Suicídio E Saúde Mental: Estratégias de Prevenção No Ambiente Universitário

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SUICÍDIO E SAÚDE MENTAL:


ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO NO
AMBIENTE UNIVERSITÁRIO

Luana de Castro Teixeira Bueno


Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

' 10.37885/240215732
RESUMO

Entre os brasileiros, a ocorrência de depressão e ansiedade vem aumentando:


só em 2020, os casos subiram cerca de 25%, segundo a Organização Mundial
da Saúde (OMS), e essas taxas só aumentaram no decorrer da pandemia do
Covid-19, acarretando, por consequência em comportamentos e ideações
suicidas e na ocorrência de suicídios entre os jovens universitários. Baseado
nisso, o presente trabalho trata-se de um relato de experiência sobre o projeto
de extensão Promoção da Resiliência e Prevenção ao Suicídio (PRPS) da UFPE,
composto por estudantes e profissionais de Psicologia, o qual foi criado com o
intuito de promover ações de intervenção na instituição com o intuito de des-
mistificar os tabus e estigmas que circulam acerca da pessoa com ideação e/
ou comportamento suicida e conscientizar a população. Busca-se compreender
a importância de programas institucionais que trabalhem com as aspectos da
saúde mental como possíveis estratégias de prevenção ao suicídio da comuni-
dade interna e externa da UFPE. Assim, conclui-se que é imprescindível haver
o desenvolvimento e fortalecimento de projetos sociais e institucionais, além
da ampliação de possíveis parcerias com os municípios a fim de que haja a
sensibilização e conscientização, através das rodas de conversa e acolhimentos,
sobre estratégias de prevenção aos pensamentos e comportamentos suicidas.

Palavras-chave: Saúde Mental, Universidade, Suicídio.

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INTRODUÇÃO

Entre os brasileiros, a ocorrência de depressão e ansiedade vem aumen-


tando: só em 2020, os casos subiram cerca de 25%, segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), e essas taxas só aumentaram no decorrer da pandemia
do Covid-19, acarretando, por consequência em comportamentos e ideações
suicidas e na ocorrência de suicídios entre os jovens universitários. É notório
que o suicídio continua sendo uma das principais causas de morte em todo o
mundo de acordo com o relatório Suicide Worldwide in 2019, da OMS, publicado
em junho de 2021 (WHO, 2021).
Outro estudo que apontou o supracitado foi feito por pesquisadores
da Escola de Medicina de Harvard (EUA) e do Cidacs/Fiocruz Bahia (Centro
de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fundação Oswaldo
Cruz), que apontaram que o Brasil teve mais de 147 mil suicídios entre 2011 e
2022, sendo nítido o aumento de casos entre jovens, sobretudo, de notifica-
ções de automutilação e hospitalizações enquanto as taxas de suicídio foram
maiores entre idosos e adultos, ainda que haja o contínuo e alarmante aumento
entre o público de 10 a 24 anos em condições de extremo sofrimento mental
(Alves et al., 2024).
Isso ocorre principalmente nos territórios de maior vulnerabilidade
socioeconômica por serem mal equipados e não terem financiamento suficiente
para atender às necessidades de saúde geral e saúde mental de suas popula-
ções, cujos dispositivos que oferecem serviços de atendimento permanecem
superlotados. Na pandemia, por exemplo, alguns preditores se intensificaram,
tais como: a presença de transtorno psiquiátrico associado, uso de álcool,
desemprego, isolamento social, violência doméstica, doenças neurológicas,
notícias negativas, transtornos de sono, restrição ao acesso de serviços de
saúde, dentre outros. Dessa forma, foi-se esperado um aumento proporcional
no comportamento suicida durante esse cenário e futuramente a partir dele
(Nascimento;Maia, 2021).
Baseado nisso, o presente trabalho trata-se de um relato de experiência da
participante do Programa de Promoção da Resiliência e Prevenção ao Suicídio
(PRPS) na UFPE, composto por estudantentes e profissionais de Psicologia, o
qual foi criado com o intuito de promover ações de intervenção na instituição

