Trauma de Torax
Trauma de Torax
Trauma de Torax
Trauma de tórax
Trauma
de Tórax
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1. Introdução
Clavícula Clavícula
Escápula Escápula
Úmero Úmero
Esterno
Costelas
Os órgãos internos da cavidade torácica são os órgãos dos sistemas respiratório (traqueia,
brônquios, pulmões, diafragma), circulatório (coração, grandes vasos
– veia cava, aorta, artérias e veias pulmonares) e diges vo (esôfago, que se
encontra posteriormente à traqueia).
Lesões com risco imediato de morte
Independentemente da localização do trauma no indivíduo, o atendimento ao
trauma zado é igual e respeita os mesmos princípios. Ou seja, devemos conhecer o
mecanismo do trauma, entender a sua biomecânica e proceder ao atendimento
inicial seguindo a sequência do “ABCDE”, a fim de promover a adequada avaliação e
a implementação de medidas de cuidado.
No atendimento inicial, devemos reconhecer as lesões com risco imediato de morte
e já promover as primeiras medidas, assim que diagnos cadas. É importante
lembrar que o diagnós co é clínico, não se devendo esperar por métodos
complementares.
Entre essas lesões temos pneumotórax hipertensivo, pneumotórax aberto,
hemotórax maciço, tórax instável e tamponamento cardíaco.
Pneumotórax hipertensivo
O pneumotórax hipertensivo decorre de uma lesão pulmonar extensa ou de uma
lesão na árvore traqueobrônquica, com consequente extravasamento de grande
quan dade de ar (pneumotórax) no espaço pleural.
No caso do pneumotórax hipertensivo, a entrada de ar é persistente e uni-
direcional, levando ao colabamento do pulmão do lado acome do e ao pro - gressivo
deslocamento das estruturas centrais (medias no) para o lado contra lateral.
Com isso, nota-se, ao exame sico do pescoço, desvio da traqueia e turgên- cia
jugular, ou seja, um ingurgitamento das veias do pescoço originado pela di- minuição
do retorno venoso ao coração devido ao desvio dos vasos medias nais.
Há consequentes sinais de choque por não haver sangue a ser bombeado para o
restante do organismo, em decorrência da redução do retorno venoso. A persis-
tência do quadro faz com que o coração não possua mais conteúdo a bombear e
acabe parando.
Normal Traqueia desviada para a direita
Cartilagem tireóide
Cartilagem tireóide
Cartilagem cricóide
Cartilagem cricóide
Traqueia
Traqueia
Artéria
Vasos mamária
intercostais
Tórax instável
O tórax instável decorre da origem traumá ca de um segmento móvel
flutuante no arcabouço torácico.
Existem dois pos de tórax instável:
1. um mais frequente, que decorre da fratura de duas ou mais costelas consecu vas
em dois ou mais lugares;
2. outro mais raro, em que há a fratura de duas ou mais costelas consecu vas em
apenas um lugar associado à disjunção das costelas com o osso esterno (tórax
instável esternal).
Tamponamento cardíaco
O tamponamento cardíaco decorre na maioria das vezes de ferimento pene- trante,
resultando em uma lesão cardíaca ou coronariana que sangra para o interior do
espaço pericárdico.
O coração, que bate livremente no espaço pericárdico, encontrará resistência
devido à presença de sangue, com isso, diminuindo sua efe vidade.
Bombeando menos, o sangue que chega ao coração ficará represado, como um
conges onamento, ocasionando ingurgitamento dos vasos antes de chegar ao
coração e consequente sinais de choque.
Dessa forma, o diagnós co é clínico, com a presença de estase jugular, sinais de
choque e abafamento das bulhas cardíacas à ausculta.
Ao conjunto desses sinais, chamamos de tríade de Beck, que está presente em cerca
de 30% dos tamponamentos.
Devemos suspeitar e descartar a pre-
sença de lesão cardíaca em todos os fe-
rimentos penetrantes na zona de risco,
denominado área de Sauer-Murdock ou
Ziedler – já que de 20% a 40% dos
pacientes com ferimentos nessas áreas
podem evoluir para tamponamento car-
Saudável Tamponamento
cardíaco díaco e foram admi dos estáveis hemo -
dinamicamente.
Tanto a área de Sauer-Murdock quanto a de Ziedler são projeções no tórax do
paciente tanto anteriormente quanto posteriormente.
Os limites são: superiormente encontra-se a linha das clavículas, nas laterais estão
as linhas hemiclaviculares ou mamilares, e inferiormente o rebordo costal.
Importante!
Lembre-se de que, sempre que ver
ferimento penetrante na la- teral ou
dorso que represente a projeção das
linhas desenhadas anteriormente,
deve-se descartar lesão cardíaca e de
grandes vasos.
O ultrassom FAST pode evidenciar a presença de líqu ido livre na janela pericár- dica.
A: Airway
Avaliamos as vias aéreas, isto é, observamos a
coluna de ar na traqueia e percebemos se está
centrada, se possui algum disposi vo etc.
