Nota de Recomendacao Conjunta N 1 2023

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MINISTÉRIODO DESENVOLVIMENTOEASSISTÊNCIA SOCIAL,FAMÍLIA E COMBATEÀ FOME CONSELHO

NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL


SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

NOTA TÉCNICA CONJUNTANº 01/2023/MDS/CNAS/SNAS

PROCESSO Nº 71000.063201/2023-61

INTERESSADO: CONSELHO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL e SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

1. ASSUNTO

1.1. Análise e recomendações sobre a constituição e atuação de equipe de referência para


ofertas de serviços, programas e projetos socioasssistenciais por Entidades e Organizações de
Assistência Social/OSC no SUAS e o voluntariado.

2. REFERÊNCIAS

2.1. Lei nº 8.742,de 7 de dezembro de 1993 - Lei Orgânica de Assistência Social(LOAS);


2.2. Lei nº 9608, de 18 de fevereiro de 1998;
2.3. Resolução nº CNAS 145, de 15 de outubro de 2004 - Política Nacional de Assistência Social;
2.4. Resolução CNAS nº 33, 12 de dezembro de 2012 - atualiza a Resolução CNAS nº 130, de 15
de julhode 2005 Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB-SUAS);
2.5. Resolução CNAS nº 01, de 25 de janeirode 2007 - Norma Operacional Básica de Recursos
Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS);
2.6. Resolução CNAS nº 109, de 11 de novembrode 2009 - Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais;
2.7. Resolução CNAS nº 33, de 28 de novembro de 2011;
2.8. Resolução CNAS nº 34, de 28 de novembro de 2011;
2.9. Resolução CNAS nº 49, de 23 de novembro de 2021;
2.10. Resolução CNAS nº 27, de 19 de setembro de 2011; e
2.11. Resolução CIT nº 3, de 1 de marçode 2012.
3. SUMÁRIO EXECUTIVO
3.1. Trata-se de Nota Técnica elaborada com o objetivo de orientar as Entidades e Organizações
de Assistência Social/OSC e Conselhos Municipais sobre constituição e atuação de equipe técnica de
referência e participação de voluntários, nas ofertas socioassistenciais no âmbito do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS).
4. ANÁLISE

4.1. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a assistência social tornou-se direito
da(o) cidadã(o) que deve ser garantido pelo Estado por meio de política pública de proteção social não
contributiva/distributiva, nos termos do art. 203 da CF/1988:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
(grifo nosso)
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoçãode sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
VI - a redução da vulnerabilidade socioeconômica de famílias em situação de
pobreza ou de extrema pobreza.

4.2. Além da previsão dos objetivos constitucionais da assistência social, o art. 204 da
Constituição Federal trouxe as diretrizes sobre a política de assistência social:

Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas


com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de
outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes:
I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas
gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às
esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de
assistência social; (grifo nosso)
II - participação da população, por meio de organizações representativas, na
formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis.

4.3. O art. 3º da LOAS estabelece a classificação das entidades e organizações de assistência


social, a saber:
Art. 3º Consideram-se entidades e organizações de assistência social aquelas sem
fins lucrativos que, isolada ou cumulativamente, prestam atendimento e
assessoramento aos beneficiários abrangidos por esta Lei, bem como as que atuam
na defesa e garantia de direitos.
§ 1º São de atendimento aquelas entidades que, de forma continuada,
permanente e planejada, prestam serviços, executam programas ou projetos e
concedem benefícios de prestação social básica ou especial, dirigidos às famílias e
indivíduos em situações de vulnerabilidade ou risco sociale pessoal, nos termos
desta Lei, e respeitadas as deliberações do Conselho Nacional de Assistência Social
(CNAS), de que tratam os incisos I e II do art. 18. (grifo nosso)
§ 2º São de assessoramento aquelas que, de forma continuada, permanente e
planejada, prestam serviços e executam programas ou projetos voltados
prioritariamente para o fortalecimento dos movimentos sociais e das organizações
de usuários, formação e capacitação de lideranças, dirigidos ao público da política
de assistência social, nos termos desta Lei, e respeitadas as deliberações do CNAS,
de que tratam os incisos I e II do art. 18. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) (grifo
nosso)
§ 3º São de defesa e garantia de direitos aquelas que, de forma continuada,
permanente e planejada, prestam serviços e executam programas e projetos
voltados prioritariamente para a defesa e efetivação dos direitos socioassistenciais,
construção de novos direitos, promoção da cidadania, enfrentamento das
desigualdades sociais, articulação com órgãos públicos de defesa de direitos,
dirigidos ao público da política de assistência social, nos termos desta Lei, e
respeitadas as deliberações do CNAS, de que tratam os incisos I e II do art. 18. (grifo
nosso)
4.4. A política pública de Assistência Social é materializada por meio de ofertas de serviços,
benefícios, transferência de renda, programas e projetos socioassistenciais voltados para o
atendimento preventivo e protetivo de indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade e risco
social, agravadas pela pobreza, fome, miséria e desigualdades sociais, raciais, de gênero, entre outras.
Tais ofertas são realizadas pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS) em unidades públicas,
principalmente, os CRAS, CREAS e outras (execução direta)e em Entidades e Organizações de
Assistência Social/OSC (execução indireta). Para tanto, as Entidades e Organizações de Assistência
Social/OSC precisam ter identidade, seguir diretrizes, princípios e normativas do SUAS para que seja
estabelecido vínculo com o sistema.

