Luisa Lit
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ÍNDICE
1. Introdução ................................................................................................................................ 2
3. Conclusão ................................................................................................................................11
4. Bibliografia ............................................................................................................................ 12
1. Introdução
Este artigo tem por objetivo analisar, em sentenças isoladas da língua corrente, asreferências de
tempo e aspecto dos tempos verbais, utilizando os conceitos de tempo defala, tempo de evento e
tempo de referência, propostos por Reichenbach (apud Ilari,1997), que localizam o evento no
tempo, e elaborar através de diagramas a representaçãotemporal das sentenças, utilizando o
conceito de intervalo de tempo, que permite calcular otempo de duração do evento. Serão
analisadas, ainda, as referências de tempo e aspecto dosadjuntos adverbiais e sua contribuição
semântica para o significado da sentença. Paraclassificar o valor aspectual dos morfemas verbais e
dos advérbios de tempo, serãoutilizados os conceitos propostos por Vendler (apud Godol, 1997) e
Travaglia(1994). Embora se trate de categorias gramaticais diferentes, o tempo e o aspecto serão
associadosna análise, já que em português, e em muitas outras línguas, uma mesma forma
verbalexprime, através de seus morfemas flexionais, valores referenciais de tempo e aspecto
1.1. Objectivos
1.1.1. Geral
1.1.2. Específicos
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2. Revisão da Literatura
Tem sido difícil entender, ou melhor, estabelecer claramente a distinção entre tempo e aspecto, uma
vez que ambos parecem referir-se a um mesmo conceito. Na verdade, eles são bem distintos
Entretanto, qualquer falante do Português quando ouve ou lé fases como as que se seguem,
interprete-as, obviamente, como descrevendo situações localizadas no passado, no presente e no
futuro:
Embora a situação descrita por cada uma das frases seja a mesma (a visita do Presidente a UCM ),
as frases podem ter valores de verdade diferentes devido à localização temporal da situação
induzida pelo tempo gramatical utilizado. Em i. a situação está localizada num intervalo de tempo
anterior ao ponto da fala ou momento da enunciação. Em ii. A situação descrita sobrepõe-se ao
ponto de fala, uma vez que o intervalo de tempo em que se localiza o ponto de evento e o ponto da
fala têm momentos comuns. Em iii. a situação descrita está localizada num intervalo de tempo
posterior ao ponto da fala.
Embora as duas situações descritas se encontrem localizadas no passado é diferente o modo como
são apresentadas a sua estrutura interna. Com efeito, em a) a situação descrita ocorre no intervalo
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de tempo denotado por às nove horas localizado no passado. Mas em b) a situação é descrita
globalmente, isto é, incluindo o processo preparatório envolvido (a fase inicial da situação, ponto
de culminação, isto é, a mudança de estado, de lugar ou de posse de uma das entidades envolvidas)
e o ponto resultante (neste caso, a maçã estar comida). A descrição apresentada em b. focaliza
apenas o processo preparatório.
Os casos (i, ii, iii) e (a, b) mostram claramente não só as diferenças entre a categoria linguística,
tempo e a categoria aspecto, mas também os pontos comuns entre elas.
É importante, todavia, perceber que, apesar da diferença entre as duas categorias linguísticas, elas
partilham sempre pontos de contacto, na medida em que podem operar com o mesmo tipo de
conceitos temporais, o de intervalo.
Por outro lado, certos advérbios podem funcionar com valor aspectual ou temporal, o mesmo
acontece com alguns tempos verbais que podem introduzir alterações aspectuais.
Em suma, o tempo e o aspecto são elementos que ajudam a construir um texto ancorado em pontos
de referência temporais e aspectuais. Esse ponto de referência associa-se ao tempo da enunciação
e, assim, poderemos identificar num texto (ou aplicar se formos os autores) os valores temporais
de simultaneidade se o que escrevemos se situa no mesmo tempo que lhe serve de ponto de
referência, de anterioridade e de posterioridade se a situação descrita não coincide com o tempo da
enunciação.
Em linguística, o aspecto é uma propriedade dos verbos e circunlóquios verbal, para indicar se a
acção que expressam não foi concluída ou no instante indicado na referência de frase, ou seja,
refere-se aos diferentes estágios de desenvolvimento da acção expresso pelo verbo. (Campos &
Xavier, 1991). Ou seja, o aspecto fornece informações sobre a forma como é perspectivada ou
focalizada a estrutura temporal interna de uma situação descrita pela frase, em particular, pela sua
predicação.
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Contudo, as gramáticas confluem quanto à importância da necessidade da distinção que há a fazer
entre o evento e estado como base para à compreensão da tipologia aspectual. Em português, assim
como em outras línguas, para além da natureza semântica dos predicados, as informações
aspectuais distribuem-se pelos afixos que contêm também informação temporal, e também através
da combinação de vários elementos associados aos anteriores, como sejam certos adverbiais e a
natureza sintáctico-semântica dos sintagmas nominais, em particular dos que constituem
complementos sub categorizados.
