Legalidade Penal e A Homofobia Subsumida
Legalidade Penal e A Homofobia Subsumida
Legalidade Penal e A Homofobia Subsumida
GUSTAVO BADARÓ
24/05/2019 11:06
Atualizado em 24/05/2019 às 11:07
Não é possível extrair dos substantivos “raça, cor, etnia e religião”, nem na
expressão “procedência nacional”, constantes do artigo 1º daquela lei, qualquer
conteúdo que se conecte, minimamente, à orientação sexual ou identidade de
gênero. Basta uma consulta aos léxicos. Ser assexual, bissexual, heterossexual,
homossexual, intersexual ou pansexual não diz respeito à “raça, cor, etnia, religião
ou procedência nacional” da pessoa.
Ofender verbalmente, agredir ou matar alguém por ser lésbica, gay, bissexual,
travesti, transexual ou transgênero é absolutamente inaceitável, é ilegal, é crime. É
necessário punição. Tais condutas serão caracterizadas como crime contra a
honra, contra a integridade física ou contra a vida!
Por outro lado, é perfeitamente possível criar, por lei, delitos especíQcos,
criminalizando em um tipo penal próprio a homofobia e transfobia. Há parte
considerável da sociedade que considera a criminalização da homofobia algo
necessário. Mas quem deverá o fazer é o Congresso Nacional, não o Poder
Judiciário. Qualquer das opções, quais sejam, criminalizar ou não criminalizar,
penso serem compatíveis com a Constituição. Mas isso é tarefa para o legislador,
se assim considerar que é a vontade da sociedade.
Como bem assevera Natalino Irti (Per un dialogo sulla calcolabilità giuridica, In.
Alessandra Carleo (Org.). Calcolabilità giuridica. Bologna: Il Molino, 2017, p. 26),
“reconhecer ou aceitar o poder normativo dos juízes signiQca – como adverte um
eminente estudioso alemão, Bernd Rütheres – realizar uma revolução clandestina
ou secreta (Heimlich), e subverter os princípios da democracia representativa”.
Nesse caso, quando o sentido do texto legal for claro – o que não signiQca que a
escolha de seu conteúdo foi a melhor ou é a mais adequada para reger a situação
– o primeiro e principal critério hermenêutico deve ser o literal.
GUSTAVO BADARÓ – Professor Titular de Direito Processual Penal da USP. Advogado Criminal e
Consultor Jurídico.
Os artigos publicados pelo JOTA não reAetem necessariamente a opinião do site. Os textos
buscam estimular o debate sobre temas importantes para o País, sempre prestigiando a
pluralidade de ideias.