Veronica López

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

FACULDADE DE ENGENHARIAS, ARQUITETURA E URBANISMO E GEOGRAFIA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E SUSTENTABILIDADE
TRABALHO DE CONCLUSÃO FINAL DE CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM

AVALAÇÃO TERMOENERGÉTICA
PRELIMINAR DE EDIFICAÇÕES
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E SUSTENTABILIDADE

VERTICAIS EM ASSUNÇÃO,
CAPITAL DA REPÚBLICA DO
PARAGUAI

VERONICA LÓPEZ

CAMPO GRANDE
2015
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
FACULDADE DE ENGENHARIAS, ARQUITETURA E URBANISMO E GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E SUSTENTABILIDADE

AVALIAÇÃO TERMOENERGÉTICA PRELIMINAR DE


EDIFICAÇÕES VERTICAIS EM ASSUNÇÃO, CAPITAL DA
REPÚBLICA DO PARAGUAI

VERONICA LÓPEZ

CAMPO GRANDE
2015
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
FACULDADE DE ENGENHARIAS, ARQUITETURA E URBANISMO E GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E SUSTENTABILIDADE

AVALIAÇÃO TERMOENERGÉTICA PRELIMINAR DE


EDIFICAÇÕES VERTICAIS EM ASSUNÇÃO, CAPITAL DA
REPÚBLICA DO PARAGUAI

VERONICA LÓPEZ

Trabalho de Conclusão de Curso do Mestrado


Profissional apresentada na Faculdade de
Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia
da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
para a obtenção do título de Mestre em Eficiência
Energética e Sustentabilidade, na área de
concentração de Eficiência Energética.

Orientador: Prof. Dr. Wagner Augusto Andreasi

CAMPO GRANDE
ABRIL / 2015
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
FACULDADE DE ENGENHARIAS, ARQUITETURA E URBANISMO E GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E SUSTENTABILIDADE

Redação final do Trabalho de Conclusão Final de Curso defendida por


VERONICA LÓPEZ, aprovada pela Comissão Julgadora em 24 de abril de 2015,
na Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul para obtenção do titulo de Mestre em
Eficiência Energética e Sustentabilidade.

__________________________________
Prof. Dr. Wagner Augusto Andreasi – Orientador
FAENG/UFMS

_________________________________________
Prof. Dr. Ana Paula Da Silva Milani – Membro Titular
FAENG/UFMS

______________________________________
Prof. Dr. Jorge Luiz Steffen – Membro Titular
FAENG/UFMS
A minha mãe Eliane...
Esta vitória eu a dedico a você mãe, que
esteve comigo em todos os momentos e
não deixou que a distância te impedisse.
Obrigada por me apoiar e ajudar a
realizar sonhos que pareciam
impossíveis e por não duvidar das
minhas capacidades em nenhum
momento! Dedico a você este trabalho,
por ter me proporcionado apoio
incondicional e por me desejar sempre o
melhor. Dedico a você mãe, pois apesar
das dificuldades, nunca permitiu que o
desanimo ou a tristeza influenciasse
fortemente nas nossas vidas!

iv
AGRADECIMENTOS

Aos que acompanharam meus passos nesta fase, muito obrigada!

Primeiramente, agradeço a Deus que me deu impulso para seguir a


minha caminhada e chegar ao meu objetivo.

Agradeço à minha mãe Eliane, irmãos Elaine e Alexis, e aos meus


bisavôs Trinidad e Luciano, que me deram forças para seguir em frente.

Obrigada ao meu orientador, Prof. Dr. Wagner Augusto Andreasi,


que com dedicação, competência e eficiência guiou-me à conclusão deste
mestrado.

Aos meus colegas e amigos do LADE, que em todo momento me


auxiliaram com a pesquisa e com inúmeras outras questões, muito obrigada
Nathalya, Julia, Luis Fernando, Francisco, Eudoro e Tássio e em especial,
eu agradeço ao Fernando (FHP), que de forma gentil sempre me auxiliou a
encontrar respostas às várias dúvidas que surgiram durante todo o processo
da pesquisa.

A todos que colaboraram direta e indiretamente na realização da


pesquisa, muito obrigada!

v
“Não é pela força nem pelo teu
poder que tu triunfarás, mas pelo
meu espírito, diz o Senhor todo-
poderoso”
Zacarias 4:6

vi
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................ 15
1.1 JUSTIFICATIVA ...................................................................... 17
1.2 OBJETIVOS ............................................................................. 20
1.2.1 Objetivo Geral ........................................................ 20
1.2.2 Objetivos Específicos .............................................. 20
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................... 21

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................... 22


2.1 ENERGIA E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM EDIFICAÇÕES
NO MUNDO............................................................................. 22
2.1.1 Energia e Eficiência Energética em Edificações na
América do Sul ....................................................... 25
2.1.2 Energia e Eficiência Energética em Edificações no
Paraguai ................................................................. 28
2.2 DESEMPENHO TÉRMICO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM
EDIFICAÇÕES......................................................................... 36
2.3 ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA .......................................... 40
2.4 CARTA BIOCLIMÁTICA ........................................................ 41
2.4.1 Estratégias Bioclimáticas indicadas pela Carta
Bioclimática ........................................................... 41
2.4.2 Métodos de Avaliação Bioclimática Utilizados pela
Carta Bioclimática .................................................. 44
2.4.2.1 Avaliação Bioclimática através das Normais
Climatológicas .................................................. 44

3 METODOLOGIA ............................................................................. 46
3.1 QUESTIONÁRIO ..................................................................... 46
3.2 EQUIPAMENTOS PARA COLETA DE DADOS CLIMÁTICOS
................................................................................................. 47
3.2.1 HOBO Temp/RH .................................................... 47
3.3 TEMPO DE UTILIZAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS
ELÉTRICOS ............................................................................. 49
3.3.1 Analisador de Energia CIBER modelo CEM1000 .... 49
3.4 CARTA BIOCLIMÁTICA DE ASSUNÇÃO............................. 50
vii
3.5 MONITORAMENTO ................................................................ 52
3.5.1 Localização de Sensores .......................................... 53
3.6 EDIFICAÇÕES MONITORADAS ............................................ 54
3.6.1 Primeiro Grupo – Edificações Localizadas no Centro
Histórico de Assunção ............................................. 54
3.6.1.1 Edifício Líder IV ................................................ 54
3.6.1.2 Edifício Ybaga ................................................... 56
3.6.2 Segundo Grupo – Edificações Localizadas a 1 km do
Centro Histórico de Assunção .................................. 60
3.6.2.1 Edifício Fortaleza III .......................................... 60
3.6.2.2 Edifício Figueiras ............................................... 63

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES....................................................... 65
4.1 CARTA BIOCLIMÁTICA DE ASSUNÇÃO ............................. 65
4.2 RESULTADOS DOS MONITORAMENTOS ............................ 68
4.2.1 Edifício Líder IV ..................................................... 68
4.2.1.1 Desempenho Térmico do Ambiente .................... 70
4.2.1.2 Comparação de Dados Obtidos e Carta
Bioclimática....................................................... 72
4.2.1.3 Características Construtivas e suas Influências no
Espaço Interno ................................................... 74
4.2.1.4 Consumo de Energia Elétrica.............................. 75
4.2.1.5 Ganho Térmico do Ambiente.............................. 77
4.2.1.6 Análise Conclusiva da Edificação ....................... 78
4.2.2 Edifício Ybaga......................................................... 79
4.2.2.1 Desempenho Térmico do Ambiente .................... 80
4.2.2.2 Comparação de Dados Obtidos e Carta
Bioclimática....................................................... 82
4.2.2.3 Características Construtivas e suas Influências no
Espaço Interno ................................................... 83
4.2.2.4 Consumo de Energia Elétrica.............................. 84
4.2.2.5 Ganho Térmico do Ambiente.............................. 85
4.2.2.6 Análise Conclusiva da Edificação ....................... 86
4.2.3 Edifício Fortaleza III................................................ 87
4.2.3.1 Desempenho Térmico do Ambiente .................... 89
4.2.3.2 Comparação de Dados Obtidos e Carta
Bioclimática....................................................... 90
4.2.3.3 Características Construtivas e suas Influências no
Espaço Interno ................................................... 92
4.2.3.4 Consumo de Energia Elétrica.............................. 93
4.2.3.5 Ganho Térmico do Ambiente.............................. 94
viii
4.2.3.6 Análise Conclusiva da Edificação ...................... 95

4.2.4 Edifício Figueiras.................................................... 95

4.2.4.1 Desempenho Térmico do Ambiente ................... 97

4.2.4.2 Comparação de Dados Obtidos e Carta


Bioclimática ...................................................... 98

4.2.4.3 Características Construtivas e suas Influências no


Espaço Interno .................................................. 99

4.2.4.4 Consumo de Energia Elétrica ............................100

4.2.4.5 Ganho Térmico do Ambiente ............................101

4.2.4.6 Análise Conclusiva da Edificação .....................102

5 CONCLUSÕES................................................................................103

6 PROPOSTA DE TRABALHOS FUTUROS .....................................106

REFERÊNCIAS ....................................................................................107

APÊNDICE A- Questionário..................................................................115

ix
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 - Crescimento do Consumo de Energia Elétrica e PIB no Brasil


......................................................................................... 26
Figura 2.2 - Localização de Assunção ...................................................... 29
Figura 2.3 - Mapa de localização, em vermelho Región Centrada em el Este
de Paraguay. ...................................................................... 30
Figura 2.4 – Divisão regional do Paraguai ................................................ 31
Figura 2.5 - Zonas de Estratégia da Carta Bioclimática ............................. 42
Figura 2.6 - Carta Bioclimática. ............................................................... 45
Figura 3.1 - HOBO Temp/RH - H08-003-02. ........................................... 48
Figura 3.2 - Analisador de Energia CIBER modelo CEM1000. ................. 49
Figura 3.3 - Sensor para coleta de dados externos. .................................... 52
Figura 3.4 - Carta Solar de Assunção. ...................................................... 53
Figura 3.5 - Localização dos edifícios do primeiro grupo. ......................... 54
Figura 3.6 - Fachada principal Edifício Líder IV ...................................... 55
Figura 3.7 - Fachada Edifício Líder IV ..................................................... 55
Figura 3.8 - Fachada principal .................................................................. 58
Figura 3.9 - Fachada lateral ...................................................................... 58
Figura 3.10 - Localização de edificações do segundo grupo. ..................... 60
Figura 3.11 - Vista Edifício Fortaleza III .................................................. 61
Figura 3.12 - Vista Edifício ...................................................................... 61
Figura 3.13 - Edifício Figueiras................................................................ 63
Figura 4.1 - Carta Bioclimática de Assunção. Fonte: Software Analysis Bio.
......................................................................................... 66
Figura 4.2 - Estratégias indicadas pela Carta Bioclimática para o mês de
Fevereiro ............................................................................ 67
Figura 4.3 - Umidade Relativa interna e externa do ar .............................. 69
Figura 4.4 - Temperatura interna e externa do ar....................................... 70
Figura 4.5 - Dia de Referência - Edifício Líder IV .................................... 72
Figura 4.6 - Umidade Relativa interna e externa do ar .............................. 79
Figura 4.7 - Temperatura interna e externa do ar....................................... 80
Figura 4.8 - Dia de Referência Edifício Ybaga ......................................... 81
Figura 4.9 - Umidade Relativa interna e externa do ar .............................. 87
Figura 4.10 - Temperatura interna e externa do ar ..................................... 88
Figura 4.11 - Dia de Referência Edifício Fortaleza III............................... 90
Figura 4.12 - Fachada Edifício Fortaleza III. ............................................ 92
Figura 4.13 - Umidade Relativa interna e externa do ar............................. 96
Figura 4.14 - Temperatura interna e externa do ar ..................................... 96
Figura 4.15 - Dia de Referencia edifício Figueiras .................................... 98
x
LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 - Produção e Consumo de Eletricidade no Paraguai. ................ 18

Tabela 2.1 - Energia produzida no Paraguai utilizando recursos renováveis,


no ano de 2012. ........................................................... 33

Tabela 3.1 - Características do Edifício Líder IV. .................................... 56

Tabela 3.2 - Características do Edifício Ybaga. ........................................ 59

Tabela 3.3 - Características do Edifício Fortaleza III. ............................... 62

Tabela 3.4 - Características do Edifício Figueiras. ................................... 64

Tabela 4.1 - Normal Climatológica do mês de fevereiro. .......................... 68

Tabela 4.2 - Médias de dados climáticos coletados durante a pesquisa: .... 73

Tabela 4.3 - Equipamentos. ..................................................................... 76

Tabela 4.4 - Consumo de equipamentos analisados .................................. 76

Tabela 4.5 - Médias de dados climáticos coletados durante a pesquisa ..... 83

Tabela 4.6 - Equipamentos. ..................................................................... 84

Tabela 4.7 - Consumo de equipamentos................................................... 85

Tabela 4.8 - Médias de Variáveis Climáticas coletadas durante a pesquisa 91

Tabela 4.9 - Equipamentos ...................................................................... 93

Tabela 4.10 - Consumo de equipamentos elétricos ................................... 94

Tabela 4.11 - Média de variáveis climáticas coletadas durante a pesquisa 99

Tabela 4.12 – Equipamentos. .................................................................100

Tabela 4.13 - Consumo de equipamentos . ..............................................101

xi
LISTA DE SIGLAS

AChEE Agencia Chilena de Eficiencia Energética

ANDE Administración Nacional de Electricidad

BEM Balance Energético Nacional

BTU Unidade Térmica Britânica

DINAC Dirección de Meteorología e Hidrología

ENCE Etiqueta Nacional de Conservação de Energia

LabEEE Laboratório de Eficiência Energética em Edificações

MME Miniaterio de Minas e Energia

OMM Organização Meteorológica Mundial

PROCEL Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica

SIEN Sistema de Información Energética Nacional

SIN Sistema de Interconexión Nacional

TBS Temperatura de bulbo seco

TBU Temperatura de Bulbo úmido

xii
RESUMO

LÓPEZ, Veronica (2015). Avaliação Termoenergética Preliminar de


Edificações Verticais em Assunção, Capital da República do Paraguai.
Campo Grande, 2015. 88 p.Trabalho de Conclusão de Curso (Mestrado
Profissional) – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil.

A eficiência energética em edificações constitui questão bastante estudada


em vários países do mudo; no Paraguai, porém, o assunto não tem sido
muito explorado ou valorizado. Desta forma, este trabalho analisou, através
de estudos de caso o desempenho térmico de edificações localizadas em
Assunção, capital da República do Paraguai, de maneira a apontar as
características da edificação, assim como de uso e ocupação, que
influenciam de modo mais intenso no consumo energético. Para o
desenvolvimento da pesquisa, foram instalados nas edificações sensores
para coleta de variáveis climáticas, de forma a encontrar os níveis de
temperatura e umidade relativa do ar tanto interna quanto externa. Para
coleta de dados de uso e ocupação, foi utilizado questionário contento
perguntas sobre o funcionamento geral das salas estudadas em cada
edificação. Os resultados demonstraram que a falta de uso ou aplicação
errônea de estrategias bioclimáticas é a maior causa das temperaturas
inadequadas para os ambientes, observadas dentro da maioria das
edificações analisadas.

Palavras- chaves: eficiência energética em edificações, desempenho


térmico, consumo energético, Paraguai, estratégias bioclimáticas.

xiii
ABSTRACT

Energy efficiency in buildings is an issue widely studied in several


countries around the world; in Paraguay, however, it has not been much
explored or valued. Thus, this study analyzed through case studies the
thermal performance of buildings located in Asuncion, capital of Paraguay,
in order to point out the characteristics of the building, as well as use and
occupancy that influence more intensely energy consumption. For the
development of the research, sensors were installed in the buildings to
collect climatic variables in order to record air temperature and relative
humidity levels both internal and external. To collect use and occupation
data, a questionnaire was used regarding questions about the general
operation of the rooms studied in each building. The results showed that the
lack of use or misapplication of bioclimatic strategies is the major cause of
inadequate temperatures in the environments, which was observed in most
of the analyzed buildings.

Keywords: energy efficiency in buildings, thermal performance, energy


consumption, Paraguay, bioclimatic strategies.

xiv
15

1 INTRODUÇÃO

A construção de edifícios inadequados, tanto para a cultura como


para o clima da região de implantação, é um fenômeno proveniente da
internacionalização dos estilos arquitetônicos considerados símbolos do
poder, como arranha-céus envidraçados. Essa tendência tem grande
responsabilidade sobre as edificações ineficientes encontradas em várias
cidades do mundo pois, para a correção dos efeitos desfavoráveis causados
pela falta de integração da construção com o clima local, é primordial a
instalação de sistemas de condicionamento artificial que, na maioria das
vezes, geram alto gasto energético. Por outro lado, o acréscimo
populacional combinado com a falta de construção ou adequação de
edifícios de acordo com as características climáticas do local, tem sido
considerado um ponto preocupante para países que buscam
desenvolvimento sustentável. Assim, a criação de normas de eficiência
energética em diversas partes do mundo tem sido impulsionada pelo
aumento da demanda por esse tipo de edificações, como também pela
expansão do consumo de energia (LAMBERTS, DUTRA e PEREIRA,
2014).
Essas normatizações, em geral, classificam as edificações de acordo
com o seu nível de consumo energético, estabelecendo, assim, uma noção
sobre a quantidade de energia usada pela edificação em comparação com as
demais (JAIN, TAYLOR e PESCHIERA, 2012; DIAZ, WILBY e
GONZÁLEZ, 2013).
No Paraguai, com a criação do Comitê Nacional de Eficiência
Energética, no ano de 2011, foram colocadas em pauta as questões
referentes ao uso de energia. Porém, justificando-se pela criação recente, o
16

comitê tem realizado poucas ações efetivas, limitando-se, por enquanto, a


estabelecer objetivos, alguns dos quais são citados a seguir:
 identificar projetos e programas existentes relacionados à
eficiência energética;
 analisar e identificar fontes de financiamento de projetos;
 analisar e implantar fatores fiscais, financeiros e tributários;
 estabelecer critérios de eficiência energética (normatização
e etiquetagem de produtos, substituição de fontes, etc.);
 criar uma campanha de promoção e difusão;
 elaborar um Plano de Uso Eficiente de Energia, em todos os
seus aspectos.

