Como Aprender Francês em 30 Dias (Alice Zanzottera)
Como Aprender Francês em 30 Dias (Alice Zanzottera)
Como Aprender Francês em 30 Dias (Alice Zanzottera)
EM 30 DIAS
Alice Zanzottera
ATENCÃO: Todos os direitos são reservados por lei. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida por qualquer
meio sem autorização escrita da Editora. É expressamente proibido transmitir este livro a outros, nem em papel, nem
em formato eletrónico, nem a título oneroso ou gratuito.
TABELAS FONÉTICAS
PREFÁCIO
DIA 1. É tudo uma questão de orientation e prononciation
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 2. COMMENT SE BOUGER
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 3. JE SUIS JE
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 4. ÊTRE OU NE PAS ÊTRE
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 5. A MENTE MATEMÁTICA DOS FRANCESES
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 6. COMMENT ACHETER
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 7. LA CUISINE BIZARRE
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 8. LES QUESTIONS
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 9. ALLER FAIRE LES COURSES
(BIZARRES)
9.1. Les verbes aller et venir
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 10. AUX FOURNEAUX (PARTE 1)
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 11. AUX FORNEAUX (PARTE II)
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 12. Supermarché, bonjour à toi (à nouveau)
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 13. FLÂNER À PARIS (PARTE I)
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 14. FLÂNFER À PARIS (PARTE II)
14.1. Les Articles
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 15. L’ESPRIT DU CAMPING
15.1. Les Articles Contractés
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 16. LYON BY DAY
16.1. IL Y A
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 17. LYON BY NIGHT
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 18. LES QUESTIONS (parte II)
18.1. Inversion Sujet-Verbe
EXERCÍCIO
18.2. Interrogation Partielle
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 19. LE CHÂTEAU DE VERSAILLES
19.1. La Negation
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 20. SHOPPING À LA FRANÇAIS
20.1. Os Galicismos
20.2. Passé Récent
20.3. Présent Progressif
20.4. Futur Proche
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 21. AUJOURD’HUI
21.1. Adverbios de Intensidade e de Quantidade
21.2. Très
21.3. Beaucoup
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 22. LE FOLIES BERGÈRE (parte I)
22.1. Os Plurais Dos Nomes
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 23. LE FOLIES BERGÈRE (parte II)
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 24. UM MONDE DE FEMMES
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 25. OS NÃO LUGARES
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 26. A impolitesse
26.1. O Participio Passado
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 27. LE MARCHÉ AUX PUCES
27.1. Les Pronoms Relatifs
EXERCÍCIO
Os segredos relevados neste capítulo
DIA 28. LA FÊTE
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 29. A FRANCOPHONIE E O FRANGLAIS
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 30. FAUX AMIS E FAMÍLIAS FALSAS
Os segredos revelados neste capítulo
SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
CONCLUSÕES
TABELAS FONÉTICAS
PREFÁCIO
O objetivo deste volume é garantir-te os princípios básicos a seguir em
situações de “ordinária fúria”, quando estás num país francófono. Talvez,
para ser exata, deva dizer francês, do momento que a francofonia engloba
muito países diferentes uns dos outros por variações linguísticas e
culturais…, mas este é um assunto que trataremos mais tarde.
Quantas vezes aconteceu-te de improvisar uma palavra enquanto estavas a
comer num restaurante no estrangeiro? Talvez, sem sequer saberes o que
estavas a pedir…
Acontece também aos melhores. Então, vamos ver como podemos libertar a
nossa criatividade com um pouco mais de conhecimento.
O funcionamento deste curso é simples. A única coisa que tens de ler é uma
lição por dia. Como podes ver no índice, os temas estão distribuídos por 30
unidades e o comprimento que escolhi para tratar estes tópicos segue apenas
esta disposição para não te sobrecarregar com muitas informações
desnecessárias.
Vamos abordar os principais tópicos gramaticais com um método divertido
baseado em situações de comunicação do dia-a-dia.
À medida que vais avançando neste caminho, sente-te livre de voltar atrás e
rever os temas que te parecerão menos claros. Para mais informações e
esclarecimentos, a Internet oferece gratuitamente uma miríade de recursos:
aconselho-te a escolheres as fontes mais fiáveis, algum dicionário
renomado, por exemplo, graças ao qual podes aprender o uso específico de
uma palavra e o seu contexto de utilização: podes consultar o larousse.fr em
linha que oferece tanto o dicionário monolingue quanto o bilingue; ou o
Trésor de la Langue Francaise Informatisé (atilf.atilf.fr), monolingue muito
rico, talvez o mais credenciado na web. No que concerne os dicionários
bilingues podes consultar o Dicionário da Porto Editora.
Ou então qual seria o melhor modo para aprender a pronuncia sem ouvir
uma conversa em francês? Há numerosos site para ouvires e oferecem
também a possibilidade de baixar o texto transcrito para te facilitar na
compreensão de cada noção. Postcastfrancaisfacile.com é um site rico de
podcasts para todos os níveis. Para os vídeos de atualidade podes consultar
também YouTube ou Lemonde.fr.
Sugiro-te também que faças, em paralelo, algum exercício de áudio tout
court, nem que seja só para veres, de vez em quando, um episódio do
journal télevisé dos jornais franceses mais influentes. Se quiseres
aprofundar o aspeto gramatical, francais.facile.com, apesar da aparência
jocosa e quase infantil, e das cores berrantes, é conciso e preciso.
Aconselho-te a dares uma volta.
Queres pedir um café sem hesitações a um café parisien? Ou encomendar
um prato num típico bistrot sem incorreres em desagradáveis
inconvenientes? Ou ainda perguntar onde é que fica a toilette?
Aqui está! Escolheste o libro indicado para ti!
DIA 1. É tudo uma questão de
orientation e prononciation
Quantas vezes, assim que tiraste a cabeça fora da cabina do avião ou
atravessaste como um turbilhão a fronteira a bordo da tua voiture, pensaste:
“Ó Deus, NUNCA MAIS vou conseguir voltar para casa”?
O desespero que nos assalta quando ouvimos falar outra língua é, por vezes,
incomensurável e esmagador, mas eu aconselho-te a enfrentares sempre a
estadia no estrangeiro com um sourire aux lèvres (sorriso nos lábios,
pronúncia suʁiʁ o lɛvʁ).
A primeira vez que pus os pés no solo parisiense nem sequer consegui
descobrir o caminho para sair do aeroporto Charles de Gaulle. Toda aquela
confusão de siglas… RATP, RER, SNFC, mas o que é que são?
E esta outra palavra muito longa…arrondissement, o que é que significa?
Deixa-me partilhar contigo o que aprendi…e que varias vezes aprendi
exatamente com erros: os arrondissement são os bairros de Paris. Existem
20, pequenas e acolhedoras mini-cidades. Isto é o que mais aprecio da Ville
Lumière: debaixo da casa há sempre a boulangerie de confiança, um
minimercado, uma crepêrie ou pâtisserie…Para mim, são estas as
características que tornam esses arrondissement uma espécie de mini-
cidade, porque a estrutura é quase repetitiva, embora sempre multiforme e
multifacetada na aparência, com novos contrastes de cor, fragrâncias que
aquecem o coração e muitas pessoas novas, embora muitas vezes
antipáticas. No entanto, é um andaime que, de certa forma, dá segurança e
faz-nos sentir bem aceites porque, onde quer que se vá, sabe-se que é
possível encontrar o que se procura. Sempre uma loja a mais ou a menos, os
essenciais estão todos lá e parecem estar à nossa espera. Isto, obviamente,
fora do centro. O centro, que não é bem central, um centro extenso que,
com o passar do tempo, engloba sempre mais atrações. É megalómano,
metropolitano, mas romantique. É como um castelo imponente, visto de
perto com olhos ternamente pequenos de uma menina: como se tudo
estivesse ao nosso alcance e, ao mesmo tempo, tremendamente insondável.
É também o cheiro das flores que se espalha pelar rues, que colide com o
fedor de xixi da noturna Gare du Nord e que, de repente, leva-nos de volta à
terra firme e reaviva a lucidez própria de um viajante que não quer sentir-se
completamente perdido.
Plan em main, armei-me de paciência e de algumas referências
indispensáveis para me orientar. Repéré (localizei) o aeroporto e o meu
destino no mapa, fornecido gratuitamente no balcão de informações do
aeroporto, e tentei seguir a cabeça da meada naquele emaranhado de linhas.
Descobri que em Paris se sobrepunham muitas linhas de superfícies e três
linhas subterrâneas, precisamente RATP, RER e SNFC.
Uma maravilha para os meus olhos de menina não-metropolitana. RATP
significa Régie Autonome des Transports Parisiens. Em 1948 substituiu o
antigo Chemin de Fer métropolitain de Paris (CFM), mais simplesmente
conhecido como metro. RER (Réseau Express Régional) é, pelo contrário,
uma verdadeira rede ferroviária quer sobrelevada, quer enterrada que liga,
em distâncias mais longas, pontos de interesse en dehors de Paris.
