Aline Cadurini Pezzin
Aline Cadurini Pezzin
Aline Cadurini Pezzin
SÃO MATEUS
2018
ALINE CADURINI PEZZIN
SÃO MATEUS
2018
Autorizada a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Catalogação na publicação
P521r
Pezzin, Aline Cadurini.
A relevância da supervisão de estágio clínico na formação
acadêmica / Aline Cadurini Pezzin – São Mateus - ES, 2018.
CDD: 158
Nesse momento tão especial, não poderia deixar de agradecer às pessoas que me
acompanharam e que contribuíram para minha (re) construção, pessoal e
profissional; para elas, direciono meu amor e carinho.
- Ao meu Pai, por todo apoio financeiro, e que mesmo sem saber, sempre será o
meu exemplo de força e perseverança.
- Ao meu irmão, Vinicius, meu segundo maior exemplo de vida, por te me ensinado
que nunca é tarde para (re) começar, e que com determinação podemos alcançar
nossos sonhos. Obrigada Vi, por estar sempre ao meu lado.
- À minha Tia Regina, minha segunda mãe que sempre se fez presente em minha
vida, com seu carinho e bondade. Obrigada tia, por sua luz, por cada conselho e por
me transmitir tanto amor.
- A todos os meus amigos por terem compreendido minha ausência durante esse
tempo, em especial a Dany, minha companheira de mestrado que dividiu comigo
todas as emoções dessa etapa. Obrigada pelo companheirismo de sempre.
- Aos meus alunos e ex-alunos, do curso de Psicologia, por todo carinho, incentivo e
por me permitirem participar de sua formação. Obrigada por me ensinarem a ser
professora.
-Por fim, agradeço a todos os participantes desse estudo, sem os quais a realização
do mesmo não teria sido possível.
RESUMO
Este trabalho teve como principal objetivo investigar, a partir da vivência prática, a
importância da supervisão de estágio clínico como instrumento facilitador para o
desenvolvimento de uma formação qualificada em Psicologia. Participaram desta 8
estagiários do nono e décimo períodos de Psicologia e 4 supervisores de estágio
clínico de uma instituição particular do município de Nova Venécia – ES. Para coleta
de dados foram utilizados dois roteiros de entrevista semiestruturada, um
direcionado aos alunos e outro voltado para os professores. Como estratégia de
análise dos dados obtidos, utilizou-se a análise de conteúdo, em uma abordagem
qualitativa. Os resultados apontaram que tanto os alunos quanto os supervisores
constatam que a supervisão de estágio clínico, em Psicologia é tida como uma
atividade essencial para a formação qualificada, pois auxilia no desenvolvimento da
prática profissional e ética do estagiário. Dentre as dificuldades apresentadas, o
tempo insuficiente de supervisão foi o aspecto mais citado entre os participantes.
Além disso, os dados demonstraram a necessidade de adequações da legislação
vigente, especialmente no que diz respeito à delimitação de aspectos que envolvem
a supervisão como, por exemplo, o tempo de supervisão por aluno e a preparação
do professor para desempenhar a atividade de supervisão. Assim, dada à
representatividade da supervisão de estágio clinico na formação do psicólogo,
sugerimos ao final deste trabalho a elaboração de um folheto informativo sobre a
atividade de estágio supervisionado em Psicologia, envolvendo conteúdos teóricos,
práticos e éticos, a fim de oportunizar uma formação acadêmica e profissional de
qualidade.
The main objective of this study was to investigate, from the practical experience, the
importance of supervising the clinical internship as a facilitator tool for the
development of a qualified training in Psychology. Eight interns from the ninth and
tenth periods of Psychology and four supervisors of clinical internship from a private
institution in the municipality of Nova Venécia - ES participated in this study. For data
collection, two semi-structured interview scripts were used, one directed to the
students and the other to the teachers. As a strategy to analyze the data obtained,
the content analysis was used in a qualitative approach. The results showed that
both students and supervisors find that the supervision of clinical internship in
Psychology is considered as an essential activity for qualified training, as it assists in
the development of the professional and ethical practice of the interns. Among the
difficulties presented, insufficient time of supervision was the most cited aspect
among the participants. In addition, the data demonstrated the need for adequacy of
existing legislation, especially regarding the delimitation of aspects that involve
supervision, such as the time of supervision per student and the preparation of the
teacher to carry out the supervision activity. Thus, given the representativeness of
the supervision of clinical internship in the formation of the psychologist, we suggest
at the end of this work the elaboration of an informative leaflet about the activity
supervised in Psychology, involving theoretical, practical and ethical contents, in
order to provide an academic training and professional quality.
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................10
3 MÉTODO ..................................................................................................................55
3.1 PARTICIPANTES ..............................................................................................55
3.2 INSTRUMENTOS ..............................................................................................56
3.3 PROCEDIMENTOS ...........................................................................................56
3.4 TRATAMENTO DOS DADOS ...........................................................................57
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................................................58
4.1 ESTÁGIO CLÍNICO NA CONCEPÇÃO DOS ALUNOS ....................................58
4.1.1 Escolha e Desenvolvimento do Estágio Clínico 58
4.1.2 Estruturação e experiência do Estágio Clínico 62
4.1.3 Importância da Supervisão para prática 66
4.1.4 Dificuldades do processo de estágio 70
4.2 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO CLÍNICO NA CONCEPÇÃO DOS
SUPERVISORES ....................................................................................................72
4.2.1 A supervisão de Estágio Clínico e Suas Diretrizes 73
4.2.2 Organização e desenvolvimento da supervisão de estágio 78
4.2.3 Supervisão e a formação em psicologia 81
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................91
APÊNDICES................................................................................................................98
10
1 INTRODUÇÃO
Nesse sentido, segundo Saraiva (2007), o estágio clínico engloba alguns quesitos
importantes que se articulam entre si e que respondem aos propósitos da Psicologia
clínica, são eles: a prática clínica que leva à experiência, o atendimento ao paciente,
a supervisão dos atendimentos e processo terapêutico em si, a formação e
dedicação do aluno ao longo da graduação e por fim, a experiência do supervisor.
11
Vale ressaltar que, os itens citados não seguem um grau de importância, ocorrem
simultaneamente.
Para tanto, salientamos ainda que, a revisão de literatura demonstrou que embora o
estágio e a supervisão sejam entendidos como aspectos fundamentais para
formação, verifica-se uma carência bibliográfica específica direcionada àqueles
professores que fazem a prática de supervisão de estágio (CARNEIRO 2006;
SARAIVA 2006; CURY, 2006), em especial de produções voltadas para supervisão
de estágio clínico em Psicologia, evidenciando assim, uma dificuldade de acesso o
conhecimento específico da questão levantada. Desse modo, a legitimidade da
pesquisa proposta está em contribuir para formação qualificada do profissional,
considerando os aspectos subjetivos do processo ensino-aprendizagem.
