Dinamica e Genese Dos Grupos - Gerald Bernard Mailhiot
Dinamica e Genese Dos Grupos - Gerald Bernard Mailhiot
Dinamica e Genese Dos Grupos - Gerald Bernard Mailhiot
em 1926. O título inglês desta primeira obra de Lewin é: "In sas em dinâmica de grupos, o "Research center for group dy
vestigation into the psycholog y of behavior and emotion". namics" . Para Lewin é a ocasião de criar e de introduzir no
vocabulário dos psicólogos o termo "dinâmica dos grupos". No
Kurt Lewin começaria súa carreira na Universidade de Ber início tentará defini-lo por referência ao contexto acadêmico no
lim no outono de 1914. Mas a guerra tem início no verão de qual empreende seus novos projetos de pesquisa. No momento
1914. É convocado e servirá durante toda a guerra, dela saindo em que Lewin funda a dinâmica dos grupos, o M.I.T. é o centro
ileso. No outono de 1921 torna-se professor assistente do Ins mais célebre dos Estados Unidos que se consagra às pesquisas
tituto de Psicologia da Universidade de Berlim . Do outono de em ciências nucleares. Por concessão a este meio acadêmico,
1918 ao de 1921 não sabemos praticam ente nada de Lewin constituído sobretudo de engenheiros , Lewin afirma,
salvo que, durante este período de após-guerra, publica três inicialmente, que a dinâmica dos grupos deve ser concebida
artigos sobre a medid a dos fenômenos psíquicos . Em 1926 como um "social engineering". Lamentará isto amargamente ao
torna-se Professor titular de Psicologia da Universidade de Ber descobrir que alguns de seus alunos apressaram-se em concluir
lim. Conservará suas funções e este estatuto acadêmico até a gratuitamente que a dinâmica dos grupos consiste na ciência da
tomada do poder pelos nazistas em 1933. manipulação dos grupos. De fato, ele não errava ao temer o
Durante este período Lewin e seus colegas da Universidade. pior, quando se pensa que depois de Lewin existe um número
de Berlim interessam-se por experiências de laboratório sobre espantoso e sempre crescente de amadores improvisados , sem
os temas seguintes: medida da vontade, da associação, percep formação pro fissional adequada, que propõe, em nome da
ção do movimento e do relevo (49 ) . dinâmica de gru pos, um conjunto de receitas seguras a fim de
Em 1933 Kurt Lewin, por ser judeu, é obrigado pelos na manipular de modo eficaz, com os objetivos mais inconfessáveis,
zistas a deixar a Alemanha com sua família em 24 horas, pa qualquer grupo! Lewin empregou .também os últimos meses de
gando um resga te para não ser encarcerado em um campo de sua vida na desmistificação deste termo que aliás fora o
concentração. Passa pela Inglaterr,a onde permanece alguns primeiro a uti lizar . Por isso .voltará a defini-lo em termos
meses, emigrando depois para os Estados Unidos. f.. convidado menos equívocos, mais operacionais e mais científic;0s.
então a ensinar na Universidade de Stanford (Califórnia ) . Aí Teremos a ocasião de mostrar em que sentido preciso a
permanecerá um ano, tornando-se depois, durante dois ànos, dinâmica dos grupos vem a ser a ciência e a arte de manejá-los,
professor de psicologi a da Universidade de Cornell, Nova York. segundo os últimos artigos assinados por Lewin (99 ), (105),
A seguir, é convidado a ocupar a cátedra de psicologia da (106). Ele morreu súbita e prematuramente a 12 de fevereiro
criança na Universidade de Iowa e a assumir a direção de um de 1947, com a idade de cinqüenta e seis anos, em 'sua
Centro de Pesquisas, ligado ao Departamento de Psicologia da residência de Newtonville, situa da bem próximo dos dois
mesmá universidade, conhecido pelo nome de: "Child welfare centros acadêmicos em que trabalha va: a Universidade
research center". Permanecerá até 1939 neste centro. Harvard e o M.I.T.
Durante este período Lewin publica dois trabalhos teóricos De 1939 a 1947 a orientação das pesquisas de Lewin alte
que logo o tornarão célebre: "A dynamic theory of personalit y" ra-se. Se continua ainda por algum tempo a interessar-se por
(56) e "Principi es of top ological psycholog y" (59) . Nesta problemas de psicologia individual , tais como a frustração e a
época seu interesse principal, aquele que polariza seus trabalhos regressão (63), depois os níveis de aspiração (74), (98) e a
de pesquisa , é formular uma teoria do conjunto do comporta aprendizagem (84),( 100), sua preocupação cada vez mais do
mento individual e, paralela mente, elaborar modelos teóricos minante é a de elaborar uma psicologia dos grupos que seja ao
que lhe permitam renovar a experimentação e a exploração dos mesmo tempo dinâmica e guestáltica, isto é, articulada e defini
fatos psíquicos . da por referência constante ao meio social no qual se formam,
Em 1939 ele volta à Universidade de Stanford e em 1940 integram-se, gravitam ou se desintegram os grupos (97) , (108) ,
torna-se profe ssor na Universidade de Harvard. Em 1945, con (110),(111).
tinuando seu magistério em Harvard, funda, a pedido do M.I.T. Após sua morte, os Professores G. W. Alport, da Univer
(Massachusetts Institute of Technology ), um centro de pesqui- sidade de Harvard, e D. Cartwright, da Universidade de Michi-
14 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 15
gan, em colaboração com Mrne. Gertrud W. Lewin, sua filha, e sempre pronto a ajudar seus alunos nos primeiros passos da
editam e publicam, em dois tomos, vários artigos de Lewin preparação de suas pesquisas.
sobre dois temas complementares tratando de psicologia social Finalmente é necessário salientar a sua ausência de dogma
e de dinâmica dos grupos. O prin1eiro destes volumes intitulado tismo, como um traço muito típico da personalidade de Lewin
"Resolving social conflicts " (108 ) o segundo: "Field theory in e como uma chave da fecundidade de sua obra intelectuaL
social science" ( 111) . Nunca aspirou a fundar uma Igreja e dela tornar-se o Pontífice
Em 1959 a Presses Universitaires de France publica, sob o corno alguns dos mais ilustres psicólogos de seu tempo. Por
título "Psychologie dynamique" alguns capítulos considerados outro lado, seus discípulos nunca sonharam em lançar o anáte
como os mais fundamentais da obra de Lewín, apresentados e ma, em se catalogar como ortodoxos ou cismáticos, fiéis ou re
traduzidos por Marguerite e Claude Faucheux ( I 12). negados. Por esta razão, sem dúvida , os meios acadêmicos tanto
europeus como americanos, dedicados à pesquisa em psicologia
Para completar estas notas bio-bibliográficas um pouco social ou em dinâmica de grupos, nunca conheceram, mesmo de
secas, gostaria de evocar lembranças pessoais, inesquecíveis para modo episódico, fases ou ciclos de Lewinolatria, equivalentes
mim. Considero como uma das oportunidades surpreendentes ao culto e identificações cegas, ou mesmo mórbidas, suscitadas
de minha vida ter tido Kurt Lewin como professor e diretor de pelos que, na mesma época, foram pioneiros de gênio em outros
tese de doutoramento durante dois anos na Universidade de setores da psicologia, Freud e Moreno.
Harvard. Kurt Lewin era, ao primeiro contato, um homem tí
As descobertas de Kurt Lewin sobre a comunícacão huma
mido e por isso mesmo sem flexibilidade e mostrava urna certa na só constituíram para ele uma ciência depois de terem sido
dificuldade em abordar as pessoas. Mas para aqueles que po submetidas a <"'ICperimentações sistemáticas e a verificações
diam trabalhar diretamente com ele nas pesquisas, tornava-se múl tiplas na vida concreta dos grupos humanos. Kurt Lewin não
logo extremamente atraente por sua probidade intelectual, sua formulou as implicações e os fundamentos teóricos de suas des
ausência de pretensões (fato raro nos meios acadêmicos ) e cobertas senão por etapas, depois de confrontá-las repetidas ve
sobretudo pelas possibilidades inventivas que mostrava sempre zes com seus colaboradores. Evitou igualmente apresentá-los
no trabalho. Neste sentido tornava-se uma inspiração constante como um conjun to de dados definitivos. Para ele estes dados
para seus colaboradores e seus assistentes de pesquisa. Não constituíam hipóteses de trabalho a explorar, que deveriam even
deixava de questionar suas hipóteses de trabalho, após tê-las tualmente ser aceitas ou rejeitadas, segundo se constatasse atra
verif icado sistematicamente, para sugerir novas experimentações vés da experiência, serem ou não um elemento a enriquecer nossa
com uma astúcia e uma engenhosidade excepcionais. Vivia lite inteligência sobre o funcionamen to criador dos grupos humanos.
ralmente absorvido por suas pesquisas o que o tornava um pro Havia para Kurt Lewin um problema fundamental que ele pro
fessor medíocre cada vez que devia abordar em classe, diante curou elucidar até sua morte: que estruturas, que dinâmica pro
de um grupo de estudantes, problemas que não tinham nenhum funda, que clima de grupo, que tipo de leadership permitem a
interesse para ele, mesmo quando os expunha . um grupo humano atingir autenticidade em suas relações tanto
Outro traço da personalidade de Lewin que contribuía para intra-grupais quanto inter-grupais, assim como à criatividade em
criar um clima de fervor intelectual excepcional tanto em seu suas atividades de grupo?
laboratório de psicologia social em Harvard como no Centro de
Pesquisas em Dinâmica dos Grupos no M.I.T., era o fato de
exigir que tudo fosse discutido, explorado e decidido em grupo:
hipóteses, objet ivos, metodologia, experimentação. Tanto quan
to possível não se deixava influenciar pela posição que ocupava,
adotando com todos atitudes democráticas e estflbelecendo com
seus colaboradores relações autenticamente igualitárias. Sempre
atento às opiniões e sugestões, de onde quer que viessem, res
peitoso com as pessoas , sempre disponível, às vezes obsequioso
CAPÍTULO SEGUNDO
PRECURSORES
nmile Durkheim (1858-1917), que era um espírito muito -J . "O egoísmo é o fundamento da sociedade e a hipocrisia
mais rigoroso e dedicado às exigências do trabalho científico, ' sua mola-mestra" (113).
chega, porém, às mesmas conclusões . Ele, que faz das repre Gustave . Le Bon (1841-1931), em suas obras de psicologia
sentações coletivas o objeto específico da sociologia, define social "O homem e as sociedad es" e a mais conhecida, "A psi
assim a psicologia social :. · cologia das multidões", chegará, por sua vez, a assimilar todo
'.:A. P§!çologia.: _ §ocial nã,o é $enQ...uma palavra que fenômeno de grupo a um fenômeno hipótico, considerando que
designa taja. espécie de generalidades, variadas e imprecisas, .as... Jfü!. ª··"···es.tão ..env:olv.iç,hi.s, dominªçlªs .....e manipq!ªd.as <Rl.ª
sem objçto definido" ( 35). · ··· · " " lile,s,,."
Sua atitude não é mais positiva que a de Auguste Comte.
A primeira vista, pelo menos. Pois ao penetrarmos melhor na PIONEIROS E FUNDADORES
obrà de Durkheim a impressão definitiva que dela se depreende
é sua preocupação constante, desde o início de seus trabalhos São_Q§...Úí;U!Ç. es, sociólogos e filósofos sociais, os
e de suas pesquisas, em estabelecer a autonomia da sociologia primeiros a intrô.dii.zjr. o . termo '-psicologia .soci-al" nas
em relação às outras ciências do homem. Chegará, assim, a categorias men tais dos meios acadêmicos . São eles igualmente
afirmar hegemonia da sociologia em relação a qualquer ciência. que apresentam as primeiras interpretações p.sicológic.as dos
Para Durkheim a psicologia não pode ser senão individual. De ,f,atos <s.o.çiâis. Por outro lado são os.•.anglo-s.axã.es que
fato, aquela que se edifica, diante de seus olhos, nos meios aca elaboram de modo sistemá
dêmicos de seu tempo, nada mais é do que uma psicofisiologia . tico e articulado os prill1.eiros. tratado§, .9 p§Jcg!qgiíJ.. . .s0. iªl.
Deste modo é levado a conceber, gradualmente, o social ou as A primeira obra consagrada especificamente à psicologia
realidades. sociais copg uma..espécie de hiperpsiquismo e à vida social terá como títtllo "An introduction to social psychalog y"
em. .sQCiedade cgqig• . .o es.tá.gig 4HW+o .... eia çyolµção da vida e será publicada por William MacDougall (1871-1929 ). Mac
psí Dougall, psicólogo social e sociólogo inglês, foi inicialmente pro
qµiça. fessor na Universidade Oxford . Em 1920 aceita o convite para
Gabriel '@!le (1843-1904) , contemporâneo de :bmile Dur ensinar psicologia social na Universidade de Harvard, oP.de pl'.
kheim, em reáção à este, afirma ao contrário: "a sociologia será blicará seu trabalho "The group mind " ( 1928) com o objetivo
igna psicol9gi<i, ou naçla . será". Será também preocupação sua de e_xplicar suas concepções da psicologia social. t ª- ,Ma::.
elaborar ao lado da psicologia individual uma ciência psicológica OQ.u,gall"}'tuci0:.;,q;u 9 e.0. sjólqgo_ <?. .;&Y..ª···n.a
do social que ora chamará de "sgçio-psic()logia" ora de "p5icolo ordçm,.sodaLdec.or.rej
gia...s9cial" para.,,. ep.fiJn .adotar .. o termo 'inter-p5icoloi;;ia" 9.!grças ..me.nt.a.i;.,iq11e. çgmp ·ao. ,,Rsic§J.ogo • .soc.iaL"d.etÇã:minar:',
(35). Mas, para Tarde, contrariamente a Durkheim é o (113). Estas forças mentais constituídas pelos instintos sociais
evidenciam ; segundo MacDougall , as condutas sociais ou os
individual quem explica em última instância o social e o comportamentos em grupo e os comportamentos coletivos. Para
coletivo: os ins- tintos de imitação das massas encontrariam sua MacDougall estes instintos sociais são inatos e múltiplos, se
explicação última no instinto de invenção das elites. gundo ele, em número de dezoito! Sob este ponto de vista, Mac
sma perspectiva, segundo modalidades e uma termi Dougall distinguirá pouco a pouco três capítulos na psicologia :
ntes, dois outros autores franceses definem a psi a Psicologia individual, que tem por objetivo destacar os traços
Primeiro Felix Le Dantec (1869-1917 ), que fundamentais do indivíduo humano, a Psicologia coletiva, que
te na psicologia depois de célebres trabalhos trata especificamente do grupo e da mentalidade de grupo, a
obre a assimilação funcional, publica ao fim Psicologia social, que estuda a influência do grupo sobre o in
balho sobre a vida em sociedade intitulado divíduo.
tenta fazer a síntese de suas descobertas
ambém para ele, a exemplo de Tarde, A influência de MacDougall será muito importante os
instintos psíquicos primitivos, o que Estados Unidos. Ela estimulará o filósofo da Educação, John
simismo: Dewey, a reclamar com urgência a criação de cátedras de psi
cologia social nas Universidades americanas num célebre artigo,
20 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 21
publicado no "Journal of Teachers College of Columbia Univer Após 1930, paradoxalmente, a psicologia social passa por
..., aquilo que G. W. Allport chama sua crise de individu alismo
sity" e intitulado "Need for social psychology " (1909). A pri
meira universidade a responder a seu apelo será Harvard, criando ( 113). Os trabalhos de Freud sobre a psicologia dos grupos
sua primeira cátedra de psicologia social em 1917, para a qual "Psicologia coletiva e análise do eu " - "Totem e Tabu"
será nomeado Henry Holt como primeiro titular. Em 1920 e "Mal-estar na civilização", acabam de ser tradu zidos em
William MacDougall torna-se seu sucessor. inglês e tornam-se objeto de polêmicas apaixonadas entre
Esta fase inicial, que vai de 1908 a 1930, durante a qual psicólogos sociais, picanalistas e sociólogos.
a psicologia social se constitui em ciência autônoma e recebe .Sob....a.iJlfluÍA ,.d.as..teorias.d ...fxµd,...a,,,µeÂquisª em
seu estatuto acadêmico, é dominada por duas influências. aparen ·-·. psi çplggia.... gcial...p.&eQÇu,p.a.,,.se,,,....cadª····•·>MZw.mais". ·····
temente contraditórias. Poderíamos caracterizar esta fase ou co- qgr»;ular..,,,.J!fPª
mo unia "fase instintiva" ou, com não menos razão; como uma .P,§icoJ0gia,.,.exa,qstiva: . qo • lt:adrsip. . DJ.1.rL1te"ª.Ja_ fü anterlor.,,,.ér.a
"fase psicopedagógica". Desde que ocupa seu cargo em Harvard, ..a.1,,,@flu.ênciª<·dQ grypQ .s.obre..,;,9,,.iµdi.vídug qlie]!avia..••. si<io,,,obser
MacDougall assume e encarna estas duas tendências em seus ,X9d.a,....medjda'. .e.. .avaliada >sistematic.a ri:iente. .b,,, pat!t,d_e _ 13O,
escritos, em suas pesquisas e em seu ensino. é...a"·inil1Jl}çia- do·• individuo,
As condutas sociais e os coil1portamentos coletivos sãoin §Qbr,....o....guipQ..4ue,,.•..os.,,,'Psic6log-0,s _ soC;iais· .de.ste., ..tempp -
terpretados jniciªlfuente.• .nf 'içriiJ,Q$ .ci Jórçâs siáis inatas, entam"descob.rir . .a.través...de•.experimentações m.w.situações
de controJadas. Mas é sobretudo o condutor de mul tidões, o
instintos. detei:m tes. ê>- )tµluênc!à ci.·. Tâfde . 'de.. Le manipulador de homens, aquele que atualmente vários teóricos
n
)fon pªie.ce ter sído dóm4iªnfo nest,ª époq1 .. qiªi9. parte ciQ,s
de- . pª,rtamentos de psicologia ..· dos J?stados Unidos, que
chamam o "líder carismático" que a psicologia social deste
tempo procura compreender em termos de dons inatos, de
proco/am (fntão enc()ntrar um lugar par ª"'ps!S:,plogia social. predisposições à dominação e de apetites instintivos de poder.
Por outro lado, o ensino e a pesquisa em Psicologia nos Por outro lado, a psicanálise que se torna cada vez mais
Estados Unidos, sobretudo a partir de 1920, inspiram-se em acreditada nos departamentos de psicologia, fornece à psicologia
grande parte nas g,r.ia,,s, helli\Yioristas. .Ne,sta. ..pçr!l.p.ecti:vaf social outros conceitos. As descobertas clínicas de Freud e de
<e seus discípulos parecem se unir às orientações psicopedagógicas
Pewey será o .. primeiro a .,sal!entá-lo, ·ª' psic()l,Qgia da fase inicial e confirmá-las, pois it:euà,,..pat>ecia- tterdemons
.,.sociaL.deYe .t;ad9, pelo menos para a satisfação de certos pesquisadores, .a
inicialJn.entí> . preocupai:-,se .. . em... fiir qµªl· ,seria,o..... mei.o q:ue.,.pontQ,•. Q..."ser hµmano é..-. i'maFcado ... por sei1. mt;}o,..
.,social ideal mais próprio ·· a · fayorecer )t socializaçã() gp ..se.r S()pretucio por .seu,,'ª1eio fa111iliart.- e:çomo ,os., primeiros ;:1.pos
hum<\no e
seu . acesso ·à maturidadç soeiâl. E é neste sentido que Mac da vida ..de i11ii
Dougall, em sua última obra, "The group mind" consagrará vá Jndiv..íduo,, ,. por :pouc q11e .,sejam•'1.t' ra,.µrritizados, ·· impõeIP-
rias páginas a fixar o objetivo primeiro da psicologia social: deter-: minisIP-os ao se.u . desenyolyimento em(;)ivo • e ·. social.
medir e avaliar a influência do grupo sobre o indivíduo. Mas esta c.olaboração da - psicanálise para a evolução da
psicologia social é logo posta em questão e em dúvida pelas
pesquisas e teorias de uma ciência então novíssima: ;.a.
REDUCIONISTAS E ANEXIONIST AS
;.a.UtrQfü'l lo.gia culturat Através de estudos comparados das
culturas, esta nova família de antropólogos, recrutada entre os
A esta fase dita "instintiva" e "psicopedagógica", sucede, sociólogos e psicólogos sociais ou clínicos, consegue colocar em
de 1930 a 1940, uma evolução da psicologia social em dois evidência o relativisIP-O das culturas e demonstrar que aquilo que
tempos que, por momentos se just apõem e são· geralmente vivi os psica· nalistas haviam apresentado como dados de natureza,
dos, não sem conflitos, de modo simultâneo, pelos meios aca essenciais e fundamentais a todo ser humano, não eram, na
dêmicos desta época nos Estados Unidos. Parece não ser senão maior parte das vezes, senão precipitados culturais cujo
após 1945 que os psicólogos sociais na Europa se identüicarão sistema de valores e düerentes variáveis culturais, típicos desta
momentaneamente .eom estas duas correntes de pensamento e coletividade, podem explicar neste momento preciso, seu futuro.
com algumas de suas hipóteses de trabalho que os Americanos Assim se encontram introduzidos como determinantes do processo
haviam então em parte rejeitado e renegado. de socialização do
22 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 23
ser humano os fatores situacionais e institucionais que os antro .Kµxt L.ewin .. que,. .. a . partir de. 1936,. in.teressa se em
pólogos chamarão de determinantes sócio-culturais dos compor fazer expeEiências .em psicologiLsocial, rompe desde o início
tam.entc,s em grupo e de grupo. com as aproximações de seus antepassados e fixa novos
Isto Ç típico desta segunda fase: seja a psicanálise ou a objetivos à psi cologia social. Suas pesquisas e seus trabalhos
antropologia cultural que influencie, na maioria dos meios aca vão servir desde o início para esclarecer e elucidar a dinâ:qlica
dêmicos, as pesquisas e o ensino universitário, é quase sempre de fenômenos de grupo, muito circunscritos às dimensões
no sentido do reducionismo ou do anexionismo. concretas e existenciais, em contextos de reestruturação ou de
.Os..psicanafü; tas que constroem então tr:itados de psicologia reorientação de uma ação social que tenciona ser mais funcional,
social parecem preocupados unicamente em levar em mais eficiente, mais cria dora (63), (65), (69) , (70), (75),
considei;-:ição as diÍÍJ.en sões ou os componentes inconscientes (77) , (79) , (80) , (82) ,
das condutas sociais. Al guns retomam, mesmo sem discussão, (85), (86) , (89) , (90) .
como tendo sido demons trado, o postulado enunciado por Muito cedo ele convida os psicólogos sociais a centralizar
Freud: .. smtogênese. é a ré plica da filogênese.e seus esforços sobre o estudo dos micro-grupos por ele chama
cgnseqüentemente todo líder adota e repete dos "face-to-face-groups". Mais tarde os primeiros psicólogos
.inconscientemente as atitudes e comportamentos do líder. da pri franceses iniciados em dinâmica dos grupos traduzirão assim
meira horda humana. Ao passo que os. psicólogos. !lociais desta esta expressão: os grupos frente a frente. Kurt Lewin considera
época vão .buscar suas hipóteses na anQ::op9logi<i. cultural e que cientúicamente não possuímos no presente técnicas de ex
ter minam por interpretar toda conduta social como a resultante ploração e instrumental mental para fazer experiências ao nível
de pressões ou de coerções sócio-culturais. da sociedade global ou dos grandes conjuntos sociais. Será pro
cedendo por etapas, provavelmente longas, desmontando psico
KURT LEWIN logicamente os mecanismos de integração e de crescimento dos
diversos tipos de pequenos grupos, explorando toda a série dos
Se, por um lado, a psicologia social sai renovada destas problemas que coloca ao psicólogo social seu funcionamento,
duas fases necessárias ao seu desenvolvimento, marcadas pelo tal como o exercício da autoridade, que pouco a pouco destacar
"individualismo" e pelo "culturalismo", ela não deixa, por outro, se-ão e tornar-se-ão evidentes certas constantes na formação e
de buscar os mesmos objetivos essenciais que preocuparam seus na evolução dos agrupamentos humanos (67), (71), (72), (76),
precursores. Durkheim, Tarde, Le Dantec e Le Bon haviam (106).
construído passo a passo metapsicologias e meta-sociologias cuja Kurt Lewin sugere finalmente que os psicólogos sociais re
ambição era a de tornar inteligível de modo adequado e exaus pensem radicalmente a experimentação em psicologia social. Ele
tivo toda realidade social. E este objetivo deveria ser atingido mesmo demonstra por suas próprias pesquisas e ilustra com suas
quando fossem reveladas as leis fundamentais da vida em so descobertas pessoais que .a...exploração.. válida .e. fecunda dos
ciedade. fe- nômenQ§. de... grupo .deve. .se.. operar. ..no próprio
MacDougall e os psicólogos sociais que lhe sucederam, de campo...psicológico em......que......eles. se... insÇft!m ... a.o.>..in.vés ....dç
1930 a 1940, nos Estados Unidos, não tiveram outra preocupa .sererri...•.fl!cQns.tituí<ios, .em escadas reçl.uzidªs' em laboratório .
ção dominante. Eles também pr.ocuram As variáveis de qualquer fe nômeno de grupo, em razão de sua
.in!::i,tig(lylme.nte,..d.esco brir ....as..leis..iYng.ªme!!lél §.. Q;\ essencial complexidade, não podem ser identificadas e
l.e..R.Qs.§.íl:m Q!:ll.íll".....intelim:veltoda eon- manipuladas, senão no próprio campo, numa perspectiva de
Çuta.. ..saçi ll......en1.•. •.<:l\lél qµe(.... cQ!!tÇ! Q..!lócio,.,c.Pl!Yr;:i.l. Rompem "pesquisa-ação" (66) , (67 ) , (91), (94),
com (96), (102), (103) , (104) .
