RR-10810-17 2021 5 15 0079
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Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho
ACÓRDÃO
4ª Turma
GMMCP/mcg/ra
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I - AGRAVO DA RECLAMADA (EMPRESA BRASILEIRA DE
CORREIOS E TELÉGRAFOS) – AGRAVO DE INSTRUMENTO EM
RECURSO DE REVISTA - INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI N°
13.467/2017 - ECT - GRATIFICAÇÃO DE FÉRIAS SOBRE O ABONO
PECUNIÁRIO - MUDANÇA NA FORMA DE CÁLCULO -
MEMORANDO CIRCULAR Nº 2.316/2016-GPAR/CEGEP -
ALTERAÇÃO CONTRATUAL LESIVA - NÃO OCORRÊNCIA -
TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA
Por vislumbrar violação ao art. 7º, XVII, da Constituição da
República, dá-se provimento ao Agravo e, desde logo, ao Agravo
de Instrumento para mandar processar o Recurso de Revista.
Agravo de Instrumento conhecido e provido.
II - MÉRITO
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Por despacho, negou-se seguimento ao Agravo de Instrumento, entendendo-se
que as questões articuladas no Recurso de Revista não ofereciam transcendência hábil a impulsionar a
análise e o processamento do recurso denegado. Foram incorporadas as razões do despacho agravado,
que negara seguimento ao apelo, pelos óbices do art. 896, § 7º, da CLT, e das Súmulas nos 126 e 333 do
TST.
No Agravo, a Reclamada investe contra os óbices levantados. No mérito, renova as
razões dos recursos denegados. Destaca que não há base legal ou constitucional para o pagamento de
adicional sobre o abono pecuniário de férias. Apela ao Memorando Circular nº 2316/2016-GPAR/CEGEP.
Afirma que o tema tem convergência temática com o decidido na ADPF 495. Alega não ser caso de
aplicação da Súmula nº 51 do TST. Invoca os artigos 5º, II e 37, caput, 7º, XXVI, da Constituição ; as
Súmulas nos 346 e 473 do TST; e a Súmula Vinculante nº 37 do STF. Traz arestos.
O Eg. TRT deu parcial provimento ao recurso da Reclamante, para deferir-lhe as
diferenças de abonos pagos até a data de publicação da sentença normativa do dissídio coletivo que
trata da matéria. Eis os fundamentos:
ABONO PECUNIÁRIO DE 70% (GRATIFICAÇÃO DE FÉRIAS)
De acordo com a reclamante, desde o ano de 1989 a reclamada pagou aos funcionários o
abono pecuniário sob a rubrica de "Adicional de 70%", tendo como base a rubrica "Remuneração do
Empregado", mas que a partir de 01/01/2016, com fulcro no Memorando Circular 2316/2016, alterou
unilateralmente tal pagamento, desconsiderando o referido percentual de 70% e aplicando apenas o
adicional constitucional de 1/3, que resulta no percentual inferior de 33%.
A reclamada defendeu-se, alegando que constatou incorreção no cálculo utilizado para
pagamento aos empregados que se valiam da prerrogativa do artigo 143 da CLT, isto é, para os que
optavam pela conversão de 1/3 de suas férias em abono pecuniário, de modo "que os 70% eram
pagos em duplicidade (sobre os 30 dias e novamente sobre os 10 dias do abono), razão pela qual
editou o referido Memorando visando corrigir o equívoco" (Id. ec8b2f5).
Pois bem.
Consta no Mem. Circular nº 2316/2016 - GPAR/CEGEP:
(...)
Com efeito, a partir de 01/07/2016, os empregados do reclamado passaram a auferir o
abono calculado apenas sobre 30 dias de férias, acrescidos da gratificação de 70%, enquanto que
anteriormente auferiam a parcela calculada sobre 30 dias de férias acrescidos de 70% e, uma
vez encontrado o valor correspondente aos 10 dias de abono, havia sobre o valor nova
incidência dos 70% de gratificação de férias.
Quanto à questão em debate, assim decidiu o Juízo de origem:
"Em recente julgado o C. TST, analisando a matéria em debate, concluiu que não
constitui ofensa ao art. 468 da CLT e à Súmula 51/TST, a adequação da metodologia de
cálculo da gratificação de férias, promovida pelo réu, através do Memorando-Circular nº
2316/2016 - GPAR/CEGEP (...) Compartilho de idêntico entendimento, acrescentando, por
oportuno, que equiparando-se o réu à Fazenda Pública, está adstrito ao princípio da
legalidade, disposto no art. 37 da CF/88, que é basilar do regime jurídico administrativo"
(Id. ec8b2f5).
A reclamada, em um primeiro momento, interpretou a cláusula de forma favorável ao
trabalhador, englobando na base de cálculo do adicional normativo o abono pecuniário previsto no
art. 143 da CLT.
Não houve irregularidade, mas interpretação favorável ao trabalhador, eis que entendia que o
abono fazia parte da remuneração das férias.
Agiu desse modo até 2015, consoante admitido em defesa.
Não houve alteração na norma coletiva e a reclamada, em junho de 2016, alterou sua
interpretação e impediu a incidência do adicional de 70% sobre o abono pecuniário previsto no
art. 143 da CLT.
Ora, ainda que a norma coletiva não tivesse previsto a referida incidência, a reclamada criou
um evidente benefício ao trabalhador.
A supressão do referido benefício, enquanto vigente a norma coletiva, viola o art. 468 da
CLT.
O Tribunal Superior do Trabalho também tem entendimento firmado no sentido de vedar a
alteração unilateral de benefício concedido pelo empregador, ainda que derivado da interpretação
favorável da norma coletiva. Veja-se:
(...)
Incontroverso nos autos que a reclamada, ao alterar a base de cálculo do abono pecuniário,
causou prejuízo à reclamante, pois houve redução do seu valor final.
A prática era reiterada pela reclamada, desde 1989 até 2016, ou seja, após 27 anos é que foi
constatado o alegado equívoco quanto à dupla incidência da gratificação de 70%, na forma relatada.
Assim, ante a prática por mais de duas décadas, trata-se de condição mais benéfica
concedida à reclamante, que foi admitida em 2013, ou seja, antes da alteração do cálculo do
abono pecuniário, ocorrida em 2016.
A supressão da dupla incidência de 70% no cálculo dos 10 dias de abono configura
alteração contratual unilateral por parte do empregador e lesiva à empregada, vedada pelo art.
468 da CLT.
Nesse sentido, o entendimento contido na Súmula nº 51 do C. TST:
(...)
Por outro lado, também é incontroverso que a sentença normativa proferida no Dissídio
Coletivo de Greve n.º 1001203-57.2020.5.00.0000, publicado em 31/07/2020, rejeitou a manutenção
da cláusula 59ª prevista nos Acordos Coletivos anteriores, que tratava do pagamento da gratificação
de férias no valor de 70% e o respectivo abono pecuniário.
Diante disso, a alteração não ocorreu por decisão unilateral do empregador, mas em
cumprimento a uma sentença normativa, o que afasta, a partir do trânsito em julgado daquela
decisão, a alegada violação ao artigo 468 da CLT ou ao entendimento contido na Súmula n° 51 do
C. TST.
Portanto, dou parcial provimento ao recurso da reclamante, para deferir-lhe as diferenças
de abonos pagos até 31/07/2020, data da publicação da sentença normativa no DCG n.º 1001203-
57.2020.5.00.0000. (fls. 1.466/1.469 – destaques acrescidos)
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No Recurso de Revista, a Reclamada solicitou a preservação do teor do
Memorando Circular nº 2316/2016-GPAR/CEGEP e seus efeitos, quanto ao abono pecuniário e sua forma
de cálculo. Afirmou que não se trata de alteração contratual lesiva, nos moldes do art. 468 da CLT.