Para finalizar, acreditamos que este trabalho, tem enquanto relevância acadêmica e
social, o intuito de compreender as influências da supervisão docente, como
mecanismo facilitador no desenvolvimento do aluno durante a prática de estágio
supervisionado. Além disso, visa-se contribuir com evidências científicas referentes
ao tema inspirando aos sujeitos envolvidos nesse percurso formativo (professores,
alunos, psicólogos e supervisores acadêmicos) a pensar sobre a formação
qualificada do profissional, onde se destaca, a supervisão de estágio, como
elemento primordial desse caminho.
15
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A esse respeito, Rezende (2014) enfatiza que, a criação desse laboratório sob a
condução de Wilhelm Wundt, consistiu em um acontecimento marcante não só para
Psicologia no Brasil, mas em todo mundo, por representar o primeiro centro
internacional de formação de psicólogos.
Portanto, nesse caminho histórico, atemo-nos a evidenciar fatos que permitam uma
compreensão dinâmica do assunto proposto. No entanto, apesar de não ignorarmos
os seus antecedentes filosóficos, reconhecemos que o texto se faz limitado, pois não
iremos nos debruçar sobre todo seu percurso histórico e desenvolvimento da
Psicologia, enquanto ciência, uma vez que o resgate histórico que nos propusemos
a fazer, direciona-se para formação em Psicologia no Brasil, considerando o
processo de ensino e formação proporcionado pelas Instituições de Ensino Superior,
no Brasil.
Essa condição instável começa a mudar, de acordo com Lisboa e Barbosa (2009),
ainda no século XIX, com a ampliação e incorporação de disciplinas de Psicologia à
grade curricular das escolas normais, resultado da Reforma de Benjamim Constance
em 1890. Logo, tais mudanças contribuíram essencialmente para o estabelecimento
da Psicologia Científica no Brasil (ANTUNES, 2009).
19
Nessa direção, esse mesmo autor, explica que em 1928, por Decreto a disciplina de
Psicologia passa a ser obrigatória, no currículo das Escolas Normais, juntamente
com as demais disciplinas (ANTUNES, 2009). Diante do exposto, tais escolas foram
reconhecidas como as responsáveis pela formação dos primeiros profissionais de
Psicologia, bem como pelas primeiras publicações de obras especificas de
Psicologia no País.
Ainda em 1890, no Rio de Janeiro foi criado o Pedagogium, Instituto que, segundo
Antunes (2009, p.24) tinha enquanto finalidade “constituir-se o centro de pesquisas
educacionais e museu pedagógico, sob a inspiração de Rui Barbosa”.
De acordo com Lisboa e Barboza (2009, p. 722), esse Parecer descreve a formação
em três níveis, com duração e foco distintos: “Bacharelado (4 anos), centrado na
formação de pesquisador; Licenciatura (4 anos), voltado para a formação do
professor de Psicologia e formação do psicólogo (5 anos), dirigido à formação
profissional” . Em relação ao currículo, Rocha Junior (1999, p. 03) esclarece que “o
primeiro currículo mínimo oficial, fixado pelo Conselho Federal de Educação
expressava uma visão daquilo que se ensinava nesses cursos e da prática
profissional em Psicologia, exercida, especialmente, por pedagogos”.
1
Annita Cabral foi também idealizadora e fundadora do Curso de Psicologia na USP.
Disponível em: www.crpsp.org.br/portal/memoria/banners/Annita%20de%20Castilho.pdf
22
É possível dizer que o período que vai da última década do século XIX à
terceira década do século XX, no Brasil, foi o momento histórico em que a
Psicologia alcançou sua autonomia em relação as outras áreas de
conhecimento, tornando-se reconhecida como ciência independente (...).
Nesse momento, não apenas a psicologia no Brasil, mas a partir daí inicia-
23
Por outro lado, numa perspectiva mais vivencial, encontramos alguns estudos que
debatem a contribuição da formação para atuação profissional (REZENDE, 2014),
as práticas desenvolvidas no período de inserção profissional (CRUCES, 2006) e as
perspectivas dos alunos a respeito de seu processo formativo (PIRES, 2008).
Porém, outros estudos revelam que na maioria dos cursos de graduação ainda
ocorre uma predominância da área clínica (BARDAGI et al.,2008; NORONHA, 2003;
LISBOA E BARBOSA, 2009) e que a dicotomia entre teoria e prática, dificulta o
exercício profissional (ABDALLA; BATISTA; BATISTA, 2008).
Desse modo, em virtude do que foi evidenciado nos estudos apresentados, para
prosseguirmos com a análise do processo de formação em Psicologia, em especial
no que diz respeito ao estágio Clínico Supervisionado, vamos abordar, em seguida a
formação atrelada ao currículo mínimo e posteriormente, à formação pautada nas
diretrizes curriculares para os cursos de graduação em Psicologia.
Sendo assim, de acordo com esse Parecer, o currículo mínimo oficial dos Cursos de
Psicologia, para Bacharelado e Licenciatura, passam a ter disciplinas comuns que
envolvem conhecimentos instrumentais e matérias consideradas primordiais para a
formação. Assim, segundo Cruces (2006, p. 44), as disciplinas obrigatórias para os
cursos de Psicologia correspondem à “Fisiologia, Estatística, Psicologia Geral e
Experimental, Psicologia do Desenvolvimento, Psicologia da Personalidade,
Psicologia Social e Psicopatologia Geral”.
Contudo, além dessas disciplinas obrigatórias, para obtenção do diploma de
Psicólogo, eram necessárias mais as seguintes disciplinas:
Em relação à duração do curso, esse mesmo autor revela que foi estabelecido que
sua integralização fosse de quatro anos para os cursos de Bacharelado e
Licenciatura e, de cinco para a formação do Psicólogo, e que além da formação
27
(BARBOSA, 2007).
Tão logo, esses princípios e novas propostas curriculares voltaram a ser discutidas
em 1994 no Congresso Nacional Constituinte de Psicologia, intitulado de Processo
Constituinte “Repensando a Psicologia” (WAENY; AZEVEDO,2004), posteriormente
reconhecido como o I Congresso Nacional de Psicologia. Esse evento foi um marco
histórico para Psicologia, visto que desde que a Psicologia foi criada no Brasil, esta
foi à primeira vez que os psicólogos com base em suas próprias colocações,
“indicaram o rumo que a Psicologia deveria tomar no País, como ciência e profissão,
e a forma de organização dessa área” (WAENY; AZEVEDO, 2004, p.11).
