BOX - Trilogia Amores Impulsivos - Oliveira, Evilane
BOX - Trilogia Amores Impulsivos - Oliveira, Evilane
BOX - Trilogia Amores Impulsivos - Oliveira, Evilane
Sumário
Recado da Autora
Imperfeito
Capítulo Um Nicole
Capítulo Dois Nicole
Capítulo Três Nicole
Capítulo Quatro Nicole
Capítulo Cinco Nicole
Capítulo Seis Nicole
Capítulo Sete Nicole
Capítulo Oito Nicole
Capítulo Nove Nicole
Capítulo Dez Nicole
Capítulo Onze Nicole
Capítulo Doze Nicole
Capítulo Treze Nicole
Capítulo Quatorze Nicole
Capítulo Quinze Nicole
Capítulo Dezesseis Nicole
Capítulo Dezessete Nicole
Capítulo Dezoito Nicole
Capítulo Dezenove Nicole
Capítulo Vinte Nicole
Capítulo Vinte e Um Connor
Capítulo Vinte e Dois Nicole
Capítulo Vinte e Três Nicole
Capítulo Vinte e Quatro Nicole
Capítulo Vinte e Cinco Nicole
Capítulo Vinte e Seis Nicole
Capítulo Vinte e Sete Nicole
Capítulo Vinte e Oito Nicole
Capítulo Vinte e Nove Nicole
Capítulo Trinta Nicole
Capítulo Trinta e Um Connor
Capítulo Trinta e Dois Nicole
Capítulo Trinta e Três Nicole
Capítulo Trinta e Quatro Nicole
Capítulo Trinta e Cinco Connor
Capítulo Trinta e Seis Nicole
Capítulo Trinta e Sete Nicole
Capítulo Trinta e Oito Nicole
Capítulo Trinta e Nove Nicole
Capítulo Quarenta Nicole
Capítulo Quarenta e Um Nicole
Capítulo Quarenta e Dois Nicole
Capítulo Quarenta e Três Connor
Capítulo Extra Casamento
Epílogo
Inesperado
Capítulo Um Melissa
Capítulo Dois Melissa
Capítulo Três Melissa
Capítulo Quatro Melissa
Capítulo Cinco Melissa
Capítulo Seis Melissa
Capítulo Sete Melissa
Capítulo Oito Melissa
Capítulo Nove Melissa
Capítulo Dez Pietro
Capítulo Onze Melissa
Capítulo Doze Melissa
Capítulo Treze Melissa
Capítulo Quatorze Melissa
Capítulo Quinze Melissa
Capítulo Dezesseis Melissa
Capítulo Dezessete Melissa
Capítulo Dezoito Melissa
Capítulo Dezenove Melissa
Capítulo Vinte Pietro
Capítulo Vinte e Um Melissa
Capítulo Vinte e Dois Melissa
Capítulo Vinte e Três Melissa
Capítulo Vinte e Quatro Melissa
Capítulo Vinte e Cinco Melissa
Capítulo Vinte e Seis Melissa
Capítulo Vinte e Sete Melissa
Capítulo Vinte e Oito Melissa
Capítulo Vinte e Nove Melissa
Capítulo Trinta Pietro
Capítulo Trinta e Um Melissa
Capítulo Trinta e Dois Melissa
Capítulo Trinta e Três Melissa
Capítulo Trinta e Quatro Melissa
Capítulo Trinta e Cinco Melissa
Epílogo
Predestinado
Capítulo Um Kyle
Capítulo Dois Abby
Capítulo Três Abby
Capítulo Quatro Abby
Capítulo Cinco Kyle
Capítulo Seis Abby
Capítulo Sete Abby
Capítulo Oito Abby
Capítulo Nove Kyle
Capítulo Dez Abby
Capítulo Onze Abby
Capítulo Doze Abby
Capítulo Treze Abby
Capítulo Quatorze Kyle
Capítulo Quinze Abby
Bônus Aaron e Jessie
Epílogo Predestinados
Epílogo Trilogia
Recado da Autora
Olá! Só queria avisar que estou bem nervosa ao relançar essa
trilogia, pois nesses livros minha escrita era bem “crua”. Eles
foram meus primeiros livros e eu era bem menos experientes do
que sou hoje rsrsrs. Porém, essas histórias são lindas e eu desejo
que mais pessoas conheçam esses jovens que conheceram o seu
para sempre cedo.
Olho mais uma vez para o meu celular e suspiro. Sete horas. Primeiro dia na
faculdade depois do verão, depois de longas e ótimas noites de sono na minha cama
ao lado da minha família. Longe de todo este caos que define esse Campus.
É oficial! Eu odeio a faculdade!
— Bom dia. — Clara me cumprimenta alegremente quando a encontro na
cozinha. Como ela consegue? Pois é, também não sei. Ela é alegre em todos os
momentos do dia, quando ela está só um pouco cabisbaixa, pode ter certeza, é sério.
— Bom dia. — digo e me sirvo de café.
Hum… Amo isso demais. Clara fica me olhando com um sorriso ansioso no
rosto. Já sei, ela quer que eu pergunte algo. Suspiro.
— Qual o motivo dessa felicidade toda? — questiono. — Tudo bem. Eu sei que
você é a alegria em pessoa, mas você só sorriu desse jeito quando Tyler te pediu em
namoro.
— Sim e isso faz quanto tempo? — pergunta elevando a sobrancelha bonita.
— Hum…. Eu não sei, o namoro é seu, Clara. — respondo revirando os olhos.
Eu amo minha amiga, mas às vezes ela espera coisas bem loucas de mim. Tipo essa.
— Hoje faz três meses que ele me pediu em namoro Nicole. Eu estou feliz e
queria compartilhar com você que é minha melhor amiga, e minha única família aqui
na faculdade. — diz e engole seu café, neutra. Eu a magoei. Levanto e vou para o lado
que ela está.
— Desculpa. Eu sou uma idiota. — digo passando meus braços pelos seus
ombros. Ela retribui e sorri.
— Tudo bem. Vamos? Se não sairmos agora chegaremos atrasadas. — ela sorri
enquanto pega sua bolsa.
— Humrum, mas o que os pombinhos irão fazer para comemorar? — pergunto
curiosa enquanto pego minha bolsa e meus livros.
— Ainda não sei, mas acho que vou fazer uma surpresa para ele… É, vou falar
com o Connor para liberar o apartamento deles e faço algo lá. O que acha? — ela me
olha ansiosa e descemos a escada.
— Acho ótimo. — digo e seguimos falando coisas bobas até o edifício da minha
primeira aula. Clara faz o mesmo curso que eu, então nós estamos na mesma sala
quase sempre.
A aula passou bem rápido. Hoje eu estava prestando atenção em tudo que saía
da boca do professor e nem vi o tempo passar. Enquanto pego meus cadernos Clara
me diz o que havia pensado para a tal surpresa.
— Eu vou fazer um jantar com tudo que ele gosta e vou comprar um presente
para ele e uma lingerie bonita no Shopping. Qual cor você acha que vai ficar legal?
— ela pergunta pensativa.
Se ela não estivesse tão feliz eu responderia uma idiotice qualquer, mas hoje eu
vou respeitar e fazer de tudo para ela ficar ainda mais alegre (o que acho impossível).
— Estava pensando em branco. O que acha Nicole?
— Esquece o branco. Vamos ver? Vermelha já é muito usada, então eu acho que
preta ficaria linda. — digo sorrindo enquanto caminhamos para o refeitório. Ela me
olha sorridente e confirma.
— Sim. Será ela. — diz e nos sentamos com Gabriel; um amigo que fizemos
assim que chegamos a faculdade.
Quando nos conhecemos ele até que quis se “engraçar” para meu lado, mas lhe
expliquei que não queria isso com ele e com ninguém. Ainda não estou preparada para
algo relacionado com o sexo oposto. A verdade é que não sei quando estarei. Gabriel
é um fofo, mas não me atrai, o considero um amigo muito querido. Só.
— Oi. O que estavam falando? — ele pergunta sorrindo. Seu cabelo loiro cai
em sua testa e ele o afasta com a mão. Olho para a Clara e ela o responde.
— Vou fazer uma surpresa para o Tyler. Hoje completamos três meses de
namoro. — ela diz dando pulinhos de alegria, fazendo a mim e ao Gabriel rirem.
— Cara, é para você estar alegre mesmo. Três meses é muito tempo com aquele
cara. Você o amarrou mesmo, Clarinha. — Gabriel fala a fazendo revirar os olhos e
eu sorrio.
O namorado da Clara era digamos um mulherengo de merda. Ao conhecer Clara
ele viu que nem todas as mulheres são iguais as vagabundas do Campus da nossa
faculdade e mudou, é óbvio.
— Também acho, e ele não é louco de te machucar tentando reviver seu
passado. — digo e observo pelo canto de olho ela me observar com uma carranca.
— Eu sei que vocês me amam e também sei que você, Nicole, pode muito bem o
matar caso isso aconteça. — ela suspira e percebo pelo tom de voz dela que não está
gostando do rumo da nossa conversa. Então, mudo de assunto.
— Mas e aí como foi sua aula? — pergunto para Gabriel. Ficamos conversando
até irmos para a próxima aula. Que foi breve, já que o intervalo de uma aula para
outra é pouquíssimo.
Minhas outras aulas passaram tão rápido quanto a primeira. Voltei para o
dormitório sozinha já que Clara foi conversar com o colega do Tyler para ajudá-la na
surpresa. Entro e caminho para a cozinha. Nós moramos em um apartamento no
Campus que acomoda muito bem duas pessoas, no caso, eu e Clara.
Faço o almoço enquanto espero Clara voltar, mas decido comer sozinha depois
de meia hora esperando. Termino tudo e vou para o meu quarto. Acabo dormindo
enquanto leio um romance que ganhei da minha mãe.
Clara saiu para a festa “íntima” surpresa faz uns trinta minutos. Ela não veio
almoçar, pois foi ao Shopping fazer as compras para a surpresa e acabou comendo
por lá. Eu amo minha amiga, ela é a pessoa mais fofa e determinada que eu conheço.
Então digo que Tyler é muito sortudo por minha amiga ser tão apaixonada por
ele. Clara é filha de uma família muito rica, dona de um escritório renomado de
advocacia, mas ela não tem um bom relacionamento com seu pai. Ele queria que ela
estudasse Direito para seguir os seus passos, mas ela já era apaixonada pelo corpo
humano, e de como era a sua recuperação após algum acidente. Resumindo, ela não
obedeceu ao seu pai e hoje está ao meu lado cursando fisioterapia.
O que para mim foi ótimo, já que não conhecia ninguém quando cheguei aqui.
Seu pai ainda não aceita a escolha dela, mas ele não atrapalha. Ele a ama muito. Meus
pais me apoiaram na escolha da faculdade, mas não é só porque eles são médicos e
sim porque sabem da minha paixão pela profissão. A arte de ajudar alguém a ter
esperança de retornar a fazer algo que para alguns não é mais possível, como andar, é
simplesmente lindo e eu me orgulho da minha escolha.
Senhor Victor, e senhora Cláudia me ajudaram bastante a chegar e permanecer
aqui durante esses dois anos. E eu os amo mais ainda, (se isso é possível) por isso.
Escuto a porta da frente se abrir e estranho já que Clara não viria para casa hoje. Será
que é um ladrão? Ou um estuprador?
Caminho para a sala e encontro Clara chorando no chão do nosso apartamento.
Meus olhos se arregalam e eu fico sem saber o que fazer por alguns minutos, mas logo
corro para perto dela e a abraço. Eu sei que não vai adiantar perguntar nada agora, já
que ela está no auge do choro.
Espero alguns minutos para ela se acalmar. Pego na sua mão e a levo para o
sofá. Ela se deita e coloca a cabeça no meu colo. Fico me perguntando o que
aconteceu para deixá-la tão mal. Eu queria arrancar sua dor, ver Clara sofrendo
assim, faz meu peito doer. Faz-me lembrar momentos de fraqueza proporcionados por
pessoas que não mereceram meu sofrimento. Respiro fundo e resolvo perguntar algo
que tenho quase certeza que é o motivo desse seu sofrimento.
— O que Tyler fez Clara? — pergunto e a vejo se sentar para me olhar. Ela está
com os olhos azuis vermelhos e inchados pelo choro.
— Primeiro me prometa que não irá atrás dele. — me pede e minhas dúvidas
acabaram de ser confirmadas. Tento falar, mas ela me interrompe. — Prometa. —
pede novamente e eu só confirmo com a cabeça.
— Quando eu cheguei a casa dele… — ela parece se lembrar do momento e
começa a chorar de novo, só que dessa vez, mais ainda. — A Patrícia estava na cama
dele.
O quê? Eu vou matar aquele filho da puta.
— Ele estava tomando banho, ela me viu e deu um sorriso cínico. Aquela
cachorra! Por que ele fez isso Nicole? Eu o amava tanto. Meu coração está doendo
muito, eu nunca senti isso na minha vida. Eu fiz algo errado? — ela questiona
enquanto chora compulsivamente.
— Você falou com ele, Clara? Sei lá, não pediu uma explicação? — faço essa
pergunta idiota mais por ela do que por mim. Ela gosta dele de verdade e se não for o
que ela está pensando? Eu não sei, mas eu detesto vê-la assim.
— Não tem explicação, então só saí de lá e fiquei andando até chegar aqui. —
diz enquanto algumas lágrimas ainda descem pelo seu rosto.
— Tudo bem. Agora vai se deitar e descansar um pouco. Vou sair para comprar
sorvete e chocolate para nós duas. — digo e a levo para o seu quarto. Ajudo-a se
deitar na cama e ela se encolhe toda.
— O que a gente faz para ela passar? — Clara pergunta e fico sem entender.
— Ela quem? — pergunto. Ela me olha e sorri fraco.
— A dor. — diz e se deita de lado para me observar.
— Não sei amiga. — digo e dou um beijo na testa dela e saio do seu quarto. —
Eu não sei.
Pego as chaves do meu carro e sigo para o estacionamento. Entro e saio para o
único lugar que sei que ele vai estar. Vou para o seu apartamento o fazer me explicar
essa merda, sei que prometi a Clara, mas nunca irão fazê-la chorar e eu só ficar
assistindo. Nunca.
Desço do carro e encaro o prédio a minha frente. Levo um susto quando uma
moto passa por mim rapidamente me fazendo cair. Levanto-me logo em seguida e
limpo minha calça jeans. Procuro o filho da mãe e o encontro me olhando, ele desce
da moto devagar e vem até mim me analisando.
— Você está bem, Princesa? — pergunta e me olha de cima a baixo. Descarado!
Mas não posso dizer que ele não é algo para se olhar também.
— Acho que a última coisa que estou nesse momento é bem, seu idiota… —
digo e perco a voz ao olhar para seus olhos verdes quase azuis. São de uma
profundidade que me confunde e intriga. Balanço a cabeça para afastar seus olhos e
esses pensamentos enquanto passo por ele e caminho para o hall do prédio.
Toco a campainha do maldito apartamento pela quinta vez até que enfim o idiota
do Tyler abre a porta com a cara de sono. É óbvio, depois de transar com aquela
cadela da Patrícia ele devia estar cansado mesmo. Entro no apartamento o fuzilando
com o olhar. Ao ver minha postura, ele dá um passo para trás.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa com Clara? — pergunta preocupado.
Sim. Isso mesmo. Preocupado. Sorrio ironicamente.
— Você aconteceu. Eu te avisei Tyler para nunca machucar minha amiga. —
digo andando de um lado para o outro e ele fica me olhando sem entender ou se
fazendo de desentendido. Não sei dizer com exatidão.
— Não sei se você se lembra, mas hoje vocês completam três meses de namoro
e a Clara, como uma boba, quis te fazer uma surpresa, mas ao chegar aqui adivinha?
— digo e ele continua me olhando desse jeito estúpido. Aponto o dedo na sua cara e
cuspo a verdade que ele tanto finge não saber.
— Você estava tomando banho e a Patrícia estava nua na sua cama. Seu idiota!
— grito e seus olhos se arregalam enquanto me olha.
— O que foi? Pensou que ela não descobriria que você é o mesmo mulherengo
de sempre? Pois bem. Ela descobriu e está desolada, chorando e se perguntando o que
ela fez de errado. Ela? — sorrio irônica. — Eu só vim te dizer para nunca mais
procurar minha amiga, Tyler. — digo e saio do apartamento, mas ele vem atrás e me
para segurando meu braço.
— Nicole, eu juro que não transei com essa garota. Meu Deus, eu nem vi essa
garota hoje. Eu tenho que ver a Clara. Eu não fiz isso com ela, eu a amo. Merda. —
diz falando rapidamente e incoerente. Olho em seus olhos e vejo. Ele está sendo
sincero, eu sei que sim. Ele pega a carteira e as chaves no sofá e caminha para fora.
— Eu vou dar uma volta para vocês conversarem sozinhos. — falo baixo. Ele
para e me olha.
— Você acredita em mim? Por que se você acredita ela também vai, não é? —
ele pergunta com os olhos marejados.
— Sim, mas não sei dizer se ela vai ou não acreditar. Então, vai logo. — digo
caminhando para fora ao seu lado. — Ela me fez prometer que não viria atrás de
você. — digo para desfazer o clima tenso.
— Nem consigo imaginar o que ela deve estar sentindo. — diz triste. — Vou
fazer aquela vagabunda falar a verdade para minha princesa, ela não podia ter feito
isso comigo. Com a confiança que minha pequena demorou tanto tempo para ter em
mim.
Ele vai embora e eu caminho para o meu carro. Passo no supermercado e
compro um monte de besteira. Sei que quando eu chegar ao Campus, Clara já vai estar
nos braços de Tyler, mas eu como sozinha mesmo. Não tem problema. Fico andando
de carro por meia hora e decido voltar para casa. Quando estaciono meu celular toca.
— Alô?
— Pode vir para casa sua mentirosa.
— Hey! Eu não menti estou subindo, nesse momento, e levando seu sorvete.
Pelo jeito já está tudo certo, não é?
— Tudo. Só queria ter quebrado a cara daquela puta, mas Tyler não deixou.
— Não se preocupe. Tudo no seu tempo. Agora abra a porta, estou com sacolas
nas minhas mãos.
— Ok.
Desligo e paro em frente à porta do nosso apê e ela é aberta por uma Clara
sorridente e nada parecida com a Clara de hoje à tarde, desolada. Sorrio.
— E cadê o motivo dessa felicidade? — pergunto dando uma risada.
— Está no banheiro. — diz com as bochechas vermelhas.
— Humm. Estou vendo que a reconciliação foi quente. — digo caindo na
gargalhada.
— Para, sua inconveniente. — suas bochechas queimam. Continuo rindo e rio
ainda mais quando Tyler sai do banheiro de toalha.
— Quê? — pergunta ele sem entender. Clara coloca as duas mãos no rosto e
geme em frustração.
— Nada, Tyler. Deixa quieto, se não, sua Pequena ou Princesa vai morrer de
vergonha. — digo fazendo Clara me empurrar e ir o abraçá-lo. — Arg! Parem eu
estou presente. Seus idiotas apaixonados.
— Você está precisando transar Nicole. Urgentemente. — Clara fala séria.
Reviro os olhos.
— Ainda vou te ver “idiota apaixonada”, Nicole. —Tyler diz sorrindo.
— Vão à merda. — digo e coloco sorvete para mim e vou para meu quarto. Eu
os acho um casal lindo, mas às vezes me irritam.
Eu sei que no fundo eu gostaria de encontrar alguém que me chamasse de
pequena ou princesa ou qualquer apelido carinhoso, mas meus medos do passado me
fazem fraca e medrosa demais para me entregar, não que já tenha aparecido, pois com
certeza não foi isso. Mas e quando aparecer o que eu vou fazer?
Balanço a cabeça e tiro esses pensamentos de mim. Pego meu livro e fico lendo
até Clara me chamar da sala. Levanto e vou até ela.
— Oi. — digo. Olho para sua roupa e vejo que vai sair.
— Vamos comer fora hoje. Agora vai logo que te espero aqui. — mordo meu
lábio e eu a avalio. Clara está vestindo uma calça jeans e uma blusa rosa com um
casaco preto e um salto preto. — Vai Nicole.
— Tudo bem. Quero dizer, hoje não é seu aniversário de namoro? Você não
deveria ir jantar com ele? — pergunto e ela revira os olhos.
— Ele vai também e não venha me dizer que não quer ir porque você vai, então,
vá se arrumar. Caramba. — ela bate o pé, já ficando estressada.
Saio em direção ao meu quarto e tomo um banho rápido. Pego uma calça jeans
preta, uma regata branca e um casaco creme. Pego minha bota cano baixo e a coloco.
Meus cabelos castanhos vão até a cintura e como eles estão bondosos comigo, o deixo
solto. Passo rímel e delineador e um pouco de gloss rosado nos lábios.
Saio do quarto e Clara está me esperando na porta. Reviro os olhos e seguimos
para fora. Fomos no carro dela para não termos que ir em dois carros. Ao chegarmos
no restaurante eu saio do carro e observo o restaurante.
Ele não é aqueles cheios de frescura, esse é simples, mas bem aconchegante.
Entramos e logo vimos o Tyler, só que, está acompanhado por outro garoto, paro e
olho para Clara que me olha inocentemente.
— Eu não sabia, eu juro. — diz e pega minha mão. — Se quiser ir, nós vamos
embora agora e depois converso com o Tyler. Não tem problema.
— Não precisa. Eu fico. — digo.
Eu vou ficar por ela. Hoje é um dia especial para ela e eu vou ficar comportada.
Pelo menos tentar. Tomo uma respiração e caminho para a mesa.
Acho que às vezes o Tyler pensa que não gosto de homem, mas não é isso, eu
não sou lésbica, apenas que já me magoaram e me decepcionaram demais, então,
resolvi não me abrir mais para o amor ou qualquer outra coisa que vem junto com ele.
Chego perto da mesa e vejo os olhos verdes quase azuis de hoje à tarde me
olhando atentamente. Surpresa, percebo que ele olha para mim como se eu fosse um
pedaço de carne. Isso me irrita.
— O que está fazendo aqui? — pergunto o encarando friamente.
— A princesa é a amiga da Clarinha? — Ele pergunta ao Tyler como se eu não
estivesse aqui.
— Vocês se conhecem? — pergunta Tyler e Clara ao mesmo tempo. Isso está
demais.
— Ele me atropelou hoje. — digo o olhando com raiva. Sento-me à mesa em um
baque.
— Como assim? — Clara pergunta o encarando e sentando também.
Capítulo Dois
Nicole
— Olha foi sem querer ok? — ele diz me olhando e em seguida revira os olhos
azuis. Bufo. — Eu não te vi.
— Sim, porque eu sou uma anã, quero dizer, invisível para você não ter me
visto. — digo balançando a cabeça, descrente, e o encaro.
Paro meus olhos nele e o analiso. Ele pode ser idiota, mas é bonito. Sua pele é
branca e seus cabelos são pretos bem escuros. Deve ter 1.85 m de altura mais ou
menos e deve malhar bastante. Tenho que confessar, ele é quente e lindo de morrer.
Ele percebe o que estou fazendo e dá um sorrisinho de lado. Me recomponho.
— Gosta do que vê, Princesa? — ele pergunta elevando as sobrancelhas.
Reviro os olhos tentando disfarçar.
— Não. Você não faz meu tipo! — minto e ele me olha sério por um momento,
mas depois sorri mordendo seu lábio.
— Eu faço o tipo de todas, Princesa. Eu sei que me quer, vejo nos seus olhos.
— diz me deixando de boca aberta. Que garoto estúpido!
— Vocês poderiam se calar? — Clara geme chateada. Eu sei que estou
estragando o jantar, mas é que esse menino está me tirando do sério.
— Desculpa. — digo e todos da mesa se calam.
— Agora deixem eu os apresentar. Que tal começarmos de novo? Esqueçam o
que aconteceu okay? — Clara propõe enquanto Tyler só nos observa. Confirmo com a
cabeça.
— Por mim tudo ótimo. — diz o intruso sorrindo e me olhando com malícia.
Conto até dez para não tacar um tapa no seu rosto bonito. — Mas não precisa nos
apresentar, nós mesmos fazemos as honras. Meu nome é Connor, prazer.
— Nicole, prazer. — digo sarcasticamente.
— Seu nome é lindo, Princesa, vou te chamar de Nick. — ele fala sorrindo e se
deliciando com meu nome.
— Ninguém a chama de Nick. — minha amiga murmura. — Mas é legal. Eu
gostei.
— Tanto faz, só esquece o Princesa. — digo balançando a mão e ele sorri.
— Vou deixar para te chamar assim só quando estiver na minha cama. — deixo
o garfo cair horrorizada. Aposto que minhas bochechas estão iguaizinhas a um tomate.
Esse cara é louco. Olho para a Clara que está o fuzilando.
— Não se atreva. Eu sei muito bem o que você faz depois que as leva para seu
quarto. Então se cale. — diz transtornada. Fico imaginando o que ele deve fazer…
Com certeza as manda embora e nunca mais fala com elas. Isso não é para mim. Com
certeza, não.
— Não precisa ficar nervosa amiga. Isso nunca vai acontecer! — digo a última
frase o encarando firmemente. Ele revira os olhos, mas fica calado.
O resto do jantar ocorreu tranquilamente, óbvio que Connor não perdia uma
chance para me alfinetar, mas mantive a calma e olha que vitória, não espanquei o
lindo rosto dele.
— Vamos? — pergunta Clara. — Vou te deixar em casa e de lá vou para o
apartamento do Tyler.
— Pode ir. Eu vou de táxi. — digo e ela balança a cabeça negando. Não quero
que ela fique sendo minha babá, hoje é o aniversário de namoro dela.
— Eu a levo, Clarinha. Não se preocupe. — escuto Connor falar atrás de mim. O
olho surpresa.
— Não me preocupar? Só pode está de brincadeira não é, Connor? — Clara
olha para ele incrédula.
— Vai, deixa de ser chata Clara. — ele pede e ela me olha, acho que para ver se
aceito. Será? Que mal pode acontecer, não é? Também não quero estragar a noite da
minha amiga.
— Por mim, tudo bem. Pode ir amiga. — digo e lhe dou um sorriso sincero. Ela
confirma e sussurra alguma coisa no ouvido dele. Connor arregala os olhos e engole
em seco.
Clara dá uma tapinha no braço dele e vai em direção ao carro. Depois vou
perguntar a ela o que disse para assustá-lo daquela forma. Me despeço deles e espero
Connor ir buscar o carro, mas levo um susto ao ver ele em cima da maldita moto.
— Você veio nessa coisa? — pergunto quando ele para ao meu lado. Sorrindo
ele me entrega o capacete.
— Não fala assim dela. Você a magoou. — diz alisando a moto. Reviro os
olhos. Eu estou é com medo. Nunca subi em uma moto e se cairmos? Ele percebe meu
receio e diz: — Eu sei dirigir muito bem, não se preocupe.
— É que nunca subi em uma. — digo olhando para longe dele. Ele deve estar
achando que sou uma louca idiota. Ele pega minha mão e eu dou um passo para trás de
susto. Agora sim ele deve estar achando que sou doida.
O olho, e ele coloca a mão na minha frente, eu suspiro e a pego, não sei se é
loucura minha, mas senti nossas mãos estremeceram. O olho e ele também está com a
cara surpresa então presumo que foi verdade.
— É… Vem vou colocar o capacete em você. — ele me puxa para mais perto.
Sinto sua respiração quente em meu rosto enquanto ele está sentado na moto e suspiro
tentando afastar a vontade de me distanciar.
Ele coloca o capacete cuidadosamente e segura minha mão para eu me apoiar ao
subir.
— Pronta? Se quiser pode se aproveitar de mim e sentir meus músculos. — diz
sorrindo ao ver que subi e já estou sentada na moto.
— Idiota. — digo e lhe dou um tapa no braço. Ele se contorce fingindo que
doeu. Sorrio. — Vai logo.
— Seu desejo é uma ordem, minha Nick. — ele murmura pegando minhas mãos
e as colocando em sua barriga lisinha, logo depois, saímos do estacionamento.
Ele vai rápido e eu escondo meu rosto atrás dele e o aperto mais. Ele sorri
diante disso. Como eu sei? Simples. Eu sinto. O sorriso desse idiota mexe com minha
barriga, e isso me irrita e assusta ao mesmo tempo. Depois de alguns minutos estamos
em frente ao meu dormitório. Descemos da moto e fico na frente do Connor esperando
ele tirar o capacete, mas ele não faz nada só se encosta na moto.
— Tira Connor. — digo impaciente. Ele se lembra e destrava o fecho para logo
depois o tirar. Arrumo meus cabelos que estavam todos arrepiados os deixando mais
apresentáveis. Olho para Connor e vejo que ele me observa. — Obrigada. Vou entrar
já está tarde. — digo e tento ir em direção a entrada do prédio, mas ele segura minha
mão. O olho e ficamos calados até ouvirmos uma voz feminina.
— Onnor. Você por aqui? — viro e vejo uma garota que mora no mesmo prédio
que eu. Ela está sorrindo e se insinuando para Connor. Respiro fundo e volto minha
atenção para ele.
— Trouxe minha amiga para casa. Como é seu nome mesmo? — ele pergunta
sorrindo para ela.
— Camille. Não se lembra de mim? — eu sorrio ironicamente e reviro os olhos.
É óbvio que ele não se lembra dela. Ele só a usou e esqueceu.
— Tchau Connor. — digo e entro no prédio. Ainda o escuto me chamar —
“Nick” — mas continuo e só paro quando estou dentro de casa.
Não quero estragar a noite dele. Acho que vai ser boa. Entro no banheiro e fico
debaixo do chuveiro uns cinco minutos. Me enrolo na toalha e saio. Escuto meu
celular tocando e o procuro. Acho-o dentro da minha bolsa. Clara.
— Oi pequena, não era para nesse momento você estar debaixo do Tyler?
— Para, sua nojenta. Só liguei para saber se chegou ao campus, sã e salva.
Connor aprontou com você?
— Estou com todas as partes do meu corpo intactas. Ele não fez nada. Acho que
nesse momento ele deve estar com uma tal de Camille.
— A vizinha?
— Acho que sim, mas o que falou para ele ficar tão surpreso em frente ao
restaurante?
— Ah, só que eu arrancaria suas bolas se ele tocasse em você ou lhe
machucasse.
— Você sabe ser má quando quer não é, Clara?
— Por você sempre. Agora vou desligar, Ty está me chamando.
— Vai lá agarrar teu “boy magia”.
— Chata. Tchau.
— Beijo.
Desligo sorrindo e visto meu pijama. Deito na cama e adormeço.
Acordo com meu celular alarmando e levanto indo direto para o banheiro. Hoje
faz dois dias desde o jantar com o Connor, ainda não o vi depois disso e espero que
continue assim, não gosto do que ele faz comigo, essas coisas que sinto quando estou
perto dele.
Primeiro porque ele é uma galinha e segundo porque eu não quero me magoar.
Eu estou ficando patética, ele não quer nada comigo e eu fico aqui maquinando a
distância que tenho que manter dele. Idiota.
Saio do banheiro depois de ter escovado os dentes. Visto a primeira roupa que
vejo no meu guarda-roupa. Uma calça jeans preta e uma blusa cavada branca com um
top rosa, pego uma sapatilha e faço um rabo de cavalo no cabelo. Passo um pouco de
rímel e gloss. Pego minha bolsa, meu livro e vou para um Starbucks próximo ao
campus. Assim que entro, avisto os olhos que me perseguiram, em pensamento, esses
dois dias acompanhado com dois garotos e duas meninas, mas como ele não me viu
ainda, disfarço e compro meu cappuccino e saio apressadamente da loja.
Quando chego à sala Clara já está lá e guardando meu lugar. Ontem ela dormiu
no Tyler e veio com ele para o campus. Me aproximo e sinto uma mão pegar meu
pulso. No susto quase caio no chão. Olho para o intruso e ele está sorrindo com as
mãos em sinal de rendição. Suspiro.
— Oi? — pergunto e ele sorri. Seus cabelos são castanhos claros e seus olhos
são da cor dos meus, mel. Bonito.
— Oi. Desculpa não quis te assustar, é que estou precisando de uma ajudinha em
uma matéria e me disseram que você é a melhor da turma. Você poderia? — pergunta
coçando a cabeça, olho para Clara que assiste tudo e volto minha atenção para o
garoto. — Meu nome é Miguel.
— Oi Miguel. Se veio me procurar sabe meu nome, presumo. — ele confirma.
— Pois é. Sou Nicole e sim posso lhe ajudar. Vou te dar meu número e aí a gente
combina ok.?
— Para mim está ótimo. — diz sorrindo e eu dou o número e me despeço.
Caminho para minha cadeira e a Clara me bombardeia de perguntas.
— O que foi aquilo? Vocês se conhecem? Ele é lindo! — fala animadamente e
eu sorrio.
— Sim, ele é lindo e não, eu não o conheço. Ele disse que precisa de ajuda em
uma matéria e perguntou se eu podia ajudá-lo. Só isso. — digo e ela bate palmas de
forma animada, só não sei por quê. A olho questionando.
— Aí Nicole você é lenta mesmo. Deixa para lá. — ela revira os olhos e o
professor entra na sala.
Caminho para o refeitório com Clara ao meu lado depois da nossa primeira aula
do dia.
— Mas vocês demoraram hoje. — Gabriel fala chateado. Hoje ele está com
Shirley, ela estava viajando, pois teve um problema em casa. Sorrio ao vê-la.
— Deixa de ser impaciente Gabriel. — diz Clara e corre para abraçar Shirley.
— amiga que saudade.
— Como estão às coisas lá na sua casa, Ley? — pergunto sentando ao lado do
Gabriel. Ela sorri.
— Ótimas. Meu pai melhorou. — diz e arregala os olhos do nada olhando para
trás de mim. Sigo seu olhar e vejo Tyler entrando com Connor e seus amigos. — O
que eles estão fazendo aqui? Eles nunca entram aqui. Lógico só o Tyler para ver sua
pequena.
Os olhos do Connor encontram os meus. Ele sorri e eu me viro na hora, fazendo
uma pequena reza para ele não vir aqui. Gabriel passa o braço por mim me trazendo
para perto dele como sempre faz, ele faz isso comigo desde quando cheguei aqui.
— Shirley deixa de ser chata, mas tenho que concordar isso é novidade. Vou
falar com Tyler. — levanta e vai até os meninos do outro lado do refeitório. A sigo
com os olhos e vejo Connor olhando Gabriel e eu abraçados.
Seus olhos me transmitem confusão e eu acho que ele pensa que somos
namorados. A verdade é que todos pensam isso. Volto minha atenção para meus
amigos, logo depois Clara volta com Tyler e Cia. Puta merda, por que ninguém escuta
quando rezo pedindo algo?
— Chamei os meninos para sentarem com a gente. Tem algum problema? — ela
pergunta e todos dizem que não, menos eu já que estava prestando atenção em certo
garoto de olhos verdes quase azuis. — Nicole?
— Não. Não tem problema. — digo a olhando. Ela sorri e os meninos se
sentam. Ficamos conversando um tempinho e eu conheci os outros garotos como,
Bennet e Kian. Eles são muito engraçados.
— CONNOR. — nos viramos para onde uma garota grita chamando por Connor,
ela está usando uma blusa que mal cobre seus seios e uma saia quase do mesmo jeito,
estremeço ao imaginar o frio que ela está sentindo, andar com essas roupas no frio de
Seattle só pode ser para chamar atenção dos homens. Olho para Connor e levanto a
sobrancelha direita. Ele se levanta e vai ao encontro dela, enquanto todos voltam a
conversar eu o observo. Eles estão conversando animados e ele sorri para ela por
algo que ela falou. Volto para meus amigos.
— Por que vocês passaram por aqui? Nunca estão aqui. — diz Shirley para
Bennet, mas quem responde é Kian.
— Por nada em especial, só o Connor que deu a ideia e nós gostamos e então
viemos. — diz dando de ombros.
— Vocês dois namoram? — Bennet pergunta para mim e Gabriel. Nos olhamos
e sorrimos.
— Bem que eu queria, mas ela me deu um fora. — Gabriel diz dando de
ombros. Todos ficam rindo quando bato nele. Connor chega logo depois.
— Gabriel! Mentira, nós temos um caso sem rótulos. — digo fazendo Gabriel
revirar os olhos e os outros gargalharem.
— Pois eu quero lhe pedir em namoro, agora! — Gabriel diz sério. Bufo e
semicerro os olhos. Todos olham sorrindo e surpresos. Connor se levanta e vai
embora sem dizer nada a ninguém. Tyler sai logo depois.
— Gabriel Casali para com isso agora. — digo séria e ele levanta as mãos em
sinal de rendição.
— Gente isso era uma brincadeira Ok.? — diz ele. Eu sorrio e confirmo. —
Essa tampinha é minha amiga e só.
— Você quer dizer irmã, não é Gabriel? — digo e ele confirma.
— Sim. Minha irmã. — diz e beija minha bochecha carinhosamente.
Olho o relógio e está quase na hora da minha próxima aula. Levanto.
— Gente, tenho que ir. Minha aula começa em cinco minutos. Vejo vocês por aí
garotos. — digo e saio sozinha já que essa aula a Clara não faz comigo.
Caminho para a aula e vejo Tyler voltando para o refeitório sozinho. Suspiro e
volto a caminhar.
— E aí aceitou? — pergunta Connor atrás de mim. Respiro fundo e me viro para
vê-lo. Connor está com os braços cruzados e sorrindo.
— Desculpa? — digo fingindo não saber do que ele está falando. Ele revira os
olhos.
— Aceitou o pedido de namoro do seu caso sem rótulos? — ele fala
ironicamente e imitando minha voz. Não consigo não sorrir, ele me olha sério e eu
paro.
— Eu estou atrasada para minha aula. Então até outra hora. — digo e viro para
seguir meu caminho. Ele vem atrás. Bufo e continuo andando.
— Por que não quer responder? É simples, sim ou não. — diz me seguindo. Só
de pensar que ele se incomodou pelo menos um pouco com a cena ridícula do Gabriel
minha barriga se contorce inteira de felicidade e eu não gosto disso.
— Porque não te interessa. Agora me esquece. — digo parando e ficando de
frente para ele. — Por que não desaparece como esses dois dias?
— Eu não desapareci é você que estava me evitando. — ele dá de ombros. —
Eu sei Nicole. Eu vi você hoje no Starbucks e agora também no refeitório. — ele fala
sério elevando a voz. Eu fecho os olhos porque todas as pessoas estão nos olhando e
prestando atenção na gente.
— Não levante a voz para mim, nós não nos conhecemos e você não tem o
direito de falar assim comigo. — digo e sim... Agora é oficial, todos pararam para
olhar nós dois. — Tchau Connor.
Saio andando e graças a Deus ele não veio atrás de mim. As minhas aulas
passaram sem eu perceber, já que, não prestei atenção em nenhuma delas. Eu só ficava
repassando aquela cena patética entre eu e Connor no meio da faculdade. Chego a
minha “casa” e Clara está andando de um lado para o outro no meio da sala.
— Porque você e Connor estavam discutindo no meio do campus? — pergunta
preocupada. Sigo para meu quarto e ela me acompanha.
— Quem te falou? — pergunto já sabendo a resposta.
— É o assunto da faculdade. Você pensava que eu não saberia? Esse povo adora
uma fofoca e quando envolve Connor Jones, querida, pode ter certeza que elas voam.
Agora me fala. Tudo bem, eu sei que vocês se odiaram assim que se viram, mas o
porquê da briga de hoje eu quero saber. — fala e eu suspiro e me jogo na cama.
— Foi porque ele veio querer saber se eu tinha aceitado o “pedido de namoro”
do Gabriel. — digo e ela me olha incrédula.
— O que? Connor Jones com ciúmes? — ela pergunta sorrindo. Eu pulo da
cama e a olho, séria.
— Não era ciúmes, Clara! — digo com certeza. Ele não sente ciúmes de
ninguém, não é?
— Me conte desde o início, aí eu te digo se é ou não. — diz cruzando os braços,
decidida, e eu volto a deitar na cama. Conto a ela tudo nos mínimos detalhes. Quando
termino, ela me olha por um momento e diz.
— Era ciúmes amiga. Eu estou muito surpresa também, mas era e também pela
forma como ele saiu da mesa quando o Gabriel brincou. — diz e me olha
cautelosamente. — Eu sei dos seus medos e os motivos deles, mas você não acha que
está na hora de se livrar desses sentimentos? — me levanto e fico andando de um lado
para o outro.
— Eu não posso, quero dizer, eu não consigo. Não é tão simples quanto você faz
parecer. O Connor é igual a ele .
Capítulo Três
Nicole
— Você sabe que não é. — Clara me olha séria. Eu quero tanto pensar que não,
mas para mim eles são iguais. Deito-me na cama e suspiro.
— Eu não quero falar sobre isso. Por favor! — digo e Clara me fita seriamente.
— Eu só não quero que você fique adiando sua felicidade. Tudo bem que pode
não ser com Connor e sim com outra pessoa, mas você tem que deixá-la entrar. Você
tem que deixá-la fazer parte da sua vida. — ela fala e sai do quarto me deixando
sozinha com minhas dúvidas e meus medos.
***
Já se passou um mês desde a minha discussão com Connor, no dia que ele me
atropelou e depois nos encontramos no restaurante. Sempre o vejo na faculdade, mas
nos evitamos ao máximo, acho que trocamos somente acenos nesse tempo e isso está
me enlouquecendo.
Eu sei que parece ridículo, pois só o conheço há um mês e poucos dias, mas eu
ainda sinto aquelas borboletas estúpidas no meu estômago quando ele chega perto.
Quando o vejo com alguma amiga a minha vontade é de socar a cara dela para ela
nunca mais chegar perto dele.
Acho que ele ainda pensa que eu namoro o Gabriel já que ele o encara sempre
que pode. Eu não queria gostar de o ver bater de frente com meu amigo, mas eu gosto.
Esse gesto dele faz meu ego subir e deixa meu coração feliz ao perceber que ele tem
ciúme e que talvez goste de mim. Eu não sei, eu sou patética. Fico pensando nele o dia
inteiro e isso é uma merda. Saio dos meus devaneios com o professor me chamando.
O olho.
— Fique mais atenta Srta. Mitchell. — diz e eu confirmo com um aceno.
O resto da aula passou rápido. Pego minhas coisas e espero Clara pegar as suas.
Caminhamos para o refeitório e fico estática ao ver Connor beijando a tal Camille em
frente ao refeitório. Volto a caminhar com Clara ao meu lado.
Você pensou o quê, Nicole? Que ele estava fazendo voto de castidade?
Minha consciência irritante me questiona, fazendo eu me achar ainda mais
idiota. Respiro fundo e me sento ao lado de Gabriel.
— Você está bem? — pergunta preocupado.
— Não, mas vou ficar. — digo e coloco as mãos no rosto. Eu vou ficar eu tenho
que tirar esse garoto da minha cabeça. Eu vou tirar.
— Hoje nós vamos sair, vai ter festa na casa da Fraternidade e não adianta falar
que não quer, pois você vai e isso não está em discussão. — diz Clara me olhando
séria.
— Como você disse não está em discussão. Então... — digo e deixo a frase
morrer. — Você está certa. Hoje vamos sair e curtir a vida. — digo sorrindo.
— É assim que se fala. — fala minha amiga Shirley. Gabriel beija minha testa e
alisa meus cabelos. Sorrio.
— Oi pequena. — Tyler fala chegando perto da Clara. Não preciso olhar para
saber quem está com ele. Sinto seus olhos em mim.
— Oi amor. — Clara fala fazendo carinho no seu namorado. Sorrio ao ver os
dois juntos.
— O que estavam falando? — Ty pergunta. Todos da mesa me olham e dou de
ombros, não é que eu esteja escondendo que vou sair com meus amigos. Então não
vejo necessidade de eles me pedirem permissão para falar.
— Que vamos para a festa na casa da Fraternidade hoje. Festejar. — diz Clara
sorrindo e eu retribuo.
— Hum… Que bom! Eu vou poder ir? — pergunta Ty fazendo Clara revirar os
olhos.
— É óbvio. Você vai com a gente e se quiser pode chamar o Bennet e o Kian. —
Diz e Shirley bate palmas alegre.
— Não vai me convidar, Clarinha? — pergunta Connor. Nesse momento me
permito o olhar, ele está com uma calça jeans surrada preta e uma blusa branca lisa.
Como ele consegue ser lindo mesmo usando uma roupa tão básica?
Seu olhar encontra com o meu e parece que estamos a sós dentro desse
refeitório, o resto das pessoas sumiram e só ficou a gente. Eu quebro o contato ao
ouvir a voz da Clara.
— Sim. Se quiser ir está convidado. — responde Clara sem certeza na voz.
Depois me olha como se tivesse pedindo desculpas.
— Ok. Então. Todos convidados e presenças confirmadas. Vamos juntos ou em
carros separados? — pergunta Shirley. Nos olhamos e Gabriel fala.
— Eu posso passar para pegar você e a Clara? — pergunta gentilmente e eu
sorrio.
— Pode. Hoje não vou dirigir, quero beber! — digo convicta e Clara bate
palmas.
— Então pronto. Ty não precisa ir me buscar. Vou com Gabriel e com a Nicole,
nos encontramos lá, ok? — pergunta e ele sorri confirmando.
— A conversa está boa, mas eu tenho que ir. — digo e me levanto. Clara me
olha sem entender já que não temos aula agora. Suspiro. — Vou me encontrar com o
Miguel, mas volto antes de saírem daqui. Hoje é só revisão. — digo e ela sorri
abertamente.
— Humm… Namorado novo, Nicole? — Shirley pergunta fazendo um coração
com as mãos. Reviro os olhos.
— Você não é o namorado dela, não? — Connor pergunta confuso e apontando
para Gabriel. Todos da mesa começam a rir, mas ele continua sério.
— Eu não tenho namorado. E Gabriel é apenas meu amigo, não que isso lhe
interesse. — digo e saio da mesa. — Tchau, gente.
Saio do banheiro e faço minha maquiagem. Durante esse mês eu fiquei bastante
amiga do Miguel, mas é isso, amiga. Hoje nós revisamos a matéria já que segunda-
feira temos prova.
Ele é muito fofo, mas não me atrai nem um pouco.
Quando voltei para o refeitório, Connor não estava mais lá, fiquei um pouco
decepcionada, mas pelo jeito que falei com ele, não era para menos. Visto minha
calça cintura alta preta e um cropped de manga longa branca com o número 88 em
preto na frente.
Coloco um salto preto, não muito alto e pego meu casaco preto. Meu cabelo está
escovado e com alguns cachos nas pontas. Coloco o celular e o dinheiro dentro da
bolsa e vou para a sala, onde Clara e Gabriel estão me esperando.
— Você está linda. Hoje você encontra um boy magia. — sorrio para Clara e
dou uma voltinha. Olho para Gabriel e ele me olha dos pés à cabeça.
— Sim gata, e quente como o inferno. — diz me fazendo sorrir. Gabriel está
com uma calça jeans cinza e uma blusa vermelha.
— Vocês também estão gatos e quentes. — digo os fazendo soltar uma
gargalhada. Clara está com um vestido preto colado ao corpo, um casaco branco e um
salto vermelho sangue, um contraste perfeito com a pele branquinha. Linda de morrer.
— Agora vamos.
— Primeiro as damas. — diz Gabriel abrindo a porta.
Isso aqui está muito lotado, chega a ser nojento. Um monte de putas dançando
como quem está quase transando. Caminho para o bar improvisado com Gabriel,
Shirley e Clara.
— Gente, pelos céus. Que calor é esse? — Clara pergunta tirando o casaco.
Sorrio revirando os olhos e agradecendo por ter deixado o meu no carro.
Voltamos para a sala com nossas bebidas e sentamos em um sofá que por um
milagre não tem ninguém “transando” nele. Vejo a multidão abrindo espaço e fico sem
entender até ouvir Clara.
— Eles chegaram. — ela diz sorrindo e se levanta. — As pessoas estão
surpresas. Eles não costumam vir aqui. — diz ao ver que eu não entendia porra
nenhuma do que estava acontecendo.
Olho para eles e Connor parece procurar alguém. Continuo o olhando até uma
garota parar na frente dele e ele sorri. Ela pega a mão dele, acho que o chamando para
dançar, mas ele faz que não e acena um tchau para ela.
— Ty, porque demoraram? — pergunta Clara quando eles estão perto da gente.
— Nada. Só estava tentando convencer o Connor a vir de carro com a gente,
mas ele não quis. Cabeça oca. — diz emburrado. Só de olhar percebemos que ele é
muito preocupado com Connor.
— Eu já falei Ty. Eu só não vim com vocês para não precisar de carona quando
eu me cansar dessa festa de merda e quiser ir embora. — diz Connor bufando.
— Mas você bebe idiota. — diz Ty o contrariando. Olho para Connor e ele está
revirando os olhos e bufando.
— Cansei Tyler. Cuida da tua garota e me esquece. — diz e sai de perto da
gente em direção ao bar.
— Vou falar com ele. — digo para Tyler e ele confirma com um aceno.
Saio na mesma direção que ele foi. Quando o vejo meu estômago se revira, tem
uma garota o abraçando e sussurrando algo em seu ouvido, minha consciência me diz
para dar meia volta e sair, mas não faço isso, continuo até ficar de frente para ele.
— Quem é essa? — pergunta a garota. Levanto a sobrancelha esquerda em sinal
de desafio e ela me olha da cabeça aos pés. Connor está imóvel me olhando.
— Quero falar com você, Connor. — digo e ela sorri debochada. — Agora.
— Sai. — ele fala para ela e seu sorriso murcha. O olhar dela me encontra e eu
sorrio.
— Mas…
— Sai. — ele fala novamente e eu a olho sair com o rabo entre as pernas. Ele
pousa seus olhos em mim enquanto pego uma bebida. Ele tenta pegar uma para ele,
mas seguro sua mão, e aquele maldito tremor acontece. Solto sua mão no mesmo
momento.
— Você está dirigindo. Não beba. — digo e ele revira os olhos. Ele fica tão
lindo quando é contrariado.
Que merda eu acabei de pensar?
— Você veio aqui para me falar isso? Acho que Tyler já fez um bom trabalho em
achar que sou um filho. — diz bufando.
— Se você não se comportasse como um, quem sabe. — digo e viro o copo.
Fecho os olhos e sinto o líquido cor-de-rosa, com gosto de vodka, descer pela minha
garganta. Quando os abro Connor está me olhando. Mordo meu lábio inferior.
— Não me estresse, Nick. — diz tirando o meu lábio do dente com o polegar.
Seu dedo roça nos meus lábios e eu fecho meus olhos por um momento. — Por que
deixou que eu pensasse que aquele idiota era seu namorado ou qualquer outra coisa?
— O olho por um minuto, eu acho. Ele tira a mão de mim e eu sinto falta. Que merda.
— Você que tirou conclusões precipitadas. — digo e fico olhando para o nada.
— Mas você não desmentiu. Você queria que eu me afastasse. Estou errado? —
pergunta me olhando sério enquanto desvio os olhos e fico olhando para o meu copo.
Como vou falar os meus motivos se ele nem sequer me deu razões para colocá-lo
nessa situação. Ele não quer nada sério com ninguém e nem eu.
— Sim, você está errado. — digo, mas ele me interrompe.
— Mentira. Olha para mim e fala. Responde olhando nos meus olhos. — ele
fala exaltado. Dessa vez ninguém presta atenção, pois a música abafa o barulho. — Se
você conseguir dizer, tudo bem eu vou acreditar, mas se não, eu vou querer saber o
motivo. Porque não tem explicação, pelo menos, eu acho.
— Por favor, para com isso, Connor. — digo respirando fundo. — Vamos
esquecer o que aconteceu. Eu quero que sejamos amigos agora, sem brigas. — ele me
olha incrédulo.
— Por que? Me conta, você acha que sou tão ruim que você não poderia
conviver comigo? — pergunta mordendo o lábio. Eu pego sua mão e respiro fundo.
Mas eu tenho que mentir é a única saída.
— Eu não gosto de você, quero dizer eu não gostei quando nos conhecemos.
Você foi prepotente e arrogante e ficou dando em cima de mim. Eu não queria ter que
me esquivar das suas investidas toda hora, então achei melhor assim. — digo e ele
puxa sua mão da minha e começa a andar devagar.
— Tudo bem. Amigos? — respira e me olha no fundo dos meus olhos. —
Ótimo.
Ele vai embora sem olhar para trás e eu como uma boa idiota vou atrás.
— Connor? — chamo andando atrás dele. Ele está me escutando, eu sei que sim,
mas nem olhar ele se dá ao trabalho. — Connor? — ele para, mas não é para falar
comigo e sim para beijar a garota que estava com ele há pouco tempo. — Oi? — diz
me olhando com descaso enquanto a garota o abraça pelo pescoço. Suspiro.
— Por que fez isso? — pergunto com a voz falhada.
— Isso o que? — pergunta se fazendo de desentendido. Bufo. Eu não vou dar
esse gostinho a ele. Não vou mesmo.
— Nada. — viro e saio de perto dele o mais rápido possível. Como ele é
estúpido. Ele pensava o quê? Que eu bateria na garota ou nele? Ele está muito
enganado.
— Hey. — olho para trás e vejo Miguel. — Não sabia que estaria aqui.
— Oi Miguel. Pois é, Clara me intimou a comparecer. — digo tentando dissipar
a tensão em meu corpo e ele sorri.
— Você quer dançar? — pergunta e eu olho para a pista. É, acho que estou
precisando extravasar.
— Claro. — respondo sorrindo.
Ele coloca sua mão nas minhas costas e me guia para o lugar. Dançamos
animadamente e sinto que estou sendo observada. Quando encontro o observador, ele
está me fuzilando. Dou um sorriso e volto minha atenção para Miguel. Que sabe
dançar muito bem, diga-se de passagem.
— Queria fazer uma coisa. — diz Miguel e eu fico sem entender até ele esmagar
seus lábios nos meus. Fico estática, pensando que merda ele tem na cabeça. O
empurro, não devia ter dado essa liberdade a ele, eu não o vejo desse jeito.
— Miguel, não…
— Que merda é essa aqui? — Connor entra na minha frente encarando Miguel.
— Quem é você? Pois pelo que eu sei, ela não é comprometida. — diz Miguel
confuso. Saio de trás do Connor e fico entre eles.
— Os dois calados. Connor vaza e você Miguel, também. Não sou
comprometida com ninguém e eu beijo quem eu quiser. — digo olhando para o Connor
e escuto Miguel rindo, me viro para ele. — Mas eu não queria. Espero que você não
faça mais isso. Pelo bem da nossa amizade. — digo e saio deixando os dois sozinhos.
A noite só melhora…
— Onde estava? — pergunta Clara assim que me sento no sofá.
— Estava dando uma volta. — digo dando de ombros. Ela me olha mais um
tempo e acena.
— Tudo bem. — ela se lembra de algo e fala. — Há até que enfim o Bennet e a
Shirley ficaram. Pense num casal estranho, são eles. — diz me fazendo rir. — Parece
até com outro casal do nosso grupo. — diz e levanta as sobrancelhas.
— Nós não somos um casal. — digo fazendo uma careta e encerramos a
conversa.
Eu e Clara fomos dançar e bebemos mais que nosso corpo aguentava. Estava
vendo tudo rodar e uma vontade de vomitar horrível.
Estávamos saindo da casa da Fraternidade, eu sendo carregada por Gabriel já
que não me aguentava em pé, e Clara por Tyler. Connor estava com a menina que
beijou, acho que hoje ele deve levar ela para seu apartamento.
Só de imaginar isso sinto vontade de vomitar e é o que faço, só que quase em
cima do Gabriel. Escuto seus xingamentos bem longe.
Sinto me colocarem no carro e apago total.
Acordo com uma vontade imensa de vomitar, mas quando abro os olhos levo um
susto ao encontrar dois pares de olhos verdes quase azuis me olhando.
— Como você entrou aqui? — pergunto lembrando a garota que estava com ele.
Cadê ela? Sento-me na cama. Caralho, eu estou vestida com uma blusa dele. Eu acho
que é dele.
— Aqui é meu quarto. — diz calmo. Quê? Será que eu e ele… Não, impossível.
— Como assim? Quem me trouxe para o seu apartamento e você e eu, nós…
Hum você sabe. — pergunto envergonhada. Ele sorri.
— Não. Eu nunca faria isso com você. — ele diz dando de ombros. Como? Ele
não pensa em transar comigo? — Bêbada sem poder se lembrar no outro dia. —
complementa sorrindo maliciosamente.
— Amigos, se lembra? — pergunto me odiando por ter que se lembrar disso.
— Lembro.
Levanto correndo e entro no banheiro. Ajoelho-me e começo a vomitar, Connor
chega logo atrás e segura meus cabelos. Por favor, me lembrem de nunca mais beber.
Limpo minha boca com água.
— Está bem? — Ele pergunta me olhando preocupado.
— Não. Definitivamente não estou bem. Nunca mais quero beber. — digo
enquanto voltamos para o quarto. Sento na cama e Connor na poltrona onde estava
quando acordei. — Por que estava me olhando dormir?
— Porque eu nunca tinha visto um anjo dormindo. — diz e eu o olho surpresa.
Seus lábios formam um sorriso e eu queria sentir eles nos meus, só por um momento
para ver se eles são tão macios quanto na minha imaginação.
Acho que ainda estou bêbada. Só pode.
— Obrigada pelo anjo. Onde está a Clara? — pergunto. Ele sorri.
— No quarto do Tyler. Nós não podíamos deixar vocês duas sozinhas naquele
projeto de apartamento. — diz e faz cara de desgosto ao falar do meu cantinho.
— Ei, não fala assim da minha residência. — digo e jogo um travesseiro nele.
Ai. Coloco a mão na cabeça e pressiono onde dói. Connor levanta e se senta do meu
lado.
— Vou pegar um remédio e água para você. Deita e fica quieta. — confirmo. Em
pouco tempo ele já está de volta. — Toma.
Coloco tudo na boca e engulo. Volto a deitar e ele vai para a poltrona. Senta e
fica me olhando.
— Você vai dormir, aí? — pergunto. Ele sorri.
— Acho que não vou dormir. — diz dando de ombros.
— Por quê? — pergunto calma.
— Quero gravar você dormindo na minha cama e velar seu sono.
Capítulo Quatro
Nicole
A atração que sentimos um pelo outro neste quarto chega a ser palpável. Engulo
em seco e levanto da cama. Saio do quarto e me tranco no banheiro principal do
apartamento. Escuto a respiração pesada de Connor pela porta.
Desço até o chão e me sento com as costas na porta abraçando minhas pernas.
Tenho que colocar na cabeça que preciso manter distância dele, Connor não é homem
para mim. Não posso me iludir pensando o contrário. Merda, porque tudo tem sempre
que ser tão complicado? Estou assustada porque com o Connor esses sentimentos são
muito maiores do que eram com ele e sei que se Connor me magoar eu não vou
aguentar. Eu simplesmente não vou conseguir me recuperar como me recuperei da
outra vez.
— Nick? Você está bem? — Ele pergunta visivelmente preocupado. Fico
calada, esperando me acalmar. — Por favor, fala comigo. Você quer que eu chame a
Clara? Sei lá, o Ty? — pergunta. Escuto seus passos perto da porta e presumo que ele
esteja andando de um lado para o outro. — Se você não me responder e abrir essa
porta, eu vou derrubar essa porra, Nicole. — ele grita e pela primeira vez o escuto me
chamando pelo meu nome. Levanto-me e olho para o espelho.
— Está tudo bem, Connor. Eu já vou sair. — digo e escuto seu suspiro aliviado.
Jogo água no rosto e prendo meu cabelo em um coque.
— Abre a porta. Eu estou preocupado, Nick. — sorrio ao ver que voltei a ser
Nick. Abro a porta e ele está com os braços apoiados em cada lado da porta na
parede. — Não faça mais isso, eu quase enfartei quando você não respondeu. — diz e
me puxa para seus braços, eu o abraço, apoiando minha cabeça em seu peito.
Ficamos ali só sentindo um no outro. O cheiro do Connor é muito bom, eu
poderia ficar aqui para sempre, envolvida por seus braços e sentindo seu cheiro.
— O que aconteceu?
— Nada. — digo e saio dos seus braços. — Você sabe onde estão minhas
roupas e minha bolsa? — pergunto e ele me olha confuso, mas depois começa a
balançar a cabeça em sinal negativo. — Então tenho que chamar a Clara… — ele me
interrompe.
— Não! Você não vai embora. De jeito nenhum. Está muito tarde e mesmo se
estivesse cedo. Eu não deixaria. — diz me olhando firme.
— Eu tenho que ir embora. — digo passando por ele indo para o quarto. Connor
me segue bufando.
— Não vai e fim de conversa. Porque tem sempre que fugir de mim. Porra, o
que eu te fiz? — grita e eu fecho os olhos ainda de costas para ele. É tão louco que a
verdade é que ele não me fez nada, eu que associo o que passei anos atrás a ele e isso
é tão fodido. — Me responde porra!
— Não grita, Connor. Você vai acordar os outros. — digo frustrada.
— Pouco me importa. Eu só quero que você pare de fugir e me fale a verdade.
— diz sério. — Olha para mim, Nicole.
— Por que eu? — pergunto depois que me viro para o olhar deixando ele
totalmente confuso. — Por quê? Me deixa Connor. Merda! Me deixa em paz. — grito.
Ele caminha até ficar de frente para mim.
— Por que tem uma merda dentro do meu peito que te quer. E eu tenho, eu
preciso te beijar para saber se ele existe ou é coisa da minha cabeça. — grita de volta
na minha cara. Eu fico imóvel, sem reação e sem fala.
Saio do meu transe depois de flashes do meu passado passam por meus olhos.
— E o que vai acontecer se for coisa da sua cabeça? — indago. — Você vai
atrás das garotas que você traz todos os dias para transarem em sua cama? — grito
revoltada, pois não posso me dar o luxo de pensar que ele quer algo comigo além de
um beijo ou até uma noite de sexo. — Eu não vou me permitir certas coisas, não
quando meu coração está em jogo, Connor.
— Você não pensou nessa merda toda quando estava beijando aquele estúpido
na festa ou pensou? — indaga com raiva evidente em sua voz. Connor anda de um
lado para o outro.
— Não se meta na minha vida. — rosno com raiva. Ele me fita furiosamente.
— Responde porra! — grita mais alto. Ele dá um murro na parede e eu me
contorço ao imaginar a dor que ele deve estar sentindo. Com certeza Tyler e Clara
acordaram com esse excesso de raiva de Connor. — Agora.
— Porque eu não gosto dele como gosto de você. “A merda” que está dentro da
porra do seu peito está dentro de meu também, só que dez vezes mais forte do que está
no seu. E em nenhum momento eu vou arriscar despedaçar meu coração de novo por
causa da mesma coisa. Não vou mesmo. — grito e ele me olha surpreso, seus olhos
estão grandes e sua boca aberta. Com isso, Clara entra no quarto.
— Que porra está acontecendo aqui? Connor o que você fez? — ficamos
calados só olhando um para o outro. — Me respondam. — grita Clara olhando furiosa
para Connor. Tyler parece que ainda está dormindo parado na porta só nos
observando.
— Não é nada. Clara, eu quero ir embora. Vou esperar você lá embaixo e, por
favor, pega as minhas coisas. — digo e saio do quarto. Ainda os escuto conversando.
— Eu vou descobrir o que aconteceu e volto aqui para arrancar suas bolas,
Connor. E você Tyler pega uma blusa para me levar para casa. Estou sem carro aqui.
— diz Clara e a cada palavra dita é mais um pedaço do meu coração sendo rasgado
por ele não vir atrás de mim. Como sou estúpida.
Pego o elevador e desço do jeito que estava mesmo. Espero Clara e Tyler no
hall do prédio. Graças a Deus não tem ninguém aqui para me ver com esse pedaço de
roupa. Mas também quem vai estar no hall de um prédio no meio da madrugada? Só
mesmo uma idiota apaixonada pelo menino mais lindo e galinha da faculdade. Ele
deve estar acostumado. Todo dia deve ter uma garota diferente fazendo uma
declaração para ele. Sinto seu cheiro na blusa e começo a sentir as primeiras lágrimas
que Connor irá me fazer derramar.
Acordo com alguém batendo na porta da frente. Quer dizer, derrubando. Levanto
e ajeito os cabelos. Ontem, depois que cheguei em casa, caí na cama e aqui fiquei até
agora. Meu celular toca e o atendo enquanto caminho para a porta.
— Alô?
— Abre a porta!
— Quem está falando?
— Connor.
— Como conseguiu meu número?
— Tenho meus meios. Agora abre.
— Não vou abrir nada. Você está bêbado?
— Abre a porta. Eu só bebi um pouco.
— Mentira. Você está falando enrolado.
— Nick abre a porta. Eu quero conversar com você!
— Não. Vai embora, eu não quero mais te ver.
— Mentira. Ontem você disse que gostava de mim…
— Esqueça o que falei. Eu quero que vá embora. Agora Connor.
— Eu vou ficar aqui até você abrir essa merda. Estou até sentando já.
— Que bom por que você vai cansar. Tchau.
— Nicole…
Desligo na sua cara. Ele pensa o quê? Que vou abrir a porta e correr para os
seus braços? Não. Eu não vou. Ele só criou coragem para vir aqui depois de beber?
“É isso mesmo?”
Volto para o quarto e me deito na cama. Ele vai embora quando cansar, eu sei
que vai. Meu celular volta a tocar e o pego já pensando ser ele, mas é minha mãe.
Suspiro.
— Mãe!
— Oi. Como minha boneca está?
— Bem e a senhora?
— Tudo Ok. E Clarinha como está?
— Está ótima! Cadê o Pietro e o papai?
— Saíram para jogar futebol com os vizinhos.
— Ah, mãe desculpa, mas vou ter que desligar. Acabei de acordar e tenho que
fazer minha higiene e comer algo.
— Tudo bem. Beijos e se cuida.
— Ok. Beijo.
Desligo e vou para o banheiro fazer minha higiene, tomo banho e pego uma
legging e uma regata longa. Seco o cabelo e faço um rabo de cavalo. Saio do quarto e
vou para a cozinha, faço um sanduíche e pego um pouco de suco. Sento na sala e como
todo o meu lanche. Escuto a porta da frente ser aberta e me viro para encontrar uma
Clara me olhando surpresa.
— O que o Connor faz dormindo no pé da porta do nosso apartamento? — fala e
eu corro para ver. Não acredito, eu pensei que ele tivesse ido embora. Connor está
sentado com a cabeça em cima do ombro dormindo. Saio e vejo Camille, vindo na
direção dele.
— Eu vou pedir ajuda a minha amiga para levar ele para o meu quarto. Ele não
pode ficar assim, não é? — fala e tenta se abaixar para ficar perto dele, mas pego o
seu braço e a levanto. — O quê?
— Pode deixar. Ele vai ficar aqui, no meu apartamento. Até porque ele estava
na minha porta e não na sua. — digo com raiva e ela cruza os braços, em sinal claro
de que não desistirá. Mal sabe ela que eu também não estou indo.
— Aí você viu isso só agora? Porque eu o vi batendo aqui e você não abriu.
Esperou ele dormir igual a um cachorro para abrir a maldita porta. — grita chamando
a atenção de todos que estavam passando.
— Não se intromete. Vai procurar outro para te comer porque esse, no momento,
não está em condições. — digo e pego Connor com a ajuda da Clara e o colocamos no
meu quarto. Tiro seus sapatos e me sento na ponta da cama.
— Vamos conversar? Ainda não me explicou a briga de ontem e nem a de hoje.
— Clara fala atrás de mim.
— Tudo bem. — digo e vamos para sala. Sentamos no sofá e eu coloco minha
cabeça em suas pernas enquanto começo a chorar.
— Me conta o que aconteceu Nicole. — ela fala calmamente. Suspiro. Conto o
que aconteceu, ela fica visivelmente surpresa por tanto eu quanto Connor termos
contado sobre os nossos sentimentos um pelo outro, se é que pode se chamar de
sentimentos o que ele sente. — Eu não vou me iludir com as palavras dele. Ele pode
ter dito aquilo só por querer ficar comigo como sempre faz com as outras e só de
imaginar isso, meu sangue gela.
— Tudo bem. Ok. Eu entendo e você sabe o que acho, não darei uma de
gravador e ficar repetindo a minha opinião. Mas me surpreendeu ele ter falado que
sentia mesmo que você, com as palavras erradas, é óbvio. Eu conheço a fama do
Connor e ele nunca demonstrou algum sentimento a não ser o carnal. — a olho sem
entender e ela complementa fazendo meu estômago se revirar. — Tipo o de quando
goza enquanto está transando com…
— Ok. Clara. Eu entendi. — Bufo.
— Desculpa. Mas olha, o boy estava bêbado na nossa porta. Tudo bem tem
quem diga que é por causa do álcool, mas todos sabem que quando ele está correndo
nas nossas veias fazemos o que queremos fazer sóbrios, mas não temos coragem.
Então eu acho que o boy magia está sim de quatro por você.
— Digamos que sim. O que eu faria agora? — pergunto pateticamente.
— Entraria naquele quarto e agarraria o seu homem. — diz levantando e indo
para a cozinha. Gargalhei dela. Nunca faria isso. Faria?
Levanto e vou para a cozinha. Bebo leite e vou ver Connor no meu quarto. Sento
e me encosto à cabeceira da cama o olhando, ele fica tão lindo dormindo, nem sei
como é possível, já que, ele é lindo sempre. Queria tanto ter coragem de agarrá-lo e
beijá-lo como se disso dependesse minha vida e como Clara falou, mas não posso e
não faço. Fecho os meus olhos para afastar à vontade, mas só o que vejo é Connor.
Abro meus olhos e vejo os olhos mais lindos que um dia eu já vi. Ele sorri de lado e
eu dou um tapa no seu braço.
— O que você estava fazendo? — pergunto calmamente. Ele desvia o olhar do
meu e permanece calado. Bufo. — Tudo bem. Você está sentindo algo?
— Só dor de cabeça. — diz e olha para o teto. Suspiro e me levanto. — Aonde
vai? — olho para Connor e ele está visivelmente confuso.
— Vou buscar remédio para você. Fica aí quieto que já volto. — digo e saio do
quarto. Abro a geladeira sob o olhar atento de Clara, pego a caixa de remédio em
cima do armário e o copo de água.
— Vai cuidar dele? O Ty já está vindo para cá. Vai dar um maior sermão em
Connor, o avise logo. Faça a dor de cabeça passar, ou senão, só vai piorar quando ele
chegar aqui. — diz se levantando.
— Tudo bem. — digo e volto para o quarto.
Connor não está mais na cama. Acho que foi ao banheiro. Coloco o remédio e a
água na mesinha do lado da cama e pego meu celular. Tem uma mensagem do meu
irmão pedindo para ligar, mas só vou fazer isso quando Connor for embora. Deixo o
celular quando o vejo saindo do banheiro.
— O remédio está aí. — digo apontado para a mesa, ele pega e toma. — Hum…
O Ty está vindo para cá.
— Já imaginava. Como me colocou para dentro? Por quê? Pena? — Ele começa
a falar me olhando com acusações.
— Se cala. — ele para e eu continuo. — Eu achava que já tinha ido embora,
mas Clara chegou e disse que você estava dormindo, aí eu saí para ver, mas não
precisa se preocupar se não fosse eu a te colocar para dentro iria ser a garota que
você estava ficando ou as muitas outras mulheres que estavam do lado de fora
sentindo pena de você. — digo revirando os olhos e o idiota está sorrindo feito uma
criança ao receber o presente de Natal. — Pois é. Eu pedi a Clara para me ajudar a te
trazer para o meu quarto. Foi isso. Satisfeito? — pergunto debochada. Ele sorri.
— Muito obrigado pela hospedagem e o remédio. Ah, e eu não sei de qual
garota você falou. — diz rindo. Fecho a cara na hora, ele logo para.
— Se quiser eu te levo no apartamento dela para você se lembrar direitinho. —
digo. Ai que ódio dele.
— Não precisa. — diz e senta na cama encostando-se à cabeceira. Meu celular
começa a tocar e eu olho o visor. Pietro. Sorrio na hora.
— Oi Pê.
— Posso saber o que está fazendo que não liga para seu único e lindo irmão?
— Desculpa, tive uns probleminhas, mas depois te recompenso. Pode ser?
— Pode. Tenho que ir, hoje a Victória vem aqui. Não sei para quê, mas você
sabe, mamãe sempre fala que é passado. Então estou à sua espera.
— Humm. Tudo bem. Beijos.
— Ok. Beijos.
Desligo e olho para Connor que me fuzila com o olhar. Sorrio para ele.
— Quem é Pê, Nicole? — questiona ainda sentado. Caminho e me sento ao seu
lado.
— Acho engraçado o jeito que muda meu nome de acordo com seu humor. Tipo
quando está com raiva sou Nicole e quando está feliz é Nick. — digo segurando uma
risada e ele continua me olhando sério. Suspiro e respondo. — Não que isso seja da
sua conta, mas… era meu irmão. — digo.
— Ok. Acho que precisamos conversar sobre ontem, não é? — pergunta sem me
olhar. Engulo em seco.
— Não precisamos. Vamos fingir que ele não aconteceu. É melhor assim. —
digo firme e ele me olha sério.
— Por quê? — pergunta simplesmente, mas sei que essa pergunta é sobre
podermos nos envolver e não somente pelo que falei.
— Eu só não quero jogar um jogo no qual sei que vou perder. Eu não jogo, eu
não perco. Simples assim. — digo decidida. Levanto e me sento na minha poltrona.
Quero estar longe dele para poder falar o que é preciso.
— Eu não falei aquilo no calor do momento, Nick. Eu realmente sinto. — diz me
fazendo fechar os olhos e implorar para ele se calar. — Você mentiu quando falou
aquilo tudo para mim? — pergunta perto de mim. Abro os olhos e prendo minha
respiração ao vê-lo de joelhos na minha frente ficando na minha altura. Solto uma
lufada de ar.
— Não. Eu não menti. — digo por fim. Ele me puxa para mais perto e beija meu
rosto inteiro e por último minha boca. O beijo é calmo e lento. Seus lábios são macios
como eu imaginava.
Chupo com força seu lábio inferior enquanto suas mãos me seguram pela
cintura. Connor passa a língua nos meus lábios pedindo passagem e eu dou. Sua língua
quente e macia faz carinho na minha e eu aperto minhas pernas involuntariamente.
Mordo sua língua e depois passo a minha em cima para aliviar a dor. Sai um som
rouco da garganta de Connor e eu comecei a adorar aquele barulho.
Ele me puxa com mais força e me abraça. Paramos o beijo com selinhos,
encosto minha testa na dele e voltamos a respirar normalmente. Ouvimos a porta
sendo aberta e logo uma Clara sorridente e um Tyler puto da vida entram no quarto.
— Interrompemos? — pergunta Clara se fazendo de inocente. Mandei um olhar
mortal para ela.
— Deixa de ser chata Clara. Connor, quero falar com você. Vou esperar na sala.
— fala Ty saindo do quarto com sua Clara. Connor se levanta e senta na cama.
— Desculpa não deveria ter feito isso. — digo e levanto da poltrona. Connor
me olha confuso.
— Você não fez nada. Eu que te beijei. — diz sério. Eu não podia ter feito isso.
O beijo só concretizou o que eu achava que estava sentindo e isso não é bom.
— A “merda” que você dizia sentir é só coisa da sua cabeça ou não? —
pergunto de costas para ele morrendo de medo da sua resposta.
Capítulo Cinco
Nicole
— Eu não sei. — diz baixo, mas eu escuto e apenas essas palavras me fazem
querer ele o mais longe possível de mim. Eu sinto o medo dele em imaginar um
relacionamento sério. Não gosto de pensar em ficar com alguém que teme sentimentos.
— Vá embora. — sussurro, mas ele me escuta. — Agora Connor.
— Nick… — o interrompo.
— Vá. Não fala nada. Eu já entendi. — digo e me viro para ele. — Por favor.
— peço, mas ele ainda está sentado me olhando. — Tudo bem. Eu saio.
Pego minha bolsa e saio do quarto. Ele vem atrás de mim.
— Nicole para. Me escuta. — pede ao chegarmos à sala. Tyler e Clara se
levantam do sofá e eu saio pela porta.
— Que porra é essa? — escuto Clara falar.
Saio do prédio e entro no meu carro. Coloco a cabeça no volante e choro. É
óbvio que isso aconteceria, eu sei que foi melhor assim. Mas dói, porra isso dói. Saio
do estacionamento e fico dirigindo sem rumo. Lembro-me de Gabriel e vou para seu
quarto no Campus. Bato na porta, mas quem atende ´—e Roberto dizendo que Gabriel
dormiu fora. Meu celular começa a tocar, penso em rejeitar, mas vejo que é a Clara.
Atendo.
— Oi.
— Vem para casa. Eles já foram embora. Onde você está?
— Estou no apê do Gabriel. Já vou.
— Tudo bem. Estou te esperando.
— Ok.
Desligo e me despeço do Roberto pedindo para Gabriel me ligar. Volto para
meu apartamento e vejo Clara com um pote enorme de sorvete e duas colheres sentada
no sofá. Que mundo pequeno, um mês atrás eu estava no lugar dela. Vou para seu lado
e pego uma colher.
— Quer falar sobre o que aconteceu? — pergunta.
— Não. Eu só quero esquecer. — digo.
Passamos o resto do dia no sofá comendo. Pedimos comida pronta. Meu celular
não parava de tocar com Connor ligando, então o desliguei. Só me levantei de noite
para tomar banho e dormir.
O domingo veio e com ele um novo dia. Levanto-me e tomo banho. Visto
qualquer roupa e vou para a cozinha, como acordei muito cedo para um domingo, faço
o café da manhã. Ovos, bacon, café e suco de laranja, coloco em uma bandeja e vou
para o quarto da Clara. Entro sem bater e dou um grito assustando ela e o mongoloide
do namorado dela. Coloco a bandeja na mesa e cruzo os braços.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto ao ver Tyler deitado ao lado da
sonsa da minha amiga, assustado.
— Bom dia para você também, Nicole. — diz com os olhos fechados e indo
para o banheiro. Como? Que merda está acontecendo aqui? — Que bom que fez café.
— diz sorrindo.
— Olha vamos deixar uma coisa bem clara aqui, dona Clara. — digo sorrindo
ao fazer o trocadilho. Ela joga uma almofada em mim e eu desvio. — Me avise
quando esse projeto de namorado estiver aqui, ok?
— Ei Nicole. Eu estou aqui, viu. — diz Tyler do banheiro. Reviro os olhos para
ele. — Você que não bateu na porta.
— Haha… Tyler eu não bato na porta do quarto da minha própria casa. Olha
como sou uma ótima amiga, podem ficar com o café da manhã que eu fiz para tomar
com minha amiga. Mas como ela prefere o namorado. Não posso fazer nada. — digo
fazendo bico e dando de ombros. Clara me olha com remorso e eu dou uma risada.
— O Connor prefere ficar com você a ficar comigo. Ele está te esperando lá em
casa. — diz Tyler rindo e saindo do banheiro. Pego a almofada que Clara jogou
tentando acertar em mim e jogo nele, acerto bem na cabeça.
— Vai à merda Ty. — digo e saio do quarto. Ainda escuto as risadas deles.
Idiotas!
Passo a manhã ouvindo música, lendo ou navegando na internet. Fazia bastante
tempo que não entrava nas minhas redes sociais, então demorei um pouco mexendo
nelas. Almocei com Clara. Tyler tinha ido embora, pois Connor estava sozinho… Só
em pensar nele meu coração aperta. Ele ainda me liga, mas nunca atendo, ainda não
sei o que vou fazer amanhã quando a gente se ver. Preferia mil vezes não ter que olhá-
lo.
Meu celular começa a tocar e vejo que é Connor. Rejeito e resolvo mandar um
SMS. É mais fácil dizer o que tenho em mente sem ouvir a voz dele.
Nick: Pare de me ligar. Olha Connor, se você tem um pouco de respeito por
mim, não me procure mais e esqueça os últimos dias. Eles não significaram nada para
mim. Continuaremos sendo amigos. Se quiser, claro.
Nicole Mitchell
Acordo com alguém me abraçando. Meu primeiro instinto é gritar, mas o que
faço é olhar para o braço que enlaça minha cintura. É de homem. Como assim um
homem? Será que o Connor veio para cá e se deitou comigo? E se for um estuprador?
Meu Deus.
Pulo da cama pegando meu celular e fico em uma pose defensiva. Olho para o
intruso e dou de cara com Gabriel sorrindo.
— Seu filho da puta!
— Você pensava que ia me matar com esse celular ultrapassado? — pergunta
rindo e eu sento na cama.
— Para, seu chato. Eu vou comprar outro. Não sei quando, mas vou. — digo e
jogo uma almofada na cara dele, o que o faz rir ainda mais. — O que está fazendo
aqui? No meu quarto? Na minha cama? Me abraçando? — digo e ele fica sério.
— Estava preocupado com você. Eu vim aqui ontem e você estava dormindo,
fiquei velando seu sono e acabei dormindo. Eu acho. — diz olhando para o teto.
— Tudo bem. Desculpa pelo susto que te dei. É que pensei que fosse um
estuprador ou alguma coisa assim. — digo séria e ele começa a rir.
— Humrum. O estuprador ia ficar só deitado com você sem fazer nada… Você é
hilária. — diz morrendo de rir. Dou um tapa no braço dele.
— Deixa de ser chato, mas você é muito folgado mesmo. — digo e me levanto
para ir ao banheiro.
— Foi uma das coisas que ele me chamou ao ver que eu estava aqui. — diz e
fico sem entender.
— Ele quem? — pergunto.
— Connor. — diz simplesmente. Eu volto e me sento perto dele. Ele bufa e
continua. — Ontem ele veio aqui, a Clara abriu a porta e disse que você estava
dormindo, mas ele entrou aqui e me viu com você. Ele é um idiota. — Gabriel fala
com raiva. Eu estou surpresa.
— Humrum. É... Eu vou tomar banho. Se quiser vai ao quarto da Clara ou
espera eu sair. — digo e me tranco no banheiro. Ele não entende um “não me procure
mais”? O que ele estava fazendo aqui, ontem?
Saio do banheiro de banho tomado, e vestida com uma calça jeans azul e uma
blusa caidinha no ombro cinza. Calço minhas botas de cano baixo, solto os cabelos e
por último passo rímel, delineador e um batom nude. Vou para sala e encontro meus
amigos.
Saímos e fomos para a Starbucks comprar café já que nem eu, nem a Clara
fizemos em casa por causa do horário. Entramos e cada um compra o seu café, quando
viro depois de pagar o meu, vejo Connor, Tyler com dois garotos e duas garotas
entrando. Connor olha para mim, mas depois desvia para o braço do Gabriel que está
na minha cintura. Vejo seus olhos franzidos, mas finjo que não vi e passo por ele.
Sinto sua mão me parar e me viro. Ele olha para Gabriel e para sua mão.
— Solta ela. — Connor fala para Gabriel, que o encara de volta.
— Não. — diz firme. Eu cansei desses idiotas.
— Vocês pensam o quê? Merda, todo mundo está olhando. — digo tirando a
mão do Connor do meu braço. — O Gabriel já estava aqui Connor, então, se não gosta
se retire. — digo e ele me olha apertando a mandíbula. Tento sair, mas ele me segura
de novo.
— Quero falar com você. Agora e a sós. — diz e eu olho para que Gabriel saia.
Ele vai para onde Clara está com Tyler e o resto do grupo. Eu volto minha atenção
para Connor.
— Fala. Aconteceu alguma coisa? — pergunto e encosto-me à parede cruzando
os braços.
— Ontem você disse que nós podíamos ser amigos e agora você ia sair sem nem
olhar na minha cara e ainda mais com esse idiota do seu lado. — diz parado na minha
frente.
— Eu não tinha te visto. — minto e ele percebe. Merda. — E não chame ele
assim.
— Por quê? — pergunta.
— Porque ele é meu amigo. Eu não deixo ninguém falar assim com um amigo.
— digo e ele fica negando com a cabeça. Han?
— Por que você mente dizendo que vocês são só amigos? — diz fechando a
mão em punhos. O olho surpresa. Esse homem é louco.
— Eu não minto. É verdade. Eu não sei por que eu estou me explicando. Connor,
você não tem nada a ver com isso. — digo e pego minha bolsa. — A gente se vê
depois.
— Não. Para de sair no meio da conversa. — diz e eu olho para um canto
imaginário até ver uma das “amigas” dele, é óbvio.
— Connor, quanto tempo… — fala fingindo que não me viu. Ele sorri para ela e
volta sua atenção para mim. — Vamos sair depois das aulas? Pode ser no meu
apartamento ou no seu, tanto faz. — Reviro os olhos e levanto a sobrancelha para
Connor.
— Se divirtam. — digo e saio de lá.
— Cadê a merda do meu celular? — Clara esbraveja olhando para a bolsa. —
Acho que perdi. Será? — fica conversando sozinha e eu seguro o riso. Clara é tão
lenta que o celular está no bolso da calça jeans dela e ela não se lembra.
— Vou ver na minha bola de cristal. Seu celular está no bolso do seu jeans. —
digo fingindo segurar uma bola e quase morrendo de rir da cara que ela fez ao achar o
celular. — De nada. Precisando a mãe Nicole está disponível.
— Para... — fala chateada.
Depois da cena ridícula no Starbucks com Connor e Gabriel, eu vim para o
Campus sozinha. Clara quase me mata quando me viu sentada na sala. Agora estamos
indo para o refeitório nos juntar com o resto do pessoal. Parece que Shirley e Bennet
estão namorando. Ainda não tenho certeza, pois foi Clara quem me disse, e vindo dela
a veracidade é duvidosa. Ao entrar vejo logo o motivo da minha insônia. Sento ao
lado da Clara e do Gabriel, que está envergonhado pela cena idiota entre ele e o
Connor.
— Gente hoje vai ter uma festa em uma boate. Vamos? — diz Shirley sorrindo.
Olho para ela como se tivesse nascido um chifre na sua testa. — Que foi Nicole? —
pergunta olhando para mim.
— Quem dá uma festa em plena segunda-feira? — pergunto. Ela me olha ainda
rindo e os outros também. — O álcool que bebi no sábado ainda corre nas minhas
veias, ainda não me recuperei do porre não, gente! — digo e eles gargalham. Olho
para eles, séria e vejo Connor sorrindo para mim.
— Eu ainda não me recuperei de ter que te carregar no colo e ainda por cima
você vomitar em cima de mim. — diz Gabriel me olhando e sorrindo.
— Desculpa Gabriel. Eu me lembro um pouco e foi porque eu imaginei uma
cena um tanto horrível para mim. — digo e olho para Connor, ele me olha como se
não entendesse e eu dou de ombros. — Mas vou te dar um beijo para compensar. Está
bem? — pergunto e Gabriel sorri maliciosamente e olha para Connor que me olha
com raiva. — Na bochecha. — digo e ele faz cara de decepção.
— Tudo bem. O outro você me dá depois. — diz sério olhando para Connor. O
mesmo tenta ir para cima do Gabriel, mas Tyler, o segura no lugar. O que está
acontecendo?
— Que merda deu em vocês hoje? — grito. — Gabriel eu quero falar com você.
Agora. — pego minha bolsa e saio com Gabriel atrás de mim. Ainda escuto Clara
falando.
— Como o assunto “festa” foi parar “neles brigando” pela Nicole? — é eu
também queria saber.
— Desculpa Nicole. — diz Gabriel depois que sentamos na grama. Olho para
ele.
— O que está acontecendo? Você não é assim. Eu vi a raiva com que você
falava dele hoje quando acordamos, no Starbucks foi do mesmo jeito e agora foi
horrível. Me explica. — digo o olhando séria. Ele desvia o olhar do meu e fica
olhando a grama.
— Eu não sei. Ele quer ser seu dono. No dia da festa eu quis te levar para o meu
quarto no Campus, ele ficou com raiva e disse que você ia para o apartamento dele
com a Clara. Eu fiquei puto, mas não insisti, eu sei que você gosta dele. — diz e me
olha sério. — O que ele tem que eu não tenho?
— Como assim? Você é meu amigo… — Gabriel me interrompe com um grito.
— Não! Eu não quero, eu nunca quis ser só seu amigo, eu sempre tive esperança
que você olharia para mim do jeito que eu te olho desde a primeira vez que te vi.
Porra! Nicole. Eu amo você. — ele balança a cabeça tão transtornado que eu não o
reconheço.
Eu fico de boca aberta, eu nunca pensei que ele gostasse de mim sem ser como
amiga, claro. Fico calada por um tempo só absorvendo as suas palavras.
— Gabriel, eu não sei o que dizer. Eu simplesmente nunca desconfiei. Nada. —
digo e ele abaixa a cabeça. — Desculpa, mas eu não gosto de você desse jeito, eu
gosto de você como um melhor amigo.
— Tudo bem. — ele sorri triste e eu me sinto mal. — Olha nada vai mudar, Ok?
Antes de tudo você é sim, minha amiga. — diz se levantando e me levando junto.
O abraço e fico ali só repassando os momentos que passamos juntos, das vezes
que os garotos chegavam perto e ele logo me abraçava para afastá-los. Os dias que
ficamos na minha cama só comendo besteiras e assistindo filmes, quer dizer eu
assistindo, pois ele ficava me olhando. Meu Deus, como não percebi… Como eu fui
burra.
— Eu tenho que ir. Minha aula já vai começar.
— Ok. Nos vemos amanhã, não é? — pergunto com medo de ele dizer que não.
De ele dizer que vai se afastar de mim agora que sei da verdade. Eu morreria se ele
me dissesse isso.
— Sim. Se precisar de mim, sabe onde fica meu quarto. — fala e vai embora.
Sento-me na grama e começo a chorar, choro pelo medo que estou sentindo. O medo
dele se afastar de mim. De não ser do mesmo jeito. Fico aqui por meia hora, já que,
eu não teria mais aulas. Limpo minhas lágrimas e caminho para meu apartamento no
campus. No meio do caminho começa a chover e eu a chorar mais.
Chego a minha casa e Clara corre para me ver.
— Nicole, onde você estava? E essa roupa molhada? Amiga, o que foi que
aconteceu? — ela fica falando e eu só a abraço. Será que ela desconfiava? Clara é
sempre tão esperta. Será?
— Você sabia? — pergunto depois de sair dos seus braços. Ela me olha
confusa. — Você sabia que ele gostava de mim? — complemento a pergunta e ela me
olha como se quisesse se desculpar. Lógico que ela sabia, quer dizer acho que todo o
Campus sabia menos eu.
— Só você não percebia Nicole. Todos viam, e vocês também não se
desgrudavam. Muitos já me perguntaram se você o namorava. Até mesmo Tyler. — diz
enquanto fico andando de um lado para o outro. Como assim? É por isso que Connor
disse aquilo no Starbucks. É lógico.
— Meu Deus. É por isso que hoje eles fizeram aquela cena ridícula. — digo e
começo a tremer por conta do frio e da chuva que tomei.
— Venha, eu vou esquentar a água do chuveiro para você tomar banho. — a sigo
em direção ao meu quarto e logo depois ela sai deixando o chuveiro quente. Tiro
minha roupa e entro embaixo da água. Abraço-me e fico ali um tempinho, passo
sabonete líquido e lavo o cabelo. Saio do banheiro, visto uma calça de moletom e
uma blusa do Gabriel, que ele deixou aqui um dia desses. Deito na cama e durmo
querendo esquecer esse dia.
Capítulo Seis
Nicole
Acordo com algo gelado na minha testa. Abro os olhos e vejo Clara ao meu lado
com um semblante preocupado colocando um pano úmido na minha cabeça.
— O que você está fazendo? — pergunto me sentando.
— Fica quieta. Você está com febre. — Clara suspira. — Você tomou a vacina
contra a gripe?
— Não sei. — digo e penso um pouco. Não. Eu não tive tempo, estava com
vários trabalhos da faculdade para fazer. — Não, eu não tomei.
— Acho que a chuva só piorou a gripe. Vou levar você para o hospital. Sua
febre está alta. — diz me levantando da cama.
— Tudo bem. Pega uma calça jeans para mim.
Ao chegarmos ao pronto-socorro sou levada para um quarto e vejo Clara
conversando com o médico. A enfermeira coloca remédio na minha veia e aos poucos
vejo tudo escurecer.
Acordo e vejo uma luz forte e muito chata. Pisco algumas vezes para me
acostumar e abro os olhos. Vejo Clara dormindo no sofá e me assusto com a porta
sendo aberta.
— Vejo que a moça já acordou. — diz o médico sorrindo. Ele é bem novo. Não
daria mais de vinte e cinco anos a ele.
— Sim. O que aconteceu? — pergunto. Ele sorri e mexe nos papéis que estão
em suas mãos.
— Nada com que se preocupar. Só uma gripe forte, que só ficou assim porque a
senhorita ficou na chuva. Você está com alguma dor? — pergunta, preocupado. Ele
está me dando um sermão? É sério. Sorrio para ele.
— Só um pouco de dor de cabeça. — digo e ele faz um gesto com a cabeça
confirmando.
— A enfermeira vai passar aqui para te dar o medicamento. Espero que melhore
o mais rápido possível. Quero ver você bem. — diz me olhando. Ele está um pouco
corado, acho que percebeu o que falou, não que eu ache coisa demais. Mas ele é o
médico, o relacionamento entre nós era para ser superficial. Acho. Sorrio para
acalmá-lo e mudo de assunto.
— Eu vou poder ir para casa depois que a enfermeira me der o remédio? —
pergunto esperançosa.
— Ainda não. Você passará a noite aqui em observação. Se você melhorar
amanhã você vai. — diz me dando um sorriso. — Mais tarde eu volto para ver você,
quer dizer, ver como você está. — diz corando de novo.
— Tudo bem. Obrigada. — ele acena e sai do quarto. Olho para Clara e ela está
sorrindo com os olhos fechados. Idiota.
— Pode parar de fingir que está dormindo… Você é terrível. — digo revirando
os olhos. Ela continua com os olhos fechados. — Clara! Para. — volto a chamá-la e
ela abre os olhos e se levanta num pulo. Senta na cama.
— Ok. Gente que homem era aquele? Vamos combinar de ficar doente sempre
nos plantões dele, Nicole? Ele estava tipo, babando por você e você pergunta: eu vou
poder ir para casa depois que a enfermeira me der o remédio? Você é burra ou o quê?
— pergunta depois de falar tudo de uma vez. Reviro os olhos para ela.
— Acho que o Tyler vai amar saber que você estava babando pelo meu médico.
— digo e ela fecha a cara.
— Não se atreva. E olha aí você já possessiva. Meu médico. Quero ver a cara
do Connor ao ouvir isso. — diz sorrindo. Odeio ter que me lembrar dele.
— Ele não é nada meu. E para com essa chatice. — digo e ela para de sorrir. —
Você avisou para o Gabriel que eu estou aqui? — pergunto com medo de ela dizer que
sim e ele não ter vindo.
— Sim. Ele estava aqui, mas teve que ir, pois tinha alguém o esperando no
quarto dele no Campus. Acho que é alguma menina. — diz revirando os olhos. Meu
estômago se embrulha em pensar que ele preferiu ir ver uma garota qualquer a mim
que sou sua amiga e estou doente. — O Tyler e o Connor também.
— Hum… — digo olhando pela janela. Acho que deve ser umas cinco horas da
tarde, pois o sol já quer se esconder.
— É. Hum… Você está chateada comigo por não ter comentado que o Gabriel
era apaixonado por você? — ela me pergunta e sinceramente eu não sei. Foi tudo tão
rápido que eu nem parei para sentir algo além do medo dele se afastar de mim. E isso
é tão estranho.
— Eu não sei Clara. Eu queria que você tivesse me dado esse toque, ainda mais
por você morar comigo e por saber que eu não sinto o mesmo por ele. Isso é tão novo
para mim. Nunca passou pela minha cabeça que ele se sentia assim por mim e você
sabendo que sim, me deixou as escuras. — digo e ela já tem lágrimas nos olhos. — Se
você estivesse lá quando ele me disse o que sentia, você ia me dar razão. Eu fiquei
igual a uma idiota, Clara. Foi horrível e eu sinto que ele vai me deixar, que ele vai se
afastar de mim e merda isso dói. Eu nunca senti esse medo de perder alguém como
estou sentindo nesse momento. — digo por fim. Clara deixa as lágrimas caírem e eu a
abraço.
— Desculpe. Meu Deus eu sou uma péssima amiga… — fala e eu a interrompo.
— Nunca mais repita isso. Você é minha irmã e minha melhor amiga. — digo
olhando em seus olhos. Clara errou sim, mas não vou colocar a culpa nela. Eu fui
muito burra. Essa é a verdade.
— Como assim? Você o quê? — pergunto para Connor que está me dizendo uma
idiotice. Não. Um pedido de morte.
— Você ouviu. Eu, ele, nós dois, brigamos. Ele pensa que é mais do que um
amigo seu. Eu não o suporto. — diz emburrado.
Connor está sentado na poltrona do quarto do hospital. Depois que acordei hoje,
me disseram que ele estava aqui junto com os meus amigos. Mas ele foi o primeiro a
entrar.
— Mas ele é. — digo com raiva e vejo sua mandíbula apertar.
— Ele é o que, Nicole? — Olha o “Nicole” aí gente! Ele vem para perto de
mim e olha nos meus olhos.
— Connor o que é que você pensa que é meu? Meu pai? Meu irmão mais velho?
Meu namorado? Se toca. Você é apenas meu amigo. Então se comporte como tal. —
grito. Ele me olha assustado por um momento, mas se recupera rapidamente.
— Sabe o que eu sou Nicole? Sou quem você deseja, merda. Sou eu quem você
quer. Por mais que você esteja em negação. Essa é a verdade. — grita de volta
apertando as mãos.
— Você está errado. Eu não estou, merda nenhuma, em negação. Eu sei muito
bem o que sinto por você só não deixo o que sinto tomar conta de mim. Agora você
que não sabe nada. Você nem é homem para admitir o desejo, o sentimento ou o que
for que você sente em relação a mim. Então cala sua boca e sai daqui. — digo e
aponto para a porta.
Ele faz menção de falar, mas o interrompo com uma mão e volto a apontar para
a porta. Ele sai me deixando sozinha com meus pensamentos em relação a ele. Depois
que ele saiu a Shirley e o Bennet, entraram.
Ficamos conversando um pouco e Shirley deixou escapar que Connor tinha
passado por eles com ódio e que não falou com ninguém. Fiquei feliz em saber que
doeu cada palavra que eu falei, não por ver que ele sofreu, mas por ter esperança de
que ele caia na real e se afaste de mim.
Eu o quero tanto, e saber que ele ainda tem dúvidas é como se uma faca
perfurasse meu peito. Depois que Ley e Bennet foram embora veio Gabriel já que
Clara vai passar para me levar para casa com Tyler.
— Oi. Como você está? — pergunta sorrindo. Meu coração se aquece ao saber
que ele não está magoado comigo.
— Estou me sentindo melhor. Clara parece até uma enfermeira de tanto que fica
me observando e cuidando de mim. — digo sorrindo. Ele gargalha e vem para meu
lado na cama e se senta. Pego sua mão e a aperto. Meu sorriso morre. — Eu senti
tanto medo de você se afastar de mim. Anteontem eu chorei como nunca tinha chorado.
— digo olhando pela janela.
— Olha para mim, Nicole. — pede calmamente. Eu viro e fito seus olhos
verdes. — Eu não vou me afastar de você. Você é muito importante para mim e não é
porque gosto de você, é porque antes disso tem a nossa amizade. Eu a prezo e nunca
vou deixar que a destruam. Ouviu? — diz sorrindo. Gabriel é tão compreensível e
isso é uma das coisas que mais amo nele.
— Ouvi, mas me diz como está? — pergunto.
— Bem. — diz.
Gabriel ainda ficou comigo um tempo até o médico me dar alta. Então liguei
para Clara dizendo que iria com ele. Ela bufou um pouco, mas não insistiu.
Bato na porta do apartamento com Gabriel ao meu lado. Clara abre e sorri ao
me ver.
— Amiga. Como está? — pergunta.
— Estou ótima. — digo sorrindo. Entro e paro no meio da sala ao ver Connor
sentado no sofá com Tyler brincando no Xbox. Vejo minhas esperanças dele se afastar
voando para longe de mim nesse momento.
— Hein pequena, acho que já está pronta para outra. — diz Ty sorrindo e me
abraçando.
— Não foi tão mal assim, Ty. O médico dela ficou babando bastante por ela. —
diz Clara rindo. Olho para meus amigos e todos sorriem menos Connor. Até Gabriel
riu, acho que é por esse comportamento que nunca percebi que ele nutria sentimentos
por mim.
— Ele era lindo. Então quem sabe eu não volte lá e finja um pouco de dor para
aproveitar os olhares dele em minha direção. — digo rindo. Gabriel me olha feio e
Connor me fuzila enquanto Ty e Clara riem.
— Você precisa descansar. Vem vou ficar com você. — diz Gabriel. Antes que
eu responda Connor fala.
— Não. Eu vou. Tenho que conversar com ela. — diz e vem para o meu lado.
Olho para os dois e eles se encaram. Como vou conseguir viver com esses dois
homens se matando?
— Os dois, vão para a casa de vocês. Eu estou cansada e a última coisa que
quero é ver vocês se matando igual lá no hospital. — digo e me viro para Gabriel.
— Nos vemos amanhã? — pergunto.
— Isso não é para ser uma pergunta e sim uma afirmação. Não esqueça o que
falei no hospital. — diz sorrindo.
— Tudo bem. Então até amanhã! — digo e ele confirma com um aceno. Viro-me
para Connor que está com muita raiva, posso dizer. — Depois a gente conversa. Eu
estou cansada. — digo calma na frente dele.
— Tudo bem. Pode ir. Eu vou ficar aqui brincando com o Tyler. Quando você
acordar talvez eu ainda esteja aqui. — diz sério. Connor é muito petulante mesmo,
mas dou o meu melhor sorriso e vou para o meu quarto. Idiotas.
Acordo com o barulho do meu celular tocando. O pego em cima da mesinha e
vejo que é Mamãe.
— Alô.
— Oi, minha princesa. Como o meu bebê está? Clara me ligou avisando da sua
gripe. Estou um pouco chateada com você, filha. Quando perguntei se tinha tomado à
vacina você mentiu dizendo que sim.
— Desculpa, mamãe. Só não queria te preocupar, eu tomaria na mesma semana
só que eu estava tão atarefada com os trabalhos da faculdade que me esqueci.
Desculpe-me.
— Olha Nicole, eu não quero mais saber de mentiras. Mesmo que seja para não
me preocupar. E você viu que não deu certo já que fiquei muito mais preocupada em
saber que você estava no hospital internada.
— Não vai mais acontecer. Me desculpe novamente.
— Tudo bem. Mas como está se sentindo?
— Melhor. Já estou em casa. O médico só passou algumas recomendações e
remédios.
— Ok. Tome os remédios direitinhos e no horário certo.
— Ok.
— Seu pai está mandando um beijo. Mamãe vai desligar, tenho que atender uma
paciente.
— Tudo bem. Diga ao pai que o amo e estou com saudades. Eu te amo mãe.
— Eu também minha boneca. Cuida-se.
— Ok. Beijos.
Desligo. Minha mãe se preocupa tanto. Sei que foi errado mentir e também sei
que ela ficou realmente chateada e também decepcionada. Nunca minto para ela, então
isso a machuca, pois não me educou assim.
Levanto da cama e vou em direção à cozinha. Vejo Clara sorrindo de algo que
Ty falou, me aproximo e sento na cadeira perto da bancada.
— Como está? — pergunta Clara.
— Estaria melhor se não tivesse ouvido o maior sermão da minha vida. Minha
mãe é tipo a proteção em pessoa. Não sei como não veio até aqui para ela mesma me
medicar. — Bufo. Mas é verdade. Ela poderia sim, vir até aqui, eu não duvido nada.
— Está reclamando da minha sogra, Nick? — por que esse idiota não foi
embora ainda? Olho para trás e vejo Connor andando até o meu lado.
— Pensei que tivesse ido embora. — digo olhando para um ponto inexistente.
Ele se senta na minha frente, ao lado do Tyler.
— Quero falar com você. Tem um minuto? — pergunta me olhando
maliciosamente. Idiota.
— Não. — digo e levanto a sobrancelha em sinal de desafio. — Voltando para a
senhorita Clara. Você falou para a mamãe não foi?
— Sim. Você estava doente e ela querendo falar com você, tive que falar
Nicole. Não fique chateada. — diz emburrada. Eu sei que ela fez para meu bem, então
não estou chateada. Não mesmo.
— Não estou. Só não quero que ela se preocupe. Ela vai falar para Pietro e ele
vai surtar. Você sabe que ele sabe ser protetor e chato quando quer. — digo. Meu
irmão é, digamos... preocupado demais.
— Quem é Pietro? —pergunta Tyler.
— Meu irmão e ex-namorado da Clara. — digo sorrindo. Ele me olha e depois
olha para Clara que me fuzila. — Que foi? Isso faz séculos.
— Eu sei, mas não precisa taxá-lo como meu ex. Ele é seu irmão, ponto. — diz.
Levanto as mãos em sinal de rendição. Tudo bem dei mancada. Admito.
— Desculpe. — digo e olho para Connor que olha sorrindo para Clara e Tyler.
Contagem regressiva para Tyler explodir 5,4,3,2,1.
— Por que não me falou Clara? Você ainda gosta dele? — Tyler é bem, quero
dizer, muito ciumento. — Responde Maria Clara. — Ela está ferrada. Quando ele a
chama pelo primeiro e segundo nome é sinal de briga e das feias.
— Parou Tyler. Merda, isso faz séculos. A gente namorou no ensino médio. —
diz com raiva. Levanto-me e vou para o lado da Clara.
— Tyler, ela não fez nada. Desculpa me meter, mas eu fiz só uma brincadeira. —
digo e ele continua sério. Puta que pariu. Foi sério.
— Quando você quiser conversar e me falar a verdade eu vou estar em casa.
Até lá, não me procure. — Ty diz se levantando e indo para a porta. Que dramático.
— Pois eu não vou, Tyler. Eu não estou mentindo e isso não era para ser motivo
de briga entre a gente. Pietro é passado Tyler, eu estou com você. Mas se sair sem
conversar comigo eu vou querer dar um tempo em nosso namoro. Porque você não
confia em mim, Tyler. Eu tenho todos os motivos do mundo para não confiar em você,
mas eu confio. — Clara grita chorando. Merda, isso está pior do que eu imaginava.
— Se você confiasse em mim, como fala, você não tinha saído da minha casa no
dia do nosso aniversário de namoro. — grita de volta.
— Se você visse um homem nu na minha cama e eu tomando banho? Tyler, você
pensaria a mesma coisa que eu pensei. Não tem confiança que aguente. — grita e vai
para perto dele. Olho para Connor mandando fazer algo. Ele controla Tyler como
ninguém. Palavras da Clara.
— Tyler Mano, sua mina está certa. Para de fazer raiva a ela. — diz Connor.
Tyler olha para ele e respira fundo.
— Clara… — Tyler começa, mas Clara vai para o quarto sem deixá-lo terminar.
Ele bufa e a segue. Olho para o idiota do Connor.
— O quê? — diz ainda sentado. Garoto estúpido.
— Se você sabia que o controlaria, por que não fez antes que eles pudessem
dizer coisas que possam se arrepender? — pergunto sentando na cadeira novamente.
— Sei lá, eu não percebi. Estava hipnotizado com a oportunidade de presenciar
uma briga entre um casal. Eu nunca tinha visto, ouvido sim, pois eles sempre discutem
lá em casa. Mas ver é outra coisa. — diz sorrindo. — É emocionante. Eu nunca estive
de nenhum lado, então eu gosto de ver.
— Você é um idiota, Connor. — digo revirando os olhos.
— Nicole, você já esteve no meio de uma discussão assim? — pergunta
interessado. O fito por um instante e respondo.
— Muitas vezes. E não é divertido como você acha. — digo. Ele me olha sério.
— Então já namorou. Você gostava muito dele? — pergunta e eu me levanto. Ele
me olha sem entender.
— Não quero falar sobre isso. Vou tomar banho. — digo e vou para o meu
quarto.
Tomo um banho rápido e ao entrar no quarto vejo Connor deitado na minha
cama. Pego minha roupa e volto para o banheiro. Saio novamente e Connor ainda está
lá com os braços cruzados atrás da cabeça, deixando seus músculos à vista. Quente.
— O que você quer? — pergunto enquanto penteio o cabelo. Ele continua
olhando para o teto.
Capítulo Sete
Nicole
— Connor o que você quer aqui? — pergunto impaciente. Ele senta na cama e
me olha.
— Só quero ficar aqui com você. Somos amigos, certo? — indaga. Olho para
ele com uma enorme interrogação no rosto.
— Somos Connor. — digo por fim. Saio do quarto e vou para a cozinha com ele
me seguindo. — Vou fazer algo para comer. Não almocei hoje ainda.
— Por que não comeu? — pergunta sentando na cadeira enquanto tiro uma
panela, o macarrão e os ingredientes do molho.
— Por que fui dormir. Você está aqui desde a hora que cheguei ou saiu? —
pergunto colocando o macarrão na água.
— Só fui a minha casa tomar banho. Como você está? — pergunta depois que
coloquei os ingredientes do molho em outra panela.
— Estou bem. O médico disse que só tenho que me alimentar bem e tomar
bastante líquido. — digo. Ficamos em silêncio enquanto eu faço o macarrão. Ele me
olha por um instante. Levanto a sobrancelha para ele.
— É verdade o que a Clara falou? — pergunta. Fico sem entender já que Clara
me falou tanta coisa hoje.
— O que especificamente? — pergunto. Coloco macarrão em dois pratos e o
molho por cima.
— Que o médico estava babando por você. — diz calmo e eu estranho por ele
não estar gritando e me chamando de Nicole.
— Eu não vi isso. A Clara que vê além das coisas. Ele só ficou envergonhado
quando disse… — paro de falar e me viro para ele. — A Clara fala demais só isso.
— O que ele te disse? — pergunta calmo.
— Nada demais. — pego os pratos e me sento de frente para ele. — Toma.
Minha especialidade. — digo sorrindo.
Ele não fala nada, só pega o prato e come.
Connor está usando uma blusa branca que dá para ver uns rabiscos pretos. Eu
não sabia que ele tinha tatuagem. Não dá para ver o que é, mas acho que é um desenho
e uma frase.
— Gosta do que vê? — pergunta debochado. Reviro os olhos. — Sua comida
está ótima. — diz mudando de assunto.
Agradeço mentalmente.
— Obrigada. — digo e volto a comer. Connor me observa o tempo todo. — O
que foi Connor? — pergunto.
— Eu queria te perguntar se você tem alguma coisa com o Gabriel? Não é só
amizade Nicole, por favor, eu não sou idiota, eu vejo o jeito que ele te olha e você
sempre o defende. — pergunta me olhando atentamente. Bufo.
— Connor eu nem sei por que vou te falar isso, mas nós só somos amigos
mesmo, quando nos conhecemos até que ele se aproximou querendo algo a mais, mas
eu não quis. — digo o olhando. — Eu o amo, muito, mas como amigo e nada mais. No
dia que eu saí com ele do refeitório, ele me disse que era apaixonado por mim. Eu
fiquei muito surpresa, pois não imaginava. Ele é muito importante para mim. Eu não
quero perder ele por sentimentos não correspondidos. Ele e a Clara são minha família
aqui. — digo triste.
— Você não pode ficar com ele, para ele não sair da sua vida. — diz.
— Eu não vou ficar com ele. Eu só não quero que ele me deixe. — digo e vejo
Connor me olhar sério. — Você não tem nada a ver com isso Connor. Para de se
importar. — digo séria.
— Você está certa. Tudo bem. — diz e seu celular começa a tocar. Ele atende.
— Oi mãe. Sim. Eu não sei. Mãe, depois conversamos estou ocupado. Beijo. Eu
também te amo. — ele desliga e suas bochechas estão coradas. Acho que é por ter
demonstrado afeto com a mãe dele na minha frente. Sorrio.
— Que foi? — pergunto. Ele me olha e sorri. Connor é tão lindo. Ele é tão
grande, que me sinto uma boneca de tão pequena perto dele.
— Nada. Minha mãe me mataria se eu não tivesse correspondido a palavra de
carinho. — diz sorrindo. — Ela fala principalmente quando digo que estou ocupado.
Ela tem muito ciúme de mim com as outras garotas. Por isso me faz passar vergonha.
— diz e eu fecho a cara.
— Bem feito. Você merece. — digo e me levanto. Pego nossos pratos e levo
para a lava-louças.
— Por quê? — pergunta colocando os braços atrás da cabeça. Viro-me para
encará-lo. Cruzo meus braços e levanto a sobrancelha.
— Você destrói o coração dessas idiotas que você transa Connor. Por mais
vulgares que elas sejam, elas não merecem isso. — digo determinada. É verdade.
Clara já me falou várias coisas que as meninas fizeram.
— Eu não prometo nada a elas além do sexo, Nick. Elas que sempre fantasiam o
resto. Não namoro e quando eu namorar, com certeza, não vai ser com uma garota que
transou comigo na primeira vez que a olhei. — diz sério e dando de ombros. Tenho
que concordar com ele em uma coisa, elas fantasiam muito.
— Tudo bem não está mais aqui quem falou. Garanhão da faculdade. — digo
revirando os olhos. Connor sabe ser verdadeiro quando quer e vi verdade quando ele
falava. Um “sinto muito” para as garotas que vão para a cama com ele. Ele acaba
gargalhando com o que falei.
— Garanhão? Eu? — pergunta visivelmente confuso.
— Connor você é idiota é? Uma menina a cada metro queria ter você para ela.
— dou de ombros.
— Nem todas. A Clara e você por exemplo. — diz e levanta a sobrancelha. —
Viu nem todas me querem. — diz sério. Como eu queria ter ele só para mim, mas não
posso e espero que ele continue achando que não o quero.
— A mulher que é comprometida com seu melhor amigo e sua amiga, não vale.
— digo e ele faz uma careta, rio dele e mudo de assunto. — Você acha que eles ainda
estão brigando? — pergunto.
— Sim. Só que o Tyler está por cima e a Clara por baixo. Ou ao contrário. —
diz sério. — Sei que estão brigando muito, já que não saem do quarto. — diz rindo da
minha cara de espantada por ele ter falado assim na minha frente. Sei, eu não sou a
garota, mas inocente do mundo, mas só falo essas coisas com a Clara.
— Deixa de ser chato, Connor. Ai que horror. — digo rindo. Ele se levanta e
fica na minha frente. Tão lindo, tão perto e eu sou uma idiota por querê-lo tanto. Ele
me olha discretamente. — Que foi?
— Nada. Só vim aqui para te ver de perto. — diz brincando com uma mecha do
meu cabelo castanho. — O cheiro do seu cabelo é muito bom, Nick.
— Obrigada. — digo calma para não deixar transparecer o desejo que tenho de
beijá-lo nesse momento. — Vamos assistir um filme? Estou com um pouco de tédio.
— digo e saio de perto dele. Puta que pariu quando foi que esquentou tanto?
— Você me magoou dizendo que te causo tédio, mas tudo bem vamos assistir um
filme. — diz vindo atrás de mim. Sento no sofá e pego alguns filmes.
— Qual filme? Tem Um Homem de Sorte, Para Sempre, A última música, PS:
Eu Te Amo e Um Amor Para Recordar. — digo sorrindo e ignorando o comentário
dele. Ele olha para os filmes.
— E também tem Anabele, Velozes e Furiosos 5, Mandando bala… — diz
sentando ao meu lado. O olho com uma cara feia.
— Tudo bem. Eu escolho um e você outro. Ok? — pergunto e ele pensa um
pouco e sorri.
— Ok. Quem vai escolher o primeiro? Eu ou você? — pergunta.
— Eu. Com certeza você vai escolher um desses de coisas estranhas, de terror
ou de bala. Então quero deixar por último. — digo decidida. Ele me encara um tempo
e responde.
— Vamos de par ou ímpar. — diz e eu o fuzilo com os olhos. Ele não precisa
saber que eu morro de medo da Anabele, será que ele já notou? Acho que não.
— Eu deixo você escolher. — diz. Eu sorrio na hora.
— Obrigada. Então vamos assistir... — ele me interrompe. Sabia que estava
bom demais para ser verdade.
— O ímpar ou o par Nick. — diz sorrindo. Filho da mãe.
— Idiota. Mas eu escolho par. — digo. Ele sorrir. — Vai. 1,2,3 e já. — coloco
cinco e ele três. Sorrio vitoriosa. — Como eu estava falando vamos assistir Para
Sempre e vou logo avisando se você dormir eu te mato. — digo séria. Ele me olha e
faz sinal de rendição com as mãos.
— Tudo bem. Eu prometo. — diz.
Coloco o filme e ficamos assistindo sentados, um do lado do outro. Gente eu
amo esse filme, sabe quando Page se acorda e não se lembra do Leo? Pois é, estamos
nesse exato momento e eu estou chorando feito um bebê. Por que ela foi perder a
memória e não lembrar justamente do Leo, ela poderia não se lembrar da mãe dela
que mente e manipula ela o filme quase todo. Connor olha para mim e me puxa contra
seu corpo. Fico tensa na hora, mas percebo que é só o jeito dele de me confortar.
Aconchego-me mais nele e limpo minhas lágrimas que teimam em cair.
— Princesa é só um filme. Não é verdade. — diz beijando meu cabelo.
— Eu sei, mas é tão triste ver o sofrimento dele. A pessoa que ele mais ama na
vida não se lembra dele. É triste saber que o seu amor não sabe mais quem você é. —
digo chorando. Leo está desolado e eu sinto tanta pena dele.
— É verdade, mas é uma coisa fictícia não precisa chorar. — diz fazendo
carinho na minha cabeça. — Eu não gosto de te ver chorando. — diz sério.
— Tudo bem. Eu vou tentar parar de chorar, Ok? — digo. Ele sorri e confirma.
Voltamos para o filme. Não consigo não chorar. Muito pelo contrário fiquei igual a
uma adolescente em término de namoro. Connor ficou inquieto o tempo todo pelas
lágrimas que eu derramava.
— Porque você assiste algo que te faz chorar? — pergunta Connor me olhando
nos olhos. Sento-me de lado para o olhar.
— A questão não é o que me faz chorar e sim o que eu vejo nele. O que o filme
passa para mim e esse filme, me passa o sentimento de esperança e do amor. Mesmo
que eu não esteja aberta para ele, eu quero conhecê-lo. — digo e ele me olha
atentamente.
— Eu não conhecia esse seu lado. — diz sorrindo.
— Que lado? — pergunto curiosa.
— Não sei dizer, mas eu gosto do jeito que você fala. Seus olhos ficam mais
lindos ainda quando você fala algo sério. — diz me fazendo ruborizar.
— Hum… Obrigada? — pergunto o olhando. Ele sorrir e passa a mão pelo meu
rosto. Fecho um pouco os olhos e suspiro. Afasto-me e me ponho de pé. Connor me
olha sério.
— Qual vai ser o seu filme? — pergunto pegando os filmes que ele citou.
— Eu só queria entender por que você foge de mim. — diz com a cabeça nas
mãos e os cotovelos nos joelhos. Finjo que não escutei e pego o resto dos filmes.
Como vou explicar o que não tem explicação para ele. Sinto-o atrás de mim, tão
perto e ao mesmo tempo tão longe. Quero dizer, ele está perto, mas sou eu quem está
longe. Eu não posso fazer isso comigo. Não de novo.
— Nick… — Diz deixando a frase morrer. Viro-me para encará-lo e olho no
fundo dos seus olhos.
— Connor… Por favor, vamos assistir seu filme. — digo e sento no sofá
novamente. Ele respira fundo e se senta também. — Qual vai ser o filme? — pergunto
morrendo de medo de ele escolher a Anabele. Coloco-o embaixo dos outros, por
último, quem sabe, né? Ele pode escolher outro.
— Cadê Anabele? — pergunta. Eu o olho com raiva. — Vai ser ele e pode tirar
ele debaixo dos outros, sua medrosa.
— Eu tenho medo dela. — digo para ele com os olhinhos do gato de botas. Ele
sorri e revira os olhos em seguida.
— Eu vou te proteger, minha princesa. — diz sorrindo e sinto as borboletas
idiotas fazerem a festa ao ouvi-lo dizer que sou sua. Sorrio para ele.
— Tudo bem. Mas… — ele me interrompe com os dedos em meus lábios.
— Vamos assistir. — diz e eu confirmo.
O filme foi resumindo, eu pulando de susto e o Connor rindo ou me acalmando.
Meu último susto eu fui parar no colo dele e quando digo colo é, porque sentei em
cima dele. Tento sair de cima, mas ele me segura.
— Connor… — digo, mas batem na porta nos interrompendo. Connor bufa e eu
me levanto.
Ao abrir a porta fico surpresa. Miguel era a última pessoa que eu esperava bater
na minha porta.
— Oi. — digo e ele sorri.
— Oi. É eu queria conversar com você. — diz sem jeito. Vejo seu olhar mudar
de mim para alguém atrás de mim, nem preciso dizer quem é.
— Tudo bem. Entra. — digo e dou passagem para ele entrar. Connor me fuzila
com os olhos.
— Não quero atrapalhar. — diz olhando de mim para Connor. Começo a negar
com a cabeça.
— Mas atrapalhou. — diz Connor com raiva. Olho para ele séria e ele se cala.
— Você não atrapalhou nada. Eu e Connor estávamos assistindo filme. Só isso.
— digo me perguntando o porquê da minha explicação. — Mas você quer conversar?
— Sim. Poderia ser a sós? — pergunta olhando Connor. Olho para ele e o
mesmo continua onde estava. Bufo.
— Vamos para o meu quarto então. — digo e Connor me olha furioso.
— Não. Você não vai levar ele para seu quarto. Eu saio. Fiquem aí. — diz e sai
indo em direção ao meu quarto.
— Senta. — digo e ele se senta. Sento do outro lado na poltrona. Não vou
arriscar, me lembro muito bem que ele me beijou a força.
— Acho que ele não gosta muito de mim. — diz Miguel sorrindo.
— Ele não gosta muito de ninguém que seja do sexo masculino. Quer dizer só o
Tyler. — digo sorrindo.
— É, Hum… Nicole, eu vim aqui para pedir desculpas. Eu sei que errei aquele
dia na festa. Não vim antes por que soube que adoeceu. Desculpe-me novamente. Não
vai se repetir. Claro só se... — o interrompo.
— Não precisa continuar. Eu não vou querer, então você está perdoado. Que não
se repita. Eu adoro ter você como amigo, mas é só isso. Amigo. — digo séria. Ele
engole em seco.
— Desculpe. Você está melhor? — pergunta, preocupado.
— Sim. Estou melhor. — digo.
— Ainda bem. — diz e ficamos em um silêncio chato. Olho para minhas mãos e
ele se pronuncia. — Eu acho que já vou indo. — diz e levanta. O sigo até a porta. —
Desculpe mais uma vez.
— Tudo bem. Nos vemos por aí. — digo e ele vai embora.
Agora tenho que encontrar a fera. Caminho para meu quarto. Entro e vejo
Connor deitado na minha cama. Ele está de bruços, com os olhos fechados. Acho que
está dormindo. Pego meus livros e sento na minha escrivaninha para estudar. Fico
meia hora estudando quando olho para Connor ele está me observando. Sorrio.
— Você fica linda com esse lápis entre os lábios concentrada. — diz me
olhando sério. Fico olhando ele por um tempo, mas desvio.
— Pensei que estava dormindo. — digo mudando de assunto. Ele revira os
olhos percebendo o que fiz.
— É óbvio que não. Você acha que eu iria dormir com aquele bastardo aqui? —
pergunta com os braços atrás da cabeça.
— O deixa em paz, Connor. — digo revirando os olhos. Ele sabe ser chato
quando quer.
— Você defende demais esses caras que te rodeiam. — diz sério.
— Inclusive você. Então para. — digo séria olhando para ele.
— Eu sou diferente. — diz sorrindo e eu reviro os olhos.
— Não é nada. — digo. Me levanto para guardar meus livros perto da cama,
Connor me puxa e eu caio em cima dele.
— Sou sim e você sabe disso. — diz e tenta me beijar, mas viro o rosto. —
Nick...
— Connor a gente já conversou sobre isso. — digo e saio de cima dele para
deitar ao seu lado.
— Mas eu não quero que seja assim. — diz e vira para me olhar.
— Connor para. Não vai acontecer. — digo.
— É só ficar Nick. Depois cada um segue a vida. É só um ficar. — diz sério.
— É por isso. Eu não vou ficar com você para fazer parte da sua “lista”. Eu já
ofereci minha amizade, mas se você não quer, paciência. — digo com raiva. Levanto-
me e abro a porta do quarto. — Saio. Eu vou tomar banho e sair.
— Eu não vou sair. Você vai aonde? — pergunta sentando na cama. O olho,
indignada.
— Olha, como você é contraditório. Você diz que é só “um ficar” e agora está
querendo saber aonde vou. Connor eu não te devo satisfação. — digo e bato a porta
do quarto.
Sigo para a cozinha e pego um copo de água. Ouço-o abrir a porta do meu
quarto e sair pela da frente. Fecho os olhos para afastar as lágrimas. Ele foi embora
sem nem me olhar, eu sei que foi melhor assim. Acho que não aguentaria deixá-lo ir
mais uma vez se ele falasse comigo.
Mesmo ele dizendo que iria ser só um fica, eu sei que ele está se apegando a
mim. E eu queria tanto que ele me dissesse que, sei lá, mudaria e deixaria de ser tão
galinha. Mesmo não tendo certeza se eu iria aceitá-lo. Eu queria ouvir. Escuto a porta
do quarto da minha amiga sendo aberta e um Tyler sorridente sai de lá.
— Cadê o Connor? — pergunta abrindo a geladeira enquanto sento na cadeira.
— Foi embora. — digo simplesmente. Ele me olha por um momento. — É…
Tyler, eu sei que falei demais hoje. Desculpe-me por isso, mas eu não gostei do jeito
que você tratou a Clara. Ela nunca lhe deu motivos para você fazê-la passar por isso
na frente de mim e do Connor. Tudo bem, nós somos seus amigos, mas isso é
constrangedor. Eu espero que isso não se repita. — digo e ele abaixa a cabeça.
Capítulo Oito
Nicole
— Eu sei. Não se preocupe não vou fazer isso de novo. — diz e eu o abraço.
— Eu quero que você não se preocupe. Ela te ama mais que o ar que ela respira,
Ty. — digo sorrindo. Ele sorri ainda mais ao me ouvir.
— Me desculpa pelas coisas que Connor anda fazendo ultimamente. — diz
calmo, mudando de assunto. Sento-me. — Ele está confuso. Eu sei por que eu também
fiquei assim quando comecei a gostar de Clara. Connor não se prende a ninguém,
Nicole. Ele quer ficar com você, mas ele tem medo, todos temos medo de algo novo.
— diz sentando na minha frente.
— Eu não vou me envolver com ele. E pelo medo dele e também por mim. Eu
não quero. — digo séria.
— Tudo bem. Não vou me meter na sua vida, mas ele é como um irmão para
mim. Eu o amo e quero o bem dele. Você é a única que tira ele do sério. Eu acho até
engraçado o jeito dele falar de você. — diz sorrindo.
Eu sei que Ty ama Connor e só quer o bem dele. Mas e o meu bem? Quem quer?
E será que eu vou possuir o meu “bem” ao lado do Connor? São tantas dúvidas que a
única saída que vejo e quero é a de não me envolver.
— Eu também quero o bem dele. Mas eu não tenho certeza se o meu bem é ao
lado dele. Entende? — digo sincera. Ele me fita com compreensão no olhar, e eu sinto
uma vontade de chorar que chega a ser ridículo, mas Clara chega e me tira dessa
enrascada.
— O que foi? — pergunta ao ver o modo sério que estamos conversando. Ela
está preocupada e eu detesto deixá-la assim. Ela vem para o meu lado. — O que foi
que aconteceu, Nicole?
— Nada. Vocês fizeram as pazes? — pergunto mudando de assunto. Ela olha
para seu namorado e sorri, é óbvio que sim, eles estão exalando sexo. — Não é
preciso responder eu e Connor ouvimos você gemendo. — digo gargalhando. Clara
me olha furiosa e envergonhada pelo namorado. Ty só fica rindo.
— NICOLE! Sua idiota. — fala chateada. Levanto-me e vou em direção ao meu
quarto rindo muito.
— TYLER SE FOREM PARA A SEGUNDA RODADA, POR FAVOR, TAMPA
A BOCA DELA, OK.? — grito da porta do meu quarto.
— OK.! — Ty grita de volta e escuto Clara xingando ele. Dou uma gargalhada e
me jogo na cama.
Ty já mostrou uns cinco sofás para mim e para Clara, mas não gostamos de nada.
Continuamos andando pelo shopping na esperança de encontrar o perfeito.
— Vai ser a última loja. Não vou ficar mais tempo aqui. — digo emburrada.
Entramos e o vendedor logo nos mostrou um sofá lindo. Acho que meus olhos
brilharam ao vê-lo. Ele é em formato de L. Na cor creme e ele é muito fofo. Sento
nele e tenho vontade de dormir, ele é macio e muito aconchegante. Suas almofadas são
tão lisinhas e tão fofinhas, eu adorei.
— É esse. — digo sorrindo. Clara e Ty sorriem e perguntam o preço ao
vendedor.
— QUÊ? EU SÓ VOU LEVAR O SOFÁ NÃO É A LOJA TODA NÃO. — Ty
está horrorizado com o preço do baby. Sorrio discretamente.
— O preço é esse senhor. Esse é o nosso melhor sofá. — diz o vendedor sem
graça pela cena que Tyler fez.
— Obrigado senhor. Mas não vamos levar. — diz Ty. Eu me levanto num pulo.
Eu amei o sofá ele já faz parte da minha família.
— Vamos sim. Eu me apaixonei por ele. — Tyler me fuzila com os olhos. —
Pode ir passar seu cartão Ty, eu sei muito bem que você pode e tem condições de
comprá-lo. — digo e ele revira os olhos.
Depois desse pequeno vexame fomos embora. Eu queria trazer o baby comigo,
mas não dava. Pedi a Ty para pagar a taxa de urgência na entrega, mas ele não quis e
quase me matou quando pedi. Então eu mesma paguei. Ele chega amanhã.
Entro no meu quarto depois de ouvir Tyler se lamentar pelo dinheiro que gastou
com o meu sofá. Ele é rico e a família dele também. Então o dinheiro que ele gastou
com meu sofá não vai fazer falta no bolso dele, disso eu tenho certeza.
Capítulo Nove
Nicole
— Oi Gabriel.
— Oi Nicole. Você está em casa?
— Sim. Você já está vindo?
— Humrum. Já estou subindo. Abre a porta.
— Ok. Até já.
— Até.
Levanto-me e molho o rosto. Refaço meu rabo de cavalo e vou abrir a porta. Ele
está parado encostado na parede com os braços cruzados. Eu sei que ele é bonito, mas
hoje ele está muito lindo, não sei se é por que agora a gente está diferente, mais
distantes. Gabriel está usando uma calça jeans e uma blusa branca lisa com um casaco
por cima. Fico sem graça ao olhar para ele. Ele está com um sorriso que diz que sabe
o que eu estava fazendo.
— Entra Gabriel. — digo sorrindo.
— Obrigado. Eu trouxe uns filmes e muito doce. Pois sei que gosta. — ele faz
menção de sentar no sofá.
— NÃO! — grito de repente, ele se assusta e continuo. — Vamos assistir no
meu quarto, não quero sentar nesse sofá. — digo sem graça.
— Por quê? — pergunta confuso.
— É que peguei a Clara e o Tyler transando em cima dele. — digo e ele cai na
gargalhada. — É sério. Foi horrível.
— Tudo bem. Vamos. — seguimos para meu quarto e o deixo lá para fazer
pipoca na cozinha.
Passamos o resto da tarde assistindo filmes e comendo besteiras. Na hora do
susto do filme de terror que eu quase chorei para não assistir, eu acabei derramando
suco em cima da camisa do Gabriel, então peguei e a lavei. Sigo para a lavanderia e
pego a blusa dele que já está seca e o espero mexendo nas minhas redes sociais
sentada na bancada da cozinha. Assusto-me ao escutar a porta ser aberta, Clara, Ty e
Connor entram e no mesmo instante Gabriel sai do meu quarto só de calça jeans e o
casaco na mão.
— Que. Merda. Está. Acontecendo. Aqui? — Connor pergunta pausadamente.
Puta que pariu.
— Eu já vou. — Gabriel ignora Connor.
— Toma sua blusa secou só ficou um pouco manchada por causa da cor do suco.
— digo sem graça.
— Tudo bem. Eu a levo para a lavanderia. — diz vestindo a blusa. Ele me
desce da bancada e o levo até a porta. — Tchau. Depois eu te ligo.
