Final, Uma Colecao de Demonstracoes
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Final, Uma Colecao de Demonstracoes
RESUMO
Os números primos são fascinantes e despertam a curiosidade dos estudiosos há
muitos séculos. Euclides, há mais de dois mil anos, mostrou que os números primos
são infinitos. Neste artigo apresentaremos diversas demonstrações da infinitude dos
primos.
ABSTRACT
The prime numbers are fascinating and cause the curiosity of scholars for many cen-
turies. Euclid, more than two thousand years ago, showed that the prime numbers
are infinite. In this article we will present several demonstrations of the infinity of
primes.
1 I NTRODUÇÃO
A ideia da construção deste artigo se deu durante o desenvolvimento de uma disser-
tação do PROFMAT que foi descontinuada, pois o autor mudou o objeto de pesquisa no
decorrer do mestrado.
Um dos objetivos do trabalho que vinha sendo desenvolvido era reunir, em um capítulo,
diversas demonstrações da infinitude dos números primos criadas ao longo dos séculos.
Por meio de pesquisa bibliográfica, reunimos uma quantidade razoável de demonstrações,
algumas mais simples e outras mais elaboradas. É interessante perceber que as demons-
trações envolvem diversas áreas da matemática, fazendo com o que leitor possa relembrar
alguns tópicos da matemática e se entreter na leitura.
No final do artigo, apresentamos uma demonstração da infinitude dos números primos
que é um novo olhar sobre outras demonstrações já realizadas. Ela foi inspirada na de-
monstração realizada por Northshield (2015), pelo fato de conseguir ser escrita em somente
uma linha.
Podemos encontrar a demonstração feita por Euclides em diversos livros, por exemplo,
em [1].
Suponha, por absurdo, que 2, 3, 5, ..., pr sejam todos os números primos, ou seja, existe
uma quantidade finita de números primos. Considere N = 2 × 3 × 5 × 7 × ... × pr + 1, como
esse número é maior que pr , então N é um número composto. Entretanto, observe que
ao dividir N por qualquer primo que vai 2 a pr teremos resto 1, pois podemos escrever
N = pi · k + 1 com i variando de 1 a r. Ou seja, N é primo ou é divisível por outro primo
além de 2, 3, 5, 7, ..., pr , isso é uma contradição, pois supomos que 2, 3, 5, 7, ..., pr são todos os
primos.
É comum pensar que multiplicar a sequência de todos números primos até certo p primo
e somar 1 resultaria em um número primo e isso nem sempre é verdade. Observe:
2 + 1 = 3, primo
2 × 3 + 1 = 7, primo
2 × 3 × 5 + 1 =, primo
2 × 3 × 5 × 7 + 1 = 211, primo
2 × 3 × 5 × 7 × 11 + 1 = 2311, primo
2 × 3 × 5 × 7 × 11 × 13 + 1 = 30031 = 59 × 509, composto
Observe que a demonstração realizada não garante que 2.3.5.7...pr + 1 será um número
primo. Ela mostra apenas que que número 2.3.5.7...pr + 1 será divisível por um número
primo maior que pr , implicando que haja pelo menos um primo além desses.
(Observação: o símbolo | significa divide, ou seja se a|b, com a e b inteiros, temos que b = ka,
com k número inteiro).
1 0
• Para m = 1, F1 = 22 = 4 = 22 + 2 = F0 + 2.
m−1
• Suponha válido para m − 1. Então F0 F1 ...Fm−2 Fm−1 + 2 = (Fm−1 − 2)Fm−1 + 2 = (22 +
m−1 m−1 m−1 m m
1 − 2)(22 + 1) + 2 = (22 − 1)(22 + 1) + 2 = 22 − 1 + 2 = 22 + 1
(Observação: usaremos a denotação (a, b) = d ao longo do artigo que significa dizer que
o máximo divisor comum de a e b é igual a d.)
Agora, temos que Fm = F0 .F1 .F2 ...Fm−1 + 2, ou seja, Fm − 2 = F0 .F1 .F2 ...Fm−1 , isso significa
que dado n < m, então Fn |(Fm − 2), ou seja, Fm − 2 = Fn .t, com t ∈ N. Logo (Fn , Fm ) =
(Fn , Fn .t + 2) = (Fn , Fn .t + 2 − Fn .t) = (Fn , 2) = 1, pois Fn é ímpar. Assim, todos números de
Fermat são relativamente primos entre si.
Um corolário desse resultado é que existem infinitos números primos, pois cada número
de fermat terá primos distintos em sua decomposição, caso contrário não seriam primos
entre si. Veja:
0
• 22 = 3
1
• 22 = 5
2
• 22 = 17
3
• 22 = 257
4
• 22 = 65537
5
• 22 = 4294967297 = 641 × 6700417, e assim sucessivamente e infinitamente.
n
Como podemos variar n infinitamente em 22 + 1, serão “descobertos” infinitos números
primos distintos. Portanto, a quantidade de números primos é infinita.
n, n(n + 1), n(n + 1)(n(n + 1) + 1), n(n + 1)(n(n + 1) + 1)(n(n + 1)(n(n + 1) + 1) + 1), ...
