Exercícios de Revisão
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Exercícios de Revisão
"Tarde [de Olavo Bilac] foi uma promessa de anos seguidos. Tais são, tão salientes os artifícios
e tão repetidos que muito bem provam o esforço do poeta decaído da poesia e a sua parca
inspiração (...).”
(ANDRADE, M. Mestres do passado – Olavo Bilac. In: BRITO, M.S. História do modernismo
brasileiro. Antecedentes da Semana de Arte Moderna. 5.ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, p. 288-289, 1978.)
As estrelas
Olavo Bilac
(BILAC, Olavo. Tarde. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, p. 42-43, 1919.)
Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar.
Mas por outro lado, sem a apresentação de Miss Dollar, seria o autor obrigado a longas
digressões, que encheriam o papel sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou
apresentar-lhes Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida
e delgada, escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dous grandes olhos azuis e
sacudindo ao vento umas longas tranças louras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal
como uma criação de Shakespeare; deve ser o contraste do roastbeef britânico, com que se
alimenta a liberdade do Reino Unido [...] A sua fala deve ser um murmúrio de harpa-eólia1; o
seu amor um desmaio, a sua vida uma contemplação, a sua morte um suspiro.
A figura é poética, mas não é a da heroína do romance.
Suponhamos que o leitor não é dado a estes devaneios e melancolias; nesse caso imagina
uma Miss Dollar totalmente diferente da outra. Desta vez será uma robusta americana,
vertendo sangue pelas faces, formas arredondadas, olhos vivos e ardentes, mulher feita, refeita
e perfeita. [...]
Já não será do mesmo sentir o leitor que tiver passado a segunda mocidade e vir diante de si
uma velhice sem recurso. Para esse, a Miss Dollar verdadeiramente digna de ser contada em
algumas páginas, seria uma boa inglesa de cinquenta anos, dotada com algumas mil libras
esterlinas, e que, aportando ao Brasil em procura de assunto para escrever um romance,
realizasse um romance verdadeiro, casando com o leitor aludido. [...]
Mais esperto, que os outros, acode um leitor dizendo que a heroína do romance não é nem foi
inglesa, mas brasileira dos quatro costados, e que o nome de Miss Dollar quer dizer
simplesmente que a rapariga é rica.
A descoberta seria excelente, se fosse exata; infelizmente nem esta nem as outras são exatas.
A Miss Dollar do romance não é a menina romântica, nem a mulher robusta, nem a velha
literata, nem a brasileira rica. Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores; Miss Dollar
é uma cadelinha galga2
.
(Todos os contos, 2019. Adaptado.)
1
harpa-eólia: instrumento musical antigo em que o som é produzido pela fricção do vento em
cordas tensionadas.
2
galgo: raça canina cujos indivíduos têm patas e pescoço alongados.
(MARQUES, Ana Martins. O livro das semelhanças. São Paulo. Companhia das Letras, 2015.
p. 101-102.)
Considerando esse poema e a integralidade da obra de que foi retirado, assinale a alternativa
correta.
a) O poema apresenta eventos sobrenaturais, envolvendo objetos raros e incomuns.
b) O verbo “quebrar”, quando se refere ao eu do poema, é empregado em sentido figurado.
c) O poema usa parênteses em dois versos, sendo que no primeiro a expressão retomada é a
pia da cozinha.
d) O texto afirma que os copos são mastigados à noite e deixam na boca um gosto de sabão
misturado ao de sangue.
e) Os cacos de copo são deixados no chão de mármore, onde é costume se deitar à noite.
1
ingá: uma fruta.
2
guaxe: uma espécie de ave.