— Ok. Tchau. — digo sorrindo e ele vai embora.
Sigo para meu quarto, mas Connor segura meu pulso com força me fazendo
parar. Olho para ele e tento soltar.
— Me solta Connor. — digo com raiva, mas ele aumenta o aperto. — Você está
me machucando. — digo com um fio de voz, que passa verdade ao que falei. Ele
recua. Olho para meu pulso e estão marcados os dedos dele na minha pele.
— Eu não queria te machucar… — diz passando a mão pelo cabelo e andando
de um lado para o outro.
— Mas machucou. — digo séria. Volto a andar para o meu quarto, mas ele entra
na minha frente.
— Vocês transaram? — pergunta me olhando atentamente.
— Qual é a merda que você tem na cabeça? É lógico que não. Meu Deus, ele é
meu amigo. Porra, quantas vezes vou ter que dizer isso para você? — grito na cara
dele.
— Ele estava sem camisa e você está vestida desse jeito. O que você quer que
eu pense? — grita de volta. Respiro fundo.
— Eu não quero e não é para você pensar em nada. Até porque você disse que
fingiríamos que não nos conhecemos. Por que se incomoda tanto com a minha vida
amorosa e sexual? — digo e volto a caminhar só que para a cozinha e vejo Clara e Ty
sentados na mesa olhando para nós.
Ele não responde. Sento-me na cadeira e bebo água para acalmar meus nervos.
— Err… Vou pedir pizza para a gente. — Clara fala sem graça e vai para seu
quarto junto com seu namorado.
— Nick… — levanto a mão e ele se cala. Ele senta ao meu lado.
— Eu não quero mais olhar na sua cara Connor. Não vou pedir para deixar de
vir aqui, pois o apê não é só meu. Mas eu não quero mais que se meta na minha vida.
Eu namoro quem eu quiser, eu beijo quem eu quiser e eu transo com quem eu quiser.
Você não tem nada a ver com isso. — digo séria e ele me olha parecendo não
acreditar no que digo. Sei que ele está surpreso, pois ainda hoje pedi para ele não me
ignorar, mas eu cansei.
— Como é? Você está louca? — pergunta ficando de pé. — Eu mato o cara que
tocar em você. Entendeu? — grita na minha cara.
— Você não vai fazer nada. Não se meta na minha vida. Diga a Clara que me
chame quando a pizza chegar.
Tranco a porta do meu quarto e deito na cama. Pouco tempo depois adormeço.
— Eu não acredito. Merda, por que vocês sempre fazem isso? — pergunto a
Clara. Ela, Ty, Ley e Gabriel inventaram de irem a uma festa, até aí tudo bem, mas o
problema é ela não perguntar se quero ir e sim, me convocar. Odeio isso.
— Nicole deixa de ser marrenta. É só uma boate, não é coisa de outro mundo
não. — diz indo para seu quarto. Sigo-a.
— Eu não quero sair. Só isso. — digo cruzando os braços.
— Mas vai. Ainda tem tempo para nos arrumarmos. — diz e começa a mexer no
seu notebook.
— Eu não vou. — digo firme e ela sorri. Vaca!
— Estava pensando nas posições que eu e Tyler poderíamos fazer em cima do
sofá novo. Ele é muito lindo e fiquei com um fetiche maior ainda. — fala pensativa.
Minha boca está tão aberta que acho ser impossível abri-la mais.
— Você não faria isso, Clara. — digo.
— Ah! Eu faria sim. Então por favor, vá escolher sua roupa. — diz. Puta. Ela
tem um sorriso vitorioso no rosto e eu uma vontade descomunal de matá-la.
— Você me paga Maria Clara. Espere e verá. — dito isso vou para o meu
quarto.
Escolhi um vestido na cor salmão justo até a cintura e rodado até acima do
joelho. Ele tem uma abertura nas costas, mas na frente não tem decote o deixando
comportado. No busto tem renda o deixando muito lindo, eu amei.
Peguei um casaco preto e um salto nude. Mas não muito alto. Minha maquiagem
está leve só minha boca que está mais chamativa com um batom vermelho claro.
Meu cabelo está solto e liso escorrido. O castanho mais liso que já vi. Gosto
dele assim, mas hoje não fiz uns cachinhos por falta de tempo. Entro na sala e Ty está
sentado no MEU baby. Como se isso já não fosse uma afronta ele ainda está
COMENDO em cima dele. Sigo pisando duro.
— Tyler seu idiota. Sai daí agora! — grito. Ele pula do sofá assustado e dá um
suspiro aliviado quando me vê. Se eu fosse ele não estaria tão aliviado assim não.
— Calma Nicole. Você quase me matou de susto. — diz com a mão no peito.
— Se você não sair da minha sala agora pode ter certeza que vou te matar e não
vai ser de susto. — digo limpando o sofá. Rosno para ele e ele vai para o quarto da
sua namorada.
Termino de limpar, o meu querido sofá novo. Falei que ele chegou ontem? Pois
é chegou. Eu fiz uma pequena festa. Fora a briga que tive com Clara para escolher o
local que ele ficaria. Lógico eu ganhei, mas Clara falou que ele toma o espaço da sala
inteira.
— Você fica linda quando está brava, mas quando está arrumada quente desse
jeito, você fica maravilhosa. — uma voz familiar preenche a sala e meu rosto vai para
o último grau de vermelho. Puta que pariu!
Vejo ele se levantar da banqueta na ilha da cozinha e sorrio sem graça.
— Obrigada? — pergunto. Eu não sei como reagir, antes era só dar uma boa
gargalhada que tudo se resumia a uma brincadeira. Agora, é uma merda de tão
estranho.
— É por essas e outras coisas que eu preferia que você não soubesse. — ele
suspira. — Você está estranha, distante posso dizer, mas o pior é que você fica sem
jeito. Envergonhada de brincadeiras que sempre fizemos um com o outro. — diz
Gabriel num tom sério.
— Desculpa. É só que… — suspiro e olho para um ponto inexistente. — Eu não
sei o que dizer. Me desculpa.
— Nicole não precisa pedir desculpas. Agora chama logo a Clara e o Tyler para
irmos. Já está um pouco tarde.
Capítulo Dez
Nicole
Levanto-me da cadeira e seus olhos pousam sobre mim. Sinto um calafrio
percorrer meu corpo e meu coração bater freneticamente. Não sei decifrar o que seus
olhos transmitem, eles estão neutros e a cor de um azul tão intenso como nunca vi
igual.
Ele para na minha frente e consigo identificar todos os seus machucados.
Respiro fundo e relaxo, aliviada, por não ter que fazê-lo passar a noite aqui.
— Tyler, pegaram a minha moto no estacionamento da boate? — ele pergunta
sem me olhar. Se eu não sabia o que ele estava sentindo em relação a mim, isso
explica tudo. Ele está com raiva.
— Não. Ainda está lá. Na correria ninguém lembrou. — diz Ty visivelmente
aliviado. Não quero nem pensar em como ele ficou quando viu seu melhor amigo ser
preso.
— Pode me levar até ela? Quero pegá-la e ir para casa dormir. — diz
demonstrando cansaço. Essa é minha deixa, tenho que me desculpar por ter o feito ser
preso.
— Eu posso te levar. — respiro fundo. — Eu quero conversar com você. — ele
olha nos meus olhos e vejo a raiva que ele está de mim, não que eu me sinta culpada
por beijar outro homem, mas dói ver que eu o decepcionei.
— Não temos o que conversar Nicole. Já seu namorado sai e você conversa
com ele. — diz debochado.
Meu peito dói ao ver sua rejeição.
— Eu não tenho namorado Connor... — ele interrompe.
— Pois parecia. Você estava se esfregando nele igual uma vadia. — ele grita
com os punhos fechados demonstrando sua raiva. Sinto todo o sangue do meu corpo
descer para os meus pés.
— Nunca mais você fale isso com a Nicole. Você me ouviu Connor? Eu não
respondo por mim se eu ouvir você a rebaixando desse modo. Ela não é as garotas
que você fica, seu imbecil. — Clara esbraveja depois de dar um tapa na cara de
Connor.
Saio da delegacia e não escuto o resto da história. Sinto meu peito doer de uma
forma horrível. Entro em meu carro e coloco a cabeça no volante. Puxo umas três
respirações para me acalmar, lágrimas descem pelo meu rosto e escuto baterem em
meu vidro.
— Abre a porta. Desculpa Nicole. Eu não devia ter falado aquilo. — diz
batendo no vidro insistentemente. Pego a chave coloco na ignição, não posso me
torturar desse jeito, eu tenho que sair de perto dele. Connor ao perceber que ia sair
com o carro para na frente dele.
Fecho os olhos pedindo calma, mas logo volto a abri-los. As palavras dele
estão martelando na minha cabeça, todas as vezes que fecho os olhos posso ver com
clareza ele falando…
Igual uma vadia.
Connor retorna a bater e deixo-o entrar. Não iria o atropelar e sei que ele não
sairia da frente do meu carro. Limpo as lágrimas e olho pela janela enquanto ele senta
no banco. Sinto a eletricidade passar pelo meu corpo e por estar tão próxima dele.
— Desculpa… — diz e tenta pegar minha mão, mas afasto e a trago para perto
da minha barriga. — Nick… Eu só não gostei de te ver com um homem que você mal
conhece. Ele poderia ser uma pessoa ruim e querer te fazer mal… — ele passa a mão
pelo cabelo, nervoso. Sorrio ironicamente.
— Eu já sou bem grandinha para escolher com quem eu fico. Você não tem nada
a ver com isso. — digo calma.
— Mas eu não quero ter que ver outro cara te tocando. Isso me mata. Merda,
quando eu vi você beijando ele eu queria matá-lo por encostar em você. — suspira.
— Você, na minha cabeça fodida, é minha. Minha. — sorri triste ao repetir que sou
sua.
— Mas eu não sou. Eu sou livre e desimpedida então eu fico com quem eu
quiser. Você não estava agarrado àquela garota, porque eu tenho que ficar olhando
vocês se beijarem e ficar parada? Por quê? — grito na cara dele. Connor é um escroto
de merda que não consegue nem admitir que estava com ciúmes.
— Eu sabia que era por isso. Eu sabia. — diz olhando para a janela. — Ela não
significa nada Nick. Nenhuma delas significam. Nunca significaram. Na minha vida só
uma significa. — diz e me olha.
— Eu vou te levar até sua moto ficou. — digo e saio do estacionamento.
— Você não quer saber quem é a mulher? — pergunta me olhando.
— Não, eu não quero. — digo o olhando com raiva. Porque deveria saber quem
é a mulher que tem o dono do coração que eu tanto quero.
— Ela é linda. Quando a vi pela primeira vez eu me senti hipnotizado. Não
consegui sair do lugar durante uns três minutos. Seus olhos são tão puros e lindos que
todas as vezes que eu os encontro, quero morar neles, pois me sinto em casa de tão
bom que é quando sinto seu olhar em mim… — ele diz de modo apaixonado.
Interrompo, pois sinto meu coração ser rasgado por um arame farpado.
— Se cala. Eu não quero ouvir, merda. Você é um babaca, um imbecil, um
idiota. Eu te odeio Connor. — grito quando paramos em um sinal vermelho. Ele sorri
e me puxa para seus braços. Eu me debato, mas ele vence e cola seus lábios nos meus
e me beija com urgência.
Sua língua invade minha boca e reivindica a minha. Então, começamos uma
dança sensual e sincronizada com nossas línguas. Rendome e puxo Connor pelos
cabelos para mais perto de mim. Sentir o gosto doce da boca dele me faz ficar louca
para me perder com ele. Sinto-me molhada e aperto minhas pernas para acalmar
minha excitação.
Paramos de nos beijar quando buzinas irrompem do lado de fora do carro
avisando que o sinal ficou verde para ultrapassagem.
— Você é a mulher, Nicole. — Connor fala me olhando nos olhos depois de
alguns segundos. Eu fico sem entender.
— Como assim? — pergunto.
— A única mulher que significa algo para mim é você. — ele diz.
Depois disso ficamos em silêncio até chegarmos a sua moto. Saio do carro com
Connor ainda em silêncio, eu sei que eu deveria ter falado algo, mas eu não consegui,
fiquei tão feliz e ao mesmo tempo tão triste por que se eu sou tão importante para ele,
como ele mesmo fala, por que não embarcar comigo nesse sentimento que temos um
pelo outro?
— Connor… — tento falar algo, mas ele me interrompe.
— Eu entendi. Você acha que estou mentindo e não quer me ouvir. Eu entendi. —
diz colando a testa no meu carro.
— Não. Você não entendeu. Eu acredito, mas isso não é o suficiente e você
sabe. — digo me encostando ao seu lado. Suspiro. — Vamos para meu apartamento ou
para o seu? — pergunto. Pois quero cuidar dos seus machucados. Connor me olha
surpreso.
— Por quê? — ele pergunta.
— Quero cuidar de você. — digo olhando para minhas unhas.
— Não precisa, se você não quiser ir, posso cuidar de mim sozinho. — ele diz
ainda sério.
— Tudo bem. — digo e entro em meu carro.
Connor sobe na sua moto e sai do estacionamento. Eu saio logo atrás. Depois de
dez minutos estaciono em frente ao seu prédio.
Desço e sigo para o apartamento. Bato na porta e Connor a abre, surpreso. Ele
me olha por um momento.
— Não vai me deixar entrar? — pergunto.
— Claro. Entra. — diz e sai da porta. — Pensei que tinha ido para casa.
— Não. Eu queria cuidar de você e eu vou. — digo tirando o sapato.
— Marrenta. — diz e vai para seu quarto. Pego a maleta de primeiros socorros
em cima do armário da cozinha e vou atrás dele.
Quando chego, ele está com os pés no chão, mas deitado na cama sem camisa.
Paro onde estou e fico admirando ele. Connor é grande, não igual aqueles bombadões,
ele é alto e tem bastantes músculos, mas não exageradamente, eu me sinto uma boneca
perto dele. Sua barriga é lisinha e eu consigo ver sua tatuagem nitidamente. No seu
braço direito tem vários desenhos que juntos cobrem quase ele inteiro. Mas o que me
chamou atenção foi a frase que ele tem nas costelas.
"A vida te levou e me
Deixou aqui e o que você
Me ensinou é o que me faz feliz."
Não sei por que, mas essa frase me incomodou e o ciúme que sinto em relação a
ele me diz que essa citação tem a ver com alguma mulher importante para ele.
— Gosta do que vê? — ele pergunta sem me olhar.
— Não. — digo em relação à frase. Mas pode ser da mãe dele não? Lógico que
não. A mãe dele não o deixou. Ela liga para ele todos os dias.
Caminho para perto dele e me sento na sua frente na cadeira da escrivaninha.
— Senta. Quero limpar os seus machucados. — digo. Ele senta e me olha
atentamente. Começo a limpá-lo. Connor parece uma menininha de tanto que reclama.
De dois em dois minutos ele tira meu lábio que fica entre meus dentes. É um gesto que
faço sempre que estou concentrada.
— Se você não parar de morder esse lábio eu vou te beijar e não vou parar até
amanhecer. — diz sério e eu sorrio.
— Eu não controlo. Desculpe. — digo sem jeito. Connor coloca a mão na minha
perna e sorri maliciosamente. Acabo de limpá-lo e me levanto.
— Aonde vai? — pergunta sério.
— Vou para casa. — digo e ele levanta e tranca a porta do quarto.
— Não. Dorme comigo? Por favor. — diz e para na minha frente.
— Você está louco? — pergunto.
— Não, não é isso. É só dormir mesmo. — diz. Sorrio, ele ficou tão sem graça.
E isso é tão difícil que se torna cômico.
— Hum. Ok — digo e ele sorri.
Connor pega uma blusa e uma cueca para mim e vou para o banheiro vestir. Saio
e ele está somente com uma calça de moletom deitado na cama. Me aproximo e sento
na cama. Connor está com os olhos fechados, mas sei que não está dormindo.
Deito-me ao seu lado, mas fico tão tensa que a quilômetros de distância
poderiam sentir meu desconforto.
— Relaxa Nick. — Connor fala e me viro para encará-lo. Seus olhos verdes
quase azuis me fitam e eu me perco na cor mais linda que um dia eu já vi. — O que
foi?
— Seus olhos. — digo.
— O que têm eles? — pergunta. Eu levo minha mão ao seu rosto e acaricio.
— São lindos. — digo e ele sorri. Connor me puxa para deitar sobre seu peito,
no começo fico rígida mais depois percebo que não há lugar no mundo que eu gostaria
de estar mais do que em seus braços.
— Você gosta de mim? — ele pergunta depois de um bom tempo, calados, só
ouvindo a respiração e os batimentos cardíacos um do outro.
— Eu já falei que sim. Por que está perguntando? — digo e levanto a cabeça
para olhá-lo. Connor me olha, mas quando vai responder olha para outro lugar.
— Por que eu também gosto de você. — diz sério. — Eu acho que eu sempre
soube, mas só não queria admitir que uma garota fosse capaz de me fazer gostar dela.
— Como você pode dizer que gosta de mim e ainda estava com aquela garota?
— pergunto magoada.
— Eu queria esquecer você, mas hoje percebi que isso é impossível, te ver com
aquele cara trouxe o que eu tenho de pior dentro de mim. Eu não posso e não quero ter
que te ver com outro cara Nick… Eu quero você para mim, só para mim. — diz sério
agora me olhando no fundo dos olhos.
— Eu também te quero. Você não sabe o que senti quando vi você com ela. O
sorriso debochado que ela tinha na boca me fez querer matá-la. Acho que os tapas que
dei nela ainda não cessaram minha raiva. — digo.
— Você bateu nela? — Connor pergunta, surpreso.
— Sim. Por quê? Está com pena dela? Vai atrás dela então, Connor. — digo
com raiva e me sento na cama.
— Você é linda com ciúmes, Nick… — o interrompo.
— Não estou com ciúmes. — digo séria e ele engole o riso. — Então, vai ou
não atrás dela? — pergunto novamente.
— Eu não vou atrás de mulher nenhuma, Nick… A única mulher que eu corro
atrás está na minha frente. — diz e sorrio.
— É mesmo? — pergunto e ele faz sinal positivo com a cabeça. — Acho bom…
Connor me beija e deitamos na cama sem parar de nos beijar. Sua língua entra
na minha boca e sinto o gosto doce que ela possui. Ficamos namorando até as coisas
começarem a esquentar.
— Vamos dormir. — Connor diz passando a mão pelo rosto demonstrando
descontrole. Sorrio.
— Tudo bem. — digo e deitamos juntinhos de conchinha. Começo a pegar no
sono e escuto ao longe Connor dizer:
— Minha Nick… Minha.
Acordo pela manhã e demoro a lembrar o que aconteceu e onde estou, viro para
olhar Connor e sinto meu coração apertar ao ver que ele não está mais na cama. Vejo
minha roupa dobrada em cima da cadeira.
Levanto e vou ao banheiro me vestir. Molho o rosto tentando acordar. Minha
cabeça está maquinando o porquê de ele ter me deixado sozinha. Será que ele se
arrependeu de ter me dito aquelas coisas? Eu sou tão burra que acreditei, mas no
momento vi tanta sinceridade transbordando de seus olhos, merda de coração fraco.
Uma lágrima desce pelo meu rosto, mas a capturo rapidamente. Faço um coque no
cabelo e pego meus sapatos, saio do apartamento e sigo em direção a minha casa.
Depois de andar de carro por um tempo, chego a casa. Vou direto para meu
quarto e deito em minha cama. Abraço minhas pernas e choro baixinho até adormecer
novamente.
Abro os olhos e escuto o que me acordou. Batem na porta do meu quarto, quase
a derrubando.
— Merda. Quem morreu? — grito. Levanto e caminho para a porta.
— Abre essa porta, Nicole. — Connor esbraveja e posso sentir a raiva que ele
sente. Mas eu também estou então... — Abre essa merda ou eu vou derrubar.
— O que você quer? — pergunto me encostando à porta.
— Como assim? Você é louca? — pergunta. Aí que ódio, ele ainda tem a cara
de pau de falar mal de mim. Abro a porta e o olho, indignada.
— Como você tem coragem de me xingar depois de ter me deixado sozinha na
cama? — pergunto enquanto ando de um lado para o outro. — Você saiu e me deixou.
Você faz isso com as outras também?
— Eu só fui correr. Meu Deus, por que você saiu sem me esperar? Não podia
ter esperado para entender as coisas? Por quê? — ele grita na minha cara. Paro
abruptamente, ele só foi correr, ele não se arrependeu do que me falou. Burra.
— Eu… Eu… Não sei. Eu fiquei com medo de você ter se arrependido do que
disse para mim ontem. Connor… — suspiro. — Desculpa.
— Eu fiquei louco quando voltei e não te encontrei. Você não me deixou nada,
nenhum bilhete, Nicole. — me retraio ao ver que ele está com raiva. — Meu
apartamento está todo quebrado porque eu simplesmente não consegui controlar minha
raiva.
— Connor… Eu fiquei com medo. Eu sei que não é motivo, mas…, Mas… —
fecho os olhos e tento encontrar palavras para dizer que eu sou idiota e burra. Mas
não consigo a merda do meu orgulho não deixa.
Connor anda de um lado para o outro sem me responder. Passados alguns
segundos ele se pronuncia.
— Eu não quero conversar com você agora. Eu ainda estou com raiva. Depois
venho aqui. — diz e tenta sair do meu quarto.
— Não. — digo. — Connor fica aqui. — peço entrando na frente dele. Ele
passa a mão pelo cabelo e me fita cuidadosamente.
— Eu venho depois. Agora tenho compromisso. — diz.
— Humm. Está bom. — digo me perguntando que compromisso é esse. Deixo
esse pensamento de lado e enlaço meus braços em seu pescoço. — Eu te ligo.
— Ok — ele me dá um selinho e sai do meu quarto.
Passo o dia em casa. Clara tirou o dia para me irritar, ela me obrigou sair para
comer fora. Como se não tivéssemos comida em casa. Já estou irritada, pois Connor
não atendeu o celular quando liguei e ainda sou obrigada a sair.
— Tira essa cara. É só um jantar, Nicole. — diz séria. Saímos de casa e
estamos entrando no meu carro.
— Desculpa. Só estou chateada com Connor. Eu disse que ligaria e ele não
atendeu e nem deu sinal de vida. — digo chateada e saindo do estacionamento.
— Como assim? Dá para voltar à fita? Me conta o que aconteceu ontem e hoje,
é claro. Ty estava puto da vida, pois Connor tinha feito algo que não entendi. — diz.
— Ele quebrou o apartamento inteiro. — digo e espero seu grito. Ele logo ecoa
dentro do carro.
— Que? Por quê? Agora entendo Ty. Ele estava transtornado. — diz pensativa.
— Vou contar tudo do começo. — digo e assim faço. Clara fica feliz por nós
dois, mas ela toca na ferida que eu não tenho coragem de falar.
— Ele falou em namoro?
— Não. Eu estou receosa, mas não vou forçar nada. — digo estacionando em
frente ao restaurante que Clara fez as reservas.
— Você está certa. Agora vamos ter nosso jantar chique e só de meninas. — diz
alegre. Aceno confirmando.
Entramos e somos direcionadas a uma mesa. Clara começa a falar sobre seu
relacionamento com Tyler.
— Sabe no dia que você falou sobre Pietro? — confirmo para ela continuar. —
Eu nunca tinha o visto assim. Lógico, ele sempre foi ciumento, mas nunca ficou
daquele jeito. — suspira. — Eu tenho raiva por Connor o controlar e eu não.
— Como assim? — pergunto. Raiva? Minha amiga é doida?
— Na hora em que estávamos brigando. Num minuto Ele está com ódio e no
outro, depois que Connor falou três palavras, ele se acalmou. Entende? — pergunta
sem jeito.
— Não. Quero dizer, sim… — suspiro procurando as palavras certas. — Eles
são melhores amigos, eu posso dizer que quase irmãos. Connor conhece Tyler como
ninguém e vice-versa. Ele só abriu os olhos dele que estavam cobertos pela raiva. —
digo sorrindo.
— É você deve estar certa. — diz sorrindo. — Mas ficou tudo bem e isso é o
que importa.
Jantamos falando de tudo e mais um pouco. Amo estar com Clara. Meu celular
toca e vejo o nome de Connor no visor.
Capítulo Onze
Nicole
Pego o celular e o coloco em cima da mesa. Liguei para ele não era nem duas
horas da tarde. Agora que ele se lembra de mim? Não atendo.
— Quem é? — Clara pergunta depois de pagarmos a conta.
— Connor. — digo simplesmente.
— Não vai atender? — ela pergunta.
Às vezes tenho vontade de bater na Clara. Ela está vendo que não vou atender e
fica perguntando.
— Não. Deixa-o esperar. Eu esperei então pronto. Estamos empatados. — digo
séria.
— Há… Vocês estão em um jogo… — diz debochada, mas sei que ela está
querendo me dar um sermão. — Deixa de ser criança, Nicole. Vocês começaram a se
entender agora e já estão desse jeito. — diz séria. Fico pensando um pouco e meu
celular volta a tocar. Connor. — Atende Nicole. — ela manda.
Não atendo e em um pulo ela pega meu celular. Fico olhando surpresa ela
atendê-lo.
— Oi Connor… Nicole? Está voltando do banheiro agora… Só um minuto. —
ela me entrega o celular com um sorriso no rosto. Vaca.
— Oi.
— Por que não me atendeu?
— Não quis.
— Sabia. O que eu fiz agora?
— Só não atendeu o celular quando liguei.
— Não tinha nenhuma ligação sua no meu celular Nicole.
— Mas eu liguei. Onde estava?
— Hum… É…
— Não precisa responder. Essa hesitação em falar responde tudo. Tenho que
desligar.
— Não. Eu só fui ao shopping comprar uma coisa, não é nada disso que está
pensando.
— E o que eu estou pensando?
— Que eu estava com outra garota. Estou errado?
— Não. Está certo.
— Nicole…
— Você quer o quê? Que eu pense que você mudou da noite para o dia? Por
favor, me entenda Connor.
— Eu não quero que pense que mudei assim, quero que aprenda a confiar em
mim.
— Tudo bem. Desculpa.
— Ok. Você está aonde?
— Saindo de um restaurante. Vim jantar com Clara.
— Humm. Eu estou na sua casa, deitado na sua cama.
— Quê? Como? Por quê?
— Calma. Isso mesmo que ouviu estou aqui. Tyler tem a chave daqui, não sabia?
— Não. Mas Clara vai me explicar direito isso, depois.
— E eu queria te ver.
— Tudo bem. Estou chegando.
— Vou esperar vendo suas coisas.
— Não se atreva.
— kkkkkkkkkkk.
— Estou falando sério. Não mexa.
— Por quê?
— Por que não quero.
— Mas eu vou. E descobrirei o porquê.
— Idiota. Tchau vou dirigir.
— Beijo, Princesa. Estou te esperando.
Desligo e começo a dirigir sobre o olhar atento de Clara. Quando estamos
entrando no estacionamento do prédio me canso desse olhar da Clara.
— O que é Clara? — pergunto.
— Nada. — diz e olha para a janela.
— Humm. Tudo bem. — digo e saio do carro. — Ah, o Connor me falou que o
Ty tem a chave do nosso apartamento. Por que não me avisou? — pergunto chateada.
— Desculpa. Eu dei no dia que ele veio pegar uma roupa para mim, mas esqueci
de pegar de volta. — diz.
— Tudo bem. — digo. Não é que eu seja chata, mas e a minha privacidade? Sei
lá, é estranho.
Entro no apartamento e sigo para meu quarto. Abro a porta e vejo Connor
sentado na cama com algumas coisas minhas, mas o que me chamou atenção foi a
blusa que ele tem na mão. É do Gabriel.
Caminho até a cama e me sento ao seu lado.
— De quem é essa blusa? — Connor pergunta antes mesmo de me
cumprimentar. Não sinto raiva na sua voz, é apenas uma pergunta normal.
— Oi para você também, Connor. — digo revirando os olhos. Ele me olha nos
olhos, como se estivesse me perguntando novamente. — É do Gabriel. — respondo
finalmente.
— E o que está fazendo aqui? — ele pergunta sério.
— Ele esqueceu outro dia. Mas eu vou entregar não se preocupe. — digo
apressadamente. Ele suspira.
— Eu não gosto daquele cara… — Connor fala como se fosse um aviso e eu
pulo da cama.
— Não comece. Ele é meu amigo. — digo entre dentes. Connor se levanta e
para na minha frente.
— Ele não quer só sua amizade e você sabe disso. — ele diz com raiva. Agora
sim, raiva.
— Mas eu não quero nada, além disso. É o que ofereci e ele aceitou de bom
grado. Connor, vamos parar de brigar. — suspiro e olho em seus olhos. — Nós
acabamos de ficar “de bem” e em menos de um dia a gente teve duas brigas. Isso vai
nos cansar. — digo e me sento na cama.
Connor passa a mão pelo cabelo e depois se ajoelha na minha frente para ficar
do meu tamanho.
— Você está certa. Desculpa. Só não gosto dele, Nick, mas se ele é tão
importante assim para você, eu vou tentar TENTAR aguentá-lo. — diz acariciando
meu braço. Sorrio para ele, pois sei que ele está se esforçando mesmo.
— Obrigada. — digo e dou um selinho nele.
— Agora vem aqui que quero beijar essa boquinha linda. — sorrio e ele me
pega no colo e me leva para cima da cama, perto da cabeceira.
Beijo seus lábios enquanto Connor passa suas mãos pelo meu corpo. Passo
meus dedos por seu cabelo espesso e suspiro. Tiro a blusa de Connor e fico
hipnotizada pelo seu abdômen lindo. Desvio meus olhos para seu rosto e ele sorri.
Meu senhor, que sorriso é esse?
Puxo-o para perto de mim e o beijo apaixonadamente. Pego a ponta da minha
blusa para tirá-la, mas Connor me detém, eu o olho questionando.
Será que ele não quer?
— Não. — diz para eu não retirar minha blusa. — Vamos devagar. — ele diz e
eu tenho vontade de esconder meu rosto. Ai que vergonha.
Connor o cara que pega todas as garotas da faculdade não me quer. O que elas
têm que eu não tenho?
— Por quê? —pergunto e ele sai de cima de mim e vai para o lado. Bufo.
— Só quero ir devagar. — ele diz como se isso explicasse tudo.
— Você não me deseja? — pergunto igual uma idiota. Connor pega minha mão e
coloca em cima da sua calça jeans. Sinto seu membro duro igual a uma pedra.
Respiro, aliviada, pelo menos isso, né?
— Mais do que você imagina. Ter você na cama gemendo meu nome é a coisa
que mais quero na vida. Mas eu tenho que ir devagar. — diz e eu me sento na cama
com raiva. Ele me deseja, mas quer ir com calma?
— Quando você transa com as outras você quer ir devagar? Não. Você não quer.
Merda Connor. — digo e estremeço ao imaginar ele com outra, mas é a realidade. Eu
tenho que me conformar.
— Você não é as outras, Nicole. Eu já falei que elas não significaram nada. A
única que significa é você. E é por você significar que quero ir devagar. — fala
nervoso.
Eu suspiro e coloco as mãos no rosto. Eu estou sendo tão infantil, ele está me
dizendo que sou importante para ele e eu fico enlouquecendo por ele querer esperar.
— Desculpa. Eu estou parecendo uma criança indecisa. Antes eu não queria de
jeito nenhum e agora pareço uma louca por sexo. — digo envergonhada.
Escuto Connor dar uma gargalhada linda e o olho com uma interrogação enorme
no rosto.
— Você está rindo de mim, Connor?— Eu não estava rindo de você. Mas, do
que falou. — sorri para amenizar a tensão.
— Desculpe.— digo suspirando. Ele sorri e me puxa para seus braços.
— Você é marrenta. Muito, mas é minha marrenta. E eu gosto. — diz sorrindo.—
Você está com fome? — pergunto.
— Não. — diz e coloca os braços cruzados atrás da cabeça.
— Mas já comeu? — pergunto. Connor só come besteiras. Dificilmente come
algo que preste e seja saudável.
— Não. — diz sorrindo pela minha insistência.
— Então vem vou fazer um sanduíche para você. — digo, ele olha para mim um
tempinho e depois fala.
— Não. Vamos ao Jack's, enquanto eu como, você me faz companhia. O que
acha? — pergunta. Não sei se estamos prontos para sair juntos. Não sei, é estranho.
As pessoas vão falar que sou mais “uma” dele e isso eu não quero.
Será que você não é mais uma?
Minha consciência estúpida me questiona. Sinto um incômodo e sei que é por
essa possibilidade. Suspiro.
— O que foi? — Connor pergunta pela minha demora em responder.
— Nada. Vamos. — digo e me levanto. Connor me olha pensativo. Sei que deve
estar se perguntando o que eu estava pensando.
— Coloca uma calça jeans. — diz e eu o olho não entendendo o porquê da troca
de roupa. Estou com uma regata e um short jeans curto, mas não demais. — Por causa
do frio. Está de noite e vamos de moto.
— Ah,… Tudo bem. — digo e pego uma calça jeans preta bem apertada que é
lisa, sem detalhes. Pego um casaco e o coloco em cima da cama.
Vou para o banheiro e troco de roupa. Quando entro no quarto Connor não está.
Pego o casaco e a bolsa. Paro em frente ao espelho e faço um rabo de cavalo. Pego
meu gloss e passo um pouco.
Tenho que parar de pensar o que os outros acham. Ele está aqui comigo e vai
sair comigo. Ele hoje é meu.
Só hoje?
Vai se foder consciência do contra. Saio do quarto e o vejo sentado jogando
videogame. Reviro os olhos, homens e seus gostos.
— Vamos? — pergunto e ele se vira para mim. Sua boca faz um ‘o’ perfeito e Ty
bate nele e fala algo no seu ouvido. Connor desperta do transe e se levanta. Agora
sim, estou confiante.
— Sobe. — Connor fala depois que descemos do meu prédio. Subo na moto.
— Não vá rápido. É perigoso. — digo com medo. Ele sorri e diz.
— Nunca deixaria você se machucar. — diz e minhas borboletas entram em
êxtase.
Connor sai do estacionamento e vamos para o Jack's, lá é um bar e uma
lanchonete junto. É o point da galera da faculdade. Por isso o meu receio, isso vai ser
trágico.
Chegamos e eu nem tinha notado, Connor que pegou na minha perna e me trouxe
de volta a realidade. Desço da moto e o espero.
Ele pega minha mão e o olho surpresa. Ele sorri e fala.
— Quero mostrar a todos que você é minha. — diz sorrindo maliciosamente.
— E você é meu? — pergunto. Connor segura minha cabeça entre as mãos e
fala.
— Sempre. — depois me beija.
Sentamos em uma mesa bem no canto do lugar. De onde estávamos todos
poderiam nos ver e nós a eles.
Uma garota ruiva, cheias de curvas e seios fartos se aproxima de nossa mesa.
Ela sorri lindamente para Connor. Já não gosto dela.
Sua blusa é tão pequena que mal consegue segurar sua comissão de frente. Seu
olhar se encontra com o meu e me fulmina.
— Onnor, vai o de sempre? — ela volta sua atenção para Connor. Detesto esse
apelido idiota que essas vacas falam quando querem ir para cama com ele.
— Sim. O de sempre Rebecca. — fala sorrindo para ela. Isso mesmo? Ele está
sorrindo?
— Tudo bem. E você lindinha? — ela se direciona a mim com deboche. Levanto
meu olhar para ela e a encaro.
— Eu não vou querer nada, “lindinha”. — digo com deboche em dobro. Ela
semicerra os olhos e eu levanto minha sobrancelha em sinal de desafio.
— É só isso Becca. — Connor intervém.
Becca?
Ela sai e eu bufo. Essa vaca merecia uns tapas bem dados.
— Nick o sanduíche daqui é ótimo, o melhor que já comi. — diz sorrindo e
mudando de assunto. Suspiro e sorrio.
— É mesmo? Outro dia a gente vem comprar um para eu comer. Mas em casa.
— digo logo. Connor fica sem entender e a outra volta com água para nós.
— Obrigado Becca. — Connor agradece. Rebecca se inclina para perto de
Connor e seus peitos quase engolem a cabeça dele.
— Hoje saio às 23 horas. Vamos nos divertir? — pergunta sensualmente. Olho
para Connor esperando ele responder. Minha respiração está pesada, estou me
segurando para não arrancar os olhos dela.
— Não. Agora eu tenho apenas uma para me divertir. — diz sério e com o olhar
pede desculpas para mim.
Rebecca se ajeita abrindo a boca surpresa. Ela fica assim por um tempo e
depois me olha com raiva. Sorrio para ela lindamente.
— Humm… É… Tudo bem. Já trago seu pedido. — e assim vai embora. Idiota.
Que garota ridícula.
— Desculpe. — Connor fala. O olho e lembro-me do que ele falou. Sorrio.
— Não tem o que desculpar. Ela que é uma vadia. Esse apelido é o pior. Tenho
vontade de rasgar a garganta delas quando te chamam de “Onnor”. — digo com raiva.
Ele reprime um sorriso e eu o olho.
— Não sabia que era tão violenta, Princesa. — sorri e eu sorrio junto. — Mas
por que não gosta do apelido? — pergunta.
— Só eu vejo que elas querem abrir as pernas para você toda vez que lhe
chamam assim? — pergunto e ele me encara surpreso. Mas depois sorri.
— Eu nunca tinha visto por esse lado… — diz pensativo.
— Pois eu vejo. E você é todo sorriso para elas. Isso é irritante. — digo.
— Você é linda. Mas quando está com ciúmes? Você é maravilhosa. — diz
sério.
Minhas bochechas queimam.
— Eu não estou com ciúmes. — digo revirando os olhos em divertimento.
— Hunrum. — murmura.
Rebecca volta, mas nem olha para mim muito menos para Connor. O que acho
ótimo.
— Nicole? — Escuto me chamarem e me viro. Miguel está me olhando e
sorrindo. Levanto-me. — Ei. Nunca vejo você por aqui. Isso é novidade.
— Han… É… Vim com Connor comer. — digo e Miguel olha para trás de mim,
presumo ser Connor.
— Hã… Oi Connor. — diz sem graça. Acho que ele ainda se lembra do vexame
na festa da Fraternidade.
— Oi. — Connor fala e percebo que ele está em pé atrás de mim.
— Vou indo. Nos vemos amanhã Nicole. — diz. Eu aceno confirmando e ele se
vai.
Sentamo-nos novamente e Connor fica calado o resto da noite. Quando estamos
saindo eu paro na frente dele.
— Por que ficou calado o resto da noite? Eu fiz algo? — pergunto.
— Não. Vem, vamos. — diz e sobe na moto. Eu paro ao seu lado e dou um
selinho nele.
— Ok.… — subo na moto e vamos embora.
Connor para em frente ao meu prédio. Desço da moto, mas ele continua
montado.
— Não vai subir? — pergunto. Eu sei que ele está com raiva de algo. Será que é
por causa do Miguel?
— Não. Vou para casa, dormir. — diz e pega minha mão e leva até os lábios
depois me puxa e me abraça.
— Tudo bem. — digo para ele. Não vou forçá-lo a brigar comigo por algo que
não tem importância, no caso Miguel.
Connor me beija. Sinto sua língua viajar pela minha boca e eu me delicio dos
lábios dele e o abraço. Paramos o beijo com selinhos e escutamos uma tosse.
— Connor, como vai? — Suspiro para me acalmar. Em toda esquina tem uma
garota querendo ele, isso é uma merda.
Viro para ver quem é a da vez. Essa eu sei e agora mais do que nunca quero dar
na cara dela. Vadia.
— Oi, Patrícia. Vou bem e você? — Connor a cumprimenta. Patrícia é a garota
que Clara viu nua na cama de Tyler.
Olho para ela e seu olhar é de nojo para mim. A observo de cima a baixo. Ela
está usando um vestido tubinho preto. Ele é lindo, mas nela está ridículo. Patrícia é
alta o que faz o vestido ficar ainda mais curto.
— Estou ótima. Cadê Ty? Estou com saudades da cama dele. — diz com um
sorriso debochado no rosto.
— É mesmo sua vadia? — escutamos a voz de Clara. — Pois você vai ficar. E
agora ele não está aqui para me impedir de te dar uns tapas. — Clara sai do prédio e
vai para cima da Patrícia.
Ela dá um murro na cara dela e a mesma cai no chão. Essa é a deixa para Clara
montá-la. Minha amiga dá vários tapas no rosto de Patrícia.
— Para sua louca… — diz Patrícia chorando.
— Isso é por você querer acabar com meu namoro, sua vagabunda. — Clara
grita e dá mais tapas.
Eu e Connor ficamos só olhando e rindo. Começa a encher de gente para olhar e
filmar a briga. Ty chega, não sei de onde ele saiu, e tira Clara de cima da outra, que
por sinal está bem machucada.
— Me solta Tyler. Eu vou matar essa puta mal amada. Ridícula, isso é o que
você é Patrícia. Você não consegue um homem que goste de você de verdade, e quer
acabar com o que os outros possuem. Você e a maioria das garotas desse Campus são
assim, mas eu estou te avisando e avisando a elas também, Tyler é meu e nenhuma de
vocês vai tirá-lo de mim. — ela grita para Patrícia que está sendo ajudada por suas
amigas.
— Amor, calma. — Tyler fala tentando acalmá-la.
— Isso foi engraçado. — Connor fala para mim. Olho para ele sorrindo e o
beijo.
— Bem feito. Queria eu poder dar na cara de todas essas vadias que ficam te
dando mole. — digo séria. Connor me olha contendo um sorriso, mas por pouco
tempo. Ele abre um sorriso lindo de divertimento.
— Você é linda. — diz e me dá um selinho.
— Você fica rindo, não é? — digo e ele sorri ainda mais. Sorrio aliviada por
sua raiva ter passado.
— É muito engraçado quando você está com raiva. — diz e me beija de novo.
— Agora eu já vou.
Faço beicinho. Não queria que ele fosse embora.
— Não faz isso. — diz olhando para minha boca. Vou andando de costas
fazendo o biquinho. Connor desce da moto e começa a vir na minha direção.
Capítulo Doze
Nicole
Capítulo Treze
Nicole
Lágrimas inundavam meus olhos ao constatar meu irmão em minha frente. Meu
peito arde de saudade e devido ao estado emocional que me encontro pulo em seus
braços e choro baixinho.
— Oh meu Deus. O que fizeram com você, Pimentinha? — Pietro pergunta me
olhando atentamente e me chamando pelo apelido que só ele usa. Seus olhos não
deixam escapar nada, eles viajam dos meus pés até o meu cabelo desarrumado, vejo
seu olhar de desagrado. Acho que estou pior do que Clara me falou.
— Nada só estou feliz por te ver aqui. Estava com saudades. — digo forçando
um sorriso mais sincero. Acho que ele não percebe ou se percebeu fingiu muito bem,
pois não fala nada.
Mas logo ele me manda um olhar de “conversamos depois”. Merda. Ele sabe.
— Nicole? Quem é? Se for Connor o mande embora. Pois vou chutar sua bunda
daqui se eu o ver. — Clara fala vindo em direção à porta e fazendo meu irmão parar e
olhar para trás de mim. Seu olhar preocupado comigo mudou para um olhar tenso e
inquieto. Parece que Clara ainda mexe com ele.
— Victor. — Clara fala surpresa.
Ela sempre o chamou pelo segundo nome, desde o tempo de colégio e quando
namoravam o apelido continuou.
— Clarinha. — Pietro fala em um sussurro. Seu olhar percorre o corpo da
minha amiga e a vejo ficar envergonhada.
Não tiro a razão do meu irmão, ele perdeu uma mulher bonita. Agora que está
mesmo. Entramos em casa e vamos em direção à cozinha.
— Você não me disse que seu irmão estaria na cidade Nicole. — Clara fala me
fulminando com o olhar, querendo me dizer que está com raiva. Sentamo-nos.
— Eu… — Pietro me interrompe.
— Ela não sabia. Eu vim para buscá-la na verdade. — ele diz sério e me olha.
Seus olhos dizem para não o confrontar e é isso que faço. Não confronto. — Mas só
partimos amanhã. — acrescentou.
— Ah. Então você vai dormir aqui hoje? — Clara pergunta. Acho que ela deve
ir para casa de Ty, falando nisso não quero nem ver a briga. Sei que ela deve estar
dividida, pois estou em um momento ruim para ela me deixar aqui “sozinha”, digo
sem uma companhia feminina. — Quer dizer não tem problema, mais é que… —
Clara se enrola toda e eu a ajudo.
— O namorado da Clara já sabe do seu envolvimento com ela na adolescência.
Ele é digamos bastante ciumento? — saí como uma pergunta direcionada a Clara que
responde prontamente com um aceno confirmando meu raciocínio. — Então. Ela não
quer dar mais munição, entende?
— Você está namorando. — ele fala mais para si próprio do que para a gente.
— Ele é ciumento… Que ironia, não? — pergunta e Clara confirma com um aceno
olhando para seus pés. Estou tipo, boiando. Não entendendo nada. — Mas não, eu não
vou dormir aqui. — Clara respira relaxada. Quase vejo um navio enorme ser tirado
das costas dela. — Estou hospedado em um hotel aqui perto.
— Ann… Tudo bem quero dizer, desculpa. — respira fundo e me olha. Clara
está desconfortável, qualquer pessoa a dois metros poderia sentir seu incômodo por
meu irmão estar no mesmo lugar que ela. Acho que eles ainda têm algumas pendências
a acertarem.
— É… Pê nós temos aula amanhã, mas quando eu chegar vou direto para seu
hotel ou você pode vir aqui para me buscar. — digo chamando a atenção do meu
irmão, pois ele estava encarando minha amiga.
— Hum. Tudo bem. Mas antes quero conhecer seu quarto. Vamos. — diz e sei
que é para ter a “conversa”. Dou um aceno confirmando e vamos em direção ao meu
quarto.
— O que está acontecendo? — Pietro pergunta depois de sentar na cama.
— Eu o acho um pouco pequeno, mas como é só para nós duas. Não reclamo. —
digo dando de ombros e dando a resposta que ele não quer. Meu irmão olha para mim
e levanta a sobrancelha direita. Não caio na sua tentativa de me fazer falar, então ele
suspira.
— É algum garoto? — ele pergunta depois de deitar na cama.
Não quero falar de Connor com meu irmão, eu não gosto e é tão estranho.
— Pode ser que sim. Mas não quero falar sobre isso. Pode ser? — falo e Pietro
revira os olhos. Não sei o que se passa em sua cabeça, mas acho que ele quer saber
mais sobre o “dito cujo”.
— Ele fez algo com você? Quero dizer ele não bateu em você, não é Nicole?
Por que se fez eu vou chutar a bunda dele até ele não a sentir nunca mais. — ele fala
rangendo os dentes e se sentando com raiva só de pensar na possibilidade.
— NÃO. Ele não fez isso. Pelo amor de Deus... Só não demos certo. É isso, ele
nunca seria capaz de fazer uma coisa dessas. — digo séria. Não sei o que deu em
mim, mas meu instinto foi defender Connor do meu irmão. Coisa que não é para
acontecer. Eu sei.
Mas eu conheço Pietro o suficiente para saber que ele seria capaz de fazer.
Pietro Victor quando era adolescente se metia em muitas brigas e isso hoje o fez ser
um cara que sabe brigar. Muito bem.
— Então acho que você está apaixonada? — pergunta e eu aceno confirmando.
Não é que seja uma mentira, pois eu sou perdidamente apaixonada por Connor. Eu
tenho que me acostumar com a ideia.
— Você quer me contar o que ele fez para você estar desse jeito? Tudo bem eu
sei que você não é lá a garota mais vaidosa que eu conheço, mas você está horrível.
— sorrio triste com sua afirmação.
— Eu já entendi. Você e a Clara já deixaram isso bem, digamos: claro. — digo
revirando os olhos. — E não, eu não quero falar sobre o assunto. — digo e me deito
ao seu lado.
— Eu te amo. Não quero te ver assim. Muito menos quando é por um idiota que
não sabe a preciosidade que tem nas mãos. — ele diz e pega minha mão. Sorrio e o
abraço.
— Eu não sabia o tamanho da saudade que eu estava de você até te ver na minha
porta. Eu te amo e quero te agradecer por aparecer aqui hoje. Só você pode me fazer
esquecer um pouco meu relacionamento. — digo com os olhos lacrimejando.
— Eu que estou feliz em poder te ajudar. Minha Pimentinha. — diz sorrindo e
beija meu rosto. Escutamos um pigarreio e olhamos para a porta.
— É Nicole… O Connor está aqui e quer falar com você. Eu já falei que você
não quer vê-lo e eu também já falei muito com ele e quase chutei sua bunda, mas ele
não saiu e acho que não vai até falar com você. — diz dando de ombros. Só de ouvir
seu nome meu coração acelera.
— É o cara? — Pietro me pergunta e eu aceno confirmando. — Você quer falar
com ele? Pois se não, eu o vou mandar embora daqui. — ele completa raivoso. Sento
na cama.
— Deixa. Não precisa. Vai ficar com a Clara enquanto falo com ele, tudo bem?
— pergunto e eles acenam confirmando.
Depois de eles terem saído eu sento na ponta da cama e espero.
Sinto um frio na barriga com a visão de Connor entrando em meu quarto.
— O que você veio fazer aqui? — pergunto. Não olho para ele, não quero me
torturar desse jeito, mas depois que ele fala fica impossível não o observar. Ele está
encostado na parede a minha frente.
— Eu queria te ver. — diz com a voz rouca. Seus olhos estão vermelhos e daí
tiro a certeza que ele estava bebendo.
— Depois de sair com aquela vadia…
— Eu não saí com ninguém. — ele me interrompe. Sua voz está alterada por
causa da bebida.
— Você pensa que tudo vai se resolver com a bebida? — bufo. — Quanto você
bebeu? — pergunto mudando de assunto, mas a verdade é que estou feliz por ele não
ter feito o que disse que iria.
— Não sei. — diz respirando fundo.
— Deveria ir para casa dormir. — digo firme e tiro meus olhos dele. Mesmo
bêbado ele é incrivelmente lindo.
— Quem é o homem que estava aqui com você? — ele pergunta. Ele está com
ciúmes, sinto isso em suas palavras.
— Não te interessa. — digo entre dentes e me levanto. — Não quando você fica
com outras garotas estando comigo. Mesmo que não estivéssemos namorando, você
sabe que eu não aceitaria você com qualquer outra garota. — digo olhando pela
janela.
— Eu não fiquei com ninguém. Pelo amor de Deus era mentira dele. Você
prefere acreditar em qualquer um menos em mim. — diz atrás de mim. Fecho os olhos
e me pergunto como me apaixonei tão rápido por ele.
Onde foi o ponto na história que me fez gostar dele do jeito e na imensidão que
já gosto.
Viro para ele e olho em seus olhos raiados de sangue.
— Não ia dar certo. Nunca vai dar, é melhor a gente se separar agora que está
no começo do que quando já estivermos mais envolvidos. — digo com o coração
apertado.
— Não diz isso. Você sabe que isso vai acabar com a gente. Você não consegue
enxergar que eu não consigo ficar sem você nem que seja por um dia. Que eu tenho
que beber para tentar te esquecer, mas é em vão. Por que você está na merda da minha
cabeça 24 horas por dia e eu não gosto dessa merda, eu não gosto, pois, a minha
felicidade nunca dependeu de alguém. — grita desesperado. Fecho os olhos para
evitar as lágrimas, mas é em vão. Elas descem pelo meu rosto. As lágrimas são de
felicidade, pois Connor é tudo que ele falou para mim. Tudo. Ele está impregnado na
minha pele e mesmo que eu negue isso vai acabar comigo.
— Nicole? Abre a porta. Esse filho da mãe está gritando com você. Eu vou
quebrar todos os seus dentes, seu merda. — Pietro bate na porta e se eu demorar um
pouco acho que ele a derruba.
— Pietro, por favor, para. Deixa-os. — Clara tenta intervir.
— Você não ouviu o grito? Você é acostumada com seu namorado gritando com
você desse jeito? Claro que é. — Pietro fala com ela com raiva evidente na voz.
— Eu não te devo satisfação da minha vida amorosa. Seu idiota. — ela grita de
volta e quando Pietro vai responder eu abro a porta.
— Olha para mim. Eu não vou aceitar esse tipo de merda. Você me escutou,
Nicole? Nem nosso pai grita com você muito menos um idiota que acha que é seu
dono. — Pietro fala andando para um lado e outro nervoso. Mas quando fala de
Connor ele para e o encara. Vejo raiva em seu olhar e estremeço.
— Para já com essa merda Pietro Victor. Nós estávamos discutindo. Só isso.
Connor fala assim quando está nervoso. Por favor. — falo e ele volta a si. Agradeço
mentalmente por isso.
Respira fundo e me abraça. Vejo Connor desconfortável com o gesto de carinho
e reviro os olhos para seu ciúme bobo.
— Desculpa, mas quando se trata de Nicole. Eu perco a cabeça. — Pê fala
olhando para Connor. O mesmo acena o desculpando.
Depois disso Pietro e Clara saem do quarto deixando eu e Connor, sozinhos.
— Você ainda se lembra do que falei? — Connor pergunta enquanto pego uma
roupa confortável para ele. Pego uma blusa branca e uma cueca preta que estavam
aqui dele.
— Lembro, mas vamos conversar sobre isso quando você estiver sóbrio. Vá
tomar banho. — entrego a roupa e uma toalha limpa para ele. Connor vai para o
banheiro depois de acenar confirmando o que falei.
Entro na cozinha e vejo Clara sentada sozinha com as mãos na cabeça.
— Clara? Está tudo bem? — pergunto e ela se assusta com minha aproximação
repentina.
— Sim. É… Está tudo bem. — diz sem muita certeza. Olho para ela por um
tempo e a mesma começa a chorar.
— O que foi? Clara o que aconteceu? — pergunto preocupada. Ela me abraça e
chora baixinho.
— Eu não quero falar agora. Não com Connor aqui. — diz e eu acento. Mas
continuo preocupada.
A deixo em seu quarto com a promessa de voltar logo. Pego a comida que Clara
pediu antes de eu sair do quarto e levo para Connor comer e um remédio.
Entro no quarto e ele ainda está no banheiro. Coloco tudo do lado da cama e me
sento na cadeira da minha escrivaninha. Fico mexendo na internet, concentrada, até
ouvir algo cair no chão.
Olho e vejo Connor sentado na cama, acho que ele já terminou de comer, pois
não vejo a comida e o que caiu foi o copo que continha água. Levanto e o pego.
— Eu vou conversar com a Clara. Pode dormir. — digo. Connor me olha
atentamente. Ele levanta e me enlaça pela cintura.
— Você é tão linda e tão boa. Boa até demais para mim. Mas sou egoísta
demais. E eu não vou Nicole, de jeito nenhum deixar que você me afaste. — ele diz
sério. Depois beija meu pescoço, clavícula e por último minha boca.
Sinto sua língua em meu lábio inferior pedindo passagem para entrar em minha
boca. Deixo e começamos a nos beijar com saudade e desejo. Ter Connor aqui
comigo é muito bom, mas minhas dúvidas acabam comigo. Relaxo e deixo me levar
pelo momento.
Paramos o beijo com selinhos. Abro meus olhos e vejo Connor sorrir.
— Nossa conversa ainda não acabou. — digo sorrindo e saio do quarto.
Abro a porta do quarto da Clara. Sento em sua cama sem ela perceber minha
presença. Minha amiga chora baixinho. Deito e a abraço.
— O que foi que aconteceu? O Pietro fez algo? — pergunto. Pois ela ficou
assim depois que ele foi embora. Será que ele fez algo com ela? Vou matá-lo se fez.
Clara se senta e olha para meus olhos. Vejo tristeza e dúvida em seus olhos.
— Não, quero dizer sim… Ele ainda mexe comigo Nicole, eu sinto que estou
traindo Tyler. É uma coisa tão chata e ruim. Desculpa estar despejando isso assim em
você eu sei que ele é seu irmão, mas é que você é minha amiga e não tenho ninguém
aqui. Desculpa. — ela lamenta chorando.
Eu sabia que ela estava desconfortável na presença dele, mas nunca imaginei
que ela ainda ‘gostasse’ dele.
— Olha, eu não sou a melhor pessoa para te dar conselho, mas sou sua amiga e
nada que meu irmão faça vai mudar isso. Mas estou aqui para te acalmar e dar colo.
— digo e ela vai se acalmando. Quando penso que ela não tem mais nada para dizer,
ela solta a bomba.
— Ele me beijou. — diz e eu coloco a mão na boca surpresa. — Ele disse que
ainda gostava de mim. Eu o mandei embora e disse que eu amava o Ty. Nicole me diz
como vou falar isso para o Tyler? — pergunta.
— Puta que pariu. Você vai contar? — pergunto. Ela me olha como se eu tivesse
duas cabeças. — Desculpa. É que estou surpresa. É óbvio que vai falar, tem que falar.
Mas não sei como e ainda mais como ele vai reagir, pois o cara é louco por você, mas
também é louco de ciúmes. — digo a abraçando. Seus soluços ficam mais altos à
medida que eu ia falando.
— Ele vai terminar comigo. — diz. Clara se deita e chora até adormecer
comigo ao seu lado fazendo cafuné.
Saio do seu quarto e vou para o meu ver Connor. Quando entro o vejo dormindo.
Visto meu pijama no banheiro e me deito ao seu lado. Fico olhando para seu rosto e
por hoje, só por esse momento minhas dúvidas vão embora e o que mais quero é
dormir em seus braços e morar neles.
Acordo com algo pesado em cima de mim. Me sinto sufocada, começo a me
mexer, mas não consigo, abro os olhos e vejo Connor sorrindo. Dou-lhe um tapa.
— Idiota. — digo e ele vira para me prender na cama.
— O que foi que falou? — pergunta sorrindo. Reviro os olhos para sua
brincadeira.
— Que você é idiota. — digo. Ele me olha por um momento e depois sem aviso
prévio começa a fazer cosquinha em mim. — Paraaaa... Connor... — digo entre as
risadas.
Connor para e me observa rindo.
— O que foi? — pergunto. Ele está me olhando como se eu fosse sumir a
qualquer momento.
— Nada. — ele para um tempo e depois continua. — Vamos sair hoje? Quero te
levar em um lugar. — pergunta.
Aí lembro-me de tudo que aconteceu ontem. Fecho os olhos e respiro fundo.
— Eu vou viajar hoje. — digo e vejo seu semblante mudar. Ele fica
decepcionado.
— Você vai para onde? — pergunta.
— Para casa. Amanhã é feriado da independência, Connor. Você não vai para
casa? — pergunto.
— Deve ser por isso que minha mãe estava me ligando desde ontem, mas não
atendi.
— Por quê? — pergunto confusa.
— Ela percebe pela minha voz quando bebo e ela poderia querer vir aqui. Não
quis arriscar. — diz dando de ombros.
— Isso é outra coisa que vamos conversar. — suspiro e fecho os olhos. — As
coisas não se resolvem com bebida Connor. Eu não quero que você beba. — digo e
me levanto.
— Só queria esquecer Nicole. Foi só ontem. — diz chateado. Suspiro e aceito
minha derrota, por enquanto.
— Então, você vai para casa? — pergunto voltando para o assunto principal.
— Não sei. Vou ligar para minha mãe. — diz e fico me perguntando por que ele
nunca fala do pai.
— Humm. Está bem. Eu vou tomar banho. Tenho que ir para minhas aulas. —
digo enquanto pego meu jeans. Escolho uma regata branca e um moletom amarelo.
Saio do banho cerca de trinta minutos depois. Connor me olha e suspira.
— Você está linda. — diz sendo fofo. — Mas demorou demais. Na próxima vez
eu vou primeiro. — diz sendo chato. Reviro os olhos e passo por ele.
— OK. Senhor rápido. — digo em tom de ironia. Ele entra no banho.
Saio do quarto depois de me maquiar e secar o cabelo. Hoje é um dos dias que
ele está comportado. Entro na cozinha e Clara está com seu café, sentada na cozinha.
O seu semblante é calmo. Sorrio para ela e recebo como resposta uma careta devido
ao sorriso que ela queria dar.
— Como está? — pergunto.
— Eu que deveria perguntar isso a você. Nem tivemos tempo de falarmos sobre
seu relacionamento com Connor. — diz calma. — Como vocês estão? Se acertaram?
— pergunta curiosa.
Capítulo Quatorze
Nicole
Deito na minha cama e penso na garota estúpida que fui. Como pude acreditar na
Victória tanto tempo? Ela é um ser arrogante e prepotente. Eu tenho nojo dela.
Fico remoendo tudo. O dia que conheci Zack, seu sorriso foi o essencial para eu
me apaixonar, ele era lindo e cheio de vida. Alegre e brincava com tudo e todos. Hoje
isso tudo não importa para mim. Eu sinto repulsa de tudo que possa vir me fazer
lembrar dele, tal como esse quarto. Era aqui que ficávamos namorando.
Fecho os olhos e tento esquecer que foi aqui onde transei com ele.
Acordo assustada e muito suada. Olho para o lado e vejo que já anoiteceu. Olho
para o relógio e marca 23 horas e 45 minutos, lembro de Connor e pego meu celular.
Não tem nenhuma ligação ou SMS. Resolvo ligar, pois sei que ele não está
dormindo ainda. No terceiro toque uma voz feminina atende. Meu coração aperta.
— Alô.
— Connor… Onde está ele? — pergunto e escuto gritos e mais gritos. Onde ele
está?
— Ele está ocupado. Tchau.
E desliga na minha cara. Respiro um milhão de vezes tentando me acalmar.
Então resolvo mandar SMS. Ela não sabe a senha, então só ele irá ver o quão puta
estou com ele.
Onde você está?
Já correu para as putas dessa faculdade?
Quem era essa garota que atendeu seu celular?
Eu vou esperar você me responder, e eu espero que seja amanhã cedo.
Envio e o coloco em cima da mesa. Levanto e vou para a cozinha comer algo.
Depois de ter comido um sanduíche com um copo grande de suco volto para o quarto.
Olho meu celular mais uma vez e nada de Connor.
Peço a Deus para que ele não esteja com outra. Estou sendo tão patética. Isso lá
é jeito de confiar no cara por quem é apaixonada.
Volto a dormir querendo esquecer isso, pelo menos hoje. Hoje estou dando um
voto de confiança. Ele não está com outra garota, sei lá. Pode ser uma prima… Arg
prima não. Nos romances elas sempre são afins do primo lindo. É isso. Ele está
com… Não sei. Dou um grito frustrado no travesseiro e tento dormir.
Acordo com beijos por todo o rosto, quero dizer lambidas… Puta merda. Pulo
da cama e olho para o ser que estava fazendo isso. Meu Deus, ele é lindo. Quer dizer
é ele ou ela? Pego ele (a) no colo e tiro a dúvida. Ufa é ele.
O cachorrinho é um filhote de Shih Tzu, lindo. O aperto nos meus braços e faço
carinho nele.
— Gostou? — papai pergunta da porta. Olho para ele sorrindo e o abraço.
Desde pequena gostei de animais. Já tive uma cachorra, a ganhei quando tinha
três anos de idade, mas ela faleceu quando fiz dezesseis anos. Sofri muito, pois desde
pequena sempre fomos muito apegadas. Depois de sua morte não quis mais cachorro
algum. Papai sempre tentou me dar outro, mas sempre recusei então ele cansou e
nunca mais falou no assunto. Até agora.
— É para mim? — pergunto sorrindo, mas logo me lembro do apartamento. Não
podemos ter qualquer animal de estimação lá.
— Sim. Eu mesmo escolhi. Espero que goste. — diz sorrindo orgulhoso.
— Muito. Mas não podemos ter animal no Campus. — digo triste. Meu lindo
começa a me lamber. Acho que está querendo me ajudar.
— Não tem problema. Ele fica conosco, aí quando vir nos visitar você o vê.
Também sua faculdade já está perto de acabar. — diz dando de ombros. Não gosto
muito da ideia, mas fazer o que, né?
— Tudo bem. Já eu desço. Vou tomar banho. — digo e lhe dou um beijo. —
Obrigada. Eu te amo.
Papai sorri e beija minha testa. Logo depois sai do quarto.
Faço o que disse, mas com o pensamento em Connor, será que ele me
respondeu? Não peguei no meu celular com medo de não ter nenhuma resposta.
Saio do banheiro e seco meu cabelo. Faço uma make bem natural e visto um
vestido rodado florido. Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo e pego meu celular.
Respiro fundo e desço com ele na mão.
Na cozinha está minha mãe distraída fazendo… Panquecas, humm…
— Estou fazendo panquecas, sei que adora, então… Só queria te mimar um
pouquinho sabe. Estava com saudades. — diz dando um sorriso triste. A culpa me
corrói. Como deixei minha família de lado por um motivo tão idiota? Meu Deus,
como fui tão egoísta?
— Desculpa mamãe. Não irei mais ficar sem vir por tanto tempo. Eu juro. —
digo e lhe dou um beijo na bochecha.
— Para mim não tem nada. Quando acordo eles nem estão em casa, quanto mais
me dar um cachorro e panquecas fresquinhas e gostosas. Tudo para a princesa deles.
— escuto meu irmão reclamar. Olho para ele e sorrio. Ele revira os olhos e senta ao
meu lado.
— Está com ciúmes… — mamãe revira os olhos. — Deixe sua irmã em paz,
Pietro. — mamãe me defende.
— Depois quero falar com você Pietro Victor. É sério. — digo depois de me
lembrar da Clara. Raiva me vem à cabeça, meu irmão é tão audacioso.
Ele acena confirmando e abaixa a cabeça. Ele sabe o que quero falar com ele.
Mamãe nos olha com uma interrogação, mas não respondemos.
— Bom dia. — papai diz e senta com a gente a mesa. Depois disso comemos
ouvindo as brincadeiras de papai e reclamações de mamãe.
Pietro sobe para seu quarto e o sigo. Não me esqueci da nossa conversa, mas
acho que ele está tentando me despistar. Só que isso não vai acontecer.
Entro em seu quarto e sento na cama ele me olha e suspira derrotado. Viu? Ele
queria me despistar.
— Olha, eu não sei tudo sobre o que aconteceu entre vocês, mas sei o suficiente
para dizer que você não tinha esse direito. Eu estou falando isso como sua irmã e
também como amiga dela. Você não sabe o jeito que ela ficou Pê, ela gosta dele.
Muito mesmo. Ela aguentou tanta merda dele por esse sentimento que você não tem
ideia, não falo de traição, pois ele não é capaz disso. — suspiro e o vejo fechar a
cara e endurecer o maxilar. — A gente não brinca desse jeito com o coração e o
relacionamento dos outros. Você passou de todos os limites. — digo e o encaro.
— Eu ainda sou apaixonado por ela, Nicole. Merda eu nunca a esqueci. Ela
estava na minha frente e deu vontade. Porra. Eu sei que é errado e que eu não tenho
esse direito, mas foi mais forte que eu. — ele fala andando de um lado para o outro.
Eu não sei o que aconteceu entre eles e isso é uma merda, pois não posso
aconselhar alguém sem saber a história completa.
— O que foi que aconteceu de fato com vocês? Eu não sei o porquê do término
até porque quando isso aconteceu Clara viajou e ficamos sem nos falar nesse período
e quando ela voltou não tocamos no assunto. — digo dando de ombros. Pietro olha
aflito para mim.
Semicerro os olhos e ele bufa.
— Eu não fiz nada ok? Clara que pensou que tinha acontecido, mas não
aconteceu. Ela só viu uma coisa e tirou suas próprias conclusões. Eu tentei de todas as
formas explicar, mas ela nunca acreditou. — para e respira. — Agora ela vem com
essa… Essa… merda de namoro com esse idiota.
Pietro olha para mim e senta na cama. Suas mãos vão de encontro ao seu rosto e
não reconheço meu irmão. Ele nunca demonstrou tanto sentimento por alguma menina
como está fazendo agora. Mas não posso deixar meu irmão se iludir desse jeito. A
ilusão machuca mais que a verdade nua e crua.
— Desculpa te dizer isso. Deus sabe que eu não queria, mas é preciso. Ela o
ama. — ele olha para mim com os olhos arregalados. Respiro fundo e continuo. —
Não estou falando da boca para fora. Eu sei. Quando você foi embora ela veio falar
comigo para me contar tudo que tinha acontecido. Ela estava desesperada, pois tinha
traído o Ty. O nome dele é Tyler. Mas isso não vem ao caso. O que quero dizer é que
ela estava preocupada com o relacionamento dela. Eu te amo Pietro, mas tenta
esquecer ela. Esse jogo já está perdido antes mesmo de você começar a jogar. Eu falo
isso para o bem do seu coração, que tanto amo. — digo com os olhos cheios de
lágrimas.
— Eu quero ficar sozinho. Desculpa, mas, por favor, sai daqui. — diz e meu
coração aperta ao perceber que falei muito e isso o magoou.
Capítulo Quinze
Nicole
Saio do seu quarto, arrasada. Não queria magoar meu irmão, mas acho que a
verdade sempre machuca menos, pois a ignorância pode nos fazer construir sonhos
que nunca vão se realizar, nos deixando a mercê da vontade e dos desejos de outras
pessoas.
Entro em meu quarto e olho meu celular. Tem quatro chamadas do Connor e um
áudio. Clico no botão e sua voz preenche meus ouvidos. Os pelos da minha nuca se
arrepiam e eu penalizo meu corpo por reagir a ele mesmo à distância, depois de ter
outra mulher atendendo seu telefone. Merda, eu sou louca por ele.
— É lógico que não estava com outra garota. Meu Deus você só pensa isso. Eu
estava em outro lugar… Depois te explico. A garota… É… Também te explico
depois. Quando ver essa mensagem me liga. Quero falar com você. — e o áudio
acaba aí.
Filho da mãe. Senti pela voz dele que ainda está chateado pelo que falei ontem.
O que vou fazer com esse garoto?
Deito na cama e o “lindo” vem para cima de mim. Ainda tenho que escolher seu
nome. E tem que ser logo, pois vou me acostumar a chamá-lo de lindo. Arg, esse nome
é feio para um cachorro.
Meu celular começa a tocar e vejo o nome e uma foto que tirei de Connor
quando não estava olhando. Ele está sorrindo de algo que Ty falou. Ele está muito
relaxado e eu achei lindo seu jeito simples de sorrir. Saio dos meus devaneios e o
atendo.
— Oi.
— Oi. Como está?
— Estou bem. Connor…
— Eu não estava com outra garota. Por que não acredita em mim?
— Talvez seja porque outra garota atendeu seu celular e ainda desligou na
minha cara. Quem era a garota que atendeu seu celular?
— Eu vou te falar… Eu vou… Só não agora e nem por telefone.
— Eu não vou ficar te pressionando. Só não me peça para não pirar toda vez que
alguma garota atender seu telefone.
— Eu não vou. O que está fazendo? — suspiro com sua mudança de assunto
repentina.
— Estou brincando com o… — lindo começa a me lamber e isso faz cócegas.
Gargalhadas irrompem de mim.
— Que merda. Com quem você está brincando Nicole?
— Com o “lindo”. Não. Esse não é o nome dele.
— Que porra é essa?
— É meu cachorrinho. Ele é muito lindo. Mas tenho que escolher um nome para
ele, pois estou me acostumando a chamá-lo de lindo e é feio.
— Hum. Pensei que era algum primo seu.
— Humm… Ciúmes?
— Não. Quero dizer você sabe que primo sempre tem uma paixão pela prima
linda, né?
— Sim, mas meus primos não estão aqui. Mas depois vou vê-los.
— É mesmo? Que bom, acho que minha prima está lá em casa. Vou dar um pulo
lá.
— Não. Você não vai para nenhum lugar.
— Calma. Minha prima só tem quatro anos, ainda nem sabe o que é paixão.
— Idiota.
— Mas voltando para o cachorro. Já pensou no nome?
— Ainda não. Mas não quero ficar o chamando de “lindo”.
— Hum… Depois pensamos. Quem te deu?
— Papai. Fiquei muito feliz, mas triste ao mesmo tempo. Já que não vou poder
levar ele comigo.
— Por quê?
— Não é permitido animais nos dormitórios.
— Hum. Se você quiser podemos deixá-lo aqui no apartamento.
— Mentira. É mesmo? — pergunto dando pulos de alegria por dentro.
— Sim. Claro, se quiser.
— É óbvio que quero. Ele vai ficar perto de mim. É melhor.
— Então, está certo.
— Obrigada. Isso é muito importante para mim.
— Se é para você, também é para mim.
— Hum. Você vai me contar onde estava ontem? — pergunto calma. Ontem
escutei tantos gritos, sei lá fiquei preocupada.
— Vou, mas não por telefone.
— Tudo bem. Você foi para sua casa?
— Não. Minha mãe ficou chateada, mas também não insistiu. Ela me conhece
bem para não ficar me chateando com coisas que já está decidido.
— Ok. Senhor decidido. Hum... Você entende que nós nem nos conhecemos de
verdade, né? Meu Deus, eu nem sei o nome da sua mãe. Sei lá essas coisas que temos
que saber quando estamos em um relacionamento. Nós não sabemos nada um do outro.
— Fale isso por você. Eu sei tudo sobre você Nick.
— Ah é? Como o que, por exemplo?
— Sei que seu pai se chama Victor e sua mãe Cláudia. Eles são médicos e tem
um hospital que é o maior da cidade. E tem também Pietro, seu irmão. Que não gosta
nada, nada de mim.
— Ele gosta. Quer dizer não. Sei lá, ele tem medo de você me machucar…
— E você também.
— Não tenho medo. Tenho receio, mas voltando o assunto principal como você
sabe disso tudo?
— Tenho meus meios.
— Humm…, Mas quero saber mais sobre sua família. Me conte. Sei lá o nome
dos seus pais. Você tem irmão?
— Eu tenho uma irmã, Melissa e dois irmãos, Erick e Dylan. Minha mãe se
chama Samantha e é isso.
— E seu pai?
— Eu não tenho pai.
— Como assim? Você vai me contar?
— Depois. Hum… Deixa-me lembrar de algo mais… A minha mãe é muito
famosa no meio administrativo.
— Humm… Tudo bem. Já estarei preparada quando você me… Desculpa.
— O quê? Eu vou te levar lá, Nicole. Não precisa ficar desse jeito, receosa. Eu
sei que ainda não oficializamos nada, mas vou dar um jeito nisso. Como eu também
espero que você me leve para conhecer sua família.
— Meu pai falou sobre isso.
— Como assim?
— O Pietro falou de você para eles. Aí pronto, meu pai vestiu a roupa do pai
ciumento e preocupado.
— Não acredito. Seu irmão, hein? Que cara pé no saco.
— Não fale assim. Ele é meu irmão.
— Tudo bem. Desculpa, mas o que você respondeu?
— Que ainda estávamos nos conhecendo e que ainda estava cedo. Depois
pensaria nisso.
— Humm…
— O quê?
— Nada.
— Hum. Você ainda está com raiva de mim? Quer dizer chateado por ontem?
Pelo que falei.
— Nicole…
— Eu sei que falei besteira, quer dizer eu nem sei se foi isso mesmo. Eu só falei
que estava confusa. Connor a gente mais briga do que fica de bem. Você acha que isso
é saudável para nós?
— Você está querendo dizer que quer acabar o que temos por não fazer bem? O
que não é saudável, é ter que pensar e querer uma pessoa que não te quer mais.
— Eu te quero Connor e você sabe disso. Eu não quero acabar nada, mas se
nosso relacionamento se resumir a isso pode ter certeza que o fim está próximo.
— Eu sei, mas nós temos que mudar isso juntos.
— Tudo bem. Nós vamos mudar pelo nosso relacionamento.
— Humm. Ok. Merda… — começo a ouvir coisas quebrando e me preocupo.
— Connor o que foi?
— O Tyler está quebrando o quarto dele inteiro. Merda, depois te ligo. Vou ver
o que aconteceu. Beijo.
— Tudo bem. Beijo.
Eu sei muito bem o que aconteceu. Clara falou do beijo que Pietro deu nela.
Merda, ela deve estar péssima. Ligo para ela e a ligação chama até cair na caixa
postal.
— Por favor, atende o celular. Eu sei que você contou do beijo para o Tyler.
Amiga? Por favor. — peço.
Desligo e fico pensando nela. Clara deve está chorando em todos os cantos do
nosso dormitório. Ainda tem o Tyler, meu Deus ele deve estar enlouquecendo. Ouvir
as coisas sendo quebradas por ele só me fez ter certeza de que ele deve estar
descontrolado. O ciúme que ele sente não é saudável. Tenho que falar com Connor,
talvez ele possa fazer Ty ir a um psicólogo. Sei lá. Talvez os dois irão juntos, já que
Connor também não é o dos mais calmos. Respiro fundo e meu celular começa a tocar.
Tyler.
— Oi. Ty se acalma.
— Nicole… Como… Como… Ela fez isso? Eu juro que se seu irmão estivesse
aqui eu já teria quebrado todos os dentes dele. Eu tenho muita consideração por você,
mas beijar minha mulher é muito para mim e você sabe disso.
— Ty, eu entendo. Mas por favor, tenta se acalmar. Como você mesmo falou foi
ele que a beijou. Clara não tem culpa. O que foi que aconteceu? Vocês terminaram?
— A gente deu um tempo. Vai ser melhor, eu não sei o que faço com essa merda
de raiva que está no meu peito. Eu quero matar seu irmão.
— Desculpe Tyler, mas antes de qualquer um de vocês vem o meu irmão. Então
eu espero sinceramente que você esteja falando isso da boca para fora. Eu entendo
que, o que ele fez foi errado eu mesma já conversei com ele, mas ele gosta dela.
— ELE O QUÊ? Merda. Ela é minha. MINHA. — tiro o celular do ouvido, pois
ele está aos gritos.
— Tudo bem. Então eu acho que você deveria repensar o tempo que você pediu.
— O que quer dizer? Ele vem atrás dela? Ele quer tomá-la de mim? É isso?
— Eu não estou querendo dizer nada. Porra Tyler, ela te ama. Deixa de ser burro
e vai atrás da tua felicidade. — grito e ele se cala. — Tchau Ty. Eu espero que siga
meu conselho.
— Tudo bem. Tchau.
Desligo e suspiro aliviada. Quer dizer eu nem sei o que estou sentindo. Em
minha consciência eu fiz o certo, mas meu coração diz que traí meu irmão, mas
pensando pelo lado da Clara eu fiz completamente o certo, pois ela quer ficar com Ty,
eu acho. Então eu só daria esperança a meu irmão para depois ele quebrar a cara e
isso não é certo.
Isso é uma merda.
Batem na porta do meu quarto e mamãe entra. Seu semblante está tenso, tenho
quase certeza que ela vai falar algo que não me agrada. Suspiro e me sento na cama.
— Pode falar mamãe. O que foi? — pergunto. Ela se aproxima e senta ao meu
lado.
— Hoje vamos ter um jantar na casa da sua tia… — suspiro já imaginando o
que vem por aí. — Hum… Seu pai gostaria de pedir que todos nós fossemos. Você
quer ir? — ela pega minha mão e faz carinho.
A tia que ela está falando é a mãe da minha prima Victória. Mamãe sabe de tudo
que ela fez, mas acha que tudo foi coisa de adolescentes enciumados. Ela não viu o
olhar maldoso que Victória me deu naquele dia. Mamãe não sabe o mal que aquela
garota fez a minha vida e as consequências que até hoje tenho que carregar comigo.
Mas eu juro, para mim mesma, que isso não vai mais ser importante na minha
vida. Não é isso que vai me impedir de fazer o que desejo. A vida é minha e quem a
comanda sou eu.
— Sim, mamãe. — dou o meu melhor sorriso e ela sorri confirmando.
— Então ótimo. Eu estou muito feliz que essa sua faculdade esteja lhe fazendo
esquecer e aprender a lidar com certas coisas. — ela beija meu rosto e sai do quarto.
Fico um tempo preparando meu psicológico para o jantar até meu celular voltar
a tocar. Dessa vez é Clara. Agradeço a Deus por ela ter retornado à ligação e atendo.
— Oi.
— Desculpa, por não ter atendido.
— Ele me ligou.
— O Ty?
— Sim. Desabafou muito em meus ouvidos.
— Ele estava com tanta raiva, Nicole. Ele ficou com muito ódio. Ele disse que
estava com nojo.
— Ele estava de cabeça quente. Clara não liga para isso, por favor.
— O que foi que ele falou para você?
— Disse que se Pietro estivesse aí teria quebrado todos os seus dentes. Até aí
tudo bem eu entendo, mas depois veio dizendo que queria matá-lo. Me desculpa, mas
como eu falei para ele, e volto a repetir para você, ele vem antes de todos vocês.
Então não. Eu não aceito que Ty ameace meu irmão.
— Nicole…
— Clara, sei que ele não fez certo em te beijar. Eu sei. Mas…
— Amiga escuta. O Tyler só falou isso na hora da raiva. Ele não é capaz de
matar ninguém. Pelo amor de Deus.
— Tudo bem. Você tem razão, só fico fora de mim quando é algo relacionado ao
meu irmão. Você sabe disso.
— Ok. Tudo bem, mas e você e o Connor? Ontem ele saiu daqui com raiva.
— Sim, mas já conversamos. Está tudo bem. Na medida do nosso
relacionamento, quero dizer.
— Humm…
— Mas e aí como você está? Pergunto em relação ao tempo que estão dando?
— Ele falou isso também, né? Porque ele tem que ser tão teimoso. Eu falei que
não teve importância, que ele é quem eu amo, mas ele só escutou a parte que falei do
beijo. Entende? Ele é muita cabeça dura.
— Sei. É… Eu queria tocar nesse assunto. Clara eu acho que esse ciúme
descontrolado é doença. Eu não estou brincando, outro dia eu vi uma reportagem que
falava sobre isso. Depois que tudo estiver certo entre vocês toca no assunto. Isso
pode ajudar. Pensei em mandar Connor com ele também.
— Eu já pensei sobre isso, mas sempre tive receio de falar com ele. Mas vou
falar, como você mesma falou isso está muito descontrolado… amiga tenho que
desligar. Tenho que desligar vou almoçar com Gabriel e a Ley. Ela quase me arrancou
da cama quando chegou aqui depois que ficou sabendo da minha briga com Ty.
— Humm… Tudo bem. Diga a eles que mandei beijo e fale ao Gabriel que
perguntei o porquê de nunca mais ter me ligado. Estou chateada com ele.
— Tudo bem. Vou mandar o recado. Beijo. Estou com saudades.
— Também estou. Amanhã chego e fazemos a noite das garotas. O que acha?
— Acho ótimo. Vou esperar ansiosa. Beijo.
— Beijo.
Desligo, toquei no nome do Gabriel, pois, depois da boate só o vi no Campus e
ele mal falou comigo. Eu amo meu amigo, queria tanto que nossa amizade voltasse a
ser como antes. Deito-me novamente só que dessa vez adormeço.
Visto uma saia azul-escuro e uma blusa de alcinha branca junto com um colar de
pérolas. Faço alguns cachos nas pontas do meu cabelo e uma maquiagem marcando
bem os olhos e deixando a boca nude. Olho-me no espelho e gosto do que vejo. Estou
muito bonita.
Depois que dormi, mamãe veio me acordar para almoçar e passamos a tarde
fazendo coisas de mulheres. Cabelo, unha e etc. Aproveitei que fomos ao Shopping e
comprei tudo para o Lindo, agr... esse nome idiota, enfim comprei shampoo,
brinquedinhos, coleira… Tudo que um cachorro, precisa por hora, pois deixei para
comprar coisas para casa mesmo, só com Connor afinal ele vai ficar na sua casa.
Achei muito fofo de sua parte dizer que o Lin… O meu cachorrinho poderia ficar em
seu apê. Ainda estou muito curiosa para saber onde ele se meteu ontem, mas estou
tentando confiar e ter paciência com ele, é difícil, mas não é impossível.
Termino de me arrumar para ir para o jantar. Estou até calma. Espero não ter um
treco ao rever aquela criatura mal amada.
— Está pronta? — Pietro entra no quarto e me olha de cima a baixo. Acho que
estou bonita. — Que pedaço de pano é esse? Merda, quem te apresentou essas saias
tão curtas? — fala com cara de reprovação.
Pietro está muito bonito. Ele está usando uma blusa gola v branca, um casaco
preto e uma calça jeans. Lembro do que ele falou e coloco minhas mãos na cintura e
faço cara de inocente.
— Deixa de ser chato. Pensei que iria me elogiar. Dizer que estou linda, essas
coisas legais que se diz para a irmã. — digo fazendo biquinho.
— Tudo bem. Desculpa. Você está linda. — diz e me abraça.
Sorrio abertamente e seguimos para fora. Pietro não tocou mais no assunto
“beijo” e eu agradeci por isso. Não quero mais falar sobre coisas que possam o
machucar. Eu viro a vilã da história e esse definitivamente não é meu papel.
— Humm… Tudo bem. Você está lindo. Acho que hoje alguém vai dormir
acompanhado… — brinco e ele revira os olhos em divertimento.
— Vem, vamos. Mamãe e papai já estão nos esperando. — diz e me puxa para
sair do quarto.
Paro e ele me olha com uma interrogação, mas depois suaviza ao ver meus
olhos.
— Jura que não vai a deixar chegar perto de mim? Eu não quero. — digo o
implorando.
Sei que pode ser criancice para alguns, mas para mim foi algo muito maior, o
que minha prima e melhor amiga fez, foi uma decepção imensa, não por Zack, mas sim
por nossa amizade, pela confiança que eu tinha nela e não quero ter que falar com ela
e relembrar aquele momento horrível.
— Eu prometo, mas não pense nisso. Sua vida mudou, você mudou, então vamos
parar de importar com coisas sem importância no momento. Eu te amo e nada e nem
ninguém vai te magoar novamente. — diz limpando minhas lágrimas.
Saímos em direção à casa da minha tia. Mamãe está muito linda, acho que está
radiante. Ela está usando uma calça verde musgo com uma blusa florida de mangas
compridas e para arrebatar, um salto agulha nude. Papai também está lindo, ele está
com uma calça jeans e uma blusa de botão azul bem escuro.
Estamos indo em carros separados. Mamãe insistiu para irmos no mesmo, mas
eu intervi e disse que iria em meu próprio carro, o que fica aqui em casa. E que
gostaria de espaço, mas mamãe logo soube que era um meio de fuga caso as coisas
saíssem do meu controle. Digo, para mim mesma, que é apenas questão de
privacidade e tal, mas meu corpo me denuncia.
Paramos em frente à casa que conheço bem. Minha tia sempre teve bom gosto e
essa casa é a prova disso. Fico olhando a imponência dessa casa até sentir as mãos de
Pietro em minha cintura. O olho e aceno.
— Vamos. Vai ficar tudo bem. — diz em meu ouvido e sorrio com seu gesto.
— Eu te amo. — digo e lhe dou um beijo na bochecha. Ele sorri e partimos ao
encontro de mamãe e papai que estão saindo do carro.
Entramos na casa e somos recepcionadas por minha tia.
— Meu Deus, como você está linda. Seja bem-vinda, meu amor. — fala
sorrindo. Minha tia é um amor. Sempre me tratou bem e sempre teve o poder de me
deixar extremamente sem graça.
— Obrigada. Estava com saudades da senhora. — digo e a abraço.
— E de mim? Não estava Cole? — sinto um frio percorrer minha espinha ao
ouvir isso.
— Victória… — digo depois que viro e a vejo.
Capítulo Dezesseis
Nicole
Ouvir esse apelido me fez ter nojo. Tantos anos adorando ver sua amiga lhe
chamar pelo codinome que só ela usa com você, e agora ele dá apenas repulsa é algo
quase inacreditável. Olho para ela e está do mesmo jeito, só com alguns quilos a mais
que lhe fizeram muito bem, posso dizer. Sua pele branca contrasta com seu cabelo
vermelho sangue que também é algo novo. Seus olhos percorrem meu corpo e outro
arrepio passa por mim.
Olho para os lados e vejo que meus pais, meu irmão e minha tia saíram me
deixando com essa víbora. Pietro está conversando com um rapaz, que deve ser seu
amigo. Volto minha atenção para Victória. Olhar em seus olhos me faz lembrar o jeito
que falou comigo naquela noite, o jeito sujo e escroto que me olhou. Com esse
pensamento me vem uma ânsia de vômito e eu a seguro. Não vou me rebaixar desse
jeito. Não vou deixar que ela veja que está me afetando.
— Então… Não estava com saudades? — pergunta mexendo em uma mecha do
seu cabelo. Um hábito que possui desde a infância.
— A última pessoa que eu estaria com saudades no mundo inteiro seria de você.
— digo com o semblante sério.
Ela me olha com nojo, eu sei, pois é o mesmo sentimento que estou sentindo em
relação a ela.
— Vejo que guarda mágoa de mim. — respira fundo e me olha sorrindo. — Não
foi por nada prima. Eu sabia que ele não era o homem certo para você. — diz séria
com um sorriso triste.
— Isso você tem razão. Ele não é o cara certo e nunca foi, mas eu não pedi sua
ajuda. — digo sentindo o sangue subir à cabeça. — Mas pensando bem… Você me fez
um favor. Obrigada. — digo e dou as costas para ela, mas o que ela fala em seguida
faz todos os pelos da minha nuca se arrepiarem, esse arrepio não foi como os que
Connor causa em mim. Foi de medo e posse.
— Vou transferir a minha faculdade para a sua. Mamãe achou uma ótima ideia,
disse que lá é uma ótima instituição e essas coisas que você já sabe. Aproveito que
estarei lá e vou ver se seu novo namorado é homem para você. — diz e eu volto. Olho
para ela. Victória tem um sorriso debochado que se desfaz com o tapa que dou em seu
rosto. Minha mão arde e quando tiro minha mão de seu rosto, meus cinco dedos ficam
marcados nele. Essa visão para mim é perfeita.
— Eu não sou mais aquela idiota que aguentou suas merdas calada, Victória.
Então eu vou te dar um aviso… Se meta na minha vida novamente e eu vou esquecer
que tenho respeito por seus pais. — digo e ela leva a mão ao rosto chocada. Nunca fui
de bater em ninguém, mas só de pensar que ela pode querer acabar com meu
relacionamento com Connor o ódio veio com força total.
— O quê… O que você está querendo dizer com isso? — pergunta ainda em
choque, mas com raiva evidente em sua voz.
— Não estou querendo dizer. Estou dizendo com todas as letras. Você se
arrependerá de se meter na minha vida novamente. Isso pode ter certeza. — digo e
saio da casa.
Ando depressa para meu carro pensando como ela soube de Connor, mas isso é
tão óbvio, minha mãe. Fico remoendo as possíveis formas de ela ter contado, mas a
única que chego é minha mãe ter comentado com minha tia e ela contou para essa
vaca. Não acredito que Victória vai para o Campus que eu estudo. Isso só pode ser
uma praga bem jogada em cima de mim, mas eu juro que se ela se aproximar de mim
ou de Connor eu a faço engolir a própria língua. Ah, eu faço. Fico pensando nas
várias formas de matar essa piranha, mas acabo esbarrando em alguém e minha
concentração se esvai.
— Desculpa. Eu estava… — paro de falar ao ver quem era. Não acredito. Quê?
Alguém está de sacanagem comigo, não é? Só pode.
— Nicole… — Zack fala como se eu não existisse. Como se eu fosse uma
miragem.
Zack está mudado. Muito. Seu cabelo está maior e está mais malhado. Se eu não
o conhecesse e soubesse do que fez para mim poderia até dizer que está bonito, mas
nada que tem por fora compensa o que tem dentro dele. Mas seus olhos estão
diferentes, eles estão escuros. Não sei dizer o porquê, mas me bate um medo.
Seus olhos posam em mim e sinto um tremor percorrer meu corpo. Sinto-me nua
e suja.
— Não fala comigo. — digo e dou um passo para trás. Zack faz o mesmo que
eu, só que para frente. Cada passo que dou para trás, ele dá um para frente.
— Oi meu amor. Como senti sua falta. — ele fala como se nós tivéssemos nos
vistos ontem. — Vem aqui me dar um beijo. — ele diz e me agarra.
Seus braços me apertam e com o corpo me empurra de encontro à parede. Tento
me soltar mais é inútil. Ele é mil vezes mais forte que eu.
— Não. Me solta. — digo.
— Estava com tanta saudade. — ele balbucia querendo me beijar.
O pânico me domina. Ele pega em minhas coxas e vai subindo a mão. Tento
bater em seu rosto, mas ele é mais rápido.
— Zack me solta. Olha o que você está fazendo. — digo chorando.
— Você se lembra do que fizemos antes do dia que me pegou com Victória? Eu
amei. Eu quero de novo. Vamos? — diz apertando meus seios. — Vou te levar para
meu apartamento. Fica quieta. — ele sussurra e eu aceno para ele me dar alguma
brecha para que eu possa correr. Sinto um alívio ao ver que ele fará o que estou
planejando.
Zack se afasta um pouco e eu corro. Corro como nunca corri, os saltos
dificultam, mas não paro. Olho para os lados a procura de alguém, mas não vejo
ninguém. Logo sinto duas mãos em minhas costas. Sinto minha blusa ser rasgada mais
não presto atenção, pois Zack me derruba no chão e fica em cima de mim. Tento o
empurrar, mas ele pega meu seio direito e aperta com muita força. A dor é horrível.
— Não fuja. Agora vamos brincar aqui mesmo. Você foi uma garota muito má,
Nicole. — ele ruge irritado e beija minha boca. Sinto o gosto de Whisky. Ele está
bêbado.
Sinto um nojo indescritível. Sinto minhas mãos amolecerem, mas não paro de
bater nele. Sinto um alívio e depois vejo que alguém chega e o tira de cima de mim.
Sento-me e coloco minhas mãos na frente da minha blusa para cobrir minha pele
exposta. Olho para meu salvador e vejo meu irmão. Pietro bate tanto em Zack que
acho que vai matá-lo.
— Seu filho da puta. Você pensa o quê? — Pietro grita enquanto dá murros na
cara de Zack — Eu vou te matar. Nunca mais você vai olhar para Nicole. Você é um
merda. — Pietro chuta a barriga do meu ex. Por mais que eu sinta nojo e repulsa por
Zack não posso deixar que meu irmão mate uma pessoa.
— Pietro. Por favor, vem aqui. — digo em um sussurro. Pietro vira o rosto para
mim e vê como estou. Sei que isso bastará para ele parar de bater naquele doente
pervertido. Ele dá um último chute e vem ao meu encontro. — Fica comigo. Por favor.
— peço quando ele chega perto o suficiente de mim.
— Desculpa. Eu não cumpri minha promessa. Me desculpa. Foi só um momento,
eu fui falar com um colega e nem vi você sair e esse filho da puta, que raiva desse
idiota. Nicole... Me perdoa. — ele fala freneticamente e calo sua boca com meus
dedos.
— Eu não preciso desculpar nada. Você acabou de me salvar desse monstro. Só
fica comigo. — digo tremendo. — Só quero isso.
Meu irmão me abraça e fica me aninhando em seus braços. Choro
descontroladamente enquanto ele me pega e me leva para o carro. Sento no banco e
meu celular começa a tocar. O procuro e o vejo dentro da bolsa. Não vejo nem quem
é, logo rejeito a chamada. Não estou em condições de atender ninguém e se for
Connor ou Clara eles irão saber que algo aconteceu.
Pietro entra no carro e sai do estacionamento. Ficamos calados o caminho
inteiro. Minha cabeça está rodando de tanto nojo que estou do meu próprio corpo. A
única coisa que quero é tomar um banho e esfregar minha pele até o cheiro daquele
idiota sair.
Meu celular volta a tocar quando entramos na garagem da nossa casa, vejo o
nome de Connor no visor e meu peito aperta. Nem quero imaginar o que ele faria se
soubesse. Ele não vai parar até eu atender. Limpo minhas lágrimas e me acalmo um
pouco.
— Você quer que eu atenda? Eu coloco no viva-voz — meu irmão pede. Pego o
celular e coloco perto dele.
— Sim. Ele não para enquanto não atendo. — digo e meu irmão faz uma careta.
— Deixa ele. — digo sorrindo triste.
— Sim, porque você gosta mais dele do que de mim, né? — diz emburrado.
— Ai que fofo. Está com ciúmes, Pê? — pergunto sorrindo fraco. Ainda não
consigo entender como e o porquê de Zack ter feito, quero dizer, quase ter feito aquela
barbaridade comigo. Meu Deus, ele era meu namorado.
Pietro revira os olhos e atende meu celular.
— Oi. — Pietro fala seco.
— Quem está falando? Cadê a Nicole? — Connor sendo Connor. Ciúmes
correndo nas veias.
— Sou o namorado dela. — Pietro fala brincando e meus olhos quase saem do
rosto.
— Tá de sacanagem comigo seu idiota? Se você tiver tocado nela eu te mato. Seu
imbecil. Cadê minha mulher? — Connor está aos gritos. Sorriso nasce em meus lábios
ao ouvi-lo dizer isso.
— Sua mulher uma merda. Minha irmã não é mulher de ninguém. — Pietro diz
irritado. Nesse momento estou rindo. É muito maluco os ver medindo forças.
— Pietro? Olha cara não tenho nada contra você, mas não brinca comigo em
relação a sua irmã, não. Eu já estava saindo para encontrar vocês. — Connor fala
visivelmente aliviado. — Onde ela está?
— Ela não está em condições de falar. Mas depois vou pedir para te ligar, ok?
— diz irritado.
— Ok. Tchau.
— Tchau.
Olho para meu irmão e ele revira os olhos. Pietro sai do carro e abre a porta do
lado que estou.
— Vem, vamos. — ele pega minha mão e entramos em casa, calados. Até agora
estou sem acreditar no que Connor falou para Pietro, mas o melhor foi ouvir ele me
chamar de “sua” mulher. Eu fiquei feliz só com a possibilidade. Meu irmão me leva
até a porta do meu quarto e me abraça. — Você está melhor?
— Sim. Vou tomar banho e dormir. Obrigada. — digo e ele abaixa o olhar. Sei
que está se culpando, mas não foi culpa de ninguém. — Não é culpa sua. Agora vai e
dorme. Amanhã eu vou embora. — digo e ele acena confirmando.
Não queria ter que ir, mas, ao mesmo tempo, estou sonhando em deixar isso tudo
para trás. Quer dizer quase tudo. Meus pais e meu irmão, eu queria levar dentro da
mala. Mas o resto eu queria que sumisse.
Queria editar esses dois dias e apagar esses momentos chatos e que me fizeram
ficar triste, mas deixar os dias felizes como o momento que ganhei o Lindo. A forma
carinhosa como papai me presenteou significou muito para mim. Minha relação com
papai sempre foi boa, mas às vezes o trabalho ocupava sua vida fazendo com que ele
deixasse eu e Pietro de lado. Depois que fui para a faculdade ele se distanciou mais
ainda, por isso o Lindo significou tanto para mim. Esse é o momento que quero levar
para sempre em meu coração.
Vou para o banheiro, tiro toda minha roupa e entro na banheira. Pego uma
esponja e passo em meu corpo. Ainda posso sentir as mãos sujas daquele idiota em
mim.
Eu não sei o que deu em Zack. Que ele era um idiota traidor eu já sabia, mas que
era capaz de me estuprar no meio da rua? Não. Eu nunca pensei isso. No nosso
namoro ele sempre foi o cara que todas as garotas da minha idade desejavam. Ele era
romântico, inteligente, bonito e queria algo sério. Nunca imaginaria que ele pudesse
fazer algo desse tipo comigo até porque ele sempre se demonstrou paciente em
relação ao sexo.
Nem sei mais o que pensar... Como pude perder minha virgindade com alguém
tão idiota?
Saio do banho e me visto. Visto uma blusa de Connor, que eu coloquei na minha
mala. Estou com saudades dele e nem se passou tanto tempo que estamos sem nos ver.
Pego o celular e vejo duas fotos que tirei dele. Uma é a que aparece quando ele liga a
outra é a que tirei logo após essa. Ele tinha olhado na hora que apertei o botão do
capturador da câmera e sorriu. Não qualquer sorriso, era o meu sorriso.
Às vezes teimo em me perguntar como me apaixonei tão rapidamente por ele.
Esse sentimento que domina meu peito é algo tão sublime e mágico que nem sei
explicar, mas uma parte desse amor é algo assustador para mim. O ciúme. Só de
pensar que ele poderia estar com outra garota ontem ou mesmo agora que estou
pensando nele, faz meu peito apertar e uma vontade enorme de fazer a cadela engolir
todos os dentes que ela possui na boca se apossa de mim. Não sei quando vou confiar
em Connor. As coisas que ele fazia quando não estávamos ‘juntos’ me deixa muito
apreensiva.
O jeito que as garotas olham para ele e o olhar de nojo direcionado a mim é
horrível. Quando vejo olhares de ironia, minha cabeça pensa logo que ele poderia
estar com ela antes de estar comigo e isso é doentio. Ficar pensando e repensando que
ele pode ou não estar com outra garota é foda.
Afasto esses pensamentos e volto a olhar para a foto. Connor é lindo. Quando
está alegre seus olhos ficam bem clarinhos, chegam a parecer uma imensidão azul-
esverdeado que é o mar. Mas quando está com raiva é um azul-escuro que predomina.
Desse olhar tenho propriedade para falar. Quando estamos brigando esse olhar me
fulmina. Sorrio pensando em nossas brigas. Foram tantas, com um único propósito…
Chamar a atenção um do outro e conseguimos já que cá estamos nós ‘quase’ juntos
oficialmente por assim dizer.
Mas pretendo ganhar e causar mais olhares clarinhos. Sorrio com esse
pensamento. Quero que Connor seja feliz ao meu lado e vou fazer o possível para
conseguir. Lembro do que ele falou ao telefone depois que fiquei sem graça por dizer
que ele iria me levar na casa dele e sorrio... — O quê? Eu vou te levar lá, Nicole.
Não precisa ficar desse jeito, receosa. Eu sei que ainda não oficializamos nada,
mas vou dar um jeito nisso. Como eu também espero que você me leve para
conhecer sua família. Disco seu número e espero chamar. Quero ouvir a voz dele,
tudo que eu queria era estar com ele. Sua voz preenche o ambiente e eu suspiro
apaixonada.
— Oi.
— Oi. Por que seu irmão atendeu seu celular em vez de você? Aconteceu algo?
— Putz… Esqueci desse detalhe, merda.
— Nada… — digo, mas ele me interrompe.
— Nada? Você pensa que sou idiota? — pergunta calmo.
— Não, eu não acho que você seja um idiota. — digo.
— Então me responda, Nicole. — merda. Ele está preocupando e mandão. E a
Nicole está presente então.
— Uma coisa chata que depois vou explicar. Mas… Não… Foi nada demais. —
minto procurando as palavras. Ele vai perceber.
— Se não fosse nada demais você teria falado comigo ao telefone. Eu não
acredito que tenha sido sem importância, mas quando você chegar amanhã vai me
contar direitinho essa história. — diz sério. Reviro os olhos para ele. Chato.
— Tudo bem. — suspiro aliviada por ele não ficar me pressionando. Amanhã
invento algo ou peço a Deus que ele esqueça essa história. Ele não pode saber disso,
sei que ele vai querer matar o Connor.
— O que está fazendo?
— Pensando em você?
— Humm…
— E você? Onde está?
— Estou no seu dormitório.
— Quê?
— Isso mesmo. Vim para cá com Ty. Parece que ele e a Clara se acertaram…
Falando nisso seu irmão foi bem filho da…
— Preste atenção no que vai falar Connor Jones. Ela é minha mãe.
— É mesmo. Desculpe. Mas você entendeu… Como ele beija a mulher do cara?
Se fosse comigo eu nem sei o que faria com o cara. Por isso deixe sua boca linda só
para mim ouviu Nicole? — Paraliso. Merda como vou falar isso. Como do assunto
beijo veio parar aqui? — Nicole? Você ficou com alguém? — Ele pergunta surpreso.
— Não. — suspiro procurando palavras, mas caralho não tem. Eu tenho que
conversar com ele. Eu tenho que contar. — Lógico que não.
— Humm… Tudo bem.
— Voltando o assunto. O Pietro gosta dela, Connor. Eu sei que não é certo e eu
ficaria muito puta se alguma garota do seu fã clube lhe beijasse, mas ele é meu irmão
e eu já conversei com ele. Ele entendeu que as coisas não se resolvem assim e que
Clara gosta do seu MA.
— Fã Clube?
— Você só prestou atenção nessa parte? Inacreditável. — digo revirando os
olhos.
— Não. Eu só quero saber de onde tirou isso.
— De nenhum lugar específico. Só me veio na hora. Por quê? Gostou?
— Se eu disser que sim você vai ficar com raiva?
— Sim. Por quê?
— Nada. É por que não gostei. Nenhum pouco. — diz rindo.
— Idiota. Deixa eu te ver para te dar uns tapas.
— (Risos)
— Não vi onde está a graça…
— Você me bater? Isso eu queria ver…
— Pois você verá.
— Humrum. Está bom.
— Tchau.
— Que foi?
— Nada. Vou dormir. Estou cansada, a noite foi longa…
— Você saiu?
— Sim… — Como minha boca esta frouxa hoje. Merda.
— Não me disse. O que aconteceu foi quando estava fora?
— Sim, mas não quero falar sobre isso agora. — falo com um fio de voz.
— Tem algo a ver com sua família?
— Connor…
— Tudo bem. Eu também já vou dormir. Boa noite.
— Você vai dormir aí? Quero dizer, no dormitório?
— Vou esperar o Ty, mas se ele demorar vou sim. Na sua cama.
— Folgado.
— Sou mesmo, mas queria você aqui comigo.
— Amanhã vou estar. Quero ver você assim quando eu chegar. Te ligo?
— Tudo bem. Tenho que me conformar.
— Dramático.
Depois disso desligo e durmo rezando para o dia amanhecer…
Capítulo Dezessete
Nicole
Acordo cedo, mas fico na cama olhando para o teto. Ontem à noite minha mãe e meu
pai vieram aqui no meu quarto. Mas fingi que estava dormindo.
Não quero ser mais motivo de preocupação em casa. Os ouvi conversarem baixinho,
mas não consegui identificar o que eles falavam.
Minha mãe está preocupada. Isso eu sei pelo modo como tocou meu rosto ontem, suas
mãos estavam tremendo.
Será que ela ficou sabendo do que Connor fez comigo?
Não. Não tinha ninguém na rua àquela hora.
Mas tem Pietro… Ele pode ter falado.
Não acredito que meu irmão tenha falado, mas essa é uma possibilidade. Ontem ele
estava com tanta raiva que acho até possível ter falado só para papai fazer algo.
Um arrepio passa por meu corpo ao me lembrar das mãos sujas dele em minha pele.
Sua boca imunda tentando me beijar.
A vontade de tomar banho vem com força novamente. Não sei se água e produtos de
higiene serão capazes de fazer esse sentimento que tenho dentro do meu corpo passar.
Parece que está impregnado na minha pele.
Levanto e tiro esses pensamentos. Tenho que estar feliz para mamãe e papai não
desconfiarem de nada. Tomo banho e visto uma calça jeans preta e uma blusa de
manga longa cinza com uma figura do Mickey na frente. Achei muito linda, mamãe me
deu ontem.
Coloco uma bota de cano baixo e desço.
Meus pais estão sentados em seus devidos lugares. Pietro ainda não se encontra na
mesa. Sinto o olhar de mamãe e papai em mim, mas finjo que não percebi.
— Bom dia. — digo sorrindo. Um sorriso tão falso que nem sei como consegui.
— Bom dia? — papai pergunta. Merda. Ele sabe.
— Humm… Cadê Pietro? — pergunto mudando de assunto. Papai me encara sério e
eu suspiro.
— Você não vai contar? — ele pergunta nervoso e mamãe aperta sua mão para o
acalmar.
— O quê? — me finjo de desentendida. Começo a comer.
— Nicole. Para. Seu irmão já nos contou. Agora eu quero que você fale. Me diga
como foi que isso aconteceu? — ele grita. Mamãe e eu o olhamos surpresa. Papai
nunca grita isso foi algo novo e… Assustador.
— Papai… Eu não sei… Ele estava em frente à casa da titia e foi chegando. Eu tentei
me afastar, mas ele queria… — paro de falar. Minhas lágrimas já estão presentes.
Mamãe levanta e me abraça.
— Shiiiiu. Não chore. Estamos aqui agora. — diz mamãe.
— Não se preocupe. Ele vai pagar, ele vai para a cadeia. — papai fala sério. Me
levanto.
— Não. Eu não quero. Por favor, pai. Esquece isso. Hoje eu já vou voltar para o
Campus. Isso não é necessário. — digo limpando as lágrimas.
— Esquecer? Não. Você vai à delegacia dar queixa e pronto. Não vamos mais tocar
nesse assunto. — ele grita novamente.
— Não. Eu não quero e eu não vou. — grito no mesmo tom. Papai me olha surpreso,
posso dizer que até contrariado, mas logo volta a seu estado furioso.
— Você vai Nicole. Eu sou seu pai e eu sei o que é melhor para você. — diz sério
andando de um lado para o outro. Pietro desce e vê o circo armado.
— Se calem. Eu não quero ninguém brigando na minha casa. — mamãe grita. Ela olha
de mim para papai. — Victor se ela não quer, ela não vai denunciar. Ponto final. —
papai faz menção de falar, mas ela não deixa. — Se despeça da sua filha e vá para o
hospital. — diz simplesmente e sobe. Meu irmão vai atrás dela.
— O que deu nela? — pergunta papai.
— Não tenho a menor ideia… — digo e abaixo a cabeça.
— Desculpe por falar daquela maneira, filha. — papai fala. — Só enlouqueci quando
soube disso. Você é minha princesa e não quero que essa coisa horrorosa aconteça
com você. — diz me abraçando.
— Desculpa por gritar com o senhor. — digo. Ele beija meus cabelos e sorri.
— Já vou. Venha nos ver em breve. Eu te amo pequena. — diz e sai.
Passo o resto da manhã arrumando minha mala. Levei o Lindo para o Pet shop e
ganhei da minha mãe um compartimento para levar ele comigo no carro.
— Depois vou lhe visitar e trazer o carro. — diz Pietro me abraçando e apontando
para o meu carro que fica apenas aqui em casa. Estou levando ele hoje, por que Pietro
não pode ir me deixar. Sorrio.
— Espero que sim, mas… Não vá para beijar Clara. Ela já se resolveu com Tyler. —
digo e seu sorriso some. Merda. — Desculpa.
— Tudo bem. Não se preocupe isso não vai acontecer. — diz e me abraça pela última
vez. Pietro sobe e me deixa sozinha com mamãe.
— Espero que venha mais vezes. Já estou com saudades. — diz mamãe chorando. A
abraço e mais uma vez a culpa me corrói. Passar tanto tempo sem vir em casa deveria
ser um crime.
— Eu venho. Não se preocupa. — digo limpando suas lágrimas.
— Eu te amo.
Chego ao meu dormitório e logo solto o Lindo. Não vejo ninguém, nem mesmo Clara.
Vou para meu quarto e desfaço minha mala. Meu amor fica brincando com a colcha da
cama e sorrio para suas loucuras. Olho meu celular e não tem nada de Connor. Como
eu disse que ligaria quando chegasse, resolvo ligar.
Chama até cair na caixa postal. Hum, o que será que ele está fazendo?
— Oi… É… Eu acabei de chegar. Humm... Queria te ver. É isso. Quando ouvir esse
áudio me liga.
Desligo e me deito na cama. Ainda são duas horas da tarde. Almocei no caminho, mas
ainda estou com fome. Sigo para a cozinha e vejo que precisamos fazer compras,
urgente. Abro a geladeira e pego dois pedaços de pizza para esquentar. Deve ter sido
Clara que comprou ontem.
Aposto que só comeu essas besteiras enquanto estive fora. A preguiça a domina.
Batem na porta e estranho, pois se fosse Clara ela entraria logo.
Será que é Connor?
Sorrio e corro para abrir, mas logo o sorriso murcha ao ver que não é ele. Gabriel me
olha atentamente e logo um sorriso nasce em meu rosto novamente. Estava com
saudades do meu amigo.
— É… Oi. — diz sem graça. Acho que por ficar tanto tempo sem vir me ver.
— Entra. — dou passagem para ele passar e fecho a porta. — Meu Deus como eu
estava com saudades de você. — digo e o abraço.
— Também estava. Você está linda. — diz sorrindo. Ele beija minha testa e eu juro
como pensei que ele beijaria minha boca.
— Obrigada. Vem. — caminho para a cozinha e pego a pizza que coloquei no micro-
ondas. — Acabei de chegar da minha casa. — digo sorrindo.
— Fiquei sabendo que tinha ido. Espero que tenha se divertido. — diz alegre.
Meu sorriso morre. A última coisa que fiz foi me divertir, mas não vou falar isso para
ninguém. Dou um aceno e me sento para começar a comer.
Ficamos em um silêncio chato e vejo que Gabriel quer falar ou perguntar algo. Olho
para ele e ele sorri envergonhado.
— O que foi? — pergunto depois de tomar um gole do meu suco.
— Você… É eu queria te perguntar uma coisa que me falaram. — diz me olhando.
— Ok. Pode perguntar. — digo já sabendo o que vem por aí.
— Vocês estão juntos? — ele pergunta. Tomo uma respiração pesada. Ele nem precisa
falar o nome de Connor, acho que isso é tão óbvio que chega a ser ridículo.
— Desculpa. Era para eu mesma ter contado para você. — digo com a cabeça baixa.
— Isso é um sim?
— Não. Quero dizer, nós estamos nos envolvendo, mas não temos nada oficializado.
— digo o olhando.
Gabriel abaixa a cabeça e depois me olha.
— Eu só preciso saber se nada vai acontecer entre nós dois. Só isso. — diz em forma
de súplica. — Eu tenho pelo menos que perguntar. — complementa.
Levanto e fico na sua frente. Gabriel é tão lindo. É um pecado não querer algo com
ele além de amizade. Mas se é mesmo, eu sou uma pecadora.
— Gabriel… Não. — respiro fundo e continuo. — Eu gosto do Connor. Eu gosto de
você, mas você é meu amigo. — digo sentindo as lágrimas virem.
— Eu entendi. Olha não precisa se preocupar, eu conheci uma garota. Ela é legal e eu
só precisava ouvir isso de você para seguir em frente. — diz sorrindo. Ele tem um
sorriso triste no rosto.
Meu peito aperta e não sei identificar o que estou sentindo. Imaginar ele com outra
garota gostando de mim não é reconfortante e sim ruim. Não quero que ele iluda outra
pessoa. Meu Deus, o que é que estou falando? Era para eu estar feliz e o que sinto não
é felicidade. Não mesmo.
— Eu já vou indo. Tenho que me encontrar com ela. — diz. Depois me dá um beijo no
rosto e sai.
Sento no meu sofá e tento entender meus sentimentos em relação a isso, mas é tão
difícil. É tão confuso… Lindo começa a lamber meus pés e o coloco em meu colo. Ele
começa a me lamber e sorrio. Não tem animal mais esperto que o cachorro, quero
dizer, eles são tão perceptíveis. Veja meu cachorrinho… Ele veio me consolar. Ainda
não sei o que ele está consolando, mas gosto do seu jeito de me animar.
Ficamos brincando até o sono bater. Pego meu celular e vejo que ainda não tem nem
um sinal de vida de Connor. Clara então. Sabia que eu viria e não ficou em casa.
Estou chateada com ela. Sigo para meu quarto, mas escuto abrirem a porta então paro.
Sorrio cínica para os meus “amigos”. Clara e Ty estão rindo de algo que Connor falou
e só depois me veem.
— Er… Nicole? — Clara questiona.
— Não. A Branca de Neve. — digo ríspida. O que tem de errado comigo?
— Desculpe é que não sabia que chegaria tão cedo. — diz me olhando sem graça.
Levanto minha sobrancelha direita.
— Cedo? Por quê? Você queria que eu fosse embora? Ficasse lá para sempre? — falo
com raiva. Não é por nada, mas ela se esqueceu de mim depois de dois dias sem me
ver. Isso é muita coisa.
— Não. O que você tem? Eu acabei de chegar, ficaria aqui com os meninos e você
fica desse jeito comigo. — ela fala ofendida.
— Não se preocupe. Pode ficar aí já estava indo para meu quarto. — digo e sorrio.
Faço o caminho do meu quarto e vejo que Connor e Tyler ainda estão olhando feitos
uns idiotas para nós duas.
Bato a porta do quarto e a tranco. Deito na minha cama e já sei, quer dizer eu sinto o
motivo para eu ter feito esse barraco todo.
Menstruação. Arg
— Nicole? Abre à porta eu trouxe seu remédio. — escuto a voz de Clara longe e aos
poucos vou acordando. Acho que ela deduziu o meu estado pela falta de educação de
minha parte hoje mais cedo.
Depois que vim para o quarto, tomei banho e dormi feito um anjo.
— Já vou… — digo e abro a porta. Não presto atenção na minha roupa até que vejo
Clara tampar os olhos do Ty.
— Nicole? Merda. — Clara fala.
— Desculpe, mas manda ele sair que eu não vou vestir nada que me aperte. — digo e
puxo minha regata para cobrir minha bunda. Estou só com uma regata e calcinha.
— Que merda. Tira esse idiota daqui. — Connor empurra Tyler para fora do quarto.
Pego o remédio e tomo. Volto para a cama e me deito. Lindo sai debaixo da coberta e
encosta-se a mim.
Olho para Connor e ele está puto de raiva. Não sei por quê.
— O que foi? — pergunto impaciente.
— Nada. Talvez seja porque você estava nua na frente do meu melhor amigo que é
homem. Então não é nada. — diz debochado. Ele fecha a porta do quarto por onde
Clara saiu que eu nem vi.
Ele senta na cadeira da escrivaninha e fica me olhando.
— Connor eu estou cansada e com cólica. Então siga o meu conselho e se junte aos
outros do lado de fora. — digo e coloco o travesseiro no rosto.
— Eu não vou sair daqui. Eu estava sentindo sua falta nesse quarto. — diz.
— Não. Você não estava sentindo minha falta, mas eu sim. Eu estava sentindo falta de
você. — digo com raiva.
— Lógico que eu estava. De onde tirou isso? — pergunta.
— Eu não sou mágico para tirar as coisas de outros lugares. — respiro fundo. — Eu
te liguei. Eu deixei um recado no seu celular. Se você estivesse com saudades. Você
nem teria o desligado.
— Nicole… — ele não termina.
Levanto-me e sigo para a porta.
— Eu quero dormir. Desculpa, mas sai. — digo e abro a porta.
Connor levanta e fica na minha frente. Seus olhos me fitam e depois ele dá um longo
suspiro. De repente ele se aproxima mais e beija meus lábios. No começo fico
tentando não corresponder, mas é tão difícil quando eu estou com tantas saudades
dele.
Abro um pouco a boca e sua língua começa a reivindicar a minha. Chupo seus lábios e
trago sua cabeça para mais perto de mim. As mãos de Connor passeiam pelo meu
corpo e minha excitação está a mil. Já ouvi falar que a menstruação nos deixa mais
sensíveis, assim o prazer fica mais intenso. Sim. Isso é verdade.
Connor me pega no colo e me deita na cama. Tiro sua blusa branca e admiro sua
barriga lisinha. As tatuagens a deixam mais charmosa e sexy. Volto a beijá-lo, mas
logo ele tira seus lábios dos meus e começa a trabalhar no meu pescoço com beijos e
mordidas.
— Você é tão linda… Tão cheirosa Nick. — Connor sussurra em meu ouvido.
Sinto sua ereção na minha barriga e arfo. Connor tira minha blusa e vê meu sutiã.
— São lindos. — diz sorrindo ao ver meus seios depois de tirar a peça que o cobria.
Voltamos a nos beijar e lembro que estou menstruada. Inferno! Paro de beijá-lo e pego
minha regata para me cobrir. Connor me olha sem entender e se senta na cama.
— Desculpa. Foi rápido demais. — diz e pega sua blusa que estava no chão, não me
pergunte como foi parar lá. Eu não sei.
— Não. — grito. — É... Eu quero, É que… — respiro fundo. — Estou no meu
período. — digo sentindo a vermelhidão dar “olá” ao meu rosto.
Connor sorri e vem para perto de mim.
— Ah é. Você está menstruada. — diz e sorri.
— Para. Não fala. — digo escondendo o rosto.
Connor gargalha e me abraça. Me dá um selinho e me olha sério.
— O que foi? — pergunto ao ver seu semblante mudar.
— O que aconteceu ontem? — pergunta e eu engulo em seco. Olho para algum lugar
sem ser seu rosto. Não vou conseguir mentir na cara dele.
Connor traz meu rosto para o lado fazendo com que eu tenha que o olhar. Fecho os
olhos e suspiro.
— A história é longa. — digo esperando que ele não queira ouvir.
— Estou esperando. — diz e senta ao meu lado. Merda. Sento-me e olho minhas
unhas.
— É eu conheci meu ex na escola ainda. — digo e olho Connor. Ele está neutro só
esperando que eu continue. — Nosso namoro sempre foi legal? — saiu mais como
uma pergunta. — Eu perdi minha virgindade com ele, mas no outro dia terminei com
ele. — digo e Connor suspira passando a mão pelo cabelo. Acho que ele não está
gostando.
— Continua. — ele diz sem me olhar.
— O motivo do fim foi minha prima. Ela era minha melhor amiga e no dia após eu ter
dormido com ele, fui a uma festa e eles estavam ficando. Ela estava nua com ele. Não
fiquei tão magoada com ele, mas com ela e foi o fim. Eu a odeio até hoje, ela me traiu
e ainda teve coragem de esfregar na minha cara. — digo com dor no peito.
— Sinto muito, mas e ontem? O que aconteceu ontem? — ele pergunta novamente.
Como vou falar isso, merda?
— Ontem eu a vi. Fiquei neutra, mas logo ela me fez perder a cabeça. Sai de lá o mais
rápido que pude. — digo e Connor me olha.
— Foi isso? Você estava nervosa e não queria falar comigo por isso? — pergunta
sério. Ele sabe que tem algo a mais.
— Não. — digo e suspiro. — Eu encontrei o meu ex.
— E o que mais?
— Ele falou comigo… Estávamos em frente à casa da minha tia, mas não tinha
ninguém na rua. Eu tentei sair, mas aí ele tentou… — digo e mordo meu lábio tentando
parar as lágrimas. Só de lembrar meu estômago revira. — Connor… — digo seu
nome em forma de súplica.
— Ele tentou? — fico calada e ele explode. — Quem é esse filho da puta, Nicole?
Ele tocou em você. Ele tocou. Eu vou matar ele. Quem ele pensa que é para tocar em
você? — ele começa a andar de um lado para o outro e eu me encolho mais. Ele está
com tanta raiva. Suas mãos estão fechadas em punho e sua mandíbula está rígida.
Fecho os olhos e tento me acalmar. Logo escuto algo quebrando e vejo Connor
jogando meu abajur na parede. Levanto e fico na sua frente.
— Por favor, se acalma. — digo segurando seu rosto com minhas mãos. — Amor…
Por favor. — digo e ele respira fundo. Connor tira minhas mãos do seu rosto e
recomeça a andar de um lado para o outro.
— Ele te tocou Nick? Ele chegou a te obrigar a fazer algo com ele? — pergunta
olhando para um ponto inexistente.
— Não. O Pietro chegou e tirou ele de cima de mim. — digo e ele relaxa. — Não
precisa ficar assim. Não chegou a acontecer. — digo para tentar o acalmar.
— Eu não estou acreditando que isso aconteceu… — ele fala mais para si mesmo do
que para mim. Olho para minhas mãos com medo dele ficar com raiva de mim. —
Olha para mim. — diz e levanto a cabeça.
Connor me olha por um instante e me abraça. Soluço e aqui, nos braços dele, me sinto
protegida. Os braços de Connor são minha casa. Meu refúgio.
— Não chora. — ele diz e limpa meu rosto. Connor beija meus lábios com um
selinho. — Era por isso que você não queria ficar comigo? Por causa da traição? —
pergunta e eu saio dos seus braços e volto para a cama.
— Não somente por isso, você é um forte candidato para quebrar o que restou do meu
coração, mas sim. Era por isso também. — digo e Connor senta na minha frente. Ele
pega, minhas mãos e a beija.
— Eu não vou fazer isso com você. Não precisa ter medo. A gente vai ser diferente.
Eu juro. — ele fala e sorrio. Sinto a sinceridade em suas palavras e eu acredito. Sim,
eu acredito que com a gente vai ser diferente.
— Eu sei. — digo e o beijo. Seus lábios se abrem dando passagem para minha língua
acariciar a sua. Nossas línguas dançam em perfeita sincronia. Paramos o beijo com
selinho e sorrimos.
— Quero te levar em um lugar hoje. — ele diz sorrindo.
— Qual? — pergunto.
— Você vai ver quando chegar. — diz e levanta.
— Espero que não tenha outra Rebecca nesse lugar. Estou cansada dessas vadias. —
Digo limpando os resquícios das minhas lágrimas e ele gargalha. Idiota.
Capítulo Dezoito
Nicole
Saímos do meu dormitório logo após eu ter tomado banho e trocado de roupa.
Peguei uma calça jeans vermelha e uma blusa branca com meu casaco preto. Uma bota
cano baixo com salto. Depois do que falei, Connor me beijou e ficou rindo. Se fosse
comigo eu queria ver o que ele falaria.
— Vamos logo, mulher. — Connor reclama enquanto ando pelo estacionamento
em direção a sua moto.
— Estou indo. Não sei se reparou, mas estou de salto e não posso correr. —
bufo. Ô garoto chato.
— TPM é foda. Você sempre fica assim? Quero dizer, sempre quando esta
menstruada fica desse jeito? — ele fala e ri da cara de horror que fiz.
— Parou. Que brincadeira mais legal… — ironizo. — E sim, eu fico sempre
com esse humor maravilhoso. Agora deixa de ser idiota. — digo o vendo subir na
moto. Connor sorri e puxa minha cintura me prendendo perto dele.
— Você fica vermelha quando falo isso e eu adoro quando está envergonhada.
— ele sorri e eu reviro os olhos.
Abro meus lábios e sua língua invade minha boca e eu a chupo com vontade.
Não estou mais aguentando esse desejo que sinto em relação a Connor, ele me
preenche de um modo quase que sufocante. Puxo seu cabelo com o intuito de fazê-lo
chegar mais perto de mim. Connor geme em minha boca e eu paro o beijo. Porra
minha calcinha já está encharcada.
Suspiro e encosto minha testa na dele.
— Vamos. — ele diz. Como ele se recuperou tão rápido? Merda. Subo e me
sento na moto. Como já aprendi a colocar o capacete, e eu mesma o coloco.
— Aonde vamos? — pergunto quando ele sai do estacionamento.
— Você vai ver. — fala fazendo segredo. Com isso ficamos calados o caminho
inteiro.
Desço da moto e olho ao redor. Eu juro que o último lugar que eu achei que ele
fosse me trazer seria…
— Um parque de diversão? — pergunto com um sorriso bobo no rosto.
Quando eu era criança esse era meu passeio favorito. Olho para a roda gigante
com aquelas luzes hipnotizantes e me imagino ao lado da mamãe e do papai correndo
atrás de Pietro que amava estar lá no alto para observar as luzes da cidade a procura
da nossa casa. Meu Deus, nós crescemos muito rápido.
— Sim. Eu adoro e pelo brilho nos seus olhos posso dizer que você também. —
sorri e pega minha mão me levando em direção a um carrinho de pipoca.
— Sim. Me lembra uma época muito boa. Minha infância. — digo enquanto
compramos pipoca.
— Humm… — Connor suspira.
Ficamos andando de um lado para o outro vendo as crianças brincarem nos
cavalinhos e carrinho de bate-bate. Observo Connor e o sinto nervoso, mas não sei
identificar o porquê.
Será que ele viu alguma das “fãs” dele aqui e não quer me contar com medo de
eu pirar?
Não. Por favor, hoje não. Estou sinceramente cansada dessas garotas.
— O que foi Connor? — Ele me olha surpreso depois de pararmos de andar em
direção a algum brinquedo. — Aconteceu alguma coisa? — pergunto.
Será que fiz alguma coisa que o incomodou?
— Nada. Em qual você quer ir? — ele muda de assunto. O questiono com uma
cara de “Em quê?” ele suspira. — Nos brinquedos. E aí qual vai ser? — pergunta
agora sorrindo.
— Você escolhe. — digo tentando mudar o clima tenso que estava entre nós.
Sorrio e ele me puxa para a roda gigante. — Não acredito. Você quer ir logo nela? —
pergunto vendo a altura dela. Não é por nada, mas vai que algo dá errado e ela quebra
comigo lá em cima.
— Você tem medo? — Ele pergunta terrivelmente surpreso.
— Não! Quer dizer… Um pouco. — suspiro. Ai que chato. — Tudo bem. Eu
tenho. — digo me dando por vencida.
— Você tem medo! — ele fala e sorri muito largo. Ele vai me fazer ir. O meu
Deus.
— Então… — digo tentando fazê-lo mudar de brinquedo.
— Eu vou te proteger, minha Princesa. Agora vem. Vamos ver o céu de perto. —
ele fala sorrindo e eu me derreto quando ele me chama de princesa.
Sigo Connor até a fila e ficamos abraçados esperando nossa vez. Fico mexendo
nas unhas de nervosismo. Connor me olha e sorrir tentando me acalmar. Suspiro e vou
me acalmando aos poucos.
Quando chega a nossa vez Connor sussurra algo no ouvido do homem que fica
recebendo os bilhetes. Tenho até medo de perguntar o que foi que ele falou.
Pouco tempo depois já esqueci, pois temos que entrar. Connor pega minha mão e
entramos em uma cabine. Sento-me e vejo Connor se sentar ao meu lado. Coloco
todos os equipamentos que servem para manter nossa segurança. O que não é muito,
diga-se de passagem. É apenas uma barra de ferro e a porta que deixa a cabine um
tanto quanto mais “segura”.
Connor pega minha mão e a beija. Olho em seus olhos e vejo seu azul mais claro
puxado para um verde-esmeralda que amo. Esse tom diz que está feliz e eu me sinto
realizada por ser eu a mulher que o faz se sentir dessa forma.
Aos poucos o medo se dissolve e a única coisa que importa de verdade é ele. É
Connor.
Beijo seus lábios gélidos por conta do vento frio. Logo sinto sua língua quente
esquentar meus lábios. Connor me puxa para mais perto e faço meu caminho para seu
pescoço. Mordo e dou beijos molhados por sua pele quente e macia. Ouço seu gemido
e sorrio me sentindo vitoriosa.
— Nick… — ele não consegue terminar, pois sento em seu colo e volto a beijar
sua boca. — Nick… — ele fala entre nosso beijo.
Separo-me de sua boca deliciosa e olho para seus olhos.
— Senta no seu lugar ela vai começar a rodar a qualquer segundo. — assim que
ele acaba de falar a merda começa a mexer. Dou um pulo de susto e volto para meu
lugar.
Seguro-me na barra de ferro e tento esconder meu rosto olhando para as
estrelas. Até que escuto uma risada.
— O quê? — pergunto. Ele tenta sufocar o riso, mas não consegue. Eu não sei o
porquê, mas eu acho tão engraçado o ver rindo desse jeito espontâneo que me junto a
ele.
Gargalhamos quase sem parar até que a roda gigante para. Olho para Connor
com os olhos arregalados. Não estou acreditando nisso. Começo a entrar em pânico.
Eu sabia que não era para ter vindo nesse brinquedo estúpido.
— Por favor, diz que é mentira. Meu Deus, por que eu? Por quê? Eu fiz algo
muito ruim? — começo a chorar e olhar para baixo ao mesmo tempo. — Connor nós
vamos morrer... Morrer. NÃO! Eu não posso. Eu ainda quero me casar, ter filhos. Eu
quero ter um NETO. — grito com lágrimas nos olhos. Connor olha espantado para
mim, mas sou eu que estou espantada por ele estar calmo assim vendo a morte a sua
frente.
Connor senta mais perto de mim e me abraça.
— Se acalma, ok? — Ele diz, mas arregalo os olhos para ele. Como assim se
acalma? Esse idiota ainda não viu que ela parou com a gente aqui? — Nicole se
acalme agora. — diz sério e eu respiro fundo tentando me acalmar.
— Tudo bem. Eu estou calma. — digo e tento sorrir, mas vejo que ainda
estamos parados e o pânico está voltando…
— Eu só quero te fazer uma pergunta. Ok? — Ele diz numa calma que tenho
vontade de socar a cara dele.
— Tudo bem. Vai logo. — digo impaciente.
— Você se lembra quando nós nos conhecemos? No estacionamento do meu
prédio? — ele fala calmamente. — Quando eu te vi aquele dia, eu fiquei parado
tentando assimilar o que estava acontecendo comigo. Foi algo surreal, quando olhei
em seus olhos, algo me fez te desejar de uma forma assustadora e isso me incomodou.