Por exemplo, se quiseres ir visitar o Château de Versailles tens de apanhar o
RER, se quiseres ir a Disneyland tens de apanhar o RER. E assim, descobri
que também para ir do aeroporto Charles de Gaulle para o centro da cidade,
tinha de apanhar o RER. Esta é, exatamente, uma linha separada da RATP
[ɛʁatepe]. Por isso, precisa-se de um bilhete separado. Os distributeurs
automatiques de billets não são de fácil compreensão, mas podes pedir
ajuda às pessoas responsáveis pelas informações.
Podes perguntar:
“Comment puis-je atteindre la gare de…?” e colocas o nome da estação
aonde queres chegar. Ou: “Bonjour monsieur, pouvez-vous m’aider, s’il
vout plaît? Je dois arriver à…”.
Deixa-te indicar como chegar
cais: este é muitas vezes chamado quai. O amável senhor de serviço dar-te-
á indicações através das seguintes frases:
- Tournez /prenez à gauche (Vire à esquerda) [tuʁne a
ɡoʃ]
- Tournez / prenez à droite (Vire à direita) [tuʁne a
dʁwat]
- Allez tout droit (Siga sempre em frente) [ale tu
dʁwa]
- Au fond du couloir, il y a … ( no fundo do corredor está …) le train, o
comboio, por exemplo.
[O fɔ̃ dy kulwaːʁ il j a lə tʁɛ̃]
Pergunto ao taxista:
– Bonjour, Monsieur.
– Pouvez-vous m’emmener au 25 Rue de Rochechouart, s’il vous plaît?
– Ouais, bien sûr.
– Merci.
[bɔ̃ʒuʁ məsjø]
[puve vu mɑ̃mne o vɛ̃t-sɛ̃k ry dә ʁɔʃʃuaːʁ, sil vu plɛ]
[wɛ, bjɛ̃ syːʁ]
[mɛʁsi]
(Bom dia senhor. Por favor, pode levar-me à Rue de Rochechouart n°25?
Com certeza. Obrigada.)
Dois minutos depois, o táxi para em frente do número que lhe tinha dito.
Por causa do módico preço de vingt-cinq euros [vɛ̃t-sɛ̃k øʁo], 25 malditos
euros, por não conseguir ler um mapa, chego ao apartamento onde me
espera uma senhora americana idosa muito simpática.
Estava a reentrar no metro, quando na paragem Cadet, veio-me à cabeça
esta frase:
Doukipudonktan, se demanda Gabriel...
(Zazie dans le métro, Raymond Queneau)
O que é que este Gabriel estava a perguntar-se?
Inacreditável, mas verdadeiro. Naquela frase, proferida duma só vez, estão
contidas muitas palavras “D'où qu'ils puent donc tant?”. Talvez estejas a
perguntar-te porque é que a estou a citar. Se não estiveres a pensar isso, de
qualquer forma, vou explicar-te.
Este é o incipit de um romance que me é muito caro. O vozear no cais do
metro poderá ser um ruido ensurdecedor, no qual, conseguirás perceber
distintamente apenas algumas palavras. Mas, como aponta Gabriel,
sobretudo, o mau cheiro. Seja como for, para além disso, dir-te-ia que à
primeira vista a fonética francês pode parecer complicada, mas só porque,
como na maioria das línguas, não se escreve da mesma maneira como se
fala. É obvio que todas as línguas estrangeiras nos parecem demasiado
rápidas e incompreensíveis se nem sequer conhecemos uma palavra para
usar como ponto de referência para descodificar e decifrar.
O livro que acebei de mencionar é particularmente precioso porque inclui
uma “técnica” que na minha tese de mestrado defini “grafismo fonético”. O
autor, grande expoente do OuLiPo, usou a forma escrita de algumas
palavras tentando reproduzir a oralidade, ou seja, basicamente escreveu
como falava. Na altura, no final dos anos 50, havia um movimento artístico
e literário novo e inovador, que na minha opinião, ainda hoje, permanece tal
e atual.
Encerrando esse parêntese literário, citei o incipit para te demonstrar que as
frases pronunciadas podem parecer, por vezes, incompreensíveis: o que
temos de fazer é simplesmente dividi-las em subcategorias, sílabas, palavras
para que sejam mais fáceis de entender. Et voilà, les jeux sont faits!
Olha à tua volta!
Certamente, haverá uma senhora a usar um chapeau. Verás um homem
agarrado à sua pasta e que naturalmente faz deslocações pendulares e,
algures, verás também um grupo de turistas. Encontrarás, necessariamente,
algum português. O mundo é grande e, como tu sabes, os portugueses estão
em todos os lados. E o espírito português, no estrangeiro, tende a ser ainda
mais exuberante. Portanto, se estiveres em dificuldade, fala com eles. Mas,
tem em mente que estamos a aprender francês. Isto não quer ser uma lição
de vida.
Voltando à nossa pronúncia francesa, a regra básica diz que as consoantes
finais contidas na palavra portuguesa DEPÓSITO mais as letras “x”, “z” e
“r” final dos verbos não se pronunciam. As vogais são nasalizadas e por
isso têm um som nasal como apontam as tabelas fonéticas. Para leres as
transcrições, remeto-te para as tabelas no início do livro, com o alfabeto
utilizado internacionalmente.
Je parle = eu falo, pronunciado “j parl” [ʒə paʁl]
Ils parlent = eles falam, pronunciado “il parl” [il paʁl]
Como podes ver, a desinência do verbo no plural praticamente não se
pronuncia. Esta é uma das razões pelas quais em francês é fundamental
mencionar sempre os sujeitos, porque muitos verbos (em particular os do
primeiro grupo com desinência -ER) ao mudarem as pessoas mantêm, de
qualquer modo, a mesma pronúncia.
Antes de aprender francês, estava sempre a pensar como podia pronunciar
três vogais próximas como na palavra água (eau) o como no nome da
cidade Bordeaux pudesse nascer um som como bordò. Vamos ver os
ditongos ou tritongos horríveis típicos da língua francesa.
Vamos reagrupá-los em:
- ai e ei: são pronunciados como “e”.
- ou: é pronunciado como “u” português, como em fou, mou, tous, nous.
Este grupo vocálico é transcrito foneticamente com “u” [fu, mu, tu, nu].
Tem cuidado. Não confundas tous com a segunda pessoa singular
portuguesa, tu. Tous em francês é um adjetivo indefinido que significa
todos, tudo.
- au e eau: são pronunciados com “o” fechado, como em beau, chaud,
cadeau. Tenta ouvir alguns vídeos de pronunciação ou se consultares os
melhores dicionários em linha (mencionei-te alguns no prefácio) poderás
clicar sobre a palavra e ouvir o som.
- eu é pronunciado como “e” fechado, como em bleu, feu, ceux, e é
transcrito foneticamente como “ø”.
- oi é pronunciado “ua”, como em toi, moi, soir e é transcrito foneticamente
com [twa, swa, swaʁ].
No que diz respeito às vogais:
- “U” é pronunciada como “u” fechado. Aperta os lábios e estende-os para a
frente como se tivesses de uivar. Bem, este é o som da “u” francesa,
transcrita com “y”.
- “a”, “i”, “o” e “u” são pronunciadas acentuadas no final da palavra.
- No que concerne o som “e”:
se não tem acento, é pronunciado ә, como em je [ʒə].
se tem acento agudo (é), a pronuncia é fechada, como na palavra “mês”.
se tem acento grave (è), a pronuncia é aberta, como na palavra “terra”.
On y va?
[ɔ̃n- i va?]
Vamos?
A forma tónica é:
Moi [mwa]
Toi [twa]
Lui/elle [lɥI/ɛl]
Nous [nu]
Vous [vu]
Eux/elles [ø/ ɛl]
Tu es énervant, toi!
[tɥ ɛ enɛʁvɑ̃, twa!]
Tu, és irritante!
Repara que a terceira pessoa singular tem dua formas diferentes para o
masculino e para o feminino. A terceira pessoa plural utiliza les para os
dois.
EXERCÍCIO
Agora tenta completar este:
1. J’aime beaucoup ce groupe. Et _____?
2. Pendant les vacances _______ allons visiter Cannes.
3. As-tu étudié l’allemand? Oui, je _____ai étudié.
4. On _____ a vus à la mer.
5. C’est la fête que/qu’ ________ a organisée.
Os segredos revelados neste
capítulo
. Os sujeitos devem recordar-te como tudo é subjetivo.
. Tu es ce que tu es.
. Reescrevendo Feuerbach, nós somos o que dizemos.
. Vais parecer francês, toi aussi.
. Vamos fazer uma revisão da análise sintática para distinguir o sujeito do
complemento direto
. Voulez-vous coucher avec moi, ce soir?, agora vais cantá-la com mais
consciência.
