O Tetrafarmaco de Epicuro para Os Tempos
O Tetrafarmaco de Epicuro para Os Tempos
O Tetrafarmaco de Epicuro para Os Tempos
ESCOLA DE HUMANIDADES
CURSO DE FILOSOFIA
RESUMO: Epicuro, filósofo da Grécia Antiga, têm como influências os atomistas e o seu
materialismo, Sócrates e sua preocupação pela arte de viver e os cirenaicos com sua relação
entre prazer e felicidade. Partindo da realidade concreta com o objetivo de viver uma vida
feliz e prazerosa, elabora teorias sobre a física e a lógica, que logo após servem de
embasamento para sua ética. Teorias que tem como finalidade a materialidade e a aplicação
de seus ensinamentos no cotidiano, para viver melhor. Na sua ética, encontramos o que ele
oferece e que depois é chamado de tetrafármaco, que são os quatro remédios para o projeto de
uma vida não amedrontada pela morte e pelos deuses, e um contato interessado pelos prazeres
e sofrimentos. O objetivo apoia-se na tentativa de propor a utilização do tetrafármaco
epicurista para a atualidade. O método utilizado é de caráter qualitativo, de natureza básica,
com objetivos de exploração e procedimentos bibliográficos. Os resultados e as conclusões
obtidas remetem olhar para os remédios epicuristas com os olhos de hoje e perceber que os
ensinamentos de Epicuro não precisam estar enterrados no passado. A ansiedade e a angústia
ainda se fazem presentes em cada um de nós, são alimentadas por um modo acelerado de vida
e pressões sociais, junto com as várias dúvidas que o ser humano ainda carrega na sua breve
existência, como questões sobre Deus, a morte e o que realmente precisamos para viver de
forma confortante e feliz. Os remédios ainda podem ser utilizados para aqueles que estão
interessados em uma outra forma de viver.
PALAVRAS-CHAVE: Epicuro. Tetrafármaco. Ética. Grécia Antiga. Século XXI.
Epicuro de Samos, filósofo da era helênica, tem como uma de suas influências os
pensadores atomistas Demócrito e Leucipo, que o faz produzir teorias com uma visão
materialista da vida. Uma dessas teorias consiste na sua metáfora do quádruplo remédio, do
tetrafármaco (Tetrapharmakon, em grego). São remédios de uso pessoal para os males do
mundo que angustiam o viver e deixam passar a felicidade que no amanhã pode não haver
mais como atingi-la. Mais de dois mil anos se passaram entre a época do “filósofo do
Jardim”2 e o século XXI, muita coisa aconteceu e mudou. Porém, temas como a morte e a
existência de Deus ainda são pertinentes e muitas vezes nos paralisam de temores e
1
Graduando do Curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (PUCRS). Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/6253251815721358.
2
A escola dos epicuristas era um jardim, então Epicuro e seus discípulos também eram conhecidos como “os do
Jardim” e “filósofos do Jardim”. (REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: filosofia pagã
antiga, v. 1. 3. ed. Tradução de: Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2007. p. 259).
preocupações. Não falamos da morte, como se fosse um tabu. E Deus, independente da
religião, muitas vezes parece mais nos amedrontar do que nos ajudar. E como anda nossa
relação com o prazer e a dor? Precisamos de muito para a realização de prazeres, ou será que
a simplicidade não é mais interessante, em uma época onde um consumismo desnecessário é
incentivado? A dor e o sofrimento existem, disso sabemos. Mas como lidamos com eles? Pois
todos sofrem, hora ou outra. Essas questões estão interligadas aos remédios epicuristas, e
lidam com a vida, visam o viver bem, com prazer e felicidade. Pensar a própria existência é
um ato de responsabilidade consigo mesmo, é querer afirmar os males e os prazeres por meios
possíveis de se realizar aqui e agora. Exige coragem e atitude de se importar com a vida que
passa, está passando e acaba.
3 PROBLEMA
4 OBJETIVOS
5 REFERENCIAL TEÓRICO
Epicuro (342/341 a.C. – 270 a.C.) nasce em Samos, e inicia cedo seus estudos de
filosofia, com treze anos de idade. Após ter contato com o pensamento de Platão e não ter se
interessado sobre ele, estuda com um discípulo de Demócrito e adota, então, a teoria atomista
de mundo3. O filósofo contém uma personalidade marcante, sempre bem-humorado,
3
Posteriormente sua concepção do átomo difere-se da dos antigos atomistas. (REALE; ANTISERI, 2003, p.