4. A poesia parnasiana afasta-se da poesia romântica por ser mais contida do que efusiva e
emotiva. Pode ser considerado menos efusivo e emotivo o seguinte verso:
a) “Quanta vez o subi, buscando a um guaxe o ninho,” (2ª estrofe)
b) “Guiava à casa do morro, em voltas, o caminho,” (1ª estrofe)
c) “Ou, saltando, o desci com o regato ligeiro,” (2ª estrofe)
d) “E ver girar, zonzando, as asas de um moinho!” (2ª estrofe)
e) “O caminho morreu... Até os caminhos morrem!” (4ª estrofe)
A cultura amazônica é uma rara reminiscência de cultura mítica marcada pela dominante
poética do imaginário. Original cultura mítica sobrevivente neste terceiro milênio, onde ainda se
constata uma incessante produção de narrativas fabulosas na oralidade que caracteriza a
sociedade regional amazônica. São os deuses de uma teogonia1 cotidiana e operativa. Para
abrigá-los, os caboclos ribeirinhos inventaram uma singular paisagem ideal, um lugar ameno
situado no fundo dos rios ou nas brenhas das florestas. Trata-se das encantarias, lugar onde
moram os seres encantados, os deuses e personagens do imaginário amazônico, decorrente
do fertilíssimo devaneio do homem do lugar, diante do correr das águas doces de seus rios. A
convivência cotidiana com seres fabulosos de seu imaginário passa a condicionar um sentido
contemplativo de beleza na convivência dessa relação dos homens entre si e deles com a
natureza.
1
teogonia: conjunto de deuses que constituem a mitologia de um povo.
5. “Para abrigá-los, os caboclos ribeirinhos inventaram uma singular paisagem ideal, um lugar
ameno situado no fundo dos rios ou nas brenhas das florestas.”
A referência a um lugar ameno (em latim, locus amoenus) aproxima as narrativas produzidas
pelo imaginário amazônico da estética
a) árcade.
b) parnasiana.
c) barroca.
d) simbolista.
e) naturalista.
Os cavalinhos correndo.
E nós, cavalões, comendo...
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O sol tão claro lá fora,
E em minh’alma — anoitecendo!
[...]
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando...
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
[...]
6. A caracterização que o eu lírico faz dos comensais durante a corrida de cavalos remete a
um procedimento típico da estética
a) barroca.
b) romântica.
c) simbolista.
d) naturalista.
e) árcade.
Fonte: COSTA, Claudio Manuel da. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1996. p. 95.
9. Nos versos “Que entre penhas tão duras se criara/Uma alma terna, um peito sem dureza!”,
é possível notar uma relação de contraste entre:
a) o eu-lírico e o classicismo.
b) o eu-lírico e a natureza.
c) o eu-lírico e a cultura.
d) o eu-lírico e a política.
e) o eu-lírico e o Barroco.
Mas trabalho quer dizer técnica e quer dizer produção; e o negociante não produz e só
tem uma ciência — a de enganar o incauto consumidor, para apanhar-lhe, como as cocotes, o
dinheiro que puder. [...]
É por isso que todo homem de vida material [Olímpia está novamente se referindo ao
negociante/comerciante/mercador] detesta, em questões de arte, o naturalismo e a verdade,
encontre-os na estatuária, na pintura, no romance ou no teatro, e adora o maravilhoso e o
fantástico. São como as crianças.
O mercador do Brasil, quando não sonhe outras quimeras, com uma nunca deixar de
sonhar — é a da comenda. E, mal a suponha realizada, começa a sonhar com o título de
barão, e depois com o de visconde ou conde.
11. Leia o poema a seguir, de Gregório de Matos, que descreve o que era, naquele tempo, a
cidade da Bahia:
12. Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que
admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará, é se este outro livro
não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez?
Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a
forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de
pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da
melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave
achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará
nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos,
que são as duas colunas máximas da opinião.
1
Fortuna: entidade mítica que presidia a sorte dos homens.
2
suave pensamento: sentimento amoroso.
3
Amor: entidade mítica que personifica o amor.
4
juízo isento: os inocentes do amor, aqueles que nunca se apaixonaram.
5
engenho: talento poético, inspiração.
6
defeitos: inverdades, fantasia.
14. Luís Vaz de Camões (1524-1580) foi um poeta do Classicismo português, autor da
epopeia Os Lusíadas (1572). O poema a seguir faz parte de sua produção lírica.