4.5. O reconhecimento do vínculo das Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC com o


SUAS se dá a partir dos seguintes níveis:

I - Inscrição no Conselho Municipal ou Distritalde Assistência Social - obrigatório;


II - Registro no CNEAS (Cadastro Nacional de Entidades de Assistência Social) -
obrigatório;
III - Concessão/Renovação de CEBAS (Certificação de Entidades Beneficentes de
Assistência Social) – que pode ser requerida pela entidade caso opte pela imunidade
tributária.

4.6. O primeiro nível de reconhecimento das Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC


no SUAS é a inscrição no Conselho Municipal ou Distrital de Assistência Social, que consiste na
autorização de funcionamento destas enquanto coprodutoras na política de assistência social. A
inscrição também é pré-requisito para o acesso aos demais níveis de reconhecimento, que são o CNEAS
e a Certificação CEBAS.
4.7. A inscrição em ConselhoMunicipal ou Distrital de Assistência Social por parte das Entidades e
Organizações de Assistência Social/OSC que atuem na promoção dos direitos socioassistenciais deve
ser concretizada a partir da análise das ofertas de serviços socioassistenciais com caráter planejado,
permanente, continuado, sistematizado, universal e gratuito a indivíduos e famílias em situação de
risco e vulnerabilidade social. Do mesmo modo, programas e projetos, embora não tenham caráter
permanente e continuado, devem atender ao planejamento, universalidade e gratuidade. Assim, em
todas as ofertas a inscrição passa a ser vinculativa com o SUAS, no que tange ao cumprimento do
regramento nacional para os diferentes atores desta política pública.
4.8. Importante citar a redação do art. 9º da Lei nº 8.742/1993 (LOAS), que assim regulamenta:
Art. 9º O funcionamento das entidades e organizações de assistência social
depende de prévia inscrição no respectivo Conselho Municipal de Assistência
Social, ou no Conselho de Assistência Social do Distrito Federal, conforme o
caso. (grifo nosso)

