Estatica Modal e Dinamica (Furgs)

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Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Escola de Engenharia
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil

ANÁLISE ESTÁTICA, MODAL E DINÂMICA DAS ETAPAS


CONSTRUTIVAS DE UMA PONTE ESTAIADA ATRAVÉS DO
MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

Bruna Manica Lazzari

Porto Alegre
2020
BRUNA MANICA LAZZARI

ANÁLISE ESTÁTICA, MODAL E DINÂMICA DAS ETAPAS


CONSTRUTIVAS DE UMA PONTE ESTAIADA ATRAVÉS DO
MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em


Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em
Engenharia

Porto Alegre
2020
BRUNA MANICA LAZZARI

ANÁLISE ESTÁTICA, MODAL E DINÂMICA DAS ETAPAS


CONSTRUTIVAS DE UMA PONTE ESTAIADA ATRAVÉS DO
MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

Esta tese de doutorado foi julgada adequada para a obtenção do título de DOUTOR EM
ENGENHARIA, na área de ESTRUTURAS, e aprovada em sua forma final pelos professores
orientadores e pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.

Prof. Américo Campos Filho Prof. Inácio Benvegnu Morsch


Dr. pela Escola Politécnica da Universidade de Dr. pela Universidade Federal do Rio
São Paulo Grande do Sul

Orientador Orientador

Prof. Nilo Cesar Consoli


PhD pela Concordia University, Canadá
Coordenador do PPGEC/UFRGS

BANCA EXAMINADORA

Prof. Acir Mércio Loredo-Souza (UFRGS)


Ph.D. pela University of Western Ontario, Canadá

Profa. Denise Bernaud Maghous (UFRGS)


Dra. pela Ècole Nationale des Ponts et Chaussées, França

Prof. Mauro de Vasconcellos Real (FURG)


Dr. pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Profa. Tatiana Kuroiwa Ayvazyan (UFRGS)


Dra. pela Kyoto University, Japão
Dedico esta tese de doutorado, de coração, aos meus
amados pais, Arduino (in memoriam) e Teresinha, e à
minha querida irmã, Paula, por todo apoio, amor e carinho
♥.
AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus, por sempre ter me dado muita força e coragem, e não me
deixando desistir deste grande sonho que é concluir este trabalho. Agradeço por Ele ter
iluminado o meu caminho, colocando diante de mim pessoas especiais, as quais me ajudaram
a conquistar mais esta importante etapa na minha vida.

Agradeço aos Professores Américo Campos Filho e Inácio Benvegnu Morsh, por me acolherem
como orientanda, pela constante motivação, pela paciência e disponibilidade para orientação,
pelos conselhos e pela enorme contribuição técnica, que foram fundamentais durante a
realização desta tese de doutorado. Sou extremamente grata por todos os ensinamentos
transmitidos, desde a época da minha graduação na UFRGS, pela amizade construída ao longo
destes anos de orientação, e hoje, no início da minha carreira como docente, levo vocês como
fonte de inspiração.

Agradeço, de forma geral, a todos os professores do PPGEC e do DECIV/UFRGS, através dos


quais tive o privilégio de ter um ensino de qualidade, e pela convivência durante todo o período
de graduação e pós-graduação. Agradeço de modo especial à Professora Tatiana Kuroiwa
Ayvazyan, que posso dizer que foi a minha terceira orientadora, cujo seu conhecimento técnico
e experiência em projeto foi de ampla ajuda neste trabalho, especialmente em relação às
análises dinâmicas realizadas. Agradeço também ao professor Acir, por ter aberto as portas do
LAC/UFRGS no início do desenvolvimento desta tese, e pela troca de ideias que foi importante
na definição do tema de pesquisa.

Agradeço também aos colegas do PPGEC pela colaboração e constante ajuda, e destaco alguns
que foram especiais nesta trajetória. Ao Igor Souza Hoffman, meu parceiro de trabalho da Ponte
do Saber, que a cada reunião me contagiava com a sua motivação, e a quem sou grata não só
pela ajuda com a modelagem no ANSYS, mas também pela amizade que tornou este período
mais leve. Aos colegas Felipe Quevedo, Rebeca Schmitz, Betina Jensen e Bárbara Chagas por
me fornecerem o seu material atualizado relacionado à customização do ANSYS e pela
disponibilidade ao me auxiliarem sempre que surgiam dúvidas. Ao Miguel Aguirre pela
generosidade e auxílio para o acesso aos computadores do CEMACOM de forma remota
durante o período de pandemia.
Agradeço a toda minha família, em especial aos meus queridos pais Arduino (in memoriam) e
Teresinha por terem sido os meus grandes incentivadores e sempre acreditado no meu
potencial. Ao longo da minha vida vocês de alguma forma sempre estiveram ao meu lado,
dando todo o suporte e amor incondicional, por isso agradeço por todas as dificuldades
enfrentadas para conseguir me proporcionar uma educação de qualidade, e espero que este
trabalho seja motivo de orgulho para vocês. A minha irmã Paula, agradeço de forma muito
especial, pois o seu entusiasmo com a engenharia estrutural me fez seguir os seus passos e hoje
tenho o maior orgulho de termos a mesma profissão. Obrigada não só por te me mostrado a
Engenharia, mas também pelo carinho, cuidado e atenção em todos os momentos da minha
vida.

Agradeço a todas as pessoas que são especiais em minha vida. Ao Pedro, por me apoiar em
todas as minhas decisões, pelo seu companheirismo e por todo o suporte emocional. Agradeço
também a todos os meus queridos amigos, que sempre me apoiaram, contribuindo para os bons
momentos de alegria e descontração.

Agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Sul pela oportunidade de estar participando
de um curso de pós-graduação de excelência, e, ainda, pela boa estrutura de ensino e pesquisa
proporcionada. Agradeço à CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior e ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pelo
suporte financeiro que permitiu a realização deste estudo.
Não é sobre chegar no topo do mundo e saber que venceu,
é sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu.
É sobre ser abrigo e também ter morada em outros
corações, e assim ter amigos contigo em todas as
situações. A gente não pode ter tudo, qual seria a graça do
mundo se fosse assim? Por isso eu prefiro sorrisos e os
presentes que a vida trouxe para perto de mim.
Ana Vilela
RESUMO

LAZZARI, B. M. Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma


Ponte Estaiada através do Método dos Elementos Finitos. 2020. Tese de Doutorado
(Doutorado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

O estudo de Pontes Estaiadas no Brasil é motivado pela sua crescente utilização no país e por
apresentarem comportamento não linear e sensibilidade à sequência construtiva. Neste
contexto, esta tese apresenta uma análise estática, modal e dinâmica a partir de um modelo
tridimensional em elementos finitos que simula os estágios construtivos da Ponte do Saber,
localizada no Rio de Janeiro, utilizando o software ANSYS. O objetivo foi simular uma análise
progressiva, comparando o comportamento viscoelástico com fissuração para o concreto com
o modelo elástico. Ao final das análises, pode-se notar que a negligência da consideração do
comportamento viscoso do concreto provoca estimativas errôneas de forças de protensão nos
estais, as quais podem levar a operações de reprotensão indesejáveis. A partir da configuração
de equilíbrio das fases críticas de construção, foi incluída a ação do vento em escoamento
turbulento atuando sobre o tabuleiro, com os históricos de velocidades gerados através do
método do vento sintético de Franco (1993). De forma geral, as diferenças de força de
protensão nos estais observadas entre os modelos resultaram em esforços de compressão mais
elevados no tabuleiro representado por materiais com comportamento não linear, diminuindo
a rigidez e consequentemente as frequências naturais da estrutura. Sendo assim, a consideração
do efeito diferido no concreto, altera a resposta dinâmica da ponte em termos de tensões e
deslocamentos, sendo importante a sua consideração para a verificação das seções transversais.
Observou-se também que alguns estágios da montagem da ponte apresentam situações com
maior risco de falha estrutural do que a análise considerando a ponte concluída, sendo essencial
a previsão das fases construtivas na etapa de projeto. Por fim, pode-se dizer que a construção
do modelo completo da estrutura torna-se fundamental para a correta determinação do plano
de estaiamento, distribuição de tensões nos elementos, e resposta aos efeitos dinâmicos, uma
vez que os resultados obtidos a partir desta análise se aproximaram dos valores estimados no
projeto original e dos trabalhos de referência de Battista (2012), Gomes (2013) e Curi (2015).

Palavras-chave: Ponte estaiada. Etapas construtivas. Análise não linear. Análise dinâmica.
Método dos elementos finitos. ANSYS.
ABSTRACT

LAZZARI, B. M. Static, Modal and Dynamic Analysis of the Construction Stages of a


Cable-stayed Bridge using the Finite Element Method. 2020. Thesis (Doctorate in Civil
Engineering) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre.

The study of cable-stayed bridges in Brazil is motivated by their increasing use in the country
and by their non-linear behavior and the sensitivity to the construction sequence. In this
context, this thesis presents a static, modal and dynamic analysis based on a three-dimensional
finite element model that simulates the constructive stages of Ponte do Saber, in Rio de Janeiro,
using the ANSYS software. The objective was to simulate a forward analysis, comparing the
viscoelastic behavior with cracking for concrete with the elastic model. At the end of the
analysis, it can be noted that the negligence of considering the viscous behavior of the concrete
causes erroneous estimates of initial prestressing forces applied to the stays, which can lead to
undesirable prestressing operations. From the critical design phases, the action of wind forces
in turbulent flow acting on deck was included, which speed histories were generated through
the synthetic wind method, proposed by Franco (1993). In general, the differences in
prestressing strength observed in the stays between the models resulted in higher compression
efforts on the deck represented by materials with non-linear behavior, decreasing the stiffness
and consequently the natural frequencies of the structure. Thus, the consideration of the
deferred effect in the concrete, alters the dynamic response of the bridge in terms of stresses
and displacements, being important its consideration for the verification of the cross sections.
It was also observed that some construction stages present situations with a higher risk of
structural failure than the analysis considering the completed bridge, being essential the
forecast of the construction phases in the design stage. Finally, it can be said that the
construction of the complete model of the structure becomes fundamental for the correct
determination of the initial prestressing forces in the stays, the stress distribution in the
elements, and the response to the dynamic effects, since the results obtained from this analysis
approached to the values estimated in the original project and the reference papers of Battista
(2012), Gomes (2013) and Curi (2015).

Key-words: Cable-stayed bridge. Construction stages. Non-linear analysis. Dynamic analysis.


Finite element method. ANSYS.
LISTA DE SIGLAS

ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas

ANSYS: Analysis Systems Incorporated

BISO: Bilinear Isotropic Hardening

DECIV: Departamento de Engenharia Civil

EPS: Extratropical Pressure Systems

FIB: Fédération Internationale du Béton

GDL: Grau de Liberdade

HDPE: High Density Polyethylene

LAC: Laboratório de Aerodinâmica das Construções

MEF: Método dos Elementos Finitos

PEAD: Polietileno de Alta Densidade

PPGEC: Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil

UFRGS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UPF: User Programmable Features

LISTA DE SÍMBOLOS

LETRAS ROMANAS MAIÚSCULAS


𝐴 : área de aço da seção transversal do estai
Ri: reação no apoio da viga contínua
Fi: força inicial no estai
E: módulo de elasticidade do aço das cordoalhas que constituem o estai
Li: comprimento deformado do estai
L0i: comprimento indeformado do estai
𝐶̅ : amplitude arbitrária do deslocamento x
T: período natural de vibração
P(t): vetor forças nodais
Fa: força de arrasto
Fs: força de sustentação
Mt: momento torsor
𝑈: velocidade médio do fluxo
𝐶 , 𝐶 , 𝐶 : coeficientes aerodinâmicos de arrasto, sustentação e momento,
respectivamente
S1: fator topográfico
S2: fator que considera a rugosidade do terreno, as dimensões da edificação e a altura sobre
o terreno
S3: fator estatístico
Uk: velocidade característica do vento
U0: velocidade básica do vento
𝑈 (ℎ): velocidade médio do vento sobre t segundos num dado ponto da edificação,
calculada por aproximações sucessivas.

LETRAS ROMANAS MINÚSCULAS


gi: peso próprio
p(t): força dinâmica
p0: amplitude do carregamento
k: matriz de rigidez
m: matriz de massa
c: matriz de amortecimento
x: vetor deslocamento
𝑥̇ : vetor velocidade
𝑥̈ : vetor aceleração
𝑓 : força na mola
𝑓 : força inercial
𝑓 : força proporcional ao amortecimento
𝑠̅: dependente da matriz de amortecimento c
𝑐 : coeficiente de amortecimento crítico
f: frequência natural de vibração
𝑥 (𝑡): solução transiente
𝑥 (𝑡): solução permanente
𝑥̅ : autovetores
a: amplitude modal
u(t): velocidade flutuante na direção do vento
w(t): velocidade flutuante na direção perpendicular ao vento

LETRAS GREGAS MINÚSCULAS


αi: ângulo do estai com a viga de rigidez
σ: tensão máxima admissível de projeto no estai
𝜀 : deformação específica
δi: deslocamento da aduela
ω: frequência angular natural
𝜔 : frequência angular amortecida
ξ: fator de amortecimento viscoso
𝜔: frequência de excitação
𝜃: ângulo de fase
𝜔 : autovalores
i: autovetor normalizado
 : transposição do autovetor normalizado
ρ: massa específica do ar (igual a 1,225 kg/m³)
α: ângulo de ataque do vento
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1
1.1 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 5
1.1.1 Objetivo principal ...................................................................................................... 5
1.1.2 Objetivos secundários ................................................................................................ 5
1.2 LIMITAÇÕES .................................................................................................................... 6
1.3 DELINEAMENTO DO PROJETO DE PESQUISA.......................................................... 6

2 PONTES ESTAIADAS ....................................................................................................... 8


2.1 BREVE HISTÓRICO ...................................................................................................... 8
2.2 COMPONENTES ESTRUTURAIS ............................................................................... 10
2.2.1 Estais ....................................................................................................................... 10
2.2.2 Tabuleiro .................................................................................................................. 12
2.2.3 Torre........................................................................................................................ 14
2.3 MÉTODOS CONSTRUTIVOS ...................................................................................... 15
2.4 ASPECTOS DA ANÁLISE ESTRUTURAL DE PONTES ESTAIADAS ................... 16
2.4.1 Características da análise não linear de pontes estaiadas .................................. 18
2.4.2 Determinação das forças de serviço ideais nos estais ......................................... 19
2.4.2.1 Método da viga contínua .................................................................................... 19
2.4.2.2 Método do equilíbrio das forças (Chen et al., 2000).......................................... 20
2.4.2.3 Método da anulação dos deslocamentos (Shape finding procedure) .................. 22
2.4.2.4 Método da otimização ......................................................................................... 22
2.4.3 Modelagem em elementos finitos .......................................................................... 23
2.4.3.1 Processo de desmontagem (backward analysis) ................................................ 24
2.4.3.2 Processo de montagem (forward analysis) ........................................................ 24
2.4.4 Recomendações normativas para o projeto de pontes estaiadas ....................... 25

3 VIBRAÇÕES EM PONTES SOB AÇÃO DINÂMICA DO VENTO .......................... 26


3.1 AÇÃO DO VENTO EM ESTRUTURAS ..................................................................... 26
3.2 AÇÃO DO VENTO SOBRE TABULEIRO DE PONTE ............................................. 29
3.3 SIMULAÇÃO DO CARREGAMENTO DEVIDO AO VENTO ................................. 32
3.3.1 O fluxo de vento como um processo aleatório ..................................................... 33
3.3.2 O espectro de potência do vento ........................................................................... 36
3.3.2.1 Função de auto-correlação ................................................................................. 36
3.3.2.2 Método do equilíbrio das forças (Chen et al., 2000).......................................... 38
3.3.2.3 Representação espectral do vento ...................................................................... 40
3.3.3 O processo de vento sintético ................................................................................ 41
3.3.3.1 Espectro das velocidades flutuantes................................................................... 42
3.3.3.2 Espectro das pressões flutuantes ........................................................................ 47
3.3.4 Ação estática ........................................................................................................... 49
3.3.5 Forças aerodinâmicas devidas à turbulência ...................................................... 50
3.3.6 Recomendações da NBR 6123 ............................................................................... 52

4 MODELOS CONSTITUTIVOS DOS MATERIAIS .................................................... 54


4.1 CONCRETO .................................................................................................................. 55
4.1.1 Comportamento diferido do concreto .................................................................. 57
4.1.2 Formulação para fluência e retração do CEB-FIP 1990 .................................... 59
4.1.3 Teoria da solidificação para a fluência do concreto ........................................... 60
4.1.4 Modelo reológico para o fator da fluência que depende da idade do
carregamento ......................................................................................................................... 62
4.1.5 Concreto tracionado: modelo para fissuração .................................................... 63
4.2 AÇO ............................................................................................................................... 66

5 ANÁLISE NUMÉRICA UTILIZANDO O SOFTWARE ANSYS ............................... 68


5.1 SOLUÇÃO DE PROBLEMAS NÃO LINEARES NO ANSYS .................................. 69
5.2 ELEMENTOS FINITOS UTILIZADOS....................................................................... 73
5.2.1 Elemento finito sólido tridimensional SOLID186 ............................................... 73
5.2.2 Formulação reforço REINF264 ............................................................................ 74
5.2.3 Elemento finito unidimensional LINK180 ........................................................... 75
5.2.3.1 Rigidez de Ernst ................................................................................................. 77
5.2.3.2 Modelagem numérica dos estais ........................................................................ 79
5.2.4 Elemento de ativação e desativação (Birth and Death elements)........................ 82
5.3 CUSTOMIZAÇÃO DO MODELO DO CONCRETO ................................................. 83
5.4 VALIDAÇÃO DO MODELO NUMÉRICO DO CONCRETO CUSTOMIZADO ..... 89
5.5 MODELAGEM DO AÇO ............................................................................................. 93
5.6 ANÁLISE TRANSIENTE MODAL ............................................................................. 95
5.6.1 Análise transiente ................................................................................................... 95
5.6.1.1 Método de integração no tempo para sistemas não lineares .............................. 96
5.6.1.2 Solução ............................................................................................................... 99
5.6.1.3 Amortecimento .................................................................................................. 99
5.6.2 Análise modal ....................................................................................................... 100
5.6.3 Exemplo de análise modal sob tensões iniciais .................................................. 104

6 MODELAGEM COMPUTACIONAL DA PONTE DO SABER .............................. 107


6.1 DETALHES DO PROJETO DA PONTE DO SABER............................................... 108
6.1.1 Características e propriedades do tabuleiro ...................................................... 109
6.1.2 Características e propriedades do pilone ........................................................... 110
6.1.3 Características e propriedades do sistema de estais ......................................... 115
6.1.4 Detalhes das etapas de construção e do modelo de cálculo .............................. 117
6.2 MODELAGEM DA ESTRUTURA NO ANSYS ....................................................... 122
6.2.1 Modelagem do tabuleiro – SOLID186 ............................................................... 125
6.2.2 Modelagem do pilone – SOLID186 .................................................................... 128
6.2.3 Elementos de armadura aderente – REINF264 ................................................ 130
6.2.4 Modelagem dos estais – LINK180 ....................................................................... 132
6.2.5 Etapas de cálculo .................................................................................................. 133
6.3 METODOLOGIA DA ANÁLISE DINÂMICA .......................................................... 141
6.3.1 Espectro da componente longitudinal da turbulência ...................................... 142
6.3.2 Espectro da componente vertical da turbulência .............................................. 147
6.3.3 Carga de vento aplicada ao modelo .................................................................... 149

7 RESULTADOS DA SIMULAÇÃO NUMÉRICA DA PONTE DO SABER ............ 157


7.1 MODELO REDUZIDO ................................................................................................ 158
7.1.1 Análise estática através do MEF ........................................................................ 160
7.1.2 Análise modal através do MEF ........................................................................... 181
7.1.3 Análise estática devida à ação do vento ............................................................. 188
7.1.4 Análise dinâmica através do MEF...................................................................... 190
7.2 MODELO COMPLETO ............................................................................................... 205
7.2.1 Análise estática através do MEF ........................................................................ 205
7.2.2 Análise modal através do MEF ........................................................................... 229
7.2.3 Análise dinâmica através do MEF...................................................................... 236

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 248


REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 252
APÊNDICE A ..................................................................................................................... 257
1

1 INTRODUÇÃO

Devido a sua principal função, que é a de transpor obstáculos, as pontes sempre foram um
indicativo relevante para o progresso de uma civilização, auxiliando no crescimento do
desenvolvimento social e econômico de uma região. Desta forma, as pontes tornaram-se objeto
de estudo da engenharia em vários lugares do mundo, e em virtude da mais alta tecnologia
aplicada, evoluíram bastante ao longo dos anos. Devido ao avanço de técnicas construtivas, ao
surgimento de novos materiais empregados na construção civil e ao aprimoramento dos
métodos numéricos, as pontes sofreram diversas alterações, tornando-se cada vez mais esbeltas.

Neste contexto, a utilização das pontes estaiadas se popularizou entre os projetistas, pois além
da funcionalidade de vencer grandes vãos, e da possibilidade do uso de estruturas mais leves e
econômicas, são uma alternativa interessante em termos de solução arquitetônica. No Brasil,
este sistema começou a ser conhecido em 1978, com o projeto de ponte estaiada de Porto
Alencastro, com 660 m de extensão, localizada sobre o Rio Paranaíba, na divisa entre Minas
Gerais e Mato Grosso do Sul. Este projeto foi realizado numa parceria entre as empresas
Noronha Engenharia e Leonhardt & Andrà Consulting Engineers. Porém, a primeira ponte
estaiada a ser inaugurada no país foi a Ponte Estação Metroviária Engenheiro Jamil Sabino
(Ponte da Estação de Santo Amaro), em 2002, localizada sobre o Rio Pinheiros, em São Paulo
(MACHADO, 2008). Na figura 1.1, são mostradas as respectivas pontes.

Figura 1.1 – Ponte de Porto Alencastro à esquerda, e Ponte Estação da Estação de


Santo Amaro à direita

(fonte: WIKIPEDIA, 2018)

__________________________________________________________________________________________
Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
2

Atualmente há uma tendência crescente do uso desta solução estrutural em pontes nacionais
(LOREDO-SOUZA; ROCHA, 2012). Dentre algumas das principais pontes, se destacam: a
Ponte Newton Navarro, situada em Natal, com 448 m de vão livre; a Ponte Octávio Frias de
Oliveira, em São Paulo, que apresenta duas pistas em curva conectadas ao mesmo mastro por
um conjunto de estais cruzados; a Ponte Rio Negro, em Manaus, que, em extensão, é a maior
ponte estaiada do Brasil, com 3,6 quilômetros; e a Ponte Anita Garibaldi, em Santa Catarina,
que é a primeira ponte com um único plano de estais em curva do Brasil (figura 1.2).

Figura 1.2 – Exemplos de importantes projetos de pontes estaiadas brasileiras

(a) Ponte Newto Navarro (2007) (b) Ponte Octávio Frias de Oliveira (2008)

(c) Ponte Rio Negro (2011) (d) Ponte Anita Garibaldi (2015)

(fonte: WIKIPEDIA, 2018)

O projeto estrutural de uma ponte estaiada se mostra bastante complexo tanto do ponto de vista
estrutural quanto construtivo, incluindo aspectos que não necessariamente são levados em conta
em um projeto de uma ponte convencional. Conforme a Fédération Internationale du Béton
(2000), as pontes estaiadas são classificadas dentro do grupo das estruturas de pontes especiais,
pois apresentam maior dificuldade na elaboração do projeto, elevado grau de responsabilidade
e riscos assumidos pelo engenheiro, sendo necessário também um rigoroso acompanhamento
durante sua execução. Essa concepção estrutural, impõe fortes não linearidades à estrutura,
__________________________________________________________________________________________
Bruna Manica Lazzari (bruna.ml@gmail.com) – Tese de Doutorado – Porto Alegre: PPGEC/UFRGS 2020
3

sendo que o pleno conhecimento do comportamento deste tipo de ponte na presença de cargas
estáticas e dinâmicas, torna-se fundamental para um projeto seguro.

O boletim 65, do código modelo FIB 2010, ressalta que, em função da esbeltez dos
componentes de pontes estaiadas em concreto armado e protendido, estas estruturas apresentam
alta sensibilidade diante dos efeitos diferidos nos materiais, sendo que a modelagem matemática
para a avaliação das fases construtivas, é uma preocupação central do projeto e execução desse
tipo de estrutura. Uma das fases críticas, do ponto de vista de projeto, e onde são cometidos os
maiores erros, é na determinação das forças iniciais a serem aplicadas nos estais; ou seja, o
grande desafio é construir a ponte na geometria exata determinada pelo projeto arquitetônico e
com as tensões ideais previstas para os estais. Essas dificuldades podem ser superadas através
da correta simulação das diversas fases envolvidas na construção de uma ponte estaiada.

Em relação ao comportamento dinâmico de pontes estaiadas, no Brasil este não é um assunto


tão explorado quanto em outros países. Na literatura nacional, existe um reduzido número de
trabalhos que descrevem o comportamento das estruturas estaiadas submetidas a carregamentos
dependentes do tempo. No entanto, o conhecimento do comportamento de uma estrutura
flexível, perante os efeitos dinâmicos gerados pelo vento, pode ser de extrema relevância,
especialmente durante a sua fase construtiva.

Com a evolução das estruturas, as representações matemáticas dos problemas passaram a ter
soluções analíticas mais difíceis de serem resolvidas, pois o modelo matemático engloba as
relações constitutivas dos materiais, as relações de equilíbrio e as relações de deslocamentos e
de deformações. Para se obter as soluções de estruturas complexas, foram desenvolvidos
métodos numéricos, que buscam uma solução aproximada com uma boa precisão, como é o
caso do Método dos Elementos Finitos (MEF). O uso deste método, aliado à grande capacidade
de processamento dos computadores atuais, têm possibilitado aos engenheiros simular o
comportamento não linear destas estruturas, tais como o efeito catenária dos estais, o
comportamento viga-coluna do tabuleiro, e o efeito de grandes deslocamentos.

Neste contexto, o presente trabalho consiste na criação de um modelo tridimensional em


elementos finitos, utilizando o software ANSYS, apresentando uma análise das etapas
construtivas de uma ponte estaiada real, cujas aduelas foram concretadas no local. A estrutura
escolhida foi a Ponte do Saber, localizada no Rio de Janeiro, que foi concluída no ano de 2012.

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
4

Para este estudo, foi realizada a análise estática, modal e dinâmica das etapas de montagem
desta ponte estaiada, utilizando os elementos de ativação e desativação (Birth and Death
elements) do software ANSYS. O modelo reológico adotado para a consideração da fluência e
da retração do concreto, foi o proposto pelo Comité Euro-International du Béton (1993): Código
Modelo CEB-FIP 1990 (CEB-MC90), associado à teoria da solidificação de Bazant e Prasannan
(1989a, 1989b). O comportamento do concreto à tração foi simulado de acordo com o sugerido
por Hinton (1988), utilizando o modelo de colaboração do concreto entre fissuras (tension
stiffening). Estes modelos foram introduzidos no ANSYS através da rotina USERMAT,
disponível através da ferramenta de customização (User Programmable Features – UPF). A
rotina USERMAT adotada neste trabalho teve como ponto de partida os códigos em linguagem
Fortran 77, desenvolvidos por Quevedo (2017), Schmitz (2017) e Lazzari (2016).

Os casos de carga referentes à análise estática foram descritos segundo as informações


disponíveis no projeto realizado pelo escritório VGarambone Projetos e Consultoria, bem
como através dos dados presentes nos trabalhos de Gomes (2013) e de Cidade (2017). A partir
da utilização do processo de montagem progressiva (forward analysis), foi possível considerar
os efeitos dependentes do tempo de forma diferenciada para cada material. Os resultados
obtidos através da análise estática foram comparados às medições realizadas durante as fases
de construção da estrutura real, cujos valores são apresentados na dissertação de Gomes (2013);
e às previsões do projeto estrutural desenvolvido por VGarambone Projetos e Consultoria.

O modelo de carregamento não determinístico, utilizado para simular o vento turbulento atuante
sobre o tabuleiro de ponte investigado, foi o processo do vento sintético proposto por Franco
(1993). A análise dinâmica foi realizada no domínio do tempo, em que as forças de vento foram
aplicadas sobre o modelo em elementos finitos no ANSYS como funções variáveis, de acordo
com a formulação proposta por Simiu e Scanlan (1996). Como para a estrutura em estudo não
foram realizados ensaios em túnel de vento, para representar o sinal de velocidades flutuantes
foram utilizados dois espectros teóricos de potência diferentes para as componentes na direção
longitudinal e na direção vertical do vento, sendo respectivamente, o espectro de Harris e o
espectro de Lumley e Panofsky. Os resultados obtidos a partir da análise modal e dinâmica
realizada no software ANSYS foram comparados com os valores provenientes da análise
dinâmica feita pelo escritório Controllato – Projetos, Monitoração e Controle de Estruturas
(BATTISTA, 2012), e com aqueles descritos no trabalho de Curi (2015), ambos considerando
o modelo estático inicial fornecido por Garambone (2012).
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1.1 OBJETIVOS

Os objetivos da pesquisa estão classificados em principal e secundários e são descritos a seguir.

1.1.1 Objetivo principal

Esta tese de doutorado tem como objetivo principal a realização de uma análise estática, modal
e dinâmica das etapas construtivas de uma ponte estaiada, cujo método de montagem foi
realizado por avanços sucessivos, com concretagem dos elementos no local. Busca-se avaliar
se a consideração dos efeitos dependentes do tempo, como os modelos reológicos para a
fluência e retração do concreto, bem como a fissuração desse material, possui uma influência
relevante no comportamento mecânico destas estruturas quando submetidas à ação de cargas
estáticas e dinâmicas.

1.1.2 Objetivos secundários

Entre os objetivos secundários desta tese de doutorado, pode-se listar os seguintes itens:

a) desenvolvimento de um modelo tridimensional da Ponte do Saber, utilizando o


programa ANSYS, a partir do modelo geométrico proposto por Lazzari (2016);

b) estudo de funcionalidades para análises de modelos parciais no software


ANSYS, incluindo a utilização do método de ativação e desativação de
elementos do ANSYS (Birth and Death elements);

c) adaptação do modelo viscoelástico para o concreto desenvolvido inicialmente


por Quevedo (2017) e Schmitz (2017);

d) realização de uma análise modal das fases construtivas de uma ponte estaiada,
a partir de uma configuração de equilíbrio inicial;

e) desenvolvimento de uma análise dinâmica de fases críticas de projeto, através


da simulação de uma carga de vento variável em função do tempo, sobre o
tabuleiro da Ponte do Saber.
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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1.2 LIMITAÇÕES

Entre as limitações do trabalho pode-se destacar:

a) nas análises realizadas, a temperatura ambiente foi considerada constante;

b) na modelagem da geometria da Ponte do Saber, não foram considerados os


elementos que compõem a infraestrutura da ponte (fundações); nem a
representação detalhada dos dispositivos de ancoragem dos estais, em função
da grande quantidade de elementos finitos que o modelo já reunia;

c) a modelagem dos estais da Ponte do Saber foi realizada de forma simplificada


através de elementos de barra, ao invés de considerar o efeito de catenária;

d) os resultados apresentados nas análises dinâmicas foram baseados em


coeficientes aerodinâmicos de uma seção transversal que se assemelha à
aerodinâmica do tabuleiro da Ponte do Saber, pois para a estrutura em estudo
não foram realizados ensaios em túnel de vento.

1.3 DELINEAMENTO DA PESQUISA

As etapas desta tese de doutorado foram estabelecidas conforme o fluxograma representado na


figura 1.3 e divididas em 8 capítulos. No capítulo 1, foram descritas as considerações iniciais
sobre o tema, destacando os objetivos principais e secundários. Conforme observado na figura
1.3, a revisão bibliográfica sobre os parâmetros de projeto, aspectos construtivos e
comportamento dinâmico de pontes estaiadas foi essencial para a evolução do trabalho, sendo
apresentada nos capítulos 2 e 3. No capítulo 4 são indicadas as formulações matemáticas para
a definição dos modelos constitutivos dos materiais, tanto para o concreto quanto para o aço.
No capítulo 5 são apresentadas as características de funcionamento da rotina USERMAT e
detalhes sobre a análise numérica utilizando o software ANSYS. O capítulo 6 resume os
detalhes do projeto da Ponte do Saber, bem como da modelagem computacional realizada no
ANSYS. O capítulo 7 apresenta os resultados da análise estática, juntamente com os valores
registrados em obra, e com os dados fornecidos pelo escritório VGarambone Projetos e
Consultoria (GARAMBONE, 2012), que realizou o projeto estrutural da ponte. Após esta
etapa, prosseguiu-se para a análise modal sob tensões iniciais das etapas construtivas da
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estrutura bem como da análise da resposta da ponte, quando submetida à ação dinâmica do
vento. Estes resultados estão apresentados no capítulo 7, juntamente com os valores
provenientes da análise dinâmica realizada pelo escritório Controllato – Projetos, Monitoração
e Controle de Estruturas (BATTISTA, 2012), e dos dados descritos no trabalho de Curi (2015).
Por último, no capítulo 8, foram feitas as considerações finais deste trabalho e as sugestões
para trabalhos futuros.

Figura 1.3 – Fluxograma das etapas da pesquisa

(fonte: elaborada pela autora)

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2 PONTES ESTAIADAS

Neste capítulo é apresentado um breve histórico das pontes estaiadas, mostrando a evolução
dos projetos ao longo do tempo, e também as características de seus elementos estruturais. São
abordados também alguns aspectos teóricos relacionados à análise não linear destas estruturas.

2.1 BREVE HISTÓRICO

A ideia de sustentar um elemento, por meio de cabos ou correntes já vem sendo empregada há
muito tempo. Alguns dados históricos e indícios arqueológicos indicam que os índios
americanos já construíam passarelas pênseis de madeira e que as pontes pênseis de ferro já eram
construídas em 65 D.C. nas montanhas do Tibet (WITTFOHT, 1984). O próprio Leonardo da
Vinci, entre os séculos XV e XVI, já sugeria este tipo de estrutura em seus rabiscos.

O projeto das primeiras pontes estaiadas modernas envolvia a utilização de poucos estais e
tabuleiros muito rígidos, como mostra a figura 2.1. Os estais eram posicionados somente onde
deveriam existir pilares, o que implicava em cabos com muitas cordoalhas; dificuldades na
concepção das ancoragens; problemas de concentração de tensões; e desvantagens em relação
ao método construtivo, sendo necessário construir uma grande extensão de tabuleiro até que
fosse alcançado o próximo ponto de fixação do estai (GRABOW, 2004).

Figura 2.1 – (a) Ponte Stromsund, Suécia; (b) Pont Donzère-Mondragon, França

(a) (b)
(fonte: WIKIPEDIA, 2018)
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O maior desenvolvimento destas estruturas ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, quando
estradas, cidades e pontes precisavam ser reconstruídas. O desenvolvimento da teoria de
estabilidade de estruturas, juntamente com a melhoria dos processos de solda e da qualidade
dos materiais, permitiu um importante avanço no desenvolvimento deste sistema estrutural
(MEYER, 2011). Desta forma, as pontes estaiadas começaram a ser amplamente utilizadas,
principalmente na Europa e na América do Norte, mostrando-se um sistema econômico, com
estrutura mais leve e rigidez suficiente (MAZARIM, 2011).

A partir da década de 70, as propriedades físicas dos materiais passaram a ser utilizadas de
forma mais racional e consciente; sendo observados avanços em função da experiência
adquirida com o grande número de pontes executadas no período pós-guerra, e do
desenvolvimento dos métodos de dimensionamento destas estruturas (MAZARIM, 2011).
Atualmente, exceto por imposições específicas, a solução de poucos estais não é a mais usual,
por ser anti-econômica. O menor espaçamento entre os pontos de ancoragem dos estais faz com
que os mesmos tenham uma importância maior quanto ao recebimento do carregamento atuante
no tabuleiro. Além disso, como a flexão longitudinal é reduzida através da introdução de um
maior número de apoios intermediários (estais), o tabuleiro passa a ter uma geometria mais
leve, contribuindo de forma significativa com o fator estético. Na figura 2.2 estão indicadas as
duas pontes estaiadas que apresentam os maiores vãos atualmente; a Russky Bridge, localizada
na Rússia, com vão de 1.104 m; e a Sutong Bridge, localizada na China, com vão de 1088 m.

Figura 2.2 – (a) Ponte Russky, Rússia; (b) Ponte Sutong, China

(a) (b)
(fonte: WIKIPEDIA, 2018)

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2.2 COMPONENTES ESTRUTURAIS

Conforme visto anteriormente, a superestrutura de uma ponte estaiada é composta por três
elementos estruturais: os cabos de sustentação, denominados estais; a viga de rigidez,
denominada tabuleiro; e a torre, que também pode ser chamada de pilone ou mastro. Nos itens
a seguir, estes componentes serão detalhados, segundo Mazarim (2011), Gimsing e Georgakis
(2012) e Walther et al. (1985) e será apresentada uma visão geral de projeto destas estruturas.

2.2.1 Estais

Os estais são formados por três componentes: elementos de tensionamento, sistemas de


ancoragem e sistemas de proteção. Os elementos de tensionamento podem ser formados por um
conjunto de barras ou de cordoalhas. Atualmente a utilização de cordoalhas é a solução mais
adotada, as quais são compostas por um feixe de fios de aço, que são dispostos ao redor do
núcleo central de forma helicoidal, com um passo uniforme, sendo o seu diâmetro obtido de
acordo com a necessidade de projeto.

As ancoragens dos estais são responsáveis pela transferência de força do estai tensionado para
os elementos estruturais onde este foi ancorado. Uma ancoragem regulável, ou ativa, possibilita
o ajuste do comprimento do estai sem que isto implique em um movimento relativo entre as
cordoalhas e a ancoragem (FIB, 2005). Já em uma ancoragem fixa, ou passiva, não é permitida
a regulagem do comprimento do estai e nem o retensionamento dos mesmos. A escolha da
extremidade do estai em que ficará cada tipo de ancoragem é feita pelo projetista, que deve
considerar, entre outros aspectos, a existência de espaço suficiente na região da ancoragem
regulável, para que seja possível a utilização de macacos hidráulicos de protensão.

A proteção mais utilizada nos estais, em um processo especial de fabricação, é o envolvimento


da cordoalha por cera de petróleo e o recobrimento da mesma com os tubos de HDPE (High
Density Polyethylene), também conhecido como PEAD (Polietileno de Alta Densidade). Estes
tubos, além de promover a proteção contra a corrosão e agentes externos, incluindo os raios
ultravioleta, também podem atender a exigências do projeto arquitetônico uma vez que as suas
cores podem ser alteradas. Na região das ancoragens, os estais contam ainda com tubos anti-
vandalismo, garantindo assim segurança contra eventuais danos nas partes mais vulneráveis. O
desempenho estrutural de uma ponte estaiada depende, principalmente, da disposição dos
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estais, os quais podem estar em uma superfície única centralizada no tabuleiro, em superfícies
verticais paralelas laterais, ou em superfícies inclinadas laterais, conforme mostra a figura 2.3.

Figura 2.3 – Distribuição transversal dos cabos (a) plano vertical central único, (b)
dois planos verticais, (c) dois planos inclinados

(a) (b) (c)


(fonte: MAZARIM, 2011)

As pontes com um plano central único de cabos apresentam como desvantagem estrutural os
elevados esforços de torção, gerados principalmente por cargas dinâmicas e cargas acidentais
assimétricas, e a necessidade de estais com maior diâmetro. A utilização de dois planos verticais
de estais é benéfica para absorver os esforços de torção e, ainda, é extremamente útil quando o
projeto prevê um número maior de faixas de rodagem. Já no sistema de dois planos inclinados
de cabos, existe a possibilidade de interferência entre os estais e o gabarito da ponte, o que é
mais comum em pontes de menor porte, onde os pilones são baixos.

Para as estruturas caracterizadas por sua assimetria longitudinal, ou seja, quando os vãos laterais
e principais possuem comprimentos diferentes, é necessário incluir estais que auxiliarão
diretamente na estabilidade global da estrutura, os quais são chamados de estais de retaguarda.
De acordo com Walther et al. (1999), estes estais são elementos submetidos a elevadas tensões
de tração, as quais são geradas principalmente pelo peso próprio do tabuleiro, já que a sua
função é transmitir uma considerável parcela do peso da estrutura para os blocos de ancoragem,
garantindo que o sistema permaneça em equilíbrio. A Ponte Assut de l’Or, apresentada na figura
2.4, é um exemplo de estrutura estaiada assimétrica, que possui estais de retaguarda para
auxiliar no equilíbrio longitudinal.

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Figura 2.4 – Ponte com estais de retaguarda: Assut de l’Or, Valência, Espanha

(fonte: WIKIPEDIA, 2020)

2.2.2 Tabuleiro

O tabuleiro, também conhecido como viga de rigidez, é um termo associado ao conjunto de


lajes e vigas de uma ponte. Em função das suas dimensões, são responsáveis por grande parcela
do peso próprio total da estrutura, sendo o elemento que está sujeito a maior parte das ações
externas (GIMSING; GEORGAKIS, 2012). A sua função é transmitir os esforços atuantes
sobre ele para o sistema de cabos, que funcionam como apoios intermediários; ou seja, a
presença de estais contribui significativamente para a redução dos momentos fletores no
tabuleiro quando a estrutura é comparada, por exemplo, com uma viga contínua (figura 2.5).

Figura 2.5 – Diagramas de momentos fletores


Viga Contínua Tabuleiro de Ponte Estaiada

(fonte: adaptada de GIMSING; GEORGAKIS, 2012)

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Além disso, como nas pontes estaiadas os cabos são dispostos de modo inclinado, o
tensionamento aplicado aos estais, resulta em esforços compressivos no tabuleiro, durante o
processo de construção e na estrutura finalizada. Os esforços de compressão no tabuleiro, em
geral aumentam conforme aproxima-se do pilone, sendo que a inclinação dos cabos exerce
influência direta sobre o acréscimo de tensões de compressão.

A seção transversal do tabuleiro de uma ponte estaiada pode ser somente em concreto armado,
somente em aço, ou possuir estrutura mista. A escolha do material leva em consideração o
sistema estrutural, o método construtivo e o custo total da obra. Neste item serão analisadas as
particularidades somente da alternativa em concreto armado, por ter sido a solução utilizada no
projeto analisado. Em relação ao tipo de seção transversal, duas soluções geométricas são mais
empregadas: a seção celular ou a seção com duas longarinas laterais, como mostra a figura 2.6.
Neste caso, a definição da seção transversal está ligada à disposição dos estais ao longo do
tabuleiro: para seções abertas, a rigidez à torção é conferida pela distribuição dos estais em dois
planos; já as seções fechadas possuem rigidez à torção elevada, podendo ser empregado um
plano único centrado de estais

Figura 2.6 – Diferentes seções de tabuleiro: (a) Ponte Napoleon Broward (1989),
Estados Unidos; (b) Ponte de Brotonne (1977), França

(a) (b)
(fonte: WIKIPEDIA, 2018)

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2.2.3 Torre

As torres, também chamadas de pilones ou mastros, têm por principal função transmitir às
fundações as cargas originadas pelo sistema de cabos. Segundo Svensson (2011), o fato das
torres estarem submetidas predominantemente à esforços de compressão, gerados pelo peso
próprio e pela componente vertical dos estais, podem conduzir a instabilidades causadas pelo
efeito de flambagem em seções de aço. Desta forma, é comum, nestes elementos, a utilização
de seções caixão em concreto armado, com elevadas espessuras das paredes.

O sistema de distribuição dos cabos ao longo da torre é outro fator determinante para a escolha
da concepção estrutural do pilone. O comportamento mecânico deste elemento torna-se mais
eficiente quando há o equilíbrio entre as componentes horizontais das forças nos estais dos vãos
principais e os cabos de retaguarda, pois deste modo minimiza-se o momento fletor longitudinal
atuante na base da torre (TORNERI, 2002). O fato da aparência estética das pontes estaiadas
dependerem em grande parte da geometria das torres tem levado muitos projetistas a buscar
novas formas arquitetônicas. Enquanto esses elementos podem ter formatos bastante originais,
eles, usualmente, resultam em um incremento significativo no custo total da obra. Como
exemplo dessa tendência, está a Ponte Alamillo, em Sevilla, que não tem nenhum estai lateral
e a estabilidade é parcialmente fornecida pelo contrapeso de concreto do pilone inclinado
(figura 2.7(a)). Já a Ponte Erasmus, em Rotterdam (figura 2.7(b)), apresenta apenas dois estais
laterais no topo de um pilone não retilíneo, que apresenta um formato muito singular.

Figura 2.7 – Exemplos de torres inclinadas: (a) Ponte Alamillo (1992), Espanha; (b)
Ponte Erasmus (1996), Holanda

(a) (b)
(fonte: WIKIPEDIA, 2018)

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2.3 MÉTODOS CONSTRUTIVOS

Conforme a metodologia de construção adotada, a concepção estrutural de uma ponte estaiada


pode ser alterada de forma significativa. Entre os principais sistemas construtivos utilizados,
destacam-se o processo de escoramento direto, recomendado quando a ponte está localizada
em região de baixo gabarito, com solo com boa capacidade resistente; a técnica de rotação em
planta do tabuleiro, que embora pouco utilizada, torna-se interessante no caso de viadutos
ortogonais a grandes autoestradas; o método dos lançamentos progressivos, o qual requer
tabuleiros muito rígidos ou elevado número de apoios provisórios para que o tabuleiro montado
nas margens da obra seja empurrado sobre os apoios até a posição final; e por fim, a
metodologia dos balanços sucessivos, que por ser a metodologia construtiva mais popular
aplicada em estruturas de pontes estaiadas modernas, será abordada com mais detalhes a seguir.

A principal, vantagem da utilização do sistema construtivo por balanços sucessivos, é a


ausência de escoramentos; o que possibilita transpor vales profundos e vias de tráfego intenso.
Segundo Ferraz (2001), nesta técnica, o tabuleiro das pontes estaiadas em concreto pode ser
executado a partir de segmentos pré-moldados ou moldados no local, denominados aduelas.
Estas aduelas vão sendo executadas sobre o obstáculo a ser vencido, através do uso de formas
deslizantes, as quais são escoradas nos trechos já construídos. No caso das aduelas concretadas
no local, o próximo trecho só é executado quando o concreto da aduela anterior apresentar a
resistência necessária para suportar o seu peso próprio e o da aduela seguinte. A figura 2.8
mostra dois exemplos de construção por balanços sucessivos, ambos no estado de São Paulo.

Figura 2.8 – Exemplos construção por balanços sucessivos: (a) Ponte Octávio Frias
de Oliveira; (b) Viaduto Linha 13-Jade

(a) (b)
(fonte: WIKIPEDIA, 2020)
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Como nas pontes estaiadas, a ancoragem dos cabos no tabuleiro garante apoios extras à
estrutura, a utilização do método dos balanços sucessivos durante as etapas construtivas permite
a redução dos custos e do tempo necessário para a conclusão da obra, sendo por este motivo o
método de montagem mais adequado (WANG et al., 2004). Por outro lado, é sabido que ao
longo das etapas intermediárias a estrutura apresenta-se menos estável quando comparada à
ponte finalizada, o que indica a importância de avaliação do seu comportamento durante o
período em que ainda está incompleta. Desta forma, a análise de cada fase de construção é
extremamente importante e deve ser realizada de forma criteriosa, uma vez que, dependendo
do método de construção utilizado, o sistema estrutural pode mudar significativamente,
chegando, às vezes, a resultar em esforços mais críticos do que na fase final da obra.

2.4 ASPECTOS DA ANÁLISE ESTRUTURAL DE PONTES ESTAIADAS

A análise preliminar de uma ponte estaiada, costuma representar a estrutura real, de forma
simplificada, assumindo-se inicialmente que as propriedades dos materiais não variam. Da
mesma forma, as equações de equilíbrio são formuladas para a geometria indeformada, isto é,
para a configuração de referência inicial da estrutura. Admite-se, também, que os
deslocamentos são tão pequenos, que seus efeitos sobre o equilíbrio são insignificantes.
Entretanto, quando esse processo é finalizado, devido ao fato dessas pontes serem muito
esbeltas, o resultado obtido é uma estrutura deformada, onde as equações de equilíbrio não estão
satisfeitas porque foram respeitadas apenas na posição indeformada. Sendo assim, quanto maior
a flexibilidade da estrutura, maior é o erro provocado por essa aproximação. A análise não
linear visa, então, melhorar a simulação numérica do comportamento destas estruturas. O
objetivo principal é aumentar a qualidade do modelo estrutural, proporcionando ao engenheiro
mais confiança na previsão do desempenho do sistema projetado. Nesta modelagem, cabe ao
profissional definir quais são as principais fontes de não linearidade do problema, e de que
forma elas devem ser consideradas e representadas. Nos itens seguintes, são abordados com
maiores detalhes alguns aspectos relevantes para a análise estrutural não linear de uma ponte
estaiada em concreto.

Outra questão a ser considerada é em relação à determinação das forças de protensão nos
estais, as quais são calculadas de modo que os momentos fletores atuantes na viga de rigidez e
no pilone sejam reduzidos. O objetivo é que o pilone e o tabuleiro trabalhem basicamente à

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compressão, e desta forma seja possível reduzir os efeitos de segunda ordem, como por exemplo
as deformações provocadas por flexão. Desta forma, o projetista estima as forças iniciais que
devem ser aplicadas aos cabos, sendo este dimensionamento realizado através de processos de
análise dos estágios construtivos e baseado nas premissas escolhidas em projeto. Os processos
para obtenção dos valores ideais de força de protensão nos estais serão apresentados a seguir.

Atualmente as análises das etapas construtivas podem ser realizadas de duas formas: uma
retroativa (desmontagem ou backward analysis), que segue o sentido inverso ao do processo
de execução, e outra progressiva (montagem ou forward analysis). O fluxograma da figura 2.9
apresenta de forma simplificada as etapas do projeto de uma ponte estaiada.

Figura 2.9 – Fluxograma simplificado das etapas de projeto de uma ponte estaiada

(fonte: adaptada de WALTHER et al., 1985)


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2.4.1 Características da análise não linear de pontes estaiadas

Quando uma estrutura é submetida a um determinado carregamento, a mesma sofre


deslocamentos em seus nós, e em decorrência disto, novos esforços podem surgir. Quando esse
deslocamento é pequeno, esses esforços adicionais são irrelevantes. No caso de estruturas
esbeltas, os deslocamentos decorrentes do carregamento são consideráveis, podendo gerar
esforços de segunda ordem nos elementos. Desta forma, torna-se importante a realização de
uma análise não linear, em que a matriz de rigidez geométrica de cada elemento deve ser
alterada de forma iterativa, sendo dependente do carregamento aplicado e da variação dos
deslocamentos dos nós da estrutura. No caso das pontes estaiadas, segundo Granata (2012),
entre as não linearidades presentes no problema é possível destacar:

a) efeito de catenária dos estais. Os estais apresentam um caso de não-linearidade


especial, o qual é abordado com detalhes no capítulo 5 deste trabalho;

b) comportamento viga-coluna do tabuleiro, que ocorre devido à adição de esforços


compressivos provenientes da protensão dos estais (efeito P-delta);

c) efeito de grandes deslocamentos nos elementos estruturais, pois os processos de


execução de pontes estaiadas produzem constantes alterações geométricas e
conduzem ao surgimento de esforços causados pelos efeitos de excentricidades
nos elementos sujeitos a solicitações de compressão. Este fato pode ser
observado especialmente nos pilones, cujos efeitos de segunda ordem podem ser
amplificados caso ocorra a redução de rigidez do elemento devido à fissuração;

d) efeito interativo entre o conjunto tabuleiro-estais-pilone, pois em função da


geometria e das conexões entre os membros estruturais que compõem as pontes
estaiadas, o comportamento estrutural local de cada membro afeta diretamente o
comportamento dos membros vizinhos. Ou seja, existe uma interdependência
dos esforços entre cada um destes elementos estruturais (KIM et al., 2017).

Além dos fatores destacados, as estruturas de concreto também apresentam deformações que se
desenvolvem ao longo do tempo. Essas deformações se devem aos efeitos provocados pela
fluência e retração presentes no concreto e, em menor intensidade, à relaxação do aço ativo. A
consideração desses efeitos na análise das etapas construtivas é importante para garantir que a
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geometria final da obra fique dentro do planejado e que a mesma não apresente deslocamentos
excessivos.

Em alguns programas, como no caso do SAP2000, a análise não linear geométrica é efetuada
de forma iterativa, através do processo P-delta. Em relação à análise não linear física, as normas
e códigos apresentam simplificações que podem ser aplicadas de acordo com alguns parâmetros
da estrutura. Essas simplificações consistem em reduzir a rigidez de determinados elementos
de forma a simular os efeitos da fissuração em estruturas de concreto. A NBR 6118 (ABNT,
2014) apresenta uma forma simplificada para a consideração destes efeitos, e define que a
rigidez das lajes, das vigas e dos pilares pode ser reduzida, respectivamente, até 30%, 40% e
80% da rigidez da seção bruta de concreto.

O programa ANSYS, por exemplo, considera os efeitos de grandes deformações em estruturas


através da opção Large Deflection do comando NLGEOM. Para a modelagem da ponte estaiada
deste trabalho, este comando foi utilizado em conjunto com os elementos de ativação e
desativação do ANSYS, sendo a solução do sistema de equações não lineares realizada através
do método de Newton-Raphson. Em relação à consideração da não linearidade física e dos
efeitos reológicos do concreto, o software ANSYS permite que os modelos constitutivos para
os materiais sejam implementados pelo usuário a partir da sua ferramenta de customização UPF.
A formulação utilizada no ANSYS está apresentada nos capítulos 4 e 5 deste estudo.

2.4.2 Determinação das forças de serviço ideais nos estais

Segundo Almeida (2017), a determinação das forças de serviço nos estais é um dos pontos
principais no projeto de pontes estaiadas, pois uma escolha adequada destas forças conduz a
melhores distribuições de esforços nos elementos estruturais, o que implica na economia de
materiais. Nos itens a seguir são apresentados os principais métodos utilizados em projeto.

2.4.2.1 Método da viga contínua

Esse é o método mais simplificado, utilizado apenas para o pré-dimensionamento dos estais.
Num primeiro momento deve ser feita uma estimativa do número de cabos e da configuração
geométrica dos mesmos. De posse disto, segundo Walther et al. (1999), pode-se desenvolver
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um modelo estrutural tornando os nós indeslocáveis nos pontos de ancoragem dos estais. Desta
forma, obtém-se um modelo de viga contínua sobre suportes rígidos (figura 2.10).

Figura 2.10 – Esquema do método da viga contínua para pré-dimensionamento dos


estais de uma ponte estaiada

(fonte: adaptada de WALTHER et al., 1999)

Uma análise estática linear é então realizada, considerando as cargas permanentes para
obtenção das reações de apoio. Essas reações são decompostas na direção do estai, sendo as
suas componentes axiais utilizadas para o cálculo da seção transversal de cada estai. O cálculo
da área da seção transversal do cabo (Ai) é feito de acordo com a equação 2.1.

𝑅 (equação 2.1)
𝐴 =
𝑠𝑒𝑛(𝛼 ). 𝜎
Onde:

Ri: reação no apoio da viga contínua [kN];


αi: ângulo do estai com a viga de rigidez [°];
σ: tensão máxima admissível de projeto no estai [kN/cm²].

No caso dos estais de retaguarda, a força de protensão é calculada de forma a anular o


deslocamento no topo do pilone ou para minimizar os momentos fletores e esforços cortantes
em sua base. No entanto, este procedimento de cálculo não conduz a uma boa distribuição de
esforços nos elementos (estais, tabuleiro e pilone), pois não leva em consideração os
deslocamentos que ocorrem durante a sequência de montagem da estrutura.

2.4.2.2 Método do equilíbrio das forças (Chen et al., 2000)

Neste método, apresentado por Chen et al. (2000), busca-se determinar as forças nos estais que
produzam uma distribuição de momentos fletores no tabuleiro próxima à distribuição de uma
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viga contínua com apoios rígidos na posição das ancoragens dos cabos. Sendo assim, na
primeira fase, os estais são considerados como forças externas aplicadas nos pontos de
ancoragem do tabuleiro. O modelo desenvolvido inicialmente (etapa 1) é composto por
elementos de barras, com as características geométricas do tabuleiro e apoios rígidos nos pontos
de ancoragem dos cabos. São selecionadas determinadas seções no tabuleiro para servirem de
controle no ajuste dos momentos fletores. O peso próprio e a protensão de etapas construtivas
são aplicados. Os momentos fletores nas seções de controle obtidos nessa análise são tomados
como momentos fletores alvo e armazenados em um vetor {𝑀0}.

Em seguida, é desenvolvido um segundo modelo geométrico para a estrutura (etapa 2), em que
é feita a retirada dos apoios rígidos e adicionados os estais e o pilone. O objetivo dessa etapa é
determinar os momentos fletores nas seções de controle causados por uma força unitária em um
determinado cabo, os quais são designados coeficientes de influência. Desta forma, esses
coeficientes de influência são armazenados em uma matriz [𝑚] e, considerando que o modelo
esteja em equilíbrio, é possível aplicar a equação 2.2.

