Outratravessia35 177 196
Outratravessia35 177 196
Outratravessia35 177 196
d e l
e r
u r a
t r a
a v e
i a
Nós-outros: sobre o
sujeito do Manifesto
Antropófago
We-Others: On the Subject of the Anthropophagic Manifesto
Alexandre Nodari
UFSC / CNPq
https://doi.org/10.5007/2176-8552.2023.e93740
Abstract
Throughout the entire Anthropophagic Manifesto, a subject speaks obliquely. Be it either,
as Beatriz Azevedo points out, through the “implicit first-person plural in the text,” a “we”
that is sometimes inclusive, sometimes exclusive, or as a verbal complement or as a possessive
pronoun; in both cases, the speaker of the text almost never explicitly reveals themselves with
their whole body. However, what should be the most fundamental question about Oswald’s
manifesto, namely who is manifesting in it, has yet to receive proper attention from critics,
perhaps because the way in which the subject manifests makes it more difficult to answer the
question that the text never stops posing: “we, who?”
Keywords: Anthropophagic Manifesto; Oswald de Andrade; Anthropophagy.
18 Ibidem, p. 65.
19 BOPP, Raul. Vida e morte da antropofagia, 2008, p. 60.
20 Cf. NODARI, Alexandre & AMARAL, Maria Carolina de Almeida. “A questão (indígena)
do Manifesto Antropófago”. Direito e Práxis, 2018.
Comer com a boca o corpo dessa boca que fala que sua carne é a mesma
daquela que come: eis a Antropofagia. Nesse sentido, não poderíamos dizer,
seguindo Beatriz Azevedo, que quem fala no Manifesto, o “nós” do texto,
são os índios em nós, aqueles que devoramos pelo processo colonizador; que
quem nele se manifesta para nós são os índios em nós, os outros em nós, nós-
outros? E não poderíamos afirmar também que, como “vacina antropofágica”
contra nós-mesmos, o que eles nos oferecem, pelo “corpo desmembrado da
palavra” do Manifesto que se assemelha ao corpo “retalhado” do inimigo
no banquete canibal, é o “gosto”, amargo e indigesto, da nossa “própria
carne”?24
Referências
AGUILAR, Gonzalo. Por una ciência del vestigio errático. Buenos Aires: Grumo, 2010.
AMARAL, Aracy A. Tarsila: sua obra e seu tempo. 3. ed., revista e ampliada. São Paulo:
Editora 34/EdUSP, 2003.
ANCHIETA, José de. Teatro. Seleção, introdução, notas e tradução do tupi de Eduardo
Navarro. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
ANDRADE, Oswald de. Estética e política. 2. ed. rev. e ampl. Organização de Maria
Eugenia Boaventura. São Paulo: Globo, 2011.
ANDRADE, Oswald de. A utopia antropofágica. 4. ed. São Paulo: Globo, 2011.
BOPP, Raul. Vida e morte da antropofagia. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.
MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. Livros I e III. Tradução, prefácio e notas linguísticas
e interpretativas de Sérgio Milliet. Porto Alegre: Editora Globo, 1961.
https://doi.org/10.5007/2176-8552.2023.e93740