DPC Iii
DPC Iii
DPC Iii
20/02
O que é que acontece quando o devedor não paga a quantia resultante do contrato de compra
e venda ou de prestação de serviços? Executa-se. Tem de se recorrer ao juiz. Não há prisão por
dívidas civis em Portugal. Tem de se fazer então outro tipo de atividade jurisdicional.
Artigo 10º/4 CPC – na ação executiva, conjunto de atividades a que os devedores se sujeitam.
Art.º 10º, nº4 CPC – conjunto de atividades que devem ser atuadas se os devedores, os
obrigados a fazer, não fizerem.
Há 2300 anos, à luz da lei das 12 tábuas, a execução era feita no corpo do devedor. O credor
sequestrava o devedor, mantinha-o cativo e, se esse devedor quisesse ser solto, tinha de
apresentar um findex, uma espécie de fiador. Mas esses tempos do direito romano arcaico, em
que a execução era sobre a pessoa, terminaram há muito tempo.
A execução (atividade do tribunal), se uma obrigação não for cumprida, recai sempre sobre
bens, do devedor ou de terceiros não devedores, sendo apreendidos (penhorados), depois
publicita-se a venda. www.eleiloes.pt Os bens são apreendidos tendo em vista a venda. Ou o
próprio credor pode ficar com os bens (adjudicação do credor pelos bens penhorados). Antes
de se apreender os bens, tem de se localizar os bens suscetíveis de penhora (fazer buscas).
O 10º/4 CPC tem de ser relacionado com o direito substantivo. Artigos 817º e seguintes do CC.
818º CC – a execução pode incidir também sobre património de terceiros quando os bens do
terceiro estão vinculados à garantia desse crédito ou o devedor aliena esses bens para fraudar
o credor.
Art.º 818º CC - a execução pode incidir sobre bens de terceiro quando estes bens estejam
vinculados à garantia do crédito. Há casos em que o credor-devedor aliena os bens para
fraudar o credor. Quem o faz, sujeita-se à ação pauliana – intentar uma ação contra o
alienante, que transmitiu aquele bem para não ter garantia patrimonial, para não poder pagar
de outra maneira. O terceiro adquirente de um património do devedor não deve nada ao
credor, não tem nada a ver com a obrigação em causa, mas pode ser executado.
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“Providências adequadas” – não é só penhorar. Temos também a sanção pecuniária
compulsória (art.º 829º-A), que tem uma função de estimular alguém a cumprir.
No Brasil há também providências como não poder ter acesso ao crédito; apreensão de
passaporte (para que o devedor não saia do país); inibição da facultade de conduzir; não ter
acesso a cartão de crédito, apenas de débito, privação de subsídios.
No Brasil todas estas medidas são apreciadas e determinadas por um juiz dentro de um
processo executivo.
O arresto visa impedir que o devedor aliene o património. É uma pré-execução. Não é processo
executivo e sim declarativo. É uma providência cautelar.
A concessão dos atos executivos propriamente ditos são feitos pelo agente de execução. Art.º
719º CPC – exemplos de alguns atos atribuídos aos agentes de execução.
Quem julga casos controvertidos são os juízes dos tribunais executivos. O que pode acontecer
numa ação executiva pendente é haver dúvidas quanto à exigibilidade da obrigação. Pode
haver logo esta controvérsia. Quem a aprecia e julga não é o agente de execução, que pratica
atos administrativos, mas sim o juiz do tribunal executivo. O juiz dos processos executivos,
quando intervém, julga. Mas há situações em que a ação executiva começa e termina sem
intervenção do juiz. Acontece nos casos em que o executado não deduziu oposição à parte, em
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que não há concurso de credores, em que não são deduzidos embargos de executado (os
pressupostos processuais estão todos cumpridos), etc.
Os bens são penhorados pelo agente de execução, depois iniciam-se as diligências destinadas à
venda e faz-se a distribuição do produto resultantes dessa venda.
Os juízes só vão intervir nos processos executivos quando houver um conflito de interesses
entre executado e exequente ou entre um destes e terceiros.
Das decisões do agente de execução não se recorre para o juiz porque aquele não é uma
entidade judicial, praticando apenas atos administrativos.
Na Suécia, em certos lugares, há órgãos de execução. São órgãos em que os funcionários estão
descentralizadamente em todo o país juntos aos tribunais à espera que entrem processos para
que eles procedam à execução.
Na Alemanha e na Áustria também há judicialização de ações executivas.
O agente de execução, caso a caso, pode desempenhar funções como particular (profissional
liberal) ou como funcionário público.
Nos países anglos-saxónicos é o xerife que vai executar (por exemplo, as ordens de despejo nos
EUA). Também acontece isto em países como Nova Zelândia.
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Estas obrigações suscetíveis de execução são obrigações de fazer ou não fazer, fungíveis ou
infungíveis, de entregar coisas, de comunicar “saber-fazer”. Mesmo bens incorpóreos, que
sejam objeto de negócios, podem suscitar ações executivas por incumprimento e obrigações.
Por exemplo, num caso de trespasse por venda, o vendedor vai receber o dinheiro do credor e
vai ter de cumprir uma lista de certas obrigações associadas a esse trespasse.
Depósito regular – por exemplo, dar uma nota de 10€ a alguém e dizer que, daí a uns meses,
tem de lhe devolver exatamente a mesma nota. As notas aqui são tratadas como coisas
infungíveis.
Depósito irregular – por exemplo, entregar 100.000€ ao banco e, meses depois, ir buscar esses
100.000€, mas as notas podem não ser as mesmas, e sim outras quaisquer. As notas aqui são
fungíveis.
Em Itália ou na Alemanha o critério é: sobre que bens incide a apreensão. A sequência varia em
função dos bens a atingir.
Os trâmites são diferentes porque a natureza das obrigações não cumpridas exige que o sejam.
Art.º 626º, nº 3 e 4 CPC – o legislador tenta, de alguma maneira, adaptar a sequência a, por
vezes, diferentes deveres de prestar que o credor exige perante o seu devedor. Se o devedor
for condenado na ação de reivindicação ou numa ação possessória a entregar a coisa a dado
autor e a indemnizar o autor pelos danos que a coisa sofreu, temos dois tipos de condenações
– uma condenação de entrega e uma condenação de pagamento de uma quantia pecuniária.
Até 2011, tinha de se intentar duas ações executivas autónomas porque eram diferentes os
deveres de prestar. Isso já não é assim – nº4.
Nº 5 – pode cumular-se na mesma ação executiva as duas diferentes finalidades. Há aqui uma
economia de meios de processos.
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Por exemplo, temos um contrato de prestação de serviços naqueles casos em que uma
empresa fornece casas de banho portáteis por alguns dias para serem usadas num festival ou
num concerto. Aqui temos uma obrigação de fazer.
Não é possível executar aquelas obrigações que exigem “torcer a mente” ou a violência
física/tortura para que a pessoa assine um papel. Daí a utilidade das ações de execução
específica, em que o juiz vai ter o poder de emitir aquela declaração.
Não há uma sentença constitutiva que, por isso só, transfira os direitos que se tem sobre coisas
para o autor.
27/02
Nós não vamos estudar as ações executivas especiais, para além do processo executivo
comum.
Há mais execuções especiais: quando um inquilino não paga a renda, um processo executivo
para entrega de coisa; execução especial por alimentos; execução especialíssima por alimentos,
quando o credor é menor;
Só iremos estudar as execuções comuns, em que as obrigações de pagar nada têm a ver com
direito administrativo.
Vamos estudar a cobrança coercitiva de dívidas entre privados que atuam como privados.
Se o título executivo para a entrega da coisa for uma decisão judicial, primeiro apreende-se a
coisa e entrega-se ao exequente, credor da coisa, e só depois o executado é notificado para
deduzir oposição. O executado só sabe que está a ser executado para entrega de coisa certa
depois de lhe apreenderem a coisa. 626º/3.
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Quando o título executivo é extrajudicial, já se aplica o 859º, onde o executado é citado para
no prazo de 20 dias fazer a entrega da coisa ou opor-se.
Quer por uma via quer por outra, tem de se fazer a apreensão da coisa. 861º manda aplicar as
regras aplicantes à penhora.
A apreensão da coisa no processo executivo para entrega de coisa certa destina-se a satisfazer
in natura (não por equivalente) os direitos do credor (ele tem direito à coisa, apreende-se a
coisa e entrega-se, ponto final). Nota: o credor não tem de ser o proprietário da coisa, tem de
ser alguém com um direito subjetivo de gozar a coisa (como um inquilino que paga as rendas,
mas cujo senhorio não lhe entrega a coisa). Por outro lado, a penhora (para pagamento de
quantia certa) prende-se com penhorar a coisa para ela ser imune a quaisquer atos de
ocultação, destruição da coisa por parte do executado, para serem ineficazes quaisquer
negócios jurídicos de oneração da coisa por parte do executado, e o fim último da penhora é
garantir esta situação de indisponibilidade da coisa para transmitir o direito da coisa (aquisição
derivada translativa). Aplicam-se as regras da penhora às apreensões pois pode haver
resistência de terceiros ou do credor, e isto permite que o agente de execução peça ajuda às
forças de autoridade, devido às regras da penhora. Penhora – apreensão da coisa para se
transmitirem os direitos sobre a coisa a terceiros, pagando o preço.
Tem de se converter a execução e passa a tramitar como execução para pagamento de quantia
certa, a partir do momento em que o credor quantifique os danos com o contraditório. O
agente de execução informa as partes que a coisa não foi encontrada, ou que está destruída, e
o exequente tem de, num requerimento, quantificar os danos (patrimoniais e não) que sofreu,
depois é notificado o executado, para exercer o contraditório. E o juiz irá marcar uma audiência
para produção de prova, e depois fixará a indemnização. Uma vez fixada, temos a decisão do
juiz que fixou a indemnização, que é o título executivo, para execução por quantia certa. Agora,
o agente de execução tem de encontrar bens penhoráveis e tentar vendê-los para pagar o
credor.
Se a execução for sobre casas arrendadas – 863º e 864º - se houver pessoas doentes ou o
próprio executado estiver doente, para se definir a desocupação.
867º remete para o 358º - há que liquidar os danos, incidente de liquidação de quantias que
não estão pecuniariamente quantificadas. O credor exequente quantifica os danos em várias
folhas com todos os artigos. Depois da decisão do juiz que quantifica os danos, o processo
executivo muda e a tramitação é das ações executivas para pagamento de quantia certa.
Outras vicissitudes que podem acontecer no processo executivo para entrega de coisa certa:
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Que vicissitude aconteceu? Houve uma aquisição derivada translativa por parte da entidade
expropriante ou beneficiária da expropriação? Não. Houve uma aquisição originaria. O direito
de propriedade extingue-se e no lugar dele nasce um direito de natureza pública.
Quais os direitos do credor exequente? 823º CC. Ele tinha direito à coisa, a coisa perdeu-se ou
foi expropriada, o direito que ele tinha sobre a coisa é sub-rogado pelo crédito indemnizatório,
se houver lugar a indemnização. Liquidação dos danos – a coisa não foi encontrada, pereceu,
perdeu-se ou foi expropriada, tem de haver justa indemnização. Nota: normalmente, as
pessoas têm seguro para cobrir estes riscos danosos.
Diferença relativamente a nacionalizações: dão lugar a indemnização, mas têm um fim político-
económico mais amplo.
Pode ser prestação de facto positiva ou prestação de facto negativa. Obrigação de fazer ou
obrigação de não fazer.
Exemplo de positiva: obrigou-se a reparar o telhado e não o fez, o título executivo é o contrato
de empreitada assinado pelo dono da obra e pelo empreiteiro e as assinaturas estão
reconhecidas. Contrato de prestação de serviços é o tipo genérico, neste caso é empreitada, e
ele não cumpriu. O credor e futuro exequente, o dono da obra, pode 868º/1. 871º, tem de se
avaliar quanto custa a obra. Se a prestação de facto for fungível, pode ser prestado por outro,
por outro empreiteiro ou pelo próprio exequente. Depois ele tem de prestar contas, dizer o
que gastou e como, 871º/2 e 3. A seguir, o executado pode contestar as contas. Incidente
declarativo de prestação de contas. 872º/1 – o juiz aprova as contas. Depois, transforma-se
este processo executivo em processo executivo para pagamento de quantia certa. Se não pagar
a bem, executa-se. Esta execução pendente, que começou como prestação de facto fungível,
converte-se para execução de pagamento de quantia certa.
Que factos negativos infungíveis podemos ter? Obrigação de não concorrência (como uma
pessoa que vendeu por trespasse um estabelecimento e nesse contrato de compra e venda os
advogados dizem que num raio de 3km o vendedor não pode explorar um estabelecimento
comercial idêntico, mas ele fá-lo, violando a obrigação de não concorrência). 876º/1 – o que o
tribunal vai verificar é a violação da obrigação de não concorrência, indo à rua em causa
constatar que houve uma violação da obrigação. Esta obrigação é infungível porque só podia
ser cumprida pelo vendedor, observando as regras de não concorrência.
Se ele não cumpriu, o que se faz? O exequente pede ao juiz que ordene o encerramento do
estabelecimento comercial que o vendedor abriu em violação da obrigação? Não, o agente de
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execução não pode simplesmente fazer isso. Estimula-se o fecho, o cumprimento da obrigação,
que é encerrando o estabelecimento. Estimula-se através de - 876º/1/c) – sanção pecuniária
compulsória. Só para as obrigações de prestação de facto infungível negativas. Por cada dia de
atraso, em que ele não feche o estabelecimento, pagará x euros, enquanto não fechar. Isto
depois do exercício do contraditório e da sentença de embargo de executado. Além da sanção
pecuniária compulsória, para estimular o devedor a cumprir, há outra possibilidade: 876º/1/b),
o exequente deve também quantificar o prejuízo que já sofreu e continuará a sofrer enquanto
o estabelecimento desse concorrente estiver aberto a menos de 3km, danos emergentes e
lucros cessantes. Começou como prestação de facto e acabou como execução para pagamento
de quantia certa – sanção pecuniária compulsória e indemnização pelos danos.
Outra hipótese: obrigações de pati – prestação de facto, mas não é bem negativo. São
prestações de tolerar. Exemplo, tolerar que o vizinho passe no meu quintal para aceder a outra
casa (servidão de passagem). Mas, o dono do prédio serviente dificulta isso, pondo muro e
arame farpado, e o vizinho não pode passar. Tem de se constatar essa violação, o perito vai lá e
vê o muro e o arame, o exequente não pode passar. O perito vai lá, constatar e deve indicar
logo, 876º/3, no seu relatório, a importância provável das despesas envolvidas na demolição
deste muro e arame. Depois, o executado exerce o contraditório, 876º/4, ele pode dizer que a
demolição da obra vai-lhe causar prejuízo substancialmente superior àquele que a privação da
passagem causa ao exequente. 877º, o juiz ordena a demolição à custa do executado, bem
como determina a eventual indemnização pelos danos já sofridos pelo exequente em não
poder passar ali. 877º/2 – a execução para prestação de facto negativo converte-se numa
execução para pagamento de quantia certa (custo da demolição e quantificação dos danos),
agora o agente de execução vai localizar bens penhoráveis do executado. O exequente credor
não tem de intentar uma ação de execução nova, o processo muda a sua fisionomia e tramite.
Estamos falados relativamente aos processos executivos com tramitação especial – entrega de
coisa certa e prestação de facto.
550º e 551º CPC – formas de processo executivo comum. 551º/2 – execuções para entrega de
coisa certa e para prestação de facto. Havendo lacuna de regulamentação, nestas execuções,
podem aplicar-se o tramite relativo às disposições para o pagamento de quantia certa.
Já conhecemos os gerais, mas vamos ver os específicos. É muito diferente dos pressupostos
processuais da ação declarativa (que vimos em DPCI).
Na ação executiva, não se trata de conhecer o mérito da causa (como é na ação declarativa),
mas sim satisfazer na prática os direitos subjetivos a ser violados.
Os pressupostos processuais nas ações executivas são as condições que têm de estar reunidas
para o trâmite da ação executiva possa ser iniciado e/ou prosseguido, no sentido da prática dos
direitos ainda violados.
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A ação executiva visa localizar, apreender bens. Os pressupostos processuais, gerais ou
específicos, a sua verificação, apenas permite que o trâmite inicie ou continue até à satisfação
dos direitos ainda violados.
Exemplo: entrega de um imóvel, à partida, o direito subjetivo já está acertado, através de uma
sentença condenatória ou de um documento particular assinado pelo devedor onde conste a
obrigação. Na ação executiva, não há que conhecer dos factos do direito subjetivo violado,
esses factos já estão assentes no título executivo.
O executado vê os bens penhorados sem saber que foi executado, depois é citado para se opor,
o processo executivo continuará se ele, deduzindo oposição à penhora ou oposição à execução,
não conseguir parar este filme, a ação executiva. Mas, o nosso executado pode vir dizer que o
tribunal é incompetente, e que tem um contra crédito. O executado, citado para se opor às
penhoras e à execução, já com os bens penhorados, intenta uma ação declarativa – embargos
de executado – com o réu como autor, para acertar o montante da obrigação.
Depois do juiz analisar liminarmente a petição inicial, há despacho liminar. Pode determinar a
notificação do exequente para contestar. Esta ação declarativa pode influenciar tragicamente
para o exequente a ação executiva. 732º/2 – a seguir à fase dos articulados, se o juiz sentir que
há faltas, ambiguidades, emite um despacho de aperfeiçoamento, se não houver
ambiguidades, o juiz marca a audiência prévia, ou dispensa-a se os factos forem simples, se
dispensar a audiência prévia, marca a audiência final. O advogado do exequente vai dizer que o
exequente já pagou, e o advogado do executado (autor da ação declarativa de embargo de
executado) vai dizer que o executado é credor. Depois, 30 dias para o juiz proferir sentença.
Nota: a ação executiva continua a correr ou parou (normalmente, para). O juiz profere
sentença e julga os embargos parcialmente procedentes, portanto, o autor dos embargos de
executado conseguiu provar que o exequente deve algo, mas não tudo, pelo que o executado
ainda perde. O executado tenta recorrer, interpõe para a Relação. A ação executiva continua lá
pendente ou suspensa.
Exemplo: tendo sido penhorada a propriedade de uma casa, e um terceiro diz que a comprou,
mas não registou. O terceiro pede ao juiz que levante a penhora, porque a casa é dele e não do
executado. Isto é um problema de direitos reais. Tem de se decidir se este terceiro tem um
direito oponível. Ação executiva a correr, e várias ações declarativas ao mesmo tempo.
A petição inicial dos embargos de executado são autos autónomos relativamente à ação
executiva, mas tramita em apenso à ação executiva, não noutro tribunal.
577º e ss., estas exceções dilatórias não traduzem uma lista fechada. E no processo executivo
só nos interessam alguns:
Competência:
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Quais os interesses subjacentes a que estas regras sejam construídas? Proximidade do tribunal
relativamente aos atos executivos que têm de ser feitos; proximidade dos bens atingidos (há
mais de 2200 que não temos “execução de pessoa”).
Vamos imaginar que o 62º/a) se aplica e a ação executiva pode ser proposta no juízo de
execução de Coimbra, o agente de execução dizia que não consegue localizar bens
penhoráveis. Podiam-lhe dizer para ir a Salamanca, àquela agência, e penhorar. Isto não é
possível. O exercício da força pública sobre bens de pessoas residentes num país só pode ser
efetuado de acordo com as leis desse país, por ordem de autoridades desse país – prerrogativa
de soberania estadual. Esta hipótese está excluída então.
