2448 6914 Latinoam 64 00223
2448 6914 Latinoam 64 00223
2448 6914 Latinoam 64 00223
Religião e política
no Brasil
Religion and politics in Brazil
Resumo: Este texto tem por objetivo diagnosticar as formas de construção da relação entre
religião e política no Brasil. Desse modo, buscamos apresentar as principais dinâmicas
de enfretamento e aproximação entre estas esferas. A partir disso, estabelecer reflexões
e comparações entre os distintos períodos históricos, de modo a permitir a compreensão
de que a expressiva intervenção atual da religião no sistema político não é um fenômeno
recente no Brasil. Para isso, examinamos as estratégias políticas empreendidas em dife-
rentes momentos pelas vertentes cristãs para intervir no funcionamento do Estado.
Palavras-chave: Religião, Política, Católicos, Pentecostais.
Abstract: This paper aims to diagnose was constructed forms in which the relationship be-
tween religion and politics in Brazil. Thus, we seek to present the main dynamics in which
both spheres dealt with and approached each other. From this, to establish reflections and
comparisons between different historical periods, in order to realize that religious interven-
tion in the political system is not a recent phenomenon in Brazil. For this, we examine the
political strategies adopted at distinct times by different Christian strands in the country to
intervene in the functioning of the State.
Key words: Religion, Politics, Catholics, Pentecostals.
*
Universidade de Brasília, Brasil (gustavoteixeira2519@gmail.com).
Introdução
A
relação entre religião e política é objeto de estudo recorrente
nas ciências sociais. A ascensão da religiosidade nas últimas dé-
cadas tem mobilizado ampla atenção dos pesquisadores para
a interface entre estas esferas no mundo contemporâneo. No
Brasil o fenômeno apresenta contornos e variações singulares, haja vista
a crescente inserção de grupos religiosos cristãos na política institucional.
Este texto tem por objetivo diagnosticar as formas de construção da
relação entre religião e política no Brasil.1 Para desenvolver o argumento
dividimos o texto em duas seções, que abordam elementos históricos e
conceituais sobre o fenômeno no Brasil. Na primeira seção examinamos o
modo como a Igreja católica influenciou a elaboração da Constituiç ão de
1933 através da Liga Eleitoral Católica, bem como sua estreita relação
com o Governo Vargas e seu apoio ao golpe militar de 1964. Nesta
seção também analisamos o impacto que a Teologia da Libertação (tl) e as
Comunidades Eclesiais de Base (cebs) provocaram na orientação do cato-
licismo e na transformação do relacionamento da Igreja com a política e as
elites nacionais.
Na segunda seção, o texto analisa a emergência dos pentecostais e
neopentecostais como atores políticos a partir do cenário da Assembleia
Constituinte, responsável pela elaboração da Constituição brasileira de
1988. Por conseguinte, averiguamos a forma como este segmento religio-
so construiu estratégias para eleger parlamentares vinculados com sua
1
A pesquisa foi financiada pelo edital mcti/cnpq/spm-pr/mda 32/2012. Por isso agrade-
cemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (cnpq), e
também a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (capes) e a
Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (fapdf), pelos incentivos e recur-
sos a este e outros trabalhos. Este artigo é um dos resultados da elaboração da tese
de doutorado, em que analisamos a influência dos grupos e perspectivas religiosas
no debate legislativo sobre o aborto no Brasil e no Uruguai, entre 1991 e 2016. Esta
pesquisa está relacionada a um conjunto de investigações concluídas e que estão
em andamento, empreendidas pelo grupo Democracia e Desigualdades (Demodê)
da Universidade de Brasília (unb), desenvolvidas no âmbito do Projeto “Direito ao
aborto e sentidos da maternidade: atores e posições em disputa no Brasil contempo-
râneo”, coordenado pela Dra. Flávia Biroli.
2
A partir de 1840 a Igreja brasileira passou a seguir diretamente as ordens do Papa,
assim não estava mais subordinada a Coroa luso-brasileira. É neste contexto também,
que em 1870 ocorre um dos mais sérios atritos entre a Igreja e o Estado no Brasil,
motivada entre outros pontos, pela “insubordinação” de alguns bispos à tolerância do
Império para com a maçonaria e o liberalismo. Como consequência, a prisão dos bis-
pos e a separação formal destas esferas em 1891. A despeito destes acontecimentos,
as relações foram restauradas, ainda no período republicano (1989-1930).
