5461-Texto Do Artigo-38694-38693-10-20231220
5461-Texto Do Artigo-38694-38693-10-20231220
5461-Texto Do Artigo-38694-38693-10-20231220
24220/2318-0919v20e2023a5461
RESUMO ABSTRACT
Este artigo discute as ideias de natureza e simpli- This paper discusses the ideas of nature and simplicity
cidade desenvolvidas pelo abade Marc-Antoine developed by abbot Marc-Antoine Laugier in his Essai
Laugier em seu Essai sur l’Architecture, publicado pela sur l’Architecture, first published in 1753. The reflection
primeira vez em 1753. A reflexão parte das premissas starts from the author’s premises and opens to several
do próprio autor e se abre para várias possibilidades interpretative possibilities. His propositions are
interpretativas. Comparam-se suas proposições com compared with those of his contemporaries to present
as de seus contemporâneos, para apresentar uma a broader view of the period. Reflection as a method
visão mais ampla da época. A reflexão como método of knowledge, which since Saint Augustine is a way of
de conhecimento, que desde Santo Agostinho confi- organizing ideas and evaluating propositions, was the
gura uma forma de organizar ideias e avaliar proposi- method with which Laugier developed his theoretical
ções, foi o método com que Laugier desenvolveu sua research and is adopted in this article as well. Based
pesquisa teórica e é adotada neste artigo também. on a specialized bibliography, but without intending
Com base numa bibliografia especializada, mas sem a to exhaust the topic, the text highlights the complex
pretensão de esgotar o tema, o texto salienta a com- and varying sources supporting the abbot’s thought.
plexidade e a variedade das fontes que sustentam Finally, the article has two objectives: to present
o pensamento do abade. Finalmente, o artigo tem Laugier’s ideas concerning the cognitive field of the 18th
dois objetivos: apresentar as ideias de Laugier em century, especially on nature and simplicity, and from
relação ao campo cognitivo do século XVIII, em espe- an epistemological perspective, to resume reflection as
cial sobre os temas da natureza e da simplicidade, e, a critical practice, not necessarily from a disciplinary or
num viés epistemológico, retomar a reflexão como technical viewpoint, but an aesthetic one, considering
prática crítica, não necessariamente de um ponto the historical experience of Enlightenment.
de vista disciplinar ou técnico, mas estético, à luz da
experiência histórica da Ilustração.
PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura Clássica. Ilustração. Reflexão KEYWORDS: Architectural Theory. Architectural Treaties. Classical
Crítica. Teoria da Arquitetura. Tratados de Arquitetura. Architecture. Critical Reflection. Illustration.
INTRODUÇÃO
O SÉCULO XVIII foi pródigo em mudanças no pensamento europeu e, por meio
dele, no de vários outros lugares do mundo. Foi um século de importantes
revoluções, destacando-se a das colônias inglesas na América do Norte (uma
guerra de independência, marco para a modernidade) e a francesa (com desta-
que para a fase de La Terreur, marco do fim do Ancien Régime, ou ao menos do
início desse fim). Foi também um século moldado pelo pensamento filosófico,
que teve na Ilustração francesa (Lumières, nome criado a posteriori) seu modelo
mais conhecido, embora o fenômeno (com diferentes características) se tenha
alastrado além das fronteiras nacionais (Iluminismo, Illuminisme, Aufklärung,
Enlightenment, las Luces). Foi ainda o século em que o empirismo inglês se pro-
jetou no continente europeu e nas Américas (Locke, Newton e Hume), o século
da história da arte, o século da filosofia e o “século da crítica”, designação, que,
segundo E. Cassirer (1993, p. 304), inclui todas as outras. Mas, no caso que
nos interessa, foi o século da estética (aquela gnoseologia inferior apresentada
por Baumgarten), não só como ramo da filosofia, mas como consolidação da
preocupação com a arte como “actitud teórica” (FRANZINI, 2000, p. 74), para
além dos problemas da beleza metafísica ou teológica. É também um século
em que a razão, que dominara como força transformadora o XVII, influenciou o
panorama do entendimento humano (ao menos no Ocidente), de Descartes (no
XVII) até Kant, não só no campo das ciências, mas no da filosofia e no da religião.
