao certo se
a mudança está em seus materiais genéticos, ou foi uma mudança externa, mas esses
epifylakés tinham os sentimentos e sensações humanas apurados. Eles sentiam o calor
na boca do estômago, mesmo não tendo um, sentiam os arrepios na alma e a o
formigamento no espírito, assim como qualquer ser apaixonado.
E a história deles juntos começou numa manhã fria, o céu ainda estava um roxo
quase lilás, algumas estrelas teimosas permaneciam no céu enquanto o Grande Astro
levantava de seu sono. A manhã era fria pois era primavera, chovera a noite e podia
se sentir no ar a mistura de terra recém regada pela garoa da noite e flores recém
abertas. E num cenário romântico uma cena triste se passava… uma menina chamada
Jane estava partindo. A mesma que criou pessoas e histórias, que coloriu e desbotou
romances inteiros, foi a pessoa que fez nossos Anjos pensarem sobre o amor. Ela
estava partindo, sua hora havia chegado. Kai e Kazumi haviam criado um laço com
aquela garota, após reportarem que a mesma usava o nome do irmão para publicar
histórias magníficas, os dois abriram caso para ela! E a partir daquele momento
eles a acompanharam. Sussurrando narrativas, relatando altos e baixos, limpando
lágrimas e acompanhando momentos de riso! Eles estavam lá, e ela nunca os vira. Até
o momento de seus últimos suspiros eles permaneceram… Sabendo da fadada morte de
Jane a dupla de anjos usaram todos os seus domínios para aparecerem no mundo
metafísico para ela, e no suspiro final a autora admitiu:
O amor de minhas palavras veio do amor de suas almas juntas. Eu não os via, mas
sentia o poder que vocês têm juntos. Seus espíritos emanam paixão.
E foi com essas palavras, em uma manhã gélida, que a semente do conhecimento e
dúvida foi plantada no coração daqueles jovens serafins.
Ano após ano guardava-se sentimentos e sensações. Momento após momento guardava-se
pensamentos e desejos. E nada disso fez com que algo fosse admitido. Mas a semente
que foi plantada não morreu. O solo era fértil e propício. Eles viviam juntos. Cada
um com seus sentimentos, e ninguém falava nada… E assim viveram por anos.
Foi apenas nos nossos anos 70, os anos de discotecas e músicas agitadas, que os
dois vigias foram percebidos. Não por eles mesmos e sim pelo Criador. Aquele que
sabe tudo vendo a confusão de suas criações mandou que acalmassem seus corações,
caso contrário voltariam para o céu, onde não se reconheceriam mais.
Os anjos, amedrontados se separaram para pensar. Mal sabiam eles que o pensamento
era um só: Como ficariam juntos?

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