ISBN 978-65-5360-569-5 - Vol. 3- Ano 2024 - www.editoracientifica.com.br


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com o intuito de desmistificar os tabus e estigmas que circulam acerca da pessoa
com ideação e/ou comportamento suicida e conscientizar a população. Dessa
maneira, busca-se compreender a importância de programas institucionais
que trabalham com aspectos da saúde mental como possíveis estratégias de
prevenção ao suicídio da comunidade interna e externa da UFPE.
Diante disso, é válido destacar o papel do Setembro Amarelo, sendo o
mês no qual mais comumente se aborda sobre os campos de saúde mental e
autocuidado, como também se dedica à prevenção do suicídio. Trata-se de uma
campanha, que teve início no Brasil em 2015, e que visa conscientizar as pessoas
sobre o suicídio, bem como estratégias de prevenção de seu acontecimento.
Inicialmente, o Setembro Amarelo começou nos EUA, quando o jovem
Mike Emme, de 17 anos, cometeu suicídio, em 1994. Mike era um rapaz muito
habilidoso e restaurou um automóvel Mustang 68, pintando-o de amarelo. Por
conta disso, ficou conhecido como “Mustang Mike”. Seus pais e amigos não
perceberam que o jovem tinha sérios problemas psicológicos e não consegui-
ram evitar sua morte. No dia do velório, foi feita uma cesta com muitos cartões
decorados com fitas amarelas. Dentro deles tinha a mensagem “Se você pre-
cisar, peça ajuda.”. A iniciativa foi o estopim para um movimento importante de
prevenção ao suicídio, pois os cartões chegaram realmente às mãos de pessoas
que precisavam de apoio.
Em paralelo a isso, atualmente, um dos projetos de maior impacto a nível
nacional é o Centro de Valorização à Vida (CVV), que fornece apoio emocional e
prevenção do suicídio. Através de telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias
da semana, eles atendem de forma voluntária e gratuita todos que precisam
conversar. O serviço é totalmente sigiloso. Todavia, diante da massiva busca
de ajuda psicológica, é necessário reconhecer que ações pontuais, sejam elas
promovidas pelos pontos de atenção da Rede de Atenção Psicossocial, por
instituições filantrópicas e/ou empresas sem fins lucrativos, não tem sido o sufi-
ciente para abarcar as necessidades e demandas populacionais emergenciais.
Dessa maneira, faz-se imprescindível que projetos de extensão univer-
sitários, como o Programa de Promoção à Resiliência e Prevenção ao Suicídio,
articulem-se com outros centros acadêmicos de modo a ampliar os esforços a fim
de prevenir, minimizar danos físicos e psicoemocionais assim como possibilitar e

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orientar, na medida do possível, as pessoas em sua busca por melhor qualidade
de vida considerando suas particularidades e realidades.

DETALHAMENTO DA EXPERIÊNCIA

O projeto de Promoção da Resiliência e Prevenção ao Suicídio (PRPS)


foi elaborado visando operacionalizar em sistema de ação continuada, tendo
como objetivo sensibilizar acerca da questão do suicídio, não só a comunidade
acadêmica da UFPE-Recife, mas também escolas, ONGs vizinhas à universidade
e a comunidade em geral. Uma de suas atividades é o acolhimento, cuja finali-
dade é promover uma escuta compreensiva baseada na Abordagem Centrada
na Pessoa (ACP) para quem precisa ser acolhido com garantia de sigilo.
Entende-se que estes princípios podem ser um recurso na abordagem de
pessoas em risco de suicídio, na medida em que: 1) Trabalha com a perspectiva
do sujeito construída a partir de suas narrativas de experiência de adoecimento
e 2) Compreende a pessoa dentro de seu contexto físico, individual, familiar e
comunitário auxiliando na compreensão e construção de estratégias de enfren-
tamento na crise.
Ademais, devido à pandemia de COVID-19, desde março de 2020, o
projeto precisou mudar o seu formato de atendimento presencial para remoto,
passando a adotar as duas modalidades (presencial e online) com o retorno
das atividades acadêmicas. Os atendimentos são feitos através da plataforma
de vídeo chamadas Google Meet e do aplicativo de comunicação por celular
Whatsapp, no qual as pessoas assistidas fazem o registro prévio virtualmente,
com dados pessoais, escolha de dias/horários e plataforma preferida.
No entanto, ressalta-se que a implementação dessas mudanças foi um
desafio para os psicólogos e estudantes vinculados ao programa, que se agru-
pam em duplas para realizar os serviços de acolhimento e que precisaram se
adaptar a essa nova modalidade de realização de escuta empática. Portanto,
desde então, foi possível haver espaços de diálogo, como nos momentos de
supervisão, a fim de se abordar as mudanças exigidas pela pandemia, as novas
demandas que surgiram nos serviços e os impactos que essas mudanças gera-
ram nos participantes do projeto.

