Tese Marivania Leonor Souza Furtado 150
Tese Marivania Leonor Souza Furtado 150
Tese Marivania Leonor Souza Furtado 150
17
No capítulo seis será apresentado o Mapa da inoperância do INCRA quanto aos processos
de titulação de territórios quilombolas.
103
18
Dados do IBGE 2010
106
19
No final de 2011 mais duas comunidades foram certificadas pela Fundação Cultural
Palmares como “remanescentes de quilombos”, sendo estas Mafra e Conceição.
107
por tal razão, está inserido na Convenção sobre Zonas Úmidas (Convenção
Sítios Ramsar)20.
Situado a 5 km da sede do município de Bequimão, encontra-se o
povoado do Rio Grande. O território é banhado por três rios temporários e um
perene. Os rios temporários são: o rio Grande que designa, na atualidade, o
nome do povoado, o rio Polica, e o rio Brilhante. O rio dos Fugidos, principal
“indício” que o povoado fora resultante do processo de autolibertação dos
escravizados é um rio perene, embora com lâmina e curso limitado, deságua
no rio Polica, um dos principais tributários do rio Grande. Ver no mapa abaixo.
20
A convenção Ramsar foi um termo de cooperação internacional assinado nessa cidade situada às
margens do Mar Cáspio no Irã, aos 2 de fevereiro de 1971. Essa convenção trata dos termos de
conservação e uso racional de zonas úmidas. Para efeito dessa Convenção, são consideradas zonas
úmidas: áreas de pântanos, charcos, turfas e corpo d’água, naturais ou artificiais, permanentes ou
temporários; com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo estuários, planícies
costeiras, com menos de seis metros de profundidade na maré baixa, onde se encontram alguns dos
ambientes mais produtivos e de maior diversidade biológica do planeta. O Brasil aprovou a Convenção
Ramsar em 24 de fevereiro de 1993, designando cinco zonas a serem incluídas na lista de Zonas Úmidas
de Importância Internacional: Ilha do Bananal (TO), Lago dos Peixes (RS), Marimauá(AM), Pantanal
Matogrossense (MT) e Reentrâncias Maranhenses (MA).
109
21
Para a operacionalização do equipamento, bem como para a organização dos dados de
campo que fundamentaram a carta do perímetro do Rio Grande, contei com o apoio do
geógrafo João Filho do Núcleo de Geoprocessamento da UEMA.
110
22
A 4km do Rio Grande situava-se o engenho de Ariquipá, atual território quilombola
reconhecido pela Fundação Cultural Palmares. Além desse engenho, os moradores antigos
citam a área da Canjiqueira como local de “origem” de algumas famílias que integram a
comunidade do Rio Grande. Atualmente o local que antes era conhecido como Canjiqueira está
inserido na fazenda Agromasa comprada no início da década de 70 por empreendedores
“paulistas”. Esse território tem sido alvo de litígio entre quilombolas da antiga fazenda
Conceição e os atuais “proprietários das terras”.
111
acha tudo isso lá, que nunca se acaba. Aí ela falava que era os
fugidos que fugiram de lá, e vieram e fizeram essa moradia, e
moravam lá. E tinham muito esse ferro velho, tudo, aquele
forno. Ela falava que eles faziam forno pra mexer farinha aí
dentro dos matos, na beira do rio. Faziam aquele forno de
barro, e lá mesmo eles plantavam a mandioca e lá mesmo eles
faziam a farinha. Ela me contava muito. E tinha mesmo umas
taperas velhas que eles moravam. Aí nós íamos pra lá assim
trabalhar e ela me contava. Só que eu era nova quando eu
cheguei aqui, vivia muito junto com ela. A mãe dele
(S.Agnaldo). Ela falava também que tinha uma preta velha que
veio num sei de onde e morava lá num mato mais ali que eles
chamam de Brilhante, na beira de um rio também, lá tem umas
juçareiras, ela falava que era essa mulher que morava lá, e
que tinha vindo também de lá, do Ariquipá, foi pessoas que
vieram do Engenho morar praí...(Entrevista concedida em maio
de 2008)
Foto 2. Moradores identificam pedra de rumo Foto 3. Marco da terra dos “paulistas”
Autora: FURTADO, 2011 limite com pedra de rumo do Rio Grande
Autora: FURTADO, 2011
23
Como dito na introdução deste trabalho, foram visitadas 58 casas, nas quais encontramos
60 famílias. As oito casas não contatadas estavam fechadas ou estavam parcialmente
abandonadas por seus moradores que residem na sede de Bequimão. Para a realização deste
trabalho de coleta de dados com o auxílio do questionário contei com a colaboração de três
bolsistas de iniciação científica sob minha orientação.