A outra alternativa é o agente de execução dizer que não há bens penhoráveis em PT, e o
exequente pode pedir ao juiz para enviar carta rogatória ao juiz de Salamanca para este
proceder às penhoras. Isto é possível. A lei aplicável seria a espanhola. O juiz espanhol não
seria obrigado a praticar os atos. Isto é teoricamente possível, mas inviável.
Quando o título executivo é uma decisão judicial condenatória – 85º. Outras situações (quando
o título executivo é extrajudicial) – 89º.
Como sabemos que naquele caso a execução não tramita ali por apenso, no mesmo juízo onde
tramitou a ação declarativa? 129º/1 e 2 LOJ. Temos situações em que a sentença condenatória
proferida não é enviada para o juízo de execução – nos casos em que a sentença for proferida
por um dos tribunais no 129º/2 – a execução será nos próprios autos e tramita de forma
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autónoma, no mesmo juízo que proferiu a decisão. Exemplo: sentença condenatória que
condenou a entidade patronal a pagar indemnização ao trabalhador – juízo de trabalho de
Coimbra. A sentença condenatória definiu indemnização de 10 mil euros.
Será que todas as sentenças condenatórias serão executadas no mesmo tribunal de forma
autónoma? Nenhuma execução de sentença em tribunais de competência especializada não é
enviada ao juízo de execução? 129º nº2. Não são todos os juízes de competência especializada.
Quais faltam? Os juízos locais cíveis e os juízos centrais cíveis. Podemos dizer que relativo a
competência em relação a matéria, se a ação declarativa um fulano agente económico
comprou mercadorias no valor de 30 mil euros e o fulano que comprou não pagou a
mercadoria, o fornecedor vai propor a ação declarativa condenatório em Coimbra. Num dos
juízos locais cíveis, não é competência dos juízes de trabalho nem de comercio. Um dos juízos
locais cíveis de Coimbra condenou o comprador a pagar 30 mil euros. Onde é que se executa se
não pagar voluntariamente? A resposta errada seria aplicar o artigo 85º nº1. A resposta certa é
o requerimento executivo e o oficial de justiça consultando o superior hierárquico envia a
sentença condenatória do juízo local civil para o juízo de execução de Soure, pode não ser
imediato eletronicamente. A mesma coisa se o valor tivesse 70 mil euros, seria ajuizada no
juízo central civil na comarca de Coimbra. Valor superior a 50 mil euros, 117º CPC. Mas o
requerimento executivo entra aqui os funcionários percebe-se que é uma execução da
sentença e envia o documento para o juízo de execução. Há comarcas que não tem juízo de
execução e aí todas as execuções de sentença tem de tramitar ainda de forma autónoma no
tribunal. Comarca de Bragança, Portalegre e castelo barranco então as sentenças desses juízes
cíveis tem de ser executadas nesse mesmo tribunais centrais. A a Z comarca a comarca.
5/03
Estávamos a falar da competência interna dos tribunais portugueses para as ações executivas.
“O juiz quando conhecer desta questão envia o processo para o tribunal estrangeiro
competente”- ERRADO. Nessas situações não se pode aplicar o 99º/2- no âmbito da
competência interna permite, numa ação declarativa, o tribunal remeter os autos para o juízo
competente, caso o autor requeira e o réu não deduza oposição justificada.
Não nos podemos imiscuir na soberania do estado- a não ser que haja um acordo bilateral
entre os países de remessa. A falta de competência internacional para a ação executiva gera
incompetência absoluta e o réu é absolvido da instância- estes atos executivos não tramitam
em Portugal, acabou. Extingue-se o processo.
Há casos em que é o agente de execução que toma contacto pela 1ª vez com o requerimento
executivo- situações em que a ação executiva tramita com o tem um processo executivo
sumário- artigo 855º. Vai ser o juiz do processo a apreciar e a decidir se essa exceção dilatória
está a ocorrer ou não. O agente de execução olha para o requerimento executivo, documentos
e pode pensar: “parece-me que há aqui uma exceção dilatória”- vou suscitar a intervenção do
senhor juiz, ele é que é o órgão jurisdicional competente para apreciar estas exceções dilatórias
e estes pressupostos gerais e específicos.
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O juiz depois constata a incompetência internacional.
Em rigor nem se deve dizer que absolve o réu da instância—> é uma expressão para as ações
declarativas, em que o juiz tem de apreciar o mérito da causa. Na ação executiva não se
conhece o mérito na pretensão executiva. No filme da ação executiva, a única coisa que ocorre
são atos, atividades executivas- isto não são atos jurisdicionais, são atos materialmente
administrativos.
Vamos supor que o agente de execução não se apercebe de nada, não percebe que há um
vício.
E agora? Isto começou mal- há exceções dilatórias que não foram devidamente apreciadas.
732º/2- o juiz pode, através de despacho liminar, chamar o exequente que é notificado para
contestar.
No processo executivo sumário, em 1ª linha vamos ter o agente de execução que pode
desconfiar da falta de PP; o executado pode suscitar isso mesmo através de ação declarativa
autónoma.
O que é que leva o juiz a conhecer oficiosamente uma exceção dilatória? Duas maneiras: i) um
requerimento nos autos- pode ainda emitir um despacho para se juntar título executivo, a não
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ser que dos autos resulte manifestamente a falta de título- importância do 734º, isto não
existe nas ações declarativas- apenas se dá quanto aos factos supervenientes;
NÃO SE REMETE O PROCESSO PARA TRIBUNAL ESTRANGEIRO; podemos ter uma intervenção 1ª
do agente de execução; se o juiz apreciar e concluir pela falta de algum pressuposto, EXTINGUE
A EXECUÇÃO.
COMPETÊNCIA INTERNA
Quando o título executivo é uma sentença, temos de olhar para o 85º do CPC, nº1 e 2º;
conjugando com o artigo 129º da LOJ.
Qual é a regra nas execuções de sentenças? A execução tem lugar nos próprios autos- o
requerimento executivo é apresentado no processo em que a sentença condenatória foi
proferida, 85º, nº1. Todavia, se virmos o nº2, há decisões judiciais condenatórias cuja
execução não tramita no tribunal que proferiu a sentença condenatória. Nesses casos, que já
vimos quais eram, o requerimento executivo é apresentado no juízo que proferiu a sentença
condenatória MAS a secretaria envia os autos para o juízo de execução competente- 85º, nº2.
Envia a cópia da sentença, o requerimento executivo e os documentos que acompanham o
requerimento- isto é competência em razão da matéria e do território.
Na comarca de Portalegre não há juízo de execução, há tão poucos processos pendentes que,
do pv da gestão de meios, não vale a pena ter lá um juízo de execução.
Bragança e Castelo Branco também não têm; Viana do Castelo também não tem.
São juízos cíveis, locais ou centrais, que não têm competência para executar as suas próprias
decisões porque na mesma comarca está instalado um juízo de execução- 129º/2 da LOJ.
Exemplo: imaginemos que a sentença condenatória tinha sido proferida pelo juízo de instância
central cível de Castelo Branco- ações declarativas cujo valor é superior a 50.000 euros; este
juízo proferiu a sentença e condenou o dono da obra a pagar 60.000 euros. O dono da obra
não pagou. Onde é que se deduz ação executiva? 85º, conjugado com o 129º. DL 49/2014- não
existe juízo de execução na comarca de Castelo Branco. Esta sentença tem de ser executada na
comarca de CB- territorialmente; e em razão da matéria? Tem de ser executada no juízo central
cível, de forma autónoma- é isso que diz o 129º/2, é nos próprios autos.
Se a mesma situação ocorresse aqui em Coimbra: o empreiteiro podia intentar ação declarativa
condenatória em Coimbra; o juízo central cível de Coimbra condenou o dono da obra a pagar
60.000 euros. Onde é que se executa? Como na comarca de Coimbra, segundo os mapas do DL
49/2014, existe pelo menos um juízo de execução, instalado em Soure, esta sentença
condenatória tem de ser enviada pela secretaria do juízo central cível, acompanhada do
requerimento executivo e documentos que o acompanham, com carácter de urgência para o
juízo de execução- 85º/2.
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A mesma ação declarativa tem um desfecho diferente quanto à ação executiva.
Vamos testar outra hipótese: a entidade patronal, no juízo de trabalho de Coimbra, a pagar ao
ex-trabalhador- despedimento sem justa causa e o ex-trabalhador não quis a reintegração. O
juiz condenou a entidade patronal a pagar; a mesma não pagou. Sentença condenatória
proferida pelo juízo de trabalho da comarca de Coimbra. Onde é que se executa? Vejamos o
129º/2 da LOJ.
Executa-se no próprio juízo de trabalho, não é enviado para Soure- são juízos de competência
especializada que apreciam e julga, e se condenarem o não cumprimento voluntário, a
execução é lá- competência em razão da matéria e do território coincide, 85º/1 do CPC
conjugado com o 129º/2 da LOJ.
E os outros critérios de competência interna, são relevantes? Podem ser, mas neste caso estão
verificados.
Aqui não há dúvidas nem há nenhuma exceção como vimos que havia na ação declarativa.
Regra: é nos tribunais de 1ª instância que tramitam todas as ações executivas- 86º e 88º CPC.
Segunda hipótese: sentença condenatória proferida pelo juízo cível central de Coimbra,
60.000 euros de ação.
Território: comarca de Coimbra, a execução vai lá correr; matéria: 129º/2, como em Coimbra
quem proferiu a sentença é um juízo central cível (podia ser local) E na comarca de Coimbra
existe juízo de execução, a competência em razão da matéria é do juízo de execução;
Terceira hipótese: sentença condenatória proferida pelo juízo cível central de Castelo Branco,
60.000 euros de ação.
Matéria: como na comarca de Castelo Branco não está instalado nenhum juízo de execução, o
129º/2 e o 117º/1/b) da LOJ atribui competência material ao próprio juízo central cível que
proferiu decisão condenatória. Competência em razão da matéria está afirmada.
Valor: é irrelevante, os juízos centrais cíveis analisam e executam obrigações acima de 50.000
euros e executam se na respetiva comarca não existir um juízo de execução instalado.
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Hierarquia: o juízo central cível é de 1ª instância.
Artigo 88º e 86º —> a ação executiva tramita sempre no tribunal de 1ª instância na área onde
o processo haja corrido.
Tribunais arbitrais: a sua génese é a autonomia da vontade; mas, uma vez constituídos,
seguindo um trâmite, a decisão proferida vale o mesmo que as decisões dos tribunais do
estado. Como o estado é a única entidade que pode exercer legitimamente a força, essa
decisão condenatória nunca poderia ser executada num tribunal arbitral. Uma vez proferida
sentença condenatória, o tribunal arbitral nunca pode executar as sentenças que profere.
Território: tribunal do estado do local onde o TA se instalou; será então uma comarca de
Coimbra.
Mais decisões condenatórias: julgados de paz- a rede dos julgados de paz já abrange todos os
territórios portugueses.
Onde é que se executa? Lei de organização dos julgados de paz. Há muitas ações declarativas
ajuizadas nos julgados de paz. São tribunais do estado mas não executam as sentenças
condenatórias- só têm competência para as ações declarativas.
Se a Ryanair tiver bens penhoráveis em PT- contas abertas em PT- os tribunais portugueses vão
ser competentes internacionalmente.
Internamente:
Matéria: como existe uma comarca em Coimbra, esta execução segue caminho lá.
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Matéria: como não existe nenhum juízo de execução, subsidiariamente, será o juízo local cível
da comarca de Castelo Branco.
Juízos locais cíveis: conhecem e executam ações condenatórias até 50.000 euros, se nessa
comarca não houver juízo de execução.
Não iria para o juízo central cível de Castelo Branco porque as ações dos julgados de paz são
apenas até 15.000 euros.
O que é que caracteriza estes tribunais? Terem competência em todo o território português e
ilhas. É uma competência em razão do território e simultaneamente material (só apreciam e
julgam aquelas matérias).
A mesma orientação ocorre quando a sentença é proferida por um juízo de comércio, é lá que
se executa; o mesmo quando a sentença é proferida por um juízo de família e menores, é lá
que se executa.
Nem todas as execuções de sentença são executados no juízo de execução; muitas delas
tramitam nos próprios tribunais que as proferem- 85º CPC; 129º LOJ.
E quando o titulo executivo for extra-judicial? Artigo 89º. Letras, livranças, cheques,
escrituras públicas onde se convencionem obrigações, etc.
Matéria: qual será o juízo materialmente competente? Juízo de execução; a não ser que nas
comarcas onde as execuções tenham de ser ajuizadas, não esteja instalado juízo de execução.
Artigo 89º: regra geral- tribunal do domicilio do executado. No nº1 temos uma opção para o
executante: é uma regra parecida ao 70º/1- ações declarativas; o credor pode ajuizar na
comarca onde a obrigação deveria ser cumprida.
16
Local de emissão do cheque: Castelo Branco;
Onde reside o devedor? Pessoa coletiva com sede em Coimbra; mas fui comprar coisas a
Castelo Branco. Não pagou. O credor de Castelo Branco quer saber onde executa.
Competência territorial:
2ª regra: local do cumprimento da obrigação, será Castelo Branco- parte final do 89º/1 CPC.
Onde na Comarca de Castelo Branco? Como não existe juízo de execução, basta saber o
montante do cheque- se fosse 30.000 euros, era executado no juízo local cível; se o montante
fosse de 51.000 euros, já seria o juízo central cível de Castelo Branco.
A obrigação exequenda pode não ser pecuniária constante de documento. Uma pessoa pode-
se comprometer a entregar uma coisa.
Imaginemos que não se deu a entrega da coisa. As duas pessoas em causa vivem no Porto- o
devedor comprometeu-se a entregar um apartamento que está em Portalegre;
Competência material em razão do território: podíamos pensar que seria no Porto, onde
residem as partes- ERRADO; ler os números seguintes do artigo 89º/2- tribunal do lugar onde
a coisa a entregar se encontra; lugar de situação dos bens onerados.
Competência em razão da matéria: temos de ver o valor da coisa a entregar. Há de ser mais de
100.000 euros. Vai-se executar no juízo central cível de Portalegre- pois não há juízo de
execução em Portalegre.
Narrativa concreta: imaginemos que há uma instituição bancária que financia o cliente. O
cliente reside em Coimbra; e a agência aprova o financiamento. O que é que aconteceu? Esta
pessoa que pediu financiamento diz: (os bancos querem garantias reais ou fianças- garantia
pessoal) “eu tenho um apartamento em Portalegre mas quero obter financiamento para
comprar um em Coimbra”. O banco diz que só quer a hipoteca do apartamento de Portalegre,
para financiar este mútuo- foi a única garantia real constituída. Agora não pagou. De acordo
com o contrato de mutuo, o devedor perdeu o beneficio do prazo; o credor pode executar as
prestações todas.
Competência territorial: a agência é daqui e o réu também; mas é a comarca de Portalegre que
é competente- “tribunal da situação (localização) dos bens onerados”. Onerados- constituir
direitos reais menores sobre os bens; neste caso, o único bem onerado era o apartamento que
o devedor tinha em Portalegre.
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A comarca de Portalegre é o sitio onde a ação tem de ser ajuizada.
Matéria: como em Portalegre não está instalado nenhum juízo de execução, vai depender do
valor da ação- 117º LOJ.
Pagamento de quantia certa sob forma de processo ordinário —> o juiz faz a 1ª filtragem do
requerimento executivo. Pode proferir despacho liminar; remessa?
Agora o nº3 do 105º- se o juiz entender que é incompetente para essa ação executiva em razão
do valor, este artigo determina que o processo deve ser remetido para um tribunal
competente.
Caso: uma ação executiva é ajuizada no juízo central cível de Castelo Branco; título executivo é
o documento particular assinado pelo devedor que mora em CB. O valor são 35.000 euros- e a
execução foi ajuizada no juízo central cível de CB? Em razão do território está bem; em razão da
matéria é um juízo cível; em razão do valor está MAL- até 50.000 euros (inclusive) executa-se
nos juízos locais cíveis.
O juiz do juízo central pode, oficiosamente, enviar os autos para o juízo local cível.
No artigo 104º/1/a) tem remissão para o 85º/1; e 1ª parte, nº1 do 89º- essas situações que já
falamos também são de conhecimento oficioso do juiz do processo executivo; pode remeter os
autos para o tribunal competente.
Caso: ação executiva proposta no juízo cível de CB, 35.000 euros; titulo extra-judicial- mas
vemos que o lugar do cumprimento é Bragança e o devedor reside em Bragança.
E agora? O juiz do juízo local cível de CB deve remeter os autos para o juízo local cível de
Bragança. Os quatro critérios já se verificam cumulativamente.
Agora vamos iniciar o estudo de outro pressuposto processual GERAL, que tem singularidades
na ação executiva.
LEGITIMIDADE PROCESSUAL
O interesse em agir não vale a pena falar- como é que vemos que um exequente tem interesse
em agir? Se tem um titulo executivo e alega incumprimento, então terá carência- precisa que o
estado o ajude a cobrar coercivamente a dívida.
A legitimidade processual (LP) nas ações executivas apresenta-se com uma fisionomia distinta:
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um dos sujeitos. Se assim é, a pessoa em causa tem legitimidade processual- centro
dos eventos danosos.
Temos a posição da parte perante o objeto processual.
Interpretação literal do título executivo- não há aqui interpretações extensivas porque vamos
atingir o património das pessoas.
54º/1: Sucessão inter vivus ou mortis causa- o nome do devedor já não está
atualizado (no casado de transmissão mortis causa).
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os documentos que constantemente o incidente- certidão de óbito, habilitação de
herdeiros.
Os herdeiros entram na execução como devedores mas o seu nome não consta no
documento de confissão de dívida- É UM DESVIO.
54º/2: que situações são essas? Dívidas providas de garantia real, garantia essa
constituída sobre bens de 3º.
O 54º/2 NÃO FALA DE GARANTIAS PESSOAIS. Situações em que a ação executiva pode
ser ajuizada contra alguém (executado) que nada deve ao credor- nem nunca deveu,
nem está a dever- É UM TERCEIRO NÃO DEVEDOR. Porque é que é executado? Porque
aceitou, sobre um bem específico bem seu, que se constituíssem direitos reais de
garantia para garantir uma dívida ALHEIA. Não estamos a falar de fiadores!!!!
Autorizou a constituição de várias hipotecas nos seus bens a favor de um banco- por
exemplo;
Caso a obrigação pecuniária não seja cumprida, o credor faz penhorar o bem onerado
(que é do 3º não devedor), fá-lo vender e com o produto da venda pode ser que
consiga pagar ao credor.
Pessoas que nada devem como credores, podem ser metidas na ação executiva
na qualidade de executados- 817º e 818º CC- “o direito de execução pode incidir sobre
bens de 3º”. Não são bens do devedor, mas de 3º.
12/03
Já tínhamos visto a regra (53º/1 – tem legitimidade a pessoa cujo nome conste do título
executivo na qualidade de devedor e na qualidade de devedor) e agora estávamos a ver as
exceções.
Primeira exceção – 53º/2 – títulos ao portador - o exequente pode ser o portador legítimo do
documento.