264-265).
atencioso, agradecido e alegre4. Inaugura, após algumas dificuldades em outros lugares, o seu
“Jardim” em Atenas. O Jardim, além de espaço dos ensinamentos epicuristas, é aberto a
todos: independente do sexo, idade ou função, qualquer um pode ingressar se deseja alcançar
a paz do espirito5. O Jardim situa-se nos subúrbios de Atenas, longe do tumulto da vida
pública e próximo do silêncio do campo6. Além disso, vale ressaltar que o espaço epicurista
que não barra ninguém não é sinônimo de bagunça, libertinagem e desordem 7, e sim um local
de estudos e práticas cotidianas de sua doutrina, bem como rituais quase religiosos. A sua
obra pode ser dividida em três eixos principais: o metodológico (o cânon ou a lógica), o
teórico (física) e a prática (ética)8. Durante toda a sua vida tem como companhia uma doença
que o leva à morte. Um pouco antes do seu falecimento, Epicuro escreve cartas a amigos
íntimos, e se despede conversando, relembrando sua doutrina e tomando um pouco de vinho.
A maneira de ter encarado a morte lembra Sócrates9.
As lições de ética de Epicuro tem como base central a busca pelo prazer, e
consequentemente, alcançar a felicidade (eudaimonía) na vida terrenal. Esse é o seu objetivo
principal, pois “toda filosofia é inútil, se não serve para conseguir a felicidade” 11. O seu
cânon e sua física estão a serviço de sua ética 12. Por almejar uma vida prazerosa levando em
consideração que a essência das coisas é material, sua filosofia é conhecida como um
hedonismo e um materialismo. O hedonismo presente na sua teoria da felicidade humana
estável é explicado pelo próprio Epicuro em sua Carta a Meneceu de modo simples, no qual
4
Conforme Ullmann o descreve. (ULLMANN, Reinholdo Aloysio. Epicuro: o filósofo da alegria. 4. ed. rev. e
amp. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010. p. 20).
5
Um ponto diferencial das outras escolas de pensamento da época, como as de Aristóteles e Platão. ( Ibidem, p.
22-23).
6
REALE; ANTISERI, 2003, p. 259.
7
SPINELLI, Miguel. Epicuro e as bases do epicurismo. São Paulo: Paulus, 2013. p. 8.
8
Segundo a divisão de Spinelli. (Ibidem, p. 9-10).
9
ULLMANN, 2010, p. 27-28.
10
NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos ídolos. Tradução, notas e posfácio de: Paulo César de Souza. São
Paulo: Companhia das Letras, 2014. par. 1, p. 17.
11
ULLMANN, 2010, p. 59 apud FRAILE, 1965, p. 589.
12
Para mais informações sobre o cânon e a física epicurista: REALE; ANTISERI, 2003, p. 261-267;
ULLMANN, 2010, p. 47-58.
não se baseia em exuberâncias, acúmulos e desperdícios, e sim no “prazer que é ausência de
sofrimentos físicos e de perturbações da alma” 13. E esse prazer, que é o “início e o fim de
uma vida feliz”14, como não procura riquezas, poderes, alimentos muito caros ou roupas
extravagantes, é fácil de alcançar. Porém, não se busca sempre e toda hora o prazer. É
necessário levar em consideração critérios que ajudam a decidir se, dependendo da ocasião,
não é melhor sofrer agora e sentir um prazer maior depois do que escolher entre um prazer
momentâneo mas que resultará em uma dor forte e contínua em breve ou futuramente. O seu
materialismo consiste basicamente na ideia de que tudo é formado por átomos: o mundo,
pessoas, almas e até deuses; a diferença entre eles é somente o tipo de átomo15.
Primeiro, deve-se considerar que nunca se é jovem ou velho o bastante para se dedicar
à filosofia, pois não há faixa etária para querer alcançar a saúde do espírito, nas palavras de
Epicuro16. Então, a filosofia é o caminho, e a felicidade é a paisagem ao nosso redor (e não o
fim, já que pode ser a morte; fazendo analogia ao caminhante que prefere o caminhar do que o
destino final). Devemos, também, adicionar a esta caminhada da vida a prudência, que é um
princípio mais precioso que a própria filosofia, pois dela surgem todas as virtudes, segundo o
jardineiro da felicidade. Filosofia como uma trilha a ser desbravada, felicidade (entrelaçada
entre dores e prazeres) como paisagem e prudência como pensamento atencioso. Brincar com
esse procedimento de fruição da alegria do viver é algo que Epicuro não admite17.
Epicuro oferece em sua Carta a Meneceu as ferramentas necessárias para se utilizar na
jornada de cada ser humano que procura viver bem. Sem elas há chances da pernada não ser
proveitosa como poderia. Entretanto, não são ferramentas como um martelo ou um cerrote.
