Aula 02. Dentição Mista e Permanente
Aula 02. Dentição Mista e Permanente
Aula 02. Dentição Mista e Permanente
Mista:
• Se caracteriza, na cavidade bucal, pela presença de dentes decíduos e dentes permanentes ao mesmo
tempo, sendo a fase mais longa e dinâmica do desenvolvimento da oclusão. Ou seja, em média, dos 6 aos
12 anos, vai predominar a dentadura mista;
• Nesses 6 anos ocorrem diversas mudanças eruptivas e dimensionais (alterações dimensionais do arco,
crescimento craniofacial, dente decíduo esfoliando, dente permanente irrompendo – troca dos dentes
decíduos pelos permanentes, ao mesmo tempo em que os ossos da face crescem);
• Em que momento irrompe o primeiro dente permanente? Por volta dos 6 anos (ICI ou 1°M permanente);
• Em que momento irrompe o último dente permanente? Excluindo o 3°M, uma vez que ele não faz parte
da oclusão, o último dente a irromper é o 2°M permanente, por volta dos 12/13 anos;
• Ficar atento para saber identificar o que é normal e o que está fugindo da normalidade, podendo vir a exigir
alguma intervenção.
Ex¹: ICS irrompe por volta dos 7/8 anos. Paciente de 10 anos chega com um central irrompido e outro ausente.
Eu tenho que saber a fase de surgimento e olhar as características presentes naquele momento, para poder
identificar o que precisa de investigação.
Quando tenho alterações na sequência de oclusão ou mudanças cronológicas muito grandes, devo investigar
o motivo da situação ter acontecido. É importante distinguir quando o paciente vai ou não precisar daquela
intervenção – as vezes esperar demais o dente irromper naturalmente pode dificultar a correção
posteriormente, mas também nem tudo de que o paciente se queixa exige de tratamento naquele momento.
Que parâmetro usar para observar se a erupção dentária está acontecendo de maneira normal ou atípica?
• A idade cronológica (em anos) é um padrão de referência, mas não podemos ficar presos a ela, porque
existem muitas alterações de um paciente para o outro. Mais importante do que isso é saber se a sequência
de erupção está ou não correta – é bem mais crucial saber se a sequência de surgimento está correta do que
saber se o paciente tem 7 ou 8 anos;
• A idade dentária pode ser avaliada por meio de uma radiografia – avaliar o estágio de odontogênese dos
dentes permanentes, para ter uma ideia de quanto tempo falta até o irrompimento (estágio de Nolla);
• Avaliar o momento em que o dente aparece na cavidade bucal – época de irrupção dentária é a melhor
maneira.
• Na ortodontia, o parâmetro principal é o momento em que o dente vai irromper na cavidade bucal.
Como a dentadura mista é muito longa, a gente a divide em 3 fases de acordo com o grupo de dentes que vai
irromper na cavidade bucal:
• 1° Período Transitório;
• Período Intertransitório;
• 2° Período Transitório.
1° Período Transitório:
• Ocorre nos dois primeiros anos da dentadura mista, caracterizado pela
irrupção dos 1°M permanentes, esfoliação dos incisivos decíduos e
irrupção dos incisivos permanentes;
Ex¹: Avaliou o paciente clinicamente, viu que está irrompendo o 1°M
permanente, esfoliando decíduo e irrompendo incisivo permanente?
Significa dizer que ele está no 1° período transitório.
• No consultório particular, deve-se pedir sempre uma panorâmica para pacientes que tem por volta de 6/7
anos, porque mesmo que clinicamente esteja normal, ele pode ter um supranumerário ou algumas
alterações que precisam ser investigadas. Na Universidade, costuma-se pedir panorâmica nessa idade
apenas quando há desconfiança da presença de alguma anormalidade. Se estiver tudo bem clinicamente,
faz apenas o acompanhamento – panorâmica nessa idade sempre como parte da triagem para ver se não
existe nenhum tipo de problema, sendo essa a recomendação da Associação Americana de Ortodontia.