118
COMPOSIÇÃO FAMILIAR
QTD
33
10
7 6
1 2 1
Casamento civil 11 28
Casamento religioso 1 3
SITUAÇÃO CONJUGAL
Casamento
civil
27%
União
estável (vive
junto) Casamento
70% religioso
3%
24
No dia da coleta de dados visitei uma casa na qual havia um recém nascido de oito dias, de
sexo feminino, mas não tinha nome.
122
0-2 3-6 7-14 15-20 21- 31 32-40 41-51 52-60 61-71 72-85
Masculino 11 11 14 15 30 14 9 7 6 2 119
Feminino 3 11 21 14 28 13 10 10 10 3 123
TOTAL 14 22 35 29 58 27 19 17 16 5 242
30 28
21
14 15 14 14 13
11 11 11 9 10 7 10 6
10
3 2 3
0a2 3 a 6 7 a 14 15 a 20 21 a 31 32 a 40 41 a 51 52 a 60 61 a 71 72 a 85
FAIXA ETÁRIA
FUNDAMENTAL INCOMPLETO
FUNDAMENTAL COMPLETO
SUPERIOR INCOMPLETO
ENS. MÉDIO COMPLETO
SUPERIOR COMPLETO
NÃO ALFABETIZADOS
SÓ ASSINAM O NOME
EDUCAÇÃO INFANTIL
NÃO MATRICULADO
TOTAL MASCULINO
TOTAL FEMININO
TOTAL GERAL
FAIXA ETÁRIA
SEXO
DE 0 A 2 ANOS M 12 - - - - - - - - - 12 - 12
F 2 - - - - - - - - - - 2 2
DE 3 A 6 ANOS M 3 9 - - - - - - - - 12 - 12
F 3 7 - - - - - - - - - 10 10
DE 7 A 14 ANOS M - - - - 14 - - - - - 14 - 14
F - - - - 21 - - - - - - 21 21
DE 15 A 18 ANOS M - - - - 6 2 2 - - - 10 - 10
F - - - - 1 2 5 3 - - - 11 11
DE 19 A 30 ANOS M - - 2 - 16 3 4 8 1 1 35 - 35
F - - - - 10 3 4 7 1 2 - 27 27
DE 31 A 51 ANOS M - - 4 - 17 - 2 3 - - 26 - 26
F - - 2 2 13 3 1 2 - 2 - 25 25
DE 52 A 85 ANOS M - - 5 2 8 1 - - 1 - 17 - 17
F - - 11 1 8 - - - - - - 20 20
TOTAL 20 16 24 5 114 14 18 23 3 5 126 116 242
Fonte: Dados da pesquisa (2010)
Cacimbão
ORIGEM DA ÁGUA PARA CONSUMO
equipado
com DOMÉSTICO
bomba
3%
Poço
Cacimbão
97%
DESTINO DO LIXO
Enterrado
DOMÉSTICO 5%
Jogado no
mato
21%
Queimado
74%
Sem
energia
17%
Com
energia
83%
100.00
90.00
80.00
70.00
60.00
50.00
40.00
30.00
20.00
10.00
-
Liquidificador
Geladeira
Cômoda
Computador
Cadeira
Filtro
Cama
Rádio
Rede
Estante
Guarda-roupa
Máquina de Costurar
Moto
Sofá
Fogão a gás
Parabólica
TV
Gráfico 8. Percentual de utensílios verificados em Rio Grande
Fonte: Dados da pesquisa, 2010.
