A Psicologia Experimental e A Pesquisa Básica e Aplicada
A Psicologia Experimental e A Pesquisa Básica e Aplicada
A Psicologia Experimental e A Pesquisa Básica e Aplicada
PROPÓSITO
O domínio das bases e características da pesquisa experimental na Psicologia, assim como a aplicação
dos seus princípios na investigação do comportamento permite compreender as pessoas, sem vieses e
tendenciosidades.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos (ex.: 25km) por questões de
tecnologia e didáticas. No entanto, o Inmetro estabelece que deve existir um espaço entre o número e a
unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais materiais escritos por você devem seguir o
padrão internacional de separação dos números e das unidades.
MÓDULO 1
A persistência em determinado assunto ou tema é um ponto que diferencia a curiosidade das pessoas,
no senso comum, da curiosidade dos pesquisadores. Alguns cientistas pesquisam uma temática, uma
tese, por boa parte de suas vidas e seguem toda uma sistematização de passos e procedimentos para
suas tomadas de decisão, ou seja, para comprovar ou refutar hipóteses em delineamentos de pesquisa.
ABORDAGENS DO CONHECIMENTO
O método é mais uma característica que diferencia a curiosidade do senso comum da curiosidade do
cientista/pesquisador. Vamos voltar ao exemplo do processo de escolha de um smartphone até a
decisão da compra. Como a maioria das pessoas conduz esse processo? Algumas pessoas preferem ir
até uma loja, outras optam por pesquisar o preço em várias lojas. Outros indivíduos fazem uma
predileção pela internet pesquisando em sites específicos ou que comparem preços. Há quem,
simplesmente, escolhe o aparelho pela dica de um amigo ou apenas pelo preço. Seja como for, o
método para escolha do produto que será adquirido não é sistemático no senso comum. Normalmente,
esse método é por conveniência.
Já o método científico é sistemático, pois conduz a atitude dos pesquisadores a determinado campo de
investigação da mesma maneira, permitindo que os achados das pesquisas possam ser comparados.
Obviamente, existem diferentes modelos de ciência e múltiplos métodos de investigação. Não se trata
de julgar o melhor ou pior método de investigação, tampouco estabelecer uma hierarquia no
conhecimento científico.
Neste e nos próximos módulos, vamos privilegiar e apresentar estudos e achados a partir de
experimentos com construtos de interesse dos psicólogos.
INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS,
EPISTEMOLÓGICAS E PREMISSAS DO MÉTODO
EXPERIMENTAL
A seguir, abordaremos as relevantes influências do conhecimento filosófico e métodos de pesquisa que
dão norte à aplicabilidade de ideias e investigações inerentes à profissão Psicologia.
O OPERACIONISMO
O operacionismo é um princípio que orienta determinados modelos científicos e, sem dúvida, o método
experimental. Trata-se de construir uma linguagem científica com terminologias objetivas e precisas.
Tal princípio embasa esforços na investigação de problemas que possam ser observados e
demonstrados empiricamente.
Nesse caso, a validade de uma descoberta científica depende das operações empregadas para
evidenciar o fenômeno investigado/pesquisado. Deriva-se, então, o conceito de definição
operacional, que significa explicar um conceito unicamente em termos dos procedimentos observáveis
usados para produzi-lo e mensurá-lo (SHAUGHNESSY, et al., 2012). Por exemplo, uma definição
operacional de aprendizagem em ratos pode ser relacionada à velocidade que o animal demora para
sair de um labirinto ao qual já esteve exposto antes.
O modelo científico não visa buscar verdades, tampouco as construir, mas atua na busca por evidências
que possam demonstrar, empiricamente, como determinados fenômenos, ou determinadas variáveis,
exercem influência sobre outras em condições específicas.
Essas demonstrações empíricas precisam seguir as regras do método científico e, necessariamente, ser
reproduzíveis, ou seja, outros pesquisadores precisam corroborar essas evidências por meio de
experimentos, com os dados publicados em periódicos especializados (revistas científicas).
O conhecimento científico é construído pelo acúmulo de evidências cuja quantidade e qualidade são
demonstradas por diversos pesquisadores, em diferentes lugares, de determinado assunto, tema, tese,
hipótese que estão sendo investigados.
FALSEABILIDADE DA TEORIA
O conceito da falseabilidade da teoria reforça a ideia de que a ciência não busca por verdades.
RESPOSTA
Quando propomos uma teoria, não buscamos comprovar a sua veracidade, e sim que ela está errada.
