Nota de Recomendacao Conjunta N 1 2023
Nota de Recomendacao Conjunta N 1 2023
Nota de Recomendacao Conjunta N 1 2023
PROCESSO Nº 71000.063201/2023-61
1. ASSUNTO
2. REFERÊNCIAS
4.1. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a assistência social tornou-se direito
da(o) cidadã(o) que deve ser garantido pelo Estado por meio de política pública de proteção social não
contributiva/distributiva, nos termos do art. 203 da CF/1988:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
(grifo nosso)
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoçãode sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
VI - a redução da vulnerabilidade socioeconômica de famílias em situação de
pobreza ou de extrema pobreza.
4.2. Além da previsão dos objetivos constitucionais da assistência social, o art. 204 da
Constituição Federal trouxe as diretrizes sobre a política de assistência social:
4.14. As normas, princípios e pressupostos existentes no SUAS são aplicados ao sistema como um
todo e não somente a parte deste. Trata-se de um sistema que busca unicidade, o que impede a
segregação de regras com relação à implementação de suas ofertas de modo direto por unidades
públicas ou indireto por unidades referenciadas das Entidades e Organizações de Assistência
Social/OSC.
4.15. É necessário reforçar o entendimento da responsabilidade carreada às Entidades e
Organizações de Assistência Social/OSC que escolhem vincular-se ao SUAS, que a partir da referida
vinculação passam a reforçar seu caráter público não-estatal.
4.16. No sentido de que as Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC executam ofertas
da política pública de assistência social, os regramentos aplicáveis aos serviços, portanto, devem
também ser aplicáveis ao seu ente executor. Assim, tais organizações que integram o SUAS também
devem se submeter a todos os seus regulamentos.
4.17. Sob esta ótica, passamos à análise da pertinência das ofertas da rede socioassistencial do
SUAS, utilizando-se exclusivamente de voluntários ou em substituição à componente de equipe de
referência.
4.18. Seguindo a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB/RH); a
Tipificação Nacional do Serviços Socioassistencias; as Resoluções da Comissão Intergestores Tripartite
(CIT) nº 3/2012, nº 6/2013, nº 7/2012, nº 4/2017, nº 15/2013, nº 17/2011, nº 9/2014, nº23/2013; as
Portarias MDS nº 5/2014, nº 440/2005, nº 460/2007 e outras normativas que tratarem da matéria;
Termos de Aceite de pactuação para expansão de serviços socioassistencias; são previstas equipes de
referência para a implementação das ofertas, não sendo cabível a substituição de trabalhadoras(es) do
SUAS por voluntários. Deste modo, existe a necessidade de contratação e manutenção de equipes de
referência, compostas efetivamente por trabalhadoras(es) do SUAS, uma vez que prestam serviços de
caráter público, mesmo que seja em unidades referenciadas das Entidades e Organizações de
Assistência Social/OSC.
4.19. As Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC possuem autonomia administrativa e
política, por serem organizações privadas sem fins lucrativos com finalidade pública e social. Nesse
sentido, cabe a estas, por meio de suas definições estatutárias, definir sua(s) área(s) de atuação.
Quando uma Entidade e Organização de Assistência Social/OSC decide atuar na promoção do direito à
Assistência Social, na política pública e no SUAS, de modo autônomo, esta pode inovar em alguns
aspectos em suas ofertas, mas deve seguir as normas e requisitos exigidos legalmente, inclusive
quanto à constituição das equipesde referência. É importante destacar que ao se vincular ao SUAS, tais
organizações reforçam o seu interesse público seguindo a lógica da supremacia do atendimento às
necessidades sociais e universalização dos direitos de cidadania, a autonomia das(os) usuárias(os)-
cidadãs(ãos), a atuação territorial, o respeito às diversidades, a matricialidade sociofamiliar, a atuação
territorial, entre outros. Desse modo, tal vínculo se fortalece em todos os três níveis de reconhecimento
citados, por meio dos processos de referenciamento e contrarreferenciamento entre os CRAS, CREAS e
Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC.
4.20. Considera-se como trabalhadoras(es) do SUAS todos os profissionais que atuam
diretamente nas ofertas socioassistenciais em unidades públicas e unidades referenciadas das
Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC, na gestão e no controle social, conforme com as
Resoluções CNAS nº 09/2014,nº 17/2011, NOB-RH e outras normativas que tratarem da matéria.
4.21. Quando se trata da oferta de atendimentos e acompanhamento de usuárias(os)-
cidadãs(ãos) em serviços socioassistenciais, as Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC
devem garantir a continuidade das ofertas, e isso só é possível por meio da existência de equipes de
referência, principal tecnologia do SUAS.
