FELIPE E THIAGO Correção TCC

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DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

O princípio da insignificância, também conhecido como princípio da bagatela,


tem controvérsia doutrinária quanto a sua origem. Alguns doutrinadores defendem que
seu surgimento se deu no direito romano, outros afirma que foi no direito alemão.
Segundo o Capez ( 2011. p. 29.):

[...]originário do Direito Romano, e de cunho civilista, tal princípio


funda-se no conhecimento brocardo de minimis non curat praetor. Em 1964
acabou sendo introduzido no sistema penal por Claus Roxin, tendo em vista
sua utilidade na realização dos objetos sociais traçados pela moderna política
criminal.

Em contraponto Luiz Regis Prado (2011, p.182) discorda e afirma que tal
pricípio surgiu com o alemão Claus Roxin:

De acordo com o princípio da insignificância, formulado por Claus


Roxin e relacionado com o axioma mínima non cura praeter, enquanto a
manifestação contraria ao uso excessivo da sanção criminal, devem ser tidas
como atípicas as ações ou omissões que afetem infimamente a um bem
jurídico-penal.

Entretanto, é pacificado que a aplicação de tal princípio vem desde o direito


romano, porem teve amplo desenvolvimento na Alemanha, quando Claus Roxin o
incorporou no sistema penal alemão tornando um dos pioneiros na discussão sobre o
princípio da bagatela. (KUDO 2019.)

Após as duas grandes guerras houve um aumento considerável de furtos de


objetos com valores irrisório, devido a crescente miséria, desemprego e falta de itens
básicos para a população. Esses ilícitos ficaram conhecidos como criminalidade de
bagatela. (FLORENZANO 2018.)

No brasil esse princípio tem extrema relevância, embora não esteja positivado no
ordenamento jurídico, ele vem sendo diversas vezes objeto de discussão no supremo
tribunal federal, e amplamente aplicado por eles.

Segundo Florenzano 2018 a primeira aparição desse princípio foi Habeas Corpus
nº 66.869-1/PR, em 06.12.1988, em um caso que discutia a lesão corporal em acidente
de trânsito, em que decidiu que a lesão corporal era irrelevante por isso não foi
configurado o crime.
CONCEITO ANALÍTICO DO CRIME
No brasil não se tem um conceito de crime específico. Entretanto, tem-se uma
conceituação genérica que dispõe “Considera-se crime a infração penal que a lei comina
pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa” (BRASIL, 2011).
Devida a essa lacuna surge a conceituação de diversos doutrinadores que procura
sanar tal brecha. Sendo que o conceito de crime não é único. Existe doutrinadores que
adota o conceito analítico em um aspecto bipartite que acredita que o crime deve ter
dois aspectos se amoldar no que dispõe a lei e a reprovação de tal conduta dentro do
ordenamento jurídico, ou seja, nessa teoria o crime é o fato típico e ilícito.
(FERREIRA,2018).
Entretanto, o entendimento majoritário entre os doutrinadores brasileiros é o da
teoria tripartida em que conceitua crime através de três elementos: fato típico, ílicito e
culpável.
O fato típico deve ser analisado se a conduta do agente possui elementos de
dolo, culpa, comissão, omissão, tipicidade, resultado e nexo de causalidade. Já conduta
diz respeito a vontade do agente podendo ser dolosa ou culposa. Por fim, a ilicitude
onde vai analisar se a conduta do agente não foi pautada em nenhuma excludente de
ilicitude tal como estado de necessidade, legitima defesa, estrito cumprimento do dever
legal.

TIPICIDADE
Para discutir o princípio da insignificância é de suma importância discorrer sobre a
tipicidade do crime, visto que, tal princípio discute a materialidade e a não ofensa ao bem
jurídico tutelado.
A tipicidade penal, que caracteriza o fato típico, divide-se em tipicidade formal e
conglobante. A tipicidade formal é a adequação da conduta realizada pelo agente ao tipo
previsto na norma penal como crime. Na tipicidade conglobante, analisa-se dois requisitos:
antinormatividade e a tipicidade material. O princípio da insignificância deve enquadrar no
segundo requisito. (Prado, 2015).