De acordo com Campos e Xavier (1991) eventos (chegar, atingir, nascer, morrer, almoçar, pintar,
etc.) são actividades dinâmicas que têm um fim delimitado, que pode ser instantâneo («O João
chegou cedo») ou prolongado («O João leu o livro em duas horas»).
Entretanto, os eventos podem ser télicos ou atélicos. Cada tipo pode ter ou não duração. Os eventos
télicos, por seu tumo, podem ser chamados processos culminados e culminações. Por outro lado,
Faria (1996) afirma que estados são situações não dinâmicas que não têm princípio nem fim («O
João está doente»; «A Joana gosta de maçãs»).
E por conseguinte, os estados lexicais têm pontos de contactos com os eventos (processos), mas se
distinguem destes por não serem dinâmicos, não admitem pausa (intervalo) no todo homogêneo.
Os estados podem ser: faseáveis e não faseáveis. Os primeiros podem ocorrer em construções
progressivas (estar a + Infinitivo) e os segundos não.
Todavia, segundo Covane (2017, p.53) “os pontos são eventos temporalmente indivisíveis e que se
distinguem das culminações por não admitirem um estado resultante”. Para compreender melhor,
interprete as frases que se seguem.
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Os estados lexicais têm algo em comum com os processos, pois são também atélicos, não
delimitados por natureza e homogêneos. No entanto, distinguem-se dos processos por não. serem
dinâmicos. Acresce que os estados não admitem qualquer tipo de pausa (intervalo) no todo
homogêneo, enquanto os processos as admitem.
i. A Maria trabalhou.
Repare que enquanto estar doente não admite qualquer pausa, sob pena de deixar de ficar doente,
trabalhar admite pequenos intervalos na actividade sem que isso ponha em causa o próprio
processo.
As formas verbais que mostram diferenças no tempo são chamadas de tempo. É importante
saber que os tempos são formados pela mudança do verbo.
Por outro lado, aspecto refere-se às mudanças nas formas verbais que expressam outras
ideias além das diferenças de tempo.
Pode-se definir tempo linguístico como tempo da situação referida a algum outro tempo,
normalmente, o momento da fala. O tempo não é marcado de forma explícita, pois o tempo verbal
é tomado como indicação de um determinado tempo em relação ao presente. Podemos verificar
esse raciocínio no esquema a seguir:
Segundo Travaglia (2006, p. 39), a categoria de tempo situa o momento de ocorrência da situação
a que nos referimos em relação ao momento da fala como anterior (passado), simultâneo (presente)
e posterior (futuro). É considerada uma categoria dêitica pelo autor, pois serve para expressar
distinções que dizem respeito ao tempo em que ocorre o ato de fala.
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Para o autor, tempo é uma categoria dêitica porque estabelece a localização no tempo, e aspecto é
uma categoria não dêitica, pois seu significado não remete ao momento da enunciação. Na mesma
linha de raciocínio, Comrie (1976) indica uma diferenciação entre tempo e aspecto ao enunciar que
a expressão “constituição temporal interna” trata-se de uma compreensão em termos da oposição
proposta entre “tempo interno da situação”, que diz respeito a aspecto, e “tempo externo da
situação”, que se refere a tempo.
A noção de aspecto pode ser tratada pelo menos de dois pontos de vista: o lexical e o gramatical.
O aspecto lexical, ou aktionsart, de um verbo consiste no modo como se encontra em uma estrutura
e como tal verbo expressa evento, estado, processo ou ação. O aspecto lexical se distingue do
aspecto gramatical porque o aspecto lexical é uma propriedade inerente de uma eventualidade, já
o aspecto gramatical seria uma propriedade de uma realização sintática ou morfológica. O primeiro
é invariável e o segundo é dependente da necessidade do falante.
Um dos autores que trouxe uma importante discussão a respeito do aspecto lexical é Vendler (1967),
o qual propõe uma classificação para as classes acionais. Segundo o autor, existem quatro classes:
a) Os verbos estativos, que seriam os verbos em que se observam um evento sem final
evidente, mas com certa duração.
Exemplo: “amar”
b) Os verbos de atividade, que seriam aqueles com final arbitrário atingindo apenas por meio
de intervenção externa.
Exemplo: “caminhar”
c) Os verbos accomplishments, que seriam os verbos que demonstram duração marcada por
fases sucessivas até que o fim seja alcançado.
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d) os verbos achievements, que são aqueles em que se observa apenas o desfecho final da ação,
alcançado de forma instantânea.
Exemplo: “nascer”.
