Valorização Dos Bairros Peri Urbanos Do Huambo
Valorização Dos Bairros Peri Urbanos Do Huambo
Valorização Dos Bairros Peri Urbanos Do Huambo
Huambo (Angola)
O caso do bairro Kalundo
Dissertação de Mestrado em
Urbanismo Sustentável e Ordenamento do Território
Maio, 2016
A valorização dos bairros peri – urbanos (informais) da cidade de
Huambo (Angola)
O caso do bairro Kalundo
Dissertação de Mestrado em
Urbanismo Sustentável e Ordenamento do Território
Maio, 2016
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários a obtenção do
grau de Mestre em Urbanismo Sustentável e Ordenamento do Território, realizada sob
orientação científica da Professora Doutora Margarida Pereira e coorientação do Professor
Doutor Miguel Amado.
iii
Dedicatória
A minha formação não teria sido possível sem a ajuda da minha querida esposa, que
no decorrer da formação teve de suportar os nove meses de gestação, sem a minha presença
que trouxe ao mundo, o nosso querido filho “Diogo Sambongo”. Esta dedicatória é também
extensiva à memoria dos meus irmãos que já partiram, das minhas tias, dos meus tios, da
minha querida Avó e especialmente da minha mãe “Dona Madalena”, que, ao longo da minha
vida, proporcionou-me, além de extenso carinho e amor, os conhecimentos da integridade, da
perseverança e de procurar sempre em Deus à força maior para o meu desenvolvimento como
ser humano. Por esta razão, gostaria de demonstrar e reconhecer a vocês, a minha imensa
gratidão e amor.
A Deus, dedico o meu agradecimento maior, porque tem sido tudo na minha vida.
Agradecimentos
“Talvez não tenha conseguido fazer o melhor, mas lutei para que o
melhor fosse feito. Não sou o que deveria ser, mas Graças a Deus, não
sou o que era antes”. (Marthin Luther King)
Ao longo do ano recebi sempre encorajamento dos meus colegas, amigos, familiares e
da minha prestigiosa orientadora. Seria impossível agradecer aqui a todos. Mas este trabalho
não seria possível sem as seguintes figuras: a Profª. Doutora Margarida Pereira, minha
orientadora, que procurou ensinar-me a pensar de forma autónoma e por ter aceitado orientar
esta dissertação, e o Professor Doutor Miguel Amado, coorientador, pela disponibilização da
informação que ajudou a elaborar o trabalho.
Fico intimamente agradecido pela aprendizagem nas aulas em 2014 e, depois durante
esta investigação; a todos os meus professores e colegas, pela força que me deram quando
chegava de Angola com dois meses de atraso; a família Roque Moço, pela receção carinhosa
e acolhimento cá em Lisboa, especialmente ao meu grande amigo, Diogo Manuel Simões
Roque Moço, responsável por este mestrado e por tudo quanto conheci cá em Lisboa – as
novas amizades, os recantos da cidade e, pela sua sabedoria enquanto Professor e escritor; Dr.
Pedro Feitor Pinto, pelo contributo dado a minha vinda cá em Lisboa; Doutora Yolanda
Rivera Guerrero, orientadora da minha Licenciatura, que pela distância entre Havana e
Lisboa, nunca deixou de enviar-me mensagens de encorajamento; Doutor Joca Figueiredo,
Administrador Adjunto do município do Huambo, pelo seu contributo na elaboração do
trabalho; Lídia Amaro, colega exigente e estimulante; Tito Ferreira e Diana de Jesus, colegas
e amigos, pelo acolhimento e companhia prestada; Letícia Lopes, a produção da cartografia,
muito obrigado.
Compete-me, na qualidade de filho, agradecer ao meu Pai e a toda minha família, pela
confiança depositada em mim, numa altura em que o futuro do país apresenta muitas
incertezas; aos meus irmãos e companheiros de sempre, André Mateus Sambongo e Barnabé
Mateus Sambongo, pelo apoio a esta causa e pela confiança que desde sempre depositaram
em mim, em acreditar que um dia seria possível alcançar este objetivo. Um agradecimento
especial ao meu amigo e colega de trabalho, Prof. Miguel Guilherme, pela bondade e
generosidade à minha pessoa.
V
A valorização dos bairros peri-urbanos (informais) da cidade de Huambo
(Angola): o caso do bairro Kalundo
Resumo
Nas últimas décadas o continente africano tem registado um intenso processo de
urbanização. Em Angola, o longo período de guerra civil acelerou esse processo, motivando
um afluxo da população do interior do país para o litoral. Luanda foi a cidade que registou
maior poder de atracão, mas outras cidades foram atingidas por este processo migratório. Este
afluxo das populações às principais cidades influenciou a forma do seu crescimento, que
passou a ocorrer essencialmente por via de assentamentos informais, com reflexos negativos a
nível do parque habitacional, das infraestruturas e equipamentos, gerando graves problemas
urbanos. Esta situação coloca grandes desafios ao planeamento urbano e ao ordenamento do
território no país, no sentido de superar os problemas existentes e de travar o seu
aparecimento no futuro.
VI
Valuing peri-urban neighborhoods (informal) of the city of Huambo:
(Angola) the case of Kalundo quarter
Abstract
In recent decades Africa has experienced an intense process of urbanization. In
Angola, the long period of civil war accelerated this process, encouraging an influx of
population within the country to the coast. Luanda was the city that registered the highest
power of attraction, but other cities have been hit by this migration process. This influx of
people the major cities influenced the way of its growth, which now essentially occur by
means of informal settlements, with negative consequences in terms of the housing,
infrastructure and equipment, causing severe urban problems. This situation poses great
challenges to urban planning and land management in the country in order to overcome the
existing problems and to halt its appearance in the future.
VII
Índice
1. Introdução ........................................................................................................................... 1
1.1. Motivação .................................................................................................................... 1
1.2. Interesse do tema ......................................................................................................... 4
1.3. Objetivos ...................................................................................................................... 5
1.4. Metodologia ................................................................................................................. 6
1.5. Estrutura da dissertação ............................................................................................. 10
2. Enquadramento Teórico e Conceptual .............................................................................. 11
2.1. Processo de urbanização em África ........................................................................... 11
2.2. Crescimento e consolidação das áreas informais ...................................................... 19
2.3. Conceitos de espaço público e de equipamentos coletivos ....................................... 21
3. Problemas da Urbanização em Angola ............................................................................. 25
3.1. Características dos problemas urbanos ...................................................................... 25
3.2. Sistema de planeamento nas áreas urbanas: objetivos e resultados........................... 27
3.3. Modelo de governança urbana ................................................................................... 30
4. Caso de estudo: Bairro Kalundo na Cidade de Huambo ...................................................... 34
4.1. Caracterização da Cidade de Huambo ....................................................................... 34
4.2. As áreas informais na cidade ..................................................................................... 37
4.3. O Bairro Kalundo ...................................................................................................... 39
4.3.1. Inserção no contexto da cidade .......................................................................... 39
4.3.2. Características do bairro ..................................................................................... 41
4.3.3. O bairro visto pelos moradores .......................................................................... 58
4.3.4. O bairro visto pelas autoridades tradicionais ..................................................... 66
4.3.5. Governança no contexto do bairro ..................................................................... 68
4.3.6. Intervenções da autoridade municipal ................................................................ 68
5. Propostas e Orientações para a valorização do Bairro de Kalundo.................................. 77
5.1. Propostas para os espaços públicos ........................................................................... 77
5.2. Propostas para os equipamentos coletivos................................................................. 83
6. Conclusões ....................................................................................................................... 89
7. Referências bibliográficas ................................................................................................ 92
Anexos ......................................................................................................................................... i
Anexo I. Planta da Cidade de Huambo .................................................................................. ii
Anexo II. Principais problemas do bairro ............................................................................. iii
VIII
Anexo III. Intervenções consideradas urgente realizar no bairro pela administração .......... iv
Anexo IV. Tipo de intervenções feitas pela administração pública nos últimos anos ........... v
Anexo V. Interesse e motivação da população para trabalhar com as autoridades ............... vi
Anexo VI. Equipamentos mais necessários no bairro .......................................................... vii
Anexo VII. Áreas da cidade onde são utilizados os equipamentos necessários ................. viii
Anexo VIII. Locais onde as crianças frequentam a escola ................................................... ix
Anexo IX. Melhorias que a população gostaria de ver realizadas no bairro .......................... x
Anexo X. Cruzamento da idade com as questões 1 e 9......................................................... xi