Caso não se refute com evidências uma teoria ou uma hipótese, ela permanece até que, em algum
momento, um pesquisador demonstre que está errada.
É evidenciando os erros nas teorias que o conhecimento científico evolui. Diante do erro, precisamos
colocar outra teoria no lugar e, assim, testar a sua falseabilidade.
Uma boa teoria sobrevive aos testes de falseabilidade ao longo do tempo, demonstrando sua
estabilidade (confiabilidade) para que possamos interpretar fenômenos e fazer tomadas de decisão a
partir dela com mais segurança e estabilidade (BREAKWELL, et al., 2010).
VARIÁVEIS DA PESQUISA
O método experimental exige que as condições da pesquisa sejam controladas. Isso implica que
busquemos maneiras de manter a nossa pesquisa dirigida apenas a duas variáveis básicas no
delineamento experimental: a variável dependente e a variável independente.
Variável independente (VI)
A variável independente (VI) é a experimental, ou seja, são as condições manipuladas pelo pesquisador.
Assim, o efeito da manipulação de uma variável independente sob uma variável de estudo, que é
dependente, se traduz em um achado, ou seja, em uma evidência de determinada pesquisa. Portanto,
os efeitos ou a influência de qualquer outra variável precisam ser eliminados ou controlados para
podermos afirmar com segurança as evidências observadas.
EXEMPLO
Podemos estabelecer relações de causalidade pelo método experimental ou apontar correlações entre
outras variáveis através de experimentos/estudos que apresentem um viés preditivo (correlacional).
VARIÁVEIS DA PESQUISA
Em dezembro de 2019, a humanidade se deparou com uma variação do coronavírus, trata-se do SARS-
CoV-2 ou covid-19. No ano seguinte, constatou-se que estávamos em uma pandemia, ou seja, o vírus
infectou expressivamente pessoas de diversos países em todo o planeta. A curiosidade persistente de
pesquisadores, especialmente de microbiologistas, virologistas e afins, que dedicam suas vidas para
estudar microrganismos causadores de doenças, logrou êxito em colocar à disposição das pessoas
diversas vacinas.
Este é o primeiro efeito da curiosidade do pesquisador: expertise em determinado assunto. Em outras
palavras, são pessoas que, na coletividade, devem ser ouvidas e consultadas para tomadas de decisão
em determinada área do conhecimento.
O processo de construção de uma vacina não é o objetivo de nosso estudo, mas os testes para obtê-las
com seres humanos e, também, o comportamento das pessoas frente à pandemia são de grande
relevância para desenvolvermos algumas ideias associadas a experimentos.
Por exemplo, no início da pandemia, um fenômeno foi observado em diversos países: a compra maciça
de papel higiênico. O que motivou esse comportamento?
Como vimos, é característica do senso comum tomar decisões por meio de observações casuais e não
controladas.
Uma possibilidade de resposta para essa pergunta é que a leitura dos eventos pelas pessoas, no início
da pandemia, resultou em um fenômeno que a Psicologia nomeia de comportamento de manada, ou
seja, na crise, devido à ausência de uma racionalização, compreensão dos dados e de evidências
científicas, copia-se o comportamento do próximo.
Aleatoriamente, alguém resolveu comprar uma quantidade exorbitante de papel higiênico. Podemos até
supor que se tratava de um comerciante de uma pequena mercearia de bairro, aproveitando uma
promoção de um grande atacadista, ou alguém preocupado com a higiene em razão da covid. O fato é
que esse comportamento foi copiado indiscriminadamente e postado em redes sociais, ganhando
atração por notícias falsas e colocando em ação o efeito manada.
Outro aspecto observado no enfrentamento da pandemia foi uma enxurrada de notícias falsas, as
chamadas fake news, circulando em redes sociais e na internet de modo geral. Essas notícias
influenciaram, negativamente, o comportamento de várias pessoas. Lembremos, nesse momento, a
forma da construção do conhecimento do senso comum, que são as fontes das fake news, e
destacamos quatro aspectos: uma abordagem intuitiva, acrítica, tendenciosa e hipóteses não testadas.
Em meio a uma pandemia, essa forma de analisar informações e tomar decisões é a receita do caos.
Em alguns cenários, decisões foram tomadas pelas pessoas da mesma maneira como se estivessem
comprando um smartphone, ou seja, por conveniência, de forma intuitiva e não sistemática, sem analisar
rigorosamente os eventos e considerar os dados científicos que estavam sendo construídos e
divulgados. Tomar ou não vacina? Usar ou não a máscara? Qual a melhor fonte para tomada de decisão
diante dessas perguntas?