2
Carta de Serra Negra, disponível em http://www.abepsi.org.br/web/linhadotempo.aspx.
30
3
Mariza Monteiro Borges (UnB - Presidente), Antônio Virgílio Bittencourt Bastos (UFBa) e Yvonne
Alvarenga G. Khouri (PUC-SP).
31
Segundo Abdalla; Batista e Batista (2008), com promulgação da LDB/96 e das DCNs
para os cursos de graduação, o ensino superior vivencia um período de transição
que reflete num movimento de reformulação dos currículos de diversos cursos de
formação superior no País, inclusive o de graduação em Psicologia. Logo, a LDB,
possibilitou uma reflexão no que tange à estrutura dos diferentes cursos de
graduação objetivando garantir a qualidade, inovação e diversificação da formação
superior.
Ainda nesse seguimento, a LDB, instituiu o CNE, que por sua vez aprovou em 3 de
dezembro de 1997 o Parecer n° 776/974, que dispôs sobre as diretrizes curriculares
para os cursos de graduação, estabelecendo orientações gerais a serem
observadas na formulação das mesmas. Além disso, atribuiu ao CNE, o papel de
deliberar sobre as referidas DCNs, após a verificação de que o Currículo Mínimo
não vinha garantindo [...] “a qualidade, inovação e diversificação da formação
superior, sendo preciso, portanto, a sua substituição como referencial normativo
para esse nível de formação” (RUDÁ 2015, p.110).
Nessa lógica, verificamos que os cursos de graduação devem ser regulados por
Diretrizes curriculares, que priorizam tanto a formação sólida quanto a preparação
do “futuro graduado para enfrentar os desafios das rápidas transformações da
sociedade, do mercado de trabalho e das condições de exercício profissional”
(BRASIL, 1997, s/p).
Desse modo, a LDB avivou modificações para o ensino superior, como por exemplo
a substituição do currículo mínimo dos cursos de graduação pelo conceito de
diretrizes curriculares, que possibilitava maior adaptação dos conteúdos conforme
demandas emergidas na sociedade, almejando uma qualidade da formação.
4
Parecer nº 776. Orientação para as diretrizes curriculares dos Cursos de Graduação, 1997.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES0776.pdf
34
No bojo dessa discussão, Barbosa (2007), afirma que a instituição de tais Diretrizes,
em 7 de maio de 2004, através da Resolução CNE/CES nº 8, instalou, no cenário da
graduação em Psicologia, um momento privilegiado de discussão e de crítica a
respeito da formação do psicólogo. Segundo a autora, as DCNs para o Curso de
Graduação em Psicologia têm por objetivo auxiliar na organização e articulação dos
currículos plenos, visando à flexibilidade e à qualidade da formação oferecida aos
estudantes.
base homogênea para a formação e para a capacitação para aprender e lidar com
os conhecimentos da área” (BRASIL, 2004, p.2).
De acordo com Barbosa (2007), as exigências desse novo modelo estrutura uma
Psicologia que leva em consideração a realidade econômica, social e cultural de
cada contexto, proporcionando uma formação comprometida com uma formação
Ética e com os desafios emergidos pela sociedade moderna.
Nesse sentido, Cury (2012, p.62-63), sinaliza que inicialmente os primeiros cursos
de Psicologia no Brasil, não incluíam os estágios como etapa necessária na
formação do Psicólogo. O autor ainda esclarece que, a partir do currículo mínimo, “o
39
Refletindo a esse respeito, podemos inferir que uma forma de possibilitar essa
articulação (teoria e prática) pode ser proporcionada pela oferta obrigatória de
estágios prevista pela lei de estágios supervisionados que consente uma atuação
profissional orientada, de modo a desenvolver habilidades eficazes para o exercício
profissional especialmente para formação em Psicologia, uma vez que, de acordo
40
[...] a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto Lei
No 5.452, de 01 de maio de 1943;pela Lei No 5.540, de 28 de novembro de
1968, a qual instituiu as Diretrizes e Bases da Educação Brasileira; pela Lei
No 6.494, de 7 de maio de 1977; pela Lei No 8.859, de 23 de março de
1994, as regulamentadora das atividades de estágio; pela Lei No 9.394 de
20 de dezembro de 1996, que vigora até hoje e trata das diretrizes e bases
consolidadas da educação brasileira, pelo Art. 6º da Medida Provisória No
2.164-41, de 24 de agosto de 2001 e, por fim, pela Lei No 11.788, de 28 de
setembro de 2008.
No entanto, verificamos que o estágio não pode ser considerado somente como a
43
parte prática, visto que, seu processo necessita da teoria para dar-lhe
fundamentação, conforme salientado por Michels (2012), ao descrever que a
formação do profissional não necessita fundamentalmente atuar somente com teoria
e nem somente com a prática, ou seja, para a formação deve-se ter um elo entre
teoria e prática. Já Pimenta e Lima (2005), argumentam que o estágio corresponde a
um campo do conhecimento que não se limita a ideia de atividade prática
instrumental, tendo em vista que, a atividade de estágio se efetiva com o
desenvolvimento de suas práticas educativas no seu campo social e epistemológico.
Desse modo, de acordo com Roesch 5(2005, apud MICHELS, 2012, p.42),
Nessa perspectiva, Roesch (2005, apud Michels, 2012, p.44) “apresenta suas
considerações, destacando que o estágio é uma forma de alinhar a atividade e a
aprendizagem, na academia, à formação profissional sob uma visão sistêmica e
interdisciplinar”.
Completando esse pensamento, Michels (2012), indica que o estágio adquire sua
relevância teórica, pois inclui uma aplicabilidade prática, além de representar um
momento de aquisição de conhecimentos tanto profissional, quanto pessoal
concebidos pelas expectativas dos alunos frente a seu contexto prático.
5
ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e de pesquisa em administração: guia para
estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudos de caso. 3ª. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
44
No que se refere às pesquisas da área que nos fornecem subsídios para o estudo
da relação entre a supervisão de estágio clínico e a formação do psicólogo,
destacamos especialmente as de Saraiva (2006), Carneiro (2006), Jonsson (2011) e
Cury (2012).
Sob esse mesmo ponto de vista, e este, um instrumento legal normativo, as citadas
Diretrizes Curriculares, são estruturadas com a finalidade de servir de “referência
para as IES na organização de seus programas de formação, permitindo uma
flexibilidade na construção dos currículos plenos e privilegiando a indicação de áreas
do conhecimento a serem consideradas”, em vez de estabelecer um currículo rígido
e tradicionalista que não acompanhe as transformações da profissão (BARBOSA,
2007, p.36). Logo, entendemos que essas normas e orientações são voltadas para
garantir uma formação plural, científica e Ética do graduando de Psicologia.