Você era uma estranha e aí mexeu daquele jeito comigo. Eu não quis aceitar e não
aceitei até ver que se eu não aceitasse você seguiria em frente e ficaria com outro cara
e não, eu não quero que você seja de mais ninguém. Eu quero que você seja minha,
quero dizer, na minha cabeça você já é, mas como hoje tudo temos que oficializar nem
que seja só por meio de palavras, então resolvi… Merda eu estou muito nervoso. —
ele suspira e passa a mão pelo cabelo de nervoso. — Você quer namorar comigo? —
levo um susto ao ouvir aquilo.
Eu não estou acreditando. Ele está se declarando? Não acredito. Olho para seus
olhos e não sei o que falar. Merda. Pensa, Nicole pensa.
— Como assim, Connor? — pergunto me sentando de lado para olhar para ele.
— Esse treco pode cair a qualquer momento e você diz isso agora? — pergunto
incrédula. Eu queria que estivéssemos no chão. Eu pularia em seu colo e beijaria sua
boca até o amanhecer.
— Amor… — sorrio. Ele fica envergonhado, mas continua. — Eu pedi para ele
parar um pouco o movimento, mas como estamos demorando ela já vai voltar a rodar
antes do final da parte em que você vai responder. — ele diz sorrindo. Dou um tapa
em seu braço, mas suspiro aliviada.
— Então ainda terei filhos? — pergunto sorrindo.
— Sim. Quero dizer… Depois conversamos sobre isso, ok? — diz
desconfortável. Será que ele não quer ter filhos… CALMA Nicole. O cara acabou de
te pedir em namoro e você já está pensando em filhos? — Mas então me responde.
Você quer ser minha namorada? — assim que ele repete a pergunta a roda gigante
começa a rodar novamente. Ele revira os olhos e sorrio.
— Eu sou sua desde o momento em que senti meu coração ser rasgado ao ver
seus lábios em outra boca que não era a minha. — digo e sorrio. Connor me coloca
sentada em seu colo e dou um selinho nele. — Eu já sou sua Connor, eu sempre fui e
sempre vou ser. — digo sorrindo.
— E eu sou seu. Para sempre seu. — ele suspira e parece lembrar-se de algo.
— Agora você é oficialmente a minha namorada. — ele diz surpreso. Reviro os olhos
para ele.
— Não que é como se a gente não se tratasse como tal não é, Connor? —
ironizo para ele. Ele revira os olhos para minha brincadeira.
Connor pega o celular do bolso e eu fico sem entender. Para que ele quer a
merda desse celular uma hora dessas?
— Para que o celular? — pergunto confusa. Não era para ser uma aliança?
Questiono-me frustrada.
— Hoje isso vale muito mais que uma aliança no dedo. — ele fala como se
lesse meus pensamentos. Connor sorri e complementa ao ver a interrogação ainda
presente em meu rosto. — Amor… Rede social… Status… — ele fala. Sorrio para
ele. Só Connor para pensar nisso.
— Ah,... Entendi. — digo e pego o meu. Entro em meu Facebook e mudo meu
estado civil de solteira para namorando.
Entro no perfil dele e vejo sua atualização.
Connor Jones está em um relacionamento sério com Nicole Mitchell.
Sorrio igual a uma boba. Agora sim nós somos NAMORADOS.
— Agora vem aqui. Quero sentir sua boca até esse brinquedo parar. — Connor
fala puxando minha cintura de encontro a ele.
Connor brinca com meu lábio inferior dando chupada e mordida. Ele passa sua
língua pelos meus lábios fazendo o desenho deles. Envolvo minha mão em seus
cabelos e o puxo para mais perto. Ele passa suas mãos pelo meu corpo como se
quisesse memorizar cada curva que ele possui. Sua mão esquerda apalpa minha bunda
enquanto a outra sobe para meus seios.
Sinto seu membro rígido e começo a me mexer em cima da sua calça. Meu
namorado desce a alça da minha blusa depois que tirou a jaqueta. Meu sutiã fica
exposto e Connor beija meu colo. Cada beijo que recebo é um gemido que dou. Ele
me olha e depois desce a alça da minha peça íntima. Meu seio esquerdo salta para
fora e Connor lambe os lábios. Suspiro em expectativa.
Connor segura meu seio com a mão e um gemido escapa da minha garganta ao
sentir sua pele gelada em contado com a minha, quente de desejo. Connor esfrega com
dois dedos o bico do meu seio e prendo o grito na garganta.
Contínuo a me esfregar no colo de Connor e ele segura minha cintura com a mão
que não está no meu seio. Sinto sua língua acariciar o bico e quase morro de
excitação. Puta que pariu.
Sua boca suga meu seio com vontade e eu seguro seus cabelos o mantendo no
lugar. O membro de Connor já está enorme e tão duro que acho que está até mais que
uma pedra. Minha calcinha está tão molhada.
Connor desce a outra alça e meu outro seio pula para fora. Ele sorrir e o pega.
— Nick… Eles cabem direitinhos na minha mão. — ele fala e segura cada seio
em uma de suas mãos. — Eles são tão saborosos. — Ele fala próximo ao bico do seio
libertado e o ar quente da sua boca me faz delirar.
— Connor... — imploro.
— O que você quer linda?
— Por favor...
— O quê? — Ele me olha sério e... Se fosse possível, fiquei ainda mais
excitada.
— Chupa. Agora. — digo e ele abocanha meu seio com carinho, mas com uma
pegada forte que me faz delirar de prazer.
Sua mão desce pela minha barriga e faz o caminho do meu núcleo. Por cima da
calça Connor passa os dedos no meio das minhas pernas. Contraio meu ventre ao
sentir sua boca e sua mão em meu corpo de uma vez só.
Connor chupa e faz círculos em minha intimidade ao mesmo tempo. Sinto um
arrepio passar por mim e eu grito de prazer.
Connor ainda está com a boca em meu seio. Ele olha para mim e sorri. Sua boca
se afasta do meu seio, olho para eles e os vejo vermelhos.
— Adorei chupar seu seio… — ele fala sedutoramente e eu fico vermelha.
Tento sair do seu colo, mas ele me segura. — Não precisa ficar envergonhada. Nós
somos um casal. A gente faz isso e é bom. Só isso. Entendeu? — Ele pergunta.
— Desculpa. Você está certo é só que tudo isso é novo para mim. — digo e
Connor sorri e acena. Ele olha mais uma vez para meus seios e dá um beijo em cada.
Suspiro ao sentir o molhado tocar minha pele.
Ele mesmo sobe meu sutiã e devolve meus peitos ao local de origem. Coloca
minha blusa no lugar e veste minha jaqueta.
Será que ele gozou? Eu nem fiz nada para ele se aliviar. Merda como vou saber?
— O que está pensando Nick? — ele pergunta enquanto mexe em meu cabelo.
Seus dedos estão enrolando a ponta dos meus longos fios.
— Humm… É que você não gozou… Você está chateado? — pergunto morta de
vergonha.
— Não precisa disso, linda. Nós vamos ter tempo para eu me aliviar depois. —
ele diz e pisca para mim. Sorrio imaginando a próxima vez.
— Ei casal… Já podem descer. — O homem que controla a roda-gigante fala da
porta da cabine. Nem percebi que o brinquedo tinha parado.
Saio de cima de Connor morta de vergonha. Será que o homem viu a gente se
tocando? Quero dizer, o Connor me tocando? Quando estou entrando no mundo
vermelho ao extremo de vergonha escuto a voz de Connor.
— Não. Ele não viu nada. Relaxa. — ele diz e beija meus lábios. Sorrio e
saímos da cabine. Connor dá algumas notas de 50 para o homem e me pergunto onde
Connor tira dinheiro, acho que contei umas cinco notas de cinquenta.
Depois descubro isso.
Seguimos desviando da fila onde pessoas esperam sua vez para ir à roda-
gigante.
— Você quer comer algo? — Connor pergunta envolvendo minha cintura com
seus braços.
— Quero. Mas o que você quer? — pergunto colocando minhas mãos em seu
pescoço.
— Humm… Hambúrguer. — diz fazendo caras e bocas para enfatizar seu
desejo. Rio dele.
— Mac? — pergunto e ele acena.
— Sim. Mac. Vamos. — responde e vai me guiando para o estacionamento onde
deixamos sua moto.
Connor para de andar e fica tenso. Com sua parada abrupta eu acabei me
chocando com suas costas.
— Connor… — Escuto uma voz grave falar o nome dele e saio de trás dele.
Vejo o homem que falou com ele. Sua altura é a mesma de Connor, ele tem
bastante músculos, mas não exageradamente. Seus olhos viajam por meu corpo e me
sinto invadida. Connor pega minha mão e me coloca ao seu lado.
— Jason… — Connor fala com tom de desgosto na voz.
— Não vai me apresentar a belezinha da noite? — Jason pergunta a Connor com
um sorriso irônico no rosto. Não acredito que ouvi isso.
Connor me solta e vai para perto do rapaz. Seu rosto fica muito próximo ao dele
e os dois se encaram.
— Se você não quiser que eu quebre sua cara. Peça desculpa a ela. — Connor
rosna e o tal de Jason dá um passo para trás.
— Cara eu estava apenas brincando… Desculpa aí linda. — ele fala sorrindo.
Aceno o desculpando. — Até amanhã Connor. — e sai me deixando confusa.
— Quem é? — pergunto.
— Um conhecido… Desculpa pelo que ele falou. — Connor fala e eu aceno. —
Vamos? — pergunta.
— Para onde? — pergunto confusa.
— Mac? Comer Nick. — ele diz e me lembro. Lógico. Estava tão concentrada
em saber quem era o sujeito que esqueci que estava com fome.
— Sim, sim. — suspiro e balanço a cabeça para afastar os pensamentos sobre
esse cara. — Vamos. — digo e ele me dá um selinho.
Seguimos para o Mac em sua moto. Ao chegarmos sentamos em uma mesa e
fazemos nosso pedido.
Minha cabeça está se roendo para perguntar a Connor de onde ele conhecesse
aquele cara. A raiva que ele sentia dele não era algo normal, mas não vou perguntar,
pelo menos não agora.
— Connor, seu filho da mãe. — escuto uma voz feminina falar e viro para ver
uma morena de cabelos pretos e curtos. Ela olha para Connor chateada. Quem é essa?
— Carol… Oi para você também. — Ele diz revirando os olhos.
— Você me deixou sozinha ontem. Eu fiquei lá sozinha até Vanessa ir me buscar.
Isso não se faz. — diz agora fazendo bico.
Que porra é essa?
Connor olha de mim, para ela e eu me levanto.
— Nicole…
— Eu quero uma explicação… Agora!
Capítulo Dezenove
Nicole
Connor continua onde está olhando para o guardanapo que está sobre a mesa. Ele não
vai falar. Eu não estou acreditando... Deve ser um sonho estúpido, quero dizer, um
pesadelo estúpido.
— Desculpa... É… Eu vou indo. — a tal de Carol se pronuncia. Ela dá um passo para
trás, mas antes que saía eu seguro seu braço.
— Não. Você vai ficar. — digo com ódio escorrendo pelas minhas veias. Essa idiota
pensa o quê? Que vem aqui fala o que provavelmente será o motivo do fim do namoro
que começou a menos de duas horas e vai embora? Ah, não vai mesmo. — Eu quero
saber onde ele te deixou. Agora. — digo olhando séria para ela.
Carol olha para Connor e ele me olha sério.
— Nicole deixa a garota em paz. — ele fala calmo não querendo que ela responda.
Volto a olhar para ele.
— Ou você me explica essa história Connor ou ela vai. — digo alto o suficiente para
ele entender que estou com muita raiva.
— Nicole...
— Você acha que vai dar certo? — pergunto e vejo-o arregalar os olhos. — Me
responde. — grito e a atenção de todos estão em nós.
— Nicole para de fazer escândalo. — Connor fala e suspira.
— Pois eu te respondo. Não. Nosso relacionamento não vai dar certo. Não com você
me escondendo as coisas… Você estava com outra garota ontem e quer que eu pare de
chamar a atenção dos outros? Se eu estivesse com outro cara ontem, ele, com certeza,
não conseguiria falar por você ter quebrado os dentes dele. Mas como era você eu
não posso falar nada. — suspiro e pego minha bolsa. — Eu não vou esperar por
alguém que não confia em mim. — digo e saio em direção a porta.
Não estou acreditando no que está acontecendo. Ele estava com outra. Com a tal de
Carol mais precisamente. Quando perguntei a ele pelo celular quem era ela, a garota,
ele disse que depois me falaria, mas até agora nada. Eu me abri com ele. Contei
coisas da minha vida que nem mesmo Clara sabe ainda, e é isso que ele me dá em
troca? O silêncio.
Ele não confia em mim.
— Nicole. — ele grita e presumo que está vindo atrás de mim.
Continuo andando e saio pela porta, paro um táxi que passava na rua e quando penso
que já fugi dele e estava entrando no carro sua mão pega meu braço, me fazendo parar.
— Me solta. — digo encarando ele.
— Nunca mais fale que não daremos certo. — ele diz sério. Abro a boca para
respondê-lo, mas ele não deixa e continua. — Nós vamos. Eu juro que vamos. — ele
promete, mas não me convenceu. Não me convence quando sei que ele me esconde
coisas que eu deveria saber. Como vamos dar certo assim?
— Eu disse isso, não por não querer que nosso namoro funcione, por que sim, eu
quero. Mas sim por ver. Eu vejo que ele não vai funcionar se continuar assim…
Connor, você não consegue nem mesmo me falar a verdade. Eu te contei tudo, mas
você não. Você não fala da sua família, você não fala o que faz quando me deixa em
casa e principalmente você não me explica o que estava fazendo com aquela garota e
aonde. — suspiro e limpo a porra de uma lágrima que desceu. — Eu não vou ficar
num relacionamento que fico às escuras. Que eu não sei o que meu namorado faz da
vida. — digo e Connor tem uma expressão de dor no rosto. Eu só falei a verdade.
— O que você quer dizer com isso? — Ele fala me olhando surpreso.
— Eu só quero que me conte, que você confie em mim. Eu sou sua namorada, porra!
— grito. Não vou terminar com ele. Eu não posso e mesmo que eu quisesse, não
conseguiria. Eu gosto dele, merda.
— Você não entenderia... — ele diz passando a mão no rosto.
— Tente. — digo cruzando os braços.
— Eu não posso. Você não vai entender e vai me deixar. — ele fala e eu fico olhando
para ele. O que é que ele faz? — Você vai me deixar. Eu sei. — ele fala andando de
um lado para o outro.
— Eu vou te deixar se não me contar. — digo e entro no táxi.
O motorista sai do acostamento e dou o endereço do Campus. Vejo Connor olhando o
táxi seguir em pé onde o deixei. Minhas lágrimas descem e o motorista me olha com
dó. Ótimo, até o taxista está sabendo da minha vida amorosa. Que por sinal é uma
bagunça.
— Desculpe, mas não deu para não ouvir. — ele fala se desculpando.
— Não tem problema. — digo limpando as lágrimas que insistem em cair. Ele sorri e
já gostei dele.
Ele tem cabelos brancos e é alto e magro. Pelo menos eu acho já que ele está sentado.
Seu sorriso é acolhedor e me sinto bem, claro, na medida do possível.
— Não quer conversar? — pergunta. O olho com curiosidade. — Às vezes falar com
um estranho é melhor que falar com os conhecidos. — ele continua. Pensando bem
acho que sim.
— Pode ser. — suspiro e ele espera que eu comece. — Aquele que estava comigo é
meu namorado. — sorrio fraco. — Começamos hoje, mas ele me esconde as coisas…
Ele não confia em mim. — digo e um soluço escapa. Ouvir saindo da minha boca dói
mais. — Confiança é um sentimento que une as pessoas e se ele não está no
relacionamento para que estamos juntos? — questiono mais eu mesma do que o
motorista de táxi. Mas eu tenho a resposta… Meu sentimento por ele. Eu gosto, eu sou
apaixonada por ele. Minha vida amorosa está tão bagunçada que eu apelo a uma
conversa com um taxista, meu Deus. Eu preciso de ajuda urgentemente.
— Como você mesma falou... Confiança é um elo e não é para ser algo cobrado. Você
não deve cobrar que ele confie em você. Essa escolha tem que ser dele. Ele tem que
querer confiar. — ele diz pensativo. Sorrio e aceno.
Acho que é a mais pura verdade. Não existirá confiança enquanto Connor não desejar
que ela exista e no momento ele não quer isso.
O carro para e me dou conta de que já chegamos. A noite é escura e fria, como o táxi
não pode entrar até meu prédio eles param na entrada do Campus. O que não traria
medo se fosse ao dia.
— Obrigada. Pela corrida e pelos conselhos. — digo sorrindo e lhe entregando o
dinheiro.
— De nada. A corrida é por minha conta. Não se preocupe. — diz com um sorriso
terno nos lábios.
Sorrio e aceno. Saio do carro e o vejo sumir ao final da rua depois que o senhor
arrancou com ele.
Começo a andar em direção aos dormitórios e o único som que escuto é o da minha
bota contra o cimento desgastado. Olho para os lados e não vejo nada. Não tem
ninguém na rua. Todos saíram para alguma festa ou estão dormindo. Fico com a
primeira opção, esses estudantes não perdem uma festa para ficar em casa dormindo.
Isso pode ter certeza não acontece.
Continuo andando e depois de algum tempo começo a escutar passos logo atrás de
mim.
Meu peito aperta. Será que estão me seguindo? Começo a andar mais rápido e os
passos ficam mais perto e mais rápidos iguais aos meus. Seguro minha bolsa com
força e viro a rua que dá para o meu dormitório. Não estou acreditando que isso está
acontecendo comigo. Deveria ter ligado para Clara me buscar na entrada do Campus,
mas não. Fiquei aqui andando no escuro, sozinha, dando brecha para um estuprador
me atacar.
Os passos viram a mesma esquina que eu e já não aguento essa agonia. Olho para trás
e vejo um homem com um blusão de capuz preto, não dá para ver com nitidez seu
rosto, mas vejo seu sorriso. Quem é esse cara? Começo a correr e ele vem logo atrás.
Corro com todas minhas forças mais logo sua mão tapa minha boca me fazendo parar.
— Shiiiiu... — ele fala perto do meu ouvido. Reconheço sua voz de algum lugar, mas
não me recordo. — Calma princesa. — ele diz e me solta.
Penso em correr novamente, mas sei que ele logo me alcançara novamente. Então fico
no lugar e me viro para o olhar.
— Pode levar. — digo e estico minha bolsa para ele. Ele olha e sorri. — Só não me
machuca. Por favor. — digo com lágrimas nos olhos. Nunca passei por isso. Não sei o
que fazer, a única coisa que me veio na cabeça foi entregar a bolsa. Espero que ao
invés de estuprador ele seja um assaltante.
— Como ‘Connor’ te deixou vir sozinha essa hora para um lugar deserto? — ele
questiona. Fico sem entender até lembrar-me do amigo de Connor.
Até amanhã “Connor”.
Limpo a garganta e olho bem em seus olhos. É ele. O Jason. Ele tira o capuz e a
certeza chega. É o amigo de Connor. Se é que se pode chamar de amigo, eles estavam
se encarando como se quisessem matar um ao outro.
— Não. Houve um imprevisto. — minto! Não vou dizer nada para esse cara. Nem sei
quem é, e eu não confio nele nem um pouco.
— Chamado Carol... — ele fala como se estivesse pensando. Como ele sabe da
Carol?
— Mais ou menos. — digo sem querer oferecer mais informações. Se Connor não
gosta dele, com certeza há um motivo.
— Nunca lhe vi lá na VIP. Connor escondeu você direitinho… — ele fala e sinto que
os segredos de Connor têm a ver com esse lugar.
— Ainda não tive a oportunidade de ir. — digo não querendo que ele saiba que eu
não faço ideia do que esse lugar seja.
— Amanhã todos irão. Se quiser fazer uma surpresa para Connor posso te levar. —
diz ele sorrindo.
Meu coração quase pula. Seria uma oportunidade perfeita para eu descobrir que
merda Connor me esconde, mas o que o motorista de táxi me disse vem com força.
Confiança é um elo e não é para ser algo cobrado. Você não deve cobrar que ele
confie em você. Essa escolha tem que ser dele. Ele tem que querer confiar.
— Não. Amanhã tenho compromisso, mas obrigada pelo convite. — digo o
dispensando e minha oportunidade. Tento sorrir. Ainda não me sinto à vontade com
esse cara.
— Se mudar de ideia me liga. Venho te buscar na hora ou só passo o endereço por
mensagem. — diz e me entrega um cartão com seu número de celular. Nele contêm o
seu nome Jason Andrews e um número.
— Obrigada. Quem sabe... — digo e escuto um roncado de moto que sei muito bem
quem é o dono. Respiro fundo e me viro.
Ele desce da moto e para na minha frente, mas olhando para Jason. Vou para o lado e
fico olhando para eles dois.
— O que faz aqui, Jason? — Connor pergunta controlando a raiva que está sentindo.
Que está bem evidente em suas veias do pescoço que estão salteadas e suas mãos que
estão em punhos.
— Nada. Vim deixar minha amiga e vi a princesa sozinha só quis acompanhá-la. Sabe,
né? Aqui é muito perigoso à noite. — Jason diz com um sorriso na voz.
— Sei, sei. Mas agora já pode ir. Ela vai para casa comigo. — ele diz frio.
Queria gritar com ele lhe dizendo que não iria porra nenhuma com ele, mas também
não quero ficar com Jason.
— Tudo bem, irmão. — ele diz e me olha. Não sinto mais aquele frio de medo. Nem
sei o que sinto mais. — Pensa! — Ele se refere a ir a VIP. — Tchau princesa. — ele
se despede mas Connor dá um passo para ficar mais perto de Jason.
— Não chame ela assim. Porra! — Ele grita. Eu e Jason estamos muito surpresos, mas
não falo nada. — Não a chame assim. Ela é minha mulher e eu não quero que a chame
assim. Você me ouviu, Jason? — ele fala mais calmo, mas ainda dá para ver a raiva
fluindo dele.
— Tudo bem. Desculpa aí. — ele fala e faz o mesmo gesto que fez no parque de
diversão: levanta as mãos em forma de rendição. — Tchau. — diz e sai em direção à
saída do Campus.
— O que você estava fazendo com ele? — Connor pergunta voltando sua atenção para
mim.
— Se lembrou que eu estava aqui? Que cena ridícula foi essa? — pergunto irônica.
— Quando te chamei assim você não gostava, por que gosta quando ele fala?
— Eu não gosto de nada. Eu nem conheço esse cara. — digo virando os olhos.
Saio andando e ele vem logo atrás. Connor sobe na moto e me acompanha.
— Sobe. — ele diz e o ignoro. Não vou subir em merda nenhuma. Ele pensa o quê?
Que eu me esqueci da Carol e que ele não queria dizer onde estava com ela? —
Nicole para de criancice e sobe na porra da moto. — ele volta a falar, paro e o
encaro.
— Eu não vou subir e tem mais... Eu não quero você perto de mim. — digo antes de
pensar, mas não retiro. Não vou retirar. Ele me olha magoado, mas não responde. —
Vá para casa. — digo e saio andando novamente.
— Eu sei que você não quis falar aquilo. — diz me acompanhando na moto. Não
respondo. — Eu não quero você perto daquele idiota. Você me ouviu? — ele continua.
— Eu fico perto de quem eu quiser. — digo e escuto ele parar a moto e descer. Não
vejo, pois continuo andando.
Connor pega meu braço e me para. Ele me puxa e me senta na moto de frente para ele.
Ele continua em pé e me olha sério. Engulo em seco.
— Eu não quero você perto dele. Por que eu sei o que ele faz, então não teime comigo
sobre isso. — ele diz sério controlando sua raiva. Aceno para acalmá-lo. — Agora
você vai comigo para casa. — diz e sobe na moto depois que me levantei.
— Connor... — tento falar que não vou, mas ele me interrompe.
— Agora Nicole. Sobe depois você faz o que quiser, mas não vai sozinha para casa.
— diz e eu aceno como uma cachorra adestrada. Ai que ódio.
Seguimos para o dormitório que fica a duas ruas de onde estávamos. Desço da moto e
tiro o capacete.
— Nicole... Precisamos conversar. — Connor fala e desce da moto. Suspiro não
querendo brigar novamente, mas também não vou fingir que nada aconteceu e correr
para os braços dele. Ele tem que aprender a confiar em mim.
— A gente já conversou. — digo firme. — Agora eu só quero dormir. Amanhã a gente
conversa. — digo e logo me lembro que Jason falou que todos vão para a VIP. Será
que Connor vai?
— Não. Você está pensando besteira e não é nada disso. Eu juro. — diz e segura
minha mão.
Suspiro e não respondo. Não respondo, pois eu acredito nele, mas as coisas que ele
esconde me fazem ficar com receio de eu estar me enganando. Vários pensamentos já
rondaram minha cabeça, uns até quase improváveis, mas, mesmo assim, ainda
rondaram. Não confio neles, pois sei que eles também podem me trair, por isso os
coloco trancados dentro de caixas no fundo da gaveta. Não os deixo tomarem conta de
mim e do que eu sinto.
A verdade é que gosto dele e a mínima possibilidade de ele estar me enganando me
quebra por dentro de maneiras que não consigo nem explicar. A visão de eu descobrir
algo que mudará tudo entre nós está aqui ao meu lado e porra, isso assusta. Não saber
a verdade é o primeiro passo para minha loucura interna. Fico imaginando todas as
possíveis coisas que talvez seja o que ele faz e se é algo que seja muito sério.
Possibilidades não faltam...
Matador de aluguel;
Traficante;
Gogo boy;
Corredor de rachas, entre outras...
Tantas e a que menos me assusta seria a ser Gogo boy. Eu adoraria ver Connor dançar
e fazer Strip-tease. Só não gostaria que ele fizesse com as outras garotas, mas...
— Nicole? — Connor chama minha atenção.
— Depois nos falamos Connor. Eu quero dormir. — digo suspirando. A verdade é que
sim, eu estou muito cansada, mas não quero e não vou conseguir dormir logo.
Só quero ficar um pouco só e ouvir o que minha consciência quer. Quero poder
acordar amanhã decidida do que vai ser do meu namoro com Connor daqui para
frente, com ou sem confiança da parte dele.
— Vamos para o meu apartamento. — Connor me chama. Reviro os olhos. Ele não
entende que quero ficar sozinha? — Ty está lá em cima com a Clara, acho que vai
dormir aí. — diz apontando o prédio a nossa frente, que é meu dormitório.
— Como sabe que ele está aí? — pergunto. Não falei com Clara e nem vi Connor
falar ao celular durante a nossa noite.
— Liguei para saber se já tinha chegado, mas logo depois vi você com Jason. — diz
como se isso fosse grande coisa. — Como se encontraram? — pergunta me
encarando.
— Eu estava andando sozinha como ele mesmo falou. Ele me assustou, mas depois
relaxei um pouquinho ao saber que era alguém pelo menos conhecido. — digo sem
dar muita importância.
— Como assim assustou? — pergunta cruzando os braços.
— Ele estava me seguindo, me assustei, pois ele estava com capuz e não deu para ver
quem era. Comecei a correr e ele também começou. Fiquei assustada. — digo
relembrando. Fiquei realmente com medo.
Hoje ninguém pode andar sozinho nesse Campus, não contei às vezes que várias
meninas foram violentadas e o mais assustador é que dizem que são alunos da própria
Universidade que fazem isso com elas.
— Humm. Não quero você… — o interrompo.
— Perto do Jason. Eu entendi, ok? Por que não me fala o que ele faz ou fez para você
não querer que eu esteja perto dele? — pergunto, mas quando ele vai responder o
interrompo. — Já sei. Não pode falar. Nunca vai me contar nada. Ótimo! — Dou de
ombros e ele abaixa a cabeça. Eu sabia que ele não falaria nada e isso é irritante. —
Boa noite. — digo ao virar e seguir para o prédio.
— Nicole... — ele chama, mas não viro e continuo a andar.
Não sei mais o que fazer para ele confiar em mim. O que ele sente por mim nunca vai
ser o motivo da confissão dos seus segredos. Não sei se vou aguentar viver assim, as
escuras durante todo nosso relacionamento.
Capítulo Vinte
Nicole
Entro em casa e vou direto para meu quarto. Na sala não tinha ninguém, então presumo
que Clara e Tyler estejam se amando no quarto. Vejo Lindo dormindo na caminha dele
e sorrio. Ele é muito fofo.
Tiro a bota e caminho em direção ao banheiro. Tiro minha roupa e entro no box.
Deixo a água passar por meu corpo sem pressa. Queria que o tempo tivesse parado
enquanto estava dentro daquela cabine com Connor. Ali, eu estava feliz e sem
preocupações.
Se eu soubesse que tudo isso aconteceria, sinceramente eu não sei se eu iria para o
Mac. Eu sei que nunca saberia que a dita cuja que estava com Connor era de fato a
Carol, não saberia do tal lugar denominado VIP, eu estaria completamente às escuras
como falei para Connor enquanto discutíamos na frente do taxista.
Mas por outro lado ficar às escuras seria bem pior, pois eu seria a idiota da história
que não saberia porra nenhuma do que o namorado faz da vida.
Que saco!
Como falei para Connor, eu não sei nada da vida dele. Tudo que me falou foi que tem
irmãos e os seus nomes, Melissa, Erick e Dylan. Ah, e claro a sua mãe, Samantha.
Mas o pai? Todo mundo tem pai. Ele só não quer me contar e sei que esse assunto o
machuca, pois não tocou no assunto mais e quando o perguntei não gostou.
Não sei o que fazer.
Depois pesquisarei o nome da mãe de Connor no Google. Como ele mesmo me falou
ela é famosa no meio administrativo, tem que ter algo dela na Internet.
Ouvi a porta sendo espancada e saio do banheiro enrolada na toalha.
— QUE PORRA É ESSA NICOLE? COMO ASSIM VOCÊ ESTA NAMORANDO?
AINDA MAIS O CONNOR? COMO VOCÊ ESCOLHEU CONTAR AO CAMPUS
INTEIRO PELA INTERNET A MIM QUE SOU SUA MELHOR IRMÃ-AMIGA? —
Clara bate à porta e grita ao mesmo tempo. Caminho depressa para a porta, pois sei
que ela está surtando de verdade.
Lembro do Gabriel. Puta que pariu! Será que ele viu? Meu celular começa a tocar e
meu coração para de bater por um segundo.
— ABRE A PORTA NICOLE. — Clara gritou atrás da porta. Então, resolvi “atender”
primeiro ela.
Abro a porta e Clara me olha séria.
— Ele pensou que não tem quem cuide de você e que dê permissão para você
namorar? Eu sou a sua irmã, ele tinha que me pedir. — ela fala andando de um lado
para o outro. Tyler está na porta e só fica sorrindo como um idiota que é.
— Clara deixa de ser dramática. Desculpa não ter contado antes é que acabei de
começar o namoro. — falo revirando os olhos e com a voz carregada de ironia.
— Você é tão chata Nicole. Quando Ty me pediu em namoro... — essa eu sei
decorada. Ty pediu Clara em namoro e em vez dela o beijar e fazer tudo que uma
garota normal, como eu fiz, ela o deixou com a resposta afirmativa e me ligou
chorando e gritando ao mesmo tempo. Eu surtei pensando que Ty tinha feito algo com
ela.
— Tudo bem. Clara você permite a Nicole namorar comigo? — Escuto a voz de
Connor e o vejo falar atrás dela. O que ele está fazendo aqui? Só pode ter vindo atrás.
Irritante.
— Se ela quiser. Sim! — diz batendo palminhas de alegria. Eu, Ty e Connor revirando
os olhos.
Clara e Tyler saem do quarto e eu volto a fazer o que iria antes desse espetáculo da
Clara. Pego uma calça de moletom e uma blusa de alcinha cinza. Vejo Connor
escorado na parede. Vou para o banheiro e me troco.
Saio e vejo meu celular que estava dentro da minha bolsa tem sete chamadas
perdidas. Três do Pietro, 3 da Shirley, 1 do Gabriel. O som estridente do meu telefone
me tira dos pensamentos. Suspiro e atendo Pietro.
— Oi Pê.
— Como assim você está namorando?
— Pietro...
— E o que te falei? Esse cara não é para você.
— Eu que tenho que saber isso.
— Eu só quero que você seja feliz.
— Ele é minha felicidade. — digo e lembro que Connor está no quarto. Olho em sua
direção e ele têm um sorriso lindo no rosto. Sorrio de volta mesmo estando com raiva
dele.
Esse foi um momento nosso. Único.
— Tudo bem... Se ele te fizer sofrer ele vai se ver comigo. Você sabe que sim.
— Sei, mas não fique preocupado. Nós estamos nos entendendo. Do nosso jeito, mas
estamos. — digo sincera.
— Ok. Eu te amo, minha princesa.
— Eu também te amo, meu príncipe. — digo e Connor revira os olhos. Chato!
— Pê? Volta para a cama...
— Não estou acreditando. Você estava transando e depois ligou para mim, Pietro
Victor? Eu vou te matar.
— Desculpa. É que depois entrei na minha rede social e estava lá estampado que
você estava namorando. NAMORANDO.
— Isso não justifica. Vai tomar um banho frio e aquietar esse pau Pietro.
— Tudo bem, mas não fala essas coisas. É feio ouvir você falando.
— Deixa de ser ridículo. Tchau, Pê.
— Tchau, Nicole.
Desligo e me deito na cama sorrindo.
— Seu irmão não gostou de saber do nosso namoro?! — Connor pergunta afirmando
ao mesmo tempo. Olho para ele que continua onde estava escorado na parede.
— Você já sabe a resposta. — digo e suspiro. — Ele tem medo de você me
machucar... Eu já falei sobre isso com você. — digo para não repetir o que já falei
para ele.
— Você falou que eu sou sua felicidade. É verdade? — pergunta, agora sentado no pé
da cama.
Ele sabe que sim, para que ele pergunta?
— Você sabe que sim. — digo olhando em seus olhos.
— Você também é a minha. — diz sorrindo. Esse jeito dele... É esse olhar, esse
sorriso… Tudo. O Connor sendo o Connor é o motivo de eu ser essa louca
apaixonada por ele.
— Mas não sou o bastante para você me contar o que esconde? Eu sei que é verdade
nem precisa responder. — digo olhando para meu guarda-roupa.
— É por isso. É por você ser a minha felicidade que não quero que me deixe. Eu sei
que você irá. — diz olhando para o chão.
— Como eu falei hoje mais cedo... Se não me contar é que isso acontecerá. — digo e
suspiro. — Outra garota Connor. Outra. — digo olhando o teto. — Você sabe de toda
minha insegurança por causa dessas mulheres, mas, ainda assim, você me deixa
pensar coisas que me machucam. — digo tapando o rosto com o braço. Sinto a cama
abaixar ao meu lado e sei que ele veio deitar comigo.
— Eu juro que não fiquei com a Carol e com nenhuma outra garota. — ele fala perto
de mim.
— E você sabe que não vou acreditar. Não quando você não me conta as coisas. —
digo e me sento na cama. — Hoje quando estávamos discutindo eu disse que não daria
certo. Naquela hora eu falei para mim mesma que não terminaria por isso. Que não
terminaria nosso namoro que tinha começado quase no mesmo momento. O meu
desespero era tanto que até com o taxista eu conversei. — suspiro. — Ele me falou
que confiança não se cobra. Ela tem que ser por vontade própria. Você tem que querer
confiar em mim. — digo cansada. Não quero brigar com ele. — Eu não posso te
obrigar, Connor. Isso tem que vir de você. — completo.
Connor senta ao meu lado na cama. Não me afasto e nem reclamo, estou muito
cansada para isso.
— Eu confio em você. — diz sério acariciando meu rosto.
— Se confiasse você me contaria seus segredos. Mas não. Você esconde. — digo me
sentindo exausta.
Levanto e sigo para a porta. Connor suspira e se levanta. Tenho que pensar e com ele
ao meu lado não consigo. Eu quero dormir e acordar sabendo o que vai ser da minha
vida com ou sem Connor.
— Boa noite. — digo quando ele para na minha frente.
— Ela seria se eu fosse dormir com você, mas como isso não vai acontecer ela será
péssima. — diz me olhando nos olhos. Aceno confirmando. Não quero falar nada. Vai
que falo algo que vou me arrepender ou até algo que não é para acontecer, como o
fazer ficar.
Ele suspira e vai embora. Depois que ele sai pela porta corro para a cama.
Pego meu casaco e sigo para a cozinha onde Clara está sentada na baqueta sorrindo.
Deixei comida e água na vasilhinha para o Lindo. Ah, não vou mais mudar seu nome.
Vai ser Lindo e ponto final. Até porque combina. Ele é lindo.
Sento na frente da Clara que continua com o sorriso idiota no rosto. Por que será que
ela está alegre? Deve ser por causa da ‘volta’ dela com Ty.
— Como está a mais nova recém-chegada ao clube dos comprometidos? — pergunta
ela me tirando dos meus devaneios.
— Já estive melhor. — respondo sincera. Clara tira o sorriso do rosto e me olha
preocupada. Não estou muito bem, a verdade e que isso está me deixando exausta,
fisicamente e emocionalmente.
— O que está acontecendo? — pergunta me olhando atentamente.
Conto os acontecimentos de ontem para hoje. Do passeio na roda gigante até o
encontro com Jason. Não dou muito detalhes, só conto por cima.
— Quem é Jason? — ela pergunta confusa. Como falei só contei o essencial.
— É o amigo do Connor. Quer dizer nem sei se são amigos, pois eles se olham mais
como se fossem inimigos. Como se quisessem matar um ao outro. — digo pensativa,
mas é verdade e algo me diz que tem alguma coisa entre os dois.
— Você vai a essa tal de VIP? — pergunta Clara.
— Não! — digo firme. Clara levanta a sobrancelha me questionando. — Não sei. —
admito para mim e para ela também. Eu não sei, vai que me dá a louca e eu vou. Mas
por outro lado vai que Connor não vai para esse lugar e fique aqui comigo. Eu estou
muito confusa.
— Se você resolver ir, eu vou junto. Nunca deixaria você ir a um lugar que não
conhece e ainda mais sozinha. — diz séria. — E só estou deixando você ir porque sei
que segredos podem destruir relacionamentos. — diz Clara. Então começo a refletir
sobre o que ela falou.
Será que é verdade? O que Connor esconde é tão sério que poderia ser o fim do nosso
namoro? Será que eu desistiria dele?
Balanço a cabeça para tirar esses pensamentos da cabeça. Desfaço-me deles e
lembro-me de Tyler. Será que ele sabe? Acho pouco provável que não, ele sabe de
tudo que Connor faz, mas talvez ele não saiba de nada e Connor esconde isso dele
também. Ele é ótimo para esconder as coisas da gente.
— Será que Tyler sabe? — pergunta Clara ouvindo meus pensamentos. Sei que ela
não quer que ele saiba de nada. Mas não vejo mal nisso até por que Ty deve ter
lealdade a Connor e não a mim.
— Eu acho difícil que ele não saiba. Eles moram juntos, sabem de tudo um do outro, o
que fazem e gostam. — digo dando de ombros.
— Ty mente para mim? — ela pergunta como se fosse o fim do mundo.
— Não. Ele só não fala algo que é do interesse de Connor. — digo.
— É óbvio que ele mente. Quando eles saem para esse lugar, eles dizem que irão
fazer outra coisa. Isso é mentir. — diz exasperada. Estou vendo Clara imaginar as
várias formas de matar Ty.
— Parou, ok? Nós nem temos certeza de que ele sabe então vamos parar. — digo
tentando pôr panos quentes em cima das minhocas que Clara cultivou na cabeça.
— Tudo bem. — ela diz caindo na real. Vejo seu semblante acalmar e reviro os olhos.
Clara é sempre tão exagerada. — Só não quero mais problemas, acabamos de passar
por uma fase difícil. — se lamenta.
Sei bem que fase foi essa. Ela tem nome e sobrenome: Pietro Victor.
— Desculpa pelo meu irmão.
— Você não tem nada a ver com isso. Não o culpo por isso, até agradeço assim fiquei
sabendo que tenho dúvidas em relação ao que sinto pelos dois. — diz sincera.
— Mas me conta... Como foi a conversa com Tyler? — pergunto curiosa.
— Foi difícil. Ele quebrou meu quarto quase todo, mas quando voltei ele já tinha
comprado e colocado tudo no lugar. — Levanto a sobrancelha questionando o lugar
que ela esteve. Clara bufa e fala. — Fui na Shirley, você não estava aqui e eu não
queria que Pietro soubesse. — diz.
— Você está falando que eu contaria para ele? — pergunto magoada. Realmente
magoada. — Você não sabe como fiquei ao saber que Ty estava quebrando seu
próprio quarto. Eu fiquei desesperada, preocupada com você. E agora você me diz
que não me telefonou por que eu contaria ao meu irmão? — pergunto chocada. — Que
eu trairia nossa amizade num momento que eu sabia que você estava sofrendo?
Clara me olha como se pedisse desculpas, e aí eu sei, eu tenho a certeza que ela
pensou isso mesmo.
— Nicole ele é seu irmão... — ignoro seu comentário idiota.
— Eu falei coisas para meu irmão que doeram até em mim. Eu quebrei o coração dele
com minhas palavras, pois eu sabia que você não gostava dele, eu sei que você ama
Tyler e eu não deixaria meu irmão se iludir, mas também por não querer que ele não te
procurasse assim, evitando brigas entre você e seu namorado. Eu estou te falando isso
não para você se sentir mal, mas sim para você ver que eu nunca trairia nossa
amizade. — digo e me levanto.
— Nicole...
— Até mais tarde. Eu te ligo. — digo e saio de casa deixando ela falar sozinha.
Olho para a tela do celular mais uma vez. Nada. Merda. Liguei para Connor hoje à
tarde para tirar a prova de que ele iria ou não para a VIP e ele respondeu...
— Hoje vou um pouco mais tarde.
— Que horas mais ou menos?
— Não sei, por quê?
— Só quero conversar com você...
— Nicole...
— Tudo bem. Amanhã nos vemos então.
— Eu vou aí. Acho que por volta da meia-noite e meia...
— O que vai fazer até essa hora?
— Algumas coisas. Eu te ligo.
Depois disso decidi que iria sim a essa tal de VIP. Liguei para o número e pedi a
Jason que me mandasse o endereço, ele queria vir me buscar, mas não aceitei. Não
confio nele para isso e se isso for uma mentira tenho meu carro para voltar logo em
seguida.
Mandei SMS para Clara me encontrar aqui no estacionamento, pois Ty ainda estava
no nosso apartamento quando saí. Vejo Clara caminhar na minha direção e pela sua
cara Tyler também inventou algo e isso quer dizer que ele sabe o que Connor esconde.
— Ele sabe. — ela diz assim que entra no carro.
— O que ele falou? — pergunto curiosa. Tyler não gosta de mentiras e aprecio esse
lado dele, então presumo que foi difícil para ele.
— Que faria um trabalho da faculdade com alguns colegas. — diz olhando para as
mãos. Sei está pensando sobre as coisas que falei mais cedo.
— Clara...
— Não. Me deixa falar. — ela pede e eu aceno. — Me desculpa. Eu sei que fui idiota
e que eu não confiei em você à metade do que você confia em mim. Você me conta
tudo e eu fico de frescuras por medos idiotas que do fundo do meu coração sei que
não me trairia contando para seu irmão meus dilemas amorosos. — diz com algumas
lágrimas nos olhos. Suas palavras me fizeram sentir culpada, pois ainda não contei a
ela sobre o que Connor fez e que também vi Victória.
— Vamos esquecer isso... Depois quero contar uma coisa para você. — digo e a vejo
levantar os olhos na minha direção. — Depois. — digo novamente e ela revira os
olhos.
Saio do estacionamento e sigo para o endereço que Jason me deu. É hoje que
descubro que merda Connor está envolvido e o que diabos é esse lugar chamado
VIP….
Estaciono e olho para o prédio a minha frente. Ele é grande e não me dá nenhuma
pista de que lugar possa ser esse. Olho para os lados e vejo pouquíssimas pessoas
entrando. É como se esse lugar fosse algo escondido e que não é para ser descoberto
por ninguém que não seja “convidado”.
— Será que precisa de algo para entrar? Tipo um convite ou até mesmo dinheiro? —
Clara pergunta ao meu lado.
— Não. Jason disse que é só entrar, eles irão saber que fomos convidadas. — digo e
começo a desafivelar o cinto de segurança.
— Tudo bem. Vamos. — Clara sai do carro e eu faço o mesmo.
Caminhamos lado a lado em direção a VIP. Entramos e começo a seguir o fluxo,
mesmo que pequeno, em alguma direção. O prédio é bem antigo, mas conservado,
vejo que estamos em um corredor que dá a uma escada para o térreo.
Várias coisas passam por minha cabeça, mas o que vejo não é nada do que esperei.
Tem um ringue improvisado no meio do espaço, que tenho a sensação que era a
garagem do prédio. Não sei o que pensar. Será que é Connor que organiza essas lutas?
Ou ele luta?
A segunda alternativa embrulha meu estômago, não que eu tenha nojo, apenas não
quero ver se algo ruim acontecer a ele.
Olho para o lado e vejo Clara olhando atentamente para cada canto do local. Não é
para menos, sei muito bem o que passa em sua cabeça.
— Princesa... Você veio. — escuto a voz de Jason atrás de mim e suspiro aliviada por
ver alguém conhecido.
Olho para seu rosto e ele tem alguns hematomas nada sutis. Será que ele também luta?
— Ho... Sim. — digo sorrindo sem graça. Não sei porque, mas sinto que ele não gosta
nem de mim e nem de Connor, apenas fala comigo para obter atenção do meu
namorado.
— E quem é essa outra princesa? — pergunta olhando Clara que o encara com raiva.
Ela não gostou dele.
— Primeiro não chame nem a mim e nem a ela por esse apelido escroto. — ela diz
pausadamente. Jason sorri divertido.
— Desculpa, mas como é o nome de vocês? Tenho que chamá-las por algo, Não? —
questiona.
— Clara e Nicole. — digo apontando para cada uma. Ele acena e a multidão explode
em gritos. Que porra é essa?
— Agora a festa vai começar... — Jason fala.
Viro-me lentamente e meu coração fica disparado ao ver Connor no meio da roda
improvisada que as pessoas fizeram com seus corpos.
Capítulo Vinte e Um
Connor
Sinto as gotas do suor deslizar sobre minha pele deixando claro que estou muito
cansado. Hoje trabalhei mais duro do que nos outros dias, pois não deixei que o outro
lutador conseguisse me tocar. Depois que eu sair daqui verei minha namorada e não
queria ter que explicar nenhum machucado para Nicole. Ela já está bem incomodada
com esses meus segredos. Não tiro sua razão, mas pensar que ela irá me deixar acaba
com minhas tentativas de lhe contar toda a verdade.
Pego meu dinheiro e saio em direção ao vestiário improvisado. Nem chega a ser
um vestiário, pois não me troco, apenas vou lá para ter concentração antes da luta e
depois para respirar livre de tantas pessoas. Elas não me incomodam.
Gosto de como eles torcem para que eu ganhe a luta e também sei que isso não é
só por mim, mas sim pelo dinheiro que ganham com a minha vitória. Que é muito, pois
já sabem que venço sempre.
Eles apostam alto e se pensam que aqui só vem fedelhos universitários estão
enganados, muitos filhos de papai que têm dinheiro vêm aqui…. Não me pergunte o
porquê, pois também planejo descobrir. Se eles têm dinheiro o que vêm fazer aqui?
Muitos acham que sou do mesmo jeito por causa da minha mãe, mas se
enganam... Não aceito o dinheiro dela. Como falei, ele é dela, não meu. Mas nem
sempre consigo domar a fera, pois sempre dá um jeito de me dar algo, como fez com o
apartamento que eu achei que tinha comprado de um velho idiota que me enganou e
vendeu primeiro para ela.
Minha mãe é uma figura! Enganou-me direitinho e ainda me engana. Quando
ficou sabendo do que faço aqui, lutar, ela ficou louca e completamente fora de si, veio
da minha cidade até aqui me dar uns tapas. E ela deu, sorrio lembrando. Foi muito
engraçado, ela me batendo e eu parado só esperando ela descarregar a raiva. Sorrio
agora, mas no dia fiquei me sentindo muito culpado pelo seu descontrole. Até meu
irmão mais velho me deu uma lição de moral, mas me mantive forte e não deixei que
ele se intrometesse na minha decisão.
Foi ao lado de Tyler, meu melhor amigo que descobri esse mundo ilegal e
conjuntamente visceral. Foi quando entramos na faculdade, um amigo incomum nos
trouxe para a VIP e logo eu gostei de assistir aquela sucessão de socos e chutes. E um
dia quando um lutador faltou e me pediram para substitui-lo, eu fiquei feliz e
assustado ao mesmo tempo, mas eu topei e lutei. Nesse dia ganhei e me senti muito
forte e… Poderoso. Ty não gostou, disse que isso era ilegal e que não era bom nós
como calouros sermos presos por lutas ilegais. Eu fui persistente e ele logo aceitou,
pois sabe que não desistiria e o que ele tinha a fazer era ficar comigo, sendo meu
“empresário” ou não aceitar e me deixar de lado. Isso ele não fez e disse que nunca
fará. Prometemos um ao outro, lealdade e é essa a base da nossa amizade.
Vejo casais transando na parte contrária a que me encaminho e viro o rosto.
Com várias dessas garotas, já transei, mas nenhuma foi importante para mim. E eu sei
que com a única garota que importa para mim vai ser diferente. Os beijos são, então
presumo que o sexo também será. Pensar nela me faz sentir um aperto no coração, não
sei o porquê desse sentimento nesse momento, mas não quero imaginar isso agora.
Pareço um idiota quando penso nela.
Continuo caminhando e vejo mais casais só que agora estão quase na porta do
local que vou adentrar.
É por essas e por outras coisas que não quero que Nick descubra, ou que um dia
chegue a esse lugar. Eu gosto de lutar, me traz uma adrenalina quase surreal e fora o
dinheiro que ganho. É muito e quando falo muito é porque com ele consigo pagar
todos os meus gastos.
Mas imaginar minha Nick aqui é como se algo perfurasse meu coração. Eu não
quero que ela sinta ou pense que eu sou algum vagabundo por participar de lutas
ilegais. Eu posso ter a conhecido há poucos meses, mas sei que ela não vai gostar, e
só de pensar em perdê-la a merda do meu coração aperta. Nunca vou aceitar vê-la
com outro que não seja eu. Eu mataria e morreria por ela.
Quando a conheci naquele estacionamento fiquei atordoado, eu queria ter aquela
garota. No começo quis me convencer de que era isso, atração sexual. Mas com o
tempo fui vendo que não era. Eu tentei de todos os modos fingir e, assim, fui sendo
grosso e idiota às vezes... Quero dizer, sempre.
Eu a queria para ser minha e assim fiz. Hoje ela é minha e ela sabe que sou dela
mesmo com sua insegurança boba eu sei que ela acredita que meu coração pertence a
ela.
Só de lembrar das vezes que brigamos e que vi a dúvida em seus olhos, não que
fosse uma novidade, pois não era, meu peito apertava. Sempre vi essa dúvida rondar
sua cabeça por meio dos seus olhos cor de mel. E isso me mata. No começo era
assim, esse sentimento tomava conta dela por inteira e ela não queria que eu me
aproximasse mesmo dizendo que queria que fossemos amigos, eu sabia que não queria
aproximação e ao mesmo tempo se sentia atraída por mim. Foi difícil, mas
conseguimos e hoje o meu único medo é perdê-la.
Meu celular começa a tocar e já sei quem é. Minha mãe.
— Oi, mãe. — a comprimento.
— Como foi? Está com algum machucado? — pergunta de uma vez preocupada.
— Não mãe… — tento falar, mas ela interrompe.
— Se você quiser eu vou aí. A gente vai a algum Pronto Atendimento e eu cuido
de você. — fala preocupada. Sorrio imaginando seu estado eufórico. Sempre é assim,
depois das lutas ela liga me perguntando como estou se estou bem ou se estou muito
machucado precisando de sua presença.
— Mãe, eu estou bem. Sério. — digo para ela parar com isso.
— Você mente para mim como vou saber se é verdade mesmo? — ela pergunta.
— Tudo bem. Mas eu não estou mentindo agora, ok? — Bufo.
— Connor Jones…
— Mãe eu estou falando a verdade. Eu não deixei o cara nem me tocar hoje. —
digo.
— Tudo bem… É que fico tão preocupada… Sua irmã quer falar com você.
— Obrigado. Passa aí para a meleca.
— Não me chame assim eu já falei. Você é um idiota, Connor. — Melissa fala
ao pegar o telefone.
— Humrum. E você me ama do mesmo jeito então… O que quer de mim? —
pergunto.
— Você esqueceu? Eu não acredito. — Ela fala como se fosse para ela mesma
do que para mim. — MÃE ELE ESQUECEU DE NOVO. — ela grita e eu suspiro. O
aniversário deles. Merda.
— Melissa…
— Não fale o meu nome! Você esqueceu de novo. Ano passado eu te perdoei,
mas esse eu sinceramente não sei. — diz realmente chateada. Ela diz que me esqueço
porque ela não é tão importante. Besteira, é que está muito corrido.
— Desculpa, Mel. Mas vou te recompensar com algo. Eu juro. Vou mandar o
melhor presente do mundo esse ano. Pode escolher, qualquer um. — digo tentando
reverter a situação.
— Eu quero você. — ela fala sem delongas. Eu sei o que quer dizer, mas em vez
de lhe dar a resposta certa eu brinco com ela.
— Como assim Mel? A gente é irmão esqueceu? — pergunto rindo para ela
esquecer o que quer, mas é em vão.
— Idiota. Eu quero você aqui. Na minha festa.
— Melissa não dá… — tento dizer que não posso por causa da minha
faculdade, mas a verdade é que não quero ter que ver o Rodolfo.
— Dá sim. Dê seu jeito, você já não veio no feriado. Agora você terá de vir. —
diz irredutível.
— Olha… Amanhã eu ligo e a gente acerta tudo, ok?
— Ok. Mas não tem o que acertar. Você vem e pronto.
— Tenho que desligar. Diz para a mãe e para os meninos que mandei beijo e que
estou com saudades. — digo querendo fugir das suas ordens.
— Espere. Mamãe quer falar com você.
— De novo?
— Sim, de novo. Quem manda ser lutador? Agora aguenta a preocupação dela.
— ironiza.
— Tchau, Melissa.
— Só falei a verdade.
— Tchau. — digo sem tempo para suas provocações.
— Oi meu amor. Você vem? Os meninos estão com saudades. — diz com
cautela.
— Mãe… Eu acho que vou.
— Não se afaste da sua família, Connor… — diz baixo, mas sei que fala sério.
— Mãe isso não vai acontecer ok. Eu só estou um pouco atarefado com a
faculdade e as lutas e também… Entendeu? Só isso. — digo. É agora ou nunca. —
Eu… É… posso levar uma pessoa? — pergunto me lembrando de Nicole. Talvez com
esse tempo fora ela esqueça mais esse segredo. Também acho que ela irá gosta de
conhecer minha família.
— Quem? Você está namorando, Connor? — ela grita e eu tenho certeza que
meus irmãos estão do lado dela esperando minha resposta.
— Mãe… Sim. — digo cauteloso. Mamãe é ciumenta por isso não contei logo.
Ela é territorial.
— Por que não me contou? — pergunta séria.
— Mãe eu estou contando agora. — Bufo para seu ciúme sem cabimento.
— Como é o nome dela? Qual é seu curso? Ela tem alguma frescura? — começa
com o interrogatório. Tenho plena certeza de que Melissa está ao seu lado dizendo o
que é para perguntar. Ela é uma sapeca.
— O nome dela é Nicole e o curso é de fisioterapia. Ela não tem frescuras, mãe.
E não quero que fiquem a enchendo o saco quando a levar aí. OUVIU MELISSA? —
digo sabendo que o celular está no viva-voz.
— Você gosta dela. — Minha mãe afirma, ela sempre me falou que quando eu
contasse de algum namoro ela saberia se eu gostava da garota de verdade. Nunca
entendi. — Espero que ela te mereça e entenda suas escolhas. — diz se referindo as
lutas. Também espero isso, mas não sei se é isso que vai acontecer quando eu lhe
contar.
— Ela ainda não sabe. — digo baixo como se isso fosse um segredo.
— Hoo meu filho… se ela gostar verdadeiramente de você. Sim, ela entenderá e
aceitará. Nós entendemos então… ela também irá. — fala convicta. Espero muito que
minha mãe esteja certa.
Depois disso nos despedimos. Acho que vai ser bom para mim e para Nicole
darmos um tempo daqui, tenho certeza que mamãe e Melissa gostarão dela, também
quem não gosta?
Melissa é a irmã caçula com Dylan, isso mesmo eles são gêmeos. Antes deles
tem eu e o primogênito Erick. Eles irão fazer dezoito anos no próximo final de semana
e Melissa estava preparando a festa há muito tempo. Fiquei um pouco culpado, pois
ela sempre falava sobre essa festa, aí eu esqueço… Já Dylan não liga muito para
essas coisas, só pensa em mulheres e festas… Como eu. Quer dizer como o antigo eu.
Não penso mais só nisso. Hoje minha mente tem dona… Nicole.
Sento na cadeira que colocaram aqui e espero Tyler vir para irmos embora que
por sinal está demorando.
— Connor… — viro ao ouvir a voz de Jason.
Eu nunca gostei desse cara, sempre quis me derrubar e a inveja escorre pela sua
boca ao falar comigo. Disseram-me que isso se devia ao fato de que eu já transei com
uma namorada dele. Não lembrei quem era a tal garota no dia e nem quem é hoje em
dia, mas ele não vê assim. E até hoje não gosta de mim.
— O que é? — pergunto grosso. Do jeito que ele não gosta de mim também não
gosto dele. E o ver conversando com a Nick me fez ferver de ódio. Não o quero perto
da minha mulher, porra!
— Vim te dar os parabéns. Sua luta foi fantástica. O Drew nem te tocou irmão.
Foi surreal, até a Prince… Nicole… — se corrige e eu estufo o peito e chego perto
dele o mais rápido possível.
— Que porra você está falando? O que tem minha namorada? — pergunto com
raiva. Ele arregala os olhos e me encara surpreso. — Fala seu merda.
— Ela ainda não veio aqui? Ela ainda não veio te cumprimentar? — pergunta
confuso. Ela está aqui? Ela me viu lutar? Ela descobriu?
Não sei o que está acontecendo, mas sei que esse idiota aprontou algo para mim.
— Ela está aqui? — pergunto com medo da resposta, mas, mesmo assim, já
sabendo que ela será positiva.
Ele acena confirmando e sorri debochado. Eu sabia que ele queria algo falando
com ela, mas não pensei que ele soubesse que ela não sabia que eu lutava aqui.
Eu soco seu rosto mais de mil vezes depois do primeiro que o fez cair no chão.
Não acredito que ela está aqui. Será que ela está vindo me encontrar aqui para
terminar? NÃO. Eu não vou deixar. Ela gosta de mim, eu sei que gosta. Ela não vai me
deixar.
Será que o que ela sente vai ser o bastante para não a fazer terminar?
A voz irritante na minha cabeça me questiona fazendo a raiva voltar. Quando
estou pronto para voltar a bater naquele filho da puta sinto dois braços me tirarem de
cima dele. Olho paro o seu corpo no chão e ainda quero bater mais. Quem esse filho
da puta pensa que é para armar as coisas para mim? Para querer tentar tirar minha
mulher de mim?
— Você a trouxe aqui? — pergunto gritando. Ele começa a se contorcer de dor,
mas ainda assim sorri. — Seu filho da puta. Eu vou te matar. — grito e tento me livrar
dos braços que me prendem. Sei que é Ty. Ele é o único cara que consegue me
segurar.
— Connor se acalma. Ela está indo embora. Se você quiser falar com ela ainda
dá tempo. — Tyler fala me acalmando um pouco, e viro para olhá-lo
Vejo meu amigo e sei que algo aconteceu com ele. Seu semblante está triste e no
mesmo instante me penalizo. Clara veio também e descobriu que ele me acobertava.
— Desculpa parceiro. Eu não devia ter te metido nessa. — digo me sentindo
realmente culpado. — Fiz você encobrir meus segredos e deixei você se dar mal. Eu
já estava com isso na cabeça essa semana. Foi mal mesmo cara. — digo olhando em
seus olhos.
— Não precisa se desculpar por nada. Nós somos amigos e é para isso que
amizade serve. — diz sério me olhando nos olhos.
— Se quiser posso falar com Clara. Ela irá te entender… — ele não me deixa
terminar.
— Não. Se ela não consegue entender que isso é sobre você e não sobre mim, é
melhor assim. — diz passando a mão pelo cabelo. — Vá atrás da Nicole. Não deu
tempo para ela sair, pelo tanto de pessoas que estiveram aqui hoje. Ela deve estar se
esgueirando no meio da multidão. — diz e sorri. Não sei como, mas sorrio.
— Tudo bem. Vou sair pela porta do fundo e esperar ela no estacionamento.
Obrigado. — Digo e olho uma última vez para onde Jason está. — Nunca mais se
aproxime dela. Ou você se arrependerá. — digo e saio sem olhar para trás.
Caminho em direção à saída e abro a porta com certa dificuldade, já que quase
ninguém passa por ela para sair desse local imundo e velho.
As lutas quase sempre acontecem aqui. São raras as vezes que elas não
acontecem, nesses dias os organizadores disseram que eles têm que despistar algumas
pessoas. Sei que falam da polícia e nesses momentos penso em deixar de fazer parte
disso. E agora mais ainda ao ver minha menina andar em direção ao seu carro, que é
onde estou nesse momento. Por ela.
Nicole está vestida com uma calça jeans preta e uma blusa de manga longa com
a estampa de algo estranho que não consegui identificar, mas linda como sempre. Seu
cabelo está solto e voa conforme o vento passa por ela. Parecendo um anjo.
Sua cabeça está baixa, mas quando levanta e me vê ela para. Para no meio da
rua e se surpreende ao ver que cheguei aqui fora antes dela. Ou talvez seja por não
querer ter que me ver.
Sigo pelo meio desse amontoado de gente tentando achar a saída. Meus olhos
ardem, a vontade de chorar está aqui, mas a seguro. Ver que Jason falava a verdade
me machuca, machuca porque no fundo eu rezava para isso não acontecer. Para esse
lugar não existir e que o segredo de Connor fosse uma besteira. Mas aí, eu chego e o
vejo lutar como muitos lutadores de verdade, dando socos e mais socos em outro
cara. O vejo ganhando muito dinheiro e ainda pessoas que passam por mim dentro da
faculdade diariamente. Isso tudo é uma loucura. Meus pensamentos vagam para minha
família. O que meus pais diriam se descobrissem que o namorado da filha participa
de lutas ilegais?
Com certeza fariam você terminar com ele…
Minha mente traidora responde o óbvio. E isso eu não quero. Eu não quero
terminar nosso namoro por isso. Eu tento me convencer de que eu posso sim, terminar
tudo. Ele mentiu, ele escondeu coisas importantes para o nosso relacionamento de
mim. Eu tenho motivos para terminar e eu sinceramente não sei o que fazer…
Saio do prédio e ando em direção ao estacionamento onde deixei meu carro.
Levanto a cabeça e paro ao ver ele.
Sinto meus olhos saltarem para fora. Como ele está aqui? Como ele conseguiu
chegar aqui? Demorei séculos para conseguir sair no meio daquela multidão e ele está
aqui, do nada olhando para mim. Fico parada só olhando ele me olhar com pesar nos
olhos.
Meu peito se enche de um sentimento de medo indescritível, não medo dele, mas
medo do que vai acontecer com a gente.
Quando o vi lá em cima foi muito assustador, mas, ao mesmo tempo, um
sentimento de proteção me atingiu em cheio. Assustador, pois foi repentino, eu não
sabia nem se era verdade que ele estava nesse lugar, se ele era organizador ou
qualquer outra coisa que envolvia a VIP. Aí do nada vejo ele no meio de um círculo
lutando, foi uma surpresa muito grande. O de proteção, porque eu estava com medo de
algo acontecer com ele. O outro lutador era forte e grande, não queria que ele se
machucasse. Mas me enganei, Connor lutou muito bem e o outro nem ao menos
conseguiu o tocar.
Quando a luta terminou e vi um cara lhe entregando dinheiro, e lembrei-me do
dia que fomos ao parque de diversão. A curiosidade de saber de onde ele tirava
dinheiro me consumiu no momento, agora ela está morta, sei muito bem de onde seu
dinheiro vem.
A quantidade de pessoas que estava dentro daquele prédio era assustadoramente
grande. Reconheci várias pessoas da faculdade, dentre elas a tal de Camille. Senti
meu estômago levar um soco ao perceber que ela sabia disso tudo e eu não.
Quando a vi olhando com cobiça para Connor eu quis matá-la. E essa vontade
atingiu um ponto mais elevado quando lembrei da vez que vi os dois se beijando na
entrada do refeitório.
Suspiro pesadamente me sentindo desconfortável. Não gosto de lembrar dela e
nem do lugar chamado VIP.
Ainda não sei dizer o que tudo isso representa na nossa relação. Quando eu não
sabia era fácil e até mesmo mais cômodo. Agora nem sei o que falar e pode até
parecer idiota, mas me sinto culpada por vir aqui escondida dele e ainda mais por ter
a ajuda do Jason que nem amigo de Connor é.
— Nicole… — ele fala e meu corpo se arrepia inteiro.
Olho para o lado e vejo que fiquei parada no meio da rua e é onde um carro está
parado querendo passar. Ando depressa e saio do meio da rua. O motorista buzina
irritado e vejo que começaria a me xingar, mas quando vê Connor ele dá um aceno e
arranca com o carro. Acho que depois de o ver lutando no meio daquelas pessoas,
todo mundo tem um pouco de medo dele.
Passo para a calçada do estacionamento e encosto-me ao carro. Connor está
parado ao lado da porta do motorista enquanto eu fiquei na frente do capô. Não sei o
que falar e por isso um silêncio ridículo se faz por alguns minutos.
— Fala algo. — Ele pede quebrando o silêncio. Desde que soube que Connor
me escondia algo quis saber o que era, isso me consumia por medo de ser algo que me
machucaria e hoje sinceramente não vejo o porquê de ele ter me escondido tudo isso.
Claro, ser lutador de lutas ilegais não é algo que eu veja como comum, mas eu não
vou surtar por causa disso. — Nicole…
— Eu não sei o que falar. — digo baixinho com medo de eu sair como uma
estúpida sem nada na cabeça.
— Fala que isso não vai mudar nada na nossa relação. Fala que não vai terminar
Nick. — ele fala olhando para o carro.
— Eu não posso… — digo, pois é verdade. Não posso fingir que nada
aconteceu, que isso não vai mudar a nossa relação, pois sei que vai.
— O quê? — Ele arregala os olhos, mas não está surpreso. — Não pense em me
deixar. Eu não vou deixar Nicole… — ele fala exasperado. Ele passa a mão pelo
cabelo e sei que é de nervoso. — Desculpa. Eu sei que deveria ter falado para você,
mas eu fiquei, quero dizer eu estou com medo. Eu nunca senti isso. — ele começa a
caminhar na minha direção, mas logo para ao ver que dou um passo para trás. Ele
acena e fica parado.
— Não precisava ter medo. Eu não surtaria. — repito meu pensamento. — Eu
só queria que você tivesse sido sincero comigo, Connor. — digo olhando para minhas
mãos.
Se ele tivesse me contado primeiro eu não sei como iria ser, mas sei que eu não
enlouqueceria e terminaria tudo.
— Eu não terminaria nada. Se você ainda não entendeu, eu posso te explicar…
— suspiro criando coragem para fazer minha escolha. Não que ela já não estivesse
feita, mas falar é diferente e com ele assim na minha frente é bem pior. — Eu não vou
embora Connor, não enquanto você não me pedir ou fazer algo que me faça ir. — digo
com lágrimas nos olhos.
Por que é tão difícil para ele entender isso?
— Você não vai me deixar? — ele pergunta e eu faço um gesto negativo com a
cabeça. — Eu sei e Deus também sabe que eu não te mereço, não mereço seus
sentimentos por mim, mas eu não ligo. Eu não ligo, pois eu te quero. Eu quero você e
se para isso eu tenho que passar por cima de algo que eu sei que não é certo, eu passo.
Você é a única coisa que me importa, Nicole. A única que eu vou me importar de
verdade. — Connor fala fazendo todos os pelos da minha nuca se arrepiarem. Ele se
declarou para mim? Ele se declarou para mim! Minha deusa interna está dando
estrelinhas seguidas de felicidade. Um sorriso grande e sincero surge em meus lábios.
— Você também é a única coisa que me importa, Connor. Eu sinto e a cada dia a
mais me convenço de que eu não vou conseguir sem ter você. Eu te quero ao meu
lado. Hoje e sempre. — digo limpando os resquícios de lágrimas que estavam em meu
rosto. Depois que as palavras saíram da minha boca que percebi o quão importante e
verdadeira elas são. Hoje eu tenho plena certeza que por ele eu lutarei contra tudo e
todos.
— Eu quero te beijar. Eu tive tanto medo de te perder que a única coisa que eu
preciso agora é sentir seus lábios. — ele fala e a cada palavra dá um passo em minha
direção. Não me afasto como da primeira vez. Também quero sentir sua boca.
Quando ele está na minha frente respiro com dificuldade. Eu estava com
saudade dele e saber que não existe mais segredos entre a gente é algo tão bom. Quero
dizer é muito bom.
— Eu ainda estou brava com você. — digo séria, pois é verdade. Eu não quero
que ele me esconda às coisas. Isso é ruim para nossa relação.
— Eu também estou com você. E não me esqueci de que se encontrou com
aquele idiota. — diz com raiva e sério.
Engulo em seco e para acabar com o clima tenso beijo seus lábios. Não quero
brigar, muito menos por causa de Jason.
Sinto sua língua quente e macia esquentar minha boca no momento em que entra.
Esqueço de tudo e a única coisa que sinto é ele. É meu namorado. Suas mãos passam
livremente pelo meu corpo sem se preocupar se alguém nos observa. Puxo seus
cabelos e Connor geme em minha boca. O som mais incrível para uma mulher que
consegue fazer seu homem desejá-la na mesma intensidade que ela o deseja. E eu
sinto isso.
Aos poucos vamos nos separando não por estarmos cansados, mas sim, a
procura de ar. Connor me dá um selinho.
— O que achou? — ele pergunta. Cerro meus olhos para ele, não entendendo
sobre o que está perguntando. — Da VIP… Lutas… Isso tudo. — explica me olhando
com expectativa.
Suspiro pensando nas palavras certas.
— Eu não sei… Quero dizer… Eu acho que é errado. — ele acena nervoso e dá
um sorriso amarelo parecendo não gostar da minha resposta, mas ainda assim a
entendendo. — Mas eu vi como você gosta e também como você é bom. Mas o medo
de algo acontecer com você estava presente comigo. — digo e ele sorri.
— Não precisa se preocupar… Não acontece nada comigo. Sempre é com eles.
— diz orgulhoso. Reviro os olhos para sua presunção.
— Tudo bem, mas eu tenho medo. É normal que eu tenha, eu me preocupo com
você. — digo dando de ombros e ele sorri.
— Ok.… Foi o Jason que te trouxe aqui? — ele pergunta de repente. Sei que
não era para eu me sentir culpada, mas eu me sinto.
Abaixo a cabeça e respondo.
— Ele não me trouxe. Ele só me deu o endereço. — digo nervosa, pois sei que
ele está com raiva.
— Eu falei para você não se aproximar dele. Aí olha o que faz? Vem em um
lugar que nem sabia se o endereço era de fato o lugar verdadeiro. — ele passa a mão
no cabelo e me olha. Não respondo. Ele já sabe o que falarei. — Ele não presta. Eu
não quero você com ele. Prometa-me, Nicole. — ele pede.
— Connor eu só fiz isso porque você não me contou a verdade, e eu não queria
ter que terminar nosso namoro para você ter coragem de me falar. — digo séria.
Ele suspira e se afasta.
— Connor… — tento falar, mas ele me interrompe.
— Eu só estou te pedindo para me prometer. — ele começa a andar de um lado
para o outro. — Ele não gosta de mim. Ele é um idiota invejoso. Eu não quero que
nada aconteça com você. Então me promete. — ele fala novamente.
— Eu prometo. — digo e vou andando para ficar de frente para ele. — Eu
prometo. — digo e beijo seus lábios. Não tem porque eu não prometer já que espero
não ver Jason nunca mais. Quero dizer eu acho. Abraço Connor e vejo a entrada do
prédio e logo me lembro de Clara.
— Clara disse que iria atrás de Tyler, e que eu poderia vir na frente e esperá-la
aqui, mas ainda não saiu. Estou começando a ficar preocupada. — digo para Connor.
Pego meu celular para ligar e saber onde ela está.
Ligo para seu celular, mas a ligação cai na caixa postal. Merda. Será que
aconteceu algo?
Connor pega o celular para ligar para alguém. Presumo ser Ty. Quando
estávamos saindo ele a segurou e pediu que conversassem e minha amiga é claro, fez
um escândalo dizendo que ele era um mentiroso, mas ele logo a acalmou e fez com
que ela me deixasse vir esperá-la aqui. Assim o fiz.
— O celular de Ty também está desligado. Será que estão juntos? — ele
pergunta e sinceramente eu não sei.
— Quando sai ele a parou, mas ela estava com raiva por ele te encobrir. — digo
a verdade. Sei que não é legal jogar as coisas na cara dos outros. Mas é verdade Tyler
e Clara estão brigados pelo segredo que Connor o fez esconder da sua namorada.
— Eu sei… — fala preocupado.
— Ela tem que me ligar. Se aconteceu alguma coisa? — pergunto.
— Não aconteceu nada. Deixa de paranoia. Eles ainda devem estar juntos. —
ele diz me abraçando. — Tyler estava péssimo quando o vi. Eles já tinham
conversado, então acho que Clara foi procurá-lo para se desculpar. — ele diz e aceno
confirmando.
É deve ser isso. Clara deve ter entendido o lado de Ty e agora está com ele.
— É com certeza foi isso. Eu vou matar aquela puta! Como ela faz isso comigo?
— esbravejo irritada. Sinto o sorriso de Connor em meus cabelos. — Não ria. —
digo e ele cai na gargalhada.
— Como você está preocupada com ela em um minuto e em outro quer matá-la?
Você é muito engraçada. — diz e beija minha testa.
— Idiota. — digo e lhe dou um tapa. Ele sorri e não aguento e caio na risada.
— Vamos. Eu quero ir para casa dormir. — ele diz e me puxa em direção a sua
moto.
Paro e o puxo.
— Connor eu estou de carro. — digo e ele o observa por cima da minha cabeça.
— Vamos para minha? Ou para a sua? — pergunto já sabendo a resposta.
— Ah! Tudo bem. Para a minha. Eu vou na minha moto te seguindo. — diz e
beija meus lábios. Quando ele vai aprofundar o contato de nossos lábios eu me afasto.
— Até. — digo dando tchau e entro no carro. Vejo Connor me observando
irritado, mas logo o perco de vista. No caminho recebo um SMS de Clara dizendo que
está com Tyler. Vaca.
Chego ao apartamento de Connor e estaciono. Espero ele descer da moto e saio
do carro.
— Senti saudades. — ele diz assim que me abraça levantando meu corpo no ar.
Enlaço minhas pernas em sua cintura. Beijo seus lábios enquanto ele anda para a
entrada do prédio. Ele para e me encosta à parede que presumo ser do hall do prédio.
— Não consigo andar e beijar você ao mesmo tempo. Eu gosto de me concentrar no
seu gosto. — ele sussurra em meu ouvido e quase entro em combustão. Sorrio e trago
seus lábios de volta para os meus.
— Também senti saudades. — digo quando nossas bocas se afastam.
Abraço ele e entramos no elevador. Antes que ele e eu começamos a nós agarrar
novamente, um casal com uma menina loirinha entram também.
Meu rosto vai a mil graus de vermelho e desço dos braços de Connor. Fico em
sua frente para que o casal não perceba que ele está, hum... Excitado. A garotinha olha
para mim e sorri, sorrio de volta. Pergunto-me o porquê de eles estarem em uma hora
dessas com uma criança dentro do elevador. Ela deveria estar no décimo sono.
— Como é seu nome? — ela pergunta segurando a mão da sua mãe. A mesma
sorri para mim e retribuo.
— Nicole e o seu, Princesa? — pergunto simpática. Sinto Connor revirar os
olhos por eu ter a chamado assim. Idiota. Ela sorri novamente para o meu comentário,
é eu acho que ela gostou.
— O meu é Lana. Você também é uma princesa? — ela pergunta e a mãe sorri
enquanto o pai olha a porta do elevador como se fosse a saída do inferno.
— Não sei. — digo sorrindo e olho para Connor. — Eu sou? — pergunto e ele
revira os olhos, mas responde com um aceno confirmando. — Eu sou. — afirmo para
a garota.
— Então ele é seu príncipe? — arregalo os olhos. Que menina esperta. Connor
me dá um leve empurrão querendo que eu responda.
— Sim. Ele é. — digo e ela sorri lindamente. Connor enlaça minha cintura e me
abraça.
— Seu cabelo é lindo parece o da Rapunzel. — ela diz e coloca o dedinho na
cabeça como quem está se lembrando de algo. — Ela é uma princesa. Você pode ser
ela? — ela pergunta. Dou graças aos céus pelo elevador abrir. Ela sorri e acompanha
seus pais para fora do elevador.
— Que menina linda. Não é Connor? — digo sorrindo.
— Sim. Mas fala demais. — diz revirando os olhos. Chato.
— Deixa de ser chato. Eu adorei estar com ela. — digo e sorrio imaginando
meus filhos. Nunca fui de pensar em uma família feliz com dois filhos e um cachorro,
mas olhando para Lana acho que o desejo, mesmo que distante veio.
Saímos do elevador e entramos em casa.
— Vou tomar banho. — Connor diz e segue para o banheiro do seu quarto
enquanto deito na sua cama esperando minha vez.
Nem sei o que pensar de hoje dentre todas as coisas que aconteceram, as que
mais me assustaram foi eu ter perdoado Connor dizendo que o queria para sempre e a
súbita vontade de ser mãe no futuro não tão próximo. Mas ainda assim senti vontade.
Não sei se Connor pensa em ter filhos. Lembro da vez que toquei nesse assunto
com ele. Connor logo mudou de assunto. Será que ele não quer?
Depois de um tempo martelando esse assunto, Connor sai do banheiro com uma
toalha na cintura. Sexy como o inferno! Sinto minhas bochechas queimarem e Connor
logo me olha. Acho que sentiu o meu olhar de cobiça sobre ele.
— Se não for para o banheiro agora… Você vai se arrepender. — ele diz vindo
em minha direção.
— Se eu quiser arriscar? — digo olhando de um jeito sexy. Eu acho. Ele dá um
sorriso travesso e continua vindo em minha direção.
— Você que sabe. — ele diz e chega do lado da cama. Sorrio fico de joelhos no
colchão ficando da altura dele, o que é impossível quando eu estou em pé. Sem nos
tocar chupo seu lábio inferior e passo a língua em toda a extensão dos seus lábios
gostosos. Paro de fazer o carinho e observo Connor. Sua boca está entreaberta e ele
respira com dificuldade. Sorrio e pulo da cama.
— Até já baby. — digo e entro no banheiro.
— Nicole! — ele fala rosnando. Sorrio e tomo o meu banho.
Capítulo Vinte e Três
Nicole
Quando saio do banheiro vejo uma camiseta branca, dele, em cima da cama junto com
uma cueca boxer preta. Visto tudo e me deito na cama, Connor entra no quarto só de
cueca e tenho vontade de matá-lo. Ele fez por vingança. Irritante.
— Trouxe sanduíche e suco de maracujá. — ele diz e coloca a bandeja no criado-
mudo.
— Você é tão infantil. — digo e me sento na cama.
— Eu? Por quê? — pergunta se fazendo de inocente. Semicerro os olhos e ele bufa.
— Infantil foi você que me deixou com… — Ele aponta para baixo e continua. —
Com desejo e saiu. — diz emburrado.
— Foi só uma brincadeira. — digo me defendendo. Ele revira os olhos.
— Por causa da sua brincadeira eu tive que tomar outro banho. — fala irônico. — e
bem frio. — complementa.
Reviro os olhos para ele e comemos em silêncio. Tento reprimir o sorriso, mas ele
logo alcança minha feição. Connor continua alheio à graça que foi ele ter falado
aquilo e ao meu sorriso.
— Nicole? — ele me chama meio receoso e o olho.
— O que foi? — pergunto querendo que ele continue. Ele está nervoso e me questiono
o porquê dessa mudança drástica de humor.
— Meus irmãos irão fazer uma festa para comemorar o aniversário deles. — ele fala
calmo e um arrepio sobe pela minha espinha, ficarei sozinha. Não que eu seja contra
ele ir ver sua família, mas… Sei lá.
— Hum… Como assim? No mesmo dia? — pergunto e arregalo os olhos. — Eles são
gêmeos! — afirmo. É bem óbvio, mas como sou muito lenta… Não me crucifiquem!
— Sim. Eles irão fazer dezoito anos. — ele diz sorrindo. Connor deve adorar eles,
seu sorriso reflete isso.
— Você é o mais velho? — pergunto curiosa. Ele não falou muita coisa sobre sua
família então tudo que eu o fizer falar, será bem-vindo.
— Não. Tem o Erick, ele é o primogênito. — ele fala revirando os olhos. — Depois
eu e em seguida vem Dylan e Melissa. — ele explica. Seus olhos encontram os meus
depois dele ter virado o rosto. Seus olhos estão claros e o verde predomina deixando
claro sua felicidade. Fico feliz por ele estar feliz.
— Aposto que irão adorar te ver. — digo com um sorriso que não chega aos meus
olhos. — Devem sentir saudades… De você e você deles. Claro. — olho para minhas
mãos. Que idiotice a minha de ficar assim. Eu deveria estar alegre, mas nem isso eu
consigo por ser tão dependente dele.
Só porque passou dois dias com ele, está com medo de passar um final de semana
sozinha? Deixe de ser egoísta, Nicole.
Minha consciência me alfineta. Mas é a pura verdade, estou sendo egoísta. Mas a
verdade é que para mim é difícil vê-lo ir para longe.
— Quero que vá comigo. — ele diz de repente e eu arregalo os olhos. Pensei que ele
diria que iria sozinho.
— Oh… — É a única coisa que falo. Sei lá, é estranho. Mesmo que eu queira
conhecer sua família um medo absurdo se instala nas minhas entranhas.
— Você quer ir? — ele pergunta receoso.
— Você quer que eu vá? — pergunto e ele revira os olhos. Sei que a pergunta é idiota
já que ele me chamou, mas não quero que ele pense que é por obrigação de namorado.
— Eu pergunto, pois não quero forçar nada, Connor. — digo olhando para minhas
mãos.
— Você não está forçando nada. Você é minha namorada, minha família tem que
conhecer a mulher que me enfeitiçou. — ele brinca sorrindo. Me pego sorrindo
também.
— Você me chamou de bruxa, amor? — pergunto usando o apelido carinhoso e
Connor sorri mais ainda.
— Jamais. Você é uma feiticeira. A minha feiticeira. — ele diz e beija meus lábios.
— Hum… Então eu aceito conhecer minha sogra e meus cunhados. — digo divertida e
me lembro do pai de Connor. Tenho medo do que ele possa me dizer em relação a ele.
Será que morreu? Que Connor não o conheceu? São tantas questões, mas não toco no
assunto. Não hoje.
— Então pronto. Se prepare para conhecer a mãe mais ciumenta do mundo. — ele fala
e arregalo os olhos. Ele já tinha me falado que a mãe era ciumenta, mas ainda não
estávamos juntos por isso não dei tanta importância. Agora… Se ela não gostar de
mim? — Não pense nisso. Ela vai te adorar como eu adoro. — ele fala respondendo
meus pensamentos e beijando minha boca.
Depois de deitarmos ficamos em silêncio. Não sei se Connor dormiu, mas não
consigo dormir. O dia de hoje fica passando na minha cabeça como se fosse um slide.
A luta, ele mentindo no celular. Tudo. E agora de brinde vem à ida para a festa de seus
irmãos em sua casa. Eu vou conhecer minha sogra. Um arrepio de medo passa por
meu corpo.
— Nick? — Connor me chama. Suspiro e me aproximo mais de seu peito. Ele passa
seus braços em torno de mim. — O que foi? Você está inquieta e suspirando de dez em
dez segundos. — ele diz e começa a mexer nos meus cabelos.
— Me promete que não vai mais esconder nada. Nada mesmo. — suspiro novamente
lembrando novamente de sua mentira ao celular. — Está tudo passando pela minha
cabeça. Tudo que aconteceu hoje. Mas o principal é você mentindo para mim por
telefone. — digo com as lágrimas queimando em meus olhos. — Eu só quero que me
prometa. — digo.
— Eu prometo Nicole. — ele suspira e levanta minha cabeça para que eu olhe em
seus olhos. — Eu prometo.
Chego em casa e vou direto para meu quarto. Resolvi vir para casa, pois queria
pensar em tudo que está acontecendo, mas a verdade é que eu não sei o que pensar
primeiro. Eu sei, a atitude de Connor mexeu bastante comigo e sinceramente não sei o
que tudo isso significa.
Eu não sei o que estou sentindo. Eu quero acreditar, ter fé em Connor e que sua
decisão mude. Tenho que parar de pensar nisso, ainda somos jovens e temos a vida
toda pela frente. Quem sabe ele não amadureça seus pensamentos?
Jogo minha bolsa na cama e começo a fazer uma faxina em todo o apartamento. Ligo o
som no último volume quando Photograph de Ed Sheeran começa a tocar. Depois da
faxina peguei minhas roupas e fui deixar na lavanderia do Campus. Não menti ao dizer
que tinha muita roupa suja. Tive que carregar duas malas médias com todas as roupas
dentro.
Quando volto meu dormitório tem cheiro de limpeza e eu adoro sentir isso. Pego um
moletom surrado e uma calça legging preta para mim.
Tomo um banho rápido e quando olho no relógio já é quase sete horas da noite. Faço
uma lasanha e me sento com um pedaço dela no colo para assistir The Vampires
Diaries, existe alguma mulher que não seja apaixonada por Damon? Que fale agora ou
se cale para sempre. Esse ator é muito quente. Tipo muito mesmo.
Escuto a porta bater e vejo Clara entrando...
— Humm… Que cheiro bom. — diz sorrindo e vai para a cozinha.
— Fiz lasanha. — grito para ela escutar.
Continuo assistindo até que a sinto sentar ao meu lado com um pedaço de lasanha,
maior que o meu, com um copo de suco. Eca! Detesto suco com lasanha, sou adepta de
uma Coca Cola estupidamente gelada.
— Humm… Está ótima Nicole. — ela fala gemendo. Sorrio com seu elogio.
— Que bom que gostou. — digo e volto minha atenção para a série. Clara faz cara de
desgosto ao ver que Elena e Damon estão juntos. Ela adora o Stefan… Arg - Eu
detesto.
— Não entendo como separaram Elena do Stefan. E muito pior não entendo como
você gosta do Damon. — eu a fuzilo com os olhos. — Nicole ele é mal. E… E… E…
— A interrompo.
— Ele é lindo e a Elena o ama e ele mudou. — digo listando tudo nos dedos. — E eu
o amo. Clara como você pode gosta desse estripador? Ele é muito sonso. — digo
irritada. Podem falar tudo sobre essa série, mas não falem de Damon.
— Ele é lindo. E eu o amo. Deixe Stefan longe das suas garras Nicole. — ela fala
séria. Reviro os olhos e volto minha atenção para a TV.
— Onde estava? — pergunto depois de trinta segundos ouvindo seus suspiros de
derrota ao ver Damon e Elena juntos. # ChupaClara . Dou uma garfada na minha
lasanha enquanto ela fala.
— Estava com Ty. Fomos ao cinema. — ela diz e sorrio irônica. Enquanto eu e
Connor estávamos nos matando por causa da questão família. Clara e Tyler estavam
no cinema. Quem é o casal normal?
— Hum… — balbucio com a lasanha na boca. Clara me olha de soslaio e já sei que
vai perguntar algo.
— Vocês brigaram? — ela pergunta. Ela não estava no apartamento na hora da briga,
tinha ido ao cinema, como ela mesma falou.
— Sim. — digo simplesmente. Clara levanta a sobrancelha me questionando em
silêncio. — Ele quer que eu vá morar com ele. — digo dando ênfase no morar. Só eu
acho que é um absurdo?
Clara me olha esperando eu complementar, mas não faço. Fico mexendo no prato que
estava minha lasanha, que já comi.
— O que você disse? Tipo isso quer dizer que ele gosta de você e te quer por perto.
— ela diz séria. Suspiro sabendo que é verdade. Ele quer ficar mais tempo comigo…
— Eu sei. Mas eu falei que meus pais nunca permitiriam isso antes de casar. — digo e
Clara revira os olhos. — Mas nem foi tanto por isso, mas sim por que a gente mal
começou a namorar e do nada vamos para a mesma casa? Isso é estranho e muito
fodido. — digo olhando para ela e esperando seus conselhos e logo sua voz cheia
deles invade o espaço.
— Olha amiga, você tem toda a razão no segundo quesito, ainda é cedo e claro, vocês
vivem brigando. Mas o primeiro? Nicole, estamos no século 21, hoje em dia a
maioria dos casais não se casam. Eles apenas juntam suas escovas de dente e vivem
felizes para sempre. — ela diz mexendo nos cabelos loiros. Sorrio do seu jeito de
falar. Clara é doida.
— Você quer que eu vá morar com ele? — pergunto levantando a sobrancelha. Se ela
quiser, eu vou ficar chateada. Não quero me separar dela, por enquanto, e saber que
ela quer se livrar de mim vai ser bem ruim… Quê? Eu adoro minha amiga.
— Não vou ser hipócrita e dizer que quero sua felicidade e que não vou ficar triste.
Pois vou. Você é tudo que tenho aqui. — ela diz e abaixa a cabeça. Puxo Clara para
meus braços e ficamos assim. — Não quero que vá, mas se for, eu quero que seja
feliz. Não faça escolhas que podem mudar sua vida sem ter 100% de certeza sobre
elas. — ela fala quando ainda estamos abraçadas.
— Eu não vou. Não agora e não assim tão de repente. — digo e uma lágrima fujona
desce por meu rosto. Não sei como começar a contar a ela sobre o assunto principal.
Acho que quando as palavras saírem da minha boca, tudo vai se concretizar e eu tenho
medo disso. Como eu tenho.
— Tem algo mais. Eu vejo que tem algo a mais e é isso que está machucando você. —
ela diz desvendando meus pensamentos. Clara é muito perspicaz e quando isso
envolve a mim, ela é o dobro. Eu aceno confirmando e suspiro. É agora ou nunca.
— Ele… — começo olhando seus olhos azuis. — O Connor falou para mim que não
quer se casar e não quer ter filhos. — falo e sinto uma angústia crescer em mim.
— E você quer. — ela afirma. Aceno com a cabeça. — Ele falou por que não quer?
Tipo tudo tem um porque, né? — ela fala e não aguento e choro copiosamente. —
Amiga. — ela fala e me abraça.
— Ele só disse isso. Que não quer ter filhos e não pensa em se casar. Eu falei que eu
quero tudo isso, mas ele foi irredutível. Ele só pensa nele. Nas vontades dele. — digo
com raiva. Isso é a mais pura verdade. Ele pensar somente nele.
— É melhor assim, Nicole. Se ele não sente essa vontade você não acha que o
pressionando até terem um bebê vai ser algo que não vai dar certo. Se ele não quer um
motivo tem, então eu te aconselho a deixar isso de lado por enquanto. — Clara fala e
presto bastante atenção no seu raciocínio.
— Eu não quero ter filhos amanhã, Clara. Eu só queria que ele, pelo menos,
reconsiderasse sua decisão por tudo que sentimos um pelo outro. Mas não é amanhã
ou semana que vem, eu só quero que ele pense. — digo me sentindo exausta
emocionalmente.
— É sobre isso que estou falando. Ele não pode mudar seus pensamentos de uma hora
para outra. Vocês precisam trabalhar isso juntos. — ela diz e tudo em minha cabeça
clareia. Isso é a pura verdade, não quero que mais tarde eu tenha que aguentar seu
rancor em cima de mim. Em cima de nós, dos nossos filhos.
— Eu entendi. Mas estou tão confusa. Eu… Eu… — gaguejo e não continuo.
— E o que você vai fazer? Vai terminar por isso? — ela pergunta sentando de lado
para olhar bem meu rosto. No seu tom de voz não identifico repreensão ou qualquer
outro sentimento parecido com o mesmo.
— Eu não vou fazer nada. Hoje eu descobri que… Que… — não consigo completar e
ela faz. Que porra de errado está acontecendo comigo? Ela fala o que eu queria falar e
eu percebo nesse momento que todos ao meu redor já sabiam menos eu.
— Você o ama.
— Sim. — olho para minha amiga com lágrimas nos olhos. — Sim, eu o amo. E, só
em pensar na possibilidade de terminar eu me arrepio inteira de medo. Mas o pior,
quero dizer, o melhor é que eu não quero ter isso com outro homem. Eu não quero ter
filhos de outra pessoa que não seja ele. Eu quero que meus filhos sejam parecidos
com ele. E isso é tão terrivelmente cômico. Pois ele não quer isso, ele não quer criar
esse laço comigo. — digo pensando em tudo que passamos e em tudo que ainda
passaremos. Esses obstáculos são, com certeza, provações para o amor que sinto por
ele.
— Eu sei. E eu espero do fundo do meu coração que tudo dê certo. — ela diz e me
puxa para deitar no seu colo. — Eu espero que ele reconsidere, que o sentimento que
ele tem em relação a você o faça mudar de ideia.
Balanço a cabeça concordando. Ficamos em silêncio durante vários minutos. Lembro
de que ainda não contei a ela sobre a minha ida à casa de Connor.
— Nós vamos para o aniversário dos irmãos GÊMEOS dele no final de semana. —
digo. Clara me dá um susto ao me sentar bruscamente. — Clara! — a repreendo.
— Como assim? — ela pergunta com os olhos arregalados. Não entendo seu susto e
muito menos esse estado de choque que está.
— Quê? — pergunto ainda chateada pelo modo que me puxou. Ela bufa.
— Como assim vocês vão? Connor te chamou? Como foi? — ela pergunta curiosa e
sem me dar chance de responder.
— Ele me disse que iria, eu pensei até que ele iria sozinho, mas aí ele disse que eu
iria, pois ele quer me apresentar para sua mãe. — digo e Clara vai acenando de
acordo com o que vou falando.
— Não acredito! Você vai conhecer a mãe dele. Tipo isso é muita coisa Nicole. Ty
uma vez me disse que Connor nunca levou nenhuma garota para sua casa. — ela diz e
fico de boca aberta. Isso só me dá mais motivos para surtar. A mãe é ciumenta e ainda
mais nunca conheceu uma namorada do filho? Isso vai dar merda. — Te prepara, a
mulher é doente de ciúmes dos filhos. Ty me disse que ela já fez uma namorada do
irmão mais velho de Connor chorar. — Clara fala e me arrepio inteira. — Ela disse
que foi porque a garota era fútil e muito metida. — explica Clara.
— Erick?
— Sim. Esse mesmo. Essa mulher é quase que doente. — Clara complementa.
— Obrigada Clara. Eu nem estava surtando com isso, agora então… — digo irônica e
me levanto do sofá indo em direção a cozinha.
— Desculpa…
— Ok.… Não se preocupe. — digo enquanto olho o que tem na geladeira. —
Precisamos fazer compras, Clara. Não tem quase nada aqui. — digo e ela acena
confirmando.
— Depois que chegarmos da aula manhã iremos ao supermercado. Mesmo que eu
deteste ir aquele lugar. — fala fazendo uma careta. — Com você. — completa.
Reviro os olhos quando me lança aquele olhar de que a culpa é minha. Clara sempre
detestou ir ao supermercado, segundo ela eu sou muito indecisa. Que nada. Ela que
apenas quer pegar coisas cheias de frescura. Eu pego qualquer coisa, mas sempre
pergunto a ela o melhor. Sei lá, eu preciso de dicas.
Sexta-feira pela manhã...
Ando em direção ao refeitório do Campus. Clara disse que iria, Deus sabe onde, e
depois me encontraria lá. Esses últimos dias nem falei direito com Ley e Gabriel.
Sempre tinha muita gente ao redor, ainda bem que quando Connor estava, Gabriel não
estava e vice-versa.
Sei que não posso querer que eles não fiquem no mesmo ambiente, mas eu sinto que
Gabriel muda comigo. Ele se afasta e mal direciona palavras e olhares na minha
direção. Eu detesto isso, mas detesto mais ainda Connor querer que eu me afaste ainda
mais de Gabriel, sei que a posição dele é ruim, poxa, eu sei. Mas Gabriel é como um
irmão para mim e nem que eu queira consigo me afastar dele.
— Pensando tanto em quê? — Gabriel pergunta depois que sento ao seu lado.
— Nada demais. — digo com um sorriso. Ele olha bem para meus olhos e acena
sabendo que é mentira.
— Amiga quanto tempo não ficamos só nós quatro? Nicole, isso tem mais de dois
meses. Temos que afastar aqueles urubus. Sempre nos rondando. — Shirley fala
alegremente. Pego suas mãos e as aperto.
— Também estava com saudades Ley. — digo e ela sorri me mandando um beijinho
pelo ar.
— Concordo com os urubus. Eles sempre estão aqui agora. Isso é uma merda de
chato. — Gabriel fala e nós rimos.
— Como está o namoro, Ley? — pergunto depois dos risos cessarem.
— Não. Pelo amor de Deus. Vocês vão falar sobre isso? — Gabriel pergunta com uma
careta.
Empurro Gabriel e ele enlaça seus braços ao meu redor para me parar. Com isso
ficamos muito próximos. Depois de ouvir Ley dá um pigarreio nos afastamos.
Olho para Shirley e ela está com os olhos atrás de mim. Eu nem preciso olhar para
saber que é Connor. Merda. Viro-me e o vejo andando até mim.
Levanto-me e vou caminhando a seu encontro. Seus olhos azuis-escuros estão em
Gabriel e eu sei que se eu não falar algo ele vai explodir.
— Connor… — Fico na sua frente e ele me olha. — Por favor… Não. — digo e
coloco minhas mãos em seu peito.
— Que merda? Nicole que porra está acontecendo? — ele pergunta nervoso. Meu
Deus, como isso aconteceu?
— Não foi nada. Eu só estava brincando com ele e ele tentou me parar. — digo
frustrada. Ele começa a balançar a cabeça fazendo um gesto negativo.
— E eu sou idiota? Estavam brincando de quê? As mãos dele estavam em você e você
não fez nada, Nicole. Você não tirou as mãos dele da sua pele. — ele fala me olhando
nos olhos e eu realmente me sinto culpada. Sinto-me, pois, eu não gostaria de vê-lo
assim com outra garota e muito menos que ele não tenha feito nada para afastá-la.
— Amor… Não era nada disso. Por favor, vamos embora. — digo segurando sua
mão. Ele me olha e segura meu rosto entre as mãos. Por um momento penso que vai
me beijar para mostrar as pessoas que sou dele, mas não o faz. Eu agradeço por isso,
se ele tivesse feito teríamos uma briga grande.
— Eu vou. Mas eu ainda tenho uma coisa para fazer. — antes que eu pergunte alguma
coisa ele vai em direção à mesa onde Gabriel e Shirley estão. Puta que pariu!
— Connor…
Vou atrás dele e escuto ele falar:
— Eu não quero que você se aproveite dela. Eu respeito que ela queira estar perto de
você porque na cabeça dela vocês são amigos, mas não toque nela. Ela é minha. —
ele fala olhando nos olhos de Gabriel. E vejo a raiva crescer dentro dele.
Gabriel desvia o olhar de Connor para mim e fala:
— É isso que você escolheu para namorar? Um cara que te trata como uma coisa? —
ele pergunta e eu me encolho com suas palavras. Nunca pensei ouvir isso dele.
— Não se meta na nossa relação. — Connor rosna para Gabriel.
Entro no meio deles dois e fico de frente para Gabriel e de costas para Connor.
Gabriel mantêm seus olhos em mim, mas ele sabe que me magoou. Vejo em sua feição
que sim.
— Eu adoro você, mas não fale o que não sabe. — digo. Gabriel falou a impressão
que tirou ao ver Connor falar assim de mim, mas não é bem assim. Connor tem essa
coisa dele, eu não reclamo eu gosto e não quero ninguém dizendo coisas desse tipo em
relação a isso. Viro-me para Connor. Seus olhos estão em Gabriel e eu pego seu rosto
trazendo seu olhar para mim. — Você, vem comigo. — digo e saio de lá sem olhar
para trás. Isso só pode ser sacanagem. Logo hoje que vou conhecer a sogra. Merda.
Merda. Merda.
Escuto Connor me chamar, mas não paro. Continuo a andar em direção ao meu
dormitório. Eu sei que não gostaria de vê-lo assim com outra garota, ainda mais com
uma garota que goste dele. Mas eu expliquei e ainda pedi para ele não fazer isso. Mas
aí ele faz.
Ele me alcança e começa a andar ao meu lado. Ficamos em silêncio até chegar ao meu
prédio. Não quero falar algo que irei me arrepender depois e muito menos o ouvir
jogar meus atos no meu rosto.
— Você queria que eu aguentasse tudo calado? Era isso, Nicole? — ele pergunta
quebrando o silêncio assim que estamos em frente ao meu prédio.
Olho para ele e suspiro.
— Não vou dizer nada. Nós vamos viajar daqui a duas horas e eu não quero estar
mais furiosa com você do que já estou. — digo e entro no prédio. Ele, óbvio, vem
atrás. Ele nunca aceita o que digo.
— Mais furiosa? Eu que estou furioso por ter que ver outro homem, que diga de
passagem gosta de você, com as mãos em seu corpo. — ele fala extremamente
nervoso.
Nada respondo e entro casa. Clara ainda está, Deus sabe onde. Entro em meu quarto e
escuto Connor suspirar pesado.
— Vai me ignorar agora, Nicole? — ele pergunta irritantemente.
— Dá para parar de me chamar de Nicole? Porra, isso está chato. — falo bem alto
para que ele veja que não estou para brincadeira.
— É seu nome. — ele retruca dando de ombros. Eu suspiro e conto até dez para não o
mandar para o quinto dos infernos.
— Vai pegar tuas coisas e depois vem me buscar. — suspiro. — Me deixa sozinha
que ainda estou terminando de arrumar a minha mala. — digo e ele revira os olhos.
— Tudo bem. Volto daqui a dez minutos. — Ele diz e eu levanto minha sobrancelha
em questionamento. — Tudo bem, vinte minutos. E isso não está em discussão. — diz
e vem em minha direção. Ele enlaça minha cintura e me dá um selinho.
Sua língua pede passagem e eu me afasto de seu corpo musculoso e grande. Uma
tortura para mim, mas...
— Ainda estou furiosa. — digo e saio em direção ao meu guarda-roupa.
Pego minha mala e a fecho depois de colocar meu perfume. Sim, uma mala. É só
um final de semana, só coloquei o essencial, mas claro que coloquei minhas melhores
roupas. Não quero dar munição a Sra. Jones para não gostar de mim, mas não vou dar
uma de linda e perfeita. Jamais, até porque não sou. Se ela gostar ótimo, vou rezar
bastante agradecendo, mas se não, sinceramente eu não vou poder fazer nada. A única
pessoa que me importa, já gosta de mim, mas do que ela imagina.
Estou vestida com uma saia branca que vai até o meio das minhas coxas, mesmo
eu não gostando tanto… Hoje eu achei legal. Junto dela tem minha bota com o cano
um pouco mais longo e uma blusa cinza estampada com uma jaqueta de couro que
contém aplicação de tachinhas e um óculos de sol. Amei minha roupa.
— Nicole? Connor chegou. — Clara fala da porta. Ela me olha dos pés à
cabeça e começa a fazer um gesto positivo. — Ele vai ter um infarto fulminante. —
ela diz e sorrio.
— Então vamos vê-lo passando mal. — digo e ela sorri.
Saio do quarto com minha mala e amiga Clara. Pensei que Ty também iria já que
Connor e ele são primos, mas ninguém tocou no assunto.
— Puta que pariu… — Connor fala depois de me ver. Abro o maior sorriso que
minha boca permite. — Nicole… Essa saia… — ele passa a mão pelo cabelo e
levanta começando a andar na minha direção.
— Não gostou? — pergunto confusa. Vejo quando Clara vai para o sofá e fica
sufocando o riso. Vaca.
— Eu adorei Nick e é por isso que… Que os outros homens também vão gostar.
— ele diz ainda olhando para minhas pernas. Filho da mãe.
— Bom para eles então. Quero dizer, ruim, pois só quem vai tocar será você. —
digo com um sorriso genuíno nos lábios. Connor tira os olhos das minhas pernas e me
olha sorrindo.
— Me poupe. Eu não mereço escutar esse tipo de comentário, Nicole. — Clara
fala revirando os olhos. Mostro a língua para ela. — Tão madura. — fala revirando
os olhos.
— Eu acharia melhor você trocar. Coloca uma calça jeans. Vai ficar linda do
mesmo jeito. — ele fala como se não quisesse nada.
— Pois é. Então vou ficar assim mesmo. Só perderia mais tempo me trocando.
— digo. Ele semicerra os olhos para mim e eu dou um selinho nele.
Saio em direção à porta e antes que eu a abra. Tyler entra com uma mochila nas
costas.
— Que merda. Cadê suas coisas, Princesa? — Ele pergunta depois que entrou e
viu Clara no sofá.
— Quê?
— Sua mala. Nós vamos também. Eu falei para você, Clara. — ele diz e ela
arregala os olhos.
— Eu pensei que era brincadeira, amor. Você estava o tempo inteiro rindo. —
ela se defende. Ty coloca as duas mãos na cabeça e começa a fazer um gesto negativo.
— Mas espera que vou arrumar. — ela levanta. — É só um minuto e a Nicole também
vai me ajudar. — ela fala.
— Hã? — pergunto.
— Sim. Vem agora. — ele pega meu braço e me puxa.
— Eu já venho Connor. É em um instante. — digo e ele senta ao lado de Ty com
uma carranca no seu lindo rosto.
Entramos no quarto dela e eu me solto do seu aperto. Não entendo como ela
levou isso na brincadeira. Clara é uma lesada mesmo viu como alguém leva na
brincadeira quando seu namorado diz que vai te levar para conhecer a sogra? Eu
quase entrei em colapso.
— Cadela. Como você esquece isso. — pergunto irritada enquanto pego a mala
dela que está em cima do guarda-roupa.
— Não enche, Nicole. Eu pensei que ele estava me fazendo de otária. — ela
fala enquanto escolhe peças aleatórias e colocando-as em cima da cama.
— Escolhe uma roupa e veste que eu pego seus produtos de higiene. — digo e
assim fazemos.
Depois de algum tempo saímos do quarto com DUAS malas, eu ainda falei para
ela que era só um final de semana, mas segundo ela. “E se tiver um imprevisto? Eu
tenho que estar preparada...”. Chata!
Clara vestiu um short jeans cintura alta, óbvio que com uma meia calça grossa,
pois ainda estamos no inverno aqui e uma camisa com mangas longas cinza com uma
estampa na frente. E fez um rabo de cavalo nos fios loiros. E bota. Óbvio. Ficou muito
lindo!
— Meu Deus, o que estavam fazendo? Matando um boi? — Tyler pergunta
depois que entramos na sala.
— Deixa de ser chato. Por que não aprende a falar igual a uma pessoa normal?
Eu já estaria pronta. — Clara fala chateada.
— Duas malas? E é porque está atrasada imagine se estivesse feito com
antecedência... — Connor fala enquanto pega minha mala, mas olhando para as da
Clara.
— Cala a boca seu nojento! — Clara fala indo em direção da porta.
— Hey… Não fale assim com ele. Connor só disse a verdade. — digo para
irritar Clara mais ainda.
— Agora tudo é ele não é, sua traidora? — Clara fala cruzando os braços me
olhando irritada. Reviro os olhos para seu ciúme sem cabimento.
— Nicole… Vamos. — Connor diz e saímos de casa. Clara e Ty vêm logo atrás
discutindo sobre o “esquecimento” da Clara. Casal chato!
— O que foi Connor? — pergunto depois de o ver olhando minha saia.
— Nada. Vem, eu trouxe o meu carro. — ele diz e seguimos em direção a um
carro preto e alto. Não me perguntem a marca, pois não sei. Nunca tinha visto ele de
carro. Esse é muito lindo.
— Eles irão conosco? — pergunto enquanto ele me ajuda a subir no carro.
— Nicole… Nem short você colocou? — Ele pergunta.
— Se estou de saia é porque não queria vestir um short, Connor. — digo e ele
suspira. O vejo dar a volta no carro indo para o lado do motorista.
— Você é tão… Tão… — fala com raiva. Levanto minha sobrancelha o
questionando. — Gostosa e irritante. Pronto é isso. — ele fala e eu sorrio. Connor é
tão sutil.
— Deveria dizer obrigada? — pergunto enquanto ele sai do estacionamento.
Connor me lança um olhar de não brinque comigo e eu me calo.
Chegamos ao aeroporto trinta minutos depois. Assim calados. Às vezes eu
pegava Connor olhando minhas pernas e eu as cruzava e descruzava só para vê-lo se
remexer no acento. # ChupaConnor .
— Você vai tirar essa saia assim que chegarmos à minha casa. — ele diz de
repente e eu o olho com curiosidade. — Se falar algo vai trocar aqui mesmo. No
banheiro do aeroporto. — diz e puxa minha mão em direção a Ty e Clara.
— Nem parece que vocês vão conhecer a sogra. Olha a roupa? — Ty fala e eu e
Clara o olhamos.
— O que tem nossa roupa? — pergunto. Ele e Connor sorriem de uma piada
interna, pois eu e Clara não estamos entendendo nada.
— Só está curta demais. — Connor fala irritado.
— Pois é melhor ela gostar de mim como sou. Pois não vou mudar minha roupa
para agradar ninguém. — Clara fala e sai em direção à fila do check-in.
— Eu não preciso que sua mãe goste de mim. Você gosta. Isso me importa. —
digo e beijo seus lábios. Connor sorri depois de nos separarmos.
— Mas você agradeceria se ela gostar, não? — ele pergunta enquanto
caminhávamos na direção do casal 20.
— Muito! — digo e começamos a rir.
Desço do táxi e minha boca se abre em choque. Isso mesmo, choque. Essa casa
é o triplo da casa da minha família. Tipo mansão. Olho para Connor e ele está tirando
as malas com o taxista, não dando conta do meu choque.
— Connor… Você é rico? — pergunto ainda processando essa informação.
— Eles são. — ele fala e pega minha mão. Começamos a subir a escada e quase
caio quando um furacão de cabelos pretos cai em cima do colo do meu namorado.
Aperto a mão de Connor querendo que ele faça a garota sair de cima dele.
Conto até dez tentando me acalmar... Deve ser a irmã dele. É, tem que ser a irmã dele.
Ela desce de seu colo e eu suspiro agradecida.
— Estava com tantas saudades, você está mais forte. Sei lá está alto. — ela fala
medindo seu tamanho.
— Oi Mel. — outro suspiro, mas de alívio. É a irmã. — Não sei se viu, mas
essa é Nicole. Minha namorada. — ele fala e ela me olha. Seu olhar percorre meu
corpo inteiro e sorri. Isso mesmo, ela sorri.
— Desculpa. É que faz tempo que Connor não vem aqui… Saudades… Muito
prazer, Nicole. Acho que meu irmão já te falou, mas… Me chamo Melissa. — ela diz
sorridente.
— Não precisa se desculpar. Sou do mesmo jeito com meu irmão. — digo a
fazendo rir. — E sim, seu irmão falou de você. Prazer. — digo e ia dar a mão para
cumprimentá-la, mas ela me puxou para um abraço. Assusto-me com seu gesto
repentino, mas depois a abraço também. Connor dá de ombros e entra na mansão.
Filho da mãe.
— Nicole… O que você tem de diferente? — ela pergunta quando nos
separamos.
— Como? — pergunto não entendendo o que fala. Diferente? Como assim?
— Para ele lhe assumir como namorada e lhe trazer aqui. — ela fala e puxa
minha mão. — Ele gosta de você. — ela diz com uma certeza tão grande que eu que já
sabia, sorrio feliz e acreditando.
— Isso você vai ter que perguntar para ele. Não sei o que tenho de diferente. —
digo e ela dá de ombros.
Chegamos a uma sala luxuosa como toda a casa. Tudo é branco e bege. Uma
combinação muito bonita aos meus olhos.
— Meu amor… Que bom que veio. — escuto uma voz suave e olho na direção
que ela vem.
Connor está sendo abraçado por uma mulher muito bonita e jovem. Seus cabelos
são pretos e não vi seus olhos, pois estavam fechados ao apertar meu namorado. Sua
altura é quase a de Connor, pois está de salto. Seu corpo é bem torneado. Ela é muito
bonita. Parece Melissa, mais velha.
— Olá mãe. — ela o solta e olha em seus olhos.
— Estava com saudades, meu amor… Você se machucou alguma vez nessas
últimas lutas? — ela fala e arregalo meus olhos. Ela sabe. Melissa olha para mim e
me dá aceno respondendo silenciosamente minha pergunta. — Não minta Connor. —
ela tenta soar séria, mas vejo que não consegue. Sua emoção não deixa e ela volta a
abraçá-lo.
— Estou bem, mãe. Eu juro. — ele diz depois se curva falando algo em seu
ouvido.
Sua mãe desfaz a postura de mãe com saudades e me procura com o olhar. Puta
Merda. Os olhos verdes quase azuis que amo tanto, Connor herdou dela. Seu olhar
desce por meu corpo igual Melissa. Mas ela não abre o sorriso que minha cunhada
abriu em seguida. Isso é um mau sinal, não é?
— Ora… — ela fala e começa a andar em minha direção. Não recuo. Levanto
minha cabeça e olho no fundo de seus olhos.
Samantha me encara sem nenhum pudor e eu faço o mesmo. Não vou permitir
que ninguém pise em mim. Se ela pensa que irá me fazer chorar igual sua outra nora...
Ela está enganada.
— Nicole. Esse é seu nome? — Ela pergunta.
— Sim. Esse é meu nome. Por que Sra. Jones? Não gosta? — pergunto e ela
olha para Connor… Faço o mesmo e ele dá de ombros e vem para meu lado.
— Não querido. Fique aí. — ela fala e ele faz. Filhinho da mamãe. — Muito
pelo contrário Nicole. Eu gostei bastante. — ela diz quase sorrindo, mas não faz.
— Obrigada. — digo e ela acena.
— Gostaria de lhe fazer uma pergunta. Você se importa? — ela já fez uma
pergunta.
— De maneira nenhuma. Pode falar. — digo e ela acena.
— O que você quer com meu filho? — ela diz direta. Olho para ela por um
instante espantada. Vejo sua sobrancelha se elevar e vejo que demorei um pouco mais
do que desejei para responder.
— O mesmo que ele quer comigo. — digo e ela eleva a sobrancelha novamente.
— Connor, o que quer comigo? — pergunto. Ele não vai deixar me ferrar sozinha.
— Vamos terminar com isso. Eu gosto dela mãe. A senhora já sabe disso e se
não parar com isso eu vou para um hotel. — ele fala e ela sorri. Sim, ela sorri.
— Não será preciso. — Ela fala e depois me olha. — Ainda não é mãe Nicole.
Quando for você me entenderá. Seja bem-vinda a família Jones. — ela diz e me dá à
mão. Pego sua mão e damos um aperto de leve.
— Obrigada, Senhora…
— Somente Sam, por favor. — diz me interrompendo.
— Obrigada, Sam. Não se preocupe não sei o que sente, mas, mesmo assim,
compreendo. — digo e ela sorri.
— Graças a Deus. Agora vamos curtir. — Melissa bate palmas alegre. — Hoje
está inaugurando uma boate aqui perto. Vamos… — Sam a interrompe.
— Nem pensar. Nicole e Connor estão cansados da viagem e já é tarde. Amanhã
você terá coisas para fazer. É sua festa esqueceu? Todos para a cama. — Samantha
diz e Melissa acena emburrada. Depois de se despedir sobe para seu quarto.
— Boa noite. Vou dormir também. Já mandei arrumarem seu quarto, meu amor.
— Sam diz acariciando o rosto de Connor. — Se Nicole não quiser dormir com
você… Não sei em qual das etapas de um namoro vocês estão… Então… — Connor a
interrompe.
— Ok. Mãe. Nós entendemos. Obrigado e boa noite. — ele diz e Sam acena e
sobe para seu quarto. Suspiro e sinto Connor me abraçar por trás. Ele beija meus
cabelos. Adoro quando faz isso. — Desculpa… Eu te avisei que ela era ciumenta. —
Ele diz beijando pescoço.
— Não precisa se desculpar. Está tudo bem. Agora eu quero ver seu quarto. —
digo e ele sorri maliciosamente.
— Você quer conhecer o quarto de um homem, Nicole? — ele pergunta
divertido.
— Ele não é qualquer homem… — digo e me viro para olhar em seus olhos. —
Ele é meu homem. — digo e Connor toma minha boca na sua com urgência. Sua língua
invade minha boca procurando sentir o meu gosto. Puxo seus cabelos em minha
direção e Connor geme em minha boca. Suas mãos chegam à ponta da minha saia e
sobe sua mão. Quando está quase chegando a minha bunda ouvimos algo cair no chão.
Merda. Mil vezes merda.
— Dylan… — Connor rosna para seu irmão. Viro-me e vejo a cópia perfeita de
Melissa em um homem.
Dã? Eles são gêmeos, Nicole.
Irritante. Mostro a língua para minha consciência.
— Connor… Olha só… — ele sorri divertido. Estou rezando para ele não ter
visto a gente se pegando, mas isso é tão ridículo quando está tão óbvio que ele viu.
— Cala a boca. — Connor fala e Dylan finge fazer um zíper imaginário na boca.
— Essa é Nicole. Minha namorada. — Connor dá ênfase na palavra minha.
— Prazer Nick. — Dylan diz me dando a mão. Aperto sua mão e vejo Connor
revirar os olhos de raiva por seu irmão mais novo ter me chamado do apelido que só
ele usa.
— Não chame ela assim. É Nicole seu fedelho. — Connor diz assanhando os
cabelos de Dylan.
— Caralho, Connor. Para com essa merda você sabe que não gosto. — ele diz
arrumando seus cabelos pretos no lugar. Só agora que olho para seus olhos vejo que
não são da cor de Connor e sua mãe. É castanho escuro. Os dele e de Melissa.
— Prazer, Dylan. — digo e ele me olha confuso em saber seu nome. — Connor
falou de vocês. — digo e ele acena.
— Seja bem-vinda. Boa noite. Nos vemos pela manhã… — ele começa a subir
a escada mas para e nos olha. — Nick. — ele fala sorrindo.
— Vou te pegar seu merda. — Connor fala e Dylan sai correndo em direção ao
andar de cima. Sorrio com sua brincadeira. — Atrevido. Amanhã eu pego ele.
— Deixa ele. Agora por favor, vamos dormir que estou cansada. — digo e ele
acena confirmando.
Subimos a escada de mãos dadas. Sinto Connor tenso, acho que por sua família
estar presente era para ele relaxar. Eu sempre me sinto mais leve quando estou com
meu irmão e meus pais. Tenho certeza que isso acontece com quase todos os filhos.
Connor abre a porta de um dos vários quartos que tem no corredor que estamos.
Entramos e eu acho que já esperava ver isso tudo. Um quarto impecável e
extremamente luxuoso. Nele há uma cama King Size, muito bonita por sinal. Em frente
à cama tem uma TV enorme e embaixo tem uma estante de madeira escura com alguns
livros e DVDs. Procuro seu guarda-roupa, mas não tem. Óbvio, é um closet. Vejo duas
portas. Cada uma de um lado da cama. Então presumo que uma é o closet e outra o
banheiro. Connor abre uma porta e entra com minha mala na sua mão. Quando volta
está sem ela. Sim. Lá é o seu closet.
— Acabou a inspeção? — ele pergunta para me irritar, mas não fico.
— Sim. Seu quarto é muito bonito. — digo com um sorriso. Ele revira os olhos
e se deita na cama. Sento-me perto dele e mato minha curiosidade.
— Por que não me falou que sua família era rica? — pergunto. Connor me
observa por um instante e fala.
— Isso é importante?
— Não necessariamente, mas eu quero saber. — digo irredutível. Connor
suspira e se senta na minha frente em cima da cama.
— Porque tudo isso é deles. Tudo e todo dinheiro que tem aqui são deles. — ele
diz e segura minha mão. — Eu amo minha família Nicole, mas o dinheiro que tem aqui
são deles. Eu não quero nada disso. — ele diz e beija minha testa.
— Tudo bem. Quando se sentir confortável pode me chamar e conversar. Eu
quero ouvir todos os seus problemas. Sendo eles dolorosos ou alegres. Connor… Nós
somos um casal e eu quero que tenha confiança em mim. — digo e ele acena com a
cabeça.
— É por esses gestos que você tem comigo Nicole que eu… Eu sinto todos
esses sentimentos por você. — Ele fala e acaricia meu rosto.
Empurro seu peito o fazendo deitar e subo em cima dele. Beijo seus lábios
devagar e com carinho. Eu o amo. E eu preciso mostrar isso para ele por meio dos
gestos de carinho.
Tiro sua blusa enquanto Connor beija meu pescoço. Quando sua blusa passa por
sua cabeça ele me para. Pega minha mão e olha em meus olhos, ouvimos nossa
respiração pesada de desejo nos encarando.
— Tem certeza?
— Nunca tive tanta.
Connor olhou bem em meus olhos e acenou. Terminei de puxar sua blusa e acariciei
seu tanquinho perfeito. O ouço suspirar baixinho e volto a beijar seus lábios. Não é o
beijo que estávamos fazendo antes, agora é algo necessitado e urgente. Minha jaqueta
é tirada por ele e arremessada do outro lado do cômodo.
Sentir sua boca na minha é algo surreal. Eu amo beijar seus lábios sentindo seu sabor.
Depois de algum tempo beijando meu pescoço e colo, Connor pega a ponta da minha
camiseta e a puxa pela minha cabeça. Fico só de sutiã, saia e bota.
Ele me pega nos braços e me deita debaixo de seu corpo. Sua mão desliza pelas
minhas pernas em direção a minha saia. Sinto suas mãos subindo e trazendo junto a
peça. Connor beija meus lábios e desce para meu colo. Um gemido baixinho sai da
minha garganta ao me lembrar da vez que ele tocou em meus seios.
Ele desprende meu sutiã e o joga no chão. Desço minhas mãos e abro o botão de seu
jeans. Connor geme ao sentir minha mão por cima da sua cueca. Sinto seu membro
duro e engulo em seco.
Sinto seus lábios se fecharem ao redor do bico do meu seio direito enquanto seus
dedos esfregam o esquerdo. Aperto minhas pernas uma na outra tentando em vão
aliviar meu desejo por ele. Ele desce sua mão para minha umidade afastando minha
calcinha para o lado. Sinto seus dedos brincando com minha intimidade e percebo que
seus dedos estão encharcados com minha excitação.
— Isso vai doer um pouco, ok? Mas eu vou fazer o possível para não doer demais.
Você confia em mim? — Ele pergunta preocupado. Sorrio e beijo seus lábios.
— Confio. Eu quero isso. — digo e ele sorri satisfeito com minha resposta.
Connor tira minha bota e logo depois leva minha saia junto com minha calcinha.
Sinto-me exposta, mas acho que ele nem consegue me ver por causa do escuro da
noite. A única luz que entra no quarto é a da lua. Ela vai ser a nossa confidente.
— Você é linda, meu amor. — Connor fala e volta a me beijar. Sinto meu rosto
esquentar, mas logo a sensação vai embora deixando apenas o desejo.
Connor tira sua roupa e se posiciona para me invadir. Sinto um pouco de dor e uma
ardência enquanto Connor entra devagar me alargando. Quando transei com Zack foi
há muito tempo e não tive tempo para meu corpo se acostumar com o sexo. Connor
empurra mais um pouco e eu suspiro e escuto Connor gemer.
— Relaxa Nick… Vai ser mais fácil se você relaxar. — ele fala entrando em mim e
beijando minha boca.
Faço o que ele diz e logo seu membro entra com menor resistência. Uma sensação de
prazer começa a se formar em meu ventre quando Connor começa a se movimentar. A
ardência ainda está presente, mas também sinto prazer. Tento me focar no prazer e não
na dor.
A sensação que sinto é inexplicável, as investidas de Connor vão me levando até a
borda. Ele começa a se movimentar mais rápido e logo nos libertamos em um prazer
longo e forte.
Nossas respirações se confundem de tão altas e pesada que estão. Connor olha em
meus olhos e beija meus lábios devagar e com carinho. Sinto-me emocionalmente
frágil e feliz. Lágrimas querem descer, mas seguro o choro.
— Eu te amo. — digo e Connor me olha surpreso.
Penso que falei demais, que ainda é cedo e que talvez eu tenha o assustado, mas essa é
a verdade. Eu o amo e achei que esse momento, mesmo que o sexo que a gente fez seja
uma prova real do meu amor por ele, era o momento ideal para me declarar.
— Eu te amo, Nicole. — ele fala depois de poucos segundos.
Sinto meu peito começar a se encher de uma alegria tão grande que acho impossível
me ver mais feliz. Minhas lágrimas descem por meu rosto, sem cerimônia e eu não
quero e nem conseguiria segurá-las. Elas são a única forma de resposta que consegui
dar a ele nesse momento. Connor beija minhas lágrimas e por último beija minha
boca.
— Eu te amo, Princesa. Eu amo como nunca amei outra mulher. — ele fala depois que
nos separamos.
— Obrigada. — digo e ele sorri e beija meus lábios. Ele está tão lindo e relaxado que
acho impossível não sorrir admirada com sua beleza e mais ainda por ele me amar.
Connor Jones me ama.
— Não tem porque falar isso. Agora vamos tomar banho. Vem. — ele me puxa pela
mão e me pega nos braços. Começo a rir do seu gesto.
— Não precisa disso, Connor. — digo para ele. Ele sorri e não responde.
Alerta! Connor mandão no comando.
Entramos no banheiro e vamos para o box. Abro o chuveiro e Connor me coloca no
chão.
Tomamos nosso banho e voltamos para o quarto. Visto a camisa de Connor e pego
uma calcinha dentro da minha mala. Quando volto para o quarto Connor já está na
cama somente de cueca boxer.
Deito ao seu lado e ele me puxa em sua direção.
— Você está bem? — pergunta olhando para mim.
— Ótima. — digo e beijo seus lábios. Omito a parte que meu sexo está com um pouco
de dor.
— Amanhã você vai estar um pouco dolorida, mas vou te dar um remédio que
amenizará, ok? — Connor fala beijando meus cabelos. Sorrio com sua preocupação.
— Tudo bem. — digo. Com o passar de alguns minutos olho para ele. Connor está
com os olhos fechados quase dormindo. Aconchego-me em seus braços e dormimos
juntos. De conchinhas.
Acordo com Connor em cima de mim. Afasto seu braço com cuidado para não o
acordar e me levanto. Sinto-me um pouco dolorida, como o Connor falou ontem está
um pouco mais intensa. Suspiro e entro em seu closet. Vejo muitas roupas dele aqui.
Agora entendo sua única mochila pequena quando viajamos.
Falando em viagem tenho que ligar para Clara. Ela foi com Ty para a casa da sua
sogra, não sei se ela vem me ver ou se vamos sair. Mas que vamos nos ver hoje antes
da festa dos irmãos de Connor eu tenho certeza.
Pego uma jardineira jeans, uma blusa branca e uma sapatilha. Pego minha lingerie
branca de renda e vou para o banheiro.
Tomo meu banho sem pressa. Visto minhas roupas e entro no quarto. Connor está em
frente à janela de costas para mim. Lindo como sempre.
Ando em sua direção e o abraço por trás. Connor segura e beija cada uma das minhas
mãos.
— Bom dia. — digo o cheirando. Seu cheiro é de casa. Amo estar ao seu lado. Tudo
tem significado mais simples e único quando estamos juntos.
— Bom dia, Princesa. — ele fala e vira para ficar em minha frente. Beijo seus lábios
em um selinho demorado.
— O que estava olhando? — pergunto saindo de seus braços e indo em direção a
janela.
— Já começaram a organizar a festa. Acordei com um grito de Melissa por alguém ter
quebrado algo… — Ele fala e segura minha cintura. — Porque não me acordou com
beijos molhados para tomarmos banho juntos? — ele pergunta cheirando meu
pescoço.
— Por que estou com um pouco de dor ainda. — digo manhosa.
— Vem. Tem um remédio no banheiro. — ele fala e vai buscar.
Pego o remédio de suas mãos e o engulo. Connor senta na cama e me observa.
— Que foi? Perdi algum pedaço? — brinco e ele revira os olhos.
— Não. Você está linda. — ele fala e beija minha testa.
— Obrigada. — digo.
Depois de Connor tomar banho e vestir uma calça jeans preta com uma blusa branca
gola V que o deixou mais lindo, descemos juntos para tomar café.
— Bom dia. — Ao entrarmos no recinto uma senhora de idade nos cumprimenta.
Sorrio para ela encantada com sua simpatia.
— Bom dia, Rose. Como está? — Connor a cumprimenta. Ela sorri docemente para
ele. Olho para a mesa e fico maravilhada.
Tem várias comidas. Bolo, pães, queijo... Entre várias outras coisas. Sento a mesa e
procuro por Melissa ou qualquer outro membro da família, mas não vejo ninguém.
— Estou ótima meu filho. E você? Quem é essa linda garota? — ela pergunta sorrindo
para mim.
— Desculpe. Essa é Nicole, minha namorada. — ele fala e Rose arregala os olhos.
— Namorada? Meu Deus, que notícia maravilhosa. Seja bem-vinda minha menina. —
ela diz sorrindo e acariciando meus cabelos.
— Obrigada.
Depois de comermos nos levantamos e vamos atrás da família de Connor. Ainda não
me acostumei com o tamanho dessa casa. É irritantemente grande.
— Bom dia! — Melissa grita quando nos vê no jardim. Sorrimos e acenamos para
ela.
— Bom dia, meleca. — Connor grita e ela o olha com raiva e envergonhada. Olho
para Connor esperando uma explicação para o nome, mas ele apenas dá de ombros.
— Bom dia, Melissa. — digo e ela sorri simpática.
Aqui de baixo dá para ver o tanto de trabalho que eles têm para fazer. A decoração,
buffet entre outras coisas. Não vejo Dylan no meio disso tudo, mas Melissa não para.
É andando de um lado para o outro.
— Estou cansado só de olhar. — Connor fala nos fazendo rir.
Vejo Samantha andar em nossa direção sorrindo. Até ontem eu estava receosa
em relação a família de Connor gostar ou não de mim, mas agora estou um pouco mais
relaxada. Um pouco, pois ainda tem Erick, sei que não me importo, mas se todos
gostarem de mim vai ser melhor para todos, inclusive para meu namoro.
— Bom dia! — ela nos comprimentos sorrindo. Connor me solta e envolve
sua mãe em seus braços.
— Bom dia mãe. Desculpe por lhe acordar no meio da madrugada. — ele fala
baixo, mas escuto, pois estou muito perto deles.
— Não foi nada. E você, meu bebê como está? — ela pergunta acariciando
seu rosto. Connor revira os olhos.
— Para de me chamar assim. Eu já sou um homem. — ele fala e ela sorri
acenando.
— Falando nisso... Eu sei que é chato, mas como meu dever de mãe tenho que
perguntar... Vocês usam camisinha, certo? — Arregalo meus olhos surpresa e pior
ainda... Lembrando que não usamos nada ontem. Puta que pariu.
Tenho que encontrar Clara. Ela sempre me falou de uma pílula do dia
seguinte. Tenho que comprar e rápido.
— Mãe. Parou. — Connor agora fala sério. Ele lembrou.
— Tudo bem. Olha Tyler ligou avisando que está a caminho daqui. Ele falou
algo da namorada dele estar com saudades de Nicole. Não entendi direito, desculpem.
— ela fala, mas nada entra na minha cabeça. Só lembro da camisinha e da pílula que
tenho que tomar em breve.
— Tudo bem, mãe. Obrigado. — Connor fala.
Não sei o que está acontecendo, mas eu senti que ele está chateado. Será que
está com raiva de mim?
— Ok. Agora tenho que ligar para a confeitaria. Sabe perguntar sobre o bolo,
seu andamento. Depois vejo vocês. — Sam sai me deixando ali parada na frente de
um Connor nervoso.
— O que foi Connor? — pergunto sem saber o que falar. Só sei que ele está
distante e com raiva.
