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PLANTAS DANINHAS

Alesandra dos Santos Moura


Métodos de manejo
e controle de
plantas daninhas
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Explicar os princípios de erradicação e prevenção de plantas daninhas.


>> Descrever os principais métodos de controle de plantas daninhas.
>> Identificar o manejo integrado de plantas daninhas em áreas de cultivo.

Introdução
As plantas daninhas tendem a apresentar danos econômicos às plantações co-
merciais em virtude da competição com a espécie de interesse agronômico. O
manejo correto dessas espécies indesejadas deve ser feito de maneira consciente,
adotando-se métodos de controle definidos a partir das características do plantio
comercial e das espécies indesejadas. Atualmente, além da prevenção da incidência
das plantas daninhas, são listadas na literatura vários métodos diferentes, que
devem ser adotados mediante os preceitos do manejo integrado.
Neste capítulo, você vai aprender aspectos relacionados ao controle e erradi-
cação de plantas daninhas. Além disso, conhecerá as vantagens e desvantagens
dos métodos de controle mais indicados para as espécies problemáticas no Brasil.
2 Métodos de manejo e controle de plantas daninhas

Prevenção e erradicação de plantas


daninhas
Quando se ouve falar em manejo, logo se pensa em práticas de cultivo ou
produção de determinada espécie. No entanto, ao falar em manejo de plantas
daninhas, o pensamento deve ser voltado a práticas de controle e erradicação
de determinadas espécies vegetais. As plantas daninhas podem ser, na maioria
dos casos, nocivas às atividades agrícolas em geral, pois tendem a competir
por espaço e nutrientes com as espécies de interesse econômico e, em alguns
casos, apresentam a capacidade de serem tóxicas, causando problemas à pro-
dução animal, como no caso do mio-mio (Baccharis coridifolia), da maria-preta
(Solanum americanum) e da maria-mole (Senecio brasiliensis) (SILVA et al., 2018).

Historicamente, o manejo de plantas daninhas teve início, ainda que


intuitivamente, quando o ser humano deixou de ser nômade e passou
a produzir seu próprio alimento. Nessa transição, era utilizada principalmente
a tração animal como método de erradicação. Com o passar dos anos e com a
produção agrícola alcançando crescentes demandas, iniciou-se a corrida para o
desenvolvimento de produtos químicos (herbicidas) capazes de controlar essas
plantas. No entanto, o uso indiscriminado desses herbicidas pode causar danos,
que vão desde a contaminação do solo e da água até o desiquilíbrio de espécies
animais e vegetais presentes no ecossistema. A aplicação do MIPD deve ser
priorizada quando se trata de prevenção de plantas daninhas, pois possibilita
integrar vários métodos de controle — cultural, mecânico, físico e químico.

A prevenção/erradicação de plantas daninhas é um fator fundamental


para o bom desempenho das atividades agrícolas. Em geral, são utilizadas
técnicas de controle que tendem a erradicar ou impedir a propagação das
plantas daninhas. Essas técnicas são baseadas no manejo integrado de
plantas daninhas (MIPD), que tem como objetivo principal manter o ambiente
desfavorável a essas espécies a partir da utilização de métodos que podem
ser aplicados em conjunto ou isoladamente, a depender das características
da planta que precisa ser controlada/erradicada (PITELLI, 1982).

O termo erradicação deve ser utilizado com cautela, pois remete a


uma ideia de eliminação extrema de todas as estruturas de propaga-
ção de uma planta daninha de determinada área, tornando difícil a reincidência
dessa espécie no local. A erradicação costuma ser usada em áreas pequenas e
recentemente infestadas, e dificilmente se aplica em grandes cultivos. A seguir
encontra-se um resumo das diferenças entre erradicação e controle.
Métodos de manejo e controle de plantas daninhas 3

Erradicação Controle

Eliminação total da planta Controle da planta daninha a níveis aceitáveis de


daninha dano econômico

Destruição de sementes, Manejo com consciência ecológica


rizomas, tubérculos, etc.