4.9. O Cadastro Nacional de Entidades da Assistência Social (CNEAS) é o segundo nível de


reconhecimento de uma Entidade e Organização de Assistência Social/OSC no SUAS. Trata-se de um
instrumento de gestão coordenado pelo Governo Federal por meio da Secretaria Nacional de
Assistência Social (SNAS), preenchido e atualizado pelos órgãos gestores municipais e do Distrito
Federa lcom informações sobre as ofertas socioassistenciais prestadas pelas organizações que são
inscritas nos Conselhos Municipais ou Distrital de Assistência Social em seus territórios. Para o seu
preenchimento, é necessária a realização de visitas técnicas às Entidades e Organizações de Assistência
Social/OSC, além da inserção das informações coletadas no sistema. Esse nível de reconhecimento
permite à organização realizar parcerias com o órgão gestor municipal e receber recursos por meio de
emendas parlamentares. Além disso, esta torna-se apta para requerer a Certificação CEBAS.
4.10. Considerando que a inscrição no Conselho Municipal ou Distrital de Assistência Social, o
cadastro no CNEAS e a Certificação CEBAS podem ser concedidas às Entidades e Organizações de
Assistência Social/OSC que ofertam serviços socioassistenciais conforme a Tipificação Nacional de
Serviços Socioassistenciais (Resolução CNAS nº 109/2009); assessoramento, defesa e garantia de
direitos, de acordo com a ResoluçãoCNAS nº 27/2011; Promoção da Integração ao Mundo do Trabalho,
de acordo com a Resolução CNAS nº 33/2011; e as entidades caracterizadas como Habilitação e
Reabilitação da Pessoa com Deficiência e a Promoção de sua Inclusão à Vida Comunitária definidas pela
Resolução CNAS Nº 34/2011; frisa-se que deverão ser certificadas as organizações reconhecidamente
vinculadas ao SUAS. O pedido de concessão ou renovação da Certificação CEBAS deve ser instruído
com base na Lei Complementar nº 187/2021 e seu decreto regulamentador, bem como nas Resoluções
CNAS nº 109/2009, nº 27/2011, nº 33/2011, nº 34/2011 e nº 14/2014, e outras que venham a ser
aprovadas no sentido da caracterização das ofertas socioassistenciais.
4.11. A Certificação CEBAS é um instrumento de política pública que possibilita às Entidades e
Organizações de Assistência Social/OSC usufruírem da imunidade das contribuições sociais, tais como a
parte patronal da contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento, a Contribuição Social sobre
o Lucro Líquido (CSLL), a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social, ter prioridade em
chamamento público, e, a depender do município, também pode usufruir de benefícios locais e
estaduais. Ou seja, a imunidade é direito reconhecido pelo Estado para que a política públicas e ja
executada por Entidade e Organização de Assistência Social/OSC, de forma qualificada e menos
onerosa para esta. A imunidade permite certa desoneração das entidades para a contratação de
pessoal e manutenção das ofertas realizadas, contribuindo para a sustentabilidade da OSC e da política
pública de Assistência Social. Para gozar da imunidade prevista no §7º do art. 195 da Constituição
Federal do Brasil, as entidades devem ser certificadas conforme a Lei Complementar nº 187/2021.
4.12. É sabido que historicamente foram realizadas ações sociais pontuais, muitas vezes com
caráter assistencialista e paternalista, realizadas principalmente a partir de princípios da ajuda,
benemerência, filantropia e voluntariado. A construção e implementação do SUAS como concretizador
da Política Pública de Assistência Social traz uma concepção de garantia de direitos socioassistenciais
por meio de ofertas planejadas, continuadas, permanentes e gratuitas, buscando a promoção dos
direitos humanos e sociais, enfrentando as condições de desproteção social. Isso só pode ser garantido
a partir de um olhar para a defesa de direitos humanos e sociais, do interesse público, da
profissionalização das ofertas socioassistenciais com a presença de equipes de referência qualificadas,
com vínculos de trabalho estabelecidos, de modo que se possa ter resultados e indicadores que
demonstrem a efetividade. Isso não significa que não possa existir a presença do voluntariado nas
Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC.
4.13. A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), evidencia o caráter de unidade do SUAS quando
define a composição da rede socioassistencial como órgãos públicos e entidades e organizações de
assistência social vinculadas ao sistema:
Art. 6º-B. As proteções sociais básica e especial serão ofertadas pela rede
socioassistencial, de forma integrada, diretamente pelos entes públicos e/ou pelas
entidadese organizações de assistência social vinculadas ao Suas, respeitadas as
especificidades de cada ação.

