Comunicação e Linguagem

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Aula 1º

Comunicação e linguagem

Prezados (as) alunos (as),


Em nossa primeira Aula, iremos retomar uma reflexão acerca da
comunicação e da linguagem, temas de grande relevância, com os quais
certamente já teve contanto durante sua trajetória escolar, buscando
reconhecer a importância de cada uma delas em nosso cotidiano, seja
pessoal ou profissional.
Para que sua aprendizagem seja satisfatória/excelente, sugerimos
que leia sempre a página inicial de cada Aula, bem como seus objetivos
para programar e organizar seus estudos. Lembre-se ainda de que a
Linguagem é uma área na qual você precisará fazer da pesquisa uma
companheira constante em sua caminhada.
Ah, você é o protagonista de sua aprendizagem! Portanto,
contamos com a sua participação ativa!
Bons estudos!

Objetivos de aprendizagem

Ao final desta aula, você será capaz de:

• Refletir, analiticamente, sobre a linguagem como um fenômeno psicológico, educacional, social, histórico, cultural,
político e, sobretudo, ideológico;
• Desenvolver e manter uma visão teórico-aplicada sobre algumas das principais teorias adotadas nas investigações e nos
usos da linguística em textos conversacionais;
• Perceber a língua como o maior instrumento da prática social (níveis de linguagem) e como a forma mais elaborada das
manifestações culturais e/ou abordagem intercultural.
194 Linguagem e Argumentação 6
Figura 1.1 A evolução da comunicação.
Seções de estudo
1 - Breve Reflexão sobre Comunicação.
2 - Processo de Comunicação: um Panorama Teórico.
3 - Linguagem, Sociedade e Interação Humana.
'XUDQWHRVHVWXGRVGHVWD$XODVXJHULPRVTXHGHL[HHPORFDOGHI£FLO
DFHVVR XP FDGHUQR RX XWLOL]H HGLWRUHV GH WH[WRV FRPR R :RUG RX
R%ORFRGHQRWDVSRUH[HPSORV SDUDDQRWDUREVHUYD©·HVUHȵH[·HV
HFRQFHLWRVFKDYHVREUHRVFRQWH¼GRVDTXLGLVSRQLELOL]DGRV'HQWUH
VXDVDQRWD©·HV«LPSRUWDQWHTXHID©DPDSDVPHQWDLVRXHVTXHPDV
TXHRDMXGHPDUHWRPDURVFRQWH¼GRVHPRXWURVPRPHQWRV&RP
LVVRFRQVHJXLU£HQWHQGHUPHOKRURFRQWH[WRJHUDOVREUHFRPXQLFD©¥R
HOLQJXDJHP FONTE: BLOG UNIRP. A evolução da comunicação. Disponível em: <http://unirp.
%RQVHVWXGRV blogspot.com.br/2010/09/evolucao-e-comunicacao_22.html>. Acesso em: 3 maio
2014.