Anexo XI. Característica dos inquiridos do bairro de Kalundo ........................................... xii
Anexo XII. Modelo de inquérito aplicado a população do bairro de Kalundo ................... xiii
Anexo XIII. Guião de entrevista ao Soba do bairro Kalundo ............................................. xiv
Anexo XIV. Guião de entrevista aos técnicos da Administração Municipal ....................... xv
IX
Índice de figuras
Figura 1- Metodologia da dissertação ........................................................................................ 9
Figura 2. Aumento populacional nas cidades africadas ........................................................... 14
Figura 3. População rural-urbana em relação % da população total, 1950/2050 ..................... 15
Figura 4. Tendências existentes e previstas da urbanização no Norte de África 2000/2050 ... 16
Figura 5. Pobreza Urbana, Cairo- Egipto ................................................................................. 17
Figura 6. Transito caótico na cidade de Luanda, um dos males da urbanização ..................... 19
Figura 7. Problemas urbanos característicos das áreas urbanas de Angola ............................. 26
Figura 8. Localização do município do Huambo na província do Huambo ............................ 35
Figura 9. Sobreposição entre áreas urbanas formais (1972) e informais (2011)...................... 38
Figura 10. Inserção do bairro no contexto da cidade ............................................................... 40
Figura 11. Delimitação do bairro Kalundo em zonas............................................................... 41
Figura 13. Crescimento da malha urbana 2015 ........................................................................ 43
Figura 12. Crescimento da malha urbana 2005 ........................................................................ 43
Figura 14. Principais espaços de atividades económicas e de equipamentos na...................... 45
Figura 15. Localização dos principais equipamentos no bairro Kalundo ................................ 47
Figura 16. Escola primária nº161 ............................................................................................. 48
Figura 17. Escola primária nº2 ................................................................................................. 49
Figura 18. Campo de futebol informal do bairro ..................................................................... 50
Figura 19. Campo de futebol adaptado pelos rapazes do bairro .............................................. 51
Figura 20. Escola em construção no recinto da igreja.............................................................. 52
Figura 21. Problemas do saneamento básico e algumas medidas de intervenção .................... 53
Figura 22. Fontes de aproveitamento de água das zonas A e B do bairro ............................... 54
Figura 23. Sistema de distribuição de energia elétrica no bairro ............................................. 55
Figura 24. Áreas de risco na zona Norte do bairro Kalundo .................................................... 57
Figura 25. Identificação de alguns problemas relacionados com infraestruturas .................... 61
Figura 26. Intervenções feitas pela administração municipal nos últimos tempos .................. 70
Figura 27. Orgânica do município do Huambo ....................................................................... 72
Figura 28. Espaço com valor agrícola do bairro ...................................................................... 80
Figura 29. Espaço para a instalação de um equipamento coletivo ........................................... 82
Figura 30. Espaço de domínio público do bairro ..................................................................... 85
X
Índice de quadros
Quadro 1 - Dados gerais da província e do município do Huambo ........................................ 35
Quadro 2 - Zonas delimitadas no foral da cidade de Huambo ................................................ 36
Quadro 3 - Sectores e Bairros da Comuna do Huambo ......................................................... 39
Quadro 4 - Equipamento coletivo no Bairro Kalundo ........................................................... 47
Quadro 5. Característica (%) dos inquiridos do bairro de Kalundo ........................................ 58
Quadro 6. Principais problemas do bairro ............................................................................... 62
Quadro 7. Tipo de intervenções feitas pela administração pública nos últimos anos ............. 62
Quadro 8. Intervenções consideradas urgente realizar no bairro pela administração ............. 63
Quadro 9. Interesse e motivação da população para trabalhar com as autoridades ................ 63
Quadro 10. Equipamentos mais necessários no bairro ............................................................ 64
Quadro 11. Áreas da cidade onde são utilizados os equipamentos necessários ...................... 64
Quadro 12. Locais onde as crianças frequentam a escola ....................................................... 64
Quadro 13. Melhorias que a população gostaria de ver realizadas no bairro .......................... 65
Quadro 14. Cruzamento (%) da idade com as questões 1 e 9 ................................................. 65
XI
Lista de abreviaturas
ATL – Associação dos Taxistas de Luanda
DW – Development Workshops
UN – United Nation
PT – Ponto de Transformação
XII
1. Introdução
1.1. Motivação
Em Angola, grande parte da população rural migrou para as áreas urbanas
durante os anos da guerra, quer deslocadas pelo conflito armado quer em busca de
meios de vida alternativos. O fluxo de pessoas, conjugado com uma alta taxa de
natalidade, favoreceu um rápido crescimento da população urbana, particularmente em
Luanda1.
1
Luanda é o maior centro urbano de Angola, elevado à categoria de província devido à sua condição
especial de capital do país. Com a nova reorganização administrativa, integra os seguintes municípios:
Luanda; Cacuaco; Belas; Viana; Cazenga; Icolo e Benco e Quissama. Lei nº 29/11 de 1 de Setembro –
Lei de Alteração da Divisão Político-administrativa das Províncias de Luanda e Bengo.
2
Musseques são áreas residenciais pobres localizadas na periferia de Luanda, que indica as zonas de
areias avermelhadas situadas no planalto de Luanda. O termo assume “significado sociológico quando é
utilizado para designar os aglomerados de cubatas construídas nestas áreas por indivíduos expulsos da
1
paisagem e provocaram transformações ao nível social, político, económico, entre
outros (MONTEIRO, 1973: 24-26; RODRIGUES, 2003: 20, Cit. por Guimarães, 2010:
4).
Nas áreas mais pobres de Luanda, especialmente nas áreas agrícolas em redor da
cidade, famílias de baixos recursos e pessoas deslocadas adquiriram terras através da
ocupação ilegal ou da compra a anteriores residentes. Isto levou ao crescimento de áreas
informais fora dos limites da cidade planeada, formando uma nova periferia urbana, na
qual terrenos rurais progressivamente se foram tornando residenciais.
cidade [centro] devido à expansão urbana, ou seja, os musseques são zonas residenciais que se formam
em torno do centro urbano de Luanda, servindo de refúgio aos pobres a exemplo das favelas cariocas.
Disponível em: www.repository.utl.pt › ... › DPAUD - Tese de Mestrado, acesso em:11/06/2015 .
3
UNITA (União Nacional para a Independência total de Angola), é o maior partido da oposição em
Angola, fundada ao 13 de Março de 1966 em Muangai, província do Moxico. Disponível em:
unitaangola.com/PT/Tableestatutos1.awp?WD_ACTION...1, acesso em: 11/06/2015.
2
saído da cidade e porque essa zona era também mais segura pois era já habitada
(Robson e Roque 2001: 32).
Estes problemas, por si só, justificam a pertinência deste tema para a dissertação,
tornando-se ainda mais interessante com os grandes desafios que se colocam a nível do
Planeamento Urbano e do Ordenamento do Território.
3
1.2. Interesse do tema
A Constituição da República de Angola consagra no seu artigo 85.º4 O “direito à
habitação e a qualidade de vida a todo o cidadão”. Mas as áreas peri-urbanas em
Angola conheceram ao longo da sua história, um investimento quase insignificante.
4
Portanto, em certos bairros as pessoas reúnem-se para realizar algumas
atividades de carácter diverso. As “campanhas de limpezas” são exemplos mais citados.
Estas campanhas aparecem por iniciativa de uma igreja ou de alguma figura notável do
bairro ou, ainda, no caso de Luanda, solicitadas pela comissão de moradores.
1.3. Objetivos
Objetivo geral
Objetivos específicos
5
Identificar as formas de atuação no bairro do Kalundo por parte da
Administração Municipal.
Auscultar a população residente sobre os problemas do bairro e as prioridades de
intervenção que defendem.
Desenvolver propostas de qualificação do bairro com incidência nos espaços
públicos e nos equipamentos coletivos de proximidade.
1.4. Metodologia
Para conhecer a perspetiva dos moradores sobre a sua área de residência, foi
feito um inquérito tendo como finalidade identificar os principais problemas do bairro, o
interesse e motivação da população em trabalhar com as autoridades para melhorar as
condições de vida no bairro, e os melhoramentos que a população gostaria de ver no
bairro.
6
Amostra
7
Por último foi feito uma análise dos instrumentos de planeamento com
incidência no bairro bem como das medidas de intervenção aí propostas.
8
A metodologia encontra-se esquematizada na figura seguinte:
Enquadramento da
problematica
- processos de urbanização
nas cidades africanas
- As areas urbanas
informais
Valorização do
bairro Kalundo -
Huambo
Bairro Kalundo
Enquadramento do
bairro nas areas
informais da
cidade de Huambo
Caracterização do
Bairro
Caracteristicas
Problemas do Caracteristicas
sócio-
bairro e sua gestão uerbanisticas
demograficas
Analise das
Registo
propostas dos
Fotografico
planos
Entrevista as
entidades da Levantamento
administração e as urbanistico
autoridades locais
Inquérito aos
moradores
9
1.5. Estrutura da dissertação
O segundo capítulo – faz uma revisão crítica da literatura, onde o autor destaca
os Processos de Urbanização em África, o crescimento e a consolidação das áreas
informais bem como apresenta e discute diversas definições para o Espaço Público e
para os Equipamentos Coletivos.