Uma razão que devemos pensar como “objetiva”, no sentido dado por Adorno e
Horkheimer (1991), e que Rouanet (2005, p. 333) descreveu como uma razão
que, embora dominante, “permitia [...] recuperar a imagem de uma natureza
não-oprimida, e em certos momentos pensar projetos de libertação”. Para o
pensamento arquitetônico, se “[...] em meados do século XVII, praticamente,
já não é possível falar de uma teoria da arquitetura unitária” (KRUFT, 2016,
p. 316), no XVIII, as teorias se multiplicam e se dividem, compartilham pontos de
vista ou se combatem de forma bastante acirrada, dando um panorama muito
rico e instigante para a reflexão e o debate. Nessa era da razão e da sensibili-
dade, um estudioso da arquitetura que, sem ser arquiteto, se destacou por sua
contribuição ao pensamento arquitetônico – um amateur, para alguns autores
(SZAMBIEN, 1993) – foi o abbé Marc-Antoine Laugier.
SOBRE O AUTOR
Homme de lettres mais que clérigo1, Laugier pode ser considerado um pensador
de ampla formação literária e humanista, versado em filosofia, história e músi-
ca, entre outras ciências e artes do espírito, como atestam seus muitos livros.
Embora anonimamente, teve a oportunidade de publicar seu primeiro estudo
sobre arquitetura, o Essai sur l’Architecture (LAUGIER, 1753), num ambiente
(temporal, geográfico, espiritual e, sobretudo, cultural) fértil e receptivo às
novas ideias de simplicidade e de retorno a uma época idílica, perto do estado
SOBRE A OBRA
É interessante refletir sobre o Essai por várias razões; inicialmente, a histórica.
De acordo com Corboz (1978, p. 28 apud RODRÍGUEZ RUIZ, 1996, p. 104,
tradução nossa)5, “a bíblia dos arquitetos do século XVIII [...] estava nos tra-
tados de Cordemoy e Laugier”, que abre, em 1753, com “suas teorias sobre
o desenho das cidades [...] a investigação teórica da arquitetura iluminista”
(TAFURI, 1985, p. 13). Talvez por esse destaque dentro do pensamento ilus-
trado sobre arquitetura – mas não só, pois deve-se considerá-lo também um
dos textos importantes da construção do pensamento arquitetônico da própria
modernidade, como já reconheceu a crítica especializada. Ainda por ser um dos
poucos textos teóricos influentes, no âmbito profissional, redigidos à época
por não arquitetos, o que lhe dá um sentido extradisciplinar abrangente no
campo da cultura. Por razões disciplinares, porque a argumentação do abade
supera a prescritiva redução do fazer arquitetônico à cópia de modelos his-
tóricos, normalmente aceitos (e indicados) pelo costume, e põe em pauta o
questionamento das formas agradáveis (uma retomada das questões do gosto,
que não se haviam resolvido no século anterior e que se estenderiam até o
XX, se pensamos em autores como o historiador britânico G. Scott). Também
porque, professando um “racionalismo direto” (antecessor dos funcionalismos
do século XX), é considerado um precursor da “mentalidade romântica” do XIX
(KAUFMANN, 1974, p. 166), isto é, um autor que compartilha as visões da razão
e da sensibilidade que dominaram a época, mas, sobretudo, porque apresenta
NATUREZA E SIMPLICIDADE
Para uma aproximação com a visão de mundo de Marc-Antoine Laugier e do
cerne do século XVIII, vale a pena esclarecer as especificidades de conceitos
(disciplinares e metafísicos) que subjazem à legitimação da estrutura total de seu
discurso e que poderíamos chamar de narrativa conceitual8. A tarefa é relativa-
mente fácil, pois o próprio abade explica, mais de uma vez, que o fundamento
de todas as coisas está na natureza e, sendo esse o princípio primordial (único e
original), nada escapa a sua presença: “Na Arquitetura, como no resto das artes,
os princípios se fundamentam na simples natureza, e no proceder desta estão
claramente demarcadas as regras daquela” (LAUGIER, 1753, p. 10, grifo nosso,
tradução nossa)9. Uma afirmação que poderíamos considerar inscrita, por exem-
plo, nas chaves interpretativas desenvolvidas pelo filósofo Ch. Batteux (Les beaux
arts réduits à un même principe, 1746) como das mais antigas apontadas pelo
dramaturgo B. Le Bovier de Fontenelle (Digression sur les anciens et les modernes,
1688)10. Há, contudo, traços de uma origem aristotélica da noção de natureza
na exposição do abade, não só como pré-potência, que antecede toda potência
e todo ato, que funda o que sobrevirá, mas, sobretudo, no sentido do princípio
“produtivo” da dynamis (substância), que se opõe à morphe (forma) entendida
como imitação formal (MASIERO, 2003, p. 127).