{𝑀 } = [𝑚]{𝑇} + {𝑀 } (equação 2.2)


Onde:

{𝑀 }: vetor momentos fletores alvo;


[𝑚]: matriz de influência;
{𝑇}: vetor de forças nos estais;
{𝑀 }: vetor dos esforços de peso próprio no modelo da etapa 2.

Com a determinação do vetor de forças nos estais {𝑇} passa-se para a etapa seguinte (etapa 3),
em que o mesmo modelo é carregado com as forças da etapa anterior, somadas com as cargas
permanentes. Como os momentos fletores obtidos na análise desse terceiro modelo não são
iguais aos momentos fletores alvo, uma série de ajustes nas forças dos cabos são feitas por meio
de um processo iterativo, até que se atinja a convergência.

A vantagem desse método é que ele permite uma expansão para contemplar a análise das fases
construtivas, sendo que os efeitos não lineares também podem ser levados em consideração.
Nesse caso, os resultados da análise dos diversos casos de carregamento, tanto de peso próprio
quanto unitários, em todos os modelos parciais referentes a cada etapa, devem ser acumulados
adequadamente para cada ponto de discretização.
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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2.4.2.3 Método da anulação dos deslocamentos (Shape finding procedure)

Neste método, apresentado em Wang et al. (1993), as forças nos estais são determinadas de
modo a anular os deslocamentos no tabuleiro gerados pelo peso próprio e sobrecarga
permanente. Desta forma, quando a estrutura é finalizada, a mesma se encontra exatamente na
posição definida pelo projeto geométrico. O procedimento de cálculo consiste em realizar uma
análise da estrutura, considerando o carregamento de peso próprio do tabuleiro, inicialmente
sem incluir os esforços de pré-alongamento dos cabos. Uma vez realizada essa primeira análise,
os esforços obtidos nos estais são armazenados para serem posteriormente aplicados em uma
nova análise da estrutura. Sendo assim, são realizadas sucessivas iterações até que os
deslocamentos nos pontos de controle do tabuleiro se aproximem de zero.

2.4.2.4 Método da otimização

O método da otimização é caracterizado por buscar dimensões e forças nos estais que
minimizem a quantidade de material a ser utilizado na construção da estrutura. Para isto, está
baseado na ideia de distribuir os esforços ao longo da estrutura da maneira mais equitativa
possível, a fim de minimizar a energia elástica sob cargas permanentes. Segundo Han e Yan
(2000), em uma ponte estaiada, omitindo-se as deformações por cortante, a energia de
deformação elástica pode ser representada pela equação 2.3.

1 𝑀 1 𝑁
𝑈= . 𝑑𝑥 + . 𝑑𝑥 (equação 2.3)
2 𝐸𝐼 2 𝐸𝐴
Onde:

U: energia de deformação elástica total ao longo de toda a estrutura;


𝐿: comprimento da estrutura;
𝐸𝐼: rigidez à flexão das vigas e pilares;
𝐸𝐴: rigidez axial das vigas e pilares.

As expressões que relacionam os esforços e os deslocamentos na estrutura com as forças nos


cabos estão apresentadas nas equações 2.4 e 2.5.

{𝑀} = {𝑀 } + {𝑀 } = {𝑀 } + [𝑆 ]{𝑃 } (equação 2.4)

{𝑁} = {𝑁 } + {𝑁 } = {𝑁 } + [𝑆 ]{𝑃 } (equação 2.5)


Onde:

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{𝑀 }, {𝑁 }: vetor momentos fletores e esforços normais devidos à carga permanente;


{𝑀 }, {𝑁 }: vetor momentos fletores e esforços normais devidos à força nos estais;
[𝑆 ], [𝑆 ]: matriz de influência de momentos fletores e esforços normais;
{𝑃 }: vetor de forças nos estais.

A equação 2.3 pode ser representada por uma formulação discreta e, para minimizar a energia
elástica pode-se derivar a função energia pelas forças nos estais e igualar a zero (expressão 2.6).

𝜕𝑈
=0 (equação 2.6)
𝜕𝑃

A solução dessa equação deve atender algumas condições, como as tensões e deslocamentos
limites nos elementos e as forças de trabalho dos estais. Embora o método da otimização
apresente maior rigor matemático, sua implementação é complexa, não apresentando diferenças
significativas em relação aos outros métodos (HAN; YAN, 2000).

2.4.3 Modelagem em elementos finitos

Atualmente, o método mais utilizado para a análise de pontes estaiadas é o método dos
elementos finitos, o qual fornece uma idealização conveniente da estrutura e é particularmente
eficaz quando utilizado em análises computacionais. Entre as vantagens da utilização deste
método estão a capacidade de representação de estruturas com geometrias complexas, a
possibilidade de consideração de todos os aspectos não lineares inerentes a esta tipologia de
obra de arte especial, incluindo a consideração dos diferentes modelos constitutivos para os
materiais e a possibilidade de realização de uma análise dinâmica em profundidade.

Na etapa de projeto, a análise estática e dinâmica de pontes estaiadas pode ser realizada ao
longo das suas fases construtivas com o uso de modelos parciais em elementos finitos. Neste
contexto, dois métodos de análise computacional podem ser utilizados: os processos de
montagem (forward analysis) e desmontagem (backward analysis) (WANG et al, 2004). O
objetivo desta análise parcial da estrutura é reduzir o número de correções nas tensões dos
estais, e consequentemente, minimizar os custos atrelados ao processo executivo destas obras.

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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2.4.3.1 Processo de desmontagem (backward analysis)

Segundo Almeida (2017), a análise de pontes estaiadas geralmente é iniciada pelo processo de
desmontagem (backward analysis). Nesta metodologia, proposta inicialmente por Behin (1990)
e Behin e Murray (1992), a estrutura é modelada em sua forma completa. Com os
deslocamentos obtidos no tabuleiro e no pilone, são definidas as forças de protensão em todos
os estais, para que os deslocamentos nos elementos da estrutura finalizada sejam minimizados.

Com os resultados do modelo completo obtidos, realiza-se uma análise reversa da estrutura, no
sentido contrário ao processo de execução da ponte. Sendo assim, pode ser desenvolvida uma
análise de cada etapa construtiva, simuladas considerando a introdução destas cargas no sentido
oposto ao sentido real. Cada etapa construtiva da ponte é então considerada como uma nova
estrutura, sendo aplicados ou retirados os carregamentos referentes à movimentação dos
equipamentos utilizados durante a construção, ao peso próprio dos elementos estruturais, e às
tensões determinadas para cada estai a partir do modelo da estrutura completa. À medida que
ocorre a desmontagem da estrutura, é possível verificar se a geometria da estrutura em cada
fase está sendo atendida, bem como determinar as forças iniciais a serem aplicadas nos estais.

Este procedimento de análise é suficiente para a determinação do plano de estaiamento no caso


de estruturas com comportamento linear. Porém, em estruturas que apresentam grandes
deslocamentos e efeitos de segunda ordem consideráveis, os modelos criados em sequência
devem levar em consideração os deslocamentos nodais da etapa anterior para que os efeitos de
segunda ordem de todos os carregamentos sejam atualizados. Além disso, os efeitos
dependentes do tempo, como a fluência e a retração do concreto, bem como qualquer
inconformidade apresentada durante a obra, tais como erros de locação e variações no módulo
de elasticidade do concreto, não podem ser incluídas na análise e nem corrigidas pontualmente
para adequação com os dados de campo (WANG et al, 2004; GRANATA et al, 2012).

2.4.3.2 Processo de montagem (forward analysis)

No processo de montagem (forward analysis), a análise das estruturas parciais é realizada


conforme a sequência real de construção da ponte, sendo os carregamentos aplicados no sentido
correto. Ao longo das simulações numéricas, é possível armazenar os resultados de tensões,
deformações e as configurações deformadas correspondentes às análises anteriores, as quais
são atualizadas com a adição de cada trecho subsequente. Desta forma, pode-se prever a
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evolução das tensões e deformações nos estais, pilone e tabuleiro; e os deslocamentos previstos
ao longo da construção da estrutura (KIM et al., 2017).

A dificuldade encontrada no processo de montagem é em relação à determinação das forças


iniciais nos estais, as quais podem ser obtidas, por exemplo, a partir do processo de
desmontagem realizado previamente. Outra alternativa seria determinar quais são as tensões
necessárias nos estais para que o tabuleiro seja mantido na posição de projeto para cada fase
construtiva, uma vez que, durante toda a montagem da ponte, as configurações geométricas e
as solicitações internas dos seus elementos estruturais são atualizadas. O método de análise dos
avanços sucessivos possui como vantagens a possibilidade de simular os efeitos reológicos nos
materiais, já que as simulações computacionais obedecem ao procedimento real de execução
da ponte. Entretanto, como a determinação dos esforços necessários em cada estai é realizada
durante cada etapa das análises parciais, esta metodologia torna-se mais lenta, quando
comparada ao processo de desmontagem (GRANATA et al., 2012).

2.4.4 Recomendações normativas para o projeto de pontes estaiadas

Durante as fases de projeto e análises das etapas construtivas de pontes estaiadas os seguintes
critérios normativos são considerados:

a) Segundo o EUROCODE 2 (2004), as tensões de compressão nos elementos de concreto


em estado de serviço não devem exceder 45% da tensão característica à compressão do
concreto no tempo t, para que seja mantido o comportamento linear de fluência. De
forma análoga, o Código Modelo CEB-FIP 1990 estabelece que a formulação
apresentada para a previsão das deformações por fluência é válida se o estado
tridimensional de tensões de compressão no concreto não exceder 40% da resistência
característica média do concreto à compressão;

b) Segundo a NBR 7187 (ABNT, 2019), as tensões de projeto nos estais são limitadas a
45% da tensão de tração característica das cordoalhas que compõem o estai. Este critério
é estabelecido pois, conforme Gimsing e Georgakis (2012), a relaxação nos estais
aceleram significativamente quando as tensões permanentes nos cabos excedem 50%
da tensão de tração.
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
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3 VIBRAÇÕES EM PONTES SOB AÇÃO DINÂMICA DO VENTO

Estruturas flexíveis e pouco amortecidas, como é o caso das pontes estaiadas e suspensas,
geralmente são mais suscetíveis aos efeitos dinâmicos causados pela turbulência do vento,
especialmente ao longo do tabuleiro. Dependendo das características da ação do vento, esses
efeitos podem gerar respostas significativamente maiores do que as originadas por uma análise
estática. Embora a amplitude das vibrações devido à turbulência do vento não costume levar a
ponte a um estado crítico de estabilidade, as mesmas podem ocasionar sérios danos à estrutura,
desconforto humano e fadiga precoce dos elementos.

O projeto de estruturas correntes, costuma ser baseado nos critérios normativos de


dimensionamento, os quais quase sempre se concentram na ação de cargas estáticas, para a
verificação da resistência dos elementos estruturais em ELU; ou para verificação de
deslocamentos em ELS. Ainda que a análise estática seja suficiente para um grande número de
tipologias estruturais, qualquer estrutura é caracterizada por um sistema físico dinâmico, com
frequências e modos naturais de vibração próprios. Cabe ao projetista julgar a necessidade de
uma análise dinâmica ser efetuada em função das características estruturais, e da existência de
uma variação do carregamento externo em relação ao tempo.

A fim de avaliar a possibilidade de ocorrência de uma condição desfavorável de ressonância,


em algumas estruturas buscam-se apenas as características dinâmicas básicas. Nestes casos, é
necessário o conhecimento das frequências dominantes de excitação do carregamento externo
para que seja possível realizar uma comparação com as frequências naturais da estrutura a ser
analisada. Diante disto, este capítulo é dedicado ao estudo das vibrações induzidas pela
turbulência do vento em pontes, caracterizadas principalmente por oscilações no modo de
vibração vertical e lateral do tabuleiro. Tendo como objetivo a análise dinâmica de uma
estrutura existente, o capítulo também apresenta a formulação das forças de vento turbulento.

3.1 AÇÃO DO VENTO EM ESTRUTURAS

O vento constitui uma ação dinâmica importante que age sobre as estruturas. É caracterizado
por apresentar flutuações de velocidade ao longo do tempo, sendo que as maiores amplitudes
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estão associadas a baixas frequências. Conforme o texto da NBR 6123 (ABNT, 1988), em
edificações com período fundamental igual ou inferior a 1 segundo, a influência da resposta
flutuante do vento é pequena, ou seja, depende apenas dos valores instantâneos da ação.
Entretanto, em edificações com período fundamental superior a 1 segundo, a resposta flutuante
na direção do vento médio pode ser importante e, consequentemente, provocar ressonância.

A figura 3.1(a) apresenta um registro de vento turbulento. Observa-se que a resposta da


estrutura tipo (b) é quase estática, enquanto que a resposta da estrutura tipo (c) apresenta a
parcela ressonante e sub-ressonante. Em geral, considera-se que as estruturas que apresentem
frequências fundamentais acima de 1 Hz não ficam sujeitas à ação dinâmica do vento. Contudo,
isto também depende das taxas de amortecimento estrutural, originadas dos materiais
constituintes da estrutura e do atrito nas ligações; e do amortecimento aerodinâmico, associado
a alterações na velocidade relativa do ar em relação às oscilações da estrutura em torno da
posição deformada média. Neste trabalho o amortecimento aerodinâmico foi desprezado.

Figura 3.1 – (a) Ação de vento turbulento; (b) Resposta estrutural quase estática; (c)
Resposta estrutural dinâmica

(fonte: adaptada de CARDOSO JUNIOR, 2011)


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Segundo Blessmann (2005), a ação do vento é composta por uma parcela constante,
caracterizada pela velocidade média, e por uma parcela flutuante (rajadas), cuja velocidade
varia em torno da velocidade média. Admite-se que a velocidade média se mantém constante
durante um intervalo de tempo de 10 min ou mais, produzindo nas edificações efeitos estáticos.
Por sua vez, as flutuações da velocidade ocorrem numa sequência aleatória de frequências e
intensidades e podem induzir em estruturas muito flexíveis, oscilações importantes na direção
da velocidade média. A resposta dinâmica total de uma estrutura submetida às cargas de vento,
é igual à superposição das respostas média e flutuante.

Um registro típico de velocidade de vento turbulento, medido por um anemômetro, pode ser
observado na figura 3.2(a). Este sinal pode ser interpretado em duas componentes
independentes: uma parcela de velocidade média (3.2 (b)) e outra de velocidade flutuante (3.2
(c)). A interação do vento com a superfície rugosa da Terra origina as flutuações da velocidade
ao longo do tempo. O atrito com o terreno dá origem aos turbilhões, com dimensões da ordem
de milímetros a centenas de metros, sendo que a superposição destes turbilhões, em um
intervalo de tempo suficientemente longo (de 10 min, por exemplo), origina o sinal da
componente flutuante registrado pelo anemômetro.

Figura 3.2 – (a) Sinal registrado de velocidade de vento turbulento; (b) Parcela de
velocidade média; (c) Parcela de velocidade flutuante

(fonte: adaptada de DYRBYE; HANSEN, 1997)


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3.2 AÇÃO DE VENTO SOBRE TABULEIRO DE PONTE

O projeto de novas pontes estaiadas, suspensas ou pontes de grandes vãos é realizado tendo-se
presente que a ação dinâmica do vento provoca efeitos importantes na estrutura, e, portanto, os
mesmos não devem ser negligenciados. Entretanto, estes efeitos foram por muito tempo
desconhecidos para a engenharia estrutural, causando problemas e colapsos em várias estruturas
na Europa e nos Estados Unidos. Em 1940, o acidente da ponte de Tacoma Narrows (figura
3.3), que numa rara oportunidade foi registrado em filme, atraiu a atenção dos pesquisadores
da época, e definiu um marco para o estudo do comportamento dinâmico de pontes. Desde a
sua abertura, que ocorreu meses antes do seu colapso, a superestrutura já apresentava oscilações
verticais significativas e, por isso, estava em constante monitoramento pela Universidade de
Washington. Na figura 3.3, à esquerda, é possível observar a grande amplitude de
deslocamentos, num modo de torção.

Figura 3.3 – Oscilações (esquerda) e colapso (direita) da ponte de Tacoma Narrows


(Estados Unidos, 1940)

(fonte: WIKIPEDIA, 2018)

Os inúmeros estudos realizados por comissões científicas após este acontecimento, concluíram
que a seção transversal do tabuleiro utilizado na Ponte de Tacoma Narrows era bastante
desfavorável do ponto de vista aerodinâmico, o que fazia com que o fenômeno de instabilidade
denominado flutter fosse facilmente ativado. Desta forma, a oscilação do modo vertical ocorria
simultaneamente ao modo de torção, gerando um mecanismo de auto-excitação na estrutura.
Em função deste acidente, a consideração das ações dinâmicas passou a ser uma etapa
indispensável no projeto de pontes. Os objetivos dessa análise se resumem em garantir um
maior grau de segurança contra o colapso, e prevenir quaisquer amplitudes de oscilações que
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possam ocasionar desconforto humano e problemas para utilização continuada da ponte, além
de evitar a fadiga precoce de elementos estruturais, das ligações e das ancoragens dos cabos.
Nos projetos atuais, verifica-se a tendência de se construírem pontes mais leves e de maiores
vãos, o que impulsiona a pesquisa no desenvolvimento de métodos de análise cada vez mais
refinados para que, ainda na fase de projeto, os possíveis problemas aerodinâmicos possam ser
afastados.

Hoje em dia diversos tipos de problemas devidos à ação de vento em tabuleiros de pontes de
grandes vãos são conhecidos. Estes efeitos ocorrem nos estágios de operação e principalmente
durante as etapas construtivas das pontes, devido à maior flexibilidade da estrutura, nesta fase
ainda incompleta. Os problemas mais frequentemente encontrados em tabuleiros, conforme
ASCE (1987), estão citados e descritos a seguir.

a) Divergência torsional: acréscimo quase-estático da rotação de torção do


tabuleiro com ocorrência de instabilidade para uma determinada velocidade
crítica do vento;
b) Vibração induzida por vorticidade: ocorrência de vibração devido à ressonância
com o desprendimento de vórtices alternados na esteira do fluxo;
c) Flutter ou Drapejamento: oscilação com amplitudes crescentes devido às forças
de vento dependentes do próprio movimento do tabuleiro, para uma velocidade
crítica.
d) Buffeting ou Martelamento: vibração causada pela turbulência natural do vento.

Os quatro problemas citados referem-se à aerodinâmica de perfis não aerodinâmicos, ou seja,


perfis em que ocorre separação do fluxo de sua superfície, e para os quais não há descrição
matemática do fluxo à sua volta. Desta forma, para a definição, quantificação e solução dos
problemas indicados, é necessário fazer uma combinação entre os métodos teóricos e os
métodos experimentais. No presente trabalho serão abordadas as vibrações induzidas pela
turbulência, caracterizadas pela amplificação dinâmica dos deslocamentos da estrutura sob
excitação das forças de vento. A representação física deste fenômeno se baseia em métodos
teóricos, para quantificação das ações, e utiliza dados experimentais disponíveis na literatura.

Além do tabuleiro, outros elementos estruturais de uma ponte, tais como torres, pilares e cabos,
estão sujeitos à ação do vento. Entretanto, os efeitos dinâmicos causados pela ação de vento
sobre cada um desses elementos, não serão considerados aqui.

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Segundo Pfeil (1993), a análise de problemas que envolvam o comportamento dinâmico das
pontes é tradicionalmente realizada através de modelos matemáticos simplificados, ou através
da utilização do método dos elementos finitos. De toda forma, qualquer análise depende de
dados obtidos experimentalmente através de ensaios de modelos reduzidos em túneis de vento,
uma vez que as seções transversais dos tabuleiros de pontes possuem cantos vivos. Isto ocorre,
pois ao contrário da aerodinâmica de perfis como o da asa de avião, no qual não há
descolamento de fluxo, não é ainda possível se descrever, teoricamente, as forças devidas a um
fluxo de vento em torno de um perfil não aerodinâmico. Desta maneira, os ensaios de modelos
reduzidos em túnel de vento são indispensáveis a qualquer análise de ação de vento em pontes.

Em um ensaio no túnel de vento, para melhor observar a interação fluido-estrutura, pode-se


construir um modelo reduzido tridimensional completo, incluindo a modelagem do tabuleiro,
cabos e torre, em que todas as grandezas geométricas e físicas (massa, rigidez e amortecimento)
envolvidas no problema devem respeitar a Teoria de Semelhança. Desta forma, nos ensaios
com vento turbulento, em que a topografia também é modelada, é possível estudar o
comportamento dinâmico da ponte, obtendo-se dados como a média quadrática e o desvio
padrão das respostas em termos de deslocamentos e acelerações, assim como seus valores
máximos. Entretanto, modelos secionais costumam ser preferíveis em função do alto custo e
largo prazo de tempo para fabricação e ensaio de um modelo completo.

O modelo seccional, por sua vez, tem por finalidade simular uma faixa do tabuleiro em escala
geométrica, sendo construído um módulo rígido apoiado em molas nas extremidades. Neste
modelo, a rigidez e a massa não são necessariamente representadas, mas as frequências
fundamentais sim. Desta forma as dificuldades na modelagem discutidas para o modelo
completo ficam eliminadas. Entre os dados a serem obtidos de um ensaio seccional estão os
coeficientes aerodinâmicos, dos coeficientes aeroelásticos, e do número de Strouhal.

A figura 3.4 apresenta um exemplo de modelo reduzido aeroelástico da ponte estaiada Octávio
Frias de Oliveira, localizada em São Paulo. A figura 3.5 mostra dois exemplos de modelo
seccional das pontes estaiadas sobre o Rio Guamá, localizada em Belém; e sobre o Rio Negro,
localizada em Manaus. Todos estes exemplos foram ensaiados no Laboratório de Aerodinâmica
das Construções da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (LAC-UFRGS), que é
referência nacional e internacional nesta área.

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Figura 3.4 – Modelo reduzido tridimensional da Ponte Octávio Frias de Oliveira

(fonte: TÉCHNE, 2010)

Figura 3.5 – Modelo secional das pontes estaiadas sobre o Rio Guamá (esquerda) e
sobre o Rio Negro (direita)

(fonte: LAC, 2018)

A partir dos coeficientes aerodinâmicos e aeroelásticos, o estudo da estabilidade e do


comportamento dinâmico de uma ponte sob ação de vento pode ser desenvolvido teoricamente.
Os próximos itens tratam da descrição matemática das forças aerodinâmicas associadas ao
fenômeno de vibração induzida por turbulência do vento em tabuleiros de pontes.

3.3 SIMULAÇÃO DO CARREGAMENTO DEVIDO AO VENTO

Conforme comentado anteriormente, as diferenças de temperatura produzidas pela radiação de


calor, gerada pelo aquecimento da superfície da terra de forma não uniforme, induzem a
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formação de gradientes de pressão. Como o ar tende a se deslocar das áreas de alta pressão para
áreas de baixa pressão, esta diferença de pressão origina o fenômeno denominado vento. Como
o comportamento deste fenômeno é instável, o vento varia de forma aleatória, sendo possível
descrevê-lo somente em termos estatísticos. Neste sentido, a partir de técnicas computacionais
é possível gerar históricos e dados completos de vento com características estatísticas bastante
semelhantes às do vento real. Para este trabalho, a geração do histórico de carregamento foi
realizada a partir de um processo do vento sintético proposto por Franco (1993). Este método
consiste na elaboração de séries de carregamento compostas pela superposição de componentes
harmônicos de fases aleatoriamente escolhidos. Nos itens a seguir serão abordados aspectos
estatísticos importantes para esta consideração, e também uma descrição detalhada do método.

3.3.1 O fluxo de vento como um processo aleatório

Como comentado, os efeitos do vento em estruturas podem ser considerados a partir da


velocidade média e de flutuações em torno desta média. A velocidade média é determinada para
intervalos de tempo entre 10 min e 1 h e as flutuações são obtidas como médias para pequenos
intervalos de tempo, sendo denominadas rajadas. As rajadas de vento atingem as estruturas em
uma sequência aleatória de frequências e de intensidades. Turbilhões pequenos, de ação local e
desordenada, dão origem às rajadas mais violentas. Neste caso, forças de alta frequência e baixa
intensidade são geradas, apresentando pequena influência no comportamento global da
estrutura. Por outro lado, turbilhões de dimensões que envolvam toda a estrutura geram forças
de baixa frequência, que podem estar em fase ao longo de toda a estrutura.

Esta característica aleatória da formação de turbilhões impede o tratamento determinístico das


velocidades do vento, ou seja, não é possível definir relações matemáticas explícitas para
representar este fenômeno físico. Desta forma, não é possível prever um valor exato em certo
instante de tempo a partir de medições meteorológicas, devendo ser utilizada a teoria da
probabilidade e de médias estatísticas.

A figura 3.6 apresenta uma certa variável aleatória x(t), para a qual serão definidos parâmetros
estatísticos simples. A função de densidade de probabilidade de primeira ordem (p(x)) (equação
3.1) é definida como a fração total de tempo em que o valor da função x(t) está dentro do
intervalo x ≤ x(t) ≤ x +dx.
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Figura 3.6 – Histórico de um processo aleatório

(fonte: LAZANHA, 2003)

(𝑑𝑡 + 𝑑𝑡 + 𝑑𝑡 + 𝑑𝑡 ) ∑ 𝑑𝑡 (equação 3.1)


𝑝(𝑥) = =
𝑇 𝑇

O valor médio de x(t), em um intervalo de tempo T (E [x]), pode ser relacionado com a altura
de um retângulo de base T. Esta altura é obtida a partir da área do retângulo, contida sob a curva
de x(t), conforme apresenta a equação 3.2.

(equação 3.2)
𝐸[𝑥]𝑇 = 𝑥(𝑡)𝑑𝑡

Através da introdução da função de densidade de probabilidade (p(x)), pode-se obter a definição


fundamental do valor médio (E [x]), através da equação 3.3.


(equação 3.3)
𝐸[𝑥] = 𝑥. 𝑝(𝑥)𝑑𝑥 = 𝑚
−∞

O valor quadrado médio de x (E[x²]), é definido pela equação 3.4 e o valor RMS vale a raiz
quadrada do valor quadrado médio ( 𝐸[𝑥²]).

𝑑𝑡 (equação 3.4)
𝐸[𝑥 ] = 𝑥 (𝑡)
𝑇

Finalmente, o desvio padrão de x, usualmente representado por σ, e a variância σ², podem ser
definidos pela equação 3.5.

𝜎 (x) = 𝐸[𝑥 ] − (𝐸[𝑥]) (equação 3.5)

Segundo Newland (1993), um aspecto interessante de se observar é que vários casos de


vibrações aleatórias, que ocorrem naturalmente, possuem uma distribuição de probabilidades
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similar ao formato de um sino, conforme apresenta a figura 3.7. O formato desta função é dado
pela equação 3.6, a qual define uma distribuição normal ou de Gauss.

Figura 3.7 – Densidade de probabilidade para uma distribuição normal

(fonte: NEWLAND, 1993)

1 ( [ ])
𝑝(x) = 𝑒 . (equação 3.6)
√2. 𝜋. 𝜎

Após resumidas as medidas estatísticas usuais, é possível compreender as hipóteses básicas


assumidas para a parcela flutuante do vento. Pode-se dizer que um processo aleatório é
constituído por infinitos históricos temporais, sendo que cada histórico pode ser considerado
como uma amostra. Como na prática não se dispõe de infinitas séries de análises, assume-se
que o número de históricos disponível representa o fenômeno em questão. As propriedades
estatísticas para um conjunto de históricos podem ser obtidas examinando-se várias séries
temporais, como por exemplo x1(t), x2(t), x3(t), x4(t) e x5(t), apresentadas na figura 3.8.

Figura 3.8 – Exemplo de séries temporais diversas

(fonte: adaptado de BLESSMANN, 2005)


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Elementos Finitos
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Assim, a partir da determinação dos valores de um certo número de funções para o instante t1,
a função de densidade de probabilidade para x em t1 pode ser obtida. Um processo similar pode
ser adotado para o instante t2. Sendo assim, em um processo Gaussiano aleatório, todas as
funções de probabilidade, obtidas em todos os instantes, são representadas por distribuições
normais segundo a equação 3.6.

Segundo Blessmann (2005), um processo aleatório é estacionário se as distribuições de


probabilidade, obtidas ao longo dos históricos, não dependem do tempo absoluto considerado.
Este processo é observado quando os parâmetros estatísticos (média, variância, auto-
correlação), determinados sobre a totalidade dos registros possíveis, não variam para qualquer
deslocamento da origem dos tempos. Pode-se dizer ainda que um processo aleatório
estacionário é chamado de ergódico se as propriedades estatísticas adotadas para uma única
série temporal são iguais às obtidas ao longo de todos os históricos disponíveis. Ou seja, basta
uma única amostra (série temporal) para descrever o fenômeno, pois os parâmetros estatísticos
se repetem (BLESSMANN, 2005). Sendo assim, uma hipótese simplificativa é a de que as
flutuações em torno do fluxo médio do vento constituem um processo aleatório ergódico. Esta
hipótese é admitida nos casos da prática nos quais é analisado um registro no tempo do
fenômeno em estudo, considerando-o como representativo de todos os registros possíveis.

3.3.2 O espectro de potência do vento

Uma metodologia interessante para o estudo probabilístico da turbulência do vento é analisar o


fluxo de vento através de espectros de potência. Um espectro de potência relaciona a
distribuição de energia em função da frequência considerada, e para a sua definição matemática,
é necessário conhecer os conceitos da função de auto-correlação e de transformadas de Fourier.

3.3.2.1 Função de auto-correlação

Para um processo aleatório x(t) a função de auto-correlação (Rx(τ)) é definida como o valor
médio do produto entre dois valores da série histórica, distantes de um intervalo de tempo (τ),
como pode ser observado na figura 3.8. Esta função pode ser expressa pela equação 3.7.

𝑅 (𝜏) = 𝐸[𝑥(𝑡). 𝑥(𝑡 + 𝜏)] (equação 3.7)

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Caso o processo seja ergódico, e, consequentemente, estacionário, o valor de Rx(τ) pode ser
obtido por meio de uma única série temporal. Neste caso Rx(τ) varia apenas em função do
intervalo de tempo τ, e não depende do tempo absoluto t. Quando se examina a função de auto-
correlação, podem ser observadas algumas propriedades importantes para a compreensão do
processo. Todas as propriedades que serão apresentadas a seguir podem ser observadas em um
gráfico típico de uma função de auto-correlação, conforme indica a figura 3.9.

Figura 3.9 – Curva típica da função auto-correlação para um processo estacionário

(fonte: LAZANHA, 2003)

Por exemplo, observando-se a figura 3.9 e operando-se a equação 3.7 é possível demonstrar
que, para um processo estacionário, os valores assumidos pela função de auto-correlação estão
restritos a um intervalo bem definido, conforme mostra a equação 3.8.

−𝜎 + 𝑚² ≤ 𝑅 (𝜏) ≤ 𝜎 + 𝑚² (equação 3.8)

Considerando agora um intervalo de tempo igual a zero (τ = 0), o valor da função de auto-
correlação iguala-se ao valor quadrado médio de x, definido pela equação 3.9.

𝑅 (𝜏 = 0) = 𝐸[𝑥 ] (equação 3.9)

Já para intervalos de tempo muito grandes (τ → ∞), não existe uma relação coerente entre os
dois valores x(t) e x(t+τ) e o processo é denominado não correlacionado. Nesse caso, é possível
demonstrar que:

𝑅 (𝜏 → ∞) = 𝑚 (equação 3.10)

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Por fim, como em um processo estacionário, Rx(τ) depende apenas do intervalo de tempo τ,
tem-se a equação 3.11, podendo-se afirmar que Rx(τ) é uma função par.

𝑅 (𝜏) = 𝐸[𝑥(𝑡). 𝑥(𝑡 + 𝜏)] = 𝐸[𝑥(𝑡). 𝑥(𝑡 − 𝜏)] = 𝑅 (−𝜏) (equação 3.11)

3.3.2.2 Análise de Fourier

A fim de apresentar a definição do processo do vento sintético, inicialmente é necessário


compreender os conceitos envolvidos na análise de Fourier. Este conceito será apresentado a
partir de uma função periódica qualquer, como mostra a figura 3.10.

Figura 3.10 – Função periódica arbitrária

(fonte: elaborada pela autora)

Uma função periódica pode ser obtida pela superposição de componentes harmônicos a partir
de uma análise no domínio da frequência. Essa ideia fundamental não foi totalmente aceita por
matemáticos como Euler, d’Alembert e Lagrange, durante um grande período de tempo.
Atualmente, entretanto, não restam dúvidas de que uma função periódica pode ser expressa por
uma série trigonométrica infinita (Série de Fourier), conforme apresenta a equação 3.12.

2. 𝜋. 𝑘. 𝑡 2. 𝜋. 𝑘. 𝑡 (equação 3.12)
𝑥(𝑡) = 𝑎 + 𝑎 . 𝑐𝑜𝑠 + 𝑏 . 𝑠𝑒𝑛
𝑇 𝑇

Nesta equação, ao, ak e bk são os coeficientes de Fourier descritos por:

1 (equação 3.13)
𝑎 = . 𝑥(𝑡)𝑑𝑡
𝑇

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2 2. 𝜋. 𝑘. 𝑡 (equação 3.14)
𝑎 = . 𝑥(𝑡). 𝑐𝑜𝑠 𝑑𝑡 ; 𝑘≥1
𝑇 𝑇

2 2. 𝜋. 𝑘. 𝑡 (equação 3.15)
𝑏 = . 𝑥(𝑡). 𝑠𝑒𝑛 𝑑𝑡 ; 𝑘≥1
𝑇 𝑇

A expressão 3.12 mostra que a Série de Fourier representa uma função periódica como uma
soma de componentes senoidais, com frequências múltiplas da fundamental e com distintos
ângulos de fase. Através do ajuste da posição do intervalo de análise, e com o coeficiente ao
assumindo o valor nulo, pode-se obter uma amostra com média igual a zero. Os coeficientes ak
e bk são, geralmente, todos diferentes e seus valores podem ser representados graficamente
como mostrado na figura 3.11.

Figura 3.11 – Representação gráfica dos coeficientes de Fourier

(fonte: LAZANHA, 2003)

Como pode ser observado na figura 3.11, o espaçamento entre os harmônicos adjacentes é
representado pela equação 3.16.

2. 𝜋 (equação 3.16)
𝛥𝜔 =
𝑇

Considerando-se que T → ∞, pode-se submeter uma função não-periódica a uma análise de


Fourier. Neste caso, a Série de Fourier é transformada em uma integral e os coeficientes são
representados por funções contínuas de frequência, chamadas de transformadas de Fourier.

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Desta forma, em um histórico de média igual a zero, as equações 3.12 à 3.15 geram a expressão
da integral de Fourier, apresentada na equação 3.17.

(equação 3.17)
𝑥(𝑡) = 2 𝐴(𝜔)cos (𝜔𝑡)𝑑𝜔 + 2 𝐵(𝜔)𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡)𝑑𝜔

Os termos A(ω) e B(ω) são os componentes da transformada de Fourier e podem ser


representados, respectivamente, pelas equações 3.18 e 3.19.

1 (equação 3.18)
𝐴(𝜔) = 𝑥(𝑡). 𝑐𝑜𝑠 (𝜔𝑡)𝑑𝑡
2. 𝜋

1 (equação 3.19)
𝐵(𝜔) = 𝑥(𝑡). 𝑠𝑒𝑛 (𝜔𝑡)𝑑𝑡
2. 𝜋

Para o tratamento de processos estatísticos, as equações 3.17, 3.18 e 3.19 costumam ser
representadas na forma complexa, definindo-se X(𝜔) conforme a equação 3.20. Desta forma,
pode-se obter o par de transformadas de Fourier definido pelas equações 3.21 e 3.22.

𝑋(𝜔) = 𝐴(𝜔) − 𝐵(𝜔) (equação 3.20)

1 (equação 3.21)
𝑋(𝜔) = 𝑥(𝑡). 𝑒 𝑑𝑡
2. 𝜋

(equação 3.22)
𝑥(𝑡) = 𝑋(𝜔). 𝑒 𝑑𝜔

3.3.2.3 Representação espectral do vento

Segundo Blessmann (2005), considerando-se um histórico temporal de velocidades do vento


qualquer, através da equação 3.7, apresentada anteriormente, pode-se obter a função de auto-
correlação. A função de densidade espectral pode ser representada como a transformada de
Fourier da função de auto-correlação, como mostra a equação 3.23.

1 (equação 3.23)
𝑆 (𝜔) = 𝑅 (𝜏). 𝑒 𝑑𝜏
2. 𝜋

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Conforme observado anteriormente, quando τ = 0, o valor da função de auto-correlação iguala-


se ao valor quadrado médio de x (E[x²]), e, portanto, pode também ser representado pela área
sob o gráfico de Sx(ω), como mostra a equação 3.24.

(equação 3.24)
𝑅 (𝜏 = 0) = 𝑆 (𝜔) 𝑑𝜔 = 𝐸[𝑥 ]

Outra característica importante de Sx(ω), que merece destaque, é quando a função de densidade
espectral é representada na forma complexa, em que pode-se demonstrar que o termo B(ω) é
igual a zero e portanto é válida a equação 3.25.

𝑆 (𝜔) = 𝐴(𝜔) (equação 3.25)

A densidade espectral da velocidade do vento também pode ser representada em função da


frequência f, tendo como unidade (velocidade)²/Hz. Multiplicando a densidade espectral S(f)
pela frequência da rajada f, o resultado é dado em (velocidade)² ou pelo sistema internacional
de unidades como (m/s)². Inicialmente este valor era normalizado dividindo-o pelo quadrado
da velocidade média na altura de observação (f.S(f)/𝑈( ) ²). Posteriormente passou a ser mais
utilizada a variância como elemento de normalização (f.S(f)/𝜎²) no eixo das ordenadas.

O eixo das abscissas em geral representa o número de ondas em ciclos por metro (f/𝑈( ) ). Mas
se a função f.S(f) for plotada versus o logaritmo da frequência f, a área sob a curva entre duas
frequências será proporcional à energia total, isto é, à variância. Mesmo utilizando f.S(f)/σ²
como ordenada, as áreas permanecem proporcionais à energia nos respectivos intervalos de
frequência, embora não se possa mais comparar a energia de espectros com variâncias
diferentes diretamente pela área.

3.3.3 O processo de vento sintético

Neste item é apresentada uma técnica para a análise dinâmica do vento em estruturas, em que
o sistema estrutural é excitado por um número de funções harmônicas consistentes, a partir de
um dado espectro de vento. O processo do vento sintético, proposto por Franco (1993), segue
as premissas adotadas pela literatura técnica, e pressupõe a divisão do carregamento de vento
na direção do fluxo em uma parcela flutuante e em uma parcela média. Segundo este método,

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a parcela média é aplicada estaticamente à estrutura, e a parcela flutuante, por sua vez, é dividida
em uma série de componentes harmônicos de fases aleatórias. Segundo Franco (1993), devem
ser adotados ao menos 11 componentes harmônicos, sendo que um deles deve possuir
frequência ressonante com a da estrutura. As frequências dos demais componentes são, então,
definidas como múltiplos ou submúltiplos desta frequência de referência, e a amplitude de cada
um dos harmônicos pode ser obtida a partir do espectro de potência do vento.

3.3.3.1 Espectro das velocidades flutuantes

A figura 3.12 reproduz o espectro da componente longitudinal da velocidade do vento,


determinado por Van der Hoven a 100 m de altura, em Brookhaven, Long Island, USA,
incluindo flutuações que vão de um ciclo por ano a um ciclo por segundo. No que diz respeito
a aplicações na construção civil, esse espectro pode ser dividido em duas partes bem distintas:
região da macrometeorologia e região da micrometeorologia.

Figura 3.12 – Idealização do espectro da velocidade longitudinal do vento a 100 m


de altura

(fonte: adaptado de COOK, 1985)

As flutuações de velocidade com períodos superiores a uma hora estão contidas na região da
macrometeorologia e, em virtude de sua lentidão, causam alterações somente na velocidade
média do vento. Já as flutuações de velocidade em períodos inferiores a uma hora, fazem parte
da micrometeorologia, região onde surgem as rajadas de vento. As flutuações de velocidade
mais importantes situam-se entre dez minutos e um segundo, aproximadamente. A altura desse
pico depende da velocidade do vento, pois a energia cinética contida na turbulência é
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aproximadamente proporcional ao quadrado da velocidade média do vento. Sendo assim, em


ventos de alta velocidade esse pico será mais alto que em ventos de baixa velocidade.

Dentro do espectro de potência das velocidades S(z,f), o qual é função da altura z e da frequência
f, a faixa micrometeorológica foi por muito tempo objeto de pesquisa de diversos autores. A
potência dW, associada ao intervalo de frequência fundamental df, é expressa pela equação 3.26.

𝑑𝑊 = 𝑆(𝑧, 𝑓)𝑑𝑓 (equação 3.26)

O espectro reduzido de potência (Sr(z,f)), torna-se conveniente quando é adotada uma escala
logarítmica para as frequências, conforme mostra a equação 3.27. Neste caso, utiliza-se o valor
de 𝑢∗ , que é a velocidade de fricção, a qual é função da rugosidade terrestre. Desta forma, o
espectro reduzido de potência, representado em escala logarítmica é dado pela equação 3.28.

𝑓. 𝑆(𝑧, 𝑓) (equação 3.27)


𝑆 (𝑧, 𝑓)𝑑𝑓 =
𝑢∗

𝑓. 𝑆(𝑧, 𝑓) 1 𝑑𝑊 (equação 3.28)


𝑆 (𝑧, 𝑓)𝑑(𝑙𝑜𝑔 𝑓) = . 𝑑𝑓 =
𝑢∗ 𝑓 𝑢∗

A figura 3.13 resume as expressões 3.26 a 3.28, apresentando o espectro de potência das
velocidades do vento S(z,f); e o espectro reduzido de potência Sr(z,f). É possível observar que,
por integração, pode-se obter a potência associada a um intervalo de frequência escolhido.

Figura 3.13 – Espectro de potência das velocidades do vento S(z,f); e espectro


reduzido de potência Sr(z,f)

(fonte: adaptado de FRANCO, 1993)

É importante ressaltar que a velocidade do vento costuma ser escrita com base num sistema
cartesiano, em três componentes x, y e z. A componente na direção do escoamento (direção
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longitudinal x) é decomposta em duas parcelas: um valor médio 𝑈, função apenas da altura e


aproximadamente constante ao longo do tempo, e outro flutuante u. Nas demais direções atuam
as componentes flutuantes v e w. Inicialmente, os primeiros autores a proporem um espectro
de potência para o vento desconsideraram a sua dependência da altura z. Diversas expressões
empíricas foram então propostas para o espectro de potência reduzido como uma função da
frequência f e da velocidade média do vento 𝑈 (para z = 10 m), em terreno aberto. O quadro
3.1 resume algumas das expressões propostas para as funções de densidade espectral de
potência Su(f) (na direção longitudinal do vento), as quais são comparadas na figura 3.14.

Quadro 3.1 – Espectros teóricos de potência Su(f) na direção longitudinal do vento,


independentes da altura z da estrutura
AUTOR FUNÇÃO DE DENSIDADE ESPECTRAL

𝑓. 𝑆 (𝑓) 𝑥 ² 1200. 𝑓
= 4. ; 𝑥 = (equação 3.29)
Davenport 𝑢∗ (1 + 𝑥 ²) 𝑈

𝑓. 𝑆 (𝑓) 𝑥 900. 𝑓
Lumley e = 4. ; 𝑥 = (equação 3.30)
𝑢∗ (1 + 𝑥 ) 𝑈
Panofsky

𝑓. 𝑆 (𝑓) 𝑥 1800. 𝑓
Harris
= 4. ; 𝑥 = (equação 3.31)
𝑢∗ (2 + 𝑥 ²) 𝑈

(fonte: adaptado de FRANCO, 1993)

Figura 3.14 – Espectros teórico de potência Su(f) na direção longitudinal do vento,


independentes da altura z da estrutura

(fonte: elaborada pela autora)


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Vale chamar atenção de que o espectro de Davenport não representa bem os valores obtidos em
baixas frequências e não considera a influência da cota z. No entanto, a expressão indicada tem
sido utilizada largamente por ser de fácil integração. Além disso, segundo Blessmann (1995),
esta expressão está validada para uma variedade de terrenos e para as frequências de interesse
na engenharia estrutural, sendo inclusive adotada pelo Código Nacional de Construção do
Canadá. Por questões de simplificação e a favor da segurança, a equação de Davenport utilizada
na norma canadense foi ligeiramente modificada, conforme apresenta a equação 3.32.

𝑓. 𝑆 (𝑓) 𝑥 ² 1220. 𝑓 (equação 3.32)


= 4. ; 𝑥 =
𝑢∗ (1 + 𝑥 ²) 𝑈

Todos os espectros teóricos apresentados até aqui são representações razoáveis dos dados
experimentais disponíveis. Mais recentemente, outros autores aprimoraram estas aproximações
e mostraram que o espectro de velocidades depende também da altura z da estrutura. O quadro
3.2 resume algumas expressões propostas para as funções de densidade espectral de potência
Su(f), entre as quais destaca-se o espectro ESDU (Engineering Sciences Data Unit, 1974), que
é utilizado pela norma europeia EN 1991-1-4.

Quadro 3.2 – Espectros teóricos de potência Su(f) na direção longitudinal do vento,


dependentes da altura z da estrutura
AUTOR FUNÇÃO DE DENSIDADE ESPECTRAL
𝑓. 𝑆 (𝑓) 4. 𝑥 𝑓. 𝐿 (𝑧)
= ; 𝑥 (𝑧) = (equação 3.33)
Von Karmán 𝜎 (1 + 70,78. 𝑥 ²) 𝑈( )

100
𝑓. 𝑆 (𝑓) .𝑦 𝑓. 𝑧
= 3 ; 𝑦 (𝑧) = (equação 3.34)
Kaimal
𝜎 (1 + 50. 𝑦 ) 𝑈( )

𝑓. 𝑆 (𝑓) 6,8. 𝑓 (𝑓, 𝑧) 𝑓. 𝐿(𝑧)


= ; 𝑓 (𝑓, 𝑧) = (equação 3.35)
ESDU 𝜎 (1 + 10,2. 𝑓 (𝑓, 𝑧)) 𝑈( )

(fonte: BLESSMANN, 2013)

Os valores de L11(z) e L(z) são fornecidos, respectivamente, pelas equações 3.36 e 3.37.

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𝐿 (𝑧) = 25. (𝑧 − 𝑧 ) ,
.𝑧 , (equação 3.36)

𝑧 , , . ( ) (equação 3.37)
𝐿(𝑧) = 300.
200

Nas direções y e z, os espectros das componentes da turbulência não têm sido tão estudados
como o da componente longitudinal. Entretanto, indica-se ainda, a partir do quadro 3.3, as
funções de densidade espectral Sv(f) e Sw(f) nas outras duas direções de flutuação.

Quadro 3.3 – Espectros teóricos de potência Sv(f) e Sw(f), respectivamente na direção


lateral e vertical do vento, dependentes da altura z da estrutura
AUTOR FUNÇÃO DE DENSIDADE ESPECTRAL

𝑓. 𝑆 (𝑓) 4. 𝑥 [1 + 188,4(2. 𝑥 )²] 𝑓. 𝐿 (𝑧)


= ; 𝑥 (𝑧) = (equação 3.38)
𝜎 [1 + 70,78(2. 𝑥 )²] 𝑈( )

Von Karmán
𝑓. 𝑆 (𝑓) 4. 𝑥 [1 + 188,4(2. 𝑥 )²] 𝑓. 𝐿 (𝑧)
= ; 𝑥 (𝑧) = (equação 3.39)
𝜎 [1 + 70,78(2. 𝑥 )²] 𝑈( )

𝑓. 𝑆 (𝑓) 0,164. 𝑦
= ; 𝑦 (𝑧) = 37,7. 𝑦 (equação 3.40)
𝜎 [1 + 0,164. 𝑦 ]
Kaimal
𝑓. 𝑆 (𝑓) 0,164. 𝑦
= ; 𝑦 (𝑧) = 10,4. 𝑦 (equação 3.41)
𝜎 [1 + 0,164. 𝑦 ]

𝑓. 𝑆 (𝑓) 4. 𝑥 (1 + 755. 𝑥 ) 𝑓. 𝐿 (𝑧)


= ; 𝑥 (𝑧) = (equação 3.42)
𝜎 (1 + 283. 𝑥 ) 𝑈( )

ESDU
𝑓. 𝑆 (𝑓) 4. 𝑥 (1 + 755. 𝑥 ) 𝑓. 𝐿 (𝑧)
= ; 𝑥 (𝑧) = (equação 3.43)
𝜎 (1 + 283. 𝑥 ) 𝑈( )

(fonte: BLESSMANN, 2013)

Sendo os valores de L21(z) e L31(z), iguais respectivamente às equações 3.44 e 3.45.

, , (equação 3.44)
𝐿 (𝑧) = 5,1. (𝑧 − 𝑧 ) .𝑧

𝐿 (𝑧) = 0,35. (𝑧 − 𝑧 ) (equação 3.45)

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3.3.3.2 Espectro das pressões flutuantes

O espectro cruzado de pressões atuantes em uma das faces da estrutura pode ser representado
com suficiente precisão, como uma função do espectro de velocidades, como mostra a equação
3.46 (SIMIU; SCANLAN, 1996). Nesta equação, as constantes ρ e c são, respectivamente, a
densidade do ar e o coeficiente aerodinâmico.

𝑆 ´ (𝑧, 𝑓) = 𝜌. 𝑐. 𝑈( . 𝑆(𝑧, 𝑓) (equação 3.46)


)

A pressão flutuante p´(t) constitui um processo aleatório, ergódico, gaussiano de média zero;
podendo ser representada, conforme visto anteriormente, por uma integral de Fourier.
Utilizando os termos de Fourier em um plano complexo e as frequências em Hz, a equação 3.17
pode ser escrita como sugere a equação 3.47.

(equação 3.47)
𝑝´(𝑡) = 𝐶(𝑓). cos[2. 𝜋. 𝑓. 𝑡 − 𝛳(𝑓)] 𝑑𝑓

Onde:

(equação 3.48)
𝐶(𝑓) = 𝐴 (𝑓) + 𝐵²(𝑓)

𝐵(𝑓) (equação 3.49)


𝛳(𝑓) = 𝑡𝑎𝑛
𝐴(𝑓)

(equação 3.50)
𝐴(𝑓) = 𝑝´(𝑡). 𝑐𝑜𝑠(2. 𝜋. 𝑓. 𝑡) 𝑑𝑡

(equação 3.51)
𝐵(𝑓) = 𝑝´(𝑡). 𝑠𝑒𝑛(2. 𝜋. 𝑓. 𝑡) 𝑑𝑡

Para um processo cuja média é igual a zero, como é o caso da parcela flutuante do vento, a
partir da equação 3.5 pode-se demonstrar que o valor quadrado médio de p assume o mesmo
valor da variância, assim:

1 (equação 3.52)
𝐸[𝑝´ ] = 𝜎 (𝑝´) = 𝑝´ (𝑡)𝑑𝑡
𝑇

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Aplicando-se a uma função não-periódica para a qual exista a integral de Fourier, a equação
3.52 assume a seguinte forma:

2 (equação 3.53)
𝜎 (𝑝´) = 𝐶²(𝑓)𝑑𝑓
𝑇

Conforme Simiu e Scanlan (1996), quando T→∞, a variância ou o valor quadrado médio
podem ser escritos de acordo com a equação 3.54.

(equação 3.54)
𝜎 (𝑝´) = 𝑆(𝑓)𝑑𝑓

A partir das equações 3.52 a 3.54 comprova-se que a frequência corresponde a uma contribuição
elementar para o valor quadrado médio, e este consiste na área sob a curva de S(f). Desta forma,
cada frequência é associada a uma contribuição para a avaliação da parcela flutuante do vento,
o que se torna uma propriedade interessante para o processo do vento sintético.

Por simplificação, é conveniente adotar um número finito n de funções harmônicas, sendo um


mínimo de 11 componentes, para aproximar a representação de p′(t). As funções devem ser
escolhidas de modo que os valores de frequências adotados contenham o intervalo de interesse.
A rotina computacional criada aqui é válida para até 21 funções, selecionando uma destas para
possuir frequência ressonante com o primeiro modo de vibração da estrutura. As frequências
dos outros componentes harmônicos são múltiplas da frequência de referência por um fator
dois. Assim pode-se reescrever a equação 3.47 conforme as equações 3.55 a 3.57.

2. 𝜋 (equação 3.55)
𝑝´(𝑡) ≅ 𝐶 cos .𝑡 −𝛳
𝑇𝑟

(equação 3.56)
𝐶 = 2. 𝑆(𝑓)𝑑𝑓
( )

𝑟 =2 (equação 3.57)

O valor de r é o número do harmônico cuja frequência coincide com a frequência do primeiro


modo de vibração livre da estrutura, e Tr é o período associado a este harmônico.

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Em seguida é feita a integração da função de densidade espectral em cada um dos n intervalos


de frequência pré-determinados, sendo obtidos os valores de Ck. Esta operação também pode
ser realizada utilizando-se o espectro natural S(f) e uma escala natural de frequências,
observando a manutenção da mesma proporção entre as áreas, através da utilização do espectro
reduzido Sr(f) associado a uma escala logarítmica de frequências. Por fim, a amplitude de cada
um dos harmônicos pode ser escrita conforme a equação 3.58. Desta forma, pode-se concluir
que a construção das séries de carregamentos para a geração dos históricos de carga baseia-se
na superposição dos componentes harmônicos com ângulos de fases indeterminados; ou seja,
os ângulos de fase representam a componente aleatória do processo.

𝐶 (equação 3.58)
𝑝´ = . 𝑝´ = 𝑐 𝑝´
∑ 𝐶

3.3.4 Ação estática

Segundo Pfeil (1993), a força devida à ação estática de vento é usualmente escrita em termos
de suas componentes na direção do vento (força de arrasto Fa) e perpendicular ao vento (força
de sustentação Fs). As componentes de forças e o momento Mt são expressos por:

1 (equação 3.59)
𝐹 = 𝜌𝑈 𝐵𝑙𝐶
2

1 (equação 3.60)
𝐹 = 𝜌𝑈 𝐵𝑙𝐶
2

1 (equação 3.61)
𝑀 = 𝜌𝑈 𝐵 𝑙𝐶
2

Onde:
ρ: massa específica do ar (igual a 1,225 kg/m³);
𝑈: velocidade médio do fluxo;
B: largura do tabuleiro;
l: comprimento do trecho;
α: ângulo de ataque;
𝐶 , 𝐶 , 𝐶 : coeficientes aerodinâmicos de arrasto, sustentação e momento, respectivamente.

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Elementos Finitos
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Os coeficientes aerodinâmicos 𝐶 , 𝐶 e 𝐶 são parâmetros que descrevem a perturbação do


fluxo de ar causada pela geometria da seção transversal do tabuleiro. Estes coeficientes são
obtidos através de ensaios em modelos reduzidos seccionais em repouso para diversos valores
de ângulo de ataque, definido no sentido aerodinâmico conforme ilustrado na figura 3.15.

Figura 3.15 – Definição das forças de acordo com o sentido aerodinâmico

(fonte: adaptada de PFEIL, 1993)

3.3.5 Forças aerodinâmicas devidas à turbulência

As forças de vento devidas à turbulência referem-se à turbulência existente no vento natural,


isto é, a turbulência atmosférica, e não à turbulência na esteira do fluxo. Além disso, as forças
estão relacionadas às superfícies planas com rugosidade uniforme, de tal modo que o fluxo pode
ser considerado horizontal e homogêneo. Sendo assim, o vetor velocidade de vento é escrito
em três componentes, orientadas segundo os eixos cartesianos (figura 3.16).

Figura 3.16 – Sistema de coordenadas para a formulação das forças de vento sobre o
tabuleiro

(fonte: CURI, 2018)


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Os efeitos da componente flutuante v (na direção y) costumam ser desconsiderados na análise


da superestrutura, embora sejam importantes na determinação das forças atuantes sobre as
torres de pontes estaiadas e suspensas. Assim, com base nestas condições são desenvolvidas as
expressões para as forças aerodinâmicas devidas às flutuações u e w da velocidade do vento. A
figura 3.17 ilustra uma seção de tabuleiro de ponte sob ação das componentes de velocidade de
vento u(t) e w(t). Considerando um modelo plano, as forças nas direções z e x podem ser escritas
como:

𝐹 = 𝐹 𝑐𝑜𝑠𝛼 − 𝐹 𝑠𝑒𝑛𝛼 (equação 3.62)

𝐹 = 𝐹 𝑠𝑒𝑛𝛼 + 𝐹 𝑐𝑜𝑠𝛼 (equação 3.63)

Em que Fa e Fs são expressas pelas equações 3.59 e 3.60.

Figura 3.17 – Forças em tabuleiro de ponte

(fonte: adaptada de PFEIL, 1993)

Conforme Simiu e Scanlan (1996), expandindo as forças Fx e Fz em séries de Taylor em torno


de uma configuração de equilíbrio (em geral α = 0), desprezando os termos quadráticos u(t) e
w(t)
w(t) e aproximando o ângulo α por , as expressões para as forças aerodinâmicas devidas
𝑈
às flutuações u(t) e w(t) da velocidade do vento são desenvolvidas conforme segue.