Afirma McLuhan que “os cidadãos do futuro terão muito


1Ȃ%UHYHUHȵH[¥RVREUHFRPXQLFD©¥R menos necessidade que hoje de ter formação e pontos de vista
semelhantes. Pelo contrário, serão recompensados por sua
Antes de iniciar o estudo efetivo de nossa aula, com diversidade e originalidade” (1994, p. 294), ou seja, as tarefas
vistas a ampliar nossos conhecimentos sobre comunicação e a serem executadas não serão mecanizadas e repetitivas, mas
linguagem, é importante que reflita sobre a seguinte afirmação passaram a ser com personalidade e criatividade.
baseada nas ideias de Cagliari (1990). Parece que estamos com muitos questionamentos, não é?
Mas tenhamos calma, pois, na seção a seguir, encontraremos
Desde que nascemos, estamos imersos de reflexões que nos levarão às respostas.
alguma forma nos mundos da linguagem, da
Saber Mais
fala e da língua. Crescemos dentro da nossa
1HVWDDXODWUDWDUHPRVVREUHOLQJXDJHPO¯QJXDHIDOD3DUDVDEHUPDLV
família ouvindo - na maioria das vezes - nossos VREUH HVVHV H RXWURV HOHPHQWRV GD FRPXQLFD©¥R VXJHULPRV TXH
pais falarem conosco observando gestos e DFHVVH EDVH FRQȴ£YHLV WDLV FRPR 6FLHOR *RRJOH $FDG¬PLFR GHQWUH
sinais, então as palavras, a linguagem, o nome outras e utilize termos como “teoria da comunicação”, “elementos da
das coisas existentes no mundo começam a FRPXQLFD©¥Rȋ ȊOLQJXDJHP O¯QJXD H IDODȋ FRPR SDODYUDVFKDYH SDUD
ser importantes. UHDOL]D©¥RGHVXDVSHVTXLVDV
6XDDSUHQGL]DJHPQ¥RWHPIURQWHLUDV3HVTXLVH
Reconhecendo esta imersão, perguntamos: mas como a
comunicação que envolve todos os elementos da comunicação 2 - Processo de comunicação: um
citados por Cagliari em (1990) vem fazendo parte da vida panorama teórico
das sociedades ao longo da história? Qual a importância, Vergílio Ferreira (apud MARQUES, s/d, p.7), um célebre
escritor português, ao realizar o discurso de agradecimento por
da comunicação em nossas vidas? Seguindo com a reflexão
receber o prêmio ‘Europália’, fez a seguinte afirmação: “uma
sobre a comunicação, que por meio dos estudos de Mcluhan: língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que se traçam os
limites do nosso pensar e sentir”.
A linguagem e o diálogo já tomaram a forma de Note que nas palavras de Ferreira (s/d), percebe-se a
interação entre todas as zonas do mundo. (...) importância dada à língua como instrumento de manifestação
individual e social, bem como marca do reconhecimento de um
O computador suprime o passado humano,
povo. Isto porque, é com a língua e com a conquista das letras
convertendo-o por inteiro em presente. Faz que nós, homens, podemos significar nosso meio, representá-
com que seja natural e necessário um diálogo lo, assim como representar nossas emoções, sensações e
entre culturas, mas prescindindo por completo nossos sentimentos.
do discurso (...). A palavra individual, como Dubois (1973) corrobora com este pensamento ao
depósito de informação e sentimento, já entender que o revelar das letras foi uma importante descoberta
feita pelo homem, somente podendo ser comparada, em
está cedendo à gesticulação macrocósmica
importância, à descoberta do fogo. Ambas concederam a
(McLuhan, Fiore e Agel, apud MARTINS, nós, mesmo que por caminhos diferentes, a possibilidade da
1999, p.1). sobrevivência, do conhecimento e da conquista da Terra.
Vale lembrar que, o homem começou a enviar suas
Responder a estes questionamentos é algo que tentativas comunicacionais (mensagens) por meio da linguagem
não verbal, inicialmente nas rochas, utilizando instrumentos
tentaremos durante o estudo de nossa disciplina (como um
que pudessem riscar e deixar gravadas suas mensagens. Depois,