• qualquer aproximação especulativa e filosófica. Trabalham em i\o . .fundaro ..' Centr.o ele Pesqi.üsas em ..Dinâmica dos
laboratório;' talvez muito exclusivamente. Suas preocupações Gru,., pos" no M.I.T., Kurt Lewin preocupa-se sobretudo em
mentais, seus esquemas de referências, sua metodologia, suas estimu lar um meio ..universitário onde os psicólogos . sociais
hipóte$es de trabalho são especificamente científicas. Mas seus que acei tem sµa concepção da experimentação em psicologia
sonhos, suas ambições, suas motivações profundas fazem deles social, pos sam com ele formar um grupo, confrontar suas
os continuadores dos primeiros teóricos da psicologia social. hipóteses, for-
24 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 25
mular suas teorias, empreender e prosseguir suas pesquisas em A partir de Lewin e em parte graças a ele, uma diYersWcªçíio
um clima intelectual em . que os .valores de solidariedade, de .d.ªs ci Wiªs sociais operou-se progressivamente. Parece certo
autenticidade, de criªtividade, de probidªde dominem e inspi que, atualmente, .é. preciso reconhecer três. ciências sociais fun-
rem constantemente . suas comutlicações. e suas interações (99) . damentais: .a.......so1>:içlggiª' "'ª' ª<topologia .....cultural . e. a .psicolQgia
sociª1. Isto se dá a partir da constatação quase universalmente
CONTEMPORANEOS reconhecida de que o social se revela à observação científica,
como um fenômeno multidimensional que não pooe ser atingido
Kurt Lewin, por sua modéstia intelectual e seu bom senso, e explorado senão por aproximações sucessivas e complemen
conduziu a psicologia social a um plano mais realista. Graças tares: .a. .sociologia ... habilitando::s.e. e equipando;:i:\e experimental-
a ele renunciou-se à utopia de edificar um saber coerente, exaus mente.. para.....destacar......dªs....reªl.idªdces ..sQCiªis.....seus.....asptos...fQrmais
tivo e definitivo do social. Q estudo dos pequenos grupos cons o\l suas estr!:ltll!'!si a . antrQPQlo&ia......culturaL.preocupand0::se. por
tituíª. Pªt"ª be\Viil 11111ª Qpção estratégica que . per1llitiria even sua vez,. . em . ªtingir.... o....sociª1 .em .... suas dimen§Qf!s hist§ricªs . ou
tualme!-!t, e,l11.µm fYturo.. aincla ..imprevisível, .esclarecer .e seJl& ...antecedentes e a
torn<J.r ip.teligívelª···Psicolggia.•.dçs macJ'."97fen.9111enQs ..de.....grupo. psicolQgi::i.......social,.......emim......em....suas......d.imen:
.sé)e,s Jgucionais · ou .dinâmicas, Além disto é conveniente consi
Foi neste
sentido que Kurt Lewin, pelo impulso e orientação nova que derar estas três aproximações como interdependentes e comple
deu à psicologia social, ajudou-a a transpor a etapa mais deci mentares : .a.. forma, ª gênese e a dinâmica dªs.realida<les sooiais
P<?cie,Il1 seE pr()y.isoriam.ente,. dis!i.nguidas para. fins...de .anális.e. o\l
siva de sua curta história.
ge experimentação,. mªs constituem os.. elementos indissooiá.veis
O balanço mais rutido, a resultante mais positiva dos oito c:!e..Joda reªlidage .....social.
anos que Kurt Lewin consagrou à psicologia social foi o fato
de que após 1940 o interesse dos pesquisadores diversificou-se 2 . Apesar de vocabulários e de uma terminologia que po
como nunca acontecera antes, a experimentação tornou-se mais dem variar com cada autor, atualmente parece entretanto adqui
inventiva e mais desenvolvida - as descobertas mais numero rido que é preciso distinguir entre duas direções científicas em
sas. J(urt Lewin, ªº .abrir 11ovos cªminhos e novas fronteiras à psicologia social. A primeira, que muitos autores consideram
psicologia sociª1, Hberouª . de seu cIQgmatismo e de seus a priori como específica....da P.siçelogia Sac.ial, entendida em seu signifi
e, assim fazendo, transformou a em uma ciência experimental cado mais estrito, co!l§ §t ..e1ll<? e,rYf\f 1i9,e11 ifü'!r•..... Q.efip.k
autônoma. Desde 1940, durante este processo de maturação, a ...e.. JP::. terpretar as.. çgrulp.tgs §gçiqf Q!! Qs .comportam.entos
psicologia social conseguiu, pouco a pouco, conquistar sua iden em grupo...:
tidade, definir-se como ciência especificamente' distinta tanto das Assim as condutas sociais tornam-se distintas das condutas pes
outras ciências sociais, como das outras ciências psicológicas . soais e dos comportamentos de grupo. Além disto, as condutas
E, se consultamos os teóricos e os práticos de maior prestígio sociais têm uma característica que lhes é própria - sobre
entre os psicólogos sociais contemporâneos, constatamos que este ponto há um acordo quase unânime entre os psicólogos
existe um acordo quase unânime sobre a concepção da psicolo sociais
gia social. Em torno de que pontos concretos estabeleceu-se este contemporâneos -isto é, .a. .de...s.erem ....cQn§ ! siaiL..pelo...tipo.....de,
acordo? Gostaríamos de destacá-lo, ao terminar este capítulo, comportamentos ... q:ue ...o..... se.r....hu.mªno ..ªc.!?tª .. ºl1. -ºªº•··seguní.:J9·.. seu,
salientando assim tudo que a psicologia social de 1968 deve a grau..... de..sociª gªçíio, .. pelo... simples.....fª!º 'ª--v1YeL Ç:tll S()(;i
Kurt Lewin. fl:e: A presença
comporta.:.:··
do grupo não é condição para que estes
1. Observamos que, no presente estado das ciênéias sociais, mentos apareçam. Mas é por referência à sua participação em
existe uma compreensão dos objetos próprios de cada uma, um um grupo que eles são adotados ou não. Escapa a esta catego
rutido progresso em relação ao que existia na época de Lewin, ria todo o conjunto dos comportamentos através dos quais o
quando então as ciências sociais pretendiam cada uma fornecer ser humano exprime ou não sua adesão às normas, aos valores,
uma interpretação exaustiva e exclusiva das realidades sociais. às convenções e às pressões sociais. Finalmente as condutas so
ciais e os comportamentos em grupo são considerados cada vez
mais como o domínio ou o objeto específico da psicologia social
propriamente dita (35 ), (40 ), (113).
™Zl!C'"'.'tMlJ1'Jl!%W!t f-1!"!P - "---,_,._. _ ...--.·--·
AS MINORIAS PSICOLÓGICAS
DEMOGRAFIA E PSICOLOGIA
Desde o início de seus trabalhos sobre a psicologia das
minorias, Kurt Lewin procura clarear e dissipar o que o termo
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 31
30 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
noria demográfica no seio de uma maioria psicológica que ela
minoria comporta de ambigüidades e de equívocos no plano da controla e manipula a seu favor. ··
semântica.
A demografia utiliza os termos minoria e maioria em sen AS MINORIAS JUDIAS
tidos diferentes da psicologia . .§Il}. demografia um grupo cons
titui . uma maiori<i cl.e?cJ.e ql1e ª. porsc:ntfl.gem de seus membros Kurt Lewin publícou quatro estudos sobre a psicologia dos
l!ltrapasse de um a metade da população em que está inserido. judeus . O primeiro aparece em 1935 e tem por título: "Psycho
Por outro lado todo grupo constituído de menos de 50% da sociological problem of aminority group". ( 58). O segundo é
população dada é considerado como uma minoria. publicado em 1939 e traz o título: "When facing danger" (68).
Em Psicologia minoria e maioria adquirem sentidos mais O terceiro e o quarto aparecem sucessivamente em 1940 e 1941.
diversificados. Um grupo é considerado fundamentalmente como Os títulos que Lewin lhes dá são os seguintes: "Bringing up the
maioria . psicQlógica quando dispõe de estrutur.:is, .de um çtil.t1J1o jewsh child" e "Self-hatreà among jews " ( 73), ( 78 ).
e de. direit()s. que lhe permitam aut?-determin(lr: se 11(). P :ll1()Jio Estes quatro estudos são de caráter fenotípico ou sintomá
seu destino çoletiv?, independentemente do número ou .....ctiJ. P() tico. Kurt Lewin aplica-se neste estágio em nos apresentar uma
centagem de seus mernbros.4 Assim, minorias demográficas po
1
caracteriologia étnica de seu povo e um psico-diagnóstico. A
dem constituir maiorias psicológicas. f; çonsi<:ier::td() (;Qrno rnil.ior margem de sua reflexão, ele se permite generalizar e destacar
Pel() psicólogo social todo grupo humano que se perc.ebe ..na constantes que retomará mais tarde, ao elaborar sua psicologia
pose Q.e. plenos direitos qµe dele fazem um. grupo @tc":momo. das minorias.
Por outro lado, um grupo deve ser classificado como uma minoria Não nos ocuparemos aqui senão da análise apresentada nos
psicológica desde que seu . destino coletivo cJ.epe11da d(l l:J()::t três últimos estudos mencionados acima, sendo que o primeiro
ypn estudo nada mais é que um esboço das teorias que os três outros
tade cte um outro grup()..i, Este grupo, mais ou menos retomarão de modo mais explícito e mais articulado.
conscien temente, percebe-se como menor, isto é, como não
possuindo direitos totais ou um estatuto completo que lhe 1...O estudo intitulado "JV.l]gn.facing ..dqnsçt''. Jrª.til... Q.gjµtu
permitam optar ou orientar-se nos sentidos mais favoráveis a
seu futuro. Desde que se trate da sorte de seu grupo, os ro oµ ci.ªs p9ssib.ilídade§ ..de...sQQ[:Yiyncü1. cJ.<ts Il}Íl}()Ü::t...j..JJQÍil.s...
no Ocidente.. · ··· ···· ·· ··
membros que pertencem a uma minoria psicológica se sentem,
se percebem e se conhe cem em estado de tutela. E isto Lewin inicia com considerações sobre a perseguição em
independentemente da porcen tagem de seus membros em relação massa aos judeus nos países que sofriam então a dominação na
à população total onde vivem. Assim maiorias demográficas zista. Como, de fato, pergunta Lewin, uma minoria pode so
podem ter, por estas razões, uma psicologia de minorias. breviver em um contexto de perseguição como aquele ? Estµgos
soçiológic.o.s .....demonstraram.. que.. em. . tgçias .. as ..guçrg5
Mas não param aqui as distinções da psicologia social. ....européias dos (\lti!Ilos séculos os jµdeus tivcrar11 que Jutfl.L ç...
Como numerosos sociólogos e psicólogos sociais, antes e depois morit:L por seu . p;;iís .d.e. adoção, fossem eles alemães, franceses,
dele, Kurt Lewin utiliza ainda os termos: minoria discriminada espanhóis ou ingleses. No momento dos combates não foram
e minoria privilegiada. Vejamos em que sentido. Joda minoria poupados. Ao contrário, em certos países, foram selecionados para
psicológica, tal qual foi definida acima, .. sempre. considerada sofrer uma série de maus tratos tanto da parte de seus amigos
C()mo uma minoria disq:imi11ada . ou susceptível .de.. sê::lo pelo como de seus inimigos. .Na maior parte das vezes, acrescenta
(ato.. de .sua sorte ..e. seu . ctestin() .eêta,rem n;:i, dçpendêncifl. .. do Lewin, estavacse disposto .a lutar até o último<.j..udeu. :t o caso,
grµpo rnfl.joritário. Por outro lado, tqçlª. µmioria psicológica tencte espe cialmente, dos judeus alemães que tiveram, repetidas vezes,
. a tornar-se, mais ou menos rapidamçnte, 11m grµpo privilegifl.do. de um século para cá, a ocasião de morrer por sua pátria. A
J:<:[Gq!JelJtemente . as maiorias .psicológicfl.s, com o. tempo, partir da tomada do poder pelos nazistas, os jornais editados pelo
...estrati re gime passaram a sugerir com freqüência a formação de
ficêm;se• . No interior .. .<lestes grupos urna mi11oria . e mernl?ros bata-
pqge constituir-se . em oligarquia..e fl.tribuir::se. ou reservar..se pri
vilégios e}!.;dusivos. A. minoria privilegifl.da .. é. portanto uma
mi-
32 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 33
lhões judeus que seriam mobilizados para serem enviados aos
pontos mais perigosos do front. Foi aliás o que de fato ocorreu
p
lifü·!!i tcEf-e üii!a g.ü;;y -· Üe ; t rft
na Itália, na Hungria, na Polônia e em todos os países conquis .fa...lar...cle.....uma.. ..mmgx , '"g··-·'"''"J,&...."......9...·· ··· ·"" ''" '' ''""' ' · ·· " " ' ' ' " "'"""""""'
tados pelos nazistas e atêrrorizados pela Gestapo.
pri g l: > Y . t , .. . ! ? . . -
mpular....parn, €!.. =fms . ::.:ilegiª·t..,qµe, ,. c:u1a.... grs-
ÇQns.e.gue......
.da.s".JªZ.9...s...11elas•.q,uais,.os.,j,!1,SlS<.US.•de...toda.parte ·est-ão··necessaria..·
D111r.2_1rnç2_SQillll:l!!,·ª$,..<lm1tri.n.ªs.....na'? nte,Jnteressados· em contribuir para o·bern.·::esfar econômicõ das maiorias . no.....meio .
j.sta.......e....Ja.cista . foi....a tentatiya,.. de :jµstificar .. a .i.:econstityiçãc) dil"5 qy?,js viYeID,
d()S gµe.tos. . para os ju 1e.us. O problema judeu é um problema social. Mais explicita mente, ,Q••,a.nJ.i. .
..lLt:e.
,,reconhecidos
in.u.01a..que os., jµdeys,
omo."seil(s...h.11m.3:!l()S. 窺ª
não,.foram.i:eiJ.lmente
J1ª,.};1,lfQp;L Qç_iç:! e.mitismo".tem .e.()r Jµp.dame.nto, vez . que. . se.
ental,.-.senão, , a partir ... .. do J'llºlllentq em qµe as ..iQici_s dª
IeYQluções francesa . e a.mericana fizerarxLdeles seres humm:i2s .
igµais em.. direitos..e .em..p.dvilégios.
..Conclui"daí·que....os..direitos . .judeus ...sãojnseP.ªráveis.....de . uma:
··filo
Jofia de igµaldade dos homens. Q$ regÍI11.eS... políticos que per
.segui(1tl!!...2§..J.H9."\!..§.JJeste..s..J.íltimos..Je.mPºS teptaram
sempr.e.Jazer
prevaleceLª . .te()r!ª ..da,!ill.eriori9a<:le.5!Y cer.tª.s..Ia.ça&. ..e . a
..s11perio- ridade ..da.sJJa.
Lewin está consciente de não inovar ao retomar por sua
conta e ao considerar como válidas estas observações já formu
ladas por sociólogos contemporâneos (68) . As reflexões de
Lewin adquirem um caráter pessoal ao se perguntar em que
medida o problema judeu é um problema individual ou um
problema social. Para decidir sobre o assunto lhe basta lembrar
que no momento da anexação da Áustria, os judeus foram me
tralhados pelo simples fato de serem judeus, sem nenhuma con
sideração por sua conduta passada ou seu status social. Eara
.Lewin ..o.. problema.. .juQ. .JJ....é··Um problema....essencialnfente
social,
. .um .. caso... típico Jl. minodP,.. J'lª'o,..p.rivílegiada
·ou.discriminada. #O
.que.,caractei:iza ."a.Lslasses•.ou.os..g1:JJ.pQ.s...não-püyil.giados,,é .
que em...todos..QS...casos eles...Jêm effi. ÇQmUm .() .. Segµin!t;:. .,...não
ex.istem " nã().,gorque..são...tolei;ados. S ..ê.9llnvi:v:ência
...coktiva depende
1 ..:ti:1'9a vontade ·das....dasses privilegiadas. Para ilustrar seu
! pen
samento Lewin evoca o passado do grupo judeu. Segundo ele,
'
, \ a emancipação dos judeus dos guetos não foi conseguida por
eles, mas em conseqüência da modificação dos sentimentos e
das necessidades da maioria. .Aimia.... boje .....podese demonstrar
1 qve as pressões e .P,s .disç:riminações contra. os judeus .aumentam
pu"diminuem, . conforme ·as·..diffouldades eco.nômicas ·Ga
; ·minoria crescem ou . decrescem. Lewin acrescenta ironicamente:
,é,•.•.uma
umª..
muludao
itada. Lewin pretende tam bém que muitos
judeus se enganam ao acreditar que, se ª.. ·. - .·· . ·· ..
.oo.u........ f....l. ·;..gs,...i:.. d e . f .. ..g.....Ç:y. l,. .o.•f"..9......0t. e H .e"·"l·.·..'.."1..."'
, ,···· ..'..1·..
, todos os judeus se conduzissem :cC.quaL..o indiyLdu2..... mª e.. . tm• . JJma...xe.? .que.•.ek gg,çfo .•u.u
§ decentemente, não haveria anti-semi tismo. ujg_..Jde.ntificN"'se..Azom.....seu ...grupo.
ª Geralmente é o contrário que acontece. Segundo.......Le:win,........ is:to........é....... vei:da.d.eito,,, ... sohretudo
Q a capacidade de trabalho dos judeus, seus ........quando,..,,se J.ta.ta....J.io .m.eio .iamiliar. Com efeito, parece-lhe
J sucessos profissionais como médi cos ou amplamente proado pelas descobertas recentes da psicologia da
< advogados, seus talentos para o comércio criança (as suas próprias não o tinham esclarecido sobre este
. que, na maior parte dos casos, provocam problema)
ª periodicamente ondas de anti-semi tismo.
. t{ii,JP.edi.da... m·..que"'OS"judeus··· se
! sobressaem.....arr.iscarn ,sJi..
! ...1!.. . ..J2!:§. Sgyid.Q.§. ... Como último
ª argumento de que não há re lação entre a
1 incidência do anti-semitismo e a conduta
delin qüente de certos judeus, Lewín
.
salienta que la,,ZQ§...ill).'.Qca
i
Jlt:!$ Jlelas......minorias..-pi:.W:ilegiadas. ..parajµstificat "j.w1to......f!
z
Lmass,as .
a
s.cu .anti:csemi.tismQJm .. m.JJdad2
.9e... século.....pa.rf! ..§c:Wo. Há qua
. trocentos anos os judeus eram
c perseguidos por motivos religio sos.
o Jl,ItLJ1Q$s.Qs.....diª-ª
n Jls.....raciouafüiações promulgadas como..
t bem-
r .,ti;mdadas cteorias.....r.a.ç;i§ ªê ......৕ .quais.. adere oficialmente . o
a partido
Q.azista,......são ...retir..adas..de argumentos . supost:;!mente . baseados. na
Y .
J .,;iptropologia e na biologia.
:
J 2 . Q....sndo estudo: . .''Bringin .. up Jhe.i»?ish,,child'
:
l
....tr.ata
da,,... JJ..9a.c!9. 4ey i ..r. r· '§"''j'§y iií....Jl19u .... P'!r ;;t.
qliê··
a .evoluir
.uo.rmalrn<.mte. · ... ,., · · · · ··· ·· ·· ··· ··· ··
. .Kurt-·bewi.n · compar.a
a... .e.du.cação- do...jovem judeu à edu
v çç_fü:u.:I.t'.. 1!:01!!...J<riança .adotada.
; Eis as razões que o levam a esta
\ conclusão. Lewin, pela primeira vez, nos
I revela suas con cepções, ainda
D embrionárias, sobre a psicologia dos
Q grupos. O grupo ao qual um indivíduo
I pertence pode comparar-se ao ter reno
Ü sobre o qual ele se mantém e que lhe dá
l ou nega, segun do o caso, seu status
social. .N.a....medida.gu1J.l
; º-.&!:Y.12Q J.he
r dá.... um..status....sociªI... 2.... J'ldt:âduo...se... . sente......Y..1Il.. .
. S1JXanÇ,a;.,,ao...,çg1k
: trár.io,.....se....Q. .,grnp,t;LU 2..lh c.o.ncede.."nenhum .status....,social,..
ç torna,,
j
e ;. .JPu.Ura!r!·i·.!·.·.·ç·.a......"...ren...rn."GJ....o.·. ....na!,1,sÇe, ........_cPom.tfL.......a..9.....s.foil9l1,idez<;!.u...
34 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 35
que a estabilidade QU instabilidade do meio familiar determina uma conduta exemplar em presença dos não-judeus. Devem
a estabilidade 01.. instabilidade emotiva da criança. .A razão igualmente abster-se de constranger a criança a ambicionar os
fundamental, . Lewin é .o primeiro· a afirmá-lo, ..é que o meio altos postos nas diferentes esferas em que se orienta. Em uma
familiar no qual a criança cresce e evolui forma . .um único palavra,
campo de forças, "one dynamic field", segundo uma. expressão
sua. É necessário pois levar em conta que o meio familiar, ou
qualquer grupo ao qual pertence um indivíduo, não é para ele
somente uma fonte de proteção ou segurança . Igqo .grupo, in
í.lusivç o grupo faraj)Ji:, .desenvolve suas leis, seus tabus, suas
proibições coletivas. E segundo os tabus, as proibições, os mitos pais e os educadores no encargo de socializarem o jovem
que prevalecem em um grnpo, a.. .cii1111ç::t.<:1:9 .o Jngiyídµo judeu d5f_Y.mJhe. trnnsrrütir que, o que liga ps judeus entre si
qµe pertence. a .este grupo, disporá de um espaço. de movimento não são as semelhanças ou as diferenças que existem entre judeus
livre mais ou menos extenso. Em conclusão, . conforme seja largo ou e não-judeus. O. que con,stitui essencialmente um grupo e dele
restrito o espaço de movimento livre, o indivíduo terá maior faz um todo dinâmico é a interdependência da sorte de seus
ou menor facilidade de se adaptar à vida social, ou no caso da .membros.
criança, de socializar-se. Para Lewin o problema fundamental
em qualquer grupo humano é o seguinte: em que medida um
indivíduo, pertencendo a seu grupo, pode satisfazer suas próprias
necessidades ou aspirações psíquicas sem comprometer indevi
damente a vida e os objetivos do grupo?
Lewin termina este estudo com considerações de ordem
deduzidas do que lhe parece fundamental na so
ser humano: .não é o fato de pertencer a vários 3 . O terceiro estudo é incontestavelmente .o rnaJs T1rnpQJ:,-
grupos que constitui a origem dos conflitos mas a incerteza '1;;J,nt.e......dos....três.. Tem por título: ''Sdf7'.hatred..among Jews'' ..e trata
sobre sua própria participação num grupo determinado. Ponde
.os . quatro. princípios pedagógicos . nos quais deve inspirar-se a
educação do jovem minoritário. inicio deste estudo Kurt Lewin refere-se a dois livros
Lewin sugere, inicialmente, com muita insistência que, assim datando da mesma época (1930). O primeiro livro é do pro
como a criança adotada se beneficia ao conhecer o mais cedo fessor Lessing que tenta, do ponto de vista da psicopatologia,
possível sua condição, também a criança que pertence a um descrever o que ele chama "O ódio de si entre os Judeus". O
grµpo minoritário deve conhecer o mais cedo possível, desde segundo é um romance americano do autor Ludwig Levisohn
que possa cssmilá-lo emotivamente, o fato de o grupo ser "lsland within". Este romance tem como cenário a cosmopo
obetQ de vexames, discriminações, em uma situação não-privi lita cidade de Nova York no interior da qual os judeus consti
l,çgi?.da. Quanto mais os pais e educadores tardarem em reve tuem uma ilha cultural, isolada e cercada de zonas de silêncio
J.ar.::Jbesdato, mais arriscam comprometer sua adaptação social. no seio da coletividade americana em constante interação.
Este conselho 1lale.,,sohtetQdo quando .9. meio educacional no Para ...Kurt..Lewin...o.....fen.ômeno....do....ódio.....de ..si..entre·os·····judeus
qual a criança cresce não é confessional e mostra-se tolerante
P.i:lfl:L .<>m as .crianças judias.
Além disto, ..a,,..edllCaç.ão-do.. jovem .judeu, como de todo
min2ritári0, deve procurar sensibilizá-lo muito cedo ao fato de
'1\1;. a. qu{!stão judia é antes de tudo uma questão social. Os
pais jude 11s devem deixar de pressionar as crianças a adotarem
r
36 GÉRALD B ER NARD MAI LHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 37
êlJll..UQ-J!l®JiQ. E aqui Lewin evoca recordações pessoais dependesse de algum instinto de base, seria a personalidade de
que datam do tempo cm que vivia na Alemanha, onde por cada indivíduo que nos revelaria sua intensidade. Parece, ,ao
várias vezes foi testemunha de expressões de fortes ressentimen contrário, S21:?S1JJL .Le.wip,,.....que est ódio de si - não ?
tos da parte dos judeus alemães em relação aos judeus dos bstan os diversos graus em que se manifesta -9. !1 1ll;1U!
países eslavos. Os judeus alemães acusavam os judeus eslavos Q...Jll.1, ilê§.., !iJu,,Çii;.s,,,,qu 'cada. indiykl!JQ,, qgotª..em"' s
de serem responsáveis pela perseguição nazista de que eram
g,Ç,ªQ .,;i!,9, m;ggl ma
vítimas. Lewin afirma ter observado o mesmo fato nos Estados
Unidos: .,tQdos.-os..judeus ·emigrados. culpam,..os...judeus
jug gg qµ,e dli e.s.tr.uturas..... men!il:is 9,µ. , cmotiyas ...de . slJ.a. . per,,,
alçroães 9nlili9,ªde·
!;.2!lis!e.rando-os responsáveis .por todas as desgraças Aliás, nota Lewin, ,o,.,,g, g.iQ de.,,.s,L.JllªIÜles.tªdº"'Pf:18§.nj,gqe,Y§
que ....caem .Lum...fenôrne.119....Qhs.erado "em,,JQgª-S"',as*1tün,g1ias
,§,PPf e Çl§jµdeus no mundo desde 1933. dfac.i;imiuí!.dªs. Nos Estados Unidos, por exemplo, os negros
são muito sensí veis às diferentes tonalidades de cor da epiderme
Segundo Lewin, ,o.r©dio......de.. "sifü pg&Je,,.,,.tawbém, ..... em..
humana. Aque les cuja epiderme é de cor "chocolate com leite" ou
certos "café-creme" menosprezam aqueles que são "café::-preto". Quanto
\! 9.S. ,"·;;ipr,esentar-se como um .f cnômena....individual. Neste mais a cor da epiderme de um negro se aproxima do branco,
caso mais tendên cia tem ele a dirigir aos outros negros um olhar de
.,há. . uma variedade quase infinita de formas que .o .:·ódio s!e si superiori dade e, em conseqüência, a identificar-se
tmria . entre. os .. judeus considerados co.mo. ..indivíduos. Certos negativamente com seu grupo étnico. O mesmo fenômeno foi
judeµs, por exemplo, culpam o. •gi;upo•.,,.jJJ.de.u ,...J;:omo .tah ou observado e abun dantemente descrito pelos sociólogos
se iclentific.am. negativamente. ..Ci ,,!J.m,, .fç, ç;ig,,,,Par!içtJla.r... de americanos ( 2) , ( 141) , ao tratarem dos conflitos existentes
judeus, entre: a primeira e a segunda geração de imigrantes nos Estados
ou difª!lleffi...s.istewaticamente suª.. .,,flr.ópri.ª···· família. Outros Unidos. A segunda geração menospreza seus pais que não lhe
r.e}.ei parecem suficientemente ame ricanizados e permanecem ainda por
.Jklm.a .sL.pr,gprios, recusam aceitar-se como judeus ...e. ..ced.e.m. demais ligados à sua cul tura de origem, dificultando assim uma
pe dodjç;;guente a.mecanismos. d!f J:lu.to;:acusação e. de auto- identificação incondicio- nal com seu país de adoção. ·
punição. Vejamos agora, segundo Lewin, çomo . o. ódio .de si aparece,
Por outro lado, alguns judeus dirigirão....o.. ódio""'de ...si. ex.dusiva-
wentc . . çontra> as instituições, os.......ÇQs.PJmcs, ,a,. Jfa1gyçi, ,
,judia. ou
.;;i,inQ(l 9.§ist<:fJl1a .de :valores.próprios . da raça ..ou . da cultura.
judia .
-l:i<lJllai.or-pal:..te..<iias*vezes;· "'fiota.Lewio,.....e.ste.,,.tipo..Jle,, ódio
..de si
...uã,o,"sc,,..manifta.....ahertamcnter mas,,é ·camuflado
0
..por•.,racionali
,zgçi,5c.s q,ç,.. todP.... c.spécic.
.Q.,
_Q.<. li.o ,,Q,Ç.,,âlw" "?sobrntudo ·· um .... f.en9meno ,yoçjg[ , .t!PJ,Ç,f,!,filente•.. m P:l.lJÜQ§ judeus. Um indivíduo judeu tem am
segundo
Lewin. Neste nível sua análise e sua interpretação tornam-se, ,s;p.pli,Ç, sçê.ncia progressiva .que .s.e.conclui pelo,,,r.e.torno ao ÁP,Q.t;g,a.niçq.
bastante penetrantes . Para ele, Lessing e Levisohn, que se ins a. .:Kui;;t,,Lewin...recusase'"a... explicar,.assim ..o .ódio de... si
piraram em Freud, quiseram explicar o ódio de si pelos instin ,t.endênci .íf nte os . jude!J$ .,,., Se assim fusse, argumenta, estaríamos em pre
qyç9apai:eee scnÇâ''"êi e \]ffi''d,ado da natureza e não seria então estranho não
tos primários que seriam inerentes à naturéza huma na. Em com
seu apoio recorrem à,,,,".tese_q,y,ç,fr<r\14 e.labor.ou p;;,t ra .. id<1cle se encontrar no mesmo grau o ódio de si entre os ingleses, os italianos, os
explicar . Jod.o alemães e os franceses em relação a seus próprios
..as. n roses de f racassQ, , J;lOstulançio..... i existência.. .em. todoyser humano,, . compatriotas? Além disto, se o ódio de si sentido pelos judeus
J:l.l!J!,(l,!}5? .,,Qe ;u.m jntintQ . ,,de . morte . que....teria. .pi:ima:.z:ia . u.mª
sobre. ... .o Ü!Jinto de yida, O que, sempre segundo Freud, qcgç,r,içr{;f
b sua participação no grupo judeu constituirá sempre uma barrei
i ra intransponível à realização de seus projetos. Começa então
ç a perceber e a considerar seu grupo como fonte de frustrações
õ e passa a odiá-lo. Loga_.cheg.ará- à....cQIJ,çlqso de que .s\rn
e
s .ªscen- 1tão soç!'11 çomo.. ipdiyído çstá ameaçada 1f qµe...sua
, segurança sócioeconômica e. s.eu próprio destino pessoal .correm
<!;
a o...perigo de_ !:. comprometidos por causa de sua participação
l l
i
m
no grupo
i!!c!':!·.,.filir[Ceiitã'Cf::e111·"mU!ttjs-.ruaes·ó'"'Sé,]l!filW-19,=agüâõ:: ae ....
rejeição ..da . fiitrªepenéfê?cia de seiJ própj:fa de§tiQQ . s!c:> . §:
e tino . de \l..ffia @J?,q[iª...discri111inad . ·
n Kurt Lewin termina éste 'estudo <;Q. .!1Ç.lYi..Ql!.2"9F .•.SLQdig,..d,
t
a L.. .1! !.,-9.§...JJJJ.iJls.......ni.\9,,.120.Q.çri.ª'······· i:ut
...mªior....... parte,,,..dos..,..,,c:li§P§,,,,.,s!". diªgnostie'1do .c.omo .. do .domínio
e da . psicopatotogia. Como mui;: tos Qutr.os...,Je11ômnos psíqucos
com c:ogipc,mentt;.s p.evróticos, 'º
c ..ódio... d....sLnão .é.."'geialmin.te,,,.scnão.. a.expressão de um....c;onfJ.ito
o
n
s
t
r
ó
i
p
r
o
j
e
t
o
s
p
a
r
a
l
o
g
o
d
e
s
c
o
b
r
i
r
q
u
e
38 GÉRALD BERNARD MAILIDOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPÕS 39
ç_,r@gQ.. pda -si Yg,Ç.ªQ...§9.C.i na q!-U!LJ Jit.i.p.gJy!dµo .. é .forçado.. a ao assunto em um capítulo próximo para constatar e salientar
, r. E;s,tL,fnAmeno...... .apr{;seat·a-se ··soh traços .nevróticos.... 1llas a que ponto em três anos, de 1943 a 1946, os interesses, as
na ..Ieªfü ade nã.o...se tH.\ta .de... .nevrose. Tanto assim que concepções e as aproximações de Lewin evoluíram. Estes três
o ódio de si entre os judeus é encontrado tanto entre os anos lhe provaram que a inteligência científica dos macro-grupos
nevróticos não se tornará acessível senão após longas e sistemáticas pes
como entre as pessoas normais. UJ: .ft .J!,!<,:t:::S,e .de ":µm fenô quisas sobre a psicologia dos grupos restritos . No momento
meno sócio-psicológico.. ,A..... tal ponto que, cada. vez que os não nos deteremos senão no séu estudo · Çy{tural RecqnstrJK-
j g ' c.Il'.ltrº d_ . ull1a. c9Ietividªde,. . são aceitos em clima de . .... ti<ltC. Nele encontramos uma tese fundamenia Ce.... trê'..
outras,
ig1.u!Jdade........ de:.direitOS···· e.. de privilégios, .. desaparecem ÇP.tií,o dela deduzidas: s:bL.....ª'--...J:?i:igll1 4e§......uÜn2i:iªs,1nia....natureza . ..psi-:-
OS
traços . . nevróticos ...que. certos. .autores. afirmam. ...como.. ..típico do
A ,, cológic<l e e!;! Jµ.tu.r..o.