4.22. O planejamento, a continuidade, a permanência e a sistematização das ofertas, conforme
disposto na Resolução CNAS nº 14/2014, foram estabelecidos para a Política de Assistência Social como
concretização do princípio da essencialidade devida às políticas de seguridade social. Estes princípios
preveem que serviços públicos essenciais não podem sofrer interrupções.
4.23. As formações profissionais, experiências e competências técnicas, humanas e políticas das
trabalhadoras e trabalhadores do SUAS potencializam as ofertas desta política pública e, por isso,
devem ter vínculos empregaticios. Tal questão deve ser observada em todos os níveis de
reconhecimento das Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC para se vincularem ao SUAS,
independente de financiamento público direto ou indireto.
4.24. Devemos afirmar que garantir proteção social a quem necessitar não é tarefa que possa ser
realizada sem a existência de equipe profissional que possa dar conta do planejamento, continuidade,
permanência e sistematização das ofertas socioassistenciais. Ou seja, se não há tais equipes, não há
oferta socioassistencial, mas ação social pontual, sem garantia de tais princípios essenciais à garantia
do direito à Assistência Social.Assim, as ofertasde serviços socioassistenciais podem, também, ser
executadas de modo indireto por unidades referenciadas das Entidades e Organizações de Assistência
Social/OSC, tais como, Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), Serviço de Proteção
Social Básica em Domicílio para Pessoas com Deficiência e Idosos; Serviço Especializado em Abordagem
Social; Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias; Serviço
de Acolhimento Institucional (Abrigo institucional, Casa-Lar, Casa de Passagem, Residência Inclusiva);
Serviço de Acolhimento em República; Serviçode Acolhimento em Família Acolhedora; Serviço de
Proteçãoem Situações de Calamidades Públicas e de Emergências; bem como as ofertasde
Assessoramento, Defesa e Garantia de Direitos; Promoção da Integração ao Mundo do Trabalho.
4.25. As Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC que são caracterizadas como
Habilitação e Reabilitação da Pessoa com Deficiência e a Promoção de sua Inclusão à Vida Comunitária
(Resolução CNAS nº 34/2011) são aquelas que ofertam serviços, programas e projetos organizados
exclusivamente para pessoas com deficiência e suas famílias, previstas nas Resoluções CNAS
nº109/2009; nº 27/2011, nº 33/2011 e outras que tratarem da matéria;
4.26. Equipe de referência contratada/concursada é algo inegociável para o funcionamento de
qualquer política pública que tenha por função proteção as(os) cidadãs(ãos), por meio da atuação
profissional e territorial para o enfrentamento dos problemas públicos e sociais, promoção e garantia
de direitos. Nesse sentido, em que pese a importância das ações e atuação solidáriade voluntários,
nenhuma oferta socioassistencial do SUAS pode ser executada apenas por estes, considerando que tal
modalidade pode ser interrompida a qualquer momento e está condicionada à vontade de quem doa
seu tempo, e não necessariamente às demandas sociais das(os) usuárias(os)-cidadãs(ãos) do SUAS e às
dinâmicas de oferta planejada, permanente e continuada de serviços, programas e projetos
socioassistenciais.
4.27. As ofertas do SUAS demonstram-se imprescindíveis à coletividade, logo é premente a
obrigação de manter as ofertas regulares com as devidas equipes de referência formadas por
trabalhadoras(es) devidamente remuneradas(os) conforme os contextos territoriais. É sabido da
contribuição que se pode ter com atuação de voluntários, em termos de dedicação e, por vezes, de
conhecimentos específicos que possam agregar às ofertas, mas jamais pode existir oferta que dependa
exclusivamente do voluntariado.
5.1. O vínculo trabalhista não traz somente obrigações aos contratantes, mas também às(aos)
trabalhadoras(es). Nasce do contrato de trabalho, o qual oficializa vínculo empregaticio, uma série
deobrigações e deveres à(ao) empregada(o). Da mesma forma, nascem direitos e deveres ao
empregador, que permitem conduzir à garantia da prestação do serviço proposto. Uma vez que um
dos principais pressupostos das ofertas do SUAS é a continuidade, a prestação de serviços por
profissional contratado garantirá, portanto, a utilização pela usuária(o)-cidadã(o) do serviço sempre que
necessário.
5.2. Os profissionais de referência do SUAS estão indicados, sobretudo, na Norma Operacional
Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB/RH) e nas Resoluções CNAS nº 17/2011 e nº 09/2014,
conforme especificidades e demandas dos serviços, também previstas nas normativas do CNAS que
dispõem sobre as ofertas socioassistenciais vigentes.