• A ordem da erupção não importa, só não pode acontecer do IL irromper antes do IC – indício de problema;
o Inicia com a erupção dos IC permanentes e 1°M, terminando quando os IL irrompem e atingem o plano
oclusal → 1°M sup e inf e IC inf (6 a 7 anos) // IC sup e IL inf (7 a 8 anos) // IL sup (8 a 9 anos).
o O 1° período transitório só acaba quando tenho todos os incisivos irrompidos.
• O IL é 2mm mais estreito que o IC;
Ex²: Nessa imagem, se eu medir o IC, é possível perceber que não há espaço
suficiente para o IL irromper. Nesses momentos eu preciso observar a necessidade
de intervenções prévias. Ou seja, se o espaço é pequeno demais, eu preciso dar um
jeito de criar/aumentar ele (expansão da arcada), para poder acomodar o lateral.
Ex³: O paciente apresenta os 1°M inf irrompidos, mas sem os 1°M superiores. Qual conduta deve ser tomada?
Se os inferiores irromperam, quanto tempo eu devo esperar para investigar o atraso desses antagonistas?
A conduta a ser seguida é a de esperar 6 meses. Se mesmo assim o antagonista não
irromper, faz-se uma radiografia. Isso porque existe a chance de acontecer a impactação
do 1°M permanente.
• Impactação do Molar:
o É mais frequente no arco superior (4%);
o O 1°M permanente fica impactado no 2°M decíduo e não consegue aparecer na
boca completamente. Como ele não conseguir irromper sozinho, se não fizer nada
ele vai permanecer impactado – separador, posiciona algum acessório para
empurrar o dente para distal;
o O dente tem muita força eruptiva quando ele está com o ápice aberto, depois que
ocorre a formação da raiz e esse ápice fecha, ele perde essa força. Em casos de
ápice já fechado, o dente vai ter que ser tracionar posteriormente.
Ex¹: Criança com 12/13 anos sem irrompimento do dente. Como o ápice estava
fechado, agora não adianta mais remover o decíduo, porque ele já perdeu a força
eruptiva. Vai ter que tracionar.
o Tratamento:
✓ Distalização do molar impactado;
✓ Manutenção do 2°M decíduo – sua exodontia deve ser a última opção.
✓ Desempactar esse dente e, de preferência, não extrair o 2°M decíduo, porque ele vai ficar com o
mantenedor de espaço depois.
• Prevalência de dentes não irrompidos:
o De todos os distúrbios eruptivos de dentes permanentes, o principal é o canino
superior, seguido do IC superior;
o Incisivos – 14,55%;
Ex¹: O espaço mínimo para um dente que vai irromper tem que ser um pouco maior
do que o tamanho do dente, uma vez que ao redor do dente existe o folículo
pericoronário. Então, eu preciso que haja espaço para o dente e para o folículo.
Ao medir o espaço do dente e comparar com o tamanho presente ao lado, foi
possível perceber que faltava cerca de 1mm. Então o que houve? Extraiu o
supranumerário, permanente estava alto, demorou pra vir e o espaço foi diminuindo,
o que acabou bloqueando-o de descer. Logo, o espaço para o dente que está vindo
tem que ser a largura do dente + 1,5/2mm, para dar lugar ao folículo pericoronário.
OBS: Se tiver supranumerário na boca do paciente, na maioria das vezes é na região anterior de maxila.
OBS²: Eu posso aplicar uma força ortodôntica em um dente com ápice aberto? Qual complicação poderia ter?
Caso só falte formar o terço apical, nenhum problema aconteceria (só ia ser complicado ter que desgastar mais
osso para poder expor o dente e colar o bráquete do aparelho);
Já em caso de dente com ápice aberto, mas com apenas metade da raiz formada, vai ocorrer a aceleração do
processo de fechamento do ápice, deixando o dente com uma raiz encurtada.
Ou seja, as consequências dependem do estágio de formação radicular. Se estiver faltando apenas o terço
radicular, não tem problema aplicar força. Agora se tiver de 1/3 a metade, vai acelerar o fechamento do ápice,
deixando um dente com raiz menor. Por isso que no estágio precoce não se deve nunca tracionar um dente.