Não se pode usar de analogia quando se fala de tipicidade a conduta deve se


adequar entre as que estão prevista em lei, para configurar o fato como típico.
Entretanto não basta a simples ocorrência de um fato típico para ser considerado crime
devendo analisar o aspecto material, onde se observa o valor da conduta em contraponto
com o resultado causado. Portanto para que um fato seja típico no aspecto material tem
que ter causado um dano ao bem jurídico tutelado. (KUDO 2019).
A tipicidade formal é adequação do fato a norma se a conduta não se adequar a
algum tipo penal ela será atípica. Entretanto, para uma conduta ser considerada típica é
também é necessário a tipicidade material que será quando a conduta cause o ameaça
causar lesão ao bem jurídico tutelado. (ALANO 2017).
[...]. Assim, a conduta, para ser crime, precisa ser típica, precisa ajustar-se
formalmente a um tipo legal de delito (nullumcrimensine lege). Não obstante,
não se pode falar ainda em tipicidade, sem que a conduta seja, a um só
tempo, materialmente lesiva a bens jurídicos, ou ética e socialmente
reprovável. (TOLEDO 1994, p. 131)

Portanto, ao analisarmos o conceito de crime percebemos que não basta uma


pessoa cometer um fato típico, precisa esse lesar o bem jurídico. Logo, surge a
justificativa para a aplicação do princípio da bagatela, pois houve um fato considerado
típico no ordenamento jurídico, porém esse não causou danos, visto que, foi irrisório.

CONCEITO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

O princípio da insignificância será aplicado quando a conduta praticada pelo


agente não é relevante para o direito penal, ou seja, a materialidade de tal conduta não
ofende de modo significante o bem jurídico tutelado pela norma penal. A conduta,
formalmente, amolda-se a um tipo penal. Porém, não apresenta relevância concreta,
material. Em abstrato ocorre a subsunção do fato da vida com o modelo abstrato
previsto em lei. Porém, materialmente se observa que a conduta não possui relevância
concreta. (TONON,2022)

O princípio da insignificância não está elencado de modo expresso nas normas


distribuídas no ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, ao estudar as fontes das
normas que regem o direito pela doutrina, percebe-se que há no ordenamento pátrio,
fontes formais e fontes materiais. A primeira fonte, diz respeito à lei e os costumes e a
segunda elenca as fontes pela doutrina e a jurisprudência. (ALANO 2017).

CRITÉRIOS DE APLICAÃO DO PRINCÍPODA INSIGNIFICÂNCIA

O princípio da insignificância pode não estar de forma explicita prevista no


ordenamento brasileiro. Entretanto, há diversas decisões dos tribunais superiores a favor
de tal princípio:

Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal no Habeas Corpus nº 84.412 de São


Paulo, pontua sobre os requisitos para aplicação do princípio da insignificância:
[...] O princípio da insignificância - que considera necessária, na aferição do
relevo material da tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais como
(a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma
periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do
comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada - apoiou-
se, em seu processo de formulação teórica, no reconhecimento de que o
caráter subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em função dos próprios
objetivos por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público em matéria
penal [...] (BRASIL, 2004).

Ademais, a doutina também vem reconhecendo tal princípio. Nesse trilhar


Masson (2017, p. 29-30) declara:
São quatro os requisitos objetivos exigidos pelo princípio da insignificância:
(a) mínima ofensividade da conduta; (b) ausência de periculosidade social da
ação; (c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e (d)
inexpressividade da lesão jurídica. Estes vetores encontram-se consolidados
na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: [...]. Tais requisitos são
muito próximos entre si. O Supremo Tribunal Federal não faz distinção entre
eles. E, na verdade, é impossível diferenciálos. A explicação para esse
fenômeno é simples. Mais do que um princípio, a insignificância penal é um
fato de política criminal. Portanto, é necessário conferir ampla flexibilidade
ao operador do Direito para aplica-lo, ou então para negá-lo, sempre levando
em conta as peculiaridades do caso concreto. É imprescindível analisar o
contexto em que a conduta foi praticada para, ao final, concluir se é oportuna
(ou não) a incidência do tipo penal. Este é o motivo pelo qual a
jurisprudência muitas vezes apresenta resultados diversos para casos
aparentemente semelhantes.