20
Segunda exceção – 54º/1 – vicissitudes como transmissão singular de dívidas e cessões de
créditos. Há credores do falecido, se a herança for partilhada e não forem pagas as dívidas, os
herdeiros podem ser executados. Ex., antes de morrer, o de cujus subscreveu um documento
onde confessou uma dívida, a assinatura foi autenticada, veremos se isto é suficiente para ser
título executivo, os herdeiros fizeram as partilhas amigáveis, cada um já registou os bens
registáveis em seu nome, o credor informa-se disto, que o seu devedor morreu e não pagou a
dívida, e intenta ação executiva, contra quem? Já não há herança. Mas há dívida, a mesma não
se extinguiu. O credor vai executar os co-herdeiros ou legatários, ou seja, para quem os bens
foram transmitidos, mas o nome dos co-herdeiros não está no título executivo, na confissão da
dívida. 54º/1. O credor exequente ajuíza ação executiva contra as pessoas para quem os bens
foram transmitidos. Como é que se vê que esses são os réus? O credor tem de fundamentar no
requerimento executivo os factos constitutivos da sucessão mortis causa, os sucessores são
aqueles, que estão na habilitação de herdeiros. Depois, os executados podem vir alegar a sua
ilegitimidade processual.
Terceira exceção - 54º/2 – dívidas providas com garantia real, garantia essa constituída sobre
bens de terceiros. Há muitas situações em que obrigações de pagar não são voluntariamente
cumpridas. Há réus, executados, que o podem ser (têm legitimidade passiva) e nada devem ao
credor, e podem ser executados. São essas situações em que há bens de terceiros sobre os
quais incidem direitos reais de garantia (hipoteca, penhor, consignação de rendimentos) a favor
do credor, essas pessoas são terceiros não devedores que aceitaram garantir uma dívida alheia.
Mas não são fiadores (os fiadores são devedores – garantia pessoal, se o devedor principal não
pagar todo o património do fiador pode ser penhorado). Estamos a falar de outras pessoas,
que aceitam garantir dívidas alheias, que por exemplo um prédio do seu património seja
hipotecado para que, em caso de não pagamento por parte do devedor, o credor possa
penhorar esse bem (execução hipotecária). Para penhorar bens de terceiro não devedor, é
preciso trazê-lo ao processo. Só esse concreto bem que foi hipotecado é que irá responder, não
o património total do terceiro. E se será penhorado esse bem, tem de se trazer o terceiro ao
processo, para que ele possa opor-se à penhora (por exemplo, dizendo que o bem se afeta a
interesse público). Se o credor quiser fazer valer a garantia real, tem de demandar essa pessoa.
Essa pessoa não tem nenhuma dívida relativamente ao credor exequente, não é fiadora. 818º
CC + 735º/2 CPC.
Quais as possibilidades do credor? O 54º/2 e 3 podia dar uma ideia errada – de litisconsórcio
necessário passivo (constarem como réus o devedor e este terceiro). Não é verdade. O terceiro
não devedor não tem de ser demandado, só tem de ser colocado no requerimento executivo
pelo credor se quiser fazer valer a garantia. Se o credor não o quiser, pode só demandar o
devedor, tornando-o executado, mas isto não é aconselhável.
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bens hipotecados não satisfizerem, o agente de execução vai penhorar os bens do devedor,
porque o devedor estará também logo na ação executiva desde o início.
Terceira hipótese – apenas intentar a ação executiva contra o devedor, e não contra o terceiro
dador da garantia. Se se vier a revelar que não há bens suficientes penhoráveis, pode-se
suscitar a intervenção principal do terceiro.
A melhor opção é intentar logo a ação executiva contra os dois. imaginemos que quem
constituiu a garantia é o próprio devedor, ao pedir o financiamento ao banco, o próprio
devedor constituiu hipoteca sobre o apartamento que está a adquirir, fazem mútuo, compra e
venda e hipoteca. O devedor, dono desse apartamento, vai para outro país e decide vender o
apartamento hipotecado. Imaginemos que o devedor, que vendeu o apartamento, não paga ao
banco. O banco vai executar, instaura a ação executiva, e colocar como réus o devedor e o
adquirente da coisa hipotecada. Este adquirente deve zero ao banco, mas comprou o
apartamento hipotecado, sabendo do risco. Quem for dono do bem dado em garantia pode ser
executado, apesar de nada dever ao credor. O bem onerado, com a hipoteca, pertencia ao
devedor, mas esse devedor vendeu o bem, e o comprador do bem ficou dono do bem onerado.
Mas atenção o banco não tem de consentir nesta venda, a hipoteca mantém-se apesar das
vicissitudes translativas.
Quarta exceção, do 54º/4 – um terceiro possuidor dos bens onerados pode ser demandado
como co-réu na ação executiva. Ele está a exercer poderes de facto sobre um bem do devedor
que foi dado em garantia. o devedor não o vendeu a este terceiro, apenas o deixa usá-lo como
possuidor. O legislador consagrou isto não só para evitar o risco de uma aquisição originária
(imaginemos que à data do inicio da execução já se tinha completado o prazo para usucapião e
agora este possuidor é chamado como co-réu e esse bem é penhorado, ele é réu, não pode
embargar o terceiro, se é réu não é terceiro, não pode argumentar o terceiro para defender a
sua aquisição originária tinha de intentar uma ação de reivindicação onde alegasse aquisição
originaria e pedia suspensão da ação executiva, ao adquirir originariamente, a aquisição
originaria passa por cima de qualquer registo), como principalmente por poder haver
possuidores de bens onerados que podem perturbar a normal tramitação da ação executiva
em relação a este bem através da dedução do ajuizamento de uma ação declarativa que se
chama embargos de terceiro. Assim, se forem co-réus já não são terceiros, pelo que não
podem embargar terceiros, só se podem opor à penhora. Chamamo-los para a execução, para
que a mesma não seja surpreendida por embargos de terceiro. Para evitar que o possuidor do
bem onerado venha fazer, como terceiro, embargo de terceiro dizendo que precisa muito de
usar o bem, demanda-se tal possuidor como co-executado, porque se ele for réu não é
terceiro, pelo que não pode fazer embargo de terceiro.
Mais uma exceção, 55º - caso julgado, é um dos efeitos da sentença. Tornar-se estável,
imutável, cristalizado quanto ao decidido e em relação às pessoas que foram partes – caso
julgado material. apenas as partes ficam vinculadas. Mas o legislador consagra a possibilidade
de sentenças condenatórias poderem ser oponíveis a pessoas que não deduziram atos
processuais na ação declarativa da qual resultou a sentença, que não foram partes. 61º CSC – a
ação de anulação de uma deliberação vincula todos os sócios, a ação é proposta contra a
sociedade, tem de abranger todos os sócios. E imaginemos que essa sentença que decreta a
anulação de uma deliberação implica a restituição de quantias ou coisas, e se a restituição não
for voluntária tem de se intentar ação executiva. A ação declarativa foi apenas contra a
sociedade, e não contra os sócios que receberam quantias indevidas em virtude da
deliberação, mas se esta deliberação for anulada, os sócios têm de restituir. Quem pode ser
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executado são então as pessoas que fiquem vinculadas a deveres de restituição por força da
sentença, mesmo não tendo sido partes da ação. a sentença faz caso julgado contra pessoas
que não foram partes. Estas pessoas que depois não venham dizer que não estavam na
sentença como devedor, porque esta sentença obriga a sociedade a devolver o dinheiro, e se o
dinheiro já está no bolso dos sócios, têm de devolver. Outra exceção – 263º - transmissão da
coisa em litígio durante a pendencia da causa ou depois da ação declarativa ter transitado em
julgado. exemplo, ação de reivindicação imposta por A contra B, B é o titular inscrito mas A diz
que é o dono. A tem aquisição originaria, tem posse suficiente para adquirir esse prédio por
usucapião embora o réu tenha o prédio registado em nome dele. Na pendencia da ação
declarativa condenatória, o réu vende esse prédio a uma sociedade que pretende investir na
remodelação desse prédio, se o réu é o titular inscrito pode vender. Essa ação de reivindicação,
se for julgada procedente, A ganha, é considerado o dono, mas o bem agora já está registado
em nome do adquirente, que comprou a B. Mas A quer agora a entrega, se não for voluntária,
à força. Agora, intenta a ação executiva contra o anterior réu? Não, porque este já não é dono,
já vendeu, já não tem legitimidade passiva. 263º - o transmitente nesta ação declarativa (que é
o réu) continua a ter legitimidade para a causa, enquanto o adquirente não for admitido como
réu por via do incidente , já vendeu, já não tem legitimidade passiva. 263º - o transmitente
nesta ação declarativa (que é o réu) continua a ter legitimidade para a causa, enquanto o
adquirente não for admitido como réu por via do incidente da habilitação. Se não houve este
incidente de habilitação na ação declarativa condenatória, a mesma terminará com uma
sentença a reconhecer que o autor é o dono. Temos um terceiro que podia intervenção na
ação, mas não teve, por inércia. Então, o novo adquirente não teve intervenção na ação
declarativa, mas esta sentença vai produzir efeitos em relação a ele. Se não fosse esta norma,
alguém que se achava dono de uma coisa, intentava ação de reivindicação, o réu na pendencia
desta, vendia o bem, essa ação era julgada procedente, mas quando se fosse executar a
sentença, já não teríamos o mesmo dono, pelo que o primitivo autor intentava ação contra o
adquirente, mas este na pendencia da mesma, vendia a outra pessoa, e assim sucessivamente.
Assim, foi para evitar que o caso julgado não se pudesse impor aos adquirentes das coisas
litigiosas. Desta forma, uma ação executiva para entrega de coisa certa pode ser deduzida
contra o adquirente dessa coisa mesmo que este não tenha tido intervenção na ação
declarativa condenatória que decretou a entrega da mesma. Este autor da ação declarativa de
reivindicação, contudo, tem de registar a petição inicial, para evitar que o registo da aquisição
da coisa pelo terceiro seja anterior.
No 55º ainda há outro desvio. O 55º é para desvios à legitimidade processual passiva. Sentença
oponível a pessoas que podem ser réus na ação executiva apesar de não terem sido partes na
ação declarativa. Mas, há outra situação que não pode deixar de estar abrangida (Teixeira de
Sousa e Remédio Marques; Lebre de Freitas não concorda). Se um cocredor em termos de
solidariedade ativa (3 credores em solidariedade) vier intentar ação declarativa condenatória
contra o devedor, que é condenado a pagar 10 mil euros, esta ação declarativa teve como parte
ativa não os 3 cocredores, apenas um, que o pode fazer, pois em solidariedade ativa, qualquer
dos credores pode demandar o devedor e pedir a totalidade. Sentença favorável, que aproveita
aos outros, apesar de estes não estarem mencionados na sentença. Assim, temos um desvio à
legitimidade processual ativa. Imaginemos que o que ganhou a ação declarativa acaba por não
querer executar porque se casou com o devedor, os outros podem aproveitar o caso julgado
favorável emergente da sentença, são beneficiários dessa condenação, apesar do seu nome
não constar da sentença da mesma, não têm de intentar outra ação declarativa condenatória.
Outro exemplo é o das ações populares, há vários autores com interesses homogéneos, várias
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pessoas afetadas, mas apenas 3/4 intentaram a ação e ganharam. O facto de os outros não
constarem da ação não impedem que a sentença favorável os abranja. A empresa x foi
condenada a pagar até 30 M – o grupo de lesados é de milhares de pessoas. Quem pode
executar a sentença? Os outros 90000 cidadãos não têm o seu nome na sentença. O caso
julgado aproveita às pessoas que não se autoexcluíram. Art.19º da lei da ação popular. Alguns
deles vêm abrir ação declarativa e liquidar os danos – incidente declarativo, 358º e 360º CPC –
vêm posteriormente quantificar os danos porque beneficiam de caso julgado; depois podem vir
propor uma ação executiva. Qual é o título executivo? Sentença da ação popular + declaração
da quantificação.
Art.57º - situações que hoje já não fazem sentido. O MP podia ser exequente, por dívidas. Mas
o artigo 56º agora foi revogado.
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de ser proposta contra todos. Se fosse só proposta contra um, os outros embargariam de
terceiro, evitando a entrega. Outro exemplo é, imaginemos que depois da morte de um
participante de um grupo musical, continuam a fazer concertos. Eles comprometem-se a fazer
um concerto – há um título executivo. A banda cancela o concerto e a organização tem de
devolver os bilhetes comprados, instalações, etc. É uma prestação de facto infungível (porque
tem de ser aquela banda em concreto). Eles dizem que têm justa causa por cancelamento, que
não vão devolver nada, e a organização não aceita e diz que vai intentar uma ação executiva
para prestação de facto positivo infungível, formulando logo pedido indemnizatório dos danos
sofridos. Contra quem é que vai ser intentada a ação executiva? Todos os membros da banda.
A natureza da obrigação de prestação de facto infungível faz com que todos tenham de ser
demandados.
Há uma outra ação declarativa sem ser daquelas referidas acima, uma ação declarativa especial
que também tramita por apenso que é o concurso de credores – reclamação de créditos,
impugnação e graduação desses créditos. Temos aqui outros credores do mesmo executado
que podem, em certos casos, querer fazer-se pagar pelo produto da venda dos bens
executados. Diferentemente dos processos de insolvência, nem todos os credores podem vir
reclamar créditos. 58º/2 – se for reclamado algum crédito (5 mil euros e um cêntimo ou mais),
tem de haver procuração passada a advogado para que o crédito seja apreciado.
Assim, podemos ter ações executivas que abrem porta a outros credores, mas apenas credores
qualificados, que tenham direitos reais de garantia sobre os bens e que tenham título executivo
contra o mesmo devedor – ao contrário do processo de insolvência, onde podem reclamar
créditos todos os credores, privilegiados e não privilegiados. Numa ação executiva, como os
credores não sabem uns dos outros, desde o séc. XIV, já se fazia isto, concurso de credores.
25
Pressupostos processuais específicos da ação executiva
713º
Os pp específicos da ação executiva são aqueles sem os quais a ação executiva não pode
prosseguir: existência de título executivo; liquidez, certeza e exigibilidade.
O que é uma obrigação certa? 714º. Aquela obrigação que está qualitativamente determinada,
face ao título, no sentido de saber a obrigação a que o executado se vinculou. Exemplo:
obrigou-se a entregar 5 toneladas de azeitonas, que não entregou e o comprador já pagou uma
parte. Está lá no título. Qual é o problema? A obrigação não é certa! A obrigação não está
concretizada. Outro exemplo, obrigações alternativas, se se convencionou que era o credor a
escolher, se o credor exequente aquando do documento pode fazer uma escolha e não a fez, e
já está a executar, a execução não pode prosseguir, tem de fazer a escolha entre as obrigações.
Tem de haver certeza.
19/03
Tem de juntar prova documental (715º/1). Se for necessária prova testemunhal ou documental,
já não pode ser o agente de execução a analisar a exigibilidade. 715º/3. É algo ousado o agente
de execução poder analisar os documentos. Ele com base em documentos fazer tramitar a ação
executiva entendendo que a obrigação é exigível. Isto não viola a separação de poderes pois o
executado pode alegar a inexigibilidade. O prof. acha que não devia ser assim.
26
Também vimos a certeza.
716º/4 – é um título extrajudicial, desde logo, ex., contrato de empreitada de obra, tem um
cronograma de tempestividade das obras (diferentes fases). O dono da obra é muito minucioso
nesse contrato, combina-se que o pagamento da conta ao empreiteiro é faseado, em função do
avanço da obra. Imaginemos que o dono se atrasa no pagamento, o título executivo para se
poder exigir o pagamento é o contrato. O empreiteiro diz no requerimento executivo que ele
lhe deve 100 mil euros e alega que fez já 3 fases. Ação declarativa de embargo de executado –
o dono da obra vai dizer que já pagou o que o empreiteiro fez. Havendo contestação, 360º/3 e
4 CPC – aplica-se aqui por adaptação. Incidente de liquidação enxertado no embargo de
executado. O juiz aprecia a prova pericial e fixa. Aqui já temos uma obrigação líquida que não
depende de simples cálculo aritmético.
Quando o título é judicial – condenou-se o reu numa obrigação ilíquida cuja liquidação se fará
após o processo declarativo. 556º/1/b) CPC – em ações declarativas condenatórias por causa
de acidentes, as vítimas normalmente não podem logo quantificar na petição inicial os danos
que alegam ter sofrido, os danos ainda estão em curso (operações, etc.), mas não podemos
esperar que tudo aconteça sob pena de prescrever o direito à indemnização, então, formula-se
pedido ilíquido. Se o juiz, na ação declarativa, considerar que estão verificados todos os
requisitos da responsabilidade, condena o réu numa quantia líquida, mas provavelmente irá
cumulativamente condenar numa ilíquida. Depois, incidente declarativo de liquidação (358º e
360º) onde se quantificam os danos, pede-se ao juiz para quantificar o que não foi
quantificado. Não se volta a julgar o acidente, os requisitos da responsabilidade civil, nada
disso, o juiz vai apenas quantificar os danos perante a controvérsia. Só com esta sentença que
quantificou os danos e com a sentença condenatória é que se tem título executivo.
Quando o título executivo é uma sentença condenatória que quantifique certos danos e não
quantifique outros, mas condene no que vier a ser quantificado, os danos ainda não
quantificados têm de ser quantificados não no início da ação executiva, mas na ação
declarativa através do incidente declarativo de liquidação.
Se a sentença condenatória for proferida por tribunal arbitral (por definição das partes no
contrato), essas decisões têm o mesmo valor das sentenças proferidas por tribunais do Estado,
e nem podem ser objeto de recurso para os tribunais do Estado (a não ser que as partes o
prevejam), só podem ser objeto de ação de anulação por vícios formais. Nunca um tribunal do
Estado pode interferir no mérito. Portanto, se a sentença do tribunal arbitral condena o réu a
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pagar uma quantia que vier a ser quantificado em momento posterior, os danos ainda estão a
ser produzidos, como é que se faz? Os tribunais arbitrais, uma vez proferida a decisão, o poder
jurisdicional extingue-se, apenas podem corrigir erros de escrita, pelo que as partes terão de
atribuir de novo poder jurisdicional ao tribunal, mas claro que uma delas nunca ia aceitar,
então, quando profere a decisão, o poder jurisdicional do tribunal arbitral extingue-se. Então, a
sentença arbitral que condena numa quantia que está ilíquida, como se líquida? Não é através
do incidente de liquidação como nos tribunais do Estado. O que tem de se fazer é tem de ser
liquidar no requerimento executivo, e depois há o contraditório, podendo haver embargo de
executado.
Já vimos os pressupostos específicos sem os quais não pode haver tramitação dos atos
executivos, sem os quais não pode haver início e/ou prosseguimento dos atos executivos.
O título executivo é a base da execução. O título executivo é um documento que com suficiente
probabilidade contém uma obrigação, que existiu e ainda existe, sem prejuízo de se poder pôr
em causa esta presunção de veracidade, através de embargo de executado. 703º CPC. Leque
taxativo de títulos executivos. Não podem as partes criar na sua autonomia títulos executivos.
Não é possível que partes num contrato criem cláusulas que sejam oponíveis a terceiros que
não participaram nesse contrato. Contrato é interpartes. Claro que depois há exceções, por
exemplo, por questões de abuso de direito. 703º/1 – “apenas”, tipicidade taxativa. Apesar de
ser tipicidade taxativa, o leque é muito grande.
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Bem como as decisões judiciais proferidas por tribunais estrangeiros (da UE ou não).
Podem também ser título executivo em PT (se houver bens penhoráveis em PT, claro).
