Dinamica e Genese Dos Grupos - Gerald Bernard Mailhiot

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INTRODUÇÃO

Este livro se propõe destacar a excepcional colaboração de


Kurt Lewin - para a psicologia social contemporânea. Vejamos
em que ordem este projeto se articula e sob que perspectiva se
realiza.
1. Este livro contém oito capítulos. Os quatro primeiros
tentam descrever e reconstituir as principais descobertas de
Lewin no campo da psicologia dos grupos.
Os capítulos V, VI e VII tratam de três problemas que,
definidos e explorados por Lewin, constituiriam mais tarde ob
jeto de pesquisas sistemáticas, inspiradas nestes três casos espe
cíficos pelas hipóteses de Lewin, sua metodologia e sobretudo
sua concepção da experimentação em psicologia .social.
O capítulo VIII, enfim, ilustra de modo que julgamos con
cludente, como o problema fundamental da socialização do ser
humano pode ser redefinido e repensado de modo operacional
graças às descobertas feitas por Lewin no campo da psicologia
dos pequenos grupos.
2 . O nome de Kurt Lewin é espontânea e justamente iden
tificado à dinâmica dos grupos. Foi ele quem introduziu este
termo no vocabulário da psicologia contemporânea . Forneceu,
igualmente à dinâmica dos grupos suas hipóteses de trabalho
mais válidas, bem como seus instrumentos de pesquisa e suas
técnicas de aprendizagem mais eficientes. Para Kurt Lewin a
dinâmica dos grupos é indissociável de sua gênese, fato que pare
ce ter sido esquecido ou negligenciado ultimamente por certos
autores. Os momentos iniciais da formação de um grupo de
terminam o seu devir e suas etapas ulteriores. As. leis e as
modalidades de funcionamento de um grupo qualquer, isto é,
sua dinâmica, encontram-se inscritas nos processos e nas fases
de sua gênese. Lewin elucida a dinâmica das relações interpes
soais e das relações intergrupais a partir das mesmas hipóteses
e das mesmas concepções que ele amadureceu longamente e
pacientemente elaborou, relativas ao desenvolvimento da perso·
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nalidade ao que ele chamou, a dinâmica da vida intrapessoal.


A dinâmica de uma personalidade, ele o demonstrou experimen
talmente, é função de sua psicogênese. E assim virá a desco
brir que o mesmo acontece com a dinâmica dos grupos.
CAPÍTULO PRIMEIRO
Esperemos que estas páginas, escritas vinte anos após a
morte de Kurt Lewin, não sejam indignas nem traiam o essencial
de seu pensamento. Destinam-se ao público de língua francesa
que até o momento praticamente desconhece Lewin. Nesta A OBRA E O HOMEM
época em que a dinâmica dos grupos, suas teorias e suas técni
cas despertam tantas esperanças e expectativas quase mágicas,
este livro pretende ser um convite a um retorno às fontes. Ele
não terá sido totalmente inútil se alguns leitores ao conhecê-lo, Antes de empreender a tarefa de reconstituir por etapas a
sentirem a necessidade de ler ou de reler a obra inteira de Kurt gênese das teorias de Kurt Lewin sobre a dinâmica dos grupos,
parece-nos necessário seguir, através de sua biografia, a evolu
Lewin. Descobrirão então a que ponto, atualmente, a pesquisa ção de suas preocupações e orientações intelectuais.
e a prática em dinâmica de grupos inspira-se em suas descober
tas. Lewin lhes aparecerá sem dúvida alguma como o primeiro Vejamos inicialmente as notas biográficas que possuímos,
teórico da dinâmica e da gênese dos grupos. até o momento, sobre Kurt Lewin. Deveremos constatar que
sabemos muito pouco sobre este psicólogo de vida pessoal muito
discreta e, até certo ponto, ignorada . Não muito mais que o
Professor E. C. Tolman quando, em 1948, no dia seguinte à
morte de Lewin, tentou traçar a biografia de Lewin para a
"Psychological Review" (146) *. Neste artigo Tolman declara
va-se consternado com os poucos dados pessoais que possuíamos
sobre Lewin.
Kurt Lewin nasceu a 9 de setembro de 1890 em Mogilno,
na Prússia. De sua infância e de sua adolescência, de seus pais,
de sua constelação familiar, não sabemos quase nada que possa
nos ajudar a decifrar ou pelo menos a perceber seu mistério
psicológicó. A primeira e única informação segura que possuí
mos sobre sua juventude é que fez seus estudos universitários
sucessivamente nas Universidades de Friburgo (Alemanha ) Mu
nique e Berlim. Seus interesses pela psicologia aparecem gra
dualmente. Ele se consagra inicialmente à química· e à fíSica,
depois à filosofia, para finalmente dedicar-se à preparação de
uma tese de psicologia. Doutoura-se em Filosofia pela Univer
sidade de Berlim em 1914, apresentando e defendendo com
sucesso uma tese sobre "A psicologia do comportamento e das
emoções". Sua tese será retomada e completada por trabalhos
posteriores e publicada simultaneamente em Londres e Berlim

* Os números entre parênteses referem-se à bibliografia.


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DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 13

em 1926. O título inglês desta primeira obra de Lewin é: "In sas em dinâmica de grupos, o "Research center for group dy
vestigation into the psycholog y of behavior and emotion". namics" . Para Lewin é a ocasião de criar e de introduzir no
vocabulário dos psicólogos o termo "dinâmica dos grupos". No
Kurt Lewin começaria súa carreira na Universidade de Ber início tentará defini-lo por referência ao contexto acadêmico no
lim no outono de 1914. Mas a guerra tem início no verão de qual empreende seus novos projetos de pesquisa. No momento
1914. É convocado e servirá durante toda a guerra, dela saindo em que Lewin funda a dinâmica dos grupos, o M.I.T. é o centro
ileso. No outono de 1921 torna-se professor assistente do Ins mais célebre dos Estados Unidos que se consagra às pesquisas
tituto de Psicologia da Universidade de Berlim . Do outono de em ciências nucleares. Por concessão a este meio acadêmico,
1918 ao de 1921 não sabemos praticam ente nada de Lewin constituído sobretudo de engenheiros , Lewin afirma,
salvo que, durante este período de após-guerra, publica três inicialmente, que a dinâmica dos grupos deve ser concebida
artigos sobre a medid a dos fenômenos psíquicos . Em 1926 como um "social engineering". Lamentará isto amargamente ao
torna-se Professor titular de Psicologia da Universidade de Ber descobrir que alguns de seus alunos apressaram-se em concluir
lim. Conservará suas funções e este estatuto acadêmico até a gratuitamente que a dinâmica dos grupos consiste na ciência da
tomada do poder pelos nazistas em 1933. manipulação dos grupos. De fato, ele não errava ao temer o
Durante este período Lewin e seus colegas da Universidade. pior, quando se pensa que depois de Lewin existe um número
de Berlim interessam-se por experiências de laboratório sobre espantoso e sempre crescente de amadores improvisados , sem
os temas seguintes: medida da vontade, da associação, percep formação pro fissional adequada, que propõe, em nome da
ção do movimento e do relevo (49 ) . dinâmica de gru pos, um conjunto de receitas seguras a fim de
Em 1933 Kurt Lewin, por ser judeu, é obrigado pelos na manipular de modo eficaz, com os objetivos mais inconfessáveis,
zistas a deixar a Alemanha com sua família em 24 horas, pa qualquer grupo! Lewin empregou .também os últimos meses de
gando um resga te para não ser encarcerado em um campo de sua vida na desmistificação deste termo que aliás fora o
concentração. Passa pela Inglaterr,a onde permanece alguns primeiro a uti lizar . Por isso .voltará a defini-lo em termos
meses, emigrando depois para os Estados Unidos. f.. convidado menos equívocos, mais operacionais e mais científic;0s.
então a ensinar na Universidade de Stanford (Califórnia ) . Aí Teremos a ocasião de mostrar em que sentido preciso a
permanecerá um ano, tornando-se depois, durante dois ànos, dinâmica dos grupos vem a ser a ciência e a arte de manejá-los,
professor de psicologi a da Universidade de Cornell, Nova York. segundo os últimos artigos assinados por Lewin (99 ), (105),
A seguir, é convidado a ocupar a cátedra de psicologia da (106). Ele morreu súbita e prematuramente a 12 de fevereiro
criança na Universidade de Iowa e a assumir a direção de um de 1947, com a idade de cinqüenta e seis anos, em 'sua
Centro de Pesquisas, ligado ao Departamento de Psicologia da residência de Newtonville, situa da bem próximo dos dois
mesmá universidade, conhecido pelo nome de: "Child welfare centros acadêmicos em que trabalha va: a Universidade
research center". Permanecerá até 1939 neste centro. Harvard e o M.I.T.
Durante este período Lewin publica dois trabalhos teóricos De 1939 a 1947 a orientação das pesquisas de Lewin alte
que logo o tornarão célebre: "A dynamic theory of personalit y" ra-se. Se continua ainda por algum tempo a interessar-se por
(56) e "Principi es of top ological psycholog y" (59) . Nesta problemas de psicologia individual , tais como a frustração e a
época seu interesse principal, aquele que polariza seus trabalhos regressão (63), depois os níveis de aspiração (74), (98) e a
de pesquisa , é formular uma teoria do conjunto do comporta aprendizagem (84),( 100), sua preocupação cada vez mais do
mento individual e, paralela mente, elaborar modelos teóricos minante é a de elaborar uma psicologia dos grupos que seja ao
que lhe permitam renovar a experimentação e a exploração dos mesmo tempo dinâmica e guestáltica, isto é, articulada e defini
fatos psíquicos . da por referência constante ao meio social no qual se formam,
Em 1939 ele volta à Universidade de Stanford e em 1940 integram-se, gravitam ou se desintegram os grupos (97) , (108) ,
torna-se profe ssor na Universidade de Harvard. Em 1945, con (110),(111).
tinuando seu magistério em Harvard, funda, a pedido do M.I.T. Após sua morte, os Professores G. W. Alport, da Univer
(Massachusetts Institute of Technology ), um centro de pesqui- sidade de Harvard, e D. Cartwright, da Universidade de Michi-
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gan, em colaboração com Mrne. Gertrud W. Lewin, sua filha, e sempre pronto a ajudar seus alunos nos primeiros passos da
editam e publicam, em dois tomos, vários artigos de Lewin preparação de suas pesquisas.
sobre dois temas complementares tratando de psicologia social Finalmente é necessário salientar a sua ausência de dogma
e de dinâmica dos grupos. O prin1eiro destes volumes intitulado tismo, como um traço muito típico da personalidade de Lewin
"Resolving social conflicts " (108 ) o segundo: "Field theory in e como uma chave da fecundidade de sua obra intelectuaL
social science" ( 111) . Nunca aspirou a fundar uma Igreja e dela tornar-se o Pontífice
Em 1959 a Presses Universitaires de France publica, sob o corno alguns dos mais ilustres psicólogos de seu tempo. Por
título "Psychologie dynamique" alguns capítulos considerados outro lado, seus discípulos nunca sonharam em lançar o anáte
como os mais fundamentais da obra de Lewín, apresentados e ma, em se catalogar como ortodoxos ou cismáticos, fiéis ou re
traduzidos por Marguerite e Claude Faucheux ( I 12). negados. Por esta razão, sem dúvida , os meios acadêmicos tanto
europeus como americanos, dedicados à pesquisa em psicologia
Para completar estas notas bio-bibliográficas um pouco social ou em dinâmica de grupos, nunca conheceram, mesmo de
secas, gostaria de evocar lembranças pessoais, inesquecíveis para modo episódico, fases ou ciclos de Lewinolatria, equivalentes
mim. Considero como uma das oportunidades surpreendentes ao culto e identificações cegas, ou mesmo mórbidas, suscitadas
de minha vida ter tido Kurt Lewin como professor e diretor de pelos que, na mesma época, foram pioneiros de gênio em outros
tese de doutoramento durante dois anos na Universidade de setores da psicologia, Freud e Moreno.
Harvard. Kurt Lewin era, ao primeiro contato, um homem tí
As descobertas de Kurt Lewin sobre a comunícacão huma
mido e por isso mesmo sem flexibilidade e mostrava urna certa na só constituíram para ele uma ciência depois de terem sido
dificuldade em abordar as pessoas. Mas para aqueles que po submetidas a <"'ICperimentações sistemáticas e a verificações
diam trabalhar diretamente com ele nas pesquisas, tornava-se múl tiplas na vida concreta dos grupos humanos. Kurt Lewin não
logo extremamente atraente por sua probidade intelectual, sua formulou as implicações e os fundamentos teóricos de suas des
ausência de pretensões (fato raro nos meios acadêmicos ) e cobertas senão por etapas, depois de confrontá-las repetidas ve
sobretudo pelas possibilidades inventivas que mostrava sempre zes com seus colaboradores. Evitou igualmente apresentá-los
no trabalho. Neste sentido tornava-se uma inspiração constante como um conjun to de dados definitivos. Para ele estes dados
para seus colaboradores e seus assistentes de pesquisa. Não constituíam hipóteses de trabalho a explorar, que deveriam even
deixava de questionar suas hipóteses de trabalho, após tê-las tualmente ser aceitas ou rejeitadas, segundo se constatasse atra
verif icado sistematicamente, para sugerir novas experimentações vés da experiência, serem ou não um elemento a enriquecer nossa
com uma astúcia e uma engenhosidade excepcionais. Vivia lite inteligência sobre o funcionamen to criador dos grupos humanos.
ralmente absorvido por suas pesquisas o que o tornava um pro Havia para Kurt Lewin um problema fundamental que ele pro
fessor medíocre cada vez que devia abordar em classe, diante curou elucidar até sua morte: que estruturas, que dinâmica pro
de um grupo de estudantes, problemas que não tinham nenhum funda, que clima de grupo, que tipo de leadership permitem a
interesse para ele, mesmo quando os expunha . um grupo humano atingir autenticidade em suas relações tanto
Outro traço da personalidade de Lewin que contribuía para intra-grupais quanto inter-grupais, assim como à criatividade em
criar um clima de fervor intelectual excepcional tanto em seu suas atividades de grupo?
laboratório de psicologia social em Harvard como no Centro de
Pesquisas em Dinâmica dos Grupos no M.I.T., era o fato de
exigir que tudo fosse discutido, explorado e decidido em grupo:
hipóteses, objet ivos, metodologia, experimentação. Tanto quan
to possível não se deixava influenciar pela posição que ocupava,
adotando com todos atitudes democráticas e estflbelecendo com
seus colaboradores relações autenticamente igualitárias. Sempre
atento às opiniões e sugestões, de onde quer que viessem, res
peitoso com as pessoas , sempre disponível, às vezes obsequioso
CAPÍTULO SEGUNDO

UMA ETAPA DECISIVA PARA A


PSICOLOGIA SOCIAL

Se situarmos em 1921 o início da verdadeira carreira de


pesquisador de Kurt Lewin, verificamos que consagrou mais ou
menos oito dos vinte cinco anos de sua vida universitária, de
1939 a 1946, à exploração psicológica dos fenômenos de grupo.
E estes oito anos constituem um marco decisivo na evolução da
psicologia social. De tal modo que, vinte anos após sua morte,
a pesquisa em psicologia social continua inspirando-se, em
grande parte, nas teorias e descobertas de Kurt Lewin.

PRECURSORES

Para destacar a colaboração de Kurt Lewin à psicologia so


cial, é importante lembrar rapidamente, de modo bastante es
quemático, através de que etapas, tentativas, rodeios e por ve
zes desvios, a psicologia social foi sendo elaborada gradualmente.
Parece ter sido na França que pela primeira vez tratou•se.
de Psicologia Social e em termos negativos. Auguste Comte
(1793-1857) tentando definir a sociologia, que pretendia fun
dar e constituir como ciência autônoma, declara-se contrário à
edificação de uma ciência que ele foi o primeiro a chamar de
um nome novo na época: psicologia social. Por razões de ordem
metafísica, que não comportam nenhuma referência aos dados
factuais então conhecidos, Çgmte postula q;ue.. .o sqçial 9eve
absorver g psíquic.o. Sempre ·pelas mesmas razões, ou pelos
mesmos a priori, segundo ele não existiriam senão duas ciências
legítimas: a ciência da vida, a biologia, e a ciência da socieda
de, a sociologia. Çonclui daí, imperturbavelmente, que seria
inútil construir es.ta çiência inlenn.ediária, Qu §ja, li, psi<;ologia
social.
GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS lIJ
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nmile Durkheim (1858-1917), que era um espírito muito -J . "O egoísmo é o fundamento da sociedade e a hipocrisia
mais rigoroso e dedicado às exigências do trabalho científico, ' sua mola-mestra" (113).
chega, porém, às mesmas conclusões . Ele, que faz das repre Gustave . Le Bon (1841-1931), em suas obras de psicologia
sentações coletivas o objeto específico da sociologia, define social "O homem e as sociedad es" e a mais conhecida, "A psi
assim a psicologia social :. · cologia das multidões", chegará, por sua vez, a assimilar todo
'.:A. P§!çologia.: _ §ocial nã,o é $enQ...uma palavra que fenômeno de grupo a um fenômeno hipótico, considerando que
designa taja. espécie de generalidades, variadas e imprecisas, .as... Jfü!. ª··"···es.tão ..env:olv.iç,hi.s, dominªçlªs .....e manipq!ªd.as <Rl.ª
sem objçto definido" ( 35). · ··· · " " lile,s,,."
Sua atitude não é mais positiva que a de Auguste Comte.
A primeira vista, pelo menos. Pois ao penetrarmos melhor na PIONEIROS E FUNDADORES
obrà de Durkheim a impressão definitiva que dela se depreende
é sua preocupação constante, desde o início de seus trabalhos São_Q§...Úí;U!Ç. es, sociólogos e filósofos sociais, os
e de suas pesquisas, em estabelecer a autonomia da sociologia primeiros a intrô.dii.zjr. o . termo '-psicologia .soci-al" nas
em relação às outras ciências do homem. Chegará, assim, a categorias men tais dos meios acadêmicos . São eles igualmente
afirmar hegemonia da sociologia em relação a qualquer ciência. que apresentam as primeiras interpretações p.sicológic.as dos
Para Durkheim a psicologia não pode ser senão individual. De ,f,atos <s.o.çiâis. Por outro lado são os.•.anglo-s.axã.es que
fato, aquela que se edifica, diante de seus olhos, nos meios aca elaboram de modo sistemá
dêmicos de seu tempo, nada mais é do que uma psicofisiologia . tico e articulado os prill1.eiros. tratado§, .9 p§Jcg!qgiíJ.. . .s0. iªl.
Deste modo é levado a conceber, gradualmente, o social ou as A primeira obra consagrada especificamente à psicologia
realidades. sociais copg uma..espécie de hiperpsiquismo e à vida social terá como títtllo "An introduction to social psychalog y"
em. .sQCiedade cgqig• . .o es.tá.gig 4HW+o .... eia çyolµção da vida e será publicada por William MacDougall (1871-1929 ). Mac
psí Dougall, psicólogo social e sociólogo inglês, foi inicialmente pro
qµiça. fessor na Universidade Oxford . Em 1920 aceita o convite para
Gabriel '@!le (1843-1904) , contemporâneo de :bmile Dur ensinar psicologia social na Universidade de Harvard, oP.de pl'.
kheim, em reáção à este, afirma ao contrário: "a sociologia será blicará seu trabalho "The group mind " ( 1928) com o objetivo
igna psicol9gi<i, ou naçla . será". Será também preocupação sua de e_xplicar suas concepções da psicologia social. t ª- ,Ma::.
elaborar ao lado da psicologia individual uma ciência psicológica OQ.u,gall"}'tuci0:.;,q;u 9 e.0. sjólqgo_ <?. .;&Y..ª···n.a
do social que ora chamará de "sgçio-psic()logia" ora de "p5icolo ordçm,.sodaLdec.or.rej
gia...s9cial" para.,,. ep.fiJn .adotar .. o termo 'inter-p5icoloi;;ia" 9.!grças ..me.nt.a.i;.,iq11e. çgmp ·ao. ,,Rsic§J.ogo • .soc.iaL"d.etÇã:minar:',
(35). Mas, para Tarde, contrariamente a Durkheim é o (113). Estas forças mentais constituídas pelos instintos sociais
evidenciam ; segundo MacDougall , as condutas sociais ou os
individual quem explica em última instância o social e o comportamentos em grupo e os comportamentos coletivos. Para
coletivo: os ins- tintos de imitação das massas encontrariam sua MacDougall estes instintos sociais são inatos e múltiplos, se
explicação última no instinto de invenção das elites. gundo ele, em número de dezoito! Sob este ponto de vista, Mac
sma perspectiva, segundo modalidades e uma termi Dougall distinguirá pouco a pouco três capítulos na psicologia :
ntes, dois outros autores franceses definem a psi a Psicologia individual, que tem por objetivo destacar os traços
Primeiro Felix Le Dantec (1869-1917 ), que fundamentais do indivíduo humano, a Psicologia coletiva, que
te na psicologia depois de célebres trabalhos trata especificamente do grupo e da mentalidade de grupo, a
obre a assimilação funcional, publica ao fim Psicologia social, que estuda a influência do grupo sobre o in
balho sobre a vida em sociedade intitulado divíduo.
tenta fazer a síntese de suas descobertas
ambém para ele, a exemplo de Tarde, A influência de MacDougall será muito importante os
instintos psíquicos primitivos, o que Estados Unidos. Ela estimulará o filósofo da Educação, John
simismo: Dewey, a reclamar com urgência a criação de cátedras de psi
cologia social nas Universidades americanas num célebre artigo,
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DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 21

publicado no "Journal of Teachers College of Columbia Univer Após 1930, paradoxalmente, a psicologia social passa por
..., aquilo que G. W. Allport chama sua crise de individu alismo
sity" e intitulado "Need for social psychology " (1909). A pri
meira universidade a responder a seu apelo será Harvard, criando ( 113). Os trabalhos de Freud sobre a psicologia dos grupos
sua primeira cátedra de psicologia social em 1917, para a qual "Psicologia coletiva e análise do eu " - "Totem e Tabu"
será nomeado Henry Holt como primeiro titular. Em 1920 e "Mal-estar na civilização", acabam de ser tradu zidos em
William MacDougall torna-se seu sucessor. inglês e tornam-se objeto de polêmicas apaixonadas entre
Esta fase inicial, que vai de 1908 a 1930, durante a qual psicólogos sociais, picanalistas e sociólogos.
a psicologia social se constitui em ciência autônoma e recebe .Sob....a.iJlfluÍA ,.d.as..teorias.d ...fxµd,...a,,,µeÂquisª em
seu estatuto acadêmico, é dominada por duas influências. aparen ·-·. psi çplggia.... gcial...p.&eQÇu,p.a.,,.se,,,....cadª····•·>MZw.mais". ·····
temente contraditórias. Poderíamos caracterizar esta fase ou co- qgr»;ular..,,,.J!fPª
mo unia "fase instintiva" ou, com não menos razão; como uma .P,§icoJ0gia,.,.exa,qstiva: . qo • lt:adrsip. . DJ.1.rL1te"ª.Ja_ fü anterlor.,,,.ér.a
"fase psicopedagógica". Desde que ocupa seu cargo em Harvard, ..a.1,,,@flu.ênciª<·dQ grypQ .s.obre..,;,9,,.iµdi.vídug qlie]!avia..••. si<io,,,obser
MacDougall assume e encarna estas duas tendências em seus ,X9d.a,....medjda'. .e.. .avaliada >sistematic.a ri:iente. .b,,, pat!t,d_e _ 13O,
escritos, em suas pesquisas e em seu ensino. é...a"·inil1Jl}çia- do·• individuo,
As condutas sociais e os coil1portamentos coletivos sãoin §Qbr,....o....guipQ..4ue,,.•..os.,,,'Psic6log-0,s _ soC;iais· .de.ste., ..tempp -
terpretados jniciªlfuente.• .nf 'içriiJ,Q$ .ci Jórçâs siáis inatas, entam"descob.rir . .a.través...de•.experimentações m.w.situações
de controJadas. Mas é sobretudo o condutor de mul tidões, o
instintos. detei:m tes. ê>- )tµluênc!à ci.·. Tâfde . 'de.. Le manipulador de homens, aquele que atualmente vários teóricos
n
)fon pªie.ce ter sído dóm4iªnfo nest,ª époq1 .. qiªi9. parte ciQ,s
de- . pª,rtamentos de psicologia ..· dos J?stados Unidos, que
chamam o "líder carismático" que a psicologia social deste
tempo procura compreender em termos de dons inatos, de
proco/am (fntão enc()ntrar um lugar par ª"'ps!S:,plogia social. predisposições à dominação e de apetites instintivos de poder.
Por outro lado, o ensino e a pesquisa em Psicologia nos Por outro lado, a psicanálise que se torna cada vez mais
Estados Unidos, sobretudo a partir de 1920, inspiram-se em acreditada nos departamentos de psicologia, fornece à psicologia
grande parte nas g,r.ia,,s, helli\Yioristas. .Ne,sta. ..pçr!l.p.ecti:vaf social outros conceitos. As descobertas clínicas de Freud e de
<e seus discípulos parecem se unir às orientações psicopedagógicas
Pewey será o .. primeiro a .,sal!entá-lo, ·ª' psic()l,Qgia da fase inicial e confirmá-las, pois it:euà,,..pat>ecia- tterdemons
.,.sociaL.deYe .t;ad9, pelo menos para a satisfação de certos pesquisadores, .a
inicialJn.entí> . preocupai:-,se .. . em... fiir qµªl· ,seria,o..... mei.o q:ue.,.pontQ,•. Q..."ser hµmano é..-. i'maFcado ... por sei1. mt;}o,..
.,social ideal mais próprio ·· a · fayorecer )t socializaçã() gp ..se.r S()pretucio por .seu,,'ª1eio fa111iliart.- e:çomo ,os., primeiros ;:1.pos
hum<\no e
seu . acesso ·à maturidadç soeiâl. E é neste sentido que Mac da vida ..de i11ii
Dougall, em sua última obra, "The group mind" consagrará vá Jndiv..íduo,, ,. por :pouc q11e .,sejam•'1.t' ra,.µrritizados, ·· impõeIP-
rias páginas a fixar o objetivo primeiro da psicologia social: deter-: minisIP-os ao se.u . desenyolyimento em(;)ivo • e ·. social.
medir e avaliar a influência do grupo sobre o indivíduo. Mas esta c.olaboração da - psicanálise para a evolução da
psicologia social é logo posta em questão e em dúvida pelas
pesquisas e teorias de uma ciência então novíssima: ;.a.
REDUCIONISTAS E ANEXIONIST AS
;.a.UtrQfü'l lo.gia culturat Através de estudos comparados das
culturas, esta nova família de antropólogos, recrutada entre os
A esta fase dita "instintiva" e "psicopedagógica", sucede, sociólogos e psicólogos sociais ou clínicos, consegue colocar em
de 1930 a 1940, uma evolução da psicologia social em dois evidência o relativisIP-O das culturas e demonstrar que aquilo que
tempos que, por momentos se just apõem e são· geralmente vivi os psica· nalistas haviam apresentado como dados de natureza,
dos, não sem conflitos, de modo simultâneo, pelos meios aca essenciais e fundamentais a todo ser humano, não eram, na
dêmicos desta época nos Estados Unidos. Parece não ser senão maior parte das vezes, senão precipitados culturais cujo
após 1945 que os psicólogos sociais na Europa se identüicarão sistema de valores e düerentes variáveis culturais, típicos desta
momentaneamente .eom estas duas correntes de pensamento e coletividade, podem explicar neste momento preciso, seu futuro.
com algumas de suas hipóteses de trabalho que os Americanos Assim se encontram introduzidos como determinantes do processo
haviam então em parte rejeitado e renegado. de socialização do
22 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 23

ser humano os fatores situacionais e institucionais que os antro .Kµxt L.ewin .. que,. .. a . partir de. 1936,. in.teressa se em
pólogos chamarão de determinantes sócio-culturais dos compor fazer expeEiências .em psicologiLsocial, rompe desde o início
tam.entc,s em grupo e de grupo. com as aproximações de seus antepassados e fixa novos
Isto Ç típico desta segunda fase: seja a psicanálise ou a objetivos à psi cologia social. Suas pesquisas e seus trabalhos
antropologia cultural que influencie, na maioria dos meios aca vão servir desde o início para esclarecer e elucidar a dinâ:qlica
dêmicos, as pesquisas e o ensino universitário, é quase sempre de fenômenos de grupo, muito circunscritos às dimensões
no sentido do reducionismo ou do anexionismo. concretas e existenciais, em contextos de reestruturação ou de
.Os..psicanafü; tas que constroem então tr:itados de psicologia reorientação de uma ação social que tenciona ser mais funcional,
social parecem preocupados unicamente em levar em mais eficiente, mais cria dora (63), (65), (69) , (70), (75),
considei;-:ição as diÍÍJ.en sões ou os componentes inconscientes (77) , (79) , (80) , (82) ,
das condutas sociais. Al guns retomam, mesmo sem discussão, (85), (86) , (89) , (90) .
como tendo sido demons trado, o postulado enunciado por Muito cedo ele convida os psicólogos sociais a centralizar
Freud: .. smtogênese. é a ré plica da filogênese.e seus esforços sobre o estudo dos micro-grupos por ele chama
cgnseqüentemente todo líder adota e repete dos "face-to-face-groups". Mais tarde os primeiros psicólogos
.inconscientemente as atitudes e comportamentos do líder. da pri franceses iniciados em dinâmica dos grupos traduzirão assim
meira horda humana. Ao passo que os. psicólogos. !lociais desta esta expressão: os grupos frente a frente. Kurt Lewin considera
época vão .buscar suas hipóteses na anQ::op9logi<i. cultural e que cientúicamente não possuímos no presente técnicas de ex
ter minam por interpretar toda conduta social como a resultante ploração e instrumental mental para fazer experiências ao nível
de pressões ou de coerções sócio-culturais. da sociedade global ou dos grandes conjuntos sociais. Será pro
cedendo por etapas, provavelmente longas, desmontando psico
KURT LEWIN logicamente os mecanismos de integração e de crescimento dos
diversos tipos de pequenos grupos, explorando toda a série dos
Se, por um lado, a psicologia social sai renovada destas problemas que coloca ao psicólogo social seu funcionamento,
duas fases necessárias ao seu desenvolvimento, marcadas pelo tal como o exercício da autoridade, que pouco a pouco destacar
"individualismo" e pelo "culturalismo", ela não deixa, por outro, se-ão e tornar-se-ão evidentes certas constantes na formação e
de buscar os mesmos objetivos essenciais que preocuparam seus na evolução dos agrupamentos humanos (67), (71), (72), (76),
precursores. Durkheim, Tarde, Le Dantec e Le Bon haviam (106).
construído passo a passo metapsicologias e meta-sociologias cuja Kurt Lewin sugere finalmente que os psicólogos sociais re
ambição era a de tornar inteligível de modo adequado e exaus pensem radicalmente a experimentação em psicologia social. Ele
tivo toda realidade social. E este objetivo deveria ser atingido mesmo demonstra por suas próprias pesquisas e ilustra com suas
quando fossem reveladas as leis fundamentais da vida em so descobertas pessoais que .a...exploração.. válida .e. fecunda dos
ciedade. fe- nômenQ§. de... grupo .deve. .se.. operar. ..no próprio
MacDougall e os psicólogos sociais que lhe sucederam, de campo...psicológico em......que......eles. se... insÇft!m ... a.o.>..in.vés ....dç
1930 a 1940, nos Estados Unidos, não tiveram outra preocupa .sererri...•.fl!cQns.tituí<ios, .em escadas reçl.uzidªs' em laboratório .
ção dominante. Eles também pr.ocuram As variáveis de qualquer fe nômeno de grupo, em razão de sua
.in!::i,tig(lylme.nte,..d.esco brir ....as..leis..iYng.ªme!!lél §.. Q;\ essencial complexidade, não podem ser identificadas e
l.e..R.Qs.§.íl:m Q!:ll.íll".....intelim:veltoda eon- manipuladas, senão no próprio campo, numa perspectiva de
Çuta.. ..saçi ll......en1.•. •.<:l\lél qµe(.... cQ!!tÇ! Q..!lócio,.,c.Pl!Yr;:i.l. Rompem "pesquisa-ação" (66) , (67 ) , (91), (94),
com (96), (102), (103) , (104) .
• qualquer aproximação especulativa e filosófica. Trabalham em i\o . .fundaro ..' Centr.o ele Pesqi.üsas em ..Dinâmica dos
laboratório;' talvez muito exclusivamente. Suas preocupações Gru,., pos" no M.I.T., Kurt Lewin preocupa-se sobretudo em
mentais, seus esquemas de referências, sua metodologia, suas estimu lar um meio ..universitário onde os psicólogos . sociais
hipóte$es de trabalho são especificamente científicas. Mas seus que acei tem sµa concepção da experimentação em psicologia
sonhos, suas ambições, suas motivações profundas fazem deles social, pos sam com ele formar um grupo, confrontar suas
os continuadores dos primeiros teóricos da psicologia social. hipóteses, for-
24 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 25

mular suas teorias, empreender e prosseguir suas pesquisas em A partir de Lewin e em parte graças a ele, uma diYersWcªçíio
um clima intelectual em . que os .valores de solidariedade, de .d.ªs ci Wiªs sociais operou-se progressivamente. Parece certo
autenticidade, de criªtividade, de probidªde dominem e inspi que, atualmente, .é. preciso reconhecer três. ciências sociais fun-
rem constantemente . suas comutlicações. e suas interações (99) . damentais: .a.......so1>:içlggiª' "'ª' ª&lttopologia .....cultural . e. a .psicolQgia
sociª1. Isto se dá a partir da constatação quase universalmente
CONTEMPORANEOS reconhecida de que o social se revela à observação científica,
como um fenômeno multidimensional que não pooe ser atingido
Kurt Lewin, por sua modéstia intelectual e seu bom senso, e explorado senão por aproximações sucessivas e complemen
conduziu a psicologia social a um plano mais realista. Graças tares: .a. .sociologia ... habilitando::s.e. e equipando;:i:\e experimental-
a ele renunciou-se à utopia de edificar um saber coerente, exaus mente.. para.....destacar......dªs....reªl.idªdces ..sQCiªis.....seus.....asptos...fQrmais
tivo e definitivo do social. Q estudo dos pequenos grupos cons o\l suas estr!:ltll!'!si a . antrQPQlo&ia......culturaL.preocupand0::se. por
tituíª. Pªt"ª be\Viil 11111ª Qpção estratégica que . per1llitiria even sua vez,. . em . ªtingir.... o....sociª1 .em .... suas dimen§Qf!s hist§ricªs . ou
tualme!-!t, e,l11.µm fYturo.. aincla ..imprevisível, .esclarecer .e seJl& ...antecedentes e a
torn<J.r ip.teligívelª···Psicolggia.•.dçs macJ'."97fen.9111enQs ..de.....grupo. psicolQgi::i.......social,.......emim......em....suas......d.imen:
.sé)e,s Jgucionais · ou .dinâmicas, Além disto é conveniente consi
Foi neste
sentido que Kurt Lewin, pelo impulso e orientação nova que derar estas três aproximações como interdependentes e comple
deu à psicologia social, ajudou-a a transpor a etapa mais deci mentares : .a.. forma, ª gênese e a dinâmica dªs.realida<les sooiais
P<?cie,Il1 seE pr()y.isoriam.ente,. dis!i.nguidas para. fins...de .anális.e. o\l
siva de sua curta história.
ge experimentação,. mªs constituem os.. elementos indissooiá.veis
O balanço mais rutido, a resultante mais positiva dos oito c:!e..Joda reªlidage .....social.
anos que Kurt Lewin consagrou à psicologia social foi o fato
de que após 1940 o interesse dos pesquisadores diversificou-se 2 . Apesar de vocabulários e de uma terminologia que po
como nunca acontecera antes, a experimentação tornou-se mais dem variar com cada autor, atualmente parece entretanto adqui
inventiva e mais desenvolvida - as descobertas mais numero rido que é preciso distinguir entre duas direções científicas em
sas. J(urt Lewin, ªº .abrir 11ovos cªminhos e novas fronteiras à psicologia social. A primeira, que muitos autores consideram
psicologia sociª1, Hberouª . de seu cIQgmatismo e de seus a priori como específica....da P.siçelogia Sac.ial, entendida em seu signifi
e, assim fazendo, transformou a em uma ciência experimental cado mais estrito, co!l§ §t ..e1ll<? e,rYf\f 1i9,e11 ifü'!r•..... Q.efip.k
autônoma. Desde 1940, durante este processo de maturação, a ...e.. JP::. terpretar as.. çgrulp.tgs §gçiqf Q!! Qs .comportam.entos
psicologia social conseguiu, pouco a pouco, conquistar sua iden em grupo...:
tidade, definir-se como ciência especificamente' distinta tanto das Assim as condutas sociais tornam-se distintas das condutas pes
outras ciências sociais, como das outras ciências psicológicas . soais e dos comportamentos de grupo. Além disto, as condutas
E, se consultamos os teóricos e os práticos de maior prestígio sociais têm uma característica que lhes é própria - sobre
entre os psicólogos sociais contemporâneos, constatamos que este ponto há um acordo quase unânime entre os psicólogos
existe um acordo quase unânime sobre a concepção da psicolo sociais
gia social. Em torno de que pontos concretos estabeleceu-se este contemporâneos -isto é, .a. .de...s.erem ....cQn§ ! siaiL..pelo...tipo.....de,
acordo? Gostaríamos de destacá-lo, ao terminar este capítulo, comportamentos ... q:ue ...o..... se.r....hu.mªno ..ªc.!?tª .. ºl1. -ºªº•··seguní.:J9·.. seu,
salientando assim tudo que a psicologia social de 1968 deve a grau..... de..sociª gªçíio, .. pelo... simples.....fª!º 'ª--v1YeL Ç:tll S()(;i
Kurt Lewin. fl:e: A presença
comporta.:.:··
do grupo não é condição para que estes
1. Observamos que, no presente estado das ciênéias sociais, mentos apareçam. Mas é por referência à sua participação em
existe uma compreensão dos objetos próprios de cada uma, um um grupo que eles são adotados ou não. Escapa a esta catego
rutido progresso em relação ao que existia na época de Lewin, ria todo o conjunto dos comportamentos através dos quais o
quando então as ciências sociais pretendiam cada uma fornecer ser humano exprime ou não sua adesão às normas, aos valores,
uma interpretação exaustiva e exclusiva das realidades sociais. às convenções e às pressões sociais. Finalmente as condutas so
ciais e os comportamentos em grupo são considerados cada vez
mais como o domínio ou o objeto específico da psicologia social
propriamente dita (35 ), (40 ), (113).
™Zl!C'"'.'tMlJ1'Jl!%W!t f-1!"!P - "---,_,._. _ ...--.·--·

DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 27


26 GÉRALD BERNARD MAILHIOT

grupos, .O ': cüi= .Eg ---1?!1,ܪ-.•P--,grnIJ.Q.. Qe..tª fª, j.§


A uma segunda posição científica, distinta e irredutível à Q..é•..•o
primeira, pertenceria a tarefa de nos fornecer JL!nldignüa grYRQ..J - JI..tiu:. 5ULQ.1,:ientado Jm funçãQ... ela_ e çução... .ou..... do..
.c.ien::i. . cµ.mprimento de.....uma.......tat:.efa. Q.,..,"...psic.ocr.gr..y,u.o\j ,· ao contrário,
,tífic;ª ,."dos,,çgmpe.Ftamentas cf:g gr.u,pp. Que entender então . íi}F.a,,,dt1finido. çgmo...um.. gr.upo .da.formação, .no sentido
por comportamentos de grupo ? Graças a Lewin e a partir dele, amplo do termo, ou seja, !J.!I),,,..g.i:u.pQ.,,Ç;tr;utur.l\do.,_
pu .J>rient11do....e...polari-
deram ser destacados vários critérios que nos permitem identi ?;.ado...eiµ funç.-ão"dos..1K.QPÜQS,JU.1P gLq,l.!. ..,eDns.tiJµem...o g_l;!:Q.9 ,
ficá-los. P.ª. 1:(). que.. haj .sgmp.m;,tame.nto ..•de....grJlRQ - - Certos autores recentes chegaram a sugerir que se chame o
neeessário .psiÇQ,-:.gtupo.....d..:grupo ce11!H!QQ....s.obre si-mesmo'' (92), (99 ) ,
que._yári()§ .. filciJYÍQ99.L Perinlentetn. ··ªs- .mesmas (105), (126). . "'" ••····..··
emoçõç_s..Jl.e gf\l!'2.1. :ü1e."estas.. em()ções ....ci.e..... grl!tto".sei'!!!
1...•.\lfici.e.l:!!mente inten
sªs . para ...inte.grálos...e;::a-eles ..... aeL'!!!!L$!':Y,Po•. à'\!
ç.,.,fi.PJ!.lmente- o
.gra.1:L!le._ c0 ão·.. a.t
_rigiq_ _ p_<;>I..es.t§.. ..in<li.xígg_0s....füja...tal...que. Atualmente a dinâmica de grupo desenvolve pesquisas, ex
eles..,se
tor11çip. capl!zeS.•.de _í;ldotar ·• <> mesmo )_9,:i() c.ie.. periências e estudos sobre a psicologia dos gcup.o.s de....tar:efa e
..comportaroe.nt9,.
J2rrnª adesão da maioria dos psicólogos sociais contemporâneos, é a distinção entre
..;Q "sócio-grupo" e "psico grupo". Para Lewin tratava-se de dois tipos diferentes de
Estes comportamentos de grupo podem.••v:ariar-em-termoJ»-de c;im micro-
dYrª"'ª2-.2QI!!orme.g:jam ....desenªcieQQ!.LPQr !!PA1gen 9µ.
e;i1;terioi:, ou . por ...um .ll.Sente....pw.:vQaclQL Qu pQr.JJmJíàer. A pesJegraçã
este tipo de comportamento pertencem entre outros os fenômenos o ..
Inicro
de pânico, de motim, de multidão ou de populaça . Também a este ôme11o
respeito parece atualmente haver um acordo definitivo em coloçªxµ
considerar o i;.studo e --a interpretação dos comportamentos -.de.. :QmO
grnpo como pertencentes a uma ciência, distinta da psicologia D
lJiemªs embora aparentada com ela, que a maior parte dos autores
social, .ê:<:i
contempo râneos chama de l?sicologia .CQkJü:.a (16), (35 ), c;§
(147 ).
Desde que estas novas concepções da psicologia social e _ 9d.€!
da psicologia coletiva prevaleceram nos meios acadêmicos, o 1
termo dinâmica dos grupos revestiu-se de um significado que < 36),
Kurt Lewin não lhe havia atribuído, mas que o teria seguramen te
aceito. Sobretudo porque este significado foi preconizado por 120),
alguns de seus discípulos, os mais fiéis a seu pensamento . (l4o).
Para a grande maioria dos teóricos contemporâneos, a,.ditl&
Wic.a..d..QJ_gJ:.Ltp,lM tornou-se, presentemente, a..ps.ic.olQ,,gi_<LQOJ!!
l.Cf.Q Uma
.:::gJ:.UP,Qs. Enquanto que a ps!c;ologia_s.Ql.e.tiva, desde alguns última
anos, vê-se confinada ao estudo e à'.iiiiêrpx:.tação QQs...macro. distinção
&DJJ. LQâ· A dinâmica dos grupos torna-se portamo cada vez proposta
mais perce bida e concebida, nos meios universitários, como a por
ciência dos Lewin,
pequenos grupos. 1'.0. IJlQuse sµ Qbj ti'io....ofe.r que
L.:UU1ª_J!!,ttl.i: atualmente
g m;,iilr- i };!gis 1 .c!!tJ1!.4Q.,, q\!.ilo...g':1.,,.ª recebe
s .Q1l:Se.sucessiv amente ..pela... autenticidade ..das .i:elações-íR
o .terpessoais tanto.. .. nos.....meios... organizados ... .(4.) ,(l.40)..,. .eomo .
b nos grYR.Q.§.eWoJJ.tâne.o.s (115), assim como . pelo exerckio
r da aut.o. ridade -quer nos grupos de trabalho ( 125), quer nos
e ç9ritextos
a .pedagógicos ( 126). · ···
p
s Desta retrospectiva, certamente muito esquemática, da evo
i lução da psicologia social, podemos concluir que Kurt Lewin,
c pela sua capacidade de experimentação e pelo realismo de seus
o estudos científicos, permitiu à esta ciência conquistar sua iden
l tidade e sua autonomia e ascender assim a uma relativa e pre
o coce maturidade.
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CAPÍTULO TERCEIRO

AS MINORIAS PSICOLÓGICAS

Tendo situado Kurt Lewin na evolução da psicologia social,


compreenderemos agora melhor a importância de seus diversos
trabalhos e de suas descobertas. Ao expor suas hipóteses e suas
teorias, respeitaremos a ordem cronológica de sua elaboração e
de sua formulação. Assim veremos pouco a pouco precisar-se
sua concepção pessoal da gênese e da dinâmica dos grupos.
O primeiro problema social ao qual Lewin dedica sua aten
ção, ap6s-emigrar__pru,:ª"· º.s.g, _La ..QI1Jçlg, é a
psie.o1ogiª . 4e. e\LP!:9PE.Q..gnJ,P..P_. mic9, As
discriminações, as injustiças, os vexames, o ostracismo aos quais
ele e os seus foram submetidos pelos nazistas nos últimos meses
vividos na Alemanha trauma tizaram-no sob muitos aspectos.
Le)Vin procura compreender e encontrar uma interpretação
científica para o que sofreu: seres humanos que, pelo simples
fato de pertencerem a um determi nado grupo étnico, vivem
em uma insegurança permanente e
dependem das variações do clima político das comunidades hu
manas nas quais procuram se integrar.
DepPis de teritar elucidar a psicologia dª minorias judias,
Kllft. J:,,e...yin. se .esforçª por elaborar UII1ª psicologia dos
grupos miP.oJ,:it4rios. A partir do que descobre como
fundamental para a psicologia das minorias, é levado a repensar
e a redefinir o que se torna depois o objeto quase exclusivo de
sua reflexão e de suas pesquisas: que problemas constituem o
centro da ex ploração e da experimentação da psicologia social?
A dinâmica dos grupos, tal qual a conceberá finalmente, será o
resultado desta série cada vez mais convergente de recolocação
de ques tões e de proposições sistemáticas .

