Sociologia Da Educacao
Sociologia Da Educacao
Sociologia Da Educacao
sociologia da
Educação
Sociologia da Educação
COORDENADORES DE CURSOS
ADMINISTRAÇÃO Antonella Maria das Chagas Sousa
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Fabiana Rodrigues de Almeida Castro
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Maria da Conceição Prado de Oliveira
FILOSOFIA Zoraida Maria Lopes Feitosa
FÍSICA Miguel Arcanjo Costa
LETRAS PORTUGUÊS José Vanderlei Carneiro
LETRAS INGLÊS Lívia Fernanda Nery da Silva
MATEMÁTICA João Benício de Melo Neto
PEDAGOGIA Vera Lúcia Costa Oliveira
QUÍMICA Davi da Silva
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO Arlino Henrique Magalhães de Araújo
C.D.D. -370.19
A responsabilidade pelo conteúdo e imagens desta obra é do autor. O conteúdo desta obra foi licenciado tem-
porária e gratuitamente para utilização no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, através da UFPI.
O leitor se compromete a utilizar o conteúdo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a re-
produção e distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. A citação desta obra em trabalhos
acadêmicos e/ou profissionais poderá ser feita com indicação da fonte. A cópia deste obra sem autorização
expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sansões previstas no
Código Penal.
Este texto é destinado aos estudantes aprendizes que participam do
programa de Educação a Distância da Universidade Aberta do Piauí (UAPI)
vinculada ao consórcio formado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI),
Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Instituto Federal de Educação,
Ciências e Tecnologia do Piauí (IFPI), com apoio do Governo do estado do
Piauí, através da Secretaria de Educação.
Você está iniciando o estudo de Sociologia da Educação, uma
disciplina importante para o exercício da docência, porque, como veremos
ao longo do curso, pode ajudar o professor a compreender o contexto no
qual ele realiza sua prática educativa e a pensar essa prática. Ao analisar
sua prática como social, o professor compreenderá ser a escola um espaço
social situado historicamente. Com isso, esperamos que você, sem se tornar
sociólogo, possa utilizar o conhecimento produzido por essa disciplina para
melhor compreender a escola e seus sujeitos.
Para isso, discutiremos, principalmente, as relações entre a escola
e a sociedade. Você, dado o nível de escolaridade que possui, tem já
uma experiência importante com a escola. Durante a disciplina, contudo,
é preciso que você olhe a escola e a educação com outro olhar, de modo
a desnaturalizá-la e compreendê-la como construção histórico-social. Não
esquecendo que você viveu todo esse período de sua escolarização na
condição de aluno e agora deseja e procura uma nova inserção na escola
na condição de professor. Que rupturas e continuidades há entre esses dois
modos de viver a escola? Qual o sentido da escola para nós que optamos
por continuar vivendo nossas vidas na relação com essa instituição chamada
escola? O que nos leva a optar por continuar na escola?
Se vamos enfatizar a dimensão escolar da educação, não podemos
esquecer que esta não se restringe à escola. Como prática social, a educação
encontra-se diluída nas diferentes relações de interdependência que os
homens estabelecem entre si. A educação encontra-se, pois, presente em
diferentes momentos da vida social, sendo a educação escolar apenas uma
forma de educação. Portanto, a Sociologia da Educação procura também
compreender a educação que ocorre fora da escola, nos diversos momentos
em que os indivíduos interagem na sociedade. Na verdade, variando no tempo
e no espaço, de sociedade para sociedade e mesmo, dentro de uma mesma
sociedade entre os diversos grupos, talvez o mais correto fosse falarmos em
educações, no plural. Podemos até não ter frequentado, mas não escapamos
da educação.
Desse modo, muito do que discutiremos durante o curso talvez você já
tenha proximidade ou tenha intuído a partir de sua experiência como membro
da sociedade. Contudo, você deverá esforçar-se para repensar as visões
que advém de sua condição de membro da sociedade. È importante para a
disciplina que se inicia que você exercite o repensar de suas noções sobre a
sociedade e procurar modificar o seu olhar para ela ou experimente olhá-la de
perspectivas com as quais você não está acostumado. Para ajudá-lo no seu
repensar, nesse texto, vamos estudar esses temas a partir das várias teorias
da Sociologia. Com isso, você deve já suspeitar que defendemos a ideia de
que a Sociologia da Educação baseia-se no pensamento sociológico e que
é nele que ela encontra seus referenciais conceituais e metodológicos para
analisar o fenômeno educativo. Veremos, aqui, que há outras maneiras de se
conceber a Sociologia da Educação e que explicitar a que você encontrará
nesse livro é importante para que você possa compreender a proposta que
ele tem.
Este livro compõe-se de textos, atividades e sugestões de páginas
na Internet para você realizar mais leituras. Uma bibliografia será indicada
ao final de cada capítulo para que você possa estudar mais sobre o tema.
A leitura dos textos propostos vai proporcionar a você aprofundar os temas
discutidos nas unidades do curso. Fazê-la é imprescindível para sua formação
e para um melhor aproveitamento do curso.
É importante que você partilhe suas reflexões com seus colegas de
turma nos chats e na página da disciplina. Você deve, também, comentar os
textos de seus colegas, ajudando-os a pensar suas escritas. Esse debate
sobre as diferentes compreensões dos temas estudados na disciplina é
importante para a formação de todos.
As atividades propostas nas diferentes unidades do curso encontram-
se não no final do texto, como costumeiramente elas aparecem, mas ao longo
do mesmo, e devem ser realizadas no momento em que aparecem no livro
para que você tenha uma aprendizagem mais efetiva.
Os conteúdos foram organizados em quatro unidades. Na primeira
unidade você estudará a história da Sociologia, suas relações com a
nascente sociedade industrial/capitalista, e compreenderá as relações entre
a Sociologia e a Sociologia da Educação. Na segunda unidade você vai iniciar
o estudo do pensamento dos teóricos clássicos da Sociologia e conhecer
o modo como eles analisaram o fenômeno educativo. Na terceira unidade
você vai compreender alguns dos temas fundamentais da relação escola-
sociedade e analisar o lugar da escola na sociedade. Na quarta unidade, você
conhecerá mais sobre a relação família e escola e o modo como o estudo das
trajetórias escolares, especialmente em camadas populares, podem ajudar a
entender o papel da escola na sociedade e proporcionar melhores condições
para o professor pensar suas ações didáticas e pedagógicas considerando e
relacionando mais efetivamente com as famílias de seus alunos.
Finalmente, não esqueça a importância da leitura para sua formação.
Por acreditar nessa importância é que indicaremos textos complementares
ao longo do curso. Lembre-se do seu papel na formação que ora inicia e
de como do seu desempenho depende o que você aprenderá na disciplina.
Esperamos que você, ao final da disciplina, tenha refeito seu olhar sobre
a escola e seus sujeitos e que o conhecimento aqui apresentado possa
estimulá-lo a buscar mais informações sobre o que aqui estudaremos.
