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MODELO DE ARTIGO CIENTIFICO - ABNT NBR 6022 Word

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A Globalização e seus impactos no Brasil: Informacional e

Desglobalizado
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RESUMO

Este artigo analisa o impacto da globalização nas últimas três décadas, destacando
suas implicações econômicas, sociais e tecnológicas. A interconexão global
impulsionada pela Internet e mídias digitais trouxe oportunidades econômicas, como
o offshoring e a expansão das cadeias produtivas, mas também desafios como a
demanda por trabalhadores qualificados, automação e concentração de riqueza. O
contexto da pandemia de COVID-19 acelerou tendências de desglobalização e
protecionismo. O Brasil, apesar de sua participação em iniciativas internacionais,
enfrenta desafios para ampliar sua presença econômica global. Tecnologias como o
Linux e o Moodle exemplificam a influência das mídias digitais na sociedade
contemporânea, impulsionando a educação em rede e a cibercidadania. A análise
crítica da globalização destaca desequilíbrios sociais, econômicos e ambientais
gerados por estruturas de poder globais, desafiando a narrativa otimista e
destacando a necessidade de alternativas mais inclusivas e sustentáveis para
promover a solidariedade internacional e a justiça social.

Palavras-chave: Globalização, Desglobalização, Mídias Digitais, Desafios, Brasil

ABSTRACT

This article examines the impact of globalization over the past three decades,
highlighting its economic, social, and technological implications. The global
interconnection driven by the Internet and digital media has brought economic
opportunities such as offshoring and the expansion of production chains, but also
challenges like the demand for skilled workers, automation, and wealth
concentration. The context of the COVID-19 pandemic has accelerated trends of
deglobalization and protectionism. Brazil, despite its participation in international
initiatives, faces challenges in expanding its global economic presence. Technologies
like Linux and Moodle exemplify the influence of digital media on contemporary
society, driving networked education and cyber citizenship. A critical analysis of
globalization highlights social, economic, and environmental imbalances generated
by global power structures, challenging the optimistic narrative and emphasizing the
need for more inclusive and sustainable alternatives to promote international
solidarity and social justice.

Keywords: Globalization, Deglobalization, Digital Media, Challenges, Brazil


INTRODUÇÃO
Durante as últimas três décadas, o tecido da conexão global entre nações se
transformou em um intrincado emaranhado de estradas de comunicação, facilitando
uma dança intricada entre processos produtivos, correntes comerciais e fluxos de
capital transcontinental. Como o pincel de um artista habilidoso, essa nova paisagem
interligada pintou a tela da economia mundial com cores nunca antes vistas.

Com a era da globalização e a criação da Internet, surgiu um fenômeno de


redes sociais que utilizam as tecnologias da informação e da comunicação para se
articular e se auto-organizar, tomando dimensões globais. O avanço das mídias
digitais deu origem a um movimento civil internacional que troca informações,
comunica-se e pressiona governos via comunicação eletrônica, sendo muito difícil
de controlar e censurar. Mídia digital, conhecimento e a rede são três elementos que
caminham juntos e articulados. Com o advento da Internet, o conhecimento aberto
está hegemonizando definitivamente a sociedade contemporânea.

Para as economias mais abastadas, essa interconexão representou um salão


de baile onde novas oportunidades de negócios dançavam ao som de melodias
inovadoras. A prática do "offshoring" expandiu as fronteiras da competitividade,
permitindo o controle das correntes de produção e a exploração de vantagens
comparativas em talentos especializados e serviços de qualidade. Tudo isso foi
facilitado pela diminuição das barreiras que outrora restringiam o fluxo global de
recursos. Nos países em desenvolvimento, essa nova era reforçou a convicção de
que participar desse movimento era essencial para ativar o motor do
desenvolvimento econômico e social. Os resultados foram notáveis, com muitas
economias testemunhando uma queda nas taxas de pobreza.

Contudo, à medida que essa interação se aprofundava, emergia uma nova


realidade: uma crescente demanda por trabalhadores altamente qualificados e um
aumento da automação, impactando tanto as economias ricas quanto as
emergentes. Simultaneamente, a fluidez no movimento global de recursos permitia
aos mais afluentes expandir seu acesso a investimentos de alto retorno. Esses
fluxos tiveram um efeito cumulativo, aumentando a concentração de riqueza de
forma geral. Diante da magnitude dessas transformações, o impacto político gerou
ondas de resistência, iniciando o que foi rotulado de "desglobalização". Alguns
países adotaram medidas isolacionistas, erguendo barreiras comerciais e, mais
recentemente, restringindo exportações essenciais para lidar com crises de saúde.