DEMOGRAFIA E PSICOLOGIA
Desde o início de seus trabalhos sobre a psicologia das
minorias, Kurt Lewin procura clarear e dissipar o que o termo
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 31
30 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
noria demográfica no seio de uma maioria psicológica que ela
minoria comporta de ambigüidades e de equívocos no plano da controla e manipula a seu favor. ··
semântica.
A demografia utiliza os termos minoria e maioria em sen AS MINORIAS JUDIAS
tidos diferentes da psicologia . .§Il}. demografia um grupo cons
titui . uma maiori<i cl.e?cJ.e ql1e ª. porsc:ntfl.gem de seus membros Kurt Lewin publícou quatro estudos sobre a psicologia dos
l!ltrapasse de um a metade da população em que está inserido. judeus . O primeiro aparece em 1935 e tem por título: "Psycho
Por outro lado todo grupo constituído de menos de 50% da sociological problem of aminority group". ( 58). O segundo é
população dada é considerado como uma minoria. publicado em 1939 e traz o título: "When facing danger" (68).
Em Psicologia minoria e maioria adquirem sentidos mais O terceiro e o quarto aparecem sucessivamente em 1940 e 1941.
diversificados. Um grupo é considerado fundamentalmente como Os títulos que Lewin lhes dá são os seguintes: "Bringing up the
maioria . psicQlógica quando dispõe de estrutur.:is, .de um çtil.t1J1o jewsh child" e "Self-hatreà among jews " ( 73), ( 78 ).
e de. direit()s. que lhe permitam aut?-determin(lr: se 11(). P :ll1()Jio Estes quatro estudos são de caráter fenotípico ou sintomá
seu destino çoletiv?, independentemente do número ou .....ctiJ. P() tico. Kurt Lewin aplica-se neste estágio em nos apresentar uma
centagem de seus mernbros.4 Assim, minorias demográficas po
1
caracteriologia étnica de seu povo e um psico-diagnóstico. A
dem constituir maiorias psicológicas. f; çonsi<:ier::td() (;Qrno rnil.ior margem de sua reflexão, ele se permite generalizar e destacar
Pel() psicólogo social todo grupo humano que se perc.ebe ..na constantes que retomará mais tarde, ao elaborar sua psicologia
pose Q.e. plenos direitos qµe dele fazem um. grupo @tc":momo. das minorias.
Por outro lado, um grupo deve ser classificado como uma minoria Não nos ocuparemos aqui senão da análise apresentada nos
psicológica desde que seu . destino coletivo cJ.epe11da d(l l:J()::t três últimos estudos mencionados acima, sendo que o primeiro
ypn estudo nada mais é que um esboço das teorias que os três outros
tade cte um outro grup()..i, Este grupo, mais ou menos retomarão de modo mais explícito e mais articulado.
conscien temente, percebe-se como menor, isto é, como não
possuindo direitos totais ou um estatuto completo que lhe 1...O estudo intitulado "JV.l]gn.facing ..dqnsçt''. Jrª.til... Q.gjµtu
permitam optar ou orientar-se nos sentidos mais favoráveis a
seu futuro. Desde que se trate da sorte de seu grupo, os ro oµ ci.ªs p9ssib.ilídade§ ..de...sQQ[:Yiyncü1. cJ.<ts Il}Íl}()Ü::t...j..JJQÍil.s...
no Ocidente.. · ··· ···· ·· ··
membros que pertencem a uma minoria psicológica se sentem,
se percebem e se conhe cem em estado de tutela. E isto Lewin inicia com considerações sobre a perseguição em
independentemente da porcen tagem de seus membros em relação massa aos judeus nos países que sofriam então a dominação na
à população total onde vivem. Assim maiorias demográficas zista. Como, de fato, pergunta Lewin, uma minoria pode so
podem ter, por estas razões, uma psicologia de minorias. breviver em um contexto de perseguição como aquele ? Estµgos
soçiológic.o.s .....demonstraram.. que.. em. . tgçias .. as ..guçrg5
Mas não param aqui as distinções da psicologia social. ....européias dos (\lti!Ilos séculos os jµdeus tivcrar11 que Jutfl.L ç...
Como numerosos sociólogos e psicólogos sociais, antes e depois morit:L por seu . p;;iís .d.e. adoção, fossem eles alemães, franceses,
dele, Kurt Lewin utiliza ainda os termos: minoria discriminada espanhóis ou ingleses. No momento dos combates não foram
e minoria privilegiada. Vejamos em que sentido. Joda minoria poupados. Ao contrário, em certos países, foram selecionados para
psicológica, tal qual foi definida acima, .. sempre. considerada sofrer uma série de maus tratos tanto da parte de seus amigos
C()mo uma minoria disq:imi11ada . ou susceptível .de.. sê::lo pelo como de seus inimigos. .Na maior parte das vezes, acrescenta
(ato.. de .sua sorte ..e. seu . ctestin() .eêta,rem n;:i, dçpendêncifl. .. do Lewin, estavacse disposto .a lutar até o último<.j..udeu. :t o caso,
grµpo rnfl.joritário. Por outro lado, tqçlª. µmioria psicológica tencte espe cialmente, dos judeus alemães que tiveram, repetidas vezes,
. a tornar-se, mais ou menos rapidamçnte, 11m grµpo privilegifl.do. de um século para cá, a ocasião de morrer por sua pátria. A
J:<:[Gq!JelJtemente . as maiorias .psicológicfl.s, com o. tempo, partir da tomada do poder pelos nazistas, os jornais editados pelo
...estrati re gime passaram a sugerir com freqüência a formação de
ficêm;se• . No interior .. .<lestes grupos urna mi11oria . e mernl?ros bata-
pqge constituir-se . em oligarquia..e fl.tribuir::se. ou reservar..se pri
vilégios e}!.;dusivos. A. minoria privilegifl.da .. é. portanto uma
mi-
32 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 33
lhões judeus que seriam mobilizados para serem enviados aos
pontos mais perigosos do front. Foi aliás o que de fato ocorreu
p
lifü·!!i tcEf-e üii!a g.ü;;y -· Üe ; t rft
na Itália, na Hungria, na Polônia e em todos os países conquis .fa...lar...cle.....uma.. ..mmgx , '"g··-·'"''"J,&...."......9...·· ··· ·"" ''" '' ''""' ' · ·· " " ' ' ' " "'"""""""'
tados pelos nazistas e atêrrorizados pela Gestapo.
pri g l: > Y . t , .. . ! ? . . -
mpular....parn, €!.. =fms . ::.:ilegiª·t..,qµe, ,. c:u1a.... grs-
ÇQns.e.gue......
.da.s".JªZ.9...s...11elas•.q,uais,.os.,j,!1,SlS<.US.•de...toda.parte ·est-ão··necessaria..·
D111r.2_1rnç2_SQillll:l!!,·ª$,..<lm1tri.n.ªs.....na'? nte,Jnteressados· em contribuir para o·bern.·::esfar econômicõ das maiorias . no.....meio .
j.sta.......e....Ja.cista . foi....a tentatiya,.. de :jµstificar .. a .i.:econstityiçãc) dil"5 qy?,js viYeID,
d()S gµe.tos. . para os ju 1e.us. O problema judeu é um problema social. Mais explicita mente, ,Q••,a.nJ.i. .
..lLt:e.
,,reconhecidos
in.u.01a..que os., jµdeys,
omo."seil(s...h.11m.3:!l()S. 窺ª
não,.foram.i:eiJ.lmente
J1ª,.};1,lfQp;L Qç_iç:! e.mitismo".tem .e.()r Jµp.dame.nto, vez . que. . se.
ental,.-.senão, , a partir ... .. do J'llºlllentq em qµe as ..iQici_s dª
IeYQluções francesa . e a.mericana fizerarxLdeles seres humm:i2s .
igµais em.. direitos..e .em..p.dvilégios.
..Conclui"daí·que....os..direitos . .judeus ...sãojnseP.ªráveis.....de . uma:
··filo
Jofia de igµaldade dos homens. Q$ regÍI11.eS... políticos que per
.segui(1tl!!...2§..J.H9."\!..§.JJeste..s..J.íltimos..Je.mPºS teptaram
sempr.e.Jazer
prevaleceLª . .te()r!ª ..da,!ill.eriori9a<:le.5!Y cer.tª.s..Ia.ça&. ..e . a
..s11perio- ridade ..da.sJJa.
Lewin está consciente de não inovar ao retomar por sua
conta e ao considerar como válidas estas observações já formu
ladas por sociólogos contemporâneos (68) . As reflexões de
Lewin adquirem um caráter pessoal ao se perguntar em que
medida o problema judeu é um problema individual ou um
problema social. Para decidir sobre o assunto lhe basta lembrar
que no momento da anexação da Áustria, os judeus foram me
tralhados pelo simples fato de serem judeus, sem nenhuma con
sideração por sua conduta passada ou seu status social. Eara
.Lewin ..o.. problema.. .juQ. .JJ....é··Um problema....essencialnfente
social,
. .um .. caso... típico Jl. minodP,.. J'lª'o,..p.rivílegiada
·ou.discriminada. #O
.que.,caractei:iza ."a.Lslasses•.ou.os..g1:JJ.pQ.s...não-püyil.giados,,é .
que em...todos..QS...casos eles...Jêm effi. ÇQmUm .() .. Segµin!t;:. .,...não
ex.istem " nã().,gorque..são...tolei;ados. S ..ê.9llnvi:v:ência
...coktiva depende
1 ..:ti:1'9a vontade ·das....dasses privilegiadas. Para ilustrar seu
! pen
samento Lewin evoca o passado do grupo judeu. Segundo ele,
'
, \ a emancipação dos judeus dos guetos não foi conseguida por
eles, mas em conseqüência da modificação dos sentimentos e
das necessidades da maioria. .Aimia.... boje .....podese demonstrar
1 qve as pressões e .P,s .disç:riminações contra. os judeus .aumentam
pu"diminuem, . conforme ·as·..diffouldades eco.nômicas ·Ga
; ·minoria crescem ou . decrescem. Lewin acrescenta ironicamente:
,é,•.•.uma
umª..
muludao
itada. Lewin pretende tam bém que muitos
judeus se enganam ao acreditar que, se ª.. ·. - .·· . ·· ..
.oo.u........ f....l. ·;..gs,...i:.. d e . f .. ..g.....Ç:y. l,. .o.•f"..9......0t. e H .e"·"l·.·..'.."1..."'
, ,···· ..'..1·..

, todos os judeus se conduzissem :cC.quaL..o indiyLdu2..... mª e.. . tm• . JJma...xe.? .que.•.ek gg,çfo .•u.u
§ decentemente, não haveria anti-semi tismo. ujg_..Jde.ntificN"'se..Azom.....seu ...grupo.
ª Geralmente é o contrário que acontece. Segundo.......Le:win,........ is:to........é....... vei:da.d.eito,,, ... sohretudo
Q a capacidade de trabalho dos judeus, seus ........quando,..,,se J.ta.ta....J.io .m.eio .iamiliar. Com efeito, parece-lhe
J sucessos profissionais como médi cos ou amplamente proado pelas descobertas recentes da psicologia da
< advogados, seus talentos para o comércio criança (as suas próprias não o tinham esclarecido sobre este
. que, na maior parte dos casos, provocam problema)
ª periodicamente ondas de anti-semi tismo.
. t{ii,JP.edi.da... m·..que"'OS"judeus··· se
! sobressaem.....arr.iscarn ,sJi..
! ...1!.. . ..J2!:§. Sgyid.Q.§. ... Como último
ª argumento de que não há re lação entre a
1 incidência do anti-semitismo e a conduta
delin qüente de certos judeus, Lewín
.
salienta que la,,ZQ§...ill).'.Qca
i
Jlt:!$ Jlelas......minorias..-pi:.W:ilegiadas. ..parajµstificat "j.w1to......f!
z
Lmass,as .
a
s.cu .anti:csemi.tismQJm .. m.JJdad2
.9e... século.....pa.rf! ..§c:Wo. Há qua
. trocentos anos os judeus eram
c perseguidos por motivos religio sos.
o Jl,ItLJ1Q$s.Qs.....diª-ª
n Jls.....raciouafüiações promulgadas como..
t bem-
r .,ti;mdadas cteorias.....r.a.ç;i§ ªê ......৕ .quais.. adere oficialmente . o
a partido
Q.azista,......são ...retir..adas..de argumentos . supost:;!mente . baseados. na
Y .
J .,;iptropologia e na biologia.
:
J 2 . Q....sndo estudo: . .''Bringin .. up Jhe.i»?ish,,child'
:
l
....tr.ata
da,,... JJ..9a.c!9. 4ey i ..r. r· '§"''j'§y iií....Jl19u .... P'!r ;;t.
qliê··
a .evoluir
.uo.rmalrn<.mte. · ... ,., · · · · ··· ·· ·· ··· ··· ··
. .Kurt-·bewi.n · compar.a
a... .e.du.cação- do...jovem judeu à edu
v çç_fü:u.:I.t'.. 1!:01!!...J<riança .adotada.
; Eis as razões que o levam a esta
\ conclusão. Lewin, pela primeira vez, nos
I revela suas con cepções, ainda
D embrionárias, sobre a psicologia dos
Q grupos. O grupo ao qual um indivíduo
I pertence pode comparar-se ao ter reno
Ü sobre o qual ele se mantém e que lhe dá
l ou nega, segun do o caso, seu status
social. .N.a....medida.gu1J.l
; º-.&!:Y.12Q J.he
r dá.... um..status....sociªI... 2.... J'ldt:âduo...se... . sente......Y..1Il.. .
. S1JXanÇ,a;.,,ao...,çg1k
: trár.io,.....se....Q. .,grnp,t;LU 2..lh c.o.ncede.."nenhum .status....,social,..
ç torna,,
j
e ;. .JPu.Ura!r!·i·.!·.·.·ç·.a......"...ren...rn."GJ....o.·. ....na!,1,sÇe, ........_cPom.tfL.......a..9.....s.foil9l1,idez<;!.u...
34 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 35

que a estabilidade QU instabilidade do meio familiar determina uma conduta exemplar em presença dos não-judeus. Devem
a estabilidade 01.. instabilidade emotiva da criança. .A razão igualmente abster-se de constranger a criança a ambicionar os
fundamental, . Lewin é .o primeiro· a afirmá-lo, ..é que o meio altos postos nas diferentes esferas em que se orienta. Em uma
familiar no qual a criança cresce e evolui forma . .um único palavra,
campo de forças, "one dynamic field", segundo uma. expressão
sua. É necessário pois levar em conta que o meio familiar, ou
qualquer grupo ao qual pertence um indivíduo, não é para ele
somente uma fonte de proteção ou segurança . Igqo .grupo, in
í.lusivç o grupo faraj)Ji:, .desenvolve suas leis, seus tabus, suas
proibições coletivas. E segundo os tabus, as proibições, os mitos pais e os educadores no encargo de socializarem o jovem
que prevalecem em um grnpo, a.. .cii1111ç::t.<:1:9 .o Jngiyídµo judeu d5f_Y.mJhe. trnnsrrütir que, o que liga ps judeus entre si
qµe pertence. a .este grupo, disporá de um espaço. de movimento não são as semelhanças ou as diferenças que existem entre judeus
livre mais ou menos extenso. Em conclusão, . conforme seja largo ou e não-judeus. O. que con,stitui essencialmente um grupo e dele
restrito o espaço de movimento livre, o indivíduo terá maior faz um todo dinâmico é a interdependência da sorte de seus
ou menor facilidade de se adaptar à vida social, ou no caso da .membros.
criança, de socializar-se. Para Lewin o problema fundamental
em qualquer grupo humano é o seguinte: em que medida um
indivíduo, pertencendo a seu grupo, pode satisfazer suas próprias
necessidades ou aspirações psíquicas sem comprometer indevi
damente a vida e os objetivos do grupo?
Lewin termina este estudo com considerações de ordem
deduzidas do que lhe parece fundamental na so
ser humano: .não é o fato de pertencer a vários 3 . O terceiro estudo é incontestavelmente .o rnaJs T1rnpQJ:,-
grupos que constitui a origem dos conflitos mas a incerteza '1;;J,nt.e......dos....três.. Tem por título: ''Sdf7'.hatred..among Jews'' ..e trata
sobre sua própria participação num grupo determinado. Ponde
.os . quatro. princípios pedagógicos . nos quais deve inspirar-se a
educação do jovem minoritário. inicio deste estudo Kurt Lewin refere-se a dois livros
Lewin sugere, inicialmente, com muita insistência que, assim datando da mesma época (1930). O primeiro livro é do pro
como a criança adotada se beneficia ao conhecer o mais cedo fessor Lessing que tenta, do ponto de vista da psicopatologia,
possível sua condição, também a criança que pertence a um descrever o que ele chama "O ódio de si entre os Judeus". O
grµpo minoritário deve conhecer o mais cedo possível, desde segundo é um romance americano do autor Ludwig Levisohn
que possa cssmilá-lo emotivamente, o fato de o grupo ser "lsland within". Este romance tem como cenário a cosmopo
obetQ de vexames, discriminações, em uma situação não-privi lita cidade de Nova York no interior da qual os judeus consti
l,çgi?.da. Quanto mais os pais e educadores tardarem em reve tuem uma ilha cultural, isolada e cercada de zonas de silêncio
J.ar.::Jbesdato, mais arriscam comprometer sua adaptação social. no seio da coletividade americana em constante interação.
Este conselho 1lale.,,sohtetQdo quando .9. meio educacional no Para ...Kurt..Lewin...o.....fen.ômeno....do....ódio.....de ..si..entre·os·····judeus
qual a criança cresce não é confessional e mostra-se tolerante
P.i:lfl:L .<>m as .crianças judias.
Além disto, ..a,,..edllCaç.ão-do.. jovem .judeu, como de todo
min2ritári0, deve procurar sensibilizá-lo muito cedo ao fato de
'1\1;. a. qu{!stão judia é antes de tudo uma questão social. Os
pais jude 11s devem deixar de pressionar as crianças a adotarem
r
36 GÉRALD B ER NARD MAI LHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 37

êlJll..UQ-J!l®JiQ. E aqui Lewin evoca recordações pessoais dependesse de algum instinto de base, seria a personalidade de
que datam do tempo cm que vivia na Alemanha, onde por cada indivíduo que nos revelaria sua intensidade. Parece, ,ao
várias vezes foi testemunha de expressões de fortes ressentimen contrário, S21:?S1JJL .Le.wip,,.....que est ódio de si - não ?
tos da parte dos judeus alemães em relação aos judeus dos bstan os diversos graus em que se manifesta -9. !1 1ll;1U!
países eslavos. Os judeus alemães acusavam os judeus eslavos Q...Jll.1, ilê§.., !iJu,,Çii;.s,,,,qu 'cada. indiykl!JQ,, qgotª..em"' s
de serem responsáveis pela perseguição nazista de que eram
g,Ç,ªQ .,;i!,9, m;ggl ma
vítimas. Lewin afirma ter observado o mesmo fato nos Estados
Unidos: .,tQdos.-os..judeus ·emigrados. culpam,..os...judeus
jug gg qµ,e dli e.s.tr.uturas..... men!il:is 9,µ. , cmotiyas ...de . slJ.a. . per,,,
alçroães 9nlili9,ªde·
!;.2!lis!e.rando-os responsáveis .por todas as desgraças Aliás, nota Lewin, ,o,.,,g, g.iQ de.,,.s,L.JllªIÜles.tªdº"'Pf:18§.nj,gqe,Y§
que ....caem .Lum...fenôrne.119....Qhs.erado "em,,JQgª-S"',as*1tün,g1ias
,§,PPf e Çl§jµdeus no mundo desde 1933. dfac.i;imiuí!.dªs. Nos Estados Unidos, por exemplo, os negros
são muito sensí veis às diferentes tonalidades de cor da epiderme
Segundo Lewin, ,o.r©dio......de.. "sifü pg&Je,,.,,.tawbém, ..... em..
humana. Aque les cuja epiderme é de cor "chocolate com leite" ou
certos "café-creme" menosprezam aqueles que são "café::-preto". Quanto
\! 9.S. ,"·;;ipr,esentar-se como um .f cnômena....individual. Neste mais a cor da epiderme de um negro se aproxima do branco,
caso mais tendên cia tem ele a dirigir aos outros negros um olhar de
.,há. . uma variedade quase infinita de formas que .o .:·ódio s!e si superiori dade e, em conseqüência, a identificar-se
tmria . entre. os .. judeus considerados co.mo. ..indivíduos. Certos negativamente com seu grupo étnico. O mesmo fenômeno foi
judeµs, por exemplo, culpam o. •gi;upo•.,,.jJJ.de.u ,...J;:omo .tah ou observado e abun dantemente descrito pelos sociólogos
se iclentific.am. negativamente. ..Ci ,,!J.m,, .fç, ç;ig,,,,Par!içtJla.r... de americanos ( 2) , ( 141) , ao tratarem dos conflitos existentes
judeus, entre: a primeira e a segunda geração de imigrantes nos Estados
ou difª!lleffi...s.istewaticamente suª.. .,,flr.ópri.ª···· família. Outros Unidos. A segunda geração menospreza seus pais que não lhe
r.e}.ei parecem suficientemente ame ricanizados e permanecem ainda por
.Jklm.a .sL.pr,gprios, recusam aceitar-se como judeus ...e. ..ced.e.m. demais ligados à sua cul tura de origem, dificultando assim uma
pe dodjç;;guente a.mecanismos. d!f J:lu.to;:acusação e. de auto- identificação incondicio- nal com seu país de adoção. ·
punição. Vejamos agora, segundo Lewin, çomo . o. ódio .de si aparece,
Por outro lado, alguns judeus dirigirão....o.. ódio""'de ...si. ex.dusiva-
wentc . . çontra> as instituições, os.......ÇQs.PJmcs, ,a,. Jfa1gyçi, ,
,judia. ou
.;;i,inQ(l 9.§ist<:fJl1a .de :valores.próprios . da raça ..ou . da cultura.
judia .
-l:i<lJllai.or-pal:..te..<iias*vezes;· "'fiota.Lewio,.....e.ste.,,.tipo..Jle,, ódio
..de si
...uã,o,"sc,,..manifta.....ahertamcnter mas,,é ·camuflado
0

..por•.,racionali
,zgçi,5c.s q,ç,.. todP.... c.spécic.
.Q.,
_Q.<. li.o ,,Q,Ç.,,âlw" "?sobrntudo ·· um .... f.en9meno ,yoçjg[ , .t!PJ,Ç,f,!,filente•.. m P:l.lJÜQ§ judeus. Um indivíduo judeu tem am
segundo
Lewin. Neste nível sua análise e sua interpretação tornam-se, ,s;p.pli,Ç, sçê.ncia progressiva .que .s.e.conclui pelo,,,r.e.torno ao ÁP,Q.t;g,a.niçq.
bastante penetrantes . Para ele, Lessing e Levisohn, que se ins a. .:Kui;;t,,Lewin...recusase'"a... explicar,.assim ..o .ódio de... si
piraram em Freud, quiseram explicar o ódio de si pelos instin ,t.endênci .íf nte os . jude!J$ .,,., Se assim fusse, argumenta, estaríamos em pre
qyç9apai:eee scnÇâ''"êi e \]ffi''d,ado da natureza e não seria então estranho não
tos primários que seriam inerentes à naturéza huma na. Em com
seu apoio recorrem à,,,,".tese_q,y,ç,fr<r\14 e.labor.ou p;;,t ra .. id<1cle se encontrar no mesmo grau o ódio de si entre os ingleses, os italianos, os
explicar . Jod.o alemães e os franceses em relação a seus próprios
..as. n roses de f racassQ, , J;lOstulançio..... i existência.. .em. todoyser humano,, . compatriotas? Além disto, se o ódio de si sentido pelos judeus
J:l.l!J!,(l,!}5? .,,Qe ;u.m jntintQ . ,,de . morte . que....teria. .pi:ima:.z:ia . u.mª
sobre. ... .o Ü!Jinto de yida, O que, sempre segundo Freud, qcgç,r,içr{;f
b sua participação no grupo judeu constituirá sempre uma barrei
i ra intransponível à realização de seus projetos. Começa então
ç a perceber e a considerar seu grupo como fonte de frustrações
õ e passa a odiá-lo. Loga_.cheg.ará- à....cQIJ,çlqso de que .s\rn
e
s .ªscen- 1tão soç!'11 çomo.. ipdiyído çstá ameaçada 1f qµe...sua
, segurança sócioeconômica e. s.eu próprio destino pessoal .correm
<!;
a o...perigo de_ !:. comprometidos por causa de sua participação

l l
i
m
no grupo
i!!c!':!·.,.filir[Ceiitã'Cf::e111·"mU!ttjs-.ruaes·ó'"'Sé,]l!filW-19,=agüâõ:: ae ....
rejeição ..da . fiitrªepenéfê?cia de seiJ própj:fa de§tiQQ . s!c:> . §:
e tino . de \l..ffia @J?,q[iª...discri111inad . ·
n Kurt Lewin termina éste 'estudo <;Q. .!1Ç.lYi..Ql!.2"9F .•.SLQdig,..d,
t
a L.. .1! !.,-9.§...JJJJ.iJls.......ni.\9,,.120.Q.çri.ª'······· i:ut
...mªior....... parte,,,..dos..,..,,c:li§P§,,,,.,s!". diªgnostie'1do .c.omo .. do .domínio
e da . psicopatotogia. Como mui;: tos Qutr.os...,Je11ômnos psíqucos
com c:ogipc,mentt;.s p.evróticos, 'º
c ..ódio... d....sLnão .é.."'geialmin.te,,,.scnão.. a.expressão de um....c;onfJ.ito
o
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b
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q
u
e
38 GÉRALD BERNARD MAILIDOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPÕS 39

ç_,r@gQ.. pda -si Yg,Ç.ªQ...§9.C.i na q!-U!LJ Jit.i.p.gJy!dµo .. é .forçado.. a ao assunto em um capítulo próximo para constatar e salientar
, r. E;s,tL,fnAmeno...... .apr{;seat·a-se ··soh traços .nevróticos.... 1llas a que ponto em três anos, de 1943 a 1946, os interesses, as
na ..Ieªfü ade nã.o...se tH.\ta .de... .nevrose. Tanto assim que concepções e as aproximações de Lewin evoluíram. Estes três
o ódio de si entre os judeus é encontrado tanto entre os anos lhe provaram que a inteligência científica dos macro-grupos
nevróticos não se tornará acessível senão após longas e sistemáticas pes
como entre as pessoas normais. UJ: .ft .J!,!<,:t:::S,e .de ":µm fenô quisas sobre a psicologia dos grupos restritos . No momento
meno sócio-psicológico.. ,A..... tal ponto que, cada. vez que os não nos deteremos senão no séu estudo · Çy{tural RecqnstrJK-
j g ' c.Il'.ltrº d_ . ull1a. c9Ietividªde,. . são aceitos em clima de . .... ti<ltC. Nele encontramos uma tese fundamenia Ce.... trê'..
outras,
ig1.u!Jdade........ de:.direitOS···· e.. de privilégios, .. desaparecem ÇP.tií,o dela deduzidas: s:bL.....ª'--...J:?i:igll1 4e§......uÜn2i:iªs,1nia....natureza . ..psi-:-
OS
traços . . nevróticos ...que. certos. .autores. afirmam. ...como.. ..típico do
A ,, cológic<l e e!;! Jµ.tu.r..o.
,..grupo Judeu, 1!01:'"°-utro..,,}ad0,."'.quando,,.os ..judeus A tese fundamental é formulada de modo que transcende '
.tomam,.se . o " o.bjeto i>i.stemático de• o caso judeu para tornar inteligível o que Kurt Lewin considera
como as constantes psicológicas de todo grupo minoritário. l'i.U:ª
.disc.riminação,,,."'.seu..único.meio de ..não
.c ed,er ao ódio de si .é intensificar. . entre....eles as.tendências ... de bYWin . .tocta 11'.lÍi;?,()ri<t ...Pic()lóg!çª te.ll1.. ....§:qlis ciill1t:tns§çit ªºts
de.
.!!J:.aç,ão.... e.. de..coesão pela ....causa ...judia. Dat a...importância. ..yit.al , tudo sqçiªjs ,, ·com isto,, não ...opõe . sociaL.a ...psíqJ.lÍÇQ, , mªs qissQ:
,QUe...os....edµsa49e .. ... l?ªis judeus ?eY:lll.? .à·....ci9C> . .. 4. sla.s ,çiª P .sQCjal do. ..indiy_idual. .As_,mln.oúas ,pJc.ol!igicas são sQÇi,çús
. rrt..sua...otigem ,,.em"suas,,çsQJJ.tJ.lras ..,.r.,.e.oi"sua"'e}:'.91,uç_ão. .Sna..•.di-
.d e ...crescimel\io propícios a: .gjle ..os ..jovens judeµs, . desde seus
primeiros anos ge fo1wªção, possam identificar-se positivamente Jlâmic.a,,....é. .$;.s.sencialmente...,s.Qç@l. llQ.. !U!{.S.mo.....modo.,..• .ª'····sQ.brevk
com seu grupo étnic0, Y.ência . Q<;is, grP2§. in2r..i!<!ri2s .. I1 ().....EC>Y9 §Sr... ª§§eID:Y:ªdª . .senão
.f! Pf!Xlk .sl.Q..JJ Qillento em....q,ue ..eles ..tomªm çonsçiênçia deste
MINORIAS E MINORITARIOS dado fund.amental .o".ac.eita.m.

Kurt Lewin publica, em seguida, um estudo onde, a partir 1. Origem das minorias.
de suas interpretações e de suas considerações sobre a minoria
judia, tenta formular uma teoria suficientemente coerente para .Para . Kurt ... Lewin a,, prQpda existência .. de.....toda
explicar a psicologia de todo grupo minoritário. Será sua últi .....mi.n.oriª·····sQ é.possível, ,,em ..última;u1áUs.e, gi;;:içªs à.Jo!.
ma pesquisa ligada aos macro-fenômenos de grupo. Ela o râcnçia...da m..l.lioria...no Jneio .da qual .....ela'"se -..inse.r..e. Não
convencerá definitivamente da certeza de sua opção ao escolher é em consideração aos com portamentos aceitáveis ou em reação
como centro da experimentação em psicologia social o estudo aos comportamentos re preensíveis de alguns indivíduos (se bem
dos micro-grupos. Estas teorias tiveram uma influência deter que isto seja, de fato, alegado como pretexto oficial ), mas por
minante nos meios universitários, sobretudo no que se refere à motivos extrínsecos aos comportamentos dos membros das
psicologia das relações inter-raciais e revelaram-se fundamentais minorias, que as maiorias edif icam, fortificam, m ultiplicam ou
à compreensão das concepções definitivas sobre a gênese e a deixam cair as barreiras psicológicas com que cercam as
dinâmica dos grupos, que Kurt Lewin defenderá nos . anos se minorias. Le ,.i,iC.ty..§nta..que-
guintes. Parece-nos também importante destacar aqui as teses "" a•.ma.i.9t ª'·· !ID..... semPXe,.. i.nteresse......em"'J!lrivar .as...ininorias ··<ie
essenciais. ·todo direito · e de todo privilégio. Ma!L.é....sol;u;etudo --
em..per.íodo . ..dr
O estudo de que trataremos inicialmente tem por título: .Jensil.o ..e .. de .perigo. cole.tiv..o..... que.....a....maiori;;i, tsme a exer..::er ... re-
"Cultural Reconstruction " e foi publicado em 1943 ( 88). .Presálias contrª .as minorias, cedendo à necessidade de descar
Depois disto Lewin refere-se à psicologia das minorias duas regar sobre um bode expiatório as ondas de agressividade, de
outras vezes ( 103), ( 104), durante o ano que precede sua séilcadeadas pelas frustrações e privações que lhe são impostas
morte. Suas preocupações serão então exclusivamente de ordem
meto dológica. Partindo das suas próprias pesquisas sobre o .. durante estes períodos críticos. B
proble ma, tentará destacar aquilo que elas lhe ensinaram sobre anisinos,,de..de.slocamell:!:.....
as exi gências da experimentação em psicologia social. .sua . .. agr.es.sividade ..torna.se ...e2>:.trap?Jnitixt <::9m .....I::el:J,ç.ão..,,.... às"'-
Retornaremos mincr r:ias/sem ."defesa-r·
40 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMOCA E GÊNESE DOS GRUPOS 41

2 . Constituintes, constituídos e constitutivos das minorias. ...iL.!!ª-lll!lS.. º"-'º·eJJ:d.s}L.Qfi<:: .ê.L_Il! !!i.B.l.icar.....seus...cQntatos.. J;.Plll..,a
.;!!()+:ia.... .e." encontrai:....assim ···ªJgµm .substitutivo..• .de..pr,estigiQ...i;lo
Com esta terminologia tentaremos sistematizar o essencial g:µ,ª1.... estão ...privados em vir.tude ..de.... sua...ligaçao...com. a...mUioria,
do pensamento de Lewin sobre a existência das minorias. Esta Por outro lado, numeroi;os i;ãp _ Qs., gi;_ qpos..J;nin,qririQS .,ql!.e. ei;
sistematização nos parece necessária para evitar que o leitor J2r.am.Q.lJ&..es.t...lid.er..,s.eja me.lli.9.L .aÇ.eitQ..,e.....pat"eça ...niais...maleáve
tenha que seguir os caminhos tortuosos da argumentação de
Lewin. Faremos todos os esforços para não trair em nada seu
pensamento.

re là '
maioria e consegJ .e.Illemente .possa meili..or. . magica111ente . as
õe 1 ê i i t r ê " 'm-l"·'"l'"i"'i'-*õ1..."r''-l'"a' '"-.<x" ,e,,,"_,,_-m;,"- a.,_,_ _,i_,.-o_,,;:_f -i- a"" ...
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d '
b) ,,, m...,
p
.ªÇa o....a .•sJl<\ ,,, ..J .!lG UJJ&'-L.
&!JfJZ.O, as on•as se

A ÀD

mm
A . Os constituintes das minorias. revelam ao observador como constituindo um equilfürio mais ou
menos estável entre dois campos de força. .e um J.adQ,
.Qs ..constituintes das minorias podem"ser····
1l.lll
,ç,mp,Q,Jl .f.Q_r,ç.. q;iix"exerce ,subre
definidos··diferen .os...membros,.,uma.,,influência intç;gi:;ante...de ..coesão. Estas
.t emente,. con{or_me..se.Jaça rçf erncia ÀS estruturas ou à forças são constitiúdas pela atração que exercem sobre as minorias
dinâmica dos pos inoritários. ·,,- · .."'..,,..
os traços culturais próprios a este grupo e irredutíveis às
culturas vizinhas. l;§ll!§....! ,,PÇ» í::
a) Jm r. Iªçª() · s.. s1.i.Ji.s ..,gs.trnt11ras., gi.s "12 .ªs, desempenham o papel de núcleo dinâmico no seio das
.mi..noriª.s....m2ª,rçce_!ll cgp.stüuídas de várias . camadas. No c;entro. minorias. e.t.ªâ_engs:ndra..m entte
en,contram.se ªs• ..sª- 111adas mais.....so1idificadas., Elas .QS. minoritários...atitu.des. .9,,J-
00

compõem:se de membros que Q!<:! I?. fª çQm...s.ei.Lgfl.J:Po o:u ªqµilQ. qµ.e L&wiq gosta...de. chamar
aderem com a maior boa vontade às instituições, aos costumes, d , e··.·.·.·." ·Q . ........ c.•J l··ª. } 1·. , y j·m.. .....·.. . .... .,, 9..,'"'P'.º...... ... i,t j·····y ····. .·.º "i'.n-..F.t.·..e...nse.o.......W... , .! !
um .. .J 1 S e j . Q c a
i ! § Ç . . ,,.n e l e s r •P ª r a le lam·e·n.·· te,
u a . . , m a i s .• d e
às tradições é aos sistemas de valores, que distinguem seu grupo
. s e . ..e m a n c i p ai :.. . . d a ,..
X,eh. m,aiQiia
..

dos outros grupos. ,J;:sJ,1&...m.embi:os ...isJ ,or,igem .e .sua .iden.tidade."é,tpica . · ·


IttWs.:':lm:§e,,.posiüvamente çom tudo aquilo que é
Entim, .....JJ,as...cam.l!da.s.... Pe.t:iféricas... que,..as...m!.!!;9J!.l:l:.§.Jêm . ten
(lpicªmçnt.e.......pxóprio< a.o seu grupo, 14.
sl.Ei'!,,,a. .re.ÇI.«:r,....eJJ.s...dil:ige. ·<;?,1!...Jl..-agrJm,ªr::se: .. :· ·tor e
,l...!&! !!-2 ºs
ª.
•..as ca01adas perifér iç.as, lo1f &Ç... sere01 S()lidif cªcl·ª·ti.Somo
.JiS primiras, são móveiS. e . f1Íliga$. ··· Sii&\.:.c:Om:ps.iiüi .dir1ge:q,te.s,,.qyu?.erJ.!1S!!L estai:L.cama4.as. ·.as1es...J.!lc!.Y QJJ.Os..sao
ger.::iJmeAte..des.ignados,..para....este . pósto ., em..razão ..de.. seus...suc.es
que experimentant .... HIT1.:l,<.. .I11P}vlê.ncia .. IT1ªr- nte... ....$1.m sos pessoais. ,Açei gun º12.2.§lQ.. ç.om..a...es.pu._ança.Jie P_o..c,! !'.d r.. s
,,xi::l;;i,ç,ão.,.a tudo. que . distingue e pÓJ:. íil Liii sroo:Jsolà:scú·:
r,upg "d;Lmaio.da.
..São os membros margin:â1s daS' minorias. · · Ekr . suportam .Q((
Jná
Yo.n.tade. Jet quç vJxçr IJ.1 l;\111...espaço.:vital onde. são .mantidos
à
·Jorça :pQr uma maioria qüe...con$Jrói barreirás psicológicas in
transponíveis .... sua 111farnção . para "ª mÜiq,i::i qe yjªn1·
Lewin acrescenta que é sobretudo -n
ismas.:per.iÜrieas...que se situam os. minoritáüos
);lt'{..maiçr:,sucessor aqueles que conse guiram sobressair-se em
seu trabalho ou profissão .emem,.conse
.qüência..sentem maior at[ªção pela.maior.iª . S.ua..,il.:!Jiã.,s
gundo l,.e:Win,.,. .consiste. em.. e.sQ. [.ar · que....seus. ..s:UGeSS.OSw
.pessoais . facilitem 5,µa .caceitação por parte da .m-aioria··que"lhe
P.,., Jsf.g, rá assim sua
. Q.....eI;tre.m9 .9R<?J:Q .§ÍW:ª §.e.....µm...campo..4e....Jp ª§.....ççP.ttifu&as
que...exerçei . . uma infl,uncia ..di.$.sp.l;ventei..... sobre.,....o.s:..mep).pos
da
, minor.ia. Estas forças são
constituídas pela atração, algumas
vezes irresistível, exercida pela
maioria, com seus privilégios,
incluindo as promessas de prestígio e
de satisfação dos instintos frustrados
ou limitados pelas discriminações
impostas pela maio ria às minorias.
As .. atitudes.--coletivaS=-
pr..oyQÇí!.das· pelas....forças
centrífugas...sãu.::::.(.isto.Jm,.,Qposlo...à.leª1d.l!
<!.e...do····gr.up.o,).....de...uma.
parte, ...,Q.. ..desam.or ...em ..tlação....a....seu....própriQ. ,gr.Y,PQ oY, ..o.
.Çbaurl.
ª,
.nismo... negativo e; de.....outra>parte, o..... desejo de
,asidmUa&ã.o....
J:l!ª.ioria.

B . A minoria como constituida.

Se concebemos a minoria
como uma totalidade dinâmica,
torna-se necessário assinalar o
fator de integração deste grupo que
faz destes indivíduos múltiplos um
só grupo coerente. Este fator de
unificação é o constitutivo do
grupo. Tentaremos des
tacá-lo mais adiante. Mas se
tentamos, agora, <l fi!!iL!l1L.PJ!!
2"" rias.como.cons.t!
M4a.ª·•·iJ<m:.tLe.:win .nos.fQmeç...
QLÇ,QI.!fÍtos.. que S<XI?Üf!!!l.9.. gi;:;u
. .,P:rn m: ..ou...menor-..de"integração
'"que.....atjng911 nos diferentes
momentos .de ..seu desenvolv.imentp.
42 GÉRALD BERNARD MAEIDOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 43

Deste ponto de vista, J.:ewin distingue dois tipos de O futuro das minorias não se coloca nos mesmos termos
mino rias. Algumas constituem unidades articuladas de modo de superação em que se coloca o futuro de um grupo normal
orgâ nico. E o caso das minorias cujas camadas .centrais que não sofre nenhuma pressão, nem encontra nenhum obstáculo
englobam a maioria dos membros em ligações muito estreitas no processo de seu desenvolvim ento. ...a.. . .Ít1t:lJJQ ctas minorias
e em uma forte adesão à sua sorte e destino. .Para a maioria IJ.ão pode . se .definir senão e!ll tt;f!llQS çlç §()PfeYiY.ênc:iª, A este
dos mem bros, seu grupo étnico é percebido em termos de respeito, trª§ ppç§es .. são p<;sfi.ÍYf'..isJ sçgµg<fg . L.ewiv . ..Há,
valência po sitiva . iajcial mente, o caso das minorias qµe perdem a . crepça em sua
Por outro lado, ezj,stem minorias mal ou não integradas sQ- 'Q.i:evivência e estão. . prontas a tudo qµe pos.§ª ªp.rt;ssar ol1
que se. revelam ao observador não mais. como uma unidade f.;w()re- eeJ. §JJ.a assimilqção . à !llaioria. .. Quanto às.
.prgânica, .mas c9mo uma unidade aparente, artificial, resul ante minorias....que ...optªm
ae pressões e de coerções exteriores. EsJas .minorüis não cons .por·sua sobrevivência, ... GJJ.as. ªÜtt1de .. . são PQ:'ilYeis, .. ... lfis.... Jê!ll
tituem um grupo no sentido restrito. Trata-se, . antes, de um .em çomum. o segutnte;. a!llbas concebem sua.. sobi:e:v:ivência
agregado. de indivíduos, ;giais ou menos submetidos às mesmas .como JJ.ma. l:t!llf1!1cipação qo jµgp a.d).Hrá.rio .. .4ª·· m.ªioria. Eis
,restrições, às mesmas privações, .às mesmas frustrações . Neste o que as distingue: .s:;ertas minorias ql1erem . assegurni: sua
Jipo de minorias o núcleo dinâmico não compreende s.enão alguns .sobreyjyência
jn<livíduos qµe não perderam a fé no destino do seu grupo, a ªti:avés d ai!Jf egração com .a maioria,. pela
..quase. totalidade dos membros não vive senão da esperança de .iguiildade...dos....çli!;çitos e dos privilégios. Para conseguir seu
poder um dia pertencer à maioria. .As ligações .entrei os mem intento estes grupos mino ritários têm tendência de sublinhar e de
.bros são portanto muito frágeis. .Q. Quilfü.do..entre.. os destacar, em suas rela ções intergrupais com a maioria, muito
djferentes mais o que os aparenta ou os une à maioria do que aquilo que
estratos é muito instável e quase inteiramente polarizado por os distingue ou os opõe a ela. Enfim, existem minorias qµç J
valências negativas i}.Q acrççlitam p0çiei: i1sse
fillrélL s1Ja so!Jtt;viyência, senão separando-se ou emancipando-se
e. o fator constitutivo das minorias. totalmente dª .!ll.<iioria. Elas aspiram à independência total e
definitiva em relação à maioria. Estão convencidas de que só
Como explicar, pergunta Lewin, que em certos casos as assim poderão conservar a integridade de sua cultura, prosseguir
minorias constituam unidades orgânicas e, em outros, não tenham na conquista de sua plena identidade e realização do seu destino
senão a aparência de integração? coletivo. Lewin conclui que só estas últimas minorias têm algu
O fator constitutivo de todo grupo, segundo Lewin, é a possibilidade de assegurarem sua sobrevivência.
interdependência da sorte de seus membros. No caso das
norias integradas, sua condição de minoritários é aceita, o que
:permi.te .aos membros se. unirem na luta pela emancipação. Por
outro lado, no caso das minorias não integradas ou mal inte
Kurt Lewin termina este ensaio teórico sobre a psicologia
gradas, sua condição de minoritários é suportada. .Não existe das minorias, tentando caracterizar entre os minoritários as di
inJer.:.dependência entre os membros. O único fator negativo ferenças de atitudes coletivas que implicam estas três opções a
.que os une é sua disposição a consentir em todos os compro respeito do futuro de suas relações inter-raciais com a maioria
.missos, em todas as servidões ou em todas as baixezas que que as oprime e as discrimina .
.lhes facilitem a assimilação à maioria.
Le.win .. afil:ma que. as..minorias que renunciam à sµa r;;gbre
yivência e aquelas . qu.e ...optam Pelª i.nte.graçil.o f'.m ..um.
3 . O futuro das minorias. .contt;1"to cie . relações cordiais e um pouco servis.. em.. relaçiio .. à
maioria t.êm tendência, ambas, a adotarem as mesmas atitudes
Segundo Lewin, o futuro das minorias, assim como sua coletivas. Ele considera, com efeito, que no plano intercracial
origem e existência, é antes de tudo social. as atitudes
coletivas <f:t;§tas mÜWrias são tipicqmf'.1lte ··ªciqlesçenJes. Suas
es tratégias têm em comum o seguinte: elas se baseiam na hipó
tese de que a situação presente de discriminação desaparecerá
44 GÉRALD BERNARD MAILHIOT

quando sua participação na minoria for desconhecida , ignorada


ou anulada. Assim como o adolescente espera ser aceito pelo
mundo dos adultos quando conseguir convencer os adultos de
que não é mais uma criança. 1'.ll:lll. 111COll10 Qs adolescf!!
ltes,o comportamento social destes dois tipos de llli!lorias
caracteriza-se pela. intra-agressão, pela auto-acusação, pelo exagero CAPÍTULO QUARTO
em suas ambições, pelas recusas, pelos protestos e pelo
mimetismo. Sua
!gx;it_ifii;;a.çfü) C()!ll ª· 1llaioria é equivalente e nos dois casos
apoia no temor . .... Há. .amhivalênçia a respçJto de seu, próprio DA PESQUISA-AÇÃO À DINÂMICA DE GRUPOS
grupo
tanto quanto a respeito do grupo majoritário.
Quanto .s minorias que.. tentam assegurar sua. Somente por etapas Kurt Lewin chegará a definir para si
sobrnyivência mesmo o que são cientificamente a dinâmica e a gênese dos
,pla...j.J1dep.endência em relaç.ão à. maiqrja., ... suªs grupos. Como acabamos de constatar, sf!Us trabalhos sobre a
a.tjJµ.ges.coletivas são de . µm nível mais adulto. §ls ganharão psicologia. çl.as. . minorias lhe permitirall1 qµestiQilªr. a tç.orias .e
f!ll1 ..ll1.aturidade se à . idçpJificação positiva . com o grupo na qual as metodologias tradicionais da . Psicologia . Social.. Ele transporá
inspiram-se seus comportamentos, vierem acrescentarse, ao mesmo uma nova etapa ao elaborar, à luz de suas próprias experiências
tempo, a papªçidade de proceder periodicamente a autocríticas e na exploração das realidades sociais, uma concepção pessoal da
a von tade de conseguir eventualmente sua independência pela pesquisa e da experimentação em psicologia dos grupos.
inter dependência com os outros grupos étnicos.
PESQUISA EM LABORATÓRIO E PESQUISA DE CAMPO