Atualmente, no Paraguai, não há nenhum tipo de programa de


redução de uso de energia voltado às edificações. Se o setor imobiliário é
importante consumidor de energia elétrica em todo o mundo, de forma
similar, no Paraguai, ele constitui a seção de maior consumo e, dessa forma,
uma parte com grande potencial de redução do gasto energético nacional,
mediante a implantação de normativas. Isso torna o desempenho térmico da
edificação um importante influenciador do nível de consumo de energia.
Assim, projetos que visam implantar estratégias bioclimáticas e que
buscam favorecer a incidência de fatores ambientais benéficos para a
edificação conseguem otimizar o desempenho térmico das edificações,
causando uma diminuição no uso de sistemas de condicionamento artificial,
criando ambientes mais eficientes energeticamente.
Para uma futura implantação de normativas que tornem as
edificações paraguaias mais eficientes, é essencial, primeiramente, a análise
e o conhecimento das características construtivas, arquitetônicas e
funcionais dessas construções. Com esse intuito, esta pesquisa descreve tais
17

particularidades por meio de estudos de caso, fazendo uma combinação com


dados de variáveis climáticas (umidade relativa e temperatura de ar interna
e externa), de forma a demonstrar o comportamento térmico da edificação.
Este trabalho é de grande relevância, pois os resultados obtidos poderão
oferecer um suporte empírico para a elaboração de regulamentos
direcionados a tornar edifícios construídos no Paraguai mais eficientes.

1.1 JUSTIFICATIVA

O crescimento econômico, associado ao aumento de consumo de


energia, necessita de regulamentações que direcionem a um futuro com uso
racional de recursos energéticos. Uma das medidas que possibilitam a
racionalização da energia no crescimento dos países é a normatização da
eficiência energética em edificações (LAMBERTS e CARLO, 2004).
Nesse contexto, o Paraguai, país que atualmente enfrenta cortes de
abastecimento de energia elétrica por causa do sucateamento das linhas de
transmissão e distribuição, também pode reduzir a alta demanda de energia
elétrica, por meio da eficiência energética em edificações.
Segundo Pulfer (2005), em junho de 2005, a Administración
Nacional de Electricidad (ANDE) contabilizou 1.042.000 usuários, dos
quais 86% constituíam residências, 10,4% comércios, 1,3 % setor industrial
e 2,4% entidades governamentais. Assim, em 2005, de toda a energia
elétrica aplicada no país, residências utilizaram 38,7% (1937,66 GWh), o
comércio consumiu 17,7% (884,05 GWh), as indústrias 24,9% (1294,67
GWh) e as entidades governamentais um total de 18,7% (937,43 GWh).
Com o crescimento econômico e populacional do Paraguai, as
interrupções no abastecimento elétrico serão cada vez mais frequentes, pois
a falta de recursos econômicos para o melhoramento do sistema de
transmissão tende a ser permanente, já que a cada ano é feita uma previsão
18

de investimento no sistema elétrico; porém, as melhorias não são atingidas,


pois os investimentos financeiros não são realizados.1
No Paraguai, a geração de energia elétrica sofreu considerável
variação entre os anos de 2011 e 2013. No ano de 2011, a produção bruta de
eletricidade, no país, alcançou 57.620 GWh, dos quais 11.500 GWh
restaram para o consumo nacional. Em 2012, a produção de energia
aumentou 4,5% em relação a 2011, chegando a 60.230 GWh. Já o consumo
de eletricidade dos comércios e residências aumentou 10,6% em 2012, e o
setor industrial apresentou um acréscimo de consumo de 5,6%, entre 2011 e
2012. Dessa forma, pode-se observar que o consumo tem aumentado mais
que a produção de energia elétrica no país. Essa tendência de maior
crescimento do consumo em relação à produção de eletricidade repete-se no
ano de 2013 e com um agravante: nesse ano, a produção de eletricidade
decresceu 16,11% em relação a 2012 (Tabela 1.1) (PARAGUAY, 2014b).

Tabela 1.1 - Produção e Consumo de Eletricidade no Paraguai.


ELETRICIDADE (GWh) 2011 2012 2013
Produção 57.624,99 60.234,61 50.530,6
Exportação 46.119,83 47.662,72 39.849,82
Oferta total 11.505,16 12.571,89 10.680,78
Centrais hidroelétricas 57.624,99 60.234,61 50.530,6
Setor residencial 4.609,79 5.098,25 4.559,24
Setor industrial 1.709,46 1.805,79 1.609,7
Setor público e outros 1.251,27 1.318,22 1.271,24
Consumo energético 7.570,52 8.222,26 7.440,18
Consumo final 7.570,52 8.222,26 7.440,18
Perdas 3.433,4 3.845,14 2.658,64
Fonte: SIEN, 2014.

1
America Economia: Disponível em: <http://www.americaeconomia.com/negocios-
industrias/ex-titular-de-la-administracion-de-electricidad-afirma-que-crisis-se-veia-
venir>. Acesso em: 11 nov. 2014.
19

Entre 2011 e 2012, o setor residencial destacou-se por apresentar o


maior acréscimo no uso de energia elétrica no Paraguai, atingindo 9,3% de
aumento no índice de consumo de energia elétrica residencial por habitante,
o que significa que o gasto médio de eletricidade, nos lares paraguaios,
intensificou-se de maneira notável em relação aos anos anteriores. Dessa
forma, no ano de 2012, as residências representaram 43,3% na estrutura do
consumo total de energia elétrica no país. Assim, segundo esses dados, os
níveis de gasto de energia nas residências exibem altas que podem ser
fortalecidas com a ascensão de classes sociais com o desenvolvimento
econômico, pois famílias com maior poder aquisitivo têm maior poder de
compra e, por consequência, maior poder de consumo energético
(PARAGUAI, 2013). O Balance Energético Nacional (BEM) 2012 também
indica que o consumo final de energia por habitante no país, no ano de
2012, sofreu um aumento de 0,4% em relação a 2011. Desta forma, todas
estas informações sugerem que o consumo energético, no Paraguai, tende ao
aumento, mesmo com um baixo ou mínimo desenvolvimento econômico.
Especificamente, a energia elétrica apresentou acréscimo de 6,8% de
gasto por habitante, entre 2011 e 2012, sendo a maior variação de consumo
desse tipo de energia no país, seguida do consumo por habitante de
derivados de petróleo, que teve aumento de 1,28%, em 2012, em relação a
2011 (PARAGUAI, 2013b).
A tendência do crescimento do uso de energia no setor residencial
confirma-se, segundo o BEN 2013. Esse relatório indica que, em 2013, o
consumo nacional de energia elétrica aumentou 9,7%, em relação ao ano de
2012. O setor residencial superou o crescimento apresentado em 2012
(9,3%), atingindo 10% em 2013, representando, assim, 44,9% do total
registrado em nível nacional (PARAGUAI, 2014).
Já que os grandes investimentos na manutenção ou ampliação da
rede de distribuição de energia elétrica não são concretizados, as estratégias
20

de eficiência energética seriam aliadas importantes para a diminuição do


consumo da energia elétrica no Paraguai. Com edificações mais eficientes, o
sistema elétrico poderia operar de forma mais eficaz, pois as demandas
seriam diminuídas consideravelmente.
Neste sentido, este trabalho analisou o desempenho energético da
envoltória de edificações verticais, localizadas na cidade de Assunção,
capital do Paraguai, assim como o consumo elétrico de alguns
equipamentos eletroeletrônicos utilizados nesses prédios, visando
caracterizar o comportamento do gasto de eletricidade das edificações e
apontar as particularidades, tanto construtivas como funcionais, que
determinam seu nível de consumo de energia elétrica. A análise foi feita
através de estudos de caso que avaliaram uma sala em cada edificação.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Avaliar edificações verticais localizados em Assunção – Capital da


República do Paraguai, de forma a apontar as características da edificação,
assim como de uso e ocupação, que influenciam de forma mais intensa no
consumo energético.

1.2.2 Objetivos Específicos

 Avaliar as características do envelope construído das


edificações com relação ao desempenho térmico;

 Avaliar a eficiência do sistema construtivo das edificações


estudadas, de acordo com as características climáticas de
Assunção/Paraguai;
21

 Verificar o consumo de energia elétrica de alguns


equipamentos eletroeletrônicos utilizados nos ambientes
internos.

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO

O trabalho está organizado em seis capítulos: o primeiro apresenta


uma introdução ao tema, descrevendo o problema pesquisado e os objetivos
perseguidos.
O segundo capítulo traz uma revisão bibliográfica referente à
eficiência energética em edificações e à produção de energia no mundo, na
América do Sul e, finalmente, no Paraguai. Assim como de outras questões
importantes para a pesquisa.
No terceiro capítulo, é descrita a metodologia utilizada no trabalho.
Primeiramente, descrevem-se as características da edificação estudada e os
tipos de variáveis climáticas; logo, são apresentados os equipamentos de
medição utilizados para a realização dos monitoramentos das variáveis
climáticas, consumo de energia elétrica e funcionamento dos edifícios.
Já no quarto capítulo, são apresentados os dados coletados nas
edificações analisadas.
O quinto capítulo aborda os resultados e discussões apartir da análise
dos dados coletados. No sexto e último capítulo são apresentadas as
conclusões da pesquisa.
22

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 ENERGIA E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM EDIFICAÇÕES


NO MUNDO

O setor imobiliário é um dos maiores responsáveis pelo alto


consumo de energia em todo o mundo. Em vários países europeus,
transações imobiliárias exigem a apresentação de selos de nível de consumo
energético das edificações, pois dessa forma os possíveis compradores ou
locatários podem ter informações sobre custos da energia que é consumida
pelo edifício (PELLEGRINI-MASINI e LEISHMAN, 2011; PORRITT et
al., 2012).
No Reino Unido, edificações de escritórios foram responsáveis por
11% de toda a energia consumida no ano de 2007. Naquele país, a escassez
de interesse em realizar investimentos em edificações energeticamente
eficientes tem raiz no baixo valor pago pela energia elétrica, em
comparação com o alto valor de aluguel aplicado pela maioria dos
locatários de edifícios. Assim, o valor gasto com a energia elétrica não
representa um problema financeiro para o locador, pois o seu alto poder
econômico permite optar por imóveis de alto padrão e grande valor de
arrendamento (PELLEGRINI-MASINI e LEISHMAN, 2011).
Ainda no continente europeu, Mata et al. (2013) realizaram um
estudo sobre o consumo energético em residências da Suécia. Os edifícios
foram analisados com enfoque no estado atual, em termos de consumo de
energia, tecnologia, qualidade do ar interno e estado de manutenção. Os
resultados demonstraram que o setor é responsável por utilizar 21% da
energia do país. De maneira a estimar as modificações necessárias para a
redução do consumo energético das residências, os pesquisadores
realizaram simulações computacionais em que foram aplicadas medidas de
23

economia de energia, como: a mudança do tipo de envelope e a instalação


de equipamentos mais eficientes.
Intervenção semelhante foi realizada em edifícios educacionais em
diferentes regiões da Europa (Itália, Espanha, Reino Unido). O projeto foi
testado com o objetivo de demonstrar a eficácia das estratégias de uso
racional de energia, apresentando modelos para futuras aplicações em outras
tipologias de edificações. As instituições educacionais escolhidas foram
monitoradas, visando a análise do consumo de energia do edifício e a
identificação de possíveis intervenções para a substituição de tecnologias
existentes, de forma a reduzir o consumo de combustível e eletricidade.
Como resultado, o projeto apresentou um maior incentivo ao uso racional de
energia e estabeleceu um modelo de gestão de energia ambientalmente
adequado para edificações públicas (DESIDERI et al., 2012).
Aspectos negativos à massiva implantação de programas de
eficiência energética em edificações começaram a ser analisados, em alguns
países. A diminuição do consumo de energia elétrica, por exemplo, poderia
provocar uma redução do PIB, em um primeiro momento; porém, essa
implicação negativa seria um efeito temporário que, em médio prazo,
apresentaria boas consequências ao desenvolvimento econômico do país, já
que o crescimento econômico seria conseguido sem que os recursos
energéticos corressem um alto risco de serem extintos (CROUCHER,
2012).
Nos Estados Unidos da América (EUA), segundo o US Department
of Energy’s apud Nelson (2012), o consumo total de energia em edifícios
aumentou em 40% entre 1985 e 2006, rendendo receitas imensas que
ultrapassaram 290 bilhões de dólares em 2008. Assim, a redução no
consumo de eletricidade, certamente, causaria um forte impacto sobre a
arrecadação de receita do país. Isso, inicialmente, pode parecer negativo
para o desenvolvimento econômico. No entanto, segundo Croucher (2012),
24

com a prática das medidas de eficiência energética, o PIB do país


diminuiria, em um primeiro período de adaptação, mas logo voltaria a
aumentar de forma mais rápida do que cresceria sem a implementação dos
códigos de redução do uso de energia.
Nos EUA, essa visão que se aproxima da negatividade da eficiência
energética, segundo Croucher (2012), fundamenta-se na redução de lucros,
já que a diminuição do consumo faz com que as receitas de serviços
públicos caiam. Outra questão comentada se baseia no fato de que o
indivíduo que adotou medidas de eficiência energética poupa um
determinado valor (o preço da energia por kWh), enquanto o produtor da
energia economiza uma quantidade diferente, pois, para o produtor, o valor
economizado pela redução da produção é inferior ao que poderia ser ganho
pela energia que deixou de ser vendida.
Apesar de certas ponderações contrárias de pesquisadores da área
financeira à eficiência energética nos EUA, no país, já foram realizadas
inúmeras estratégias para a solidificação de um sistema energético
racionalizado, pois a eficiência no uso de recursos energéticos tem sido um
dos pilares da política energética nos últimos anos. Um exemplo disso pode
ser observado com o programa chamado Industrial Assessment Centres
(IAC) do US Department of Energy’s Office of Energy Efficiency and
Renewable, que tem como objetivo principal direcionar indústrias ao
aumento de produtividade, reduzindo o impacto ambiental por meio da
eficiência energética, minimizando os resíduos e prevenindo a poluição
atmosférica. Esse trabalho é feito por meio de auditorias energéticas ou
avaliações realizadas nas empresas e, como resultado, apresentam
recomendações de mudanças estratégicas no funcionamento da indústria
para otimizar o consumo de energia (ABADIE, GALARRAGA e ORTIZ,
2012).
25

Assim, os estudos realizados no mundo demonstram a importância


da implantação de políticas energéticas mais eficientes. As edificações são
foco de pesquisas em vários países, pois o setor é um grande consumidor
energético e possibilita adequações para o uso racional de energia.

2.1.1 Energia e Eficiência Energética em Edificações na América do


Sul

No Brasil, desde a criação do Programa Nacional de Conservação de


Energia Elétrica (PROCEL), em 1985, as necessidades do consumo racional
da eletricidade foram mais aprofundadas e desenvolvidas. Assim, em 1991,
o PROCEL, já transformado em programa de governo, tem as suas
responsabilidades e abrangência ampliadas.
A crise energética, ocorrida no Brasil em 2001, teve como
consequência a criação da Lei de Eficiência Energética (n°10.295/2001) e o
aumento das atribuições do PROCEL, incidindo na criação do Procel
Edifica. Dessa forma, o Manual para Aplicação dos Regulamentos da
PROCEL, a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE),
programa desenvolvido pela Procel Edifica, classifica edificações
comerciais, de serviços, públicos e residenciais, de acordo com o nível de
consumo de energia, que varia em cinco diferentes patamares, sendo E para
o menos eficiente e A para o mais eficiente (MME, 2011).
Segundo o Procel Edifica, é possível uma redução de 30% no
consumo de energia elétrica com a implementação de estratégias de
eficiência energética nos sistemas de iluminação, condicionamento artificial
e intervenções nas vedações da edificação, no que diz respeito às
edificações existentes. Em caso de edificações novas, esse percentual pode
ser elevado a 50% (MME, 2011).
26

Apesar dos esforços para a redução do consumo de energia elétrica,


no Brasil, o crescimento do seu consumo aumentou 8,3%, em 2010, em
relação ao ano de 2009; no mesmo período, o PIB indicou um aumento de
7,5%. De 2010 a 2011, o consumo de eletricidade no país se mostrou mais
contido, alcançando 3,2%. O mesmo ocorreu com o PIB, que indicou 2,7%
de crescimento, no mesmo intervalo. Entre os anos de 2011 e 2012, o
aumento no consumo de energia elétrica foi de 3,7%, enquanto o PIB
demonstrou um mínimo crescimento de 0,9%. Já no ano de 2013, o
consumo de eletricidade teve aumento de 3,6%, com relação ao ano de
2012, com destaque para o setor residencial e comercial; no mesmo período,
o PIB do país cresceu 2,3%. Dessa forma, observa-se que o uso da energia
elétrica no Brasil está cada vez mais independente do ritmo de crescimento
econômico do país (Figura 2.1) (MME, 2010; MME, 2011; MME, 2012;
MME, 213b).
Figura 2.1 - Crescimento do Consumo de Energia Elétrica e PIB no Brasil

CRESCIMENTO DO CONSUMO DE ENERGIA %

PIB %
10
8
6
4
2
0
2010 2011 2012 2013

Fonte: Autor.

