Aula 2-Epistemologia Na Antiguidade

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INSTITUTO SUPERIOR MUTASA- ISMU

Curso: PST- 1º Ano/EaD


Disciplina: Epistemologia
Docente: João Chimene Júnior

Tema 2: Epistemologia na Antiguidade: Sócrates e os Sofistas.

Caro estudante,
após termos feito a introdução à Filosofia e Epistemologia, nesta unidade, reservamos apenas
para as várias ideias de filósofos da Grécia Antiga, que contribuíram para o desenvolvimento da
epistemologia. Assim sendo, partiremos dos pré-socráticos, Sócrates, passaremos pelos sofistas
que, por sinal, foram os contemporâneos de Sócrates e terminaremos a nossa unidade com as
ideias de Platão e Aristóteles. Mas, nesta aula trataremos apenas dos pré-socráticos até Sócrates.
A matéria sobre Platão e Aristóteles, iremos abordá-la na próxima aula.

Entre os pré-socráticos (Aqueles filósofos, que discutiram os problemas da filosofia, nos


períodos antes de Sócrates) destacaremos apenas dois que viveram na Grécia do século IV. a.C, e
iniciaram a discussão em torno da Teoria do Conhecimento, no âmbito da epistemologia:
Heráclito e Parmênides. Heráclito, assim como Parménides, como mostra Chauí (2002, p. 80),
“colocaram os problemas e as soluções, as questões e as respostas, as interrogações e os
impasses que definiram, nos séculos seguintes, a reflexão filosóficas”. Desta forma, Heráclito é
mais objectivo ao afirmar que, seria impossível conhecer a realidade concreta, pois existiria uma
diferença entre o que percebemos e o que temos a capacidade de entender. Isto porque a natureza
está em constante mudança “fluxo perpétuo” tudo se modifica mais rápido do que temos a
capacidade de entender, isto é o que se pode entender hoje, pode não vir a ser a mesma coisa no
dia seguinte. É a partir desse itinerário que ele fundamenta a teoria do Devir, que do grego quer
dizer mudança constante. Daí emerge a máxima, nenhum homem entra duas vezes no mesmo rio,
porque, os movimentos das águas transformam o rio anterior num novo, tudo está em constante
mudança, no caso concreto porque a água do rio corre.

Já para Parmênides a conclusão é a mesma, entretanto difere de Heraclitos por uma


questão metodológica. Como sustenta Marcondes, (2001, p. 36) Parménides foi o filósofo que
tratou da epistemologia antiga fundamentando-se na teoria da distinção entre a realidade e a
aparência, por isso que para ele o argumento da mobilidade é de caracterizar os movimentos
como aparentes. Ademais, para ele a esfera, é que representa o elemento pleno do real, e a partir
do pensamento só devemos buscar apenas o que permanece na mudança. Entretanto, só deve
tomar como conhecimento aquilo que permanece imutável, pois estando o mundo em constante
mudança, o que o pensamento entende já não corresponde à realidade, já passou. Em outras
palavras, ao beber a água de um rio, é impossível dizer se tal água é boa, pois ao fazer esta
afirmação, a água que corre pelo rio já não é a mesma que foi ingerida.

No entanto, para Parmênides, observando o que está por trás das aparências é possível
entender a realidade, o que implica em descobrir a essência das coisas perguntando: “O que é?” É
a partir desta premissa que Parmênides criou a teoria do ser, na qual defende que toda mudança é
ilusória, pois a essência do ser é sempre a mesma, permanece imutável. Entretanto, Heráclito e
Parmênides chegaram a uma mesma conclusão: existe um descompasso entre a realidade e o
entendimento, seja este tributário dos sentidos ou da razão. Na realidade, com estes pensadores,
são fundadas duas lições: a partir de Heráclito o conhecimento seria resultado dos elementos
capitados pelos sentidos, o que seria continuado pelos empiristas (Veremos sobre os empiristas,
mais adiante quando estivermos a falara da indução) na entrada da modernidade. Ao passo que
Parmênides estabelece a centralização na razão, um prelúdio do racionalismo cartesiano (também
veremos quando estivermos a tratar da epistemologia moderna).