6
Importante destacar que o parecer CNE/CES Nº n°784/2016, aprovado em 10 de novembro de
2016, solicita adoção de providências objetivando revogar o inciso V do artigo 4º da Resolução
CNE/CES nº 5, de 15/3/2011, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais de graduação de
Psicologia, encontra-se aguardando homologação (Parecer CNE/CES n°784/2016).
46
Assim, o estágio básico, pode ser entendido como condição primária para o estágio
específico, caracterizando-se como uma primeira experiência no campo profissional
da Psicologia, no qual o aluno tem a possibilidade de articular o saber atrelado ao
fazer do psicólogo. Já o estágio específico, especialmente na ênfase clínica, que
corresponde à linha escolhida como proposta de pesquisa para o presente projeto,
tem a finalidade, segundo o referido autor de aprofundar a prática, inserindo o
47
com uma constância de três horas por semana e que sejam integrados com um
quantitativo que não ultrapasse o número de dez alunos por professor .
Por ser considerada uma das etapas cruciais da formação Monteiro e Nunes (2008,
p.287-288), destacam a relevância de se considerar as especificidades desse
processo ao mencionarem que
Oliveira et al. (1970), por sua vez, considera que o supervisor tem a função de
contribuir para que seu aluno possa conhecer/reconhecer seu próprio conhecimento
para lidar com os problemas que surjam durante o trabalho. Complementando sua
ideia, o autor ainda acrescenta que “na relação com o superviso,r que o
supervisionado chega a conhecer as próprias possibilidades e limitações, num
processo de identificação que leva ao desenvolvimento de suas capacidades”
(OLIVEIRA, et al.,1970, p. 49).
Nesse sentido, concordamos com a descrição de Monteiro et al. (2013), que afirma
que o supervisor tem como função ensinar, treinar, monitorar e avaliar o estágio,
dando feedbacks contínuos ao aluno em busca de garantia de uma formação
integral.
Saraiva (2007), por sua vez, descreve que uma das principais funções do supervisor
49
Nesse sentido, podemos assinalar que o supervisor, subsidiado por uma relação
mesclada pela transmissão de conhecimento teórico, técnico e prático, tem a função
de fornecer ao supervisionado as bases para a aquisição de sua identidade
profissional.
Nas DCNs consta apenas que os “estágios devem ser supervisionados por membros
do corpo docente da Instituição formadora, assegurando a consolidação e
articulação das competências estabelecidas” (BRASIL, 2011, Art. 20). Entretanto,
entende-se que o estagiário em Psicologia, quando devidamente assistido por um
profissional habilitado e disponível, no momento do estágio, manipula métodos e
técnicas psicológicas que, inequivocamente, são privativos do profissional psicólogo
(COSTA JÚNIOR; HOLANDA, 1996).
7
A Lei de Estágio usa a denominação orientadora para o professor da IES e a denominação
supervisor para o responsável pelo acompanhamento no campo de estágio da concedente.
50
Entretanto no presente trabalho utilizo da denominação Supervisor para me referir ao profissional que
orienta o aluno na prática de estágio clínico.
51
Assim, a ideia central dos estágios, em Psicologia, poderia ser explicada pela
concepção de associação8, que se realiza por um processo de associação de
ideias9, iniciando com as ideias mais simples progredindo para as ideias mais
complexas. Em resumo, a ideia é proporcionar que os alunos tanto se desenvolvam
quanto exercitem as competências e habilidades em níveis crescentes de
complexidade. Nesse interim, corroborando com a ideia dissertada acima, convém
discutirmos os conceitos de competências e habilidades.
8
Associação é o nome incial dado ao processo chamado atualmente de pelos psicólogos de
aprendizagem (Schultz; Schultz, 2012, p.43-44).
9
Teoria da associação de ideias foi desenvolvida pelo filosofo inglês John Locke.
52
A esse respeito, Cruz e SchultzlI (2009, p.121) em sua pesquisa sobre avaliação de
competências profissionais e formação de psicólogos, afirmam “considera-se
competências profissionais o repertório de comportamentos e habilidades cognitivas,
sociais e emocionais que o psicólogo necessita para atuar com êxito em sua
atividade profissional”.
10
JORGE, M. M.; MOREIRA, M. H. C.; SILVA, M. L. V.; ANDRADE, M. C. Um pouco de história: a
trajetória dos estágios no curso de Psicologia, unidade Coração eucarístico, da PUC MINAS.
Revista Comemorativa dos 50 anos do Instituto de Psicologia, p.63-72, abr. 2009.
54
como transitório, na busca pelo novo papel a ser assumido (MONTEIRO; NUNES,
2008).
Por fim, entendemos que tal estudo pode colaborar para reflexão da prática
supervisionada em Psicologia clínica, nas diversas Instituições de Ensino Superior,
assinalando a relevância do exercício prático para formação qualificada dos discentes.
55
3 MÉTODO
3.1 PARTICIPANTES
A escolha dos alunos dos dois últimos períodos do curso de Psicologia deu-se pelo
fato de que, na Instituição onde foi feita a pesquisa, a disciplina de Estágio Clínico
Supervisionado é ofertada apenas no último ano da graduação, igualmente a outras
tantas instituições de Ensino Superior que ofertam o respectivo curso. Mediante a
isso, podemos inferir que, a oferta dessa modalidade de estágio ocorre apenas no
último ano de graduação, pois nessa etapa o referido aluno já cursou as disciplinas
específicas podendo assim, sentir-se mais preparado e munido de conhecimento
necessário para auxiliá-lo em seu desempenho prático.
3.2 INSTRUMENTOS
Para atender aos objetivos estabelecidos nesta pesquisa, enquanto recurso para
coleta de dados utilzamos dois roteiros de entrevista semiestruturada, um voltado
para os estagiários e outro direcionado aos supervisores de estágio clínico. A
entrevista enquanto técnica e instrumento de coleta de dados é um importante
componente da realização da pesquisa qualitativa. Trata-se de um procedimento
que viabiliza a obtenção de dados objetivos e subjetivos presentes nas falas dos
entrevistados (MINAYO, 2002).