10
2. Enquadramento Teórico e Conceptual
Perante a falta de uma política agrária eficaz, os jovens fogem do campo para a
cidade, mas as cidades não têm capacidade para albergar tantas pessoas, os empregos
escasseiam, o desemprego é muito alto e a criminalidade sobe. Nas cidades o fosso entre
os ricos e os pobres é evidente, a superpopulação acarreta vários problemas e riscos,
como o sofrimento, o desemprego, a falta de condições de habitabilidade e salubridade,
a exploração e a morte. A mão-de-obra barata e a escravatura imperam nestas cidades
africanas, não contribuindo para que a vida destas pessoas melhore, intuito com o qual
migraram para as cidades (Ebah, 2013).
6
Lagos integrou recentemente a fileira das megacidades do Mundo – segunda da África depois de Cairo e
Kinshasa, com mais de 10 milhões de habitantes em 2014. Mais três são esperadas em 2030 como Dar es
salaam (Tanzânia), Joanesburgo (África do Sul) e Luanda (Angola) (United Nation 2014b: 14).
12
contribui para a fragilidade dos estados no continente. Fomentados pelas perspetivas de
oportunidades económicas, os êxodos relacionados com conflitos e as pressões
ambientais nas zonas rurais, as cidades africanas crescem a um ritmo estimado de 15 a
18 milhões de pessoas por ano. Com mais de 40 por cento de africanos de idade inferior
a 15 anos, muitos dos quais destituídos de meios de subsistência, as cidades africanas
tornaram-se centros densamente povoados de jovens desempregados.
O mesmo autor diz que estas condições criam uma mistura explosiva que pode
intensificar o crime violento, a atividade de bandos de delinquentes, o tráfico ilícito,
ligações aos sindicatos internacionais de crime organizado e a instabilidade política. As
repercussões afetam potencialmente todos os países do continente. Os Bairros de lata de
Kibera7 (Nairobi), Kru (Abuja), Soweto (Joanesburgo), Kamp Luka (Kinshasa),
Bonaberi (Douala) e outros locais, são já em grande medida zonas “no-go” (a não
entrar) para as forças de segurança estatais. E com a aceleração da urbanização os
problemas de segurança tenderão a agravar-se.
7
Kibera foi fundada por volta de 1918, quando o Quénia ainda estava sob o domínio inglês. Com uma
densidade demográfica de 2.000 pessoas por hectare, Kibera, localizado nos arredores de Nairobi, no
Quénia (na África Oriental), é um dos assentamentos informais urbanos mais densamente povoados do
mundo, segundo a UN-Habitat (Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos). O local
abriga um terço dos habitantes da capital queniana. Ainda de acordo com a (UN-Habitat, Kibera 2014),
sua população total é superior a 200 mil pessoas, o que faz da favela a segunda maior do continente
africano e a maior da África Subsaariana. Os Núbios que vivem ali há mais de cem anos querem que
Kibera fique registada como território de sua comunidade, mas suas intenções chocam com as de muitos
quenianos que se assentaram ali nos últimos 60 anos. Disponível em: https://halshs.archives-
ouvertes.fr/halshs-00751833.
13
Não unicamente. Normalmente em África quando se questiona as causas dos
problemas que o continente atravessa, o discurso não esconde a culpa atribuída ao
crescimento acelerado da população dos últimos anos. Por isso, é preciso saber que a
ineficiência das instituições públicas, a corrupção generalizada, a má distribuição dos
recursos, o acesso restrito ou desigual das oportunidades económicas, contribuem para o
fomento dos problemas em África.
Fonte: ONU-HABITAT
Segundo a mesma fonte, as ultimas projeções das Nações Unidas, entre 2010 e
2030 o número de africanos que vivem em cidades terá um acréscimo de 345 milhões.
14
emprego, serviços sociais básicos, segurança social etc. Esta é uma das fragilidades que
afeta o continente em matéria de desenvolvimento. Em vez disso, em muitos países
africanos, a percentagem de pessoas com acesso a serviços não acompanhou o
crescimento da urbanização. Por outras palavras, os países africanos apesar de terem
sido “urbanizadores tardios”, acolhem um dos bairros de lata mais pobres e instáveis do
mundo (Commins, 2011: 3).
15
diminuiu no Norte de África. A maioria da população do Norte de África hoje vive em
cidades (figura 4), exceto no Egipto (43,4%) e no Sudão (33,1%). A população da sub-
região aumentou de pouco menos de 200 milhões em 2010, para 202,7 milhões em
2011. Destes, 104,4 milhões (51,5%) viviam em áreas classificadas como urbanas e
98,3 milhões (48,5%) rurais. Como resultado das condições em grande parte áridas e
desérticas da sub-região, suas cidades são bastante repartidas de forma desigual com a
maioria dos assentamentos urbanos localizados ao longo da orla costeira do
mediterrâneo Sul e no vale do rio nilo e delta. Especificamente o vale do nilo e delta
concentra 35,0 % da população urbana da sub-região ao passo que 82,5 milhões de
habitantes do Egipto representam mais de 40% da população total da África do Norte
(The State of Africa Cities 2014: 62)
16
Luanda (Angola), com 7.000.000 milhões de pessoas (Resultados Definitivos do
censo 2014).
17
desenvolvimento rural. As elevadas taxas de crescimento da população têm contribuído
para a expansão rápida e não planeada de assentamentos de renda baixa na periferia de
muitas cidades.
18
Figura 6. Trânsito caótico na cidade de Luanda, um dos males da urbanização
19
parte da população europeia até finais de 1975, que de maneira generalizada,
contribuíram para destruir a economia angolana.
20
milhões de habitantes urbanos tradicionais, desalojados ou jogados na miséria pela
violência do ajuste”. Tais medidas repercutiram-se negativamente no plano social,
criando múltiplos disfuncionamentos, particularmente no quotidiano da maior parte dos
citadinos (Medeiros, 2006: 194).
As autoridades locais, por vezes, ignoram o uso do espaço público por parte dos
pobres, embora o espaço público é a sala de estar do homem pobre, é importante para a
recreação, desenvolvimento social, cultural e económica dos grupos vulneráveis United
Nations (2015: 3). Nesta lógica, Seixas (2011: 210) define o espaço público como:
21
como espaço «construtor» e agregador de identidade (s) da e na cidade” (Seixas, 2011:
210).
No mesmo sentido, para a United Nations (2015: 1), “os espaços públicos são
todos os lugares públicos ou de uso público, acessível e agradável por tudo de graça e
sem fins lucrativos”. Isso inclui ruas, espaços abertos e instalações públicas.
Segundo Fátima (2008: 3), do ponto de vista histórico, ele surge como espaço
reservado e seletivo, próprio das elites sociais do séc. XVIII. Porém, a expressão espaço
público passou a traduzir uma noção de espaço participado, que se afigura como um
espaço de bem-estar, de cultura urbana, de participação e de qualidade de governação,
nos finais do séc. XX. A mesma autora, destaca que as revoltas políticas do séc. XVIII e
XIX, transformaram estes espaços circunscritos da cidade na esfera pública
democrática.
A Cidade do Cabo, na África do Sul surge como exemplo prático a esta questão.
A transição do regime do apartheid para a democracia, em 1994, promoveu uma ampla
campanha de melhoria da qualidade de vida dos habitantes das áreas peri-urbanas, com
prioridade no acesso à água e à construção de rede de esgotos, bem como a criação de
um espaço público de boa qualidade para os seus habitantes.
Hoje, o espaço público, entendido no seu sentido mais amplo enquanto espaço
de convivência e atmosfera pública, encontra-se sujeito a tensões fragmentárias. Entre
os fatores sociais que mais têm contribuído para esta tendência, destaca-se o atual
sistema de consumo, e os modernos sistemas tecnológicos diversos.
22
determinante nesse objetivo. Vale a pena, a este propósito, transcrever a definição de
Costa Lobo (1995: 86) Cit. Por (Mateus, e Serdoura 2010: 3).
23
Nas cidades, os equipamentos coletivos ocupam lugar de destaque pelo seu
papel público, e encontram-se em diversas tipologias, consoante as necessidades que
apresentam (saúde, desporto, segurança pública, educação, religiosos etc.). A sua
distribuição é definida em função do número de utentes para o qual é programado, ou
em função da sua escala geográfica.
24
3. Problemas da Urbanização em Angola
A guerra civil que devastou o país durante quase trinta anos, juntamente com os
fracos resultados alcançados na política macroeconómica, a presença de pesados
aparelhos burocráticos, implementação de programas de ajustamento estrutural, má
governação e dívidas externas, conduziram o país a uma deterioração das condições de
vida da população em geral e ao aumento galopante dos problemas urbanos. Esta
situação complexa e de resolução difícil, está na base dos problemas que caracterizam
as cidades angolanas nos dias de hoje.