Apontou violação aos artigos 5º, II; 7º, XVII; e 37, caput, da Constituição da República; 130, I e 143 da CLT;
e contrariedade à Súmula nº 328 do TST. Trouxe acórdãos à divergência.
No Agravo de Instrumento, reitera as insurgências.
O Tribunal Regional condenou a Reclamada ao pagamento da gratificação de 70%
para a remuneração das férias, limitada aos períodos de vigência das normas coletivas anteriores ao
decidido no DCG nº 10001203- 57.2020.5.00.0000.
A partir do que foi delineado no acórdão regional, até o advento do Memorando
Circular nº 2.316/2016, a Reclamada entendia ser devida a incidência da gratificação de férias, majorada
para 70% pelo Acordo Coletivo de Trabalho, sobre os 30 dias de férias e, no caso de conversão de 1/3
das férias em abono pecuniário, calculava os 10 dias de férias trabalhadas, acrescendo-o de mais 70% da
mesma gratificação.
A partir da constatação do pagamento em duplicidade, a ECT corrigiu a
metodologia de cálculo, passando a pagar a gratificação de férias de 70% sobre os 20 dias de férias
fruídas, mais 10 dias de férias "vendidos" com os 10 dias trabalhados (abono pecuniário), incidindo
sobre estes últimos a gratificação de férias, totalizando, assim, a incidência da referida gratificação
sobre 30 dias de férias, e não sobre 40 dias, como vinha sendo feito anteriormente.
Com a alteração na forma de cálculo da gratificação de férias implementada pelo
Memorando-Circular nº 2.316/2016-GPAR/CEGEP, os empregados públicos da ECT continuaram a
receber a referida gratificação no percentual de 70% previsto em negociação coletiva, mas não no
percentual de 93,33%, como antes era equivocadamente pago.
No caso em tela, por vislumbrar ofensa ao artigo 7º, XVII, da Constituição da
República, verifica-se a transcendência jurídica da causa, nos termos do artigo 896-A, § 1º, II, da CLT.
Desse modo, dou provimento ao Agravo e, desde já, ao Agravo de Instrumento
para processar o Recurso de Revista e determinar seja publicada a certidão, para efeito de intimação
das partes.
a)Conhecimento
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Adoto, como razões de decidir, os fundamentos exarados no RR-20576-
03.2021.5.04.0661, 4ª Turma, Relator Min.Alexandre Luiz Ramos, DEJT 14/4/2023:
A controvérsia colocada a debate diz respeito à possibilidade (ou não) de a ECT alterar a
metodologia de cálculo do abono pecuniário, decorrente da conversão ("venda") de 1/3 do período
de férias, o que estava ensejando o pagamento de gratificação de férias em duplicidade, a partir de
interpretação do mesmo dispositivo do Regimento Interno da ECT, especificamente do seu item 44.1,
à luz das normas do Acordo Coletivo de Trabalho e de demais dispositivos do próprio Regimento
Interno.
Até o advento do Memorando Circular nº 2316/2016–GPAR/CEGEP, a empresa fazia incidir a
gratificação de férias, majorada para 70% pelo Acordo Coletivo de Trabalho, sobre os 30 dias de
férias e, no caso de conversão de 1/3 das férias em abono pecuniário, calculava os 10 dias de férias
trabalhadas, acrescendo-o de mais 70% da mesma gratificação. A partir da constatação do
pagamento em duplicidade, a empresa fez a correção da metodologia de cálculo, passando a pagar a
gratificação de férias de 70% sobre os 20 dias de férias fruídas, mais 10 dias férias "vendidos" com os
10 dias trabalhados (abono pecuniário), incidindo sobre estes últimos a gratificação de férias,
totalizando, assim, a incidência da referida gratificação sobre 30 dias de férias, e não sobre 40 dias,
como vinha ocorrendo.
A primeira questão posta à análise diz respeito à legalidade do pagamento da gratificação de
férias quando há conversão de 1/3 de férias em trabalho e consequente pagamento do abono
pecuniário.
Como dito, até o advento do Memorando Circular nº 2316/2016–GPAR/CEGEP, a ECT pagava
a gratificação de férias de 70% (assim prevista em acordo coletivo) tanto sobre os 30 dias de
férias, como sobre os 10 dias convertidos em abono pecuniário. O resultado era que o
empregado que exercia a faculdade do art. 143 da CLT recebia, no final das contas, gratificação
de férias no percentual de 93,33% (70% sobre os 30 dias de férias + 23,33% sobre o abono de
férias).
O art. 7º, XVII, da Constituição Federal estabelece o direito dos trabalhadores ao gozo de férias
anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal:
"Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem
à melhoria de sua condição social:
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do
que o salário normal;"
Por sua vez, o abono pecuniário consiste na faculdade do empregado de converter ("vender")
um terço do período de suas férias anuais em dias de efetivo trabalho. É o que está previsto no art.
143 da CLT:
"Art. 143. É facultado ao empregado converter 1/3 (um terço) do período de férias
a que tiver direito em abono pecuniário, no valor da remuneração que lhe seria devida
nos dias correspondentes".
Com efeito, à luz das disposições precedentes, conclui-se que o direito reconhecido aos
trabalhadores pelo inciso XVII do art. 7º da Constituição Federal é o do pagamento de gratificação de
férias de, no mínimo, um terço sobre os trinta dias de férias a que fazem jus, sejam estas férias
usufruídas ou "vendidas", não sofrendo, portanto, majoração na hipótese do exercício, pelo
empregado, da faculdade inserta no art. 143 da CLT.
Nesse contexto, aliás, é que foi editada a Súmula nº 328 desta Corte, que garante o pagamento
da gratificação do terço constitucional para as férias integrais ou proporcionais, gozadas ou não:
"O pagamento das férias, integrais ou proporcionais, gozadas ou não, na vigência
da CF/1988, sujeita-se ao acréscimo do terço previsto no respectivo art. 7º, XVII".
Assim, ao fixar a inteligência do art. 143 da CLT, à luz do art. 7º, XVII, da Constituição
Federal, a jurisprudência atual e iterativa deste Tribunal Superior firmou-se no sentido de que o
valor da gratificação de férias fixado em lei ou por convenção entre as partes não se altera na
hipótese de conversão ("venda") de 1/3 do período de descanso anual em abono pecuniário, uma
vez que o valor deste abono corresponde à remuneração ordinária dos dias trabalhados, ainda
que, originariamente, estes se destinassem às férias. Vale dizer: ou a gratificação de férias
incide sobre os 30 dias de férias; ou incide sobre 20 dias de férias e sobre os 10 dias do abono
pecuniário, sem que, com isso, haja qualquer prejuízo ao empregado, à luz das normas
constitucionais e legais de regência.