DIA 4. ÊTRE OU NE PAS ÊTRE
Ser ou não ser.
Être, ou ne pas être, c’est là la question. Todos nos lembramos do
famoso incipit do terceiro ato da tragedia de Shakespeare que
conserva todo o seu encanto apesar de as atividades de tradução
terem arriscado distorcer o seu conteúdo. Aqui está uma frase muito
simples: uma frase composta apenas de dois verbos, ser e não ser.
Deve haver alguma razão se o nosso caro William quis dar tanta
importância a estas duas palavrinhas, conferindo-lhes o peso da
abertura de um monólogo. Talvez, Amleto não soubesse que a
abertura do solilóquio ia dar água pela barba aos filólogos de todas
as épocas. Esta é outra história. Agradeço-o porque me sugeriu o
começo de um novo capítulo sobre os auxiliares.
Talvez, ninguém saiba porque foram os escolhidos, porque eles
mesmos foram nobilitados para serem auxiliares (palavra que, com
base na etimologia latina, indica a função de auxilium, socorro). No
entanto, todos sabemos que não podemos passar sem eles. Ser e
ter são verbos imprescindíveis que permitem a construção de uma
frase qualquer que, embora seja simples, é significativa. Por
exemplo, normalmente, funcionam como verbos de apresentação.
Um dia, em Paris, estava à espera de um amigo à porta de uma
escola de línguas, na paragem Poissonnière. Fumava um clope
(termo coloquial para chamar o cigarro, pronunciado klɔp) sentada
placidamente num banco com as pernas para o ar, quando a minha
extrema loquacidade e necessidade de falar francês me levou a
travar conversa com um clochard que tinha vindo sentar-se à coté
de moi (ao meu lado, a kɔte də mwa). A situação tinha um certo tom
surreal, mas o panorama pitoresco que estava à volta, fez com que
a cena parecesse incrivelmente vivida e real. Que assuntos em
comum podes com um clochard parisiense? estava a perguntar
comigo mesma, esforçando-me em silencio de encontrar um tema
que me permitisse prolongar a conversação o suficiente para ocupar
o tempo e praticar a minha língua francesa. Enquanto estava a tirar
outro cigarro do paquet (pacote, pakɛ), disse a mim mesma que
talvez pudesse pedir um briquet (isqueiro, bʁikɛ). No final, trata-se de
uma frase passe-partout, que em qualquer canto do planeta, traz sempre
conhecimentos interessantes.
Et donc:
– Excusez-moi, monsieur, pourriez-vous me prêter votre briquet, s’il
vous plaît?
– Bien sûr! Tiens.
– Merci beaucoup.
– Pas de quoi, mademoiselle.
– C’est incroyable ! On a toujours le briquet vide juste au
moment où on est tout seul.
– Ah ouais, c’est paradoxal et normal quand même. Tu viens d’où?
– Je suis italienni. Je suis ici à Paris pour étudier la langue française.
– Super. Qu’est-ce que tu fais en Italie?
– J’étudie à l’université, fac de traduction.
– Et qu’est-ce que tu traduis?
– Tout ce qui m’arrive. Bon, pour revenir au sujet… Et donc,
combien coûtent les cigarettes ici en France?
– Ah bon, c’est cher. Ça coûte vraiment trop. Ça fait...cinq euros
cinquante au paquet, je crois.
– Ouh là là, en Italie, maintenant ça fait trois euros quatre-vingts.
– Ah! Les Italiens, vous êtes des salauds!
ÊTRE
Je suis [ʒə sɥi]
Eu sou
Tu es [tɥ ɛ]
Tu és
Il – elle – on est [il – ɛl – ɔ̃n- ɛ]
Ele - ela - a gente é
Nous sommes [nu sɔm]
Nós somos
Vous êtes [vu ɛt]
Vocês são
Ils – elles sont [il – ɛl sɔ̃]
Eles - elas são
AVOIR
J’ai [ʒe]
Eu tenho
Tu as [ty a]
Tu tens
Il/elle/on a [il/ɛl/ɔ̃n a]
Ele - ela- a gente tem
Nous avons [nuz- avɔ̃]
Nós temos
Vous avez [vuz- ave]
Vocês têm
Ils/elles ont [ilz/ɛlz- ɔ̃]
Eles – elas têm
/Bem-vinda
Je suis enchanté/enchantée [ʒә sɥiz- ɑ̃ʃɑ̃te/ɑ̃ʃɑ̃te]
Muito prazer
(falante homem, falante
mulher)
Je suis désolé / désolée [ʒә sɥi dezɔle / dezɔle]
Lamento
(falante homem, falante
mulher)
Quando te dirigires a alguém que não sabes como se chama ou com quem
não estás familiarizado, a étiquette quer que te dirijas à pessoa em questão
com os seguintes títulos (entre parenteses as abreviações):
Monsieur (M) [məәsjø]
Senhor
Madame (Mme) [madam]
Senhora
Mademoiselle (Mlle) [madmwazɛl]
Menina
Messieurs (MM) [mesjø]
Senhores
Mesdames (Mmes) [medam]
Senhoras
Mesdemoiselles (Mlles) [medmwazɛl]
Meninas
Os segredos revelados neste
capítulo
. Os franceses nem sempre têm boa consideração para com os italianos.
. Os cigarros em França custam muito. Se quiseres mudar-te, para de fumar.
. Shakespeare é um grande mestre, também de gramática.
. Se te disserem merci, já deves saber que te estão a agradecer e não pensas
que querem entregar-te mercadorias.
. Se disseres que és enchanté, não estás sob o feitiço de um conto de fadas,
apenas estás a conhecer uma pessoa.
. No próximo episódio vais descobrir as consequências da liaison entre
consoante e vogal!
DIA 5. A MENTE MATEMÁTICA
DOS FRANCESES
Vagueava candidamente pelas rues (ruas) de Paris; dentro e fora das gares
do métro; entro em Cadet, saio em Blanche; uma promendade em solitaire
em frente do Moulin Rouge; uma conversação bizarra aqui e ali com
alguma senhora antipática habillée de fourrure ((abije də fuʁyʁ, usando
pele). A crêpe à la confiture (com doce) derramava, enquanto eu olhava
para os pintores profissionais e amadores da Place du Tertre que arriscavam
fazer retratos improvisados de algum turista desgraçado. Depois subia as
escadas até ao infinito e além do Sacré Coeur. E depois para baixo, para a
escadaria de Montmartre. Havia ruelas e cheiro a doces. Ouve-se, ao longe,
uma senhora com um ar gentil, embora um pouco bizarre (curioso), que
vestia um par colorido de calças largas e de cintura alta e uma camisola a
xadrez, tocando um realejo que produz um som suave e agudo próprio de
um carillon. Alice, agora põe em prática o teu francês e começa a compter
(contar).
Como eu, tu também tens à tua disposição duas alternativas.
Opção A: Não sofres de vertigens e apanhas a funiculaire. O funicular
cambaleante e vacilante, e, no entanto, fascinante, priva-te do panorama
magnifico para degustar em cada passo em direção ao céu.
Opção B: Sofres de vertigens e contas os degraus para que a escalada
pareça menos extenuante. Pouco arrependimento, muito esforço, um bom
exercício para o corpo e a mente.
Seja como for, optaria pela segunda opção. Podes juntar o útil ao agradável
e imaginar, os milhares, não, os milhões de pessoas que pisaram aqueles
degraus em mármore, ao fim e ao cabo, ainda intactos. Ali podes sentir o
cheiro do verdadeiro passado e do presente nítido de Paris.
Os cheiros suaves das pâtisseries que se derramam nas ruas, as embalagens
dos crepes que volteiam nos trottoirs (tʁɔtwaʁ, passeios), aquela brisa leve,
tipicamente parisiense, que te faz levantar a saia, eletrizar o cabelo e te
força a tirar para baixo do céu todos os santos. Não sei se acreditar que os
coiffeurs (kwafoeʁ, cabeleireiros), o as coiffeuses (kwaføz) têm uma vida
curta em “Foi Lutécia” ou se caíram do céu para todas as dames que têm
um pouco de loisirs (lwaziʁ, tempo livre) para passar fora de casa ou noutro
lugar, e especialmente que têm argent (aʁʒɑ̃, dinheiro) para verem
dissolvido em fumo, logo que saírem da boutique.
O clima é mutável como as pessoas: por vezes é abafante, corta a respiração
e seca a alma, mas uns segundos depois podes estar arrastado por águas
torrenciais que nem têm a nada a ver com as Cataratas do Niágara. Pensa
que passei um verão em Paris e tive de refazer quase completamente o
guarda-roupa porque não tinha casacos nem roupas quentes. Durante o dia
estavam 13 graus e parti 3 guarda-chuvas. Tu, sê previdente, por favor.
Eis como podes fazer passar em segundo plano a fadiga pela escadaria de
Montmartre.