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Nesse sentido, atualmente, são realizadas semanalmente através do
preenchimento de um formulário online, acolhimentos individuais no modelo
remoto e presencial de modo que haja uma escuta empática, embasada na
Abordagem Centrada na Pessoa, das demandas e sofrimento verbalizados pelo
sujeito acolhido, o qual, a depender da gravidade, é indicado uma psicoterapia
ou consulta com um psiquiatra no Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) e, se
não for possível, no CAPs mais próximo de sua localização.
Essa realidade só reforça que, ao compreender o ato suicida como fenô-
meno polissêmico e multifatorial, é imprescindível haver o desenvolvimento e
fortalecimento de projetos sociais e institucionais, além da ampliação de pos-
síveis parcerias com os municípios a fim de que se alcançar e conscientizar,
através das rodas de conversa e acolhimentos, sobre estratégias de prevenção
aos pensamentos e comportamentos suicidas.

DISCUSSÃO

PROMOÇÃO DA RESILIÊNCIA E PREVENÇÃO AO SUICÍDIO

No PRPS, como já dito anteriormente, os acolhimentos realizados se


pautam na Abordagem Centrada na Pessoa sob perspectiva rogeriana, vali-
dando o sofrimento psíquico através da compreensão empática e explorando
a tendência atualizante do acolhido. Isso significa que ao se compreender
empaticamente o outro, torna-se possível ter acesso a seu campo referencial,
ou seja, sua história de vida, seus medos, angústias, o que a mobiliza enquanto
sujeito que, no momento, tem se encontrado em sofrimento. Acessar o campo
de referência do sujeito, sem perder o próprio enquanto indivíduo também,
é a chave para uma relação de ajuda eficaz, visto que a partir do referencial
do outro se tem os meios necessários para que possa compreendê-lo e este,
consequentemente, compreender-se.
Além disso, o projeto funciona com até dois retornos, mas, alinhado com
a própria proposta de um acolhimento psicológico, não se propõe substituir o
processo psicoterapêutico, em especial por identificar o viés menos interventivo
e mais emergencial que assume.

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Fazendo referência à modalidade de atendimento mencionada acima, é
comum associar, quando se escuta o termo “acolhimento”, enquanto profissional
de saúde, no que concerne à dimensão relacional do ato ou efeito de acolher.
Isso porque sendo uma diretriz da Política Nacional de Humanização (PNH),
este refere-se o Acolhimento como “[...] uma ação de aproximação, um ‘estar
com’ e um ‘estar perto de’, ou seja, uma atitude de inclusão. Essa atitude implica,
por sua vez, estar em relação com algo ou alguém” (Brasil, 2010).
Essa definição, constitutiva da política de saúde vigente, valoriza a
dimensão inter-relacional da produção do cuidado em saúde. Posto dessa
maneira, o posicionamento do Ministério da Saúde deixa claro que o conceito
de Acolhimento não se limita à recepção da demanda pelo sistema de saúde,
sendo também uma prática que constitui o próprio processo de produção de
saúde e que deve ser empregada em todo e qualquer encontro que se dá entre
um profissional de saúde e um usuário da rede (Brasil, 2009).
Já considerando o acolhimento uma modalidade terapêutica, é possível
que não fique explícita sua diferenciação diante das demais — tais como o
plantão psicológico e a própria psicoterapia. Tal confusão, por sua vez, provém
em grande medida da própria dificuldade teórico-metodológica de delinear com
exatidão o que cabe a cada uma delas. Ainda sim, é válido pontuar, a partir de
um maior aprofundamento, a importância das clínicas e serviços presentes
no ambiente universitário por levantar o acolhimento enquanto mobilização
ética-política de disponibilizar atividades acessíveis à comunidade dentro e
fora da universidade.
De início, ao abordar as características do plantão psicológico no intuito
de diferenciá-lo de um acolhimento, tem-se o plantão como uma nova modali-
dade de atendimento clínico reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia.
Ele se difere dos modelos tradicionais de psicoterapia devido ao seu caráter
focal em emergências e urgências psíquicas, fato que não necessariamente
está presente no acolhimento. Assim, distancia-se dos modelos psicoterápicos
por pretender oferecer, a quem a ele recorre, atenção psicológica em forma de
Pronto Atendimento.
Este, por sua vez, consiste num espaço de escuta, acolhimento e inter-
venção clínica perante situações de crise, o que torna um fator que mobiliza
e agiliza o tempo de reação e adesão à ajuda psicoterápica. Essa realidade