— O que foi? Você ouviu minha mãe? A gente não usou camisinha. — ele
passa a mão no cabelo nervoso. — Mas é assim que você quer. É por causa dos
filhos. Só pode ser isso. — ele fala andando de um lado para o outro.
Semicerro meus olhos procurando ver se Connor está de sacanagem comigo.
Não acredito que ele está fazendo isso.
— Eu o que Connor? Eu não fui à única pessoa a esquecer. Você também
esqueceu. Não venha com suas merdas para mim. — digo séria. — Eu não estou
dizendo que não quero ter bebê, eu quero e você sabe disso. Mas eu nunca faria isso
assim escondido. Dessa maneira suja e tosca. Nunca. — Suspiro e uma lágrima desce
por meu rosto. — Não acredito que você pense que sou capaz disso. — digo e saio
em direção à escada.
Entro em seu quarto e pego minha bolsa. Procuro meu telefone e o coloco
dentro com dinheiro que trouxe para alguma emergência. Limpo mais uma vez meu
rosto e vou ao banheiro.
Vejo meu reflexo e me pergunto como de uma hora para outra estamos
brigando e se amando. Meus olhos vermelhos por causa das lágrimas que agora
descem sem pedir licença por meu rosto. Meu nariz vermelho e um pouco inchado. Eu
fico horrível chorando. Suspiro e lembro-me das palavras que ele falou para mim. Eu
nunca faria isso com ele. Eu até pensei em deixar minha vontade de ser mãe de lado
por causa dele. Por causa de tudo que sinto por ele, mas parece que tudo o que faço
não é suficiente. Nada é suficiente quando ele é um idiota completo.
Pego meu celular e ligo para Clara. No segundo toque ela atende.
— Clara?
— Oi amiga.
— Onde você está?
— Estou nesse momento estacionando o carro com Ty em frente à casa, e que
casa da sua sogra. O que aconteceu?
— Eu quero ir a um lugar. Eu lhe explico depois, mas agora eu preciso de
você.
— Você está me assustando.
— Eu só quero estar com você agora, Clara.
— Mas tem algo a mais.
— Eu vou falar, mas não por telefone. Deixa de ser chata.
— Tudo bem. Estou entrando. Beijos.
— Beijos!
Desligo a chamada e saio do banheiro. Pego minha bolsa e na hora que me
viro para sair Melissa entra.
— Oi. — ela diz envergonhada. Seu olhar desce para minha bolsa e pergunta.
— Vai sair?
— Oi Melissa. Sim. É… vou sair com minha amiga. — digo e ela franze as
sobrancelhas não entendendo.
— Você conhece alguém aqui? — ela pergunta confusa, mas curiosa ao
mesmo tempo.
— Não. É a namorada do Ty. — ela arregala os olhos surpresa.
— Tyler está namorando? — ela pergunta assustada.
— Sim. Com Clara, minha amiga. — digo sem entender seu susto e até mesmo
seu desconforto.
— Não acredito. — ela diz e anda de um lado para o outro.
— O que foi?
— Nada. É… desculpe entrar assim sem bater. — Ela suspira. — Eu vim
porque vi você e Connor discutirem. — ela muda de assunto na hora. Estranho mas
esqueço, por hora.
— Não precisa pedir desculpas. Tudo bem. Foi apenas uma discussão boba.
— Minto. Quem dera fosse isso. — Desculpa Melissa, mas não quero meter você no
meio dos meus problemas. — digo e ela acena.
— Se precisar de um ombro… pode me chamar. É… eu já vou. Bom passeio.
— ela fala depois sai do quarto.
Saio do quarto depois de alguns segundos da sua partida. Assusto-me ao ver
Connor encostado na parede oposta ao seu quarto. Me recupero do susto e recomeço a
andar fingindo que não o vejo.
— Aonde vai? — ele pergunta me seguindo.
— Sair. — digo simplesmente sem lhe dar mais informações.
— Para onde? Você nem conhece essa cidade. — ele tem um ponto. Merda.
— Vou passar a conhecer. — respondo ríspida.
— Nicole… — o interrompo.
— Eu não quero falar com você. Não quero mais ouvir suas acusações sem
cabimento em relação a mim. Então não se meta na frente e não tente me impedir. —
digo parando na frente dele e olhando em seus olhos.
— A gente tem que conversar. — Ele fala e eu volto a andar.
— Não. Quando eu voltar conversamos. — digo descendo as escadas. Não
quero ouvir ele dizer que é minha culpa termos esquecidos de se proteger. Quando na
verdade a culpa é dos dois.
Saio da casa e Samantha vem sorrindo ao nosso encontro, mas ao ver que
minha cara e a do filho dela não estão as melhores, seu sorriso murcha. Me penalizo
por isso.
— Vai sair querida? — ela pergunta docemente.
— Sim. Vou respirar um pouco, mas venho rápido e antes da festa não se
preocupe. — digo tentando sorrir. Seu olhar preocupado me analisa. Ela sabe que
brigamos e a certeza vem logo após sua pergunta.
— Espero que esteja tudo bem…
— Seu filho que vai me dizer se está. — digo sincera não me importando que
ele esteja atrás de mim ouvindo tudo.
— Nicole… — ele tenta falar, mas o interrompo.
— Estou indo. Vejo você mais tarde, Sam. — digo e beijo seu rosto bonito.
Seus olhos analisam seu filho e depois volta para mim com um sorriso.
— Tudo bem. Cuidado.
Saio e vejo Clara conversando com Ty enquanto andam em direção a casa.
Me apresso e paro na frente dos dois.
— Nicole… — Clara fala ao ver o quão horrível estou. Acho que meus olhos
ainda estão vermelhos do choro.
— Vem… — pego sua mão. — Desculpa Ty, mas preciso dela agora. — digo
sentindo por separar os dois, mas eu preciso da minha amiga. Tyler como um bom
amigo acena concordando. Clara beija seu namorado e vem comigo para fora da
mansão.
Entramos no carro e ela dá partida.
— O que aconteceu? — Ela pergunta me olhando atentamente.
— A gente transou. — solto de uma vez e Clara pisa no freio me assustando e
olhando para mim atordoada.
— Puta que pariu, Nicole, como você fala assim… Merda. — ela reclama
dando partida no carro novamente.
— Não tenho outro jeito. Você queria que eu fizesse mímica? — pergunto com
sarcasmo, mas a verdade era que eu queria chorar de novo, só que, agora em seu colo.
— Engraçadinha. Mas e aí como foi? — ela pergunta. Lembro da nossa noite
e suspiro querendo voltar no tempo e estar com ele. Claro lembrando-se da
camisinha. — Nicole! Estou vendo que foi bom. — ela sorri me olhando
maliciosamente.
— Foi incrível. Eu amei estar com ele, mas… — olho para minhas unhas sem
saber como começar a falar.
— Sempre tem um, “mas”. — ela fala irônica revirando os olhos. Sorrio com
seu jeito chato de ser.
— A gente não usou camisinha. — digo e Clara me olha com os olhos
arregalados. — Connor está enlouquecendo com isso. Ele disse que eu esqueci por
que quis. Por que quero ter um bebê. — digo sentindo as lágrimas na borda. Me
seguro. Não vou chorar.
— Não acredito que ele fez isso. Eu vou chutar sua bunda. Não acredito nisso
Nicole. — ela começa a despejar tudo de uma vez. — Ele só pensou com a porra da
cabeça de baixo e coloca a culpa em você? Ele está com muita sorte, pois se eu
estivesse naquela casa eu ia estapear toda a cara dele. Filho da puta idiota. — ela diz
com raiva.
— Eu sei. Mas eu também tenho culpa. Eu não lembrei…
— Isso não justifica ele dizer que você fez porque quis. Eu vou…
— Você não vai fazer nada. Por favor, hoje é aniversário da Melissa e eu não
quero confusão com ninguém. — digo e ela acena confirmando.
— Tudo bem. Agora me diz onde estamos que eu não faço a mínima ideia. —
ela diz e eu arregalo os olhos olhando para os lados. — Quê? Sua culpa. Inventa de
sair numa cidade que nem conhece. — diz irritada.
— Cala sua boca. Vou procurar na Internet o endereço da casa de Connor e
colocamos no GPS. — digo e levanto a sobrancelha para ela.
— Por que é óbvio que vai ter, vi no jornal que todas as casas dessa cidade
têm um registro no Google. Legal não? — pergunta sarcástica. Idiota.
— Vaca. A mãe dele é famosa na região. Então algo dela deve ter aqui. —
digo
— O endereço então… — ela questiona.
Mando um olhar mortal para ela e Clara se cala. Vaca.
Pego o endereço na Internet e mostro a Clara. Chupa sua chata. Salvamos no
GPS, mas vamos em direção a uma farmácia e compramos a tal pílula. Depois fomos
ao shopping da cidade. Ainda não quero ir para casa de Connor. Vou tentar adiar ao
máximo nosso encontro.
— Viemos ao shopping e você não quer me deixar comprar nada? — Clara
reclama pela terceira vez desde que chegamos nesse shopping.
— Não. Para quê? Você já tem roupa demais naquelas malas. — digo irritada.
— Chata. — ela fala, mas depois arregala os olhos. — Temos um aniversário
para ir. Então sim, temos que comprar algo. — Ela fala e me dou por vencida. Nem
trouxe uma roupa que fosse para a ocasião mesmo.
— Tudo bem. Só uma roupa. — digo e entramos em uma loja qualquer.
Depois de pegar um vestido e Clara outro saímos da loja em direção a praça
de alimentação. Nos sentamos e pedimos almoço para as duas.
— E sua sogra? Ela foi legal? — pergunto. Ia quase me esquecendo dessa
parte.
— Ela é o capeta. Não gostou de mim de jeito nenhum. Sempre falando de tal
de Mel. Puta que pariu a velha me recebe na casa dela e fica falando da ex do Tyler.
Fiquei com ódio, mas Tyler com seu jeito “bom moço” colocou panos quentes. — ela
fala irritadíssima. — Mas me conta e a sua?
— Ela quis colocar um pouco de medo assim que me viu, mas não deixei por
menos. Depois disso quase viramos melhores amigas. — Clara arregala os olhos e
joga um guardanapo que pega no meu olho esquerdo.
— Sua vaca. Eu não estou acreditando nisso. — ela fala horrorizada. Minha
gargalhada irrompe pelo meio de nós, quem passa olha para mim achando que sou
louca, mas não consigo parar.
— Deixa de ciúmes bobos. Você é a melhor. — digo ainda rindo.
— E única. — ela fala convencida. — Mas explica melhor como foi o
confronto de vocês duas. — Clara pede curiosa.
— Humrum. — começo a contar tudo e ela só acena com a cabeça
confirmando.
— Ainda bem que no final deu tudo certo. A minha deu graças a Deus quando
sai pela porta. — Clara fala me fazendo sorrir.
Passamos mais umas 2 horas terminando nossa refeição e andando pelo
shopping. Quando nos demos conta já passavam das 3 da tarde.
— Vamos. Já está um pouco tarde. — Clara fala e afirmo.
Sim já está tarde. Tarde para quem tem uma festa para ir, mas cedo para quem
ainda tem que enfrentar Connor Jones. Ele me ligou umas cem vezes depois que sai de
lá. Não atendi, não queria ter que falar com ele. De um jeito ou de outro ele soube de
informações sobre onde estava e como estava. Sempre que o meu celular parava de
tocar o da Clara tocava com Ty ligando, na certa a mando de Connor.
Suspiro e voltamos para a mansão.
Desço do carro e entro lado a lado com Clara. A primeira pessoa que vejo é
Melissa. Seus olhos passeiam por Clara inteira. Não sei se foi só eu, mas vi uma
fagulha de raiva passar por seu olhar. O que está acontecendo?
— Melissa essa é Clara. Minha amiga e a namorada de Ty que te falei mais
cedo. — digo sorrindo. Clara e Melissa se olham por um instante. Minha amiga como
a pessoa simpática que é logo abre seu sorriso.
— Prazer Melissa. Feliz aniversário, sua festa está ficando muito bonita. —
ela fala sorrindo e admirando a casa repleta de flores e lençóis pretos e brancos
esticados. Está tudo muito lindo mesmo.
— Oi Clara. Seja bem-vinda. Obrigada. Ty está… — Ty interrompe Melissa.
— Aqui. — diz e Clara sorri na hora. Minha amiga sai do meu lado e abraça
seu namorado.
Melissa fica sem jeito com a troca de carinho dos dois e percebo que Tyler
também. Vejo um vulto de cabelos pretos correndo para o andar de cima. Melissa saiu
em disparada. Não sei o que aconteceu com ela.
— Clara vou subir. Tenho que resolver alguns problemas. — digo e subo em
direção ao quarto de Melissa.
Bato na porta e Melissa diz que está ocupada. Não desisto e tento chamar sua
atenção por meio da minha voz.
— Sou eu Mel. Nicole. — digo acanhada. Não sei o que fazer, nem sei ao
certo o que aconteceu para ela se trancar assim.
— Desculpa Nicole, mas preciso ficar sozinha um pouco. Tudo bem? — Ela
pergunta educadamente.
— Se quiser um ombro amigo… estou aqui. Não sei o que aconteceu, mas se
eu puder ajudar… — digo usando as palavras que ela disse mais cedo. Percebo que
estou forçando a barra. Suspiro. — Desculpe Mel. Eu já vou. — digo e saio em
direção meu quarto.
Entro e logo vejo Connor sentado em uma poltrona com um copo nas mãos.
Não. Por favor, não deixe que ele tenha bebido. Seu olhar percorre meu corpo e por
último meu rosto.
Vou em sua direção e tiro o copo de suas mãos. Vodca. Arg ele bebeu.
— Onde estava?
— Não finja que não sabe. Vi Clara cochichando ao telefone o tempo inteiro.
Com certeza Ty te falou. — digo e volto para perto da cama. Coloco seu copo no
criado-mudo e jogo a bolsa no colchão.
— Por que não me atendeu? — ele pergunta levantando e vindo para a cama.
Ele se senta na ponta da cama ao lado da cabeceira.
— Por que eu não quis. — digo ríspida. Tiro o vestido novo da sacola da loja
e o coloco no closet de Connor. Não quero que ele amasse.
Sinto seus olhos em mim o tempo todo. Quando estou voltando para o quarto
ele está sentado ao lado da porta na cama.
— A gente vai ficar assim agora, Nicole? — Ele pergunta chateado.
— Nós estamos assim por sua causa, Connor. Por você ser um caralho idiota.
— digo com o peito apertado.
— Nicole… Desculpa… Eu não devia ter falado aquilo. Eu não penso assim.
Eu só fiquei confuso e irritado na hora. A gente não se lembrou da porra da camisinha
antes da minha mãe nos perguntar. Como você queria que eu me sentisse? — ele
pergunta irritado.
— Eu queria que você me entendesse. Que entendesse que essa
responsabilidade é de nós dois e não exclusivamente minha. Era nossa primeira vez.
O que acha que estava passando pela minha cabeça? — pergunto gritando e chorando
ao mesmo tempo.
Não quero saber se tudo dentro de mim está doendo por ver que cheguei a um
ponto com ele. Era minha primeira transa depois de perder minha virgindade com
aquele idiota do Connor. Connor se levanta e me abraça. Sinto seu cheiro misturado
ao de vodca e tento reprimir a vontade que tenho de embalá-lo em meus braços.
Depois que começamos a namorar Connor nunca mais tinha bebido. E eu sei
que hoje foi por causa da nossa briga. A vontade vence e passo meus braços por sua
cintura encostando minha cabeça em seu peito.
— Desculpa, Princesa. Nunca mais farei isso. Eu juro Nicole. — ele fala
olhando em meus olhos.
Aceno com a cabeça e Connor abaixa sua cabeça para que sua boca possa
encostar-se à minha. Sua língua gostosa tem sabor de bebida misturada com o gosto
maravilhoso de sua boca. Sinto seus lábios descerem por meu colo até chegar ao
primeiro botão da minha jardineira.
Com o auxílio de suas mãos ele desabotoa os dois botões da jardineira os
fazendo cair. Minha blusa é retirada com urgência por Connor. Sua boca toma meu
seio como seu e ele começa a chupar e morder. Sua mão está segurando o seio que ele
chupa enquanto a outra me levanta. Enlaço minhas pernas em sua cintura e sinto seu
membro grande e forte pulsar de encontro a minha parte íntima ainda coberta.
— Connor? — A voz de Samantha nos interrompe.
— Caralho. — Connor amaldiçoa ainda com meu seio em sua boca.
Desço de seus braços vestindo minha blusa novamente.
— Só um momento. — me viro para Connor. — Vai tomar banho, eu digo para
ele e já volto. — Digo sorrindo ele bufa, mas faz o que digo.
Abro a porta e dou de cara com outra garota ao seu lado. Não dou mais que
minha idade a ela.
Connor sai do banheiro só de toalha.
— Só esqueci a… — ele para de falar ao ver a nova convidada. Ela completa
seu pensamento. Do jeito dela, mas completa.
— Que eu viria? — ela pergunta olhando para ele, muito tempo, eu acho.
Cruzo meus braços olhando para garota irritante e exibida.
— Megg…
Ele sorri relaxado e pega minha mão. Beijo seus lábios com um selinho e me
afasto.
— Vamos esperar cantarem Parabéns para Melissa. Já vai começar. — ele fala
me puxando para seus braços.
— Tudo bem. Mas vamos sair daqui. — digo olhando para aquela vaca. Megg
me olha com tanta raiva que posso até imaginar ela maquinando as formas de me
matar. Só sorrio para ela. — Tchau Megg. — digo e ela revira os olhos.
— Connor, depois continuamos? — Ela pergunta de maneira maliciosa. Minha
respiração fica pesada. Ela se levanta e vem para o lado dele, sua mão sobe pelo seu
braço e eu a pego e a aperto com toda a força que deixo meus dedos marcados.
— Não toque nele. Eu vou te avisar só uma vez, não me provoque. Você vai se
arrepender. — digo ainda apertando seu pulso. Ela tem o rosto de dor e sorrio por
isso.
— Nick... — Connor fala tentando me puxar para que eu a solte mas continuo
apertando.
— Me solta sua louca. Eu não tenho culpa se você não consegue segurar seu
namorado. — ela fala sarcástica depois que puxou o braço.
— Deixa de ser cínica, todo o momento que me afasto você aproveita para
chegar perto dele. — digo exasperada. Essa menina pensa que sou idiota?
— Amor, vamos sair daqui. — Connor tenta novamente. Eu até pensei em sair,
mas o que ela fala a seguir faz meu sangue ferver.
— Vai Connor. Porque não a deixa ficar aqui? Tem medo do que vou falar? Ela
já desconfia. Só vou dar a certeza. — ela diz debochada. Solto-me de Connor e dou
um tapa no seu rosto.
— Cala a sua boca. — começo a bater nela. Dou vários tapas a fazendo cair,
sento em cima dela e começo a bater novamente em seu rosto.
— Sua doida. Me solta. — ela chora desesperadamente. Sou tirada de cima dela
por Connor enquanto Dylan a levanta.
— Eu te avisei. Não mexa comigo e o que você veio atrás já é meu. — digo a
vendo chorar arrumando o cabelo.
— Você é doente. É essa garota que você trouxe para sua casa? Para conhecer
sua família? — ela grita fazendo todos a olhar.
— Cala a sua boca, Megg. Não se meta na minha vida. Quando você chegou eu
falei que estava namorando. — Connor grita e pega minha mão me arrastando para
fora.
Nos sentamos em nossa mesa e mesmo que a música esteja tocando, um silêncio
horrível se instala ao nosso redor. Sinto-me relaxada e péssima ao mesmo, causei a
maior confusão na casa da minha sogra.
— Desculpa. Eu não devia ter feito isso. Sua mãe? Ela deve estar me achando
uma louca violenta. — começo a falar calma e a andar de um lado para o outro. Eu vi
todos. Eles estavam olhando para nós duas brigando na sala. Lembro-me de Melissa e
me penalizo mais ainda. Estraguei seu aniversário. — Meu Deus que vergonha. Sua
irmã deve estar com raiva de mim. — digo e sinto seus braços me abraçar.
— Depois nos desculpamos. Mas acho que não irão ficar com raiva. Relaxa. —
Ele fala beijando minha cabeça. Aconchego-me em seus braços. — Mas você é um
pouco violenta mesmo, Princesa. — ele fala rindo. Bato em seus braços e ele se
encolhe.
— Olha quem fala… — digo revirando os olhos.
— Só fico violento quando vejo que alguém quer te tirar de mim. — ele sorri.
— Adoro te ver com ciúmes. Sempre sou eu, é bom ver que você também gosta de
mim. — ele fala sorrindo.
— Eu amo esse seu jeito fofo, sabia? — pergunto alegre. — E ninguém vai me
tirar de você.
— Só o jeito?
— Não. Eu amo cada pedaço seu. Eu amo você. — digo um pouco
envergonhada. Tento esconder meu rosto em seu peito, mas ele o segura com sua mão.
— Não precisa se vergonhar Nick. Eu também amo cada pedaço seu. — ele diz
olhando para meus lábios logo após, toma minha boca como sua.
Sinto sua língua pedir passagem para minha boca e dou. Chupo sua língua com
vontade e sinto suas mãos passarem por meu corpo de cima a baixo. Sinto-me única.
Sinto-me amada. Sei que Connor não falou da boca para fora ao dizer que me ama. Eu
vejo nos seus olhos o mesmo brilho que vejo nos olhos dos meus pais. Eu o amo e
tenho certeza que ele também.
Nos afastamos sorrindo.
— O que estão fazendo aí? Venham, já vão cantar para Melissa. — Dylan grita
do outro lado.
Seguimos para dentro e continuamos na festa até bater o sono. Connor me leva
para o quarto e tira minha roupa me deixando apenas de sutiã e calcinha. Logo depois
se deita ao meu lado me puxando para seus braços.
Acordo com o sol entrando pela janela. Procuro Connor, mas ele não está na
cama. Suspiro frustrada. Onde ele foi?
Saio da cama e faço minha higiene. Espero-o aparecer, mas nada então desço e
vou para a cozinha. A primeira pessoa que vejo é Megg, respiro fundo. Ela está toda
arranhada, mas ainda assim está com a cabeça levantada me olhando com
superioridade. Ridícula.
— Bom dia! — Melissa me cumprimenta me fazendo olhar para seu rosto
bonito. Sorrio na hora, ontem pedi desculpas, mas ela disse que não precisava e que
tinha sido muito divertido.
— Bom dia, Mel. Você sabe de Connor? Acordei e ele não estava na cama. —
pergunto me sentando e colocando café na minha xícara.
— Ele está no meu quarto. Está dormindo. — Megg falou me fazendo derrubar a
xícara e olhar para ela. Meu coração parou por um momento. Não acredito nisso. É
mentira dessa nojenta invejosa. Só pode ser.
— Não brinque comigo. Eu já falei para você. — eu gritei me levantando. —
Melissa? Onde seu irmão está? — pergunto com raiva.
— O quarto que Megg está falando é o meu, Nicole. Ela dorme lá também. E
sim ele está lá. Mas não é nada que você está pensando. — ela fala calma. — E se eu
ouvir sua voz mais uma vez eu mesma vou quebrar sua cara Megg. — ela avisa
enquanto a prima fica rindo de mim.
A raiva sobe em minha cabeça, não acredito que Connor fez isso. Que merda ele
pensa em ir para o quarto dessa vadia. Tudo bem a irmã dele também estava, mas
porra. Ela estava lá.
— Cadê a Sam? — pergunto.
— Ela saiu com papai. Acho que foram comprar algo para o almoço. Vocês irão
só a tarde, não é? — ela pergunta.
Não quero mais ficar no mesmo teto que essa piranha. Eu sei que talvez possa
ser egoísmo da minha parte em ir embora. Connor nunca vê a família e quando vem
fico dando chilique, mas eu não vou pedir que venha comigo. Eu não vou mais me
segurar estando perto dessa vadia, que a todo momento quer me separar do meu
namorado. Talvez eu esteja dando brecha para ela ficar com ele, mas se isso
acontecer eu saberei que ele foi uma perda de tempo e que nunca gostou de mim de
verdade. Está na hora de voltar para casa!
— Desculpa Mel. Mais eu já vou. Seu irmão eu não sei. — digo e seu rosto
entristece. Sinto-me culpada por isso, mas não posso ficar aqui.
Subo para o quarto. Não sei o que Connor vai fazer e muito menos como irei
acordá-lo e contar que já estou indo, mas eu não posso e não vou ficar aqui. Mudo o
horário da minha passagem e começo a arrumar minhas coisas.
Escuto a porta abrir e bater, mas não me preocupo. Continuo colocando minhas
roupas dentro da mala. Tento de todo modo colocar o vestido novo dentro, mas não
entra, eu ainda falei para Clara que esse vestido não caberia na mala. Ai que raiva.
— O que você está fazendo? — Connor pergunta ao parar na porta de seu
closet.
— Arrumando minhas coisas. Eu já vou. — digo e ele me olha sem entender.
Empurro o vestido pela lateral e ele fica. Ufa!
— Nossas passagens estão marcadas para as dezessete horas, Nick. — ele
explica entrando no cômodo. Quando ele se aproxima de mim eu me afasto. Ele não
entende nada.
— Eu mudei a minha. Meu voo é daqui a duas horas. — digo ainda sem o olhar.
— O que aconteceu? — Ele pergunta pegando minha mão e me fazendo o olhar.
— Eu quero a verdade. Agora Nicole. — Minhas lágrimas estão quase derramando.
Falta pouco. Seus olhos pedem uma explicação então respiro fundo e começo.
— Eu acordei e você não estava aqui. Por quê? — pergunto com lágrimas nos
olhos. — Eu desci e aquela cobra falou que você dormiu no quarto dela. Por que você
me deixou sozinha e foi dormir lá? — pergunto respirando fundo.
— Eu dormi no quarto da minha irmã e não no quarto da Megg. — ele se
esquiva. Que raiva de Connor.
— Mas ela dorme lá. — digo séria. — Você preferiu dormir lá e não ficou
comigo, mas o pior é ter que a ouvir fazendo insinuações de vocês dois. — falo com
raiva.
— É por isso que quer ir embora agora? Por isso? — Ele pergunta sarcástico.
Sorrio irônica.
— Eu não quero, eu vou. — dito isso pego minha mala e saiu do closet.
— Nicole… Para com isso. Eu já falei que eu não quero nada com essa garota.
Merda o que quer que eu faça?
— A única coisa que eu queria era que você não desse munição para ela me
atacar. O que aconteceu para você ir dormir com sua irmã? Foram os pesadelos? Por
que não me acordou? Eu ficaria com você…, Mas não. Você me deixou sozinha. —
grito novamente.
— Isso é uma besteira. Eu não iria te acordar por causa dessas porras que ficam
fodendo com minha cabeça. Me diz o que eu tenho que fazer para você parar com
isso? — ele pede vindo atrás de mim. Mas no momento eu só quero ir embora dessa
casa então faço o que eu tenho certeza que irei me arrepender.
— Me esqueça. — digo olhando em seus olhos azuis. O azul mais perfeito que
um dia eu vi. Nesse momento vejo mágoa, mas deixo o orgulho me dominar e desço
para a sala. Ele não vem atrás de mim, agradeço por isso.
Quando desço do último degrau da escada vejo o padrasto de Connor passar
para a cozinha e Sam parando em minha frente.
— Nicole… — Samantha diz sorrindo, mas ao ver minha mala seu semblante
entristece. — O que foi? Vocês já vão? Mas o voo não é só à tarde? — ela começa a
falar e pega minha mão.
— Eu mudei o horário. O meu é daqui a pouco. — digo limpando as lágrimas
que ainda estavam em meus olhos. Sei que Samantha está preocupada em Connor ir
também. Então falo logo. — É… Ele vai ficar. Desculpa mais uma vez pela confusão.
Eu juro que não foi porque eu quis. — digo ainda me sentindo culpada pela confusão.
— Não precisa pedir desculpas. O que ela fez? Diga-me. — ela pergunta.
— Nada. Deixa para lá. — digo tentando sorrir. Samantha deixa a pequena
sacola no chão e passa a mão nos cabelos.
— Espere um minuto. — ela fala e vai em direção à cozinha. A acompanho. —
Eu quero você longe da minha casa Megg. Agora. — Sam grita assustando Megg e
Mel.
— Mãe… — Mel olha assustada e claro tenta intervir pela prima que também
está assustada.
— Quieta Melissa. — Sam fala séria e Mel fica calada.
— Tia o que foi? O que eu fiz? — ela fala quase chorando.
Se ela não fosse tão vadia eu poderia ficar com pena, mas eu não tenho. Eu
quero que ela se exploda.
— Eu não quero ninguém na minha casa tentando acabar com o namoro do meu
filho. E você já passou de todos os limites. Vá arrumar suas coisas. — Samantha
continua gritando. Intervenho, eu já irei embora. Não tem porque disso tudo mesmo.
— Desculpa Sam. Mas não precisa disso. Eu já vou embora, por favor, deixe
Megg ficar. Acho que ela gostará de ficar mais tempo com o primo dela. — digo e
Megg me olha com raiva.
— Nicole… — Sam tenta falar, mas a interrompo.
— Eu adorei te conhecer. De verdade você é a sogra que toda nora quer.
Obrigada. — digo e a abraço. — Cuida dele? — sussurro em seu ouvido.
— Não preciso cuidar dele. Ele não estará aqui para eu fazer isso. — ela diz
olhando para trás de mim. Sorrio relaxada sabendo que é Connor e vou em direção a
Melissa.
— Sua festa foi muito linda. Espero que esteja bem. E seja muito bem-vinda a
nossa Universidade. Vamos balançar com os garotos. — digo sorrindo.
Mel tem lágrimas nos olhos e Connor tosse se fazendo presente.
— Te vejo assim que eu desembarcar lá. E sim nós vamos balançar os garotos
mesmo que isso será só eu balançando e você olhando. Você já balançou o único que
quer de verdade. — diz me abraçando. Beijo sua cabeça e sorrio.
— Onde está Dylan? — pergunto limpando meus olhos.
— Dylan está dormindo. Não se preocupe eu falo que você mandou um tchau. —
diz Mel. Pisco para ela e me viro para olhar Connor com sua mochila nas mãos.
— Me espera? — ele pergunta.
— Sim. — digo me soltando de Melissa e indo em direção à sala.
Chamo um táxi e fico esperando Connor dentro dele. Depois de dez minutos ele
sai de dentro da casa abatido e com os olhos vermelhos. Vendo ele desse jeito todo o
ar é puxado dos meus pulmões.
— Não tem necessidade de você ir. Fica com sua família. Vai ser melhor. —
digo olhando para a janela enquanto ele entra e coloca o cinto de segurança.
— Melhor para quem? Para você? Quer ficar longe de mim? — ele pergunta
calmamente. Reviro os olhos para sua pergunta idiota.
— Não. Eu não quero ficar longe de você, só queria que ficasse mais tempo
com sua família. — digo olhando minhas unhas feitas.
— Eu não vou ficar aqui sem você. — ele fala pausadamente para que eu possa
compreender.
— Desculpa, mas eu não posso. Eu me torno uma pessoa cheia de raiva quando
estou ao lado dessa… Megg. Me desculpe. — digo quando a lágrima desce. Olho
para o taxista e ele sorri para mim. Um sorriso tão acolhedor quanto ao do outro
taxista que me levou para o Campus.
— Então vamos. Ainda temos que arrumar tudo para a chegada da Mel e do
Dylan. — ele fala e eu aceno concordando.
Mel e Dylan irão entrar na nossa Universidade daqui a quatro meses com Pietro.
Não sei o que os espera no próximo semestre, mas algo me diz que muita coisa está
para acontecer.
Connor segura minha mão me trazendo para seu peito. Meu lugar preferido no
mundo todo. Com certeza. O táxi segue para o aeroporto e assim partimos rumo a
nossa casa, a nossa vida.
Quatro meses depois…
Levanto-me pelas pontas dos pés pela segunda vez procurando eles, mas isso se
torna impossível com Connor andando de um lado para o outro.
— Eles estão demorando. Todo tipo de gente sai por aquela merda de portão
menos eles. Isso é tão fodido. — diz Connor mais uma vez.
Eu já o ouvi dizer essa mesma frase umas cinco vezes. Ele está ansioso, pois os
irmãos irão morar com ele, serão sua responsabilidade, como ele mesmo fala, e
lógico que também está com muita saudade de Mel e Dylan.
Falta um mês para as aulas do próximo ano começar, depois que viemos para
casa, Connor teve que procurar outro apartamento onde agora morará os quatro,
Melissa, Dylan, Connor e Tyler. Nem acredito que já se passou quase um ano que
conheço Connor. Parece que foi ontem o dia em que cheguei naquele restaurante e dei
de cara com meu atropelador. Estamos bem na medida do possível, pois os ciúmes de
Connor a cada dia aumentam mais.
Principalmente depois de Drew ter aparecido em minha vida. O conheci quando
mudei de turma para outra matéria. Ele é um amigo que gostei muito de conhecer. No
começo até o evitei para não dar munição aos ciúmes de Connor e falei com ele sobre
isso, eu tenho namorado e etc.
Ele ria tanto de mim que não entendi nada. Mas ele não parava e quando parou
me disse que era gay. Eu fiquei muito envergonhada. Mas ele logo me tranquilizou e
depois disso não nos desgrudamos mais. Claro na aula. Fora dela somos bem
distantes porque ele não mora no Campus então ele logo sai do meu campo de visão.
Não tive oportunidade de falar esse detalhe sobre Drew para Connor, pois sempre
que começo ele diz que não quer saber nada sobre ele.
— Calma Connor. Eles já vão sair, deve ser as malas. — digo o puxando para
irmos mais para frente.
Ao longe vejo cabelos pretos lindos e ondulados balançar de acordo com o
vento. Melissa está muito mais bonita do que a última vez que estive lá, em seu
aniversário. Logo atrás vem Dylan relaxado como se estivesse desfilando. Meu
cunhado é muito lindo e o pior de tudo, ele sabe disso.
— Mel. — Connor fala e ela se vira sorrindo alegre com Dylan.
— Irmão — ela corre deixando suas malas no caminho e se joga nos braços de
Connor como se ele fosse sua salvação. Saudade os define nesse momento.
— A cena foi linda Melissa, mas suas malas estão no meio do caminho. —
Dylan interrompe o abraço. Melissa dá um tapa em sua cabeça e sai para pegar sua
mala. — Estava com saudades irmão, mas você sabe que esses abraços são meios
gay. — ele fala passando por Connor e vindo em minha direção.
— Então pode voltar aqui porque minha namorada você não vai abraçar. —
Connor fala puxando seu irmão pela blusa. Sorrio de suas besteiras e vou até Dylan.
— Dylan me desculpe por não ter me despedido. Estava com saudades. — digo
e o puxo para um abraço. Connor bufa e eu pisco para seu irmão em diversão.
— Pronto agora vamos embora que estou exausta. — Melissa chega falando e
vamos todos em direção ao estacionamento onde o carro de Connor está.
— Seattle eu cheguei! Se preparem porque Dylan Jones está aqui. — Dylan grita
da janela do carro depois de termos saído do aeroporto.
Sorrimos de sua loucura e é a vez de Melissa gritar.
— Seattle aqui vamos nós. — ela grita. A alegria em sua face é pura e
verdadeira. Meu peito se enche de felicidade por ela. Por eles.
De uma coisa eu tenho certeza, esse semestre vai ser fodidamente bagunçado e
vai mudar muita coisa por aqui.
Capítulo Trinta
Nicole
Descemos do carro e subimos para o novo apê deles. Nesses quatro meses Connor
correu muito atrás de um lugar bem grande para acomodar seus irmãos. Ty também
ficou morando com eles, mesmo não estando tão confortável por morar no mesmo teto
que sua ex-namorada. Então, eles dois venderam o outro apartamento e compraram
esse, que é bem maior. Nesse tem quatro quartos, uma sala que se separa da cozinha
somente por uma bancada. Ajudei a decorar o apartamento, mesmo que eu não entenda
muita coisa, ficou bem legal e muito bonito. Não ficou parecendo um apartamento
masculino, tem toques femininos também.
Melissa e eu vamos para seu quarto arrumar suas malas e deixamos Connor e Dylan
na sala jogando. O irmão de Connor quase teve um infarto ao ver o videogame
novíssimo, palavras dele, e não perdeu tempo, correu para jogar. O quarto da Melissa
é pequeno, mas é muito bem organizado. Ele é decorado na cor champanhe e branco.
Tudo muito lindo e feminino.
— Estou tão cansada, Nicole. Aquele avião me arruinou. — ela fala dengosa. Sorrio
de sua ceninha.
— Vamos arrumar tudo, ok? Quem sabe nós podemos ir à boate perto da faculdade
depois de tudo no devido lugar? — falo e ela começa a pular e sorrir. Já sei o que
usar sempre que eu quiser algo de Melissa.
— Ótimo. Vamos arrumar tudo logo. Até o cansaço foi embora. — ela fala fazendo a
gente rir.
Depois de muito tempo arrumando as coisas de Melissa com ela. Vejo seu semblante
entristecer quando voltava do guarda-roupa embutido. Em suas mãos têm uma
camiseta branca muito bem dobrada. Ela cheira e parece estar se lembrando de algum
momento. Não preciso perguntar para saber de quem é essa blusa. Tyler. Nem sei se
Connor falou que ele moraria com eles. Talvez não e talvez sim, não serei eu a falar.
Disso eu tenho certeza.
Tyler contou a Clara sobre Mel. Minha melhor amiga não ficou tão mexida assim, mas
o ciúme bateu com força em seu ser. Depois disso tudo ficou claro para ela. O jeito
que Mel a olhou, tudo. Me senti péssima por não ter lhe falado antes, mas esse não era
meu dever. Tyler tinha que ser verdadeiro e sincero com ela. E claro, ele foi. Porém,
tudo ficou bem e eles estão a mil maravilhas, por isso sinto tanto por Mel. Sinto pelo
que ela ainda nutre por Ty. Aqueles dois parecem se amar demais, não acho que isso
mudará.
Chego perto e me sento na sua frente. Melissa logo joga a blusa em cima da cama.
— Mel...
— Vou tomar banho e te espero para a gente ir, ok? — ela fala me interrompendo.
Suspiro derrotada. Deixo isso de lado e sorrio para ela.
— Tudo bem. Estou de volta daqui a — olho meu relógio e marca 7horas30min. —
duas horas. É tempo suficiente. Não é?
— Não. Quero dizer, vou tentar. — Semicerro meus olhos e ela suspira. — Ok. Eu
vou estar pronta. — ela fala levantando as mãos em rendimento. Ótimo.
Saio de seu quarto e procuro Connor na sala. Ele ainda está jogando com Dylan do
mesmo jeito que deixei.
— Eu já vou. — digo e eles nem olham na minha direção. — Connor, eu já vou para
casa. — digo novamente, mas, mesmo assim, eles não me olham.
Pego a almofada do outro sofá e jogo na cabeça de Connor. Porra de garoto chato.
— Hey! Nick! Merda isso doeu. — Connor fala passando a mão na cabeça.
— Ótimo. Era isso que eu queria. — digo cruzando os braços e ele se levanta
fechando o videogame.
— Connor! — Dylan grita ao ver a TV escurecer. — Porra irmão! — ele se levanta
com raiva e vai para o quarto dele.
— O que foi Nick? — Connor pergunta. Respiro fundo.
— Estou indo. Chamei Melissa para ir à boate. Vamos? — digo. Ele me olha
atentamente. Connor está todo carinhoso ultimamente e eu é claro, estou adorando.
— Tudo bem. Vem vou te deixar. — Connor pega minha mão e me arrasta para fora do
apartamento.
Entramos no elevador de mãos dadas. Olho de lado para Connor e vejo que ele me
observava. Sorrio e em troca recebo carinho na mão.
— Obrigado, por estar com Melissa. Está sendo uma barra para ela vir morar com
Tyler. Mas ele é como um irmão para mim e outra, não tenho condições financeiras de
ir morar com eles em um apartamento sozinho. — ele fala enquanto ainda acaricia
minha mão. Então Mel sabe de Ty. Suspiro pensando nisso.
— Não se preocupe. Mel vai saber o que fazer. Vou apresentar vários garotos a ela.
Eu vou ajudá-la a esquecer ele. — digo e Connor tem uma careta no rosto. Ciúmes.
Mas lógico que é diferente do seu comigo.
O ciúme que ele tem de mim é de posse e de namorado, já o da sua irmã é cuidado e
proteção. Connor é muito cuidadoso.
— Não pode ser sem os garotos? Não quero ninguém rondando minha irmã. — ele
fala me puxando para seus braços.
— Um amor só se cura com outro. — digo suspirando e querendo acreditar nisso.
Sei que isso é a pior mentira que um dia alguém inventou. Se é amor, nunca
esquecemos. Sempre ficará em nosso peito nem que seja no porão dele.
Connor me deixou no estacionamento da minha casa e voltou para cuidar de seus
irmãos. Segundo ele, eles se matariam em tempo recorde. Já percebi que eles estão
sempre brigando. Por motivos idiotas, mas ainda sim brigando.
— Clara? — entro no apartamento e todas as luzes estão apagadas. Acho que ela saiu.
Acendo a luz e levo um susto ao ver Victória, minha prima, sentada no meu sofá. No
meu sofá.
— Pensei que nunca chegaria. — ela fala bocejando. Reviro os olhos para ela e vou
em sua direção. Vejo Lindo sair da sua caminha abanando o rabo e vindo se enroscar
nas minhas pernas.
Eu o trouxe para cá durante a mudança de Connor, mas amanhã ele volta para lá.
Passei muito tempo com Connor e pouco tempo com Lindo. Tenho que mudar isso.
— Estava fazendo coisas bem melhores do que olhar para sua cara. — digo e a puxo
pelo braço fazendo-a se levantar. — Como entrou no meu dormitório e o mais
importante o que está fazendo aqui? — pergunto com raiva.
— Esqueceu que eu viria estudar aqui, Nicole? — ela fala se soltando do meu aperto.
Não estou acreditando nisso.
— Você é tão insignificante que eu nem me lembrava que você existia quanto mais que
vinha estudar na mesma Universidade que eu. — digo com sarcasmo. — Agora poupe
minha paciência e saia daqui. — digo e abro a porta para ela passar.
— Nos veremos mais vezes, Nicole. — ela fala indo em direção à porta, mas para e
fica olhando para trás de mim.
— Nick eu esqueci meu celular na sua bolsa. — Connor fala e eu me viro para olhar
para seu rosto.
Isso é o destino jogando pedras em mim. Só pode. Inferno! Inferno!
— Só um momento. — digo e o trago para dentro. Olho para a vaca da minha prima.
— Pode ir. E não volte aqui. Você vai se arrepender. — digo trazendo seus olhos para
mim.
Essa vadia ainda tem a cara de pau de olhar descaradamente para meu namorado. A
raiva está tomando conta de mim e eu juro que darei na cara dessa vaca.
— Sou Victória, prima de Nicole. — ela me ignora e fala com Connor.
— Não fale com ele. — grito fazendo os dois se assustarem. Pouco me importa. Eu só
a quero longe do meu namorado. — Sai daqui agora. — grito novamente e a puxo pelo
braço, a jogando no corredor. Victória caiu e do chão me olhava com ódio. — Espero
que se lembre do que eu lhe falei no dia em que estive em sua casa. — digo e bato a
porta em sua cara. Merda. Ela já está fodendo com minha vida antes mesmo de se
instalar na faculdade.
Vou para meu quarto e começo a andar de um lado para o outro. Ela não vai fazer isso
de novo. Ela não vai acabar com meu namoro. Eu não posso passar por isso
novamente. Meu Deus, por favor.
— Nicole… — Connor entra e me olha com pesar. Corro para seus braços e me
aconchego neles.
Connor não seria capaz de fazer isso comigo. Eu sei que não. Então por que esse
medo maluco está se instalando em mim? Porque estou com uma vontade imensa de
trancá-lo nesse quarto para nunca mais sair até que essa puta vá embora. Por que essa
insegurança está correndo pelas minhas veias?
— Ela é sua prima, Princesa? Aquela que te traiu? — Connor pergunta em meus
cabelos. Ao escutar isso que ele falou tenho certeza que é a mais pura verdade.
Victória me traiu. Traiu-me como ninguém no mundo vai ser capaz de trair novamente.
— Sim. — suspiro e olho em seus olhos. Ele está preocupado, posso dizer só de olhar
em seus olhos.
— Ah… — ele suspira, acho que criando coragem para me perguntar o que fala em
seguida. — Você está com medo de tudo acontecer novamente? De que eu te traia com
ela? — Ele pergunta com a voz fria e distante. Solto-me de seus braços e olho em seu
rosto.
— Você acha que eu preciso? Você acha que é necessário? — pergunto séria também.
Não quero brigar com ele, mas o tom que usou comigo fez com que todas as minhas
defesas ficassem alertas.
— Não. Eu nunca faria isso com você. Você é minha vida e eu nunca vou fazer isso
Nicole. Nunca. — ele fala sério me puxando novamente para seus braços.
— Eu vou acreditar Connor. E eu espero sinceramente que eu esteja acreditando no
certo. — sussurro.
Ele levanta minha cabeça e beija meus lábios. No início sempre é calmo e cheio de
devoção, mas depois se torna algo necessitado e urgente. Nos últimos meses o sexo
está sendo a nossa reconciliação. Não posso reclamar, eu adoro estar com ele.
Connor me coloca na cama e começa a beijar meu corpo inteiro. Em menos de
segundos estamos sem nenhuma peça de roupa nos cobrindo. Fecho os olhos
esperando ser preenchida por Connor. Gosto de me concentrar nesse nosso primeiro
contado. Todo o ar é puxado dos meus pulmões, a única coisa que fica é isso, nós
dois. Nosso amor um pelo outro.
— Abre os olhos Nick… — Connor fala perto da minha boca.
Abro os olhos e ele me fita com devoção. Enquanto nos olhamos cheios de desejo e
luxúria ele me invade como todas as vezes que fazemos amor. Com carinho e muito
sentimento.
— Eu te amo, Princesa. — Connor fala enquanto faz o movimento de vai e vem dentro
de mim.
Arqueio meu quadril de encontro ao dele para que eu possa sentir mais fundo. E eu
sinto. Começo sentir todos os meus músculos contraírem e os de Connor também, nos
levando a um orgasmo intenso.
— Eu te amo, Connor. — digo depois que voltamos a respirar normalmente. —
Desculpa pela aquela cena. Eu confio em você. — digo e lhe dou um beijo cheio de
promessa.
— Não precisa se desculpar. Agora vamos tomar banho que ainda vamos a boate. —
ele fala cheirando meu pescoço e consequentemente me fazendo arrepiar. — Mudei de
ideia. Vamos ficar aqui e brincar novamente. — Ele fala enquanto leva um dos meus
seios a boca.
Solto um gemido quase inaudível querendo fazer amor de novo, mas lembro de
Melissa e saio debaixo de Connor. Levanto-me e começo a caminhar para o banheiro.
A vergonha não existe mais. Tomamos banho quase todos os dias juntos. É ótimo
tomar banho com Connor, sempre acabamos fazendo amor.
— Vem Connor. Ainda vou me arrumar e isso demora. Você sabe. — digo e chego a
um ponto com ele. Connor odeia me esperar para arrumar então logo se levanta e vem
comigo.
— Melissa. Vamos. — Connor grita pela irmã de novo. Chegamos faz mais de vinte
minutos e Melissa ainda não tinha terminado de se arrumar. Eu demoro, ela é três
vezes pior.
Quando íamos saindo para vir buscar Melissa e Dylan, Clara e Tyler estavam
entrando. Disse a Clara para onde ia e a chamei. Ela ficou desconfortável por causa
de Melissa, mas eu disse que ela vai ter que se acostumar, afinal Ty e Mel irão morar
juntos.
Ela confirmou e disse que encontraria a gente lá. Tyler não falou uma palavra apenas
concordou com Clara quando ela disse que iria. Sei que para ele também está sendo
difícil, querendo ou não ela marcou a vida dele tanto quanto ele marcou a dela.
Vejo Mel sair do quarto arrumada. Ufa!
Ela está vestida com uma saia cintura alta laranja e uma blusa branca de mangas.
Muito linda. Eu optei por uma calça jeans preta e justa com uma regata e jaqueta.
— Pronto. Vocês são muito chatos. — Mel reclama pegando sua bolsa que estava em
cima do sofá.
— Chato é ter que esperar você mudar algo que não tem como ser mudado. Tipo você.
Beleza ou você tem ou não tem. Não precisa ficar uma hora dentro do banheiro
lutando contra algo que pertence a você. — Dylan fala rindo e indo em direção à
porta. Melissa arregala os olhos, chocada.
Reprimo a gargalhada, mas logo vejo que Connor não fez o mesmo, pois seu riso
irrompe na sala.
— Cala a sua boca. Eu acho que se esqueceu de um detalhe. Nós somos gêmeos
idênticos. — ela fala com raiva, mas ainda assim, irônica.
Eu e Connor começamos a rir e acompanhamos Dylan para o elevador.
Procuro Clara no meio da multidão de corpos na boate. Falei com ela por celular e
ela falou que já estava aqui no estacionamento. A vejo caminhar em minha direção
com um sorriso no rosto. Ty ao seu lado fica imerso a nossa troca de olhares. Homens.
— Nicole… — escuto Melissa me chamar, mas ela não continua. Viro-me e vejo seu
olhar em Clara e Tyler.
— Desculpa Mel. Eu chamei tudo bem? — falo me sentindo uma idiota. Como pude
os chamar para ficarem no mesmo ambiente que ela? Burra.
— Não se preocupe. Estou ótima. Viemos para curtir a noite e é isso que vamos fazer.
— ela fala sorrindo verdadeiramente. Suspiro aliviada e concordo com um aceno.
Nos sentamos todos juntos em uma mesa no canto da boate.
— Sua mãe ligou? — pergunto a Connor. Ela está bem preocupada com a mudança
dos meninos. Acho que saudade, afinal ela fica muito sozinha, pois o marido viaja
muito.
— Umas dez vezes. Eu entendo sua preocupação, mas está demais. Comigo foi do
mesmo jeito. Saía para a faculdade ela ligava, chegava da faculdade ela ligava, a
tarde ela ligava e a noite também. Os meninos saíram de casa hoje e ela já está assim.
Não quero imaginar daqui a algumas semanas. — ele diz emburrado. Sorrio.
— Acho que ela se muda para cá. — digo e começamos a rir.
— Ela bem que queria, mas o trabalho não deixa. Ela já bateu o martelo e disse que
quando terminarmos a faculdade voltamos para casa. Nem um dia a mais nem a
menos. — Connor fala sorrindo.
Meu sorriso vai morrendo aos poucos. Ele vai embora! E a gente? Nosso namoro?
— Você quer? Digo… Você quer mesmo voltar para lá? — pergunto receosa e mais
próxima de sua orelha. Acho que o som aumentou de uma hora para outra ou sou eu
que estou abalada demais com isso.
— Sim. Claro não vou morar com minha mãe, mas próximo dela, sim. — ele diz com
tanta convicção que me sinto uma idiota por pensar que ele pensaria em mim antes de
tomar essa decisão. — Você também vai. Vamos morar lá. — ele fala de repente
olhando para um ponto inexistente.
— Quê? Como? — pergunto assustada. Que merda é essa? — Eu não vou morar lá.
Eu. Eu. Eu nem sei o que vou fazer amanhã. — continuo falando exasperada. Connor
me olha sério por um instante.
— Lógico que vai. Como vamos conseguir namorar a distância? — ele pergunta me
olhando atentamente. — Não existe namoro assim.
— Isso eu concordo com você. Não existe. Mas por que eu tenho que ir? Por que você
não pode ficar? Não precisa morar na minha cidade, mas aqui em Seattle. — eu digo
chamando a atenção dos nossos amigos.
— Nós conversaremos sobre isso depois. Ainda temos um ano de faculdade. Ok? —
ele pergunta sério. Posso dizer que até com raiva.
Olho para Connor com raiva. Como assim conversamos depois? Porra. Porém, aceno
concordando e o vendo virar a porra de um copo cheio de Whisky na boca. A raiva
me domina, mas no meu interior o medo se instala. O medo de ele me deixar e de ver
tudo que demoramos tanto para construir desmoronar. E isso é horrível.
— Nicole vamos pegar uma bebida? — escuto a voz de Clara e me levanto.
— Ok. — respondo. — Até já. — digo para Connor enquanto me afasto.
Ele acena e o perco de vista.
— O que foi aquilo? Vocês mal chegaram e já estavam brigando? — Clara pergunta
enquanto esperamos sentadas o barman fazer nossas bebidas.
— Está sendo constante. No começo era legal e tudo mais. Agora? É cansativo. —
Suspiro frustrada. — Sabe o que ele acabou de me falar? — Clara faz que não e eu
continuo. — Que quando se formar vai embora. Ele não pensou duas vezes. Apenas
disse que vai, mas o pior é que ele quer que eu vá. Quer que eu deixe tudo aqui e vá
com ele. Eu não vou embora. Isso pode custar nosso namoro, mas eu não vou. — digo
olhando nos olhos azuis tão serenos e simpáticos que já vi.
— Ele não pode ficar por quê? Por que tem que ser você a abrir mão do que quer? —
Ela pergunta séria.
— Eu não sei. Ele disse que a mãe já falou que todos eles têm que voltar depois da
faculdade. — digo suspirando. Sorrio para o barman que me entrega a bebida que
pedi.
— Ok. Vamos esquecer isso por enquanto. Como ele falou ainda temos um ano pela
frente. — Clara fala segurando minha mão.
Ela tem razão ainda temos um ano pela frente. Muitas coisas podem acontecer e tudo
mudar num piscar de olhos.
Voltamos para a mesa e vejo Mel se levantar e vir na minha direção sorrindo tensa.
Melissa e Clara são amigas que quero sempre por perto, mesmo que as duas não se
sintam confortáveis na presença uma da outra.
— Oi, Clara. — Mel a cumprimenta.
— Oi, Melissa. — minha amiga responde sorrindo. Não aqueles sorrisos perfeitos,
mas ainda assim, um sorriso.
— Connor está na pista de dança Nick. E eu acho que você não vai gostar de ver. —
Mel fala e eu me viro para olhar o que quer que fosse.
Isso não pode ficar pior!
Capítulo Trinta e Um
Connor
Meu celular começa a tocar mais uma vez. Porra. Minha mãe não se cansa? Desligo o
telefone e foco meus olhos nos meus irmãos dançando juntos.
Quando minha mãe me disse que eles queriam vir para a mesma faculdade que eu,
fiquei muito feliz. Era como se eles de alguma maneira se espelhassem em mim e isso
foi muito bom. Eu amo meus irmãos e quero sempre poder estar ao lado deles na hora
que precisarem de mim. Mas no momento a única que me preocupa é Melissa.
Quando descobri que ela e Tyler estavam namorando escondido de todos, eu quis
matar ele. Não sou um caralho preconceituoso, mas ela era uma criança. Minha irmã
tinha quinze anos e Ty tinha dezoito quando eles namoravam. Na hora eu quis correr
atrás dele e chutar sua bunda até ele nunca mais sentir, mas nunca fiz isso. Hoje pela
manhã que criei coragem e bati de frente com ele. Lembro de tudo detalhadamente…
— Todos esses anos eu esperei que você chegasse para mim e falasse do seu
envolvimento com Melissa. — sorrio irônico. — Mas isso nunca aconteceu. Nunca
Tyler. Você é meu irmão porra e você não teve a consideração de falar pra mim que
você fodeu com minha irmã. — grito e ele se levanta em um pulo.
— Não fale assim dela. — Ele grita com os punhos cerrados. — Eu nunca falei
porque tive medo. Eu fui um covarde. Eu não queria perder nossa amizade e a gente
terminou logo depois porque eu tive que vir para a faculdade. Eu pensei que fosse
passado. — ele fala andando de um lado para o outro.
— Para você. Para você Tyler é passado, mas para ela não. Mel ainda gosta de você e
me desculpe te falar isso, mas eu espero que você fique bem longe dela. Como Nicole
prometeu a ela no dia que a viu chorando, eu também prometi. Eu vou ajudá-la a te
esquecer. Não vai ser de um dia para o outro, mas ela vai. —digo e Tyler me olha
com ódio nos olhos.
— Que merda você está falando? Vocês irão fazer ela me esquecer como? — Ele
pergunta com o maxilar tenso. Se eu não soubesse que Ty ama Clara eu diria que ele
está com ciúmes, mas acho que é só extinto protetor.
— Não interessa. Afinal é passado não é mesmo? — pergunto e saio o deixando
sozinho.
Ele ficou no quarto um tempo e depois saiu de casa. Sei que falei coisas que puderam
ter o magoado, mas nunca vai chegar a ser o tanto que ele magoou Melissa. Nunca.
Procuro Nicole com os olhos e a vejo sentada no bar com Clara ao seu lado. Lembro
da nossa primeira vez juntos e me encho de uma alegria enorme. Eu quero essa mulher
todas às noites para mim. Eu nunca senti tanto prazer como senti ao fazer amor com
Nick, aquela noite foi à primeira vez que juramos amor um ao outro, e em nenhum
momento eu tive dúvida de que eu a amo. Eu amo essa menina e ninguém no mundo é
capaz de medir o tamanho desse sentimento.
Na hora fiquei calado absorvendo suas palavras. Ela disse que me ama. Eu fiquei
extasiado. Mas os problemas sempre nos encontram e fazem de um momento bom o
pior de nossas vidas. O esquecimento da camisinha foi um desses.
Fiquei com tanta raiva que falei coisas que a machucaram. Sentime o maior idiota do
mundo ao jogar aquelas palavras em seu rosto. Quando vi que mais uma vez a fiz
derramar lágrimas me odiei profundamente.
Agora foi onde moraremos quando terminarmos a faculdade. Isso é uma merda. Por
que tudo para ela tem que ser tão difícil? Eu não vou morar aqui e eu também não
posso ficar sem ela, então ela terá que ir comigo. Se ela me amar ela vai. Eu tenho
certeza.
Não acho que eu esteja sendo egoísta. Eu apenas estou pensando no melhor para nós
dois. Ela sabe que não funcionamos separados. Tomara que ela não venha com aquela
merda toda de casar e ter filhos. Isso já está uma porra de cansativo.
Olho mais uma vez para ela e vejo o filho da puta do barman sorrir para ela, e ela
retribui. A Nicole só pode estar de sacanagem com minha cara. Eles estão flertando
na minha frente?
Levanto-me para caminhar de encontro a ela, mas Tyler segura meu braço. Respiro
fundo e me viro em sua direção.
— Vamos dançar?
— Vai chamar tua mulher, Tyler. Ficou uma merda de estranho você me chamando
para dançar. — falei tentando sorrir, mas ele já sabia que eu deformaria a cara
daquele caralho. — Tudo bem. — digo suspirando e o sigo.
Vamos para a pista de dança e começamos a dançar. No ensino médio nossa
professora de educação física disse que todo homem precisa saber dançar e então ela
dava aulas de dança no lugar de esporte. Ficamos putos de raiva dela, mas com o
tempo nos acostumamos e começamos a gostar. Eu e Tyler fazemos uma dupla e tanto.
Dançamos mais duas músicas com as pessoas abrindo espaço. Uma garota chegou por
trás de mim e começou a dançar comigo. Não me importei. Só estávamos dançando.
Sei que não devia estar tão relaxado. Nicole pode ver essa garota aqui, mas estou com
raiva dela no momento, então continuo.
Continuo dançando e a garota vem para minha frente. Ela era bem bonita, se eu não
estivesse com a Nicole com certeza ela conheceria meu apartamento. Seu cabelo é
loiro um contraste gritante com o castanho claro da minha Nick. Suas mãos estavam
passando pelo meu peitoral, mas depois ela sumiu de repente. Quando me dei conta, a
garota estava batendo boca com a Nicole. Merda. Merda. Merda.
— Eu vou te avisar só uma vez. Coloca suas patas em cima do meu namorado de novo
que eu vou arrancar todos esses seus fios falsos, sua vadia. — escuto Nick gritar
segurando o braço da garota. Porra! Cadê Ty quando preciso?
— Você é louca? Ele não estava achando ruim. Pensei que ele era solteiro. — a garota
tenta soltar seu braço do aperto da Nicole, mas ela não deixa.
— Pergunta a ele então. Dependendo da resposta dele pode ter certeza que eu lhe
solto e deixo você ir se esfregar nele novamente. — Nicole fala agora olhando para
mim. Seus olhos estão frios, quase um iceberg, posso dizer.
— Solta ela Nicole. Vamos embora daqui. — digo andando em sua direção. Ela solta
a garota e volta a me olhar. Tenho medo só de pensar o que está se passando em sua
cabeça.
— A saída fica por ali. — ela aponta para a porta que dá entrada na boate. — Se
quiser ir pode sair por ela, mas eu não vou embora. — ela procura meus olhos e diz.
— Agora que a festa começou para mim. — Depois disso volta para a mesa onde
estávamos sentados.
Respiro fundo e vou atrás dela. Essa mulher quando está com raiva é de outro mundo.
Quando chego ela está virando a porra da cerveja que Tyler estava bebendo.
Essa mulher, com toda certeza do mundo, será sua morte, Connor!
Minha consciência me fala e eu concordo plenamente. Ela será minha ruína.
Sentei-me e não falei nada. Sei que estou errado, quero dizer, um pouco, mas ainda
sim errado. Ela continuou bebendo junto com Melissa. Mel é horrível para beber.
Mais duas e pode ter certeza que ela vai querer tirar a roupa.
Ela se levanta e vai para a pista de dança. A observo de longe. Vejo um cara ao seu
redor dançando com ela. Melissa acha bom, pois logo puxa o cara pela mão para
ficarem mais próximos. Olho a procura de Dylan, mas o filho da mãe está se
agarrando com uma garota do outro lado da pista. Puta que pariu.
Decido deixar Melissa curtir um pouco, pois Nicole também não está a das melhores
e não vou poder deixar ela aqui sozinha. Clara foi embora, pois chegou alguém no
apartamento delas e o porteiro estava ligando. Não entendi nada, mas ela teve que ir.
Tyler ficou. Ela mesma disse que ele poderia ficar e que quando terminasse aqui fosse
para a casa dela.
Procuro Melissa que se perdeu no meio da multidão de corpos. Quando estou para me
levantar e ir atrás dela a vejo sendo beijada pelo cara que estava com ela.
— Você não vai fazer nada? — Ty fala como quem não quer nada olhando para Mel.
— Não vejo mal algum. Ela está se divertindo. — digo dando de ombros.
— Ela está se divertindo? Ele quer levar ela para a cama e você sabe disso. — ele
fala agora me olhando.
— Eu sei e ela vai se quiser. Ela é solteira, Ty. Se ela quiser ir com ele tudo bem. Eu
vou me certificar de que isso aconteça na nossa casa. Pois em outro lugar ela não vai.
Se ela não quiser eu chuto a bunda dele e pronto. — digo virando o copo na boca.
— Você é um idiota. E ela não vai levar ninguém lá para casa. O caralho que vou ficar
ouvindo eles dois transando. — ele fala sério.
— Tyler cala a sua boca. Ela transa com quem ela quiser. E se não quiser que seja lá,
não tem problema, dou meu quarto no campus. — Nicole grita com raiva. Cara burro.
A melhor amiga da namorada dele aqui e ele fica com ceninhas de ciúmes.
— Nicole. Você não faria isso. Está de sacanagem comigo? — ele fala olhando para
ela incrédulo.
— A deixe em paz. Em casa você tem namorada e Melissa é solteira. Ela tem mais é
que curtir mesmo. Só assim ela vai esquecer um certo idiota que partiu seu coração.
— Nicole fala. Sei que ela está falando isso por causa da bebida. Amanhã vai pedir
desculpas a Ty. Tenho certeza.
Tyler me olha pedindo ajuda e eu dou apenas de ombros sorrindo e volto minha
atenção para Melissa. O cara está falando algo no ouvido dela e ela acena
confirmando e aponta para cá. Aposto cem dólares que ele está chamando ela para a
casa dele. Mas não vai mesmo.
Os dois começam a andar na direção de onde estamos. Sinto Ty ficar tenso ao meu
lado e Nicole levanta a cabeça para olhar o cara. Ela está de sacanagem comigo. Só
pode.
Olho para seu rosto sério e a questionando, ela dá de ombros e não fala nada. Ela está
com raiva. Muita raiva.
— Connor vou dar uma volta com o Ethan. — ela fala pegando sua bolsa que estava
do lado de Tyler.
— Mel eu sei que eu vou parecer um chato agora, mas você não vai sair com esse
cara… O Ethan… Não é com você entendeu? Ela é minha irmã, chegou hoje e eu não
quero que amanhã ela esteja arrependida das escolhas que ela fez no primeiro dia na
cidade. Troquem os números e quem sabe quando ela estiver sóbria, vocês saem
novamente. — digo e ele acena confirmando.
Gostei dele.
— CONNOR! Deixa de querer ser meu pai. Você não é e nunca será. — Mel grita
fazendo eu a olhar. Seus olhos estão escuros. Ela está com muita raiva, mas não me
abalo. Suas palavras me machucaram, mas não deixo transparecer.
— Não vai. Não discuta com seu irmão, Melissa. — Ty fala sério. Se eu estivesse em
um momento bom eu até riria da sua atitude idiota.
— Cala a sua boca, Tyler. Não fala comigo. — ela grita e vira para o garoto que
apenas olhava para a gente como se fossemos um bando de loucos.
Depois disso saímos da boate e ficamos esperando Dylan. Dez minutos depois ele sai
da boate com uma garota a tira colo. Acho que é a mesma que ele estava beijando.
Não sei.
— Connor, posso levar a Monique para dormir lá em casa? — Ele pergunta com
expectativa. Pelo menos um que respeita minhas decisões.
— Pode. Não façam barulho, Nicole não vai gostar. — digo e ele acena sorrindo e
entra no carro com a garota.
Como bebi consideravelmente muito, Dylan vai dirigindo. Entro no carro e vou para o
lado de Nicole que me olha atentamente. Melissa só fica olhando pela janela. Ainda
está com raiva. Duas das três mulheres da minha vida estão com raiva. Ótimo.
Quero dizer, todas. Samantha Jones deve estar possessa por não ter atendido suas
ligações. Depois de quinze minutos estamos em casa. Cada um em seu quarto.
— Dylan pode levar uma garota qualquer para casa, mas Melissa não pode? O que
Dylan tem a mais que ela? — Nicole fala enquanto tira a jaqueta e a joga no cesto de
roupas sujas. — Você é muito machista mesmo. — fala me olhando
— Hey. Ela resolveu falar comigo. — ironizo ao me sentar na cama. — E não é nada
de machismo. Você já viu o estado que Melissa está? Ela bebeu além da conta. Você
acha que se ela estivesse sóbria ela transaria com um cara desconhecido? Ela falaria
o que falou comigo? Não Nicole, ela não iria. Dylan está sóbrio e sabe o que está
fazendo. — digo enquanto tiro minha bota.
Ela dá de ombros e vai para o banheiro. Em qualquer outro dia eu teria ido atrás dela
e nós iríamos nos amar embaixo do chuveiro, mas hoje não. Ela está com raiva e eu
não vou arriscar.
Deito-me na cama e em pouco tempo adormeço.
— Connor. Connor. — escuto Nicole me chamar. Sento na cama obrigando meus olhos
a se abrirem, pois, a claridade está demais. Vejo que estou só de cueca, Nicole deve
ter tirado minha roupa para eu dormir melhor. Sorrio com seu gesto.
— Oi?
— Eu já estou indo. — ela fala ainda sem me olhar. Passo meus olhos por seu corpo e
aí percebo que ela já está de banho tomado e vestida com suas roupas.
— Por quê? Você nunca vai nesse horário. Nós sempre passamos o sábado juntos. —
digo confuso.
Eu sei que ela está chateada por ontem. Tudo bem, eu sei que fui um idiota, mas eu
esperava que ela fosse relevar.
— Hoje não. Eu quero ficar sozinha e pensar um pouco sobre nosso relacionamento.
— ela diz simplesmente e suspira. Que porra? Quê?
— Como assim? Não tem nada para pensar. Nosso relacionamento está normal. Ele
funciona desse jeito. — digo me levantando e indo na sua direção. Nicole levanta a
mão, num gesto claro de que não me quer por perto.
— Você viu o que me fez passar? — ela pergunta séria. — Connor você estava se
esfregando numa garota qualquer na minha frente. Eu juro que na hora eu não
acreditei, eu quis meter na minha cabeça que aquele cara que estava no meio da pista
de dança quase me traindo não era você. Mas era. — ela começa a andar de um lado
para o outro, nervosa.
Sinto-me uma merda ao ouvir tudo isso saindo da boca dela. Eu sabia que eu estava
errado, mas ela falando torna as coisas que eu fiz ainda piores. Como pude a fazer
passar por isso?
— O pior de tudo é que você fez isso logo após ter me dito que vai embora. Porra.
Você vai embora e vai me deixar sozinha aqui. — ela para e olha em meus olhos ao
falar a última frase.
— Eu já falei…
— Não! Merda, não! Eu não vou com você. Não vou ser eu a pessoa a abrir mão do
que quer pelo que você quer. Desculpe-me se isso soa muito arrogante, mas é a
verdade. Eu não vou. — diz. Levo um baque. Não esperava que ela falasse isso. Eu
pensei que ela fosse comigo. Eu achava que ela me amava. O que é amor para ela?
— Eu pensei que você me amava…
— Eu também pensei que você me amava. Talvez não seja o que achamos que era. A
verdade é que se um não pode abrir mão do que quer pelo outro isso não é amor,
correto? — pergunta parando de andar.
— Você está me dizendo que não me ama. Que a porra das vezes que você me falou
isso foi da boca para fora? — grito e me levanto para andar até sua frente. — Que
tudo que vivemos esses meses foi uma mentira? — pergunto com um nó na garganta.
Não acredito que eu nunca tenha significado algo para ela.
— Eu não disse isso. Eu amo você mais que um dia pude imaginar amar alguém, sabe
por quê? Porque eu, Connor, eu abri mão de ser mãe e de me casar por você. Você não
quer e se não for com você eu não quero com outro. Isso é amor. Amor é não pensar
no que queremos para pensar nos desejos dos outros. Por que queremos a felicidade
do outro. Eu pensei no seu desejo, mas somente por querer sua felicidade. — Ela
respira fundo e volta a me olhar.
— Agora você quer em que seja eu a abrir mão do lugar onde morarei? Não. Essa é
minha resposta agora e daqui a um ano. Ontem foi horrível, Connor. Sinceramente eu
gostaria de saber o que você faria se fosse eu a fazer isso? Se fosse eu a dançar com
outro cara? Me diz o que você faria? — ela pergunta me olhando atentamente. Seus
olhos estão inexpressivos. Eu nunca a vi assim.
— Eu… Eu ficaria louco. Você sabe disso. Talvez eu mandasse o cara para o
hospital… — ela me interrompe. Suspiro.
— Estou dizendo em relação a gente. O que você faria com nosso namoro? — ela
pergunta. Não entendo aonde ela quer chegar, mas ainda sim respondo.
— Não sei. — digo e levanto meu rosto para olhá-la. — Eu não sei, mas e você? O
que você quer fazer? — pergunto olhando em seus olhos.
Agora eles me passam uma insegurança enorme. Eu vejo medo, mas ainda assim
determinação pelo mel de seus olhos. E isso me assusta como o inferno.
— Eu não quero isso. Deus sabe que não. Mas acabou. Nosso namoro acabou aqui,
Connor. — ela fala com lágrimas nos olhos e tremendo.
Levo um tapa tão grande em meu rosto. E não, não foi ela que me deu. Foram suas
palavras. Apenas uma palavra dita foi capaz de dilacerar meu peito, de fazer se abrir
uma ferida que não tem e nunca terá cura.
— O quê? — Ele grita. Minhas lágrimas já estão descendo por meu rosto. Nem
eu mesma acredito no que acabei de dizer. Não acredito que estou abrindo mão da
única pessoa pela qual lutei avidamente nesses últimos meses.
Ele começa a andar para trás, se distanciando de mim e isso me quebra mais
ainda. Como falei para ele, Deus sabe que eu não queria isso, mas ele também sabe
que transbordei ao vê-lo dançando com aquela vagabunda. Ver que ele não se
importou que eu fosse presenciar aquela cena, que fica se repetindo na minha cabeça,
foi a gota que faltava.
A noite inteira, eu nem consegui dormir pensando se era isso mesmo que eu
queria. Se era essa relação conturbada e cheias de altos e baixos que eu queria para o
resto dos meus dias e por incrível que pareça meu coração respondeu sim para todas
essas questões. Sim, ele queria passar por todas ondulações com Connor. Passar por
brigas e mais brigas, mas com ele ao meu lado. Para nos reconciliar na cama como
estava acontecendo nos últimos dias.
Eu segui meu coração ao me entregar a Connor e não, eu não vou segui-lo
novamente mesmo que isso custe a minha felicidade. Eu preciso pagar para ver o que
vai acontecer mesmo já tendo uma vaga ideia.
O sofrimento.
Eu sei que eu vou ter os piores dias da minha vida sem ele, mas minha decisão
só adiantou o que iríamos passar daqui a um ano. É melhor sofrer agora do que mais
tarde. Isso é o que fico repetindo para mim e tentando me convencer disso.
— Acabou Connor. — digo pela última vez e saio de seu quarto sabendo que se
eu ficasse só mais um minuto, eu correria para seus braços e faria qualquer coisa por
ele. Inclusive ir embora para sua cidade natal.
Limpo meu rosto mais uma vez e me viro para olhar Connor. Seus olhos estão
vermelhos e eu tento de todas as formas entender como ele ficou bêbado em menos de
uma hora.
A cena fica se repetindo em minha cabeça e eu gostaria de apagá-la para
sempre. Vê-lo beijar outra garota antes da gente namorar era torturador, porém hoje
foi como se uma faca afiada estivesse perfurando meu coração lentamente.
— Não temos mais nada para conversar. — digo olhando em seus olhos.
— Lógico que temos. Por que você estava chorando? — ele pergunta passando
a mão no cabelo.
— Por quê? Você ainda tem a idiotice de me perguntar isso? — indago e respiro
fundo. Ele suspira e eu continuo. — Eu quero arrancar todos os dentes da boca
daquela garota por sua culpa. Você queria me atingir. Eu te conheço Connor você fez
isso para me magoar. — grito com todas as minhas forças.
Eu posso estar fazendo papel de idiota em admitir isso para ele e que também
não tenho direito algum sobre ele, mas porra... Eu não consegui fechar a boca. O
ciúme está corroendo minha pele. Não consegui me segurar.
— Eu não sei por que a beijei… Eu…, Mas você me deixou e estava aqui como
se nada estivesse acontecido. Você terminou comigo sem um motivo decente. — ele
fala com raiva.
— Um motivo decente? Eu tinha todos os motivos para terminar. Você dançou
com outra garota na minha frente logo após dizer que vai embora, isso não é motivo
descente? Eu acho que é um motivo bem grande. — digo com raiva.
— Não. A gente podia ter conversado, arrumado um jeito de fazer acontecer,
mas você simplesmente me deixou. Me deixou no nosso quarto sozinho. Você sabe o
que passei essa semana? Você não sabe. — Ele fala com um grito. Se ele soubesse
que minha semana também não foi a das melhores… Minha semana foi uma merda por
causa dele.
— E você sabe o que passei? — pergunto. — Você não se importou. Você não
me pediu para ficar, você me deixou ir sem dizer uma palavra. — digo chorando de
novo. Porra, tenho que parar com essa merda.
— Você não me deixou falar. — ele começa a andar de um lado para o outro. —
Eu quebrei meu celular para não te ligar. Você tem razão em ter terminado. Estamos
dependentes um do outro… E isso não é saudável para nenhum de nós dois. Acho que
sempre esteve certa. — ele fala e sorrio irônica.
— É óbvio que pensa assim, uma semana, a porra de uma semana passou e você
já saiu para beber e foder essas garotas idiotas. Você levou alguma para dormir na sua
cama? Lógico que levou. Como você mesmo quis dizer. É melhor assim, não é? —
pergunto com raiva.
Ele me olha magoado. Quero que ele se foda. Quero que ele sinta a mesma dor
que estou sentindo o agora.
— Volta para ela. Leva ela para seu apartamento. Vai ser melhor assim. — digo
limpando meu rosto mais uma vez. Tenho que parar de ser tão chorona.
— Eu vou. — ele fala sério e eu engulo em seco.
— Boa noite, então. — digo e ando para longe dele. Mas antes que ele não seja
capaz de me ver, paro um cara que estava passando e o beijo na frente dele.
O rapaz logo corresponde enfiando sua língua em minha boca, mas não sinto
nada. Nada. Estou com um vazio imenso em meu peito. A boca que eu queria na minha
nesse momento deve estar com tanta raiva que só quer me matar e logo tenho a certeza
disso, pois sinto ser puxada, me fazendo afastar do garoto. Tento soltar meu braço do
aperto de Connor, mas ele está com ódio nos olhos. O garoto que beijei olha para
onde estou e vê que Connor me puxou.
— Hey gatinha…
— Não chama ela assim seu filho da puta. Sai da minha frente agora ou vou
arrebentar todos os seus dentes. — Connor grita ainda segurando o meu braço.
— Me solta Connor. Para com isso. — digo puxando mais uma vez meu braço.
Agora ele me solta. Seu olhar ainda está sobre o menino e eu tenho certeza que ele vai
espancá-lo. Não posso deixar que isso aconteça. Fui eu que meti o garoto na minha
confusão.
— Pode ir, ok? Eu me resolvo com ele. — digo sorrindo e ele devolve o sorriso
só que faz a besteira de me tocar de novo e pior me chamar assim…
— Tem certeza, princesa…
Connor dá um murro em seu rosto e eu grito de susto. Merda! Vou para a frente
do garoto e fico de frente para Connor.
— Para. Para com isso, Connor. — digo segurando seus braços. Empurro seu
peito com minhas mãos para afastá-lo do cara, mas ele não se move. — A gente não
tem mais nada. Você me lembrou isso a menos de cinco minutos. Agora saia daqui. —
digo séria.
Ele olha em meus olhos e eu nunca, em todo esse tempo que estamos juntos vi o
tamanho da mágoa que eles me refletem agora. Acho que ele é meu reflexo, pois ele
nunca me magoou tanto.
— Você não vai ficar com esse cara, eu vou matar ele se você fizer isso. Se
você pensar em dormir com ele… Eu vou te buscar e vou… Você não vai, porra. Eu
estou te avisando Nicole. Eu vou espancar esse idiota. — Ele está furioso. Nunca o vi
com tanta raiva, mas não posso fraquejar agora. Merda, ele também beijou outra
pessoa na minha frente.
— Eu fico com quem eu quiser. — digo sabendo que isso é uma mentira.
Posso ao menos falar que o beijo que dei no garoto foi um ficar? Pois é, acho
que não, ainda mais porque não senti nada além de saudade desse filho da mãe.
— Não. Não fica. Você é minha. Por que você complica tanto isso? — ele grita
ao dizer minha, eu sei a verdade, posso falar com toda certeza do mundo que meu
corpo e meu coração pertencem a ele, mas acabou. Acabou. Nenhum sentimento vai
me manipular desse jeito.
— Você me mostrou lá dentro que não é meu. E eu não sou mais sua. Acabou. —
grito a plenos pulmões. As pessoas que estavam passando me olham como se eu fosse
uma louca. Talvez eu fosse mesmo. — Agora é para valer. — digo e saio de perto
dele.
Procuro o cara, mas ele sumiu. Talvez ele tenha amor por si mesmo. Connor é
horrível quando está com raiva, não duvidei um segundo que ele pudesse mandar o
cara para o hospital. Quando chego ao estacionamento da boate abro a porta do meu
carro, mas um cara a segura. Merda.
— Boa noite, gatinha… — Seu tom de voz faz meu corpo tremer de medo. Que
merda é essa?
— Estava chorando? — sinto o cheiro de álcool de longe. Ele está bêbado. —
Que pena… — ele sorria diabolicamente. Um medo horrível se instalou em meu
corpo.
— Pode levar… O carro… pode levar só não me machuca, por favor. — peço
calmamente, mas o cara sorri mais ainda. Parece que o meu medo só faz a alegria dele
aumentar.
Olho para os lados e não vejo quase ninguém, exceto um casal do outro lado da
rua. Merda. Será que consigo...
— Nem pense nisso. Agora me dá a chave do carro e sua bolsa. Anda vadia. —
Ele fala segurando minha mão e me agarrando. As lágrimas já estavam descendo. —
Patricinha deixa de frescura, anda me dá a chave.
— Por favor… Moço me solta… — digo, mas é inútil. Tento pegar a chave na
minha bolsa, mas não consigo, pois ele me aperta demais. — Para. Por favor, para
com isso. — começo a me soltar dele.
Nem que eu apanhasse dele, mas não ficaria chorando o vendo me machucar.
Ele pegou meus cabelos e os puxou com toda força para que eu o olhasse. Dei uma
cabeçada nele e seu aperto afrouxou. Eu o empurrei, mas quando vi meu irmão já
estava em cima dele.
— Seu filho da puta. — Pietro o empurrou e começou a dar socos na cara do
homem. — Quem é você? Eu vou arrancar sua cabeça seu merda. — Pietro continua
falando enquanto batia sem nenhum pudor no homem que já estava ensanguentado no
chão.
Queria gritar para ele parar, mas eu não conseguida falar nada. Eu estava
apavorada, não queria que meu irmão estivesse tão descontrolado assim. Olhei para o
lado e vi que Clara estava sentada ao meu lado. Comecei a fazer não com a cabeça e
apontar para Pietro que ainda batia na cara. Ela entendeu o recado e foi até lá.
— Victor… Já chega! — ele não a escutava continuava a chutar o estômago do
idiota no chão. Então Clara pulou em suas costas e sussurrou em seu ouvido, eu ouvi
porque eles estavam bem perto de mim. — Victor sua irmã está assustada… Por
favor. — ela estava chorando.
Pietro parou e respirou fundo antes de Clara descer de suas costas e ir para sua
frente.
— Obrigada. — ela diz limpando o rosto.
Pietro vira o rosto e me vê ainda chorando ao lado do meu carro.
— Está tudo bem? Desculpe-me se te assustei, pimentinha. — ele fala depois
que veio para perto de mim. — Isso não vai voltar a acontecer, ok? Eu vou estar ao
seu lado Nicole. Eu juro que isso não vai mais acontecer. — ele tem os olhos
preocupados.
Eu queria dizer o quanto eu o amo por ser o irmão mais perfeito do mundo, mas
eu não conseguia falar. Só meu choro é a resposta. Pietro me abraça apertado como se
eu fosse sumir a qualquer instante.
— Diz que está bem. Ele te machucou?
Faço que não com a cabeça e procuro por Clara, mas não a vejo. Deve ter
voltado para a festa.
Pietro suspira passando a mão por meus cabelos e faz uma cara muito estranha
ao olhar para sua mão. Acompanho seu olhar e vejo muitos fios de cabelo em sua
mão. Deve ter sido na hora que o infeliz puxou. Parece que só o toque fez minha
cabeça quase explodir. A dor de cabeça está muito forte.
— Vamos embora, ok? Vou cuidar de você. — Ele fala abrindo a porta do carro
e me colocando dentro com muito cuidado. Pê vai dirigindo até meu prédio.
Deito em minha cama após tomar banho e ver mais fios no ralo do banheiro.
Sinto-me tonta e enjoada. Ainda posso sentir o cheiro e as mãos daquele filho da mãe
em minha pele. Pietro foi tomar banho no quarto de Clara enquanto eu estava no meu.
Amo meu irmão. Ele sempre me defende nas horas certas. Sem ele nada em
minha vida teria sentido. Pietro Victor é o irmão que toda garota deveria ter. Ele já
esteve lá para mim duas vezes e eu nunca vou esquecer isso. Ele com toda certeza do
mundo é meu herói.
Escuto algo cair no chão e sei que foi no quarto de Clara. Será que Pê está
mexendo nas coisas dela?
Levanto-me e vou até lá. Vejo Pietro saindo do banheiro de toalha.
— Pê… Escutei algo cair e vim ver o que era… Tudo bem? — pergunto o
olhando confusa.
— Não foi nada. E eu estou ótimo. — ele fala. — Vem, vou fazer você dormir e
vou embora. — ele puxa minha mão e vamos para meu quarto.
Quando estamos deitados o vejo olhar para o teto como se estivesse em outro
mundo. Apenas recordando algo. Algo aconteceu.
Acordo assustada e procuro por meu irmão, mas não o encontro na cama. Sento-
me e levo outro maior.
— Merda. Você me assustou. — digo cobrindo minha pele exposta. — O que
está fazendo aqui?
— Vim te ver. Fiquei preocupado. Clara me disse o que aconteceu e bem…
Você já tinha vindo para casa quando saí para te procurar. — Connor mantém os olhos
em mim o tempo todo. Seus olhos viajam pelo meu decote me deixando envergonhada.
— Pare de me olhar assim. — digo séria e mais uma vez a cena estúpida se
repete. — Não era para você estar com aquela vadia? No seu apartamento? —
suspiro. — Eu quero que vá embora. — digo de uma vez. Ele suspira derrotado.
— Eu não levei ninguém para minha casa. Eu nunca levarei outra garota que não
seja você. Eu vim porque estava preocupado com você…
— Obrigada, mas a única coisa que quero de você no momento é distância. —
digo sem rodeios me levantando e abrindo a porta do meu quarto. Não mentirei, fiquei
feliz ao saber que ele não pensa em levar outra garota para lá.
— Eu também estou com raiva de você. Mas nunca em toda minha vida eu vou
deixar de me preocupar com você. — ele passa a mão no cabelo. — Não se preocupe
eu cuidei do idiota. — ele sai andando em direção à porta e eu saio junto.
— Que? Volta aqui Connor. — grito o fazendo parar e olhar para mim. — O que
você fez? Você… Você… — Nem consigo terminar. Eu sei que ele não teria coragem
de matar ninguém, mas ele com raiva é outra pessoa. Claro que é com os outros, não
comigo.
— Não. Eu não o matei. Só terminei de deformar a cara dele. — Ele diz isso e
me dá às costas saindo da minha casa.
Não sei se fico alegre por ele ter estado aqui em vez de levar a garota para seu
apartamento ou com raiva dele por ter a cara de pau de vir aqui. Meu coração idiota
ficou feliz, disso eu tenho certeza.
Vou em direção à cozinha e busco meu celular e ligo para Pietro. No terceiro
toque ele atende.
— Alô
— Bom dia! Onde você está?
— Estou em casa.
— Como assim em casa? Você voltou para a casa dos nossos pais?
— Não! Eu estou no meu quarto de um apê que eles compraram para nós dois.
Era a surpresa que te disse ontem.
— Ah, ele fica aqui perto? Você saiu daqui que horas?
— Sim, fica bem próximo ao Campus. E eu vim embora assim que seu ex e o
casal 20 chegaram. Por quê? Tudo bem?
— Sim. É que eu acordei e não te encontrei… Sei lá.
— Vou passar aí para tomarmos café. Até porque você tem que conhecer o lugar
onde morará.
— Quê? Não. Quero dizer, como assim?
— Nicole o apartamento é nosso. Você vem morar comigo e isso não está em
discussão. Bom dia! Estou chegando. Beijo!
— Pietro não se atreva a desligar na minha cara. Eu vou te matar Pietro Victor.
E ele desliga. Filho da minha mãe.
Não estou acreditando! Como assim? E a Clara? Ela vai ficar sozinha?
— Bom dia! — Ty fala ao entrar na cozinha.
— Bom dia! — digo desanimada. Ele começa a preparar o café sempre olhando
de lado para mim. Isso está me irritando, mas não falo nada e fico vendo minhas redes
sociais. Quando levanto os olhos para observá-lo Ele está me olhando daquele jeito
estúpido. — O que foi Tyler Henderson? — pergunto e ele faz uma careta ao ouvir seu
segundo nome.
— É que… Não é nada. — Ele suspira derrotado e volta a seus afazeres.
— Espero… — depois disso ficamos em um silêncio chato. — Não! Era sim
alguma coisa. Me fale. Era sobre ele? — pergunto o olhando.
— Sim. Ele me disse o que você fez. É… Beijou o tal cara na frente dele. — ele
fala calmamente como se eu fosse explodir a qualquer momento.
— Ele também falou que estava ficando com uma vadia e que eu beijei o rapaz
logo após ele me dizer que levaria a garota para dormir com ele em casa? — pergunto
séria. Ty suspira balançando a cabeça de um lado para o outro.
— Você sabe que ele nunca faria isso… Digo, levar outra garota, não depois de
você. — Ele fala como se isso fosse óbvio.
— Ele fazia antes não vejo porque não está fazendo agora. — digo dando de
ombros.
— Não vou discutir com você, Nicole. Cadê ele? Já foi? — ele desiste.
— Sim. E eu não o quero entrando assim aqui. Vocês deveriam ter lembrado que
nós dois não estamos mais juntos. Esse direito ele perdeu. — digo quando Clara sai
do quarto.
— Ok. Me desculpe, mas quem segura aquele homem quando o assunto é você?
— Clara pergunta.
— Tyler. Ele segura, mas não quis, pois ajudou seu amigo certo? — digo
olhando para Tyler que balança a cabeça e vai para o quarto. Covarde.
— Como você está? — Clara pergunta ao se sentar.
— Bem na medida do possível…
— Você beijou outro cara na frente do Connor? — Clara pergunta horrorizada.
— Sim. Ele fez o mesmo. Sentime uma vadia, mas não parei. Ele me fez sentir
um lixo. — digo lembrando a hora que vi os dois se beijando.
— Ele não matou o cara? — ela arregala os olhos. Exagerada.
— Eu não deixei, mas ele ainda bateu no pobre coitado. Outra hora que me senti
uma vadia. Usei o garoto só para atingir ele e Connor ainda o machucou. — digo
suspirando. Clara tem seus olhos atentos a mim. Sei que quer perguntar algo, mas está
arredia.
— Já vou. Mais tarde nos vemos ok? — Tyler diz ao passar por Clara e beijá-
la. Ela acena e o vê saindo pela porta. Olho bem para seu rosto e não encontro mais
aquele brilho de antigamente e decido tocar no assunto.
— É… Clara eu gostaria de te perguntar… Você não gosta mais do Pietro? Digo
nem um pouco? Acabou? Não quero te confundir, mas você está diferente com Ty. —
digo e ela suspira cansada.
— Não. Eu gosto de Pietro como uma pessoa que marcou profundamente minha
vida. Não vou mentir que fiquei confusa assim que ele me beijou, mas passou
entende… Eu amo Tyler. Eu só estou cansada e preocupada de Ty estar morando no
mesmo teto da sua ex. Vamos combinar que isso não é reconfortante para ninguém. —
ela diz e eu aceno confirmando. Que idiotice minha achar que Clara estava dividida.
— Eu vou sair com Pietro e quando eu voltar quero conversar com você, ok? —
digo e ela arregala os olhos na menção do nome do meu irmão.
Ainda não quer que eu duvide do que ela está sentindo…
— Ele está vindo para cá? — assim que a boca dela se fecha batem na porta.
Abro a porta e Pietro aparece lindo como sempre. Ele veste uma calça marrom
e uma blusa branca com uma estampa qualquer na frente. Ele entra e para ao olhar
bem em meus olhos.
— Zack está na cidade. — Pietro fala direto.
O medo se instalou em minhas veias assim que as palavras deixaram sua boca.
Merda.
Capítulo Trinta e Quatro
Nicole
— Como assim? — pergunto extasiada. Pietro tem os olhos duros em minha direção,
mas sei que não é contra mim. Sua cabeça está passando as formas de afastar Zack.
— Não fique preocupada. Ele não vai voltar a fazer o que fez na última vez que você
foi em casa. — ele diz e me puxa para seus braços. Aconchego-me nele.
Verdadeiramente não sei o que pensar. Eu só queria que esses problemas fodidos da
minha vida sumissem. Eu espero que Zack não me procure ou que venha com suas
merdas para cima de mim novamente.
— Como assim? O que Zack fez com você no feriado, Nicole? — Clara tem o tom
acusatório e eu não a culpo. No lugar dela eu também agiria assim.
— Clara... — às lágrimas se acumulam e eu já estou chorando ao lembrar.
— Ele não fez isso. Ele não fez. Eu vou matar aquele filho da puta... Nicole ele
estuprou você? — Ela se levanta e começa a gritar enquanto vem na minha direção.
— Não. Pietro chegou e o tirou de cima de mim. Desculpe. Eu deveria ter falado, mas
tanta coisa aconteceu... Eu esqueci. — digo a vendo andar de um lado para o outro.
— Por que não me contou? Eu teria chutado a bunda daquele doente até o fim do
mundo. — ela está revoltada.
— Clara. Parou! — Pietro fala sério e ela para de andar e o olha assustada. — Ela
não falou. Pronto, não tem como voltar atrás.
— Você diz isso porque sabia. Eu não sabia de nada, porra. Victor, não fale comigo
como se eu fosse a porra de uma criança. — ela o olha desafiadora.
— Então faça um favor e não aja como uma. — ele fala sério e se vira para mim. —
Vou esperar você se arrumar na sala. Tchau, Maria Clara. — ele se despede dela, mas
ela o acompanha aos gritos.
— Não me chame assim seu idiota. Eu vou arrebentar sua cara Pietro Victor...
— Não se matem. Por favor... — falo baixinho com um suspiro, mas ainda assim eles
escutam.
Entro em meu quarto e pego meu celular para ligar para Mel. Não falei com ela
quando saí, então espero que ela não esteja com raiva.
— Alô? — olho para o celular, pois quem atendeu foi um homem.
— Mel está?
— Sim. Só um momento...
— Ok...
— Quem está falando?
— Nicole.
— Hey Nick...
— Dylan.
— Sim. Sim. Seu cunhado mais bonito.
— Ex...
— Que seja. Vou passar para ela.
— Obrigada.
— Oi.
— Hey Mel. Liguei para saber de você. Desculpe ter ido embora sem me despedir.
— Não esperava que fosse. Connor se superou, mas você sabe que só foi para mexer
com você.
— Pois pode dar os parabéns a ele... Ele conseguiu.
— Fiquei sabendo que beijou outro cara. Na frente dele...
— Sim e eu espero que não me julgue, ele também fez o mesmo.
— Nunca. Você fez certo... Ai.
— O que foi?
— Connor jogou uma almofada em mim. Idiota.
— Humm... Vou sair agora, mas queria te ver.
— Desculpa me meter, mas aonde vai?
— Vou tomar café com meu irmão. Você o conheceu ontem. Você quer ir?
— Não. Sei lá é um momento de vocês. Pelo que entendi vocês não se veem há algum
tempo.
— Não tem problema. Vai ser chato de qualquer jeito. Ele quer que eu vá morar com
ele. Às vezes parece que ele é o mais velho.
— Entendo. Mas tudo bem. Você me passa o endereço por SMS?
— Sim. Até lá.
Nos despedimos e eu fui para o banheiro.
— Não se mataram? Pensei que encontraria dois cadáveres no chão da sala. — Falo
ao encontrar Clara e Pietro sentados assistindo TV. Eles me olham e reviram os olhos.
— Vamos.
Saímos de casa e vamos direto para um Starbucks. Sentamos em uma mesa e Pietro
fica me olhando daquele jeito irritante.
— Pietro, eu não vou surtar, ok? Ele está aqui? Ok. Eu estou um pouco apreensiva,
mas é isso. Nada vai acontecer. Não fique preocupado. — digo e ele suspira.
— Tudo bem. Vamos esquecer esse idiota, mas se ele tentar algo você vai denunciar
ele a polícia e isso é uma coisa que não vamos discutir. — ele fala e eu suspiro não
querendo prolongar o assunto.
— Sobre ir morar com você... Não acho necessário…
— Nicole, papai e mamãe já ligaram e finalizaram o contrato do seu dormitório.
Então é questão de tempo...
— O quê? — grito revoltada.
Não acredito nessa merda. As pessoas olharam para mim como se eu fosse uma
idiota. Não ligo. Só quero entender que bosta minha família anda comendo
ultimamente.
— Eles só acham desnecessário pagar sua estadia no dormitório enquanto tem um
apartamento que podemos dividir sem problema algum. — ele fala calmo. Minha
vontade é matar essa calma irritante dele.
— Como vocês não me consultaram? Merda. Eu odeio quando fazem isso. — digo
exasperada. — Como vou falar para Clara? — pergunto e ele revira os olhos. Chato.
— Com suas palavras, como está fazendo agora ao gritar comigo e consequentemente
chamando atenção dos outros. — ele range os dentes me repreendendo.
— Que se foda. Você é um idiota, Pietro Victor. — digo e ele sorri divertido com
minha impaciência. — Quantos dias tenho para sair de lá?
— Acho que uma semana. Não sei exatamente. Ligue para mamãe e ela saberá... —
Pietro para de falar e fica olhando para a entrada do café.
Sigo seu olhar e encontro Melissa olhando para os lados a minha procura. Aceno
sorrindo e ela caminha em minha direção.
— Tire os olhos dela e lembre-se do que falei... — digo e Pê revira os olhos.
— Hey Nicole. — ela me cumprimenta ao sentar. — Oi Pevi… — ela fala com meu
irmão sorrindo e eu explodo em uma gargalhada. Fala sério de onde ela tirou isso?
— Você me chamou de quê? — Pietro pergunta sério, mas com divertimento no olhar.
— Desculpe estive pensando e juntei seu nome. — Ela sorrir mais ainda e eu não
consigo parar de rir.
— Só não me chame assim na frente dos outros, ok? É constrangedor. — ele faz uma
careta.
Conversamos coisas bobas. E logo saímos em direção a minha futura casa. Mel não
quis ir, disse que isso era íntimo e se despediu.
— O que acha? — Pietro pergunta.
— Lindo! Perfeito, quero dizer. — digo com um sorriso sincero. O apê é muito bonito
mesmo.
— Não se preocupe com o que Clara vai falar. Ela entenderá você vai ver. — Pê fala
me abraçando.
Eu espero...
Um mês depois...
— Não. Cala a sua boca, Andrew. — digo para o idiota do meu amigo.
— Deixa de ser chata. Vai ser legal...
— Só vou responder mais uma vez. Não! Eu ainda estou na fossa e você sabe disso.
Eu posso fingir para os outros, mas para você e Clara é impossível. — digo cansada
de ouvi-lo me chamar para sair.
A verdade é que ainda não superei aquele estúpido do Connor.
— Ele não ligou? Nem um SMS? — ele pergunta como quem não quer nada, mas já
sabendo da resposta.
— Só um SMS. Faz tempo... — suspiro.
A mensagem dizia somente. Saudades
— Eu penso que para ele não fui nada. Somente isso, um nada. Até com outra garota
ele está saindo. — digo e Drew levanta a sobrancelha em questionamento. Bufo. —
Eu vi. Ela estava na moto com ele no dia que fui até seu apê pegar Mel para irmos ao
shopping. — digo chateada por ele estar duvidando de mim.
— Eu sei quem é a garota Nicole. Ela é louca por ele, todos estão falando isso. Mas
você sabe que ele ainda gosta de você. — Ele fala sério me olhando.
— Gosta nada. Um mês se passou... Um mês que eu não durmo e como direito
enquanto ele sai com essa vadia. — digo com raiva. — Ah, muito obrigada por me
informar que ela gosta dele. Ajudou bastante. — completo, irônica.
Eu sei, sou uma idiota. Como Clara fala todos os dias, eu deveria sair e ficar com
caras gostosos e bonitos, mas para quê? Para a saudade machucar mais ainda... Eu
tentei, na segunda semana eu saí e fiquei com um garoto muito lindo, mas a única
coisa que fez eu seguir foi seus olhos iguais aos de Connor. No final vi que ele não
tinha nada parecido com Connor além dos olhos bonitos.
— Você é uma idiota. — Arregalo os olhos, incrédula. Drew nunca falou assim
comigo. — Eu sei que Connor anda sendo um escroto de merda, mas antes de você ele
já era um, segundo você, então não vejo muita diferença... Sê o quer e se ainda o ama
levanta essa bunda da cadeira e vai atrás do teu homem, mulher... Se não? Segue sua
vida e vai atrás de caras quentes como o inferno para acabar com o seu fogo.
Mulheres são tão complexas. — ele reclama.
Ouvindo assim até que não é tão mal, mas quem está no meu lugar não veria assim...
Connor se atreveu a beijar outra garota na minha frente, eu o amo, mas sei lá, acho que
ainda não estou pronta para ir atrás dele. Suspiro e sorrio para Drew.
— Obrigada. Você é o amor da minha vida. Você é o melhor. — digo e beijo seu rosto
bonito.
— Nicole para com essa coisa nojenta. Vão pensar que gosto de coisas como você.
Não é nada contra, mas amiga, os homens são muito mais gostosos. — Drew fala se
abanando e me empurrando. Já falei o tanto que aprendi a amar esse cara? — Vai
atrás do teu macho e me deixa aqui, ok? Mas me liga falando as partes quentes da
reconciliação… — ele fala enquanto pego minha bolsa e saio do café, mas antes…
— Pode apostar que vou te contar... Claro, se eu tiver coragem de ir atrás dele. —
digo dando tchau para ele.
Começo a dirigir em direção ao único lugar que o encontrarei enquanto ainda tenho
coragem. Estaciono e puxo uma respiração pesada. Eu o amo e eu tenho que lutar por
ele. Mas a cena dele beijando outra fica se repetindo na minha cabeça e eu não tenho
coragem de sair do carro.
Meu celular começa a tocar e eu respiro fundo para atender. O que Clara quer agora?
— Alô?
— Nicole?
— Oi Clara. O que aconteceu?
— Está sentada?
— Sim. Completamente. Você está me assustando. Por que está chorando?
— Eu estou grávida! E eu estou enlouquecendo. Como vou dizer isso para Tyler? Ele
vai me matar!
— Calma. Como assim? Meu Deus, eu vou ser tia e madrinha. Eu vou ser a madrinha,
não é? Lógico que vou ser!
— Nicole! Eu estou surtando e você com essa idiotice de madrinha! Venha ao meu
encontro. Agora!
— Estou no caminho. Não surta! Faz mal para o bebê. Eu li em algum lugar… Ok.
Isso não importa. Chego aí em dez minutos.
Desligo e olho mais uma vez para o prédio a minha frente. Não era para ser. A
coragem se foi e eu não vou atrás dele. Se ele me amar de verdade ele irá me
procurar. É nisso que quero acreditar quando saio do estacionamento.
Chego ao meu antigo dormitório e entro de uma vez. No dia que falei para Clara que
iria embora ela surtou. Chorou como uma criança e eu também. Tentei convencer meus
pais, mas mamãe não mudou de ideia, Pietro Victor também não ajudou em nada. No
final deu tudo certo. Hoje estou com Pietro no nosso apartamento. Foi bom por causa
de Lindo, lá ele mora comigo. Até porque não tinha lógica ele ficar com Connor.
— Clara! — grito e entro em seu quarto. Minha melhor amiga está deitada na cama
chorando baixinho. Ao me ver ela se senta e me olha com os olhos cheios de lágrimas.
— Para que tudo isso Clara? — pergunto devido o estado deplorável que ela se
encontra.
— Ele vai me matar. Sabe, a gente ainda está terminando a faculdade e aí eu apareço
dizendo que estou grávida… Nicole o que eu vou fazer… — ela soluça e eu a abraço.
Sei que não é fácil, quero dizer eu não sei, mas… Sei lá.
— Você vai fazer o que toda garota que já ama seu bebê faz. Vai conversar com Ty se
ele for um estúpido filho da puta, o que acho que ele não vai ser, nós duas cuidamos
do bebê. Eu nunca vou abandonar você. — digo beijando sua testa.
— Você tem razão. Eu vou falar com ele agora. — ela pega seu celular e eu saio do
quarto para dar privacidade a ela. — Obrigada! Você sempre vem ao meu encontro
nos momentos mais difíceis. — A escuto falar e me viro para olhar em seus olhos.
— Amigo é para isso. Se você cair...
— ...eu te levanto. — ela completa. Aceno com cabeça sorrindo e saio.
Depois de trinta minutos Ty bate na porta e eu abro com um sorriso fraco.
— Hey Nicole. Cadê a Clara? Ela está bem? — pergunta entrando no apê.
— Sim, entra. Eu vou embora para vocês poderem conversar, ok? — pergunto e o
vejo franzir as sobrancelhas. — Não se preocupe… Só não a machuque ou vou chutar
sua bunda daqui até o inferno. — digo e saio pela porta.
Entro em meu carro e vou para casa. Eu me cansei emocionalmente por ir até Connor
e também por causa gravidez da Clara. Meu Deus, ela vai ter um bebê!
Entro em casa e vou direto para meu quarto dormir. Exaustão me define nesse
momento.
Acordo com batidas na porta. Merda. Pietro não é, pois foi passar o dia em algum
lugar com Melissa. Esses dois não se desgrudam e não é nada de namoro, é apenas
amizade e é isso que eu admiro neles. Saio dos meus devaneios com batidas mais
fortes.
Levanto e abro a porta. Merda. Zack está do outro lado sorrindo e me olhando.
— Oi meu amor. — ele fala e eu empurro a porta tentando fechá-la, mas seu pé me
impede.
— Zack vai embora. — digo com medo crescendo. Ainda me lembro nitidamente a
vez que o vi depois que ele se mudou para Seattle. — Me deixa em paz.
Zack disse que eu era dele. Que mataria o cara que eu chegasse perto. Eu jurei que
não tinha ninguém. Porra, eu estava com tanto medo.
Ele entra no apartamento e eu vou dando passos para trás.
— Zack, o Pietro já vai chegar e você sabe o que vai acontecer. — digo tentando
fazê-lo ir embora.
Ele se senta no sofá e liga a TV como se fosse sua casa. Meu Deus, como pude ser
apaixonada por esse doente?
— Eu não estou nem aí para esse babaca. Naquele dia... — ele olha para mim com os
olhos cheios de malícia. — Eu estava bêbado. Por isso ele me bateu. — ele fala
voltando a atenção para qualquer merda que está passando na TV.
Ficamos em silêncio e eu agradeço a Deus por ele não estar tentando me agarrar.
— Descobri quem é o idiota que estava namorando com você... — ele desvia seus
olhos da TV para mim.
— Eu não tenho ninguém, Zack, por favor...
— Isso você me disse no outro dia, Porra! — Ele grita fazendo eu me assustar. —
Mas aí eu descobri que tinha sim, um filho da puta fodendo você. — Eu me encolho
com suas palavras.
— Eu não tenho mais nada com ele. Para com isso. Me deixa em paz, Zack. — grito
descontrolada.
— Eu espero que não tenha mesmo... Ou você sabe o que vou fazer com ele. — Ele
avisa.
— Não. Não vai fazer nada com ele. — grito. Se ele ousar eu sou capaz de matá-lo.
O meu celular começa a tocar ao mesmo tempo em que alguém começa a bater à porta.
Olho para a tela do aparelho...
Connor chamando.
Merda.
— Você está esperando alguém, Nicole? Quem é? — Zack pergunta ao levantar do
sofá.
— Não...
Enquanto ele vai abrir a porta eu atendo o celular.
— Connor...
— Nick... Abre a porta.
— Não. Vai embora. Por favor.
— Eu só quero conversar...
— Quem é você? — escuto Connor falar com irritação desligando a chamada.
— Namorado da Nicole. — Zack fala com divertimento fechando as mãos em punhos.
Saio do meu casulo e vou para perto dos dois.
— Que merda você está falando? Está de brincadeira, não é? — Connor fala e vai
entrando, mas Zack o segura no lugar com um braço. — Não toca em mim seu idiota.
Eu quero falar com você Nicole. Agora. — Ele grita.
— Não vai falar nada com ela. Ela é minha. Sempre foi e sempre vai ser. — Zack
grita na cara de Connor sorrindo.
— Você? Você… Nicole ele é o seu… Aquele que quase… Você sabe. — Eu fico
calada e ele explode. — Me responde porra. — as lágrimas já estão descendo.
Caralho.
Connor mantém seu olhar duro e depois que aceno confirmando ele pega Zack pela
blusa e o joga do outro lado da sala. Connor começa a socar a cara dele sem dó.
Começo a gritar chamando os vizinhos da frente para separá-los e logo dois caras
entram e os separam.
Eu não sinto pena de Zack, mas não quero que Connor se machuque.
Minha respiração fica presa e eu não consigo encontrar o oxigênio... Merda, o que
está acontecendo? Tento puxar respirações mais é inútil.
Vejo meu vizinho vindo em minha direção.
— Nicole? — ele começa a fazer algo com meu corpo que não tenho a mínima ideia
do que seja, mas logo volto a sentir oxigênio no meu pulmão.
— Obrigada! — digo respirando fundo e ele acena.
— A polícia está subindo. Eu não sabia o que estava acontecendo então chamei. —
ele fala e eu aceno confirmando.
Está na hora de não ter medo de Zack. Eu não posso mais ficar à mercê das suas
ameaças.
Depois que os policiais levaram Zack daqui e me falarem para ir até a delegacia
amanhã, eu me sentei e chorei. Que merda de vida essa minha.
— Me desculpa. Eu... Eu não sei o que deu nele. Me desculpa. — Eu falo para
Connor que está do outro lado da sala.
— Não precisa se desculpar, Nicole. — Ele fala suspirando. Nem parece que ele
acabou de brigar. O único resquício disso é um corte no seu lábio inferior. — O que
ele estava fazendo aqui?
— Nada. Eu abri a porta e era ele... Eu tentei fechar, mas ele não deixou. — digo
limpando minhas lágrimas.
— Tudo bem. Vem eu vou esperar você tomar um banho e dormir.
— Eu não preciso disso. Se quiser ir, pode ir sem problema algum. Pietro já vai
chegar. — digo dando de ombros.
— Eu não quero ir. Vem, deixa de ser teimosa. — ele me dá à mão e eu a pego
sentindo um tremor passar por meu corpo.
Depois que tomo banho vou para o quarto pegar um short e uma blusa que ainda tenho
de Connor. Visto tudo e depois saio mais uma vez para o encontrar sentado na minha
cama.
— Essa blusa é minha.
— Sim. É sua. — suspiro e me sento na cama ao seu lado.
Ficamos em silêncio e eu faço a pergunta que quero fazer desde que vi sua chamada.
— O que veio fazer aqui, Connor?
Ela me deixou!
Simples assim.
Um mês e uma semana sem ela foi a minha ruína. Bebi todos os dias e só não
ligava para ela porque sempre quebrava o celular antes da primeira dose. Fui para a
faculdade durante a primeira semana para tentar vê-la, mas ela nunca foi ao refeitório.
Clara sempre inventava uma desculpa quando eu mandava Tyler perguntar por ela.
Eu a vi numa boate que os caras me arrastaram depois de uma luta minha. Ela
estava linda e eu não sabia a porra que estava passando pela minha cabeça quando
beijei aquela garota. Nem sei quem era, mas apenas beijei. Eu queria uma reação
dela, mas quando a vi chorar levei um soco no estômago. Eu não queria vê-la chorar,
eu só queria que ela brigasse comigo, me batesse ou qualquer outra coisa. Eu só
queria que ela reagisse.
Eu fui atrás e para quê? Para ver os lábios dela se chocarem com os de um filho
da puta que ela nem conhecia. Eu quis arrancar a cabeça dele, mas ela não deixou. Ela
novamente virou as costas e me deixou. Não esperava que ela corresse para os meus
braços depois que falei que levaria aquela garota para minha casa, mas eu não sei. Eu
só queria ter ela comigo.
Agora olhando para ela me vejo ainda mais fodido. Eu amo essa garota e eu
nunca pensei que minha vida poderia ruir assim por causa de outra pessoa, mas sem
ela minha vida não tem o mesmo sentido de que quando ela estava ao meu lado. Porra
eu tenho saudades até das brigas que tínhamos.
— Eu queria te ver. Eu estou com saudades e eu sei que não mereço você e
muito menos o seu perdão, mas eu preciso dele. — respiro fundo. — Eu te amo e sei
que não demonstro da maneira certa, mas você sabe que é verdade. — digo olhando
seus olhos vermelhos do choro me olhar intensamente.
Eu estava com tanta saudade de olhar para ela sem que ela subisse as barreiras
entre nós. No Campus sempre estou à sua procura, querendo pelo menos olhar para
seus olhos e seus cabelos de anjo, mas sempre que a encontro ela está com aquele
filho da mãe que está sempre a rondando. Já não sei mais quantas vezes eu tive
vontade de arrancar suas mãos por ele poder tocar nela e eu não.
— Eu… Também fui até seu apartamento. — ela fala olhando para suas mãos.
Fiquei surpreso e feliz com sua revelação.
Quando cheguei e vi aquele idiota aqui pensei que fosse algum cara que ela
estava ficando e tudo que eu queria era bater nele por estar no meu lugar. Porra, mas
era o ex que tentou transar com ela a força. Eu queria matá-lo por fazer Nicole passar
por aquilo, mas logo nos separaram. Ela estava tão apavorada que a única coisa que
eu queria era abraçar ela e nunca mais deixá-la ir para longe de mim.
— Connor… — ela tenta falar.
— Me deixa falar, ok? Depois você pode fazer o que quiser…, Mas me deixa
falar. — Eu digo olhando em meus olhos. O castanho dos seus olhos está coberto por
lágrimas que, porra, eu queria beijar cada uma delas, mas eu não posso. Não enquanto
ela não me dar brechas para tal coisa.
— Ok...
— Eu fui teimoso. Eu sou, mas eu me enganei… Eu não consigo. Ver você ir
embora pela segunda vez quebrou o resto do meu peito. Você beijando aquele cara foi
o pior de tudo. — digo e ela acena confirmando.
— Eu sei. Foi horrível ver você com ela também, e pior ainda imaginar você
fazendo tudo que fazia comigo, só que com ela. — tento falar, mas ela não deixa. —
Eu sei que você quer ir embora depois da faculdade e sinceramente não sei o que será
de nós dois, mas principalmente de mim depois que você for. — ela respira fundo e
me olha nos olhos. — Mas eu não posso te ver seguir entende? Eu sei que estou sendo
patética, pois fui eu quem terminou, mas eu te amo. Eu amo como nunca amei alguém
na minha vida. Eu te amo assim. Ciumento e idiota. É assim. Nós vamos dar um jeito,
mas não vamos ficar separados. — ela está chorando descontroladamente. Eu a puxo
para meus braços e faço carinho em seus cabelos.
— Nós vamos dar um jeito. Eu também te amo, Princesa e eu nunca mais quero
sentir essa dor que foi te perder. — suspiro. — Eu não dormi com ninguém Nick…
Nem com a Sarah, ela é só minha amiga. — digo e ela levanta a cabeça me fuzilando
com os olhos. Ciúmes. — Não estou brincando…
— Eu sei que não, mas ela gosta de você. Eu sei disso, eu sou mulher, eu sei
identificar quando outra quer um homem. — ela fala séria agora.
Suspiro sabendo que é verdade. Sarah deixou bem claro que me queria assim
que nos conhecemos, mas ela aceitou minha amizade e é somente isso que eu lhe
ofereço.
— Ok.… Mas não existe nada. Eu lhe ofereci amizade e ela aceitou. Pronto. —
digo firme. Ela relaxa e vem para o meu colo.
— Tudo bem. Não vamos brigar por essa… Menina. — ela diz séria e depois
olha para minha boca. — Agora me beija. Eu estou com saudades… — ela nem
precisou terminar de pedir, pois logo tomei seus lábios com urgência.
Sua língua tocou a minha e isso foi o bastante para eu ficar duro feito uma pedra.
Merda, um mês e pouco sem sexo dá nisso. Pego seus cabelos com minha mão e a
trago para mais perto de mim. Beijo seu pescoço e desço para o vale entre seus seios.
Tiro a blusa de seu corpo e a escuto gemer em antecipação quando seguro, seus seios
em minhas mãos.
— Connor…
Coloco um na minha boca enquanto faço carícia no outro. Nicole tem pressa,
pois logo tira minha blusa e se levanta para que eu possa tirar minha calça. Depois de
eu ficar nu, ela tira seu short e vem ao meu encontro. Nunca vi tamanha perfeição.
Essa garota é meu mundo, disso eu tenho certeza.
Nicole
Caio exausta e satisfeita em seu peito. Nosso sexo de reconciliação foi quente e
muito gostoso. Eu amo esse homem e ninguém pode dizer ao contrário.
— Eu te amo, Princesa. — sorrio quando o sinto beijar minha cabeça.
— Eu te amo, Connor. — digo e levanto a cabeça para olhar, seus olhos verdes
azulados.
— Nunca mais me deixe, Nicole. Eu passei pelo inferno sem você. — Ele diz
me olhando sério. Quebra-me mais ainda ver ele me falar isso.
— Desculpa. Não vou mais fazer isso… Pelo menos enquanto me quiser ao seu
lado. — digo lembrando que ele pode ir embora.
Escuto a porta abrir e olho para Connor que apenas dá se ombros.
— Pietro… — levanto e vou para o banheiro.
Tomo outro banho, mas bem rápido, pois eles dois podem se matar a qualquer
momento. Visto uma calça jeans e uma blusa de manga longa. Vou ver como Clara se
saiu com Tyler.
Solto os cabelos e o arrumo de um jeito que não fique todo arrepiado. Vou para
a cozinha e vejo Mel sorrindo para mim. Reviro os olhos e a abraço.
— Vocês são melhores juntos. — ela sussurra em meu ouvido.
Pisco para ela e vou atrás do meu irmão. O acho sentado bebendo uma cerveja
na sala. Connor está no outro sofá o olhando com raiva. Merda, eles já brigaram.
— Pietro…
— A gente conversa depois, Nicole, e eu quero saber que merda aconteceu para
aquele filho da puta do Zack ter entrado dentro desse prédio sem ninguém ter visto. —
ele tem os olhos duros, mas sei que só está se culpando por não estar aqui na hora
para me “salvar” como fez outras vezes.
— Não fale com ela como se ela tivesse culpa, porra. — Connor fala com o
maxilar tenso.
— Não se meta em assuntos que não te dizem respeito. Ela é minha irmã, merda.
— Pê rosna para Connor em resposta.
— Ela é minha namorada e eu me meto sim. — Connor fala olhando sério. Sinto
um calor bom em meu peito ao ouvi-lo me chamar assim novamente.
— Calem-se vocês dois. Merda, que garotos irritantes. — Melissa fala com
raiva.
— Não fale assim comigo Melissa. — Connor grita. Olho com raiva em sua
direção.
— Não grite com ela seu merda. — agora quem gritou foi Pietro. Só melhora.
— Ela é minha irmã. — Connor levanta a sobrancelha em questionamento e eu
me canso dessa briga sem cabimento.
— Eu estou saindo. Tchau. — digo pegando minha bolsa e minhas chaves.
— Espera. Aonde você vai? — Connor pergunta.
— No Campus.
— Ok. Vamos.
— Mas quem vai levar Melissa?
— Eu vou. — Pietro fala.
— Ok.
Saio do prédio de mãos dadas com Connor. Um gesto simples, mas que eu sentia
uma saudade imensa.
Vamos em sua moto, pois, segundo ele, está com saudades de andar de moto
comigo. Eu também estou então aceitei de bom grado.
Entramos no meu ex dormitório e encontramos Clara e Tyler assistindo TV.
Acho que estão bem…
— Hey Nicole… Connor? — ela olha confusa, mas sorri quando damos as mãos
num gesto silencioso de que voltamos.
— Graças a Deus. Connor já acabou todo o estoque de bebidas que tínhamos e
já tinha comprado mais para a fossa que ainda enfrentaria. — Ty suspira sorrindo
enquanto meu namorado revira os olhos.
— Vai se foder Henderson! — Connor insulta enquanto se joga no sofá.
Tyler faz uma careta mais ignora o comentário do amigo.
— Mô, posso contar para ele? — Tyler pergunta para Clara sorrindo. Ela acena
e eu pisco cúmplice para ela. — Eu vou ser pai! — Ty está com um sorriso tão lindo
no rosto. Que nesse momento lembro que Connor não quer isso. Ele não quer esse
sorriso de felicidade.
Caminho em direção a Clara e a abraço.
— Eu tenho certeza que esse pequeno será muito amado. Tiro pelo olhar bobo
de Ty. — digo sorrindo e Clara ostenta um majestoso sorriso em seu rosto.
— Obrigada! E respondendo sua pergunta, sim, você será a madrinha do meu
pequeno anjo. — ela fala emocionada.
— Fico honrada, mas ambas sabemos que você só tinha duas opções, era eu ou
eu para ser madrinha do meu pequeno. — digo sorrindo e passando a mão em sua
barriga ainda plana. Clara revira os olhos para minha brincadeira.
Em nenhum momento senti inveja do estado da minha amiga, eu também quero,
ou queria ser mãe, mas o único sentimento que tenho no meu peito em relação a sua
gravidez é felicidade. Eu estou muito feliz por ela.
— Você… A Clara… Ela está grávida? — Connor pergunta com os olhos
arregalados.
— Sim, cara. Nós vamos ser pais. — Ty fala alegre e não entendendo o choque
do amigo.
— Eu não sei o que dizer… Parabéns?! — ele suspira passando a mão no
cabelo. — Você vai ser um ótimo pai do mesmo jeito que o seu foi para você. — Ele
fala triste.
Sinto um punhal atravessar meu peito. Ele está pensando no pai fodido dele.
— Desculpa. Eu tenho que ir. — ele sequer me olha ao sair do apê.
Olho para Clara me desculpando por ter que ir assim e ela logo acena
confirmando e me dando a coragem para ir atrás dele. Suspiro e corro para fora.
Chego ao estacionamento e o vejo subir em sua moto. Entro em sua frente com
um peso enorme em meu peito, mas não vou deixá-lo me afastar assim. Não depois do
que passamos nesse último mês.
— Aonde vai? — pergunto insegura, mas ainda assim séria. Não posso
fraquejar agora.
— Vou para longe daqui… Para longe de tudo que você quer em um futuro. —
ele fala sem vacilar. Eu tremo, mas não recuo.
— Eu não quero mais nada disso. No meu futuro eu quero você. Só você. Para
com isso. Por favor. — eu imploro, mas minhas palavras não surtem efeito. Ele pega o
capacete para colocá-lo na cabeça.
— Não. Você quer sim, casar, ter filhos, bebê como o que Clara vai dar a
Tyler… Eu vi seus olhos brilharem ao falar com ela. Você quer isso Nicole. Não
minta para si mesma! — ele grita chamando a atenção dos poucos estudantes que
estão por perto.
— Não grite comigo. Eu não vou mentir para você que eu quis sim ser mãe, mas
eu já falei que se isso acontecer vai ser você o pai. Por que complica tanto? —
pergunto emocionalmente ferida. — Eu estou feliz por ela. Somente isso. — digo
depois que ele se calou.
— Eu não posso te dar o que quer. — ele fala somente isso e coloca o capacete.
Antes que ele saia eu pego a chave da sua moto.
— Por quê? É por causa do seu pai? Da forma como ele te tratou quando era
criança? — pergunto sem medo, mesmo depois de ver seu olhar duro atravessar meu
corpo eu não fico apavorada. Na verdade, eu meio que esperava isso dele. Ele afasta
as pessoas com essa pose de durão, mas a mim não. E ele sabe disso.
— Eu não estou indo falar com você sobre isso. — ele grita. — Eu só não posso
dar o que quer. Somente isso. — ele fala com o maxilar tenso.
— Eu não estou pedindo nada. Eu só quero que quando um problema aparecer
não saia e me deixe. A gente acabou de voltar e você já está querendo me deixar. —
digo com lágrimas nos olhos. Só assim ele acorda do transe e suspira.
Connor desce da moto e segura minha cabeça entre suas mãos. Seus olhos estão
nos meus tentando me passar segurança, mas ela não chega até mim. A dor de não ter
ele comigo foi sufocante e eu não posso passar por isso de novo. Eu simplesmente não
posso.
— A gente não está terminando. Isso não vai acontecer de novo, ok? Eu só
preciso de um tempo. — ele fala e encosta sua testa na minha.
— Não. Eu não vou te dar um tempo. Aonde você for eu vou. E não tente me
impedir porque você não sabe do que sou capaz para ter o que quero. — digo séria
me afastando dele e limpando minhas lágrimas.
— Nicole… — ele para de falar ao me ver montar em sua moto, um pouco atrás
para dar espaço para que ele possa subir e pilotar.
— Sobe Connor. Nós vamos para onde quiser, mas vamos juntos. — digo lhe
entregando a chave.
Ele pega a chave da minha mão e sobe na moto. Agarro sua barriga dura e o
abraço passando qualquer coisa que ele precise no momento.
Acho que Clara e Ty não entenderam nada do comportamento dele em reação à
notícia da gravidez… Seu olhar incrédulo e de surpresa, mas eu entendo. Quando
você conhece verdadeiramente uma pessoa você consegue decifrá-la mais facilmente.
E eu o conheço como ninguém.
O silêncio se fez depois da minha pergunta. Não sei se ele está pensando em
como contar ou talvez não goste de tocar no assunto, mas eu já perguntei… Então é só
esperar.
— Eu a fiz assim que completei dezoito anos. Ela foi minha primeira
tatuagem… É dedicada à minha avó paterna. Ela sempre cuidou de mim quando meus
pais estavam brigando, eu a amo incondicionalmente, mas ela já faleceu. Foi o pior
dia da minha vida, mas é como diz à frase que tatuei…
"A vida te levou e me
Deixou aqui e o que você
Me ensinou é o que me faz feliz."
— Eu sou feliz pelo que ela me ensinou. Eu a amava demais. — ele fala
engolindo em seco. Beijo seu rosto.
— Ela também te ama. Tenho certeza de que não importa onde ela esteja… Ela
vai te amar para sempre. — digo sorrindo e ele me olha por um tempo calado. — O
quê?
— Nada. — ele suspira. — Meu pai sempre dizia que ela me mimava demais.
Ela sempre fazia uma careta e o ignorava.
— Como era o nome dela? — pergunto levantando minha cabeça no seu peito.
— Abby. — ele diz e sorri.
— Abby… Lindo nome. — digo fascinada. — Amor… Onde está seu pai? —
pergunto o vendo mudar seu belo sorriso por um olhar sério.
— Está morto. — ele fala frio. — Morreu de câncer no pulmão, pois fumava
demais. — ele suspira, se levanta e vai para o banheiro me deixando sozinha.
Respiro fundo e tento acalmar meu coração que se despedaçou com essa
revelação. Eu sei que esse homem era ruim para Connor, mas ele era seu pai. Resolvo
deixar ele um tempo sozinho. Todo mundo precisa de espaço nesses momentos, ainda
mais depois de falar uma coisa dessas.
Levanto-me e vou para a cozinha fazer algo para comermos. Preparo uma
macarronada rápida e coloco nos pratos. Pela manhã tomamos café com Melissa e
Dylan, mas logo voltamos para o quarto. Entro no quarto de Mel e a vejo saindo do
banho.
— Hey. Onde dormiu? — pergunto sentando na cama. Melissa fica branca com
minha pergunta. — Quê? — pergunto confusa.
— Nada. É… Dormi na casa de um amigo… — ela fala sem jeito.
— Ok.… Mas usou camisinha, né? — pergunto brincando.
— Quê? Lógico! Nicole, eu não sou burra. — ela fala e estranho seu
comportamento. Logo depois ela suspira. — Desculpa, ok? Não quis dizer que você
foi… Eu só estou estressada. — ela diz lembrando-se da vez que me esqueci de usar.
— Tudo bem. Eu só vim te chamar para almoçar. — digo e ela acena
confirmando.
— Eu já vou.
Saio de seu quarto e entro no de Dylan que está esparramado na cama. Reviro
os olhos. Esse menino é a preguiça em pessoa.
— Vem almoçar, Dylan. — digo e ele se levanta.
— Graças a Deus. Pensei que não ia ter almoço hoje. — ele reclama e eu fico
de boca aberta para sua ousadia.
— Minha namorada não é sua empregada Dylan. Não a trate como tal. —
Connor rosna atrás de mim.
— Hey. Eu estou só brincando. — ele diz olhando para Connor. — Desculpa,
cunhada. — ele fala sorrindo.
— Está desculpado. — digo revirando os olhos.
— Agora podemos comer? — ele pergunta e Connor dá um tapa em sua cabeça.
Entro no refeitório e vou direto para a mesa onde Gabriel, Ley e Bennet estão.
Faz tempo que eu não sentava ao lado deles. O tempo que eu e Connor terminamos eu
me afastei mais ainda deles. E sinceramente eu nem sei bem o porquê... Eu só queria
ficar sozinha na minha tristeza.
— Hey… Como está sumida? — Gabriel pergunta depois que me sento ao seu
lado.
— Estou bem. E você? — pergunto já sabendo um pouco do que está por vir.
Olho para a garota ao seu lado e sorrio.
Ele está namorando essa caloura da faculdade. É a mesma que ele disse estar
conhecendo na última vez que nos vimos.
— Queria te apresentar Caroline… Minha namorada. — ele fala com um sorriso
ao olhar para ela.
Ela tem um sorriso simpático e acolhedor. Eu gostei dela por seu jeito e também
por fazer meu amigo sorrir assim. Ele merece!
— Prazer Caroline. Seja bem-vinda! — digo sorrindo e ela acena retribuindo.
Ficamos conversando até dar a hora de todos eles irem embora e eu ficar no
mesmo lugar esperando Drew, hoje ele estava fazendo alguma prova e disse que viria
me encontrar aqui. Liguei para ele e ele disse já estar a caminho. Oh, homem lento.
Vejo minha visão escurecer quando percebo quem senta à minha frente. Sarah
me olha com um misto de divertimento e raiva no olhar. Eu somente fixo meu olhar
sarcástico sobre ela.
— Perdeu alguma coisa? Eu acho que já disse tudo para você outro dia, não? —
pergunto. Só de imaginar que essa garota quer meu namorado eu entro em estado de
nervos.
— Eu perdi por pouco tempo. Logo Connor voltará a ser meu. Você não
significa tanto quanto pensa Nicole… Você é somente uma foda idiota que ele tem. —
ela fala com veneno escorrendo por sua boca.
— E nem a foda idiota, você foi não é querida? Ele já falou isso para você,
Connor me ama. Se acostume com a ideia. Será mais fácil para superar, se aceitar. —
digo vendo o sorriso dela se desfazer.
— Ele te falou que dormimos juntos? Falou que eu estou grávida? — ela fala e
eu arregalo os olhos incertos. Não acredito nisso.
Não acredite nela!
Não acredite nela!
Não acredite nela!
Minha consciência manda ordens, mas eu não consigo escutar. Respiro fundo e
não deixo me abalar por isso. Ele não ficou com ela. Ele me disse isso. Ele não
mentiria para mim.
— Você não tem o que fazer? Eu não acredito em você sua idiota. E eu juro que
se não sair da minha frente agora eu vou arrancar seus dentes, sua vagabunda. — eu
grito chamando a atenção de todos no refeitório.
Ela se levanta sorrindo e tira uma foto da sua bolsa e a deposita na minha frente,
em cima da mesa.
— Isso é a prova! Diga a ele que ligarei avisando o dia da consulta do nosso
bebê. — ela diz e eu não me seguro. Mesmo que ela esteja grávida, eu não me segurei.
Dei um tapa em seu rosto que a fez andar dois passos para trás para conseguir se
equilibrar.
— Você é repugnante e nojenta. Eu odeio vadias como você. — digo sentindo
um nó na garganta. — Não me venha com suas mentiras, sua nojenta. — grito
novamente sentindo meu peito apertar.
Drew aparece e a manda embora, mas ainda assim não consigo me acalmar. É
idiota, eu sei, mas eu não consigo entender o que está acontecendo com meu corpo.
Estou inerte e não sinto nada. Apenas estou criando coragem para ver essa foto.
A foto. Suspiro criando coragem...
— Vamos esquecer essa idiota, ok? Você não precisa de todo modo ver isso…
— Ele pega a foto e a vira. — Ho! Meu Deus. — Ele tem um rosto surpreso e me olha
com pesar. Não estou acreditando nisso.
Pego a foto de suas mãos e uma vontade de vomitar bate com força total. Sarah
está deitada sobre o peito de Connor. Eu sei que é ele, pois sua tatuagem dedicada à
avó está aparecendo.
Eu não acredito que ele fez isso comigo. Ele não podia ter transado com ela.
Mesmo que estivesse solteiro, eu só queria que ele tivesse me falado a verdade. Ele
mentiu. Enganou-me.
Eu não quero chorar na frente de Drew, mas isso é impossível. Ele vem para
meu lado e me abraça apertado. Molho sua camisa com minhas lágrimas e só o escuto
falar coisas inerentes e carinhosas no meu ouvido.
Sinto Drew focar tenso e saio de seus braços. Olho para cima e vejo Connor
olhar para nós com raiva, quase ódio mesmo.
— Nicole, você pode me explicar que merda está acontecendo aqui? — ele
pergunta com os punhos cerrados.
