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LIVRO

UNIDADE 4

Sistemas de
telecomunicações
Noções de redes e
serviços integrados

Claudio Ferreira Dias


© 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer
modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo
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Distribuidora Educacional S.A.

2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário

Unidade 4 | Noções de redes e serviços integrados 5

Seção 4.1 - Rede telefônica 7


Seção 4.2 - Comunicações móveis 22
Seção 4.3 - Redes de comunicação de dados 37
Unidade 4

Noções de redes e serviços


integrados

Convite ao estudo

Caro estudante!

Gostaríamos de convidá-lo para a etapa final de seus estudos


na qual fechamos o conteúdo da disciplina. Nesta unidade
vamos fornecer noções sobre redes telefônicas, comunicações
móveis e rede de comunicação de dados. Queremos que tenha
um entendimento sobre o funcionamento da rede telefônica
pública baseada em rádio e fios. Além disso, vamos passar
noções sobre redes de computadores e seus elementos de
arquitetura e protocolos.

O prospecto das novas tecnologias emergentes do futuro


é bastante excitante, mas para qualquer um trabalhando ou
interessado em trabalhar na indústria de telecomunicações,
o futuro das carreiras em telecomunicações é a verdadeira
atração. A primeira razão disso é o grande mercado de
usuários da tecnologia de comunicações, significando um
grande número de postos de trabalho que estarão disponíveis
dedicados à manutenção de acesso para milhões de clientes.
Além disso, novas tecnologias abrem oportunidades para novas
carreiras em todos os estágios de desenvolvimento, manufatura
e distribuição de produtos de telecomunicações. Da mesma
maneira, abre-se espaço também para empreendedores que
desejam desenvolver software que explora novas tecnologias
para criar soluções originais. E o melhor de tudo, a atual projeção
para o futuro da telecomunicação significa uma coisa mais
importante: melhores oportunidades na carreira. No momento
em que as tecnologias de telecomunicações alavancam tanto
negócios como comunicação pessoal, esta profissão pode ter,
com certeza, sempre alguma necessidade nesta indústria.
Dentro do contexto desta unidade, vamos aprender os
vários sistemas atuais de comunicação. Na Seção 4.1 vamos
conhecer as típicas redes telefônicas e descobrir como estas se
desenvolveram das tecnologias analógicas para as digitais e de
grande escala. Na Seção 4.2, vamos estudar as comunicações
móveis e conhecer seus principais elementos. Vamos também
aprender como dimensionar uma rede móvel. Na Seção 4.3,
vamos estudar as redes de comunicação de dados. Vamos
conhecer elementos da arquitetura, protocolos e os modelos
típicos. Vamos também aprender particularidades sobre as
redes privadas e públicas. Vamos lá?

Você trabalha na Falamais empresa de telecomunicações e


acabou de ser promovido a Diretor de Tecnologia. Você tem
um grande desafio pela frente ao decidir sobre o futuro das
tecnologias com as quais a empresa trabalha. No momento,
você já começará a trabalhar em três projetos. Sua missão
será desenvolver soluções de sucesso para garantir o futuro da
empresa.

Vamos nessa? Boa sorte!


Seção 4.1
Rede telefônica

Diálogo aberto

Caro estudante!
Na seção anterior, você estudou os satélites. Começamos
introduzindo os conceitos básicos sobre os satélites. Descobrimos
que existem satélites naturais, artificiais e aprendemos as
características físicas que os definem. Em seguida, aprendemos os
tipos mais comuns de satélites e suas diversas funções relacionadas
com as áreas de telecomunicações; geolocalização; astronomia e
astrofísica; ciências da terra; atmosfera e clima. Classificamos estes
equipamentos pelo tipo de órbita e descrevemos as particularidades
de cada uma delas. Além disso, nos aprofundamos em questões de
projeto de enlaces de comunicação via satélite e terminamos a seção
estudando as particularidades dos tipos de acesso existente.
Nesta nova seção vamos estudar a classificação da rede telefônica.
Vamos, inicialmente, conhecer como funcionam os entroncamentos
telefônicos e como se desenvolveram para atender a uma grande
escala de assinantes. Em seguida vamos entender também as
hierarquias telefônicas que permitem agrupar um grande número de
canais em apenas uma via. Fechamos a seção falando sobre como
dimensionar a demanda por chamadas para uma central telefônica.
Como diretor da empresa Falamais Telecom você começa
encarando o primeiro desafio. Atualmente, a Falamais Telecom possui
um banco de sistemas antigos que funcionam com a hierarquia
digital plesiosíncrona. A tecnologia digital de hierarquia plesiosíncrona
utiliza fontes de sincronismo independentes e de alta precisão. O
antigo diretor tem orgulho dos equipamentos e essa era uma maneira
de convencer os investidores a permanecer com o sistema por ser
“tradicional” e “garantido”. Você sabe que este sistema é bastante caro
para ser mantido e necessita de um investimento bem maior para
conseguir uma expansão do sistema. O conhecimento desta seção
vai lhe preparar para ter novos argumentos que o antigo diretor não

U4 - Noções de redes e serviços integrados 7


tinha. Você terá a missão de apresentar suas novas ideias de maneira
efetiva e ainda convencer que há a possibilidade de fornecer serviços
de acesso wireless.
Vamos lá?

Não pode faltar


Em um sistema de comunicação bem definido, há três
componentes essenciais para a transferência efetiva de informação:
o dispositivo transmissor, o mecanismo de transporte e o dispositivo
receptor.
O mecanismo de transporte pode variar desde um sistema
simples de canal único até uma rede complexa de comunicação
consistindo de muitos circuitos, dispositivos de chaveamento e
outros componentes. Um sistema de comunicação pode carregar
informação em uma direção apenas (simplex), em ambas as direções
de maneira simultaneal (duplex ou full duplex), ou alternadamente
em cada direção (half duplex), como mostrado na Figura 4.1a. Pode
ser também uma comunicação ponto a ponto como em uma
conversação telefônica, ponto para multiponto como em difusão de
rádio ou TV, ou entre muitos pontos simultaneamente como no caso
de uma rede de computador conforme mostrado nos diagramas da
Figura 4.1b (KULARATNA; DIAS, 2004).

Figura 4.1 | Esquemas de comunicação: (a) Fluxo da informação, (b) Enlace entre
pontos

Fonte: elaborada pelo autor.

8 U4 - Noções de redes e serviços integrados


Quando surge uma necessidade de compartilhamento de
informações entre vários indivíduos, uma rede de comunicações
facilita a comunicação entre os usuários. A rede pode ter uma
infraestrutura limitada geograficamente como, por exemplo, uma
rede pública de telefonia comutada. Outro exemplo é de uma rede
que cobre uma pequena área em função de uma única organização,
tal como um sistema privado automático de comutação (PABX –
Private Automatic Branch Exchange). As redes de computadores mais
comuns que conhecemos hoje são as redes de área local (LAN – Local
Area Network) e funciona com comutação por pacotes (a ocupação
dura apenas o tempo da transferência de um pacote). Uma rede
de comutação de circuito, tal como uma rede pública de telefonia,
pode ser implantada como uma rede de comutação sob demanda
(a ocupação dura o tempo da necessidade de comunicação).
Quando surge necessidade de comunicação, os circuitos do sistema
são reservados para fazer uma ponte de comunicação ligando um
usuário A com outro usuário B. Dependendo do tamanho do sistema
pode não haver recursos suficientes e um possível usuário C poderá
experimentar o bloqueio. O bloqueio dura enquanto todos os
recursos da rede são utilizados por completo.

Reflita
Até agora apenas nos concentramos em cuidar dos problemas
relacionados a um enlace. E com relação a múltiplos enlaces? Reflita
sobre os possíveis problemas e soluções quando um sistema lida com
múltiplos enlaces.

A Figura 4.2 ilustra um exemplo de um sistema de comutação


simples de uma rede telefônica. Um dispositivo de comutação em
cada assinante habilita a apropriada seleção da linha sob demanda.
Desta forma, o mecanismo de transporte é um sistema complexo
de chaves e arranjos de circuitos. Esta mesma ideia e escalável
para grandes redes de telecomunicação com mais assinantes
(KULARATNA; DIAS, 2004).

U4 - Noções de redes e serviços integrados 9


Figura 4.2 | Diagrama de um sistema telefônico por comutação

Fonte: elaborada pelo autor.

Em uma rede pública de comunicações, o número de chaves e


sua localização são governados pelo número total e a distribuição
geográfica das estações que necessitam do serviço. A interconexão
entre os assinantes é por múltiplos circuitos, chamados troncos,
com capacidade suficiente para atender àquela demanda. Este pode
carregar múltiplas conversações simultaneamente usando técnicas
especiais de multiplexação e transmissão. Multiplexação se refere
ao agrupamento de várias conversas e transmissão refere-se ao
transporte destes grupos.
A sinalização é outro conceito importante em redes de
telecomunicações. Este conceito usa mensagens especiais para
estabelecer, manter, terminar e cobrar ligações. Avanços no
chaveamento, sinalização e transmissão capacitaram as modernas
redes de comunicações a manipular uma combinação complexa
de assinantes, sistemas e uma variedade de serviços avançados
(KULARATNA; DIAS, 2004).
No atual panorama de serviços de comunicação, os sistemas
podem ser divididos primariamente em rede pública de telefonia
comutada, rede pública de comunicação móvel e rede de dados
comutados em pacotes. Antes, havia sistemas antigos de telegrafia
e telefonia por voz. A evolução da eletrônica e computação permitiu
o surgimento dos sistemas modernos como a telefonia celular
e a internet. Nós estamos agora na era da informação, em que a
informação se tornou um ativo importante tanto para a comunidade
de negócios quanto para a sociedade em geral.
Até agora a nossa ênfase foi sobre o canal de comunicação,
técnicas de transmissão e controle de deficiências na recepção

10 U4 - Noções de redes e serviços integrados


sem tocar na questão sobre como manipular vários canais para
fazer interconexão entre dois ou mais pontos. Em uma rede de
comunicação, canais são estabelecidos entre usuários quando
necessário. O propósito fundamental é a troca de informação em
qualquer forma por um usuário com qualquer outro usuário da rede
(KULARATNA; DIAS, 2004).
A estrutura básica de uma rede consiste de chaves, ou
comutadores, interconectados por uma rede de transporte. Os
assinantes são conectados à via de comutação mais curta disponível
da rede. As funções de controle necessárias para estabelecer, manter
e desconectar comunicações sobre a rede são manipuladas pela
sinalização. A Figura 4.3 mostra um modelo de referência de uma
rede moderna. Comparando com uma versão mais antiga, os
sistemas modernos utilizam a inteligência da rede (sinalização) e o
gerenciamento de rede como funções mais centralizadas devido ao
alto nível de recursos de computação demandada por uma rede com
um grande número de assinantes (KULARATNA; DIAS, 2004).