3.3 PROCEDIMENTOS
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esta seção discute os resultados das oito entrevistas realizadas com os alunos
vinculados à disciplina de estágio clínico supervisionado. Esta é organizada em três
subseções: (a) Escolha e Desenvolvimento do Estágio Clínico, (b) Estruturação e
experiência do Estágio Clínico, (c) Importância da Supervisão de Estágio para
prática profissional, e (d) Dificuldades do processo de estágio. Convém esclarecer
que essas dimensões são decorrentes da categorização e da análise da frequência
das respostas considerando as expressões destacadas de forma distinta pelos
alunos/estagiário em seus relatos.
Essa subseção apresenta a vivência individual dos alunos sobre o seu processo de
escolha e preparação para o estágio clínico. Nela, explicitamos os critérios que
59
A escolha do meu estágio clínico foi mais por afinidade mesmo, né?! Por
questão de abordagem; eu tenho maior afinidade com a abordagem e eu
também tive uma base antes disso, que é estágio clínico, que a gente
estuda e eu percebi que eu poderia estar atuando no estágio a partir da
minha afinidade com a minha abordagem (A1)12.
Bom, desde o... sei lá, quinto ou sexto período, eu tinha a abordagem
humanista e me identifiquei bastante, e ai comprei alguns livros e me
identifiquei bastante até chegar, né?! No período de escolha. Ai teve o
processo de seleção, de eliminação e o critério que a professora usou e,
graças a Deus, eu passei (A6).
11
O primeiro número corresponderá à frequência de resposta e o segundo, a sua porcentagem.
12
Para se manter o sigilo quanto às falas de cada aluno, usar-se-á as siglas de A1 a A8 como forma
de nomeá-los e preservar suas identidades, assim como utilizar-se-á as siglas S1 a S4 para os
Supervisores de estágio clínico.
60
A esse respeito, Saraiva (2007), enfatiza que esse critério de escolha pode resultar
em uma predileção imatura em relação à construção profissional do estudante.
Logo, parece existir uma concordância entre os dados por nós obtidos e a de
Saraiva (2007), já que ambos os dados, foram associados a uma escolha
relacionada à percepção que os alunos possuem de seu professor, enquanto
profissional, o que nos remete a uma escolha ineficiente frente à importância do
estágio para experiência e formação do profissional.
Em relação à categoria ‘orientação com professor’, (n=3; 37%), verificamos que essa
descreve que, antes de iniciar a prática de estágio clínico, o aluno passa por um
período de formação com o professor/ supervisor de estágio. Nesse momento,
61
pedimos licença para informar ao leitor que, na Instituição de Ensino, onde os dados
foram coletados, a estruturação e organização do estágio compreende um período
denominado de formação teórica, onde os alunos inicialmente, têm a oportunidade
de rever a teoria que fundamentará a sua prática clínica e receber orientações
quanto a dúvidas e anseios desse primeiro atendimento. Consideramos que esse
resultado sofreu influência da condição de ensino dada pela formação teórica
oferecida aos participantes em questão. A fala a seguir representa bem essa
colocação:
Antes de iniciar o atendimento você fala? Sim, tive, acho que uns dois
meses de encontro com o supervisor e ele passava uns textos, mandava a
gente ler alguns livros da abordagem para tirar algumas dúvidas, mandava
a gente sentar em grupos e discutir sobre aquilo, entendeu?! (A5).
Já a categoria com ‘disciplinas a longo do curso’, (n=1; 12,5%) foi citada apenas por
um participante, que considerou ter obtido essa preparação para o estágio clínico no
decorrer das disciplinas ministradas ao longo da formação, trazendo assim uma
percepção metodológica-tradicional, na qual primeiro inserimos “toda” teoria
necessária para depois passarmos a prática. Tal afirmação nos remete à pontuação
feita por Cury (2012), ao indicar que o estágio, é de fato o momento de integrar e
aplicar a teoria obtida nas disciplinas ofertadas durante a graduação.
Sim, assim a preparação que nós tivemos acredito em sala de aula mesmo,
com as disciplinas, né?! Direcionadas ao estágio clínico, e o conteúdo
teórico e também muita simulação, a gente teve muita simulação em sala de
aula, o que deu pra ter uma base de como é a atuação real, né?! Claro que
a gente nunca imagina como vai ser a atuação de fato, mas deu pra ter uma
base, um preparo melhor (A1).
que, inclusive, deveria ser uma prática que começasse mais cedo.
Tem sido muito positiva, a gente pode perceber que realmente a teoria na
prática funciona em relação a isso e a gente visualiza que realmente muita
coisa fica a desejar desde em termos de ensino, acredito que deveria ter
mais, embasamento teórico, até mesmo pra gente começar essa prática
mais cedo. E a gente também visualizar algumas dificuldades e tal, a gente
percebe que realmente é isso que a gente quer ou não, então, a prática
serve pra isso (A7).
Por outro lado, tanto na categoria ‘dificuldade e insegurança’ (n=3; 37,5%) quanto na
categoria ‘desafiadora’ (n=2; 25%) encontramos algumas pontuações em relação à
complexidade e desafios emergentes na dinâmica do estágio em clínica. Esses
dados reafirmam o estágio enquanto lugar de aprendizagem e de experiência prática
e pessoal.
Acredito eu, seja realmente pra gente praticar um pouco antes de ir pro
mercado e acho que tem um pouco de influência dessa primazia da área
clínica. (A7).
Ah, que é justamente, acho que essa, é preparar mesmo pra ver como que
funciona lá na prática mesmo, nos atendimentos, até porque eu acredito
que o atendimento clínico é, aliás, esse estágio em Psicologia clínica tinha
que ser obrigatório, porque pra mim é uma base de todos os psicólogos lá
fora, independente se ele for atender na clínica ou não (A8).
Os dados obtidos apontaram que a maioria dos entrevistados (n=6; 75%) disseram
‘não conhecer as diretrizes’ de estágio clínico de Psicologia. Os entrevistados
evidenciaram desconhecimento em relação ao conjunto de normas que estruturam e
regem o ensino superior em Psicologia, como um todo.
Nesse sentido, podemos inferir que os alunos iniciam não apenas o estágio clínico,
mas também, a formação em Psicologia, desconhecendo sua organização
institucional, curricular e prática. Tais dados, fazem-nos pensar em outros estudos
que descrevem problemáticas evidências na formação em Psicologia, apontando
que esta, está longe de ser adequada (LISBOA e BARBOSA, 2009; PIRES, 2008;
CARNEIRO 2006). Logo, podemos acreditar que a ausência de conhecimento prévio
a respeito das Diretrizes Curriculares contribui para que os alunos vivenciem a
insatisfação em seu percurso formativo em virtude de uma não compreensão a
respeito de seus direitos e deveres.