Só de olhar para ele novamente fico imaginando sua reação ao saber que vai ser
pai. Ele nunca quis isso comigo, e terá com ela. Logo com essa vadia sem noção.
— Connor, vocês podem conversar em casa? Ela está um pouco descontrolada e
essa conversa no meio do refeitório não vai ser legal. — Drew fala e acaricia minha
mão, ao olhar para Connor o vejo respirar fundo olhando minha mão e de Drew
juntas.
— Não me diga o que fazer! Porra! Ela é minha namorada e eu cuido dela. —
Ele fala ficando de frente para Drew.
Não consigo falar nada. Eu só sinto dor. Muita dor. Quando Drew ia responder
eu me levantei e entreguei a foto a Connor. Seu rosto ficou pálido e certeza maior eu
não poderia ter.
Saio em disparada para fora do refeitório e entro em meu carro. Escuto sua voz
me chamar, mas não paro. Acelero e saio do Campus rápido. Minhas mãos tremem e
as lágrimas insistem em cair. Merda, ele vai ser pai! A vagabunda vai ter um filho
dele. Não eu!
Eu chorei por isso. Eu sofri com sua repulsa em apenas pensar em ter esse laço
para sempre comigo.
Laço eterno.
Ele sempre vai estar ligado a ela. Será que ele vai embora depois que o bebê
nascer? Será que ele desiste de tudo por eles dois, a mãe e o filho? A dor persiste em
meu peito e meus olhos se arregalam e eu não percebo quando tudo escurece…
Sinto um peso enorme em minhas costas. Quando penso que vou morrer ele tira
o braço da minha cintura. Suspiro e me viro para olhar para seus lindos olhos verde
azulados. Toda vez que o olho eu me hipnotizo. Eles são minha casa, eles me passam
confiança e principalmente segurança. Dentro de seus olhos me sinto muito amada.
— Bom dia, meu amor. — sua voz rouca chega aos meus ouvidos e eu sorrio
imediatamente por ele me chamar assim.
— Bom dia, meu amor. — digo e deito minha cabeça em seu peito.
Já faz uma semana que voltei do hospital. O médico não brincou ou fez qualquer
coisa em relação a mim e eu, com certeza, não senti falta.
Hoje Clara tem consulta no médico e Tyler disse que iria acompanhá-la. Ela
sorriu como uma criança quando ganha doce ao ouvir dizer que iria.
Então hoje tenho que ir para faculdade mesmo.
— Estou quase saindo para a faculdade. Você vai passar em casa antes? —
pergunto me levantando e levando o lençol ao meu redor, pois estou nua.
— Sim. Tenho que trocar de roupa e tomar banho… Depois te encontro, ok? —
ele fala e dá a volta na cama para vir ficar na minha frente.
Suspiro e aceno confirmando. Não gosto de me distanciar dele, pode ser idiota,
mas quando ele sai pela porta um medo de não o ver voltar se instala em mim. Eu sei,
sou dramática.
— Tudo bem. Eu estou indo tomar banho e vou tomar café da manhã com Pietro.
— digo e o abraço. Sorrio quando ele me levanta e me faz passar minhas pernas por
sua cintura fazendo o lençol cair.
— Mas antes… — ele fala mordendo o lóbulo da minha orelha.
— Hey. — digo sorrindo ao ver Drew sentar ao meu lado na sala de aula.
— Não fale comigo! Estou bravo com você! — Ele nem sequer olha para mim e
sua voz demonstra isso mesmo. Raiva.
— Por quê? Eu… O que fiz? — pergunto confusa.
— Você saiu do refeitório e se acidentou. Você se acidentou e eu que sou seu
melhor amigo não soube. Cadê a sua consideração comigo? Nem um telefonema,
Nicole? — ele agora me olha.
— Não foi nada demais. Amigo. Eu só tive arranhões na pele. Nada muito sério,
mas me desculpe. Eu deveria ter ligado. Me perdoa? — pergunto fazendo os olhinhos
do gato de botas. Ele sorri revirando os olhos e faz um movimento com a mão em
desdém.
— Ok...
Saímos da sala meia hora depois. Drew já não lembrava que estava bravo
comigo, pois tagarelava horrores sobre alguém. Parece uma criança...
— Aí eu vou sair com ele hoje... — Ele diz sorrindo.
— Com quem? — pergunto enquanto andamos pelo corredor da faculdade.
— Você não presta atenção em nada... Com o barman que conheci na boate que
fui semana passada… Ele é lindo. — ele fala se abanando. Ri do seu jeito e levo um
susto quando dois braços rodeiam minha cintura e me levantam.
Merda. É meu irmão.
— Me desce agora Pietro Victor! — digo me debatendo. Mas ele faz pior. Me
joga nas costas e começa a andar.
— Vamos maninha. Nós temos uma coisa para fazer... — Ele fala como se
estivesse com um saco de arroz nas costas.
— Eu posso ir no chão... Eu tenho duas pernas para isso seu idiota. — grito com
raiva enquanto os alunos riem de mim. Filhos da puta. — Drew faça alguma coisa! —
grito ao o ver rindo de mim também!
— Assunto de família Nicole. Não posso fazer nada. — Ele fala rindo. Mais um
idiota.
— Seu inimigo. Você está fora do meu círculo de amizade. Acabou ok? Nem
mesmo gostei de você. — grito com raiva. Ele ri ainda mais. Ai que ódio.
— Que merda? — Connor. Ele chegou para me salvar.
— Cala a sua boca. Você sabe o que estou fazendo então fica calado. — Pietro
avisa. O que eles estão falando?
— Connor faz ele me descer. Amor, por favor. — digo ainda com a cara na
bunda do meu irmão.
— Nick... Já estamos chegando. É rápido. — ele suspira em uma luta interna.
— Que merda vocês estão falando? — pergunto quando eles me colocam no
chão.
— Feliz aniversário antecipado! — Melissa pula na minha frente me virando
para olhar atrás de mim.
Todos os meus amigos estão na nossa mesa do refeitório com bolas e o bolo... O
bolo? Ele é enorme. Quando digo isso é porque ele tem três andares. Ele é lindo.
— Obrigada, gente. Mas já me falaram que não podemos festejar antes do dia. E
ainda faltam dois dias. — digo pensativa.
— Eu falei a mesma coisa. Minha avó diz que dá azar! — Tyler fala brincando
com o balão.
— Cala a sua boca Ty. — Clara fala o beliscando.
Todos riram deles dois.
— Obrigada. De verdade está tudo lindo. — digo com um sorriso enorme. Eles
se lembraram do meu aniversário. Estou muito feliz mesmo.
Eles começam a cantar o famoso “parabéns para você” e depois começo a dar
beijos e receber presentes deles. Não sei por que escolheram fazer a festa aqui. Mas
está tudo muito legal.
— O meu presente é o melhor de todos... — Drew chega a minha frente com um
sorriso malicioso e eu sorrio de suas loucuras.
— O que é Drew?
— Minha amizade! — ele grita olhando para os lados como se isso fosse óbvio.
Reviro os olhos e bato em seu peito.
— Ok. Obrigado senhor meu BFF mais perfeito. — digo sorrindo e o
abraçando. — Eu adorei o presente. De verdade. — digo ainda o abraçando.
— Se eu fosse você saía dos meus braços. Seu namorado vai arrancar minha
cabeça. — ele diz e eu gargalho procurando Connor. O vejo suspirar e se sentar à
mesa. Ciumento. — Mas falando sério. Meu presente é um dia no SPA mais fodástico
de Seattle. — Ele fala no meu ouvido.
— Não acredito! Mentira! — eu digo saindo de seus braços. Ele acena e eu
sorrio. O abraço novamente agradecendo.
Adorei meu presente.
Vou até Connor e me sento em seu colo, ele ainda está chateado, mas não deixa
transparecer, pelo menos para as outras pessoas por que para mim, eu sinto na sua
postura.
— Amor? — pergunto olhando em seu rosto que olha para todo lugar menos
para mim. — O que foi Connor?
— Eu não gosto desse cara. Você sabe disso, mas ainda assim estava abraçada a
ele. — ele suspira passando a mão no cabelo.
— Por que você não gosta dele? Ele é legal, todos aqui gostam, menos você. —
digo cansada. Por que ele é assim?
— É porque ele não está afim da mulher deles, porra. — ele diz agora olhando
para mim completamente sério.
— Olha Connor. Drew não está a fim de mim, ele nem mesmo gosta do sexo
feminino… Andrew é gay. — digo e ele me olha surpreso, mas alívio corre por sua
face. — E mesmo se ele gostasse, eu não quero nada com ele… Eu amo outro cara,
entende? — digo segurando seu rosto com minhas mãos.
— Desculpa. Mas só de imaginar você com outro... — ele suspira e me olha
sorrindo. — Quem é o outro cara?
— Um homem maravilhoso... — suspiro apaixonada. — Ele tem tatuagens, um
corpo lindo… Tem uma cara de mal e faz sexo como ninguém! — digo em seu ouvido
para atiçá-lo e eu consigo, pois ele se mexe desconfortável.
— Nicole... — Ele fala em tom de aviso.
— O quê? — pergunto fingindo estar confusa.
— Pare! Agora. — ele fala sério e com a voz rouca que tanto amo e me faz
delirar.
— Você me perguntou... Eu respondi. — digo inocentemente. Ele leva sua mão
para meus cabelos e me puxa para ele. Fico na sua frente sentindo seu hálito quente e
gostoso no meu rosto, com seus lábios quase beijando minha boca.
— Quando chegarmos em casa eu vou te fazer gritar meu nome… Como você
nunca gritou. Esteja avisada. — diz e sinto um calor no meio das minhas pernas.
Merda.
— Promessas, promessas. — digo cantando e saio de seu colo. Ele logo puxa a
cadeira para debaixo da mesa assim ninguém conseguirá ver suas pernas.
Pietro me deu um uma bota nova. Quase enfartei quando vi. Puta que pariu é
muito linda. Ley e Bennet me deram roupas e Kian também. Clara e Tyler me deram o
sofá que compramos depois de eu pegar eles dois transando no velho. O meu lindo
agora vem para minha casa! Fiquei muito feliz porque ele é perfeito e quem escolheu
fui eu.
Connor disse que meu presente estava na casa dele e que só irá me entregar no
dia. Agora estamos indo para casa dele, mas antes fui deixar o resto do meu bolo em
casa. Tirei a metade para levar para o apartamento de Connor... Aquele povo nunca
faz comida então resolvi dar mais besteiras para eles comerem.
Quando entramos em casa Dylan está no sofá com uma garota ao seu lado.
Merda.
— Dylan… — Connor suspira e acena para a garota que sorri surpresa e
maliciosamente para ele. Safada. Isso sim. Ela está se insinuando para ele. — Olá…
— ele diz e deixa em off o nome. Claro ele não lembra. Ele não espera que ela diga e
vai para a cozinha.
— Vivian... Oi Connor. Quanto tempo… — ela fala se levantando. Ela está
apenas com uma blusa de Dylan e uma calcinha por baixo. Não acredito nisso.
— Dylan faça um favor para mim e leve a garota de hoje para se vestir. — a
garota olha para mim com raiva e Dylan logo a puxa em direção ao quarto.
— Desculpa Nick... — ele fala e entra no quarto com ela.
Vagabunda!
Vou atrás de Connor e o encontro na cozinha bebendo água. Coloco o resto do
bolo na geladeira e me sento em sua frente. Ele não olha para mim e eu sei por quê.
Porque sabe que vou perguntar se ele dormiu com ela. Coisa que já sei que ele fez.
— Já transou com ela, não foi?
— Nick... — suspiro pesadamente e o interrompo.
— Mande Dylan se livrar dela. Que coisa mais baixa. Que garota vadia. — digo
me levantando.
— Eu tenho um passado Nicole... Você tem que aprender a lidar com ele. — ele
fala e eu me viro para ficar mais perto de seu rosto.
— Você acha que eu não lido com isso? Que de dez garotas que passam por mim
dentro da porra da minha faculdade, nove já transaram com meu namorado? Eu acho
que sei lidar com isso, sim. Só não vou lidar com uma vadia dentro da casa dele
ficando com o irmão dele depois de já ter dormido com você. Não vou mesmo. —
digo e ele se cala baixando o olhar.
Saio da cozinha para ir para o quarto.
No corredor a vadia passa por mim e sai pela porta sem me olhar. Agradeço por
isso. Vaca nojenta.
Como uma mulher pode ficar com irmãos? Não digo quando a gente se
apaixona... Não é isso. Paixão é forte e a gente não tem escolha, já transar com dois
irmãos só para… Nem sei para que, é sujo e muito feio.
Tomo banho e visto minha lingerie branca, pego a camisa de Connor que escolhi
e saio do banheiro. Pego minha escova de cabelo e começo a pentear.
Vejo Connor entrar no quarto e se sentar na cama. Ele fica olhando para as mãos
enquanto termino de arrumar meu cabelo.
Não estou com raiva dele. Não, não é isso. Eu só estou cheia de sentir ciúmes.
Eu estou com raiva de mim mesmo por ser tão fraca diante desse sentimento idiota
que me consome. Quando olho para qualquer garota na faculdade, eu me pergunto se
ela já ficou com ele e outras mais. Eu sei que é infantil, mas eu não consigo me
controlar. O olhar de cobiça que elas lançam para ele me enchem de raiva e eu não
gosto disso. Não gosto de imaginar perdê-lo para outra mulher. É sufocante e
aterrorizante.
— Você está chateada? — ele pergunta baixinho. Merda. Esse jeito confuso dele
me desarma e me faz querer beijar sua boca.
— Não, Connor. Eu só achei injusto você falar aquilo para mim. — digo
respirando fundo.
É a pura verdade. Isso é algo que também mexeu comigo. Como assim eu tenho
que aprender a lidar com o passado dele? Por Deus, isso é tudo que venho fazendo
ultimamente. Eu tento não surtar quando uma garota o olha e sorri, eu tento não
quebrar a cara dele e dela quando alguma liga no celular dele.
Cara de pau elas, não? Todas essas vadias já sabem que namoramos e ainda
assim ligam e se insinuam para ele. O sinal claro disso é a vadia da Vivian. Ai que
ódio.
— Eu sei. Mas amor... Eu já te disse tantas vezes que eu não gosto de nenhuma
delas. Se estão transando com meu irmão? Que se foda. A única que não quero que
faça isso é você. — Ele fala calmo e eu arregalo os olhos com sua comparação.
— Que idiotice é essa, Connor? Eu não sou nenhuma vadia para dormir com ele.
Eu amo você não seu irmão mais novo. — digo séria, mas eu quero é rir da sua
loucura.
— Eu não falei isso. E eu confio em você para nem pensar numa coisa dessas…
eu só quis dizer que elas não são nada. Você é tudo. — ele diz me olhando sério.
Suspiro e caminho em sua direção. Quando chego à sua frente sento em seu colo
com as pernas de cada lado do seu corpo.
— Ok... Eu não quero mais falar sobre isso. Agora eu quero que cumpra sua
promessa e me faça gritar seu nome. — digo beijando seu peito largo e liso. Ele
suspira segurando minhas coxas firmemente. E como prometido; ele me faz gritar seu
nome.
Entramos no restaurante e logo avisto meus pais e Pietro sentados em uma mesa
no fundo do restaurante. Suspiro e caminhamos ao encontro deles.
Depois que Connor saiu do meu apartamento, eu dormi. Queria tirar aquele
sentimento ruim de mim e a única saída foi o sono, e dormi até Connor chegar bufando
por eu não estar arrumada ainda.
Quem iria nos pegar eram meus pais, mas algo ocorreu e eles não foram então
viemos no carro de Connor. Ele está tenso. Eu não sei se é por causa do meu pai ou
alguma coisa que aconteceu, mas eu não estou gostando disso. Não mesmo.
— O que aconteceu? — pergunto enquanto ainda não chegamos à mesa.
— Nada. — ele fala rápido demais dando de ombros. Eu o olho séria, mas não
falo mais nada. Ele também não. Bufo e saio na sua frente.
— Oi meu amor… — mamãe me cumprimenta e eu a abraço. Estava com
saudades. Muitas mesmo.
— Oi mamãe. Como está? — pergunto e ela responde que está ótima.
— Hey maninha… Quanto tempo não nos vimos mesmo? — escuto a voz de
Pietro e me viro sorrindo.
— Acho que faz menos de um dia… — ironizo revirando os olhos.
— Insensível. — ele fica rindo.
Cumprimento papai com um abraço e sorrio quando me chama de Pimenta. Só
Pietro me chamava assim.
Nos sentamos mais relaxados.
Estou achando esse jantar tão estranho. Sei lá, eu só estou sentindo. Balanço a
cabeça para tirar esses pensamentos da minha mente.
— Humm… — papai se delicia com o vinho que pediu e nos o olhamos. —
Vamos meu amor, me diga como conheceu seu namorado. — ele pergunta e eu sorrio
para Connor que me olha também sorrindo.
— Nos conhecemos no estacionamento do antigo prédio dele. Connor quase me
atropelou. — digo alegre e ele sorri cúmplice.
— Não. Ela que não olhou em volta e eu a dei um susto para não fazer mais
isso. — ele diz sorrindo.
— Que? Você fez de propósito? — pergunto com os olhos arregalados. Eu não
sabia disso.
— Não. Lógico que não, mas depois pensei que isso aconteceu para você
prestar mais atenção ao seu redor e claro, me conhecer. — ele sorriu orgulhoso.
O jantar correu assim, entre nossas histórias, meus pais prestando atenção e
Pietro revirando os olhos. Mas em um momento meu pai se pronuncia deixando todos
desconfortáveis.
— Com certeza a história de vocês é linda…, Mas você conhece
verdadeiramente Connor, Nicole? E você Connor conhece de verdade minha filha? —
ele fala e eu o olho com raiva.
Não estou crendo que meu pai está fazendo isso. Que merda ele quer dizer com
isso?
— Não estou entendendo o senhor. Desde o momento que viu que nós dois
voltamos está assim. Por quê? Ele está me fazendo feliz não tem importância para
você? A minha felicidade não conta? — pergunto séria.
Meu peito está doendo e eu não entendo o porquê disso tudo. As palavras
usadas por meu pai, como assim, eu conheço Connor de verdade? É lógico.
— Conta e muito. Mas você tem que conhecer seu namorado e não apenas o
colocá-lo em um maldito pedestal. Eu espero que ele lhe conte seus segredos. — ele
fala e eu não aguento isso. Bufo e o encaro.
— Ele não me esconde nada. Eu sei tudo sobre ele. Tudo. — digo e meu pai
engole em seco. — Eu sei que ele luta e ele tem meu apoio, pois isso é o que ele
gosta. Se ele gosta de participar dessas lutas eu aprendi a respeitar e não o privar
disso. — minha mãe está com os olhos arregalados. Não queria que ela soubesse
assim, mas é a verdade, não tem porque mentir.
— Agora se o senhor está sabendo de algo que ele não me contou, por favor,
não me fale. Eu espero isso dele. — digo o olhando séria.
— Minha filha… Como assim? Jesus, isso é perigoso. — minha mãe fala
olhando para mim e Connor. Já meu pai está calmo, presumo que ele já sabia disso.
— Não é para ele. E se permitirem eu não quero mais falar sobre isso. Com
licença, eu vou ao banheiro. — me levanto e não espero que falem nada. Apenas saio
de perto deles.
Entro no banheiro e respiro fundo olhando meu reflexo no espelho.
Eu não precisava e não queria que novas dúvidas sobre Connor entrassem em
minha vida novamente. Merda. Mas ele não falou nada, somente ficou calado ouvindo
meu pai falar de possíveis segredos que ele me esconde. Que saco!
Por que tudo para nós dois têm que ser tão difícil? Eu imploro a Deus que meu
pai esteja errado e que Connor não tenha mais nenhum maldito segredo. Eu estou
cansada dessa merda.
— Pimentinha? — escuto meu irmão me chamar.
— Estou saindo. — digo e respiro fundo.
Saio do banheiro e o vejo apoiado na parede a minha frente com os braços
cruzados sobre o peito. Seus olhos percorrem os meus e eu sei que ele já sabe o que
estou pensando.
— Você não precisa disso. Ele é um cara legal, mas por que tantos segredos?
Por que tantas mentiras Nicole? — ele pergunta e eu reprimo meus lábios um no outro
tentando evitar as lágrimas.
— Eu preciso. Eu não sei como, mas não consigo ficar sem ele. Eu quero
entender o porquê de tantos segredos e tantas omissões, mas eu nem mesmo sei o que
meu pai supôs é verdade. Eu não sei o que pensar. — digo a verdade.
Passo a mão pelo vestido bege que estou usando para não ter que olhar para meu
irmão. Estou nervosa. Eu não quero que exista mais nenhum segredo entre a gente e o
mais importante, o que seria isso? Qual seria o tamanho desse segredo?
— Eu só quero que você não fique sempre à mercê de alguém que não confia em
você. — ele joga em minha cara. Suspirando me dá a mão.
Quando pensava sobre isso ou quando eu mesma falava era ruim e muito duro de
escutar, mas ouvir isso de outra pessoa é mil vezes pior do que ouvir de mim mesma.
Quando viramos para sair em direção a nossa mesa vejo Connor parado nos
olhando. Seus olhos estão nos meus e sinto um tremor dentro de mim.
— Podemos ir embora? — ele pergunta e eu aceno confirmando. Eu preciso
conversar com ele. Eu quero pôr panos limpos em tudo entre nós. Todos os possíveis
segredos que existam.
— Sim. Só vou me despedir dos meus pais. Você pode me esperar no carro? —
pergunto sem o olhar.
Eu sei que não tem porque estar assim, distante. Já que ele não me falou nada e
muito menos brigamos por algo. Mas estou muito ansiosa e nervosa demais com tudo
que aconteceu hoje. Nosso dia foi muito desgastante.
Ele sai depois de acenar e murmurar um “ok.”.
— Eu já estou indo… — digo quando chego à mesa onde meu pai e mamãe
discutem baixinho.
— Filha… Desculpe seu pai. Ele só quer proteger você de machucados futuros.
— ela fala depois de se levantar e ficar em minha frente.
— Ele mesmo fez um machucado se abrir em meu peito então não vejo algo bom
no que ele fez. — digo sinceramente. Ela respira fundo e acena.
— Tudo bem. Marcamos algo amanhã? — ela pergunta com expectativa e eu
sorrio.
— Sim. Tenho que comprar roupas novas. Então… O shopping é bom para a
senhora? — digo tentando mudar o clima tenso.
— Para mim está ótimo! Amanhã eu ligo para você. — ela diz e me abraça.
Meu pai se levanta e vem para nosso lado.
— Me desculpe. Não queria ter estragado a sua noite. — ele fala segurando
minha mão.
— Está desculpado, mas não dá para voltar atrás. — digo séria e saio de perto
deles.
Sei que meu pai está com a intenção de não ver Connor me machucar, mas quem
acabou me machucando foi ele mesmo. Somente ele. Saio do restaurante depois que
abracei meu irmão e ele disse que se eu chegasse na nossa casa hoje o procurasse
para conversarmos. Concordei e virei às costas para ir embora.
Chego ao estacionamento e vejo Connor andando de um lado para o outro.
Quando ele me vê, para de andar e continua olhando para mim.
Suspiro e desvio meus olhos. O jeito dele, sua postura, tudo indica que ele está
nervoso e o único motivo que vem a minha mente no momento é ele ainda esconder
algo de mim.
Novamente escondendo algo.
Entro no carro ainda sem olhar para ele e coloco o meu cinto de segurança.
Depois dele entrar no carro, eu olho pela janela e fico assim o caminho inteiro. O
escuto suspirar de dois em dois minutos. Não dou atenção e permaneço assim. Quieta.
Quando entramos em casa paro na porta. Alguém só pode estar de sacanagem
comigo. Hoje é a porra de um dia fodido.
— O que está fazendo aqui, Sarah? — ele pergunta e eu suspiro cruzando os
braços.
— Eu preciso falar com você. É urgente. — ela fala me olhando e depois volta
para Connor. Como pode haver uma pessoa tão cara de pau na terra?
— Não tenho nada para falar com você. Como pode mentir descaradamente para
minha namorada? Eu nunca dormi com você! E o pior que porra de gravidez é essa?
— Connor grita a assustando.
— Eu só queria que ela te deixasse assim você ficaria comigo. Ela demonstrou
ser insegura, então apenas dei munição para esse sentimento explodir… Eu não vou
mentir. Eu admito. — Ela respira e volta a olhar para ele. — Eu te amo, Connor. E eu
sei que também sente algo por mim… — ela para de falar quando minha mão acerta
seu rosto.
— Não fale com ele como se eu não estivesse aqui sua vagabunda… Não é do
seu maldito interesse que eu seja insegura e nunca mais fale que o ama porque nem
isso você sabe o que é! — grito na sua cara. — Por sua causa eu parei no hospital.
Sua cadela. Eu tenho pena do seu filho. Ninguém merece uma mãe tão vadia. — digo
para completar e a vejo chorar descontrolada.
— Eu nunca gostei de você como mulher. Sempre foi um carinho de amigo.
Nunca gostei mais que isso. — Connor fala mais calmo ainda parado.
— Connor! — ela levanta a cabeça e o olha. — Como vou falar para ele do
bebê? Ele nunca vai acreditar que é dele. — ela se levanta e começa a andar no meio
da sala.
— Quem é ele, Sarah? — Connor pergunta e ela abaixa a cabeça.
— É o… — ela suspira e solta de uma vez. — Bennet.
— Meu Deus! — coloco minha mão na boca. — Você é pior do que imaginei.
Não era você que estava a menos de cinco minutos dizendo gostar de Connor? Como
dormiu com o amigo dele? — respiro fundo tentando me acalmar. — Quer saber?
Pouco me importa. Eu quero que ela saia daqui agora. — me viro para Connor que
continua olhando sua “amiga”. — Você decide… Eu ou ela. — dou um ultimato e o
vejo respirar fundo.
— Sarah… Vai embora. — ele fala abrindo a porta.
— Connor…
— Sai daqui! Você viu o quão ruim eu estava por estar separado de Nicole e
quando voltamos você faz isso? Eu nunca vou te perdoar. Agora saia daqui e não volte
mais. — ele diz sério e eu a vejo sair olhando para seus pés.
Viro-me e vou para o quarto. O dia foi ruim e ele acaba aqui com essa nojenta
na casa de Connor triplicou por mil o fazendo ficar muito pior.
— Nicole…
— O quê? — pergunto fingindo indiferença.
— Por favor, não! — ele fala me vendo pegar minhas coisas que estavam
espalhadas pelo quarto.
— Por favor, sim! — respiro fundo. — Pode começar a falar. Eu quero saber o
que me esconde o que mais uma vez é um empecilho para nosso namoro, para sua
confiança em mim. — digo séria e distante. Não vou bancar a indefesa e a chorona
hoje. Connor vai ter que me explicar. Tudo.
— Eu… Eu não posso. Mas eu juro que… — Ele para de falar ao ouvir minha
voz.
— Eu também não. Eu também não posso. Eu sei o inferno que está me
esperando ao sair por essa porta, mas eu vou seguir porquê… Não tem como sabe?
Não adianta. Tantas vezes eu te digo, confia em mim. Confia no nosso amor, no amor
que eu sinto por você, mas é inútil. Você sempre faz isso. Sempre foge dizendo não
poder. Mas hoje sou eu que digo… Eu não posso. — ele cai de joelhos no chão com
as mãos na cabeça e antes que eu me transforme na idiota que sou e vá acariciá-lo e
lhe dar conforto, pego minhas coisas e saio de seu quarto, do seu apartamento.
Saio de sua vida, novamente. Já está ficando cansativo.
Entro em meu apartamento sozinha, pois meu irmão ainda tinha outra aula. A
prova foi a maior merda que eu já fiz. Eu estudei e sabia a maioria das respostas, mas
a minha cabeça estava sem foco.
Meu celular começa a tocar e a bolsa cai quando vou pegar. Merda.
— Alô?
— Hey. Precisamos nos encontrar. Quero começar a organizar o chá de bebê do
meu príncipe ou da minha princesa.
— Clara… Ninguém faz chá de bebê se ainda não sabe qual é o sexo da criança,
mas podemos fazer chá de revelação. Aí todos, inclusive você ficará sabendo no meio
da festa. O que acha?
— Que legal. Achei ótimo, mas tenho que convencer Tyler pois ele está tão
ansioso para saber logo. Mas dou meu jeito. Obrigada e eu te amo.
— Eu também te amo. Não se estresse faz mal. Ele gostará tenho certeza. Por
que não falou isso quando estava aí no Campus?
— Esqueci. Deve ser algum sintoma da gravidez…
— Não. Isso se chama ser lenta ou desatenta…
— Ok! Estou indo. Beijo!
E assim ela desliga. Vaca.
— O que está fazendo aqui? — pergunto ao olhar para a cozinha depois de
levantar do sofá que me sentei quando falava com Clara.
— Eu vim… Eu vim responder o que me perguntou. — Connor fala sem tirar os
olhos dos meus. Porra.
— Por que agora? — pergunto. — Você com certeza teria me privado de sofrer
uma semana se tivesse apenas me falado no dia. — digo e ele abaixa a cabeça.
Caminho para meu quarto.
Jogo minhas coisas em cima da cama e me sento. Connor entra no quarto e fica
de braços cruzados me olhando. Bufo.
— Nicole… — Ele descruza os braços e começa a andar pelo quarto.
— Ok... Pode falar. — digo suspirando.
Ele acena confirmando e começa a falar.
— Eu sempre fui um garoto galinha, ficava com muitas meninas e na maioria das
vezes nem sabia quem eram... — ele começa e eu o olho atentamente. — Quando eu
tinha dezessete anos eu dormi com uma garota... O nome dela era Ellen... Eu nunca
gostei dela na verdade. Para mim Ellen sempre foi uma foda qualquer. — ele suspira
passando a mão pelo cabelo. — Um mês depois que dormimos juntos, ela me disse
que estava grávida. — Arregalo os olhos surpresa. O quê?
Ele continua.
— Eu pirei. Como eu ia cuidar de uma criança se eu mesmo ainda era uma? Eu
estava muito assustado e não consegui controlar minhas atitudes. Foi quando tudo
aconteceu. Na hora que ela me falou da gravidez estávamos indo para casa de seus
pais e eu como estava nervoso não percebi quando o carro acelerou de repente. Não
sei o que aconteceu, mas nos acidentamos e quando acordei ela e o bebê… Estavam
mortos. Meu filho tinha morrido, ela tinha morrido, eu tinha os matados. — ele fala
olhando pela janela.
— Connor…
— Essa minha aversão a ter bebê é por isso… Quero dizer por isso também.
Mas como posso ser pai de alguém, se matei meu próprio filho? — Seus olhos estão
repletos de lágrimas e seu rosto tem tanta dor que a única coisa que penso no
momento é confortá-lo. E é isso que faço.
Capítulo Quarenta
Nicole
Capítulo Quarenta e Um
Nicole
Desligo a TV e vou em direção à cozinha. Melissa está na mesa com uma caneca
de chá fumegante. Reviro os olhos, sempre bebendo esse chá nojento.
— Hey… Como está? — Ela pergunta ao me ver.
— Estou bem. — digo sorrindo e me sento na sua frente.
— Ouvi vocês discutindo hoje pela manhã… Quero dizer de madrugada. — Mel
fala olhando para dentro da xícara.
— Humrum… — suspiro e fito seus olhos tristes. O que anda acontecendo com
essa garota? — Ele passou a noite fora, mas na verdade não brigamos por isso. —
digo e Melissa sorri contida.
— Eu sei… Vocês estão em crise?! — Ela afirmou e perguntou ao mesmo
tempo.
— Tipo isso… Mas acho que hoje acabou. Espero que não tenhamos mais
brigas. Estou cheia delas, na verdade. — digo olhando para seus olhos castanhos. —
Posso fazer uma pergunta?
— Claro. — ela diz baixinho e olha para mim.
— Vocês não estão mais se falando? Digo você e meu irmão. — pergunto e a
vejo desviar o olhar surpresa.
— Ele está namorando então não temos tempo para conversar, sair… Essas
coisas… — ela respirou fundo e bebeu mais um pouco do seu chá verde.
— Ok.… Eu até que gostei da Kimberley, mas sei que Pietro não gosta dela. É
passageiro e logo terá seu amigo de volta. — assegurei e a vi sorrir sem vontade.
— Tudo bem. Eu consigo viver sem ele. Não se preocupe. — ela diz revirando
os olhos.
— Ok. Então eu… Vou indo… — me levanto.
— Sabe… Eu nunca mais vi sua prima. O que aconteceu? — ela pergunta e eu
paro de andar e volto para sua frente.
— Eu não sei, mas mamãe disse que ela saiu da faculdade e voltou para casa
dos pais. Eu não posso reclamar, não é? Graças a Deus estou livre daquela cobra
nojenta. — digo suspirando a verdade é que quando fiquei sabendo eu sorria e
chorava de felicidade. Com ela por perto eu sempre tive medo de algo acontecer entre
ela e Connor. É bobo, mas eu sempre tive.
— Humm. Tudo bem. — ela fala sorrindo e eu volto a me virar,
— Até já…
— Já vai atrás dele? Vocês não se cansam? — ela fala ao me ver saindo da
cozinha em direção ao quarto.
Mostro a língua para ela e reviro os olhos. Chata.
Connor está ao telefone e eu acabo escutando quando entro no quarto.
— Mãe… A senhora achou? É perto? — ele pergunta. — Tem que ter, pelo
menos, dois quartos… Com certeza a Nick vai querer decorar o quarto do bebê. —
minha visão escurece com o que escuto. Que merda? — Ok... Me ligue para dizer
sobre essa. Mas antes a senhora pode ir lá? Talvez depois da próxima semana nós
iremos aí ver ela. — ele continua e eu entro de vez no quarto.
Ele sorri para mim e ao ver que não retribuo desliga o celular. Seu semblante é
confuso e eu não sei por que ele está assim. Ele sabe muito bem que não vou morar
em outra cidade.
— Tudo certo? — ele pergunta ao se sentar na minha frente.
— Você… Você está atrás de uma casa? Para quê? — Eu pergunto e ele balança
a cabeça agora me entendendo.
— Nick… É nossa casa. Não podemos criar um bebê em um apartamento.
Mamãe está procurando a casa onde vamos morar… — o interrompo.
— Eu pensei que já tivesse entendido. — digo suspirando.
— Como assim?
— Eu não vou Connor. Eu vou ficar aqui. Nós ainda não tivemos essa conversa,
quero dizer, nós a adiamos e acho que agora é o momento certo. — digo sentindo
minha garganta apertar. Seus olhos estão arregalados e minha vontade é de bater nele.
Sim. Bater. Pois ele continua agindo como se minha opinião não valesse nada.
— Como assim não vai? Nós temos que ir… Vamos morar lá… — o interrompo
novamente.
— Não. Eu não tenho que ir e eu não vou para lá. — digo séria e ele me olha
franzido as sobrancelhas.
— Eu vou morar lá, Nicole… Como vai ser então? — ele pergunta e eu tremo
dos pés à cabeça.
— Eu não sei… Mas se sua decisão é essa, eu não tenho o que fazer aqui. —
digo e meus olhos enchem de lágrimas. Que merda. Por que ele não pode
simplesmente ficar comigo?
— É isso? Você vai me deixar? Você vai embora e levar meu filho? — ele
pergunta se levantando e andando pelo quarto.
— Nós não iremos embora. Eu e ele não vamos a lugar nenhum… Você que está
indo. — digo e me levanto.
Pego minhas chaves e saio. Mais uma vez.
Entro no táxi que chamei com as mãos suando. Estou nervosa demais, eu não
posso ficar assim, mas saber que daqui a poucos minutos saberei o sexo do meu bebê,
entro em estado de nervos.
Chamei Clara para vir comigo, mas ela disse está ocupada com Aaron, então
não chamei mais ninguém. Connor, sinceramente, não sei se vai à consulta, pois
segundo Ty, quando ele avisou, Connor não respondeu se vinha. Eu estou um pouco
decepcionada. Ele é o pai e não quer saber? Eu tenho vontade de enforcá-lo
Saímos do estacionamento e o taxista dirige até o centro da cidade. Olho as
paisagens tentando acalmar minha respiração. É louco saber que um bebê está
crescendo na minha barriga. Às vezes eu me deito e deixo minha mão parada sobre a
barriga e travo minha respiração, apenas para no caso de o bebê mexer eu poder
sentir. Mas todas às vezes eu me decepcionava. Ele ainda não mexeu e eu estou muito
ansiosa, acho que toda mãe fica assim.
Meu Deus! Eu vou ser mãe. Uma pessoa vai depender de mim, eu vou o amar
incondicionalmente como o amor que Clara declarou sentir por Aaron. Sorrio com o
pensamento.
Entro no hospital e me sento na sala de espera. Diferente da primeira vez que
vim aqui, hoje estou sozinha. Não há outras grávidas, somente eu. E isso me faz ficar
mais triste do que já estou por Connor não estar aqui comigo, mas, ao mesmo tempo,
acho que seria bem pior ver uma pessoa com seu marido aqui a apoiando. Suspiro não
querendo pensar sobre isso e espero.
Capítulo Extra
Casamento
Depois do que parece uma eternidade nos afastamos. Seus olhos verdes
azulados estão límpidos e claros, me fazendo sorrir de felicidade. Quando o vi na sala
da ultrassonografia eu quis gritar de alívio. Quando vi seus olhos cheios de lágrimas,
me perguntei por que tudo tem que ser tão difícil para nós. Se meu amor não era o
bastante para fazê-lo ficar. Meu peito apertava com a possibilidade de ele ir e me
deixar aqui. Quando vi a casa e escutei ele dizer que era nossa, eu chorei de
felicidade, pela primeira vez durante esse tempo todo que estamos juntos eu senti que
naquele momento era nossa junção. Naquele momento nós éramos um só.
Depois de chorar mais um pouco olho para Connor e o beijo. Beijo por sua
força e por sua coragem em me escolher. Em escolher nós duas. Eu e Abby.
Sua língua força entrada em minha boca e eu solto um gemido quase inaudível.
Connor passa os braços ao redor da minha cintura e me puxa para cima segurando
minha bunda entre suas mãos. Agarro sua cintura com minhas pernas e sua cabeça com
meus braços.
— Aqui não. No nosso. — digo ofegante e vejo um sorriso lindo trilhar sua
boca.
Ainda em seus braços, vamos para nosso quarto. Desço de seus braços e tiro
sua camisa rapidamente. Suspiro quando sua mão desce em direção a meu núcleo. Ele
só me acaricia, mas logo depois desce minha calça legging e minha calcinha de uma
vez, me deixando nua da cintura para baixo. Sinto-me tão molhada. Malditamente
molhada.
— Eu te amo tanto. Merda. Eu senti tanta saudade de você. — ele rosna em
minha direção quando seus dedos deslizam pelas minhas dobras doloridas e inchadas.
— Eu também estava, mas agora... Por favor... — eu imploro quando suas mãos
me deixam.
Ele tira minha blusa e sutiã e o joga próximo as minhas últimas peças. Ele chupa
meus seios com vontade dando atenção a cada um, logo depois ele tira a calça e
cueca.
Nu. E. Porra. Lindo.
Puxo sua cabeça e aproximo minha boca da sua. Logo estamos entrelaçados no
chão do nosso quarto.
— Nunca mais. — sua respiração sai entrecortada. — Nunca mais você vai
para longe de mim. — Connor fala no meu ouvido enquanto dá estocadas me
preenchendo.
— Nunca mais. — eu repito ofegante.
— Você é minha. Para sempre. — ele fala pausadamente e eu me derreto
embaixo de seu peito. — Diga Nick. — ele exige e eu quase sorrio. Mas seus
movimentos param e eu logo respondo.
— Eu sou sua. Para sempre sua. — digo e grito quando ele mete em mim de
repente. Nos quebramos ao meio quando chegamos a um orgasmo cheio de promessa.
FIM.
Epílogo
Connor
Entrei em seu quarto e a vi chorando. Abby sempre foi a mais sentimental.
Desde pequena. Ouvi-la gritar que me odiava doeu em mim, mas eu não colaboro.
Várias vezes a proibi de sair com suas coleguinhas, mas eu só tenho medo. Somente
isso.
Eu sei o que garotos da idade dela querem, eu sei muito bem, pois eu já fui um
deles.
— Abby? — Eu a chamo e ela se senta na cama olhando para suas mãos. Eu me
encosto na porta cruzando meus braços a olhando.
Depois do que parece uma década ela começa a falar.
— Desculpa papai. Eu não quis dizer aquilo. Eu nunca vou te odiar porque eu te
amo. Entende? — ele levanta a cabeça e eu suspiro acenando. — Se o senhor não
quiser que eu vá, eu não vou. — Ela fala e mais lágrimas descem por seu rosto.
Abby é a cara da mãe. A única coisa que herdou de mim foi a cor dos olhos.
Somente. E todas as vezes que olho para seus olhos vejo os meus refletido. E isso é a
coisa mais fantástica que já olhei depois da sua mãe.
— Eu vim aqui lhe pedir desculpas por agir daquela maneira. Eu só tenho
receio de que alguém lhe machuque. Eu vou tentar melhorar, Ok? — digo e ela acena.
Minha princesa levanta da cama e me abraça. Suspiro aliviado. Eu amo minha
pequena.
Saio de casa com os meninos, mas deixo Abby na casa de Dylan, pois ela queria
ver sua prima, eu não entendi nada. Parece que ela ligou chorando. Sinceramente acho
que esses adolescentes estão ficando todos loucos. Depois fui para o trabalho e ouvi
as ideias de Tyler. Aaron estava lá e eu vi quando ele me olhou estranho. Perguntei o
que estava errado, mas ele disse que não era nada e foi ao encontro de seus amigos.
— Judi? — entro em casa com as crianças e procuro por ela, mas não a vejo em
nenhum lugar. Nicole também saiu. Foi ao médico idiota dela. Até hoje ele ainda olha
para ela diferente. Até parece que é apaixonado. Meus punhos se fecham com o
pensamento.
Quando ela chega em casa estou assistindo filme, ela se encosta na parede e
quando a olho, seus olhos têm lágrimas e eu corro ao seu encontro. Que merda
aconteceu?
— O que aconteceu, meu amor? — pergunto quando ela se senta ao meu lado no
sofá e eu a sigo. Vejo que ela tem uma sacola na mão.
— Eu não sei como explicar. Só um momento. — ela pede e suspira. Ela segura
a sacola mais perto do seu peito e eu não entendo nada.
— O que é isso? — pergunto a vendo tirar uma caixinha de dentro do pacote.
— Eu queria ter falado antes, mas não encontrei uma ocasião melhor e eu ainda
não tinha certeza. — ela fala.
— Então? — Ela acena e limpa os olhos com lágrimas ainda acumuladas.
— Tudo bem. Toma. Abre. — ela coloca a caixinha em minhas mãos e eu a abro
devagar.
Arregalo os olhos e a olho, Nicole está sorrindo e me olhando com expectativa.
— Outro bebê? — eu pergunto sorrindo e ela acena confirmando. — Meu Deus.
Não acredito. — ela gargalha e eu sorrio. — Obrigado, meu amor. — eu a pego pelos
braços e a beijo com urgência.
Depois de todos esses anos meu desejo ainda é o mesmo por ela. Eu a amo
fodidamente. Essa mulher é minha perdição. Levo-a nos meus braços para nosso
quarto.
Tiro seu vestido florido e quase enlouqueço quando seus seios fartos pulam na
minha frente. Chupo com vontade enquanto a encosto na parede do nosso quarto. Puxo
os lados da calcinha dela e a rasgo com meus dedos. Nicole geme em meu ouvido e eu
quase gozo na minha roupa. Merda.
Quando sinto seu calor, Nicole geme mais alto. Sei que ela já está na borda. Por
isso começo a me movimentar mais rápido a levando ao um gozo intenso me fazendo
liberar meu sêmen dentro dela.
— Sempre tão gostosa. — eu falo chupando seu seio enquanto acaricio o outro.
— Eu te amo. Muito. Para sempre. — ela fala me olhando com lágrimas.
— Para sempre, minha deusa.
Capítulo Dois
Melissa
Entro em minha sala de aula atrasada. O professor olha feio para mim, mas dou
meu melhor sorriso e me esquivo das cadeiras tentando chegar a minha. Odeio estar
atrasada. Odeio ter toda a atenção da sala voltada para mim.
Deslizo pela minha cadeira e tento me concentrar em tudo que deixa a boca do
professor. É difícil, mas depois que relaxo, absorvo tudo com mais facilidade.
Escolhi literatura inglesa, pois gosto de ler tudo e claro, também gosto de
escrever. Desde pequena sempre quis ler todos os livros da minha casa, e escrever
meus pensamentos em diários ou qualquer caderno que estivesse por perto. Comecei a
me aventurar de verdade no mundo da escrita quando eu tinha dezesseis anos, eu tenho
um livro já completo, mas nunca tive coragem suficiente para apostar nesse “sonho”.
O livro é um romance e por incrível que pareça eu adoro ler trechos dele
quando estou livre. Às vezes só abro na página e começo a absorver tudo, e em
poucos segundos já sei o que vai acontecer em seguida e o que aconteceu
anteriormente. Algumas vezes acho que é algum tipo de loucura, mas é apaixonante e
eu me envolvo. Então só me deixo apreciar o romantismo dos personagens principais
e depois já estou sorrindo feito uma boba por aquelas palavras terem saído de mim.
É, acho que é loucura mesmo.
Saio da sala depois de mais de trinta minutos. Encontro Kyara conversando com
meu irmão, Dylan, e estranho já que eles nunca conversam. Chego devagar e pulo na
frente deles.
— Melissa! — Dylan leva a mão ao coração, surpreso, e eu gargalho.
— Oi gente. — Digo depois de me recuperar do ataque de risos. — O que
estavam conversando? — Olho para minha amiga. Ela suspira sorrindo tensa.
— Nada. Só perguntei por você a Dylan. — Ela responde e Dylan franze as
sobrancelhas. — Não foi, Dylan? — Ela o olha questionando.
— Foi. E eu já ia responder que não tinha te visto. — Ele responde e depois
olha para Kya. — Agora tenho que ir. Tenho um encontro com uma gatinha do segundo
ano. — Ele pisca e sai na direção oposta.
— Seu irmão é tão idiota! — Ela fala com um suspiro e eu a olho estranho. Mas
não pergunto nada. Vai saber, né?
— Você já devia saber disso. Agora vamos, pois estou com fome. — Pego sua
mão e saímos em direção ao refeitório.
Chego a minha casa exausta, então só me deito e apago pelo resto da tarde.
Acordo com batidas na porta e me pergunto por que Dylan não leva a porra da chave
dele. Cara chato.
Abro a porta e logo volto para me jogar no sofá.
— Gostaria que você levasse a chave para eu não ter que me levantar, sabe?
Fizemos cópias para isso. E só para você saber eu estava dormindo e adivinha? Você
me acordou! — Digo colocando uma almofada no rosto. Espero ele falar alguma
merda, mas o que escuto é bem pior.
Muito pior, na verdade.
— É... Hum... desculpe lhe acordar, mas eu acabei de chegar ao prédio... — Eu
pulo do sofá e puxo minha blusa para cobrir minhas pernas.
— É... Então eu não tenho açúcar em minha casa e então pensei em pedir ao
vizinho... Meu Deus me desculpa mesmo. Eu... já vou indo. Desculpa-me mesmo. —
Ele me dá as costas indo em direção a porta da frente, mas corro atrás dele.
— Não. Perdoe-me, é que pensei que era meu irmão... eu tenho açúcar... Então
se quiser só espera um minuto que trago para você! Ok? — Pergunto e ele sorri
relaxado. Paro e o observo constatando que ele é lindo.
Ele deve ser mais alto que eu, uns trinta centímetros. Meu vizinho veste uma
calça jeans e uma blusa cinza apertada. Ele tem os braços enormes e cheios de
tatuagens. E eu acho que acabei de me apaixonar.
— Ok! — Saio do meu transe e ele me olha estranho. Claro, eu estava o secando
na cara de pau.
Suspiro e corro para a cozinha. Pego o açúcar no armário e volto para a sala.
Ele está no mesmo lugar onde o deixei; porta. Que mal-educada Melissa! Mas se já o
assustei quando olhava para seu corpo, lógico que não vou chamar para entrar, ele vai
pensar que eu quero transar com ele.
E você quer, Melissa?
Pensamento estúpido. Lógico que não. Eu também não convidaria um estranho
para entrar. Não estou louca.
— É... Está aqui. — Entrego em suas mãos e ele arregala os olhos.
— Hey... Não precisava ser um pacote. Vou fazer compras em breve... — O
corto.
— Não tem problema. Entenda como um presente de boas-vindas ao prédio! —
Digo e ele sorri abertamente. Esse sorriso. Que lindo!
— Muito obrigado! É... Nos vemos por aí! — Ele fala e começa a andar para
trás coçando seu pescoço.
— Ok!
Depois que fecho a porta começo a me estapear. Como me transformei nessa
vadia? Volto para meu quarto e tomo banho. Depois que saio enrolada na toalha,
começo a conversar com Kyara pelo celular.
— Ele era bonito mesmo?
— Bonito? Ele era muito lindo.
— Mas vocês ficaram? Tipo, não rolou nem um beijinho?
— Você é louca? Só de comer ele com os olhos estou me sentindo diferente!
— Mas...
— Nada de “mas”.
— Tudo bem... Vamos sair? Estava pensando em ir aquele bar que inaugurou
semana passada. O que acha?
— Tudo bem. Passo aí em uma hora.
— Beleza! Pegue sua roupa mais sexy, pois vamos encontrar um boy magia hoje.
— Ok...
Desligo revirando os olhos e pulo da cama. Pego o primeiro jeans que vejo no
guarda-roupa e o visto. Kyara parece que é louca. “Roupa sexy”? Eu não tenho isso.
Escolho uma lingerie preta e uma blusa curta de manga longa.
Término de secar o cabelo e faço alguns cachos nas pontas. Ficou lindo, meu
cabelo não é longo, mas também não é tão curto, eu gosto. Pego meu coturno preto e
passo um pouco de batom, delineador e rímel. E estou pronta! Até que fiquei
apresentável.
Sorrio com o pensamento.
Entro no bar vinte minutos depois com Kyara ao meu lado. Seus olhos vagueiam
pelas pessoas que estão sentadas em algumas mesas e depois volta para o bar.
Saio na sua frente e me sento. Peço uma cerveja ao barman, mas o filho da mãe
me pede a identidade. Suspiro e dou meu sorriso mais perfeito tirando minha “id”
falsa e esfregando na cara desse pé no saco. Cara chato.
Depois de pegar minha bebida Kyara chega.
— Hey... Você me deixou sozinha. — Ela diz me empurrando devagar.
— Eu? Foi você que não estava prestando atenção em mim. Estava procurando
alguém? — Pergunto e ela sacode a cabeça.
— Não.
Depois de mais duas rodadas de cerveja, Kyara me arrasta para a pista de
dança. Tem poucas pessoas, mas como o lugar é pequeno ficamos todos apertados.
Balanço meu quadril ao som de alguma música muito legal que não faço ideia
do nome. Arregalo os olhos, surpresa, ao ver Kyara se beijando com um cara. Não
que ela seja lésbica, só que ela não fica assim do nada com um estranho. Eu acho
idiota, mas ela sempre me dizia isso então a deixava de vela me vendo ficar com
alguém.
Volto a dançar e logo sinto duas mãos em minha cintura. Viro-me e dou de cara
com um homem. Ele tem minha altura e é um pouco magro demais. Coloco meu
sorriso mais falso e tiro suas mãos de mim. Dou graças a Deus que ele entende e vai
embora. Ele não fazia meu tipo e hoje não estou a fim de ficar com ninguém.
Volto para o bar depois de avisar a Kyara visualmente que vinha para cá.
Relaxo, sentada, e olho para o lado. Meu corpo fica tenso e antes que eu pudesse
fingir que não a vi, ela sorri falsamente para mim e carrega ele até onde estou.
— Hey... — Digo estranha. O que eu digo para ela?
— Oi. Está sozinha? — Kimberley pergunta e eu sorrio falsa também.
Não me julguem! Eu sei muito bem que ela não gosta de mim, e o sentimento é
recíproco! Ponto.
— Não... É... Estou com uma amiga. — Digo incerta e ela sorri.
Não olho para ele, mas sei que ele me olha. Seus olhos perfuram minha pele.
Isso é fato.
— Mel. — Quando escuto sua voz eu sorrio. Seu tom é grave, mas ainda sim
delicado.
— Pevi... — Digo sorrindo tensa e ele revira os olhos para o apelido que
coloquei nele quando nos conhecemos.
Vejo Kimberley franzir a testa e transformar seu belo rosto em uma carranca.
Não sei se ele contou algo sobre a noite “M” para ela, mas eu vejo que sente ciúmes.
Ela não é feia. Não é mesmo. Seus olhos são verdes e sua pele branquinha. Mas
o que mais acho lindo são seus cabelos loiros e cacheados até a cintura. Não é um
cacho volumoso, é um cacho baixinho e muito bonito.
— Ainda lembra? — Ele pergunta e eu me permito o observar. Seus cabelos
estão espetados com o auxílio de algum produto e suas roupas são casuais. Calça
jeans e camiseta.
— Claro. Fui eu quem inventou então... — Ele sorri concordando. — Eu acho
que vou procurar minha amiga. Tenho aula amanhã e já bebi o suficiente. — Digo e
ele acena arqueando a sobrancelha.
Desço do banco e passo por Kimberley. Seus olhos passeiam por meu corpo e
eu reviro os olhos.
— Tchau, Kimberley.
— Tchau, Melissa.
Depois disso fui embora com Kyara. Não sou uma vadia sem noção, então a
deixei passar mais um tempo com o gatinho e só depois fui chamá-la. Enquanto isso
fiquei olhando para Pietro e Kimberley. Percebi que estavam discutindo e que ele já
estava sem paciência. Depois disso os dois foram embora também.
Acordo sentindo dor de cabeça, então logo me levanto atrás de remédio, porém
me arrependo ao ver Connor sentado na mesa.
— Bom dia! — Digo, mas ele não responde. Finjo que ele não existe também.
Pego meus comprimidos no armário e uma xícara de café que acho que foi ele
quem fez. Quando já estou voltando para o quarto ele me chama. Estava bom demais
para ser verdade.
— Oi?
— Senta. Precisamos conversar. — Seu tom de voz está tenso e eu já fico em
alerta. Aí vem merda.
— Aconteceu alguma coisa? — Pergunto e ele aponta para a cadeira.
Sento-me e espero ele continuar.
— Onde foi ontem? — O olho incrédula.
— Como assim? Eu pensei que era outra coisa, Connor! — Digo com raiva.
Seus olhos azuis perfuram minha pele com reprovação.
— Ontem você saiu e não avisou a ninguém, Melissa. Dylan estava preocupado
e eu também quando ele ligou. — Ele passa a mão no cabelo e me olha nos olhos. —
Vocês dois estão morando aqui sozinhos e pensam que podem ir para onde quiserem,
mas não é assim. Dona Samantha fica me ligando e enchendo o meu saco. Não o de
vocês, então se querem mesmo morar aqui terão que aprenderem a serem adultos.
Entendam de uma vez. Vocês cresceram! — Ele fala tenso e eu suspiro.
— Eu entendi, ok? Mas se eu cresci, eu não preciso ficar avisando a ninguém
nada que faço... — Tento dizer, mas ele me interrompe.
— Você ainda não entendeu... se não agirem como tal, voltarão para casa. Eu já
tenho uma mulher grávida para me preocupar. Não preciso da minha irmã mais nova
para somar só porque não quer deixar a porra de um bilhete avisando onde foi. — Ele
suspira novamente. — Eu não quero bancar o irmão chato, mas, por favor, faça isso
quando sair. Eu não quero mamãe me ligando para perguntar por vocês. — Ele
termina e eu aceno confirmando.
— Ok, desculpe. — Digo e ele acena e se levanta para me abraçar.
— Não tem problema. Agora vá se arrumar para ir à faculdade. — Ele acena e
eu volto para o quarto.
Até a dor de cabeça foi embora.
Sinto uma mão puxando o meu braço e quase caio, mas antes a outra mão me
segura pela cintura. Pietro. Seu cheiro invade meu espaço pessoal e merda. É ele.
— Precisamos conversar. — Sua voz chega aos meus ouvidos e memórias da
noite “M” preenchem minha mente.
— Melissa... — Meu nome saía grave de sua boca enquanto ele empurrava
dentro de mim. — Goze para mim... — Depois que ele fala, eu me desfiz em pedaços
ao seu redor. Tudo escureceu em minha mente. Só o prazer ficou.
— Hey... Eu disse que precisamos conversar. Você ouviu? — Ele me tira dos
meus pensamentos e eu aceno envergonhada.
— Hã... O que é? — Pergunto e olho em seus olhos castanhos. Afasto-me dele.
— Por que foi embora, ontem? Digo, assim que cheguei você foi. Eu não
entendi. — Ele diz e começa a bater o pé direito no chão.
— Todos sabem que sua namorada não gosta de mim, Pietro... eu só não queria
briga para você. — Digo e ele revira os olhos pronto para falar algo.
— Você sabe...
— Estou atrapalhando alguma coisa? — Kimberley fala aparecendo do nada.
Ela sorri ao abraçar Pietro e eu desvio os olhos.
— Nenhum pouco. Já estou de saída... Tchau Pietro, Tchau Kimberley. —
Afasto-me e entro na minha sala.
De onde essa louca saiu?
Capítulo Três
Melissa
— Hey! — Viro e vejo Kyara andar em minha direção com outra garota ao seu
lado. Essa eu não conhecia.
— Queria te apresentar Hilary. Ela é caloura como nós, mas ela é ainda mais
caloura que a gente, entende? — Kya fala sorrindo enquanto mexe no cabelo.
— Não, eu não entendi. — Digo rindo de Kyara. — Meu nome é Melissa e seja
muito bem-vinda. — Digo sorrindo. Hilary é mais baixinha que eu e é morena. Seus
olhos são da cor de Whisky e seus cabelos são lisos e retos até a altura dos ombros.
— Obrigada, Melissa. Kyara só quis dizer que cheguei agora aqui. Vocês já
estão com o que? Um ano? Eu cheguei agora literalmente. — Ela explica e eu sorrio
já gostando de seu jeito simpático.
— Sim, estamos. Então... — Kyara começa a falar, mas deixa no ar ao olhar
para frente.
Eu e Hilary viramos e vejo Pietro e Kimberley andando em nossa direção.
Sorrio forçado. Por que eles não me esquecem?
— Hey, Mel... — Ele me cumprimenta e eu aceno.
— Oi, Pietro. — Ele fica mudando o peso do pé de um lado para o outro
enquanto Kimberley fica revirando os olhos. Chata.
— É que Nicole me ligou e pediu para avisar que ela está em casa te esperando.
Ela tentou te ligar, mas estava indo para caixa postal. — Pietro termina de falar e eu
pego minha bolsa procurando meu celular.
— É... Eu me esqueci de ligá-lo depois que sai da aula. Obrigada. — Digo
depois que acho o celular e o olho.
— De nada. Vou passar lá agora... Você quer carona? — Ele pergunta.
Kimberley e eu olhamos chocadas para ele. — E aí? — Ele pergunta novamente.
— Amor... Nós vamos encontrar minha irmã agora. — Kimberley fala segurando
a mão dele.
— Você pode ir sozinha, Kim. É que eu preciso conversar com minha irmã.
Depois que sai da casa dela eu te pego ok? — Ele fala ainda sem a olhar.
— Ok... Tudo bem! — Ela pega o rosto dele o fazendo olhá-la e depois o beija.
Não um selinho. Um beijo de verdade.
Sinto um incômodo em meu peito, mas deixo passar. Depois do beijo, ela se
despede e vai embora. Ele fica aqui me olhando envergonhado, mas ajo naturalmente,
então ele logo relaxa.
— É... Pietro, eu acho melhor eu ir com a... — Ele interrompe minha fala.
— Não. — Ele só fala isso enquanto me olha sério. Merda. Suspiro e me viro
para as meninas.
— É... Eu vou indo. Seja bem-vinda a faculdade Hilary, e ao clube das
solitárias. No caso, eu e Kyara. — Digo e ela sorri.
— Hey... Você é solitária quando quer e eu não sou de modo algum. Até parece
que você não me arrastou do bar ontem e deixou meu boy lá. — Kyara reclama.
— Ok, ok. Deixa de ser chata e, por favor, não tente arruinar a pessoa linda e
simpática que Hilary é. — digo e elas saem em direção ao estacionamento com Kya
bufando.
— Amiga nova? — Pietro pergunta.
— Acabei de conhecer. — Digo e ele acena.
Ficamos em um silêncio chato até entrarmos em seu carro. Acho que não estou
me sentindo bem, não sei o que estou sentindo exatamente, mas é um incômodo em
minha barriga. Respiro fundo tentando disfarçar a dorzinha.
— Você está bem? — Pietro pergunta e coloca sua mão em minha coxa. Pulo
com seu toque e ele me olha alarmado.
— É... Estou. — Digo e ele continua me olhando e seus olhos estão
completamente questionadores. — É só um incômodo, vai passar logo, logo... — Digo
e suspiro.
— Sim, mas estava falando se está bem com essa situação? Tipo... você
entendeu. — Ele fala e começa a bater o pé direito no chão do carro.
— É... — Olho em seus olhos e falo de uma vez. — Só não entendo como faz
isso. Você sabe que ela não gosta de mim e está me dando carona. — Digo e viro o
rosto olhando a paisagem pela janela do carro. A coragem foi embora.
— Olha para mim. — Ele pede e pega minha mão. Eu o olho e seus olhos estão
atentos em cada movimento meu. — Antes daquela noite... éramos amigos, Mel. E eu
gosto da sua amizade. Se Kim não gosta de você, eu não ligo. Eu adoro minha
namorada, mas ela não tem motivos para não gostar de você. Ela tem ciúmes, pois ela
diz que só ela vê o clima entre a gente. Eu já falei que é besteira, mas ela não escuta.
— Ele fala e eu suspiro.
— Você não vê? Tipo, eu acho que nós dois somos adultos o suficiente para
saber quando há uma tensão entre duas pessoas. — Digo com vontade de bater nele.
— Eu sei que tem, mas essa tensão é nosso incômodo em falar da nossa noite
juntos. Mel já faz tanto tempo. Já passou um ano. Nós deveríamos seguir nossa
amizade. Como antes. — Ele explica e eu suspiro novamente, só que agora mais
aliviada.
Não existe tensão sexual. É a nossa ignorância diante de uma noite que pode
acontecer com qualquer casal de amigos. Eu entendo isso.
— Ok, tudo bem. Eu sei que já propus isso, mas vamos esquecer, ok? — Digo e
tento sentar mais ereta.
— Não estou falando que devemos esquecer, Melissa. Eu quero superar e seguir
nossa amizade. Você é minha melhor amiga. Você sabe disso. — Ele fala e eu sorrio.
— Tudo bem. Vamos tentar, ok? Vai ser fácil, pois nos tornamos amigos assim
que nos olhamos então... — Digo e ele sorri concordando.
Depois disso ficamos calados até chegar à casa de Nicole e Connor, e em breve,
de Abby. Minha princesa.
Saímos do carro e andamos até a entrada da casa. Antes mesmo de chegarmos à
porta, Nicole a abre e pula nos braços do irmão.
— Estava com saudades. — Ela fala com os olhos cheios de lágrimas depois de
se afastar. Ela está tão sensível por causa da gravidez, Connor diz que ela chora e fica
com raiva por tudo.
— Também Pimentinha. Desculpe ter demorado a vir, é que estava com Kim na
casa da irmã dela. — Ele explica afagando os cabelos lisos e longos de sua irmã mais
velha.
— Você só tem tempo para essa garota? E nós? Sua sobrinha e sua irmã? — Ela
pergunta se afastando e cruzando os braços. — E Melissa? Você também não tem mais
tempo para ela. Eu sei. Vocês sabiam que eu percebo? — Ela complementa e eu
arregalo os olhos.
— Nicole! Eu estou aqui! Pare com isso! — Digo sentindo meu rosto esquentar.
— Tudo bem. Desculpe, mas é verdade e todos perceberam, vocês viviam
juntos e do nada…. — Ela fala olhando para mim, mas seu irmão a interrompe.
— Ok... Agora está falando como se eu não estivesse aqui. Desculpe-me
novamente, Nicole. Isso não irá mais acontecer e agora eu vou passar mais tempo com
Melissa. Não se preocupe. — Ele pisca para mim e eu sorrio balançando a cabeça. —
Agora e, a minha princesa? — Ele se ajoelha e passa a mão na barriga de Nicole.
— Ela está ótima, mas ainda vou para a consulta logo à tarde. Por isso Mel
veio. Ela vai comigo. — Nicole explica e eu sorrio.
— Sim. Agora morra de inveja, pois eu irei ver Abby e você não. — Digo rindo
e entrando na casa do meu irmão.
— Hoje é uma ultrassonografia? — Escuto ele perguntar também entrando com
sua irmã.
— Sim. Connor vai tentar chegar a tempo, mas não estou tão confiante. Ele foi
com Tyler, comprar o resto dos equipamentos da academia. Ela inaugura depois que
Abby nascer. — Nicole fala enquanto nós sentamos no sofá, que ela trouxe da casa do
irmão.
Sim, o antigo. Connor até tentou convencê-la a comprar um novo, mas ela não
quis. Vai saber, não é? A garota é louca pelo sofá.
— Eu vou com vocês. Nunca fui a uma de suas ultrassonografias, então quero ir
nessa. — Pietro fala colocando as mãos atrás da cabeça.
— É... Eu não queria cortar sua animação, mas você disse para sua namorada
que iria pegá-la na casa da irmã. Não que eu estivesse atrás de escutar conversa, mas
vocês estavam falando alto e... — Ele interrompe sorrindo.
— Eu entendi, Mel. Respira, ok? — Assinto suspirando e ele sorri. — Vou ligar
para avisar a Kim. Com licença senhoras. — Ele sai da sala rindo. Bobo.
Olho para ele até que o vejo sumir para dentro de outra sala.
— Vocês conversaram? — Nicole pergunta quando tem certeza que estamos
sozinhas.
— Sim. É... Nós conversamos sobre... Nossa amizade... — Começo a gaguejar e
me penalizo por isso. Que merda é essa? — Digo. Nós conversamos sobre o quanto
nos afastamos. Essas coisas. — Consigo falar e sorrio me sentindo vitoriosa.
— É... Foi o que pensei. — Ela responde e passa a mão pela barriga. — Mas e
você? Como está? — Ela levanta e senta ao meu lado.
— Estou bem. — Sorrio e falo novamente. — Muito bem. — Nicole ergue as
sobrancelhas e ri.
— Estou falando de meninos, Mel. De quem foi à última boca que beijou? Pelo
amor de Deus, Melissa. — Ela revira os olhos e sorrio divertida.
— Hey! Eu fiquei com Greg há um mês e posso dizer que não ficamos apenas
nos beijos. — Digo e levanto a sobrancelha a desafiando.
— Você já me falou sobre isso, mas não se viram mais? Tipo nem uma ligação?
— Ela pergunta.
— Ele me ligou há duas semanas, mas não quero relacionamentos. Por favor, ele
é... Tudo bem, ele é lindo e um cara muito legal, mas não é para mim. Ponto. — Digo
cruzando os braços.
— Tudo bem não querer relacionamento, mas você tem que se divertir. Mel
você é jovem... — Ela suspira parando de falar. — E depois dele, mais ninguém? —
Ela insiste. Reviro os olhos e lembro-me do meu vizinho.
— Hey. Tem sim, é o meu vizinho que não sei o nome, mas ele é tão lindo e
grande. Você deveria ver. Retiro o que eu disse. Connor o mataria e ele é meu...
Vizinho então... O ponto é que ele é muito lindo e educado, simpático. — Digo
suspirando e Nicole se anima me fazendo falar como o conheci.
— Vocês ficaram? Tipo nenhum beijinho? — Ela pergunta e eu sorrio
lembrando que Kya perguntou isso com as mesmas palavras.
— Não. Eu não fiquei com ele, mas vontade não faltou. — Gargalho de sua
cara.
— Eu preciso conhecer ele. Tipo eu vou te empurrar para ele. Vocês vão se
casar e terão gêmeos. Já planejei tudo. — Arregalo os olhos com o que fala.
— Sai daí Nicole. Não quero bebês agora e muito menos dois deles. A ajuda
para dar uns beijinhos e até algo mais, eu gostaria. — Digo rindo e me dá uma tapinha
de brincadeira.
— Você não presta. Fica com essa pose de fodona, mas não teria coragem de
fazer realmente... — Ela diz, mas não termina, pois Pietro entra na sala vermelho de
raiva.
— É... Está tudo bem? — Pergunto, mas ele não responde apenas fica olhando
para mim e para sua irmã.
— Pietro Victor, Melissa lhe fez uma pergunta. — Ela o olha com repreensão.
— Não foi nada. Agora podemos almoçar e ir para a clínica? — Ele pergunta
sem olhar para nenhuma de nós duas.
— Claro. Vamos. — Nicole é a primeira a sair da sala e ir para a cozinha ver o
almoço.
— Vamos? — Ele pergunta e eu aceno confirmando.
Depois do almoço fomos para a clínica. No final Connor apareceu e foi uma
briga por que Pietro queria entrar em seu lugar. Mas Nicole escolheu o irmão para
entrar, depois ele saiu todo emocionado ao lado da irmã que também estava. Disseram
que Abby estava chupando o dedinho e foi a coisa mais linda que eles dois viram.
Meu irmão ficou emburrado, mas Nicole pediu ao médico para tirar uma foto e deu
para ele, que também se emocionou olhando.
Minha Abby está grande e muito linda. Às vezes fico tentando formar sua
fisionomia e me perco em tanta fofura. Imagino os olhos de Connor e os cabelos de
Nicole. A única certeza que tenho é que ela será linda.
Pietro está me dando carona para casa, pois Nicole e Connor iriam a outro lugar
depois daqui e estavam atrasados. O silêncio reina no carro e eu já estou inquieta.
— Como foi com Kimberley? Ela se chateou por que veio na ultra de Abby? —
Pergunto e o escuto suspirando.
— Não. Ela entendeu super bem, até. — Ele diz e continua olhando para frente
segurando o volante com força.
— Então por que estava irritado quando entrou na sala depois de falar com ela?
— Insisto.
— Quem é Greg? — Arregalo os olhos surpresa. — Quero dizer... eu ouvi, ok?
Tudo. Eu não sei... Me desculpa. Não deveria perguntar nada. Desculpa. — Ele fala
tudo rápido demais e por impulso, para o acalmar, coloco minha mão em cima da sua.
— Se ouviu a conversa toda, você sabe quem é. E não precisa se desculpar, nós
somos amigos. Você pode me perguntar. — Digo e ele relaxa seu corpo que ficou
tenso quando o toquei, mas sua mandíbula ainda está apertada.
— Só se cuide, beleza? Nem todos os caras da faculdade são legais como você
falou. Só estou te avisando. — Ele encerra a conversa. Simples assim.
Suspiro retirando minha mão da sua e me concentrando nas paisagens pela
janela.
Capítulo Quatro
Melissa
Capítulo Cinco
Melissa
Greg é pontual. Às sete horas da noite ele está na minha porta para irmos a um
restaurante italiano. Eu adoro massas então gostei da escolha dele. Como lá é um
restaurante um pouco elegante, optei por um vestido na cor prata com lantejoulas
pequenas que vai até acima dos meus joelhos e é colado no meu corpo. Prendi meu
cabelo em um coque arrumado e a minha maquiagem é simples. Meu sapato é de salto
e eu já estou me sentindo desconfortável com ele. Odeio saltos.
— Você está linda, Melissa. — Ele me elogia quando saímos do carro e
entramos no restaurante.
— Obrigada, Greg. Você também está muito bonito. — Digo sorrindo. E é
verdade. Ele está de calça jeans com blazer e camisa branca. Casual, mas muito
elegante.
Nos sentamos em uma mesa afastada de todos. Ficamos ao lado de uma janela,
onde podemos ver os carros e o chuvisco caindo do céu. Depois de fazer nossos
pedidos começamos a conversar.
— Você não retornou minhas ligações, Mel. Digo, tudo bem…. Talvez você só
estivesse ocupada. — Ele fala e acaricia minha mão.
Olho em seus olhos verdes brilhantes e me pergunto do porque não me entrego.
Ele está aqui para mim, e eu não quero nada. Nada com ele ou com ninguém que não
seja Tyler. Eu me divirto com os outros caras, mas compromisso eu não consigo.
— Desculpa Greg. Eu só... Estava ocupada. É, eu estava ocupada. — Digo
suspirando e olhando pela janela. Vejo um casal andando na rua de mãos dadas. Eles
estão agasalhados e sorriem um para o outro timidamente.
— Eu não quero te pressionar. Longe de mim fazer isso, Melissa, mas eu gosto
de você entende? Por que não nos tornamos oficiais? — Ele pergunta e eu engulo em
seco. Ele está me pedindo em namoro?
— Você... está me pedindo em namoro? — Pergunto e puxo minha mão da sua.
Não acredito nisso.
— Sim. Nós já nos conhecemos há um ano e já ficamos por bastante tempo. Por
que não namorar? — Ele me questiona e pega minha mão novamente.
— Eu não sei... eu não quero namorar agora. — Suspiro criando coragem para
explicar tudo. — Eu adoro você. De verdade, mas não estou pronta para namorar.
Ainda não. — Digo e ele suspira relaxando na cadeira.
— Acho que entendi. Eu ouvi falar, mas não acreditei. Mas agora eu acho que
faz sentido. Eu acho que entendo. — Ele fala olhando para cima e eu fico rígida.
— Ouviu falar o quê? — Pergunto temendo sua resposta.
— Nada. Deixa para lá. Não quero que se preocupe.
— Não! Eu quero saber. Se você não me disser alguém vai, então para que
prolongar? — Digo sentindo minhas mãos suadas.
— Estão dizendo que você gosta de um cara comprometido. Desculpe-me eu
não quero lhe ofender. Só estou dizendo o que os outros estão falando.
Mas eu não consigo falar e muito menos me mexer. Como isso aconteceu? Que
merda de homem comprometido? Quem espalhou esse boato? Essas questões estão
rodeando minha cabeça.
Eu não posso acreditar nisso.
— Como assim? Isso é mentira! — Digo sentindo a queimação nos olhos para
as lágrimas se acumularem. Não vou chorar. Não posso. Mas agora entendo os olhares
na minha direção essa semana que passou. As pessoas ficavam me encarando e eu não
conseguia entender o porquê.
— Tudo bem. Eu não acredito nisso. Não se preocupe. — Ele fala acariciando
minha mão. Eu me afasto. Eu não entendo, mas eu me sinto suja. Muito suja.
— Quem falou isso? E quem é o cara comprometido que estão dizendo que eu
supostamente gosto? — Pergunto sentindo minha bile subir.
Eu quero vomitar.
— Eu não sei quem começou o boato, mas o cara é Pietro, namorado de
Kimberley William. — Ele responde e eu me sinto tonta. Muito tonta.
Pietro.
Será que foi ele? Eu não acredito que tenha sido ele. Eu não posso acreditar que
ele espalhou isso. Mas se não foi ele, quem foi? Ninguém sabe da nossa noite juntos.
Ele deve ter dito a alguém. Merda, não! Ele não pode ter feito isso.
— Eu preciso ir embora. Desculpa-me, Gregory. Eu não estou me sentindo bem.
— Digo me levantando. Ele também se levanta.
— Não. Vamos comer, Melissa. Depois eu te levo para casa. Me desculpe, eu
não deveria ter falado isso. Só... por favor, fica. Só vamos comer e saímos. Eu
prometo. — Ele pede me segurando pela mão. Eu respiro fundo para me acalmar e me
sento.
— Tudo bem. Não precisa se desculpar. Você não tem culpa de nada. — Digo.
O garçom chega logo em seguida com nossos pratos.
Comemos em silêncio. Quero dizer, Greg come. Eu só fiz uma bagunça no prato.
Devo ter comido três colheradas no máximo. Não mais que isso.
Depois disso comemos a sobremesa, pelo menos essa eu comi mais um pouco.
Minha cabeça está girando ainda. Eu não consigo entender como eu fui me meter num
boato. Será que Connor já ouviu falar? Acho que não, pois ele teria conversado
comigo hoje de manhã.
Eu preciso falar com Pietro. Ele vai ter que me explicar que merda é essa. Ah
vai.
— Podemos ir agora? — Pergunto depois que ele pede a conta.
— Claro. Vamos lá. — Ele pega minha mão e me encaminha para fora do
restaurante.
Depois de quinze minutos eu entro em casa. Greg se desculpou mais uma vez e
vai embora. Estou cansada, mas não o tanto que me faria esquecer isso e me deitar.
Por isso pego meu celular na minha bolsa e mando SMS para Pietro.
— Onde está?
Ele responde logo em seguida.
— Na Shirley e você?
— Estou indo.
— Para onde? Aconteceu alguma coisa?
— Para casa da Shirley. Preciso falar com você.
— Ok...
Depois disso ele não manda mais nada. Pego minhas chaves e saio de casa. Eu
preciso falar com ele.
Quando chego a casa da mulher me pergunto que merda Nicole está fazendo
aqui. Essa casa está cheia de gente. Pensei que era para poucas pessoas. Como uma
mulher grávida está no meio desse povo todo?
— Hey! — Shirley fala ao me ver. Ela me abraça e eu estranho já que não
somos muito próximas.
— Hey! — Respondo sorrindo e depois entendo o porquê do abraço. Ela está
bêbada. — Você viu o Pietro? — Pergunto e depois que ela diz que sim, ela me
arrasta pelo meio da multidão de corpos na sala.
Quando o avisto me arrependo imediatamente de ter vindo. Kimberley está com
ele. O beijando. Mas respiro fundo e sigo em frente. O que eu pensei? Que ele estava
aqui sozinho?
— Pietro. — Grito por cima da música e ele se afasta dela para me olhar. Seus
olhos passeiam por minhas pernas e eu lembro que ainda estou com aquela roupa
pomposa. Todas as garotas estão com jeans e top com moletom. Me sinto mais
estranha agora.
— Hey, Mel. — Ele fala e Kimberley se vira. Acho que ela não sabia que era eu
que estava o chamando.
— Podemos conversar? É urgente. — Digo a ele. Kimberley me olha com a
sobrancelha levantada e eu bufo. Que menina idiota.
— Claro... — Ela o interrompe.
— Que não! — Ela grita e depois se finge calma. — Melissa, eu estou com meu
namorado me divertindo. Você não pode ir atrás de outro cara? — Ela sai dos braços
dele e vem para minha frente. — Esqueça o Pietro, Mel. Ele não quer nada com você.
Ele é meu. — Ela sussurra para que somente eu possa ouvi-la.
— Antes de você, eu já estava aqui, Kim. — Digo fervendo de ódio. — Eu sou
somente amiga do seu namorado, Kimberley. Não precisa ter ciúmes. — Digo e vejo
fogo nos olhos dela.
— Que merda. Para, Kimberley! Nós já tivemos essa conversa. — Pietro rosna
na direção da namorada. — Vá ficar com suas amigas enquanto converso com
Melissa. — Ele diz e ela se vira para o olhar.
— Você acha que eu comprei essa conversa de amizade, Pietro? Você não
percebe que essa garota quer tirar você de mim? — Ela fala para ele chamando a
atenção do resto das pessoas.
Agora sim todos irão pensar que eu quero um cara comprometido.
— Para de loucura...
Eu não escuto mais, pois corro de lá. Não vou ficar ouvindo essa louca me
humilhar na frente dos outros. Na frente das pessoas que já acham que sou uma
vagabunda.
— Mel... — Nicole me para e olha em meus olhos quando alcanço o jardim, eu
tento reprimir essas lágrimas idiotas que querem sair.
— Você já ouviu o boato? Eles espalharam por aí, Nicole. — Digo me
encostando-se à parede de frente a casa. Aqui fora também tem várias pessoas, mas
elas não estão prestando atenção em mim.
— Que conversa é essa? Do que você está falando? — Ela pergunta
preocupada.
— Depois eu explico. Não fique preocupada. Eu estou indo, ok? Eu estou
cansada. — Digo e ela suspira concordando.
Saio em direção ao estacionamento e quando alcanço meu carro entro e relaxo
no meu banco.
Dirijo até minha casa apertando o maxilar. Eu não acredito que estou passando
por isso. Minha mãe me deu educação suficiente para eu não pensar no homem dos
outros. Deus, o que Kimberley pensa que está fazendo? Ela mesma está desgastando o
namoro dela. Garota estúpida!
Quando estaciono é que percebo as lágrimas em meu rosto. Estou tão
mortificada que nem percebi que tinha começado a chorar. Entro em casa e vou direto
para meu quarto. Deito-me na minha cama e nem a roupa eu troco ou tomo banho. Fico
deitada em formato fetal chorando mais e mais.
Batidas irrompem na porta da frente e eu escuto meu próprio gemido de
desagrado. Levanto-me e corro para a porta.
— É açúcar novamente? — Pergunto limpando meus olhos e olhando para meu
vizinho.
— Não. É que eu vi você chorando quando entrou e só vim saber se está bem.
Você está? — Ele pergunta mexendo as mãos freneticamente.
— Obrigada, mas sim, eu estou bem. — Digo tentando sorrir.
— Humm... Então, ok? — Ele pergunta.
— Ok! — Digo e antes que ele saia, Pietro está do seu lado olhando para ele
com os braços cruzados.
— É então, boa noite! — Ele olha para Pietro e acena. — Quero dizer, como é o
seu nome? — Ele pergunta franzindo a testa e eu sorrio.
— Melissa. — Digo olhando tensa para Pietro.
— Ok! O meu é Brandon. — Ele diz e dá um passo para trás.
— Prazer, Brandon. Conversamos depois, tudo bem? — Digo e ele acena e
entra no apartamento ao lado do meu.
— O que você está fazendo aqui? — Pergunto quando Pietro entra na minha
casa, sem ser convidado.
— Você queria conversar, então estou aqui. — Ele diz sério.
— E sua namorada? Cadê ela? — Pergunto ainda na porta.
— A deixei na festa.
— Pietro...
— É só falar. O que aconteceu? O cara que você saiu não era legal? Ou você
quer trocar ele por esse outro e me chamou para te ajudar a escolher? — Ele fala e
sem perceber eu lhe dou uma tapa. Ele se cala e eu aperto meus lábios juntos.
— Não fale o que não sabe. Não basta sua namorada me chamar de puta na
frente de mais de setenta pessoas? — Digo fervendo de ódio. Como ele pode falar
isso?
— Me desculpa. — Ele suspira. — Kimberley estava com ciúmes, Melissa...
— Eu já falei que a gente não tem nada. Por que ela simplesmente não pode
colocar essa merda na cabeça? — Pergunto com raiva. Essa é a pergunta do ano. Por
que ela não entende?
— Por que é mentira. Você sabe disso e eu também sei. — Ele grita e eu
suspiro.
— Não. Nós não temos e nunca tivemos nada... — Ele me interrompe.
— Se transar a noite inteira não é ter nada, então sim. Você está certa. — Ele
fala e eu vou para perto de seu rosto.
— Nós já conversamos sobre isso. Você disse que iríamos esquecer. — Digo
sentindo as lágrimas chegarem novamente.
— Não. Você disse isso. Eu queria tentar. No dia seguinte que te procurei por
que eu queria tentar, mas você já veio me dizendo para esquecer. Eu fiz, Melissa! Eu
segui minha vida! — Ele diz com raiva.
— E o que está fazendo aqui? Vá atrás daquela nojenta da sua namorada. —
Digo me virando para abrir a porta. Como assim tentar? Que merda.
— O que aconteceu Melissa? Você queria conversar. Eu estou aqui, então diz.
— Ele fala tentando se acalmar.
— Você contou para alguém? Da noite em que estávamos juntos? — Pergunto
séria cruzando os braços.
— Por quê? O que aconteceu? — Ele está confuso.
— Me responde primeiro.
— Sim. Eu contei a minha namorada, ela já desconfiava. Eu tive que falar. —
Ele diz e as lágrimas saem dos meus olhos.
— Você não tinha o direito! Eu te disse para esquecer, não espalhar por aí. —
Digo sufocando um soluço.
— Mel, me conta o que está acontecendo...
— Hoje, Greg me disse que estão falando que gosto de homem comprometido.
Ele disse que o cara é você. As pessoas estavam me olhando estranho a semana toda e
eu percebi, mas só hoje eu tive a resposta do porquê. — Digo e me sento no sofá
tentando me acalmar.
— Mel, eu sinto muito. Eu... eu vou saber quem espalhou isso. Eu juro. — Ele
diz e se ajoelha na minha frente.
— Foi sua namorada, Pietro. É lógico que foi ela. — Digo e ele se levanta de
repente.
— Não. Ela não faria isso, Melissa. Eu conheço Kimberley. — Ele diz andando
de um lado para o outro.
— Você está cego. Ela me odeia, por que ela não faria isso? — Pergunto. Limpo
minhas lágrimas e me levanto.
— Eu não sei, Mel. Eu simplesmente não posso acreditar que ela...
— Só vai embora, Pietro. — Abro a porta e me encosto esperando ele sair.
— Melissa...
— Sai. Agora. — Mando e ele abaixa a cabeça indo embora.
Capítulo Seis
Melissa
Quando cheguei há um ano, não pensei que Seattle fosse tão úmida. Aqui chove
demais! Não que eu esteja reclamando. Nunca reclamaria da chuva. Eu a amo. Fico
hipnotizada com a água caindo do céu, mas o que mais gosto na chuva é o som das
gotas, o som que elas fazem ao tocar o chão depois da caída é fantástico e é por isso
que estou nesse momento olhando para ela e toda sua beleza.
Ao terminar minhas aulas corri para o Starbucks para tomar café e assistir o
balanço da chuva. Procurei a mesa mais afastada de todas as pessoas. Eles não estão
prestando atenção em mim, pois com o frio todos querem algo quente. Eles estão
focados nisso. Em café.
Mais um motivo para eu agradecer a chuva. Os olhares diminuirão, mas ainda
não cessaram. Pergunto-me o porquê de Kimberley ter espalhado essa conversa por
aí. Ela não vê que ela mesma está desgastando seu próprio relacionamento? Ela é
doente.
Hoje quando acordei me arrumei devagar por não querer ir ao Campus. Desde
que cheguei aqui não me lembro de um dia que eu não quisesse ir assistir aula. É
estranho, mas quando estava no quarto imaginando as pessoas comentando sobre o
boato, eu me convenci de que eu não fiz nada errado e que não posso me esconder.
— Escondida? — Kya desliza pela cadeira a minha frente e eu finjo um sorriso.
— Mais ou menos. — Respondo suspirando.
— Fiquei sabendo...
— Todos estão sabendo, Kya. — Digo olhando para minhas mãos.
— Não precisa se preocupar, Mel. Todos sabem que você e Pietro são amigos.
No começo não entendi o porquê de vocês terem se afastado, mas Pietro estava
namorando, então eu acho que foi normal. — Ela fala segurando minhas mãos. Engulo
em seco quando a escuto falar do nosso distanciamento.
Não contei a Kyara sobre nossa noite. Primeiro, por que eu queria esquecer e
segundo, por que eu não queria falar sobre isso com ninguém. Mas isso está indo
mudar em breve.
— Espero. — Digo desejando isso mesmo, que esse povo se esqueça de mim.
— Eu não quero nem imaginar se meus irmãos ficarem sabendo. — Só o pensamento
me faz estremecer.
— É... Quanto a isso... — Kya deixa a frase no ar e eu fico em alerta.
— O quê? — Pergunto.
— Connor e Dylan estavam indo falar com Pietro quando os encontrei. — Ela
fala e eu pego meu celular para ligar para eles.
Dylan e Connor não atendem ao telefone. Eu tento mais umas cinco vezes, mas
nada. Só vai para caixa postal.
— Merda. — Falo pegando minha bolsa. — Eles não me atendem, Kya. Eu vou
atrás deles. — Digo já me levantando.
— Melissa... — Kyara me chama, mas já estou longe o suficiente para
responder.
Tomara que eles não tenham feito nenhuma merda.
Atravesso o Campus tão rápido que eu mesma me surpreendi, pois aqui é
enorme. Calouros podem muito bem se perder nesse lugar. Entro no prédio de
Medicina e procuro por meus irmãos ou Pietro, mas não encontro nenhum deles.
Começo a andar por entre as salas, mas ainda assim, nada.
— Hey! Você viu o Pietro por aqui? — Pergunto a um cara que já vi ao lado de
Pietro no refeitório.
— Sim. Ele está com seus irmãos na sala 13. — Ele fala com uma carranca.
Reviro os olhos e murmuro uma obrigada sem vontade. Que idiota.
Quando entro na sala suspiro aliviada. Connor e Dylan estão sentados em frente
a Pietro. Não que eu pensasse que eles iriam estar brigando, já que Pietro é cunhado
do meu irmão, mas sei lá. Fiquei nervosa.
— Por que não atendem minhas ligações? — Grito para os dois e eles olham
assustados para mim.
— Vamos conversar em casa, Melissa. — Connor responde entredentes.
— Então era para estarem em casa me esperando chegar da faculdade e não
aqui. — Suspiro e olho para Connor. — Vamos. Embora. — Digo e ele assente com a
cabeça.
Enquanto meus dois irmãos passam por mim para saírem, continuo sem olhar
para Pietro. Eu me lembro de ontem, eu não quero ele perto de mim. Não quando ele
não acredita em mim. E principalmente por essa louca da namorada dele.
Vou atrás dos meus irmãos e andamos em silêncio até o estacionamento.
— Hey! Melissa é verdade que você gosta de homem comprometido? Eu estou
em relacionamento sério, se desejar... — Escuto um cara falar, mas não olho para trás.
As risadas irrompem ao meu redor, mas ainda assim não dou atenção.
— Que porra você falou? — Escuto a voz de Connor e me viro para ver ele
indo para cima do cara.
— Responde seu filho da puta. — Dylan grita na cara dele e eu corro para perto
deles.
— Vamos... por favor. — Digo segurando a mão de Dylan. O cara está tão
apavorado, que acho que ele não tinha visto meus irmãos à minha frente.
— Desculpa cara. Eu... eu... — Ele gagueja e Connor se aproxima mais ainda.
— O que eu vou dizer para ele vai servir para todos vocês, seus fodidos. —
Connor gesticula apontando para as pessoas que estão olhando para nós, surpresos. —
Se eu ficar sabendo que mais alguém anda falando da minha irmã, eu venho quebrar o
rosto dessa pessoa. E se for mulher eu pago alguém para fazer. — Ele está com tanta
raiva. O cara acena com a cabeça, mas antes dele sair Connor o empurra para o chão.
— Estejam avisados.
Depois disso ele e Dylan me levaram de lá. Nem o meu carro peguei no
estacionamento, pois vim no carro de Connor com Dylan e também porque iríamos
para a casa dele e Nicole.
— Olha para mim. — Meu irmão mais velho pede enquanto entramos na sala de
sua casa. — Isso não é culpa sua. Essa mentira que inventaram não passa disso. Uma
mentira. E quando alguém te incomodar novamente, Melissa, você vai me contar. Eu
não quero que você se retraia por causa desses idiotas, estamos bem até aqui? —
Connor segura minha cabeça entre as mãos e eu aceno.
— Tudo bem. Eu vou contar. — Digo suspirando. — O que vocês estavam
conversando com Pietro? — Pergunto me sentando mais confortavelmente no sofá da
casa de Connor.
— Só perguntei que porra de conversa é essa. — Dylan responde. — De onde
saiu isso, mas aquele cuzão não soube responder. — Ele dá um pulo quando Nicole
acerta uma almofada nele.
— Não fale assim dele. — Ela rosna e se senta ao meu lado. — Não se
preocupe, Mel. Eles irão esquecer rapidamente. — Ela fala e me abraça.
— Vou começar a acreditar nisso, já ouvi isso o dia todo. — Digo quando me
afasto dela.
— Você quer ficar aqui hoje? — Dylan pergunta se sentando.
Nunca vi Dylan com tanta raiva como hoje. Ele nunca me defendeu daquele
jeito, mas eu nunca me envolvi em nada com o que fizessem me defender. Eu gostei
dele se preocupando comigo. Eu só o tenho comigo dentro de casa e eu o amo além da
vida. Afinal é meu irmão.
— Não. Vamos para casa? — Pergunto o abraçando. Ele estranha, mas com um
ou dois segundos também me abraça.
— Claro... — Ele suspira e passa a mão no meu cabelo. — Não se esqueça do
que Connor falou, se alguém falar o que for...
— Eu vou contar. Eu juro. — Digo me afastando dele.
— Ok! Então vamos...
— Vocês podem ficar para o almoço? — Nicole pergunta ainda sentada.
— Claro. Estou com muita fome. — Dylan fala já se encaminhando para a
cozinha.
— Folgado. — Connor fala indo atrás dele.
Depois que os perdemos de vista, Nicole olha para mim. Sua sobrancelha se
eleva e eu sorrio.
— O quê? — Pergunto.
— Você tem alguma ideia de quem possa ter espalhado isso? — Ela pergunta
calmamente. Eu desvio meus olhos dos dela e foco minha atenção em minhas unhas.
— Nicole...
— Só fala, Melissa. Não minta para mim. Eu sou sua amiga. — Ela diz pegando
minhas mãos.
— Eu sei que é, mas... Tudo bem. — Suspiro. — Eu acho que foi Kimberley. A
sua cunhada. — Digo de uma vez e olho para seus olhos.
— Kimberley? Mas por quê? — Ela pergunta confusa.
— Ela é louca. Ontem, na festa, ela não quis deixar Pietro falar comigo. Eu
falaria sobre isso. Sobre o boato, mas ela me disse coisas horríveis e eu só queria
sair de lá. — Digo me lembrando de suas palavras.
Esqueça o Pietro, Mel. Ele não quer nada com você. Ele é meu!
— Deus, Mel! Eu nunca gostei muito dela, mas nunca cheguei a imaginar isso.
Então você não conversou com Pietro? É que Connor disse que ele já sabia e que se
seus irmãos quisessem poderiam ir falar com ele. — Nicole explica e eu engulo em
seco.
Não sei o porquê do nervosismo em falar que ele foi a minha casa ontem,
deixando sua namorada na festa, e a gente conversou. Enfim, resolvo falar a verdade.
Uma parte dela pelo menos.
— Ele foi lá em casa ontem. Depois que sai da festa. — Digo sentindo dor na
garganta. Até parece vidro me cortando.
— Oh! — Ela fala surpresa e pigarreia depois. — É, mas e aí o que ele falou?
— Ela questiona depois de um tempinho em silêncio.
— Ele não acreditou em mim, disse que Kimberley não era capaz de fazer isso e
blábláblá. — Respondo revirando os olhos.
Nicole acenou e quando ia falar mais alguma coisa Connor gritou para irmos
comer. Dei graças a Deus por isso.
Acordo com o toque estridente do meu celular. Deus, que toque irritante. O
procuro com a mão no criado-mudo, mas não o encontro. Levanto-me e o pego na
minha bolsa.
Papai.
— Oi, pai.
— Oi Melissa! Como você está?
— Estou bem. Onde mamãe está?
— Na empresa. Eu estou mais cedo em casa.
— Oh. Aconteceu alguma coisa?
— Não. Só uma dor de cabeça chata.
— Entendi. Queria falar com Erick, nunca mais nos falamos. Às vezes penso
que ele se esqueceu de mim.
— Que nada, Mel. Seu irmão está cuidando da mulher dele. Estava com uns
enjoos, eu acho que já sei o que é.
— Gravidez? Dois sobrinhos. Nem estou acreditando.
— Hey, eu só estou achando.
— Ok! Mas já estou feliz.
— Humm... E você?
— O que tenho eu pai?
— Nenhum garoto?
— Não. Eu não quero namorar por enquanto.
— Está certíssima. Prolongue essa vontade até voltar para casa, ok?
— Pai... Nós podemos falar disso outra hora? Acabei de acordar e quero
tomar um banho.
— Ok! Tudo bem. Beijos meu amor. Eu te amo.
— Beijos, papai. Também te amo!
Solto um gemido quando desligo o celular. Meu pai é demais, mas quando não
quer uma coisa... Ele não quer e ponto. Ele fica perguntando de mansinho se estou
com alguém, mas se eu confirmasse ele surtaria e pegaria o primeiro avião para
Seattle, dizendo “querer conhecer o cara”.
Sorrio com meus pensamentos. Sr. Rodolfo é ciumento e acha que vive no
século 19. Ele não pode estar mais enganado. Mamãe já é bem à frente de seu tempo e
na maioria das vezes que brigam, é por esse motivo.
Levanto-me e começo a arrumar meu quarto. Não sou muito de fazer coisas do
lar, mas se não for eu, não é ninguém. Dylan não faz nada relacionado a isso, somente
comida quando a fome bate forte.
— Vou dar uma saída. Quer ir comigo? — Dylan grita por cima da música que
coloquei para ouvir.
— Vai onde? — Pergunto diminuindo o volume do som.
— No bar com uns amigos. — Ele diz dando de ombros.
— Ok... Vou me arrumar. — Não quero ficar em casa sem fazer nada. Vou sair e
curtir para esquecer esses dias que tive.
— Não demora. — Eu reviro os olhos. — Sabia que eu tinha que ter avisado
com uma hora de antecedência. — Ele resmunga e sai do meu quarto.
— Chato. — Digo correndo para meu guarda-roupa.
Depois de tomar banho e secar meu cabelo, visto uma calça jeans e uma blusa
coral com decote. Meus seios estão a ponto de pular para fora, adorei. Passo camadas
generosas de rímel em meus cílios e por último o batom. Saio do quarto e encontro
Dylan andando de um lado para o outro.
— Graças a Deus. — Ele murmura e abre a porta.
Quando estamos saindo, o vizinho sai da casa dele com vários rapazes. Dylan
olha para eles e de volta para mim sorrindo. Que merda?
— Cara, pensei que não ia mais. — Um dos caras fala com meu irmão e eu fico
os encarando sem entender.
— Melissa estava se arrumando. — Ele responde sorrindo e eu lhe dou um
beliscão. — Ei. — Ele dá um pulo para longe de mim e eu o encaro com raiva.
Por que ele não me avisou?
— Hey, Melissa. Como vai? — Brandon pergunta e eu sorrio.
— Estou bem. É... Não sabia que vocês eram os amigos de Dylan. — Digo
enquanto descemos pelo elevador.
— Pois é. Meus amigos são amigos do seu irmão, então ficamos amigos. Você
entendeu? — Ele pergunta rindo.
— Sim. Obrigada. — Digo o olhando.
Brandon está vestindo uma calça cáqui e uma camiseta que define mais ainda
seus músculos. Seus olhos passeiam pelo meu corpo e eu desvio o olhar. Tenho que
admitir, ele é quente.
Muito quente.
Capítulo Sete
Melissa
Capítulo Oito
Melissa
Capítulo Nove
Melissa
Passei três dias em casa, mamãe pediu que fossemos, pois estava com saudades
e queria conversar. Achei estranho, mas na mesma semana Dylan recebeu nossas
passagens. Então viajamos.
— Você acha que ela vai mesmo tirar nosso dinheiro? — Pergunto a Dylan.
— Ela só quer que tenhamos responsabilidade, logo após, ela vai liberar de
novo. Não se preocupe. — Ele responde enquanto senta à mesa na nossa cozinha.
— Vou falar com Hilary, ela começou a trabalhar no café da faculdade quando
chegou aqui, então ela deve saber de alguma vaga. — Digo me sentando.
Mamãe impôs que eu e Dylan trabalhássemos, ela quer que tenhamos autonomia
e sejamos responsáveis com o dinheiro. Eu a entendo, mas papai não entendeu e vai
continuar ajudando. Eles brigaram por isso, mas eu não me preocupo, eles se amam e
sempre voltam um para o outro. Então eu e Dylan temos que arrumar um trabalho.
Rápido.
— Eu não tenho a mínima ideia de onde vou procurar emprego. — Dylan fala
bufando.
— Talvez Connor precise de alguém na academia. Ela vai inaugurar no próximo
mês. — Digo enquanto bebo meu café preto.
— Pode ser. Vou falar com ele, quer ir comigo? Nicole está perto de ter Abby,
faz três dias que não a vemos. — Ele argumenta e eu confirmo.
Depois de tomar banho e me arrumar saímos em direção a casa de Connor. Nick
está com oito meses, quase nove, então temos que estar perto dela. Eu não vejo a hora
de pegar Abby nos braços.
Não vejo a hora.
— Os ingratos chegaram? — Escuto a voz dela enquanto desce as escadas com
Connor a acompanhando.
— Muito engraçado, Sra. Nicole. — Dylan fala andando em sua direção. Meu
irmão beija seu rosto e se ajoelha para conversar com nossa sobrinha.
— Desculpe não ter vindo antes. Chegamos ontem e só fomos dormir. — Digo
enquanto ela franze o cenho para mim.
— Nós precisamos conversar, Melissa. — Ela só diz isso. Seu rosto é uma
mistura de decepção e mágoa. Eu não sei do que ela pode estar magoada.
— Eu fiz algo? — Pergunto andando até a sua frente.
— Não. Você só não confiou em mim. — Quando ela termina de falar a
realidade me bate.
Pietro contou a ela da gente. Como ele pôde? Ele não podia ter feito isso.
— Nicole... — Ela me interrompe.
— Nós vamos conversar a sós, tudo bem? — Ela pergunta e eu aceno
confirmando.
— Não brigue com minha cunhada, Mel. Ela não pode se estressar. — Dylan
fala brincando.
— Ninguém vai brigar com Nicole e ninguém além de mim vai brigar com
Melissa. — Escuto a voz do meu irmão do meio e respiro fundo.
— Ninguém vai brigar comigo. Eu sou adulta e não vou ouvir sermão de
ninguém. — Digo cruzando meus braços.
— Lógico que vai ouvir. Eu sou seu irmão. Depois de tudo eu sou o último, a
saber. Essa é minha casa Melissa. Então, sim, você vai me escutar. — Connor fala
rápido. Olho em seus olhos e raiva me define.
— Se não sou bem recebida aqui, não se preocupem eu já estou indo. —
Dizendo isso pego minha bolsa e ando até a porta. Não vou ouvir ninguém me dizer o
que fazer. Merda.
— Não faça isso, Mel. Você sempre vai ser bem-vinda a minha casa. Você é
minha irmã. — Essas palavras não saem da boca de Connor, elas saem da boca de
Nicole e eu arfo. — Não saía. Fique, por favor. — Sinto em suas palavras que ela
está chorando e quero me socar por isso.
Quando me viro e a vejo meus olhos enchem de lágrimas. A gravidez a está
fazendo ficar mais sensível, eu não queria magoá-la, Nick é uma pessoa maravilhosa,
mas quando escuto ou vejo sublinhando na conversa o nome de seu irmão eu já sinto
dor. Muita dor e vergonha.
— Desculpe. Mas... — Mordo meu lábio inferior para tentar parar as lágrimas,
em vão.
Nicole me abraça e acaricia meus cabelos devagar. Eu a envolvo em meus
braços com cuidado por causa da sua barriga.
— Não fique na defensiva. — Ela fala e nos afastamos.
— Ele não podia ter feito isso. Ele não tinha o direito. — Digo respirando
fundo.
— Ele só estava confuso. Ele não tinha ninguém a não ser a mim, Melissa. Você
acha que nós não percebemos ou que um dia iríamos? — Ela pergunta enquanto nos
sentamos no sofá.
Meus irmãos saíram da sala e nos deixaram sozinhas.
— Eu não sei. Fiquei tão confusa, eu me apaixonei por um cara comprometido.
Que tipo de pessoa eu sou? — Pergunto abraçando minhas pernas.
— Uma pessoa normal. E ele não era comprometido quando ficaram. Vocês
eram livres. — Ela diz tentando se sentar mais confortável. — Eu amo meu irmão,
Melissa. E eu o conheço como ninguém. Ele está gostando de você também. — Ela
fala se sentando confortavelmente no sofá.
— E daí? Ele tem namorada. Mesmo gostando de outra ele está com ela. —
Digo limpando minhas lágrimas.
— Ele gosta dela também, Mel. Eles estão juntos há um ano. Ele está
acostumado e tem medo de sair. Todos têm medo de sair da nossa zona de conforto. —
Nicole fala e eu reprimo uma risada.
Queria rir de suas palavras, mas não faço, ela é irmã dele. Tem mais que o
defender mesmo.
— Eu entendo. — Suspirando me levanto e me ajoelhou na sua frente. — Me
desculpe. Eu sei que deveria ter falado, mas eu estava confusa. Foi só uma noite que
mudou tudo. Depois disso nos afastamos, eu sentia saudades dele, mas ele já estava
namorando. Eu não queria incomodar ninguém com minhas divagações. — Confesso
acariciando sua barriga. Abby dá um chute na minha mão e eu sorrio.
Ela me entende.
— Eu entendo, meu amor. Haja o que houver siga seu coração. Se ele pede por
Pietro? Lute por ele. Se não? Siga sua vida. — Ela diz sorrindo por Abby está se
mexendo.
— Tudo bem. Agora eu tenho que falar com meu irmão. Tudo bem? — Digo me
levantando.
— Ok, ele só está chateado por não saber de nada. Ele disse que na sua vida ele
sempre está às escuras. Sempre é o último a saber, sobre ela. — Ela diz sorrindo
triste.
Depois que escuto isso começo a pensar que eu agiria da mesma forma e me
culpo por causar esse sentimento nele. Saio a procura dele e o encontro no escritório
conversando com Dylan.
— Lógico que pode. Tyler já estava pensando em procurar alguém... — ele para
de falar quando me vê na porta. — Pode dar um tempo para mim? — Ele pergunta a
Dylan e ele acena se levantando.
O escritório de Connor é amplo, arrojado e bem claro. Eu adorei. Nicole fez
tudo com muito amor. E quando entramos percebemos isso. Essa casa é de uma
família que se ama.
Eu adoro estar aqui.
— Queria me desculpar. Eu... não queria falar daquele jeito com você.
Desculpe-me. — Digo me sentando a sua frente.
— Você gosta dele? — Ele pergunta encostando-se à cadeira.
— Eu acho que sim. — Respondo olhando minhas mãos.
— Ele é um idiota então. Você é linda e se ele gostar de você, logo, vem atrás
de você. Não se preocupe. — Ele diz pegando minhas mãos por cima da mesa.
— Acho que ele não gosta de mim. Ele tem a namorada dele e bem... estamos a
mais de dois meses sem nos ver. Isso quer dizer que ele... — suspiro. — Eu não sei.
Só não vou esperar por ele. Nunca mais vou esperar por outra pessoa. — Digo
determinada.
Lembro de Tyler e de todo o tempo que fiquei o esperando voltar. Ele nunca
voltou. Eu me levanto da cadeira.
— Você faz bem. Não espere por ninguém, faça da sua vida totalmente sua. —
Meu irmão diz me abraçando. Suas palavras são cravadas em meu coração.
Sai da casa de Connor depois de comermos o bolo que Nicole fez. Estava
delicioso. Connor disse que ela quer saber fazer muitas sobremesas para Abby. Só
minha cunhada mesmo.
Estaciono o meu carro e saio. Quando chego ao elevador vejo Brandon correr
para pegar e eu coloco minha mão para as portas não fecharem. Sorrio quando vejo as
várias sacolas em suas mãos.
— Hey! — Digo sorrindo quando ele se encosta à parede do elevador.
— Muito obrigado.
— Por que um dos garotos não foi com você ao supermercado? — Pergunto
ainda olhando as sacolas. Ele sorri.
— Que nada. Eles são impacientes. Não conseguem estar em um supermercado.
O único que vai sou eu. — Ele diz revirando os olhos.
— Sorte deles, então. — Digo sorrindo. Ele revira os olhos.
— Você viajou? Bati a sua porta anteontem, mas ninguém respondeu. — Ele diz.
— Sim. Fui ver meus pais.
— É... Hoje tem um aniversário de um cara para eu ir. Você gostaria de ir? Os
meninos também vão. — Ele fala sem interrupção e eu sorrio de seu jeito.
As portas do elevador se abrem e nós saímos.
— Desculpe. Mas não estou com ânimo. — Digo enquanto ele anda até sua
porta.
— Aconteceu algo? — Ele pergunta preocupado.
— Não. Quero dizer, sim, mas não quero falar. Desculpe.
— Não se preocupe, Mel. Tudo vai se ajustar. Tchau. — Dizendo isso ele entra
em seu apartamento.
Viro-me para entrar no meu, mas paro. Meus olhos se arregalam e meu corpo
congela. O que ela está fazendo aqui?
— Kimberley? — Digo confusa.
— Oi, Melissa. Podemos conversar? — Ela pergunta calma e eu saio do meu
transe.
— Lógico. Só um momento. — Digo e abro minha porta.
Depois de entrarmos Kimberley inspecionou meu apartamento inteiro e me
olhou. Seus olhos queimaram minha pele. Não entendo o que veio fazer aqui. E não
estou gostando do seu olhar em minha direção.
— Você achou que eu desistiria? — Ela suspira. — Que eu abriria mão dele?
Assim, de bandeja para você? — Ela fala e eu engulo em seco.
— Não sei do que está falando... — tento dizer, mas ela me interrompe.
— Não se faça de desentendida, Melissa! —Seu grito me assusta e eu me afasto.
— Você jogou direitinho e ele está caindo no seu jogo, sua vadia! — Ela grita e
começa a andar em minha direção. Cerro meus olhos entendendo o que veio fazer.
— Não me chame de vadia, Kimberley! Eu não sou. E eu não estou entendendo
mesmo o que você está falando. — Grito na sua cara. Ela aperta o maxilar.
— Você acha que eu vou deixar vocês ficarem juntos? Pietro é meu. Nunca vai
tê-lo. Nunca. — Ela fala descontrolada.
— Eu não quero seu namorado. O que a gente teve foi antes de você. Por que
não entende? Ele está com você agora. — Digo me descontrolado também.
— Ele terminou comigo. Foi você. Você o fez terminar comigo. Eu soube que
ele esteve na sua casa. Você transou com ele, Melissa? Enquanto eu estava em casa o
esperando, ele fodeu você? — Kimberley grita com lágrimas nos olhos.
— Não. Pelo amor de Deus. Ele nunca ia fazer isso com você. — Digo sentindo
por ela está assim.
— Nem beijo? Você vai mentir sobre isso? Ele me disse, Melissa. — Ele
pergunta, fria.
— Nós estávamos bêbados. Não foi querendo te magoar. — Digo e ela corre e
me derruba no chão.
— Ele terminou por isso. Sua vagabunda. Você quer tirar meu namorado de
mim, mas eu não vou deixar. Pietro é meu, Melissa. Se acostume. — Ela grita
enquanto tenta me bater. Seguro seus braços e a jogo no chão. Levanto-me
rapidamente.
— Você é louca. Eu não tenho culpa se ele não gosta de você o suficiente. Saia
da minha casa agora Kimberley. Ou vou arrastar você pelos cabelos. — Falo com
ódio em minhas veias. Essa idiota pensa o que em me bater desse jeito? Eu vou matá-
la se ela se aproximar de mim de novo.
— Não acabou. Eu vou arruinar sua vida. O boato que espalharei vai ser mil
vezes pior do que o primeiro. — Minha mão encontra seu rosto a fazendo calar-se.
Eu sempre soube que foi ela. Essa idiota psicótica.
— Saia, sua doente. Vá embora da minha casa. — Grito abrindo a porta.
Quando ela passa por mim e sai da minha casa tenho vontade de quebrar tudo.
Tudo que tem dentro dela. Mas não faço. Respiro fundo e vou para minha cozinha.
Pietro terminou o namoro? Por quê? Várias questões rondam minha cabeça
enquanto faço meu almoço e depois como. Dylan chegou em casa a poucos minutos e
veio se sentar comigo.
— O que foi que aconteceu com você? — Quando ele pergunta isso eu o olho,
confusa. — Sua roupa, esses arranhões na sua pele. Que merda aconteceu? Você
brigou? — Ele se levanta e vem para meu lado.
— Ela veio aqui. Kimberley veio me enlouquecer. Ela me bateu e eu bati nela.
Foi uma confusão. — Digo enquanto passo a mão pelos machucados.
— Essa garota é louca? Eu vou matar essa puta. — Ele ruge e pega seu celular
ligando para alguém.
— Você está ligando para quem? Dylan? — Pergunto e me levanto.
— Olha seu idiota segure essa louca da sua namorada entendeu? O que
aconteceu foi que ela veio na minha casa bater na minha irmã. Da próxima vez eu
mesmo pego ela pelos cabelos e a jogo na rua. Você me ouviu, Pietro? — Dylan grita
ao telefone.
Quando percebo o que está fazendo começo a gritar com ele.
— Não era para ter ligado. Eu já sou uma mulher. Não preciso de nenhum de
vocês. — Digo sentindo ódio.
— Mel... Ninguém vai vir a minha casa e bater na minha irmã. Ninguém. Agora
venha aqui que limparei esses arranhões. — Ele me puxa pelo braço e vamos para
meu quarto.
Passo a tarde dormindo e quando me acordo tem alguém batendo na porta.
Merda. Levanto-me e sigo para abri-la. Os arranhões estão ardendo menos, graças a
Dylan e seus cuidados. Quando vejo que é Pietro volto a fechar a porta, mas ele a
empurra.
— Saia daqui. Agora. — Digo apertando meu maxilar.
Capítulo Dez
Pietro
Um ano e dois meses atrás...
Às vezes me pergunto por que a vida me odeia tanto. Se bem que se isso fosse
possível, muitas pessoas pensariam assim. Meu peito está apertado. Eu só senti esse
sentimento uma vez e foi a mais de um ano. Eu estava na frente da garota que eu mais
amei na minha vida e ela me disse que amava outro.
Agora eu estou sentado em casa e Clara se sentou comigo mais uma vez. Sinto
seus dedos trêmulos pegarem minha mão. Então ela falou as palavras que iriam me
acompanhar a vida inteira, todos os dias como se fosse hoje.
— Eu vou ser mãe. — Engulo em seco e tento me sentar confortavelmente.
— Como? — Eu pergunto pateticamente.
— Eu estou grávida. — Ela suspira e sorri. — Queria ser eu a te falar.
Desculpe-me qualquer coisa... — Seus olhos estavam cheios de lágrimas enquanto me
olhava, mas não eram de tristeza, era de alegria.
No fundo deles tinha uma felicidade sem tamanho e naquele momento eu deixei
minha própria dor de lado e eu a parabenizei abraçando seu corpo pequeno.
— Parabéns, Clarinha! — Digo sorrindo e com lágrimas nos olhos. — Você vai
ser uma mãe incrível. Pode ter certeza. — Digo e ela me abraça mais apertado.
— Eu nunca. Nunca quis te magoar. Me desculpe se isso aconteceu alguma vez.
Eu não tive a intenção. — Ela soluça e eu limpo suas lágrimas.
— Eu me magoei sozinho, Clara. Você não tem nada com o que se preocupar. —
Digo limpando minhas lágrimas. — Só quero te dizer que quando você me pegou com
aquela garota...
— Eu não quero falar sobre isso, Pietro. Ainda dói muito. — Ela fala puxando
sua mão de mim.
— Mais eu preciso. Por favor. — Peço e ela suspira acenando. — Nada
aconteceu. Ela armou tudo, Clara. Eu não consegui te explicar, pois estava tão sem
entender o que aquela garota tinha feito. Como ela pôde fazer isso só para nos separar
sabe? — Digo e respiro fundo. — Você pode não acreditar, mas...
— Eu acredito, Pietro. Eu... me desculpe por fugir de você, mas eu era uma
menina. Não conseguia entender nada. Me desculpe. — Ela fala e eu choro.
Choro pelo tempo que ela passou longe de casa. Pelo momento em que ela me
deixou e principalmente por que nada disso importa mais. Nada disso importa quando
ela ama outro e ainda carrega um filho dele no seu ventre.
Saio de casa logo depois de Clara e me sento no bar mais próximo. Melissa
chegou e nós conversamos, bebemos e choramos. Eu quero ter raiva de Tyler por ter
duas mulheres amando ele, mas eu não consigo. Ele é um bom homem e eu tenho
certeza de que ele fará Clara muito feliz.
Depois disso levei Melissa para minha casa e fizemos a maior loucura que um
dia pensei em fazer. Eu fiz amor com ela. Eu passei a noite com a cunhada da minha
irmã. E o pior de tudo... eu me apaixonei, claro que não foi de uma hora para outra,
não foi de repente. Eu já estava me sentindo atraído por ela desde o momento em que
a conheci naquele café com Nicole.
A noite que passamos juntos só me fez ter certeza, mas como a vida me odeia,
ela não quis nada comigo. Muito pelo contrário. Ela fugiu de mim. Mais uma vez, a
garota por quem eu me apaixonei, fugiu de mim.
Melissa pediu que eu esquecesse tudo. Que eu esquecesse o que nós dois
fizemos.
Da nossa noite juntos.
Dias atuais...
Enquanto danço ao som da música que sai pelos alto-falantes da casa do tal
amigo de Brandon, observo tudo girar ao meu redor. Sinto que minhas pernas estão
suadas e isso é legal. Remexo meu quadril de encontro a Brandon e ele segura minha
cintura com carinho. Dançamos até eu me sentir tonta e querer ir ao banheiro.
Brandon tentou me segurar na pista de dança, mas me soltei e vim até o corredor
que dá acesso ao banheiro. Enquanto giro a maçaneta da porta olho para um casal se
beijando, mas eles são diferentes dos outros que estão ao redor. Eles são
apaixonados. Os lábios deles se provam sem demora, parece até que é apenas um
carinho.
Um carinho que eles trocam sem malícia ou promessas. Quando percebo as
lágrimas estão descendo por meu rosto, então entro no banheiro e deslizo pela parede
ainda chorando.
Eu o quero para mim.
Eu quero esse beijo.
Eu quero Pietro.
Eu gosto de Pietro.
Procuro meu celular e rapidamente disco seu número. Não detenho meus
movimentos, pois quero que ele saiba. Ele atende no segundo toque. Sua voz calma do
sono preenche o espaço da minha cabeça e coração.
— Mel?
— Eu quero você.
— Melissa? O que está falando?
— Eu acho que estou apaixonada por você, Pietro.
— Onde está? Você está bêbada? Merda.
— Eu... você também está apaixonado por mim?
— Mel! Deus! Responda-me onde você está!
— Eu não lembro. Eu vim para um aniversário de algum conhecido de
Brandon.
— Você o que? Não precisa responder. Estou indo te buscar, ok? Vai para o
lado de fora.
— Você gosta dela, não é? Eu sei. Ela me mandou um SMS dizendo que estava
com ela novamente.
— Melissa...
— Eu odeio você, Pietro!
— Não. Você não odeia.
— Fique com ela e eu fico com Brandon. Odeio estar apaixonada por você.
Desligo e meu choro se torna mais forte. Saber que eles voltaram desfaz
qualquer chance de ele ser meu. Limpo minhas lágrimas e suspiro.
Capítulo Doze
Melissa
Saio do banheiro depois de molhar o rosto e fazer um coque no cabelo.
Apresso-me para voltar ao mesmo lugar onde Brandon estava. Tento focar em algo,
mas ainda estou um pouco tonta. Fecho os olhos por um momento e depois os abro
devagar.
Parece que melhora já que consigo ver Brandon em pé com o celular na orelha.
Chego mais perto e vejo que seu olhar é calmo e que ele fala casualmente com a
pessoa do outro lado. Quando chego a sua frente um sorriso chega aos seus lábios e
ele desliga a chamada.
Nós nos olhamos por um tempo e eu me aproximo dele devagarzinho. Quando
estou a um passo de beijá-lo a imagem de Pietro na minha cozinha me para. Tento
focar em Brandon, no cara gentil e simpático que me faz alegre e que não tem uma
namorada psicótica. Tento focar em seus lábios quando esmago sua boca com a minha.
Suas mãos enlaçam minha cintura e eu respiro fundo quando minhas mãos
entram em seus cabelos sedosos. Assim que penso em aprofundar o beijo com danças
sensuais de nossas línguas, a cena dos lábios da garota e garoto do banheiro me faz
ficar tensa e me afastar. Não quero um beijo sem sentido como os que os casais ao
lado do casal apaixonado estavam dando. Eu quero o beijo do casal apaixonado.
— Desculpa... eu quero ir embora. — Digo suspirando enquanto pego uma nova
bebida que o garçom colocou no balcão. Viro-a dê uma vez e engulo o líquido quente
e forte. Olho para Brandon e ele acena sorrindo.
— Vem. Ele já deve ter chegado. — Ele resmunga enquanto pega minha mão e
me carrega para fora da festa.
Respiro fundo e uma lufada de ar frio queima meu nariz. Merda. Visto meu
casaco que estava pendurado em um espaço para guardarmos nossas coisas e logo me
sinto bem aquecida.
— Quem deve estar chegando? — Pergunto seguindo Brandon até o
estacionamento.
— Seu namorado. — Diz enquanto desliza a mão por meu cabelo.
— Eu não tenho namorado, Brandon! — Exclamo, de repente, irritada. — Eu
nunca tive um namorado. — Digo enquanto sinto uma queimação em meu peito.
Merda. Eu vou chorar.
Eu nunca namorei ninguém.
— Quando eu te vi pela primeira vez... foi algo estranho, posso dizer. Seu jeito
despreocupado de atender a porta e sua generosidade ao me dar o pacote de açúcar...
— Ele suspira e eu sorrio lembrando-me do dia em que nos conhecemos. — Eu fui
vendo que você é diferente das outras garotas e eu queria me apaixonar por você e
fazer você se apaixonar por mim. — Ele ri sem humor e eu limpo minhas bochechas
molhadas.
— Brand... — Um soluço me escapa e ele me abraça.
— Mas assim que eu vi seu "cara" dois meses atrás e agora nessa
última semana, eu entendi que seu coração já é dele. Você é dele, Mel. E por mais que
lute contra isso. Vocês estão destinados... talvez o que eu esteja falando é uma grande
besteira, já que não sei muito bem a história de vocês, mas eu vejo quando olho para
vocês juntos. Não deixe nada te impedir de ser feliz. Você merece tudo que a
felicidade quiser te proporcionar. — Ele diz e sela nossos lábios como um selinho
casto.
Um adeus.
— Você conseguiu? — Pergunto quando saio de seus braços.
— O quê? — Ele cruza os braços e levanta uma sobrancelha em forma de
brincadeira.
— Se apaixonar por mim. — Respondo o olhando intensamente.
— Desculpe lhe decepcionar, mas não. — Ele ri e eu também.
Ficamos calados enquanto esperamos Pietro chegar.
Depois dessa conversa eu passei a gostar mais de Brandon. Ele foi tão sincero,
me deixou sem palavras. Eu gostaria de ter me apaixonado por ele. Eu gostaria de não
gostar de Pietro, de não pensar nele nos momentos de solidão, mas eu penso. Eu gosto
dele. Isso é tão injusto. Ele tem uma namorada. Ele voltou com Kimberley. Pergunto-
me se tudo que me falou em nosso último encontro era mentira.
Quando ele salta de seu carro, seus passos são duros e seu maxilar estar
apertado. Seus olhos estão fixos em Brandon e antes que ele faça alguma idiotice eu
vou ao seu encontro.
— Você veio me buscar? — Ele agora está me olhando enquanto acena.
— Sim, Melissa. — Ele range os dentes ao falar.
— Então ótimo eu estou no carro. — Digo e caminho para o lado do passageiro.
Olho para Pietro, mas ele está falando com Brandon. Longe um do outro.
Agradeço por isso. Não quero que Pietro pense que tem qualquer domínio sobre mim.
Ele não tem. Respiro fundo quando entra no lado do motorista e sai do
estacionamento.
— Como você está? — Depois de um longo silêncio ele pergunta sem me olhar.
— Estou bem. Só quero ir para casa. — Encaro a janela do seu carro e suspiro
ao ver os pequenos respingos de chuva cair no asfalto.
— Como você sai com alguém que não conhece? — Ele pergunta calmo.
— Do mesmo jeito que estou agora no seu carro. — Digo firme.
Acho que a bebida que estava no meu sistema se foram com as lágrimas. Não
me sinto bêbada. Espero que amanhã eu também não sinta as consequências do álcool.
Ele fica calado o resto do caminho, apenas apertando o volante com suas mãos.
Não sei como e nem em qual momento, mas adormeci. Acordo nos braços de Pietro
quando ele entra no meu quarto. Suspiro enquanto ele me coloca na cama.
— Obrigada. Desculpe se te incomodei...
— Você nunca me incomoda. — Ele diz cansado. Viro-me para não ter que ver
seu rosto. Enrolo-me em formato fetal e suspiro.
— Diga a sua namorada que já a entendi. Não quero mais saber de SMS dela no
meu celular. — Digo me lembrando de suas mensagens.
— Ela não é mais minha namorada, Mel. Você sabe disso. — Sinto a cama
afundar e sei que ele deitou comigo.
— Então eu acho que ela não está sabendo disso. — Digo ficando tensa quando
ele me puxa para seu peito.
Sua mão descansa em minha barriga e eu me lembro da nossa noite juntos. Foi
assim que acordei. Olhando para sua mão.
— Ela sabe disso. Desculpa se ela anda te incomodando. Vou falar com ela. —
Ele diz e sua respiração quente entra em contato com a pele do meu pescoço me
fazendo arrepiar.
— Ela não me incomoda. Na verdade, nunca me incomodou. — Digo sincera.
— A única coisa que me incomodava era ver vocês juntos. — Confesso sentindo meu
coração correr acelerado.
Ele me vira e eu encontro seus olhos castanhos. Sua boca suspira e eu relaxo em
seus braços.
— Isso não vai mais te incomodar. Acabou. É sério. — Ele afirma enquanto
enrola uma mecha do meu cabelo no seu dedo.
— Não vi você essa semana... — Divago e ele sorri.
— Tive que ir ao hospital. Meu pai estava com alguns problemas e queria que
eu estivesse lá para aprender como proceder diante disso. — Ele revira os olhos
quando fala.
— Eu senti sua falta, Pietro. — Digo e ele sorri como se estivesse conquistado
o mundo.
— Eu também, Mel. Demais, mesmo. — Ele me aperta mais em seus braços e eu
sorrio.
— Você ficou com esse cara, Mel? — Depois de um tempo só abraçados ele
pergunta.
— Não. — Digo e ele semicerra os olhos, sério. — A gente só se beijou, mas
não... — Paro de falar quando ele se afasta de mim e senta na cama.
— Não sei o que estou fazendo. Deus! Você me disse que queria ele. Não sei
por que ainda penso em você, Melissa. — Ele se levanta e começa a calçar os sapatos
que eu nem tinha o visto tirar.
— Pietro... Eu não o quero. Juro. — Digo me sentando e olhando para ele.
— Então por que o beijou? — Questiona enquanto abre e fecha seus punhos.
— Porque eu queria tirar você da cabeça. Kim disse na mensagem que você
estava com ela novamente. Porque eu vou pensar em você se voltou com ela? Eu não
posso, Pietro. — Digo sincera.
— Eu não sei, Mel. Eu estou vendo você beijando ele. Nesse momento. — Ele
diz com a voz sofrida e eu me aproximo dele.
— Você se lembra do que falei pelo celular? — Pergunto na frente dele. Levanto
minha cabeça e encaro seus olhos.
— Você disse que é apaixonada por mim... que me queria. Não foi isso? — Ele
pergunta me olhando. Seus olhos passam dos meus olhos para minha boca enquanto eu
umedeço meus lábios.
— Sim. Foi isso. E é verdade. Eu estou apaixonada, Pietro. Eu quero você.
Deus, eu quero demais. — Traço seu rosto com meus dedos e fecho os olhos sentindo
meu peito apertar. — E você Pietro? Você está? — Pergunto quando abro meus olhos.
— Sim. Sim, eu quero você e sim, Melissa, eu estou apaixonado. Tanto que só o
pensamento de te perder para outro me destrói. — Ele passa a língua pelos lábios e
sorri triste. — O que estou falando? Você não é minha para eu te perder. — Ele se
afasta e começa a andar de um lado para o outro.
— Eu sou sua, Pietro. De ninguém mais. — Digo e paro em sua frente de novo.
Quando seus olhos se conectam com os meus, sua boca está na minha. Suas
mãos estão no meu corpo e no meu cabelo. Eu estou nele e ele em mim. Delicio-me
sem pressa de seu lábio inferior e passo minha mão por seus cabelos o trazendo para
mim.
Levanto e passo minhas pernas por sua cintura enquanto Pietro me segura pela
bunda. Sua língua entra na minha boca e devagar fazemos nosso ritmo de dança.
Parece que tudo ao nosso redor se perdeu e ficou apenas nós dois, eu e ele.
Melissa e Pietro.
Minha barriga se contorce de prazer e felicidade por ele está aqui e não com
Kimberley. Por não ter voltado para ela. Deus, eu quero esse homem só para mim.
— Mmm... Você é doce. — Pietro fala sorrindo. Reviro os olhos e ele me
coloca no colchão.
— Obrigada? — Pergunto e ele sorri enquanto me dá um selinho.
— De nada. — Diz e me beija de novo. Gargalho e empurro seu braço.
— Eu vou tomar banho e tomar um analgésico para que amanhã eu não esteja
sofrendo com dores de cabeça. — Digo e me levanto.
Pietro se deita na cama e fica me olhando pegar uma camisola com calcinha e
toalha. Vou para o banheiro e em pouco tempo tomo banho, escovado os dentes e saio
do banheiro vestida.
Olho para Pietro deitado na cama e sorrio ao vê-lo olhando minhas molduras
com fotos da minha família. Deito-me ao seu lado e ele os coloca no lugar.
— Sua mãe é linda. — Ele fala e eu sorrio.
— Sim. Ela é. — Digo olhando para sua foto. Seus olhos verdes azulados se
sobressaem de seus cabelos castanhos e eu sorrio.
— Você é muito parecida com ela. Principalmente seus cabelos. — Diz e eu
reviro os olhos.
— Só não ganhei os olhos perfeitos. Connor foi o único. — Digo com uma
carranca.
— Os seus são lindos. Não precisa dos olhos daquele pé no saco. — Ele diz e
eu bato em seu braço.
— Hey! Ele é meu irmão. — Digo e ele me puxa para seus braços.
— Eu sei. Quero ver quando ele souber que peguei a irmã dele. — Ele gargalha
e eu me sento tentando ficar séria.
— Isso é algum tipo de troco que você quer dar em Connor por ficar com
Nicole? — Pergunto levantando a sobrancelha.
— É lógico que sim. Mas o melhor é estar com você, meu anjo. — Diz sorrindo
e me puxa novamente.
Depois de estarmos deitados e debaixo das cobertas olho para seu rosto e me
pergunto como vai ser... Será que manhã estaremos juntos? Quero dizer, nós estamos
juntos? Dúvidas rondam minha cabeça, mas não quero pensar na possibilidade de não
está com ele. Deus, estou tão apaixonada por esse homem.
— Eu sei o que está pensando. A gente vai dar um jeito, ok? Mas eu não posso
ficar sem você, Mel. Não posso. — Ele fala e roça seus lábios nos meus. Derreto-me
debaixo dele, mas ainda estou preocupada.
— E Kimberley? Ela não vai me deixar em paz, Pietro. — Digo sentindo um
balde de água fria em cima de mim.
— Lógico que vai. Eu já falei com ela, Mel. No dia que terminamos eu
expliquei e se ela ainda não entendeu eu explico de novo. Não importa. — Ele me
assegura e eu suspiro acenando.
— Agora dorme, anjo. Eu vou estar aqui quando acordar. Juro. — Ele beija
meus lábios e eu sorrio.
— Você também. Desculpe ter te acordado. — Digo bocejando.
— Não se desculpe. Se você não tivesse feito, nós não estaríamos aqui. Juntos.
— Ele explica e eu aceno confirmando.
Verdade.
Acordo com o som de dois celulares tocando e eu quero morrer agora mesmo.
Quando me viro vejo Pietro deitado tentando pegar o seu celular. Depois que ele
atende eu me levanto e vou atrás do meu.
— Alô?
— Nicole entrou em trabalho de parto.
— O que? Merda.
— Eu estou apavorado. Caralho. Estou com medo de perdê-la.
— Que merda de conversa é essa, Connor? Ela está ótima. Saudável e nada
além do nascimento da sua filha vai acontecer.
— Eu fui pesquisar no Google e apareceram várias coisas. Você vem para cá,
não é?
— Óbvio. Estou chegando. Deixa esse seu celular no lixo mais próximo que
estiver de você.
— Ok. Tudo bem. Tudo bem.
Desligo e olho para Pietro que está vestindo sua calça.
— Ela está bem? Mamãe ligou e disse que está vindo, mas ela não soube falar
ao certo como Nick está. — Ele fala rapidamente com o rosto apavorado.
— Ela está ótima. Não se preocupe. Agora vamos. — Digo e me visto
rapidamente.