Figura 4.3 | Modelo de referência de um sistema moderno de redes

Fonte: elaborada pelo autor.

A rede de acesso provê a conexão entre as instalações do assinante


e o local de comutação. As tecnologias utilizadas na rede de acesso
são a malha local básica e o acesso ao telefone fixo sem fio, a malha
do assinante digital, celular e fibra. Um exemplo de tipo de acesso
antigo é a malha local ou malha do assinante consistindo de um par
de fios que parte do comutador até cada assinante, carregando a
voz do assinante em forma analógica. Os componentes físicos que
compõem a malha local são chamados de rede de acesso. A malha
local de rádio (WLL – Radio Local Loop) é um termo genérico para
um sistema de acesso que utiliza um enlace wireless para conectar

U4 - Noções de redes e serviços integrados 11


assinantes aos seus locais de comutação no lugar de um par de fios de
cobre. Dependendo da infraestrutura existente de telecomunicações,
demanda por serviços e condição local de mercado, esta tecnologia
pode ser um substituto ou um complemento para a malha local. O
conceito do WLL pode ser estendido para permitir a livre mobilidade
do assinante enquanto acessa a rede de comunicações. A tecnologia
predominante de acesso móvel atualmente são os sistemas celulares,
os quais são na verdade redes de acesso para o sistema público de
telecomunicações (KULARATNA; DIAS, 2004).
Aquilo que faz com que o serviço de telefonia seja único é a
capacidade que este nos dá para comunicarmos uns com os outros
nas condições em que isso não seria possível. Esta seletividade faz
com que este serviço seja muito diferente da difusão, na qual todos
recebem o mesmo sinal. Cada assinante acessa o comutador mais
próximo. Todas as chamadas que são feitas pelos assinantes são
transportadas pelo mesmo canal de acesso. Entretanto, o percurso
total viajado pelo sinal de voz entre um assinante e outro é diferente
de uma ligação ponto a ponto. O canal de acesso é somente parte
deste circuito. Para alcançar o serviço pessoa-pessoa, os percursos de
transmissão devem ser rapidamente configurados e reconfigurados
por chaveamento e sinalização. Os antigos sistemas manuais se
desenvolveram através de tecnologias diferentes até se tornarem
sistemas sofisticados digitalmente distribuídos e controlados por
software. A inteligência para estabelecer funções de controle de
chamada é implementada através de mecanismos de sinalização.
Sinalização é o mecanismo que permite os componentes da rede
estabelecer, manter, terminar e cobrar as sessões em uma rede. O
sistema de sinalização acessa vários bancos de dados para obter
informações sobre como conectar por mais de uma via de comutação
(KULARATNA; DIAS, 2004).
Os enlaces de comunicação conectando chaves em um sistema
de comunicações formam a rede de transmissão ou transporte.
Estes consistem de instalações de comunicação de alta capacidade
capazes de transportar milhares de ligações multiplexadas
simultaneamente, constituído de uma combinação de cabos de
cobre, cabos de fibra óptica e enlaces terrestres e de satélite. A rede
de transmissão fundamentalmente provê um número suficiente
de canais de um comutador para outro. Comutadores usam estes
canais para chamadas que eles roteiam de um comutador para outro
(KULARATNA; DIAS, 2004).

12 U4 - Noções de redes e serviços integrados


Assimile
Lembrem-se, os componentes básicos para possibilitar a comunicação
através de uma rede podem ser categorizados conforme a seguinte lista:
• Acesso.
• Chaveamento e sinalização.
• Transmissão (transporte).

Os sistemas de chaveamento e transmissão do mundo foram se


convertendo gradualmente de sistemas analógicos para digitais no
final de 1970. O processo básico de digitalização da voz utilizado
é conhecido como modulação por código de pulso (PCM – Pulse
Coded Modulation) e sistemas que agrupam muitos canais de voz
em um único fluxo de dados é conhecido como multiplexação na
divisão do tempo (TDM – Time Division Multiplex). O PCM é um
processo de amostragem, quantização e codificação que converte a
conversação da voz em uma taxa padrão de 64-kbps. Este resultado
vem de um sinal que é amostrado a uma taxa de 8000 Hz. Estas
amostras são convertidas em pulsos e estes pulsos são associados
a um valor binário de oito bits através dos processos de quantização
e codificação. Uma vez digitalizados, voz e dados de várias fontes
podem ser combinados (multiplexados) e transmitidos em um único
enlace de alta velocidade. Este processo é possível devido ao TDM
que divide o link em 24 ou 30 intervalos de tempo discretos. Nos
Estados Unidos e Japão um sistema de 24 canais é conhecido
como T1 enquanto que um sistema de 30 canais é chamado de E1
(KULARATNA; DIAS, 2004).
Os sistemas PCM de 20 ou 30 canais são somente a primeira,
ou fundamental, ordem de multiplexação digital. Se for necessário
transmitir mais que 30 ou 24 canais, o sistema é construído
hierarquicamente e é chamada de hierarquia plesiosíncrona (PDH
– Plesiochronous Digital Hierarchy). Quatro sistemas primários E1
são multiplexados para formar uma saída com 120 canais. Essa é
chamada de segunda ordem de multiplexação ou, simplesmente, E2.
Similarmente, quatro sistemas E2 são multiplexados que resultam em
uma saída de 480 canais formando a terceira ordem de multiplexação
ou sistema E3. O Quadro 4.1 indica estes níveis com o correspondente
número de canais e taxas de bits (KULARATNA; DIAS, 2004).

U4 - Noções de redes e serviços integrados 13


Quadro 4.1 | Níveis com o correspondente número de canais e taxas de bits

Nível Número de canais Taxa de bit (Mbit/s)


Primeiro (E1) 30 2.048
Segundo (E2) 120 8.448
Terceiro (E3) 480 34.368
Quarto (E4) 1920 139.264
Quinto (E5) 7680 565.992

Fonte: elaborado pelo autor.

Sistemas plesiosíncronos não sincronizam chaves, mas apenas


utilizam relógios altamente precisos para todo o chaveamento de nós,
tal que a taxa de escorregamento entre os nós seja aceitavelmente
baixa. Uma vez que os relógios são independentes, a frequência entre
eles é ligeiramente diferente. Essa diferença faz com que haja uma
diferença de fase entre os relógios que aumentam com o tempo. Essa
relação da diferença de fase é chamada de taxa de escorregamento.
Este modo de operação é bem mais fácil se desenvolver e também
evita a distribuição do controle de tempo sobre a própria rede. Por
outro lado, redes plesiosíncronas carregam o fardo da necessidade
de se utilizar fontes de tempo independentes altamente precisas.
Apesar dos aspectos atraentes da multiplexação assíncrona, há
uma grande desvantagem. Se, por exemplo, um sistema de 140 Mbit/s
está operando entre duas grandes cidades, então não é possível
identificar e ganhar acesso a canais individuais em certos pontos
da rede. Em outras palavras, retirar e inserir algo no agrupamento
requer um procedimento completo de demultiplexação. Assim,
surgiu a multiplexação digital síncrona (SDH – Synchronous Digital
Multiplexing) para atender a estas deficiências. O padrão SDH define
taxas de transmissão, formato de sinal, estruturas de multiplexação
para as interfaces de nó da rede. A padronização do SDH é adequada
para o gerenciamento efetivo pelos operadores de rede do custo
do crescimento em largura de banda e previsão de novos serviços
para os clientes. A multiplexação SDH combina sinais digitais de baixa
velocidade como 2, 34 e 140 Mbps com a sobrecarga necessária
para formar um quadro chamado modulo síncrono de transporte
no nível 1 (STM-1). O quadro STM-1 possui nove seguimentos de 270
bytes cada. Os primeiros nove bytes de cada seguimento carregam
a informação de sobrecarga e os 261 bytes restantes transportam a
carga útil. A integração do serviço digital existente na hierarquia do
SDH opera com 125 microssegundos por quadro, isto é, são 8000

14 U4 - Noções de redes e serviços integrados


quadros por segundo. A capacidade de quadro pode ser calculada
como
Cquadro = 270bytes / linha × 9linhas / quadro × 270bits / byte = 19440 bits/quadro
A taxa de bit de um sinal STM-1 pode ser calculada como
C = Taxa de Quadro ×Cquadro
ou
C = 8000quadros / segundo ×19440bits / quadro = 155, 52 Mbit/s
Três níveis são padronizados para o SDH: STM-1, STM-4 e STM-
16. O sinal STM-4 deve ser criado pelo entrelaçamento entre 4 sinais
STM-1. A taxa básica do quadro permanece de 8000 quadros por
segundo, mas a capacidade é quadruplicada resultando em uma taxa
de bit de 4 × 155, 52 ou 622,08 Mbit/s (KULARATNA; DIAS, 2004).

Pesquise mais
A dificuldade para se realizar os cálculos com a fórmula de Erlang
levou a elaboração de tabelas em que é possível consultar facilmente
a probabilidade de bloqueio em relação à intensidade de tráfego e o
número de canais para escoar. Pesquise mais sobre essa tabela no Livro
“Sistemas Telefônicos” no Capítulo 3 (JESZENSKY, 2004). Esta tabela será
importante para acelerar a solução dos exercícios desta seção.