Como se executa uma decisão proferida por um tribunal do Brasil? É preciso tramitar
em PT o processo que se ajuíza nos tribunais de 2ª instância – revisão de sentença
estrangeira (978º e ss. CPC), é uma das exceções ao princípio da plenitude dos
tribunais de 1ª instância. Para os países que não são estados-membros da UE nem
estados-parte da convenção de Lugano, as sentenças condenatórias deles provenientes
que se pretendam executar em PT (se houver bens penhoráveis em PT) têm de
tramitar através desta prévia ação declarativa para revisão de sentença estrangeira,
para serem título executivo, precisam desta revisão.
Já sentenças condenatórias provenientes de estados contratantes da Convenção de
Lugano, essas não ficam sujeitas ao mecanismo de entrada em PT do 978º que vimos
acima, mas sim à declaração de exequátur, que tem lugar na 1ª instância, obtida sem
contraditório do executado. É menos burocrático. Suíça, Noruega, Islândia e
Liechtenstein.
Sentenças condenatórias provenientes de um EM da UE – Regulamento 1215/2012
Bruxelas I. Reconhecimento automático, mas para efeitos de execução tem certas
formalidades, como cópia da decisão, tradução (para o juiz de execução perceber que
há condenação e porquê). Livre circulação de decisões, mesmo para efeitos de
execução.
E tem de ser “condenatória”. Se for numa ação declarativa meramente de simples
apreciação, a sentença não é título executivo, claro.
Mas, atenção, em ações declarativas constitutivas, podemos ter título executivo. Por
exemplo, ação de reconhecimento de paternidade. Há sentenças puramente
constitutivas, que não condenam expressamente a nenhuma prestação, mas delas
pode resultar uma condenação implícita. Sentenças de condenação implícita proferidas
em ações declarativas constitutivas. Exemplo, ação de execução especifica de contrato-
promessa, julgada procedente, a sentença declarada que o autor, promitente-
comprador, é o dono, transfere a propriedade do bem para este, é ação declarativa
constitutiva, não faz sentido que agora o novo dono tivesse de intentar ação de
reivindicação, esta sentença que julgou procedente a ação constitutiva de execução
específica tem a condenação implícita ao promitente-vendedor a entregar a coisa.
Outro exemplo é uma sentença que julgue procedente uma ação de preferência, na
sequência desta, a coisa é do autor, e se está em poder de um dos réus, este tem de
devolver, com base nesta sentença haverá execução para entrega de coisa certa.
Sentenças proferidas por organizações internacionais regionais, podem ser título
executivo em PT. Exemplo, do TJUE. Se uma decisão homologatória do Tribunal da EFTA
não for respeitada, executa-se. Depois temos tribunais comuns aos EM fundados em
tratados internacionais ou trilaterais (ex., tribunal da BENELUX), decisões que são
executáveis em PT sem qualquer reconhecimento.
29
O mesmo acontece no negócio jurídico processual de transação, 1248º, 1249º e 1250º
CPC, recíprocas cedências, concessões. Isto é um contrato, duas declarações de
vontade convergentes, no sentido de terminar o litígio. O juiz não vai conhecer do
mérito, são irrelevantes os factos controvertidos, o juiz vai apenas ver se aquele
documento viola normas imperativas, os bons costumes e a ordem pública, ou se têm
disposições de objeto impossível (ex., se transacionaram sobre um terreno na lua).
290º/3 – essas sentenças homologatórias não conhecem do mérito, mas fazem caso
julgado material. o legislador trata esta sentença como se fosse uma sentença
condenatória. A sentença homologatória não condenou, apenas verificou normas de
ordem público, direitos indisponíveis, se houve vícios de vontade, se o objeto é
impossível, se é usurário, controla o exercício da autonomia da vontade. Mas, para
todos os efeitos, o legislador considera isto sentença condenatória.
Outro exemplo é numa partilha. Há litígio, na composição dos quinhões, os herdeiros
não conseguem amigavelmente fazer a partilha, extrajudicialmente. Um deles intenta
processo especial de inventário (1097º e ss. CPC), um deles inclui certas coisas, e outro
vem dizer que falta uma coisa, o juiz estabiliza. Há conferência, e mesmo assim eles
não acordam. O juiz agenda posteriormente outra conferência, para licitações dos
bens. O juiz tem de adjudicar os bens, e por exemplo, o que ficou com mais tem de
pagar aos outros certo valor. E fica assim a sentença homologatória feita. Não há factos
controvertidos. Se o que ficou com mais não pagar aos outros, esta sentença
homologatória serve de título executivo para executar esse montante.
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procedimento de injunção. Mas, não esquecer, art.6º/3 da lei 41/2013 foi julgada
inconstitucional em 2015.
Desta forma, quem tiver a confissão de dívida sem termo de autenticação da
assinatura do devedor, de antes de setembro de 2013, pode usá-la hoje como título
executivo. Há limites à discricionariedade legislativa, quem manda é o TC.
Há um documento autêntico, só assinado por uma pessoa, que pode ser título
executivo – testamento. O testamento pode ser título executivo. O testador pode
reconhecer que deixa ao Zé 5 mil euros, pagando uma dívida que lhe devia.
“reconhecimento de qualquer obrigação”. Mas esse documento pode servir não só
para reconhecer dívidas já existentes, como para as constituir.
Alínea c) do 703º/1 – títulos de crédito. Mas, “ainda que meros quirógrafos”. O que é
um quirógrafo de título de crédito, que pode continuar a ser título executivo? Um
cheque emitido a favor do credor, se esse cheque, por exemplo, não for apresentado a
pagamento no prazo de 8 dias, o cheque deixa de ser título de crédito. Mas, esse
papel, que passou a ser apenas documento particular, sem as características que tinha,
mas o credor tem de alegar no requerimento executivo, a relação subjacente, porque é
que o devedor lhe deve dinheiro. Quirógrafo é um sucedâneo de um papel que tinha a
característica de título de crédito, de que agora ficou privado. Isto só funciona nas
relações imediatas, não das mediatas.
Ex., cheque não apresentado a pagamento no prazo. Se não houver fundos, a relação
cartolar não pode funcionar. Não se aplicam os princípios da literalidade e da
abstração. Mas isso não significa que não haja negócio jurídico subjacente que levou à
emissão do cheque. se na situação jurídica cambiaria o credor não pode atuar, ele
pode sempre alegar no requerimento inicial, executivo, os factos constitutivos do
negócio jurídico que levou à emissão do cheque. O documento que deixou de ser
cheque passa a documento particular (quirógrafo de cheque). Isto só funciona nas
relações imediatas, credor e devedor concretos na relação subjacente.
2/04
703º/1/d) – remete para um conjunto grande de documentos a que leis atribuem força
executiva.
O mais conhecido é o requerimento de injunção no qual tenha sido aposta, colocada, a
fórmula executória. DL 269/98. Procedimento administrativo regulado a partir do
art.7º. A tal fórmula executória, os tais dizeres que tornam este papel num título
executivo, está no art.14º. Processo monitório – imaginemos alguém que deve uma
quantia a um credor, o credor suspeita que essa pessoa não vai pagar, o legislador
parte do pressuposto que há muitas situações destas, exemplo, operadoras de
telecomunicações, o legislador presume que muitas das pessoas mudam de operadora
e depois não pagam a multa e não pagam os meses em falta. Formulário eletrónico
onde se coloca os nomes do credor e devedor, quantia e factos constitutivos do crédito
pecuniário. Depois pede que esse alegado devedor seja notificado, para vir a este
procedimento administrativo deduzir oposição. Notificado o devedor, com carta
registada com aviso de receção, que vai para o domicílio contratual (mesmo que o
devedor tenha mudado de casa, se o fizer tem de avisar), essa notificação diz (art.12º
do DL) que ele tem uma dívida, declarada como dívida por um credor que se identifica
como tal, e que tem 15 dias para pagar ao requerente ou deduzir a oposição. Se não
pagar, ou não deduzir oposição, fica avisado nessa notificação de que aquele
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requerimento se transformará num documento com natureza de título executivo,
permitindo logo a execução (penhora dos bens). este documento, sem ser necessária
ação declarativa condenatória, este papel, a carta, torna-se título executivo. Os
credores ficam logo munidos de título executivo, pois o legislador presume que as
pessoas não pagam (luz, água, telecomunicações, prémios de seguro, etc.). É claro que
depois a pessoa, se estiver por exemplo internada num hospital, ninguém levanta a
carta registada com aviso de receção no domicílio contratual, este tipo de título
executivo implica que esteja em causa um processo executivo sumário, a penhora
antecede a situação do executado para pagar, quando é citado para se opor à execução
já tem os bens penhorados. A pessoa que está no hospital e não respondeu em 15 dias,
art.857º. 857º/2 – pode usar este fundamento, justo impedimento. Os fundamentos
que podia ter invocado na contestação ao requerimento de injunção pode usar na
pendência da ação executiva em sede de embargos de executado. E se ele se opuser
naqueles 15 dias? Por exemplo, pode dizer que já prescreveu (6 meses a contar da
prestação do serviço), quer evitar que o papel se torne título executivo, então alega
isto, como faz? Ele opõe-se e, ao se opor, opõe-se perante o balcão nacional de
injunções, e a secretaria deste envia o processo, já com dois articulados (requerimento
de injunção e oposição), para o tribunal judicial competente. Inicia-se um processo
judicial, cuja tramitação está prevista no art.3º e ss. deste DL. Ele evitou que aquele
papel, requerimento de injunção, se tornasse num título executivo, opondo-se. Ação
declarativa em que temos este requerimento de injunção e a contestação, pode haver
pedido reconvencional. E assim, temos processo declarativo que tramita como
processo especial, com estes dois articulados. O juiz dá um prazo às partes para se
quiserem reformular o requerimento de injunção e a oposição, que o façam. Princípio
da cooperação do tribunal com as partes. Isto sem que as partes usem este despacho
de aperfeiçoamento para alterar factos essenciais, isso não é permitido. A seguir é a
audiência de discussão e julgamento. Faz-se a produção de prova, breves declarações
orais e o juiz emite a sentença. Isto porque o alegado devedor opôs-se ao
requerimento de injunção.
Este requerimento de injunção também existe para entrega de coisa. Balcão nacional
do arrendamento. Exemplo, quando o senhorio muda as chaves e o inquilino não
consegue entrar no apartamento. O inquilino pode recorrer a este procedimento
administrativo. Se o senhorio não se opuser, este requerimento passa a ter força
executiva.
Regime do arrendamento urbano, lei 6/2006, a partir do art.15º. Requerimento de
injunção para permitir o despejo. Outra possibilidade de obter título executivo.
Imaginemos que o inquilino não pagou a renda ou o senhorio comunicou ao inquilino
que não quer renovar, duas hipóteses, e o inquilino continua no apartamento. O
contrato de arrendamento acompanhado do comprovativo de comunicação de que
não quer renovar o contrato são título executivo para ação executiva de entrega de
coisa certa. Diz lá que o inquilino tem de sair dia 1, ele não sai. Com base nestes dois
papéis, o senhorio pode intentar ação executiva.
Outro muito conhecido. Prédios em propriedade horizontal. Contitularidade de partes
que são de todos, partes comuns. As próprias casas, as paredes dessas casas também
são partes comuns, bem como o telhado. Propriedade horizontal. Isto gera despesas,
no mínimo com limpeza e elevadores. Essas despesas têm de ser pagas por todos, em
função da área ocupada pelos respetivos apartamentos (permilagem). Quid iuris se um
ou vários condóminos não pagarem as despesas. Há dívida ao próprio condomínio,
32
representado pelo administrador do condomínio (substituição processual). Nota: desde
1994, prescreve em 5 anos (DL 267?/94). O título executivo, para que o administrador
do condomínio não ande a intentar ações declarativas condenatórias, é a ata da
assembleia de condomínio, na qual se discriminam as despesas gerais e de cada
apartamento. Essa ata, independentemente de não ter sido assinada por todos,
porque não é preciso para o quórum, mesmo quem não tenha assinado essa ata, por
ter faltado, fica vinculado no disposto a essa ata no que toca às despesas. Mais um
documento particular, que é título executivo, que não tem a assinatura do devedor
(que neste caso é proprietário de frações autónomas que não tenha pagado despesas).
Ou seja, há outros títulos executivos que não estão no 703º, mas por remissão desta alínea d),
para outros DLs. Há outra situação. Por exemplo, se um aluno de universidade publica não
pagar as propinas e a reitoria as quiser cobrar coercivamente, pode emitir um documento onde
certifique a existência dessa dívida e que o aluno X deve a quantia Y. E o documento é enviado
como título executivo à autoridade tributária, aplicando o Código do Processo Tributário. Outro
exemplo é se passarmos na portagem sem pagar, recebemos o documento para pagar, não o
fazemos, o concessionário da autoestrada emite essa certidão de dívida, e envia para a AT,
processo executivo tributário, com base neste título executivo.
Vamos ver as situações em que um recurso ordinário uma vez interposto produz efeito
devolutivo, e não suspensivo. Um recurso se tem efeito suspensivo significa que enquanto a
decisão do tribunal para que se recorre não seja proferida, a decisão recorrida não produz
efeitos. Até à decisão que o tribunal hierarquicamente superior venha a tomar. Já efeito
meramente devolutivo significa que se abre uma nova instância e devolve-se o decidido, os
meios de prova, para a segunda instância, que vai reanalisar.
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Recurso de apelação, da 1ª instância para a 2ª instância, independentemente de serem
questões de forma ou de fundo. Efeitos do recurso de apelação, 647º - a regra é ser
efeito meramente devolutivo. Mas há exceções, situações em que o efeito suspensivo
ocorre, nº2. Se é devolutivo permite que durante a pendência do recurso de apelação
quem ganhou na primeira instância pode ajuizar a ação executiva. E o título executivo é
a sentença da primeira instância, apesar de esta não ter transitado ainda em julgado.
Se, em sede de recurso, a Relação revogar totalmente a sentença da primeira instância
que está a ser executada, 704º/2, se o recurso for julgado completamente procedente,
a execução extingue-se, e se já tiverem sido feitas penhoras, têm de ser levantadas e os
registos cancelados. Volta tudo à estaca zero. 839º/1/a) – se na ação executiva, já
tinham sido feitas penhoras e os bens penhorados já tinham sido vendidos, na
pendência do recurso, mas a Relação vem julgar o recurso completamente procedente.
Os bens penhorados já foram vendidos, mas a execução com base na qual os bens
foram vendidos foi para o lixo, o título executivo deixa de o ser. E agora? Os atos
exequendos têm de ser destruídos. A venda executiva fica sem efeito. Ainda que já
tenha havido registo, fica sem efeito. A pessoa que comprou tem de devolver o bem, e
é-lhe devolvido o dinheiro que pagou ao agente de execução.
Nota: aqui não importa se o terceiro que comprou estava de boa-fé ou não, porque
não é uma questão de invalidade, mas sim ineficácia.
Recurso de revista. Recurso que se interpõe do acórdão da Relação para o STJ? Pode
acontecer que a 1ª instância tenha absolvido o réu. Mas há recurso e o acórdão da 2ª
instância condena o réu. Pode ainda recorrer, porque há decisões divergentes e tendo
em conta o valor. Pode ser executado na pendência do recurso? Pode, o título
executivo é o acórdão da Relação. Quais os efeitos do recurso de revista uma vez
interposto? 676º - tem sempre, em regra, efeito meramente devolutivo, só tem efeito
suspensivo em ações respeitantes ao estado civil das pessoas. Se não há efeito
suspensivo, o acórdão da Relação pode ser título executivo. A execução é iniciada com
base na sentença condenatória.
Mas e se o recurso for julgado totalmente procedente? É tudo destruído.
Mas e se for parcialmente procedente? A execução modifica-se, ela está pendente, não
se extingue, só se modifica. Art.704º/2. Imaginemos que o recurso de apelação vem
dizer que o tribunal de 1ª instância julgou bem, mas errou a nível da condenação do
montante a pagar. É parcialmente procedente. O título executivo, que é o acórdão da
Relação, diz que a execução tem de tramitar por valor diferente. 5 mil em vez de 10
mil. Mas já foram penhorados bens, em valor superior a 10 mil. À luz do princípio da
proporcionalidade, têm de ser levantadas algumas penhoras, para a execução coincidir
com o valor atual de 5 mil. Não podem ficar bens penhorados no valor de 10 mil. É isto
que significa alteração da execução, em função de novo título executivo, que é o
acórdão da segunda instância que revogou parcialmente a sentença da 1ª.
Há contratos em que a sua perfeição não se basta com a mera declaração de vontade, com o
princípio da consensualidade, sendo preciso mais do que o acordo, sendo preciso a entrega.
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Que negócios reais são estes? Depósito, mútuo, locação. Há situações em que não basta o
mero acordo, para a perfeição do negócio ser atingida. Pode já produzir efeitos, mas para ser
perfeito é preciso entrega. No caso do mútuo, que gera ações executivas para pagamento de
quantia certa, podemos ter mútuo em que se convencionam prestações futuras, reconstituição
do capital e dos juros, do mutuário ao mutuante. Se não houvesse o art.707º, o banco que
emprestou 100 mil euros a um casal, documento assinado por ambos, e que convencionou 735
euros a pagar por eles por mês, passado 4 meses, os mutuários deixam de pagar estas
prestações, e vem o banco, com base neste documento, executar. O casal defende-se dizendo
que o banco não transferiu para eles os 100 mil euros. Faltava aqui, da parte do mutuante, a
entrega do dinheiro e a atestação por parte dos mutuários que tinham recebido o dinheiro.
707º, a partir da quarta linha. A prestação de transferir os 100 mil euros da conta do banco
para os mutuários não foi feita. Assim, esse documento tem de conter a assinatura de ambos
os mutuários e que os mutuários reconhecem que o mutuante já transferiu os 100 mil euros
para a conta deles. Eles confessam no documento que o banco já transferiu, o documento é a
garantia do mutuário. Para que a escritura de mútuo seja título executivo, é preciso ser aposto
a ele um documento particular assinado pelos devedores mutuários em que estes reconhecem
que o banco cumpriu a parte dele, ou seja, que transferiu o dinheiro. Contrato já feito em que
uma das partes fica obrigada a prestações futuras.
Agora, vamos ver um contrato do qual nascem obrigações futuras, e não prestações futuras.
Exemplo, contrato de abertura de crédito, contrato-quadro que regula conteúdo de futuros
contratos que as partes podem celebrar. O contrato de abertura de crédito regula contratos de
mútuo que irão acontecer no futuro. Estipulam montantes máximos por ano e juros.
Imaginemos que o banco e o gerente de uma empresa fazem um contrato de abertura de
crédito. Amanhã o empresário já precisa de dinheiro, então pede ao gerente para transferir um
certo montante, este diz-lhe que ele ainda não atingiu o plafom definido no contrato de
abertura de crédito, pelo que empresta - contrato de mútuo. Mas para além deste contrato de
mútuo, é preciso um documento particular revestido de força executiva própria no qual o
devedor reconheça que foi constituída uma obrigação futura de devolução do dinheiro e dos
juros. É preciso reconhecer que o banco transferiu o dinheiro. Só assim é que o contrato de
mútuo está perfeito. Temos documento particular autenticado (que reconhece que foi
transferido o dinheiro, este tem de ser autenticado pelo advogado ou solicitador) e outro
documento particular de mútuo – só assim é título executivo.
09/04
Da ação executiva propriamente dita, não das ações declarativas que tramitam por apenso.