Este intenso redesenho das relações econômicas e políticas entre nações


está sendo seguido por ajustes e reorientações. Ainda assim, é improvável que os
fundamentos dos processos produtivos atuais sejam drasticamente alterados. O
pós-pandemia exigirá que cada economia reavalie a forma e a intensidade de suas
conexões com o mundo exterior. No contexto brasileiro, a situação é singular. O país
se beneficiou de uma demanda externa excepcional por certos produtos, porém
permaneceu à margem das principais transações comerciais globais. Apesar de
atrair investimentos, sua presença econômica internacional é limitada (BAUMANN,
2022).

O Brasil participa de um exercício de integração que poderia ser uma fonte de


competitividade, através da complementaridade produtiva, e é membro fundador de
um grupo que busca redefinir a governança global. No entanto, seu perfil
internacional relativamente discreto, aliado a turbulências internas, pode
comprometer sua relevância nessas esferas. Nesta perspectiva, programas
tecnológicos como o LINUX e Mozilla Firefox, que já possuem relevância social pela
sua inovação e popularização no mercado brasileiro, exemplificam a influência das
mídias digitais e do conhecimento na sociedade contemporânea (SOUZA, 2015). O
uso de ambientes virtuais de aprendizagem como o Moodle e Teleduc em
universidades públicas e privadas ilustra como a educação em rede está moldando a
cibercidadania, buscando uma educação transformadora, crítica e transdisciplinar,
visando o bem social e reforçando a cidadania e democracia.

A GLOBALIZAÇÃO E SUA FACE INFORMACIONAL ECONÓMICA

Na intricada economia global, há quem contemple com benevolência o tecido


dos mercados interconectados. Aqueles que defendem a globalização enaltecem os
frutos generosos que brotam do lado da oferta: o florescer dos investimentos, a
propagação da tecnologia, as reformas institucionais entranhadas, a necessidade de
políticas macroeconômicas virtuosas e o impulso para elevar o conhecimento e
habilidades da força de trabalho.

Nessa visão, os países, ao fortalecerem seus mercados de capitais, como se


fossem jardins bem cuidados, atraem mais investimentos, cultivam uma classe
empresarial vigorosa e promovem uma alocação mais eficiente do capital,
fecundando assim o crescimento da produção. Do lado da demanda, o foco se volta
para os benefícios aos consumidores: acesso facilitado e a custo reduzido a uma
diversidade de bens e serviços, oportunidades de empregos mais bem
remunerados, aprimoramento das condições de saúde e, por conseguinte, melhoria
nos padrões de vida. Nesse enredo, é advertido que economias excessivamente
avessas ao processo incorrem em custos. O comércio internacional floresceria
menos, as empresas enfrentariam custos mais elevados para investir, e os
incentivos econômicos seriam escassos, murchando o florescer da atividade. Assim,
é recomendável que, em meio a outras reformas, os países fomentem a
flexibilização dos movimentos de capital, cultivando seus sistemas financeiros
internos com sabedoria e regulação apropriada.

Esse "modelo canônico" dos benefícios da globalização tem sido objeto de


inquietações. Mesmo quem se mostra favorável reconhece que a disseminação das
inovações tecnológicas e das facilidades financeiras contribuiu para a ampliação da
desigualdade, privilegiando os trabalhadores mais qualificados.

A globalização, como uma correnteza inescapável, eleva os salários, inclusive


em atividades de baixa qualificação nas economias em desenvolvimento. Porém, em
vez de convergirem para a média dessas economias, os salários dos trabalhadores
qualificados nas economias avançadas (e também nas em desenvolvimento) se
elevam, refletindo a demanda crescente por habilidades especializadas. Esse
fenômeno não é obra apenas do livre curso do mercado. Requer uma intervenção
ativa do Estado para disciplinar os mercados financeiros e garantir o cumprimento
dos contratos e direitos de propriedade, num processo que, de forma paradoxal, sela
a concentração econômica sob a chancela pública.