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ficou ainda mais em evidência durante o contexto pandêmico da COVID-19,
marcado por extremo sofrimento e fragilidade emocional e psicológica. Outro
ponto importante é que o Plantão surgiu para atender à grande demanda de
sofrimento, advinda da atual situação econômica, social, política e cultural em
que se encontra a população brasileira, a qual, muitas vezes, não tem recursos
ou acesso a atendimento nos consultórios particulares (Furigo, 2008).
Enquanto isso, a psicoterapia tem por base um processo de compreen-
são, análise e intervenção. Esse processo se estrutura a partir da aplicação
sistematizada e controlada de métodos e técnicas psicológicas reconhecidos
pela ciência, pela prática e pela ética profissional. Com isso, busca-se promover
a saúde mental e propiciar condições para o enfrentamento de conflitos e/ou
transtornos psíquicos de indivíduos, ou grupos (Resolução Conselho Federal
de Psicologia nº 10/2000).
Assim, a partir dos acolhimentos e da escuta empática pode haver a
indicação de psicoterapia e, assim, a pessoa acolhida pode ser encaminhada
para a rede psicossocial ou outras instituições que forneçam esse tipo de
atendimento. O delineamento do(s) encaminhamento(s) a ser(em) sugerido(s)
é definido essencialmente de acordo com as particularidades subjetivas do
indivíduo em questão, e não somente a partir das queixas iniciais apresentadas
(Peres; Santos; Coelho, 2003).
Diante disso, independente da modalidade de atendimento, acolher
refere-se, nesse caso, a uma peculiar atenção para a experiência do cliente no
momento em que procura ajuda. Essa atenção, por sua vez, não inclui apenas
o que convencionalmente se entende por queixa, mas o modo como o cliente
a vivencia, os recursos subjetivos e do entorno sociopsicológico de que dispõe
para cuidar de seu sofrimento, bem como as expectativas e perspectivas que
se apresentam a partir da busca de auxílio (Schmidt, 2004). Ademais, indepen-
dentemente do desdobramentos do atendimento – tais como início de uma
psicoterapia, retornos, encaminhamentos –, há sempre o imperativo de cotejar
aquilo que o cliente compreende como sendo a sua necessidade no momento e
aquilo que o serviço em questão pode, adequadamente, oferecer (Schmidt, 2004).
Nesse sentido, tem-se no acolhimento um espaço de parada e reali-
nhamento diante da crise vivenciada, no qual oportuniza-se ao acolhido a

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contemplação, nomeação e enfrentamento do caos que permeia sua experiência
subjetiva naquele instante.
Ademais, ainda que não se tenha o objetivo de suprir o espaço de uma
psicoterapia nesses casos, no decorrer dos atendimentos, são dados feedbacks
pelos acolhidos que asseguram de que o próprio momento de escuta e a pos-
sibilidade de dar vazão ao sofrimento agudo que motiva sua busca tem por si
só efeito terapêutico. Esse retorno, por sua vez, geralmente se presentifica no
discurso na descrição de um sentimento de “alívio” ou “leveza” pós-atendimento,
o que corrobora com a premissa da promoção de um momento de acalento e
vinculação com o outro.