No caso dos autos, como anteriormente exposto, a partir da edição do Memorando
Circular2316/2016-GPAR/CEGEP, a ECT passou a proceder ao correto cálculo do valor do terço das
férias, na medida em que, daquela data em diante, pagou a gratificação de férias de 70% sobre
os 20 dias de repouso anual gozados e mais 70% sobre os 10 dias convertidos em pecúnia,
cumprindo, assim, a cláusula regulamentar do item 44.1. Logo, pagou a gratificação de férias de
70% sobre os 30 dias, embora sob rubricas distintas. Para os empregados que não exerciam a
faculdade de conversão de 1/3 de férias em abono pecuniário, a empresa continuou pagando a
gratificação de férias de 70% sobre os 30 dias. Tal sistemática de cálculo segue a atual
jurisprudência deste Tribunal Superior, conforme ilustram os precedentes que seguem:
"EMBARGOS REGIDOS PELA LEI Nº 11.496/2007. EMBARGOS DO RECLAMANTE [...]
EMBARGOS DA RECLAMADA FÉRIAS. ABONO PECUNIÁRIO. TERÇO CONSTITUCIONAL.
BASE DE CÁLCULO. A Súmula nº 328 desta Corte garante o pagamento do terço
constitucional para as férias integrais ou proporcionais, gozadas ou não: "O pagamento
das férias, integrais ou proporcionais, gozadas ou não, na vigência da CF/1988, sujeita-se
ao acréscimo do terço previsto no respectivo art. 7º, XVII" . Na hipótese dos autos, a
reclamada procedeu ao correto cálculo do valor do terço das férias, na medida em que
pagou 1/3 sobre os 20 dias de férias gozados e mais 1/3 sobre os 10 dias convertidos em
pecúnia, ou seja, pagou o terço constitucional de férias sobre os 30 dias, embora em
rubricas distintas. Não há prejuízo em cálculo do terço constitucional de férias de forma
fracionada: primeiro sobre os 20 dias usufruídos e depois sobre os 10 dias relativos ao
abono pecuniário. O que importa para os empregados, no que diz respeito ao terço
constitucional de férias, é receber o terço equivalente aos 30 dias de férias. Decisão da
Turma em confronto com a jurisprudência desta Corte. Precedentes. Embargos
conhecidos e providos" (E-ED-RR-312400-32.2008.5.12.0034, Subseção I Especializada em
Dissídios Individuais, Relator Ministro José Roberto Freire Pimenta, DEJT 21/02/2020,
destaques acrescidos).
"RECURSO DE EMBARGOS. REGÊNCIA DA LEI Nº 11.496/2007. [...] FÉRIAS. ABONO
PECUNIÁRIO. TERÇO CONSTITUCIONAL. 1. A eg. Quarta Turma proferiu acórdão em
harmonia com a jurisprudência deste Tribunal Superior, ao dar provimento ao recurso
de revista, quanto às diferenças de férias, sob o fundamento de que, quitado o terço
constitucional referente aos 30 dias, não é devido novo pagamento do terço
constitucional sobre os dias de abono pecuniário. 2. Nesse contexto, o recurso de
embargos se afigura incabível, nos termos do art. 894, II, da CLT, considerada a redação
dada pela Lei nº 11.496/2007. Recurso de embargos de que não se conhece" (E-ED-RR-
856300-36.2007.5.12.0036, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Relator
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Ministro Walmir Oliveira da Costa, DEJT 14/12/2018, destaques acrescidos).
"EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014. DIFERENÇAS. FÉRIAS. ABONO PECUNIÁRIO. FORMA DE CÁLCULO. INCLUSÃO
DO TERÇO CONSTITUCIONAL. NÃO CONHECIMENTO. 1. A Constituição Federal, no artigo
7º, XVII, assegura ao trabalhador o gozo de férias anuais, as quais serão remuneradas
com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal. 2. A partir da exegese do
referido dispositivo constitucional, a jurisprudência desta Corte tem se firmado no
sentido de que o pagamento do terço constitucional sobre os vinte dias usufruídos de
férias não implica prejuízo ao trabalhador, desde que a remuneração do abono
pecuniário, na hipótese do artigo 143 da CLT, contemple o valor correspondente à
incidência do terço constitucional na remuneração dos dez dias indenizados, como
ocorreu na hipótese. 3. Considerando, pois, que o v. acórdão turmário está em
conformidade com a iterativa e notória jurisprudência deste Tribunal Superior, o
conhecimento do recurso de embargos encontra óbice no artigo 894, § 2º, da CLT. 4.
Recurso de embargos de que se não se conhece" (E-RR-935-35.2015.5.08.0109, Subseção
I Especializada em Dissídios Individuais, Relator Ministro Guilherme Augusto Caputo
Bastos, DEJT 09/03/2018, destaques acrescidos).
"AGRAVO EM EMBARGOS REGIDOS PELA LEI Nº 11.496/2007. FÉRIAS. ABONO
PECUNIÁRIO. TERÇO CONSTITUCIONAL. BASE DE CÁLCULO. O recurso não se viabiliza
por divergência jurisprudencial, em face da constatação fática de que, não obstante toda
a discussão sobre a forma de apuração do abono pecuniário de férias, o autor acabou,
na prática, percebendo a mesma remuneração caso tivesse usufruído os trinta dias de
descanso, mesmo tendo convertido dez dias em abono pecuniário. Assim, não é possível
o provimento do agravo com fundamento em divergência jurisprudencial, nos moldes
exigidos pela Súmula nº 296, item I, do TST, diante da ausência de identidade entre as
premissas fáticas confrontadas. Agravo desprovido" (AgR-E-ED-RR-259-22.2011.5.12.0043,
Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Relator Ministro Jose Roberto Freire
Pimenta, DEJT 01/12/2017, destaques acrescidos).
"EMBARGOS INTERPOSTOS NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. ARTIGO 894, § 2º,
DA CLT. ITERATIVA E NOTÓRIA JURISPRUDÊNCIA DA SbDI-1 DO TST. FÉRIAS. ABONO
PECUNIÁRIO. TERÇO CONSTITUCIONAL 1 . À luz dos artigos 7º, XVII, da Constituição
Federal e 143 da CLT, se o empregado usufruir da prerrogativa de converter em pecúnia
dez dias de suas férias, perceberá o valor correspondente aos trinta dias de férias a que
faz jus, acrescido do terço constitucional calculado sobre esses mesmos 30 dias.
Perceberá, igualmente, a remuneração correspondente aos dez dias convertidos em
abono pecuniário, que será calculada tomando por base a remuneração integral do mês
de férias, porém, sem a incidência do terço constitucional. 2 . Conquanto o terço
constitucional seja calculado e pago sobre a totalidade dos dias de férias (30 dias),
inexiste impedimento legal para sua aplicação sobre os 20 dias de férias usufruídas e,
em rubrica específica, sobre os 10 dias correspondentes ao abono pecuniário. Ao final, o
acréscimo de 1/3 à remuneração terá considerado os 30 dias de férias. Entendimento em
consonância com a jurisprudência pacífica da SbDI-1 do TST. Precedentes. 3 . Embargos
dos Reclamantes de que não se conhece, com fundamento na norma do artigo 894, § 2º,
da CLT" (E-RR-1974-33.2011.5.07.0013, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais,
Relator Ministro João Oreste Dalazen, DEJT 30/09/2016, destaques acrescidos).