Além disso, teríamos outra forma de classificarmos o aspecto, que é denominado aspecto
gramatical. Ou seja, ao vislumbrarmos frases como “Eu estudei a matéria” e “Eu estudava a matéria
todos os dias”, percebemos que as duas têm, como tempo, o passado. A diferença entre elas reside
na noção aspectual. Isto é, na primeira frase, a ideia é de que o evento é findado e, na segunda, há
ideia de progressão. Essas noções de eventos acabados e não acabados estão ligadas a aspecto
gramatical e estão reveladas por morfemas. Nos dois casos, respectivamente, temos: –Ø– no
pretérito perfeito (estude–Ø–i), em que –Ø– é um morfema zero que indica tempo passado e aspecto
perfectivo. Já em “estudava”, temos o morfema –va-, no pretérito imperfeito (estuda –va– Ø),
indicando que o tempo está no passado e o aspecto está no imperfectivo.
Preliminares
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Chamamos de compostos aqueles aspectos que são caracterizados por mais de uma noção
aspectual. É o caso, por exemplo, do Perfectivo e Imperfectivo1 na definição que deles deram
Castilho (1967) e Comrie (1976). Aspectos simples serão aqueles caracterizados por uma única
noção aspectual. No quadro estabelecido por Câmara Jr. (cf. item 1.3.8) encontramos alguns
exemplos de aspectos simples tais como o Inceptivo, o Inconcluso, o Pontual, entre outros.
Procuraremos demonstrar aqui não só que um quadro de aspectos simples permite uma análise
aspectual melhor, por ser mais simples e completa a análise com um menor número de elementos;
mas também uma série de impropriedades de análise que já deverão ser consideradas quando da
proposição do quadro aspectual e sua aplicação na análise.
Para Castilho (1967), o perfectivo se caracteriza pela noção de completamento que ele entende
como sinônima de acabamento uma vez que diz: “As nuanças decorrentes da ação totalmente
decursa permitem subdividir o perfectivo em três tipos” (CASTILHO, 1967, p.50). Não há dúvidas
quanto a isto já que Castilho o declara em diversas passagens: “Temos o aspecto perfectivo se se
indica uma ação cumprida, contrária à noção de duração” (CASTILHO, 1967, p.14); “O perfectivo
indica processo acabado” (CASTILHO, 1967, p.15). O perfectivo, para ele, também “designa a
ação-ponto” (CASTILHO, 1967, p.54), já que o completamento “implica na indicação precisa do
começo e do fim do processo, polos estes separados por um lapso de tempo extremamente curto e
não significativo.” (CASTILHO, 1967, p.50). Portanto o Perfectivo seria um aspecto composto
caracterizado pelas noções de completamento (= acabamento) e pontualidade.
O imperfectivo é, pelo mesmo autor, caracterizado como sendo marcado pelo valor fundamental
de duração (CASTILHO, 1967, p.49), indicando uma ação que dura (CASTILHO, 1967, p.41) uma
ação-linha (CASTILHO, 1967, p.54). A duração apresentaria sempre um dentre três matizes (cf.
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item 1.3.9) que caracterizariam três subtipos: os aspectos Imperfectivo Inceptivo (noções de
duração + início) Imperfectivo Cursivo (noções de duração + meio) e Imperfectivo Terminativo
(noções de duração + fim). Portanto o Imperfectivo seria um aspecto composto em qualquer dos
três subtipos que aparecesse. Deve-se notar que ao caracterizar o Perfectivo e o Imperfectivo,
Castilho não diz que este se caracteriza pelo não acabamento. Sua colocação faz pensar que ele
opõe completamento no Perfectivo a duração no Imperfectivo, ou seja, podemos dizer que
explicitamente Castilho não afirma que o Imperfectivo apresenta a ação como não acabada.
Entretanto, pela oposição entre Perfectivo e Imperfectivo, isto parece ficar implícito.
Observem-se os exemplos abaixo, extraídos de Castilho (1967). Entre parênteses aparece o aspecto
que ele disse estar presente na forma em negrito e a página de onde se extraiu o exemplo.
“Na sua voz irradiante começou logo a contar uma complicada história familiar, atravessada de
traições, de direitos e de deveres”. (Imperfectivo Inceptivo propriamente dito - p.63)
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3. Conclusão
No estudo do verbo no Português pouca atenção tem sido dada à categoria de aspecto. Evidência
disto é o fato de nossas gramáticas tradicionais, com raras exceções, quase não tratarem desta
categoria. A sua não consideração criou uma lacuna na descrição do sistema verbal português cujo
preenchimento, por si só, justifica a realização não ‘só deste, mas de muitos outros estudos sobre
aspecto. Além disso a definição e descrição mais completa e exata do sistema verbal do Português
fornece melhores subsídios à Linguística Aplicada na elaboração de planos e métodos para o ensino
de nossa.
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4. Bibliografia
Campos, M. H., & Xavier, M. F. (1991). Conceitos básicos. Lisboa: Universidade Aberta.
COMRIE, B. (1976). Aspect: an introduction to the study of verbal aspect and related problems.
London: Cambridge University Press.
Vendler, Z. (1967). Verbs and Times. In Linguistics in Philosophy. Devecser : Cornell University
Press.
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