é composta por números em que o cada número da sequência tem pelo menos um
número primo a mais em sua decomposição que seu antecessor.
Vamos fazer um exemplo com n = 2, teremos a seguinte sequência,
2, 2(2 + 1), 2(2 + 1)(2(2 + 1) + 1), 2(2 + 1)(2(2 + 1) + 1)(2(2 + 1)(2(2 + 1) + 1) + 1), ...
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R EVISTA E LETRÔNICA M ATEMÁTICA E E STATÍSTICA EM F OCO
• F2 = 1
• F3 = 2
• F5 = 5
• F7 = 13
• F11 = 89
• F13 = 233
• F17 = 1597
• F23 = 28657
• F29 = 514229
Desse modo, percebemos que, se fixarmos uma quantidade k de números primos, rapi-
damente a sequência de Fibonacci nos mostra que existe mais que k.
Outra maneira de pensar é parecida com a demonstração feita por Euclides, se F2 , F3 , ..., Fpk
engloba todos os números primos, então F2 F3 ...Fpk + 1 não é divisível por nenhum desses
números primos, e isso é uma contradição.
38 A RTIGO DE D IVULGAÇÃO
R EVISTA E LETRÔNICA M ATEMÁTICA E E STATÍSTICA EM F OCO
Apesar de não estar escrito, nessa demonstração supõe que a quantidade de primos é
finita, por isso chega em uma contradição.
Para clarificar, um passo intermediário entre as igualdades pode ser interessante.
Q 0 ! !
1 + 2 p0 p0
Q
π 2 p0 p
Y
Y π Y
0< sen = sen + π = sen π =0
p
p p
p p p
p
π π
Observe que sen p = sen p + 2kπ , com k ∈ Z, ou seja,
Q 0
π 2 p0 p
Y
Y π
sen = sen + π
p
p p
p p
1 = φ(N ) = φ(p1 .p2 ...pn ) = φ(p1 )φ(p2 )...φ(pn ) = (p1 − 1)(p2 − 1)...(pn − 1) > 1
Isso é uma contradição, então a quantidade de números primos não pode ser finita, ou
seja, tem que ser infinita.
1
2π(n) =⇒ log(n 2 ) ≤ π(n)log(2) ≤ π(n) =⇒ log n2 ≤ π(n).
Note que log n2 é uma função crescente, assim, π(n) também cresce, ou seja, a quan-
tidade de números primos diferentes menores ou iguais a n cresce à medida que n cresce,
e temos a garantia de que essa quantidade não fica "estagnada". Ou seja, existem infinitos
números primos.
A1 = A20 − mA0 + m =⇒ A1 = (A0 − m)A0 + m
A1 = αA0 + m
= A21 − mA1 + m = (A1 − m)A1 + m
A
2
A2 = ((A0 − m)A0 + m − m)A1 + m = A2
A2 = (A0 − m)A0 A1 + m
A
2 = αA0 A1 + m
Assim, vamos assumir que Ak+1 = αA0 A1 ....Ak + m e mostrar por indução que isso é
verdade.
(ii) Suponha válido para n, temos que An+1 = A2n − mAn + m = (αA0 A1 ...An−1 + m)2 −
m(αA0 A1 ...An−1 + m) + m, logo, An+1 = (αA0 A1 ...An−1 )2 + mαA0 A1 ...An−1 + m, então
temos que An+1 = (αA0 A1 ...An−1 )(A0 A1 ...An−1 + m) + m, assim concluímos que An+1 =
αA0 A1 ...An−1 An + m, como queríamos mostrar.
n
Com isso, note que An ≡ a2 (mod m). Agora, suponha (Ai , Aj ) = d com j > i. Note que
d|m, pois d divide αA0 A1 ...Aj−1 , pois Ai está nesse produto, mas (a, m) = 1, logo d|1, ou seja
d = 1, como queríamos demonstrar.
Um corolário disso é que existem infinitos números primos. De fato, como (Ai , Aj ) = 1
para todo i 6= j, temos que cada A1 , A2 , A3 , ... é divisível por um primo que não é divide
nenhum outro elemento da sequência, logo, há pelo menos n primos distintos menores ou
iguais a An . Como n pode crescer infinitamente, existem infinitos números primos.