8
Milhares de cabeças de gado estão ameaçadas pela seca no Cunene – a seca que assola a província do
Cunene desde o início do ano 2015, coloca em risco a sobrevivência de 68.776 cabeças de gado bovino na
comuna de Ondjiva, sede do município do cuanhama, informou dia 28/10/2015 o Soba grande da
circunscrição. Venâncio Kaindume disse que a estiagem afeta 185.649 caprinos e 320.901 habitantes da
região. Acrescentou que a agricultura não foi poupada. Informou ainda que as autoridades tudo têm feito
para minimizar a carência que se regista, distribuindo água e alimentos (Angonoticias – Noticias de
Angola em tempo real, acesso em 29/10/2015).
25
Figura 7. Problemas urbanos característicos das áreas urbanas de Angola
O desemprego juvenil em números elevados | A delinquência motivada pela falta de ocupação da juventude |
Dificuldades no acesso a casa própria | A seca e a escassez de água que afetam o território nacional,
principalmente o Sul do país, são problemas comuns à generalidade dos aglomerados urbanos do país.
A prolongada crise económica que sacudiu o país durante a guerra civil, com a
falência quase completa da agricultura e atividades conexas e mesmo da indústria
transformadora, apesar de se localizar totalmente nas cidades, agudizou os problemas
urbanos que desde sempre caracterizaram o país (Relatório Social de Angola 2013: 22).
26
mobilidade internacional da força de trabalho provoca, em consequência, um aumento
da concorrência no mercado de trabalho nacional.
Todos esses problemas e os demais acima citados, têm sido acompanhados com
muita atenção por parte do executivo nacional através do Plano Nacional de
Desenvolvimento (2013-2017, 2012: 83). Em Angola os jovens têm merecido maior
atenção do Estado, sendo eles considerados personagem principal da modernização, da
mudança de mentalidade da reprodução social e da recuperação do atraso estrutural do
país constituindo, o maior potencial para o seu desenvolvimento.
Nas últimas décadas, a intervenção nesta esfera tem sido orientada pelo Plano
Executivo do Governo de apoio à Juventude, em parceria com diversas instituições,
empresas e sociedade civil, com um impacto significativo na redução da taxa de
desemprego dos jovens, no melhoramento das condições de vida e na sua participação
ativa no processo de reconstrução e desenvolvimento do país.
28
como pobreza, igualdade de género, PIB, sustentabilidade ambiental) tem estado a
melhorar em Angola, especialmente nos últimos anos.
Entre os 187 países avaliados, Angola situa-se na 149ª posição com um índice de
0,526 (Relatório de Desenvolvimento Humano, 2014: 168). Em 2000, dois anos antes
do alcance da paz, este índice era de 0,375 e Angola estava nos últimos países do
ranking. Em 2015, subiu para 0,532 embora com a mesma classificação de antes
(Relatório de Desenvolvimento Humano, 2015: 34). Esses resultados devem-se a
avanços conseguidos especialmente:
No plano educativo, onde a taxa de cobertura escolar subiu de 35% para cerca de
85% desde 2002 (total de 7156600 alunos do ensino geral) decorrentes da
expansão da rede escolar, e de melhorias qualitativas na formação de
professores, nas instalações e equipamentos e na reforma educativa.
A taxa de alfabetização de adultos subiu para 70%;
O país conta hoje com um número significativo de quadros, profissionais e
técnicos com formação média e superior;
Existem atualmente 7 universidades públicas e 22 privadas que atendem mais de
150 mil alunos, contra os 60 mil em 2002 (Muangolé, 2013: 10).
Incremento do número de salas de aulas (9%);
Rápido crescimento do número de alunos matriculados (68%) e de docentes do
ensino superior (21%);
Aumento do número de bolsas internas (200%) e de bolsas externas (21%)
(“Exame nacional 2015 da Educação para todos: Angola”).
- No plano da saúde, onde se deu uma expansão dos serviços, o que contribuiu
para a melhoria do acesso aos cuidados de saúde, embora se registem incidências
preocupantes de doenças endémicas como a malária, diarreias, má nutrição, parasitoses
(UNICEF, 2015: 19).
29
A prevalência de crianças com baixo peso diminuiu de 37% para 16%;
Apesar desses esforços, o impacto sobre resultados de saúde tem sido moderado.
Isto deve-se principalmente devido baixa taxa de cobertura e da falta de qualidade dos
serviços. Há também uma discrepância entre o forte investimento em infraestruturas de
saúde, isto é, hospitais, centros de saúde, e a distribuição geográfica desigual de
profissionais de saúde (“Exame nacional 2015 da Educação para todos: Angola”).
30
conta do mercado, a criminalidade aumentou, ou seja, vive-se um elevado ambiente de
pobreza.
Nos termos do artigo 12.º, 45.º e 71.º da Lei 17/10 de 29 de julho, compete a
entidade provincial, municipal9 e comunal:
9
Ver ponto 14.6.2 Formas de actuação no município.
31
a) Assegurar a protecção dos cidadãos nacionais e estrangeiros e a propriedade
pública e privada;
b) Desenvolver acções de protecção civil e de epidemiológica;
c) Tomar medidas para combater a delinquência, à especulação e ao
açambarcamento e ao contrabando, à sabotagem económica e à vadiagem;
4. No domínio do ambiente:
a) Promover acções, campanhas e programas de criação de espaços verdes;
b) Promover o saneamento e o ambiente, bem como a construção de equipamento
rural e urbano;
c) Promover campanhas de educação ambiental etc”.
32
3. No domínio do desenvolvimento social e cultura:
a) Promover campanhas de educação cívica junto das populações;
b) Preservar os edifícios, os monumentos e os sítios classificados como património
histórico nacional e local” (artigo 71º. Lei n.º 17/10 de 29 de julho).
33
desenvolvimento local. Este website é uma plataforma de partilha de informação sobre
os serviços básicos no município e foi criado através da contribuição dos membros do
fórum por meio do mapeamento participativo e avaliações urbanas com os moradores.
10
Ver mais informações em PDM, Huambo 2011 – VOL1-T1.3
34
Figura 8. Localização do município do Huambo na província do Huambo
Huambo População
11
Resultados Definitivos do Censo 2014
35
A cidade é servida por duas estradas principais, ambas com pistas duplas de três
faixas:
Área
Total 52.233 ha
36
sociedade, estão a trazer de volta a beleza que desde então caracterizou a cidade do
Huambo no contexto do país.
37
Figura 9. Sobreposição entre áreas urbanas formais (1972) e informais (2011)
38
A sobreposição, apresentada na figura 9, entre áreas urbanas consolidadas
assinaladas no PDU de 1972 e áreas contiguas a estas ocupadas na atualidade mostram a
relação entre umas e outras e a real dimensão territorial deste fenómeno (PDM, 2011:
143).
Sectores Bairros
Comte. Bandeira Bairro do Comércio, Benfica, Brigada, Colemba, Canhe, Frederico, S. Teresa
Epandero, Carilongue, Lumato, Camunda Sede, Cacareua e Estêvão.
Comte. J. Kapango Cidade Alta, Bairro da Casa dos Rapazes, Bairro de Fátima, Bairro Azul,
Bairro Académico, Cidade Baixa, Bairro de S. Luís, Cavongue Centro,
Capango, Santo António, Cavongue Baixo, Lugar de Mukulonda e Cidade
Alta Sul.
Comte. Vilinga Bairro de S. José, Bairro de S. João, Canata, Santa-iria, Sandangote, Bomba
Baixa, Bomba Centro, V. Graça, Tchiva, Quilombo, Kandjaya e Calilongue
da cuca.
Comte. Ch. Samacau Bairro de S. Pedro, Licima, Catumanda, Aviação, Mungonane, Amidos,
Calombringo, Lufefena, Lugar de Carilongue, S. Bento, Kalundo, Kakelewa,
Chivela e Munda.
Apesar das suas características urbanas como um bairro informal, tem grande
importância económica para a cidade, visto que, agrega no seu exterior, atividades
económicas diversificadas que contribuem de forma generalizada para a economia da
cidade.
40
Por outro lado, tem um valor histórico-cultural que faz parte da historicidade da
cidade, principalmente quando se coloca em causa o próprio cemitério municipal do
Huambo. Para recordar, o próprio nome «Kalundo», é originário da língua Umbundo
que em língua portuguesa significa «cemitério». Com os seus 94 anos de existência,
gerado por angolanos, sofreu profundas transformações ao longo dos anos, tanto em sua
configuração urbana como em práticas sociais e locais. Esta sucessão temporal deixou
elementos históricos que remetem ao passado desde o período colonial, levando-o a
fazer parte do que podemos denominar de património histórico-cultural da cidade.
Geograficamente, existe uma divisão do bairro feita pelo Sobado, que contempla
as seguintes áreas: Zona A, Zona B, Zona C e a Zona D (figura 11).