"AGRAVO REGIMENTAL EM EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. FÉRIAS. ABONO
PECUNIÁRIO. BASE DE CÁLCULO. TERÇO CONSTITUCIONAL. UNIFORMIZAÇÃO DA
MATÉRIA PELA SBDI-1 DO TST. ARTIGO 894, II, DA CLT. Verifica-se que a decisão Turmária
foi proferida em consonância com a jurisprudência da SDI-1, no sentido de que, uma vez
constatado o pagamento do terço constitucional sobre os 30 dias de férias, resulta
indevido o pagamento de 1/3 sobre o abono pecuniário de férias. Nesse contexto,
correto o despacho denegatório , uma vez que denegou seguimento a recurso de
embargos que traz tese contrária à jurisprudência já pacificada desta Corte. Incidência
do artigo 894, II, da CLT. Agravo regimental conhecido e desprovido" (AgR-E-Ag-RR-36-
24.2011.5.07.0006, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Relator Ministro
Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT 29/07/2016, destaques acrescidos).
(...)
No mesmo sentido, aliás, decidem as Turmas desta Corte Superior:
C) RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RECLAMADA EMPRESA BRASILEIRA DE
CORREIOS E TELÉGRAFOS. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DAS LEIS Nº
13.015/2014 E 13.467/2017. 1. GRATIFICAÇÃO DE FÉRIAS SOBRE O ABONO PECUNIÁRIO.
MUDANÇA NA FORMA DE CÁLCULO. MEMORANDO CIRCULAR Nº 2316/2016-
GPAR/CEGEP. ALTERAÇÃO CONTRATUTAL LESIVA. NÃO OCORRÊNCIA. TRANSCENDÊNCIA
JURÍDICA RECONHECIDA. CONHECIMENTO E PROVIMENTO. I . Conforme descrito no
acórdão regional, até o advento do Memorando Circular nº 2316/2016- GPAR/CEGEP, a
ECT fazia incidir a gratificação de férias, majorada para 70% pelo Acordo Coletivo de
Trabalho, sobre os 30 dias de férias e, no caso de conversão de 1/3 das férias em abono
pecuniário, calculava os 10 dias de férias trabalhadas, acrescendo-o de mais 70% da
mesma gratificação. A partir da constatação do pagamento em duplicidade, a ECT fez a
correção da metodologia de cálculo, passando a pagar a gratificação de férias de 70%
sobre os 20 dias de férias fruídas, mais 10 dias de férias "vendidos" com os 10 dias
trabalhados (abono pecuniário), incidindo sobre estes últimos a gratificação de férias,
totalizando, assim, a incidência da referida gratificação sobre 30 dias de férias, e não
sobre 40 dias, como vinha ocorrendo. II. Como se observa, com a alteração na forma
de cálculo da gratificação de férias implementada pelo Memorando-Circular nº
2316/2016 - GPAR/CEGEP, os empregados públicos da ECT continuaram a receber a
referida gratificação no percentual de 70% previsto em negociação coletiva, mas não
no percentual de 93,33%, como antes era equivocadamente feito. III. O direito
reconhecido aos trabalhadores pelo inciso XVII do art. 7º da Constituição Federal é o do
pagamento de gratificação de férias de, no mínimo, um terço sobre os trinta dias de
férias a que fazem jus, sejam estas férias usufruídas ou "vendidas", não sofrendo,
portanto, majoração na hipótese do exercício, pelo empregado, da faculdade inserta no
art. 143 da CLT. Exegese da Súmula nº 328 desta Corte. IV. Sob esse enfoque, fixa-se o
seguinte entendimento: o valor da gratificação de férias fixado em lei ou por convenção
entre as partes não se altera na hipótese de conversão ("venda") de 1/3 do período de
descanso anual em abono pecuniário. Vale dizer: ou a gratificação de férias incide sobre
os 30 dias de férias; ou incide sobre 20 dias de férias e sobre os 10 dias do abono
pecuniário, sem que, com isso, haja qualquer prejuízo ao empregado, à luz das normas
constitucionais e legais de regência. V. A ECT é empresa pública federal, equiparada à
Fazenda Pública, e deve obediência aos princípios que regem a administração pública
em geral (art. 37, caput, da CF), especificamente o da legalidade. Logo, a ECT tem o dever
jurídico de conformar suas práticas administrativas ao disciplinado em lei, podendo
anular seus atos, como expressamente determinado pelas Súmulas nº 346 e 473 do
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1005B7963EC91120D3.
Supremo Tribunal Federal. VI. Não constitui ofensa ao art. 468 da CLT, nem vulneração à
Súmula nº 51, I, do TST, a adequação da metodologia de cálculo da gratificação de férias,
promovida pela ECT, após 01/07/2016 (Memorando-Circular nº 2316/2016 -
GPAR/CEGEP). VII. Sob esse enfoque, fixa-se o seguinte entendimento: ainda que
praticado de forma reiterada, o pagamento indevido de parcela trabalhista (v.g.
gratificação de férias), por erro de cálculo, não gera ao empregado direito à adoção
continuada do critério errado no cálculo e pagamento de parcelas futuras, sem,
contudo, haver obrigação de devolução dos valores já recebidos conforme metodologia
anterior. VIII. Recurso de revista de que se conhece, por violação do art. 7º, XVII, da
Constituição Federal, e a que se dá provimento, resultando prejudicado o exame do
Agravo de Instrumento interposto pelo Reclamante quanto ao referido tema" (RRAg-
100699-98.2021.5.01.0037, 4ª Turma, Relator Ministro Alexandre Luiz Ramos, DEJT
19/12/2023 – destaques acrescidos).
"RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.467/2017 E DA IN 40
DO TST. ECT. MUDANÇA NA FORMA DE CÁLCULO DO ABONO PECUNIÁRIO DE FÉRIAS.
ALTERAÇÃO CONTRATUAL LESIVA. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA. No caso em tela, o
debate acerca da supressão da gratificação de férias no cálculo do abono pecuniário
detém transcendência política, nos termos do art. 896-A, § 1º, II, da CLT. Transcendência
reconhecida. ECT. MUDANÇA NA FORMA DE CÁLCULO DO ABONO PECUNIÁRIO DE
FÉRIAS. ALTERAÇÃO CONTRATUAL LESIVA. Trata-se de controvérsia a respeito supressão
da gratificação de férias no cálculo do abono pecuniário, que era previsto no
regulamento interno da ECT, por meio do Memorando Circular nº 2316/2016. A
jurisprudência desta Corte Superior firmou entendimento segundo o qual a referida
modificação promovida pela ECT configurou alteração contratual lesiva, não
podendo atingir os trabalhadores anteriormente admitidos. Precedentes. Recurso de
revista conhecido e provido" (RR-20456-55.2021.5.04.0791, 6ª Turma, Relator Ministro
Augusto Cesar Leite de Carvalho, DEJT 22/09/2023 – destaques acrescidos).
"II - RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA [...] DIFERENÇAS SALARIAIS. FÉRIAS.
ABONO PECUNIÁRIO. BASE DE CÁLCULO. TERÇO CONSTITUCIONAL. A jurisprudência
desta Corte é firme no sentido de que o pagamento do terço de férias em duas rubricas,
a primeira, apurada sobre os vinte dias de férias usufruídas, e a segunda, sobre os dez
dias relativos ao abono pecuniário, não traz prejuízo ao empregado, porque ele
permanece recebendo a parcela em sua totalidade. Recurso de revista conhecido e
provido" (RR-5073-43.2011.5.12.0022, 8ª Turma, Relator Ministro Marcio Eurico Vitral
Amaro, DEJT 09/11/2018, destaques acrescidos).