Uso de produtos químicos Associação de métodos de controle


que desinfetam o solo, como
brometo de metila

Geralmente utilizada em Aplicação de técnica de prevenção com limpeza


áreas pequenas de implementos, máquinas e equipamentos, para
evitar a propagação de espécies indesejadas

Método bastante invasivo do


ponto de vista ecológico

Interferências das plantas daninhas na agricultura


O conceito de plantas daninhas remete a espécies indesejadas em uma
determinada área de produção ou atividade humana. Logo, alguns fatores
devem ser levados em consideração na definição dos métodos de manejo
a serem adotados. As interferências diretas e indiretas que essas plantas
podem gerar em plantios comerciais ou ainda em áreas de pastagens podem
ser descritas como o primeiro critério de identificação de plantas daninhas
na área (LORENZI, 2008, 2014).
Sendo assim, as plantas daninhas podem interferir direta e indiretamente
nas áreas produtivas. A competição por espaço, água, luz e nutrientes é sem
dúvida a interferência direta que mais dói no bolso dos produtores, justificando
a aplicação de métodos de controle e erradicação de plantas daninhas. A alopatia
presente na maioria das espécies consideradas daninhas pode atrapalhar o
desenvolvimento fisiológico do plantio. Em áreas de produção animal, é comum
ocorrer a intoxicação do rebanho por espécies indesejadas na pastagem.
Além das interferências diretas, as interferências indiretas podem gerar
danos produtivos e, consequentemente, danos econômicos. Indiretamente, as
plantas daninhas podem servir como hospedeiras para pragas e nematoides,
o que gera transtornos durante a colheita manual e mecanizada, liberando
substâncias irritantes em trabalhadores e a danificando equipamentos de
colheita (PITELLI, 1987; LORENZI, 2008, 2014).
O controle das plantas daninhas é um assunto bastante complexo e está
associado a diversos fatores, com destaque para:
4 Métodos de manejo e controle de plantas daninhas

„„ o índice de incidência da espécie no local/região;


„„ características morfológicas e fisiológicas da planta daninha;
„„ qual cultura de interesse agronômico está sendo afetada;
„„ o nível de perda econômica;
„„ o método de controle mais indicado.

Vale ressaltar que o controle não deve ser generalizado e é necessário


fazer todo o levantamento das informações antes de optar por um método
de controle. A mesma planta daninha pode ocorrer no Sul e no Centro-Oeste
do país, mas isso não significa que se aplica o mesmo método de controle.
Como critério de informação, os diferentes ciclos de vida das espécies vegetais
(anuais, bianuais, de verão, etc.), influenciam diretamente no período de dis-
persão e rebrota das plantas daninhas. No Quadro 1 é possível ver exemplos
de plantas daninhas anuais de verão e sua variação de ciclos em dias.

Quadro 1. Plantas daninhas anuais de verão

Duração do Época de
Espécie Classe ciclo (dias) ocorrência

Capim-marmelada Monocotiledônea 130 Set/out

Capim-carrapicho Monocotiledônea 90 Out/abr

Capim-colchão Monocotiledônea 120 Set/fev

Capim-coloninho Monocotiledônea 120 Out/abr

Capim-arroz Monocotiledônea 120 Out/abr

Capim-pé-de-galinha Monocotiledônea 120 Out/abr

Capim-mimoso Monocotiledônea 120 Out/mar

Trigo-bravo Monocotiledônea 120 Out/mar

Capim-rabo-de-raposa Monocotiledônea 60 Out/fev

Caruru-roxo Dicotiledônea 110 Out/mar

Guanxuma Dicotiledônea 150 Nov/mai

Corda-de-viola Dicotiledônea 120 Nov/mai

Botão-de-ouro Dicotiledônea 90 Todo o ano

Beldroega Dicotiledônea 80 Set/mar

Fonte: Adaptado de Douber (1992) apud Fontes e Neves (2003).


