O Psicanalista No Cinema
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O Psicanalista No Cinema
A figura do psicanalista aparece no cinema pela primeira vez neste filme silen-
cioso lançado em 1926. O espectador ainda não sabe quem é aquele persona-
gem que – numa primeira impressão – poderia ser apenas um figurante lendo
o jornal num café (ou bar) de Berlim (ou de outra cidade não especificada da
Alemanha na época).
Em uma mesa próxima está o tipo principal sobre quem o filme se deteve
até agora: um cientista que desenvolveu grave fobia a objetos cortantes e teme
usá-los contra a esposa por quem é apaixonado. Ao levantar-se para ir embora,
o cientista fóbico deixa um molho de chaves sobre a mesa, o que é percebido
pelo sujeito que está lendo as notícias. Haveria tempo e chance de chamar o
outro e avisá-lo do esquecimento, mas ele também se levanta de onde está, pega
as chaves e sai, seguindo o “distraído” a uma certa distância.
Ao se dar conta de que não tinha consigo um meio de entrar em sua casa,
já no portão de entrada, é que o outro se aproxima e entrega-lhe o chaveiro,
comentando que o “esquecido” talvez preferisse não ter que voltar para casa
naquela noite. Surpreso ao escutar tal coisa, pergunta como quem lhe levou as
chaves fizera tal dedução, escutando como resposta: “Eu sou psicanalista, é o
meu trabalho”. E se afasta.
Desesperado com a intensidade e o agravamento dos sintomas, o cientis-
ta retorna ao bar no dia seguinte e consegue saber que “o doutor atende ali em
frente”. Quando entra no consultório, o (agora já se sabe quem é) psicanalista
lhe diz: “Sabia que o senhor viria, mas não imaginei que fosse tão cedo”.
A partir daí, o filme vai mostrar algumas sessões com o paciente no divã
e, principalmente, a análise detalhada de um longo sonho que o filme já havia
mostrado anteriormente. É descoberta a origem dos sintomas na infância do
paciente com forte componente de conflito triangular e ciúmes. A ideia obses-
siva de que poderia matar a mulher se desfaz, assim como o sintoma fóbico que
lhe era conexo, podendo a vida conjugal do ex-neurótico entrar nos eixos, con-
cluindo o filme com um happy ending. O casal, antes explicitamente frustrado
por não terem filhos (ficara bem subentendida a impotência sexual do marido),
surge com um bebê numa cena final campestre e idílica.
É bastante conhecida a ojeriza que Freud teve à realização de um “filme
psicanalítico”, levando-o a indispor-se com seus discípulos Hans Sachs e Karl
Abraham por terem aceitado o papel de “consultores científicos” na elaboração
do roteiro (que teria utilizado fragmentos de casos reais atendidos por psica-
nalistas). Se o filme retratou com alguma fidedignidade o que Abraham e Sachs
ofereceram aos roteiristas profissionais para a elaboração cine-dramatúrgica do
enredo, o que vemos – quase cem anos depois – pode servir como retrato de
como os seguidores de Freud trabalhavam: com ênfase na interpretação de so-
nhos e buscando o trauma originário para o estabelecimento da neurose e dos
sintomas a serem removidos.
Chama nossa atenção, hoje em dia, a curiosa atitude do psicanalista que
atua fora de um setting ainda não estabelecido, criando a demanda de análise:
ele procurara um neurótico antes que este viesse procurá-lo como analisando.
Mas, doravante, o psicanalista vai se restringir às sessões em seu gabinete.