São, precisamente, remédios. Quatro remédios. Um tetrafármaco para aliviar as tensões do
caminho, dar descanso ao corpo, serenidade à razão. Combinando todas estas características
na caminhada e tendo à disposição os remédios que serão a seguir explicados, nada nos
impede de colher “os doces frutos de um tempo bem vivido” e viver “como um deus entre os
homens”18.
13
EPICURO, Carta sobre a felicidade: (a Meneceu). Tradução e apresentação de: Álvaro Lorencini e Enzo Del
Carratore. São Paulo: UNESP, 2002. p. 43.
14
Ibidem, p. 37.
15
Não cabe aqui neste projeto de pesquisa a explicação mais detalhada das outras áreas do pensamento de
Epicuro, mas caso haja interesse já foi citado na nota de rodapé 12 onde encontrar informações a respeito.
16
EPICURO, 2002, p. 21.
17
“Mas pior ainda é aquele que diz: bom seria não ter nascido, mas, uma vez nascido, transpor o mais depressa
possível as portas do Hades. Se ele diz isso com plena convicção, por que não se vai desta vida? Pois é livre
para fazê-lo, se for esse realmente seu desejo; mas se o disse por brincadeira, foi um frívolo em falar de coisas
que brincadeira não admitem”. (Ibidem, p. 31 e 33).
18
Ibidem, p. 31 e 50.
O tetrafármaco epicurista consiste em quatro tipos de remédios, dois de efeitos
imediatos para deixar de lado medos e superstições que podem paralisar a caminhada, e outros
dois de efeitos não imediatos e que precisam de atenção constante, pois são escolhas que
devem ser feitas durante todo o trajeto, até o seu fim que é a morte.
O primeiro de efeito imediato é deixar de lado o medo que há pelos deuses. Epicuro
acredita na existência deles, mas não com as características que comumente é atribuídas a
eles. Não há o porquê da preocupação com os entes divinos, pois eles vivem entre si e não se
importam com o que acontece aos humanos. Ou seja, se, nas palavras de Epicuro, os deuses
“só aceitam a convivência com seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja
diferente deles”19, então não há o porquê de se ocupar com questões que não são referentes ao
alcance da alegria. Há de se deixar os deuses em paz se quisermos tranquilidade.
O outro, também instantâneo, é não temer mais a morte. Pois, partindo dos seus
argumentos referentes à parte da física e que logo após encontram-se com a parte ética, tudo
consiste em corpos e vazio na materialidade. Ora, se tudo é material, então “tudo é corpóreo e
todas as dores são corpóreas”20. Tudo faz parte do corpo, o bem e o mal “residem nas
sensações, e a morte é justamente a privação das sensações” 21. Meditar, pensar e tentar
potencializar os efeitos desse remédio é um ato forte de sabedoria, já que “o sábio (...) nem
desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele, viver não é um fardo e não viver não é
um mal”22. Essa parte da terapia, se bem aplicada e bem recebida pelo usuário que se aventura
no seu caminho vital, nos deixa claro que, se sofro de dores agudas e que parecem
intermináveis, logo posso ser contemplado com o fim desse sofrimento, que me acarretará no
fim das sensações, ou seja, a morte. Refletir sobre isso com serenidade, não sentindo mais o
pânico sobre o fim da existência, nos “proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer
acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade” 23. Há, portanto, a
necessidade de sepultar os fantasmas que andam com esse acontecimento natural que é a
morte.
O terceiro, agora de efeitos que necessitam de prática constante para funcionar, baseia-
se na constatação de que o bem e o prazer estão à disposição de todos. Mas como?
Percebendo que “tudo o que é natural é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil” 24,
19
Ibidem, p. 25 e 27.
20
GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. A filosofia como medicina da alma. Barueri, São Paulo: Manole, 2012. p.
23.
21
EPICURO, 2002, p. 27.
22
Ibidem, p. 31.
23
Ibidem, p. 22.
24
Ibidem, p. 41.
apostando na simplicidade e em um modo de vida não luxuoso. Nessa parte da terapia, para
auxiliar o entendimento, Epicuro faz uma distinção entre os prazeres existentes: Os “naturais
necessários” são os que estão ligados à conservação de si mesmo, como beber e comer
quando realmente há necessidade; os “naturais não necessários” são as diversas variações que
os realmente necessários contêm, como beber um bom vinho, comer uma refeição com
ingredientes mais refinados; e por fim os “não naturais e não necessários” são aqueles
fomentados por fama, dinheiro, poder, inveja, glória etc. Esta última categoria dos prazeres
são os que Epicuro alerta a grande probabilidade de perturbações e sofrimentos que podem vir
à tona. Tomar as rédeas dos próprios desejos nos “leva a direcionar toda escolha e toda
recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito” 25. Ser responsável pelas
vontades que nos aparecem é se dedicar em fazer escolhas levando em conta os prazeres e
dores que podem ocasionar ao corpo e à alma.