1 𝑢(𝑡) 𝜕𝐶 𝑤(𝑡) (equação 3.64)


𝐹 (𝑡) = 𝜌𝑈 𝐵𝑙 2𝐶 + −𝐶
2 𝑈 𝜕𝛼 𝑈

1 𝑢(𝑡) 𝜕𝐶 𝑤(𝑡) (equação 3.65)


𝐹 (𝑡) = 𝜌𝑈 𝐵𝑙 2𝐶 + −𝐶
2 𝑈 𝜕𝛼 𝑈

Para o momento utiliza-se a seguinte expressão:

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Elementos Finitos
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1 𝑢(𝑡) 𝜕𝐶 𝑤(𝑡) (equação 3.66)


𝑀 (𝑡) = 𝜌𝑈 𝐵 𝑙 2𝐶 +
2 𝑈 𝜕𝛼 𝑈

Admite-se, portanto, que as forças aerodinâmicas devidas ao vento turbulento consistem na


superposição das forças de auto-excitação, funções da velocidade média 𝑈, e das forças devidas
às componentes flutuantes da velocidade u(t) e w(t). Assim, as forças podem ser escritas em
termos das componentes na direção do vento Fa (t), e na direção perpendicular ao vento Fs (t),
além do momento em torno do eixo y Mt (t):

1 𝑢(𝑡) 𝜕𝐶 𝑤(𝑡) (equação 3.67)


𝐹 (𝑡) = 𝜌𝑈 𝐵𝑙 𝐶 + 2𝐶 + −𝐶
2 𝑈 𝜕𝛼 𝑈

1 𝑢(𝑡) 𝜕𝐶 𝑤(𝑡) (equação 3.68)


𝐹 (𝑡) = 𝜌𝑈 𝐵𝑙 𝐶 + 2𝐶 + −𝐶
2 𝑈 𝜕𝛼 𝑈

1 𝑢(𝑡) 𝜕𝐶 𝑤(𝑡) (equação 3.69)


𝑀 (𝑡) = 𝜌𝑈 𝐵 𝑙 𝐶 + 2𝐶 +
2 𝑈 𝜕𝛼 𝑈

3.3.6 Recomendações da NBR 6123

A norma brasileira de vento NBR 6123 apresenta dois procedimentos distintos para a
determinação das forças de vento sobre as estruturas. O primeiro deles, descrito no item 4 da
norma, considera que a estrutura responde estaticamente; enquanto o segundo, apresentado no
item 9, prevê uma resposta dinâmica devida à turbulência. Entretanto, o procedimento descrito
no item 9 é de formulação restrita a estruturas verticais engastadas na base, não sendo aplicável
ao objeto de estudo deste trabalho.

Desta forma, considerando que a estrutura terá uma resposta quase estática à ação do vento, o
item 4 da NBR 6123 apresenta os passos necessários para a determinação da força de arrasto
Fa. A velocidade média do vento é calculada para um certo intervalo de tempo que depende das
dimensões da estrutura e das rajadas a serem consideradas.

A norma brasileira indica que a velocidade básica do vento é determinada em função da


localização da construção da edificação dentro do território brasileiro. A velocidade básica do
vento (U0) é referente a uma média de medições de velocidades de uma rajada de 3 s, excedida
em média a cada 50 anos, a 10 m sobre o nível do terreno em lugar aberto e plano, classificado
pela categoria II, realizadas em 49 pontos de amostragem espalhados pelo território nacional.
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Para o cálculo da velocidade característica do vento (Uk) é necessária a determinação dos


seguintes fatores: fator topográfico S1, fator que considera a rugosidade do terreno, as
dimensões da edificação e a altura sobre o terreno S2, e fator estatístico S3. Os valores destes
fatores são encontrados no Anexo A da referida norma. Desta forma, o valor da velocidade do
vento é corrigido através da seguinte equação:

𝑈 =𝑈 𝑆 𝑆 𝑆 (equação 3.70)

A norma ainda recomenda que o fator S2 e o intervalo de tempo sejam estimados de acordo com
o Anexo A, por aproximações sucessivas, caso a maior dimensão frontal da estrutura supere 80
m:

𝑧 (equação 3.71)
𝑆 (ℎ) = 𝑏𝐹 ,
10

𝑈 (ℎ) = 𝑈 𝑆 𝑆 (ℎ)𝑆 (equação 3.72)

7,5𝐿 (equação 3.73)


𝑡=
𝑈 (ℎ)

Onde:
L: maior dimensão da superfície frontal da edificação;
𝑈 (ℎ): velocidade médio do vento sobre t segundos num dado ponto da edificação, calculada
por aproximações sucessivas.

Os parâmetros b, p e Fr,II são retirados da Tabela 21 da NBR 6123 e servem para corrigir o
valor da velocidade básica U0 (medida sobre 3 segundos e categoria II) para outros intervalos
de tempo e categorias de terreno. Finalmente, a força de arrasto (na direção do vento) é
calculada segundo:

1 (equação 3.74)
𝐹 = 𝜌𝐶 𝑈 𝐴
2

Onde:
ρ: massa específica do ar (igual a 1,225 kg/m³);
Ca: coeficiente de arrasto;
Uk: velocidade característica do vento;
A: área frontal efetiva.
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4 MODELOS CONSTITUTIVOS DOS MATERIAIS

Para analisar o comportamento de uma estrutura, é essencial conhecer as equações constitutivas


dos materiais que a compõem, as quais são formadas por expressões que relacionam as tensões,
as deformações e o tempo (CAMPOS FILHO, 2003). Estas expressões são estudadas por um
ramo da Mecânica dos Materiais chamado de reologia, sendo definidas por três
comportamentos básicos: o elástico, o plástico e o viscoso.

O comportamento elástico dos materiais constitui o fator fundamental da teoria da elasticidade,


a qual foi elaborada entre os séculos XVII e XVIII pelos cientistas R. Hooke, J. Bernoulli, L.
Euler e A. Coulomb, entre outros (AWRUCH et al., 2018). Materiais representados por um
modelo reológico elástico, caracterizam-se por apresentar deformações imediatas, as quais
aparecem simultaneamente com as tensões correspondentes. Além disso, quando as tensões
permanecem constantes, o diagrama tensão-deformação de um material elástico não apresenta
variação de deformações; e em caso de descarregamento, quando as tensões correspondentes
são anuladas, as deformações desaparecem integralmente. No caso do modelo reológico
plástico, as deformações também são imediatas, porém a descarga do material não apresenta a
característica de reversibilidade das deformações, e, desta forma, ao serem anuladas as tensões
correspondentes, surge uma deformação residual no material. Já os materiais definidos pelo
modelo reológico viscoso, apresentam propriedades referentes ao aparecimento de deformações
não-imediatas. Neste caso, as deformações não aparecem de forma simultânea com as tensões;
e também não permanecem constantes ao longo do tempo.

No entanto, materiais reais são caracterizados por uma combinação entre estes três modelos
básicos, originando os modelos conjugados. Os materiais elastoplásticos, por exemplo, se
deformam elasticamente até atingirem a tensão de escoamento, e após isso, passam a apresentar
comportamento plástico. Nos viscoelásticos, a deformação evolui com o tempo sob uma tensão
constante, enquanto nos viscoplásticos, além de evoluir ao longo do tempo, há também o
surgimento de deformações irreversíveis. Neste capítulo são apresentados os modelos
constitutivos que foram adotados para representar o comportamento do concreto e do aço
utilizado para a armadura ativa e passiva da ponte estudada.

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4.1 CONCRETO

O concreto pode ser idealizado como um sistema de duas fases: uma matriz, formada pela pasta
de cimento endurecida, envolvendo um conjunto de partículas de agregado. Mesmo antes da
aplicação de cargas externas à estrutura, este material já apresenta microfissuras, causadas por
segregação, retração ou efeitos térmicos. À medida que o carregamento vai sendo aplicado,
estas microfissuras tendem a aumentar de tamanho e de quantidade, especialmente na interface
da pasta de cimento e dos agregados, o que contribui para o seu comportamento não linear.

Em ensaios de compressão uniaxial, para um carregamento instantâneo, é possível observar três


estágios na curva tensão-deformação do concreto, conforme ilustrado na figura 4.1. Para
tensões de compressão até 30% da resistência à compressão uniaxial (fc), as eventuais
microfissuras existentes no concreto antes de entrar em carga, permanecem inalteradas. Isso
significa que a energia interna disponível é menor que a energia necessária para a criação de
novas microfissuras e que o material apresenta um comportamento que pode ser aproximado
por um modelo elástico linear.

Figura 4.1 – Curva tensão-deformação para o concreto sob compressão uniaxial

(fonte: adaptado de Código Modelo fib 2010, 2012)

Conforme Chen (2007), para tensões de compressão entre 0,3fc e 0,75fc, as microfissuras junto
aos agregados começam a se estender gradualmente até ligarem-se através da matriz, tornando
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Elementos Finitos
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o comportamento não linear mais evidente. Quando a tensão de compressão excede 0,75fc
(tensão crítica), as microfissuras continuam a propagar-se, mesmo se for mantido constante o
carregamento, ou seja, a energia interna disponível é maior que a necessária para formar novas
microfissuras e o sistema torna-se instável. A partir deste instante, o comportamento do
concreto torna-se bastante não linear, até atingir a tensão de ruptura, quando o material perde a
capacidade de resistir a novos incrementos de tensões.

Em ensaios de tração uniaxial, para um carregamento instantâneo, observam-se algumas


diferenças importantes em relação ao comportamento de compressão uniaxial, tais como o
limite de elasticidade linear, que geralmente fica entre 60% e 80% da resistência à tração (ft).
A partir deste limite, as microfissuras começam a aumentar rapidamente de tamanho. Desta
forma, observa-se um comportamento próximo ao elástico linear até a ruptura, e após isso a
necessidade de consideração da resistência do concreto entre as fissuras.

Para carregamentos aplicados ao longo do tempo, observa-se ainda que, mesmo para tensões
constantes, as deformações no concreto continuam evoluindo, caracterizando assim o seu
comportamento viscoso. Além disso, o concreto tende a diminuir de volume e a ganhar
resistência ao longo do tempo, ainda que na ausência de carga. Este comportamento se deve
principalmente à composição heterogênea do concreto, onde coexistem as fases sólida (cimento
e agregado), líquida (água) e gasosa (ar aprisionado) cujas reações químicas influenciadas pela
temperatura, difusão de água no interior da peça e trocas de água com o ambiente ocorrem ao
longo do tempo. Essas deformações diferidas do concreto, possuem grande influência no
comportamento estrutural uma vez que podem apresentar uma ordem de grandeza equivalente
às deformações instantâneas, geradas por níveis usuais de tensão.

Desta forma, pode-se afirmar que o concreto é definido como um material que apresenta o
comportamento combinado de três tipos de modelos reológicos básicos: elástico, plástico e
viscoso. A escolha de qual categoria de modelos seguir está vinculada basicamente ao tipo de
problema a ser analisado, e ao custo computacional envolvido em cada um deles. Para situações
que envolvem baixas cargas de compressão e a avaliação das tensões e deformações ao longo
do tempo, como é o caso do estudo das etapas construtivas da ponte estaiada analisada neste
trabalho, é possível representar o comportamento do concreto com um modelo viscoelástico
com fissuração. Sendo assim, as deformações instantâneas provêm do modelo elástico,
aparecendo de forma simultânea às tensões correspondentes, sem variar ao longo do tempo. Já

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as deformações não imediatas, provêm do modelo viscoso, aparecendo com o passar do tempo,
a medida em que o material é submetido a um certo carregamento. As expressões utilizadas
para gerar as equações constitutivas que representam o comportamento do concreto estão
apresentadas nos itens a seguir.

4.1.1 Comportamento diferido do concreto

O comportamento do concreto diferido pode ser caracterizado pelos fenômenos de fluência


(creep) e retração (shrinkage). A principal diferença entre estes fenômenos é que a fluência é
dependente do carregamento e a retração não. A figura 4.2 apresenta a evolução das
deformações ao longo do tempo em um espécime de concreto curado até t s submetido a uma
tensão de compressão constante aplicada partir de t0.

Figura 4.2 – Deformação por fluência e retração com tensão de compressão constante a partir de t0

(fonte: adaptado de AMERICAN CONCRETE INSTITUTE, 2005 apud QUEVEDO, 2017)

A fluência, também chamada de deformação lenta, é caracterizada pelo aumento contínuo e


gradual das deformações quando o material está sob tensão. Essa deformação é dividida em
fluência básica, que ocorre sem a troca de água com o meio externo; e fluência por secagem,
que ocorre quando existe troca de água com o meio ambiente, sendo dependente da umidade
relativa e da exposição da peça.

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Já a retração independe da tensão aplicada ao material, e é caracterizada pela redução do


volume devido à perda gradual de água. Essa deformação é dividida em retração autógena,
consequência da remoção da água dos poros capilares pela hidratação do cimento; e retração
por secagem, também chamada de retração hidráulica, que ocorre devido a troca de água com
o meio ambiente. Como a retração é associada à redução de volume, uma vez que a peça está
impedida de reduzir, esse fenômeno induz tensões de tração internas que podem ocasionar
fissuração.

Muitos dos fatores que influenciam nas deformações por fluência também estão relacionados
com a retração. O fenômeno da fluência pode se manifestar com diferentes intensidades e
formas de desenvolvimento, sendo dependente, principalmente, da relação água/cimento, da
composição do concreto, do tipo de cimento, da umidade relativa do ar, da temperatura do
ambiente, da exposição da peça ao ambiente e das condições de cura. A figura 4.3 apresenta os
gráficos com a relação de alguns desses fatores com a fluência.

Figura 4.3 – Relação entre a fluência e os fatores que a afetam: (a) tempo de
carregamento; (b) idade de carregamento; (c) tensão

(a) (b) (c)


(fonte: adaptado de BYFORS, 1980)

A figura 4.3(a), mostra que o efeito da fluência tende a ser estabilizado conforme o tempo do
carregamento avança. Na figura 4.3(b) observa-se que quanto maior a idade do concreto no
instante de aplicação da carga, menor é a sua deformação por fluência. A partir da figura 4.3(b),
pode-se concluir que a fluência apresenta um regime linear quando os níveis de tensões são
baixos, porém, acima de um determinado limite de tensão, a fluência deixa de ter essa relação
proporcional com a tensão. Para os modelos de previsão da deformação ao longo do tempo, este
fato torna-se particularmente importante, já que o princípio da superposição dos efeitos pode
ser considerado caso o limite de tensão seja respeitado.

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O modelo utilizado neste trabalho para a previsão das deformações por fluência e retração foi
o proposto pelo Comité Euro-International du Béton (1993): Código Modelo CEB-FIP 1990
(CEB-MC90). A vantagem deste modelo é que o mesmo é compatível com a teoria da
solidificação de Bazant e Prasannan (1989a, 1989b) pois ambos separam o fator do coeficiente
de fluência que depende do envelhecimento (idade do concreto) do fator de fluência que
depende do tempo de aplicação da carga (idade da carga). A formulação mais atual da
Féderation Internationale du Béton (2010), não propõe esta separação, e conforme verificação
realizada por Schmitz (2017), a associação da formulação de Bazant e Prasannan e do Código
Modelo fib 2010 não permite que sejam considerados os efeitos de sobreposição de cargas de
forma correta, gerando perda de precisão nos resultados.

Desta forma, o modelo apresentado pelo Código Modelo CEB-FIP 1990 (1993) e a teoria da
solidificação de Bazant e Prasannan (1989a, 1989b) permitem modelar de forma eficiente os
casos em que há um histórico de tensões variáveis, uma vez que o algoritmo incremental de
solução utiliza o modelo reológico de Kelvin generalizado com parâmetros independentes da
idade do concreto.

4.1.2 Formulação para fluência e retração do CEB-FIP 1990

As premissas para a utilização do modelo apresentado no Código Modelo CEB-FIP 1990 para
fluência e retração do concreto, é que o mesmo é válido para materiais com resistência
característica entre 12 MPa e 80 MPa, sujeitos a uma tensão de compressão média menor do
que 40% da resistência média do concreto, expostos a uma umidade relativa acima de 40% e
com a média de temperatura entre 5 ºC e 30 ºC.

Segundo o Comité Euro-Internacional du Béton (1993), a deformação total na idade t de uma


peça de concreto uniaxialmente carregada a partir da idade t0 com uma tensão constante σ𝑐(t0),
pode ser expressa conforme a equação 4.1.

𝜀 (𝑡) = 𝜀 (𝑡 ) + 𝜀 (𝑡) + 𝜀 (𝑡) + 𝜀 (𝑡) (equação 4.1)

Onde:
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t: idade do concreto [dias];


t0: idade do concreto no instante em que a tensão foi aplicada [dias];
𝜀 (𝑡): deformação total;
𝜀 (𝑡 ): deformação inicial (instantânea) elástica e linear devido a aplicação do carregamento
no tempo t0;
𝜀 (𝑡): deformação por fluência, para um tempo t > t0;
𝜀 (𝑡): deformação por retração;
𝜀 (𝑡): deformação térmica.
𝜀 (𝑡) = 𝜀 (𝑡 ) + 𝜀 (𝑡): deformação dependente da tensão;
𝜀 (𝑡) = 𝜀 (𝑡 ) + 𝜀 (𝑡): deformação independente da tensão.

A deformação total é composta, então, por uma parcela que depende da tensão, correspondente
a deformação inicial (instantânea) elástica linear e à deformação por fluência; e outra parcela
que independe da tensão, formada pela deformação por retração e deformação térmica. Neste
caso, a deformação referente a variação de temperatura ε𝑐𝑇(t) não foi considerada, pois adotou-
se a hipótese de que a temperatura é constante ao longo da análise. Portanto, neste trabalho,
apenas a deformação por retração foi considerada como deformação independente da tensão. A
formulação completa dos termos presentes na equação 4.1 estão apresentados no Comité Euro-
International de Béton (1993).

4.1.3 Teoria da solidificação para a fluência do concreto

Conforme exposto anteriormente, a retração ocorre de forma independente da tensão aplicada,


já a deformação lenta (fluência) é diretamente influenciada pela idade do concreto no momento
de aplicação da tensão. Bazant e Prasannan (1989a, 1989b) propuseram um modelo físico que
afirma que o envelhecimento relacionado à fluência do concreto está ligado apenas à alteração
do volume de concreto solidificado ν(t) ao longo do tempo, tornando-o um fator separado da
idade da carga. Dessa forma, o envelhecimento do concreto é expresso por uma função ν(t), ao
passo que as outras propriedades do material não dependem da sua idade e se mantém
constantes ao longo do tempo.

Para tanto, esses autores separaram a deformação por fluência em duas parcelas, a viscoelástica
e a viscosa. O objetivo desta divisão é o de aproximar o efeito da fluência em relação a idade
do carregamento. A parcela viscoelástica ε𝑣 está relacionada com o volume de concreto já

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solidificado 𝑣(𝑡) e com um coeficiente de fluência dependente da idade de carregamento


𝜙(𝑡−𝑡0). Já a parcela viscosa ε𝑓 depende da fração de cimento hidratado ℎ(𝑡) e do coeficiente
𝜓(𝑡−𝑡0), que varia também em função da idade do carregamento. Assim, a deformação total no
concreto, dada pela equação 4.2, é obtida através da soma das parcelas elástica, viscoelástica,
viscosa e devido à retração, como ilustra a figura 4.4 com o modelo completo esquematizado
para o concreto.

𝜎
𝜀 (t) = +𝜀 +𝜀 +𝜀 (equação 4.2)
𝐸

Sendo:

σ: tensão constante atuante no concreto;


E0: módulo de elasticidade do concreto referente aos agregados e partículas microscópicas da
pasta de cimento;
t: idade do concreto;
ε : parcela viscoelástica da deformação por fluência;
ε : parcela viscosa (fluidez) da deformação por fluência;
ε : deformação que independe da tensão (retração, térmica e por fissuração).

Figura 4.4 – Modelo de representação do concreto

(fonte: adaptado de BAZANT; PRASANNAN, 1989a apud QUEVEDO, 2017)

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A descrição das leis que governam as parcelas de deformações por fluência, propostas por
Bazant e Prasannan (1989a), bem como a sua compatibilização com a formulação do Código
Modelo CEB-FIP 1990 (1993) estão apresentadas em Quevedo (2017).

4.1.4 Modelo reológico para o fator da fluência que depende da idade do


carregamento

Segundo Creus (1986), os modelos viscoelásticos podem ser representados com uma boa
aproximação, a partir da união de dois elementos reológicos básicos: elementos elásticos
(molas) e elementos viscosos (amortecedores). O elemento de mola apresenta uma resposta
instantânea e totalmente reversível às cargas e deformações aplicadas. Já o amortecedor
apresenta uma taxa de resposta proporcional à força ou deformação aplicada. Estes elementos
podem ser associados de diversas maneiras, dentre as quais as mais conhecidas são as cadeias
de Maxwell (em série) e de Kelvin (em paralelo).

Uma melhor aproximação do comportamento viscoelástico do concreto pode ser obtida


utilizando-se modelos combinados, com um determinado número de molas e de amortecedores
associados em série ou em paralelo, chamados de modelos generalizados. Os modelos
reológicos mais utilizados para o concreto são os modelos generalizados de Maxwell e Kelvin,
conforme representam as figuras 4.5 e 4.6.

Figura 4.5 – Modelo de Maxwell generalizado: compreende uma associação em


paralelo de uma mola com diversos modelos de Maxwell

(fonte: LAZZARI, 2016)

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Figura 4.6 – Modelo de Kelvin generalizado: compreende uma associação em série


de diversos elementos de Kelvin

(fonte: LAZZARI, 2016)

Para estruturas de concreto, a representação da deformação diferida do material, pode ser


realizada por ambos modelos. Entretanto, sem a decomposição proposta na teoria da
solidificação de Bazant e Prasannan (1989a), os dois modelos acabam sendo dependentes do
envelhecimento do concreto. Desta forma, a utilização da cadeia de Maxwell sempre foi
preferida em relação à cadeia de Kelvin, devido à diferença nas ordens das equações diferenciais
que as descrevem: a de Maxwell é de primeira ordem, enquanto a de Kelvin é de segunda ordem.
O uso da teoria da solidificação permite, no entanto, que apenas o fator que independe do
envelhecimento do concreto seja ajustado, o que torna os demais parâmetros constantes e, com
isso, a cadeia de Kelvin mais atrativa (BAZANT; PRASANNAN, 1989b).

A descrição do modelo reológico de Kelvin generalizado, e a formulação para o ajuste dos seus
parâmetros estão apresentados em Quevedo (2017). Após o ajuste dos parâmetros da cadeia de
Kelvin é realizada a sua introdução no algoritmo incremental que resolve a solução numérica.
O algoritmo utilizado neste trabalho é baseado nos modelos desenvolvidos por Quevedo (2017);
Schmitz (2017) e Jensen (2019), os quais utilizaram o algoritmo proposto por Bazant e
Prasannan (1989b). Este algoritmo, que está apresentado com detalhes em Quevedo (2017), foi
desenvolvido admitindo a isotropia do material, e que a tensão varia linearmente em cada passo
de tempo, gerando soluções exatas das equações diferenciais neste pequeno intervalo de tempo.

4.1.5 Concreto tracionado: modelo para fissuração

O comportamento do concreto é caracterizado por possuir uma resistência ao esforço de tração


inferior à resistência ao esforço de compressão. Este fato faz com que o material sofra fissuração
mesmo para baixos níveis de tensão, provocando um comportamento não linear que influencia

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no desempenho carga x deslocamento de estruturas de concreto armado e protendido. Sendo


assim, a consideração deste efeito torna-se de fundamental importância para a análise estática
e dinâmica das etapas construtivas de uma ponte estaiada, a fim de se obter resultados mais
precisos, e um melhor entendimento sobre a distribuição dos esforços.

Neste trabalho, o modelo que representa o concreto sob tração é o sugerido por Hinton (1988),
o qual considera o concreto um material elástico linear até a fissuração, e após isso, utiliza o
modelo de fissuras distribuídas. Durante o processo de fissuração, a malha de elementos finitos
não sofre alteração, sendo a consideração deste efeito aplicada através das alterações das
propriedades do material, devido ao dano. Este modelo de fissuração é descrito por um critério
de fissuração, por uma regra de colaboração do concreto entre fissuras e por um modelo para a
transferência das tensões de corte.

Para o modelo de fissuras distribuídas, é necessário atualizar a relação tensão-deformação,


alterando-se as propriedades do material. O critério de fissuração é baseado na verificação da
tensão dos pontos de integração dos elementos, para avaliar se a superfície de ruptura foi
atingida em cada iteração. Neste trabalho, o critério de ruptura utilizado foi o proposto por
Ottosen (1977), o qual é adotado pelo Código Modelo da fib 2010 (2012). Uma vez atendido o
critério de ruptura, para que ocorra a fissuração no concreto, conforme indica o boletim nº 156
do CEB (1983), a tensão principal de tração 𝜎 deve atingir ou superar metade do valor da
resistência média à tração do concreto (𝑓𝑐𝑡𝑚). Para um ponto fissurado, o concreto que
inicialmente é considerado isotrópico, torna-se ortotrópico e admite-se que a fissura tenha se
formado num plano ortogonal à tensão principal de tração 𝜎 . Sendo assim, os módulos de
elasticidade longitudinal e transversal são reduzidos nessa direção, além de desprezado o efeito
de Poisson (HINTON, 1988).

Segundo Hinton (1988), os primeiros estudos realizados utilizando a análise numérica em


elementos de concreto, admitiam que o concreto sob tração era um material elástico frágil, ou
seja, quando ocorria uma fissura, a tensão normal àquela fissura era imediatamente zerada.
Posteriormente se observou que o efeito da aderência entre o concreto e as barras de aço
contribui ativamente para a rigidez total das estruturas, permitindo que o concreto entre fissuras
continue resistindo aos esforços de tração, suportando um determinado nível de tensão.

Este fenômeno é conhecido por enrijecimento à tração, ou tension stiffening. Para considerá-lo
na análise numérica pode-se alterar o comportamento do concreto ou do aço. Neste trabalho,
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utilizou-se a opção adotada por Hinton (1988), que sugere a modificação da curva tensão-
deformação do concreto tracionado, de modo a introduzir um ramo descendente suave após a
fissuração do concreto. Isso faz com que o comportamento do concreto tracionado seja
considerado linear com amolecimento, conforme ilustra a figura 4.7

Figura 4.7 – Curva tensão-deformação para o concreto tracionado

(fonte: HINTON 1988 apud LAZZARI, 2016)

Em geral, as primeiras fissuras que surgem no concreto sob tração, são perpendiculares à
direção da máxima tensão principal de tração 𝜎 . Porém, em função de mudanças no
carregamento ou até mesmo por não linearidades na estrutura, as direções principais se
modificam, produzindo deslocamentos relativos das faces da fissura, os quais originam o
surgimento de tensões de corte.

No concreto, a capacidade de transferência das tensões de corte após a fissuração depende das
condições locais, sendo inversamente proporcional ao aumento da abertura da fissura. Esta
transferência de esforços verticais é realizada através de dois mecanismos, conhecidos como
engrenamento dos agregados e efeito de pino da armadura. Desta forma, os fenômenos ligados
às características dos materiais, como a granulometria e o tipo dos agregados, o diâmetro das
barras de armadura e a posição relativa da armadura em relação ao plano da fissura vão
influenciar diretamente na capacidade de transferência das tensões de corte.

Como estes mecanismos mencionados não podem ser incluídos diretamente no modelo de
fissuras distribuídas, neste trabalho, faz-se uma aproximação adotada por Hinton (1988), que
consiste em utilizar um valor reduzido para o módulo de elasticidade transversal do concreto,
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Elementos Finitos
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correspondente ao plano fissurado. Desta forma, multiplica-se o módulo de deformação por


corte do concreto não fissurado G0 (equação 4.3) por um fator redutor 𝛽f , calculado pela
equação 4.4, em que Ec é o módulo de elasticidade transversal do concreto, ν é o coeficiente de
Poisson e 𝜀 é a deformação de tração fictícia perpendicular à fissura.

𝐸
𝐺 = (equação 4.3)
2(1 + 𝜈)

𝜀 ,
𝛽 =1− (equação 4.4)
0,005

4.2 AÇO

Neste trabalho foi utilizado um modelo uniaxial para representar o comportamento das
armaduras passivas e ativas, considerando que estas barras resistam apenas a esforços axiais.
Ao material utilizado para representar as armaduras passivas foi atribuído um comportamento
elastoplástico com endurecimento linear a partir de 0,85 da tensão de escoamento. Para este
material foi considerado o mesmo comportamento em tração e compressão. A representação
deste modelo é dada por um diagrama tensão-deformação bilinear, conforme apresenta a figura
4.8(a). Como parâmetro de endurecimento foi utilizado o valor fornecido pela expressão 4.5.

0,15. 𝑓
𝐻 =
0,85. 𝑓 (4.5)
10‰ −
𝐸

Para as armaduras ativas, o material tem um comportamento elástico linear até atingir 90%
do valor da tensão de ruptura fptk. Após atingido este valor, apresenta um comportamento com
endurecimento linear, conforme apresentado na figura 4.8(b).

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Figura 4.8 – Modelo elastoplástico com endurecimento linear: (a) para as armaduras
passivas; (b) para as armaduras ativas

(a) (b)
(fonte: LAZZARI, 2016)

Quando uma deformação é mantida constante em uma armadura protendida, a tensão diminui
com o tempo, verificando-se o comportamento conhecido como relaxação. O efeito da
relaxação, que é um fenômeno viscoelástico da mesma natureza da fluência no concreto, pode
gerar uma perda de tensão significativa ao longo do tempo, caso a armadura protendida esteja
submetida a elevadas tensões.

Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2014), a relaxação de fios, cordoalhas e barras protendidas, para
tensões variando entre 0,5 fptk a 0,8 fptk, obtida após 1000 horas de ensaio realizado a uma
temperatura controlada de 20 °C (Ψ1000), conforme descreve a NBR 7484 (ABNT, 2009), não
pode ultrapassar os valores definidos pelo quadro 4.1.

Analisando o quadro 4.1, pode-se observar que se a cordoalha, fio ou barra estiver submetida a
uma tensão de tração inferior a 50% da tensão de ruptura fptk, o efeito da relaxação torna-se
desprezível. Desta forma, como as tensões no aço dos estais em condição de serviço ficam
limitadas a 45% da tensão de ruptura fptk, conforme recomendação da Fédération Internationale
du Béton (2005), o efeito da relaxação neste material não foi considerado neste estudo.

Quadro 4.1 – Valores de Ψ1000 para cordoalhas, fios e barras, segundo a NBR 6118
σp0 CORDOALHAS FIOS BARRAS
RN RB RN RB
0,5 fptk 0% 0% 0% 0% 0%
0,6 fptk 3,5 % 1,3 % 2,5 % 1,0 % 1,5 %
0,7 fptk 7,0 % 2,5 % 5,0 % 2,0 % 4,0 %
0,8 fptk 12,0 % 3,5 % 8,5 % 3,0 % 7,0 %
Onde: RN = relaxação normal; RB = relaxação baixa.
(fonte: ABNT, 2014)
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Elementos Finitos
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5 ANÁLISE NUMÉRICA UTILIZANDO O SOFTWARE ANSYS

As simulações numéricas realizadas ao longo deste trabalho, foram baseadas no método dos
elementos finitos, de modo a analisar o comportamento não linear dos materiais concreto e aço,
que, em geral, são considerados de forma simplificada em práticas de projeto. Para tanto, foi
utilizado o programa em elementos finitos ANSYS (Analysis Systems Incorporated), o qual é
um software que vem sendo cada vez mais empregado, tanto no meio profissional quanto no
acadêmico, pois fornece uma interface amigável ao mesmo tempo em que torna a programação
interna mais acessível.

O programa ANSYS possui uma linguagem chamada APDL (ANSYS Parametric Design
Language) a qual permite estruturar o problema em arquivo de texto (scripts), e, portanto, um
maior controle do usuário sobre a simulação numérica. Esta ferramenta possibilita a criação de
variáveis, o uso de estruturas de controle (DO, IF, ...) e a execução das mais diversas funções
de pré e pós-processamento. A plataforma ANSYS oferece ainda opções diversificadas para a
escolha de elementos finitos e de modelos constitutivos de materiais, além de possuir o recurso
de ativação e desativação dos elementos, o qual foi de extrema importância para simular o
processo de construção da ponte analisada nesta tese. Além destes elementos finitos e modelos
constitutivos pré-definidos internamente no programa principal, o sistema disponibiliza
também uma ferramenta de customização, a qual possui recursos programáveis em Fortran 77
que permitem, por exemplo, a introdução de novos modelos de materiais. De forma
complementar, o excelente menu de ajuda com a sintaxe dos comandos APDL e manuais
descritivos da teoria, bem como o acesso ao suporte e à licença de uso, fornecida pelo
laboratório CEMACOM-PPGEC/UFRGS, contribuíram para a escolha desse software para a
realização das simulações numéricas deste trabalho.

A seguir são apresentadas as informações sobre o funcionamento do software ANSYS em


problemas não lineares e os detalhes dos elementos finitos utilizados para a modelagem
computacional, além de algumas informações sobre a customização do material através da
rotina USERMAT. Apresentam-se ainda alguns testes iniciais que serviram como base para a
posterior simulação numérica apresentada nos próximos capítulos.

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5.1 SOLUÇÃO DE PROBLEMAS NÃO LINEARES NO ANSYS

O método dos elementos finitos, aplicado a um modelo estrutural, tem como objetivo dividir
um meio contínuo em elementos discretos, cujo comportamento individual seja conhecido,
formando assim uma malha de elementos. A solução da equação 5.1 permite que, a partir do
cálculo dos deslocamentos nodais, sejam fornecidas as tensões e deformações no interior dos
elementos e as reações nos pontos de apoio.

[𝐾]{𝑢} = {𝐹 } (equação 5.1)

Sendo:
[K]: matriz de rigidez global, resultante da montagem das matrizes de cada elemento;
{u}: vetor incógnita contendo os deslocamentos nodais de todos os nós de cada elemento;
{Fa}: vetor de forças externas aplicadas nos nós.

Quando o problema possui alguma não linearidade, ou seja, quando a matriz de coeficientes
[𝐾] se altera dependendo do nível da carga ou do tempo, a equação 5.1 é dita não linear. Nestes
casos, a aplicação do método dos elementos finitos resulta na montagem de um sistema de
equações não lineares, que deve ser resolvido a partir de um método numérico. A solução deste
sistema pode ser realizada pelo ANSYS através do método de Newton-Raphson, o qual
constitui-se em um processo iterativo de convergência bastante eficaz. Sua formulação, baseada
em Bathe (1996), consiste em aplicar as expressões 5.2 e 5.3.

[𝐾 ]{𝛥𝑢 } = {𝐹 } − {𝐹 } (equação 5.2)

{𝑢 } = {𝑢 } + {𝛥𝑢 } (equação 5.3)

Sendo:
{𝛥𝑢 }: vetor de incrementos de deslocamentos nodais na iteração atual i;

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{𝐹 }: vetor de forças internas, correspondente ao vetor de forças restauradoras, na iteração


atual i;
{𝐹 } − {𝐹 } = {𝑅 }: vetor de carga desbalanceado, ou resíduo, para a iteração atual i;
[𝐾 ]: matriz de rigidez tangente na iteração atual i;
{𝑢 }: vetor contendo o valor das incógnitas dos nós para a próxima iteração i+1;
{𝑢 }: vetor incógnita dos nós para a iteração atual i.

A figura 5.1 mostra o método de Newton-Raphson aplicado em uma iteração e na iteração


seguinte. O algoritmo deste processo pode ser simplificado nos seguintes passos (ANSYS,
2013):

1. Para a primeira iteração, assume-se {𝑢0} = {0}. Para as aproximações seguintes,


utiliza-se o deslocamento da solução que convergiu no último passo;
2. Calcula a matriz tangente atualizada [𝐾 ] e o vetor de forças internas {𝐹 }, a
partir do deslocamento obtido no passo 1 {𝑢 };
3. A partir da equação 5.2, calcula {𝛥𝑢 };
4. Aplicando-se a equação 5.3, adiciona {𝛥𝑢 } ao vetor de incógnitas {𝑢 } para
obter a próxima iteração {𝑢 };
5. Repete os passos 2 a 4 até que a convergência seja obtida, ou seja, o resíduo fique
abaixo de uma determinada tolerância.

Figura 5.1 – Método de Newton-Raphson: (a) primeira iteração; (b) próxima iteração

(a) (b)
(fonte: adaptado de ANSYS, 2013)

Caso o processo de solução exija que alguns passos intermediários estejam em equilíbrio, como
ocorre em uma análise incremental, onde o vetor de cargas final é aplicado em etapas e/ou as
propriedades dos materiais são atualizadas em incrementos de tempo, é necessário adicionar

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mais um índice nas expressões 5.2 e 5.3. Estas expressões passam a ser representadas conforme
mostram as equações 5.4 e 5.5; onde 𝑛 representa o sub-passo de incremento de carga ou tempo
e i a iteração de equilíbrio.

[𝐾 ] , {𝛥𝑢} , = {𝐹 } − {𝐹 } , (equação 5.4)

{𝑢} , = {𝑢} , + {𝛥𝑢} , (equação 5.5)

Neste caso, os valores de {𝑢} , , [𝐾 ] , e {𝐹 } , utilizados no começo do processo em cada


incremento n de carga ou tempo são iguais a solução convergente anterior n-1, conforme ilustra
a figura 5.2.

Figura 5.2 – Ilustração do método de Newton-Raphson com etapas intermediárias de equilíbrio

(fonte: adaptado de ANSYS, 2013 apud QUEVEDO, 2017)

O controle destas iterações, no ANSYS, pode ser feito pelo comando DELTIM, utilizado para
especificar o tamanho do sub-passo; ou através do comando NSUBST, que específica o número
de divisões do incremento de carga ou de tempo. Além disso, o ANSYS possui o comando
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Elementos Finitos
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AUTOTS, que oferece a opção de definir automaticamente mais sub-passos, quando as


tentativas de convergência nas iterações de equilíbrio são esgotadas. Para cada incremento de
carga ou de tempo as iterações de equilíbrio continuam até que a convergência seja atingida ou
o limite máximo de iterações seja alcançado, o qual pode ser controlado através do comando
NEQIT.

Conforme mostram as equações 5.6 e 5.7, os vetores de carga desbalanceado (ou resíduo) e de
incremento dos deslocamentos nodais são utilizados para verificar a convergência durante as
iterações de equilíbrio.

‖{𝑅} ‖ < 𝜀 𝑅 (equação 5.6)

‖{𝛥𝑢} ‖ < 𝜀 𝑢 (equação 5.7)

Onde:
‖{𝑅} ‖: norma do resíduo da iteração de equilíbrio i;
‖{𝛥𝑢} ‖: norma do vetor de incremento de deslocamentos da iteração de equilíbrio i;
𝜀 : tolerância para o resíduo que por padrão é 0,5%;
𝑅 : valor de referência para o resíduo, que por padrão é o maior entre ‖{𝐹 } ‖ ou 0,01;
𝜀 : tolerância para deslocamentos, que por padrão é assumido como 5%;
𝑢𝑅𝐸𝐹: valor de referência para deslocamentos, que por padrão é ‖{𝑢} ‖.

O usuário do ANSYS pode também controlar a convergência do método de Newton-Raphson


através de uma série de formulações a partir do comando NROPT. Este comando disponibiliza
quatro alternativas quanto a atualização da matriz de rigidez durante o processo. Neste trabalho
utilizou-se o método de Newton-Raphson Completo (Full), em que a matriz de rigidez é
atualizada a cada iteração. Além disso, quando se trabalha com problemas mal condicionados,
seja pela forma pobre dos elementos ou por uma grande diferenciação nas propriedades dos
materiais em diferentes regiões do modelo, é recomendável utilizar a opção SPARSE, através
do comando EQSLV. Esta solução do sistema pode ser aplicada a matrizes simétricas e não

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simétricas de valor real ou complexo, podendo ser utilizada em análises não lineares, como é o
caso deste trabalho (ANSYS, 2013).

5.2 ELEMENTOS FINITOS UTILIZADOS

O ANSYS possui em sua biblioteca uma série de elementos finitos cuja escolha depende do
tipo de problema a ser analisado, esforço computacional envolvido e função estrutural. Cada
elemento possui uma série de particularidades e possibilidades de configuração. Nos itens 5.2.1
a 5.2.4 são apresentadas as características dos elementos finitos utilizados para a representação
dos elementos em aço e concreto da ponte analisada.

5.2.1 Elemento finito sólido tridimensional SOLID186

O SOLID186, é um elemento quadrático tridimensional, com três graus de liberdade por nó


(translação segundo os eixos X, Y e Z). Este elemento é composto por 20 nós, distribuídos
conforme apresenta a figura 5.3, podendo apresentar além do formato hexaédrico, utilizado
neste estudo, diversas outras configurações.

Figura 5.3 – Elemento SOLID186

(fonte: ANSYS, 2013)

O SOLID186 foi escolhido para a modelagem das peças em concreto por obter bons resultados,
sem a necessidade de grande discretização da malha, além de possuir compatibilidade com o
elemento REINF264, fundamental para a representação do concreto com armadura
incorporada. Além disso, este elemento finito é compatível com a rotina USERMAT, e com o

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Elementos Finitos
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processo de ativação e desativação de elementos, o qual foi utilizado durante as soluções dos
casos de carga da simulação das etapas construtivas da ponte estaiada. Como configurações do
elemento foram utilizadas a formulação clássica de deslocamento puro (pure displacement) e a
opção de integração completa (full integration).

5.2.2 Elemento de reforço REINF264

Em estruturas de concreto armado, as barras de armadura podem ser modeladas de três formas:
discreta, distribuída ou incorporada. A armadura discreta é representada por elementos
unidimensionais do tipo treliça, apresentando a limitação da malha de elementos de concreto
em função da distribuição da armadura. A armadura distribuída é composta por um modelo de
discretização em camadas, o que gera uma menor precisão nos dados de esforços nas armaduras.
Já a armadura incorporada é representada por uma linha de material mais rígido no interior de
um elemento de concreto, considerando a aderência perfeita entre os dois materiais.

Neste trabalho, optou-se por representar as barras de armadura com o modelo incorporado,
tendo em vista a possibilidade de se adotar posições arbitrárias para o aço no interior do
elemento base, não exigindo um maior refinamento da malha de elementos de concreto. No
software ANSYS, o elemento indicado para simular as fibras de reforço é o elemento
REINF264. O elemento REINF264 pode ser utilizado juntamente com elementos de viga
(beam), elementos de casca (shell) ou elementos sólidos (solid). A figura 5.4 apresenta a
compatibilidade deste elemento com o elemento sólido tridimensional hexaédrico de 20 nós.

Figura 5.4 – Compatibilidade do elemento REINF264 com o elemento SOLID186

(fonte: elaborada pela autora)


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O elemento REINF264 permite modelar cada fibra de reforço de forma isolada, como uma barra
que resiste exclusivamente a esforços axiais, de tração ou de compressão. Com base nisto, este
elemento foi adotado para a representação das armaduras passivas longitudinais e transversais
utilizadas no tabuleiro (figura 5.4) e no pilone da ponte estudada. As configurações relativas
aos graus de liberdade e deslocamentos do elemento REINF264, são idênticas às do elemento
base (SOLID186), resultando, para este caso, em três graus de liberdade por nó, com
consideração de aderência perfeita entre o concreto e o aço.

A adição do elemento REINF264 pode ser feita através da indicação das coordenadas relativas
dos elementos base, sendo dependente da disposição da malha destes elementos no modelo
computacional. Em Lazzari (2016), estão apresentados alguns exemplos de implementação do
elemento de reforço através do script de entrada de dados. Este procedimento foi utilizado na
primeira fase deste trabalho, referente ao lançamento das armaduras do tabuleiro da ponte.
Porém, como o sistema dificulta o processo de automatização da geração das malhas, para o
lançamento das armaduras do pilone, foi utilizada uma nova funcionalidade, disponibilizada
nas versões mais recentes do ANSYS, através do uso de elementos guia MESH200. Os
elementos MESH200 são somente elementos de malha, ou seja, determinam a posição dos
elementos de reforço de forma independente da malha de elementos base e não contribuem
diretamente para a solução do problema. O procedimento para a introdução dos elementos de
reforço, tendo como base o método da malha independente (mesh-independent method),
consiste, inicialmente, na criação dos elementos que servirão de base para o reforço, neste caso
a malha de elementos SOLID186. Em seguida devem ser desenhadas as linhas que representam
a posição de cada armadura passiva no modelo. Após isso, essas linhas são discretizadas em
elementos MESH200, sendo estes representados por elementos de barra com suas respectivas
áreas de seção transversal e materiais associados. Para a criação do reforço, devem ser
selecionados tanto os elementos base quanto os elementos MESH200, seguido pelo comando
EREINF. Sendo assim, o ANSYS identifica onde os elementos MESH200 estão cruzando com
os elementos base, criando elementos REINF264 nestas posições (BENINCÁ, 2019).

5.2.3 Elemento finito unidimensional LINK180

O elemento LINK180, representado pela figura 5.5, é um elemento unidimensional de dois nós
e três graus de liberdade em cada nó (translação segundo os eixos X, Y e Z). Para adicionar as
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propriedades geométricas neste elemento, podem ser criadas constantes reais (real constants)
na entrada de dados do próprio elemento, ou utilizar os comandos SECTYPE e SECDATA.
Além disso, apresenta a possibilidade de funcionamento apenas quando o cabo estiver
solicitado à tração (tension only), apenas quando estiver solicitado à compressão (compression
only), ou ainda a opção padrão do ANSYS, que permite o funcionamento do elemento quando
tracionado ou comprimido (tension and compression). Este elemento foi utilizado nas análises
realizadas neste trabalho para representar os estais.

Figura 5.5 – Elemento LINK180

(fonte: ANSYS, 2013)

Um estai é caracterizado por ter a sua forma geométrica equivalente a um cabo suspenso, ou
seja, não possui rigidez à flexão e está submetido a um carregamento distribuído ao longo de
seu comprimento (peso próprio). Sendo assim, a rigidez do estai, juntamente com a sua variação
de geometria, caracteriza um comportamento não linear geométrico, o que torna a análise deste
elemento mais complexa.

Com base em uma revisão bibliográfica feita na literatura técnica, foi possível observar que
existem diversas propostas para que a solução deste problema seja realizada de forma
aproximada. Uma alternativa para modelar o comportamento não linear dos estais, é representar
cada cabo, no modelo numérico, como um único elemento de barra, porém corrigindo a rigidez
do estai por meio da utilização de um módulo de elasticidade idealizado (rigidez de Ernst). Uma
segunda abordagem consiste em dividir cada estai em vários segmentos de barra, de modo que
o incremento do deslocamento na extremidade de um estai implique também em uma variação
na flecha deste cabo. No intuito de entender as diferenças envolvidas entre a resposta do modelo
numérico para os estais discretizados como elementos únicos de barra ou como um conjunto de
elementos de barra, são apresentados os itens a seguir.

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5.2.3.1 Rigidez de Ernst

A rigidez de uma ponte estaiada é dependente, em grande parte, da rigidez à tração dos estais.
A rigidez de um estai, por sua vez, é definida por uma série de parâmetros, tais como o seu
comprimento e a força pré-instalada, também conhecida como pré-alongamento. Dessa forma,
pode-se afirmar que os estais apresentam um comportamento não linear geométrico, uma vez
que a sua rigidez perante o restante da estrutura varia de acordo com os parâmetros dos estais.

Em seu artigo, Ernst (1965) apresenta uma solução simples para a determinação da rigidez
tangente do estai, através da sua representação como um elemento linear idealizado,
posicionado na corda do cabo. Como essa rigidez axial varia de acordo com a tensão de trabalho
no estai, é necessário efetuar um processo iterativo para atingir a força resultante. Em uma
análise não linear aproximada, um procedimento numérico simplificado seria adotar, durante o
processo incremental, um valor de módulo de elasticidade variável para este elemento. Sendo
assim, em cada fase da análise, a rigidez do estai seria corrigida em função da força variável
aplicada no cabo, de forma que a rigidez axial proposta por Ernst seria equivalente a uma rigidez
tangente de um estai, para um determinado estado de forças em equilíbrio da estrutura.

Segundo Ernst (1965), para que a posição de equilíbrio do cabo seja obtida, é necessário
representá-lo na forma de uma catenária, já que ele não possui rigidez à flexão. Essa forma
depende do peso específico do aço, da área da seção transversal, do comprimento e do módulo
de elasticidade do estai, além do valor da força aplicada em suas extremidades. A expressão
para determinar o módulo de elasticidade tangente idealizado Ei, ou módulo de Ernst, de um
cabo com projeção horizontal V, tracionado sob tensão 𝜎, e com módulo de elasticidade 𝐸𝑒 é:

𝐸
𝐸 = (equação 5.8)
𝐸
1 + (𝛾. 𝑉)
12. 𝜎

Onde:
𝑉: projeção horizontal do cabo;
σ: tensão normal no aço;
γ: peso específico aparente do aço (com consideração das cargas adicionais do cabo);
Ee: módulo de elasticidade do material.
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Em Walther et al. (1999), foram traçadas curvas variando a relação entre o módulo de
elasticidade tangente idealizado Ei e o módulo de elasticidade do aço Ee, em função do
comprimento da projeção horizontal do estai. Como os valores utilizados para o traçado dessas
curvas são obsoletos em comparação com os da atualidade, o gráfico proposto por Walther et
al. (1999) foi atualizado, levando em consideração os materiais utilizados na Ponte do Saber.
Desta forma, foram traçadas novas curvas, conforme mostrado na figura 5.6, para um aço com
uma designação não normalizada, CP177-RB, que corresponde a uma resistência característica
de ruptura fptk de 1.736 MPa, módulo de elasticidade Ee de 195 GPa, e peso específico aparente
γ de 91,60 kN/m³. O peso específico do aço foi aumentado de forma fictícia para levar em conta
além do peso específico das cordoalhas, também os elementos adicionais do cabo como os tubos
de PEAD e a cera contida nas cordoalhas.

Figura 5.6 – Diagramas com a relação entre a projeção horizontal do estai e a razão Ei/Ee, em função da
tensão atuante no estai dada como fração da tensão de ruptura fptk do mesmo

(fonte: adaptada de WALTHER et al., 1999)

A partir dos gráficos apresentados na figura 5.6 confirma-se a maior influência do peso próprio
do material, quanto maior for o comprimento do cabo. Além disso, para um mesmo valor de
projeção horizontal de um cabo, quanto mais elevada for a tensão no aço, mais o módulo de
elasticidade tangente idealizado Ei se aproxima do módulo de elasticidade do aço do estai Ee.
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Atualmente, os critérios de projeto limitam a tensão máxima em um estai de uma ponte estaiada
sob ação de todas as cargas no Estado Limite de Serviço (ELS) a 45% da resistência
característica à ruptura do aço. Em geral, nos projetos de pontes estaiadas, as tensões nos estais
correspondem a uma faixa entre 35% a 45% da tensão última do aço do estai. Sendo assim,
adotando-se como exemplo a pior situação da ponte estaiada em estudo, através da análise do
estai com a maior projeção horizontal (estai T18), a qual equivale a 184 metros; pode-se
observar que, sob valores usuais de forças nos estais (35% a 45% da tensão última do aço,
conforme verificação realizada na simulação numérica das etapas construtivas da Ponte do
Saber), chega-se a uma relação Ei/Ee compreendida entre 98% e 100%. Sendo assim, para as
análises realizadas neste trabalho, o módulo de elasticidade utilizado na modelagem do material
constituinte do estai foi considerado constante e igual a 195 GPa.

5.2.3.2 Modelagem numérica dos estais

Em programas de análise estrutural, baseados no método dos elementos finitos, os estais podem
ser modelados como um único elemento de barra, ou como uma série de elementos de barra
discretizados ao longo do comprimento do cabo. Adotando-se este segundo modelo de malha,
é possível considerar, em uma análise não linear geométrica, o efeito do peso próprio sobre a
distribuição de tensões no estai, ao longo do processo de carregamento da estrutura. Entretanto,
quanto menor for o comprimento do cabo, os resultados das análises comparativas entre estes
dois modelos de malha, em geral, não apresentam diferenças significativas, mostrando que,
nestes casos, é plausível o uso de elementos únicos de barra para representação dos estais.
Almeida (2017) e Toledo (2014) mostram em seus trabalhos que, embora os elementos de barra
representem uma forma linear não realista aos estais, na faixa de tensão em que estes trabalham,
a discrepância de resultados entre as duas possibilidades de modelagem é praticamente nula, de
forma que representá-los como uma barra não traz perda de precisão ao modelo computacional.

Para auxiliar na escolha do tipo de modelagem a ser utilizada nos estais da ponte analisada neste
trabalho, foi realizado um estudo comparativo, através do software ANSYS, considerando duas
diferentes configurações de malha para um mesmo estai, variando-se também o comprimento
total (l) deste elemento. Na figura 5.7, são apresentados os dois modelos de malha inseridos no
programa ANSYS, através da utilização do elemento unidimensional LINK180, considerando
o seu funcionamento apenas sob tração (tension only).

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Elementos Finitos
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Figura 5.7 – Modelos de malha de elementos LINK180 utilizados para representar um estai no software
ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

O estai de referência escolhido para a realização destas análises foi o estai T18 da Ponte do
Saber, o qual é formado por um aço CP177-RB, que corresponde a uma resistência
característica de ruptura fptk de 1.736 MPa, módulo de elasticidade de 195 GPa, e peso
específico aparente de 91,60 kN/m³. A área da seção transversal deste estai corresponde a 82,5
cm², sendo constituído por 55 cordoalhas de 15,7 mm de diâmetro externo. O comprimento da
corda deste estai é o maior entre os estais da ponte estaiada em estudo, sendo l = 200 m, com
184 m de projeção horizontal e 78,38 m de projeção vertical. Como condições de contorno,
foram restringidas as translações nas direções dos eixos X, Y e Z nas duas extremidades do
cabo. Nas análises realizadas em ambos modelos apresentados, os carregamentos considerados
foram o peso próprio dos elementos (g), através da consideração da densidade do material; e a
aplicação de uma carga em uma das extremidades do cabo em forma de deslocamentos
impostos, simulando incrementos de deformação equivalentes a 0,05% na direção do estai.

A figura 5.8 apresenta os gráficos comparativos entre a análise do estai de referência (l = 200
m), e outro com a metade do seu comprimento (l = 100 m). Nestes gráficos está indicada a
relação entre os deslocamentos aplicados nas extremidades dos cabos, traduzidos em
deformações específicas (eixo das abscissas); e as forças axiais obtidas em cada modelo,
representadas pela tensão em relação a tensão de ruptura do estai (% fptk) (eixo das ordenadas).

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Figura 5.8 – Gráficos da relação entre as deformações específicas aplicadas e as tensões resultantes nos
estais para os dois modelos de malha analisados para os comprimentos de 100 m e 200 m de cabo
l = 100 m l = 200 m

(fonte: elaborada pela autora)

Nos gráficos da figura 5.8, pode-se observar também as diferenças percentuais obtidas entre as
tensões resultantes em cada modelo de estai analisado. É possível notar que, sob valores usuais
de forças nos estais (em geral, os estais de pontes estaiadas, estão submetidos a elevados níveis
de tração, trabalhando com pré-alongamentos da ordem de 2‰), as diferenças obtidas entre os
modelos de malha não são significativas para os dois comprimentos de cabos simulados.
Observa-se que, para baixos níveis de tensões nos estais (inferiores a 15% de fptk), os resultados
para os dois modelos começam a apresentar uma diferença mais acentuada (superior a 10%). A
figura 5.9 apresenta esta mesma análise, porém para comprimentos de cabos iguais a 2 e 4 vezes
o comprimento do estai de referência (T18). A partir desta segunda análise pode-se comprovar
a influência do comprimento do estai na divergência entre os resultados obtidos, pois quanto
maior for o comprimento do estai, mais significativo será o efeito de catenária no cabo.

Figura 5.9 – Gráficos da relação entre as deformações específicas aplicadas e as tensões resultantes nos
estais para os dois modelos de malha analisados para os comprimentos de 400 m e 800 m de cabo
l = 400 m l = 800 m

(fonte: elaborada pela autora)


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Para o caso em estudo, como o vão estaiado da ponte possui cabos com comprimento máximo
de 200 m, tendo em vista os valores usuais de forças atuantes nos estais (35% a 45% da tensão
última do aço), a simplificação do uso de um único elemento de barra para modelagem de cada
estai é adequada. Esta simplificação reduz de forma significativa o esforço computacional
exigido para a análise da estrutura completa, uma vez que a discretização do estai em diversos
elementos, adiciona mais graus de liberdade a serem solucionados nos processos iterativos, o
que exige também um maior número de passos de carga para a convergência do modelo. Estes
resultados estão de acordo com o que foi exposto por Toledo (2014) e Almeida (2017), os quais
relataram que, na faixa de trabalho dos estais, a diferença entre a resposta de um modelo com
elemento de barra e de um modelo com elemento de cabo é praticamente inexistente. Os autores
concluem que esta diferença é relevante apenas quando o cabo está pouco tracionado.