Por outro lado, a categoria ‘Sim, conheço as diretrizes’ (n=2; 25%), foi citada
somente por dois alunos. Ambos responderam prontamente ao questionamento e
afirmaram conhecer as diretrizes curriculares de estágio clínico. Entretanto,
observamos que teoricamente, os alunos não demonstraram domínio e seguridade
em suas respostas, tendo em vista que nenhum deles esclareceu adequadamente o
que seria o seu “conhecimento” sobre esse respectivo instrumento legal e normativo.
frente às dúvidas’ (n=4; 50%) e ‘Direcionar o caminho’ (n=3; 37,5). Nesse sentido,
consideramos que ambas as categorias mostram a percepção do supervisor
enquanto facilitador do processo de ensino aprendizagem e desenvolvimento de
habilidades profissionais.
No que diz respeito à relação entre a supervisão e a sua contribuição para prática,
verificamos que a maioria dos participantes assegurou a ideia de que supervisão
tem a função de proporcionar ‘orientação frente à prática’ (n=6; 75%). Os
argumentos mencionados pelos participantes atribuíram a essa atividade,
68
Por outro lado, evidenciamos, ainda, o argumento ‘Pouca coisa’ (n=1; 12,5 %), dada
somente por um estagiário. A esse respeito, o aluno esclareceu que embora a
supervisão tenha um lado positivo, ela por vezes, não dá ao aluno o suporte
necessário para sua atuação. Assim, em se tratando de uma atividade que depende
da experiência, acreditamos, com base em entrevistas, que a insatisfação presente
no relato do aluno corresponde a uma percepção particular do mesmo, sendo essa
fundamentada por sua experiência de estágio e de supervisão.
Pouca coisa assim né?! Pouca coisa. É nós temos aí um lado positivo e
negativo. Positivo, às vezes, a gente se depara mesmo sem luz, mas esse
momento que a gente tá sem luz, sem orientação digamos assim, a gente
busca uma solução, aí nessa busca a gente vai aprender e criar nossa
autonomia.Mas isso não garante, se minha prática está sendo correta ou
não, aí tem uma falha também (A1).
A categoria ‘Em supervisões extraclasse’ foi a mais citada pelos participantes (n=7;
87,5%). A esse respeito, verificamos que as respostas evidenciadas fazem menção
ao fato de que a supervisão não se resume ao horário definido pela instituição de
ensino superior. Ou seja, enfatiza a conduta de um supervisor em se mostrar
disponível em outros momentos e muito além do tempo de supervisão, como pode
ser representado pela seguinte fala:
No entanto, esse dado chamou-nos a atenção e nos fez levantar a seguinte questão:
Se a Instituição de Ensino Superior estabelece um horário específico para a
supervisão de estágio clínico, por que os alunos sentem a necessidade de ter
orientações “extras”?
Não, minha supervisora é muito bacana, porque quando você precisa dela,
ela está disposta a te ajudar, seja o momento que for, e é uma pessoa que
sabe tudo, então se você precisa de alguma coisa, ela vai te falar e mesmo
que não souber vai te orientar em como você vai fazer, então fica tranquilo
(A2).
Olha, ele assiste a gente 100% no que você precisa, eu entro em contato
com ele não só nos horários de supervisão, mas o tempo todo no meu
celular, qualquer coisa, dúvida que eu me lembre e queira perguntar, ele
sempre está disponível e sempre responde, independente da hora, do dia,
de qualquer coisa, ele ta sempre pronto pra ajudar (A6).
Por sua vez a categoria ‘nas supervisões’ (n=2; 25%), não demonstra divergência de
pensamento em relação à categoria anterior, pois ambas evidenciam justificativas
que caminham em um mesmo sentido. O trecho da entrevista de A1, ilustra essa
colocação:
Por último, a categoria ‘correções de diários de campo’ (n=1; 12,5%) vem completar
as justificativas anteriores, onde um estagiário acrescenta que o seu supervisor,
além da disponibilidade, na supervisão e fora dela, também contribui com a leitura e
correções de seus diários de campo.
Nos comentários, a rodo que ele coloca nos diários e devolve (risos), na
disponibilidade de orientação, inclusive fora da supervisão, sempre que a
gente manda áudio e conversa fora da supervisão, ele atende e eu
acredito também que apontar essas questões, igual eu falei aqui, que eu
tinha comentado mais cedo, né?! Que eu me sentia caminhando,
caminhando e não saindo do lugar, e ai quando ele me da essa devolutiva
e vou e paro e falo, realmente, eu não to parada, né?! Eu acho que isso é
crucial (A4).
A esse respeito, é relevante explicar que na Instituição onde a pesquisa foi feita, os
estagiários de clínica produzem semanalmente um diário de atendimento clínico
contendo o relato do paciente e a conduta do estagiário durante o atendimento, que
é entregue no dia da supervisão.
Portanto, os dados nos permitem dizer que para totalidade dos alunos (n=8; 100%) é
indispensável a participação ativa do supervisor em seu processo formativo,
auxiliando em seu desempenho técnico e prático.
O tempo. Não tem como a gente relatar o caso, então a gente acaba
saindo com algumas dúvidas ainda e se você tenta extrapolar, você
71
atrapalha o colega, então não tem como, você tem que abrir mão e se
virar (A2).
Como já falei, a falta de tempo, são oito colegas na minha abordagem, cinco
minutos cada um, a gente tem cinquenta minutos estourando, a gente
sempre atrasa ou sempre falta, saio de lá, ah, podia ter falado aquilo, eu
acho que a dificuldade maior é não ter tempo pra orientação (A5).
Desse modo, pode-se observar que, nas falas supracitadas, o maior incômodo dos
alunos volta-se para o fato da supervisão se mostrar insuficiente para atender as
demandas emergidas dessa etapa da formação.
Outro aspecto muito citado ‘questões com o supervisor’ (n=4; 50%), foi possível
observar que houve igualdade na quantidade de justificativas dadas pelos
estagiários. Essa é composta por relatos que fazem referência a questões que estão
relacionados ao supervisor e que tendem a dificultar o processo de estágio sendo
estas: “falta de experiência do supervisor”, “insegurança do estagiário”, “linguagem
do supervisor”.
Por outro lado, o último dado que gostaríamos de destacar, refere-se ao argumento
‘nenhum dificultador’ (n=1; 12,5%), citado por um participante, que afirmou não ter
dificuldades em seu estágio, pois considera que a supervisão tem dado todo suporte
necessário. Além disso, podemos notar que a segurança e confiança transmitida
pelo supervisor reflete positivamente na atitude prática dos estagiários em sua
atuação. O fragmento da entrevista do estagiário A8 ilustra esse aspecto
“(...) eu acho que não tá tendo não, porque, é, a orientação está sendo
fantástica, e tudo que a gente precisa de suporte está sendo mandado,
então assim, todas as angústias e anseios estão sendo supridos, assim
entendeu?! (...)”.