todo) e seguindo para nossa vida. Contudo, podemos iniciar surgiram os ideogramas (desenhos que representavam ideias)
uma reflexão, analisando a seguinte imagem: e, mais tarde, o alfabeto.
7 195
formas/de frases) além do sistema semântico (o significado).
Você Sabia? • O individual: marcado pelo discurso que surge a partir
2SULPHLURDOIDEHWRHUDEHPUHGX]LGR(OHHUDFRPSRVWRSRUVLQDLV
do momento em que começamos a falar ou a escrever.
FRQVRQDQWDLV TXH DSHVDU GH Q¥R WHUHP HYROX¯GR SDUD XP VLVWHPD
WRWDOPHQWH DOIDE«WLFR M£ PDUFDYDP GH IRUPD SURȴFLHQWH R LQ¯FLR GR
VLVWHPDGHHVFULWD %Ζ1'Ζ 
Assim, ambos vão deixar com que o conjunto entre a
linguagem e o discurso se harmonize como um todo coerente
Pretti (1987, p.12) também discorre sobre a importância para que possam obter a comunicação. A comunicação busca
da língua ao afirmar que: de forma linear, formal e objetiva transmitir ao seu ouvinte
uma mensagem significativa.
Sons, gestos, imagens, diversos e imprevistos
cercam a vida do homem moderno, compondo Segundo Gold (2010, p.3) existem estratégias que estão
mensagens de toda ordem [...] transmitidas sendo utilizadas no mundo inteiro, que seria a informação
pelos mais diferentes canais, como a televisão, transmitida de maneira mais objetiva. Dessa forma, para o
o cinema, a imprensa, o rádio, o telefone, o andamento do trabalho e presando a qualidade aos clientes,
telégrafo, a internet, os cartazes de propaganda, é de suma importância apresentar todos os procedimentos
os desenhos, a música e tantos outros.
desenvolvidos no dia a dia com clareza e sem obter uma
Em todos, a língua desempenha um papel
preponderante, seja em sua forma oral, seja duplicidade de sentidos. Assim, a articulação desse trabalho
através de seu código substitutivo, escrito. E, possa ser mais bem aplicada, sem haver reformulações dos
através dela, o contato com o mundo que nos fatos e suas ações.
cerca é permanentemente atualizado.
1D SUµ[LPD VH©¥R FRQYLGDPRV YRF¬ D FRQWLQXDU RV HVWXGRV VREUH
Vemos, então, que a linguagem, constitutivamente, OLQJXDJHP&RQWXGRYDPRVDSURIXQGDUQRVVDUHȵH[¥RWUDWDQGRVREUH
possibilita a comunicação, sendo, portanto, de vital importância VHXSDSHOQDVRFLHGDGHHQDVLQWHUD©·HVKXPDQDV
para a convivência social humana. Apesar de ter toda essa
força no campo da comunicação social, a linguagem também
é relevante no campo do “individual”, pois ao fazer uso dela, o
3 - linguagem, sociedade e interação
KXPDQD
homem busca integrar-se com seus pares a partir das “leituras”
que faz individual e coletivamente, assim como do mundo que Na seção 3, você terá a oportunidade de refletir sobre
o cerca ao expressar o “seu” pensamento. Como afirma Abreu a linguagem, a sociedade e a interação humana, a partir do
(s/d, p.7). estudo de trechos de um artigo!
Você poderá notar que, além do pensamento dos autores,
O trabalho do futuro dependerá, pois, do inserimos intervenções explicativas, reflexões e ponderações
UHODFLRQDPHQWR 0HVPR RV SURÀVVLRQDLV com o intento de contribuir para o exercício da habilidade
liberais dependem dele. O médico ou o dentista crítica de reflexão e de organizar e direcionar o conhecimento
de sucesso não é necessariamente aquele que construído a fim de alcançarmos os objetivos propostos nesta
entrou em primeiro lugar no vestibular e fez disciplina.
um curso tecnicamente perfeito. É aquele que
é capaz de se relacionar de maneira positiva
Atenção
FRPVHXVFOLHQWHVGHFRQTXLVWDUVXDFRQÀDQoD
2 WH[WR D VHJXLU WUDWD VREUH XPD TXHVW¥R LPSRUWDQWH SDUD WRGRV
e amizade.
HVSHFLDOPHQWH SDUD YRF¬V TXH WUDEDOKDU¥R FRQVWDQWHPHQWH FRP D