5.2.4 Elementos de ativação e desativação (Birth and Death elements)

O recurso de ativação e desativação de elementos (Birth and Death elements), disponível no


software ANSYS, é de grande utilidade quando se deseja analisar as etapas construtivas de uma
determinada estrutura. Desta forma, é possível simular, por exemplo, o processo de escavação
e colocação de revestimento em túneis, a construção faseada de pontes e edifícios, a introdução
de um sistema de reforço em uma estrutura já deformada, entre outras aplicações. No presente
trabalho, esta ferramenta foi fundamental para analisar as etapas construtivas da ponte estaiada
estudada, pois os elementos utilizados para representar as aduelas do tabuleiro, os segmentos
do pilone e os estais puderam ser ativados em diferentes idades, compatíveis com as idades de
construção da estrutura. Além disso, é importante destacar que nem todos os elementos e tipos
de soluções disponíveis no ANSYS são compatíveis com a utilização deste recurso, de forma
que neste estudo, a escolha dos mesmos também foi realizada com base neste critério.

A ferramenta Birth and Death elements, permite então, que seja realizada a ativação ou
desativação de elemento finitos, para etapas de carga específicas durante a análise. Quando se
faz a desativação de um ou de vários elementos (Death), a qual pode ser executada a partir da
seleção dos elementos desejados, seguido pelo comando EKILL; estes elementos não são
efetivamente removidos do modelo. O que ocorre, na realidade, é que as respectivas rigidezes
de cada elemento são multiplicadas por um fator de redução relevante, tornando estes elementos
inativos. O fator de multiplicação da rigidez padrão do software ANSYS é definido pelo valor

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de 1E-6, porém este número pode ser controlado pelo usuário através do comando ESTIF.
Quando um elemento é desativado, as propriedades deste, como massa, amortecimento, calor
específico, tensão e outros efeitos são zerados pelo programa. As cargas de elemento associadas
aos elementos desativados também são zeradas no vetor de cargas, no entanto, elas continuam
aparecendo na lista de carregamentos atuantes nos elementos.

De forma semelhante, para fazer a ativação de um ou de vários elementos (Alive), em primeiro


lugar deve ser realizada a desativação dos elementos previamente selecionados. Em seguida,
pode-se adicionar novamente estes elementos ao modelo, através do comando de ativação
EALIVE. Quando estes elementos são reativados, a sua rigidez, massa e carga atuante, que
foram definidas nos dados de entrada da análise, retornam aos seus valores originais.

Quando os elementos são reativados, não há registro de histórico de deformação nos mesmos;
isto é, um elemento reativado é geralmente livre de tensão residual. Caso os efeitos de grandes
deformações não sejam ativados (NLGEOM, OFF), os elementos são reativados em sua
configuração geométrica originalmente especificada. Desta forma, pode-se concluir que os
efeitos de grandes deformações, devem ser incluídos nas análises de faseamento construtivo de
pontes em balanços sucessivos, a fim de que os elementos que formam a aduela seguinte da
sequência construtiva sejam ativados junto à posição deformada da aduela ativada em uma
etapa anterior. Sendo assim, os resultados numéricos obtidos a partir desta análise não linear
geométrica são capazes de traduzir o que ocorre na construção de forma mais aproximada.

5.3 CUSTOMIZAÇÃO DO MODELO DO CONCRETO

O ANSYS possui uma série de recursos programáveis que permitem ao usuário escrever suas
rotinas, adaptando o programa às necessidades da análise. Os recursos de customização,
compreendem a criação de novos elementos; a modificação de elementos existentes; a
customização do comportamento de um material e de elementos de contato (QUEVEDO, 2017).

Cada um desses recursos dispõe de uma série de sub-rotinas programadas em Fortran 77 que o
usuário pode acessar, alterar, compilar e associar ao programa principal. Nesse trabalho, para
implementar o comportamento viscoelástico do concreto, bem como a verificação da fissuração
para o concreto tracionado, conforme as formulações descritas anteriormente, foi utilizado o

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recurso de customização referente ao comportamento do material. Dentre as várias sub-rotinas


relacionadas ao comportamento do material, foi utilizada a USERMAT. Esse algoritmo permite
que o usuário interfira na lei de comportamento do material, inserindo novas equações
constitutivas, de acordo com as necessidades de projeto. Para que esta rotina esteja disponível
para modificações, deve-se instalar o ANSYS, ativando o item ANSYS Customization Files. O
procedimento para linkagem entre a USERMAT e o programa principal está descrito de forma
detalhada em Lazzari (2016).

Para o caso do concreto utilizado na modelagem da ponte deste trabalho, o modelo do material
foi inserido dentro da sub-rotina USERMAT3D, a qual é chamada pelo programa principal
quando o problema possui mais de 4 componentes de tensão, como em problemas
tridimensionais, de estado plano de deformações e axissimétricos. Além disso, o programa
disponibiliza outras três sub-rotinas internas (USERMATPS, USERMATBM, USERMAT1D),
as quais são escolhidas conforme o número de componentes de deformação ou tensão e das
dimensões envolvidas no problema (1D, 2D ou 3D).

Para as análises não lineares, cuja solução adotada é o método de Newton Raphson, o software
ANSYS divide as etapas de carga em substeps (sub-passos). Estes carregamentos são
transformados em incrementos de deformações pelo programa principal, e servirão como dados
de entrada na rotina USERMAT, a qual é chamada para cada iteração de equilíbrio. Com base
nos modelos reológicos programados pelo usuário, a função desta rotina é atualizar as tensões
nos elementos para cada ponto de integração, calculando os resíduos de deformações
provenientes de cada iteração de equilíbrio. Quando esse equilíbrio é satisfeito, as tensões,
deformações e variáveis de estado (dimensionadas no vetor ustatev) são atualizadas, passando-
se assim para o próximo substep. Esse processo segue até que não haja convergência ou termine
o último passo de tempo ou de carga (QUEVEDO, 2017; SCHMITZ, 2017). O funcionamento
da USERMAT no ANSYS, para cada caso de carga no processo de análise não linear, é
ilustrado de forma esquemática através do fluxograma da figura 5.10. Nesta imagem pode-se
observar que a consideração da fluência e da retração do concreto corresponde à análise dos
efeitos de longa duração; já a verificação e consideração da fissuração está inserida dentro da
análise dos efeitos de curta duração.

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Figura 5.10 – Fluxograma do funcionamento da USERMAT no ANSYS

(fonte: adaptado de SCHMITZ, 2017)

A determinação das deformações que evoluem com o avanço do tempo, é realizada pelo
processo iterativo dentro da USERMAT. De forma mais específica, o primeiro passo constitui-
se em incluir as variáveis de entrada do usuário, relacionadas ao comportamento do concreto.
Neste contexto, o usuário é livre para criar quantas variáveis forem necessárias. No presente
trabalho, o array prop, definido na USERMAT, foi dimensionado contendo 20 constantes para
o material. A figura 5.11 apresenta a entrada de dados para o modelo do concreto customizado.

Figura 5.11 – Entrada de dados para o modelo do concreto customizado na USERMAT

(fonte: elaborada pela autora)


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Elementos Finitos
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De acordo com a figura 5.11, o array prop é dimensionado através do comando TB, USER (que
define a quantidade nprop de propriedades) e os valores das propriedades são atribuídos através
do comando TB, DATA. A descrição das 20 variáveis de entrada definidas na USERMAT está
apresentada no quadro 5.1.

Quadro 5.1 – Descrição das variáveis de entrada de dados para o concreto no definidas na USERMAT
Nome da variável Descrição
fck Resistência característica do concreto em compressão [kN/cm²]
nurev Coeficiente de Poisson do concreto [adm]
s Coeficiente que depende do tipo de concreto [adm]
betasc Coeficiente que depende do tipo de cimento [adm]
alpha Coeficiente que define o efeito do tipo de cimento durante a cura do concreto [adm]
rh Umidade relativa do ambiente [%]
hf Espessura fictícia [cm]
ti Tempo considerado para o início do concreto na análise numérica [dias]
A idade do material dada por tmat = time – ti
ts Idade do concreto no início da secagem [dias]
t0 Idade do concreto no início da aplicação do carregamento [dias]
tinf Tempo final considerado para o ajuste da cadeia de Kelvin [dias]
ndec Número de décadas utilizadas para o ajuste da cadeia de Kelvin
ktime Tempo para gerar o arquivo intermediário de saída de dados
kelemid Identificação do elemento para a saída de dados
kkDomInPt Identificação do ponto de integração para a saída de dados
ligafluencia Define se a fluência vai ser considerada no modelo:
1: considera a fluência; 0: não considera a fluência
ligaretracao Define se a retração vai ser considerada no modelo:
1: considera a retração; 0: não considera a retração
ligafissura Define se a verificação da fissuração vai ser considerada no modelo:
1: considera a fissuração a partir da idade do material igual a 7 dias; 0: não
considera a fissuração
desligatempo Tempo máximo em dias para considerar o efeito de fluência no concreto
temperatura Média de temperatura medida durante a construção da Ponte do Saber
(fonte: elaborado pela autora)

O quadro 5.1 e a figura 5.11 mostram que um aspecto importante para o funcionamento da
USERMAT é a definição dos tempos de ativação e as idades dos materiais. Neste sentido, o
ANSYS possui uma variável time, a qual é compartilhada entre o script de entrada de dados e
a USERMAT, representando o tempo da análise em dias. Para cada segmento da ponte estudada
foi definido um instante inicial (ti), ou seja, a idade em que o elemento foi ativado no ANSYS.
A idade dos materiais pode então ser determinada utilizando-se a variável de estado tmat (tmat
= time – ti), a qual é calculada no interior da USERMAT.

Os fenômenos de retração e de fluência, possuem, respectivamente, o tempo de secagem (ts) e


o tempo em que o elemento entra em carga (t0). Dessa forma, o fenômeno da retração inicia

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quando time > ti, ou seja, no instante em que o concreto foi iniciado, porém considerando ts
nas expressões. Já o fenômeno da fluência inicia quando tmat > t0, ou seja, a partir do momento
em que o elemento entra em carga. Além disso, foi criada ainda uma variável de entrada
desligatempo, a fim de desconsiderar os efeitos relacionados ao tempo no concreto a partir de
um determinado instante (time). Esta condição foi utilizada nas análises transientes da ponte
estaiada, a qual está submetida a um carregamento de vento de curta duração. Desta forma,
quando time > desligatempo, a análise dos efeitos de longa duração não está sendo considerada,
sendo incluído a partir deste instante de tempo somente o modelo de fissuração para o concreto.

Após a definição dos dados de entrada, a próxima etapa de cálculo na USERMAT constitui-se
na determinação dos parâmetros do modelo de Kelvin. Esta etapa é realizada somente na
primeira iteração, pois no modelo adotado para este trabalho (Código Modelo CEB-FIP 1990),
o fator de envelhecimento do cimento pode ser isolado pela função V(t), sendo considerados,
portanto, apenas o primeiro e o último tempo inseridos pelo usuário. O cálculo do módulo de
elasticidade equivalente é realizado a fim de considerar o efeito do tempo para a composição
da matriz constitutiva, a qual será utilizada para atualizar as tensões no processo iterativo.

Sendo assim, o cálculo do incremento de tensão é realizado a partir da parcela de deformação


elástica {∆𝜀𝑒}, a qual é obtida considerando o incremento de deformação total {∆𝜀}, gerado a
partir do processo iterativo de Newton-Raphson, descontando a parcela viscosa {∆𝜀𝑣}, que é
calculada no substep anterior. É importante ressaltar que a USERMAT trabalha apenas com
tensões e deformações e o processo iterativo de Newton-Raphson com forças e deslocamentos.

O incremento de tensão é então calculado a partir da matriz constitutiva [D] e do incremento de


deformação elástica {∆𝜀𝑒}, sendo as tensões do vetor stress do ANSYS imediatamente
atualizadas. Quando a convergência é alcançada, calcula-se o incremento de deformação
viscoelástica total {∆𝜀𝑣}, o qual é definido pela soma da deformação viscoelástica de cada
unidade da cadeia de Kelvin. Portanto, este procedimento realizado dentro da rotina
USERMAT, tem como objetivo atualizar as tensões e a matriz Jacobiana 𝜕∆𝜎𝑖𝑗/𝜕∆𝜀𝑖𝑗 utilizada
no processo iterativo. O roteiro desta análise está resumido a seguir:

1. cálculo do incremento de deformação viscosa: {∆𝜀𝑣};


2. atualização do incremento de deformação elástica: {∆𝜀𝑒} = {∆𝜀} − {∆𝜀𝑣}, sendo
{∆𝜀} o incremento de deformação total fornecido pelo ANSYS através do vetor
dStrain, e {∆𝜀𝑣} a parcela viscosa calculada na iteração anterior
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3. cálculo da matriz constitutiva: [𝐷];


4. cálculo do incremento de tensão: {∆𝜎} = [𝐷]{∆𝜀𝑒};
5. atualização da matriz Jacobiana 𝜕∆𝜎𝑖𝑗/𝜕∆𝜀𝑖𝑗;
6. atualização das variáveis de estado e as tensões que o programa principal
utilizará para verificar a convergência: {𝜎}𝑖+1 = {𝜎}𝑖 + {∆𝜎};
7. verificação da convergência no programa principal. Se os limites de erros forem
satisfeitos, atualizam-se as tensões, deformações e variáveis de estado para cada
ponto de integração dos elementos, e passa-se para o próximo substep. Caso a
convergência não ocorra, o programa continua fazendo as iterações de
equilíbrio e repetindo os passos de (1) à (6).

A verificação quanto à fissuração dos pontos de integração de Gauss dos elementos finitos
analisados é realizada através das tensões atualizadas, calculadas no passo 6. Se o ponto de
integração estiver fissurado, o modelo entra na curva de amolecimento para a atualização das
tensões no referido ponto de integração. Além disso, a partir do instante em que o ponto está
fissurado, o efeito de Poisson é desprezado, e a deformação viscosa é desconsiderada.

Nas análises feitas neste trabalho, a verificação quanto à fissuração do concreto foi incluída no
modelo a partir dos 7 dias após a ativação de cada material (tmat = 7 dias). Esta premissa foi
adotada, uma vez que, no instante da ativação das aduelas, existia a transferência de tensões na
região da união entre a aduela anterior e a aduela recém ativada. Desta forma, como este
concreto novo ainda não havia desenvolvido resistência suficiente, caso o modelo de fissuração
fosse incluído juntamente com a data correspondente ao início do material, ocorriam problemas
de convergência do modelo já no primeiro incremento de tempo após a ativação dos elementos.

De modo geral, em se tratando da programação no ANSYS, não é recomendável a utilização


de blocos COMMON para o armazenamento das variáveis que não são salvas automaticamente
pelo programa. Esse tipo de declaração deve ser evitado pois traz problemas junto à
paralelização do ANSYS, uma vez que vários processos paralelos podem acessar e sobrescrever
esse espaço na memória simultaneamente. Como alternativa para armazenamento de dados
entre substeps, podem ser utilizadas variáveis de estado ustatev. Essas variáveis armazenam os
valores na iteração de equilíbrio, para cada elemento e ponto de integração de Gauss analisado.
Contudo, para que a variável ustatev esteja dimensionada, é necessário declarar seu tamanho
no script através do comando TB, STATE durante a atribuição do material (figura 5.11). Neste
trabalho, foram eliminados todos os blocos de variáveis COMMON nas rotinas de fissuração,
sendo o vetor ustatev dimensionado para 650 posições. Desta forma, com a atualização da rotina

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USERMAT foi possível considerar o processamento paralelo durante as soluções numéricas,


contribuindo para a redução do tempo necessário para a análise estrutural.

5.4 VALIDAÇÃO DO MODELO NUMÉRICO DO CONCRETO


CUSTOMIZADO

Neste trabalho, o modelo viscoelástico adotado na rotina USERMAT seguiu o desenvolvido


por Quevedo (2017). Em seu estudo Quevedo (2017) apresenta testes de compressão uniaxiais,
utilizando o elemento finito SOLID185, um elemento tridimensional com oito nós. Com o
objetivo de verificar se o princípio da superposição dos efeitos, proposto por Bazant e
Prasannan (1989), está sendo considerado de forma correta, estes testes foram reproduzidos
utilizando o elemento finito SOLID186. Esta validação inicial é importante para verificar se a
programação da USERMAT está funcionando independente do elemento empregado.
Para isso, foram comparados os resultados analíticos obtidos pela formulação do Código
Modelo CEB-FIP 1990 com o resultado do modelo implementado no ANSYS, através da rotina
USERMAT. O modelo analisado é formado por um único elemento finito tridimensional, de
dimensões 1x1x1 cm, com deslocamentos impedidos nas três faces contíguas à origem. Os
dados de entrada para o material utilizado nas análises, constam no quadro 5.2.

Quadro 5.2 – Dados para o concreto das simulações numéricas dos ensaios de compressão uniaxial
PARÂMETRO SÍMBOLO VALOR
Resistência característica à compressão fck 4 kN/cm²
Coeficiente que dependente do tipo de concreto s 0,25
Coeficiente de Poisson nureν 0,20
Umidade relativa do ambiente RH 70%
Espessura fictícia hf 54,54 cm
Idade do concreto no final da cura ts 7 dias
Coeficiente que dependente do tipo de cimento betasc 5
Coeficiente que dependente do tipo de cura do cimento alpha 1

(fonte: elaborado pela autora)

No primeiro teste foi aplicada uma carga constante (qxx) de 5 MPa de compressão; e no segundo
teste, um carregamento equivalente a 15 MPa foi aplicado em três etapas de carga de 5 MPa de
compressão aos 10, 50 e 75 dias. Os resultados destes testes comparativos são apresentados,
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respectivamente, nas figuras 5.12 e 5.13. Analisando a evolução das deformações com o tempo,
calculadas para estes dois casos, pode-se notar que a formulação do Código Modelo CEB-FIP
1990 (CEB-MC90) conseguiu ser reproduzida pela teoria da solidificação de Bazant &
Prasannan (1989a, 1989b).

Figura 5.12 – Teste modelo concreto: carga constante de 5MPa aplicada aos 10 dias

(fonte: elaborada pela autora)

Figura 5.13 – Teste modelo concreto: carga variável de 5MPa aplicada aos 10, 50 e 75 dias

(fonte: elaborada pela autora)


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Neste estudo, o modelo adotado para a fissuração do concreto através do uso da rotina
USERMAT foi baseado nas rotinas desenvolvidas por Jensen (2019), Schmitz (2017), Lazzari
(2016) e Lazzari (2015). A verificação do comportamento do concreto à tração foi realizada
através de simulações não lineares, com base no método de Newton-Raphson, em um modelo
simplificado de cubo de concreto, discretizado em um elemento SOLID186. O quadro 5.3
apresenta o modelo em elementos finitos considerado para as análises numéricas, sendo a
geometria e condições de contorno iguais àquelas adotadas no teste de compressão uniaxial.
Neste caso, optou-se pela aplicação de um incremento de deslocamento (ux) provocando tração
na direção x até a fissuração. Os dados introduzidos no script APDL para os testes do concreto
tracionado estão descritos também no quadro 5.3.

Quadro 5.3 – Dados para o concreto das simulações numéricas dos ensaios de tração uniaxial
PARÂMETRO SÍMBOLO VALOR
Resistência característica à compressão fck 6,5 kN/cm²
Coeficiente que dependente do tipo de concreto s 0,25
Coeficiente de Poisson nureν 0,20
Umidade relativa do ambiente RH 79%
Espessura fictícia hf 0,5 cm
Coeficiente que dependente do tipo de cimento betasc 5
Coeficiente que dependente do tipo de cura do cimento alpha 1

(fonte: elaborado pela autora)

A fim de verificar se a evolução da resistência à tração do concreto estava sendo atualizada


corretamente ao longo do tempo, as análises numéricas foram realizadas considerando o
carregamento aplicado em diferentes idades do material. A figura 5.14 apresenta os resultados
dos diagramas tensão-deformação obtidos a partir dos testes realizados no ANSYS, com a
implementação da USERMAT.
A partir da figura 5.14 pode-se perceber que, quanto maior a idade do concreto no instante do
carregamento, maior é a sua resistência à tração, uma vez que os valores de tensão no início da
fissuração tornam-se sistematicamente maiores. Além disso, é possível observar a maior
inclinação da reta tangente, referente ao trecho que antecede a fissuração, para idades de
carregamento maiores. Este comportamento é esperado, pois o modelo implementado através
da USERMAT atualiza os valores do módulo de elasticidade do concreto com o avanço do

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Elementos Finitos
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tempo das análises, com o objetivo de simular o efeito de ganho de resistência e de rigidez das
peças de concreto.

Figura 5.14 – Resultado das tensões e deformações no concreto tracionado para diferentes idades de
carregamento

(fonte: elaborada pela autora)

Foram realizadas ainda simulações para o concreto tracionado, considerando a influência dos
efeitos de deformação devido aos fenômenos de fluência e retração. A figura 5.15 mostra os
gráficos de tensão-deformação para o cubo de concreto considerando a união do modelo
viscoelástico e de fissuração.

Figura 5.15 – Resultado das tensões e deformações no concreto tracionado considerado o modelo de
fissuração, fluência e retração

(fonte: elaborada pela autora)


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Os resultados apresentados na figura 5.15 mostram que o fenômeno da retração translada a


curva tensão-deformação para a esquerda. Este efeito pode ser explicado, pois a retração induz
o surgimento de tensões de tração nas peças de concreto, que são adicionadas às solicitações de
tração provenientes do carregamento externo. Além disso, pode-se notar que após o ponto de
integração atingir as tensões de início de fissuração o efeito das deformações viscosas é
desconsiderado, mantendo-se somente o comportamento referente a regra de amolecimento do
concreto tracionado.

5.5 MODELAGEM DO AÇO

Conforme visto no capítulo de modelos constitutivos para a armadura, sabe-se que, em uma
estrutura de concreto, as barras de aço resistem, fundamentalmente, a esforços axiais. Neste
trabalho, para as barras que representam o comportamento dos estais e da armadura passiva, foi
utilizado o modelo elastoplástico bilinear com endurecimento isotrópico BISO (Bilinear
Isotropic Hardening), disponível na biblioteca do ANSYS.

A figura 5.16 apresenta um exemplo de entrada de dados no script, em linguagem APDL, para
o modelo reológico considerado, bem como o gráfico tensão-deformação referente ao aço
utilizado para armadura ativa. A partir deste modelo, deve-se fornecer o valor do coeficiente de
Poisson do material (v3); a inclinação inicial da curva tensão-deformação, ou seja, o valor do
módulo de elasticidade do material (ES3); a tensão de escoamento (FY3); e o módulo tangente
(ES33), que define a função de endurecimento do material.

Figura 5.16 – Entrada de dados e gráfico tensão-deformação para o modelo elastoplástico bilinear com
endurecimento isotrópico do aço para armadura ativa

(fonte: elaborada pela autora)

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Neste trabalho, o coeficiente de dilatação térmica α (MP, ALPX) foi incluído na entrada de
dados da armadura ativa para permitir a simulação da aplicação da força de protensão através
da introdução de um carregamento de variação de temperatura. O objetivo foi impor esforços
de tração nestes elementos, a partir das restrições impostas pelo pilone e pelo tabuleiro durante
o processo de contração dos estais. Sendo assim, o valor da variação de temperatura a ser
introduzida nestes nós deve ser tal que produza o esforço axial nos estais suficiente para que as
aduelas recém ativadas retornem para a sua posição original durante o processo construtivo da
ponte. Sendo l0 o comprimento inicial do estai, é sabido que uma variação de temperatura ΔT
provoca uma mudança de comprimento no elemento Δl conforme indica a equação 5.9.

𝛥𝑙 = 𝑙 𝛼𝛥𝑇 (equação 5.9)

A figura 5.17 apresenta um exemplo de entrada de dados no script, em linguagem APDL do


ANSYS, referente à aplicação da variação de temperatura nos nós de extremidade de um estai
da ponte analisada. Nesta imagem pode-se observar que a variação de temperatura de 1°C
(protensão do estai) provocou um deslocamento vertical de 1,28 cm na extremidade da aduela.
Além disso é possível notar o acréscimo de tensão que ocorre no estai no instante da protensão.

Figura 5.17 – Aplicação da protensão através da variação de temperatura no estai

(fonte: elaborada pela autora)

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5.6 ANÁLISE TRANSIENTE E MODAL

5.6.1 Análise transiente

A análise transiente, também conhecida como análise do histórico do tempo, é utilizada para
determinar a resposta de uma estrutura, em termos de deslocamentos, velocidades, acelerações,
tensões e deformações nodais, sob a ação de qualquer carga dependente do tempo, seja ela
estática, transiente ou harmônica. No software ANSYS, a principal diferença entre a análise
estática (Static Analysis) e a análise transiente (Transient Analysis), atribuídas respectivamente
através dos comandos (ANTYPE, STATIC) e (ANTYPE, TRANS), é que no caso da análise
transiente, os efeitos de inércia e de amortecimento são importantes, podendo ser levados em
consideração através da ativação dos efeitos de integração no tempo.

Para os problemas de dinâmica estrutural, a discretização espacial do princípio dos trabalhos


virtuais, utilizando o método dos elementos finitos, fornece a equação geral do movimento,
dada pelo sistema de equações diferenciais ordinárias (equação 5.10).

[𝑀]{𝑢̈ (𝑡)} + [𝐶]{𝑢̇ (𝑡)} + 𝐹 (𝑡) = {𝐹 (𝑡)} (equação 5.10)

Onde:
[M]: matriz de massa;
[C]: matriz de amortecimento;
{𝑢̈ (𝑡)}: vetor contendo as acelerações nodais de todos os nós de cada elemento;
{𝑢̇ (𝑡)}: vetor contendo as velocidades nodais de todos os nós de cada elemento;
𝐹 (𝑡) : vetor de forças internas nodais de todos os nós de cada elemento;
{𝐹 (𝑡)}: vetor de forças externas aplicadas nos nós.

Para cada incremento de tempo t, essas equações podem ser consideradas como um conjunto
de equações de equilíbrio estáticas, que também levam em consideração as forças de inércia
([𝑀]{𝑢̈ }) e as forças de amortecimento ([𝐶]{𝑢̇ }). Em problemas estáticos, este procedimento
resulta em um sistema de equações algébricas que pode ser facilmente resolvido com o auxílio
de técnicas computacionais. Já em problemas dinâmicos, esta discretização resulta um sistema
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de equações diferenciais ordinárias do movimento, que requerem o uso de uma técnica


computacional apropriada e de métodos numéricos adequados de integração no tempo.

A resolução da equação geral do movimento (equação 5.10) via métodos numéricos pode ser
realizada através da técnica de superposição modal, ou de métodos de integração direta, que se
classificam em métodos explícitos e implícitos. Os métodos implícitos possuem essencialmente
duas vantagens quando comparados com os métodos explícitos: elevada exatidão e estabilidade
numérica melhorada. Na biblioteca do software ANSYS, estão disponíveis três métodos
numéricos de solução da equação geral do movimento, que estão descritos a seguir:

a) Método de integração no tempo da diferença central (Central difference time


integration method): utilizado apenas para análises transientes explícitas;
b) Método de integração no tempo de Newmark (Newmark time integration
method): utilizado para as análises transientes implícitas. Este método é o
default do programa, podendo também ser definido pela configuração
TINTOPT=NMK, aplicada junto ao comando TRNOPT. É o algoritmo
indicado para análise determinista de sistemas estruturais com comportamento
não linear, submetidos à carregamentos prescritos;
c) Método de integração no tempo HHT (HHT time integration method): utilizado
também para análises transientes implícitas. Esse método é uma extensão do
método de integração de Newmark e é definido pela configuração
TINTOPT=HHT, aplicada junto ao comando TRNOPT.

Os problemas da dinâmica estrutural, relacionados ao comportamento mecânico governado pela


equação diferencial 5.10, podem ser classificados em duas classes: lineares e não lineares. A
solução do método de integração no tempo utilizada pelo software ANSYS, é brevemente
abordada nos itens que seguem.

5.6.1.1 Método de integração no tempo para sistemas não lineares

O procedimento para realizar uma análise transiente não linear é semelhante ao usado para uma
análise estática não linear, ou seja, o programa executa as iterações de equilíbrio para cada etapa
de carregamento. Desta forma, em problemas não lineares, as forças internas não são
diretamente proporcionais aos deslocamentos nodais e a matriz de rigidez global passa a ser
dependente dos deslocamentos atuais. Sendo assim, a resolução deste sistema de equações não
lineares fica condicionada ao uso de um método numérico. Conforme visto anteriormente neste
capítulo, o método utilizado neste trabalho foi o de Newton-Raphson.

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Para a aplicação do método de integração no tempo em associação com o algoritmo iterativo


de Newton-Raphson, o método de Newmark assume que, no instante t n+1, a equação de
movimento apresentada na equação 5.10 pode ser reescrita como:

[𝑀]{𝑢̈ } + [𝐶]{𝑢̇ } + 𝐹 ({𝑢} ) = {𝐹 } (equação 5.11)

Nota-se que 𝐹 ({𝑢} ) é dependente do vetor de deslocamentos nodais {𝑢} no tempo


tn+1. Além da equação 5.11, o método de integração no tempo Newmark exige que os
deslocamentos e as velocidades sejam atualizados conforme já demonstrado pelas equações
5.12 e 5.13.

{𝑢̇ } = {𝑢̇ } + [(1 − 𝛿){𝑢̈ } + 𝛿{𝑢̈ } ]𝛥𝑡 (equação 5.12)

1
{𝑢} = {𝑢} + {𝑢̇ } 𝛥𝑡 + − 𝛼 {𝑢̈ } + 𝛼{𝑢̈ } 𝛥𝑡 (equação 5.13)
2

Onde:
α, δ: parâmetros de integração de Newmark;
{𝑢̈ } : vetor de acelerações nodais {𝑢̈ (𝑡 )} no tempo tn;
{𝑢̇ } : vetor de velocidades nodais {𝑢̇ (𝑡 )} no tempo tn;
{𝑢} : vetor de deslocamentos nodais {𝑢(𝑡 )} no tempo tn.

Assim, a família de algoritmos de integração no tempo de Newmark pode ser determinada pelos
parâmetros de integração de Newmark (α e δ). O esquema de integração de Newmark consiste,
portanto, nas três equações diferenciais apresentadas nas equações 5.11, 5.12 e 5.13, sendo que
as três incógnitas {𝑢̈ } , {𝑢̇ } e {𝑢} podem ser calculadas numericamente a partir dos
valores de {𝑢̈ } , {𝑢̇ } , e {𝑢} já conhecidos.

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Introduzindo o vetor residual {𝑅({𝑢} )} , a equação 5.11 pode então ser escrita conforme
mostra a equação 5.14.

{𝑅({𝑢} )}

= {𝐹 } − 𝐹 ({𝑢} ) − [𝑀]{𝑢̈ } (equação 5.14)

− [𝐶]{𝑢̇ (𝑡)}

É importante observar que o operador de integração no tempo fornecido tanto na equação 5.11
quanto na equação 5.14 representa um sistema não linear de equações algébricas simultâneas.
Uma forma linearizada do operador de integração no tempo pode ser obtida pelo método
Newton-Raphson através da expressão 5.15.

𝜕{𝑅({𝑢 } )}
{𝑅({𝑢 } )} + {𝛥𝑢 } = {0} (equação 5.15)
𝜕{𝑢 }

Onde:
{𝑢 } : valor de {𝑢} na k-ésima iteração;
{𝛥𝑢 } : incremento de deslocamento na k-ésima iteração;
{𝑅({𝑢 } )} = {𝐹 } − 𝐹 ({𝑢 } ) − [𝑀]{𝑢̈ } − [𝐶]{𝑢̇ (𝑡)}.

A partir da equação 5.15, pode-se obter a equação 5.16.

[(𝑎 [𝑀] + 𝑎 [𝐶]) + [𝐾 ({𝑢 } )] ]{𝛥𝑢 } = {𝑅({𝑢 } )} (equação 5.16)

Onde [𝐾 ({𝑢 } )] é matriz de rigidez tangente no tempo tn+1; e os valores de a0 e a1 são


indicados na equação 5.17.

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1 𝛿
𝑎 = ;𝑎 = (equação 5.17)
𝛼𝛥𝑡 𝛼𝛥𝑡

Para problemas de dinâmica estrutural não linear, o programa ANSYS também permite que o
usuário insira o fator de decaimento de amplitude γ ou os parâmetros de integração de Newmark
(α e δ) a partir do comando TINTP.

5.6.1.2 Solução

No ANSYS, a solução pelo método de Newmark pode ser realizada de duas formas: pelo
método completo (Full Solution Method) ou pelo método da superposição modal (Mode
Superposition). Como o método da superposição modal não pode ser utilizado em conjunto com
uma análise não linear, neste estudo foi adotado o método completo, definido pelo comando
(TRNOPT, FULL), cujos detalhes estão descritos a seguir.

Entre as vantagens de se utilizar o método completo estão que o mesmo trabalha com as
matrizes completas do sistema para calcular a resposta transiente da estrutura, e desta forma,
não envolve nenhuma aproximação da matriz de massa. Além disso, aceita todos os tipos de
carregamento tais como forças nodais, deslocamentos impostos, cargas de superfície e cargas
de temperatura; permitindo também a inclusão de todos os tipos de não linearidades: físicas e
geométricas. Entretanto, a principal desvantagem é o maior esforço computacional envolvido.

Para a aplicação do método de Newmark, os valores de {u} 0, {𝑢̇ }0, e {𝑢̈ }0, correspondentes ao
início da análise transiente, devem ser conhecidos. Quando estas condições iniciais são
diferentes de zero, estes valores devem ser inseridos diretamente na entrada de dados da análise,
a partir dos comandos IC, ou efetuando-se uma análise preliminar.

5.6.1.3 Amortecimento

O amortecimento é o processo pelo qual a energia do movimento vibratório é dissipada. A


avaliação física do amortecimento de uma estrutura só é considerada corretamente medida caso
os seus valores sejam obtidos através de ensaios experimentais. No entanto, segundo Chopra

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(2007), a realização destes ensaios muitas vezes demanda tempo e custo, que na maioria dos
casos é muito elevado.

No software ANSYS, a consideração do amortecimento no sistema estrutural pode ser feita de


várias formas. Porém, quando se realiza uma Full Transient Analysis, ou seja, uma análise no
domínio do tempo, que permite incluir as não linearidades do problema, o único comando
compatível é o Alpha and Betha Damping, isto é, o amortecimento de Rayleigh. A matriz de
amortecimento de Rayleigh, considera a contribuição da matriz de massa [M] e da matriz de
rigidez [K], através das constantes α e β, como mostra a equação 5.18.

[𝐶] = 𝛼[𝑀] + 𝛽{𝐾] (equação 5.18)

A taxa de amortecimento para um modo de vibração particular pode ser dada pela equação 5.19.
Nesta equação, ωi representa a frequência angular para o modo i; e α e β são conhecidas como
as constantes de amortecimento de Rayleigh, sendo os seus valores determinados de modo a
satisfazer esta relação.

𝛼 𝛽ω
ξ = + (equação 5.19)
2ω 2

Isolando os parâmetros α e β da equação 5.19, para as duas frequências mais importantes


adotadas como referência (ω , ω ), é possível descobrir os valores destas variáveis. No
programa ANSYS as constantes α e β, são fornecidas por meio dos comandos ALPHAD e
BETAD, respectivamente.

5.6.2 Análise modal

Através da análise modal, é possível determinar as características de vibração de uma estrutura,


tais como as frequências naturais e os seus respectivos modos de vibração. Estes parâmetros
são importantes para o projeto de estruturas submetidas a cargas dinâmicas, podendo servir

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como ponto de partida para a realização de análises mais detalhadas, como as análises
transientes, harmônicas ou espectrais.

No software ANSYS, este tipo de análise pode ser realizado a partir do comando (ANTYPE,
MODAL). A equação de movimento para um sistema não amortecido e sob vibrações livres,
expressa em notação matricial, é dada pela equação 5.20.

[𝑀]{𝑢̈ } + [𝐾]{𝑢} = {0} (equação 5.20)

Para um sistema linear, as vibrações livres serão harmônicas da forma:

{𝑢} = {} 𝑐𝑜𝑠 𝑡 (equação 5.21)

Onde:
{} : autovetor representando a forma modal da i-ésima frequência natural;
 : i-ésima frequência angular natural (radianos por unidade de tempo);
t: tempo.

Desta forma, a equação 5.20 torna-se:

(− [𝑀] + [𝐾]){} = {0} (equação 5.22)

Essa igualdade é satisfeita se {} = {0} ou se o determinante de ([K] - ω2 [M]) for zero. A
primeira opção de solução é trivial e, portanto, não é de interesse. Assim, a segunda opção
fornece a solução descrita pela equação 5.23.

|[𝐾]− [𝑀]| = 0 (equação 5.23)

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Esse é um problema de autovalor que pode ser resolvido para até n valores de ω (autovalores)
e n autovetores {} que satisfazem a equação 5.22, em que n é o número de graus de liberdade.

O programa ANSYS possui uma série de métodos de extração de autovalores e de autovetores,


que incluem: Block Lanczos, PCG Lanczos, Supernode Method, Unsymmetric Method, Damped
Method e QR Damped Method; os quais podem ser selecionados a partir dos comandos
MODOPT e BUCOPT. O problema de autovalores e de autovetores que precisa ser resolvido
para a análise modal possui a seguinte forma:

[𝐾]{} = 𝜆 [𝑀]{} (equação 5.24)

Onde:
[K]: matriz de rigidez;
{} : autovetor;
λi: autovalor;
[M]: matriz de massa.

Entre as soluções disponíveis no ANSYS para fazer a solução dos autovalores e autovetores,
escolheu-se realizar a análise modal através do algoritmo Block Lanczos (MODOPT, LANB).
O método Block Lanczos utiliza as iterações Lanczos para extrair os autovalores solicitados. A
análise é então realizada a partir do solver (SPARSE), o que pode exigir uma parcela
significativa de memória do computador para solução de modelos maiores. Ainda assim, é um
algoritmo rápido e utilizado para a maioria das aplicações como o solucionador padrão. Através
deste algoritmo, é possível controlar a quantidade de modos a serem extraídos dentro de uma
faixa de frequências limitada pelo usuário. Ao invés de fornecer as frequências angulares
naturais {ω}, o programa gera como outputs as frequências naturais (f), conforme apresenta a
equação 5.25.


𝑓 = (equação 5.25)
2𝜋

Em que:

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fi: i-ésima frequência natural (ciclos por unidade de tempo).

Em muitas aplicações da engenharia, se faz necessário o conhecimento do comportamento de


uma estrutura baseado em um status pré-carregado. Desta forma a utilização da análise modal
sob tensões iniciais torna-se uma ferramenta de análise fundamental para a correta determinação
das propriedades dinâmicas da estrutura. Neste estudo, por exemplo, as frequências naturais e
os modos de vibração foram determinados para a estrutura deformada, e sob tensões iniciais,
ou seja, a análise modal foi realizada para cada etapa construtiva da ponte estaiada estudada
após uma análise estática prévia.

Para o caso de se realizar uma análise estática não linear antes da análise modal, é necessário
determinar as frequências naturais com base no carregamento aplicado em cada nó {𝐹 }. Além
disso, a matriz de rigidez tangente na iteração atual [𝐾 ] deve ser utilizada na análise modal a
fim de que os efeitos da análise estática anterior sejam incluídos no modelo. No programa
ANSYS, pode-se realizar uma análise modal sob tensões iniciais seguindo o procedimento
descrito a seguir e exemplificado pelo fluxograma da figura 5.18.

Figura 5.18 – Fluxograma da análise modal sob tensões iniciais no ANSYS

(fonte: adaptado de ANSYS, 2013)


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O primeiro passo é realizar a análise base, a qual pode ser uma análise estática ou transiente,
linear ou não linear. No caso de realização de análise transiente, a mesma deve ser feita pelo
método completo (TRNOPT, FULL). A não linearidade na análise base pode ser devida ao uso
de materiais não lineares, não linearidade geométrica ou ainda de elementos de contato não
lineares. Se a análise base for estática linear, a opção de reinicialização deve ser usada através
do comando (RESCONTROL, LINEAR), que é uma opção não padrão para a análise estática
linear. Já se a análise base for uma análise estática não linear ou uma análise transiente, a
reinicialização será automaticamente aplicada. No entanto, o comando RESCONTROL pode
ainda ser utilizado para informar ao ANSYS em qual caso de carga devem ser salvos os dados
necessários para reiniciar esta análise. Para que a análise modal possa ser realizada a partir desta
análise base, os arquivos .RDB (database file), .LDHI (load history file), .RNNN (restart file)
devem ter sido salvos.

O próximo passo consiste em reiniciar a análise, utilizando o comando SOLVE, ELFORM. O


objetivo desta fase é regenerar a matriz de rigidez tangente a partir da última iteração realizada
na análise base. Desta forma, o programa regenera a matriz de rigidez tangente [𝐾 ] a partir do
ponto de reinicialização. Se a análise base for não linear, a matriz tangente originada das
iterações anteriores de Newton-Raphson será regenerada com base no comportamento do
material e na configuração atual da geometria.

A última fase da análise modal é realizada imediatamente após o comando SOLVE, ELFORM
sem sair do processador da solução (/ SOLU). Nesta fase, caso o comando NLGEOM, ON tenha
sido utilizado na análise base, as coordenadas nodais são atualizadas automaticamente. O
programa então executa a extração dos autovalores e autovetores para a posterior análise de
resultados.

5.6.3 Exemplo de análise modal sob tensões iniciais

Com o objetivo de estudar as ferramentas disponíveis pelo software ANSYS para a realização
de análises modais, foi feita a análise de vibração de uma estrutura de referência, submetida a
tensões iniciais. Esta análise auxiliou na realização da análise modal das fases construtivas da
ponte estaiada deste trabalho, considerando as tensões finais nos estais. Os resultados obtidos
foram satisfatórios e auxiliaram no entendimento do funcionamento do programa ANSYS,
sendo os mesmos apresentados a seguir.
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Como exemplo, foi utilizado um pórtico plano com cargas concentradas verticais, e uma carga
concentrada horizontal, denominado portal de Voigt. O portal de Voigt é uma estrutura
aporticada plana, constituída de três barras. As características da geometria e dos materiais do
problema são mostradas na figura 5.19.

Figura 5.19 – Esquema representativo do portal de Voigt

PARÂMETRO VALOR
Comprimento das barras L (m) 3,05
Carga horizontal ΔP P/1000
Módulo de elasticidade E (GPa) 210
Peso específico γ (kN/m3) 77
Área da seção transversal das barras (m²) 7,59.10-3
Momento de inércia da seção das barras I
1,29.10-4
(m4)
Aceleração da gravidade g (m/s2) 9,81

(fonte: adaptado de NEVES, 1990)

Através da utilização do software ANSYS, a geometria, os materiais e os carregamentos do


pórtico foram considerados. Para tanto, a estrutura foi discretizada em 9 elementos BEAM188
de mesmo tamanho, sendo restringidas as translações na direção Z, e as rotações em torno dos
eixos X e Y de todos os elementos, além de respeitadas as condições de contorno dos nós de
extremidade. Foi realizada uma análise estática não linear, considerando o aumento gradual das
cargas P, até obtenção da instabilidade numérica do problema. Esta análise estática preliminar
foi efetuada utilizando-se uma análise transiente (ANTYPE, TRANS), porém com a
desativação dos efeitos de integração de tempo, a partir do comando TIMINT, OFF.

Após a análise estática do pórtico, foram determinadas as frequências naturais e os modos de


vibração sob os aspectos da análise de vibração sob tensões iniciais (VT). A análise de vibração
sob tensões foi realizada com a estrutura submetida a carga vertical de 2.100 toneladas. Além
disso, foram também determinadas as frequências naturais e os modos de vibração para a
análise de vibração livre (VL), ou seja, sem a consideração da análise estática não linear prévia
da estrutura. Este estudo foi feito inicialmente por Neves (1990), que realizou a análise das
frequências fundamentais para ambos os casos, com o emprego da matriz de massa consistente
no seu algoritmo numérico. Nas análises realizadas no software ANSYS, também se utilizou a
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matriz de massa consistente através do comando (LUMP, 0). A configuração adotada no


ANSYS para extração das frequências naturais e modos de vibração foi a Modal Analysis por
Block Lanczos. A análise comparativa entre os resultados está apresentada na figura 5.20.

Figura 5.20 – Comparativo entre as frequências fundamentais obtidas para as análises de vibração livre
(VL) e vibração sob tensões (VT) obtidas através do ANSYS e por Neves (1990)

(fonte: elaborada pela autora)

Pelo gráfico de barras da figura 5.20, é possível observar uma excelente correlação entre as
respostas obtidas. Observa-se também que as frequências fundamentais calculadas pela análise
de vibração sob tensões iniciais (VT) sofrem uma queda bastante importante quando
comparadas com as análises de vibração livres (VL). As análises realizadas no ANSYS sob
tensões iniciais obtiveram uma redução na frequência fundamental igual a 82,3%, valor
exatamente igual a porcentagem de redução obtida nas análises de Neves (1990). Este exemplo
mostra, portanto, a importância da análise de vibração sob tensões iniciais, pois o carregamento
da estrutura influencia na rigidez do conjunto.

Nas estruturas de pontes estaiadas, a análise de vibrações sob tensões iniciais torna-se
especialmente importante, uma vez que os estais são protendidos ao longo do processo
construtivo. Além disso, por serem flexíveis, estas estruturas estaiadas sob ação do
carregamento estático assumem uma configuração deformada de equilíbrio diferente da
configuração geométrica original e, portanto, são passíveis de alterações substanciais em suas
frequências de vibração.

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6 MODELAGEM COMPUTACIONAL DA PONTE DO SABER

Neste capítulo, serão aplicados os conceitos apresentados previamente, através de um estudo


de caso, que apresenta a análise das etapas construtivas de uma ponte estaiada real, utilizando
o software ANSYS. Para este trabalho, a estrutura escolhida foi a Ponte do Saber, localizada na
cidade do Rio de Janeiro, conforme mostra a figura 6.1, que faz a ligação entre a Cidade
Universitária (Ilha do Fundão), com a via expressa Presidente João Goulart (Linha Vermelha).

Figura 6.1 – Localização do traçado da Ponte do Saber

PONTE DO
SABER

(fonte: GOOGLE MAPS, 2020)

As informações sobre a Ponte do Saber foram retiradas das publicações dos trabalhos de
mestrado de Gomes (2013), Toledo (2014) e Cidade (2017), bem como das plantas fornecidas
pela empresa responsável pelo projeto VGarambone Projetos e Consultoria Ltda. Estes
trabalhos apresentam de forma detalhada os dados sobre a geometria e os materiais utilizados
nesta estrutura, e explicam como foram feitas as etapas construtivas desta ponte. Além disso,
na tese de doutorado de Lazzari (2016), foi realizada uma análise estática não linear desta ponte
estaiada, que serviu como fonte de referência e ponto de partida para o presente trabalho. No
item a seguir, serão apresentados alguns detalhes de projeto e características dos elementos
estruturais relevantes ao proposto estudo.
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6.1DETALHES DO PROJETO DA PONTE DO SABER

Segundo Gomes (2013), o projeto da interligação viária, que deu origem a Ponte do Saber,
necessitava atender os interesses locais através do cumprimento de exigências de tráfego,
requisitos ambientais e questões arquitetônicas. Em primeiro lugar, para atender a demanda de
tráfego, a concepção do projeto da ponte deveria priorizar o escoamento dos veículos no interior
da Cidade Universitária, e aproveitar as vias existentes. Sendo assim, foram projetadas duas
faixas de rolamento, com 4,50 m de largura cada, de mesmo sentido Ilha do Fundão – Linha
Vermelha. Em relação ao requisito ambiental, a estrutura não deveria provocar interrupções no
fluxo hidrodinâmico do Canal do Fundão, e, portanto, não poderia apresentar apoios
intermediários, o que implicaria em uma solução estrutural com vão principal de grande
dimensão. Por fim, o último critério de projeto apontava que a ponte estaria localizada em uma
região próxima ao Aeroporto Internacional do Galeão, sendo um ponto de grande visibilidade
para os visitantes que chegariam na cidade, e, desta forma, deveria possuir um tratamento
arquitetônico diferenciado.

Sendo assim, visando atender a todos os requisitos destacados, foi julgado mais adequado o
projeto de uma ponte estaiada, com 170,46 m de vão principal, composta por um único pilone,
com altura de 94 m, e por um sistema de estais assimétrico e centralizado no tabuleiro. A figura
6.2 ilustra a Ponte do Saber, concluída em 2012.

Figura 6.2 – Ponte do Saber

(fonte: SKYSCRAPERCITY, 2020)

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6.1.1 Características e propriedades do tabuleiro

Para o projeto do tabuleiro da ponte estudada, além de serem observados os requisitos técnicos,
impostos pelo projeto geométrico, também foram levados em conta aspectos como a disposição
dos estais ao longo do tabuleiro e o material a ser utilizado. Em função dos custos envolvidos
na fabricação e na montagem da estrutura, a utilização de um tabuleiro em aço foi descartada.
Desta maneira, foi adotada uma seção transversal fechada unicelular, designada seção de perfil
caixão, em concreto armado, com almas inclinadas e protensão aderente diagonal e
longitudinal, conforme mostra a figura 6.3. A resistência à compressão obtida com base nos
ensaios de compressão simples foi de 65,15 MPa.

Figura 6.3 – Seção transversal da Ponte do Saber

(fonte: GARAMBONE, 2012)

A seção transversal padrão do tabuleiro possui largura total de 11,30 m e altura de 2,10 m, além
de uma viga central de enrijecimento com altura total de 124,5 cm, localizada no topo da seção.
A laje superior apresenta espessura de 22 cm na parte central, e espessura variável entre 20 cm
e 35 cm nos balanços laterais, que por sua vez apresentam 2,10 m de comprimento. A laje
inferior apresenta espessura de 35 cm e as almas inclinadas da seção possuem 22 cm de
espessura.

A figura 6.4 apresenta o posicionamento das dezesseis aduelas e dos estais frontais ao longo do
eixo longitudinal da ponte. Analisando a figura é possível observar que além das aduelas inicial
e final, existem também 14 aduelas, espaçadas a cada 10 metros, as quais se subdividem em
aduelas do tipo A e do tipo B. O apoio P0 localiza-se na extremidade da ponte, às margens da
Linha Vermelha, e corresponde ao ponto onde a aduela final foi apoiada.

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Figura 6.4 – Posição das aduelas e estais frontais ao longo do tabuleiro

(fonte: baseado em GARAMBONE, 2012)

Como a distribuição dos estais frontais está concentrada na parte central da seção transversal,
nos trechos de ancoragem dos estais no tabuleiro, houve a necessidade de prever um
enrijecimento na aduela, que foi chamada de WCP. Este efeito foi obtido, através do
alargamento das almas e da laje inferior, além da introdução de nervuras inclinadas protendidas,
em forma de “W”, com cabos aderentes de 12 Ø 12,7 mm, que ligam a laje inferior ao centro
superior da viga, onde existe a ancoragem do estai. Esta mesma estrutura de reforço foi
projetada nas seções de ligação dos segmentos de aduelas A e B, porém neste caso, os tirantes
inclinados não receberam protensão (WSP).

6.1.2 Características e propriedades do pilone

O projeto desta ponte estaiada foi pioneiro na cidade do Rio de Janeiro, e em função da posição
estratégica, próxima ao Aeroporto Internacional do Galeão e cruzando um dos principais
acessos à cidade, o pilone recebeu um tratamento diferenciado do ponto de vista arquitetônico,
sendo o elemento estrutural de maior destaque estético. A geometria do pilone apresenta um
ponto de inflexão no seu eixo, localizada a 27 metros acima do bloco de coroamento. Isto trouxe
maior complexidade ao projeto, uma vez que, do ponto de vista estrutural, este formato é
indesejável em elementos submetidos a esforços elevados de compressão.
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Geralmente a altura do pilone utilizado em projetos de pontes estaiadas é condicionada ao


sistema de distribuição dos estais. Segundo Gomes (2013), a inclinação dos estais exerce grande
influência na eficiência global do sistema, sendo uma recomendação de projeto a utilização de
cabos com inclinação mínima de 25°. Este fato foi levado em consideração no projeto da Ponte
do Saber, sendo que, para um melhor desempenho estrutural dos estais e otimização das seções
transversais dos elementos, a altura final do pilone foi de 94 metros.
A seção transversal adotada para o pilone também é celular, com dimensões que variam de 20
m de comprimento e 9 m de largura na base, até 1,96 m de comprimento e 2,48 m de largura
no topo. A figura 6.5 mostra o pilone projetado, em vista frontal, onde é possível observar a
inflexão prevista no projeto arquitetônico, a distribuição dos estais ao longo de sua altura, e as
seções transversais do pilone na base e no topo. Pode-se observar que a cota de partida do pilone
é +7,06 m, posição correspondente ao topo do bloco de coroamento das estacas.

Figura 6.5 – Pilone projetado para a Ponte do Saber em vista frontal e seções
transversais do topo e da base

(fonte: baseado em GARAMBONE, 2012)

O corpo do pilone apresenta paredes em concreto armado nas laterais, na face posterior e na
face frontal com espessuras de 45 cm, 50 cm e 150 cm, respectivamente. Na região de interface
do pilone com o tabuleiro foram projetadas quatro lajes maciças de 30 cm de espessura (L1,

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Elementos Finitos
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L2, L3 e L4), as quais seguem a mesma inclinação do tabuleiro e promovem uma ligação
monolítica entre os dois elementos. O objetivo destas lajes é evitar o surgimento de esforços de
segunda ordem nas grandes placas presentes na base do pilone, adicionando assim maior rigidez
horizontal para esta região. A figura 6.6 mostra a seção longitudinal da região inferior do pilone
e as seções transversais nos níveis em que as lajes maciças contínuas foram executadas.

Figura 6.6 – Seção longitudinal da região inferior do pilone e seções transversais das
lajes maciças contínuas no encontro de pilone com o tabuleiro da ponte

(fonte: baseado em GARAMBONE, 2012)

Em função das particularidades envolvidas nesta estrutura, algumas regiões do pilone


necessitaram de intervenções especiais. Na zona de inflexão da torre, foi previsto um aumento
de espessura na parede posterior, sendo utilizadas também estroncas internas, em formato de
cruz, que conectam as paredes laterais, frontal e posterior. A figura 6.7 apresenta a seção
longitudinal da região inferior do pilone e as seções transversais correspondentes aos níveis +
13,06 m até + 36,06 m, incluindo o detalhe da seção no ponto de inflexão (nível + 34,06 m).
As regiões de ancoragem dos estais no pilone também são as zonas críticas da seção celular de
concreto, pois além de ser um ponto com grande concentração de forças, a magnitude destes
esforços também é elevada. No caso da Ponte do Saber, foi projetado um aumento de seção na
parede posterior do pilone nos níveis em que os estais de retaguarda foram ancorados, conforme
apresenta o detalhe da figura 6.8.

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Figura 6.7 – Seção longitudinal da região inferior do pilone e seções transversais


correspondentes aos níveis + 13,06 m até + 36,06 m

(fonte: baseado em GARAMBONE, 2012)

Figura 6.8 – Seção longitudinal da região inferior do pilone e seções transversais


correspondentes aos níveis + 36,06 m até + 79,12 m do pilone

(fonte: baseado em GARAMBONE, 2012)


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Elementos Finitos
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Além disso, nas posições em que os estais frontais são ancorados, foram utilizadas seções de
enrijecimento nas paredes laterais, frontal e traseira do pilone. A figura 6.8 também mostra a
seção longitudinal da região superior do pilone, apresentando as seções transversais dos pontos
em que os estais frontais são ancorados.
Para possibilitar a simulação numérica das etapas construtivas da Ponte do Saber, o pilone foi
dividido em segmentos. Desta forma, cada grupo de elementos foi criado obedecendo as datas
de execução das aduelas do tabuleiro e as datas de construção de cada trecho do pilone. O
quadro 6.1 apresenta o posicionamento das 28 subdivisões do pilone, a nomenclatura adotada
e os dados sobre os comprimentos de cada trecho.