A última parte da terapia nos remete a lidar e dialogar com a dor e o sofrimento, ou,
melhor dizendo, abraça-las tanto quanto as outras sensações. Epicuro não negligencia esse
tipo de sensação, ele se importa em pensa-la tanto quanto o prazer e a felicidade, já que tudo
faz parte da corporeidade de sentir-se vivo e atuante de si mesmo. Há alguns níveis sobre os
males: falando do corpo, primeiramente, há os males leves que são fáceis de suportar; os
males um pouco mais fortes que hora ou outra passarão; e os males de intensos sofrimentos
que, se for quase impossível de suportá-los, logo também passarão, mas com a chegada da
morte. Os males da alma são frutos de opiniões de outras pessoas e erros da mente 26. As
considerações e ensinamentos sobre a dor finalizam os quatro remédios epicuristas.
Epicuro também oferece algumas dicas para se utilizar em conjunto com sua medicina:
recusa do destino, já que “o futuro não é totalmente nosso, nem totalmente não nosso” 28;
viver oculto é melhor do que uma vida pública e ativa em atividades políticas, pois essas
levam a dores e perturbações constantes, então “entrar em si mesmo” mostra-se mais
25
Ibidem, p. 35.
26
REALE; ANTISERI, 2003, p. 270.
27
SILVA, Markus Figueira da. Vida e ação em Nietzsche e Epicuro. Ítaca, Rio de Janeiro, n. 25, p. 80-85, 1
trimestre 2014. Disponível em: <https://revistas.ufrj.br/index.php/Itaca/article/view/1414/1237>. Acesso em:
23/05/2016. p. 80.
28
EPICURO, 2002, p. 33.
interessante ao filósofo do jardim29; e que a amizade deve ser praticada, sendo o maior bem
que a sabedoria pode buscar, visto que “a amizade anda pela terra anunciando a todos que
devemos acordar para dar alegria uns aos outros”30.
Ora, os gregos, há 3000 anos, eram tão avançados quanto somos hoje. Quais são as
barreiras que impedem as pessoas de alcançarem, minimamente, o seu verdadeiro
potencial? A resposta a isso pode ser encontrada em outra pergunta, que é: qual é a
característica humana mais universal? O medo ou a preguiça?31
Filosofar é tornar viável e vivível sua própria existência quando nada é dado e tudo
resta a construir. Com um corpo doente, frágil e franzino, Epicuro constrói seu
pensamento que lhe permite viver bem, viver melhor. Ao mesmo tempo, ele propõe
a todos uma nova possibilidade de existência.35
Após os dois enormes passos de deixar toda e qualquer manifestação divina onde quer
que estejam – com suas promessas e deveres – e olhar para si diagnosticando-se dos males
naturais – e construídos – sobre a morte, chegou o momento de abordar o prazer e o bem na
simplicidade. Lembremo-nos de que o que é natural é fácil de conseguir e o que é difícil é
33
Ibidem, p. 11.
34
EPICURO, 2002, p. 31.
35
ONFRAY, 2010, p. 18.
inútil36. Talvez não seja possível hierarquizar os remédios e dizer qual é o mais importante e o
menos importante, visto que todos se efetuam melhor na combinação de seus efeitos, mas
aqui é interessante ressaltar a importância de conseguir administrar os desejos e os prazeres
no mundo moderno. Fabricar e saber que o produto contêm uma data de validade para
estragar, somente para fomentar a compra com frequência por um novo utensílio; produtos
alimentícios que contêm mais químicos feitos em laboratórios do que alimentos de verdade;
uma indústria que aconselha – ou melhor, dita – o que será usado nesta ou naquela época do
ano; o lazer do final de semana de uma vida entediada que se baseia em pernadas dentro de
shoppings centers, mesmo que não haja dinheiro para gastar; sobreviver para trabalhar,
trabalhar para comprar inutilidades e continuar infeliz; e segue os exemplos. Ora, o filosofar é
necessário para a cotidianidade da felicidade37, e nessa busca diária, é bom lembrar que
Epicuro se importa somente com os prazeres naturais e necessários, ou seja, nada de luxo,
nada de se endividar, nada que não seja realmente fundamental. O simples e a boa medida é o
que propicia esse necessário, já que “(...) o prazer não é algo da abundância ou do exagero,
mas, com efeito, o verdadeiro prazer é o que vem da sabedoria do consumo, que nada é senão
a arte de se sentir satisfeito”38. Comprar novos aparelhos eletrônicos de seis em seis meses,
novas roupas e sapatos todos os meses, automóvel novo de quatro em quatro anos,
gastronomia requintada e dentre outras futilidades? Não. Nada disso é importante para a
plenitude da felicidade. Simples, direto e fácil; é o que Epicuro diria em frente a tudo isso.