Esta seção aborda os resultados das entrevistas realizadas com quatro supervisores
73
A primeira categoria a ser analisada diz respeito ‘à articulação entre teoria e prática’
(n=3; 75%). Verificamos que essa, indica que a supervisão de estágio clínico deve
proporcionar ao estagiário um momento de discussão e de reflexão entre a teoria
absorvida durante as disciplinas com a vivência prática oportunizada pelo estágio.
Para isso, os professores atribuem à supervisão o papel de ensinar a técnica
necessária para o desempenho prático, posicionamento também observado em
outras pesquisas (CARNEIRO, 2006; CRUCES, 2006; SARAIVA 2007; BARROS,
SILVA E VÁSQUES, 2011; CURY, 2012; ANDRADE, 2014).
Ainda identificamos em uma das falas uma acentuada valorização da área clínica
no exercício prático do psicólogo. Nesse sentido, pude perceber que a supervisão de
estágio clínico se faz indispensável para fundamentação teórica e prática do
profissional, conforme pode ser observado no seguinte relato:
esse aluno, porque ele só tem a teoria e ainda não tem a técnica, né?! A
prática e tudo mais, então a supervisão é importante para ensinar essa
prática pra ele (S1).
Desse modo, segundo esse mesmo autor, a supervisão é compreendida como “um
contexto essencial para que os alunos possam finalmente se perceber como parte
integrante de tudo aquilo que foi aprendido” (CARNEIRO, 2006, p.160). Além disso,
permite que o aluno possa expor tanto suas dúvidas, quanto seus anseios e medos
em relação à sua prática (FILGUEIRA, 2010).
A esse respeito à categoria ‘não conheço’ (n=2; 50%), foi citada por dois
supervisores. Seu conteúdo afirmava um desconhecimento dos professores/
supervisores de estágio clínico no que tange às diretrizes curriculares. Os
argumentos utilizados giravam em torno de conhecimentos envolvendo outros
documentos fornecidos tanto pela instituição de ensino quanto pelo órgão
fiscalizador da profissão. A justificativa foi composta, predominantemente, de
conteúdos que faziam referência a documentos como: “plano de ensino”, “código de
ética” e “manual de estágio”.
Olha, eu acredito que sim, acredito que tem alguns limites, porque assim,
infelizmente tem alguns alunos que não podem, por exemplo, o tempo de
supervisão, de orientação é muito curto, é muito reduzido, o próprio período
de acompanhamento que os alunos fazem com seus paciente também é um
77
Por sua vez, a resposta ‘não’, foi mencionada por apenas um participante (n=1;
25%), que foi enfático ao sinalizar que as diretrizes não condizem com a realidade
vivenciada pelos alunos.
Entretanto, os dados que temos até o momento, permitem-nos inferir que, talvez os
projetos pedagógicos das diferentes instituições que ministram o curso de
graduação, não estejam de acordo com o que é proposto pelas Diretrizes
Curriculares para o Curso de Graduação em Psicologia.
Nesta subseção, explicitamos os resultados obtidos por meio das quatro questões
(que compõem o roteiro de entrevista semiestruturada), que investigaram aspectos
relacionados à supervisão como: (a) organização da supervisão, (b) o tempo de
duração da supervisão, (c) preparação para clínica e (d) aspectos que dificultam a
supervisão de estágio clínico.
Bom, a gente tem, na Instituição que eu trabalho, a gente tem uma norma
que... uma orientação da Instituição que são cinco minutos por orientando, e
o que é bastante inviável na prática mesmo, que é assim, esse é o primeiro
semestre que eu tô atendendo com clínica, dentro desses cinco minutos, e
é inviável, não condiz com a realidade, você dificulta, você dá atenção
necessária a esses alunos porque quando eu acho que o aluno só de relatar
o caso já ultrapassa esse tempo, então, na verdade em toda, orientação e
um cuidado ético meu eu acabo ultrapassando o tempo que a Instituição me
paga, então, a gente acaba trabalhando por uma questão de uma ética, de
um compromisso nosso(...)
Por sua vez, a categoria ‘outros’, diz respeito à utilização de demais condutas para
organização e desenvolvimento da supervisão de estágio. Dessas condutas, foram
citadas uma vez por diferentes supervisores as seguintes: ‘discussão de casos em
grupo’ (n=1; 25%) e ‘Leitura e pontuações nos diários de atendimento’(n=1; 25%).
Também foi possível notar que tempo de supervisão tem se destacado como um dos
80
Essa categoria demonstra que, apesar dos alunos terem citado as disciplinas
curriculares, como sendo uma etapa preparatória para prática, ela não se mostra
suficiente para atender a amplitude de questões teóricas, práticas e emocionais que
envolvem esse momento da graduação. Com isso, verificamos que tanto os alunos
quanto os supervisores compreendem a necessidade de se proporcionar uma
formação teórica que contemple as especificidades do estágio para alcançar o
efetivo desempenho prático dos alunos.
Por sua vez, a categoria ‘nenhuma preparação’ (n=2; 50%), foi citada por dois
supervisores. Seu conteúdo faz menção ao fato de não ter ocorrido nenhuma
preparação acerca desse posto de trabalho oportunizada pela Instituição de Ensino
na qual exerceriam a função de supervisor.
Temos como hipótese para esse dado, o fato de que as Diretrizes Curriculares
Nacionais para os cursos de graduação não fazem menção à necessidade de
83
Nesse sentido, concordamos quando Cury (2012, p.80), descreve que ser supervisor
de estágio não é uma tarefa fácil, “principalmente porque o docente deve questionar-
se constantemente a respeito da sua profissão e sobre tudo que está contido na
mesma, suas continuidades e rupturas”, a fim de formar profissionais qualificados.
Assim, a supervisão é um “processo de ensino aprendizagem, pois tanto o
supervisor ensina ao supervisionando/psicoterapeuta como esse último sempre leva/
traz algo novo ao seu supervisor” (FILGUEIRA, 2010, p.28).
Contribui muito, porque ele vê a prática, ele tem a teoria e aí na hora que
ele vai pro estágio ele vê a prática, orientado por alguém que é formado na
área, que tem mais experiência, então contribui muito (S1).
