Admin, Art 176 BJD
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RESUMO
O suicídio é apontado como a segunda causa de morte entre os universitários. Dentre estes existe o
consenso ao estabelecer a faixa etária de 18 a 21 anos como período de vulnerabilidade a eventos
estressores, devido à dificuldade de enfrentamento da transição para a vida adulta e à extenuante vida
universitária. Objetiva-se abordar possíveis fatores de risco (sexo masculino; jovens de 18 a 21 anos;
eventos estressores da vida universitária) para ideação suicida entre universitários do 1º período.
Trata-se de um estudo transversal e quantitativo, realizado em uma instituição de ensino superior. Os
instrumentos de coleta de dados utilizados foram os questionários de Ideação Suicida e
Sociodemográfico, aplicados entre universitários dos cursos de medicina, direito noturno e
engenharia civil noturno que cursam o 1º período. Foram evidenciados os seguintes fatores de risco:
maior potencial risco de suicídio no sexo feminino; os participantes das faixas etárias de 18 e 21 anos
pela análise percentual. Além disso, o curso de direito noturno apresentou 47% dos seus participantes
ABCTRACT
Suicide is mentioned as the second cause of death among college students. Among these there is
consensus in establishing the age group of 18 to 21 years as a period of vulnerability to stressful
events, due to the difficulty with the transition to adulthood and the strenuous university life. It aims
to approach possible risk factors (male gender; 18 to 21 year olds; stressful life events) for suicidal
ideation among college students of the 1st period. This is a cross-sectional and quantitative study,
conducted in a higher education institution. The data collection instruments used were the Suicide
Ideation and Sociodemographic questionnaires, applied among students of medical, night law and
night civil engineering courses in the 1st period. The following risk factors were achieved: higher
potential risk of suicide in females; participants from 18 to 21 years old by the percentage evaluation.
In addition, the night law course presented 47% of its participants with high suicidal potential (QIS
score ≥ 41). Moreover, it was found that the conflicting family relationship, absence from colleagues
from the academic environment and cyberbullying were factors of statistical significance, and the
other factors evaluated had percentage relevance. It is concluded that there is a need for support to
university students recently approved by planned prevention and protection actions in order to prevent
and minimize the incidence of suicidal ideation among them.
1 INTRODUÇÃO
O comportamento suicida compreende uma gama de pensamentos e atos destinados a colocar
um fim à própria vida, tais como ideação, planejamento e tentativas de suicídio. Tang, Xue e Qin
(2015) definem a ideação como pensamentos destinados a acabar com a vida, enquanto que o
planejamento é definido como a formulação de um método específico através do qual se pretende
morrer. A tentativa suicida é entendida como a interação entre a ideação e o planejamento, na qual
resulte alguma ação auto-infligida com pelo menos alguma intenção de morrer.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2006), a identificação da ideação suicida
não pode ser baseada somente na comunicação verbal, uma vez que, com a ausência de referências
como expressões corporais e contextos sociais, há chances de que o indivíduo mascare a intenção
suicida por meio da negação. Apesar de que este seja um cenário minoritário, já que na maioria dos
casos os indivíduos comunicam suas ideais iniciais de morte previamente, faz-se necessário a
preparação social para que identifiquem indivíduos de risco e, assim, recebam o auxílio de que
precisam. Essa preparação social aborda a possibilidade de deter o ato suicida tanto na sua etapa
2 MATERIAL E MÉTODOS
Esta pesquisa foi delineada como um estudo transversal e quantitativo, realizado em uma
instituição de ensino superior - UniEVANGÉLICA-, Goiás, Brasil.
A amostra foi composta por 201 universitários de uma instituição de ensino superior -
UniEVANGÉLICA- dos cursos de direito noturno, engenharia civil noturno e medicina, referentes
ao 1º período; as variáveis analisadas foram idade, sexo, enfermidades prévias, relação familiar,
morar sozinho, relação interpessoais, uso de substâncias lícitas e ilícitas e uso de rede social.
Foram selecionados como critérios de inclusão: universitários da UniEVANGÉLICA dos
cursos de direito noturno, engenharia civil noturno e medicina referentes aos 1º período, sendo o
critério de seleção dos cursos a maior relação concorrência/vaga entre cada área da ciência (Exatas,
Humanas e Biológicas). Aqueles não enquadrados nesses grupos foram contabilizados como critérios
de exclusão, além dos que não consentiram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), os que se recusaram a participar da pesquisa por desistência, mesmo após assinar este termo,
além de preenchimento incompleto dos questionários aplicados. Ademais, menores de idade também
se constituíram como critério de exclusão da pesquisa, com o objetivo de não exposição desnecessária
aos riscos do presente estudo.