Outro país da América do Sul que tem implantado programas de


eficiência energética em diversos setores é o Chile. Especificamente, o setor
residencial chileno representa 26% do consumo total de energia no país;
portanto, nesse setor é fundamental o desenvolvimento de projetos
27

arquitetônicos que tendam a estabelecer o uso eficiente de recursos


energéticos (CHILE, 2011).
A Agencia Chilena de Eficiencia Energética (AChEE) possui vários
programas de maneira conjunta com universidades, associações, ministérios
e outras instituições privadas, com o objetivo de promover o uso eficiente
de energia, oferecendo assistência no desenho de novas edificações,
incorporando critérios de eficiência energética, implementando
oportunidades de melhora em edificações já existentes e capacitando
profissionais do setor das edificações para o maior conhecimento da
eficiência energética (CHILE, 2011).
Já na Argentina, por meio da Secretaria de Energia, a Coordinación
de Eficiencia Energética, o governo promove o uso eficiente da energia,
utilizando-se da etiquetagem de equipamentos elétricos. Em relação às
edificações, no país existe o Programa de Ahorro y Eficiencia Energética
en Edificios Públicos, que objetiva poupar e controlar o consumo de energia
elétrica e gás, capacitar os funcionários públicos, formular recomendações
padronizadas e, assim, implementar a eficiência energética nos edifícios
(ARGENTINA, 2006).
Outra norma referente às edificações, a Norma IRAM 11900 -
Etiqueta de Eficiencia Energética de Calefacción para Edificios,
regulamenta edifícios que necessitam de aquecimento artificial e estabelece
uma metodologia simplificada para o cálculo do nível de eficiência
energética da envolvente dos edifícios suscetíveis a receberem sistemas de
aquecimento. Os resultados são expostos em etiquetas similares às
utilizadas para demonstrar a eficiência energética de equipamentos
domésticos. Já para edificações que necessitam de sistemas de refrigeração,
a Norma IRAM 11659-2 estabelece valores admissíveis de qualidade
térmica para edifícios que requerem ar-condicionado (ARGENTINA,
2010).
28

Na Argentina, o setor comercial representa um total de 19% da


eletricidade consumida, as indústrias 37%, as residências totalizam 32% e
outros setores, 12%. O setor comercial indica o maior crescimento no
consumo, aumentando em 500%, nas últimas três décadas. Esses dados são
agravados pelo fato de que a matriz energética argentina é composta,
majoritariamente, de energia de origem fóssil (ARGENTINA, 2012).
Preocupados com o uso irracional da energia da qual dispõem,
alguns países da América do Sul têm criado programas para a
regulamentação do uso de energia. Uma das estratégias principais para a
redução do consumo elétrico é a implantação de normativas que buscam, de
forma eficaz, lograr um uso racional de eletricidade, mediante edificações
energeticamente eficientes.

2.1.2 Energia e Eficiência Energética em Edificações no Paraguai

O Paraguai é um país mediterrâneo, situado no centro da América do


Sul. Com clima predominantemente temperado, é dividido politicamente em
departamentos, que poderiam ser comparados aos estados na divisão
brasileira. O país é subdividido em duas regiões: Região Ocidental ou
Chaco, com três departamentos, e Região Oriental, com quatorze
departamentos, conforme figura 2.2 (PARAGUAI, 2013).
29

Figura 2.2 - Localização de Assunção

Fonte: Adaptado de MOPC.

A Região Ocidental, localizada na margem esquerda do rio Paraguai,


é conhecida como Chaco paraguaio e se estende ao norte até o território
boliviano. A região possui uma topografia predominantemente plana, árida
e seca, onde uma das poucas atividades econômicas possíveis de serem
realizadas é a da pecuária. Apesar de representar 60% do território, há
pouco interesse na Região Ocidental, mesmo sendo esta a que possui a
maior parte das riquezas ecológicas do país (FUNDACIÓN PARA EL
DESARROLLO SUSTENTABLE DEL CHACO, 2005).
A Região Oriental, localizada na margem direita do rio Paraguai, de
clima temperado, possui vários cursos de água e, em algumas regiões,
podem ser observadas montanhas de média altura. Com um clima úmido e
apresentando abundantes chuvas, é considerada a região mais fértil do
território paraguaio. Essa região concentra a maior riqueza econômica do
país, a maior área urbanizada e a maior parte da população (PARAGUAY,
2013).
Assunção, cidade onde se localizam as edificações analisadas, está
situada no departamento Central e, segundo a classificação climatológica
30

que estuda a Cuenca del Plata2, está em uma região específica chamada
Región Centrada en el Este de Paraguay (Figura 2.3). Essa região de clima
subtropical úmido apresenta primaveras e verões extremamente quentes e
chuvosos, e invernos muito frios e com poucas precipitações devido às
invasões de ar polar, frequentes nessa época (BARROS et al., 2002).

Figura 2.3 - Mapa de localização, em vermelho Región Centrada em el Este de


Paraguay.

Fonte: Instituto Nacional de Agua – Argentina. 1999.

No Paraguai, o Sistema de Interconexión Nacional (SIN) regula o


abastecimento de eletricidade nas duas grandes regiões do território
paraguaio, Oriental e Ocidental, ou Chaco; porém, grande parte da Região
Ocidental ou Chaco e algumas áreas periféricas da Região Oriental carecem
desse fornecimento elétrico, devido à baixa densidade populacional
apresentada conforme Figura 2.4 (PARAGUAI, 2012).

2
Segunda maior Bacia Hidrográfica do mundo que abrange Argentina, Bolívia,
Brasil, Uruguai e a totalidade do Paraguai.
31

Figura 2.4 – Divisão regional do Paraguai

Fonte: Paraguay.com, 2013.

De acordo com o Vice-Ministério de Minas e Energia do Paraguai, a


oferta interna bruta de energia do país está constituída, aproximadamente,
de 67% de hidroenergia. A proporção de eletricidade gerada nas centrais
hidroelétricas binacionais sobrepassa o necessário para o abastecimento do
país. Utilizando-se de tratados, a grande quantidade de energia elétrica que
excede o consumo paraguaio é disponibilizada para exportação. Isso
mantém o país entre os grandes exportadores de energia no mundo
(PARAGUAI, 2010).
Segundo o BEM 2012, mais de 79% da eletricidade produzida no
país foi exportada por meio dos tratados com Argentina e Brasil, como parte
da cooperação entre os países proprietários das Centrais Hidroelétricas
(PARAGUAI, 2013b).
Segundo a Direção de Energia do Vice-Ministério de Minas e
Energia do Paraguai, no país, os recursos energéticos se compõem,
exclusivamente, por fontes renováveis (hidroenergia e biomassa). Assim, as
fontes de energia estão praticamente limitadas à eletricidade e derivados de
biomassa. Os derivados de petróleo consumidos no país são totalmente
32

importados desde 2006 e outras fontes de energia primária não compõem


número importante no balanço nacional. A energia proveniente da biomassa
tem dois usos principais: em forma direta, sem processamento prévio (em
residências como materiais para produção de fogo), e a biomassa,
transformada em seus derivados para usos mais específicos em indústrias.
Essas indústrias, no geral de pequeno porte, instaladas no interior do país,
aproveitam os resíduos agrícolas (resíduos de arroz, bagaço de cana-de-
açúcar, etc.) para suprir necessidades térmicas da produção (PARAGUAI,
2010).
O Sistema de Información Energética Nacional (SIEN) indica na
Tabela 2.1 que, no ano de 2012, a hidroenergia produzida ultrapassou os
69.812 GWh, dos quais 3.617,04 GWh não foram aproveitados por causa de
perdas na transmissão. O etanol, com uma produção de 157.720 m³ no ano
de 2012, ocupou o segundo lugar na produção de energia no país. O maior
setor de consumo dessa energia é o transporte (152.640 m³), seguido dos
setores residencial e comercial (920 m³), e industrial (900 m³). A lenha
corresponde à terceira maior fonte de energia no Paraguai, com um total de
4.759,15 kt gerados no ano de 2012. A sua utilização se concentra,
principalmente, nos setores residencial e comercial (2.264,01 kt utilizados),
seguido pelos setores industrial, público e outros (1.245,36 kt 10 kt,
respectivamente), totalizando mais de 3.519,37 kt de consumo no ano de
2012.
Assim, o SIEN indica que, no primeiro semestre do ano de 2012, a
produção de eletricidade ultrapassou 30.510 GWh, dos quais 24.350 GWh
foram exportados, restando assim, 6.150 TWh para o consumo paraguaio. A
maior parte do consumo elétrico se encontra nos setores residencial e
comercial, responsáveis por utilizar 62,76% de toda a energia ofertada,
seguidos do setor industrial, com 21,12% de consumo, e do setor público,
com 12,12%.
33

Tabela 2.1 - Energia produzida no Paraguai utilizando recursos renováveis, no


ano de 2012.
Hidroenergia Lenha Produtos de Outra Carvão Etanol
(GWh) (kt) Cana (ktep) Biomassa Vegetal (m³)
(kt) (kt)

Produção 69.812,65 4.759,15 460,76 1.598,78 439,54 157.720


Exportação 0,95 2,39 178,71
Não aproveitado 3.617,04
Oferta Total 66.195,61 4.758,2 460,76 1.596,39 260,81 154.460
Centrais Elétricas -6.619.561
Carvoarias -123.883 439,52
Destilarias de Etanol -46076 157.720
Total Transformado -6.619.561 -123.883 -46076
Setor Residencial e
Comercial 2.264,01 181,91 920
Setor Transporte 152.640
Setor Industrial 1.245,36 1.596,39 78,9 900
Setor Público e outros 10
Consumo Energético 3.519,37 1.596,39 260,81 154.460
Consumo Final 3.519,37 1.596,39 260,81 154.460
Fonte: Sistema de Información Energética Nacional, 2013.

Na Tabela 2.1, a coluna “Outra Biomassa”, que corresponde aos


resíduos de produção agropecuária, indica que, no ano de 2012, essas fontes
somaram mais de 1.598 kt de produção, convertida na sua totalidade pelo
setor industrial.
O carvão vegetal, com uma produção de 439,58 kt, em sua maior
parte, foi utilizado pelo setor comercial e residencial, e uma pequena parte
foi transformada pelas indústrias.
As perdas em transporte e distribuição de eletricidade têm crescido
de forma proporcional à produção de eletricidade no país. O BEN 2012
indica que as perdas aumentaram em 2,1%, no ano de 2011, se comparadas
a 2010. Assim, o SIEN aponta que as perdas da eletricidade produzida no
Paraguai alcançaram 6% e 6,4%, em relação ao total produzido nos anos de
2011 e 2012, respectivamente; já no ano de 2013, esse valor diminuiu para
5,3% da produção de energia, pois nesse ano a quantidade de eletricidade
gerada no país foi consideravelmente menor (PARAGUAI, 2013b).
O Paraguai, país em via de desenvolvimento, apesar de ser um dos
países com maior produção de energia elétrica do mundo, enfrenta
34

problemas no abastecimento elétrico em todas as regiões. Nas cidades com


maior quantidade de habitantes, em períodos críticos, é realizado um
racionamento de eletricidade. Isso é feito, principalmente, nas estações de
intenso calor pois, sem os cortes no fornecimento de eletricidade, o sistema
elétrico paraguaio colapsaria por causa da alta demanda, proveniente das
edificações que intensificam o uso de equipamentos de refrigeração e
ventilação artificial.3
Apesar da grande quantidade de energia elétrica disponível, o
sistema de transmissão e distribuição da energia elétrica no Paraguai
apresenta falhas que impedem o abastecimento contínuo, em grande parte
do território paraguaio, pois a falta de investimentos em infraestrutura vem
se estendendo há vários anos. Essas constantes interrupções no suprimento
de energia elétrica são “preventivas” e são realizadas para aliviar a
excessiva carga sobre o sistema elétrico do país. O Paraguai possui muita
energia elétrica, porém, não possui infraestrutura para transportá-la
comodamente. Dessa forma, é essencial que o país inicie um programa de
governo que torne o uso de energia mais eficiente (PARAGUAI, 2012).
Questão pouco considerada, a eficiência energética começou a
ganhar importância, no Paraguai, com o Decreto N° 6.377, de 31 de março
de 2011. O então Presidente da República do Paraguai, Fernando Lugo,
criou o Comitê Nacional de Eficiência, que estabeleceu como principal
objetivo a criação do Programa Nacional de Eficiência Energética para o
uso eficiente da energia no Paraguai (PARAGUAI, 2012b).
Atualmente, o Comitê Nacional de Eficiência Energética do Paraguai
ainda está na fase de definição das áreas com necessidade de intervenção

3
America Economia: Disponível em:
<http://www.americaeconomia.com/negocios-industrias/ex-titular-de-la-
administracion-de-electricidad-afirma-que-crisis-se-veia-venir>. Acesso em: 15
dez. 2012.
35

para a elaboração e organização das ações a serem tomadas, desde as


campanhas de informação, direcionadas às comunidades, até os projetos de
intervenção em pontos específicos, que demandam modificações para o uso
racional da energia (PARAGUAI, 2012b).
No Paraguai, pesquisas relacionadas a conforto térmico ou
desempenho de materiais são escassas. No país, ainda não têm sido
reveladas as características térmicas dos materiais locais, o que é
fundamental para pesquisas mais aprofundadas a respeito do desempenho
térmico e energético das edificações locais, e seus efeitos sobre o ambiente
e o consumo de energia (LÓPEZ, SARTORIO e COHENCA, 2008).
Relacionado ao uso de aparelhos de ar-condicionado, segundo
Barbosa, Troche e Rienzzi (2012), é conhecido o problema da ANDE para
abastecer a excessiva e cada vez mais crescente demanda de energia nas
moradias, devido ao alto consumo dos aparelhos de ar-condicionado
convencionais, utilizados nas edificações paraguaias.
Nesse sentido, Bordón e Santacruz (2008) enfatizam que uma
legislação que promova, de forma definitiva, a eficiência energética e que
penalize o mal gasto de energia, e favoreça as medidas alternativas, é
essencial para o Paraguai. Esse tipo de legislação, porém, ainda vai levar
muito tempo para ser instaurada no país.
Desta forma, realizar estudos básicos que possibilitem a obtenção de
informações que caracterizem as edificações de Assunção, quanto à sua
tipologia, sistema construtivo, desempenho térmico das vedações, de acordo
com o clima local e a influência destes fatores no consumo energético, é
fundamental para chamar a atenção à necessidade de regulamentos
direcionados à eficiência energética em edificações no país.
36

2.2 DESEMPENHO TÉRMICO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM


EDIFICAÇÕES

As características da vedação de uma edificação devem ser definidas


de acordo com o as particularidades climáticas do local de implantação. A
envoltória de um edifício age como um filtro entre as condições ambientais
externas e internas. Assim, as vedações controlam fatores, como: a
movimentação de saída e entrada do ar, calor e luz solar. Portanto, os
materiais aplicados no envelope devem ser adequados para a administração
dos fluxos internos e externos das variáveis climáticas, em cada região
(OLGYAY, 2002).
Com o aproveitamento das variáveis climáticas favoráveis para o
conforto ambiental, os mecanismos artificiais de iluminação, ventilação e
refrigeração serão menos solicitados, pois uma tipologia arquitetônica,
concebida de acordo com diretrizes de adaptação às características do clima
local, faz o aproveitamento das variáveis climatológicas, quando as
condições externas são favoráveis para a obtenção de um ambiente interno
confortável, influenciando, assim, na criação de edifícios com menos
consumo de energia.
Em relação ao conforto térmico — que constitui um dos fatores mais
importantes para o desempenho térmico de uma edificação — Olgyay
(2002) afirma que para a definição de mecanismos passivos de
aproveitamento de variáveis climáticas que ajudem a alcançá-lo, tanto a
localização como a latitude e orientação de implantação da construção
colaboram na escolha de estratégias mais eficientes. Dessa maneira, para
determinar os materiais que apresentam comportamentos térmicos
adequados para a região de implantação, é essencial a realização de
pesquisas sobre as condições térmicas, estabelecendo, assim, uma relação
37

direta entre a temperatura máxima e o valor de isolamento necessário para


manter o ambiente interno termicamente confortável.
Assim, Olgyay (2002) lista uma série de estratégias bioclimáticas
recomendadas para regiões quentes e úmidas:

 minimização do ganho térmico da edificação, por meio da


radiação solar; a radiação solar é um dos mais importantes
contribuintes para o ganho térmico em edifícios, principalmente em
regiões de clima quente. A vedação da edificação, e as propriedades
termofísicas dos elementos que a compõem, são os principais
responsáveis pela troca de energia entre o meio interno e externo,
pois da radiação solar total que incide sobre um corpo opaco, uma
parcela é refletida e outra absorvida. A fração absorvida é
transformada em calor e é proporcional a uma propriedade da
superfície do corpo denominada absortância, e a parcela refletida é
determinada pela refletância da superfície. Já no caso de uma parede
transparente ou translúcida exposta à incidência da radiação solar e
sujeita a uma determinada diferença de temperatura entre os
ambientes que separa, os mecanismos de troca podem ser muito mais
intensos que os observados em elementos opacos.

 maximização da taxa de resfriamento durante a noite; A


ventilação noturna é uma estratégia de diminuição de calor que pode
ser utilizada para potencializar o efeito de inércia térmica para
resfriamento. Edificações que possuem elementos construtivos de
alta capacidade térmica apresentam um amortecimento dos picos de
temperatura internos em relação aos valores correspondentes no
ambiente externo, da mesma forma, apresentam uma defasagem em
relação aos horários de maior intensidade da temperatura externa.
38

Assim, quando a média da temperatura diária se situa acima dos


valores considerados adequados para o conforto térmico, a
ventilação noturna pode auxiliar na discipação do calor, Além disso,
com a redução da temperatura externa no período noturno, o
emprego da ventilação natural intensifica o resfriamento da
envoltória.

 eficaz fornecimento de ventilação natural, mesmo em dias de


chuva; as edificações devem permitir a entrada de ventilação em
dias de chuva através de tipologias arquitetônicas adequadas para as
variações climáticas da região. Como exemplo podem ser citadas a
implantação de varandas e beirais adequados, entre outros.
 prevenção da entrada de insetos pelas aberturas direcionadas à
ventilação; esta prevenção pode ser feita através a instalação de telas
nas aberturas das esquadrias, desta forma, evita-se a obstrução total
da ventilação natural e apassagem de insetos durante o dia e a noite.
 criação de espaços para atividades ao ar livre como parte
integral do espaço da sala de estar; em climas tropicais, a
integração da edificação com o ambiente externo deve ser buscado
de diferentes maneiras, uma delas é a implantação de tipologias que
agregam o espaço externo a ambientes de permanecia e convivência,
de forma a proporcionar aos recintos, a possibilidade de fazer uso
das condições climáticas externas, sempre e quando estas estiverem
adequadas para se aproximar do conforto térmico.