UNIDADE 1
11 A SOCIOLOGIA E A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
O surgimento da Sociologia............................................................... 13
A Sociologia e a Sociologia da Educação........................................... 20
UNIDADE 2
25 O PENSAMENTO CLÁSSICO EM SOCIOLOGIA E A ANÁLISE DA
EDUCAÇÃO
Émile Durkheim................................................................................ 27
Max Weber (1864–1920).................................................................. 34
Karl Marx (1818–1883)..................................................................... 39
UNIDADE 3
49 A EDUCAÇÃO COMO OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA
UNIDADE 4
71 As Desigualdades Sociais e as Trajetórias Escolares
Resumindo
Nessa unidade você conheceu a história da Sociologia, suas relações com a
nascente sociedade industrial/capitalista. Soube como um conhecimento elaborado é
importante para compreender as possibilidades e limites desse conhecimento. Além
disso, estudou as relações entre a Sociologia e a Sociologia da Educação, procurando
enfatizar os vínculos existentes entre a análise da educação e a sociologia. Desse
modo, essa unidade tratou da constituição da sociologia como conhecimento e das
diferentes formas que ela assume ao estudar a educação. Viu-se, ainda, a importância
da sociologia para a formação de professores e para sua prática educativa.
12 UNIDADE 01
A Sociologia e a
Sociologia da Educação
O surgimento da Sociologia
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 13
com o estudo das formas coletivas (sociais) da existência
humana.
14 UNIDADE 01
Como estávamos dizendo, a Sociologia vai procurar entender essas
transformações ao mesmo tempo em que resulta delas. Assim a Sociologia
vai trazer as marcas desse período, especialmente por sua vinculação com as
correntes de pensamento elaboradas no bojo dessas transformações e que
procuravam compreendê-las e ao mundo que se formava a partir delas. Destas,
destaca-se a relação que a então nascente Sociologia vai estabelecer com o
conservadorismo europeu do século XIX. Os conservadores, principalmente
os franceses, pensavam que a Revolução Francesa, com as transformações
que promoveu na organização social, provocara uma desarrumação na ordem
social, transtornando a sociedade com suas propostas de igualitarismo,
racionalismo, individualismo e secularização.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 15
Para a construção dessa modalidade de conhecimento concorreram diversos
autores e ideias.
Com Auguste Comte (1798–1857), a Sociologia é concebida como
uma “Física Social”:
16 UNIDADE 01
Elias? Elias(1994, p. 249) assim se expressa sobre elas:
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 17
podem ser amigáveis ou hostis. Assim, o conceito de configuração utilizado
para compreender, por Norbert Elias, não traz em si a ideia de harmonia,
numa configuração há tanto aliados como inimigos.
Agora que você compreendeu o sentido da Sociologia para Norbert
Elias, você deve se perguntar sobre como o sociólogo se situa na sociedade.
Como é possível conhecer a sociedade, como deseja fazer o sociólogo,
sendo parte dela e resultado dela?
Norbert Elias (1999, p. 13), alerta para o fato de que “[...] aquele
que estuda e pensa a sociedade é ele próprio um dos seus membros
[...]”mostrando a importância do estudioso da sociedade colocar-se como
parte da sociedade. Para ele o sociólogo ao estudar a sociedade deve
manter em relação a ela uma postura de distanciamento (para controlar
seus preconceitos) e engajamento (para compreender a experiência que os
homens têm da vida social).
Agora, que vimos um pouco mais sobre o modo de pensar a sociedade
de Norbert Elias, é possível formulamos, com esse autor, um novo conceito
para a Sociologia – ela é o estudo de indivíduos interdependentes.
A esta altura você deve está se perguntando sobre possíveis
finalidades do estudo da Sociologia. Que razões podem existir para que
você se envolva no estudo sistemático da Sociologia além de ser ela uma
disciplina obrigatória de seu curso universitário. Enfim, você pode está se
perguntando para que serve a Sociologia? Veremos agora algumas respostas
dadas a essa pergunta por alguns praticantes dessa forma de conhecimento
conhecida como Sociologia.
Norbert Elias (1999) aponta como uma das tarefas centrais da
Sociologia a de tornar mais transparentes as teias de interdependência nas
quais as pessoas encontram-se envolvidos. Essas teias de interdependências
são opacas e possuem um caráter incontrolável. Com a análise dessas teias
a Sociologia contribuiria para impedir que as pessoas fossem arrastadas por
essas teias de um “modo cego e arbitrário”.
Franco Ferrarotti (1986, p. 151) aponta uma outra utilidade da
Sociologia considerando seus usos para auxiliar a tomada de decisões
políticas. Nesse caso, a Sociologia seria útil por ser
18 UNIDADE 01
estrutura demográfica, na escola, nos serviços públicos
fundamentais – para que as decisões tomadas em vista
de um posterior desenvolvimento não tenham efeitos
de distorção nem transformem o desenvolvimento
socioeconômico equilibrado num processo de expansão
pura e simples, condenado a agravar os desequilíbrios
preexistentes e a criar outros novos .
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 19
quem age”.
20 UNIDADE 01
“[...] o ponto de vista (sociológico) sobre os fenômenos
educativos (quaisquer que sejam as suas extensões) que
se refaz e amplia continuamente na ‘troca’, nem sempre
igual, com as demais sociologias [...].” (ESTEVES, 1992,
p. 101).
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 21
• a Sociologia da Educação pode ajudar os professores a perceber
a importância das diferenças e identidades culturais na escola;
• e, especialmente, a Sociologia da Educação pode ajudar os
docentes a interrogar a sua prática e a escola e a recriá-las.
As razões apontadas acima nos levam a compreender o lugar
da Sociologia da Educação nos cursos de formação de professores e a
importância dela para a prática profissional do professor. O professor, através
da Sociologia da Educação, pode compreender melhor os sujeitos presentes
no espaço escolar, a ação escolar e a si mesmo.
Contudo você não deve esquecer que a Sociologia da Educação
interessa a compreensão do modo como a sociedade se reproduz e dos
processos de socialização em geral. Como vimos, embora a escola tenha
ocupado um local central na análise realizada pela Sociologia da Educação,
seu interesse é mais abrangente e envolve dimensões importantes da vida
social influenciadoras, inclusive, da ação escolar.
Exercício de fixação
Atividade 1
Atividade 2
Atividade 3
22 UNIDADE 01
“http://www.pg.cefetpr.br/ppgep/Ebook/cd_Simposio/artigos/mesa_
debates/art27.pdf “ e comente, especialmente, os princípios da
sociologia de Elias.
Atividade 4
Atividade 5
Atividade 6
Atividade 7
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 23
24 UNIDADE 01
UNIDADE 02
O pensamento clássico em
sociologia e a análise da
educação
Resumindo
Nessa unidade, você iniciou o estudo do pensamento dos teóricos clássicos da
Sociologia e conheceu o modo como eles analisaram o fenômeno educativo. Você verá
que o pensamento clássico em Sociologia tem sua importância pelo caráter profundo,
original e pela repercussão desse pensamento na Sociologia que hoje é elaborada. Você
compreendeu a necessidade de conhecer os conceitos elaborados e o modo como cada
um dos pensadores clássicos aqui estudados realizaram sua análise da sociedade. Para
o estudo do pensamento clássico em sociologia estamos considerando as obras de Émile
Durkheim, Karl Marx e Max Weber. Outros pensadores poderiam ser acrescidos a esta lista,
contudo, considerando a carga horária da disciplina e seus objetivos, estudaremos somente
esses três teóricos fundamentais para a constituição da sociologia como conhecimento.