4.14. As normas, princípios e pressupostos existentes no SUAS são aplicados ao sistema como um
todo e não somente a parte deste. Trata-se de um sistema que busca unicidade, o que impede a
segregação de regras com relação à implementação de suas ofertas de modo direto por unidades
públicas ou indireto por unidades referenciadas das Entidades e Organizações de Assistência
Social/OSC.
4.15. É necessário reforçar o entendimento da responsabilidade carreada às Entidades e
Organizações de Assistência Social/OSC que escolhem vincular-se ao SUAS, que a partir da referida
vinculação passam a reforçar seu caráter público não-estatal.
4.16. No sentido de que as Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC executam ofertas
da política pública de assistência social, os regramentos aplicáveis aos serviços, portanto, devem
também ser aplicáveis ao seu ente executor. Assim, tais organizações que integram o SUAS também
devem se submeter a todos os seus regulamentos.
4.17. Sob esta ótica, passamos à análise da pertinência das ofertas da rede socioassistencial do
SUAS, utilizando-se exclusivamente de voluntários ou em substituição à componente de equipe de
referência.
4.18. Seguindo a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB/RH); a
Tipificação Nacional do Serviços Socioassistencias; as Resoluções da Comissão Intergestores Tripartite
(CIT) nº 3/2012, nº 6/2013, nº 7/2012, nº 4/2017, nº 15/2013, nº 17/2011, nº 9/2014, nº23/2013; as
Portarias MDS nº 5/2014, nº 440/2005, nº 460/2007 e outras normativas que tratarem da matéria;
Termos de Aceite de pactuação para expansão de serviços socioassistencias; são previstas equipes de
referência para a implementação das ofertas, não sendo cabível a substituição de trabalhadoras(es) do
SUAS por voluntários. Deste modo, existe a necessidade de contratação e manutenção de equipes de
referência, compostas efetivamente por trabalhadoras(es) do SUAS, uma vez que prestam serviços de
caráter público, mesmo que seja em unidades referenciadas das Entidades e Organizações de
Assistência Social/OSC.
4.19. As Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC possuem autonomia administrativa e
política, por serem organizações privadas sem fins lucrativos com finalidade pública e social. Nesse
sentido, cabe a estas, por meio de suas definições estatutárias, definir sua(s) área(s) de atuação.
Quando uma Entidade e Organização de Assistência Social/OSC decide atuar na promoção do direito à
Assistência Social, na política pública e no SUAS, de modo autônomo, esta pode inovar em alguns
aspectos em suas ofertas, mas deve seguir as normas e requisitos exigidos legalmente, inclusive
quanto à constituição das equipesde referência. É importante destacar que ao se vincular ao SUAS, tais
organizações reforçam o seu interesse público seguindo a lógica da supremacia do atendimento às
necessidades sociais e universalização dos direitos de cidadania, a autonomia das(os) usuárias(os)-
cidadãs(ãos), a atuação territorial, o respeito às diversidades, a matricialidade sociofamiliar, a atuação
territorial, entre outros. Desse modo, tal vínculo se fortalece em todos os três níveis de reconhecimento
citados, por meio dos processos de referenciamento e contrarreferenciamento entre os CRAS, CREAS e
Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC.
4.20. Considera-se como trabalhadoras(es) do SUAS todos os profissionais que atuam
diretamente nas ofertas socioassistenciais em unidades públicas e unidades referenciadas das
Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC, na gestão e no controle social, conforme com as
Resoluções CNAS nº 09/2014,nº 17/2011, NOB-RH e outras normativas que tratarem da matéria.
4.21. Quando se trata da oferta de atendimentos e acompanhamento de usuárias(os)-
cidadãs(ãos) em serviços socioassistenciais, as Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC
devem garantir a continuidade das ofertas, e isso só é possível por meio da existência de equipes de
referência, principal tecnologia do SUAS.
4.22. O planejamento, a continuidade, a permanência e a sistematização das ofertas, conforme
disposto na Resolução CNAS nº 14/2014, foram estabelecidos para a Política de Assistência Social como
concretização do princípio da essencialidade devida às políticas de seguridade social. Estes princípios
preveem que serviços públicos essenciais não podem sofrer interrupções.
4.23. As formações profissionais, experiências e competências técnicas, humanas e políticas das
trabalhadoras e trabalhadores do SUAS potencializam as ofertas desta política pública e, por isso,
devem ter vínculos empregaticios. Tal questão deve ser observada em todos os níveis de
reconhecimento das Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC para se vincularem ao SUAS,
independente de financiamento público direto ou indireto.
4.24. Devemos afirmar que garantir proteção social a quem necessitar não é tarefa que possa ser
realizada sem a existência de equipe profissional que possa dar conta do planejamento, continuidade,
permanência e sistematização das ofertas socioassistenciais. Ou seja, se não há tais equipes, não há
oferta socioassistencial, mas ação social pontual, sem garantia de tais princípios essenciais à garantia
do direito à Assistência Social.Assim, as ofertasde serviços socioassistenciais podem, também, ser
executadas de modo indireto por unidades referenciadas das Entidades e Organizações de Assistência
Social/OSC, tais como, Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), Serviço de Proteção
Social Básica em Domicílio para Pessoas com Deficiência e Idosos; Serviço Especializado em Abordagem
Social; Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias; Serviço
de Acolhimento Institucional (Abrigo institucional, Casa-Lar, Casa de Passagem, Residência Inclusiva);
Serviço de Acolhimento em República; Serviçode Acolhimento em Família Acolhedora; Serviço de
Proteçãoem Situações de Calamidades Públicas e de Emergências; bem como as ofertasde
Assessoramento, Defesa e Garantia de Direitos; Promoção da Integração ao Mundo do Trabalho.
4.25. As Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC que são caracterizadas como
Habilitação e Reabilitação da Pessoa com Deficiência e a Promoção de sua Inclusão à Vida Comunitária
(Resolução CNAS nº 34/2011) são aquelas que ofertam serviços, programas e projetos organizados
exclusivamente para pessoas com deficiência e suas famílias, previstas nas Resoluções CNAS
nº109/2009; nº 27/2011, nº 33/2011 e outras que tratarem da matéria;
4.26. Equipe de referência contratada/concursada é algo inegociável para o funcionamento de
qualquer política pública que tenha por função proteção as(os) cidadãs(ãos), por meio da atuação
profissional e territorial para o enfrentamento dos problemas públicos e sociais, promoção e garantia
de direitos. Nesse sentido, em que pese a importância das ações e atuação solidáriade voluntários,
nenhuma oferta socioassistencial do SUAS pode ser executada apenas por estes, considerando que tal
modalidade pode ser interrompida a qualquer momento e está condicionada à vontade de quem doa
seu tempo, e não necessariamente às demandas sociais das(os) usuárias(os)-cidadãs(ãos) do SUAS e às
dinâmicas de oferta planejada, permanente e continuada de serviços, programas e projetos
socioassistenciais.
4.27. As ofertas do SUAS demonstram-se imprescindíveis à coletividade, logo é premente a
obrigação de manter as ofertas regulares com as devidas equipes de referência formadas por
trabalhadoras(es) devidamente remuneradas(os) conforme os contextos territoriais. É sabido da
contribuição que se pode ter com atuação de voluntários, em termos de dedicação e, por vezes, de
conhecimentos específicos que possam agregar às ofertas, mas jamais pode existir oferta que dependa
exclusivamente do voluntariado.