A categoria ‘ética e técnica’ foi a que obteve o maior número de justificativa (n=3;
75%). Nessa, os supervisores disseram que as principais habilidades e
competências desenvolvidas pelo estágio e pela supervisão consistem na aquisição
de uma prática ética envolvendo cuidado, sigilo e postura ética. Além disso, apontam
para aquisição, habilidades técnicas, como leitura mais técnica dos casos e uma
percepção ampliada do atendido.
Dados semelhantes também foram encontrados por outros autores, como Cury
(2014), Rezende (2014), Leite (2013), Jonsson (2011), Cruz e Schultz (2009),Pires
(2008), Abdalla; Batista e Batista (2008) Cruces (2006), Carneiro (2006), Câmara
(2004). Os estudos acessados permitiram observar que a ética é um aspecto crucial
para formação profissional psicólogo, indicando uma concordância em relação ao
estágio, enquanto momento de exercício e inspiração para formação ética.
Dessa forma, podemos afirmar que tanto o estágio supervisionado quanto a conduta
do supervisor tem relação direta com a conduta ética adotada pelos estagiários,
visto que as próprias pesquisas dissertam sobre a importância da ética para
formação e desempenho do exercício profissional do psicólogo.
13
De acordo com Dourado, Macêdo e Lima (2016,p.491), a escuta em contexto de estágio
supervisionado “ não se desvela como algo fechado e que, após um período de desenvolvimento,
chegará ao domínio de alguém. Pelo contrário, a escuta, assim como o homem, perpassa por
constantes transformações”.
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psicólogo, pois é esse recurso que possibilita ao profissional saber ouvir o que se
quer falar.
O último ponto a ser analisado nesta subseção, diz respeito à opinião dos
87
Além disso, compondo a categoria ‘outras melhorias’ (n=4; 100%), foi possível
observar que houve igualdade na quantidade de justificativas dadas pelos
supervisores de estágio clínico e nela encontramos demais sugestões que devem
ser adotadas pelas instituições de ensino superior que ofertam o curso de psicologia,
que foram: capacitar o professor/supervisor, aumentar o tempo de formação teórica,
aumentar o número de atendimentos por aluno.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sobre ao terceiro aspecto - Percepção dos docentes sobre sua formação para ser
supervisor – os professores destacaram que a condução da atividade de supervisão
é baseada na experiência prática e profissional. Ou seja, o discurso dos docentes
sinalizou a necessidade de proporcionar ao professor uma preparação técnica para
desempenhar a atividade de supervisionar.
REFERÊNCIAS
http://abepsi.org.br/wp-content/uploads/2011/07/1995-aformacaoempsicologia.pdf.
Acesso em: 7 set 2017.
out.2017.
ROSAS, P., ROSAS, A., & XAVIER, I. B. (1988). Quantos e quem somos? In
Conselho Federal de Psicologia (Orgs.), Quem é o psicólogo brasileiro? (pp. 32-48).
São Paulo: Edicon.
APÊNDICES
falar de assuntos que lhe cause qualquer tipo de constrangimento, sem que, com
isso, sofra algum ônus.
Ao assinar esse Termo de Consentimento, o participante estará autorizando a
pesquisadora a utilizar as informações presentes nas entrevistas para o ensino,
pesquisa e publicações acadêmicas, e sua colaboração nos ajudará a entender
melhor a relação da supervisão de estágio clínico com a formação profissional do
psicólogo.
Em caso de dúvidas sobre a pesquisa ou perante a necessidade de reportar
qualquer injúria ou dano relacionado com o estudo, o participante pode contatar a
pesquisadoras responsáveis. .
Para contatar as pesquisadoras responsáveis: Aline Cadurini Pezzin, entrar em
contato pelo telefone (27) 9-9981-8797, ou pelo e-mail alinecadurini@hotmail.com.
Alice Melo Pessotti, entrar em contato pelo e-mail alicemelopessotti@gmail.com
Declaro que fui verbalmente informado (a) e esclarecido sobre o teor do presente
documento, entendendo todos os termos acima expostos, como também, os meus
direitos. Compreendo que a pesquisa tem caráter confidencial, e que minha
identidade não será revelada, garantindo que a mesma não acarretará em prejuízos
para mim.
Assino, dessa forma, voluntariamente esse Termo de Consentimento e concordo
em participar do estudo. Também declaro ter recebido uma cópia deste.
_____________/ES, ____/____/__________.
_________________________________ _________________________________
Participante Aline Cadurini Pezzin
Pesquisadora responsável
________________________________
Alice Melo Pessotti
Professora Orientadora
100
ROTEIRO DE ENTREVISTA
IDENTIFICAÇÃO:
Nome (iniciais):
Idade:
Profissão:
Tempo de formado:
Tempo de atuação em docência:
Tempo de atuação com estágio clínico supervisionado:
alunos na prática?
4- Como você conduz organiza sua supervisão?
5- Quanto ao tempo de duração da supervisão, você considera suficiente?
( ) SIM
( ) NÃO
6- Você acha necessário ser, realizada alguma preparação dos alunos antes de
inseri-los na clínica? Como?
7- Quais são os aspectos que dificultam o processo de supervisão?
8- Como se deu a sua formação para supervisionar o estágio clínico?
SOBRE A RELAÇÃO DA SUPERVISÃO COM A FORMAÇÃO
FOLHETO INFORMATIVO
ESTÁGIO CLÍNICO SUPERVISIONADO EM PSICOLOGIA
(O início do exercício profissional)
SOBRE O ESTÁGIO
A INSTITUIÇÃO
Você sabia que: a disciplina de estagio clínico supervisionado deve ser organizada
de acordo com o projeto pedagógico institucional e o projeto pedagógico do curso,
ou seja, fica a encargo na instituição o planejamento detalhado das atividades de
estagio que integram o domínio das competências gerais do psicólogo, compatível
com demandas sociais atuais e/ou potenciais, e com a vocação e as condições da
instituição.
SOBRE A SUPERVISÃO
IMPORTANTE SABER
INFORMAÇÕES NORMATIVAS
CRP, juntamente com a Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP),
orienta em que:
SERVIÇO-ESCOLA
IMPORTANTE SABER:
RECOMENDAÇÃO AS IES:
REFERÊNCIAS:
.
BRASIL (2011). Ministério da Educação. Resolução CNE/CES Nº 5 de 15 de março
de 2011. Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em
Psicologia, estabelecendo normas para o projeto pedagógico complementar
para a Formação de Professores de Psicologia. Brasília, DF: Conselho Nacional
de Educação, 2011. Disponível
em:http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=7
692-rces005-11-pdf&category_slug=marco-2011-pdf&Itemid=30192. > Acesso em:
10 jan 2019.
INFORMAÇÕES GERAIS