A teoria de tráfego telefônico tem o objetivo de dimensionar a


maneira mais eficiente de utilizar os recursos da rede telefônica.
Determinar o número de linhas que interligam duas centrais
telefônicas é um exemplo de dimensionamento de troncos. O
objetivo é determinar quantos troncos são necessários para atender
de maneira satisfatória à demanda dos usuários por ligações.
Levantamos também a questão da qualidade de serviço que significa,
por exemplo, qual a probabilidade de haver uma chamada perdida em
certo número de chamadas realizadas. Sabemos que a ocorrência
de chamadas telefônicas é aleatória, podendo ocorrer em qualquer
instante, assim como a duração de uma conversação. Desta maneira,
torna-se necessário caracterizar as medidas de tráfego telefônico.
O volume do tráfego telefônico é a soma dos tempos ocupados
durante as conversações em um grupo de enlaces. Seja ti os tempos

U4 - Noções de redes e serviços integrados 15


de ocupação de um enlace. O volume de tráfego pode ser calculado
por
Y = ∑ ti .
i =1

O volume de tráfego indica apenas a quantidade de ocupação da


linha e não o grau de utilização. Temos que a intensidade de tráfego
durante um período de tempo T é a soma das durações de tempo
de ocupação dividida por T (FREEMAN, 2005). Podemos escrever a
intensidade de tráfego como

∑t i
.
A= i =1

T
A unidade da intensidade de tráfego é o Erlang (E) em homenagem
ao matemático dinamarquês Agner Krarup Erlang. Ele desenvolveu
uma fórmula para solucionar o problema da quantidade de linhas
telefônicas necessárias a serem instaladas para interligar as centrais
de duas cidades vizinhas. A fórmula é conhecida como Erlang B e
pode ser escrita como

AN
Pb = NN ! i
A
∑i =0 i !

em que A representa o tráfego oferecido, N é o número de canais


para escoar o tráfego e Pb é a probabilidade de bloqueio da chamada
(FREEMAN, 2005).

Exemplificando
Vamos considerar que uma empresa possua 100 ramais. A seguinte
tabela revela informações importantes sobre o movimento de chamadas.
Origem Nº de chamadas Duração
Vendas 30 3 minutos
Suporte 5 15 minutos
Recebidas 10 3 minutos

Podemos calcular o tráfego intensidade de tráfego como

16 U4 - Noções de redes e serviços integrados


30 × 3 + 5 ×15 + 10 × 3
A= = 3, 25 Erlangs
60

Sem medo de errar

Este é o momento de você se preparar para apresentar suas ideias


para os investidores que desejam que a empresa Falamais Telecom
tenha expansão de sucesso. Sabemos que em uma rede pública
de comunicações a quantidade total de recursos é governada pelo
número total e a distribuição geográfica das estações que necessitam
do serviço. Estas estações são projetadas para fazer a interconexão
entre os assinantes por múltiplos circuitos com capacidade
suficiente para atender a certa demanda. Uma maneira de carregar
múltiplas conversações simultaneamente é utilizando técnicas de
multiplexação. A multiplexação é uma técnica em que se agrupam
vários canais e os transmitimos através de apenas uma linha.
Aprendemos também que um canal básico utiliza codificação
PCM. Vimos que o PCM é um processo de amostragem, quantização
e codificação que converte a conversação da voz em uma taxa
padrão de 64 kbps. Uma vez que o canal esteja digitalizado, podendo
carregar voz e dados de várias fontes, este canal pode ser combinado
(multiplexado) e transmitido em um único enlace de alta velocidade.
Isso é possível devido à multiplexação no domínio do tempo (TDM)
que divide o link em 24 ou 30 (dependendo da tecnologia) intervalos
de tempo discretos. Nos Estados Unidos e Japão um sistema de 24
canais é conhecido como T1 e na Europa um sistema com 30 canais
é conhecido como E1. A Figura 4.4 ilustra um conceito típico de
transmissão utilizando multiplexação.

U4 - Noções de redes e serviços integrados 17


Figura 4.4 | Conceito típico de transmissão TDM/PCM

Fonte: elaborada pelo autor.

Conforme já vimos, os sistemas PCM de 24 ou 30 canais são


somente a primeira, ou fundamental, ordem de multiplexação digital.
Para uma quantidade maior de canais um sistema hierárquico pode
ser construído. A primeira hierarquia, atualmente utilizada na empresa,
é a plesiosíncrona (PDH – Plesiochronous Digital Hierarchy). Já demos
um exemplo em que quatro sistemas primários E1 são multiplexados
para formar uma saída com 120 canais. Essa é chamada de segunda
ordem de multiplexação ou, simplesmente, E2.
Posteriormente discutimos que sistemas plesiosíncronos não
sincronizam chaves, mas apenas utilizam relógios altamente precisos
para todo o chaveamento de nós tal que a taxa de escorregamento
entre os nós seja aceitavelmente baixa. Note que a expansão de
um sistema desta tecnologia exige uma precisão cada vez maior,
pois a taxa de escorregamento aumentará com a complexidade do
sistema. A vantagem direta deste modo de operação é a facilidade
de desenvolvimento e não é preciso distribuir controle de tempo
sobre a própria rede. Por outro lado, redes plesiosíncronas carregam
o fardo da necessidade de se utilizar fontes de tempo independentes
altamente precisas e os componentes necessários para alcançar
uma taxa de escorregamento aceitavelmente baixa aumenta com a
complexidade do sistema.
Logo em seguida, vimos que existem alternativas bastante atrativas
para os sistemas plesiosíncronos. A multiplexação digital síncrona
(SDH – Synchronous Digital Multiplexing) supre certas deficiências do
sistema PDH. O padrão SDH define taxas de transmissão, formato de
sinal, estruturas de multiplexação para as interfaces de nó da rede.
A padronização do SDH é adequada para o gerenciamento efetivo
pelos operadores de rede do custo do crescimento em largura de
banda e previsão de novos serviços para os clientes. Outra vantagem
evidente do SDH é a capacidade de se ganhar acesso a um canal

18 U4 - Noções de redes e serviços integrados


dentro do agrupamento. Em outras palavras, retirar e inserir algo no
agrupamento sem a necessidade de um procedimento completo de
demultiplexação. A multiplexação SDH combina sinais digitais de baixa
velocidade como 2, 34 e 140 Mbps com a sobrecarga necessária para
formar um quadro chamado módulo síncrono de transporte no nível
1 (STM-1).
As desvantagens do PDH já eram conhecidas desde 1980 quando
se começou a pensar na padronização no sistema de sincronização
do SDH. Na padronização, acordou-se que as taxas de bit seriam
unificadas para fazer com que a sincronização dos novos sistemas
pudesse ser interfaceada entre os sistemas T1 e E1. Assim, a substituição
de equipamentos seria gradativa gerando economia na expansão e
manutenção do sistema.

Avançando na prática

Planejamento de PABX

Descrição da situação-problema
A Falamais Telecom foi contratada para planejar um sistema
de PABX para a empresa VendeMais. O perfil da hora de maior
movimento desta empresa é descrito de acordo com o quadro a
seguir medida pelo período de uma hora.

Origem Nº de chamadas Duração


Vendas 238 5 minutos
Financeiro 30 20 minutos
Suporte 50 15 minutos

Calcule a quantidade de linhas necessárias para que se tenha


uma taxa de bloqueio de apenas 2%.

Resolução da situação-problema
Devemos começar resolvendo este problema calculando a
intensidade de tráfego de acordo com os dados oferecidos pela
tabela como

U4 - Noções de redes e serviços integrados 19


238 × 5 + 30 × 20 + 50 ×15
A= = 42, 3 Erlangs
60
Em seguida, utilizamos a fórmula de Erlang B para calcularmos
a quantidade de linhas necessárias para uma probabilidade de 2%.
Logo, Pb = 0, 02 .
Sendo a fórmula de Pb complexa de ser formulada, devemos
consultar a tabela Erlang B. De acordo com a tabela em (JESZENSKY,
2004), temos que para Pb = 0, 02 e uma intensidade de tráfego
A = 42, 3 a quantidade de linhas necessárias é de 53.

Faça valer a pena

1. O mecanismo de transporte pode variar desde um sistema simples


de canal único até uma rede complexa de comunicação consistindo de
muitos circuitos, dispositivos de chaveamento e outros componentes. A
comunicação de um dispositivo com o outro pode acontecer de diversas
maneiras podendo ser simultânea ou não.

Qual é a alternativa correta que representa o modo de comunicação de


um telefone de linha.

a) Simplex.

b) Monoplex.

c) Full Duplex.

d) Half Duplex.

e) Triplex.

2. Muitas vezes, o projetista de sistemas de telecomunicações foca nos


problemas exclusivos do canal como distorção do sinal ou degradação
pelo ruído. A manipulação de vários canais também é um problema muito
importante.

De acordo com o texto, marque a alternativa correta sobre o tipo de


comunicação de um sistema de difusão de rádio na ordem de transmissão
para recepção.

a) Um ponto para múltiplos pontos.

20 U4 - Noções de redes e serviços integrados


b) Muitos pontos para poucos pontos.
c) Muitos pontos para um ponto.
d) Um ponto para outro ponto.
e) Poucos pontos para muitos pontos.

3. Uma rede de telefone pode possuir um tamanho variado. Quando


surge uma necessidade de compartilhamento de informações entre vários
indivíduos uma rede de comunicações facilita a comunicação entre os
usuários. A rede pode ter uma infraestrutura limitada geograficamente
como, por exemplo, uma rede pública de telefonia comutada.
Qual das alternativas a seguir representa um sistema utilizado como um
sistema privado para comunicações internas a uma empresa.
a) TDD.
b) SSDI.
c) PHDA.
d) PABX.
e) EPS.

U4 - Noções de redes e serviços integrados 21


Seção 4.2
Comunicações móveis

Diálogo aberto

Caro estudante!
Na seção anterior, você estudou a classificação da rede telefônica.
Inicialmente, conhecemos como funcionam os entroncamentos
telefônicos e como se desenvolveram para a tecnologia digital para
atender a uma grande escala de assinantes. Depois, entendemos
também as hierarquias telefônicas que permitem agrupar um grande
número de canais em apenas uma via. Finalmente, fechamos a seção
falando sobre como dimensionar a demanda por chamadas para
uma central telefônica.
Nesta nova seção vamos descrever as principais características dos
sistemas de comunicação celular. Vamos apresentar os componentes
básicos que constituem uma rede de celulares e vamos entender
como funcionam as estações rádio base, as estações móveis e a
infraestrutura, que controla as chamadas de usuário para usuário.
Vamos apresentar também noções sobre o dimensionamento do
sistema celular. Vamos fechar a seção falando sobre as várias gerações
de sistemas de celular e suas características mais importantes.
Seu último desafio na empresa FalaMais Telecom foi superado
com muito sucesso. A FalaMais Telecom possui agora um banco
de sistemas renovados com tecnologia digital. O próximo passo
importante será a implementação de um importante projeto para a
expansão da rede de acesso móvel em uma nova região da cidade.
Você vai precisar dimensionar a nova rede celular sabendo que a
interferência média de cocanal é de 18 dB, o expoente de atenuação
daquela região é de 5 vezes, o número de interferentes efetivos é de
dois e que a área de cobertura é de 64 km². O projeto orçamentário da
FalaMais para a nova rede contempla a instalação de até 15 estações
rádio base e há uma disponibilidade de 100 canais.
Vamos lá?