Entro no carro e rezo para que o que falei para Pietro seja verdade. Deus
permita que sim!
Capítulo Treze
Melissa
Encontro Connor sentado na sala de espera e corro até ele. No caminho liguei
para mamãe e papai, eles disseram que Connor já havia ligado e que estariam no
próximo voo para Seattle.
— Hey! Cheguei. — Digo e me sento ao seu lado. Ele olha para mim e seus
olhos estão repletos de medo. — Ela ainda está lá dentro, não é? — Pergunto calma e
ele acena.
— Ela acordou e a bolsa tinha se rompido. — Ele explica mexendo as mãos no
colo. — Nós viemos para cá, mas ela chorava tanto, ela se contorcia e gritava.
Melissa... eu estou apavorado. — Ele sussurra e eu sorrio.
— Olha... é normal ok? Você só está preocupado por que foi pesquisar no
Google. O parto é algo normal. Lógico que ela vai sentir dor, mas é uma dor que nós
mulheres nascemos já prontas para aguentar. Não sabemos ainda, mas estamos
prontas. — Digo e ele suspira relaxando na cadeira.
— Cadê Dylan? Não veio com você? — Ele pergunta e eu nego com a cabeça.
— Não. Ele não dormiu em casa. — Digo e ele suspira.
— Eu já liguei então ele deve vir logo. — Ele fala e eu aceno. — Ele deve ter
dormido na casa da nova namorada dele.
— Que? Que namorada? — Pergunto confusa. Dylan é igual ao Connor antes de
Nicole. Não namora, apenas fica.
— Não sei quem é. Ele só deixou escapar isso. Que estava ficando sério. —
Meu irmão fala dando de ombros. Suspiro e deixo essa conversa de lado. Depois
converso com ele.
— Papai e mamãe já estão estacionando. Passei na recepção e disseram que
daqui a pouco um médico vem falar alguma informação. — Pietro fala quando chega e
senta ao meu lado. Sorrio e concordo.
— O que está fazendo com minha irmã? — Connor pergunta franzino as
sobrancelhas.
— Hoje não, Connor. Depois conversamos sobre isso. — Pietro fala com raiva.
— Eu espero mesmo. Pois se eu não estou ficando louco, ela estava chorando há
um tempo por causa da sua idiotice. — Connor fala com os dentes apertados.
— Por favor... — começo a falar, mas a chegada dos pais de Pietro e Nicole
acaba me poupando de um discurso apaziguador.
— Como ela está? — O pai de Pietro pergunta com sua mãe nos braços.
— Não sabemos ainda. O médico vai vir daqui a pouco com informações. —
Connor responde se levantando.
— Ela está bem, meu amor. — Sr. Victor fala beijando a cabeça da esposa. —
Pietro. — Ele sorri alegre e Cláudia abraça seu filho.
— Estava com saudades, meu amor. — Ela sorri enquanto beija seu rosto com
carinho.
— Mãe... Até parece que não nos vimos ontem. — Ele diz sorrindo enquanto ela
bate em seu braço.
— Ingrato. — Ela resmunga fazendo careta e Pietro abraça seu pai.
— Não ligue para ela. Você sabe que ela está ficando velha. — Ele sussurra no
ouvido de Pietro e Cláudia lhe dá uma tapa no braço também.
Olho para meu irmão e sorrio quando o vejo relaxado rindo da família de sua
mulher.
— Familiares de Nicole Jones? — Um médico moreno e muito bonito chama.
— Não me conformo de nossa menina ter mudado seu nome. — Victor resmunga
e Connor sorri.
— Ela não é mais uma menina. Ela é minha mulher. — Ele diz e dá duas
tapinhas no ombro do seu sogro.
— Besteira. — Victor se afasta com uma carranca.
— Sou marido dela. — Connor estufa o peito para responder.
— Eu sei... — o médico sorri balançando a cabeça. Deve achar engraçado o
jeito ciumento do meu irmão. — Pois bem. Nicole está ótima e a pequena Abby
nasceu linda e muito saudável. — Ele diz e Connor acena enquanto nós rimos alegres.
Suspiro, aliviada, por elas estarem bem. Não que eu pensasse que algo ruim
ocorreria, mas Connor me passou um pouco do seu medo. Ponto.
— Eu posso entrar? Quero ver as duas. — Connor fala sorrindo também
aliviado.
— Lógico. Elas estão no quarto 102. Podem seguir por esse corredor. Só peço
que se dividam em dois grupos. São muitas pessoas para entrarem de uma vez. — ele
explica e nós acenamos entendendo.
— Vá Connor. Quando você voltar os pais de Nick e Pietro entram. Eu quero
ser a última. — Digo e eles acenam confirmando.
— Obrigada. De verdade. — Ele sorri e eu o abraço.
Vejo-o desaparecer pelo corredor ao lado do médico e suspiro contente. Nunca
vi meu irmão tão feliz assim na vida. Tudo fruto da pequena Abby.
— E quem é essa menina linda? — Cláudia pergunta quando Pietro me puxa
para sentar.
— Sou irmã de Connor. Acho que no casamento não chegamos a sermos
apresentadas. — Digo sorrindo tensa. Não sei por que mais estou nervosa. Ela
conhecia e parecia gostar de Kimberley, não quero que ela seja minha inimiga. Não.
— Oh... — ela olha para Pietro e ele acena confirmando. — Eu me lembro de
você, menina bonita. — Ela diz e acaricia meu rosto. — Meu filho gosta de você. De
verdade. — Ela fala piscando o olho e eu arregalo os olhos.
— Mãe! — Pietro a repreende e eu o olho. — Desculpa, Mel. Ela saca tudo...
— ele suspira e passa a mão no cabelo.
— Seja bem-vinda a família, Melissa. — Dr. Victor fala passando a mão pela
cabeça de Pietro.
— É... Obrigada? — Suspiro. — Desculpa é que nós não estamos namorando.
— Digo baixinho e Pietro suspira me olhando sério.
— Não, pai. Nós somos apenas amigos. — Ele diz cruzando os braços.
Ele está chateado?
— Não tem problema. Você vai resolver isso em breve. — Ele dá batidas no
ombro de Pietro e sorri.
Quando me sento mais confortável Clara e Tyler entram pela porta. Ainda me
sinto estranha quando Clara está por perto. Depois do dia na casa de Nicole, eu não
tentei mais ser amiga dela. Para ser sincera, acho que isso nunca vai acontecer.
— Mel... — Tyler para e encara eu e Pietro. Ele franze as sobrancelhas e se
aproxima. — Onde está Connor? — Ele pergunta.
— Ele entrou no quarto para ver Abby e Nicole. — Digo sorrindo. Olho para
Clara, mas ela está olhando Pietro.
— Você está bem? Tentamos chegar antes, mas minha mãe demorou a chegar e
ficar com Aaron. — Ela explica e segura sua mão.
— Estou bem, Clarinha. Só estou esperando Connor sair para entrar com minha
mãe e meu pai. — Ele diz e tenta sorrir para ela.
Sinto um incômodo na barriga ao o ver olhando para ela assim. Será que ele
ainda a ama? Será que ele ainda se sente atraído por ela? Não pode ser.
— Mel? — Tyler me chama e eu desvio meus olhos. — Você está pálida. Já
comeu hoje? — Ele questiona e eu nego com a cabeça.
— Ainda não. Connor ligou assim que acordei. — Digo e me levanto. — Mas
vou agora. Obrigada. — Agradeço e olho para Pietro. — Você vem comigo? —
Pergunto olhando para seu rosto.
— Claro. Não comemos nada mesmo. — Ele diz e Tyler me olha
interrogativamente. Balanço a cabeça dizendo que conversamos depois.
— Você dormiu na casa de Melissa? — O pai de Pietro pergunta e eu fecho
meus olhos.
Clara e Tyler parecem confusos, mas não vou dar nenhuma explicação. Eles não
têm nada a ver com isso.
— Sim, pai. — Ele suspira e segura minha mão. — Nós voltamos daqui a
pouco. — Com isso viramos e saímos.
Entramos na lanchonete do hospital e me sento. Fazemos nossos pedidos e
esperamos em silêncio. Quando olho para ele seu rosto está apertado.
— Por que não queria falar para eles? — Ele questiona.
— Não é da conta de ninguém que dormimos juntos. — Digo e ele faz um gesto
de desdém.
— Você não queria que Tyler soubesse. Isso sim. — Ele fala e eu me calo. Calo-
me para olhar em seus olhos, para ver se ele está brincando.
— Não, Pietro. Eu não queria falar por que não é algo para espalhar. Só isso. —
Digo com raiva por ele pensar assim.
— E quando disse para papai que não estamos juntos? Foi para quê? — Ele
pergunta se apoiando nos cotovelos.
— Eu só falei a verdade. Você me pediu em namoro? Não. O que queria que eu
dissesse? — Pergunto e ele engole em seco.
— Para mim o que aconteceu ontem vale mais do que um rótulo estúpido. Eu
não sei o que eu queria que dissesse... talvez só um obrigado? Eles aceitaram nosso
relacionamento e... Melissa, eu não sei. — Ele divaga suspirando e eu pego sua mão
por cima da mesa.
— Nós estamos juntos, Pietro? Eu sou sua? Você é meu? — Pergunto e ele
segura minha cabeça entre as mãos.
— Sim, nós estamos juntos. Sim, você é minha e sim, eu sou seu, Mel. — Ele
afirma sério e me beija. Eu me derreto inteira virando uma poça de líquida rosa.
Sua língua invade minha boca e se delícia com meus lábios. Quando escutamos
uma tosse nos afastamos. Ao olhar para o lado vejo Tyler e Clara nos olhando.
Sorrio e os chamo para sentarem conosco.
— Vocês estão juntos? — Clara pergunta olhando para Pietro.
— Sim, Clarinha. Eu e Melissa estamos juntos. — Ele sorri por cima da mesa e
eu também.
Meu peito se enche de felicidade ao ouvi-lo dizer para outra pessoa que não
seja eu.
— Mas e Kimberley? Tudo bem, ela é uma vaca, mas... quero dizer... Não
importa. — Ela sorri e olha para mim. — Estou muito feliz. Muito mesmo. — Ela fala
e eu olho para Tyler.
Seus olhos ainda estão travados nos meus e eu suspiro.
— Eu também estou feliz. Você merece o melhor, Melissa. Sempre. — Ele
felicita e se vira para sua esposa. — Vou ao banheiro. — E sai. Eu sorrio
tranquilizando quem precise.
O garçom chega com nossos pedidos e comemos em silêncio. Clara pediu um
café e comeu conosco. Tyler voltou depois de alguns minutos e sentou com a gente
também. Não parei para pensar em sua reação ao ter certeza de que Pietro e eu
estamos juntos. Na verdade, eu entendo, ele se preocupa comigo. Antes eu inventava
uma loucura na cabeça pensando que eram ciúmes, mas não. É apenas proteção.
Agora eu entendo.
Entro no quarto de Nicole e sorrio ao ver que Connor não saiu do quarto.
Depois que pegou Abby nos braços não quis mais sair. Até o seu sogro quis botar ele
para correr, mas Nicole o defendeu e ele ficou.
— Melissa... — Nicole chama e eu me aproximo para beijar o seu rosto.
— Como está? — Pergunto sorrindo e olhando para um pacotinho rosa nos
braços de Connor.
— Arruinada. — Ela fala e nós gargalhamos lembrando as minhas lamentações
sobre a faculdade. Depois do ataque, vou para perto do meu irmão.
A primeira coisa que vejo me faz ficar ofegante. Merda.
Garota sortuda.
Seus olhos são azuis iguais de Connor e mamãe. Seu rosto está inchado e
vermelho, a fazendo parecer ainda mais indefesa. Seus cabelos são lisos, cheios e
castanhos como os de Nick.
— Garota! Você é muito linda. — Digo e enxugo uma lágrima que desce por
meu rosto. — Me dá ela um pouco? — Peço a Connor e ele olha para Nick como se
pedisse permissão.
— Lógico, meu amor. Dê ela a sua irmã. — Nick diz suavemente.
— Ok — ele diz e coloca Abby nos meus braços. — Cuidado... ela é toda
molinha. — Ele diz e eu sorrio de seu jeito de falar.
— Ok! — Seguro ela mais confortavelmente em meus braços.
Ela sorri preguiçosamente e eu mostro a Nicole e Connor. Eles sorriem
cúmplices e meu irmão beija os lábios de sua mulher. Sorrio ao vê-los tão felizes.
Abby se remexe nos meus braços e eu a olho sorrindo.
Seus olhos brilham e ela começa a chupar seu dedinho.
— Ela está com fome? — Pergunto e Nicole sorri.
— Sim. Me passa ela, vou dar sua mamada. — Ela diz se sentando mais ereta.
Coloco Abby em seus braços e me viro para olhar meu irmão.
— Só o que ela herdou de você foi os olhos. — Digo enquanto ele se senta ao
lado da cama.
— Sim. Quando olho para ela parece que estou olhando para um espelho. Não
sei dizer, mas é como se os olhos dela refletissem os meus. A minha vida. Eu adoro.
— Diz com um sorriso largo nos lábios e eu o olho com simpatia.
Connor vai ser um pai incrível!
Sem dúvida alguma.
— Você vai comigo? — Pietro pergunta e eu me viro para vê-lo encostado na
porta do quarto.
Ele tinha entrado com seus pais e depois saiu. Entrei aqui e perdi a hora do
tempo. Sorrio e aceno.
— Eu já vou. — digo e me viro para Nicole. — Quando chegar em casa estarei
lá para te receber. — Aviso sorrindo. Nicole olha para nós dois e depois sorri para
Connor. Ele revira os olhos e se concentra em Abby.
— Vocês estão juntos? — Ela pergunta nos olhando atentamente.
— Sim. — Sorrimos ao falar ao mesmo tempo. — Sim. Nós estamos juntos. —
Digo e ela dá um gritinho de alegria.
— Estou tão feliz! — Ela fala e bate em Connor quando revira novamente os
olhos. — Deixe de ser ranzinza. — Ela resmunga.
Pietro sorri e me puxa pela mão para sairmos. Quando a porta se abre, nossos
sorrisos morrem e estancamos na porta, surpresos.
Seus olhos estão em nossas mãos juntas. Minha e de Pietro. Ele me solta e dá
um passo em sua direção enquanto ela dá um para trás.
— Kimberley...
Capítulo Quatorze
Melissa
Ela olha para mim e sorri forçadamente. Depois muda seus olhos para Nicole e
agora sim, ela sorri de verdade. Kimberley passa por Pietro e vai para perto de sua
irmã que está amamentando Abby.
— É... Só trouxe uma lembrança para sua bebê, Nicole. — Ela diz e olha para
minha sobrinha com um sorriso nos lábios. — Parabéns! Ela é linda.
Nicole sorrir, orgulhosa.
— Obrigada, Kim. Pelo presente e por vir me visitar. — Minha cunhada fala
sendo gentil.
Quando ela se vira para Pietro e eu, ela coloca o sorriso falso no rosto.
— Parabéns, Melissa. Você conseguiu. — Ela acena e eu engulo em seco.
Merda. — Eu preciso falar com você, Pietro. — Ela avisa ficando séria.
— Agora não. Vou deixar Melissa em casa. Outro dia te ligo. — Ele fala calmo
e ela sorri dando de ombros.
— Não importa. Eu tenho a vida toda para falar o que quero. — Diz e se vira
novamente para Nicole. — Fique com Deus, Nicole. — Depois disso, ela sai e vai
embora.
Respiro fundo e saio também. Ando ao lado de Pietro até o estacionamento e
juntos vamos embora. Eu entendo a raiva e até a decepção de Kimberley por ver que
nós dois estamos juntos. Não sei como, mas eu entendo. Sinto-me mal por ela pensar
que eu maquinei tudo isso. Que me apaixonei e fiz Pietro se separar dela
intencionalmente. Suspiro e olho para Pietro.
— Você vai conversar com ela? — Pergunto e olho pela janela. Não quero que
ele pense que sou uma neurótica ciumenta, mas ela é a ex dele. Pelo amor de Deus.
— Vou. — ele diz e me olha. — Por quê? Você acha que eu não deveria? —
Questiona sereno enquanto alterna seu olhar do trânsito para mim.
— Claro que sim. Vocês dois têm uma história. Só estava perguntando por que...
na verdade nem sei por quê. — Digo e ele segura minha mão na sua.
— Não vai ser hoje e eu não sei quando vai ser, mas eu vou conversar com ela.
Eu preciso. Ela doou uma parte da vida dela ao meu lado e ela não é uma pessoa má.
— Reviro os olhos. — Não estou brincando, Mel. Ela não é uma pessoa ruim, ela só
viu você como uma ameaça para nosso namoro. — Ele diz e eu concordo.
Claro que ela não é má. Só é um pouco desequilibrada. Só isso.
— Ok, tudo bem. — Sorrio e lhe dou um selinho. Depois disso ficamos calados
o resto do caminho.
— Seus pais já chegaram? — Ele pergunta enquanto estaciona o carro.
— Ainda não. Mas eles vão do aeroporto direto para o hospital. Mamãe está
eufórica por ter uma neta. — Digo e ele sorri acenando.
— Abby é a primeira, não é? — Ele pergunta quando saímos do carro e
entramos no hall.
— Sim. Há algum tempo atrás, Letícia, a mulher de Erick, estava com suspeita,
mas não era. — Digo e ele acena enquanto entramos no elevador.
Ao sairmos vemos Brandon trancando sua porta com Filip ou Filipe e Walter.
— Hey gatinha. — Walter fala e eu balanço a cabeça o abraçando.
— Como vai? — Pergunto educadamente e seguro a mão de Pietro.
— Vou bem. Depois marcamos de sair todos outra vez. Vai ser mais legal.
Prometo.
— Vou pensar... — Digo me afastando. — Oi Brandon, oi Filip. —
Cumprimento e eles sorriem e acenam enquanto entram no elevador.
Pietro entra na sala e bufando se senta no sofá. Suspirando entro na cozinha e
pego um copo de água. Volto para a sala e Pietro ainda está com a cara amarrada.
— Pietro? O que foi? — Questiono cruzando os braços.
— Não é nada. Só estou com raiva por ele morar do outro lado. Ao lado de
você. — Diz calmamente e cruza as mãos atrás da cabeça.
— Que bom que ele mora ao lado. — Ele ergue a cabeça para me fitar. — Ele é
meu amigo. Ele conversou comigo e nós deixamos isso bem claro. Não tem porque
estar com ciúmes. — Digo e me sento em seu colo.
— Não estou com ciúmes... — ele para de falar quando vê minha cara. — Ok eu
estou, mas você quer o quê? Eu ouvi da sua boca que queria transar com ele, Melissa.
— Ele fala e eu respiro fundo.
Merda por que eu tinha que ter falado aquilo?
— Isso é passado. Eu não quero ninguém que não seja você, estamos bem até
aqui? — Questiono e ele respira fundo acenando.
— Tudo bem. — Diz e me coloca no sofá ao seu lado. — Agora tenho que ir,
Kevin ligou mais cedo dizendo precisar de mim. — Ele fala revirando os olhos e eu
sorrio.
— Ok hoje vou provavelmente jantar com meus pais, então a gente se vê
amanhã, tudo bem? — Pergunto. Pietro abraça meu corpo e o faz deitar no sofá.
— Eu ainda tenho cinco minutos. — Ele sorri e cobre meus lábios com os seus.
Minha barriga dá cambalhotas quando sua mão desce por meu corpo.
Um pequeno gemido sai dos meus lábios e Pietro passa a me beijar mais
devagar. Calmo e sem esperar nada. O beijo do casal apaixonado que vi no banheiro.
Eu tenho esse beijo.
Depois que ele vai embora me pego sorrindo boba. Não consigo acreditar que
ele está comigo. Que estamos juntos. Depois de quase um ano sem nos tocar e sem nos
olhar nos olhos por mais de dois segundos.
Vou para a cozinha e começo a preparar o almoço. É tarde, quase duas horas,
mas estou com fome e ainda não almocei. Faço uma salada e frito um filé de frango.
Aqueço o arroz que fiz ontem e como tudo junto.
Quando termino já passa das três. Tomo banho e visto uma roupa mais larga.
Quero dormir. Agradeço pela ressaca não ter batido em minha porta hoje. Ontem bebi
tanto.
— Você viu aquela garota? Puta que pariu. — Dylan entra no meu quarto com
um sorriso gigante e eu retribuo.
— Linda, não é? E os olhos? — Pergunto e me sento na cadeira da escrivaninha.
— Sortuda. — Ele suspira e senta na cama. — Nunca vi Connor tão feliz. Ele
nunca passa muito tempo sorrindo, mas quando a garota está no lugar ele não consegue
tirar. Eu achei fantástico. — ele fala super animado e eu sorrio.
— Você quer ter filhos? — Não sei por que perguntei, mas agora que fiz eu
quero saber.
— Sim. Muitos. — Ele diz e seu sorriso fica enorme quando pensa em algo. —
Quero ter uma princesa primeiro depois quero um time de futebol. — Ele fala sério e
eu gargalho.
— Seu louco. Tenho pena da sua esposa então. — Digo rindo e seu sorriso
morre. Seu rosto se contrai e ele evita olhar para mim — O que está acontecendo,
Dylan? — Pergunto preocupada.
— Nada. Eu ainda não tenho uma possível esposa. — Ele mente e eu suspiro
não querendo prolongar sua mentira.
— Connor disse que está namorando. — Digo e ele arregala os olhos. — Ele
disse que não sabe quem ela é, mas eu queria que você me dissesse. Eu sei que não
somos os irmãos mais unidos e que gostam de conversar, mas eu... eu... — desvio
meus olhos dos dele e engulo em seco.
Ele não vai falar.
— Desculpa, Mel. A gente pode falar sobre isso depois? — Pergunta e eu aceno
confirmando.
Viro-me para meu computador e começo a ler as ideias que tive para meu
segundo livro. Agora estou mais confiante, acho que a faculdade me deu mais força.
Escuto Dylan bater à porta quando sai e eu respiro fundo e foco minha atenção na tela
a minha frente. Começo a digitar e devagar as palavras dão vida a uma nova jornada e
um novo mundo do qual somente eu farei parte. Pelo menos por enquanto.
Entro no restaurante e me pergunto o que diabos Dylan foi fazer que não está
aqui comigo. Filho da mãe. Suspiro e encontro meus pais sorrindo e acenando para
mim.
Os olhos verdes de meu pai se enchem de brilho quando me vê andar em sua
direção. Sorrio e me jogo em seus braços. Deus, eu estava com saudades.
— Melissa... Como está? — Ele pergunta quando me solto de seu abraço.
— Estou ótima. — Sorrio e me viro para mamãe. — Mamãe... estava com
saudades. — Digo e ela me aperta com seus braços pequenos.
— Nós também. — Ela beija minha bochecha. — Vamos nos sentar. — Diz e eu
me sento ao seu lado.
— Vocês viram os olhos de Abby? — Pergunto e mamãe sorri confirmando. —
Que garota sortuda. — Digo e eles riem.
— Ela é tão linda. — Mamãe fala e eu aceno confirmando.
— Connor estava radiante. — Papai diz com um sussurro e eu respiro fundo.
O relacionamento deles nunca foi o mais amistoso. Eu sei que papai ama Connor
e Erick como se fossem seus filhos, mas meus irmãos não veem assim. Eles sempre
foram arredios com uma possível relação com outra figura paterna. Connor sempre foi
o mais sofrido. Nunca soube o que de fato aconteceu em sua infância e acho que nunca
vou me arriscar para perguntar a mamãe ou até mesmo a ele.
— Nunca vi meu filho tão feliz. — Mamãe fala sorrindo. — Nicole foi um anjo
que agradeço todos os dias por ter entrado na vida de Connor. — Ela segura a mão de
papai e ele suspira e acena.
— Com certeza. — Digo e o garçom chega para anotar nossos pedidos.
— Como está no emprego? — Papai pergunta enquanto corta sua comida.
— Só tenho uma semana lá, mas eu já estou adorando. — Digo sorrindo. —
Vocês acreditam que lá tem uma sala secreta? — Pergunto e eles sorriem negando. —
Pois tem. Ainda não me deixaram entrar lá e eu também não tive tempo, mas minha
amiga disse que lá é tudo de bom. — Digo com um sorriso enorme.
— Que bom, querida. Nós estamos muito orgulhosos de você. — Mamãe fala e
papai acena confirmando. Meu peito se enche de alegria ao ouvir isso deles.
Eles são tudo para mim.
Entro no meu carro depois de me despedir dos meus pais em frente ao
restaurante. Eles acenam para mim e eu sorrio saindo do estacionamento. Em menos
de quinze minutos estou saindo do meu carro. Meu celular vibra e eu vejo que é um
SMS de Pietro. Um sorriso puxa meus lábios e eu abro a mensagem.
Estou com saudades... onde está?
P.
Dígito rapidamente uma resposta enquanto ando pelo estacionamento do meu
prédio.
Acabei de chegar à minha casa. Também estou com saudades...
M.
Continuo andando até ouvir uma risada familiar. Viro-me para enxergar a pessoa
que riu, mas o que vejo faz todos os pelos do meu corpo se arrepiarem e meus olhos
queimarem.
— Kya? — Quando digo seu nome seu sorriso some.
Ela se afasta do meu irmão como se ele fosse uma doença. Não acredito que
isso está acontecendo de novo.
— Por quê? — Pergunto e ela começa a chorar. Suas lágrimas se acumulam por
seu rosto, mas eu não consigo sentir pena dela. Eu me sinto tão traída.
— Desculpa. — Sua voz se quebra.
— Quanto tempo? — Pergunto e ela começa a vir em minha direção.
— Melissa... — ela implora enquanto Dylan fica parado me olhando.
Ele também mente.
Ele sempre me engana.
— Não precisa se explicar. Você conseguiu, então... — digo e me sinto fria. Por
dentro e por fora.
Minha melhor amiga só se aproximou de mim para ter meu irmão.
Mais uma vez, a história se repete.
Capítulo Quinze
Melissa
Seu corpo treme enquanto o choro sai de sua boca e lágrimas de seus olhos. Eu
não sinto nada. Estou parada olhando Dylan acalentar Kyara e não consigo sentir dó
da garota que dividi meus segredos, da garota que eu tinha como minha melhor amiga.
A verdade é que estou assustada, eu não consigo acreditar que Kyara tenha feito isso
comigo.
— Mel, me desculpa, mas não é isso que está pensando. — Ela fala e começa a
vir para mais perto de mim.
— O quê? O que eu estou pensando, Kyara? — Grito e Dylan vem para meu
lado.
— Melissa, você está sendo dramática. — Ele diz e eu lhe dou um empurrão.
Meu irmão me encara surpreso e eu o olho com raiva.
— Você não sabe de porra nenhuma. Você só pensa em si mesmo e esquece que
eu sempre estive aqui ao seu lado. — Continuo gritando e ele tenta me tocar. Saio de
perto dele e continuo falando.
— No ensino médio minha melhor amiga... Veja a coincidência. — Sorrio para
Kyara e ela soluça contra sua mão. — Ela me usou... ela se aproximou de mim e disse
que queria que fossemos amigas, eu fiquei em êxtase, claro eu era sozinha naquela
escola. Com o passar do tempo ela estava perto de conseguir o que queria... ela só
queria ficar com o irmão popular da garota idiota que era sozinha em pleno ensino
médio, da garota que não tinha um amigo na escola. Um belo dia “eis” que ela
consegue, depois disso ela nunca mais falou comigo. Não, mentira, sim, ela falou. Ela
disse que eu era patética e que nunca gostou de mim. Me fez passar a maior vergonha
da minha vida na frente da escola inteira. — Sinto minhas lágrimas descerem e as
limpo. — Mas adivinha onde o meu irmão gêmeo estava? Fodendo ela. O meu irmão,
a pessoa que era para me proteger ficou com o demônio que me fez fraca, que me fez
temer amizades. — Digo e Dylan pisca os cílios completamente chocado. O brilho de
lágrimas lá me faz fazer careta. Sua mão toca minha pele e eu me afasto novamente.
— Mel, eu não sabia disso. Desculpa-me. — Ele pede e eu sorrio.
— Não me diga. Você não falou para ele, Kyara? Você não disse para ele que
assim que cheguei a faculdade encontrei várias garotas querendo fazer o mesmo e que
quando te conheci contei toda essa história para você? Que contei, pois eu não queria
que fosse igual a elas? — Pergunto a ela e ela nega com a cabeça.
— Melissa, eu nunca me aproximei de você querendo Dylan. Por favor, eu
nunca faria isso. — Ela diz limpando suas lágrimas e se acalmando mais.
— Não? — Pergunto e ela balança a cabeça. — Então o que estava fazendo com
ele quando cheguei? Poupe-me, Kyara. Não fale mais comigo. — Digo entre dentes e
ela nega novamente.
— Mel... — Dylan começa e eu o interrompo.
— Sabe o que, Dylan? — Pergunto e ele nega. — Eu não vou mais deixar
ninguém me fazer fraca. Kyara não vai me fazer fraca. Se quiser ficar com ela, o
problema é seu. Mas eu não vou fazer parte disso. — Digo e coloco minha bolsa em
meu ombro.
— O que você está querendo dizer? — Ele pergunta me encarando.
— Só vou pegar minhas coisas. — Digo e me viro para entrar em casa.
— Não. Você não vai pegar nada. — Ele corre para me alcançar. — Você não
pode me abandonar. Não pode, Mel. — Ele grita.
— Você que me abandonou primeiro. Muitos anos atrás. — Respondo e entro no
hall do meu prédio.
Jogo-me em minha cama e pego meu celular para ligar para Connor. Não tenho
para onde ir. Eu sou sozinha nessa merda de vida. Minha melhor amiga só queria meu
irmão. Ela nunca gostou de mim. Dylan. Só por Dylan. Por que tenho que passar por
isso de novo?
— Alô.
Olho para meu celular e vejo que atendi a chamada de alguém. Merda.
— Alô.
— Por que não respondeu logo?
— Desculpa, Pietro. Eu não tinha visto.
— O que aconteceu?
— Briguei com Dylan. Eu vou embora de casa.
— O que? Brigou por quê?
— Kyara. Eles estão namorando.
— Como assim?
— Eles namoram há meses pelas minhas costas. Eles esconderam de mim o
tempo todo.
— Mel... talvez ela só estivesse com medo da sua reação.
— Era para estar mesmo. Eu contei a ela do por que não fiz amizade assim que
cheguei aqui. Deus, eu disse todo o meu sofrimento causado por uma garota que se
dizia minha amiga, mas só queria ele. Sempre ele.
— Mel... eu sinto muito.
— Eu sempre fui sua sombra. Tudo era o Dylan, depois Melissa. Eu odeio me
importar com o fato de que eles estão juntos. Ela era minha amiga, Pietro. Agora ela
só é a namorada dele.
— Quem sabe vocês ainda são amigas, pequena? Conversa com ela.
— Eu não quero. E eu não vou mais olhar na cara dela.
— Você vai sair de casa mesmo?
— Vou. Vou arrumar minhas coisas agora.
— Você pode vir aqui para casa... digo, aqui tem dois quartos. Você dorme em
um e eu em outro.
— Obrigada. Mas não posso. Connor vai me matar se eu for para aí.
— Eu resolvo com ele. Não se preocupe. Atende a porta.
— O quê?
— Eu vim te ver.
— Meu Deus.
Abro a porta e ele está ali todo sorriso para mim. Merda, quero que alguém me
belisque. Esse cara é tudo de bom.
— Venha. Ainda vou arrumar minhas roupas. — Digo e ele entra.
Arrumo algumas das minhas roupas em uma mala e pego meus produtos de
higiene. Quando volto para o quarto vejo um porta-retratos com uma foto minha e de
Dylan. Seu sorriso é contagioso e eu passo os dedos por seu rosto. Não acredito que o
perdi mais uma vez. Não acredito que Kyara tomou meu irmão de mim.
Coloco nossa foto dentro da minha mala e a fecho. Sinto algumas lágrimas
descerem por meu rosto e eu as limpo.
— Vamos? — Pietro pergunta e eu sorrio acenando.
Pego meu notebook e saio arrastando minha mala. Olho para meu quarto e meus
olhos se enchem de lágrimas novamente. Deus, vou sentir falta daqui.
Entro na sala quando a porta se abre e Dylan entra. Seus olhos vão para Pietro e
depois para minha mala.
— Coloque essa mala em cima do guarda-roupa, Melissa. Não vai sair daqui
para lugar nenhum. — Ele tenta ficar sério, mas sua voz se quebra no meio das frases.
— Vou. Não quero ficar mais aqui, Dylan. — Falo e ele vem para minha frente.
— Mel, para onde você vai? Nós só temos um ao outro e Connor. — Ele diz e
olha para Pietro. — Você nem pense em levar minha irmã para sua casa. Ela não vai.
— Ele diz com o maxilar tenso e eu o toco.
— Vou sim. — Digo e ele arregala os olhos. — É só por um tempo...
— Ok você vai, não é? — Ele pega seu telefone e eu me assusto. — Quero ver
você falar com essa precisão quando papai e Connor estiverem aqui. — Ele diz e eu
corro para pegar seu celular.
— Não faça isso. — Digo e ele sorri aliviado.
— Volte para seu quarto, Melissa. — Ele diz e eu suspiro. Merda.
— Cadê sua namorada? — Pergunto tentando mudar de assunto.
— Está em casa, mas Kyara não é minha namorada. — Ele fala e eu dou de
ombros.
— Não me importa. — Digo e suspiro. — Vou para casa de Connor. Não vai ser
para sempre. Eu só quero um tempo. — Digo e ele balança a cabeça.
— Por que faz isso? Como vou ficar aqui sem você? Eu preciso de você, Mel.
— Ele fala e eu balanço a cabeça.
— Nem sempre é sobre você, Dy. Hoje é sobre mim. — Digo e lhe dou um
beijo na bochecha. — Eu te amo. — Digo e puxo a mão de Pietro.
— Okay. Vamos vou te deixar. — Ele diz e eu suspiro não querendo prolongar a
conversa.
Talvez eu esteja sendo precipitada na decisão de sair de casa. Talvez, mas eu
sofri na primeira vez que isso aconteceu. Eu sofri demais e não conseguia confiar em
nenhuma garota que tentava se aproximar. As únicas que deixei entrar depois de
Renata foram Nicole e Megg, minha prima.
Assim que vi Nicole no dia que chegou para meu aniversário de dezoito anos
senti que podia confiar nela. Pela primeira vez eu não tive receio de deixar uma
garota se aproximar de mim. Até porque ela já namorava Connor, mas não foi somente
por isso. A verdade é que Nick é uma pessoa tão iluminada, a confiança que ela tem
em si mesma me fez ter confiança nela. Já Megg é minha prima, fomos criadas juntas.
Nascemos amigas. Mesmo ela sendo uma louca, sinto falta dela.
Entro na casa de Connor e ele arregala os olhos quando vê minha mala. Pietro
foi para casa depois de me fazer prometer lhe ligar caso algo aconteça.
— O que você fez, Dylan? — Ele pergunta se levantando e vindo em minha
direção.
— A gente pode falar sobre isso amanhã? — Ele suspira e acena. — Eu posso
ficar um tempo aqui? — Pergunto olhando para minhas mãos.
— Lógico que pode. Essa casa é sua também. — Ele diz. — Fique no quarto de
hóspedes. Ele é ao lado do de Abby. — Ele diz e eu aceno e subo as escadas.
Entro no quarto e me sento na cama. Olho para a decoração e sorrio admirando
o trabalho de Nicole. Tenho certeza que se ela não fosse fisioterapeuta, seria
decoradora. Sim, ela seria.
Deito-me na cama e com pouco tempo depois adormeço.
Acordo com o barulho de batidas na porta. Abro meus olhos devagar e os
arregalo quando vejo que não estou em meu quarto. Depois de um tempo suspiro e
lembro que estou na casa de Connor.
— Já estou indo. — Grito e abro a porta. Hilary sorrir e beija minha bochecha.
— Hey! O que aconteceu para vir morar aqui? — Ela pergunta enquanto se joga
na “minha” cama.
— Quem te avisou sobre eu morar aqui? — Pergunto estranhando e me sento na
cadeira de frente para ela.
— Fui à sua casa e Dylan falou. — Diz dando de ombros. Suspiro.
— Briguei com ele. — Digo e ela se senta franzino as sobrancelhas
— Ele namora Kyara. — Digo e ela engole em seco. Talvez ela soubesse de
algo. Não. Claro que não.
— Co... Como? — Ela me questiona.
— Eles namoram nas minhas costas. Eu os flagrei se pegando no estacionamento
do prédio. Foi horrível. Como eles puderam esconder isso de mim? — Pergunto
lembrando-me deles juntos.
— Eu desconfiava... — eu arregalo os olhos surpresa. — Sim, eu percebia.
Quando comecei a andar com vocês ela sempre dava piti quando eu dizia que tinha
saído com ele. Essas coisas..., mas nunca tive certeza. Eu não podia falar algo que eu
não tinha certeza. — Diz apressadamente e eu fecho os olhos. Merda. Como não
percebi? Kyara sempre ficava em alerta. Ciúmes. Sempre foram ciúmes.
— Okay. Não quero mais falar sobre eles. — Digo e ela acena. — Então... O
que veio fazer aqui?
— Obrigada pela gentileza, Melissa. — Ela fala revirando os olhos.
— Desculpa. Você entendeu o que eu quis dizer. — Digo e Hilary sorri
balançando a cabeça.
— Sim. E o que vim fazer aqui foi... — ela tem um sorriso enorme no rosto e eu
me sento melhor para olhar seu rosto. — Vamos ver a sala secreta. — Ela mostra a
chave do café e eu sorrio.
— Mas já está tarde, louca. — Falo olhando para o relógio, que marca meia-
noite.
— Isso não é um problema, Mel. — Eu balanço a cabeça. Levanto da cadeira e
pego meu casaco e minhas chaves.
— Okay! Vamos lá. — Digo e ela sorri batendo palmas. — La é bom para
escrever? — Pergunto de repente e paro. Merda.
— Por quê? Você escreve? — Ela pergunta feliz.
— Mais ou menos. — Digo arredia. Ninguém nunca leu nada escrito por mim.
Ainda não me sinto segura para mostrar.
— Ok... Sim. Lá é ótimo para ler e escrever. — Responde e se levanta da cama.
Pego meu notebook para caso eu for escrever algo.
Saímos de casa sem Connor me ver, mas o avisei por mensagem. Não quero que
ele fique preocupado. Ele deve estar dormindo já que a mãe de Nicole ficou com ela
no hospital.
Entramos no café e me arrepio inteira. Tudo está escuro, parece até cena de
filme. Para de pensar besteiras, Melissa. Suspiro quando Hilary acende a luz. Tudo
do mesmo jeito que deixei quando sai daqui há dois dias, na sexta.
— Vem! — Ela chama e eu a acompanho. — Você vai adorar. Lá é legal e bem
calmo.
Entramos em uma sala e eu quase desmaio. Merda. Um sorriso enorme chega a
meu rosto e Hil concorda com um aceno.
O espaço tem livros do teto ao chão em prateleiras que ficam em todas as
paredes. No meio da sala tem pufes redondos, quadrados, baixos e altos. Tem um
sofá-cama e eu me jogo nele. Deus, que lugar perfeito. Quero fazer um espaço na
minha casa desse jeito. Do mesmo jeito.
— Vamos escrever?! — Hilary pergunta e afirma. Ela tira um notebook da bolsa
e se senta em um pufe. Minha boca está tão aberta que não sei se sou capaz de fechá-
la.
— Você também escreve?
— De vez em quando. — Ela fala dando de ombros.
Nos esquecemos e focamos em nossos notebooks e em nossas histórias.
Capítulo Dezesseis
Melissa
— Melissa! Segure a cabeça dela. — Nicole fala mais uma vez enquanto
entramos em casa.
Hoje fomos buscar ela e Abby no hospital. Estou morando na sua casa há três
dias. Dylan fica aqui o tempo inteiro, então, ainda não tenho espaço para sentir
saudades dele. Ele e Connor não tocaram mais no assunto e Nicole ainda não sabe o
porquê. Meu irmão só falou que estou passando um tempo aqui e que conversaremos
quando, ela e Abby chegassem em casa. Então de hoje não passa.
Coloco Abby em seu berço e acaricio sua mãozinha pequena. Deus, ela é tão
linda. Perco-me na suavidade de sua pele e em seus olhos fechados pacificamente.
Abby quebrará tantos corações. Sorrio com o pensamento.
— Está rindo de quê? — Nicole pergunta enquanto se senta na poltrona ao lado
do berço de Abby.
— Do quanto sua filha vai quebrar muitos corações por aí quando crescer. —
Digo e ela balança a cabeça rindo.
— Não fale isso para Connor. Ele vai enlouquecer. — Diz rindo e eu me junto a
ela.
— Não direi. Juro. — prometo cruzando os dedos.
— Acho que Clara vem aqui. Tyler ligou para Connor e avisou. — ela fala me
olhando e eu engulo em seco.
Tyler.
Meus pensamentos voam de encontro a ele e eu suspiro. Tyler nunca foi para
mim, hoje eu sei disso.
— Que bom, então... vou para meu quarto. — começo e ela nega com a cabeça.
— O quê? — Pergunto relaxando os ombros.
— Precisamos conversar, Mel. — Ela suaviza a voz e eu suspiro. Merda.
— Eu sei. — Olho em seus olhos e me sento na cadeira a sua frente.
— O que aconteceu, Melissa? — Pergunta e eu desvio meus olhos dela.
Não sei o que está acontecendo mais agora me bateu uma vergonha de falar o
porquê sai de casa. Vergonha de ter deixado meu irmão sozinho por meus medos.
— Dylan e Kyara estão namorando. — Digo e olho para Nicole.
— Sério? — Ela arregala os olhos e eu aceno confirmando. — Okay. Tudo bem.
Mas qual é o problema de eles estarem namorando? — Ela questiona.
— Eu descobri por acaso. Eles namoravam escondidos de mim. — Digo e
respiro fundo. — Algum tempo atrás uma garota se aproximou de mim e nos tornamos
amigas. Depois de um tempo descobri por ela, que só era minha amiga para ficar com
Dylan. Ela falou na frente das suas amigas que nunca seria amiga de alguém solitário
como eu. A partir desse dia eu não confiei mais em nenhuma garota, Nicole. Eu me
transformei em algo mais solitário ainda por medo de todas elas só quererem ficar
com meus irmãos. — Digo e afasto uma lágrima que desceu pelo meu rosto. Falar faz
a dor doer mais ainda. Eu me sinto sufocada.
— Oh, minha querida. — Nicole se levanta e me embala em seus braços. — Eu
sinto muito. — Ela diz e eu continuo limpando meu rosto.
— Quando cheguei aqui eu disse para mim mesma que iria ser diferente. Que eu
tentaria dar chances para as garotas que se aproximassem de mim. As primeiras eram
sempre como Renata. Todas elas queriam Dylan ou Connor. — Ela se afasta e me olha
com uma carranca. — Pois é. Até Connor que já estava com você elas queriam.
Depois de algumas semanas, conheci Kyara. Ela era tão divertida e eu queria ser
amiga dela. Então resolvi dar uma chance. Eu contei tudo isso para ela. Eu disse que
temia amizades e etc... Ela disse olhando em meus olhos que nunca faria isso. Que ela
é minha melhor amiga... — Sorrio triste. — Eu a peguei com Dylan no estacionamento
do nosso prédio há três dias. Ela me jurou que não era a intenção dela, mas como
posso confiar em suas palavras se ela me escondeu esse namoro todo esse tempo? Se
ela tivesse me falado. Se ela tivesse conversado comigo, eu... eu não sei se seria
diferente, mas eu gostaria que tivesse ocorrido assim. — Digo sentindo meu peito
apertar.
Eu estou com saudades de Kyara. Eu sinto tanto a sua falta.
— Eu sei que você queria que tivesse sido assim, mas não foi, Mel. — Ela
acaricia meus cabelos enquanto fala. — A paixão não é algo que escolhemos,
Melissa. Ela é forte e nos consome. Eu acho que Kyara se apaixonou por Dylan e ele
por ela, e também acho que não foi com a intenção de te magoar. Eu me apaixonei por
seu irmão de repente. Foi tão rápido e tão intenso e mesmo que tivesse alguém para
nos impedir, não conseguiriam porque o amor é assim. Ele derruba as barreiras e
vence qualquer obstáculo. — ela suspira e eu me lembro de Pietro.
Eu me apaixonei por ele tão de repente. Enquanto eu pensava ainda amar Tyler,
eu estava me escondendo dos meus verdadeiros sentimentos. Estava me escondendo
da paixão que sinto por Pietro.
— Você acha que eu devo ir atrás dela? — pergunto mordendo meu lábio
inferior.
— Sim. Eu acho. Ela continua sendo sua melhor amiga. Mesmo com Dylan como
namorado, Kyara sempre vai ser sua amiga. — Suas palavras sábias entram em meu
coração.
— Obrigada. — Digo e a abraço apertado.
— Agora vamos descer um pouco? Quero saber como foi sua noite com meu
irmão. — Ela fala e eu arregalo os olhos.
— Connor seu fofoqueiro! — Xingo ele enquanto descemos a escada, devagar
por causa de Nicole.
— Você o esfregou na cara de todo mundo, Melissa. Queria que eu não dissesse
a minha mulher? — Ele pergunta sentado no sofá ao lado de Dylan.
— Meu Deus! Eu amo quando você me chama assim. — Nicole fala e beija sua
bochecha.
Sorrio e Dylan revira os olhos. Chato. Meu gêmeo se levanta e fica passando
seu peso de um lado para o outro. Acho que ele está nervoso.
— Mel... — Ele suspira e passa a mão pelo cabelo. Com certeza ele está
nervoso. Os homens Jones sempre quando estão nervosos passam a mão pelo cabelo
repetidamente.
— Dylan, não. — Connor fala e eu não entendo o que está acontecendo.
— Não o quê? — pergunto olhando para Connor.
— É que Dylan quer que volte para casa. Ainda não é hora, então, não Dylan.
Não vá pedir isso a ela. — Meu irmão do meio me diz e eu arfo.
— Eu estou sentindo falta dela, porra. Ela não se encaixa aqui. Aqui é a casa de
vocês. Eu e Mel nos completamos. Nós somos gêmeos. — Ele explica como se isso
fosse a coisa mais difícil de nós, Connor, Nicole e eu entendermos.
Eu sorrio. De verdade, eu sorrio, porque ele parece um peixe fora d'água. Ele
está nervoso e parece até um pouco desesperado.
— Eu vou. — digo e eles me olham com os olhos arregalados. Eu quero voltar
para casa, como ele falou, meu lugar é lá. Ao lado dele.
— Você vai? — Dylan pergunta e eu suspiro. — Vai mesmo, né? Tipo você vai
pegar suas coisas e nós vamos para casa. — Ele fala balançando as mãos.
— Sim. Mas antes eu queria que você me levasse para um lugar. — Digo e ele
sorri. Nicole pisca para mim e eu sorrio aliviada. Tenho que consertar a merda com
Kyara.
— Okay. Onde quer ir? — Ele pergunta e anda até mim.
— Primeiro no meu quarto. Quero conversar com você. — Digo e ele engole em
seco.
— Tudo bem. — Ele se vira para Connor e Nicole. — Nós voltamos daqui a
pouco. — Diz e me puxa pela mão para subir a escada.
Entramos em meu quarto e eu me sento na cama e peço para ele se sentar ao meu
lado. Sua mão está suando e eu a aperto querendo passar calma para ele.
— Você gosta de Kyara? Digo... — eu suspiro. — De verdade? Tipo para
namorar? — pergunto e ele se vira para frente olhando para o guarda-roupa.
— Sim. Eu a adoro. — Ele suspira e pega minha mão. — Mas eu já conversei
com ela. Você pode ficar tranquila, nós não vamos mais nos ver. — quando ele diz
isso eu me levanto assustada e balanço a cabeça.
— Não. Lógico que não. Você pode namorar quem quiser e... — Mordo meu
lábio inferior. — Kyara precisa de você. Não sei se ela já falou sobre a família dela
com você. Mas Kya está quebrada, Dy. Ela precisa tanto da gente. — digo sentindo
meu coração doer. Dylan tem um rosto preocupado.
— Como assim quebrada? — Ele pergunta e eu balanço a cabeça. Merda falei
demais.
— Só ela pode falar isso para você. Eu não tenho o direito. — Falo enquanto
ele acena me olha preocupado.
Depois de um tempo, calados, ele quebra o silêncio.
— Você tem certeza que... que eu e ela? Digo... te incomoda? Porque se sim, eu
não vou ficar com ela. Não mesmo. — Ele diz com uma certeza e eu sorrio o
confortando.
— Com certeza. Podem namorar e até me dar um sobrinho. Eu vou adorar. —
Digo e ele gargalha.
— Sem sobrinhos. — Ele ri e me puxa para seus braços.
— Como vocês começaram a ficar? E por que esconderam de mim? Faz quanto
tempo? — O bombardeio de perguntas e ele se senta novamente.
— Quando a vi a primeira vez, não sabia que ela era sua amiga. — Ele sorri
lembrando-se do momento. — Estávamos em um bar e ficamos apenas conversando.
Depois de um tempo eu a conheci por você. Ela sempre ficava nervosa quando eu
chegava e sempre fugia de mim. Um dia eu a pressionei e ficamos pela primeira vez.
Depois disso sempre ficávamos. Um dia eu exigi saber por que ela nunca quis que
você nos visse juntos. Ela me disse que não queria e não iria falar. Sempre era isso.
Eu tinha raiva dela por isso. Eu ficava com ódio e descontava ficando com outras na
frente dela. Numa das vezes que fiz isso ela enlouqueceu e começou a me bater e
empurrou a garota. Eu a confrontei novamente e ele me disse que iria te magoar. Eu
não conseguia entender, mas ela só me pediu para não fazer mais isso, não ficar mais
com outras garotas e que eu tivesse paciência que ela iria contar para você. Eu
esperei. Ela sempre desistia. Sempre. Até o dia que você pegou nós dois. Quando fui
deixá-la em casa ela chorava e dizia que era culpa dela. Eu estava tão aéreo que não
desmenti. Eu a deixei pensando que era culpa dela. — Ele suspira e eu limpo uma
lágrima que desceu por meu olho.
Meu coração está doendo por Kya. Deus, eu sou tão injusta. Como fiz minha
amiga passar por isso, como não deixei minha melhor amiga me explicar a situação?
— Eu sinto muito. Eu deveria ter escutado ela. — Digo com um caroço na
garganta.
— Me desculpe. Por tudo, Melissa. Pela dor que causei em você no ensino
médio e por sempre pensar em mim e não em você. Desculpa-me. — Ele fala e eu o
abraço.
Deus, eu o amo tanto!
— Está desculpado. Eu até já esqueci tudo. — Digo e beijo sua bochecha. —
Nós podemos agora ir pegar sua namorada? — Pergunto e ele sorri alegre.
Deus permita que ela ainda seja minha amiga.
Capítulo Dezessete
Melissa
Dylan bate na porta do quarto de Kyara e eu espero ela atender roendo as unhas.
Ainda me sinto estranha, eu sinto como se ela não fosse me desculpar e isso é tão
idiota, pois ela que escondeu as coisas de mim. Foi ela que mentiu, não eu. Quando a
porta se abre eu perco o ar. Meu Deus!
Seus cabelos estão desgrenhados, seus olhos fundos e seu hálito é cerveja pura.
Penélope está pior do que a última vez que a vi. Vejo a raiva em seus olhos e levanto
a cabeça.
— O que você está fazendo aqui? — Pergunto dando um passo para entrar no
quarto.
— Eu que faço essa pergunta. Eu já disse isso para você, Melissa. Se afaste
dela. Você a deixa mal. — Penélope fala me fuzilando com os olhos.
Nós nunca tivemos uma relação tolerável, eu a detesto e ela também. Tudo
começou quando fui com Kyara tentar fazê-la se internar, Penélope enlouqueceu e
disse que eu era má influência para sua filha.
— Ninguém além de você mesma a deixa mal, Penélope. Você é a pior coisa que
Deus colocou na vida da sua própria filha. — Digo e a empurro entrando no quarto.
Vejo Kyara sair do quarto dela e entrar na sala. Seus braços estão arranhados e
eu corro para seu lado.
— O que ela fez? — Pergunto e Kya treme com meu toque.
Seus olhos estão neutros e é isso que me dá medo. É a entrega dela. Ela se
entrega por inteira para os abusos da mãe.
Ela nunca luta.
— Você está aqui. — Ela fala e toca meus braços. — Eu senti sua falta. —
Kyara fala e eu a abraço.
Deus, eu também senti.
— Kyara mande essa cachorra embora e pegue logo o que pedi a você. —
Penélope fala com autoridade e eu tenho vontade de dar nela. Desde quando ela tem
moral para falar desse jeito?
Vaca egoísta.
— Não a chame assim! — Kya grita se desvencilhando de mim.
— Deixe de ser estúpida. Eu quero meu dinheiro. — Ela suspira e aperta as
mãos. — Ele está me pedindo, Kya. Ele vai me deixar se eu não der a ele. — A mãe
de Kyara começa a chorar e a olha como se estivesse implorando.
Penélope mudou totalmente sua postura. A raiva que fluía dela não existe mais.
Agora eu só vejo uma pobre mulher que não tem amor-próprio e nem pela filha.
— Kyara... — a chamo e Penélope me olha implorando para eu não fazer o que
vou. Mas eu faço. Ela sabe que sempre faço.
— Não dê nada a ela. Você só vai estar alimentando sua doença. Você só vai
deixá-la pior...
— Cale sua boca. Ela sabe que eu não posso perder ele. Ela sabe. — Penélope
grita e chora ao mesmo tempo.
— Penélope, você pode. Ele não gosta de você. Ele só te usa para conseguir
dinheiro. Todas às vezes são assim. — Quando término de falar ela corre e me
derruba no chão.
Suas mãos tentam me acertar, mas antes que ela faça outro movimento Dylan
entra e a tira de cima de mim.
— Não toque na minha irmã. — Ele grita e Kyara começa a chorar.
— Ele gosta de mim. Filha? Seu pai gosta de mim. Eu tenho certeza. Ela não
sabe do que está falando. — Penélope continua implorando e chorando ao mesmo
tempo.
— Mãe... Vamos lá. Deixa eu te levar para o tio Zac? — Kyara limpa as
lágrimas e se aproxima da sua mãe.
— Eu não sou doente, Kyara! — Ela grita e depois empurra sua própria filha, a
deixando cair no chão.
— Não toque nela, porra! — Dylan ajuda Kyara a se levantar e a abraça.
— Mãe... Vamos lá. — Kyara sai dos braços de Dylan e se aproxima de novo.
— Não. Eu odeio você, Kyara. Odeio o quanto você é uma filha ingrata. — Ela
dá um passo à frente e dá um tapa no rosto de Kyara.
— Kyara! — Grito e a tiro de perto de sua mãe.
O pior de tudo é que minha amiga não se afasta. É como se ela quisesse se
penalizar. É como se fosse seu castigo. Ele permite que a mãe a faça sofrer.
— Saia daqui. Agora, porra! — Dylan fala pausadamente andando na direção de
Penélope.
Ela sai sem olhar para trás. Ela sai e leva com ela mais um pedaço da minha
melhor amiga. Todas às vezes ela leva mais um pedaço de Kyara com ela.
— Kyara? Você está bem? — Pergunto e ela me abraça chorando.
Nos sentamos no sofá e eu a embalo nos meus braços. Meus olhos se enchem de
lágrimas olhando para seus braços com marcas das unhas de Penélope.
Deus, eu a odeio tanto.
— Está tudo bem. — Ela sai dos meus braços e olha para Dylan que está do
outro lado do cômodo com os braços cruzados e sua mandíbula apertada.
— Dylan... — ela se levanta e vai para sua frente. — Eu... me desculpa não ter
contado nada antes. — Ela fala e limpa as lágrimas.
— Não precisa pedir desculpas. — Ele suspira e coloca as mãos nos bolsos. —
Você sempre foi boa em esconder as coisas de mim. Eu sou um idiota. — Diz e se vira
para me olhar. — Vou te esperar no carro. — ele diz e se vira.
— Me perdoa. Amor... por favor. Eu só não podia deixar que ela ou ele quisesse
me afastar de você. — Ela dá um passo à frente e sussurra como se estivesse
compartilhando um segredo. — Dylan... Eu te amo. — Ela chora e continua andando
atrás dele.
— Eu também te amo, Kyara. — Ele suspira e olha em seus olhos. — Eu só não
consigo entender como você faz isso. Como você deixou ela te bater. Responda-me.
— Ele fala e ela suspira e chega mais perto dele.
— Ela é minha mãe, Dylan. — Ela fala em forma de súplica.
— Não. Nenhuma mãe faria isso com sua própria filha. — Ele grita e eu me
encolho.
Por mais estúpido que possa ser, ele está certo. Nenhuma mãe de verdade faria
seu filho sofrer a base de tapas.
— Ela está doente, Dylan. Ele é o culpado de tudo. Meu pai a usa. — Ela fala e
ele suspira.
— Tudo bem. Vamos conversar sobre isso depois, ok? — Ele diz e acena para
mim. — Melissa quer falar com você. Depois nós vamos deixá-la e voltar. — Ela
acena e ele sai deixando nós duas sozinhas.
Depois de um tempo, caladas eu a olho. Seus olhos estão focados na porta e eu
suspiro.
— Eu vim aqui para me desculpar, Kyara. Conversei com Nicole e ela me fez
enxergar que talvez não fosse sua intenção me magoar. Eu vim aqui para ter certeza de
que eu fiz uma escolha ruim. De que me afastar de você foi horrível. Eu só quero que
me fale. — eu digo olhando para seus olhos.
Ela sorri e pega minhas mãos na sua. Kyara pega uma mecha do meu cabelo e
fica o enrolando.
— Sabe, Miles…. Quando conheci Dylan eu o odiei. — Ela sorri recordando.
— Você acredita que ele estava conversando comigo em um minuto e no outro estava
atracado com outra garota? Eu o detestei. — Ela diz e eu sorrio imaginando.
— Depois disso nos tornamos amigas e eu o conheci como seu irmão. Depois
que você me falou toda a sua história com a garota, Renata. Eu não queria magoar
você. Mas eu não consegui resistir a ele. Ele foi insistente. Ele ainda é. Eu me
apaixonei por ele, Mel, e isso foi tão surreal. Eu nunca gostei de nenhum garoto, com
Dylan foi tudo tão repentino, eu senti aquele sentimento tomar conta de mim sempre
que nos aproximarmos. O ciúme doentio que sinto dele com as outras garotas... eu
juro que não queria te magoar, mas eu não consegui evitar. Eu não consegui evitar me
apaixonar por ele. — Ela fala e limpa as lágrimas de suas bochechas.
— Eu sei. Agora eu sei. — Digo e a puxo para um abraço. — Eu super apoio
vocês dois. Dylan também te ama, Kyara. Ele é louco por você. — Falo e ela sorri de
orelha a orelha.
— Me desculpe por mamãe. Ela estava bêbada. Ele pediu dinheiro e ela não
tinha, por isso veio me pedir. — Ela diz e suspira.
— Você já pensou em interná-la, Kyara? — Pergunto e ela acena confirmando.
— Eu conversei com meu tio Zac. Ele é amigo do dono de uma clínica de
reabilitação e está fazendo todos os processos para isso acontecer. Talvez até a
semana que vem ela já tenha se internado. — Ela diz e seus olhos transparecem dor.
— Eu sei que é difícil, Kyara. Mas isso é para o bem dela. — Digo. Ela acena e
me abraça.
— Obrigada. — Ela diz e sorri. — Fiquei sabendo que está trabalhando com
Hilary no café. — Ela divaga e eu sorrio.
— Sim e... — Ela me olha com expectativa e eu explodo em um sorriso. — Eu e
Pietro estamos juntos. — Digo e ela dá um grito agudo.
— Não acredito, sua vaca! Você me fez pensar que estava louca ao pensar em
vocês juntos. — Ela sorri e grita novamente. — Você o ama? — Ela pergunta
enquanto eu tiro o sorriso do rosto e a olho sem entender.
— Como assim? Deixa de ser louca. Ainda não, quero dizer... eu não sei. Eu
pareço o amar? — Pergunto franzino as sobrancelhas. Eu não sei.
— Parece. E eu te dou a certeza... — ela pega minha mão e sorri. — Você o
ama. Está totalmente amando Pietro. — Ela fala e eu sorrio cúmplice.
— Eu o amo. — Digo e ela sorri e me abraça.
— Depois vamos para um encontro de casais. Eu e Dylan, Você e Pietro e
Hilary e Kevin. — Ela diz e eu sorrio.
— Combinado. Vou avisar a Hilary amanhã. — Digo e ela acena.
A abraço e eu posso sentir todos os sentimentos ruins que estavam comigo irem
embora. Eu sinto meu coração se renovando.
Depois de chegar em casa meu celular toca e eu sorrio ao ver o nome de Pietro
na tela.
— Hey!
— Está em casa?
— Sim, acabei de chegar.
— Onde foi?
— No Campus. Fui conversar com Kyara.
— Que bom, Mel. Se resolveram?
— Sim. Graças a Nicole.
— Tinha que ser. Aquela mulher é fogo.
— Não posso discordar disso.
— Vou te buscar às sete horas para irmos a um encontro.
— Um encontro?
— Sim. Vamos começar certo dessa vez. Como um casal normal.
— Humm. Que bom. Então vou me arrumar. Estou em casa e não na casa de
Nicole, ok?
— Ok. Te vejo às sete, linda.
— Beijo.
— Beijo.
Capítulo Dezoito
Melissa
Enquanto caminhamos para seu quarto aos tropeços sinto seu sorriso em meus
lábios. Eu sinto a alegria irradiando dele e instantaneamente eu me sinto feliz. Eu
sinto que pela primeira vez desde que cheguei a Seattle, eu estou no lugar certo. Meu
lugar é ao lado dele.
Ao lado de Pietro.
Quando chegamos ao quarto ele se senta na cama e começa a tirar seus sapatos
às pressas, eu sorrio diante disso e continuo o admirando. Ele tira sua blusa e em
seguida sua calça e sua cueca. Eu arfo quando o vejo completamente nu. Merda, ele é
lindo. Pietro sorri de mim e me dá a mão. Sem pensar em nada eu a pego. Eu seguro e
deixo ele me levar para onde ele quiser, e nesse momento ele me quer na sua frente.
Pietro abraça minha cintura e beija minha barriga ainda coberta pelo meu
vestido. Sua cabeça levanta e ele me olha. Não tem nada mais bonito no mundo, em
minha opinião, do que seu olhar agora. Esse é o meu olhar. O olhar que diz que ele me
vê e independentemente de qualquer coisa, ele me quer.
Eu o amo.
— Você é linda daqui. — ele fala rindo e eu o empurro. — Estou falando sério.
— Ok — digo sorrindo e revirando os olhos. Perco o sorriso quando ele me
afasta devagar.
— Tira. — Ele aponta para o vestido e eu sinto o sangue subir para minhas
bochechas. — Não tenha vergonha, Mel. Eu só quero te ver. — ele complementa e eu
suspiro devagar.
Viro-me e o peço para descer o zíper do vestido. As pontas dos seus dedos
descem pela minha pele deixando um rastro de arrepios. Estremeço quando sua mão
toca minha calcinha. Merda.
Volto a olhá-lo e deixo o vestido cair ao redor dos meus pés. Sinto-me exposta,
mas só de olhar para ele, eu sei que não preciso de vergonha. Pietro morde seu lábio
inferior ao olhar para meus seios desnudos. Deus, isso é sexy. Sinto seus olhos
subirem para meu rosto e ele sorri.
Ele malditamente sorri!
Dou um passo para frente e saio do vestido caído no chão. Quando paro e olho
ao redor de seu quarto meu peito se enche de felicidade novamente. As mesmas
pétalas que estão na sala estão também pelo chão do quarto. Ele pensou em tudo.
Sinto suas mãos pegarem meu rosto e ele me beija. Sem motivo ou permissão.
Ele somente toma meus lábios nos seus e me faz gemer baixinho em sua boca quente.
Sua língua invade meus lábios e ele se delicia com meu gosto. Em minha cabeça passa
todos os nossos movimentos da noite que passamos juntos. Flashes dos seus
movimentos ao entrar e sair de mim. Dos sons que saiam da sua boca ao me ouvir
gemer seu nome. Tudo.
Pietro cai na cama e me leva junto dele. Sento-me em seu colo e ele continua a
me beijar fervorosamente. Suas mãos entram nos lados da minha calcinha e antes que
eu perceba, ele a rasgou. Simples assim. Minha calcinha cai em seu colo e ele me
levanta para pegá-la e poder jogar perto do meu vestido.
Depois do susto eu relaxo e me afasto um pouco. Ele está sorrindo enquanto
olha onde a calcinha caiu. Dou uma tapa em seu braço e ele sorri mais ainda. Em um
movimento rápido ele me preenche. Sufoco um grito na minha garganta e ele para e me
olha preocupado.
— Te machuquei? — Ele pergunta arregalando os olhos e eu sorrio o
reconfortando.
— Só foi de repente. Eu me assustei com a rapidez. — Digo e ele suspira
aliviado.
Sento-me devagar novamente enquanto seguro seus ombros para me dar
estabilidade. Pietro fecha seus olhos enquanto morde seu lábio e eu me aproximo e
pego ele com minha boca. Chupo devagar seu lábio e depois ele me segura forte me
virando na cama. Eu fico embaixo dele e devagar o sinto entrar em mim novamente.
Quando chegamos ao ápice, me sinto flutuando e flutuando. Não consigo sentir
meu corpo ou qualquer matéria no espaço, eu só o sinto suspirando e gemendo. Nós
dois. Somente isso.
Acordo, sobressaltada, e não reconheço o quarto que dormi. Quando olho para
baixo vejo uma mão me segurando com força perto dele. Sua mão está espalmada em
minha barriga e eu sorrio. Sorrio por eu saber de quem ela é, sorrio por saber que o
que fizemos não foi errado e nem um pouco vergonhoso. Nós fizemos amor. Poucos
casais têm essa conexão. Poucos casais sabem o que é fazer amor de verdade.
— Bom dia! — Suspiro ao escutar sua voz rouca.
— Bom dia! — Digo e me viro para o olhar.
Seus olhos castanhos estão inchados e quando sorri eles desaparecem. Não sei
por que estou rindo igual uma doida por isso, mas acho que é somente o reflexo de
uma pessoa feliz.
O reflexo de uma pessoa completa.
— Do que está rindo? — Ele pergunta franzindo as sobrancelhas e fazendo seus
olhos desaparecerem de novo.
— Nada. Só estou feliz que estamos juntos. — Digo depois do meu excesso de
alegria passar.
— Eu também. Muito. — Pietro fala e beija meus lábios de repente. Pulo da
cama e corro para o banheiro. — Hey! O que foi?
— Tenho que escovar os dentes. — Digo e ele revira os olhos.
Depois de achar uma escova lacrada dentro do armário no banheiro eu escovo
os dentes sorrindo por ele ter se lembrado de comprar uma escova de dente para mim.
Faço um rabo de cavalo em meu cabelo e saio do banheiro vestida com meu vestido
de ontem.
— Cara o que diabos está fazendo que não atende essa porta? — Escuto a voz
de alguém e ando até a sala para encontrar o dono da voz.
— Não te interessa... — Pietro não termina de falar, pois entro na sala. Ele sorri
e eu olho para Kevin e Oliver que estão esparramados no sofá e ligando a TV.
— É claro... Melissa. — Oliver troca olhares com Pietro e ele revira os olhos.
— Olá Mel! — Ele diz sorrindo e Pietro joga um travesseiro nele.
— Olá meninos. — Viro-me para Pietro e sorrio. — Eu já vou. Tenho que
estudar e a tarde vou para o café. — Digo e ele acena confirmando. Olho para seus
amigos e os dois olham para a gente como se assistissem uma novela.
— Vou deixar Melissa. Daqui a pouco volto. — Ele fala empurrando os dois e
indo pegar sua camiseta.
— Melissa, você viu a Hilary ontem? — Kevin pergunta olhando para a TV.
— Não. Por quê? Vocês brigaram? — Pergunto calmamente e ele balança a
cabeça confirmando. — Vou conversar com ela quando a ver no café hoje. — Digo.
— Ok — ele suspira e Oliver o olha revirando os olhos.
— Você deveria tratá-la melhor. Quem sabe as brigas diminuiriam? — Oliver
fala sério e Kevin o olha com os olhos apertados.
— Não se atreva. Ela é minha namorada e eu pensei que já tivesse superado. —
Kevin diz e Oliver aperta sua mandíbula.
— Você sabe que nunca mais olhei para ela assim. Não depois que vocês
começarem a namorar. — Ele aperta a mandíbula e se afasta de Kevin.
Quando me lembro de recolher meu queixo no chão, Pietro entra na sala.
— Kevin, vocês já conversaram sobre isso, não foi? — Pietro fala e eles
suspiraram. Kevin acena e se desculpa com Oliver com um “foi mal aí”.
Entro em seu carro ainda tentando digerir o que acabei de descobrir. Oliver e
Kevin gostavam de Hilary ao mesmo tempo.
Será que ela sabe?
— Não. Ela não sabe. — Pietro responde meus pensamentos enquanto sai do
estacionamento.
— Ah. — Digo e sorrio. — Só estou abobalhada ainda. Tipo eles são amigos e
gostavam da mesma garota. Sei lá. É estranho. — Digo e ele pega minha mão na sua.
— Pode crer, eles ainda se bicavam bastante, mas Oliver viu que Hilary gostava
de verdade de Kevin. Ele só aceitou. — Ele diz dando de ombros e eu sorrio. Oliver
foi um bom homem.
— Mas Kevin tem ciúmes. Ficou bem claro lá na sala. — Digo olhando para
seu rosto enquanto dirige. Ele sorri.
— Lógico que ele tem ciúmes. Se fosse eu, também teria. — Ele murmura e eu
sorrio cúmplice.
— Você sente ciúmes, Pietro? — Pergunto brincando e ele revira os olhos.
— De você, até demais. — Ele diz e eu me aproximo beijando seu rosto.
— Não sou ciumenta. Nenhum pouco. — Digo séria e ele gargalha.
— Nunca te dei motivos para ter ciúmes, Melissa. — Ele diz e pisca o olho.
Reviro os olhos.
— Eu também nunca dei motivos a você. — Digo e ele fecha a cara.
— Não. Somente ficou com seu vizinho, saiu com Greg... — o interrompo.
— Antes de você. Tudo isso. — Digo e ele me olha sério depois volta sua
atenção para a estrada.
Ficamos calados o resto do caminho. Não sei se ele está chateado ou se só ficou
calado de repente. Ele estaciona ao lado do meu carro e eu suspiro.
— Obrigada pela carona. — Digo e pego minha bolsa no banco de trás.
— Não precisa agradecer. — Ele diz e pega minha mão na sua. — A gente se vê
mais tarde? — ele pergunta e eu relaxo. Ele não está chateado.
— Com certeza. — Digo e beijo seus lábios com um selinho.
Quando pego na porta para abri-la ele me puxa de novo e beija meus lábios
profundamente. Sua língua entra em minha boca provando meu gosto. Logo depois ele
começa a chupar meu lábio inferior fortemente e eu sorrio. Merda. Ele sabe beijar.
— Eu tenho ciúmes porque você é minha. — Ele fala pausadamente e eu
arregalo os olhos surpresa quando ele diz “minha”.
Acabei de me apaixonar novamente.
Entro no café a tarde e vejo Hilary servir uma mesa com dois casais. Quando
um dos casais começa a se beijar na sua frente ela revira os olhos e se afasta.
— Hey! — Digo ao me aproximar. Ela sorri largamente.
— Hey. Acabei de chegar também. — Ela diz enquanto enche um copo com
cappuccino.
— Ok. Vou só me trocar e volto. — Digo e me afasto soltando beijos pelo ar.
Troco minha camiseta branca pelo uniforme do Café. Pego o avental marrom
estampado com xícaras de café pequenas do meu armário e o coloco pela cabeça.
Saio dos vestiários depois de fazer um coque no cabelo e começo a trabalhar no
automático.
Depois de três horas Hilary e eu nos sentamos na sala secreta para uma parada
com café. Olho para seu rosto e a vejo dispersa. Ela sorri triste e eu pego sua mão.
— Por que brigaram? — Pergunto e ela suspira.
— Como sabe que brigamos? — Ela questiona e aperta minha mão.
— Ele me disse hoje de manhã. — Digo e ela franziu as sobrancelhas sem
entender. — Ele chegou ao apartamento do Pietro hoje de manhã e perguntou por
você. — Digo e ela sorri triste.
— Por besteira na verdade. Estudo com um cara e ele me chamou para sair.
Kevin escutou e não deixou ninguém explicar nada. Porque primeiro, o garoto não
sabia que estávamos juntos. E ele não me deixou responder, só ficou gritando com o
cara e esqueceu que eu estava ali. — Ela diz e eu suspiro. No seu lugar eu também
estaria chateada.
— Eu sinto muito. — Digo e seu rosto se ilumina de repente. Estranho.
— Mas Oliver chegou e resolveu a situação. Kevin se acalmou, mas ainda sim
me ofendeu. Perguntou-me o porquê de eu não ter falado para o cara que estávamos
juntos. Como eu ia falar? Ele não deixou. — Ela morde seu lábio querendo reprimir
as lágrimas que logo após fluem molhando seu rosto.
— Hill... — me aproximo e a embalo em meus braços.
— Eu sei que ele gosta de mim sabe? Eu sei, mas eu estou ficando exausta.
Brigas e brigas para se aguentar tem que ser baseadas em muito amor. E eu não o amo.
— Ela confessa e eu me afasto.
— Como assim? Porque está com ele, Hill? — Pergunto confusa.
— Eu ainda não o amo, Mel. Amor é construído com o tempo. Não existe essa
besteira de paixão à primeira vista. Eu gosto dele e sim, eu estou perto de amá-lo.
Mas para mim é muito. Muito mais do que eu suporto em uma relação. — Ela fala
enquanto limpa suas lágrimas e eu aceno confirmando.
Na verdade, eu concordo com tudo que falou. Ninguém é saco de pancadas para
aguentar tanta merda sem amar a outra pessoa o suficiente. É pouco tempo para ela o
amar. No meu caso o tempo só foi uma barreira contra meus sentimentos por Pietro.
— Você tem total razão. Se não aguenta, termina Hilary. Quem sabe quando ele
ver que vai te perder ele mude. — Digo e ela sorri confirmando.
— Suas pestes! Venham trabalhar. — Damos um pulo ao ouvir a voz de Joseph
pela porta.
Sorrimos e nos levantamos e vamos terminar nosso turno.
Capítulo Dezenove
Melissa
Olho para o painel do carro e grito, frustrada, quando vejo que estou quase sem
gasolina. Merda. Olho para os lados e não vejo nenhum posto então resolvo parar em
uma oficina de carros. Talvez eles saibam onde fica o mais próximo. Ainda não
aprendi direito onde ficam as coisas aqui, mesmo depois de um ano morando nesta
cidade.
Saio do carro e me aproximo da entrada. Olho para os lados e não vejo
ninguém. Quando já estou quase saindo do lugar, um homem sai debaixo de um carro.
Pulo no susto e ele sorri balançando a cabeça.
Quando olho em seus olhos me vejo sorrindo. É o cara do restaurante. O que me
confundiu com sua namorada. Seus olhos azuis me fitam e surpresa lhe define.
— Hey! O que está fazendo por aqui? — Ele pergunta e levanta do chão.
— Meu carro está quase sem gasolina e não achei nenhum posto por perto. Você
sabe me dizer onde tem um? — Pergunto e sorrindo ele confirma.
— Claro. Sei onde tem um a menos de cinco minutos daqui... meu nome é
Rodrigo e eu não me lembro do seu, desculpa. — Ele fala e eu sorrio lembrando que
Pietro o fez correr de mim.
— Melissa. Eu espero que tenha encontrado sua namorada. — Seu rosto cai
quando toco nesse assunto. Merda. — Desculpa, Rodrigo. Desculpa-me. — Digo e
ele suspira.
— Só não gosto de falar sobre isso. Ela... ela só foi embora e não deu
explicação. Aquele dia eu estava um pouco bêbado e por isso fui lá te ver. Desculpe-
me pelo incidente. — Ele fala enquanto veste uma camisa e não me olha diretamente.
— Não tenho o que desculpar. Sinto muito por ela. — Digo e ele agradece com
um aceno de cabeça.
Ele me ensina onde encontrar o posto de gasolina mais próximo e eu agradeço
novamente.
— De nada. E seu amigo lá, como está? — Ele questiona me entregando o papel
com o endereço certo.
— Está ótimo. O seu nome é Pietro e ele é meu... — paro de falar quando penso
sobre isso. Devo chamar ele de quê? — Quero dizer, nós estamos juntos. Tipo juntos
mesmo sabe? — Pergunto e afirmo ao mesmo tempo. Que chatice.
— Que bom. Eu percebi que ele gostava de você. — Ele diz e eu sorrio alegre.
Ouvir que alguém percebe os sentimentos de Pietro por mim me enche de
felicidade.
— Obrigada. Nos vemos por aí, Rodrigo. — Digo e ele sorri acenando.
Entro em meu carro e saio do estacionamento. Olho para o Rodrigo pelo
retrovisor e vejo que novamente seu rosto é uma tristeza sem fim. Pergunto-me o
porquê de sua namorada ter o deixado assim, sem nenhuma explicação. Sinto sua
tristeza me consumir e balanço a cabeça para afastar seus problemas amorosos da
minha mente.
Chego em casa depois de trinta minutos no trânsito caótico de Seattle. Minha
aula foi um saco, não sei se é pelo meu sono ou se estou perto de menstruar, mas eu
contei os minutos para vir para casa.
— Dylan? — Chamo ao entrar em casa e o escuto no quarto.
— No quarto. — Diz e eu caminho para lá.
— Não foi à faculdade hoje? — Pergunto enquanto ele está deitado na cama.
— Fui. Acabei de chegar. — Ele diz e se senta. — Estou morrendo de fome.
Você vai fazer almoço? — Meu irmão pergunta desviando os olhos de mim. Como se
não quisesse nada.
— Deixa de ser folgado. — Digo e me viro para sair. — Vamos comer fora,
pois não vou cozinhar nada. E é você quem vai pagar. — Digo e ele geme em
desagrado.
Saímos depois de tomarmos banho e trocar de roupa. Vamos em seu carro já que
iríamos juntos.
— Kyara falou de um encontro de casais. Que viadagem é essa? — Ele pergunta
depois de termos pedido comida.
— É um encontro de casais. Só vão casais. — Ele me olha franzino as
sobrancelhas e eu bufo sem paciência. — Já estou sendo bem explícita, Dylan. Saímos
com outros casais. Ponto, é isso. — Digo e ele revira os olhos.
— Oliver disse que quer ir também. Mas ele não tem namorada, vocês vão o
proibir de ir conosco? — Ele questiona ainda sério e eu suspiro. Deus, porque me
destes um irmão tão lento?
— Lógico que não proibiremos, pelo amor de Deus, Dylan. Ele pode ir sem
problema algum. — Digo e ele revira os olhos.
— Okay. Vou avisar a ele então, mas acho que ele vai levar a irmã para que a
gente a conheça. Parece que ela vai chegar de viajem na sexta. — Ele explica e eu
sorrio agradecida dele não estar me pedindo qualquer explicação.
Comemos e fomos para casa. Depois de falar com Pietro no celular dormi até a
hora de ir para o café.
No sábado à noite me arrumo com uma calça jeans preta, uma blusa rosa com
alças e uma sandália alta de tiras também preta. Pego meu casaco enquanto a
campainha toca com, provavelmente, Pietro do outro lado. Hoje é o encontro de
casais. Sorrio quando sinto sua boca na minha, antes mesmo de ver seu corpo depois
de eu ter aberto a porta.
— Que saudade eu estava de você. — Ele fala em minha boca e eu beijo seu
pescoço. — Vamos ficar aqui mesmo. — Ele diz e começa a fechar a porta.
— Não! Depois do encontro de casais, eu prometo te recompensar. — Sussurro
em seu ouvido e ele respira fortemente.
— Você é má. — Ele diz e eu sorrio. — E você está linda. — Ele elogia depois
de me soltar.
Dou uma voltinha de brincadeira e ele sorri. Olho para sua roupa e suspiro.
Deus ele está lindo. Sua calça cáqui se ajusta a suas pernas e bunda. Sua camisa é
branca e apertada e eu quero muito concordar com ele, quando disse para ficarmos em
casa.
— Você está quente. — Digo e ele sorri revirando os olhos.
— Vamos, pois quero voltar rápido. Bem rápido. — Ele reforça e eu pego
minha bolsa o acompanhando para fora.
Quando entramos no elevador Brandon, Filip e Walter saem do apartamento.
— Segura para a gente? — Filip grita e Pietro suspira ao colocar a mão para as
portas não se fecharem.
Pego sua mão na minha e ele me puxa pela cintura me deixando em seus braços.
Beijo seus lábios com um selinho e os meninos entram no elevador.
— Hey, Mel! — Brandon me saúda e a cena para Pietro. — Pietro. — Ele diz e
desvia os olhos da gente.
— Oi Brandon. — digo sorrindo e Pietro murmura um “oi” sem vontade. Os
meninos também cumprimentam a gente e depois o silêncio se faz presente.
Brandon e eu não nos falamos mais como antes. Eu não me sinto mais à vontade
para me aproximar e ele, bem ele também não. Eu acho.
Entramos no carro e Pietro fica calado. Eu conto até dez para me acalmar. Eu
conto, pois estou ficando exausta desse ciúme chato dele em relação a Brandon e eu
não quero começar uma discussão.
— Sabe, eu estou sendo infantil. Verdade. — Ele começa a falar e eu quase
quebro o pescoço na hora de o olhar de tão surpresa que estou. — Eu tenho ciúmes
desse idiota. Eu tenho e você não me dá motivos para isso, Melissa, mas toda a vez
que eu o vejo eu me lembro de você me dizendo que queria... — coloco meus dedos
em seus lábios e o calo.
— Nunca mais. Nunca mais você vai repetir isso. Acabou, ok? Vamos esquecer
isso. Até por que nós dois sabemos que eu não queria dizer aquilo. Eu já gostava de
você naquele momento, Pietro. Eu estava querendo te irritar, então quando você o ver
e lembrar-se disso, eu quero que lembre do que eu vou te falar... eu adoro você,
Pietro. E em nenhum lugar no mundo tem um homem que eu queira mais que você. —
Digo e ele me olha por um instante calado. Quando penso que ele vai me responder,
ele encosta o carro e me puxa para seu colo. De repente ele me beija. Sua boca toma a
minha com urgência e prazer e eu me derreto em seus braços. Sua mão pega meus
cabelos e me faz olhar em seus olhos.
— Todas as vezes que eu o ver, eu me lembrarei de suas palavras e desse beijo.
Sempre. — Ele diz e devagar volta a me beijar.
Entramos na boate e logo avisto Kyara dançando com Dylan na pista de dança.
Minha amiga se esfrega em meu irmão parecendo que estão transando e eu reviro os
olhos enquanto sigo Pietro para a mesa onde Kevin, Hilary, Oliver e outra garota
estão. Assusto-me quando a vejo. Merda, parece que estou me olhando no espelho.
Pietro chega e a abraça como se fossem velhos amigos e eu fico os observando.
Sei que eles não ficaram, pois Pietro namorava Kimberley, mas a intimidade deles me
irrita. Me irrita de verdade.
— Helena, essa é Melissa. Minha... — ele para de falar e eu o encaro.
Vamos lá Pietro! Eu sou o que sua?
— Prazer, Melissa. Eu e Pietro nos conhecemos na faculdade. — Ela diz, mas
ainda estou olhando para Pietro. Ele balança a cabeça e eu suspiro.
Vamos, Melissa. Não se apegue a isso. Nada de rótulos.
— Prazer, Helena. — Digo e me viro para ir ao bar. — Volto em um minuto. —
Digo para Pietro, mas não espero sua resposta, apenas saio na direção do bar.
Enquanto peço minha bebida vejo um cara sentar ao meu lado. Afasto-me e
encaro minhas mãos na bancada, tudo que eu não preciso no momento é um cara para
Pietro brigar.
— Não acredito. Duas vezes na semana é muito. — Escuto falarem e me viro.
Rodrigo é o cara que está sentado ao meu lado.
— Também acho. — Digo e rimos juntos. Minha bebida chega e Rodrigo pede
uma para ele.
— Então, cadê seu namorado? — ele pergunta e eu sorrio fraco.
— Ele não é meu namorado, Rodrigo... — sou interrompida pela voz de Pietro.
— Estou aqui, cara. — Ele diz e me puxa gentilmente pela cintura em sua
direção. — Como você está? — Ele pergunta com a voz neutra.
— Estou ótimo. Melissa me falou no começo da semana que se acertaram. Fico
feliz que estejam juntos. — Rodrigo fala educadamente e eu sorrio para ele.
— No começo da semana? — Pietro pergunta e eu me viro para ele.
— Sim. Quando eu voltava do Campus meu carro ficou sem gasolina e eu parei
na oficina que Rodrigo trabalha... Ou é dono? — pergunta quando a dúvida chega.
— Sou o dono. Mas foi isso mesmo. Só ensinei a ela o posto mais próximo. —
Ele diz sorrindo para Pietro.
— Que bom. Fico feliz que tenha a ajudado. Obrigado. — Pietro diz sorrindo e
eu lhe dou um selinho.
Bebo o resto da minha bebida e me despeço de Rodrigo dizendo onde minha
mesa está.
— Está vendo aquela garota em frente de vermelho? É nessa mesa. — Digo
apontando para a mesa e ele fica branco.
Rodrigo desce da cadeira e começa a andar na direção da nossa mesa, mas não
fala nada e não responde minha pergunta. Pietro me olha interrogativo e eu dou de
ombros sem saber o que está acontecendo.
Quando chegamos à mesa Rodrigo para e fica olhando Helena sem piscar. Pietro
coloca a mão em seu ombro enquanto questiona:
— Você está bem, Rodrigo? — Ao ouvir o nome de Rodrigo, Helena levanta a
cabeça e o olha alarmada. Seus olhos estão arregalados e Oliver segue seu olhar.
— Helena... — Rodrigo fala como se ela fosse uma miragem. Seus olhos estão
como estavam no dia que o conheci.
— Rodrigo... — ela fala e seus olhos enchem de lágrimas. Deus, não estou
entendendo nada.
Ela é sua ex, a que fugiu dele?
— Como... por quê? — Rodrigo balança a cabeça e fecha os olhos. — Ela não
está aqui, Melissa. Tudo é loucura da minha cabeça. Melissa! — Ele começa a gritar
e eu me aproximo dele. Coloco minha mão em suas costas e o conforto.
Com os olhos peço ajuda para Pietro e ele se aproxima também.
— Rodrigo, essa é Helena. Ela é a ex que me falou? — Pergunto e ele abre os
olhos. Vejo sua tristeza se multiplicar e meu peito aperta.
— Helena... Por quê? — Ele pergunta e depois balança a cabeça negando.
— Rodrigo, por favor... — Helena se levanta e tenta falar algo.
— Não precisa dizer nada. — Ele fala e depois se vira e vai embora.
Vejo-o ir embora e uma raiva sem tamanho cresce dentro de mim. Olho para
Helena e ela está chorando.
— Por que está chorando? Responde! Foi você que o deixou. Você. — Digo
frustrada a fazendo chorar mais um pouco.
— Melissa... Não! — Pietro fala sério e eu aperto meus olhos em sua direção.
— Sim! Ele é um cara legal e vem sofrendo por ela há um tempão. Ela não
consegue nem se levantar e dar uma explicação convincente para ele. Pelo amor de
Deus. — Digo e me viro frustrada.
Helena e Oliver vão embora e eu também. Pietro me acompanha, mas não
conversamos. Apenas um silêncio chato fica entre nós. Encosto-me na janela do carro
e espero.
Capítulo Vinte
Pietro
Capítulo Vinte e Um
Melissa
Mais uma vez limpo as lágrimas do meu rosto. Olho para meu relógio e estranho
a demora de Pietro. Já faz mais de dez minutos que ele foi à farmácia do hospital.
Suspiro e o doutor sorri para mim.
— Não se preocupe, Melissa. Muitas mulheres chegam aqui como você e eu
digo tudo que falei hoje, elas choram e quando os exames chegam não é nada além de
um descontrole menstrual. — Ele fala e eu suspiro querendo acreditar.
Ainda não passou o pânico em mim, mas estou o segurando. Eu quero ir para
casa e gritar. Quero ligar para minha mãe e chorar em seus ouvidos. Quero que meu
pai me diga que isso é um sonho idiota e que eu sou saudável e que vou ter um bebê
quando eu estiver pronta. Quero ter essa liberdade sobre a maternidade. Não quero
depender de um exame ou de tratamento médico para ter meu filho.
Quando a porta se abre suspiro quando vejo que é Pietro. Seu rosto está branco
e seus olhos vermelhos. Levanto-me da cadeira e corro para sua frente. Passo a mão
por seu rosto e o olho.
— O que aconteceu, amor? — Pergunto e ele beija minhas mãos.
— Podemos falar sobre isso quando chegarmos em casa? Tenho uma coisa para
te contar. — Ele fala engolindo em seco e eu o olho sem entender, mas balanço a
cabeça aceitando.
Saímos do hospital depois de eu ter feito os exames que o médico pediu. Daqui
a uma semana o resultado irá sair. Eu estou ansiosa. Quero que a semana passe em um
passe de mágica. Dylan veio o tempo inteiro perguntando o que eu tinha e a verdade é
que não consegui pronunciar. Eu só falei que fiz um exame e que o resultado só sairia
daqui a uma semana. Ele suspirou e ficou calado o resto do caminho.
Quando entro em casa meu celular toca. Mamãe ligando.
— Mel... Podemos falar agora? — Pietro pergunta e eu peço um minuto
enquanto atendo meu celular.
— Oi, mamãe.
— Deus, Melissa. Dylan ligou e me disse sobre você. Meu amor, como está? —
Olho para Pietro e digo que vou para o quarto falar com mamãe. Ele suspira e senta
no sofá.
— Estou melhor, mãe. Mas o médico disse que... — mordo meu lábio inferior
para segurar o choro, mas é inevitável e logo começo a chorar de novo.
— Melissa Jones! O que aconteceu? Rodolfo! Vou para Seattle.
— Mãe. Não precisa. É só uma suposição. Ele disse que tenho que esperar sair
o resultado do exame.
— Qual é essa suposição, Melissa? Você está me preocupando tanto, minha
filha. — Ela chora e eu quero me bater por isso.
— Endometriose. Ele supôs que estou com endometriose.
— Filha... eu sinto muito. Quero dizer, não é uma doença que mate ou algo do
tipo, ela tem tratamento.
— Eu tenho medo de não poder dar bebês para Pietro.
— Quem é Pietro, Melissa?
— Pai... Por favor.
— Ok! Desculpe. Mas depois conversaremos.
— Melissa, qualquer mulher pode ter bebês estando com endometriose. Eu tive
logo depois de Erick e Connor nascer. E olha você e Dylan. Gêmeos. Então tire esses
pensamentos da sua cabeça, ok? — Mamãe fala calmamente e eu suspiro.
— Ok. Muito obrigada. Estou com saudades, mãe.
— Também meu amor. Talvez iremos aí nesse final de semana.
— Ok. Avisem-me que peço a Connor para organizarmos um almoço para todos.
— Ok. Te amo.
— Também, mamãe.
Desligo o celular e vejo Pietro encostado na porta do quarto. Seus olhos estão
cheios de lágrimas novamente e eu franzo minhas sobrancelhas. Por que ele está
triste? Será que ele... será que está com medo de eu não poder dar um bebê a ele?
— Pietro... O que aconteceu? Eu fiz algo? — Pergunto e me levanto da cama
para andar em sua direção.
— Não, Melissa. — Ele suspira e desvia os olhos dos meus. — Mas eu quero
que pense em sua saúde e não em me dar um bebê. Nós somos jovens e temos toda a
vida pela frente. — Ele fala e me abraça.
Sinto um vazio se abrir em meu peito. Não consigo identificar o que está me
fazendo me sentir assim, mas eu apenas sinto. E é sufocante.
— Você queria conversar, Pietro. Vamos. — Digo e puxo sua mão em direção a
cama. — Eu juro que se estiver com essa doença vou fazer todo o tratamento para
podermos ter bebês. Não falamos sobre filhos ainda, mas eu quero ser mãe. Você quer
ser pai, não é? — Pergunto e ele sorri triste para mim.
— Lógico que quero, meu amor. Quero filhos com seus olhos. Eu te amo tanto,
Melissa. — Ele diz pensativo e eu o olho calada por um tempo.
Espero ele retirar as palavras, mas ele não retira. Ele beija meus lábios e eu
suspiro feliz.
— Você disse que me ama? — Pergunto ainda confusa. Não esperava que ele
falasse isso para mim.
— Sim. Com a força do universo inteiro. — Ele diz olhando em meus olhos e eu
vejo a certeza lá. Pietro me ama. Beijo calmamente seus lábios.
Sua língua entra em minha boca e, juntos, fazemos um ritmo sensual e erótico.
Puxo-o para deitarmos enquanto aperto minhas pernas juntas, mas Pietro se afasta
sorrindo.
— Ainda não. Você disse que sente incômodo quando transamos, Melissa. Então
só faremos amor de novo depois desse incômodo passar. — Ele diz suavemente e eu
sorrio em sua boca.
Deus, Pietro não pode ser de verdade.
— Ok, tudo bem. — Digo e me sento na sua frente. — Você demorou quando foi
pegar o remédio lá no hospital. O que aconteceu? — Pergunto enquanto pego meu
notebook na minha escrivaninha.
— É... Nada. Só a mulher que não estava lá. Eu esperei ela voltar. — Ele diz
gaguejando e eu me viro para o olhar. Pietro não me olha nos olhos. Só fica olhando
para todos os lugares do quarto menos para mim.
— Há... está tudo bem, Pietro? — Pergunto e ele acena confirmando. Suspiro e
não lhe pressiono.
Quando ele estiver pronto, ele vai falar.
Volto para a cama e Pietro pega meu notebook. Pulo no susto e tento pegá-lo de
volta. Pietro me olha franzino às sobrancelhas e eu sorrio tensa.
— Devolve. — Digo e ele sorri balançando a cabeça.
— O que tem aqui? Fotos de homens pelados ou algo assim? — Ele sorri e eu
balanço a cabeça negando. — Então... O que tem? — Ele pergunta e liga o notebook.
— Meu livro. Na verdade, meus livros. — Digo envergonhada e ele sorri de
orelha a orelha.
— Você é escritora. — Ele afirma e eu sorrio. — Depois você me deixa ler
algo? — Ele pergunta e eu gargalho da sua empolgação.
— Claro, amor. Mas só quando eu o finalizar, ok? — Pergunto e ele acena
confirmando e me devolve o notebook.
— Então... — Pietro divaga e eu o olho.
— O quê? — O olho e ele sorri convencido.
— Queria te levar para minha cidade. Em um final de semana. — Ele fala
devagar e eu sorrio me aproximando dele.
— É mesmo? — Pergunto e ele revira os olhos gargalhando.
— Sim. Quero te mostrar minha casa e onde nasci. Quero que conheça meus
amigos. O que você acha? — Ele diz pegando minhas mãos.
— Acho ótimo. Lógico que quero conhecer as pessoas que você gosta. Nós
vamos quando? — Pergunto alegre e ele gargalha novamente.
— Podemos ir no próximo fim de semana. Saímos daqui na sexta à noite e
voltamos no domingo. — Ele diz e eu balanço a cabeça negando.
— Meus pais vêm para Seattle nesse fim de semana. — Digo e suspiro. — Mas
podemos ir na semana. Sei lá. — Digo e ele me abraça.
— Para mim está ótimo. — Ele pega meus cabelos e cheira devagar. — Eu
adoro seu cheiro. — Divaga me olhando nos olhos e eu sorrio.
— Obrigada. Você sabe... — começo a falar, mas seu celular começa a tocar.
— Só um momento. — Ele diz e atende. — Alô?
Saio do quarto para lhe dar privacidade e ando até a cozinha. Dylan está saindo
de casa quando o vejo.
— Hey! Vai sair? — Pergunto e ele acena confirmando.
— Vou buscar Kyara. Ela quer te ver. — ele diz.
— Que bom. Vou fazer chá para nós duas. — Digo e me viro para pegar os
ingredientes.
— Você sabe... Ninguém além de você gosta desses chás. — Ele grita e quando
me viro, surpresa, para o responder ele bate à porta rindo.
Filho da mãe!
Claro que eles gostam... eu acho.
Pietro sai do meu quarto e me abraça apertado envolvendo minha cintura.
Suspiro e ligo o fogão com ele ainda agarrado a mim.
— Preciso ir. — Ele diz tão baixo que quase não o escuto. Viro-me e olho para
seus olhos.
— Ok — digo e mordo meu lábio. Pietro continua olhando para mim como se
fosse para me guardar em seus pensamentos. Não gosto disso.
— Eu volto à noite para te levar para minha casa. — Ele diz e beija minha boca.
— Você está se sentindo melhor? — Questiona preocupado.
— Estou. Não se preocupe. — Digo e ele sorri revirando os olhos.
— Ok. Esteja pronta às sete. — Ele diz e é a minha vez de revirar os olhos.
— Certo, capitão. — Digo e bato continência. Ele gargalha e eu sorrio leve.
Ele me deixa na cozinha enquanto caminha para a porta.
— Te amo. — Pietro para de repente e fala. Quando o olho eu vejo seus olhos
angustiados. E é nesse momento que eu sei que algo está errado. É nesse momento que
eu sei que vou perdê-lo.
Quando a porta bate fechada sinto lágrimas descerem por meu rosto. Não sei o
porquê do choro, mas esse sentimento de perda está impregnado em meu coração. Eu
não posso perder o Pietro. Deus, não o tire de mim.
Saio de seu carro quando chegamos à faculdade. Pietro pega minha mão e eu
viro meu rosto para outro lugar que não seja seu olhar. Não posso ver aquele
sentimento lá novamente. Não posso pensar que ele está escondendo algo. Mas eu sei
que está. Eu sinto.
Ontem ele me buscou como o combinado. Ele estava alegre, mas contido. Ele
me beijava, mas eu sentia em todos os seus movimentos uma despedida. Como se
fosse à última vez e tudo isso é louco já que iremos para sua casa no final de semana.
Mamãe ligou e disse que teve um imprevisto. Não vai poder vir para Seattle.
Não vou negar que fiquei um pouco feliz. Estar com Pietro em outro local pode fazer
ele se abrir, ou talvez isso seja da minha cabeça louca fazendo mil e uma, junções.
— Helena voltou à faculdade. — Ele quebra o silêncio enquanto está indo me
deixar na sala.
— Hum. — Digo sem dar importância.
— Só falei porque você disse que queria falar com ela sobre pedir desculpas.
— Pietro fala e eu aceno confirmando.
— Verdade. Ela senta com as amigas ou com Oli? — Pergunto enquanto
passamos por um grupo de caras.
— Com Oliver e conosco. — Ele diz e eu paro para o olhar. — Ela sempre
sentou com a gente. Ela fazia parte do grupo. — Ele explica e eu suspiro acenando.
Verdade.
— Ok. No intervalo irei ao refeitório. — Digo e beijo seus lábios devagar.
— Ok. Te vejo mais tarde. — O vejo caminhar pelo corredor e suspiro.
Depois da aula vou para o refeitório com Kyara falando comigo sobre algumas
festas que se aproximam. Já falei que Kyara é a louca das festas? Agora imagina nós
duas?
As loucas das festas.
— O tema vai ser... Normal. — Ela fala e eu gargalho da sua cara ao ler o
panfleto/convite. — Como assim normal? Pelo amor de Deus! Ninguém teve
criatividade para colocar um tema? — Ela fala chocada e eu sorrio.
— Pelo menos vai ser uma festa. E nós vamos com certeza. — Digo sorrindo e
ela começa a rebolar.
— Com certeza. — sorrimos quando somos abraçadas pelas costas.
— Posso saber para onde as senhoras vão com essa certeza toda? — Dylan
pergunta e nós rimos.
— A uma festa normal. — Digo e Pietro cheira meus cabelos.
— Vamos lá, gatinha. Quero ver você sair da minha casa. — Ele fala e eu me
viro para o olhar.
— Gatinha? Por acaso você está falando com uma garota em uma festa, Pietro?
— Pergunto devagar e com um sorriso nos lábios.
— Não. Estou falando com a minha garota. — Ele sorri e eu reviro os olhos
alegre.
Entramos no refeitório e logo avisto Hilary conversando com Kevin. Ela tem
lágrimas nos olhos enquanto ele balbucia várias coisas para ela.
— Ela terminou com ele. — Kyara diz e eu aceno.
— Eu conversei com ela. Hilary não está aguentando as brigas, então ela achou
melhor decidir por isso. — digo.
— Ele estava louco hoje na aula. É normal. Eu ficaria pior se perdesse Melissa.
— Pietro divaga olhando para eles sem falar para alguém específico. Sinto o
sentimento de perda retornar e me sinto doente.
— Você nunca vai me perder. — Digo e o abraço. — Nunca, Pietro.
Depois nos sentamos e comemos em silêncio. Kevin e Hilary também sentam
conosco, mas não se falam. É, acho que acabou mesmo. Falei com Helena. Pedi
desculpas, mas logo sai a deixando. Não gosto dela. Só de lembrar os olhos de
Rodrigo ao vê-la e seu grito ao imaginar ser sua imaginação corta meu coração em
pedaços.
Eu não o conheço direito, mas sinto como se eu tivesse que o proteger. Isso é tão
louco.
Vejo o sol emergir das nuvens e sorrio diante de tanta beleza. As mãos de Pietro
apertam minha cintura e eu apoio minha cabeça em seu peito. Estou sentada no meio
de suas pernas no telhado da sua casa. Pietro me acordou cedinho para me mostrar o
seu lugar na casa. E eu amei.
— Eu vinha para cá quando todos ainda estavam dormindo. Ficava olhando o
sol nascer e eu me perguntava como somos pequenos diante de tudo isso, sabe? Como
às vezes nos achamos tão importantes, só que não somos nada comparados a tudo à
nossa volta. Eu amo olhar o céu, porque me lembro de que sou apenas mais uma
pessoa no mundo. Eu não sou o centro do universo. — Ele sussurra em meu ouvido
devagar enquanto continua olhando o sol.
— Ouvindo você falar assim me sinto fútil. Não que eu seja uma garota sem
nada na cabeça, mas eu nunca parei para pensar nessas coisas. — digo e me viro para
o olhar. — Sou estranha por isso? — Pergunto sincera.
Pietro sorri e me puxa para seu colo. Sento-me e passo meus braços por seu
pescoço.
— Você não é estranha. Só falei às coisas que estão na minha cabeça. Você é
linda e é o centro do meu universo. Ponto. — Ele fala me olhando sério e eu sorrio
diante da imensidão dos seus olhos.
— Você também é o centro do meu. — Digo e beijo seus lábios.
Paramos de nos beijar quando ouvimos a mãe de Pietro subir no telhado. Ela
sorri envergonhada por ter nos vistos nos beijando.
— Trouxe o café da manhã para vocês. Beatriz colocou tudo que você gosta,
Pietro. Não sabia bem o que Mel gosta. — Ela se desculpa e eu sorrio.
— Como de tudo um pouco. Mas obrigada pela preocupação. — Digo e pego a
bandeja das suas mãos. — Muito obrigada. — Digo e ela sorri.
Volto e me sento agora ao seu lado. Pietro agradece sua mãe e pega os bolinhos
para comer.
— Eu amo essa mulher. — Pietro fala e eu gargalho de sua cara de desejo ao
comer.
Comemos em silêncio e logo deitamos. Pietro deitou com a cabeça lado a lado
com a minha, mas com suas pernas opostas as minhas.
Quando olho para seu rosto seus lábios estão na altura dos meus olhos. Sorrio e
ele beija minha cabeça.
— Queria te perguntar uma coisa. — Digo. Ele sorri e concorda. — Você
sempre sonhou em ser médico? — Questiono.
— Sempre. Papai quase enlouqueceu pensando que eu não queria. Ele não iria
me forçar caso eu não quisesse, mas ele ficou um pouco assustado com a
possibilidade. É explicável já que ele é dono de um hospital e eu serei seu herdeiro.
Mas não foi por isso que eu decidi por Medicina. Eu amo a profissão. — Ele diz
sério e eu beijo seus lábios devagar.
— Que bom, meu amor. — Digo. — Você tem algum sonho? — Pergunto
curiosa. Nunca chegamos a conversar assim. Nem quando éramos apenas amigos.
— Eu sonho em conhecer a África. Não só pela beleza que o país tem, muitas
pessoas nem sabem o quanto àquele lugar é fantástico, mas pelas dificuldades
também. Eu queria ir e ajudar um pouco sabe? — Ele divaga e eu sorrio.
Pietro tem o coração tão bondoso. São nessas horas que eu tenho certeza que me
apaixonei pelo cara certo.
— E você? Tem algum? — Questiona.
— Tenho, mas não é nada lindo assim como o seu... eu sonho em ser feliz e
construir uma família linda e saudável. — Digo sincera e mordo meu lábio ao
imaginar os exames que irei pegar na segunda-feira.
Estou ansiosa e um pouco assustada. Agradeço a Pietro por me trazer para sua
casa. Em Seattle eu iria enlouquecer.
— Esse sonho eu vou realizar com você e para você. — Ele sussurra e tira meu
lábio dos meus dentes. — Nós vamos ser tão felizes Melissa. — Ele promete e eu
sorrio.
— Tenho certeza que sim. — Digo e beijo seus lábios.
— Você quer conhecer algum lugar? — Ele questiona enquanto brinca com meus
anéis.
— Quero conhecer a Inglaterra. Não tenho um, por que bonito quanto o seu, só
tenho esse desejo. — Digo e ele confirma.
— Entendi. Quem sabe não vamos passar a nossa lua de mel lá? — Ele pergunta
e eu quase quebro o pescoço ao querer olhar para ele.
— O quê? — Abro e fecho a boca mil vezes tentando formar uma frase
coerente, mas não consigo. Pietro ri de mim e começa a mexer em meus cabelos.
— Você não pensa em se casar? Comigo, é lógico. — Ele questiona e nos
sentamos de frente um para o outro.
— Eu... quero dizer... — suspiro e sorrio. — Lógico que quero. Mas é que ainda
somos muito jovens. Primeiro quero terminar minha faculdade e conseguir me
estabelecer financeiramente. — Digo e ele balança a cabeça confirmando.
— Eu também quero isso. Daqui um ano terminamos a faculdade e esperamos
mais um para casar. — Ele diz tão casualmente que eu quero gargalhar. Mas, lógico,
não faço.
— Ok, tudo bem. Vamos falar sobre isso novamente daqui um ano, ok? —
Pergunto e ele sorri me abraçando.
Entramos no quarto de Pietro depois de descer do telhado. Conversar com ele
foi ótimo para mim. Acho que passei a conhecê-lo mais. Sorrio quando me lembro de
suas palavras sobre casamento. Escuto seu celular tocar e o pego para entregar a ele,
já que está no banheiro.
Kimberley.
O que ela quer?
— Pietro, Kimberley está ligando. — Digo perto da porta com o celular na mão.
— Já vai. — Ele grita e sai do banheiro apressado. Afasto-me no susto e ele
pega o celular de mim. — Obrigado. — Ele diz e seu semblante é preocupado.
Não entendo nada. Não sei o porquê de ele estar tão preocupado. Quero dizer,
eles terminaram. Não acho que a ligação de um ex seja ainda tão importante ao ponto
de preocupação. Afasto-me dele e vou para a cama. Pego meu notebook e começo
escrever. Pietro entra no banheiro novamente e eu suspiro.
Depois de escrever um monte de palavras idiotas, fecho o computador. Pietro
ainda está no banheiro falando com Kim. Não entendo o que está falando. Penso em
chegar mais próximo a porta, mas logo balanço a cabeça para minhas idiotices.
Não vou vigiar meu namorado. Pelo amor de Deus!
Quando ele sai do banheiro já vem vestido e arrumado. Ele sorri para mim e se
deita ao meu lado.
— André ligou dizendo que Sophia quer te ver. — ele fala e eu sorrio sem
vontade.
Não que eu não queira ver Sophia. Eu quero. Só que Pietro não está me
explicando o porquê de Kimberley estar lhe ligando. Muito pelo contrário, ele está
tentando me despistar.
— Eu disse que eles poderiam vir aqui. Podemos ir para a piscina. — Ele diz e
passa a mão pelos cabelos molhados.
— É mesmo? Não vi a piscina ainda. — Digo fria enquanto rodo meus anéis.
— Sim. Tem uma no Jardim. Quando eles chegarem nós vamos, ok? —
Concordo com um aceno e mordo meu lábio tentando me privar de fazer perguntas.
Ficamos calados por um tempo. Sinto Pietro me olhando. Eu sinto seus dedos
passearem por minha coxa. Estou sentindo seu hálito quente em minha pele. Eu sinto
sua aflição em não querer falar o que sua ex queria. Isso me mata mais do que eu
queira admitir.
— Não era nada, Melissa. — Ele suspira e puxa minha cabeça para o olhar.
— Tudo bem. — Digo e volto a olhar para os móveis do quarto
— Não, não está tudo bem, Mel. — Ele afirma e eu o olho.
— Sabe por que não está? — Questiono e ele se senta em minha frente.
— Não. Eu não sei. — Ele responde e pega minha mão na sua.
— Porque você está mentindo. Eu conheço você o suficiente para saber isso. —
Digo firme e ele desvia os olhos dos meus.
— Eu... eu juro que vamos conversar sobre isso. — Ele respira fundo. — Mas
só quando chegarmos em casa, ok? — Ele implora com os olhos.
Levanto-me da cama e ando pelo quarto.
— O que é? Eu estou ficando louca com isso, Pietro. Você só fala que vamos
conversar quando chegarmos em casa. Por que não me fala logo? — Pergunto aflita.
Eu sei que é algo grande. Eu sinto.
— Melissa...
— Eu estou me sentindo sufocada. Eu... meu peito está apertado, Pietro. Desde a
minha ida para o hospital eu vejo em seus olhos... eu vejo despedida. Eu vejo que
estou te perdendo. É loucura? Talvez. Mas eu não posso te perder. Eu não posso. —
Falo freneticamente. Ele se levanta e me abraça. Sinto minhas lágrimas descendo por
meu rosto e me afasto dele.
— É por causa da doença? Eu já falei que se eu estiver... eu vou me tratar. Eu
juro. Eu vou te dar bebês, amor. — Falo enquanto olho em seus olhos. Limpo minhas
lágrimas e me aproximo. — Eu juro. — Reforço e ele balança a cabeça negando.
— Mel... Não é nada disso. Pelo amor de Deus. Eu te amo. Não é uma doença
que iria me fazer te deixar...
— Então por quê? Porque você quer me deixar, Pietro? — O interrompo
soluçando.
— Eu não quero te deixar. Você está se ouvindo, Melissa? Faz menos de uma
hora que eu estava falando de casamento com você. Há pouco tempo eu estava
dizendo que você é o centro do meu universo. Eu não vou te deixar. Nunca, Melissa.
Mas eu não tenho certeza de que você não vá, entende? — Ele se aproxima e eu
engulo em seco.
— Eu não vou te deixar, Pietro. Mas pelo jeito que está falando parece ser algo
muito sério. E eu quero que me fale. Por favor, me fala. — Imploro. Ele vai para a
janela do outro lado do quarto e suspira.
— Amanhã vamos conversar. Eu juro por tudo que é mais importante para mim.
— Ele insiste e eu balanço a cabeça sem acreditar nisso. Sem acreditar que o que ele
esconde vai fazer eu deixá-lo.
O que pode ser, meu Deus?
— Ok — digo e suspiro. — Tudo bem. Amanhã vamos conversar. Agora eu vou
me arrumar para esperar Sophia. Se puder me esperar lá embaixo, eu agradeço. —
Digo. Ele fica parado me olhando. — Por favor. — Falo e me viro para não olhar em
seus olhos. Depois de segundos ele sai do quarto me deixando sozinha.
Troco minha roupa por um biquíni branco e um short jeans. Penteio meu cabelo
enquanto as palavras de Pietro voltam para meus pensamentos.
Mas eu não tenho certeza de que você não vá, entende?
Eu não vou deixar ele. Eu preciso saber o que ele me esconde. Eu vou
enlouquecer se eu não souber.
Desço depois de alguns minutos e encontro André correndo da sala de estar
para o quintal da casa aos gritos animados com Sophia revirando os olhos logo atrás.
— Deixe de ser idiota, André. Parece uma criança que nunca entrou numa
piscina. — Ela resmunga e depois me abraça sorrindo.
— Hey! Ele está bem alegre. — Digo e ela revira os olhos. Vamos para o
quintal atrás de André.
— Ele tem uma piscina nos fundos da casa dele, mas como ele é exibido... —
ela se cala quando André se joga na piscina e a água respinga em nós. — André! —
Ela grita e ele gargalha.
— Você está tão ranzinza, Sophia. Pelo amor de Deus! — André se queixa e
mergulha. Ela rosna irritada e nós nos sentamos em espreguiçadeiras na sombra.
— Não entendi nada ontem. Vocês saíram de repente. — Digo curiosa, mas não
a olho. Se ela não quiser falar, vou respeitar seu desejo.
— Tinha uma garota na boate ontem... ela é prima do André, mas ela é do tipo
prima puta, entende? — Suspirando aceno. — Ela gosta dele. De verdade, mas ele é
um idiota. Ele não entendeu ainda que ela é sim uma ameaça para nosso namoro. —
Ela morde sua unha e eu pego seu braço afastando sua mão da boca.
— Ela não merece que você estrague suas unhas por isso. — Digo com um
sorriso e ela me puxa para um abraço.
— Ela me deixa louca, sabe? Ela é toda linda, tem uma bunda enorme enquanto
eu nem sequer tenho. Eu odeio isso. — Ela fala choramingando.
— Mas ele está com você e não com ela. Ele não quer a bunda enorme dela. Ele
quer a sua, que, diga-se de passagem, é um pouco grande sim. — Digo divertida e ela
revira os olhos.
— Ele me ama. — Ela fala de repente. A olho sem entender porque falou isso
agora. — Ele disse ontem enquanto a gente brigava. Eu... não respondi. Eu sou idiota,
né? Porque a gente está namorando há três meses e eu acho pouco tempo, mas eu já o
amo. Eu o amo e eu não consigo sequer explicar como. — a interrompo.
— O amor não se explica, Sophia. Ele é forte e chega de repente. Quando a
gente menos espera. Tenho certeza que você terá outra oportunidade para respondê-lo
corretamente. — Digo rindo e ela balança a cabeça confirmando.
Ela tira o short e a blusa rapidamente, ficando somente com seu biquíni
vermelho sangue. André sorri largamente quando a vê entrar na água.
Suspiro e tiro minha roupa também. Vejo Pietro do outro lado, dentro da piscina,
me observando. Sorrio ainda tensa pela briga de mais cedo e entro na água.
Nado até ele e subo próximo ao seu peito deixando minhas mãos em seus
braços. Ele segura minha cintura firmemente e eu suspiro.
— Não se afaste de mim, Mel. — Ele sussurra acariciando meu rosto.
— Eu não vou. — digo por fim e beijo seus lábios.
Permito-me afastar os pensamentos, os segredos e principalmente suas palavras
ditas pela manhã.
Eu afasto tudo.
— Vocês irão pegar a estrada que horas? — Cláudia pergunta enquanto se serve
de mais salada.
— Às 16 horas, mãe. Por quê? — Pietro pergunta franzino às sobrancelhas.
— Nada. Só terei que ir com seu pai para o hospital. Ainda está um caos e eu
quero ajudar um pouco. — Ela responde dando de ombros.
Sorrio para ela me sentindo orgulhosa e agradecida por Pietro ter pessoas tão
maravilhosas ao seu lado desde criança.
— Então Melissa, como não tivemos tempo de conversar muito e eu peço
desculpas por isso, gostaria de saber qual curso está cursando. — Victor dá de
ombros se desculpando.
— Não tem problema. Eu curso literatura inglesa. — Digo sorrindo enquanto
ele balança a cabeça confirmando.
— Que bom. Você quer ser professora, editora... Algo do tipo? — Ele pergunta
novamente.
— Quero editorar, mas também quero ser escritora. — Respondo e Pietro sorri
pegando minha mão por baixo da mesa.
— Humm... Não quero ser inconveniente, mas Pietro irá voltar para cidade
depois da faculdade... Você pensa em vir para cá quando se casarem? — O suco que
eu ia beber foi parar na cadeira da minha frente ao ouvir as palavras de Victor.
Deus, eu cuspi o suco, literalmente! Que vergonha!
— Pai! — Pietro ruge o repreendendo.
— Pietro, é a verdade. — Ele fala dando de ombros. — Desculpe, Melissa.
Não quis lhe importunar. — Ele me olha, sincero.
— Tudo bem, Pietro. — O acalmo e me volto para seu pai. — E Sr. Victor eu já
presumi a vinda de Pietro para cá, pois ele cursa Medicina. E se a gente se casar, o
que de verdade eu espero que aconteça, não verei problema nenhum em vir morar
onde ele nasceu. — Digo calmamente com um sorriso nos lábios.
— Isso é muito gentil da sua parte, Melissa! — Cláudia sorri e pega minha mão
por cima da mesa. — Eu sei que faz pouco tempo que estão juntos, mas eu não
escolheria nora melhor para meu bebê. — Ela diz e Pietro bufa ao meu lado. Quase
não presto atenção, pois suas palavras ainda ecoam em meus pensamentos.
— O discurso estava ótimo até me chamar de bebê. — Meu namorado reclama.
O almoço segue sem maiores informações. Os pais de Pietro perguntaram por
Nicole e Connor e eu na verdade, não tinha muito que falar já que tem um tempo que
não vou à casa dos dois.
Mas isso está indo mudar amanhã, depois de receber meus exames vou falar
com eles. Tenho que conversar com minha família. Acho que eles sabendo sobre a
possibilidade da doença, seja melhor para meu emocional.
As 16horas estamos saindo de casa. Despedimo-nos de Victor e Cláudia logo
depois do almoço, pois, como ela falou, iriam para o hospital. Andamos lado a lado
para o estacionamento, mas logo paramos ao ver um carro entrar pelo portão.
Sophia, André, Laura, Jude e outra garota descem do carro e eu sorrio. A garota
tem cabelos enrolados e olhos verdes brilhantes, sua pele é clara e eu a acho muito
bonita.
— Hey! Não acredito que iriam embora sem se despedir. — Sophia faz cara de
brava e eu balanço a cabeça sorrindo. Faz menos de doze horas que a vimos.
Dramática!
— Sophia... Poupe-me. — Pietro reclama colocando nossas malas no carro sem
olhar para trás.
— Pietro... Não vai me apresentar a sua garota? — A garota que chegou com
eles fala cruzando os braços.
— April, não! — Laura fala, rudemente, como nunca imaginei ela ser capaz de
falar.
— Que? Só estou pedindo que ele a apresente. — Ela me olha da cabeça aos
pés e Pietro se vira com o rosto impassível.
— April... Como está? Essa é Melissa, minha namorada. — Ele aperta o
maxilar ao falar. — Mel, essa é April, uma velha amiga. — Diz a apontando.
— Íntima. — Ela conclui. Aperto meus olhos me aproximando dela. — Bem
íntima.
— Está tentando fazer com que eu fique com ciúmes? — Pergunto séria. Coloco
minhas mãos na cintura. Ela sorri debochada. — Desculpe lhe decepcionar, querida.
A ex dele é ainda melhor que você e mesmo assim ele está comigo. Então algo eu
devo ter, não é mesmo? — digo dando de ombros. — Desculpe, aqui não vai
funcionar. — Seu sorriso se vai e fica uma carranca rude.
Vadia.
— Estamos indo já, galera. Nos vemos de novo em breve. — Pietro se despede
deles me puxando pela cintura. Abraço minhas novas amigas, começando por Laura.
— Adorei te conhecer. Vou mandar o manuscrito para você ler ainda essa
semana. — Digo sorrindo e pisco o olho.
— Não ligue para minha prima. Ela sempre esperou ele voltar para seus braços.
— Ela sorri triste e eu balanço a cabeço num gesto de desdém.
Afasto-me e abraço Sophia.
— Espero que você tenha feito o correto. — Digo sorrindo e ela me dá um
sorrisinho de lado.
— Eu fiz. Eu me entreguei para ele. — Ela sussurra e eu a abraço de novo. —
Obrigada. E não se preocupe com a prima puta da Laura, pois essa já come na minha
mão. — nós gargalhamos.
— Tudo bem. Espero vê-la em breve. — Beijo seu rosto.
Depois disso saímos em direção a Seattle. Em direção a nossa casa.
— Desculpe pela April. Ela não sabe quando se calar. — Pietro resmunga no
carro e eu lhe dou a mão.
— Não precisa se estressar. Eu cuidei de tudo, você não viu? — Pergunto
tentando ficar séria.
— Sim. Muito bem, moça bonita. — Ele beija meus dedos e se concentra no
trânsito.
Entramos em seu apartamento, cansados. A primeira coisa que faço é chutar
meus sapatos. Deus, estou com minha coluna pinicando e meus pés dormentes.
Pietro fecha a porta suspirando e me abraça por trás. Meus músculos relaxam
imediatamente. Sei que ainda temos que conversar, mas, mesmo assim, não estou tão
animada para isso.
Só quero descansar um pouco.
— Você quer dormir? Acho que minha cama está te chamando. — sua voz chega
aos meus ouvidos, arrastadas.
— Então eu vou lá. Sem problema algum. — Digo rindo e puxando Pietro pela
mão. — Tenho certeza que não é só eu que ela está chamando. O que você acha? —
Questiono brincalhona.
— Eu acho que antes de hibernarmos deveríamos fazer algo realmente bom. —
ele tira sua blusa enquanto eu me sento na cama.
— É mesmo?
— Com certeza. Então se você puder, tire essas roupas e fique nua para mim. —
Engulo em seco e sinto meu corpo aquecer.
Jesus!
— Vamos lá, Melissa! Ou quer que eu te ajude? — ele fala ao tirar sua calça
jeans.
— Ok.
Sob seus olhos começo a tirar minha roupa. Pietro sorrir sem tirar os olhos de
mim. Quando olho para ele novamente ele está nu apenas me olhando. Merda. Merda.
Merda.
Termino de tirar minhas roupas ficando apenas de lingerie. Pietro suspira e se
aproxima de mim devagar. Seus passos são cheios de certeza e eu respiro fundo.
Não sei por que estou nervosa. Já fizemos isso, uma pá de vezes. Mas...
Pietro me abraça e desce seus lábios pela minha pele. Suas mãos me circulam e
desfecham o meu sutiã. Depois que ele desce por meus braços Pietro suspira pegando
meus seios firmemente.
— Eu amo seus seios. — ele sussurra fazendo o seu hálito deixar meus bicos
duros. Meus pensamentos se desfazem quando seus lábios o chupam com vontade e
ele me levanta fazendo eu circular sua cintura com minhas pernas.
Deitamo-nos na cama com Pietro ainda mordiscando meus seios. Seus lábios
descem por minha barriga enquanto ele tira minha calcinha devagar.
Seus dedos entram em contato com minha carne molhada e meu gemido ecoa
pelo quarto. Ele sorri e beija minha boca parando de me tocar. Quero reclamar, mas
logo ele me preenche em um movimento rápido e fugaz. Grito enquanto seus
movimentos vão se intensificando.
Meu ventre aperta com o prazer futuro enquanto o suor desliza por minha pele.
Pietro ruge alto enquanto começo a me mexer junto com ele. Em um movimento brusco
ele me vira e faz-me estar por cima. Enquanto desço por seu colo me sinto preenchida
inteiramente. O prazer parece que multiplicou. Enquanto continuo subindo e descendo
em seu colo, Pietro brinca com meus seios me deixando cada vez mais perto da borda.
Juntos, encontramos o prazer de maneira intensa. Como nunca encontrei nas
vezes que fizemos amor.
Caio exausta em seu peito e nos enrolamos abraçados, então dormimos
pacificamente.
Acordo com batidas na porta. Olho para meu lado e Pietro dorme com os lábios
entreabertos. Passo a mão por seu cabelo e beijo sua boca carinhosamente. Eu o amo
tanto. Nunca pensei que eu poderia amar mais do que cheguei a amar Tyler, mas eu
estava tão enganada.
Eu nunca gostei de Ty um terço do que gosto de Pietro. Com ele tudo é tão
intenso. Saio dos meus devaneios com mais batidas na porta. Espero que não seja
Kevin ou Oliver, porque sinceramente... eles não têm o que fazer?
Visto minha calcinha e sutiã. Pego a blusa que Pietro jogou no chão e a deslizo
por meu corpo. Ando para a sala apressadamente, pois as batidas começaram
novamente. Suspiro e abro a porta.
A primeira coisa que vejo são seus olhos verdes arregalados, depois são seus
cabelos loiros e encaracolados. Ainda bonita como sempre, mas nada disso resultou o
que estou sentindo agora.
Sua barriga fez!
Apenas isso foi capaz de fazer meu corpo inteiro virar gelatina. Somente isso
fez minhas pernas cederem e eu precisar segurar a porta com a força que não tenho.
Quando penso que irei cair, Pietro me segura. Não sei de onde saiu. Só sei que
estou em seus braços.
— Kimberley... Você ... — eu não consigo dizer. Tem algo em minha boca que
não me deixa falar.
— Estou grávida, Melissa.
É nesse momento que eu escuto.
Meu coração quebrando.
Quando eu era criança meu pai me dizia que tudo na vida tem um propósito.
Sendo elas boas ou ruins. Eu olhava admirada para ele, mas a verdade é que nunca
entendi o que queria falar.
Acho que naquelas horas ele estava querendo me preparar para momentos como
esse. Para momentos em que, certamente, me deixaria desapontada ou triste.
Puxo a blusa de Pietro para me cobrir, mas não adianta muita coisa. Me solto de
seus braços como se eles fossem fogo ardente. Não consigo desviar os olhos da
barriga de Kimberley. Não consigo pensar em nada a não ser, que ela vai dar um bebê
a ele.
Ela vai realizar o que tanto eu estava me preocupando em dar a ele. Ela vai lhe
dar um filho.
Meus olhos querem se encher de lágrimas por isso, mas eu não permito. A vinda
de uma criança não é motivo para chorar. É motivo para celebrar. Eu não me permito
derramar lágrimas tristes por um bebê que nem nasceu ainda. Mesmo ele sendo de
outra mulher com o homem que eu amo.
— Kimberley... O que está fazendo aqui? — Escuto a voz dele distante.
Minhas mãos estão suando, remexo meus dedos tentando dissipar o nervosismo,
mas é em vão, cada vez que olho para sua barriga é um lembrete certo de que ela está
grávida do meu namorado. Eles vão ter um bebê juntos. Minha respiração está pesada.
Eu respiro fundo, tentando, mais uma vez, me acalmar.
— Você disse que chegava hoje... eu não pensei que Melissa estaria aqui.
Desculpe. — Ela fala enquanto olha entre nós dois. Não vejo falsidade ou qualquer
outro sentimento ruim em seus olhos. O único sentimento que ela sente em relação a
mim é pesar.
Ela pensou que ele já tinha me contado? Pietro já sabia? É lógico, era isso que
ele queria me dizer. Por Deus, como fui idiota. Como ele pôde me esconder isso?
— Quando vier aqui eu peço, por favor, que me avise. — Ele diz suspirando.
Distancio-me deles e fico um pouco atrás. Estou por um fio, eu espero eles me
explicarem algo. Eu espero. Mas eles não fazem.
— Desculpe. — Sua voz sai arrastada.
Então, eu quebro.
Eu perco o controle total.
— Vocês estão me vendo aqui? — Grito de repente os fazendo saltar. — Parem
de conversar como se eu soubesse da gravidez de vocês. Parem de ignorar o fato que
acabei de ver que meu namorado vai ser pai do filho de sua ex... — Continuo gritando
enquanto Pietro vem em minha direção.
— Mel... — ele começa. — Me desculpe. Eu ia falar hoje. Eu tinha dito, não
era? — Seus olhos estão cheios de lágrimas enquanto ele repete essa pergunta
diversas vezes. — Eu tinha dito. Não é? Você se lembra. Não é? — Sua voz me causa
mais e mais lágrimas.
— Eu... vou embora. Desculpem-me novamente. — Escuto a voz de Kim, mas
não a olho.
Olhar para ela traz a certeza de que isso não é um sonho. Traz a certeza de que
ela vai dar a ele o que eu não posso. Pelo menos não até saber o resultado dos exames
amanhã.
Depois que ela sai, eu viro as costas para Pietro e caminho para o quarto. Eu me
abraço tentando de algum jeito me consolar, é idiota, mas não tenho muita escolha no
momento. Tenho que ir embora daqui. Eu não consigo sequer olhar para ele. Só de vê-
lo meu corpo dói. Tudo dói.
— Mel... Por favor. Amor... — ele me acompanha e eu deixo minhas lágrimas
descerem.
Não por Kimberley está grávida. Mas por saber o que vem a seguir. Eu vou
perdê-lo. Eu sempre perco. Eu deveria está acostumada, mas se tratando dele, eu
sempre viro uma bagunça.
— Como você pôde, Pietro? Como você foi capaz de me esconder uma coisa
dessas? — Questiono de repente irritada. — Deus, nós passamos o final de semana
inteiro, juntos, e você não me falou. Você não falou uma maldita palavra. Como você
pôde me fazer de idiota assim? — Tento gritar entre os soluços. Meu peito está
doendo. Todo meu corpo está.
Meu coração passou o final de semana inteiro apertado, mas hoje ele é nada
mais que pó. Um simples e fino pó que é levado pelo mais fraco vento.
— Eu disse... nós iríamos conversar quando chegássemos em casa. Eu juro que
não iria esconder isso. — Ele pega minhas mãos e me abraça.
Remexo-me em seus braços tentando me soltar, mas ele me aperta mais ainda.
Não chega a me machucar, mas é como se ele estivesse tentando me prender dentro de
si mesmo.
— Eu te amo. Você sabe disso, Melissa. Não me deixe. Por favor... — sua voz
se quebra ao meio e eu fecho meus olhos.
Como de um final de semana de amor chegamos a isso? A esse medo absurdo. A
essa sensação de perda que se apoderou de mim? E dele?
— Pietro, por favor, me solte. Você está me fazendo sofrer. — No momento em
que essas palavras saem da minha boca ele me deixa ir.
Em silêncio ele se senta na cama. Seu rosto está molhado e sua respiração
irregular. Pego minhas roupas no chão do quarto respirando fortemente. Tiro sua
camiseta e começo a me vestir no automático. Seus olhos estão cravados em mim.
Tem tanta dor lá que eu não sou capaz de olhar para ele.
Mas eu não posso ir adiante. Eu não posso ver e acompanhar sua interação com
Kimberley. A mãe do seu filho.
— Mel. Por favor... vamos conversar. — Ele volta a falar enquanto estou
colocando minha bota.
— Tudo bem. Vamos lá... — digo tentando soar fria, mas em vão. Sento-me na
sua frente e em questão de segundos as lágrimas começam a jorrar novamente. — O
que vai me falar, Pietro? Que nada vai mudar? — Questiono chorando, mas ele fica
calado. — Me responde, Pietro. — Sussurro.
— Nós podemos. Eu sei que as coisas vão mudar, mas eu não vou te deixar para
casar com ela. Eu nunca faria isso, Melissa. — Ele pega minhas mãos e me puxa para
seu colo. Eu deixo. Eu não posso o privar disso. — Eu te amo tanto. — Ele soluça.
— Eu... — engulo minha fragilidade e começo a falar de novo. — Talvez você
esteja certo. Mas eu preciso de um tempo, Pietro. Eu preciso pensar nisso com
calma... você me enganar, omitir a gravidez dela me machucou de uma maneira
horrível. — Digo enquanto ele me aperta mais forte em seu peito.
— Não faz isso comigo, linda. Eu só estava com medo. Eu ainda estou... não me
deixa, Melissa. — Soluço em seu pescoço e o abraço. Passo meus braços por seus
ombros e o aperto junto de mim. Quando vejo que de nada vai adiantar, eu selo nossos
lábios juntos.
Beijo sua boca com paixão. Diferente de todas as outras vezes, hoje nosso beijo
é cheio de dor. É cheio de despedida.
— Eu te amo, Pietro. E eu vou voltar. — Beijo sua bochecha e limpo minhas
lágrimas. — Na primeira vez, nós encontramos o caminho de volta um para o outro.
Dessa vez... não vai ser diferente. — Digo por fim e saio de seus braços.
Levanto-me e pego minha mala no canto do quarto. Limpo minhas lágrimas e
saio de seu apartamento e da sua vida.