,..grupo Judeu, 1!01:'"°-utro..,,}ad0,."'.quando,,.os ..judeus A tese fundamental é formulada de modo que transcende '
.tomam,.se . o " o.bjeto i>i.stemático de• o caso judeu para tornar inteligível o que Kurt Lewin considera
como as constantes psicológicas de todo grupo minoritário. l'i.U:ª
.disc.riminação,,,."'.seu..único.meio de ..não
.c ed,er ao ódio de si .é intensificar. . entre....eles as.tendências ... de bYWin . .tocta 11'.lÍi;?,()ri<t ...Pic()lóg!çª te.ll1.. ....§:qlis ciill1t:tns§çit ªºts
de.
.!!J:.aç,ão.... e.. de..coesão pela ....causa ...judia. Dat a...importância. ..yit.al , tudo sqçiªjs ,, ·com isto,, não ...opõe . sociaL.a ...psíqJ.lÍÇQ, , mªs qissQ:
,QUe...os....edµsa49e .. ... l?ªis judeus ?eY:lll.? .à·....ci9C> . .. 4. sla.s ,çiª P .sQCjal do. ..indiy_idual. .As_,mln.oúas ,pJc.ol!igicas são sQÇi,çús
. rrt..sua...otigem ,,.em"suas,,çsQJJ.tJ.lras ..,.r.,.e.oi"sua"'e}:'.91,uç_ão. .Sna..•.di-
.d e ...crescimel\io propícios a: .gjle ..os ..jovens judeµs, . desde seus
primeiros anos ge fo1wªção, possam identificar-se positivamente Jlâmic.a,,....é. .$;.s.sencialmente...,s.Qç@l. llQ.. !U!{.S.mo.....modo.,..• .ª'····sQ.brevk
com seu grupo étnic0, Y.ência . Q<;is, grP2§. in2r..i!<!ri2s .. I1 ().....EC>Y9 §Sr... ª§§eID:Y:ªdª . .senão
.f! Pf!Xlk .sl.Q..JJ Qillento em....q,ue ..eles ..tomªm çonsçiênçia deste
MINORIAS E MINORITARIOS dado fund.amental .o".ac.eita.m.
Kurt Lewin publica, em seguida, um estudo onde, a partir 1. Origem das minorias.
de suas interpretações e de suas considerações sobre a minoria
judia, tenta formular uma teoria suficientemente coerente para .Para . Kurt ... Lewin a,, prQpda existência .. de.....toda
explicar a psicologia de todo grupo minoritário. Será sua últi .....mi.n.oriª·····sQ é.possível, ,,em ..última;u1áUs.e, gi;;:içªs à.Jo!.
ma pesquisa ligada aos macro-fenômenos de grupo. Ela o râcnçia...da m..l.lioria...no Jneio .da qual .....ela'"se -..inse.r..e. Não
convencerá definitivamente da certeza de sua opção ao escolher é em consideração aos com portamentos aceitáveis ou em reação
como centro da experimentação em psicologia social o estudo aos comportamentos re preensíveis de alguns indivíduos (se bem
dos micro-grupos. Estas teorias tiveram uma influência deter que isto seja, de fato, alegado como pretexto oficial ), mas por
minante nos meios universitários, sobretudo no que se refere à motivos extrínsecos aos comportamentos dos membros das
psicologia das relações inter-raciais e revelaram-se fundamentais minorias, que as maiorias edif icam, fortificam, m ultiplicam ou
à compreensão das concepções definitivas sobre a gênese e a deixam cair as barreiras psicológicas com que cercam as
dinâmica dos grupos, que Kurt Lewin defenderá nos . anos se minorias. Le ,.i,iC.ty..§nta..que-
guintes. Parece-nos também importante destacar aqui as teses "" a•.ma.i.9t ª'·· !ID..... semPXe,.. i.nteresse......em"'J!lrivar .as...ininorias ··<ie
essenciais. ·todo direito · e de todo privilégio. Ma!L.é....sol;u;etudo --
em..per.íodo . ..dr
O estudo de que trataremos inicialmente tem por título: .Jensil.o ..e .. de .perigo. cole.tiv..o..... que.....a....maiori;;i, tsme a exer..::er ... re-
"Cultural Reconstruction " e foi publicado em 1943 ( 88). .Presálias contrª .as minorias, cedendo à necessidade de descar
Depois disto Lewin refere-se à psicologia das minorias duas regar sobre um bode expiatório as ondas de agressividade, de
outras vezes ( 103), ( 104), durante o ano que precede sua séilcadeadas pelas frustrações e privações que lhe são impostas
morte. Suas preocupações serão então exclusivamente de ordem
meto dológica. Partindo das suas próprias pesquisas sobre o .. durante estes períodos críticos. B
proble ma, tentará destacar aquilo que elas lhe ensinaram sobre anisinos,,de..de.slocamell:!:.....
as exi gências da experimentação em psicologia social. .sua . .. agr.es.sividade ..torna.se ...e2>:.trap?Jnitixt <::9m .....I::el:J,ç.ão..,,.... às"'-
Retornaremos mincr r:ias/sem ."defesa-r·
40 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMOCA E GÊNESE DOS GRUPOS 41
2 . Constituintes, constituídos e constitutivos das minorias. ...iL.!!ª-lll!lS.. º"-'º·eJJ:d.s}L.Qfi<:: .ê.L_Il! !!i.B.l.icar.....seus...cQntatos.. J;.Plll..,a
.;!!()+:ia.... .e." encontrai:....assim ···ªJgµm .substitutivo..• .de..pr,estigiQ...i;lo
Com esta terminologia tentaremos sistematizar o essencial g:µ,ª1.... estão ...privados em vir.tude ..de.... sua...ligaçao...com. a...mUioria,
do pensamento de Lewin sobre a existência das minorias. Esta Por outro lado, numeroi;os i;ãp _ Qs., gi;_ qpos..J;nin,qririQS .,ql!.e. ei;
sistematização nos parece necessária para evitar que o leitor J2r.am.Q.lJ&..es.t...lid.er..,s.eja me.lli.9.L .aÇ.eitQ..,e.....pat"eça ...niais...maleáve
tenha que seguir os caminhos tortuosos da argumentação de
Lewin. Faremos todos os esforços para não trair em nada seu
pensamento.
'ª
re là '
maioria e consegJ .e.Illemente .possa meili..or. . magica111ente . as
õe 1 ê i i t r ê " 'm-l"·'"l'"i"'i'-*õ1..."r''-l'"a' '"-.<x" ,e,,,"_,,_-m;,"- a.,_,_ _,i_,.-o_,,;:_f -i- a"" ...
- '
' "' ""· .,. .,,.,,, _ ......,..,,.,,_-.. ,.." '"" "" " '" ''"" """'- AA
d '
b) ,,, m...,
p
.ªÇa o....a .•sJl<\ ,,, ..J .!lG UJJ&'-L.
&!JfJZ.O, as on•as se
•
A ÀD
mm
A . Os constituintes das minorias. revelam ao observador como constituindo um equilfürio mais ou
menos estável entre dois campos de força. .e um J.adQ,
.Qs ..constituintes das minorias podem"ser····
1l.lll
,ç,mp,Q,Jl .f.Q_r,ç.. q;iix"exerce ,subre
definidos··diferen .os...membros,.,uma.,,influência intç;gi:;ante...de ..coesão. Estas
.t emente,. con{or_me..se.Jaça rçf erncia ÀS estruturas ou à forças são constitiúdas pela atração que exercem sobre as minorias
dinâmica dos pos inoritários. ·,,- · .."'..,,..
os traços culturais próprios a este grupo e irredutíveis às
culturas vizinhas. l;§ll!§....! ,,PÇ» í::
a) Jm r. Iªçª() · s.. s1.i.Ji.s ..,gs.trnt11ras., gi.s "12 .ªs, desempenham o papel de núcleo dinâmico no seio das
.mi..noriª.s....m2ª,rçce_!ll cgp.stüuídas de várias . camadas. No c;entro. minorias. e.t.ªâ_engs:ndra..m entte
en,contram.se ªs• ..sª- 111adas mais.....so1idificadas., Elas .QS. minoritários...atitu.des. .9,,J-
00
compõem:se de membros que Q!<:! I?. fª çQm...s.ei.Lgfl.J:Po o:u ªqµilQ. qµ.e L&wiq gosta...de. chamar
aderem com a maior boa vontade às instituições, aos costumes, d , e··.·.·.·." ·Q . ........ c.•J l··ª. } 1·. , y j·m.. .....·.. . .... .,, 9..,'"'P'.º...... ... i,t j·····y ····. .·.º "i'.n-..F.t.·..e...nse.o.......W... , .! !
um .. .J 1 S e j . Q c a
i ! § Ç . . ,,.n e l e s r •P ª r a le lam·e·n.·· te,
u a . . , m a i s .• d e
às tradições é aos sistemas de valores, que distinguem seu grupo
. s e . ..e m a n c i p ai :.. . . d a ,..
X,eh. m,aiQiia
..
Se concebemos a minoria
como uma totalidade dinâmica,
torna-se necessário assinalar o
fator de integração deste grupo que
faz destes indivíduos múltiplos um
só grupo coerente. Este fator de
unificação é o constitutivo do
grupo. Tentaremos des
tacá-lo mais adiante. Mas se
tentamos, agora, <l fi!!iL!l1L.PJ!!
2"" rias.como.cons.t!
M4a.ª·•·iJ<m:.tLe.:win .nos.fQmeç...
QLÇ,QI.!fÍtos.. que S<XI?Üf!!!l.9.. gi;:;u
. .,P:rn m: ..ou...menor-..de"integração
'"que.....atjng911 nos diferentes
momentos .de ..seu desenvolv.imentp.
42 GÉRALD BERNARD MAEIDOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 43
Deste ponto de vista, J.:ewin distingue dois tipos de O futuro das minorias não se coloca nos mesmos termos
mino rias. Algumas constituem unidades articuladas de modo de superação em que se coloca o futuro de um grupo normal
orgâ nico. E o caso das minorias cujas camadas .centrais que não sofre nenhuma pressão, nem encontra nenhum obstáculo
englobam a maioria dos membros em ligações muito estreitas no processo de seu desenvolvim ento. ...a.. . .Ít1t:lJJQ ctas minorias
e em uma forte adesão à sua sorte e destino. .Para a maioria IJ.ão pode . se .definir senão e!ll tt;f!llQS çlç §()PfeYiY.ênc:iª, A este
dos mem bros, seu grupo étnico é percebido em termos de respeito, trª§ ppç§es .. são p<;sfi.ÍYf'..isJ sçgµg<fg . L.ewiv . ..Há,
valência po sitiva . iajcial mente, o caso das minorias qµe perdem a . crepça em sua
Por outro lado, ezj,stem minorias mal ou não integradas sQ- 'Q.i:evivência e estão. . prontas a tudo qµe pos.§ª ªp.rt;ssar ol1
que se. revelam ao observador não mais. como uma unidade f.;w()re- eeJ. §JJ.a assimilqção . à !llaioria. .. Quanto às.
.prgânica, .mas c9mo uma unidade aparente, artificial, resul ante minorias....que ...optªm
ae pressões e de coerções exteriores. EsJas .minorüis não cons .por·sua sobrevivência, ... GJJ.as. ªÜtt1de .. . são PQ:'ilYeis, .. ... lfis.... Jê!ll
tituem um grupo no sentido restrito. Trata-se, . antes, de um .em çomum. o segutnte;. a!llbas concebem sua.. sobi:e:v:ivência
agregado. de indivíduos, ;giais ou menos submetidos às mesmas .como JJ.ma. l:t!llf1!1cipação qo jµgp a.d).Hrá.rio .. .4ª·· m.ªioria. Eis
,restrições, às mesmas privações, .às mesmas frustrações . Neste o que as distingue: .s:;ertas minorias ql1erem . assegurni: sua
Jipo de minorias o núcleo dinâmico não compreende s.enão alguns .sobreyjyência
jn<livíduos qµe não perderam a fé no destino do seu grupo, a ªti:avés d ai!Jf egração com .a maioria,. pela
..quase. totalidade dos membros não vive senão da esperança de .iguiildade...dos....çli!;çitos e dos privilégios. Para conseguir seu
poder um dia pertencer à maioria. .As ligações .entrei os mem intento estes grupos mino ritários têm tendência de sublinhar e de
.bros são portanto muito frágeis. .Q. Quilfü.do..entre.. os destacar, em suas rela ções intergrupais com a maioria, muito
djferentes mais o que os aparenta ou os une à maioria do que aquilo que
estratos é muito instável e quase inteiramente polarizado por os distingue ou os opõe a ela. Enfim, existem minorias qµç J
valências negativas i}.Q acrççlitam p0çiei: i1sse
fillrélL s1Ja so!Jtt;viyência, senão separando-se ou emancipando-se
e. o fator constitutivo das minorias. totalmente dª .!ll.<iioria. Elas aspiram à independência total e
definitiva em relação à maioria. Estão convencidas de que só
Como explicar, pergunta Lewin, que em certos casos as assim poderão conservar a integridade de sua cultura, prosseguir
minorias constituam unidades orgânicas e, em outros, não tenham na conquista de sua plena identidade e realização do seu destino
senão a aparência de integração? coletivo. Lewin conclui que só estas últimas minorias têm algu
O fator constitutivo de todo grupo, segundo Lewin, é a possibilidade de assegurarem sua sobrevivência.
interdependência da sorte de seus membros. No caso das
norias integradas, sua condição de minoritários é aceita, o que
:permi.te .aos membros se. unirem na luta pela emancipação. Por
outro lado, no caso das minorias não integradas ou mal inte
Kurt Lewin termina este ensaio teórico sobre a psicologia
gradas, sua condição de minoritários é suportada. .Não existe das minorias, tentando caracterizar entre os minoritários as di
inJer.:.dependência entre os membros. O único fator negativo ferenças de atitudes coletivas que implicam estas três opções a
.que os une é sua disposição a consentir em todos os compro respeito do futuro de suas relações inter-raciais com a maioria
.missos, em todas as servidões ou em todas as baixezas que que as oprime e as discrimina .
.lhes facilitem a assimilação à maioria.
Le.win .. afil:ma que. as..minorias que renunciam à sµa r;;gbre
yivência e aquelas . qu.e ...optam Pelª i.nte.graçil.o f'.m ..um.
3 . O futuro das minorias. .contt;1"to cie . relações cordiais e um pouco servis.. em.. relaçiio .. à
maioria t.êm tendência, ambas, a adotarem as mesmas atitudes
Segundo Lewin, o futuro das minorias, assim como sua coletivas. Ele considera, com efeito, que no plano intercracial
origem e existência, é antes de tudo social. as atitudes
coletivas <f:t;§tas mÜWrias são tipicqmf'.1lte ··ªciqlesçenJes. Suas
es tratégias têm em comum o seguinte: elas se baseiam na hipó
tese de que a situação presente de discriminação desaparecerá
44 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
1. No plano dos objetos, já sabemos que Lewin opta dem. Assim podem observar de dentro os processos e os me
muito cedo por uma exploração sistemática e exclusiva dos micro- canismos em jogo neste desenvolvimento, e encontram-se sob
fenômenos de grupos. O que nos é necessário precisar agora é o Uma perspectiva ideal para descobrir sua significação essencial.
postulado guestaltista subjacente a esta opção. Para Para Kurt Lewin estas opções metodológicas não se apre
Lewin, ps pçqµt;P.()s &PJPPs Ç()nstHJJem <J.S 4nicas t2taJi4<1Jles sentam como hipóteses provisórias mas como p()§JHlêQ()S. Uma
ª··
1:Unª-mh as ....a.<;essfveis .á.....observaç.ã.o.....e .conseqüentemente longa prática da pesquisa científica demonstrou-lhe a aquisição
eJÇpe definitiva da validade das aproximações guestaltistas para o es
rimenta..çã.q sientfüca. Eis as razões. É necessário de início pre tudo dos comportamentos humanos. Veremos agora, de modo
cisar que se trata de pequenos grupos concretos, formados sobre explícito, como estas opções metodológicas inspiram e orientam
a base das interações que ligam os indivíduos em contato direto. o sentido que tomam suas pesquisas sobre os comportamentos
Ora, para Lewin, as atitudes sociais de um indivíduo ou as de grupo e as atitudes coletivas.
atitudes coletivas de um grupo não podem ser compreendidas
senão a partir dos diferentes conjuntos sociais de que fazem ATITUDES COLETIVAS
parte. E, reciprocamente; estes conjuntos sociais não podem
ser compreendidos senão a partir dos indivíduos e dos pequenos
grupos concretos que eles englobam. Expliquemos como isto Até Kurt Lewin quase todos os psicólogos saciai america
se dá. De uma parte, a forma das situações concretas (trata-se nos haviam centrado suas pesquisas no problema da socialização
neste caso de situações sociais ) depende das formas das reali do ser humano ( 30). A maioria estava de acordo em conceber
dades globais que as envolvem, e estas, por sua vez, dependem o processo de socialização como o aprendizado de atitudes so
das situações concretas que possuem sua dinâmica própria. Ora, ciais. Por outro lado, e paralelamente, tocamos aqui naquilo
as situações concretas são função das interações dos indivíduos. que constitui a diferença fundamental entre a obra de Moreno
Por isto, conclui Lewin, somente no pequeno grupo concreto e a de Lewin. M9EeBQ,. antes .e dep()is de b-e.win,
de dimensões reduzidas, isto é, ;;i céLula social bruta, .estas. rela .preqcµp9µ._se
ções de reciprocidade tornam se... ªçess.íveis... .à.. . obse.r.vação. constantemente.. C()fl1. () . proQl<:;fl1a Qª §()Çͪliz;;\Çi'Í,() QQ. sef Q'!!IJl.ª.no.
Seus trabalhos, suas pesquisas e suas descobertas estiveram sem
2 . No plano dos métodos, a influência das teorias guestal pre polarizadas por aquilo que lhe parecia e sempre lhe pare
tistRs não é menos evidente. Kurt Lewin denuncia como inváli das ceu, o problema fundamental que a Psicologia devia esclarecer .
e.estéreis as aproximações atomísticas que então prevaleciam nos Deste modo, aplicou-se não somente em teorizar, mas igualmente
meio<s de pesquisa em psicologia social. ?.ara ele tnn fenô meno em inventar técnicas e instrumentos que favorecessem e facili
de grupo só se torna inteligível, quando .se consegue pra tic;;ir tassem o aprendizado ou o re-aprendizado das atitudes sociais.
J1este.fe!lômeno o qµe ele cha!Tia de cortes analíticos sociais e O psicodrama, o jogo do papel, o sociodrama constituem, para
concretos, de. .prospçcções verticais. Em outras palavras, não é ele, tanto instrumentos pedagógicos como terapêuticos, conforme
decompondo o fenômeno estudado em elementos e em seg mentos sejam utilizados para socializar ou re-socializar o ser humano.
para reconstituí -lo em laboratório, em escala reduzida, Mas quer seja constituindo esta ciência nova que chamará socio
que o pesquisador pode conhecer sua dinâmica essencial. metria, quer tornando mais precisa esta arte que chamará so
Será, antes, ,tentªndo atingi-lo Pm """ tr.t.,11.i.,rlP ,...,,.,,..,.,,t" ciatria, Moreno, durante toda a sua atividade científica, será
PvictPnl'i constantemente influenciado pelas teorias sobre a psicologia da
aprendizagem ( 118). Embora se defenda e negue tal fato,
Moreno edif icará assim sua obra em continuidade com preo
cupações que foram dominantes na psicologia social até Lewin,
tal como procurava edificar-se na América . Assinalamos ante
presença no riormente que, nesta época, os psicólogos sociais orientavam
grupo a ser estudado, eles se tornam os elementos suas pesquisas quase exclusivamente no sentido de determinar
indicados para provocarem modificações completas de estrutura o contexto mais propício ao aprendizado das atitudes sociais
de uma situação social e atitudes coletivas que lhe correspon-
-·-·----"-> , _,,.,.. .JIC\iM1\4Q .UUZL.h""" WH•""''"º"- '"'·•"'J,.,,"'""""'. ...,,;.,,.,};
democráticas. Alguns, cedendo a motivações muito mais ligadas siderado, e em segundo lugar, situar de onde vem a dinâmica
ao seu sistema de valores que às exigências da ciência chega que afeta cada um destes elementos (69).
ram mesmo a definir o meio educacional mais apto a formar Lewin preconiza então que se apele para esquemas galilea
o cidadão americano perfeito ( 113). nos de interpretação em psicologia social, como ele cons'!guira
Com Lewin e a partir dele, o interesse dos pesquisadores fazer em sociologia individual. Fiel a esta perspectiva, Lewin
desloca e dirige-se para as atitudes coletivas. Os comportamen não procura a explicação dos fenômenos de grupos na natureza
tos em grupo e as atitudes sociais também constituem um objeto de cada um dos seus elementos ou de seus componentes, mas
de exploração e de experimentação em psicologia social. O que nas múltiplas . interações que. se produzem entre os elementos
muda, radicalmente, é a abordagem e a metodologia que se da situação social onde se situam,. no próprio momento em
tornam dinâmicas e guestálticas a partir de Lewin. Fara definir que são observados e interpretados. Ora, segundo Lewin, o
cientificamente os comportamentos em grupo e as atitudes sociais ambiente social contribui para a formação e transformação das
os pesquisadores referem-se ao que são e devem ser os compor atitudes coletivas favorecendo, ou, ao contrário, inibindo as ten
tamentos de grupo e as atitudes coletivas. dências sociais já adquiridas. A razão deste fato, segundo Lewin,
Mas, ainda há algo a acrescentar. Sempre aderindo a seus é a seg1•inte: tendo as situações sociais sua própria dinâmica,
postulados guestaltistas, Lewin denuncia, como o havia feito em as atitudes de um indivíduo, em um dado momento, são função
1931, em relação à psicologia da personalidade (51), os esque de sua relação dinâmica com os diferentes aspectos da situaçã.o
mas aristotélicos de interpretação. .Nenhum comportamento .. de social que ele assume - de boa ou má vontade (69).
grupo, como afü § nenhum . comportamento humano poderia se Mais tarde ele retomará esta explicação para reformulá-la de
explicar nfí.i_C:.amegte ..em te+ll"\9§ 9e causglid<l.:le histórica. Eis o modo diferente: .a estrutura de meio tal qual é percebida
porquê. Os comportamentos dos indivíduos enquanto seres so por um indivíduo depende de seus desejos, de suas
ciais são função de uma dinâmica independente das vontades necessidades, de suas. expectativas, de suas aspirações, enfim
individuais. Os fenômenos de grupo são irredutíveis e não podem de suas atitudes, enquanto o conteúdo ideativo do ambiente
ser explicados à luz da psicologia individual. Jboda dinâmica de
grupo é a re§ulJ;.inte elo Çonjunto elas interaçs........no.. interior (}e coloca o indivíduo em um determinado estado de espírito. E a
Ym esPF!Ço P§ÍÇQ§Qçi<lll Estas interações poderão ser tensões, relação de :.:eciprod
conflitos, repulsas, atrações, trocas, comunicações ou ainda pres* Q.füJe . entre . as atitudes do indivíduo e o conteúdo mental
sões e coerções. Enfim, as atitudes coletivas só se tornarão in do meio que cria a situação da qual o comportamento é
teligíveis àquele que as observa, se ele conseguir responder a função
(91) .
duas questões:
íntimo. Outras, ao contrário, mesmo no plano do eu público, 2. Em.. segund.o .lugar, . o grupo .....é.....para o..indiv.íduo. . um
são dobradas sobre si mesmas e não parecem preocupadas senão ins trumento. Isto significa que o indivíduo mais ou menos
em defender-se e em fechar-se ao outro. Excepcionalmente nos cons cientemente utiliza o grupo e as relações sociais que
introvertidos, o eu social atenua-se e a personalidade toda é mantém
absorvida pelo eu íntimo. Por razões diferentes o eu social é em seu grupo como JJ1$truroe11t95. Parª fü:ttisfazer suas . ..necessi-
quase inexistente nos extrovertidos em quem o eu público ocupa 9.ªQ.es psíquicas ....ou. suas ..•aspirações .•sociais.
todo o espaço vital.
3 . Em+.terçei-!:o ...lµg;;t:, .,,o ......grµpo,. é....u.ma ....realidade
....da.•.qual Q,.mdiY.í41J9....fªz.... Pat:te.•..mesm9. ªqYeles.. .qµe.. se.
se.11te.m•Jgnorados, is.olados QY ;r11js;itados. Deste modo, cada
vez que o grupo ou os grupos do qual um indivíduo faz parte,
Assim podem coexistir no interior de um nominalmente ou
mesmo campo social, grupos, sub-grupos, indivíduos separados artificialmente, sofre modificações em suas estruturas ou em sua
por barreiras sociais ou ligados por redes de comunicações. dinâmica, seja por processos de crescimento, de separação, de
que caracteriza antes .. de tudo um. campo §ocial, .... são as diferenciação, de integração, de regressão ou de desintegração,
p.osições relativas que nele ocupªm os diferentes elementos ele se ressente necessariamente dos contragolpes. Seus valores,
que.......o.>c.ons- tituem. Estas posições são determinadas tanto suas necessidades, suas aspirações, suas expectativas aí encon-
pela estrutura do grupo como por sua gênese e sua dinâmica. tram gratificações ou frustações. ....A ..dinâroica. .de um
o gru.po..Je.m
propriedades dos subgrupos ou a de seus membros não poderiam então nos revelar ..sempre.x um . . impacto.,social. .. sobre. ... os indivíduos . q;u.e o<.consti-
Nenhum membro dela escapa totalmente.
a dinâmica dos laços que os constituem em um mesmo campo
4. Finalmente, .. (') :tIP? § pªrª () in.diYÍdJJ.() µm...d.os
social. A este respeito Lewin adverte o pesquisador contra todo ....ele m.e.nlQ§ Qu dos determinantes..de...seu...espaço...vital. É no
a priori antropocêntrico. Pois é preciso constantemente disso interior de um espaço vital, isto é, desta parte do universo
ciar e distinguir grupo e indivíduos , quando, de dentro, o obser social que lhe é livremente acessível que se desenvolve ou
vad0r procura descobrir e destacar os pólos, as valências e os evolue a exis tência de um indivíduo. E ó grupo é um setor
vetores que explicam as interações no interior de um mesmo deste espaço.
campo social ( 67 ).
em conclusão, consistiria, segundo
em concluir esta superação, em atualizar suas aspirações
e suas atitudes, em atingir seus objetivos pessoais, sem nunca
Jorçar nem romper os laços funcionais çom a realidade .coletiva
ou . o campo social em que o indivíduo. se insere e que constitui
já havia formulado º· fup.c:l,all}linto de sua existência.
esta hipótese tentando pl'econizar o que deveria ser a pedagogia
do jovem minoritário ( 73) . Segundo os casos, o terreno pode RESISTfNCIAS EMOTIVAS À MUDANÇA SOCIAL
ser firr;ie, frágil, móvel, fluido ou elástico. Sempre que uma
pessoa não consegue definir claramente sua participação social .,A.,.a.d t;
ou . não está integrada em seu grupo, seu espaço vital ou sua se&undo......Lewin.,
liberdade de movimento no interior do grupo serão caracteri detalhe de sua busca intelectual que o leva,
i:ados pela · instabilidade e pela•· ambigüidade . ciar esta hipótese ( 82).