Algumas pessoas repeliram as campanhas de vacinação e emitiram comportamentos meramente
guiados por ideias que circulavam no senso comum ou, até mesmo, por pesquisadores isolados da
comunidade científica.
Não podemos aceitar o resultado de uma pesquisa de passivamente. Precisamos contar com alguns
critérios que nos permitam avaliar melhor esses resultados.
Segundo, é preciso fazer a comparação com uma condição experimental.
Durante a produção de uma vacina, um grupo de pessoas (grupo controle) é submetido a um placebo
(um tratamento inerte, por exemplo, injeção de soro). Enquanto outro grupo, chamado de experimental,
é submetido à vacina. Esses grupos são comparados e acompanhados em sua evolução clínica. Assim,
após trabalhos estatísticos, pode-se evidenciar a eficácia da vacina quando comparada ao grupo
controle. Nesse caso, a variável dependente é a resposta imunológica das pessoas, e a variável
independente é a resposta à vacina.
Nesse processo, também podemos observar variáveis estranhas e intervenientes. As variáveis
estranhas expressam a ideia de que existem condições que os pesquisadores desconhecem. Podem no
máximo inferir, mas não é fácil de isolar. As variáveis intervenientes podem explicar, conectar a variável
independente com a dependente.
Outros aspectos estão envolvidos para que os cientistas façam uma inferência causal, nesse caso, que
a vacina é a causa de uma melhor resposta imune do organismo. Segundo Shaughnessy, Zechmeister e
Zechmeister (2012), são eles:
Uma relação temporal (evidências que a melhora da resposta imune ao vírus ocorreu depois da vacina).
Evitar explicações alternativas (demonstrar que apenas a vacina foi responsável pela melhora da
resposta imune).
O COMPORTAMENTO SUPERSTICIOSO
Indiscutivelmente, um dos principais objetos de estudo da Psicologia é o comportamento humano.
Nesse ponto, destacamos que a variável dependente da Psicologia é o comportamento.
Um conceito que vamos usar em nosso estudo é o de contingência. Em um sentido geral do método
científico, contingência expressa a ideia da relação de variáveis de forma condicional (causalidade) em
uma relação temporal.
COMENTÁRIO
Importante destacar que trabalhamos com conceitos, os quais não necessariamente expressam uma
ideia da mesma forma que usamos a palavra em nosso cotidiano ou da maneira que é apresentada em
um dicionário, por exemplo.
Outro conceito relevante é o de contiguidade. Esse também expressa uma relação temporal entre
variáveis, mas sem uma relação causal entre si. Comportamentos podem ser mantidos por
consequências que sucederam a determinadas condutas, mas que não expressam uma causalidade, ou
seja, existe contiguidade, mas não uma contingência. A esse tipo de comportamento nomeamos como
supersticioso. Podemos reforçar tais condutas em nós mesmos e em terceiros através de
comportamento verbal (PANETTA; HORA; BENVENUTI, 2007).
Padrões similares foram demonstrados com seres humanos em centenas de estudos em condições
experimentais, explicando, em parte, como nos comportamos, eventualmente, de maneira arbitrária,
aceitando eventos que podem expressar contiguidade, mas não uma contingência.
Durante a pandemia, algumas pessoas fizeram uso de medicamentos sem eficácia comprovada na
prevenção da covid-19. De que modo esse comportamento foi reforçado embora não tenha sido
respaldado em protocolos científicos, ou seja, que não tenham sido contingencialmente reforçados?
Uma resposta simples, meramente com uma pretensão didática, é que algumas pessoas que fizeram
uso do medicamento não contraíram a Covid-19, reforçando com seu comportamento verbal outros
indivíduos a terem a mesma conduta. Isso apoia a ideia, arbitrariamente, de que o medicamento foi
eficaz.
E COMO PODEMOS COMPROVAR A FALSEABILIDADE
DESSA TESE?
Demonstrando que outras pessoas contraíram o vírus mesmo fazendo uso do medicamento.
Por meio das falseabilidades dessas teses de protocolos de tratamento da pandemia, gradualmente,
concluiu-se que apenas a vacina é capaz de mitigar (reduzir) o contágio entre as pessoas, associadas a
outras práticas comportamentais, como lavar as mãos e o uso de máscaras. Muitas outras variáveis
estão envolvidas nesse processo. Somente o método experimental é capaz de demonstrar uma
inferência causal entre variáveis.