Art.550º CPC – forma do processo executivo comum (porque há ações executivas especiais,
que tramitam com processo especial). A maioria das ações executivas ajuizadas para
pagamento de quantia certa em PT tramitam sob uma destas duas formas. Duas formas de
processo comum: ou tramitam sob forma ordinária ou sob forma sumária. Quando se aplica o
processo sumário para pagamento de quantia certa e quando se aplica o processo ordinário
para pagamento de quantia certa?
Na maioria das ações executivas para pagamento de quantia certa aplica-se o processo
sumário, e não tanto o ordinário.
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Art.550º CPC. Dois critérios que marcam o trâmite, um ou outro: o tipo de título executivo em
causa; e se há ou não há direito real de garantia já constituído sobre bens (do devedor ou de
terceiro). E há outro critério residual, que pode gerar mais dúvidas, que é o próprio valor da
execução.
Primeiro critério: título executivo. Quão mais forte é o título executivo, também haverá maior
probabilidade de a ação executiva tramitar sob a forma sumária. O que são títulos executivos
fortes? Aqueles que com muito grande probabilidade fazem presumir que a dívida ainda existe.
Quais os títulos executivos que asseguram esta probabilidade estatística? Sentenças
condenatórias e o requerimento de injunção no qual seja aposta a fórmula executória.
Isto porque, na primeira hipótese, se o réu foi condenado a pagar por um juiz ou por
desembargadores no recurso, é porque teve todo um processo declarativo para exercer o
contraditório e mesmo assim perdeu, por isso está à espera de quê para pagar? Se foi
condenado numa sentença, este é o título executivo mais forte. O credor terá todo o interesse
que o Estado lhe ofereça um processo rápido e lhe garanta penhoras sem pré-aviso ao
executado. Quanto ao requerimento de injunção ao qual foi aposta fórmula executória, há um
alegado credor, que usa o BNI para notificar o alegado devedor de que lhe deve, esse alegado
devedor é notificado para em 15 dias pagar ou opor-se, se deixa passar 15 dias sem se opor é
porque estará a “aceitar que deve”, senão ter-se-ia oposto. Assim, estes títulos executivos são
os mais fortes. 550º/2: são os dois primeiros títulos executivos que marcam e determinam que
a ação executiva siga de forma de processo sumário.
Nas ações executivas que tramitam sob forma sumária: 855º, sobretudo o nº3, se os
pressupostos processuais estiverem verificados e o agente de execução não tiver dúvidas, este
recebe o requerimento executivo da secretaria e tenta logo identificar e localizar bens
penhoráveis na esfera do executado, e quando os localiza, penhora-os imediatamente, e só
depois de estarem penhorados, é que o devedor citado é notificado para pagar
voluntariamente ou opor-se à penhora e à execução. Quando é citado, os bens já estão
penhorados. As execuções que seguem o processo sumário são feitas sem que o citado saiba
que contra ele corre uma ação executiva, desequilibra-se a balança a favor do credor
exequente pois ele tem títulos executivos que permitiram ao executado, antes de esses títulos
nascerem, o exercício de um contraditório pleno. Se não o exerceu, problema dele.
Mas há outras situações em que se permite ao exequente fazer tramitar sob forma sumária (o
prof considera justas):
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depois é penhorado. Faz sentido avançar logo para a penhora, e o devedor saber apenas da
ação executiva quando for citado para se opor à penhora, já feita, pois há uns anos, para
garantir o cumprimento da obrigação, constituiu a garantia. Converte-se o penhor em penhora,
no início da ação executiva, pois esta execução segue forma sumária, o executado é o último a
saber, que contra si está a correr ação executiva, só sabe quando as penhoras já ocorreram,
quando é citado e toma conhecimento de que é réu numa ação executiva.
Podemos estar a tratar aqui de títulos executivos extrajudiciais, como confissões de dívida.
550º/3/a) - Outra hipótese, título executivo extrajudicial, com garantia real sobre bens do
devedor, daqueles que permite ajuizar sob forma sumária. Porém, há dúvida se a obrigação
exequenda é exigível, ou certa, este pressuposto processual em dúvida, não se pode partir logo
para as penhoras, tem de se resolver essa dúvida. Tem de se acertar a liquidez, certa ou
exigibilidade, e só depois disso é que se pode avançar. Se a obrigação exequenda se apresenta
com dúvidas, não se pode seguir o processo sumário, mas sim o ordinário.
Mas se eu for credor, se o devedor falhar, vou querer ter a possibilidade de executar sob forma
sumária, pois se for de forma ordinária, vou dizer-lhe, antes de poder penhorar os seus bens,
que ele é réu. Será que o legislador não previu hipóteses em que mesmo que tenha de tramitar
sob forma ordinária, seja possível dispensar a citação prévia ao devedor para pagar ou para se
opor à execução? Fazerem-se as penhoras antes da citação? Sim, há desvios à regra. O
exequente tem um documento particular, assinado pelo devedor, com assinatura reconhecida,
mas há dúvidas quanto à quantificação, liquidez, dessa obrigação, não dependendo de simples
cálculo aritmético, é preciso outro tipo de provas (ir ao terreno, provas periciais, …). Há título
executivo, mas há problema de liquidez. Então, tem de se deduzir ação executiva sob forma
ordinária. Mas, imaginemos que ao conhecimento do credor chegou a notícia de que a mulher
do dono da obra, investidor imobiliário, anda a dizer no Pingo Doce que anda a correr tudo
mal, e que vão ver se vão investir para Angola, e que estão a tentar vender as coisas cá. É uma
conversa de acordo com a qual o construtor, alegado devedor, está a tentar vender património
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para obter uma quantia suficiente para se mudar para Angola. O exequente sabe disto e vai
contar ao advogado. Há testemunhas que podem narrar estes factos que podem indiciar que a
garantia patrimonial do credor pode estar em sério risco, ou seja, o património do devedor
pode estar em risco. Perante esta história que o exequente conta ao seu advogado, o seu
advogado pode, ao propor a ação executiva, não podendo ser sob forma sumária pois o título
carece de liquidação, mas no requerimento executivo vai alegar as ocorrências da vida real que
consubstanciem esse risco de o devedor executado não ter bens suscetíveis de penhora em PT,
a curto prazo. Neste caso, o juiz, quando recebe da secretaria o requerimento executivo, lê-o e
percebe que estão aqui alegados factos que consubstanciam o justo receio do exequente
perder a garantia patrimonial. Assim, o juiz aplica o disposto no art.727º/2. Perante o que ele
aqui diz, e os meios de prova, o juiz marca uma audiência de produção de prova, e notifica para
comparecer o credor exequente e as testemunhas por ele arroladas. Não vai citar o devedor
para ele dizer se é verdade. Produzidas as provas, o juiz pode dispensar essa citação prévia, se
ficar convencido que é justificado esse receio de a garantia patrimonial do credor, os bens do
executado, se perderem. Isto é tudo através de indícios, retiramos dos mesmos uma ilação.
Falámos disto na providência cautelar do arresto. Usa-se os fundamentos de que depende o
arresto para obter a citação prévia. Não é um arresto, porque senão o juiz decretava o arresto
no processo executivo. O juiz o que quer é dispensar a citação prévia do executado, e que o
agente de execução vá logo localizar os bens penhoráveis e só depois de os penhorar, com
efeito surpresa, é que se chama o devedor. Não se arrestam os bens (porque isto é na
antecâmara do processo executivo), o que se faz é penhorá-los. Se o processo executivo já está
pendente, o que se faz é penhorar. Mas os fundamentos para dispensar a citação prévia são os
mesmos do arresto.
Então, dois caminhos que pode seguir o início de uma ação executiva para pagamento de
quantia certa: forma ordinária e forma sumária.
Agora vamos ver o trâmite das execuções mais recorrentes para pagamento de quantia certa,
que seguem a forma sumária.
855º e ss. Disposições específicas quanto ao trâmite das execuções sumárias. 855º/3, pois
estamos a supor que está tudo bem, não há dúvidas quanto aos pressupostos processuais.
Assim, depois do advogado fazer o requerimento executivo por via eletrónica, tendo a
secretaria já o número do processo, e o mesmo distribuído, faz autos, coloca cópia do
requerimento executivo e os documentos (nomeadamente o título executivo) que o
acompanham, e manda-o ao agente de execução. Se isto correr assim, a secretaria judicial é
uma mera caixa de correio, limita-se a enviar o requerimento executivo e os documentos que o
acompanham ao agente de execução, o juiz não intervém, nem o executado sabe de nada. O
oficial de justiça, depois de verificar que é processo sumário, envia eletronicamente ao agente
de execução que tiver sido indicado pelo exequente no requerimento executivo. Ele tem de
perceber se pode ou não aceitar, pois o Estatuto da Ordem dos Solicitadores e Agentes de
Execução determina que pode haver incompatibilidades, impedimentos e suspeições. Mas
vamos supor que não há. Portanto, aceita. Depois de aceitar, 748º, norma do processo
ordinário, mas que se aplica ao sumário. O registo informático de execuções é uma espécie de
cadastro de ações executivas, e que diz se estas terminaram com pagamento integral ou não.
38
Ele consulta a lista de execuções, e se não aparecer o nome deste executado, 749º, não teve
nenhuma execução contra ele movida, pelo que o agente de execução tem de, no prazo de 20
dias, identificar e localizar bens penhoráveis. Mas ele pode, em poucos minutos, consultando
certas bases de dados, identificar e penhorar logo certos bens e direitos. Se ele em 20 dias não
conseguir, 750º, vai continuar a tentar no prazo de 3 meses, a partir do momento em que pôde
começar a diligenciar para localizar bens penhoráveis, e se não encontrar bens penhoráveis
nesse prazo, notifica o exequente para que este identifique se souber de bens, e notifica o
executado para indicar bens à penhora, e se este mentir há penalizações patrimoniais. Se nem
o executado nem o exequente indicarem bens penhoráveis, no prazo de 10 dias, extingue-se a
execução. Isto aplica-se ao processo ordinário e ao sumário. Extingue-se, e agora, enquanto
aquela obrigação pecuniária não prescreve pode renovar-se a instância executiva, com o
conhecimento de bens penhoráveis na esfera jurídica do executado. Não há caso julgado na
ação executiva propriamente dita. Mas, o agente de execução fez certas diligências. Há um
conjunto de bases de dados eletrónicas a que o agente de execução tem acesso imediato. Por
exemplo, base de dados do instituto da Segurança Social, pois na maioria das execuções
penhora-se parte dos salários e de pensões de aposentação, pois quer as entidades patronais
quer as entidades pagadoras de pensões de reforma quando pagam estas quantias têm de
descontar e entregar a taxa social única à SS. E ao enviar isto, vai com a indicação do
trabalhador e a quantia que ele ganha bruta e com os descontos. Identificando o nome do
trabalhador, se for o executado, sabe-se quanto ele ganha, para o agente de execução saber
quanto pode penhorar.
Diligências prévias à penhora, que se traduzem na maioria das vezes à consulta de bases de
dados. Vimos a da SS, que é para a penhora de salários.
O agente de execução também deve consultar a base de dados do fisco. Tem de ser o juiz de
execução a autorizar para o acesso às declarações de IRS e IRC. 749º. Exemplo, um sujeito que
compra um terreno ao vizinho, o vendedor diz para o comprador não se esquecer de ir à
Repartição de Finanças para ir pôr o prédio em seu nome, mas a venda foi nula porque foi por
boca. E vai à Repartição de Finanças declarar que é o novo dono por causa do IMI. Disseram
que eram os donos, mas na perspetiva da AT o que importa é quem paga o IMI. Estes cadastros
valem o que valem, pois o que pode acontecer é na AT estar registado em nome de uma
pessoa, e estar omisso na conservatória do registo predial. Estando omisso nesta, quando se
faz a penhora deste imóvel, tem o agente de execução de fazer esta inscrição na conservatória,
em nome do executado. Se o prédio já não for do executado, que venha o verdadeiro dono
embargar de terceiro. Esta base de dados vale o que vale, porque não se garante que o nome
que lá esteja seja do verdadeiro dono do prédio, pode ser só o sujeito passivo tributário.
Navios, barcos, com matrícula portuguesa, a partir de certas tonelagens têm de ser levados a
registo, para efeitos de oponibilidade a terceiros. Podem ser objeto de hipoteca coisas móveis
sujeitas a registo. E são levadas a registo na conservatória do registo predial. É também na base
de dados do instituto de registos e notariado que se vai procurar.
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Já aviões, helicópteros, ou seja, aeronaves, com matrícula portuguesa, são registados na
Autoridade de Aeronáutica Portuguesa (não é o IRN). Vai-se à base de dados deste.
Direitos de propriedade industrial. O executado pode ser titular de direitos destes. Por
exemplo, de uma patente, marcas, se o empresário for executado, vai-se à base de dados do
Instituto Nacional da Propriedade Industrial. E quanto a direitos de autor? Podem ser
registados para efeitos de ónus da prova. É um departamento do Ministério da Cultura. O
registo não é obrigatório, porque estes direitos nascem com a exteriorização. Ex., execução
contra o Toy, podia penhorar-se as receitas que ele possa ter enquanto esteja pendente a
execução, a entidade pagadora não lhe entregava tais quantias, mas sim ao agente de
execução.
A penhora é uma ofensa ao direito de propriedade privada, a direitos subjetivos que expressam
direitos reais menores, é uma ofensa a créditos. As Constituições protegem a propriedade
privada. É preciso ter cuidado ao ataque a esta, quando os agentes de execução fazem
penhoras. Não pode deixar de ser aplicado o princípio da proporcionalidade na realização das
penhoras. Desdobra-se na necessidade (tem de ser necessário penhorar o bem) e proibição do
excesso (se já chega, não se vai penhorar mais). Há interesses a ter em conta, por exemplo, do
cônjuge do executado, dos seus trabalhadores, etc. O ataque ao património do executado tem
de ser feito nos termos da proporcionalidade. Art.751º. logo no nº1, está o afloramento do pp.
da proporcionalidade. A penhora deve começar pelos bens que permitam uma mais fácil
realização do valor pecuniário em causa, que mais facilmente podem ser alienados e com o
produto dessa alienação mais fácil e rapidamente se satisfazer a obrigação exequenda. O
exequente não pode dar ordens ao agente de execução para penhorar certos bens em
detrimento de outros. Porque se assim fosse, se o exequente pudesse vincular o agente de
execução, ia dizer-lhe para penhorar bens que dissessem muito, até emocionalmente, ao
executado. Não pode ser assim. O agente de execução não é mandatário do exequente, não
recebe ordens dele. Pode apenas olhar. Ler e receber alguns conselhos do exequente. Mas se
essas indicações violarem normas legais que impedem penhoras e se violarem o pp. da
proporcionalidade, já não deve fazer a penhora.
Quais os bens que mais facilmente realizam o valor pecuniário em dívida, uma vez
penhorados? Salários (e pensões de aposentação) e saldos de contas bancárias (não apenas
depósitos a ordem, mas também valores imobiliários em fundos de investimento, portanto,
qualquer aplicação financeira que o executado tenha em bancos).
Mas o legislador foi ao ponto de dizer, à luz do pp. da proporcionalidade, em que situações é
que imóveis, ou a casa de habitação efetiva e própria do executado, estabelecimentos
comerciais, podem ser penhorados. 751º/4.
751º/4/a) - execuções até 10 mil euros, mesmo que a casa valha 130 mil e a dívida seja de 8
mil, pode só nas condições mencionadas na alínea, se em 2 anos e meio os bens já penhoráveis
não satisfazerem os 8 mil euros de dívida, pode penhorar-se o apartamento onde o executado
vive com a família. Exemplo, o executado recebe 1000 euros. Só se pode penhorar a diferença
entre o salário mínimo e o salário do executado. Só se pode penhorar 180 por mês, isto vezes 2
40
anos e meio só dá 5000 e pouco, não atinge os 8 mil. O salário não realiza a dívida. Portanto,
pode penhorar-se o apartamento inscrito em nome do executado. Mesmo que viva com a
família. Podem é aplicar-se normas da Segurança Social. Mas pode penhorar-se. Se o
apartamento for vendido pelo agente de execução por 130 mil, esse dinheiro paga a obrigação
exequenda, e liquidam-se as custas. O remanescente é entregue ao executado. Ficou sem o
apartamento, mas fica com cerca de 118 ou 119 mil euros. E pode com isto comprar ou
arrendar casa.
751º/1/b) - se a execução for superior a 10 mil euros, pode ser penhorada a casa de habitação
efetiva própria do executado se os outros bens penhorados não permitirem satisfazer o crédito
pecuniário em dívida no prazo de 1 ano. Mesmo que o executado ganhe 3 mil euros líquidos
por mês. Se o valor é superior a 10 mil euros, o credor está a arder, e se é mais grave para o
credor, ele tem de ter a garantia do Estado de que a execução será o mais célere possível.
Pp. da proporcionalidade da penhora (735º/3) já vimos que atua protegendo o executado, mas
não desprotegendo os interesses egoísticos do exequente, que quer celeridade.
Impenhorabilidades:
736º, não é exaustivo, pode haver leis e decretos-lei que impeçam a penhora, para além desta
lista. Mas esta lista é grande. Se um bem ou direito é inalienável, fora do comércio jurídico, não
faz sentido penhorar, porque depois não se pode vender, é inútil. Exemplo, penhora de
gâmetas, células sexuais femininas ou masculinas para futuros projetos parentais, que tenham
sido criados e armazenados em laboratório. Noutros países, gâmetas compram e vendem-se.
Em PT, não, é nulo por violação dos bons costumes. Há muitas situações de coisas fora do
comércio jurídico. E direitos que não podem ser penhorados, por exemplo, pensão de
alimentos. Se o jovem maior, mas menor de 25 anos, a acabar a licenciatura, contrair uma
dívida e está a ser executado, não pode ser penhorada a sua pensão de alimentos. Bens do
domínio público do Estado também, art.84º CRP. Numa execução civil contra uma freguesia (ou
outra instituição pública), pode uma freguesia dever dinheiro a um empreiteiro, não pode o
credor penhorar os primeiros 2 quilómetros da estrada municipal. Os caminhos públicos,
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estradas municipais, nacionais, autoestradas, vias de caminho de ferro, etc., não podem ser
penhorados. Tudo o que esteja acima do solo do proprietário privado, é domínio público. O
Estado pode dever a alguém, e essa pessoa pode querer penhorar espaço radioelétrico, que
tenha sido concedido à Vodafone, não dá, o espaço radioelétrico não pode ser penhorado. Na
alínea c), objetos não passíveis de penhora por esta ser ofensiva aos bons costumes, o prof.
não consegue dar exemplos atualmente. Exemplo, a penhora de objetos e imagens de santos e
santas na religião católica, em que os santos são adorados, se a execução foi contra a fábrica da
Igreja (trata dos assuntos laicos de administração dos bens), que ficou em dívida com um
fornecedor, e a fábrica tem lá um andor da nossa senhora, pode ou não penhorar? Podemos
dizer que pode. Portanto, o prof. não consegue dizer nenhum exemplo. Preenchemos esta
alínea recorrendo a situações aberrantes para a pessoa normal. Sociedade aberta, sem pré-
compreensões, o que choca, o que é aberrante, só isso pode levar a impenhorabilidade. Uma
arma de destruição de pessoas, por exemplo.
16/04
Ex., o direito de uso e habitação é um direito real de gozo que se constitui para satisfazer os
interesses do usuário. Não pode ser transmitido nem cedido pelo usuário. Etc.