Acabamos de revelar o que são, segundo Lewin, as inte
rações constantes entre as atitudes coletivas e o campo social
em que se exprimem. Abordando o problema da mudança sO..
cial, Kurt Lewin retoma este tema para precisá-lo e explicitá-lo .
56 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DI N Â M lC A E GÊNESE DOS GRUPOS 57
As atitudes coletivas que ele já definiu de várias maneiras, apa 2 . Acrescentamse a estas tendências. do eu as
recem-lhe, desta vez, como um movimento provocado em um que representam os impera-
grupo de indivíduos por forças objetivas que resultam de uma tivos sociedade, tais quais foram interiorizados
situação social dada. Para ele, o clima social, as situações de pelo indivíduo.
grupo, ou as estruturas formais do momento social observado,
são realidades tão objetivas quanto o clima psíquico, a situação 3 . llm..Jerceiro....de.termin.ant.e.....é.....a...pró.pria §iY..ª.:
geográfica e a configuração do espaço físico em torno do indi .f.?. §f!.'?ial concebida como o conjunto dos fragmen
víduo. As relações entre as realidades sociais e os comporta tos do universo social com os quais ele está em esta
mentos do indivíduo não são, segundo Lewin, nem mais nem do de interdependência.
..b:§.Jendências do.eu e do super egg CQtl.§titu.em.•... Pªrª b\ViJ1,
menos constrangedoras que aquelas que· ele mantém com o
universo psíquico. Em conseqüência, nas condições sociais exis
tentes que constituem o espaço vital de um determinado indi . ª. dinâpiic;a ...<Jos....-valgre.s,. .. enquanto....ª ciinIJliçª <:lo§ fatos .. nos . é
víduo, ele pode escapar a certas pressões, recusar-se a certas Qada pela situªçªº social. Em consequência, toda situação
obrigações mas por outro lado não pode subtrair-se, nem esca social pode ser definida como um momento da história do
par a certos condicionamentos. Ser-lhe-á preciso, em certos mundo, explicando-se assim de uma parte, por seu passado obje
momentos, adotar tal tipo de comportamento ou conformar-se tivo, consistindo no encadeamento dos fatos e dos processos so
com tal atitude para responder às expectativas do grupo. Em ciais e, de outra, por seu passado subjetivo isto é, pelas repre
outros momentos, atitudes e comportamentos lhe serão impostos sentações coletivas que os indivíduos se fazem dos antecedentes
pelo grupo. .A....Jib&r:r:<lade ....de m.ovim.ento .e.....a<escolha... desta situação assim como da gênese de seu próprio grupo. Mas
de.Pt;em se o passado é determinante por um lado no condicionamento
dos compottamentos de grupo e das atitudes coletivas, por outro,
<;10. çJimª +s.ociaI..•que< prev.ale.ce..no.r.g:r:upo. O clima cultural
no qual ele vive, a dinâmica da situação social na qual se encontra o futuro da situação social vivida o é muito mais para a maior
implicado, a estrutura do momento histórico do qual participa parte dos indivíduos. Lewin precisa: não somente o futuro obje
com as pessoas que o rodeiam, constituem uma realidade obje tivo da situação ou os determinismos e a mecânica dos fatos
sociais, mas também o futuro subjetivo da situação ou as re
tiva: a totalidade dinâmica da qual depende neste momento presentações que os indivíduos implicados nesta situação se
preciso de seu crescimento. .Q.... interior· desta totalidade dinâ fazem de sua evolução e de seu progresso, assim como as an
piica .. .encon.tr.arn se orienta.çl()§, .. Qu..... mesmo cond,icionados., tecipações ou as apreensões que eles alimentam com respeito
seus comportamentos ... em.gr.upo......e....s.uªs a!iJµçlÇ.s.. s9lria.i§· à situação social em que vivem. Donde a necessidade, assinala
Kurt....Lewin .de.duz. entãQ. qµe ..... L conduta,. .<le....todo••·.in9ivíduo Lewin, de tornar claro a gênese e a dinâmica dos grupos à ilu:z:
C:>l11••·:r:µp9.. é...9.eterminada,....de.. uma. pªrte,, Pela.dinâmica de um conceito fundamental em sociologia e em antropologia
dos.··••.fatos e,.•de....•outra, ..pela... dinâmica .dos. cultural: o conceito de mudança social.
;valores...que...percebe.....em..ca.d.a .gi M u(ü:inça sQçial.. e çpnfrplç §qçigl são para Lewin conceitos
..t.uação. Ora, para ele (e é aqui que seu pensamento se torna indissociáveis. E: fácil agora compreender o porquê. A única
explícito) Q c<;1,npo... de forçªs que se destaca da!11ter.ªªº dos maneira de experimentar sobre mudança social, de extrapolar
fatos e çlos valores depende .9.e.Jrês coisas: - ··· sua dinâmica essencial, é tentar do interior, de dentro, plani ficá-
la e controlá-la. Ou ninda, é conseguindo derrubar as re sistências à
1. Primeiro, depende da.s tendências "do eu mudança social que se pode melhor chegar à com preensão de
,concebidas . como a maneira única pela qual cada seus processos e de seus mecanismos. Reencontra mos aqui os
.indivíduo percebe cada instante present .em. Jl.!n,,ção propósitos que Lewin defenàia sobre a pesquisa de campo em
.de seu passado pcssóaL Suas percepções neste pla oposição à pesq uisa cm laboratório.
no, são condicionadas por sua sensibilidade geral, as Ora, para Lewi n. d uas atitudes típicas podem ser observa
orientações fortui tas de seu ser, suas capacidades de das em relação a toda mudança social. ,..A aütuçle ç9aj'9rmista
atenção afetadas ou estimuladas por seus estados
nervosos e suas preocupações materiais e morais.
58 GÉRALD BERNARD MAILillOT
DINÂMICA E GÊ NESE DOS GRUPOS 59
.,a,.,mudanç.a...s.ociaL1LiniPiada..• e dejada._pelQS. eiemeJlJ:Q..S" MQ;;.Ç,,Q!
condici0nada . pelas pexçepçÇ s _sociais çristalgadas ...que perce- J.Í.Qfl!ll§.f.tl§..J.i2_.fil. Pº· Mas estes últimos eri:c.011tram.....,i;es-isteneias..àa-
- f:.w...t®a.. mudança dg st(l!U: 'ltiº como catastrófica. . -- .att\lde parte,,....d,Q....m_t,mbL<?...fla_.gmpo q_u, tÇm.,int.er.esses.,inxestido.s..nQ.,.S,,tqt.y
pãq çoníormista, ao contrário, .1$inspirac;la pdas percepçê)e.s so fLMg.. Os elementos con formistas freiam então ou tentam contrariar as
çLais q\le a,ntecipam toda mµdança c;lo statu · quo como tentativas de
de.seJá.Yel
.e spernda. Geralmente, neste último caso, nota Lewin, as per
cepÇões e as i !!QL:Q.Qs_ J1_ª9_-C()nf()trnistas 11ão
são.su.ficetes
.IL'!rn..Ji,:ªmiformá,-los ..em_,age11tes c!e...:Jtans9rmaçãq_
_5,oçiat.•Pelo
@JQ.•. ..Efü;:t.p,oss.uJi:errLas J_çnicas. 4.e .c.o.murucação que :\-
he.s..per mitiriam ..•opei:ar as mudanças . de _ clima e de atitudes
no.. meio que.deseiam..
poder contar,
i i:. .XQlPi!· Daí a necessidade de se
no '' momento em que uma mudança social se torna desejável,
com grupos-testemunhos compostos, como vimos anteriormente,
de átomos sociais radioativos, segundo as próprias palavras de
Lewin, que possuam ou dominem as técnicas de grupo tornan do-
os aptos a vencer as resistências emotivas à mudança social a
ser introduzida no meio observado.
A mudanÇ.a .. sQcial .impfü:.a ....em......:mna... mQci,!füi!-
ç,ão...do....c.ampo
.d i.P.âmico no. q1gL_g.gr.up.o .S.íLD.fQ!l rn. Ççffi9r_m-
s..X Ji,fyJ>u não esta modificação, o observador-participante, que
é o ex perimentador preconizado por Lewin, pode iden,t.itiç_'lt.Jf .
,.ti,Rgs de .fonômenos.•d.iiU-19.s-em.,u. : .SÃQ""à
...mudança_s,O,Cial.
1. Q.u.•..os....gr,upos..•.não.. ,_ §_en ern.......11ern.. .e..X:Pe
ro.e.n.tam..J1e!!bJJm
de§,ejQ,.,...nenhqma.....,,aspirn.çã,Q_,,..a....eY'9ll-!i,ri. _a mYdar. f: o caso
de todos _Qª gnJ.pos.....c.onformi.tfls que se comprazem nas
percepções estereotipadas da situação social e cujas atitudes
coletivas e comportamentos de grupo são determinados e
condicionados por preconceitos. Para diagnosticar estes casos
Lewin recorre ao termo constância social. Atualmente os
psicólogos sociais em pregariam de preferência os termos de
.esclei;ose....social ou mes
mo de ne,crose.....social..,p._êiit, .ª-çte,i;iz
,,Qlle..Jlãa..cAD.§,füyLwais
Y!ll-a ,,.J,U11âmic 0,,..gwp.Q, mas,..uma"' stát..-.4- o, de tal
modo as estruturas formais absorveram ou anularam em uma
estratificação cristalizada as dimensões funcionais destes grupos.
A . Os instrumentos.
Quanto aos instrumentos empregados, a comunicação pode
a tornar-se o instrumento preferido, integração funcional e orgânica destes dois modos de expressão
senão exclusivo, de comu nicação com do eu choca-se, sobretudo no plano não verbal, contra tabus e
o outro. proibições coletivas ou ainda contra re sistências emotivas cuj a
Todo recurso a outro instrumento fonte é geralmente a personalidade pro funda do indivíduo em
que permita ou favoreça o contato com o causa. O capítulo seguinte tenta rá ana lisar como cada um deve
outro, é classificado pelo termo genérico de descobrir por si mesmo, e adotar modos de expressão não
comunicação não verbal. Pertencem a verbal do eu que sejam, neste momen to de seu processo de
este tipo de comunicação os gestos, as transformação de suas relações com o
expressões faciais, as posturas. Mesmo
t"JS""•silên cios-. e as ausências no
interior de certos contextos podem
tornar
-se significativos e carregados de
mensagens para o outro e, segundo
as situações, ora podem ser
percebidos pelo outro como expressões
de coragem, ora como omissões ou
covardias.
Comunicação verbal e comunicação
não verbal não estão sempre
sincronizadas e sintonizadas no mesmo
indivíduo. As vezes o não-verbal está
em dissonância com o verbal, trai o
eu íntimo que o verbal tenta camuflar.
Talleyrand já aconse lhava aos
diplomatas: "as palavras nos foram dadas
para en cobrir nossos ,pensamentos".
Gestos bruscos, cortantes, acom panham
muitas vezes palavras melosas, doces,
que dissimulam mal um estado de
irritação interior .
Então, como integrar o verbal c o
não-verbal em uma mesma comunicação
? Sobre este ponto descobertas recentes
mostraram-se decisivas para a
compreensão da autenticidade nas
comunicações humanas. A comunicação
humana que pre tende ser
exclusivamente verbal corre o risco de
intelectualizar
-se, de se tornar cerebrina . Por outro
lado, a com unicação que pretendesse
dissociar-se de todo recurso à
linguagem seria dificilmente inteligível
ao outro, pelo fato de não recorrer a
uma simbolização na expressão de si.
No Ocidente, a partir de Lewin, a
dinâmica dos grupos tem contribuído
muito para revalorizar a comunicação
não-verbal e a expressão corporal do
indivíduo. Ela pode estabelecer que
somente uma comunicaç ão que seja
verbal e não-verbal ao mesmo tempo
tem condições de ser adequada. · A
72 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 73
outro, aceitáveis tanto para ele como para o outro e aceitáveis
cação consumatória é sempre acompanhada de gratuidade e de
no contexto cultural . em que este relacionamento interpessoal \'f'i espontaneidade.
se insere e se atualiza. Esta integração não poderá nunca ser -
A comunicaçáo instrumental, ao contrário, é sempre utili
considerada definitivamente adquirida . Para permanecer funcio
tária e comporta sempre segundas-intenções . A troca com o
nal ela exige questionamentos contínuos e uma capacidade jamais
outro é procurada, preparada e estabelecida para fins de mani
atrofiada de aprendizagem, de flexibilidade, . de autonomia e
pulação, mais ou menos confessáveis. Estão neste caso as men
uma grande liberdade interior.
sagens publicitárias ou aind a os slogans da propaganda política.
Na comunicação consumatória o outro é percebido como um
B . As pessoas. sujeito ao encontro de quem se vai e com quem se deseja co
municar; na comunicação instrumental, o outro é percebido como
Quanto às pessoas implicadas é preciso distinguir entre um objeto a explorar, a seduzir ou a enganar, com o objetivo
comunicação a dois ou comunicação de grupo. As comunica de assegurar certos ganhos e satisfazer alguns interesses .
ções a dois podem ser pessoa is, quando constituem um encon Algumas implicações podem desde logo serem destacadas
tro entre dois seres que se percebem em relação de reciproci sob forma de teoremas:
dade ou de complementariedade, como na amizade, no amor
ou na fraternidade. Esta comunicação, se autêntica, tende a 1. Quanto mais o contato psicológico se estabe
durar e aspira à permanência . Mas as comunicações a dois ce em profundidade, mais a comunicação humana
podem ser autênticas mesmo quando provisórias . É o caso das terá possi bilidades de ser autêntica .
comunicações a dois chamadas pro fissionais. O profissional con 2 . Quanto mais a expressão de si conseguir in
sultado e a pessoa consultante estabelecem entre eles comuni tegrar a comunicação verbal e a não-verbal, mais a
cações verticais: o profissional dá, o consultante recebe. o pri
troca com o outro terá condições de ser autêntica.
meiro deve dar provas de competência e de consciência, o se gundo
possui direitos a serviços prof issionais adequados. Este tipo de 3 . Quanto mais a comunicação se estabelecer
comu nicação entre duas pessoas, por sua própria na tureza, não de pessoa a pessoa para além dos personagens, das
poderia ser senão tem porá ria e provisória pela boa razão de que máscaras, dos status e das funções, mais terá possi
tende a fazer evoluir o consultante e a torná-lo autônomo em bilidade de ser autêntica .
relação ao profissional consultado.
As comunicações de grupo podem ser distinguidas entre 4 . Quanto mais as comunicações intra-grupo
comunicações intra-grupo , quando se estabeleçem en tre os mem forem abertas, posi tivas e solidárias, mais as comu
bros de um mesmo grupo, e comu nicações inter-grupos, quando nicações inter-gru pos terão possibilid ade, em conse
constituem contatos e trocas entre dois ou vários grupos. qüência , de serem }rntênticas e de não servirem de
evasão ou de compensação a u ma falta de comuni
cações internas em seu próprio grupo.
C . Os objetivos. 5 . Quanto mais as comu nicações humanas fo
,tr. rem consuma tórias ( isto é, encontros de sujeito a
.:
sujeito ) , menos elas serão i nstrumentais ( isto é, ma
nipulações do outro ) e mais possibilidades terão de
Quanto aos objetivos, podemos distinguir entre comunica se torna rem alocêntricas e autênticas.
ção consumatór ia e comunicação instrumental. A comunicação
CQnsumatória tem por fim exclusivo a troca com o outro. Ela VIAS DE ACESSO AO OUTRO.
pode apresentar-se sob formas prosaica, "falar por falar", ou
adotar formas evoluídas, como o caso do espírito criativo que,
habitado por um sonhO constante, sente a imperiosa necessidade 't
após as descober tas inesperadas da eletrônica . Tornou-se possí Canais e media de comunicação constituem uma rede de co
vel em nossos dias entrar em comunicação com o outro a dis municação cada vez que são estruturados e articulados de modo
tância, graças aos media de comunicação. Estes últimos torna a tornar aqueles que estão agrupados no interior de um deter
ram-se cada vez mais possa ntes, cada vez mais adequados ao minado meio, acessíveis uns aos outros. Em uma rede, media
ponto de, presentemente, sobre o planeta Terra existirem cada e canais estão ligados entre si, interdependentes. Segundo o
vez mais seres huma nos em proximidade física uns dos outros. grau de organização ou de estratificação do meio, aqueles que
Mas a comunicação humana não pode se iniciar nem se aí trabalham ou vivem terão uma consciência mais ou menos
estabelecer, enquanto subsistirem distâhcias psicológicas a trans explícita dos caminhos e das direções que devem seguir para
por entre aqueles que querem entrar em comunicação. Sobre atingir o outro e comunicar-se uns com os outros.
este. ponto a dinâmica dos grupos, durante e após o tempo de
Lewin, multiplicou suas pesquisas. Os dados adquiridos então RELAÇÕES IG UALITARIAS E RELAÇÕES
permitiram definir operacionalmen te os requisitos e os pressu HIERARQUIZADAS
postos de toda comunicação h umana. Constitui um pré-requisito
para todos que queiram entrar em comunicação , assinalar e Quanto mais forem expontâneas as vias de acesso ao outro
identificar as vias de acesso ao outro, aceitá-las e nelas se en e menos formais os canais de comunicação, mais a comunicação
gajar. As vias de acesso ao outro são chamadas canais de co com ele têm possibilidade de tornar-se adequada e autêntica.
municação. Entretanto não é suficiente saber como ter acesso Esta conclusão está na origem dos trabalhos do especialista eín
ao outro, mas também quando ele pode ser ou tornar-se recep dinâmica dos grupos, A . Bavelas, já citado, sobre os diversos
tivo às mensagens que lhes são dirigid as. Perceber objetivamente tipos de redes de comunicação ( 12) .
os momentos psicológicos e as ocasiões de receptividade do Bavelas conseguiu isolar quatro tipos distintos de redes de
outro é uma arte que poucos seres humanos conseguem dominar comunicação, definir cada um deles operacionalmente e, assim ,
definitivamente e que supõe capacidades de empatia excepcionais. determinar exatamente em que situações de grupo eles se ori
Alguns canais de comunicações são formais, oficiais, arti ginam e se articulam. De fato estes quatro tipos de redes não
culados. Nestes casos, o outro não se torna acessível senão podem ser observados senão em grupo e em grupo de trabalho.
através de caminhos nitidamente definidos, cujas entradas são
reguladas por um processo mais ou menos rígido. B o caso 1. . Duas destas quatro redes são definidas como
do protocolo que precisamos respeitar para entrar em contato horizon tais. Elas têm de específico o seguinte: estes dois tipos
com os grandes deste mundo ou os personagens-chaves de certos de redes não podem aparecer, nem se estabelecer, senão cm
meios organizados. Quanto maior for a disparidade de status clima de grupo igualitário, isto é, unica mente no interior de
existente entre dois interlocutores, mais aquele cujo status é grupos em que cada indivíduo se percebe como membro
inferior deverá preocupar-se em descobrir as vias formais atra participant e, go zando de um status de perfei ta igualdade em
vés das quais poderá aproximar-se daquele cujo status é privi relação aos outros membros .
legiado. Outros canais de comunicação são espontâneos . B o
caso de interlocutore s entre os quais as comunicações são aber A. Bavelas denomina a primeira destas duas
tas, confiantes e que se percebem acessíveis constantemente, um redes horizon tais de rede em círculo. Segundo ele,
ao outro. Enfim podem existir canais de comunicações clandes esta constitui uma rede perfeita que não pode existir
tinos. Eles aparecem nos meios organizados onde a autoridade senão cm grupo ou estruturas de t rabalho e de poder
se exerce de modo autocrático . Cedo ou tarde, para sobreviver que sejam realmente democráticas. Eis as f azõcs.
às arbitraried a.des do poder, aqueles que devem viver ou tra Com efeito, para o líde r democrático, exercer a
balhar em contextos semelhantes, tentam descobrir ou estabe autoridade consiste essencial men te em tornar-se
lecer com a autoridade absoluta contatos não oficiais a fim de ao mesmo tempo um catal izador e um coordenador
se manterem nas boas graças ou com vida, para o grupo, isto é, cm estar consta ntemente preo-
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 77
76 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
·o outro. Assim, seus comportamentos e suas atitudes ao longo 5 . Des(aque ou camuflagem: o quinto componente essen
da comunicação devem, para ser funcionais, obedecer às leis cial de toda comunicação humana consiste no conjunto das de
psicológicas da motivação, da percepção e da expressão. cisões que o emissor deve tomar, antes de e1,1trar em comunica
ção, quanto ao conteúdo da mensagem e quanto ao código uti
2 . O receptor é aquele a quem se dirige a mensagem. Ele lizado. Assim cab_e a ele decidir o modo de apresentação, a
a captará na medida em que estiver psicologicamente sincroni tonalidade afetiva, a prdem e a apresentação da mensagem. Se
zado e sintonizado com o emissor. Além disto se ele quiser ele utiliza um código público, para melhor atingir seus interlo
favorecer a tomada de contato iniciada pelo emissor, deverá cutores e ir ao seu encontro, sua preocupação será a de pôr
estar psicologicamente em estado de abertura para outro. De em destaque a mensagem emitida. Assim, a encenação no teatro,
outro modo ele poderá entender a mensagem, compreendê-la, a técnica do grande plano na televisão, a orquestração na ópera.
mas . não captá-la ou aceitá-la. As leis psicológicas que fazem Se, ao contrário, o emissor usa um código secreto, deverá ca
de um indivíduo, ao longo. de uma comunicação, um receptor muflar sua mensagem de modo a torná-la imperceptível e inde
adequado são, de início, as leis da motivação, em seguida, da cifrável para todos aqueles aos quais ela não é destinada.
percepção e, enfim, as leis da impressão.
BLOQUEIOS , FILTRAGENS E RU1DOS
3 . A mensagem constitui o conteúdo da comunicação. Se
ela consiste unicamente numa informação, então trata-se· de Quando a comunicação se estabelece mal, ou não se estabe
uma mensagem ideacional. Se, por outro lado, ela exprime um lece, entre pessoas ou entre grupos, resultam alguns fenômenos
sentimento ou um ressentimento, trata-se de uma mensagem afe psíquicos. Eles foram observados e estudados sistematicamente
tiva. Conforme se trate de uma mensagem positiva ou negativa, pelos pesquisadores da dinâmica dos grupos. Vejamos como
ela estará carregada de ternura ou de agressividade . Ela pode foram definidos (12) , (14 ), ( 25 ), ( 33), (75), (90) ,
enfim comportar elementos tanto intelectuais como afetivos. A (136).
mensagem é neste caso chamada vital, porque quer transmitir
uma informação de importância considerada vital pelo receptor. Quando a comunicação é completamente interrompida, há
bloqueio. Ao contrário, quando não é comunicada senão uma
4 . O código é constituído pelo grupo de símbolos utiliza parte do que os interlocutores sabem, pensam ou sentem, a co
dos para formular a mensagem de tal modo que ela faça sen municação subsiste mas acompanha-se de f iltragem.
tido para o receptor. A linguagem, escrita ou oral, é sem dúvi Bloqueios ou filtragens podem ser provisórios: certos au
da o código mais freqüentemente utilizado. Mas a música, a tores falam então de pane, bruma, nebulosidade, queda de visi
pintura, a escultura, a dança, a mímica, o teatro, o cinema, a bilidade entre emissor e receptor, ou ainda de ruído. Os blo
televisão são outros tantos códigos que nos permitem transmitir queios provisórios, de modo paradoxal à primeira vista, parecem
mensagens. Os códigos áudio-visuais são sem dúvida alguma comprometer menos a evolução da comunicação que as filtra
os mais adequados produzidos pela técnica moderna. gens provisórias . Eis a razão. Desde que surge um bloqueio,
A dinâmica dos grupos aprendeu a distinguir entre código ele obriga os interlocutores a questionar suas comunicações e
público e código secreto. O emissor recorrerá a um código pú. geralmente lhes permite reatá-las e restabelecê-las em um clima
blíco quando desejar que sua mensagem seja captada pelo maior mais aberto e uma base mais autêntica, cada interlocutor tendo
número possível de receptores . Utilizará um conjunto de símbo tomado consciência do que neles e entre eles cor::stitui obstáculo
los inteligíveis para todos aqueles que ele quer atingir. Se, ao à suas trocas . Em caso de filtragem, entretanto, porque a co
contrário, sua mensagem não se destina senão a uma pessoa ou municação subsiste enquanto a confiança diminui, ela tende a
algumas pessoas, ele deverá utilizar um código secreto de modo acompanhar-se de reticências e de restrições mentais, degradan
a cifrar sua mensagem em termos inteligíveis somente pelos re do-se e degenerando pouco a pouco em troca de mensagens
ceptores de posse da chave que lhes permita decifrar o signifi cada vez mais ambíguas e equívocas. Assim a comunicação
cado da mensagem. corre o risco de tornar-se artificial, provavelmente de modo irre
versível.
80 GÉRALD BERNARD MA1LHIOT DINÂMICA E GtNESE DOS GRUPOS 81
1. Assim se apresenta a
hostilidade autista. O autocrata de
posse de um poder absoluto sobre os
membros de seu grupo regride muito
cedo em suas relações com o outro a
ponto de tornar-se inconsciente da
existência dos outros. Seu egocentris
mo degenera cedo ou tarde em
autismo ao ponto em que só seu
interesse é lei e o grupo não tem, a
seus olhos, razão de existir ou de
evoluir senão para sua glória. As
causas deste tipo de regressão foram
longamente analisadas por Lewin e seus
discípulos (97). Elas estão todas
contidas no aforisma de Alain:
l
religião o pertuba e o inquieta. Mas como explicar
seme lhante deterioração do sentido social? Pesquisas
recentes mos traram ( 130), o que constitui um
paradoxo, que ..CL..a.u.toütário
é..JlQ.l,.&or:tt9nll §liJ. Contrariamente ao p.s.if oJ,la.ta..Qu-
.H11 ª:.§.Qf!ª-!
ou ruLrl<.Yollad.o.•.Q.uLé.•.um .anti:o.c.ial,
.o..autor.itátio.. é.... um.... gre
gtJ,r..io...ÇJJja... soc:;ial.iiaçã.Q .Jlã.o...s.e._i: alizo"\L.to
alroentf(" O autoritá
"' rio nunca atingiu o nível do altruísmo. Seu
conformismo social trai seu medo do outro, seu
pânico dos n.iais fortes. Ela não é,
como no adulto social, a expressão de seu respeito
pelo outro.
.P.assiYfüfltõn!e, . Q. JlJJ.torüário .conf9!_11<l .se com---
todas... as ..pressões
.s.o.ciais. Ele...adot ?:.... sp0ntaneameJJ,te ..()S mitos e
. os estereótipos
88 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
ambíguas para o participante: A maior parte daqueles que se .CQ.!<&Yir",S.1<.gundQ, .a_a niãn••de..,todas... sensibili ªt.. Q
inscrevem em um estágio de dinâmica dos grupos chegam com ·Pattici.
apreensões, mais ou menos fantasistas, a respeito do que os p.an.t§..J;tar.a_r.elaçõ.es-illter.pessoais...e4.assim ,tQu.lá,,t.os,_,eOll§,ciçJ.
espera. Uma destas apreensões pode comprometer a validade ltJ?
da experiência. Os profissionais devem ter a preocupação de ·dus.",p_i;,,çç_ - l<l,.lliif:.Q.t9gLs,g,§_ nU2&.2.,.n9-. Ü !J.s1º11ªJil.J1t2.gg§
eliminá-las o mais cedo possível. Esta apreensão, experimentada .gtY.:
por vários, senão por todos, no início do estágio é a seguinte: - Este objet1vo principal a ser alcançado dá um sentido ao
eles temem ficar à mercê dos psicólogos, servir de cobaias entre que pode parecer arbitrário nas estruturas consideradas como
suas mãos e deste modo serem manipulados para fins experi essenciais à validade de uma experiência em grupo de formação.
mentais. Para muitos, reencontrar-se em grupo de formação
parece-lhes menos ameaçador do que participar de um grupo 3 . Falar de estruturas a propósito do grupo de formação
de treinamento ou de diagnóstico. Daremos preferência ao presta-se a equívocos, pois ..Q..,grl!.RQ=.9.,e,J ;u;nM.
rmG-!.'..grupo...de..Jor,maç-ão" toda vez que, durante este capítulo, essencialmen
ttatarse,,,,,Qe . T-Gi;oup".
te, uma situaçã de grupo ,,§. fil.,,s.txutw:9:· Hlf. B:§(fças.
Retornare mos ao assunto inais adiante. No momento trataremos
2 . Para que uma experiência em "grupo de formação"
de es truturas extrínsecas.
seja válida, é preciso que ela se estruture em função dos
objetivos fixados originalmente por Lewin para este instrumento
de aprendizagem. Kurt Lewin não concluiu o "T-Group". Mas A . Quanto à dur.açoo,. uma experiência em
suas próprias descobertas o haviam levado, gradualmente, a for grupo de formação deve comportar _\U'll.Jnínimo--
mular desde 1945 !J:ês.-.objetiv.os...par:a ..•uma .. de YllliJwr.as_de..sessões, sendo_ ,<) . i?eal quªrenta
aprendizagem-..em. .horas.