• Alterações dimensionais:
o Incisivos permanentes com maior dimensão MD;
o Se eu somar a largura dos dentes decíduos, subtrair da largura dos permanentes,
no arco superior vai faltar 7mm de espaço e no arco inferior 6mm. Então, se a
criança não tiver diastema entre os dentes decíduos, é impossível o permanente se
manter alinhado;
o Devido a essa discrepância de tamanhos dos incisivos permanentes em relação aos
incisivos decíduos, vai ficar faltando 7mm na superior e 6mm na inferior.
o Mecanismos compensatórios:
✓ O tópico anterior mostrou que a falta de espaço é muito grande quando se vai trocar o decíduo pelo
permanente, mas 50% das crianças, mesmo com essa falta de espaço, não tem apinhamento. Isso
ocorre porque existem mecanismos compensatórios normais/naturais, que ajudam a resolver essa
falta de espaço;
✓ Presença de espaços na dentadura decídua – diastemas que são os principais mecanismos
compensatórios fisiológicos (Arco Tipo I de Baume);
✓ Aumento da distância intercaninos – no arco inferior, o espaço primata está localizado entre o
canino e 1°M decíduo. Muitas vezes, o dente acaba irrompendo um pouco imprensado por causa
da falta de tamanho, então quando o lateral vai subindo, ele vai deslocando o canino para distal,
para dentro do espaço primata, e um pouco para a vestibular. Isso aumenta a distância intercaninos,
que é o espaço que vai acomodar os incisivos – no arco inferior eu tenho um aumento espontâneo
da distância intercaninos em torno de 3mm, só pelo fato do incisivo permanente irromper
deslocando o decíduo para distal, dentro do espaço primata, e um pouco para vestibular;
✓ Maior inclinação vestibular dos incisivos permanentes – o incisivo permanente irrompe mais
vestibular do que o decíduo, fazendo com que o comprimento do arco aumente. E aumentando o
comprimento do arco eu vou ter mais espaço para acomodar os incisivos.
✓ Apesar de todos esses mecanismos, ainda vai ter os outros 50% das crianças que vão apresentar
apinhamento. O apinhamento que a criança apresenta, no 1° período transitório da dentadura mista,
é chamado de apinhamento primário.
OBS: Se a criança tem apinhamento primário, significa dizer que ela vai ter apinhamento na dentição
permanente? Depende da quantidade de apinhamento. Se a falta de espaço for até 3/4mm e os incisivos
inferiores não estiverem muito girados, existe a chance de correção espontânea (espera e considera esse
apinhamento primário como temporário). Essa correção de apinhamento primário nem sempre vai precisar
de aparelho.
2° Período Transitório.
• Irrompimento dos caninos, PM e 2° molares. Quando os 2° molares irromperem e atingirem a oclusão, o
paciente finalizou o 2° período transitório e está na dentadura permanente.
o Esfoliação dos caninos e molares decíduos;
o Irrupção dos caninos permanentes e pré-molares;
o Irrupção dos 2° molares permanentes.
• Cronologia de erupção:
o Existe uma alteração na ordem de erupção dos dentes, quando você compara o arco inferior ao superior.
Qual é essa diferença? No arco inferior, o primeiro dente que vai irromper é o canino. Já no arco
superior, o canino vai irromper junto com o 2°PM;
o Arco inferior: canino – 1° pré – 2° pré – 2° molar;
o Arco superior: 1° pré – 2° pré junto com canino – 2° molar;
o C inf (9 a 10 anos) // 1° PM inf + 1°PM sup (10 a 11 anos) // 2°PM inf + 2°PM sup + C sup (11 a 12
anos) // 2°M (12 a 13 anos);
o Portanto se você olhar o arco inferior de alguém, tiver PM e não tiver canino, está alterada a sequência.
Alguma coisa aconteceu.
• Observar cuidadosamente a sequência de erupção anormal e a assimetria de erupção.
Ex¹: Acabamos de ver que, no arco inferior, o primeiro dente que vai irromper durante o
2° período transitório é o canino. Mas esse paciente se encontra com o canino decíduo,
1°M decíduo e quem esfoliou foi o 2°M decíduo. Então, eu preciso manter esse espaço do
dente que esfoliou, porque a ordem está muito alterada – mantenedor de espaço. Sequência
de erupção anormal.