Métodos de manejo e controle de plantas daninhas 5

A opção entre controle e erradicação e a escolha da melhor técnica a ser


aplicada devem se basear no levantamento das características da planta
daninha e dos fatores externos. Em geral, as medidas preventivas devem
ser preconizadas, pois previnem o crescimento de plantas daninhas em um
determinado local, bem como a introdução de novas espécies indesejadas
comercialmente. De acordo com Silva et al. (2018, p. 11):

As ferramentas de controle de plantas daninhas são didaticamente divididas em


manejo preventivo, controle cultural, mecânico, físico, biológico e químico. A es-
colha do método de controle deverá levar em consideração o tipo de exploração
agrícola, as espécies daninhas presentes na área, o relevo, a disponibilidade de
mão-de-obra e equipamentos locais, além de aspectos ambientais e econômicos.
O agricultor deve, sempre que possível, integrar os métodos de controle, pois a
diversificação das estratégias de manejo da comunidade infestante implica maior
eficiência e economia no seu controle.

Métodos de controle de plantas daninhas


O manejo de plantas daninhas parte do interesse em associar racionalmente
técnicas pautadas no controle sustentável quando necessário. O termo con-
trole está associado ao interesse agronômico em erradicar uma espécie
indesejada, quando essa espécie apresenta ameaças econômicas ao plantio.
Levando em consideração o MIPD, os principais métodos de controle de
plantas daninhas são: controle cultural, controle mecânico, controle físico,
controle biológico e controle químico, examinados caso a caso a seguir.

Controle cultural
O método de controle cultural pode ser descrito como o manejo que utiliza,
dentre outros fatores, características da própria cultura para controlar as
plantas daninhas. As técnicas adotadas nesse tipo de controle tendem a
minimizar a propagação das espécies indesejadas, bem como diminuir o banco
de sementes depositados no solo durante os ciclos das plantas daninhas. Um
exemplo clássico de controle cultural é a utilização da rotação de cultura,
como no plantio do milho safrinha após a colheita de soja. Segundo Silva et
al. (2018), as principais técnicas de controle cultural a serem adotadas são:

„„ Rotação de culturas — proporciona a diversificação do ambiente, re-


duzindo a seleção das espécies e diminuindo a ocorrência daquelas
mais problemáticas ou de mais difícil controle.
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„„ Consórcios de cultivos — o principal sistema de consórcio no Centro-


-Oeste do Brasil é milho + braquiária na safrinha. Após a colheita do
milho, a braquiária cresce e protege o solo, reduzindo o acesso das
plantas daninhas à luz, até o cultivo subsequente.
„„ Integração lavoura–pecuária — quando viável, é um dos sistemas mais
eficientes na supressão de plantas daninhas, por causa da grande
variação no manejo nos diferentes sistemas utilizados na área.
„„ Época de plantio e arranjo espacial de plantas — a cultura deve ser
plantada na época recomendada pelo zoneamento agrícola da região,
quando ela germinará mais rapidamente, fechando o dossel e supri-
mindo o crescimento das plantas daninhas. O arranjo das plantas —
resultante do espaçamento entrelinhas e densidade de plantas — fará
com que o dossel da cultura feche rapidamente.

Controle mecânico
Esse método consiste na retirada das estruturas das plantas daninhas da
área de plantio comercial por meio de arranque ou corte. As técnicas mais
comuns são a monda, a capina manual e a capina mecanizada. O controle
mecânico apresenta maior eficiência quando é utilizado no estágio correto de
desenvolvimento da planta daninha, e geralmente deve ser aplicado dentro
de um breve período. A capina pode ser manual, quando aplicada com equi-
pamentos manuseáveis, como a enxada, ou mecanizada, quando realizada
com implementos que empregam tração animal ou tratorizada (CARVALHO,
2013; MOARES et al., 2013).

Monda nada mais é do que o arranquio ou corte manual das plantas


daninhas sem a utilização de qualquer implemento. Essa técnica é
bastante rudimentar e pouco utilizada, em virtude do seu baixo rendimento,
além de ser onerosa. Tal técnica é adotada em pequenas áreas agrícolas, jardins,
canteiros e plantações de agricultura familiar, onde a mão-de-obra principal é
da própria família produtora.