Este é outro filme famoso na história do cinema por pretender abordar a psica-
nálise, mas o que vemos acontecer é bem mais heterodoxo do que um analista ir
atrás de alguém que cometeu um ato falho – como no filme antes mencionado:
há um profissional sênior de forte sotaque germânico com aspecto amistoso, e
até mesmo bonachão, que é uma espécie de professor, orientador – ou super-
visor – de uma psiquiatra mais jovem (a atriz Ingrid Bergman) que trabalha
num hospital de “doentes mentais”. Ela o procura, levando o paciente que está
tentando auxiliar (Gregory Peck). Ele narra um sonho na presença conjunta da
médica e do professor que, juntos, vão “decifrando” os símbolos e imagens do
sonho – que o espectador vê na tela com concepção visual do pintor surrealista
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tre), Freud publica seus artigos sobre técnica psicanalítica, tendo escrito sobre
o “amor de transferência”:
É tão desastroso para a análise que o anseio da paciente por amor seja satisfeito,
quanto que seja suprimido. O caminho que o analista deve seguir não é nenhum
destes [...]. Ele tem de tomar cuidado para não se afastar do amor transferencial,
repeli-lo ou torná-lo desagradável para a paciente; mas deve, de modo igualmente
resoluto, recusar-lhe qualquer retribuição. (Freud, 1915/1996a, p. 183)
E, anos mais tarde, seria Ferenczi mesmo quem escreveria: “o analista, de quem
depende o destino de tantos seres, deve conhecer e controlar as fraquezas mais
escondidas de sua própria personalidade, o que é impossível sem uma análise
inteiramente terminada” (Ferenczi, 1927/1992, p. 24).
Retomando o enredo de “Suave é a Noite”, fica claro que o conhecimento
teórico do Dr. Diver sobre transferência e contratransferência não foi suficiente
para suprir a ausência de uma “análise inteiramente terminada” – ainda que
Freud vá escrever em 1937 que a análise de um psicanalista permanece mesmo
“interminável”.
Também não pode ser deixado de lado que o filme “Suave é a Noite” le-
vou às telas o enredo de um romance com fortes traços autobiográficos: F. Scott
Fitzgerald escreveu o livro ao longo do declínio da relação conjugal com sua
idealizada paixão de juventude, Zelda Sayre (nome de solteira). Ela viria a ser
diagnosticada como esquizofrênica durante a difícil e longa elaboração do livro
que começou em 1925, logo depois da obra-prima do autor, “O Grande Gatsby”.
Depois de abandonar uma trama que envolveria um matricídio por parte de
um homem jovem, Fitzgerald escolheu como foco central da história o casal
Dick e Nicole Diver, americanos ricos (com o dinheiro de família dela) vivendo
as delícias da “era do jazz” na Riviera Francesa entre 1919 e 1925, tal como os
Fitzgeralds viveram suas excentricidades em período semelhante.
Antes de prosseguir até 1930 – quando o casamento dos Divers se desfaz
– o romance vai ao passado (um flashback) para mostrar os antecedentes de
como se conheceram: Nicole, também diagnosticada como “esquizofrênica”, te-
ria sido acompanhada por Dick entre 1917 e 1919, ano em que surgem as antes
mencionadas conversas entre ele e outro psiquiatra mais velho.
O que Fitzgerald quis demonstrar foi a “gangorra” de uma relação con-
jugal: a decadência pessoal e profissional de Dick, inversamente proporcional
à recuperação psicológica de Nicole. Esta é a curva dramática nuclear da obra.
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Mesmo que Nicole sofra uma recaída em 1925, quando tentam abandonar a fu-
tilidade dos tempos na Riviera, ela continuará evoluindo – enquanto Dick não
consegue voltar a clinicar como antes, bebendo cada vez mais. Por fim, ela se
enamora de outro homem que a corteja há tempos e decide pelo divórcio, como
que elaborando – e abandonando – a transferência idealizada.
Certamente este enredo ficcional corresponde a fantasias do escritor so-
bre sua relação com a mulher, de fato esquizofrênica (ou seria “bipolar” segun-
do os relatos que temos de suas crises de insana euforia?) e que jamais chegaria
a uma cura definitiva. De qualquer modo, a decadência pessoal de Fitzgerald
(como a de Dick, pelo álcool) é bastante conhecida, propiciando sua morte pre-
coce em 1940 – quando deixou inacabado um romance que, pelo planejamento
e notas encontradas, talvez viesse a ser menos hesitante em sua elaboração do
que “Suave é a Noite”, que levou nove anos até ser publicado e após oito versões
terem sido abandonadas. Ao contrário da brevidade e concisão de “Gatsby”, o
longo romance que acabou sendo “Suave é a Noite” não atinge a mesma preci-
são psicológica dos personagens do livro anterior de Fitzgerald.