3
Seguimos neste texto a tipologia ou genealogia elaborada por Paul Freston em Protes-
tantes e política no Brasil: da Constituinte ao impeachment, 1993 (Tese de douto-
rado, unicamp) que compreende a existência de três ondas/fases do pentecostalismo
no Brasil. A adotamos como forma de sistematizar os períodos históricos, visto que
a tipologia organiza as transformações neste campo religioso mediante mutações
teológicas e da sociedade brasileira. Este exercício foi pioneiro e por isso hoje é con-
siderado clássico, contudo reconhecemos que ele não é isento de problemas. Por
exemplo, Ricardo Mariano em sua pesquisa apresenta questionamentos quanto às
mudanças teológicas radicais que diferenciariam a primeira e a segunda onda. Ver
Neopentecostalismo: os pentecostais estão mudando, 1995 (Dissertação de mestra-
do, usp). Paulo Siepierski denota a dificuldade de Paul Freston em situar o pentecos-
talismo nas estruturas sociais, além de expressar discordância quanto a nomenclatura
utilizada para simbolizar as passagens destas três ondas.
4
Consideramos que a utilização desta estratégia de “demonização”, diagnosticada
também pela pesquisa de Scott Mainwaring, guarda importantes semelhanças com
o discurso presente no Brasil contemporâneo, contudo, desta vez, mobilizado pelos
pentecostais e neopentecostais em relação às religiões de matriz africana e aos mo-
vimentos sociais que lutam por ampliação dos direitos. Ver Marina Bandeira, A Igreja
católica na virada da questão social: anotações para uma história da Igreja no
Brasil, Rio de Janeiro, Vozes, 2000. Ver também Marcelo Natividade e Leandro de Oli-
veira, “Sexualidades Ameaçadoras: religião e homofobia(s) em discursos evangélicos
conservadores”, em Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista Latinoamericana, n. 2,
Rio de Janeiro, 2009, pp. 121-161.
5
O Partido Comunista Brasileiro ( pcb) entrou para ilegalidade em 1927, o que ampliou
a importância dos sindicatos como elemento de arregimentação política e social.
9
A ap se tornou uma das três mais importantes organizações de esquerda no Brasil, junto
com o pc e o pc do b. As cebs eram formadas por grupos locais que se reuniam nas
paróquias para fins de vivência religiosa e para debater os problemas comuns da comu-
nidade. Através destes centros se desenvolveu as premissas fundamentais da Teologia
da Libertação, como a participação ativa dos católicos no mundo e a crença como
ferramenta para denunciar as injustiças sociais. A tl foi (e ainda é atualmente) uma
vertente teológica nascida no interior da Igreja católica da América Latina. Em síntese,
uma das principais contribuições desta corrente foi o alinhamento do evangelho e da
fé com as questões sociais.
10
Em junho de 1964 a cnbb emitiu um comunicado em apoio ao golpe, segue trecho que
ilustra a posição: “Atendendo à geral e angustiosa expectativa do Povo Brasileiro que via
a marcha acelerada do comunismo para a conquista do Poder, as Forças Armadas acu-
diram em tempo, e evitaram que se consumasse a implantação do regime bolchevista
em nossa terra”. Scott Mainwaring, Igreja católica e política no Brasil (1916-1985),
São Paulo, Brasiliense, 1989, p. 102.
11
Sobretudo pelo 1º Conselho Episcopal Latino-Americano (celam), realizado em Me-
dellín em 1968, onde foram ratificadas as linhas estabelecidas pelo Vaticano II, em
que o lugar teológico da Igreja deveria se transferir para o povo e no combate ao que
passava a ser entendido como pecado social, isto é, a exploração advinda do desen-
volvimento promovido pelo sistema capitalista. Além disso, as resoluções do celam
incentivaram o crescimento das cebs na América Latina, o que legitimou a ação dos
setores progressistas no Brasil.
12
É válido pontuar que neste mesmo período emerge no ambiente universitário de
Pittsburgh, nos Estados Unidos, a Renovação Carismática Católica, esta corrente será
nos anos oitenta e noventa uma das principais forças a se opor a orientação teológica
da chamada “esquerda católica” (como a tl e as cebs), a qual os militares considera-
vam inimigas do país.
13
A iurd foi fundada em 1977 por Edir Macedo, já a iigd foi fundada em 1980 por r.r.
Soares, cunhado de Edir Macedo. Se a segunda onda do pentecostalismo era prepon-
derantemente paulista, a terceira é majoritariamente carioca. Estas denominações
surgem no cenário de crescimento do populismo político, da mafia dos jogos e da
decadência econômica do Rio de Janeiro.