Em seu livro Climate Considerations in Building and Urban Design,


Givoni (1998) comenta que as propriedades que compõem uma edificação,
principalmente as que constituem a envoltória, determinam a relação entre a
temperatura externa, as condições de radiação solar e a temperatura interna
39

do ar de um ambiente não condicionado artificialmente. No caso de


edificações refrigeradas artificialmente, a envoltória influencia diretamente
na quantidade de energia que o sistema gastará para manter a temperatura
do ambiente interno, dentro dos limites considerados adequados para o
conforto térmico.
Assim, os materiais aplicados no envelope das edificações
localizadas em regiões quentes e úmidas, mesmo com a utilização de
estratégias de ventilação natural, devem buscar reduzir, de forma máxima, o
aquecimento do espaço interno, durante as horas do dia, e maximizar seu
resfriamento, durante as horas noturnas.
Para a concepção de edificações que proporcionem espaços internos
considerados confortáveis para os seus usuários, com o uso reduzido de
energia, é necessário reconhecer os fatores de funcionalidades que
influenciam no consumo energético dentro da edificação, assim como os
recursos construtivos que possibilitam soluções mais eficientes. A
minimização dos gastos energéticos para o condicionamento de ar é uma
das estratégias primordiais para gerar edificações confortáveis e
energeticamente eficientes. Assim, projetar um edifício eficiente implica
considerar as condições climáticas, às quais a edificação estará sujeita,
assim como o entorno imediato do local de implantação (características
urbanísticas), já que este determina as modificações das variáveis
climáticas, pois o entorno pode proteger da radiação solar direta, refletir a
variação, obstruir ou alterar a direção dos ventos predominantes (MATOS,
2012; GIVONI, 1998).
Erguer edificações atendendo às variáveis climáticas e utilizar
estratégias ajustadas à área de instalação são imperativos, ao fazer a análise
do cenário mundial e local da evolução do consumo, em relação à
disponibilidade de energia. Um melhor aproveitamento do clima pode ser
feito com o correto planejamento da edificação. Fatores como orientação,
40

entorno imediato, paisagismo e tipologia arquitetônica são extremamente


influenciadores na correta adequação às características climatológicas da
região (LAMBERTS, DUTRA e PEREIRA, 2014).

2.3 ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA

Com a abundância de combustível barato e a grande expansão das


técnicas de construção, após a II Guerra Mundial, deu-se início, assim, a
uma fase de criação de edificações que suplantaram as estratégias naturais
pelas artificiais, para conseguir o conforto térmico, a iluminação, entre
outros. Enquanto o custo de energia para manter estas estratégias artificiais
era insignificante e ainda não existia a consciência sobre a poluição gerada
pelo uso excessivo de energia, edificações inadequadas para regiões
climáticas continuaram sendo construídas em nome da ostentação do poder
econômico. Assim, a produção deliberada de edificações ineficientes foi
repensada na primeira crise de energia, provocada pela alta do preço do
petróleo, em 1973. A partir de então, vagarosamente, foi retomada a
arquitetura preocupada com a integração com o clima local, visando à
criação de construções centradas no conforto térmico dos usuários e com o
menor consumo de energia. Cria-se assim, a ideia de Arquitetura
Bioclimática, que visa à construção de prédios, objetivando o aumento da
qualidade de vida do ser humano no ambiente construído e no entorno, de
forma integrada com as características climáticas locais (CORBELLA e
YANNAS, 2003).
Desta forma, a Arquitetura Bioclimática indica as estratégias mais
adequadas para a adaptação da edificação ao clima local, através de
tecnologia baseada na correta utilização e aplicação dos elementos
arquitetônicos, visando assim, criar edificações que ofereçam conforto
higrotérmico com uso racional de energia. Uma das formas de encontrar as
41

estratégias bioclimáticas adequadas para o clima do local de implantação da


edificação é a Carta Bioclimática, que faz a associação sobre a zona de
conforto térmico, a atuação climática do local e as estratégias projetuais
indicadas para cada período do ano. Estas estratégias podem ser passivas
(através de meios naturais) ou ativas (através de meios artificiais)
(GOULART, LAMBERTS e FIRMINO, 1998).

2.4 CARTA BIOCLIMÁTICA

Inicialmente proposta por Olgyay (1963), a Carta Bioclimática


propõe estratégias de adaptação da edificação ao clima, a partir de dados
climáticos externos. A partir disto, em 1969, Givoni apresentou a Carta
Bioclimática para Edifícios, que fazia a correção de algumas limitações do
diagrama proposto por Olgyay.
No seu trabalho mais recente, publicado em 1992, Givoni enfatiza
que o conforto térmico, percebido no ambiente interno de edificações não
condicionadas artificialmente, sofre influência das variações do clima
externo e depende da experiência de uso dos habitantes, pois pessoas que se
habituam em edificações sem condicionamento e ventiladas naturalmente,
em geral, aceitam uma grande variação de temperatura e velocidade de ar.
Razão que levou a concepção da Carta Bioclimática para países em
desenvolvimento (países de clima quente), onde, para a determinação das
estratégias bioclimáticas, os limites máximos de conforto foram expandidos
(LAMBERTS; DUTRA e PEREIRA, 2014).

2.4.1 Estratégias Bioclimáticas indicadas pela Carta Bioclimática

Através da relação de dados climáticos do local objeto de estudo,


podem ser determinadas as estratégias bioclimáticas a serem adotadas na
edificação (Figura 2.5).
42

Figura 2.5 - Zonas de Estratégia da Carta Bioclimática

Fonte: Lamberts, Dutra e Pereira, 2014.

─ Zona de Conforto
Nesta zona, haverá uma grande probabilidade de que as pessoas se
sintam em conforto térmico no ambiente interno da edificação. Assim, não
são recomendadas estratégias bioclimáticas para locais que têm os seus
dados climáticos dentro da faixa determinada por esta zona (Figura 2.5)
(LAMBERTS; DUTRA e PEREIRA, 2014).

─ Zona de Ventilação Natural


Esta estratégia é recomendada quando a temperatura do ar, dentro da
edificação, ultrapassar os 29°C ou a umidade relativa for superior a 80%,
pois é recomendada somente para o limite de temperatura externa de até 32°
C, conforme citado abaixo:
No clima quente e úmido a ventilação cruzada é a
estratégia mais simples a ser adotada, porém
fazendo com que a temperatura interior
acompanhe a variação da temperatura exterior.
Supondo que a velocidade máxima permitida para
o ar interior é da ordem de 2 m/s, a ventilação é
aplicável até o limite da temperatura exterior de
32°C, pois a partir daí os ganhos térmicos por
convecção tornam esta estratégia indesejável.
(LAMBERTS; DUTRA e PEREIRA, 2014, p.
87).
43

Em regiões com temperatura diurna acima dos 32° C, a ventilação


diurna deve ser controlada para diminuir o ingresso de ar quente; já a
ventilação noturna, deve ser aumentada para a redução da temperatura
dentro do ambiente através do ar mais fresco (Figura 2.5) (LAMBERTS;
DUTRA; PEREIRA, 2014).

─ Zona de Inércia Térmica para Resfriamento


Esta estratégia diminui a amplitude da temperatura interior em
relação à exterior, evitando, desta forma, os picos (Figura 2.5).

─ Zona de Resfriamento Evaporativo e Umidificação


Esta estratégia é recomendada apenas quando a TBU máxima não
excede os 24°C e a TBS máxima não ultrapassa os 44°C. Exemplos para a
aplicação desta estratégia são o uso de vegetação, fontes d’água ou outra
solução que permita a evaporação de água de forma direta no ambiente que
se deseja resfriar (Figura 2.5) (LAMBERTS, DUTRA e PEREIRA, 2014).

─ Zona de Aquecimento Solar

Para a utilização desta estratégia, a edificação deve fazer uso de


vedações externas envidraçadas, orientadas de forma a receber radiação
solar e reduzir as aberturas nas orientações menos favoráveis. Pode-se
também tirar proveito através da cor das fachadas (cores mais escuras
possuem maior capacidade de absorção de calor), aberturas zenitais
controladas, entre outros, assim como a implantação de vedações com alta
inércia térmica, visando o aquecimento do espaço interno, durante as horas
noturnas (Figura 2.5) (LAMBERTS, DUTRA e PEREIRA, 2014).

─ Zona de Condicionamento Artificial com Isolamento Térmico


Em climas muito severos, onde as estratégias passivas não são
suficientes para obter o conforto térmico dentro das edificações, para
44

regiões quentes, recomenda-se o uso de ar-condicionado; já para as regiões


muito frias, o uso de aquecimento artificial é adequado (Figura 2.5).

─ Zona de Sombreamento
Mesmo que a Carta Bioclimática indique Conforto Térmico, se a
temperatura do ar for superior a 20°C, deve ser aplicada a estratégia de
Sombreamento, que pode ser feita através do uso de proteções solares
externos ou brises, ou proteção interna (Figura 2.5) (LAMBERTS, DUTRA
e PEREIRA, 2014).

2.4.2 Métodos de Avaliação Bioclimática Utilizados pela Carta


Bioclimática

Para a aplicação de estratégias bioclimáticas, é necessária a inserção


de dados climáticos do local estudado na Carta Bioclimática. O ideal é o uso
de valores horários do Ano Climático de Referência (TRY). Caso estes
dados não estejam disponíveis, é possível também obter as estratégias
através das Normais Climatológicas, que apresentam valores médios.
A avaliação através das Normais Climatológicas foi a utilizada para
este trabalho. Desta forma, o item 2.4.2.1 apresenta maiores informações
sobre o método.

2.4.2.1 Avaliação Bioclimática através das Normais Climatológicas

A Normal Climatológica de um determinado local é o valor médio


correspondente a uma quantidade de anos suficiente para ser representativo
do valor predominante daquele dado no local avaliado. A Organização
Meteorológica Mundial (OMM) recomenda que os dados utilizados para a
obtenção das Normais Climatológicas sejam os acumulados ao longo de 30
anos.
45

Assim, as Normais Climatológicas do local de estudo estão


constituídas pelas seguintes variáveis climáticas:

1. Temperaturas Médias Máximas (°C);


2. Temperaturas Médias Mínimas (°C);
3. Temperaturas Médias (°C);
4. Umidades Relativas Médias (%);
5. Pressões Barométricas (hPa).

Assim, estas médias, uma vez plotadas na Carta Bioclimática,


demonstram as estratégias bioclimáticas adequadas para os doze meses do
ano (Figura 2.6).

Figura 2.6 - Carta Bioclimática.

U R [% ]

U [ g /k g ]
]
C

U
B
T

T BS [°C]
UFSC - ECV - LabEEE - NPC
Fonte: AnalisysBio.
46

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa analisou edificações localizadas em


Assunção/Paraguai, por meio de estudos de caso. Para a amostra do estudo,
foram selecionadas edificações com mais de seis pavimentos e com
diferentes usos, sendo dois de serviços e comercial, e dois de uso
exclusivamente residencial. A escolha dos diferentes usos teve como
objetivo estabelecer uma comparação entre as influências causadas pelo tipo
de ocupação.
Desta forma, foram selecionados quatro prédios: dois com uma
média de 35 anos de idade, localizados no centro históricos de Assunção, e
dois com uma idade média de 7 anos, localizados a 1km, aproximadamente,
do centro histórico de Assunção.
Foram analisadas características do envelope das edificações, tais
como: elementos de proteção solar, área envidraçada e cor das fachadas,
bem como a forma, os padrões de uso e ocupação de cada edifício, por meio
de um questionário que também permitiu a coleta de informações sobre as
atividades realizadas em seus ambientes, conforme descrito a seguir no
subitem 3.1.
Da mesma forma, foram coletados dados climáticos e tempo de
utilização dos equipamentos elétricos.
Atendendo à necessidade de obter dados mais específicos em relação
ao clima de Assunção e às tipologias arquitetônicas adequadas para a
cidade, o subitem 3.4 explica a elaboração da Carta Bioclimática da cidade
de Assunção.

3.1 QUESTIONÁRIO

Para a obtenção de informações sobre o funcionamento geral das


salas estudadas, foram aplicados questionários contendo perguntas sobre o
47

tipo de atividade realizada, número de pessoas que frequentam o local


diariamente, tipos de equipamentos utilizados e seu tempo de uso
aproximado.
O questionário foi entregue aos administradores das salas e
moradores das residências no primeiro dia de monitoramento, e retirado no
último dia. As respostas permitiram, entre outros pontos, uma observação
geral sobre o modo de uso de equipamentos eletroeletrônicos e o peso de
cada um deles no consumo total de energia elétrica dentro da sala. Essa
informação pode indicar aos usuários quais equipamentos devem ser
substituídos para provocar uma redução no consumo de energia elétrica
(Apêndice A).

3.2 EQUIPAMENTOS PARA COLETA DE DADOS CLIMÁTICOS

3.2.1 HOBO Temp/RH

Para a obtenção de dados de temperatura e umidade relativas do ar,


foram instalados nas edificações sensores modelo HOBO Temp/RH (Figura
3.1), que coletaram dados durante o período de 5 dias. O sensor HOBO
possui 6 x 4.8 x 2 cm de dimensão e é capaz de armazenar um total de 7944
valores, operando em uma faixa de temperatura de -20°C a 70°C. Em
relação à umidade relativa do ar, o sensor HOBO consegue captar dados
que vão de 0 a 95% de umidade relativa.
As especificações do equipamento indicam que o sensor é bastante
preciso, operando com uma precisão de erro de 1 minuto por semana (± 100
ppm em +20° C).
48

Figura 3.1 - HOBO Temp/RH - H08-003-02.

Fonte: Site Onset.

O sensor HOBO Temp/RH fez a coleta de dados de temperatura e


umidade relativa interna e externa das edificações da amostra. Essas
informações poderão indicar se as tipologias construtivas utilizadas na
cidade de Assunção são adequadas para o clima do local, indicando assim, o
comportamento térmico das envoltórias.
Para o monitoramento, os sensores, tanto os internos como os
externos, foram programados para recolher dados a cada intervalo de 15
minutos, durante um período de 5 dias. Esse intervalo de tempo é suficiente
para o estudo pretendido, pois em um período inferior a 15 minutos é pouco
provável uma grande variação dos fatores ambientais. Da mesma forma,
nesse intervalo programado, em 1 hora são obtidos quatro valores, o que é
satisfatório para a obtenção da média horária.
Esses dados foram colhidos para a realização de comparações entre
as variáveis climáticas internas e externas, o que permitiu uma visão
superficial da influência do clima externo no espaço interno da edificação,
assim como o desempenho das vedações como agentes filtradores das
condições climáticas externas.
49

3.3 TEMPO DE UTILIZAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS

3.3.1 Analisador de Energia CIBER modelo CEM1000

O analisador de energia CIBER modelo CEM1000 (Figura 3.2) mede


as principais grandezas elétricas de um sistema monofásico, por meio da
ligação direta da carga (eletrônicos, eletrodomésticos, etc.) a um plug de
tomada na parte frontal do aparelho. Para a medição, o equipamento
analisado deve ser conectado ao analisador de energia que, por sua vez,
deve ser ligado ao sistema elétrico da edificação.
O analisador realiza a medição de algumas variáveis do
equipamento, entre elas: o consumo energético medido em kWh. De posse
desse dado, a eficiência dos equipamentos, quanto ao consumo energético,
pode ser verificada, assim como a carga térmica que eles adicionam ao
ambiente.
Para a pesquisa, o tempo de monitoramento de cada aparelho
eletroeletrônico foi definido em 10 minutos, pois os valores apresentados
pelo analisador elétrico não são influenciados pelo tempo do ensaio, e sim
pela forma de utilização do aparelho monitorado durante o período em
questão. Assim, usando uma regra de três, foi obtido o valor do consumo
horário e diário que o equipamento apresenta.

Figura 3.2 - Analisador de Energia CIBER modelo CEM1000.

Fonte: CIBER do Brasil.


50

Com os dados obtidos por meio desse aparelho, foi possível


determinar a eficiência de alguns equipamentos em relação ao consumo de
energia elétrica, assim como a carga térmica que estes transmitem ao meio
interno. Esse último dado indica a influência que os equipamentos elétricos
exercem sobre a temperatura interna da edificação.

3.4 CARTA BIOCLIMÁTICA DE ASSUNÇÃO

Visando determinar se a tipologia arquitetônica das edificações é


adequada para o clima local, foi feita a Carta Bioclimática de Assunção.
Através dos resultados, foram identificadas estratégias bioclimáticas
indicadas para a cidade e, ao mesmo tempo, foi verificado se as edificações
atendem ou não a essas recomendações.
Essa carta foi elaborada valendo-se do software Analysis Bio,
desenvolvido por pesquisadores do LabEEE – Laboratório de Eficiência
Energética em Edificações, da Universidade Federal de Santa Catarina. Os
resultados apresentados permitem obter estratégias de projeto apropriadas
para melhor adaptação do edifício ao clima onde será implantado. O
software indica as estratégias bioclimáticas a serem adotadas por meio da
avaliação de dados climáticos plotados na Carta Bioclimática.
Para gerar a Carta Bioclimática de Assunção, foram inseridos no
software, de forma manual, os dados das Normais Climatológicas da cidade,
que constituem as seguintes variáveis climáticas:

1. Temperaturas Médias Máximas (°C);


2. Temperaturas Médias Mínimas (°C);
3. Temperaturas Médias (°C);
4. Umidades Relativas Médias (%);
5. Pressões Barométricas (hPa).
51

Dessa forma, a maioria das variáveis climáticas para a obtenção das


Normais Climatológicas da cidade de Assunção foi obtida por meio de
dados cedidos pela Dirección de Meteorología e Hidrología (DINAC) do
Paraguai. Esses dados correspondentes aos anos de 1980 a 2010
proporcionaram as médias das temperaturas máximas, mínimas, médias
mensais e umidade relativa; não foi possível, porém, conseguir as médias de
pressão barométrica, sendo necessária, assim, a utilização de outra fonte de
dados proporcionado pelo rp5.ru4, que disponibiliza dados climáticos de
243 países do mundo, entre os quais é possível obter os de Assunção –
Paraguai. Assim, para a obtenção das médias de Pressão Barométrica (hPa),
foram aplicados os valores dos últimos 5 anos dessa variável (de 2009 a
2014), que são os disponíveis no site. Apesar a dos valores de Pressão
Barométrica terem sido obtidos apartir de uma base de dados de somente 5
anos, a variação demonstrada durante este período é reduzida, validadndo
assim, a média encontrada, para ser utilizada na carta bioclimática.
Finalmente, os dados foram organizados de forma a conseguir as médias
solicitadas para a inserção na Carta Bioclimática.
Com as estratégias sugeridas pela Carta Bioclimática, poderão ser
feitas comparações, verificando se a edificação analisada faz o uso de tal
estratégia. Outra comparação importante que a carta possibilita é entre as
variáveis das Normais Climatológicas (médias de 30 anos) e as coletadas
para a pesquisa, verificando assim, a conformidade ou não entre os valores
históricos e atuais.