Quadro 6.1 – Subdivisões do pilone, comprimento dos trechos e posições dos


segmentos ao longo da altura da torre
COMPRIMENTO NÍVEL NÍVEL
SEGMENTO
DO TRECHO INICIAL FINAL
PILONE
(cm) (m) (m)
SEÇÃO 01-04 344,9 – 410,1 + 7,06 + 10,61
SEÇÃO 05 255,1 – 188,9 + 10,61 + 13,06
SEÇÃO 06 300 + 13,06 + 16,06
SEÇÃO 07 300 + 16,06 + 19,06
SEÇÃO 08 300 + 19,06 + 22,06
SEÇÃO 09 300 + 22,06 + 25,06
SEÇÃO 10 300 + 25,06 + 28,06
SEÇÃO 11 300 + 28,06 + 31,06
SEÇÃO 12 320 + 31,06 + 34,26
SEÇÃO 13 195 + 34,26 + 36,21
SEÇÃO 14 325 + 36,21 + 39,46
SEÇÃO 15-17 1040 + 39,46 + 49,86
SEÇÃO 18-20 1106,5 + 49,86 + 60,93
SEÇÃO 21 372 + 60,93 + 64,65
22A 186 + 64,65 + 66,51
SEÇÃO 22
22B 186 + 66,51 + 68,37
SEÇÃO 23 372 + 68,37 + 72,09
SEÇÃO 24 372 + 72,09 + 75,81
SEÇÃO 25 372 + 75,81 + 79,53
26A 177 + 79,53 + 81,30
SEÇÃO 26
26B 177 + 81,30 + 83,07
27A 180 + 83,07 + 84,87
SEÇÃO 27
27B 180 + 84,87 + 86,67
SEÇÃO 28 528 + 86,67 + 91,95

(fonte: baseado em GARAMBONE, 2012)

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6.1.3 Características e propriedades do sistema de estais

O sistema de estaiamento utilizado na Ponte do Saber é composto por um conjunto de 21 estais,


sendo 6 estais de retaguarda e 15 estais frontais. A fim de incrementar a rigidez transversal da
torre, os 6 estais de retaguarda são dispostos aos pares, identificados como T01, T02 e T03, os
quais são ancorados, respectivamente, nos níveis + 82,9 m, + 65,4 m e + 51 m do pilone. A
outra extremidade dos estais de retaguarda foi ancorada em dois blocos de concreto armado
atirantados, posicionados nas laterais do tabuleiro, sendo compostos por estacas raiz capazes de
resistir aos esforços de arrancamento (tração). Estes estais de retaguarda, localizados na face
traseira do pilone, foram projetados para equilibrar a estrutura, em função dos carregamentos
assimétricos gerados no processo executivo do tabuleiro, os quais eram transmitidos ao pilone
através dos estais frontais.

Os 15 estais frontais são posicionados em um plano único e central da viga de rigidez, sendo
numerados de T04 a T18, espaçados a cada 10 metros ao longo do tabuleiro e a cada 4 metros
ao longo do pilone. Na figura 6.9 é possível observar a posição dos estais, sendo que o estai
T04 é o mais próximo do pilone, ancorado a aproximadamente 21 metros a partir da face da
torre e no nível + 37,8 m do pilone.

Figura 6.9 – Vista lateral com posição dos estais da Ponte do Saber

(fonte: baseado em GARAMBONE, 2012)

As cordoalhas empregadas na obra são compostas por sete fios galvanizados e foram fornecidas
pela empresa espanhola Tycsa. Estas cordoalhas possuem diâmetro externo de 15,7 mm, aço
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CP-177RB, com tensão de escoamento de 1.736 MPa e módulo de elasticidade de 195 GPa.
Segundo Gomes (2013), nos ensaios de relaxação feitos nas cordoalhas utilizadas nas obras da
ponte, os resultados obtidos em um intervalo de tempo de 1000 h com carga atuante de 70% da
carga última a tração, foram de, no máximo, 2,08%.

A ancoragem dos estais é realizada a partir de dois sistemas que são posicionados nas
extremidades dos cabos, sendo um deles fixo e o outro regulável. O sistema regulável possibilita
a inserção da protensão nas cordoalhas e permite que, ao longo da execução da obra, sejam
efetuados ajustes nos esforços de protensão. As ancoragens utilizadas no projeto, variam de 31
a 127 cordoalhas e foram fabricadas no Brasil, pela empresa Tensacciai. No quadro 6.2 estão
indicadas as ancoragens utilizadas em cada estai e a seção de aço correspondente.

Quadro 6.2 – Ancoragens e áreas de aço em cada estai


UNIDADE DE SEÇÃO DE UNIDADE DE SEÇÃO DE
ESTAIS ESTAIS
ANCORAGEM AÇO (cm²) ANCORAGEM AÇO (cm²)
T01 127 Ø 190,5 T10 55 Ø 82,5
T02 127 Ø 190,5 T11 55 Ø 82,5
T03 127 Ø 190,5 T12 55 Ø 82,5
T04 31 Ø 46,5 T13 55 Ø 82,5
T05 31 Ø 46,5 T14 55 Ø 82,5
T06 37 Ø 55,5 T15 55 Ø 82,5
T07 37 Ø 55,5 T16 55 Ø 82,5
T08 37 Ø 55,5 T17 55 Ø 82,5
T09 55 Ø 82,5 T18 55 Ø 82,5
(fonte: baseado em GOMES, 2013)

Em relação à execução do estaiamento, a mesma foi dividida em duas fases. A primeira delas,
foi a etapa de posicionamento e montagem de todos os elementos componentes do estai (tubo
PEAD, anti-vandalismo, ancoragens, cordoalhas); e na segunda fase, as cordoalhas foram
protendidas sequencialmente até chegar na força requerida em projeto. Na Ponte do Saber, a
empresa executora utilizou o sistema de isoalongamento, o qual visa obter, ao final do processo,
o mesmo alongamento em todas as cordoalhas de um mesmo estai.

Uma vez que uma das principais características do tabuleiro de uma ponte estaiada é a sua
esbeltez, ao se executar a concretagem de uma nova aduela ou protender um novo estai, este
tabuleiro fica suscetível a significativos deslocamentos. Este efeito faz com que as forças nos
cabos já protendidos sejam constantemente alteradas, fazendo com que a execução do sistema
de protensão torne-se um processo iterativo, até que a força requerida em projeto seja alcançada.

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No caso da Ponte do Saber, para um melhor controle das forças de protensão instaladas nos
estais, foram posicionadas células de carga em cada cabo, as quais registraram a força aplicada
na cordoalha de referência. O objetivo era realizar o monitoramento das forças nos cabos ao
longo de todas as etapas construtivas da obra. Além disso, também foi realizado o constante
monitoramento dos deslocamentos verticais na extremidade de cada aduela.

Em função deste cuidadoso acompanhamento feito durante as etapas construtivas da ponte, não
houve necessidade de reprotensão da estrutura. Os dados registrados através deste sistema de
monitoramento foram utilizados, no presente trabalho, sendo de fundamental importância para
a realização das comparações com os resultados alcançados através da simulação numérica.

6.1.4 Detalhes das etapas de construção e do modelo de cálculo

A construção da Ponte do Saber foi realizada a partir do método dos balanços sucessivos,
através da concretagem das aduelas e do pilone in loco. Desta forma, a execução destes
elementos e do plano de estaiamento do tabuleiro foi feita de forma conjunta, utilizando
processos paralelos. A figura 6.10 mostra a forma sequencial que foi realizada a construção dos
elementos estruturais que formam a mesoestrutura e a superestrura da ponte.

Figura 6.10 – Construção da Ponte do Saber por balanços sucessivos

(fonte: GARAMBONE, 2012)

Através da utilização deste sistema construtivo, as aduelas foram concretadas em etapas, com
o auxílio de uma treliça de avanços sucessivos. Esta treliça é uma estrutura metálica provisória,
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responsável por escorar as aduelas em execução e transmitir o peso do concreto fresco para a
viga de rigidez já consolidada. A construção do vão principal da Ponte do Saber teve início com
a execução da aduela inicial, uma aduela diferenciada em relação às demais, por fazer a ligação
entre a extremidade do pilone e o estai T04. Nesta fase, a aduela inicial foi totalmente escorada
durante a sua concretagem. A partir das aduelas seguintes, como a geometria se repetia ao longo
do comprimento do tabuleiro estaiado, foi utilizada a mesma sequência construtiva até a
transposição completa do vão e execução da aduela final. A metodologia aplicada durante este
processo iniciava com a execução da aduela tipo A (5m), avanço da treliça sobre esta aduela
recém concretada, execução da aduela tipo B (5 m), protensão das cordoalhas da seção
enrijecida tipo WCP, protensão do estai frontal e, por fim, avanço da treliça sobre a aduela tipo
B. Na figura 6.11 são apresentadas imagens durante a concretagem das aduelas, onde é possível
observar a treliça de lançamento utilizada na Ponte do Saber, bem como a seção enrijecida do
tabuleiro em forma de W com as armaduras passivas posicionadas.

Figura 6.11 – Detalhes da execução do tabuleiro da Ponte do Saber

(fonte: CIDADE, 2017; GOMES, 2013)

O tabuleiro foi finalizado com a concretagem da aduela final, a qual foi apoiada sobre o pilar
P0, e a protensão das cordoalhas no sentido longitudinal. A imagem à direita da figura 6.11
mostra as bainhas metálicas galvanizadas onde foram posteriormente inseridas as armaduras de
protensão longitudinal na parte inferior e superior do tabuleiro.

De forma paralela ao avanço do tabuleiro e protensão dos estais frontais, foi feita a execução
do pilone e a protensão dos estais de retaguarda. A fim de reduzir os momentos fletores atuantes

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no pilone e, desta forma, evitar a fissuração do concreto, os estais de retaguarda T01, T02 e T03
foram protendidos em três etapas, conforme a construção das aduelas e a execução dos estais
frontais avançavam. A construção do pilone foi feita através do uso de formas trepantes, sendo
cada etapa precedida de rigoroso controle topográfico, tendo em vista a geometria complexa
deste elemento. As etapas de construção do pilone estão ilustradas na figura 6.12.

Figura 6.12 – Detalhes da execução do pilone da Ponte do Saber

(fonte: GOMES, 2013)

Para a execução desta ponte, foi estabelecido pelo projetista que fosse realizado um sistema de
acompanhamento das forças nos estais e elevações em determinados pontos do tabuleiro
(pontos notáveis), ao longo de todas as etapas construtivas. Entretanto, o controle constante das
elevações do tabuleiro apresentou um alto grau de complexidade, já que a temperatura no
momento da medição influenciava bastante no controle do greide geométrico. Desta forma, a
fim de evitar possíveis interferências, os levantamentos eram sempre realizados no mesmo
horário. O tempo dispendido para a construção desta ponte foi em torno de 500 dias, sendo a
execução do tabuleiro e do estaiamento realizada em 278 dias.

Segundo Toledo (2014), a consideração dos efeitos dependentes do tempo nos materiais em
uma ponte estaiada é de fundamental importância para avaliar de forma fidedigna o seu
comportamento durante as etapas construtivas. O fato do tabuleiro de uma estrutura estaiada
estar submetido a elevados valores de compressão ao longo do processo construtivo, é um
exemplo da necessidade da consideração do efeito da fluência sobre o concreto. A realização
deste tipo de análise, envolvendo o modelo dos materiais, requer, no entanto, o uso de softwares
sofisticados, que sejam capazes de realizar um processo interativo envolvendo um grande
número de equações e de variáveis. Sendo assim, para reduzir o esforço computacional, a
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Elementos Finitos
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influência dos efeitos reológicos do concreto geralmente é estimada pelo projetista e inserida
de forma simplificada nos modelos de análise.

Para a Ponte do Saber a deformação lenta do concreto foi estimada em projeto para cada aduela
executada, tendo-se presente as datas previstas para a construção do tabuleiro. Estas
informações foram importantes para compor o plano de estaiamento fornecido ao construtor,
contendo as elevações previstas dos pontos notáveis (e que precisam ser monitoradas) e as
forças em cada cabo ao longo da execução. Para isto, o projetista estrutural realizou um estudo
numérico através de um modelo computacional definido para esta estrutura, no programa em
elementos finitos SAP2000. Neste modelo, foram utilizados elementos de barra ao longo do
tabuleiro e elementos de casca no pilone. Os elementos de estai foram representados por
elementos de barra rotulados nas extremidades.

Conforme Cidade (2017), a avaliação das fases de construção da Ponte do Saber foi feita por
uma técnica de retroanálise, caracterizada pela montagem retroativa (desmontagem ou
backward analysis) e posterior montagem progressiva (montagem ou forward analysis). Para a
realização desta análise, os valores das forças de protensão nos estais da estrutura acabada
devem ser determinados, os quais dependem das condições de contorno impostas em projeto,
podendo ser, por exemplo, a limitação dos momentos fletores no tabuleiro ou no pilone.

Com as forças finais nos estais conhecidas, foram determinados os pré-alongamentos dos cabos,
os quais foram inseridos no modelo realizado no software SAP2000. Após o lançamento da
geometria do modelo completo e aplicação dos carregamentos (peso próprio, sobrecarga
permanente e protensão), foi possível dar início ao processo de desmontagem da estrutura. O
objetivo foi processar os 88 estágios de construção previstos para a Ponte do Saber, e assim
obter as forças iniciais a serem introduzidas nos estais durante a análise de montagem. O
procedimento da backward analysis contou com a retirada e introdução de carregamentos, a
desativação de elementos de estai, a alteração no alongamento dos estais (para os estais de
retaguarda, que são protendidos parcialmente), o recuo da treliça de avanços sucessivos e a
desmontagem de aduelas. Cada novo estágio de análise era iniciado a partir do resultado final
de seu antecedente, sendo que no final da desmontagem, o tabuleiro ainda estava presente no
modelo, formando uma estrutura fantasma (ghost structure). Os 88 estágios de análise das fases
construtivas para determinação das forças de montagem dos estais utilizados em projeto estão
disponíveis em Gomes (2013).

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Através do procedimento da forward analysis, foi elaborado o plano de estaiamento. Durante


esta etapa de cálculo, foi possível incluir os efeitos dependentes do tempo nos materiais por
meio de deformações impostas ou variações nos módulos de elasticidade de cada segmento,
permitindo o ajuste nas forças de protensão dos estais e a avaliação dos esforços nos elementos.

Sendo assim, a fim de minimizar os efeitos da parcela remanescente de fluência, o greide do


tabuleiro foi executado acima do greide do projeto geométrico. Ao finalizar a estrutura das
aduelas foi previsto um desnível de 23,5 cm acima do apoio P0, na extremidade direita da ponte.
Desta forma, o apoio efetivo do tabuleiro sobre o P0 foi imposto pela protensão de dois cabos
verticais ancorados previamente no bloco de fundação. O atirantamento foi realizado de forma
a incrementar a força instalada nos cabos mais longos da ponte e assim minimizar as flechas de
suas catenárias. Como esta protensão era provisória, também foi projetado um contrapeso
interno na extremidade da seção caixão, evitando que o tabuleiro se separasse do apoio.

Em relação à análise dinâmica realizada para as fases de construção de uma ponte estaiada, os
principais parâmetros envolvidos no procedimento de cálculo são a forma geométrica da seção
transversal, a massa e o momento de inércia de massa por metro de tabuleiro. Além disso, o
comportamento dinâmico é também influenciado pela geometria do conjunto de estais (um ou
dois planos de estais), pelo traçado geométrico do greide em elevação e em planta (reto, curvo,
esconso), e pelas frequências fundamentais da ponte. Estas frequências fundamentais, por sua
vez, são associadas aos modos de oscilação da estrutura por flexão vertical, lateral e por torção,
as quais são influenciadas pelos valores de tensões instaladas nos estais. Segundo Battista
(2012), com base nestes critérios de projeto, a análise dinâmica da Ponte do Saber, frente ao
carregamento gerado pelo vento, levou em consideração o estado de tensões iniciais do vão
estaiado sob ação das cargas permanentes e da protensão dos estais, obtido através da análise
estática realizada por Garambone (2012). Conforme já informado, este plano de protensão dos
estais para as várias etapas construtivas em avanço progressivo, foi determinado por meio de
sistemas de otimização estrutural, que levaram em consideração as deformações por fluência e
retração dos elementos de concreto. A partir da configuração deformada da estrutura, para os
estágios críticos de construção da ponte, foi realizada a análise de vibrações, cujos resultados
referentes a dois cenários diferentes estão ilustrados na figura 6.13. Com base nestes valores,
foi possível avaliar a resposta da estrutura frente a introdução de um carregamento de vento
turbulento sobre o tabuleiro, cujos resultados em comparação com os observados nos modelos
de cálculo deste trabalho estão apresentados com mais detalhes no próximo capítulo.
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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Figura 6.13 – Frequências e modos de vibração da Ponte do Saber obtidos através de


modelo em elementos finitos realizado no SAP2000

(fonte: BATTISTA, 2012)

6.2 MODELAGEM DA ESTRUTURA NO ANSYS

Nas análises realizadas no software ANSYS, foi utilizada uma modelagem tridimensional dos
elementos da Ponte do Saber. Neste estudo, apesar da ponte possuir um eixo de simetria
transversal, a seção integral dos elementos estruturais precisou ser discretizada, a fim de
possibilitar a consideração dos efeitos dinâmicos, que levam em conta a rigidez e a massa da
estrutura, bem como a resposta a carregamentos não simétricos. Esta limitação gerou um grande
esforço computacional para a solução das equações não lineares, tendo em vista a elevada
quantidade de elementos finitos necessários para a discretização da malha destas peças.

Desta forma, optou-se por utilizar dois modelos geométricos distintos: o modelo reduzido e o
modelo completo. No modelo reduzido, foi considerada apenas a região do tabuleiro a partir do
face do pilone (ADUINICIAL) até o apoio P0, bem como os estais frontais. As condições de
contorno utilizadas foram o engastamento perfeito do tabuleiro junto ao pilone e um apoio com
restrição na direção X e Z na extremidade oposta do tabuleiro, junto ao apoio P0. Em relação
aos estais, todos os graus de liberdade dos nós dos elementos junto a torre foram restringidos.
Na figura 6.14 é possível observar o modelo reduzido lançado no programa.
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Figura 6.14 – Modelo reduzido da estrutura estaiada lançada no ANSYS


Vista Frontal Detalhe do Tabuleiro

(fonte: elaborada pela autora)

Já no modelo completo, apresentado na figura 6.15, além dos elementos presentes no modelo
reduzido, foi incluída a modelagem computacional do pilone e dos estais de retaguarda. Os
elementos de fundação não fizeram parte do modelo em elementos finitos por não ser o objeto
de pesquisa do trabalho. Em relação aos estais de retaguarda, todos os graus de liberdade dos
nós dos elementos junto ao bloco de fundação foram restringidos. Neste caso, todos os graus
de liberdade dos nós localizados na região inferior do pilone, que corresponde à zona de ligação
da base do pilone com o bloco de coroamento das estacas, também foram restringidos.

Figura 6.15 – Modelo completo da estrutura estaiada lançada no ANSYS

z
y

x
(fonte: elaborada pela autora)
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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Conforme apresenta a figura 6.16, entre a região de entorno do pilone da Ponte do Saber e a
aduela inicial foi projetado um pilar de apoio, cujo efeito foi considerado no modelo em
elementos finitos através da introdução de um apoio simples com restrição vertical de
deslocamentos. As condições de contorno aplicadas na extremidade do tabuleiro, oposta ao
pilone, permaneceram as mesmas do modelo reduzido, sendo que elas só foram consideradas
no modelo em elementos finitos no último caso de carga. Desta forma, foi simulado o
atirantamento da estrutura do tabuleiro sobre o pilar, unindo a estrutura da Ponte do Saber ao
viaduto de acesso à linha vermelha.

Figura 6.16 – Detalhe da região do encontro da aduela inicial com a aduela de


entorno do pilone

(fonte: HOFFMAN, 2020)

Em ambos os modelos geométricos lançados no software ANSYS, os elementos de concreto


foram representados pelo SOLID186, os elementos de armadura passiva foram representados
pelo REINF264, e os elementos pertencentes aos estais foram representados pelo LINK180. O
quadro 6.3 mostra a quantidade de elementos utilizada em cada modelo.

Quadro 6.3 – Quantidade de elementos utilizada em cada modelo no ANSYS


TIPO DE ELEMENTO MODELO REDUZIDO MODELO COMPLETO
SOLID186 19.732 66.202
REINF264 78.088 110.022
LINK180 15 21
TOTAL 97.835 176.245
(fonte: elaborado pela autora)

As propriedades que foram incluídas no script de entrada de dados do programa principal em


todos os modelos analisados, para posteriormente serem lidos pela rotina USERMAT, foram a
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umidade relativa do ambiente de 79% e a temperatura média de 23,7 0C. Em relação aos
parâmetros utilizados para o concreto, foi adotado o valor de 0,2 para o coeficiente de Poisson
e de 65,15 MPa para a resistência à compressão. O cimento considerado foi o de endurecimento
rápido. Para a consideração do peso próprio do concreto armado, foi utilizado o valor de 2,54e-
8 t/cm³ para a massa específica e de 981 cm/s² para a aceleração da gravidade.

6.2.1 Modelagem do tabuleiro – SOLID186

A primeira etapa da modelagem computacional foi lançar os elementos de concreto do tabuleiro


para as três seções transversais diferentes apresentadas neste capítulo: seção padrão, seção
enrijecida do tipo WCP e seção enrijecida do tipo WSP. Na figura 6.17 pode-se visualizar a
malha de elementos de concreto das aduelas inicial e aduela 01 com as seções de enrijecimento,
juntamente com os estais T04 e T05.

Figura 6.17 – Representação das aduelas inicial e aduela 01

T04 T05

Seção padrão
Seção WSP
Seção WCP

(fonte: elaborada pela autora)

A fim de discretizar as três seções transversais de maneira a coincidir todos os nós dos
elementos de concreto entre uma seção e outra, inicialmente, dividiram-se estas seções em
volumes para, posteriormente, ser estabelecido o número de elementos para cada volume. Na
seção padrão foram lançados 50 volumes, e nas seções enrijecidas do tipo WCP e WSP foram
previstos, respectivamente, 60 e 58 volumes. Esta divisão foi baseada em Lazzari (2016), que
modelou no software ANSYS metade da seção transversal deste tabuleiro. No quadro 6.4, é
possível observar o detalhamento dos volumes e da malha de elementos finitos para cada seção.

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
126

Quadro 6.4 –– Detalhamento dos volumes e elementos finitos da seção padrão

SEÇÃO PADRÃO
VOLUMES ANSYS MALHA DE ELEMENTOS ANSYS

SEÇÃO WCP
VOLUMES ANSYS MALHA DE ELEMENTOS ANSYS

SEÇÃO WSP
VOLUMES ANSYS MALHA DE ELEMENTOS ANSYS

(fonte: elaborado pela autora)

Como o objetivo da análise estática era simular as diferentes fases construtivas da estrutura da
ponte estaiada, no modelo computacional foi necessário criar um material para cada conjunto
de elementos, sendo identificados por diferentes idades de carregamento e de ativação. Desta
forma, a partir da utilização do processo de montagem progressiva (forward analysis), foi
possível considerar os efeitos dependentes do tempo de forma diferenciada para cada material.

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Bruna Manica Lazzari (bruna.ml@gmail.com) – Tese de Doutorado – Porto Alegre: PPGEC/UFRGS 2020
127

No quadro 6.5 está apresentada a numeração dos materiais utilizada no modelo completo no
software ANSYS referentes às aduelas que constituem o tabuleiro. O modelo reológico
considerado para os materiais foi o viscoelástico com fissuração, sendo as diferenças entre eles
a data de concretagem ti (ativação do conjunto de elementos) e a idade do concreto no início da
aplicação do carregamento t0, a qual depende do número de dias em que a aduela recém
concretada ficou com o seu peso próprio sendo suportado pela treliça lançadeira. O tempo de
cura do concreto ts foi considerado de 2 dias e a espessura fictícia hf para todas as aduelas de
51,22 cm. As idades de ativação e de aplicação das cargas consideradas para os elementos de
concreto seguiram as datas da construção da ponte, as quais são apresentadas em Gomes (2013).

Quadro 6.5 – Detalhamento das idades consideradas para cada material utilizado na
modelagem das aduelas lançadas no ANSYS
MATERIAL ti t0 MATERIAL ti t0
ADUELAS ADUELAS
ANSYS (dias) (dias) ANSYS (dias) (dias)
ADUINICIAL 200 190 27 ADU08A 215 345 2
ADU01A 201 225 28 ADU08B 216 350 6
ADU01B 202 265 5 ADU09A 217 358 2
ADU02A 203 274 3 ADU09B 218 362 2
ADU02B 204 279 5 ADU10A 219 368 1
ADU03A 205 287 1 ADU10B 220 372 2
ADU03B 206 291 4 ADU11A 221 378 1
ADU04A 207 298 3 ADU11B 222 385 4
ADU04B 208 305 2 ADU12A 223 396 1
ADU05A 209 309 3 ADU12B 224 407 14
ADU05B 210 315 7 ADU13A 225 427 1
ADU06A 211 322.8 1.2 ADU13B 226 433 3
ADU06B 212 326 1 ADU14A 227 442 3
ADU07A 213 330 1 ADU14B 228 448 5
ADU07B 214 334 4 ADUFINAL 229 466 28
(fonte: elaborado pela autora)

A ligação entre os elementos sólidos de concreto e os elementos representativos dos estais da


Ponte do Saber foi realizada diretamente no nó de encontro entre esses elementos. Esta
metodologia resultou em uma concentração de tensões, que, como consequência, bloqueava a
convergência das análises não lineares, uma vez que os modelos de materiais customizados
introduzidos na rotina USERMAT, levavam em consideração a fissuração do concreto.
Entretanto, este comportamento não condiz com as tensões reais atuantes, pois na prática, esta
ligação é feita através de dispositivos de ancoragem, que são capazes de transmitir os elevados
esforços solicitantes dos estais ao concreto ao longo de um determinado comprimento de
ancoragem. Como este mecanismo não foi representado no modelo computacional, uma
possível solução para este problema seria realizar uma maior discretização da malha nesta
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
128

região de encontro entre os elementos. Porém, devido ao grande esforço computacional


necessário para a realização desta análise específica, optou-se, neste caso, em desativar o
modelo de fissuração do concreto nas seções de enrijecimento finais das aduelas (WCP),
correspondentes a um trecho de 35 cm.

6.2.2 Modelagem do pilone – SOLID186

A segunda etapa da modelagem computacional foi lançar os elementos de concreto do pilone,


correspondentes às diferentes seções transversais distribuídas ao longo da sua altura. Para isto,
inicialmente foram gerados os volumes para cada seção transversal. A discretização dos
volumes em elementos SOLID186 foi feita a partir da metodologia da malha mapeada
(MSHKEY,1), a qual é capaz de gerar uma malha com apenas um tipo geométrico de elemento
finito, identificado através do comando MSHAPE. Neste caso, foram utilizados elementos
finitos hexaédricos, sendo definida a dimensão máxima destes elementos em 110 cm através do
comando ESIZE. Desta forma, com base nos parâmetros limites informados pelo usuário, o
programa cria automaticamente as divisões de linhas, para a geração dos elementos finitos. Na
figura 6.18, é possível observar o detalhamento dos volumes para cada seção transversal, bem
como a discretização de elementos finitos das regiões principais.

Figura 6.18 – Detalhamento dos volumes e elementos finitos aplicados aos


segmentos do pilone

(fonte: elaborada pela autora)

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Bruna Manica Lazzari (bruna.ml@gmail.com) – Tese de Doutorado – Porto Alegre: PPGEC/UFRGS 2020
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O projeto original da Ponte do Saber, para a região em que o tabuleiro se encontra com a base
do pilone, era constituído por um trecho curvo, o qual foi adaptado no modelo numérico por
uma aproximação feita por segmentos de retas. Os trechos denominados aduela de entorno e
aduela inicial, mostrados na figura 6.19, indicam a geometria considerada para realizar esta
conexão. Desta forma, foi possível realizar a divisão de volumes nestas regiões de forma a
promover a ligação adequada entre os elementos, gerando uma malha de elementos finitos
contínua e com todos os nós devidamente conectados.

Figura 6.19 – Detalhe da geometria utilizada no modelo no ANSYS, para gerar a


ligação monolítica entre o pilone e o tabuleiro da Ponte do Saber

(fonte: elaborada pela autora)

Para considerar os efeitos do tempo de forma diferenciada em cada trecho de construção do


pilone, foi necessário criar um material para cada conjunto de elementos ativados em etapas
(datas) distintas de construção, de forma semelhante ao que foi feito no tabuleiro. No quadro
6.6 está apresentada a numeração dos materiais utilizada no software ANSYS referentes aos
segmentos do pilone, conforme a locação apresentada no quadro 6.1. O modelo reológico
aplicado aos materiais foi o viscoelástico com fissuração, sendo as diferenças entre eles a data
de concretagem ti (ativação do conjunto de elementos) e a espessura fictícia do concreto hf, uma
vez que o pilone apresenta geometria variável ao longo da altura. Para todos os segmentos do
pilone, o tempo de cura do concreto ts e a idade do concreto no início da aplicação do
carregamento t0 foram considerados respectivamente iguais a 3 e 1 dia, já que cada trecho do
pilone entra em carga imediatamente após a concretagem. As idades de ativação e o cálculo das
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
130

propriedades geométricas de cada trecho foram determinados a partir de planilhas de


acompanhamento de obra e do projeto estrutural disponibilizado por Garambone (2012).

Quadro 6.6 – Detalhamento das idades consideradas para cada material utilizado na
modelagem do pilone no ANSYS
SEGMENTO MATERIAL ti hf SEGMENTO MATERIAL ti hf
PILONE ANSYS (dias) (cm) PILONE ANSYS (dias) (cm)
SEÇÃO 01 301 0 89,87 SEÇÃO 15-17 315 190 101,33
SEÇÃO 02 302 0 440,04 SEÇÃO 18-20 316 218 100,45
SEÇÃO 03 303 0 90,69 SEÇÃO 21 317 272 99,35
SEÇÃO 04 304 0 430,96 SEÇÃO 22A 318 283 131,19
SEÇÃO 05 305 33 90,69 SEÇÃO 22B 319 296 131,19
SEÇÃO 06 306 42 91,58 SEÇÃO 23 320 307 97,80
SEÇÃO 07 307 54 92,63 SEÇÃO 24 321 317 96,84
SEÇÃO 08 308 64 93,74 SEÇÃO 25 322 328 98,36
SEÇÃO 09 309 73 95,00 SEÇÃO 26A 323 339 94,03
SEÇÃO 10 310 85 96,41 SEÇÃO 26B 324 356 94,03
SEÇÃO 11 311 96 98,02 SEÇÃO 27A 325 366 138,40
SEÇÃO 12 312 112 109,92 SEÇÃO 27B 326 374 138,40
SEÇÃO 13 313 143 104,64 SEÇÃO 28 327 389 132,57
SEÇÃO 14 314 166 104,64

(fonte: elaborado pela autora)

Em função da falta de dados referentes às armaduras utilizadas junto às regiões de enrijecimento


do pilone (lajes e estroncas), as armaduras destas zonas específicas não foram modeladas. Desta
forma, o modelo de fissuração para o concreto foi desativado nas lajes de enrijecimento e
estroncas de cada segmento do pilone, sendo adotado um modelo apenas viscoelástico para
estes materiais com as demais propriedades mantidas equivalentes ao concreto utilizado nas
regiões adjacentes.

6.2.3 Elementos de armadura aderente – REINF264

Após concluído o lançamento da geometria e definida a malha de elementos de concreto das


aduelas e dos segmentos do pilone, foi realizado um teste elástico-linear para verificar se todos
os nós do modelo estavam conectados. Em seguida, a partir das plantas de armadura da Ponte
do Saber, disponibilizadas por Garambone (2012), foram implementados no modelo
computacional os elementos de reforço longitudinal e transversal em cada volume. Estas
armaduras foram modeladas através dos elementos REINF264, utilizando o modelo de
armadura incorporada, simulando assim, armaduras com aderência perfeita com os elementos
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base de concreto (SOLID186). A posição das armaduras transversais, juntamente com as


armaduras longitudinais, na seção transversal das aduelas e do pilone da ponte, pode ser
observada na figura 6.20.

Figura 6.20 – Lançamento das armaduras na seção transversal das aduelas e do


pilone da Ponte do Saber

(fonte: elaborada pela autora)

Em relação à modelagem das armaduras do tabuleiro, as informações sobre o posicionamento


dos elementos de reforço, referentes à metade da seção transversal das aduelas da Ponte do
Saber, também podem ser vistas com detalhes em Lazzari (2016). Para as aduelas representadas
no presente estudo, como a estrutura apresenta um eixo longitudinal de simetria, foi possível
considerar o mesmo detalhamento adotado por Lazzari (2016) distribuído, neste caso, para a
seção transversal íntegra do tabuleiro. As armaduras passivas do pilone foram lançadas no script
APDL, utilizando o recurso de modelagem a partir do MESH200. O modelo implementado
levou em consideração as armaduras principais longitudinais do pilone, que eram constituídas
basicamente por barras de 25 mm de diâmetro, espaçadas a cada 20 cm.

Para representar o comportamento das armaduras passivas foi utilizado o modelo elastoplástico
com endurecimento linear a partir de 85% da tensão de ruptura, representado pelo modelo
constitutivo bilinear BISO (Bilinear Isotropic Hardening), disponível na biblioteca do ANSYS.

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
132

Para este modelo foi adotado o coeficiente de Poisson de 0,3, módulo de elasticidade igual a
210.000 MPa e resistência do aço de 500 MPa (aço CA-50).

6.2.4 Modelagem dos estais – LINK180

O elemento LINK180 foi o elemento da biblioteca do ANSYS escolhido para representar os 15


estais frontais e os 6 estais de retaguarda da Ponte do Saber. No quadro 6.7 está apresentado o
detalhamento das propriedades geométricas dos estais que foram inseridas no ANSYS.

Quadro 6.7 – Propriedades geométricas dos estais da Ponte do Saber


ESTAIS ÁREA (cm²) COMPRIMENTO (m) ÂNGULO (°)
T01 190,5 83,35 63,62
T02 190,5 70,94 53,63
T03 190,5 61,09 42,72
T04 46,5 35,36 47,45
T05 46,5 46,04 39,87
T06 55,5 57,22 35,18
T07 55,5 68,68 32,07
T08 55,5 80,27 29,85
T09 82,5 91,99 28,23
T10 82,5 103,75 26,97
T11 82,5 115,56 25,96
T12 82,5 127,45 25,20
T13 82,5 139,36 24,56
T14 82,5 151,28 24,03
T15 82,5 163,22 23,57
T16 82,5 175,16 23,17
T17 82,5 187,11 22,83
T18 82,5 199,07 22,53
(fonte: elaborado pela autora)

Tendo em vista os resultados obtidos nas diferentes simulações numéricas dos estais realizadas
no software ANSYS e apresentadas no capítulo 5 deste trabalho, pode-se concluir que, a
influência do efeito do peso próprio (efeito catenária) no comportamento mecânico dos estais
da Ponte do Saber é pequeno. Isto ocorre pois, para níveis de tensão superiores a 20% de fptk, e
para cabos de até 200 metros de comprimento (com inclinação equivalente ao estai T18 da
Ponte do Saber), a resposta de tensão e deformação entre as duas metodologias testadas (1
elemento LINK180 x múltiplos elementos LINK180) são equivalentes. Desta forma, para a
modelagem dos cabos da Ponte do Saber, cada estai frontal e de retaguarda foi representado por
um único elemento finito LINK180, sendo aplicada a opção de funcionamento apenas quando
o cabo estiver solicitado à tração (Tension only).
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Bruna Manica Lazzari (bruna.ml@gmail.com) – Tese de Doutorado – Porto Alegre: PPGEC/UFRGS 2020
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Para representar o comportamento das armaduras ativas foi utilizado o modelo constitutivo
bilinear BISO (Bilinear Isotropic Hardening), disponível na biblioteca do ANSYS. Neste caso,
o aço possui comportamento linear até atingir 90% do valor da tensão de ruptura; e após isso,
apresenta um comportamento com endurecimento linear. Para este modelo foi adotado o
coeficiente de Poisson de 0,3, módulo de elasticidade igual a 195.000 MPa e resistência
característica de ruptura fptk de 1.736 MPa (aço CP177-RB).

6.2.5 Etapas de cálculo

O modelo numérico para a análise tridimensional das fases construtivas da Ponte do Saber,
realizado no ANSYS, simula o processo de concretagem das aduelas através do método da
ativação e desativação de elementos, em etapas sequenciais. No software ANSYS este método
corresponde ao comando Birth and Death elements, que é um recurso bastante utilizado para
analisar as fases construtivas de uma determinada estrutura.

Para a simulação numérica das fases construtivas da Ponte do Saber, a geometria completa da
ponte foi lançada no programa ANSYS e, em seguida, todos os elementos foram desativados.
O processo de cálculo foi então dividido em 175 passos de carga (load steps). Para iniciar a
análise de cada caso de carga, foi utilizado o comando do ANSYS multiframe restart, o qual
considera os resultados dos elementos finitos (deslocamentos, tensões e deformações), obtidos
do último sub-passo, como condição inicial para o caso de carga atual. Desta forma, para cada
caso de carga específico, são adicionados no script de entrada de dados apenas os novos
carregamentos, uma vez que o programa armazena o histórico envolvido nas etapas
precedentes. Os casos de carga considerados para as etapas construtivas da Ponte do Saber,
estão apresentados no quadro 6.8, e foram baseados nas planilhas de acompanhamento da obra,
disponibilizadas pela empresa responsável pela execução da estrutura. O tempo total para a
construção da Ponte do Saber, e que foi utilizado na simulação no ANSYS foi de 496 dias.

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
134

Quadro 6.8 – Descrição das etapas de cálculo utilizadas no ANSYS


TEMPOS DOS CASOS DE CARGA
CASOS
ELEMENTOS PASSOS DE
DESCRIÇÃO DURAÇÃO DURAÇÃO
ATIVADOS CARGA
(DIAS) ACUMULADA (DIAS)
SEÇÕES 1-14 ATIVA SEÇÕES 1-14
1 01 → 30 var. 190
ADUENTORNO + ATIVA ADUENTORNO + PP
ATIVA SEÇÕES 15, 16 E 17
31 1 191
SEÇÕES 15-17 + ATIVA ADUINICIAL
2 ADUINICIAL 32 PP SEÇÕES 15, 16 E 17 26 217
ESTAI T04 PP ADUINICIAL
33 1 218
+ ESTAIAMENTO T04
34 ATIVA SEÇÕES 18, 19 E 20 1 219
35 PP SEÇÕES 18, 19 E 20 2 221
36 PP TRELIÇA EM P04 1 222
37 INCREMENTO DE TEMPO 3 225
38 ATIVA ADU01A 1 226
SEÇÕES 18-20 39 INCREMENTO DE TEMPO 27 253
ADU01 PP ADU01A
3 40 1 254
ESTAI T03 + PP TRELIÇA EM P04A
ESTAI T05 41 INCREMENTO DE TEMPO 11 265
42 ATIVA ADU01B 1 266
43 INCREMENTO DE TEMPO 3 269
44 ESTAIAMENTO T03 1 270
PP ADU01B
45 1 271
+ ESTAIAMENTO T05
PP TRELIÇA EM P05
46 1 272
+ ESTAIAMENTO T04
47 ATIVA SEÇÃO 21 1 273
48 PP SEÇÃO 21 1 274
49 ATIVA ADU02A 1 275
50 INCREMENTO DE TEMPO 2 277
SEÇÕES 21-22A PP ADU02A
4 ADU02 51 1 278
+ PP TRELIÇA EM P05A
ESTAI T06 52 INCREMENTO DE TEMPO 1 279
53 ATIVA ADU02B 1 280
54 INCREMENTO DE TEMPO 3 283
55 ATIVA SEÇÃO 22A 1 284
PP SEÇÃO 22A + PP ADU02B
56 0,8 284,8
+ ESTAIAMENTO T06
57 PP TRELIÇA EM P06 0,2 285
58 INCREMENTO DE TEMPO 2 287
59 ATIVA ADU03A 1 288
PP ADU03A
60 1 289
ADU03 + PP TRELIÇA EM P06A
5
ESTAI T07 61 INCREMENTO DE TEMPO 2 291
62 ATIVA ADU03B 1 292
63 INCREMENTO DE TEMPO 3 295
PP ADU03B
64 0,8 295,8
+ ESTAIAMENTO T07
continua

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Bruna Manica Lazzari (bruna.ml@gmail.com) – Tese de Doutorado – Porto Alegre: PPGEC/UFRGS 2020
135

continuação
65 PP TRELIÇA EM P07 0,2 296
ATIVA SEÇÃO 22B
66 1 297
+ ESTAIAMENTO T03
67 PP SEÇÃO 22B 1 298
68 ATIVA ADU04A 1 299
SEÇÃO 22B 69 INCREMENTO DE TEMPO 2 301
6 ADU04 PP ADU04A
70 1 302
ESTAI T08 + PP TRELIÇA EM P07A
71 INCREMENTO DE TEMPO 3 305
72 ATIVA ADU04B 1 306
73 INCREMENTO DE TEMPO 1 307
ATIVA SEÇÃO 23 + PP ADU04B
74 0,8 307,8
+ ESTAIAMENTO T08
75 PP TRELIÇA EM P08 0,2 308
76 PP SEÇÃO 23 1 309
77 ATIVA ADU05A 1 310
78 INCREMENTO DE TEMPO 2 312
PP ADU05A
79 1 313
+ PP TRELIÇA EM P08A
SEÇÕES 23-24
7 ADU05 80 INCREMENTO DE TEMPO 2 315
ESTAI T09 81 ATIVA ADU05B 1 316
82 INCREMENTO DE TEMPO 1 317
83 ATIVA SEÇÃO 24 1 318
84 PP SEÇÃO 24 4 322
PP ADU05B
85 0,6 322,6
+ ESTAIAMENTO T09
86 PP TRELIÇA EM P09 0,2 322,8
87 ATIVA ADU06A 0,2 323
88 INCREMENTO DE TEMPO 1 324
PP ADU06A
ADU06 89 1 325
8 + PP TRELIÇA EM P09A
ESTAI T10
90 INCREMENTO DE TEMPO 1 326
91 ATIVA ADU06B 1 327
PP ADU06B
92 0,8 327,8
+ ESTAIAMENTO T10
93 PP TRELIÇA EM P10 0,2 328
ATIVA SEÇÃO 25
94 1 329
+ ESTAIAMENTO DE T03
95 PP SEÇÃO 25 1 330
96 ATIVA ADU07A 1 331
PP ADU07A
SEÇÃO 25 97 1 332
+ PP TRELIÇA EM P10A
9 ADU07 98 ESTAIAMENTO T03 2 334
ESTAI T11
99 ATIVA ADU07B 1 335
100 INCREMENTO DE TEMPO 3 338
PP ADU07B
101 1 339
+ ESTAIAMENTO T11
ATIVA SEÇÃO 26A
102 1 340
+ ESTAIAMENTO T3

__________________________________________________________________________________________
Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
136

continuação
PP SEÇÃO 26A
103 1 341
+ PP TRELIÇA EM P11
104 INCREMENTO DE TEMPO 3 344
105 ESTAIAMENTO T02 1 345
106 ATIVA ADU08A 1 346
SEÇÃO 26A 107 ESTAIAMENTO T02 1 347
10 ADU08 PP ADU08A
108 1 348
ESTAI T12 + PP TRELIÇA EM P11A
109 INCREMENTO DE TEMPO 2 350
110 ATIVA ADU08B 1 351
111 INCREMENTO DE TEMPO 5 356
ATIVA SEÇÃO 26B + PP ADU08B
112 0,8 356,8
+ ESTAIAMENTO T12
113 PP TRELIÇA EM P12 0,2 357
114 PP SEÇÃO 26B 1 358
115 ATIVA ADU09A 1 359
116 INCREMENTO DE TEMPO 1 360
SEÇÃO 26B PP ADU09A
117 1 361
11 ADU09 + PP TRELIÇA EM P12A
ESTAI T13 118 INCREMENTO DE TEMPO 1 362
119 ATIVA ADU09B 1 363
120 INCREMENTO DE TEMPO 1 364
PP ADU09B
121 0,8 364,8
+ ESTAIAMENTO T13
122 PP TRELIÇA EM P13 0,2 365
123 ESTAIAMENTO T02 1 366
124 ATIVA SEÇÃO 27A 1 367
125 PP SEÇÃO 27A 1 368
126 ATIVA ADU10A 1 369
SEÇÃO 27 PP ADU10A
127 1 370
12 ADU10 + PP TRELIÇA EM P13A
ESTAI T14 128 INCREMENTO DE TEMPO 2 372
129 ATIVA ADU10B 1 373
130 INCREMENTO DE TEMPO 1 374
ATIVA SEÇÃO 27B + PP ADU10B
131 1 375
+ ESTAIAMENTO T14
132 PP SEÇÃO 27B 1 376
133 PP TRELIÇA EM P14 1 377
134 INCREMENTO DE TEMPO 1 378
135 ATIVA ADU11A 1 379
PP ADU11A
136 1 380
+ PP TRELIÇA EM P14A
ADU11
13 137 ESTAIAMENTO T02 5 385
ESTAI T15
138 ATIVA ADU11B 1 386
139 INCREMENTO DE TEMPO 3 389
ATIVA SEÇÃO 28 + PP ADU11B
140 0,8 389,8
+ ESTAIAMENTO T15
141 ESTAIAMENTO T02 0,2 390

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137

continuação
PP SEÇÃO 28
142 1 391
+ PP TRELIÇA EM P15
143 INCREMENTO DE TEMPO 5 396
144 ATIVA ADU12A 1 397
PP ADU12A
SEÇÃO 28 145 1 398
+ PP TRELIÇA EM P15A
ADU12
14 146 INCREMENTO DE TEMPO 9 407
ESTAI T01
147 ATIVA ADU12B 1 408
ESTAI T16
148 INCREMENTO DE TEMPO 10 418
149 ESTAIAMENTO T01 1 419
150 INCREMENTO DE TEMPO 2 421
PP ADU12B
151 1 422
+ ESTAIAMENTO T16
152 PP TRELIÇA EM P16 1 423
153 INCREMENTO DE TEMPO 4 427
154 ATIVA ADU13A 1 428
PP ADU13A
155 1 429
ADU13 + PP TRELIÇA EM P16A
15
ESTAI T17 156 INCREMENTO DE TEMPO 4 433
157 ATIVA ADU13B 1 434
158 INCREMENTO DE TEMPO 2 436
PP ADU13B
159 0,8 436,8
+ ESTAIAMENTO T17
160 PP TRELIÇA EM P17 0,2 437
161 INCREMENTO DE TEMPO 5 442
162 ATIVA ADU14A 1 443
163 INCREMENTO DE TEMPO 2 445
PP ADU14A
ADU14 164 1 446
16 + PP TRELIÇA EM P17A
ESTAI T18
165 ESTAIAMENTO T01 E T02 2 448
166 ATIVA ADU14B 1 449
167 INCREMENTO DE TEMPO 4 453
PP ADU14B
168 1 454
+ ESTAIAMENTO T18
169 PP TRELIÇA EM P18 1 455
170 INCREMENTO DE TEMPO 11 466
171 ATIVA ADUFINAL 1 467
172 INCREMENTO DE TEMPO 24 491
17 ADUFINAL
173 ESTAIAMENTO T01 1 492
174 INCREMENTO DE TEMPO 2 494
PP ADUFINAL +
175 2 496
ATIRANTAMENTO EM P0
(fonte: elaborado pela autora)

No quadro 6.8, os passos de carga de número 1 ao 33, correspondem à sequência construtiva


de elevação do pilone até o nível + 49,86 m (SEÇÃO 15-17), juntamente com a concretagem
da aduela de entorno e da aduela inicial. Para evitar problemas de convergência no modelo, a

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Elementos Finitos
138

simulação computacional da execução de cada segmento da torre da Ponte do Saber foi dividida
em dois passos de carga distintos. Inicialmente, na data indicada pelos dados de
acompanhamento da obra, o trecho correspondente do pilone era ativado, tendo esta etapa a
duração de um dia. Em seguida, no próximo caso de carga, o peso próprio destes elementos era
introduzido. Esta segunda etapa de carga apresentava duração equivalente ao intervalo de dias
transcorridos entre a concretagem de dois segmentos consecutivos do pilone, sendo o valor do
peso próprio total aplicado no primeiro sub-passo desta etapa.

De forma geral, as 28 aduelas de 5 metros de comprimento executadas após a aduela inicial,


seguiram o mesmo procedimento de entrada de dados adotado para a modelagem do pilone,
sendo utilizada, neste caso, a seguinte sequência construtiva (figura 6.21):

a) ETAPA 1: aplicação da carga de peso próprio da treliça de lançamento (PP TRELIÇA).


O peso próprio da treliça introduzido nas análises foi de 360 kN (CIDADE, 2017). Este
carregamento foi considerado distribuído nas áreas referentes à extremidade da aduela;

b) ETAPA 2: simulação da concretagem do trecho de 5 m de aduela, correspondente à


ADU-A. Para isto, na data indicada na ficha de acompanhamento de obra, é feita a
ativação do segmento ADU-A, para que, a partir deste dia, os efeitos do tempo possam
ser considerados neste grupo de elementos. Nesta etapa, a carga de peso próprio da
aduela em execução é aplicada sobre a treliça, que está apoiada sobre a aduela anterior,
e é responsável pelo escoramento do conjunto;

c) ETAPA 3: movimentação da treliça para a extremidade da ADU-A. A partir desta etapa,


a ADU-A passa a suportar o seu peso próprio, bem como o peso próprio da treliça
posicionada na sua extremidade;

d) ETAPA 4: simulação da concretagem do trecho de 5 m de aduela, correspondente à


ADU-B. Para isto, na data indicada na ficha de acompanhamento de obra, é feita a
ativação do segmento ADU-B, para que, a partir deste dia, os efeitos do tempo possam
ser considerados neste grupo de elementos. Nesta etapa, a carga de peso próprio da
aduela em execução é aplicada sobre a treliça, que está apoiada sobre a ADU-A, e é
responsável pelo escoramento do conjunto;

e) ETAPA 5: ativação do estai frontal, ancorado na extremidade da ADU-B. Protensão do


estai, de forma que, a partir desta etapa, a ADU-B passa a suportar o seu peso próprio.
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139

O tensionamento do estai localizado no final da ADU-B foi realizado de formas


diferentes, conforme o modelo analisado. Para o modelo completo, o estaiamento foi
realizado através da introdução de uma carga de temperatura, de modo que a tensão no
estai se aproximasse à tensão de projeto. Para o modelo reduzido, o estaiamento foi
realizado a fim anular os deslocamentos verticais sofridos pelo tabuleiro e, desta forma,
fazer com que o greide de lançamento das aduelas se aproximasse do greide de projeto.
Este tensionamento foi realizado através da aplicação de deslocamentos no nó
correspondente ao ponto onde o estai se conecta à torre;

f) ETAPA 6: movimentação da treliça para a extremidade da ADU-B. Nesta etapa, retira-


se a carga de peso próprio da treliça da extremidade da ADU-A e aplica-se na
extremidade da ADU-B.

Figura 6.21 – Procedimento adotado para simular a concretagem das aduelas tipo A
e tipo B, com o avanço da treliça de lançamento e a protensão dos estais frontais

(fonte: elaborada pela autora)

A figura 6.22 exemplifica os diagramas de todos os casos da construção da Ponte do Saber,


conforme descrito no quadro 6.8. Através da análise destas imagens pode-se observar a ordem
que foi feita a ativação dos elementos no modelo computacional.

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
140

Figura 6.22 – Casos de simulação numérica da Ponte do Saber

(fonte: elaborada pela autora)

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141

6.3 METODOLOGIA DA ANÁLISE DINÂMICA

Neste item é apresentado o modelo de carregamento não determinístico utilizado para simular
o vento turbulento atuante sobre o tabuleiro de ponte investigado. A análise dinâmica foi
realizada no domínio do tempo, em que as forças de vento foram aplicadas sobre o modelo em
elementos finitos como funções variáveis num tempo de 10 minutos. A simulação do
carregamento devido ao vento foi realizada conforme descrição detalhada feita no capítulo 3
deste trabalho do método do vento sintético. Foram consideradas apenas as forças de vento
atuantes sobre o tabuleiro, referentes às componentes de velocidade U=𝑈+u(t) e w(t).

Como analisado no capítulo 3, a velocidade do vento pode ser expressa como sendo uma função
temporal, formada por uma parcela média, obtida por meio de expressões matemáticas da
norma brasileira de vento NBR 6123 (ABNT, 1988) e uma parcela flutuante. A figura 6.23
ilustra um exemplo de cunho genérico acerca da variação da velocidade do vento ao longo do
tempo, em função de uma parcela média e outra flutuante.

Figura 6.23 – Variação da velocidade do vento ao longo do tempo

(fonte: BARBOZA, 2016)

Na falta de um histórico meteorológico, para a obtenção de um sinal de velocidades flutuantes


de vento na região de estudo, é possível considerá-las como funções aleatórias no tempo,
geradas a partir dos espectros teóricos de potência. No presente trabalho foram utilizados dois
espectros teóricos de potência diferentes para representar o sinal de velocidades flutuantes para
as componentes u(t) e w(t). O sinal da velocidade flutuante do vento na direção longitudinal
u(t) foi gerado a partir do espectro de Harris, que é o mesmo adotado pela NBR 6123
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Elementos Finitos
142

(BLESSMANN, 2013). Já a velocidade flutuante na direção vertical w(t) foi considerada a


partir do espectro de Lumley e Panofsky, de acordo com as recomendações de Simiu e Scanlan
(1996). A figura 6.24 ilustra estes históricos de u(t) e w(t) para a estrutura durante uma das fases
construtivas. A geração destes históricos considera a correlação espacial dos turbilhões ao longo
do comprimento do tabuleiro e foi obtida conforme descrito nos itens 6.3.1 e 6.3.2 a seguir.

Figura 6.24 – Histórico de velocidade flutuante de vento u(t) e w(t), utilizando os


espectros de potência teóricos

(fonte: elaborada pela autora)

6.3.1 Espectro da componente longitudinal da turbulência

Conforme abordado no capítulo 3 deste trabalho, existe um grande número de expressões


matemáticas, com distintos graus de refinamento para simular o espectro da componente
longitudinal da turbulência. Entretanto, não há uma curva que represente a totalidade dos casos;
uma vez que em um gráfico frequência x energia, os pontos experimentais mais sugerem uma
faixa ou mesmo uma nuvem imprecisa do que uma curva. Baseado em um grande número de
medidas feitas entre 18 m e 180 m, em terrenos de diversas rugosidades, Harris (1970) sugeriu
a expressão 6.1 para o espectro de energia da componente longitudinal da turbulência.

𝑓. 𝑆 (𝑓) 𝑥 1800. 𝑓 (equação 6.1)


= 4. ; 𝑥 =
𝑐 .𝑈 (2 + 𝑥 ²) 𝑈

Onde:
Su(f): densidade espectral da componente longitudinal da turbulência na frequência f;

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f: frequência (Hz);
cas: coeficiente de arrasto superficial referido à velocidade média a 10 m de altura;
𝑈 : velocidade média horária a 10 m de altura (m/s) (𝑈 = 𝑈 . 𝑆 . 𝑆 (10). 𝑆 );
x1: frequência adimensional.

Integrando-se a equação 6.1, obtém-se a variância conforme a equação 6.2, o que permite
escrever a equação 6.3.

(equação 6.2)
𝜎 = 𝑆 (𝑓) 𝑑𝑓 = 6,66. 𝑐 . 𝑈

𝑓. 𝑆 (𝑓) 𝑥 (equação 6.3)


= 0,6.
𝜎 (2 + 𝑥 ²)

A equação 6.4 apresenta o valor do coeficiente de arrasto superficial cas, necessário para o
cálculo da variância do espectro teórico 𝜎 .

0,16 (equação 6.4)


𝑐 =
10
𝑙𝑛
𝑧

O quadro 6.9 mostra os valores para os comprimentos de rugosidade z0, para as cinco categorias
de terreno previstas pela NBR 6123. A rugosidade de terreno considerada para a região onde
encontra-se a estrutura a ser analisada neste trabalho foi de categoria III.

Quadro 6.9 – Valores de para as cinco categorias de terreno da NBR 6123


CATEGORIAS DE TERRENO
I II III IV V
z0 (m) 0,005 0,07 0,20 0,70 1,75
p (10 min) 0,095 0,15 0,185 0,23 0,31
cas 0,0028 0,0065 0,0105 0,0226 0,0527
(fonte: BLESSMANN, 2013)

A figura 6.25 apresenta um exemplo de curva gerada pela equação 6.3 nas coordenadas f/𝑈 x
f.Su(f)/σu², em um gráfico com coordenadas de unidades lineares. Esta curva é gerada para
diversas frequências, sendo o valor de 𝑈 constante.

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144

Figura 6.25 – Espectro de Harris f/𝑈10 x f.Su(f)/σu² representado em gráfico linear

(fonte: elaborada pela autora)

A figura 6.26 apresenta o mesmo exemplo anterior, porém plotado em um gráfico


monologarítmico. No caso da engenharia estrutural é importante conhecer as frequências, para
determinar facilmente aquelas que se situam dentro da faixa de frequências naturais das
estruturas. Por isso, ao invés de representar o eixo das abcissas pelos valores de x1, torna-se
mais interessante utilizar os valores de f/𝑈 , ou diretamente a frequência f. A adoção de f/𝑈 ,
deixa o gráfico independente de 𝑈 , e, portanto, de ampla utilização.