Os números cardinais, de 0 a 20, são os seguintes:
0 zéro [zeʁo] 11 onze [ɔ̃z]
1 un [ɛ̃] 12 douze [duz]
2 deux [dø] 13 treize [tʁɛz]
3 trois [tʁwa] 14 quatorze [katɔʁz]
4 quatre [katʁ] 15 quinze [kɛ̃z]
5 cinq [sɛ̃k] 16 seize [sɛz]
6 six [sis] 17 dix-sept [dis-sɛt]
7 sept [sɛt] 18 dix-huit [diz-ɥit]
8 huit [ɥit] 19 dix-neuf [diz-noef]
9 neuf [noef] 20 vingt [vɛ̃]
10 dix [dis]
Vou fazer um breve comentário sobre a pronúncia de huit, six, diz e neuf:
- em huit, six e dix as consoantes finais são pronunciadas só se estas
palavras forem seguidas por um nome que começa por vogal ou h mudo
(neste caso faz-se a liaison) ou se forem usadas isoladas (se depois destas
palavras não houver outro substantivo).
- em neuf, o f é sempre pronunciado exceto nas expressões “neuf ans” e
“neuf heures”, em que o som se transforma em v [noev- ɑ̃, noev- oeʁ].
Portanto:
- 70 = 60 + 10 (swasɑ̃t-dis, soixante-dix)
- 80 = 4 * 20 (katʁə-vɛ̃, quatre-vingts)
N.B.: nos números sucessivos a 80, o s de vingt cai.
- 90 = 4 * 20 + 10 (katʁә-vɛ̃-dis, quatre-vingt-dix)
- 100, felizmente, volta-se à normalidade com cem (sɑ̃, cent).
MOIS, MESES
Utilizamos sempre a preposição en ou au mois de (literalmente no mês de)
Janvier [ʒɑ̃vje]
Février [fevʁije]
Mars [maʁs]
Avril [avʁil]
Mai [mɛ]
Juin [ʒɥɛ̃]
Juillet [ʒɥijɛ]
Août [u(t)]
Septembre [sɛptɑ̃bʁ]
Octobre [ɔktɔbʁ]
Novembre [nɔvɑ̃bʁ]
Décembre [desɑ̃bʁ]
(Bom dia! Bom dia, minha senhora! Quanto é que custa? Vinte e cinco
euros. Mas é muito cara! É um preço justo, mas como a senhora fala bem
francês vou fazer-lhe um desconto. Vinte euros, está bem? Sim, mas é
exagerado para aquela caneta. Quem é que falou de caneta? Eu falei. Então,
é um euro. Está bem, vou comprá-la. Obrigada. Obrigado eu. Adeu!)
N.B.: stylo é um substantivo masculino em francês.
Quando comprares e indicares um objeito, podes expressar proximidade e
distancia do mesmo com as formas enclíticas -ci e -là. Estas devem ser
precedidas por ce (no masculino, cet no masculino se precede um
substantivo que começa por vogal) ou cette (para o feminino) e ces (para o
plural) e são chamados adjetivos demostrativos.
Em francês não há outra forma de distinguir entre “este” e “esse ou aquele”.
Em suma, temos:
- (m. sing) Ce livre-ci; ce livre-là
[sә livʁә-si; sә livʁə-la]
este livro; aquele livro
Lembra-te que a uma pergunta feita com pourquoi tens de responder com
parce que.
Pourquoi est-ce que tu ne manges pas? – Parce que je n’ai pas faim.
[puʁkwa ɛ-s kә ty nә mɑ̃ʒ pa? – paʁsә kə ʒə ne pa fɛ̃]
(Porque é que não comes? Porque não tenho fome.)
Os segredos revelados neste
capítulo
. Quand tu vas au restaurant, tenta perceber como é que funcionam as
coisas.
. O espírito de conservadorismo linguístico dos franceses aplica-se a uma
quantidade bastante incalculável de palavras e os poucos anglicismos que
chegam aos lábios dos franceses são pronunciados à francesa. Portanto:
. Se viajares para um país francófono convencido de que podes exibir o teu
inglês, entendeste mal. Memento: o meu chá frio.
. A sorte das línguas! Os ingleses têm as wh- words e os franceses
CCQOCP.
. Como “os caminhos do Senhor são infinitos”, também as astúcias dos
franceses são infinitas.
. Macarons et omelettes, le couple parfait!
DIA 8. LES QUESTIONS
As perguntas.
Depois do capítulo anterior que foi principalmente discursivo, dou-te as
boas vindas neste novo começo de episodio com uma digressão puramente
gramatical. Sei que me vais perdoar, mas na aprendizagem das línguas,
como em muitas outras coisas, a meu ver, é necessário ter numa mão o pão
e noutra o pau. A formulação das perguntas com est-ce que é a forma mais
usada na linguagem familiar. Faz parte de um registo baixo e informal.
Acho que é a forma mais simples porque não requer nada mais do que
colocar est-ce que (não significa nada. É intraduzível) antes da frase
afirmativa.
Eis alguns exemplos:
1. J’ai soif. Est-ce que tu as soif?
[ɛ-s kә ty a swaf]
(Tens sede?)
ou Pourquoi est-ce que tu as soif?
[puʁkwa ɛ-s kә ty a swaf]
(Porque é que tens sede?)
3. Ils ont acheté des cadeaux. Est-ce qu’ils ont acheté des cadeaux?
[ɛ-s kilz- ɔ̃ aʃte de kado]
(Compraram uns presentes?)
ou Quand est-ce qu’ils ont acheté des cadeaux?
[kɑ̃ ɛ-s kilz- ɔ̃ aʃte de kado]
(Quando é que compraram uns presentes?)
MAS:
Qu’est-ce qui est arrivé? significa “o que é que aconteceu”.
Se não tiveres ignorado tudo o que disse, espero que não te tenha
aborrecido.
Vou resumir pela última vez a última coisa que expliquei:
O primeiro que / qui diz-te se a resposta à tua pergunta será uma pessoa
(qui) ou uma coisa (que).
O segundo que / qui diz-te se a resposta será o sujeito (qui) ou o
complemento direto (que).
EXERCÍCIO
Agora tenta criar perguntas com est-ce que, com base nas seguintes frases
afirmativas:
1. Je comprends le français. (Compreendo o francês)
2. J’aime aller au cinéma. (Gosto de ir o cinema)
3. Il aime beaucoup voyager. (Ele gosta de viajar)
4. Elle chante dans un groupe de rock. (Ela canta num grupo rock)
5. Ils vont à la plage/Quand. (Vão à praia/ Quando)
6. Nous achetons de la viande/Où. (Compramos a carne/ Onde)
7. Tu dors/Combien. (Dormes/Quando)
8. Tu vas au bureau/Comment. (Vais ao escritório/Como)
Os segredos revelados neste
capítulo
. Como te aconselhei no capítulo 3, tenta lembrar-te perfeitamente da
diferença entre sujeito e complemento direito.
. Como “os caminhos do Senhor são infinitos”, também as regras do francês
são infinitas.
. Agora, tenta entrar no jogo!
. Pensa na incrível diferença de apenas uma letra, entre qui e que. Só um
som altera da cabeça aos pés um conceito.
. Grammaire grammaire, grammaire…
. Qui quo e qua têm um qui pro quo com que e qui. Gostas do trava-língua?
DIA 9. ALLER FAIRE LES
COURSES
(BIZARRES)
Ir às compras (bizarras).
Voltemos ao discurso da carafe do capítulo anterior e agora, por falar em
água, quero recordar esta história com um pouco mais de espanto na minha
alma. Viro a esquina da rue do meu apartamento e entro num Carrefour.
Sabias que Carrefour significa cruzamento? Algumas simples ligações, às
vezes, escapam-nos. Era a hora das compras. É um momento que eu vivo
sempre com grande prazer e relax. Sou esquisita, eu sei. Quando se está
noutra cidade, em contacto com uma língua diferente, e sobretudo, noutro
supermercado as coisas podem mudar. Não falemos em carte de fidélité.
Não a tinha de mondo nenhum. É difícil compreender a razão pela qual, só
por isso, olham para ti com ar esquisito. Senti-me como se alguém estivesse
a apontar-me e a dizer-me num tom depreciativo: “tu és estrangeira”.
Enfim, chego à caixa com seis garrafas d’eau (da famosa marca Volvic que
eu vi sempre, mas da qual nunca tinha compreendido a origem) e coloco-a
no rolo.
Um coro de vozes ergue-se à minha volta.
Madame, l’étiquette!!
[madam, letikɛt!!]
(Senhora, a etiqueta!!)
Viro-me um bocadinho perplexa, tentando perceber qual era a etiqueta de
que estavam a falar.
La plaquette sur la caisse!
[la plakɛt syʁ la kɛs]
(A placa na caxa)
Eh? O que é que eles me estavam a tentar dizer?
Caisse, como em português, pode ter sentidos diferentes e com efeito…
Aproxima-se uma senhora gentil com um ar extremamente bondoso que me
tira as mãos da água e a água da caixa do supermercado e me indica uma
etiqueta que estava sobre da água. Tira-a e entrega-a à caixeira.