22 U4 - Noções de redes e serviços integrados


Não pode faltar

Os sistemas de acesso sem fio são atualmente muito importantes


para a sociedade. O sistema celular de comunicação leva ao usuário
uma liberdade flexível de se comunicar por longas distâncias dentro
de uma determinada área. Além disso, com o advento do acesso à
internet, essa flexibilidade também se estende ao acesso à informação.
Em relação aos sistemas convencionais de comunicação, o acesso
sem fio faz com que o custo por conexão seja mais uniforme variando
menos com a distância e a densidade de assinantes. Muitos serviços
novos são frequentemente impedidos de serem entregues para os
clientes devido à limitação de desempenho da planta de acesso por
fios de cobre. Um assinante pode obter serviço em um tempo muito
menor pelo sistema sem fio em relação ao sistema convencional por
cabos.

Reflita
A tecnologia móvel facilita a vida das pessoas e participa de nosso
cotidiano de forma quase invisível (Utilizamos a internet móvel para
realizar pagamentos ou acessar informações diversas). Mas, e o aspecto
negativo? Tome um tempo para refletir sobre questões relacionadas
com a segurança e a privacidade. Qual é o impacto destes aspectos na
sociedade?

Entretanto, há algumas desvantagens sobre os sistemas sem fio


que devem ser ponderadas. Sistemas sem fio requerem equipamentos
sofisticados, um plano elaborado, medidas de campo e pesquisas.
A situação é ainda mais complicada por burocracias associadas
ao espectro, problemas de propagação de rádio e a demanda por
acesso à internet e serviços de multimídia exigindo a existência de
uma largura de banda muito maior que aquela existente no serviço
de voz tradicional.
Um sistema básico de celular é ilustrado pelo diagrama de blocos
da Figura 4.1 mostrando um modelo simples de um sistema de acesso
sem fio e seus três componentes básicos (KULARATNA; DIAS, 2004).

U4 - Noções de redes e serviços integrados 23


Figura 4.5 | Diagrama de blocos básico de um sistema celular

Fonte: elaborada pelo autor.

A função da estação rádio base é de controlar o tráfego mensagens


de usuário (voz, imagens ou dados) para transmissão e/ou recepção
em canal de rádio permitindo que haja o estabelecimento de circuitos
sem fio entre o assinante e a rede. A estação rádio base, ou local da
célula, é um transceptor que irradia sinal sobre sua área de cobertura.
O tamanho da área coberta pode se estender por algumas centenas
de metros até dezenas de quilômetros irradiando sinal omnidirecional
ou por setores. Sistemas modernos sem fio utilizam um sofisticado
sistema adaptativo de direcionamento de sinais para operar em um
ambiente altamente congestionado. Feixes de sinais estreitos podem
ser transmitidos para usuários em localizações geográficas diferentes.
As estações base são ligadas a um centro de comutação móvel e
uma rede de controle via enlaces de alta capacidade (KULARATNA;
DIAS, 2004).
A rede de controle gerencia inteiramente a operação do sistema
de acesso sem fio, provendo a interconexão entre a rede interna e
as redes externas. Este determina a associação de circuitos individual
para assinantes e monitora o desempenho do sistema. As redes
externas a que o sistema de acesso sem fio pode se conectar são
a rede de telefone pública comutável, uma rede privada local ou a
internet (KULARATNA; DIAS, 2004).
Um sistema de celular é um sistema terrestre de alta capacidade
no qual o espectro de frequência disponível é particionado em canais

24 U4 - Noções de redes e serviços integrados


discretos e associados em grupos para células que cobrem uma área
geográfica de serviço. Os grupos de canais podem ser reutilizados em
células diferentes dentro da área de serviço. Todos os móveis dentro
da célula se comunicam com a estação base. Os transmissores em
células adjacentes operam em frequências diferentes para evitar
interferência. Como a potência de transmissão e a altura da antena em
cada célula é relativamente baixa, células que estão suficientemente
afastadas podem reutilizar as mesmas frequências sem causar
interferência de cocanal inaceitável. O propósito principal para definir
células em um sistema de comunicação é delinear áreas nas quais
canais específicos serão utilizados. Uma quantidade de confinamento
geográfico razoável do uso de canal é necessária para prevenir
interferência. Um diagrama da frequência de reuso é ilustrado na
Figura 4.6a. Na prática, a célula não corresponde à perfeita geometria
celular devido às características de terreno e obstruções. Entretanto,
devido ao propósito de planejamento, a consideração de uma
estrutura regular de células é necessária. O formato regular poligonal
cobre uma área sem que haja espaços vazios ou superposição do
sinal e, portanto, é melhor que a forma circular que pode levar a
ambiguidades em cobertura (KULARATNA; DIAS, 2004).

Figura 4.6 | Diagrama da frequência de reuso em sistemas celulares e divisão de


células

Fonte: elaborada pelo autor.

Aqui, as células contendo as mesmas letras usam as mesmas


frequências e são chamadas de células de cocanal. Um grupo de
células utilizando todas as frequências disponíveis é chamado de
cluster. Através do reúso de frequência, um sistema celular em uma
área de serviço pode manipular um número de ligações simultâneas
muito superiores ao número total de canais alocados. Se houver a
necessidade de crescimento de tráfego no interior da célula, então

U4 - Noções de redes e serviços integrados 25


uma revisão é necessária para avaliar os limites da célula tal que a
área da célula possa formar múltiplas células. A Figura 4.6b mostra
diferentes estágios da divisão de células (KULARATNA; DIAS, 2004).
No padrão de reúso, todas as células de cocanal são equidistantes
uma da outra. Para alcançar isso, o padrão de reuso deve satisfazer:

N = i 2 + j 2 + ij (4.1)

onde i e j são inteiros tais que i, j ≥ 0 . Estes são chamados de


parâmetros de deslocamento. A Figura 4.7 mostra clusters ou padrões
de frequência de reúso para os tamanhos 3, 4 e 7.

Figura 4.7 | Representação de clusters para diferentes parâmetros de deslocamento

Fonte: elaborada pelo autor.

A relação entre a distância entre os centros de células de cocanal


vizinhas, representado por D, e o tamanho do raio da célula,
representado por R, é chamado de taxa de reuso de cocanal e é
relacionado ao padrão de uso por
D (4.2)
= 3N
R
Em sistemas práticos, a escolha de N é governado por certas
considerações na interferência de cocanal. Uma medida comum
de interferência é a relação portadora/interferência (CIR – Carrier to
Frequency Interference). A medida em que N aumenta, a separação
D
relativa entre as células de cocanal aumenta e, consequentemente,
R
a CIR reduz. Entretanto, ao mesmo tempo, o reúso de frequência
geográfico se torna menor. Portanto, a seleção de N se torna
um compromisso importante entre a qualidade e a capacidade
(KULARATNA; DIAS, 2004).

26 U4 - Noções de redes e serviços integrados


Assimile
Lembre-se, células devem estar separadas o suficiente para evitar a
interferência de cocanal. Por outro lado, essa separação tem um limite
para que haja uma distribuição geográfica de frequências adequada.

A transição entre as células é um processo importante para permitir


a mobilidade do assinante e é chamado de transferência (handoff).
Desta forma, é possível transferir uma ligação de uma célula para outra
sem interrupção enquanto a ligação está em progresso. Este processo
envolve o monitoramento da potência do sinal e uma transferência
suave para outro canal em uma célula diferente. Durante uma
chamada, a estação base em serviço monitora a força e a qualidade
do sinal do aparelho móvel através do CIR. Se o CIR cai abaixo de um
nível predeterminado, este requisita o processo de transferência para
a chamada corrente. Se outra estação base reportar que existe uma
CIR melhor que a estação base em serviço, o sistema encontra um
canal livre para que a chamada seja transferida e informa isso para a
estação base que está solicitando o processo de handoff. Um sinal de
mensagem é enviado ao móvel pelo canal de voz a partir da estação
base em serviço solicitando que o aparelho móvel sintonize para um
novo canal de voz. O móvel sintoniza para um canal novo enquanto
o sistema comuta a chamada para a nova estação base. A interrupção
e a mudança do canal de voz são imperceptíveis para o usuário. Um
processo de handoff efetivo é confiável é uma característica essencial
para um sistema de celular. Quando a estação base detecta que a
potência do aparelho móvel diminui progressivamente, esta requisita
ao móvel que aumente seu nível potência de transmissão. Isso
assegura que todas as transmissões dentro de uma célula utilizam
os níveis mínimos de potência necessários em um dado tempo, o
qual diminui significativamente a interferência média de cocanal.
Handoff deve ser iniciado somente quando a potência do sinal se
torna menor que um nível no qual um móvel está transmitindo em
seu nível máximo de potência (KULARATNA; DIAS, 2004).
O sistema de celular deve funcionar bem em um ambiente não
muito amistoso. Em ambientes urbanos, em que a densidade de
assinantes é alta, a linha de visada é um luxo que o projetista de

U4 - Noções de redes e serviços integrados 27


sistema não pode contar. O sinal de rádio está sujeito a vários efeitos
provocados pela presença de muitas estruturas produzidas pelo
homem e outros corpos grandes que refletem e obstruem. Podemos
fazer uma classificação geral destes efeitos como (KULARATNA; DIAS,
2004):
• Propagação por múltiplo percurso e desvanecimento.
• Perda por percurso.
• Interferência.
A recepção, na realidade, é o resultado de muitos sinais viajando
via múltiplos percursos que têm comprimentos diferentes e
chegam com fases diferentes. Como resultado, os sinais podem
se somar construtivamente em certa posição e destrutivamente
logo adiante. Isso causa uma mudança rápida da potência do sinal
recebido na medida em que o aparelho móvel se desloca. Esse
efeito é denominado de desvanecimento de multipercurso e causa a
degradação no sinal que depende da relação entre a largura de banda
do sinal e as características de desvanecimento do ambiente. Estes
problemas podem ser combatidos com o uso de equalização de
canal ou a utilização de múltiplas antenas. Podemos dizer que o sinal
recebido é a combinação de dois efeitos principais: o desvanecimento
de grande escala (lento) e o de pequena escala (rápido). Para ilustrar o
resultado destes efeitos tomamos um sinal recebido particionado em
duas partes como:
r (t ) = m(t )r0 (t ) (4.3)
A Figura 4.8 mostra o sinal recebido particionado em
desvanecimento rápido e lento.