B: Breathing
Avaliamos o parênquima pulmonar bilateral-
mente, observando se está presente até a peri-
feria, se existe alguma diferença entre os lados, se
há alguma lesão no parênquima.
C: Circulação
Avaliamos o coração e grandes vasos, analisan- do
a área cardíaca e o medias no.
D: Diafragma
Observamos se este encontra-se linear bilate-
ralmente, se existe algum velamento do seio
costofrênico (derrame).
E: Esqueleto
Observamos se há alguma fratura no arcabouço
torácico (costelas, clavículas, escápula, coluna).
F: Fios e disposi vos
Observamos se há algum fio de monitorização ou
disposi vos, como eletrodos, drenos, cânu- las
intratraqueais, sonda nasogástrica, marca- passo
etc.
Ultrassom (E-FAST)
A realização do ultrassom FAST no atendimento ao trauma zado u liz ando as
janelas abdominais já é ro na, e seu uso já está oficializado. Porém, a sua
popularização e maior disponibilidade têm mostrado sua importância em outros
segmentos corpóreos, como o torácico.
O FAST que inclui o segmento torácico é denominado E-FAST, ou seja, “extended”
FAST (estendido).
Com o E-FAST, além das janelas abdominais, há o acréscimo de 4 janelas torácicas: 2
apicais (4º espaço intercostal) e 2 basais posteriores, sendo uma de cada lado.
A: sinal da praia
B: sinal da estratosfera
Seta: linha da praia
P: ponto de intersecção área normal
com área de pneumotórax
Pneumotórax “simples”
Pneumotórax decorre da presença de ar no espaço pleural.
Alguns usam a nomenclatura de pneumotórax simples para diferenciar do
hipertensivo. Há o receio em nomear dessa forma para não subes mar a
potencialidade da gravidade. Pode ser usado somente pneumotórax.
Muitos casos são de pequeno volume, e dessa forma não apresentam
sintomatologia ou achados no exame primário, sendo diagnos cados com exames
complementares. Não deve ser feita toracocentese para o esvaziar, nem para
diagnos cá-lo.
O tratamento depende do tamanho do pneumotórax e da sintomatologia
apresentada pelo paciente.
Os pequenos pneumotórax, considerados menores que 30% da área torácica do lado
acome do em pacientes assintomá cos, podem ser tratados sem drenagem de
tórax.
A drenagem de tórax deve ser realizada nas seguintes situações:
• pneumotórax maiores de 30%;
Hemotórax “simples”
Hemotórax é a presença de sangue
no espaço pleural.
Tal como com o pneumotórax, a no-
menclatura “simples” serve para di-
ferenciar do hemotórax maciço. É
decorrente de lacerações pulmo-
nares ou sangramentos menores nas
artérias intercostais ou na artéria
mamária.
O diagnós co pode ser radioló- gico
ou tomográfico. Sabe-se que volumes
maiores de 300mL são visí- veis na
radiografia de tórax.
RX de tórax evidenciando derrame pleu- Todo hemotórax deve ser drenado,
ral à esquerda. Como trata-se de trau- ma, visto que sua presença no tórax po-
temos um hemotórax. derá gerar complicações.
Urgências Traumáticas
Drenagem de tórax
Fratura de costela, clavícula, escápula e esterno
Em qualquer trauma torácico pode haver fraturas do arcabouço torácico sem que
ocorra acome mento de estruturas intratorácicas, visto que esse arcabouço,
juntamente com a musculatura, absorvem o impacto em muitos traumas.
Já em crianças, pela elas cidade do arcabouço torácico em formação, pode haver
lesões intratorácicas sem a presença de fraturas.
Podemos considerar a fratura de costela como o trauma torácico mais frequente.
Quando há fratura de costelas, dependendo de sua localização, podemos suspeitar de
algumas lesões internas. Por exemplo, lesão nos primeiros arcos costais nos obriga a
descartar lesão de grandes vasos, principalmente aorta.
Já a fratura dos úl mos arcos costais, pela dinâmica da respiração, em que se eleva
e abaixa o diafragma, pode ocasionar lesões intra-abdominais, principalmente no
gado e no baço.
Contusão pulmonar
A contusão pulmonar decorre do impacto sobre o pulmão, diretamente ou dele em
relação ao arcabouço torácico.
Pode apresentar-se sem outras lesões associadas, porém é mais frequente com
outros achados, como fraturas de costelas, pneumotórax, etc.
O impacto pulmonar leva à ruptura de vasos e consequente extravasa- mento de
líquidos e sangue para o inters cio pulmonar e intraalveolar. O resultado é a
diminuição de espaço pulmonar sadio para a troca gaso- sa, levando a hipóxia.
O seu principal tratamento é suporte ven latório, sendo muitas vezes neces- sário o
uso de ven lação mecânica. A fisioterapia respiratória é imprescindí- vel para evitar
complicações, sendo a principal delas infecção.