Vamos fazer um caso particular dessa sequência. Vamos pegar a = 3 e m = 5, note que
(3, 5) = 1, a sequência fica definida da seguinte maneira:
(
A0 = 3 + 5 = 8
An+1 = A2n − 5An + 5, n > 0
Que resulta na seguinte sequência de números:
1 A0 = 23
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R EVISTA E LETRÔNICA M ATEMÁTICA E E STATÍSTICA EM F OCO
2 A1 = 29
3 A2 = 701
4 A3 = 19 × 25679
5 A4 = 1279 × 186118019
Note que realmente a medida que n aumenta, são gerados números com primos distin-
tos em sua decomposição como queríamos.
(i) Se q = p > 3, temos que 2p−1 ≡ 1(mod q), daí 2p ≡ 2(mod q), logo 2p + 1 ≡ 3(mod q)(i),
mas, por hipótese 31 (2p + 1) ≡ 0(mod q), então (2p + 1) ≡ 0(mod q)(ii), juntando as (i) e
(ii) temos que 0 ≡ 3(mod q), o que é uma contradição, pois q > 3.
(ii) Agora, suponha q < p. Logo, temos que (q − 1, p) = 1, isso implica que existem inteiros
a e b tais que ap+b(q −1) = 1. Então 2 = 2ap+b(q−1) = (2p )a (2q−1 )b ≡ (−1)a (1)b ≡ −1(mod q)
para a ímpar e ≡ 1(mod q) para a par. Assim, chegamos que 2 ≡ ±1(mod q) e isso é
uma contradição, pois q é primo maior que 3.
Interessante notar que nos sete primeiros exemplos, todos resultados são números pri-
mos. Vamos ter um número composto quando p = 29 e, de fato, os divisores primos desse
número, que são 59 e 3033169, são maiores que 29, como deve acontecer.
C INTRA , D. D. 41
V OLUME 6 - N ÚMERO 2 A BRIL DE 2019 PÁGINAS : 34 A 43
1) 23 − 1 = 7
2) 25 − 1 = 31
3) 27 − 1 = 63
4) 211 − 1 = 23 × 89
Veja que essa multiplicação gera todos os números n1 pois ocorre toda combinação pos-
sível ao multiplicarmos os números dentro de cada parênteses. Logo, usando o Teorema
Fundamental da Aritmética temos que
∞
Y 1 1 1 1 1 X1
1 =1+ + + + + ... = =∞
p
1− p
2 3 4 5 n
n
1
Logo, como cada parcela de parênteses representa 1− p1
, a quantidade de números primos
não pode ser finita, caso contrário teríamos a multiplicação de uma quantidade finita de
números e sabemos que a série harmônica diverge. Portanto, por consequência, a quanti-
dade de números primos deve ser infinita.
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R EVISTA E LETRÔNICA M ATEMÁTICA E E STATÍSTICA EM F OCO
A demonstração usa o fato conhecido de que o mdc de dois números inteiros consecuti-
vos sempre será 1. Essa ideia, muitas vezes, é usada em outras demonstrações, porém de
maneira não tão explícita. Entretanto, nessa demonstração em especial, usando esse fato,
conseguiu-se concluir em apenas uma linha que a quantidade de primos é infinita, pois
p!+1, que é maior que p, deve ser composto, logo, o mdc entre p! e p!+1 deve ser maior que 1,
já que p! é múltiplo de todos os primos menores ou iguais a p, mas isso é uma contradição,
pois, como foi dito, o mdc de dois números inteiros consecutivos sempre será 1. Salienta-
mos que essa demonstração é uma pequena variação de outras já conhecidas, podendo até
ter sido realizada antes. Porém, não foi possível encontrar demonstração semelhante por
meio de buscas em bibliografias e sites de pesquisa tanto na língua portuguesa quanto na
língua inglesa.
R EFERÊNCIAS
[1] W. Narkiewicz, The development of prime number theory: from Euclid to Hardy and
Littlewood. Springer Science & Business Media, 2013.
[2] P. Ribenboim, The new book of prime number records. Springer Science & Business
Media, 2012.
[3] F. Saidak, “A new proof of Euclid’s theorem,” Biscuits of Number Theory, no. 34, p. 61,
2009.
[4] A. Engel, Problem-solving strategies, Problem books in mathematics. Springer-Verlag,
1998.
[5] M. Wunderlich, “Another proof of the infinite primes theorem,” The American Mathe-
matical Monthly, vol. 72, no. 3, pp. 305–305, 1965.
[6] S. Northshield, “A one-line proof of the infinitude of primes,” vol. 122, 05 2015.
[7] M. Aigner, G. M. Ziegler, and A. Quarteroni, Proofs from the Book, vol. 274. Springer,
2010.
[8] S. Mohanty, “The number of primes is infinite,” Fibonacci Quart, vol. 16, no. 4,
pp. 381–384, 1978.
[9] M. C. Motta, “Existência de infinitos números primos e a série dos inversos dos primos,
qual a relação?,”
[10] P. Ribenboim, Números primos: velhos mistérios e novos recordes. IMPA, 2012.
C INTRA , D. D. 43