Ao término de seus trabalb.Q S()f y as mi'norias . psicológi


cas, Kurt Lewin chegou a duas c9µçlµ.sõçs metodológicªs. . A
pfill1çi,ra consisty na segµ!!1tÇ .... <!sçob.erta.:.......P.arn........ser yªfü:l.a., ..
toda yxploraçãQ çit:.ntífica de probfo.mas relatiyos ao ça.mpo. da.
Psi-
99!pgia. Qas relações intergrupais deve operar-sy . em Çonsta:t:He
referência à sociedade global na qual estes fenômenos de grupo
sçjnsçrçm .. f! .SY manifestam. Assim os reflexos e as atitudes
dos grupos minoritários não se tornariam inteligíveis senão em
referência ao contexto sócio-cultural em que se inscrevem, isto é,
em referência às interações e às interdependências que toda
minoria estabelece forçosamente com a maioria pela qual é
discriminada. Além disso, Kurt Lewin chegou a s1!a §e&'ll!lcIª
çop,cluso: Para . abor9ar e . interpretar cientificamente fenô
menos. desta magnitude e desta. . comPl.exidade1somç11te. 'lll11a
J·ª
aproximaçã<:> .... ()1?1E e1?1ç11ta.r ci t()cia.s çifüçia.s .. Q.o ... soçi.a.l.. pfe
recçria a.igY1lla Possí°Qiliªecie gç jg11 ifiçar. ççirret11111ç11te..
as...cP!ls: tentes e as variáveis. . emça.usa. Estas duas conclusões se
inpu seram a Lewin a partir do momento em que tomou
consciência de que as realidades sociais eram multidimensionais
(103 ), (104).
46 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 47

§,§1!LJJltima,constatação o lev.QJ,J, ª QJ?or em psicologia E;nfiro, .. a:.pesquisª"d.&Yl<..PI219.ngfü::;. - t... s.:i:_ - --QtÜtiY2.t.


social, . a -q1::1;i§ª J;!e lai:JQra,tóriq à pesquis<t ci callipo. A dl.a.t2L§x1am ªJc:ª-!içfü:Jo.s,
primeira lhe
parecia mais artificial e inadequada. .f'.<tra t:I(;(....§,Q....e..§g1:H:lclª 2. Por outro lado, J<:urt Lewm,...de. .ac.ordo..c.om ·ª
p() <;oncep ção hegIia.na .J:!.o .. d_evJr ioÇi?1... úil.qJ.!a.L
gria ()f rcer conôiçõesc válidas .....de . x.pri1Il JÇ.. Q,,LSegundo .çp,o§t<t.JleJg:Jil6sõfo
ele mesmo declarou, foi influenciado tanto pelo pragmatismo , ar!_ Ja5p rs (67),- propõe . como,.. hipótese..q:ue ,,,,o§ feniiiêiiõs
americano que acabava de descobrir, como pela concepção he oc;iai§ não.. podem.,.ser, obserxado.s ,dg,..exterior,
geliana do devir à qual aderia desde o tempo de seus trabalhos .,do,..mesmo.,.modo qµe.......não. .podem ser.. obseryados-. m Jaboratório,
em Berlim sobre o desenvolvimento da personalidade. de...moôo estªtiçg, Eles não se tornam inteligíveis senão ao
pesquisador que os alcança consentindo em participar de seu devir.
1. Para Lewin as hipóteses que a ciência formula, as leis Para Lewin, Q§..{enômenos.,.de..,g1JmQ...QªQ J:&:Y.ela.!!l.ª.S Jeis,..
que d'estaca e as teorias que elabora não têm valor para a psi internas .de"suà., cH Qârµica senão aos pesquisador,es.. dispos-tos..a .s.e
cologia de grupo, senão na medida em que são aplicáveis, isto é, engajm:- ..pes-sc:ial roente a fundo, neste . cHn<:tm.ismo..em marcha,
na medida em que permitem efetuar, sob sua luz, de modo J!..res-peitar7lhe . os
eficaz e durável, modificações dos fenômenos sociais que elas processos .de evolução nos senfülos definidos..,que a História lhe
querem explicar. Lewin reencontra aqui uma das teses funda jrµprime e, assim, a favorecer-lhe, ao máximo, que se ulttápas:.
mentais do "operacionismo". Ora, no momento em que Lewin ,,se,. .Finalmente o pesql!i ad,Qr c:l_ey.e, .i!!1PJif E:. t --P 5)_(ll!ll.!l.t.-n?.
estabelece seus primeiros contatos com os meios universitários füt_uro ..das...r.ealidades sociais=que .tentiL.l:'.?C.P!ica !ietn.. ciear. _ dei
americanos, o "operacionismo" constitui em psicologia a influên _ ()bje Y.'!.r,,se a seu respeito 4 Ser-lhe-á necessário, pois, prosse
cia dominante que obriga teóricos e pesquisadores do tempo a güir · suas pesquisas no próprio campo em que se manif estam
enfocar a metodologia da pesquisa sob uma perspectiva essen os fenômenos que estuda e só tentar modificar sua dinâmica
cialmente pragmática . Seu axioma de base é o seguinte: a va com o consentimento explícito dos membros do grupo que serve
lidade de uma hipótese, a verdade de uma teoria são propor à sua experimentação. J?ecorre para ele a necessidade .de, d.u
cionais à exatidão das previsões que elas permitem . _ rante suas pesquisas, assumir constantemente os dois papéis
Qs:.. ..mocl,o, l,.,ewin chega a Jixar dois objetivos para toda com- plementa.res - de··participante e de opservadQf .
pesquisa Sobre os fenômenos saciai:;;. Estes rjqJs ...objetivos se ()!!
fJUlQ.enL.e se c:2mpletam ... P9de!ll ser visados de modo simul tªI1 OPÇÕES METODOLOGICAS
(),_ 9µ sucessiv91 YJJ1lo._eks.,..J:.sJ1<s .oJ:)jetiYQ? ..P.rQC:Yram, .seja .
f.Q.Qlecer.,JE?....- i':!Z.é-ÜÇ..Q,.. ..QPr.JJ.!!1..ª ..sitlrnção. .soclaLdada, · Lª--"C.o.mpr,eende!,' JL9Qr.ª de Lewin ..é es§.e.t:i.ctal..U<r. .. sempre
seja ..PrY..§.e!l. ,que el.e fqi_ :!:lm çlQs.. .p.r®eiros
Q§.çgJ.?.r.i!:_ gJ2rnil!lfü:J;L ..,dipª1lliC:ª.l'E2I?Eª cl_<:t .. vida..de um. e.. .um,,,Q..principais·te6· i:iços .do gµestaltislD() Ol. E tanto sua
grupo, A Tanto uma como outra destas duas tarefas não podem psicologia social, tendo como centro o estudo do
ser rea desenvolvimento çja personalidade, como sua psicologia social -
lizadas, de fato, sem que o pesquisador se 'veja forçado, para centrada sobre os pequenos grupos
completar uma , a erppreender a outra. Elas são complementa .. -se elaboram, se articulam e se edificam a partir de postula
res e indissociáveis no plano metodológico . Não há diagnóstico dos guestaltistas . Temos aqui a chave de suas opções metodo
de uma situação social concreta que possa ser formulado sem a lógicas.
exploração da dinâmica própria do grupo implicado por esta
situação. Do mesmo mod-:>, a dinâmica própria de um grupo
não se revelará realmente, senão ao pesquisador que tenha con
seguido assimilar todos os dados concretos da vida deste grupo.
JJesgµ,is.il,,t':Ili Psic:olo.gía soC:iill,cC?nclui Lewirl, deve originar-se Esta ( 1) Guestaltismo, do alemão "gestalt", significando estrutura, forma,
a...p.irtlr .de.uma. .situaç.ão. soc;iaJ conçreta a Jno<:Uf jçar . E escola psicológica propõe apreender os fenômenos em sua totalidade
sem querer dissociar: os elementos do conjunto em que eles se integram
deYe
ins.PirilJ::se....C:oJ:1s ta.r1Jt:!l-1J:l! pas transfc:i mações p() tes....novos .que.. surgem . d.urante. e sob a ínfluênqa çja . pesquisa.
cornPon:;n
e fora do qual nada significam. De
início, aplicada à percepção, esta teoria
estendeu-se à toda a psicologia.
48 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 49

1. No plano dos objetos, já sabemos que Lewin opta dem. Assim podem observar de dentro os processos e os me
muito cedo por uma exploração sistemática e exclusiva dos micro- canismos em jogo neste desenvolvimento, e encontram-se sob
fenômenos de grupos. O que nos é necessário precisar agora é o Uma perspectiva ideal para descobrir sua significação essencial.
postulado guestaltista subjacente a esta opção. Para Para Kurt Lewin estas opções metodológicas não se apre
Lewin, ps pçqµt;P.()s &PJPPs Ç()nstHJJem <J.S 4nicas t2taJi4<1Jles sentam como hipóteses provisórias mas como p()§JHlêQ()S. Uma
ª··
1:Unª-mh as ....a.<;essfveis .á.....observaç.ã.o.....e .conseqüentemente longa prática da pesquisa científica demonstrou-lhe a aquisição
eJÇpe definitiva da validade das aproximações guestaltistas para o es
rimenta..çã.q sientfüca. Eis as razões. É necessário de início pre tudo dos comportamentos humanos. Veremos agora, de modo
cisar que se trata de pequenos grupos concretos, formados sobre explícito, como estas opções metodológicas inspiram e orientam
a base das interações que ligam os indivíduos em contato direto. o sentido que tomam suas pesquisas sobre os comportamentos
Ora, para Lewin, as atitudes sociais de um indivíduo ou as de grupo e as atitudes coletivas.
atitudes coletivas de um grupo não podem ser compreendidas
senão a partir dos diferentes conjuntos sociais de que fazem ATITUDES COLETIVAS
parte. E, reciprocamente; estes conjuntos sociais não podem
ser compreendidos senão a partir dos indivíduos e dos pequenos
grupos concretos que eles englobam. Expliquemos como isto Até Kurt Lewin quase todos os psicólogos saciai america
se dá. De uma parte, a forma das situações concretas (trata-se nos haviam centrado suas pesquisas no problema da socialização
neste caso de situações sociais ) depende das formas das reali do ser humano ( 30). A maioria estava de acordo em conceber
dades globais que as envolvem, e estas, por sua vez, dependem o processo de socialização como o aprendizado de atitudes so
das situações concretas que possuem sua dinâmica própria. Ora, ciais. Por outro lado, e paralelamente, tocamos aqui naquilo
as situações concretas são função das interações dos indivíduos. que constitui a diferença fundamental entre a obra de Moreno
Por isto, conclui Lewin, somente no pequeno grupo concreto e a de Lewin. M9EeBQ,. antes .e dep()is de b-e.win,
de dimensões reduzidas, isto é, ;;i céLula social bruta, .estas. rela .preqcµp9µ._se
ções de reciprocidade tornam se... ªçess.íveis... .à.. . obse.r.vação. constantemente.. C()fl1. () . proQl<:;fl1a Qª §()Çͪliz;;\Çi'Í,() QQ. sef Q'!!IJl.ª.no.
Seus trabalhos, suas pesquisas e suas descobertas estiveram sem
2 . No plano dos métodos, a influência das teorias guestal pre polarizadas por aquilo que lhe parecia e sempre lhe pare
tistRs não é menos evidente. Kurt Lewin denuncia como inváli das ceu, o problema fundamental que a Psicologia devia esclarecer .
e.estéreis as aproximações atomísticas que então prevaleciam nos Deste modo, aplicou-se não somente em teorizar, mas igualmente
meio<s de pesquisa em psicologia social. ?.ara ele tnn fenô meno em inventar técnicas e instrumentos que favorecessem e facili
de grupo só se torna inteligível, quando .se consegue pra tic;;ir tassem o aprendizado ou o re-aprendizado das atitudes sociais.
J1este.fe!lômeno o qµe ele cha!Tia de cortes analíticos sociais e O psicodrama, o jogo do papel, o sociodrama constituem, para
concretos, de. .prospçcções verticais. Em outras palavras, não é ele, tanto instrumentos pedagógicos como terapêuticos, conforme
decompondo o fenômeno estudado em elementos e em seg mentos sejam utilizados para socializar ou re-socializar o ser humano.
para reconstituí -lo em laboratório, em escala reduzida, Mas quer seja constituindo esta ciência nova que chamará socio
que o pesquisador pode conhecer sua dinâmica essencial. metria, quer tornando mais precisa esta arte que chamará so
Será, antes, ,tentªndo atingi-lo Pm """ tr.t.,11.i.,rlP ,...,,.,,..,.,,t" ciatria, Moreno, durante toda a sua atividade científica, será
PvictPnl'i constantemente influenciado pelas teorias sobre a psicologia da
aprendizagem ( 118). Embora se defenda e negue tal fato,
Moreno edif icará assim sua obra em continuidade com preo
cupações que foram dominantes na psicologia social até Lewin,
tal como procurava edificar-se na América . Assinalamos ante
presença no riormente que, nesta época, os psicólogos sociais orientavam
grupo a ser estudado, eles se tornam os elementos suas pesquisas quase exclusivamente no sentido de determinar
indicados para provocarem modificações completas de estrutura o contexto mais propício ao aprendizado das atitudes sociais
de uma situação social e atitudes coletivas que lhe correspon-
-·-·----"-> , _,,.,.. .JIC\iM1\4Q .UUZL.h""" WH•""''"º"- '"'·•"'J,.,,"'""""'. ...,,;.,,.,};

50 GÉRALD BERNARD MAILHIOT


DINÂMICA E GNESE DOS GRUPOS 51

democráticas. Alguns, cedendo a motivações muito mais ligadas siderado, e em segundo lugar, situar de onde vem a dinâmica
ao seu sistema de valores que às exigências da ciência chega que afeta cada um destes elementos (69).
ram mesmo a definir o meio educacional mais apto a formar Lewin preconiza então que se apele para esquemas galilea
o cidadão americano perfeito ( 113). nos de interpretação em psicologia social, como ele cons'!guira
Com Lewin e a partir dele, o interesse dos pesquisadores fazer em sociologia individual. Fiel a esta perspectiva, Lewin
desloca e dirige-se para as atitudes coletivas. Os comportamen não procura a explicação dos fenômenos de grupos na natureza
tos em grupo e as atitudes sociais também constituem um objeto de cada um dos seus elementos ou de seus componentes, mas
de exploração e de experimentação em psicologia social. O que nas múltiplas . interações que. se produzem entre os elementos
muda, radicalmente, é a abordagem e a metodologia que se da situação social onde se situam,. no próprio momento em
tornam dinâmicas e guestálticas a partir de Lewin. Fara definir que são observados e interpretados. Ora, segundo Lewin, o
cientificamente os comportamentos em grupo e as atitudes sociais ambiente social contribui para a formação e transformação das
os pesquisadores referem-se ao que são e devem ser os compor atitudes coletivas favorecendo, ou, ao contrário, inibindo as ten
tamentos de grupo e as atitudes coletivas. dências sociais já adquiridas. A razão deste fato, segundo Lewin,
Mas, ainda há algo a acrescentar. Sempre aderindo a seus é a seg1•inte: tendo as situações sociais sua própria dinâmica,
postulados guestaltistas, Lewin denuncia, como o havia feito em as atitudes de um indivíduo, em um dado momento, são função
1931, em relação à psicologia da personalidade (51), os esque de sua relação dinâmica com os diferentes aspectos da situaçã.o
mas aristotélicos de interpretação. .Nenhum comportamento .. de social que ele assume - de boa ou má vontade (69).
grupo, como afü § nenhum . comportamento humano poderia se Mais tarde ele retomará esta explicação para reformulá-la de
explicar nfí.i_C:.amegte ..em te+ll"\9§ 9e causglid<l.:le histórica. Eis o modo diferente: .a estrutura de meio tal qual é percebida
porquê. Os comportamentos dos indivíduos enquanto seres so por um indivíduo depende de seus desejos, de suas
ciais são função de uma dinâmica independente das vontades necessidades, de suas. expectativas, de suas aspirações, enfim
individuais. Os fenômenos de grupo são irredutíveis e não podem de suas atitudes, enquanto o conteúdo ideativo do ambiente
ser explicados à luz da psicologia individual. Jboda dinâmica de
grupo é a re§ulJ;.inte elo Çonjunto elas interaçs........no.. interior (}e coloca o indivíduo em um determinado estado de espírito. E a
Ym esPF!Ço P§ÍÇQ§Qçi<lll Estas interações poderão ser tensões, relação de :.:eciprod
conflitos, repulsas, atrações, trocas, comunicações ou ainda pres* Q.füJe . entre . as atitudes do indivíduo e o conteúdo mental
sões e coerções. Enfim, as atitudes coletivas só se tornarão in do meio que cria a situação da qual o comportamento é
teligíveis àquele que as observa, se ele conseguir responder a função
(91) .
duas questões:

l. Por que, em uma dada situação espontânea, tal


comportamento de grupo se produz de preferên
cia a um outro? final 9es.ta cadeia
cadeia pode ser decomposta em vários tempos: primeiro, ao
2 . Por que, neste momento preciso, a situação ob níxeL da Percepção, em seguida a.Q 11fvel çlg ç0mportamento.
servada possui tal estrutura contrariameate a uma Ao nível da perce pção, .a§ .. atitudes....comuns....a um grupo, isto
outra? é, suas atitudes coletivas, seus esquemas mentais e seus
esquem s
Em outras palavras, o observador deve poder refazer, do pro afetivos de adaptação à situação social .il teJ:m;tni:l.m... a Pei,:§Pe<:::
cesso social estudado, as fases e as etapas pelas quais cada :!iYa gernl ..na . qual os membros
um dos seus elementos foi levado a ocupar, precisamente na de. .uma.....situaç.ão. As percepções respectivas dos membras de
quele momento, determinada região no espaço situacional con- um grupo, sobre a situação social, são condicionadas por suas
atitudes coletivas. Por outro lado, ao nível do comportamemo,
52 GÉRALD BERNARD MAlLHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 53
os esquemas coletivos e as atitudes pessoais estão presentes no
campo dinâmico, enquanto constituem uma inclinação para certos Como já afirmamos, Lewin foi o primeiro a utilizar este
tipos de comportalll.eQ..to de . .grupo. Esta inclinação, por sua termo. Será uma noção fundamental em dinâmica dos grupos.
vez, ou cria uma atração por certos aspectos da situação ou Para Lewin Jpçl() Ç()J1ju11t9 . de••. ele111entos...inteícdependentes+co.ns
uma repulsa em direção a outros aspectos ou regiões desta titYi YIIl<l t()t(lliçlftcie di1J.â.111iça. Se os grupos são sempre tota
situação. lidades dinâmicas, as totalidades dinâmicas estão longe de serem
QyaQ.to......à çµltµra ...ll.ll1l'>.i.e.11te, . ehl•· tende......a.....fa:vorecer,/segundo exclusivamente grupos. Por exemplo, a personalidade é uma
totalidade dinâmica na medida em que pode ser considerada
e.w
in, vetqrt;'&' de. cqmpqr.f.lm(intg. .Para... ele 0s vetores de
çom portªllleuto ..s.ão.Jl.S dire9C>e 1.as orientfj.çs..çladas. ll como um complexo de sistemas, de formas e de processos psí quicos.
.YJD.....compor
ªll1e11t(.)1..Pfü/ n0s pg.§.... opostos,.coW>tituem l:>arreira •.....m.ais .ou 2 . O segundo conceito invocado por Lewin é o do
llle!fo§. i.rrlrerlll.e\'eis q.ue çli:J;içultam .a ex,p.re§§Í:\o de .si
(76). A resultante das forças que interessam tal indivíduo em
suas rela ções com um aspecto do campo dinâmico de que faz Para Lewin, a personalidade revela-se como uma configu
parte, é a atitude momentânea deste indivíduo em uma ração de regiões, tendo uma estrutura que ele chama "quase-es
determinada situa ção. Esta atitude momentânea se traduzirá tacionária". Quer significar com isto que é preciso conceber
por um comporta mento de grupo. Para Lewin a razão profunda a personalidade como um sistema que tende a reencontrar-se
desta concepção galileana em termos de interação das relações idêntico a si-mesmo em todas as situações. ,Q <e11 (a que ele
entre os .diversos elementos de um fenômeno de grupo, prefere chamar "self" em vez de "ego") .revela-se_ elll relaç.ão
percebido como um todo irredutível a seus constituintes .···• reftlici<lcJ. s..•• S()Çj J.is ...como...um.... Sistema<de ......cí.rculos•.CQm; l1t!:iÇQS.
individuais, é a seguinte: dentro de uma perspectiva guestaltista lAo. .centro, . euÇQnU:ª0.se.um.n:Y,c:leo••.•C: tituíd.o •.... pelp•.que+.LeVlin
não pode haver fronteiras imu chama. o. "eu intima.1' : este núcleo é dinâmico
!áveis ... entre cpnscincias individuais e um determinado meio. :Y:.<l o:re Pf!:r<l ele fµ.l.l<:lfl!n.entais, aqueles valores aos quais o
Para ele, a dicotomia entre pessoa e meio, introduzida pelos divíduo consagra a maior importância. .tl:m.... tor.no de.ste núçleo
behavioristas, é arbitrária e gratuita. ..As pessoas, os objetos, ççnt;i;al,.. as... rgiões···intermediáriaS····· qlW······Lewin< chama ...o..... ...e.u.....so..
as instituições, os gr\).PQS t! f!Ç()D_teçi!n.entõs S()Ci.a.is . .ãp . .c.ifJl'' : .o eu social.......englo:I?ª . o .S.!S.tí\'llllaí!.
de..... :v:alores...quei.são/pll.fti- l,ha<los .....co111.... ce.rt.os..<gr.upos .... por
.ele lllentos das situações · sociais. Estes elementos entretêm
entre eles relações dinâmicas cujo conjunto somente determina ª
exemplo, os valores de classe, os valores profissionais. pi:::riteriª
a es da· personalidade·· encon tra-se .. . situado o. ''.gu púf:>.lic.t>''. Oo
trutura do campo social. . Jrl.í\'ISID.? ID.? ,\le .. . oi/ eu
!n imo"'''<..um ,.eu Eoohado,· ·e§te .. .oY.trQ ..•..•····•·• ... \!.IIl. •eu abe!"to. o eu
CA\1PO SOCIAL público é a região. mais.supedicialde uma personalidade, aquela
que está engajada nos contatos.. .humanos ou nas ta:rs:fas ell1
que api:::nas os automatismQ$ §ã() sllJi.çientes ou são exigidos. f:
P.... s atitudes coletivas como, aliás, as atitudes pessoais neste nível que se implicam aqueles que participam de
não aparecem em Lewin nem como o resultado de mecanismos fenômenos de massa. :B geralmente também neste nível que
ex teriores às consciências, nem como atos subjetivos das. CO! muitos indivíduos integram-se em situações de trabalho em que
lS ciências. Elas são segmentos de uma situação social na
qual se fundem em uma mesma realidade dinâmica elementos somente. a peri feria de seu ser é engajada.
obje tivos e elementos conscientes. Três conceitos básicos, Segundo as situações sociais, segundo os graus de distân
tomados de empréstimo à sua psicologia topológica, permitem a cia social, nosso .eu .públiço ou nosso ..eu socia reveste-se de
Lewin extrapolar as implicações deste teorema sobre a gênese e dimensões diferentes. Nem um. nem.....outro ..são.,estáticos.
a dinâmica dos grupos. O mais importante destes conceitos é Nosso eu social pode, estreitar-se ou dilatar-se. Lewin pretende
o do campo social. que certas personalidades são abertas ao outro a ponto de não
se rem senão estruturas de acolhimento, mesmo no plano do
1. O primeiro conceito-chave a que Lewin apela é o de eu
''tQt(l;lidª4g ..... .dinâniica".
54 GÉRAJ"D BERNARD MAJL,HIOT
DINÂMICA E GNESE DOS GRUPOS 55

íntimo. Outras, ao contrário, mesmo no plano do eu público, 2. Em.. segund.o .lugar, . o grupo .....é.....para o..indiv.íduo. . um
são dobradas sobre si mesmas e não parecem preocupadas senão ins trumento. Isto significa que o indivíduo mais ou menos
em defender-se e em fechar-se ao outro. Excepcionalmente nos cons cientemente utiliza o grupo e as relações sociais que
introvertidos, o eu social atenua-se e a personalidade toda é mantém
absorvida pelo eu íntimo. Por razões diferentes o eu social é em seu grupo como JJ1$truroe11t95. Parª fü:ttisfazer suas . ..necessi-
quase inexistente nos extrovertidos em quem o eu público ocupa 9.ªQ.es psíquicas ....ou. suas ..•aspirações .•sociais.
todo o espaço vital.
3 . Em+.terçei-!:o ...lµg;;t:, .,,o ......grµpo,. é....u.ma ....realidade
....da.•.qual Q,.mdiY.í41J9....fªz.... Pat:te.•..mesm9. ªqYeles.. .qµe.. se.
se.11te.m•Jgnorados, is.olados QY ;r11js;itados. Deste modo, cada
vez que o grupo ou os grupos do qual um indivíduo faz parte,
Assim podem coexistir no interior de um nominalmente ou
mesmo campo social, grupos, sub-grupos, indivíduos separados artificialmente, sofre modificações em suas estruturas ou em sua
por barreiras sociais ou ligados por redes de comunicações. dinâmica, seja por processos de crescimento, de separação, de
que caracteriza antes .. de tudo um. campo §ocial, .... são as diferenciação, de integração, de regressão ou de desintegração,
p.osições relativas que nele ocupªm os diferentes elementos ele se ressente necessariamente dos contragolpes. Seus valores,
que.......o.>c.ons- tituem. Estas posições são determinadas tanto suas necessidades, suas aspirações, suas expectativas aí encon-
pela estrutura do grupo como por sua gênese e sua dinâmica. tram gratificações ou frustações. ....A ..dinâroica. .de um
o gru.po..Je.m
propriedades dos subgrupos ou a de seus membros não poderiam então nos revelar ..sempre.x um . . impacto.,social. .. sobre. ... os indivíduos . q;u.e o<.consti-
Nenhum membro dela escapa totalmente.
a dinâmica dos laços que os constituem em um mesmo campo
4. Finalmente, .. (') :tIP? § pªrª () in.diYÍdJJ.() µm...d.os
social. A este respeito Lewin adverte o pesquisador contra todo ....ele m.e.nlQ§ Qu dos determinantes..de...seu...espaço...vital. É no
a priori antropocêntrico. Pois é preciso constantemente disso interior de um espaço vital, isto é, desta parte do universo
ciar e distinguir grupo e indivíduos , quando, de dentro, o obser social que lhe é livremente acessível que se desenvolve ou
vad0r procura descobrir e destacar os pólos, as valências e os evolue a exis tência de um indivíduo. E ó grupo é um setor
vetores que explicam as interações no interior de um mesmo deste espaço.
campo social ( 67 ).
em conclusão, consistiria, segundo
em concluir esta superação, em atualizar suas aspirações
e suas atitudes, em atingir seus objetivos pessoais, sem nunca
Jorçar nem romper os laços funcionais çom a realidade .coletiva
ou . o campo social em que o indivíduo. se insere e que constitui
já havia formulado º· fup.c:l,all}linto de sua existência.
esta hipótese tentando pl'econizar o que deveria ser a pedagogia
do jovem minoritário ( 73) . Segundo os casos, o terreno pode RESISTfNCIAS EMOTIVAS À MUDANÇA SOCIAL
ser firr;ie, frágil, móvel, fluido ou elástico. Sempre que uma
pessoa não consegue definir claramente sua participação social .,A.,.a.d t;
ou . não está integrada em seu grupo, seu espaço vital ou sua se&undo......Lewin.,
liberdade de movimento no interior do grupo serão caracteri detalhe de sua busca intelectual que o leva,
i:ados pela · instabilidade e pela•· ambigüidade . ciar esta hipótese ( 82).
Acabamos de revelar o que são, segundo Lewin, as inte
rações constantes entre as atitudes coletivas e o campo social
em que se exprimem. Abordando o problema da mudança sO..
cial, Kurt Lewin retoma este tema para precisá-lo e explicitá-lo .
56 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DI N Â M lC A E GÊNESE DOS GRUPOS 57

As atitudes coletivas que ele já definiu de várias maneiras, apa 2 . Acrescentamse a estas tendências. do eu as
recem-lhe, desta vez, como um movimento provocado em um que representam os impera-
grupo de indivíduos por forças objetivas que resultam de uma tivos sociedade, tais quais foram interiorizados
situação social dada. Para ele, o clima social, as situações de pelo indivíduo.
grupo, ou as estruturas formais do momento social observado,
são realidades tão objetivas quanto o clima psíquico, a situação 3 . llm..Jerceiro....de.termin.ant.e.....é.....a...pró.pria §iY..ª.:
geográfica e a configuração do espaço físico em torno do indi .f.?. §f!.'?ial concebida como o conjunto dos fragmen
víduo. As relações entre as realidades sociais e os comporta tos do universo social com os quais ele está em esta
mentos do indivíduo não são, segundo Lewin, nem mais nem do de interdependência.
..b:§.Jendências do.eu e do super egg CQtl.§titu.em.•... Pªrª b\ViJ1,
menos constrangedoras que aquelas que· ele mantém com o
universo psíquico. Em conseqüência, nas condições sociais exis
tentes que constituem o espaço vital de um determinado indi . ª. dinâpiic;a ...<Jos....-valgre.s,. .. enquanto....ª ciinIJliçª <:lo§ fatos .. nos . é
víduo, ele pode escapar a certas pressões, recusar-se a certas Qada pela situªçªº social. Em consequência, toda situação
obrigações mas por outro lado não pode subtrair-se, nem esca social pode ser definida como um momento da história do
par a certos condicionamentos. Ser-lhe-á preciso, em certos mundo, explicando-se assim de uma parte, por seu passado obje
momentos, adotar tal tipo de comportamento ou conformar-se tivo, consistindo no encadeamento dos fatos e dos processos so
com tal atitude para responder às expectativas do grupo. Em ciais e, de outra, por seu passado subjetivo isto é, pelas repre
outros momentos, atitudes e comportamentos lhe serão impostos sentações coletivas que os indivíduos se fazem dos antecedentes
pelo grupo. .A....Jib&r:r:<lade ....de m.ovim.ento .e.....a<escolha... desta situação assim como da gênese de seu próprio grupo. Mas
de.Pt;em se o passado é determinante por um lado no condicionamento
dos compottamentos de grupo e das atitudes coletivas, por outro,
<;10. çJimª +s.ociaI..•que< prev.ale.ce..no.r.g:r:upo. O clima cultural
no qual ele vive, a dinâmica da situação social na qual se encontra o futuro da situação social vivida o é muito mais para a maior
implicado, a estrutura do momento histórico do qual participa parte dos indivíduos. Lewin precisa: não somente o futuro obje
com as pessoas que o rodeiam, constituem uma realidade obje tivo da situação ou os determinismos e a mecânica dos fatos
sociais, mas também o futuro subjetivo da situação ou as re
tiva: a totalidade dinâmica da qual depende neste momento presentações que os indivíduos implicados nesta situação se
preciso de seu crescimento. .Q.... interior· desta totalidade dinâ fazem de sua evolução e de seu progresso, assim como as an
piica .. .encon.tr.arn se orienta.çl()§, .. Qu..... mesmo cond,icionados., tecipações ou as apreensões que eles alimentam com respeito
seus comportamentos ... em.gr.upo......e....s.uªs a!iJµçlÇ.s.. s9lria.i§· à situação social em que vivem. Donde a necessidade, assinala
Kurt....Lewin .de.duz. entãQ. qµe ..... L conduta,. .<le....todo••·.in9ivíduo Lewin, de tornar claro a gênese e a dinâmica dos grupos à ilu:z:
C:>l11••·:r:µp9.. é...9.eterminada,....de.. uma. pªrte,, Pela.dinâmica de um conceito fundamental em sociologia e em antropologia
dos.··••.fatos e,.•de....•outra, ..pela... dinâmica .dos. cultural: o conceito de mudança social.
;valores...que...percebe.....em..ca.d.a .gi M u(ü:inça sQçial.. e çpnfrplç §qçigl são para Lewin conceitos
..t.uação. Ora, para ele (e é aqui que seu pensamento se torna indissociáveis. E: fácil agora compreender o porquê. A única
explícito) Q c<;1,npo... de forçªs que se destaca da!11ter.ªªº dos maneira de experimentar sobre mudança social, de extrapolar
fatos e çlos valores depende .9.e.Jrês coisas: - ··· sua dinâmica essencial, é tentar do interior, de dentro, plani ficá-
la e controlá-la. Ou ninda, é conseguindo derrubar as re sistências à
1. Primeiro, depende da.s tendências "do eu mudança social que se pode melhor chegar à com preensão de
,concebidas . como a maneira única pela qual cada seus processos e de seus mecanismos. Reencontra mos aqui os
.indivíduo percebe cada instante present .em. Jl.!n,,ção propósitos que Lewin defenàia sobre a pesquisa de campo em
.de seu passado pcssóaL Suas percepções neste pla oposição à pesq uisa cm laboratório.
no, são condicionadas por sua sensibilidade geral, as Ora, para Lewi n. d uas atitudes típicas podem ser observa
orientações fortui tas de seu ser, suas capacidades de das em relação a toda mudança social. ,..A aütuçle ç9aj'9rmista
atenção afetadas ou estimuladas por seus estados
nervosos e suas preocupações materiais e morais.
58 GÉRALD BERNARD MAILillOT
DINÂMICA E GÊ NESE DOS GRUPOS 59
.,a,.,mudanç.a...s.ociaL1LiniPiada..• e dejada._pelQS. eiemeJlJ:Q..S" MQ;;.Ç,,Q!
condici0nada . pelas pexçepçÇ s _sociais çristalgadas ...que perce- J.Í.Qfl!ll§.f.tl§..J.i2_.fil. Pº· Mas estes últimos eri:c.011tram.....,i;es-isteneias..àa-
- f:.w...t®a.. mudança dg st(l!U: 'ltiº como catastrófica. . -- .att\lde parte,,....d,Q....m_t,mbL<?...fla_.gmpo q_u, tÇm.,int.er.esses.,inxestido.s..nQ.,.S,,tqt.y
pãq çoníormista, ao contrário, .1$inspirac;la pdas percepçê)e.s so fLMg.. Os elementos con formistas freiam então ou tentam contrariar as
çLais q\le a,ntecipam toda mµdança c;lo statu · quo como tentativas de
de.seJá.Yel
.e spernda. Geralmente, neste último caso, nota Lewin, as per
cepÇões e as i !!QL:Q.Qs_ J1_ª9_-C()nf()trnistas 11ão
são.su.ficetes
.IL'!rn..Ji,:ªmiformá,-los ..em_,age11tes c!e...:Jtans9rmaçãq_
_5,oçiat.•Pelo
@JQ.•. ..Efü;:t.p,oss.uJi:errLas J_çnicas. 4.e .c.o.murucação que :\-
he.s..per mitiriam ..•opei:ar as mudanças . de _ clima e de atitudes
no.. meio que.deseiam..
poder contar,
i i:. .XQlPi!· Daí a necessidade de se
no '' momento em que uma mudança social se torna desejável,
com grupos-testemunhos compostos, como vimos anteriormente,
de átomos sociais radioativos, segundo as próprias palavras de
Lewin, que possuam ou dominem as técnicas de grupo tornan do-
os aptos a vencer as resistências emotivas à mudança social a
ser introduzida no meio observado.
A mudanÇ.a .. sQcial .impfü:.a ....em......:mna... mQci,!füi!-
ç,ão...do....c.ampo
.d i.P.âmico no. q1gL_g.gr.up.o .S.íLD.fQ!l rn. Ççffi9r_m-
s..X Ji,fyJ>u não esta modificação, o observador-participante, que
é o ex perimentador preconizado por Lewin, pode iden,t.itiç_'lt.Jf .
,.ti,Rgs de .fonômenos.•d.iiU-19.s-em.,u. : .SÃQ""à
...mudança_s,O,Cial.
1. Q.u.•..os....gr,upos..•.não.. ,_ §_en ern.......11ern.. .e..X:Pe
ro.e.n.tam..J1e!!bJJm
de§,ejQ,.,...nenhqma.....,,aspirn.çã,Q_,,..a....eY'9ll-!i,ri. _a mYdar. f: o caso
de todos _Qª gnJ.pos.....c.onformi.tfls que se comprazem nas
percepções estereotipadas da situação social e cujas atitudes
coletivas e comportamentos de grupo são determinados e
condicionados por preconceitos. Para diagnosticar estes casos
Lewin recorre ao termo constância social. Atualmente os
psicólogos sociais em pregariam de preferência os termos de
.esclei;ose....social ou mes
mo de ne,crose.....social..,p._êiit, .ª-çte,i;iz
,,Qlle..Jlãa..cAD.§,füyLwais
Y!ll-a ,,.J,U11âmic 0,,..gwp.Q, mas,..uma"' stát..-.4- o, de tal
modo as estruturas formais absorveram ou anularam em uma
estratificação cristalizada as dimensões funcionais destes grupos.

- 2 . No caso precedente a mudança social tem pouca ou


nenhuma possibilidade de se operar de tal modo o statu quo é
valorizado . No caso presente ,
mudança . Suas.J:nanobras são geralmente
<:lª11Qes Ülªs e tendem a criar climas
de.gr.Üpo"'que tornam as transformações sociais
provisoriamente impossíveis, de modo a não
comprometer seus
privilégios adquiridos. .NQ. çªso .precede11te o_ grup.o.. seria ma
jgrJ! riQ .QJ.! Jotªlmente. conf9q:riista. Nenhuma
mudança social se opera então. ,N.o..,,,ç ªsq _
pyesente ()§ elementos co.g.fq_r_m,isJªs
_estão em .minoria, - :iªij.f. I iié1âi&. iiaõ-·se:;-operâm senão
..lentamente....e na...supe.r.fície,....em.....r.azãow•de ·"suas "'r-esistências q
f)1udans;a..

3 . Lewin menciona enfim o caso dos gqJJlQ§"J!Sl.:S.Qfil9r:


,,mistas ..no. interior dos quaii> . a to.talidade ºl1. a...rnaJm:lª- .QQ§, mem..:
_ )),r.Qs..expe.rimentª·-e se:nte..1J-ma •.• irzclir1qç(iq..pw.<J. ..•'1.
.UJ.1&.d-f:!Çq. Nestes grupos, as percepções de grupo, as
atitudes coletivas, os com portamentos de grupo são
polarizados por uma aspiração dos membros em
crescer e em superar a sim mesmos como grupo.
li1<. .te..§..gr,JJJl.QS••as....es-t1:utura&'"formai_s ....são·-
flex;fa.r.eis ..e.•f uncionais. Elas favorecem entre eles
relações interpessoais, laços de inter dependência e
interações cada vez mais dinâmicos.
Como excelente guestaltista Lewin conclui que a JIU1danç:a
.,: .9.C. ª!.,lfâfa •••·. §e. .9R Fa.r.. x.Jge.,".que,,.sefun!Nmo.d.if-if das,... , §.,Jlações
S!.ii!,l i9aS ..· qut}... :unem"os·•três··elemen.tOS"'Seguinte·s:·,,··
1. iJ.S.1,.es_t.c,utr,as,,,-da, s-ituação·"'soeial.
2 . íiis,,'"estrutui::as
das...consc·iêneias ; - que ,,·:vivem
nesta,.. situação"soorai.
3 . pg,,,,,füz@ntec-imntos······que····Suf,geFn nesta ,..mes
!Jla, situação,·S0e1al.
Mªs,,.9,.faJQ.l' Jl.e.term-iI'lantec <i}ue . .tot"nará ,p0ssí"'el a .mudança
SVi!.li,,.se.IJ'ª.,s.empre,,.01,,.01im.arde._,, gr.upo,,dominante. Oi;_a""Q.o,,,,cli.u:rn,
.Qe,,JUP ,,gfJ.!PQ->..Jiescobre...entãG, ewin .. (.71), é=sem-pr-e-,.,Qet-ei;mi
,J.li;!,Ç,l.Q .Il-!!lo'"'tipo-.--d.e...-autaridacle
,que,Jlele"'se*.e.xe1;ce. , Daí porque , enuncia Lewin,
modificar as atitudes coletivas ou produzir uma
mudanª -· S()cial congjsJe,. .,,na..,quils.e.Jotalida9e d()s .
casgs,,,,e.rn.... .in,, ,
ttQaYtr :iiiii':iXo:f:a:&&'í.110,,«ile,..autodoªde.... 0u...uma;:ii0\lâ:concepção
4Q;,,poc;ler.110 .inteúorm,da,,situaçã0..social..que..•- Se •• quer.Jazec.eYQl11!f .

EXPERIMENTAÇÃO E AÇÃO SOCIAL

Na noite que precedeu sua morte Kurt Lewin


havia terminado a redação de um artigo sobre a
"pesquisa-ação " que deveria aparecer em uma
revista científica americana : "The Journal of
Social Psychology" . Os editores do livro póstumo
"Resolving social conf licts" incluíram este artigo
entre aqueles que reuniram
DI NÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 61
60 GÉRALD BER NARD MAILHIOT

B . Em uma segunda etapa, tr.at<1:cse de deduzir,


sobre este tema ( 108). Este artigo contém as últimas formu çi . J?EeVr. ()U de . erivar destas análises, COrijêh.traS
lações do pensamento de Lewin sobre o que deveria ser a sobre · a posível evolução destas percepções de grupo.
experimentação e a pesquisa em psicologia social. Aliás, me C . Finalmente, uma terceira etapa t.ei;íl, como
lhor que em outras partes de sua obra, aí se encontram enun objtivo descobrir e prever os novos macios de com
ciados e explicitados .os. obje1iYs>.1' .. as .condições .-de..:validade portamentos de grupo que estarão em harmonia com
. e S..... tapas .da. - ·pesquis.a:ação''. a reestruturação das percepções de grupo.
1. Para Lewin ..a........Pe..9.::ÜS.ª. em. psi()l()gia, SQÇ!aL.de.Y.e
Lewin preconiza que, através deste diagnóstico e deste do
..S.er mínio do "grupo chegar-se-á a um controle mais funcional das
,yro,ª (:lÇ(i() s,qç{gL Será nesta medida que ela terá possibilidade atitudes do grupo. Q.QJ:ij_etivo estratégico a atingir, inicialmente,
de escapar às miragens dos esquemas pseudo-clássicos da ex- ..é tornar grupos e sub-grupos conscientes e.lúcidos .cll:l,
perimentação. PanLcgE.J)f]!'.-Os.JI1QJneno.s ....d.e,..gr1,1,pp_ .do dinârt1ica X11ere,nte à situaçãü•.sociaLem evol.ução. Não é
.inte- senão a
deste momento que sub-grupos e grupos aceitarão corretivos e
partir
Q.QI... não do exterior, LeJÇI?. !<!C?.!:.l!.\!.Y....
eJ1t!!!'.ij11iç,ialmen-
te 1. oÇ jetivilr s.e ... . . eu resPeÜQ, o nseir pyr.cebê:clos .
t a l .ts : .......
como ggs-
d.epois,. . ..pâríi.
sua ·..·..
dinâ111lca ...e.ss(!nçial, ... deve .....em-
d·esc.obrir......
ifrencier de dentro .a tilre!a, (:le .reestrµtll á-los ele .modo a fa- ça- t:.acteriam. os.... jpgjvíduos ,...... os sul?:gµpg. . e. .... o......gr:upo.
.vorecer e. acelerar a.. sua transformação. · ·· ·
2 . Duas condições parecem essenciais a Lewin para asse
gurar a validade de uma tal experimentação:
A . Ela deve operar-se em pequenos grupos en
gajados em problemas sociais reais e preocupados
em se reestrutu rar para, de modo mais funcional, se
inserirem na situação social onde procuram atingir
seus objetivos.
B . Ela deve ser realizada por pequenos grupos
-testemunhas, compostos de experimentadores que
'\ estejam engajados e motivados em relação a mudan-
\...ças sociais que querem introduzir. A autenticidade
de suas motivações lhes permitirá serem aceitos pelos
grupos nos quais realizam as experiências e proce
derem à sua experimentação a título de membro-par
ticipante integrado totalmente na dinâmica do grupo
observado .

3 . Enfim, segundo Lewin, l!r,,,e.XP!!IimQ!ço em ..