.r s:.laçõs,,J:i.Mm9.: as ( 99 ) : B . Quanto ª..2.....!:!úmew.,,.de."..par.ticipantes, um
grupo de formação deve contar um
1. Dferer..aos .par.ticipantes,,..uma.....experiê.ncia JllÍD.iillo.•.de_,de;i.,-. participantes e
em....&r.Y.P,Q. ._.tes.tilio,-Úmco .CQl}te.x.to_,no .Y.m..máximo....de...Y-inte , sendo _ojd.aL .
'".interiorw...do. qual....ªs.. E.! ç§,Ç.§ .de_c;l ..9-'1.ulllze.
l:i1:1.g?;ªI1'1s...d.e......t.odos ....os ...membros.....po-
.dem - se. estabeleçe.r sobre uma,..base - interpessoal; e. Quanto .à., Ç,Qmpos.iç.:ão.•..dos. .pai;ticipant.es,
2 . .Qfete(;er ...... a.os par.ticipantes . ...uma .. as pesquisas sobre este ponto estabeleceram que
QY.rullO..
.expe.riência de.-grupo_. .mai.Jlete.r.ogêueo.,,..a....g.i:up.o..maiores.....as._possibilidades
centrada_sobre,,.a...GomuniGação _humana .e
suas...exigências,..de autentic·ictade; .de...apren.dizagem. Sobretudo, quanto mais
diferentes os tipos de trabalho e de vida dos
3· Oft.SJ1fli1L.?.:2..J?.ITT: çJpfil!.te .-.Yillâ:_. J.C participantes, mais lentamente decorre a experiência,
pi;;dência ..dg . gr.upo .9.Mrnnte.. a..m.:ml...su.as. ..ri;cla1 mas, por outro lado, há mais possibilidade para que
ões..J;;.om o clima de grupo favoreça as comunicações abertas
..éls. figuras . d.e .aJJJoridade poderiam. (f Yoluit e confiantes entre os participantes. Uma experiência
e..Jornar;;s.e em grupo de formação, tentada em meio homogêneo,
.mais autônomas.. Com assinalamos antes, os con
por exem plo, no interior .de um mesmo ambiente de
flitos com a autoridade são considerados por Lewin
trabalho, arrisca ficar muito cedo comprometida pela
como a fonte mais freqüente de bloqueios e filtra
apreensão de eventuais represálias da parte daqueles
gens de comunicação no interior dos agrupamentos
partici pantes que reencontram, depois da
humanos.
experiência, um estatuto de autoridade no meio.
Com o tempo estes objetivos definidos por Lewin foram D. Quanto ao S:..Qlltt:X.(a ..es.p.acio.-:temparal da
se tornando mais precisos e claros. Atualmente eles são apre .experiência, é importante que seu .início..... .Sell-Â.t
sentados em termos que variam segundo os autores, mas no ..mirn;L§.e.tam .PI(fYistos, que....os...momentos ... e. a-·duração
essencial se reencontram. Assim, o ".g.i:up,.o..de formação" rle .c,a.da..§.í<§-ª'ç;t,jª1JJJixados, ""'!ue a... .experiência_sej.a
.de.x.e .Yivida.,em..um ..mesmo,,lugar.....deter.minado... .e. .r.eser:vado
.ao... Q...P..'!Ul...ª-liumção..jnteira
da...experiência.
96 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GNESE DOS GRUPOS 97
4 . ().. grupo de. fonnação não é estruturado. senão . 7. Por outro lado, os responsáveis pela experiência devem
de...fow. Pois .. ele dçfine:se para ..... os... .participantes ... assumir certos papéi,s-chaves pe modo a criar um clima de
essencialmente..... com.o. crescimento e de aprendizagem . Estes papéis são:
!lfllª . s.ituação de . grupo.....sem......e.struturas .......i.nternas,........sem.....tarefas . a.
rnalizar,..... sem....autoridade r00onhecida, o grupo de formação A . Assumii o papel de catalisador, por suas
não é um grupo de trabalho centrado sobre uma tarefa a rea atitudes de presença ao outro, de respeito aos ritmos
lizar; não é um grupo de discussão com temas a explorar, pro e momentos psicológicos de cada um, de abertura e
blemas a resol:Ver ou a debater. de acolhimento a toda tentativa de expressão de si,
de aceitação das dificuldades que sentem alguns par
5 ...Qs p g-! çip:l!ltt.;s . .s() convidad.o.s pelos responsáveis, ticipantes ao se defrontarem com novos modos de
desde o .. início da. expedênçia, . a. ...se ...percçber ....como.. comunicação com o outro. Tornam-se essencialmen
posµÍJ1do todos ... um status de·<igualdade···enquanto .. te catalisadores para o grupo na medida em que
dure.......a.<.aprendizagero. Devem, pois, o mais cedo possível, conseguem criar um clima de confiança total entre
deixar cair suas máscaras e despojar-se dos personagens que a os participantes. Por seu próprio estilo de interven
sociedade os obriga a repre sentar na vida real. Não estando ção ele ensinará aos outros a prática da liberdade de
submetidos a nenhuma autori dade, nem constrangidos por expressão no respeito ao outro.
nenhuma estrutura, nem pressio nados por nenhum prazo,
devem considerar-se livres para dis por, à sua maneira, das horas B. Além disto, devem tornar-se a consciência
e a memória do grupo . Os responsáveis assumem
que durará a experiência, tentando se comunicar entre si, para estes papéis complementares e no momento que lhes
além dos status, daf f unções, das situações privilegiadas que parece indicado, isto é, quando percebem o grupo
habitualmente ocupam em seus grupos respectivos, isto é, como receptivo ou quando alguns participantes dei
comunicar entre si, de pessoa a pessoa, e não mais de xam de colocar-se na defensiva, tentam descobrir a
personagem a personagem. Para facilitar este clima de liberdade, significação psicológica daquilo que vivem no nível
e de espontâneidade de expressão, alguns práticos da dinâmica inter-pessoal. Assim, por referência exclusiva ao
dos grupos preconizam mesmo que se estabeleça como regra o vivido, os participantes descobrem ó que neles cons
uso exclusivo do modo familiar de tratamento entre os titui um obstáculo, no momento, às suas comunica
participantes. ções, isto é, as fontes de bloqueio e de filtragem que
os impedem de estabelecer entre eles relações total
6 . Os profissionais responsáveis pela experiência (eles mente autênticas.
devem ser dois, de preferência, segundo a opinião da maior
parte dos autores ) , contrariamente às expectativas do grupo, C. Mas o papel fundamental que os respon
devem recusar-se a representar certos papéis tradicionais e assim sáveis devem assumir é o de agente de farmação.
desencorajar toda relação de dependência que o grupo queira Por uma presença profissional nos esforços, aspira
estabelecer com eles. Estes papéis são os seguintes: ções e motivações dos participantes para crescer e
aperfeiçoar-se, no plano de suas relações interpesso
A. Devem recusar-se a assumir o "leadership " ais, eles conseguem tranquilizar suficientemente os
do grupo, não delegando tarefas nem sugerindo temas participantes, facilitando revisões críticas que liber
de discussão. tem neles sua tendência fundamental à atualização
B . Devem recusar-se a ser o conselheiro do de si. Para se. tomarem agentes de formação adequa
grupo, isto. é, não orientando o grupo nem prçvenin dos, não lhes é suficiente ser permissíveis e tranqui
do-o dos tropeços contrários ou fatais à sua evolução. lizadores, será necessário além disto, pela qualidade
de sua presença verbal e não verbal a cada um dos
C . Enfim, devem recusar-se a servir de agente participantes , tomarem-se modelos de autenticidade
de informação para o grupo, o que significaria, no interpessoal.
caso, interferir com exposições ou considerações
teóricas.
98 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 99
INSTRUMENTOS E truturados de modo a favorecer ao máxímo as transferências de
TRANSFERf:NCIAS DE APRENDIZAGEM aprendizagem.
As implicações e as possibilidades de aprendizagem ofere 1. Cada estágio tem uma duração de duas semanas, mais
cidas pela iniciação a certas técnicas de grupo como o "Jogo exatamente de dez dias cheios, sendo as duas semanas separa
do. papel" foram logo percebidas e destacadas pelos primeiros das por um fim de semana livre de quarenta e oito horas. O
teóricos e práticos da dinâmica dos grupos. Desde o primeiro número de participantes admitido é de sessenta em cada estágio.
no New Britan, realizado quando Lewin vivia , o "jogo Os participantes devem comprometer -se a viver a experiência
inteira em internato, de modo a constituir entre eles o mais
do papel" havia sido utilizado como técnica de descongelamen to
cedo possível uma ilha cultural, elegendo suas normas próprias
dos conflitos e das tensões que prejudicavam as comunicações
e seus próprios valores, fixando suas próprias atividades, orga
entre os participantes.
nizando seus próprios lazeres.
Entretanto não foi senão dez anos mais tarde que os res
ponsáveis do N.T.L. ( National Training Laboratory ) decidiram 2 . Um mínimo de doze psicólogos profissionais especiali
dissociar a iniciação às técnicas de grupo em "S-Group" e a zados em dinâmica dos grupos vivem a experiência inteira com
da comunicação em "T-Group". Formularam os participantes, também em regime de internato. Alguns outros
entào a hipótese de trabalho, logo verificada, que se operariam especialistas em dinâmica dos grupos vêm, por sua vez, jun tar-se
tra nsferências de aprendizagem e que espontaneamente os par a este núcleo permanente e reencontra r os participantes seja
para exposições teóricas, seja para demonstrações de técnicas.
ticipantes, no momento do bloq ueio em grupo de formaçao,
recorreriam às técnicas adquiridas e aprendidas em "S-Group". 3 . Desde o início do estágio a tônica é colocada sobre
Assi m seriam evitados vários riscos que comprometeriam a evo- o vivido e os participantes convidados a engajar-se o mais cedo
da situação de aprendizagem em grupo de formação. possível na experiência. Nos grupos de formação, os partici
Entre outros, o fato dos responsáveis correrem o risco de no pantes passam a maior parte do tempo: de três horas e meia
i nterior da mesma situação de grupo, assumirem papéis a um a quatro horas por dia. Os sessenta participan tes são divididos
tempo diretivos de iniciadores, de demonstradores de técnicas, em cinco grupos de formação, de doze participantes cada um,
e papéis não-diretivos de catalisadores bem como de memórias sob a responsabilidade em cada grupo de dois profissionais .
do grupo e experimentarem desta maneira conflitos de papéis.
Estes conflitos de papéis podem ser prejudiciais a alguns par 4 . Diariamente os participantes se reencontram em grupos
àqueles sobretudo que tentam questionar e modificar de trabalho. Estes são constituídos de sete ou oito participantes.
suas relaçôes com a autorid ade. Suas imagens e suas percepções O horário prevê uma sessão de grupo de trabalho de duas horas
de resoonsáveis permissíveís e tranquilizadores d as quais teriam para cada um dos dez dias de estágio. Estas duas horas são
para evoluir, podem ser perturbadas pelo fato de, consagradas à solução de problemas em grupo. Cada sessão é
responsáveis, tornarem-se a seu respeito agente seguida de uma meia-hora de auto-avaliação durante a qual,
e de condicionamento no momento da iniciação com a ajuda de um profissíonal, os participantes fazem uma
às técnicas de grupo. auto-crítica de seus comportamentos e de suas atitudes em grupo
durante as duas horas que precederam. O objetivo das sessões
Nos estágios de formação em dinâmica dos grupos, organi em grupo de trabalho é iniciar e sensibilizar os participantes nos
zados conjuntamente pela secção de Psicologia Social do De processos de funcionamento de um grupo de trabalho.
partamento de Psicologia da Universidade de Montrea l e a
Sociedade Canadense de Dinâm ica dos Grupos, esta hipótese foi 5 . Dos dez dias, cinco são dedicados às sessões plenárias
rf'tnm::id:i í'. i;;;.n:.t <:.: ln1n1 i rr,":\r:.ç_ PYl"'\.lnr'.' rL1<:: -111 m!lv in10 l-:'c t··1 P -1 _ ,..,, _4-:,.,. -.... -'- ,..,_ ,., ,.., ,..,_ ..,.,..,..,_ _,, --..-- 4.. - ....l - = -"" _,... _"'
,......,.. ,..t,,... ,...,,,.., ...,, ,.....,.,""',.., ...... "",....
d
100 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 101
inter-pessoal e inter-grupos, as barreiras e as fronteiras psicoló
gicas à comunicação humana, os mecanismos psicológicos de rir o domínio de certas técnicas de grupo, sem se engajarem pes
discussão, de negociação e de decisão em grupo de trabalho. soalmente na experiência, arriscariam perder o essencial da
Os sessenta participa ntes subdividem-se, em seguida, em seis aprendizagem da autenticidade interpessoal. Tivemos a oportu
grupos de discussão, constituídos cada um de dez participantes nidade de observar, por várias vezes, o seguinte: os participantes
e de um membro do pessoal como animador, para explorar as que não se implicavam pessoalmente senão em grupos de dis
implicações e as aplicações dos dados científicos expostos. cussão e em grupo de trabalho, interessados tão somente em
enriquecer seus conhecimentos ou em se iniciar em técnicas,
6 . Nos outros cinco dias, os sessenta participantes reen retornavam geralmente ao seu meio ao mesmo tempo mais in
contram-se novamente em sessões plenárias, desta vez para ex tolerantes e mais eficazes manipuladores do que nunca. Suas
posições sobre a racionalidade de certas técnicas de grupos novas categorias mentais lhes permitiam pronunciar em seu meio,
como o "jogo do papel", o sociodrama, a clínica dos boatos, o em nome da dinâmica dos grupos, julgamentos peremptórios e
sociograma de par ticipação, a consulta em díade ou tríade. Estas assim acentuar seu dogmatismo com respeito ao outro. Do
exposições duram no máximo quarenta e cinco minutos e são mesmo modo a aprendizagem de técnicas de grupos lhes per
seguidas por ateliers de aprendizagem nos quais os participantes mitia, sob pretexto de uma organização mais funcional, melhor
se reencontram em pequenos grupos, mais restritos ainda que os camuflar as manipulações de seu meio.
grupos de trabalho e de discussão. Eles podem, assim, iniciar-se
concretamente nas diferentes técnicas e explorar vivencialmente 1O . A experiência nos ensinou: não é senão em grupo de
suas possibilidades bem como as implicações para o trabalho formação que os participantes podem questionar suas atitudes
ou a vida em grupo. profundas em relação ao outro. Seus comportamentos em grupo
7 . Diariamente os participantes vêem filmes didáticos que só se tornarão mais funcionais, suas relações interpessoais mais
ilustram certos dados fundamentais sobre a dinâmica e a gênese autênticas, se eles aceitarem e consentirem em crescer e em se
dos grupos. Alguns longa-metragens são mesmo utilizados com aperfeiçoar no plano de suas motivações. Suas percepções po
esta finalidade, como por exemplo "Doze homens em cólera" dem evoluir e tornar-se mais objetivas, suas concepções dos
com Henry Ponda como intérprete principal. Após o filme os grupos mais científicas, sua habilidade técnica mais eficaz mas
participantes são convidados a se reunirem em pequenos grupos seus comportamentos em grupo e de grupo, na realidade, só
de discussão. deixarão de ser individualistas, quando sua socialização tiver
atingido o estágio do altruísmo. Somente o grupo de formação,
8 . As exposições teóricas, os filmes didáticos, as discussões presentemente, proporciona esta necessária catarse aos partici
em pequenos grupos têm como objetivo oferecer aos participantes pantes que nele se implicam e se engajam ao nível de seu eu
um conjunto coerente de dados científicos sobre a psicologia dos profundo. :B sobretudo nele que as transferências de aprendi
grupos. A assimilação destes dados lhes permite objetivar suas zagem têm possibilidade de se realizar. Os participantes des
percepções com respeito aos fenômenos de grupos, sua gênese cobrem pouco a pouco que os dados científicos, para os quais se
e sua dinâmica. Eles podem assim liberar-se mentalmente de sensibilizaram durante as exposições e cujas implicações explo
mitos e de clichês que poderiam prejudicar suas expectativas e raram em grupo de discussão, servem de aparelhamento mental
suas aspirações a respeito do coletivo e do social. A iniciação para assimilar de modo vital suas experiências em grupos de
às técnicas de grupos, sobretudo a esta técnica fundamental que formação. Do mesmo modo, as técnicas em que se iniciaram
é a solução de problemas em grupo, permite por outro lado tornam-se instrumentos preciosos para acelerar suas aprendiza
que os participantes adquiram os instrumentos necessários ao gens de comunicações mais adequadas com o outro. Enfim, é
manejamento dos grupos. esta experiência, para alguns a primeira na vida, de relações
9 . Os participantes que se contentassem em completar sua autênticas com o outro, vivida em grupo de formação, que gra
informação científica sobre a psicologia dos grupos e em adqui- dualmente polariza todas as aprendizagens feitas durante o está
gio. Em grupo de formação, a integração destas aprendi-
102 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 103
zagens opera-se geralmente em uma síntese viva e se exprime seus comportamentos em grupo. Estes quatro testes foram
por um maior desejo de autenticidade interpessoal. escolhidos com o objetivo de obter um conjunto de dados com
plementares sobre cada participante. Os resultados destes testes
11. . Enfim, ao articular o programa e as estruturas são comunicados aos participantes de um modo sintético e cons
de nossos estágios, preocupamo-nos em favorecer não somente tituem, para cada um, o perfil social de sua personalidade.
a transferência das aprendizagens atualizadas dura nte o Estes testes são os seguintes:
estágio mas também as transferências de aprendizagem para as
situações concretas que esperam os participantes, após o A . O R.G.S.T.
estágio, em seu retorno aos seus grupos respectivos.
O primeiro teste que os participantes devem fazer a partir
A passagem de grupo experimental ao grupo real é prepa
das primeiras horas do estágio é o teste de Herbert Thelen, da
rada na véspera do último dia do estágio por encontros em pe
Universidade de Chicago, o "R.G.S.T.", que poderia ser tra
quenos grupos entre os participantes e os profissionais respon duzido: o "teste das reações às situações de grupos" (113).
sáveis pela experiência. Para estes encontros é reservado um Este teste consiste em frases a completar, referindo-se todas às
horário de meio dia, isto é, mais de três horas. Os participantes
situações de interações em grupos de trabalho. :E: essencial à
são convidados a se reunir por grupos de ocupação e a explo
sua validade que ele seja frito antes que o estágio comece; ou
rar com os membros do pessoal presente, os meios de transpor, seja, antes que os participantes sejam "contaminados" mental
nos grupos reais aos quais pertecem, o que aprenderam durante mente pelas exposições teóricas sobre "as estruturas e a dinâ
o estágio. Tentam também discutir em pequenos grupos as im mica dos grupos" de trabalho. De outro modo os participantes
plicações e as , aplicações de sua experiência vivida com refe arriscam completar as frases com respostas ideais e nada revelar
rência aos papéis que terão de assumir novamente nos grupos de seus modos habituais de comportamento em grupo.
onde deverão integrar-se após o estágio. Pudemos constatar qu.::
durante estes encontros a maior parte dos participantes procura, Este teste talvez não nos permita destacar o que o partici
inicialmente, elaborar as respostas que espera levar às necessi pante é habitualmente em grupo de trabalho, mas o que dese
dades específicas de seus grupos, tanto em termos de reestrutu jaria ser, o que aspira ser em grupo de trabalho. Mas precisa
ração como de re-orientação. Muito cedo, entretanto, a maioria mente, este teste permite inferir, por uma análise das respostas ,
dos participantes compreende que a maneira mais segura de aquilo que cada participante considera como as atitudes funcio
levar aos seus respectivos grupos os benefícios da experiência nais a serem adotadas em grupo de trabalho, em relação à tarefa
e em suas relações interpessoais, tanto no plano horizontal com
que acabam de viver é preparar, por uma presença mais atenta
seus colegas como no plano vertical com a autoridade respon
ao outro, climas de grupos mais abertos, mais perm issíveis, de
sável pelo trabalho.
modo a tornar as relações interpessoais mais autênticas e mais
criativo o trabalho de seu grupo. B . O monitor ideai.
12. . Resta-me mencionar aquilo que, parece , fomos os O segundo teste utilizado é um teste preparado por Thomas
pri meiros e, durante alguns anos, os únicos a u tilizar como Gordon, um dos principais colaboradores de Carl Rogers, e in
ins trumentos ao mesmo tempo de tomada de consciência c titulado "o monitor ideal" ( 37 ). Este teste consiste em uma
de transferência da aprendizagem , tanto durante como após o série de enunciados sobre o leadership. A tarefa consiste em
está gio, a saber : submeter os participantes, durante o estágio, a classificar estes enunciados, segundo uma ordem prioritár ia, de
ses sões de testes psicológicos. modo a estabelecer um perfil das aptidões e atitudes fundamen
Durante o estágio os participantes devem passar por quatro tais a um leadership funcional e eficaz. A pessoa testada pro
testes diferentes. Estes quatro testes são semiprojetivos, revela n jeta assim, segundo a ordem de importância atribuída a este
do-nos o eu social do indivíduo, suas atitudes fundamentais com ou àquele item, sua concepção e sua percepção do leadership
relação ao outro, o sistema de valores que determina e inspira ideal e em conseqüência seus modos preferidos de exercer a
104 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 105
autoridade, desde que lhe seja confiada a responsabilidade de A partir dos resultados dos testes, eles tentam, juntos, descobrir
um grupo de trabalho. Este teste é ministrado no segundo dia, em que o estágio foi uma experiência de autenticidade. :B a
antes que exposições sobre a psicologia do leadership venham ocasião, geralmente decisiva, para cada participante, assimilar
fornecer aos participantes um sistema de classificação e assim e integrar, graças ao recuo do tempo, as tomadas de consciência
comprometer a validade do teste. que os testes e o estágio suscitaram sobre seus modos habituais
C . Escala de dogmatismo. de se comportar e de funcionar em grupo, uma última transfe
rência de aprendizagem pode então atualizar-se.
Um terceiro teste, chamado "Escala de dogmatismo'', con
siste em um questionário de escolhas múltiplas. Segundo o ETAPAS DA APRENDIZAGEM
participante se diga de acorJo ou não com uma filosofia rigida
O estágio de formação em dinâmica dos grupos proporcio na
mente sistematizada das relações interpessoais ou intergrupais,
ao participante uma ajuda no sentido de decentrá-lo de si
explicitada pelos enunciados, ele projeta em que grau o dog
mesmo e situá-lo em. relação ao outro, levando-o a se liberar das
matismo pode prejudicar suas comunicações com o outro. Este
fixações ou de seu egocentrismo, para preparar nele o apren
teste foi concluído por nós a partir dos resultados das pesquisas
dizado do alocentrismo. Graças aos climas de grupo, propícios
de M. ·Rokeach ( 130) sobre as relações entre o autoritarismo
ao crescimento e à superação de si, criados pela presença pro
e o conformismo. O objetivo deste teste é levar cada partici
fissional de especialistas em dinâmica dos grupos, cada parti
pante a projetar em suas respostas seus sistemas de valores e
cipante, ao implicar-se pessoalmente na experiência, pode, se
sua filosofia da autenticidade interpessoal. Ele nos revela assim
gundo seus próprios ritmos, adquirir:
o que Kurt Lewin chamava as atitudes fundamentais a respeito
da mudança social. Que atitudes o participante mostra com - novos níveis de vigilância e de presença
relação à evolução dos grupos de que faz parte: rigidez, fluidez, ao outro;
elasticidade ou flexibilidade? Este teste é ministrado durante a esquemas mais adequados de percepção de
primeira semana do estágio. si e do outro;
modelos mais flexíveis, mais funcionais de
D. O sociograma.
expressão de si e de comunicação com o
outro.
Um quarto teste, um "Sociograma",é ministrado duas ve
zes: no fim de cada uma das duas semanas do estágio. Estes Estas aprendizagens se operam gradualmente, por etapas,
dois sociogramas são feitos em grupo de formação e por refe por escalões. Elas dependem em parte da competênc;ia dos
rência aos únicos coparticipantes de um mesmo grupo de for profissionais responsáveis pela experiência. Não dependem me
mação. São construídos e formulados de modo a permitir que nos dos recursos psíquicos de cada participante, de seus níveis
se possa estabelecer, semanalmente, o estatuto sociométrico de de aspiração, de ·suas expectativas, de seu grau de motivação,
cada participante em seu próprio grupo de formação e a desta isto é, de seu desejo de se questionar no plano interpessoal e
car os índices de seu grau de empatia e de transparência. Cada de se abrir para relações mais autênticas com o outro. Alguns
participante pode assim tomar consciência, à luz dos resultados participantes chegam ao alocentrismo ao final de um estágio.
de seus dois sociogramas, da imagem que apresentou aos outros Outros devem repetir a experiência várias vezes antes de con
durante o estágio, . do grau de sua objetivação de si-mesmo e segui-lo.
do grau de expressão de si que atingiu.
Ao mostrar que a aprendizagem da autenticidade realiza-se.
Uma vez compilados e interpretados os resultados dos tes por escalões progressivos, tentamos integrar em uma mesma
tes, estes são transmitidos aos participantes durante entrevistas concepção genética a colaboração de alguns teóricos recentes,
psicológicas. Cada participante, dois meses mais ou menos após que tentaram definir de modo operacional as fases de evolução
o estágio, é convidado a encontrar um dos membros do pessoal. de um grupo de formação (3), (5 ) , (14), (17 ) , (19), (42)
,
106 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DI N,Ã.M! CA E GÊNESE DOS GRUPOS 107
(121), (126), (136) . Em nossa opinião estes escalões devem outros, despersonalizando-o, nivelando-o em suas diferenças
ser concebidos como momentos sucessivos de uma mesma se idiossincráticas, para torná-lo cada vez mais semelhante aos
qüência causal, não necessariamente temporal, cada momento outros. A aceitação de si é a aceitação pelo indivíduo do que
comportando algo do precedente e antecipações do seguinte. ele traz de único de si como recursos a atualizar. Do mesmo
Estas etapas ou estes momentos essenciais da aprendizagem da modo, ser autêntico com o outro é inicialmente ser autêntico
autenticidade seriam a nosso ver em número de cinco: consigo mesmo, ser verdadeiro consigo, isto é, alcançar a au
tenticidade intrapessoal. Conseq üentemente objetivar a imagem
1. . A primeira etapa a transpor na aprendizagem da que um indivíd uo tem de si, não consiste para ele em retificá-la,
auten ticidade é a objetivação de si ou, mais exatamente, a em corrigi-la no sentido das normas de respeitabilidade, de acei
objetivação da imagem de si. Urna fonte constante de tabilidàde do grupo, mas em revelar ao outro o eu profundo, o
nebulosidade nas comunicações com o outro é a distância e a eu autêntico que ele acaba de descobrir. A objetivação de si
diferença que exis tem entre a imagem que alguém tei:n de si e deve tender à aceitação incondicional de si.
a imagem que os outros têm dele, a parte determinante de
subjetivismo que entra na percepção de si o por si mesmo e a 2 . A segunda aprendizagem a .que deve consentir aquele
percepção de si pelos outros. O clima de perfeita liberdade de que aspira a relações mais autênticas com o outro, é objetivar-se
expressão que reina em um grupo de formação permite aos a respeito do outro. Conhecer a que ponto suas percepções do
participantes questionar sua imagem de si, tomar consciência da outro são subjetivas e seletivas. A partir dos dados sensoriais
imagem que apresentam aos outros em grupo, aceitar ou ao que recolhe sobre o outro, pratica cortes ou realiza montagens
menos tolerar não serem percebidos tal qual são. Cedo ou que lhe permitem fabricar imagens do outro, geralmente conta
tarde cada participante é levado a se colocar a questão: "Que minadas pelos mitos e preconceitos de seu meio.
sou para mim mesmo ?" Neste esforço de descobrir seu eu
verdadeiro, seu eu profundo para além dos disfarces que ele Para conseguir ver o outro de modo diferente será preciso
traz ou dos personagens que representa, o participante ter a possibilidade de questionar suas imagens estereotipadas
aprende a distinguir entre seu "eu atual", seu "eu ideal" e sobre o outro. A maior parte dos indivíduos só consente nesta
seu "eu autêntico". O "eu autêntico" de um indivíduo é introspecção em um clima de grupo onde as comunicações com
aquilo que ele poderia ser se conseguisse! atualizar o ser único o outro podem tornar-se confiantes e abertas. É o caso do
que traz potencialmente em si, em recursos e em . capacidades de grupo de formação. A presença profissional, ao mesmo tempo
superação. O "eu ideal" é o que ele gostaria de ser ou de permissível e tranquilizadora de especialistas em dinâmica dos
parecer para responder às expectativas, às pressões de seu grupos, cria condições propícias a uma catarse mental, liberando
meio e assim tornar-se mais aceitável pelo outro. O "eu os participantes, implicados na experiência, de seus mitos, de
atual" é o que ele é presentemente ou o que acredita ser ou seus clichês, de seus preconceitos sobre o outro. Com efeito,
parecer aos outros. É a imagem de si que ele apresenta aos em um tal clima de grupo os seres em interação podem cativar
outros. O eu atual é geralmente um compromisso entre suas -se uns aos outros, seu medo do outro diminuir pouco a pouco,
aspirações profundas e as pressões do meio para a a ponto de desaparecer completamente, suas defesas em relação
uniformidade, a conformidade. Conseqüentemente o eu atual, a certos grupos cair por terra e seus representantes no grupo
por não ter sido colocado em questão por si ou pelos outros, terminarem por ser percebidos como seres pessoais.