Além disso, o princípio da insignificância no direito brasileiro é pacificado tanto


na doutrina quanto na jurisprudência das cortes superiores.
O “princípio da insignificância – que deve ser analisado em conexão com os
postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria
penal – tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal,
examinada na perspectiva de seu caráter material. [...] Tal postulado – que
considera necessária, na aferição do relevo material da tipicidade penal, a
presença de certos vetores, tais como (a) a mínima ofensividade da conduta do
agente, (b) nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica
provocada – apoiou-se, em seu processo de formulação teórica, no
reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema penal reclama e impõe,
em função dos próprios objetivos por ele visados, a intervenção mínima do
Poder Público”. (HC n. 84.412-0/SP, STF, Rel. Min. Celso de Mello, DJU
19/11/2004.) No tocante à inexpressividade da lesão jurídica provocada, esta
Corte Superior firmou o entendimento segundo o qual, para fins de incidência
do princípio da bagatela, o valor que se atribui, mediante avaliação, à coisa
furtada não pode ser superior a 10% do valor correspondente ao salário mínimo
vigente à época do fato apresentado como delituoso (STJ, HC 421.330/AC,
Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., DJe 30/05/2018).

Outrossim, a aplicação do princípio da bagatela não estende a crimes com


emprego de violência o grave ameaça. Nesse aspecto o entendimento os tribunais
superiores dispõe:
“Nos termos da jurisprudência pacífica desta Corte, o princípio da
insignificância não se aplica aos delitos cometidos mediante violência ou grave
ameaça à pessoa, como é o caso do crime de roubo. Precedentes” (STJ, AgRg
no AREsp 1.450.515 / PI, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª T., DJe 24/10/2019).
“Quanto ao pleito de reconhecimento da atipicidade material da conduta
imputada ao réu em razão do pequeno valor da res furtivae, a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça afasta a aplicabilidade do princípio da
insignificância em crimes cometidos mediante o uso de violência ou grave
ameaça, como o roubo. Precedentes” (STJ, HC 395.469/SP, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, 5ª T., DJe 28/06/2017).

Outro ponto de grande relevância é quanto a possibilidade de aplicação do


princípio da insignificância nos casos da lei de droga. Nesse sentido o julgado a seguir
dispõe:
“O princípio da insignificância é incompatível com a prática do tráfico de
drogas, pouco importando a quantidade de entorpecente” (STF, HC 129.489 /
MG, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª T., DJe 03/10/2019). “Decisão que absolveu
sumariamente o réu do delito de posse de drogas para consumo pessoal. Réu
levava consigo 01 cigarro de maconha pesando 0,275g. Quantidade irrisória de
droga (ofensividade mínima da conduta). Réu primário, sem registros em sua
certidão de antecedentes e que prontamente declarou aos policiais que tinha o
entorpecente para consumo pessoal (ausência de periculosidade social do
agente). Preenchimento dos requisitos. Princípio da insignificância. Conduta
atípica. Recurso desprovido, por maioria. Absolvição sumária mantida” (TJRS,
AC nº 70077055978, Rel. Des. Diogenes Vicente Hassan Ribeiro, j.
25/04/2018). “Não merece prosperar a tese sustentada pela defesa no sentido de
que a pequena quantidade de entorpecente apreendida com o agravante
ensejaria a atipicidade da conduta ao afastar a ofensa à coletividade, primeiro
porque o delito previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006 é crime de perigo
abstrato e, além disso, o reduzido volume da droga é da própria natureza do
crime de porte de entorpecentes para uso próprio. Ainda no âmbito da ínfima
quantidade de substâncias estupefacientes, a jurisprudência desta Corte de
Justiça firmou entendimento no sentido de ser inviável o reconhecimento da
atipicidade material da conduta também pela aplicação do princípio da
insignificância no contexto dos crimes de entorpecentes” (STJ, AgRg no
AREsp 1.093.488/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª T., DJe 18/12/2017). “A
jurisprudência deste Superior Tribunal considera que não se aplica o princípio
da insignificância aos delitos de tráfico de drogas e uso de substância
entorpecente, pois trata-se de crimes de perigo abstrato ou presumido, sendo
irrelevante para esse específico fim a quantidade de droga apreendida” (STJ,
AgRg no REsp 1.442.224/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, 6ª T., DJe
13/06/2016). “Volume de maconha ínfimo, que não permite sequer a confecção
de um ‘fininho’, o fato assume contornos de crime de bagatela” (TJ-RS, AC
686048489, Rel. Nélson Luiz Púperi, RJTJRS 121/122). 6 “O princípio da
insignificância não incide apenas nos delitos materiais ou de resultado, mas
também nos delitos de perigo ou de mera conduta, inclusive naqueles em que o
bem jurídico atingido é difuso ou coletivo. Dessa forma, em tese, é possível a
aplicação deste princípio aos crimes de drogas” (TJ-RS, AC 70031081110,
Rel. Des. Odone Sanguiné, DJ 18/08/2009).