Agora, munido dessas premissas, você será capaz de enxergar o mundo com mais crítica e analisar as
ideias que são, muitas vezes, disfarçadas de ciência, mas que não cumpriram com as premissas
básicas do método científico. Esperamos ter relacionado, de forma lúdica, alguns conceitos com as suas
experiências cotidianas em uma análise de um evento que impactou o nosso tempo histórico e colocou a
ciência nos lares das pessoas.
O COMPORTAMENTO SUPERSTICIOSO E AS
FAKE NEWS
Neste vídeo, propomos uma reflexão sobre comportamento supersticioso e as fake news, destacando a
diferença entre contingência e contiguidade.
MÓDULO 2
FATOR DE IMPACTO
Por fator de impacto entende-se o quanto determinada publicação é citada em artigos científicos e livros,
influenciando outros pesquisadores.
Vamos destacar, a seguir, três personalidades da Psicologia que se dedicaram ao estudo do
comportamento. Por meio de seus estudos, vamos desvendar alguns desenhos experimentais e seus
achados.
Em 1948, Skinner escreveu um romance utópico chamado Walden Two – Uma Sociedade do Futuro, no
qual questiona veementemente o livre-arbítrio evidenciando determinismo ambiental.
A CAIXA DE SKINNER
Neste experimento, um rato privado de água por um tempo é colocado em uma caixa com dispositivos
que permitem alguns experimentos. Por exemplo, ao pressionar a barra, o rato pode obter água ou
evitar tomar um choque. No primeiro caso, temos um exemplo de reforço positivo, ou seja, o
comportamento emitido de pressionar a barra resulta como consequência a apresentação da água. No
segundo caso, temos um exemplo de reforço negativo. Ao entrar na caixa, o rato recebe choques
elétricos, que são retirados uma vez que o animal pressiona a barra. Em ambos os exemplos, o
comportamento de pressionar a barra é a variável dependente. As condições manipuladas pelo
pesquisador, a apresentação da água e os choques elétricos são as variáveis independentes.
Caixa de Skinner.
Tanto no reforço positivo quanto no reforço negativo, a água e o choque aumentam a probabilidade do
rato de pressionar a barra. Em outras palavras, o animal será modelado (modelagem) para fazê-lo. Esse
aumento é comparado com os comportamentos a nível operante, que são naturais do comportamento
do rato, tais como farejar, limpar-se ou levantar nos cantos e na parede da caixa (comportamento
exploratório).
RESPOSTA
A caixa de Skinner é um exemplo de definição operacional, na qual um controle rígido das variáveis de
estudo é possível. Dessa maneira, pode-se evidenciar um processo de modelagem e estabelecer as
circunstâncias específicas em que a manipulação de variáveis independentes (as condições
experimentais) afetam a variável dependente (o comportamento do rato).
Um comportamento operante é definido como aquele que produz mudanças no ambiente e pelas
quais é afetado (MOREIRA; MEDEIROS, 2019). Desse modo, os elementos presentes no contexto em
que o comportamento ocorre são chamados de operantes (ou estímulos) discriminativos, ou seja,
selecionam determinado comportamento do repertório do organismo que foi reforçado anteriormente.
Imagine que você está acompanhando uma novela na TV aberta, ou outro programa, que não esteja
disponível em redes de streaming (distribuição digital pela internet). O horário dessa novela é um
estímulo discriminativo para o seu comportamento de ligar a televisão e assistir ao novo capítulo.
Vamos retornar à caixa de Skinner: imagine que o rato, já condicionado a apertar a barra, não logre êxito
em algumas tentativas. O que está acontecendo? O pesquisador estabeleceu uma nova variável
independente que é um sinal sonoro dentro da caixa. Eventualmente, o rato vai perceber que a barra só
liberará a água quando o sinal sonoro for disparado. Isso traduz a ideia do estímulo discriminativo, ou
seja, a condição que antecede e discrimina o comportamento de apertar a barra.
Para Hull, a motivação do comportamento, ou seja, o impulso, cumpre com o seu papel de “acalmar” as
necessidades do organismo, por exemplo, em uma visão mais básica, fome, sede, sono etc.
Em um procedimento com uma caixa de Skinner, é imperioso que o sujeito experimental, o rato, fique
privado de comida ou água. Nesse caso, vamos criar um motivo para sua participação no experimento, a
fome (um estímulo). Podemos predizer, em termos de probabilidade, que o rato com fome terá uma
maior chance de apertar a barra e aprender através de reforço positivo (a comida). Assim, apertar a
barra (um hábito) resulta em alimento, que é a consequência desse comportamento.