Ao desconcerto do Mundo
Adaptado de: BERARDINELLI, Cleonice. Estudos Camonianos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
Cátedra Padre António Vieira, Instituto Camões, 2000. pp. 164-165.
VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. 8. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p.
265 e p. 425.
15. O excerto literário apresentado faz parte do romance Incidente em Antares, publicado por
Erico Verissimo em 1971, e veicula uma crítica indireta ao militarismo, regime sob o qual estava
a sociedade brasileira da época. Já a pintura de Rembrandt é tributária de uma preocupação
com elementos de ordem
a) encomiástica
b) teocêntrica
c) surrealista
d) científica
e) telúrica
Bárbara entrou, enquanto o pai pegou da viola e passou ao patamar de pedra, à porta da
esquerda. Era uma criaturinha leve e breve, saia bordada, chinelinha no pé. Não se lhe podia
negar um corpo airoso. Os cabelos, apanhados no alto da cabeça por um pedaço de fita
enxovalhada, faziam-lhe um solidéu natural, cuja borla era suprida por um raminho de arruda.
Já vai nisto um pouco de sacerdotisa. O mistério estava nos olhos. Estes eram opacos, não
sempre nem tanto que não fossem também lúcidos e agudos, e neste último estado eram
igualmente compridos; tão compridos e tão agudos que entravam pela gente abaixo, revolviam
o coração e tornavam cá fora, prontos para nova entrada e outro revolvimento. Não te minto
dizendo que as duas sentiram tal ou qual fascinação. Bárbara interrogou-as; Natividade disse
ao que vinha e entregou-lhe os retratos dos filhos e os cabelos cortados, por lhe haverem dito
que bastava.
– Basta, confirmou Bárbara. Os meninos são seus filhos?
– São.
No relato da visita de duas mulheres ricas a uma vidente no Morro do Castelo, a ironia — um
dos traços mais representativos da narrativa machadiana — consiste no
a) modo de vestir dos moradores do morro carioca.
b) senso prático em relação às oportunidades de renda.
c) mistério que cerca as clientes de práticas de vidência.
d) misto de singeleza e astúcia dos gestos da personagem.
e) interesse do narrador pelas figuras femininas ambíguas.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o trecho do “Sermão do bom ladrão”, de Antônio Vieira, proferido em 1655.
E para que um discurso tão importante e tão grave vá assentado sobre fundamentos sólidos e
irrefragáveis¹, suponho primeiramente que sem restituição do alheio não pode haver salvação.
[...] Quer dizer: se o alheio que se tomou ou retém, se pode restituir e não se restitui, a
penitência deste e dos outros pecados não é verdadeira penitência, senão simulada e fingida,
porque se não perdoa o pecado sem se restituir o roubado, quando quem o roubou tem
possibilidade de o restituir. Esta única exceção da regra foi a felicidade do bom ladrão, e esta a
razão por que ele se salvou, e também o mau se pudera salvar sem restituírem. Como ambos
saíram do naufrágio desta vida despidos, e pegados a um pau, só esta sua extrema pobreza os
podia absolver dos latrocínios que tinham cometido, porque impossibilitados à restituição
ficavam desobrigados dela. Porém se o bom ladrão tivera bens com que restituir, ou em todo,
ou em parte o que roubou, toda a sua fé e toda a sua penitência tão celebrada dos santos, não
bastara a o salvar, se não restituísse. Duas coisas lhe faltavam a este venturoso homem para
se salvar: uma como ladrão que tinha sido, outra como cristão que começava a ser. Como
ladrão que tinha sido, faltava-lhe com que restituir: como cristão que começava a ser, faltava-
lhe o batismo, mas assim como o sangue que derramou na cruz, lhe supriu o batismo, assim a
sua desnudez, e a sua impossibilidade lhe supriu a restituição, e por isso se salvou. Vejam
agora, de caminho, os que roubaram na vida; e nem na vida, nem na morte restituíram, antes
na morte testaram de muitos bens, e deixaram grossas heranças a seus sucessores; vejam
aonde irão ou terão ido suas almas, e se se podiam salvar.