P§icolo gia .. social. deve reali?k:se em. três. et3:Pª§ . ess.enGiilis.
Todas ·três
procuram operar Úma mudanÇà · social através de um controle
social mais funcional das atitudes coletivas e dos comportamen
tos de grupo.
A . A primeira etapa ,çJ.ms.iste--em um .le:v.anta-
1:u..ento.... pu ....,análise . das . percepções de .. grupo qu.e .
complementos às suas percepções de grupo. Suas percepções
de grupo e, em seguida, suas atitudes
coletivas assim como seus
comportamentos de grupo, passam do
subjetivo ao objetivo, do pessoal ao
situacional. Sem ru ptura, sem
negação, mas pri meiro por
sincronização, e depois por sinton
ização.
A.. e.xperi1nentilçã:o em
psicologia social, tornandocse uma
pesquisa ação, permite aos
pesquisadores encontrar no campo, por
9casião de l,lma ação social, boas
condições para descobrir .as
.constantes e as variáveis em jogo na
transformação de .um agru pamento
humano./ Os processos e os
determinantes da gênese dos grupos,
as leis essenciais da dinâmica dos
grupos poderão, assim, pouco a
pouco, serem definidas. Para serem
científ icas estas definições deverão
ser operacionais. Elas correrão o risco
de nunca o serem, se a
experimentação continuar a ser
realiza da em laboratório . Pois quem
nos assegura que os grupos re
constituídos artificialmente em
laboratório constituem verdadei
ramente grupos ? Na maioria das
vezes, senão sempre, os indi víduos
agrupados para fins experimentais
não conseguem inte grar-se e
continuam a funcionar de modo
individualista , defen dendo-se contra
as manipulações de que são objeto
mais ou menos traumatizados . Lewin
teve o mérito de tornar a psico logia
social consciente dos obstáculos que
a pesquisa teria de enfrentar caso
continuasse a ser realizada em
laboratório. Seu gênio consistiu em
abrir novos caminhos, novas vias à
pesquisá, em lhe fornecer uma
metodologia e perspectivas que
levaram a descobertas inesperadas
antes dele.
CAPÍTULO QUINTO

COMUNICAÇÃO HUMANA E RELAÇÕES


INTERPESSOAIS

Os quatro primeiros capítulos foram consagrados .exclusi


vamente a Kurt Lewin. A té aqu i o leitor pode seguir a evolu
ção do seu pensamento e das suas pesquisas, constatar a que
ponto seus trabalhos e seus experi mentos em psicologia social
marcam u ma ru ptura com o passado e um progresso decisivo
na História das Ciências Sociais. Por outro lado, tomamos
conhecimento de como Kurt Lewin, desde sua chegada à Amé rica,
preocupou-se em definir cientificamente aquilo que ele foi o
primeiro a chamar de "dinâmica dos grupos'". Com esta fi nalidade
questionou e redefiniu as metodologias e as teorias tradicionais em
psicologia social. Uma vez definidos de modo operacional as
exigências de validade e os esquemas de expe rimentação, Kurt
Lewin lançou-se, simultanea mente, à explora ção de três
problemas-chaves que o levaram a descobertas sobre a gênese e
a dinâmica dos agrupamentos huma nos, considerados atualmente
geniais ( 65) , (71) , ( 86) , (92) (94), (99).
Os três próximos capítulos tratarão sucessivamente destes
três problemas. De início estabeleceremos a colaboração dada
por Lewin à compreensão de cada um destes problemas. Des
tacaremos, depois, os progressos realizados a partir de Lewin.
O leitor podeá, então, descobrir como um grande número das
hipóteses de Kurt Lewin continuam a inspirar os pesquisadores
em psicologia social. Algumas de suas hipóteses foram explici
tadas posteriormente, outras sofreram mod ificações ou foram
reformuladas, mas na maioria dos casos elas foram verificadas.
Os três capítulos seguintes tentarão mostrar que as descobertas
mais definitivas em psicologia social após a morte de Lewin
foram realizadas a partir de esquemas guestaltistas e no interior
de projetos de pesqui sas-ações sobre os micro-fen ômenos de
grupo. O balanço dos dados adqu iridos desde Lewin sobre estes
três problemas-chaves, à saber: a com unicação humana, o apren-
DINÂMICA E GÊNESE DOS GR UPOS 65
64 GÉRALD BE R NARD MAILHIOT

diagnóstico podem parecer banais em nossos dias. Mas na época


dizado da autenticidade, o exercício da autoridade em grupo de ela foi formulada pela primeira vez, desde que seres humanos
trabalho; estabelecerá concretamente para o leitor a que ponto se aplicavam a trabalhar em grupo. Desta hipótese Kurt Lewin
as intuições de Lewin foram geniais e os caminhos por ele aber quis extrapolar uma implicação imediata. "Se minha hipótese
tos, ricos em promessas de descobertas. é válida, teremos que consentir em questionar nossos modos
atuais de comunicação e, se preciso, aprender modos mais fun ·
UMA INTUIÇÃO DE Gf:NIO cionais de comunicar entre nós. E isto só será possível, em
As descobertas de Kurt Lewin sobre a comunicação humana minha opinião, se paralelamente às nossas sessões de trabalho,
ocorreram quase por acaso. Situações semelhantes já haviam mantívermos encontros nos quais nos reencontraríamos todos
se apresentado muitas e muitas vezes desde que seres humanos juntos, fora de todo contexto de trabalho, preocupados tão so
tentam trabalhar em grupo. Foi preciso o gênio de Lewin, sua mente em nos comunicar de modo autêntico. Para que t.>ste
capácidade de atenção, de vigilância e seu acompanhamento dos aprendizado seja válido e favoreça realmente a evolução de
processos em causa no grupo de trabalho, para identificar com nossa equipe d trabalho uma condição me parece essencial:
tanta perspicácia e penetração o obstáculo fundamental à inte todos devem esta. de acordo em participar e com vontade de
gração dos agrupamentos humanos e à sua criatividade. aprender a comunicar de modo autêntico".
Vejamos agora, refeitas e reconstituídas, as circunstâncias Pela primeira vez, na história da humanidade, um grnpo.
concretas desta descoberta de Lewin, tal como foram evocadas de pessoas, implicadªs na realização de uma mesma farefa, di
por seus colaboradores bem próximos, testemunhas oculares do rigiam a auto-avaliação de seu trabalho de grupo não sobre o
acontecimento (14), ( 114). Kurt Lewin conseguira desde há tq riteúdo_ d suas discussões e de suas decisões, Ill- " segundo
algum tempo agrupar em torno dele uma equipe de pesquisado a expressão de Lewin, s,obreos processos d.e suas trgcs,.. Como
res e organizar com eles seu Centro de Pesquisas cm Dinâmica o capítulo seguinte será sobre "o aprendizado da autenticidade ",
dos Grupos, no M.I.T. Os projetos de pesquisas em curso eram torna-se mais funcional então destacar tudo o que esta primeira
numerosos, os recursos financeiros abundantes, o ardor e o experiência, nunca antes tentada, de sensibilização para as re
fervor ao trabalho evidentes. Todos pareciam altamente mo tivados lações humanas, comportava de implicações para a psicopeda
e aparentemente sem restrição adeptos das hipóteses de Lewin gogia do trabalho em grupo. No momento lembraremos que
sobre a gênese e a dinâmica dos grupos que, em con junto, Lewin e seus colaboradores, desde que consentiram em dialogar
tentavam então verificar experiment almente. Todavia, nos tomaram consciência de que suas relações interpessoais, aparen
momentos de auto-avaliação de seu trabalho, realizado perio temente confiantes e positivas, eram de fato inautênticas pelo
dicamente, tinham deplorado por diversas vezes a falta de in fato de não terem como base comunicações abertas entre eles.
tegração real da equipe, o ritmo lento e artificial do encami Não--SQI_!1<;;I1lt! ._ _ j tiª ntre eles e neles fontes insuspeitveis de
nhamento de seus trabalhos, os parcos recursos inventivas e a QOq1JeÍOS, mas .. .estes . blQql1eiOS; :Criando ..zonas de silêncio,
fraca engenhosidade manifestados na exploração dos problemas ..COffi
estudados. Kurt Lewin, que participava fielmente destes encon prÕm@ain a.s ·pr6pÍ"iª$ comµnicaçôes que chegavÇlm.. a ...esta})e
tros de auto-crítica, havia falado pouco até aquela data e, se lecJ;f.sê . .entre eles. f;.stas c9gia111 ·consta_ntemente o.. risco
gundo seu hábito, escutara com uma atenção constante a ex de
pressão de descontentamento dos colaboradores. Um dia, en serem filtradas .. em virtude de .. não serem prepagç!as . num. clima
tretanto, no momento em que a auto-avaliação parecia uma vez .de-.confian.ça.
mais encaminhar-se para uma constatação negativa, Kurt Lewin, Desde que con<>eguiram assinalar as fontes d e bloqueio e
em tom modesto, quase se desculpando, a título de sugestão,
de filtragem em suas comunicações, suas relações interpessoais
enunciou a seguinte hipótese: "s:-..a.jntçgraç 2. r1trt?..I12s11ã.o.
evoluíram, tornando- se mais autênticas, e deu-se a integração
se reali,i'ª·- - .i.J2ªrnlçlamente,... nQ_ ª.â...Pesquisas_prngridem
entre eles no plano do trabalho. A coesão e a solidariedade
.tiiQ .pou c;Q_takfg_t_() ...Pod.e -ocnr_r.er-.em....razão ..de--bloqu!ç.s-
resultantes mudaram prof undamente a atmosfera de suas ses
que ..existiriam entr1Lnós ao n!YL de. nossa s cgmµ11ii;:ªções'. A sões de trabalho. Estas conseguiram, a partir deste momento,
hipótese e o
ritmos crescentes de produtividade e de criatividade.
66 GÉRALD BER NARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 67

NECESSID ADES INTERPESSOAIS se perceber e em se sentir aceito, integrado, valorizado total


mente por aqueles aos quais se junta. Tentará também, segun
A experiê11cia preparada por Lewin e tentada por ele no do modalidades determinadas pela série de variáveis individuais,
M.I.T. com seus colaboradores mostrou-se concludente. "J;Jy... verificar seu grau de aceitação, procurando provas de que não é
ignorado, isolado ou rejeitado por aqueles que percebe como
gescobriram. que. ..a ...p.i::Qçi,g_tjx!s!qS< ,,dc. um .. gEP<:l". .- 1!..
os preferidos do grupo. É sobretudo no momento das tomadas
y_çi§p.;i,fi
estão estreitment1e relacionadas não s0@ente .mm . ª··çpm12etP.-
,Çfü :dJ_trs _w_ê_fubros.,_!Í 1!J.dQ. _çom_.§.Qii41u:fg_iªªi de decisão, nota Schutz, que esta necessidade procura ser sa
tisfeita da maneira mais imperiosa. Um membro sente-se defi
]_:::.$Jt,as
§:Qq.
.relaç§ s..iu.terpso.aís.
Mais adiánte, o próprio Lewin (92) e alguns de seus dis <'! necessid _r;
cípulos ( 17), ( 31) , ( 33), ( 42) , tentarão fazer novas de controle
experiên cias sobre este fenômeno e destacar as implicações necessidade
desta desco berta. Mas quem levará mais longe a exploração afeição
e a análise da dinàmica dos grupos de trabalho será um en tt:".nde
psicólogo america no, professor em Harvard, W. C. Schutz. O por
resultado de seus trabalhos é publicado em 1958 em um termos?
livro que inclui ao mesmo tempo uma teoria dos
comportamentos interpessoais e um instrumento por ele
preparado que permite avaliar a qua lidade funcional da
teoria (137 ) . define
O que devemos reter aqui e que marca um progresso no sfilad
tável sobre as teorias esboçadas por Lewin e que repousavam i11Q
apenas sobre dados forçosamente provisórios naquele momento, como
são as luzes trazidas por S.çhu1z sobre a interdependência e a s1d<iàe
estreita correlação que existe em todo grupo de trabalho entre experimenta
seu grau de integração e seu nível de criatividade . Mas onde todo
Schutz inova realmente é através de sua teoria das "n.ec.es.s.ida:: no-vo
?l..es ..intr;r.pessQais". Com este conceito Schutz pretende espe grupo
:::ificar o seguinte: os;;membr.os..!1.J1_gt;gJ,ipo....J.!ãQ.,J Qn.S"
.ntem'. em
1.ntegrarse.. senão..a,.parJi.t do...mome.nto'""e'
JDwque,"cêrtas,..ncessida
.d es .f undamentais-sãu..satisf.eitas... pelo . upo. .!?1t..f!
§....J.lê.Ç,. !Q.g.\les, para Schutz,
$ã0c--:fundam.e.ntai&.-...porque_druio.-sechumano.,....q.ue se.-r-
{;lúnem._um grJJ.pO . q.ual..as....exp,ei:im..en.tuinda-q:uJ;< _em
graus..ffivero-'>. Por outro lado, estas necessidades, segundo ele,
.ão . Jnteps§.11ais,,,.no.•.sen.tido ,fl.....9.J.!.-s2II:.lI!te...&uLgr.upo.... e
p_ o
gr,u.pv. elas"pgd..em....se,r...s.atis.fç_iJa-a9egiJ.g.s.fom n.t.e,
Ao longo de demoradas e sistemáticas pesquisas, Schutz
consegue identificar como fundamentais três necessidades inter
p •soais. Estas necessidades seriam: a necessidade de inclusão,
nitivamente incluído no grupo ao se perceber como um partici
pante integral de cada uma das fases do processo de
tomada de decisão. Esta necessidade é, portanto, a
expressão do desejo que experimenta todo membro de
um grupo de possuir um status positivo e permanente
no interior do grupo, em não se sentir em nenhum
momento marginalizado pelo grupo.
Segundo o grau de maturidad e social de cada
indivíduo, segundo seu nível de socialização, a
necessidade de inclusão condicionará e determinará
atitudes em grupo mais ou menos adultas, mais ou
menos evoluídas. Os indivíduos menos sociali zados
procuram integrar-se ao grupo adotando atitudes de de
pendência, sobretudo em relação àqueies membros que
possuem um status privilegiado. :f: o caso dos membros
socialmente in fantis. Por outro lado, aqueles que não
superaram a fase da revolta típica da adolescência
tentam impor-se ao grupo através de atitudes de
contra-dependência e forçar assim sua inclusão no
grupo. Enfim, os indivíduos melhor socializados,
segundo Schutz, são os únicos que encontram em
suas relações interpes-
. soais cada vez mais positivas, uma satisfação adequada
à sua necessidade de inclusão, adotando para com os
outros membros do grupo atitudes ao mesmo tempo de
autonomia e de interde pendência.

2 . Para Schutz, a necessidade de _gmtr:.nie


consiste, para cada membro, em se definir para si
mesmo suas próprias res ponsabilidades no grupo e
também as de cada um que com ele forma o grupo. Em
outras palavras, é a necessidade que expe rimenta cada
novo membro de se sentir totalmente responsável por
aquilo que constitui o grupo: suas estruturas, suas
ativida des, seus objetivos, seu crescimento, seus
progressos. O grupo ao qual ele adere, do qual
participa, está sob controle ·e de quem? Quem tem
autoridade sobre quem, em quê e por que? Todo
membro novo busca índices e critérios que lhe permitam
responder estas questões e, pouco a pouco, sentir-se
seguro à
68 GÉRALD BER NARD MAILHIOT \
medida que consegue delinear de modo articulado as estrutqras
do grupo e as linhas de autoridade .
Todo membro de um grupo deseja e sente a necessidade
de que a existência e a dinâmica do grupo não escapem total
mente a seu controle. Também aqui, conforme seu grau de
socialização, esta necessidade se expressará e tentará satisfazer
-se de modo mais ou menos evoluído. Os menos socializados,
aqueles que há pouco, no plano da inclusão, mostravam-se de
pendentes, adotarão atitudes inf antis ao exprimir sua necessidade
t,
de controle. Tenderão a demitir-se de toda responsabilidade e 1'

a delegá-la a outros, àqueles que percebem como dotados de '


poder carismático. Em conseqüência, adotam aquelas atitudes
que Schutz qualifica de !!._bdicadoras. Aqueles que . se sentem
rejeitados e mantidos à margem das responsabilidades no grupo,
tenderão a cobiçar o poder e a querer, se preciso, assumir sozi
nhos o controle do grupo. Estes últimos adotam em grupo,
cada vez que lhes são confiadas responsabilidades, atitudes de
autocratas. Alguns chegam mesmo a ambicionar a responsabili
dade pr imeira e absoluta do grupo. Os mais socializados, enfim,
os possuidores de maior maturidade social, têm tendência a se
mostrar democratas, isto é, a pensar e a querer o controle do
grupo em termos de responsabilidades partilhadas.
3 . A terceira e última necessidade interpessoal, conside
rada como fundamental por Schutz em toda dinâmica de grupo,
é..ad@,.de;;.af.eiç,ão. Este termo não é muito feliz. Tem-se
prestado, muitas vezes, a ambigüid ades e equívocos. A necessi
dade de afeição que sentem em graus diversos e segundo moda
lidades diferentes, por vezes opostas, os indivíduos que devem
ou querem viver ou trabalhar em grupo, consiste, segundo Schutz,
em querer obter provas de ser totalmente valorizados pelo
grupo. Em outras palavras, é o secreto desejo de todo indiví
duo em grupo de ser percebido como insubstituível no grupo:
cada um procura recolher sinais concludentes ou convergentes
\:
de que os outros membros não poderiam imaginar o grupo sem
ele. Não somente aquele que se junta a um grupo aspira a ser
respeitado ou estimado por sua competência ou por seus recur
sos, mas a ser aceito como pessoa humana, não apenas pelo
que tem, mas também pelo que é.
Para Schutz, a expressão desta necessidade d e afeição é for
temente condicionada e determ inada pelo grau de maturidad e
social do indivíd uo. Alguns, os mesmos que há pouco mostra vam-
se dependentes no · plano da inclusão, e abd icadores em
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 69 interpessoais não podem tornar-se mais positivas, mais
socializadas e o grupo integrar-se de modo definitivo, en-
relação ao controle, tentam satisfazer suas
necessidades de afeto através de relações
privilegiadas, exclusivas e geralmente posses sivas.
Adotam então atitudes infantis, esperando ser
percebidos e aceitos no papel de criança mimada do
grupo, não desejando senão receber. Desejam
.secretamente estabelecer em grupo re lações
hiperpessoais . Aqueles que, ao contrário, se sentem
rejei tados ou ignorados pelo grupo, cedem a
mecanismos que os psicanalistas chamariam de bom
grado, mecanismos de for mação reacional. Estes
adotam, como uma reaçãq de defesa contra as
necessidades de afeição que experimentam, atitudes
adolescentes de aparente indiferença ou frieza
calculada . Pre conizam, quando não reclamam,
relações unicamente formais e estritamente
funcionais entre os membros. Não querem ou não
podem dar nem receber. Furtam-se assim a toda
tentativa de estabelecer a solidariedade interpessoal
sobre uma base mais profunda de amizade.
Ocultam sistematicamente sua necessidade de
afeição e mostram-se corno hipo pessoais. Enfim,
os mais altruístas, os mais socializados, não
obedecem nem a mecanis mos de defesa nem a
mecanismos de compensação. Desejam ser aceitos
totalmente e afeiçoados ao grupo pelo que são.
Mas neles esta necessidade de afeição encontra plena
satisfação nos laços de solidariedade e de
fraternidade que se estabelecem entre eles e os
outros membros do grupo. Somente estes, porque
tor naram-se capazes ·de dar e de receber afeição,
estabelecem suas relações em nível autenticamente
interpessoal.

EXPRESSÃO DE SI E TROCAS COM O OUTRO


As teorias de Schutz sobre as necessidades
interpessoais marcam um evidente progresso sobre
algumas das descobertas de Lewin. Schutz, entre
outros, conseguiu explicar-nos expe rimentalmente
o que Lewin havia percebido de modo intuitivo,
a saber : como e porque um grupo que não concluiu
sua inte gração é incapaz de criatividade
duradoura. Por outro lado Schutz não conseguiu
ir além do nível das relações interpessoais. Com a
ajuda de instrumentos validados por ele,
diagn0sticou com muito acerto e não sem mérito,
que há urna equação entre a integração de um
grupo, a solidariedade interpessoal de seus
membros e a satisfação em grupo e pelo grupo das necessidades
de inclusão, de controle e de afeição de seus
membros. Mas eis o que lhe escapou e que
Lewin havia pressentido antes dele: as relações
70 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 71

quanto subsistirem entre os membros fontes de bloqueios e de ;


iniciar e estabelecer o contato com o outro. A comunicação
filtragens em suas comunicações. - ::.S J!.@.§d.e,,,JJm,Bgr_ypo. .('.
! verbal é a mais freqüente, a mais habitual, pelo menos no
e,sua
.d, inâmica çietexmina.das.,.,...em....última .... anális.e,.pelo....•.g,r.au- > Ocidente. Entre os povos latinos, sobretudo, ela tem tendência
- ..são. .de
allt11ticidade...das,...&omuniça.ções... que...$.e.lni.ciam,e- ser verbal se alguém utiliza a linguagem oral ou escrita par'a
S.e.._e.stabelecem
.. .ntJ:- l1$..o. rnembr.Q..,: Já se aceita como um dado de realidade
que somente em um clima de grupo em que as comunicações
são abertas e autênticas, as necessidades interpessoais podem
encontrar satisfações adequadas. Lewín teve o grande mérito
de, a partir desta descoberta , orientar suas próprias pesquisas
no M.I.T. para a comunicação humana (86), ( 89 ) , (90),
(92 ), (95), (105). Desde então os teóricos e os práticos da
dinâmica dos grupos não cessaram de orientar sistematicamente
seus trabalhos e suas observações sobre este problema a fim
de conhecê-lo de modo sempre mais Científico ( 3 ) , ( 5 ) , (
12), (17 ), (33), (116) , (121) , (126) , (136) . Graças a
este es
forço combinado e prolongado, os dados adquiridos são nume
rosos. Todos têm centrado o estudo sobre a expressão de si
na troca com o outro: C.QillQ....comu1J.iç.aL..c.om.....o..o.utro...par.a
.....qlle
.,.Q.....diá-logo. .se.sstabeleça. Eis aqui os dados:

l . A explicação científica da natureza da comunicação


humana data das descobertas da cibernética. Foi no MJ.T.
que elas se realizaram em estreita colaboração com o "Research
center for group dynamics ". Haviam sido iniciados quando
Lewin ainda vivià e prosseguiram após sua morte com a ajuda
de um dos mais dedicados de seus discípulos: A. Bavelas.
Pouco a pouco tornou-se possível definir o que é, essencialmente,
a cqmunicação humana . Ela só existe realmente, quando se
estabelece entre duas ou mais pessoas um contato psicológico .
Não é suficiente que as pessoas com desejo de comunicação se
falem, se escutem ou mesmo se compreendam. 'b preciso mais.
A comunicação humana entre elas existirá quando e todo o
tempo em que conseguirem se reencontrar.
2 . As pesquisas assinaladas acima permitiram d istinguir
entre vários tipos de comunicação humana. A- comunicação
:varia segundo os instrumentos utilizados para estabelecer o con
tato com o outro, segundo as pessoas em processo de comuni
cação, enfim, segundo os objetivos em vista .

A . Os instrumentos.
Quanto aos instrumentos empregados, a comunicação pode
a tornar-se o instrumento preferido, integração funcional e orgânica destes dois modos de expressão
senão exclusivo, de comu nicação com do eu choca-se, sobretudo no plano não verbal, contra tabus e
o outro. proibições coletivas ou ainda contra re sistências emotivas cuj a
Todo recurso a outro instrumento fonte é geralmente a personalidade pro funda do indivíduo em
que permita ou favoreça o contato com o causa. O capítulo seguinte tenta rá ana lisar como cada um deve
outro, é classificado pelo termo genérico de descobrir por si mesmo, e adotar modos de expressão não
comunicação não verbal. Pertencem a verbal do eu que sejam, neste momen to de seu processo de
este tipo de comunicação os gestos, as transformação de suas relações com o
expressões faciais, as posturas. Mesmo
t"JS""•silên cios-. e as ausências no
interior de certos contextos podem
tornar
-se significativos e carregados de
mensagens para o outro e, segundo
as situações, ora podem ser
percebidos pelo outro como expressões
de coragem, ora como omissões ou
covardias.
Comunicação verbal e comunicação
não verbal não estão sempre
sincronizadas e sintonizadas no mesmo
indivíduo. As vezes o não-verbal está
em dissonância com o verbal, trai o
eu íntimo que o verbal tenta camuflar.
Talleyrand já aconse lhava aos
diplomatas: "as palavras nos foram dadas
para en cobrir nossos ,pensamentos".
Gestos bruscos, cortantes, acom panham
muitas vezes palavras melosas, doces,
que dissimulam mal um estado de
irritação interior .
Então, como integrar o verbal c o
não-verbal em uma mesma comunicação
? Sobre este ponto descobertas recentes
mostraram-se decisivas para a
compreensão da autenticidade nas
comunicações humanas. A comunicação
humana que pre tende ser
exclusivamente verbal corre o risco de
intelectualizar
-se, de se tornar cerebrina . Por outro
lado, a com unicação que pretendesse
dissociar-se de todo recurso à
linguagem seria dificilmente inteligível
ao outro, pelo fato de não recorrer a
uma simbolização na expressão de si.
No Ocidente, a partir de Lewin, a
dinâmica dos grupos tem contribuído
muito para revalorizar a comunicação
não-verbal e a expressão corporal do
indivíduo. Ela pode estabelecer que
somente uma comunicaç ão que seja
verbal e não-verbal ao mesmo tempo
tem condições de ser adequada. · A
72 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 73
outro, aceitáveis tanto para ele como para o outro e aceitáveis
cação consumatória é sempre acompanhada de gratuidade e de
no contexto cultural . em que este relacionamento interpessoal \'f'i espontaneidade.
se insere e se atualiza. Esta integração não poderá nunca ser -
A comunicaçáo instrumental, ao contrário, é sempre utili
considerada definitivamente adquirida . Para permanecer funcio
tária e comporta sempre segundas-intenções . A troca com o
nal ela exige questionamentos contínuos e uma capacidade jamais
outro é procurada, preparada e estabelecida para fins de mani
atrofiada de aprendizagem, de flexibilidade, . de autonomia e
pulação, mais ou menos confessáveis. Estão neste caso as men
uma grande liberdade interior.
sagens publicitárias ou aind a os slogans da propaganda política.
Na comunicação consumatória o outro é percebido como um
B . As pessoas. sujeito ao encontro de quem se vai e com quem se deseja co
municar; na comunicação instrumental, o outro é percebido como
Quanto às pessoas implicadas é preciso distinguir entre um objeto a explorar, a seduzir ou a enganar, com o objetivo
comunicação a dois ou comunicação de grupo. As comunica de assegurar certos ganhos e satisfazer alguns interesses .
ções a dois podem ser pessoa is, quando constituem um encon Algumas implicações podem desde logo serem destacadas
tro entre dois seres que se percebem em relação de reciproci sob forma de teoremas:
dade ou de complementariedade, como na amizade, no amor
ou na fraternidade. Esta comunicação, se autêntica, tende a 1. Quanto mais o contato psicológico se estabe
durar e aspira à permanência . Mas as comunicações a dois ce em profundidade, mais a comunicação humana
podem ser autênticas mesmo quando provisórias . É o caso das terá possi bilidades de ser autêntica .
comunicações a dois chamadas pro fissionais. O profissional con 2 . Quanto mais a expressão de si conseguir in
sultado e a pessoa consultante estabelecem entre eles comuni tegrar a comunicação verbal e a não-verbal, mais a
cações verticais: o profissional dá, o consultante recebe. o pri
troca com o outro terá condições de ser autêntica.
meiro deve dar provas de competência e de consciência, o se gundo
possui direitos a serviços prof issionais adequados. Este tipo de 3 . Quanto mais a comunicação se estabelecer
comu nicação entre duas pessoas, por sua própria na tureza, não de pessoa a pessoa para além dos personagens, das
poderia ser senão tem porá ria e provisória pela boa razão de que máscaras, dos status e das funções, mais terá possi
tende a fazer evoluir o consultante e a torná-lo autônomo em bilidade de ser autêntica .
relação ao profissional consultado.
As comunicações de grupo podem ser distinguidas entre 4 . Quanto mais as comunicações intra-grupo
comunicações intra-grupo , quando se estabeleçem en tre os mem forem abertas, posi tivas e solidárias, mais as comu
bros de um mesmo grupo, e comu nicações inter-grupos, quando nicações inter-gru pos terão possibilid ade, em conse
constituem contatos e trocas entre dois ou vários grupos. qüência , de serem }rntênticas e de não servirem de
evasão ou de compensação a u ma falta de comuni
cações internas em seu próprio grupo.
C . Os objetivos. 5 . Quanto mais as comu nicações humanas fo
,tr. rem consuma tórias ( isto é, encontros de sujeito a
.:
sujeito ) , menos elas serão i nstrumentais ( isto é, ma
nipulações do outro ) e mais possibilidades terão de
Quanto aos objetivos, podemos distinguir entre comunica se torna rem alocêntricas e autênticas.
ção consumatór ia e comunicação instrumental. A comunicação
CQnsumatória tem por fim exclusivo a troca com o outro. Ela VIAS DE ACESSO AO OUTRO.
pode apresentar-se sob formas prosaica, "falar por falar", ou
adotar formas evoluídas, como o caso do espírito criativo que,
habitado por um sonhO constante, sente a imperiosa necessidade 't

de comunicar ao outro seu universo pessoal. Mas sejam quais ,


As distâncias fí sicas en tre os seres e entre os agrupamentos
forem as modalidades pelas quais ela se manifesta, a comuni- huma nos foram quas abolidas pela técnica moderna, sobretudo
;,...,, ... ·..,:;;.,..COm ;;;>zj,...., ,;;;:,,"<;;....,......,,_.,..;n_ ;.,,:0;'.;,:.,;-,_.,'1..,,.,""""''"·+00!.'- V.41i!!>">..-,--.,. ..-,.· . ''"''"""'"@Cfc'"' •=. =·=·==- ·--=,.,..,.....,..,._, ,..,,....,..,. ,_.,_,, -

74 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 75

após as descober tas inesperadas da eletrônica . Tornou-se possí Canais e media de comunicação constituem uma rede de co
vel em nossos dias entrar em comunicação com o outro a dis municação cada vez que são estruturados e articulados de modo
tância, graças aos media de comunicação. Estes últimos torna a tornar aqueles que estão agrupados no interior de um deter
ram-se cada vez mais possa ntes, cada vez mais adequados ao minado meio, acessíveis uns aos outros. Em uma rede, media
ponto de, presentemente, sobre o planeta Terra existirem cada e canais estão ligados entre si, interdependentes. Segundo o
vez mais seres huma nos em proximidade física uns dos outros. grau de organização ou de estratificação do meio, aqueles que
Mas a comunicação humana não pode se iniciar nem se aí trabalham ou vivem terão uma consciência mais ou menos
estabelecer, enquanto subsistirem distâhcias psicológicas a trans explícita dos caminhos e das direções que devem seguir para
por entre aqueles que querem entrar em comunicação. Sobre atingir o outro e comunicar-se uns com os outros.
este. ponto a dinâmica dos grupos, durante e após o tempo de
Lewin, multiplicou suas pesquisas. Os dados adquiridos então RELAÇÕES IG UALITARIAS E RELAÇÕES
permitiram definir operacionalmen te os requisitos e os pressu HIERARQUIZADAS
postos de toda comunicação h umana. Constitui um pré-requisito
para todos que queiram entrar em comunicação , assinalar e Quanto mais forem expontâneas as vias de acesso ao outro
identificar as vias de acesso ao outro, aceitá-las e nelas se en e menos formais os canais de comunicação, mais a comunicação
gajar. As vias de acesso ao outro são chamadas canais de co com ele têm possibilidade de tornar-se adequada e autêntica.
municação. Entretanto não é suficiente saber como ter acesso Esta conclusão está na origem dos trabalhos do especialista eín
ao outro, mas também quando ele pode ser ou tornar-se recep dinâmica dos grupos, A . Bavelas, já citado, sobre os diversos
tivo às mensagens que lhes são dirigid as. Perceber objetivamente tipos de redes de comunicação ( 12) .
os momentos psicológicos e as ocasiões de receptividade do Bavelas conseguiu isolar quatro tipos distintos de redes de
outro é uma arte que poucos seres humanos conseguem dominar comunicação, definir cada um deles operacionalmente e, assim ,
definitivamente e que supõe capacidades de empatia excepcionais. determinar exatamente em que situações de grupo eles se ori
Alguns canais de comunicações são formais, oficiais, arti ginam e se articulam. De fato estes quatro tipos de redes não
culados. Nestes casos, o outro não se torna acessível senão podem ser observados senão em grupo e em grupo de trabalho.
através de caminhos nitidamente definidos, cujas entradas são
reguladas por um processo mais ou menos rígido. B o caso 1. . Duas destas quatro redes são definidas como
do protocolo que precisamos respeitar para entrar em contato horizon tais. Elas têm de específico o seguinte: estes dois tipos
com os grandes deste mundo ou os personagens-chaves de certos de redes não podem aparecer, nem se estabelecer, senão cm
meios organizados. Quanto maior for a disparidade de status clima de grupo igualitário, isto é, unica mente no interior de
existente entre dois interlocutores, mais aquele cujo status é grupos em que cada indivíduo se percebe como membro
inferior deverá preocupar-se em descobrir as vias formais atra participant e, go zando de um status de perfei ta igualdade em
vés das quais poderá aproximar-se daquele cujo status é privi relação aos outros membros .
legiado. Outros canais de comunicação são espontâneos . B o
caso de interlocutore s entre os quais as comunicações são aber A. Bavelas denomina a primeira destas duas
tas, confiantes e que se percebem acessíveis constantemente, um redes horizon tais de rede em círculo. Segundo ele,
ao outro. Enfim podem existir canais de comunicações clandes esta constitui uma rede perfeita que não pode existir
tinos. Eles aparecem nos meios organizados onde a autoridade senão cm grupo ou estruturas de t rabalho e de poder
se exerce de modo autocrático . Cedo ou tarde, para sobreviver que sejam realmente democráticas. Eis as f azõcs.
às arbitraried a.des do poder, aqueles que devem viver ou tra Com efeito, para o líde r democrático, exercer a
balhar em contextos semelhantes, tentam descobrir ou estabe autoridade consiste essencial men te em tornar-se
lecer com a autoridade absoluta contatos não oficiais a fim de ao mesmo tempo um catal izador e um coordenador
se manterem nas boas graças ou com vida, para o grupo, isto é, cm estar consta ntemente preo-
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 77
76 GÉRALD BERNARD MAILHIOT

B . Enfim, existe uma segunda rede vertical


cupado em abrir e manter abertas as comunicações denominada rede em roda. Esta rede é específica
entre todos os membros . Assim, pouco a pouco, dos grupos autocráticos no interior dos quais a au
todos se tornam acessíveis a todos e a integração toridade está concentrada entre as mãos de apenas
dos membros pode realizar-se sobre uma base de um, que a exerce de modo arbitrário e segundo seu
complementariedade e não de subordinação . bel prazer. Todas as comunicações entre os mem
B . A segunda rede horizontal é chamada rede bros são controladas por ele. A comunicação não
em cadeia. Ela é típica dos grupos "laissez-faire" somente se estabelece de modo vertical entre a au
em que a autoridade se exerce de modo bonachão . toridade e os membros, mas muito cedo tenderá a
O líder é passivo, recusa-se a assumir seus papéis e traduzir-se através de mensagens em sentido único,
suas responsabilidades, as comunicações não se esta e a comunicação não se estabelecerá geralmente se
belecem senão ao nível das afinidaêles ou das atra não de cima para baixo.
ções aparentadas entre os membros. Fatalmente al o que concluir e destacar como implicações? n preciso
guns membros se encontram excluídos ou se tornam
não esquecer que os dados adquiridos por Bavelas não são vá
ma rginalizados das interações que ocorrem no grupo.
lidos senão para os grupos de trabalho. Por outro lado, parece
Não podendo concluir-se a integração do grupo, nem demonstrado que, neste contexto muito preciso, quanto mais a
existir a solidariedade entre os membros, as comu autoridade se exerce de modo democrático, mais o clima de
nicações não conseguem tornar-se funcionais e estão grupo torna-se e se mantém igualitário e, em conseqüência, as
sempre acompanhadas de equívocos e ambigüidades, comunicações tornam-se e permanecem mais abertas. Enfim
tornando, por este motivo, falsas as relações parece definitivamente adquirido que somente em um clima de
interpessoais e comprometendo a criatividade do comunicações abertas pode realizar-se a integração de um grupo
grupo. de trabalho e seus membros conseguirem ritmos de criatividade
duradouros.
2 . As outras duas redes são chamadas por Bavclas de
redes verticais. Podem ser observadas nos grupos de trabalho
em que as relações interpessoais são hierarquizadas, as linhas COMPONENTES ESSENCIAIS
de autoridade definidas de modo piram idal: no alto da pirâmide,
a autoridade primeira se exerce de modo absoluto. As relações Para quem quer entrar em comunicação com o outro, cons
entre os membros são hierarquizadas na medida em que se tra titui um requistito que ele tenha sabido assinalar e identificar
duzem em termos de subordinação e de dominação. Os status as vias de acesso mais seguras e, se preciso, haja reduzido ou
respectivos dos membros estabelecem mtidamente em termos de abolido, graças aos meios funcionais e adequados, as distâncias
funções, de direitos, de previlégios, de prestígio, quem tem auto físicas entre ele e o outro. Mas a comunicação só se estabele
ridade sobre quem, em quê e porque. cerá em seguida, se um emissor e um receptor conseguem trans
mitir uma mensagem com a ajuda de um código e segundo
A . Bavelas chama a primeira rede vertical, a modalidades adaptadas aos fins em vista. A partir de Kurt
rede em y. Este tipo de rede caracteriza as comu Lewin a dinâmica dos grupos define assim as cinco componen
nicações no interior 'de um grupo aparentemente de tes essenciais de toda comunicação humana ( 25 ), (101), (106),
mocrático em vias de tornar-se autocrático. As co (136) .
municações antes abertas e espontâneas, tornam-se 1. O emissor é aquele que toma a iniciativa da comuni
fechadas e artificiais com a tomada de consciência cação. Ele deve ser capaz de perceber e de discernir quando,
de algu ns membros de que um dentre eles esforça-se em quê e como o outro lhe é acessível. Enfim, ele deve poder
em tomar o controle do grupo, cobiçando para ele transmitir sua mensagem em termos que sejam inteligíveis para
o poder absoluto.
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·o outro. Assim, seus comportamentos e suas atitudes ao longo 5 . Des(aque ou camuflagem: o quinto componente essen
da comunicação devem, para ser funcionais, obedecer às leis cial de toda comunicação humana consiste no conjunto das de
psicológicas da motivação, da percepção e da expressão. cisões que o emissor deve tomar, antes de e1,1trar em comunica
ção, quanto ao conteúdo da mensagem e quanto ao código uti
2 . O receptor é aquele a quem se dirige a mensagem. Ele lizado. Assim cab_e a ele decidir o modo de apresentação, a
a captará na medida em que estiver psicologicamente sincroni tonalidade afetiva, a prdem e a apresentação da mensagem. Se
zado e sintonizado com o emissor. Além disto se ele quiser ele utiliza um código público, para melhor atingir seus interlo
favorecer a tomada de contato iniciada pelo emissor, deverá cutores e ir ao seu encontro, sua preocupação será a de pôr
estar psicologicamente em estado de abertura para outro. De em destaque a mensagem emitida. Assim, a encenação no teatro,
outro modo ele poderá entender a mensagem, compreendê-la, a técnica do grande plano na televisão, a orquestração na ópera.
mas . não captá-la ou aceitá-la. As leis psicológicas que fazem Se, ao contrário, o emissor usa um código secreto, deverá ca
de um indivíduo, ao longo. de uma comunicação, um receptor muflar sua mensagem de modo a torná-la imperceptível e inde
adequado são, de início, as leis da motivação, em seguida, da cifrável para todos aqueles aos quais ela não é destinada.
percepção e, enfim, as leis da impressão.
BLOQUEIOS , FILTRAGENS E RU1DOS
3 . A mensagem constitui o conteúdo da comunicação. Se
ela consiste unicamente numa informação, então trata-se· de Quando a comunicação se estabelece mal, ou não se estabe
uma mensagem ideacional. Se, por outro lado, ela exprime um lece, entre pessoas ou entre grupos, resultam alguns fenômenos
sentimento ou um ressentimento, trata-se de uma mensagem afe psíquicos. Eles foram observados e estudados sistematicamente
tiva. Conforme se trate de uma mensagem positiva ou negativa, pelos pesquisadores da dinâmica dos grupos. Vejamos como
ela estará carregada de ternura ou de agressividade . Ela pode foram definidos (12) , (14 ), ( 25 ), ( 33), (75), (90) ,
enfim comportar elementos tanto intelectuais como afetivos. A (136).
mensagem é neste caso chamada vital, porque quer transmitir
uma informação de importância considerada vital pelo receptor. Quando a comunicação é completamente interrompida, há
bloqueio. Ao contrário, quando não é comunicada senão uma
4 . O código é constituído pelo grupo de símbolos utiliza parte do que os interlocutores sabem, pensam ou sentem, a co
dos para formular a mensagem de tal modo que ela faça sen municação subsiste mas acompanha-se de f iltragem.
tido para o receptor. A linguagem, escrita ou oral, é sem dúvi Bloqueios ou filtragens podem ser provisórios: certos au
da o código mais freqüentemente utilizado. Mas a música, a tores falam então de pane, bruma, nebulosidade, queda de visi
pintura, a escultura, a dança, a mímica, o teatro, o cinema, a bilidade entre emissor e receptor, ou ainda de ruído. Os blo
televisão são outros tantos códigos que nos permitem transmitir queios provisórios, de modo paradoxal à primeira vista, parecem
mensagens. Os códigos áudio-visuais são sem dúvida alguma comprometer menos a evolução da comunicação que as filtra
os mais adequados produzidos pela técnica moderna. gens provisórias . Eis a razão. Desde que surge um bloqueio,
A dinâmica dos grupos aprendeu a distinguir entre código ele obriga os interlocutores a questionar suas comunicações e
público e código secreto. O emissor recorrerá a um código pú. geralmente lhes permite reatá-las e restabelecê-las em um clima
blíco quando desejar que sua mensagem seja captada pelo maior mais aberto e uma base mais autêntica, cada interlocutor tendo
número possível de receptores . Utilizará um conjunto de símbo tomado consciência do que neles e entre eles cor::stitui obstáculo
los inteligíveis para todos aqueles que ele quer atingir. Se, ao à suas trocas . Em caso de filtragem, entretanto, porque a co
contrário, sua mensagem não se destina senão a uma pessoa ou municação subsiste enquanto a confiança diminui, ela tende a
algumas pessoas, ele deverá utilizar um código secreto de modo acompanhar-se de reticências e de restrições mentais, degradan
a cifrar sua mensagem em termos inteligíveis somente pelos re do-se e degenerando pouco a pouco em troca de mensagens
ceptores de posse da chave que lhes permita decifrar o signifi cada vez mais ambíguas e equívocas. Assim a comunicação
cado da mensagem. corre o risco de tornar-se artificial, provavelmente de modo irre
versível.
80 GÉRALD BERNARD MA1LHIOT DINÂMICA E GtNESE DOS GRUPOS 81

Quando os bloqueios e as filtragens tornam-se permanentes, 1. D.nJado_do..emiss<Jr, os bloqueios ou as filtragens


o observador vê aparecer entre os interlocutores muros ou bar podem ser devidos a iui/JjS,QJ..,iuteFiores , A mensagem a
reiras psicológicas. Zonas de silêncio se estabelecem entre eles, transmitir evo-. ca nele lembranças penosas, não eliminadas ou
ou, quando muito, zonas de trocas superficiais que recobrem, não assimiladas. E o caso entre outros dos indivíduos cujo
quando não dão lugar, uma proliferação de zonas de conflitos passado foi trauma tizado. Se o passado é evocado, eles se
e de tensões. As fontes que originam os bloqueios e as filtra tornam incapazes de se comunicarem com o outro, ou se o
gens em vias de se cristalizar, são geralmente inconscientes para fazem, é de modo impes soal, desencorajando assim toda
pessoas ou para os grupos cujas comunicações estão sendo pre exploração deste tema de sua vida como indiscreto, quando
judicadas. Deste modo não é senão raramente que eles conse não intolerável.
guem transpor e restabelecer por eles mesmos o contato psico
lóico rompido ou inexistente com outro. Parece que somente 2 . O emissor pode também experimentar bloqueios e fil
uma experiência de natureza catártica poderia torná-los lúcidos tragens em suas comunicações por r:azôes,,•.eÃWUS.C.c.as.
e incitá-los a se liberarem daquilo que neles, habitualmente, os Assim; pode sentir-se constrangido a permanecer em silêncio ou a
impede de comunicar de modo adequado com o outro. não falar senão com reticência e circunspecção '\'.i. r..lYQU J.lS
Qualquer..,qu.,s.eja. sim ç!yntç_o, .. º.s bl9mJ,igs, e J:,;iç.tetJJl.l:lM.· Esses tabus exteriores, expressão mais ou menos
.as. .filtragens ex plícita de proibições coletivas, de censuras ou de pressões de
· p1:!,µE}:n.:Les,.J?ESJ?ÇQes .sl11....si......e,, .o.ql.)Jros,,. tornam grupo, o emissor os percebe instintivamente ou os descobre às
.fl'l.ls,as.,..as suas custas. Cedo ou tarde, todo ser humano que se sensibilize
ªfüµfles .!1..Q.s.•.•comporJamt:nt9s.i!l!i::;rn.e..s.s.Q!!· Se bloqueios em relação ao seu meio pode estabelecer, por sua conta, o inven
e fil tragens aparecem no grupo de trabalho, as discussões e as tário do que pode comunicar ao outro, os temas permitidos, os
de liberações provocam, então, abordagens penosas, agravadas temas tolerados e os temas proibidos. Lewin, como já notamos
ge ralmente por conflitos de prestígio. Conseqüentemente, as e salientamos no capítulo precedente, definia as zonas de trocas
deci sões tomadas em semelhante clima são raramente uma acessíveis a cada indivíduo, seu espaço vital ou seu espaço de
expressão de um acordo de grupo e as realizações que se seguem movimento livre (91 ). Os antropólogos culturais, de seu lado,
são fatalmente convencionais e estereotipadas. Quanto mais estes falam de "joking relation-ships". Definem assim a zona"de. Itr
bloqueios ou estas filtragens persistem, mais as relações entre l9..Çfü s-intex:p.essoais.-.variando...em...c.ad.a...m4ivíduof "no....interiQr... da
colegas ou com o responsável do grupo arriscam tornar-se sis qual....a..co.miuticaçfü1..s.e...e.s.tabele.ce....de...um ..modo.....ir:ônico.ou
tematicamente negativas, inautênticas, em conseqüf..ncia de mal •.hµ: morístico, em ..razão ..dos tabus......exteriores. No interior
entendidos, equívocos ou ressentimentos que aparecem como desta zona, alguns temas nunca são evocados, Os que são
irredutíveis. tolerados o são em termos velados, em tom de gracejo. Assim
as comu nicações entre um genro e sua sogra, entre uma nora e
PERTURBAÇÕES E DISTORÇÕES PROVISóRIAS seu sogro.
3. No que se refere..ao...cádigo, os bloqueios ou as
Os mesmos pesquisadores que ·conseguiram definir opera filtragens podem ocorrer por causa das 4JJ_g,r.e.nÇ,{}Â,,, U11.U!
cionalmente em que consistem os fenômenos de bloqueio e de lli& Os mal-en tendidos surgem pelo fato dos interlocutores em
filtragem na comunicação preocuparam-se em identificar suas presença supo rem gratuitamente que utilizam o mesmo código,
fontes mais freqüentes. Cedo descobriram que algumas causas quando, de fato, em virtude de sistemas de valores ou de
de bloqueios e filtragens podem estar em jogo em toda comu esquemas de re ferência diferentes, os símbolos utilizados têm
nicação humana, enquanto outras são específicas de certos con para eles cono tações subjetivas ou coletivas distintas ou mesmo
textos sociais, entre outros os grupos de trabalho estruturados contrárias.
de modo autocrático. No momento não trataremos senão de
bloqueios e filtragens que provocam perturbações ou distorções 4. Do lado do .xecepif).r, há bloqueios ou filtragens quando
provisórias e temporárias. ele não capta ou capta mal as mensagens que lhe são endereça
Seis possíveis fontes de bloqueios e de filtragens, comuns das. &ta falta ou ausência de receptividade pode ocorrer por
a toda comunicação humana, foram identif icadas. Ei-las: três razões possíveis.
82 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 83
para baixo. Poucos são os contextos humanos em que os blo-
Primeiro, o receptor pode ter uma.J} _.,u;,letiwi, não
captando senão as ..m.nsagus-que possuem para ele, no m
mento em que são emitidas,
xess.onânçlªs.. ªf5<JiY:as.,au.iolplicitçQf>
· · Ninguém escapa totalmente a este fenômeno. Mesmo os
seres mais altruístas, os mais estabilizados, os melhores equili
brados, mostram-se momentaneamente cíclicos em sua atenção
e presença diante do outro. Em seus momentos de euforia, s
mente as mensagens positivas são captadas; enquanto que nos
momentos de decepção, eles se tornam vulnerávei s e hipersen
sibilizados às mensagens negativas. Nestes momentos de
depres são o ser humano pode muito bem entender, até
mesmo com
prender, as mensagens que lhe são dirigidas. Na realidade
ele nfu1...t.. tém .uu 11ij9
px:sl;,L..atenção,..sen.ã.1J•..llit..mensagm.,...co.m
.as...quais._j. á ,...es.tá...emoti:v.amente.,sintonizado,.