Figura 4.8 | Representação do sinal devido ao desvanecimento por múltiplos


percursos

m (t) r0 (t)
r (t)

Fonte: elaborada pelo autor.

28 U4 - Noções de redes e serviços integrados


As funções m(t ) e r0 (t ) são as componentes de desvanecimento
lento e rápido, respectivamente. m(t ) é obtido calculando se a média
local em cada ponto e r0 (t ) é obtido subtraindo-se m(t ) de r (t ) . O
aparelho móvel que se desloca em uma área ampla deve processar
os sinais que experimentam ambos os tipos de desvanecimento. A
manifestação do desvanecimento depende da natureza física do
ambiente, as características do sinal sendo transmitidos e a mobilidade
do usuário (KULARATNA; DIAS, 2004).

Exemplificando
O efeito do desvanecimento pode ser observado de maneira muito
simples. Por exemplo, ao viajar de carro é possível perceber variações
rápidas do sinal quando se sintoniza uma estação de FM, que se distancia
na medida em que o carro se desloca. Nesta escala, o desvanecimento
é provocado pelo sinal refletido por obstáculos presentes na região e
a combinação construtiva ou destrutiva das frentes de onda resulta no
efeito de vai e vem do volume de áudio recebido pelo rádio.

No espaço livre, a amplitude do sinal de rádio segue uma lei bem


conhecida como a lei do inverso do quadrado da distância e pode ser
expressa como:
L = 32 + 20 log f MHz + 20 log d km (4.4)
d
onde L é a potência do sinal à distância km em relação ao transmissor
e f MHz é a frequência da onda de rádio. Note que o último termo da
equação (4.4) mostra que a perda de percurso aumenta por um fator
de 20 dB para um aumento de dez vezes na distância. Infelizmente,
o ambiente para um sistema celular é bem diferente do ambiente
do espaço livre. A perda por percurso para um ambiente celular
normalmente é modelada como:
L = n log d m − 20 log hT hR + β (4.5)
onde n é um expoente de propagação (3 ≤ n ≤ 6 ), hR e hT são
as alturas das estações móveis e estação base, respectivamente.
L = n log d m − 20 log hT hR + β está relacionado com a dependência
pela frequência, irregularidades de superfície, obstáculos da linha de
visada, estruturas urbanas, vegetação e características do terreno.
O expoente de propagação, geralmente determinado através de

U4 - Noções de redes e serviços integrados 29


medidas em campo, pode resultar em valores de atenuação entre 30
e 60 dB/década e tem relação com o termo β (KULARATNA; DIAS,
2004).
A interferência de cocanal em sistemas celulares é outro aspecto
de grande importância. A frequência de reúso inevitavelmente provoca
interferência em sistemas celulares. Nós mostramos anteriormente
que quanto mais apertada for a frequência de reúso (por exemplo, um
padrão de reúso N menor), maior será o número de canais disponíveis
em uma dada área geográfica. Entretanto, com a diminuição de N ,
a interferência de cocanal se tornará mais forte devido à diminuição
da distância de reúso. O desafio é, portanto, obter o menor valor de
N possível para satisfazer os requisitos de desempenho do sistema
(KULARATNA; DIAS, 2004).
Um parâmetro que determina o desempenho do sistema de
celular é a CIR. A potência de portadora se relaciona a um sinal
que o móvel recebe da estação rádio base em sua própria célula. A
interferência consiste na somatória de todos os sinais que este recebe
das células de cocanal. A média da razão de interferência de cocanal,
C
referida como nas seguintes equações, em um ambiente celular
I
pode ser expressa como:
n
D
C  R  (4.6)
=
I NI
D
em que é a taxa de reúso, n é o expoente de propagação e
R
N I é o número significativo de interferentes de cocanal. Utilizando a
equação (4.2) podemos reescrever a equação (4.6) como

( )
n
C 3N
= . (4.7)
I NI
Portanto,
2
1    C   
1/ n

N =  N I    . (4.8)
3    I   
C
Esta é uma relação importante entre a qualidade do sinal eo
I
30 U4 - Noções de redes e serviços integrados
padrão de reuso N usado na busca pelo menor padrão de reúso
possível necessária à qualidade do sinal. Entretanto, N deve ser o
menor inteiro satisfazendo a equação (4.1) também (KULARATNA;
DIAS, 2004).
Houve várias gerações de sistemas de celular desde o surgimento
do primeiro equipamento móvel. A primeira geração de sistema de
celular era chamada de sistema de telefone móvel avançado (AMPS
– Advanced Mobile Phone System), que operava com sistemas
analógicos permitindo apenas a transmissão de voz. As características
avançadas implementadas para este sistema foi a possibilidade
de obter conectividade em áreas fora da localidade geográfica de
registro (roaming) e a transição entre células de forma imperceptível.
A segunda geração de sistemas de celular (2G) utilizou transmissão
de voz digital pela interface aérea devido aos avanços da codificação
de voz. Além disso, avanços na tecnologia de circuitos integrados em
larga escala e no hardware de processamento digital de sinais auxiliou
o complexo, e ainda compacto, sistemas eficientes em conservação
de energia ser construídos por um baixo custo. A motivação inicial
para o desenvolvimento da segunda geração de sistemas celulares
foi a melhoria da capacidade de manipular a demanda excessiva por
serviços móveis. A terceira geração de sistemas celulares (3G) focou
na melhora significativa dos serviços que necessitam de uma internet
rápida. Além do objetivo de aumentar a velocidade da comunicação,
o novo projeto de sistema focou principalmente o acesso a serviços
como ligação por vídeo, transmissão ao vivo, acesso à internet
móvel confiável e TV por internet. A promessa para esse sistema
seria a de alcançar uma velocidade mínima de 2 Mbit/s para usuários
estacionários ou que caminham e 348 kbit/s dentro de um veículo
em movimento. Em seguida, a quarta geração de sistema celular
(4G) focou no aumento da capacidade e na qualidade de serviço
prometendo acesso de banda larga sem fio e conteúdo de TV de alta
definição. O sistema passou a ser implantado totalmente sobre uma
arquitetura IP com uma capacidade de taxa de dados entre 100 Mbit/s
até 1 Gbit/s em ambientes internos e externos. Até este momento a
quinta geração de sistemas celulares (5G) está sendo desenvolvida
e contempla atender a uma demanda de usuários, capacidade,
segurança e qualidade muito superior quando comparado com as
gerações anteriores (RODRIGUEZ, 2015).

U4 - Noções de redes e serviços integrados 31


Pesquise mais
A telecomunicação é a engrenagem do desenvolvimento da tecnologia
e ciência moderna. Mas realmente necessitamos da nova geração de
sistemas móveis 5G? Será que o sistema 4G não seria o suficiente?
Pesquise mais sobre este assunto no artigo Next Generation: 5G, the
Nanocore. Neste artigo, você vai encontrar detalhes sobre a evolução
da tecnologia sem fio e as últimas tendências sobre as redes 5G.
Disponível em: <http://www.telecoms.com/wp-content/blogs.dir/1/
files/2011/05/5G_The_NanoCore.pdf>.

Sem medo de errar

Nós já sabemos que em um sistema de celular de alta capacidade


o espectro de frequência disponível é particionado em canais
discretos e associados em grupos para células que cobrem uma área
geográfica de serviço. Os grupos de canais podem ser reutilizados
em células diferentes dentro desta área. Todos os móveis dentro
da célula se comunicam com a estação base. Os transmissores em
células adjacentes operam em frequências diferentes para evitar
interferência. Com a potência de transmissão e a altura da antena em
cada célula é relativamente baixa, células que estão suficientemente
afastadas podem reutilizar as mesmas frequências sem causar
interferência de cocanal muito prejudicial. Tendo estes elementos
em mente, podemos trabalhar no projeto de expansão da rede de
acesso móvel da FalaMais em uma nova região da cidade. Além disso,
temos algumas informações do projeto que são a interferência média
C
de cocanal é de = 18 dB, o expoente de atenuação daquela região
I
é de n = 5 vezes, o número de interferentes efetivos é N I = 2 e que
a área de cobertura é de Ac = 64000 km². O projeto orçamentário
da FalaMais para a nova rede contempla a instalação de um número
N BS = 15 de estações rádio base e há uma disponibilidade de
N CH = 100 canais.
Se a área de cobertura é de 64 km² poderemos encontrar o rádio

32 U4 - Noções de redes e serviços integrados


da célula de uma estação rádio base como:
Ac 64000000
R= = = 1165, 4 metros
π N BS π 15
Além disso, podemos encontrar a quantidade de células de um
C
cluster que satisfaz uma = 18 dB pela equação (4.8) do livro texto
como I

{ } =7
2
1    C    1
1/ n 2
N =   N I     =  2 (1018/10 ) 
1/ 5
.
3    I    3
Logo, são necessárias 7 células por cluster. A distância entre as
células de cocanal pode ser calculado utilizando a equação (4.2) do
livro texto como
D
= 3N ,
R
rearranjando temos

D = R 3 N = 1165, 4 3 × 7 = 5340 metros.


O padrão do mapa geográfico da cobertura celular pode ser
observado na Figura 4.9.

Figura 4.9 | Mapa da cobertura celular da FalaMais

Fonte: elaborada pelo autor.

Note que temos 15 estações rádios base contando com um


número de dois clusters. Note também que há sempre um padrão
de 3 saltos para sair de uma célula de cocanal para outra. Uma vez

U4 - Noções de redes e serviços integrados 33


que existem 100 canais disponíveis para uso podemos calcular a
quantidade de canais por célula como:
N CH 100
N CH / Cel = = ≈ 14
N 7

Avançando na prática

Projeto de um sistema celular

Descrição da situação-problema
Projetistas de sistemas celulares estão realizando medidas em
uma região urbana para adquirir alguns parâmetros para planejar
uma nova rede para aparelhos móveis. As medidas avaliaram
a dependência com frequência, irregularidades de superfície,
obstáculos da linha de visada, estruturas urbanas, vegetação e
características do terreno e um β = 38 dB. Além disso, encontrou-
se um expoente de propagação n = 5 . Considerando que o raio
da célula é de 1200 metros, você está incumbido de calcular a
atenuação na borda da célula. Para este caso a altura da estação
rádio base é de 10 metros. Considere que a altura média de uma
pessoa é 1,7 metros.