25
Após a coleta de dados realizada em novembro de 2010, três famílias chefiadas por
moradores com renda fixa (dois aposentados e um agente comunitário de saúde) adquiriam
automóveis semi-novos.
131
39,66%
32,76%
27,59%
26
As ruas não recebem designação pelos moradores, foram aqui identificadas, dessa forma,
com fins de apresentação do espaço geográfico do Rio Grande.
133
27
O matão é uma designação nativa para uma área de mata reservada no território do Rio
Grande, de onde se extrai a madeira utilizada nas cobertas das casas.
134
dos tipos de paredes e dos pisos encontrados em Rio Grande o que determina
o modelo-padrão das casas nesse território.
32,76%
Tijolo
67,24% Taipa
58,62%
Telha de
barro
41,38%
Palha
51,72%
Telha de
amianto
6,9%
28
As roças consideradas menores compreendem aproximadamente meio hectare de terra
cultivada, enquanto que as maiores não excedem a 4 hectares de área cultivada.
140
100%
80,39%
0%
19,61%
Quiabo 58%
Pepino 4%
Milho 84%
Melancia 32%
Maxixe 82%
Mandioca
98%
Jerimum 34%
Feijão 64%
Cará 8%
Batata… 52%
Arroz 24%
Amend… 2%
ficando estas penduradas nos esteios das próprias casas ou em paióis rústicos
até secarem, quando serão debulhadas e guardadas as sementes, que serão
utilizadas no plantio do ciclo seguinte.
Há uma predominância do cultivo da mandioca, que é de 98% em
relação aos demais produtos. Principal base de alimentação da comunidade,
na forma de farinha, a mandioca tem uma variedade maior: sementinha, três
ganchos, tainha branca, pretinha (que é a mais utilizada para o fabrico da
farinha d’água) e a boazona, levando de 6 meses a 1 ano para serem colhidas.
As sementes utilizadas no plantio são predominantemente de
origem crioula, o que mantém uma autonomia em relação a compra de
sementes ou dependência das doações feitas pelo sindicato dos trabalhadores
rurais do município.
100.00
80.00
60.00
40.00
20.00
- VENDA
CONSUMO
Foto 9. Roça em consórcio: milho e mandioca Foto 10. Eira utilizada para secagem do
Autora: FURTADO,2008 arroz
Autora: FURTADO,2008
29
Em comunidades onde há ausência de eletrificação rural, ou mesmo quando não há o motor
manual chamado caititu, usado para ralar a mandioca, só é possível o fabrico da farinha
d’água, pois seu processo é mais rudimentar. Consiste no sovamento manual da mandioca
após amolecida em água (que pode ser usada a de rio ou lagos, sem o equipamento do
tanque), após espremida nos tapitis é e torrada em fornos rudimentares.
146
Foto11: Mandioca armazenada para Foto12: Tanque para fabrico de farinha “d’água”
fabricar a farinha “seca” Autora: FURTADO,2011
Autora: FURTADO,2011
Foto 13: Safreiro descaca a mandioca Foto14: Suporte de madeira para descascar a
Autora: FURTADO,2011 mandioca
Autora: FURTADO,2011
Foto 18: Adolescente participa da farinhada Foto 19: Peneira de fibra de guarimã
Autora: FURTADO, 2011 Autora: FURTADO, 2011
Foto 22: Caixa correspondente a meio- Foto 23: Farinha armazenada na casa de
alqueire forno
Autora: FURTADO,2011 Autora: FURTADO,2011
30
Embora seja mais comum o alqueire ser usado como sistema de medida de área, na região
da baixada maranhense, é sistema de medida de volume. A construção do caixote é feito por
marceneiro local, que, segundos os moradores, já tem a medida certa pra dar 15 quilos de
farinha.