Sobre Sócrates.
A informação que se tem sobre Sócrates é, deveras, controversa, pois ele não escreveu
nada, tudo o que se sabe sobre ele foi nos dado a conhecer por seus discípulos, como Xenofonte,
Platão, entre outros.
Nascido em 470 a.C., foi executado em 399 a.C., quando Atenas perdeu a Guerra do Peloponeso
contra Esparta. Sócrates ensinou que o sistema filosófico é o valor do conhecimento humano.
Antes de Sócrates questionava-se a natureza, depois de Sócrates, questiona-se o homem. O valor
do conhecimento humano (Humanismo). Por isso que Marcondes (2001, p. 30) afirma que
Sócrates não só é o marco da filosofia, como também é a ponte que contribuirá para a chegada da
mudança de paradigma sobre o conhecimento, ou a nova forma de abordar o mundo e os
fenómenos.
“CONHEÇA-TE A TI MESMO”, frase escrita no portal do templo de Apolo; cuja frase era a
recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos. Na qual fundamentava a necessidade
do conhecimento do próprio homem antes deste preferir explorar e dominar a natureza devia
dominar a si como o homem que vive na natureza. Socrates confrontou-se fortemente com seus
contemporâneos, os sofistas, de quem iremos falar a seguir.

Principais ensinamentos dos sofistas


Preocupava aos sofistas a questão das contradições em relação às hipóteses ou
argumentos sobre a origem do universo outrora defendidas pelos filósofos jónios ou naturalistas.
Eles chegam à conclusão de que tudo o que o homem conhece é arquitectado por ele próprio, daí
o aforismo popular de Górgias (o maior de todos os sofistas): “O homem é a medida de todas as
coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são”.

Os sofistas ensinavam que não pode haver um conhecimento verdadeiro, mas só um


conhecimento provável, por causa da sua origem sensível e que não existe lei moral absoluta, mas
somente leis convencionais. Outrossim, buscavam a todo custo o sucesso e ensinavam como
consegui-lo. Portanto, eles faziam promessas por exemplo sobre como ajudar alguém a alcançar
um cargo político de destaque, ou a um advogado (por exemplo) prometiam ensinar técnicas
sobre como triunfar no tribunal, ainda que fosse por uma causa injusta. Portanto, eles se gabavam
de tudo saber e de todos ensinar, por isso, para eles aprender era coisa fácil, bastava que o
aprendiz tivesse dinheiro para lhes dar compensação.

Sócrates foi um grande crítico dos sofistas, (Protágoras, Górgias e Isócrates) não
concordava que eles cobrassem pelos ensinamentos que ministravam, bem como descordava
totalmente com a forma deles de ensinar. Para levar as pessoas a ascender à escala do
conhecimento, Sócrates irá usar dois métodos essências: ironia e maiêutica. Na ironia Sócrates
fazia-se passar por ignorante e fazia perguntas aos seus discípulos, como forma de lhes levar a
dizer o que pensam e reconhecer, de certa forma, os seus limites e/ou a sua ignorância. A
maiêutica foi um método que ele transpôs da medicina, uma vez que ele era filho de uma mãe
parteira e os parteiros usavam esse método para ajudarem as mulheres a dar luz. Sócrates trouxe
este método para a filosofia para ajudar os seus discípulos a dar luz, neste caso do conhecimento,
isto é ajuda-los a conhecer. Para a melhor compreensão sobre a aplicação dos métodos socráticos
de ironia e maiêutica leia a Diálogo da autoria de Platão intitulado Mênon, da página 19 à 25.

Sócrates pretendia educar o seu povo, conduzi-lo à consciência do verdadeiro bem,


libertando-o da servil obediência á opinião estabelecida pelos sofistas. Quer tornar as pessoas
adultas, desligando-lhes do agir por imitação ou por repetição e passarem a pensar por si.
Portanto, enquanto os sofistas buscavam o sucesso, Sócrates buscava a verdade e incitava seus
discípulos a descobri-la. Convicto de que ninguém pode ser mestre de ninguém Sócrates
reconhece-se como ignorante, ao pondo de chegar a afirmar: “Só sei que nada Sei”. Ele não é
apologista da relativização de todo o conhecimento e leis e admite que existem conhecimentos e
leis morais de valor absoluto, objectivo e universal.