Podemos demonstrar que, se um comportamento (pressionar a barra) reduz o impulso que o originou (a
fome), então um hábito é reforçado. Embora o impulso energize um comportamento, ele não o guia, pois
os nossos hábitos são provenientes da aprendizagem (REEVE, 2006). Hull acreditava que a interação
entre um estímulo e uma resposta ocorria em um contexto mais amplo e que não se podia definir,
apenas, naquilo que se observava.
O impulso (os motivos) tem origem em uma vasta gama de necessidades fisiológicas, por exemplo:
fome, sede, sexo, dor, necessidades homeostáticas, como o controle de temperatura corporal. Portanto,
as bases puramente físicas, na proposta de Hull, são os estímulos para a motivação humana.
No ano de 1943, Hull elaborou uma fórmula para explicar esse pensamento (REEVE, 2006).
SER = SHR X D
As letras “s” e “r” significam determinado estímulo ou resposta, respectivamente. O estímulo é o impulso
(o “drive”), e a resposta é ao comportamento.
Assim, “sEr” = a magnitude de uma resposta em relação à intensidade de determinado estímulo, ou seja,
“sEr” = Pressionar a barra ou explorar o ambiente ou buscar por alimento, dependendo do impulso (do
estímulo que gerou o impulso). A fome é um estímulo que energiza um comportamento, logo é um
impulso, um motivo para o comportamento, que visa reduzir a intensidade do estímulo no organismo.
“sHr” = A força do hábito, ou seja, a força da aprendizagem traduz a probabilidade de uma resposta (o
hábito) ocorrer na presença de um estímulo. No caso do rato, quanto mais apertar a barra e comer,
poderá reduzir o impulso (a fome), pois à medida que esse comportamento diminuir o impulso, maior
será a probabilidade de se criar um hábito que é a força da associação da aprendizagem.
Os construtos “sHr” e “D” são características inobserváveis do comportamento, mas Hull compreendia
isso como um fenômeno físico, e não através de uma causação mental. Por analogia, um átomo
também é inobservável e trata-se de um fenômeno manipulável.
Podemos inferir que um organismo privado de comida ou sem se alimentar por muito tempo tenha fome,
mas não a observamos diretamente, apenas o resultante, ou seja, o que esse organismo faz quando
sente fome. Observamos o comportamento de apertar a barra (o rato), ou quando nós abrimos a
geladeira para buscar o alimento ou vamos a uma lanchonete da esquina. Esse é um ponto de
divergência com Skinner, pois, para esse autor, as relações entre os estímulos e as respostas são
diretas, e não mediadas por componentes internos. Hull, no entanto, considerava variáveis
intervenientes, por exemplo, a fome, dentre outras, e tais variáveis podiam ser quantificadas, tais como
os fenômenos físicos.
Posteriormente, em 1952, a proposta foi ampliada com a letra “K”, que significa a qualidade ou
quantidade de estímulo. Tanto a letra “D” quanto a letra “K” expressam motivos, ou seja, estados
motivacionais. A diferença é que “D” traduz um desequilíbrio interno do corpo, por exemplo, a fome. A
letra “K” traduz algo externo ao organismo em relação à qualidade e quantidade de estímulo.
EXEMPLO
Estou com fome e preciso, naquele momento, de algo doce ou algo salgado para nutrir as necessidades
do organismo (qualidade). Posso “matar minha fome” comendo, em um restaurante a quilo, 400g de
comida ou necessito de 800g? (quantidade)
SER = SHR X D X K
OS ESTADOS MOTIVACIONAIS NA
COMPREENSÃO DA APRENDIZAGEM
Neste vídeo, o especialista fala sobre a importância da consideração de variáveis não observáveis,
como o impulso, hábito e qualidade e quantidade de estímulo, no estudo de um comportamento.
Destacando as diferenças entre a proposta de Skinner e a proposta de Hull.
BANDURA E A TEORIA SOCIAL COGNITIVA
Albert Bandura, psicólogo e professor na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, postulou uma
abordagem sociocognitiva do comportamento humano. Inicialmente, trabalhou com premissas do
behaviorismo radical, mas ampliou o seu olhar ao notar que crianças e adolescentes imitavam
comportamentos e, consequentemente, aprendiam por meio da observação. Diferenciou os seus
achados da modelagem, via reforço, evidenciada por Skinner e apresentou o conceito de modelação, ou
seja, uma aprendizagem observacional ou vicariante.
Um grupo controle.