é um eu esclerosado no qual os recursos e as capacidades mais Em uma experiência válida em grupo de formação as rela
ricas do indivíduo permaneceram incultas e não se atualizaram. ções humanas se transformam gradualmente: no início elas se
A objetivação de si consiste, pois, em um processo de explora situam em um nível intergrupo em que cada participante é per
ção de si, a procura do eu autêntico para além da imagem de cebido pelos outros e percebe os outros por referência aos gru
si que o indivíduo quer projetar e aquela que de fato ele apre pos representados na situação presente; depois, evoluem gra
senta aos outros. Mas a objetivação de si mesmo é mais do dualmente e tornam-se relações autênticamente interpessoais,
que a lucidez sobre si mesmo, ela é a aceitação de si em reação baseadas desta vez sobre comunicações de pessoa a pessoa.
aos conformismos que querem tornar o indivíduo aceitável aos
108 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 109
Mas as percepções do outro não podem objetivar-se enquanto parência ao outro torna possível eventualmente a comunicação
os preconceitos não desaparecerem. De fato, os preconceitos profunda com ele. Não se torna transparente ao outro senão
prejudicam as percepçõe s, cristalizando-as. O outro deixa de aquele que aprend eu a se desembaraçar de seus disfarces, a re n
ser percebido naquilo que possui de irredutível e é percebido u nciar a todo rodeio, às evasivas e aos artifícios em suas re
pela aparência, transformando-se em uma cópia do clichê pelo lações interpessoais. Ser transparente é chegar a ser capaz de
qual seu grupo é percebido. Seu grupo não é percebido como tornar congruente e consonante o que é comunicado ao outro.
existe na realidade, mas como é desejável que seja ou que O receptor não percebe então nenhuma d issonância no que lhe
pareça para ser fiel à imagem secretada pela fobia do outro. é tra nsmitido como mensagem, entre o que o emissor diz e o
Objetivar-se em relação ao outro, é aprender a passar do que é pensado ou sentido por ele. Há consonância entre a
plural ou singular, do impessoal ao pessoal, a não mais perceber expressão de si e seu eu autêntico. O outro pode então sentir-se
o outro como semelhante a certos outros mas como um ser em confia nça e convidado a dar provas do mesmo grau de
único, pelo menos na capacidade de superação. Mas a objeti abandono e a mostrar-se por sua vez acessível. A comunicação
vação do outro, como aliás a objetivação de si, é mais do que humana tem possibilidad e assim de tornar-se cada vez mais
a evolução de um processo mental. Não somente as percepções adeq uada , porque evolui e progride entre dois seres desejosos
deixam de ser subjetivas, mas as atitudes fundamentais a res de se mostrarem translúcidos um ao outro.
peito do outro encontram-se transformadas. As comunicações Mas a transparência ao outro consiste em exprimir para
com o outro, de formais e convencionais que eram, tomam-se qualq uer um tudo o que se pensa e tudo o que se sente? É
espontâneas e naturais. A passagem do plural ao singular, gra possível tornar-se e permanecer autêntico com o outro não con
ças à objetivação em relação ao outro, completa-se geralmente cedendo a todos o mesmo grau de abertura e de confiança? O
pela passagem do impessoal ao pessoal, pela aprendizagem de grupo de formação, descrito há pouco como o contexto ideal
modos de comunicações que permitem tornar-se atento e pre para a aprendizagem da autenticidade interpessoal, graças ao
sente ao que constituí no outro seu eu autêntico. clima de confiança que muito cedo nele se estabelece, permite
aos participantes explorar e vivenciar este problema. Eis em
3 . A aprendizagem d a autenticidad e nas relações inter que termos este problema coloca-se geralmente aos participantes .
pessoais comporta uma terceira etapa que é a aprendizagem da Ao aprender a derrubar as barreiras psicológicas que prejudica
transparência. A transparência é uma atitude adquirida . Alguns vam suas comunicações e a valorizar uma total liberdade de
seres a ela estão mais predispostos que outros por tendência expressão entre eles, certos participantes, os mais inclinados à
inata. A transparência pode ser definida como uma abertura transparência, tendem, então, a fazer pressão sobre o grupo
espontânea ai::- outro. Ela é a adequada expressão de si: tudo ·para que este transponha aquilo que lhes parece a principal e
que é pensado e sentido é verbalizado. decisiva etapa da aprendizagem da autenticidade: a revelação
Ao contrário o preconceito consiste sempre em um reco de si. Os participantes mais fechados, instintivamente, mostrar se-
lhimento sobre si e um fechamento profundo ao outro. Aquele âo reticentes e apreensivos em revelar em grupo o que con
que preconceitua tem tendência a guardar para si seus pensa sideram seu eu reservado. E é assim que geralmente se defron
mentos, seus sentimentos, a não conf iá-los senão a confidentes tam os hiperpessoais e os hipopessoais em grupo de formação
privilegiados ou a cúmplices. A desconfiança para com o outro, em torno do problema da intimidade. Deste choque que é vivido
junta-se a inacessibilidade ao outro. Em presença do outro ou em clima permissivo e tranquilizador, podem nascer várias
em contato com o outro, os seres que têm preconceitos tornam-se aprendizagens conexas à aprendizagem da transparência. As
secretos, opacos, impenetráveis. Liberar-se dos preconceitos é mais essenciais são as seguintes:
um requisito que se exige de quem quer aprender a tornar-se
transparente ao outro. A . As fronteiras.
Para além das diferenças e das semelhanças com o outro, Para se praticar a liberdade de expressão com respeito
da facilidade ou das dificuldades das trocas com ele, a trans- pelo outro, é preciso que, uma vez desaparecidas as barreiras,
110 GÉRALD BER NARD MÁILHIOT DJ N,\MJCA E GÊ NESE DOS GR UPOS 111
demolidos os muros, transpostos os abismos, sejam delimitadas comunica, pode então ser percebido em sua total inteligibilidade,
as fronteiras da incomunicabilidade e do inviolável. Mesmo isto é, pode ser interpretado adeq uadamente à luz do que con
entre os indivíduos que conseguiram estabelecer entre eles rela seguiu ou consentiu em revelar de seu eu profundo.
ções interpessoais transparentes , deve ser reconhecido e respei Acrescentam-se à transparência, a congruência e a conso
tado que cada um traga em si segredos que não lhe pertençam: nância quando aqueles que estão cm comunicação conosco con
seria trair-se ou trair os outros, seria abusar da confiança do seguem perceber, para além de nosso eu do momento, nosso
outro ou de seu próprio poder, mostrar-se envolvente, indiscreto eu autêntico, isto é, quando independentemente dos papéis so
ou importuno, aproveitar-se de um momento de abandono para ciais que nos é necessário assumir diante deles, eles podem alcan
extorquir confidências e forçar o outro a revelar informações çar nossa personalidade profunda com suas aspirações, suas
que ele se comprometeu a guardar em segredo. potencialidades, suas atualizações presentes, seu destino e seu
mistério pessoais. Tornamo-nos não somente transparentes, mas
B . O eu íntimo. 1
congruentes ( ) e consonantes com o outro cada vez que ele tem
acesso à nossa interioridade. Aquilo que lhe comunicamos,
Além dos segredos que não lhe pertencem , há uma série
então, adquire toda sua significação para ele, que pode perce
de segredos que pertencem a ele próprio e que constituem seu
ber exatamente em que e porque o que lhe é dito é uma expres
eu íntimo. Cada ser humano tem direito à sua intimidade, e são de nosso eu .
deve se considerar perfeitamente livre de nela deixar penetrar
quem ele quer, quando quer e pelo tem po que quiser. A trans A transparência ao outro torna possível da parte dele a
parência aos outros não pode ser ou permanecer autêntica se empatia. Dt:sde que em grupo de formação os participa ntes se
estas fronteiras à comunicação não são reconhecidas e respei tornam tra nsparentes uns aos outros, é possível alca nçar-se um
tadas. Significa que, mesmo no interi or de um mesmo grupo, n ível superior no aprendizado da autenticidade e adquirir então
um membro pode tornar ··Se transparente e autêntico com todos, a empatia uns pelos outros. A empatia é mais que a simpatia.
ao mesmo tempo que estabelece e conserva relações privilegia A simpatia permite ao ser humano dividir as penas e as alegrias
das com alguns, com aqueles, entre outros, com os quais sente que já experimentou ou sentiu. A capacidade de presença ao
maior afinidade, melhor sintonizado, mais em acordo profundo outro limita-se então, neste caso, àqueles que vivem o que ele
de coração e pensamento . Significa ainda que é compatível já experimentou por sua própria conta. Ao contrário, a empatia
com a transparência ao outro, cada um poder estabelecer comporta uma evolução mais profunda, mais avançada de seu
por conta própria uma escala de graus ou de níveis de intimi altruísmo. Ela exige que o ser humano tenha se tornado capaz
dade. Ele é livre de deixar penetrar quem ele quiser a um ou de colocar-se totalmente no lugar do outro, seja ele quem for.
outro dos níveis de sua vida profunda. A razão disto é simples, Para além do que os outros lhe dizem, ele tornou-se capaz,
mas lenta para ser descoberta por aquele que faz a aprendiza por empatia, de pensar o que eles pensam, de sentir o que eles
gem da autenticidade. Sobretudo para aqueles que, por natu sentem, adequadamente, integralmente.
reza ou caráter de base, são espontaneamente transparentes ao Poder colocar-se no lugar do outro possibilita ao ser hu
outro. A autenticid ade não consiste em exprimir tudo o que mano tornar-se conscien te da imagem que apresenta ao outro
se sabe, tudo o que se sente, mas em pensar verdadeiramente, e assim chegar a se perceber exatamente como os outros o per
em sentir realmente o que se acredita poder ou dever comuni cebem. Tornando-se assim lúcido sobre a maneira pela qual é
car ao outro.
l
·1
recem possuir um valor científico. Tentaremos em seguida
sistematizar estes dados, neles integrando o que nossas próprias
pesquisas nos ensinaram sobre o problema. Seremos levados.
l assim a praticar uma autópsia dos modos arbitrários de exercer
l
!l a autoridade, que geralmente prevalecem nos pequenos grupos
de trabalho, e que os condenam fatalmente à esclerose e à es
li
l
i'
terilidade, quando não à necrose. Antes de tudo gostaríamos,
11 neste capítulo, de elaborar uma anatomia do "leadership" fun
' cional em grupo de trabalho, e assim tentar definir em termos
operacionais o estilo de "/eadership" que os pequenos grupos
deveriam adotar para tomarem-se mais criativos e mais inventi-
I
r!
_I
id
122 GÉRALD BERNARD MAILmOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 123
vos na realização de sua tarefa . No dia em que os pequenos
grupos se inspirarem nestes dados científicos, não somente a sez-f aire" os autores se esforçam por estabelecer as vantagens
autoridade aprend erá a se exercer de modo mais democrático, do primeiro, notadamente no que diz respeito ao desabrocha
mas sua dinâmica de grupo terá oportunidade de tornar-se mais mento da liberdade e das aptidões, da expressão da agressivi
funcional e seus membros mais criativos. dade em direções constru tivas, das relações entre os membros
Os dados experimentais aos quais nos referimos constante do grupo, e do trabalh o realizado. Estes resultados esclarecem
mente durante :::ste capítulo foram obtidos através de observa os dos estudos de Elton Ma yo (113) , datados de 1933, sobre
ções sistemáticas sobre pequenos grupos de trabalho no Canadá equipes de trabalho nas empresas industriais. Mayo pudera,
então, demonstr ar a influência primordial das relações interpes
francês. Estas observações duraram mais de quatro anos e foram
soais sobre o rendimento e a pouca freqüência dos trabalhadores
feitas simultaneamente em meios industriais e institucionais, tanto
nas equ ipes de trabalho.
hospitalares como educacionais. Esta exposição tentará mostrar
detalhadamen te a distância , em nossa opinião sintomática, entre Estas . pesquisas datam aproximadamente de há 30 anos.
o que nossas pesquisas nos levaram a observar nestes diversos Duas restrições devem ser feitas a seu respeito. Foram empreen
meios e o que presentemente possuímo s como dados científicos didas com grupos isolados de modo artificial, em sistema fecha
sobre o funcionamento dos pequenos grupos de trabalho . De do, com objetivos ideológicos mais ou menos explícitos, entre
ploraremos o fato repetidas vezes nestas páginas. Somente certos outros, o de demonstra r as vantage ns da "democracia" e da
meios industriais preocupam-se no momento em questionar o "participação" na tomada de decisão e na escolha dos objetivos.
exercício da autoridade e em inspirar-se no que a dinâmica dos Enfim, u m mesmo problema domina estas pesquisas: verif icar
pequenos grupos nos ensinou sobre o "leadership ". Quanto aos as relações en tre a eficácia com a qual um grupo realiza seus
meios institucionais, geralmente constatamos que, ao contrário, objetivos, a natureza d as relações que existem entre seus mem
eles têm tendência, na maioria dos casos, em se comprazer bros e o grau de satisfação que estes obtêm na sua pa rticipação
inconscientemente nos modos autocráticos de exercer a autori nas atividades do grupo. Ora, a situação experimental e o pes
dade, cada vez que consentem em introduzir pequenos grupos quisador (que impõe sempre a ta refa e as modalidades de exe
de trabalho no interior de suas estruturas ngidamente hierar cução) constituem uma va riável extremamente importante . Estes
quizadas. primeiros pesqui sadores não tend o levado suficientemente em
conta este fato, suas conclusões finais pa recem ter sido em
PRIMEIRO S DADOS EXPERIMENT AIS grande parte contaminad as com suas hipóteses iniciais e seus
Em 1938 apareciam na Revista "Sociometry" os resultados desejos mais ou menos conf essas.
das primeiras pesquisas de Kurt Lewin e de Robert Lippitt ( 70)
sobre a eficácia do "leadership" democrático em pequenos gru VARIA VEIS E CONSTANTES
pos de trabalho. Em 1939 e em 1940 três outros artigos eram
publicados, relatando a continuação destas pesquisas, realizadas As pesquisas dos últimos dez anos foram elaboradas mais
inicialmente por Lewin e Lippitt ( 71 ) , em seguida por de aGordo com a metodologia que Kurt Lewin preparou no últi
Lippitt e R. K White ( 72) e enfim por Lippitt sozinho (114) mo ano de sua vida em u m artigo célebre ( 103) dentro de
sobre os diferentes climas de grupo. uma perspectiv a de "pesquisa-ação". Organizam-se grupos nos
Esta série de pesquisas fora empreendida segundo uma quais todos os par t icipantes são ao mesmo tempo sujeitos e
metodologia experimental derivada das ciências físicas. Lewin, objetos da experiência. Os fenômenos de grupo são estudados
Lippitt e White procuram então reproduzir em laboratório fe em sua totalidade tal como são percebidos e vividos subjetiva
nômenos de grupos constatados na vida real. São experimen mente, consciente e inconscien teme nte, pelos participantes e pes
tados e aperfeiçoados métodos que permitem isolar diferentes quisadores, dando-se uma particular atenção àqueles que se re
variáveis, manipulá-las e efetuar medidas sistemáticas. ferem às relaçõe s entre eles. Estes trabalhos resultaram em
Comparando a vida de grupo resultante de um "leadership" hipóteses, em sua maior pa rte, ligadas aos fatores afetivos e
democrático àquela resultante de "leadership autoritário" e "lais- inconscientes. Por esta razão eles abandonaram os métodos ex
perimentais derivados das ciências físicas e se orientaram em
DI NÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 125
124 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
o grupo se consagra e os recursos de que dispõe para sua rea
direção a uma metodologia mais apropriada aos problemas es lização. Neste sentido é preciso se perguntar porque o grupo
pecíficos das ciências humanas, considerando sobretudo o coe se reúne. Propõem-se fins lucrativos ou gratuitos, satisfação de
ficiente pessoal do pesquisador. Esta metodologia, concebida necessidades interpessoais ou realização de uma obra coletiva?
inicialmente por Lewin, e explicitada em seguida por seus dis A tarefa é voluntária ou imposta de fora? Realiza-se em um
cípulos, concretiza-se notadamente por um recurso maior aos contexto de cooperação ou de competição entre os indivíduos?
sentimentos experimentados pelos membros dos grupos e pelo A tarefa é suficientemente adaptada a este grupo? :B claramente
próprio pesquisador, enquanto dados da experiência. Esta me definida e susceptível de ser aceita pelos indivíduos? Levando
todologia tende assim a revalorizar o significado original do em conta esta variável, alguns critérios foram elaborados por
termo "experiência" (106), que é o ato de experimentar e diferentes pesquisadores ( 2 ), ( 3), permitindo avaliar o ritmo
sentir e apóia-se além disso sobre uma concepção mais relativa segundo o qual o grupo pode progredir na realização da tarefa.
da noção de verdade científica.
Mais explicitamente, eis aqui as variáveis e as constantes C . Personalidade dos membros.
que estas pesquisas levaram em conta sistematicamente para de
finir em termos científicos o exercício da autoridade nos peque A terceira e última variável em causa no exercício da au
nos grupos de trabalho. toridade em pequenos grupos de trabalho e que deve ser levada
em conta pelo pesquisador é a personalidade dos membros do
grupo. As pesquisas de W. R. Bion ( 17 ) , entre outras, torna
1. Variáveis
ram-nos conscientes de um fato que agora nos parece banal:
A . Inserção na sociedade global. um grupo não é constituído de unidades permutáveis, mas de
indivíduos com uma personalidade bem determinada, modelados
Quando se trata de tornar inteligíveis a dinâmica e a gê por experiências anteriores de vida sociál que trazem para o
nese dos micro-grupos orientados para uma tarefa, a primeira grupo e que condicionam seu comportamento. Ainda segundo
variável que o pesquisador deve levar em conta são as posições os trabalhos de Bion ( 17 ) , o responsável pelo grupo deve se
respectivas dos participantes na sociedade global (140). Se preocupar em avaliar as atitudes iniciais dos membros em rela
estas pesquisas tiverem algumas implicações para os grupos reais ção ao próprio grupo e aos outros membros. Suas relações com
e não unicamente para grupos organizados e reunidos em labo a autoridade se tornarão assim mais facilmente inteligíveis (40).
ratório, o pesquisador deverá admitir que todo grupo de traba
2 . Constantes
lho, quaisquer que sejam seus objetivos e sua origem, não deve
nunca ser considerado como um organismo fechado sobre si As pesquisas destes últimos anos, além de nos sensibiliza
mesmo. De qualquer modo, ele está sempre ligado ao conjunto rem para variáveis que condicionam o exercício da autoridade
da sociedade por elementos que condicionam diretamente seu em pequenos grupos de trabalho, tornaram-nos conscientes de
funcionamento e lhe dão certos traços específicos por causa de duas constantes ou de dois requisitos que se pode observar em
sua referência ao contexto social ambiente. O pesquisador deve todo grupo de trabalho, sem os quais o exercício da autoridade
saber igualmente quem tomou a iniciativa da formação do grupo, fica prejudicado, paralizado ou, pelo menos, comprometido. Deixa
quem está na origem da autoridade existente no grupo, e qual então de ser funcional em relação à tarefa (23 ).
é a função ocupada pelo grupo na sociedade em que se insere
(2), (3). Estas são outras tantas variáveis a identificar, definir A . Competência.
e controlar previamente.
Os trabalhos de J. R. P. French, Jr. ( 25 ) nos ensinaram
B . Natureza da tarefa. que o funcionamento de um grupo de trabalho pressupõe que
a escolha dos membros seja feita a partir de critérios rigorosos
Uma segunda variável em causa no exercício da autoridade de competência em relação à tarefa a realizar. A integração do
em pequenos grupos de trabalho é a natureza da tarefa a que
DINÂMICA E GNESE DOS GRUPOS 127
126 GÉRALD BER NARD MAILHIOT
ros de equipe. Em suas percepções do outro e de si-mesmos
grupo e sua eficácia dependem inicialmente do fato que todos apelam sistematicamen te para mecanismos de projeção, que se
os membros sejam adequad amente competentes para assumir a apresentam nos mais deteriorados acompanhados de traços pa
responsabilidade de executar a parte da tarefa comum que lhe ranóicos muito inquietantes, ou seja, mania de perseguição e
será confiada. Desde que todos os mem bros possuam a com delírio de grandeza.
petência exigida, a estima recíproca pode então mais facilmente Em resumo, para ser f uncional, o exercício da autoridade
se estabelecer entre eles, e em conseqüência, nasce a solidarie em pequenos grupos de trabalho, pressupõe que os membros
dade necessária à sua integração. do grupo possuam a competência necessária para executar a
tarefa e tenham atingido um mínimo de maturidade social que
B . Nível de socialização. os torne aptos eventualmente a integrarem-se e capazes de leal
dade para com seus companheiros de equipe. Além disto para
Nossas próprias pesquisas nos perm1t1ram estabelecer que ser funcional o exercício d a autoridade em pequenos grupos de
umà segunda constante é exigida no exercício da autoridade em trabalho deverá constantemente levar em conta as três variáveis
pequenos grupos de trabalho. Além de serem competentes, todos seguintes: a sociedade global em que o grupo se insere, a na
os membros escolhidos devem estar aptos a trabalhar em grupo. tureza da tarefa a executar, a personalidade dos membros que
Durante estas pesquisas aprendemos a distinguir dois tipos de constituem este grupo.
inaptos ao trabalho em grupo. Há os inaptos situacíonais que
não conseguem integrar-se e trabalhar em grupo, ou porque a
natureza da tarefa não oferece nenhum atrativo para eles, pu AUTORIDADE E ESTRUTURAS DO GRUPO DE
porque as estrutu ras do grupo não lhes parecem funcionais, ou, TRABALHO
enfim, porque o estilo de "leadership" neste grupo, e o clima As pesquisas destes últimos anos precisaram melhor o modo
de grupo existente, os inibem e não lhes permitem ser criativos como um grupo de trabalho deve ser estruturado para que a
no plano da tarefa. Relaciona m-se com estes inaptos situacio autoridade se exerça de maneira funcional. Estas precisões dizem
nais os indivíduos que adotam provisoriamente ou em relação respeito a três pontos : o tamanho, a composição e a organiw
à tarefa, ou em relação ao responsável, ou aos outros membros
ção do grupo de trabalho.
do grupo, atitudes negativas, enquanto não se sentirem plena
mente aceitos. É um modo de se afirmar e eventualmente de 1. Tamanho de um grupo de trabalho.
obter provas que lhes pareçam peremptórias de que são aceitos
por aqueles com quem e por quem trabalham. Os únicos, pa Quanto maior o tamanho de um pequeno grupo de traba
rece, que comprometem a integração do grupo e tornam impos lho mais o exercício da autoridade pode ser inadequado. Quanto
sível o exercício da autoridade em pequenos grupos de trabalho maior o número de seus membros mais d ifícil se torna para
são os indivíduos que nosso diagnóstico nos levara a considerar eles participarem de modo funcional nos três momentos essen
como inaptos caracteriais ao trabalho d e grupo. Eles apresen ciais de todo trabalho de grupo: a discussão, a decisão e a
tam os seguintes traços de caráter. Qualquer que seja a nature execução. Por outro lado, os grupos de trabalho devem possuir
za da tarefa, as estruturas do grupo ou o estilo do "ieadership" um tamanho mínimo. Os grupos de dois, de três e de quatro
que prevalece nos grupos em que trabalham, eles se tomam são dificilmente viáveis e raramente eficientes: nos grupos de
logo compulsivamente contradependentes em relação às figuras dois e quatro, as oposições e os conflitos tendem a tornar-se
de autoridade e sistematicamente agressivos em relação a seus irredutíveis; nos grupos de três um dos membros percebe-se,
companheiros de equipe. Quando lhes é confiado o "lead ership " com ou sem razão, excluído ou marginalizado dos dois outros
de um grupo de trabalho, tornam-se autocráticos e abusivos no (141). Em geral os grupos ímpares têm mais possibilidade de
exercício do poder. Quanto à empatia, auto-em patia ou alo funcionar que os grupos pares. Uma maioria emerge mais fa
-empatia, eles são completamente desprovidos das mesmas. Man cilmente destes. O número optimum seria, segundo certos pes
têm a seu próprio respeito as mais falazes ilusões, isto é, quanto quisadores, cinco ou sete. Um autor (23) chega a formular a
ao grau em que são aceitos ou rejeitados por seus companheí-
128 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMIC A E GÊN ESE DOS GRUPOS 129
seguinte lei: os membros de um grupo de trabalho, do ponto
de vista ideal, devem ser "mais que as graças, menos que as também pela maneira segundo a qual seus papéis respectivos,
musas". Atualmente todas as pesquisas estipulam que os núme uns em relação aos outros, são diferenciados.
ros que indicam o menor tamanho, maxima ou optima de um Ao nível das estruturas de poder, é preciso distinguir entre
pequeno grupo de trabalho, valem para todo trabalho de grupo, quatro tipos de monitor ( 25 ) , contrariamente aos três estilos
quer a tarefa seja manual ou mental. Segundo uma descoberta de "leadership" estudados por Lewin, White e Lippitt (70),
recente (4) , ( 5 ), a percepção simultânea dos indivíduos em ( 71 ) , ( 72 ). Já demonstramos que é necessário distinguir
torno de uma mesa de reunião parece limitada a uma dezena entre dois tipos de monitores autocrá ticos: o monitor
de pessoas. Para além deste número, produzem-se fenômenos manifestamente dominador ou o tipo fálico e o monitor
de seleção na percepção e de elaboração de sub-grupos, que obsessivo que exerce sua dominação de modo mais sutil (
arriscam cristalizar as oposições entre os membros. aparentando de um devo tamento e uma solicitude infatigáveis,
muito valorizado em certos meios ) , mas não menos real. Estes
2. Composição de um grupo de trabalho. dois tipos de monitores têm o seguinte em comum: um e outro
Em relação à composição do pequeno grupo de trabalho, aspiram ao poder ab soluto, ao controle exclusivo daqueles que
possuímos vários dados. Pressupõe-se sempre que os membros trabalham com eles e por eles. Este é um traço característico
escolhidos sej am competentes e aptos a trabalhar em grupo. As deles: nem um nem outro é capaz de dividir suas
principais variáveis que podem entrar em causa na composição responsabilidades ou de delegar seus poderes . O tipo passivo ou
de um grupo são o sexo, a idade, a origem étnica, as modali laissez-faire, ao contrário dos precedentes, é incapaz de assumir
dades de aquisição de sua competência e os anos de experiência. suas responsabilidades. Deixa que façam tudo. Sua hipótese de
Quanto mais homogêneo o grupo ( 115), mais as identif icações trabalho, ou antes a raciona lização de sua abolia social
com a autoridade e a tarefa do grupo são facilitadas, mais rá consiste em postular que dez cabe ças valem mais que uma
só. Basta, então, deixar fazer para que os processos de
pida é a integração. Nos grupos heterogêneos, se a integração é
interação social se traduzam infalivel mente por resultados
mais lenta, tende entretanto a fazer-se em maior profundidade. criativos.
Se nestes casos a identificação com a autoridade e com a tarefa
do grupo é mais penosa, se ela é acompanhada de momentos Quanto ao monitor democrático, é atualmente caracterizado
de tensão e de confütos, por outro lado a heterogeneidade do pelos teóricos do "leadership" cm pequenos grupos de trabalho
grupo permite mais complementariedade entre os membros, mais ( I 40) , como aquele que é capaz de assumir e de dividir suas
resistência às pressões pela uniformidade e maior vigilância con responsabilidades. Percebe suas funções de monitor essencial e
tra as tentativas de manipulação por parte da autoridade e, especificamente como uma tarefa de coordenação. Nos momen
portanto, na maior parte dos casos, mais criatividade da tarefa. tos essenciais de todo trabalho de grupo, ou seja, nos momentos
de discussão, de decisão e de execução, ele não tem senão uma
3 . Estruturas de poder e estruturas de trabalho. preocupação constante, a de se assegurar e, se preciso, assegurar
que todos os membros estejam de acordo em profundidade
Quanto à organização formal do pequeno grupo de traba
lho, eis o que nos parece constituir dados de realidade ( 11).
sobre o que se vai discutir, decidir e executar juntos . Está
E necessário distinguir no plano formal entre estruturas de poder constantemente atrnto a que cada membro do grupo tenha uma
(quem \iem poder sobre quem, oficialmente) e l;!strU!tJ.rfüL de possibilidade igual de defender seu ponto de vista, de ver
trabalho')(quem oficialmente trabalha para quem, sobre quem balizar suas objeções ou suas opiniões, de modo que a discus
e sob quem ). As estruturas de poder exprimem-se através de são, a decisão e a execução do trabalho progridam dentro de
modos pelos quais as linhas de autoridade são definidas e articu uma coesão e uma integração das possibilidades de cada um.
ladas, mais ou menos explicitamente, no grupo de trabalho. Não lhe cabe propor e menos ainda impor os temas de discus
Quanto às\.cetJ:utu,r?: <fe .... trnba!q, elas se revelam através dos são, as alternativas de decisão ou a distribuição das tarefas,
modos como as tarefas· são· distribuídas entre os membros e mas, em um respeito constante pelos elementos minoritários do
grupo, assumir a coordenação e realizar a unidade do grupo
em função das exigências da tarefa e efetuá-la em comum.