O¯QJXDGDQDVRFLHGDGH3RUWDQWRVXJHULPRVTXHROHLDFRPDWHQ©¥RH
Vale lembrar que o pensamento individual do homem
GHGLTXHVHHPHQWHQG¬OR
ocorre em determinado meio social, portanto para dizer de /HPEUHVHGHTXHHPFDVRGHG¼YLGDVFRPHQW£ULRVRXVXJHVW·HV
si, antes é preciso ir ao outro, porque nós somente somos YRF¬FRQWDFRPRDSRLRGHVHXVFROHJDVGHFXUVRHGHVHXSURIHVVRU
seres individuais, porque temos o outro para auxiliar-nos SHORDPELHQWHYLUWXDOHQDVDXODVSUHVHQFLDLV
na formação identitária do nosso “eu”. Em outras palavras,
sempre que eu me expresso estou, de certa forma, revelando O texto de Octavio Ianni (1999), descrito a seguir,
resquícios de outros. intitulado “Língua e Sociedade” trata-se de uma introdução
Observe que até agora tratamos sobre a linguagem bem detalhada sobre as pesquisas que envolvem o tema da
humana, levando em conta que ela tem materialidade, tanto linguagem, desde o Renascimento até nossos dias.
na forma de palavras (faladas ou escritas), quanto na forma da Nele, o autor discorre sobre a língua como produto social
realização não verbal (gestos, sinais, símbolos, charges, cartuns, e, ao mesmo tempo, condição de sociabilidade de interação
entre outras formas de representação), a qual possibilita ao humana. De maneira crítica/reflexiva vamos refletir sobre os
homem o poder comunicativo. “mistérios” que envolvem a palavra e, por meio de fragmentos
Outra questão a ser considerada é o fato de que a linguagem (pedaços) de textos narrativos, vamos entender o valor que ela
humana se destaca grandemente sob dois aspectos, a saber: tem nos indicando as “metamorfoses” da língua.
• O social: marcado pela língua, isto é, sistema de Ao trazer exemplos de textos renomados na história,
linguagem que compreende um sistema de fonemas (de Ianni (1999) faz-nos pensar, com maior sistematicidade, acerca
196 Linguagem e Argumentação 8
da linguagem no tempo atual, pontuando a importância, para sociedade, em âmbito nacional, internacional
ou mundial. Algumas expressões tornam-se
o homem moderno, de ter acesso a textos que contemplem o
emblemáticas e aparecem como momentos
romantismo, que trabalhem laboriosamente o sentido da língua. marcantes da dinâmica das sociedades e dos
Ademais, o autor reitera a importância da linguagem dilemas do pensamento. Estas são algumas:
Novo Mundo, Ocidente, Oriente, África,
não verbal para a comunicação, apresenta a imagem como Mercantilismo, Globalismo, Nacionalismo,
uma linguagem importante e circunscreve a língua como Tribalismo, Trabalho Escravo, Trabalho
“concepção de mundo, como expressão de uma concepção Livre, Escravo e Senhor, Alienação e
Revolução. E estas podem ser outras:
do mundo” (IANNI, 1999). Palavras, palavras, palavras. Penso, logo
existo. Imperativo categórico. Quando as
9RF¬VHOHPEUDGDOLQJXDJHPQ¥RYHUEDO"7HQWHSHQVDUHPH[HPSORV sombras da noite começam a cair é que
GHVWH WLSR GH OLQJXDJHP /HPEURX" &DVR WHQKD GLȴFXOGDGH levanta vôo o pássaro de Minerva. Tudo
VXJHULPRV TXH SHVTXLVH VREUH HVWH WHPD QR VLWH GH EXVFD GH VXD que é sólido desmancha no ar.
SUHIHU¬QFLD &RP RV FRQKHFLPHQWRV TXH HVW£ DGTXLULQGR FDGD
YH]PDLVYRF¬VHWRUQDFDSD]GHVXSHUDURVHQVRFRPXPVREUHDV Sobre as ponderações do autor, reiteramos que a
LQIRUPD©·HVGLVSRQLELOL]DGDVQRVGLIHUHQWHVPHLRVGHFRPXQLFD©¥R
linguagem é social, uma vez que, por meio dela interagimos
HXWLOL]£ODVFRPRIRQWHVGHSHVTXLVDVHPSUHTXHFRQVLGHUDUTXHVH
WUDWDPGHFRQKHFLPHQWRV¼WHLV
com o mundo; disso, decorre a sua importância e a do seu
ensino para as novas gerações, como ele mesmo afirma:
Antes de iniciarmos efetivamente o texto, é importante