Todas as condições foram balanceadas em função do sexo, ou seja, os modelos eram de ambos os
sexos e as crianças também foram analisadas em grupos masculinos e grupos femininos.
Em todas das condições, as crianças eram instruídas a uma tarefa: desenhar, pintar, com o material
disponibilizado. Nas condições experimentais, as crianças, além da tarefa de base, observavam um
adulto recebendo a mesma instrução, ou seja, de desenhar e pintar.
Agora vem uma divisão: no grupo de modelos agressivos, após um minuto do início do experimento, um
boneco “João Bobo” inflável era chutado e agredido com socos e com ameaças verbais. O modelo
adulto de não agressão, simplesmente, atendia à instrução e ficava em silencio desenhando. O
resultado, quando comparados os três grupos, foi a reprodução de comportamentos violentos pelas
crianças que observaram um modelo adulto violento.
Um ponto de comparação interessante é que Bandura, por meio desse experimento, refutou Skinner na
ideia de que a aprendizagem ocorria apenas por reforçadores por aproximações sucessivas, ou seja, por
modelagem. Bandura apresentou evidências de que a aprendizagem podia ocorrer por imitação social.
Nesse aspecto exclusivo, a teoria da modelagem de Skinner como a única forma de se aprender não
resistiu ao teste de falseabilidade da teoria, ou seja, Bandura demonstrou que a teoria do Skinner estava
incompleta e, nesse aspecto, parcialmente errada. Perceba, entretanto, que Bandura não refutou as
premissas da modelagem, mas pela modelação demonstrou que aquela não é a única forma de
aprendermos.
VOCÊ SABIA
Outros pesquisadores reproduziram essa premissa no modelo animal colocando pombos ingênuos para
observarem pombos treinados no uso de um alimentador, tal qual Skinner fazia, ou seja, modelava
pombos e ratos nos mais diversos comportamentos. Foi percebido que animais também são capazes de
aprender por imitação. Os pombos ingênuos, mesmo não tendo passado pela modelagem, foram
capazes de usar o alimentador da mesma maneira que os pombos treinados.
Com esses exemplos, fica claro como o conhecimento científico evolui. Os esforços dos pesquisadores
em buscar falhas nas teorias de outros pesquisadores resultam no aprimoramento de uma área do
conhecimento, nesse caso nas teorias de aprendizagem. Parte das obras de Skinner vem,
invariavelmente, resistindo aos testes de falseabilidade; já parte da sua teoria, não! Quando um erro é
encontrado, um novo conhecimento preenche esse lugar, dando margem para outros pesquisadores
buscarem o mesmo processo. Esse é o movimento que demarca a revolução cognitivista na década de
1950, que, em grande parte, critica o conhecimento acumulado na Psicologia até então.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Tolman, apesar de ser um comportamentalista, vivenciou em sua época o contexto no qual propiciou o
que chamamos de uma revolução cognitivista.
Edward Chace Tolman (1886 – 1959).
As explicações comportamentalistas não estavam mais sendo suficientes para responder a certos
padrões de comportamento e/ou fenômenos que gradualmente, pela consolidação dos estudos
behavioristas, foram sendo observados.
A sistematização do conhecimento tem como resultado a busca por mais conhecimento. Uma vez que
as respostas para as perguntas feitas em determinada época são encontradas, novas questões surgem.
Um exemplo simples para entendermos essa dinâmica é que, uma vez evidenciada a modelagem como
um mecanismo de aprendizado, e essa teoria tenha se consolidado, fatalmente os pesquisadores
tentam aplicá-la para explicar tudo o que se refere ao aprendizado. Uma hora, porém, esbarram em um
fenômeno cuja premissa anterior não foi capaz de explicar. Esse foi o caso de Bandura, que não
encontrou uma forma de explicar um comportamento imitado pela modelagem e, assim, buscou
evidências da modelação, entendendo que Skinner não conseguiu evidenciar, com eficácia, o contexto
social da aprendizagem.
Tolman, por exemplo, observou que algumas aprendizagens ocorriam na ausência de reforço e utilizou o
conceito de aprendizagem latente para expressar tal fenômeno (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005).
Em seu delineamento experimental, Tolman trabalhou com ratos divididos em três grupos:
Um grupo controle.
O primeiro grupo, não reforçado, percorreu o labirinto aleatoriamente, vagando pelo labirinto. O segundo
grupo foi reforçado em todas as tentativas, ou seja, cada vez que entravam no labirinto, uma caixa com
comida estava à disposição e, assim, aprenderam a encontrar a caixa rapidamente. Já o terceiro grupo
não foi reforçado nas primeiras dez vezes que entraram no labirinto, ou seja, similar ao grupo controle.