14
Com origem nos Estados Unidos, esta teologia difunde a ideia de que os cristãos
devem buscar alcançar êxito financeiro, baseado na premissa de que a espiritualidade
não é somente um bem interior, mas ela se reflete nas condições de vida.
16
A rcc tem como característica o desenvolvimento da fé a partir da esfera íntima, desse
modo, há maior ênfase na espiritualidade, manifestada através de orações, louvores
e leitura da Bíblia para alcançar paz interior, que em problemas coletivos. Outro as-
pecto é o elevado controle moral. Nas esferas familiar e da sexualidade. Estes pontos
aproximam sobremaneira a rcc dos neopentecostais, ao passo que a afasta, na mesma
proporção, de grupos presentes no catolicismo. É necessário ponderar que o cresci-
mento da rcc no Brasil (inclusive em territórios outrora dominados pelas cebs), não
se explica somente por este respaldo da hierarquia, mas também em virtude de ela
20
Alguns episódios nos anos noventa acentuaram esta questão, por exemplo, a prisão
em 1992 do bispo Macedo, acusado de charlatanismo, curandeirismo e estelionato.
Em seu livro intitulado “Nada a perder”, ele relata que sua prisão foi resultado de
perseguição política e religiosa da Igreja católica. Este caso gerou comoção de ou-
tras denominações, que naquela ocasião revelaram que nenhum líder religioso seria
novamente preso por pregar o evangelho. A relação conflituosa com a mídia, espe-
cialmente com a tv Globo, cresceu também em virtude de algumas coberturas jorna-
lísticas que, segundo algumas lideranças, apresentam o propósito de desmoralizar os
seguidores e seus líderes.
21
A aversão a Lula e ao pt se dissipou nas eleições de 1998, isto por que muitas lide-
ranças apoiaram o candidato. Este segmento cristão e sua bancada parlamentar se
notabilizam pelo seu aspecto governista, pois foram base de sustentação à maioria
dos governos pós-redemocratização.
22
Ricardo Mariano e Antônio Flávio Pierucci, “O envolvimento dos pentecostais na elei-
ção de Collor”, em Novos Estudos Cebrap, n. 34, São Paulo, novembro de 1992, p.
106.
23
Como já dito antes, estas estratégias são verossímeis às empreendidas pela Liga Elei-
toral Católica.
24
Até então as doenças para Igreja católica deveriam ser tratadas exclusivamente pela
medicina.
criação das secretarias nacionais.25 Cabe sublinhar que neste caso há acen-
tuada rejeição a participação política ao modo das cebs, pois os carismá-
ticos são mais inclinados à intervenção através da política partidária. Con-
forme destacam estudiosos do tema, os carismáticos votam com posições
bem definidas (frequentemente em propostas de centro-direita), e tem
obtido êxitos na eleição de representantes políticos nas casas legislativas.
Os parlamentares egressos da rcc (e da Igreja católica de modo geral)
formam junto com os (neo) pentecostais coalizões políticas para frear ini-
ciativas que interfiram em agendas morais.
O modo como a representação política foi construída é uma das mais
expressivas diferenças da inserção, no atual cenário político, dos (neo) pen-
tecostais e dos carismáticos, aliás, este elemento é fundamental para deli-
nearmos esta nova relação entre religião e política no Brasil. Isto porque, a
representação de ambos os segmentos religiosos até os anos de 1990 era
resultado de iniciativas individuais, isto é, algum de seus integrantes (com
projeção religiosa ou política) se candidatava e procurava conquistar apoio
entre as lideranças religiosas e os participantes de suas denominações ou
grupos. Assim, mesmo sendo cristão e eventualmente atraindo apoio das
lideranças e dos fiéis, isso não queria (quer) dizer que o parlamentar fosse
incorporar e defender integralmente a agenda deste segmento.26
25
Renovação Carismática não é o único grupo da Igreja católica envolvido na política.
Há outros, como o Opus Dei e Comunhão e Libertação, no entanto, para tratar neste
texto apenas da mobilização política da rcc. Esta decisão metodológica é baseada
em dois motivos. A primeira devido ao seu enorme crescimento e sucesso na esfera
política, em relação a outros grupos de catolicismo. A segunda, para efeitos de uma
investigação, é decorrente da existência de muitos documentos que comprovam a
ligação de parlamentares com o rcc (inclusive, emitido pelos próprios congressistas),
já em relação a outros grupos, como o Opus Dei, a identificação ou declaração de
filiação é complexa, com elevados riscos de se tornar uma especulação.