26 UNIDADE 02
O Pensamento Clássico
em Sociologia e em
Análise Da Educação
Émile Durkheim
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 27
Datas Dados Biográficos Algumas Obras
Nasce Durkheim em Epinal,
1858 Loraine na fronteira Nordeste
da França.
Durkheim entra na Escola
1879
Normal Superior.
Concurso de docência em
1882 Filosofia. Nomeado professor
em Sens e Saint-Quentin.
28 UNIDADE 02
1897 O Suicídio
Nomeado para a cadeira de
1902
pedagogia da Sorbonne
Nomeado professor da
cadeira de pedagogia
da Faculdade de Letras A determinação do fato
1906
de Paris, onde ensina moral
paralelamente sociologia e
pedagogia.
Julgamento de realidade e
1911
julgamento de valor
A cadeira que era titular
1913 passa a denominar-se
cadeira de sociologia
A Alemanha acima de tudo.
A mentalidade alemã e a
Guerra.
Durkheim perde seu único
1915 Quem quis a guerra? As
filho, morto na Guerra.
origens da guerra segundo
documentos diplomáticos
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 29
como uma ciência. Para tanto se dedicou a definir, para essa forma de
conhecimento que procurava consolidar, um objeto de estudo e uma
metodologia que garantisse um lugar no conhecimento do homem sobre o
mundo.
Então, qual era para ele o objeto de estudo da Sociologia? Para o
francês Émile Durkheim, o objeto de estudo da Sociologia eram os fatos
sociais. Leia o trecho abaixo do livro As regras do método sociológico de
Émile Durkheim, no qual ele define os fatos sociais:
30 UNIDADE 02
isto é, fatos sociais de ordem anatômica ou morfológica. A sociologia não se
pode desinteressar daquilo que concerne ao substrato da vida coletiva. No
entanto, o número e a natureza das partes elementares de que é composta
a sociedade, a maneira pela qual estão dispostas, o grau de coalescência
a que chegaram, a distribuição da população na superfície do território, o
número e a natureza das vias de comunicação, a forma das habitações, etc.,
não parecem, a um primeiro exame, passíveis de se reduzirem a modos de
agir, de sentir e pensar.
Contudo, em primeiro lugar, apresentam estes diversos fenômenos o
mesmo traço que nos serviu para definir os outros. Do mesmo modo que
as maneiras de agir de que já falamos, também as maneiras de ser se
impõem aos indivíduos. De fato, quando queremos conhecer como está uma
sociedade dividida politicamente, como se compõem estas divisões, a fusão
mais ou menos completa que existe entre elas, não é com o auxílio de uma
investigação material e por meio de observações geográficas que poderemos
alcançá-lo; pois estas divisões são morais, ainda quando apresentam algum
ponto de apoio na natureza física.
È somente através do direito público que se torna possível estudar tal
organização, pois é ele que a determina, assim como determina nossas
relações domésticas e cívicas. Tal organização não é, pois, menos obrigatória
do que outros fatos sociais. Se a população se comprime nas cidades em
lugar de se dispersar nos campos, é porque existe uma corrente de opinião,
uma pressão coletiva que impõe aos indivíduos esta concentração. Não
podemos escolher a forma de nossas casas, nem a de nossas roupas; pois
uma é tão obrigatória quanto a outra. As vias de comunicação determinam de
maneira imperiosa o sentido em que se fazem as migrações interiores e as
trocas, e mesmo até a intensidade de tais trocas e tais migrações, etc., etc.
Por conseguinte, haveria, no máximo, possibilidade de acrescentar à lista
de fenômenos que enumeramos como apresentando o sinal distintivo do
fato social uma categoria a mais, a das maneiras de ser; e como aquela
enumeração nada tinha de rigorosamente exaustiva, a adição não era
indispensável.
Mas não seria nem mesmo útil; pois tais maneiras de ser não passam de
maneiras de agir consolidadas. A estrutura política de uma sociedade não
é mais do que o modo pelo qual os diferentes segmentos que a compõem
tomaram o hábito de viver uns com os outros. Se suas relações são
tradicionalmente estreitas, os segmentos tendem a se confundir; no caso
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 31
contrário, tendem a se distinguir.
O tipo de habitação a nós imposto não é senão a maneira pela qual todo o
mundo, em nosso redor, e em parte as gerações anteriores, - se acostumaram
a construir as casas. As vias de comunicação não passam de leitos que a
corrente regular das trocas e das migrações, caminhando sempre no mesmo
sentido, cavou para si própria, etc. Sem dúvida, se os fenômenos de ordem
morfológica fossem os únicos a apresentar esta fixidez, poder-se-ia acreditar
que constituem uma espécie à parte.
Mas as regras jurídicas constituem arranjos não menos permanentes do que
os tipos de arquitetura e, no entanto, são fatos fisiológicos. A simples máxima
moral é seguramente mais maleável; porém, apresenta formas muito mais
rígidas do que os meros costumes profissionais ou do que a moda. Existe
toda uma gama de nuanças que, sem solução de continuidade, liga os fatos
de estrutura mais característicos a estas livres correntes da vida social que
não estão ainda presas a nenhum molde definido.
O que quer dizer que não existem entre eles senão diferenças no grau de
consolidação que apresentam. Uns e outros não passam de vida mais ou
menos cristalizada. Pode, sem dúvida, ser mais interessante reservar o nome
de morfológicos para os fatos sociais concernentes ao substrato social, mas
sob a condição de não perder de vista que são da mesma natureza que os
outros. Nossa definição compreenderá, pois, todo o definido, se dissermos:
é fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o
indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de
uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente
das manifestações individuais que possa ter.
(DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. 13. ed. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1987, p. 8-9).
32 UNIDADE 02
Como vivemos cotidianamente imersos na sociedade, temos a ilusão
de conhecer os fatos sociais. Por isso Durkheim afirma a necessidade de
suspeitar das noções primeiras que formam nosso senso comum, as pré-
noções. Considerar os fatos sociais como coisas é reconhecer que eles
não são imediatamente perceptíveis, mas sua compreensão requer o auxílio
da ciência. Assim, com essa afirmação, Durkheim quer indicar a postura
intelectual a ser adotada no estudo dos fatos sociais.
E como Durkheim via a educação? Para Durkheim, a educação
é considerada um fato social, isto é, satisfaz os três critérios de definição
do fato social: é coercitiva (por se impor aos indivíduos), é exterior ao
indivíduo (por ser construída socialmente) e é geral.
A coercitividade pode ser percebida na força que a regra social
exerce sobre o indivíduo, embora esse possa resistir a ela e essa força se
faça presente e imperceptível pela conformação do indivíduo a ela. Não se
resiste a regra social, contudo, sem que uma sanção seja aplicada ao que se
opõe a ela.
A exterioridade dos fatos sociais em relação ao indivíduo pode ser
compreendida considerando que o indivíduo ao nascer já encontra uma
sociedade constituída e, também, que a sociedade é uma criação da ação
de vários indivíduos que por suas interrelações vão construindo a vida social.