5. VOLUNTARIADO E INSCRIÇÃO DE OSC'S NOS CONSELHOS

5.1. O vínculo trabalhista não traz somente obrigações aos contratantes, mas também às(aos)
trabalhadoras(es). Nasce do contrato de trabalho, o qual oficializa vínculo empregaticio, uma série
deobrigações e deveres à(ao) empregada(o). Da mesma forma, nascem direitos e deveres ao
empregador, que permitem conduzir à garantia da prestação do serviço proposto. Uma vez que um
dos principais pressupostos das ofertas do SUAS é a continuidade, a prestação de serviços por
profissional contratado garantirá, portanto, a utilização pela usuária(o)-cidadã(o) do serviço sempre que
necessário.
5.2. Os profissionais de referência do SUAS estão indicados, sobretudo, na Norma Operacional
Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB/RH) e nas Resoluções CNAS nº 17/2011 e nº 09/2014,
conforme especificidades e demandas dos serviços, também previstas nas normativas do CNAS que
dispõem sobre as ofertas socioassistenciais vigentes.
5.3. Conforme as especificidades de cada serviço, programa e projeto do SUAS, ressalta-se a
importância da contratação de profissional(is) de nível superior e de nível médio, de modo a garantir a
permanência, o planejamento e a continuidade das ofertas socioassistenciais e a qualidade dos
atendimentos.
5.4. As (Os) trabalhadoras(es) do SUAS são a principal tecnologia da política pública e sua
valorização integra movimentos históricos de ruptura com a lógica da benemerência e caridade que
marca a assistência social, anteriormente à implementação da PNAS e os diferentes avanços associados
à Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (Resolução CNAS nº 109/2009), Resoluções CNAS
nº 27/2011; nº 33/2011; nº 34/2011 e outras deliberações do Conselho Nacional de Assistência Social.
5.5. Lembramos que a Orientação Técnica Conjunta do CNAS e SNAS nº 14/2014, que
dispõesobre o processo de inscrição de entidades nos conselhos municipais e distrital de assistência
social, aponta no apêndice III - roteiro para realização de visita técnica, página 53:

