Ciências Sociais M4 Unid 3
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SUMÁRIO
MÓDULO 04
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FATIPI EAD
MÓDULO
04
UNIDADE DE APRENSIZAGEM 3
OBJETIVOS
Estamos percebendo como a história das igrejas evangélicas e a política brasileira fo-
ram se encontrando em meio aos acontecimentos que marcaram a República. Entramos
nesta unidade de aprendizagem na fase atual da história brasileira, por isso, examinaremos
assuntos que talvez estejam muito próximos da nossa experiência. É importante salientar
que a análise crítica não tem por objetivo a mera desqualificação dos atores envolvidos
na história, mas criação de novas perspectivas sobre e a realidade e a abertura de novos
caminhos para a ação.
Bons estudos.
A Nova República fez nascer um novo capítulo na relação entre as igrejas evangélicas
e o poder político no Brasil. A Nova República é o período histórico que teve início em 1985,
marcando o fim da Ditadura Militar e o retorno da democracia no Brasil. Este período co-
meçou com a saída do general Figueiredo da presidência do Brasil e a entrada de um civil
no cargo, José Sarney. O Brasil continuou sendo uma República, mas desde a proclamação
desta, o país alternou períodos autoritários, ditaduras e democracia.
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INTERDISCIPLINAR - CIÊNCIAS SOCIAIS
• Redemocratização do Brasil.
Vimos que a presença de caráter permanente de cristãos não católicos em solo brasi-
leiro remonta a primeira metade do século XIX. Na segunda metade missionários começa-
ram a chegar no território brasileiro e as primeiras igrejas resultantes do protestantismo de
missão foram estabelecidas. O século XX viu a chegada dos pentecostais. É possível afir-
mar que até o advento da Nova República os evangélicos, embora firmemente consolida-
das, não eram quase percebidos na paisagem tropical do país. Todavia, eis que de repente
eles parecem estar por toda parte.
Alguns fatos da histórica política recente do Brasil mostram essa sensação de que os
evangélicos estão por toda parte do cenário nacional, inclusive no lugar em que sempre es-
tiveram ausentes: a política. Vejamos: Adélio Bispo, homem que esfaqueou o então candi-
dato Jair Bolsonaro, frequentava igrejas evangélicas. O ex-presidente Jair Bolsonaro, que se
declara católico romano, foi batizado no rio Jordão, em Israel, pelo pastor da Assembleia de
Deus Everaldo Pereira. A presença de políticos em eventos promovidos por igrejas evangé-
licas, principalmente pentecostais e neopentecostais passou a ser vista como estratégica.
Voltando ao ex-presidente Jair Bolsonaro, a esposa dele e os seus filhos, do primeiro ma-
trimônio, são ligados à Igreja Batista. Permanecendo ainda no primeiro escalão da política
nacional Marina Silva, candidata por três vezes à presidência, é assumidamente evangélica.