17. Depreende-se do sermão que o bom ladrão se salvou porque, além de arrepender-se,
a) ele devolveu os bens que havia roubado.
b) ele jurou que iria devolver os bens que havia roubado.
c) ele, como era pobre, não tinha como devolver os bens que havia roubado.
d) ele, como era pobre, jurou que começaria a trabalhar para devolver os bens que havia
roubado.
e) ele jurou que passaria a trabalhar para aqueles cujos bens havia roubado.
BACELAR, A. B. In. MOISÉS, M. A literatura portuguesa através dos textos. São Paulo: Cultrix,
1969.
A principal característica barroca desse soneto, representativo da poesia portuguesa do século
XVII, é a
a) percepção da fugacidade do sentimento amoroso.
b) dualidade entre o sagrado e o profano inerente ao amor.
c) utilização de antíteses para exprimir o estado do eu lírico.
d) temática da sensualidade por meio de linguagem rebuscada.
19. Embora não participe da ação, o narrador intromete-se de forma explícita na narrativa em:
a) “Há meio século, os escravos fugiam com frequência.” (3º parágrafo)
b) “O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões.” (2º parágrafo)
c) “A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca.” (1º
parágrafo)
d) “Mas não cuidemos de máscaras.” (1º parágrafo)
e) “Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão.” (3º parágrafo)
Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então,
erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse
alcança-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.
E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue.
João Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tapando o rosto com as mãos.
Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas
que vinha, de casaca, trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito.
I. O narrador em terceira pessoa aproxima-se de Bertoleza, assumindo seu ponto de vista para
desmascarar o falso abolicionismo de João Romão; ao mesmo tempo, mantém-se distante
dela ao descrevê-la com traços animalescos.
II. A morte terrível de Bertoleza destoa do andamento geral do romance, marcado pelo lirismo
da narração, característica naturalista presente no texto de Aluísio Azevedo.
III. A última frase do trecho sugere que João Romão receberá a comissão a despeito do fim de
Bertoleza, em uma alegoria do Brasil: abolicionista na sala de visitas, escravocrata na
cozinha.
21. Esse movimento foi marcado por algumas preocupações recorrentes: um certo
anticlassicismo, uma visão individualista, um desejo de romper com a normatividade e com os
excessos do racionalismo. Liberdade, paixão e emoção constituem um tripé sobre o qual se
assenta boa parte desse movimento.
(Adilson Citelli. “Uma palavra em seu tempo”, 1986. Adaptado.)
Virgília é que já se não lembrava da meia dobra; toda ela estava concentrada em mim,
nos meus olhos, na minha vida, no meu pensamento; – era o que dizia, e era verdade.
Há umas plantas que nascem e crescem depressa; outras são tardias e pecas. O
nosso amor era daquelas; brotou com tal ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, era a
mais vasta, folhuda e exuberante criatura dos bosques. Não lhes poderei dizer, ao certo, os
dias que durou esse crescimento. Lembra-me, sim, que, em certa noite, abotoou-se a flor, ou o
beijo, se assim lhe quiserem chamar, um beijo que ela me deu, trêmula, – coitadinha, – trêmula
de medo, porque era ao portão da chácara. Uniu-nos esse beijo único, – breve como a ocasião,
ardente como o amor, 1prólogo de uma vida de delícias, de terrores, de remorsos, de 2prazeres
que rematavam em dor, de aflições que desabrochavam em alegria, – uma 3hipocrisia paciente
e sistemática, único freio de uma 4paixão sem freio, – vida de agitações, de cóleras, de
desesperos e de ciúmes, que uma hora pagava à farta e de sobra; mas outra hora vinha e
engolia aquela, como tudo mais, para deixar à tona as agitações e o resto, e o resto do resto,
que é o fastio e a saciedade: tal foi o 5livro daquele prólogo.