4
Site que disponibiliza dados de 243 países obtidos através de estações
meteorológicas terrestres pelo sistema de intercâmbio livre internacional de
dados meteorológicos. Disponível em:
<http://rp5.ru/Archivo_de_tiempo_en_Asunci%C3%B3n_(aeropuerto)>.
52

3.5 MONITORAMENTO

O presente projeto preliminar foi realizado em fevereiro de 2014. Na


ocasião, foram instalados os sensores de temperatura e umidade relativas do
ar nas edificações objetos de estudo, possibilitando o monitoramento e a
coleta de dados ao longo de 5 dias, de 24 a 28 de fevereiro daquele ano.
Dois sensores HOBO fizeram a coleta simultânea dos dados de
temperatura e umidade relativas do ar interno e externo de cada uma das
edificações, sempre no terceiro pavimento, já que, segundo Romero (2000)
e Martins (2008), a altura afeta a velocidade e a temperatura do ar (Figura
3.3).

Figura 3.3 - Sensor para coleta de dados externos.

Fonte: Autor.

Durante o período de monitoramento, o clima apresentou


instabilidade em alguns dias da semana. Para a obtenção de dados sobre a
quantidade de chuva que caiu sobre a cidade de Assunção, foram
conseguidos dados climáticos da estação meteorológica do aeroporto Silvio
Pettirossi (localizada em Assunção e principal referência para coleta de
dados climáticos), os quais indicaram que, durante a semana de
monitoramento, o clima manteve-se instável. Essa informação auxiliou na
justificação das oscilações das variáveis climáticas coletadas.
53

3.5.1 Localização de Sensores

Assunção se localiza, aproximadamente, na latidude e longitude 23°


00 S, 58° 00 W. De acordo com o Atmospheric Science Data Center da
NASA, as médias anuais de radiação solar global horizontal variam entre
4,7 kWh/(m²d), no hemisferio sul, e 5,1 kWh/(m²d), no hemisfério norte. A
faixa terrestre, onde se localiza a cidade de Assunção, apresenta um valor
médio diário de 4,9 kWh/m², com uma oscilação entre 2,9 kWh/(m²d) para
o mês de junho e 6,6 kWh/(m²d) para os meses de dezembro e janeiro.
A Figura 3.4 demonstra a trajetória do sol sobre a cidade de
Assunção ao longo do ano, evidenciando uma incidência solar maior na
orientação Norte e ao Sul somente durante as primeiras horas do período
vespertino e as últimas do período matutino. A orientação noroeste também
recebe radiação solar praticamente constante ao longo do ano; dessa forma,
os sensores para a captação de dados internos de temperatura e umidade
relativas do ar foram colocados em salas do terceiro pavimento,
implantados na fachada noroeste da edificação e de forma protegida de
qualquer intervenção dos usuários do local. Da mesma forma, os sensores
externos foram instalados na parte exterior do mesmo pavimento, na
fachada noroeste de cada edificação, protegidos da radiação solar direta.

Figura 3.4 - Carta Solar de Assunção.

Fonte: Software SOL-AR 6.2.


54

3.6 EDIFICAÇÕES MONITORADAS

3.6.1 Primeiro Grupo – Edificações Localizadas no Centro Histórico


de Assunção

As edificações apresentadas a seguir estão implantadas relativamente


próximas entre si e se localizam no centro histórico de Assunção (Figura
3.5). Como a maioria das construções típicas da zona, as edificações do
estudo foram inauguradas há mais de duas décadas e abrigam mais de um
tipo de atividade.

Figura 3.5 - Localização dos edifícios do primeiro grupo.

Fonte: Adaptação Google Earth, 2013.

3.6.1.1 Edifício Líder IV

O Edifício Líder IV situa-se no centro histórico da cidade de


Assunção e é de uso misto (comercial e de serviços). As Figuras 3.6 e 3.7
exibem o formato da fachada da edificação e a Tabela 3.1 descreve as
principais características da edificação.
O ambiente monitorado nesta edificação apresenta somente a
fachada noroeste sem sombreamento. As vedações opacas foram
55

construídas com blocos cerâmicos de 8 furos, assentados na sua menor


dimensão, revestidos com argamassas em ambas as faces, totalizando uma
espessura de, aproximadamente, 15 cm.
O ambiente, com 2,80 m de pé-direito, possui piso cerâmico sobre
laje intermediária. As vedações envidraçadas, com peitoril de 1,00cm e
altura de 1,50m, possuem esquadria metálica pintada na cor cinza e vidro
com película absorvente na cor preta, protegidos internamente através de
persianas. Já as vedações opacas externas apresentam a cor cinza escuro e a
estrutura aparente, cinza claro.

Figura 3.6 - Fachada principal Figura 3.7 - Fachada Edifício Líder IV


Edifício Líder IV

Fonte: Autor. Fonte: Autor.


56

Tabela 3.1 - Características do Edifício Líder IV.


Características gerais
Endereço Estrella e Juan E. Oleary
Tipo de uso Serviços
N° de pav. 29
N° de pav. tipo 20
Altura do Edifício 93,50 m
N° de salas por pav. tipo 8
Área média de cada sala 50.00 m²
Pavimento térreo = 594.00 m²
Área de cada pavimento 1° e 2° pavimento = 396.00m²
Do 3° ao 29° pavimento = 324.00 m²
N° de pav. no subsolo 2
Pé-direito (m): 2.90m
Área total do edifício 10.800 m²
Ano de inicio de
1983
ocupação
Características construtivas gerais
Estrutura Concreto armado
Lajes Laje entre pavimentos em concreto armado
Paredes externas Tijolo cerâmico de 8 furos, total de espessura= 15 cm.
Revestimento Argamassa com areia, cal e cimento. Pintura na cor cinza
Esquadrias Metálica, vidros de 4 mm de espessura
Projetista -----
Construtor Goldenberg Perello

Orientação da fachada
principal

A fachada principal da edificação está voltada para o


sudoeste.
Fonte: Elaboração do autor.

3.6.1.2 Edifício Ybaga

Nesta edificação, a sala estudada é ocupada por um dos setores do


Ministério da Fazenda do Paraguai (Ministério de Hacienda – Subsecretaria
57

de Estado de Economia), desta forma, constitui um espaço de órgão


público, com mais de 10 funcionários e considerável tráfego de visitantes.
Localizado também no centro histórico de Assunção, apresenta um
entorno imediato muito adensado e com pouca ou nenhuma vegetação.
Inaugurado há mais de 40 anos e construído com blocos cerâmicos,
assentados na sua maior dimensão e revestido com argamassa em ambas as
fases, as paredes totalizam uma espessura de 25 cm, aproximadamente.
A edificação apresenta fachadas protegidas com brises horizontais
metálicos, projetados, principalmente, para proteção contra radiação solar,
porém esta estratégia que também poderia oferecer grande capacidade de
reflexão, tanto dos raios solares, assim como da radiação térmica
proveniente do seu entorno, não é totalmente aproveitada, pois a falta de
manutenção dos brises retirou a superfície polida do metal, transformando-o
em um pano acinzentado opaco, característica que, em relação à absorção,
não contribui para a diminuição do calor absorvido pela vedação (Figura 3.8
e 3.9).
O ambiente analisado nesta edificação está orientado ao noroeste e
possui janelas em fita com peitoril de 40 cm e altura de 2,10 m, que
permaneceram fechadas durante o período de monitoramento, evitando
assim, o uso de ventilação natural e iluminação natural, através do uso de
persianas internas.
A Tabela 3.2 lista algumas características importantes para a
avaliação da edificação.
58

Figura 3.8 - Fachada principal Figura 3.9 - Fachada lateral

Fonte: Autor. Fonte: Autor.


59

Tabela 3.2 - Características do Edifício Ybaga.


Características gerais
Endereço Presidente Franco esq. Nuestra Señora de la Asunción
Tipo de uso Serviços
N° de pav. 14
do 1° ao 4° o mesmo tipo de pavimento e do 5° ao 14°
N°de pav. tipo
outro pavimento tipo.
Altura do Edifício 60,00 m aproximadamente
N°de salas por pav. tipo 3
Área média de cada sala 120,00 m²

Área de cada pavimento 360 m² aproximadamente

N°de pav. no subsolo 0


Pé-direito (m): 2.80m
Área total do edifício 5056 m²
Ano de inicio de
1973
ocupação
Características construtivas gerais
Estrutura Concreto armado
Lajes Laje entre pavimentos em concreto armado
Paredes externas Tijolo cerâmico de 8 furos, total de espessura= 25 cm.
Argamassa mista com acabamento em tinta na cor
Revestimento branca.
Esquadrias Metálica, protegida por brises horizontais.
Projetista -----
Construtor -----

Orientação da fachada
principal

A fachada principal da edificação está voltada para o


noroeste.
Fonte: Elaboração do autor, 2013.
60

3.6.2 Segundo Grupo – Edificações Localizadas a 1 km do Centro


Histórico de Assunção

O segundo grupo, localizado em uma área mais residencial que o


centro histórico de Assunção, está composto por duas edificações, com uma
média de anos de uso igual a 7, e apresentam tipologia arquitetônica
contemporânea (Figura 3.10).

Figura 3.10 - Localização de edificações do segundo grupo.

Fonte: Adaptação Google Earth, 2013.

3.6.2.1 Edifício Fortaleza III

Instalado em uma área mais residencial e arborizada, esta edificação,


inaugurada há 5 anos, é de caráter residencial e apresenta um a tipologia
arquitetônica contemporânea.
Com fachadas na cor branca e poucas vedações envidraçadas, o
ambiente analisado constitui uma sala de estar orientada ao noroeste, com
piso cerâmico sobre laje e pé-direito de 2,80 m. O espaço possui uma porta
de correr de 1,5 x 2,10 m (acesso à sacada) e uma janela de 1,50 x 1,00 m,
com peitoril de 1,20 m. As vedações opacas estão constituídas por tijolo de
61

oito furos, assentados na sua menor dimensão, com argamassa em ambas as


fases, totalizando 14 cm de espessura.
As Figuras 3.11 e 3.12 ilustram a fachada do edifício Fortaleza III. Já
a Tabela 3.3 lista algumas características importantes para a avaliação da
edificação.

Figura 3.11 - Vista Edifício Figura 3.12 - Vista Edifício


Fortaleza III

Fonte: abc color Fortaleza III. Fonte: abc color.


62

Tabela 3.3 - Características do Edifício Fortaleza III.


Características gerais
Endereço Juan E. O’ Leary esquina Milano
Tipo de uso Habitação
N° de pav. 9
N° de pav. tipo 8
Altura do Edifício 28 m aproximadamente
N° de salas por pav. tipo 2
Área média de cada sala -----
Área de cada pavimento -----
N° de pav. no subsolo 1
Pé-direito (m): 2,70 m
Área total do edifício ----
Ano de início de
2010
ocupação
Características construtivas gerais
Estrutura Concreto armado
Lajes Laje entre pavimentos em concreto armado
Paredes externas Tijolo cerâmico de 8 furos, total de espessura= 15cm.
Argamassa mista com acabamento em tinta na cor
Revestimento branca
Esquadrias Metálica
Projetista ----
Construtor Fortaleza, inversión y ahorro en inmuebles

Orientação da fachada
principal

A fachada principal da edificação está voltada para o


noroeste.
Fonte: Elaboração do autor, 2013.
63

3.6.2.2 Edifício Figueiras

Localizado também em uma área menos adensada que o centro


histórico de Assunção e consideravelmente mais arborizada, o edifício
Figueiras é de caráter residencial e a unidade analisada é ocupada por uma
única moradora.
Construída com tijolos de oito furos, assentados na sua menor
dimensão e com argamassa em ambas as faces, totalizando 14 cm de
espessura, externamente, a edificação apresenta fachadas na cor bege e
algumas áreas na cor vinho (Figura 3.13). As vedações em vidro, na sua
maior parte, estão protegidas internamente através de cortinas e,
externamente, através do sombreamento dos elementos arquitetônicos da
própria fachada (sacadas).
A Tabela 3.4 lista algumas características importantes para a
avaliação da edificação.
Figura 3.13 - Edifício Figueiras

Fonte: abcolor, 2013.

Nesta edificação, foi analisada a sala da residência, que esteve


fechada e sem usuários durante o monitoramento, pois a única moradora
relata passar o dia fora de casa, e quando se encontra na residência, pouco
faz o uso da sala de estar.
64

Tabela 3.4 - Características do Edifício Figueiras.


Características gerais
Endereço 14 de mayo, entre as ruas Roma e Sicilia
Tipo de uso Serviços e habitação
N° de pav. 11
do 1° ao 4° o mesmo tipo de pavimento e do 5° ao 14°
N° de pav. tipo
outro pavimento tipo.
Altura do Edifício 35 m
pavimentos pares =3 sala
N° de salas por pav. tipo
pavimentos impares=2 salas
Área média de cada sala -----
Primeiro Pavimento: 285,92 m²
Segundo Pavimento: 542,11 m²
Terceiro Pavimento: 380,10 m²
Quarto Pavimento: 505,81 m²
Quinto Pavimento: 380,10 m²
Área de cada pavimento
Sexto Pavimento: 553,77 m²
Sétimo Pavimento: 327,53 m²
Oitavo Pavimento: 556,37 m²
Nono Pavimento: 373,93 m²
Décimo Pavimento: 464,38 m²
N° de pav. no subsolo 2
Pé-direito (m): 2,50 m
Área total do edifício 4370,00 m²
Ano de início de ocupação 2002
Características construtivas gerais
Estrutura Concreto armado
Lajes Laje entre pavimentos em concreto armado
Paredes externas Tijolo cerâmico de 8 furos, total de espessura= 15 cm.
Revestimento Argamassa mista com acabamento em tinta na cor vinho
Esquadrias Metálica
Projetista Arquiteto Ubaldo Figueredo
Construtor Symaq

Orientação da fachada
principal

A fachada principal da edificação está voltada para o


sudeste.
Fonte: Elaboração do autor, 2013.
65

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 CARTA BIOCLIMÁTICA DE ASSUNÇÃO

Com os dados climáticos de um período de 30 anos (de 1980 a


2010), foi obtida a Carta Bioclimática da Cidade de Assunção (Figura 5.1),
por meio da qual foi possível observar que a cidade se encontra em conforto
durante 52,69% do ano, concentrando-se essa porcentagem, principalmente,
nos meses de maio, agosto, setembro, outubro e novembro.
O desconforto por calor, sentido em 30,91% do ano, se apresenta,
principalmente, nos meses de janeiro, fevereiro, março e dezembro. Durante
o restante do ano, a cidade tem uma baixa porcentagem de desconforto por
causa do frio (16,49%), que ocorre de forma mais frequente nos meses de
junho e julho.
As estratégias bioclimáticas mais apontadas pela carta são
Ventilação, Ventilação/Alta Inércia Térmica/Resfriamento Evaporativo e
Ar-condicionado, para evitar desconforto causado por calor, e Aquecimento
solar passivo/Alta Inércia Térmica e Aquecimento Solar Passivo, para
amenizar os efeitos do frio sobre o desconforto térmico (Figura 4.1).
66

UFSC - ECV - LabEEE - NPC


U [ g /k g ]

U R [% ]

] T BS [°C]
C

U
B
T

Figura 4.1 - Carta Bioclimática de Assunção. Fonte: Software Analysis Bio.


67

Neste trabalho, o monitoramento das variáveis climáticas foi


realizado no mês de fevereiro. Desta forma, objetivando uma comparação
entre os dados climáticos históricos e os coletados em 2014, as
características do mês de fevereiro serão melhor exploradas através da Carta
Bioclimática.
Assim, Segundo a Carta Bioclimática, fevereiro é um mês que
permanece durante 26,61% em conforto, apresentando assim, uma alta
porcentagem (73,39%) de desconforto por causa do calor.
Na Figura 5.2, o mês de fevereiro está representado pela linha na cor
bordô, demonstrando a pequena parcela do mês que está em conforto
térmico e a grande parte que requer estratégias de Ventilação, Ar-
condicionado, Ventilação/Alta Inércia/Resfriamento Evaporativo e
Ventilação/Alta Inércia.
Assim, fevereiro necessita de Ventilação, 38,57% do mês, Ar-
condicionado, 15,56%, Ventilação/Alta Inércia, 1,13% e Ventilação/Alta
Inércia/Resfriamento Evaporativo, 18,13% (Figura 4.2).

Figura 4.2 - Estratégias indicadas pela Carta Bioclimática para o mês de


Fevereiro
U R [% ]

]
U [ g /k g ]

C

U
B
T

T BS [°C]
UFSC - ECV - LabEEE - NPC
Fonte: AnalisysBio.
68

A tabela 4.1 apresenta a Normal Climatológica correspondente ao


mês de fevereiro. Estes dados caracterizam o comportamento climático do
mês de fevereiro, ao longo de 30 anos.

Tabela 4.1 - Normal Climatológica do mês de fevereiro.


Temperaturas Temperaturas
Temperaturas Umidades relativas
médias médias mínimas
médias (°C) médias (°C)
máximas (°C) (°C)
32,7 22,3 26,6 74,7
Fonte: Autor.

4.2 RESULTADOS DOS MONITORAMENTOS

4.2.1 Edifício Líder IV

O ambiente estudado nessa edificação é um escritório de


administração, com um espaço de trabalho “vedado”, ou seja, com pouca ou
nenhuma incidência direta de variáveis climáticas externas através das
esquadrias.
As variáveis climáticas medidas na edificação receberam
considerável influência das precipitações presentes no terceiro e quarto dia
de monitoramento. A figura 4.3 indica uma elevada umidade relativa do ar,
nos dias 26 e 27/02/2014, o que também influenciou na baixa da
temperatura de ar.
69

Figura 4.3 - Umidade Relativa interna e externa do ar


Umidade Relativa Externa (%) Umidade Relativa Interna (%)

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
24/2/2014 09:30

24/2/2014 19:30

25/2/2014 05:30

25/2/2014 15:30

26/2/2014 01:30

26/2/2014 11:30

26/2/2014 21:30

27/2/2014 07:30

27/2/2014 17:30

28/2/2014 03:30
Fonte: Autor.