5.3. Conforme as especificidades de cada serviço, programa e projeto do SUAS, ressalta-se a
importância da contratação de profissional(is) de nível superior e de nível médio, de modo a garantir a
permanência, o planejamento e a continuidade das ofertas socioassistenciais e a qualidade dos
atendimentos.
5.4. As (Os) trabalhadoras(es) do SUAS são a principal tecnologia da política pública e sua
valorização integra movimentos históricos de ruptura com a lógica da benemerência e caridade que
marca a assistência social, anteriormente à implementação da PNAS e os diferentes avanços associados
à Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (Resolução CNAS nº 109/2009), Resoluções CNAS
nº 27/2011; nº 33/2011; nº 34/2011 e outras deliberações do Conselho Nacional de Assistência Social.
5.5. Lembramos que a Orientação Técnica Conjunta do CNAS e SNAS nº 14/2014, que
dispõesobre o processo de inscrição de entidades nos conselhos municipais e distrital de assistência
social, aponta no apêndice III - roteiro para realização de visita técnica, página 53:
6. CONCLUSÃO
6.1. Por todo o exposto, a análise realizada não pode ser vista somente pela ótica remuneratória,
mas também pela lógica da garantia de direitos socioassistencias que as(os) usuárias(os) terão da rede
socioassistencial do SUAS. Manter equipes de referência, devidamente contratadas, é condição
essencial para afiançar direitos de proteção social.
6.2. Sendo assim, evidencia-se que estar vinculado ao SUAS, significa submeter-se a seus
objetivos, regramentos e funcionamento aplicáveis a unidades públicase entidades privadas/OSC
vinculadas ao sistema. Ou seja, as(os) trabalhadoras(es) do SUAS e as equipes de referência são
definidas para a rede socioassistencial de forma única.
6.3. Nesse sentido, não é possível que o Estado admita a execução de políticas públicas por
voluntários com atuação pontual e sem vínculos formais, com contribuições a depender de sua
disponibilidade de tempo, interesse e solidariedade.
6.4. Ressalta-se que não é impeditivo que a Entidade e Organização de Assistência Social/OSC
possua voluntários, mas a utilização do voluntariado como força de trabalho exclusiva ou em
substituição a membro da equipe de referência fere os princípios normativos do SUAS, quais sejam:
continuidade da oferta prestada; permanência; planejamento e sistematização, além de ser uma
barreira para a qualidade do atendimento à população.
6.5. Noque tange ao prejuízo à qualidade do atendimento, assessoramento e defesa de garantia
de direitos, este resulta não da inadequada suposição que o profissional voluntário é menos capacitado
que o contratado, mas sim da impossibilidade de planejamento e sistematização da oferta, pois é
inviável planejar ações com profissional que está livre do alcance de metas e resultados, bem como dos
mecanismos de responsabilização para que as entregas de fato ocorram.
6.6. Por mais que para os operadores do SUAS seja clara a impossibilidade de execução de
serviços com mão-de-obra voluntária, é dever do CNAS e da SNAS buscar forma de trazer à luz tal
impossibilidade, tornando-a expressa, evitando interpretações indevidas.
6.7. Dessa forma, no contexto da execução de serviços socioassistenciais de caráter público, que
integram a política pública da assistência social, é que se determina a orientação no sentido de que as
atividades prestadas pelas Entidadese Organizações de Assistência Social/OSC devem estar em
consonância com a NOB-RH/SUAS e demais normas relativas às equipes de referência indicadas para
as ofertas socioassistenciais qualificadas no âmbito do SUAS. Portanto, nos três níveis de
reconhecimento das Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC, para que tenha o vínculo
SUAS (inscrição nos Conselhos Municipais e do Distrito Federalde Assistência Social, CNEAS e CEBAS),
cabe aos conselheiros e gestores públicos atentarem para o integral cumprimento da comprovação de
equipe de referência nas ofertas a serem inscritas, cadastradas e certificadas.
6.8. Por fim, cabe aos referidos órgãos manter o controle interno e social, com relação ao
cumprimento de tais requisitos para as ofertassocioas sistenciais, buscando orientar as Entidades e
Organizações de Assistência Social/OSC, realizar visitas técnicas e supervisões periódicas, investindo na
formação e qualificação profissional, em parceria com os órgãos federais.
*Assinado Eletronicamente*
MARGARETH ALVES DALLARUVERA
Presidente do Conselho Nacionalde Assistência Social
*Assinado Eletronicamente*
ANDRÉ QUINTÃO SILVA
Secretário Nacionalde Assistência Social