Os Sofistas reflectiam sobre as divergências sobre o conhecimento entre os filósofos


anteriores a eles, os sofistas terminaram concluindo que o conhecimento é relativo, podendo
refletir múltiplas opiniões sobre o mesmo elemento, isto porque, a essência da realidade não pode
ser conhecida. Górgias contrariando Parménides, afirmou que o ser não existia, pois seria
impossível determinar a essência das coisas. Para ele não é possível dizer o que uma coisa é ou
não é, já que poderia ser muitas coisas ou nada. Na opinião dos sofistas, tudo era apenas uma
questão de retórica, linguagem manipulada para modificar a percepção da realidade, os
interlocutores percebem o mundo de acordo com a construção do discurso.

No entendimento de Blaunde (2018, p. 117) os pitagóricos defendem uma teoria dualista,


e introduzem o princípio do ser. Na teoria dualista, é onde o conhecimento é visto sob a égide de
dupla interpretação, dando azo ao relativismo de entendimento. Protágoras cunhou a frase “o
homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são,
enquanto não são” Blaunde (2018, p. 119). Desta forma, expressava a ideia de que tudo é
conhecido de forma particular por cada um, não existindo conceito absoluto. Dentro deste
contexto, Górgias se notabilizou por responder questões, sem preparo algum, usando apenas a
arte da retórica, defendendo ideias absurdas e fazendo os ouvintes chegarem à conclusão de que
eram possíveis. Ele persuadia o interlocutor usando o controle das emoções, envolvendo os
sujeitos para convencer. Desta forma entra a lição de que a emoção pode ser um obstáculo para a
aquisição de um conhecimento verdadeiro.

Isócrates também usou a arte da retórica para persuadir, utilizando a mitologia para
validar sua argumentação, inaugurando a manipulação política do povo pelo orador, fundando
uma escola de eloqüência. Um estilo de construção do raciocínio que iludia as pessoas, levando a
aceitar fatos totalmente destoantes da realidade. Justamente diante da utilização política da
linguagem pelos sofistas, o pensamento socrático tencionava demonstrar como a realidade era
mais complexa do que aparentava. Para conhecer a realidade, seria necessário afastar as ilusões
perpetuadas pela linguagem e os sentidos, o que é expresso pela famosa alegoria do mito da
caverna. O personagem Sócrates duvidava que a filosofia pudesse ser ensinada, como propunham
os sofistas, achava que as inquietações deveriam brotar de dentro de cada um. Também ao
contrário dos sofistas, a tradição socrática buscava um conhecimento absoluto e inquestionável,
julgando que era possível sim conhecer a realidade, bastava sair da caverna, buscar a verdade por
trás das aparências.

Neste sentido, o conhecimento só era limitado pela própria ignorância do sujeito. O que é
expresso pela frase: “só sei que nada sei”. Simbolismo que significa que quanto mais
aprendemos, mais percebemos saber pouco, pois ainda resta muito a conhecer. A ideia é que, ao
sentir-se ignorante, o sujeito se coloca em uma postura de constante aprendizado, sendo possível
conhecer realidades provisórias que vão se substituindo e expandindo o conhecimento
acumulado. Na realidade um princípio básico que iria forjar o que entendemos por ciência hoje,
se entendermos teorias como verdades provisórias adoptadas até que outras venham substituí-las,
justificando assim, o enriquecimento da produção científica.

Bibliografia consultada
BLAUNDE, José. (2018). A filosofia do conhecimento científico de Gaston Bachelard: Uma
urgência para a epistemologia africana? Maputo, imprensa universitária-UEM.
MARCONDES, Danilo. (2001) Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos à
Wittgenstein. 6ª ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed.,
CHAUÍ, Marilena. (2002). Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. 2ª
ed., São Paulo: Companhia das Letras.
Tarefas
1. A quem pertence a frase: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto
são e das que não são enquanto não são”?
2. O que distingui o pensamento epistemológico dos pré-socráticos e dos sofistas?
3. Comente sobre as Máximas Socráticas “só sei que nada sei” e “só sei que nada sei”
tendo em conta a contribuição das mesmas para a construção da epistemologia socrática.
a). Diga por que razão a sofística relativiza o conhecimento.
4. A partir da leitura do Diálogo de Mênon e Sócrates indique 2 momentos em que usa-se a ironia
e outros 2 em que se sua o método da Maiêutica.
5. Faça um estudo comparativo e nele aponte as diferenças entre os pré-socráticos, Sócrates, e os
Sofistas.

N.B: Esta actividade deve ser submetida até dia 02 de Março.

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