Os dados de temperatura interna e externa coletados entre às


09h30min, do dia 24 de fevereiro de 2014, e 12h, do dia 28 de fevereiro de
2014, são demonstrados na figura 4.4.
A umidade relativa interna, durante alguns períodos, ultrapassou o
valor máximo de 60% recomendado para um ambiente salubre. Desta
forma, em relação aos níveis de umidade relativa do ar, Sookchaiya,
Monyakul e Thepa (2010) afirmam que, na maioria dos casos, os efeitos
contraproducentes causados à saúde pela umidade relativa podem ser
minimizados, mantendo o espaço interno com valores de umidade relativa
de ar em uma faixa de 40 a 60%.
70

Figura 4.4 - Temperatura interna e externa do ar


Temperatura Externa (°C) Temperatura Interna (°C)

45
40
35
30
25
20
15
10
24/2/2014 09:30

24/2/2014 19:30

25/2/2014 05:30

25/2/2014 15:30

26/2/2014 01:30

26/2/2014 11:30

26/2/2014 21:30

27/2/2014 07:30

27/2/2014 17:30

28/2/2014 03:30
Fonte: Autor.

Durante o período de medição, a figura 4.4 demonstra que os dias 24


e 25/02/2014 apresentaram semelhança entre os valores de temperatura
externa coletados; já os dias 26, 27 e 28/02/2014 receberam influência das
precipitações mencionadas. Desta forma, escolheu-se o dia 25/02/2014
como “dia de referência” para a edificação Líder IV. Este dia será analisado
visando a determinação do atraso térmico da vedação.
No geral, os valores de temperatura interna de ar, coletados durante o
monitoramento, são elevados e inadequados para um ambiente confortável.

4.2.1.1 Desempenho Térmico do Ambiente

O dia de referência escolhido para análise do atraso térmico do


edifício Líder IV foi 25/02/2014, por apresentar este, todos os dados de
variáveis climáticas de todos os horários do dia, começando às 0h00min e
finalizando às 23h59min. Outro fator para a escolha foi a ausência de
71

precipitações, que poderiam alterar consideravelmente os dados coletados,


como foi percebido nos dias que seguem após este dia.
É importante apontar que a análise de atraso térmico realizada a
seguir será considerando o uso de condicionamento artificial, pois o
monitoramento foi realizado sob as condições de uso normal da sala.
De acordo com a figura 4.5, o pico da temperatura externa se deu às
14h45min, com 38,8°C, em um horário bastante aproximado, a temperatura
interna apresentou seu valor máximo do dia às 15h, com 30,7°C. Assim,
observa-se um espaço de tempo de 15 minutos entre os valores máximos de
temperatura externa e interna, observando assim, a rápida influência da
temperatura externa sobre a interna.
Outro dado interessante consiste em que, exatamente às 08h30min
(após o acionamento do sistema de condicionamento artificial, às 08h
aproximadamente), os valores de temperatura de ar interna e externa
apresentam os mesmos valores (29,1°C) e, a partir deste ponto, a
temperatura externa começa sua ascensão, atingindo o pico às 14h45min e
logo descendendo gradualmente até o fim do dia. Já a temperatura interna,
por sofrer influência do condicionamento artificial, após 08h30min, se
mantém constante, apresentando mínimas variações. Assim, notou-se que,
sem o condicionamento artificial, o ambiente interno apresentaria valores de
temperatura de ar ainda mais acentuados e inadequados para o ambiente de
trabalho do que os observados.
72

Figura 4.5 - Dia de Referência - Edifício Líder IV


Temperatura Externa (°C) Temperatura Interna (°C)
45
40
35
30
25
20
15
10
25/2/2014 00:00

25/2/2014 02:00

25/2/2014 04:00

25/2/2014 06:00

25/2/2014 08:00

25/2/2014 10:00

25/2/2014 12:00

25/2/2014 14:00

25/2/2014 16:00

25/2/2014 18:00

25/2/2014 20:00

25/2/2014 22:00
Fonte: Autor.

4.2.1.2 Comparação de Dados Obtidos e Carta Bioclimática

Na Tabela 4.2 podem ser observados os dados históricos através da


Normal Climatológica correspondente ao mês de fevereiro. Com valores
bastante semelhantes, as médias observadas durante a coleta realizada em
fevereiro de 2014 podem ser visualizadas na tabela 5.2. Observa-se uma
maior diferença somente entre os valores de umidade relativa que, segundo
a Normal Climatológica, é mais elevada. Isto é largamente justificável, pois
neste estudo o período de tempo de coleta de dados foi vastamente inferior.
Em relação à temperatura interna coletada na edificação, os
resultados indicam uma mínima variação, com valores constantes
influenciados pelo uso do ar-condicionado. Segundo a Carta Bioclimática, o
mês de fevereiro solicita o uso de ar-condicionado somente durante 15,5%
do mês; porém, os usuários relataram o uso constante do condicionamento
artificial neste mês, pois as condições de conforto sem o uso do
equipamento, segundo eles, são extremanete inadequadas e prejudiciais para
as atividades. A carta também indica que as edificações de Assunção
requerem ventilação durante 38,6% do mês de fevereiro, o que não é
73

cumprido na edificação, pois não é feito o uso mínimo de qualquer tipo de


ventilação.
Além destas estratégias, a carta recomenda também o uso combinado
de Ventilação, Alta Inércia Térmica e Resfriamento Evaporativo para
18,1% do mês, para amenizar o desconforto por calor. Estas estratégias
também não são aplicadas na edificação.
Tabela 4.2 - Médias de dados climáticos coletados durante a pesquisa:
Temperatura
Temperatura média Temperatura média Umidade relativa
média máxima
mínima (°C) (°C) média (°C)
(°C)
32,3 21,8 25,5 69,4
Fonte: Autor.

Além de não fazer o uso das estratégias bioclimáticas recomendadas


pela carta, a edificação apresenta características que constituem estratégias
que, segundo a carta bioclimática, são contrárias à obtenção de conforto
térmico, no mês de fevereiro, na cidade de Assunção. A tipologia
arquitetônica do edifício Líder IV apresenta grande parte de suas fachadas
com vedação transparente sem proteção solar externa, permitindo a
incidência solar direta sobre o vidro, o que constitui uma estratégia de
aquecimento solar passivo, pois grande parte da radiação solar que atinge as
partes envidraçadas é transmitida diretamente ao ambiente interno. Uma
pequena parcela é refletida e outra parte absorvida, logo emitida ao espaço
interno. Esta característica dos elementos envidraçados constitui um
problema ainda maior tratando-se da sala estudada, pois a radiação que
atinge o espaço interno, através dos elementos envidraçados, não é capaz de
retornar ao espaço externo através do vidro e deveria ser retirada através de
ventilação natural, estratégia que não é minimamente aplicada pela
edificação, criando assim, um espaço interno aquecido e com alta
necessidade de condicionamento artificial.
74

4.2.1.3 Características Construtivas e suas Influências no Espaço Interno

Da radiação solar total que incide sobre a as vedações opacas da


edificação, uma parcela é refletida e outra absorvida. A fração absorvida é
transformada em calor e é proporcional à capacidade de absortância da
superfície. Já a parcela refletida é determinada pela refletância da face. Por
serem os principais tipos de revestimentos utilizados na construção civil, as
tintas imobiliárias exercem papel fundamental na absorção de radiação solar
e, portanto, também no desempenho térmico e energético das edificações
(DORNELLES e RORIZ, 201-?).
Dessa forma, a cor cinza que a fachada do edifício Líder IV exibe
não favorece a criação de ambientes internos termicamente confortáveis,
pois essa coloração apresenta grande capacidade de absorção de calor.
Dornelles, Caram e Sichieri (2013), em estudo realizado sobre absortância
solar de tintas, analisaram algumas variedades da cor cinza, dentre as quais
duas são bastante aproximadas da cor da fachada do Edifício Líder IV, onde
essas variedades apresentaram absortância entre 72% e 76,8%.
Na pesquisa realizada por Ghisi et al. (2006), a cor cinza foi a
predominante nas fachadas de 35 edificações de escritório da cidade de
Florianópolis, apresentando refletância média de 37,55%.
Inaugurado há mais de 30 anos e construído com blocos cerâmicos,
assentados na sua menor dimensão, totalizando uma espessura de
aproximadamente 15 cm, o espaço interno do edifício Líder IV apresenta
um ambiente com pouca interferência das variáveis ambientais externas,
pois utiliza constantemente sistemas de condicionamento artificial,
mantendo as janelas permanentemente fechadas. Assim, o espaço não
recebe ventilação/iluminação naturais, pois as persianas impedem a entrada
de luz solar, essenciais para um ambiente salubre. Isso porque a ventilação
natural, essencial para a renovação de ar e para a retirada da energia térmica
75

proveniente, principalmente, das vedações envidraçadas, não é utilizada,


criando assim, um ambiente de trabalho mais aquecido nas horas de maior
radiação solar, pois a energia adquirida através do vidro será em parte
absorvida e logo irradiada pelos materiais que se encontram no ambiente, e
parte será refletida. Esta refletida é em forma de radiação infravermelha
que, por apresentar um grande comprimento de onda, não consegue
atravessar o vidro para retornar ao espaço externo, ficando assim
aprisionada dentro do ambiente.
Assim, a tipologia arquitetônica da edificação apresenta fachada
envidraçada em grande parte, o que constitui uma estratégia de aquecimento
solar passivo que, segundo a Carta Bioclimática, não é recomendada para as
condições climáticas do mês de fevereiro.

4.2.1.4 Consumo de Energia Elétrica

A aplicação do questionário que abrange assuntos sobre atividades


realizadas no local, períodos de funcionamento, tipos e quantidade de
equipamentos, entre outros, indicou o consumo elétrico aproximado do
espaço de trabalho.
O espaço estudado abriga um escritório administrativo com cinco
funcionários e o chefe, além de oito pessoas, em média, que visitam a sala
durante os períodos matutino e vespertino. O funcionamento é de segunda a
sexta-feira, das 08h às 18h.
Na Tabela 4.3, podem-se visualizar os equipamentos utilizados no
escritório e o tempo de uso aproximado de cada um.
76

Tabela 4.3 - Equipamentos.


Horas de uso
Equipamentos Quantidade
por dia

Ventilador 3 8
Lâmpada fluorescente 8 8

Ar-condicionado 3 8

Computador 6 8
Impressora 4 8
Fax 1 24
Geladeira 1 24
Cafeteira 1 1

Micro-ondas 1 3
Fonte: Autor.

Objetivando indicar o consumo elétrico de alguns equipamentos, o


analisador de energia CEM1000 foi aplicado em quatro deles - ventilador,
computador, geladeira e micro-ondas — pois estes estavam em uso, durante
o período de monitoramento; já os dados de consumo dos demais
equipamentos, foram obtidos através da “Tabela de estimativa de consumo
médio mensal de eletrodomésticos, de acordo com um uso hipotético”,
disponibilizada pelo Procel/Petrobrás (Tabela 4.4).
Tabela 4.4 - Consumo de equipamentos analisados
Consumo
Consumo Consumo
Idade do Horas de total
Equipamento por hora total diário
equipamento uso por dia mensal
(kWh) (kWh)
(kWh)
Ventilador 2 anos 2,16 8 17,28 64,8
Lâmpada
... 0,025 8 0,2 6
Fluorescente
Ar-
... 1,45 8 11,6 348
condicionado
Computador 4 anos 0,063 8 0,504 15,12
Impressora 3 anos 0,001875 8 0,015 0,45
Fax ... 0,003 24 0,072 2,16
Cafeteira 3 anos 0,22 1 0,22 6,565
Geladeira 15 anos 0,12 24 2,88 86,4
Micro-ondas 9 anos 1,44 3 4,32 129,6
Fonte: Autor.
77

Se considerarmos que, segundo tabela disponibilizada pela


Eletrobrás, geladeiras mais modernas e eficientes, do mesmo porte, formato
e tamanho que a analisada, gastam em média 45 kWh de eletricidade
mensalmente, o gasto energético da geladeira utilizada no escritório de
administração é bastante alto. Assim, uma substituição do equipamento por
outro mais moderno e eficiente influenciaria na redução de consumo.
Da mesma forma, o forno micro-ondas também possui um alto
consumo de energia elétrica, que é de 129,6 kWh por mês. Segundo a
Eletrobrás, um equipamento similar, mais eficiente, gasta 108 kWh de
eletricidade por mês. Dessa forma, pode ser percebido que alguns
equipamentos analisados são ineficientes, o que colabora para o uso
irracional da eletricidade no escritório administrativo.

4.2.1.5 Ganho Térmico do Ambiente

Segundo Carlo (2008), o consumo de energia é o reflexo da carga


térmica interna do ambiente que pode, ao mesmo tempo, determinar as
relações de conforto no ambiente. Assim, a carga térmica originária dos
equipamentos utilizados dentro do espaço contribui intensamente para o
maior consumo dos aparelhos de ar-condicionado.
No ambiente estudado, encontram-se somente alguns equipamentos
listados nas tabelas 5.3 e 5.4, que são: 1 ventilador, 1 geladeira, 1 cafeteira,
1 micro-ondas, 1 computador, 1 lâmpada fluorescente e 1 ar-condicionado.
É importante destacar que para o cálculo da carga térmica a ser retirada do
ambiente, não será considerado o aparelho de ar-condicionado, pois este
possui o motor instalado ao lado de fora da edificação.
Assim, considerando o volume do ambiente, a carga térmica
aportada pelos equipamentos, a característica dos fechamentos e a
quantidade de ocupantes, foi calculada a quantidade de calor latente e calor
78

sensível que é necessário retirar do ambiente. Desta forma, foram


encontrados mais de 25.230 BTU/h de carga térmica total dentro do
ambiente analisado.
Assim, o constantemente elevado valor da temperatura interna
justifica-se, pois o ambiente possui um aparelho de ar-condicionado de
12.000 BTU. Desta forma, não apresenta capacidade para a retirada de calor
produzido e absorvido, causando assim, que os usuários sejam submetidos a
temperaturas de ar acima dos recomendados para o período de expediente.

4.2.1.6 Análise Conclusiva da Edificação

O ambiente estudado é altamente dependente do sistema de


condicionamento artificial, pois não faz o aproveitamento de variáveis
climáticas externas, que poderiam diminuir o consumo energético através da
redução do uso do ar-condicionado. A dependência do ar-condicinado
poderia ser evitada ou diminuída através do uso de ventilação natural,
quando as variáveis externas estão favoráveis, estratégia que faria a redução
da acarga térmica produzida e absorvida pelo ambiente.
As vedações envidraçadas constituem uma estratégia de aquecimento
solar passivo, o que colabora intensamente e de forma desfavorável, pois
causa o aquecimento do ambiente através da incidência direta da radiação.
Porém, esta estratégia contraria o bom desempenho térmico da edificação
para o verão. Poderia ser amenizada com o uso de proteção solar externa
(toldos ou brises) que, apesar de modificar a concepção arquitetônica,
causaria uma forte diminuição da absorção de calor, através das fachadas
envidraçadas.
Em relação aos equipamentos elétricos, foi verificado que estes não
são os maiores causadores do acúmulo de calor dentro do ambiente, pois
apesar de sua contribuição térmica, observou-se que o ambiente realiza
79

desperdício de energia para a refrigeração, através da absorção de calor das


vedações translúcidas e a falta de uso de ventilação natural para a retirada
deste calor.

4.2.2 Edifício Ybaga

A figura 4.6 traz os dados da umidade relativa do ar coletados de


forma interna e externa no Edifício Ybaga. Nota-se o drástico aumento dos
valores nos dias 26 e 27/02/2014, devido à presença de precipitações de
chuva nas horas noturnas do dia 25/02/2014.
Assim como observado no edifício Lider IV, os valores de umidade
relativa interna do ar, no espaço interno, estiveram acima do limite de 60%
recomendado, durante alguns períodos do monitoramento. Já a temperatura
de ar interna, apresentou valores mais contidos, mantendo-se dentro de
faixas aceitáveis para a criação de ambientes confortáveis.

Figura 4.6 - Umidade Relativa interna e externa do ar


Umidade Relativa Interna (%) Umidade Relativa Externa (%)

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
24/2/2014 09:30

24/2/2014 19:30

25/2/2014 05:30

25/2/2014 15:30

26/2/2014 01:30

26/2/2014 11:30

26/2/2014 21:30

27/2/2014 07:30

27/2/2014 17:30

28/2/2014 03:30

Fonte: Autor.

Segundo a figura 4.7, somente os dois primeiros dias de


monitoramento não foram influenciados pela alta da umidade relativa do ar.
80

Desta forma, o dia 25/02/2014 foi escolhido como dia de referência para a
análise de atraso térmico, pois neste foram colhidos dados das 0h00min às
23h59min, diferente do dia 24/02/2014, que apresenta dados somente a
partir da 09h30min.

Figura 4.7 - Temperatura interna e externa do ar


Temperatura Interna (°C) Temperatura Externa (°C)

45
40
35
30
25
20
15
10
24/2/2014 09:30

24/2/2014 19:30

25/2/2014 05:30

25/2/2014 15:30

26/2/2014 01:30

26/2/2014 11:30

26/2/2014 21:30

27/2/2014 07:30

27/2/2014 17:30

28/2/2014 03:30

Fonte: Autor

4.2.2.1 Desempenho Térmico do Ambiente

O dia de referência para análise do edifício Ybaga foi 25/02/2014,


por apresentar todos os valores a partir das 0h00min até às 23h59min, e pela
ausência de precipitações durante o período de expediente. Neste dia, houve
precipitação de chuva somente no final do período vespertino, influenciando
assim, somente nos valores de temperatura e umidade dos últimos dias de
monitoramento (Figura 4.8).
Nesta edificação, geralmente, o sistema de condicionamento
artificial é ativado às 05h30min e desligado às 18h, porém, no terceiro,
quarto e quinto dia de monitoramento, este horário variou, pois as primeiras
horas da manhã apresentaram temperatura externa e interna amenas,
81

consideradas adequadas para os usuários, sendo ativado o sistema artificial


somente após a elevação da temperatura acima das faixas confortáveis.