Também é importante verificar a aplicação do princípio da insignificância para


os multirreincidente, portador de maus antecedentes, ou o criminoso habitual. Em regra
tal, princípio não seria aplicado a eles, entretanto, recentemente houve um julgado que
alterou esse entendimento, trazendo a possibilidade de aplicação de acordo com o caso
concreto.
É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de mercadorias
avaliadas em R$ 29,15, mesmo que a subtração tenha ocorrido durante o
período de repouso noturno e mesmo que o agente seja reincidente. Vale
ressaltar que os produtos haviam sido furtados de um estabelecimento
comercial e que logo após o agente foi preso, ainda na porta do
estabelecimento. Objetos furtados: R$ 4,15 em moedas, uma garrafa de
Coca-Cola, duas garrafas de cerveja e uma garrafa de pinga marca 51, tudo
avaliado em R$ 29,15. STF. 2ª Turma. HC 181389 AgR/SP, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info 973).

Outro pinto a se esclarecer, é a não aplicação de tais princípios no caso de


violência doméstica conforme disposto na súmula 589 do STJ.
Assim, percebe-se que o princípio da insignificância não pode ser aplicado a
qualquer infração penal, e deve ser estabelecido critérios para sua aplicação, devendo
seguir requisitos.

DELEGADO DE POLÍCIA

Quando ocorre um ato que infringe as normas de um ordenamento jurídico de


uma sociedade, sendo o Estado o garantidor da segurança, a primeira providência que se
toma é a elucidação do fato delituoso, identificando os participantes, buscando
evidências e concretizando a realidade dos fatos para possível julgamento do crime.
Assim, a elucidação de delitos não se debruça apenas pelo descobrimento de
meros fatos mas, tem como objeto a pesquisa de um fato considerado crime
mediante a prévia existência de um tipo penal . Sua função, transcende a
simples pesquisa, mas tem como escopo a verificação de algo. Essa diferença
implica, em primeiro lugar, no dever do Estado de, a partir da suposta
existência de um crime, dar início a atividade investigatória a fim de garantir
a segurança dos titulares de direitos fundamentais sob sua esfera de proteção
e, em segundo, evitar a instauração de procedimentos sem qualquer
fundamento. Desse modo, a investigação criminal passa a cumprir o papel de
filtro para a existência ou inexistência de um processo penal, resguardando o
indivíduo de interesses estatais ilegais e garantindo a defesa dos seus direitos
fundamentais. (MAGNUS,2018,p.20)

Para realizar esses procedimentos, é necessário que haja a figura de um


responsável por meio de mecanismo autorizado pela legislação o inquérito policial, que
será conclusão da fase investigativa.
A primeira lei que dispões sobre o cargo do delegado de polícia foi a lei 261 de 3
de dezembro de 1841 na qual instituiu a função de um chefe de polícia para os
municípios da corte e para as províncias do império, além de estabelecer o cargo de
delegado e de subdelegado. Nessa época as escolha de quem ocuparia tais cargos seria
entre desembargadores e juízes de direito, esses tinha a função de julgar e punir os
infratores. Só em 1871 que a função de julgar foi retirada desse cargo. Atualmente
conforme a constituição da república a investidura no cargo de delegado de polícia é
mediante concurso público. (KUDO, 2019).
Dessa forma, a função do delegado de polícia tem uma função elencada
explicitamente na Constituição da República Federativa do Brasil, mais especificamente
no artigo 144, §4 da CF, onde se encontra os órgãos de segurança jurídica; vejamos:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:
I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - Polícias civis;

V - Polícias militares e corpos de bombeiros militares

§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,


incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
(BRASIL, 1988, p. 1).

Como expresso pela própria Carta Magna, as polícias judiciárias são dirigidas
pelos delegados de polícia, os quais farão a investigação da ocorrência do fato delitivo e
prestará as informações necessárias para que possa formular, por meio de inquérito, a
elucidação dos fatos para as devidas providências pelo Ministério Público.