No controle mecânico, é muito comum a utilização de equipamentos e


implementos que auxiliam no processo de retirada das plantas daninhas dos
campos produtivos. A Figura 1 mostra um exemplo de roçadora articulada no
controle de ervas daninhas numa lavoura sob plantio direto. O equipamento
utilizado é formado por seis componentes, cada qual contendo uma roçadora.
Métodos de manejo e controle de plantas daninhas 7

Figura 1. Aplicação de controle mecânico de plantas daninhas na lavoura de soja com roçadora
articulada composta por seis componentes.
Fonte: Adaptada de Brighenti et al. (2007).

Controle físico
Esse método de controle consiste na aplicação de técnicas que exercem
ações físicas sobre as plantas daninhas. Dentre as técnicas utilizadas nesse
método de controle, Silva et al. (2018) destacam:

„ Cobertura morta — a manutenção dos restos culturais sobre a superfície


do solo pode servir como uma barreira física, impedindo a emergência
de sementes de plantas daninhas que apresentam pequenas quan-
tidades de reserva, as quais às vezes não são suficientes para que a
planta ultrapasse a cobertura morta em busca de luz. O processo de
decomposição desses resíduos vegetais libera gradualmente uma série
de compostos orgânicos chamados aleloquímicos, que podem interferir
negativamente na germinação e emergência das plantas indesejáveis.
„ Solarização — consiste na utilização de coberturas plásticas que vi-
sam aumentar a temperatura do solo pela ação da radiação solar,
ocasionando a morte das plantas daninhas pelo excesso de calor. A
efetividade desse método depende de um clima quente, úmido e de
8 Métodos de manejo e controle de plantas daninhas

intensa radiação solar, além de dias longos, para aumentar a tempera-


tura do solo o suficiente para ocasionar a morte das plantas daninhas.
„ Fogo — é um método de controle físico que já foi muito popular antes
das extensas regulações ambientais que limitaram essa prática, e antes
que a ciência tivesse compreensão clara sobre seus efeitos deletérios
na microbiota do solo. Muitas vezes, bastava um palito de fósforo para a
aplicação dessa prática de manejo de plantas de forma descontrolada.
„ Inundação, dragagem e drenagem — o controle por inundação impede
que as raízes das plantas sensíveis obtenham oxigênio para sobreviver.
Em culturas inundadas, como o arroz, o manejo da água é comumente
reconhecido como uma importante prática cultural no controle da
comunidade infestante de espécies indesejadas.

Vale ressaltar que o uso de cobertura morta, além de ajudar a controlar


as plantas daninhas, auxilia no processo de retenção de água do solo e
diminui a incidência de outras técnicas de manejo, como a capina. A Figura
2 mostra um exemplo da utilização de casca de arroz como cobertura morta
em plantio de hortaliças.

Figura 2. Controle físico por meio da utilização de casca de arroz como cobertura morta em
plantio de hortaliças.
Fonte: Trani et al. (2015, p. 23).
Métodos de manejo e controle de plantas daninhas 9

Controle biológico
O método de controle biológico baseia-se no uso de inimigos naturais de
plantas daninhas (fungos, insetos, bactérias, vírus, aves, peixes, etc.). Esses
inimigos naturais atuam em diferentes partes das plantas (raízes, folhas,
frutos, etc.), diminuindo o desenvolvimento de espécies indesejadas. Em
geral, esse método é aplicado com o intuito de diminuir a população de
plantas daninhas na lavoura para níveis mais aceitáveis, reduzindo os danos
econômicos. Podem ser listadas três técnicas básicas incluídas nesse método
(TESSMANN, 2011):