130 GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINÂMICA E GÊ NESE DOS GRUPOS 131
Ao nível das estruturas de trabalho, pesquisas recentes (2), membros devem dividir entre eles são: pesquisador, que recolhe
( 38 ) levaram-nos a reconhecer uma interdependência do "lea os fatos ou os dados conhecidos sobre a ta refa a executar; o
dership" e do "membership ". A distribuição das tarefas entre de orientador, que define ou lembra os objetivos a atingir; e de
os membros só podeíá ser funcional se existir uma nítida dife
informador, que coloca seus recursos, sua competência ou sua
renciação dos papéis entre eles e o responsável do grupo de
experiência a serviço do grupo. Estes papéis de ta ref a devem
trabalho. Em outras palavras, para que o "leaderslzip " se torne
ser assumidos segundo os recursos e as disponibilidades de cada
e permaneça democrático, os membros devem aceitar participar
um . O monitor ou o responsável do grupo se preocupa em
ativamente na discussão, na decisão e na execução da tarefa,
sensibilizar os membros d a necessidade de se colocar de acordo
isto é, devem assumir entre eles os diversos papéis que tornarão
cada va que esta d ist ribuição das ta refas e esta diferenciação
suas comunicações e suas interações funcionais.
dos pa péis entre eles se apresenta e para que permaneça m fun
Nas primeiras fases de um grupo de trabalho, os membros
cionais e mel hor f<:woreça m a criativid ade do grupo de t
têm ·tendência (e este fenômeno parece ser normal, inevitável
rabalho.
e na maior parte do tempo, desejável ) a assumir por momen
tos, pa péis individuais, dirigidos exclusivamen te para a satisfa AUTORIDADE E G f:N ESE DO G RUPO DE TR A BALHO
ção das necessidades pessoais. Eles sentem, então, uma neces
sidade irresistível de se afirmarem como indivíduos. Alguns Um dos desafios com q ue se defronta o responsável de
adotam mesmo papéis um pouco intempestivos. Assi m o papel um grupo de trabalho é o de favorecer e assegur ar o cresci
de exibicionista, desejoso de chamar a atenção sobre si mesmo a mento de seu grupo de dent ro, para além e m uitas vezes a
qualquer preço, ou, pelas mesmas razões, o papel de opositor despeito de sua organização formal, isto é, d as estruturas de
irredutí vel ou de criança mimada ou de retardatário crônico. trabalho e de poder ,que seu grupo assumiu ou que l he foram
Tenderão a comprazer-se nos pa péis individuais durante todo o impostas no momento de sua constituição. Crescer, pa ra um
tempo em que se sentirem não aceitos pessoalmente como indi grupo de trabalho, é tornor-se ma is eficien te, mais criativo ao
víduos. Mas ficou demonstrado ( 4 ) , ( 5 ) , ( 6) que, à medida nível da ta refa. Ora, os pesq uisadores sobre a gênese dos pe
que a ntegração e a coesão do grupo se acentuam, estes papéis quenos grupos de trabal ho acu m ula ra m, nestes úl timos anos,
individuais se tornam, cada vez mais, fatores dissolventes ou dados experimentais convergentes, demonstra ndo que não há
paralizantes do grupo. Comprometem a solidariedade e a ação criatividade durável nem au têntica ao nível da tarefa, enquanto
do grupo, a qual deve tornar-se cada vez mais polarizada pela os mem bros d o grupo não tiverem conseguido integrar-se como
tarefa . grupo. É a esta concl usão que chegam sobretudo os trabalhos
Mas desde que o clima de grupo ( 15) favoreça uma acei de C. Argyris ( 4 ) , de Bion ( 17 ) e de Heider ( 40 ) . Vejamos
tação mú tua e recíproca dos membros, e isto graças às atitudes como estes pesquisadores concebem a integração de um grupo
de aceitação incondicional de cada um pelo lider, eles se tornam de trabalho: suas fases, suas leis, seus critérios.
capazes de assumir novos papéis favorecendo a integração do
grupo, isto é, pa péis de solidariedade. O mais im portante destes 1 . Fases de integração.
p t péis é, sem d úvid a, o de mediador, que consiste, nos
momen tos de conflitos e de tensões entre os membros, em dar :E. em três fases, quase sempre, que se opera gradualmente
provas de lealdade em relação a cada um, em estabelecer a integração de um grupo de trabalho. Cada uma destas fases
compromis sos, em preparar roconciliações , em propor propõe problemas específicos a u ma autoridade que pretende
arbitragens. se exercer de modo funcional. Por outro lado, a passagem de
Tendo se realizado a integração entre os membros e res uma fase a outra, para um grupo de trabalho, depende de modo
ponsá veis, estabelecida e reforçada a solidariedade entre eles, decisivo do clima de grupo que o líder consegue criar ( 9 ).
a distribuição das tarefas pode efetuar-se de modo funcional
A . Fase individ ualista.
por uma diferenciação ou um controle por cada um de certos
papéis-chave que favoreçam a progressão do grupo em vista da A primeira fase da evolução de um grupo de trabalho é
realização da tarefa. Os principais pa péis de tarefa que os identificada pela maior parte dos pesquisadores recentes, como
132 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 133
a fase individualista . Independentemente da natureza da tarefa
e das estruturas da organização formal do grupo, indivíduos resse em que cada um participe em todas as deliberações do
que se reúnem para Gxecutar juntos um trabalho, têm tendên grupo, mostrando assim que ele julga indispens. vel o trabalho
cia, no início e por um certo tempo, a querer se afirmar como de cada um à ·execução da tarefa ( 8).
indivíduos. Esta fase durará até que cada um tenha conseguido
se fazer aceitar como indivíduo . Esta fase que parece mobilizar C . Fase de integração.
os membros do grupo em torno de preocupações que os afastem
da tarefa e de sua execução, revela-se mais tarde essencial à Quando cada um se sente plenamente aceito, quando os
sua integração. O responsável pelo grupo deve saber reconhecer membros minoritários tiverem certeza de que no momento das
que esta fase responde às necessidades fundamentais dos mem decisões srão aceitos, um grupo de trabalho consegue então
bros. Eles não se engajarão na tarefa senfo a partir do mo integrar-se. Chega-se, assim, à terceira fase, chamada fase de
mento em que se sentirem plenamente aceitos. O líder não integração. O líder deve então assumir simultaneamente dois
deve freiar ou acelerar esta fase, mas sensibilizar os membros tipos de papéis de solidariedade. Deve verificar se a integração
do seu grupo quanto ao partido que podem tirar destas primei do grupo de trabalho não foi concluída excluindo alguém ou
ras confrontações, objetiva ndo-se uns em relação aos outros. fazendo pressão sobre quem quer que seja. Importa que seu
Conhecendo-se melhor e aceitando-se reciprocamente, eles têm grupo de trabalho tome o tempo necessário para operar sua
oportunid ade de descobrir os recursos de cada um em fu nção integração em profundidade. Por outro lado, é preciso estar
da tarefa que realizarão eventualmente juntos. Os papéis apa atento a que o clima de trabalho marcado, então, pela aceita
rentemente negativos que durante esta fase certos mem bros po ção e solidariedade não se deteriore em clima de enfatuação.
dem assumir, como monologar ou se comprazer em detalhar Certos grupos de trabalho que tiveram dificuldades em se inte
sua biografia, e que parecem distrair o grupo da tarefa, são grar, sentem de tal modo a exaltação quando conseguem enfim
funcionais na medida em que respondem a necessidades de se esta integração que têm tendência a voltar-se sobre si mesmos,
gurança dos participantes. f: uma ocasião privilegiada para o a se comprazer em seus sentimentos de perfeito entendimento
líder reconhecer, por suas próprias atitudes e comportamento, e negligenciam ou esquecem, pouco a pouco, a tarefa a exe
que a primeira tarefa de um grupo de trabalho é a aceitação cutar (9 ).
mútua ( 42 ) .
2 . Leis de integração.
B. Fase de identificação.
Para assumir estes papéis específicos e criar clima de grupo
propício à integração, o líder de um grupo de trabalho deve
A segunda fase pela qual um grupo de trabalho deve con respeitar o que se convencionou chamar as "leis fundamentais
sentir em passar para assegurar sua integração é conhecida como da integração" de um grupo de trabalho ( 5 ). Há duas:
uma fase de identificação. Quanto mais heterogêneo o grupo,
mais esta fase terá tendência a se prolongar. Uma vez aceitos A . A primeira lei consiste em aceitar e fazer
como indivíduos, certos membros, antes de consentirem em aceitar pelos membros do grupo os momentos de
fazer grupo, procurarão integrar-se inicialmente em sub-grupos. ansiedade inerentes a todo processo de crescimento
f: o caso dos membros que se percebem como minoritários no psíquico. Nós sabemos presentemente (4) que os
grupo de trabalho, não se sentem considerados como membros, grupos, como os indivíduos, devem desenvolver níveis
totalmente, nos momentos de decisão. Sentem, então, a neces elevados de tolerância à frustração, caso contrário,
sidade de sub-agrupar com aqueles que experiment am este mes nos momentos inevitáveis de ansiedade que conhe
mo temor e partilham das mesmas apreensões . O líder pode cem durante sua evolução, ao invés de crescer e· de
desempenhar então um papel decisivo, pelo valor e autentici dade se superar, terão tendência a regredir recorrendo a ·
de sua presença junto aos membros, demonstrando inte- um conjunto de mecanismos de defesa de grupo e
de compensação em grupo ( 125).
''o;X'l'lll'I""""""· ·,·-···---·-"-"'."°" ""···--·,.---····-·---
B. A segunda lei da integração de um grupo lado, quanto mais a integração do grupo de trabalho tenha se
de trabalho e a lei da complementariedade. A inte concluído sobre uma base de complementariedad e e não de
gração para se operar de modo duradouro e em pro subordinação, mais os canais de comunicação se tornarão fun
fundidade, deve se concluir não pelo nivelamento cionais entre eles ( 31 ) . Por outro lado, se as relações ao se
das diferenças entre os membros mas por sua com articularem tornam-se hierarquizadas, as linhas de comunicação
plementariedade. Mas para que esta possa emergir no interior do grupo, cedo ou tarde, estabelecer-se-ão em sen
e se atualizar entre os membros de um grupo de tido único. Bloqueios e filtragens se multiplicarão, as relações
trabalho, importa que o líder tenha conseguido criar interpessoais entre colegas ou com o responsável arriscarão tor nar-
um clima de grupo onde cada membro aceita per se muito cedo negativas, prejudicadas pelos mal-entendidos,
ceber-se diferente, mas incompleto e cada um dos equívocos ou ressentimentos que parecerão irredutíveis (33) .
outros membros como seu complemento eventual. Relações humanas rígidamente hierarquizadas em pequenos gru pos
Cada membro aprende, assim, a não renegar nem de trabalho dão fatalmente lugar a atritos desastrosos, pola rizados
renunciar ao que ele é, mas a ser cada vez mais êle por conflitos de prestígio que, pelo fato de não poderem ser
mesmo e a colmar à disposição do · grupo os re despersonalizados, em razão do clima de grupo, terminam por
cursos únicos de que dispõe. As diferenças de opi prejudicar a comunicação no interior do grupo, de modo in solúvel.
nião, as divergências de pontos de vista, longe de A integração, então, só poderá ser artificial e aparente, se não
serem apreendidas como fontes de conflitos e de chegar a ser totalmente comprometida para sempre.
tensões no grupo, são acolhidas como outras tantas
possibilidades de complementariedade e de interde B. Coesão optima.
pendência entre os membros na elaboração de so
luções sempre mais adequadas aos problemas que Os dois outros critérios decorrem imediatamente do primei
devem resolver juntos na execução da tarefa (148 ) ro. Uma vez tornada válida a comunicação no interior de um
. grupo de trabalho, e os membros capazes de dialogar entre eles,
de melhor se sensibilizar para tudo o que os torna diferentes
3 . Critérios de integração. mentalmente uns dos outros, suas relações interpessoais podem
então atingir um· alto grau de coesão. Sentem também uma ver
Através de que critérios se reconhece que o exercício da dadeira culpabilidade tod a vez que são forçados a se ausentarem
autoridade em grupo de trabalho favoreceu sua integração? Os das sessões de trabalho de grupo. Sentem a necessidade de ex··
mais significativos e os mais reveladores são os três seguintes: plicar previamente as razões de suas ausências, se. estas razões
são imperiosas e de se desculparem junto ao grupo cada vez que
A . Validade das comunicações. sua ausência não lhes parece absolutamente justificada . Nos
O primeiro critério de integração é a validade das comu momentos de hesitações ou de fracassos, sua empatia transforma
nicações que se estabelecem entre todos os membros do grupo, -se em solidariedade e lealdade. Essa coesão optima, indício de
inclusive o responsável pelo trabalho. Sobre este assunto pos que sua integração está concluída, torná-los-á aptos . a coordenar,
suímos vários dados convergentes. Para serem válidas as co sincronizar e sintonizar seus esforços em relação à tarefa. Este
municações no interior de um grupo de trabalho, pressupõem sentimento de pertencer ao grupo, se foi adquirido em clima
que seus membros tenham conseguido, ao se integrarem, adotar igualitário, não será sentido como uma fixação. A interdependên
uma linguagem comum, recorrer a símbolos e códigos que lhes cia dos membros repousará sobre sua autonomia e sua indepen
são próprios. Além disto, os membros deverão ter aprendido dência respectivas e se conciliará com elas ( 24) , ( 27 ) , ·(
a prestar uma atenção mútua e um interesse real. Sobretudo 148).
o lider do grupo deverá ter conseguido estabelecer relações C. Permeabilidade das fronteiras.
humanas igualitárias entre ele e os membros. Quanto mais
estas relações se tornarem autenticamente igualitárias, mais a O terceiro e último critério de integração de um grupo de
comunicação terá condições de ser aberta e circular. Por outro trabalho é a permeabilidad e das fronteiras. Um grupo de tra-
136 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 137
balho atinge este nível quando sua integração funda-se sobre Ql.12.!P ªr .ª- Jrn.Rlli: - -o.s. ohjetivos..da..tar.eiaJL!U!e
uma tal solidariedade que ela não é ameaçada pela saída ou !IL.e...fQ!l.?:&r:·i:L<!lj_mitar as.fronteicª.s, . planejax...a ... ex.ernção
ausência de um de seus mem bros, nem comprometida pela che
gada de novos. As dif iculdades que os novos membros sentem J0:agci():S. ...l? ':l: S.... e.a,;:a.- !:!ª- <l:fü:a,窺· ...E, stes_
_problemas_s.erão definidos de moao valido se o HdeL.COnseguir
ao se integrarem são logo superadas . Estruturas de acolhimen dJJr(lnte .as trocas
to em relação a toda colaboração do exterior realmente positiva Iritre õS:-.mê!ilbrõs.iie-nsiDiliza J§s:9m:a .cei:tPs fat.9rns d:i--riifiél4e,..
se desenvolvem sem que o grupo tema perder sua identidade .I_ltE _g!!,tr2.:·::i5ara,=S.u<l:fjlisponibilidades .sespe,!;liXª-§-- E.' · Q§.
(14), (136). atl13:i§ Ie.CJJf _os do grupo.... Depois, uma segunda etapa deve se-
-gúir, chamada .fã·s·e··cré ·promoção das iâéias. Uma vez definida
AUTORIDADE E DINÂMICA DO GRUPO DE TRABALHO a tarefa o grupo de trabalho deve procurar elementos de solu
ção dos problemas que ela exige. Para ser funcional esta etapa,
Todas as pesquisas destes últi mos anos são concludentes,' isto é, para. marcar .um pr9gress9 na solusã() d,o p,rol:?lema, _
ao menos sobre este ponto. que reafirma mos aqui: um grupo e.l'.ige
de trabalho não pode esperar ser eficiente de modo duradouro, --e que os meml:Jrns .ci.9 g,rqp9 seja.m (;!Stimul(lc:ios e ii:.sl'i!sJ:()s
enquanto seus mem bros não tiverem se integrado, isto é, enquan J?lo )íder a elTlPegar toci()S os . seus recu.rsQs criadores, . poµdo
to não tiverem estabelecido de modo decisivo, relações interpes .de.lad.Q_suas .f.u.nçõc.s.._.ciíiicas.....p.ar.;L.que....elas.._nil.\:LesJedlizem.... os
soais com base na aceitação, na interdependência e na comple ·m:9ce - 2§.Jn_Y.l'..!1.tivos,..d. ._() _gE.1:1.P.9· O que importa, então,
mentariedade ( 4 ) , ( 23 ). para um grupo de trabalhÕ--ê produzir idéias, formular
proposições, co locar em comum todas as informações de que
Mas uma vez concluída esta gênese do grupo e dos mem dispõem os mem bros para que ao final desta fase ele esteja de
bros integrados, que papéis essenciais o líder deve assumir para posse de um in ventário de todas as soluções possíveis na
obter urna participação máxima e satisfatória de cad a um dos execução da tarefa.
membros na realização da tarefa? Veremos em detalhe que êle
deve tornar-se a partir deste momen to, um catalisador para o Na terceira fase o senso crítico deve retomar seus direitos.
grupo (e assim permitir que se intensifique a integração do Os membros devem proceder a uma triagem entre as soluções
grupo) e simultaneamente ser um coordenador d as operações realistas e as soluções utópicas que foram colocadas desde o
do grupo para lhe permitir progredir na execução da tarefa início da fase precedente. É ..a. Jª.se .da ygrif icação. Não
(115 ). Eis como : retendo
en.9. - ª-- s()l.l,!ções. qm s.e. . mgs.trnr.am_em conformidade . c.om ..os
objetivos fixados e_ de acordo con1 os Ja!9xe_s. <f1'.._ - -
1. Processo de solução de problemas em grupo. lade..._gJL ipelllfüos···aô'··:grupo estão agora em condições de
proceder a l}ma decisão de grupô, istcr é; dese colocarem
Graças aos trabalhos sobre o fenômeno de "pensar em gru deacordo, por C0t1Sen tí_mento, sobre as soluções a adotar para s.e
po" ( 113), ( 148 ) , foi possível determ inar segundo quais pro des.it1Cl}f11]Jiref!ljl}n_tos da tarefa de modó mais adequadQA..
cessos rigorosamente lógicos, deve-se procu rar e se encontrãr a Tomada a decisão, eles nada mais terão a fazer senão ·passar à
solução de .um problema em grupo. Aqui estão as etapas essen execução da tareia ( 9 ).
ciais; em seguida as principais pe rturbações que podem preju
dicar estes processos . Veremos como e porque a autoridade ao B . Todo grupo de trabalho deve aceitar transpor e respei tar
se exercer pode favorecer ou comprometer a progressão do gru a ordem destes cinco modos ou cinco etapas essenciais à
solução de um problema em grupo. Ǫ!J.e . ao . líder criar um
po de trabalho ( 11) .
clima de trabalho tal que, sempre levando CID"=cõniã O" ritmô
A . É preciso que os membros de um grupo de trabalho, e·
desde que se sintam suficientemente integrados, procedam sem as modalid ades de f nciCJname11t9 cie.. c<lda...um, ª _pr.o.gressão.
tardar à d.efi11i.Ç..iio _das...pr.ablemaa- qge gs C(lnf rQntam, para
exe do grupo····• n.a·· tealiáção.... c:i.? tª.refa.se....opere..c.Qllf.Q..?
.. <:!Jtªrjp,ntos _ ªJªrefa que.lhes é confiaçia, . isto . é, devem-se preQ-: J_iLQ.a._dia::_. fética do ''pensac.em...gnJpQ' Alguns
pesquisadores em psico fõglã ' sodal; por referência a este
esquema ideal, puderam des crever diferentes tipos de process os
inacabados. Devemos reter, para nosso estudo, que estes pesq u
isadores estão de acordo sobre um ponto: é principalmente por
causa da falta de um "leader ship" fu11cional em grupo de
trabalho que estes processos são
1 38 GÉRALD BER NARD MAILHIOT
DJ N.Â.MICA E GÊN ESE DOS GRUPOS 139
perturbados e dão lugar, no trabalho de grupo, a fixações, des
vios ou regressões ( 16), (24) . düfcilmente as etapas preliminares, mais ou menos à maneira
como certas inteligências de tipo intuitivo suportam mal os pas
Segundo estas pesquisas, certos grupos de trabalho caem sos articulados da dedução lógica. Sentem como urgente e im
em "círculo vicioso". Depois de ter percorrido as três primeiras periosa a necessidade de tirar conclusões o mais cedo possível
'--"'fll' ··fases, a saber, a....Q. Q....QQ... PJ:2Qk!rtsi, - ·pr.omoç,ãQ•.9.ªÂ e passar sem mais tardar à execução da tarefa. Nos dois casos
j\:jl_iª.s o "leadership " é de fato assumido, não pelo líder, mas por
.3.,..QPJ.! .Gfü:t.•d.e. tifiç,,.?sJio, o grupo não chega a tomar membros influentes, cuja influência se exerce de modo negativo,
uma decisão final e recomeça sem cessar novos ciclos de d dissolvente e esterilizante . A progressão do grupo com vistas à
iscussão. Estes grupos parecem atingidos por uma abolia execução da tarefa encontra-se comprometida (130) , (136).
coletiva . Outros grµpos tendem a se comprazer indefinidamente
em certas fases. t o caso sobretudo da fase inicial, a fase da
definição do pro blema. Isto acontece no caso em que o grupo 2 . Exigências da tarefa e necessidades interpessoais.
de trabalho é dominado por indivíduos possuindo uma
inteligência de tipo verbal. Estes se inclinam muito a querer O líder de um grupo de trabalho é funcional, isto é, favo
resolver o problema em termos de sutilid ades verbais ao invés rece de modo decisivo a progressão na execução da tarefa, se
de se preocuparem em definir nitidamente os termos e as ele consegue primeiramente satisfazer as necessidades interpes
implicações, bem como em saber deferir a solução desde que soais dos membros, ou seja, necessidades de inclusão, de soli
as exigências da tarefa e os fatores de realidade em causa não dariedade, de afeição e de controle (137 ). Assim fazendo, ado
foram suficientemente explorados . Este processo inacabado foi tando atitudes de empatia e de presença atenta a cada um dos
diagnosticado como um "bloqueio em uma fase". Acontece, membros, ele cria um clima de grupo que permite facilitar a
enfim, que certos grupos de trabalho são tentados a passar por integração dos membros, tornar-se mais autêntica, enquanto per
cima de certas fases, so bretudo da fase de promoção de idéias manece cada vez mais flexível. É uma das tarefas constantes
ou a de verificação. Esta "escamoteação" de uma ·ou outra destas do líder. Ele não deve jamais negligenciá-la nem considerá-la
fases traduz-se por uma incapacidade de chegar a soluções que concluída. Mas simultaneamente, e é aqui que muitos líderes
sejam específicas e ade quadas a elas. As soluções adotadas , de grupos de trabalho tropeçam, deve preocupar-se em sensibili
então, são estereotipadas e convencionais. J,.ç;;.. zar os membros de seu grupo para as exigências da tarefa e asse
gurar, por momentos, a primazia destas últimas sobre a satisfação
Pelo fato de não possuir um líder funcional, isto é, úS líder
das necessidades interpessoais. Sempre, por suas atitudes e .seus
_q_ue ço!_1sigª ser simultaneamente para seu grupq de
comportamentos, deve inspirar a seus membros o desejo de se
tnbãffiõ.:um. catalisadorao !lível d?integração e um cóordenador
consagrar à tarefa, de se deixar polarizar cada vez mais por suas
ao nível d a
exigências, de aperfeiçoa r-se através dela. Um líder conseguiu
fã'fêfü, ós prnçessos .. de solução de prob}emas çm grupo .são
isto quando soube suscitar nos membros de seu grupo uma as
perturbados ou prejudicados. Sendo o líder muito passivo ou
muito autoritário , os membros do grupo são encorajados a adotar piração ao aperfeiçoamento da tarefa a criar juntos uma obra
tipos de compor tamentos não funcionais em relação à tarefa a única que trará sempre sua marca inesquecível ( 131).
executar ( 23 ). Os mais freqüentes são os dois tipos de com
portamentos seguintes. Certos grupos são incapazes de fazer as A . Pressões para a uniform idad e e a conf ormídade.
escolhas que se impõem porque são dominados por membros
obsecados em pesar as conseqüências, prever repercussões, ana Para assegurar este equilíbrio entre necessidades interpes
lisar sem fim a divisão das responsabilidades, ped ir sem cessar soais e exigências da tarefa, e saber por momentos conceder um
informações suplementa'res e estabelecer comparações intermi primado a estas últimas, o líder deve, por sua parte, saber imu
náveis . .. Lamentam-se por dispQLcl Q()UC()_ !lllP9 e adiam, para nizar seus membros contra uma tendência geralmente inconscien
wais tarde ou para outros, o cuidado de tomar as decisões . te de ceder às pressões, por vezes sutis, para a uniformidade e
Outros grupos de trabalho são dominados, ao cóntiárlo, a conformidade . Deve criar obstáculo a estas pressões de grupo
por membros impacientes de concluir e de terminar. Suportam
140 A A •
GÉRALD BERNARD MAILHIOT DINAMICA E GENESE DOS GRUPOS 141
tornando os membros conscientes das mesmas e convidando-os midade que serão exercidas sobre eles, afirmar-se-ão de modo
com ·insistência a resistirem a elas. Em que consistem sempre mais intempestivo, a ponto de se tornarem fatalmente
estas pressões de grupo? rejeitados pelo grupo. Por outro lado, as mesmas pressões de
Dois fatos, confirmados por numerosos estudos . de obser grupo, no caso dos que participam de modo indireito e que se
vação sobre uma grande variedade de grupos de trabalho, des inclinam à auto-depreciação, chegarão logo ao extremo de suas
tacaram -se como significativos a este respeito ( 1O), (40). Eis resistências emotivas. Estas pressões os forçarão a adotar um
o primeiro fato: cada vez que seres humanos se reúnem para tipo de participação modal, isto é, a aderir e a aquiescer incon
trabalhar em grupo, um acordo ou um entendimento tácito se dicionalmente a tudo que é proposto ou sugerido pelos preferi
estabelece rapidamente no grupo para operar uma distância entre dos do grupo. Conseq üentemente seu status social em grupo
aqueles participantes percebidos como astuciosos, dotados e com se desvalorizará gradualmente e seus mem bros se tornarão cedo
petentes e os percebidos como sub-dotados, ingênuos e incom ou tarde os isolados do grupo de trabalho ( 1 1) , ( 1 18).
petentes. Trata-se, neste caso, geralmente, de percepções subje
tivas, apressadas ou mesmo gratuitas. Mas logo a participação C. Interaçõ es circulares e contágio social.
dos primeiros tende a ser supervalorizada, enquanto a dos se Se o líder não consegue desenvolver em seu grupo de tra
gundos é desvalorizada, ou mesmo ignorada. balho limites de vigilância elevados, a interação socia l entre os
O segundo · fato é a conseqüência inelutável do primeiro. membros, mesmo nos grupos de trabalho cuja organização for
Esta hierarquia de status no interior dos grupos, cujas estrutu mal é a mais democrática , tenderá a degrad ar-se em um pro
ras de trabalho e de poder são as mais democráticas, tende a cesso circular cada vez mais herm ético e cad a vez mais submisso
cristalizar e a esclerosar-se. O acordo das opiniões e das atitu às pressões sociais para a uniformidade e a conformidade no
des a respeito de cada participante tende muito cedo a perma pensamento do grupo e sua atividade de grupo.
necer imutável. Suas posições sociais respectivas no grupo de Em conseq üência todo grupo de trabalho conhecerá em
trabalho tendem a se estabilizarem, a despeito do fato de certos seguida uma estratificação social cada vez mais articulad a, cada
participantes, aqueles que se sentem percebidos negativamente, vez mais esclerosada. As necessidades interpessoais arriscarão
fazerem esforços consideráveis para trocar seu status e modifi assim tornarem-se cad a vez mais frustrad as. Os recursos men
car as percepções sociais de seus comparü1eiros de equipes ( 12), tais de cada um dos membros não têm ma is a possibilidade de
(33 ).
se integrar em uma comp!ementariedade de suas respectivas di
ferenças. Se os elementos criativos do grupo não reagem contra
B. Participação móvel, marginal e modal. este nivelamento das diferenças mentais, geralmente os mais ricos
em recursos inventivas, esterilizar-se-ão em um clima de grupo
Aqueles que adquiriram um elevado status têm a possibili eIJ1 que a comunicação humana não pode mais se transmitir
dade, desde o início da formação do grupo, de participar de senão de modo seletivo ( 125), ( 148).
modo móvel e de se tornarem os pre feridos do grupo. São eles
que exercem pressões sobre os membros, percebidos como me 3 . Critérios de eficácia ao nível da tarefa.
nos dotados e menos competentes, pa ra que eles pensem, falem
e ajam como eles. Conseguem adquirir uma grande mobilidade Através de que critérios reconhecer que o "leadership " em
de manobrar e controlar as discussões e decisões do grupo. um grupo de trabalho é funcional, isto é, favorece ao máximo
Os membros que têm um status pouco elevado reagem a eficácia ao nível da tarefa? Através de quatro critérios, se
inicialmente através de uma participação desviada. Em seguida, gundo as pesquisas mais recentes ( 1O ), ( 23).
se tais membros têm alguma vitalidade, e ao mesmo tempo falta A . Utilização funcional dos recursos.
de lucidez sobre eles mesmos e sobre o outro, sua participação
em grupo de trabalho terá tendência a tornar-se cada vez mais O líder de um grupo de trabalho torna-se funcional quan
marginal. E, apesar das pressões pela uniformidade e confor- do, assumindo os papéis de coordenador ao nível da tarefa,
142 cJÉR ALb BER NARD MAILHIOT DI NÂMICA E GÊ NESE DOS GRUPOS 143
torna os membros do grupo desejosos e capazes de explorar tentativas de executar as tarefas que lhe são confiadas. Graças
todos os recursos que lhes são acessíveis na execução da tarefa. às atitudes não d iretivas do líder o grupo descobre que as regras
O índice mais significativo de que este estágio foi atingido é do processo , que no início se mostravam funcionais, devem ser
quando os membros de um grupo de trabalho não se consideram abandonadas ou substituídas cad a vez que as exigências da ta
desvalorizados pelo fato de apelar para ajudas exteriores. Toda refa va ria rem e elas tiverem se tornado um fator de estagnação.
colaboração construtiva será acol hida seja qual for o seu doador . Pouco a pouco, sob a influência determinante do líder, um grupo
Por outró lado, as sugestões de um peri to poderão ser rejeita de t rabalho aprende a não recorrer a regras de proceder, senão
das sem que o grupo d isto se sinta culpado, se elas lhe parece nos momen tos em que a comunicação entre os membros tiver
rem ser de nenhuma ou pouca utilidade para a realização da se tornado incoerente ou correr o risco de ser prejudicada. O
tarefa. Além disto quando as rivalidades entre os membros de modo de proceder pode então contrjbuir pa ra dissipar os mal
saparecem e as d ivergênci as de pontos de vista e de opiniões entendidos e os equívocos. Mas desde que a comu nicação se
ficam despersonalizadas, não arriscam mais degenerar em con flitos rest abeleça espontane amente de modo funcional entre os mem
e em tensões internas. Em um tal clima de grupo cada sugestão ou bros, os processos utilizados pa ra descobrir as causas da filtra
cada solução pode ser avaliada em seu mér ito : ela gem ou do bloqueio serão logo abandonados ( 16), ( 25) .