salientar que, agora, no nível acadêmico, é fundamental que se No curso do século XX, outra vez acentuam-
envolvam na leitura de textos densos e que exijam reflexões se e generalizam-se as preocupações com a
mais profundas sobre os temas estudados. Eis aqui uma linguagem, envolvendo novos problemas;
oportunidade! além dos anteriores, recolocados em novos
termos. Em uma fórmula mais ou menos
'XUDQWHDOHLWXUDGRDUWLJRSURFXUHDQRWDUUHȵH[·HVSHVVRDLVG¼YLGDV sacramentada, esse é o século em que se
H FRPHQW£ULRV VREUH RV FRQKHFLPHQWRV FRQVWUX¯GRV &RP LVVR dá o “giro linguístico”, tal a importância e
ȴFDU£PDLVI£FLOHFHUWDPHQWHYRF¬WHU£PDLRU¬[LWRQDUHDOL]D©¥RGDV D LQÁXrQFLD GRV SUREOHPDV GH OLQJXDJHP
DWLYLGDGHVUHIHUHQWHVDHVWDDXOD FRP RV TXDLV VH GHIURQWDP D ÀORVRÀD D
OLWHUDWXUDHDVFLrQFLDVVRFLDLV
Saber Mais
O autor ainda chama a atenção para as dimensões
$PSOLH VHXV FRQKHFLPHQWRV VREUH O¯QJXD H VRFLHGDGH 3DUD WDQWR
histórico-sociais e civilizatórias da sociedade:
OHLDRDUWLJRUHIHUHQFLDGRDVHJXLU62$5(60DJGDGH/¯QJXDHVFULWD
VRFLHGDGH H FXOWXUD UHOD©·HV GLPHQV·HV H SHUVSHFWLYDV 'LVSRQ¯YHO
Quando se multiplicam as controvérsias,
em: KWWSZZZDQSHGRUJEUUEHUEHGLJLWDO5%'(5%'(BB
povoadas não só de interrogações, mas
0$*'$B%(&.(5B62$5(6SGI!$FHVVRHPPDLR também de perspectivas inesperadas e
Língua e Sociedade inovadoras, muitos são levados a debruçar-
se sobre as implicações histórico-sociais e
Octavio Ianni
FLYLOL]DWyULDVGDOLQJXDJHP7UDWDVHGHUHÁHWLU
sobre os segredos da língua e dialeto, signo,
A história do mundo moderno tem sido
símbolo e emblema, metáfora e conceito, texto
também uma história de teorias e pesquisas
e contexto, mímesis, narrativa e metanarrativa,
sobre a linguagem. Desde o Renascimento
tradução e transculturação, língua nacional e
passando por Port-Royal, a Enciclopédia,
OtQJXDJOREDO2XWUDYH]UHFRORFDVHRGHVDÀR
a Ilustração, o Romantismo e o “giro
GHUHÁHWLUVREUHDVFRQGLo}HVHDVSRVVLELOLGDGHV
linguístico”, têm sido notáveis as realizações
do contraponto linguagem e sociedade.
dos estudos sobre linguagem.
Os desenvolvimentos das literaturas nacionais
Nesse sentido, a língua é entendida como produto e
e mundiais, os intercâmbios de línguas e
culturas, os processos de aculturação e condição da vida social:
transculturação, o nascimento e a expansão
da cultura de massa e da indústria cultural, a (P WRGDV DV FRQÀJXUDo}HV KLVWyULFR
criação e a difusão de tecnologias eletrônicas, sociais de vida, trabalho e cultura, a língua
informáticas e cibernéticas, tudo isso tem revela-se produto e condição das formas de
propiciado o surgimento de disciplinas sociabilidade e dos jogos das forças sociais.
e teorias, tanto quanto de hipóteses e Tanto no nacionalismo e tribalismo, como
controvérsias, sobre os mais diversos aspectos no mercantilismo, colonialismo, imperialismo
da linguagem. São muitos os momentos da H JOREDOLVPR RV VLJQRV H RV VLJQLÀFDGRV DV
história dos tempos modernos envolvendo ÀJXUDV H DV ÀJXUDo}HV GD OLQJXDJHP UHYHODP
GHVDÀRV RX FRQTXLVWDV IXQGDPHQWDLV VREUH se constitutivas da realidade, das condições
as implicações da linguagem na organização, e possibilidades socioculturais e político-
dinâmica, crise ou transformação da econômicas de indivíduos e coletividades.
9 197
E a língua que se constitui como patamar da imaginária. São sempre partes constitutivas do
história, o sistema de signos por meio do pensamento e da realidade, dos sentimentos
qual se pronunciam o presente, o passado e o e das fantasias. O mistério e o milagre da
IXWXURDKLVWyULDHDJHRJUDÀDDVWUDGLo}HVHDV narrativa sempre levam consigo algo ou muito