"OBSERVAÇÃO: Importante destacar que para responder a questão relativa aos


atores que irão balizar o caráter permanente e planejado dos serviços/ações da
entidade, faz-se necessário considerar que apenas o fato da organização estar em
funcionamento diário não qualifica o caráter continuado dos serviços/ações.
Ressalta-se que para aferir a continuidade e sistematicidade dos serviços/ações
deve-se considerar a constituição de equipe técnica contratada para esse fim (não
apenas contar com o trabalho voluntário) e ainda a existência de infraestrutura
mínima para o desenvolvimento das atividades." (grifo nosso)
Nesse sentido, sugerimos às DRADS e gestões municipais que, ao identificar OSCs
que não possuem profissionais contratados para a execução de ofertas
socioassistenciais e possuam inscrição, realizem o contato com os conselhos
municipais de assistência social a fim de estabelecer um diálogo e avaliar a
possibilidade de se estabelecer um plano de providências junto às entidades,
lembrando que é primordial o atendimento aos princípios normativos da política, a
garantia dos direitos dos usuários e famílias atendidos e que o cancelamento da
inscrição deve ser realizado apenas quando esgotadas as possibilidades de
adequação, conforme "comentário 37" a respeito do art. 15 da Resolução CNAS
14/2014 na Orientação Técnica SNAS/CNAS:
Art. 15 - A inscrição das entidades ou organizações de Assistência Social, dos
serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais é por prazo
indeterminado.
§ 1º - A inscrição poderá ser cancelada a qualquer tempo, em caso de
descumprimento dos requisitos, garantido o direito à ampla defesa e ao
contraditório.
Comentário 37: O cancelamento da inscrição pode ser realizado a pedido da própria
entidade, bem como por constatação de irregularidade. Ressalta-se, no entanto, que
todo o processo de cancelamento deve ser realizado de forma a não prejudicar os
usuários dos serviços, que deverão ter seus direitos resguardados. Para tanto,
sugere-se que o CAS busque soluções alternativas em conjunto com o órgão gestor
da política de assistência social.
B) Cancelamento por constatação de irregularidade: O §1º, do art. 15, da
ResoluçãoCNAS nº 14/2014 dispõe que a inscrição poderá ser cancelada a qualquer
tempo, em caso de descumprimento dos requisitos, garantido o direito à ampla
defesa e ao contraditório. Portanto, as irregularidades suspeitas ou constatadas,
tanto por meio de denúncias como outras formas, deverão ser notificadas à
entidade, para que esta proceda à sua defesa. Para evitar descontinuidade dos
serviços e consequentes prejuízos aos usuários, sugere-se que o CAS avalie a
possibilidade de elaboração de um plano de providências em conjunto com a
entidade para a regularização das pendências constatadas, utilizando o
cancelamento como última instância. Caso seja necessário o cancelamento da
inscrição, o CAS deverá elaborar parecer técnico e submeterà análise e deliberação
do assunto em reunião plenária.
5.6. Caso não exista equipe de referência na Entidade ou Organização de Assistência Social/OSC,
cabe ao Conselho Municipal ou Distrital e ao órgão gestor local prestar apoio técnico necessário para
regularização, organização e qualificação de suas ofertas e para o não prejuízo as(aos) usuárias(os).
5.7. O voluntariado possui regramento próprio, qual seja, a LEI Nº 9.608, DE 18 DE FEVEREIRO DE
1998, que dispõe em seu art. 1º, parágrafo único, sobre a inexistência de vínculo empregaticio ou
obrigação de natureza trabalhista:
Art. 1o Considera-se serviço voluntário, para os fins desta Lei, a atividade não
remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou
a instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais,
educacionais, cientificos, recreativos ou de assistência à pessoa. (Redação dada pela
Lei nº 13.297, de 2016)
Parágrafo único. O serviço voluntário não gera vínculo empregaticio, nem
obrigação de natureza trabalhista previdenciária ou afim. (grifos nossos)
5.8. Mesmo que o serviço voluntário seja prestado por profissional constante na NOB/RH, uma
vez que sua prestação de serviços não gera vínculo empregaticio, nem obrigação de natureza
trabalhista, é indispensável considerarmos o risco ao planejamento, à permanência, à continuidade e à
sistematização do serviço, programa ou projeto socioassistencial, caso uma Entidade e Organização de
Assistência Social/OSC funcione somente com corpo de voluntários em seu quadro de recursos
humanos.
5.9. Importante ainda destacar que as Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC já
contam com voluntários em seus quadros de diretoria e conselhos, o que inclusiveé característica
normativa das entidades sem fins lucrativos. Porém, isso difere da atuação técnica de profissionais que
atuam diretamente na oferta direta dos serviços, programas e projetos, que devem ter formação,
dedicação e remuneração adequada para prestar atendimentos, assessoramento e defesa de garantia
de direitos.