Alínea c) - apreensão que à luz de uma pessoa média que viva na civilização ocidental possa
parecer aberrante, repugnante, penhorarem-se tais bens.
Falámos de gâmetas; certos tipos de armas, cuja utilização é proibida pelas Nações Unidas; etc.
Ainda na alínea c). Objetos cuja apreensão careça de justificação económica, valor reduzida.
Apreensão não se justifica, por serem de valor reduzido.
Alínea d) – objetos especialmente destinados ao culto. Ex., terços. Mas se estiverem numa loja,
numa execução movida contra o dono da loja, já se podem penhorar (porque senão toda a
gente abria lojas destas e ficava a dever a toda a gente).
Alínea e) – túmulos. Essas áreas, 7 palmos de terra, são bens do domínio privado disponível
das autarquias. Disponível no sentido em que esses espaços apenas podem ser objeto de
cedência, de utilização, desde que as regras do regulamento do cemitério definido pelo
município sejam cumpridas, sob pena do resgate dessa concessão. Não pode o devedor, ou
permitir que seja penhorado, esse direito de utilização. Não é propriedade plena sobre a
sepultura, campa ou jazigo, tem é o direito de utilizar o jazigo. Nem se constitui direito de
superfície, são regras de direito administrativo que permitem a utilização desses espaços pelos
cidadãos que lá querem ser enterrados. O objeto de penhora seria o direito de utilização.
Nas alíneas f) e g) são os equívocos. Bens relativamente impenhoráveis. Não deveriam estar
neste artigo, mas sim no seguinte. Podem ser penhorados em certas situações e noutras não.
Ex., cadeiras de rodas só não podem ser penhoradas se a afetação concreta à pessoa do
devedor estiver a ser objeto de atuação pelo devedor executado, se estiver a ser usada por ele.
Mas se a cadeira de rodas já estiver arrumada porque ele já tem outra, pode ser penhorada.
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Alínea g), também não devia estar aqui, mas sim no artigo seguinte. “de companhia”. Se o
concreto animal não for de companhia, pode ser penhorado. Mas se for de companhia, se
satisfizer o afeto que o ser humano carece, já não pode. Não tem de ser cão ou gato. Temos de
ver caso a caso. Há pessoas que criam cães, e numa execução movida contra o criador, pode
penhorar-se os cãos porque os animais nesse caso não estão a desempenhar a função de
animal de companhia.
Por ex., pode penhorar-se o veículo que é propriedade do município onde se desloca o
presidente da câmara.
Instalações do município, onde financiado pela UE está instalado um lar de idosos, cumprindo
o programa, já não se pode penhorar essas instalações. Mas, se deixar de ser de utilidade
pública, por ex., já não estando lá os idosos mas sim um estabelecimento comercial de um
indivíduo. Pode penhorar-se numa execução movida contra o município.
Nº3 – bens indispensáveis a qualquer economia doméstica, não tomamos em conta o estatuto
socioeconómico do executado. Olhamos para o padrão das nossas sociedades ocidentais e
tentamos ver os objetos indispensáveis a qualquer economia doméstica. Ex., frigorífico, fogão,
colchão, etc. Todos estes objetos, ainda que indispensáveis, podem ser penhorados se o credor
for o vendedor dos bens.
Não estamos a falar de bens corpóreos. Não se pode tirar 4 rodas do carro, porque o carro é
indivisível, uma coisa, cujas partes componentes não são uma unidade. O legislador aqui estava
a pensar em direitos de crédito, podem ser parcialmente, e não totalmente, penhoráveis.
Créditos pecuniários, e não créditos a entrega de coisas. Quando o executado é trabalhador,
qual é o crédito que ele tem sobre a entidade empregadora? Direito a receber o salário. Esse
direito de crédito, já vencido ou vincendo, podem ser objeto de penhora. Esses direitos de
crédito respeitantes a salários, pensões de aposentação, prestações sociais que possam ser
penhoráveis, seguros, rendas vitalícias. 738º/1 parte final – quaisquer outras prestações que
assegurem a subsistência do executado: ex., rendas, pois há pessoas que só vivem de rendas,
senhorios que não fazem mais nada, e têm pensão muito baixinha, não conseguem viver só
com a pensão, as rendas, que lhe permitem subsistir, podem ser penhoradas, mas com limites,
não pode ser a totalidade das rendas. E rendimentos de capitais, juros; há pessoas que só são
sócios, não administradoras das sociedades, que recebem dividendos, podendo assegurar a
subsistência da pessoa, que não faz nada.
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Temos de ver se é o único crédito que assegura a subsistência da pessoa. Qual o limite da
impenhorabilidade? Só se pode penhorar 1/3, são impenhoráveis 2/3. Mas, ajustes, parte final
do nº3 do 738º, se o executado ganhar o salário mínimo líquido, nada pode ser penhorado
desse salário. Nenhum montante desse salário pode ser penhorado. Mas se este executado
ganhar 1000 euros, não se pode penhorar 1/3, mas sim a diferença entre 820 (salário mínimo)
e o que ele ganha. Se pudéssemos penhorar 1/3 a pessoa ficaria com 733 euros, o que seria
abaixo do salário mínimo, e não pode ser. Temos de garantir a subsistência do executado em
montante igual ao salário mínimo. Mas há limites máximos também, imaginemos alguém que
ganha 9 mil euros líquidos, se aplicássemos a regra geral, podíamos penhorar a esta pessoa só
3 mil euros (1/3), ou seja, a pessoa ficaria com 6 mil, não é justo na perspetiva do credor.
Primeira parte do nº3 do 738º - esta pessoa que ganha muito tem, no mínimo, a garantia de
ficar com o equivalente a 3 salários mínimos, o resto pode ser penhorado. Três salários
mínimos no caso referido é 2160 euros. Podemos penhorar a diferença entre 9 mil e 2160.
Pode pedir-se a substituição das quantias penhoráveis por outros bens. se o agente de
execução recusar, então há recurso para o juiz.
Duas outras situações, relativas a salários e pensões de aposentação. A maioria das pessoas
recebem por transferência bancária. 738º/5. As regras da impenhorabilidade equivalente ao
salário mínimo também se aplicam nesses casos. Não pode o agente de execução penhorar o
valor total da conta bancária que recebe. Mas isto pode gerar problemas. (ver melhor este
738º/5). Nota: bit coin, não pode o banco central obrigar o servidor a revelar as quantias,
porque a pessoa pode não dar a senha, e não pode ser forçada com violência a dá-la. Se a
pessoa não diz a senha, o agente de execução não pode converter as moedas eletrónicas em
euros, libras, etc.
Por vezes, 738º/4, podemos penhorar quase todas as quantias que o executado receba como
salário, pensão, renda vitalícia. Não tem de se respeitar aquelas regras de salário mínimo que
vimos. Por ex., na situação em que o credor é credor de alimentos. Pode penhorar-se tudo e só
deixar livre para o executado uma quantia equivalente à pensão social do regime não
contributivo (este ano, 245 euros). Aquelas pessoas que nunca descontaram, para a SS, ou não
trabalharam ou trabalharam mas não fizeram descontos, podem ter acesso na mesma a essa
pensão mínima. Esta é o padrão objetivo, o montante equivalente a essa pensão nunca pode
ser penhorado. Imaginemos que o indivíduo ganha o salário mínimo e tem de pagar pensão de
alimentos ao filho, já não vive com ele, o devedor ganha o salário mínimo, 820, podemos
penhorar a diferença entre 245 euros e 820 euros. Isto por causa da natureza desta dívida, que
visa satisfazer o direito fundamental mais importante, a vida, do credor. Daí que o devedor não
seja protegido à luz das regras gerais (salário mínimo). 245 é o valor intocável neste caso.
Penhorabilidade subsidiária:
745º. Quando um bem ou património se diz subsidiariamente penhorável significa que esse
bem ou património só podem ser penhorados após outros bens ou patrimónios o serem.
Temos como exemplo o fiador, devedor que pode ser subsidiariamente atingido nos seus bens.
O fiador pode ser devedor principal. 745º/2. Ex., pergunto ao meu familiar se quer ser meu
fiador porque vou pedir um empréstimo ao banco para comprar um terreno, no contrato de
mútuo, feito com o banco, está escrito como terceiro outorgante o fiador, como “fiador e
principal pagador”. Muita gente não sabe o que significa mesmo, que a pessoa que assinou
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como fiador assinou também como principal devedor, ou seja, codevedor, renunciando ao
benefício de excussão prévia. O banco, ao executar, tanto se pode dirigir primeiro ao
património do devedor que pediu o empréstimo como ao do fiador. A escritura de mútuo e o
documento assinado pelo devedor no qual ele reconhece que o dinheiro foi transferido pelo
banco é o título executivo.
Quando existe benefício de excussão prévia, o devedor subsidiário só pode ver o seu
património penhorado depois de atacado o património do devedor principal. Um dos exemplos
é o fiador. Outro exemplo é primeiro ter de se penhorar bens próprios do cônjuge devedor, se a
dívida for de exclusiva responsabilidade dele, e só depois, subsidiariamente, poder ir aos bens
comuns. Já se a dívida for de ambos, primeiro penhora-se bens comuns, e só subsidiariamente
bens próprios. 740º CPC e ss.
Por dívidas da sociedade por quotas, alguns sócios podem responder até certo limite com os
seus bens próprios. Há separação dos patrimónios. Mas se não houver separação total de
patrimónios para efeitos de pagamento de dívidas, pacto social, por dívidas da sociedade por
quotas, tentam-se penhorar bens da sociedade, se não forem suficientes, penhora-se o
património próprio dos sócios. E depois ainda podemos ter problemas conjugais, se o sócio for
casado.
Bem previamente identificado na consulta ao IRN pelo agente de execução, e o primeiro ato
(início do nº1 do 755º) é a comunicação eletrónica de pedido de penhora, preenchendo o
formulário online. E vale como pedido de registo. (nota: é importante saber qual dos credores
registou primeiro o seu direito real de garantia). E o registo de penhora tem natureza urgente.
É inscrita a penhora na matrícula do prédio.
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estavam onerados com direitos reais de garantia. E se o devedor estiver a ser executado, perde
o benefício de prazo, e os outros credores podem vir dizer que os seus créditos se venceram
imediatamente.
Mas, situações especiais: o depositário não é sempre o agente de execução. Quem está mais
perto do imóvel penhorado? Normalmente, quem lá vive, se o imóvel for habitado, pode ser o
depositário o próprio executado, sendo a sua casa de habitação efetiva. Outra hipótese é o
imóvel estar arrendado, o depositário é o arrendatário. Os depositários têm este encargo de
abrir para potenciais compradores. Nota: usufrutuário e usuário, não sendo penhoráveis os
seus direitos de usufruto e de uso e habitação, mas sim a nua propriedade, em execução
movida contra o proprietário, também podem ser depositários. Outra possibilidade é haver
alguém, que não proprietário nem inquilino, que lá esteja a viver, a reter o bem, o retentor. O
retentor do imóvel. No caso de incumprimento de contrato-promessa. Resolve o contrato, tem
direito a indemnização, enquanto não receber, pode dizer que não sai de lá, exercendo direito
de retenção, direito real de garantia não registável.
Estando o imóvel desabitado, eventualmente, pode haver dificuldade em tomar posse desse
imóvel, podem lá estar clandestinos, ou pessoas contratadas pelo executado para causarem
confusão, para afugentar potenciais compradores, e não deixarem o agente de execução fazer
o seu trabalho. Pode ser preciso outro ato processual, que pode envolver violência do Estado
contra quem impedir a posse do prédio. Se não está ninguém lá a viver, o depositário é o
agente de execução, e se está lá alguém a impedir, se houver resistência, do próprio executado
a dizer que ali ninguém entra, ou de outro por ele contratado para fazer essa resistência,
757º/2, tem de se solicitar a intervenção das autoridades policiais, para tomar posse efetiva do
imóvel. É preciso avaliar a situação em termos de perturbação da ordem pública, pode ser
preciso adiar a intervenção por serem precisos reforços. Já foram mortos agentes de execução
por executados. Aplicam-se as regras do CPP. 757º/5.
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Obrigação exequente de 100 mil euros, penhora-se um prédio que vale 1 milhão, vários
apartamentos em cada piso. À luz do princípio da proporcionalidade, o executado pode
requerer a divisão do prédio, neste caso, não constituído em propriedade horizontal. Não são
frações autónomas, o prédio é unidade, se vamos penhorar o prédio, de 1 milhão, e vendê-lo, é
um pouco injusto do ponto de vista do executado. Assim, o executado pode pedir que o juiz
autorize a divisão do prédio penhorado. 759º. Temos de observar as regras do município, se o
município autoriza a constituição de propriedade horizontal do prédio. Feita a divisão, com
constituição da propriedade horizontal, o objeto da penhora altera-se, antes abrangia o prédio,
agora abrange apenas um ou dois apartamentos, libertando-se as outras frações autónomas,
que se tornaram agora coisas, por terem sido constituídos em propriedade horizontal. Pode-se
reduzir, transformando a penhora do todo, em penhora de partes, que são agora coisas
autónomas.
Imaginem que há um prédio desocupado, um armazém. É justo que fique desocupado até à
venda, desde a data da penhora, que pode demorar? O exequente pode ter interesse em que
esse bem seja explorado, por ex., sendo dado de arrendamento, comercial ou para habitação.
Administração dos bens penhorados. Mas o depositário é um administrador? O depositário só
guarda, cuida, tem uma conduta passiva, não visa frutificar esse bem. Já o administrador de
bem alheio tem atitude mais ativa, tendo de ter autorização do executado para o explorar, por
ex., pondo inquilinos nesse apartamento ou armazém vago, obtendo rendas, mas se o
executado se opuser, o juiz decide. 760º. Pode o juiz autorizar a prática deste ato de
administrador, permitindo que o depositário, no caso o agente de execução, passe ainda a
administrador do bem. Nota: o inquilino tem de saber que lá está temporariamente, os direitos
de gozo constituídos depois da penhora caducam, quando se vende o bem, se esses direitos de
gozo tiverem sido constituídos após o registo da penhora - 824º/2 CC. Mas, pode haver outros
problemas quanto à administração de bens penhorados.
Alguns bens móveis são sujeitos a registo, outros não. A penhora é diferente.
Penhora de bens móveis sujeitos a registo (768º) – como se faz a penhora de um móvel sujeito
a registo? Primeiro tramite é idêntico ao que vimos para os imóveis - entra-se no sistema
informático, plataforma do IRN, e preenche-se o formulário. Vale como pedido de registo de
penhora do veículo, em nome do executado. Feito o registo da penhora, o serviço vai enviar as
certidões que estiverem em vigor em relação àquele automóvel. 768º/2, antes da penhora
física ser efetivada e o veículo ser removido para um depósito, o agente de execução pode
imobilizar o veículo. Diligência cautelar que antecipa a penhora física. Se o agente de execução
não fizer esta apreensão, pode desaparecer o bem, e os executados mais espertos iam até à
polícia dizer que o carro lhes tinha sido furtado, sendo que na verdade provavelmente já
tinham vendido o carro à peça. O agente de execução deve verificar se o veículo existe e está
no sítio, e coloca os imobilizadores, formulando só depois o pedido de registo da penhora.
768º/3. Um agente de execução diligente imobiliza primeiro, é uma apreensão, ato físico,
sendo seguido do pedido de registo da penhora.
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23/04
O veículo pode estar em circulação, em viagem. É possível a imobilização prévia, para evitar a
deterioração, o esconder do veículo. Mas se ele não se encontrar no local onde devia estar, o
agente de execução confronta-se com isto, nestes casos, aplica-se o Código da Estrada,
apreensão de veículos pelas forças policiais, para a matrícula desse veículo ficar na base de
dados informática e sempre que carros da GNR ou da PSP identifiquem o veículo o apreendam.
Quanto à penhora de navios, também bens móveis sujeitos a registo: sabemos que começa
com a comunicação eletrónica, IRN, identifica-se o navio, de matrícula portuguesa, e vale como
pedido de registo da penhora. O navio está num porto em Portugal, e para evitar a sua saída
para alto-mar, se o navio estiver despachado para viagem, tem de haver a colaboração da
capitania do porto. 768º/4. Dessa maneira, é uma autoridade policial, da capitania do porto,
que vai impedir que o navio saia.
Penhora de aeronaves: comunicação eletrónica, não para o IRN, mas para a Autoridade
Aeronáutica Portuguesa, que vale como pedido de registo da penhora. Mas, se o avião estiver
pronto para descolar, a autoridade que pode impedir a descolagem são os controladores
aéreos. Do ponto de vista de maximização do valor das coisas penhoradas, elas se puderem
devem ser exploradas entre a data da penhora e a data da venda executiva. é possível
administrar os imoveis, bem como os navios e os aviões penhorados, fazendo-os navegar e
realizar viagens aéreas para transportar passageiros e/ou mercadoria. 769º, também se aplica
à administração de aviões que permite fazer navegar navio penhorado.
Penhora de bens móveis não sujeitos a registo: a partir do art.764º. Apreende-se e remove-se
para um depósito público ou semipúblico. E lavra-se o auto de penhora, onde se descreve o
que aconteceu e se identificam os bens. 766º. Enumera verba a verba, e coloca o valor
estimado de cada bem. Se não souber o valor, o agente de execução tem de perguntar quando
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faz esse auto da penhora, e pode perguntar a peritos. Faz o auto da penhora à medida que
apreende efetivamente e remove.
O executado pode, naquele momento da penhora, tentar ocultar algum bem, com o fim de o
subtrair à apreensão. Ex., o executado está a esconder nos bolsos colares de ouro. Não se pode
usar violência para lhe tirar as coisas. Mas, no mínimo, pode ser aplicada uma multa, por
litigância de má-fé, por não estar a colaborar para a apreensão e remoção dos bens.
Mas pode acontecer outras vicissitudes. Pode acontecer que o executado esteja a morar com
parentes próximos. O agente de execução chega lá, vê uma televisão e diz ao funcionário para
remover a televisão. Mas o executado diz que é do filho dele, e o filho também diz que é dele.
Ou pode acontecer que lá esteja um inquilino do executado, e que a televisão seja dele. Assim,
art.764º/3. Antes de 1966, tínhamos o protesto no ato da penhora, esta designação já
desapareceu, mas está no art.764º/3 na mesma, só que em termos diferentes. Temos
presunção de que os bens são do executado. Mas, feita a penhora, a presunção de que os bens
são do executado pode ser ilidida. 1268º - presunção derivada da posse. Se a pessoa exerce
poderes de facto sobre uma coisa, presume-se que é titular do direito real com base no qual os
poderes de facto são exercidos, pode possuir como proprietário ou usufrutuário, por ex.,
qualquer direito real de gozo pode ser objeto de atos de posse. Mas, o agente de execução vai
dizer que, na dúvida, vai penhorar na mesma. Antes era ao contrário, na dúvida não se
penhorava, mas agora na dúvida penhora na mesma. Se se presumem pertencer ao executado,
funcionamento da presunção derivada da posse, apreendem-se os bens, sem prejuízo de o
interessado (aquele que se diz proprietário dos bens, e que não é o executado) ilidir a
presunção mediante prova documental inequívoca perante o juiz do processo executivo.