O Questionário de Ideação Suicida (QIS, versão portuguesa por Ferreira & Castela, 1999; SIQ
- Suicidal Ideation Questionnaire, Reynolds, 1988; modificado) trata-se de um questionário fechado,
direto e não assistido. É um instrumento de auto-resposta desenvolvido por Reynolds, que permite
identificar a gravidade dos pensamentos suicidas em adolescentes e adultos. Constituído por 30 itens,
variando as respostas de 1 (o pensamento nunca ocorreu) até 7 (o pensamento ocorreu sempre),
podendo o resultado variar entre 0 e 180. Ferreira e Castela (1999) encontraram um alfa de Cronbach
elevado (0,96), ligeiramente superior ao coeficiente referido pelo autor original. Segundo Reynolds
(1988), uma pontuação ≥ 41 pode ser indicativo de psicopatologia e de potencial risco de suicídio.
O Questionário Sociodemográfico trata-se de um instrumento fechado, direto e não assistido,
desenvolvido pelos pesquisadores deste estudo, a partir dos fatores de riscos à ideação suicida,
encontrados em revisão de literatura previamente realizada (VÊNCIO et al, 2017). É direcionado aos
universitários e estruturado para uma análise quantitativa dos valores pontuados. Nesse aspecto foram
abordados os seguintes parâmetros: idade, sexo, período cursado, diagnóstico prévio de alguma
doença (depressão, ansiedade, transtorno bipolar e/ou dependência química). Dentre outros
questionamentos realizados, têm-se: Pergunta 1 – “A relação com sua família é conflituosa?”;
Pergunta 2 – “Precisou se deslocar da sua cidade natal ou cidade da sua família para cursar a
faculdade?”; Pergunta 3 – “Você mora sozinho?”; Pergunta 4 – “Se sente afastado dos colegas do
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram aplicados 201 questionários nos primeiros períodos dos cursos de medicina, direito
noturno e engenharia civil noturno e, destes, 48 foram excluídos devido às seguintes circunstâncias:
participantes menores de 18 anos e preenchimento incompleto.
Os dados foram expressos como frequência e porcentagem. Para verificar a associação entre
as variáveis categóricas (dados sociodemográficos e fatores de risco) com o escore do QIS foi
utilizado o teste de qui-quadrado de Pearson ou a correção de Likelihood.
Tabela 1. Associação entre a pontuação do QIS e as variáveis curso, faixa etária, sexo e presença de diagnóstico
psicológico ou psiquiátrico prévios.
Sexo
Faixa etária
Curso
Diagnóstico prévio
a
Qui-Quadrado de Pearson; bRazão de Verossimilhança.
O resultado de maior prevalência feminina reafirma o exposto por Zarroug et al (2015) e Tang,
Xue e Qin (2015) de que a ideação e a tentativa suicida não fatais (parassuicídio) são mais comuns
no sexo feminino. Isso explica-se por cada gênero possuir especificidades sociais como, no caso das
mulheres, baixo status social, falta de poder econômico e pessoal, maior exposição a eventos
estressantes e de habilidades de enfrentamento deficiente. Relacionado à consequente menor
prevalência masculina, este dado confirma a justificativa referida pelos autores Pereira (2013) e
Medeiros, Bittencourt (2017, apud Carvalho et al, 2015), de que o homem possui uma posição mais
otimista em relação ao futuro e ao presente, exibindo menor índice de ideação suicida.
Em relação à faixa etária não se obteve significância necessária para afirmar neste estudo a
associação entre o escore e o fator sociodemográfico. Contudo, vale ressaltar que percentualmente
80,3% dos universitários com potencial risco de suicídio apresentaram-se dentro da faixa etária entre
18 e 21 anos, o que corrobora com o resultado expresso pelos autores Tang, Xue e Qin (2015); Blasco
et al (2017); Vizzotto, Jesus e Martins (2017). Estes entram em consenso ao estabelecer a faixa etária
de 18 a 21 anos como período de vulnerabilidade a eventos estressores, devido à dificuldade de
enfrentamento da transição para a vida adulta e à extenuante vida universitária.
Mediante ao exposto na tabela 1, em termos percentuais o curso que apresentou maior
indicativo de psicopatologia e potencial risco de suicídio (Escore ≥ 41) foi o curso de direito noturno
(47%), seguido por medicina (43,9%) e engenharia civil noturno (9,1%), respectivamente. Apesar da
segunda colocação do curso de medicina, neste trabalho, o percentual considerável de 43,9%
confirma a relevância dos cursos da área da saúde para a ideação suicida. Nos artigos de Pereira
(2013) e Lima (2013), a relevância foi tamanha que afirmaram serem os alunos que frequentam os
cursos da área da saúde os mais propensos a apresentarem ansiedade, estresse, depressão e dor
psicológica, possuindo por consequência maior risco de suicídio. E, apesar destes artigos não
destacarem o curso de direito, o presente trabalho identificou percentual significativo dos
universitários com escore ≥ 41 neste curso.