Figura 6.26 – Espectro de Harris f/𝑈10 x f.Su(f)/σu² representado em gráfico


monologarítmico

(fonte: elaborada pela autora)

A partir do espectro de Harris é possível obter a velocidade longitudinal do vento ao longo do


tempo u(t). Para isto, seguindo as orientações de Franco (1993), para aplicar o método do vento

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sintético, o espectro analisado deve ser dividido em pelo menos 11 partes. Nas análises feitas
neste trabalho foram adotadas 21 divisões, de modo a capturar as potências mais altas, conforme
apresenta a figura 6.27. Nesta figura é possível observar que uma das faixas do diagrama se
destaca em relação às demais. Esta região corresponde à frequência referente ao período
fundamental da estrutura. As frequências dos outros componentes harmônicos são obtidas como
múltiplos ou submúltiplos da frequência fundamental por um fator de 2.

Figura 6.27 – Decomposição espectral da velocidade do vento na direção


longitudinal

(fonte: elaborada pela autora)

Desta forma, a fim de descrever a ação do vento por meio de um sinal aleatório de velocidades,
foi considerada, neste estudo, a frequência natural da estrutura obtida em análise de vibração
livre, para as etapas construtivas críticas da ponte estaiada em estudo. Ou seja, para cada etapa
construtiva foi necessário gerar um novo carregamento dinâmico, de modo que a frequência
natural desta fase de construção estivesse servindo como ponto de partida para a divisão do
espectro teórico. Assim, tem-se a garantia de que a frequência referente ao primeiro modo de
vibração da estrutura está contida no sinal aleatório das velocidades flutuantes.

Para realizar a simulação no tempo das componentes de flutuação de velocidade de vento, a


partir de um espectro de energia, pode-se utilizar uma Série de Fourier, conforme apresentado
no capítulo 3 deste trabalho. Neste modelo, o processo u(t) é obtido através da equação 6.5,
sendo possível gerar um sinal aleatório de média igual a zero.

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146

(equação 6.5)
𝑢(𝑡) = √2 𝑆 (𝑓 )𝛥𝑓 cos (2𝜋𝑓 𝑡 + 𝜃 )

Onde:
Su(𝑓 ): densidade espectral da componente longitudinal da turbulência na frequência fi;
fi: frequência correspondente a cada um dos harmônicos (Hz);
Δf: dimensão da faixa;
θi: ângulo de fase aleatório;
n: número de divisões do espectro Su.

A partir dos pares de valores Su(fi) e fi, correspondentes às ordenadas e abcissas dos n retângulos
da figura 6.27, foi possível determinar os componentes harmônicos apresentados na figura 6.28.
Analisando estes diagramas é possível notar que os primeiros harmônicos apresentam baixas
amplitudes, as quais vão crescendo até atingir a amplitude máxima. A partir de um determinado
componente harmônico as frequências aumentam significativamente, e as amplitudes vão
decrescendo. É possível observar ainda a componente aleatória do processo, ou seja, o ângulo
de fase θ, o que garante a geração de um sinal diferente para cada carregamento gerado. A
construção das séries de carregamentos para a geração dos históricos de carga baseia-se,
portanto, na superposição dos componentes harmônicos com ângulos de fases aleatórios.

Figura 6.28 – Componentes harmônicos provenientes do espectro de Harris


u1(t) + ... u2(t) até u6(t) ... + u7(t)

+ u14(t) + ... u15(t) até u20(t) ... + u21(t)

(fonte: elaborada pela autora)

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A figura 6.29 mostra o sinal aleatório que representa a componente de flutuação da velocidade
do vento na direção longitudinal u(t), obtida a partir da superposição dos 21 harmônicos.

Figura 6.29 – Histórico de velocidade flutuante de vento na direção vertical u(t)

(fonte: elaborada pela autora)

6.3.2 Espectro da componente vertical da turbulência

Este espectro não tem sido tão estudado como o da componente longitudinal da velocidade
flutuante do vento. Ainda assim Lumley e Panofsky (1964), recomendam a utilização da
equação 6.6 para representar a velocidade flutuante vertical para estruturas de até 50 m de altura.
A velocidade média do vento 𝑈( ) varia ao longo da altura acima do solo em função da
rugosidade do terreno e pode ser descrita pela lei logarítmica, representada pela equação 6.7. A
figura 6.30 apresenta um exemplo de curva gerada pela equação 6.6 nas coordenadas f/𝑈( ) x
f.Sw(f)/ u*², em um gráfico monologarítmico.

𝑓. 𝑆 (𝑓) 𝑥 𝑧. 𝑓 (equação 6.6)


= 3,36. ; 𝑥 =
𝑢∗ 1 + 10. 𝑥 𝑈( )

𝑢∗ 𝑧 (equação 6.7)
𝑈( ) = 𝑙𝑛
𝑘 𝑧

Onde:
Sw(f): densidade espectral da componente vertical da turbulência na frequência f;
z: altura do fluxo, considerado horizontal e homogêneo;
k: constante de Von Karmán, obtida experimentalmente e igual a 0,4.

Para o estudo do perfil vertical das velocidades do vento dentro da camada limite atmosférica,
um parâmetro básico, que depende tanto da rugosidade superficial como da velocidade média
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148

do vento, é chamado de velocidade de fricção ou velocidade de cisalhamento 𝑢∗ . A velocidade


de fricção pode ainda ser encarada como uma medida da intensidade da turbulência e da
transferência de quantidade de movimento causada por esta turbulência. Este parâmetro pode
ser definido pela expressão 6.8.

(equação 6.8)
𝑢∗ = 𝑐 . 𝑈( )

A partir do espectro de Lumley e Panofsky é possível obter a velocidade vertical do vento ao


longo do tempo w(t), de forma semelhante ao procedimento realizado a partir do espectro de
Harris. A figura 6.30 apresenta o espectro analisado dividido em 21 partes. Neste modelo, para
realizar a simulação no tempo da componente vertical de flutuação de velocidade de vento, o
processo w(t) foi obtido através da equação 6.9. A partir dos n pares de valores Sw(fi) e fi, a
construção das séries de carregamentos para a geração dos históricos de carga foi feita a partir
da superposição dos componentes harmônicos com ângulos de fases aleatórios.

Figura 6.30 – Decomposição espectral da velocidade do vento na direção vertical

(fonte: elaborada pela autora)

(equação 6.9)
𝑤(𝑡) = √2 𝑆 (𝑓 )𝛥𝑓 cos (2𝜋𝑓 𝑡 + 𝜃 )

A figura 6.31 mostra o sinal aleatório que representa a componente de flutuação da velocidade
do vento na direção vertical w(t), obtida a partir da superposição dos 21 harmônicos.

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Figura 6.31 – Histórico de velocidade flutuante de vento na direção vertical w(t)

(fonte: elaborada pela autora)

6.3.3 Carga de vento aplicada ao modelo

Para o cálculo das forças dinâmicas devidas ao vento é necessário conhecer além das
componentes das velocidades flutuantes na direção longitudinal u(t) e vertical w(t), também os
coeficientes aerodinâmicos. Na ausência de resultados de ensaio de túnel de vento, os
coeficientes aerodinâmicos Ca, Cs e Cm podem ser obtidos através de valores determinados para
estruturas com geometrias semelhantes, com comportamento aerodinâmico conhecido. A figura
6.32 apresenta os coeficientes aerodinâmicos de três pontes existentes.

Figura 6.32 – Coeficientes aerodinâmicos Ca, Cs e Cm em função do ângulo de


ataque α para as Ponte da Europa (Áustria), de Oberkassel (Alemanha) e de
Vancouver (Canadá)

(fonte: WALTHER, 1994)


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Como para a Ponte do Saber não foram realizados ensaios aerodinâmicos, os coeficientes Ca,
Cs e Cm, considerados nos cálculos, para um ângulo de ataque α = 0° (e suas derivadas com
relação a α) são retirados das curvas encontradas na literatura para a Ponte da Europa, a qual
possui uma seção transversal com forma mais aproximada à seção de estudo. Seus valores são
também descritos no quadro 6.10.

Quadro 6.10 – Coeficientes aerodinâmicos Ca, Cs e Cm em função do ângulo de


ataque α considerados nos cálculos das forças de vento
α Ca Cs Cm ∂ Ca / ∂α ∂ Cs / ∂α ∂ Cm / ∂α
0° 1,500 0,453 0,524 -0,229 3,724 -0,802
(fonte: adaptado de CURI, 2015)

Com os valores dos coeficientes aerodinâmicos já determinados, as forças devidas às flutuações


u(t) e w(t) da velocidade do vento (Fx(t), Fz(t) e My(t)), foram calculadas. Neste trabalho,
considerou-se o carregamento atuante apenas no tabuleiro, sendo o mesmo concentrado nos nós
centrais de cada elemento finito.

Na modelagem computacional, as três forças aerodinâmicas devidas às flutuações u(t) e w(t) da


velocidade do vento, Fx(t), Fz(t) e My(t), foram aplicadas na metade da seção transversal, nos
nós localizados na ligação entre o tabuleiro e a viga de enrijecimento. Como o local correto de
aplicação destas cargas seria no centro geométrico (CG) da seção transversal do tabuleiro da
ponte, juntamente com a força Fx(t) foi aplicado um momento MFxi(t), referente à transladação
desta força, em forma de um binário de cargas verticais FMFxi(t), atuantes nas extremidades da
seção transversal. Isto foi necessário, uma vez que não foi possível aplicar diretamente o
momento MFxi(t) no referido nó, já que o elemento SOLID186 apresenta apenas três graus de
liberdade por nó, sendo estes as translações segundo X, Y e Z. A relação utilizada para o cálculo
destas forças equivalentes, está descrita nas equações 6.10 a 6.12. Para cada uma das três seções
transversais diferentes da ponte (padrão, WSP e WCP), foi determinada, portanto, a posição do
centro geométrico ZCGi, conforme apresenta a figura 6.33.

𝑀 (𝑡) = 𝐹 (𝑡)(𝐻 − 𝑍 ) (equação 6.10)

𝐵 𝐵
𝐹 (𝑡) +𝐹 (𝑡) =𝑀 (𝑡) (equação 6.11)
2 2

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𝑀 (𝑡)
𝐹 (𝑡) = (equação 6.12)
𝐵

Figura 6.33 – Sistema de coordenadas para a formulação das forças aerodinâmicas


devidas às flutuações u(t) e w(t) da velocidade do vento sobre o tabuleiro, na região
das seções transversais da ponte
SEÇÃO PADRÃO

ZCG1 = 148,03 cm
WSP

ZCG2 = 139,26 cm
WCP

ZCG3 = 132,39 cm
(fonte: elaborada pela autora)

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O momento em torno do eixo y My(t), foi representado de maneira semelhante ao momento


MFxi(t), através de um binário de cargas verticais FMy(t), atuantes nas extremidades da seção
transversal (equação 6.13). A figura 6.34 mostra a forma como o carregamento foi considerado
no modelo computacional, ilustrada em uma aduela sem a representação da viga de
enrijecimento central, para melhor visualização dos vetores. Nas extremidades da seção
transversal da ponte foi aplicada apenas a força resultante FzMy(t), referentes aos binários de
carregamento gerados pelos momentos MFxi(t) e My(t), conforme apresenta a equação 6.14.

𝑀 (𝑡)
𝐹 (𝑡) = (equação 6.13)
𝐵

𝐹𝑧 (𝑡) = 𝐹 (𝑡) + 𝐹 (𝑡) (equação 6.14)

Figura 6.34 – Sistema de coordenadas para a formulação das forças aerodinâmicas


devidas às flutuações u(t) e w(t) da velocidade do vento sobre a aduela inicial do
tabuleiro

(fonte: elaborada pela autora)

A figura 6.35 apresenta um exemplo das forças de vento flutuantes em função do tempo (Fx(t),
Fz(t) e FzMy(t)), aplicadas nos nós correspondentes à seção padrão da aduela inicial da Ponte do
Saber no modelo computacional. Estes carregamentos foram gerados a partir de uma certa
frequência f, que corresponde à frequência fundamental da ponte, em sua etapa construtiva
correspondente ao caso 17. Como cada aduela desta ponte pode ser formada por seções padrão
e seções enrijecidas (WCP e WSP), com faixas de elementos finitos de diferentes comprimentos
l, conforme apresenta o quadro 6.10, cada variação de tamanho de elemento recebe um

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carregamento diferenciado. O roteiro para a introdução destes carregamentos no ANSYS está


descrito no APÊNDICE A.

Figura 6.35 – Forças de vento flutuante aplicadas nos nós correspondentes à seção
padrão da aduela inicial da Ponte do Saber, em fase final de construção
ADUINICIAL 12
Seção Padrão
8

Fx(t) (kN)
4
0
-4 0 100 200 300 400 500 600

-8
-12
t (s)
l = 133 cm

ADUINICIAL 12
Seção Padrão 8
Fz(t) (kN)

4
0
-4 0 100 200 300 400 500 600

-8
-12
t (s)
l = 133 cm

ADUINICIAL
12
Seção Padrão
8
FzMy(t) (kN)

4
0
-4 0 100 200 300 400 500 600

-8
-12
t (s)

l = 133 cm
(fonte: elaborada pela autora)

Sendo assim, uma série de carregamentos distintos foi gerada, os quais variavam em função da
fase construtiva a ser analisada, da direção de aplicação desta força e do nó de concentração do
carregamento. Além disso, para cada etapa de cálculo, foi criada uma carga de vento com
frequências correspondentes aos valores dos primeiros modos de vibração da estrutura.

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Elementos Finitos
154

Quadro 6.10 – Geometria das aduelas


NÚMERO DE COMPRIMENTO DE
COMPRIMENTO
ADUELAS COMPOSIÇÃO FAIXAS DE CADA FAIXA DE
TOTAL (cm)
ELEMENTOS ELEMENTO (l) (cm)
INICIAL (padrão) 1.995 15 133
ADUINICIAL
WCP 35 1 35
01A (padrão) 465 3 155
ADU01
WSP 35 1 35
a
01B (padrão) 465 3 155
ADU14
WCP 35 1 35
ADUFINAL FINAL (padrão) 1.016 8 127
(fonte: elaborado pela autora)

Em relação às forças aerodinâmicas devidas à ação estática do vento Fa, Fs e Mt, as mesmas
também foram aplicadas na metade da seção transversal, nos nós superiores do tabuleiro.
Juntamente com a força Fa foi aplicado um momento Mai, referente à transladação desta força,
a partir do centro geométrico da seção, em forma de um binário de cargas verticais FMai(t),
atuantes nas extremidades da seção transversal. A relação utilizada para o cálculo destas forças
equivalentes, está descrita nas equações 6.15 a 6.17.

𝑀 = 𝐹 (𝐻 − 𝑍 ) (equação 6.15)

𝐵 𝐵
𝐹 +𝐹 =𝑀 (equação 6.16)
2 2

𝑀
𝐹 = (equação 6.17)
𝐵

O momento em torno do eixo y Mt, foi representado através de um binário de cargas verticais
FMt, atuantes nas extremidades da seção transversal (equação 6.18). A figura 6.36 mostra a
forma como o carregamento foi considerado no modelo computacional, ilustrada em uma
aduela sem a representação da viga de enrijecimento central, para melhor visualização dos
vetores. Nas extremidades da seção transversal da ponte foi aplicada apenas a força resultante
FzMt, referente aos binários de carregamento gerados pelos momentos Mai e Mt, conforme
apresenta a equação 6.19.

𝑀
𝐹 = (equação 6.18)
𝐵

𝐹𝑧 =𝐹 +𝐹 (equação 6.19)

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155

Figura 6.36 – Sistema de coordenadas para a formulação das forças aerodinâmicas


devidas à ação estática do vento sobre a aduela inicial do tabuleiro

(fonte: elaborada pela autora)

Já as forças aerodinâmicas devidas ao vento turbulento (Fa(t), Fs(t) e Mt(t)), foram geradas pela
superposição das forças de auto-excitação, funções da velocidade média 𝑈, e das forças devidas
às componentes flutuantes da velocidade u(t) e w(t). Ou seja, as forças aerodinâmicas devido
ao vento turbulento são caracterizadas pelas flutuações da velocidade do vento em torno da
velocidade média U̅.

De forma resumida, neste trabalho, as etapas de cálculo foram constituídas inicialmente por
uma análise estática, com o objetivo de obter as forças axiais atuantes nos cabos, bem como as
tensões e deformações resultantes nos elementos de concreto, devido aos efeitos construtivos.
Para o modelo reduzido da ponte foi realizado um estudo comparativo considerando
inicialmente os materiais com comportamento elástico linear e, numa segunda fase,
considerando o modelo viscoelástico com fissuração para o concreto e elastoplástico para as
armaduras ativas e passivas. No modelo reduzido, essa configuração de equilíbrio foi alcançada
através da protensão nos estais de forma a anular os deslocamentos do tabuleiro, visando
aproximar o greide de lançamento no ANSYS ao greide geométrico de projeto. Já para o modelo
completo da ponte, o objetivo foi realizar a protensão nos estais de forma que a tensão nos
cabos, para cada etapa de ativação destes elementos se aproximasse das tensões de projeto.

A aplicação da protensão dos estais resulta, consequentemente, em esforços de compressão


elevados no tabuleiro da ponte, diminuindo assim a rigidez da estrutura. Desta forma, as
frequências de excitação da ponte sob tensões iniciais (estais tensionados) acabam sendo mais
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
156

baixas, o que torna fundamental realizar a análise modal do conjunto a partir da configuração
de equilíbrio obtida em cada etapa de cálculo. De posse do modelo modal, é possível obter as
frequências e os modos de vibração correspondentes a cada fase construtiva, e assim possibilitar
a geração do carregamento do vento atuante sobre o tabuleiro da ponte, através da utilização
dos espectros teóricos potência.

Sendo assim, a partir do modelo de carregamento não determinístico gerado pelo método do
vento sintético, foi possível realizar a análise dinâmica da estrutura no domínio do tempo, com
as forças de vento aplicadas como funções variáveis num período de 10 minutos. Essa
simulação foi realizada para todos os modelos analisados em duas situações críticas da
montagem, correspondentes a etapa que antecede o fechamento do vão principal (caso 16) e a
etapa correspondente à modelagem da ponte completa (caso 17). A figura 6.37 apresenta o
fluxograma com as etapas de cálculo. A análise detalhada dos resultados obtidos nestas
simulações está descrita no capítulo seguinte.

Figura 6.37 – Fluxograma das etapas de cálculo do trabalho

(fonte: elaborada pela autora)

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7 RESULTADOS DA SIMULAÇÃO NUMÉRICA DA PONTE DO SABER

A seguir serão apresentados os resultados obtidos através da análise das etapas construtivas da
Ponte do Saber, para o modelo reduzido e para o modelo completo lançado no ANSYS. As
etapas de cálculo foram constituídas inicialmente por uma análise estática, com o objetivo de
obter as forças axiais atuantes nos cabos, bem como as tensões e deformações resultantes nos
elementos de concreto, devido aos efeitos construtivos. Na sequência, foram determinados os
modelos modais das etapas construtivas da ponte, a fim de se obter uma caracterização dinâmica
para esta estrutura. De posse do modelo modal, foi possível realizar a análise dinâmica da
estrutura no domínio do tempo, sendo as forças de vento geradas pelo método do vento
sintético, aplicadas como funções variáveis num período de 10 minutos.

Desta forma, para o desenvolvimento inicial deste estudo, foram elaboradas diversas análises
numéricas até a obtenção da configuração final da estrutura. Com o objetivo de apresentar a
experiência adquirida, são informados, na tabela 7.1, os tempos médios de processamento
computacional necessários para a geração dos resultados.

Tabela 7.1 – Tempo médio de cada análise realizada


TIPO DE ANÁLISE MODELO REDUZIDO MODELO COMPLETO
Estática 12 horas 120 horas (5 dias)
Modal 30 minutos / etapa 60 minutos / etapa
Dinâmica 24 horas / etapa 336 horas (14 dias) / etapa
(fonte: elaborada pela autora)

As análises numéricas do modelo reduzido foram executadas utilizando o software ANSYS,


versão 14.2, em um notebook com sistema operacional Microsoft Windows 10 Professional,
processador Intel Core i7 e 16 GB de memória RAM. As simulações numéricas do modelo
completo foram realizadas na versão 19.2 do software ANSYS, com o uso de um dos
computadores do CEMACOM/UFRGS, cujas especificações são: 64 GB de memória RAM,
dois processadores Intel Xeon, com um total de 24 núcleos de processamento, e sistema
operacional Windows 7 (64 bits). O número de núcleos de processamento utilizados foram 16,
sendo este o maior valor operacional disponível no ANSYS.

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Elementos Finitos
158

7.1 MODELO REDUZIDO

Para a simulação numérica das etapas construtivas da Ponte do Saber, referente ao modelo
reduzido realizado no software ANSYS, como o pilone e os estais de retaguarda da ponte não
foram representados na análise em elementos finitos, os casos de carga considerados neste
exemplo seguiram a mesma numeração indicada no quadro 6.8, porém com uma sequência
executiva diferente. Neste caso, como mostra o quadro 7.1, as etapas de cálculo foram divididas
em 62 passos de carga, com duração total de 278 dias, sendo que a ativação de cada aduela de
10 metros de comprimento (tipo A e tipo B) foi feita em uma fase única.

Quadro 7.1 – Descrição das etapas de cálculo para o modelo reduzido no ANSYS
TEMPOS DOS CASOS DE CARGA
CASOS

ELEMENTOS PASSOS DE
DESCRIÇÃO DURAÇÃO DURAÇÃO
ATIVADOS CARGA
(DIAS) ACUMULADA (DIAS)
PILONE +
1 - NÃO REALIZADA - -
ADUENTORNO
1 ATIVA ADUINICIAL 27 27
ADUINICIAL 2 PP ADUINICIAL 0,4 27,4
2
ESTAI T04 3 ESTAIAMENTO T04 0,4 27,8
4 PP TRELIÇA EM P04 0,2 28
5 ATIVA ADU01 52 80
ADU01 6 PP ADU01 0,4 80,4
3
ESTAI T05 7 ESTAIAMENTO T05 0,4 80,8
8 PP TRELIÇA EM P05 0,2 81
9 ATIVA ADU02 11 92
ADU02 10 PP ADU02 0,4 92,4
4
ESTAI T06 11 ESTAIAMENTO T06 0,4 92,8
12 PP TRELIÇA EM P06 0,2 93
13 ATIVA ADU03 11 104
ADU03 14 PP ADU03 0,4 104,4
5
ESTAI T07 15 ESTAIAMENTO T07 0,4 104,8
16 PP TRELIÇA EM P07 0,2 105
17 ATIVA ADU04 11 116
ADU04 18 PP ADU04 0,4 116,4
6
ESTAI T08 19 ESTAIAMENTO T08 0,4 116,8
20 PP TRELIÇA EM P08 0,2 117
21 ATIVA ADU05 9 126
ADU05 22 PP ADU05 0,4 126,4
7
ESTAI T09 23 ESTAIAMENTO T09 0,4 126,8
24 PP TRELIÇA EM P09 0,2 127
25 ATIVA ADU06 10 137
ADU06 26 PP ADU06 0,4 137,4
8
ESTAI T10 27 ESTAIAMENTO T10 0,4 137,8
28 PP TRELIÇA EM P10 0,2 138
continua

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continuação
29 ATIVA ADU07 9 147
ADU07 30 PP ADU07 0,4 147,4
9
ESTAI T11 31 ESTAIAMENTO T11 0,4 147,8
32 PP TRELIÇA EM P11 0,2 148
33 ATIVA ADU08 17 165
ADU08 34 PP ADU08 0,4 165,4
10
ESTAI T12 35 ESTAIAMENTO T12 0,4 165,8
36 PP TRELIÇA EM P12 0,2 166
37 ATIVA ADU09 8 174
ADU09 38 PP ADU09 0,4 174,4
11
ESTAI T13 39 ESTAIAMENTO T13 0,4 174,8
40 PP TRELIÇA EM P13 0,2 175
41 ATIVA ADU10 8 183
ADU10 42 PP ADU10 0,4 183,4
12
ESTAI T14 43 ESTAIAMENTO T14 0,4 183,8
44 PP TRELIÇA EM P14 0,2 184
45 ATIVA ADU11 13 197
ADU11 46 PP ADU11 0,4 197,4
13
ESTAI T15 47 ESTAIAMENTO T15 0,4 197,8
48 PP TRELIÇA EM P15 0,2 198
49 ATIVA ADU12 33 231
ADU12 50 PP ADU12 0,4 231,4
14
ESTAI T16 51 ESTAIAMENTO T16 0,4 231,8
52 PP TRELIÇA EM P16 0,2 232
53 ATIVA ADU13 14 246
ADU13 54 PP ADU13 0,4 246,4
15
ESTAI T17 55 ESTAIAMENTO T17 0,4 246,8
56 PP TRELIÇA EM P17 0,2 247
57 ATIVA ADU14 15 262
ADU14 58 PP ADU14 0,4 262,4
16
ESTAI T18 59 ESTAIAMENTO T18 0,4 262,8
60 PP TRELIÇA EM P18 0,2 263
61 ATIVA ADUFINAL 14 277
17 ADUFINAL
62 PP ADUFINAL 1 278
(fonte: elaborado pela autora)

Assim como no modelo completo, a sequência construtiva adicionada no modelo reduzido em


elementos finitos seguiu as datas indicadas nos dados de acompanhamento de obra. Desta
forma, a concretagem da aduela inicial e das quatorze aduelas da Ponte do Saber, bem como a
protensão dos estais frontais foram considerados de forma semelhante à descrição indicada na
figura 6.21, mas apresentando as seguintes alterações:

a) ETAPA 1: aplicação da carga de peso próprio da treliça de lançamento (PP


TRELIÇA) na extremidade da aduela atual;
b) ETAPA 2: simulação da concretagem do trecho total da próxima aduela. Para
isto, é feita a ativação do segmento de 10 metros de comprimento, para que, a
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
160

partir desta data, os efeitos do tempo possam ser considerados neste grupo de
elementos. Nesta etapa, a carga de peso próprio da aduela em execução é
aplicada sobre a treliça que está apoiada na aduela anterior, e é responsável pelo
escoramento do conjunto;
c) ETAPA 3: a aduela ativada na etapa 2 passa a suportar o seu peso próprio, sendo
que esta parcela de carregamento é agora retirada da treliça que está posicionada
na extremidade da aduela anterior;
d) ETAPA 4: ativação e protensão do estai frontal.

A análise de resultados, apresentada a seguir, tem o objetivo de verificar a influência da


consideração do comportamento não linear dos materiais na determinação do plano de
estaiamento de uma ponte, bem como identificar as diferenças de comportamento deste tipo de
estrutura, quando submetida às ações dinâmicas do vento. Para o modelo reduzido da Ponte do
Saber, foi realizado um estudo comparativo considerando inicialmente os materiais com
comportamento elástico linear e, numa segunda fase, considerando o modelo viscoelástico com
fissuração para o concreto e elastoplástico para as armaduras ativas e passivas, sendo os
modelos de materiais introduzidos através da rotina USERMAT. Estas duas simulações são
indicadas nos itens a seguir, respectivamente, com a nomenclatura ANSYS (ELÁSTICO) e
ANSYS (VISCO). Para ambas as análises a simulação das etapas construtivas foi feita através
do uso dos elementos de ativação e desativação do programa (Birth and Death elements).

7.1.1 Análise estática através do MEF

Na análise estática, realizada no modelo reduzido em elementos finitos da Ponte do Saber, as


etapas de cálculo foram simuladas de forma que a força de protensão aplicada nos estais frontais
fosse suficiente para anular os deslocamentos verticais do tabuleiro, gerados pela aplicação do
peso próprio das aduelas. Sendo assim, a premissa adotada ao longo das simulações foi de que
após a operação de estaiamento, o greide de lançamento das aduelas retornasse para o greide
geométrico.

As figuras 7.1 e 7.2 mostram as curvas de elevação do tabuleiro registradas após a aplicação do
peso próprio de cada aduela, e a protensão do estai correspondente, indicando o passo de carga
em que os resultados foram lidos no software ANSYS. Nestes diagramas é feito um estudo
comparativo entre a posição do greide geométrico prevista em projeto, identificado no gráfico
como greide de projeto; a elevação medida em obra, durante o monitoramento das fases
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construtivas; e ainda os resultados gerados pelo modelo em elementos finitos. Nota-se que a
premissa adotada inicialmente foi respeitada ao longo da análise computacional, sendo possível
observar a sobreposição das curvas ANSYS (VISCO), ANSYS (ELÁSTICO) e greide
geométrico em quase todos os casos de carga relativos à operação de estaiamento.

Figura 7.1 – Diagramas de elevação do tabuleiro obtidos após a finalização da


concretagem e da operação de estaiamento das aduelas 01 a 09

(fonte: elaborada pela autora)

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
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Figura 7.2 – Diagramas de elevação do tabuleiro obtidos após a finalização da


concretagem e da operação de estaiamento da aduela 11 até o fechamento do vão
estaiado

(fonte: elaborada pela autora)

No entanto, no modelo em elementos finitos foi possível observar que, a partir do passo de
carga 51, correspondente ao estaiamento de T16, a operação de protensão do estais finais
precisou ser realizada de forma que o greide de lançamento das aduelas ficasse posicionado
acima do greide geométrico. Esta diferença de greide foi necessária para que, no instante de
fechamento do vão, a configuração final do tabuleiro fosse correspondente às cotas previstas
no projeto inicial, conforme pode ser observado no diagrama correspondente ao passo de carga
62 da figura 7.2. Caso fosse aplicada a anulação dos deslocamentos do tabuleiro até a
finalização do plano de estaiamento, o greide final da ponte apresentaria maiores diferenças em
relação ao greide geométrico original. Conforme apresentado no capítulo 6 deste trabalho, este
critério também foi adotado em projeto, uma vez que, na etapa de finalização da execução das
aduelas foi previsto um desnível de 23,5 cm acima do apoio P0 (GOMES, 2013).

Em relação à curva obtida pelo monitoramento, pode-se observar que ela se aproxima do greide
geométrico apenas nas etapas iniciais da montagem da ponte. Após a concretagem da aduela 05
e estaiamento de T09, é possível notar que o afastamento entre os valores lidos no
monitoramento em relação ao greide geométrico torna-se mais significativo, e que esta
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diferença é mantida ao longo de todas as etapas construtivas seguintes. Ainda com base nas
informações coletadas durante o monitoramento, pode-se observar que, na fase final do
processo executivo da estrutura, o desnível medido na extremidade do tabuleiro em relação ao
apoio P0 foi de 63,2 cm, o que difere da estimativa inicial de projeto. Este fato pode ter ocorrido
basicamente pelas seguintes hipóteses principais:

a) As tensões aplicadas nos estais não seguiram os valores de projeto;


b) O plano de estaiamento foi feito com estimativas exageradas de protensão nos
estais;
c) Durante a construção, o tabuleiro da ponte não estava com a mesma rigidez
prevista no projeto estrutural.

Para entender o real motivo das diferenças observadas, foi necessário realizar inicialmente um
estudo relativo às tensões instaladas nos estais da ponte, e verificar se as forças de protensão
aplicadas nos estais durante a obra seguiram o plano de estaiamento definido em projeto. Desta
forma, este fato será novamente abordado nas próximas análises realizadas neste estudo.

Nos modelos reduzidos analisados no ANSYS, a força de protensão inicial nos estais foi
introduzida de forma indireta, através da aplicação de deslocamentos nas direções dos eixos Y
e Z, no nó correspondente ao ponto onde o estai se conecta à torre. Sendo assim, as análises
numéricas para cada fase construtiva da Ponte do Saber foram realizadas de forma iterativa,
ajustando a tensão inicial nos estais frontais até que a posição das aduelas estivesse compatível
com a configuração prevista em projeto (greide geométrico). Os quadros 7.2 e 7.3 apresentam
os valores dos deslocamentos nas direções dos eixos Y (Δy) e Z (Δz), aplicados em cada nó, no
instante da protensão do estai, para os dois modelos de materiais analisados.

Com base nos valores apresentados nos quadros 7.2 e 7.3 pode-se concluir inicialmente que,
apesar das análises realizadas para os dois modelos de materiais terem sido feitas com o mesmo
objetivo, ou seja, retornar o tabuleiro para o greide geométrico durante a operação de
estaiamento, os valores de deslocamentos impostos nos estais do modelo simulado com
materiais de comportamento não linear foram menores do que no modelo com materiais em
regime elástico linear. Para entender melhor este comportamento, são apresentados a seguir os
resultados de deslocamentos observados no tabuleiro ao longo das fases construtivas da ponte.

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164

Quadro 7.2 – Descrição dos deslocamentos aplicados nos nós dos estais T04 a T11
no modelo em elementos finitos
MODELO REDUZIDO VISCOELÁSTICO
T04 T05 T06 T07 T08 T09 T10 T11
Δy (cm) -5,8 -11,6 -14,1 -16,9 -18,9 -19,8 -20,1 -27,4
Δz (cm) 6,3 9,7 9,9 10,6 10,9 10,6 10,2 13,4
MODELO REDUZIDO ELÁSTICO LINEAR
T04 T05 T06 T07 T08 T09 T10 T11
Δy (cm) -6,7 -13,3 -16,2 -19,4 -21,7 -22,8 -24,1 -32,9
Δz (cm) 7,2 11,2 11,4 12,2 12,5 12,2 12,2 16,1
(fonte: elaborado pela autora)

Quadro 7.3 – Descrição dos deslocamentos aplicados nos nós dos estais T12 a T18
no modelo em elementos finitos
MODELO REDUZIDO VISCOELÁSTICO
T12 T13 T14 T15 T16 T17 T18
Δy (cm) -24,3 -34,1 -36,5 -41,0 -49,5 -56,0 -52,1
Δz (cm) 11,4 15,6 16,3 17,9 21,2 23,6 21,6
MODELO REDUZIDO ELÁSTICO LINEAR
T12 T13 T14 T15 T16 T17 T18
Δy (cm) -29,2 -40,9 -43,8 -49,2 -59,4 -64,4 -59,9
Δz (cm) 13,7 18,7 19,6 21,5 25,4 27,1 24,8
(fonte: elaborado pela autora)

A figura 7.3 mostra os deslocamentos observados na extremidade do tabuleiro da ponte durante


a aplicação do peso próprio da aduela 09, considerando o comportamento viscoelástico com
fissuração para o concreto. Desta forma, no passo de carga 36, referente à etapa que antecede a
ativação dos elementos da aduela 09, pode-se observar que a extremidade desta aduela
apresenta um deslocamento vertical quase nulo em relação ao greide geométrico, sendo igual a
-0,6 cm. Já no final do passo de carga 38, correspondente a etapa de aplicação do peso próprio
da aduela 09, após a passagem de 8 dias, este deslocamento vertical atinge o valor -32,7 cm,
em relação à posição do greide original. Ou seja, pode-se dizer que, durante a simulação da
concretagem da aduela 09 no modelo em elementos finitos, a variação de deslocamento vertical
observada na extremidade da aduela 09 foi de - 32,1 cm. Em relação ao modelo simulado no
ANSYS que foi representado por materiais elásticos lineares, para a mesma condição de
carregamento, esta variação de deslocamentos verticais foi menor e igual a - 31,3 cm. Este
comportamento já era esperado, uma vez que é possível observar as diferenças relativas ao
efeito da consideração da deformação lenta sobre os materiais, indicando a sensibilidade do
modelo frente aos efeitos do tempo.

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Figura 7.3 – Deslocamentos verticais (cm) obtidos no tabuleiro do modelo reduzido


do ANSYS, considerando o modelo viscoelástico com fissuração para o concreto;
para os passos de carga 36 e 38

(fonte: elaborada pela autora)

A figura 7.4 mostra o resumo dos deslocamentos verticais observados em cada aduela, para os
dois modelos reduzidos simulados no software ANSYS, durante o período de ativação e
aplicação do peso próprio do respectivo segmento. Observa-se que os demais segmentos
apresentaram um comportamento semelhante ao destacado para a aduela 09, indicando uma
diferença pouco significativa na resultante dos deslocamentos entre os modelos.

Figura 7.4 – Deslocamentos verticais (cm) obtidos nas aduelas da Ponte do Saber,
durante o período de ativação e aplicação do peso próprio do respectivo segmento

(fonte: elaborada pela autora)

A seguir é apresentada a análise realizada durante as fases correspondentes ao estaiamento do


tabuleiro. A figura 7.5 mostra os deslocamentos observados na extremidade do tabuleiro após
o estaiamento de T13, considerando o comportamento viscoelástico com fissuração para o
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166

concreto. Desta forma, no passo de carga 39, referente ao final da aplicação da força de
protensão no estai T13, a extremidade desta aduela apresenta um deslocamento vertical de -2,3
cm, em relação ao greide geométrico. Ou seja, quando comparado com o passo de carga anterior
(step 38), a variação de deslocamento vertical que ocorre na aduela 09 é de + 30,4 cm. Após a
protensão do estai, ocorre a passagem de tempo correspondente à transferência da carga de peso
próprio da treliça até a extremidade da aduela recém executada. Nas análises realizadas nos
modelos reduzidos em elementos finitos deste trabalho, este período foi considerado com
duração padrão de 4,8 horas. O passo de carga 40, ilustrado na figura 7.5, representa esta fase
construtiva, em que, mesmo com uma pequena variação de carregamento atuando no sentido
gravitacional sobre a estrutura, a extremidade do tabuleiro da ponte continua se deslocando para
cima. Este fenômeno é decorrente da componente de força vertical gerada pela operação de
protensão do estai, que supera o peso próprio dos elementos em concreto e, por efeito da
fluência rápida, permanece provocando deslocamentos no tabuleiro. Ao final desta etapa, pode-
se observar que a extremidade desta aduela apresenta um deslocamento vertical de 2,5 cm, em
relação ao greide geométrico; ou seja, a variação do deslocamento vertical observada na
extremidade da aduela 09, durante o passo de carga 40, foi de + 4,8 cm.

Figura 7.5 – Deslocamentos verticais (cm) obtidos no tabuleiro do modelo reduzido


do ANSYS, considerando o modelo viscoelástico com fissuração para o concreto;
para os passos de carga 39 e 40

(fonte: elaborada pela autora)

Para comprovar este comportamento, a figura 7.6 mostra a evolução das tensões σy, observadas
nos nós superior e inferior dos elementos de concreto, na extremidade das aduelas tipo A da
Ponte do Saber, conforme as posições indicadas na própria figura, entre os passos de carga 37
a 40. Analisando estes diagramas é possível afirmar que, ao final da aplicação do peso próprio
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da aduela 09 (step 37, aos 174,4 dias); os segmentos já concretados encontram-se com os nós
inferiores mais comprimidos do que os nós superiores; indicando que o efeito da fluência é
traduzido em uma deformação diferida orientada para baixo. Porém, com a aplicação da força
de protensão no estai T13 (step 39, aos 174,8 dias); este comportamento na seção transversal
do tabuleiro é invertido, tornado a fibra superior mais comprimida do que a inferior. Esta
alteração é mantida no passo de carga seguinte (step 40), o que faz com que o efeito da fluência
seja manifestado através do deslocamento do tabuleiro para cima.

Figura 7.6 – Variação das tensões σy (kN/cm²) desenvolvidas nos nós superior e
inferior da extremidade das aduelas tipo A, considerando o modelo viscoelástico
com fissuração para o concreto; entre os passos de carga 37 e 40

(fonte: elaborada pela autora)

De modo geral pode-se dizer que, entre os passos de carga que simulam o final da protensão do
estai frontal e o deslocamento da treliça lançadeira, é possível observar comportamentos
distintos nos modelos simulados com os diferentes materiais. Para estes dois estágios de
carregamento, caracterizados como FASE 1 e FASE 2, as figuras 7.7 e 7.8 ilustram os
deslocamentos verticais retirados do modelo em elementos finitos realizado com material
viscoelástico e elástico, respectivamente. Os resultados registrados para a FASE 1,
correspondem à variação do deslocamento vertical, na extremidade de cada aduela recém
ativada, durante a operação de protensão do respectivo estai. Já nos resultados indicados para o
FASE 2, são acrescentados ou subtraídos os deslocamentos verticais correspondentes à fase de
transferência da treliça de lançamento para a extremidade do tabuleiro em balanço.
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Elementos Finitos
168

Figura 7.7 – Deslocamentos verticais retirados do modelo reduzido em elementos


finitos no ANSYS, considerando o modelo viscoelástico com fissuração para o
concreto; entre as fases 1 e 2

(fonte: elaborada pela autora)

Figura 7.8 – Deslocamentos verticais retirados do modelo reduzido em elementos


finitos no ANSYS, considerando o modelo elástico linear para o concreto; entre as
fases 1 e 2

(fonte: elaborada pela autora)

No diagrama da figura 7.7, referente ao modelo de materiais viscoelástico, é possível notar que,
entre as fases 1 e 2, após a aplicação da força de prontesão no estai de cada aduela, estes
segmentos permaneceram, na maioria dos casos, com uma resultante de deslocamentos para
cima, de acordo com o que foi observado anteriormente para a aduela 09 (figura 7.5).
Entretanto, para o modelo numérico realizado com materiais elásticos (figura 7.8), em todas as
aduelas analisadas observou-se uma variação de deslocamentos verticais negativa. Sendo
assim, o fato dos deslocamentos impostos nos estais do modelo com comportamento não linear

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serem menores do que no modelo em regime elástico linear (quadros 7.2 e 7.3) pode ser
justificado pois, após a finalização da operação de estaiamento, para o caso do modelo
viscoelástico, ocorreu a recuperação dos deslocamentos na extremidade de diversas aduelas; e
para o caso do modelo elástico linear, o comportamento observado foi o inverso. Conforme
mostra a figura 7.7, estas diferenças foram mais relevantes nas aduelas 5, 6, 7, 12 e 13,
referentes ao estaiamento de T09, T10, T11, T16 e T17, respectivamente.

O diagrama da figura 7.9, apresenta os valores das tensões iniciais, aplicadas nos estais frontais,
para anular os deslocamentos das aduelas ao longo processo construtivo. Estas tensões foram
registradas para as duas diferentes situações simuladas no modelo em elementos finitos, em que
foi possível observar que, na maioria dos estais frontais analisados, as tensões aplicadas no
modelo elástico foram superiores às tensões aplicadas no modelo viscoelástico. Também pode-
se notar que, a partir da protensão do estai T09, os valores de tensões incluídos nos dois modelos
analisados passaram a ter maior discrepância. Destaca-se ainda nesta figura que as maiores
diferenças entre os modelos de cálculo observadas foram em relação às tensões registradas para
os estais T10 e T11, correspondentes às extremidades das aduelas 06 e 07; e para o estai T17,
posicionado no final da aduela 13. Ou seja, os resultados obtidos nesta análise são compatíveis
com as diferenças de deslocamentos observadas nos diagramas das figuras 7.7 e 7.8.

Figura 7.9 – Tensões iniciais aplicadas nos estais frontais nos modelos que
consideram o comportamento elástico linear ou viscoelástico com fissuração para o
concreto

(fonte: elaborada pela autora)

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
170

A fim de analisar a distribuição de tensões nos estais frontais de forma detalhada, nas várias
etapas construtivas em balanços sucessivos, as figuras 7.10 a 7.13 apresentam um estudo
comparativo entre as tensões estimadas em projeto, as tensões coletadas em campo através do
monitoramento, e as tensões obtidas após as análises numéricas realizadas no software ANSYS,
considerando os materiais com comportamento elástico linear ou com comportamento
viscoelástico. Estes diagramas exemplificam os valores de tensões atuantes nos estais que já
estavam posicionados no instante em que é realizada a operação de protensão de um novo cabo.

Com base nestas figuras, é possível observar que, no ato da protensão de cada estai, as tensões
aplicadas neste elemento em campo buscaram respeitar os valores de tensões previstos no
projeto inicial, uma vez que as curvas que representam as tensões lidas durante o
monitoramento e as tensões estimadas pelo projetista se aproximam em todas as etapas de
estaiamento apresentadas. Desta forma pode-se concluir que o plano de protensão dos estais
determinado pelo projetista foi seguido ao longo da execução da estrutura; o que elimina a
primeira hipótese prevista para justificar as diferenças observadas entre as posições do greide
geométrico e do greide de monitoramento do tabuleiro da ponte.

Em relação aos valores obtidos no software ANSYS, de modo geral pode-se notar que a
distribuição das tensões nos estais, gerada nas análises dos modelos em elementos finitos, foi
próxima aos valores determinados em projeto e medidos no monitoramento, uma vez que o
formato dos gráficos de colunas acompanha o formato dos gráficos em linha. Isto indica que o
modelo em elementos finitos realizado no ANSYS conseguiu representar de forma aproximada
o comportamento das pontes estaiadas ao longo da montagem desta estrutura. A exceção ocorre
para o estai T04 que, durante o avanço do balanço sucessivo, apresentou tensões nos modelos
numéricos significativamente inferiores às tensões de projeto e do monitoramento. Este fato
pode ser justificado uma vez que o estai T04 está conectado com a aduela inicial, a qual precisou
ser adaptada no modelo reduzido. Desta forma, a união com o pilone não pode ser devidamente
representada, uma vez que nem a aduela de entorno nem a região curva da aduela inicial foram
modeladas.

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Figura 7.10 – Tensões nos estais no ato de protensão de T04 a T07

(fonte: elaborada pela autora)


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Figura 7.11 – Tensões nos estais no ato de protensão de T08 a T11

(fonte: elaborada pela autora)

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Figura 7.12 – Tensões nos estais no ato de protensão de T12 a T15

(fonte: elaborada pela autora)


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Figura 7.13 – Tensões nos estais no ato de protensão de T16 a T18; e no instante do
atirantamento de P0

(fonte: elaborada pela autora)

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No último diagrama apresentado na figura 7.13, o qual representa a fase em que o tabuleiro
estaiado é apoiado em P0, é possível observar que as tensões nos estais T16, T17 e T18, obtidas
nas análises numéricas no ANSYS, se distanciaram dos valores de monitoramento. Isto se deve
ao fato de que o greide de lançamento da Ponte do Saber estava acima do greide geométrico, o
que gerou, ao final da construção do tabuleiro, uma grande diferença de nível em relação ao
apoio de extremidade. Já no modelo numérico, como se procurou obter a anulação dos
deslocamentos em relação ao greide geométrico, esta diferença no ponto de chegada ao apoio
foi bem inferior. Sendo assim, quando a extremidade da aduela final foi atirantada em obra, os
estais frontais próximos ao apoio P0 foram mais solicitados, o que provocou esta diferença em
relação aos modelos em elementos finitos analisados.

Com base nas análises realizadas no modelo numérico reduzido no ANSYS, indicadas nas
figuras 7.10 a 7.13, supõe-se também que o plano de estaiamento previsto em projeto, foi
realizado com estimativas adequadas de deslocamentos verticais das aduelas, em função da boa
aproximação observada entre os resultados apresentados. Porém, como os deslocamentos
registrados durante a montagem da Ponte do Saber indicaram que o greide de lançamento das
aduelas na obra ficou acima do greide geométrico original; para uma melhor interpretação dos
resultados torna-se necessário realizar um estudo da estrutura completa, considerando o
comportamento do pilone em conjunto com os estais de retaguarda, estais frontais e tabuleiro.
Desta forma, será possível avaliar de forma mais detalhada a razão destas diferenças observadas
no local. Este estudo, referente ao modelo completo realizado no software ANSYS,
considerando o modelo viscoelástico com fissuração para os elementos de concreto, está
apresentado no item 7.2 deste capítulo.

Outro detalhe importante que pode ser observado a partir dos gráficos apresentados é em relação
às diferenças de tensões instaladas nos estais frontais ao longo do processo construtivo para as
duas análises numéricas realizadas. Tomando-se como exemplo os valores registrados para os
estais T09 e T13, respectivamente posicionados no final das aduelas 05 e 09, é possível afirmar
que, apesar da tensão instalada no ato da protensão nestes dois estais ter sido superior no modelo
elástico, ao longo do processo construtivo a tensão nos estais T09 e T13 se tornou maior no
modelo que considerava o comportamento viscoelástico com fissuração do concreto. Este fato
pode ser melhor entendido analisando o diagrama da evolução das tensões σy, observadas nos
nós superior e inferior dos elementos de concreto, localizados na extremidade das aduelas 05A

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Elementos Finitos
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e 09A da Ponte do Saber (figura 7.14), conforme o modelo reduzido representado no ANSYS
com o material viscoelástico. Com base na figura 7.14 é possível afirmar que, as aduelas 05 e
09 apresentam o bordo superior mais comprimido que o inferior na maioria das etapas
construtivas. Ou seja, pode-se inferir que a deformação lenta que ocorre nestas duas aduelas
apresenta sentidos predominante para baixo, o que provoca o maior incremento de tensões nos
estais no modelo viscoelástico em relação ao modelo elástico linear.

Figura 7.14 – Variação das tensões σy (kN/cm²) desenvolvidas nos nós superior e
inferior da extremidade das aduelas 05A e 09A, da Ponte do Saber, no ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

Em relação à distribuição de tensões nos elementos de concreto e de armadura passiva das


aduelas, nota-se que à medida que ocorre o avanço do balanço sucessivo e as aduelas da ponte
vão sendo concretadas, as tensões de compressão no concreto e na armadura também
aumentam. Este efeito é provocado em função da soma das componentes horizontais devido à
protensão dos estais frontais, sendo mais relevante nas aduelas concretadas no início da
montagem da estrutura. As figuras apresentadas no quadro 7.4, comprovam este
comportamento uma vez que mostram as tensões atuantes no concreto e na armadura passiva
da aduela 01, representada no modelo reduzido no ANSYS que considera o comportamento
viscoelástico do concreto, conforme as etapas construtivas avançam. Além disso, a partir dos
diagramas apresentados no quadro 7.5, que comparam as tensões desenvolvidas nos elementos
de concreto e de armadura nas aduelas 01 e 13, referentes à etapa de aplicação do peso próprio
da aduela 14 (step 58), percebe-se que, os valores das tensões de compressão nas aduelas do
modelo em elementos finitos são crescentes à medida que se aproximam do pilone, estando em
conformidade com o esperado para estruturas estaiadas.

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Quadro 7.4 – Tensões nos elementos de concreto e de armadura da aduela 01,


obtidas no modelo reduzido do ANSYS, considerando o modelo viscoelástico com
fissuração para o concreto; para os passos de carga 23, 31 e 47 (kN/cm²)
ADUELA 01 PASSO DE CARGA 23 (ESTAIAMENTO T09)
TENSÕES CONCRETO (kN/cm²) TENSÕES ARMADURA (kN/cm²)

ADUELA 01 PASSO DE CARGA 31 (ESTAIAMENTO T11)


TENSÕES CONCRETO (kN/cm²) TENSÕES ARMADURA (kN/cm²)

ADUELA 01 PASSO DE CARGA 47 (ESTAIAMENTO T15)


TENSÕES CONCRETO (kN/cm²) TENSÕES ARMADURA (kN/cm²)

(fonte: elaborado pela autora)


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Quadro 7.5 – Tensões nos elementos de concreto e de armadura das aduelas 01 e 13,
obtidas no modelo reduzido do ANSYS, considerando o modelo viscoelástico com
fissuração para o concreto; para o passo de carga 58 (kN/cm²)
PASSO DE CARGA 58 (PP ADUELA 14)
TENSÕES CONCRETO E ARMADURA TENSÕES CONCRETO E ARMADURA
ADUELA 01 (kN/cm²) ADUELA 13 (kN/cm²)

(fonte: elaborado pela autora)

Segundo as premissas apresentadas pelo Código Modelo CEB-FIP 1990, para que o formulário
para o cálculo da fluência e da retração do concreto seja válido, a resistência característica dos
materiais deve estar entre 12 MPa e 80 MPa, sujeitos a uma tensão de compressão média menor
do que 40% da resistência média do concreto. Ao longo das análises realizadas no modelo
reduzido no ANSYS para simular as etapas construtivas da Ponte do Saber, verificou-se que as
máximas tensões de compressão observadas nos elementos de concreto ficaram em torno de 16
MPa. Desta forma, tendo em vista que o concreto utilizado na ponte possui uma resistência
característica à compressão de 65,15 MPa, com resistência média à compressão igual a 73,15
MPa pode-se afirmar que as tensões nas aduelas estão dentro da validade do formulário do
CEB-MC90, indicando que a deformação por fluência decorrente do histórico de tensões em
diferentes instantes de tempo pode ser simplificada considerando o princípio da superposição
dos efeitos. Além disso, em função das baixas tensões de compressão desenvolvidas no
tabuleiro ao longo do processo construtivo da ponte analisada, pode-se concluir que de fato não
há necessidade de introdução do modelo de plasticidade para os elementos de concreto, estando
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o modelo viscoelástico de acordo com o comportamento observado para as etapas construtivas


da Ponte do Saber.

Em relação às tensões geradas nas armaduras passivas, observou-se que durante toda a
simulação das fases construtivas da ponte, os valores mostraram-se bem inferiores à tensão
limite de escoamento do aço. Esta situação pode ser justificada pois, ao final das análises
numéricas, foi identificada uma baixa incidência de elementos fissurados ao longo do tabuleiro.
No entanto, considera-se que a utilização do modelo de fissuração para os elementos de
concreto, seja fundamental para auxiliar no processo de ajuste das forças de protensão nos estais
e, assim, definir um plano de estaiamento adequado para a montagem da estrutura, sem
comprometer a integridade das seções. Este fato será novamente evidenciado na análise
realizada com o modelo completo da Ponte do Saber.

Apesar das baixas tensões de tração identificadas nos elementos de concreto ao longo da
montagem da Ponte do Saber, entende-se que a representação da armadura passiva no modelo
em elementos finitos seja importante, pois é capaz de alterar a rigidez do conjunto, restringindo
a variação das deformações causadas pelo efeito da fluência e da retração do concreto. Porém
para entender melhor a influência da armadura neste comportamento, seria necessário a
realização de testes complementares.

O efeito do comportamento viscoelástico com fissuração do concreto ficou claro através das
diferenças observadas nos planos de estaiamento obtidos a partir das análises numéricas
realizadas com os dois modelos de materiais (figuras 7.9 a 7.13). Além disso é relevante
mencionar que as diferenças de tensões aplicadas nos estais podem provocar alterações nos
esforços no tabuleiro. Desta forma, a fim de comparar a evolução das tensões σy nos elementos
de concreto, a figura 7.15 apresenta os valores obtidos nos nós superior e inferior das aduelas
selecionadas, com base no modelo reduzido representado no ANSYS, considerando o concreto
com comportamento elástico linear ou com comportamento viscoelástico com fissuração.

Analisando a figura 7.15 é possível observar que na aduela 01, a qual é ativada logo nas
primeiras fases construtivas da Ponte do Saber, a evolução das tensões obtidas no modelo
viscoelástico e no modelo elástico linear são semelhantes nas etapas próximas à concretagem
desta aduela. Porém, ao longo do tempo, nos instantes correspondentes à aplicação do peso
próprio das aduelas seguintes, as tensões de compressão observadas no bordo inferior da seção

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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transversal e as tensões de tração no bordo superior tornam-se maiores no modelo viscoelástico,


se afastando dos valores obtidos no modelo elástico linear. De forma análoga, é possível notar
que, nos demais diagramas que mostram a evolução das tensões nas aduelas concretadas nas
etapas mais próximas à finalização do vão estaiado (aduela 10 e aduela 13), esta diferença torna-
se gradativamente menor.

Figura 7.15 – Variação das tensões desenvolvidas nos nós superior e inferior da
extremidade das aduelas 01A, 10A e 13A, da Ponte do Saber considerando o
comportamento elástico linear ou viscoelástico com fissuração para o concreto

(fonte: elaborada pela autora)

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Desta forma, fica demonstrado que, durante a fase de projeto, a consideração do comportamento
viscoelástico com fissuração no concreto é fundamental tanto para a concepção da geometria
das aduelas, quanto para aplicação das corretas forças nos estais e a consequente obtenção da
distribuição de esforços desejada.

7.1.2 Análise modal através do MEF

No capítulo 3, foi visto que quando a estrutura for caracterizada por altas frequências, a resposta
diante da ação dinâmica de vento é quase estática, ou seja, depende apenas dos valores
instantâneos da ação. Da mesma forma, para estruturas com frequências fundamentais baixas,
menores que 1 Hz, submetidas ao efeito do vento, pode ocorrer ressonância da excitação com
a frequência da estrutura, obtendo-se uma resposta dinâmica.

Deste modo, para o conhecimento das características dinâmicas de estruturas civis torna-se
necessário determinar inicialmente as suas frequências naturais e modos de vibração. Através
de uma previsão do comportamento dinâmico, é possível verificar se os parâmetros de projeto
estão sendo obedecidos durante a construção, detectar eventuais danos que possam
comprometer o funcionamento da estrutura, prever a possibilidade da estrutura ser excitada em
suas frequências de ressonâncias, e realizar a mitigação de possíveis problemas se necessário.

Em relação às pontes estaiadas, é sabido que particularmente a sua superestrutura é suscetível


a uma série de efeitos dinâmicos decorrentes da ação do vento, os quais precisam ser avaliados
com atenção. Destaca-se ainda que, com a evolução das ferramentas disponíveis para o projeto
e com o auxílio de programas computacionais, o dimensionamento das estruturas sob ações
estáticas vem conduzindo à concepção de seções cada vez mais esbeltas. Como consequência,
acaba-se reduzindo as primeiras frequências naturais da estrutura e tornando o tabuleiro ainda
mais vulnerável aos efeitos das cargas dinâmicas.