Fixada tal premissa, quanto à correta exegese do art. 7º, XVII, da Constituição Federal, no caso
de exercício da faculdade prevista no art. 143 da CLT, passo a analisar a questão da validade da
alteração da metodologia de cálculo feita pela ECT, seja à luz da Súmula nº 51 do TST, seja à vista do
art. 468 da CLT.
Dispõe a Súmula nº 51 desta Corte Superior:
"NORMA REGULAMENTAR. VANTAGENS E OPÇÃO PELO NOVO REGULAMENTO.
ART. 468 DA CLT (incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 163 da SBDI-1) - Res.
129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005
I - As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas
anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração
do regulamento. (ex-Súmula nº 51 - RA 41/1973, DJ 14.06.1973)
II - Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do
empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro.
(ex-OJ nº 163 da SBDI-1 - inserida em 26.03.1999)".
A hipótese dos autos não clama pela aplicação do verbete em tela, pois consta do acórdão
regional que não houve alteração ou revogação das cláusulas regulamentares, mas mera
alteração da metodologia de sua aplicação. Trata-se, portanto, de coisa diversa: a situação
contemplada na Súmula nº 51 do TST é de alteração ou revogação de norma regulamentar,
hipótese em que será aplicada somente ao empregado contratado após a sua alteração ou
revogação. No caso em exame, a norma regulamentar não foi alterada ou revogada,
permanecendo a mesma norma de antes, com o mesmo texto e conteúdo; a partir de
01/07/2016, a ECT passou apenas a imprimir-lhe efeito prático diverso, a partir da necessidade
de observar o princípio constitucional da legalidade, a que é submetida por ser empresa pública,
mormente considerando a inteligência interpretativa dada por este Tribunal Superior do
Trabalho ao texto da Constituição da República.
Ao imprimir nova metodologia ao mesmo dispositivo regulamentar, a empresa continuou
pagando os 10 dias convertidos em abono pecuniário com a gratificação de férias de 70% –
cumprindo, assim, o item 44.1 do seu Regimento Interno; apenas deixou de fazer incidir essa
gratificação em duplicidade sobre os 10 dias não trabalhados. Logo, não houve, a rigor, qualquer
revogação ou alteração da cláusula regulamentar em si, mas tão somente interpretação
metodológica do cálculo, para adequar-se ao disposto no art. 143 da CLT. A questão posta, assim,
não é de alteração ou revogação da norma interna, capaz de atrair a incidência da Súmula nº 51,
I, do TST, mas de alteração da forma de cálculo, hipótese não albergada no verbete sumular em
apreço, a afastar, portanto, sua incidência ao caso concreto.
Resta, pois, enfrentar a questão da alteração da metodologia de cálculo à luz do art. 468 da
CLT.
Como é notório, a ECT é empresa pública federal, equiparada à Fazenda Pública, quanto
aos privilégios legais de prazos processuais, custas, execução por precatório e imunidades
tributárias, devendo obediência aos princípios que regem a administração pública, esculpidos
no caput do art. 37 da Constituição Federal, especificamente o da legalidade. Assim, a ECT, ao
verificar a adoção de interpretação e aplicação de suas normas regulamentares em
contrariedade ao que dispõem o art. 7º, XVII, da Constituição Federal c/c art. 143 da CLT, tinha o
dever jurídico de conformar suas práticas administrativas ao princípio da legalidade, como
expressamente determinado pelas Súmulas nº 346 e 473 do Supremo Tribunal Federal,
respectivamente:
"Súmula nº 346, STF: A Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus
próprios atos."
"Súmula nº 473, STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando
eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou
revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial."
Tal dever de conformação dos atos administrativos também é acolhido pela jurisprudência
deste Tribunal Superior, conforme os seguintes precedentes:
"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. RECURSO DE REVISTA
INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS
HOSPITALARES - EBSERH. PROGRESSÃO VERTICAL. ALTERAÇÃO CONTRATUAL LESIVA.
PCCS. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DE MATÉRIA FÁTICA. O Regional concluiu que, ao
contrário do que alega a reclamante, não houve alterações nas regras de progressão
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1005B7963EC91120D3.
vertical que gerassem qualquer expectativa de direito aos candidatos selecionados no
concurso, mas apenas erro de interpretação do Anexo I do edital, o qual previa
requisitos de ingresso no cargo. Consignou estar caracterizada, na hipótese, a ofensa aos
princípios constitucionais da razoabilidade e da proporcionalidade, porquanto a
pretensão da reclamante de "galgar promoção funcional vertical a cada período de seis
meses se mostra impraticável pela administração pública". Destacou o fato de a
reclamada ser empresa pública federal integrante da Administração indireta e sujeita
aos princípios que regem a Administração Pública, devendo rever seus próprios atos e
anulá-los quando eivados de ilegalidade ou revogá-los quando inconvenientes ou
inoportunos. Assim, diante das premissas fáticas consignadas no acórdão recorrido, não
há falar em alteração contratual lesiva, tampouco em violação a suposto direito
adquirido, visto que não houve efetiva alteração do PCCS da reclamada. Precedentes.
Agravo de instrumento desprovido " (AIRR-1035-33.2015.5.22.0001, 2ª Turma, Relator
Ministro José Roberto Freire Pimenta, DEJT 10/08/2018, destaques acrescidos).
"II - RECURSO DE REVISTA. INFRAERO. [...] 2) SISTEMA DE PROGRESSÃO FUNCIONAL
ESPECIAL. ANULAÇÃO. ALTERAÇÃO CONTRATUAL LESIVA. 2.1. A Administração Pública
tem o dever de invalidar seus próprios atos, principalmente quando eivados de vício. No
entanto, os efeitos da revisão ou suspensão do ato administrativo sofrem restrições,
devendo ser respeitados os direitos adquiridos. Nesse sentido, a Súmula nº 473 do STF.
2.2. No caso vertente, em face da natureza jurídica da empregadora, qual seja, de
empresa pública, seus empregados são contratados sob o regime da CLT e, nessa
condição, submetem-se às regras do Direito do Trabalho, tendo em vista o mandamento
inscrito no artigo 173, § 1º, II, da Constituição da República. 2.3. Nesse contexto,
considerando, ainda, o disposto no artigo 468, da CLT, e o entendimento consagrado na
Súmula nº 51, I, do TST, a revogação da norma interna da Infraero, que instituiu o
Sistema de Progressão Funcional Especial, não afeta a situação jurídica dos empregados
que já haviam adquirido o direito à incorporação da gratificação. Precedentes. Recurso
de revista conhecido e provido" (RR-756-03.2013.5.10.0017, 1ª Turma, Relator
Desembargador Convocado Alexandre Teixeira de Freitas Bastos Cunha, DEJT
15/05/2015, destaques acrescidos).