Toda arte, toda ciência tem um objeto24 específico. Para atingi-lo, nem
todos os caminhos são igualmente bons; há apenas um que leva direta-
mente à meta; e é essa rota única que devemos conhecer. Em todas as
coisas, só existe uma maneira de fazer o bem. O que é a arte, senão essa
maneira fundada em princípios evidentes e aplicada ao objeto por preceitos
invariáveis? (LAUGIER, 1753, p. VII, tradução nossa, grifo nosso)25.
como vimos). Laugier não se detém na natureza só como princípio animista, mas
como resultado do método cartesiano, que necessita de uma fundamentação
verdadeira como base para a construção ordenada do mundo. “A norma e o
modelo que esse conceito [de natureza] estabelece não residem imediatamente
num determinado campo de objetos, mas no exercício livre e seguro das forças
cognitivas” (CASSIRER, 1993, p. 310, tradução nossa)30. Como afirma Tafuri
(1979, p. 198), “[...] a crítica operativa [...] é uma crítica ideológica [...] substitui
o rigor analítico por juízos de valor já constituídos, válidos para a ação imediata”.
Não se trata de uma característica dos objetos, mas da ação humana.
Laugier parece dar continuidade ao pensamento de Plotino (2003, p. 130),
que afirma que a única forma de encontrar o caminho certo é seguir o rastro da
luz que emana da origem: “De fato, a beleza ilumina todas as coisas [que estão
no intangível] e sacia aqueles que estão lá”. Poder-se-ia dizer que é o lúmen
divino que nos chega do Paraíso, onde o homem constituiu pela primeira vez
sua morada. E essa iluminação é revelada pela reflexão (Santo Agostinho). Certo
é que no Paraíso o homem não precisava de uma construção que lhe servisse
de morada – o própria Paraíso era essa morada –, mas guarda dessa sensação
uma lembrança que se desenvolve no resplendor que a simplicidade lhe propõe
como reflexo daquilo que perdeu.
NOTAS
1. Era jesuíta. Quando a Companhia de Jesus foi proibida (1762), tornou-se beneditino. Foi também
editor, historiador e diplomata.
2. A partir da publicação de Dijon discours sur les sciences et les arts. Genève: Chez Barillot&Fils, 1750.
3. No original: “Soane conocía bien los enseñamientos modernistas de Laugier”.
4. Mas foram publicadas partes do Essai nas revistas ArchDaily (São Paulo, 27 fev. 2014) e arq.urb
(São Paulo, n. 13, p. 171-182, jan./jun. 2015).
5. No original: “[...] la biblia de los arquitectos del siglo XVIII [...] estaba en los tratados de Cordemoy y
de Laugier”. CORBOZ, A. Peinture militante et architecture révolutionnaire: a propos du thème du
tunnel chez Hubert Robert. Basel, CH: Birkhäuser, 1978.
6. No original “J’ai refléchi long-tems fur tous ces différens effets. J’ai répété mes obfervations jufqu’à
ce que je me fois affûré que les mêmes objets faifoient toûjours fur moi les mêmes impreffions”.
Preserva-se a grafia original nesta e em todas as citações em língua estrangeira.
7. Sobre a “ambiguidade” entre uma prática dominadora e uma libertadora, ver Rouanet
(2005, p.332).
8. Destacando, além de suas qualidades teóricas, as de obra literária, atinentes a um tempo
historicamente determinado.
9. No original: “Il en eft de l’Architecture comme de tous les autres Arts: fes principes font fondés fur la
fimple nature, & dans les procédés de celle-ci fe trouvent clairement marquées les régies de celle-là”.
10. Ver Elio Franzini (2000, p. 161), que discute o pensamento de Batteux e de Fontanelle (FRANZINI,
2000, p. 32) no sentido aqui exposto.
11. Referimo-nos a L’Idea dell’Architettura Universale, publicado em Veneza em 1615, considerado o
último tratado do Renascimento (LAMERS-SCHÜTZE, 2003).