Sua definição de educação diz que a educação é
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 33
de caráter assimétrico (adulto age sobre a criança, visando criar nela o ser
social).
Considerando a necessidade de unidade da sociedade e, ao mesmo
tempo, sua diversificação, a educação se caracterizaria, também, segundo
Durkheim, por ser ao mesmo tempo una e múltipla, tendo em vista preparar
o indivíduo para a vida coletiva e para o meio social especial a que ele
particularmente se destinará.
O professor é, na visão de Durkheim, a encarnação e a personificação
do dever. Portanto, a autoridade moral é a qualidade principal do professor.
Essa autoridade não deve ser exercida tendo por base a violência física, mas
a ascendência moral do professor.
A liberdade e autoridade não se excluem, estando relacionadas
intimamente, pois, para Durkheim, a liberdade resulta da autoridade bem
compreendida. Ser livre não é fazer aquilo que se tem vontade, mas ser
dono de si próprio, sabendo agir segundo a razão, cumprindo o dever. A
autoridade do professor deve dotar a criança desse domínio sobre si mesma
pela interiorização da norma (DURKHEIM, 1973).
A cada período histórico e a cada sociedade corresponde um tipo de
educação. Durkheim considera ilusório querermos educar nossos filhos sem
considerarmos o período e a sociedade em que vivemos. Se criarmos nossos
filhos com ideias avançadas ou ultrapassadas em relação a nossa época,
a sociedade punirá essa inadequação de formação, pois não permitirá ao
indivíduo uma vida conforme seu tempo.
A educação é, para Durkheim, um mecanismo importante de
reprodução da sociedade, pois através dela se perpetuam pensamentos,
maneiras de ser e posições sociais, sendo, portanto, fundamental para a
manutenção da coesão social e para a manutenção da sociedade.
34 UNIDADE 02
Datas Dados Biográficos Algumas Obras
Nasce Max Weber em Erfurt,
1864
na Turíngia.
Muda-se para Berlim com a
1869
família
Inicia o curso de Direito na
Universidade de Heildberg,
1882 seguindo também cursos de
Economia, História e outras
matérias.
Apresenta sua tese de
doutoramento sobre a história
1889
das Companhias comerciais
na idade Média.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 35
Assume a cátedra de
1919 Economia na Universidade
de Munique
Morre Weber em Munique na
1920
epidemia de gripe
É publicada Economia e
1921
Sociedade
1923 História Geral da Economia
36 UNIDADE 02
Obtém-se um tipo ideal mediante a acentuação unilateral de
um ou vários pontos de vista, e mediante o encadeamento
de grande quantidade de fenômenos isoladamente dados,
difusos e discretos, que se podem dar em maior ou menor
número ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam
segundo os pontos de vista unilateralmente acentuados, a
fim de se formar um quadro homogêneo de pensamento.
É impossível encontrar empiricamente na realidade esse
quadro, na sua pureza conceitual, pois trata-se de uma
utopia. A atividade historiográfica defronta-se com a tarefa
de determinar, em cada caso particular, a proximidade ou
afastamento entre a realidade e o quadro ideal [...] Ora,
desde que cuidadosamente aplicado, esse conceito cumpre
as funções específicas que dele se esperam, em benefício
da investigação e da representação. (WEBER, 1992, p.
137, grifos do autor).
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 37
ordenações a exercer a autoridade: autoridade legal”;
2. tradicional – que se baseia “na crença cotidiana da santidade das
tradições que vigoram desde tempos longínquos e na legitimidade
dos que são designados por essa tradição para exercer a
autoridade: autoridade tradicional”;
3. carismática – que se baseia “sobre a entrega extracotidiana à
santidade, ao heroísmo ou à exemplaridade de uma pessoa e às
ordenações por ela criadas ou reveladas: autoridade carismática”.
No texto Os letrados chineses, Weber afirma, embora não pretenda
ser exaustivo, quanto as finalidades da educação, que historicamente:
38 UNIDADE 02
reside especialmente no fato de que Weber concebe a educação para além da
instituição escolar, destacando, por exemplo, o papel da família na formação
dos jovens: “A autoridade dos pais e da escola influencia muito além daqueles A máquina a
bens culturais de caráter (aparentemente) formal, pois forma a juventude e vapor aumentou a
dessa maneira os homens.” (WEBER, 1992, p. 172). produção do carvão.
Weber concebe a educação em sentido amplo, por exemplo, quando
discute, na obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, a formação
religiosa dos católicos e protestantes. Assim, para Weber, a educação não
se restringiria à escola, mas em diversas esferas da sociedade teríamos a
produção, através de uma ação educativa, dos homens e das mulheres.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 39
1842 Redator da gazeta Renana Escreve artigos diversos
Manuscritos de 1844. A
1844 Conhece Fredrich Engels
sagrada família.
Teses sobre Feuerbach. A
1845
ideologia Alemã
1847 Miséria da Filosofia
Funda a Nova Gazeta Manifesto do Partido
1848
Renana. Comunista
Trabalho assalariado e
1849
capital
40 UNIDADE 02
A obra de Karl Marx refere-se, especialmente, ao desenvolvimento da
sociedade capitalista, embora não se restrinja a ela. A sociedade capitalista
caracteriza-se por ser uma sociedade produtora de mercadorias. No livro 1
de sua obra O Capital, Marx assim se define mercadoria:
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 41
homens e, portanto, com a educação.
Na perspectiva de análise marxista, o projeto de formação do homem
deve se encaminhar para a superação da separação entre trabalho manual e
trabalho intelectual e realizar a formação do homem completo. E o que seria
esse homem completo? Aquele que surgiria de uma sociedade e uma formação
possibilitadora do desenvolvimento das capacidades humanas, resultante da
superação da divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual. Vejamos
como a isso se refere Marx, em um trecho de seu livro A Ideologia Alemã:
42 UNIDADE 02
crianças e adolescentes dos dois sexos cooperem no grande movimento da
produção social, como um progresso e uma tendência legítima e razoável,
ainda que o reino do capital tenha feito disto uma abominação.
Numa sociedade racional, qualquer criança, desde os nove
anos, deve ser um trabalhador produtivo, assim como nenhum adulto, de
posse de todas as suas faculdades, pode-se isentar dessa lei geral da
natureza. Se quisermos comer, é preciso trabalhar, e não somente com
o nosso cérebro mas também com as nossas mãos. Entretanto, no atual
momento, só devemos nos ocupar das crianças e jovens das classes
trabalhadoras. Julgamos útil dividi-los em três categorias, que devem ser
tratadas de modo diferente. A primeira categoria compreende as crianças
entre nove e 12 anos, a segunda as de 13 a 15 anos, e a terceira os jovens de
16 e 17 anos. Propomos que a utilização da primeira categoria em qualquer
tipo de trabalho, na fábrica ou a domicílio, seja legalmente restrita a duas
horas diárias; a da segunda categoria a quatro horas e a da terceira a seis
horas. Para a terceira categoria, deve haver uma interrupção, de pelo menos
uma hora, para refeição e recreação.