6. CONCLUSÃO

6.1. Por todo o exposto, a análise realizada não pode ser vista somente pela ótica remuneratória,
mas também pela lógica da garantia de direitos socioassistencias que as(os) usuárias(os) terão da rede
socioassistencial do SUAS. Manter equipes de referência, devidamente contratadas, é condição
essencial para afiançar direitos de proteção social.
6.2. Sendo assim, evidencia-se que estar vinculado ao SUAS, significa submeter-se a seus
objetivos, regramentos e funcionamento aplicáveis a unidades públicase entidades privadas/OSC
vinculadas ao sistema. Ou seja, as(os) trabalhadoras(es) do SUAS e as equipes de referência são
definidas para a rede socioassistencial de forma única.
6.3. Nesse sentido, não é possível que o Estado admita a execução de políticas públicas por
voluntários com atuação pontual e sem vínculos formais, com contribuições a depender de sua
disponibilidade de tempo, interesse e solidariedade.
6.4. Ressalta-se que não é impeditivo que a Entidade e Organização de Assistência Social/OSC
possua voluntários, mas a utilização do voluntariado como força de trabalho exclusiva ou em
substituição a membro da equipe de referência fere os princípios normativos do SUAS, quais sejam:
continuidade da oferta prestada; permanência; planejamento e sistematização, além de ser uma
barreira para a qualidade do atendimento à população.
6.5. Noque tange ao prejuízo à qualidade do atendimento, assessoramento e defesa de garantia
de direitos, este resulta não da inadequada suposição que o profissional voluntário é menos capacitado
que o contratado, mas sim da impossibilidade de planejamento e sistematização da oferta, pois é
inviável planejar ações com profissional que está livre do alcance de metas e resultados, bem como dos
mecanismos de responsabilização para que as entregas de fato ocorram.
6.6. Por mais que para os operadores do SUAS seja clara a impossibilidade de execução de
serviços com mão-de-obra voluntária, é dever do CNAS e da SNAS buscar forma de trazer à luz tal
impossibilidade, tornando-a expressa, evitando interpretações indevidas.
6.7. Dessa forma, no contexto da execução de serviços socioassistenciais de caráter público, que
integram a política pública da assistência social, é que se determina a orientação no sentido de que as
atividades prestadas pelas Entidadese Organizações de Assistência Social/OSC devem estar em
consonância com a NOB-RH/SUAS e demais normas relativas às equipes de referência indicadas para
as ofertas socioassistenciais qualificadas no âmbito do SUAS. Portanto, nos três níveis de
reconhecimento das Entidades e Organizações de Assistência Social/OSC, para que tenha o vínculo
SUAS (inscrição nos Conselhos Municipais e do Distrito Federalde Assistência Social, CNEAS e CEBAS),
cabe aos conselheiros e gestores públicos atentarem para o integral cumprimento da comprovação de
equipe de referência nas ofertas a serem inscritas, cadastradas e certificadas.
6.8. Por fim, cabe aos referidos órgãos manter o controle interno e social, com relação ao
cumprimento de tais requisitos para as ofertassocioas sistenciais, buscando orientar as Entidades e
Organizações de Assistência Social/OSC, realizar visitas técnicas e supervisões periódicas, investindo na
formação e qualificação profissional, em parceria com os órgãos federais.

*Assinado Eletronicamente*
MARGARETH ALVES DALLARUVERA
Presidente do Conselho Nacionalde Assistência Social

*Assinado Eletronicamente*
ANDRÉ QUINTÃO SILVA
Secretário Nacionalde Assistência Social

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