41
Segundo o Soba do bairro, “a Zona A e a Zona B, são as mais antigas do bairro
e as que mais crescem em termos económicos” – para recordar, o próprio bairro
começou a crescer a partir do cemitério municipal, ou seja, nas zonas A e B (Zonas
localizadas frontalmente ao cemitério municipal), para as Zonas C e D – estas últimas,
as que mais crescem em termos demográficos (figura 13).
42
Figura 13. Crescimento da malha urbana 2005
43
O bairro Kalundo é um dos bairros peri-urbanos mais antigos da cidade do
Huambo, apresentando por isso uma forte tradição histórico-cultural. Implantado numa
zona periférica da cidade, tem vindo a crescer nos últimos anos, principalmente em
termos demográficos e económicos, por estar localizado numa zona industrial com forte
comércio informal de proximidade e próximo do maior mercado informal da cidade do
Huambo. A sua população, de aproximadamente 37 mil habitantes, tem como atividade
de subsistência a agricultura cultivando o milho, a batata-doce, o feijão e outras
hortícolas, existindo também residentes a trabalhar em negócios no maior mercado
informal da província, vulgo Alemanha. A maioria da população é pobre, vivendo em
habitações precárias sem quaisquer condições de habitabilidade.
O bairro está inserido numa zona industrial da cidade (zona consolidada), que
tem vindo a recuperar das ruinas provocadas pela guerra, e próximo de uma linha dos
Caminhos de Ferro de Benguela, que traz muita vantagem a população do bairro quando
se trata de transportar grandes quantidades de pessoas e mercadorias ao longo da via
Huambo/Benguela, até ao Luau. Os pequenos eixos de venda ambulante, os mercados
informais/formais e os armazéns grossistas/retalhista localizados na periferia do bairro,
caracterizam a economia do bairro. Economicamente o bairro está minimamente
servido, ou seja, na periferia do bairro (zona industrial de S. Pedro), encontram-se
alguns serviços e comércio formal:
Comércio:
44
marcam cada uma das realidades que assim se organizam e estruturam (Fadigas, 2010:
27).
Para o mesmo autor, o território envolvente das cidades sempre foi um território
em transformação e sujeito a múltiplas pressões. A cidade como instrumento de
modelação do território cria uma pressão de uso sobre as envolventes rurais/urbanas e
representa um fator de consumo intenso e rápido dos recursos naturais disponíveis.
12
Os hiasses (expressão luandense que designa os Toyota Hiaces, marca predominante nas viaturas
semioficial, usualmente utilizada para designar a generalidade desses veículos) tornaram-se um elemento
omnipresente na paisagem automóvel luandense, facilmente identificáveis, a partir da constituição da
Associação de Taxistas de Luanda (ATL), pela ostentação maioritária das cores azul e branca (Lopes,
2004: 3).
45
da cidade o essencial em termos de transporte, quer de passageiros quer de mercadorias,
entre as residências e o local de trabalho. O bairro encontra-se entre duas redes viárias
estruturantes, onde os autocarros públicos passam para servir a população local.
46
equipamentos ligados ao desporto, saúde, citando alguns dos mais destacados. Embora
os bairros informais da cidade se destacam pela ausência de infraestruturas, nos últimos
anos tem-se verificado um incremento à medida que estas áreas se vão tornando mais
urbanas.
47
Equipamento de ensino
48
velocidade, o que tem causado acidentes com certas crianças. Outro problema esta
relacionado com a falta de campo desportivo para o desenvolvimento de atividades
desportivas com as crianças.
Equipamento de saúde
49
respondam à demanda da comunidade, devido às altas taxas de natalidade e doenças
diversificadas que se manifestam constantemente. A malária é a principal causa de
mortalidade infantil devido à falta de higiene, ou seja, o saneamento básico é débil.
Segundo o Soba, “no bairro existe muito lixo exposto ao ar livre sem recolha
por parte da administração, nem formas de enterrá-lo há por parte dos moradores,
como tem-se feito noutros bairro, devido a falta de espaço disponível para o devido
efeito”. É desta forma que a malária e outras doenças se manifestam constantemente no
bairro.
Equipamento desportivo
50
asfaltada, onde a população tende a se concentrar mais. Esta situação torna-se mais
interessante, uma vez que no bairro existe e sempre existiu uma equipa de futebol já
com grande tradição denominada “onze bravos do Kalundo”, que tem participado em
todas as edições do campeonato designado “Gira Bairro13”, disputado no município do
Huambo. Anteriormente esta equipa do bairro praticava futebol no campo acima citado,
mas após a privatização do mesmo, a equipa viu-se obrigada a procurar outro espaço
disponível fora do bairro, onde atualmente disputam os seus jogos.
Equipamento religioso
13
É um torneio de futebol amador em Angola “a taça do presidente”, promovido pelo Movimento
Nacional Espontâneo, que procura promover valores no futebol de massas.
51
coabitarem com outras pessoas. Aparentemente, as igrejas oferecem um espaço único
no ambiente peri-urbano: um espaço de comunidades, de relações humanas amáveis e
cordiais e onde a comunicação entre as pessoas é mais fácil (Robson e Roque 2001:
143). As igrejas desempenham variados papéis no seio das populações das áreas peri-
urbanas, principalmente na mudança de comportamento, apelando as famílias a viverem
num ambiente unido, os jovens longe das drogas, das bebidas alcoólicas, da
delinquência, da prostituição etc. Outra atividade de relevo desempenhada pelas igrejas
no bairro Kalundo, ancoradas nas boas relações com as escolas e autoridades
tradicionais, é o apoio escolar, onde actualmente a igreja disponibilizou uma parcela de
terra dentro do seu recinto para a construção de quatro salas de aulas, um corredor, uma
Saneamento básico
52
Figura 21. Problemas do saneamento básico e algumas medidas de intervenção
O lixo a porta de residências no interior do bairro | Contentores superlotados de lixo na periferia do bairro | Tapa
buraco e pavimentação de ruas no interior do bairro para prevenir águas residuais | Charco de águas paradas
Para o Soba, “isto constitui uma das grandes preocupações das autoridades
tradicionais, por isso, têm vindo a apelar à população no sentido de manterem as
fossas devidamente cobertas e seguras”. O facto da maioria da malha urbana ser
orgânica, dificulta o escoamento das águas residuais, pluviais e aumenta os charcos de
águas paradas responsáveis pelo desenvolvimento do mosquito causador da malária,
uma das principais causas de mortalidade infantil. Por este motivo, tem havido
envolvimento entre moradores e autoridades tradicionais no combate ao mau estado das
ruas (figura 21).
53
Atualmente já não é assim, e alguns moradores do bairro dizem que o lixo fica
acumulado nos contentores mais de dois meses (atualmente no interior do bairro já não
existe contentor algum de resíduo sólido como nos mostra a figura 21, ou seja, os
mesmos foram retirados do bairro pela empresa responsável, sem qualquer
esclarecimento a população local. Isto significa que atualmente o lixo é armazenado no
interior do bairro).
A água
Sem água nenhuma cidade pode viver e o fator da qualidade é tão importante
como o da quantidade (Garnier-Beaujeu, 2010: 308). As necessidades no bairro são
extremamente variadas: as zonas A e B são alimentadas na sua maioria por manivelas
construídas pelo Fundo de Apoio Social, e por uma conduta de água feita pela
Administração Municipal, que alimentava o único chafariz localizado na zona A (o
chafariz que outrora cobria grande parte do bairro, necessita de assistência técnica)
(figura 22).
Figura 22. Fontes de aproveitamento de água das zonas A e B do bairro
54
informados sobre o assunto, a partir do ramal de ligação fizeram a ligação no interior
das suas residências, e o restante acham que é da responsabilidade da administração
municipal.
Nas zonas C e D não existe manivelas, e o problema da água passa pela compra
em cisternas, aos agentes revendedores, e captação da água das chuvas e furos
tradicionais feitos individualmente dentro dos quintais. Desta maneira, o défice de água
associado à seca que nos últimos anos tem afetado a cidade, estão na base dos
problemas de água que os moradores apresentam.
Energia elétrica
55
Mas alguns moradores não querem pagar a energia por esta via, por isso, optam
por fazer ligações clandestinas a partir do poste, obrigando a ENDE (empresa nacional
de distribuição de energia) a fazer os respetivos cortes no bairro.
Acessibilidades
56
trouxe aos moradores uma outra forma de encarar o bairro – nas áreas servidas pelo
asfalto, é muito frequente observar um tipo de construção mais moderna, própria das
áreas urbanas, maiores movimentações de pessoas, aglomeração de taxistas, abertura de
novos espaços comerciais etc.