premonições, os santos e os heróis, as façanhas da experiência, próxima ou remota, real ou
e as derrotas, os monumentos e as ruínas. imaginária, própria ou vicária. No limite, é
na experiência que se escondem algumas das
Note que o autor entende a cultura como o universo possibilidades do pensamento e do sentimento,
em que a língua se constitui ao passo em que a língua entra da compreensão e da explicação, da intuição e
decisivamente na constituição da cultura. GDIDEXODomRTXHVHWUDQVÀJXUDPH[RUFL]DP
VXEOLPDP FODULÀFDP RX HQORXTXHFHP HP
Ademais, cabe lembrar que o que distingue o ser humano
palavras e narrativas.
é que ele pensa, mentaliza, fabula ou mitifica a sua atividade,
real e imaginária, presente, passada e futura. A sua atividade 3DUD5HȵHWLUVREUHRTXH«XPDSDODYUDYHMDPRVXPWUHFKRGRSRHPD
social, em âmbito individual e coletivo, está sempre expressa Procura da poesia de Carlos Drummond de Andrade:
em signos, símbolos e emblemas, compreendendo narrativas
orais, escritas, pensadas e imaginadas. 3HQHWUDVXUGDPHQWHQRUHLQRGDVSDODYUDV
Portanto, o pensamento é ele também produto e condição /£HVW¥RRVSRHPDVTXHHVSHUDPVHUHVFULWRV
da linguagem, assim como das outras formas culturais. (VW¥RSDUDOLVDGRVPDVQ¥RK£GHVHVSHUR
Também se constitui no mesmo curso da práxis social, quando K£FDOPDHIUHVFXUDQDVXSHUI¯FLHLQWDWD
as atividades se objetivam, cristalizam, tensionam ou explodem (LORVVµVHPXGRVHPHVWDGRGHGLFLRQ£ULR
em criações culturais. A língua é uma dessas explosões, sem a &RQYLYHFRPWHXVSRHPDVDQWHVGHHVFUHY¬ORV
qual o mundo se revela carente de nome, conceito, inteligência, 7HP SDFL¬QFLD VH REVFXURV &DOPD VH WH
explicação, fantasia e mito. Isso nos leva a concluir que a SURYRFDP
linguagem possibilita a todos nós, indiscriminadamente, (VSHUDTXHFDGDXPVHUHDOL]HHFRQVXPD
sermos seres históricos! com seu poder de palavra
Outra questão tratada pelo autor refere-se aos silêncios, HVHXSRGHUGHVLO¬QFLR  
sobre isso ele afirma que: &KHJDPDLVSHUWRHFRQWHPSODDVSDODYUDV
Cada uma
No mundo há muitos silêncios. [...] O silêncio WHPPLOIDFHVVHFUHWDVVREDIDFHQHXWUD
da solidão, do medo, da dor, da raiva, da tristeza, e te pergunta, sem interesse pela resposta
da melancolia. Os silêncios que existem podem
SREUHRXWHUU¯YHOTXHOKHGHUHV
VHU LQÀQLWRV FRPR RV VLOrQFLRV H[WUHPRV GH
7URX[HVWHDFKDYH"
quem está fechado em si mesmo e o silêncio
do amor. [...] Sim, a própria palavra está Repara:
HP VLOrQFLR DQWHV GH WUDQVÀJXUDUVH HP ermas de melodia e conceito,
pensamento ou imaginação, sentimento HODVVHUHIXJLDUDPQDQRLWHDVSDODYUDV $1'5$'(
ou ação, entendimento ou compreensão, S 
utopia ou nostalgia. E como se estivesse
erma de forma e movimento, som e sentido. 3DUDVHGLPHQWDUVXDDSUHQGL]DJHPVXJHULPRVTXHSURFXUHUHȵHWLUH
$JXDUGD HP VLOrQFLR R HVFODUHFLPHQWR D DQRWHVXDVLQWHSUHWD©·HVVREUHRSRHPD
revelação, o deslumbramento.
Ao tratar sobre a palavra e seus desdobramentos, somos
Sobre a palavra, o autor ainda afirma que: levados a reconhecer algumas metamorfoses da língua,
lembrando que, como afirma o autor:
O mistério da palavra, assim como da narrativa,
esconde-se tanto no autor como no leitor, da De quando em quando, na história e na
mesma forma que no texto e no contexto. lenda dos povos e civilizações, embaralham-
Suspensas no ar, vistas em si, a palavra e a se as línguas e as linguagens, os signos, os
narrativa resultam abstratas. Permitem muitos símbolos e os emblemas, os conceitos e as
jogos de linguagens, podem ser colocadas em metáforas. Confundem-se as estações, os dias
diferentes arranjos, desdobram-se em signos, e as noites, o futuro e o passado, a utopia e