Figura 4.8 - Dia de Referência Edifício Ybaga


Temperatura Interna (°C) Temperatura Externa (°C)

45
40
35
30
25
20
15
10
25/2/2014 00:00

25/2/2014 02:00

25/2/2014 04:00

25/2/2014 06:00

25/2/2014 08:00

25/2/2014 10:00

25/2/2014 12:00

25/2/2014 14:00

25/2/2014 16:00

25/2/2014 18:00

25/2/2014 20:00

25/2/2014 22:00
Fonte: Autor.

A análise a seguir será realizada considerando que o ambiente estava


sob a influência do sistema de condicionamento artificial. Assim, segundo a
figura 4.8, no dia 25/02/2014, durante o período de expediente, o pico da
temperatura externa do ar se deu às 14h45min, com 34,5°C; já o ambiente
interno, apresentou seu maior valor de temperatura do ar às 18h (momento
aproximado de desligamento do sistema de condicionamento artificial), com
26,7°C. Desta forma, observa-se um atraso térmico do ambiente de 3 horas
e 45 minutos, demonstrando assim, que a vedação e o sistema de
condicionamento artificial retardam as influências imediatas das variáveis
climáticas externas dentro do ambiente. Nota-se que o condicionamento
artificial foi intensificado nas horas em que a temperatura externa
apresentava seus valores mais elevados. Isto evidencia a capacidade do
condicionamento artificial e da vedação de manter a temperatura do
ambiente dentro de faixas consideradas confortáveis.
82

Durante as horas da noite (21h30min), com a presença de chuva, a


temperatura externa do ar iniciou um descenso considerável, influenciada
pela alta taxa de umidade; porém, a temperatura interna manteve valores
estáveis, apresentando queda somente às 05h30min do dia seguinte,
indicando assim, 8 horas de atraso térmico do ambiente.
A sala analisada no edifício Ybaga, apesar de apresentar
considerável atraso térmico, indicou um acentuado amortecimento térmico
sem o uso do ar-condicionado, de 3°C, o que é bastante significativo
demonstrando que a vedação fornece um importante isolamento do
ambiente interno em relação ao externo.

4.2.2.2 Comparação de Dados Obtidos e Carta Bioclimática

As médias dos dados climáticos coletados no edifício Ybaga, em


fevereiro de 2014 (Tabela 4.5), também são semelhantes às Normais
Climatológicas históricas (Tabela 4.1), indicando assim, que o dia escolhido
para a análise pode ser considerado típico.
O ambiente faz uso constante de ar-condicionado, o que, segundo a
Carta Bioclimática, seria necessário somente 15,5% do mês. A ventilação
natural, outra estratégia importante apontada pela carta, não é utilizada no
ambiente analisado, pois as janelas ficam permanentemente fechadas.
A Alta Inércia, também recomendada pela carta (para ser usada de
forma conjunta com outras estratégias), foi aplicada nesta edificação, pois a
mesma apresenta vedações opacas externas com 25 cm de espessura que
apresentou um atraso térmico de 8 horas entre o final do segundo dia e o
começo do terceiro dia de monitoramento, e entre o final do quarto e o
início do quinto dia de monitoramento foram notadas mais de 10 horas de
atraso térmico. Este efeito, para este caso, não representou vantagem para o
conforto térmico, pois o ambiente permaneceu com temperatura superior ao
83

percebido externamente, durante todo o período noturno e primeiras horas


do dia seguinte, sendo significativamente reduzido após o acionamento do
condicionamento artificial. Porém, apesar disto, a vedação indicou um
significativo amortecimento térmico, demonstrando assim, que outros
fatores, além da vedação opaca, influenciam nas altas temperaturas
percebidas dentro da sala.

Tabela 4.5 - Médias de dados climáticos coletados durante a pesquisa


Temperatura média Temperatura média Temperatura média Umidade relativa
máxima (°C) mínima (°C) (°C) média (°C)
30 22,1 25,5 72,8
Fonte: Autor.

4.2.2.3 Características Construtivas e suas Influências no Espaço Interno

Com mais de 40 anos de uso e construído com blocos cerâmicos de


oito furos, assentados na sua maior dimensão com argamassa em ambas as
faces e, totalizando assim, a vedação uma espessura de 25 cm,
aproximadamente, foi observado um alto atraso térmico, que através do
acúmulo e retardada dispersão de calor, manteve o ambiente interno com
temperatura de ar superior ao verificado externamente, durante o período
noturno e as primeiras horas do dia. Em alguns dias, foram observadas mais
de 8 horas de atraso térmico, porém, foi notado também um considerável
amortecimento térmico proporcionado pela vedação, o qeu inpede
influencia direta das variáveis externas dentro da edificação.
No caso desta edificação, as vedações envidraçadas não são grandes
responsáveis pelo aquecimento do ambiente, pois estes estão protegidos por
brises metálicos externamente (que interrompem quase totalmente a
incidência direta da radiação solar) e por persianas internamente.
84

4.2.2.4 Consumo de Energia Elétrica

O espaço estudado possui grandes dimensões e grande quantidade de


pessoas trabalhando, assim, vários equipamentos elétricos podem ser
encontrados no local. A Tabela 4.6, lista estes equipamentos, a quantidade
existente e tempo de uso diário.

Tabela 4.6 - Equipamentos.


Horas de
Equipamentos Quantidade
uso por dia
Lâmpada fluorescente 24 8
Ar condicionado 11 8
Computador 20 8
Impressora 6 3
Fax 1 24
Geladeira 2 24
Cafeteira 2 1
Placa quente elétrica 1 2
Micro-ondas 1 3
TV 29” 1 0,30
Projetor + notebook 1 3
Fonte: Autor.

A tabela 4.7 exibe o consumo elétrico em kWh mensal dos


equipamentos encontrados. Nota-se que, entre eles, o forno de micro-ondas
é bastante utilizado e possui um consumo elevado (126,36 kWh). Segundo a
Eletrobrás, um forno micro-ondas similar, consome normalmente 108 kWh
de energia elétrica por mês. Outro equipamento de alto consumo é a “placa
quente”, que é utilizada para aquecer refeições. Este equipamento, apesar de
ser novo, tem um alto consumo de eletricidade.
85

Tabela 4.7 - Consumo de equipamentos.


Consumo
Consumo Horas Consumo
Idade do total
Equipamento por hora de uso total diário
equipamento mensal
(kWh) por dia (kWh)
(kWh)
Lâmpada
... 0,025 8 0,2 6
Fluorescente

Ar-condicionado 8 anos 1,45 8 11,6 348

Computador 4 anos 0,063 8 0,504 15,12

Impressora ... 0,001875 8 0,015 0,45

Fax ... 0,003 24 0,072 2,16

Geladeira 12 anos 0,11 24 2,80 84,1


Cafeteira 1 ano 0,22 1 0,22 6,565

Placa quente 6 meses 1,44 2 2,88 86,4

Micro-ondas 8 anos 1,404 3 4,212 126,36

TV 29” 5 anos 0,084 0,3 0,042 1,26


Projetor +
Notebook 9 anos 0,55 3 1,65 49,5
Fonte: Autor.

Os equipamentos encontrados no Ministério da Fazenda, assim como


os aparelhos das demais edificações, não possuem nenhum tipo de selo ou
etiqueta que informe o seu consumo energético. Desta forma, o seu gasto,
geralmente, é elevado, pois o consumidor não tem conhecimento sobre o
impacto que o uso de determinado equipamento terá sobre sua conta de
energia elétrica.

4.2.2.5 Ganho Térmico do Ambiente

No período de monitoramento, na sala analisada foram encontrados


os seguintes equipamentos elétricos: 1 TV, 1 notebook, 1 projetor, 4
lâmpadas fluorescentes e 1 ar-condicionado. Este último equipamento foi
86

desconsiderado para o cálculo de carga térmica do ambiente, pois possui o


motor no lado de fora da edificação.
Assim, considerando a carga térmica aportada pelos equipamentos, o
volume do ambiente, a característica dos fechamentos e a quantidade de
ocupantes, foi calculada a quantidade de calor latente e calor sensível que é
necessário retirar do ambiente. Desta forma, foram encontrados mais de
21.126 BTU/h de carga térmica total dentro do ambiente analisado.
Embora desconhecida a capacidade do aparelho de ar-condicionado
utilizado no local, nota-se que, apesar das altas temperaturas externas, o
mesmo é capaz de retirar a quantidade de carga térmica necessária para
manter a temperatura do ambiente dentro de faixas consideradas
apropriadas para os usuários.
Nota-se que a carga térmica do ambiente não é gerada em grande
parte pelos equipamentos ou usuários, pois a quantidade de BTU´s
observada não é necessariamente significativa.

4.2.2.6 Análise Conclusiva da Edificação

No caso do ambiente analisado nesta edificação, é percebida a alta


necessidade do uso de ar-condicionado, que não se deve somente ao calor
aportado pelos equipamentos elétricos encontrados no espaço interno, senão
à consideravelmente alta inércia térmica que as vedações opacas
apresentam, característica que influencia nas altas temperaturas percebidas
durante a noite e parte do período diurno. Esta situação causa o desperdício
de energia, que poderia ser minimizado através do uso de ventilação natural,
estratégia esta que faria a retirada de grande parte do calor retido,
diminuindo assim, as necessidades de uso de condicionamento artificial.
Porém, apesar da alta inércia térmica da vedação opaca, foi
verificado também um importante amortecimento térmico causado pela
87

vedação (3°C aproximadamente), o que constitui uma estratégia favorável


para evitar altos ganhos térmicos dentro da sala analisada. Assim, os valores
altos de temperatura observados no ambiente durante o monitoramento, se
devem à ação da alta inércia térmica das vedações opacas em combinação
com fatores como a cor acinzentada dos brises, que absorvem calor e o
retransmitem às vedações enidraçadas, que por sua vez absorvem e
transmitem esta energia térmica ao interior do ambiente, que pela falta de
ventilação natural, oferece altas temperaturas sem o uso do ar-condicionado.
Assim, a falta de estratégia de ventilação natural é o maior determinante das
temperaturas inadequadas e por consequancia, constante necesidade de
condicionamento artificial.

4.2.3 Edifício Fortaleza III

As figuras 4.9 e 4.10 demonstram os dados de umidade relativa e


temperatura do ar coletados ao longo do monitoramento. Nesta edificação, o
dia 25/02/2014 também foi o escolhido para a análise do atraso térmico.

Figura 4.9 - Umidade Relativa interna e externa do ar


Umidade Relativa Externa (%) Umidade Relativa Interna (%)

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
24/2/2014 09:30

24/2/2014 19:30

25/2/2014 05:30

25/2/2014 15:30

26/2/2014 01:30

26/2/2014 11:30

26/2/2014 21:30

27/2/2014 07:30

27/2/2014 17:30

28/2/2014 03:30

Fonte: Autor.
88

A umidade relativa de ar dentro do ambiente estudado indicou estar


também acima dos 60% recomendados para manter um ambiente salubre.
Da mesma forma, o espaço interno sofre com temperaturas de ar
consideradas elevadas para um ambiente adequado. (SOOKCHAIYA,
MONYAKUL e THEPA, 2010).

Figura 4.10 - Temperatura interna e externa do ar

Temperatura Externa (°C) Temperatura Interna (°C)


45
40
35
30
25
20
15
10
24/2/2014 09:30

24/2/2014 19:30

25/2/2014 05:30

25/2/2014 15:30

26/2/2014 01:30

26/2/2014 11:30

26/2/2014 21:30

27/2/2014 07:30

27/2/2014 17:30

28/2/2014 03:30

Fonte: Autor.

A habitação não fez a utilização de condicionamento artificial de


forma constante durante os dias de monitoramento, sendo este ativado
somente durante algumas horas durante o período da tarde e quando as
temperaturas externas apresentam elevado valor.
No dia 24/02/2014, a sala permaneceu sem uso de ar-condicionado;
já no dia 25/02/2014, o equipamento foi ativado durante o período
vespertino.
A presença de precipitações nas horas noturnas do dia 25/02
influenciou fortemente nos valores das variáveis climáticas percebidas no
dia 26/02 e 27/02/217; assim, estes foram descartados para a realização da
análise de atraso térmico. Os dias 24/02 e 28/02/2014 não apresentaram
89

dados correspondentes à totalidade de horas do dia; assim, 25/02/2014 foi


escolhido para a realização da análise do atraso térmico, por não ter sofrido
influência de precipitações e pela coleta ter sido feita das 0h00min às
23h59min.

4.2.3.1 Desempenho Térmico do Ambiente

No edifício Fortaleza III foi analisada uma unidade habitacional.


Nesse caso, pelo fato do espaço estudado constituir parte de uma moradia,
permite-se a entrada de iluminação e ventilação naturais através das
esquadrias.
No dia 25/02/2015, a única moradora relatou que a residência
permaneceu fechada e sem uso de ar-condicionado, durante o período
matutino. O equipamento de condicionamento artificial foi ativado após às
13h e desligado às 17h, aproximadamente, momento no qual foram abertas
as portas e janelas do recinto estudado, que no caso constitui a sala de estar.
Assim, para a análise do atraso térmico, considerou-se somente o
período em que o recinto permaneceu fechado e sem o uso do ar-
condicionado. Portanto, neste intervalo foi observado um atraso térmico de
5 horas, efeito que provoca temperaturas internas maiores que as externas
durante o perido noturno (Figura 4.11).
90

Figura 4.11 - Dia de Referência Edifício Fortaleza III


Temperatura Externa (°C) Temperatura Interna (°C)

45
40
35
30
25
20
15
10
25/2/2014 00:00

25/2/2014 02:00

25/2/2014 04:00

25/2/2014 06:00

25/2/2014 08:00

25/2/2014 10:00

25/2/2014 12:00

25/2/2014 14:00

25/2/2014 16:00

25/2/2014 18:00

25/2/2014 20:00

25/2/2014 22:00
Fonte: Autor.

Após este período, com a ativação do ar-condicionado, observa-se


uma estabilização da temperatura interna (entre 14h e 17h). Depois deste
intervalo, nota-se a semelhança das variações apresentadas pelas
temperaturas externas e internas, pois o recinto recebeu influência direta das
variáveis externas, através da abertura das esquadrias.
Observa-se também uma temperatura interna constante e superior à
externa, durante o período noturno. Isto se deve à absorção de calor nas
vedações e outros elementos que se encontram no ambiente. Durante as
horas do dia e com a energia térmica que é dissipada por estes, pela falta de
aberturas para a retirada de calor emitido e sem a influência do ar-
condicionado, apresenta temperaturas superiores aos percebidos
externamente.

4.2.3.2 Comparação de Dados Obtidos e Carta Bioclimática

Como observado nas demais edificações, as médias das variáveis


climáticas obtidas em fevereiro de 2014 também são semelhantes à Normal
Climatológica do mês de fevereiro, demonstrando com esta similitude que o
91

período de monitoramento apresenta comportamento climático com dados


aproximados aos conferidos historicamente (Tabela 4.8).

Tabela 4.8 - Médias de Variáveis Climáticas coletadas durante a pesquisa


Temperatura
Temperatura média Temperatura Umidade relativa
média máxima
mínima (°C) média (°C) média (°C)
(°C)

31,2 21,7 25,3 72,7


Fonte: Autor

O edifício Fortaleza III segue algumas recomendações indicadas pela


Carta Bioclimáticas, entre elas: o uso de ventilação, pois durante alguns
períodos, a residência permanece com as esquadrias abertas, permitindo a
incidência direta de variáveis climáticas externas. Entretanto, apesar da
aplicação desta estratégia, observa-se elevada temperatura interna, na maior
parte do tempo do período matutino e vespertino, pois nos dias em que não
houve a presença de precipitações, este valor se manteve praticamente
acima dos 30°C, em uma faixa de temperatura considerada não adequada
para o usuário. Desta forma, nota-se que, durante o período de
monitoramento, as variáveis climáticas externas não estavam adequadas
para conseguir conforto dentro do ambiente através do seu aproveitamento.
O uso de ar-condicionado está dentro do que é recomendado pela
carta, pois a moradora relata que em poucos momentos sente a necessidade
de utilizar o equipamento. A mesma conta que, através da ventilação
natural, consegue obter um ambiente que considera confortável. Porém, isto
não está de acordo com o recomendado para o conforto térmico, que sugere
temperaturas menores aos observados no ambiente. Desta forma, a
conformidade da moradora com a temperatura observada pode ser causada
tanto pelo movimento de ar, que modifica a sensação térmica, como pela
aclimatação da moradora ao ambiente de sua residência, pois estudos têm
afirmado que usuários de edificações ventilados naturalmente possuem
92

maior tolerância e uma maior faixa de temperatura de conforto térmico


(ASHRAE, 2004; GIVONI, 1992; OLGYAY, 1968).

4.2.3.3 Características Construtivas e suas Influências no Espaço Interno

O edifício Fortaleza III possui uma fachada pintada na cor branca, o


que diminui a sua capacidade de absorção da radiação incidente e representa
uma característica positiva em relação à capacidade de reflexão. Os
elementos envidraçados escassos não são muito significativos para o ganho
térmico do espaço interno (Figura 4.12).
Figura 4.12 - Fachada Edifício Fortaleza III.

Fonte: Site Ecos del Paraguay, 2012.

Nesse edifício, a unidade estudada é habitacional e faz uso de


sistema de condicionamento artificial nos quartos e na sala de estar; os
cômodos que não utilizam esse sistema fazem uso de ventilação natural. O
espaço analisado constitui a sala de estar da residência e faz uso de
condicionamento artificial somente durante algumas horas do dia.
Os dados coletados demonstram que a temperatura interna
permanece constantemente mais elevada que a externa, durante o período
noturno. Esse resultado se deve ao atraso térmico das paredes e à falta de
93

utilização da estratégia de ventilação natural nas horas da noite,


recomendada pela Carta Bioclimática.