A relevância do trabalho presidido e sob a incumbência do Delegado


de Polícia no cenário jurídico nacional é, pois, irrefutável. Dizer-se que o
inquérito policial por ele presidido é mero caderno informativo sem força
probatória é, como já se disse antes, proferir-se disparate sem tamanho.Com
efeito, se não serve o inquérito policial, como se costuma dizer, no seu
aspecto de mero “caderno informativo”, como fundamento, por si só, para
condenar um delinqüente a uma pena mínima prevista em determinado
preceito secundário atinente à estabelecido preceito primário, pode servir ele,
e aí está o contra-senso, como meio relevante para condenar o mesmo
delinqüente a determinada pena que encontra o seu patamar em abstrato no
limite máximo previsto em nosso Codex substantivo penal. (BRUTTI, 2007,
p. 1).

Dessa forma, fica evidente a função do delegado de garantidor da ordem e aquele que
primeiramente terá contato com o fato delituoso, promovendo as diligências necessárias para
chegar a autoria do crime por meio do inquérito policial.
Portanto, o delegado é uma das peças principais dentro do direito penal sendo seus
trabalhos garantido constitucionalmente e sendo indispensável. Assim seria coerente esse
aplicar o princípio da insignificância conforme será analisado posteriormente.

INQUERITO POLICIAL
O inquérito policial é um mecanismo de utilização pelo delegado de polícia
judiciária que visa o colhimento de elementos de informação e o andamento da fase
investigativa
O inquérito policial é um instrumento utilizado para a elucidação de
crimes, e o seu surgimento se dá desde os tempos imemoriais, quando usado
como instrumento de repressão do Estado, sendo introduzido no ordenamento
jurídico brasileiro no ano de 1871. Em uma democracia, embora o Inquérito
seja instrumento inquisitivo, há regras que devem ser observadas, sob pena
de abuso de autoridade de quem conduz a investigação e restrição indevida
de garantias fundamentais (MORAIS,2019, p.03).

O inquérito policial pode ser apresentado de três formas sendo elas acusatória,
inquisitória e mista. No sistema acusatório garante ao réu a ampla defesa, ou seja,
condições de igualdade. O ordenamento jurídico brasileiro adota o sistema acusatório.
Em contrapartida no sistema inquisitório uma só pessoa faria as funções de acusação e
julgamento, não havendo o direito de defesa. Já o sistema misto reuniria aspecto dos
dois modelos inquisitório no momento da instrução e o resto seria sob aspecto
acusatório. (DARBAN 2012).

O inquérito policial apresenta algumas características que devem se observadas


no momento de sua aplicação:

Ele deve ser escrito, não podendo de maneira alguma ser apresentado de forma
oral, entretanto, não há necessidade de ser manuscrito, podendo se apresentado de forma
digitalizada.

Tendo em vista as finalidades do Inquérito, não se concebe a existência de


uma investigação verbal. Por isso, todas as peças do inquérito policial serão,
num só processo, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso,
rubricadas pela autoridade (CPP, art.9°)

Outra característica do inquérito policial é que deve ser apresentado de modo


inquisitivo, ou seja, não será observado o princípio do contraditório e da ampla defesa,
não podendo as partes terem acesso ao ato. Entretanto, há uma relativização desse
princípio, visto que, as partes e seus procuradores terá acesso as provas já juntadas no
inquérito policial.

Conforme a doutrina majoritária o inquérito é chamado de inquisitivo, por


lembrar o sistema inquisitivo/inquisitório em que todos os poderes se
concentravam nas mãos do rei, assim é o inquérito policial, pois todos os
poderem se concentram nas mãos da autoridade policial que é quem
determina o que vai ser feito no inquérito policial, além disso o inquérito não
tem partes, não tem acusação; defesa; lide; temos apenas a figura do
investigado e a vítima, por isso a doutrina majoritária defende não ter o
contraditório e a ampla defesa no inquérito policial. (SANTOS,2021, p.21).

Ademais, é de se observar a discricionaridade no procedimento administrativo,


sendo que a investigação realizada não precisa ser feita de forma engessada, podendo o
delegado de polícia realizar a diligência que achar adequada de acordo com o caso
concreto, não sendo obrigado a realizar todas as diligências previstas.

Outrossim, o inquérito policial é o impulso para realizar as investigações, sendo


que o delegado de polícia ao tomar conhecimento de uma prática delituosa, poderá agir
de ofício não precisando que outros órgãos o provoque para dar início a tais atos.

Outro ponto a destacar é quanto ao sigilo das informações colhida no curso do


inquérito policial.