A análise do comportamento dinâmico de pontes estaiadas possui tanto o objetivo de aumentar


a segurança no dimensionamento, quanto o de prevenir possíveis oscilações que levem ao
desconforto dos usuários, ou à redução da vida útil à fadiga dos elementos estruturais. Além de
analisar o comportamento dinâmico da ponte em serviço, é importante que também seja
realizada uma avaliação do comportamento dinâmico das etapas construtivas, já que as mesmas

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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se caracterizam por apresentarem as situações mais desfavoráveis de projeto. Como as pontes


estaiadas são solicitadas por elevadas forças de compressão desde a fase de montagem, para
uma maior precisão dos resultados que refletem as características dinâmicas destas estruturas é
indicada a realização de uma análise de vibrações sob tensões iniciais.

Neste sentido, é apresentada no presente subitem a análise modal da Ponte do Saber sob ação
de cargas permanentes e forças de protensão nos estais ao longo de suas fases construtivas, as
quais foram determinadas a partir da análise estática prévia realizada no subitem 7.1.1 deste
capítulo. Inicialmente serão apresentados os resultados da análise modal realizada a partir da
análise estática base, que considerou o comportamento viscoelástico com fissuração para o
concreto; e depois é realizado um estudo comparativo com os resultados obtidos com base em
uma análise estática considerando o comportamento elástico linear para os materiais. A
configuração utilizada no software ANSYS para a extração das frequências naturais e modos
de vibração foi por Block Lanczos, sendo a análise realizada com a matriz de massa consistente.

A figura 7.16 apresenta os valores das frequências naturais obtidas para os 5 primeiros modos
de vibração da Ponte do Saber, modelada no ANSYS, referentes às suas etapas construtivas
definidas pelos passos de carga 12 até 24. Estes passos de carga correspondem às etapas de
concretagem da aduela 02 e estaiamento de T06 (step 12) até a concretagem da aduela 05 e
estaiamento de T09 (step 24), em que as cinco primeiras formas modais observadas se
mantiveram as mesmas, conforme indica a figura 7.17.

Figura 7.16 – Diagrama das frequências e modos de vibração da estrutura estaiada,


obtidos a partir da análise estática considerando o modelo viscoelástico com
fissuração para o concreto, entre os passos de carga 12 e 24

(fonte: elaborada pela autora)


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Figura 7.17 – Detalhes da deformada da estrutura estaiada para os cinco primeiros


modos de vibração, obtidos a partir da análise estática considerando o modelo
viscoelástico com fissuração para o concreto, entre os passos de carga 12 e 24

(fonte: elaborada pela autora)

Para as fases iniciais de construção da Ponte do Saber, observa-se que os efeitos dinâmicos são
menos significativos, uma vez que a frequência fundamental da estrutura se encontra ainda
acima da faixa de valores excitáveis pelo vento (0 – 1 Hz). Ainda assim, pode-se notar que,
com o avanço da concretagem do tabuleiro, a estrutura se torna gradativamente mais flexível,
podendo-se observar que após o estaiamento de T09, as frequências da estrutura reduzem de
forma significativa em relação à etapa correspondente à execução da aduela 02, especialmente
as frequências correspondentes ao modo de flexão lateral do tabuleiro.

Nas análises realizadas no modelo reduzido em elementos finitos, para as etapas seguintes de
construção da estrutura, foi possível observar que, a partir da concretagem da aduela 06, o
primeiro modo de vibração da estrutura deixa de ser o modo de flexão vertical e passa a ser o
modo de flexão lateral. Além disso, o quarto modo de vibração passa a ser uma combinação
entre o modo de torção e o modo de flexão lateral. A figura 7.18 mostra os cinco primeiros
modos de vibração da Ponte do Saber, a partir da concretagem da aduela 06 e protensão do
respectivo estai (T10), em que é possível notar a alteração das formas modais em relação à
figura 7.17. Durante a concretagem e estaiamento das aduelas seguintes, até a finalização da
aduela 14 (estaiamento T18), houve a manutenção destas formas modais, sendo alterados
somente os valores das frequências naturais de cada modo. A figura 7.19 resume a evolução
das frequências naturais em função do avanço das etapas construtivas, em que é possível
observar uma importante redução nos valores das frequências naturais, à medida que a
concretagem do vão estaiado avança.

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Figura 7.18 – Detalhes da deformada da estrutura estaiada para os cinco primeiros


modos de vibração, obtidos a partir da análise estática considerando o modelo
viscoelástico com fissuração para o concreto, entre os passos de carga 28 e 60

(fonte: elaborada pela autora)

Figura 7.19 – Diagrama das frequências e modos de vibração da estrutura estaiada,


obtidos a partir da análise estática considerando o modelo viscoelástico com
fissuração para o concreto, entre os passos de carga 28 e 60

(fonte: elaborada pela autora)

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Nota-se que, a partir do passo de carga 28 (step 28), a consideração dos efeitos dinâmicos
começa a ter maior relevância, uma vez que as frequências naturais de vibração dos dois
primeiros modos são baixas. Ao longo dos passos de carga 48 até 60, correspondentes às etapas
de concretagem das aduelas 11 (step 48) até 14 (step 60), é possível observar que os três
primeiros modos de vibração da estrutura apresentam frequências dentro da faixa de valores
excitáveis pelo vento, indicando a maior flexibilidade do tabuleiro nas direções vertical e
lateral. É interessante observar que, mesmo para o caso de carga em que a estrutura se apresenta
mais flexível (step 60), o modo de vibração correspondente à torção do tabuleiro apresenta uma
frequência de 1,11 Hz. Isto indica que, de fato, a seção celular definida em projeto para o
tabuleiro da ponte possui elevada rigidez à torção; sendo esta geometria necessária, tendo em
vista que o sistema de estais frontais foi posicionado em um plano único centrado.

Na etapa final de construção da ponte, quando a aduela final atinge o apoio P0 (step 62), o
primeiro modo de vibração da estrutura deixa de ser o modo de flexão lateral e volta a ser o
modo de flexão vertical. As configurações deformadas associadas aos cinco primeiros modos
desta etapa, bem como os valores das frequências são apresentados na figura 7.20.

Figura 7.20 – Detalhes da deformada da estrutura estaiada para os cinco primeiros


modos de vibração, obtidos a partir da análise estática considerando o modelo
viscoelástico com fissuração para o concreto, para o passo de carga 62

(fonte: elaborada pela autora)

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Pode-se observar que o apoio da extremidade do vão estaiado fornece maior rigidez à estrutura,
uma vez que as frequências obtidas para cada modo de vibração do step 62 foram
significativamente superiores aos resultados gerados nas fases antecedentes. Sendo assim,
através das análises modais realizadas no modelo em elementos finitos, é possível concluir que
a estrutura em fase avançada de construção, em que os 15 estais frontais já se encontram
ancorados, mas a extremidade do tabuleiro estaiado ainda não está apoiada sobre P0 (step 60),
constitui-se na etapa crítica em relação aos efeitos dinâmicos, possuindo as menores frequências
de vibração. Entende-se desta forma, que a análise dinâmica das fases construtivas de pontes
estaiadas é um ponto extremamente importante a ser estudado, devendo ser analisado de forma
criteriosa no momento do projeto, a fim de evitar problemas não só no funcionamento da ponte
em serviço, como também durante a sua execução.

As figuras 7.21 e 7.22 apresentam um estudo comparativo entre as frequências fundamentais


obtidas no modelo reduzido realizado no ANSYS ao longo da sequência construtiva da Ponte
do Saber. Nestes diagramas são apresentados os resultados obtidos a partir das análises modais
realizadas com base em uma análise estática que considerou o comportamento elástico linear
para os materiais, em comparação com a análise estática base considerando o comportamento
viscoelástico com fissuração para o concreto. Os valores em percentual indicam as diferenças
obtidas entre as duas análises.

Figura 7.21 – Diagrama das frequências correspondentes ao primeiro modo de


vibração da estrutura estaiada, obtido com base nas análises estáticas realizadas com
os dois modelos de materiais, entre os passos de carga 2 e 30

(fonte: elaborada pela autora)

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Figura 7.22 – Diagrama das frequências correspondentes ao primeiro modo de


vibração da estrutura estaiada, obtido com base nas análises estáticas realizadas com
os dois modelos de materiais, entre os passos de carga 34 e 62

(fonte: elaborada pela autora)

De forma geral, é possível observar na figura 7.21, que nas etapas construtivas iniciais da Ponte
do Saber, as frequências relativas ao primeiro modo de vibração da estrutura são semelhantes
nos dois modelos numéricos analisados. Este fato pode ser comprovado, por exemplo,
analisando os diagramas de evolução das tensões na aduela 01 (figura 7.15), que indicam que,
nas etapas próximas à concretagem desta aduela, ocorreu uma pequena diferença entre os
valores obtidos a partir dos dois modelos de materiais analisados.

No entanto, com base na figura 7.22, percebe-se que, a partir do passo de carga 34, ou seja,
após o estaiamento de T11 e concretagem da aduela 08, à medida em que a ponte vai se tornando
mais flexível, as diferenças obtidas nas análises realizadas a partir dos dois modelos de
materiais vão aumentando. De forma semelhante, a figura 7.15 mostra que os esforços obtidos
ao longo do tabuleiro da ponte são mais elevados no modelo em que é considerado o
comportamento viscoelástico com fissuração do concreto, e que esta diferença aumenta com o
avanço do processo construtivo.

A figura 7.23 mostra as diferenças obtidas em relação às frequências naturais relativas aos cinco
primeiros modos de vibração da estrutura, considerando a análise realizada para os dois
modelos de materiais, em quatro fases distintas: duas etapas de carga iniciais, analisadas após
o estaiamento de T04 e de T05 (steps 3 e 7) ; um caso de carga referente ao tabuleiro estaiado
em fase construtiva avançada (step 60); e o último estágio de montagem, referente ao vão
principal já apoiado em P0 (step 62). Conforme observado para as frequências relativas ao
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
188

primeiro modo de vibração da ponte (figuras 7.21 e 7.22), pode-se notar que, para os demais
modos de vibração, o comportamento dos dois modelos de materiais foi semelhante,
apresentando valores de frequências muito próximos entre si para as análises de vibrações
realizadas nas etapas iniciais de construção da estrutura, e se distanciando à medida em que o
balanço sucessivo avança. Sendo assim, pode-se afirmar que, ao longo das etapas construtivas
de uma ponte estaiada, a rigidez da estrutura é inferior no modelo que considera os materiais
com comportamento viscoelástico em relação ao modelo elástico linear e, consequentemente,
as frequências de excitação da ponte sob tensões iniciais (estais tensionados) acabam sendo
mais baixas.

Figura 7.23 – Diagrama das frequências correspondentes aos cinco primeiros modos
de vibração da estrutura estaiada, obtido com base nas análises estáticas realizadas
com os dois modelos de materiais, para os passos de carga 3, 7, 60 e 62

(fonte: elaborada pela autora)

7.1.3 Análise estática devida à ação do vento

Em relação à resposta da estrutura frente à ação do vento, pode-se dizer que, atualmente, a NBR
6123 (ABNT, 1988) engloba dois procedimentos de cálculo: o primeiro, presente no item 4,

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considera uma resposta estática da estrutura; e o segundo, descrito no item 9, considera uma
resposta dinâmica devida à turbulência. Como o procedimento indicado pelo item 9 da norma
brasileira apresenta uma formulação específica para estruturas verticais engastadas na base, o
mesmo não foi aplicado nas análises realizadas neste estudo.

Neste trabalho, inicialmente será admitida a hipótese de que a Ponte do Saber apresenta uma
resposta quase estática à ação do vento. Sendo assim, será avaliado o comportamento da
estrutura referente a duas fases construtivas críticas: a etapa que antecede o apoio do tabuleiro
estaiado em P0 (step 60); e a fase em que o vão principal já se encontra apoiado (step 62). Para
a determinação das forças de vento sobre a estrutura, a velocidade média é calculada para um
certo intervalo de tempo que depende das dimensões da estrutura e, portanto, das rajadas a
serem consideradas. Como o tabuleiro estaiado tem comprimento de 170,46 m, um turbilhão
muito pequeno (referente a uma rajada muito rápida) não afeta todo o seu campo aerodinâmico.
Desse modo, deve-se determinar o tempo da rajada que corresponde ao turbilhão de dimensões
compatíveis com a largura da estrutura, conforme aborda o Anexo A da NBR 6123.

Desta forma, a partir do mapa das isopletas da NBR 6123, retirou-se o valor da velocidade
básica do vento na cidade do Rio de Janeiro U0 = 35 m/s. A rugosidade do terreno na região
onde a ponte se encontra foi considerada de categoria III e o fator S1 = 1. Com estes dados, o
intervalo de tempo estimado através das expressões 3.71 e 3.73 (capítulo 3 deste trabalho), por
aproximações sucessivas é de 46,6 segundos, e os parâmetros obtidos por interpolação linear
da Tabela 21 da NBR 6123 são Fr,II = 0,838; b = 0,90 e p = 0,146. A altura do tabuleiro da ponte
em relação ao nível d’água, foi fixada em 13 m, resultando em um valor de S2 = 0,78. O valor
estatístico S3 considera o grau de segurança requerido e a vida útil da edificação, sendo que o
mesmo admite uma probabilidade de 63% da velocidade U0 ser igualada e excedida num tempo
de recorrência médio de 50 anos. Para a estrutura finalizada, correspondente ao passo de carga
62, este valor foi considerado adequado, resultando em S3 = 1.

Entretanto, segundo o item 4.1 da NBR 6123 (ABNT, 1988), em estruturas parcialmente
executadas pode-se admitir que a máxima velocidade característica do vento não ocorrerá
durante um período curto de tempo, e que, portanto, a verificação da segurança pode ser feita
com uma velocidade característica menor. Sendo assim, para a situação da ponte em fase
construtiva avançada (step 60), em que o tabuleiro ainda está em balanço, foi considerado um
tempo de recorrência menor. Neste caso, adotou-se uma probabilidade de 90% para o tempo de
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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recorrência de 2 anos, resultando em S3 = 0,528. O fator estatístico S3, pode ser calculado
segundo a equação 7.1, retirada do Anexo B da NBR 6123.

, (equação 7.1)
ln (1 − 𝑃 )
𝑆 = 0,54 −
𝑚
Onde:
m: tempo, em anos;
Pm: probabilidade da velocidade U0 ser igualada ou excedida.

Sendo assim, a velocidade média do vento é igual a 𝑈 = 14,48 m/s, para a estrutura em fase de
construção; e 𝑈 = 27,42 m/s, para a estrutura já apoiada. As forças uniformemente distribuídas
sobre o tabuleiro foram calculadas com base no procedimento descrito no capítulo 3 deste
trabalho. Como a largura do tabuleiro, é igual a 11,30 m, e os coeficientes aerodinâmicos para
um ângulo de ataque α = 0º são iguais a Ca = 1,50, Cs = 0,45 e Cm = 0,52 (apropriados da Ponte
da Europa, figura 6.32), as forças distribuídas resultantes sobre o tabuleiro do modelo em
elementos finitos são: 𝐹 = 2,18 kN/m; 𝐹 = 0,66 kN/m; 𝑀 = 8,60 kNm/m; para o passo de
carga 60; e 𝐹 = 7,81 kN/m; 𝐹 = 2,36 kN/m; 𝑀 = 30,81 kNm/m; para o passo de carga 62.
Estes carregamentos foram introduzidos no modelo reduzido no software ANSYS, sendo
realizada uma análise estrutural estática (ANTYPE, STATIC). Os deslocamentos máximos
verticais (eixo z) e laterais (eixo x), obtidos no tabuleiro, são apresentados no quadro 7.6. Os
deslocamentos máximos que ocorrem no passo de carga 60, correspondem ao nó localizado na
extremidade em balanço do tabuleiro (aduela 14); e para o passo de carga 62, ao nó
correspondente à ancoragem do estai T12 (aduela 08).

Quadro 7.6 – Deslocamentos máximos para a componente de velocidade média 𝑈


DESLOCAMENTO VERTICAL (cm) DESLOCAMENTO LATERAL (cm)
STEP 60 0,38 6,85
STEP 62 0,61 0,94
(fonte: elaborado pela autora)

7.1.4 Análise dinâmica através do MEF

No vento natural o módulo e a orientação da velocidade instantânea do ar apresentam flutuações


(rajadas) em torno da velocidade média. Segundo a NBR 6123 (ABNT, 1988), pode-se admitir

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que a velocidade média se mantém constante durante um intervalo de tempo de dez minutos ou
mais, produzindo uma resposta estática sobre a estrutura. Já as flutuações da velocidade podem
induzir oscilações importantes na direção da velocidade média, as quais devem ser avaliadas
com cautela especialmente em estruturas muito flexíveis. Em relação às características
dinâmicas das estruturas, a norma brasileira indica que quando o período fundamental for igual
ou inferior a um segundo a influência da resposta flutuante é pequena, sendo seus efeitos já
considerados na determinação do intervalo de tempo adotado para o fator S 2. Entretanto, as
estruturas com período fundamental superior a um segundo, em particular aquelas fracamente
amortecidas, podem apresentar uma importante resposta flutuante na direção do vento médio.

A partir da análise de vibrações sob tensões iniciais, apresentada no subitem 7.1.2 deste
trabalho, constatou-se que, conforme os balanços sucessivos da ponte estaiada são executados,
ocorrem mudanças em relação aos modos de vibração da estrutura e também quanto aos valores
das frequências naturais de excitação de cada modo. De forma geral pode-se perceber que os
períodos fundamentais da ponte vão se tornando cada vez maiores à medida em que o tabuleiro
é concretado, sendo que a situação crítica ocorre no instante em que o vão central estaiado está
prestes a encontrar o apoio de extremidade.

Sendo assim, para uma melhor avaliação do comportamento dinâmico da Ponte do Saber, foram
realizadas análises da resposta da estrutura sob ação de vento turbulento, para as mesmas etapas
construtivas apresentadas no subitem 7.1.3 deste trabalho. Os resultados indicados a seguir
estão detalhados para o modelo em elementos finitos realizado no ANSYS, considerando que
a análise estática base foi realizada a partir do modelo viscoelástico com fissuração para o
concreto e elastoplástico para as armaduras ativas e passivas. Na sequência apresenta-se
também um estudo comparativo em relação aos deslocamentos observados na análise dinâmica
realizada a partir do modelo que considera o regime elástico linear para os materiais.

Para tanto, as forças geradas pela componente média e flutuante do vento foram aplicadas sobre
o tabuleiro como funções variáveis, conforme descritos nos capítulos 3 e 6 deste trabalho. Para
cada uma dessas duas fases de execução da ponte, espera-se que a componente flutuante da
velocidade w seja preponderante na amplificação dos deslocamentos do modo de flexão vertical
e, de maneira semelhante, a componente flutuante u para o modo de flexão lateral. Em todas as
análises realizadas foi considerada uma taxa de amortecimento ξ igual a 2%, sendo as
constantes α e β determinadas por interpolação linear a partir da equação 5.19.
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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A velocidade média de projeto 𝑈 foi calculada tomando-se um intervalo de 10 minutos, no qual


a velocidade mantém-se constante. A expressão utilizada é a mesma da análise estática, (𝑈=
U0.S1.S2(h).S3), mas os parâmetros Fr,II, b e p para o cálculo de S2(h) consideram agora o tempo
de 600 segundos. Sendo assim, o valor de S2 = 0,62; e a velocidade média do vento é igual a
𝑈 = 11,52 m/s, para a estrutura em fase de construção (step 60); e 𝑈 = 21,80 m/s, para a estrutura
já apoiada (step 62). As forças distribuídas resultantes sobre o tabuleiro do modelo em
elementos finitos são: 𝐹 = 1,377 kN/m; 𝐹 = 0,416 kN/m; 𝑀 = 5,434 kNm/m; para a etapa
construtiva 60; e 𝐹 = 4,935 kN/m; 𝐹 = 1,490 kN/m; 𝑀 = 19,480 kNm/m; para a etapa
construtiva 62.

As forças de vento flutuantes foram aplicadas sobre o modelo em elementos finitos no ANSYS,
utilizando o método do vento sintético, conforme o procedimento descrito no item 6.3 do
capítulo 6 deste trabalho. O carregamento referente às forças flutuantes aplicadas nas seções
padrão e de enrijecimento para a ponte em fase construtiva avançada (step 60), está apresentado
no quadro 7.7, o qual foi determinado com base nas equações 3.64 a 3.66 e 6.10 a 6.14.

Quadro 7.7 – Forças flutuantes aplicadas nos nós das aduelas (step 60)
ANÁLISE DINÂMICA ETAPA 15
FORÇA ADUINICIAL (padrão) ADU01 até ADU14 (padrão)
Fx (t) [kN] – 0,32.u(t) + 0,07.w(t) – 0,37.u(t) + 0,08.w(t)
Fz (t) [kN] 0,10.u(t) + 0,24.w(t) 0,11.u(t) + 0,27.w(t)
FzMy (t) [kN] 1,26.u(t) – 0,96.w(t) 1,46.u(t) – 1,12.w(t)
FORÇA WCP WSP
Fx (t) [kN] – 0,08.u(t) + 0,02.w(t) – 0,08.u(t) + 0,02.w(t)
Fz (t) [kN] 0,03.u(t) + 0,06.w(t) 0,03.u(t) + 0,06.w(t)
FzMy (t) [kN] 0,33.u(t) – 0,25.w(t) 0,33.u(t) – 0,25.w(t)
(fonte: elaborado pela autora)

A figura 7.24 ilustra os históricos de u(t) e w(t) para a estrutura durante a 60ª fase construtiva
da ponte. Estes históricos foram gerados a partir de dois scripts elaborados no software
MATLAB. Para gerar o histórico de u(t), foi utilizado o espectro de Harris (1970), adotando os
valores de velocidade média a 10 m de altura 𝑈 = 20,77 m/s; coeficiente de arrasto superficial
cas = 0,0105 (equação 6.4); variância do espectro teórico 𝜎 = 30,16 (equação 6.2); e frequência
referente ao modo de vibração com flexão lateral da estrutura para esta fase construtiva igual a
0,19 Hz (figura 7.19). Já para gerar o histórico de w(t), foi utilizado o espectro de Lumley e
Panofsky (1964), adotando os valores de velocidade média 𝑈( ) = 22,21 m/s (equação 6.7);

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velocidade de fricção 𝑢∗ = 2,13 m/s (equação 6.8); e frequência referente ao modo de vibração
com flexão vertical da estrutura para esta fase construtiva igual a 0,51 Hz (figura 7.19).

Figura 7.24 – Histórico de velocidade flutuante de vento u(t) e w(t), utilizando os


espectros de potência teóricos para o passo de carga 60

(fonte: elaborada pela autora)

As figuras 7.25 e 7.26, apresentam o carregamento correspondente às forças devidas ao vento


flutuante (Fx(t), Fz(t) e FzMy(t)), aplicado respectivamente às seções padrão da aduela inicial e
das aduelas 1 a 14; e às seções enrijecidas WCP e WSP das aduelas da ponte, em sua etapa
construtiva de número 60. Observa-se, neste caso, maiores ou menores amplitudes de
carregamento, em função do comprimento da faixa de elementos finitos exposta ao vento (l).

Figura 7.25 – Forças de vento flutuante Fx(t), Fz(t) e FzMy(t), aplicadas nos nós
correspondentes à seção padrão da aduela inicial da Ponte do Saber, em fase
construtiva de número 60
ADUINICIAL
Seção Padrão

l = 133 cm

(fonte: elaborada pela autora)

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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Figura 7.26 – Forças de vento flutuante Fx(t), Fz(t) e FzMy(t), aplicadas nos nós
correspondentes a cada seção das aduelas da Ponte do Saber, em fase construtiva de
número 60

ADU01 a ADU14
Seção Padrão

l = 155 cm
Seção WCP

l = 35 cm

Seção WSP

l = 35 cm

(fonte: elaborada pela autora)

As respostas obtidas através do ANSYS, são também funções no tempo, em termos de


deslocamentos, tensões, velocidades e acelerações. Para a etapa de número 60, a figura 7.27
apresenta os históricos de deslocamentos verticais e laterais, que ocorrem na extremidade livre
do tabuleiro em balanço (aduela 14), sob ação do vento turbulento, considerando o modelo não
linear para os materiais (concreto e aço).

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Figura 7.27 – Histórico de deslocamentos verticais e laterais do tabuleiro da ponte,


sob ação do vento turbulento, obtidos para a etapa 60 pela análise no ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

Com base na figura 7.27 pode-se notar que, em fase avançada de execução, o tabuleiro da ponte
possui menor rigidez na direção do eixo X do que na direção do eixo Z, uma vez que a amplitude
de deslocamentos observada na direção lateral foi significativamente superior aos
deslocamentos registrados na direção vertical. Isto confirma o fato observado na análise de
vibrações sob tensões iniciais para esta etapa construtiva, que indicou que o modo de flexão
lateral representa a frequência fundamental da ponte (0,19 Hz), sendo o segundo modo de
vibração da estrutura o de flexão vertical (0,51 Hz).

A figura 7.28 ilustra a trajetória do movimento no plano XZ da extremidade da aduela 14, obtida
no modelo reduzido realizado no ANSYS considerando o comportamento viscoelástico com
fissuração para o concreto (esquerda) em comparação com o modelo elástico linear (direita).
Esta mesma figura também mostra um quadro resumo com as máximas amplitudes de

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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deslocamentos registradas. Com base nas informações apresentadas pode-se observar que o
comportamento dos dois modelos simulados no ANSYS, sob ação do vento turbulento, foi
semelhante, o que indica que, provavelmente, não ocorreu fissuração nos elementos de concreto
(fato que ainda precisa ser comprovado com a análise do histórico de tensões, apresentado na
sequência). Ainda assim, notam-se diferenças entre as amplitudes de deslocamentos registradas,
o que indica que o estado de tensões iniciais, obtido a partir da análise estática prévia dos dois
modelos está influenciando no comportamento dinâmico da estrutura.

Figura 7.28 – Deslocamentos verticais e laterais da extremidade em balanço do


tabuleiro da ponte, sob ação do vento turbulento, obtidos para a etapa 60 pela análise
no ANSYS com os dois modelos de materiais

DESLOCAMENTO VERTICAL (cm) DESLOCAMENTO LATERAL (cm)


ANSYS (VISCO) ± 2,54 ± 16,02
ANSYS (ELÁSTICO) ± 2,18 ± 14,89
(fonte: elaborada pela autora)

Ainda em relação à análise dinâmica realizada após o passo de carga 60, a figura 7.29 apresenta
a variação das tensões desenvolvidas nos nós superior e inferior do tabuleiro, localizados na
extremidade das aduelas tipo A da Ponte do Saber, quando submetidas à ação do vento
turbulento. Tendo em vista que o concreto utilizado na ponte analisada possui uma resistência
característica à compressão de 65,15 MPa, e que o valor da resistência à tração deste material
aos 28 dias é de 4,9 MPa; através dos históricos de tensões apresentados, pode-se concluir que,
ao longo do período em que o carregamento de vento foi imposto sobre a estrutura, o nível de
tensões nos elementos de concreto do tabuleiro manteve-se baixo, tanto em tração quanto em
compressão. Mesmo nos trechos do tabuleiro submetidos aos maiores momentos fletores,
correspondentes às regiões entre as aduelas 07 e 09; a seção transversal de concreto manteve-
se íntegra, não sendo observados pontos de integração fissurados.

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Figura 7.29 – Variação das tensões σy desenvolvidas nos nós superior e inferior da
extremidade das aduelas 03A, 05A, 07A, 09A, 11A e 13A da Ponte do Saber, sob
ação do vento turbulento (step 60)

(fonte: elaborada pela autora)

A figura 7.30 mostra a distribuição das tensões principais σ1 ao longo da aduela 09A em um
sub-passo da análise dinâmica, a qual exemplifica o comportamento observado nos demais

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
198

segmentos. Basicamente, em função da força de arrasto aplicada sobre a estrutura, os pontos


críticos em relação às tensões de tração são os nós localizados nas laterais da extremidade
inferior das aduelas. Desta forma, a figura 7.31 apresenta a evolução das tensões σ1, observadas
nestes nós ao longo dos 600 segundos da carga de vento. Com base nos resultados observados,
pode-se concluir que, de fato, as tensões principais de tração ficaram abaixo das tensões limites
do concreto utilizado na Ponte do Saber. Isto confirma mais uma vez que, mesmo para a etapa
mais crítica de montagem em termos de características dinâmicas, no modelo que considera o
comportamento não linear dos materiais não ocorreu fissuração nos elementos de concreto.

Figura 7.30 – Distribuição de tensões σ1 ao longo da aduela, 09A da Ponte do Saber,


sob ação do vento turbulento (step 60)

(fonte: elaborada pela autora)

Figura 7.31 – Variação das tensões σ1 desenvolvidas no nó localizado na lateral do


bordo inferior das aduelas 03A, 05A, 07A, 09A, 11A e 13A da ponte, sob ação do
vento turbulento (step 60)

(fonte: elaborada pela autora)


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De modo semelhante ao adotado para a estrutura parcialmente executada, o carregamento


devido às forças flutuantes do vento para a ponte finalizada (step 62), está apresentado no
quadro 7.8. A figura 7.32 ilustra os históricos de u(t) e w(t) para a estrutura durante a 62ª fase
construtiva da ponte. Neste caso, o procedimento adotado foi o mesmo daquele utilizado para
a determinação dos históricos de velocidades na etapa 60, sendo alteradas apenas a frequência
referente ao modo de vibração com flexão lateral da estrutura, que para esta fase construtiva foi
igual a 0,71 Hz (figura 7.20); e a frequência referente ao modo de vibração com flexão vertical
da estrutura, que para esta fase construtiva foi igual a 0,64 Hz (figura 7.20).

Quadro 7.8 – Forças flutuantes aplicadas nos nós das aduelas na etapa 16
ANÁLISE DINÂMICA ETAPA 16
FORÇA ADUINICIAL ADU01 até ADU14 ADUFINAL
Fx (t) [kN] -0,60.u(t) + 0,14.w(t) -0,70.u(t) + 0,16.w(t) -0,57.u(t) + 0,13.w(t)
Fz (t) [kN] 0,18.u(t) + 0,45.w(t) 0,21.u(t) + 0,52.w(t) 0,17.u(t) + 0,43.w(t)
FzMy (t) [kN] 0,26.u(t) – 0,16.w(t) 0,25.u(t) – 0,19.w(t) 0,20.u(t) – 0,15.w(t)
FORÇA WCP WSP
Fx (t) [kN] -0,16.u(t) + 0,04.w(t) -0,16.u(t) + 0,04.w(t)
Fz (t) [kN] 0,05.u(t) + 0,12.w(t) 0,05.u(t) + 0,12.w(t)
FzMy (t) [kN] 0,06.u(t) – 0,04.w(t) 0,06.u(t) – 0,04.w(t)
(fonte: elaborado pela autora)

Figura 7.32 – Histórico de velocidade flutuante de vento u(t) e w(t), utilizando os


espectros de potência teóricos para o passo de carga 62

(fonte: elaborada pela autora)

As figuras 7.33 e 7.34 apresentam o carregamento correspondente às forças devidas ao vento


flutuante (Fx(t), Fz(t) e FzMy(t)), aplicado respectivamente às seções padrão da aduela inicial,
das aduelas 1 a 14 e da aduela final; e às seções enrijecidas WCP e WSP das aduelas da ponte,
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
200

em sua etapa construtiva de número 62. Observa-se, neste caso, maiores ou menores amplitudes
de carregamento, em função do comprimento da faixa de elementos finitos exposta ao vento
(l). Além disso, em comparação com os carregamentos aplicados na fase construtiva anterior,
observa-se que, neste caso, em função das diferenças adotadas para o fator estatístico S3, a
magnitude das forças flutuantes é maior.

Figura 7.33 – Forças de vento flutuante Fx(t), Fz(t) e FzMy(t), aplicadas nos nós
correspondentes à seção padrão da aduela inicial, das aduelas 01 a 14, e da aduela
final da Ponte do Saber, em fase construtiva de número 62
ADUINICIAL
Seção Padrão

l = 133 cm

ADU01 a ADU14
Seção Padrão

l = 155 cm

ADUFINAL
Seção Padrão

l = 127 cm

(fonte: elaborada pela autora)

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Figura 7.34 – Forças de vento flutuante Fx(t), Fz(t) e FzMy(t), aplicadas nos nós
correspondentes às seções enrijecidas WCP e WSP da aduela inicial e das aduelas 01
a 14 da Ponte do Saber, em fase construtiva de número 62
Seção WCP

l = 35 cm

Seção WSP

l = 35 cm

(fonte: elaborada pela autora)

A figura 7.35 apresenta os históricos de deslocamentos verticais e laterais, que ocorrem no


ponto de maior amplitude do tabuleiro, correspondente à região de ancoragem do estai T12
(aduela 08), sob ação do vento turbulento, considerando o modelo não linear para os materiais
(concreto e aço). Com base nesta figura, pode-se notar que, para a fase em que a Ponte do Saber
é finalizada, ocorre uma inversão do comportamento em relação à etapa precedente (figura
7.27), pois a amplitude de deslocamentos observada na direção vertical foi superior aos
deslocamentos registrados na direção lateral. Ainda assim, os máximos deslocamentos não
ficaram distantes entre si, uma vez que, na análise de vibrações sob tensões iniciais realizada
para a última etapa construtiva (step 62), as frequências observadas para os dois primeiros
modos de vibração foram relativamente próximas. Pode-se notar também que as amplitudes de
deslocamentos na fase construtiva (step 60) são maiores do que as observadas para a ponte
finalizada (step 62), confirmando a influência da rigidez do sistema nas frequências naturais de
vibração e, consequentemente na resposta às ações dinâmicas atuantes sobre a estrutura.

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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Figura 7.35 – Histórico de deslocamentos verticais e laterais do tabuleiro da ponte,


sob ação do vento turbulento, obtidos para a etapa 62 pela análise no ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

O quadro 7.9 mostra o resumo das máximas amplitudes de deslocamentos registradas no


modelo reduzido realizado no ANSYS considerando o comportamento viscoelástico com
fissuração para o concreto em comparação com o modelo elástico linear. Bem como observado
na fase construtiva de número 60, pode-se concluir que no estágio final de construção da Ponte
do Saber, o comportamento dinâmico dos dois modelos de materiais simulados no ANSYS, sob
ação do vento turbulento, também foi semelhante. Ainda assim, as diferenças de resultados
observadas entre os dois modelos comprovam que a consideração da reologia dos materiais,
além de alterar o plano de estaiamento e, consequentemente, a distribuição dos esforços no
tabuleiro, pode modificar também a rigidez da estrutura frente às ações dinâmicas, sendo
importante a sua consideração na etapa de projeto. O modelo de fissuração atribuído para o
concreto também é interessante de ser utilizado durante as análises dinâmicas a fim de avaliar
se eventualmente alguma seção estaria comprometida frente aos efeitos causados pelo vento.

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Quadro 7.9 – Deslocamentos verticais e laterais do tabuleiro da ponte, sob ação do


vento turbulento, obtidos para a etapa 62 pela análise no ANSYS com os dois
modelos de materiais
DESLOCAMENTO VERTICAL (cm) DESLOCAMENTO LATERAL (cm)
ANSYS (VISCO) ± 2,12 ± 1,75
ANSYS (ELÁSTICO) ± 1,93 ± 1,63
(fonte: elaborado pela autora)

Para completar as análises do modelo reduzido da Ponte do Saber, referente à etapa em que a
ponte já se encontra apoiada em P0 (step 62), as figuras 7.36 e 7.37 apresentam o histórico de
tensões desenvolvidas nos nós superior e inferior do tabuleiro, localizados na extremidade das
aduelas tipo A, quando submetidas à ação do vento. Ao longo destas análises também não foram
observados pontos de integração fissurados, pois os níveis de tensões nos elementos de concreto
mantiveram-se inferiores aos valores registrados para o passo de carga 60 (figura 7.29). Ainda
que os efeitos da ação de vento sejam mais acentuados na fase construtiva em que o tabuleiro
está em balanço, a realização de uma análise cuidadosa para a etapa de finalização da estrutura
estaiada torna-se necessária, em função de algumas diferenças de comportamento observadas.
No passo de carga 60, as tensões desenvolvidas nas aduelas indicavam a predominância de
momentos positivos sob ação do vento turbulento, em todas as seções apresentadas (figura
7.29). Já para a última fase construtiva (step 62), o apoio do tabuleiro estaiado em P0 provocou
a inversão dos momentos fletores a partir da aduela de número 11 até a aduela final.

Figura 7.36 – Variação das tensões σy desenvolvidas nos nós superior e inferior da
extremidade das aduelas 03A e 05A da Ponte do Saber, sob ação do vento turbulento
(step 62)

(fonte: elaborada pela autora)

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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Figura 7.37 – Variação das tensões σy desenvolvidas nos nós superior e inferior da
extremidade das aduelas 07A, 09A, 11A e 13A da Ponte do Saber, sob ação do
vento turbulento (step 62)

(fonte: elaborada pela autora)

Com base nos resultados obtidos para as análises realizadas no modelo reduzido em elementos
finitos da Ponte do Saber fica evidente a importância dos efeitos dinâmicos do vento no projeto
estrutural, uma vez que o tabuleiro respondeu dinamicamente à ação de vento turbulento,
apresentando oscilações superiores aos deslocamentos estáticos obtidos a partir do item 4 da
norma brasileira (quadro 7.6). A solução no domínio do tempo também torna-se interessante
para uma análise que considera o comportamento não linear dos materiais, uma vez que permite
gerar resultados em termos de deslocamentos e tensões ao longo do tempo e identificar regiões
críticas da estrutura. No entanto, para uma melhor avaliação das propriedades modais e da
resposta dinâmica da estrutura através da solução no domínio do tempo, a construção do modelo
computacional completo da ponte, com a consideração da rigidez do pilone e os estais de
retaguarda torna-se fundamental para a validação dos resultados analisados até aqui.

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7.2 MODELO COMPLETO

Em todas as análises realizadas para o modelo completo da Ponte do Saber no ANSYS, foi
utilizado o modelo viscoelástico com fissuração para o concreto através da USERMAT; e o
elastoplástico para as armaduras ativas e passivas. Neste caso, o plano de estaiamento foi
simulado de forma iterativa, através da introdução de uma carga de temperatura, buscando
respeitar as tensões previstas em projeto para cada etapa em que estes elementos eram ativados.
Os resultados da análise estática, modal e dinâmica obtidos através do ANSYS, e comparados
com os valores de projeto e de monitoramento estão apresentados nos itens a seguir.

7.2.1 Análise estática através do MEF

A análise dos resultados iniciou-se com o traçado dos gráficos de elevação do tabuleiro para as
fases construtivas da ponte, que buscou simular o procedimento real da execução da estrutura
estaiada. Neste caso, além de considerar o avanço da execução do tabuleiro e dos estais frontais,
foram incluídos no modelo a influência da sequência construtiva do pilone e da protensão dos
estais de retaguarda. Nas figuras 7.38 e 7.39, estes resultados estão indicados para as principais
etapas de construção da Ponte do Saber, ou seja, os casos de carga onde se aplicam o peso
próprio da aduela tipo B, seguido da protensão do respectivo estai frontal. Nestes diagramas é
feito um estudo comparativo entre a posição do greide geométrico previsto em projeto (GP); a
elevação medida em obra durante o monitoramento (MON); e ainda os resultados gerados pelo
ANSYS, segundo uma análise não linear física, utilizando os elementos de ativação e
desativação do sistema. Os valores dos níveis destacados nos gráficos são medidos em relação
ao topo da laje superior das aduelas, nas respectivas extremidades dos segmentos tipo A e B.

Conforme visto no capítulo 6, na Ponte do Saber foi utilizado um plano único de estais frontais,
os quais foram ancorados na região central do tabuleiro Desta forma, para garantir a rigidez
necessária aos efeitos de torção, causados pelo carregamento assimétrico atuante sobre a
estrutura na situação em serviço, foi necessário adotar uma seção transversal celular para as
aduelas (figuras 6.4 a 6.6). Esta geometria adicionou rigidez aos elementos também em relação
aos esforços de flexão, atuantes ao longo do processo construtivo. Os efeitos da geometria do
tabuleiro podem ser observados nos deslocamentos verticais gerados quando uma nova aduela
é executada. A partir da análise de resultados, observa-se que, nas etapas iniciais de construção,
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
206

nos casos em que se aplica o peso próprio da aduela, a curva obtida pelo ANSYS fica levemente
abaixo do greide geométrico; e, quando é realizada a operação de estaiamento, a aduela retorna
para a posição do greide original. Com o avanço das etapas construtivas, a flexibilidade da
estrutura aumenta, e as variações de deslocamentos verticais, na extremidade das aduelas recém
concretadas, passam a ser mais significativas. Por outro lado, pode-se observar a estabilização
do comportamento mecânico do tabuleiro ao longo da execução do balanço sucessivo, já que,
à medida que o processo construtivo avança, as aduelas concretadas em etapas anteriores à
concretagem atual tendem a apresentar menor variação de deslocamentos.

Figura 7.38 – Diagramas de elevação do tabuleiro obtidos após a finalização da


concretagem e da operação de estaiamento das aduelas 01 a 08

(fonte: elaborada pela autora)

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Figura 7.39 – Diagramas de elevação do tabuleiro obtidos após a finalização da


concretagem e da operação de estaiamento das aduelas 09 a 14

(fonte: elaborada pela autora)

Com base nas figuras 7.38 e 7.39, é possível observar ainda que, a partir da execução da aduela
05, a curva do monitoramento (MON) se encontra acima do greide geométrico (GP) tanto na
fase de aplicação do peso próprio da aduela, quanto na fase de estaiamento; e que esta diferença
torna-se mais significativa à medida que as etapas construtivas da ponte avançam. Conforme
constatado no item 7.1 deste trabalho, é importante lembrar que, as forças instaladas nos cabos,
durante a operação de estaiamento, as quais foram controladas a partir do monitoramento
realizado durante a obra, foram impostas de forma a respeitar os valores de projeto, e que,
mesmo assim, o greide real de lançamento da ponte ficou distante do GP.

Por outro lado, em relação às curvas obtidas nas análises realizadas no modelo numérico no
ANSYS, em que também foram utilizadas as mesmas tensões previstas em projeto para a
protensão dos estais, nota-se que, após o estaiamento de cada cabo, o greide de lançamento das
aduelas retorna para a posição do greide geométrico estabelecido em projeto (GP), sendo este
fenômeno observado em todos os casos de carga destacados nas figuras 7.38 e 7.39.

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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Desta forma, para entender melhor as divergências entre os resultados obtidos, foi realizada
uma análise comparativa entre as informações presentes no projeto inicial e nos demais
trabalhos acadêmicos realizados sobre a Ponte do Saber, os dados de monitoramento da ponte,
e as imagens fornecidas pela empresa responsável pela construção da estrutura. Com base nestas
informações, se chegou à conclusão de que as diferenças observadas entre as cotas verticais do
tabuleiro, medidas durante o monitoramento, em relação às obtidas através do modelo em
elementos finitos, podem ser consequência de uma mudança de projeto na fase construtiva da
ponte. Ou seja, no modelo numérico adotado neste trabalho foram considerados os dados
presentes no projeto inicial da Ponte do Saber, que indicava a presença da viga central
juntamente com o restante da seção das aduelas que formavam o tabuleiro. Porém, observou-se
que, durante a execução da Ponte do Saber, a concretagem da viga central de enrijecimento foi
executada em conjunto com o restante da seção transversal somente até a conclusão da aduela
04. Desta forma, a concretagem da viga central foi finalizada após a construção das demais
aduelas do tabuleiro, quando o mesmo já se encontrava apoiado na extremidade P0
(GARAMBONE, 2012). A figura 7.40 mostra o tabuleiro da Ponte do Saber em fase construtiva
avançada, com destaque para as esperas das armaduras utilizadas para a execução da viga de
enrijecimento, mostrando que a concretagem deste elemento foi feita em uma etapa posterior à
execução do restante da aduela em obra.

Figura 7.40 – Tabuleiro da Ponte do Saber em fase construtiva avançada

(fonte: GOMES, 2013)

Deste modo, como a área referente à viga de enrijecimento corresponde à 17% da área total da
aduela padrão, ao longo do processo construtivo a rigidez e o peso próprio do tabuleiro foram
reduzidos, o que gerou maiores deslocamentos verticais em relação aos observados no modelo
computacional. No entanto, pode-se afirmar que os deslocamentos verticais resultantes do
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modelo simulado no ANSYS apresentaram uma melhor correlação com o nível previsto para o
greide geométrico, o que indica que a execução da viga central, juntamente com a construção
das aduelas da ponte, resultaria em uma melhor conformação final do tabuleiro ao greide
previsto originalmente. Adicionalmente, a interrupção da execução da viga central na estrutura
real sugere a possibilidade de que esta decisão tenha sido tomada como uma forma de ajuste
durante o processo de montagem da ponte, o qual levou à necessidade de revisão do projeto
estrutural quanto às etapas construtivas.

De forma complementar, a figura 7.41 apresenta os deslocamentos verticais em relação ao


greide geométrico, obtidos nos elementos estruturais simulados no ANSYS, em duas etapas
diferentes. A primeira situação, à esquerda da figura 7.41, representa o instante em que a aduela
final já está ativada e é realizada a protensão do estai de retaguarda T01, correspondente ao
passo de carga 173 (quadro 6.8). Através dos resultados, é possível afirmar que, ao finalizar o
lançamento das aduelas, considerando as idades de ativação dos elementos compatíveis com a
duração da concretagem de cada etapa em obra, o desnível obtido na extremidade da ponte foi
de 24,6 cm, o que se aproxima da estimativa inicial adotada pelo projetista, que foi de 23,5 cm
(GOMES, 2013). Em relação ao desnível de 63,2 cm, observado durante o acompanhamento
das etapas construtivas da Ponte do Saber, pode-se concluir que, de fato, a rigidez do tabuleiro
durante a execução da estrutura estava menor do que a prevista no projeto inicial.

Figura 7.41 – Deslocamentos verticais (cm) obtidos na modelagem computacional


no ANSYS, referentes às etapas de estaiamento de T01 e fechamento do vão

(fonte: elaborada pela autora)

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
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Já a segunda situação, que é apresentada à direita da figura 7.41, representa o instante em que
ocorre o fechamento do vão principal estaiado, com atirantamento do apoio P0. Nesta etapa,
que corresponde ao passo de carga 175 (quadro 6.8), observa-se que o greide final de
lançamento da ponte no ANSYS, se aproximou de forma satisfatória ao greide geométrico, uma
vez que o desnível máximo observado foi na ordem de 3 cm.

A fim de analisar o comportamento do pilone durante a sequência construtiva da Ponte do


Saber, os gráficos da figura 7.42 apresentam os deslocamentos longitudinais (eixo Y)
observados ao longo do comprimento deste elemento, para as principais etapas de montagem
da ponte. Nestes diagramas, EI representa o eixo indeformado do pilone; e ADU-α (n) e T-β
(n), representam a deformada do pilone quando são aplicadas, respectivamente, a carga de peso
próprio na aduela α, e a força de protensão no estai β. Os valores de n indicam a numeração do
passo de carga apresentado no gráfico, e que são identificados no quadro 6.8. Nesta imagem,
os valores positivos e negativos de deslocamentos longitudinais, indicam a deformação do
pilone em direção aos estais frontais e de retaguarda, respectivamente. Os pontos destacados
nos gráficos, representam os deslocamentos medidos nos nós presentes no eixo de simetria e
localizados junto à face frontal do pilone, na cota superior de cada uma das 28 seções
transversais em que este elemento foi discretizado, conforme indicado no quadro 6.1.

A partir destes diagramas é possível observar que, à medida que é realizada a concretagem das
aduelas, traduzidas no modelo computacional pela aplicação do peso próprio nestes elementos,
o pilone sofre deslocamentos horizontais positivos. Com a operação de protensão do estai
frontal, localizado na extremidade da aduela recém concretada, esses deslocamentos horizontais
positivos na torre são ampliados, e a tendência é que a deformação do pilone cresça no sentido
do vão principal. Sendo assim, para que o momento fletor atuante no pilone seja minimizado,
à medida que os estais frontais são instalados, a força dos estais de retaguarda é ajustada, de
acordo com os valores definidos em projeto.

Além disso, analisando os gráficos da figura 7.42, percebe-se também o aumento dos
deslocamentos horizontais na torre, conforme avança a construção da ponte, o que pode ser
justificado em função da maior flexibilidade do pilone e do incremento de solicitações causadas
por cada novo estai instalado. De qualquer forma, fica claro que a rigidez do pilone é superior
à rigidez do tabuleiro, em função da diferença significativa de amplitude de deslocamentos
observadas nestes dois elementos estruturais principais, ao longo da montagem da ponte.

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Figura 7.42 – Deslocamentos longitudinais do pilone (cm) obtidos no ANSYS,


referentes às principais etapas construtivas da Ponte do Saber

(fonte: elaborada pela autora)

No modelo simulado no ANSYS, dependendo do caso de carga, a força dos estais de retaguarda
foi incrementada antes ou depois da ativação do estai frontal, procurando seguir a sequência
construtiva observada durante o monitoramento. Entretanto, para evitar problemas de
convergência no modelo em elementos finitos, causados pela fissuração de vários pontos de
integração observada em algumas regiões do pilone, foi necessário, em determinados passos de
carga, antecipar a aplicação de uma parcela da força de protensão nos estais de retaguarda.
Nestes casos, parte do tensionamento do estai foi feito em etapas anteriores ao que foi
efetivamente registrado no monitoramento. Desta forma, foi possível reduzir as tensões de

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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tração atuantes nos elementos localizados junto à face de retaguarda do pilone, e assim, evitar
que a fissuração fosse distribuída para outros elementos.

Este fato pode ser ilustrado na figura 7.43, a qual apresenta o estado de fissuração do pilone
para dois casos distintos de carregamento. Nestes gráficos, a cor azul (0 na escala gráfica) indica
que os pontos de integração do elemento ainda não estão fissurados. Conforme as variáveis
calculadas no interior da rotina USERMAT para o concreto tracionado, esta escala de cores
pode assumir os valores de 10 ou 12, o que indica que algum ponto de integração do elemento
em questão fissurou respectivamente em uma ou duas direções.

Figura 7.43 – Estado de fissuração do pilone, obtido na modelagem computacional


no ANSYS, referentes aos passos de carga 137 e 140 (quadro 6.8)

(fonte: elaborada pela autora)

A primeira situação, à esquerda da figura 7.43, representa o instante que antecede a ativação da
aduela 11B, em que é realizada a protensão do estai de retaguarda T02, correspondente ao passo
de carga 137 (quadro 6.8). A segunda situação, à direita da figura 7.43, representa o instante
em que a aduela 11B entra em carga (aplicação do peso próprio deste elemento), juntamente
com a operação de protensão do estai T15, correspondente ao passo de carga 140 (quadro 6.8).
Com base nas informações disponibilizadas pela empresa construtora da Ponte do Saber, é
possível afirmar que, na realidade, a protensão do estai de retaguarda T02 foi executada em
obra após o estaiamento de T15, o que corresponderia ao passo de carga 141 no modelo
numérico. Porém, como observa-se que no passo de carga 140 alguns pontos de integração do
pilone, localizados na face de retaguarda, encontram-se fissurados em uma direção, na
simulação computacional optou-se por aplicar uma parcela da força de protensão de T02 antes

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da ativação da aduela 11B, a fim de evitar problemas de convergência. Vale lembrar que, ao
longo das análises numéricas realizadas neste trabalho, não foi constatada fissuração na segunda
direção em nenhum elemento de concreto.

A fim de observar a evolução das tensões nos elementos do pilone, em função dos
carregamentos aplicados no modelo no ANSYS, são apresentados a seguir os diagramas de
tensões no concreto e no aço para a seção 18. Esta seção corresponde à região localizada acima
do estai de retaguarda T03, a qual sofreu fissuração no passo de carga 140, conforme indicado
na figura 7.43. As figuras 7.44 e 7.45 apresentam, respectivamente, os diagramas de tensões no
concreto e na armadura correspondentes aos passos de carga (steps) 136, 137, 139 e 140.

Figura 7.44 – Tensões no concreto σz (kN/cm²) – seção 18

(fonte: elaborada pela autora)

Ao observar estes diagramas, percebe-se que, no instante de aplicação do peso próprio da aduela
11A (step 136), o concreto da seção 18 do pilone apresenta tensões de tração elevadas na face
correspondente à ancoragem dos estais de retaguarda e que, ao realizar a protensão do estai T02
(step 137), as tensões de tração nesta face do pilone são aliviadas, evitando a fissuração do
concreto. Após esta operação, ocorre a ativação da aduela 11B (step 139), e, consequentemente,
as tensões de tração na face de retaguarda do pilone voltam a aumentar. Na etapa de carga

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seguinte (step 140), com a protensão do estai frontal T15, as tensões de tração atingem a
resistência à tração do concreto, ocorre a fissuração e, consequentemente, as tensões de tração
na armadura passiva aumentam de forma significativa nesta fase.

Figura 7.45 – Tensões na armadura (kN/cm²) – seção 18

(fonte: elaborada pela autora)

Este mesmo artifício, de antecipar a operação de estaiamento, a fim de aliviar as tensões de


tração atuantes no pilone, também foi adotado para os demais pares de estais de retaguarda,
pois durante as análises das etapas de construção da ponte, em particular na execução das
aduelas próximas ao centro do vão principal, foi observado um excesso de pontos de gauss
fissurados ao longo do pilone. Para que este fato não resultasse em problemas de convergência
nas análises numéricas, foi realizada a antecipação de uma parcela da força de protensão nos
estais de retaguarda T03 e T01, cuja operação de estaiamento foi iniciada antes da ativação das
aduelas 07A e 14B, respectivamente. Este comportamento, juntamente com as diferenças de
cotas verticais observadas entre o monitoramento realizado durante a obra e o greide geométrico
proposto em projeto, contribui com a ideia de que inicialmente a execução da Ponte do Saber
foi idealizada com a viga central de enrijecimento executada em conjunto com todas as aduelas;
mas que, devido ao surgimento de regiões fissuradas no pilone, foi proposta a modificação do
processo executivo. Sendo assim, com o objetivo de manter o plano de estaiamento definido no
projeto inicial, a interrupção da construção da viga central de enrijecimento durante a execução
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do tabuleiro pode ter sido uma alternativa adotada para evitar a fissuração excessiva no pilone
da Ponte do Saber que poderiam comprometer o desempenho em serviço da estrutura.

Nas figuras 7.46 e 7.47 é apresentada de forma detalhada, a evolução das tensões observadas
para um dos estais de retaguarda (T02) e um dos estais frontais (T05) da Ponte do Saber. Estas
curvas foram traçadas a partir dos resultados obtidos pela análise numérica no ANSYS, sendo
os valores de tensão apresentados em kN/cm² e o tempo em dias. A análise destes gráficos
permite verificar o aumento ou decréscimo repentino de tensões nestes elementos LINK180,
conforme as fases construtivas da ponte avançam.

Figura 7.46 – Acompanhamento das tensões (kN/cm²) desenvolvidas no estai T02 ao


longo da montagem completa da Ponte do Saber, no ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

Figura 7.47 – Acompanhamento das tensões (kN/cm²) desenvolvidas no estai T05 ao


longo da montagem completa da Ponte do Saber, no ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)


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Analisando o diagrama apresentado na figura 7.46, é possível afirmar que o evento que mais
influencia na variação de tensão neste cabo, é o instante de protensão dos próprios estais de
retaguarda. Nestes casos de carga, indicados na figura 7.46, observa-se uma descontinuidade
no gráfico, com aumento significativo de tensão no estai de retaguarda T02 nos instantes em
que é aplicada uma força de protensão neste cabo; e alívio de tensão quando a protensão de T01
é executada. Pode-se notar ainda que, a adição do peso próprio das aduelas e a protensão dos
estais frontais geram variações de tensões suaves neste elemento. Por outro lado, a análise da
evolução das tensões realizada para o estai T05 (figura 7.47), indicou que, nos casos de carga
em que o peso próprio das aduelas é aplicado, ocorre um aumento da tensão no estai frontal; e
nos casos de carga em que é realizado o estaiamento dos cabos frontais vizinhos, observa-se
um decréscimo imediato de tensão neste elemento. De forma geral, o gráfico da figura 7.47
também mostra que as tensões nos estais frontais apresentam maiores amplitudes de variação
nas etapas próximas ao instante de estaiamento do referido cabo, sendo estas tensões
estabilizadas com o avanço da construção. Além disso, é possível notar que, durante a operação
de protensão dos estais de retaguarda (step 94), os estais frontais passam a ser mais solicitados.

Nas figuras 7.48 e 7.49 é apresentada a evolução das tensões para os demais pares de estais de
retaguarda e estais frontais da Ponte do Saber. Estas curvas foram traçadas a partir dos
resultados obtidos pela análise numérica no ANSYS e pelas informações das tensões estimadas
em projeto e coletadas em campo. De forma geral é possível observar que, tanto nos resultados
obtidos através das análises numéricas, quanto nos valores lidos durante o monitoramento, a
variação de tensões nos estais frontais e de retaguarda seguiu o mesmo comportamento
observado nas figuras 7.46 e 7.47. Este efeito mostra a sensibilidade do modelo computacional,
realizado no ANSYS, às influências das etapas construtivas desta ponte.