Resolução da situação-problema
Já sabemos que não é possível utilizar o modelo do espaço
livre para calcular a atenuação em sistemas móveis. Felizmente,
já aprendemos que o ambiente para um sistema celular é bem
diferente do ambiente do espaço livre e a perda por percurso
para um ambiente celular é bem mais complexo que qualquer
outro modelo de rádio. Vimos que podemos calcular a atenuação
utilizando a equação (4.6):

L = n log d m − 20 log hT hR + β
Sabemos também que pelas medidas feitas pelos projetistas
temos um β = 38 dB e que o expoente de atenuação é n = 5 .
Considerando que hT = 10 m seja a altura da estação rádio base,

34 U4 - Noções de redes e serviços integrados


hT = 1, 7 m seja a altura média das pessoas e que a distância do
centro até a borda da célula é d n = 1200 m podemos calcular a
atenuação como
L = 5 log 1200 − 20 log (10 ×1, 7 ) + 38 = 28, 8
Logo, na borda na célula há uma atenuação do sinal de 28,8 dB.

Faça valer a pena

1. Os sistemas de acesso sem fio são atualmente muito importantes para


a sociedade. O sistema celular de comunicação leva o usuário a uma
liberdade flexível de se comunicar por longas distâncias dentro de uma
determinada área. Além disso, com o advento do acesso à internet, essa
flexibilidade também se estende ao acesso à informação.
Marque a alternativa correta que indica a mídia de propagação utilizada
pelos aparelhos móveis de celular.
a) Fibra óptica.
b) Sonar.
c) Aérea.
d) Sonoro.
e) Mecânica.

2. Sistemas celulares foram uma das maiores revoluções tecnológicas para


a sociedade. Esta revolução permitiu a comunicação móvel e o acesso
à informação de maneira instantânea com uma flexibilidade geográfica
surpreendente. As redes móveis ainda estão em desenvolvimento e
prometem surpresas ainda mais incríveis em um futuro próximo.
Em relação aos sistemas móveis sem fio, leia as seguintes afirmativas:
I – A rede sem fio torna o custo por conexão mais uniforme.
II – O acesso do assinante ao serviço é mais fácil em relação aos sistemas
baseados em cabos.
III – O assinante está restrito a apenas a região de registro principal.
Marque a alternativa que possui somente afirmativas corretas:

U4 - Noções de redes e serviços integrados 35


a) Somente I.
b) Somente II.
c) II e III.
d) I e II.
e) I, II e III.

3. As redes de celulares são sistemas complexos. Normalmente, há


uma enormidade de detalhes que devem ser contemplados para que o
sistema funcione de forma confiável e com qualidade. As estruturas das
construções, as folhas da vegetação, o movimento das pessoas e dos
carros são os vários fatores que podem prejudicar a propagação do sinal
de celular pelo ambiente.
Leia as seguintes afirmativas:
I – Sistemas sem fio requerem equipamentos sofisticados, um plano
elaborado e medidas de campo.
II – O projeto de celular pode se complicar quando as questões burocráticas
do espectro entram em jogo.
III – Controlar a interferência de cocanal é um grande desafio que leva em
conta múltiplos fatores.
Marque a alternativa que possui apenas afirmativas corretas:
a) Somente I.
b) Somente II.
c) Somente III.
d) I e III.
e) I, II e III.

36 U4 - Noções de redes e serviços integrados


Seção 4.3
Redes de comunicação de dados

Diálogo aberto

Caro estudante!
Na seção anterior, você estudou as principais características dos
sistemas de comunicação celular. Apresentamos os componentes
básicos que constituem uma rede de celulares e entendemos
como funcionam as estações rádio base, as estações móveis e a
infraestrutura que controla as chamadas de usuário para usuário.
Apresentamos também noções sobre o dimensionamento do
sistema celular. Fechamos a seção falando sobre as várias gerações
de sistemas de celular e suas características mais importantes.
Nesta nova seção vamos descrever as principais características dos
elementos da arquitetura de rede e arquitetura de protocolos. Vamos
apresentar os componentes básicos de uma rede de computadores
e como estas podem se constituir em redes privadas e públicas.
Além disso, vamos dar detalhes sobre os modelos os quais as redes
de computador são baseadas. Vamos começar explicando sobre o
modelo OSI e, em seguida, o modelo TCP/IP.
A empresa Falamais Telecom tem agora uma excelente rede de
telefonia celular com uma boa cobertura na cidade. Desta vez, outro
projeto sobre sua responsabilidade considera o desenvolvimento de
uma rede de comunicação de dados para uma rede bancária. Você
deve apresentar como as informações irão fluir no sistema passando
por processos físicos e virtuais. Deve decidir também qual a maneira
mais segura para o tráfego destas informações.

Vamos lá?

U4 - Noções de redes e serviços integrados 37


Não pode faltar

Cada um dos três séculos passados foi dominado por uma única
tecnologia. O século XVIII foi a era dos grandes sistemas mecânicos
que acompanharam a Revolução Industrial. O século XIX foi a era
das máquinas a vapor. Durante o século XX, a tecnologia-chave foi
a coleta de informação, processamento e distribuição. Entre outros
desenvolvimentos, observamos a instalação de redes mundiais de
telefones, a invenção do rádio e televisão, o nascimento e crescimento
espantoso da indústria de computadores e o lançamento das
comunicações via satélite (TANENBAUM, 2003).
Como resultado do progresso tecnológico rápido, estas áreas
estão rapidamente convergindo e as diferenças entre coletar,
transportar, armazenar e processar informações estão desaparecendo
rapidamente. Organizações com centenas de escritórios espalhados
sobre uma ampla área geográfica estão acostumadas a rotineiramente
serem capazes de monitorar as condições de até mesmo do posto de
trabalho mais distante por apenas um toque de botão (TANENBAUM,
2003).
Antes de começar a examinar detalhes mais técnicos é importante
entender o motivo pelo qual as pessoas são interessadas em redes
de computadores e o como estas podem ser utilizadas. A rede de
computadores tem sido utilizada principalmente em aplicações
de negócios. Muitas empresas têm um número substancial de
computadores. Por exemplo, uma empresa pode ter computadores
dedicados a monitorar a produção, manter o gerenciamento de
inventário e fazer a folha de pagamento. Inicialmente, cada uma
destas máquinas fazia seu trabalho em isolamento, mas por questões
específicas de gerenciamento, decidiu-se que, a partir de um dado
momento, seria melhor conectar estas estações para extrair e
correlacionar informações sobre toda a empresa (TANENBAUM,
2003).

Exemplificando
Fazer a contabilidade de uma empresa era um trabalho árduo que exigia
o esforço de vários funcionários trabalhando com ou sem calculadoras.
Dependendo da época poderiam ser mecânicas, valvuladas ou

38 U4 - Noções de redes e serviços integrados


eletrônicas. Assim, o trabalho humano ineficiente limitava a expansão
dos negócios. A capacidade de computação das máquinas e a
possibilidade de compartilhamento de informações pela rede possibilitou
um gerenciamento contábil muito superior que tornou desnecessário
grande parte do trabalho humano.

Colocando o problema de uma forma ligeiramente formal, o


problema aqui é compartilhar recursos e o objetivo é fazer com
que todos os programas, equipamentos e especialmente os dados
disponíveis para qualquer um sem considerar a localização física
do recurso ou do usuário. Um exemplo mais óbvio e comum é a
utilização de uma impressora compartilhada por um grupo de
funcionários de um escritório. Ninguém precisa realmente de
uma impressora particular e uma impressora de grande volume de
produção é geralmente mais barata, rápida e fácil de manter do que
impressoras individuais para cada funcionário (TANENBAUM, 2003).
Aplicações residenciais foram também um setor que estimulou
bastante o desenvolvimento de redes de computadores. As principais
motivações para o uso da rede era acessar informações remotas, fazer
comunicação pessoa a pessoa (MSN, ICQ, Skype), entretenimento
interativo e comércio eletrônico. O comércio eletrônico vem sendo
o de mais sucesso em que usuários são capazes de inspecionar
catálogos on-line de milhares de empresas. Alguns destes catálogos
podem prover vídeos com informações sobre os produtos que
podem auxiliar na decisão da compra. Além disso, as empresas
podem oferecer suporte remoto em caso de devolução, dúvidas
sobre o uso ou garantias.
Outro segmento que cresce vertiginosamente é o do uso de
smartphones que disponibiliza um conjunto amplo de serviços
móveis. Pessoas em ambientes externos necessitam de utilizar
equipamentos eletrônicos portáteis para enviar e receber chamadas
telefônicas, e-mails, acessar a internet ou ler arquivos remotos. Devido
às redes sem fio é possível acessar informações sobre terra, mar
ou ar. Por exemplo, na maioria das conferências os organizadores
frequentemente estabelecem uma rede sem fio em uma área
apropriada. Qualquer um com um notebook ou smartphone precisa

U4 - Noções de redes e serviços integrados 39


simplesmente solicitar um código para obter instantaneamente
acesso a rede de Internet (TANENBAUM, 2003).
Um fato bastante natural sobre a tecnologia é que além de trazer
soluções para problemas cotidianos, novos problemas também são
criados. A introdução ampla das redes de computadores introduziu
um conjunto novo de problemas sociais, éticos e políticos. Sabemos
que as redes podem ser utilizadas para compartilhar assuntos comuns
como receitas culinárias ou técnicas de jardinagem. Um grande
problema surge quando grupos que se formam em torno de tópicos
sobre política, religião ou sexo se formam. Neste caso, artigos ou
mensagens postadas por estes indivíduos podem ser profundamente
ofensivos para algumas pessoas. Ainda mais grave, pode ser que
nem sejam politicamente corretos. Além disso, mensagens não
necessariamente estão limitadas ao texto. Fotos e vídeos podem ser
facilmente se espalhar pelo compartilhamento de computador para
computador. O conteúdo destas mensagens pode conter ataques a
países ou religiões em particular ou pornografia. Este tipo de conteúdo
é inaceitável e hoje é parte de um grande debate mundial para se criar
soluções para estes problemas (TANENBAUM, 2003).

Reflita
Reflita sobre outras questões em que a tecnologia pode trazer soluções
e também novos problemas. Seria a tecnologia uma armadilha para mais
problemas ou um novo meio para encontrar soluções mais sofisticadas?