„„ Técnica inoculativa — aplicada em plantas daninhas consideradas


exóticas e recém-introduzidas, ou seja, que não costumam ser inci-
dentes em uma determinada região. Como tais plantas muitas vezes
se instalam facilmente pela ausência de inimigos naturais, é preciso
introduzir também seus inimigos naturais, que atuarão a médio e longo
prazos no controle da planta daninha. É importante salientar que nessa
técnica prioriza-se o equilíbrio entre a planta e o inimigo natural, de
maneira que ambos sobrevivam em níveis aceitáveis economicamente.
„„ Técnica inundativa — nessa técnica, o inimigo natural, em sua maioria
fungos, vírus e bactérias, possui alto potencial de disseminação na
lavoura e atua sobre as plantas daninhas sortindo um rápido resultado,
quase que erradicando a planta invasora. Sempre que ocorre a rebrota
da planta indesejada, deve ser realizada uma nova inoculação dos
agentes controladores (bio-herbicidas), que são facilmente reprodu-
zidos em larga escala por empresas especializadas.
„„ Técnica aumentativa — nesta técnica, os bio-herbicidas são associa-
dos a insetos fitófagos e fungos fitopatogênicos, que são aplicados
periodicamente nas áreas afetadas por ervas daninhas. Neste caso,
os agentes naturais não possuem alto potencial de disseminação, e o
controle não ocorre de maneira rápida, e sim gradativa.

Controle químico
Os avanços na biotecnologia aplicados à agricultura possibilitaram o desen-
volvimento de produtos químicos (herbicidas) que são aplicados no controle/
erradicação das plantas daninhas. A descoberta desses produtos possibilitou
avanços significativos no aumento da produção agrícola em larga escala.
Assim, esse tipo de controle passou a ser utilizado quase que rotineiramente
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nos campos produtivos. Ao longo dos anos, pesquisas na área desenvolvem


herbicidas específicos para diversas espécies de plantas daninhas.
É extremamente importante convir que esse método de controle utili-
zado intensivamente sem a aplicação dos demais métodos já estudados tem
contribuído para a contaminação do solo e da água, além de ser crescente o
número de variedades de plantas daninhas resistentes à ação dos herbicidas.
O controle químico, assim como os demais métodos, possui pontos positivos
e negativos, que devem ser levados em consideração no momento de sua
aplicação. O Quadro 2 mostra algumas vantagens e desvantagens desse
método de controle específico.

Quadro 2. Vantagens e desvantagens do método químico de controle

Vantagens do controle químico Desvantagens do controle químico

Prevenção do aparecimento das Toxidade ao ser humano e aos animais


plantas daninhas

Controle efetivo nas linhas de Necessidade de equipamentos próprios


plantio para aplicação

Flexibilidade quanto à época de Necessidade de equipamentos de


aplicação proteção ao operador

Redução do tráfego de maquinário Risco de danos por deriva a lavouras


na área vizinhas

Rendimento operacional elevado Danos a culturas plantadas em sucessão

Menor demanda de mão-de-obra Resistência de plantas daninhas a


herbicidas

Eficiência dependente de condições


ambientais

Fonte: Adaptado de Silva et al. (2018).

Manejo de plantas daninhas em plantios


comerciais
Com o crescimento da demanda por alimento ao longo dos anos, a agricultura
moderna expandiu-se não apenas em área plantada, mas também em tecno-
logias de manejo. O controle de plantas daninhas pode ser considerado uma
ferramenta tecnológica aplicada aos plantios comercias. Para cada cultura
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se desenvolver de forma satisfatória, gerando altos valores produtivos e,


consequentemente, ganhos econômicos, é necessário um manejo adequado
do plantio até a colheita, o que inclui o controle de plantas daninhas.
Atualmente, o Brasil possui áreas agricultáveis em todas as regiões. Em
geral, cada região se destaca conforme as características de clima e tipo de
solo favoráveis à produção dos mais variados cultivos. Como o controle das
plantas daninhas constitui um fator fundamental na produção agropecuária
nacional, examinaremos a seguir aplicações práticas de controle/erradicação
de plantas daninhas em duas culturas de interesse agronômico no país: o
milho e o arroz.