Nos diagramas das figuras 7.48 e 7.49 pode-se observar também que, para todos os estais, as
tensões iniciais aplicadas no modelo numérico foram semelhantes às tensões previstas no
projeto original. Nota-se ainda que, nos diagramas dos estais T01 a T07, e T13 a T18, as curvas
continuaram apresentando uma boa aproximação, ao longo de todas as etapas de montagem da
ponte. Já nos gráficos que representam o comportamento dos estais T08 a T12, os valores de
tensões obtidos através da análise realizada no ANSYS ficaram ajustados aos demais apenas
nas etapas construtivas próximas ao estaiamento destes elementos, ficando acima das curvas de
monitoramento e de projeto, com o avanço das etapas construtivas. Este comportamento pode
ser justificado, pois durante a construção da Ponte do Saber, a partir da concretagem da aduela
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05, a viga de rigidez central não foi realizada em conjunto com o avanço do tabuleiro, sendo
executada somente após a finalização do vão principal. Desta forma, a condição de
carregamento imposta no modelo em elementos finitos, bem como a rigidez da seção transversal
considerada no ANSYS, eram maiores do que efetivamente foi observado na estrutura real.

Figura 7.48 – Variação das tensões (kN/cm²) desenvolvidas nos estais T01 a T08 ao
longo do período (em dias) correspondente à montagem completa da Ponte do Saber

(fonte: elaborada pela autora)

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Figura 7.49 – Variação das tensões (kN/cm²) desenvolvidas nos estais T09 a T18 ao
longo do período (em dias) correspondente à montagem completa da Ponte do Saber

(fonte: elaborada pela autora)

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Com base nas figuras 7.48 e 7.49 fica claro que, para qualquer etapa de montagem da estrutura
estaiada, as tensões nos estais não excedem o limite de 80 kN/cm². Este valor está de acordo
com a recomendação da NBR 7187 (ABNT, 2019), a qual limita as tensões de projeto nos estais
a 0,45fptk. Além disso, conforme abordado no capítulo 4 deste trabalho, segundo a NBR 6118
(ABNT, 2014), caso as cordoalhas não estejam submetidas a uma tensão de tração superior a
50% da tensão de ruptura fptk, o efeito da relaxação é desprezível. Como as cordoalhas que
constituem os estais da Ponte do Saber são compostas de aço CP-177RB, é coerente admitir
neste caso que, ao longo das etapas construtivas, a relaxação dos estais pode ser desconsiderada.

A fim de constatar se os efeitos diferidos no concreto, cujo equacionamento proposto pelo CEB-
MC90 foi implementado no ANSYS através da customização da rotina USERMAT, estavam
sendo considerados ao longo da análise numérica, são apresentadas a seguir as deformadas da
estrutura para diferentes etapas construtivas. A figura 7.50 ilustra os diagramas de
deslocamentos verticais obtidos para os passos de carga 62 e 63, correspondentes,
respectivamente, às etapas de ativação da aduela 03B, e incremento de tempo de 3 dias. No
passo de carga 62, representado pelo diagrama à esquerda da figura 7.50, observa-se o
deslocamento vertical para baixo da extremidade em balanço da ponte devido à aplicação do
peso próprio da aduela que está sendo ativada. No passo de carga seguinte, representado pelo
diagrama à direita da figura 7.50, percebe-se que a extremidade da aduela 03B continua se
movimentando para baixo, mesmo sem a adição de novos carregamentos à estrutura nesta etapa.

Figura 7.50 – Deslocamentos verticais (cm) obtidos no ANSYS para os passos de


carga 62 e 63

(fonte: elaborada pela autora)

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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A figura 7.51 ilustra os diagramas de deslocamentos verticais obtidos para os passos de carga
seguintes, 64 e 65, correspondentes, respectivamente, ao estaiamento de T07, e à transferência
da carga de treliça da extremidade da aduela 03A para a extremidade da aduela 03B. No passo
de carga 64, representado pelo diagrama à esquerda da figura 7.51, observa-se que o
deslocamento vertical do tabuleiro foi praticamente anulado pelo estaiamento de T07, fazendo
com que todas as aduelas já concretadas retornassem para a posição original do greide de
projeto. No passo de carga seguinte, representado pelo diagrama à direita da figura 7.51,
percebe-se que a extremidade da aduela 03B continua se movimentando para cima, mesmo com
uma condição de carregamento vertical mais crítica, representada pela transferência do peso
próprio da treliça para a extremidade em balanço da ponte.

Figura 7.51 – Deslocamentos verticais (cm) obtidos no ANSYS para os passos de


carga 64 e 65

(fonte: elaborada pela autora)

A figura 7.52 apresenta a trajetória de deslocamentos verticais lidos no ANSYS para o nó


localizado na extremidade da aduela 03B, correspondente aos passos de carga 62 a 77. Estas
etapas de carga foram implementadas no modelo computacional entre os dias 292 a 310, e a sua
descrição, conforme apresentado no quadro 6.8, encontra-se detalhada na própria figura 7.52.
Nesta imagem é possível observar a variação da posição da referida aduela ao longo das
operações de protensão de alguns estais frontais e de retaguarda, concretagem das aduelas
vizinhas e movimentação da treliça de lançamento. Além disso, percebe-se que, nos trechos
destacados em cinza, a extremidade da aduela 03B continua sofrendo deslocamento vertical
mesmo sem o incremento de novos carregamentos, o que comprova a influência do efeito
diferido no concreto no modelo computacional.

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Bruna Manica Lazzari (bruna.ml@gmail.com) – Tese de Doutorado – Porto Alegre: PPGEC/UFRGS 2020
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Figura 7.52 – Deslocamentos verticais (cm) obtidos para a aduela 03B para os
passos de carga 62 e 77, no ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

De forma análoga, a figura 7.53 apresenta a trajetória de deslocamentos longitudinais (eixo Y)


da extremidade superior da seção 22A do pilone, para os mesmos passos de carga indicados na
figura 7.52. Com base no diagrama da figura 7.53 pode-se concluir que a variação dos
deslocamentos no pilone, frente à sequência de eventos analisadas foi significativamente menor
do que a amplitude de deslocamentos observada no tabuleiro. Ainda assim, pode-se constatar a
influência da deformação lenta sobre o pilone, sobretudo após as operações de estaiamento.

Figura 7.53 – Deslocamentos longitudinais (cm) obtidos na seção 22A do pilone


para os passos de carga 62 e 77, no ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
222

A figura 7.54 mostra o funcionamento em conjunto dos estais frontais e de retaguarda da Ponte
do Saber, executados até o passo de carga 66. É interessante analisar que, aos 295 dias de
construção da ponte, quando o estai T07 é ativado, as tensões atuantes nos demais estais
frontais, que já estavam ancorados no tabuleiro, apresentam uma importante redução, devido
ao retorno do tabuleiro para o greide de projeto. Este fenômeno se repete com o estaiamento de
T08, o qual ocorre aos 307 dias. Entre as datas de aplicação de força de protensão, observa-se
que as tensões nos estais frontais crescem consideravelmente, em razão da sequência de
montagem das aduelas. Por outro lado, é possível notar que a variação de tensões no estai de
retaguarda T03 só é relevante no instante em que a força de protensão é aplicada neste mesmo
elemento. Isto pode ser justificado, uma vez que a elevada rigidez do pilone, limita os seus
deslocamentos longitudinais; ou seja, a sequência construtiva da ponte exerce pouca influência
na tensão instalada no estai de retaguarda, uma vez que ele possui as duas extremidades
ancoradas em apoios de grande rigidez. Já o tabuleiro, por ser um elemento mais flexível,
apresenta maiores deslocamentos verticais, o que influencia diretamente nos valores das tensões
desenvolvidos nos estais frontais da ponte, ao longo do avanço do balanço sucessivo.

Figura 7.54 – Tensões normais (kN/cm²) nos estais T03 a T07 para os passos de
carga 62 e 77, no ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

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Bruna Manica Lazzari (bruna.ml@gmail.com) – Tese de Doutorado – Porto Alegre: PPGEC/UFRGS 2020
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Em relação ao comportamento mecânico dos tabuleiros de pontes estaiadas, pode-se afirmar


que, em geral, os mesmos encontram-se solicitados predominantemente ao efeito da flexo-
compressão. A compressão axial do tabuleiro tem origem na componente horizontal da força
de protensão aplicada aos estais, e pode ser benéfica a este elemento, uma vez que ajuda a
atenuar as tensões de tração provenientes dos momentos fletores. O esforço de flexão, por sua
vez, é provocado pela atuação do peso próprio dos elementos estruturais; pelo efeito da
excentricidade entre o ponto de ancoragem dos estais e o centro geométrico do tabuleiro; pela
operação de estaiamento, que provoca a inversão do comportamento à flexão do tabuleiro; e
também em função das não linearidades geométricas.

Na figura 7.55 é apresentada de forma detalhada, a evolução das tensões observadas nos nós
superior e inferior dos elementos SOLID186, representativos do comportamento do concreto,
localizados na extremidade da aduela 01A da Ponte do Saber, conforme as posições indicadas
na própria figura. Estas curvas foram traçadas a partir dos resultados obtidos pela análise
numérica no ANSYS. Antes de iniciar a análise deste diagrama, é importante lembrar que,
quando o nó superior da aduela encontra-se mais comprimido do que o nó inferior, a seção em
análise está submetida a um momento fletor positivo. Caso a situação seja inversa, ou seja, o
nó inferior da aduela esteja mais comprimido do que o nó superior, observa-se que o momento
fletor negativo é predominante neste trecho.

Figura 7.55 – Acompanhamento das tensões σy (kN/cm²) desenvolvidas nos nós


superior e inferior da extremidade da aduela 01 A, da Ponte do Saber, no ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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Com base na figura 7.55, é possível observar que, ao longo do processo construtivo da Ponte
do Saber, ocorre a variação dos diagramas de momentos fletores atuantes sobre a aduela 01A,
em função das diferenças de tensões observadas no histórico apresentado para os dois nós
indicados. Desta forma, o comportamento mecânico desta aduela vai sendo alternado, sendo
que, no instante em que é realizada a operação de estaiamento, o momento fletor atuante é o
positivo; e, nas etapas seguintes, à medida que o peso próprio dos elementos estruturais vai
sendo adicionado no modelo em elementos finitos, o momento fletor nesta região torna-se
negativo. Após o estaiamento de T14, no entanto, é possível notar que a influência da aplicação
da força de prontensão nos últimos estais é menos significativa para a variação do
comportamento à flexão na aduela 01, uma vez que este evento não é mais capaz de tornar o
momento fletor positivo neste trecho. Por outro lado, pode-se ainda constatar que, conforme as
etapas construtivas da ponte avançam, e, gradativamente os estais vão sendo protendidos, as
tensões de compressão atuantes na aduela inicial continuam crescendo, em função da soma das
componentes horizontais geradas pela operação de estaiamento dos cabos frontais.

Nas figuras 7.56 e 7.57 é apresentada a evolução das tensões observadas nos nós superior e
inferior dos elementos SOLID186, posicionados no eixo de simetria do tabuleiro, localizados
na extremidade das aduelas 03A, 05A, 07A, 09A, 11A e 13A, da Ponte do Saber. De forma
geral é possível observar que, os valores das tensões de compressão resultantes nas aduelas do
modelo em elementos finitos decrescem à medida que se afastam do pilone, sendo as tensões
de compressão atuantes nos nós da aduela 03A significativamente maiores do que na aduela
13A.

Figura 7.56 – Variação das tensões σy (kN/cm²) desenvolvidas nos nós superior e
inferior da extremidade das aduelas 03A e 05A da Ponte do Saber, no ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

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Figura 7.57 – Variação das tensões σy (kN/cm²) desenvolvidas nos nós superior e
inferior da extremidade das aduelas 07A, 09A, 11A e 13A da Ponte do Saber, no
ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

Considerando as análises apresentadas nas figuras 7.56 e 7.57, pode-se notar que, em geral, ao
longo das etapas construtivas da ponte, a variação de tensões nos nós das aduelas selecionadas
seguiu o mesmo comportamento observado para a aduela 01A (figura 7.55). Já na etapa de
fechamento do vão estaiado, a configuração final da ponte ficou assim: momento fletor negativo
nas aduelas 01 e 02; momento fletor positivo a partir da aduela 03 até a aduela 12; e momento
fletor voltando a ser negativo da aduela 13 até o apoio P0. A figura 7.58 mostra os diagramas
de esforços normais e de momentos fletores obtidos no software SAP2000 para a Ponte do
Saber, disponíveis na dissertação de mestrado realizada por Cidade (2017). Neste caso, os
diagramas ilustram a fase final da construção da estrutura, com a última aduela já apoiada em
P0, considerando somente os carregamentos permanentes de peso próprio da estrutura e a
protensão nos estais, em conformidade com os carregamentos aplicados no modelo numérico
do presente estudo. Sendo assim, com base nos resultados de tensões lidos no modelo em
elementos finitos no ANSYS, pode-se notar que o comportamento mecânico observado está de
acordo com o modelo de referência apresentado por Cidade (2017).

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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Figura 7.58 – Diagramas de esforço normal (esquerda) e momentos fletores (direita)


obtidos no SAP2000 para a fase final de construção da Ponte do Saber

(fonte: adaptado de CIDADE, 2017)

A seguir, é apresentada a evolução das tensões σz em algumas seções transversais do pilone,


desenvolvidas ao longo da montagem da Ponte do Saber, cujos diagramas foram obtidos a partir
do modelo em elementos finitos simulado no ANSYS. Como esta análise gerou um volume
grande de dados, uma vez que no modelo numérico a discretização do pilone foi realizada em
28 seções transversais diferentes, foram escolhidos aqui somente alguns trechos mais relevantes
para a apresentação dos resultados. A figura 7.59 indica as seções que foram analisadas, bem
como a posição dos nós frontal e de retaguarda dos elementos representativos do concreto
(SOLID186).

Figura 7.59 – Posições do pilone em que foi analisada a variação das tensões ao
longo do processo construtivo da Ponte do Saber

Y
(fonte: elaborada pela autora)

A figura 7.60 mostra, de forma detalhada, a evolução das tensões observadas nos nós frontal e
de retaguarda da seção 18-20 do pilone da Ponte do Saber. Estas curvas foram traçadas a partir

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dos resultados obtidos pela análise numérica no ANSYS, sendo os valores de tensão
apresentados em kN/cm² e o tempo em dias.

Figura 7.60 – Acompanhamento das tensões σz (kN/cm²) desenvolvidas nos nós


frontal e de retaguarda da seção 18-20 do pilone da Ponte do Saber, no ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

Através dos resultados obtidos na figura 7.60, percebe-se que os processos de protensão dos
estais são os principais responsáveis pela variação das tensões na seção no pilone, uma vez que,
conforme visto na figura 7.42, influenciam de forma direta na movimentação longitudinal deste
elemento, durante a sua construção. Desta forma, pode-se notar que, quando os estais frontais
são tensionados, a estrutura do pilone sofre um deslocamento longitudinal no sentido do vão
principal, e, portanto, as tensões de tração no elemento de concreto posicionado na face de
retaguarda do pilone sofrem um acréscimo imediato. Na figura 7.60 este efeito é observado nos
passos de carga 131 e 140, correspondentes à protensão de T14 e T15. A inclusão do peso
próprio das aduelas, que ocorre de forma gradativa conforme a montagem da ponte avança,
também contribui para que as tensões de tração nesta região fiquem elevadas, como indicam os
passos de carga 148 e 172. Quando as tensões de tração nesta face atingem valores próximos à
tensão resistente do concreto à tração; pode-se observar que é realizado o tensionamento dos
estais de retaguarda. Esta operação faz com que o pilone passe a se deslocar para o sentido
oposto, reduzindo assim as tensões de tração na face de retaguarda do pilone, ou, em alguns
casos, invertendo o comportamento nesta região. Na figura 7.60 este efeito pode ser observado
para os passos de carga 137, 141, 149 e 173, correspondentes à protensão de T02 e T01.

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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Na figura 7.61 é apresentada a evolução das tensões nos nós de retaguarda e frontal para as
demais seções do pilone da Ponte do Saber, conforme indicado na figura 7.59. Analisando estes
diagramas observam-se, de forma geral, comportamentos similares aos comentados na figura
7.60.

Figura 7.61 – Variação das tensões σz (kN/cm²) desenvolvidas nos nós frontal e de
retaguarda das seções indicadas para o pilone da Ponte do Saber

(fonte: elaborada pela autora)

Ainda com base na figura 7.61, percebe-se que, à medida que as etapas construtivas da ponte
avançam, a variação das tensões no pilone passam a ser mais significativas, o que pode ser

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justificado pela maior flexibilidade do pilone, que provoca aumento nos deslocamentos
longitudinais na estrutura. Pode-se destacar também a predominância de esforços compressivos
na estrutura ao longo do processo construtivo (causados pela ação do peso próprio do pilone e
as componentes verticais dos esforços de tração atuantes nos estais). É possível observar ainda
que as seções transversais localizadas abaixo do ponto de inflexão do pilone possuem maior
momento de inércia do que as localizadas acima desta posição. Este fato faz com que a rigidez
à flexão do trecho abaixo da seção 12 do pilone seja mais elevada, e, portanto, que a variação
das tensões observadas durante cada operação de estaiamento possua menor amplitude em
comparação com a região superior. De forma pontual, na seção que representa o ponto de
inflexão do pilone (seção 12), é possível observar que o nó frontal encontra-se menos
comprimido que o nó de retaguarda. Este efeito pode ser justificado pelo fato de que a
componente do peso próprio, gerado pelos elementos de concreto posicionados acima desta
seção do pilone, e analisada de forma isolada, introduz uma excentricidade de carregamento no
pilone que traciona o nó frontal e comprime o nó de retaguarda da seção 12. À medida que a
concretagem do pilone avança, e as componentes verticais provenientes da força de protensão
dos estais são adicionadas neste elemento, este efeito passa a ser mais significativo.

7.2.2 Análise modal através do MEF

Neste subitem é apresentada a análise modal da Ponte do Saber sob ação de cargas permanentes
e forças de protensão nos estais ao longo de suas fases construtivas. Para isto, a análise realizada
no ANSYS para a extração das frequências naturais e modos de vibração teve como ponto de
partida a análise estática apresentada no subitem 7.2.1. Para o modelo completo da ponte, esta
análise foi realizada para algumas etapas construtivas específicas, relatadas a seguir.

A figura 7.62 apresenta os 5 primeiros modos de vibração da ponte estaiada, obtidos da


simulação realizada no ANSYS após a análise estática do passo de carga 103, correspondente
à etapa construtiva em que foi finalizada a concretagem da aduela 07 e o estaiamento de T11.
Em comparação com a análise modal realizada para o modelo reduzido da Ponte do Saber,
apresentada no subitem 7.1.2 deste capítulo, pode-se observar, neste caso, a influência do pilone
na determinação das configurações deformadas associadas aos modos de vibração da estrutura.

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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Figura 7.62 – Cinco primeiros modos de vibração da estrutura estaiada, referentes ao


passo de carga 103

(fonte: elaborada pela autora)

A partir da relação entre os modos de vibração obtidos no modelo completo (figura 7.62) e no
modelo reduzido (figura 7.18), pode-se constatar que as configurações deformadas da ponte
relativas aos dois primeiros modos de vibração da estrutura são equivalentes entre os dois
modelos analisados, pois tratam-se dos modos de vibração associados ao comportamento do
tabuleiro. Já o terceiro modo de vibração do modelo completo não pode ser observado na análise
realizada para o modelo reduzido, pois trata-se de um modo de vibração próprio do pilone em
flexão lateral. Sendo assim, o terceiro e o quarto modos de vibração do modelo reduzido
correspondem, respectivamente, ao quarto e quinto modos de vibração observados no modelo
completo.

Nos passos de carga seguintes, até a finalização da concretagem da aduela 13 com o estaiamento
de T17 (step 161), foi observada a manutenção destas mesmas formas modais, sendo alterados
somente os valores das frequências naturais de cada modo. A figura 7.63 apresenta o resumo
das frequências naturais, obtidas com o avanço das etapas construtivas no modelo completo do
ANSYS, além de mostrar as diferenças em relação ao modelo reduzido. Vale lembrar que, para
o modelo reduzido, os valores apresentados são correspondentes à análise modal realizada após
a análise estática que considerou o comportamento viscoelástico do concreto com fissuração.

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Os resultados apresentados neste diagrama foram gerados para as etapas correspondentes ao


final da aplicação do peso próprio e do estaiamento das aduelas 07, 08, 12 e 13.

Figura 7.63 – Frequências naturais da estrutura estaiada após a aplicação do peso


próprio e estaiamento das aduelas 07, 08, 12 e 13

(fonte: elaborada pela autora)

Com base nestes resultados, é possível observar que, em relação aos dois primeiros modos de
vibração, relativos exclusivamente ao comportamento do tabuleiro, as frequências naturais
obtidas nos dois modelos analisados foram semelhantes. A exemplo do que foi constatado
através da análise da figura 7.62, também pode-se notar que, os valores obtidos para o terceiro
e quarto modo de vibração do modelo reduzido se aproximaram dos valores das frequências
naturais do quarto e quinto modo de vibração do modelo completo. Observa-se também que,
com o avanço das etapas construtivas, os valores das frequências naturais para todos os modos

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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de vibração da ponte vão sendo reduzidas, indicando que a estrutura se torna mais flexível e,
portanto, mais suscetível à ação dinâmica do vento.

Na fase que antecede o fechamento do vão principal da Ponte do Saber, correspondente ao passo
de carga 168 no modelo completo, o modo de vibração do pilone deixa de ser o terceiro e passa
a ser o quarto modo, indicando que, nesta etapa, o segundo modo de flexão vertical do tabuleiro
possui maior influência no comportamento dinâmico da ponte. Para o último caso de construção
da estrutura, quando a aduela final atinge o apoio P0, correspondente ao passo de carga 175, o
primeiro modo de vibração da estrutura deixa de ser o modo de flexão lateral e passa a ser o
modo de flexão vertical. As demais configurações dos modos de vibração destas duas etapas
também são diferenciadas.

A figura 7.64 representa as configurações deformadas e as frequências naturais para os cinco


primeiros modos de vibração da estrutura, relativos aos passos de carga 168 e 175, obtidas no
modelo completo da ponte, simulado no ANSYS. Através do parâmetro fi, indicado para cada
caso apresentado, é possível observar que a estrutura em fase construtiva avançada, em que os
15 estais frontais já se encontram ancorados, mas a extremidade do tabuleiro ainda não está
apoiada sobre o pilar P0, possui a menor rigidez observada ao longo de todas as etapas
construtivas e, portanto, as frequências dos primeiros modos de vibração são mais baixas. Desta
forma, é esperado que os efeitos da ação de vento sejam mais acentuados nesta fase construtiva.

A fim de ponderar os valores obtidos na modelagem realizada no ANSYS, para as análises de


vibração da estrutura sob tensões iniciais, são apresentados, na figura 7.65, os resultados das
frequências naturais obtidos por Curi (2015) e por Battista (2012). Nos trabalhos destacados é
apresentado o modelo em elementos finitos da ponte estaiada, realizado no programa comercial
SAP2000 pelo escritório projetista da ponte, VGarambone Projetos e Consultoria, bem como
os resultados dos cinco primeiros modos de vibração para as duas últimas etapas construtivas.
Sendo assim, os resultados apresentados neste diagrama foram gerados para as etapas
correspondentes ao final da aplicação do peso próprio da aduela 14, com estaiamento de T18
(step 168); e para o final da aplicação do peso próprio da aduela final, com atirantamento em
P0 (step 175). De forma complementar, os quadros 7.10 e 7.11 mostram a descrição
comparativa entre as deformações associadas aos cinco primeiros modos de vibração obtidos
nos modelos reduzido e completo simulados no ANSYS, e nas análises realizadas por Curi
(2015) e Battista (2012).

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Figura 7.64 – Cinco primeiros modos de vibração e frequências naturais da estrutura


estaiada, referentes aos passos de carga 168 e 175, obtidas no ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

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Figura 7.65 – Frequências naturais da estrutura estaiada referentes aos dois últimos
casos principais da montagem da Ponte do Saber

(fonte: elaborada pela autora)

Quadro 7.10 – Descrição da deformada dos cinco primeiros modos de vibração da


estrutura estaiada, referentes à etapa que antecede o fechamento do vão principal
ADUELA 14 + T18
CURI (2015) e
MODOS ANSYS MODELO REDUZIDO ANSYS MODELO COMPLETO
BATTISTA (2012)
1 1° modo flexão lateral do tabuleiro
2 1° modo flexão vertical do tabuleiro
3 2° modo flexão vertical do tabuleiro
1° modo flexão lateral
4 1° modo flexão lateral do pilone
do tabuleiro + torção
5 3° modo flexão vertical do tabuleiro 1° modo flexão lateral do tabuleiro + torção
(fonte: elaborado pela autora)

Quadro 7.11 – Descrição da deformada dos cinco primeiros modos de vibração da


estrutura estaiada, referentes à etapa de fechamento do vão principal
ADUELA FINAL
CURI (2015) e
MODOS ANSYS MODELO REDUZIDO ANSYS MODELO COMPLETO
BATTISTA (2012)
1 1° modo flexão vertical do tabuleiro
2 1° modo flexão lateral do tabuleiro
2° modo flexão vertical
3 1° modo flexão lateral do pilone
do tabuleiro
3° modo flexão vertical
4 2° modo flexão vertical do tabuleiro
do tabuleiro
2° modo flexão lateral 3° modo flexão vertical 1° modo flexão lateral
5
do tabuleiro do tabuleiro do tabuleiro + torção
(fonte: elaborado pela autora)

Comparando os resultados apresentados na figura 7.65, referentes à etapa que antecede o


fechamento do vão central (step 168), é possível observar que os valores obtidos através da
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modelagem completa em elementos tridimensionais no ANSYS mantiveram-se próximos aos


valores dos trabalhos de Curi (2015) e Battista (2012). Já os resultados gerados a partir do
modelo reduzido simulado no ANSYS se aproximaram dos dados de referência somente nos
três primeiros modos de vibração da ponte, observando-se uma diferença significativa entre as
frequências naturais relativas ao quarto e quinto modos de vibração. Analisando o quadro 7.10,
pode-se concluir que esta variação ocorre pois a partir do quarto modo de vibração da ponte, as
formas modais obtidas no modelo completo no ANSYS e nos trabalhos de referência, não são
equivalentes às formas modais obtidas no modelo reduzido no ANSYS. Esta mesma
justificativa pode ser utilizada para o caso de análise da ponte finalizada (step 175), em que os
valores gerados na modelagem completa no ANSYS se aproximaram aos valores de referência
para os quatro primeiros modos de vibração da estrutura, e no modelo reduzido este ajuste aos
valores foi verificado apenas para os dois primeiros modos de vibração. Além disso, com base
na figura 7.65 nota-se que o apoio da extremidade do vão estaiado P0, fornece maior rigidez à
estrutura, uma vez que as frequências naturais da ponte finalizada são significativamente
maiores do que nas fases finais da montagem.

De forma geral, percebe-se também que, apesar de possuírem formas modais equivalentes, as
frequências naturais obtidas no modelo completo, analisado no ANSYS, são superiores aos
valores determinados por Curi (2015) e Battista (2012). Vale lembrar que os modelos simulados
pelos referidos autores foram realizados no programa comercial SAP2000, a partir do modelo
estático fornecido pelo escritório projestista da ponte, VGarambone Projetos e Consultoria.
Neste modelo, o tabuleiro da ponte foi lançado como elementos de barra, com seção transversal
constante, ou seja, sem considerar as zonas de enrijecimento das aduelas. Em relação ao pilone,
o mesmo foi representado por elementos de casca, sem considerar as estroncas e as lajes de
enrijecimento nas regiões de ancoragem dos estais. Além disso, como mostra a figura 7.66, no
modelo em elementos finitos fornecido pelo projetista, foi realizada a modelagem completa das
fundações da ponte, com os blocos representados como elementos sólidos e as estacas como
barras, sendo a rigidez do solo considerada através dos apoios elásticos incluídos no modelo.
Sendo assim, em função das diferentes formas de discretização da estrutura é possível justificar
esta pequena divergência observada entre as análises modais, uma vez que a frequência natural
é uma característica própria do sistema e depende apenas de sua massa e rigidez.

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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Figura 7.66 – Modelo em elementos finitos da ponte, utilizado para realizar a análise
estática no SAP2000 (esquerda), e deformada equivalente ao segundo modo de
vibração da ponte completa (direita)

(fonte: adaptado de CURI, 2015 e BATTISTA, 2012)

7.2.3 Análise dinâmica através do MEF

A análise de vibrações da Ponte do Saber, sob tensões iniciais produzidas pelo peso próprio dos
elementos estruturais e pelos estais tensionados, foi realizada para obter suas propriedades
modais como as frequências fundamentais e os modos de vibração para determinadas fases
construtivas. A partir da análise de vibrações, constatou-se que, conforme os balanços
sucessivos da ponte estaiada são executados, ocorrem mudanças em relação aos modos de
vibração da estrutura e também quanto aos valores das frequências naturais de excitação de
cada modo. Sendo assim, seguindo o mesmo procedimento de cálculo apresentado no subitem
7.1.4 deste capítulo, as forças do vento atuantes sobre o tabuleiro da ponte foram determinadas
como funções variáveis num período de 600 segundos, o que possibilitou a realização da análise
dinâmica no domínio do tempo. Tomou-se o cuidado de incluir, para cada etapa construtiva, as
frequências correspondentes ao período fundamental da estrutura na geração dos históricos de
velocidades flutuantes do vento. Essa simulação foi realizada para duas situações críticas da
montagem da ponte, correspondentes à etapa que antecede o fechamento do vão principal (step
168) e à etapa correspondente à modelagem da ponte completa (step 175).

No software ANSYS, a inclusão do carregamento variável com o tempo, devido ao vento


turbulento, foi possível ser feita através de uma análise transiente (ANTYPE, TRANS). Para
que a carga de vento fosse aplicada em um passo de carga específico da montagem da ponte,
inicialmente foi necessário realizar uma análise estática base até o passo de carga desejado, a
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qual foi apresentada no subitem 7.2.1 deste trabalho. Esta análise preliminar também foi
efetuada a partir de uma análise transiente, porém com os efeitos de integração de tempo
inicialmente desativados (TIMINT, OFF), a fim de simular o comportamento estático da ponte
nesta fase. A análise transiente base precisou ser realizada para que fosse possível considerar
os resultados dos elementos finitos (deslocamentos, tensões e deformações), obtidos no último
sub-passo, como condição inicial para o caso de carga atual. Em virtude do curto período de
duração do carregamento de vento (10 minutos), o comportamento diferido do concreto foi
desativado a partir desta etapa.

As respostas obtidas através do ANSYS, são também funções no tempo, em termos de


deslocamentos, tensões, velocidades e acelerações. Para o passo de carga 168, correspondente
à ponte em fase construtiva avançada, são apresentados, na figura 7.67, os históricos de
deslocamentos verticais (eixo Z) e laterais (eixo X), bem como a trajetória do movimento no
plano XZ da ponta do tabuleiro estaiado em balanço (aduela 14), sob ação do vento turbulento.
A figura 7.67 também mostra os deslocamentos laterais (eixo X) e longitudinais (eixo Y),
correspondentes à extremidade do pilone (seção 28). Com base nesta figura é possível observar
que a amplitude de deslocamentos laterais do tabuleiro é preponderante em relação aos
deslocamentos verticais, o que está de acordo com o modo de vibração obtido para a frequência
fundamental da ponte para este passo de carga (figura 7.64).

O quadro 7.12 reúne os valores máximos retirados destes históricos referentes aos dois modelos
numéricos simulados no ANSYS: o modelo completo, correspondente à presente análise; e o
modelo reduzido considerando o comportamento viscoelástico com fissuração para o concreto.
A partir deste quadro pode-se observar que, em fase construtiva avançada, o pilone apresenta
deslocamentos laterais e longitudinais de pequena amplitude, mas que ainda assim, a rigidez
deste elemento possui influência no comportamento dinâmico da ponte estaiada analisada, uma
vez que os deslocamentos verificados no tabuleiro são significativamente superiores no modelo
completo em relação aos deslocamentos obtidos no modelo reduzido.

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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Figura 7.67 – Histórico de deslocamentos do tabuleiro e do pilone da ponte, sob


ação do vento turbulento, obtidos para o passo de carga 168 pela análise dinâmica no
ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

Quadro 7.12 – Deslocamentos máximos para o tabuleiro estaiado em balanço


(step 168)
TABULEIRO ESTAIADO EM BALANÇO
UZ (cm) tabuleiro UX (cm) tabuleiro UY (cm) pilone UX (cm) pilone
ANSYS MODELO COMPLETO ± 7,9 ± 23,8 ± 1,2 ± 0,2
ANSYS MODELO REDUZIDO ± 2,5 ± 16,0 - -
(fonte: elaborado pela autora)

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Ainda em relação ao passo de carga 168, a figura 7.68 apresenta a variação das tensões
desenvolvidas nos nós superior e inferior do tabuleiro, localizados na extremidade das aduelas
tipo A da Ponte do Saber, quando submetidas à ação do vento turbulento. Através dos históricos
de tensões apresentados, nota-se que, em todas as aduelas indicadas, a variação de tensões no
nó inferior do tabuleiro é maior do que no nó superior. Isto ocorre, em função da geometria da
seção transversal das aduelas, que na região inferior apresenta menor área de concreto em
comparação com a região superior, a qual possui a contribuição da viga de rigidez central.

Figura 7.68 – Variação das tensões σy desenvolvidas nos nós superior e inferior da
extremidade das aduelas tipo A da ponte, sob ação do vento turbulento (step 168)

(fonte: elaborada pela autora)

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
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Ainda assim, pode-se concluir que, ao longo do período em que o carregamento de vento foi
imposto sobre a estrutura, o nível de tensões nos elementos de concreto do tabuleiro manteve-
se baixo, tanto em tração quanto em compressão, não sendo observados pontos de integração
fissurados. A figuras 7.69 apresenta a evolução das tensões nos nós de retaguarda e frontal para
as mesmas seções do pilone indicadas na figura 7.59. Com base nestes valores é possível
concluir que a variação de tensões nestes elementos também é baixa sob a ação do vento
turbulento, ficando próximas às tensões obtidas no final do passo de carga 168 da análise
estática (aos 454 dias).

Figura 7.69 – Variação das tensões σz desenvolvidas nos nós frontal e de retaguarda
das seções indicadas para o pilone da ponte, sob ação do vento turbulento (step 168)

(fonte: elaborada pela autora)

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Para a última etapa construtiva da Ponte do Saber (step 175), em que a aduela final atinge o
apoio P0, são apresentados, na figura 7.70, os históricos de deslocamentos verticais (eixo Z) e
laterais (eixo X) do ponto de ancoragem do estai T12 no tabuleiro da ponte (aduela 08), sob
ação do vento turbulento. Este ponto foi escolhido para compor os resultados desta análise, em
função das maiores amplitudes de deslocamentos observadas nesta região. A figura 7.70
também mostra os deslocamentos em relação aos eixos X e Y, correspondentes à extremidade
do pilone (seção 28).

Figura 7.70 – Histórico de deslocamentos do tabuleiro e do pilone da ponte, sob


ação do vento turbulento, obtidos para o passo de carga 175 pela análise dinâmica no
ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

Com base nestes diagramas é difícil afirmar qual é a direção preponderante de deslocamentos
do tabuleiro, uma vez que os dois primeiros modos de vibração da estrutura, para esta etapa
construtiva, possuem frequências naturais praticamente equivalentes, como mostra a figura
7.64. Para auxiliar nesta análise a figura 7.71 indica o histórico das velocidades e das
acelerações registradas no ANSYS, nas diferentes direções no ponto de ancoragem do estai T12
e na seção 28 do pilone. Como os valores dos deslocamentos são obtidos por meio de dupla
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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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integração dos sinais de aceleração, pode-se confirmar que o modo de flexão vertical do
tabuleiro possui maior influência no comportamento dinâmico da ponte do que o modo de
flexão lateral. Ou seja, é perceptível que o funcionamento da ponte sob ação do vento turbulento
foi alterado em relação à fase construtiva anterior.

Figura 7.71 – Histórico de velocidades e de acelerações do tabuleiro e do pilone da


Ponte do Saber, em diferentes direções, registradas para o passo de carga 175 no
ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

O quadro 7.13 reúne as máximas amplitudes de deslocamentos observadas para o caso do


tabuleiro apoiado, referentes às análises realizadas no ANSYS para o modelo completo,
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correspondente à presente análise; e para o modelo reduzido considerando o comportamento


viscoelástico com fissuração para o concreto. A partir destes resultados, pode-se notar que, o
apoio da extremidade do tabuleiro estaiado reduziu de forma significativa os deslocamentos do
pilone; sendo a rigidez deste elemento menos relevante no comportamento dinâmico da ponte
no passo de carga 175, em comparação com o passo de carga 168. Além disso, é possível
observar que a amplitude de deslocamentos na fase final da construção foi menor do que para
o caso do tabuleiro em balanço, confirmando a influência da rigidez do sistema nas frequências
naturais de vibração e na suscetibilidade de uma estrutura a ações dinâmicas.

Quadro 7.13 – Deslocamentos máximos para o tabuleiro estaiado apoiado (step 175)
TABULEIRO ESTAIADO APOIADO
UZ (cm) tabuleiro UX (cm) tabuleiro UY (cm) pilone UX (cm) pilone
ANSYS MODELO COMPLETO ± 2,6 ± 2,1 ± 0,4 ± 0,0
ANSYS MODELO REDUZIDO ± 2,1 ± 1,8 - -
(fonte: elaborado pela autora)

Ainda em relação ao passo de carga 175, as figuras 7.72 e 7.73 apresentam a variação das
tensões desenvolvidas nos nós superior e inferior do tabuleiro, localizados na extremidade das
aduelas tipo A da Ponte do Saber; e a evolução das tensões nos nós de retaguarda e frontal para
algumas seções transversais do pilone, quando submetidas à ação do vento turbulento.
Analisando os valores apresentados, pode-se concluir que os níveis de tensões nestes elementos
de concreto, mantiveram-se inferiores aos valores observados para o passo de carga 168,
confirmando que os efeitos da ação de vento são mais acentuados na fase construtiva em que o
tabuleiro encontra-se em balanço.

Além disso, é possível notar as diferenças de comportamento do tabuleiro e do pilone nas duas
fases analisadas. No passo de carga 168, as tensões desenvolvidas nas aduelas indicavam a
predominância de momentos positivos sob ação do vento turbulento, em todas as seções
apresentadas (figura 7.68). Já para a última fase construtiva (step 175), o apoio do tabuleiro
estaiado em P0 provocou a inversão dos momentos fletores a partir da aduela de número 13 até
a aduela final (figura 7.72). Em relação às tensões desenvolvidas ao longo do pilone, também
há diferença de comportamento quando a ponte é submetida à ação de um vento turbulento com
o tabuleiro em balanço ou apoiado. Como mostra a figura 7.69, para o passo de carga 168, as
seções correspondentes ao trecho localizado acima do ponto de inflexão do pilone (seções 15-
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17, 21 e 25) estão com os nós de retaguarda menos comprimidos ou até mesmo tracionados, em
relação aos nós frontais. Já para o passo de carga 175, em função da operação de estaiamento
de T01 realizada antes do atirantamento do tabuleiro em P0, ocorre a inversão de
comportamento nestas regiões (figura 7.73).

Figura 7.72 – Variação das tensões σy desenvolvidas nos nós superior e inferior da
extremidade das aduelas tipo A da ponte, sob ação do vento turbulento (step 175)

(fonte: elaborada pela autora)

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Figura 7.73 – Variação das tensões σz desenvolvidas nos nós frontal e de retaguarda
das seções indicadas para o pilone da ponte, sob ação do vento turbulento (step 175)

(fonte: elaborada pela autora)

A fim de ponderar os valores obtidos nas modelagens realizadas no ANSYS, foi feita uma
análise comparativa entre os resultados obtidos no modelo completo e no modelo reduzido, em
que inicialmente os materiais foram considerados com comportamento elástico linear e depois
foram incluídas as não linearidades físicas. Estes valores foram relacionados com os resultados
apresentados no trabalho de Curi (2015), que realizou a análise das vibrações do tabuleiro da
Ponte do Saber submetida à ação dinâmica do vento turbulento, sendo os deslocamentos
determinados através do software SAP2000, por superposição modal. Desta forma, as figuras

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Elementos Finitos
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7.74 e 7.75 apresentam os máximos deslocamentos verticais e laterais observados no tabuleiro


da Ponte do Saber, correspondentes, respectivamente, às etapas que antecedem o fechamento
do vão principal, e para o caso em que o tabuleiro já se encontra apoiado.

Figura 7.74 – Deslocamentos máximos na extremidade do tabuleiro em balanço da


Ponte do Saber, em fase construtiva avançada, sob ação do vento turbulento

(fonte: elaborada pela autora)

Figura 7.75 – Deslocamentos máximos obtidos no tabuleiro da Ponte do Saber após


conclusão do vão principal, sob ação do vento turbulento

(fonte: elaborada pela autora)

De forma geral, pode-se dizer que tanto nos modelos completo e reduzido simulados no
ANSYS, quanto no modelo analisado por Curi (2015), os dois primeiros modos representam
quase que integralmente os deslocamentos totais observados no tabuleiro da ponte sob ação do
vento turbulento, se manifestando principalmente nas direções vertical e lateral. Isto ocorre em

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função da elevada rigidez à torção proporcionada pela seção celular do tabuleiro, o que acaba
limitando as rotações no modelo.

Em relação a etapa em que o tabuleiro da ponte encontra-se em balanço, é possível notar que
os deslocamentos verticais e laterais gerados no modelo completo no ANSYS se aproximaram
dos valores obtidos por Curi (2015). Na etapa seguinte, em que o vão principal já está apoiado,
observa-se, no entanto, maior divergência entre eles. Este fato pode ser justificado pois na
análise realizada por Curi (2015), referente à ponte estaiada em fase construtiva avançada, os
carregamentos considerados, foram semelhantes aos implementados no modelo do ANSYS,
sendo eles o peso próprio dos elementos e as forças de protensão instaladas nos estais, além das
cargas devidas ao vento turbulento. Por outro lado, na análise dinâmica apresentada pelo mesmo
autor, para a geometria completa da Ponte do Saber, além dos carregamentos mencionados na
análise anterior, foram consideradas também as cargas correspondentes à situação da ponte em
serviço, sendo incluídos o peso próprio referente ao pavimento asfáltico e às barreiras de
proteção, bem como as cargas móveis. Ou seja, as análises realizadas para esta etapa final de
construção da ponte não podem ser relacionadas de forma direta, uma vez que em todas as
análises realizadas no presente estudo foram mantidos no modelo no ANSYS somente os
valores das cargas permanentes.

Além disso, a partir da comparação entre os resultados apresentados, pode-se observar também
que a construção do modelo numérico computacional completo da estrutura no ANSYS,
considerando a análise estática prévia incluindo as não linearidades físicas foi fundamental,
tanto na determinação da resposta da estrutura ao carregamento do vento, quanto na
determinação das suas propriedades modais. Este fato ficou claro principalmente ao longo das
etapas construtivas, em que a estrutura apresenta-se mais flexível do que na situação final.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo realizar a análise estática, modal e dinâmica das fases
construtivas de uma ponte estaiada em concreto armado, através do método dos elementos
finitos, utilizando os elementos de ativação e desativação (Birth and Death elements) do
software ANSYS. Ao longo das análises feitas neste estudo, pretendeu-se verificar se a
consideração da não linearidade dos materiais, através da introdução de um modelo
viscoelástico com fissuração para o concreto, altera de forma significativa as solicitações que
ocorrem na estrutura. Para a realização das análises de uma ponte estaiada real, tomou-se como
exemplo a Ponte do Saber, localizada na cidade do Rio de Janeiro. Nas simulações feitas no
ANSYS, foram utilizados dois modelos geométricos distintos: o modelo reduzido, em que foi
realizada a modelagem apenas do tabuleiro e dos estais frontais, como forma de reduzir a
quantidade de elementos finitos e, consequentemente, o esforço computacional; e o modelo
completo, em que foi incluída a representação do pilone e dos estais de retaguarda.

Na análise estática realizada para os dois modelos de materiais (elástico e viscoelástico)


simulados no modelo reduzido da Ponte do Saber, o efeito do comportamento viscoelástico com
fissuração do concreto ficou evidente através das diferenças observadas nas forças de protensão
iniciais a serem aplicadas nos estais frontais da ponte, a fim de anular os deslocamentos do
tabuleiro ao longo das etapas construtivas. Além disso, ficou demonstrado que as diferenças de
tensões aplicadas nos estais podem provocar alterações nos esforços no tabuleiro.

A partir das formas modais determinadas para cada etapa construtiva da ponte no modelo
reduzido no ANSYS, foi possível também observar as diferenças em relação à caracterização
dinâmica da estrutura entre os modelos de materiais considerados. De forma geral, as diferenças
de forças de protensão aplicadas nos estais resultaram em esforços de compressão mais
elevados no tabuleiro da ponte cujo material foi considerado com comportamento não linear,
diminuindo assim a rigidez da estrutura. Desta forma, as frequências de excitação da ponte sob
tensões iniciais (estais tensionados) acabam sendo mais baixas do que no modelo que considera
o regime elástico para os materiais. De posse do modelo modal, foi possível realizar a análise
dinâmica da estrutura no modelo reduzido no ANSYS. As diferenças de resultados observadas
entre os dois modelos de materiais, comprovam que a consideração da reologia do concreto,

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além de alterar o plano de estaiamento e, consequentemente, a distribuição dos esforços no


tabuleiro, pode modificar também a rigidez da estrutura frente às ações dinâmicas, sendo
importante a sua consideração na etapa de projeto. Em face das análises realizadas no ANSYS
com o modelo reduzido da Ponte do Saber, fica evidente a importância dos efeitos dinâmicos
do vento no projeto estrutural, uma vez que o tabuleiro respondeu dinamicamente à ação de
vento turbulento, apresentando oscilações superiores aos deslocamentos estáticos obtidos a
partir da metodologia proposta pela norma brasileira. Este fato torna-se especialmente
importante uma vez que do ponto de vista dinâmico, a ponte não concluída responde de modo
distinto da ponte acabada, verificando-se que alguns estágios da montagem apresentam
situações com maior risco de falha estrutural.

Na análise estática feita para o modelo completo da Ponte do Saber simulado no ANSYS se
buscou respeitar as tensões definidas em projeto para os estais frontais e de retaguarda e avaliar
a resposta da estrutura em comparação com os dados de deslocamentos verticais registrados em
campo. As diferenças obtidas em relação ao greide resultante do modelo em elementos finitos
no ANSYS e as informações fornecidas através do monitoramento realizado durante a execução
da ponte podem ser justificadas, uma vez que a geometria lançada no modelo numérico seguiu
a proposta de seção transversal do tabuleiro definida no projeto inicial, o qual considerava que
a concretagem da viga de enrijecimento central seria executada de forma conjunta com o
restante da aduela. Porém, na prática, a execução da viga central de enrijecimento foi
interrompida após a concretagem da aduela 04. Com base no modelo em elementos finitos
simulado no ANSYS, foi interessante observar que as cotas finais do tabuleiro ficaram próximas
ao greide geométrico previsto em projeto, indicando que na obra, a execução da viga central
poderia ter ocorrido de forma conjunta com o restante das aduelas. No entanto, através da
simulação do efeito da fissuração no concreto, foi possível notar que a continuidade da
construção da viga central com o avanço do tabuleiro poderia resultar em possíveis ajustes no
plano de estaiamento previsto inicialmente em projeto, uma vez que a identificação de algumas
regiões fissuradas no pilone exigiriam a antecipação da operação de estaiamento.

Os resultados dos históricos de tensões observados nos estais do modelo completo da ponte
indicaram uma boa aproximação tanto com os valores medidos durante a execução da ponte,
quanto com aqueles definidos no projeto estrutural. Diante disso e em virtude do comprimento
dos estais ter sido limitado a menos de 200 metros na Ponte do Saber, a partir dos resultados
obtidos pode-se concluir que o efeito de catenária dos cabos não influenciou de modo
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significativo o comportamento mecânico dos estais. Além disso, em função do nível de tensões
observadas nos cabos ao longo das etapas construtivas da ponte, o efeito da relaxação nos estais
é desprezível, estando de acordo com o modelo elastoplástico adotado para este material.

Os resultados dos históricos de tensões nos elementos de concreto da aduela e do pilone do


modelo completo da Ponte do Saber, apresentados ao longo das análises estática e dinâmica,
mostram que as tensões de compressão estão dentro da validade do formulário do CEB-MC90.
Além disso, em função das baixas tensões de compressão observadas, pode-se concluir que o
modelo viscoelástico definido para este material está de acordo com o comportamento
observado. Em relação às tensões geradas nas armaduras passivas, observou-se que os valores
mostraram-se bem inferiores à tensão limite de escoamento do aço. Este fato ocorreu pois, ao
final das análises numéricas, foi identificada uma baixa incidência de elementos de concreto
fissurados. Desta forma, apesar do modelo de fissuração não ter influenciado de modo
significativo no resultado das análises, entende-se que a sua utilização seja importante para a
definição dos instantes adequados para aplicação da força de protensão nos estais de retaguarda.

Ao final das análises realizadas neste estudo, pode-se notar que, como as pontes estaiadas são
caracterizadas por serem estruturas esbeltas e flexíveis, e, portanto, o efeito viscoso dos
materiais e a possibilidade de fissuração dos elementos de concreto ao longo da sequência
construtiva são fatores relevantes, torna-se de suma importância a realização de uma avaliação
adequada do comportamento não linear dos materiais, especialmente durante as etapas
construtivas. Também ficou demonstrado que, com os recursos computacionais atuais é
possível modelar cada etapa construtiva de uma ponte estaiada buscando compreender a
evolução do comportamento desta estrutura, e reduzir, ao máximo, as operações de protensão
dos estais durante a execução.

Foi constatado que a NBR 6123 possui limitações na determinação da resposta dinâmica de
estruturas sob ação de turbulência, pois não aborda o comportamento de tabuleiros de pontes.
De forma geral, pode-se dizer que tanto nos modelos completo e reduzido simulados no
ANSYS, quanto no modelo analisado por Curi (2015), os dois primeiros modos representam
quase que integralmente os deslocamentos totais observados no tabuleiro da ponte sob ação do
vento turbulento, se manifestando principalmente nas direções vertical e lateral. Além disso, a
partir da comparação entre os resultados apresentados, pode-se observar também que a
construção do modelo numérico computacional completo da estrutura no ANSYS,

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considerando a análise estática prévia incluindo as não linearidades físicas foi fundamental,
tanto na determinação da resposta da estrutura ao carregamento do vento, quanto na
determinação das suas propriedades modais, uma vez que os resultados obtidos a partir desta
análise se aproximaram de forma satisfatória aos valores dos trabalhos de referência de Curi
(2015) e Battista (2012).

Com os bons resultados obtidos através deste modelo pode-se concluir também que a
ferramenta de customização UPF, disponibilizada pelo ANSYS, permite a inclusão dos
modelos dos materiais através da rotina USERMAT de forma eficiente, podendo ser aplicada
nos projetos envolvendo obras de arte especiais. Como este é um primeiro trabalho dentro do
PPGEC/UFRGS, envolvendo a análise dinâmica de pontes estaiadas juntamente com o
programa customizado ANSYS, objetivou-se mostrar a viabilidade de se realizar uma análise
deste tipo com os recursos disponíveis. Assim, ficam como sugestões de continuação deste
trabalho:

a) Simulação das etapas construtivas da Ponte do Saber considerando a


metodologia utilizada na execução da estrutura real, a qual considerou que a
conclusão da viga central de enrijecimento foi realizada após a finalização da
concretagem das aduelas do tabuleiro;
b) Lançamento de um modelo em elementos finitos simplificado no ANSYS,
considerando o uso de elementos finitos de viga e de casa para comparação dos
resultados;
c) Estudo de soluções para a correção de imprecisões da obra e de resultados fora
do esperado ao longo do processo construtivo, preservando as diretrizes iniciais
de projeto;
d) Estudo da influência da consideração da armadura passiva em elementos de
concreto na determinação das deformações causadas pelo efeito da fluência e
da retração do concreto;
e) Análise dinâmica das fases construtivas de pontes estaiadas, considerando a
ação do vento sobre os demais elementos da estrutura;
f) Estudo dinâmico deste tipo de estrutura na sua fase final, considerando a
aplicação de cargas móveis no tabuleiro;
g) Comparação teórico-experimental do comportamento dinâmico de uma ponte
estaiada sob ação de vento turbulento;
h) Realização de estudo sobre as etapas construtivas de outras concepções de
pontes executadas por balanços sucessivos, bem como a utilização de aduelas
pré-moldadas em conjunto com a protensão longitudinal, cuja inclusão de
elementos de contato e do modelo de relaxação da armadura ativa seria
necessário.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A – Roteiro para introduzir carregamento variável no ANSYS

A introdução de um carregamento variável em função do tempo, pode ser feita no ANSYS


APDL a partir de uma Análise Transiente (Transient Analysis), através de duas maneiras. A
primeira delas consiste em introduzir uma função, dependente do tempo, com o valor de
carregamento aplicado ao nó do elemento finito correspondente (F = F(t)), ou seja, para cada
incremento de tempo o programa irá calcular o carregamento correspondente ao referido nó; e
a segunda forma seria através da utilização de tabelas com os valores das cargas de vento já
determinadas para cada instante de tempo t.

Para introduzir uma função no software ANSYS, é necessário selecionar no menu principal do
programa o item PARAMETERS > FUNCTIONS > DEFINE/EDIT, conforme apresenta a figura
A.1. Na janela Function Editor, deve-se selecionar o item Multivalued function based on regime
variable, indicando que a variável da função será o tempo, através da inclusão do mesmo
(TIME) no Regime Var. A seguir, deve-se definir o valor da função e salvá-la como padrão,
sendo que a extensão do arquivo deve ser .func. Esta função ficará salva dentro da pasta de
trabalho (Working Directory) que estiver sendo utilizada pelo programa no referido momento,
a qual será posteriormente carregada no ANSYS para que seja aplicada aos nós dos elementos.
No exemplo apresentado na figura A.1, a função foi salva com o nome ADUINICIALFX, cujo
arquivo com extensão .func aparece gerado dentro da pasta de trabalho.

Com a função carregamento gerada, o próximo passo é fazer com que o programa ANSYS leia
o arquivo com estas informações para a entrada de dados. Para tanto, deve-se selecionar
PARAMETERS > FUNCTIONS > READ FROM FILE. O ANSYS trabalha com essa função
como sendo uma tabela de parâmetros (table parameter). Neste caso, para aplicar um
carregamento na estrutura, ao invés de aplicar um valor constante, a função criada deverá ser
aplicada como carregamento, sendo selecionado o item Existing table no menu drop-down desta
janela. Na janela que surge, aparecem as tabelas disponíveis para serem aplicadas em forma de
carregamento na estrutura, bastando selecionar o nome da função desejada. Este passo a passo
de leitura e aplicação do carregamento em um determinado nó pode ser visto no script de
entrada de dados detalhado da figura A.2.

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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Figura A.1 – Definição dos valores da função dependente do tempo no ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

Figura A.2 – Arquivo .txt com o script de entrada de dados para leitura e aplicação
do carregamento em função do tempo em um determinado nó

(fonte: elaborada pela autora)

Esta forma de introdução de carregamento, por meio de uma função dependente do tempo (F =
F(t)), é interessante quando se trabalha com um carregamento determinístico, onde é possível
considerar uma função bem comportada para um determinado evento. Na prática, entretanto, o
vento tem propriedades instáveis e características aleatórias, que impedem a consideração
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determinista do seu carregamento. Desta forma, neste estudo, optou-se por incluir a carga de
vento no software ANSYS diretamente por meio das tabelas com os valores das cargas de vento
já determinadas para cada instante de tempo t, em formato de arquivos de texto (.txt). Isto foi
possível de forma análoga ao descrito pela figura A.2, porém o comando de leitura do arquivo
com as tabelas de carregamentos foi alterado, conforme apresenta a figura A.3.

Figura A.3 – Arquivo .txt com o script de entrada de dados para leitura do
carregamento incluído por meio das tabelas com os valores das cargas de vento já
determinadas para cada instante de tempo t

(fonte: elaborada pela autora)

A continuação e definição da análise dinâmica depende ainda da configuração dos demais


parâmetros. A figura A.4 apresenta o script de entrada de dados utilizado no ANSYS para a
realização da análise transiente, levando em consideração a solução pelo método completo de
Newmark. Esta etapa foi realizada a partir da análise estática, onde, através do comando restart
(ANTYPE,TRANS,REST), foi possível considerar os resultados obtidos nas análises
preliminares (deslocamentos, tensões e deformações) para a avaliação dos efeitos do
carregamento devido ao vento sobre o tabuleiro da ponte analisada.

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Análise Estática, Modal e Dinâmica das Etapas Construtivas de uma Ponte Estaiada através do Método dos
Elementos Finitos
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Figura A.4 – Configurações da análise transiente no ANSYS

(fonte: elaborada pela autora)

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