Também não pode ser deixada de lado a “causa” da doença mental de
Nicole, uma situação de incesto cometido pelo milionário pai. À parte qualquer
objeção psiquiátrica a esta ficcional etiologia como único fator determinan-
te para um caso de esquizofrenia, o que chama a atenção é a intuição “psica-
nalítica”, aí sim, acertada, do romancista sobre outro aspecto previsível para
o fracasso do casamento entre o psiquiatra/psicanalista e sua ex-paciente: na
relação transferencial que teria propiciado a cura, também se encontrava um
componente “incestuoso” – e que deixaria de ser apenas uma fantasia por parte
da paciente para se concretizar na vida sexual conjugal.
Cabe ainda assinalar que o título do romance vem sendo compreendido com
uma conotação totalmente divorciada do significado pretendido por Fitzgerald. Ele
usou como epígrafe alguns poucos versos da “Ode to a Nightingale”, de John Keats
(1795-1821), na qual lemos que a noite é linda e suave, porém, não há luz (“tender is
the night, But here there is no light”). Neste poema, Keats modificou o tom otimista
de outras obras, voltando-se ao tema da finitude – como podemos constatar tam-
bém em outros trechos na tradução de Augusto de Campos (s.d., s.p.):
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de uma fantasia de Sartre, que dava livros de aventuras para Simone de Beau-
voir ler, dizendo que assim ela o conheceria melhor. Wollen também aproxima
estes dois “aventureiros” do “conquistador” – que era como Freud se via.
Em torno de um ano depois, Sartre entregou a Huston uma sinopse bem
detalhada que foi imediatamente aprovada. Em 1959, o roteiro de Sartre estava
pronto, mas com 500 páginas, o que renderia cinco horas de filme – algo invi-
ável para o cinema comercial de Hollywood. Em 1960, encontraram-se na casa
de Huston, na Irlanda, para resumir o texto – mas não se entenderam mais e
Sartre pediu para que seu nome não constasse dos créditos do filme depois que
leu o que foi bastante reformulado por roteiristas profissionais habituados a
escrever para filmes americanos.
Sartre estudou todos os primeiros trabalhos de Freud (e não só os pri-
meiros) assim como leu a biografia escrita por Ernest Jones. Quando tentou
resumir o roteiro original, acabou acrescentando mais cenas relativas a concei-
tos e aspectos biográficos que achou importantes. Embora, como lembra Eli-
sabeth Roudinesco (1990), ele tivesse uma filosofia da liberdade humana que
era contrária à sua leitura de Freud. Achava que Freud restringia o sujeito a um
determinismo psíquico, enquanto ele afirmava a plena liberdade do sujeito: não
podia concordar que o ser humano não fosse “senhor de sua própria casa”. O
inconsciente freudiano lhe parecia muito mecanicista e biológico e ele já havia
pretendido substituir este conceito pelo de “má fé”: situação na qual são combi-
nados, em um só ato, uma ideia e a negação desta ideia, fugindo-se à responsa-
bilidade das próprias ações e atitudes. O sujeito refugia-se numa máscara para
não assumir sua liberdade, procurando imaginar-se como é visto pelos outros
– e é apenas nesta circunstância que “o inferno são os outros”.
Os outros em relação aos quais o self deixa-se aprisionar, o que, para
Sartre, acaba sendo uma espécie de danação para a verdade e a liberdade indi-
viduais. É o que ele demonstra na sua peça de 1943, “Huis clos” (“Entre quatro
paredes”, título brasileiro) que se passa no inferno, mas um inferno que é uma
sala fechada na qual três pessoas que já morreram encontram-se sem saída
para exercer sua liberdade de ser. Passarão a eternidade aprisionados à imagem
que cada um dos outros dois têm de si, pois não podem mais exercer qualquer
mudança existencial. Se, durante a vida, construirmos nossa autoimagem de-
pendente do olhar alheio, estaremos existencialmente “mortos” no inferno de
negação das possibilidades de ser, vir-a-ser e devir.