No que tange à erradicação da pobreza, os apologistas da globalização


destacam o aumento da renda per capita em diversas regiões. Os críticos, por outro
lado, evocam o sofrimento persistente de mais de um bilhão de pessoas vivendo
com menos de um dólar por dia, ressaltando a falência da globalização em mitigar a
pobreza em várias nações.
O mundo globalizado não só falhou em erradicar a pobreza, como também
aprofundou as fissuras entre os estratos de renda e entre os países. Além disso,
facilitou o fosso digital entre indivíduos e populações de diferentes países, privando
muitos do acesso aos avanços tecnológicos e às redes que impulsionam a
produtividade. A experiência da pandemia de coronavírus evidenciou essas
disparidades, particularmente entre estudantes de escolas públicas e privadas em
países em desenvolvimento.

Estamos imersos em um momento de transição nas tecnologias de


comunicação. À medida que adentramos a era digital e da multimídia,
testemunhamos a integração e articulação dos mais diversos meios de interação. As
redes informatizadas atuais são apenas o embrião das potencialidades que estão
por vir. Essas redes telemáticas interativas possuem uma capacidade vasta, capaz
de propagar o universo da multimídia, entrelaçando sons, textos, dados e imagens
animadas, amalgamando as tecnologias da informática, da telefonia e da televisão.
É esperado que a multimídia invada o mundo nos próximos decênios (CALAME,
ROBIN, 1995; SOUZA, 2008).

Neste cenário, os grandes oligopólios mundiais das indústrias de telefonia e


televisão disputam espaço, buscando se reinventar para ocupar um lugar na
multimídia do século XXI (GILDER, 1996). O desenvolvimento tecnológico
transformou a informação no último meio século, tornando-a chave nos processos
produtivos de bens e serviços, interferindo profundamente na natureza simbólica.
Assim, transitamos da "Era Fordista" para a "Era da Informação" (Soares, 1993;
Souza, 2008).

Uma dessas fabulações é a tão repetida idéia de aldeia global


(Octávio Ianni, Teorias da globalização, 1996). O fato de que a
comunicação se tornou possível à escala do planeta, deixando saber
instantaneamente o que se passa em qualquer lugar, permitiu que
fosse cunhada essa expressão, quando, na verdade, ao contrário do
que se dá nas verdadeiras aldeias, é frequentemente mais fácil
comunicar com quem está longe do que com o vizinho. Quando essa
comunicação se faz, na realidade, ela se dá com a intermediação de
objetos. A informação sobre o que acontece não vem da interação
entre pessoas, mas do que é veiculado pela mídia, uma interpretação
interessada, senão interesseira, dos fatos (SANTOS, p. 20-21, 2010).
A nova ordem mundial é caracterizada primordialmente pelo fenômeno da
globalização, definida como a intensificação das relações sociais em escala global.
Este é um processo dialético e dialógico, no qual eventos locais são influenciados
por acontecimentos distantes e vice-versa. (Atualmente, a ideia de globalização
permeia todos os cantos do mundo. Não é um acontecimento estanque, mas um
processo em curso. Em poucos anos, um ciclo da história se encerrou e outro se
iniciou, trazendo mudanças significativas nas esferas sociais, econômicas, políticas
e culturais (IANNI, 1993).

Segundo essas características da globalização, ao configurar a sociedade


universal como uma sociedade civil mundial, promovem o deslocamento de coisas,
indivíduos e ideias, gerando uma espécie de desterritorialização generalizada
(Ibidem, 1993). Pode-se afirmar que a mídia e as novas tecnologias da informação
são pilares fundamentais desse fenômeno. A disseminação instantânea da
informação ocorre de forma global. Um telespectador no Brasil pode receber notícias
do Irã antes mesmo de muitos iranianos. No entanto, paradoxalmente, as novas
tecnologias e as mídias digitais podem fortalecer culturas regionais e valores
positivos, rompendo estereótipos e divulgando-os para o mundo sem intermediários.

O ambiente cibernético do terceiro milênio, que já se manifesta nos dias


atuais, é um terreno fértil para o desenvolvimento da criatividade humana. As novas
tecnologias de comunicação, cada vez mais interativas, dialógicas e segmentadas,
oferecem inúmeras possibilidades de projetos e programas virtuais que podem
impactar positivamente a vida real e cotidiana num futuro próximo (SOUZA, 2008).
Os meios de comunicação estão desenvolvendo formas sofisticadas de interação
sensorial, integrando linguagens, ritmos e caminhos diversos para acessar o
conhecimento (MORAN, 1995). Com o surgimento da Internet e das mídias digitais,
com suas tecnologias de multimídia e hipertextualidade (NEITZEL, 2009),
estimulam-se a interatividade e a criatividade humana, expandindo
exponencialmente as possibilidades de diálogo.