Manejo de plantas daninhas na cultura do milho


O milho (Zea mays) é uma cultura de grande importância não apenas no
Brasil, mas no mundo todo. Além de ser utilizado diretamente como alimento
humano, o milho é aplicado na indústria para produzir biocombustíveis e ração
animal. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação
e Agricultura (ONU, [2020]), o Brasil é o terceiro no ranking mundial dos países
produtores de milho (ONU, [2020]).
A literatura aponta que, dentre as plantas daninhas que trazem danos
econômicos à cultura do milho, o papuã (Urochloa plantaginea) e a milhã
(Digitaria horizontalis) são as mais incidentes em áreas de cultivo. Devido a
seus altos níveis de danos econômicos, o controle mais utilizado é químico,
mediante o uso de herbicidas que devem ser aplicados levando em consi-
deração o controle sustentável e a fitotoxicidade, que pode gerar danos à
cultura de interesse agronômico (GALON et al., 2010).
Os herbicidas utilizados no manejo das plantas daninhas do milho podem
ser classificados segundo a época de aplicação, a atividade, a seletividade
e modo de ação:

„„ herbicidas de pré-emergência —aplicados após o plantio do milho,


antes da emergência da cultura e das plantas daninhas;
„„ herbicidas pós-emergentes — aplicados após a emergência do milho
e da planta daninha.

Com relação aos herbicidas de pré-emergência, quando ocorre o plantio


direto a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, [2018],
documento on-line) indica que:
12 Métodos de manejo e controle de plantas daninhas

Deve-se prestar atenção na quantidade de palha que está cobrindo o solo. Os


herbicidas de pré-emergência precisam, para que funcionem, chegar ao solo.
Camadas muito espessas de palhada (cobertura do solo) podem dificultar a pas-
sagem do produto e ocasionar a chegada de pequenas quantidades de herbicida
ao solo, o que levaria a doses inferiores às necessárias para o produto atuar de
forma satisfatória no controle das plantas daninhas.

Por sua vez, o herbicida pós-emergente deve ser utilizado da seguinte


maneira (EMBRAPA, [2018], documento on-line):

Quando a planta daninha já tiver emergido, podendo o estádio de aplicação variar


em função do herbicida a ser utilizado. Estádios esses que variam desde as pri-
meiras folhas verdadeiras até 6 a 8 folhas, para as dicotiledôneas (folhas largas),
e 4 folhas para as monocotiledôneas (gramíneas).

A critério de informação, no controle químico associado a outras técnicas


de controle de plantas daninhas podem ser utilizados produtos químicos
registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, devendo
ser levado em consideração as particularidades de cada produto para evitar
misturas e uso incorreto. Observe na Figura 3 o momento correto de aplicação
dos herbicidas de acordo com os desenvolvimentos do milho e da planta
daninha.

Figura 3. Épocas de aplicação dos herbicidas de acordo com o estágio da cultura do milho.
Fonte: Adaptada de Megastocker/Shutterstock.com.
Métodos de manejo e controle de plantas daninhas 13

Manejo de plantas daninhas na cultura do arroz


O arroz (Oryza sativa L.) é uma espécie anual que pertence à família das
poáceas. É cultivado no Brasil em dois sistemas distintos, terras altas e
várzeas, respectivamente conhecidos como arroz de sequeiro e arroz inun-
dado. O sistema de cultivo inundado é possível porque a planta é adaptada a
ambientes aquáticos, com a presença de estruturas nas raízes e colmos, que
possibilitam a transferência do oxigênio do ar para a rizosfera (SOCIEDADE
SUL-BRASILEIRA DE ARROZ IRRIGADO, 2018).
Sem diferir dos demais cultivos de interesse agronômico, os plantios de
arroz também são afetados negativamente pela presença de plantas daninhas.
O Quadro 3 enumera as principais plantas daninhas presentes nos cultivos
de arroz do Brasil.

Quadro 3. Principais plantas daninhas da rizicultura.