Depois acrescenta:
Voilà, c’est fait! Tu sais, il y a de gens qui ne sont pas aussi puissant que toi.
C’est simple: tu décolles l’étiquette et les bouteilles ne sont plus un poids.
[vwala, sɛ fɛ! ty sɛ, il j- a də ʒɑ̃ ki nә sɔ̃ pa osi pɥisɑ̃ kә twa. sɛ sɛ̃pl: ty
dekɔl letikɛt e le butɛj nә sɔ̃ ply ɛ̃ pwa]
(Está feito! Sabe, há pessoas que não são tão fortes como tu. É simples: tira
a etiqueta e as garrafas já não vão ser um peso).
MARAVILHOSO. Fiquei sem palavras. Les Français, vous êtes à la pointe!
(Franceses, vocês estão na vanguarda!).
9.1. Les verbes aller et venir
E por falar em ir às compras, enquanto estava a escrever as perguntas para o
exercício do capítulo anterior, que te servirá para fixares a regra gramatical,
dei-me conta que ainda não tinha explicado dois verbos fundamentais: “ir”
e “vir”.
Lembra-te que a expressão exortativa “vamos embora” (do inglês let’s go)
normalmente é traduzida em francês “On y va?”
Esses dois verbos também são utilizados para formar galicismos dos quais
vou falar no capítulo 20.
Em relação a aller faire les courses, visto que a expressão inclui também
este verbo, reporto-te a conjugação do verbo faire (fazer) que é irregular.
- Faire la tête
[fɛʁ la tɛt]
(Amuar)
Os segredos revelados neste
capítulo
. Aller faire les courses não é simples. Vou utilizar esta afirmação no
capítulo seguinte.
. A palavra caisse tem 4 significados (caixa em todos os sentidos, carro e
escota) e é uma palavra pouco ambígua em comparação com…
. Faire que, no site do Trésor de la Langue Francaise, inclui CENTO E
SESSENTA E OITO definições.
. Se ainda não entenderes o que te estou a escrever em francês, ne fais pas
la tête!
Muito bem, vamos lá. Concha numa mão e couteau (kuto, faca) na outra.
Vou seguir as instruções. Ao abrir o frigorifico, todo o deserto do Sahara sai
dos compartimentos e lembra-me que, talvez, na divisão das tarefas
domésticas não houvesse ninguém encarregado de ir às compras. Assim,
com pouca vontade, tiro o tablier (tablije, avental) e visto o casaco. Estava
pronta para outra aventura!
Mas antes de contar o resto da história, gostaria de te explicar duas coisas
de gramática que apareceram nas conversações mencionadas acima.
Primeiro é il faut.
Esta expressão impessoal deriva do verbo falloir e é usada para traduzir “é
necessário”, “é preciso”, “convém”. É invariável. Por isso, é usada com
substantivos quer no singular, quer no plural.
Por exemplo:
Il faut está no presente. Pode ser usado também noutros tempos verbais,
mas sempre e só, na terceira pessoa.
. Se commencer à manger naquela noite foi uma ilusão, pelo menos agora
sabemos como se escrevem.
São essentielles, para mim, bien sûr. Porque eu poderia viver dans un
supermarché, mas a maioria das vezes corro jusqu’ausupermarché, e
depois vou comprar o pão chez le boucher, e la crème fraîche chez le
lattier. Pondo de lado o facto de a crème fraîche ser um problema
cultural, quando a minha mente ponderou este pensamento,
percebeu que tout à coup (tutaku, de repente) o assunto estava
inclinado para as preposições.
A verdade sobre esta palavra muito simples que indica o mercado geral de
Paris, localizado no I arrondissement é que, em francês, existem dois tipos
de agá. Já me referi, ao longo dos capítulos, ao agá mudo.
Antes de falar das preposições contraídas, terei de te explicar primeiro o
artigo.
H ASPIRÉ
la haine [la ɛn] o ódio (repara que em francês
é feminino)
le haricot [lә aʁiko] o feijão
le hasard [lə azaʁ] o caso, a sorte
le hérisson [lə eʁisɔ̃] o ouriço-do-mar
le héros [lə eʁo] o herói
le hibou [lə ibu] o mocho
le hors-d'oeuvre [lә ɔʁsdoevʁ] o aperitivo
H MUET
l'hirondelle [liʁɔ̃dɛl] a andorinha
l'habitude [labityd] o hábito
l'hilarité [lilaʁite] a hilaridade
l'hiver [livɛʁ] o inverno
l'histoire [listwaʁ] a história
l'horreur [lɔʁoeʁ] o horror
(em francês é feminino)
l'harmonie [laʁmɔni] a harmonia
Os segredos revelados neste
capítulo
. O agá, quer aspirado, quer mudo, é foneticamente mudo.
-Se fores ver o Arc de Triomphe, vai de metro. O cruzamento perto do arco
é a pior construção urbanística da história: um conjunto de acidentes e
investimentos.
Exemplo
Les parents [le paʁɑ̃] os pais
Les hublots [le yblo] as vigias
Les harmonies [lez- aʁmɔni] as harmonias
Les étudiants [lez- etydjɑ̃] os estudantes
Exemplo
Des livres [de livʁ] uns libros
Des élèves [dez- elɛv] uns alunos
Des huguenots [de yɡno] uns huguenotes
Des hologrammes [dez- ɔlɔɡʁam] uns hologramas
Exemplo
Du café [dy kafe] um pouco café
Exemplo
De la salade [də la salad] um pouco de salada
De l’orangeade [də lɔʁɑ̃ʒad] um pouco de laranjada
Exemplo
Des pâtes [de pat] um pouco de massa
Os segredos revelados neste
capítulo
. Se sofreres de vertigens e tiveres dificuldades em respirar, esquece a Tour
Eiffel.
. Se sofreres de ansiedade antecipada, esquece o Arc de Triomphe.
Vamos por uns instantes para outras landas. Nas minhas memórias da
França aparecem outras tapas que não são parisienses. Durante um verão,
dei um passeio na Côte d’Azur. Uma breve visita por Nice fez-me descobrir
milhares de mercados nas ruelas estreitas da cidade que fazem lembrar os
caruggi de Genova. Se te afastares cerca de trinta quilómetros, vais
encontrar outras vilas com uma vocação ultra turística que, no entanto,
mantêm uma aparência selvática.
Seja como for, não me perguntes como é que acabei por ficar envolvida
numas férias desse tipo (com todo os respeito por quem adora o campismo).
Sempre preferi planear ferias que se possam considerar tais. Não me
debruçarei sobre as vantagens e desvantagens de acampar, de ficar num
apartamento ou num hotel – é sabido que as mulheres são um pouco
exigentes – mas, no final, foi uma experiência realmente emocionante.
Entretanto, James tinha tirado uma garrafa de rum, uma daquelas garrafas
clássicas que não se podem achar em nenhum lugar. Senta-se junto ao fogo
e começa a contar-nos uma história, a história dele e não uma história de
fantasmas como o cenário podia pressagiar.
[ʒә tʁavajɛ kɔm tɔp mɔdɛl, kɑ̃ ʒә vivɛ ɑ̃ ʒamaik. ma fam, osi, ɛl
etɛ yn mɔdɛl. pɥi nuz-avɔ̃ demenaʒe e mɛ̃tnɑ̃ nu vivɔ̃ ɑ̃ sɥis, dɑ̃ lә
kɑ̃tɔ̃ fʁɑ̃sɛ. vwasi ma fij. sɛ ʒan. ɛl va a lekɔl, mɛ na pa tʁo ɑ̃vi detydje.
ɛl na kə kɛ̃z ɑ̃ e ɛl vø samyze. e dɔ̃k nu sɔm paʁti fɛʁ
ɛ̃ tuʁ dә la fʁɑ̃s ɑ̃ mɔto. ɔ̃ vwajaːʒ, ɔ̃n-a soelmɑ̃ ɛ̃ sak a do e nɔtʁə
tɑ̃ːt. e nu vwasi.
nuz- aussi, nuz- avɔ̃ ɡʁije sә swaːʁ. mɛ nuz- avɔ̃ tәny kɔ̃t de tɑ̃ dә
kɥisɔ̃!]
(Quando vivia na Jamaica, trabalhava como modelo. Também a minha
mulher era um modelo. Depois mudámo-nos e agora estamos a viver na
Suíça, no cantão francês. Esta é a minha filha. Chama-se Jane. Vai para a
escola, mas não tem muita vontade de estudar. Tem apenas quinze anos e
quer divertir-se. E assim partimos para fazer de moto um tour pela França.
Temos só uma mochila e a tenda.
Riem-se.