"RECURSO DE REVISTA. INFRAERO. SISTEMA DE PROGRESSÃO FUNCIONAL
ESPECIAL. ANULAÇÃO. ALTERAÇÃO CONTRATUAL LESIVA. 1. A Administração Pública tem
o dever de invalidar seus próprios atos, principalmente quando eivados de vício. No
entanto, os efeitos da revisão ou suspensão do ato administrativo sofrem restrições,
devendo ser respeitados os direitos adquiridos. Nesse sentido, inclusive, a Súmula nº
473 do STF. 2 . No caso vertente, em face da natureza jurídica da empregadora, empresa
pública, seus empregados são contratados sob o regime da CLT e, nessa condição,
submetem-se às regras do Direito do Trabalho, tendo em vista o mandamento inscrito
no art. 173, § 1º, II, da Constituição da República. 3. Nesse contexto, considerando, ainda,
o disposto no art. 468 da CLT e o entendimento consagrado na Súmula nº 51, I, do TST, a
revogação da norma interna da Infraero, que instituiu o Sistema de Progressão
Funcional Especial, não afeta a situação jurídica dos empregados que já haviam
adquirido o direito à incorporação da gratificação. Precedentes. Recurso de revista
conhecido e provido" (RR-671-20.2011.5.03.0037, 1ª Turma, Relator Ministro Walmir
Oliveira da Costa, DEJT 07/01/2014, destaques acrescidos).
A SbDI-1, órgão de uniformização da jurisprudência interna desta Corte Superior, caminha
na mesma trilha, ao permitir que empresas públicas anulem seus próprios atos, sem que disso
decorra qualquer direito adquirido para além da anulação. É o que se pode inferir da ratio
decidendi do caso da INFRAERO, assim fixada:
"RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INFRAERO. INFORMAÇÃO
PADRONIZADA 320/DARH/2004. SISTEMA DE PROGRESSÃO FUNCIONAL ESPECIAL.
NORMA INTERNA. POSTERIOR SUSPENSÃO, REVOGAÇÃO E ANULAÇÃO DO ATO
ADMINISTRATIVO. Por meio da norma Informação Padronizada n.º 320/DARH/2004, de
15/9/2004, a Infraero instituiu a "progressão especial", que assegurava ao "empregado
do quadro de carreira designado para ocupar função de confiança há 3 (três anos) [...]
progressão especial". Em 28/9/2007, por meio do Ato Administrativo n.º 1789/PR/2007,
suspendeu-se "os efeitos do item 25 do Sistema de Progressão Funcional-SPF, que
tratava da Progressão Especial". Em 11/11/2008 "foram revogados os efeitos da IP n.º
320/DARH/04" (progressão especial) e, finalmente, em 27/10/2010 "a Diretoria Executiva
da INFRAERO resolveu anular definitivamente a IP n.º 320/DARH/04". A invalidação do
ato administrativo em decorrência de ilegalidade tem efeito ex tunc e não gera direitos.
Ainda que a admissão no emprego ocorra antes ou na vigência da Informação
Padronizada 320/DARH/2004, que estabeleceu a incorporação de parte do valor da
gratificação da função de confiança, norma interna revogada pelo ato administrativo nº
2959/PR/2008 e anulada em 2010, se o exercício de função comissionada por três anos
completa-se posteriormente à anulação da norma interna, inexiste direito adquirido ou
alteração contratual lesiva porque ainda não implementados todos os requisitos
necessários à aquisição do direito. A jurisprudência desta Corte consolidou o
entendimento no sentido de que somente os empregados anteriormente admitidos que
já tenham preenchidos os requisitos para a incorporação da vantagem até a data da
revogação do ato que instituiu o Sistema de Progressão Funcional têm direito ao
benefício. Precedentes. Recurso de embargos conhecido e não provido " (E-RR-327-
59.2015.5.10.0019, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Relator Ministro
Alexandre Luiz Ramos, DEJT 11/10/2019, destaques acrescidos).
Cabe ressaltar que há também precedentes da SbDI-1 quanto à inexistência de alteração
contratual lesiva no caso de anulação de ato administrativo, devendo-se apenas respeitar os direitos
adquiridos dos empregados que já haviam implementado o direito correspondente. No caso dos
autos, tratando-se de férias, por certo que os empregados que já receberam a gratificação do
repouso anual calculada tanto sobre os 30 dias de férias quanto sobre os 10 dias de abono
pecuniário não têm obrigação de devolver os valores recebidos a maior; mas esse fato não implica
reconhecer direito subjetivo a uma adoção futura de uma metodologia de cálculo equivocada,
aplicada, até então, em descompasso com a lei. Em resumo: ainda que praticado de forma
reiterada, o pagamento indevido de parcela trabalhista (v.g. gratificação de férias), por erro de
cálculo, não gera ao empregado direito à adoção continuada do critério errado no cálculo e
pagamento de parcelas futuras, sem, contudo, haver obrigação de devolução dos valores já
recebidos conforme metodologia anterior.
A esse respeito, destaca-se o seguinte precedente:
"RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO SOB A ÉGIDE
DA LEI 13.015/2014. INFRAERO. PROGRESSÃO ESPECIAL. INCORPORAÇÃO DE 70,26% DO
VALOR DA GRATIFICAÇÃO APÓS TRÊS ANOS NO DESEMPENHO DE FUNÇÃO DE
CONFIANÇA. REQUISITO NÃO PREENCHIDO NA VIGÊNCIA DA NORMA INTERNA
MEDIANTE A QUAL INSTITUÍDO O BENEFÍCIO. ALTERAÇÃO CONTRATUAL LESIVA.
INOCORRÊNCIA. 1. Mediante a Informação Padronizada 320/DARH/2004 foi assegurado
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1005B7963EC91120D3.
aos empregados da Infraero, após o exercício de função de confiança pelo período
mínimo de três anos consecutivos, o pagamento de progressão especial equivalente a
70,26% do valor da gratificação percebida. 2 . Constatado vício formal na Informação
Padronizada 320/DARH/2004, os efeitos dessa norma foram suspensos em 25.09.2007.
Em 11.11.2008, mediante o Ato Administrativo 2859/2008, a Informação Padronizada
320/DARH/2004 foi revogada, sendo convalidadas as progressões realizadas até
25.09.2007. E, em 27.10.2010, a Informação Padronizada 320/DARH/2004 foi anulada. 3 .
Assim, nos moldes do art. 468 da CLT e da Súmula 51, I, do TST, a revogação da
Informação Padronizada 320/DARH/2004 não atinge os empregados que em 11.11.2008
já haviam preenchido o requisito para a percepção da progressão especial, qual seja,
exercício de função de confiança por três anos consecutivos. 4 . Essa não é, contudo, a
hipótese dos autos, em que o exercício de função de confiança ocorreu de 01.03.2007 a
31.01.2016, ou seja, após a revogação da norma interna que assegurava a progressão
especial. 5 . Nesse contexto, não há falar em alteração contratual lesiva, não sendo
devido o pagamento de diferenças decorrentes da concessão de progressão especial.
Recurso de embargos conhecido e provido" (E-RR-732-69.2017.5.10.0005, Subseção I
Especializada em Dissídios Individuais, Relator Ministro Hugo Carlos Scheuermann, DEJT
07/06/2019, destaques acrescidos).