12. No original: “[...] la razón es la ley de la arquitectura que debe ser sencilla y estar en armonía con la
naturaleza”.
13. No original: “[...] una expresión artística, una emoción objetiva producida por el trabajo conjunto del
genio y del gusto”.
14. BLONDEL, J.-F. Cours d’Architecture: Traité de la décoration, distribution & construction des
bâtiments. Paris: Chez Desaint, 1772. v. III.
15. No original: “La simplicidad deriva del método de los geómetras”. E, para Scamozzi, a simplicidade
se conseguia com formas regulares, evitando sinuosidades e arabescos, uma evidente crítica ao
Barroco, como aponta Masiero (2003, p.125).
16. No original: “[...] la simplicidad es uno de los atributos esenciales de todo conocimiento desde Descartes”.
17. No original: “Il faut ramener graduellement les propositions embarrassées et obscures à de plus
simples, et ensuite partir de l’intuition de ces dernières pour arriver, par les mêmes degrés, à la
connaissance des autres”.
18. No original: “[...] il faut, dans chaque série d’objets, où de quelques vérités nous avons déduit d’autres
vérités, reconnoître quelle est la chose la plus simple, et comment toutes les autres s’en éloignent
plus ou moins”.
19. No original: “[...] en el siglo dieciocho, era difícil prescindir de un aparato teórico cartesiano [...]”.
20. Publicado como anexo à segunda edição do Essai sur l’Architecture (LAUGIER, 1753) e também
como “Resultat de la dispute entre le P. Laugier et M. Frézier, concernant le goût de l’architecture”,
Mercure de France, Paris, p.143-174, em maio de 1755. Frézier já havia polemizado com
Jean‑ Louis de Cordemoy e acusado Laugier de plagiá-lo, mas, na realidade, estava apenas
reiterando sua velha disputa com o abade. O texto de Amédée Frézier que deu origem à disputa
foi publicado como “Remarques sur quelques Livres nouveaux concernant la beauté & le bon goût
de l’architecture”, Mercure de France, Paris, p.7-59, em julho de 1754, mas assinado em Brest, em
11 de outubro de 1753.
21. No original “[...] el hombre posee una naturaleza moral y estética, cuyo órgano es el sentimiento [...]
la existencia de un sentido moral y estético no implica que los principios éticos y estéticos no sean
universales y absolutos y que deban ser educados por la razón”.
22. HERNÁNDEZ, A. Gründzüge einer Ideengeschichte der franzsischen Arkitektur theorie von 1560-
1800. Basel, CH: National-Zeitung, 1972.
23. No original: “[...] este objetivo puede alcanzarse mejor utilizando símbolos que representando
directamente la realidad”.
24. O autor se refere ao objeto no sentido de uma entidade (substância) que é definida dentro de
uma ciência ou de uma arte.
25. No original: “Tout art, toute fcience a un objet déterminé. Pour parvenir à cet objet, tout les routes
ne fauroient être également bonnes ; il n’y en a qu’une qui mené directement au but; & c’eft cette
route unique qu’il faut connoître. En toutes chofes, il n’y a qu’une manière de bien faire. Qu’eft ce que
l’art, finon cette manière établie fur des principes évidens, & appliquée à l’objet par des préceptes
invariables”.
26. No original: “[...] (1) qu’il y avoît dans l’Architedure des beautés effentielles, indépendantes de l’habitude
des fens, ou de la convention des hommes. (2) Que la compofition d’un morceau d’Architecture étoit
comme tous les ouvrages d’efprit, fufceptible de froideur & de vivacité, de jufteffe & de defordre.
(3) Qu’il devoit y avoir pour cet art comme pour tous les autres, un talent qui ne s’acquiert point,
une mefure de génie que la nature donne, & que ce talent, ce génie avoient befoin cependant d’être
affujettis & captivés par des loix”.
27. No original: “Rienn’est beau que le vrai”.
28. No original: “[...] tout ce que j’ai appellé beautés, licences, défauts, je l’aiconclu d’un principe simple,
clair & avoué de tout le monde”.
29. No original: “Por lo que respecta a la naturaleza, la simplicidad es prefigurada en el siglo XVII por el
principio pitagórico de la identidad de la naturaleza en todas las cosas, avanzado por F. Blondel y por
Ch. Perrault”.