5 . Excepcionalmente o receptor pode conhecer


.esJJJ.da.uk
.<Jlienaç.ão, seja pelo fato de estar absorvido por uma.al.gtia
..in tensa,, que o cumula, seja por se sentir invadido por uma
for.te ang(t§.tia. Torna-se então incapaz de perceber as
mensagens que
lhe são dirigidas, de tal modo est'.i pe.rturhad.o " m.Qtiv.ament.
Não apenas não compreende como não escuta mais.

6 . Enfim, tratando-se do receptor, ele pode, em razão do


contexto cultural em que se socializou, ter-se tornado
..exd.u.silla
.l l!f 1J1e .s,e.nsihilizada...para ..a.ca.muaic ão.•.vbül a ponto de
não captar ou captar mal as mensagens não verbais que lhe são
dirigidas. Os pais e os educadores devem aprender a decifrar
as mensagens não verbais carregadas de angústia, de apelos ou
de expectativas, que contém, em certos momentos, as expres
sões de rosto dos adolescentes ou das adolescentes que eles pr'o
curam ajudar. Aqueles que se dedicam aos cuidados dos doen
tes, sobretudo dos doentes mentais, devem preocupar -se em se
tornar perfeitamente receptivos às comunicações não verbais de
seus pacientes. De outro modo o,...contato psic.ológico....pode.....não
$e-e:>tabelece.r.....e...as...mensagensw,emitidas ·Conwl=auda.de-
um"có gig.o._11ão-.:.r.ei:b.aL.esc..aµa.tem.-
ao..,.,re.ce.p.tor".ou,.uã0oJh.e...par&c inteligí:veis. ··
Nos grupos de tarefa cuj estruturas de trabalho e de poder
são autocráticas, as redes de comunicações humanas entre o
responsável e os membros do grupo tendem, como já vimos, a
se hierarquizar de modo vertical e em sentido único, de cima
que trabalham ou vivem com ele. Também estes últimos, cada
queios e as filtragens são mais vez que captam uma mensagem que exige uma resposta,
freqüentes e mais carregadas de recusam-se ou se omitem ou, quando muito, operam uma sele
perturbações e de distorções, tanto no ção e não transmitem ao autocrata senão uma parte ou o con
piano das percepções como no das trário do que sabem, do que pensam ou do que sentem. Sua
relações interpessoais. Estes bloqueios única possibilidade de sobreviver ,no interior de semelhantes
e estas fil tragens têm origem em duas estruturas é geralmente calando o que sabem e não transmitindo
causas específicas: a hostilidade autista senão o que pode alimentar as ilusões falaciosas que o autocrata
no autocrata, a transmissão seletiva nos quer manter sobre seu poder e sua popularidade.
membros.

1. Assim se apresenta a
hostilidade autista. O autocrata de
posse de um poder absoluto sobre os
membros de seu grupo regride muito
cedo em suas relações com o outro a
ponto de tornar-se inconsciente da
existência dos outros. Seu egocentris
mo degenera cedo ou tarde em
autismo ao ponto em que só seu
interesse é lei e o grupo não tem, a
seus olhos, razão de existir ou de
evoluir senão para sua glória. As
causas deste tipo de regressão foram
longamente analisadas por Lewin e seus
discípulos (97). Elas estão todas
contidas no aforisma de Alain:

"O poder torna louco;


o poder absoluto torna
absolutamente louco."
O poder parece ser, para a maior
parte dos homens, um vinho
embriagador que lhe sobe à cabeça e
fecha o coração ao outro. Também o
autocrata, prisioneiro de seu autismo,
toma-se, ao nível das comunicações
com os membros de seu grupo, hiper-
irritável, não respondendo senão com
hostilidade a toda tentativa de torná-lo
consciente da existência do outro. Para
ele tornou-se inadmissível que outros
além dele possam ter direitos de existir,
em vez de dispor de sua vida para servi-
lo e votar-lhe um culto incondicional.
' 9E.r..k !lih
2 . A transmissão coletiva explica os bloqueios e as filtra-
gens observados nos membros de
grupos autocráticos. Eis como este
fenômeno tende a manifestar-se. O
autocrata, reservando para si toda
decisão e assumindo sozinho o controle
das estru turas de poder, desencoraja a
liberdade de expr.essão entre aque les
.,,, ú >i.::.l<I:'."" "'"· t ••l.'J.· ;;t..·"'·"'" ·-·-- - · ...-- -· ·.:-..:;; ·.;;: '-"'

84 GÉRALD BERNARD MAILHIOT'

DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 85


DISTANCIAS SOCIAIS E BARREIRAS PSICOLOGICAS
membros das outras camadas passam a considerar que seria
Os bloqueios e as filtragens na comunicação humana tor rebaixar-se consentir em comunicar de modo adequado com
nam-se permanentes e tendem a se cristalizar cada vez que as eles e é fácil imaginar a parte determinante de esnobismo em
relações inter-pessoais são prejudicadas pelos p,r.e.c.unceilo . suas percepções verticais e desvalorizantes do outro (31) .
As distâncias sociais e psicológicas entre interlocutores tendem Distâncias sociais, bloqueios e filtragens permanentes, co
então a se acentuar e a ser percebidas como irredutíveis. municação humana prejudicada ou rompid a de modo
Cavam-se, entre eles, valas que paFecem intransponíveis; definitivo são outros tantos fenômenos que encontram sua
elevam-se barrei ras e fronteiras ,-psicológ[cas que parecem origem em nos sos pr econceitos. Dos preconcei os nascem os
insuperáveis. O outro é percebido como inacessível, isto é, conformismos e a incapacidade de dialogar com o outro. Os
aquilo que se sabe, que se pen.sa, que se sente como teóricos e os prá ticos da dinâmica dos grupos foram os
incomunicável. prim eiros a revelar o fato. Graças a pesquisas astuciosas
Em que consiste a distância social? Primeiro é preciso refizeram por sua conta descobertas recentes da psicologia
distingui-la com nitidez da disJ.mtcJ.fk,[Mi.c.olágica. Esta última social sobre a natureza dos preconceitos . Preocuparam-se
é um Jen2mmQ.. intrn:zgrupo...e ·pode .ser... desc.r:ito.•.assim: sobretudo em verificar e em des tacar as múltiplas implicações
.o..outro.é per,çs;l;üóo....cmno.Jnc.ompatí.vel. Por e.sta razão é destes dados científicos para a inteligência dos obstáculos
mantido à dis tância e a comunicação com ele é considerada fundamentais à autenticidade das co municações humanas ( 2
como impossível ), ( 3) , (14), (16), (42) , (130) . Sobre este ponto as intuições
de ser estabelecida. de Lewin, se por um lado foram supe radas, por outro
A .dis.1<i1Jçia.sacial , ao contrário, é mostraram -se em grande parte de uma just eza notável e
um.te.l+Ôrneno..inter,,,.gr.upo. forneceram à pesquisa experimental suas hipóteses mais
Q.o.u.tr.o••é....mantido.."'à.. distância) a uma distância fecund as ( 99 ), ( 101).
mttansponível , Já se tornara aceito que os preconcei tos consistiam em
,p.elo...".sitnples...fato.._de.,..pei;.tefü.ier ·"·,a-um._gcu.po_difer n . idéias preconcebidas sobre o outro, idéias falsas, fixas, geralmen
Pode tratar-se, segundo os casos, de diferenças culturais, te estranhamente simplistas com relação a certos indivíduos, a
diferenças de classe, de afastamentos seja de níveis certos grupos que os fazem classificar, de antemão, em termos
educacionais, seja de níveis intelectuais, seja de níveis de sempre excessivos. Quando são favoráveis, os preconceitos che
escolarização. O outro é então percebido como estando gam à enfatuação, quando são desfavoráveis, degeneram em in
situado socialmente a uma dis tância inacessível. De fato ele só tolerância em relação ou outro.
é percebido em termos estatís ticos: não é um indivíduo Os preconceitos não são inatos mas adquiridos. Como então
irredutível, mas o representante de uma classe, de um grupo, explicar que mesmo em um clima democrático, os seres mais
de uma camada, possuindo determi nado status, ocupando adultos, mais evoluídos sejam tão pouco capazes de trocas au
determinada função, despojado assim de seu mistério pessoal. tênticas com o outro ? É necessário reconhecer de início que os
A distância social, além de ser o resultado de um processo ', preconceitos existem num grau impressionante e espantoso. Os
de despersonalização do outro, resulta sempre de uma percepção • melhores, os mais lúcidos, os mais preocupados com a justiç a
vertical do outro. Segundo o sistema de valores que prevalece social, os mais dedicados ao respeito pelo outro surpreendem-se
no meio, cer tas funções sociais ou certas atividades humanas ao ceder a preconceitos sob a pressão e a coerção do meio. Por
são valorizadas . Aqueles que ocupam estas funções, ou se de outro lado, é um fato que certos seres humanos são mais pre
dicam a estas atividades, são percebidos de baixo para cima. dispostos que outros a adquirir preconceitos, mais vulneráveis
Eles aparecem ao seu meio aureolados de atributos, de privilé que outros ao contágio e à contaminação sociais. Sua perso
gios ou de carismas, que desencadeiam no meio o êxtase ou o nalidade parece estruturada por determinismos tais que estes
encantamento, quando não o temor reverencioso . Quando, ao seres, uma vez os preconceitos adquiridos, tornam-se incapazes
contrário, uma função social ou uma atividade humana são jul de se liberar dos mesmos. Seus preconceitos satisfazem neles
gadas desvalorizad as em um contexto cultural, os representantes necessidades tão mórbidas que, mesmo em seus momentos de
deste nível ocupacionai são percebidos pelo meio de cima para
baixo, com menosprezo, arrogância ou condescendência. Os
86 GÉRALD BERNARD MAILIDOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 87
posições caracterológicas de base que, em uma situação de frus tração social,
lucidez, a eles se agarram desesperadamente. A resposta mais ou em fase ansiosa, , levam-no a apelar violenta mente para seus preconceitos r
satisfatória a estas questões parece ser o que se segue. um para fugir à sua angústia, contra- i
fato aceito atualmente que JLpreconçeito é :um..sintoma. Como a
toda reação neurótica, o preconceito..é....uma ._,,te,Sp,os.ta..,.a.... m
:um.a. frustração, no caso, .JJ.m.a....tc.ustr.qç{jp .$.QçiqJ. Quando e
ela dá ori gem à ansiedade, a frustração social !l1<. !1Çfüi$lL.e. .m n
algu11s o jQgQ_ Jle_tr.ês..tneÇ,aJ!ism...de defesa, assinalados em t
graus diver sos, em toda expressão de preconceito, a saber: e
ª·generalização
grªmtª'".fü.iID prnYªs -.eJ!l apoio; Q...d§. Qfm:nnto--..ou . a
.a.....descarga
.agressiv.a..sobre.bodes -e;;,piatórios; .a. . raciona1i'Zao...9U a o
...aµto u
justif.ii;.ação.-- Como no caso da frustração individual, os limites t
de tolerância à frustração social são mais ou menos elevados. r
Privados de suas liberdades fundamentais, os seres mais sociali o
zados experimentam uma frustração intolerável. Não é raro vê- s
los regredir, então, a um estágio anterior à sua socialização e
voltarem-se injustamente contra o outro, lançando-lhe julga
q
mentos hostis.
u
Ao contrário, para aqueles que pouco ou nada evoluíram e
socialmente, a menor troca livre ou espontânea com o outro é ,
fonte de ansiedade e causa de frustração. Sentem também cada p
vez a necessidade inconsciente de perceber negativamente o o
outro através de seus preconceitos para melhor defender-se deles r
e mantê-los à uma distância segura. Nestes últimos, não se r
trata de uma regressão ocasional a um estágio mais primitivo de
a
sua socialização, mas de uma fixação ou de um d esvio caracte
z
rológico de sua evolução social, tendo seu limite de tolerância
õ
à frustração social, permanecido muito baixo.
e
.Q ..aÃ!ll to .s.ociaLnão cede temporariamente aos
s
preconceitos
de seu...ro.eio ..senão ..por ....privação ..de_liberdade. O débil ..
social, e
·ªº çogtrái:io, pennanece prisioneiro.. de.... seus :m:econçeitos- q
u
por i
medo...da.Jib.erdade. Como em todo nevrótico, seus sintomas, v
no caso seus preconceitos, permitem ao débil social controlar a
sua l
ansiedade ou dela escapar cada vez que lhe é necessário afron e
tar o outro em zona de livre troca. O preconceito proporciona n
ao medo do outro uma tranqüilidade precária, provisória, mas t
adquirida tão penosamente que o indivíduo se torna incapaz de e
a ela renunciar e recorre à mesma de modo compulsivo. s
Especificamente,, em que a alergia crônica ao outro se dis ,
tingúe das outras nevroses? Quais são, nesta nevrose, as predis a
f undam-se na depressão ou se ref ugiam na obsessão ..d©sta '8ociedade. _..gruQ9 ,_..f9ilstit1.ü...um_elem:ç:g.és1âtiê0:
ou na simulação histérica? Foi neste ponto específico .:ga::
que as hipóteses de Kurt Lewin, pondo em i;; .is.talizaç.ã.o,.._a_tt1,<ç:ã..o...,.,....a".escl.erose..J:las.
correlação o grau de aber tura das comunicações em estru1ura.s p
um meio com o estilo de autoridade que nele prevalece .:?.Qciais. Compràz-se com o statu quo mais retrógrado, mais H
(71 ), inspiraram de rriodo deciivo as pesquisas da reacionário, na medida em que nele se sente integrado e aceito. if,
psicologia social. Elas mostraram de modo concludente
que .o.s....ser.cs_ mais....p.r.ec.on I
'!.
\

.c.eituosQs, aqueles que o são em estado


caracterológico, não de modo situacional, aqueles
í!
[i
diªgtlQ.§tiçªgQs..-.a.ciJ.na .__ÇQffio...;d.b.eis .
.soG-iais,_.t€,m--todos..uma.personalidade deJiflo-
i
auJ.oLitárJg, Exter- namente, eles são
.i::econhecidos-.p.elos....es: desde que constituídos em
autoridade, tudo lhes serve como pretexto para
afirmar sua autoridade, para dela abusar da maneira
mais arbitrária, tão grande é seu medo de perd er seu
domínio sobre aqueles que dirigem . Se, ao contrário,
não possuem nenhuma autorid ade sobre quem quer
que seja , atingir um status de autoridade lhes aparece
então como o supremo bem . Parecem igualmente
dispostos a recorrer a tod as as intrigas e a mostrar
as mais baixas servidões para satisfazer sua ambição
de poder, esperando, então, estarem em condições de
controlar suas rela ções com o outro e poder
manipular os outros à sua maneira.
-ªI.iL-o auto.dtário, . Jecc :a ..-ªutoridade é;
a...maneira maiiy..-segur-a·
.de..escapar--.ao-.seu..m.edo..... d.o.-D.u1m•.
Q_ .au10.ritári.o ..é.atingido...pelS1..iob.ia..do,,.a.
u.tt:o. Ele não pode aceitar nem tolerar que os outros
sejam diferentes dele. Toda diferença no outro,
diferença de idade, de sexo, de cultura ou de

l
religião o pertuba e o inquieta. Mas como explicar
seme lhante deterioração do sentido social? Pesquisas
recentes mos traram ( 130), o que constitui um
paradoxo, que ..CL..a.u.toütário
é..JlQ.l,.&or:tt9nll §liJ. Contrariamente ao p.s.if oJ,la.ta..Qu-
.H11 ª:.§.Qf!ª-!
ou ruLrl<.Yollad.o.•.Q.uLé.•.um .anti:o.c.ial,
.o..autor.itátio.. é.... um.... gre
gtJ,r..io...ÇJJja... soc:;ial.iiaçã.Q .Jlã.o...s.e._i: alizo"\L.to
alroentf(" O autoritá
"' rio nunca atingiu o nível do altruísmo. Seu
conformismo social trai seu medo do outro, seu
pânico dos n.iais fortes. Ela não é,
como no adulto social, a expressão de seu respeito
pelo outro.
.P.assiYfüfltõn!e, . Q. JlJJ.torüário .conf9!_11<l .se com---
todas... as ..pressões
.s.o.ciais. Ele...adot ?:.... sp0ntaneameJJ,te ..()S mitos e
. os estereótipos
88 GÉRALD BERNARD MAILHIOT

O autoritário revela-se à análise como um ser em quem os


instintos de simpatia não triunfaram dos instintos de defesa. Seu {_;,
-
medo do outro é no fundo um medo de si. Ele se recolhe, isola-
se e se recusa a· todo contato, a toda troca, por causa do vazio de
sua vida. :B incapaz de doar-se ao outro porque não tem nada a
dar, não tendo nunca conseguido possuir-se. :b para camuflar sua CAPÍTULO SEXTO
impotência e sua esterilidade que lhe é necessário parecer
agressivo, arrogante, intratável com o outro. O autori
tário não perderá sua arrogância e não deixará cair suas másca
O APRENDIZADO DA AUTENTICIDADE
j

ras seno quando for surpreendido por uma sacudidela coletiva


ou quando sofrer um trauma pessoal.
Do conjunto destes dados, impõe-se uma conclusão:
Kurt Lewin teve o mérito de ser o primeiro a formular as
.mull três hipóteses seguintes :
c.h gar...Jlq. ._ê.ltrl!ímQ_. e.tornar,,,se capaz de abertura em suas
co-
rnm:üçªç§es hqgia!l(l§,......Q.. setJrnmªnQ, 9.l.1;<1 9.!}.SL..9J1C, §C,ÍfL.§eU . 1. A integração não se realizará no interior de
grau um grupo e, em conseqüência, sua criatividade não
.de--soGializaçãu,_de.v.,e líher:are-deslLfalsª- poderá ser duradoura, enquanto as relações interpes
_c;i.Qs._ cssãg_ jl.sê•.que...só soais entre todos os membros . do grupo não estive
.aqueles.. que---nos....parecem .semelhantes .. nos., são..próximos . . e....
0
rem baseadas em comunicações abertas, confiantes
que e adequadas.
p.a.i;a...serem"fa:aternais....conosco,..os
outros...dev.,ern...s.e.L.idênticos.. a 2 . A capacidade de comunicar de modo ade
.nós. •S-o...primeü:n. .p.asO..Jlo. apren\.ii#ªclo... da . autenticidade. quado com o outro, de reencontrá-lo psicológica-
.., mente e de com ele estabelecer o diálogo não é um
dom inato mas uma atitude adquirida por aprendi
zado. Somente aqueles que aprenderam a abrir-se
ao outro e a se objetivar a seu respeito tornam-se
capazes de trocas autênticas com ele.

3 . Não é senão consentindo em questionar seus


modos habituais de comunicar com o outro e suas
<"' atitudes profundas a respeito do outro, que o ser
humano pode descobrir as leis fundamentais da co
municação humana, seus requisitos e seus compo
nentes essenciais, as condições de sua valiade e de
sua autenticidade.

Ao formular estas três hipóteses Kurt Lewín permanece


fiel à sua concepção da pesquisa-ação, tal qual foi explicitada
no capítulo IV. Tornando-se ao mesmo tempo agente e objeto
de mudança, o ser humano coloca-se em uma perspectiva ideal
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 91
90 GÉRALD BERNARD MAlLHIOT

vividos por seus respectivos grupos. Contrariamente à


para descobrir e compreender as leis dinâmicas da mudança experiên cia do ano precedente no M.I.T., a fonte de
que se opera nele e em torno dele. O aprendizado da autentici aprendizagem não é constituída exclusivamente pelo que
dade interpessoal exige duas condições: acontece - aqui e agora
-- entre eles, de inter·-ações e de relações interpessoais.
1. . O desejo de questionar e de atingir o Kurt Lewin, entretanto, preconiza desde o início da expe
modo mais adequado de comunicação com o outro; riência, manter com seus colaboradores sessões de diagnóstico
2 . lJm clima de aprendizagem propíci9 ao cres onde, juntos, tentariam avaliar o que viviam como aprendizagem
cimento e ao aperfeiçoamento humano. de modo a acelerar o processo da mesma entre eles e entre os
outros participantes. Os outros participantes, no início, não
Lewin, como lembramos no capítulo precedente, tentara deveriam ser admitidos nestas sessões de auto-avaliação. Vários
provocar este desejo e criar este clima, convidando seus próprios participantes dos outros grupos insistiram entretanto em assistir
colaboradores a se reencontrarem com ele em sessões de grupo a estas sessões a título de observadores. Lewin consentiu, su
durante as quais, juntos, fazendo abstração de suas pesquisas e pondo instintivamente que o pesquisador teria muito a ganhar
de seus trabalhos, tentariam aprender a melhor comunicar-se com o fato.
entre si. O efeito sobre os participantes-observadores foi inesperado.
A possibilidade de ter acesso periodicamente a avaliações de
PRIMEIROS CENTROS DE APRENDIZAGEM suas intervenções e de suas interações nas sesc;ões de aprendiza
gem do dia, permitiu-lhes objetivar-se a respeito de seus pró
A experiência de grupo vivida por Lewin e seus colabora prios comportamentos em grupo. Sobretudo caíram por terra
dores no M.I.T. situa-se em 1945. Em 1946, durante o verão, suas apreensões de serem manipulados por aqueles membros
uma segunda experiência é tentada no campus do "State Teachers percebidos como experimentadores, assim como suas resistências
College", situado na cidade de "New Britain" , Connecticut. Trata- e suas defesas com relação à aprendizagem em curso. A partir
se tipicamente de uma pesquisa-ação, estruturada em con formidade deste momento eles se tornaram capazes de descobrir o que
com as opções e os esquemas metodológicos, prepa rados por permite às comunicações estabelecerem-se em grupo, o que neles
Lewin. Três grupos colaboram neste projeto : a "Co missão Inter- e em torno deles pode constituir um obstáculo. Puderam então
racial do Estado de Connectieut'', um grupo de ação descobrir pouco a pouco as leis essenciais da gênese e da di
igualmente composto de educadores e de professores; e um grupo nâmica dos grupos.
de pesquisadores do "Centro de Pesquisas em Dinâmica dos Esta experiência de "New Britain" mostrou-se suficiente
Grupos" do M.I.T. O objetivo que impulsiona os dois grupos mente rica em implicações para incitar aqueles que a tinham
de ação, ao participar desta experiência, é o de aprender a vivido a retomá-la no verão seguinte e vivê-la em maior pro
assumir suas responsabilidades coletivas de modo mais fun cional fundidade, a partir de objetivos mais explícitos e melhor inte
e mais eficaz. Kurt Lewin e sua equipe de pesquisado res, ao grados. Um local foi escolhido, o "Gould Academy'', um colé
participar desta experiência, esperam verificar e com pletar gio para adolescentes, situado na pequena cidade de "Bethel",
algumas das descobertas feitas por eles no ano precedente sobre os Maine. Este lugar onde deveria ocorrer, em cada verão, as
modos de comunicações interpessoais mais favoráveis ao sessões de aprendizagem em dinâmica dos grupos, iria tornar-se
funcionamento de um grupo de trabalho. internacionalmente conhecido. Desta vez Lewin conseguira in
Os participantes desta experiência são em número de trinta. teressar vários psicólogos sociais de outras universidades ame
Mantêm juntos sessões de grupos, que consistem em discussões ricanas, entre outras: a Universidade de Colúmbia, a Univer
de grupo e em grupo, durante as quais os participantes se iniciam sidade Cornell e a Universidade da Califórnia. Importantes
no jogo do papel, como técnica de descongelamento de suas subvenções haviam sido concedidas pelo "Of fice of naval re··
comunicações intra-grupo. Os temas de suas trocas são quase search" para financiar este projeto. Infelizmente Lewin morreu
exclusivamente problemas de estruturas ou de funcionamento na primavera de 1947, privando assim os organizadores deste
l(..$. .='" "

DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 93


92 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
e, de outra parte, o T.G. ou o "Training group" no qual os
projeto de sua melhor inspiração. Três colaboradores de Lewin, participantes são convidados, em relação exclusivamente ao que
K. D. Benne, L. P. Bradford e R. Lippitt substituiram-no no se passa entre eles aqui e agora a se socializar tornando-se mais
momento do planejamento da sessão. Ela devia constituir, es abertos ao outro, mais acessíveis e mais receptivos às interações
tritamente falando, o primeiro atelier de aprendizagem em di que se fazem entre eles. A partir deste momento, em Bethel,
nâmica dos grupos. o T.G. vai tornar-se o instrumento de aprendizagem fundamen
Esta sessão durou três semanas. Os participantes viveram tal em dinâmica dos grupos, de modo que logo o S.G., embora
sua experiência em dois contextos de aprendizagem distintos. permanecendo dissociado do T.G., será cada vez mais utilizado
Como no verão precedente, cada par ticipante era membro de em função da experiência vivida pelos participantes em T.G. e
um grupo de discussão, onde eram debatidos sobretudo os pro não como fora concebido originalmente por referência aos gru
blemas concretos e reais com os quais se haviam confrontados pos reais aos quais pertenciam os membros.
nos respectivos grupos em que trabalhavam habitualmente. Cada
grupo de discussão contava com um observador enca!regado de ESQUEMAS DE APRENDIZAGEM
observar os incidentes críticos na evolução do grupo e em suas
discussões . Além disto, em determinado momento, cada grupo Os teóricos e os práticos da dinâmica dos grupos, com
de discussão se transformava, com seu observador, no que os algumas excessões, consideram pois o "T-Group" como o con
organizadores chamaram : "Basic skills training group " e que texto de aprendizagem mais válido para o ser humano que aspira
poderia ser traduzido por: um "grupo de treinamento ou de tornar-se autêntico em suas relações interpessoais.
formação das técnicas de base". No B.S.T.G. o observador tor Em que consiste essencialmente o "T-Group"? Gostaría
nava-se animador informando o grupo sobre suas observações, mos de sistematizar aqui o que pode ser considerado como uma
recolhidas em grupo de discussão, depois convidando os mem aquisição sobre o "T-Group" depois de ter sido utilizado durante
bros a procederem a uma auto-avaliação de seus comportamen dez anos como a técnica fundamental de iniciação à gênese e
tos, de suas interações e de seus modos de comunicação. O à dinâmica dos grupos. Com esta finalidade referir-nos-emos
observador-animador devia sugerir conforme a necessidade, o de modo explícito aos trabalhos de J. Ardoino ( 3), de W. R.
recurso ao jogo do papel, consider ado então como a técnica Bion (17), de L. P. Bradford, J. R. Gibb e de K. D. Benne
mais válida de aprendizagem da autenticidade , para favorecer (19), de T. Gordon (37), de M. Pages (121), de A. de Peretti
assim a revisão crítica das comunicações existentes e a sensi ( 126), e E. H. Schein e W. G. Bennis (136) e de A. A. Schüt
bilização para relações interpessoais mais funcionais. zenberger ( 138). Tentaremos operar uma síntese dos dados
As sessões em dinâmica dos grupos em Bethel, de 1948 a definitivos que os teóricos nos legaram sobre o T.G., integrando
1955 inclusive, conservaram mais ou menos as mesmas estru nesta síntese o que nossa própria experiência de profissional da
turas e fizeram apelo aos mesmos instrumentos de aprendizagem, dinâmica dos grupos nos ensinou sobre as condições mínimas
a saber: o grupo de discussão e o B.S.T.G. A partir de 1956 e necessárias para que uma experiência em T.G. inicie a apren
novas orientações se manifestaram. As sessões tornaram-se la dizagem da autenticidade interpessoal.
boratórios, os participantes eram, em consequência, convidados
a experimentar novos tipos de comportamentos em grupo, novos 1. Como traduzir "T-Group"? Alguns autores sugeriram
modos de comunicação, novas atitudes fundamentais em relação "grupo de diagnóstico", outros "grupo-centrado-sobre-si-mes
ao outro. O grupo de discussão como tal foi abandonado como mo". De nossa parte preferimos a expressão "Grupo de forma
contexto de aprendizagem . O B.S.T.G. foi repensado . Os orga ção", de modo, em prin{êiro lugar, a dissociar mtidamente
nizadores dos estágios decidiram dissociar a iniciação às téc dinâmica dos grupos e terapia de grupos. Literalmente o termo "T-
nicas de grupo da sensibilização para relações humanas. O Group" deveria ser traduzido por "grupo de treinamento". Mas a
B.S.T.G. sofreu uma transformação para tornar-se de uma parte, expressão "grupo de formação" nos pareceu, finalmente, aquela que
o S.G. ou o "Skill group " no qual os parricipantes aprendem comporta as conotações menos equívocas e menos
técnicas de ma nejamento dos grupos e de participação em grupo
94 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GNESE DOS GRUPOS 95

ambíguas para o participante: A maior parte daqueles que se .CQ.!<&Yir",S.1<.gundQ, .a_a niãn••de..,todas... sensibili ªt.. Q
inscrevem em um estágio de dinâmica dos grupos chegam com ·Pattici.
apreensões, mais ou menos fantasistas, a respeito do que os p.an.t§..J;tar.a_r.elaçõ.es-illter.pessoais...e4.assim ,tQu.lá,,t.os,_,eOll§,ciçJ.
espera. Uma destas apreensões pode comprometer a validade ltJ?
da experiência. Os profissionais devem ter a preocupação de ·dus.",p_i;,,çç_ - l<l,.lliif:.Q.t9gLs,g,§_ nU2&.2.,.n9-. Ü !J.s1º11ªJil.J1t2.gg§
eliminá-las o mais cedo possível. Esta apreensão, experimentada .gtY.:
por vários, senão por todos, no início do estágio é a seguinte: - Este objet1vo principal a ser alcançado dá um sentido ao
eles temem ficar à mercê dos psicólogos, servir de cobaias entre que pode parecer arbitrário nas estruturas consideradas como
suas mãos e deste modo serem manipulados para fins experi essenciais à validade de uma experiência em grupo de formação.
mentais. Para muitos, reencontrar-se em grupo de formação
parece-lhes menos ameaçador do que participar de um grupo 3 . Falar de estruturas a propósito do grupo de formação
de treinamento ou de diagnóstico. Daremos preferência ao presta-se a equívocos, pois ..Q..,grl!.RQ=.9.,e,J ;u;nM.
rmG-!.'..grupo...de..Jor,maç-ão" toda vez que, durante este capítulo, essencialmen
ttatarse,,,,,Qe . T-Gi;oup".
te, uma situaçã de grupo ,,§. fil.,,s.txutw:9:· Hlf. B:§(fças.
Retornare mos ao assunto inais adiante. No momento trataremos
2 . Para que uma experiência em "grupo de formação"
de es truturas extrínsecas.
seja válida, é preciso que ela se estruture em função dos
objetivos fixados originalmente por Lewin para este instrumento
de aprendizagem. Kurt Lewin não concluiu o "T-Group". Mas A . Quanto à dur.açoo,. uma experiência em
suas próprias descobertas o haviam levado, gradualmente, a for grupo de formação deve comportar _\U'll.Jnínimo--
mular desde 1945 !J:ês.-.objetiv.os...par:a ..•uma .. de YllliJwr.as_de..sessões, sendo_ ,<) . i?eal quªrenta
aprendizagem-..em. .horas.
.r s:.laçõs,,J:i.Mm9.: as ( 99 ) : B . Quanto ª..2.....!:!úmew.,,.de."..par.ticipantes, um
grupo de formação deve contar um
1. Dferer..aos .par.ticipantes,,..uma.....experiê.ncia JllÍD.iillo.•.de_,de;i.,-. participantes e
em....&r.Y.P,Q. ._.tes.tilio,-Úmco .CQl}te.x.to_,no .Y.m..máximo....de...Y-inte , sendo _ojd.aL .
'".interiorw...do. qual....ªs.. E.! ç§,Ç.§ .de_c;l ..9-'1.ulllze.
l:i1:1.g?;ªI1'1s...d.e......t.odos ....os ...membros.....po-
.dem - se. estabeleçe.r sobre uma,..base - interpessoal; e. Quanto .à., Ç,Qmpos.iç.:ão.•..dos. .pai;ticipant.es,
2 . .Qfete(;er ...... a.os par.ticipantes . ...uma .. as pesquisas sobre este ponto estabeleceram que
QY.rullO..
.expe.riência de.-grupo_. .mai.Jlete.r.ogêueo.,,..a....g.i:up.o..maiores.....as._possibilidades
centrada_sobre,,.a...GomuniGação _humana .e
suas...exigências,..de autentic·ictade; .de...apren.dizagem. Sobretudo, quanto mais
diferentes os tipos de trabalho e de vida dos
3· Oft.SJ1fli1L.?.:2..J?.ITT: çJpfil!.te .-.Yillâ:_. J.C participantes, mais lentamente decorre a experiência,
pi;;dência ..dg . gr.upo .9.Mrnnte.. a..m.:ml...su.as. ..ri;cla1 mas, por outro lado, há mais possibilidade para que
ões..J;;.om o clima de grupo favoreça as comunicações abertas
..éls. figuras . d.e .aJJJoridade poderiam. (f Yoluit e confiantes entre os participantes. Uma experiência
e..Jornar;;s.e em grupo de formação, tentada em meio homogêneo,
.mais autônomas.. Com assinalamos antes, os con
por exem plo, no interior .de um mesmo ambiente de
flitos com a autoridade são considerados por Lewin
trabalho, arrisca ficar muito cedo comprometida pela
como a fonte mais freqüente de bloqueios e filtra
apreensão de eventuais represálias da parte daqueles
gens de comunicação no interior dos agrupamentos
partici pantes que reencontram, depois da
humanos.
experiência, um estatuto de autoridade no meio.
Com o tempo estes objetivos definidos por Lewin foram D. Quanto ao S:..Qlltt:X.(a ..es.p.acio.-:temparal da
se tornando mais precisos e claros. Atualmente eles são apre .experiência, é importante que seu .início..... .Sell-Â.t
sentados em termos que variam segundo os autores, mas no ..mirn;L§.e.tam .PI(fYistos, que....os...momentos ... e. a-·duração
essencial se reencontram. Assim, o ".g.i:up,.o..de formação" rle .c,a.da..§.í<§-ª'ç;t,jª1JJJixados, ""'!ue a... .experiência_sej.a
.de.x.e .Yivida.,em..um ..mesmo,,lugar.....deter.minado... .e. .r.eser:vado
.ao... Q...P..'!Ul...ª-liumção..jnteira
da...experiência.
96 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GNESE DOS GRUPOS 97

4 . ().. grupo de. fonnação não é estruturado. senão . 7. Por outro lado, os responsáveis pela experiência devem
de...fow. Pois .. ele dçfine:se para ..... os... .participantes ... assumir certos papéi,s-chaves pe modo a criar um clima de
essencialmente..... com.o. crescimento e de aprendizagem . Estes papéis são:
!lfllª . s.ituação de . grupo.....sem......e.struturas .......i.nternas,........sem.....tarefas . a.
rnalizar,..... sem....autoridade r00onhecida, o grupo de formação A . Assumii o papel de catalisador, por suas
não é um grupo de trabalho centrado sobre uma tarefa a rea atitudes de presença ao outro, de respeito aos ritmos
lizar; não é um grupo de discussão com temas a explorar, pro e momentos psicológicos de cada um, de abertura e
blemas a resol:Ver ou a debater. de acolhimento a toda tentativa de expressão de si,
de aceitação das dificuldades que sentem alguns par
5 ...Qs p g-! çip:l!ltt.;s . .s() convidad.o.s pelos responsáveis, ticipantes ao se defrontarem com novos modos de
desde o .. início da. expedênçia, . a. ...se ...percçber ....como.. comunicação com o outro. Tornam-se essencialmen
posµÍJ1do todos ... um status de·<igualdade···enquanto .. te catalisadores para o grupo na medida em que
dure.......a.<.aprendizagero. Devem, pois, o mais cedo possível, conseguem criar um clima de confiança total entre
deixar cair suas máscaras e despojar-se dos personagens que a os participantes. Por seu próprio estilo de interven
sociedade os obriga a repre sentar na vida real. Não estando ção ele ensinará aos outros a prática da liberdade de
submetidos a nenhuma autori dade, nem constrangidos por expressão no respeito ao outro.
nenhuma estrutura, nem pressio nados por nenhum prazo,
devem considerar-se livres para dis por, à sua maneira, das horas B. Além disto, devem tornar-se a consciência
e a memória do grupo . Os responsáveis assumem
que durará a experiência, tentando se comunicar entre si, para estes papéis complementares e no momento que lhes
além dos status, daf f unções, das situações privilegiadas que parece indicado, isto é, quando percebem o grupo
habitualmente ocupam em seus grupos respectivos, isto é, como receptivo ou quando alguns participantes dei
comunicar entre si, de pessoa a pessoa, e não mais de xam de colocar-se na defensiva, tentam descobrir a
personagem a personagem. Para facilitar este clima de liberdade, significação psicológica daquilo que vivem no nível
e de espontâneidade de expressão, alguns práticos da dinâmica inter-pessoal. Assim, por referência exclusiva ao
dos grupos preconizam mesmo que se estabeleça como regra o vivido, os participantes descobrem ó que neles cons
uso exclusivo do modo familiar de tratamento entre os titui um obstáculo, no momento, às suas comunica
participantes. ções, isto é, as fontes de bloqueio e de filtragem que
os impedem de estabelecer entre eles relações total
6 . Os profissionais responsáveis pela experiência (eles mente autênticas.
devem ser dois, de preferência, segundo a opinião da maior
parte dos autores ) , contrariamente às expectativas do grupo, C. Mas o papel fundamental que os respon
devem recusar-se a representar certos papéis tradicionais e assim sáveis devem assumir é o de agente de farmação.
desencorajar toda relação de dependência que o grupo queira Por uma presença profissional nos esforços, aspira
estabelecer com eles. Estes papéis são os seguintes: ções e motivações dos participantes para crescer e
aperfeiçoar-se, no plano de suas relações interpesso
A. Devem recusar-se a assumir o "leadership " ais, eles conseguem tranquilizar suficientemente os
do grupo, não delegando tarefas nem sugerindo temas participantes, facilitando revisões críticas que liber
de discussão. tem neles sua tendência fundamental à atualização
B . Devem recusar-se a ser o conselheiro do de si. Para se. tomarem agentes de formação adequa
grupo, isto. é, não orientando o grupo nem prçvenin dos, não lhes é suficiente ser permissíveis e tranqui
do-o dos tropeços contrários ou fatais à sua evolução. lizadores, será necessário além disto, pela qualidade
de sua presença verbal e não verbal a cada um dos
C . Enfim, devem recusar-se a servir de agente participantes , tomarem-se modelos de autenticidade
de informação para o grupo, o que significaria, no interpessoal.
caso, interferir com exposições ou considerações
teóricas.
98 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 99
INSTRUMENTOS E truturados de modo a favorecer ao máxímo as transferências de
TRANSFERf:NCIAS DE APRENDIZAGEM aprendizagem.

As implicações e as possibilidades de aprendizagem ofere 1. Cada estágio tem uma duração de duas semanas, mais
cidas pela iniciação a certas técnicas de grupo como o "Jogo exatamente de dez dias cheios, sendo as duas semanas separa
do. papel" foram logo percebidas e destacadas pelos primeiros das por um fim de semana livre de quarenta e oito horas. O
teóricos e práticos da dinâmica dos grupos. Desde o primeiro número de participantes admitido é de sessenta em cada estágio.
no New Britan, realizado quando Lewin vivia , o "jogo Os participantes devem comprometer -se a viver a experiência
inteira em internato, de modo a constituir entre eles o mais
do papel" havia sido utilizado como técnica de descongelamen to
cedo possível uma ilha cultural, elegendo suas normas próprias
dos conflitos e das tensões que prejudicavam as comunicações
e seus próprios valores, fixando suas próprias atividades, orga
entre os participantes.
nizando seus próprios lazeres.
Entretanto não foi senão dez anos mais tarde que os res
ponsáveis do N.T.L. ( National Training Laboratory ) decidiram 2 . Um mínimo de doze psicólogos profissionais especiali
dissociar a iniciação às técnicas de grupo em "S-Group" e a zados em dinâmica dos grupos vivem a experiência inteira com
da comunicação em "T-Group". Formularam os participantes, também em regime de internato. Alguns outros
entào a hipótese de trabalho, logo verificada, que se operariam especialistas em dinâmica dos grupos vêm, por sua vez, jun tar-se
tra nsferências de aprendizagem e que espontaneamente os par a este núcleo permanente e reencontra r os participantes seja
para exposições teóricas, seja para demonstrações de técnicas.
ticipantes, no momento do bloq ueio em grupo de formaçao,
recorreriam às técnicas adquiridas e aprendidas em "S-Group". 3 . Desde o início do estágio a tônica é colocada sobre
Assi m seriam evitados vários riscos que comprometeriam a evo- o vivido e os participantes convidados a engajar-se o mais cedo
da situação de aprendizagem em grupo de formação. possível na experiência. Nos grupos de formação, os partici
Entre outros, o fato dos responsáveis correrem o risco de no pantes passam a maior parte do tempo: de três horas e meia
i nterior da mesma situação de grupo, assumirem papéis a um a quatro horas por dia. Os sessenta participan tes são divididos
tempo diretivos de iniciadores, de demonstradores de técnicas, em cinco grupos de formação, de doze participantes cada um,
e papéis não-diretivos de catalisadores bem como de memórias sob a responsabilidade em cada grupo de dois profissionais .
do grupo e experimentarem desta maneira conflitos de papéis.
Estes conflitos de papéis podem ser prejudiciais a alguns par 4 . Diariamente os participantes se reencontram em grupos
àqueles sobretudo que tentam questionar e modificar de trabalho. Estes são constituídos de sete ou oito participantes.
suas relaçôes com a autorid ade. Suas imagens e suas percepções O horário prevê uma sessão de grupo de trabalho de duas horas
de resoonsáveis permissíveís e tranquilizadores d as quais teriam para cada um dos dez dias de estágio. Estas duas horas são
para evoluir, podem ser perturbadas pelo fato de, consagradas à solução de problemas em grupo. Cada sessão é
responsáveis, tornarem-se a seu respeito agente seguida de uma meia-hora de auto-avaliação durante a qual,
e de condicionamento no momento da iniciação com a ajuda de um profissíonal, os participantes fazem uma
às técnicas de grupo. auto-crítica de seus comportamentos e de suas atitudes em grupo
durante as duas horas que precederam. O objetivo das sessões
Nos estágios de formação em dinâmica dos grupos, organi em grupo de trabalho é iniciar e sensibilizar os participantes nos
zados conjuntamente pela secção de Psicologia Social do De processos de funcionamento de um grupo de trabalho.
partamento de Psicologia da Universidade de Montrea l e a
Sociedade Canadense de Dinâm ica dos Grupos, esta hipótese foi 5 . Dos dez dias, cinco são dedicados às sessões plenárias
rf'tnm::id:i í'. i;;;.n:.t <:.: ln1n1 i rr,":\r:.ç_ PYl"'\.lnr'.' rL1<:: -111 m!lv in10 l-:'c t··1 P -1 _ ,..,, _4-:,.,. -.... -'- ,..,_ ,., ,.., ,..,_ ..,.,..,..,_ _,, --..-- 4.. - ....l - = -"" _,... _"'
,......,.. ,..t,,... ,...,,,.., ...,, ,.....,.,""',.., ...... "",....
d
100 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 101
inter-pessoal e inter-grupos, as barreiras e as fronteiras psicoló
gicas à comunicação humana, os mecanismos psicológicos de rir o domínio de certas técnicas de grupo, sem se engajarem pes
discussão, de negociação e de decisão em grupo de trabalho. soalmente na experiência, arriscariam perder o essencial da
Os sessenta participa ntes subdividem-se, em seguida, em seis aprendizagem da autenticidade interpessoal. Tivemos a oportu
grupos de discussão, constituídos cada um de dez participantes nidade de observar, por várias vezes, o seguinte: os participantes
e de um membro do pessoal como animador, para explorar as que não se implicavam pessoalmente senão em grupos de dis
implicações e as aplicações dos dados científicos expostos. cussão e em grupo de trabalho, interessados tão somente em
enriquecer seus conhecimentos ou em se iniciar em técnicas,
6 . Nos outros cinco dias, os sessenta participantes reen retornavam geralmente ao seu meio ao mesmo tempo mais in
contram-se novamente em sessões plenárias, desta vez para ex tolerantes e mais eficazes manipuladores do que nunca. Suas
posições sobre a racionalidade de certas técnicas de grupos novas categorias mentais lhes permitiam pronunciar em seu meio,
como o "jogo do papel", o sociodrama, a clínica dos boatos, o em nome da dinâmica dos grupos, julgamentos peremptórios e
sociograma de par ticipação, a consulta em díade ou tríade. Estas assim acentuar seu dogmatismo com respeito ao outro. Do
exposições duram no máximo quarenta e cinco minutos e são mesmo modo a aprendizagem de técnicas de grupos lhes per
seguidas por ateliers de aprendizagem nos quais os participantes mitia, sob pretexto de uma organização mais funcional, melhor
se reencontram em pequenos grupos, mais restritos ainda que os camuflar as manipulações de seu meio.
grupos de trabalho e de discussão. Eles podem, assim, iniciar-se
concretamente nas diferentes técnicas e explorar vivencialmente 1O . A experiência nos ensinou: não é senão em grupo de
suas possibilidades bem como as implicações para o trabalho formação que os participantes podem questionar suas atitudes
ou a vida em grupo. profundas em relação ao outro. Seus comportamentos em grupo
7 . Diariamente os participantes vêem filmes didáticos que só se tornarão mais funcionais, suas relações interpessoais mais
ilustram certos dados fundamentais sobre a dinâmica e a gênese autênticas, se eles aceitarem e consentirem em crescer e em se
dos grupos. Alguns longa-metragens são mesmo utilizados com aperfeiçoar no plano de suas motivações. Suas percepções po
esta finalidade, como por exemplo "Doze homens em cólera" dem evoluir e tornar-se mais objetivas, suas concepções dos
com Henry Ponda como intérprete principal. Após o filme os grupos mais científicas, sua habilidade técnica mais eficaz mas
participantes são convidados a se reunirem em pequenos grupos seus comportamentos em grupo e de grupo, na realidade, só
de discussão. deixarão de ser individualistas, quando sua socialização tiver
atingido o estágio do altruísmo. Somente o grupo de formação,
8 . As exposições teóricas, os filmes didáticos, as discussões presentemente, proporciona esta necessária catarse aos partici
em pequenos grupos têm como objetivo oferecer aos participantes pantes que nele se implicam e se engajam ao nível de seu eu
um conjunto coerente de dados científicos sobre a psicologia dos profundo. :B sobretudo nele que as transferências de aprendi
grupos. A assimilação destes dados lhes permite objetivar suas zagem têm possibilidade de se realizar. Os participantes des
percepções com respeito aos fenômenos de grupos, sua gênese cobrem pouco a pouco que os dados científicos, para os quais se
e sua dinâmica. Eles podem assim liberar-se mentalmente de sensibilizaram durante as exposições e cujas implicações explo
mitos e de clichês que poderiam prejudicar suas expectativas e raram em grupo de discussão, servem de aparelhamento mental
suas aspirações a respeito do coletivo e do social. A iniciação para assimilar de modo vital suas experiências em grupos de
às técnicas de grupos, sobretudo a esta técnica fundamental que formação. Do mesmo modo, as técnicas em que se iniciaram
é a solução de problemas em grupo, permite por outro lado tornam-se instrumentos preciosos para acelerar suas aprendiza
que os participantes adquiram os instrumentos necessários ao gens de comunicações mais adequadas com o outro. Enfim, é
manejamento dos grupos. esta experiência, para alguns a primeira na vida, de relações
9 . Os participantes que se contentassem em completar sua autênticas com o outro, vivida em grupo de formação, que gra
informação científica sobre a psicologia dos grupos e em adqui- dualmente polariza todas as aprendizagens feitas durante o está
gio. Em grupo de formação, a integração destas aprendi-
102 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 103

zagens opera-se geralmente em uma síntese viva e se exprime seus comportamentos em grupo. Estes quatro testes foram
por um maior desejo de autenticidade interpessoal. escolhidos com o objetivo de obter um conjunto de dados com
plementares sobre cada participante. Os resultados destes testes
11. . Enfim, ao articular o programa e as estruturas são comunicados aos participantes de um modo sintético e cons
de nossos estágios, preocupamo-nos em favorecer não somente tituem, para cada um, o perfil social de sua personalidade.
a transferência das aprendizagens atualizadas dura nte o Estes testes são os seguintes:
estágio mas também as transferências de aprendizagem para as
situações concretas que esperam os participantes, após o A . O R.G.S.T.
estágio, em seu retorno aos seus grupos respectivos.
O primeiro teste que os participantes devem fazer a partir
A passagem de grupo experimental ao grupo real é prepa
das primeiras horas do estágio é o teste de Herbert Thelen, da
rada na véspera do último dia do estágio por encontros em pe
Universidade de Chicago, o "R.G.S.T.", que poderia ser tra
quenos grupos entre os participantes e os profissionais respon duzido: o "teste das reações às situações de grupos" (113).
sáveis pela experiência. Para estes encontros é reservado um Este teste consiste em frases a completar, referindo-se todas às
horário de meio dia, isto é, mais de três horas. Os participantes
situações de interações em grupos de trabalho. :E: essencial à
são convidados a se reunir por grupos de ocupação e a explo
sua validade que ele seja frito antes que o estágio comece; ou
rar com os membros do pessoal presente, os meios de transpor, seja, antes que os participantes sejam "contaminados" mental
nos grupos reais aos quais pertecem, o que aprenderam durante mente pelas exposições teóricas sobre "as estruturas e a dinâ
o estágio. Tentam também discutir em pequenos grupos as im mica dos grupos" de trabalho. De outro modo os participantes
plicações e as , aplicações de sua experiência vivida com refe arriscam completar as frases com respostas ideais e nada revelar
rência aos papéis que terão de assumir novamente nos grupos de seus modos habituais de comportamento em grupo.
onde deverão integrar-se após o estágio. Pudemos constatar qu.::
durante estes encontros a maior parte dos participantes procura, Este teste talvez não nos permita destacar o que o partici
inicialmente, elaborar as respostas que espera levar às necessi pante é habitualmente em grupo de trabalho, mas o que dese
dades específicas de seus grupos, tanto em termos de reestrutu jaria ser, o que aspira ser em grupo de trabalho. Mas precisa
ração como de re-orientação. Muito cedo, entretanto, a maioria mente, este teste permite inferir, por uma análise das respostas ,
dos participantes compreende que a maneira mais segura de aquilo que cada participante considera como as atitudes funcio
levar aos seus respectivos grupos os benefícios da experiência nais a serem adotadas em grupo de trabalho, em relação à tarefa
e em suas relações interpessoais, tanto no plano horizontal com
que acabam de viver é preparar, por uma presença mais atenta
seus colegas como no plano vertical com a autoridade respon
ao outro, climas de grupos mais abertos, mais perm issíveis, de
sável pelo trabalho.
modo a tornar as relações interpessoais mais autênticas e mais
criativo o trabalho de seu grupo. B . O monitor ideai.