Zonas de risco
57
4.3.3. O bairro visto pelos moradores
58
Situação perante a Habitação própria 17 17 20 23 78
Habitação Arrendamento 8 8 4 2 22
Terreno do próprio 3 10 15 2 30
Situação perante o
Não do próprio 22 15 10 23 70
Terreno construído
Fonte: inquérito realizado entre Abril e Maio de 2015
Problemas do bairro
Como dizia um dos inquiridos, “neste bairro existe todo o tipo de problema que
uma pessoa pode imaginar”. Mas a nossa questão de partida era saber: quais os
principais problemas do bairro? Importa sublinhar que houve um consenso na maioria
das respostas sobre os problemas existentes, que vão dos físicos aos socioeconómicos,
embora os problemas apresentados variem de Zona para Zona do bairro.
“A maioria dos moradores deste bairro, passam seus dias nos mercados
informais para vender, ou seja, a maioria dos moradores desse bairro são
59
comerciantes14 porque temos grandes dificuldade em conseguir emprego seguro.
Quando dizemos que vivemos no bairro de Kalundo, somos logo mal interpretados e
vistos como delinquentes”. Ainda acrescenta dizendo: “no centro da cidade falar em
Kalundo, cria logo tumulto. Por vezes somos obrigados a mentir a nossa própria
morada para não sermos discriminados. Esta situação baixa muito a nossa auto-estima,
e estamos preocupados com o futuro dos nossos filhos”. [Avelino Dias, 2015]
“A delinquência neste bairro passou dos limites, nós mulheres por exemplo, não
conseguimos arranjar namorado que não seja de cá do bairro, porque ninguém aceita
entrar aqui, principalmente de noite. Na escola quando fazes amizade com alguém,
bastava-lhe dizer que vivo no Kalundo, é o suficiente para não continuar com a
conversa”. A sua amiga ao lado dizia: “por favor! vocês não conseguem nos arranjar
um quarto na cidade para viver com a minha amiga?, já não aguentamos mais com
essa vida. Neste bairro, depois das 18 horas ninguém entra e ninguém sai mais”. [Alice
e Arlete, 2015]
14
A população de maior recurso, vende no maior mercado informal da cidade e outros na periferia do
bairro: os mais pobres, vendem à porta de casa sobre uma bancada, produtos de consumo imediato como
rebuçados, pastéis fritos, frutos, carvão etc.
60
contentores de lixo, deficiente abastecimento público de água e energia, esporádica
recolha de RSU e mau estado das vias de circulação), por se tratar de situações de nível
básico, isto é, a sobrevivência diária.
Quadro 7. Tipo de intervenções feitas pela administração pública nos últimos anos
62
Sobre as intervenções feitas no bairro pela administração municipal nos últimos
anos, verifica-se que as estradas representam 35% das respostas (mas referidas nas
zonas A e B), seguida da intervenção nas escolas (33% das respostas). As intervenções
sobre as redes de água e de energia foram muito menos citadas (respetivamente 15% e
17%).
63
Quadro 10. Equipamentos mais necessários no bairro
64
A maior parte das crianças frequenta escolas dentro do bairro (76%), o que é um
indicativo de que a nível dos equipamentos de ensino primário está a crescer no bairro.
São as crianças das zonas B e D que mais se deslocam para fora do bairro (quadro 12).
Designação Idades
Quais são os principais problemas do bairro? 18-29 30-44 45-59 60 + anos Total
Energia 17% 9% 6% 2% 34%
Água 9% 4% 5% 1% 19%
Delinquência 20% 9% 5% 1% 35%
Recolha de RSU 7% 2% 2% 0 11%
Contentores de RSU 0 0 0 0 0
Vias de circulação 1% 0 0 0 1%
Total 100%
O que gostaria ver melhorado no bairro? 18-29 30-44 45-59 60 + anos Total
Segurança 23% 12% 7% 1% 43%
Energia 14% 10% 7% 3% 34%
Distribuição de água 7% 3% 4% 1% 15%
65
Recolha de RSU 4% 2% 2% 0 8%
Total 100%
Fonte: Inquérito realizado entre abril e maio de 2015
O quadro 14 revela que a população mais jovem do bairro (18-29 e 30-44 anos
de idade) encara com maior preocupação os problemas do bairro em relação à
população mais velha. Relativamente ao total de problemas referenciados, a
delinquência foi destacada pelos mais jovens, como o principal problema do bairro, com
20% e 9% respetivamente, totalizando 35% com o somatório dos outros grupos etários.
66
O Soba: “são particularmente os de carácter social como feitiçaria, roubo,
adultério, injúrias, bruxaria etc. Outros que estão para além das nossas competências,
transferimos para a administração da comuna”.
O Soba: “existe duas cabines no bairro, cada uma sustenta uma parte do bairro,
portanto, a cabine que sustenta o nosso lado, sofre poucos cortes, o outro lado tem
muitas ligações anárquicas por isso, a administração corta sempre. No caso da água,
existe essa desigualdade porque na altura da implantação das manivelas e do chafariz,
o bairro era praticamente a zona A e B. A zona C e D, são muito recentes e a
população que lá vivia era muito pequena”.
O Soba: “temos levado casos no comando policial mais próximo, e pedir junto
da administração que colocassem no mínimo, esquadras policiais móveis nas áreas
mais atingidas pelos delinquentes, assim, têm feito sempre que solicitamos”.
67
8. Neste momento, o que mais lhe preocupa no bairro?
Mas devido à quase inexistência de instituições públicas articuladas entre si, que
intervêm no desenvolvimento de projetos a nível local, a participação pública e a ação
coletiva dos habitantes tem sido pouco notabilizada. Por isso, raras vezes têm sido as
formas de diálogo existentes entre elas e a comunidade. Em geral, a população envolve-
se mais na tomada de decisão, em situações pontuais e problemas mínimos.
68
zona industrial da cidade e a escassos quilómetros da cidade centro. No dia 15 abril de
2015, realizou-se uma entrevista com técnicos da Administração Municipal,
especificamente da Repartição Municipal de Urbanismo e Ordenamento do Território,
para esclarecer as seguintes questões:
2. Que estratégia tem implementado o município nos últimos anos para regular o
índice de crescimento urbano desordenado no bairro?
3. Sendo um bairro que nos últimos dez anos tem apresentado grandes problema
sociais que têm influenciado negativamente a dinâmica da cidade, como é que a
administração lida com isso?
69
ambulância não consegue chegar lá, é muito preocupante, mas o país está a poucos
anos de paz, não é possível de uma só vez fazer tudo, porque só para desalojar um
bairro como o Kalundo, vai se fazer quatro ou cinco bairro idênticos para pôr todas as
pessoas. Por isso é preciso organizar meios financeiros e técnicos para pôr fim aos
problemas da população”.
71
Figura 27. Orgânica do município do Huambo
Fonte: Decreto executivo nº 311/08 de 30 de outubro (Diário da República, I Série – N.º 205)
72
Municipal; Repartição de Estudos e Planeamento e Repartição Jurídica e do
Contencioso Administrativo.
Portanto, todo este aparato político, social e técnico do município, não surte o
efeito desejável que poderia ter junto das populações. Isto pressupõe que vários aspetos
ainda devem ser melhorados, com destaque para o nível social, a rede de abastecimento
de água e a rede de equipamentos hospitalares. Também não deixemos de salientar que
grande parte da população da cidade já dispõe de certos benefícios, nomeadamente:
73
Na requalificação urbana das áreas já ocupadas em condições mais precárias,
designadamente nas áreas periféricas da cidade;
A instalação de equipamentos estruturantes (como as universidades), e de base
local (escolas, esquadras, pequenos equipamentos desportivos, etc.);
A reconversão das áreas de urbanização mais precárias;
A oferta de novas habitações;
A reserva e ordenamento de novas áreas para a atividades empregadoras
(indústria, mas também comércio e serviços) (PDM, 2011: 12).
74
c) Elaborar a proposta de orçamento da Administração Municipal nos termos da
legislação competente e remetê-la ao Governo Provincial com vista a sua
integração no Orçamento Geral do estado;
d) Promover e apoiar as empresas e actividades económicas que fomentem o
desenvolvimento socioeconómico do município etc.
2. No domínio do desenvolvimento urbano e ordenamento do território:
a) Elaborar o projecto de plano municipal de ordenamento do território e submetê-
lo ao Governo Provincial para aprovação;
b) Organizar os transportes urbanos e suburbanos, intermunicipais e intercomunais
de passageiros e cargas;
c) Promover o ordenamento e sinalização do transito e estacionamento de veículos
automóveis nos aglomerados populacionais;
d) Promover a iluminação, sinalização rodoviária, toponímia e cadastro;
e) Licenciar terras para diversos fins, nos termos da lei, bem como dinamizar,
acompanhar e apoiar a autoconstrução dirigida;
f) Autorizar a concessão de terrenos até 1000m², bem como observar e fiscalizar o
cumprimento no disposto na Lei de Terras e seus regulamentos.