Outro aspecto importante da rede de computadores é que o


acesso à internet permite encontrar informação rapidamente, mas a
maior parte é incompleta, pode ser falso ou equivocado. Por exemplo,
uma dica médica encontrada em um texto da internet pode vir tanto
de um ganhador do Prêmio Nobel de Medicina ou de um estudante
da segunda série. Redes de computadores também introduziram
novo tipo de comportamento antissocial e criminoso. Lixo eletrônico
(SPAM) se tornou parte da vida devido ao fato de algumas pessoas
terem colecionado milhões de endereços de e-mails para vendê-
los a pseudopublicitários. Além disso, mensagens de e-mail com
conteúdo ativo (ex. programas básicos ou macros que executam
na máquina do receptor) podem conter vírus para controlar e
raptar informações importantes. Roubo de identidade também está

40 U4 - Noções de redes e serviços integrados


se tornando um problema sério pelo fato de bandidos coletarem
informações suficientes da vítima para obter cartões de crédito ou
outros documentos em nome da vítima. Finalmente, a possibilidade
de transmitir vídeo e música digitalmente abriu as portas para um
comportamento massivo de violação de direitos autorais muito
difíceis de encontrar os responsáveis e aplicar multas (TANENBAUM,
2003).
Deixamos agora de lado o foco das aplicações e aspectos sociais
para focar nos aspectos técnicos que envolvem o projeto de redes.
Conforme discutimos em seções anteriores, podemos falar sobre
a utilização nas redes de dois tipos de tecnologia de transmissão
amplamente utilizados: enlaces de difusão e ponto a ponto. Enlaces
de difusão têm um canal único de comunicação que é compartilhado
por todas as máquinas da rede. Em contraste, redes ponto a
ponto consistem de muitas conexões entre os pares individuais de
máquinas. Para que um pacote caminhe da fonte para o destino é
necessário que passe primeiro por vários terminais intermediários.
Outro critério de classificação de rede é por escala. A Figura 4.10
classifica múltiplos sistemas de processamento por seu tamanho
físico. No topo encontram-se as redes de área pessoal, isto é, redes
que existem para apenas uma pessoa. Por exemplo, uma rede sem
fio que conecta um mouse, um teclado e uma impressora é uma
rede de área pessoal. Depois da rede de área pessoal temos as redes
de maior alcance. Estas podem ser divididas em local, metropolitana
e ampla. Finalmente, a conexão de duas ou mais redes é chamada
de internetwork. A internet mundial é um exemplo bem conhecido
de internetwork. Distância é uma métrica importante de classificação
pelo fato de técnicas diferentes serem utilizadas em escalas diferentes
(TANENBAUM, 2003).
Figura 4.10 | Classificação de processadores interconectados por escala

Fonte: elaborada pelo autor.

U4 - Noções de redes e serviços integrados 41


As redes de área local são redes privadas dentro de um único
prédio ou campus de até uns poucos quilômetros de tamanho. Esta
rede é amplamente utilizada para conectar computadores pessoais
e estações de trabalho em empresas, universidades e indústrias para
compartilhar recursos (ex.: impressoras, escâner) e informações. As
redes de área local geralmente utilizam uma tecnologia de transmissão
consistindo de um cabo o qual conecta todas as máquinas. Estas
redes funcionam tradicionalmente a uma velocidade entre 10 Mbps a
100 Mbps, têm baixo atraso (entre microssegundos a nanossegundos)
e possuem baixa probabilidade de erro. Novas redes de área local
podem até mesmo atingir velocidade de 10 Gbps (TANENBAUM,
2003).
A rede de área metropolitana cobre uma cidade. O melhor exemplo
conhecido de uma rede metropolitana é a TV a cabo disponível em
várias cidades. Este sistema cresceu de um sistema comunitário
de antenas utilizado em áreas com uma recepção de TV ruim. O
crescimento deste tipo de negócio levou a uma transformação no
sistema de difusão no qual se pode prover transmissão em dois
sentidos e possibilitar o oferecimento de serviço de internet. Assim,
a partir de certo ponto, o sistema de TV a cabo se transformou de
uma maneira de distribuir TV para uma rede de área metropolitana
(TANENBAUM, 2003).
Uma rede de área ampla abrange uma grande área geográfica
do tamanho de um país ou continente. Esta contém uma coleção
de máquinas com o propósito de executar programas de usuários.
Estas máquinas são tradicionalmente chamadas de hosts e são
conectados a uma sub-rede de comunicação. Nesta situação, os
hosts pertencem aos clientes enquanto que as sub-redes pertencem
e são operadas pelas empresas de telefone ou provedores de serviço
de internet. O trabalho das sub-rede é transportar mensagens de host
para host. Na maioria das redes de área ampla a sub-rede consiste
de dois componentes distintos: linhas de transmissão e elementos
comutadores. Linhas de transmissão movem bits entre máquinas e
podem ser vias de cobre, fibra óptica ou enlaces de rádio. Elementos
comutadores são computadores especializados que conectam
três ou mais linhas de transmissão. Atualmente, estes elementos
comutadores são denominados de roteadores e a combinação de
vários deles tenta gerenciar um percurso de dados que seja o mais
curto e confiável possível. A Figura 4.11 mostra um modelo que

42 U4 - Noções de redes e serviços integrados


conecta redes de área local com outras do mesmo tipo através de
uma sub-rede. Assim, uma coleção de linhas de comunicação e um
conjunto de roteadores formam uma sub-rede (TANENBAUM, 2003).

Figura 4.11 | Relação entre hosts de uma rede de área local com a sub-rede

Fonte: elaborada pelo autor.

As primeiras versões das redes de computadores estavam mais


orientadas mais no projeto de hardware do que com as questões de
software. Esta estratégia não durou por muito tempo e hoje as redes
são altamente estruturadas em software. Desta forma, para reduzir a
complexidade de projeto, a maioria das redes é organizada em pilhas
de camadas construídas umas sobre as outras. O número de cada
camada, o nome de cada camada, os conteúdos de cada camada
e a função de cada uma difere de rede para rede. O propósito de
cada camada é oferecer certos serviços para as camadas superiores,
poupando as outras camadas daqueles detalhes de como os serviços
oferecidos são realmente implementados (TANENBAUM, 2003).

Assimile
As redes são principalmente definidas por sua ocupação geográfica.
Dependendo do tamanho da rede ela pode empregar tecnologias
diferentes. Redes locais são conectadas umas com as outras por
sub-redes. Isso é possível devido aos roteadores que fazem o
encaminhamento dos pacotes para os destinos corretamente.

U4 - Noções de redes e serviços integrados 43


Conhecendo estes princípios podemos agora falar sobre
os modelos de referência. Vamos discutir sobre dois modelos
importantes: o modelo de referência OSI e o TCP/IP. Embora os
protocolos associados com o modelo OSI são raramente utilizados,
o modelo por si mesmo é bem geral e ainda válido e a discussão de
suas características é muito importante. Já o modelo TCP/IP tem a
propriedade oposta em que o foco é maior nos protocolos do que no
modelo (TANENBAUM, 2003).
O modelo OSI tem sete camadas. Os princípios que foram
aplicados para se chegar à conclusão da existência de sete camadas
pode ser resumida como segue:
1. Uma camada deve ser criada quando uma abstração diferente
é necessária.
2. Cada camada deve desempenhar uma função muito bem
definida.
3. A função de cada camada deve ser escolhida com vistas para a
padronização internacional de protocolos.
4. Os limites das camadas devem ser escolhidos para minimizar o
fluxo de informação entre as interfaces.
5. O número de camadas deve ser grande o suficiente para
comportar todas as diferentes funções necessárias e pequenas
o suficiente para não se tornar pesado.
Discutimos a seguir sobre cada camada do modelo começando
pelo nível mais baixo. Note que o modelo OSI não é uma arquitetura
de rede porque não especifica exatamente serviços e protocolos a
serem utilizados em cada camada.
A camada física – A camada física se preocupa com a transmissão
de bits no canal de comunicação. As questões típicas desta camada
é definir o nível de tensão adequado para representar os bits, como
a conexão inicial é estabelecida, qual o tempo de duração dos bits
e outros vários aspectos. Os problemas de projeto aqui lidam com
mecânica, elétrica, interfaces e tudo que está relacionado com a
camada física (TANENBAUM, 2003).
A camada de dados – A principal tarefa da camada de dados é
transformar uma transmissão bruta em uma transmissão líquida
livre de erros na camada de rede. Isso é conseguido quebrando-
se a sequência de dados em quadros que são verificados a cada

44 U4 - Noções de redes e serviços integrados


transmissão. Se a transmissão foi confiável, então o receptor confirma
que o frame está correto, enviando de volta uma confirmação
(TANENBAUM, 2003).
A camada de rede – A camada de rede controla a operação da sub-
rede. O problema de projeto-chave é determinar como os pacotes
são roteados da fonte até o destino. Rotas podem ser baseadas em
tabelas estáticas ou dinâmicas dependendo da tecnologia empregada
nesta camada. Quando um pacote viaja de uma rede para outra,
muitos problemas podem acontecer. O endereçamento da segunda
rede pode ser diferente da rede de origem. A outra rede pode não
aceitar o pacote devido a restrições de tamanho de pacote ou os
protocolos podem ser diferentes. É tarefa da camada de rede superar
estes problemas para permitir que redes heterogêneas possam ser
interconectadas (TANENBAUM, 2003).
A camada de transporte – A função básica da camada de
transporte é receber dados, dividi-los em pedaços menores e passar
através da camada de rede e assegurar que todas as peças vão chegar
corretamente no receptor. Além disso, tudo isso deve ser feito de
maneira eficiente e de uma forma isolada das camadas superiores
tal que seja independente da tecnologia de hardware (TANENBAUM,
2003).
A camada de sessão – A camada de sessão permite que usuários
em máquinas diferentes estabeleçam sessões entre si. Sessões
oferecem vários serviços como controle de diálogo, gerenciamento
de turno e sincronização (TANENBAUM, 2003).
A camada de apresentação – Diferente das outras camadas, as
quais estão focadas em transportar bits, a camada de apresentação
está focada na sintaxe e semântica da informação a ser transmitida.
Para tornar possível a comunicação de computadores com
representação de dados diferentes os dados são estruturados de
uma forma abstrata. A camada de apresentação gerencia estas
estruturas de dados abstratas e permite estrutura de dados em alto
nível (TANENBAUM, 2003).
A camada de aplicação – A camada de aplicação contém uma
variedade de protocolos que são regularmente necessários para
os usuários. Um protocolo amplamente utilizado é o protocolo de
transferência de hipertexto (HTTP – HyperText Transfer Protocol) o
qual é a base de toda a Web mundial (TANENBAUM, 2003).