Incidente declarativo, antigo protesto no ato da penhora, em que este terceiro, não executado,
faz requerimento ao juiz dizendo que a apreensão é ilegal, que o bem é seu, e junta prova
documental, e se esta prova for inequívoca, o juiz determina o levantamento da penhora. Mas,
se este terceiro não fizer isto, não fica precludido o direito de defender os bens, que diz serem
seus, ele pode sempre ajuizar uma ação declarativa de embargos de terceiro, art.342º, nos 30
dias subsequentes àqueles em que a penhora foi feita, destinada a mostrar que aquela
penhora foi ilegal e não pode manter-se.
Se houver resistência, 767º. Podem-se abrir portas à força e até móveis que se encontrem
fechados podem ser abertos à força. Ou, por ex., o executado pode dizer que não se lembra da
senha do cofre. Pode-se levar o cofre. Mas e se este estiver embutido na parede? Pode-se
destruir a parede, para abrir o cofre à força? Não. Assim, pode haver lugar a multa por
litigância de má-fé. E aqui, há de ter em conta o princípio da proporcionalidade.
Penhora de direitos:
Os que são de mais fácil apreensão e realização pecuniária são os salários, pensões,
vencimentos. Estamos a falar da penhora de créditos. Há imensos créditos que podem ser
penhorados, créditos atuais ou futuros, na esfera jurídica do executado.
Como é que o agente de execução penhora uma parte de um salário? 773º/1. A penhora de
créditos consiste na notificação ao devedor. Quem é esse devedor? Não é o executado. se
pensarmos que um crédito é uma situação jurídica ativa, já existente ou futura, no património
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do executado é porque ele é credor de alguém, credor cujos créditos já se encontram vencidos
ou que já se venceram ou se vencem periodicamente. Esta notificação é então dirigida ao
devedor do executado. Por ex., a entidade empregadora, as entidades que pagam a
aposentação, seguradoras (que pagam pensões por acidentes de trabalho). Se o executado é
credor dessas quantias, não vamos ficar à espera de que ele as receba e as dissipe. Vamos logo
à fonte dessas quantias, ao devedor do executado, notificando-o que esse crédito está
penhorado ou parte dele, e que quando se vencer a quantia não deve ser entregue ao
executado, mas sim ao agente de execução, mediante transferência bancária.
Imaginemos que esta entidade que deve alguma quantia ao executado, recebe a notificação,
mas nada diz. 773º/4. Se o devedor (do executado) notificado nada disser, entende-se que
reconhece a existência desse crédito, nos termos indicados, do montante objeto da notificação.
Confissão. Se o devedor do executado não pagar, reconhecendo a existência do crédito pois
não respondeu, 777º/3, como o devedor do executado nada disse, não disse que era mentira,
considera-se que a obrigação, nos termos que o executado indicou, existe. 777º/3, o exequente
pode, então, exigir esse montante, servindo de título executivo a declaração de
reconhecimento do devedor ou a notificação efetuada (que não foi respondida). Nos próprios
autos da execução (não autonomamente), é executado o devedor do executado. E esta
confissão vale como tal? Não, é só para agilizar a execução contra o devedor do executado.
Aqui, não vale o “silêncio dos inocentes”. Não se pode entender que há aqui uma confissão
judicial irretratável. Então, pode, na oposição à execução, este devedor do executado
demonstrar que nada deve ao executado. Pode deduzir oposição à execução, por embargos de
executado, e se convencer o juiz que nada deve, a execução contra ele, devedor executado,
extingue-se e são levantadas as penhoras. O mesmo com uma entidade empregadora, se ela
não responder, depois de notificada, dizendo que a pessoa já não é sua trabalhadora ou que
recebe o salário mínimo, é executada, pois a obrigação vence-se no final do mês, no caso de
trabalhadores dependentes. Mas não vale o silêncio, os inocentes podem sempre contestar em
embargos de executado esta alegada dívida que eles têm perante os primitivos executados.
Várias coisas podem acontecer, o executado pode ter conta aberta em nome deles e outras
pessoas, podes ser cotitular, nesse caso, a notificação feita ao banco é apenas para bloquear a
quota-parte. Ex., se for com o cônjuge, portanto, dois cotitulares, bloqueia-se só metade. E o
banco não pode fazer movimentos a crédito ou débito, tirando certas situações.
Após a comunicação, os bancos têm dois dias úteis para informar o agente de execução sobre o
montante dos saldos bloqueados ou existentes, ou da inexistência de saldo. Recebida a
comunicação dos bancos, o agente de execução, à luz do pp. da proporcionalidade, comunica
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aos bancos que foram notificados os montantes que devem continuar bloqueados, e os
montantes que devem ser desbloqueados. Nº9. Só após este segundo momento é que ocorre a
penhora dos saldos, até aí estavam bloqueados muitos, o bloqueio também antecede, como
nos veículos automóveis, a penhora. Depois do agente de execução fazer as contas, tem de
informar os bancos que penhorem um certo montante, um pouco acima da obrigação
exequenda, e desbloqueiem o resto. Só aqui há penhora, antes os montantes estavam só
bloqueados.
Mas este saldo bloqueado pode ser objeto de alteração, quer em benefício quer em prejuízo
do exequente. Nº10, operações em curso. Quando a ordem de bloqueio cai no sistema dos
bancos, pode haver operações em curso (ex., ordens de transferência, emissão de cheques). Às
vezes, durante um ou dois dias, temos operações a débito e crédito em curso. Ex., o bloqueio
foi agora de manhã, mas havia uma transferência bancária para o executado que foi ordenada
ontem, antes do bloqueio, e que caiu hoje, este dinheiro entra e aumenta a conta bloqueada.
Isto no caso de operações a crédito. Alínea b), operações a débito, ex., o executado, ontem,
emitiu cheques, a favor do beneficiário do cheque, que o recebeu hoje de manhã antes do
bloqueio, e eles recebem, a conta bloqueada baixa, pois foram quantias efetivamente pagas
antes do bloqueio a outros credores do nosso executado. Essas importâncias ainda não
estavam refletidas à data do bloqueio. Estas operações em curso podem aumentar (operações
a crédito) ou diminuir (operações a débito) a conta bloqueada.
Nota: vimos a competência internacional para as ações executivas, não esquecer que só se podem
ajuizar ações executivas em PT, se existirem bens penhoráveis em PT. saldos bancários de contas em
Espanha têm de ser penhorados em alões ajuizadas em Espanha. O único caso em que é possível
apreender saldos de contas bancárias em bancos da UE não é ação executiva, mas providência cautelar
de arresto, que se convertem em penhora, em ação executiva nesse país.
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Mas imaginemos que ele é mesmo co-herdeiro e o quinhão está penhorado. Qual o destino
dos bens penhorados? Transmissão a terceiro, procedemos à venda do quinhão. E quem o
comprar? Imaginemos que está avaliado em 500 mil, eu adquiro, se a herança está indivisa, eu
sucedi na posição de co-herdeiro, posso requerer a partilha, amigável ou não. Vou ver
concretizado em bens da herança esse quinhão, no final da partilha. Nota: na alienação de
quinhão hereditário, os outros co-herdeiros têm direito de preferência.
Pode acontecer que os outros co-herdeiros ou comproprietários (penhora-se não a coisa mas a
quota do executado na compropriedade), penhorado o quinhão, em herança indivisa, ou a
quota, a outra alternativa é todos os co-herdeiros ou comproprietários virem dizer que não se
opõem que os bens sejam vendidos em bloco, que seja vendido tudo em bloco. O objeto da
penhora, que era o quinhão ou a quota, passa a incidir sobre os bens desse património
indiviso. O objeto da venda é diferente do objeto da penhora. Até podem beneficiar com isso,
pessoas que pudessem ter dificuldades em vender ou partilhar. Alguém faz o trabalho de
promoção por eles. 781º/2. Os bens da herança ou bem da compropriedade é vendido. O
dinheiro obtido é dividido: uma parte para o exequente e o resto para os restantes co-
herdeiros ou comproprietários. O agente de execução retira a parte que caberia ao executado e
entrega o resto aos outros co-herdeiros ou comproprietários.
Penhora de estabelecimentos:
Assim, o que está no artigo não devia ser penhora de estabelecimentos comerciais, mas sim
penhora de estabelecimentos ou de empresas em sentido objetivo, empresas enquanto coisas
incorpóreas. As coisas corpóreas somadas, o seu valor económico, é sempre diferente da
organização, que é maior.
Faz-se por auto. O agente de execução elabora o auto da penhora, no qual enumera, relaciona,
os bens que essencialmente integram esse estabelecimento. Âmbito mínimo de entrega. (ver
melhor em sebenta).
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parede branca ou até num lençol. Elementos que essencialmente caracterizam o
estabelecimento têm de ser relacionados. 782º/1.
E podemos ter um negócio sobre coisas que componham o estabelecimento. E tem de se saber
se o que se está a penhorar é o estabelecimento ou coisas de um antigo estabelecimento.
Temos de saber se, no momento da penhora, o estabelecimento ainda existe como valor ativo
no mercado. Se penhoramos coisas do estabelecimento, não se aplica o regime da penhora do
estabelecimento mas sim o regime das coisas móveis sujeitas ou não a registo.
Imaginemos que o executado tem dois credores. Um deles penhorou duas carrinhas afetas ao
estabelecimento, integra o âmbito natural. Um outro credor penhora o estabelecimento.
782º/5. No auto da penhora, descrevem-se as carrinhas já penhoradas ao abrigo de outra
execução. É possível. As penhoras têm objetos diferentes. Os bens podem ser penhorados mais
do que uma vez. Esta mesma situação ao contrário não pode acontecer, ou seja, se na primeira
execução for penhorado o estabelecimento depois não podem ser penhoradas as carrinhas
numa próxima execução. Ou seja, primeiro numa execução penhora-se um estabelecimento e
os elementos que o integram, e noutra execução posterior outro credor tenta penhorar as
carrinhas - não pode. Agora, temos um estabelecimento cujo valor de exploração não pode ser
diminuído pela penhora de alguns bens, perturbaria o aviamento do estabelecimento,
penhorado em primeiro lugar.
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Penhora de expectativas jurídicas de aquisição e penhora de direitos de aquisição:
Em TGDC, vimos que os direitos subjetivos são diferentes das expectativas jurídicas. A
expectativa jurídica pode quando muito ser um embrião de um futuro direito subjetivo, mas
ainda não o é. O legislador concede àquele que pensa adquirir o direito subjetivo faculdades
jurídicas de defesa, para que esse embrião dê lugar ao direito subjetivo.
Ex., o executado é parte num contrato de locação financeira. Alguém precisa de se financiar,
precisa de comprar uma máquina, pode fazer contrato de locação financeira (que pode ser
para móveis ou imóveis), diz ao banco que fica proprietário da máquina e alugam-lhe, ele paga
a renda, e ao fim de 4 anos tem a opção de comprar, se quiser, essa máquina, direito
potestativo. A posição jurídica do locatário financeiro, ele não é dono da máquina, quem é o
dono é o locador financeiro, portanto, execução contra o locatário financeiro não se pode
penhorar o direito de propriedade da máquina, isso seria penhorar direito de terceiro. O que se
pode penhorar é a expectativa jurídica de aquisição da máquina. Se a máquina vier a ser
adquirida, a penhora da expectativa jurídica converte-se em penhora da máquina, bem móvel
não sujeito a registo. Isso pode beneficiar o executado porque ele pode parar de pagar as
rendas, quem passa a pagar é o exequente, para que o dono da máquina não resolva o
contrato por incumprimento e não seja possível ir buscar a máquina. Se, no fim do contrato de
locação, as prestações continuarem a ser pagas, quem pode exercer a opção de compra é o
tribunal, deve entender-se que é o agente de execução, administrador da expectativa jurídica
de aquisição, que se substitui ao locatário na opção de compra. O banco depois tem de emitir a
declaração de venda. os bancos, perante o valor residual, vão vender a máquina ao executado.
mas quem pagou as prestações foi o exequente. Vendida a máquina ao executado, a penhora
da expectativa converte-se automaticamente na penhora do bem móvel – 778º/3.
Casos de impenhorabilidade, em que esta é violada. O que é que o executado pode fazer?
Art.784º e 785º - dedução de incidente declarativo por apenso à ação executiva, que se chama
incidente de oposição à penhora. Quem tem legitimidade ativa é quem é executado, e
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legitimidade passiva é dos exequentes. 784º: fundamentos de oposição à penhora, refletem as
várias situações de impenhorabilidade.
30/04
Estávamos a ver a reação contra penhoras ilegais. 784º (fundamentos de oposição à penhora –
incidente declarativo) e 785º (tramitação do incidente declarativo). 293º, 294º e 295º também
se aplicam. Tem um requerimento, os executados têm legitimidade ativa, contraditório dos
exequentes, necessária a produção de prova, documental, testemunhal, e a seguir o juiz do
próprio processo executivo decide. E se o executado deduzir este incidente, alegando
impenhorabilidade absoluta, por exemplo, em princípio, o que obtém é a suspensão da
tramitação da ação executiva, mas só quanto à penhora e venda relativamente aos bens objeto
de oposição.
Mas não pode a tramitação sobre os bens objeto de penhora e impugnação quanto à
ilegalidade dessa penhora ser suspensa nunca? Não pode o executado obstar a suspensão
desta penhora? Possibilidade remota – 785º/3, tem de prestar caução pelo valor do bem em
causa e prestar caução é um incidente declarativo de oposição à penhora. A seguir o exequente
é notificado para aceitar esta caução e o juiz decide suspender a execução aos bens em causa
até se decidir este incidente declarativo.
E se esta oposição à penhora for julgada procedente? Qual a causa de pedir deste incidente
declarativo de oposição à penhora? Quais os factos jurídicos que alicerçam o pedido? O
executado há de querer que essa penhora seja levantada, e se o bem penhorado estiver sujeito
a registo que o registo da penhora seja cancelado, 785º/6. E a causa de pedir? São facto
jurídico que consubstancia a penhora ilegal. Narrar o que se passa.
Oposição à execução:
Se o juiz não se aperceber nem o agente de execução da falta de algum desses pressupostos
processuais, gerais ou específicos, a própria ação executiva pode ser colocada em crise. Através
de uma ação declarativa que tramita por apenso pelo executado – oposição à execução por
meio de embargos de executado, 728º e ss. É um acertamento negativo da execução, é uma
ação declarativa constitutiva, faz extinguir a execução.
Quem tem legitimidade processual? Apenas quem é executado, quem é parte na ação
executiva do lado passivo. O réu nesta ação declarativa é o exequente ou exequentes.
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Imaginemos, o executado podia, mas não embargou de executado, podia alegando, por ex.,
que a obrigação exequenda se baseava em coação moral, não disse que foi coagido
moralmente ou que foi objeto de dolo. Havia motivos para matar pela base a obrigação
exequenda. Mas se ele não deduzir embargos de executado no prazo, o juiz não pode conhecer
oficiosamente a questão. Então, como não o fez, viu penhorados os bens e a serem vendidos.
Deixa correr a execução ilegal, e depois da ação executiva terminar, intenta ação declarativa
com base em enriquecimento sem causa. Pode fazer isto? Não era um ónus, que tinha de
embargar de executado? Tinha sim o ónus de embargar de executado, se não o fez, tem de ser
auto-responsável pela sua omissão, não podendo intentar depois esta ação declarativa com
base em enriquecimento sem causa. contudo, a jurisprudência não vai muito no sentido de
proibir isto.
Causas de pedir, fundamentos – há o efeito jurídico, o pedido (na ação declarativa tem de
haver pedido ou pedidos, na petição inicial).
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durante a ação declarativa tem de ser invocado pelo réu na ação executiva, já se
nasceu depois já pode ser invocado pelo réu, agora executado, na ação executiva.
Respeitantes ao título executivo – pode não existir título ou ele não ser suficiente ou
ser exequível. Alínea a) do 729º. O 729º trata dos fundamentos do embargo de
executado quando o título executivo é uma sentença condenatória.
Na alínea g) do 729º não diz lá facto impeditivo, quando o título executivo é uma
sentença condenatória, factos impeditivos já não são fundamento de embargo de
executado, princípio da concentração, os réus na contestação têm de alegar todos os
meios de defesa, que não sejam supervenientes, se não alegarem esses meios de
defesa jamais o podem fazer, e quando o processo terminar forma-se caso julgado
material, mas já no curso do processo tinha havido a preclusão, são factos impeditivos,
que fazem com que o contrato seja um “nado morto”, e que vícios são esses? Se o
contrato foi celebrado com base em coação moral ou erro de vício, simulação, dolo,
factos impeditivos de deveres de prestar, e agora é objeto de ação declarativa
condenatório, o réu já sabia na altura, na contestação, ele tinha o ónus de alegar e
tentar demonstrar esses factos impeditivos, se não o fez, já não pode perturbar a ação
executiva.
Se o título executivo não é uma sentença, é título extrajudicial, o executado pode
alegar quaisquer outros fundamentos, para além do 729º, que o réu na ação
declarativa podia invocar, 731º. Já pode alegar nos embargos de executado factos
impeditivos, porque o título executivo é extrajudicial.
Há, no 730º, fundamentos para certas sentenças condenatórias proferidas por
tribunais arbitrais. Estas valem o mesmo que as sentenças dos tribunais do Estado.
Mas têm de ter fundamentos acrescidos de embargos de executado – 48º da Lei da
Arbitragem Voluntária. Ex., a convenção de arbitragem que deu início ao processo
arbitral não se formou pois não respeitou os requisitos, mas mesmo assim, o tribunal
arbitral formou-se e houve julgamento, mas estava tudo mal desde o início. Tem de
haver fundamentos específicos. Outro ex., um dos juízes árbitros foi advogado de uma
das partes, a decisão arbitral estará viciada, porque o juiz árbitro não revelou a
incompatibilidade e impedimento, violação do dever de imparcialidade. tudo o que
possa ser fundamento de uma ação de anulação da decisão arbitral pode ser
fundamento de embargos de executado aposta a essa sentença condenatória arbitral.
É condenado e em princípio não há recurso destas decisões arbitrais para os tribunais
do Estado, a não ser que tal seja expressamente definido, mas o que resta aos
condenados nestes casos é a ação de anulação, deduzida nos tribunais de segunda
instância, cujos fundamentos não se prendem com o mérito da causa mas sim com
falta de convenção de arbitragem. Se não deduziu esta ação declarativa, estes
fundamentos podem ser usados nos embargos de executado.
Fundamentos específicos nos processos executivos para pagamento de quantia certa
sob forma sumária – 857º. Quando o título executivo é um requerimento de injunção
no qual foi aposta formula executória. Por força do art.14º/a) alguns destes
fundamentos podem estar precludidos, mas outros não. ex., o notificado, no
requerimento de injunção, estava hospitalizado e não tinha ninguém para receber a
carta, considera-se citado, se em 15 dias não deduziu oposição formou-se título
executivo (requerimento de injunção al qual foi aposta formula executória). Não
deduziu oposição porque estava hospitalizado, pode alegar isto em embargos de
executado. há justo impedimento para não ter deduzido oposição. Outro ex., o juiz
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pode conhecer oficiosamente de cláusulas contratuais gerais, e deve ser invocado no
requerimento de injunção quando seja título executivo.