Depois de dez entradas no labirinto, esse terceiro grupo foi reforçado nas tentativas subsequentes, ou
seja, a caixa de comida foi disponibilizada. O achado impressionante foi que os animais desse grupo,
mesmo tendo sido reforçado tardiamente, apresentaram uma curva de aprendizagem similar ao grupo
que foi reforçado continuamente.
Na primeira etapa, um tabuleiro de xadrez é coberto por 32 peças de dominó, ocupando duas casas
cada.
O problema do tabuleiro de xadrez mutilado (EYSENCK; KEANE, 2017) compreende uma solução por
insight. Inicialmente, quase todas as pessoas tentam cobrir, mentalmente, as casas com as peças de
dominó e tentam concluir uma resposta.
DICA
Agora, pense no tipo de estratégia que você adotou para responder à questão proposta. Se a sua
resposta foi que não é possível, pois houve a retirada de duas casas brancas, automaticamente, você
ativou sua percepção de que uma peça cobre uma casa branca e outra preta. Logo, você acabou de
vivenciar uma solução de problemas por insight, mesmo que depois de receber a dica das peças.
Porém, se você tentou cobrir, mentalmente, o tabuleiro com as peças, usou outra estratégia para
resolver o problema. A maioria das pessoas, nesse caso, erra a resposta ou desiste, pois são mais de
700 mil combinações possíveis para os dominós sob o tabuleiro.
O INSIGHT NO CÉREBRO
No âmbito das atividades cerebrais, para construir uma solução de um problema por insight, o cérebro
humano desencadeia uma série de mudanças que permitem uma compreensão súbita sobre algo. Sabe-
se, por meio de algumas correlações, que o hemisfério direito cerebral é mais ativado do que o
esquerdo. O hemisfério direito é associado à criatividade, enquanto o giro temporal desempenha um
papel no reconhecimento de conexões.
O que é defendido por alguns pesquisadores ao evidenciarem que o cérebro tem um padrão específico
de atividade cerebral no insight, com a ativação do giro temporal superior anterior, no hemisfério direito,
o córtex do cíngulo anterior, uma área que é ativada quando temos conflitos cognitivos e a ativação do
córtex pré-frontal, envolvido com processos cognitivos de níveis mais altos, por exemplo, as funções
executivas como o planejamento psíquico, a execução, a tomada de decisão e a solução de problemas.
Thomas Huxley (apud EYSENCK; KEANE, 2017) apresenta uma analogia de um apito de um trem a
vapor: “O assobio nos fala algo sobre o que está acontecendo no interior da máquina, mas não
apresenta um impacto causal no movimento do trem” (EYSENCK; KEANE, 2017, p. 686).
Temos livre-arbítrio como algo natural ou precisamos apreender a controlar nossas ações? E esse
controle inibitório, se apreendido, vai determinar processos decisórios, posteriormente, de modo não
consciente, ou seja, por padrões sinápticos que são disparados na presença de determinados estímulos
ou contextos?
Para entendermos melhor o papel das funções executivas no nosso comportamento e possamos
responder a esses questionamentos, vamos acompanhar um interessante estudo neste seguimento.
O TESTE MARSHMALLOW
MARSHMALLOW
A criança deveria aguardar sozinha em uma sala, por 20 minutos, com aquele marshmallow em um
prato à sua frente. Se não comesse o doce enquanto esperasse, ganharia o dobro de marshmallow após
transcorrido o tempo. Isso era informado para a criança, ou seja, um adulto entrava na sala, oferecia o
doce e avisava que, se não o comesse, ganharia dois quando ele voltasse para sala.
Na sala, a criança era exposta aos doces sendo convidada a escolher um. O doce era separado e uma
campainha era disponibilizada para criança tocar, chamando o pesquisador, caso quisesse comer o
doce de imediato. Se aguardasse os 20 minutos, o pesquisador entrava e escolhia o doce.
Essas crianças foram acompanhadas até os 27 e 32 anos, em um estudo longitudinal. As crianças que
haviam conseguido resistir na idade pré-escolar e não comeram o doce de imediato, na vida adulta,
apresentaram um índice de massa corporal mais baixo e autoestima mais elevada. Elas também tiveram
mais persistência e resiliência na busca por objetivos e mais resistência a frustação (MISCHEL, 2016).
VOCÊ SABIA
Embora o experimento tenha ficado conhecido como o teste marshmallow, a criança poderia escolher
entre uma variedade de guloseimas.