SAÚDE MENTAL NA UNIVERSIDADE

Além do que foi abordado, é necessário ressaltar que essa realidade se


torna ainda mais alarmante no contexto acadêmico, sobretudo se tratando do
jovem recém-chegado à universidade, por vezes, dispõe de poucos recursos
para lidar com as mudanças de vida proporcionadas pelo ingresso na academia
e pode ver no suicídio uma alternativa para cessar as dificuldades.
Tratando-se especificamente do ambiente universitário, os fatores de
risco mais apontados ao comportamento suicida são dificuldades relacionadas
à formação acadêmica, o desenvolvimento de transtornos mentais e o consumo
de drogas (Pereira; Cardoso, 2015). Um levantamento desenvolvido com gra-
duandos de diversas instituições federais brasileiras detectou que dificuldades
como a presença de sintomas ansiogênicos, adaptação a novas situações, difi-
culdade de aprendizado, timidez excessiva, medo/pânico, desânimo, sentimento
de solidão, ideia de morte, ideação suicida, entre outros, podem ter interferido
na vida acadêmica desses alunos (Associação Nacional dos Dirigentes das
Instituições Federais de Ensino Superior - ANDIFES, 2016).
Ademais, alguns dos fatores de risco presentes na literatura listados são:
ser do sexo masculino, presença de transtornos mentais, doenças crônicas/
autoimunes, histórico de suicídio na família, realização de tentativas prévias,
histórico de abuso/violência (sexual, psicológica, física), vulnerabilidade socioe-
conômica, fácil acesso a meios letais (World Health Organization, 2014).

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Já os fatores de proteção são aqueles que minimizam a probabilidade
de ocorrer o suicídio. O suporte social, práticas religiosas, acesso reduzido a
meios letais, estrutura familiar saudável, satisfação com a vida, autoestima e
estilo cognitivo são alguns dos elementos que propiciam melhores formas de
ajustamento frente às adversidades da vida (Centers for Disease Control and
Prevention - CDC, 2017).
Tendo isso em vista, sabe-se que existe uma Política Nacional de Pre-
venção da Automutilação e do Suicídio, sancionada em 26 de abril de 2019, que
estabelece em seu Art. 3º a promoção da saúde mental, a prevenção da auto-
lesão, à garantia de acesso à atenção psicossocial das pessoas em sofrimento
e a articulação intersetorial para a prevenção do suicídio, utilizando-se dos
campos da saúde, educação, comunicação, entre outras garantias (Brasil, 2019).
Todavia, ressalta-se que os comportamentos suicidas são influenciados
pela interação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociais, ambientais
e situacionais. Considerando isso, são inúmeros os desafios a serem enfrentados
em decorrência do preconceito, da falta de informações corretas e da ausência
de medidas governamentais adequadas ao contexto vivido, os quais podem
fortalecer emoções como vergonha, medo e culpa de pessoas que estão em
situação de extrema fragilidade psicológica, e ainda mais se não tiverem rede
de apoio familiar e/ou comunitária.
É comum que uma pessoa em sofrimento busque ajuda profissional
quando ela já tem o entendimento de que possui ideações suicidas recorrentes,
ou seja, imagina a sua própria morte (Stene-Larsen et al., 2019). Porém, por
mais que a pessoa tenha clareza quanto a gravidade da situação, falar sobre o
assunto pode ser um processo muito difícil, que requer capacidade de abertura
e envolve confrontar muitos estigmas (Apter et al., 2001).
Sendo assim, o teor do trabalho com pessoas em elevado risco de suicídio
requer do profissional e da própria comunidade, dentro e fora das universida-
des, a capacidade de reconhecer integralmente a experiência de sofrimento e
a intenção genuína de suicídio, sem menosprezá-la, validando os sentimentos
e o direito de escolha desta pessoa que procura por ajuda (Jobes, 2006).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse sentido, fica claro que esses debates e questões institucionais


devem ser levantadas e exploradas para além do Setembro Amarelo, tendo
como algumas ações importantes no decorrer do ano a não corroboração do
silenciamento das pessoas enlutadas que vivenciam sua experiência de maneira
tão singular e silenciosa, sobretudo, em razão dos tabus e estigmas impostos
socialmente. Ademais, enquanto profissionais da saúde, é urgente o investimento
na educação continuada e permanente em estudos sobre a morte e o morrer,
o luto e suas possíveis intervenções.

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