Seria desejável que as elementares começassem a instrução
das crianças, antes da idade de nove anos. Mas, no momento, só devemos
pensar nas medidas absolutamente necessárias para contra-arrestar as
tendências de um sistema social que degrada o operário, a ponto de torná-
lo um mero instrumento para a acumulação do capital; e que, fatalmente,
transforma os pais em mercadores de escravos que vendem os seus próprios
filhos. O direito das crianças e dos adultos deve ser defendido, uma vez que
eles não podem fazê-lo por si mesmos. É, portanto, dever da sociedade agir
em seu nome.
Se a burguesia e a aristocracia são negligentes em seus
deveres para com os seus descendentes, é um problema delas. Desfrutando
do privilégio de membros dessas classes, essas crianças estão condenadas
também a padecer dos seus preconceitos.
O caso da classe operária é bem diferente. O trabalhador não
age livremente. Frequentemente, ele é muito ignorante para compreender
qual é o verdadeiro interesse do seu filho, ou as condições normais do
desenvolvimento humano. No entanto, a parte mais esclarecida da classe
operária compreende plenamente que o futuro da sua classe e, por
conseguinte, da espécie humana, depende da formação da geração operária
que cresce.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 43
Ela compreende, antes de mais nada, que as crianças e os
adolescentes devem ser preservados dos efeitos destruidores do sistema
atual. E isto só pode se realizar pela transferência da razão social em força
social; o que, nas circunstâncias presentes, só pode ser feito através de
leis gerais impostas pelo poder do Estado. Ao imporem tais leis, as classes
operárias não estarão fortalecendo o poder governamental. Ao contrário,
elas estarão transformando o poder dirigido contra elas, em seu agente. O
proletariado fará, então, através de uma medida geral, aquilo que ele tentaria,
em vão, realizar através de uma profusão de esforços individuais.
Por tudo isso, declaramos:
A sociedade não pode permitir nem aos pais, nem aos
patrões, o emprego de crianças e adolescentes para o trabalho, a menos
que se combine o trabalho produtivo com a educação. Por educação nós
entendemos três coisas:
1. educação mental;
2. educação corporal, tal qual é produzida pelos exercícios ginásticos e
militares;
3. educação tecnológica, compreendendo os princípios gerais e
científicos de todos os processos de produção e, ao mesmo tempo, iniciando
as crianças e os adolescentes no manejo dos instrumentos elementares de
todos os ramos industriais.
A divisão das crianças e adolescentes em três categorias,
de 9 (nove) a 18 (dezoito) anos, deve corresponder uma marcha gradual e
progressiva em sua educação mental, física e tecnológica.
Os gastos dessas escolas técnicas devem ser cobertos, em
parte, pela venda dos seus produtos.
Essa combinação do trabalho produtivo pago com a educação
mental, os exercícios corporais e a aprendizagem politécnica, elevará a
classe operária bem acima do nível das classes burguesa e aristocrática.
Fica subentendido que o emprego de criança ou adolescente,
entre nove e 18 anos em qualquer tipo de trabalho noturno, ou em qualquer
ramo industrial que possa acarretar efeitos nocivos para a saúde, deve ser
severamente proibido pela lei.
(MARX, 1990, p. 147).
44 UNIDADE 02
a construção de uma educação que compreendesse a superação da
divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual e que possibilitasse a
constituição do homem completo. Em seu tempo, procurou posicionar-se em
relação ao modo como era utilizada, nas fábricas, a mão de obra infantil,
procurando, contudo, defender o princípio da união entre ensino e trabalho,
cuja separação é um fator de limitação do desenvolvimento do ser humano.
Através da educação tecnológica, os trabalhadores poderiam
compreender a organização do trabalho e transformá-la de modo a ter
seus interesses realizados. Não se trata, portanto, de mero treinamento em
determinadas habilidades técnicas, mas do domínio do modo de organização
da produção.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
Atividade 1
Atividade 2
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 45
• Quais as críticas dirigidas por Durkheim às definições de educação
que ele analisa em seu texto?
• Que critérios Durkheim observou para a elaboração de sua
definição de educação?
• Por que a educação é definida em Durkheim como una e múltipla
ao mesmo tempo?
• Por que o caráter social da educação é uma consequência da
definição que Durkheim tem de educação?
Atividade 3
Atividade 4
Atividade 5
Atividade 6
46 UNIDADE 02
conhecer os índices relativos à educação (número de matrícula,
número de crianças em idade escolar e taxas de rendimento
escolar), bem como dados sobre trabalho infanto-juvenil. Analise
as repercussões desse trabalho na escolarização das crianças.
2. Leia o texto Politecnia ou educação tecnológica: desafios ao
ensino médio e a educação profissional de Nilson Marques Dias
Garcia e Domingos Leite Lima Filho, disponível no endereço
http://www.anped.org.br/reunioes/27/diversos/te_domingos_leite.
pdf, e responda:
a) Em que consiste a politecnia?
b) Faça uma síntese das políticas implementadas para a educação
profissional.
c) Quais os desafios que esses autores apresentam para a educação
profissional no presente?
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 47
48 UNIDADE 02
UNIDADE 03
A EDUCAÇÃO COMO OBJETO DE
ESTUDO DA SOCIOLOGIA
Resumindo
Nessa unidade, você compreendeu alguns dos temas fundamentais da
relação-sociedade e analisou o lugar da escola na sociedade. Nela devemos pensar
a especificidade da escola como instituição e sua vinculação a determinados tipos
de sociedade. Sempre existiu algo denominada escola? Que sociedades necessitam
da escola para transmissão de seus valores e conhecimentos? Para o exercício
da docência é importante perceber os elementos da vida social que influenciam a
escola em sua organização e funcionamento. Situar a escola histórica e socialmente é
importante para compreender seu papel, nossa ação como professores e a constituição
dos alunos como tais. Estudou, pois, alguns aspectos da relação escola e sociedade
procurando compreender o lugar da escola e da docência na sociedade.
50 UNIDADE 03
A Educação como
Objeto de Estudo da
Sociologia
Para termos uma primeira aproximação com o conceito de escola, vejamos essa
definição: “Instituição que se propõe a contribuir para a formação do educando
como pessoa e como membro da sociedade, mediante a criação de condições
e de oportunidades de ampliação e de sistematização de conhecimentos. O
termo Escola é considerado genérico e abrange conceitualmente a escola como
instituição social, sua função e sua estrutura dentro da sociedade politicamente
organizada e administrada. O termo Escola vem do grego “schole”, que significa
descanso, ou o que se faz na hora do descanso, pois na Grécia Antiga a
escola era para os que não precisavam trabalhar." (DUARTE, S.G. DBE, 1986).
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 51
Assim, o estabelecimento de um espaço físico e um tempo
especialmente destinado ao ensino foi resultado de um processo histórico,
no qual a educação foi assumindo a forma escolar que hoje conhecemos e
passando a ocorrer sob a orientação de um grupo profissional especifico: os
professores.
Na sua organização ao longo do tempo a escola foi se estruturando
e criando, não só a figura do aluno, mas outros sujeitos da ação escolar
como vigias, porteiros, merendeiras, zeladoras, coordenadores, inspetores
de alunos, diretores, dentre outros.