12. . Resta-me mencionar aquilo que, parece , fomos os O segundo teste utilizado é um teste preparado por Thomas
pri meiros e, durante alguns anos, os únicos a u tilizar como Gordon, um dos principais colaboradores de Carl Rogers, e in
ins trumentos ao mesmo tempo de tomada de consciência c titulado "o monitor ideal" ( 37 ). Este teste consiste em uma
de transferência da aprendizagem , tanto durante como após o série de enunciados sobre o leadership. A tarefa consiste em
está gio, a saber : submeter os participantes, durante o estágio, a classificar estes enunciados, segundo uma ordem prioritár ia, de
ses sões de testes psicológicos. modo a estabelecer um perfil das aptidões e atitudes fundamen
Durante o estágio os participantes devem passar por quatro tais a um leadership funcional e eficaz. A pessoa testada pro
testes diferentes. Estes quatro testes são semiprojetivos, revela n jeta assim, segundo a ordem de importância atribuída a este
do-nos o eu social do indivíduo, suas atitudes fundamentais com ou àquele item, sua concepção e sua percepção do leadership
relação ao outro, o sistema de valores que determina e inspira ideal e em conseqüência seus modos preferidos de exercer a
104 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 105

autoridade, desde que lhe seja confiada a responsabilidade de A partir dos resultados dos testes, eles tentam, juntos, descobrir
um grupo de trabalho. Este teste é ministrado no segundo dia, em que o estágio foi uma experiência de autenticidade. :B a
antes que exposições sobre a psicologia do leadership venham ocasião, geralmente decisiva, para cada participante, assimilar
fornecer aos participantes um sistema de classificação e assim e integrar, graças ao recuo do tempo, as tomadas de consciência
comprometer a validade do teste. que os testes e o estágio suscitaram sobre seus modos habituais
C . Escala de dogmatismo. de se comportar e de funcionar em grupo, uma última transfe
rência de aprendizagem pode então atualizar-se.
Um terceiro teste, chamado "Escala de dogmatismo'', con
siste em um questionário de escolhas múltiplas. Segundo o ETAPAS DA APRENDIZAGEM
participante se diga de acorJo ou não com uma filosofia rigida
O estágio de formação em dinâmica dos grupos proporcio na
mente sistematizada das relações interpessoais ou intergrupais,
ao participante uma ajuda no sentido de decentrá-lo de si
explicitada pelos enunciados, ele projeta em que grau o dog
mesmo e situá-lo em. relação ao outro, levando-o a se liberar das
matismo pode prejudicar suas comunicações com o outro. Este
fixações ou de seu egocentrismo, para preparar nele o apren
teste foi concluído por nós a partir dos resultados das pesquisas
dizado do alocentrismo. Graças aos climas de grupo, propícios
de M. ·Rokeach ( 130) sobre as relações entre o autoritarismo
ao crescimento e à superação de si, criados pela presença pro
e o conformismo. O objetivo deste teste é levar cada partici
fissional de especialistas em dinâmica dos grupos, cada parti
pante a projetar em suas respostas seus sistemas de valores e
cipante, ao implicar-se pessoalmente na experiência, pode, se
sua filosofia da autenticidade interpessoal. Ele nos revela assim
gundo seus próprios ritmos, adquirir:
o que Kurt Lewin chamava as atitudes fundamentais a respeito
da mudança social. Que atitudes o participante mostra com - novos níveis de vigilância e de presença
relação à evolução dos grupos de que faz parte: rigidez, fluidez, ao outro;
elasticidade ou flexibilidade? Este teste é ministrado durante a esquemas mais adequados de percepção de
primeira semana do estágio. si e do outro;
modelos mais flexíveis, mais funcionais de
D. O sociograma.
expressão de si e de comunicação com o
outro.
Um quarto teste, um "Sociograma",é ministrado duas ve
zes: no fim de cada uma das duas semanas do estágio. Estes Estas aprendizagens se operam gradualmente, por etapas,
dois sociogramas são feitos em grupo de formação e por refe por escalões. Elas dependem em parte da competênc;ia dos
rência aos únicos coparticipantes de um mesmo grupo de for profissionais responsáveis pela experiência. Não dependem me
mação. São construídos e formulados de modo a permitir que nos dos recursos psíquicos de cada participante, de seus níveis
se possa estabelecer, semanalmente, o estatuto sociométrico de de aspiração, de ·suas expectativas, de seu grau de motivação,
cada participante em seu próprio grupo de formação e a desta isto é, de seu desejo de se questionar no plano interpessoal e
car os índices de seu grau de empatia e de transparência. Cada de se abrir para relações mais autênticas com o outro. Alguns
participante pode assim tomar consciência, à luz dos resultados participantes chegam ao alocentrismo ao final de um estágio.
de seus dois sociogramas, da imagem que apresentou aos outros Outros devem repetir a experiência várias vezes antes de con
durante o estágio, . do grau de sua objetivação de si-mesmo e segui-lo.
do grau de expressão de si que atingiu.
Ao mostrar que a aprendizagem da autenticidade realiza-se.
Uma vez compilados e interpretados os resultados dos tes por escalões progressivos, tentamos integrar em uma mesma
tes, estes são transmitidos aos participantes durante entrevistas concepção genética a colaboração de alguns teóricos recentes,
psicológicas. Cada participante, dois meses mais ou menos após que tentaram definir de modo operacional as fases de evolução
o estágio, é convidado a encontrar um dos membros do pessoal. de um grupo de formação (3), (5 ) , (14), (17 ) , (19), (42)
,
106 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DI N,Ã.M! CA E GÊNESE DOS GRUPOS 107

(121), (126), (136) . Em nossa opinião estes escalões devem outros, despersonalizando-o, nivelando-o em suas diferenças
ser concebidos como momentos sucessivos de uma mesma se idiossincráticas, para torná-lo cada vez mais semelhante aos
qüência causal, não necessariamente temporal, cada momento outros. A aceitação de si é a aceitação pelo indivíduo do que
comportando algo do precedente e antecipações do seguinte. ele traz de único de si como recursos a atualizar. Do mesmo
Estas etapas ou estes momentos essenciais da aprendizagem da modo, ser autêntico com o outro é inicialmente ser autêntico
autenticidade seriam a nosso ver em número de cinco: consigo mesmo, ser verdadeiro consigo, isto é, alcançar a au
tenticidade intrapessoal. Conseq üentemente objetivar a imagem
1. . A primeira etapa a transpor na aprendizagem da que um indivíd uo tem de si, não consiste para ele em retificá-la,
auten ticidade é a objetivação de si ou, mais exatamente, a em corrigi-la no sentido das normas de respeitabilidade, de acei
objetivação da imagem de si. Urna fonte constante de tabilidàde do grupo, mas em revelar ao outro o eu profundo, o
nebulosidade nas comunicações com o outro é a distância e a eu autêntico que ele acaba de descobrir. A objetivação de si
diferença que exis tem entre a imagem que alguém tei:n de si e deve tender à aceitação incondicional de si.
a imagem que os outros têm dele, a parte determinante de
subjetivismo que entra na percepção de si o por si mesmo e a 2 . A segunda aprendizagem a .que deve consentir aquele
percepção de si pelos outros. O clima de perfeita liberdade de que aspira a relações mais autênticas com o outro, é objetivar-se
expressão que reina em um grupo de formação permite aos a respeito do outro. Conhecer a que ponto suas percepções do
participantes questionar sua imagem de si, tomar consciência da outro são subjetivas e seletivas. A partir dos dados sensoriais
imagem que apresentam aos outros em grupo, aceitar ou ao que recolhe sobre o outro, pratica cortes ou realiza montagens
menos tolerar não serem percebidos tal qual são. Cedo ou que lhe permitem fabricar imagens do outro, geralmente conta
tarde cada participante é levado a se colocar a questão: "Que minadas pelos mitos e preconceitos de seu meio.
sou para mim mesmo ?" Neste esforço de descobrir seu eu
verdadeiro, seu eu profundo para além dos disfarces que ele Para conseguir ver o outro de modo diferente será preciso
traz ou dos personagens que representa, o participante ter a possibilidade de questionar suas imagens estereotipadas
aprende a distinguir entre seu "eu atual", seu "eu ideal" e sobre o outro. A maior parte dos indivíduos só consente nesta
seu "eu autêntico". O "eu autêntico" de um indivíduo é introspecção em um clima de grupo onde as comunicações com
aquilo que ele poderia ser se conseguisse! atualizar o ser único o outro podem tornar-se confiantes e abertas. É o caso do
que traz potencialmente em si, em recursos e em . capacidades de grupo de formação. A presença profissional, ao mesmo tempo
superação. O "eu ideal" é o que ele gostaria de ser ou de permissível e tranquilizadora de especialistas em dinâmica dos
parecer para responder às expectativas, às pressões de seu grupos, cria condições propícias a uma catarse mental, liberando
meio e assim tornar-se mais aceitável pelo outro. O "eu os participantes, implicados na experiência, de seus mitos, de
atual" é o que ele é presentemente ou o que acredita ser ou seus clichês, de seus preconceitos sobre o outro. Com efeito,
parecer aos outros. É a imagem de si que ele apresenta aos em um tal clima de grupo os seres em interação podem cativar
outros. O eu atual é geralmente um compromisso entre suas -se uns aos outros, seu medo do outro diminuir pouco a pouco,
aspirações profundas e as pressões do meio para a a ponto de desaparecer completamente, suas defesas em relação
uniformidade, a conformidade. Conseqüentemente o eu atual, a certos grupos cair por terra e seus representantes no grupo
por não ter sido colocado em questão por si ou pelos outros, terminarem por ser percebidos como seres pessoais.
é um eu esclerosado no qual os recursos e as capacidades mais Em uma experiência válida em grupo de formação as rela
ricas do indivíduo permaneceram incultas e não se atualizaram. ções humanas se transformam gradualmente: no início elas se
A objetivação de si consiste, pois, em um processo de explora situam em um nível intergrupo em que cada participante é per
ção de si, a procura do eu autêntico para além da imagem de cebido pelos outros e percebe os outros por referência aos gru
si que o indivíduo quer projetar e aquela que de fato ele apre pos representados na situação presente; depois, evoluem gra
senta aos outros. Mas a objetivação de si mesmo é mais do dualmente e tornam-se relações autênticamente interpessoais,
que a lucidez sobre si mesmo, ela é a aceitação de si em reação baseadas desta vez sobre comunicações de pessoa a pessoa.
aos conformismos que querem tornar o indivíduo aceitável aos
108 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 109
Mas as percepções do outro não podem objetivar-se enquanto parência ao outro torna possível eventualmente a comunicação
os preconceitos não desaparecerem. De fato, os preconceitos profunda com ele. Não se torna transparente ao outro senão
prejudicam as percepçõe s, cristalizando-as. O outro deixa de aquele que aprend eu a se desembaraçar de seus disfarces, a re n
ser percebido naquilo que possui de irredutível e é percebido u nciar a todo rodeio, às evasivas e aos artifícios em suas re
pela aparência, transformando-se em uma cópia do clichê pelo lações interpessoais. Ser transparente é chegar a ser capaz de
qual seu grupo é percebido. Seu grupo não é percebido como tornar congruente e consonante o que é comunicado ao outro.
existe na realidade, mas como é desejável que seja ou que O receptor não percebe então nenhuma d issonância no que lhe
pareça para ser fiel à imagem secretada pela fobia do outro. é tra nsmitido como mensagem, entre o que o emissor diz e o
Objetivar-se em relação ao outro, é aprender a passar do que é pensado ou sentido por ele. Há consonância entre a
plural ou singular, do impessoal ao pessoal, a não mais perceber expressão de si e seu eu autêntico. O outro pode então sentir-se
o outro como semelhante a certos outros mas como um ser em confia nça e convidado a dar provas do mesmo grau de
único, pelo menos na capacidade de superação. Mas a objeti abandono e a mostrar-se por sua vez acessível. A comunicação
vação do outro, como aliás a objetivação de si, é mais do que humana tem possibilidad e assim de tornar-se cada vez mais
a evolução de um processo mental. Não somente as percepções adeq uada , porque evolui e progride entre dois seres desejosos
deixam de ser subjetivas, mas as atitudes fundamentais a res de se mostrarem translúcidos um ao outro.
peito do outro encontram-se transformadas. As comunicações Mas a transparência ao outro consiste em exprimir para
com o outro, de formais e convencionais que eram, tomam-se qualq uer um tudo o que se pensa e tudo o que se sente? É
espontâneas e naturais. A passagem do plural ao singular, gra possível tornar-se e permanecer autêntico com o outro não con
ças à objetivação em relação ao outro, completa-se geralmente cedendo a todos o mesmo grau de abertura e de confiança? O
pela passagem do impessoal ao pessoal, pela aprendizagem de grupo de formação, descrito há pouco como o contexto ideal
modos de comunicações que permitem tornar-se atento e pre para a aprendizagem da autenticidade interpessoal, graças ao
sente ao que constituí no outro seu eu autêntico. clima de confiança que muito cedo nele se estabelece, permite
aos participantes explorar e vivenciar este problema. Eis em
3 . A aprendizagem d a autenticidad e nas relações inter que termos este problema coloca-se geralmente aos participantes .
pessoais comporta uma terceira etapa que é a aprendizagem da Ao aprender a derrubar as barreiras psicológicas que prejudica
transparência. A transparência é uma atitude adquirida . Alguns vam suas comunicações e a valorizar uma total liberdade de
seres a ela estão mais predispostos que outros por tendência expressão entre eles, certos participantes, os mais inclinados à
inata. A transparência pode ser definida como uma abertura transparência, tendem, então, a fazer pressão sobre o grupo
espontânea ai::- outro. Ela é a adequada expressão de si: tudo ·para que este transponha aquilo que lhes parece a principal e
que é pensado e sentido é verbalizado. decisiva etapa da aprendizagem da autenticidade: a revelação
Ao contrário o preconceito consiste sempre em um reco de si. Os participantes mais fechados, instintivamente, mostrar se-
lhimento sobre si e um fechamento profundo ao outro. Aquele âo reticentes e apreensivos em revelar em grupo o que con
que preconceitua tem tendência a guardar para si seus pensa sideram seu eu reservado. E é assim que geralmente se defron
mentos, seus sentimentos, a não conf iá-los senão a confidentes tam os hiperpessoais e os hipopessoais em grupo de formação
privilegiados ou a cúmplices. A desconfiança para com o outro, em torno do problema da intimidade. Deste choque que é vivido
junta-se a inacessibilidade ao outro. Em presença do outro ou em clima permissivo e tranquilizador, podem nascer várias
em contato com o outro, os seres que têm preconceitos tornam-se aprendizagens conexas à aprendizagem da transparência. As
secretos, opacos, impenetráveis. Liberar-se dos preconceitos é mais essenciais são as seguintes:
um requisito que se exige de quem quer aprender a tornar-se
transparente ao outro. A . As fronteiras.
Para além das diferenças e das semelhanças com o outro, Para se praticar a liberdade de expressão com respeito
da facilidade ou das dificuldades das trocas com ele, a trans- pelo outro, é preciso que, uma vez desaparecidas as barreiras,
110 GÉRALD BER NARD MÁILHIOT DJ N,\MJCA E GÊ NESE DOS GR UPOS 111

demolidos os muros, transpostos os abismos, sejam delimitadas comunica, pode então ser percebido em sua total inteligibilidade,
as fronteiras da incomunicabilidade e do inviolável. Mesmo isto é, pode ser interpretado adeq uadamente à luz do que con
entre os indivíduos que conseguiram estabelecer entre eles rela seguiu ou consentiu em revelar de seu eu profundo.
ções interpessoais transparentes , deve ser reconhecido e respei Acrescentam-se à transparência, a congruência e a conso
tado que cada um traga em si segredos que não lhe pertençam: nância quando aqueles que estão cm comunicação conosco con
seria trair-se ou trair os outros, seria abusar da confiança do seguem perceber, para além de nosso eu do momento, nosso
outro ou de seu próprio poder, mostrar-se envolvente, indiscreto eu autêntico, isto é, quando independentemente dos papéis so
ou importuno, aproveitar-se de um momento de abandono para ciais que nos é necessário assumir diante deles, eles podem alcan
extorquir confidências e forçar o outro a revelar informações çar nossa personalidade profunda com suas aspirações, suas
que ele se comprometeu a guardar em segredo. potencialidades, suas atualizações presentes, seu destino e seu
mistério pessoais. Tornamo-nos não somente transparentes, mas
B . O eu íntimo. 1
congruentes ( ) e consonantes com o outro cada vez que ele tem
acesso à nossa interioridade. Aquilo que lhe comunicamos,
Além dos segredos que não lhe pertencem , há uma série
então, adquire toda sua significação para ele, que pode perce
de segredos que pertencem a ele próprio e que constituem seu
ber exatamente em que e porque o que lhe é dito é uma expres
eu íntimo. Cada ser humano tem direito à sua intimidade, e são de nosso eu .
deve se considerar perfeitamente livre de nela deixar penetrar
quem ele quer, quando quer e pelo tem po que quiser. A trans A transparência ao outro torna possível da parte dele a
parência aos outros não pode ser ou permanecer autêntica se empatia. Dt:sde que em grupo de formação os participa ntes se
estas fronteiras à comunicação não são reconhecidas e respei tornam tra nsparentes uns aos outros, é possível alca nçar-se um
tadas. Significa que, mesmo no interi or de um mesmo grupo, n ível superior no aprendizado da autenticidade e adquirir então
um membro pode tornar ··Se transparente e autêntico com todos, a empatia uns pelos outros. A empatia é mais que a simpatia.
ao mesmo tempo que estabelece e conserva relações privilegia A simpatia permite ao ser humano dividir as penas e as alegrias
das com alguns, com aqueles, entre outros, com os quais sente que já experimentou ou sentiu. A capacidade de presença ao
maior afinidade, melhor sintonizado, mais em acordo profundo outro limita-se então, neste caso, àqueles que vivem o que ele
de coração e pensamento . Significa ainda que é compatível já experimentou por sua própria conta. Ao contrário, a empatia
com a transparência ao outro, cada um poder estabelecer comporta uma evolução mais profunda, mais avançada de seu
por conta própria uma escala de graus ou de níveis de intimi altruísmo. Ela exige que o ser humano tenha se tornado capaz
dade. Ele é livre de deixar penetrar quem ele quiser a um ou de colocar-se totalmente no lugar do outro, seja ele quem for.
outro dos níveis de sua vida profunda. A razão disto é simples, Para além do que os outros lhe dizem, ele tornou-se capaz,
mas lenta para ser descoberta por aquele que faz a aprendiza por empatia, de pensar o que eles pensam, de sentir o que eles
gem da autenticidade. Sobretudo para aqueles que, por natu sentem, adequadamente, integralmente.
reza ou caráter de base, são espontaneamente transparentes ao Poder colocar-se no lugar do outro possibilita ao ser hu
outro. A autenticid ade não consiste em exprimir tudo o que mano tornar-se conscien te da imagem que apresenta ao outro
se sabe, tudo o que se sente, mas em pensar verdadeiramente, e assim chegar a se perceber exatamente como os outros o per
em sentir realmente o que se acredita poder ou dever comuni cebem. Tornando-se assim lúcido sobre a maneira pela qual é
car ao outro.

4 . Despojar-se de seus mitos e de seus estereótipos, liber


tar-se de seus preconceitos, renunciar a atitudes obstinadas e de ( 1) Há congruência, quando existe uma ·correspondência exata entre
fensivas a respeito do outro permite ao ser humano tornar-se a experiência e a tomada de consciência. f: plenamente congruente aquele
que é, correta e adequad amente, consciente do que experimenta em suas
transparente ao outro, revelar-se naquilo que constitui seu modo relações com o outro. Os sent imentos que experi menta, então, nas re
de ser, apresentar uma imagem f iel de si. O que ele diz, o que lações com o outro lhes são d isponívei s, disponíveis à sua consciência .
Em conseq üência , ele é capaz de viver estes sentimentos e de os com
uni car no momento oportuno.
DINÂMICA E GÊNESE DOS GR UPOS 113
112 GÉRALD BER NARD MAILHIOT

estática mas deve sempre ser questionada e corresponder a cada


percebido, sobre o que pode parecer aos olhos do outro, sobre um dos momentos do crescimento do grupo, das fases da evo lução
a distância que pode existir entre o que ele parece aos outros das relações interpessoais entre os membros. Assim a alo empatia
e o que ele é de fato, pode, se necessário, corrigir a imagem permite a alguém participar e intervir no grupo de modo a
que apresenta aos outros e retificá-la se preciso. Suas comuni favorecer a coesão do grupo, sua integração, seu cresci mento e
cações com o outro poderão então ganhar em autenticidade, sua criatividade. Quando os responsáveis dão provas disto, as
se ele conseguir, através de suas mensagens ao outro, apresentar fontes de bloqueio e de filtragem podem ser identifi cadas
de si mesmo uma imagem que lhe seja totalmente fiel. A em exatamente e eliminadas de modo eficiente, a comunica ção
patia ao outro, isto é, a capacidade de se colocar em seu lugar, tornar-se mais autêntica, a expressão de si mais livre, o clima de
facilita e favore{:e a objetivação do outro, ou seja, a capacidade grupo mais permissivo, as estruturas mais flexíveis, a dinâmica de
para alguém de objetivar-se com respeito às imagens que o grupo mais funcional. Se somente a alo-empatia pode ser
outro tem dele mesmo e através das quais é percebido pelos suficiente para que certos indivíduos se tornem obser vadores
outros. Objetivação do outro que cresce ao mesmo tempo que lúcidos e perspicazes em grupo, será preciso entretanto que eles
a objetivação de si: a partir do momento em que alguém se aprendam a dar provas de auto-empatia, a liberar-se de seu
objetiva com respeito às imagens que apresenta ou projeta ao egocentrismo, se quiserem integrar-se no grupo em re lações
outro, torna-se capaz de se questionar e de objetivar-se em interpessoais autênticas, ao mesmo tempo que se tornam e
relação às próprias imagens que tem de si mesmo, e depois, permanecem participantes-observadores funcionais da gênese e da
de se colocar à procu ra e descoberta de seu eu autêntico. Esta dinâmica de seu grupo. De fato, parece que os indivíduos capazes
capacidade de tornar-se e de permanecer lúcido obre as ima unicamen te de alo-empatia verão suas imagens de grupo, mesmo
gens que os outros fazem de si é chamada, a partir de Lewin, as mais fiéis e objetivas, perturbarem-se e se deteriorarem a partir
de auto-empatia. do momento em que não puderem mais omitir-se, eles próprios, do
A auto-empatia torna alguém capaz de objetivar-se em re jogo das interações de grupo. De observadores marginais tornam-
lação às imagens de si; a alo-empatia torna alguém apto a ob se então participantes implicados. A partir deste instante suas
jetivar-se com respeito às imagens de grupo. Trata-se de duas imagens do grupo adquirem colorações di versas conforme eles
aprendizagens distintas, que alguns indivíduos adquirem de modo mesmos se sintam preferidos, aceitos, re jeitados, ignorados ou
complementar e outros de modo isolado. Acontece, com efeito, isolados dos outros. Só a aprendizagem complementar da auto-
que alguns indivíduos se mostram incapazes de aprender a obje empatià e da alo-empatia pode tornar alguém capaz de ter, de
tivar-se a respeito deles mesmos e "se comprazem ou nas ima modo duradouro, comportamentos fun cionais em grupo e relações
gens desvalorizantes de si mesmos, por mecanismo de auto-de autênticas com o outro.
preciação, ou ao ·contrário, nas imagens enfatuadas por meca
nismo de auto-glorificação. Entretanto , estes mesmos indiví 5 . A última etapa deste processo da aprendizagem da au
duos, desde que não estejam mais em causa, conseguem perce ber tenticidade interpessoal é a aceitação incondicional do outro.
objetivamente o que se passa em um grupo e ter destes uma Estas cinco etapas não se situam de modo sucessivo e distinto
imagem fiel. De qualquer modo, a alo-empatia sensibiliza al guém no tempo. Não necessariamente, pelo menos, no sentido de
para o que acontece em termos de interações entre os membros de que o ser humano, no desejo de tornar-se mais autêntico em
um grupo, torna-o consciente das atrações ou das repulsas que se suas comunicações humanas, deveria inicialmente tornar-se capaz
manifestam entre eles. Através desta imagem que ele faz pouco de aceitação incondicional de si, depois de transparência ao
a pouco do grupo observado, o indivíduo capaz de alo-empatia outro, em seguida de auto-empatia e de alo-empatia ao mesmo
chega a perceber objetivamente os tipos de relações tempo, para enfim aprender a aceitar os outros incondicional
interpessoais que se iniciam e se estabelecem entre os membros mente. n importante relembrar aqui o que já foi afirmado an
e a descobrir que membros se aceita m, quais os que se teriormente. Trata-se de um processo de aprendizagem cujos
rejeitam, aqueles que se percebem isolados ou ignorados no momentos sucessivos e progressivos constituem uma seqüência
grupo. Para ser fiel,· esta imagem do grupo não deve ser causal, não se desenvolvendo necessariamente em uma ordem
114 GÉRALD BERNARD MAÍLHÍOT
Dl N. 1\1!CA E GÊ NESE DOS GRU POS 115

cronológica determinada. Se a aprendizagem da autenticidade Aceitar o outro incondicionalmente consiste essencialmen


interpessoal não pode j amais ser considerada, mesmo pelos seres te em:
mais evoluídos e melhor socializad os, como um processo defini
tivamente concluído, não permanece menos evidente que, em A. aceita r que cada ser humano seja único em suas
termos de causalidade psicológica, o ser humano não poderia aspirações à atualização de si e em suas capaci
tornar-se capaz de aceitação incondicional do outro, enquanto dades de superação;
não tivesse aprendido a aceitar a si mesmo de modo incondicio B. aceitar que cad a ser humano possua seus ritmos
nal. Acontece o mesmo com o aprendizado da empatia. Como próprios e seus modos próprios de superar-se e
já notamos anteriormente , alguém não se torna capaz de em de atualizar-se.
patia senão a partir do momento em que aqueles com quem
se encpntra em situação de aprendizagem consentem em tornar Estas duas aprendizagens tornam alguém éapaz não so
se transparentes a ele. Por outro lado, o inverso não é menos mente de aceitar em cada ser humano o que ele possui de irre
verdadeiro: uma vez o processo de aprendizagem iniciado, a dutível mas igualmente de perceber positivamente o que cada
aceitação incondicional do outro tem como resultado abrir as um traz em si como possibilidades únicas de crescimento e de
comunicações, aumentar a autenticidade das relações interpes respei tar enfim os caminhos que cada um, instintivamente , es
soais, favorecer e facilitar assim a objetivação de si a ponto de colhe por fidelidade às variáveis individuais de seu carater de
tornar a aceitação de si mais incondicional. Do mesmo modo base, para alcançar a plena maturidade de seu ser.
para alguém que tomou-se capaz, ao mesmo tempo, de mais auto- Para atingir um grau tão completo de alocentrismo é ne
empatia e alo-empatia, sentirá o desejo de se mostrar mais cessário libertar-se de todo mito igualitarista, tão enraizado nas
transparente, mais congruente e mais consonante na expressão culturas ocidentais. A criança, no Ocidente, é muito cedo condi
de si para outro. cionada, no interior do próprio contexto f amiliar, e desde o início
Que entender por aceitação incondicional do outro? A sim de sua escolarização, a perceber no ou tro um rival, um competi
patia é seletiva, a empatia é incondicional. Também o ser hu dor. Geralmente as relações humanas consistem para muitos, para
mano, para ser tot::ilmente transparente ao outro e tornar-se a maior par te, em se afirm ar diante do outro como tão ou mais
capaz de se colocar em seu lugar deve ter aprendido a aceitar dotado que ele. A aspiração ma is freqüente, sobretudo desde
a si si próprio sem reservas, sem . lástimas, sem ressentimentos, que a em industrial multiplicou as zonas de competição entre
enfim, de modo positivo. Estará, então, psicologicamente pronto os homens quase ao infinito, parece consistir em ultrapassar os
para aceitar incondicionalmente os outros com tudo aqui outros , em desclassificá-los, em vencê-los ou mesmo em abatê
lo que os faz outros, idade, sexo, cultura, nível sócio-econômico, los. O grupo de formação constitui um contexto inesperado,
obrigando os paritcipantes a renunciar a todo status privilegiado,
níveis ocupacional e educacional. Todavia, antes de penetrar
para liberar-se desta ambivalência a respeito do outro que con
melhor na inteligência do alocentrismo, um mito muito forte
tamina habitualmente as relações interpessoais. Escapando assim
em certos meios pedagógicos deveria ser dissipado. A aceitação
às pressões de grupos para a uniformidad e e a conformidade,
incondicional de si e do outro não é e não poderia ser a apro tão constrangedoras na maior parte dos grupos reais, os partici
vação incondicional de si e do outro. Para um indivíduo, acei pantes chegam pouco a pouco a olhar os outros de modo posi
t<:l r-se como é e aceitar os outros como eles são não poderia tivo e a se abrirem a modos de comunicação em que se pratica
significar que ele se percebe e percebe os outros como infalíveis. a liberd ade de expressão de si em um respeito incondicional
Se assim fosse, ser-lhe-ia preciso aprovar incond icionalmente das aspirações, dos ritmos e dos modos de funcionament o de
tudo o que ele mesmo e os outros fazem, dizem, pensam ou cada um.
sentem . :f: por ter lido mal, autores como Carl Rogers e Martin r....... .1.--• -· "- -
116 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊ NESE DOS GRUPOS 117

aceitar incondicionalmente. Como então transmitir positivamente


mensagens negativas, ou como se exprimir uma desaprovação Estas são essenciais para a validade da experiência. Elas são
ao outro em termos que lhe sejam ou se tornem aceitáveis? em número de três e relacionam-se todas com a competência
Não há circunstânçia em que seja mais complexa e mais difícil dos profissionais responsáveis pelo estágio.
de permanecer autêntico consigo mesmo e com o outro. Esta
aprendizagem parece não poder nunca ser considerada concluída. 1. Para assumir a responsabilidade de um estágio de for
O que é aceitável para um não o é necessariamente para o mação em dinâmica dos grupos, é necessário inicialmente possuir
outro. Mesmo no caso de um determinado indivíduo, o que já uma f ormação prof issional adequada. Na América do Norte,
foi aceitável por ele e o será talvez novamente, pode não ser tanto nos Estados Unidos corno no Canadá, não são reconheci dos
no momento mesmo em que a mensagem é transmitida. Nestas profissionais da dinâmica dos grupos senão aqueles que possuem
ocasiões é importante, mas não suficiente, dar provas de tato, os seguintes títulos de competência:
de delicadeza, de simplicidade. :b preciso sobretudo ter apren dido
a descobrir, no caso de cada um, os momentos psicológicos em que A . Um doutorado em uma das ciências huma
o outro pode ser receptivo e captar positivamente o que lhe é nas, de preferência a psicologia;
comunicado sem se sentir ou se perceber rejeitado. Parece certo, B . Urna adequada informação dos dados cien
enfim, que uma mensagem negativa qualquer, a quem quer que tíficos sobre a psicologia dos grupos;
seja e quaisquer que forem as circunstâncias, correrá um menor C . Urna formação específica em dinâmica dos
risco de comprometer a aceitação interpes soal se for formulada grupos, compreendendo múltiplas etapas, durante as
em termos descritivos e pessoais, esco lhidos de preferência a quais o candidato é iniciado progressivamente nos
termos avaliativos e impessoais. Uma desaprovação, então, será diversos papéis profissionais que deverá representar
mais aceitável pelo outro, se for transmitida como sendo a ao assumir a responsabilidade última de monitor de
percepção subjetiva e provisória de quem a formula, sem um grupo de formação.
referências nem inferências além dos com portamentos observáveis
e atuais de quem é desaprovado. As corporações profissionais, sobretudo as dos psicólogos,
dos sociólogos e dos trabalhadores sociais, tentaram, a partir
de alguns anos atrás, oferecer a seus membros a possibilidade
CLIMAS DE APRENDIZAGEM de adquirir no próprio interior de seus quadros, esta especiali zação
A auto-formação em dinâmica dos grupos ou a auto-apren pós-doutoral. Estas mesmas corporações preocuparam-se em
dizagem da autenticidade interpessoal é possível, é desejável? prevenir o público contra certos amadores que se improvi saram
Parece demonstrado que acontece com a auto-formação o mes como peritos em dinâmica dos grupos, organizando, com fins
mo que com a auto-análise. A menos que tenha sido previamente geralmente comerciais, estágios em dinâmica dos grupos, sendo
psicanalisado em profundidade, e assim tenha sido ajudado a irresponsáveis a ponto de querer assumir sozinhos a res
identificar dentro de si as vias de acesso ao seu inconsciente, ponsabilidade e correndo o grave risco de comprometer seria
o ser humano arrisca perder-se muito cedo, tentando auto mente, ou mesmo de demolir, o equilíbrio psíquico daqueles
analisar-se e não encontra neste processo a libertação psí quica que participam destes estágios.
procurada. Do mesmo modo a auto-aprendizagem da
autenticidade tem poucas possibilidades de atualizar-se se não 2 . Os responsáveis, além de ser profissionais acred.itados
estiver sendo preparada em experiências de grupos nos quais e experimentados, devem estruturar o estágio de modo a deixar
uma atitude crítica das relações interpessoais possa se realizar um lugar, não exclusivo mas predominante, para o grupo de
formação. Devem, deliberadamente, ter a preocupação de con
de modo válido.
tradizer as expectativas fantasistas de muitos participantes que
A experiência, tanto quanto a pesquisa, demonstraram que
concebem a dinâmica dos grupos como um conjunto de técnicas
um estágio de sensibilização para a dinâmica dos grupos não
das quais pode-se esperar efeitos mágicos. A dinâmica dos
pode criar climas de aprendizagem senão em certas condições.
grupos não é um saber nem um saber-fazer. Ela é uma arte de
118 GÉRALD BER NARD MAILHIOT
DIN ÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 119
viver em grupo relações interpessoais autênticas. Pressupõe um
conhecimento adequado da ciência dos grupos humanos. To (,, grupos, feita por Lewin ( 1O1 ) -- que, se no início eles são os
davia uma iniciação por demais exclusiva nas técnicas de grupo, r ú nicos como agentes de formação, devem contar cada vez mais
seja de diagnóstico ou de descongelamento, com o objetivo de com os recursos do grupo para acelerar e intensificar as apren
tornar os participantes capazes de comportamentos mais fun d izagens que iniciaram. Recusando-se sistematicamente a assu
cionais ou mais altruístas, corre o risco de transformá-los em mir os papéis de leadership durante a experiência, desencorajam
manipuiadores de grupos mais ou menos sutis. Os responsáveis a dependên cia dos participan tes e favorecem a emergência de
devem-se convencer de que não é senão em grupo de forma uma i nterd ependência cada vez mais profunda entre, eles. Os
ção, entendido em seu significado específico, que os participan participantes descobrem, à medida que suas trocas são mais
r tra nspa ren tes, que eles ensinam u ns aos outros as exigências
tes podem encontrar o clima de aprendizagem que lhes permitirá
evoluir no plano de suas atitudes fundamentais a respeito do da au tenticidade, assim como as condições de relações interpes
outro; e que ele é o único contexto no qual uma aprendizagem soais em urna base de verd adeira complementariedacle.
válida das técnicas de grupo e uma objetivação durável de suas
percepções sociais podem ser concluídas e integradas definiti e. o vivido aqui-e-agora.
vament e.
Enf im, será preciso lhes pedir que é centrando constante
3. Como os profissionais encarregados podem criar climas mente a atenção dos participantes sobre o vivido aqui-e-agora
de aprendizagem válidos em grupos de formação? Ou ainda, do grupo que eles podem , de modo mais seguro, levá-los ao
que tipo de presença profissionaJ devem assegurar em grupos desejo de questionar de modo vit al seus modos habituais de co
de formação para que os par ticipant es se tornem motivados a municar com o outro. Centrando-se sobre o aqui-e-agora de suas
se questionar, a abrir entre si suas comunicações e a preocupar vivências em comum, os participantes aprendem a descentrar
se em ser autênticos uns com os outros ? -se em relação aos objetos habituais de sua atenção, geralmente
Os responsáveis deverão estabelecer e manter durante a ocupada por conteúdos exteriores e raramente atenta à elucida
experiência este modo e esta qualidade de presença profissio nais, ção de suas atitudes pessoais . Enfim, esta preocupação com o
adotando como agente de formação as três atitudes peda gógicas vivido aqui-e-agora do grupo, pessoalmente descoberto e explo
seguintes em relação a cada um dos participantes. rado, imuniza os partici pa ntes contra a tendência freqüente de
querer exorcizar os conflitos e as tensões em grupo por meca
A . Ser não-diretivo.
nismos de in telectualização. Os participantes aprendem, então,
Será preciso postular de início que todo ind ivíduo traz em a partir de sua experiência pessoal, pa ra em seguida conceituar;
si aspirações à autenticidade e possui os recursos para crescer aprendem a libertar-se de um conjunt o estereotipado de con
em autenticidade. Seu papel não é, pois, o de teorizar sobre a ceitos e de percepções sobre si, sobre o outro, sobre a realidade
autenticidade, mas de ser, no meio dos part icipantes, modelos partindo de um real experimentado no presente. Não se trata
vivos de autenticidade e assim ajud á-los a eliminar o que no mais, para os responsáveis, como nos contextos trad icionais de
momento constitui obstáculo à atualização de suas aspiraçôes. aprendizagem, de ensinar cated raticamente e de modo carismá
Por causa deste objetiv o, será necessário constantemente mos trar- tico as leis da autenticidad e e, para os partici pantes, de receber
se não diretivo, inspirando cada um, por sua presença pro fissional passivamente um saber ou de se iniciarem mecanicamente em
marcada de permissividade e aceitação a auto-determi nar-se, um saber-fazer. Por sua referência constante ao vivido, os res
segundo seus ritmos própr ios, a iniciar-se em relações ponsáveis devem leva r os participantes a interiorizar os papéis
interpessoais mais alocêntrícas. e as a titudes que os abrem ao outro e a descobrir assim, de
l modo vivencial, o que é a autenticidade.
B . Os recursos do grupo .
Em seguida será preciso lhes pedir --- e é aqui que encon l
tramos a descoberta mais rica em implicações da dinâmica dos
CAPÍTULO SÉTIMO

AUTORIDADE E TAREFAS NOS PEQUENOS


GRUPOS

A experimentação em psicologia social nos ensinou a dis


tinguir entre grupos grandes e grupos restritos, entre grupos cen
trados sobre a tarefa e grupos centrados sobre si mesmos. Não
trataremos aqui senão de grupos de trabalho e de pequenos
grupos de trabalho. Tentaremos descobrir os condicionamentos
psicológicos do exercício da autoridade neste contexto preciso:
grupos restritos dedicando-se a resolver problemas ou executar
tarefas. Várias perspectivas parecem-nos válidas para tornar este
fenômeno inteligível, entretanto não nos limitaremos , delibera
damente, a seus únicos aspectos e a suas únicas dimensões psi
cológicas. Tentaremos especificamente definir os tipos de com
portamentos, de atitudes, de interações e de motivações fun
cionais no exercício da autoridade em pequenos grupos de tra
balho .
Foram publicados numerosos textos sobre este tema, ex
pondo os resultados das múltiplas pesquisas realizadas nestes
últimos anos. Estes escritos são de valor muito desigual. Rete
1 remos apenas os dados mais concludentes, aqueles que nos pa

l
·1
recem possuir um valor científico. Tentaremos em seguida
sistematizar estes dados, neles integrando o que nossas próprias
pesquisas nos ensinaram sobre o problema. Seremos levados.
l assim a praticar uma autópsia dos modos arbitrários de exercer
l
!l a autoridade, que geralmente prevalecem nos pequenos grupos
de trabalho, e que os condenam fatalmente à esclerose e à es
li
l
i'
terilidade, quando não à necrose. Antes de tudo gostaríamos,
11 neste capítulo, de elaborar uma anatomia do "leadership" fun
' cional em grupo de trabalho, e assim tentar definir em termos
operacionais o estilo de "/eadership" que os pequenos grupos
deveriam adotar para tomarem-se mais criativos e mais inventi-