Mas pode-se constatar que, na elaboração do seu roteiro, Sartre foi extre-
mamente respeitoso para com Freud e suas ideias, transmitindo vários conceitos
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Sartre está consciente da extravagância de sua posição. Ele, que sempre negou a exis-
tência do inconsciente está frente ao inventor do conceito. A situação é sartreana
por excelência, já que ilustra à perfeição que descobrimos no outro e contra o outro
aquilo que é o nosso eu. O Freud de Sartre é o seu oposto: um pai de família que
vive de modo burguês e que não terá conhecido outra mulher além da esposa. [...]
sem sua castidade não teria teorizado a transferência nem compreenderia o enorme
poder da hipótese da sedução. Este foi o seu destino como sábio, o que Sartre admite.
Mesmo assim, precisa atribuir-lhe um caminho sartreano – como deixou claro ao
escrever: “Freud é um homem que se propõe compreender os outros porque esse lhe
parece o único meio de conhecer a si próprio; e dá-se conta de que deve conduzir
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xuais de Marie, trata especialmente do resgate de Freud e sua família das garras
do nazismo, pago em grande parte com dinheiro da princesa. Heinz Bennett
(1921-2011), ator alemão que também esteve em filmes de Ingmar Bergman
(“O ovo da serpente”) e de François Truffaut (“O último metrô”) faz o papel de
Freud, enquanto sua filha, a atriz Anne Bennet, faz a filha de Freud, Anna.
Em “Um método perigoso” (A dangerous method), de David Cronenberg
(2011), Freud ficou a cargo do ator Viggo Mortensen, enquanto Michael Fass-
bender interpretou Jung e Keyra Knightley ficou com o papel de Sabina Spiel-
rein, paciente de Jung com a qual ele teve envolvimento sexual, na verdade o
tema central do filme.
O roteiro é bastante satisfatório em relação à história da psicanálise e às
teorias seminais de Freud. O encantamento inicialmente mútuo entre Freud
e Jung e a ruptura posterior, após poucos anos, se deu, em maior parte, por
divergências teóricas; mas outro possível motivo para o afastamento só ficou
mais conhecido em 1980, quando Aldo Carotenutto, um analista junguiano,
publicou a correspondência entre Sabine, Jung e Freud no livro Diário de uma
secreta simetria – Sabine Spielrein entre Jung e Freud. Muito do que se escuta no
filme é transcrição direta de trechos das cartas entre os três.
O filme retrata a violência psicológica do abuso de uma analisanda por
parte de seu analista despreparado para lidar com as manifestações de inves-
timento amoroso transferencial. É bastante interessante observar a dificuldade
de Jung para com a ênfase de Freud na libido, sendo que Jung não pôde – e mais
de uma vez – deixar de ser “libidinoso” com pacientes. Mas se Jung fica mal na
foto, os letreiros finais o colocam como “o” (ou “um”) grande psicólogo do sé-
culo XX – sobre o que há muitas discordâncias, aliás expostas no filme por sua
evidente tendência ao misticismo e ao ocultismo, em contraposição à tentativa
mais rigorosa (cientificizante) de Freud e dos que desenvolveram suas ideias
em formulações de fato “psicanalíticas” – terreno do qual Jung e sua “psicologia
analítica” se afastou.