Je vais au restaurant
[ʒə vɛ o ʁɛstɔʁɑ̃]
(Vou ao restaurante)
Tu cours à l’aéroport
ty kuʁ a laeʁɔpɔʁ]
(Correr para o aeroporto)
Il parle à l’infirmière
[il paʁl a lɛ̃fiʁmjɛʁ]
(Ele fala com a enfermeira)
Exemplos:
Je viens du cinéma
[ʒә vjɛ̃dy sinema]
(Chego do cinema)
Tu sors de l’ hôtel
[ty sɔʁ dә lotɛl]
(Sais do hotel)
Il arrive de l’ école
[il aʁiv də lekɔl]
(Ele chega da escola)
. Tem cuidado porque quando pedires uma cerveja, alguém pode dizer
piadas. Bière significa também caixão!
. Por mim, a Casta Azul é toda bonita. Pelo menos, uma vez na vida, vale a
pena visitá-la.
. Lembra que em francês não se lê como se escreve. As preposições au/aux
pronunciam-se [o], du [d] e des [de].
DIA 16. LYON BY DAY
Depois das recordações das férias na Costa Azul dou um pulo para frente.
Levo-te a descobrir comigo o fascínio de Lyon.
Naquela altura em que a neve dá vontade de ficar debaixo dos cobertores e
não te alenta a conhecer novas cidades, estava a morar fora de Lyon. Bom
gré mal gré (bɔ̃ ɡʁe mal ɡʁe, quer queira, quer não) estava em Saint-
Étienne para uma negociação durante a qual tinha de ser intérprete. Num
hotel extraordinaire (ɛkstʁaɔʁdinɛʁ, extraordinário), realmente fabuleux
(fabylø) com vista para o rio (acho eu) e toda a paisagem à volta de onde
pingava a neve que o sol fraco tinha derretido. Apesar do forte desejo de
ficar no quente, antes de iniciar a conferência acima mencionada carrego-
me de malas e vou para Lyon.
(Está um frio de rachar e devia, pelo menos, pedir uma cerveja para se
aquecer!)
(Na realidade, nunca bebo álcool).
(Então desfruta de um café pingado!)
Il y a quelqu'un à la porte
[il j- a kɛlkɛ̃ a la pɔʁt]
(Há alguém à porta)
Il n'y a pas de fleurs dans les plates-bandes
[il nj- a pa də floeʁ dɑ̃ le platbɑ̃d]
(Não há flores no canteiro)
. Se não quiseres sentir-te observado não optes por esse tipo de restaurante.
. Parece-me importante saber o que é que tu vas manger (o que vais comer).
No capítulo 20 explico-te esta construção.
. Lyon, em certos aspetos, parece quase mais chic do que Paris.
No “dia 8” quando estava a falar das questions avec est-ce que tinha
mencionado três maneiras para fazer perguntas. Resumindo, temos os
pronomes interrogativos e est-ce que, a inversão e a pergunta parcial.
Vejamos agora as últimas duas formulações.
18.1. Inversion Sujet-Verbe
Esta segunda opção implica, simplesmente, a inversão do sujeito e do
verbo. Na forma afirmativa o sujeito (lembra que em francês deve ser
sempre especificado) precede sempre o verbo. Tratando-se da pergunta,
temos de inverter a ordem como em inglês. Se for mais fácil para ti, faz
referências a outras línguas.
Se houver pronomes pessoais vamos ter estas frases:
1. Onde comemos?
2. Que querem?
3. Quanto correm?
4. Quando vais de férias?
5. Que bebes?
Finalmente, experimenta este exercício. Tens de criar perguntas. Escolhe a
forma que preferes e que tenham como resposta a parte sublinhada.
1. Les enfants aiment les animaux
2. Maman est sortie avec son frère
3. Ces fleurs sont à toi
4. Le train part à 7h30
5. Le coiffeur coupe les cheveux
Os segredos revelados neste
capítulo
. Em francês há muitas formas de fazer perguntas.
- Aucun/aucune/aucuns/aucunes…
[okɛ̃/okyn/okɛ̃/okyn]
(nenhum /nenhum / nenhuns / nenhumas)
Nous ne connaissons aucun bon avocat
[nu nә kɔnɛsɔ̃ okɛ̃ bɔ̃n- avɔka]
(não conhecemos nenhum bom avogado)
- Rien
Rien ne me plaît
[ʁjɛ̃ nə mə plɛ]
(Nada me agrada)
E ne…que:
Je ne dors que le jour
[ʒə nə dɔʁ kә lə ʒuʁ]
(Durmo só durante o dia)
- verbo venir
- verbo aller
- verbo être
- esforço de abstração q.b.
Em primeiro lugar, pega numa tigela mental e põe os primeiros três
ingredientes. Mistura bem para criar uma massa maneável e e põe-na de
lado. Vamos utilizar três diferentes formas de galicismos. Estes servem para
suprirem a falta de certos tempos verbais do francês.
20.2. Passé Récent
O passé récent serve para indicar una ação que acabou de ter lugar.
Constrói-se na seguinte maneira:
Sujeito + VENIR (conjugado) DE + infinitivo.
Exemplos:
- Il vient de sortir [il vjɛ̃ də sɔʁtiʁ] (Acabou de sair)
- Je viens de le dire [ʒә vjɛ̃ də lə diʁ] (Acabei de o dizer)
20.3. Présent Progressif
O présent progressif indica uma ação que está a acontecer neste momento.
Constrói-se na seguinte maneira:
Sujeito+ ÊTRE (conjugado) EN TRAIN DE + infinitivo.
Exemplos :
- Ils sont en train de jouer
[il sɔ̃ ɑ̃ tʁɛ̃ dә ʒwe]
(Estão a brincar)
- Vous êtes en train d’étudier
[vuz- ɛt ɑ̃ tʁɛ̃]
(Estão a estudar)
20.4. Futur Proche
O futur proche indica futuro próximo.
Constrói-se na seguinte maneira:
Sujeito + ALLER (conjugado) + infinitivo.
- Elle va partir [ɛl va paʁtiʁ] (Ela vai partir)
- Je vais acheter un chapeau [ʒəә vɛ aʃte ɛ̃ ʃapo] (Vou comprar um chapéu)
EXERCÍCIO
Tenta transformar as seguintes frases usando os galicismos:
1. Demain, je vais à l’école en bus.
2. Maintenant, j’écoute de la musique.
3. Caroline a parlé au téléphone.
4. Demain, je promène mon chien.
5. Le professeur a lu l’exercice.
Os segredos revelados neste
capítulo
. Quando entrares na Galeries, deixa a carteira em casa.
. Para ser mais exato, creio que se considera um grand magasin (ɡʁɑ̃
maɡazɛ̃), e não um centre commercial.
. É inútil que te diga que magasin ( maɡazɛ̃) significa “loja” e não magazine
(maɡazin, revista)
Je mange beaucoup
[ʒə mɑ̃ʒ boku]
(Como muito)
Il parle trop
[il paʁlә tʁo]
(Fala muito)
. É claro que não é como costumava cantar Ricky Martin, un dos tres un
pasito pa'lante…
Viens mon chou, mon bijou, mon joujou, sur mes genoux, et jette des
cailloux à ce hibou plein de poux
[vjɛ̃ mɔ̃ ʃu, mɔ̃ biʒu, mɔ̃ ʒuʒu, syʁ me ʒәnu, e ʒɛt de kaju a sә ibu plɛ̃ dә pu]
Anda cá meu querido, minha joia, meu brinquedo, em cima dos meus
joelhos e atira pedras àquele mocho cheio de piolhos.
Chou significa também “querido”. É uma palavra terna que usamos com
alguém de quem gostamos.
Vou mostra-te mais duas exceções do grupo das palavras que terminam em
al :
NOME + NOME
Se o segundo elemento for adjetivo, ambos tomam a forma do plural. Por
exemplo, chou-fleur choux-fleurs (ʃuksfloeʁ, couves-flores).
NOME + ADJETIVO
Ambas as palavras concordam em número. Por exemplo, libre-service
libres-services (libʁesɛʁvis, self-service).
ADJETIVO + ADJETIVO
Normalmente, ambas as palavras concordam em número. Por exemplo,
aigre-douce aigres-douces (ɛɡʁɛsdus, agridoce).
VERBO + NOME
O verbo fica invariável e só o nome toma a forma do plural. Es.:
portemanteau portemanteaux (pɔʁtmɑ̃to, cabides).
VERBO + VERBO
Essa é categoria mais simples porque tudo permanece inalterado como,
laissez-passer laissez-passer (lesɛzpase, livre-trânsito).
EXERCÍCIO
Transforma as seguintes frases no plural
1. Un splendide château Des
2. Un cheveu court Des
3. Un hibou joyau Des
4. Un tapis gris Des
5. Un beau garçon Des
6. Un restaurant ouvert Des
7. Un coffre-fort résistant Des
8. Un porte-monnaie large Des
9. Une plate-bande fleurie Des
10. Un couteau pointu Des
Os segredos revelados neste
capítulo
. Como podes ver, há algumas diferenças entre o francês e o português.