Conforme o Código de Processo Penal, o Inquérito Policial deve ser sigiloso


quando a autoridade policial achar necessário para que se tenha eficácia no
andamento da investigação e na elucidação do crime, quem preza por tal
sigilo é o Delegado de Polícia, porém cumpre ressaltar que este sigilo não se
estende a autoridade judiciária nem ao Representante do Ministério Público. .
(SANTOS,2021,p.23).

Uma vez instaurado o inquérito ele não pode mais ser arquivado, se o delegado
perceber que existe alguma irregularidade, ou sendo o caso atípico ele poderá constar no
procedimento, entretanto não cabe a ele o arquivamento.

Ademais, o inquérito policial é dispensável. Quando o Ministério público já


possuir evidências concretas da autoria e materialidade do crime poderá esse fazer a
dispensa de tal procedimento.

Por fim, o inquérito policial tem como característica a oficialidade, ou seja,


todos os atos por ele praticado deve ser oficial e realizado por autoridade competente,
ou seja, só o delegado de polícia pode ser o dirigente do inquérito policial.

Dessa forma, percebe-se que o inquérito policial é diferente dos outros


procedimentos da fase judicial, tendo algumas peculiaridades para sua aplicação. Essas
características devem ser observadas pelo delegado de polícia para uma efetiva
elucidação dos fatos.
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PELO DELEGADO DE
POLÍCIA

O Princípio da insignificância é pauta de diversas discussões no âmbito jurídico,


principalmente quanto a possibilidade da aplicação de tal princípio ainda no inquérito
policial presidido pelo delegado de polícia.

Esse tema ainda é muito contravertido devido não haver na jurisprudência


posicionamento a favor de tal prática, ao contrário, o STJ tem entendimento que só o
poder judiciário pode aplicar a bagatela.

Assim dispõe o Habeas Corpus nº 154.949/MG:

A Turma concedeu parcialmente a ordem de habeas corpus a paciente


condenado pelos delitos de furto e de resistência, reconhecendo a
aplicabilidade do princípio da insignificância somente em relação à conduta
enquadrada no art. 155, caput, do CP (subtração de dois sacos de cimento de
50 kg, avaliados em R$ 45). Asseverou-se, no entanto, ser impossível acolher
o argumento de que a referida declaração de atipicidade teria o condão de
descaracterizar a legalidade da ordem de prisão em flagrante, ato a cuja
execução o apenado se opôs de forma violenta. Segundo o Min. Relator, no
momento em que toma conhecimento de um delito, surge para a autoridade
policial o dever legal de agir e efetuar o ato prisional. O juízo acerca da
incidência do princípio da insignificância é realizado apenas em momento
posterior pelo Poder Judiciário, de acordo com as circunstâncias atinentes ao
caso concreto. Logo, configurada a conduta típica descrita no art. 329 do CP,
não há de se falar em consequente absolvição nesse ponto, mormente pelo
fato de que ambos os delitos imputados ao paciente são autônomos e tutelam
bens jurídicos diversos. (BRASIL,2010)

Porém, em contradição com tal entendimento a Lei 12.830/13 dispõe a cerca da


atribuição do delegado de polícia de fazer valer a constitucionalidade das leis e sendo o
primeiro a ter contato o crime teria competência técnica e jurídica para fazer uma
análise do caso. (ARAÚJO Jr., 2016).

Deste modo, sendo o delegado o primeiro profissional que tem conhecimento do


fato é seu dever garantir o cumprimento da lei, e a proteção de direitos e princípios
constitucionais evitando ao encarceramento de forma desnecessária. Assim a aplicação
do princípio da insignificância pelo delegado tem o objetivo de evitar uma prisão em
flagrante seja feita de forma arbitrária sem o requisito de tipicidade material, além, de
evitar uma possível denuncia ou condenação que não se sustentaria no âmbito judicial.
(ALVES, 2017).

Quando há aplicação do princípio da bagatela é afastada a tipicidade material


sendo o fato considerado atípico devido sua insignificância.

Demonstrado que o Princípio da Insignificância conduz à atipicidade material


do fato, bem como que é dado ao Delegado de Polícia o Poder – Dever de
arquivar Boletins de Ocorrência que noticiem fatos atípicos ou que, por
qualquer motivação, não ensejem justa causa para o desatar de uma
persecução criminal, insta indicar como deve proceder a Autoridade Policial,
em sua missão legal e constitucional na garantia dos Direitos Fundamentais
da pessoa face à constatação de um delito bagatelar. (Cabette 2013, p. 2).