No que diz respeito aos antecedentes patológicos foi demonstrado que a maioria dos
participantes, tanto os que obtiveram escore ≥ 41 (74,2%), quanto aqueles com escore < 41 (89,8%),
2 Deslocamento da cidade
natal
3 Morar sozinho
5 Considera-se tímido,
introvertido ou não-
independente
8 Cyberbullying
9 Desempenho acadêmico
prejudicado em casos de
cyberbullying
a
Qui-Quadrado de Pearson; bRazão de Verossimilhança.
O resultado encontrado nesta pergunta não foi condizente com os estudos de Franco et al
(2017), o qual associa fatores familiares e ideação suicida em intercorrências como: rupturas
familiares, mudanças nas atividades econômicas e profissionais dos pais, mudança de endereço,
problemas como autoritarismo e falta de autoridade ou ausência de imagem paterna ou materna.
Acerca da necessidade de deslocar-se de sua cidade natal ou da cidade de sua família
(Pergunta 2), demonstrou-se associação positiva com o potencial risco de suicídio. Isso decorre do
fato de que a maioria participantes com escore ≥ 41 (56,1%) apresentaram resposta afirmativa neste
item, enquanto a maioria dos participantes com escore < 41 (60,2%) obtiveram assertivas negativas.
Estes dados reafirmam o trabalho de Vizzotto, Jesus e Martins (2017) no qual foi observado que os
universitários que não saíram da casa da família faziam uma melhor gestão do seu tempo, dormiam
melhor, praticavam mais exercícios físicos, tinham menores níveis de ansiedade e relações sociais
mais satisfatórias, culminando com menor risco para ideação suicida.
A condição de morar sozinho (Pergunta 3) não obteve significância para o estabelecimento da
associação com risco de suicídio. Entretanto, percentualmente, 78,8% daqueles indivíduos com risco
potencial para o suicídio alegaram não residir sozinhos, o que contradiz o demonstrado por Raposo
et al (2016) que encontrou maior incidência de ideação suicida entre indivíduos que vivem sozinhos.
Quanto às relações interpessoais, as perguntas 4 e 5 referem-se respectivamente às interações
no meio acadêmico e às características individuais dos participantes. Conforme elucidado na tabela
2, observou-se que não se obteve associação entre o risco suicida e a interação com os colegas do
meio acadêmico, visto que a maioria dos indivíduos com escore ≥ 41 não se sentiam afastados de
seus colegas de classe. No que tange às características individuais referentes à personalidade dos
participantes, tanto pessoas tímidas, com baixa autoestima, tristes, isoladas e sem habilidades sociais,
quanto sujeitos sociáveis, com boas relações interpessoais e até mesmo líderes, tiveram a mesma
incidência para o potencial risco para suicídio, o que é confirmado pelos estudos de Franco et al
(2017).
A respeito ao uso de drogas lícitas e ilícitas pelos universitários (Pergunta 6), entre os
participantes da pesquisa que apresentaram potencial risco de suicídio, apenas 24,2% faziam uso
destas substâncias. O resultado obtido nesta amostra não demonstra associação com as referências de
Arria et al (2010), Lima (2013) e Zarroug et al (2015) que afirmam a existência de relação entre a
4 CONCLUSÃO
Frente aos dados coletados e analisados, os fatores de risco para ideação suicida obtidos com
significância estatística, foram: curso direito noturno e relação familiar conflituosa, com correlação
positiva; e afastamento dos colegas do meio acadêmico e cyberbullying, com correlação negativa.
Além disso, dentre os parâmetros de ideação suicida encontrados no estudo, citam-se os sem
significância estatística: sexo feminino; faixa etária entre 18 a 21 anos; deslocamento da cidade natal;
recorrência à internet quando sozinho; diagnóstico prévio de doenças psiquiátricas; morar sozinho;
considerar-se tímido, introvertido ou não-independente; prejuízo do desempenho acadêmico
decorrente do cyberbullying; incentivo ao suicídio por meio de mídias e tentativa prévia de suicídio.
Diante do exposto, os resultados diretos deste estudo afirmam que a maioria dos universitários
com risco para ideação suicida (QIS ≥ 41) cursam direito noturno e possuem relação familiar
conflituosa. Entretanto, outro resultado deste estudo, evidenciou que o afastamento dos colegas do
meio acadêmico e o cyberbullying, apesar de estatisticamente significativos, não se mostraram como
fatores influenciadores para a ideação suicida.
A partir destas considerações, confirma-se a necessidade de suporte aos universitários recém-
aprovados. Além disso, sugere-se o trabalho mútuo entre núcleos de apoio psicopedagógicos e
sistemas de levantamento de fatores de risco para ideação suicida dentro de cada instituição de ensino
superior. Isso traduz-se por ações de prevenção e proteção planejadas, tanto por parte dos gestores
das instituições de ensino superior, como das equipes de saúde que assistem os universitários dentro
e fora das instituições de ensino, a fim de prevenir e minimizar a incidência de ideação suicida entre
universitários.
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