26
Este modelo é denominado por Paul Freston, em pesquisa mais recente, como auto-
gerado, ele guarda semelhanças com a representação o modelo hegemônico na de-
mocracia representativa. Uma vez que em ambos os casos há uma autonomização dos
expedientes que irão compor o mandato parlamentar, que em muitos casos podem
estar distantes ou até em contradição com os interesses objetivos dos que o elegeram
e/ou daqueles que compartilham alguma escala de valores.
27
Como dito antes, o ingresso na política tornou-se parte da missão eclesial, de modo
que muitos desses candidatos foram (e são) pastores e bispos. Na Igreja Universal e
em outras denominações, os pregadores são enviados e realocados de uma a outra
comunidade constantemente. Assim, temos a situação de um candidato que tem uma
projeção religiosa, mas que desconhece os problemas da comunidade, tampouco é
conhecido por ela.
28
O número de senadores que pertencem a “bancada evangélica” entre estas legisla-
turas orbitou em torno de 2 a 5 senadores, por isso optamos em não incluílos no
gráfico.
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Frente Parlamentar Evangélica.
Membros da fpe. Em http://www.fpebrasil.com.br/portal/.
29
pr, ptb, prtb, pmdb, psc, pt, psdb, pdt, psl, dem, pp, pv, psb, prb, pros, sd, ptn,
pps, psd.
30
Em outro trabalho desenvolvemos mais estas questões, entre os pontos apresentados
destacamos que ambos os enfoques não se excluem, mas são complementares ao
escalão católico, por exemplo, a cerimônia de posse do coordenador dep. Givaldo Ca-
rimbão ( pros-al) ocorreu na sede da cnbb em Brasília e não na Câmara de Deputados.
34
Os analistas destacam que há na América Latina (especialmente na Argentina), um
movimento ecumênico de “reconciliação” entre católicos e parcela dos (neo) pen-
tecostais, mediante atividades em conjunto, como por exemplo, grandes eventos de
pregação que reúnem estas instituições.
35
Em números absolutos, 407 discursos dos 566 que se pronunciaram de forma con-
trária ao aborto, o total é de 915 discursos proferidos no legislativo federal brasileiro,
entre 1991-2014. Deste percentual, 38% (154 discursos) foram proferidos por aqueles
deputados ligados à Igreja católica e 34% (138) as igrejas pentecostais.
36
São os casos: do Projeto de Lei ( pl) 7254/2010, apresentado pelo deputado federal
Marcelo Serafim ( psb/am), que visa ampliar a prisão de dois a quatro anos, para quatro
com atuação mais destacada nesta agenda são: Severino Cavalcanti ( pp-pe),
Miguel Martini ( phs-mg) (ambos da Renovação Carismática) e Dr. Talmir
( pv-sp); entre os (neo) pentecostais: Eduardo Cunha ( pmdb-rj), Costa Fe-
rreira ( psc-ma) e Pastor Roberto de Lucena ( pv-sp).
Da mesma forma, as proposições políticas com vista a outorgar direi
tos para a comunidade lgbtt, na mesma intensidade, provocam a coope-
ração destes congressistas. O episódio mais significativo foi suscitado em
torno do Projeto de Lei n° 122 de 2006, que em termos gerais propunha
a criminalização da homofobia. A oposição ao projeto foi justificada com
base na violação da liberdade religiosa, de acordo com o Pastor Silas Mala-
faia, os pregadores do evangelho seriam legalmente punidos por instruir
que a conduta homossexual é errada, conforme sua interpretação da Bí-
blia. Do mesmo modo, o deputado Marco Feliciano ( psc-sp) sustentou
em discurso que tal proposta legislativa não teria sido destinada exclusi-
vamente a penalizar os autores de agressão aos homossexuais (físicas e/
ou simbólicos), mas apresentava uma velada tentativa de intervenção do
mundo secular nas práticas e dogmas cristãos. Depois de ter sido apro-
vado na Câmara dos Deputados em 2006,37 este projeto foi vetado pelo
Senado em 2015.38 Assim, em virtude da oposição religiosa a este e outros
39
Natividade e Oliveira, op. cit. Em outro texto procurei analisar as nuances deste de-
bate na Câmara dos Deputados, ver Luis Gustavo Teixeira da Silva, “O debate entre
evangélicos e o movimento lgbtt em torno do pl122: Um diálogo a partir de Chantal
Mouffe e Nancy Fraser”, em Revista Bagoas-Estudos Gays: Gêneros e Sexualidades,
v. 10, n. 14, Natal, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2016.