3. No domínio do desenvolvimento económico e social:
a) Estimular o aumento da produção e da produtividade nas empresas de produção
e de prestação de serviços a nível municipal;
b) Desenvolver programas de integração comunitária de combate a pobreza;
c) Licenciar, regulamentar e fiscalizar a actividade comercial retalhista e de
vendedores ambulantes;
d) Assegurar a assistência social, educacional e sanitária, contribuindo para a
melhoria das condições de vida da população;
e) Preservar os edifícios, monumentos e sítios classificados como património
histórico nacional e locais situados no território do município;
f) Assegurar a manutenção, distribuição e gestão da água e electricidade no
município, podendo criar-se, para o efeito, empresas locais.
4. No domínio do saneamento, equipamento rural e urbano:
a) Garantir a recolha, tratamento do lixo e embelezamento dos núcleos
populacionais;
b) Assegurar o estabelecimento e gestão dos sistemas de drenagem pluvial;
c) Assegurar o estabelecimento, manutenção e gestão de cemitérios municipais etc.
75
5. No domínio da agricultura e desenvolvimento rural:
a) Superintender as estações de desenvolvimento agrário, e os perímetros irrigados;
b) Fomentar a produção agrícola e pecuária;
c) Assegurar a aquisição e distribuição de insumos agrícolas e assistência aos
agricultores e criadores etc.
6. No domínio da segurança pública e polícia:
a) Assegurar a protecção dos cidadãos nacionais e estrangeiros, assim como a
propriedade pública e privada;
b) Tomar medidas de protecção ao consumidor, bem como o combate à
especulação e açambarcamento etc.
7. No domínio da coordenação institucional:
1. Assegurar a orientação, o acompanhamento e a monitoria das administrações
comunais e superintender nos institutos públicos e empresas públicas de âmbito
local com sede no município;
2. Assegurar em coordenação com os órgãos competentes a realização do registo
eleitoral e demais operações legais inerentes as eleições presidenciais,
legislativas e autárquicas;
3. Realizar o recenseamento dos cidadãos com 18 anos de idade, residentes na sua
área de jurisdição etc”.
76
5. Propostas e Orientações para a valorização do Bairro de
Kalundo
A intervenção nas áreas informais é fundamental, dada a diversidade de
problemas que as afetam, ou seja, não têm condições de habitabilidade, e a maioria da
população residente é pobre, merecedora de uma mudança de paradigma no estilo de
vida urbano. As intervenções propostas são no sentido de criar condições mínimas de
habitabilidade às populações. Apesar da dimensão e carácter multidimensional dos
problemas, pensamos que uma das formas de os atenuar é intervir em dois grandes
domínios: i) introdução de benefícios para melhorar o espaço público; ii) melhoria dos
equipamentos e das infraestruturas básicas.
Na rede viária;
Nas hortas urbanas;
Nos espaços abertos do bairro.
Rede viária
O bairro é servido por uma via pública principal que partindo do maior mercado
informal da cidade atravessa o bairro no sentido Norte/Leste, em direção à cidade-
centro. Tem cerca de 1 km de comprimento, e é servida nas suas extremidades por uma
diversidade de usos:
Habitacional;
Comercial;
E uma escola primária e do 1ºCiclo central ao bairro, que acolhe a maioria das
crianças ali presentes.
77
interna dessa escola, fazendo referência aos perigos que a estrada representa para muitas
crianças que se deslocam de casa sozinhas, existindo já muitas vítimas de
atropelamento. No entanto, toda atenção dada a sinalização da via e ao comportamento
dos automobilistas merece destaque.
Falta de passadeiras;
Falta de plataformas elevadas (“quebra-molas”);
Falta de sinalização vertical e horizontal com aproximação de escolas;
Falta de lancis;
Falta de passeios para a passagem de peões etc.
Outra situação que merece atenção a nível da rede viária, é o facto de saber que
o bairro oferece condições de tornar algumas ruas alcatroadas, para além das já
existentes. Ou seja, a nível da rede viária, propõe-se a melhoria de algumas vias dentro
de cada zona do bairro. As zonas B e D oferecem mais condições de intervenção neste
domínio, devido a profundidade que oferecem em termos longitudinais. Já nas zonas A
e C não existe muita profundidade devido ao condicionalismo causado pela linha de
água que limita o bairro na parte norte.
Hortas urbanas
78
A horticultura urbana é essencialmente um sistema “local”, que fornece às
populações locais uma ampla variedade de produtos hortícolas – principalmente frutas e
hortaliças, mas também ervas, raízes, tubérculos, plantas ornamentais e cogumelos,
cultivados nas cidades e seus arredores (FAO, 2013: 18). Hoje, é objeto de estudo e
projetos promovidos por organizações internacionais influentes, como o programa
Growing Greener Cities da Food and Agriculture Organization (FAO) das Nações
unidas (Cachado e Baía, 2012: 65).
79
Figura 28. Espaço com valor agrícola do bairro
Com intuito de revalorizar este território, foi estruturado uma série de medidas
que permitirá o alcance pleno dos objetivos:
15
O tipo de urbanização dispersa, permite a existência de inúmeros espaços pequenos, que podem ser
ocupados com a horticultura urbana.
80
Remover objetos no canal de circulação que possam dificultar o normal
escoamento das águas;
Aumentar o canal de escoamento das águas de modo a prevenir inundações
durante a época chuvosa;
Incentivar os moradores a conter os pequenos espaços abertos na envolvente da
casa, para não serem vítimas da construção de moradias e infraestruturas;
Impedir a aproximação de moradias ao longo da linha de água, o que não só
evitará situações catastróficas nas famílias (inundações), como também manterá
a zona de cultivo livre;
Envolver as autoridades tradicionais do bairro no processo, a população em
geral, e sobretudo os mais jovens etc.
81
permitem boas ligações com o interior da cidade. Esta iniciativa merece especial
atenção, visto que devido à proximidade geográfica entre o bairro Kalundo e outros
bairros envolventes, o local poderá ser utilizado por um elevado número de pessoas.
Infelizmente, as soluções preconizadas são apenas para a zona D, por ser a única
zona do bairro que oferece condições necessárias para uma possível intervenção neste
domínio.
Objetivo:
Soluções:
82
Esta proposta consiste num conjunto de soluções que permitem a valorização do
espaço público, promovendo a melhoria da qualidade de vida da população:
Melhoria do edificado;
Ambiente urbano;
Convivência entre as pessoas;
Mobilidade urbana;
Responsabilidade pessoal na gestão do património, ou seja, com isso promove-
se também o espírito de governança;
Envolvimento comunidade/escola principalmente as crianças através da prática
desportiva de que muitos necessitam, etc.
Equipamento de educação;
Centro comunitário multifuncional, que pelo menos deve integrar desde o início
da sua criação um centro de saúde e um balneário público.
Equipamento de educação
83
até as condições de trabalho dos professores. Esses são apenas alguns dos problemas
observados na maioria das escolas do bairro, que muito têm levado as crianças ao
abandono escolar.
No segundo caso, 24% das crianças se deslocam para a escola fora do bairro
(quadro 12) por falta de vagas disponíveis nas escolas. Esta percentagem poderá
aumentar caso o número de escolas permaneça o mesmo nos próximos anos, tendo em
conta a população maioritariamente jovem e o equilíbrio do género (quadro 5).
Esta situação não se limita apenas às crianças na faixa etária dos 6-12 anos,
correspondente ao ensino primário gratuito e obrigatório. A falta de equipamentos de
ensino secundário faz com que os jovens saiam do bairro, e em função das idades, muito
conseguem matrículas na cidade no período noturno. Porém, à noite não se circula no
bairro, devido aos índices de delinquência elevados. Isto tem levado muitos jovens,
principalmente as raparigas, ao abandono escolar.
Estas e outras situações, justificam que a população tenha o desejo de ver erguer
uma escola no bairro, segundo a narrativa de alguns residentes inquiridos.
Centro comunitário
Centro de saúde;
Balneários públicos;
Centro de dia para idosos;
Bibliotecas, etc.
84
promoveria a participação da população nas decisões do bairro, surge a ideia de criar
serviços integrados de atendimento à população local, que fomentasse a relação entre as
pessoas e as autoridades locais e municipais. Esta iniciativa foi motivada tendo em
conta as características urbanas do bairro, e as necessidades da população. Esse tipo de
equipamento é implantado em aglomerados que não suportam edifícios isolados para
cada uma das politicas públicas devido a escassez de terreno para a sua implantação, e o
bairro Kalundo é disso um bom exemplo.
85
Outra necessidade da população segundo o Soba do bairro, “é o saneamento
básico, fundamentalmente as latrinas que são usadas como casas de banho, sem
condições de cobertura e higiene, o que lhe preocupa bastante devido ao número de
crianças existente no bairro”. Em função disso, tendo em conta o contexto do país com
o “surto da febre-amarela”, toda atenção nas infraestruturas higiene/sanitária no seio das
populações merece destaque. Neste sentido, propomos a criação de um balneário
público no centro, para atender situações em que as famílias mais próximas do centro
não tenham condições de instalar um sanitário em sua casa que lhe permita tomar um
duche em condições etc.
