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AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.450.947 - MG (2019/0042956-7)

RELATOR : MINISTRO BENEDITO GONÇALVES


AGRAVANTE : SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INSTITUIÇÕES
FEDERAIS DE ENSINO-SINDIFES
ADVOGADOS : BERNARDO GONTIJO DE CASTRO - MG180948
MARIA DA CONCEICAO CARREIRA ALVIM E OUTRO(S) -
MG042579
AGRAVADO : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ARTIGO 1.022


DO CPC/2015. OFENSA CARACTERIZADA. QUESTÃO NÃO
EXAMINADA E IMPRESCINDÍVEL À SOLUÇÃO DA CONTROVÉRSIA.
AGRAVO CONHECIDO PARA DAR PROVIMENTO AO RECURSO
ESPECIAL.

DECISÃO

Trata-se de agravo interposto contra decisão da Corte de origem que não admitiu o recurso
especial.
O apelo nobre obstado enfrenta acórdão, assim ementado (fls. 253-254):
PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. PAGAMENTO
DO PERCENTUAL DE 3,17%. A LIMITAÇÃO DO REAJUSTE. A BASE DE CÁLCULO
DO REAJUSTE. JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. SUCUMBÊNCIA
RECIPROCA. SINDICATO. JUSTIÇA GRATUITA. INEXISTENTE.
1. Cuida-se de decisão proferida na regência do CPC de 1973, sob o qual também foi
manifestado o recurso, e conforme o princípio do isolamento dos atos processuais e o da
irretroatividade da lei, as decisões já proferidas não são alcançadas pela lei nova, de sorte
que não se lhes aplicam as regras do CPC atual, inclusive as concernentes à fixação dos
honorários advocaticios, que se regem pela lei anterior.
2. Não é presumida a hipossuficiência das entidades sindicais, uma vez que recebe
contribuições compulsórias e facultativas, dispondo, em princípio, de recursos previstos
em lei e por adesão, exatamente para proceder à defesa dos direitos e interesses dos seus
filiados e da categoria profissional respectiva. Sem a prova cabal da hipossuficiência, não
se lhe defere a gratuidade de justiça.
3. O termo inicial do reajuste de 3,17% é a data de 1°/01/1995, e o termo final é a data da
efetiva reestruturação ou reorganização de cargos e carreiras, conforme art. 10 da Medida
Provisória n. 2.225, de 2001, ou, no caso de não ter havido reestruturação, o termo final é
31/12/2001, uma vez que o art. 9° da referida MP determinou a incorporação desse mesmo
percentual à remuneração dos servidores públicos federais a partir de 1°/01/2002, na linha
da jurisprudência do STJ.
4. Não há falar em ofensa à coisa julgada no caso de não ter havido discussão no processo
de conhecimento da questão concernente à reestruturação, uma vez que o direito ao
referido complemento de reajuste foi assegurado pelo legislador a todos os servidores do
Poder Executivo Federal, nos termos dos arts. 8° e 9° da Medida Provisória n. 2.225-45, de
2001, dispondo-se, ainda, que, se tivesse havido reestruturação da carreira, até ai incidiria
o reajuste, nos termos do art. 10 da mesma medida provisória. Portanto, se a sentença
impôs como data limite ao reajuste data anterior à referida medida provisória, tendo
transitado em julgado, vigora o quanto disposto na sentença; se não foi fixado limite
temporal, a regra da lei, que determinou o reajuste para todos os servidores, alcança todas
as demais situações, pois em casos assim a violação do direito, pela não aplicação do art.

Documento: 102147356 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 17/10/2019 Página 1 de 2


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28 da Lei n. 8.880, de 1994, foi restaurada pela referida medida provisória. É cediço que a
sentença em casos da espécie tem eficácia rebu s sic stantibus, de modo que restaurado o
direito tem-se atendido o quanto nela determinado, não podendo haver, por outro lado,
duplicidade de incidência do mesmo percentual aos servidores, uma pela lei e outra, pela
sentença.
5. Nos termos da Súmula n. 306 do STJ, os honorários advocaticios devem ser
compensados quando houver sucumbência reciproca, assegurado o direito autônomo do
advogado à execução do saldo sem excluir a legitimidade da própria parte. O Supremo
Tribunal Federal tem reafirmado sua jurisprudência, no sentido dessa possibilidade de
compensação, conforme precedente declinado no voto.
6. Juros de mora e correção monetária fixados nos termos do voto.
7. Apelação desprovida.
Embargos de declaração rejeitados.
No recurso especial o recorrente alega violação dos artigos 489, § 1º, e 1.022, I e II,
parágrafo único, II, do CPC/2015, ao argumento de que a Corte local não se manifestou a respeito da
preclusão e formação da coisa julgada material alusiva ao termo final das diferenças do reajuste de
3,17%.
Quanto às questões de fundo, sustenta ofensa aos artigos 10 da MP 2.225/2001, 493, 502,
503, 507, 508 e 1.014 do CPC/2015 e dissídio jurisprudencial.
Com contrarrazões.
Neste agravo afirma que seu recurso especial satisfaz os requisitos de admissibilidade e que
não se encontram presentes os óbices apontados na decisão agravada.
É o relatório. Decido.
Conforme relatado, o recorrente pretende a anulação do acórdão proferido pela Corte de
origem em sede de embargos de declaração sob o argumento de negativa de prestação jurisdicional.
Extrai-se dos autos que o recorrente argumentou e requereu a manifestação expressa do órgão
julgador a respeito da preclusão e formação da coisa julgada material alusiva ao termo final das
diferenças do reajuste de 3,17%.
Com efeito, evidencia-se que a questão suscitada guarda correlação lógico-jurídica com a
pretensão deduzida nos autos e se apresenta imprescindível à satisfação da tutela jurisdicional.
A falta de manifestação a respeito de questão necessária à resolução integral da demanda
autoriza o acolhimento de ofensa ao artigo 1.022 do CPC/2015, enseja a anulação do acórdão proferido
em sede de embargos de declaração e torna indispensável o rejulgamento dos aclaratórios.
A propósito: AgInt no REsp 1.394.325/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe
30/11/2016; AgRg no REsp 1.221.403/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe
23/8/2016; AgRg no REsp 1.407.552/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe
3/3/2016.
Ante o exposto, conheço do agravo para dar provimento ao recurso especial, tornando
nulo o acórdão proferido no julgamento dos embargos de declaração, a fim de que a Corte de origem
aprecie a matéria articulada nos aclaratórios.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília (DF), 16 de outubro de 2019.

Ministro BENEDITO GONÇALVES


Relator

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