30. No original: “La norma y el modelo que ese concepto [el de naturaleza] establece no reside, de inmediato,
en un determinado campo de objetos, sino en el ejercicio libre y seguro de fuerzas cognoscitivas”.
31. No original: “Confidérons l’homme dans fa première origine fans autre recours, fans autre guide que
l’inftinét naturel de fes befoins. Il lui faut un lieu de repos. Au bord d’un tranquille ruiffeau, il apperçoit
un gafon; fa verdure naifîante plaît à fes yeux, fon tendre duvet l’invite, il vient, & mollement étendu
fur ce tapis émaillé, il ne fonge qu’a jouir en paix des dons de la nature: rien ne lui manque, il ne défire
rien. Mais bientôt l’ardeur du Soleil qui le brûle, l’oblige à chercher un abri. Il apperçoit une forêt qui lui
offre la fraîcheur de fes ombres; il court fe cacher dans fon épaifleur, & le voilà content. Cependant mille
vapeurs élevées au hazard le rencontrent & fe ralfembîent, d’épais nuages couvrent les airs, une pluie
effroyable fe précipite comme un torrent fur cette forêt déiicieufe. L’homme mal couvert à l’abri de fes
feuilles, ne fçait plus comment fe défendre d’une humidité incommode qui le pénétre de toute part. Une
caverne fe préfente, il s’y gliffe, & se trouvant à fec, il s’applaudit de fa découverte. Mais de nouveaux
défagremens le dégoûtent encore de ce féjour. Il s’y voit dans les ténèbres, il y refpire un air mal fàin, il
en fort réfolu de fuppléer, par fon induftrie, aux inattentions & aux négligence de la nature. L’homme
veut fe faire un logement quï le couvre fans l’enfevelir. Quelques branches abbatues dans la forêt font
les matériaux propres à fon deffein. Il en choifit quatre des plus fortes qu’il élevé perpendiculairement.
Se qu’il difpofe en quarré. Au deffus il en met quatre autres entravers; & fur celles-ci il en élevé qui
s’inclinent, & qui fe réuniffïènt en pointe de deux côtés. Cette efpece de toit eft couvert de feuilles
affez ferrées pour que ni le foleil, ni la pluie ne puiffent y pénétrer; & voilà l’homme logé. Il eft vrai que
le froid & le chaud lui feront fentir leur incommodité dans fa maifon ouverte de toute part; mais alors
il remplira l’entre-deux des piliers, & fe trouvera garanti”.
32. No original: “Telle efl la marche de la fimple nature: c’eft à l’imitation de fes procédés que l’art doit fa
naiffance. La petite cabane ruftique que je viens de décrire, eft le modèle fur lequel on a imaginé toutes
les magnificences de l’ Architecture, c’eft en fe raprochant dans l’exécution de la fimplicité de ce premier
modèle, que l’on évite les défauts effentiels, que l’on faffit les perfections véritables”.
33. No original: “[...] la preeminencia del origen sagrado y el uso simbólico de la cabaña como lugar de
culto y altar de sacrificio”.
34. A imagem se encontra no volume 2 do Tratado que contém um facsímile do manuscrito original,
em páginas não numeradas descritas como tav. 4 (f. 5 r.).
35. O termo “modelo” admite várias interpretações; tomamo-lo aqui primeiramente porque Laugier
o usa e o entendemos em seu sentido albertino: o de “regra”, apontado por Françoise Choay
(2010, p. 161). Esse significado se justifica porque o abade propõe uma operação que promove
“espaços indefinidamente diferentes”, diversos, frente ao conceito de “modelo”, que, pelo menos
desde Quatremere de Quincy, tende “à duplicação”.
36. No original: “[...] la esencia de la arquitectura radica en su lógica constructiva, verdaderamente racional”.
37. Os desenhos do A Treatise on Civil Architecture, de William Chambers (LAMERS-SCHÜTZE, 2003,
p. 447), são muito semelhantes aos de Blondel, ainda que seja reconhecida a influência do
pensamento de Laugier nesse arquiteto inglês. Mas Chambers é arquiteto, razão pela qual deve
ter preferido usar como referência as imagens de outro arquiteto, e não as de um gravador no
livro de um clérigo.
REFERÊNCIAS
ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. 2. ed. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1991.