Modelo de gestão
Infraestruturas
86
Portanto, para minimizar os problemas da falta de água, propõe-se:
- em segundo lugar, a extensão da rede de manivelas nestas zonas, pois uma vez
concretizada, minimizaria as necessidades de obtenção de água para as populações
afetas, e do ponto de vista económico reduziria os custos das famílias com a ida ao
mercado informal.
87
constitui um perigo para o ambiente urbano e a saúde pública, tendo em conta o surto da
febre-amarela que assola o país.
88
6. Conclusões
A cidade de Huambo conheceu nos últimos anos um crescimento demográfico e
físico extremamente rápido. Este crescimento teve consequências graves nas áreas
periféricas da cidade, cuja superfície atual do território ultrapassa o casco urbano. Uma
dessas áreas é o bairro Kalundo, que representa aproximadamente 5% da população do
município. O modo como surgiu o bairro, com um crescimento espontâneo e não
planeado do solo, dando origem a um contínuo crescimento das atividades económicas
informais que garantem a sobrevivência da maioria da população residente, a pobreza
extrema da população, a falta de equipamentos coletivos, elevados índices de
delinquência, justifica diversas ações de controlo social e reeducação por parte do
Estado. As circunstâncias que sustentam a visão inalterável das áreas informais das
cidades foram produzidas em torno de discursos que as caracterizavam como conflito
social ou de saúde pública, justificando as tentativas do Estado para soluciona-los. No
entanto, após a independência em Angola, os problemas das áreas informais e o
crescimento dos seus habitantes não parou. Pelo contrário, a escassez do solo na cidade
alimentou cada vez mais o alastramento desordenado dessas áreas (aí a terra é mais
acessível e pode ser transmissível) especialmente no bairro Kalundo na cidade de
Huambo. Esse crescimento espontâneo do bairro motivou o desenvolvimento de
iniciativas públicas na melhoria das condições de vida da população.
89
áreas. Os maiores beneficiários desses direitos têm sido os moradores das cidades
planificadas que, apesar de representarem a minoria da população, possuem as mínimas
condições básicas de sobrevivência. Para Pessegueiro (2014: 30), “Esses planos devem
ser aplicados não só em zonas centrais como também em zonas suburbanas
residenciais”.
91
7. Referências bibliográficas
ALMEIDA, C. M. Suse (2015), “Âncoras de desenvolvimento: os equipamentos
colectivos no desenho urbano: o caso de Viseu – do século XX até às expansões mais
recentes”. Dissertação de Mestrado integrado em Arquitectura, Coimbra, Faculdade de
Ciências e Tecnologias.
92
INNERARITY, Daniel (2010), O Novo Espaço Público: Que Significado Pode Ter
Hoje Uma Cultura Pública Comum?. Editorial Teorema, SA 1150-248.
ROBSON, P. Roque, S (2001), “Aqui na cidade nada sobra para ajudar: Buscando
solidariedade e acção colectiva em bairros peri-urbanos de Angola”. Development
Workshop Ocasional Paper no.3, Luanda.
93
SEIXAS, João (2011), A cidade na encruzilhada – Repensar a cidade e a sua política.
Porto, Edições Afrontamento.
Relatórios:
DW, Development Workshop (2002), Estudo para uma Estrutura Legal e Institucional
para Melhoria dos Direitos a Terra e Habitação em Áreas Peri-Urbanas de Angola.
FAO (2013), Cidades mais verdes na África. Primeiro relatório sobre a horticultura
urbana e peri-urbana. Roma, Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura.
Human Rights Watch e Sos Habitat Eles partiram as casas, desocupações forçadas e
insegurança da posse da terra para os pobres da cidade de Luanda, Vol. 19, No 7(a),
Maio 2007 [Ac. 25.03.2011].
94
Ministério do Planeamento (2004), Estratégia de Combate à Pobreza (Reinserção
Social, Reabilitação e Reconstrução e Estabilização Económica).
UN-HABITAT (2014), Project for Public Spaces: Resilient Cities Through Public
Spaces and Placemaking in Urbanization.
UN-HABITAT (2010), The State of African Cities: Governance, Inequality and Urban
Land Markets report.
95
Páginas electrónicas consultadas
www.embaixadadeangola.org
http://cazenga.forum.angonet.org/
www.ebah.com.br, 2013
http://www.ipgul.org/pdfs/dynam/diplomas12.pdf
http://www.africa21online.com
www.pps.org/blog/tag/un-habitat
http://www.hrw.org/sites/default/files/reports/angola0507ptwebwcover_0.pdf
Legislações citadas:
96
97
Anexos
Anexo IV. Tipo de intervenções feitas pela administração pública nos últimos anos
i
Anexo I. Planta da Cidade de Huambo
ii
Anexo II. Principais problemas do bairro
iii
Anexo III. Intervenções consideradas urgente realizar no bairro pela
administração
Designação Zona (A) Zona (B) Zona (C) Zona (D) Total
Energia 19 14 21 26 80
Água 20 23 12 14 69
Estradas 40 42 39 39 160
Escolas 39 39 37 38 153
Total 462
Fonte: Inquérito realizado entre abril e maio de 2015
iv
Anexo IV. Tipo de intervenções feitas pela administração pública nos
últimos anos
Designação
Zona (A) Zona (B) Zona (C) Zona (D) Total
Segurança 41 34 33 32 140
Energia 30 26 20 30 106
Recolha de Lixo 7 5 4 9 25
Distribuição de água 12 10 10 14 46
Contentores de lixo 2 0 2 0 4
Vias de circulação 2 1 3 0 6
Escolas 5 1 2 0 8
Total 335
Fonte: Inquérito realizado entre abril e maio de 2015
v
Anexo V. Interesse e motivação da população para trabalhar com as
autoridades
Designação Zona (A) Zona (B) Zona (C) Zona (D) Total
Sim 23 18 25 23 89
Não 19 24 16 18 77
Total 166
Fonte: Inquérito realizado entre abril e maio de 2015
vi
Anexo VI. Equipamentos mais necessários no bairro
Designação Zona (A) Zona (B) Zona (C) Zona (D) Total
Centro de Saúde 21 12 12 19 64
Quadra Desportiva 8 20 19 11 58
Hospital 12 14 10 13 49
Escola 7 3 15 9 34
Campo de Futebol 6 9 12 16 43
Total 248
Fonte: Inquérito realizado entre abril e maio de 2015
vii
Anexo VII. Áreas da cidade onde são utilizados os equipamentos
necessários
Designação Zona (A) Zona (B) Zona (C) Zona (D) Total
Bairro de Kakelewa 25 15 24 24 88
Centro da Cidade 5 10 11 7 33
Bairro do Casseque 16 23 8 11 58
Total 179
Fonte: inquérito realizado entre Abril e Maio de 2015
viii
Anexo VIII. Locais onde as crianças frequentam a escola
Designação Zona (A) Zona (B) Zona (C) Zona (D) Total
Dentro do bairro 33 29 35 29 126
Fora do bairro 9 13 6 12 40
Total 166
Fonte: Inquérito realizado entre abril e maio de 2015
ix
Anexo IX. Melhorias que a população gostaria de ver realizadas no bairro
Designação Zona (A) Zona (B) Zona (C) Zona (D) Total
Segurança 41 34 33 32 140
Energia 30 26 20 30 106
Recolha de Lixo 7 5 4 9 25
Distribuição de água 12 10 10 16 48
Total 319
Fonte: Inquérito realizado entre abril e maio de 2015
x
Anexo X. Cruzamento da idade com as questões 1 e 9
Designação Idades
Quais são os principais problemas do bairro? 18-29 30-44 45-59 60 + anos Total
Energia 74 37 24 8 143
Água 38 18 20 5 81
Delinquência 85 40 22 6 153
Recolha de RSU 28 9 7 2 46
Contentores de RSU 2 0 2 0 4
Vias de circulação 3 0 0 0 3
Total 430
O que gostariam ver melhorado no bairro? 18-29 30-44 45-59 60 + anos Total
Segurança 73 39 21 4 137
Energia 45 32 22 8 107
Distribuição de água 21 9 13 4 47
Recolha de RSU 14 6 5 1 26
Total 318
xi
Anexo XI. Característica dos inquiridos do bairro de Kalundo
xii
Anexo XII. Modelo de inquérito aplicado a população do bairro de
Kalundo
Identificação da Amostra
Nome
Idade
Género
Profissão
Nº de pessoas na família
Há quanto tempo reside no bairro?
Reside em habitação própria?
O terreno é pessoal?
Sim □ Não □
xiii
Anexo XIII. Guião de entrevista ao Soba do bairro Kalundo
xiv
Anexo XIV. Guião de entrevista aos técnicos da Administração Municipal
Identificação da Amostra
Área de Formação
Local de Trabalho
xv