I
r!
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id
122 GÉRALD BERNARD MAILmOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 123
vos na realização de sua tarefa . No dia em que os pequenos
grupos se inspirarem nestes dados científicos, não somente a sez-f aire" os autores se esforçam por estabelecer as vantagens
autoridade aprend erá a se exercer de modo mais democrático, do primeiro, notadamente no que diz respeito ao desabrocha
mas sua dinâmica de grupo terá oportunidade de tornar-se mais mento da liberdade e das aptidões, da expressão da agressivi
funcional e seus membros mais criativos. dade em direções constru tivas, das relações entre os membros
Os dados experimentais aos quais nos referimos constante do grupo, e do trabalh o realizado. Estes resultados esclarecem
mente durante :::ste capítulo foram obtidos através de observa os dos estudos de Elton Ma yo (113) , datados de 1933, sobre
ções sistemáticas sobre pequenos grupos de trabalho no Canadá equipes de trabalho nas empresas industriais. Mayo pudera,
então, demonstr ar a influência primordial das relações interpes
francês. Estas observações duraram mais de quatro anos e foram
soais sobre o rendimento e a pouca freqüência dos trabalhadores
feitas simultaneamente em meios industriais e institucionais, tanto
nas equ ipes de trabalho.
hospitalares como educacionais. Esta exposição tentará mostrar
detalhadamen te a distância , em nossa opinião sintomática, entre Estas . pesquisas datam aproximadamente de há 30 anos.
o que nossas pesquisas nos levaram a observar nestes diversos Duas restrições devem ser feitas a seu respeito. Foram empreen
meios e o que presentemente possuímo s como dados científicos didas com grupos isolados de modo artificial, em sistema fecha
sobre o funcionamento dos pequenos grupos de trabalho . De do, com objetivos ideológicos mais ou menos explícitos, entre
ploraremos o fato repetidas vezes nestas páginas. Somente certos outros, o de demonstra r as vantage ns da "democracia" e da
meios industriais preocupam-se no momento em questionar o "participação" na tomada de decisão e na escolha dos objetivos.
exercício da autoridade e em inspirar-se no que a dinâmica dos Enfim, u m mesmo problema domina estas pesquisas: verif icar
pequenos grupos nos ensinou sobre o "leadership ". Quanto aos as relações en tre a eficácia com a qual um grupo realiza seus
meios institucionais, geralmente constatamos que, ao contrário, objetivos, a natureza d as relações que existem entre seus mem
eles têm tendência, na maioria dos casos, em se comprazer bros e o grau de satisfação que estes obtêm na sua pa rticipação
inconscientemente nos modos autocráticos de exercer a autori nas atividades do grupo. Ora, a situação experimental e o pes
dade, cada vez que consentem em introduzir pequenos grupos quisador (que impõe sempre a ta refa e as modalidades de exe
de trabalho no interior de suas estruturas ngidamente hierar cução) constituem uma va riável extremamente importante . Estes
quizadas. primeiros pesqui sadores não tend o levado suficientemente em
conta este fato, suas conclusões finais pa recem ter sido em
PRIMEIRO S DADOS EXPERIMENT AIS grande parte contaminad as com suas hipóteses iniciais e seus
Em 1938 apareciam na Revista "Sociometry" os resultados desejos mais ou menos conf essas.
das primeiras pesquisas de Kurt Lewin e de Robert Lippitt ( 70)
sobre a eficácia do "leadership" democrático em pequenos gru VARIA VEIS E CONSTANTES
pos de trabalho. Em 1939 e em 1940 três outros artigos eram
publicados, relatando a continuação destas pesquisas, realizadas As pesquisas dos últimos dez anos foram elaboradas mais
inicialmente por Lewin e Lippitt ( 71 ) , em seguida por de aGordo com a metodologia que Kurt Lewin preparou no últi
Lippitt e R. K White ( 72) e enfim por Lippitt sozinho (114) mo ano de sua vida em u m artigo célebre ( 103) dentro de
sobre os diferentes climas de grupo. uma perspectiv a de "pesquisa-ação". Organizam-se grupos nos
Esta série de pesquisas fora empreendida segundo uma quais todos os par t icipantes são ao mesmo tempo sujeitos e
metodologia experimental derivada das ciências físicas. Lewin, objetos da experiência. Os fenômenos de grupo são estudados
Lippitt e White procuram então reproduzir em laboratório fe em sua totalidade tal como são percebidos e vividos subjetiva
nômenos de grupos constatados na vida real. São experimen mente, consciente e inconscien teme nte, pelos participantes e pes
tados e aperfeiçoados métodos que permitem isolar diferentes quisadores, dando-se uma particular atenção àqueles que se re
variáveis, manipulá-las e efetuar medidas sistemáticas. ferem às relaçõe s entre eles. Estes trabalhos resultaram em
Comparando a vida de grupo resultante de um "leadership" hipóteses, em sua maior pa rte, ligadas aos fatores afetivos e
democrático àquela resultante de "leadership autoritário" e "lais- inconscientes. Por esta razão eles abandonaram os métodos ex
perimentais derivados das ciências físicas e se orientaram em
DI NÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 125
124 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
o grupo se consagra e os recursos de que dispõe para sua rea
direção a uma metodologia mais apropriada aos problemas es lização. Neste sentido é preciso se perguntar porque o grupo
pecíficos das ciências humanas, considerando sobretudo o coe se reúne. Propõem-se fins lucrativos ou gratuitos, satisfação de
ficiente pessoal do pesquisador. Esta metodologia, concebida necessidades interpessoais ou realização de uma obra coletiva?
inicialmente por Lewin, e explicitada em seguida por seus dis A tarefa é voluntária ou imposta de fora? Realiza-se em um
cípulos, concretiza-se notadamente por um recurso maior aos contexto de cooperação ou de competição entre os indivíduos?
sentimentos experimentados pelos membros dos grupos e pelo A tarefa é suficientemente adaptada a este grupo? :B claramente
próprio pesquisador, enquanto dados da experiência. Esta me definida e susceptível de ser aceita pelos indivíduos? Levando
todologia tende assim a revalorizar o significado original do em conta esta variável, alguns critérios foram elaborados por
termo "experiência" (106), que é o ato de experimentar e diferentes pesquisadores ( 2 ), ( 3), permitindo avaliar o ritmo
sentir e apóia-se além disso sobre uma concepção mais relativa segundo o qual o grupo pode progredir na realização da tarefa.
da noção de verdade científica.
Mais explicitamente, eis aqui as variáveis e as constantes C . Personalidade dos membros.
que estas pesquisas levaram em conta sistematicamente para de
finir em termos científicos o exercício da autoridade nos peque A terceira e última variável em causa no exercício da au
nos grupos de trabalho. toridade em pequenos grupos de trabalho e que deve ser levada
em conta pelo pesquisador é a personalidade dos membros do
grupo. As pesquisas de W. R. Bion ( 17 ) , entre outras, torna
1. Variáveis
ram-nos conscientes de um fato que agora nos parece banal:
A . Inserção na sociedade global. um grupo não é constituído de unidades permutáveis, mas de
indivíduos com uma personalidade bem determinada, modelados
Quando se trata de tornar inteligíveis a dinâmica e a gê por experiências anteriores de vida sociál que trazem para o
nese dos micro-grupos orientados para uma tarefa, a primeira grupo e que condicionam seu comportamento. Ainda segundo
variável que o pesquisador deve levar em conta são as posições os trabalhos de Bion ( 17 ) , o responsável pelo grupo deve se
respectivas dos participantes na sociedade global (140). Se preocupar em avaliar as atitudes iniciais dos membros em rela
estas pesquisas tiverem algumas implicações para os grupos reais ção ao próprio grupo e aos outros membros. Suas relações com
e não unicamente para grupos organizados e reunidos em labo a autoridade se tornarão assim mais facilmente inteligíveis (40).
ratório, o pesquisador deverá admitir que todo grupo de traba
2 . Constantes
lho, quaisquer que sejam seus objetivos e sua origem, não deve
nunca ser considerado como um organismo fechado sobre si As pesquisas destes últimos anos, além de nos sensibiliza
mesmo. De qualquer modo, ele está sempre ligado ao conjunto rem para variáveis que condicionam o exercício da autoridade
da sociedade por elementos que condicionam diretamente seu em pequenos grupos de trabalho, tornaram-nos conscientes de
funcionamento e lhe dão certos traços específicos por causa de duas constantes ou de dois requisitos que se pode observar em
sua referência ao contexto social ambiente. O pesquisador deve todo grupo de trabalho, sem os quais o exercício da autoridade
saber igualmente quem tomou a iniciativa da formação do grupo, fica prejudicado, paralizado ou, pelo menos, comprometido. Deixa
quem está na origem da autoridade existente no grupo, e qual então de ser funcional em relação à tarefa (23 ).
é a função ocupada pelo grupo na sociedade em que se insere
(2), (3). Estas são outras tantas variáveis a identificar, definir A . Competência.
e controlar previamente.
Os trabalhos de J. R. P. French, Jr. ( 25 ) nos ensinaram
B . Natureza da tarefa. que o funcionamento de um grupo de trabalho pressupõe que
a escolha dos membros seja feita a partir de critérios rigorosos
Uma segunda variável em causa no exercício da autoridade de competência em relação à tarefa a realizar. A integração do
em pequenos grupos de trabalho é a natureza da tarefa a que
DINÂMICA E GNESE DOS GRUPOS 127
126 GÉRALD BER NARD MAILHIOT
ros de equipe. Em suas percepções do outro e de si-mesmos
grupo e sua eficácia dependem inicialmente do fato que todos apelam sistematicamen te para mecanismos de projeção, que se
os membros sejam adequad amente competentes para assumir a apresentam nos mais deteriorados acompanhados de traços pa
responsabilidade de executar a parte da tarefa comum que lhe ranóicos muito inquietantes, ou seja, mania de perseguição e
será confiada. Desde que todos os mem bros possuam a com delírio de grandeza.
petência exigida, a estima recíproca pode então mais facilmente Em resumo, para ser f uncional, o exercício da autoridade
se estabelecer entre eles, e em conseqüência, nasce a solidarie em pequenos grupos de trabalho, pressupõe que os membros
dade necessária à sua integração. do grupo possuam a competência necessária para executar a
tarefa e tenham atingido um mínimo de maturidade social que
B . Nível de socialização. os torne aptos eventualmente a integrarem-se e capazes de leal
dade para com seus companheiros de equipe. Além disto para
Nossas próprias pesquisas nos perm1t1ram estabelecer que ser funcional o exercício d a autoridade em pequenos grupos de
umà segunda constante é exigida no exercício da autoridade em trabalho deverá constantemente levar em conta as três variáveis
pequenos grupos de trabalho. Além de serem competentes, todos seguintes: a sociedade global em que o grupo se insere, a na
os membros escolhidos devem estar aptos a trabalhar em grupo. tureza da tarefa a executar, a personalidade dos membros que
Durante estas pesquisas aprendemos a distinguir dois tipos de constituem este grupo.
inaptos ao trabalho em grupo. Há os inaptos situacíonais que
não conseguem integrar-se e trabalhar em grupo, ou porque a
natureza da tarefa não oferece nenhum atrativo para eles, pu AUTORIDADE E ESTRUTURAS DO GRUPO DE
porque as estrutu ras do grupo não lhes parecem funcionais, ou, TRABALHO
enfim, porque o estilo de "leadership" neste grupo, e o clima As pesquisas destes últimos anos precisaram melhor o modo
de grupo existente, os inibem e não lhes permitem ser criativos como um grupo de trabalho deve ser estruturado para que a
no plano da tarefa. Relaciona m-se com estes inaptos situacio autoridade se exerça de maneira funcional. Estas precisões dizem
nais os indivíduos que adotam provisoriamente ou em relação respeito a três pontos : o tamanho, a composição e a organiw
à tarefa, ou em relação ao responsável, ou aos outros membros
ção do grupo de trabalho.
do grupo, atitudes negativas, enquanto não se sentirem plena
mente aceitos. É um modo de se afirmar e eventualmente de 1. Tamanho de um grupo de trabalho.
obter provas que lhes pareçam peremptórias de que são aceitos
por aqueles com quem e por quem trabalham. Os únicos, pa Quanto maior o tamanho de um pequeno grupo de traba
rece, que comprometem a integração do grupo e tornam impos lho mais o exercício da autoridade pode ser inadequado. Quanto
sível o exercício da autoridade em pequenos grupos de trabalho maior o número de seus membros mais d ifícil se torna para
são os indivíduos que nosso diagnóstico nos levara a considerar eles participarem de modo funcional nos três momentos essen
como inaptos caracteriais ao trabalho d e grupo. Eles apresen ciais de todo trabalho de grupo: a discussão, a decisão e a
tam os seguintes traços de caráter. Qualquer que seja a nature execução. Por outro lado, os grupos de trabalho devem possuir
za da tarefa, as estruturas do grupo ou o estilo do "ieadership" um tamanho mínimo. Os grupos de dois, de três e de quatro
que prevalece nos grupos em que trabalham, eles se tomam são dificilmente viáveis e raramente eficientes: nos grupos de
logo compulsivamente contradependentes em relação às figuras dois e quatro, as oposições e os conflitos tendem a tornar-se
de autoridade e sistematicamente agressivos em relação a seus irredutíveis; nos grupos de três um dos membros percebe-se,
companheiros de equipe. Quando lhes é confiado o "lead ership " com ou sem razão, excluído ou marginalizado dos dois outros
de um grupo de trabalho, tornam-se autocráticos e abusivos no (141). Em geral os grupos ímpares têm mais possibilidade de
exercício do poder. Quanto à empatia, auto-em patia ou alo funcionar que os grupos pares. Uma maioria emerge mais fa
-empatia, eles são completamente desprovidos das mesmas. Man cilmente destes. O número optimum seria, segundo certos pes
têm a seu próprio respeito as mais falazes ilusões, isto é, quanto quisadores, cinco ou sete. Um autor (23) chega a formular a
ao grau em que são aceitos ou rejeitados por seus companheí-
128 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMIC A E GÊN ESE DOS GRUPOS 129
seguinte lei: os membros de um grupo de trabalho, do ponto
de vista ideal, devem ser "mais que as graças, menos que as também pela maneira segundo a qual seus papéis respectivos,
musas". Atualmente todas as pesquisas estipulam que os núme uns em relação aos outros, são diferenciados.
ros que indicam o menor tamanho, maxima ou optima de um Ao nível das estruturas de poder, é preciso distinguir entre
pequeno grupo de trabalho, valem para todo trabalho de grupo, quatro tipos de monitor ( 25 ) , contrariamente aos três estilos
quer a tarefa seja manual ou mental. Segundo uma descoberta de "leadership" estudados por Lewin, White e Lippitt (70),
recente (4) , ( 5 ), a percepção simultânea dos indivíduos em ( 71 ) , ( 72 ). Já demonstramos que é necessário distinguir
torno de uma mesa de reunião parece limitada a uma dezena entre dois tipos de monitores autocrá ticos: o monitor
de pessoas. Para além deste número, produzem-se fenômenos manifestamente dominador ou o tipo fálico e o monitor
de seleção na percepção e de elaboração de sub-grupos, que obsessivo que exerce sua dominação de modo mais sutil (
arriscam cristalizar as oposições entre os membros. aparentando de um devo tamento e uma solicitude infatigáveis,
muito valorizado em certos meios ) , mas não menos real. Estes
2. Composição de um grupo de trabalho. dois tipos de monitores têm o seguinte em comum: um e outro
Em relação à composição do pequeno grupo de trabalho, aspiram ao poder ab soluto, ao controle exclusivo daqueles que
possuímos vários dados. Pressupõe-se sempre que os membros trabalham com eles e por eles. Este é um traço característico
escolhidos sej am competentes e aptos a trabalhar em grupo. As deles: nem um nem outro é capaz de dividir suas
principais variáveis que podem entrar em causa na composição responsabilidades ou de delegar seus poderes . O tipo passivo ou
de um grupo são o sexo, a idade, a origem étnica, as modali laissez-faire, ao contrário dos precedentes, é incapaz de assumir
dades de aquisição de sua competência e os anos de experiência. suas responsabilidades. Deixa que façam tudo. Sua hipótese de
Quanto mais homogêneo o grupo ( 115), mais as identif icações trabalho, ou antes a raciona lização de sua abolia social
com a autoridade e a tarefa do grupo são facilitadas, mais rá consiste em postular que dez cabe ças valem mais que uma
só. Basta, então, deixar fazer para que os processos de
pida é a integração. Nos grupos heterogêneos, se a integração é
interação social se traduzam infalivel mente por resultados
mais lenta, tende entretanto a fazer-se em maior profundidade. criativos.
Se nestes casos a identificação com a autoridade e com a tarefa
do grupo é mais penosa, se ela é acompanhada de momentos Quanto ao monitor democrático, é atualmente caracterizado
de tensão e de confütos, por outro lado a heterogeneidade do pelos teóricos do "leadership" cm pequenos grupos de trabalho
grupo permite mais complementariedade entre os membros, mais ( I 40) , como aquele que é capaz de assumir e de dividir suas
resistência às pressões pela uniformidade e maior vigilância con responsabilidades. Percebe suas funções de monitor essencial e
tra as tentativas de manipulação por parte da autoridade e, especificamente como uma tarefa de coordenação. Nos momen
portanto, na maior parte dos casos, mais criatividade da tarefa. tos essenciais de todo trabalho de grupo, ou seja, nos momentos
de discussão, de decisão e de execução, ele não tem senão uma
3 . Estruturas de poder e estruturas de trabalho. preocupação constante, a de se assegurar e, se preciso, assegurar
que todos os membros estejam de acordo em profundidade
Quanto à organização formal do pequeno grupo de traba
lho, eis o que nos parece constituir dados de realidade ( 11).
sobre o que se vai discutir, decidir e executar juntos . Está
E necessário distinguir no plano formal entre estruturas de poder constantemente atrnto a que cada membro do grupo tenha uma
(quem \iem poder sobre quem, oficialmente) e l;!strU!tJ.rfüL de possibilidade igual de defender seu ponto de vista, de ver
trabalho')(quem oficialmente trabalha para quem, sobre quem balizar suas objeções ou suas opiniões, de modo que a discus
e sob quem ). As estruturas de poder exprimem-se através de são, a decisão e a execução do trabalho progridam dentro de
modos pelos quais as linhas de autoridade são definidas e articu uma coesão e uma integração das possibilidades de cada um.
ladas, mais ou menos explicitamente, no grupo de trabalho. Não lhe cabe propor e menos ainda impor os temas de discus
Quanto às\.cetJ:utu,r?: <fe .... trnba!q, elas se revelam através dos são, as alternativas de decisão ou a distribuição das tarefas,
modos como as tarefas· são· distribuídas entre os membros e mas, em um respeito constante pelos elementos minoritários do
grupo, assumir a coordenação e realizar a unidade do grupo
em função das exigências da tarefa e efetuá-la em comum.
130 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊ NESE DOS GRUPOS 131

Ao nível das estruturas de trabalho, pesquisas recentes (2), membros devem dividir entre eles são: pesquisador, que recolhe
( 38 ) levaram-nos a reconhecer uma interdependência do "lea os fatos ou os dados conhecidos sobre a ta refa a executar; o
dership" e do "membership ". A distribuição das tarefas entre de orientador, que define ou lembra os objetivos a atingir; e de
os membros só podeíá ser funcional se existir uma nítida dife
informador, que coloca seus recursos, sua competência ou sua
renciação dos papéis entre eles e o responsável do grupo de
experiência a serviço do grupo. Estes papéis de ta ref a devem
trabalho. Em outras palavras, para que o "leaderslzip " se torne
ser assumidos segundo os recursos e as disponibilidades de cada
e permaneça democrático, os membros devem aceitar participar
um . O monitor ou o responsável do grupo se preocupa em
ativamente na discussão, na decisão e na execução da tarefa,
sensibilizar os membros d a necessidade de se colocar de acordo
isto é, devem assumir entre eles os diversos papéis que tornarão
cada va que esta d ist ribuição das ta refas e esta diferenciação
suas comunicações e suas interações funcionais.
dos pa péis entre eles se apresenta e para que permaneça m fun
Nas primeiras fases de um grupo de trabalho, os membros
cionais e mel hor f<:woreça m a criativid ade do grupo de t
têm ·tendência (e este fenômeno parece ser normal, inevitável
rabalho.
e na maior parte do tempo, desejável ) a assumir por momen
tos, pa péis individuais, dirigidos exclusivamen te para a satisfa AUTORIDADE E G f:N ESE DO G RUPO DE TR A BALHO
ção das necessidades pessoais. Eles sentem, então, uma neces
sidade irresistível de se afirmarem como indivíduos. Alguns Um dos desafios com q ue se defronta o responsável de
adotam mesmo papéis um pouco intempestivos. Assi m o papel um grupo de trabalho é o de favorecer e assegur ar o cresci
de exibicionista, desejoso de chamar a atenção sobre si mesmo a mento de seu grupo de dent ro, para além e m uitas vezes a
qualquer preço, ou, pelas mesmas razões, o papel de opositor despeito de sua organização formal, isto é, d as estruturas de
irredutí vel ou de criança mimada ou de retardatário crônico. trabalho e de poder ,que seu grupo assumiu ou que l he foram
Tenderão a comprazer-se nos pa péis individuais durante todo o impostas no momento de sua constituição. Crescer, pa ra um
tempo em que se sentirem não aceitos pessoalmente como indi grupo de trabalho, é tornor-se ma is eficien te, mais criativo ao
víduos. Mas ficou demonstrado ( 4 ) , ( 5 ) , ( 6) que, à medida nível da ta refa. Ora, os pesq uisadores sobre a gênese dos pe
que a ntegração e a coesão do grupo se acentuam, estes papéis quenos grupos de trabal ho acu m ula ra m, nestes úl timos anos,
individuais se tornam, cada vez mais, fatores dissolventes ou dados experimentais convergentes, demonstra ndo que não há
paralizantes do grupo. Comprometem a solidariedade e a ação criatividade durável nem au têntica ao nível da tarefa, enquanto
do grupo, a qual deve tornar-se cada vez mais polarizada pela os mem bros d o grupo não tiverem conseguido integrar-se como
tarefa . grupo. É a esta concl usão que chegam sobretudo os trabalhos
Mas desde que o clima de grupo ( 15) favoreça uma acei de C. Argyris ( 4 ) , de Bion ( 17 ) e de Heider ( 40 ) . Vejamos
tação mú tua e recíproca dos membros, e isto graças às atitudes como estes pesquisadores concebem a integração de um grupo
de aceitação incondicional de cada um pelo lider, eles se tornam de trabalho: suas fases, suas leis, seus critérios.
capazes de assumir novos papéis favorecendo a integração do
grupo, isto é, pa péis de solidariedade. O mais im portante destes 1 . Fases de integração.
p t péis é, sem d úvid a, o de mediador, que consiste, nos
momen tos de conflitos e de tensões entre os membros, em dar :E. em três fases, quase sempre, que se opera gradualmente
provas de lealdade em relação a cada um, em estabelecer a integração de um grupo de trabalho. Cada uma destas fases
compromis sos, em preparar roconciliações , em propor propõe problemas específicos a u ma autoridade que pretende
arbitragens. se exercer de modo funcional. Por outro lado, a passagem de
Tendo se realizado a integração entre os membros e res uma fase a outra, para um grupo de trabalho, depende de modo
ponsá veis, estabelecida e reforçada a solidariedade entre eles, decisivo do clima de grupo que o líder consegue criar ( 9 ).
a distribuição das tarefas pode efetuar-se de modo funcional
A . Fase individ ualista.
por uma diferenciação ou um controle por cada um de certos
papéis-chave que favoreçam a progressão do grupo em vista da A primeira fase da evolução de um grupo de trabalho é
realização da tarefa. Os principais pa péis de tarefa que os identificada pela maior parte dos pesquisadores recentes, como
132 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 133
a fase individualista . Independentemente da natureza da tarefa
e das estruturas da organização formal do grupo, indivíduos resse em que cada um participe em todas as deliberações do
que se reúnem para Gxecutar juntos um trabalho, têm tendên grupo, mostrando assim que ele julga indispens. vel o trabalho
cia, no início e por um certo tempo, a querer se afirmar como de cada um à ·execução da tarefa ( 8).
indivíduos. Esta fase durará até que cada um tenha conseguido
se fazer aceitar como indivíduo . Esta fase que parece mobilizar C . Fase de integração.
os membros do grupo em torno de preocupações que os afastem
da tarefa e de sua execução, revela-se mais tarde essencial à Quando cada um se sente plenamente aceito, quando os
sua integração. O responsável pelo grupo deve saber reconhecer membros minoritários tiverem certeza de que no momento das
que esta fase responde às necessidades fundamentais dos mem decisões srão aceitos, um grupo de trabalho consegue então
bros. Eles não se engajarão na tarefa senfo a partir do mo integrar-se. Chega-se, assim, à terceira fase, chamada fase de
mento em que se sentirem plenamente aceitos. O líder não integração. O líder deve então assumir simultaneamente dois
deve freiar ou acelerar esta fase, mas sensibilizar os membros tipos de papéis de solidariedade. Deve verificar se a integração
do seu grupo quanto ao partido que podem tirar destas primei do grupo de trabalho não foi concluída excluindo alguém ou
ras confrontações, objetiva ndo-se uns em relação aos outros. fazendo pressão sobre quem quer que seja. Importa que seu
Conhecendo-se melhor e aceitando-se reciprocamente, eles têm grupo de trabalho tome o tempo necessário para operar sua
oportunid ade de descobrir os recursos de cada um em fu nção integração em profundidade. Por outro lado, é preciso estar
da tarefa que realizarão eventualmente juntos. Os papéis apa atento a que o clima de trabalho marcado, então, pela aceita
rentemente negativos que durante esta fase certos mem bros po ção e solidariedade não se deteriore em clima de enfatuação.
dem assumir, como monologar ou se comprazer em detalhar Certos grupos de trabalho que tiveram dificuldades em se inte
sua biografia, e que parecem distrair o grupo da tarefa, são grar, sentem de tal modo a exaltação quando conseguem enfim
funcionais na medida em que respondem a necessidades de se esta integração que têm tendência a voltar-se sobre si mesmos,
gurança dos participantes. f: uma ocasião privilegiada para o a se comprazer em seus sentimentos de perfeito entendimento
líder reconhecer, por suas próprias atitudes e comportamento, e negligenciam ou esquecem, pouco a pouco, a tarefa a exe
que a primeira tarefa de um grupo de trabalho é a aceitação cutar (9 ).
mútua ( 42 ) .
2 . Leis de integração.
B. Fase de identificação.
Para assumir estes papéis específicos e criar clima de grupo
propício à integração, o líder de um grupo de trabalho deve
A segunda fase pela qual um grupo de trabalho deve con respeitar o que se convencionou chamar as "leis fundamentais
sentir em passar para assegurar sua integração é conhecida como da integração" de um grupo de trabalho ( 5 ). Há duas:
uma fase de identificação. Quanto mais heterogêneo o grupo,
mais esta fase terá tendência a se prolongar. Uma vez aceitos A . A primeira lei consiste em aceitar e fazer
como indivíduos, certos membros, antes de consentirem em aceitar pelos membros do grupo os momentos de
fazer grupo, procurarão integrar-se inicialmente em sub-grupos. ansiedade inerentes a todo processo de crescimento
f: o caso dos membros que se percebem como minoritários no psíquico. Nós sabemos presentemente (4) que os
grupo de trabalho, não se sentem considerados como membros, grupos, como os indivíduos, devem desenvolver níveis
totalmente, nos momentos de decisão. Sentem, então, a neces elevados de tolerância à frustração, caso contrário,
sidade de sub-agrupar com aqueles que experiment am este mes nos momentos inevitáveis de ansiedade que conhe
mo temor e partilham das mesmas apreensões . O líder pode cem durante sua evolução, ao invés de crescer e· de
desempenhar então um papel decisivo, pelo valor e autentici dade se superar, terão tendência a regredir recorrendo a ·
de sua presença junto aos membros, demonstrando inte- um conjunto de mecanismos de defesa de grupo e
de compensação em grupo ( 125).
''o;X'l'lll'I""""""· ·,·-···---·-"-"'."°" ""···--·,.---····-·---

DINÂMICA E GNESE DOS GRUPOS 135


134 GÉRALD BERNARD MAILHIOT

B. A segunda lei da integração de um grupo lado, quanto mais a integração do grupo de trabalho tenha se
de trabalho e a lei da complementariedade. A inte concluído sobre uma base de complementariedad e e não de
gração para se operar de modo duradouro e em pro subordinação, mais os canais de comunicação se tornarão fun
fundidade, deve se concluir não pelo nivelamento cionais entre eles ( 31 ) . Por outro lado, se as relações ao se
das diferenças entre os membros mas por sua com articularem tornam-se hierarquizadas, as linhas de comunicação
plementariedade. Mas para que esta possa emergir no interior do grupo, cedo ou tarde, estabelecer-se-ão em sen
e se atualizar entre os membros de um grupo de tido único. Bloqueios e filtragens se multiplicarão, as relações
trabalho, importa que o líder tenha conseguido criar interpessoais entre colegas ou com o responsável arriscarão tor nar-
um clima de grupo onde cada membro aceita per se muito cedo negativas, prejudicadas pelos mal-entendidos,
ceber-se diferente, mas incompleto e cada um dos equívocos ou ressentimentos que parecerão irredutíveis (33) .
outros membros como seu complemento eventual. Relações humanas rígidamente hierarquizadas em pequenos gru pos
Cada membro aprende, assim, a não renegar nem de trabalho dão fatalmente lugar a atritos desastrosos, pola rizados
renunciar ao que ele é, mas a ser cada vez mais êle por conflitos de prestígio que, pelo fato de não poderem ser
mesmo e a colmar à disposição do · grupo os re despersonalizados, em razão do clima de grupo, terminam por
cursos únicos de que dispõe. As diferenças de opi prejudicar a comunicação no interior do grupo, de modo in solúvel.
nião, as divergências de pontos de vista, longe de A integração, então, só poderá ser artificial e aparente, se não
serem apreendidas como fontes de conflitos e de chegar a ser totalmente comprometida para sempre.
tensões no grupo, são acolhidas como outras tantas
possibilidades de complementariedade e de interde B. Coesão optima.
pendência entre os membros na elaboração de so
luções sempre mais adequadas aos problemas que Os dois outros critérios decorrem imediatamente do primei
devem resolver juntos na execução da tarefa (148 ) ro. Uma vez tornada válida a comunicação no interior de um
. grupo de trabalho, e os membros capazes de dialogar entre eles,
de melhor se sensibilizar para tudo o que os torna diferentes
3 . Critérios de integração. mentalmente uns dos outros, suas relações interpessoais podem
então atingir um· alto grau de coesão. Sentem também uma ver
Através de que critérios se reconhece que o exercício da dadeira culpabilidade tod a vez que são forçados a se ausentarem
autoridade em grupo de trabalho favoreceu sua integração? Os das sessões de trabalho de grupo. Sentem a necessidade de ex··
mais significativos e os mais reveladores são os três seguintes: plicar previamente as razões de suas ausências, se. estas razões
são imperiosas e de se desculparem junto ao grupo cada vez que
A . Validade das comunicações. sua ausência não lhes parece absolutamente justificada . Nos
O primeiro critério de integração é a validade das comu momentos de hesitações ou de fracassos, sua empatia transforma
nicações que se estabelecem entre todos os membros do grupo, -se em solidariedade e lealdade. Essa coesão optima, indício de
inclusive o responsável pelo trabalho. Sobre este assunto pos que sua integração está concluída, torná-los-á aptos . a coordenar,
suímos vários dados convergentes. Para serem válidas as co sincronizar e sintonizar seus esforços em relação à tarefa. Este
municações no interior de um grupo de trabalho, pressupõem sentimento de pertencer ao grupo, se foi adquirido em clima
que seus membros tenham conseguido, ao se integrarem, adotar igualitário, não será sentido como uma fixação. A interdependên
uma linguagem comum, recorrer a símbolos e códigos que lhes cia dos membros repousará sobre sua autonomia e sua indepen
são próprios. Além disto, os membros deverão ter aprendido dência respectivas e se conciliará com elas ( 24) , ( 27 ) , ·(
a prestar uma atenção mútua e um interesse real. Sobretudo 148).
o lider do grupo deverá ter conseguido estabelecer relações C. Permeabilidade das fronteiras.
humanas igualitárias entre ele e os membros. Quanto mais
estas relações se tornarem autenticamente igualitárias, mais a O terceiro e último critério de integração de um grupo de
comunicação terá condições de ser aberta e circular. Por outro trabalho é a permeabilidad e das fronteiras. Um grupo de tra-
136 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 137

balho atinge este nível quando sua integração funda-se sobre Ql.12.!P ªr .ª- Jrn.Rlli: - -o.s. ohjetivos..da..tar.eiaJL!U!e
uma tal solidariedade que ela não é ameaçada pela saída ou !IL.e...fQ!l.?:&r:·i:L<!lj_mitar as.fronteicª.s, . planejax...a ... ex.ernção
ausência de um de seus mem bros, nem comprometida pela che
gada de novos. As dif iculdades que os novos membros sentem J0:agci():S. ...l? ':l: S.... e.a,;:a.- !:!ª- <l:fü:a,窺· ...E, stes_
_problemas_s.erão definidos de moao valido se o HdeL.COnseguir
ao se integrarem são logo superadas . Estruturas de acolhimen dJJr(lnte .as trocas
to em relação a toda colaboração do exterior realmente positiva Iritre õS:-.mê!ilbrõs.iie-nsiDiliza J§s:9m:a .cei:tPs fat.9rns d:i--riifiél4e,..
se desenvolvem sem que o grupo tema perder sua identidade .I_ltE _g!!,tr2.:·::i5ara,=S.u<l:fjlisponibilidades .sespe,!;liXª-§-- E.' · Q§.
(14), (136). atl13:i§ Ie.CJJf _os do grupo.... Depois, uma segunda etapa deve se-
-gúir, chamada .fã·s·e··cré ·promoção das iâéias. Uma vez definida
AUTORIDADE E DINÂMICA DO GRUPO DE TRABALHO a tarefa o grupo de trabalho deve procurar elementos de solu
ção dos problemas que ela exige. Para ser funcional esta etapa,
Todas as pesquisas destes últi mos anos são concludentes,' isto é, para. marcar .um pr9gress9 na solusã() d,o p,rol:?lema, _
ao menos sobre este ponto. que reafirma mos aqui: um grupo e.l'.ige
de trabalho não pode esperar ser eficiente de modo duradouro, --e que os meml:Jrns .ci.9 g,rqp9 seja.m (;!Stimul(lc:ios e ii:.sl'i!sJ:()s
enquanto seus mem bros não tiverem se integrado, isto é, enquan J?lo )íder a elTlPegar toci()S os . seus recu.rsQs criadores, . poµdo
to não tiverem estabelecido de modo decisivo, relações interpes .de.lad.Q_suas .f.u.nçõc.s.._.ciíiicas.....p.ar.;L.que....elas.._nil.\:LesJedlizem.... os
soais com base na aceitação, na interdependência e na comple ·m:9ce - 2§.Jn_Y.l'..!1.tivos,..d. ._() _gE.1:1.P.9· O que importa, então,
mentariedade ( 4 ) , ( 23 ). para um grupo de trabalhÕ--ê produzir idéias, formular
proposições, co locar em comum todas as informações de que
Mas uma vez concluída esta gênese do grupo e dos mem dispõem os mem bros para que ao final desta fase ele esteja de
bros integrados, que papéis essenciais o líder deve assumir para posse de um in ventário de todas as soluções possíveis na
obter urna participação máxima e satisfatória de cad a um dos execução da tarefa.
membros na realização da tarefa? Veremos em detalhe que êle
deve tornar-se a partir deste momen to, um catalisador para o Na terceira fase o senso crítico deve retomar seus direitos.
grupo (e assim permitir que se intensifique a integração do Os membros devem proceder a uma triagem entre as soluções
grupo) e simultaneamente ser um coordenador d as operações realistas e as soluções utópicas que foram colocadas desde o
do grupo para lhe permitir progredir na execução da tarefa início da fase precedente. É ..a. Jª.se .da ygrif icação. Não
(115 ). Eis como : retendo
en.9. - ª-- s()l.l,!ções. qm s.e. . mgs.trnr.am_em conformidade . c.om ..os
objetivos fixados e_ de acordo con1 os Ja!9xe_s. <f1'.._ - -
1. Processo de solução de problemas em grupo. lade..._gJL ipelllfüos···aô'··:grupo estão agora em condições de
proceder a l}ma decisão de grupô, istcr é; dese colocarem
Graças aos trabalhos sobre o fenômeno de "pensar em gru deacordo, por C0t1Sen tí_mento, sobre as soluções a adotar para s.e
po" ( 113), ( 148 ) , foi possível determ inar segundo quais pro des.it1Cl}f11]Jiref!ljl}n_tos da tarefa de modó mais adequadQA..
cessos rigorosamente lógicos, deve-se procu rar e se encontrãr a Tomada a decisão, eles nada mais terão a fazer senão ·passar à
solução de .um problema em grupo. Aqui estão as etapas essen execução da tareia ( 9 ).
ciais; em seguida as principais pe rturbações que podem preju
dicar estes processos . Veremos como e porque a autoridade ao B . Todo grupo de trabalho deve aceitar transpor e respei tar
se exercer pode favorecer ou comprometer a progressão do gru a ordem destes cinco modos ou cinco etapas essenciais à
solução de um problema em grupo. Ǫ!J.e . ao . líder criar um
po de trabalho ( 11) .
clima de trabalho tal que, sempre levando CID"=cõniã O" ritmô
A . É preciso que os membros de um grupo de trabalho, e·
desde que se sintam suficientemente integrados, procedam sem as modalid ades de f nciCJname11t9 cie.. c<lda...um, ª _pr.o.gressão.
tardar à d.efi11i.Ç..iio _das...pr.ablemaa- qge gs C(lnf rQntam, para
exe do grupo····• n.a·· tealiáção.... c:i.? tª.refa.se....opere..c.Qllf.Q..?
.. <:!Jtªrjp,ntos _ ªJªrefa que.lhes é confiaçia, . isto . é, devem-se preQ-: J_iLQ.a._dia::_. fética do ''pensac.em...gnJpQ' Alguns
pesquisadores em psico fõglã ' sodal; por referência a este
esquema ideal, puderam des crever diferentes tipos de process os
inacabados. Devemos reter, para nosso estudo, que estes pesq u
isadores estão de acordo sobre um ponto: é principalmente por
causa da falta de um "leader ship" fu11cional em grupo de
trabalho que estes processos são
1 38 GÉRALD BER NARD MAILHIOT
DJ N.Â.MICA E GÊN ESE DOS GRUPOS 139
perturbados e dão lugar, no trabalho de grupo, a fixações, des
vios ou regressões ( 16), (24) . düfcilmente as etapas preliminares, mais ou menos à maneira
como certas inteligências de tipo intuitivo suportam mal os pas
Segundo estas pesquisas, certos grupos de trabalho caem sos articulados da dedução lógica. Sentem como urgente e im
em "círculo vicioso". Depois de ter percorrido as três primeiras periosa a necessidade de tirar conclusões o mais cedo possível
'--"'fll' ··fases, a saber, a....Q. Q....QQ... PJ:2Qk!rtsi, - ·pr.omoç,ãQ•.9.ªÂ e passar sem mais tardar à execução da tarefa. Nos dois casos
j\:jl_iª.s o "leadership " é de fato assumido, não pelo líder, mas por
.3.,..QPJ.! .Gfü:t.•d.e. tifiç,,.?sJio, o grupo não chega a tomar membros influentes, cuja influência se exerce de modo negativo,
uma decisão final e recomeça sem cessar novos ciclos de d dissolvente e esterilizante . A progressão do grupo com vistas à
iscussão. Estes grupos parecem atingidos por uma abolia execução da tarefa encontra-se comprometida (130) , (136).
coletiva . Outros grµpos tendem a se comprazer indefinidamente
em certas fases. t o caso sobretudo da fase inicial, a fase da
definição do pro blema. Isto acontece no caso em que o grupo 2 . Exigências da tarefa e necessidades interpessoais.
de trabalho é dominado por indivíduos possuindo uma
inteligência de tipo verbal. Estes se inclinam muito a querer O líder de um grupo de trabalho é funcional, isto é, favo
resolver o problema em termos de sutilid ades verbais ao invés rece de modo decisivo a progressão na execução da tarefa, se
de se preocuparem em definir nitidamente os termos e as ele consegue primeiramente satisfazer as necessidades interpes
implicações, bem como em saber deferir a solução desde que soais dos membros, ou seja, necessidades de inclusão, de soli
as exigências da tarefa e os fatores de realidade em causa não dariedade, de afeição e de controle (137 ). Assim fazendo, ado
foram suficientemente explorados . Este processo inacabado foi tando atitudes de empatia e de presença atenta a cada um dos
diagnosticado como um "bloqueio em uma fase". Acontece, membros, ele cria um clima de grupo que permite facilitar a
enfim, que certos grupos de trabalho são tentados a passar por integração dos membros, tornar-se mais autêntica, enquanto per
cima de certas fases, so bretudo da fase de promoção de idéias manece cada vez mais flexível. É uma das tarefas constantes
ou a de verificação. Esta "escamoteação" de uma ·ou outra destas do líder. Ele não deve jamais negligenciá-la nem considerá-la
fases traduz-se por uma incapacidade de chegar a soluções que concluída. Mas simultaneamente, e é aqui que muitos líderes
sejam específicas e ade quadas a elas. As soluções adotadas , de grupos de trabalho tropeçam, deve preocupar-se em sensibili
então, são estereotipadas e convencionais. J,.ç;;.. zar os membros de seu grupo para as exigências da tarefa e asse
gurar, por momentos, a primazia destas últimas sobre a satisfação
Pelo fato de não possuir um líder funcional, isto é, úS líder
das necessidades interpessoais. Sempre, por suas atitudes e .seus
_q_ue ço!_1sigª ser simultaneamente para seu grupq de
comportamentos, deve inspirar a seus membros o desejo de se
tnbãffiõ.:um. catalisadorao !lível d?integração e um cóordenador
consagrar à tarefa, de se deixar polarizar cada vez mais por suas
ao nível d a
exigências, de aperfeiçoa r-se através dela. Um líder conseguiu
fã'fêfü, ós prnçessos .. de solução de prob}emas çm grupo .são
isto quando soube suscitar nos membros de seu grupo uma as
perturbados ou prejudicados. Sendo o líder muito passivo ou
muito autoritário , os membros do grupo são encorajados a adotar piração ao aperfeiçoamento da tarefa a criar juntos uma obra
tipos de compor tamentos não funcionais em relação à tarefa a única que trará sempre sua marca inesquecível ( 131).
executar ( 23 ). Os mais freqüentes são os dois tipos de com
portamentos seguintes. Certos grupos são incapazes de fazer as A . Pressões para a uniform idad e e a conf ormídade.
escolhas que se impõem porque são dominados por membros
obsecados em pesar as conseqüências, prever repercussões, ana Para assegurar este equilíbrio entre necessidades interpes
lisar sem fim a divisão das responsabilidades, ped ir sem cessar soais e exigências da tarefa, e saber por momentos conceder um
informações suplementa'res e estabelecer comparações intermi primado a estas últimas, o líder deve, por sua parte, saber imu
náveis . .. Lamentam-se por dispQLcl Q()UC()_ !lllP9 e adiam, para nizar seus membros contra uma tendência geralmente inconscien
wais tarde ou para outros, o cuidado de tomar as decisões . te de ceder às pressões, por vezes sutis, para a uniformidade e
Outros grupos de trabalho são dominados, ao cóntiárlo, a conformidade . Deve criar obstáculo a estas pressões de grupo
por membros impacientes de concluir e de terminar. Suportam
140 A A •
GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINAMICA E GENESE DOS GRUPOS 141

tornando os membros conscientes das mesmas e convidando-os midade que serão exercidas sobre eles, afirmar-se-ão de modo
com ·insistência a resistirem a elas. Em que consistem sempre mais intempestivo, a ponto de se tornarem fatalmente
estas pressões de grupo? rejeitados pelo grupo. Por outro lado, as mesmas pressões de
Dois fatos, confirmados por numerosos estudos . de obser grupo, no caso dos que participam de modo indireito e que se
vação sobre uma grande variedade de grupos de trabalho, des inclinam à auto-depreciação, chegarão logo ao extremo de suas
tacaram -se como significativos a este respeito ( 1O), (40). Eis resistências emotivas. Estas pressões os forçarão a adotar um
o primeiro fato: cada vez que seres humanos se reúnem para tipo de participação modal, isto é, a aderir e a aquiescer incon
trabalhar em grupo, um acordo ou um entendimento tácito se dicionalmente a tudo que é proposto ou sugerido pelos preferi
estabelece rapidamente no grupo para operar uma distância entre dos do grupo. Conseq üentemente seu status social em grupo
aqueles participantes percebidos como astuciosos, dotados e com se desvalorizará gradualmente e seus mem bros se tornarão cedo
petentes e os percebidos como sub-dotados, ingênuos e incom ou tarde os isolados do grupo de trabalho ( 1 1) , ( 1 18).
petentes. Trata-se, neste caso, geralmente, de percepções subje
tivas, apressadas ou mesmo gratuitas. Mas logo a participação C. Interaçõ es circulares e contágio social.
dos primeiros tende a ser supervalorizada, enquanto a dos se Se o líder não consegue desenvolver em seu grupo de tra
gundos é desvalorizada, ou mesmo ignorada. balho limites de vigilância elevados, a interação socia l entre os
O segundo · fato é a conseqüência inelutável do primeiro. membros, mesmo nos grupos de trabalho cuja organização for
Esta hierarquia de status no interior dos grupos, cujas estrutu mal é a mais democrática , tenderá a degrad ar-se em um pro
ras de trabalho e de poder são as mais democráticas, tende a cesso circular cada vez mais herm ético e cad a vez mais submisso
cristalizar e a esclerosar-se. O acordo das opiniões e das atitu às pressões sociais para a uniformidade e a conformidade no
des a respeito de cada participante tende muito cedo a perma pensamento do grupo e sua atividade de grupo.
necer imutável. Suas posições sociais respectivas no grupo de Em conseq üência todo grupo de trabalho conhecerá em
trabalho tendem a se estabilizarem, a despeito do fato de certos seguida uma estratificação social cada vez mais articulad a, cada
participantes, aqueles que se sentem percebidos negativamente, vez mais esclerosada. As necessidades interpessoais arriscarão
fazerem esforços consideráveis para trocar seu status e modifi assim tornarem-se cad a vez mais frustrad as. Os recursos men
car as percepções sociais de seus comparü1eiros de equipes ( 12), tais de cada um dos membros não têm ma is a possibilidade de
(33 ).
se integrar em uma comp!ementariedade de suas respectivas di
ferenças. Se os elementos criativos do grupo não reagem contra
B. Participação móvel, marginal e modal. este nivelamento das diferenças mentais, geralmente os mais ricos
em recursos inventivas, esterilizar-se-ão em um clima de grupo
Aqueles que adquiriram um elevado status têm a possibili eIJ1 que a comunicação humana não pode mais se transmitir
dade, desde o início da formação do grupo, de participar de senão de modo seletivo ( 125), ( 148).
modo móvel e de se tornarem os pre feridos do grupo. São eles
que exercem pressões sobre os membros, percebidos como me 3 . Critérios de eficácia ao nível da tarefa.
nos dotados e menos competentes, pa ra que eles pensem, falem
e ajam como eles. Conseguem adquirir uma grande mobilidade Através de que critérios reconhecer que o "leadership " em
de manobrar e controlar as discussões e decisões do grupo. um grupo de trabalho é funcional, isto é, favorece ao máximo
Os membros que têm um status pouco elevado reagem a eficácia ao nível da tarefa? Através de quatro critérios, se
inicialmente através de uma participação desviada. Em seguida, gundo as pesquisas mais recentes ( 1O ), ( 23).
se tais membros têm alguma vitalidade, e ao mesmo tempo falta A . Utilização funcional dos recursos.
de lucidez sobre eles mesmos e sobre o outro, sua participação
em grupo de trabalho terá tendência a tornar-se cada vez mais O líder de um grupo de trabalho torna-se funcional quan
marginal. E, apesar das pressões pela uniformidade e confor- do, assumindo os papéis de coordenador ao nível da tarefa,
142 cJÉR ALb BER NARD MAILHIOT DI NÂMICA E GÊ NESE DOS GRUPOS 143

torna os membros do grupo desejosos e capazes de explorar tentativas de executar as tarefas que lhe são confiadas. Graças
todos os recursos que lhes são acessíveis na execução da tarefa. às atitudes não d iretivas do líder o grupo descobre que as regras
O índice mais significativo de que este estágio foi atingido é do processo , que no início se mostravam funcionais, devem ser
quando os membros de um grupo de trabalho não se consideram abandonadas ou substituídas cad a vez que as exigências da ta
desvalorizados pelo fato de apelar para ajudas exteriores. Toda refa va ria rem e elas tiverem se tornado um fator de estagnação.
colaboração construtiva será acol hida seja qual for o seu doador . Pouco a pouco, sob a influência determinante do líder, um grupo
Por outró lado, as sugestões de um peri to poderão ser rejeita de t rabalho aprende a não recorrer a regras de proceder, senão
das sem que o grupo d isto se sinta culpado, se elas lhe parece nos momen tos em que a comunicação entre os membros tiver
rem ser de nenhuma ou pouca utilidade para a realização da se tornado incoerente ou correr o risco de ser prejudicada. O
tarefa. Além disto quando as rivalidades entre os membros de modo de proceder pode então contrjbuir pa ra dissipar os mal
saparecem e as d ivergênci as de pontos de vista e de opiniões entendidos e os equívocos. Mas desde que a comu nicação se
ficam despersonalizadas, não arriscam mais degenerar em con flitos rest abeleça espontane amente de modo funcional entre os mem
e em tensões internas. Em um tal clima de grupo cada sugestão ou bros, os processos utilizados pa ra descobrir as causas da filtra
cada solução pode ser avaliada em seu mér ito : ela gem ou do bloqueio serão logo abandonados ( 16), ( 25) .
é aceita ou rejeitada somente em razã.o de seu valor objetivo
(5 ), (11 ), (115 ) . D . Criatividade no plano da tarefa .
B . Tomadas de decisão por consenso. Um grupo de trabalho não se torna criativo senão quando,
graças ao clima de grupo criado e mantido pelas atitudes do
Um segundo critério de eficácia ao nível da tarefa é a ca líder e concl uída a i ntegração dos membros, um equilíbrio estável
pacidade dos membros de tomar decisões por concenso. As de se estabeleceu entre as exigências da tarefa e as necessidades de
cisões não são mais, então, a expressão da vontade de uma solid ariedade, equilíbrio que favorece finalmente um primado da
maioria imposta à minoria que acei ta de má vontade ou do tarefa sobre as p essoas. Além disto a criatividade em grupo e
abuso de poder de um líder autocrático. O líder funcional em de grupo pressupõe que uma comp lementariedade entre os re
grupo de trabalho é aquele que incita seus membros a não to cursos mentais respectivos de cada um dos membros seja ao
marem suas decisões senão quando todas as opiniões e as obje mesmo tem po autentica men te preparada e realmente desejada .
ções foram verbalizadas. As decisões tomad as são conseqüente Uma vez absorvidas as rivalidades, o clima de grupo e o moral
mente a expressão de um acordo em profundidad e por todos, do grupo são pola rizados por emoções de grupo de uma tal va
sem exceção, sobre as escolhas que o grupo pode e deve fazer lêncin positiva q ue cada um dos mem bros engaj a na execução
nas circuntâncias presentes. Todos estão conscientes de que este da tarefa o melh or dele mesmo e consagra o melhor de suas
acordo deve ser explícito e autêntico. Também o acordo não energias ( 4) , ( 36 ) , (131 ) .
terá valor de decisão de grupo, senão a partir do momento em Um outro índice não menos significativo da criatividade
que terá sido sistematicamente verificado que todos o aceitam de um grupo de trabalho é sua aspira ção à per feição . Ela não
em plena consciência das implicações de sua adesão ( 12), ( 15). apa rece senão quando os modos de a proximação, as trocas, as
confrontações e os elementos de solução trazidos para a tarefa,
C . M aleabilidade dos proc essos. levan tam modos de interações cada vez mais positivos ( 113 ) .
Neste estágio as motivações de grupo devem ter atingido . um
O terceiro critério de maturidade de um grupo de trabalho alto nível de aspiração. Todos devem ter se tornado desejosos
revela-se na flexibilidade do grupo em introduzir processos nas de aperfeiçoar-se em grupo e de cumprir com a tarefa do modo
trocas entre os membros. O líder desempenha um papel decisivo ma is perfe i to . Neste ponto pode-se obse rvar que os membros
neste caso. Todo grupo de trabalho, em fase de formação, tenta se tornaram cad a vez mais preocupados com o prestígio do
estruturar as interações dos membros com a ajuda de processos grupo e sua reputação. Um tal grupo de trabalho não se preo cupa
que lhe pareçam próprios a assegurar uma progressão de suas mais em fazer tão bem ou melhor que os outros, seus
144 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
D!N;\ M ICA E GÊ N ESE DOS GR UPOS 145

membros aspiram a ser os únicos a realizar tarefas desta alta de sua autoridade cm grupo de trabalho. As múltiplas funções
qualidade. Ê nesta mesma medida que eles se tornaram criati
vos (37 ) , (40), (131), (136 ) . do "leadcrship" que no início é o ú nico a assumi-las, podem
ser divididas gradualmente por todos os membros do grupo.
Mas o "leadcrship partilhad o" ou o exercício colegial dá auto
APTIDÕES E ATITUDES FUNDAMENTAIS ridade não tem oportunidade de ser funcional senão quando a
Os trabalhos de C. Argyris ( 4), ( 5) , de B. M. Bass (11 ), ausência de dogmatismo do líder, favorecendo a livre expressão
de L. Festinger ( 33 ), de F. Gordon ( 37), de M . Rokeach (130 ) das idéias e sobretudo dos sentimentos, permitiu progressiva
e nossas próprias pesquisas permitem destacar e articular, ao mente aos membros sensibilizarem-se para o que constituía obs
menos provisoriamente, a <fnatomia do "leadership" funcional táculo cm suas comunicações interpessoais e de se tornarem
em pequenos grupos de trabalho. Estes diversos autores a de assim capazes à semelhança de seu líder, de uma participação
finem em termos de aptidões ou de atitudes fundamentais no em grupo cada vez mais móvel e flexível. A abertura das co
exercício da autoridade. A partir daí torna-se possível traçar o municações, a integração e a solidariedade do grupo, a coorde
perfil psicológico do "líder ideal". Os traços essenciais de sua nação na progressão da tarefa, que no início eram preocupações
personalidade seriam os seguintes: quase exclusivas do líder tornam-se, assim, com o tempo, a cons
tante solicitude e a responsabilidade dividida de cada um dos
1. Ausência de dogmatismo. membros do grupo.