ou ícones, índices e símbolos, como em um a nostalgia. Quando se abalam os quadros
FDOHLGRVFySLR VHP ÀP +i XP PRPHQWR QR sociais e mentais de referência, embaralham-
entanto, em que se revelam vazias, ermas de se os territórios e as fronteiras, as nações e
som e sentido. Sejam quais forem as palavras, as nacionalidades, as línguas e as religiões, as
PHWiIRUDVHFRQFHLWRVRXÀJXUDVHÀJXUDo}HV culturas e as civilizações.
HPQDUUDWLYDVOLWHUiULDVFLHQWtÀFDVHÀORVyÀFDV
o seu mistério sempre carece de alguma Um exemplo histórico icônico deste embaralhamento é a
referência. Todas as narrativas, com as suas
famosa histórica bíblica da Torre de Babel, a qual representou
ÀJXUDV H ÀJXUDo}HV UHVVRDP DOJXPD IRUPD
um cenário no qual proliferam as linguagens de todos os tipos.
de vivência, que pode ser presente, passada
ou futura, individual ou coletiva, real ou Segundo o autor:
198 Linguagem e Argumentação 10
Desde Babel constrói-se a imensa biblioteca Assim, a multiplicidade de narrativas sobre os mais diversos
que constitui o mundo do pensamento e aspectos da linguagem, nas quais se empenham a linguística,
da fantasia, da realidade e imaginação, da a teoria literária, a filosofia da linguagem, a sociolinguística, a
compreensão e explicação, da utopia, nostalgia etnolinguística, a semiótica e a desconstrução.
HHVFDWRORJLDFRPRDUWHFLrQFLDHÀORVRÀD Em todos os casos está em causa o esclarecimento, a
compreensão, a revelação ou o encantamento, talvez essenciais
Retomando a história da humanidade vemos que
à existência e à imaginação de uns e outros, em todo o mundo.
desde meados do século XX, não podemos concluir esta
reflexão sem tratar das linguagens eletrônicas, informáticas, 1RVVD)L]HPRVXPDFDPLQKDGDLQWHUHVVDQWHQHVWDDXODQ¥RDFKDP"
internéticas, virtuais ou pós-modernas que atualmente $GTXLULPRV FRQKHFLPHQWRV LQWHUHVVDQWHV H HVVHQFLDLV SDUD D QRVVD
multiplicam-se e predominam. IRUPD©¥R HQTXDQWR SURȴVVLRQDLV H SHVVRDV 3DUD IXQGDPHQWDU H
Em poucas décadas, todas as formas de literalidade PHOKRUDUDLQGDPDLVDQRVVDDTXLVL©¥RGHVDEHUHVLUHPRVDVHJXLUGDU
e oralidade, compreendendo a aula, o discurso do poder, a VXJHVW·HVGHOHLWXUDVVLWHVȴOPHVHY¯GHRVTXHYRF¬VSRGHPDFHVVDU
conversação, o entretenimento, a comunicação, a informação, SDUDRWLPL]DUDVLQIRUPD©·HVGDGDVQHVWD$XOD
a mídia, o livro, a revista, o jornal são desafiadas pela imagem,
o videoclipe, o hipertexto, o cibertexto, a multimídia. Em
pouco tempo, a palavra, enquanto signo da modernidade, é Retomando a aula
recoberta pela imagem, enquanto signo da pós-modernidade.
Podemos afirmar ainda que, em larga medida, as linguagens &KHJDPRVDVVLPDRȴQDOGDSULPHLUDDXOD(VSHUDPRV
eletrônicas, informáticas e cibernéticas são linguagens técnicas, TXH DJRUD WHQKD ȴFDGR FODUR R HQWHQGLPHQWR IUHQWH
instrumentais, pragmáticas. Têm sido mobilizadas no âmbito DR SURFHVVR GH FRPXQLFD©¥R H ¢ OLQJXDJHP HQTXDQWR
de organizações públicas e privadas, nacionais, regionais e SURFHVVRGHLQWHUD©¥RKXPDQD
mundiais, de modo a propiciar a operação, expansão e gestão
de empreendimentos econômicos, financeiros, militares, 1 – Breve reflexão sobre comunicação.
políticos, culturais, religiosos, museus e outros. Na primeira seção da Aula 1 tivemos a oportunidade
Aqui é possível deduzir que este pode ser o cenário no de iniciar nossas reflexões sobre a comunicação, cujos
qual se instala e difunde a crise da palavra. Juntamente com pensamentos nos prepararam para iniciar o estudo efetivo nas
demais seções.
a transformação dos quadros sociais e mentais de referência,
no âmbito da vasta ruptura histórica em curso no século 2 – Processo de comunicação: um panorama teórico.