Assim, sendo o fato atípico o delegado policial estaria dentro das atribuições
legais, visto que, somente é possível o trancamento do inquérito diante da atipicidade do
fato. podendo o mistério público pedir o arquivamento dele. Nesses casos a ausência da
tipicidade exclui o crime não sendo possível a realização de prisão em flagrante de um
delito não tutelado pelo direito penal. (CASTRO, 2015).

Inexiste dispositivo legal limitando a análise do delegado de Polícia à


tipicidade formal. Ademais, o inquérito policial desacompanhado do fumus
comissi delicti traduz um procedimento natimorto, fadado a movimentar
inutilmente a máquina estatal, com todo o ônus decorrente. A instauração
indiscriminada de cadernos investigativos acarreta imenso prejuízo financeiro
ao Estado, sendo custo do procedimento indevido assimilado pela
coletividade. (...) Demais disso, não se pode esquecer o contexto brasileiro de
superlotação carcerária, onde existem mais de 570 mil pessoas segregadas,
sendo quase a metade por prisões provisórias, cenário que seria
indevidamente agravado caso fosse obrigatória a prisão dos responsáveis por
condutas penalmente insignificantes. Com efeito, se a insignificância for
perceptível primo ictu oculi, o delegado de Garantias não só pode como deve
aplicar o princípio da insignificância e se abster de lavrar auto de prisão em
flagrante ou mesmo de baixar portaria de instauração de inquérito policial.
(Castro et. al. 2016, p. 49)

Ademais, o delegado de polícia é um profissional qualificado para o


desempenho de tal função, uma vez que exerce cargo público de natureza jurídica,
sendo bacharel em direito e devidamente aprovado em concurso público.
Em um país com mais de 700 mil carcerários e com lugares aonde o tempo
médio de julgamento de um processo é de 9 anos, é inconcebível que o
judiciário seja movimentado e que uma pessoa tenha a sua vida privada por
causa de uma bagatela. No caso em questão, o sujeito teve a sua liberdade
privada por R$ 30,00 e houve um dispêndio desnecessário da máquina

pública. (PEREIRA,2021,p.56).

Outrossim, a aplicação do princípio da bagatela pelo delegado de polícia seria


uma forma de desafogamento do judiciário, garantindo a aplicação do princípio da
celeridade. Além disso, seria uma forma de respeito ao princípio última ratio do Direito
Penal devendo esse só ser aplicado em último caso, garantindo a eficiência da máquina
estatal e evitando a judicialização de processos. (PEREIRA,2021).

Diante disso, a aplicação do princípio da insignificância é de suma


importância nos crimes em que, a ofensividade da conduta do agente foi
ínfima; não houve periculosidade social da ação; o grau de reprovabilidade
do comportamento foi diminuto; e a lesão jurídica provocada foi
inexpressiva. Nestes casos, a aplicação do princípio da insignificância
perante o Poder Judiciário ainda demandaria um custo financeiro alto e
desperdiçaria tempo com análises que poderiam ser feitas pelo Delegado de
Polícia, resultando em um grande avanço no sistema penal brasileiro.
(FRITAS; EFRAIM,2016, p.17)

Portanto, a aplicação do princípio da insignificância pelo delegado de polícia é


essencial para uma justiça mais célere. Sendo o delegado tido como o primeiro
garantidor da lei deve agir principalmente de forma a garantir a observância dos direitos
fundamentais de cada indivíduo.

A depender do caso concreto o delegado não lavraria autos de prisão flagrante,


quando ao analisar o crime, chegar a conclusão que o fato é atípico, insignificante ou
quando tiver hipóteses de exclusão de antijuridicidade, podendo também deixar de
instaurar em caso de justa causa. (ALANO,2017).

Dessarte, é importante destacar que não tem no ordenamento jurídico brasileiro


dispositivo que proíbam a aplicação desse princípio pelo delegado de polícia ainda em
sede policial. Sendo possível a aplicação de tal princípio nos crimes de furto devida à
atribuição do delegado como primeiro garantidor da lei.
REFERÊNCIA

PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro / Luiz Reges Prado, Érika Mendes de
Carvalho, Gisele Mendes de Carvalho. 14. ed. rev. atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2015

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