é aceita ou rejeitada somente em razã.o de seu valor objetivo
(5 ), (11 ), (115 ) . D . Criatividade no plano da tarefa .
B . Tomadas de decisão por consenso. Um grupo de trabalho não se torna criativo senão quando,
graças ao clima de grupo criado e mantido pelas atitudes do
Um segundo critério de eficácia ao nível da tarefa é a ca líder e concl uída a i ntegração dos membros, um equilíbrio estável
pacidade dos membros de tomar decisões por concenso. As de se estabeleceu entre as exigências da tarefa e as necessidades de
cisões não são mais, então, a expressão da vontade de uma solid ariedade, equilíbrio que favorece finalmente um primado da
maioria imposta à minoria que acei ta de má vontade ou do tarefa sobre as p essoas. Além disto a criatividade em grupo e
abuso de poder de um líder autocrático. O líder funcional em de grupo pressupõe que uma comp lementariedade entre os re
grupo de trabalho é aquele que incita seus membros a não to cursos mentais respectivos de cada um dos membros seja ao
marem suas decisões senão quando todas as opiniões e as obje mesmo tem po autentica men te preparada e realmente desejada .
ções foram verbalizadas. As decisões tomad as são conseqüente Uma vez absorvidas as rivalidades, o clima de grupo e o moral
mente a expressão de um acordo em profundidad e por todos, do grupo são pola rizados por emoções de grupo de uma tal va
sem exceção, sobre as escolhas que o grupo pode e deve fazer lêncin positiva q ue cada um dos mem bros engaj a na execução
nas circuntâncias presentes. Todos estão conscientes de que este da tarefa o melh or dele mesmo e consagra o melhor de suas
acordo deve ser explícito e autêntico. Também o acordo não energias ( 4) , ( 36 ) , (131 ) .
terá valor de decisão de grupo, senão a partir do momento em Um outro índice não menos significativo da criatividade
que terá sido sistematicamente verificado que todos o aceitam de um grupo de trabalho é sua aspira ção à per feição . Ela não
em plena consciência das implicações de sua adesão ( 12), ( 15). apa rece senão quando os modos de a proximação, as trocas, as
confrontações e os elementos de solução trazidos para a tarefa,
C . M aleabilidade dos proc essos. levan tam modos de interações cada vez mais positivos ( 113 ) .
Neste estágio as motivações de grupo devem ter atingido . um
O terceiro critério de maturidade de um grupo de trabalho alto nível de aspiração. Todos devem ter se tornado desejosos
revela-se na flexibilidade do grupo em introduzir processos nas de aperfeiçoar-se em grupo e de cumprir com a tarefa do modo
trocas entre os membros. O líder desempenha um papel decisivo ma is perfe i to . Neste ponto pode-se obse rvar que os membros
neste caso. Todo grupo de trabalho, em fase de formação, tenta se tornaram cad a vez mais preocupados com o prestígio do
estruturar as interações dos membros com a ajuda de processos grupo e sua reputação. Um tal grupo de trabalho não se preo cupa
que lhe pareçam próprios a assegurar uma progressão de suas mais em fazer tão bem ou melhor que os outros, seus
144 GÉRALD BERNARD MAILHIOT
D!N;\ M ICA E GÊ N ESE DOS GR UPOS 145
membros aspiram a ser os únicos a realizar tarefas desta alta de sua autoridade cm grupo de trabalho. As múltiplas funções
qualidade. Ê nesta mesma medida que eles se tornaram criati
vos (37 ) , (40), (131), (136 ) . do "leadcrship" que no início é o ú nico a assumi-las, podem
ser divididas gradualmente por todos os membros do grupo.
Mas o "leadcrship partilhad o" ou o exercício colegial dá auto
APTIDÕES E ATITUDES FUNDAMENTAIS ridade não tem oportunidade de ser funcional senão quando a
Os trabalhos de C. Argyris ( 4), ( 5) , de B. M. Bass (11 ), ausência de dogmatismo do líder, favorecendo a livre expressão
de L. Festinger ( 33 ), de F. Gordon ( 37), de M . Rokeach (130 ) das idéias e sobretudo dos sentimentos, permitiu progressiva
e nossas próprias pesquisas permitem destacar e articular, ao mente aos membros sensibilizarem-se para o que constituía obs
menos provisoriamente, a <fnatomia do "leadership" funcional táculo cm suas comunicações interpessoais e de se tornarem
em pequenos grupos de trabalho. Estes diversos autores a de assim capazes à semelhança de seu líder, de uma participação
finem em termos de aptidões ou de atitudes fundamentais no em grupo cada vez mais móvel e flexível. A abertura das co
exercício da autoridade. A partir daí torna-se possível traçar o municações, a integração e a solidariedade do grupo, a coorde
perfil psicológico do "líder ideal". Os traços essenciais de sua nação na progressão da tarefa, que no início eram preocupações
personalidade seriam os seguintes: quase exclusivas do líder tornam-se, assim, com o tempo, a cons
tante solicitude e a responsabilidade dividida de cada um dos
1. Ausência de dogmatismo. membros do grupo.
grupo no interior dos quais as relações de trabalho possam evo pesquisas recentes ( 42 ). Mais exphcitamente, os membros do
luir: de formais, estereotipadas e artificiais que possam ser no grupo serão levados a desejar uma autenticidade no plano de
início, tendem então a tornar-se funcionais, espontâneas e cria suas relações de trabalho quando o líder tiver conseguido, pela
tivas . qualidade de sua presença ao outro, estabelecer e manter um
Para dar provas, no exercício de sua autoridade, de com clima de grupo suficientemente permissivo. Cada um descobrirá
petência interpessoal, o líder deve, então, ter feito o aprendizado então que lhe é permitido ser plenamente ele mesmo. Inicial
da autenticidade. Deve, pois, ter aprendido a libertar-se de seus mente para responder às expectativas do líder, -e depois, pouco a
medos, de si mesmo e do outro, a objetivar-se em relação a pouco do grupo, é necessário que cada um, no trabalho e pelo
si mesmo e ao outro, a ponto de poder aceitar-se e aceitar os trabalho , atualize os recursos únicos que traz em si. Desde este
outros incondicionalmente . Geralmente o que torna o líder in momento cada par ticipante sentirá a inutilidade de se disfarçar
capaz de estar presente positívamente a cada um dos membros e deixará de se preocupar em ser aceito a todo custo pelo líder
do grupo, são suas atitudes defensivas em relação ao outro. O e pelo grupo. Poderá então engajar-se na tarefa, respeitando
outro é percebido como uma ameaça, seja à integridade de seu seus próprios ritmos e seus próprios modos de funcionamento.
ser, seja à segurança de seu futuro ou à miragem e às ilusões de Liberado, graças à competência interpessoal do líder, de toda
seu parecer. Ele sente também uma compulsiva necessidade de pressão de grupo por uma uniformidade e conformidade, cada
afirmar sua autoridade. Enq uanto permanecer defensivo, signi um dos membros experimentará, talvez pela primeira vez em
fica que está preocupado em proteger e salvaguardar seus di sua vida, um clima de trabalho de grupo que lhe permita liber··
reitos e seus privilégios, em não querer comunicar com o outro tar-se dos condicionamentos que até aquele momento prejudica
senão através de canais formais, estruturad os e definidos de vam sua participação e seu rendimento. Aceitando-se a si mes mo
modo ngidamente hierarquizados. No interior de semelhantes e aceitando cada um dos membros incondicionalmente, o líder
redes ele encontra sua segurança e pode ou acredita poder impor constituirá uma inspiração viva para seu grupo de traba lho.
ao outro uma imagem carismática de seu poder, de seu status, Cada um poderá aprender assim, através dele, a romper com o
de suas prerrogativas. Pouco a pouco, por um desvio fatal, ele hábito de não ser no plano de seu trabalho, senão um objeto
não poderá mais perceber os outros nem ser percebido por eles condicionado pelo mundo exterior, suas coerções, suas defesas,
senão através da máscara de uma autoridade que se quer infalí vel, suas pressões, para tornar-se um ser livre, autônomo,
imperturbável, onipresente . um sujeito criador.
Cessando de ser defensivo a respeito de si mesmo e do
outro, o líder torna-se pouco a pouco capaz de auto-empatia e
de alo-empatia. Suas atitudes e seus comportamentos em grupo
tornar-se-ão, então, mais transparentes, suas comunicações com
o outro mais abertas. Sua presença no grupo será percebida cada
vez mais pelos membros como congruente e consonante. A
partir deste momento pod erão desaparecer as relações inautên
ticas, isto é, de dependência ou contra-dependência . Os mem
bros não se mostrarão mais defensivos em relação a ele. Enfim, 1
i
o grupo torna-se capaz de fazer o aprendizado das relações de
interdependência baseadas na descoberta das possibilidades de
complementariedade.
Entretanto as relações interpessoais entre os membros de 1
um mesmo grupo de trabalho não poderão aspirar a tornar-se lí
mais autênticas senão quando cada um se sentir aceito incondi
cionalmente pelo líder . A prova disto parece ter sido feita pelas l
l 1
l
CAPÍTULO OITAVO
DO COLETIVO AO SOCIAL
gia coletiva está habilitada no momento a nos explicar estes fe 3 . A terceira lei é a lei da multiplicação sentimental .
nômenos de grupo. Vejamos como:
Todo e qualquer grupo, em processo de regressão, experi
menta emoções de grupo de uma intensidade extrema que se
REGRESSÕES DE GRUPO, CONTAGIO SOCIAL
aproxima do paroxismo .
"LEADERSH IP" CARISMATICO
Isto é verdade sobretudo em se tratando dos paroxismos
do medo e, então, dá-se o pânico, em que o medo de cada um
Vejamos , inicialmente, um primeiro dado de realidade que faz o medo de todos e vice-versa. Tudo se torna então drama
Jª possuímos . A angústia coletiva desencadeia nos grupos que tizado quando não atinge o melodrama, com suas simplificações,
ela atinge e de que se apodera mecanismos e processos de re seus excessos, seus contrastes e sua exagerada sentimentalidade .
gressão que se relacionam com leis psicológicas que até aqui
não pareciam se aplicar senão aos fenômenos geralmente co 4 . A quarta lei é a lei dos contrastes.
nhecidos pelo nome de histeria coletiva ou de psicose de massas.
Todo grupo humano em via de regressão passa facilmente
Estas leis são em número de quatro.
de um extremo a outro, oscila de um paroxismo ao paroxismo
contrário.
1. Em todo grupo que está em processo de regressão, o
É o próprio paroxismo que quer estes contrastes e torna
equilfbrio psíquico se estabelece ao nível dos mais baixos psi todo grupo humano ciclotímico. O observador atento pode
quismos individuais. Precisemos, no nível dos instintos, parti cons tatar que nestas fases de angústia coletiva o grupo que
cularmente dos instintos de rebanho, os de conservação e de está perturbado por ela, passa, sem razão aparente, da
agressividade. Esta lei verifica-se igualmente no plano intelec tual hostilidade à simpatia, da agressividade ao pânico, da
e no plano 'moral. Os grupos mais sofisticados, os mais esperança ao desespero. Em alguns minutos ele pode oscilar da
socializados, tornam-se nestas fases de regressão subitamente aglomeração aos deslo camentos espontâneos, ou porque
crédulos e impressionáveis, manifestando uma acolhida preci desaparece o centro de inte resse que o havia
pitada, instantânea, aos boatos, rumores e notícias falsas. A momentaneamente absorvido ou simplesmente sob o efeito de
queda de seu julgamento e de seu espírito crítico torna-se, então, um medo sutil, geralmente imaginário .
quase total. Parece mesmo que sua credulidade é tanto mais
virulenta quanto mais emocionais os boatos, quanto mais co locam Se sabemos melhor como se explicam os comportamentos
em jogo, diretamente, 0 medo, o ódio ou o ressentimento. regressivos dos grupos presos de angústias coletivas, aprendemos
É a lei do equilíbrio inferior. por outro lado, graças a certas descober tas da dinâmica dos
grupos (14 ), como e porque certos grupos, pouco a pouco,
2 . A segunda lei é a lei da simpli ficação intelectual . tornam-se contaminados socialmente, como gradualmente o con
tágio social se infiltra, sem o seu conhecimento, no interior de
Todo grupo, em processo de regressão, interessa-se em pro
suas estruturas e de repente prejudica seu funcionamento. As
curar slogans, estereótipos, ou em forjar mitos e apega-se a
reações em cadeia mais imprevisíveis tornam-se possíveis, tor
definições simplistas das situações de ansiedade às quais tenta nando estes grupos vulneráveis a choques emotivos e a trauma
sobreviver. Daí o poder que momentaneamente os preconceitos tismos de grupo, ocasião em que a angústia coletiva os invade
mais injustos podem adquirir sobre os grupos constituídos de e os sintomas descritos há pouco aparecem. Na maior parte
espíritos mais livres, mais adultos ou mais altruístas. Mesmo das vezes estes processos operam em três tempos, segundo um
os melhores cidadãos entre nós estão prontos a responder a "um cenário pouco variável, que se pode articular e descrever assim.
apelo às armas", a vingar "sua liberdade no sangue", a libertar
a terra do jugo dos comunistas ou a Igreja e a intransigência 1. Primeiramente se produz um contágio social ou uma
dos integristas, convencidos de que "nós venceremos porque contaminação social no grupo. Para que um grupo seja afetado
somos os mais fortes"! ou atingido por ela, sabemos atualmente que alguns pressupos
tos são necessários.
156 GÉRALD B ER NARD MAILHIOT Dll';iÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 157
A . Da parte dos membros do grupo: não é mínimo de integração que torne os membros capazes,
senão nos momentos de conflitos ou de tensões in no próprio momento, de sentirem as mesmas emo
ternas ou externas que o contágio social tem possi ções de grupo e se tornem capazes de adotar os
bilidades de operar-se. Estes conflitos e estas ten mesmos comportamentos de grupo. Além disto, é
sões, sejam interpessoais ou intergrupais, devem ser essencial que aquele que se torna então o líder real
de..u ma intensidade mínima para tornar os membros do grupo, ao sugerir novos tipos de comportamentos
ansiosos, levá-los a atritos, acuá-los com ameaças de e soluções, aparentemente mágicas para seus confli
rupturas que os deixam atormentados por remorsos tos, não pratique rupturas por demais radicais com
e culpabilidade. os valores fundamentais aos quais o grupo aderiu
até o momento. Caso contrário seria a desordem ou
B . Do lado do líder : nestes momentüs de o pânico.
crise, é suficiente que o líder, através de seus
comporta mentos, suas atitudes, suas iniciativa s ou 2 . O contágio social favorece a manipulação arbitrária do
simplesmen te pelo tipo de presença que exerce em grupo pelo líder. O que, cedo ou tarde, indubitavelmente, dege
seu grupo, dê provas de uma ausência de ansiedade, nera em choque emotivo. É o segundo momento do cenário .
mostre-se impermeável ao remorso e a todo
O choque emotivo é sempre precipitado por uma crise de
sentimento de culpabilidade para que,
"leadership". O líder que até então havia exercido seu poder
espontaneamente, os mem bros, senão
magicamente sobre o grupo, ao qual os membros, nos momen tos
compulsivamente, desloquem seus confli tos no
sentido que o líder sugere ou orienta, identi críticos, haviam-se identificado, compulsivamente, torna-se
ficando-se emotivamente com ele. Este estágio do repentinamente percebido como uma ameaça para o grupo. Na
que está sem conflito sobre o que está em conflito maior parte das vezes por ter sabotado ou rompido de modo
opera-se repentinamente, instantaneamente, segundo irreversível com o código de valores do grupo em seus elementos
duas leis do inconsciente coletivo que parecem fun mais- essenciais.
cionar em todos os agrupamentos humanos e que É então que o grupo se sente ameaçado de desintegração,
consistem, a primeira, na "magia de desculpação do que ele faz dolorosamente a experiência do nada, que o seu
ato iniciador" e a segunda, na "compulsão à repetição crescimento e o seu futuro lhe aparecem bloqueados e sem ne
espacial" . nhuma saída. Os momentos de angústia que um grupo vive,
então, parece precipitá-lo na catástrofe inexoravelmente .
Os psicólogos sociais que descobriram estas leis
da dinâmica inconsciente dos grupos, que as descre Para escapar a esta angústia e não se abandonar às suas
vera m cm termos operacionais muito satisfatórios, pulsões de auto-destruição, para conservar algum controle, o
sublinham que o líder que desencadeia estas reações grupo tenta, por instinto de conservação, projetar para fora suas
e cria climas de grupo propícios ao contágio social angústias coletivas, segundo formas mais ou menos variadas,
não é necessariamente o líder oficial, nominal, aque que se ligam todas, parece, a mecanismos de "acting out" ou
le encarregado do "headship " do grupo mais aquele de passagens ao ato, caracterizados pelas regressões coletivas
que, dinamicamente, de modo determinado e decisi que tentamos descrever acima.
vo, serve nestes momentos precisos de seu futuro,
de núcleo de cristalização do grupo, em torno do 3 . Na maioria dos casos, a angústia coletiva raramente
qual os processos de grupo e seus mecanismos po constitui a ocasião de uma superação ou de um crescimento
dem agir. para um grupo. E isto por razões que justamente começamos
a compreender e das quais falaremos. Geralmente os grupos
C . Do lado do grupo: para que os grupos ce humanos não desenvolvem senão níveis muito baixos de tole
dilm ao contágio, e sem o saberem, deixem contami rância à angústia coletiva. São logo submergidos e nela sosso-
nar-se, é preciso que o grupo tenha atingido um nível
158 GÉRALD BERNARD MAILHIOT · DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 159
bram infalivelmente. O que constitui, infelizmente, o fim ou o mes e por nevroses coletivas. Se a história continua segundo
desenlace trágico do cenário que a história de tantos grupos t certas constantes e marca alguns progressos , é geralmente à custa
poderia ilustrar de modo tão triste. l dos grupos humanos sem que para eles as ronda continue, pelo
Como vimos, é quase sempre por uma crise de "leadership " fato de não terem aprendido a se superar em seus momentos
que se inicia a desintegração dos grupos. Os choques emotivos de angústia, inerentes entretanto a todo crescimento psíquico.
que os atingem fazem então nascer angústias que os desnorteiam
e os levam às mais extremas regressões. Até o momento em SOCIALIZAÇÃO DO HOM O ELET RON ICU S
que, para tentar se reencontrar e escapar ao descontrole, eles
procuram desesperadamente alguma solução mágica no próprio Após intermináveis desvios e longas tentativas a humani
dade aprendeu penosa e dolorosamente a passar do estado gre
nível em que tudo parecia começar a se deteriorar para eles, ou
seja; ao nível do "leadership". Eles não vêem, ou não querem \ gário ao estado tribal. Resta-lhe transpor a etapa decisiva: a
ver, salvação senão em um novo líder, pelo qual eles clamam passagem do coletivo ao social. Geralmente os grupos humanos
das profundezas de seu inconsciente coletivo. Estão, pois, em alternam, por intermitência, entre o coletivo e o infra-social.
busca de um arquétipo, de uma figura paternal, de um líder \ Mesmo nas sociedades ocidentais mais civilizadas, a indus
carismático que trará a salvação mágica e assegurará milagro trialização e a urbanização, mecanizando e racionalizand o em
samente a sobrevivência do grupo. Os pequenos grupos se dis excesso as tarefas humanas, estandartizando ao extremo os la
põem então a se juntarem em grandes conjuntos, os grandes zeres, como é tipicamente o caso do continente norte-americano,
grupos a se deixarem absorver por novos e mais vastos con não conseguiram até o presente senão criar coletividades em que
juntos . o ser humano se atrofia ps1quicamente e se reencontra em pouco
Tipicamente, classicamente, é o nascimento do herói no qual tempo despersonalizado e alienado em seu meio. O cidadão
se confia para tudo, em favor. de quem se se demite de tudo, ocidental médio, "the average man", sente exercer-se sobre ele
mesmo de seus bens mais sagrados, sua liberdade e sua auto ao longo do dia, sutilmente, mas implacavelmente, pressões de
nomia pessoais, por quem se está pronto a tudo sacrificar para grupo constrangindo-o sempre a uma maior conformidade em
sobreviver, mesmo em suas aventuras mais loucas. Na medid<J. seus comportamentos e suas atitudes, a uma sempre maior uni
então em que o herói não decepciona, em que se mostra mo formidade em suas percepções e seus valores .
mentaneamente salvador do grupo, onde ele opera os consertos Para escapar a este anonim ato, para encontrar possibi
desejados, os grupos que se identificam com ele estão dispostos lidades de expressão de si e de afirmação de si, e também
a todas as servidões, a todas as dependências. O que o grupo para conquistar uma identidade qualquer , nesta massa que o
exige dele é que assuma todas as responsabilidades e tome nas aprisiona e o sufoca, o ser humano contemporâneo sente o de
mãos o controle e o destino do grupo. É também que ele os sejo de se agrupar . É a integridade de seu eu profundo que
absolva dos exageros e violências ·aos quais os membros mais ou menos conscientemente, mas com razão, ele sente amea
recorreram antes que ele aparecesse. É enfim que lhes dê um çada pelos nivelamentos de seu meio. É portanto geralmente
novo código de valores coletivos, novos mitos, e uma nova ideo para escapar ao seu ambiente coletivo e a suas pressões para
logia aos quais possam aderir e encontrar, por um curto momen a mediocridade, para permitir que suas aspirações mais legíti
to, algumas razões de auto:.gtorificar-se, após tantas vergonhas mas se atualizem, que o homem, na idade eletrônica, procura
e tantas humilhações. O grupo convida, então, seu herói-salva tão desesperadamente sua salvação na adesão a grupos, políti
dor a todos os excessos no exercício de um poder que se deseja cos, religiosos, sociais ou outros, tais como, as democracias de
absoluto para ele. Assim abre-se novamente o caminho para o nossos dias produzem em número inimaginável!
autocratismo, para as mistificações, ao arbitrário e, dentro de Mas geralmente o "homo eletronicus", ao tentar fugir à
pouco tempo, para novas crises de "leadership ",novos choques massa em que se esvazia para integrar-se em grupos em que
emotivos, novas e talvez mais agudas angústias coletivas que, possa expand ir-se, choca-se com dois obstáculos. O primeiro,
desta vez, se soldam geralmente por desmoronamentos de regi- o de aderir espontaneamente a um mito muito forte em nossas
• r
160 GÉRALD BER NARD MAILHIOT DI NÂMICA E GÊ NESE DOS GRUPOS 161
civilizações industriais que pretende que a estratificação social dinâmica, a flexibilidade e a coesão que favorecem ao máximo
se opere pela diversificação em sub-grupos homogêneos. Tam a criatividade de seus membros. Não é senão em tais grupos
bém geralmente, por mimetismo, identifica-se irresistivelmente, que o homem contemporâneo, que estaria desejoso de neles se
em sua busca de uma identidade pessoal, a grupos homogêneos engajar, poderia segundo seus modos e seus ritmos próprios,
baseados em similitudes de idade, de sexo, de cultura ou sobre fazer com seres diferentes dele, mas igualmente motivado , a
identidades de interesse a proteger ou a defender. Longe de ajudá- aprendizagem da complementariedade em suas relações interpes
lo a se socializar, a atingir um maior altruísmo, os grupos soais. Ele descobriria que o altruísmo, a solidariedade e a fra
homogêneos, pela própria dialética de sua com posição, tendem ternidade humanas, para favorecer a superação de si, pressu
a tornar-se intolerantes, alérgicos às diferenças no outro, a mul põem que sejam vividos em climas de grupo em que as comu
tiplicar por mecanismos de defesa as barreiras psicológicas, a nicações sejam abertas, válidas e adequadas. Aprenderia que a
tornar as distâncias sociais e os abismos psicológicos entre gru integração de um grupo não se realiza sob a negação das iden
pos intransporúveis. tidades de cada um. A integração de um grupo, parn ser ver
O outro obstáculo no qual esbarra o homem contemporâ dadeira, para se traduzir em laços de interdependência dura doura,
neo que procura dar um sentido à sua existência através de sua pressupõe a conquista por cada um de sua autonomia pessoal.
adesão a um grupo, é o de ceder à miragem do número e acre Acima de tudo é em pequenos grupos heterogêneos que a
ditar ingenuamente que um grupo humano evolui, cresce, na mulher e o homem de nosso tempo podem, com maior validade,
medida em que aumenta, em que se torna maior o possível fazer a aprendizagem da perfeita liberdade de expres são no
número de seus membros. Ora, nós sabemos que a expansão respeito ao outro. Não é senão nestes climas de grupos
puramente quantitativa de um grupo leva-o fatalmente à sua igualitários, que eles podem encontrar a possibilidade de desco
esclerose, e conhecemos a causa deste fato. Suas estruturas ten brir que a autenticidade das relações interpessoais pressupõe a
dem a se hierarquizar da maneira mais rígida, seu "leadership " aceitação incondicional de si e do outro. Então, e somente
a tornar-se cada vez mais autocrático, as comunicações intra então, toda relação humana se tornará para eles, segundo a
grupais a estabelecerem-se de modo ver tical, tornando as rela expressão de Martin Buber, o encontro de um tu e de um eu.
ções humanas cada vez mais artif iciais e cada vez mais freqüen
tes e infelizmente eficientes as ma nipulações dos membros para
fins demagógicos. O pobre indivíduo que acredita poder se va
lorizar e atualizar-se escapando ao "melting pot" inexorável das
massas, aderindo a grupos mais homogêneos, encontra-se, geral
mente, pouco tempo depois, mais alienado que nunca e subme
tido a pressões de grupo não menos tirânicas, não menos des
personalizantes.
Para o homem contemporâneo que quer se socializar ou
se re-socializar através e para além de suas angústias coletivas,
não existe, em nossa opinião, presentemente, senão uma via de
salvação: aceitar preparar para si, no plano do trabalho como
no dos lazeres, oasis privilegiados onde ele possa se recuperar,
conseguindo integrar-se em grupos restritos e heterogêneos. Res
tritos em seu tamanho, heterogêneos em sua composição. Restri
tos mas não fechados sobre si mesmos, ao contrário, tornando
se cada vez mais abertos ao outro e sobretudo ao que o outro
faz. Principalmente grupos preocupados em se questionar perio
dicamente, em conservar em suas estruturas e assegurar em sua
186 GÉRALD BERNARD MAILIDOT