52 UNIDADE 03
Assim, a escola é uma instituição historicamente constituída como
locus de formação das novas gerações. É um espaço onde se realiza a
transmissão da cultura socialmente valorizada, sendo também espaço de
convivência, de conflitos e de constituição de identidades.
É possível que você já tenha percebido o quanto a sociedade
moderna, mesmo considerando a crise da escola, destaca a escola como
uma instituição importante para a formação de seus membros. Assim você
pode perceber a importância da escola como uma organização fundamental
da sociedade. Isso ocorre, principalmente, pela relevância que o domínio
do código escrito passa a ter nessa sociedade, pelo lugar da escola na
classificação pública das pessoas e conhecimentos e pela sociabilidade que
passa a ser desenvolvida de modo significativo no espaço escolar.
Por isso, você já deve ter percebido, as pessoas ingressam cada vez
mais cedo no universo da escola e prolongam sua permanência no sistema
escolar com a ampliação das necessidades de escolarização, fruto também
da massificação do sistema escolar. Isso, ao tempo em que reforça a ação da
escola na sociedade, faz surgir novas classificações e hierarquizações para
os diplomas e para os espaços escolares.
Por outro lado, a escola passa a ser questionada a partir das novas
formas de constituição e circulação do saber advindas do emprego de novas
tecnologias de comunicação. Espaço de disputa, de inclusão e exclusão, a
escola é levada a se recriar a cada momento em suas práticas e, ao mesmo
tempo, procura manter características que se consolidaram em seu interior Para Claude Dubar
ao longo dos tempos. (1996) a escola,
tradicionalmente,
As disputas existentes na sociedade perpassam o universo escolar,
teria funções
sendo os objetivos da escola legitimados e questionados a partir dos de distribuição,
interesses e valores presentes nos diversos grupos da sociedade. educativa e de
Desse modo, para Claude Dubar (1996, p.174), a escola já não pode socialização, que, na
contemporaneidade,
ser pensada como uma instituição no sentido clássico do termo, já que esse
tenderiam a se
sentido nos leva a considerar que uma instituição deva ter “[...] uma forte distinguir e a
capacidade de integração funcional em torno de valores fulcrais [...]” . Assim, constituir-se de
a escola já não proporcionaria a integração funcional dos valores, importante modo separado.
para sua definição como instituição.
Isso ajuda-nos a entender, segundo esse autor, o sentimento de
crise da escola que se tem, o que não significa que a escola tenha deixado
de funcionar, mas simplesmente que ela não funcionaria mais como uma
instituição. Isso significa reconhecer a heterogeneidade dos sujeitos
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 53
presentes na escola e de seus objetivos, que geram novas modalidades
de coordenação de suas ações no espaço escolar, e reconhecer a escola
como produtora, também, de exclusões e desigualdades e como espaço de
disputas e conflitos.
Na escola, temos, pois, continuamente, a constituição de interações
sociais que implicam conflitos e negociações entre sujeitos sobre aspectos
diversos da realidade escolar. Assim, há na escola uma diversidade de
sentidos construídos por seus sujeitos, o que torna a escola um espaço
plural, no qual diferentes sujeitos e sentidos interagem.
Leitura Complementar
54 UNIDADE 03
maneira de pensar. Seja como for, no contexto deste trabalho, torna-se
importante demonstrar que, sob a perspectiva sociológica, o significado do
termo não é exatamente este. É por isso que desejamos ocupar um momento
da atenção do leitor para, num capítulo pouco extenso, demonstrar que a
linguagem é uma instituição.
Diremos mesmo que muito provavelmente a linguagem é
a instituição fundamental da sociedade, além de ser a primeira instituição
inserida na biografia do indivíduo. É uma instituição fundamental porque
qualquer outra instituição, sejam quais forem suas características e
finalidades, funda-se nos padrões de controle subjacentes da linguagem.
Sejam quais forem as outras características do Estado, da
economia e do sistema educacional, os mesmos dependem dum arcabouço
linguístico de classificações, conceitos e imperativos dirigidos à conduta
individual; em outras palavras, dependem dum universo de significados
construídos através da linguagem e que só por meio dela podem permanecer
atuantes.
Por outro lado, a linguagem é a primeira instituição com que
se defronta o indivíduo. Esta afirmativa pode parecer surpreendente. Se
perguntássemos ao leitor qual é a primeira instituição com que a criança
entra em contacto, será provavelmente a família que lhe virá à mente.
E de certa forma não deixa de ter razão. Para a grande
maioria das crianças a socialização primária tem lugar no âmbito duma família
específica, que por sua vez representa uma faceta peculiar da instituição
mais ampla do parentesco na sociedade a que pertence. Não há dúvida de
que a família é uma instituição muito importante. [...] Acontece, porém, que
a criança não toma conhecimento desse fato. Ela de fato experimenta seus
pais, irmãos, irmãs e outros parentes que possam estar por perto naquela
fase da vida.
Só mais tarde percebe que esses indivíduos em particular,
e os atos que praticam, constituem uma das facetas duma realidade social
muito mais ampla, designada como "a família". É de supor que essa percepção
ocorra no momento em que a criança começa a comparar-se com outras
crianças - o que dificilmente acontece na fase inicial da vida. Já a linguagem
muito cedo envolve a criança nos seus aspectos macrossociais.
No estágio inicial da existência, a linguagem aponta
as realidades mais extensas, que se situam além do microcosmo das
experiências imediatas do indivíduo. É por meio da linguagem que a criança
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 55
começa a tomar conhecimento dum vasto mundo situado "lá fora", um mundo
que lhe é transmitido pelos adultos que a cercam mas vai muito além deles.
56 UNIDADE 03
fazer de novo - "Lá vai ele de novo com esse jeito de papai castigador", "lá
vai ele de novo com essa cara de quem espera visita", e assim por diante.
Na verdade, é só por meio de fixações linguísticas como estas
(através das quais a ação alheia adquire um significado definido que será
atribuído a cada ação do mesmo tipo) que a criança pode aprender a assumir
o papel do outro. Em outras palavras, a linguagem estabelece a ligação entre
o "lá vai ele de novo" e o "cuidado, que lá vou eu".
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 57
- são filtradas através dela, organizadas por ela, entram em expansão por
meio dela ou, ao contrário, por ela são relegadas ao esquecimento - pois uma
coisa sobre a qual não podemos falar deixa uma impressão muito tênue na
memória. Isso acontece com toda e qualquer experiência, mas principalmente
com as experiências ligadas ao próximo e ao mundo social.
58 UNIDADE 03
se em termos que não resultam da idiossincrasia criadora de quem fala.
Suponhamos que ele esteja falando inglês.
A língua inglesa não foi criada nas profundezas de sua consciência individual.
Existia lá fora muito antes do momento em que o indivíduo a usou. Ele a
experimenta como alguma coisa que existe fora dele, e a mesma coisa
acontece com a pessoa à qual se dirige, ambos experimentam a língua inglesa
como a realidade exterior no momento em que começaram a aprendê-la.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 59
No entanto, se acontecer que este não note o fato, esqueça o mesmo -
ou, o que é pior - queira modificar o estado de coisas existentes, é nesta
oportunidade que muito provavelmente a força coercitiva da instituição se
apresenta de forma bastante rude. Numa família
esclarecida da classe média, e numa idade em que todos concordam que tais
deslizes são de, esperar, a criança geralmente é submetida a uma persuasão
suave enquanto ofende os padrões do inglês correto.