XX, instala-se e generaliza-se a crise da palavra. Em poucas Na segunda seção estudamos a língua, a qual podemos
décadas, predominam a realidade virtual, o videoclipe, o entender como um conjunto de signos que o ser humano
hipertexto, o ciberespaço, a inteligência artificial, a estética utiliza para a comunicação.
eletrônica e outras realizações eletrônicas, informáticas e Vimos também a linguagem como a utilização da língua,
cibernéticas. a qual pode ser:
a) Seção Linguagem falada.
A linguagem continua a participar decisivamente da constituição das b) Linguagem não verbal.
FRLVDVJHQWHVHLGHLDV5HYHODVHSURGXWRHFRQGL©¥RGDVIRUPDVGH c) Linguagem escrita.
VRFLDELOLGDGH H GRV MRJRV GDV IRU©DV VRFLDLV FRQVWLWXLQGRVH FRPR Finalmente, vimos que para bem nos expressarmos na
FRPSRQHQWH HVVHQFLDO GDV FRQȴJXUD©·HV KLVWµULFRVRFLDLV GH YLGD linguagem escrita, precisamos de:
WUDEDOKRHFXOWXUD a) conhecimento do assunto;
b) vocabulário;
Finalmente, sobre linguagem, sociedade e interação c) domínio das regras gramaticais.
humana talvez se possa afirmar que as diversas disciplinas e
teorias empenhadas em elucidar os segredos da linguagem 3 – Linguagem, sociedade e interação humana.
buscam, em última instância, decifrar o mistério de Babel, Na ultima seção, refletimos sobre as interações presentes
como alegoria, mito, ilusão ou alucinação. Babel está sempre entre a linguagem, a sociedade e a interação humana.
à espreita, em tudo o que se diz e escreve, pensa e imagina, Vimos, baseados nas ideias de IANNI (1999) que a língua é,
compreende e explica, sonha e fantasia. Impregna mais ou efetivamente, um produto social e é condição de sociedade
interativa. Para fechar, entendemos que as leituras que
menos profundamente as formas de sociabilidade e os jogos
realizamos podem nos conduzir às reflexões profundas que
das forças sociais, ou seja, as configurações histórico-sociais nos permitem “ler o mundo” que nos cerca. A linguagem faz
de vida, trabalho e cultura. com que todo o processo seja revisto de forma coerente.
Segundo Junior (1984), essa linguagem é o sistema
indispensável da criação e do significado no mundo. A
Vale a pena
visão de mundo está vinculada ao conhecimento que cada
indivíduo possui para ampliar seus horizontes no período de
sua vida. Essa linguagem nos possibilita uma autorreflexão
sobre questões de vivência particular a todo o momento. A Vale a pena ler
linguagem seria um olhar sobre o mundo refletido através das
ORLANDI, Eni Puccinelli. A linguagem e seu funcionamento:
particularidades em que cada indivíduo pode perceber diante as formas do discurso. Campinas: Pontes, 1996.
de qualquer fato da nossa vida.
11 199
ECO, Umberto; ANGONESE, Antonio (Tradutor). A
busca da língua perfeita. Bauru: EDUSC, 2002.
KOCH, Ingedore G. Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos
(Colaborador). A coerência textual. Editora Contexto, 2001.

Vale a pena acessar

BINDI, L. F. Escrita e alfabeto. Disponível em: <http://


www.libreria.com.br/artigos.asp?id_artigo=550>. Acesso
em: 3 maio 2014.
PARTES.COM. Teoria, signo e reflexão.
Disponível em: <http://www.partes.com.br/ed39/
teoriasignosreflexaoed39.htm>. Acesso em: 3 maio 2014.
SEMIÓTICA BLOGSPOT. Como se definem os signos.
Disponível em: <http://semioticacom102.blogspot.
com/2008/10/como-se-definem-os-signos-2-signo.html>.
Acesso em: 3 maio 2014.
UNISUL. Linguagem. Disponível em: <http://www3.
unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0102/05.htm>.
Acesso em: 3 maio 2014.

Vale a pena assistir

Nell
A guerra do fogo

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