Nesse contexto, vem decidindo esta Quarta Turma, conforme se vê dos seguintes julgados:
"I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA
INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI N° 13.467/2017 - GRATIFICAÇÃO DE FÉRIAS SOBRE O
ABONO PECUNIÁRIO - MUDANÇA NA FORMA DE CÁLCULO - MEMORANDO CIRCULAR Nº
2 . 316/2016 - GPAR/CEGEP - ALTERAÇÃO CONTRATUAL LESIVA - NÃO OCORRÊNCIA -
TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA Por vislumbrar violação ao art. 7º, XVII, da
Constituição da República, dá-se provimento ao Agravo de Instrumento para determinar
o processamento do recurso denegado. Agravo de Instrumento conhecido e provido. II -
RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI N° 13.467/2017 -
GRATIFICAÇÃO DE FÉRIAS SOBRE O ABONO PECUNIÁRIO - MUDANÇA NA FORMA DE
CÁLCULO - MEMORANDO CIRCULAR Nº 2.316/2016-GPAR/CEGEP - ALTERAÇÃO
CONTRATUAL LESIVA - NÃO OCORRÊNCIA - TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA 1.
A partir do que foi delineado no acórdão regional, até o advento do Memorando Circular
nº 2 . 316/2016, a Reclamada entendia ser devida a incidência da gratificação de férias,
majorada para 70% pelo Acordo Coletivo de Trabalho, sobre os 30 dias de férias e, no
caso de conversão de 1/3 das férias em abono pecuniário, calculava os 10 dias de férias
trabalhadas, acrescendo-o de mais 70% da mesma gratificação. 2. A partir da
constatação do pagamento em duplicidade, a ECT corrigiu a metodologia de cálculo,
passando a pagar a gratificação de férias de 70% sobre os 20 dias de férias fruídas, mais
10 dias de férias "vendidos" com os 10 dias trabalhados (abono pecuniário), incidindo
sobre estes últimos a gratificação de férias, totalizando, assim, a incidência da referida
gratificação sobre 30 dias de férias, e não sobre 40 dias, como vinha sendo feito
anteriormente. 3. O adimplemento equivocado da verba, ainda que de forma
reiterada, não constitui direito adquirido dos empregados, uma vez que a ECT, na
condição de empresa pública, deve observância aos princípios que regem a
administração pública, em especial ao da legalidade, com a prerrogativa, inclusive,
de anular seus atos administrativos, sem que fique configurada alteração lesiva. 4.
Dessa maneira, a adequação da forma de pagamento para cumprir o percentual fixado
por meio de acordo coletivo foi realizada em consonância com os princípios que regem a
administração pública e com a atual jurisprudência desta Corte Superior,
consubstanciada no entendimento de que a garantia constitucional do artigo 7º, XVII, da
Constituição da República é em relação ao pagamento da gratificação mínima de 1/3
sobre o total de 30 dias de férias, gozados ou não (a teor da Súmula nº 328 do TST).
Julgados. Recurso de Revista conhecido e provido. III - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM
RECURSO DE REVISTA DA RECLAMANTE INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI N° 13.467/2017
- GRATIFICAÇÃO DE FÉRIAS SOBRE O ABONO PECUNIÁRIO - MUDANÇA NA FORMA DE
CÁLCULO - MEMORANDO CIRCULAR Nº 2.316/2016-GPAR/CEGEP Prejudicada a análise do
tema em razão do provimento dado ao Recurso de Revista da ECT e ao indeferimento do
pedido de diferenças de gratificação de férias sobre o abono pecuniário de férias. ECT -
PLANO DE SAÚDE - ALTERAÇÕES POR SENTENÇA NORMATIVA - COBRANÇA DE
MENSALIDADE E COPARTICIPAÇÃO - EMPREGADO APOSENTADO 1. A C. SDC do TST, por
meio do Dissídio Coletivo Revisional nº 1000295-05.2017.5.00.0000, proferiu sentença
normativa, autorizando que "empregados trabalhadores da ativa e os aposentados
passassem a contribuir da fonte de custeio do Plano de Saúde". 2. Nessa seara, não há
falar em alteração contratual, na forma do art. 468 da CLT, porquanto a cobrança de
mensalidade e coparticipação de empregados ativos e inativos foi efetuada por sentença
normativa. Julgados. Agravo de Instrumento a que se nega provimento " (RRAg-AIRR-
10451-37.2021.5.15.0089, 4ª Turma, Relatora Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi,
DEJT 23/06/2023).
"A) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA
RECLAMADA EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS. ACÓRDÃO REGIONAL
PUBLICADO NA VIGÊNCIA DAS LEIS Nº 13.015/2014 E 13.467/2017. 1. GRATIFICAÇÃO DE
FÉRIAS SOBRE O ABONO PECUNIÁRIO. MUDANÇA NA FORMA DE CÁLCULO.
MEMORANDO CIRCULAR Nº 2316/2016- GPAR/CEGEP. ALTERAÇÃO CONTRATUTAL LESIVA.
NÃO OCORRÊNCIA. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA. CONHECIMENTO E
PROVIMENTO. I. Discute-se se a alteração na forma de cálculo da gratificação de férias
implementada pelo Memorando-Circular nº 2316/2016 - GPAR/CEGEP constitui (ou não)
alteração contratual lesiva ao empregado. II. Demonstrada transcendência jurídica por
possível violação do art. 7º, XVII, da Constituição Federal. III. Agravo de instrumento de
que se conhece e a que se dá provimento, para determinar o processamento do recurso
de revista, observando-se o disposto no ATO SEGJUD.GP Nº 202/2019 do TST . B)
RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RECLAMADA EMPRESA BRASILEIRA DE
CORREIOS E TELÉGRAFOS. RITO SUMARÍSSIMO. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA
VIGÊNCIA DAS LEIS Nº 13.015/2014 E 13.467/2017. 1. GRATIFICAÇÃO DE FÉRIAS SOBRE O
ABONO PECUNIÁRIO. MUDANÇA NA FORMA DE CÁLCULO. MEMORANDO CIRCULAR Nº
2316/2016- GPAR/CEGEP. ALTERAÇÃO CONTRATUTAL LESIVA. NÃO OCORRÊNCIA.
TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA. CONHECIMENTO E PROVIMENTO. I.
Conforme descrito no acórdão regional, até o advento do Memorando Circular nº
2316/2016- GPAR/CEGEP, a ECT fazia incidir a gratificação de férias, majorada para 70%
pelo Acordo Coletivo de Trabalho, sobre os 30 dias de férias e, no caso de conversão de
1/3 das férias em abono pecuniário, calculava os 10 dias de férias trabalhadas,
acrescendo-o de mais 70% da mesma gratificação. A partir da constatação do
pagamento em duplicidade, a ECT fez a correção da metodologia de cálculo, passando a
pagar a gratificação de férias de 70% sobre os 20 dias de férias fruídas, mais 10 dias de
férias "vendidos" com os 10 dias trabalhados (abono pecuniário), incidindo sobre estes
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últimos a gratificação de férias, totalizando, assim, a incidência da referida gratificação
sobre 30 dias de férias, e não sobre 40 dias, como vinha ocorrendo. II. Como se observa,
com a alteração na forma de cálculo da gratificação de férias implementada pelo
Memorando-Circular nº 2316/2016 - GPAR/CEGEP, os empregados públicos da ECT
continuaram a receber a referida gratificação no percentual de 70% previsto em
negociação coletiva, mas não no percentual de 93,33%, como antes era
equivocadamente feito. III. O direito reconhecido aos trabalhadores pelo inciso XVII do
art. 7º da Constituição Federal é o do pagamento de gratificação de férias de, no mínimo,
um terço sobre os trinta dias de férias a que fazem jus, sejam estas férias usufruídas ou
"vendidas", não sofrendo, portanto, majoração na hipótese do exercício, pelo
empregado, da faculdade inserta no art. 143 da CLT. Exegese da Súmula nº 328 desta
Corte. IV. Sob esse enfoque, fixa-se o seguinte entendimento: o valor da gratificação de
férias fixado em lei ou por convenção entre as partes não se altera na hipótese de
conversão ("venda") de 1/3 do período de descanso anual em abono pecuniário. Vale
dizer: ou a gratificação de férias incide sobre os 30 dias de férias; ou incide sobre 20 dias
de férias e sobre os 10 dias do abono pecuniário, sem que, com isso, haja qualquer
prejuízo ao empregado, à luz das normas constitucionais e legais de regência. V. A ECT é
empresa pública federal, equiparada à Fazenda Pública, e deve obediência aos princípios
que regem a administração pública em geral (art. 37, caput, da CF), especificamente o da
legalidade. Logo, a ECT tem o dever jurídico de conformar suas práticas administrativas
ao disciplinado em lei, podendo anular seus atos, como expressamente determinado
pelas Súmulas nº 346 e 473 do Supremo Tribunal Federal. VI. Não constitui ofensa ao art.