BOILEAU, N. Épitres, 1650 par Boileau. Théâtre Classique, 6 fev. 2015. Disponível em: http://www.
theatre-classique.fr/pages/programmes/edition_prose.php?t=../theorie/BOILEAU_EPITRES.xml.
Acesso em: 22 set. 2021.
CASSIRER, E. Filosofía de laIlustración. 3. ed. Ciudad de México: Fondo de Cultura Económica, 1993.
CHOAY, F. A regra e o modelo: sobre a teoria da arquitetura e do urbanismo. 2. ed. São Paulo:
Perspectiva, 2010.
DESCARTES, R. Règles pour la direction de l’esprit. In: COUSIN, V. (org.).Œuvre de Descartes. Paris:
F. G. Levrault, 1626. v. 11. Disponível em: http://www.philotextes.info/spip/IMG/pdf/rde_cousin.
pdf. Acesso em: 13 jul. 2021.
FILARETE (Antoniodi Piero Averlino). Trattato di Architettura. Milano, IT: Polifilo, 1972. 2 v. Disponível
em: http://biblioteca.fa.ulisboa.pt/images/livros/tr_5_R_10_100.pdf. Acesso em: 13 jul. 2021.
FRANZINI, E. La estética del siglo XVIII. Madrid: Antonio Machado, 2000. (Colección La Balsa de la
Medusa, Série Léxico de Estética).
LAUGIER, M.-A. Essai sur l’Architecture. 2. ed. Paris: Duchesne, 1755a. Disponível em: https://archive.
org/details/surlarchitecture00laug/page/n3/mode/2up?ref=ol&view=theater. Acesso em: 13 jul.
2021.
LAUGIER, M.-A. An essay on architecture. London: T. Osborne & Shipton, 1755b. Disponível em:
https://archive.org/details/essayonarchitect00laugrich?ref=ol&view=theater. Acesso em: 13 jul.
2021.
LAUGIER, M.-A. Essai sur l’Architecture. Paris: Duchesne, 1753. Disponível em: https://archive.org/
details/essaisurlarchite00laug/page/262/mode/1up?q=autre+guide. Acesso em: 13 jul. 2021.
MASIERO, R. Estética de la arquitectura. Madrid: Antonio Machado, 2003. 307 p. (Colección La Balsa
de la Medusa, Série Léxico de Estética).
PÉREZ CARREÑO, F. La estética empirista. In: BOZAL, V. (ed.). Historia de las ideas estéticas y de
las teorías artísticas contemporáneas. Madrid: Visor, 1996. v. 1. p. 30-45. (Colección La Balsa de la
Medusa, 80).
PLOTINO. Plotino, acerca da beleza inteligível (Enéada V, 8[31]). Kriterion, v. 44, n. 107, p. 110-
135, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/kr/a/qZm9M7ShydnsTfpn3rnpvhB/?lang=pt&
format=pdf. Acesso em: 13 jul. 2021.
RESTREPO HERNÁNDEZ, F. Ceci est montestament: Marc-Antoine Laugier. 577 f. Tesis (Doctorado
em Arquitectura) — Universidad Politécnica de Catalunya, Barcelona, 2010. Disponível em: https://
www.tdx.cat/handle/10803/109964?show=full. Acesso em: 13 jul. 2021.
RODRÍGUEZ RUIZ, D. Teorías de la arquitectura en el siglo XVIII. In: BOZAL, V. (ed.). Historia de las ideas
estéticas y de las teorías artísticas contemporáneas. Madrid: Visor, 1996. v. 1. p. 99-110. (Colección La
Balsa de la Medusa, 80).
ROUANET, S. P. As razões do Iluminismo. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
SHAFTESBURY, A. A. C. E. Characteristicks of Men, Manners, Opinions, Times. 3rd. ed. London: Simon
Gribelin, 1723. v. 1, A Letter concerning Enthusiasm. Sensus Communis; an Effay on the Freedom
of Wit and Humour. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=izIVAAAAQAAJ&pri
ntsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q=for%20all%20
beauty&f=false. Acesso em: 13 jul. 2021.
TAFURI, M. Teorias e história da arquitectura. Lisboa; São Paulo: Presença; Martins Fontes, 1979.
TATARKIEWICZ, W. Historia de seis ideas: arte, belleza, forma, creatividad, mímesis, experiencia
estética. 6. ed., reimpr. Madrid: Tecnos, 2001.