O caminho para o apartamento parece torturante. Eu me pego soluçando tão alto
que quando o sinal fecha, eu fico com vergonha de olhar para o lado. Para que no caso
de ter alguém me olhando com pena, eu não possa ver e sentir. Eu não quero que
tenham pena de mim. Eu só quero meu namorado de volta.
Eu só quero a minha felicidade de volta.
Ao entrar em meu apartamento a primeira pessoa que vejo é meu irmão. Tento
disfarçar minhas lágrimas, mas quando seus olhos encontram os meus eu desmorono.
Eu caio no chão da sala e choro como uma criança.
— Melissa! Porra! — ele me abraça enquanto eu choro mais e mais em seus
braços. — O que? Meu Deus. Porra! Porra! — ele amaldiçoa o vento enquanto me
carrega para meu quarto.
Depois de ser colocada na cama, nos deitamos juntos, Dylan não fala nada. Ele
só me abraça e acaricia meus cabelos. Coloco minha cabeça em seu peito e suspiro
profundamente. Um sorriso triste e saudoso toma conta do meu rosto ao ouvir sua voz
em meio ao meu choro baixinho.
— Era uma vez uma princesa que vivia trancada em um castelo gigante. Ela era
criada por uma mulher muito má que não a deixava sair e nem fazer amigos. Seu nome
era...
— Rapunzel. — O interrompo e ele sorri piscando o olho esquerdo. E assim ele
começa a contar à história que mamãe e papai me contavam todas as noites antes de
eu dormir.
— Você chorava quando nossos pais não contavam essa história. — Ele
relembra. — E enquanto eles não começavam você me perguntava a todo minuto se
eles estavam perto de vir. Eu sempre achei bobo. Mas eu te amava tanto que eu queria
fazer parte daquele momento por você. Então hoje eu contei a história e eu quero que
você durma como quando era apenas uma menina boba que eu amava tanto a ponto de
ouvir histórias de princesas. — Dylan termina seu discurso que me emociona de uma
maneira inexplicável e eu beijo sua bochecha sorrindo, por um momento esquecendo
o quanto minha vida desmoronou.
— Eu te amo, irmão gêmeo! — digo e por fim, me entrego ao sono.
Ao acordar a primeira pessoa que vejo é Nicole. Sorrindo me sento na cama e
daí posso ver que meu quarto está cheio. Dylan está sentado na minha escrivaninha
com Kyara em seu colo, Connor escorado na porta e Nicole está sentada na cama.
— Oi. — Digo e minha garganta arranha. Consequências de um choro
compulsivo. — O que estão fazendo aqui? — Pergunto e faço um coque no meu
cabelo.
— Hey! Como você está? — Connor pergunta e se aproxima da cama.
— Estou bem. Digo... daqui a pouco vou receber meu exame. Então só estou um
pouco nervosa. — Digo e Dylan sorri cúmplice.
— Mamãe me explicou. Mas vai sair tudo bem. Você é linda e muito saudável.
— Meu irmão diz e eu engulo em seco, ansiosa. Eu quero que seja verdade. Eu quero
ser saudável.
— Pietro foi lá em casa ontem. Ele nos falou sobre a gravidez. — Nicole diz
baixinho como se pudesse me quebrar ao ouvir sua voz mais elevada.
Gravidez.
Isso sim, me quebra.
— Vocês têm certeza de que o bebê é dele? — Escuto Kya e olho em seus olhos.
Ela se levanta e senta na minha frente. — Não olhe assim. Parece que a vida está se
esvaindo de você, porra! Está me assustando. — Ela começa a chorar e eu continuo
olhando para ela do mesmo jeito. Dylan a abraça a acalentando.
Não sei o que ela quis dizer, mas eu não consigo mudar meu jeito de olhar. Eu
suspiro e a puxo de Dylan para meus braços.
— Eu quebrei Kyara. — Sussurro, mas todos no quarto escutam. Meus irmãos
se aproximam e Nicole começa a chorar. — Eu o perdi, e eu não sinto nada, a não ser
um vazio imenso em meu peito. Vocês conseguem me entender? — Começo a chorar e
Kya limpa minhas lágrimas.
— Você é tão forte, Melissa! Você é o meu porto seguro, amiga. Não se deixe
levar por isso. Ele te ama, não vai ser um filho que vai fazer ele te esquecer. São
amores diferentes. — Kyara fala enquanto gira meus anéis.
— Eu sei. Mas é muito para mim. Ainda mais com ela. Com Kimberley. A
garota que me detesta. — Digo limpando minhas lágrimas.
— Eu sei. Bem, ele tem alguma dúvida, Nicole? De que o bebê possa ser de
outro? — Kya questiona ao olhar para minha cunhada.
— Não. É dele. Ela lhe mostrou todos os exames. Tudo relacionado à gravidez.
É dele. — Nick fala convicta e eu suspiro.
— Que merda. — Kyara suspira e me abraça de novo.
— Onde está Abby? — Pergunto tentando tirar a atenção de mim.
Um movimento na porta me faz arregalar os olhos. Não acredito que essa garota
já está assim? Engatinhando, sério?
— Meu Deus! Você já está engatinhando, meu amor? — Afino minha voz e
desço da cama para pegá-la nos braços.
Ela sorri alegre quando faço cosquinhas em sua barriga.
— Deus! Olhar para você é o mesmo que olhar para o papai bundão! — Digo
quando seus olhos encontram os meus.
— Melissa! Não fale isso. Ela aprende. — Nicole fala vindo em minha direção.
Sorrio vitoriosa pela atenção ter saído de mim.
Depois de todos eles irem embora, me arrumo para ir ao hospital. Achei
estranho que nenhum deles quisera me acompanhar, talvez estejam ocupados. Não sei.
— Melissa Jones. — Digo quando a enfermeira solicita meu nome.
Pego meus exames e minhas mãos pesam. Meu peito aperta e começo a caminhar
para a sala de espera para o doutor. Sento-me em uma cadeira de plástico e olho para
meus exames remexendo-os em minhas mãos. Respiro fundo e levanto meu olhar para
a porta.
Em um movimento rápido vejo alguém sentar ao meu lado. Arrisco olhar em sua
direção e meu coração perde uma batida.
Pietro.
— O que está fazendo aqui? — Pergunto e engulo em seco. Eu o vi ontem, mas
parece que faz anos. Deus, eu senti sua falta.
— Você é meu centro, Melissa. Eu vim acompanhá-la. — Ele responde baixinho
enquanto coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
Água.
Sim, eu virei uma poça de água nesse momento.
Capítulo Vinte e Seis
Melissa
Umedeço meus lábios e suspiro me virando para não o olhar. É difícil, quando
você está com saudades da outra pessoa. O que ele fez vindo aqui me alegra de
maneiras que não consigo colocar em palavras.
Meu peito se encheu de felicidade ao ouvir sua voz reafirmando que sou o
centro do seu universo. Mordo meu lábio inferior tentando não deixar as lágrimas me
inundarem. Quando sinto o gosto de sangue e vejo que mesmo assim não pude
impedir, desabo em lágrimas.
— Shhhhh... — ele passa os braços por mim e me leva para seu peito. — Está
tudo bem. Não vai ser nada além de um descontrole menstrual como o médico falou.
Não chore, Melissa. Por favor. — Escuto sua voz e saio dos seus braços.
— Não estou chorando por isso, Pietro. Eu... estou nervosa. Muito. Mas... você
aqui me deixa... confusa. Deixa-me saudosa e eu não sei se estou pronta para estar
assim com você. Tão perto. — Explico enquanto ele limpa minhas lágrimas.
— Eu sei..., mas eu não acho certo você estar aqui sozinha, sem mim. Eu quero
estar com você, então, por favor, só por hoje, me deixe ficar ao seu lado, ok? — Seus
dedos tocam meus cabelos os afastando do meu rosto. — Me deixe cuidar de você,
baby. — Ele termina e beija meus cabelos.
— Melissa Jones? — Escuto a voz da enfermeira e me viro levantando a mão.
Ela me chama e eu olho para Pietro.
— Tudo bem. Vamos lá! — Digo e ele sorri. Seu sorriso é alegre e com um
alívio gigante que aperta meu coração.
Ele queria muito que eu o deixasse entrar comigo.
— Bom dia, Casal! — O doutor fala nos saudando e eu me remexo
desconfortável. Nós não somos mais um casal, pensar nisso me dá vontade de voltar
tudo. Voltar para seus braços, para onde eu deveria estar. Sempre.
— Olá, doutor — Pietro fala e puxa a cadeira para mim. Agradeço e me sento.
— Como você está Melissa? — Ele questiona e eu suspiro.
— Estou bem. — Sussurro e ele acena confirmando. Seus olhos vão de Pietro
para mim e eu sei que ele percebeu.
— E suas dores? Melhoraram? — Ele pega os exames de ultrassonografia que
estavam em minhas mãos e começa a ler.
— Um pouco. Hoje eu senti, mas não foi tão intenso. — Digo e Pietro se vira
para me olhar.
— Porque não me chamou? — Ele questiona preocupado e irritado ao mesmo
tempo.
Suspiro e dou um sorriso amarelo para o doutor que fica olhando de um para o
outro.
— Você sabe o porquê. — Digo e ele balança a cabeça mordendo sua boca. —
Além do mais, meus irmãos estavam lá com as meninas. Nem prestei atenção em
minhas dores. — Digo e volta minha atenção para o doutor.
Ele tosse e arranha sua garganta desconfortável. Só o que me faltava.
— Vamos lá, Melissa! — ele suspira e coloca o exame aberto na minha frente.
— Eu sinto muito dizer isso, mas sim, você tem endometriose. — Quando escuto sua
voz, eu engulo em seco.
Finco minhas unhas em meu braço para parar a vontade de chorar. E realmente
funciona. Dor para matar outra dor. Vou me acostumar.
— Qual vai ser o tratamento doutor? Como vai ser? É algum remédio, que ela
vai ter que tomar? Eu pesquisei algumas coisas, mas é tudo muito confuso. — Pietro
fala calmamente enquanto pega minha mão a afastando do braço onde deixei marcas
fundas das minhas unhas.
Ele vê e franzindo às sobrancelhas passa os dedos pelas marcas. Ele faz,
literalmente, carinho nelas.
— Tudo bem. No caso de Melissa vamos optar pela Laparoscopia, ela é um
procedimento cirúrgico menor que permite identificar tamanho, extensão e local onde
às lesões estão e iniciar imediatamente o tratamento adequado. No primeiro momento
pensei em optar por contraceptivos hormonais; as pílulas iram controlar os hormônios
responsáveis pelo crescimento mensal do tecido endometrial. As mulheres muitas
vezes apresentam um fluxo menstrual pequeno e de menor duração. A utilização das
pílulas de forma continua pode sim, reduzir e até eliminar a dor causada pela
endometriose. — Ele fala sério olhando em meus olhos. Eu suspiro e olho para Pietro.
Ele está acenando e continua acariciando minha pele marcada.
— Entendemos. Melissa vai ter que tomar anticoncepcional permanentemente?
É isso que o senhor quis dizer? — Questiona e eu olho para o médico.
— Não permanentemente. Isso só é o primeiro tratamento que estou dizendo.
Caso a cirurgia for um sucesso, que tenho certeza que será, nem isso precisaremos.
Mas caso ocorra de Melissa ter que tomar os anticoncepcionais não vai ser preciso
ser permanente. Caso vocês pensem em ter bebês, como eu expliquei para você,
Melissa, é possível. Então nós teríamos que deixar as pílulas por um tempo e
escolhermos um método que mais se adeque a Melissa para uma possível gravidez. —
Ele explica ainda sério e eu sorrio irônica.
— Não quero ter filho por enquanto doutor. Pietro já tem o bebê dele e eu,
sinceramente, não sei. — Digo amarga e me distancio de Pietro.
Ele respira fortemente e puxa minha mão para seu colo. Eu a retiro novamente.
— Melissa, não! Aqui não! — Ele ruge e eu o olho com raiva.
— Acabou Pietro. Pode voltar para a mãe dos seus filhos. — Digo com raiva e
novamente finco minhas unhas na minha pele.
Não chore, porra!
Pare de ser criança, Melissa!
— Gente... — o doutor chama nossa atenção e eu me viro para ele. — Melissa,
eu proponho a você que se acalme, pois temos que terminar sua consulta. Vamos
marcar sua cirurgia e suas consultas que serão periódicas, ok? — Ele fala firme, mas
calmo.
Balanço minha cabeça e me distancio de Pietro.
— Pietro, eu sei que você quer fazer o melhor para Melissa, mas eu gostaria que
esperasse lá fora. Eu preciso conversar com Melissa e no momento você está a
fazendo ficar nervosa. — Pietro suspira e se levanta. Quando ele vai sair da sala ele
volta e beija meus cabelos.
— Vou esperar aqui fora, ok? — Avisa e eu aceno mordendo meu lábio inferior.
— Ok.
Depois de ele sair volto minha atenção para o médico. Ele suspira e sorri gentil.
— Não quero me intrometer na vida amorosa dos meus pacientes, mas nesse
momento sua vida amorosa está te desequilibrando emocionalmente. A gravidez é um
assunto delicado para você por causa da endometriose. E eu estou vendo você se
machucar com suas unhas tentando driblar a vontade de chorar, não faça isso. Você
pode sim, chorar. Você pode fazer o que quiser. Mas a endometriose não precisa te
trazer lágrimas, então se acalme, ok? — Enquanto sua voz entra em minha cabeça eu
retiro minhas unhas da pele.
Sinto as lágrimas encher meus olhos e suspiro querendo me parar. Deus, por que
sou tão fraca? Estúpida!
— Pietro vai ter um bebê? — Questiona pensativo.
— Sim. A ex dele está grávida. — Digo e limpo minhas lágrimas respirando
devagar.
— Você sabe, não é culpa dele. Foi um acaso. Ele estava com você quando a
engravidou? — Faço não com a cabeça. — Então? É isso. Ele não tem culpa. Eu sei
que o momento traz um pouco de tristeza, pois a endometriose pode sim, deixar a
mulher infértil. Mas não no seu caso. Você é jovem e saudável. Não precisa se
preocupar. Quando vocês quiserem ter um filho de vocês dois, me digam. Farei o
possível para realizar esse sonho, ok? — Pego sua mão pela mesa e a aperto.
— Eu... eu só estou com medo. Ela vai dar um bebê a ele. Ele é louco por
criança, eu acho que fiquei com ciúmes. Tanto do bebê como da ex. — digo sorrindo e
suspiro. — Eu sei que a culpa não é dele, mas... Ele me escondeu. Eu descobri
sozinha, então eu acho que estou magoada. — Termino de falar e solto sua mão.
— É normal estar magoada. Mas você tem certeza que quer o deixar sozinho?
Ele pode mudar o pensamento e querer criar o bebê com ela. Tenho certeza que ele
precisa de você. Dá para ver que ele gosta de você, então cuide dele e de você. Não
se apague a gravidez da garota. Se apague a você, a vocês dois. — Aceno entendendo
e me sento mais confortavelmente na cadeira.
Depois da nossa conversa ele explicou direitinho a cirurgia, marcou a data da
mesma e para, no caso, de dor ele prescreveu umas pílulas. Sai de sua sala mais leve.
Gostei do médico. Ele me faz me sentir confortável.
Encontro Pietro sentado em uma cadeira na sala de espera. Aproximo-me e ele
se levanta.
— Podemos ir? — Ele pergunta mudando seu peso de uma perna para a outra.
— Sim. Só tenho que pegar meus remédios. — Ele acena e me guia até a saída
da sala.
Caminhamos lado a lado até o estacionamento depois de irmos à farmácia.
Pietro abre a porta do seu carro e eu entro sem brigar.
Vim de táxi, pois ainda estava com dores então não podia dirigir. Não vou
teimar com ele dizendo pegar um táxi, pois sei que ele vai fazer um escândalo.
Ficamos calados a maior parte do tempo. Quando olho para ele sua mandíbula
está apertada. Não sei por que está irritado, mas também não pergunto.
— O que ele queria com você? — Ele questiona de repente.
— Nada demais. — Respondo olhando pela janela sabendo que ele se refere ao
médico.
— Com certeza teve um motivo. Ele pediu para eu sair da sala então alguma
coisa ele queria. — Ele diz apertando o volante com as mãos.
Sorrio triste quando constato que ele está com ciúmes. Pietro Victor com ciúmes
é novidade para mim.
— Está com ciúmes? — Pergunto o olhando.
— É óbvio. Quem ele pensa que é para te paquerar na minha frente? — Ele
explode me olhando firme.
— Ele não estava me paquerando. Pare com isso. — Digo franzino às
sobrancelhas. Lógico que ele não estava. Pelo amor de Deus! De onde Pietro tirou
isso?
— E porque pediu para eu sair? Diga-me. — Ele questiona.
— Ele explicou a você. Eu estava ficando nervosa e aquele lugar é seu trabalho.
Não podemos estar discutindo nossa relação na frente do meu médico. — Digo
chateada. Que merda esse menino tem?
— Eu sei... eu só estou com ciúmes. Pronto. Somente isso. — Ele diz
suspirando e pega minha mão na sua.
— Eu entendo. — Digo suspirando. — Vocês já sabem o sexo do bebê? —
Pergunto de repente. Coloco a mão em minha boca, assustada. Eu perguntei,
literalmente, sem querer.
— Eu sei que esse assunto não é o melhor para nós dois. Desculpe-me, mas é
um menino. — Ele diz sorrindo para mim.
Meu peito se enche de felicidade. A primor não entendo esse sentimento, mas eu
apenas sinto. Sinto-me muito feliz por ele e por seu bebê ser um garoto.
— Que bom. Parabéns! Eu tenho certeza que ele vai ser tão lindo quanto você.
— Digo sorrindo e minha visão embaça com lágrimas que eu nem percebi que tinha
em meus olhos.
— Não chora, Mel. Eu... é egoísmo meu pensar que você ficaria feliz. Mas eu...
me desculpa. — Ele encosta o carro e me puxa para seu colo.
Eu deixo.
Eu deixo porque eu o amo tanto e ele está tão enganado.
— Não estou triste. Deus, eu nunca ficaria triste por seu bebê. Saber que ele vai
ser um menino me alegrou muito. Tenho certeza que você será um pai incrível. —
Digo e beijo sua testa. Passo minha mão por seu cabelo, o acariciando.
— Obrigado. Muito obrigado. Eu... eu fiquei feliz por ter um bebê, desculpe se
isso te magoa, mas eu fiquei feliz. Eu também quero ter filhos com você. Eu quero
filhos com seus olhos e seus lábios perfeitos. Eu te amo, Melissa. E eu poderia muito
bem escolher você como mãe dos meus filhos, mas Deus não quis assim. Kyle vai ser
nosso também. Tenho certeza que ele vai te amar. — Ele fala enquanto sua mão desce
e sobe pela minha coluna.
— O nome dele vai ser Kyle? — Pergunto com um sorriso terno em meus
lábios.
— Sim. Kimberley mandou SMS dizendo hoje. — Ele sorri gigante. —Achei um
nome bonito. O que você achou? — Ele pergunta e beija minha bochecha.
— Eu achei lindo. — Digo e provo o nome em meus lábios. — Kyle... Achei
muito perfeito mesmo. Kimberley soube escolher. — Sorrio e abraço Pietro. —
Parabéns! — Digo baixinho em seu ouvido.
— Obrigado... A gente... — o interrompo voltando a minha posição para o olhar
nos olhos.
— Ainda não. Dê-me algum tempo, eu juro que vou organizar meus
pensamentos. Eu ainda não te perdoei por esconder Kyle de mim. Então, me deixe
digerir e tentar te entender, ok? — Viro minha cabeça e beijo seus lábios com um
selinho. — Eu te amo.
Volto para o banco do passageiro e ele suspira sorrindo.
— Tudo bem. Eu sou paciente. — Ele diz piscando para mim e eu suspiro feliz.
Ao chegar em casa vejo Helena parada na porta. Confusa, me aproximo.
— O que está fazendo aqui, Helena? — pergunto vendo que está chorando.
Entramos em casa e eu tranco a porta preocupada.
— Eu preciso de você. Eu... — ele suspira e dá um passo em minha direção. —
Eu preciso dele, Melissa. Mas não sei como vou dizer às coisas que fiz. Tudo
aconteceu por culpa minha. Eu o perdi, e a culpa é toda minha. — Ela chora enquanto
treme e eu a abraço.
O que mais eu poderia fazer?
Seus olhos estão cheios de dor e eu não sei o que fazer. Eu não sei o que ela fez
para se sentir assim. Mas eu sei que é muito sério.
Aos poucos ela se acalma e nos sentamos no sofá. Pego suas mãos nas minhas e
aperto.
— O que aconteceu, Helena? Eu posso te ajudar, mas antes eu preciso entender
o que está acontecendo aqui. — Explico e ela acena confirmando.
Enquanto ela limpa suas lágrimas, eu espero.
— Eu perdi nosso bebê. Eu matei nosso filho.
Capítulo Trinta
Pietro
— Eu disse a ela... eu a pedi em casamento e ela não aceitou. Como você quer
que eu fique? — Questiono, irritado, à Kimberley enquanto a levo para casa.
— Que lute. Ela ainda deve estar presa ao fato de que estou grávida. Mostre que
isso não vai ser um empecilho. — Ela responde calmamente enquanto alisa sua
barriga grande.
Levo minha mão para a sua barriga e faço carinho em Kyle. Ela sorri orgulhosa
quando ele começa a chutar contra minha mão. A minha irritação passa só de o sentir
contra mim.
É quase mágico.
— Ele vai ser a coisa mais importante do mundo para nós dois, Pietro, mas
tenho certeza que ele não quer ver a gente sofrer. — Explica ainda sorrindo para sua
barriga.
— Eu sei, mas Melissa é tão teimosa. Eu já dei mil palavras e ações, mas não
adianta. Nada. Numa hora ela quer ir fundo e em outra ela se retrai. Ela tem tanto
medo que não consegue ir em frente. — Falo olhando para seu rosto enquanto o sinal
fecha. Kim suspira impaciente.
As ruas estão cheias. Todos querendo curtir a sexta-feira. Eu só me sinto
exausto. Só isso.
— Eu posso falar minha opinião? — Escuto a voz de Kevin e suspiro acenando.
— Eu acho que nós deveríamos parar de falar dela. Ela não aceitou? Cara, é ela que
está perdendo. Vamos a uma boate curtir e... — Kimberley o interrompe.
— Cala essa boca, Kevin! Como você tem um amigo assim, hein? — Ela se vira
irritada e me pergunta.
Também não sei.
— Ok. Se ele quer curti a fossa dele, eu também vou. Hilary está saindo com
Oliver. Que merda ela tem na cabeça? Eu dei um soco bem grande na cara dele por
pegar minha ex. Cara isso não se faz. — Ele resmunga balançando a cabeça e eu viro
para o olhar.
— Você bateu nele, Kevin? — Pergunto assustado. Que merda meus amigos
estão fazendo com a sua amizade?
— Cara, ele teve a cara de pau de ir me contar. Dei mesmo e ainda bem que ele
não apareceu nesse aniversário, porque eu ia bater mais. — Ele fala com os punhos
cerrados.
— Posso dar minha opinião? — Kimberley pergunta o olhando inocentemente.
— Perdeu idiota! Supere. — Ela fala sorrindo.
Eu levo minha mão para a boca tentando me parar para não rir, mas é inútil.
Gargalho tanto que Kevin fica vermelho de raiva.
— Só não vou te responder, por que está grávida, sua buchuda. — Ele resmunga
e some no banco de trás.
— Voltando para nossa vida... O quarto de Kyle já está pronto? — Ela questiona
interessada. Volto para o trânsito e a respondo.
— Sim. Montei os móveis ontem com a ajuda do meu amigo, Kevin. Ficou
perfeito. — Digo irônico e ele bufa ainda chateado.
— Ótimo. O da minha casa também está pronto. Ficou muito bonito. — Sorrindo
ela diz.
— Que ótimo. Amanhã passo lá para ver e te trago para ver o da minha casa.
Pode ser? — Questiono estacionando em frente seu prédio.
— Pode. — Ela sorri alegre.
Kim está mudada. Não parece em nada com a pessoa que conheci depois do
nosso término. Ela está mais amável e me compreende tão bem. Quando me falou da
gravidez pensei que iria me obrigar a casar com ela e tudo mais, mas ao contrário, ela
disse que nunca iria viver com um homem que não a amasse por inteiro. Ela disse que
se fosse só por Kyle, ela nunca iria me pedir isso. Eu a admiro. Eu a amo e tenho
certeza que será uma ótima mãe.
Saímos do carro e deixo Kevin lá dentro. Não posso deixar Kimberley ir até o
andar dela sozinha. Eu tenho medo que algo aconteça. Principalmente por causa da
pré-eclâmpsia.
Quando o médico contou para nós dois, ficamos neutros. Não sabíamos o quanto
essa doença é perigosa. Kimberley não pode nem sair de casa, pois sua pressão sobe.
Hoje depois de muita conversa eu permiti que fosse a casa de uma amiga, mas ainda
sim, eu a deixei na casa da garota e agora estou trazendo ela de volta.
Enquanto esperamos o elevador chegar Kimberley começa a roer as unhas. Ela
criou essa mania depois da gravidez. Antes suas unhas eram sempre longas e muito
bem pintadas. Agora ela fica ansiosa para tudo. É agonizante ver.
— Você pode ir daqui. Não precisa subir. — Ela diz quando o elevador chega.
Ela entra e eu vou logo atrás.
— Eu quero subir. — Digo enquanto ela bufa irritada.
Subimos sem conversar e logo ela está entrando em sua casa se despedindo de
mim.
— Boa noite, Pietro.
— Boa noite, Kim... qualquer coisa... — digo nervoso.
— Eu te ligo. Não se preocupe. — Ela sorri e lentamente fecha a porta.
Sigo para o meu apartamento. Entro e suspiro enquanto me jogo no sofá. Kevin
vem logo atrás e se senta ao meu lado.
— Olha cara, Oliver gosta dela de verdade. Acho que você pode viver com
isso. Pelo menos pela amizade que têm há tanto tempo. — Digo sincero enquanto ele
olha para o nada.
— Eu sei. E eu vou tentar. — Ele diz e se levanta. — Onde está o whisky?
Preciso beber. — Ele vai até a cozinha e volta com uma garrafa e dois copos.
— Não vou beber, cara. Vai que Kim entra em trabalho de parto? E eu aqui
bêbado? Deus me livre. — Explico devagar e ele sorri revirando os olhos.
— Você que sabe. Pode beber só um copinho não tem nada demais. — Ele
sugere e eu aceno confirmando.
Receber um fora da garota que você ama merece um pouco de bebida, sim eu
posso viver com isso. Bebo dois copos e logo me sinto dormente. Kevin vira mais
uma dose e faz careta diante do gosto.
— Vou tomar banho. Se quiser pode tomar banho no quarto de Kyle, mas lá não
tem cama. Então volte para a sala e durma aí no sofá. — Digo me levantando e tirando
minha camiseta.
— Ok. Mas ainda vou beber aqui mais um pouco. — Fala virando o copo cheio
de whisky. Faço uma careta e vou para meu quarto.
Tomo banho devagar e logo estou saindo do banheiro. Sento-me na cama
secando meu cabelo com a toalha e lembro-me de Melissa. Eu achei que minha ideia
era demais quando a tinha concebido, mas pensando agora me pergunto se foi certo
lhe pressionar daquela forma. Como posso amar tanto aquela mulher?
Ver ela depois de um tempo me deixou feliz. Mas mais feliz ainda fiquei quando
a ouvi dispensar aquele “mané” do médico dela. Porra, eu falei para ela que ele
estava dando em cima dela quando fomos lá para suas consultas, mas ela como a
teimosa que é, disse que não. Há semanas eles viam se vendo, eu sei por que Nicole
me falava. Não era querendo tripudiar, pelo contrário, ela queria que eu reagisse. Mas
como eu iria reagir se não estávamos mais juntos?
Então fiquei na minha. Nicole também me disse que Mel ainda não tinha feito
nada com o que eu devesse me preocupar. Ainda. Ela mesma frisou.
Eu meio que me senti magoado quando a fui visitar e ele chegou lá, mas a
verdade é que ela não me deve nada. Nós terminamos. É isso.
Só eu mesmo para propor casamento a minha ex-namorada.
Pego uma cueca boxer e a visto. Vou para a sala ver como Kevin está, mas
estanco ao entrar no cômodo.
Melissa está no meio da sala mordendo seu lábio inferior. Ela me vê e logo sua
boca se abre e seus olhos piscam. Acho que está surpresa, mas por quê? É minha
casa, lógico que eu estaria aqui.
Seus olhos seguem para meu tronco e cueca. Sorrio diante disso. Ela está
envergonhada pela minha nudez. Ela engole em seco e se aproxima de mim.
— É... O Kevin abriu a porta. Ele disse que já ia embora... Então... Ele foi. —
Ela fala gaguejando, me deixando saber que está nervosa.
— Tudo bem. Acho que ele pegou um táxi. Você me espera aqui? — Ela me olha
sem entender e eu explico. — Vou vestir uma roupa. — Ela volta seu olhar para minha
cueca e suspira acenando.
Vou para meu quarto e mordo meu lábio nervoso. Será que ela... não. Talvez ela
só queira se explicar mais uma vez. Melissa é tão imprevisível que eu não consigo
nem fazer um palpite de merda.
Visto uma calça de moletom e uma camiseta fina branca. Quando volto para a
sala ela ainda está em pé no meio da sala.
— Pode se sentar, Melissa. — Digo e ela pula no susto. Sorrindo me sento e a
chamo para meu lado.
— Ok. — Ela se senta e começa a morder sua boca. Porque ela tem que fazer
isso? — Por que foi colocar a roupa? — Ela questiona e logo depois seus olhos se
arregalam percebendo o que falou. Eu sorrio divertido.
— Você queria que eu ficasse só de cueca? — Questiono tentando ficar sério.
— Sim. — Ela responde sussurrando sem me olhar.
— Ok. — Suspiro e encosto-me ao meu sofá.
Não vou tirar minha roupa agora que estou vestido. Eu quero que fale o que veio
fazer aqui. Ela, pelo contrário, só fica olhando para suas unhas bem cortadas.
Estranho já que elas sempre foram grandes.
Minha boca se abre ao perceber o anel que dei em seu dedo. Tento falar algo,
mas não consigo nada. Toco seu braço e ela se vira para mim. Respiro fundo, mas
antes que eu a questione ela começa a falar.
— Eu... eu percebi que nunca vou saber ao certo se aguento ou não o que vem
com você se eu não tentar. Eu te amo, Pietro. Te amo tanto. E eu não quero de modo
algum outro cara. Eu... Só quero você. — Ela fala com lágrimas nos olhos e eu
suspiro aliviado.
— Você está falando sério, não é? Porque eu disse que quando você colocasse
esse anel em seu dedo, você seria minha. Para sempre. — Digo firme e ela se
aproxima de mim.
— Eu sei. E eu nunca deixei de ser sua. Nunca. — Ela afirma ainda chorando e
eu a trago para meu colo.
Limpo suas lágrimas devagar e beijo sua têmpora. Seus cabelos castanhos estão
por todo lado e aos poucos eu o ajeito atrás de sua orelha. Seus olhos estão em mim.
Analisando-me. Questionando-me.
— Fala algo. Você não quer mais, é isso? — Ela chora enquanto pergunta. Volto
a limpar suas lágrimas, mas ela se afasta. — Pietro... Me responde. — Ela implora.
— Você quer que eu responda o quê? — Pergunto brincando. — Eu que te pedi
em casamento, Melissa. Você aceitou. E eu estou muito feliz. Mas agora, a única coisa
que quero é que você me beije. Você pode fazer isso por mim? — Um sorriso esperto
nasce em seus lábios antes dela os esmagar nos meus.
Puxo sua cabeça em minha direção com seus cabelos presos a minha mão.
Melissa geme em minha boca e eu logo trato de tirar sua blusa bonita.
Desfaço os fechos do seu sutiã e seus seios pairam em frente de mim. Seu bico
rosa logo está duro e pronto para mim. Chupo seus seios a olhando. Melissa revira os
olhos e me puxa em sua direção.
Depois de levá-la para o quarto, tiro sua calça jeans e sua calcinha fina. Logo
depois também tiro minhas roupas e vou para cima dela. Seus lábios estão vermelhos
e ela suspira pesadamente enquanto me encaixo dentro dela. Porra, ela é quente!
— Eu te amo. — Melissa diz entre gemidos enquanto invisto contra ela. —
Deus, Oh. — Sua boca se abre e ela se desfaz ao meu redor.
Acelero meus movimentos e logo caio em cima dela exausto. Minha respiração
pesada se mistura com a dela. O quarto está em silêncio e só seus suspiros de
satisfação me são ouvidos. Deito-me ao seu lado e trago seu corpo despido para cima
de mim.
— Eu te amo, moça bonita. — Beijo seu olho direito e coloco sua cabeça em
meu peito. — Eu te amo. — Reafirmo.
Dormimos abraçados e emocionalmente muito felizes. Só espero que essa
felicidade dure.
Ao longe escuto meu celular tocar e aos poucos, acordo lento. Procuro meu
celular e o encontro no chão do quarto. Levanto-me devagar e vou até ele.
Número desconhecido.
Franzino o cenho atendo. Não tenho ideia de quem possa estar ligando em plena
madrugada.
— Alô. — Digo rouco e olho para Melissa que acorda devagar.
— Pietro? É a irmã de Kimberley... — Meus olhos se arregalam. Porra, ela está
chorando.
— Por que está chorando? Vamos porra. Fale! — Corro pelo quarto pegando
minhas roupas e as vestindo. — Vamos! O que aconteceu, Giovanna? Ela está bem,
não está? Kyle? Kyle está bem também? — Começo a gritar quando vejo que ela só
chora e não consegue falar nada.
— Eu a trouxe para o hospital...
Essas palavras mais seu choro... eu desmorono. Não escuto mais nada. Não
pode ser, porra! Não pode ser.
Capítulo Trinta e Um
Melissa
Levanto da cama rapidamente ao olhar para Pietro. Ele está com os olhos cheios
de lágrimas e acaba derrubando seu celular no chão quando tenta responder a pessoa
do outro lado da linha. Eu o pego enquanto abraço seu corpo.
— Alô? É a namorada dele. Você pode me dizer o que está acontecendo? —
Pergunto irritada. O que ela falou para ele?
— Eu sou irmã de Kimberley, Giovanna. Ela deu entrada no hospital agora em
trabalho de parto. Eu só quero o avisar para vir para cá. Eu o assustei, pois... O
médico quer os familiares aqui caso algo... ocorra. Ela está doente. O parto é de
risco, tanto para ela quanto para Kyle... eu só quero alguém aqui comigo. Eu estou
assustada. — Ela volta a chorar e eu começo também. Como assim de risco?
— Olha, nós estamos indo. Não se preocupe. Se sente e se acalme que já
estamos a caminho.
— Tudo bem.
Desligo e faço Pietro se sentar. Ajoelhou-me a sua frente e pego seu rosto.
— Eles estão bem, querido. Ela entrou em trabalho de parto então temos que ir
para lá. — Falo calmamente e ele acena suspirando pesadamente. — Você tem que
parar de chorar, ok? Eles estão bem e Kyle vai estar em seus braços daqui a algumas
horas. Vamos? — O puxo pela mão enquanto pego minhas roupas no chão do quarto.
Visto-me rapidamente e pego as chaves do seu carro. Por que essas coisas
acontecem sempre depois de um momento tão bom? Voltar para Pietro me fez me
sentir viva, amada e desejada como só ele um dia foi capaz de fazer.
Ao entrar no táxi depois que sai da casa de Nicole coloquei o anel que ele me
deu de presente no dedo direito deixando na visão de quem me olhasse e logo iriam
constatar que eu era noiva. Noiva. Tento sorrir enquanto lembro-me disso e olho para
meu anel, que ainda descansa onde o coloquei, mas logo o sorriso vai embora ao
olhar para Pietro. Seus olhos estão angustiados, eu pego sua mão na minha e a aperto
passando conforto.
— Por que ela estava chorando? — Ele pergunta depois de um tempo calados
indo em direção ao hospital.
— Por que é normal, meu amor. Ela ainda é uma adolescente. Não sabe bem
como se situar nesses momentos. — Digo sorrindo e tentando aliviar sua tensão.
Eu espero que dê tempo chegarmos lá. Quero que Pietro veja seu bebê nascer.
Ele vai ficar muito feliz.
Estaciono e saímos do carro. Pego sua mão na minha e andamos até a recepção.
Digo o nome de Kimberley completo depois que Pietro fala para mim. Somos
orientados a ir para a sala de espera. No caminho liguei para seus pais e para Nicole.
Eles já estão a caminho. Eu me sinto aliviada depois de ouvir isso da boca deles. Eu
não acho que eu seja capaz de aguentar a dor e o medo de Pietro sozinha.
Quando chegamos, ele me solta e abraça a garota que estava com Kimberley no
café de Joseph. Sorrindo me aproximo e a abraço também.
— Ela vai ficar bem, não é Pietro? — Ela o questiona, mas ele não consegue
responder.
Eu a puxo para sentar ao meu lado e a abraço.
— Não se preocupe com isso agora, okay, meu amor? — Falo carinhosamente e
ela chora mais ainda. Não entendo o porquê, mas ela faz.
— Eu só a tenho. Eu não posso a perder. Eu não posso. Eu não quero ficar
sozinha no mundo. — Ela fala nervosamente enquanto suas lágrimas molham sua
camiseta vermelha.
Eu não entendo o que quis dizer com sozinha, pois eu pensava que elas moravam
com os pais, mas não questiono, deixo isso de lado.
— Shiiii. — A abraço e Pietro respira fundo olhando para ela.
— Você não vai ficar sozinha, Giovanna. Você tem a mim. — Ele diz cansado e
ela acena confirmando.
Um médico entra na sala e pergunta por parentes de Kimberley William. Pietro e
Giovanna se levantam.
— Eu sinto muito. Mas antes de qualquer decisão que eu tome, preciso
conversar com vocês. — Ele explica olhando diretamente para eles dois. — A
gravidez de Kimberley está em alto risco. Ela progrediu de pré-eclâmpsia para
eclampsia. Sua pressão está alta demais e se tentarmos fazer o parto do bebê, ela
pode não aguentar. Eu falei com ela, disse que o mais sensato a fazer é causar um
aborto, o que seria permitido pelo risco de vida que ela corre, mas ela não quer. Ela
está consciente e disse com todas as letras que quer o parto. — Enquanto ele vai
falando eu me derramo em lágrimas.
Uma tristeza tão grande se apossa de mim. Eu olho para Pietro e ele está
chorando também e eu tento ser forte para ele, mas agora até eu estou precisando de
apoio. Gio cai sentada e suas mãos vão para a cabeça soluçando.
— Ela... eu quero falar com ela. — Pietro fala enquanto enxuga suas lágrimas.
Eu vejo o quanto ele está tentando ser forte. Ele está segurando suas emoções.
Vejo em seus olhos a dor de escolher entre Kyle e Kimberley.
— Entendo, mas ela prefere falar primeiro com Melissa Jones. — Ele lê o meu
nome em um papel e eu o olho alarmada. — Ela está aqui? Ou teremos que ligar para
ela? — ele questiona e eu levanto minha mão sinalizando que estou.
Estou confusa. O que ela quer de mim nessa ocasião? Ver-me?
— Por quê? — Encontro minha voz e questiono ainda confusa.
— Querida, eu não sei, mas eu sugiro que tenha calma e não a faça ficar
nervosa. E seja rápida, pois já vamos levá-la ao centro cirúrgico. — Ele diz sério e
aponta para um corredor me encorajando a ir.
Olho para Pietro e Giovanna pedindo permissão. Eu acho que estou os
desrespeitando. É para eles falarem com ela, não eu. No momento eles estão mais
assustados que eu, muito mais. Eles dois logo acenam e eu me levanto da cadeira.
— Eu volto logo, ok? Cuida dela, tudo bem? — Peço a Pietro apontando para
Gio, que ainda chora, e ele acena confirmando. Beijo seus lábios e me afasto seguindo
o médico.
Ele para em uma sala branca e logo a porta se abre com uma enfermeira saindo.
Vejo Kimberley deitada na cama e logo seus olhos verdes param em mim. Um suspiro
aliviado sai dela e eu me aproximo devagar. O médico sai nos deixando a sós.
— Oi. — Sua voz sai arrastada. — Você deve estar se perguntando o porquê
preferi falar com você primeiro. Antes até da minha irmã adolescente que deve estar
assustada... — ela sorri fraca e me chama com a mão. Eu me aproximo mais. —
Talvez, o que eu vá te pedir seja demais... quem sabe? Não temos tanta aproximação...
— ela dá de ombros e faz cara de dor ao respirar profundamente. — Só quero te pedir
desculpas por tudo que fiz você passar. — Ela engole em seco. — Se algo acontecer
comigo... eu quero que cuide de Kyle. — Seus olhos se enchem de lágrimas ao
pronunciar o nome de seu bebê.
— Eu já tenho cravado em meus pensamentos o quanto ele vai ser um homem
bom. O quanto você vai o amar e educar ele. — Ela chora e pega minha mão e a
aperta devagar. — Não deixe meus pais o pegarem... não deixe eles arruinarem meu
pequeno anjo, como fizeram comigo e com Giovanna. Por favor, cuide deles dois para
mim. Eu quero ir para a sala de cirurgia com essa certeza. A certeza de que você vai
cuidar deles dois. — Ela chora e eu a abraço deixando minhas lágrimas correrem
livres.
Eu sei nunca fomos próximas, quero dizer, alguns meses atrás nos detestávamos
e agora eu me sinto fraca por ela... Deus, como posso aguentar essa dor em mim? Não
deixe que nada de mal aconteça com ela Senhor, por favor. Eu peço, chorando.
— Kim, eu desculpo tudo o que fez. Por que foi por amor a Pietro. Ele sempre
frisou o quanto você era uma pessoa boa, nos momentos eu não acreditava, mas hoje,
eu penso da mesma forma. Você é uma pessoa linda e tão iluminada. Por isso não se
preocupe, nada disso vai acontecer. Amanhã você vai acordar e ver seu bebê em seus
braços. Não se preocupe, ok? — Digo tudo sorrindo enquanto ela ainda segura minha
mão.
— Tudo bem..., mas você pode me prometer? Só quero ir tranquila. Pelo amor
que sente por Pietro, me prometa que vai ajudá-lo cuidar de Kyle e Giovanna. — Ela
implora.
— Eu prometo, querida. Agora descanse, pois ele quer te ver. — digo
carinhosamente e ela acena confirmando.
Seu sorriso branco aos poucos vai aparecendo e ela me agradece mais uma vez.
Saio do quarto e Pietro já estava na porta. O deixo entrar e encosto-me à parede
oposta a seu quarto. Enquanto as lágrimas tristes saem de mim, me pergunto o porquê
de isso acontecer. Porque Kimberley tem que passar por essa provação. Por que que
para Kyle ter que nascer, precisamos temer a morte de Kimberley? Ou porquê de
deixar uma adolescente sozinha no mundo, como Gio mesmo falou?
Choro mais um pouco e logo me lembro de Giovanna. Levanto-me e vou até a
sala de espera. Ela está sentada como a deixei. No chão. Aproximo-me e sento ao seu
lado.
—Como ela está? — Ela questiona limpando seu rosto molhado.
— Sorrindo. — Digo e suspiro. — Daqui a pouco você vai entrar e falar com
ela. Tente ser rápida, ok? Ela não pode se cansar e logo a levarão para a cirurgia. —
Falo e a trago para meus braços.
Ficamos assim até Pietro voltar e ela ir. Levanto-me e o abraço. Ele passa seus
braços por minha cintura me segurando fortemente. Ele baixa sua cabeça e a coloca
em meu ombro. Os seus tremem devido ao choro compulsivo que sai dele. Sinto-me
fraca diante de tanta dor: a minha dor, a dor dele, a de Giovanna e principalmente a de
Kimberley.
— Eu não quero que ela morra, Mel. Eu quero que Kyle a conheça. Eu quero
que ela me ajude a criá-lo. — Ele fala entre seus soluços me fazendo chorar mais e
mais. — Eu não vou conseguir sozinho. Sem ela. Eu não posso, Porra! — Ele grita e
se senta ao chão. Suas mãos vão para sua cabeça enquanto ele chora
descontroladamente.
— Isso não vai acontecer, Pietro. Ela é forte. Você vai ver. — digo tentando, em
vão, acalmá-lo.
Afasto-me ao ver Nicole correr em sua direção. Ela arregala os olhos ao ver
seu irmão enquanto Connor me puxa para seus braços. Eu me afundo neles. Por que o
que eu mais quero nesse momento é alguém para me acalentar. Eu quero que meu
irmão possa tirar essa dor do meu peito. Do meu coração.
— Oi meu amor... — Nick sussurra em seu ouvido o abraçando e ele a abraça
de volta. — O que está acontecendo, Melissa? — Ela pergunta com a voz trêmula.
— Kimberley pode não aguentar o parto. O médico disse que o mais sensato a
fazer é causar um aborto, mas ela não quis. Nem sequer o deixou falar da
possibilidade. — Falo enquanto me sinto ser abraçada por meu irmão, mais e mais.
— Meu Deus... — Ela volta a abraçar Pietro enquanto ele chora. — Vai ficar
tudo bem. — Ela promete sussurrando.
Giovanna volta chorando e eu volto a trazê-la para meus braços.
— Como ela pode querer me deixar aqui? — Ela questiona e seus olhos
refletem tanta perda. — Sozinha Melissa? Eu nunca vou perdoar ela. — Gio fala
gesticulando.
Eu peço que ela se acalme e logo depois ela se senta respirando fundo. Limpo
suas lágrimas enquanto Nicole faz Pietro se sentar em uma das cadeiras e Connor o
ajuda.
Gio falou isso agora. Na hora da raiva, mas tenho certeza que depois ela vai
relevar. É compreensível já que ela é apenas uma adolescente.
Avisam-nos que Kimberley foi para o centro cirúrgico. Eu peço licença a
Nicole e Connor, e levo Pietro e Giovanna para a lanchonete do hospital.
Cada um de nós nos sentamos e eu peço café da manhã para a gente. Comemos
devagar, a verdade é que nenhum de nós comeu muito. Logo voltamos para a sala de
espera.
Assim que nos sentamos os pais de Pietro chegam. Nicole e Connor ainda estão
aqui, também sentados. Pietro se levanta e sua mãe o abraça. Ele se acalmou bastante.
Eu agradeço por isso.
Cumprimento os seus pais e eles sorriem ao ver que Pietro e eu voltamos. Eu
também tento ficar alegre, mas no momento é muito difícil. Ficamos todos sentados
em silêncio enquanto a mãe de Pietro reza baixinho pedindo pela saúde de Kimberley.
Depois de uma hora e meia as portas voltam a ser abertas, só que diferente das
outras quem sai por ela é o médico que estava dando informações para nós quando
chegamos. Pietro se levanta rápido e anda até ele. Levantamo-nos também e o
seguimos até o berçário.
Ele mostra Kyle para nós e eu me pego sorrindo ao olhar seu rosto vermelho.
Pietro tem lágrimas e se aproxima do vidro mais e mais, como se pudesse o
ultrapassar.
— E a minha irmã, doutor? — Escuto a voz triste de Giovanna e vou para seu
lado.
— Como Kimberley está? — Pietro o questiona voltando a olhar para o médico.
Capítulo Trinta e Dois
Melissa
Seattle é uma cidade chuvosa. Não tem quem diga ao contrário, mas
especialmente hoje parece que alguém disse que não era para cair uma gota sequer. O
sol está brilhante. Parece que ele quer nos dizer o quanto esse dia é especial. O
quanto hoje é um dia para celebrar e agradecer.
Ao olhar para a grama verde abaixo das minhas botas marrons eu vejo o quanto
esse lugar ficou bonito depois de recebê-la. O quanto algumas das coisas desse lugar
lembram ela. A grama verde clara lembra seus olhos vivos, as plantas trepadeiras
caindo pelo muro lembram seus cachos dourados. E principalmente o quanto Kyle nos
faz lembrar ela.
Em letras bem trabalhadas e de caligrafia, foram gravadas a seguinte frase em
sua memória.
“Uma irmã dedicada, uma jovem sonhadora, uma namorada amorosa e
principalmente, uma mãe maravilhosa. ”
Hoje faz seis meses que estamos sem ela. Seis meses que Kyle nasceu. Seis
meses que minha vida se resume a cuidar dele, de Pietro e de Giovanna. Meus olhos
fogem para onde Pietro está e ele sorri tentando dizer para mim que está bem. Eu sei
que não. Ele sofre por ela. Ele sofre por Kyle. Pela dor que ele ainda vai sentir
quando se tornar um rapaz e souber de tudo.
— Gio? — A chamo e ela vem até mim com lágrimas nos olhos. — Você já sabe
o que fazer, não é? — digo sorrindo tentando encorajá-la a fazer o que todos os meses
depois da morte de Kimberley fazemos.
Conversar.
— Ela deve estar com saudades da sua voz. — digo sorrindo e ela acena.
Em passos curtos ela se senta de frente para a lápide. E como todas as outras
vezes me afasto e a deixo falar com privacidade. Seguro a mão de Pietro enquanto
Kyle está em seus braços.
Ele já está um rapaz, sorrindo para tudo e todos e cada vez mais inteligente.
Com seis meses ele já se senta, o que acho um absurdo muito grande. Brinca com
Abby e detesta Aaron. Não me pergunte o porquê, eles só não se dão bem. Aaron até
tenta brincar, mas Kyle se afasta.
— Obrigado.
Escuto a voz de Pietro e me viro para o olhar. Seus olhos estão em Gio e depois
se voltam para meu rosto.
— Por tudo, Melissa. Por estar comigo diante de tanta dificuldade. Por cuidar
de Gio como se fosse sua irmã mais nova e principalmente por cuidar de Kyle com
tanto carinho. — Ele respira fundo e abraça minha cintura. — Eu nunca conseguiria
sem você, anjo. Nunca. — Ele afirma e eu abraço seu corpo segurando a mão de Kyle
para não puxar meus cabelos.
— Eu te amo. Eu amo eles. E não há nada no mundo que eu gostaria mais de
estar fazendo do que estar aqui com vocês. Estar na vida de vocês. Nós quatro vamos
ser muito felizes. Seremos uma família mais linda do que a que já somos. — Digo
sorrindo emocionada.
Depois de Gio voltar com lágrimas nos olhos, a abraço apertado e a deixo se
acalmar. Logo depois pego Kyle de Pietro o deixando livre para ir até lá. Ele caminha
devagar e logo depois começa a chutar pedrinhas que ficam no chão. Vejo sua boca se
movimentar e sei que ele começou a conversar com ela.
Kyle bate palmas dessincronizadas e eu sorrio quando mostra seu pequeno
dentinho branco. Beijo sua bochecha gorda e o abraço. Gio fica em minha frente e
admirada, fica olhando para seu sobrinho.
— Ele está cada dia mais parecido com ela. — Ela sussurra com seus olhos se
enchendo de lágrimas.
— Ainda bem, não é meu amor? Ele vai sempre nos fazer lembrar-se da beleza
dela. Nunca a esqueceremos. — Falo carinhosamente, mas a encarando com firmeza.
Quero que Gio se sinta feliz conosco, ela foi morar na casa de Pietro logo
depois da morte da sua irmã. Ele vendeu o apartamento dele e ela o que morava com
Kimberley. Então, ele logo depois comprou uma casa no mesmo condomínio dos seus
pais, eles ajudaram Pietro a comprar a casa, ainda não temos dinheiro suficiente para
comprar sem a ajuda deles. O dinheiro do apartamento de Gio, colocamos em uma
conta para ela. Eu achei melhor assim, já que ela já é quase uma adulta, ela precisa do
seu próprio dinheiro.
Mudamo-nos para lá depois de três meses que Kyle nasceu. Não nos mudamos
antes, pois estávamos terminando a faculdade e claro, Giovanna também ainda estava
no ensino médio. Ela entrou na faculdade perto da nossa casa. Depois de
conversarmos, eu e Pietro achamos melhor ela ficar por perto.
E ainda bem, ela não se opôs.
Nós dois não falamos mais sobre casamento ou qualquer coisa relacionada a
nosso futuro, mas eu não quero o pressionar e também ainda acho a morte de
Kimberley muito recente para festejar algo.
— É verdade. — Ela afirma depois de minutos calada.
Espero Pietro voltar e antes que ele chegue eu vou em direção onde ele estava.
Ele sorri limpando suas lágrimas quando passo por ele. Kyle dá seus braços para ele,
mas não o entrego. Na minha vez, ele sempre tem que estar comigo. Eu preciso dele
para me dar força e para eu poder dizer tudo sobre ele a ela. Tenho que falar todos os
desenvolvimentos dele, tudo que aprendeu.
Sento-me em um banco perto de sua lápide e pego meu celular, aperto play e a
música preferida dela, segundo Gio, começa a tocar. Em meio à melodia da canção eu
começo a falar.
— Hoje Kyle faz seis meses. Passou rápido, não é? Ele está com um dentinho e
já bate palmas. Ainda não estão bem sincronizadas, mas eu adoro vê-lo fazer isso. —
Sorrio e suspiro olhando sua foto. — Ele está cada dia mais parecido com você, Gio
falou isso quase nesse instante. E é verdade. Ele tem seus cachos loiros e seus olhos
verdes brilhantes. Eu sinto muito que você não possa estar vendo o quanto bonito ele
está. Acho que ele vai ter bastante namoradas. — Gargalho um pouco pensando nisso.
— Eu nunca vou deixá-lo esquecer a quão bonita você foi. — Engulo em seco e
limpo uma lágrima fujona que me escapou. — Eu estou fazendo o que prometi a você,
Kim. Eu cuido deles dois. Giovanna é uma garota linda e tão amável. Eu me orgulho
dela cada dia mais. Você sabe que ela vai cursar moda, não é? Acho que ela já te
falou. — Sorrio pensando nisso.
— Eu espero muito que você esteja feliz com a minha, digamos, atuação em
cuidar das pessoas que mais amava no mundo. Eu agradeço por ter me dado a
oportunidade de amar eles dois. A oportunidade de conhecê-los e cuidar de cada um.
Pietro também está sendo tão forte. Ele passa a manhã na faculdade e a tarde no
hospital, mas, ainda assim, depois que ele chega se senta para brincar com Kyle e
para conversar com Gio sobre tudo que ela gosta. Você ficaria orgulhosa dele... Eu
estou. — Afirmo e Kyle se levanta em meus braços. Suas pernas grossas o mantém em
pé durante alguns segundos enquanto suas mãos pequenas seguram em meus ombros.
Deus! Eu o amo tanto.
— Eu acho que contei tudo, não é? Nós voltamos em breve, querida. Estamos
com saudades. — Digo pôr fim ao deixar uma rosa vermelha logo acima de sua foto
sorridente. — Fique com Deus!
Andamos lado a lado para o estacionamento. Cada um com seus próprios
pensamentos. O único que não entende o momento é Kyle. Ele está sorrindo e olhando
para os lados estranhando, mas gostando do lugar. Giovanna está calada e séria. Faz
tão pouco tempo que a conheço, mas eu aprendi a gostar tanto dela. Seus cabelos
enrolados a irritam quando acorda pela manhã, suas unhas são sempre bem feitas e ela
se veste como uma modelo. Ela é linda, pelo menos é isso que Kevin fala escondido
de Pietro. Eles não estão namorando, não que ele já não tenha tentando a convencer, é
que ele é amigo do Pietro. Ela diz que se sente estranha. Eu a respondi dizendo que se
eles se gostassem de verdade, nunca seria estranho.
Mas ela ainda não está convencida disso.
Coloco Kyle em sua cadeirinha e depois volto para o banco do passageiro.
Giovanna senta ao seu lado e o caminho até em casa eles vão brincando um com o
outro.
Ao entrar em casa levo Kyle para seu quarto e lhe dou banho. Depois de limpo
faço sua papinha e a dou devagar. Kyle é chatinho para comer, e eu sempre peço ao
Senhor mais paciência para lhe dar comida.
Pietro entra na cozinha enquanto Kyle franze os lábios para a colher.
— Kyle, não! — Digo firme. Ele sorri e olha para seu pai.
— Pode deixar que eu tento. — Pietro fala e eu me levanto deixando o lugar
para ele se sentar.
Enquanto ele dá de comer a Kyle, coloco a mesa para a gente almoçar. Kyle
come quietinho e eu o encaro fingindo bravura. Ele sorri mais ainda e Pietro me olha
dando de ombros.
— Vocês estão juntos contra mim? — Questiono cruzando os braços. Pietro faz
sinal de rendição e eu balanço a cabeça incrédula.
Giovanna desce as escadas e logo está na cozinha conosco. Ela me ajuda a
terminar de colocar a mesa e logo depois pega seu sobrinho o levando para dormir.
Sorrio ao vê-los juntos.
Pietro me abraça por trás e apoia sua cabeça em meu ombro. Encosto-me em seu
peito e juntos ficamos assim. Sem dizer nada. Só nossas respirações se fundindo.
— Eu te amo, moça bonita. — Ele sussurra acariciando meus cabelos.
— Eu te amo. — Respondo me virando para o olhar. — Você está sendo muito
forte viu? Estou muito orgulhosa de você. — Afirmo enquanto ele me aperta junto a
seu peito.
— Eu também estou de você. — Ele fala baixinho e beija meus lábios devagar.
Uma tosse nos faz saltar e logo Giovanna entra na cozinha rindo.
— Hey! — Faço cara de brava. Ela sorri ainda mais e eu me sinto aliviada por
ela não ter ficado triste depois de visitar sua irmã.
Sentamo-nos sorrindo e juntos comemos em silêncio. Ela fica me olhando como
se pedindo ajuda e eu não sei para quê. Franzo as sobrancelhas e balanço a cabeça
dizendo não entender o que quer.
— Vocês podem parar com essa conversa por meio dos olhos? — Pietro
pergunta com um sorriso debochado na cara.
— Ok. Parece que Gio quer falar algo. — Digo e a encorajo a falar. Ela suspira
e acena confirmando.
— É que hoje marquei um encontro. E eu queria que soubessem. — Nervosa,
ela fala sem nos olhar.
— Que ótimo! — Digo sorrindo alegre. — Espero que se divirta muito. — Digo
enquanto Pietro sorri.
— E com quem vai ser esse encontro? — Ele pergunta olhando para seu prato.
— É... — Ela arregala os olhos me pedindo ajuda novamente. Merda. É com
Kevin. — Com um amigo. — Ela responde simplesmente.
— Esse amigo por um acaso tem o nome de Kevin? — Ele questiona novamente
agora a olhando.
— É... Eu sei que ele é seu amigo, mas... — ela para de falar quando ele
começa a rir. De verdade. Ele ri sem parar.
— Pietro! — O repreendo.
— Desculpa... Ele conversou comigo, Gio. Não precisa se preocupar. Ele disse
que gosta de você de verdade, então eu confio no meu amigo. — Ele explica e o rosto
dela se alegra imediatamente.
— Ele disse que gostava de mim? — Ela pergunta nervosa.
— Sim. — Pietro afirma.
Depois de ela subir para se arrumar, ficamos a sós. Vamos para nosso quarto e
no caminho paro para ver como Kyle está. Ainda dorme tranquilamente.
— Sophia disse alguma coisa para você no dia que veio te ver? — Pietro
pergunta olhando para seu celular.
— Por que a pergunta? — Pergunto. Ele revira os olhos para minha falta de
resposta.
— André está preocupado. Ele disse que ela está distante e que anda passando
mal o tempo todo. — Ele fala enquanto dá de ombros.
— Ela descobriu que está grávida. — Digo mordendo meu lábio. — Não fale
para ele e nem pense em dizer que te contei algo. — Digo séria enquanto ele sorri
alegre.
— Que bom. Fico feliz por eles. Mas por que ela não falou para ele? — Ele
estranha.
— Ela está com medo da sua reação. Eu já falei que é idiotice. Mas ela é uma
mula. — Respondo.
Descemos juntos para a sala e logo batem na porta. Pietro vai para a cozinha e
eu estranho já que não temos amigos no bairro e meus sogros estão no hospital.
Ao abrir a porta eu estranho sua visita. Ela é uma mera desconhecida tanto para
Kyle quanto para Giovanna. Só a vi uma vez, no velório de Kim, e desde então nunca
gostei de seu olhar superior e o jeito que ousou falar com Giovanna. Agradeço por ela
já ter ido encontrar Kevin, não quero que ela se perturbe diante de alguém tão ruim
quanto essa mulher.
— O que a senhora faz na minha casa? — Pergunto cruzando os braços ao olhar
para os olhos frios da mãe de Kimberley.
— Ora... vim buscar meu neto. — Sua fala sai afiada e todos os pelos do meu
corpo se eriçam.
Entramos na sala que será a audiência e me sento entre papai e Pietro. A sala
que estamos é pequena e uma mesa retangular separa de nós, Katrina e seu advogado.
Seu rosto é um misto de superioridade e raiva. Não entendo o porquê de querer
tirar Kyle da gente. Ela nunca gostou de suas próprias filhas, porque quer pegar Kyle?
Talvez seja consciência pesada por não ter se dedicado às filhas.
Eu chego a entender, mas ele é filho de Pietro. Ninguém além dele tem direito a
sua guarda.
Depois de alguns minutos de audiência com Katrina tentando persuadir a juíza,
ela pede que esperemos um momento, pois ela já voltará com a sua decisão.
Ficamos do lado de fora esperando a juíza voltar. Mordo minhas unhas enquanto
Pietro anda de um lado para o outro. Estou com tanto medo que eu não me reconheço.
Como posso ter tanto medo de perder alguém que faz parte da minha vida a menos de
um ano? Como posso o amar assim, tão grandemente?
— Melissa, se acalme. Ela não tem motivos para tirar a guarda de Kyle de
Pietro. Além de tudo, nós vimos o quanto essa mulher é desequilibrada. — Papai me
abraça.
No dia que papai chegou a minha casa eu logo comecei a chorar, porque eu já
sabia que ele iria me ajudar. Eu sentia. Apeguei-me ao seu corpo e agradeci chorando.
— Tudo bem. — Digo e coloco minhas mãos no colo.
Logo a audiência volta a acontecer e eu agradeço por não ter demorado tanto.
Estou um poço de nervos. Nos sentamos e a juíza começa a falar.
— Sra. Katrina William eu não vejo um motivo plausível para seu pedido de
guarda. Pietro como pai da criança é um homem trabalhador e não maltrata o filho.
Minha decisão é que a senhora pode visitar seu neto, aos finais de semana, mas a
guarda de Kyle William Mitchell fica com o pai, Pietro Victor Mitchell. — Ela bate o
malhete e dá por encerrada a audiência. Um sorriso gigante aparece nos meus lábios e
nos de Pietro. O abraço e ali agradeço a Deus por não ter tirado meu pequeno anjo de
nós.
Sinto-me leve. Eu me sinto quase transbordando. Quando saímos da sala abraço
meu pai e o agradeço mais e mais por ter vindo ficar comigo, ele sorri e diz que me
ama e faria qualquer coisa por mim.
Katrina passa por nós chorando e eu a paro entrando em sua frente. Não vou
espernear. Só quero deixar claro que nós nunca vamos afastar Kyle dela.
— Saia da minha frente. Não bastou me deixar sozinha? Eu não tenho ninguém
na vida por sua culpa. Minha filha não quer me ver e eu ainda perdi meu neto. — Ela
grita me empurrando.
— Quando você mudar seu jeito torto de pensar, talvez Giovanna lhe perdoe.
Mas enquanto for assim, nem eu a quero se aproximando de você. — Digo firme e me
afasto.
Chego a minha casa e logo pego Kyle dos braços de Nancy. Deus, eu tive tanto
medo de perdê-lo.
— Dylan e Kyara estão aqui. — Giovanna diz enquanto passa por mim.
A puxo para meus braços e ela sorri alegre.
— Ainda bem que ela não conseguiu tirá-lo de nós. Eu nunca iria perdoá-la. —
Diz firme. Orgulha-me ver que nada que Katrina já fez em sua vida lhe deixou uma
pessoa amarga. Não lhe fez uma pessoa ruim.
Afasto-me dela quando Dylan entra na sala. Seu rosto tem um sorriso tão grande
que prevejo que esconde algo. Eles viajaram esses últimos meses, então a saudade
está machucando.
— Que saudade, Dylan. — Digo e o abraço apertado. — Como foram de
viajem? — pergunto e abraço minha amiga.
— Foi ótimo. E eu tenho uma novidade... — Kyara começa a falar, mas Dylan
interrompe gritando.
— Estou grávida! — Todos olham estranho para meu irmão e eu sufoco uma
risada. — Quero dizer, Kyara está grávida. — Ele fala sem jeito. Sorrio balançando a
cabeça.
Abraço minha amiga a parabenizando. Dylan está tão feliz que eu
instantaneamente, também fico. O abraço enquanto Pietro abraça Kyara lhe
parabenizando também.
— Que bom. Todo mundo está ficando grávida. — Brinco sorrindo.
— Quem mais está? — Dylan questiona e seus olhos se arregalam. — Você está
grávida, Mel?
Sorrio triste e balanço a cabeça negando. Não que eu não queira, mas não
estamos tentando e mesmo assim temos Kyle. Não precisamos de outro bebê por
enquanto.
— Okay... — meu irmão muda de assunto e logo estamos embalados na
conversa.
Logo à noite Pietro me chamou até o quarto. Não entendi o chamado já que já
estamos indo nos deitar, mas deixei Kyle dormindo no quarto e Giovanna tinha saído
com Kevin.
Ao chegar no nosso quarto o vejo sentado olhando para o céu pela janela.
Aproximo-me e sento ao seu lado, mas ele logo me coloca em seu colo para olharmos
o céu juntos.
Em meio à escuridão da noite sua voz preenche nosso quarto me fazendo
suspirar apaixonada.
— Você ficou triste depois que seu irmão fez aquela pergunta. — Ele sussurra
em meus cabelos. Não é uma pergunta, é somente uma afirmação.
— Não é isso que está pensando. — Digo me sentindo estranha.
— Talvez não. Mas... eu quero que me diga. Eu sei que quer um bebê só seu. Eu
até entendo... — sua voz se perde.
— Não. Você está falando como se Kyle não fosse nada para mim. Como se não
fosse meu filho também. — Digo com a voz embargada. Ele me vira para nos
olharmos nos olhos.
— Me desculpe, não quis falar isso. Você é uma mãe incrível para ele. Mas eu
quero que seja sincera comigo, amor. Você quer ter outro bebê? — Questiona.
Eu começo a chorar porque eu penso está traindo Kyle de algum modo. Eu
penso que de algum jeito eu estou lhe menosprezando.
— Eu quero ter outro bebê. Mas não quero que pense que menosprezo Kyle. Ele
é meu também. Eu só quero ver minha barriga crescer, como das minhas amigas... eu
quero sentir meu bebê chutar. Eu só quero sentir que eu posso ter um assim.
Naturalmente. — Digo enquanto Pietro limpa minhas lágrimas.
— Não se sinta assim, Melissa. Você não está menosprezando nosso filho. É
normal querer ter outros bebês. Eu também quero outro. Então como nós dois
queremos ter outro, podemos ir até aquele pé no saco do Thiago. — Ele fala sério e
eu sorrio ao escutar seu insulto.
— Você está falando sério? — Pergunto ansiosa.
— Lógico. Podemos fazer isso assim que nos casarmos, ou antes. Você decide.
— Ele beija meu pescoço e eu sorrio.
— Eu quero antes. É melhor fazermos o quanto antes. — Digo e beijo seus
lábios. — Não chame Thiago assim e quando formos lá não o trate mal. — Aviso e
ele fecha a cara.
— Não o defenda. — Fala com o maxilar cerrado. — Ele queria te tirar de mim.
— Ele me lembra.
— Tudo bem, okay? Vamos nos focar em engravidar. Eu te amo. — Volto a
beijar sua boca.
Suas mãos descem por meu corpo e logo puxa meu vestido florido pelo
pescoço. Meus seios pairam em seu rosto enquanto sua mão entra em minha calcinha
de renda. Seus dedos tocam minha intimidade eu gemo baixinho em seu ouvido.
Sua boca se fecha ao redor do meu mamilo me fazendo arquear de prazer.
Depois de retirar minha calcinha, Pietro me preenche. Ele volta a chupar meus seios e
logo estamos nos contorcendo pelo prazer alcançado.
— Olá casal. — Thiago nos cumprimenta. Pietro finge que não ouviu e se senta
ao meu lado.
— Bom dia, Thiago. — Digo com um sorriso tenso. Pietro está desse jeito não
ajuda em nada meu nervosismo.
— Como vai, Mel... — Pietro o interrompe.
— Melissa. O nome dela é Melissa. — O olho, alarmada, mas ele não volta
atrás e muito menos pede desculpas. Deus, que menino ciumento.
— Okay... — Thiago suspira tentando manter a compostura. — Voltou a sentir
algo, Melissa? — Ele pergunta me olhando.
— Não. É que Pietro e eu decidimos engravidar. Sei que talvez seja difícil, mas
eu quero tentar. — Digo firme pegando a mão de Pietro.
— Que bom. Fico feliz por vocês. Para isso teremos que voltar as consultas
periodicamente e claro, fazer alguns exames. — Ele explica e eu aceno confirmando.
— Thiago, eu sei que vai me entender já que também é homem. — Pietro
começa e eu me viro para saber aonde quer chegar. — Eu gostaria de saber se você
pode nos indicar outra pessoa. — Quando ele termina de falar meu rosto está
vermelho.
— Pietro! — Repreendo. — Pelo amor de Deus. — Lamento. Mas é em vão.
Ele ainda olha para Thiago.
— Eu sei que me entende. Há alguns meses você queria tirar Melissa de mim,
desculpe, mas não vai acontecer. Ela é minha. — Sua voz sai firme.
— Pietro, por favor. — Digo enquanto Thiago olha para ele indecifrável.
— Eu não estou mentindo. — Ele me lembra.
— Pietro, eu entendo seus ciúmes, mas eu quero que Melissa diga que quer
outro profissional. O que está em jogo é o conforto dela para com o médico. — Ele
explica e se vira para mim. — O que acha Melissa? Não estou dizendo que não irei te
indicar. Eu vou. Mas é o seu conforto, okay? — Ele diz e eu aceno confirmando.
— Aqui está o número do consultório de uma amiga que confio. Ela cuidará de
você muito bem. E aqui os papéis para marcar sua consulta comigo. Caso queira. —
Ele volta a explicar. Pego o cartão e os papéis e me despeço dele.
Ando a frente de Pietro e ele me segue bufando. Até em casa não nos falamos,
mas ao passar da porta do nosso quarto eu lhe enfrento.
— O que foi que deu em você? — Pergunto chateada. Cruzo meus braços
enquanto o vejo andar pelo quarto. Como Pietro pôde fazer isso?
— Não. Pelo amor de Deus, Melissa. O cara é doido por você e quer que eu o
deixe fazer exames em seu corpo? Não! — Ele começa a gritar e eu bufo irritada.
— Então por que não me falou antes Pietro? — Indago tremendo. — Era
simples. Me falava, nós dois conversávamos e eu entenderia, mas no meio da
consulta? Você foi um ciumento sem noção. — Grito me sentindo envergonhada.
— Eu tenho ciúmes. Você sabe disso. Ele ficou com você enquanto estávamos
separados...
— Não fiquei nada. Eu nunca sequer o beijei. Eu te amava. Como é que eu
ficaria com outra pessoa? — Questiono me aproximando.
— Eu só não quero que seja ele. Eu... tenho medo de te perder. Então não. —
Ele suspira e eu mordo meu lábio tentando me acalmar.
— Não tem nenhum problema. Amanhã eu ligo para a doutora. Vamos fazer os
exames e tudo o que for com ela. — Digo suspirando e me sento na nossa cama. — Eu
te amo. Ninguém vai me tirar de você. Você nunca vai me perder. — Digo enquanto
algumas lágrimas descem por minhas bochechas.
Depois do que parece horas escuto sua voz.
— Me desculpe. Eu deveria ter falado com você antes, mas isso não tinha
passado pela minha cabeça antes de o ver sorrindo para você. — Ele lamenta se
ajoelhando a minha frente.
— Tudo certo. Vamos esquecer tudo por hoje, ok? — Digo e ele limpa minhas
lágrimas.
— Eu te amo, moça bonita.
Abraçamo-nos e logo Kyle entra no quarto engatinhando.
Deitamos lado a lado e o colocamos no meio. Ele sorri brincando em meus
cabelos e eu beijo sua bochecha gorda.
Pietro me olha e sorri envergonhado. Eu acho que posso o entender. Eu também
tenho um medo fora do comum de perdê-lo. De perder os dois.
Kyle e ele.
Pulo no susto ao ouvir Abby estourando um dos balões azuis dos muitos por
meio da sala de estar da minha casa. Seus cabelos longos se balançando enquanto ela
corre para os braços de Connor no seu próprio susto.
Kyle corre em direção a mim e não entendo o porquê do desespero. O pego em
meus braços e ele logo se acalma. Sorrio o olhando.
— Mãe... Kyle me machucou. — Aaron fala pronunciando as palavras
direitinhas. Olho para Kyle e ele logo trata de se esconder por entre meus cabelos.
— Ele é apenas um bebê, Aaron. — Clara diz beijando seu machucado. Sorrio
para a careta dele ao ouvi-la. — Você é um rapazinho então você pode relevar, ok? —
Ele suspira e acena confirmando.
— Por que machucou Aaron, Kyle? — Pergunto tentando ficar séria.
Ele balança a cabeça fazendo não e eu suspiro. Okay!
Dou Kyle para Nancy e termino de juntar os balões para sua mesa de
aniversário. É simples, mas eu gostei e ele principalmente.
Hoje ele está fazendo dois aninhos. Já sabe andar e fala algumas coisas, como
mamãe e papai e alguns nomes. Quase enfartei ao ouvi-lo me chamar assim pela
primeira vez. Foi mágico.
Ele apenas me deu os braços e com seus lábios finos falou "mamã".
Meus olhos se encheram de lágrimas e Pietro me abraçou apertado sem falar nada.
Mesmo sem dizer uma palavra eu sabia que ele estava feliz por Kyle ter me chamado
assim. Era um momento nosso. Único.
— Sophia! Vem. — Escuto a voz de André e pulo no susto. Filho da mãe!
— Eu já disse que não! — Ela faz cara de nojo e passa a mão pela barriga de
nove meses de gravidez. — André, eu já falei que não preciso mais tomar essas
vitaminas. Acabou. Fernanda já vai nascer, a médica me liberou. — Ela fala tudo com
os dentes cerrados. Sophia está tão impaciente. Eu tenho pena de André.
— Mas... E se precisar? Não... — ele se cala quando Jude o puxa pelo braço
para irem para o lado de fora.
Sophia suspira satisfeita e se volta para Kyle.
— Deus, a titia estava com saudades. Como você está, Gabriel? — ela o chama
pelo nome que deu ao meu filho.
— É Kyle, Sophia! — Digo revirando os olhos, cansada.
— Para a titia é Gabriel. — Ela o beija e volta a olhar para seus olhos. —
Pergunto-me como alguém pode o chamar de Kyle se ele tem a cara do anjo Gabriel.
Até os cabelos são iguais. — Ela resmunga. Enrugo a testa para sua ousadia.
Depois de tudo arrumado subo para meu quarto e me arrumo. Pego um vestido
rosa bebê e um salto preto. Deixei Kyle com Nancy e ela o está vestindo.
Gio passa por meu quarto e sorrio ao vê-la tão bonita. Seu vestido é vinho e
seus sapatos prateados. Seu cabelo encaracolado está para o lado direito e uma
presilha de flores está enfeitando seus cachos.
— Estou descendo. Você quer que eu leve Kyle para a festa ou você o leva? —
Ela questiona se olhando no espelho.
— Eu o levo. Pietro já desceu então se puder faça companhia para ele. ok? —
Ela acena e logo depois desce.
Passo no quarto de Kyle depois de fazer alguns cachos nas pontas dos meus
cabelos. Sorrio quando vejo sua roupa. Ele está de smoking e eu tenho vontade de
mordê-lo. Deus, ele vai ser um problema quando crescer.
— Pronto, Melissa. Você precisa de mais alguma coisa? — Nancy pergunta e eu
a observo ainda desarrumada.
— Sim. Que vá se arrumar. Vou esperá-la no salão. — Digo e seu rosto é um
misto de surpresa com incompreensão. — Vamos, Nancy. Pensou que eu iria te deixar
de fora? Você que cuida dele. Acho justo sua presença. — Digo e ela sorri alegre.
Agradecendo ela vai em direção seu quarto.
— Mamãe. — Kyle me chama e o pego nos braços.
— Oi querido. — Digo enquanto descemos as escadas.
— Aby. Ab? — Ele fala e eu sorrio para suas palavras sem nexo.
— A Abby está te esperando lá em baixo. Então vamos logo, ok? — Eu beijo
sua bochecha e ele sorri.
Encontro Pietro na sala e ele me abraça tirando Kyle de mim.
— Hey, Campeão. — Kyle gargalha enquanto Pietro faz cosquinhas em suas
costelas.
Posicionamo-nos na entrada e recebemos os nossos convidados. Depois de meia
hora, resolvo que é hora de cantar parabéns, mas antes estanco na porta ao ver
Katrina.
— O que está fazendo aqui? — Pergunto entredentes. Eu não confio nessa
mulher.
— Eu a convidei. — Gio fala e me olha nos olhos. — Eu espero que não seja
um incômodo, mas eu achei que... desculpe eu deveria ter te falado. — Sua voz some.
— Não tem problema. Tudo bem. — Digo engolindo em seco. Ela é avô de
Kyle. Eu tenho que aceitar isso. — Já vamos cantar para ele, então...
Viro-me e levo Kyle até a mesa. Pietro me segue, mas não fala nada. Depois de
contarmos o famoso “parabéns para você" e Kyle tentar inutilmente apagar as
velas minha família se aproxima dele.
— Hey garoto. Vovô está aqui. — Papai fala enquanto meus olhos se enchem de
lágrimas. Ainda é emocionante para eu ver o quanto minha família aceitou Kyle como
se fosse família deles. Eu sou grata por isso.
— A vovó também. — Kyle logo estica seus braços para mamãe. Ela o beija e
antes que consiga mais tempo os pais de Pietro chegam.
— Mas os melhores estão aqui. — Victor fala sorrindo enquanto papai revira os
olhos em desdém.
Os deixo com Kyle e puxo a mão de Pietro para irmos para o Jardim. Sorrio ao
ver Laura e Jude sentados em uma das mesas no jardim.
Em seus braços tem um livro e ela lê com atenção enquanto Jude beija seus
cabelos. Ao me ver um sorriso nasce em seus lábios e fecha o livro.
— A festa está linda, Melissa. Tenho certeza que o lançamento do seu segundo
livro vai ser tão bonito quanto à festa de Kyle. — Ela me lembra.
Falta menos de um mês para meu lançamento e estou eufórica.
— Estou nos preparativos. Tenho certeza que vai ser muito legal mesmo. — Um
sorriso enorme fica em meus lábios.
Pietro os cumprimenta e me puxa para os balanços em frente nossa casa. Sento-
me em um e ele sorri me puxando para seu colo. Já me acostumei com seu gesto.
— Meu peito está apertado. — Ele sussurra em meio à noite e eu o olho
alarmada. — Não é isso. Estou tão feliz, que eu me sinto sufocado. E tudo por causa
de você, querida. — Ele acaricia meu rosto enquanto sorrio. — Tudo porque eu não
pude esquecer uma noite de amor entre nós dois. Eu não pude esquecer o quanto você
me fez sentir bem. Eu te amei a partir daquele momento, Melissa. Eu demorei um ano
inteiro para ver que o que eu tentava sufocar não era só desejo por você, era amor.
Era algo tão mais forte que só de pensar que você poderia partilhar uma noite como a
nossa com outro homem me matava. E hoje, amor, diante de todas essas estrelas,
diante de toda a imensidão do céu, eu quero dizer que vou passar o resto da minha
vida amando e desejando você. Tentando ser o homem que você merece. E o mais
importante, moça bonita, o homem por quem você se apaixonou. — Limpo as lágrimas
de seus olhos enquanto ele limpa as minhas. — Eu te amo pequena. Eu nunca vou
deixar de te amar.
— Pietro... Você me mata com isso, sabe? Esse seu jeito todo lindo de ser e
ainda mais com essas palavras bonitas. Vou morrer! — Sorrio e ele gargalha. — Eu
que quero ser a mulher que você merece. Você é meu tudo, Pietro. É a parte vital de eu
ter crescido tanto. De eu ser essa mulher que te ama além dos meus medos. De eu
enfrentar os obstáculos que se ergueram para nos separar. Eu te amo, querido. —
Beijo seus lábios cheios enquanto minhas mãos entram por seus cabelos aparados.
Sua mão entra por meu vestido para apertar minha coxa me trazendo para mais perto
do seu peito.
— Mamã. Papa. — Nos separamos rapidamente ao ver Kyle andando em nossa
direção com Abby ao seu lado.
Eles sorriem um para o outro e eu pisco para Kyle que logo a abraça. Eu acho
que meu filho está se apaixonando...
Sorrindo abraço os dois e sinto um beijo de Pietro em minha bochecha. Pensei
ter conhecido o amor cedo, pensei que nada no mundo seria maior que o amor que eu
senti por Tyler, mas eu estava tão enganada. Tão equivocada.
Amor para ser amor, tem que ser correspondido. Não existe sentimento quando
um não sente na mesma intensidade que o outro. Amor é a troca mútua de prazer ao
estar ao lado de quem se gosta. Minha vida se resumia a brincar de ser feliz, a
planejar momentos com um alguém que nunca me amou. Perdi muito tempo. Mas hoje
agradeço por ter Pietro me amando e me respeitando. E acima de tudo me
completando.
E para minha felicidade ser completa, preciso lhe mostrar uma novidade.
Fim.
Epílogo
No outro dia encontro Scott na sala de aula. Jogo-me ao seu lado e suspiro
olhando para as garotas da classe. Vejo uma loira bem gostosa se aproximar e eu
sorrio. Aqui vai ser fácil, fácil.
— Posso me sentar ao seu lado? — Ela pergunta com sua voz arrastada.
— Claro. — Digo dando de ombros.
Depois dela sentar seu traseiro na cadeira, volto a prestar atenção na sala.
Enrugo a testa ao olhar uma garota pequena entrar na sala sorrindo com minha prima
ao seu lado. Que merda Bárbara está fazendo em medicina? Pensei que ela entraria
em moda como minha tia Kyara. Mas estou enganado.
Ela se vira e seus olhos se expandem. Até parece que mudei tanto.
— Kyle! Não acredito que não foi ver papai ao chegar aqui. — Ela faz cara de
brava ao falar de tio Dylan. A garota ao seu lado arregala os olhos olhando para mim.
— Não enche, Bárbara. Ficou pesado para mim. E se melhorar, eu também não
fui ver tia Nicole e olha que ela está furiosa comigo. — Digo dando de ombros.
Quando volto minha atenção para a garota ao seu lado, parece que eu a conheço
de algum lugar, mas não me recordo.
— Mamãe não está furiosa com você. — Sua voz suave chega aos meus ouvidos
e meus olhos se arregalam.
Porra!
Abby.
— Você não lembra da sua prima? — Scott pergunta ao notar meu rosto confuso.
— Eu não a vejo há seis anos. — Explico em exasperação.
— Me poupe, gente. Eu também não lembrava. Prazer em te rever, Kyle. — Ela
estende sua mão em minha direção e eu sorrio a puxando para um abraço.
— Deus, você cresceu garota. Cadê o pé no saco do Aaron? — Questiono
sabendo que eles sempre foram inseparáveis.
— Ele está pelo Campus. No prédio de Direito. — Ela diz sorrindo e Bárbara a
cutuca fazendo ela enrugar a testa para minha prima.
Elas olham para Scott e sorriem.
— O que elas estão fazendo, K? — Meu amigo questiona.
— Não sei.
— A gente ainda está aqui. — Babi fala impaciente.
A professora entra na sala e logo voltamos a sentar. O resto do meu dia foi
assim. Com elas na nossa cola.
Capítulo Dois
Abby
Entro no restaurante ao lado dele enquanto o garçom nos leva à mesa. Aqui é um
local diferente. É simples, mas também tem requinte. Eu adorei.
Depois de sentarmos, fazemos nossos pedidos. Aaron segura minha mão na sua
enquanto bebo um pouco de água.
— Como estão os gêmeos? — Pergunto para começarmos a conversar.
— Estão ótimos. Cada dia mais espertos. Você tem que ir vê-los. — Ele sorri,
feliz.
Aaron é louco pelos irmãos mais novos, Laíssa e Henri. Eles são um ano mais
velhos que minha irmã, Alice, e quando se juntam fazem a festa.
— Preciso mesmo. No final de semana eu vou. — digo enquanto arrumo meus
cabelos ao ombro.
— E como foi o primeiro dia no Campus? — Ele questiona interessado.
Aaron já está na faculdade há um ano, então eu sou a caloura que tenho que me
enturmar. Ele se preocupa. Eu entendo e gosto da sua preocupação.
— Foi legal. Babi estava lá, então matamos a saudade e você acredita que ela
vai fazer medicina também? — Pergunto entusiasmada.
— Sério? Pensei que ela cursaria moda como sua tia Kyara. — Ele diz confuso.
— Pois é. Eu também, mas a encontrei no prédio de Medicina e nós
conversamos. Ela disse que preferiu medicina. — Explico dando de ombros.
— Que bom. Então ficarei menos preocupado sabendo que você conhece pelo
menos uma pessoa da sua turma. — Ele diz sorrindo e eu lembro de Kyle.
Ele também está na minha turma.
— Não tem só ela. — Digo sorrindo. — Kyle também está. — Seu sorriso
vacila um pouco, mas foi quase imperceptível para quem não está o olhando
constantemente, como eu.
— Medicina? Ele pelo menos terminou o ensino médio? — Ele debocha. Eu
reviro os olhos para sua brincadeira estúpida.
— Sim, ele terminou o ensino médio e sim ele está cursando medicina, Aaron.
— Respondo enquanto ele me olha. Antes que ele fale algo, o garçom chega com
nossos pedidos.
Comemos em silêncio enquanto uma banda de jazz toca baixinho. É lindo.
Enquanto bebo um pouco de vinho, olho para os músicos e as pessoas dançando na
pista. São todos casais, pelo menos eu acho que são.
— Você quer dançar, querida? — Aaron pega minha mão pela mesa e eu o olho,
ansiosa.
— Claro. — Respondo levantando-me. Adoro dançar e com ele tudo fica
melhor.
Ao chegar à pista de dança, Aaron enlaça minha cintura e me prende junto a ele.
Inspiro seu perfume amadeirado e me perco em seu calor.
— Eu te amo, boneca. E eu quero passar mais dois anos ao seu lado. Quero ver
você sorrir para mim, quero te fazer sorrir e principalmente te ver feliz ao me ver
chegar. Quero muitos anos ao seu lado, Abby Jones. Você é minha, querida. — Ele
sussurra em meu ouvido enquanto sua mão entra em meus cabelos acariciando
devagar.
Olho em seus olhos enquanto sua boca toma a minha. Seus lábios se moldam nos
meus, deslizam e logo sua língua exige a minha em sua boca. Passo meus braços por
seu pescoço e tento puxar, em vão, seus cabelos cortados baixinhos.
Aos poucos, Aaron se afasta e pega minha mão na sua. Seu sorriso malicioso me
excita e assusta ao mesmo tempo. Será que estou pronta? Não tenho tempo de pensar
nisso. Ele paga a conta e me leva para seu carro.
Ele sorri tentando me encorajar enquanto sai do estacionamento para seu
apartamento. Aaron mora com outro cara, James, seu amigo de faculdade. Ele saiu da
casa de seus pais logo que entrou na faculdade, pois queria mais
"liberdade". Eu já fui lá algumas vezes, mas nunca para fazer... sexo.
Deus, eu vou fazer?
Começo a roer minhas unhas, ansiosa. Já me disseram que dói bastante, outras
dizem que é uma dor quase imperceptível. Sinceramente? Eu estou apavorada.
— Não precisar ficar nervosa, querida. Vou fazer ser bom para nós dois. Eu
juro. — Ele afirma sério e eu suspiro.
— Tudo bem. Desculpe. — Digo por fim.
Ele é meu namorado. Estamos há mais de dois anos juntos. Já estou na
faculdade. Eu preciso fazer sexo. É... eu vou fazer sexo.
Arg! Odeio essa palavra!
Entramos em seu apartamento enquanto Aaron beija meu pescoço. Sinto minha
pele esquentar ao sentir a... "dureza" dele em minha barriga. Pode parecer
bobeira, mas só vi uma pelo computador e era quando Bárbara dormia na minha casa.
Engulo em seco e juntos vamos para o quarto. Suas mãos não me deixam um
momento sequer e eu gosto. Estou nervosa, é óbvio, mas ao mesmo tempo estou
ansiosa para tudo terminar logo.
É como uma picada de agulha. A dor é rápida e passa logo.
Eu espero...
Aaron beija meus lábios urgente e aos poucos quer tirar minhas roupas. A
primeira peça é minha blusa. Eu reluto um pouco, mas acabo deixando. Meu sutiã
preto é descoberto e as mãos de Aaron os apertam.
E é nesse momento que eu sei.
Não estou pronta. Muito pelo contrário. Estou apavorada. Sinto lágrimas se
acumulando em meus olhos.
Eu não estou pronta.
Eu sou uma medrosa de merda.
— Aaron... não. — Empurro seu peito, mas ele me puxa pela cintura.
— Vamos lá, querida. Vai ser bom. — Ele passa a língua por minha orelha e eu
fungo sentindo minha bile subir.
— Aaron... me solta. — Choro tentando tirar suas mãos de mim. — Aaron, eu não
quero. Me solte agora. — Grito em meio ao choro.
Em um movimento rápido, ele se afasta de mim. Eu caio em cima da cama e
limpo minhas lágrimas respirando com dificuldade.
— Abby... — ele sussurra passando a mão pelo cabelo e me olhando. — Me
desculpe, querida. Eu...
— Eu preciso ir. — Digo e pego minha blusa no chão do quarto.
— Abby... por favor. Me perdoe. — Ele pede vindo em minha direção.
Retraio-me contra a cama e ele para no meio do quarto. Não tenho medo de
Aaron, eu acho, eu só quero ir para casa. Eu só quero deitar na minha cama.
— Eu só quero ir para casa, Aaron. Amanhã nós conversaremos, mas hoje eu só
quero ir, ok? — Digo limpando minhas lágrimas devagar.
Ele suspira e acena. Visto minha blusa e pego minha bolsa do chão. Aaron tenta
se aproximar novamente, mas levanto a mão o parando.
— Eu te amo, Abby. Desculpe se te empurrei demais para termos nossa primeira
vez, mas... já são dois anos. Eu nunca fiquei com outra garota e você sabe que
oportunidade não faltou. Mas eu quero você, querida. Só você. — Ele fala com os
olhos cheios de lágrimas.
— Eu sei... eu sei, Aaron. Mas não me sinto pronta. Eu não sinto que deve ser
agora. — Digo, cansada, enquanto ele anda de um lado para o outro. — Nos falamos
amanhã. — Digo por fim, antes de sair do quarto e do seu apartamento.
Tento mais uma vez chamar um táxi, mas é em vão. Eles não param.
Mando SMS para Bárbara lhe perguntando se pode me pegar e logo ela responde.
Passa o endereço.
B.
Depois de mandar, espero vinte minutos até que um carro para no acostamento.
Levanto-me esperando a pessoa baixar o vidro e logo me arrependo.
Kyle.
— Me esperando, baby? — Ele sorri relaxado, esquecendo que brigamos ainda
hoje.
— O que faz aqui, Kyle? — Questiono livrando-me dos resquícios de lágrimas
em minhas bochechas.
— Vim ao seu socorro, princesa.
Capítulo Três
Abby
— Por que me trouxe aqui? — Questiono quando saio do carro e olho para uma
praça.
— Minha tia disse que... minha mãe biológica vinha aqui quando estava grávida.
— Ele diz baixinho se sentando no banco próximo a uma árvore. — Me deu vontade
de vir aqui. — Explica.
Meu peito dói por ele. Mamãe me explicou que Kyle perdeu a mãe assim que
nasceu. Tia Melissa sempre cuidou dele e, claro, ninguém além das pessoas da família
sabe que eles não são mãe e filho de sangue.
— Eu sinto muito, Kyle. Nunca parei para dizer isso, mas eu sinto que você não
tenha ela por perto. — Digo sentindo a vontade de chorar se aproximar.
Mas ele não precisa das minhas lágrimas.
— Eu não preciso da sua pena, Abby. — Ele fala sem me olhar. — Eu até já me
acostumei com todos vocês dizendo que sentem muito por algo que não sabem o que é.
— sua voz sai fria.
Eu sei que são só seus sentimentos se abrindo, então, não volto com outro
ataque. Ficamos calados por um tempo. Mas logo sua voz preenche o espaço.
— Ninguém além de mim, sabe como é acordar no dia do seu aniversário de
nascimento e o de morte da própria mãe. — Sua voz sai chorosa e eu quero o abraçar
apertado. Dizer que nada disso foi sua culpa, mas me contenho.
— Kyle... não vou dizer que a culpa não foi sua. — Seus olhos encontram os
meus e eu sorrio. — Mas você deveria se prender ao fato de que ela te amava tanto
que queria que você vivesse para suprir todas as coisas boas do mundo. Se apegue ao
fato de que ela te deu a vida, mesmo isso significando a falta dela para ela mesma. —
Digo baixinho pegando sua mão na minha. — Ela te amava, Kyle. Então, quando for
seu aniversário, pense no quanto esse dia significou para sua mãe. O quanto de amor
ela deu para você. Não se apegue ao fato da morte dela ou seu nascimento. É o amor
simples e imaterial. Esse é seu dia. — Sussurro enquanto ele olha para nossas mãos
entrelaçadas.
— Obrigado, Abby. Desculpe pelo que falei. Eu só... me sinto culpado. — Ele
confessa.
Aproximo-me dele e o abraço. Não sei o que está dando em mim para abraçar
ele assim, mas ver sua dor... deixou-me sem opção.
— O que aconteceu hoje? — Ele pergunta depois de um tempo sentados em
silêncio.
— Eu... Não quero falar sobre isso agora, Kyle. Outra hora eu te conto, eu juro.
— Digo durante seus movimentos de descer seus dedos por meu braço descoberto.
— Ok... — Ele suspira e olha para o celular. — Acho que Babi pensa que você
foi sequestrada por mim. — Ele ri lendo um SMS.
— Então... podemos ir? — Mordo o lado interior da minha bochecha enquanto
espero sua resposta.
— Claro. Vem. — Ele puxa minha mão e juntos vamos até o carro.
De mãos dadas.
Depois de entrarmos em um bar, que fica do outro lado da cidade, avisto Babi
beijando a boca de Scott. Caramba. Ela não esperou mesmo.
Hoje de manhã, assim que Bárbara colocou os olhos nele, vi que estava
totalmente a fim, mas não pensei que a noite ela já estaria arrancando sua boca.
— Bárbara! — Chamo enquanto Kyle segue-me até eles.
— Hey... — Ela sussurra baixinho e rindo. Safada!
— Cara, onde se meteram? Vocês demoraram. — Scott fala para Kyle e eu
mordo meu lábio esperando ele responder.
— No motel. — Ele responde seriamente.
Minha boca se abre em choque no mesmo momento em que Bárbara arregala os
olhos.
— Kyle! Mentira dele! Pelo amor de Deus. — Meu rosto fica vermelho por
causa de sua ousadia.
— Abby, sua safadinha! — Babi ri e eu fico tensa.
Não acredito que Kyle não vai retirar o que falou e principalmente não acredito
que minha própria prima não acredita em mim.
— É mentira dele. — Digo batendo o pé. Eu tenho que parar de fazer isso.
Deixa-me tão infantil. — Kyle diga a verdade. — Viro-me e ele está sorrindo
abertamente.
Idiota!
— Tudo bem. Estou brincando. — Ele diz dando de ombros e sentando ao lado
de Scott.
Caio ao lado de Babi e espero uma garçonete vir até a gente. Seu sorriso branco
chega a me cegar, não entendo essa sua felicidade até olhar para Kyle. Ele sorri
maliciosamente para ela e eu reviro os olhos.
— Oi... — sua voz sai arrastada e eu quero vomitar.
— Olá, meu amor. — Olho para Kyle e ele ri da minha cara. Meu amor?
Gente, onde ele meteu a cabeça?
Literalmente.
— Hoje saio mais cedo, o que acha de me esperar e irmos até minha casa? —
Suas mãos seguram sua blusa a fazendo baixar para seus seios quase pularem no rosto
do meu primo.
— Será um prazer... — O interrompo:
— Amanhã. Amanhã será um prazer, porque hoje ele vai me levar para casa. —
Não sei o que deu em mim, mas... ele é minha carona.
Isso. Ele tem que me levar em casa.
O sorriso deixa seu rosto e Kyle suspira passando a mão pelo rosto. Penso que
ele vai falar algo, mas para minha surpresa ele fica calado.
Muito bom.
— Então... eu vou querer uma porção de batatas fritas e um refrigerante.
Obrigada. — Sorrio para ela e logo ela se toca que tem que fazer seu trabalho e não
estar marcando foda .
Os demais fazem seus pedidos. Ela sai me olhando com raiva, mas não ligo.
— Então... como foi sua noite com Aaron? Fazer dois anos de namoro não é
para qualquer um. — Bárbara fala e imediatamente eu me sinto mal. Minha cabeça dói
e meu estômago revira.
Não gosto de lembrar dos olhos de Aaron quando queria transar comigo. Não
quero pensar nas suas mãos na minha pele. Segurando-me. Prendendo-me.
Encontro os olhos de Kyle e o vejo me olhar confuso.
— Vocês namoram? — Sua voz sai dura.
O que ele tem? Está com raiva?
— Sim. — Digo o olhando enquanto Bárbara e Scott olha entre nós.
— Há dois anos? — Ele volta a falar.
— Sim. Fizemos hoje. — Digo enquanto sinto minhas mãos suarem. Não quero
falar sobre isso. Eu só quero esquecer.
Seus olhos se expandem ao perceber o porquê do meu estado ao me encontrar.
Eu quero correr daqui ao ver seus olhos verdes me analisando. Eu sei que ele está se
perguntando se algo aconteceu. Eu balanço minha cabeça e ele suspira mordendo seus
lábios.
— Abby? — Bárbara me questiona.
— Foi... normal. — Digo desconfortável e ela entende ao olhar para mim que
não quero falar, pelo menos, não na frente de Kyle e Scott.
Ficamos em um silêncio chato até que Scott começa a falar do companheiro de
quarto dele. Eu sorrio, mas meus pensamentos estão em Aaron. O que ele está
fazendo? Será que está magoado comigo?
Dúvidas ficam rondando meus pensamentos até meu celular começar a tocar.
Papai.
— Oi, papai.
— Onde está? Aaron ligou dizendo que você já tinha vindo para casa. — Ele
explica paciente, mas sei que está preocupado.
— Desculpe papai. É que encontrei Kyle e bem... viemos encontrar Bárbara. —
Digo e sinto os olhos do meu primo em mim. Levanto meus olhos e o pego prestando
atenção na conversa.
— Tudo bem. Mas você pode vir para casa? Está um pouco tarde e amanhã você
tem... — ele para de falar.
— Deixe ela em paz, Connor. — Escuto a voz de mamãe pelo celular e meu pai
bufa em desdém.
— Não se preocupe. Kyle vai me deixar em casa. — Digo olhando para ele e o
mesmo revira os olhos.
— Ok. — nos despedimos e logo desligo.
— Eu tenho que ir. — Digo para Bárbara e ela acena confirmando.
— Tudo bem. Eu também estou indo. Vou apenas pegar mais um refrigerante. —
Ela sai da mesa e Scott vai com ela.
Acompanho eles com os olhos e vejo eles se agarrando no meio do caminho.
Pego-me sorrindo, mas sei que Bárbara não vai estar com ele amanhã.
Talvez, até possa. Mas somente para relembrar os momentos. Só isso. Babi é o
tipo de garota que não se apega a ninguém e só de olhar para Scott vejo que ele é do
mesmo jeito. Bom para eles.
— Podemos ir agora? — Pergunto virando-me para olhar para Kyle.
Seus olhos estão na garçonete e eu suspiro. Acho que hoje não vou ter carona.
— Tudo bem. Eu vou chamar um táxi. — Digo e levanto-me. Ele desperta do
transe e logo vem atrás de mim.
— Não. Eu te levo. — Ele diz e joga algumas notas na mesa.
— Sinceramente? — questiono, mas ele não responde. — Acho melhor você
ficar e esperar a garçonete. — Falo séria. Ele enruga a testa, mas não espero uma
reação, só saio do bar.
Pego minha bolsa e coloco meu celular dentro. Vejo um táxi vindo e dou a mão o
chamando, mas o desgraçado não para. Ando mais um pouco e logo vejo outro vindo,
mas antes que eu dê a mão alguém agarra minha cintura.
— Vamos embora. — As palavras de Kyle saem frias e eu instantaneamente
relaxo. É ele.
Pensei que fosse outra pessoa. Um ladrão talvez.
— Kyle, pensei que fosse algum louco. — Digo tentando sair dos seus braços,
mas ele me prende, minhas costas batem contra seu peito.
Merda.
— Eu sou louco, Abby. — Ele fala e novamente suas palavras parecem gelo.
Minha pele formiga e eu quero me bater por reagir a algo que venha dele.
O que diabos eu tenho?
Devo estar doente.
— Kyle... me solte. — Digo quando encontro minha voz. Seus braços apertam
minha cintura e logo depois ele me solta.
— Vamos embora, Abby. — Ele aponta para seu carro e eu bufo irritada. Mas é
claro que eu vou.
Ando à sua frente e penso que é o melhor a se fazer, já que falei para papai que
Kyle me deixaria. Se eu chegasse em casa de táxi, tenho certeza que meu pai iria
questionar. Tudo que eu menos quero é conversar quando chegar em casa.
Eu tento me convencer disso.
Entro em seu carro e logo ele sai do estacionamento. Ele permanece calado e eu
não faço mais que isso também. Minha cabeça está dando voltas. Como fiquei em um
bar depois de deixar meu namorado na mão? Literalmente.
Hoje é nosso aniversário de namoro. Eu deveria estar com ele.
Ele tentou transar com você à força!
Minha consciência lembra-me e eu volto a pensar no seu jeito comigo. Das suas
mãos me apertando. Do seu desejo quase animal por mim.
Eu nem consigo imaginar-me transando com ele hoje. Não consigo imaginar-me
no mesmo quarto que ele. Parece loucura, já que eu o namoro há dois anos, mas ele
nunca fez nada parecido como hoje. Nada.
Ele sempre me respeitou. Sempre soube parar seus movimentos quando eu me
afastava. Aaron é um cara fantástico, tenho certeza que hoje foi uma exceção. É como
ele falou. Já faz dois anos. Nada de sexo. Ele é homem, tem suas necessidades.
Eu tenho que parar de ser tão egoísta. Eu deveria pensar um pouco nele. Mas
confesso que, se o tempo voltasse, eu ainda correria. Por suas atitudes, mas também
por Kyle.
Eu confesso que gostei de passar mais tempo com ele.
Eu gosto dele.
— Pare de pensar nessa merda. — Ele aperta o volante entre as mãos e eu o
olho confusa.
— O que está falando? — Questiono sentando-me de lado para o olhar.
— Você está pensando no que ele fez. Não pense nisso. — Ele ordena. — Eu
não quero saber o que ele fez para você... eu sou capaz de matá-lo..., Mas a culpa não
é sua. — Ele explica enquanto seus dedos se abrem e fecham, tentando desfazer os
nós brancos.
Suspiro e pego sua mão na minha. Deslizo meus dedos entre os seus e
acariciado devagar. Sua pele é branca. A verdade é que ele é loiro. Um loiro muito
bonito posso dizer.
Seus olhos verdes pairam em nossas mãos e, quando chegam aos meus olhos,
seus cabelos os cobrem. Eu tento reprimir a vontade de passar a mão por entre seus
cachos, mas vejo que perdi essa batalha ao ver minha mão retirar eles do seu rosto.
Seu suspiro pode ser ouvido dentro do carro e com a mesma rapidez que olhou
para nossas mãos unidas, sua vista volta para a pista. Eu me sinto estranha. Sinto
como se o que estamos fazendo fosse muito errado, mas eu não estou vendo o motivo.
Não estamos fazendo nada de errado. Eu tento convencer-me disso.
— Obrigada, Kyle. — Sussurro. — Desculpe se não falei que namoro Aaron.
Eu só... esqueci. — Confesso.
Uma confissão malditamente feia. Mas ainda sim, uma verdade. Eu esqueci de
falar isso para ele.
Kyle ri de mim e eu suspiro o olhando.
— Não precisa se desculpar. Eu deveria saber que namoravam. É estúpido
pensar que você não ficaria com ele. — Ele fala, amargo.
Sinto-me, imediatamente, insultada por ele. Não sei o porquê, mas eu me sinto.
— Eu poderia muito bem ficar com outro cara, Kyle. — Cruzo os braços
irritada. Eu sou capaz. Eu sempre fui.
— Vou te fazer uma pergunta e você tem que ser sincera comigo, baby. — Ele
diz segurando o riso e eu engulo em seco. O que ele vai perguntar?
— Tudo bem. Pode fazer.
— Você já beijou outro cara? — Sinto a vermelhidão ganhar vida em meu rosto.
Eu envergonho-me de responder. Por quê? Sinceramente, qual é a garota que tem
dezoito anos e só beijou um garoto na vida? Pois é...
— Vamos lá, garota. Quantos? — Ele pressiona e eu suspiro.
— Somente Aaron.
Seus olhos enchem de compreensão e ele balança a cabeça em forma afirmativa
com um sorriso dançando por seus lábios rosas.
— Foi o que pensei. — Ele se cala e eu viro-me para a janela.
Sou uma idiota. Por que me importo com o que ele pensa? Com o fato de que
agora ele sabe que sou uma garota estúpida, virgem e principalmente uma "boca
única".
De onde tirei isso?
Questiono-me, mas a raiva não passa.
— Ele queria dar um passo a mais hoje, Abby? — Sua voz novamente preenche
o espaço interior do carro e eu volto a olhá-lo
— Você disse que não queria saber. — O lembro desconfortável.
— Mas eu quero. Eu sou seu primo e, se ele te desrespeitou, eu vou falar com
ele. — Ele explica. Meu coração incha ao ouvir sua declaração. Não que...
Não.
Dessa vez não vou dar desculpas. Eu apenas senti, e eu não me arrependo disso.
Não me arrependo de me sentir, pela primeira vez, protegida por alguém sem ser meu
pai.
— Ele não conseguiu, Kyle. — Respondo e ele suspira aliviado. — Não pense
mal dele... Só que faz muito tempo que namoramos... eu entendo que está na hora ou
talvez já esteja passando da hora. — Ele encosta o carro de repente e eu o olho
alarmada, questionando o porquê.
— Não importa de quanto tempo estão namorando, Abby. Se ele não consegue
esperar a merda da hora que você estiver pronta, ele não merece seu esforço. Nunca
mais fale isso. E só dê esse... passo quando sentir que é a hora. Eu não entendo muito
isso de vocês, mulheres, mas Luce se arrepende até hoje de não ter esperado pela
hora certa. — Ele fala da irmã e sorrio ao lembrar dela. — Espere a hora certa, Abby.
Se ele te ama, ele vai esperar.
Sem mais nenhuma palavra, ele volta para a pista. Eu sinto-me leve. Sinto que
pela primeira vez em tempos, encontrei alguém que me entende. Que me deu o
conselho certo, na hora certa.
Capítulo Quatro
Abby
Ao chegar em casa, papai quis falar com Kyle, então eles foram para o
escritório. Eu já até posso imaginar o assunto...
Kyle vir morar aqui.
Não nos despedimos. E eu, bem... queria ter me despedido dele direito. É uma
idiotice, já que nos veremos amanhã na aula, mas eu queria.
O modo como falou comigo, sua preocupação fez-me gostar mais um pouco de
tê-lo por perto.
Acabo dormindo pensando em seus olhos verdes e seus cachos loiros pairando
sobre mim.
Okay. Viajei demais.
Assim que coloco o pé na sala de aula, encontro Kyle. Mas hoje ele não está
somente com Scott. Tem uma garota ao seu lado. Uma próxima a ele, posso dizer pelo
modo como eles se olham e se tocam.
Bárbara está sentada em seu lugar três cadeiras abaixo deles, então me
aproximo e sento ao seu lado. Ela geme com o meu movimento e eu reviro os olhos.
— O quê? — Questiono.
— Estou com dor de cabeça, sua filha de uma... — A interrompo.
— Respeite minha mãe e sua tia, Bárbara. — Ralho e ela sorri em desdém.
— Okay... — ela deita sua cabeça na mesa a sua frente e eu sorrio passando os
dedos entre seus cabelos castanhos escuros.
— Como foi ontem com Scott? — Pergunto baixinho com medo de algum deles
me escutar.
— Foi ótimo. — Ela levanta a cabeça para fitar-me e um sorriso safado
preenche seus lábios.
Sorrio balançando minha cabeça. Vaca.
— Ele é muito gostoso, sabe? — Ela questiona como se eu já tivesse feito algo
com ele. — Que pena que não vai se repetir. — Ela faz biquinho e eu dou um tapinha
de brincadeira nos seus lábios.
— Por que não? Se você gostou...
Ela interrompe-me, pensativa:
— Eu vou me apaixonar, Abby. Quanto mais ao redor dele eu estiver, eu vou
acabar me apaixonando. Porque quando eu digo que o filho de uma puta era gostoso, é
porque ele está superando minhas expectativas e você sabe... eu nunca me apaixono.
Never . Jamais. — Balanço a cabeça concordando.
Babi sempre foi minha amiga. No último ano, ela teve que viajar com nossos
avós para outro país, então ficamos nos falando apenas por telefone ou vídeo. Mas eu
conheço Bárbara e eu sei que dia a mais, dia a menos, esse seu "lema" vai
ser quebrado. Encontro os olhos de Scott e sorrio. Ele sorri de volta, mas sua atenção
vai para Babi.
Logo, logo seu "lema" vai ser quebrado.
A professora entra na sala e todos se calam para prestar atenção nela. Seus
cabelos pretos são lisos retos e seu corpo é muito bonito. Pego-me pensando com
quantos anos ela entrou na faculdade, pois ela não tem cara de ser tão velha. Muito
pelo contrário.
— Olá. Meu nome é Yara. — Sua voz sai firme e ela corre os olhos por toda a
turma. — Hoje é somente o segundo dia na faculdade para vocês, mas quero que de
cara sintam que a Medicina é um curso muito difícil e que precisa de muita dedicação.
— Ela caminha até sua mesa e volta com alguns papéis.
— Para minha nota, quero que trabalhem em duplas. Não é de todo um trabalho
difícil, já que conseguiram entrar para Medicina, mas espero muita dedicação de
vocês. — Ela termina de falar e logo alguém levanta a mão. — Pode falar.
— Nós mesmos vamos escolher as nossas duplas? — Uma garota loira pergunta
enquanto masca chiclete.
— Não. — A maioria geme em desagrado e eu suspiro. — Eu já separei as
duplas, e não permito troca de ambas as partes. Enquanto eu vou falando, vocês
levantem e sigam até seu parceiro. Com suas coisas. A partir de hoje, sentarão juntos
nas minhas aulas. Então vamos lá. — Ela começa a falar os nomes e logo a sala vira
uma confusão de alunos tentando encontrar seus parceiros.
— Bárbara Jones... — ela olha para a ficha novamente e sorri. — Ficará com
Jessica Veiga. — Minha prima geme em desagrado e eu quero me afogar.
Com quem vou ficar?
Eu espero e espero. Mas ela não fala meu nome. Quando ela pousa a folha na
mesa, uma garota chega ao meu lado. Deve ser Jessica. Levanto-me e pego meus
materiais.
— Professora. — Chamo e ela me olha por cima do óculos quadrados. —
Faltou falar meu nome. — Digo tímida e percebo todos da sala me olhando.
Era só o que faltava.
— Desculpe. Qual seu nome, querida?
— Abby Jones. — Respondo ansiosa.
— Deixe-me ver, senhorita Jones. — Ela levanta com a maldita folha e para no
meio do palco onde fica sua mesa. — Você fará dupla com Kyle William.
Merda.
Merda.
Procuro com os olhos e logo o encontro sorrindo e acenando.
— A senhora tem certeza? É que somos primos...
— Absoluta. Aqui dentro vocês são alunos. Não importa seu grau de parentesco.
— Ela fala firme e eu suspiro subindo até ficar ao lado de Kyle.
— Que feio, baby... não queria fazer dupla comigo? — Ele brinca e eu balanço
a cabeça, calada.
A garota que estava ao seu lado agora está na ponta da fileira nos olhando.
Sustento seu olhar no meu e reviro os olhos.
— Então... — A professora volta a falar e nos perdemos na sua aula.
— Quando iremos? — Kyle pergunta quando todos estão saindo da sala.
— Para onde? – Confusa, pego minha bolsa.
— Estudar. Fazer o trabalho da professora gata. — Ele diz e eu arregalo os
olhos para o modo que fala dela.
— Deixe de ser nojento, Kyle. — Enrugo o nariz. — Não a chame assim
enquanto estiver comigo ao seu lado. — Digo enquanto ele sorri.
— Tudo bem, baby. — Seu sorriso cresce ao olhar Scott vindo. — Então
quando vamos nos encontrar?
— Pode escolher o dia. Apenas me avise o lugar. — Digo e saio em direção a
Babi.
— Hey! — Scott sorri e eu lhe comprimento.
Meu celular começa a tocar assim que saio do Campus. Aaron. Já tenho dezenas
de chamadas dele em meu celular. Não atendi nenhuma porque ainda não tenho
coragem para falar com ele.
Mas eu também não posso mais adiar.
— Abby... Onde está, amor? — A voz dele sai cansada e eu suspiro.
— Estou indo para casa.
— Você pode vir aqui no meu apartamento? Para conversarmos.
Os pelos do meu corpo se arrepiam com seu pedido. Não quero ficar sozinha
com ele. Pelo menos ainda não.
— Não acho... eu acho melhor você ir até minha casa. — Digo devagar e ele
respira fundo.
— Tudo bem, Abby. Estou indo.
Desligo e fecho os olhos tentando acalmar-me. Não sei se fiz certo em dizer
isso, que não queria ir até sua casa, mas eu não poderia forçar-me a fazer uma coisa
que me deixara desconfortável.
Quando estaciono, meu pai sai de casa com Alice em seus braços. Sorrio para
minha pequena e aproximo-me.
— Hey, pai! — O abraço e beijo minha irmã na bochecha. — Oi, Ali. — Ela
sorri enquanto seus olhos azuis brilham.
Os olhos de papai são a marca registrada dos filhos. Eu, Matthew e Alice temos
seus olhos verdes quase azuis, como mamãe fala.
— Vou levar Alice no parque aqui perto. Você quer ir conosco? — Ele
questiona enquanto a coloca na cadeirinha, dentro do carro.
— Não dá. Aaron vem aqui. — Explico e ele para de fazer o que fazia.
— Esse horário? — Aceno confirmando e ele suspira. — Vocês brigaram ou
algo do tipo?
— Sim, mas não se preocupe. — Respondo baixinho.
— Ok. Sua mãe está no quarto. Não a incomode. Ela está com dor de cabeça. —
Ele avisa e eu aceno.
Entro em casa e ocupo-me até Aaron chegar. A primeira coisa que vejo nele são
seus olhos cansados. Será que estava acordado a noite inteira? Se sim, começo a
sentir-me culpada por ter ficado com Kyle, Scott e Babi naquele bar. Eu deveria estar
em casa, pensando no que ele fez para mim e o que iria fazer em relação a isso, mas
não. Eu fiquei divertindo-me com outras pessoas.
— Abby. — Ele engole em seco e eu suspiro acenando para o sofá.
Depois de estarmos acomodados, Aaron pega minha mão na sua. Seu toque
instantaneamente me acalma. Diferente de ontem, eu sinto seu amor por mim.
Irradiando de nós dois.
— Precisamos falar sobre ontem, não é? — Ele sussurra enquanto brinca com
meus dedos.
— Sim. — Respiro fundo. — E eu também acho que você deveria ser a pessoa
a começar a falar. — Digo firme.
— Eu sei... eu só... me desculpe pelo modo que te tratei, Abby. Nunca pensei que
eu faria algo do tipo, mas...
Eu o interrompo:
— Não justifique algo injustificável. Você querer transar comigo à força não tem
desculpas, Aaron. Por mais que tente, nunca irá me fazer concordar com algumas das
suas objeções. — Viro-me para olhar em seus olhos enquanto falo.
— Eu sei. Desculpe. Eu apenas queria que entendesse o que venho sentindo
durante nossos momentos juntos. — Ele passa a língua por seus lábios rosados. — Eu
tenho vontades, Abby. Eu sou um homem, e isso pode muito bem soar feio ou escroto,
mas é o que é. Eu preciso disso e, amor, eu não quero isso com mais ninguém. Só com
você, querida. — Ele explica e eu mordo o interior da minha boca.
— Eu entendo. Mas não concordo. Quando eu digo que não estou pronta, é a
mais pura e simples verdade, Aaron. Eu não digo isso porque estou fazendo birra ou
porque estou brincando com você. Eu digo, porque eu sinto. Eu não estou pronta.
Quando eu estiver, não se preocupe, vai acontecer. Mas por ora não, Aaron. Então se
isso está te consumindo tanto assim, eu não vou te prender a mim. — Digo baixinho
enquanto duas lágrimas escorrem por meu rosto. As limpo rapidamente e Aaron se
levanta ficando a minha frente.
— Querida, você está terminando comigo? — Ele questiona com um olhar de
dor. Seguro seu rosto entre minhas mãos e aproximo-me.
— Não. Eu estou te deixando escolher. Eu não estou pronta e por mais que eu te
ame, não vou te prender a mim. Ao meu tempo. — Digo sussurrando.
Aaron me puxa para seus braços e logo seus lábios finos estão nos meus.
Beijando-me, sugando nosso amor.
— Eu te amo, Abby. Eu vou esperar o tempo que for. Não se preocupe com isso.
Desculpe novamente pelo ocorrido. Juro que isso não vai voltar a acontecer.
Sorrindo, beijo seus lábios mais um pouco. Eu detestaria que ele terminasse
comigo por isso. A verdade é que não sei quem sou sem Aaron por perto. Eu o amo e
eu vejo nosso futuro.
Nossos filhos em uma casa branca e pequena como a de mamãe e papai, um
cachorro grande e peludo pelo jardim. Nós vamos ser muito felizes.
Capítulo Cinco
Kyle
Sinto seus lábios me consumirem. Eu não sei o que deu em mim para beijá-la,
mas eu não estou indo parar. Seguro sua cintura no lugar e subo em cima de seu corpo.
Continuo a beijar sua boca enquanto ela puxa minha cabeça para si mesma. Suas
mãos entram em meus cachos e ela geme em minha boca.
Ela. Porra. Geme. Em. Minha. Boca.
Passo minhas mãos por suas curvas acentuadas e aperto sua cintura. Meu pau já
está vivo e eu quero me bater por isso, mas tenho um álibi. Abby é muito gostosa.
Muito mesmo.
Quando penso em colocar minha mão por seus cabelos, ela me empurra, se
afastando. Fecho meus olhos e me distancio dela. Eu já sei o que vem a seguir. Ela vai
ficar louca porque traiu o merdinha do seu namorado e etc. Não tenho tempo para essa
merda.
— Kyle... Nós... — ela começa a falar e sinto seu corpo tremer. Ela está
assustada. Merda.
— Abby... — tento falar, mas ela me interrompe.
— Que merda a gente fez? Eu não posso fazer isso com Aaron. A gente não
pode. Nós somos primos e bem, eu não sei. — Ela suspira e se levanta da cama.
Olho para ela e pergunto-me em que merda fui me meter. Abby é linda, mas é
minha prima e tem namorado. Mas parece que desde o momento que a vi, novamente
quero fazer isso. Quero beijá-la.
— Abby, me desculpe. — Começo a falar ao ver ela pegando seus livros e sua
bolsa. — Isso não vai se repetir. — Prometo. Mas a verdade é que eu quero de novo e
eu quero mais do que apenas um beijo. Eu quero ela. Toda.
— Tudo bem, Kyle. Me desculpe também. Agora eu tenho que ir e bem, estou sem
carro. Se puder me deixar, eu vou agradecer. — Ela fala apressadamente e eu levanto-
me da cama.
— Lógico. Vem. — Saio do quarto e pego minhas chaves na bancada da
cozinha.
Calço meus sapatos e quando olho para trás ela está me olhando. Não do jeito
convencional. Ela está olhando-me e querendo-me e, Jesus, ajude-me! Mas se ela
continuar, eu vou dar o que ela quer.
— Pronto. Vamos? — Digo e ela acena ficando um pouco vermelha.
Entramos em meu carro e logo estou saindo do estacionamento. Um silêncio
tenso se estende pelo carro e eu ligo o rádio para espantá-lo. Logo, Ed Sheeran
começa a tocar e eu suspiro.
Abby fica o caminho inteiro olhando pela janela. Seus dedos batem contra sua
coxa e eu suspiro concentrando-me na estrada.
Meu celular começa a tocar com minha mãe ligando e o coloco no viva-voz.
— Kyle, querido.
— Oi mãe.
— Você já jantou?
— Sim . — Minto enquanto Abby olha para mim me repreendendo. Dou de
ombros e ela volta sua atenção para a janela.
— Que bom. Você encontrou Fernanda por aí? Ela voltou e vai estudar em
Seattle como você.
— Ainda não a encontrei, mas se eu a ver vou correr para o mais longe
possível . — Digo sério.
Mamãe não entende o quanto aquela vadia fez-me sofrer quando foi embora para
Nova York sem me dizer nada.
— Não fale assim. Ela é uma garota boa e vocês sempre se deram...
— Mãe, estou dirigindo, então me desculpe, mas boa noite.
— Tudo bem. Boa noite, Kyle.
Desligo e volto a me concentrar na estrada. Vejo Abby olhando-me. Ela deve
estar se perguntando quem é Fernanda, mas eu não vou explicar nada. Eu não lhe devo
satisfação.
— Tia Melissa já sabe quando será o lançamento do próximo livro? — Ela
pergunta baixinho e eu mordo meu lábio inferior lembrando o gosto de sua boca.
Porra.
— Para o mês que vem. — Informo.
Minha mãe nunca deixou de escrever. Depois do primeiro livro lançado, ela se
tornou famosa e os livros vendem muito e, claro, ela ama o que faz.
— Que bom. Quero ir no lançamento. Amei os outros livros. Já li todos que ela
escreveu. — Ela diz e eu quero sacudir seu corpo, pois está conversando comigo
normalmente como se a poucos minutos não estivéssemos nos beijando.
— Sério? Eu também. Afinal sou seu filho, não é? Eu tenho que ler. — Sorrio
tentando esquecer o que aconteceu e viro para a rua da sua casa.
Abby suspira e agradece pela carona. Eu aceno, mas não falo nada. Quando a
vejo sair do carro, pego sua mão na minha querendo contrapor, mas ao ver a dor em
seu rosto a deixo ir.
Vai ser melhor assim.
Tenho que tirar essa menina da cabeça.
Vejo minha tia abrir a porta e sorrir para sua filha. Quando ela traz seus olhos
para mim, seu sorriso some e eu sei que ela sacou que algo aconteceu. Abby corre
para seus braços e ela a abraça apertado a levando para longe de mim.
Saio pelas ruas de Seattle e só paro quando entro em um bar próximo ao
Campus. Eu preciso de álcool. Muito.
Peço um copo de Whisky e me sento à frente do barman. Pego minha bebida e a
viro devagar enquanto penso em Abby. Penso se caso decidirmos ficar juntos... como
nossos pais reagiriam?
Balanço a cabeça afastando esses pensamentos sem cabimento algum. Nunca
ficaremos juntos. Jamais.
Escuto meu celular tocar e o atendo sem olhar para a tela.
— Aonde está? — Scott pergunta.
— Por que, cara?
— Estou na sua casa, Kyle. Venha até aqui.
— Vou te mandar o endereço de onde estou. Não estou indo para casa agora .
— Desligo a chamada e lhe mando um SMS com o endereço do bar.
— Hey garotão. — Viro-me e vejo uma mulher se aproximar.
Ela é muito mais velha que eu. Deve ter uns trinta e poucos anos e não estou
indo foder alguém tão mais velho que eu. Não mesmo.
— Oi. — A respondo e ela se senta ao meu lado.
— Não me diga que está sofrendo por amar demais? — Eu rio dela. Na
verdade, eu gargalho.
— Não. Eu não estou amando ninguém. — Nem fodendo estou gostando tanto
assim de Abby.
— Entendi. Meu nome é Ariela. Qual é o seu? — Ela pergunta e chama o
barman.
— Kyle e eu não estou a fim. — Digo e ela me olha divertida.
— Você pensa que quero algo com você? — Ela gargalha e eu aperto o maxilar
prestando atenção em suas palavras. — Aposto que você nem sabe satisfazer uma
mulher de verdade, Kyyyyle. — Ela arrasta meu nome e eu sorrio irônico.
— Com certeza você não vai ter a certeza sobre isso. — Digo rindo.
— Okay, garotão. — Ela sorri novamente e eu reviro os olhos para seu jeito de
me chamar.
Bebemos mais dois copos de Whisky e Scott chega com Bárbara ao seu lado.
Sorrio para os dois. Scott está se apaixonando pela minha prima, eu sei. Essa semana
uma amiga de Tati foi lá para casa e queria ficar com ele. Quase não acreditei quando
ele disse que não estava a fim. Porra, Scott dá um fora em uma menina é algo muito
novo. E eu disse isso para ele.
Sua resposta foi que ele estava tentando conquistar Bárbara e ficando com outra
não vai ajudá-lo em nada. Eu entendo. Eu acho.
— Kyle, por que diabos está bebendo numa hora dessas? — Scott fala enquanto
Babi olha para Ariela com as sobrancelhas franzidas.
— Nada, cara. Senta aqui. — Bato no banco ao meu lado. — Essa é minha
amiga Ariela. — Apresento e, antes que Ariela beije a bochecha de Scott, Bárbara vai
para sua frente.
— Olá, Ariela! Eu sou Bárbara. — Babi a cumprimenta e encosta-se ao peito de
Scott.
— Oi, Bárbara. — Ariela diz segurando o riso. Ver Bárbara marcar território é
algo assustadoramente cômico.
— Aonde está Abby, Kyle? — Babi questiona e eu perco o sorriso.
— Em casa. — Digo e volto a prestar atenção em minha bebida.
— Tudo bem. Podemos ir para casa? — Bárbara pede a Scott e ele acena
confirmando.
— Vamos, Kyle. Primeiro iremos te deixar. — Scott pega meu braço e eu o
acompanho.
Não vou brigar com meu amigo. Já bebi o suficiente.
— Ariela, obrigado pela companhia. — Digo e ela sorri.
Ela desce do banco e dá um selinho em meus lábios. Reviro os olhos quando ela
se afasta.
— Você ainda é um bebê, Kyle, mas quem sabe um dia, hein? — Ela se afasta e
eu sorrio para sua loucura.
— Que nojo, Kyle. Ela tem idade para ser sua mãe. — Bárbara ralha comigo e
eu a abraço enquanto caminhamos para fora do bar.
—Não fiz nada, prima. Foi ela que me deu um selinho. — Defendo-me.
— Que peninha de você, Kyle. — Ela desdenha se distanciando de mim.
Depois de eles me deixarem em casa e trazerem meu carro, eu durmo. E com o
sono, me esqueço da bebida, de Ariela e principalmente dela .
Acordo sentindo-me molhado. Sim, molhado. Coloco minha mão em meu rosto e
sinto água. Porra. Levanto e vejo Tati ao pé da cama olhando-me.
— O que deu em você, sua doida? — Grito irritado ao ver que não sou somente
eu que estou molhado, mas a minha cama também.
O que essa cadela tem na cabeça?
— Isso é por ter comido minha comida ontem e também porque está na hora de
acordar. Seu celular não para de tocar um segundo. — Ela responde igualmente
irritada.
Suspiro e a vejo sair do quarto. Vadia louca ! Pego meu celular e atendo a
chamada do meu pai. Só melhora.
— Oi, pai.
— Kyle, ainda bem. Estava ficando preocupado. Com essa ligação, foi mais de
dez para tentar falar com você. Por que não me atendeu?
— Pai, eu estava dormindo. Que horas são?
— Kyle, está na hora do almoço. O que fez dormir até agora?
— Sai ontem, pai. Só isso.
— Tudo bem. Tome uma aspirina e corra para a casa de Nicole. Estamos indo
visitá-los.
— Pai, eu não participo disso faz décadas. Não precisa me juntar a turma agora
que já sou um adulto.
— Estou rindo de você nesse momento. Levante sua bunda e vá, Kyle. Estou à
sua espera.
E ele desliga. Caralho .
Tomo banho e logo estou pronto para ir até a casa dos meus tios. Pensar que irei
ver Abby hoje me assusta e anima ao mesmo tempo.
Pensar naquela garota vai me deixar louco, então antes de sair de casa prometo
não mais pensar, olhar ou falar, algo que esteja além dos limites para primos e
amigos.
Eu prometo.
A entrar em sua casa, a primeira pessoa que vejo é a pequena Alice. Ela corre
para meus braços me chamando de príncipe. Eu juro, essa garota é a única que me faz
sentir-me bem ouvindo esse elogio/apelido.
— Olá, princesa Alice. Como vai? — Questiono entrando na sala com ela em
meus braços.
— Vou muito bem. — Ela responde e de repente me olha intrigada. — Mamãe
falou que você não pode namorar comigo. — Arregalo os olhos assustado. O que
merda ela falou?
— Foi mesmo? Então ela te explicou o porquê, não é mesmo? — Engulo em
seco enquanto nos sentamos no sofá.
— Ela disse que somos primos e que você é muito grande para mim. — Ela
explica gesticulando e eu aceno confirmando.
— Ela falou a verdade. Você só vai namorar um garoto quando estiver com no
mínimo dezoito anos. — Digo e ela franze as sobrancelhas confusa.
— Então falta quanto para eu ter dezoito anos? — Ela coloca sua mão no queixo
e eu sorrio para sua ingenuidade.
— Bastante, pequena. — Respondo sorrindo para seus olhos verdes azulados.
Os mesmo de Abby. — Bastante.
— Então você vai esperar eu ter esse tanto de tempo? — Ela insiste abrindo os
braços e eu sorrio balançando a cabeça.
— Quando você tiver essa idade, eu já vou ter bebês e já vou ser casado. Eu
acho. — Digo franzino as sobrancelhas e ela acena como se entendesse tudo.
— Abby já tem idade para namorar? — Ela pergunta depois de um tempo
calados.
— Sim. Até porque ela já namora Aaron, não é mesmo? — Ela acena dando de
ombros e desce do sofá.
— Você pode vir brincar comigo? — Ela pergunta e eu suspiro. — Não é
brincadeira de namoro. É só no parquinho. — Eu gargalho do que ela diz e me levanto
para acompanhá-la.
Pego sua mão e quando levanto meus olhos, vejo Abby nos observando. Ela
sorri triste para mim e eu devolvo, só que diferente do seu sorriso, eu lhe dou um de
verdade.
Passamos por ela e seguimos para o jardim da casa, pois é onde fica o
parquinho.
Depois de um tempo com Alice, tia Nicole vem buscá-la para tomar banho e
comer. Ela sorri para mim e me manda lavar as mãos para comer.
Eu, lógico, obedeço.
Enquanto lavo minhas mãos, meus pais chegam, mas eles não estão sozinhos. O
que minha mãe tem na cabeça para trazer Fernanda até aqui?
— Kyle, olha quem achei na cidade? — Mamãe sorri depois de me abraçar.
— Estou vendo. — Olho para Fernanda, sério, enquanto ela engole em seco. —
Onde está Luce? — Pergunto deixando de olhar para minha ex-namorada.
— Está com Abby na sala. — Ela responde e meu pai me cumprimenta a
interrompendo.
— Então vou falar com ela. — Digo querendo fugir daqui.
Se meu pai não estivesse fazendo tanta questão da minha presença aqui nesse
almoço, eu nem teria vindo. E agora sentindo o olhar de Nanda em mim, quero sumir
em um passe de mágica.
— Tudo bem. Vá com ele, Nanda. — Ela manda e eu olho duro em sua direção.
Não sei porque minha mãe quer tanto que eu e Fernanda fiquemos juntos, mas
ela desde que soube que Fernanda estava voltando, está me infernizando.
— Ela já está indo embora, não é mesmo, Fernanda? — Questiono e ela suspira
acenando. Bom.