Refletindo sobre as mídias digitais dentro do contexto da globalização e das


redes em seus mais variados aspectos, é possível pensar na realidade brasileira e
seus desafios, como a educação, a cidadania e a inclusão digital e social. A
revolução da tecnologia da informação, a crise econômica do capitalismo e do
estatismo e o auge de movimentos sociais e culturais, como o liberalismo, os direitos
humanos, o feminismo e o ambientalismo, a interação desses processos está dando
origem a uma nova estrutura social dominante: a sociedade em rede, uma nova
economia, a economia informacional/global, e uma nova cultura, a cultura da
virtualidade real.

UMA NOVA GLOBALIZAÇÃO OU DESGLOBALIZAÇÃO?

A análise em questão contempla o momento contemporâneo, na era da


globalização, este segmento temporal que pode ser dissecado por variáveis críticas
ou determinantes. É intitulado como a era da globalização devido à disseminação
ubíqua de suas variáveis, as quais, direta ou indiretamente, exercem influência
onipresente. Esta globalização, que teve início na década de 1970, é tida como uma
globalização insidiosa, pois transformou o mundo em um inferno para a vasta
maioria, fazendo da pobreza um sistema institucionalizado e gerando uma
concentração de riqueza sem precedentes na história do capitalismo. Segundo
Milton Santos (2000), suas variáveis-chave são a singularidade técnica, a
convergência dos tempos, a cognoscibilidade do planeta e a presença de um motor
único da história, personificado pela mais-valia globalizada.

A singularidade técnica diz respeito à disseminação planetária de métodos


para transformação e utilização de materiais, objetos, máquinas e serviços segundo
padrões unificados, sob a égide das grandes corporações do mercado internacional.
A globalização dos sistemas aéreos, terrestres e marítimos seria impensável sem
esta singularidade técnica, bem como os meios de pagamento e a circulação
financeira operada por conglomerados bancários. Trata-se de uma aplicação da
técnica em prol da fluidez, da celeridade, principalmente da velocidade das
tecnologias virtualizadas nas novas mídias de comunicação e informação,
fundamentais para a convergência dos momentos.

A convergência dos momentos refere-se à temporalidade real ou à


interdependência dos eventos, permitindo a coexistência de um mesmo momento,
de um mesmo instante, a partir de diversos locais, todos conectados por uma única
temporalidade. Os eventos possuem uma origem ou intensidade, onde as variáveis
são geradas, e uma realização, onde ocorre sua incidência, manifestando-se
simultaneamente em múltiplos espaços contíguos ou distantes. Trata-se de uma
conexão coesa e eficaz, utilizada em prol da fluidez informacional e em busca de um
melhor entendimento das coisas, das pessoas e do planeta.

O conhecimento profundo e abrangente do planeta, como jamais antes


alcançado, é o que Milton Santos (2000) denomina de cognoscibilidade do planeta.
O desenvolvimento científico e técnico permite não só compreender os objetos
existentes e desvendar o funcionamento da Terra em detalhes, mas também
conceber e criar novos materiais e objetos em laboratórios, revalorizando elementos
técnicos, sistemas e locais. Isso tem implicações profundas para a mais-valia global,
pois a seletividade do capital pode ser mais focalizada.

A força motriz única, ou o ímpeto incessante pela mais-valia, está relacionada


ao ritmo coordenado pela competitividade globalizada. A competitividade, palavra-
chave da globalização na busca incessante pela eficiência, leva sempre a uma
corrida em busca de mais inovação e mais lucro, uma competição destrutiva que,
como agora sabemos empiricamente, não é criativa, pois é incapaz de incorporar o
não-hegemônico. Além disso, não é criativa porque a competitividade global não
existe sem a legitimação do pensamento único, refletido nas ideologias
individualistas e consumistas – que seriam inviáveis sem o controle ideológico.

Essas quatro variáveis-chaves formam uma arquitetura sistêmica que


permitiu, com a ação decisiva de poderosos agentes do Estado e do mercado
hegemônico, o surgimento de um mercado global perverso, baseado em princípios
nos quais a competição em todos os níveis da vida em sociedade é vista como um
avanço civilizatório. O princípio corporativo da competição transcende o mercado e
atinge praticamente todos os aspectos da vida. No entanto, a competitividade global
é a base da destruição de inúmeras economias endógenas, resultando em
diminuição de renda, desemprego e precarização do trabalho.