Por fim, se abordamos o prazer, chegou o momento da dor, consequentemente. Aqui,
para começar com bravura, vale a máxima nietzschiana de que o que não me mata me
fortalece39. O sofrimento é visto como vergonhoso, inaceitável e varrido para baixo do tapete
da superfície do corpo, engolido pela nossa interioridade, em uma época onde “modos de
estar feliz” são vendidos em cada esquina Porque estar em sofrimento? Consuma isso ou
aquilo e tenha uma dose de falsa felicidade. E a relação íntima com o que nos acontece, não
só com o prazer mas também com a dor? Como efetuar a vida mesmo com adversidades
surgindo e afetando o corpo e a alma? Os males da alma são aqueles em que damos ouvidos a
opiniões desnecessárias à vida, basta nos livrarmos deles. Os corporais, se for uma dor
pequena, é sabido que passará, basta tolera-los, tendo paciência que esse mal irá embora. O
que é feito quando sentimos o sofrimento à flor da pele, a dor, a tristeza? Nos embriagamos
36
EPICURO, 2002, p. 41.
37
PEROZZO, Carla Cristina. A terapia epicurista segundo a Carta a Meneceu. Ítaca, Rio de Janeiro, n. 16, p. 27-
35, 1 trimestre 2011. Disponível em: <https://revistas.ufrj.br/index.php/Itaca/article/view/549/503> . Acesso em:
23/05/2016. p. 28.
38
GHIRALDELLI JUNIOR., 2012, p. 25.
39
NIETZSCHE, 2014, par. 8, p. 10.
para fugir de nós mesmos. Sejamos sensatos, esse tipo de infortúnio não deve atrapalhar o
contato ético consigo mesmo. Caso ocorra um sofrimento descomunal, quase impossível de
aguentar, não é necessário preocupar-se, isso indica que o óbito logo chegará. Sem
expectativas, medos, angústias, pois “(...) a morte, não significa nada para nós, justamente
porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente” 40; o que é necessário,
portanto, é dialogar com o sofrimento, não nega-lo buscando distrações para suportar a
existência, mas aceita-lo. A superação da dor também pode gerar momentos engrandecedores.
40
EPICURO, 2002, p. 29.
41
ONFRAY, 2010, p. 118.
42
Ibidem, p. 19.
43
SILVA, 2014, p. 85.
44
ONFRAY, 2010, p. 144
Cada ator que nasce, cumpre seu papel e morre (...)
Glória à força viva que atua em mim!
O bom e o ruim
A vida vem nos lapidar45
6 METODOLOGIA
7 CRONOGRAMA
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAZA, Braza. Além, 2015. Disponível em: <braza.com.br>. Acesso em: 05/06/2016.
GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. A filosofia como medicina da alma. Barueri, São Paulo:
Manole, 2012.
45
BRAZA, Braza. Além, 2015. Disponível em: <braza.com.br>. Acesso em: 05/06/2016.
NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos ídolos. Tradução, notas e posfácio de: Paulo César
de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
PEROZZO, Carla Cristina. A terapia epicurista segundo a Carta a Meneceu. Ítaca, Rio de
Janeiro, n. 16, p. 27-35, 1 trimestre 2011. Disponível em:
<https://revistas.ufrj.br/index.php/Itaca/article/view/549/503>. Acesso em: 23/05/2016.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: filosofia pagã antiga, v. 1. 3. ed.
Tradução de: Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2007.
SILVA, Markus Figueira da. Vida e ação em Nietzsche e Epicuro. Ítaca, Rio de Janeiro, n.
25, p. 80-85, 1 trimestre 2014. Disponível em:
<https://revistas.ufrj.br/index.php/Itaca/article/view/1414/1237>. Acesso em: 23/05/2016.
ULLMANN, Reinholdo Aloysio. Epicuro: o filósofo da alegria. 4. ed. rev. e amp. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2010.
WAKING Life. Direção: Richard Linklaster. [S. l.]: Fox Searchlight Pictures, 2001. 1 DVD
(101 min).