É claro que nem todos os substantivos podem ter uma forma no feminino.
Em francês, o género é um pouco difícil. Muitas vezes erramos porque
fazemos uma comparação com a nossa língua mãe. Vou dar-te uma pequena
lista de termos de uso corrente.
Vejamos quais são os substantivos (e adjetivos. Aplica-se o que já disse nos
capítulos anteriores) que podem ser transformados do masculino para o
feminino e que regra seguem.
Eis a categoria mais ampla, a das palavras que terminam em an, en, on, el,
et e os adjetivos em eil, duplicam a consoante final e acrescentam e.
Lembro que uma vez tive um ataque de asma para conseguir apanhar uma
ligação. O mundo à minha volta ofuscou-se e desejei olhar-me de fora.
Bloquear as minhas pernas num movimento de rotação, parar a imagem nos
meus braços que balançavam para a frente e para trás, rever au ralenti as
narinas abrir e fechar lentamente para deixarem entrar nos pulmões esse
instante. Muitas vezes desejo inalar, encher o meu peito de experiências.
Paris consegue satisfazer essa minha vontade. Presta-se um pouco manhosa.
Entrega-se a todos como uma mulher de costumes fáceis (comparação que
mutuei da bohème francesa), um pouco esquiva e tímida. Tem segredos
enterrados na profundidade da sua história; tem encanto e, simplesmente,
tem a sua vida. Vive da sua própria vida. Quantas vezes nos filmes o
realizador abrandou o enquadramento dos transeuntes de uma estação cheia
de gente? Estás a ver esta imagem que se destaca à tua frente?
Salut! Tu es italienne!
Sono Filippo! On va boire un verre?
[saly! ty ɛ italjɛn!
… ɔ̃ va bwaʁ ɛ̃ vɛʁ]
Je veux t'embrasser.
Et il m'a embrassée.
[ʒә vø tɑ̃bʁase
e il ma ɑ̃bʁase]
(Quero beijar-te.
E beijou-me)
Parecia que já nos conhecíamos, mas ele não era italiano. Nunca o tinha
visto antes. Foi, penso eu, um dos acontecimentos mais irreais, talvez
surreais da minha vida. Depois deste parêntese aparentemente romântico,
evidentemente irónico e muito pouco conforme com o livro, quero falar-te
de algumas coisas. Não me vou debruçar sobre as reflexões relacionadas
com este acontecimento. Pensando bem o único comentário seria: é
demasiado absurdo.
EMBRASSER
BAISER
É um verbo que não se pode confundir com baisser (bese), que significa
baixar. A pronúncia do s é mais alongada e mais parecida com z.
Os segredos revelados neste
capítulo
. Cuidado com os encontros no metro e com o que propões.
. Gare du Nord tem um lugar especial na minha memória. Mais tarde vou
falar-te de outra aventura estranha.
. Este acontecimento mostra que os não lugares não existem.
. Cuidado com a pronúncia das palavras. Podes deixar entender uma coisa
que não desejas.
. Por razões de segurança, limitar-me-ia a dar atenções apenas aos meus
compatriotas. Teria pelo menos a certeza de que nos entendemos sem
ambiguidades.
. Nós italianos, mesmo sem querermos, chamamos a atenção.
DIA 26. A impolitesse
A má-educação.
Uma noite, visto que começámos a ficar aborrecidas no nosso pequeno
studio parisiense, decidimos ir até ao bairro de Saint-Michel. Fomos a
Trinité e para enganar o tempo mudámos de metro mil vezes. Passeámos
pela zona de Notre Dame de Lorette e entrámos num bistrot que ficava na
esquina do cruzamento. Fazia-nos companhia o simpático homenzinho
verde do semáforo que era um bocadinho mais magro do famoso
ampelmann berlinense. Pedimos um frappé aux fraises (fʁape o fʁɛz,
frappé com morangos) e um Martini branco. Explica-me porquê é só no
estrangeiro que põem a azeitona no Martini, mesmo que nos filmes e no
imaginário comum pareça ser uma coisa refinada. Podiam ter-me
perguntado se preferia o limão ou a laranja, mas eu pedi a azeitona. Que
tipo de finesse é que esta azeitona verde como um espargo chupado ia dar?
Na realidade deixa um pouco de couleur (kuloeʁ, cor, em francês é um
substantivo feminino) e o Martini parece-se mais uma poção magica do que
um refrigerante.
Com passos lentos e oscilantes fomos em direção ao nosso destino. Espera
aí. A amiga minha não se estava a sentir bem. Diz que preferia sentar-se por
um momento porque estava a sentir uma tontura. O meu espírito que não
estava muito habituado a este tipo de emergência levou-me a pensar que era
melhor pedir a alguém que a vigiasse enquanto eu ia buscar açúcar.
Estou na primeira fase. Tento falar com um sotaque parisiense, esforçando
todos os nervos e os tendões do meu corpo. “Madame… pardon”. Vejo
passar à minha frente dezenas de pessoas sem que ninguém se dignasse
sequer parar.
Queira ou não, decido que chegou o momento de abandonar a minha amiga
e de calcular e gastar o menor tempo possível para:
1) localizar um café;
2) entrar e pedir;
3) voltar ao sítio onde estava ela, na esperança de que ninguém a tivesse
raptado.
Na realidade vi que havia um café a alguns metros atrás de onde estávamos.
Entro e faço o pedido em inglês. Lembras-te quando te disse “não começar
uma conversação falando inglês”. Construo uma frase em franglais que soa
estranho para um italiano, um francês e tendencialmente para um inglês. O
empregado responde-me:
S’il vous plaît, répétez-le en français.
[sil vu plɛ, ʁepete-lə-lә ɑ̃ fʁɑ̃sɛ.]
(Por favor, repita em francês.)
Se usei o inglês é porque, provavelmente, queria compreender bem a
situação e não parecer uma parasita que entra num bar só para pedir açúcar
e não toma nada. Nem sequer os tradutores tomam o pequeno-almoço com
páginas de dicionários trilingues. Evidentemente, o bom vinho do jantar
que, talvez seja a única paixão enogastronómica partilhada pelos franceses,
italianos, portugueses …, não tinha dissolvido suficientemente o meu
poliglotismo hesitante. Então não soube dizer em francês “desmaiar”. Com
um sorriso forçado nos meus lábios secos pela corrida que tinha feito, vou
tentar:
Monsieur, s’il vous plaît, puis-je prendre un sachet de sucre parce que mon
amie va… est malade. Elle est tombée dans la rue!?
Oui, bien sûr, mademoiselle
[məsjø, sil vu plɛ, pɥi-ʒ pʁɑ̃dʁ ɛ̃ saʃɛ dә sykʁə parce que mon
amie va… ɛ malad. ɛl ɛ tɔ̃be dɑ̃ la ʁy!? wi, bjɛ̃ syʁ madmwazɛl]
(Senhor, permite-me tomar uma saqueta de açúcar porque a minha amiga
não se está a sentir bem. Caiu na rua!?)
Invento, agradeço e saio.
E assim abriu-se um mundo de reflexões. Naturalmente antes das reflexões
fui dar-lhe o açúcar e acalmei-a. Embora eu também me tenha acalmado,
este acontecimento tem continuado a corroer-me a alma por dias e até por
meses. Tentei ponderar os valores exibidos por certos franceses nessa
ocasião.
Depois fechei o bloco mentais dos apontamentos dos quais resultou uma
nova matéria para outras disciplinas. Algum tempo depois, ao contar aos
meus amigos o que tinha acontecido percebi que não ia ser capaz de lho
contar sem utilizar o particípio passado.
26.1. O Participio Passado
O que é o participe passé? Forma-se a partir do verbo e é frequentemente
utilizado como adjetivo. Neste último caso tem de concordar em género e
número com o substantivo que acompanha.
Se o auxiliar for être, o particípio passado vai concordar com o sujeito do
verbo.
Tomemos como exemplo a famosa frase Les jeux sont faits (le ʒø sɔ̃ fɛ).
Nesta expressão que significa literalmente “os jogos estão feitos” o
particípio passado concorda no plural com jogos que o sujeito da frase.
Se o auxiliar for avoir é outro cantar. O particípio passado concorda com o
complemento direto só se o mesmo preceder o verbo. Normalmente, isso
acontece se o complemento direto for um pronome ou se houver uma frase
relativa.
Por exemplo, em nous avons joué des jeux (nuz-avɔ̃ ʒwe de ʒø, jogámos
jogos) o complemento direto é des jeux e aparece depois do verbo, então
não vai haver nenhum acordo. Em la fleur que j’ai choisie (la floeʁ kə ʒe
ʃwazi, a flor que escolhi), o complemento direto é la fleur e precede o
verbo. Como já vimos no capítulo 24, fleur é um substantivo feminino e,
por isso, o particípio passado concorda no feminino acrescentando apenas
um -e de acordo com a formação do feminino.