A globalização contemporânea abarca uma variedade de elementos,


destacando-se especialmente a criação de mercados mundiais integrados em
termos de produção, circulação de capital e comércio, bem como a emergência de
multinacionais, originalmente baseadas nos Estados Unidos, União Europeia e
Japão (e hoje incluindo as grandes corporações estatais da China), que coordenam
a concepção, produção e distribuição de seus produtos em escala global.
Contrariamente à agilidade e eficácia da lógica dos interesses do capital
manifestada na possível construção de tratados internacionais não regulados pelos
Estados (TPP, TTIP), a regulação política dos mercados em uma base
supranacional arrasta-se indefinidamente.

A globalização atual representa uma nova fase de desenvolvimento do


capitalismo, cujas raízes mais recentes remontam à reestruturação do capitalismo
em curso desde os anos setenta do século XX. Apesar de apresentar continuidades
com a fase imperialista desde o final do século XIX, a globalização comporta novos
elementos, (SANTOS, 1996) incluindo a revolução tecnológica e comunicacional, e a
integração da economia mundial em termos de produção, distribuição e consumo.
Embora a revolução informacional e tecnológica represente uma realidade inegável
que comprime o mundo econômico, permitindo a circulação do capital em tempo
real, este fator por si só não é suficiente para explicar a atual globalização.

A incessante inovação tecnológica, muitas vezes apontada como o "motor da


globalização", efetivamente gera mudanças notáveis nas economias e nos modos de
vida, mas não altera por si só a estrutura básica do modelo capitalista de sociedade
e pode até reforçá-lo. As novas tecnologias não são economicamente ou
politicamente neutras; interagem com outros fatores econômicos, jurídicos e políticos
que pavimentam o caminho da globalização (SANTOS, 2000).

A evolução atual e prospectiva está cada vez mais marcada pela ditadura dos
mercados mundiais, que estão integrados em termos de produção, circulação de
capital e comércio. Na prática, no entanto, trata-se mais de mercados dominados
pelas potências estabelecidas e emergentes, que se tornaram mais livres em suas
estratégias extrativas de exploração e dominação após o colapso da URSS. As
contradições do capitalismo geraram várias crises ao longo do tempo, com sintomas
recentes manifestados na crise do petróleo nos anos 70, nas crises dos anos 90 no
México, Brasil e Argentina, passando pela crise do Japão, até as crises financeiras
desde 2007-2008 na Lehman Brothers e subsequentes dívidas privadas e públicas
na Europa, com suas repercussões econômicas, sociais e políticas (PESSOA,
2019).
Essas contradições e crises têm levado a maiores desigualdades regionais e
sociais, resultando em uma dupla polarização entre países e dentro de cada país,
entre classes e grupos sociais. Não é possível analisar a globalização sem
considerar seus efeitos sobre a democracia e seu exercício em diversas esferas da
vida econômica, social, cultural e política. Embora o conceito de globalização possa
sugerir um mundo de "escravidão global" ou "liberdade global", na prática, é
necessário avaliar como os princípios democráticos se manifestam ou não na
realidade, especialmente em relação à justiça e segurança sociais, que são
essenciais para uma verdadeira participação democrática (SILVA, 2019).

A crise que teve início em 2008 no mercado de hipotecas nos Estados


Unidos, expandindo-se para muitos países, é vista como um momento decisivo na
era da globalização. No contexto brasileiro, isso se assemelha ao represamento de
recursos investidos em títulos da dívida pública: há riqueza, porém, essa riqueza é
direcionada de forma que não contribui para o aumento da capacidade produtiva
(SILVA, 2019; BAUMANN, 2022)

Os desdobramentos, como o Brexit no Reino Unido, a eleição de Donald


Trump nos Estados Unidos e o crescimento de partidos de direita em várias nações
europeias (França, Itália, Áustria, Hungria, Polônia), indicam um descontentamento
com a intensificação da interdependência entre economias distintas.

Segundo Herrero (2019), o crescimento do comércio global diminuiu em


média 3,5% ao ano entre 2009 e 2018, muito abaixo da média de 7,6% anterior a
2008. Da mesma forma, os investimentos diretos caíram 28% em 2008 em relação a
2000. Também houve uma retração significativa nos investimentos em carteira. E
isso foi antes do ano fatídico de 2020, quando essas variáveis certamente sofreram
quedas acentuadas.