Saio para a sala e encontro Luce sentada ao lado de Abby, mas ela não está
sozinha. Aaron está ao seu lado. E, porra! Isso me incomoda. Muito mais do que eu
quero admitir.
Visto minha máscara de indiferença e puxo Luce para meus braços. Deus, eu
senti sua falta.
— Hey, K. Estava com saudades. — Ela sussurra em meu pescoço e eu a abraço
mais apertado. Deus, eu também estava.
Muito.
— Também pequena L. — beijo sua testa e sorrio ao ver que seus olhos
lacrimejaram.
— Kyle, eu... — fecho meus olhos ao ouvir a voz de Fernanda.
— Eu disse para não vir, Nanda. Você foi a única a abrir mão disso antes. —
Luce fala baixinho e eu instintivamente olho para Abby.
Seus olhos estão neutros. Ela só observa Fernanda como algo novo. Aaron
enlaça seus dedos com os dela e leva sua cabeça para que ela possa olhar em seus
olhos.
E. Porra. A. Beija.
Viro-me para falar com Fernanda, antes que Luce a afaste de mim a tapas. Não
que elas não sejam amigas, elas são, mas minha irmã viu o quanto essa cadela me fez
sofrer.
— Fernanda... — Começo, mas ela me interrompe.
— “Nanda”, Kyle. Desde que éramos crianças você sempre me chama assim. —
Ela me lembra e eu aperto meu maxilar.
— Antes de tudo... — respiro fundo. — Vamos, eu vou te deixar. — Saio da
sala e sigo para o estacionamento.
Fernanda segue-me calada e eu agradeço por isso. Não preciso de mais merda
na minha cabeça. Ver aquele merdinha beijar Abby já fodeu tudo.
Quando entramos em meu carro, ela começa a chorar. Engulo em seco de
nervoso. Fernanda sabe que não posso ver mulher chorar, essa merda mexe com meu
juízo.
— Fernanda, pare com essa merda. — Suspiro e bato no volante do carro a
assustando. — Você foi a única a ir embora. Você me deixou, então não venha chorar na
minha frente. A culpa é sua. — Grito em sua cara a fazendo chorar mais um pouco.
Respiro fundo tentando me acalmar. Não quero fazê-la chorar. Eu só queria que
ela não estivesse entrado nessa casa, que ela não estivesse chorando como se eu
tivesse culpa de algo, quando, na verdade, ela foi a única a foder com meus
sentimentos.
Eu amava essa garota. Eu amei durante a minha infância inteira, para quando
num belo dia eu ir a sua casa e descobrir por seus pais que ela tinha ido morar fora.
Que ela tinha deixando-me sem nenhum bilhete. Sem nada.
— Kyle, por favor... Me perdoe. — Ela soluça e eu saio do estacionamento. —
Eu juro que tentei te dizer várias vezes, mas eu nunca tinha coragem. Doeu em mim
também, Kyle. Eu deixei meu coração com você. Por favor, me perdoe. Eu te amo
tanto. — Ela continua falando e eu aperto o volante deixando os nós dos meus dedos
brancos.
Ouvir ela dizer que me ama ainda mexe comigo. Mexe porque eu a amei por um
longo período da minha vida. Ninguém esquece um sentimento tão grande em pouco
tempo.
— Fernanda, eu não quero ouvir suas explicações. Você me fez sofrer como
nenhuma mulher fez. Então apenas me diga onde está morando que irei te deixar. —
Digo olhando para a estrada à minha frente. Fernanda ainda chora, olhando pela
janela.
— Eu não acredito que não me ame mais, Kyle. Nós éramos tudo um para o
outro. Você foi meu primeiro e único homem e eu também fui sua primeira. Eu não
acredito que você não goste de mim mais. Eu só não posso acreditar. — Ela fala me
olhando enquanto paramos em um sinal.
— Eu matei esse sentimento, Fernanda. Acredite ou não, eu não quero mais nada
com você. — E pela primeira vez, ela se cala. Da sua boca não sai mais nenhuma
palavra, a não ser, seu endereço, onde acabo descobrindo ser no Campus também.
Seus olhos me transmitem mágoa quando a deixo em casa, mas não vou me martirizar
pela sua dor. Não mais.
Saio do estacionamento do Campus e sigo para a merda daquele almoço de
novo. Papai liga-me assim que estaciono. Pensando que eu tinha fugido e que eu não
iria mais voltar. Paranoico.
Entro na casa novamente e dessa vez Babi está lá sorrindo para todos os lados.
— A noite foi boa, Bárbara? — Questiono e ela me dá um tapa no braço. Seu
rosto sobe dois tons vermelhos e eu sorrio.
— Idiota.
Sentamos com nossos familiares à mesa e quando menos esperamos Aaron
começa a falar. Você sabe quando pressente que vem merda? Pois é. Estou sentindo
isso agora.
— Peço um pouco da atenção de todos... — Reviro os olhos e minha mãe vê.
Que ótimo. — Diante de todos os familiares de Abby, hoje quero pedir a Connor a
mão de sua filha. — Cuspo minha bebida em cima de Babi e ela grita com nojo.
— Kyle! Seu... Seu... Nojento! Arg!
Que porra foi que esse merdinha falou?
Procuro os olhos de Abby e ela está tão assustada como eu. Aperto meu maxilar
a olhando e ela logo se encolhe olhando para outra pessoa que não seja eu.
Ela vai dizer não.
Tenho certeza disso.
Ela tem que dizer, porra, não.
Capítulo Seis
Abby
Capítulo Sete
Abby
Dias depois...
— O que você está dizendo? — Babi grita enquanto andamos pelo Campus em
direção à nossa aula.
— Isso mesmo. Eu terminei com Aaron. Quero dizer, ele quem terminou. —
Digo segurando minha bolsa apertada.
— Por quê? Ele te pediu em casamento no domingo. — Ela me lembra e eu
mordo meu lábio com vergonha de falar sobre Kyle. Ela vai me matar.
— Eu o traí com Kyle. — Seus olhos se arregalam e sua boca começa a gritar
histérica. Eu tapo seus lábios com minha mão. — Cala a boca, sua cadela ! — Aviso e
ela acena respirando fundo. — Como eu ia falando, eu beijei Kyle. Então eu fui contar
para Aaron, mas o idiota do seu primo chegou e me fez contar da pior maneira
possível. — Voltamos a andar e ela balança a cabeça acenando. — Você não vai falar
nada?
— Você disse para eu calar a boca, sua cadela. — Ela responde rindo e eu a
empurro. — Então quer dizer que vocês estão juntos agora? Digo você e Kyle? — Ela
questiona e eu a olho franzino as sobrancelhas.
— Você está louca? É óbvio que não. Kyle me fez de idiota. Não quero nem vê-lo
na minha frente. Never . — Digo firme e entramos na sala.
Só que nesse momento eu lembro-me que hoje é a aula de Yara. Sento-me com
ele. Merda.
— Boa sorte, então. — Ela ri e vai em direção a sua cadeira.
Respiro profundamente e ando até nossa mesa. Ainda bem que ele não chegou.
Vai ser mais fácil ignorá-lo quando for eu a pessoa a escolher o lugar.
Depois de cinco minutos, ele chega, mas não está sozinho. A mesma garota que
vi semana passada está ao seu lado. Ele ri de algo que ela fala e eu tenho vontade de
socar-me por pensar que talvez eu pudesse ficar com ele.
Que ele, talvez, fosse meu Connor.
Concentro-me em meus livros e esqueço que eles estão aí. Quando vejo que os
livros de medicina não vão ajudar, pego o livro que estou lendo. Esqueço-me de tudo
e foco-me na história. Sinto quando Kyle se senta ao meu lado. Sinto seus olhos em
mim, mas continuo quieta.
A professora Yara entra na sala e começa sua aula normalmente. Tudo que eu
faço durante todos os cinquenta minutos é prestar atenção em tudo que sai da boca da
minha professora. Falo apenas o essencial com Kyle. Quando o tempo de aula acaba,
eu pego minhas coisas o mais rapidamente possível.
Kyle continua sentado, apenas me olhando, e eu mais uma vez finjo não vê-lo
quando me levanto da cadeira. Sigo até Bárbara e antes que eu chegue até a porta,
Kyle está puxando meu braço.
— Me solte. — Rosno enquanto puxo meu braço do seu aperto.
Olho para Bárbara, lhe chamando para me "salvar" de Kyle e logo
ela está ao meu lado.
— Solte-a Kyle. — Bárbara empurra seu braço e ele solta-me.
— Não se meta, Bárbara. Eu só quero conversar com ela. — Ele fala irritado.
— Eu não quero falar com você. — Digo pausadamente e aproximo-me. — Eu
não vou te perdoar pelo que me fez fazer, Kyle. Eu odeio o quanto você o fez sofrer. O
quanto me fez sofrer. Não se aproxime de mim. — Digo firme e saio da sala.
Ele não vem atrás de mim. Eu, sinceramente, agradeço por isso.
À tarde, chego em casa e encontro meu pai sentado no sofá. É estranho, já que
ele está nesse horário na academia.
— Hey! Pai. — Eu lhe cumprimento com um beijo na bochecha e preparo-me
para subir.
— Sente aqui, querida. — Ele chama-me e eu aceno, sentando-me.
Eu acho que já sei o que quer conversar. Deve ser sobre o pedido de Aaron.
— Abby, quando Aaron te pediu em casamento, que foi péssimo, tenho que
dizer: você não sorriu como minha Nick sorriu para mim. — Ele começa a divagar,
olhando para frente. — Você se assustou e olhou para... Kyle. — Ele fala, trazendo
seu olhar para mim. Eu mordo meu lábio olhando para as paredes da sala. Tenho
vergonha de mim mesma.
— Eu estava... Eu não sei. Eu não sei o que deu em mim. — Sussurro enquanto
papai se senta na mesa de centro para me olhar.
— Eu sei o que não deu em você: felicidade. — Ele passa a mão pelos cabelos
e volta a me olhar. — Você não gosta desse garoto, então o que faz ao lado dele? —
Ele é direto.
— Eu gosto dele. Mas isso não tem importância, pai. Nós terminamos. Não
quero que se preocupe. — Sorrio e ele acena devagar.
— Vocês terminaram por qual motivo? — Ele franze as sobrancelhas. Engulo
em seco, nervosa. Não quero falar de Kyle para papai, não sei por qual motivo, mas
eu não quero.
Quando eu ia inventar uma resposta, mamãe chega. Eu suspiro aliviada.
— Hey! Connor? — Ela estranha sua presença em casa nesse horário.
— Passei em casa para almoçar com vocês. Matthew está no quarto. — Ele diz
se levantando e puxando minha mãe para seus braços. — Estava com saudades, Nick.
— Ele suspira cheirando o pescoço da minha mãe. Ela suspira e abraça seu corpo.
— Humrum! — Finjo tossir chamando a atenção deles. — Com licença. Já
almocei com Babi, então vou para o meu quarto. — Aviso e levanto-me.
— Está tudo bem, querida? — Mamãe pergunta.
— Está tudo ótimo! — Digo com um sorriso forçado e subo as escadas.
Quando chego em meu quarto, suspiro aliviada. Meu dia foi cansativo. Ver Kyle
depois do que ele fez, mexeu comigo. E conversar com papai também me deixou
emotiva. Será que nunca percebi que eu não amava Aaron? Será que sempre estive ao
seu lado por acomodação?
Lembro de seus olhos perturbados e começo a chorar novamente. É ruim o
suficiente ter terminado tudo, mas pior ainda é ter dito daquele jeito que o trai com
Kyle.
Pelo amor de Deus, o que meu primo tem na cabeça?
Eu juro que não entendo isso que estamos vivendo. Eu não entendo o que ele
pensa querer comigo e muito menos consigo colocar em palavras o que eu quero. A
única certeza que tenho é que eu gosto de beijá-lo. Eu gostei da sua presença em
minha vida e isso é estúpido.
Não queria ter que vê-lo novamente, mas sei que de um a dois dias teremos que
nos reunir para continuarmos nosso trabalho. Eu só peço que eu esteja preparada para
a avalanche de sentimentos que se despertam dentro de mim com sua presença.
Meu celular começa a tocar e vejo o nome de Aaron na tela. Meu peito aperta e
tenho até medo de atender, mas mesmo assim faço.
— Alô.
— Abby...
— Oi, Aaron. Como está?
— A verdade? — Ele questiona com uma risada amarga.
— Sempre.
— Nesse momento, estou me perguntando onde errei com você. Estou me
questionando o porquê de você não me amar.
— Não faça isso consigo mesmo, por favor.
— Por que... ele nunca esteve ao nosso lado, querida. Ele nunca se aproximou
de nós dois...
— Você não deixava...
— Eu tinha ciúmes, Abby. Eu era uma criança, mas já sabia que iria me trocar
por ele.
— Eu não te troquei. Não pense nisso.
— Não? Pelo amor de Deus, Abby. Quem você quer enganar? Eu sei que se não
estão agora, vão estar logo. Você não me trairia se não o amasse.
— De... de onde tirou isso? Eu não o amo. Eu só me senti atraída. Eu não quero
falar sobre isso com você.
— Eu também não, querida. Eu te amo, pequena.
— Eu... — paro de falar quando vejo que eu iria mentir para ele.
— Eu sei, querida. Tudo bem.
— Gostaria de te ver...
— Para o quê, Abby? — Ele questiona me interrompendo.
— Eu quero olhar em seus olhos. Somente isso, por favor.
— Vou te esperar no café da faculdade.
— Obrigada, querido.
Desligo rapidamente e saio de casa. Meus pais deviam estar no quarto, pois não
vi eles em nenhum lugar.
Eu não sei o que deu em mim para pedir para vê-lo, mas não parei para pensar.
Eu só preciso vê-lo para essa dor passar. Não quero que ele esteja sofrendo.
Em poucos minutos, estou sentada à sua frente. Seus olhos estão cansados e eu
suspiro. Peço dois cafés para a gente enquanto Aaron me olha.
— Você é a coisa mais linda que um dia eu já vi, querida. — Ele acaricia meu
rosto e eu fecho os olhos.
— Você também é lindo. — Digo baixinho. Ele sorri triste e afasta sua mão.
— Eu... Me desculpe. Eu só estou um pouco perdido sem você. — Ele diz
sincero e eu aperto sua mão na minha.
— Eu que tenho que pedir desculpas, A. Eu não deveria ter te traído. Muito
menos ter deixado Kyle ter entrado em sua casa daquela maneira. Me desculpe pelo
que fiz você passar. — E antes que eu perceba, minhas lágrimas estão molhando meu
rosto.
— Eu estou sofrendo, Abby. Estou e não vou negar a ninguém, mas eu acho que
eu sofreria mais sabendo que estava comigo gostando de outra pessoa. — Ele beija os
dedos da minha mão enquanto limpo minhas lágrimas.
— Eu... — Ele me interrompe.
— Você gosta dele? — Ele olha fixamente para meus olhos e eu suspiro.
— Eu não sei. — Confesso.
Eu não sei se o que sinto por Kyle é amor ou paixão. Eu só tenho certeza de que
eu quero ficar com ele ao meu redor.
— Tudo bem. Com o tempo você vai perceber. — Ele acena, assegurando-me, e
eu suspiro feliz.
— Quem sabe... — a garçonete chega nos interrompendo.
Quando ela vai colocar o café à frente de Aaron, ele escorrega e cai em meu ex-
namorado. Caramba.
— Puta que pariu! — Aaron grita, afastando a camisa cheia de café quente. —
Garota, o que... — ele para de gritar ao olhar para ela.
Eu a olho também e me assusto ao ver ela chorando e tremendo. Seus cabelos
pretos estão em um coque e uma touca está os cobrindo. Seus olhos também escuros
fitam Aaron amedrontados. Coitada.
— Por favor, me perdoe. Eu... — Ela engole em seco e suas mãos não param de
tremer.
— Tudo bem. — Aaron fala devagar, se aproximando dela. — Agora se acalme.
Não aconteceu nada. O café até já esfriou. — Ele diz e ela suspira pesadamente.
— Eu... talvez possa ser uma loucura o que vou falar, mas tem como não falarem
nada para meu chefe? Eu comecei agora e eu preciso muito desse emprego. — Seus
olhos estão cheios de lágrimas e eu me aproximo.
— Não se preocupe. Não diremos nada. — Afirmo e ela suspira aliviada.
— Obrigada... — O celular dela começa a tocar e seus olhos se expandem. —
Alô... Ele está bem? Mãe, estou chegando... vai demorar já que vou esperar ônibus...
Só não o deixe sozinho... Não o deixe sozinho. Por favor. — Ela começa a andar de
volta para a cozinha, mas Aaron a puxa de volta.
— Aconteceu alguma coisa? — Ele questiona enquanto ela ainda treme.
— Eu só preciso ir embora. — Ela o responde, mas é perceptível que está muito
preocupada com algo.
— Eu posso te dar uma carona. Não vai me custar nada. — Aaron fala e eu
sorrio, lhe encorajando.
— Eu... — Ela parece arredia, mas logo cede. — Okay... vou me trocar. — Ela
corre para a cozinha e eu sorrio para Aaron.
— Que garota...
— Linda. — Digo e ele sorri concordando.
Depois dela voltar, eles saem do café e eu volto a sentar para beber o meu.
Tomara que não tenha acontecido nada grave com quem ela está preocupada. Só de
olhá-la dá para saber que é humilde.
Meu celular vibra com SMS, tirando-me dos meus pensamentos e eu abro a
primeira mensagem.
Fiquei sabendo que está com o merdinha... Já voltaram?
K.
Quem?
Respondo a mensagem perguntando quem fala e logo estou apertando meu lábio
entre os dentes.
Sou eu, baby.
Kyle.
Acho que deixei claro que não quero manter nenhuma ligação com você, Kyle.
O que quer me mandando mensagens?
A.
Eu já falei que não vou desistir de você, baby. Você logo verá que o que falo
sempre é verdade.
K.
O que eu sei é que você é um moleque! Não perca seu tempo, Kyle. Eu não vou
ficar com você.
A.
Você pensa que é esperta, Abby? Eu quero você. E eu também sei que me quer.
Por que quer complicar?
K.
Por que você não vai para o inferno?
A.
Malcriada! Você merece umas palmadas!
K.
Quero ver você dar.
A.
Ah, pequena Abby. Eu vou. Saia desse maldito café! Quero ver você.
K.
Está louco? Kyle, me esqueça. Quero que pare com isso. Você não gosta de
mim. O que quer? Se você me disser que está apaixonado por mim posso até...
A.
Até o quê? Me explique o que é estar apaixonado, Abby. Só estive assim uma
vez e não terminou bem.
K.
Estar apaixonado é pensar na outra pessoa o tempo todo. É escolher estar
com ela a qualquer outra pessoa. É sentir vontade de andar de mãos dadas com ela
pela rua... Então, K, você está?
A.
Acho que sim, A.
K.
Depois disso, não o respondi. Meu coração pareceu parar por alguns segundos.
Eu juro que estou tentando mandar esse sentimento embora. Mas antes que eu perceba
estou sorrindo feito uma idiota.
Aperto os olhos fechados quando outra mensagem chega ao meu celular.
Olhe para frente, baby.
K.
Quando levanto meus olhos, ele está lá, sentado ao fundo do café. Minha barriga
dá voltas e eu acabo sorrindo. É eu acho que também estou apaixonada.
Grande merda!
Ele sorri aliviado ao ver meu sorriso. Em poucos segundos, ele está na minha
frente. Ele me levanta pela mão e me agarra na frente de todas as pessoas. Antes que
eu possa entender o que está acontecendo, sua boca está na minha.
E, Deus, essa é a minha perdição.
— Você está louco. — Digo me afastando e ele sorri.
— Por você, baby. — Ele me puxa em direção à saída e eu vou o
acompanhando.
Entramos em seu carro e Kyle sorri, alegre. Não posso acreditar que estou aqui
com ele. Eu sou louca.
— Eu estou apaixonado por você, Abby. — Ele sussurra em meus cabelos. —
Eu penso em você quando estou deitado em minha cama à noite. Penso em seus
gemidos pela manhã quando estou no banho e principalmente lembro de seus olhos
lindos me acompanhando pelo dia. Baby, eu estou fodido . — Ele deixa um beijo em
meu pescoço enquanto sua mão entra por meus cabelos.
— Kyle... — Ele me interrompe.
— Eu só quero te beijar. Eu juro que vamos conversar. Mas não agora. — Ele
espera meu aceno e logo está me colocando em seu colo.
Tiro seus longos cachos dos seus olhos e beijo seus lábios devagar. Kyle abre a
boca e minha língua prova seu gosto. Ele geme quando me movimento em seu colo,
consigo sentir seu membro e me envergonho por isso.
Kyle segura meus cabelos em uma mão me prendendo junto a ele, enquanto a
outra dá uma tapa em minha bunda. Sua boca sufoca meu grito e logo ele massageia o
local, que, tenho certeza, que está vermelho.
— Eu avisei... — Ele balbucia enquanto beija meu pescoço. — Adoro sentir seu
cheiro, Abby. Como você consegue ser tão cheirosa? — Ele pergunta confuso.
— Eu tomo banho. — Digo sorrindo e ele revira os olhos.
— Okay, então, senhora eu tomo banho. — Sorrio diante disso.
— Besta. — Deixo um selinho em seus lábios e me afasto voltando para meu
banco.
— Abby Jones... O que vou fazer com você? — Ele pergunta em tom divertido.
— Agora? Nada. — Saio de seu carro e ando até o meu parado no
estacionamento.
—Abby... você veio de carro? — Ele olha para meu carro e sua expressão é de
desapontamento.
— Sim. Podemos nos falar mais tarde? — Pergunto e ele sorri, concordando.
Saio do estacionamento e sigo para minha casa. Quando entro, parece que um
furacão passou por aqui.
— O quê? Vai me dizer que não aconteceu nada? — Escuto a voz de mamãe e
percebo que ela está chorando.
— Nicole, eu já expliquei. Eu não sei de onde ela saiu. Quando vi ela estava me
beijando e você chegou. — Papai explica tentando acalmá-la.
— Até quando? Até quando eu vou ter que aguentar esse tipo de coisa, Connor?
— Ela pergunta, gritando.
— Eu não fiz nada, amor. Eu te amo...
— Será mesmo? Já estamos há tanto tempo juntos, Connor, talvez seja hora...
— Não fale isso. Eu vou proibir a entrada dela na academia. Você nunca mais
vai ter que vê-la. Eu juro. — Quando escuto papai chorar, me sinto imediatamente
triste.
— Você disse a mesma coisa nas outras vezes. — Sem mais nenhuma palavra,
mamãe sobe para o quarto.
Ele a segue e eu fico onde estava, só olhando para o vaso que está quebrado ao
chão. Mamãe disse que ele foi o primeiro objeto de decoração que comprou para
nossa casa.
Apanho os cacos dele e os guardo em uma caixa. Depois vejo se dá para
restaurar.
Mamãe morre de ciúmes das mulheres que frequentam a academia, não é por
menos. As mulheres sempre dão um jeito de estarem ao redor do meu pai. Eu a
entendo. Espero que eles se resolvam logo. Detesto ver os dois brigando assim.
Quando já é noite e estou saindo do banho, meu celular começa a tocar. Vejo o
nome de Kyle e sorrio.
— Hey!
— Se vista, estou a cinco minutos da sua casa.
— O quê? Para quê?
— Vamos sair, baby. Babi também vai com Scott.
— É mesmo? E você me diz isso uma hora dessas? Idiota.
— Você tem quatro minutos agora.
Desligo na sua cara e corro para trocar de roupa. Visto um vestido tubinho preto
com uma meia calça cor de pele. Calço sapatos altos e pego uma bolsa pequena para
colocar dinheiro e meu celular. Kyle manda SMS mandando eu descer, mas não
respondo e começo a me maquiar. Depois de quase trinta minutos termino de escovar
meu cabelo e minha make já está preparada.
— Abby, por que demorou tanto? — Kyle pergunta quando entro em seu carro.
— Eu não demorei. Pelo contrário, me arrumei até rápido... — E assim vamos
discutindo, por isso, até uma boate no centro.
Nunca vim aqui, mas Kyle parece conhecer. Assim que nos sentamos em uma
mesa afastada, Luce aparece com Fernanda ao seu lado. Minha visão escurece ao ver
a última se inclinar e beijar Kyle.
Na boca.
Ela está louca, só pode. Eu vou matar essa vadia .
Capítulo Oito
Abby
Quando me levanto, não sei de onde saiu força para arrastar Fernanda de cima
de Kyle, mas eu fiz. Sim! Eu fiz e não me arrependo. Ela agora está me olhando sem
entender o porquê de eu ter a afastado, mas não ligo.
— Não o beije! — Digo, irritada, e ela sorri revirando os olhos.
— Não acredito! Está apaixonada pelo primo? — Ela debocha e eu me
aproximo.
— E se eu estiver? — Seu sorriso some e ela olha para Kyle em busca de
alguma resposta. — Se afaste, Fernanda. — Depois que falo, volto a me sentar, só que
agora no colo de Kyle.
Ele abraça meu corpo e me faz olhar para seu rosto. Depois do momento, sinto-
me tão estúpida. Ele não é nada meu, por que fiz essa cena?
— Desculpe. Eu não a vi chegar. — Ele diz me olhando nos olhos.
— Eu não deveria ter a tirado. Sou uma idiota. — Falo balançando a cabeça.
— Por que não? — Ele parece confuso e eu saio do seu colo.
Procuro as meninas, mas elas sumiram. Fico em pé e ele logo segue meus
passos.
— Responda, Abby. — Ele rosna e eu olho para seus olhos.
— Não sou nada sua, Kyle. Fiquei marcando território que não é meu. —
Quando as palavras saem da minha boca, nunca me pareceram tão certas.
— Você está querendo dizer que posso ficar com outras garotas? — Ele
pergunta me olhando sério.
— Você que sabe. Não me importa. — Minto enquanto ele aperta o maxilar.
— Não se importa? — Ele parece magoado agora. — Eu te falei que sou
apaixonado por você e é isso que me diz, Abby? — Ele puxa meu corpo para perto do
seu e eu suspiro.
— Desculpe. Eu só estou confusa. Quem essa garota pensa ser para te beijar
assim? — Pergunto irritada e ele relaxa um pouco.
— Eu não sei o que ela acha, mas sei o que é de verdade... somente meu
passado. Nada mais. — Ele afirma e puxa minha cabeça para perto dele. Beijo seus
lábios e me perco em seus braços fortes me abraçando.
— Não faça isso. — Digo me afastando de sua boca.
— O quê? — Ele sorri devagar.
— Essas coisas... sorri desse jeito. Falar essas coisas... Não me faça o amar,
Kyle. Eu vou sofrer. — Engulo em seco encarando seus olhos verdes.
— Eu vou fazer você me amar. Eu não vou te fazer sofrer, baby. Eu prometo e o
que eu prometo...
— Você cumpre. — Completo.
Ele sorri e puxa minha boca de encontro à sua. Sua mão aperta minha cintura
enquanto nos beijamos apaixonadamente.
— Não acredito! Sua vadia. — Escuto a voz de Babi e sorrio na boca de Kyle.
— Hey, prima! — Sorrio envergonhada quando me afasto de Kyle.
Scott sorri para o amigo enquanto os dois se sentam e pedem bebida.
— Não acredito que não me falou que estava com Kyle. — Ela parece chateada
e eu sorrio.
— Nos entendemos hoje, Babi. Não deu tempo. Desculpe. — Ela sorri
acenando e voltamos nossa atenção para os meninos.
— Quando fui até seu quarto no Campus, Tati estava chorando. O que houve
com ela? — Scott questiona, preocupado, olhando para Kyle. Seus olhos se arregalam
e seu corpo fica tenso. O que está acontecendo?
— Ela terminou com o namorado ou foi ele. Não entendi bem. — Ele bebe um
pouco de sua bebida e volta a falar. — A deixei dormindo quando sai. — Ele tem a
testa franzida e eu me pergunto se ele a colocou na cama.
— Por que está tão interessado, Scott? — Bárbara pergunta colocando a mão no
queixo.
— Não começa, Bárbara... — ele manda um olhar irritado para minha prima. —
Só fiquei preocupado. — Ele acaba explicando.
— Ela já tem Kyle para se preocupar. — Ela diz séria e eu a olho interessada.
— Ela tem Kyle? — Viro-me para ele e o mesmo bufa, mas sinto seu corpo
tenso.
— Não venha fazer Abby ser uma psicopata como você, Bárbara. — Ele avisa e
minha prima dá de ombros.
— Só falei a verdade. Vocês estão sempre juntos. — Ela balbucia e se levanta
nos deixando. Scott a segue.
— Sempre juntos? — Sorrindo, me viro para olhar para ele.
— Ela está exagerando. Eu moro com a garota, é claro que estamos juntos. —
Ele diz sério e ainda tenso.
Eu sorrio.
— Não estou brigando. Só queria saber mais da relação de vocês. Sabe? Ficar
preparada. — Digo me acomodando melhor ao seu lado.
— Não temos relação nenhuma, Abby. Ela ama o namorado. Não tenha ciúmes.
— Ele abraça meu corpo e eu sorrio revirando os olhos. Ainda sinto seus músculos
tensos, mas não vou me preocupar com isso agora.
— Não estou com ciúmes, Kyle. Não preciso disso. — Digo sincera.
Depois de nossos amigos voltarem e beberem mais um pouco, vou com Kyle
para a pista de dança. Até que ele dança bem. Depois de dançarmos uma música
animada, uma melodia familiar enche o espaço.
Your Window Pain – Kirsch & Bass.
Em questão de segundos, nossos olhos ficam preso um no outro. Foi ouvindo
essa música que nos beijamos pela primeira vez. Parece que faz tempo, mas isso só
tem uma semana.
Kyle canta baixinho ao pé do meu ouvido e juntos dançamos abraçados. Quando
a música termina, ele me beija e eu relaxo.
— Vamos lá, pequena. — Ele me puxa e logo estamos nos despedindo dos
outros.
Entro em seu carro do lado do motorista, pois Kyle bebeu um pouco. Não vou
arriscar.
— Cuidado com meu carro, baby. — Ele avisa e coloca a mão sobre minha coxa
nua.
— Não se preocupe, baby. — Imito sua voz ao me chamar por esse apelido.
Ele revira os olhos e logo se concentra nas paisagens pela janela. Depois de
quase dez minutos, estaciono em frente ao seu prédio.
— Dorme comigo, baby? — Kyle pergunta e eu tenho um vislumbre do dia que
estava com Aaron.
— Acho melhor não... — ele me interrompe.
— Não pense isso de mim, Abby. Eu nunca vou fazer algo que não queira e
muito menos quando estou um pouco bêbado correndo o risco de não poder lembrar
de você. — Ele brinca com meus cabelos e beija minha boca.
— Tudo bem, mas tenho que avisar minha mãe. — Digo. Ele sorri grande e eu
me derreto um pouco mais diante da sua felicidade.
Mando um SMS dizendo à mamãe que vou dormir fora e que amanhã de manhã
estarei em casa. Ela logo responde com um "Tenha cuidados e boa noite!".
Entramos em seu apartamento e logo ele me puxa pela mão para seu quarto.
Paro na porta ao ver alguém deitado em sua cama. Kyle acende a luz e eu engulo
em seco vendo Tati deitada só de blusa e calcinha. Uma blusa que eu espero não seja
de Kyle.
— Só um minuto. — Ele diz e vai até ela.
Depois dele a acordar, eu me remexo desconfortável com essa situação todo.
Ela me olha e em seus olhos algumas perguntas estão visíveis.
— Seu quarto está com algum problema? — Pergunto interessada.
Por que vamos lá, ela dormir na cama dele para mim é demais. O quarto dela é
do outro lado do corredor.
— Não... é que... — ela olha para Kyle em busca de ajuda e eu aperto minhas
mãos, imaginando o que está acontecendo aqui.
— Vocês transaram? — Pergunto olhando entre eles. Kyle fica branco e Tati não
muda muito.
— Não precisam nem responder. — Digo sorrindo. — Acho até que demorou.
— Mordo meu lábio pensando.
Deus, eu sou tão estúpida! Acorda, Abby!
Balançando a cabeça, saio de seu quarto, pego suas chaves e vou embora. Kyle
tenta me parar, mas me solto e corro para fora.
Saio do estacionamento e vou para casa. Não me deixo chorar por ele. De modo
algum. Não vou fingir que não sabia que ele sempre foi um galinha. Como falei para
os dois, acho até que demorou para eles dormirem juntos.
Agradeço por não ver nenhum dos meus pais. Depois de tomar banho, deito em
minha cama e durmo.
Ao longe, escuto um barulho de algo quebrando. Aos poucos vou acordando e
vendo que o quebrou foi um vaso na minha varanda. O que diabos?
Saio da cama e ando até a porta. Assusto-me ao ver uma pedra ser jogada.
Merda. Saio devagar e de lado. Vejo quem está lá embaixo fazendo idiotice.
O idiota master.
— O que merda você acha que está fazendo? — Pergunto, sentindo a raiva
voltar com força total.
— Abby... — Ele suspira aliviado passando a mão pelos cabelos loiros.
— Eu fiz uma pergunta, Kyle. — Retorno a perguntar olhando para ele em pé no
meu jardim.
— Eu... só... precisamos conversar. — Ele gagueja e eu quero rir da sua cara de
assustado.
— Para quê? — Finjo não entender onde quer chegar.
— Você sabe por que, baby...
— Não me chame assim. — Respiro fundo e passo a língua por meus lábios
secos. — Não quero saber como foi a transa de vocês. Eu já até posso ouvir você
dizendo que estava bêbado ou... por que a carne é fraca. — Reviro os olhos.
— Eu não... sim eu iria falar que eu estava bêbado o que não deixa de ser
verdade... — Ele se cala ao me ver balançar a mão em desdém.
— Vamos ser francos, Kyle. Isso que houve foi uma estupidez. Estamos sem nos
ver há bastante tempo, é claro que sei lá... nos sentimos atraídos..., Mas é somente
isso. Não quero suas explicações, até porque você não me deve nada. Então, vá
embora, okay? — Peço enquanto ele me encara.
Não vou dizer que isso não está doendo. Porque obviamente quando eu entrar
em meu quarto irei chorar. Por ele.
Então sim, o que eu sinto por ele é mais que apenas uma simples atração. Eu
estou apaixonada. É uma merda? É, mas não deixa de ser verdade.
— Você está mentindo. Vamos lá, baby. Isso aconteceu uma vez. Foi estúpido e
eu não quero que aconteça novamente. — Ele morde sua bochecha e aos poucos vejo
medo em seus olhos.
Ele não vai me convencer. Eu não vou cair nos braços de Kyle novamente.
Never .
— Vá embora, Kyle. — Dizendo isso, viro-me e entro em meu quarto.
Deito em minha cama e choro. Choro por ser tão estúpida ao ponto de estar
chorando por ele. Pelos seus longos cachos loiros que nunca mais irei tocar, por seus
olhos verdes que não estarão me desejando e principalmente por seus lábios
vermelhos que não irei mais beijar.
Sinceramente? Eu choro por perder mais uma vez.
Sabe quando você sente seu coração ser esmagado? Quando sentimos o sangue
percorrer a nossa ferida? Nesse momento estou sendo pisoteado várias vezes.
Ele a beijou.
Mas o pior de tudo não foi isso.
O que está fazendo meu peito sangrar é ver que ela está o beijando de volta.
Ela não o afasta. Ela só fica parada recebendo sua boca.
Eu estou com tanta raiva que só o pensamento de sair do carro e ir até eles me
fazem ficar em alerta. Por quê? Bem, eu aposto que o deixaria no hospital. Ele está a
tocando.
Ele, porra, a beijou.
E eu procuro entender o porquê disso, mas a única resposta que encontro é...
Eles voltaram.
E isso me quebra.
Aperto meus punhos e soco o volante diversas vezes. Fecho meus olhos e tento
afastar a imagem deles. Tento imaginar que Abby não voltou com esse merdinha .
Porque ela é minha.
Ela sabe disso, então por que está tentando se enganar? Por que está o beijando?
Abro meus olhos e os encontro sorrindo um para o outro. Saio do meu carro
depois de contar até cem, tentando acalmar meu coração.
Aaron é o primeiro que me vê. Vejo-o suspirar e logo depois avisar a ela que
estou aqui. Seus olhos azuis se expandem ao me ver. Ela rapidamente se levanta e
caminha em minha direção.
Eu sinto meu coração disparar ao ver que ela está com medo. Não sei de quê ou
de quem, mas ela está. Pela primeira vez no dia vejo um sentimento que não seja de
indiferença. Ela se importa que eu tenha visto essa cena estúpida!
— O... que está fazendo aqui? — É a primeira coisa que sai da sua boca.
— Vim ver você beijando seu namorado. — Digo, mordendo meu lábio.
— Eu... — Seus olhos vão para seus pés e eu sorrio diante disso.
— O que, Abby? — Zombo. — Foi só um beijo diante do que fiz com Tati. —
Dou de ombros e logo sinto meu rosto esquentar com o tapa que ela me dá.
Não reagi. Eu nunca iria.
— Não fale esse tipo de coisa para mim, Kyle. Eu não sou você. — Ela acusa
com o lábio tremendo.
— Então você se acha melhor que eu? — Eu rio e levo minha mão até minha
bochecha. — Deixa eu te contar uma coisa, Abby Jones... você não é. Você é apenas
uma garota mimada que vive debaixo das asas dos pais protetores e brinca com a vida
dos outros como bem entende, como eu e esse merdinha ali. Primeiro com ele, ficou
fazendo a boa moça e depois me beijou. Depois o deixou e veio ficar comigo, quando
cansou voltou para ele. Você, Abby, é uma egoísta que só pensa em si mesma. Eu não
quero te ver nunca mais. — Seus olhos verdes azulados estão repletos de lágrimas.
Reprimo a vontade de enxugar a primeira que desce por sua bochecha e todas as
outras que a seguem.
Sufoco a vontade de desmentir tudo o que falei. Porque é a mentira mais imunda
que eu falei na vida. Eu amo que ela não seja o que relatei.
Viro as costas para ela e ando até meu carro. Abro a porta e saio do
estacionamento cantando pneus.
E pela primeira vez depois do dia que Fernanda me deixou, eu choro por uma
mulher.
Eu estou fodido .
Entro em meu apartamento e respiro fundo ao lembrar que vou encarar Tati. Ela
é uma mulher maravilhosa. Ela é minha amiga.
Nós misturamos as coisas. Eu culpo a bebida, mesmo sabendo que isso não é
desculpa. Seu namorado terminou com ela porque está apaixonado por uma colega de
turma. Começamos a beber e ela começou a me fazer perguntas referentes a sua
beleza.
Eu já estava para lá de bêbado, então enchi seu ego e também minha cama. Eu
sou um idiota.
Ando até meu quarto e suspiro ao ver que ela trocou as roupas de cama. Olho
para sua porta e me pergunto se ela está lá dentro.
Logo minha pergunta é respondida ao ver ela saindo dele. Seu rosto adquire um
tom rosado e eu engulo em seco, nervoso.
— É... — Ela respira fundo e fala diretamente. — Precisamos conversar, Kyle.
— Aceno e juntos vamos para o sofá da sala.
Sento-me em uma ponta e ela na outra. Olho em seus olhos, esperando que ela
comece a falar, mas sua atenção está em suas unhas.
Eu espero, e quando já estou começando a me cansar, ela decide falar.
— Eu sei que te causei problemas, e eu quero me desculpar por isso. — Ela
engole em seco e eu suspiro. — Minha amiga está sem companheiro de quarto, então
estou me mudando. — Ela fala e eu me sento mais ereto.
— Não precisa disso, Tati. De verdade. Se está fazendo isso por Abby, esqueça.
Acabou e não vai voltar a acontecer. Nós somos amigos e principalmente adultos para
separar as coisas. Me desculpe, mas não precisa que vá embora. — Digo, sério,
pegando sua mão na minha.
— Eu... — Ela para de falar e volta me olhando e sorrindo. — Talvez eu fique.
Talvez não. Quando acordar e não ver minhas coisas, corra até a geladeira, pois
deixei algum bilhete por lá. — Ela pisca o olho e eu sorrio.
— Okay... Agora eu vou me deitar um pouco. Já irei sair para almoçar com
meus tios. — Levanto-me
Sigo para meu quarto e me jogo na cama, colocando meu celular para alarmar às
13horas. Tia Giovanna mandou SMS convocando-me a ir até sua casa para comer
algo, segundo ela, saudável.
Capítulo Dez
Abby
Sento em minha cama depois de comer com minha família o café da manhã e aos
poucos o dia de ontem me vem à memória. Pergunto-me se o que Kyle falou sobre
mim é verdade. Se eu sou essa garota mimada, que não pensa em ninguém além de si
mesma. Essa menina que vive às custas dos pais e não procura nada para fazer...
Mas eu não consigo me ver assim, e dói como uma faca perfurando meu peito
em saber que ele pensa isso de mim. Dói demais.
Admitir a Bárbara e Aaron que eu o amo foi difícil. Foi porque os dois me
olharam como se eu fosse louca. Talvez eu seja, não me importo, mas eu o amo. É
estranho para quem está do lado de fora. Pouco mais de um mês que ele entrou em
minha vida e já o amo?
Sim. Sim, eu o amo. Sim, eu acordo pensando nele e quando fecho meus olhos a
última coisa que vejo sempre são seus olhos verdes. Eu não sei explicar o que
aconteceu, mas eu o amo.
E eu preciso dele ao meu lado.
Mesmo depois de saber que ele dormiu com Tati. Eu não vou mentir dizendo que
não dói mais, porque sim, dói. Porém Babi me explicou que eles não têm nada. Foi
uma coisa de momento e eles estavam bêbados.
Não quero pensar nisso. Eu só quero esquecer tudo. Somente isso.
Mamãe bate a minha porta e eu abro para ela entrar. Estranho seu estado já que
a pouco tempo estávamos a mesa conversando alegremente. Será que papai e ela
brigaram novamente?
— Você falou com Kyle, hoje? — Ela tem lágrimas nos olhos e eu não entendo
seu desespero e muito menos o porquê de ela perguntar por meu primo.
— Não, mãe. Só o vi ontem. — Digo começando a tremer. — O que aconteceu?
— Pergunto aflita.
— Sua tia já está indo para o hospital. Ligaram de lá dizendo que ele deu
entrada nessa madrugada. Eu sinto muito, querida. — Ela chora enquanto corro pelo
quarto atrás da minha bolsa.
— Isso é mentira. Ele está bem. — Digo engolindo em seco e pego meu celular
para digitar seu número. — Você vai ver como ele está bem. Ele deve estar com
Scott... com Tati... — balanço a cabeça freneticamente.
Meu celular cai das minhas mãos que tremem e, irritada, o pego levando ao meu
ouvido. Quando penso ouvir seu toque chamar, uma voz robótica me diz que a
chamada será encaminhada para a caixa postal, então como se somente isso bastasse,
eu começo a chorar mais e mais.
Não pode ser. Peço a Deus que o proteja e que não deixe que nada de mal
aconteça com ele.
— Se acalme, Abby. Nós já estamos indo para lá também. — Ela me puxa para
seus braços e eu a aperto.
— Não pode ser mãe. Eu o quero aqui. — Digo soluçando e papai entra no
quarto.
— O que está acontecendo? — Ele questiona ao ver meu estado.
Mamãe o explica enquanto desço as escadas em direção a saída. Eu preciso ver
ele. Ouvir seus insultos e ver seus olhos verdes brilhando de raiva e ciúmes.
Ontem quando vi seus olhos no parque, soube que ele viu o beijo que eu e Aaron
demos. Aquele beijo só significou uma despedida, mas em seus pensamentos é algo
muito mais forte. Ele pensou que tínhamos voltado.
Eu não desmenti, eu fiquei magoada pelas palavras que ele direcionou a mim.
Ele me olhava com tanta mágoa nos olhos que eu só conseguia chorar. Eu vi que ele
estava quase me pedindo perdão pelas palavras, mas antes disso ele se virou e foi
embora.
Quando vi seu carro sair do acostamento, caí no chão de joelhos tentando
entender onde foi que errei. Onde, na nossa história, eu me transformei nessa pessoa
tão louca por Kyle. Pelo seu modo de me tratar e tudo mais.
Aaron correu na minha direção e eu lhe falei que eu amava Kyle. Confessei o
que ele tinha me dito e o quanto meu peito estava sangrando por suas palavras. Meu
ex-namorado só me olhou por alguns segundos e logo depois falou: eu disse que você
perceberia.
Foi nesse momento que percebi o cara fantástico que ele é. O quanto Jessie vai
ter sorte se souber fazer Aaron se apaixonar por ela. Eu rezo para que eles possam
dar certo.
Depois de quase vinte minutos nesse trânsito infernal de Seattle, chego ao
hospital da cidade. Eu sei que ele veio para cá, pois é onde seu pai vem de vez em
quando.
Entro na recepção e a mulher que fica lá sorri calorosamente para mim. Tento
retribuir, mas as lágrimas não deixam margem para tal coisa.
— Por favor, eu gostaria de ver Kyle Mitchell William. — Limpo minhas
lágrimas enquanto ela procura por seu nome no computador.
— Me desculpe, mas só os parentes próximos podem entrar para vê-lo. A
senhorita é o que dele? — Ela questiona formalmente e eu suspiro imaginando que se
eu disser que sou apenas sua prima não irão me deixar entrar.
— Sou sua noiva. Então, eu preciso entrar. — Digo suspirando e vendo ela sorri
sabendo que inventei isso tudo.
— Okay... Vou fingir que acredito nisso, pois vejo que se ainda não é sua noiva,
um dia vai ser. — Ela sorri e eu aceno agradecendo e limpando as lágrimas que ainda
descem por meu rosto.
Ela me dar um crachá com o nome visitante e me diz que ele está no 3º andar do
prédio. Sigo suas orientações e logo estou batendo na porta do seu quarto.
Enquanto não abrem, começo a fazer um coque em meus cabelos e limpo os
resquícios de rímel dos meus olhos. Quando termino, uma moça que presumo ser
enfermeira abre a porta. Ela sorri contida para mim e me dá passagem para entrar.
Depois que ela sai do lugar, eu o vejo. Seu corpo está imóvel na cama e alguns
curativos estão por sua testa e braços. Um soro está sendo injetado em sua veia do
braço direito e eu me permito aproximar. Meu lábio inferior treme com cada passo
que dou em sua direção.
Quando estou do seu lado, deixo minha mão na sua e suspiro vendo seus lábios
um pouco secos. Passo meus dedos por seu rosto e sufoco um soluço em minha boca
pressionando minha mão contra ela.
A enfermeira volta com uma gaze na mão esquerda enquanto na outra tem um
pequeno copo de água. Ela sorri e se aproxima de mim.
— Seus lábios estão ressecados pelo longo das horas que está sem beber água.
Se puder molhe eles com essa gaze para que não rachem, okay? — Eu sorrio
concordando e ela passa a mão por meu braço.
— Não precisa ficar assim. Ele está bem. Creio que o doutor já lhe falou, mas...
ele só sofreu escoriações. Nada mais. — Ela me conforta e eu balanço a cabeça
tentando me acalmar.
— Obrigada por suas explicações. Eu não vi nenhum médico antes de vir até
aqui, então eu estou um pouco assustada. — Confesso e ela arregala os olhos,
surpresa.
— Ah... desculpe o susto. É que não faz parte do protocolo as visitas virem aqui
sem antes conversarem com o médico. — Ela explica e logo depois suspira. — Mas
tudo bem já que está aqui. — Ela se despede e sai da sala deixando-me mais aliviada.
Volto para perto do meu anjo de cabelos cacheados e embebedo o pequeno
tecido o levando até seus lábios macios. Repito isso até ver que eles voltaram ao
normal.
Puxo uma cadeira plástica para perto da cama e me sento deixando minha
cabeça na altura da sua barriga. Pego sua mão e deixo meus dedos descansarem entre
os seus. Aperto-os juntos e beijo seu dedo anelar.
Eu nunca senti tanto medo na minha vida. Não posso perder Kyle, não antes de
nos acertarmos. Sem que fiquemos juntos pelo menos por uma semana.
Eu vou lutar por ele.
Ele é meu.
Encosto minha cabeça em sua barriga e fico o olhando até meu cansaço vencer.
Durmo pensando nele e em tudo que vou viver com ele.
Dedos longos acariciam meus cabelos os tirando do meu coque bagunçado. Os
mesmos dedos descem por meu rosto e faz em carinho em minha bochecha. Penso ser
um sonho, mas quando escuto meu nome ser pronunciado por uma voz rouca e
cansada, eu sei que não estou sonhando.
Abro as pálpebras dos meus olhos devagar a tempo de ver que os olhos de Kyle
me observam. Ele sorri de lado e eu suspiro feliz por esta aqui para ver isso.
— Bom dia, dorminhoca. — Ele sussurra. Em questão de segundos, meus olhos
se enchem de lágrimas novamente. — Hey, baby! Não fique assim. Estou bem. — Ele
garante e eu me levanto da cadeira para meus lábios alcançarem os seus. Agora
parcialmente hidratados.
Sua boca tocou a minha, sem pressa e com leveza, apreciando meu lábio inferior
com o seu próprio antes de serpentear pelo lugar. Sei que o hospital não é o lugar
mais adequado para se fazer isso, mas eu o beijo com todo o amor que tenho em meu
peito.
Encosto minha testa na sua e juntos respiramos com dificuldade. Culpo-me por
fazer ele se esforçar e quando já estou para me desculpar, a porta é aberta e meus pais
e meus tios entram por ela sendo pegos totalmente assustados com o modo como eu e
Kyle estamos juntos.
Meu pai aperta o maxilar e eu peço com os olhos para que ele me deixe explicar
em outra hora e, graças a Deus, ele deixa suavizando o aperto e junto com meus tios
se aproximam.
— Hey meu bebê. — Tia Melissa limpa as lágrimas do rosto e se aproxima de
Kyle. Coloco-me ao seu lado deixando sua mão na minha enquanto ele se distrai com
nossos familiares.
— Oi mãe. — Ele sussurra com dificuldade, então pego o copo com água para
entregar a ele, mas a agulha está em seu braço não deixando que ele consiga levar o
copo até seus lábios, então eu mesma dou água na sua boca.
Ele dá dois goles grandes e suspira agradecendo. Devolvo o copo para um
criado-mudo no quarto e volto a me sentar ao lado da cama de Kyle. Todos prestavam
atenção em nossa interação com uma admiração que no momento não sei explicar.
— Você nos deixou tão preocupados, Campeão. — Tio Pietro fala emocionado.
— Desculpe, pai. — Ele engole com dificuldade e sorri. — É que ontem eu
descobri... que uma garota me ama. Então eu fui atrás dela... — Meu coração palpita
quando ouço sua resposta.
Bárbara o contou!
— Você me ensinou que temos que correr atrás de quem nos faz feliz, pai. Eu
estava indo. Só que alguém atravessou o sinal quando estava fechado, o que acabou
por ser o motivo do meu acidente. — Ele relembra apertando minha mão na sua.
— Eu espero que ela seja Abby e que ela me dê netinhos com os olhos dela.
Pois ainda não me conformei que não tenho os olhos de Connor. Pronto, falei. — A
mãe de Kyle fala rindo e eu arregalo os olhos com essa ideia louca de ter filhos.
— Está ficando louca, Melissa? — Papai pergunta irritado. — Abby não vai ter
filhos agora e ainda nem conversamos sobre isso que está acontecendo aqui. — Ele
acena para mim e Kyle perdendo a compostura. Já estou tão acostumada com seus
ataques de ciúmes que nem me incomodo mais.
— Cala a boca, Connor! Nosso sobrinho está debilitado, não pode estar se
estressando. — Mamãe ruge.
— Okay, desculpem. — Ele fala virando o lábio em contragosto.
Suspiro e relaxo na cadeira. Kyle sorri para mim e eu mordo meu lábio me
impedindo de sorrir de volta. Não quero que papai fique com mais raiva. Não mesmo.
— Nós vamos sair, pois seus amigos estão aqui. Tenham cuidado. Volto daqui a
pouco. — Tia Melissa fala e logo depois beija seu rosto.
Eles se despedem, mas eu continuo sentada. Não irei a lugar algum. Never !
A primeira pessoa a entrar no quarto é Scott, seguindo ele vem Bárbara, Luce e,
por último, Fernanda e Tati. Respiro fundo e desvio meus olhos da última. Saber que
ela ficou com o cara que gosto não é confortável.
Muito pelo contrário, eu quero estapear sua cara. Com muita força. Kyle
percebe quando me afasto dele e deixo sua mão vazia tirando a minha dela.
— Baby? — Ele chama-me e eu sorrio forçada o olhando.
Não quero brigar com ele. Mas ainda estou irritada por eles terem dormido
juntos. Eu nunca sequer deitei numa cama com ele. Saber que uma de suas
"amigas" transou com ele, deixa-me triste e irritada.
— Venha até aqui. — Ele bate no colchão ao seu lado e geme com dor ao se
afastar deixando um espaço para mim.
— Não, Kyle. Não se mexa. Seu corpo ainda está dolorido. — Digo preocupada
e levantando-me.
— Sente aqui comigo, Abby. — Ele manda começando a se irritar.
— Mas não é permitido... — Ele me interrompe.
— Agora, Abby. — Suspiro e me dou por vencida. Sento-me e ele coloca seu
braço esquerdo pelos meus ombros puxando-me para seu peito.
Relaxo e suspiro vendo Bárbara sorrir grande para nós. Ela vem para o meu
lado enquanto Scott se aproxima de Kyle.
— Cara, que merda hein? — Scott fala devagar olhando para os machucados do
seu melhor amigo.
— Nem me fale. — Kyle responde torcendo o lábio em desgosto.
— É... — Escuto a voz de Tati, mas não a olho. Finjo que sua presença não
existe. — Eu só passei para saber como estava. É... eu já vou. — Ela suspira e acho
que vai embora. — Mas antes sua voz sussurra. — Vá até a geladeira quando chegar
em casa, Kyle. — E foi embora.
Não entendo o que quis dizer e fico instantaneamente com raiva por eles se
comunicarem assim. Em códigos ou o que quer que seja o que diabos acabou de
acontecer aqui.
— Okay, Tati. — Kyle sussurra e logo depois cheira meus cabelos.
Ela vai embora e a outra fica. Fernanda sorri e se aproxima dele.
— Fiquei com tanto medo, K. — Ela deixa algumas lágrimas caírem e eu
suspiro tentando ignorar ela também. — Espero que melhore rápido. Eu também já
vou. Te espero lá fora, Luce. — Ela sai e Luce acena confirmando.
A irmã de Kyle o abraça e eu me permito me afastar um pouco para eles terem
seu momento. Ela deixa lágrimas caírem e Kyle sorri.
— Não precisa chorar, princesa. Eu estou bem. — Ele garante e ela ri dando de
ombros.
Quando eles se vão, eu volto a deitar em seu peito. Ele beija meus cabelos e eu
pergunto-me o que vai acontecer agora. O que será de nós dois?
— Acho que a gente tem que conversar, não é mesmo? — Ele sussurra
brincando com meus dedos.
— Sim. — Suspiro. — Nós temos, mas agora não acho que seja o melhor
momento. — Explico e ele traz meu rosto, para que possa me olhar, com os dedos no
meu queixo.
— Eu entendo. Eu só quero te dizer que eu menti no parque, baby. Você não é
mimada e muito menos egoísta. Seus olhos são puros e verdadeiros. Você é a única
pessoa que me faz querer ser melhor, Abby. Me perdoe pelas palavras estúpidas que te
disse. Eu não penso assim de você. — Ele diz seriamente enquanto algumas lágrimas
se acumulam em meus olhos.
— Eu sei, Kyle. É estranho falar isso, mas eu sei que você não pensa isso de
mim. Eu vi em seus olhos verdes que estava mentindo. — Suspiro e beijo sua boca.
— Eu quero dizer que... você confundiu quando pensou que eu tinha voltado com
Aaron, Kyle. Nós nos despedimos. Eu nunca voltaria com ele gostando de você. Eu
não sou assim. — Digo em um fio de voz.
— Eu sei. Desculpe se agi por impulso. Eu fiquei com ciúmes, Abby... — Ele
respira fundo e puxa minha mão na sua. — Você é minha. Eu sei disso, nós dois
sabemos. — Ele afirma sério e eu sorrio de lado.
— Okay, K. Eu sou sua. E eu sei disso, como você também sabe que é meu. —
Ele gargalha e eu lhe dou uma tapa no braço. — Vamos, Kyle, fale. — Mando e ele
parar de ri.
— Eu sou seu, baby. Desde quando não tínhamos dentes. — Sorrio devagar e
beijo seus lábios, agora bem hidratados.
Entreabro os meus e dou passagem para sua língua acariciar a minha. Em
questão de segundos, meus pensamentos se dissipam e me foco em sua boca quente e
convidativa.
Subo em cima de seu corpo com cuidado para não o machucar e pressiono
minha pélvis na sua enquanto um gemido de satisfação sai de sua boca para a minha.
Suas mãos descem por meu corpo e param sobre minha bunda coberta pela calça
jeans.
Deixo meus dedos entrarem por seus cabelos longos e espessos, querendo trazer
sua boca para mais perto de mim. Mas vejo que é impossível estarmos mais próximos
do que já estamos.
Quando deixamos de nos beijar, sorrimos divertidos um para o outro. Ele beija
minha bochecha e eu volto para seu lado.
— Você é linda, baby. — Ele sussurra meio ao sono que quer o dominar.
Tento não sorrir, mas logo o gesto de felicidade vence e um grande sorriso se
faz presente em meu rosto.
— Você é mais, querido. — Brinco fazendo cafuné em seus cabelos.
— Nunca. — Ele me aperta no seu peito. — Você é de longe muito mais bonita,
até porque você tem peitos. — Dou-lhe uma tapa fingindo horror, mas ele só ri
divertido.
Ridículo.
— Que tosco de se falar, Kyle. — Reclamo e ele sorri de lado.
— Veja pelo lado positivo, de hoje em diante só olharei para os seus. — Ele
brinca e eu sorrio revirando os olhos. — E eles são lindos. — Meu rosto sobe alguns
tons de vermelho, mas decido entrar em seu jogo.
— Você nunca os viu para falar assim. — Digo o desafiando.
— Você pode me ajudar nesse quesito, baby. — Ele diz sério e puxa-me para
cima. — Se quiser pode levantar a blusa. Eu vou adorar! — Ele ri diante da minha
surpresa.
— Você vai ficar na vontade, bobão. — Respondo séria tentando levantar-me.
— Hey! Fique aqui. — Ele prende-me e eu volto a relaxar em seu peito.
A mesma enfermeira entra no quarto e sorri para mim. Ela troca o soro de Kyle
e se aproxima para trocar seus curativos.
— Acho que não preciso dizer que é errado ter duas pessoas na cama não é
mesmo? — Ela questiona rindo e eu sorrio piscando o olho.
— Deixe minha namorada em paz, enfermeira. — Ele reclama e eu o olho
alarmada.
Ele me chamou de namorada?
Sim, foi isso mesmo.
A enfermeira pisca para mim, dizendo que estou certa e se vai.
Capítulo Onze
Abby
Acordo com Kyle remexendo-me. Gemo frustrada e viro-me para o ver banhado
e vestido.
— O que é, Kyle? — Pergunto suspirando.
— Bárbara está aqui. Vamos, ela está te chamando. — Ele sai da cama e puxa-me
para seus braços.
— Tudo bem. — Suspiro e lhe dou um selinho. — Bom dia, baby. — Ele sorri e
me abraça.
— Bom dia, dorminhoca. — Ele deixa um beijo em meus lábios e logo se
afasta. — Rebole sua linda bunda até o banheiro, Abby. Nossa prima está um nervo.
— Ele dá uma palmada em minha nádega esquerda e eu pulo no susto.
— Okay... — Digo lhe mostrando a língua e corro até o banheiro.
Tomo banho rapidamente e logo saio para até a sala. Vejo minha prima andando
de um lado para o outro e me aproximo.
— Aconteceu algo, Babi? — Pergunto preocupada.
— Você está preocupada comigo? — Ela tem lágrimas nos olhos e eu lhe olho
confusa.
— Que pergunta é essa, Bárbara? Lógico que estou. Me fale o que diabos
aconteceu. — Puxo seu braço querendo que ela se aproxime.
— Como se preocupa comigo quando te falei aquelas coisas feias ontem? —
Ela pergunta histérica.
— Deixe de drama, Bárbara. Lógico que continuo me preocupando com você.
Você é minha melhor amiga. Eu sei que não falou aquilo de propósito. Você estava
com raiva daquele seu namorado idiota. — Explico sorrindo.
— Aquele namorado idiota dela está aqui, Abby. — Escuto Scott resmungar.
Kyle lhe dá um pequeno tapa e eu olho para os dois. Kyle sorri quente para mim
e logo meu rosto esquenta quando imagens de ontem vem à mente.
— Vocês transaram! — Bárbara grita e logo me abraça apertado. — Você está
bem? Sente dor? Eu tenho remédio para isso, me deixe pegar. — Estou tão
mortificada que continuo onde estou.
Deus, Bárbara é impossível!
— Abby era virgem, irmão? — Scott pergunta a Kyle e ele se ergue irritado.
— Que porra de pergunta é essa, Scott? Tá de sacanagem, caralho? — Kyle está
vermelho e eu logo estou ao seu lado.
— Parem de fazer muito caso disso. — Gemo envergonhada. Vejo Babi vindo
com o comprimido e a paro. — Bárbara, eu estou bem. Não precisa avisar ao Campus
inteiro que transei com meu namorado. — Digo irritada.
— Okay... Desculpa. Foi mal mesmo. — Ela fala e corre para minha frente. —
Estou tão feliz que se desfez, você está mais bonita agora. Parabéns, querida.
— Você está parecendo minha mãe quando minha menstruação veio pela
primeira vez. — Digo suspirando. Ela sorri e me abraça.
Kyle revira os olhos junto com Scott, que correu para a porta com medo do meu
namorado.
— Okay, agora eu tenho que ir, então, amor, vamos embora. — Scott pega Babi
de mim e dá um aceno para Kyle.
— Tudo bem. Desculpe, novamente, por ontem, Abby. — Bárbara sorri triste e
eu a puxo para meus braços.
— Não tem por que. Eu te amo. Agora vá com seu namorado. — Sussurro e logo
depois eles saem.
Depois de tomarmos café da manhã, meu celular começa a tocar. Minhas mãos
tremem quando vejo o nome de Aaron na tela. Kyle estranha meu comportamento e
pega o telefone de mim.
— Devolva, Kyle. — Peço calma. Seu rosto se aperta e ele volta a olhar para
mim.
— O que ele quer, Abby? — Ele questiona irritado.
— Eu não sei, amor. Deixe-me atender. — Peço novamente.
— Tudo bem. — Ele me entrega meu celular, porém fica na minha frente. Eu
logo atendo com medo da chamada ir para a caixa postal.
— Alô. — Engulo em seco com os olhos de Kyle em mim.
— Hey, Abby! Você lembra que te falei da mulher? — Ele pergunta. — Hoje
vou levá-los para o parque. Você quer ir até lá? — Ele pergunta ansioso e eu sorrio.
— É lógico. O bebê dela está melhor? — Pergunto levantando-me da mesa.
— Está. Marcamos sua quimioterapia e ela está bem confiante. Mas você sabe,
tudo vai sair caro demais. Eu vou ajudar, mas ainda não trabalho... vai ser difícil. —
Ele sussurra desestimulado.
— Posso falar com tia Mel. Ela com certeza vai falar com tio Pietro. Você sabe
que eles inauguraram uma ala gratuita no hospital. Com certeza lá também tem ala de
oncologia. Deixe eu perguntar a Kyle. — Tapo o celular e me viro para meu
namorado. — No hospital da sua família tem uma ala de oncologia, não é amor? —
Kyle acena confirmando enquanto me olha confuso. — Depois te explico.
— Então, Aaron, Kyle disse que tem sim. Posso falar com meus tios, o que
acha? — Pergunto empolgada.
— Claro, Abby. Muito obrigada, mas não quero tocar nesse assunto com ela.
Vamos primeiro ter certeza depois damos a notícia a Jessie. — Ele diz receoso.
— Entendo. Mas vai dá tudo certo. Eu prometo. — Digo sorrindo. — Então que
horas iremos para o parque? — Pergunto e Kyle se levanta vindo até mim.
— Vou passar lá agora. Te espero dentro de uma hora... — Ele diz.
— Eu posso levar Kyle? — Pergunto engolindo em seco.
— Claro, Abby. Tudo que quiser. — Ele suspira e logo depois desliga.
Mordo muito lábio inferior tentando me acalmar. Eu sei que Kyle vai fazer disso
um grande evento, mas eu quero ajudar Jessie e também quero ficar perto de Aaron.
Ele é tão importante para mim!
— Onde você quer ir, Abby? — Kyle pergunta calmamente.
— Ao parque. — Ele balança a cabeça e eu suspiro. — Aaron conheceu uma
moça no dia em que estávamos naquele café. Você lembra? — Questiono nervosa. Ele
acena então continuo. — Ele a levou para casa, pois seu bebê estava doente e ele foi
até o hospital com ela. Lá, descobriram que ele está com leucemia. Aaron quer ajudar.
Eu me disponibilizei para ajudar também. — Digo sorrindo tensa.
— Isso é lindo da sua parte, baby. Espero que o bebê melhore logo e se quiser
posso falar com papai, junto com você. Ele vai ajudar. — Ele responde sorrindo
orgulhoso e eu respiro aliviada.
— Você faria isso, Kyle? — Pergunto nervosa.
— Lógico que sim. — Ele puxa-me para seus braços e beija meus lábios. —
Para onde vai com Aaron? — Sua pergunta sai nervosa e eu sorrio.
— Para o parque. Ele vai levar os dois, e eu quero os conhecer. Você quer ir
comigo? — Pergunto ansiosa.
— Eu vou lhe deixar e buscar, mas não vou ficar lá, baby. — Ele responde e eu
suspiro desanimada.
— Por quê?
— Tenho algumas coisas para fazer. Além do mais tenho que arrumar minha
mala. Irei antes para o aniversário de casamento dos nossos avós. Preciso ver um
amigo que chegou da Europa. — Ele explica e eu aceno entendendo.
— Eu estarei lá na sexta. Vou com minha família. — Digo. — Kyle, agora que
lembrei que nossos avós não sabem de nós... — O lembro apreensiva.
— Eles vão aceitar, baby. Não se preocupe. — Kyle fala tentando me acalmar.
Mas ele estava tão malditamente errado.
Capítulo Treze
Abby
Kyle estaciona ao lado de uma cafeteria perto do parque e entramos para tomar
café da manhã. Ele segura minha mão enquanto andamos e eu sorrio boba.
Pensar que estamos juntos é uma loucura boa. Kyle parece alheio ao nosso
sonho, pois para mim é um sonho ficar ao lado dele sem brigas. Acho até que
brigamos demais.
— Sente-se vou pegar nossa comida. — Ele manda enquanto segue para uma
bancada cheia de opções para um lanche grande.
O obedeço e logo sinto meu celular vibrar. Sinto meu rosto esquentar quando
vejo a mensagem que mamãe me enviou.
Espero que tenha se divertido essa noite. Espero que não tenham se esquecido
da camisinha, lembro que seu pai fez um terrível escândalo quando transamos a
primeira vez e a esquecemos.
Eu te amo, minha boneca!
Gemo frustrada. É incrível como dona Nicole não mede suas palavras ao falar
comigo. Eu sinto-me terrivelmente envergonhada, mas, ainda assim, a respondo.
Obrigada pela preocupação, mãe, mas não esquecemos nada. E foi ótima.
Obrigada pelos conselhos. Você é a melhor!
Também te amo!
Guardo meu celular quando vejo meu namorado colocar nosso café da manhã na
mesa.
— Você vai ficar quanto tempo na casa de nossos avós? — Questiono enquanto
bebo meu café.
— Eu vou na quinta-feira e volto no domingo à noite. Por quê? — Sua testa está
franzida e eu queria ri da sua preocupação.
— Não é nada. Só queria saber. — Dou de ombros limpando meus lábios com o
guardanapo.
— Você vai na sexta-feira, não é mesmo? — Questiona.
— Sim. Chego lá à noite. Vou com meus pais e meus irmãos. — Suspiro
mexendo meus ovos fritos. — Papai ainda não superou que estamos juntos... —
admito.
Kyle revira os olhos e pega minha mão por cima da mesa.
— Não importa. Ele vai aceitar, eventualmente. — Sua voz fria deixa-me
chateada.
— Não é assim, Kyle. Ele é meu pai. Eu o amo e quero que ele seja feliz com a
escolha que fiz para minha vida. Eu quero que ele entenda que minha felicidade é
você, não que me evite por ser feliz. — Suspiro, desanimada.
Papai não falou muito comigo depois do dia que Kyle disse a ele que estávamos
namorando.
Está parecendo que sou apenas uma sombra.
— Eu sei, baby. Não falei de modo ruim, Abby. Só falei que logo mais ele vai
superar. Você vai ver. — ele diz sorrindo.
Aceno, cansada, e comemos em silêncio. Quando terminamos, atravessamos o
parque para ir até onde Aaron falou que estaria.
O avisto de longe ao lado de Jessie. Eles sorriem olhando para um bebê
branquinho de cabelos pretos e bonitos.
Chego mais perto e eles logo me avistam. Aaron fala algo em seu ouvido e ela
acena entendendo. Deve ter explicado que sou eu a garota que vai ajudar ele.
— Hey! — A cumprimento sorrindo. — Aaron, querido. — Ele se põe de pé e
me abraça.
Kyle segura minha mão, apertada, e eu logo saio dos braços de Aaron
suspirando.
— Como vai? — Pergunto retoricamente.
— Vou ótimo! — Seu olhar desliza para Kyle e seus olhos por alguns minutos
ficam escuros. Não deixe que eles briguem, por favor.
— Aaron. — Meu namorado fala com veneno na boca e eu me viro para o olhar.
— Kyle, não! — Sinto meu rosto esquentar com o pensamento deles fazer em
uma cena na frente de Jessie.
— Não estou fazendo nada, baby. — Sua voz robótica me deixa com mais raiva.
— Okay... Agora vem, querida. Vou te apresentar Jessie. — Aaron me puxa
pelos ombros e, quando vejo que Kyle vai vir para cima dele, o olho, aflita.
— O que você pensa que está fazendo, Kyle? — Pergunto sentindo meu corpo
pesar.
Tudo para esse homem é briga, é partir para cima de outra pessoa e eu não gosto
disso. Não mesmo.
— Vá cuidar das suas coisas. Mais tarde eu te ligo. — Viro minhas costas para
ele e sigo Aaron até Jessie.
— Eu venho lhe buscar. — Sem mais outra palavra ele vai embora.
Suspirando, me sento de frente para Jessie.
— Jess, essa é minha amiga que te falei, Abby. — Aaron fala sorrindo enquanto
pega o pequeno de seus braços e começa a brincar com ele.
— Oi, Abby! — Sua voz suave me faz lembrar o dia no café. Parece que faz
tanto tempo.
— Oi, Jessie. Como seu bebê está hoje? — Pergunto interessada.
— Está melhor. Aaron insistiu para que viéssemos ao parque, mas ainda estou
com medo dele piorar. — Sua voz sai aflita e eu pego sua mão na minha.
— Ele não vai. Não se preocupe. — Sorrindo, viro-me para ver Aaron se
levantando e correndo atrás do bebê. — Qual é seu nome?
— Levi. — Ela responde olhando para eles. — Você é namorada de Aaron? —
Sua pergunta sai triste e eu me pergunto se ela está gostando dele no ponto de ter
ciúmes.
— Você viu o cara que veio me deixar? — Pergunto puxando algumas gramas do
chão.
— Sim. Ele é muito bonito. — Ela sorri docemente.
— O que ele tem de bonito tem de ciumento. Ele é meu namorado. — Suspiro e
a olho sorrindo abertamente. — Eu já namorei Aaron. — Seu sorriso quebra, mas
logo me adianto a terminar de falar. — Então Kyle chegou, me fez completamente
louca por ele e eu terminei com Aaron. Eu o amo, e amo Aaron também, mas são
amores diferentes. Kyle é meu homem, já Aaron, é um amigo que eu sempre tive. —
Finalizo suspirando feliz.
Porque essa é a verdade.
— Mas Aaron ainda gosta de você. Eu vejo isso. — Novamente sua voz suave
sai cheia de tristeza.
— Ele não gosta. Só que ele não sabe disso ainda, você me entende? Antes de
Kyle eu também pensava gostar dele, mas eu não gostava, pelo menos não desse jeito.
Então quando vocês começarem a se acertar, ele vai ver que nunca gostou de mim um
terço do que ele vai sentir por você. — Respondo sorrindo e seus olhos se arregalam
cheios de surpresa.
— De... de onde tirou isso? Eu... nós não... Deus, isso é difícil. — Gargalho de
seu embaraço.
— Tudo tem seu tempo. — Falo baixinho, mas ela escuta.
Seus cabelos pretos caem sobre seus olhos e vejo um sorriso triste em seus
lábios.
— Isso não vai acontecer, Abby. Aaron merece alguém melhor do que eu. Ele
não merece uma pessoa quebrada, pobre e com um filho doente. Eu nunca vou fazer
isso com ele. — Ela fala tudo isso dura. Suas palavras parecem facas afiadas.
— Talvez você só esteja colocando em jogo as características que você quer
que ele pense de você. Ele te olha diferente, ele gosta da sua garra em cuidar do seu
bebê, sozinha, Jessie. — Aperto sua mão na minha e ela não responde nada. Apenas
fica olhando Aaron correr atrás do pequeno Levi.
Quando ambos estão cansados, eles voltam caminhando lado a lado. Levi tem
um ano e pouquinho, então não fala quase nada. Aaron diz que vai no seu carro pegar
algo e logo está voltando com uma cesta enorme com comidas dentro.
Jessie sorri para ele quando Aaron tira um pedaço de bolo e dá ao pequeno. É
como dizem, conquiste primeiro o filho só depois sua mãe.
Quando está perto de irmos embora, ligo para Kyle vir me buscar. Ele diz que
está vindo, mas depois de quase meia hora fora, ele ainda não chegou.
— Gente, eu tenho que ir. O sol está ficando quente e não quero que Levi pegue.
— Jessie diz sorrindo triste para mim.
— Abby, nós podemos ir te deixar. Vamos? — Aaron dá de ombros.
— Não. Vou ficar aqui mais um pouco. Ele já está vindo. — Digo sorrindo e
tentando dar a eles minha confiança.
— Adorei te conhecer, Abby. Espero que a gente se veja em breve. — Aceno
confirmando e a abraço apertado.
— Fique bem. — Aaron beija meus cabelos e segue com Jessie e o bebê para o
carro.
Sento-me debaixo de uma árvore e espero Kyle chegar. Não sei o que está
fazendo, mas estou começando a me irritar profundamente.
— Está esperando alguém, docinho? — Um rapaz aparece em meu campo de
visão e eu sorrio aliviada.
Brian. Irmão de Bárbara.
— Sim. Aquele idiota do seu primo. — Digo suspirando.
— Fiquei sabendo que estão namorando. Parabéns. — Ele sorri e se senta à
minha frente.
— Obrigada. E você vem de onde? — Pergunto sentando-me mais confortável.
— Estava com uma gatinha do colégio aqui perto. — Ele pisca sem vergonha e
eu sorrio.
— Okay bonitão. — Reviro os olhos.
— Você quer carona? Acho que seu namorado não vem, não. — Suspiro e penso
se aceito ou não.
Onde Kyle está? Por que está fazendo isso?
— Não precisa. Eu quero estar aqui para quando ele chegar eu possa jogar na
cara dele os minutos que estou sentada aqui. — Aceno confirmando e meu primo
gargalha.
— Vocês mulheres são terríveis!
Somos. É verdade.
Brian vai embora como Aaron e Jessie Depois de mais cinco minutos, vejo Kyle
andar em minha direção, mas ele não está sozinho.
— Hey! Desculpe a demora, baby. É que Ryder chegou de viagem e veio ver
uma tia dele aqui. Fui o buscar no aeroporto. — Kyle sorri para mim enquanto seu
amigo entra no meu campo de visão.
Ele é alto, mas magro. Seus olhos são pretos e quando caem em cima de mim,
sinto imediatamente um medo se estalar nas minhas entranhas. Não sei explicar, mas o
modo como olha para meu corpo, me faz querer me cobrir.
Afasto esses pensamentos e me levanto. Vou para o lado de Kyle e abraço seu
braço.
— Você poderia me ligar, Kyle. Eu fiquei quase uma hora te esperando. —
Protesto. Ele abre a boca para falar, mas seu amigo se adianta.
— Desculpe. O celular dele está descarregado. — Sua voz forte e fria chega a
mim e eu o olho novamente.
— Eu tenho certeza que ele poderia falar por si mesmo. — Sorrio irritada. —
Agora eu quero ir para minha casa. Se você ainda estiver ocupado, me diga que pego
um táxi. — Solto-me dele e pego minha bolsa no chão.
Kyle tem o rosto confuso. Eu não o recrimino, mas trazer uma pessoa que não
conheço para vir me buscar e ainda não perceber o modo como esse cara está me
olhando, me irrita. Se fosse Aaron ele já estaria no chão.
— Tudo bem, Abby. Aconteceu alguma coisa? — Sua voz suave me balança e
eu volto para seus braços.
— Nada. Eu só estou com fome e hoje é domingo. Tenho o dia para brincar com
Alice. — Ele suspira acenando.
— Se quiser podemos ir para aquele restaurante... — Interrompo Ryder.
— Eu quero ir para minha casa. — Sorrio tentando ser mais gentil.
— Vou deixar Ryder em sua avó e de lá te deixo em casa, pode ser? — Kyle
pergunta quando entramos no carro.
— Sim.
Kyle deixou Ryder sei lá onde prometeu e agora estamos voltando para casa.
— O que aconteceu, baby? — Sua voz calma me rende e eu o olho.
— Nada. Só estou irritada por ter ficado esse tempo todo no parque lhe
esperando. — Suspiro vendo que estamos em minha rua.
— Desculpe, novamente. — Sorrio e beijo seus lábios.
— Não tem problema. Você quer entrar e almoçar conosco? — Questiono.
— Não sei se é uma boa ideia, Abby. Você disse que tio Connor ainda não
aceitou nosso namoro. Não quero fazer ele nos ver com frequência. Já iremos passar o
final de semana juntos. Será um longo final de semana para ele.
Aceno concordando e me despeço dele com um beijo.
Ao entrar em casa, vejo Alice correndo com sua boneca para a mesa do almoço.
Ela senta sua amiguinha em sua cadeira e ela se senta na maior. Suas mãos pegam o
talher e sorrindo ela finge dar comida a bebê.
É fantástico ver o quanto as crianças são especiais, não querem nada em troca.
Só querem se divertir e fazer quem está ao seu redor sorrir junto.
Saio dos meus delírios quando papai entra em casa e vai para a cozinha. Eu o
sigo, pois quero conversar. Vejo ele limpando suas mãos na pia e me recosto na mesa.
— Papai? — O chamo. Ele continua limpando suas mãos e eu suspiro. —
Podemos conversar, pai? — Pergunto mais firme.
— Agora não, Abby. — Sua voz verbera pela cozinha fazendo-me parecer uma
criança.
— Por favor, pai. Eu não quero que fiquemos assim, só porque estou
namorando. — Engulo em seco quando ele se vira para mim.
— Filha, eu... Me desculpe. É difícil ver que minha boneca cresceu, Abby.
Quando era com Aaron, você nunca esteve tão empolgada como Kyle. Eu só temo por
você, querida. Amar nem sempre é algo indolor. — Ele deixa um beijo em minha testa
e sai da sala levando Alice com ele.
Engulo em seco, lembrando de suas palavras. Amar não é algo indolor... papai
estava pensando que eu vou sofrer o dobro se algo acontecer entre Kyle e eu. Eu o
amo demais e só o pensamento de que algo possa acontecer me deixa extremamente
medrosa.
Papai está certo, eu iria sofrer. Não o dobro, mas sim o triplo.
A semana passou rapidamente e quando vi já estávamos na sexta-feira. Kyle foi
para casa ontem. Eu senti uma coisa ruim em meu peito quando vi ele entrar em seu
carro e ir embora. Liguei depois de duas horas e agradeci quando vi que ele já estava
em casa.
Entro na picape 4x4 de papai com Alice em meus braços. A coloco em sua
cadeirinha e espalho o cabelo de Matthew quando ele entra na outra porta.
— Abby! Você, como sempre muito infantil! — Ele resmunga e eu sorrio. Matt
sempre foi o mais intelectual. Agora que está na adolescência, está ainda pior. As
meninas gostam desse lado nerd dele e ele fica todo bobo por isso.
— Você também é adorável, Mateus! — Pisco para ele.
— Meu nome é Matthew. Mãe, manda essa garota ficar na dela! — Eu gargalho
dele e mamãe entra no carro dando um olhar alertador para nós dois.
Okay!
A viagem foi rápida, até porque dormi a maior parte do tempo. Desço do carro
enquanto papai pega Alice que dorme tranquilamente na sua cadeirinha. Olho para a
casa dos meus avôs e sorrio. Vir aqui sempre traz lembranças da minha infância.
Vejo vovó andar em nossa direção e sorrio correndo para abraçá-la. Deus, que
saudade eu estava dessa mulher!
— Abby, meu amor. Como você está grande... Uma moça de verdade. — Ela
sorri e eu reviro meus olhos, divertida. Parece que faz anos que não me vê.
— Estava com saudades, vovó. Onde meu avô rabugento está? — Pergunto
rindo ao vê-lo descer as escadas.
— Nicole, essa sua filha anda muito malcriada. — Ele balbucia sendo chato.
Corro para seus braços sorrindo. Meu avô passa seus braços pelo meu corpo e
beija meus cabelos.
— Estava com saudades também. — Digo rindo enquanto nos afastamos.
Subo as escadas depois de vovó dizer que o jantar será servido. Vou para meu
quarto na casa e pego meu celular para ligar para Kyle.
— Alô?
— Oi, baby. Já chegou?
—Sim, Kyle. Onde está? Que músicas são essas?
—Vim dá uma volta com Ryder.
— Ah, o Ryder. — Suspiro tentando me conter.
— Sim, mas já chego aí. Minha mãe já está ligando também.
— Você está bebendo, Kyle? — Pergunto quando a ideia bate em meus
pensamentos.
— Não. Quero dizer, só duas cervejas. — Suspiro e logo depois me despeço
dele.
Só o que me faltava.
Tomo banho rapidamente e me arrumo. Quando desço as escadas, encontro tia
Melissa olhando para o celular.
— Boa noite, tia. — Sorrio e me aproximo. — Aconteceu alguma coisa?
— Não. Quero dizer, só Kyle que não chega. — Ela sorri fraco e me abraça. —
Boa noite, querida.
— Já falei com ele. Disse que estava vindo. Não se preocupe. — Sorrio e ela
acena confirmando.
Nos sentamos à mesa e sinto minhas mãos suarem a cada minuto que passa e
Kyle não entra pela porta. Eu vou matar aquele imbecil. Todos se olham esperando
que ele chegue. Tia Melissa já está batendo suas unhas na mesa e tio Pietro bufa
irritado constantemente.
— Alguém avisou ao Kyle que iríamos jantar juntos hoje? — Meu avô pergunta
friamente.
Deus, esse jantar vai dar merda.
— Eu avisei, Victor. Deve ter acontecido algo, porque eu falei com meu filho
quase nesse instante. — Tia Mel fala e eu sinto meu rosto esquentar quando papai se
vira para me olhar. Merda.
— Você sabe onde ele está, Abby? — Papai pergunta me encarando.
Por que ele tem que fazer isso?
— Por que Abby saberia, Connor? — Vovô novamente fala frio.
Quando papai vai falar algo, meu namorado entra na sala de jantar. Seus olhos
me encontram e instantaneamente ele suspira. Não sei o motivo de seu alivio porque
depois daqui eu tenho certeza que vou matar esse idiota.
— Com licença. — Sua voz falha e ele engole sua saliva. — Desculpem a
demora. — Ele pede, mas seus olhos estão em mim.
— Sente-se, Kyle, e agora fale onde estava para demorar tanto para um jantar de
família? — Vovô pede calmamente.
— Eu... sai com um colega, mas na volta o trânsito estava cheio. — Ele
responde calmo olhando para meu avô.
— Quem é esse colega, querido? — Melissa pergunta confusa.
— Ryder, mãe. — Depois que ele diz isso, meu tio vira a cabeça rapidamente e
minha tia fica com o rosto cheio de decepção.
— Esse garoto já voltou para sua vida, Kyle? Que porra tem de errado com
você? — Meu tio grita com raiva e eu me encolho.
O que está havendo aqui? O que esse Ryder é?
— Não comecem. Eu já sou um adulto. Não vai se repetir. Mãe, por favor. —
Ele olha para todos os lugares da sala, menos para mim.
O que Kyle não vai repetir?
— Todos calados. Acabou esse assunto. Kyle, depois vai conversar com seu
pai, porque se já é um adulto pode, sim, conversar como um. — Vovô fala irritado.
Depois disso, o jantar foi servido. O clima não está dos melhores e eu suspiro
trazendo sem querer a atenção deles para mim.
— Onde está seu namorado, querida? — Vovó pergunta e eu sinto o sangue
drenar do meu rosto.
— Não estou mais com Aaron, vovó. — Começo e meus dedos tremem com
medo da reação deles.
— Por que terminaram, Abby? Ele era tão bom para você, querida? — Ela
pergunta e agora vovô também presta atenção em mim.
Meu Deus, como vou falar para eles?
Capítulo Quatorze
Kyle
Abby olha para mim e engole em seco. Eu espero ela falar algo, mas sei que
está sendo difícil para ela. Conversar com meus avós sobre nós é uma coisa bastante
difícil de fazer.
— Eu não o amava mais, vovó. — Sua voz suave preenche o espaço e logo tia
Nicole está pegando a mão da filha.
— Não o amava? Ninguém deixa de amar, Abby. — Meu avô intervém e eu olho
para minha namorada.
— Vovô... é que... eu me apaixonei por outra pessoa. — Ela fala e estou vendo
Abby quase passar mal.
Gostaria de levantar-me e ir ajudá-la, mas sei que não é o momento certo.
— E quem é essa pessoa? Por que não o trouxe? — Meu avô insiste e Abby
perde a cor do rosto.
— Sou eu. — Minha voz sai firme. Agradeço por isso porque a última coisa que
quero é que Abby pense que estou com medo dos nossos avós.
A verdade? Eu não estou mesmo.
Abby e eu somos adultos, nada que eles falem vai mudar isso.
— O quê? — Meu avô se levanta da cadeira e eu me levanto junto. — Que
brincadeira de mal gosto é essa? — Ele me fulmina com os olhos, mas não ligo.
— Não estamos brincando. A gente se gosta. Estamos namorando. — O
respondo irritado.
— Não estão. Parem com essa merda. Abby e você são primos, isso é errado.
— Ele diz certo.
Olho para minha Abby, mas ela não me olha de volta. Seus olhos estão cheios
de lágrimas enquanto ela olha para seu prato. Eu não acredito que ela vai acatar a
ordem dele.
— Nós nos amamos. Isso não é errado. — Digo sentindo meu peito pesar.
Continuo olhando para ela, mas ela não faz nenhum movimento.
— Abra a sua boca, Abby. Diga para Kyle parar de mentir. — Meu avô olha
para ela irritado.
— Ele não está mentindo, vovô... — Sua voz suave me faz suspirar de alívio. —
Em toda família, em algum momento, os primos se envolvem, mas é passageiro. Não
se preocupe. — Minha boca se abre em choque.
O que porra essa garota falou?
— O que falou? Olha para mim, porra! — Grito tentando ir até ela.
Meu pai me segura pelo braço enquanto mamãe olha decepcionada para Abby.
Eu estou decepcionado com ela, como nunca estive com alguém.
— Abby... — Tia Nicole fala chamando sua atenção, mas ela não olha para
ninguém.
Só foca a merda da sua atenção no prato a sua frente.
— É passageiro, Abby? Então acabou aqui, me ouviu? — Quando encontro
minha voz, falo, firme. — Vá se foder, porra! — Grito novamente quando vejo que é
isso mesmo.
Acabou.
Balançando minha cabeça saio da sala e caminho para fora da casa.
— Volte aqui, Kyle. Respeite a casa dos seus avós. Volte para a mesa. — Meu
avô grita.
— Eu não vou voltar. Desculpe-me por interromper seu jantar e dizer que me
apaixonei por uma mentirosa. — Sem outra palavra, saio da casa correndo.
Abby brincou comigo. Como fui idiota. Onde eu estava com a cabeça? Pelo
amor de Deus! Ela é uma cadela estúpida e mimada.
Ando pela cidade em meu carro tentando parar de pensar naquela mulher. Meu
coração parece que foi imprensado pelas mãos dela. Ela o quebrou.
Como fui capaz de dar meu coração para outra mulher depois do que Fernanda
fez comigo? Eu sou mais idiota ainda.
Escuto meu celular tocar, sinto-me ansioso pensando ser ela, mas é o nome de
minha mãe que pisca na tela.
— Oi mãe
— Venha para casa, baby.
— Aí não é minha casa.
— Estou dizendo a nossa, Kyle.
— Desculpe, mãe. Mas agora não dá. Eu tenho que pensar na minha porra de
vida.
— Eu sinto muito, querido. Abby só está assustada.
— Não a compreenda. Não defenda aquela cadela mentirosa.
— Kyle, não a xingue.
— Eu xingo, mãe. Porque ela quebrou a porra do meu coração. Ela me quebrou,
mãe.
— Eu sei. Eu sei, querido.
— Eu preciso desligar.
Quando vejo onde parei meu carro depois de algumas horas dirigindo, suspiro.
Saio do carro e ando até a entrada da casa. Aceno para alguns conhecidos que estão
na festa e procuro Ryder.
O encontro sentado no sofá com um cigarro de maconha nos lábios. Balanço a
cabeça e me sento ao seu lado.
— Já voltou? Cadê sua mina? — Ryder se vira para mim sorrindo.
Eu o conheci na escola. Ryder era um cara descolado e que sempre teve muitos
amigos, então nos conhecemos e passamos a andar juntos. No meio da nossa amizade,
começamos a correr em rachas ilegais. Mamãe ficou bastante decepcionada quando
fomos pegos e ela teve que ir até a delegacia me tirar.
Eu fiquei com tanta vergonha. Passei uma semana sem olhar para minha mãe,
mas o pior foi que ela resolveu não contar para meu pai. Então quando meu pai me
encontrou numa festa bebendo e usando drogas, ela teve que falar tudo.
Foi o pior ano da minha vida. Eles brigaram por minha causa, passaram a não
confiar em mim. Eu nunca quero decepcionar eles daquele modo de novo.
— Ficou em casa. — Não o digo que terminamos. Nem que ela renegou o amor
que dizia sentir por mim.
Essa merda não lhe interessa e falar vai fazer as coisas ficarem concretas.
— Quer? — Ele tenta passar o cigarro para mim, mas nego com um aceno. — O
que, cara? Vamos lá. Só um pouco. Vai te aliviar. — Ele ri para ele mesmo e eu
suspiro cansado.
— Okay. — Pego o que ele me oferece e levo aos meus lábios.
Depois de um tempo sentado, fumando, vou até a cozinha com Ryder na minha
cola. Pego uma cerveja e bebo rapidamente querendo retirar Abby dos meus
pensamentos.
Esquecer que ela disse que fomos apenas algo passageiro, sem importância.
— Ora, ora se não é Kyle William... — A primeira coisa que vejo são peitos,
cabelos loiros e por último a cara de Denise, uma colega de classe do colégio.
Que ótimo.
— Olá, Denise. — Cuspo bebendo mais cerveja.
— Onde esteve esse tempo todo, querido? — Sua pergunta sai arrastada e eu
reviro os olhos para esse seu joguinho de paquera.
— Não vou comer você, Denise. Sem chance. Não comi antes, não vou comer
agora. — Seu rosto adquire um tom mais vermelho.
Eu não ligo. Denise sempre foi a garota que todos comiam, e sempre tentou
entrar nas minhas cuecas. Sem chance.
— Você como sempre um idiota. — Ela estala a língua no céu da boca e eu
volto a revirar os olhos. — Nos vemos por aí, Kyle.
Ela sai rebolando sua bunda e eu sorrio para Ryder que a segue sorrindo.
— A cadela nunca desiste. — Viro-me para ver Fernanda sentada numa
banqueta.
Suas pernas grossas entram em minha visão e me lembro que uma das coisas que
eu mais amava no seu corpo eram suas coxas.
Ela sorri quando percebe o que estou fazendo. Eu reviro os olhos e me
aproximo dela.
— Nada mudou, baby. — Ela sussurra baixo perto do meu ouvido.
— Tudo mudou, Fernanda. Só não suas pernas. — Sorrio, charmoso.
— Você sempre as adorou. Eu lembro. — Ela sorri nostálgica.
— Sim. É verdade.
Ela leva seu refrigerante aos lábios e sorri vendo que afirmei.
— Onde está sua namorada, Kyle? — Nanda pergunta mexendo seus cabelos.
— Não tenho mais namorada, Nanda. — Falo calmamente.
Seus olhos se expandem e ela engole em seco.
— Tudo bem. É... eu sinto muito. — Sua voz chega aos meus ouvidos e eu
aceno.
— Não se preocupe. — Bebo mais a minha cerveja. — Agora me diz: quem te
trouxe para essa festa de merda? — Mudo de assunto.
Conversamos enquanto bebo mais e mais cervejas e quando vejo já estou sendo
carregado até meu carro por ela e Ryder.
— Eu o levo. — Nanda diz e ele entra na casa novamente.
Depois disso, apago. Quando acordo, estou numa cama que não é minha, mas já
sei de quem é, porque seu corpo está colado ao meu.
Fernanda.
—Nanda. — Minha voz sai fraca e uma dor de cabeça parece que vai destruir
as paredes do meu cérebro.
— Oh... desculpe. — Ela se afasta de mim e vejo que está só com uma camiseta
grande, que era minha.
Ela pegou quando éramos namorados.
— Eu só preciso ir ao banheiro. Depois vou embora. — Digo sentando-me na
cama.
— Tudo bem. Vou procurar uma aspirina para você. — Ela sai do quarto e eu
ando até o banheiro.
Passo uns cinco minutos de cara com o vaso sanitário e logo estou lavando
minha boca na pia.
Antes de sair, bebo a aspirina que Nanda me deu e vou embora. Agradeço por
seus pais não estarem em casa. Não preciso de mais confusão na minha vida.
Dirijo até minha casa e saio do carro depois de estacionar. Meus músculos se
tencionam quando vejo Abby sentada nas escadas da minha casa.
— Precisamos conversar, Kyle. — Seus olhos estão cansados e com bolsas
pretas embaixo deles.
— Como? — Finjo que não a ouvi direito.
— Você me ouviu, baby. Por favor. — Seu lábio inferior treme e eu tenho
vontade de abraçá-la.
Eu sei, sou um idiota!
— Não vai acontecer. Vá embora da minha casa. — Digo passando por ela e
abrindo a porta.
— Kyle... por favor. — Ela levanta e segue-me enquanto entro.
— Querido... — Mamãe fala quando vê que cheguei. — Onde dormiu, Kyle? —
Ela pergunta intrigada.
— Desculpe não ter avisado, mãe. — Suspiro criando coragem para falar onde
eu estava.
Abby está aqui não me ajuda. Nessa minha cabeça fodida eu fiz errado em
dormir na casa de Fernanda.
— Eu perguntei onde dormiu. — Ela insiste.
— Na casa de Fernanda. — Quando as palavras deixam minha boca, escuto
Abby soluçar.
Essa merda está grande demais.
— Filho... por quê? — Minha mãe olha para minha ex-namorada e volta para
mim.
— Mãe, eu... só quero tomar banho e dormir. Depois conversamos. — Começo
a subir os degraus da escada e Abby começa a me seguir.
— Querida... eu acho melhor não. — Mamãe chama sua atenção.
— Não me impeça, tia. Por favor. — Sua voz sai tremida e eu me forço a
continuar subindo.
Se ela quer vir atrás de mim, o problema é dela. Não vou a impedir.
Entro em meu quarto e tiro minha blusa a jogando no chão. Ela olha e sei que se
esforça para não apanhar do chão.
— Não estou acreditando que dormiu com ela, Kyle... Eu juro que não. —
Escuto seu choro enquanto tiro uma toalha para mim.
— Abby, eu vou tomar banho. — Aviso, mas ela vem para minha frente.
Seu rosto está vermelho e seus olhos azuis inundados de lágrimas. Eu queria que
essa visão não doesse em mim, mas dói.
— Diga que é mentira. Diga, Kyle! — Ela grita enquanto empurra meu peito.
— Não é mentira, Abby. Pare com essa merda. — Seguro seus braços a
impedindo de me bater.
— É mentira! Você me disse que me amava. Nem um dia fez que terminamos e já
estava com outra? Como você pôde, Kyle? — Ela empurra minhas mãos para longe
dos seus braços e recua.
Ver ela descontrolada assim mexe comigo, mas as suas acusações e perguntas
me fazem ficar com ódio.
— Como você pôde falar aquilo na frente da nossa família? A culpa é sua. —
Grito saindo de perto dela.
— A culpa é minha? Você viu como nosso avô reagiu. Eu só estava assustada.
— Ela tenta me convencer.
— Eu também, Abby. Eu também estava, mas eu te amava tanto ao ponto de
enfrentá-lo. Você não. Você me mostrou o quanto é mimada e imatura. Acatar uma
ordem dele assim... me deixar só para agradar eles. — Sinto as lágrimas em meus
olhos quando lembro-me do que ela fez.
Não vou chorar por ela.
— Desculpe, baby. Por favor, Kyle. Eu sou assim, estúpida, mas eu te amo. Você
sabe disso. — Ela implora, vindo até mim.
— Eu não sei, Abby. É esse o ponto da questão. Eu não sei se me ama. — Deixo
meus ombros caírem.
Porque é essa a verdade. Eu não sei o que se passa pela cabeça dessa mulher.
Ela é tudo para mim, mas ainda assim quando alguém tenta se colocar entre nós ela
deixa. Ela não luta por mim.
— Eu te amo. Eu amo como nunca amei ninguém. — Ela pega meu rosto entre as
mãos enquanto suas lágrimas descem por seu rosto. — Amor, não me deixe. Me
perdoe. — Suas palavras entram em meu peito, mas dessa vez não vou facilitar para
ela.
Não mais.
— Eu acho melhor você ir, Abby. Eu quero tomar banho e dormir. — Aviso a
afastando de mim de novo.
— Tudo bem... eu... vou estar em casa. Talvez eu venha aqui mais tarde...
— Acho melhor não. Fique com seus avós. Eu... só preciso de um tempo
sozinho. — A respondo olhando para outro lugar que mão seja seu rosto.
— Nossos avós, Kyle. Eles são seus também. — Ela sussurra se afastando.
— Que seja. Não me importo. — Cuspo irritado e vou para meu banheiro.
Enquanto tomo banho, escuto ela se movimentando pelo meu quarto. Escuto seu
choro e assim eu deixo o meu correr livre pelo meu rosto.
Minhas lágrimas se misturam com a água e quando tenho certeza que Abby foi
embora, saio do banho.
E como eu imaginava o quarto agora está arrumado.
Suspiro e me jogo na minha cama, ainda de toalha. Durmo profundamente e só
acordo quando está tarde e meu pai quer conversar. Que ótimo.
— Na casa que estava ontem foram pegos vários adolescentes fumando
maconha, Kyle. Bebendo, agora adivinhe quem foi preso? — Meu pai começa quando
estou sentado à sua frente.
— Não sei, pai. — O respondo irritado.
— Ryder. Ele está preso. Você estava lá ontem, Kyle. Você usou essa merda,
também, não foi? — Ele pergunta firme e eu me escolho na cadeira. — Porra, Kyle!
Você jurou para mim e sua mãe! — Ela leva como um sim.
— Foi pouco, pai. Eu vim embora logo... — Ele me interrompe.
— Eu pensei que tinha crescido. Que não iria mais pela cabeça de ninguém, mas
foi só esse garoto chegar para tudo voltar. — Ele lamenta.
— Não foi por ele. Eu fumei porque quis. Para esquecer Abby. Eu sou um
idiota, mas eu queria esquecer e fiz isso. — Digo irritado.
— Ela sabe que você fez isso? — Ele me encara e eu abaixo minha cabeça. Na
certa, ela ficaria decepcionada.
— Ela não precisa saber de nada. Ela não é mais minha namorada, não a devo
satisfações. — Digo me levantando.
— Eu sei que doeu ver e ouvir o que ela fez filho, mas ela estava assustada. Ela
é louca por papai. Ela só não queria decepcioná-lo. — Ele tanta me convencer
calmamente.
— Então ela preferiu me ferir? Me decepcionar? — Pergunto e ele suspira
cansado. — Foi o que pensei. Mais uma vez, pai, me desculpe. O que ocorreu ontem
não vai voltar a acontecer. Eu juro. — Digo firme o olhando nos olhos.
Saio de seu escritório, mas ele vem atrás de mim.
— Você vai conosco na segunda-feira, filho? — Sua voz sai cortada e meu peito
aperta.
Meu aniversário.
Aniversário de morte da minha mãe.
— Eu... não sei. — Balanço a cabeça e saio de casa com a sensação de perda
que sempre se estala em meu peito quando essa data se aproxima.
No domingo de manhã, minha irmã bate à minha porta querendo conversar. Bufo
irritado e me jogo novamente em minha cama.
— O que aconteceu, Kyle? — Ela insiste sentando perto de mim.
— Nós terminamos, Luce. — Digo olhando para minha janela.
— Eu ouvi naquele dia na casa da vovó e no outro dia quando ela veio aqui. —
Luce suspira e deita ao meu lado. — Eu sinto muito.
— Eu também. — Digo cansado.
— Onde você estava ontem? Papai estava preocupado. — Ela me avisa.
— Fui dar uma volta e visitar Ryder. – Digo, sentindo-a ficar rígida.
— Eu não gosto desse cara, Kyle. Ele olha para as mulheres de um jeito sujo.
Faz com que a gente queira se cobrir. — Ela admite baixinho e eu me viro para olhar
em seus olhos.
— Como assim, Luce?
— Eu não sei. Ele olha diferente. Todas as meninas falam a mesma coisa e
ontem Abby me disse isso também. — Ela fala séria.
— Ele olhou para ela? — Pergunto sentindo meu sangue esquentar.
Que merda Ryder tem na cabeça?
— Ela me falou. — Minha irmã dá de ombros.
Depois disso, Luce sai do quarto dizendo estar esperando Fernanda para a
piscina. Falei que iria lá depois de almoçar.
Quando encontro minha mãe, ela me olha apreensiva. Durante todos os anos da
minha vida, ela sempre me olhou assim quando era véspera do meu aniversário.
Todos sabem que não comemoro essa data. Eu odeio meu aniversário, mas
diferente dos outros anos, me lembro do que Abby me falou assim que nos
reencontramos.
Aquilo tocou fundo em minha alma. E eu não vou fugir de todos por isso. Minha
mãe me amava mais que tudo e foi por isso que me deu a vida.
— Mãe. — Aceno sorrindo e ela abre um sorriso grande.
— Oi, querido. Você quer bolo de chocolate? Acabei de fazer um. — Ela corre
para pegar o bolo e volta com ele nas mãos.
— Obrigada, mãe. — Ela corta e coloca um pedaço grande em meu prato.
Como ele todinho com minha mãe me olhando. Eu sei que deve estar se
perguntando o porquê eu não estou trancado em meu quarto de ontem até agora para
não ter que conversar com eles sobre meu aniversário.
— Não vou mais tratar meu aniversário como um peso que eu carregarei, mãe.
Minha mãe me amou e é assim que eu tenho que ver meu aniversário. Um gesto de
amor. — Ela sorri limpando suas lágrimas e me abraça apertado.
— É isso mesmo. Foi um gesto de amor. — Ela limpa suas lágrimas novamente
e beija meu rosto. — Você mudou sua cabeça, sozinho. Estou tão orgulhosa de você.
— Abby me ajudou mãe... — Sussurro e ela acena confirmando.
— Melhor ainda... — E o assunto morre quando vejo as amigas da minha irmã
entrando.
— Kyle. — Fernanda me cumprimenta sorrindo e eu aceno a cumprimentando
de volta.
— É... um... Luce está na piscina, Nanda. — Mamãe tem o olhar aflito e eu dou
passagem para as garotas passarem.
Quando elas estão fora da nossa vista, mamãe me puxa para longe.
— Querido, Abby está aí com sua irmã e eu não acho que vá acabar bem
colocando ela e a menina que você dormiu juntas. — Mamãe para de falar quando
escutamos alguém cair na água.
Porra, Abby!
Corro para fora e vejo Fernanda na água enquanto Abby a xinga.
— Você pensou que dormir com ele vai mudar alguma coisa? Não vai! — Abby
grita enquanto Fernanda sai da água. — Mantenha suas patas longe dele. Eu já avisei.
— Vejo pelos olhos dela que está por um fio de bater em Fernanda.
— Ele quem não manteve as dele longe de mim, sua cadela! — Abro minha
boca em choque.
Que merda Fernanda falou?
Capítulo Quinze
Abby
Vejo vermelho quando essa idiota fala que Kyle a tocou. Eu quero chorar. Quero
dizer que é mentira, mas eu sei que foi verdade. Ele disse na minha cara.
Pego Fernanda pelos cabelos e lhe dou um belo de um soco. Cadela estúpida!
— Abby! — Sua voz verbera irritada e isso me faz soltá-la para me afastar.
Eu sabia que em algum momento ele iria aparecer. Que ótimo!
— Desculpe, Luce. — Viro-me para minha prima enquanto pego minha bolsa e
meus óculos de sol.
— Nanda... Quero dizer, Abby, Deus. — Ela gagueja e eu mordo meu lábio,
envergonhada.
— Eu estou indo embora. — Aviso andando para longe das vadias amigas de
Luce que me acompanham com o olhar.
— Vista a porra da roupa, Abby. — Seu rosnado baixo me faz olhar para ele.
— Não se meta na minha vida. Vá acalentar sua cachorra. — Grito vendo
Fernanda tentar tocar em seu olho machucado.
— Ela não é nada minha, porra! — Seu grito faz as garotas pularem e Fernanda
se encolher.
— Esqueci que é sexo casual, não é mesmo? — Fulmino seu rosto.
— Eu não transei com ninguém, Abby. Para com essa merda. — Ele vem até
mim e eu me encolho recuando.
— Foi? Não foi isso que me falou. — Viro minhas costas ainda só de biquíni e
vejo minha tia.
Quero um buraco para me enfiar. Que vergonha.
— Desculpe, tia Melissa. — Sussurro entrando na casa.
— Não tem nada que desculpar, Abby. Eu te entendo. — Ela pisca para mim e
eu suspiro, aliviada.
— Já estou indo. Até outro dia. — Afasto-me dela e caminho para a saída da
casa.
Antes que eu chegue à porta, Kyle me puxa em direção a escada.
— Kyle... pare com isso. Solte-me. — Grito, irritada, enquanto subimos os
degraus da escada.
— Você vai vestir uma roupa. Depois vai embora. — Sua voz está para lá de
irritada, então deixo para lá e vou com ele.
Estar nesse quarto novamente me faz lembrar o que aconteceu ontem. Ele não
perdoou minha fraqueza diante de nossos avós.
Eu fui tão idiota. Estava com tanto medo que reprimi minha paixão por ele. Eu o
decepcionei.
— Vista sua roupa. — Ele manda.
Eu olho para seu rosto e ele está vermelho. Eu sei que ele está assim por eu
estar quase nua na sua frente. Não é só de raiva. E então, resolvo brincar com seu
autocontrole.
Pelo menos assim afastamos essas brigas estúpidas. Talvez seja uma ideia
idiota, mas eu não me importo.
— Tudo bem. — Dou de ombros e desatou o nó que estava juntando as tiras do
meu biquíni. Seus olhos se arregalam, surpreso e eu continuo.
Elas caem fazendo meus seios ficarem a amostra e Kyle chupa uma respiração
cortada enquanto seus olhos queimam minha pele. Porra. Estou tão nervosa.
Mas por outro lado, estou começando a ficar tão excitada.
— Abby...
— O que, Kyle? — Pergunto quando desato o segundo nó, agora o das minhas
costas.
O biquíni cai no chão e seu olhar segue a direção do meu corpo.
— O que está fazendo? — Ele engole em seco e aperta seu membro, agora, duro
entre as mãos.
— Estou trocando de roupa. Você quem pediu, Kyle. — Digo fingindo
inocência.
— Porra. — Ele cai sentado na cama, ainda observando meus seios expostos e
eu começo a retirar o nó do biquíni de baixo.
Primeiro o da direita e depois o da esquerda. Logo a peça está no chão junto das
outras. Meu colo e pescoço esquentam pelo olhar que Kyle dá ao meu corpo.
Eu nunca estive tão necessitada.
— Porra, baby. Por que está fazendo isso comigo? — Ele rosna se levantando e
pegando meu biquíni no chão.
Viro-me para pegar minha roupa, mas logo ele está atrás de mim apertando
minha cintura. Deixando-me marcada.
— Você está brincando comigo, Abby? — Sua voz rouca deixa-me molhada.
— Nunca. Eu só quero ir para casa. — Minto na cara dura. Ele ri baixo e vira-
me de frente para ele.
—Você pensa que vai me deixar duro desse jeito, Abby? — Ele cheira meus
cabelos e eu suspiro ansiosa.
— A culpa é sua. Somente você que me pediu para trocar de roupa. — Sussurro.
— Okay... Tudo bem... — Ele suspira e me pega pelos cabelos e cintura me
sentando em sua cômoda.
Seus dedos entram por minhas dobras molhadas e ele geme no meu ouvido.
Porra.
— Você está pronta para mim, Abby? — Seus dedos continuam trabalhando em
mim e eu um gemido cheio de necessidade sai da minha boca.
— Sempre, Kyle. — Ele ri da minha resposta e ataca meus lábios com fome.
Deslizo minha mão por sua barriga e desço sua cueca e short, o deixando
parcialmente nu.
Kyle entra em mim devagar, deixando-me provar de cada centímetro do seu
prazer. Quando já está por completo dentro de mim, ele começa a se movimentar
rapidamente. Fodendo-me e junto de mim, meu juízo.
Depois que atingimos o clímax, nos deitamos na cama. Kyle me puxa para seus
braços e me faz colocar minha cabeça em seu peito. Deus, eu o amo tanto que chega a
doer.
— Você me venceu pelo cansaço, baby. — Kyle sussurra baixinho beijando
meus cabelos.
Eu sorrio agradecendo aos céus que estamos bem novamente. Eu vou atropelar
quem se puser no meio de nós dois novamente.
Kyle é meu. Nada e nem ninguém vai mudar isso.
— Eu te amo, Kyle. Não duvide disso, por favor. — Imploro.
Ontem eu vi a dúvida em seu olhar. Aquilo me matou. Não quero que ele pense
nem por um segundo que não gosto dele da forma que já lhe falei várias vezes.
— Eu sei, baby. — Ele sussurra abraçando meu corpo nu. — Eu sei.
Sento-me, mesmo contra minha vontade de me afastar, para conversarmos.
— Desculpe por sexta-feira. Eu fui tão imatura, como você mesmo falou. —
Suspiro devagar. — Eu não pensei em você, em como eu ia te machucar. Eu fui tão
egoísta. Me perdoe. Isso nunca mais vai acontecer. Eu juro. — Ele me olha sem
qualquer tipo de reação.
Meu coração aperta quando ele se levanta da cama e me puxa para o banheiro,
ainda calado. Deus, o que ele quer?
— Kyle... — O chamo, mas ele não me responde. Só liga o chuveiro, me dá
banho e beija meus lábios de vez em quando. Eu suspiro desistindo.
Depois disso, ele continua calado. Depois, me faz vestir minha roupa e agora já
estamos descendo as escadas. Para onde ele quer ir?
Quando chegamos à sala, as amigas de Luce estão sentadas no sofá. Fernanda
também e, de longe, vejo o roxo que deixei em seu olho. Os mesmos estão fixos na
minha mão e de Kyle, entrelaçadas.
Sorrio para ela e o puxo em direção a saída. Cadela!
— Para onde vamos, Kyle? — Pergunto enquanto coloco o cinto de segurança.
— Dar a notícia para nossos avós. — Sua voz sai firme e eu me encolho.
Ele está querendo me punir. Tenho certeza.
— Por que agora, Kyle? — Pergunto sem olhá-lo.
— Porquê dessa vez quero fazer certo, Abby. Eu quero que eles entendam nós
dois, baby. Eu quero estar ao seu lado, e não deixar eles fazerem sua cabeça
novamente. — Ele aperta o volante nos dedos e eu suspiro.
— Isso não vai acontecer, Kyle. Não pense assim. — Peço enquanto pego suas
mãos nas minhas. — Eu te amo e eles não vão afastar nós dois. — Prometo e ele
respira fundo relaxando.
— Okay... Mas vamos lá e vamos fazer essa merda certo dessa vez. — Eu aceno
confirmando e juntos vamos até a casa onde estou hospedada.
Assim que eu entro, vejo mamãe e papai assistindo TV. Papai olha para nós dois
juntos e suspira em alivio. A verdade é que ele não foi capaz de dormir escutando
meu choro. Mamãe foi até meu quarto e passou a maior parte do tempo me acalentado
e só voltou para o seu quarto depois de eu ter dormido.
Foi horrível.
— Tio. Tia. — Kyle os cumprimenta e segue para a cozinha.
O acompanho e dou um sorriso alegre para mamãe que mostra seu dedão
aprovando nossa volta.
Sorrindo, viro-me para Kyle. Em seus dedos tem um copo com água e ele bebe
devagar.
— Onde eles estão? — Pergunto calma.
— No escritório. Vamos lá. — Volto a andar atrás dele e entramos no escritório
de vovô depois de Kyle bater à porta.
Ele está sentado na sua cadeira grande e seus olhos se afiam quando nos vê...
Juntos.
— O que estão fazendo juntos? — Vovô pergunta.
— Nós namoramos, vovô. Eu espero que você se acostume em nos ver juntos.
— Digo firme. Kyle segura minha cintura firmemente me mantendo em seu peito.
Eu preciso dele. Muito.
— Abby, o que está acontecendo com você? Ontem você disse que era algo
passageiro. Coisa de primos. — Vovó intervém confusa.
— Eu menti, vó. Eu estava tão assustada com o que vocês iriam pensar que
menti, mas... Eu amo Kyle como nunca amei Aaron ou qualquer um. Eu penso nele
quando acordo e é o seu rosto que vejo antes de cair no sono. Eu o amo. — Falo
deixando algumas lágrimas caírem. Minha avó tem o rosto triste, e isso não poderia
me machucar mais.
— Perdoem nós dois, mas essa é a verdade. Se isso fere tanto vocês, nos
desculpem, mas não vamos nos separar. Não mais. — Kyle fala enquanto me viro e o
abraço chorando.
Eles não vão aceitar nós dois. Por que isso? É um pecado amar outro ser
humano? Um amor puro e sem interesse? Eu não posso acreditar que existem pessoas
que querem impor à vontade deles próprios sobre a vida dos outros. Sem pensar no
que o próprio quer.
— Eu admiro a coragem dos dois. Não estou pronto para aceitar isso em minha
casa, Kyle. Mas não vou crucificar os dois. Eu os respeito. Somente. — Meu avô se
vira olhando pela janela, nos dando as costas.
— É a única coisa que queremos. — Kyle tenta me puxar para fora, mas olho
para vovô e vovó.
Desde pequena, sempre fui mais apegada a ele. Ver que estou o decepcionando,
dói, mas, mais ainda, doeria deixar Kyle.
— Eu amo vocês. — Digo e saio de lá com meu namorado.
Passo por papai e mamãe e digo que estou indo para casa com Kyle no fim da
noite, então peço que não me esperem. Sr. Connor ainda me olha sem acreditar, mas
apenas subo e pego minha mala.
Na segunda pela manhã, chego à faculdade cedo para encontrar Kyle.
No dia anterior, eu ia dormir no Campus com ele, mas ele disse que não
precisava e insistiu que eu fosse para casa.
Hoje é seu aniversário.
Eu espero tanto que ele tenha vindo para a aula porque eu quero fazê-lo
esquecer um pouco da dor que carrega. Roo minha unha enquanto me sento e o espero,
mas a cada minuto que passa, eu me convenço de que ele não vem.
E a certeza chega quando vejo Scott entrando na sala, sozinho.
Levanto-me pegando minha bolsa e ando até ele.
— Onde ele está? — Questiono antes mesmo de ele me cumprimentar.
— Ele foi vê-la. Como todos os anos. — Ele me dá um sorriso triste e eu tenho
vontade de chorar.
Por que ele não me chamou? Eu estaria lá para ele, Deus. Sinto como se eu
estivesse sendo sufocada ao pensar nele no cemitério, sozinho e sofrendo.
— Okay... Obrigada, Scott. — Sorrio fraco e saio da sala andando rápido.
Quando estou quase saindo do prédio, Scott me alcança.
— Não, Abby. Ele só quer um tempo com ela. — Ele abre e fecha a boca e eu
vejo o quanto isso dói nele também. — Ele sofre com isso, Abby. Eu já vi os piores
momentos de Kyle nessa data. Ele se destrói e hoje foi diferente. Ele apenas acordou,
se arrumou e saiu. Ele não bebeu ontem, ele não quis se meter em brigas... Hoje ele
foi o mesmo cara dos outros dias. Desde que o conheço, hoje foi o único aniversário
dele que ele continuou sendo ele mesmo. — Ele termina de falar e eu estou chorando.
Eu nunca pensei que era tão ruim. Deus, como passei tanto tempo sem pensar na
dor que ele sentia.
— Você o conhece melhor que eu, isso é certo, Scott, mas eu sou sua namorada.
Ele sempre vai precisar de mim e eu vou estar lá para ele. Todos os dias. — Digo
firme limpando minhas lagrimas e beijo seu rosto me despedindo.
Deixo meu carro no Campus e pego um táxi para me levar até o cemitério da
cidade. Meus pensamentos se concentram nas palavras de Scott dizendo que Kyle se
destruía. Da reação dos meus tios, Pietro e Melissa, ao saber da volta de Ryder. O
que será que Kyle fazia?
Quando chegamos na área verde da cidade, o taxista para e eu o pago pela
corrida. Desço e encontro o carro do meu namorado no estacionamento. Penso em
esperá-lo aqui, mas eu quero vê-lo. Eu preciso ver Kyle e não estou disposta a
esperar.
Quando o encontro, ele está sentado à frente de uma lápide bem conservada e
bonita. Fico a alguns passos dele para respeitar sua privacidade, e de onde estou
posso ver a foto da sua mãe. Deus, ela era tão linda.
Kyle é muito parecido com ela. Demais.
Sento-me em um banco e fico o observando. Vejo quando sua boca se
movimenta, com ele falando com sua mãe, quando seus ombros tremem e ele deixa seu
choro livre. Vejo-me chorando também, mas nada que o interrompa ou o faça me notar
aqui.
Depois de quase meia hora o vendo alternar o choro e as palavras, percebo que
ele me nota quando se levanta e uma última vez se despede de Kimberley.
Seus passos são precisos enquanto anda em minha direção. É tão maluco, mas
eu sinto meus pés se moverem ao seu encontro sem eu nem mesma perceber que tinha
levantado.
Quando estamos a um palmo de distância, eu abro meus braços lhe oferecendo
meu carinho. Em menos de segundos, ele está em mim. Me abraçando tão forte que me
sufoca, mas mesmo assim estou aqui. Porque é para isso que eu vim.
Para ser seu suporte. Para ele se apoiar em mim. No meu amor.
— Baby... — Ele sussurra em meus cabelos e logo sinto meus pés saírem do
chão.
Abraço sua cintura com minhas pernas enquanto ele chora em meu pescoço.
Deixo beijos por seu rosto e por seu peito grande.
— Feliz aniversário meu amor. — Digo sorrindo enquanto ele beija meu rosto.
— Eu nunca tive um melhor, Abby. — Ele começa a se mover comigo em seus
braços e eu volto a abraçá-lo.
Ele entra no carro comigo ainda em seus braços e eu me sento no seu colo. Kyle
tira meus cabelos rebeldes do rosto beija minha boca pela primeira vez no dia.
— Eu te amo tanto, Kyle. Você não sabe o quanto, querido. — Sussurro em seus
cachos grandes.
— Eu também, Abby. Eu também. — Suas mãos trabalham em meu sutiã e eu
não o impeço.
Minha blusa é jogada no chão do carro junto com meu sutiã enquanto minha saia
está amontoada em minha cintura. Seus dedos afastam minha calcinha e ele se afunda
em mim. Não nos mexemos.
Apenas sentimos a nossa conexão. Depois logo estamos nos amando para
conseguirmos atingir nosso clímax.
Voltamos para casa em silêncio. Entro em seu quarto e, juntos, vamos para o
banheiro. Depois de tomarmos banho, deito-me em sua cama com ele.
Seu peito coberto por uma camiseta branca sobe e desce devagar enquanto nós
olhamos.
—Você é tão malditamente linda, baby. — Seu sussurro preguiçoso me faz rir
um pouco.
—Você também. Mas sem esse xingamento. — Ele revira os olhos e eu beijo seu
nariz.
Calo-me por um tempo quando o pensamento de fazer um bolo para ele passa
por minha cabeça. Será que ele iria gostar?
Eu me sinto tão insegura em relação ao seu aniversário.
—O que está pensando, baby? — Sua pergunta me traz de volta a nossa
realidade.
— Nada. — Dou de ombros sem o olhar diretamente nos olhos.
— Nada? — Ele me encara sabendo que minto, então suspiro me dando por
vencida.
— Eu pensei em fazer um bolo para você. — Digo mordendo meu lábio inferior.
— Eu sou péssima em cozinha, mas no YouTube deve ter algo. — Completo, ainda
apreensiva.
— Eu adoraria, meu amor. Mas se der errado, damos o bolo inteiro para Scott e
Babi. — Ele ri e eu lhe dou uma tapa leve.
— Arg, como você confia nos meus dotes culinários e gosta dos nossos amigos,
hein? — Cerro meus olhos e ele se levanta rapidamente.
— Nossos amigos são bem ruins conosco também e seus dotes culinários... —
ele faz suspense e anda até a porta. — Não existem, baby. — Ele corre quando jogo
uma almofada para pegar nele.
— Idiota. — Resmungo.
Olho para meus amigos e namorado, ansiosa, enquanto eles provam meu bolo de
chocolate.
Eu provei e adorei. Está muito gostoso. Então, estou confiante.
— Humm. — Babi engole rapidamente e pega um copo de suco bebendo
rapidamente.
Scott tosse se engasgando e eu levanto para ajudá-lo. Kyle lhe dá uma tapa forte
e ele logo volta ao normal.
— Kyle! Isso doeu. — Digo irritada por sua atitude de bater no seu amigo.
— Desculpe, baby. — Ele dá de ombros se desculpando sem a mínima vontade.
— Então o que acharam? — Pergunto mudando de assunto.
— Amiga... está... ótimo. — Babi diz sorrindo apertado.
— Sim, amor... ótimo. — Kyle confirma e eu olho para Scott que olha como se
não acreditasse no que os outros falam.
— Vocês estão de sacanagem? Está horrível, Abby. Desculpe, mas é verdade.
— Ele se levanta rapidamente ao ver que Kyle iria lhe bater.
— Kyle, não! — O repreendo.
Olho para minha prima e namorado e eles sorriem sem graça. Jogo-me na
cadeira e bufo irritada.
— Não vou cozinhar quando nos casarmos. Esqueça, Kyle. Eu desisto. — Digo
olhando para esse bolo feioso.
— Sabe o que eu fiz? — Babi diz sorrindo e eu presto atenção nela. — Como eu
sabia que isso não daria certo, eu comprei um bolo lindo e de chocolate. — Ela se
levanta correndo e eu me pego sorrindo para minha prima.
— Vai dar certo, amor. Iremos entrar em um curso de culinária e iremos ser os
melhores cozinheiros que nossos filhos conhecerão. — Kyle aperta minha mão por
cima da mesa e eu sorrio balançando a cabeça.
— Eu espero, baby. — Beijo seus lábios e nos afastamos quando Bárbara volta
com o bolo que comprou.
Comemos sorrindo e gargalhando das piadas idiotas de Scott. Quando olho para
Kyle, o vejo me encarando com os olhos cheios de promessas.
Eu sorrio revirando os olhos e é dessa nossa interação que tiro a certeza de que
eu fiz a escolha certa.
No final, ele estava predestinado a mim.
E eu a ele.
FI M .
Bônus
Aaron e Jessie
Espero Jessie tirar Levi do carro e fecho a porta a seguindo até sua casa.
Na primeira vez que vim aqui, até me assustei com a precariedade do local, mas
agora que eu venho aqui mais vezes do que posso contar, me acostumei. Isso não quer
dizer que aceitei.
Tenho vontade de levá-los embora daqui. Só que eu não tenho para onde levá-
los e Jessie não iria querer.
Disso eu tenho certeza.
— Aaron, você quer algo? — Ela pergunta quando volta do quarto do pequeno.
— Não, obrigado. — Suspiro e sento-me no sofá velho de sua casa.
Ela engole em seco e se senta à minha frente na mesinha de centro. Ela está
nervosa, presumo depois de vê-la mexendo suas mãos juntas.
— O que aconteceu, Jess? — Pergunto preocupado.
— Você ainda ama Abby, Aaron? — Sua pergunta deixa-me surpreso. Engulo
em seco e olho em seus olhos.
— Por que, Jess? — Indago confuso.
— Eu vi o jeito que olhava para ela. Então só presumi. — Ela dá de ombros
como se isso não a importasse.
E saber que ela não se importa me deixa nervoso.
— Sim, Jessie, eu a amo. — Digo firme olhando em seus olhos claros. Eles se
expandem e algo se quebra neles. — Não era isso que queria ouvir? — Pergunto perto
do seu rosto.
— O quê?... Eu... lógico. Isso não me diz respeito, Aaron. — Ela balança a
cabeça e seus lábios carnudos formam um sorriso sem humor.
— Não? — Indago sério.
— Não. — Ela engole em seco e me encara firme. — Eu sinto muito por você,
já que ela ama o namorado. — Ela dá de ombros, novamente, só que dessa vez ela
fala como se gostasse do que me diz.
— Eu sei que ela o ama, Jess. Ela terminou comigo por isso. — Digo sério
enquanto ela foge seus olhos de mim.
— Ela me disse. — Ela me avisa mordendo seu lábio.
— Que bom. — Afirmo me erguendo.
— Você já está indo embora? — Sua voz sai triste e eu quero a abraçar.
Todas as vezes isso acontece. Sempre quando estou para ir embora ela fica
triste.
— Você quer que eu fique, Jessie? — E todas as vezes eu faço essa pergunta.
Ela sempre diz não.
— Sim, Aaron. Eu quero. — Sua voz sai firme e eu me aproximo de seu corpo
pequeno.
Sua respiração engata e seus seios sobem e descem na minha cara.
— O que você quer mais, Jess? — Pergunto raspando meus lábios nos seus.
— Aaron... — Seus olhos são fechados e eu logo tomo sua boca na minha.
Seus cabelos pretos estão em minhas mãos quando a seguro junto a mim. Seus
seios são esmagados pelo meu peito e sua língua acaricia a minha devagar me
deixando duro.
Deixo sua boca e levo meus lábios para seu pescoço e colo. Jessie se arqueia
me dando mais espaço para cuidar de sua pele.
Deus, ela é tão gostosa.
Volto para sua boca e a beijo como eu queria desde o dia na lanchonete. Levar
aquele café nas calças foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos dias.
Jessie pega minha blusa e a retira depressa. Subo sua camiseta fina e ela me
ajuda levantando seus braços. Quando ela está só de calcinha e sutiã, mordo meus
lábios tentando me conter. Porra!
— O que está pensando, Aaron? — Sua voz triste me traz para nosso momento
e, quando olho para seu rosto, vejo o quanto ela está confusa.
— No quanto você é linda, Jess. — Beijo sua boca e ela suspira aliviada. —
Você pensava que eu estava pensando em que, querida? — Indago me afastando.
— Nela. Na mulher que ama. — Sua voz se quebra e eu seguro sua cabeça a
mantendo no lugar para que seus olhos possam me olhar. Nada mais.
— Eu não a amo. Não do jeito que está pensando! — Afirmo descendo a alça do
seu sutiã. — Você me entendeu, Jess? — Chupo seu lábio inferior e ela treme em meus
braços.
— Sim. — sua voz sai fraca, mas eu escuto.
A levo para seu quarto e juntos nos deitamos. E pelo resto da tarde, eu venero
seu corpo. Eu amo cada pedaço dele, para depois ela quebrar cada pedaço do meu,
sem dó ou rancor.
Porque quando acordei só tinha a porra de um bilhete me agradecendo e dizendo
que teve que sair com Levi.
Ela, porra, fugiu.
Agora, sentado ao lado dela duas semanas depois, pergunto-me o que eu fiz para
ela ter feito aquilo. Ela me usou e depois chutou. Como se eu fosse a porra de um saco
de lixo.
— Então está tudo certo. Ele pode começar hoje mesmo se preferirem. — A
oncologista fala sorrindo para nós dois.
Estamos na cidade de Kyle, no hospital da família dele e de Abby, para
começarmos o tratamento de Levi. Kyle falou com seu pai e ele disse que, mesmo se
não tivesse a ala gratuita, ajudaria da mesma forma.
Eu o admiro por isso.
Jessie resolveu que começariam hoje mesmo as seções do tratamento, então
Levi é levado por uma enfermeira para trocar de roupa.
Recosto-me na cadeira enquanto mexo em meu celular. Sinto Jessie me
observando, mas eu vou continuar a ignorá-la.
— Obrigada. Por tudo. — Sua voz calma preenche o espaço da sala e eu sorrio
irônico.
— Pensei que só agradecia por bilhetes. — Olho de relance para ela e vejo seu
rosto ficar vermelho.
Ótimo. No seu lugar, eu também estaria envergonhada.
— Me desculpe. — Ela pede baixinho.
— Por quê? Por me usar para ter o que queria ou por fugir de mim depois de
conseguir? — Questiono olhando seriamente para ela.
— Não fale assim, Aaron. — Ela implora limpando as lágrimas que estavam
acumuladas em seus olhos. — Eu só não quis ver você ir embora. Só isso. — Seus
olhos me encaram tristes.
— Quem foi que te disse que eu iria? — Pergunto sério.
— Lógico que iria, Aaron. — Ela fala irritada.
— Você está falando da sua casa ou da sua vida, Jessie? Por que se for da sua
vida, eu não iria. Por que eu não quero ir. — Seus olhos se arregalam, surpresos. — E
eu não iria. É por isso que eu estou aqui ainda, depois da sua palhaçada. — Digo
firme e, quando vejo que vai ficar calada, volto minha atenção para meu celular.
— Você não me merece, Aaron. Você é lindo, rico, jovem. Eu não tenho nada.
Eu só tenho um filho que não é seu. Eu só tenho dinheiro suficiente para comer. Eu
nunca vou te submeter a ficar com o peso que é a minha vida. — Ela fala tudo em um
único fôlego.
Sinto como se um caminhão tivesse passado por cima de mim. É assim que ela
se sente? Como um peso que eu não tenho coragem e nem força para levar?
Levanto-me mordendo meu lábio fortemente e a arrasto comigo pelo braço.
Abro uma porta no corredor e quando sei que é o almoxarifado a impresso na parede
deixando meu peito colado ao dela.
— Você se perguntou se eu quero isso? Se eu quero estar ao lado de você
mesmo assim? — Questiono deixando meus lábios perto dos seus.
— Não. — Sua resposta é curta.
— Então... — Engulo em seco, nervoso. — Eu quero, Jess. Eu quero ficar com
você e Levi. Eu não me importo se você é pobre ou se aquela criança não é minha. Eu
só quero estar ao seu lado. — Suspiro sentindo seu cheiro me invadir. — Agora a
pergunta é: você quer estar ao meu, Jessie? Me diga a verdade. — Peço, quero dizer,
eu imploro.
Porque essa mulher está fodendo meu juízo. Eu penso nela 24 horas por dia.
Nesses momentos, eu me parava e perguntava se não era para meus pensamentos
estarem em Abby. Na minha ex que eu amava.
Mas não.
Era nessa diaba que eu pensava.
— Sim. Eu quero, mas... — Calo-a beijando seus lábios.
— Sem, mas, Jessie. Nós estamos juntos e aquele garoto lá dentro é nosso. É
nosso filho. Estamos bem, querida? — Mesmo no escuro, procuro seus olhos.
— Sim. Estamos bem. — Ela suspira e ri feliz antes de beijar a merda fora de
mim.
É isso ai!
Essa é a minha garota.
O meu para sempre.
Epílogo
Predestinados