OBS: o que a gente vê frequentemente é que o canino já se forma com uma angulação muito mesial, e o que
se fala é que esse posicionamento ectópico não está associado a falta de espaço. Tem espaço, mas as vezes o
germe que já se forma ectópico. Como o trajeto é longo, tem mais chance de desviar no decorrer do processo.
OBS²: Só faz a exodontia precoce do canino e aguarda se ele tiver sobreposto até o meio do lateral. Em casos
onde a sobreposição é bem maior, já parte para o tracionamento, não espera ele corrigir naturalmente porque
dificilmente isso vai acontecer.
Leeway Space:
• Diferença da largura dos caninos e molares decíduos para a largura dos caninos e pré-molares permanentes:
o Diferença entre a soma dos diâmetros mésio-distais dos caninos e molares decíduos e a soma dos
diâmetros mésio-distais de seus sucessores.
• O que essa conta nos mostra é que vai sobrar espaço, na média de cerca de 3,4mm
no arco inferior e 1,8mm no arco superior;
o É por causa disso que falamos que apinhamento inferior em até 4mm pode ser
resolvido, uma vez que existe esse espaço sobrando atrás;
o Eu também vou ter mais espaço sobrando no arco inferior do que no arco
superior, o que faz com que o inferior tenha bem mais chances de ir para frente
do que o superior – tendência do molar inferior de ir mais pra frente do que o
molar superior.
Dentadura Permanente:
• Inicia-se por volta dos 12-13 anos;
• Quando o 2°M irromper e atingir o plano oclusal, o paciente sai da dentadura mista e entra na permanente;
• O 3°M tem muita chance de agenesia, muitas vezes está mal posicionado e sem espaço para ele irromper,
então é considerado como parte da oclusão, do ponto de vista da ortodontia. Não se espera ele irromper
para classificar como dentição permanente – 3° molares geralmente não fazem parte da oclusão.
Que parâmetros você deve observar no seu paciente para definir se a oclusão está normal ou não?
1. Relação molar;
2. Angulação da coroa (MD);
3. Inclinação da coroa (VL);
4. Ausência de rotações; 6 chaves da oclusão normal
5. Contatos interproximais justos;
6. Curva de Spee suave.
• Arco Inferior:
Só quem tem angulação é o canino, os demais dentes são verticalizados.
o Incisivos sem angulação;
o Caninos com angulação mesial;
o Pré-molares e molares sem angulação.
OBS: por isso que cada dente tem seu bráquete, uma vez que cada dente tem angulação e inclinação próprios.
Terceiro Molar:
• Trajeto irruptivo extremamente variável;
• Elevada frequência de impacção (cerca de 50% dos casos);
• Elevado índice de agenesia;
• Provoca apinhamento anterior? Cientificamente, não existe relação de causa/efeito entre a presença dos 3°
molares e o apinhamento anterior. Então a indicação não tem correlação com apinhamento.
Artigo:
• A extração profilática do terceiro molar para evitar apanhamento está contra-indicada – agora se ele tiver
com falta de espaço, impactado, risco de absorver o 2°M, risco de patologia ou pericoronarite, aí eu vou
remover;
• A extração teria como objetivo prevenir processos patológicos: pericoronarite, cistos, reabsorções e cáries
nos segundos molares;
• Nos pacientes ortodônticos, geralmente a exodontia dos terceiros molares pode ser deixada para o final do
tratamento* - porque pode acabar sobrando espaço para ele ficar naquele local.
Apinhamento Terciário:
• Apinhamento no final da adolescência, também chamado de apinhamento terciário;
• Tendência de deslocamento mesial dos dentes posteriores, resultante das forças oclusais;
• Pequenas quantidades de desgastes interproximais;
• Posicionamento lingual dos incisivos (crescimento diferencial maxilomandibular) – a maxila termina de
crescer antes da mandíbula. Fisiologicamente a mandíbula está crescendo e os dentes terminam inclinando
para dentro buscando manter o espaço. E essa inclinação lingual dos incisivos, decorrente do crescimento
da mandíbula, que termina depois da maxila, provoca apinhamento. Sem relação direta com o 3°M.
Considerações finais:
• Desenvolvimento da oclusão e crescimento craniofacial estão intimamente relacionados;
• Entender as características de oclusão normal é fundamental para o diagnóstico precoce das más oclusões.