Além das muitas exceções, o particípio passado é formado da seguinte
forma:
- nos verbos do primeiro grupo que terminam em -ER, acrescenta-se o é;
- nos verbos do segundo grupo que terminam em -IR acrescenta-se o i;
- no terceiro grupo que inclui todas as outras desinências, acrescenta-se u, s,
ou t.
Vou dar-te alguns exemplos. Têm verbo no infinitivo, pronuncia, tradução,
particípio passado masculino e particípio passado feminino.
AIMER (eme, amar) aimé, aimée
DÉCIDER (deside, decidir) décidé, décidée
VÉHICULER (veikyle, transportar) véhiculé, véhiculée
SALIR (saliʁ, sujar) sali, salie
RÉJOUIR (ʁeʒwiʁ, alegrar-se) réjoui, réjouie
CONCEVOIR (kɔ̃səvwaʁ, conceber) conçu, conçue
BOIRE (bwaʁ,beber) bu, bue
PEINDRE (pɛ̃dʁ, pintar) peint, peinte
ABSOUDRE (apsudʁ, absolver) absous, absoute
No capítulo 28 veremos mais detalhadamente a utilização do particípio
passado.
EXERCÍCIO
Vê se agora está tudo claro.
Olá!
Bom dia meninas. O que desejam?
Gostaria de comprar óculos. Você é míope ou algo parecido?
Não. Acabei de os comprar. Estou à procura de óculos de sol.
Como é que os prefere?
Hmm, não sei, o que é que me sugere? Não tenho visto muitos óculos de sol
aqui.
Já volto.
Tem uma mala cheia de óculos. Estava cheia até rebentar.
Aqui está menina. Escolha, por favor.
Desculpe senhor, na realidade estou à procura dos pince-nez.
O que é que são os pince-nez?
Óculos redondos, estreitos no nariz, sem hastes.
Ah, já percebi. Aqui estão!
Têm este aspeto. Como nesta pintura de Konrad von Soest. Associamo-los
mentalmente aos ratos de biblioteca.
Capítulo 8
1. Est-ce que tu comprends le français ?
2. Est-ce que tu aimes aller au cinéma ?
3. Est-ce qu’il aime voyager ?
4. Est-ce qu’elle chante dans un groupe de rock ?
5. Quand est-ce qu’ils vont à la plage ?
6. Où est-ce que vous achetez la viande ?
7. Combien est-ce que tu dors ?
8. Comment est-ce que tu vas au bureau ?
Capítulo 11
1. Michelle et moi jouons à la corde à sauter.
2. Tu n'arrêtes pas de pleurer.
3. Elle aime le café au lait le matin.
4. Nous commençons à faire du sport.
5. Les enfants mangent des bonbons.
6. Les examinateurs interrogent les étudiants un à un.
7. Je veux que tu sortes le chien chaque soir.
8. Nous pouvons nous rencontrer dans la salle des fêtes.
9. Vous devez terminer ce travail avant de sortir.
10. Voulez-vous des légumes et des fruits ?
Capítulo 12
1. Demain, je vais chez le coiffeur, j’en ai besoin.
2. David, veux-tu venir au marché avec moi ?
3. L'enfant est sur le tapis.
4. La salade est dans le saladier.
5. Ils sont devant la palissade.
6. Ne te cache pas derrière ton frère.
7. Si tu passes par champs, tu vas salir tes chaussures !
8. Vous pourrez aller jouer dans le jardin.
9. Je te conseille de ne pas passer par cette rue.
10. Il roule jusqu’à l’Espagne.
Capítulo 15
1. Je joue au football depuis 7 ans.
2. Paul aime beaucoup le gâteau au chocolat.
3. Le départ de l’avion est prévu à 17 heures.
4. J'ai vu un beau film à la télé.
5. Je suis au bureau.
6. Il téléphone aux clients.
7. Ils habitent aux Pays-Bas.
8. Monique étudie à l’université.
9. David va à la gare.
10. Elles parlent aux médecins.
Capítulo 18
1.Tu as soif As-tu soif ?
2. Ressemblez-vous à vos parents ?
3. Est-elle rentrée tôt ?
4. Le film commence-t-il à 17 h ?
5. Les filles aiment-elles les chiens ?
6. Veux-tu acheter cette maison ?
7. Ont-ils loué une nouvelle voiture ?
8. Ne peuvent-elles pas partir ce weekend ?
9. Mes parents n’ont-ils pas étudié à l’université ?
10. Ma tante et mon oncle ont-ils deux enfants ?
Capítulo 19
1. L’arbre n’a plus de feuilles
2. Maman n’aime pas les bonbons
3. Je ne bois ni lait ni café le matin
4. Elle ne va plus à l’école
5. Personne est là
Capítulo 20
1. Demain, je vais aller à l’école en bus.
2. Maintenant, je suis en train d’écouter de la musique.
3. Caroline vient de parler au téléphone.
4. Demain, je vais promener mon chien.
5. Le professeur vient de lire l’exercice.
Capítulo 21
1.Tu vas tomber malade: tu manges peu de légumes.
2. Les gens pauvres ont peu d’argent.
3. Nicole a trop d’amis. Je ne me souviens pas de leurs noms.
4. Les étudiants ont toujours beaucoup de devoirs.
5. Stop, arrête-toi! J’en ai assez!
6. Paul est trop sympa.
7. Vous parlez beaucoup de vos amours?
8. Nous avançons pas à pas, très prudemment.
Capítulo 23
1. Un splendide château Des splendides châteaux
2. Un cheveu court Des cheveux courts
3. Un hibou joyau Des hiboux joyaux
4. Un tapis gris Des tapis gris
5. Un beau garçon Des beaux garçons
6. Un restaurant ouvert Des restaurants ouverts
7. Un coffre-fort résistant Des coffres-forts résistants
8. Un porte-monnaie large Des porte-monnaie larges
9. Une plate-bande fleurie Des plates-bandes
10. Un couteau pointu Des couteaux pointus
Capítulo 24
1. Un jeune champion Une jeune championne
2. Un riche polonais Une riche polonaise
3. Un cousin lointain Une cousine lointaine
4. Un couturier bavard Une couturière bavarde
5. Un chien jaloux Une chienne jalouse
6. Un employé positif Une employée positive
7. Un commerçant mystérieux Une commerçante mystérieuse
8. Un directeur orgueilleux Une directrice oregueilleuse
9. Un pharmacien habituel Une pharmacienne habituelle
10. Un acteur célèbre Une actrice célèbre
Capítulo 26
1. Tu es une personne distraite.
2. Ma grand-mère est assise sur son fauteil.
3. Ta voiture est polie.
4. Les planchers sont lavés.
5. Les filles sont endormies dans leurs chambres.
Capítulo 27
1. Ma soeur prend la robe qui est dans l’armoire.
2. C’est la place où je t’ai rencontré pour la première fois.
3. Je vais dîner chez la famille dont la fille est ma copine.
4. On va réserver l’hôtel dont il m’a parlé.
5. Elles ont cassé le vase que leur mère avait acheté.
Capítulo 28
1. J’ai repassé ma robe jaune.
2. Ils sont partis à la montagne.
3. Il a rencontré ses amis de l’école.
4. Je ai cherché la clef que tu as perdue.
5. Ma mère est venue chez mon bureau.
6. Il a habité dans une maison où tous les hommes ont tué une
femme.
7. Elle a étudié toute la journée.
8. Nous avons vendu des légumes dans la rue.
9. Tu t’es assis à ma place.
10. Elles sont devenues antipathiques.
CONCLUSÕES
O que é que vais fazer quando fores para França? O que é que vais visitar?
Sentir-te-ás mas tranquilo visto que falas um pouco de francês? Quando eu
parti para a antiga Gália ainda não sabia que teria preferido ir vaguear junto
a uma verdadeira parisiense como se fosse uma turista. Quando o primeiro
domingo do mês fui ao Louvre, que é um lugar super atrativo graças às
intrigas do Código Da Vinci e à famosíssima Monna Lisa, refleti muito. O
fascínio das portas do metro foi maior do desejo de esperar na fila
interminável da entrada ao museu. Sabe-se que o Louve é lindo, caro e
muito popular. Fui-me embora sem arrependimentos.
Penso que este deveria ser o emblema das minhas viagens. Aconteça o que
acontecer. Para mim, o importante é saborear. Não pretendo que também
para ti seja assim, nem presumo que gostes de viajar e que seja errado criar
mapas detalhadas das atrações e das cidades. Mas, para mim, o mais
importante é vaguear, medir ao comprimento e à largura os passeios
estrangeiros à beira da Sena, os boulevards, levantar os olhos e ver novos
edifícios. Ter encontros surreais. Praticar a língua, mas acima de tudo
praticar os meus conhecimentos. A cada palavra ligamos uma emoção e a
cada emoção uma memória. Portanto, espero que para ti seja também assim.
E espero também que tenha conseguido fazer-te saborear um pouco da
fragrância francesa.
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