Sistema de cultivo

Nome científico Nome comum Terras altas Várzeas

Acanthospermum Carrapicho-rasteiro × ×
australe

Acanthospermum Carrapicho-de- × ×
hispidum carneiro

Aeschynomene spp. Angiquinho ×

Ageratum conyzoides Mentrasto × ×

Amaranthus spp. Caruru × ×

Brachiaria decumbens Capim-braquiária × ×

Brachiaria plantaginea Capim-marmelada × ×

Cenchrus echinatus Capim-carrapicho × ×

Commelina spp. Trapoeraba × ×

Cynodon dactylon Grama-seda × ×

Cyperus rotundus Tiririca × ×

Digitaria horizontalis Capim-colchão × ×

(Continua)
14 Métodos de manejo e controle de plantas daninhas

(Continuação)

Sistema de cultivo

Nome científico Nome comum Terras altas Várzeas

Eleusine indica Capim-pé-de-galinha × ×

Emilia sonchifolia Falsa-serralha × ×

Euphorbia heterophylla Leiteiro × ×

Ipomoea spp. Corda-de-viola × ×

Ludwigia longifolia Cruz-de-malta ×

Ludwigia octovalvis Cruz-de-malta ×

Nicandra physaloides Joá-de-capote × ×

Oryza sativa Arroz-vermelho × ×

Pennisetum setosum Capim-custódio ×

Portulaca oleracea Beldroega × ×

Richardia brasiliensis Poaia-branca × ×

Fonte: Adaptado de Cobucci, Rabelo e Silva (2001).

Embora o manejo dessas plantas daninhas possa ser feito a partir dos mé-
todos químicos e mecânicos, a depender do tamanho da área, o destaque para
erradicação das espécies indesejadas na cultura do arroz é a aplicação do método
físico de controle. As técnicas de inundação, dragagem e drenagem são eficientes
nesse controle. A inundação dificulta a obtenção de oxigênio por plantas não
adaptadas a esta situação. Já na dragagem, ocorre a eliminação de partes produ-
tivas das plantas daninhas, como os rizomas e tubérculos. Por fim, na drenagem
é realizado o controle de plantas daninhas aquáticas (SILVA et al., 2007).
Na rizicultura, o controle de plantas daninhas pode ser aplicado a partir
da escolha de diversos métodos que foram adaptados ao longo dos anos. É
importante entender que toda técnica aplicada nas diversas fases de manejo
de qualquer espécie vegetal indesejada deve ser escolhida pelo profissional da
área, mediante análise prévia do conjunto de informações do local de cultivo
e da planta que se deseja controlar. Por esse motivo, antes de mais nada é
necessário estabelecer práticas preventivas, de maneira que as plantas dani-
nhas não se desenvolvam ou não alcancem altos níveis de danos econômicos.
Métodos de manejo e controle de plantas daninhas 15

Quando o nível de infestação das plantas daninhas acarreta graves níveis


de dano econômico, o engenheiro agrônomo deve colocar em prática seus
conhecimentos na área, adotando MIPD com a aplicação dos métodos de
controle cultural, mecânico, físico, biológico e químico. O manejo de plantas
daninhas constitui uma etapa importante no estabelecimento de qualquer
plantio comercial. A aplicação do controle correto é uma tarefa que demanda
atenção dos profissionais da área, que devem adotar medidas coerentes para
manter o nível de infestação das plantas daninhas abaixo do dano econômico.
É importante frisar que medidas preventivas devem ser adotadas de maneira
consciente, minimizando gastos e possíveis infestações.

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In: OLIVEIRA JÚNIOR, R. S.; CONSTANTIN, J.; INOUE, M. H. (ed.). Biologia e manejo de
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TRANI, P. et al. Couve de folha: do plantio à pós-colheita. Campinas: Instituto Agronô-
mico, 2015. Disponível em: http://www.iac.sp.gov.br/publicacoes/arquivos/iacbt214.
pdf. Acesso em: 08 out. 2020.

Leituras recomendadas
DEUBER, R. Ciências de plantas daninhas: Fundamentos. Jaboticabal: FCAV–UNESP, 1992.
MORAES, P. V. D. et al. Manejo de plantas de cobertura no controle de plantas daninhas
e desempenho produtivo da cultura do milho. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v.
34, n. 2, p. 497-508, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-
-83582009000200011&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 22 out. 2020.

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