40
Colaboramos nesta investigação, que também foi realizada em caráter coletivo no
âmbito do grupo Democracia e Desigualdades (Demodê-UnB). Entre 2013 e 2015
foram analisados 43 discursos e 34 documentos relacionados ao projeto.
41
A Constituição Brasileira assegura este direito a/ao Presidente da República, sena-
dores, deputados, aos legislativos regionais (Estaduais), governadores dos estados,
a oab, aos partidos políticos com representação no Congresso Nacional, confedera-
ções sindicais e entidades de classe de âmbito nacional. Esta proposição surge em
um cenário em que o Judiciário estava (e ainda está) tomando decisões (algumas se
tornaram lei) que dificilmente seriam aprovadas no Congresso, porque eram (e são)
contrárias às posições das igrejas e de seus representantes. Por exemplo, este é o caso
da permissão ao aborto em casos de anencefalia em 2012 (má-formação do feto) e o
reconhecimento de união estável a casais do mesmo sexo, em 2011.
42
A força política das religiões cristãs tem sido verificada com mais ênfase nos legisla-
tivos, mas devemos registrar a incursão ainda incipiente de representantes políticos
Considerações finais
Dentro deste quadro geral podemos vislumbrar com mais propriedade a
influência da religião na política brasileira. Historicamente, parece haver
certa admissibilidade ou ausência de impedimentos para que ideias reli-
giosas sejam mobilizadas como forma de intervir no funcionamento do
Estado e no mundo secular. Isso ocorre porque, embora o Estado tenha
se constituído como uma república no século xx, os privilégios da Igreja
foram preservados, tanto para estabelecer como religião pretensamente
“oficial”, como para pressionar o Estado no intuito de influenciar no mo-
delo comportamento de grande parcela da sociedade.
Bibliografia
Bandeira, Marina, A Igreja católica na virada da questão social: ano-
tações para uma história da Igreja no Brasil, Rio de Janeiro, Vozes,
2000, 423 pp.
Burdick, John, Looking for God in Brazil, trad. de Renato Machado, Rio
de Janeiro, Mauad/California University Press, 1998.
Campos, Leonildo, “O projeto político de ‘governo do justo’: os recuos
e avanços dos evangélicos nas eleições de 2006 e 2010 para a Câmara
Federal”, em Revista Debates do ner, ano ii, n. 18, poa, 2010, pp. 39-82.
Fonseca, Alexandre, Secularização, pluralismo religioso e democracia
no Brasil: um estudo sobre os evangélicos na política nos anos 90,
São Paulo, 2002 (Tese de doutorado, ppgs).
Freston, Paul, Protestantes e política no Brasil: da Constituinte ao im-
peachment, 1993 (Tese de doutorado, unicamp).
________, Religião e política sim; Igreja e Estado, não: os evangélicos
e a participação política, Minas Gerais, Ultimato, 2006.
Lustosa, Oscar de Figueiredo, A Igreja católica no Brasil República: cem
anos de compromisso (1889-1989), São Paulo, Paulinas, 1991.
Machado, Maria das Dores, “Religião, cultura e política”, em Religião e
Sociedade, v. 32, n. 2, Rio de Janeiro, 2012, pp. 29-56.
Mainwaring, Scott, Igreja católica e política no Brasil (1916-1985), São
Paulo, Brasiliense, 1989.
Mariano, Ricardo, Neopentecostalismo: os pentecostais estão mudando,
1995 (Dissertação de mestrado, usp).
________, “A expansão neopentecostal no Brasil: o caso da Igreja Uni-
versal”, em Revista Estudos Avançados, v. 18, n. 52, 2004.
Miranda, Julia, Carisma. sociedade e política: novas linguagens do reli-
gioso e do político, Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1999.
Morais, João F. Régis de, Os bispos e a política no Brasil: pensamento
social da cnbb, São Paulo, Autores Associados/Cortez, 1982.
Oro, Ari Pedro, “A política da Igreja Universal e seus reflexos nos campos
religioso e político brasileiros”, em Revista Brasileira de Ciência So-
ciais, v. 18, n. 53, outubro, 2003.
________. “Organização eclesial e eficácia política: o caso da Igreja Uni-
versal do Reino de Deus”, em Civitas-Revista de Ciências Sociais, v. 3,
n. 1, junho de 2003.