Na esfera produtiva, em resposta ao ambiente geopolítico tenso (como as


restrições dos EUA aos produtos chineses) e outros fatores (a pandemia em 2020),
tem-se observado uma mudança gradual na localização das unidades produtivas,
com empresas saindo da China em direção a outros países asiáticos ou mesmo
outras regiões (SILVA, 2019; CATAIA, 2020).

Nas cadeias de valor, a decisão sobre onde produzir já não é determinada


apenas pelo custo. Considerações geopolíticas, como garantir acesso contínuo a
insumos e evitar interrupções na produção, estão impulsionando a mudança de
etapas de produção para outros países. No entanto, essas mudanças não
resultaram necessariamente em grandes influxos de investimento. De fato, o
investimento direto global em relação ao PIB global diminuiu significativamente em
2019, representou menos de um quarto do pico de 2007 (BAUMANN, 2022).

Além da diminuição do investimento global, a revela dados que questionam o


papel das cadeias de valor na promoção do desenvolvimento econômico. Elas estão
se tornando menos dependentes de mão de obra barata e mais focadas em
conhecimento e habilidades especializadas. Essas tendências favorecem as
economias avançadas, dada sua competitividade em inovação e serviços. No
entanto, o novo arranjo das cadeias de valor tende a ampliar a concentração de
renda por meio da movimentação internacional de recursos (SILVA, 2019).

Diante desses indicadores e recomendações, há uma discussão sobre a ideia


de que a "desglobalização" é inevitável tem sido contestada. Baumann (2022)
argumentam que indicadores como o aumento do número de viajantes
internacionais e usuários da Internet sugerem uma evolução da globalização, não
seu declínio. Essas mudanças nas relações econômicas internacionais representam
desafios para economias de médio porte, como a brasileira, que precisam se
adaptar a um ambiente de competição diferente nos principais mercados globais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os defensores da globalização frequentemente enaltecem os seus benefícios
evidentes: a ampliação dos mercados, o influxo de investimentos, a disseminação de
tecnologia e os alegados progressos institucionais. Sob essa ótica, os países se
assemelham a jardins meticulosamente cultivados, onde o florescimento dos
mercados de capitais promete fertilizar o crescimento econômico e nutrir a vitalidade
empresarial. No entanto, essa narrativa de otimismo não é desprovida de
ressonâncias dissonantes. À medida que a globalização avança, suas sombras se
alongam, projetando-se sobre os estratos sociais com efeitos díspares e
devastadores. A prometida prosperidade nem sempre se traduz em benefícios
equitativos. Os frutos da interdependência global não são distribuídos
uniformemente; ao contrário, proliferam desigualdades socioeconomicas crescentes.
Além disso, a globalização expõe contradições intrínsecas. Enquanto
propaga a integração econômica e a convergência tecnológica, ela também promove
a desintegração de culturas locais e a perda de identidade regional. A busca
incessante pela eficiência e competitividade globalizada muitas vezes ignora os
contextos locais e compromete a sustentabilidade socioambiental em nome do
crescimento econômico. A crise global de saúde, desencadeada pela pandemia de
coronavírus, escancarou ainda mais essas fissuras. As disparidades digitais entre
países e dentro deles se tornaram mais evidentes, expondo as lacunas no acesso à
educação, à saúde e às oportunidades econômicas.

No entanto, a crítica à globalização não se restringe apenas às suas


consequências sociais e econômicas. Ela também questiona a legitimidade e a
democracia das estruturas globais de poder que sustentam esse paradigma. As
multinacionais e os conglomerados financeiros exercem uma influência
desproporcional sobre as políticas nacionais e internacionais, moldando agendas
econômicas em detrimento dos interesses públicos e locais. Diante dessas
considerações, deve-se rechaçar a ideologia predominante que glorifica a
globalização como uma panaceia universal para o progresso humano, abordagens
mais equilibrada e inclusiva, onde os benefícios econômicos sejam distribuídos de
forma mais justa e os princípios democráticos sejam preservados diante das forças
globais que ameaçam sua integridade.

A globalização, longe de ser uma força inevitável e imparcial, é moldada por


escolhas políticas e econômicas que refletem interesses particulares. À medida que
avançamos neste contexto globalizado, é imperativo buscar alternativas mais
conscientes e responsáveis que promovam a solidariedade internacional, a justiça
social e a sustentabilidade ambiental.
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