MEMÓRIA OPERACIONAL
Capacidade de sustentar temporariamente uma representação mental que será utilizada na realização
de operações cognitivas.
CONTROLE INIBITÓRIO
FLEXIBILIDADE COGNITIVA
Capacidade de alternar planos de ação e encarar uma realidade a partir de diferentes perspectivas.
Existem controvérsias acerca dos componentes inatos, hereditários, envolvidos na nossa capacidade de
inibir impulsos. Mas podemos facilmente constatar, em nossa sociedade, que vamos encontrar, na
maioria das pessoas, uma tendência a buscar satisfações imediatas ao invés de retardar recompensas.
Precisamos oferecer às nossas crianças experiências que propiciem o desenvolvimento das funções
executivas nucleares desde sempre. O nosso autocontrole e o adiamento da satisfação envolvem
experiências que favoreçam um desenvolvimento emocional saudável, desconsiderando as discussões
da hereditariedade nesse processo.
Estudos demonstram que estados somáticos afetivos são programados e envolvem nossas tomadas de
decisão. Damásio (1994, apud EYSENCK; KEANE, 2017) apresentou uma proposta para
compreendermos as alterações socioafetivas. Quando uma escolha é seguida por uma consequência
não satisfatória, ocorre uma reação emocional que fica associada a essa escolha. Quando a escolha é
seguida de resultados satisfatórios, em momentos futuros, a reação ocorre antes que a escolha seja
feita. Isso significa dizer que as melhores escolhas não são necessariamente de uma racionalização,
mas baseadas em emoções boas ou ruins. Uma escolha racional, nessa perspectiva, é guiada por uma
experiência emocional.
Na prática, isso significa dizer que precisamos criar ambientes para nossas crianças, que estados
afetivos satisfatórios sejam seguidos quando temos que adiar uma recompensa ou lidar com situações
estressantes e, assim, desenvolver uma capacidade aprimorada de tomadas de decisão, perseverança,
resiliência e de planejamento de metas e comportamentos objetivando ganhos futuros.
O DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES
EXECUTIVAS NUCLEARES
Neste vídeo, o especialista propõe uma reflexão sobre como os estados somáticos afetivos e as
experiências afetivas satisfatórias propiciam o desenvolvimento do controle inibitório e suas implicações.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O método científico e o método experimental nos propiciam conhecer como determinadas variáveis se
relacionam, assim como teorias são construídas e evidenciadas por testes empíricos. Não basta
afirmarmos que estamos fazendo ciência, pois, acompanhada dessa palavra, também podemos
encontrar pseudoargumentos científicos, ou seja, falsos. Conhecer as nuances do método científico e
aplicar esse raciocínio na análise de ideias, hipóteses, teorias, são atitudes que nos permitem fazer
tomadas de decisão mais criteriosas e seguras, principalmente, nos exercícios de nossas profissões.
PODCAST
Neste bate-papo, o especialista apresenta uma reflexão sobre a importância do método experimental na
construção do conhecimento da Psicologia como ciência, ilustrando seu raciocínio através dos
experimentos psicológicos clássicos.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BANDURA, A.; AZZI, R. G.; POLYDORO, S. Teoria Social Cognitiva. Conceitos Básicos. Porto Alegre,
RS: Artmed, 2008.
BREAKWELL, G. M. et al. Métodos de Pesquisa em Psicologia. Porto Alegre, RS: Artmed, 2010.
EYSENCK, M. W.; KEANE, M. T. Manual de Psicologia cognitiva. Porto Alegre, RS: Artmed, 2017.
FUENTES, D. et al. Neuropsicologia – teoria e prática. Porto Alegre, RS: Artmed, 2014.
GOODMAN, Jarid. Place vs. Response Learning: History, Controversy, and Neurobiology. Frontiers in
Behavioral Neuroscience, 2020.
MISCHEL, W. O teste do marshmallow: Por que a força de vontade é a chave do sucesso. Rio de
Janeiro, RJ: Objetiva, 2016.
NOLEN-HOEKSEMA, S. et al. Introdução a Psicologia: Atkinson & Hilgard. São Paulo, SP: Cengage
Learning, 2018.
EXPLORE+
Leia os artigos a seguir para ampliar a compreensão de aspectos abordados nesse material:
SAMPAIO, A. A. S. et al. Uma introdução aos delineamentos experimentais de sujeito único.
Interação em Psicologia, jun. 2008.
CONTEUDISTA
Roberto Sena Fraga Filho