U4 - Noções de redes e serviços integrados 45


O modelo TCP/IP herda muitas características do modelo OSI.
Os requisitos para a comunicação entre computadores levaram a
escolha de uma rede baseada em comutação por pacotes por uma
camada especial. Esta camada, chamada de camada de internet, é o
pino mestre que segura toda a arquitetura junta. Esta tem o trabalho
de permitir hosts injetar pacotes em qualquer rede e assegurar que
viagem independentemente do destino. A camada de internet define
um formato de pacote oficial e um protocolo chamado Protocolo de
Internet (IP – Internet Protocol). O trabalho da camada de internet é
entregar os pacotes IP em seus destinos (KULARATNA; DIAS, 2004).

Figura 4.12 | Comparação entre os modelos

Fonte: elaborada pelo autor.

A camada de transporte no modelo TCP/IP permite que as


entidades pares estabeleçam uma conversa entre a fonte e o destino.
Neste caso existem dois protocolos para este fim. O protocolo de
transmissão (TCP – Transmission Control Protocol) é um protocolo
confiável que permite que uma sequência de bits originada de uma
máquina seja entregue para outra máquina sem erros. O segundo
protocolo é o protocolo datagrama de usuário (UDP – User Datagram
Protocol) que é inconfiável, não necessita de conexão, não garante
sequência, mas tem a vantagem de ser rápido e simples. Este
protocolo é comumente utilizado por aplicações de transmissão de
voz ou vídeo (TANENBAUM, 2003).
A camada de aplicação contém todos os protocolos de alto nível.
Entre os primários estão o terminal virtual (TELNET), transferência
de arquivo (FTP) e o correio eletrônico (SMTP). Outros protocolos
foram adicionados com a evolução do serviço como o sistema de

46 U4 - Noções de redes e serviços integrados


nome de domínio (DNS) e o protocolo de páginas de Web (HTTP)
(TANENBAUM, 2003).
A camada de host para rede é um grande vazio. O modelo de
referência TCP/IP não especifica muitos detalhes sobre esta camada
exceto dizendo que o host se conecta na rede utilizando algum
protocolo tal que se possam enviar pacotes IP através dele. Este
protocolo não é necessariamente definido e pode mudar de host
para host (TANENBAUM, 2003).

Pesquise mais
Os grandes inventores, que iniciaram as grandes descobertas da
telecomunicação, acreditavam que estavam diante de um meio que iria
promover mais integração entre as pessoas e uma maior e mais livre
circulação de informação. Descubra mais sobre este assunto no primeiro
capítulo do livro “Impérios da comunicação: do telefone à internet,
da AT&T ao Google”, que introduz você nesta interessante história de
desenvolvimento das tecnologias de comunicação (WU, 2012).

Sem medo de errar

No próximo projeto sobre sua responsabilidade, considera-se o


desenvolvimento de uma rede de comunicação de dados para uma
rede bancária, mas antes devemos entender um pouco sobre as
necessidades bancárias.
Bancos são empresas importantes necessárias para gerenciar o
fluxo de valores entre indivíduos e instituições. No Brasil, as instituições
financeiras utilizam a internet em benefício de seus negócios desde
1995. A interação entre o cliente e o banco é chamada de Internet
banking. O Internet banking é a utilização da internet para oferta
de serviços bancários e é considerada uma inovação tecnológica
incorporada aos serviços bancários da última década. Por um lado,
existe a grande conveniência oferecida aos clientes ao poder acessar
serviços bancários a partir de um terminal móvel e, para o banco, ter
vantagens de economia, precisão e automação de serviços bancários.

U4 - Noções de redes e serviços integrados 47


Isso tudo é resultado de, conforme vimos anteriormente, resultado
do rápido progresso tecnológico sobre os processos de coletar,
transportar e processar informações. Além disso, sendo os bancos
empresas de grande porte existem centenas de escritórios espalhados
sobre uma ampla área geográfica e que estão acostumados
rotineiramente a monitorar as condições de todo o fluxo de trabalho
financeiro no mais remoto posto de trabalho.
Com o objetivo de apresentar como as informações irão fluir no
sistema passando por processos físicos e virtuais, devemos lembrar
sobre o que vimos sobre a abrangência geográfica e redes. No caso
do acesso do cliente ao banco, devemos nos focar em uma rede
de área ampla. Vimos que esta tem uma coleção de máquinas com
o propósito de executar programas de usuários. Vimos que estas
máquinas são chamadas de hosts e são conectados a uma sub-rede
de comunicação. Vimos também que nestas redes existem linhas de
transmissão e elementos comutadores. Linhas de transmissão movem
bits entre máquinas e podem ser vias de cobre, fibra óptica ou enlaces
de rádio. Elementos comutadores são computadores especializados
que conectam três ou mais linhas de transmissão. Atualmente,
estes elementos comutadores são denominados de roteadores e a
combinação de vários deles tenta gerenciar um percurso de dados
que seja o mais curto e confiável possível. A Figura 4.13 mostra um
modelo de como seria o acesso do cliente ao banco através de redes
de acesso local e uma rede de área ampla.

Figura 4.13 | Comparação entre os modelos

Fonte: elaborada pelo autor.

48 U4 - Noções de redes e serviços integrados


Avançando na prática

TV a cabo contra a Internet

Descrição da situação-problema
Carlos era um funcionário de uma grande empresa que oferecia
serviços de TV a cabo e internet. Carlos também é um entusiasta
da distribuição de mídia pela internet e acredita que o uso do
sistema de TV a cabo não vai progredir muito daqui para frente e
que será substituído por serviços de streaming pela internet. Carlos
deseja empreender em um novo negócio, mas não entende muito
sobre a internet e arquitetura de redes. Desta forma, você será
responsável por ajudá-lo a entender qual é a melhor forma de fazer
transmissão de vídeo pela internet.

Resolução da situação-problema
Você explica ao Carlos que streaming pela internet é uma
tecnologia que transporta informações de multimídia utilizando
redes de computadores, especialmente a internet. Um dos
melhores exemplos de serviço streaming é do site Youtube.com.
Este site utiliza tecnologia de streaming para transmitir vídeos para
uma infinidade de usuários.
Neste momento é muito importante entender a origem da
palavra streaming. Esta vem do inglês que significa fluxo (corrente,
córrego) que remete sempre a um fluxo contínuo de dados.
Logo, vai haver stream de dados enquanto houver a existência
da transmissão de um programa (ex.: show de calouros, filme ou
futebol).
Para streaming de vídeo, a escolha do protocolo de transporte
é tão importante quanto à escolha de algoritmos e estruturas de
dados necessários para o funcionamento da aplicação. O estudo
do desempenho de protocolos de rede de transportes é essencial
para o desenvolvimento de protocolos tolerantes a falhas. Escolher
o protocolo TCP, por exemplo, é uma grande falha pelo fato deste
protocolo ter uma complexa estrutura para garantir confiabilidade
na entrega e acaba sendo lento demais. O protocolo datagrama
de usuário (UDP – User Datagram Protocol) que é inconfiável, não

U4 - Noções de redes e serviços integrados 49


necessita de conexão, não garante sequência, mas tem a vantagem
de ser rápido e simples. Desta forma, este é o protocolo mais geral
escolhido para transmissões streaming devido à sua popularidade,
velocidade e sua tolerância à perda.

Faça valer a pena

1. Como resultado do progresso tecnológico rápido, estas áreas estão


rapidamente convergindo e as diferenças entre coletar, transportar,
armazenar e processar informação estão desaparecendo rapidamente.
Organizações com centenas de escritórios espalhados sobre uma ampla
área geográfica estão acostumadas a rotineiramente serem capazes de
monitorar as condições de até mesmo do posto de trabalho mais distante
por apenas um toque de botão.
Leia as seguintes afirmativas:
I – A tecnologia da informação aumenta a quantidade de trabalho humano
proporcional a sua demanda.
II – A tecnologia da informação permite um crescimento empresarial que
seria difícil se houvesse somente trabalho humano.
III – O uso da tecnologia da informação supera o recurso humano em
questão de trabalho em escala e eficiência.
Marque a alternativa com afirmativa(as) correta(s):
a) Somente I.
b) Somente III.
c) I e II.
d) II e III.
e) I, II, III

2. Um fato bastante natural sobre a tecnologia é que além de trazer


soluções para problemas cotidianos, novos problemas também são
criados. A introdução ampla das redes de computadores introduziu um
conjunto novo de problemas sociais, éticos e políticos.

50 U4 - Noções de redes e serviços integrados


Marque a alternativa correta sobre um problema ético presente no uso da
tecnologia da informação.
a) Testes em animais.
b) Venda de votos.
c) Corrupção ativa.
d) Roubo de identidade.
e) Suborno.

3. As primeiras versões das redes de computadores estavam mais


orientadas no projeto de hardware do que com as questões de software.
Esta estratégia não durou por muito tempo e hoje as redes são altamente
estruturadas em software.
Aponte a alternativa que justifica esta transição da estratégia do hardware
para o software.
a) Foi motivado por decisão política no momento de realizar a padronização.
b) Não havia recursos de hardware disponíveis para implementar uma rede.
c) O software pode substituir completamente o hardware neste quesito.
d) O software contribuiu para a redução da complexidade do projeto.
e) O hardware não tinha um processamento suficientemente rápido.

U4 - Noções de redes e serviços integrados 51


Referências
FREEMAN, Roger. Fundamentals of telecommunications. 2. ed. New Jersey: John Wiley
& Sons, 2005.

JESZENSKY, Paul Jean Etienne. Sistemas telefônicos. Tamboré: Manole, 2004.

KULARATNA, Nihal; DIAS, Dileeka. Essentials of modern telecommunications systems.


Londres: Artech House, 2004.

KUROSE, James F. Redes de computadores e a internet: uma nova abordagem. São


Paulo: Pearson, 2004.

NAIR, G. P. Nano core-A Review on 5G Mobile Communications. International Journal


of Computer Science and Mobile Computing, 2013.

RODRIGUEZ, Jonathan. Fundamentals of 5G Mobile Networks. Aveiro: Wiley, 2015.

TANENBAUM, Andrews S. Computer networks. 4. ed. New Jersey: Prentice Hall, 2003.

WU, Tim. Impérios da comunicação: do telefone à internet, da AT&T ao Google. New


York: Zahar, 2012.

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