5.1 O cinema tanto pode refletir o imaginário popular como contribuir para
a sua formatação. Se observarmos alguns filmes da virada do século XX para
nossos dias veremos que o psicanalista “heroico” de “Segredos de uma alma” até
“Equus” foi posto em questão. Apesar de artisticamente medíocres, produções
como “Desejos” (Final analysis, 1992), “Gemidos de prazer” (Whispers in the
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dark, 1992) – no qual o ator Alan Alda faz o papel de um supervisor que come-
te crimes – e “No limite do silêncio” (The unsaid, 2001) mostram o psicanalis-
ta como, no mínimo, incompetente. Em “Desejos”, por exemplo, uma paciente
(Uma Thurman) e a irmã (Kim Bassinger) – com a qual o analista se envolve
– combinam que a falsa analisanda vai contar, numa sessão, um sonho copiado
de “A Interpretação dos Sonhos”. O psicanalista (Richard Gere) não reconhece
que o material onírico faz parte da obra freudiana e desenvolve uma compre-
ensão equivocada. Por trás disso, um enredo complicado de crime cheio de
reviravoltas inverossímeis.
E tudo fica bem mais demeritório em “Gemidos de prazer”: o supervisor
de uma jovem analista – que atende alguns casos de graves perversões sexuais,
alguns deles também apresentando fortes impulsos homicidas – no intuito de
protegê-la (?!) sai matando os pacientes dos quais a jovem analista não conse-
gue dar conta.
Tão ou mais maledicente é “No limite do silêncio”, em que há insinua-
ção de que o psicanalista (interpretado pelo ator Andy Garcia) teve parcela de
responsabilidade no suicídio de seu filho: ele havia encaminhado o adolescente
que estava com um quadro de depressão para um colega – em vez de enca-
minhá-lo para acompanhamento psiquiátrico e uso de medicamentos antide-
pressivos. O jovem acabou por matar-se. Sua situação havia se agravado ainda
mais depois que sofreu abuso sexual cometido pelo psicanalista que havia sido
indicado por seu pai...
Apesar de se apresentarem como “dramas”, nenhum destes produtos me-
rece ser levado a sério, mas tinham atores que atraíam o púbico, independente-
mente da recepção desfavorável por parte da crítica especializada.
Embora em outro patamar de qualidade cinematográfica, “O quarto do
filho” (La stanza del figlio), de Nanni Moretti, também de 2001, questiona a ca-
pacidade do psicanalista lidar com as emoções alheias quando sua própria vida
emocional sofre um abalo tão intenso como o da perda de um filho.
5.2 Em tom de comédia, “O amor tem seu preço” (Lovesick, 1983), de Marshall
Brickman, corroteirista de alguns importantes filmes de Woody Allen (“Noivo
neurótico, noiva nervosa” e “Manhattan”, por exemplo), encena o aparecimen-
to fantástico do próprio Sigmund Freud (interpretado por Alec Guiness) para
um psicanalista contemporâneo (Dudley Moore). A aparição refuta algumas de
suas teorias, além de questionar o trabalho analítico do colega nos anos 1980. O
analista com quem o personagem de Dudley Moore faz análise dorme durante
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as sessões do colega mais jovem. O papel é defendido pelo diretor e ator John
Huston – que, vinte e um anos antes, conseguiu realizar seu ambicionado pro-
jeto sobre Freud já comentado anteriormente.
Com raras exceções, a crítica cinematográfica recebeu o filme muito mal,
demonstrando enorme decepção, especialmente pelo fato deste diretor bissexto
ter colaborado em enredos de filmes tão marcantes dirigidos por Woody Allen.
As piadas com analistas em filmes de Allen não costumam ter o tom agressivo
de uma frase atribuída à aparição de Freud neste filme, quando ele diz que sua
criação da psicanálise foi “uma experiência que nunca deveria ter se transfor-
mado numa indústria”. De qualquer modo, Elisabeth Roudinesco já apontou
muitas vezes (e não raramente com palavras muito duras) que o uso indiscri-
minado do “tempo lógico” em sessões extremamente curtas foi algo que propi-
ciou forte descrédito para a imagem pública dos psicanalistas. Apenas uma das
tantas vezes em que ela discutiu o assunto pode ser encontrada em entrevista à
Revista Prosa Verso e Arte (s.d.).
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Referências
Carotenutto, A. (1984). Diário de uma secreta simetria – Sabine Spielrein entre Jung e Freud. Rio
de Janeiro: Paz e Terra.
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Recebido: 09/09/2022
Aceito: 31/10/2022
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