Essa persuasão suave poderá continuar a ser aplicada numa escola
progressista, mas raramente o será pelos colegas que a criança encontra na
mesma. Estas provavelmente reagirão a qualquer infração ao seu código de
inglês correto (que evidentemente não é o mesmo do professor), por meio
duma zombaria brutal e possivelmente de represálias físicas. Se o adulto
insiste nessa atitude de desafio ficará sujeito a represálias partidas de todos
os lados.
O jovem de classe operária poderá perder a namorada se não
quiser falar "bonito", e por esse mesmo motivo poderá perder a promoção.
O dicionário Webster e o manual Modern English Usage, de Fowler, montam
guarda em cada degrau da escada de ascensão social.
Mas ai do jovem da classe média que continue a falar bonito no
exército! E ai também do professor de meia idade que pretenda captar as
simpatias dos jovens, falando a linguagem deles; evidentemente, estará
sempre ao menos dois anos atrás das convenções destes, sujeitas sempre a
mudanças rápidas, e seu choque com o poder coercitivo da linguagem atinge
as feições patéticas duma tragédia de Sófocles.
Reconhecer o poder das instituições não é o mesmo que
afirmar que elas não podem mudar. Na verdade, elas mudam constantemente
– precisam mudar pois não passam de resultados necessariamente difusos
da ação de inúmeros indivíduos que "atiram” significados para o mundo.
Se de um dia para o outro todos os habitantes dos Estados
Unidos deixassem de falar Inglês, a língua inglesa deixaria de existir
abruptamente como uma realidade institucional do país. Em outras palavras,
a existência objetiva da linguagem depende da fala ininterrupta de muitos
indivíduos que, ao se comunicarem, exprimem suas intenções, significações
e motivos de ordem subjetiva.
É claro que essa objetividade, ao contrário da objetividade dos fatos
da natureza, nunca pode assumir caráter estático. Muda constantemente,
mantém-se num fluxo dinâmico, e às vezes sofre convulsões violentas. Mas
60 UNIDADE 03
para o indivíduo não é fácil provocar mudanças deliberadas. Se depender
exclusivamente dos seus esforços individuais, as possibilidades de êxito
num empreendimento desse tipo serão mínimas. Imaginemos que o leitor
se lance à tarefa de reformular a gramática ou de renovar o vocabulário. É
possível que tenha algum êxito no microcosmo que o rodeia. Ê até provável
que tenha conseguido êxito no tempo de criança: talvez sua família tenha
adaptado algumas das criações mais extravagantes de sua fala de bebê,
incorporando-as à linguagem intragrupal da família. Como adulto, o indivíduo
poderá alcançar pequenas vitórias como estas quando fala à esposa ou ao
círculo de seus amigos mais íntimos.
Mas, se não for considerado um "grande escritor" ou um
estadista, nem realizar esforço imenso para congregar as massas em torno
de sua bandeira de revolução linguística (neste ponto poderíamos evocar
o reavivamento do hebraico Clássico no sionismo moderno ou os esforços
menos bem sucedidos de fazer a mesma coisa com o gaélico da Irlanda), o
impacto alcançado sobre a linguagem de seu macrocosmo será provavelmente
nulo no dia em que abandonar este vale de palavras.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 61
A criança estrangeira que continuamente comete erros de
linguagem, o pobre imigrante que carrega o fardo do sotaque, o soldado
que não consegue superar o hábito arraigado da fala polida, o intelectual de
vanguarda cujo falso jargão mostra que não está "por dentro", todos eles são
indivíduos que experimentam um sofrimento muito mais intenso que o das
represálias externas; quer queiramos, quer não, temos que reconhecer neles
a dignidade do sofrimento moral.
62 UNIDADE 03
que supera todas as outras. Representa o mais poderoso instrumento de
controle da sociedade sobre todos nós.
(BERGER ; BERGER, 1983, p. 193-9).
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 63
variegado dessa heterogeneidade dos pontos de vista, das
memórias e dos tipos de experiência. (LAHIRE, 2003, p.
31).
64 UNIDADE 03
sobre a Educação Escolar
Pierre Bourdieu
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 65
seu percurso escolar, por seu universo sociocultural encontrar-se distanciado
do universo da escola.
A escola, para exercer com legitimidade seu papel, ocultaria o fato
de que em seu funcionamento opera com um arbitrário cultural socialmente
imposto. Assim afirma Bourdieu (1999, p. 53):
66 UNIDADE 03
Nesse processo, ocorreria uma violência simbólica que teria
como consequência o distanciamento do aluno de camada de sua
cultura de origem, a inculcação de uma outra cultura e a desvalorização
de sua cultura de origem.
Assim, Bourdieu nos alerta para a não neutralidade da escola
e de seus processos. A escola contribuiria para a desigualdade social
com sua ação e, especialmente, por não revelar o seu caráter seletivo e
excludente, vinculado à divisão social existente na sociedade.
Paul Willis
Paul Willis estuda a reprodução social a partir da análise do Figura 2. Capa do livro de
comportamento de resistência às práticas de um grupo de rapazes de Paul Willis “Aprendendo a ser
Trabalhador”.
uma escola inglesa. Nessa perspectiva, o ator social produz sua posição
social por seus comportamentos sociais. Paul Willis está interessado em
conhecer os vínculos existentes entre uma cultura contra-escolar e a cultura
da classe trabalhadora.
Assim, “os rapazes” que estudou, em sua pesquisa Aprendendo a
ser trabalhador, resistiriam e se oporiam por opção a uma identidade com as
práticas e a cultura escolar e optariam por uma identificação com a cultura do
universo social de seus pais. Essa opção levaria, como resultado, a que estes
ocupassem as mesmas posições de seus pais em empregos desqualificados
ou semi-qualificados.
A escola era vista de maneira crítica pelo grupo de rapazes estudados
por Willis, sendo a critica da escola utilizada para combatê-la. Daí a resistência
dos rapazes às atividades escolares propostas. Eles rejeitavam a cultura
e as exigências escolares, resistiam a toda forma de controle escolar e
desvalorizavam o trabalho intelectual. Os rapazes desejavam ingressar o mais
rápido possível no mundo do trabalho, embora não vissem este como diferente
da escola ou esperassem ocupar postos de trabalho mais valorizados. O
trabalho duro era identificado com valores relativos à masculinidade, o que
fazia com que parecesse positivo o fracasso escolar e o trabalho manual.