Cabo Daciolo, candidato à presidência no ano de 2018, se destacou por levar uma Bíblia
aos debates entre os candidatos e inserir em suas respostas bordões pentecostais. Dei-
xando as eleições de 2018 e a figura do presidente, porém mantendo o foco nas relações
entre evangélicos e a política recente do Brasil, recordo que o ex-presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha, preso pela operação Lava Jato, declara-se evangélico. O ex-
-promotor e ex-deputado Deltan Dallagnol, que fez fama na esteira da Operação Lava Jato,
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momento crucial da democracia. O lema dos evangélicos, que até então tinha sido
“crente não se mete em política”, passou a ser “irmão vota em irmão”. Porém, diferen-
temente do panorama atual, até aquele momento, os candidatos evangélicos eram
eleitos sem instrumentalizar a identidade religiosa, ou seja, sem colocar a religião a
serviço de interesses políticos. Isso passou a acontecer a partir das eleições de 1989
e adquiriu força nos últimos anos. (SPYER, 2020, p. 196)
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O que pensa a bancada evangélica? É difícil responder essa pergunta uma vez que no
interior do grupo há uma diversidade de igrejas e partidos políticos. Assim, como vimos
acima, o grupo se articula em torno de interesses muito pontuais. Um dos raros documen-
tos tentando articular uma visão abrangente de propostas da bancada evangélica para o
Brasil foi apresentada em outubro de 2018. Trata-se do “Manifesto à Nação” que no prefácio
anunciava ser um esforço para transcender a pauta tradicionalmente defendida por eles em
torno “da preservação dos valores cristãos e defesa da família”. O documento é basicamen-
te uma adesão ao programa liberal de reformas econômicas. O manifesto é composto de
quatro eixos temáticos, sendo que os três primeiros estão ligados às reformas do Estado
e da Economia em atendimento às conhecidas críticas de inchaço e ineficiência da má-
quina pública. O quarto e eixo é dedicado a educação e embora tenham sido mencionado
o desejo de ir além das pautas tradicionais defendidas pela bancada evangélica, a maior
parte desse tópico é dedicado à crítica aos governos petistas por terem supostamente
adotado em todos os níveis do ensino a doutrinação ideológica, a ideologia de gênero, o
fim da meritocracia e o ataque à moralidade judaico cristã. A conexão, que já apresentamos
anteriormente, entre o comunismo e as pautas identitárias é mencionada literalmente no
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INTERDISCIPLINAR - CIÊNCIAS SOCIAIS
“Manifesto à Nação”.
O sociólogo Paul Freston observou que à medida que o Brasil fica mais evangélico, os
evangélicos também ficam mais brasileiros. No caso da Bancada Evangélica o raciocínio se
encaixa muito bem. No já citado “Manifesto à Nação” a Bancada Evangélica menciona, no
prefácio, a disfuncionalidade dos partidos na representação dos interesses dos cidadãos
e se refere à formação de oligarquias partidárias como impeditivas para renovação da vida
política. Era de se esperar, depois de reconhecer o problema, que o “Manifesto à Nação”
contemplasse alguma proposta de reforma política e eleitoral na direção da transparência
e da aproximação entre a classe política e os cidadãos, todavia, o documento silencia com-
pletamente sobre o tema. A julgar por isso, continuaremos assistindo os políticos evangé-
licos combatendo comportamentos da esfera privada que julgam imorais e fazendo vista
grossa para a imoralidade institucionalizada na vida política brasileira. Além disso, está
completamente ausente do documento da Bancada qualquer referência à justiça social e
à compaixão, temas tão caros à ética cristã. Difícil não recordar as palavras de Jesus re-
gistradas pelo evangelista Mateus: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o
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Obviamente isso não é um veredito de que a bancada evangélica será sempre assim.
Vimos por quantas mudanças a política brasileira passou desde a Proclamação da Repú-
blica, em 1889. O que apresentamos acima é um retrato do comportamento da bancada
evangélica nas últimas décadas. A vida é dinâmica e a política e os políticos, para sobrevi-
veram, precisam se adaptar às mudanças que a vida impõe. Se isto estiver correto, é de se
esperar que a bancada evangélica passe por mudanças nas próximas décadas, a torcida é
para que nesse processo ela possa ir deixando de lado o fisiologismo tão característico da
política brasileira e se tornando mais alinhada à defesa da justiça e da cidadania para todos
os brasileiros.
No seu estado ou município, existe algo parecido com a bancada evangélica do Con-
gresso Nacional? Quais são as pautas defendidas pelos políticos que conquistam
um mandato usando na campanha eleitoral sua filiação a uma igreja evangélica ou
mesmo utilizando seus títulos religiosos (pastor, missionário, apóstolo etc.)? Você já
votou ou vota nesses candidatos? Se sim, tente explicitar as razões da sua escolha.
Se não, faça a mesma coisa.
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