É uma ação declarativa. Mas com processo especial ou comum? Parece comum, mas qual a
tramitação inicial dos embargos de executado? Há desvio à regra do processo declarativo
comum. Há despacho liminar – 732º/1. No processo declarativo, o juiz toma conhecimento
pela primeira vez dos autos no final dos articulados. Mas, nos embargos de executado, o juiz
tem de controlar, desde logo, o prazo, se os embargos forem deduzidos a tempo. Se os
fundamentos são manifestamente improcedentes, devem ser rejeitados liminarmente, e o que
é rejeitado é a petição inicial, nem há contraditório. Se alega vícios da penhora, o que teria de
deduzir? Teria de defender-se com oposição à penhora, não são fundamentos do 729º, 730º ou
731º, portanto tem de ser rejeitado liminarmente.
Ação declarativa que pode tramitar por apenso à ação executiva – a partir do 786º: concurso
de credores, reclamação de créditos. Feitas as penhoras, o serviço de registos envia ao agente
de execução a certidão de todos os registos existentes em relação ao bem penhorado, depois
do registo da penhora, e essa certidão é importante pois nela podem estar averbados direitos
reais de garantia, a favor de outros credores. Temos em PT um processo executivo concursal
misto. Esses outros credores aparecem a reclamar créditos. No concurso de credores é
parecido com a insolvência (no processo de insolvência todos os credores podem reclamar
créditos, independentemente de terem título executivo), mas no concurso de credores só
alguns credores podem vir reclamar créditos, nem todos os credores do executado, só podem
os que têm direitos reais de garantia sobre os bens já penhorados e que exibem um título
executivo sobre o executado. Só estes. E os direitos reais de garantia que podem vir dizer que
têm é hipoteca, penhor, direito de retenção, consignação de rendimentos. E outras garantias
reais, que são os privilégios creditórios mobiliários e imobiliários. Mas como é que os credores
sabem que o indivíduo está a ser executado. Há credores conhecidos que o agente de execução
tem de citar, e os conhecidos são os que, consultada a certidão, têm lá o seu nome como
titulares de direitos reais de garantia registáveis. Já os credores desconhecidos são os que têm
garantias reais não registáveis, que são penhores e privilégios creditórios, e nestes casos, ou o
agente de execução sabe que existem consultando os autos ou eles espontaneamente. O
agente de execução não tem obrigação de conhecer e citar os credores desconhecidos. Ele tem
de citar os conhecidos e pode citar os desconhecidos se souber quem são. Mas há sempre dois
que podem ter direitos reais de garantia não registáveis que ele tem sempre de citar: 786º/2,
Autoridade Tributária (dívidas de impostos) e Instituto da Segurança Social (dívidas da SS).
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Podem ter créditos e vir reclamá-los no processo executivo comum, são privilégios creditórios,
não sujeitos a registo. Têm sempre de ser citadas estas entidades.
7/05
Ação declarativa que estávamos a tratar: concurso de credores, a partir do 786º CPC.
A ação executiva para pagamento de quantia certa não é necessariamente uma ação executiva
singular, entre inicial exequente e inicial executado, podem intervir nestas ações executivas
alguns outros credores do mesmo executado. Mas, para intervirem, é preciso verificar várias
coisas, se eles são mesmo credores, e não podem ser quaisquer credores, que podem vir
esperar ser pagos pelo produto da venda dos bens penhorados. Se reúnem outros requisitos
adicionais para poderem ser admitidos a reclamar créditos.
Já nas execuções para pagamento de quantia certa, processo executivo propriamente dita,
execução concursal mista, não universal, pois nem todos os credores do mesmo executado,
para além do exequente, podem reclamar créditos. Quem pode, para além do exequente,
enquanto credor, reclamar créditos? 786º/1/b). Esses credores têm de ser titulares de direito
real de garantia incidente sobre os bens já penhorados. Diferente do que vimos para a
insolvência. No processo executivo, só podem vir reclamar créditos credores que tenham DR de
garantia registado ou conhecido sobre os bens já penhorados, não que venham ainda a ser
penhorados. Além disso, 788º/2, ainda é necessário exibirem outro requisito para poderem
reclamar créditos, têm de já ter um título executivo contra o mesmo executado (outra
diferença em relação aos processos de insolvência, estes basta dizer que fizeram um contrato
com um indivíduo e este não pagou). No processo executivo, é preciso DR de garantia sobre
bem ou bens já penhorados + título executivo contra o indivíduo executado.
Temos factos controvertidos. Tem de ser uma ação declarativa onde estas questões sejam
apreciadas e julgadas, pode haver impugnações de outros credores que tenham DR de garantia
sobre o mesmo bem penhorado. Ação declarativa que tramita por apenso à ação executiva.
Aquele papel do serviço de registos das conservatórias depois de fazerem as penhoras, tem a
certidão de todos os registos em vigor relativamente ao bem penhorado e respetivas penhoras.
Aí vemos os credores conhecidos do mesmo devedor executado. Mas há ou não há garantias
reais não registáveis? São os credores desconhecidos. Quais os DR de garantia não sujeitos a
registo? Direito de retenção, penhor, privilégios creditórios.
Dois requisitos para este credor que não teve a iniciativa de ser exequente possa reclamar
créditos.
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Direitos reais de garantia: permitem que um credor de um devedor possa, através da venda
forçada de um determinado bem, ter acesso, ainda que em parte, ao preço do bem vendido.
Servem para, no caso de incumprimento de uma obrigação pecuniária, se fazer apreender e
vender os direitos sobre este bem e o credor ser pago pelo produto da venda do bem assim
vendido. Há garantias reais que dispensam o consentimento e colaboração do devedor.
Citados os credores conhecidos, têm 15 dias para vir reclamar os créditos, 788º/2. Findo o
prazo para reclamar créditos, haverá lugar a possíveis impugnações de créditos reclamados,
podem ser impugnados, exercício do contraditório por parte do executado, do cônjuge do
executado, e de outros credores que tenham direitos reais de garantia sobre os mesmos bens
penhorados. Ex., são penhorados dois apartamentos ao executado, sobre um deles incide uma
hipoteca a favor do banco Santander, e sobre o outro apartamento uma hipoteca a favor do
Novo Banco, o agente de execução cita os dois, para virem reclamar créditos, abre-se o
concurso de credores. O Novo Banco não pode vir impugnar o crédito do Santander, nem vice-
versa. Cada um dos bens tem hipoteca sobre dois diferentes créditos, e só podemos admitir
reclamação de vários “cães ao mesmo osso”. A função dos DRs de garantia é vender AQUELE
bem específico e fazer-se pagar por ele. O Santander não pode impugnar o crédito do Novo
Banco porque não têm DRs de garantia sobre o mesmo bem.
A decisão é: bem a bem penhorado, ele vai dizer que pelo produto da venda ou da adjudicação
do bem A será pago em primeiro X, depois Y, depois Z; e do bem B será pago primeiro F, depois
G, depois H. 791º/5, o juiz gradua antes da venda, não se sabe quanto se vai obter pelas
vendas executivas, quando as vendas forem feitas já se sabe o destino do dinheiro.
E o coitado do exequente? Que teve todo este trabalho de propor a ação executiva, pagou
honorários, custas, etc., e agora recebe zero? Pode acontecer, pois na graduação dos créditos
pode haver credores com DR de garantia “mais poderosos”. Bens sujeitos a registo, por ex.,
pode haver credores que tenham hipotecas registadas muito antes do registo da penhora
sobre esse apartamento. As regras sobre graduação de créditos não estão no CPC, mas no CC,
no CT, etc. 751º CC, quem é que normalmente tem privilégio creditório imobiliário? O Estado,
por falta de pagamento de impostos. Nestas situações, por dívidas tributárias relativamente
àquele imóvel, não pagas, não só o IMI, até pode ser o IVA do construtor, podem incidir vários
60
impostos sobre aquele património imobiliário em relação aos quais o Estado tem privilégios
creditórios imobiliários. E quem é pago primeiro pela venda do mesmo é efetivamente a
fazenda nacional. Conteúdo da sentença: sobre este “osso”, vão-se alimentar, por esta ordem,
X, Y e Z.
Quem seria o retentor? Um promitente comprador que obteve a tradição da coisa, por ex., o
contrato promessa não foi cumprido, execução específica ou indemnização pelo valor da coisa,
o promitente comprador tem um crédito pecuniário, o banco pode ter uma hipoteca registada
há 15 anos, esse banco reclamou créditos, só vai ser pago depois de ser paga a indemnização
ao promitente comprador.
Mas, retomando, esta sentença de graduação é muito diferente. Ela visa apenas realizar os DR
de garantia que incidem sobre bens penhorados, permitindo que outros credores, para além
do exequente, possam receber alguma coisa. O juiz, observando estas regras de direito
substantivo, faz a graduação.
Dito isto, no âmbito do concurso de credores, há mais uma coisa. Já vimos que um credor, não
o exequente, para reclamar créditos, tem de ter um DR de garantia (por ex., penhor sobre
máquina penhorada), sobre bens já penhorados e juntar um título executivo.
Imaginemos que um deles só tem DR de garantia, perdeu o título executivo contra este
executado, temos um credor que quer reclamar créditos, mas reúne apenas um dos requisitos.
Dizemos que não pode apanhar o comboio do concurso de credores? Não é bem assim. 792º
trata disto, da questão do credor que quer reclamar créditos só tem DR de garantia sobre o
bem penhorado, não tem título executivo. Permite-se a possibilidade de se obter título
executivo e ainda ir a tempo de reclamar créditos e ter esperança de ser pago pelo produto da
venda dos bens penhorados. Tem de requerer, dentro do prazo, que o juiz não gradue os
créditos em relação aos bens abrangidos pela sua garantia, que espere por ele, por ex., quanto
à máquina penhorada, que quando o juiz for graduar os créditos sobre esta, suspenda essa
graduação, para o credor tentar obter o título executivo em falta. A secretaria recebe este
requerimento e notifica o executado para, em 10 dias, se pronunciar sobre esse crédito, se
reconhece ou não. Se reconhecer, a declaração do executado vale como título executivo, é o
reconhecimento desta dívida o título executivo. Mas, claro que o nosso executado não dirá
isto. Portanto, se ele negar a existência do crédito, nº4, este credor tem de obter o título
executivo intentando uma ação declarativa condenatória contra o executado, contra os outros
61
credores que tenham DR de garantia sobre a mesma máquina, e se o executado for casado
contra o cônjuge, em litisconsórcio passivo necessário, nº5 e nº6. Ação declarativa comum
(ação própria, não por apenso à ação executiva) com litisconsórcio necessário, e fica-se à
espera do que é decidido nesta. E se houver título, que será a sentença condenatória, a
graduação dos créditos em relação à máquina penhorada, já se sabe, temos mais um “cão ao
mesmo osso”. Três ações a acontecer ao mesmo tempo: ação executiva + ação declarativa de
concurso de credores (por apenso à ação executiva) + ação (própria) declarativa comum.
A hipótese que falta ver é o credor ter título executivo, mas não ter DR de garantia. O comboio
da graduação dos créditos em relação a bens já penhorados espera por ele como? Como é que
ele obtém DR de garantia sobre bem já penhorado? Só podem estar em causa DR de garantia
constituídos de forma unilateral, sem o consentimento do devedor. Ver o 710º. Hipoteca
judicial é uma hipoteca unilateral. 704º e 705º - hipotecas legais. Ex., credor por alimentos,
numa execução por alimentos, já tem o título executivo, e pode registar uma hipoteca legal
sobre bens já penhorados, podendo assim ser admitido ao concurso de credores. Mais
hipóteses de DR de garantia unilaterais sobre bens já penhorados: 794º, hipótese mais vulgar,
um credor tem título executivo, contrata um agente de execução para fazer o PEPEX, tentar
identificar e localizar bens penhoráveis e a situação daquele devedor, e o agente de execução
verifica que já foram penhorados dois apartamentos, se o credor só tem título executivo, não
pode ir reclamar créditos, mas o 794º diz que este credor que não é o primitivo exequente mas
que tem título executivo vai intentar outra ação executiva, na comarca territorialmente
competente, por ex., Leiria, e indicar à penhora, ao agente de execução que designar, os
mesmos bens já penhorados. E, sendo assim, obtida a segunda penhora sobre esse mesmo
apartamento, noutra comarca, o segundo agente de execução vai suspender a instância
executiva nessa segunda execução, o segundo exequente que intentou uma ação executiva na
comarca de Leiria sobre o mesmo apartamento, vai ser suspensa esta execução em Leiria, e ele
pode ir reclamar créditos à primeira ação executiva, intentada em Coimbra, tendo já o DR de
garantia, a penhora. Estes credores do mesmo executado, que não têm DR de garantia, ajuízam
ações executivas nas comarcas territorialmente competentes, penhorando o mesmo bem
nestas execuções, obtendo DR de garantia unilateral, suspendem as instâncias destas
execuções e vão reclamar os créditos à execução primitiva. Pode a segunda execução,
suspensa, retomar? Sim, se a primeira execução for extinta, caso de os embargos de executado
serem totalmente procedentes, por ex., essa penhora agora fica com todo o vigor e vai-se
proceder depois à venda na segunda execução. Os embargos de executado respeitaram ao
primeiro executado. Pluralidade de execuções sobre os mesmos bens.
São citados pelo agente de execução os credores que têm DR de garantia sobre os bens
penhorados. Citações dos credores que têm DR de garantia sobre os bens penhorados e os
credores conhecidos. Mas quem são os credores conhecidos? O agente de execução pergunta
ao executado, investiga. E os outros? O executado pode não querer dizer nada. São credores
que têm DR de garantia não registáveis, porque se forem registáveis estão lá, mas pode haver
desconhecidos. Podem aparecer a reclamar créditos espontaneamente.
Há sempre duas entidades que o agente de execução tem de citar. 786º/2. Fazenda nacional e
Instituto da Segurança Social. São citações obrigatórias. O agente de execução não tem de
saber se o executado deve alguma coisa a título de impostos ou de taxa social única. E os
juristas da Administração Tributária virão reclamar créditos, se os houver, mas quanto às
citações, são sempre feitas.
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Mas há ainda outro sujeito que tem de ser eventualmente citado para intervir no concurso de
credores e fases subsequentes da ação executiva. O cônjuge do executado. Mas nem sempre.
786º/1/a). Depende sobre que bens tenha recaído a penhora e o regime de bens em que estão
casados:
Primeira hipótese - 740º/1, penhorados subsidiariamente bens comuns numa ação movida
contra um dos cônjuges, o outro cônjuge já foi citado na sequência da penhora para requerer a
partilha dos bens comuns, pelo que será citado para o concurso de credores.
Segunda hipótese - se foram só penhorados bens próprios do cônjuge executado, mesmo assim
cita-se o cônjuge do executado para intervir no concurso de credores e fases subsequentes da
ação executiva quando forem penhorados bens imóveis ou estabelecimento comercial que o
executado não possa alienar livremente (ilegitimidades conjugais, 1682º e ss. CC), segundo o
Direito da Família, se não existisse a ação executiva e se quisesse vender o apartamento (bem
próprio) tinha de haver intervenção do cônjuge do executado, 1682º, alínea a). Qual a
utilidade? Não é para impedir a venda, não dar consentimento, pois não se trata de venda
voluntária, é venda forçada. 787º, os poderes do cônjuge do executado, passa a ter estatuto
processual, não de co-executado, mas semelhante ao do executado. Além de se poder opor à
penhora e à execução, pode impugnar créditos reclamados por outros credores no concurso de
credores; e nas fases subsequentes pode pronunciar-se, bem como o executado, quanto às
modalidades de venda, não se pode opor a esta, mas pode pronunciar-se sobre as modalidades
de venda; e pode arguir irregularidades ou nulidades processuais.
Vamos passar para um tema novo. Outro mecanismo de oposição à penhora. Só vimos o
incidente declarativo de oposição à penhora, e vimos que o autor desse incidente era o
executado. mas agora vamos ver as situações em que bens de terceiros são atingidos pela
penhora. Bens ou direitos de terceiros. O que podem esses terceiros fazem. Embargos de
terceiro, ação declarativa.
Embargos de terceiro
Esta matéria está numa parte do CPC que não seria a mais adequada, 342º e ss., na parte dos
incidentes da instância. Mas os embargos de terceiro não são incidentes da instância. Não é
um incidente declarativo. É uma ação. 348º/1. A inserção deste expediente processual é
enganosa, pois o 348º/1 diz que se a petição inicial tiver o despacho liminar de receção (está
em prazo, os fundamentos podem ser analisados, etc.), recebidos os embargos de terceiro e
analisada a petição inicial, se não for indeferido liminarmente, seguem-se os termos do
processo comum, não os dos incidentes processuais. As partes primitivas são notificadas para
contestar, e depois segue-se os termos do processo civil declarativo comum.
Isto é uma ação declarativa que no início segue processo especial, mas depois de recebida a
petição inicial, do despacho liminar de recebimento da petição tramita como qualquer ação
declarativa, com processo comum. Pode haver réplica, e findos os articulados, pode haver
despacho de aperfeiçoamento, audiência prévia, etc. Havendo ou não audiência previa, se essa
ação não for conhecida no despacho saneador, agendamos a audiência final de julgamento.
Ação declarativa com processo comum.
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Desde logo, quem é este terceiro? É terceiro quem não é parte. Não é exequente nem
executado, é terceiro. Titular de uma situação material controvertida que pode colidir com esse
ato de apreensão, que foi a penhora. O autor é terceiro. Pode ser o fiador, que é devedor, mas
se não for executado, embora o exequente tenha título executivo contra o fiador pode não
querer executar o fiador, e nesse caso o fiador é terceiro, e pode deduzir esta ação declarativa.
O réu nesta ação declarativa é o exequente. Mas não só. 348º/1, primeira linha. Quem é
notificado para contestar? As partes primitivas da ação executiva. Ou seja, exequente(s) e
executado(s), são os réus. Litisconsórcio necessário passivo. Porque a legitimidade processual
ativa ou passiva define-se porque depois é importante que a sentença resolva de forma
definitiva determinado litígio entre certas pessoas, para que depois não possa outro vir tentar
obter o contraditório, para evitar que pessoas que deviam estar abrangidas pelo caso julgado
nestes embargos de terceiro, não o estejam. A legitimidade processual tem que ver com quem
está em juízo e pode exercer o contraditório, de modo que a sentença define certa situação
jurídica para sempre entre aqueles dois. Por isso é que têm de estar obrigatoriamente certos
sujeitos, para que fique cristalizado quanto a esses dois.
Quanto à causa de pedir, quais os factos jurídicos essenciais que alicerçam este resultado
prático que se pretende obter com a procedência? 342º. Que factos jurídicos tem de narrar?
Há duas dimensões narrativas: alega que tem um direito subjetivo que é incompatível com a
efetivação dessa penhora, e com o âmbito dessa penhora, portanto, que tem um direito
subjetivo sobre o bem que é incompatível com a realização dessa penhora, com o âmbito dessa
penhora e com a tramitação posterior, ou seja, a venda executiva do direito ou bem
penhorado. A segunda dimensão é a penhora ter ofendido a posse, que o terceiro autor desta
ação tem sobre o bem que foi penhorado. A posse, para Coimbra, não é um DR de gozo, é sim
um poder de facto que se exerce sobre bens, é a sombra que se pode tornar o sol, quando o
exercício desses poderes de facto, por tempo suficiente e com certas características, permitirá
a aquisição originária do direito real nos termos do qual se exerce essa posse. Todos os DR de
gozo podem ser adquiridos por usucapião, e essa aquisição originária é precedida de poderes
de facto sobre o bem. A posse pode também ser causa de pedir em embargos de terceiro,
ainda que em casos limitados.
Que direitos subjetivos invocados pelo terceiro autor podem gerar a procedência dos
embargos e o levantamento da penhora?
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