468 da CLT, nem vulneração à Súmula nº 51, I, do TST, a adequação da metodologia de
cálculo da gratificação de férias, promovida pela ECT, após 01/07/2016 (Memorando-
Circular nº 2316/2016 - GPAR/CEGEP). VII. Sob esse enfoque, fixa-se o seguinte
entendimento: ainda que praticado de forma reiterada, o pagamento indevido de
parcela trabalhista (v.g. gratificação de férias), por erro de cálculo, não gera ao
empregado direito à adoção continuada do critério errado no cálculo e pagamento
de parcelas futuras, sem, contudo, haver obrigação de devolução dos valores já
recebidos conforme metodologia anterior . VIII. Recurso de revista de que se conhece,
por violação do art. 7º, XVII, da Constituição Federal, e a que se dá provimento,
resultando prejudicado o exame do Agravo de Instrumento interposto pelo Reclamante "
(RRAg-11032-13.2021.5.15.0005, 4ª Turma, Relator Ministro Alexandre Luiz Ramos, DEJT
18/08/2023).
"I) AGRAVO DE INSTRUMENTO PATRONAL - GRATIFICAÇÃO DE FÉRIAS -
TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA - PROVIMENTO. Diante da transcendência
jurídica da causa e de possível violação do art.143 da CLT, dá-se provimento ao agravo
de instrumento da Demandada para determinar o processamento do recurso de revista.
Agravo de instrumento provido. II) RECURSO DE REVISTA - GRATIFICAÇÃO DE FÉRIAS -
ABONO PECUNIÁRIO - ALTERAÇÃO NA FORMA DE PAGAMENTO - TRANSCENDÊNCIA
JURÍDICA RECONHECIDA - VIOLAÇÃO DO ART. 143 DA CLT - RECURSO PROVIDO. 1. Nos
termos do art. 896-A, § 1º, IV, da CLT, constitui transcendência jurídica da causa a
existência de questão nova em torno da interpretação da legislação trabalhista. 2. O
debate jurídico que emerge do presente processo diz respeito à legalidade da alteração
na forma de cálculo da gratificação de férias dos empregados públicos da ECT,
implementada pelo Memorando Circular 2.316/16 GPAR/CEGEP, à luz dos arts. 143 da
CLT e 7º, XVII, da CF, questão que exige fixação de entendimento pelo TST. 3. In casu , o
TRT da 3ª Região registrou que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, por meio
de ACT, ampliou o terço constitucional previsto no art. 7º, XVII, da CF, para 70%, e que,
inicialmente, fazia incidir a referida gratificação sobre os 30 dias de férias, bem como
sobre o abono pecuniário de 10 dias, se fosse o caso. Contudo, por entender que houve
equívoco na metodologia de cálculo da gratificação, a ECT editou o Memorando Circular
2.316/16 GPAR/CEGEP, passando a fazer incidir a gratificação de 70% apenas sobre os 30
dias de repouso ou sobre os 20 dias de férias e 10 dias de abono pecuniário, no caso de
exercício do direito previsto no art. 143 da CLT, e não mais sobre 40 dias, razão pela qual
o Regional concluiu que restou configurada alteração unilateral lesiva. 4. Contudo,
conforme já se pronunciou esta 4ª Turma (RR-16369-59.2017.5.16.0016, Rel. Min.
Alexandre Luiz Ramos, DEJT 18/12/20), a adequação de cálculo efetuada pela ECT não
constituiu prejuízo aos seus empregados, que passaram efetivamente a perceber a
gratificação de 70% prevista na negociação coletiva, tendo em vista que a medida visou
expungir apenas o pagamento em duplicidade, que resultaria, inclusive, em percentual
superior ao acordado, no caso de exercício do direito previsto no art. 143 da CLT. 5.
Outrossim, não é possível concluir que o pagamento equivocado da verba, ainda que
de forma reiterada, constituiu direito adquirido dos empregados, uma vez que a
ECT, na condição de empresa pública, deve observância aos princípios que regem a
administração pública, em especial ao da legalidade, com a prerrogativa, inclusive,
de anular seus atos administrativos, sem que reste configurada alteração lesiva. 6.
Com isso, a adequação da forma de pagamento para cumprir o percentual fixado por
meio de acordo coletivo foi feita em consonância com os princípios que regem a
administração pública e com a atual jurisprudência desta Corte Superior,
consubstanciada no entendimento de que a garantia constitucional do art. 7º, XVII, da CF
é em relação ao pagamento da gratificação mínima de 1/3 sobre o total de 30 dias de
férias, gozados ou não (Súmula 328 do TST). 7. Portanto, a reforma da decisão recorrida
é medida que se impõe, para reconhecer a validade da alteração realizada pela ECT, que
não constitui alteração lesiva, e excluir da condenação o pagamento do adicional de 70%
sobre o período de férias convertido em pecúnia cumulado com o pagamento do
adicional sobre os 30 dias de férias, nos termos da fundamentação. Recurso de revista
conhecido e provido" (RR-10286-23.2020.5.03.0068, 4ª Turma, Relator Ministro Ives
Gandra da Silva Martins Filho, DEJT 27/05/2022).
Pelo prisma da transcendência, trata-se de questão jurídica nova, uma vez que se refere
ao alcance do art. 7º, XVII, da Constituição Federal, sob enfoque em relação ao qual ainda não há
jurisprudência consolidada no âmbito do Tribunal Superior do Trabalho ou em decisão de efeito
vinculante no Supremo Tribunal Federal. Logo, reconheço a transcendência jurídica da causa
(art. 896-A, § 1º, IV, da CLT).
Dessa forma, o posicionamento adotado pelo Tribunal Regional, no sentido ser devida a
manutenção do pagamento do adicional de 70% sobre as férias e sobre o valor do abono
pecuniário, viola o art. 7º, XVII, da Constituição Federal. (destaques acrescidos)
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1005B7963EC91120D3.
O posicionamento adotado pelo Tribunal Regional, no sentido de ser devida a
manutenção do pagamento do adicional de 70% sobre as férias e sobre o valor do abono pecuniário,
viola o art. 7º, XVII, da Constituição da República. Identifica-se a transcendência jurídica da matéria.
Conheço, por violação ao art. 7º, XVII, da Constituição.
b)Mérito
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