Assim, embora criativo e crítico em relação à escola e o que ela
representa, o comportamento dos rapazes estudados por Willis acabava tendo
como resultado a reprodução das posições sociais dos mesmos. Ou seja, essa
ação levava os rapazes a ocupar a mesma posição social ocupada por seus
pais.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 67
EXERCÍCIO DO FIXAÇÃO
Atividade 1
Atividade 2
Atividade 3
68 UNIDADE 03
Leia as seguintes entrevistas com Paul Willis
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 69
70 UNIDADE 03
UNIDADE 04
AS DESIGUALDADES SOCIAIS E
AS TRAJETÓRIAS ESCOLARES
Resumindo
Nessa unidade estudamos alguns modos como tem ocorrido as relações
família e escola em diferentes camadas sociais procurando compreender o papel
da família na escolarização dos filhos e o modo como a escola tem compreendido
e interagido com os diferentes contextos familiares. Aqui veremos como o estudo
de trajetórias escolares realizado pelas famílias no processo de escolarização dos
filhos. Veremos, também, como é importante que o professor conheça as lógicas de
socialização das famílias de meios populares e a da escola para exercício de sua
profissão.
72 UNIDADE 04
As Desigualdades
Sociais e as Trajetórias
Escolares
Para saber mais sobre o surgimento dessas teorias, leia e resuma o texto de
Maria Alice Nogueira intitulado “A sociologia da educação no final dos anos 60/
inicio dos anos 1970: o nascimento do paradigma da reprodução”, que pode ser
encontrado no sitio do INEP no endereço:
http://www.publicacoes.inep.gov.br/arquivos/{75940577-E91B-4D10-A8C3-
D90A12879701}_ano_9_nº_46_abr.-jun._1990.pdf.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 73
cultural e o dom social tratado como dom natural”(BOURDIEU, 1999, p. 41).
Como já comentamos acima os 1960/1970 são marcados pela
denúncia do modo de funcionamento do sistema escolar na reprodução das
desigualdades sociais.
Por trajetória escolar Recentemente, as pesquisas no campo da sociologia vêm procurando
compreende-se conhecer, através do estudo de trajetórias escolares, o que tem oportunizado
o percurso de a estudantes de camadas populares a construção de um percurso escolar
escolarização
longevo ou pelo estudo de situação de sucesso escolar em diferentes níveis
vivenciado pelos
estudantes durante da escolaridade. São estes estudos que embasam essa unidade do curso. A
sua formação. importância do conhecimento desse tema pelos docentes reside no fato de
que a partir dele se pode pensar a escola e a relação da educação escolar
com as famílias de classes populares.
Sugerimos que você elabore um pequeno texto narrado sua relação com
a escola desde o seu ingresso até o presente momento quando você
inicia um curso superior.
Sobre esse tema leia e resuma o texto de Wilson Mesquita de Almeida intitulado
“que elite é essa de que tanto se fala? – sobre o uso indiscriminado do termo
apartir de perfis de alunos de Universidades Públicas encontrado no endereço
http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/GT14-1794--Int.
pdf
74 UNIDADE 04
Nos últimos anos as pesquisas no campo da Sociologia da Educação
têm se debruçado mais sobre o modo como se produz carreiras escolares
de sucesso em meios populares, tomando, especialmente como tema de
pesquisa, estudantes que ingressaram em cursos superiores. Embora ainda
muito recentes essas pesquisas apontam elementos importantes para a
compreensão desse fenômeno. Algumas delas têm, inclusive, ajudado a
repensar alguns temas de ampla divulgação em torno do ensino superior,
como o da elitização do ensino superior público.
Esses estudos têm se caracterizado por, sem esquecer a estrutura
social, analisarem percursos escolares de um número reduzido de sujeitos
utilizando, principalmente, a entrevista para a produção dos dados,
predominando abordagens qualitativas.
Observando essas características mais gerais desse tipo de pesquisa
você deve se perguntar como ela pode ajudar o professor na sua ação
pedagógica? Que elementos trazem essas pesquisas para a compreensão do
fenômeno escolar em nossa sociedade? Veremos a seguir algumas dessas
pesquisas e as conclusões a que chegaram.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 75
O estudo de Bernard Lahire (1997) nos adverte que não há um estilo
único para a construção do sucesso escolar, mas diferentes modos disso
acontecer.
Ao analisar as configurações familiares nas quais o sucesso escolar
se torna possível esses estudos não percebem nessas famílias a existência
de um projeto de escolarização explicitado e de longo prazo para os filhos,
definido desde cedo.
Maria José Braga Viana (2000) expondo os resultados de sua
pesquisa sobre longevidade em camadas populares concluiu, como Bernard
Lahire (1997),que há uma ausência nas famílias por ela pesquisada de
projeto de escolarização de longo prazo, sendo essas trajetórias marcadas
mais pela imprevisibilidade oriunda “(...) da importância que assumiram, por
um lado, as oportunidades advindas de universos exteriores ao familiar e, por
outro lado, os êxitos escolares parciais, sobretudo os que se deram na escola
primária” (p.51).
76 UNIDADE 04
Se não há esse desinteresse ou essa ausência como entender o que
Bernard Lahire (1997) denomina de “mito da omissão parental” presente nas
falas, especialmente, de professores quando se referem a seus alunos de
camadas populares? Que características têm a presença dessas famílias na
vida dos filhos que passa despercebido pela escola?
Possivelmente, essa presença não seja percebida pela especificidade
da relação dessas famílias com a escola e por ser como define Maria José
Braga Viana (2000) uma presença “periférica ao estritamente escolar” (p.54).
Assim, as ações das famílias de camada que contribuem para a construção
do sucesso escolar não ocorrem necessariamente de modo intencional e
consciente.
As pesquisas com essa temática têm alertado para a importância
de ações de ordem moral e simbólica por parte das famílias, tais como
valorização da escola, elogios por resultados alcançados e o que LAHIRE
(1997) denomina “uma certa ordem moral doméstica”. Isso não significa,
contudo, que não existam ações mais diretamente escolares como vigilância
no cumprimento de tarefas escolares e garantia de assiduidade à escola.
Maria José Braga Viana (2000) também nos alerta para o papel
fundamental que o filho-aluno tem na constituição de sua longevidade
escolar, especialmente, pela autodeterminação e envolvimento com a escola
por ele demonstrado, mesmo reconhecendo que esses são constituídos em
seus contextos familiares.
Uma forma de entender melhor essa questão talvez seja compreender
as diferenças existentes entre os modos de socialização das crianças das
famílias de classes populares e as expectativas da escola.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 77
Antônio de Pádua Carvalho Lopes possui graduação em Licenciatura
Plena em Pedagogia pela Universidade Federal do Piauí (1990), graduação
em Bachalerado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Piauí
(1989), mestrado em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (1996)
e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Ceará (2001).
Atualmente é professor da Universidade Federal do Piauí. Tem experiência
na área de Educação, com ênfase em História e Sociologia da Educação,
atuando principalmente nas seguintes áreas: história da educação e sociologia
da educação. Atualmente é professor dos Programas de Pós-graduação em
Educação e História do Brasil da UFPI.
78 UNIDADE 04
Unidade 1
Unidade 2
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 79
de Janeiro: Zahar, 1980.
80 UNIDADE 04
______. Os letrados chineses. In: GERTH, H.; MILLS, W. (Org.). Ensaios
de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.
Unidade 3
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 81
THIN, Daniel. Para uma análise das relações entre famílias populares
e escola: confrontação entre lógicas socializadoras. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
24782006000200002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 22 jun. 2007.
Unidade 4
82 UNIDADE 04
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 83