O líder de um grupo de trabalho deve possuir de início 2 . Competência interpessoal.


qualidades de flexibilidade mental e emotiva tanto em relação
à tarefa a executar, às estruturas de seu grupo, como aos privi Em pequeno grupo de trabalho, a integração dos membros
légios e prerroga tivas de sua função. Rokeach (130 ) , ( 131 ) não poderia iniciar-se, muito menos concluir-se, se os membros
pôde demonstrar que psicologicamente há equivalência entre, de não sentissem uns pelos outros estima e respeito. Eles não se
uma parte, dogmatismo e de outra, estreiteza de espírito, rigidez engajarão na execução da tarefa e não se sentirão solidários de
emotiva, autoritarismo, conformismo mental, estereotipia de ren seu sucesso, senão quando puderem verificar e se assegurarem
dimento. O mesmo autor pôde estabelecer por seus trabalhos, da competência de cada um. Trata-se então da competência que
que a ausência de dogmatismo está em correlação significativa cada membro deve possuir na esfera especifica da tarefa que
com a flexibilidade intelectual, a abertura ao outro, o acordo devem realizar juntos. Mas não menos essencial à integração e
com o real, a disponibilidade ao acontecimento e sobretudo a à criatividade de um grupo de trabalho é a competência do
criatividade.
líder em tornar-se um catalisador e um coordenador para seu
A ausência de dogma tismo permite ao líder assumir seus grupo. Para assumir estes dois papéis-chaves, o líder deve pos
papéis com um sentido permanente do relativo de suas próprias suir uma competência fundamental ou genérica, que Argyris, em
opiniões, uma consciência aguda do caráter provisório de suas seguida a Lewin, chama de competência interpessoal ( 4). Ela
próprias decisões, do grau de subjetivismo de suas perccpções lhe é de tal modo essencial que na maior parte dos casos ser lhe·-á
de si mesmo e do outro. Permanece também aberto a consul suficiente, sozinha, para torná-lo perfeitamente funcional no
tas, receptivo às sugestões de onde quer que venham, confiante exercício de sua autoridade.
nos recursos do grupo para liquidar seus próprios conflitos e
para alcançar níveis e ritmos mais funcionais de criatividade . A competência interpessoal é constituída de um conjunto
É também porque se recusa a todo absolutismo em seus propó
de aptidões e atitudes adquirid as, organicamente ligadas entre
sitos, a toda intransigência em suas atitudes, bem como a toda si. A ausência de dogmatismo lhe é pressuposta, geneticamente
pretensão à infalibilidade e à irrevocabilidade em suas decisões. falando. Essencialmente ela consiste em tornar o líder capaz de
estabelecer com o outro relações interpessoais autênticas. Sendo
Enfim, a ausência de dogmatismo, segundo Gordon ( 37 ), capaz de autenticidade com o outro e também consigo, ele cria,
torna o líder capaz de adotar atitudes nao diretivas no exercício então, somente por sua presença junto aos outros, climas de
!

i46 GÉRALD BERNARD MAlLHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 147

grupo no interior dos quais as relações de trabalho possam evo pesquisas recentes ( 42 ). Mais exphcitamente, os membros do
luir: de formais, estereotipadas e artificiais que possam ser no grupo serão levados a desejar uma autenticidade no plano de
início, tendem então a tornar-se funcionais, espontâneas e cria suas relações de trabalho quando o líder tiver conseguido, pela
tivas . qualidade de sua presença ao outro, estabelecer e manter um
Para dar provas, no exercício de sua autoridade, de com clima de grupo suficientemente permissivo. Cada um descobrirá
petência interpessoal, o líder deve, então, ter feito o aprendizado então que lhe é permitido ser plenamente ele mesmo. Inicial
da autenticidade. Deve, pois, ter aprendido a libertar-se de seus mente para responder às expectativas do líder, -e depois, pouco a
medos, de si mesmo e do outro, a objetivar-se em relação a pouco do grupo, é necessário que cada um, no trabalho e pelo
si mesmo e ao outro, a ponto de poder aceitar-se e aceitar os trabalho , atualize os recursos únicos que traz em si. Desde este
outros incondicionalmente . Geralmente o que torna o líder in momento cada par ticipante sentirá a inutilidade de se disfarçar
capaz de estar presente positívamente a cada um dos membros e deixará de se preocupar em ser aceito a todo custo pelo líder
do grupo, são suas atitudes defensivas em relação ao outro. O e pelo grupo. Poderá então engajar-se na tarefa, respeitando
outro é percebido como uma ameaça, seja à integridade de seu seus próprios ritmos e seus próprios modos de funcionamento.
ser, seja à segurança de seu futuro ou à miragem e às ilusões de Liberado, graças à competência interpessoal do líder, de toda
seu parecer. Ele sente também uma compulsiva necessidade de pressão de grupo por uma uniformidade e conformidade, cada
afirmar sua autoridade. Enq uanto permanecer defensivo, signi um dos membros experimentará, talvez pela primeira vez em
fica que está preocupado em proteger e salvaguardar seus di sua vida, um clima de trabalho de grupo que lhe permita liber··
reitos e seus privilégios, em não querer comunicar com o outro tar-se dos condicionamentos que até aquele momento prejudica
senão através de canais formais, estruturad os e definidos de vam sua participação e seu rendimento. Aceitando-se a si mes mo
modo ngidamente hierarquizados. No interior de semelhantes e aceitando cada um dos membros incondicionalmente, o líder
redes ele encontra sua segurança e pode ou acredita poder impor constituirá uma inspiração viva para seu grupo de traba lho.
ao outro uma imagem carismática de seu poder, de seu status, Cada um poderá aprender assim, através dele, a romper com o
de suas prerrogativas. Pouco a pouco, por um desvio fatal, ele hábito de não ser no plano de seu trabalho, senão um objeto
não poderá mais perceber os outros nem ser percebido por eles condicionado pelo mundo exterior, suas coerções, suas defesas,
senão através da máscara de uma autoridade que se quer infalí vel, suas pressões, para tornar-se um ser livre, autônomo,
imperturbável, onipresente . um sujeito criador.
Cessando de ser defensivo a respeito de si mesmo e do
outro, o líder torna-se pouco a pouco capaz de auto-empatia e
de alo-empatia. Suas atitudes e seus comportamentos em grupo
tornar-se-ão, então, mais transparentes, suas comunicações com
o outro mais abertas. Sua presença no grupo será percebida cada
vez mais pelos membros como congruente e consonante. A
partir deste momento pod erão desaparecer as relações inautên
ticas, isto é, de dependência ou contra-dependência . Os mem
bros não se mostrarão mais defensivos em relação a ele. Enfim, 1
i
o grupo torna-se capaz de fazer o aprendizado das relações de
interdependência baseadas na descoberta das possibilidades de
complementariedade.
Entretanto as relações interpessoais entre os membros de 1
um mesmo grupo de trabalho não poderão aspirar a tornar-se lí
mais autênticas senão quando cada um se sentir aceito incondi
cionalmente pelo líder . A prova disto parece ter sido feita pelas l
l 1

l
CAPÍTULO OITAVO

DO COLETIVO AO SOCIAL

Desde longa data o ser humano aprendera a d issocia r seus


sofrimentos físicos de seus sofrimentos mentais ou morais, a dis
tinguir os sofrimentos que ele experi ment av a em seu corpo d a
queles que sentiam sua alma, eu coração e seu espírito. Não
foi senão há muito pouco tem po que as descobertas d a psicolo gia
social, mais precisamente da psicopatologia coletiva, fizeram nos
tomar consciência de que o ser humano além, aquém ou à margem
de seus sofrimentos pessoais, pode sentir, quando em grupo com
outros indivíduos, u ma série de perturbações psíqui cas que
recebem o título genérico de angústias coletivas. Não é mais o
indivíduo, então, que sofre em sua vida intrapessoal ou em suas
relações i nterpessoa is, isto é, suas relações de pes soa a pessoa
ou de ind ivíduo hu m ilhado, constrangido, explo rado ou
discriminado pelo grupo, mas é o grupo como tal, en quanto
totalidad e d inâmica, irredutível aos indivíduos que o cons tituem,
que é in vadido pela angústia e se sente ameaçado de
desintegração, seja em sua vid a 0u seu funcionamento int ra
grupal, seja em suas relações intergrupais.
Parece que os grupos humanos experimentaram em todos
os tempos estes estados de angústias coletivas, desde o dia em
que a humanidade passou do estágio da "hcrd" para atingir ao
estágio da "horde", isto é, segundo os dados mais recentes da
antropologia cultural, desde o momento em que sob a influên
cia e a ascendência de líderes natos os seres humanos deixaram
de se agrupar sob o modelo de rebanhos . e se constituíram em
tribos. Em certas épocas da História , as angústias colctivas pa
recem mesmo ter assumido proporções quase planetá rias. f:: o
que nos dizem os mediev alistas sobre o que eles chamam: "o
grande medo do ano 1000". Durante os anos que precederam
o ano 1000 os povos crist ãos em sua totalidade, ainda segundo
150 GÉRALD BERNARD MAILHIOT 151
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS

as mesmas fontes, apreenderam com uma angústia crescente à


medida que a data fatídica se aproximava, que o mundo mer como as imagens através das quais percebem os outros grupos,
gulharia em uma catástrofe universal, suas visões apocalípticas tendem a tornar-se cad a vez mais seletivas, ambivalentes e, por
do futuro tornando-se cada vez mais delirantes (28 ) . Quanto à momentos, total mente delirantes. Estes grupos, nestes momen
nossa época, sua paz internacional não se sustenta, no momen tos, tornam-se incapazes de se objetiv ar em relação a eles mes
to, segundo uma expressão figurada de Churchill, senão sobre mos e cm relação aos outros gru pos. ··
o muito precário e frágil equilíbrio do terror que experimentam Pouco a pouco seus comportamentos de grupo e suas re
há vinte anos os poderosos de nosso tempo com a perspectiva lações intcrgrupa is deixam de ser funcionais. Tornam-se com
de uma guerra termo-nuclear . pulsivas, erráticas. Apresentam modalid ades cad a vez mais pri
mitivas e assumem formas cada vez mais regressivas . Os grupos
Como definir e caracterizar estas angústias coletivas? Como
mais civilizados pode m-se entrega r ent ão ao pânico, às expan
explicá-ias e interpretá-las? Como os grupos humanos podem
sões pulsionais ma is im previsíveis e a extremas violências .
imunizar-se contra elas? Como conseguem libertar-se e aliviar
-se delas? Como, enfim, o ser humano pode através delas su Estes comportame ntos de grupo provocados pela angústia
perar-se e alcançar a autenticidade em suas relações com o coletiva se acompa nh am ou são condicionados pelos reflexos e
outro? meca nismos de defesa que chegara m ;io nosso conhecimento
graças aos grandes psicopatologistas de nosso tempo. Ora, estes
Para todas estas questões a psicologia social contemporânea
grupos, pa ra escapar à sua angústia, procedem à auto-justifica
não tem ainda senão respostas fragmentárias e provisórias a ofe
ções de seus com por tamentos e de suas atitudes coletivas e se
recer, mesmo após vários anos de pesquisas intensivas consagra
comprn zem , então, nos mitos cuja exaltação é tão excessiva que
das ao estudo científico destes fenômenos.
eles lembram estra nhamente os delírios de grandeza de certos
O balanço dos dados definitivamente adquiridos sobre este
pa ranóicos . Ora, seu super -ego coletivo domina e estes mesmos
assunto revelam a que ponto a psicologia social é devedora a grupos mergulham em estados depressivos, tornam-se roídos por
Kurt Lewin pela compreensão dos processos de socialização do cul pabilidad es obsed antes, cedem a mecanismos de auto-depre
ser humano . Nenhum outro problema relativo à gênese dos gru
ci ação e de au to-pu nição que os impulsionam a expressões de
pos e sua dinâmica poderia demonstrar melhor que este a atua
masoqu ismo coletivo. Estes grupos entregam-se, então, a cons
lidade das descobertas de Kurt Lewin.
tantes auto-críticas e pra ticam morbidamente a difamação siste
mática de tudo que pôde constituir sua identidade coletiva e seu
ANGÚSTIAS COLETIVAS E ALIENAÇÃO MENTAL
· próprio sistema de valores.
As angústias coletivas se apresentam ao observador dos Mas do mesmo modo que no indivíd uo nevrótico e ainda
grupos humanos como sintomáticas de perturbações psíquicas mais no psicótico , o grupo humano preso de uma angústia· co
que se aparentam estranhamente, à primeira vista, àquilo que os letiva, faz então a experiência do nad a e vive toda situação social
psicopatologistas descreveram como específicos das nevroses e sem poder encontrar um sentido para ela. Este estado lhe pa
das psicoses individuais . rece absolutamente sem saíd a e, ao se prolongar, adquire cedo
proporções catastróficas para seu próprio ser. Finalmente, à
Estas angústias coletivas são geralmente desencadeadas nos
medida que sua incapacidade de encontrar uma significação para
grupos que as experimentam por situações traumatizantes, reve
as situações que vive vai crescendo, e que as ameaças de de
lando nestes grupos níveis muito baixos de tolerância à frustra
sintegração lhe aparecem cada vez mais fatais, esta angústia
ção e índices de vulnerabilidade muito grandes às situações de
pode cond uzir, e de fato conduz, cer tos gru r• 'S, como aliás cer
ansiedade.
tos indivíd uos, ao suicídio ou à alienação. Se a angústia atinge
A medida que estes estados de angústia se prolongam, os o paroxismo e o leva ao desespero, um grupo pode então deci
grupos atingidos apresentam, segundo os casos e em graus di dir afundar-se, dissolver-se, desintegrar-se, por sua própria es
versos, os sintomas seguintes: eles se percebem ameaçados em colha ou procurar sua sobrevivência nas servidões e nas nega-
sua integridade e em sua autonomia . Sua imagem de grupo, bem
ções da assimilação.
152 GÉRALD BE R NARD MAILHIOT
DI NÂ M I C A E G Ê N ESE DOS GR U POS 153

PSICOSE DE MASSA E DESPERSONALIZAÇÃO se pode dizer de tod as as "espionagens" de todas as "caças às


bruxas", de tod as as "rsicoses de massa" onde quer que elas se
Se as angústias coletivas apresentam tais sintomas e pare encontrem e quaisquer que seja m as justificaçõ es que para elas
cem pôr em jogo meca nismos tão familiares, por que apelar a consciência clara encon t ra .
para o esclarecimento da psicologia social e procurar compreen
dê-las através das descobertas da dinâmica dos grupos? A an Notemos, ao cont rá rio, que à luz de certos trabalhos recen
gústia coletiva não seria simplesmente constituíd a pela resultan tes ( 124 ) , pa rece que a expa nsão de certas d oenças, provocadas
te puramente quantitativa de vários indivíd uos predispostos à por causas que n ão são propria mente sociais - a malária
angústia e experimentando-a ao mesmo tempo, em graus diver ou o trcponema pál ido, por exem plo - podem ter como resultado
sos, em relação a uma mesma situação de ansiedade? A partir graves d istú rbios s.oci 1is . O sad ismo profu ndo, constante e d i
,,destas premissas deveríamos concluir em boa lógica que somen fuso de povos milita res e conq u istadores, como os assírios ou
te os grupos constituídos de nevróticos ou de psicóticos seriam os astecas, coloca pa ra o psicól ogo da História problemas que
susceptíveis de experimentar momentos de angústias coletivas e ele n ão consegue resolver; ta nto mais que outros povos, também
de nela se afundarem. m ilitares e conquistndores, não mostram a mesma persevera nça
nem a mesma i maginação na crueldade. Seria necessário reter
À primeira vista parece ser assim. Tanto mais que o que
a hipótese de certos pesquisadores do passado ( 46 ) , ( 143 ) ,
se pode diagnosticar corrio patológico coletivo parece não ter
que nos explica m, por uma par te, um certo nú mero de traços
seu ponto inicial e seu ponto final senão nos comportamentos
da época da Renascença e da Reforma, que at ual mente nos des
e nos sentimentos das pessoas. Como aliás, à primeira vista,
concertam, como por exem plo, esta agitação, esta descontinui··
o que pertence ao domínio da psicopatologia individual tem
dadc d a consciência, este exagero dos conq uistadores espa
sempre como causas ou condições contextos sociais. A partir
nhóis, dos senhores eliza bct n nos ou dos "condot ticri" itali anos,
de que número deixamos o individual para penetrarmos no so
à manei ra de Césa r I3órgia, pela difusão rápida e brutal da sífi
cial? A estatística teve sempre dificuldades em responder a este
lis, então em plena virulê ncia.
tipo de questões que lhe parecem pseudo-probl emas ( 46).
Enfim, pode acon tecer que um ú n ico ind ivíduo produza
Mas então como explicar o que se segue? Perversões se
efeitos sociais pa tológicos com unicando seu m al -
xuais de um determin ado tipo podem não constituir senão fenô
paranóia, megaloman ia ou loucura de perseguição - a
menos individuais devidos a perturbações endócrinas ou a mon
socied ades inte ras . . . Foi o caso típico, cm nossa época, de
tagens fortuitas de reflexos condicionados ou a experiências pre
nações de forte densid ade dem ográf ica que, por um certo
coces de sedução. Mas quando este gênero de perversões se
tempo, seguiram quase cega mente chefes que, não sendo loucos
generaliza em um determinado meio, com exclusão dos meios
no início, tornaram-se duran te o processo: um Adolf Hi tler
vizinhos, o fenômeno patológico torna-se social.
que, depois de tudo que sabemos dele no momento era pelo
Um delírio de perseguição pode ser o fato de um indivíduo. menos u m neuropata avan çado; um Stalin, ídolo da sexta
Mas quando numerosos delírios de perseguição giram em torno parte do mund o cuj os antigos compa nheiros nos revelam
do mesmo tema, por exemplo, dos judeus, ou dos comunistas atualmente, um pouco tarde sem dú vid a, que ele se tornara ,
ou dos esquerdistas, e quando coletividades inteiras parecem na embriaguez do poder absoluto que detinha, o tipo clássico d o
participar destas aberrações delirantes por uma "projeção" sobre perseguidor-perseguido . Mesmo nestes casos cm que u ma
um mesmo inimigo comum, considerado como um bode expia tório, doença puramente individual em sua origem torna-se social ao
então trata-se de psicopatologia coletiva. Quando, por exemplo, um final , somente condições sociais propícias ao seu
secretário de Estado da defesa dos Estados Unidos chega a procurar desenvolviment o podem explicar que ela assuma proporções
comunista _ sob seu leito, enquanto as massas americanas juntamente coletivas.
o
com senador MacCarthy e seus êmu los chegam a ver por toda Doenças psíqu icas são propriamente sociais ou em suas cau
parte comunistas, estamos em pre sença de um fato de sas ou em seus efeitos. Podemos concluir que quando um grupo
psicopatologia social (143). O mesmo t<'
.
hu ma no é atingido por uma angústia coletiva são, em graus di
versos, estes os sintomas que apresenta. Somente a psicopatolo-
154 GÉRALD BER NARD MAlLHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 155

gia coletiva está habilitada no momento a nos explicar estes fe 3 . A terceira lei é a lei da multiplicação sentimental .
nômenos de grupo. Vejamos como:
Todo e qualquer grupo, em processo de regressão, experi
menta emoções de grupo de uma intensidade extrema que se
REGRESSÕES DE GRUPO, CONTAGIO SOCIAL
aproxima do paroxismo .
"LEADERSH IP" CARISMATICO
Isto é verdade sobretudo em se tratando dos paroxismos
do medo e, então, dá-se o pânico, em que o medo de cada um
Vejamos , inicialmente, um primeiro dado de realidade que faz o medo de todos e vice-versa. Tudo se torna então drama
Jª possuímos . A angústia coletiva desencadeia nos grupos que tizado quando não atinge o melodrama, com suas simplificações,
ela atinge e de que se apodera mecanismos e processos de re seus excessos, seus contrastes e sua exagerada sentimentalidade .
gressão que se relacionam com leis psicológicas que até aqui
não pareciam se aplicar senão aos fenômenos geralmente co 4 . A quarta lei é a lei dos contrastes.
nhecidos pelo nome de histeria coletiva ou de psicose de massas.
Todo grupo humano em via de regressão passa facilmente
Estas leis são em número de quatro.
de um extremo a outro, oscila de um paroxismo ao paroxismo
contrário.
1. Em todo grupo que está em processo de regressão, o
É o próprio paroxismo que quer estes contrastes e torna
equilfbrio psíquico se estabelece ao nível dos mais baixos psi todo grupo humano ciclotímico. O observador atento pode
quismos individuais. Precisemos, no nível dos instintos, parti cons tatar que nestas fases de angústia coletiva o grupo que
cularmente dos instintos de rebanho, os de conservação e de está perturbado por ela, passa, sem razão aparente, da
agressividade. Esta lei verifica-se igualmente no plano intelec tual hostilidade à simpatia, da agressividade ao pânico, da
e no plano 'moral. Os grupos mais sofisticados, os mais esperança ao desespero. Em alguns minutos ele pode oscilar da
socializados, tornam-se nestas fases de regressão subitamente aglomeração aos deslo camentos espontâneos, ou porque
crédulos e impressionáveis, manifestando uma acolhida preci desaparece o centro de inte resse que o havia
pitada, instantânea, aos boatos, rumores e notícias falsas. A momentaneamente absorvido ou simplesmente sob o efeito de
queda de seu julgamento e de seu espírito crítico torna-se, então, um medo sutil, geralmente imaginário .
quase total. Parece mesmo que sua credulidade é tanto mais
virulenta quanto mais emocionais os boatos, quanto mais co locam Se sabemos melhor como se explicam os comportamentos
em jogo, diretamente, 0 medo, o ódio ou o ressentimento. regressivos dos grupos presos de angústias coletivas, aprendemos
É a lei do equilíbrio inferior. por outro lado, graças a certas descober tas da dinâmica dos
grupos (14 ), como e porque certos grupos, pouco a pouco,
2 . A segunda lei é a lei da simpli ficação intelectual . tornam-se contaminados socialmente, como gradualmente o con
tágio social se infiltra, sem o seu conhecimento, no interior de
Todo grupo, em processo de regressão, interessa-se em pro
suas estruturas e de repente prejudica seu funcionamento. As
curar slogans, estereótipos, ou em forjar mitos e apega-se a
reações em cadeia mais imprevisíveis tornam-se possíveis, tor
definições simplistas das situações de ansiedade às quais tenta nando estes grupos vulneráveis a choques emotivos e a trauma
sobreviver. Daí o poder que momentaneamente os preconceitos tismos de grupo, ocasião em que a angústia coletiva os invade
mais injustos podem adquirir sobre os grupos constituídos de e os sintomas descritos há pouco aparecem. Na maior parte
espíritos mais livres, mais adultos ou mais altruístas. Mesmo das vezes estes processos operam em três tempos, segundo um
os melhores cidadãos entre nós estão prontos a responder a "um cenário pouco variável, que se pode articular e descrever assim.
apelo às armas", a vingar "sua liberdade no sangue", a libertar
a terra do jugo dos comunistas ou a Igreja e a intransigência 1. Primeiramente se produz um contágio social ou uma
dos integristas, convencidos de que "nós venceremos porque contaminação social no grupo. Para que um grupo seja afetado
somos os mais fortes"! ou atingido por ela, sabemos atualmente que alguns pressupos
tos são necessários.
156 GÉRALD B ER NARD MAILHIOT Dll';iÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 157

A . Da parte dos membros do grupo: não é mínimo de integração que torne os membros capazes,
senão nos momentos de conflitos ou de tensões in no próprio momento, de sentirem as mesmas emo
ternas ou externas que o contágio social tem possi ções de grupo e se tornem capazes de adotar os
bilidades de operar-se. Estes conflitos e estas ten mesmos comportamentos de grupo. Além disto, é
sões, sejam interpessoais ou intergrupais, devem ser essencial que aquele que se torna então o líder real
de..u ma intensidade mínima para tornar os membros do grupo, ao sugerir novos tipos de comportamentos
ansiosos, levá-los a atritos, acuá-los com ameaças de e soluções, aparentemente mágicas para seus confli
rupturas que os deixam atormentados por remorsos tos, não pratique rupturas por demais radicais com
e culpabilidade. os valores fundamentais aos quais o grupo aderiu
até o momento. Caso contrário seria a desordem ou
B . Do lado do líder : nestes momentüs de o pânico.
crise, é suficiente que o líder, através de seus
comporta mentos, suas atitudes, suas iniciativa s ou 2 . O contágio social favorece a manipulação arbitrária do
simplesmen te pelo tipo de presença que exerce em grupo pelo líder. O que, cedo ou tarde, indubitavelmente, dege
seu grupo, dê provas de uma ausência de ansiedade, nera em choque emotivo. É o segundo momento do cenário .
mostre-se impermeável ao remorso e a todo
O choque emotivo é sempre precipitado por uma crise de
sentimento de culpabilidade para que,
"leadership". O líder que até então havia exercido seu poder
espontaneamente, os mem bros, senão
magicamente sobre o grupo, ao qual os membros, nos momen tos
compulsivamente, desloquem seus confli tos no
sentido que o líder sugere ou orienta, identi críticos, haviam-se identificado, compulsivamente, torna-se
ficando-se emotivamente com ele. Este estágio do repentinamente percebido como uma ameaça para o grupo. Na
que está sem conflito sobre o que está em conflito maior parte das vezes por ter sabotado ou rompido de modo
opera-se repentinamente, instantaneamente, segundo irreversível com o código de valores do grupo em seus elementos
duas leis do inconsciente coletivo que parecem fun mais- essenciais.
cionar em todos os agrupamentos humanos e que É então que o grupo se sente ameaçado de desintegração,
consistem, a primeira, na "magia de desculpação do que ele faz dolorosamente a experiência do nada, que o seu
ato iniciador" e a segunda, na "compulsão à repetição crescimento e o seu futuro lhe aparecem bloqueados e sem ne
espacial" . nhuma saída. Os momentos de angústia que um grupo vive,
então, parece precipitá-lo na catástrofe inexoravelmente .
Os psicólogos sociais que descobriram estas leis
da dinâmica inconsciente dos grupos, que as descre Para escapar a esta angústia e não se abandonar às suas
vera m cm termos operacionais muito satisfatórios, pulsões de auto-destruição, para conservar algum controle, o
sublinham que o líder que desencadeia estas reações grupo tenta, por instinto de conservação, projetar para fora suas
e cria climas de grupo propícios ao contágio social angústias coletivas, segundo formas mais ou menos variadas,
não é necessariamente o líder oficial, nominal, aque que se ligam todas, parece, a mecanismos de "acting out" ou
le encarregado do "headship " do grupo mais aquele de passagens ao ato, caracterizados pelas regressões coletivas
que, dinamicamente, de modo determinado e decisi que tentamos descrever acima.
vo, serve nestes momentos precisos de seu futuro,
de núcleo de cristalização do grupo, em torno do 3 . Na maioria dos casos, a angústia coletiva raramente
qual os processos de grupo e seus mecanismos po constitui a ocasião de uma superação ou de um crescimento
dem agir. para um grupo. E isto por razões que justamente começamos
a compreender e das quais falaremos. Geralmente os grupos
C . Do lado do grupo: para que os grupos ce humanos não desenvolvem senão níveis muito baixos de tole
dilm ao contágio, e sem o saberem, deixem contami rância à angústia coletiva. São logo submergidos e nela sosso-
nar-se, é preciso que o grupo tenha atingido um nível
158 GÉRALD BERNARD MAILHIOT · DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 159

bram infalivelmente. O que constitui, infelizmente, o fim ou o mes e por nevroses coletivas. Se a história continua segundo
desenlace trágico do cenário que a história de tantos grupos t certas constantes e marca alguns progressos , é geralmente à custa
poderia ilustrar de modo tão triste. l dos grupos humanos sem que para eles as ronda continue, pelo
Como vimos, é quase sempre por uma crise de "leadership " fato de não terem aprendido a se superar em seus momentos
que se inicia a desintegração dos grupos. Os choques emotivos de angústia, inerentes entretanto a todo crescimento psíquico.
que os atingem fazem então nascer angústias que os desnorteiam
e os levam às mais extremas regressões. Até o momento em SOCIALIZAÇÃO DO HOM O ELET RON ICU S
que, para tentar se reencontrar e escapar ao descontrole, eles
procuram desesperadamente alguma solução mágica no próprio Após intermináveis desvios e longas tentativas a humani
dade aprendeu penosa e dolorosamente a passar do estado gre
nível em que tudo parecia começar a se deteriorar para eles, ou
seja; ao nível do "leadership". Eles não vêem, ou não querem \ gário ao estado tribal. Resta-lhe transpor a etapa decisiva: a
ver, salvação senão em um novo líder, pelo qual eles clamam passagem do coletivo ao social. Geralmente os grupos humanos
das profundezas de seu inconsciente coletivo. Estão, pois, em alternam, por intermitência, entre o coletivo e o infra-social.
busca de um arquétipo, de uma figura paternal, de um líder \ Mesmo nas sociedades ocidentais mais civilizadas, a indus
carismático que trará a salvação mágica e assegurará milagro trialização e a urbanização, mecanizando e racionalizand o em
samente a sobrevivência do grupo. Os pequenos grupos se dis excesso as tarefas humanas, estandartizando ao extremo os la
põem então a se juntarem em grandes conjuntos, os grandes zeres, como é tipicamente o caso do continente norte-americano,
grupos a se deixarem absorver por novos e mais vastos con não conseguiram até o presente senão criar coletividades em que
juntos . o ser humano se atrofia ps1quicamente e se reencontra em pouco
Tipicamente, classicamente, é o nascimento do herói no qual tempo despersonalizado e alienado em seu meio. O cidadão
se confia para tudo, em favor. de quem se se demite de tudo, ocidental médio, "the average man", sente exercer-se sobre ele
mesmo de seus bens mais sagrados, sua liberdade e sua auto ao longo do dia, sutilmente, mas implacavelmente, pressões de
nomia pessoais, por quem se está pronto a tudo sacrificar para grupo constrangindo-o sempre a uma maior conformidade em
sobreviver, mesmo em suas aventuras mais loucas. Na medid<J. seus comportamentos e suas atitudes, a uma sempre maior uni
então em que o herói não decepciona, em que se mostra mo formidade em suas percepções e seus valores .
mentaneamente salvador do grupo, onde ele opera os consertos Para escapar a este anonim ato, para encontrar possibi
desejados, os grupos que se identificam com ele estão dispostos lidades de expressão de si e de afirmação de si, e também
a todas as servidões, a todas as dependências. O que o grupo para conquistar uma identidade qualquer , nesta massa que o
exige dele é que assuma todas as responsabilidades e tome nas aprisiona e o sufoca, o ser humano contemporâneo sente o de
mãos o controle e o destino do grupo. É também que ele os sejo de se agrupar . É a integridade de seu eu profundo que
absolva dos exageros e violências ·aos quais os membros mais ou menos conscientemente, mas com razão, ele sente amea
recorreram antes que ele aparecesse. É enfim que lhes dê um çada pelos nivelamentos de seu meio. É portanto geralmente
novo código de valores coletivos, novos mitos, e uma nova ideo para escapar ao seu ambiente coletivo e a suas pressões para
logia aos quais possam aderir e encontrar, por um curto momen a mediocridade, para permitir que suas aspirações mais legíti
to, algumas razões de auto:.gtorificar-se, após tantas vergonhas mas se atualizem, que o homem, na idade eletrônica, procura
e tantas humilhações. O grupo convida, então, seu herói-salva tão desesperadamente sua salvação na adesão a grupos, políti
dor a todos os excessos no exercício de um poder que se deseja cos, religiosos, sociais ou outros, tais como, as democracias de
absoluto para ele. Assim abre-se novamente o caminho para o nossos dias produzem em número inimaginável!
autocratismo, para as mistificações, ao arbitrário e, dentro de Mas geralmente o "homo eletronicus", ao tentar fugir à
pouco tempo, para novas crises de "leadership ",novos choques massa em que se esvazia para integrar-se em grupos em que
emotivos, novas e talvez mais agudas angústias coletivas que, possa expand ir-se, choca-se com dois obstáculos. O primeiro,
desta vez, se soldam geralmente por desmoronamentos de regi- o de aderir espontaneamente a um mito muito forte em nossas
• r

160 GÉRALD BER NARD MAILHIOT DI NÂMICA E GÊ NESE DOS GRUPOS 161

civilizações industriais que pretende que a estratificação social dinâmica, a flexibilidade e a coesão que favorecem ao máximo
se opere pela diversificação em sub-grupos homogêneos. Tam a criatividade de seus membros. Não é senão em tais grupos
bém geralmente, por mimetismo, identifica-se irresistivelmente, que o homem contemporâneo, que estaria desejoso de neles se
em sua busca de uma identidade pessoal, a grupos homogêneos engajar, poderia segundo seus modos e seus ritmos próprios,
baseados em similitudes de idade, de sexo, de cultura ou sobre fazer com seres diferentes dele, mas igualmente motivado , a
identidades de interesse a proteger ou a defender. Longe de ajudá- aprendizagem da complementariedade em suas relações interpes
lo a se socializar, a atingir um maior altruísmo, os grupos soais. Ele descobriria que o altruísmo, a solidariedade e a fra
homogêneos, pela própria dialética de sua com posição, tendem ternidade humanas, para favorecer a superação de si, pressu
a tornar-se intolerantes, alérgicos às diferenças no outro, a mul põem que sejam vividos em climas de grupo em que as comu
tiplicar por mecanismos de defesa as barreiras psicológicas, a nicações sejam abertas, válidas e adequadas. Aprenderia que a
tornar as distâncias sociais e os abismos psicológicos entre gru integração de um grupo não se realiza sob a negação das iden
pos intransporúveis. tidades de cada um. A integração de um grupo, parn ser ver
O outro obstáculo no qual esbarra o homem contemporâ dadeira, para se traduzir em laços de interdependência dura doura,
neo que procura dar um sentido à sua existência através de sua pressupõe a conquista por cada um de sua autonomia pessoal.
adesão a um grupo, é o de ceder à miragem do número e acre Acima de tudo é em pequenos grupos heterogêneos que a
ditar ingenuamente que um grupo humano evolui, cresce, na mulher e o homem de nosso tempo podem, com maior validade,
medida em que aumenta, em que se torna maior o possível fazer a aprendizagem da perfeita liberdade de expres são no
número de seus membros. Ora, nós sabemos que a expansão respeito ao outro. Não é senão nestes climas de grupos
puramente quantitativa de um grupo leva-o fatalmente à sua igualitários, que eles podem encontrar a possibilidade de desco
esclerose, e conhecemos a causa deste fato. Suas estruturas ten brir que a autenticidade das relações interpessoais pressupõe a
dem a se hierarquizar da maneira mais rígida, seu "leadership " aceitação incondicional de si e do outro. Então, e somente
a tornar-se cada vez mais autocrático, as comunicações intra então, toda relação humana se tornará para eles, segundo a
grupais a estabelecerem-se de modo ver tical, tornando as rela expressão de Martin Buber, o encontro de um tu e de um eu.
ções humanas cada vez mais artif iciais e cada vez mais freqüen
tes e infelizmente eficientes as ma nipulações dos membros para
fins demagógicos. O pobre indivíduo que acredita poder se va
lorizar e atualizar-se escapando ao "melting pot" inexorável das
massas, aderindo a grupos mais homogêneos, encontra-se, geral
mente, pouco tempo depois, mais alienado que nunca e subme
tido a pressões de grupo não menos tirânicas, não menos des
personalizantes.
Para o homem contemporâneo que quer se socializar ou
se re-socializar através e para além de suas angústias coletivas,
não existe, em nossa opinião, presentemente, senão uma via de
salvação: aceitar preparar para si, no plano do trabalho como
no dos lazeres, oasis privilegiados onde ele possa se recuperar,
conseguindo integrar-se em grupos restritos e heterogêneos. Res
tritos em seu tamanho, heterogêneos em sua composição. Restri
tos mas não fechados sobre si mesmos, ao contrário, tornando
se cada vez mais abertos ao outro e sobretudo ao que o outro
faz. Principalmente grupos preocupados em se questionar perio
dicamente, em conservar em suas estruturas e assegurar em sua
186 GÉRALD BERNARD MAILIDOT

Testes • • • • 6 .. . .. .... . . . ... .


102, 103, 104, 105
. . . . $ • • • • • • • • • • • • •

ToLMA.. (E. C.) ...... . . . . . ... . ...·...................................11


* Totalidade dinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41, 47, 53, 54, 56, 149
Totem e tabu .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . 21
Training Group . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98 tNDICE
Transferência de aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . 98, 99, 101, 102, 104
Transmissão seletiva......................................................................................83 INTRODUÇÃO...............................................................................................9
Transparência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104, 108, 109, 110, 111, 113
A OBRA E O HOMEM....................................................11
Trabalho .
clima de, de grupo . . . . . . 102, 126, 137, 138, 141, 143, 146 II ;.._ UMA ETAPA DECISIVA PARA A PSICOLOGIA
inaptos ao •..................................................................................126 SOCIAL....................................................................................17
grupo de,: ver Tarefa.
- Precursores...............................................................................17
Universo social . . .. .... . . . . . . . ..... . ... ... . . . . . . . . . ..... - Pioneiros e fundadores......................................................19
55,. 57 - Reducionistas e anexionistas.................................................20
- Kurt Lewin..........................................................................22
Vetores do comportamento...........................................................................52 - Contemporâneos.......................................................................24
Vivido, referência ao . . .... . . . . .. . . . ... .... . . .. . . .. . . 97, 99, 119
ver também Aqui-e-agora . AS MINORIAS PSICOLôGICAS....................................29
- Demografia e psicologia......................................................29
When Facing Danger . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .• ...................31 - As minorias judias..............................................................31
- Minorias e Minoritários......................................................38
White (R. K.) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ... . . . . . . . 1r. .... 122, 129
DA PESQUISA-AÇÃO A DINÂMICA DOS
GRUPOS..............................................................................45
- Pesquisa em laboratório e pesquisa de campo..................45
- Opções metodológicas............................................................47
- Atitudes coletivas................................................................49
- Campo social.......................................................................52
- Resistências emotivas à mudança social.............................55
- Experimentação e ação social............................................59
V - COMUNICAÇÃO HUMANA E RELAÇÕES
INTERPESSOAIS....................................................................63
- Uma intuição de gênio......................................................64
- Necessidades interpessoais.....................................................66
- Expressão de si e trocas com o outro................................69
- Vias de acesso ao outro....................................................73
- Relações igualitárias e relações hierarquizadas.................75
- Componentes essenciais..........................................................77
- Bloqueios, filtragens e ruídos.............................................79
- Perturbações e distorções provisórias................................80
- Distâncias sociais e barreiras psicológicas........................84
188

GÉRALD BERNARD MAILIDOT

O APRENDIZADO DA AUTENTICIDADE 2 - Leis de integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


3 - Critérios de integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
-Primeiros centros de aprendizagem . . . . . . . . . . - Autoridade e dinâmica do grupo de trabalho . . . . . .
....
- Esquemas de aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . .
.....
- Instrumentos e transferência de aprendizagem . . .
.
A - O R.G.S.T. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
........
B - O monitor ideal . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
......
C - Escala de dogmatismo . . . . . . . . . . . . . . .
....
D - O sociograma . . . . . . . . . .. . . . . . . . .
.. .. .. .
Etapas da aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
....
A - As fronteiras . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . .
......
B - O eu-íntimo • . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
..... .
- Climas de aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
....
A - Ser não diretivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.....
B - Os recursos do grupo . . . . . . . . . . . . . . .
.....
c - o vivido aqui-e-agora . . . . . . . . . . . . . . . .
....
AUTORIDADE E TAREFA NOS PEQUENOS
GRUPOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
......
- Pr;ir?s dados experimentais . . . . . . . . . . . . . . . .
..
- Vanave1s e constantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.....
- Autoridade e estruturas do grupo de trabaho . . .
. 1 - Tamanho de um grupo de trabalho . . . .
. . . . 2 - Composição de um grupo de trabalho
. . . . . . 3 - Estruturas de poder e estruturas de
trabalho . .
- Autoridade e gênese do grupo de t abalho . . . . . . . .
1 - Fases de integração . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . ..
4
8 105
9 109
1 10
9 116
0 118
9 118
3 119
9
8
1 121
0
3 122
1 123
0 127
3 127
1 128
0 129
4 131
1 131
0 133
134
l - Processo de solução de problemas em grupo 136
.. 136
2 - Exigências da tarefa e necessidades
interpessoais . . . .. . . . . . . . . . . . _ . . . . . 139
. . . . . . 3 - Critérios de eficácia ao nível da 141
tarefa . . . . . . 144
- Aptidões e atitudes fundamentais . .. . . . . . . . 144
..... 145
1 - Ausência de dogmatismo . . . . . . . . . . . .
.. . . . 149
2 - Competência interpessoal . . . . . . . . . . . 150
.. . . . . 152

- DO COLETIVO AO SOCIAL . . . . . . . , . . . . . . 154 Impresso nas oficinas da


... 159 RUMO GRÁFICA EDITORA LTDA.
- Angústias coletivas e alienação mental . . . . . . . . .,, (C.G .C. 46.295. 564/0001-08)
.... 163
Rua Aracy, 63/69 - São Paulo
- Psicose de massa e despersonalização . . . . . . . . 171
....
- Regressões de grupo -Contágio social "Leadership"
carismático . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
........
- Socialização do Homo-Eletromicus . . . . . . . . .
. .. .
Bibliografia . . . .. . .. ... .. . . . . . . . . . . . . .. . . . .
. . . .. . . . . .
rodice dos autores, dos assuntos, das obras citadas . . . . . . . •

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