O principal diagnós co diferencial é a presença de broncoaspiração. Porém, esta
respeita os limites dos lobos e segmentos nos achados de imagem, diferen- te da
contusão pulmonar.
No raio X de tórax, a contusão pulmonar é caracterizada por imagem de opaci - dade,
conforme imagens abaixo.
Contusão Cardíaca
A contusão cardíaca (miocárdica) decorre do impacto so- bre o
coração, diretamente ou dele em relação ao arca- bouço torácico,
principalmente o esterno.
A lesão mais comum é a transmural, podendo haver rupturas
cardíacas manifestadas como tamponamento cardíaco.
Quando o mecanismo de trauma for de alto impacto, por exemplo, com deformi-
dade de volante, alguns acionamentos de air bag e fraturas de esterno, devemos
suspeitar de contusão miocárdica.
Na sala de emergência, a realização do E-FAST pode auxiliar na busca de disci- nesias
do ba mento cardíaco.
Em todos os pacientes suspeitos, deve ser realizado um eletrocardio- grama (ECG)
e a dosagem laboratorial de troponina (marcador mais sensível de injúria
miocárdica).
Importante!
A dosagem da enzima cardíaca CKMB não tem valor diagnós co de lesão
miocárdica, por encontrar ro neiramente com valores aumenta- dos decorrentes
de injúria muscular sistêmica pelo impacto do trauma.
aorta
ascendente
Estresse por
cisalhamento
Estresse por
dobradura
valva ligamento
aór ca arterial
aorta
descendente
Urgências Traumáticas
Fonte: Centro de Simulação da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp - Acervo pessoal 2017.
O tratamento do trauma de aorta é cirúrgico e pode ser feito por via aberta
(convencional) ou endovascular.
Ruptura do diafragma
A ruptura do diafragma é uma condição pouco frequente. Decorre de mecanismos
de aumento abrupto da pressão intra-abdominal no trauma fechado ou mais
frequentemente no trauma penetrante.
Não é fácil fazer o diagnós co por imagem quando a lesão é pequena. A radiografia
de tórax e a TC de tórax auxiliam no diagnós co, porém muitas vezes há a
necessidade de confirmação por laparoscopia.
Na radiografia abaixo podemos notar uma irregularidade no contorno do diafragma
à esquerda, com uma imagem arredondada no tórax que equivale a porção
intes nal herniado.
Se houver dúvida no raio X de tórax, pode-se
passar uma sonda gástrica e repe -lo. Será
evidenciado que esta se encontra no tórax,
corroborando para sua hipótese diagnós ca.
O tratamento é cirúrgico. Tem-se discu do a não
intervenção em lesões do lado direito, não sendo
consenso na literatura.
Lesão traqueobrônquica
A lesão da traqueia ou dos brônquios principais é uma lesão incomum e potencialmente
fatal.
No trauma fechado, geralmente ocorre 2 a 3 cm da carina.
Nos quadros graves, pode originar
quadro de insuficiência respiratória ou
mesmo o extravasamento de ar para a
cavidade pleural, formando um pneu-
Traqueia motórax, e, por ter um alto fluxo, mui-
tas vezes hipertensivo.
Brônquio A sintomatologia clínica depende do ta-
esquerdo
manho da lesão e da necessidade do
paciente de ven lação mecânica.
Em lesões menores, os pacientes po-
dem apresentar sintomatologia clíni- ca
mínima, havendo suspeita de lesão
tranqueobrônquica em caso de persis-
Carina tência do escape aéreo do pneumotórax
ou de ausência de resolução do mesmo.
Em lesões maiores, pode-se ter dificuldades de intubação orotraqueal e de
ven lação.
Inicialmente, alguns achados nos métodos complementares nos fazem levantar a
suspeita de lesões, tais como a presença de ar no medias no (pneumomedias- no)
no raio X de tórax.
RX de tórax mostrando uma linha de ar em volta do TC de tórax evidenciando ar (“preto”) em volta das
coração (pneumomedias no) estruturas mediastinais: pneumomedias no.
• coração – ecocardiograma;
Toracotomia de reanimação
A toracotomia de reanimação é o procedimento cirúrgico realizado na sala de
emergência como medida salvadora.
Suas indicações são controversas na literatura, porém está formalmente indicada nos
quadros de ferimento penetrante do tórax em que o paciente é admi do com
presença de sinais vitais ou quando apresenta sinais vitais e acaba evoluindo para
parada cardiorrespiratória (PCR) ou admi do com PCR em a vidade elétrica sem
pulso (AESP).
Não está indicado em pacientes que já apresentam sinais de morte evidente ou
com tempo impreciso entre PCR e admissão hospitalar, desde que não esteja em
AESP.
Deve ser realizada por médico capacitado e com a disposição de instrumentos
cirúrgicos adequados, como um afastador para abertura e manutenção da abertura
do tórax denominado Finochie o.
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