4.2.3.4 Consumo de Energia Elétrica

A unidade em questão é uma habitação unifamiliar, assim, dentro da


mesma, somente foram encontrados eletrodomésticos. A tabela 4.9 lista os
equipamentos elétricos encontrados na residência:

Tabela 4.9 - Equipamentos

Horas de uso
Equipamentos Quantidade
por dia

Ventilador de teto 2 8

Lâmpada fluorescente 13 5

Ar-condicionado 1 8

Chuveiro elétrico 2 1

Geladeira 1 24

Cafeteira 1 0,3

TV LCD 32” 1 3

Micro-ondas 1 0,2
Fonte: Autor.

Segundo a Eletrobrás, uma televisão de 18”, similar à analisada na


unidade unifamiliar, gasta em média 6,75 kWh por mês. Assim, o aparelho
de televisão analisado indicou ser eficiente, consumindo 2,16 kWh de
eletricidade por mês.

Da mesma forma, o aparelho de micro-ondas e a geladeira


demonstraram estar dentro dos padrões de consumo revelados pela
Eletrobrás para o mesmo tempo de uso.
94

No geral, os equipamentos elétricos encontrados nesta residência


apresentam consumo moderado, o que se deve à pouca idade de fabricação
dos mesmos, e ainda que não etiquetados, em comparação a equipamentos
mais antigos observados nas outras edificações, apresentam consumo
relativamente inferior (Tabela 4.10).

Tabela 4.10 - Consumo de equipamentos elétricos


Consumo
Consumo Horas Consumo
Idade do total
Equipamento por hora de uso total diário
equipamento mensal
(kWh) por dia (kWh)
(kWh)
Ventilador de
3 anos 0,12 8 0,96 28,8
teto
Lâmpada
Fluorescente 1 ano 0,015 5 0,075 2,25
compacta
Ar-condicionado 1 ano 1,35 8 10,8 324

Chuveiro elétrico 2 ano 3,5 0,7 2,45 73,5

Geladeira 2 anos 0,06 24 1,44 43,2

Cafeteira 3 anos 0,6 1 0,6 18

TV LCD 32” 1 ano 0,024 3 0,072 2,16

Micro-ondas 5 anos 1,32 0,2 0,44 13,2


Fonte: Autor.

4.2.3.5 Ganho Térmico do Ambiente

Por constituir a sala de estar da residência, no ambiente analisado


foram encontrados poucos equipamentos elétricos, entre eles: 1 TV, 3
lâmpadas fluorescente compactas e 1 aparelho de ar-condicionado (o último
equipamento foi desconsiderado para o cálculo de carga térmica, pois
possui o motor do lado de fora da edificação).
Assim considerando as características dos fechamentos do ambiente,
o volume, ocupação e os equipamentos elétricos encontrados, foi
determinado que devem ser retirados mais de 19.862 BTU/h de carga
95

térmica do ambiente. Assim, segundo esta informação, é necessário um


equipamento de ar-condicionado de 21.000BTU de capacidade para a
retirada desta quantidade de carga térmica do ambiente, porém, segundo a
moradora, o equipamento atual de 12.000 BTU é pouco utilizado, pois com
o uso de ventilação natural é possível conseguir um ambiente relativamente
confortável.

4.2.3.6 Análise Conclusiva da Edificação

Dentro da sala nalisada nesta edificação foram escontrados escassos


equipamentos elétricos, verificou-se assim, que estes não são os maiores
responsáveis pelas temperaturas observadas.
Apesar de a edificação apresentar tipologia arquitetônica que permite
o uso de variáveis climáticas externas, as estratégias necessárias não são
aplicadas nas horas noturnas, período no qual há maior necessidade, pois
através do atraso térmico da vedação, o ambiente interno permanece com
temperaturas mais elevadas que o externo. Desta forma, por meio do uso
mais frequente de ventilação natural, a carga térmica do ambiente poderia
ser reduzida, incidindo assim, na menor necesidade de condicionamento
artificial.

4.2.4 Edifício Figueiras

Assim como nas outras edificações, as variáveis climáticas do


edifício Figueiras foram modificadas pela presença de chuvas durante
alguns dias do período de monitoramento. A figura 4.13 ilustra a grande
variação da umidade relativa do ar percebida interna e externamente na
edificação; já a figura 4.14, demonstra as oscilações da temperatura interna
e externa do ar.
96

Figura 4.13 - Umidade Relativa interna e externa do ar


Umidade Relativa Interna (%) Umidade Relativa Externa (%)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
24/2/2014 09:30

24/2/2014 19:30

25/2/2014 05:30

25/2/2014 15:30

26/2/2014 01:30

26/2/2014 11:30

26/2/2014 21:30

27/2/2014 07:30

27/2/2014 17:30

28/2/2014 03:30
Fonte: Autor.

No geral, a porcentagem de umidade relativa interna se mostra


inadequada para um ambiente salubre. Já a temperatura interna, indicou
grande variação, demonstrando valores adequados em alguns períodos e
inadequados em outros.

Figura 4.14 - Temperatura interna e externa do ar


Temperatura Externa (°C) Temperatura Interna (°C)

45
40
35
30
25
20
15
10
24/2/2014 09:30

24/2/2014 19:30

25/2/2014 05:30

25/2/2014 15:30

26/2/2014 01:30

26/2/2014 11:30

26/2/2014 21:30

27/2/2014 07:30

27/2/2014 17:30

28/2/2014 03:30

Fonte: Autor.
97

Neste edifício, foi monitorada a sala de estar de uma residência, que


permaneceu desocupada e sem o uso de ar-condicionado durante
praticamente todo o período de monitoramento, recebendo assim, mínima
influência direta das variáveis climáticas externas.
Para uma análise mais aprofundada das variações de temperatura do
ar desta edificação, o dia 25/02/2014 também foi escolhido como dia de
referência.

4.2.4.1 Desempenho Térmico do Ambiente

As variáveis climáticas internas e externas coletadas no edifício


Figueiras demonstraram pouca variação durante todo o período de
monitoramento. A figura 4.15 apresenta os dados coletados no dia
25/02/2014, dia selecionado para a realização da análise de atraso térmico.
A figura 4.15 ilustra que as temperaturas interna e externa
apresentam oscilação semelhante e valores aproximados, o que demonstra
uma forte influência das características climáticas externas dentro do
ambiente.
O atraso térmico observado neste dia foi de apenas 02h30min,
indicando assim, uma baixa capacidade da vedação de retardar a
transmissão de energia térmica ao ambiente.
A baixa inércia térmica da vedação opaca causa uma rápida
transmissão da energia absorvida externamente ao ambiente interno, e sem
o uso de qualquer tipo de ventilação (natural ou mecânica) o espaço
permanece na maior parte do dia, com temperaturas consideradas
inadequadas para o conforto. Esta situação poderia ser melhorada com o uso
de ventilação natural para a retirada do calor acumulado no ambiente.
98

As vedações translúcidas, além de serem escassas, em sua maioria,


permanecem sombreadas na maior parte do tempo, colaborando assim,
minimamente, para o ganho térmico do ambiente.

Figura 4.15 - Dia de Referencia edifício Figueiras


Temperatura Externa (°C) Temperatura Interna (°C)

45
40
35
30
25
20
15
10
25/2/2014 00:00

25/2/2014 02:00

25/2/2014 04:00

25/2/2014 06:00

25/2/2014 08:00

25/2/2014 10:00

25/2/2014 12:00

25/2/2014 14:00

25/2/2014 16:00

25/2/2014 18:00

25/2/2014 20:00

Fonte: Autor. 25/2/2014 22:00

4.2.4.2 Comparação de Dados Obtidos e Carta Bioclimática

Ao fazer uma comparação entre os dados históricos proporcionados


pela Normal Climatológica (Tabela 4.11), pode ser notada uma diferença
entre os dados coletados em fevereiro de 2014 e as médias históricas do mês
de fevereiro. Isto se justifica pela diferença de entorno entre os pontos de
monitoramento, pois as Normais Climatológicas foram obtidas através de
variáveis climáticas coletadas no aeroporto internacional Silvio Pettirossi,
região minimamente adensada, e as médias da pesquisa foram conseguidas
com dados adquiridos em uma região consideravelmente mais adensada.
Em relação às estratégias bioclimáticas sugeridas pela Carta
Bioclimática, a sala praticamente não segue nenhuma das recomendações,
pois não utiliza ventilação e muito menos faz o uso combinado de
99

Ventilação/Alta Inércia/Resfriamento Evaporativo, recomendado para


18,13% do mês de fevereiro.

Tabela 4.11 - Média de variáveis climáticas coletadas durante a pesquisa


Temperaturas Umidades
Temperaturas médias Temperaturas
médias máximas relativas médias
mínimas (°C) médias (°C)
(°C) (°C)

29,8 24,6 27,1 71,7


Fonte: Autor.

4.2.4.3 Características Construtivas e suas Influências no Espaço Interno

Esta edificação apresenta fachada predominantemente em cor clara


(bege) e com elementos na cor vinho. Esta característica é considerada
adequada, pois cores mais claras têm menos capacidade de absorção de
calor.
As vedações translúcidas estão protegidas externamente,
permanecendo assim, durante praticamente todo o período diurno,
sombreadas e protegidas da radiação direta. Assim, os elementos
envidraçados sombreados evitam um maior ganho de calor do ambiente.
Com 12 anos de uso, a edificação possui vedações opacas com baixa
inércia térmica, o que prejudica fortemente o desempenho térmico do
ambiente, pois as variáveis climáticas externas que, na maior parte do
tempo, são desfavoráveis para o conforto, afetam rapidamente o espaço
interno.
A tipologia arquitetônica permite o uso de ventilação e iluminação
natural através das esquadrias, porém a moradora relata que normalmente as
esquadrias permanecem fechadas. Apesar de fazer mínimo uso de ar-
condicionado, já que o espaço é pouco ocupado, fazer o uso de ventilação
natural, durante algumas horas do dia, quando as variáveis climáticas
externas apresentam características favoráveis (geralmente no período
100

noturno), poderia criar um ambiente mais adequado termicamente e mais


salubre, pois a renovação de ar é essencial para evitar o acúmulo de
substâncias daninhas e a proliferação de bactérias prejudiciais ao organismo
humano.

4.2.4.4 Consumo de Energia Elétrica

A unidade estudada no edifício Figueiras constitui uma residência


ocupada por uma única moradora. Os equipamentos elétricos utilizados na
residência são relativamente novos e apresentam consumo moderado
(Tabela 4.12).

Tabela 4.12 – Equipamentos.

Horas de uso por


Equipamentos Quantidade
dia

Lâmpada fluorescente compacta 15 6

Ar-condicionado 2 8

Computador 1 6

Geladeira 2 24

Cafeteira 1 1

Micro-ondas 1 3

Chuveiro elétrico 2 1

TV LCD 50” 1 3
Fonte: Autor.

A tabela 4.13 traz mais informações sobre os equipamentos elétricos


encontrados na residência e demonstra o consumo energético em kWh de
cada um.
101

Tabela 4.13 - Consumo de equipamentos .


Consum Consum Consumo
Horas
Idade do o por o total total
Equipamento de uso
equipamento hora diário mensal
por dia
(kWh) (kWh) (kWh)
Lâmpada fluorescente
compacta 2 anos 0,015 5 0,075 2,25
Ar-condicionado 4 anos 1,35 8 10,8 324
Computador 2 anos 0,063 8 0,504 15,12
Geladeira 1 ano 0,05 24 1,2 36
Cafeteira 1 ano 0,6 1 0,6 18
Micro-ondas 5 anos 1,32 0,3 2,64 79,2
Chuveiro elétrico 1 ano 3,5 0,7 2,45 73,5
TV LCD 50” 2 anos 0,026 3 0,078 2,34
Fonte: Autor.

Os equipamentos utilizados, apesar de não apresentarem nenhum


tipo de etiqueta ou selo que indique seu consumo energético, expõem gasto
de eletricidade similar aos produtos comercializados no Brasil, segundo
tabela de gasto de equipamentos elétricos, proporcionada pela Eletrobrás.

Um fator importante para o consumo moderado dos equipamentos é


a idade de cada um. Ao fazer uma comparação com os equipamentos
elétricos utilizados em todas as edificações da amostra, pode ser percebido
que, na maioria dos casos, os mais antigos são os que apresentam consumo
energético mais elevado.

4.2.4.5 Ganho Térmico do Ambiente

Na sala de estar da residência, onde foram instalados os sensores de


temperatura e umidade relativa de ar, foram encontrados os seguintes
102

equipamentos elétricos: 3 lâmpadas fluorescente compactas, 1 computador,


1 TV e um ar-condicionado (desconsiderado para o cálculo de ganho
térmico por possuir o motor do lado de fora do ambiente). Assim, através da
potência em Whats destes equipamentos, as características construtivas do
ambiente e a quantidade de ocupantes, foi determinado que é necessário
fazer a retirada de pouco mais de 18.875 BTU/h de calor latente e sensível
do ambiente.
Assim, nota-se que, neste caso, os equipamentos não são os maiores
responsáveis pelas altas temperaturas do ambiente, até poque o recinto
permaneceu desocupado durante praticamente todo o período de
monitoramento e estes não foram ligados. Assim, a baixa inércia térmica da
vedação e a falta de uso de estratégia de ventilação natural são os principais
responsáveis pelos valores de temperatura de ar observados.

4.2.4.6 Análise Conclusiva da Edificação

A vedação com baixa inércia térmica é o fator preponderante na


rápida ação das variáveis climáticas externas sobre o espaço interno. Este
efeito é desfavorável nos dias de alta temperatura externa de ar, pois o
ambiente é aquecido rapidamente e a falta de uso de ventilação natural evita
a remoção do calor ganho.
No caso desta edificação, os equipamentos elétricos não são os
responsáveis pelo aquecimento do ambiente, já que este permaneceu
desocupado durante praticamente todo o período de monitoramento, e por
constituir uma sala de estar, não possui equipamentos que permanecem
ligados o dia inteiro (como acontece na cozinha, por exemplo, onde a
geladeira esta constantemente ligada).
103

5 CONCLUSÕES

Nas edificações mais antigas (Líder IV e Ybaga), nota-se um maior


isolamento do ambiente interno, e mesmo contando a edificação com
características construtivas que permitem a abertura de esquadrias, nas salas
não é feito o uso de ventilação natural, o que resulta na falta de
aproveitamento de variáveis climáticas externas favoráveis ao conforto do
ambiente, implicando assim, no maior uso de condicionamento artificial e
recorrente desperdício de energia.
Já as edificações mais recentes (Fortaleza III e Figueiras),
apresentam caracteristicas de uso que permitem que o ambiente interno seja
influenciado pelas variáveis climáticas externas. Outra característica
tipológica, favorável ao clima de Assunção, notada nestas edificações foi a
reduzida aplicação de vedações envidraçadas, característica construtiva que
evita ganho de calor através da incidência solar direta nos elementos
translúcidos.
De acordo com as características climáticas de Assunção, através da
aplicação da Carta Bioclimática, foi percebida a falta ou o mal uso de
estratégias em duas edificações. Na primeira, Líder IV, a falta de uso de
ventilação natural e a grande porcentagem da fachada envidraçada sem
proteção solar externa, que causa um alto ganho de calor do ambiente e uma
forte dependência do condicionamento artificial. Desta forma, esta
edificação não é adequada para o clima de Assunção. A segunda edificação,
Ybaga, possui vedações translúcidas protegidas através de brises, porém as
vedações opacas apresentam elevado atraso térmico, o que contribui para o
aquecimento do ambiente. Assim, nesta edificação, a falta de uso de
ventilação natural aliado a vedações com alta inércia térmica cria um
ambiente altamente dependente do ar-condicionado. Desta forma, apesar da
104

edificação apresentar características construtivas adequadas para o clima de


Assunção, a sua forma de uso a torna ineficiente.
O sistema construtivo das demais edificações, Fortaleza III e
Figueiras, apresentam características mais aproximadas às recomendadas
pela Carta Bioclimática. Estas características tornam os ambientes menos
dependentes do condicionamento artificial e, apesar das vedações
apresentarem menor atraso térmico, a possibilidade de uso das variáveis
climáticas externas diminui a necessidade de sistemas mecânicos de
condicionamento. Assim, estas edificações se integram de forma mais
eficaz ao clima de Assunção.
No geral, foi observado que a carga térmica aportada pelos fatores
internos do ambiente não é a principal responsável pelas altas temperaturas
internas observadas. Em relação ao consumo energético dos equipamentos
elétricos, foi verificado um alto gasto energético dos que possuem maior
tempo de fabricação. Já os adquiridos mais recentemente, apesar de não
possuirem nenhuma etiqueta que classifique o seu nível de consumo,
apresentaram gasto energético similar aos equipamentos etiquetados e
comercializados no Brasil.
Desta forma, conlcui-se que o fator preponderante para o desperdício
de energia e decorrente ineficiencia energética das edificações é a falta do
uso de ventilação natural, que faria a redução da carga térmica dos
ambientes para a minimização do uso de condicionamento artificial.
A metodologia utilizada no estudo atingiu o objetivo proposto, de
apontar as principais caracteristicas que influenciam na eficiência energética
das edificações estudadas. Assim, no geral, percebe-se baixa consciência em
relação ao uso racional de energia nas edificações estudadas, pois há um
desperdício de energia para o condicionamento dos ambientes, que pela
falta de uso de estratégias bioclimáticas, são altamente dependentes de
sistemas de condicionamento artificial. Desta forma, o Paraguai deve buscar
105

intensificar as pesquisas na área de eficiência energética em edificações,


pois há ainda muito a ser feito e, tendo os resultados em mãos, estimar a
viabilidade de implantação de normativas de uso racional de energia.
106

6 PROPOSTA DE TRABALHOS FUTUROS

Os resultados indicaram pouca preocupação em relação ao uso não


racional de energia nas edificações no Paraguai, pois as edificações, na sua
maioria, apresentam caracteristicas tipologicas inadequadas ao clima de
Assunção, pois não fazem uso adequado de estratégias bioclimáticas
indicadas para o clima da cidade de Assunção. Desta forma, pesquisas que
indiquem as tipologias arquitetonicas mais favoráveis para o clima de
Assunção seriam aliadas essenciais para uma futura criação de normativas
dedicadas a implantação de Leis de Eficiencia Energética em Edificações no
Paraguai.
107

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APÊNDICE A- Questionário

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