Visao e Controlo Motor

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Ricardo Miguel Matias Gomes

VISÃO E CONTROLO MOTOR:


INFLUÊNCIA DA VISÃO NO CONTROLO DA CORRIDA DE TRAIL

Tese no âmbito do Doutoramento em Ciências do Desporto - Ramo de Treino


Desportivo, orientada pelos Professores Doutores Rui Manuel Sousa Mendes,
Gonçalo Nuno Figueiredo Dias e Manuel João Coelho e Silva, e apresentada à
Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra

Setembro de 2019
Ricardo Miguel Matias Gomes

VISÃO E CONTROLO MOTOR:


INFLUÊNCIA DA VISÃO NO CONTROLO DA CORRIDA DE
TRAIL

Tese no âmbito do Doutoramento em Ciências do Desporto - Ramo de Treino Desportivo,


orientada pelos Professores Doutores Rui Manuel Sousa Mendes e Gonçalo Nuno Figueiredo
Dias e Manuel João Coelho e Silva, e apresentada à Faculdade de Ciências do Desporto e
Educação Física da Universidade de Coimbra

Setembro de 2019
Ricardo Miguel Matias Gomes

VISÃO E CONTROLO MOTOR: INFLUÊNCIA DA VISÃO NO CONTROLO DA


CORRIDA DE TRAIL

Tese de doutoramento, apresentada à Faculdade de


Ciências do Desporto e Educação Física da
Universidade de Coimbra, com vista à obtenção do
grau de doutor em Ciências do Desporto – Ramo de
Treino Desportivo.

Orientadores:
Prof. Doutor Rui Manuel Sousa Mendes
(Instituto Politécnico de Coimbra. Escola Superior de
Educação)

Prof. Doutor Gonçalo Nuno Figueiredo Dias


(Universidade de Coimbra. CIDAF)

Prof. Doutor Manuel João Coelho-e-Silva


(Universidade de Coimbra. Faculdade de Ciências do
Desporto e Educação Física)

COIMBRA
2019
A minha ausência e impaciência, durante
todo este tempo, que tenho a certeza que
foi compreendida por quem é mais
importante para mim.

Às minhas filhas, Maria Inês e Margarida,

À minha Sandra,

Aos meus pais.

Foi por nós, e com vocês.

i
ii
AGRADECIMENTOS

Ao Professor Doutor Rui Mendes, pelo seu apoio, pragmatismo e dedicação manifestada
em todos os momentos deste trabalho. Uma orientação próxima, um amigo e verdadeiro
exemplo de dedicação e capacidade de trabalho ímpar. É uma honra trabalhar contigo,
Rui!

Ao Professor Doutor Gonçalo Dias, pelo seu apoio, acutilância científica, disponibilidade
e prontidão. Uma referência, com uma capacidade de trabalho e rigor científico ímpar.
Muito obrigado, Gonçalo!

Ao Professor Doutor Manuel João Coelho e Silva, por ter acreditado no projeto e ter
emprestado o seu rigor e qualidade científica.

Ao Professor Doutor Fernando Martins, pelo seu incansável empenho no apoio à


resolução dos problemas matemáticos com que nos deparámos. Fernando, foi uma
honra poder ter contado com o teu apoio. Foste peça fundamental deste “puzzle”.

Ao Rui Marques, pelo seu apoio na recolha de dados, pelo seu companheirismo,
empenho e rigor, que enriqueceu esta pesquisa.

Aos Professores Doutores António Sérgio Damásio e Ricardo Melo, pelo vosso apoio na
conceção, design e implementação do aparato experimental.

Aos docentes da Área Científica de Educação Física e Desporto da ESEC – IPC, por todo o
vosso apoio e camaradagem. Senti um verdadeiro “espírito de corpo” na forma como se
disponibilizaram para me ajudar a completar este caminho. Obrigado, Amigos!

Ao Acácio Correia, ao Vasco Lopes, ao João Pimentel e Inês Marques, pela vossa
colaboração na programação informática que permitiu fazer parte da análise dos dados.

À Associação Cultural e Desportiva de Anços, pela cedência do pavilhão utilizado para a


recolha dos dados.

A todos os participantes do estudo, que se disponibilizaram a correr os 26km debaixo de


um sol escaldante. Obrigado a todos, e bons trilhos!

iii
Aos meus pais, pelo apoio logístico que permitiu que o trabalho pudesse ser feito, e por
acreditarem que chegaria a bom porto. Obrigado.

À minha Sandra, por tudo.

Menção ao apoio financeiro

Trabalho financiado parcialmente pelo QREN, Mais Centro - Programa Operacional


Regional do Centro, FEDER (CENTRO-07-CT62-FEDER-005012; ID: 64765) e
parcialmente pela FCT/MEC através de fundos nacionais e quando aplicável cofinanciado
pelo FEDER, no âmbito do Acordo de Parceria PT2020 no âmbito do projeto
UID/EEA/50008/2013.

Para além disso contou com o auxílio do projeto financiado “uPATO” do Instituto de
Telecomunicações, financiado pelo UID/EEA/50008/2013.

iv
RESUMO

Ancorado na Teoria dos Sistemas Dinâmicos, mais concretamente no modelo dos


constrangimentos de Newell, este trabalho teve como objetivo analisar a importância da
informação visual na corrida de trail, investigando a influência que o nível de
experiência dos atletas tem nas estratégias de busca visual, assim como a influência da
fadiga fisiológica neste processo. A amostra foi constituída por 18 participantes, todos
praticantes de corrida de trail (37.89±5.73 anos) tendo a mesma sido dividida em dois
grupos de nove, sendo um grupo composto por atletas experientes (38.89±6.30 anos) e
outro composto por praticantes recreativos (36.90±4.91 anos). Os participantes
percorreram 10 vezes uma pista de 21 metros que permitia simular a corrida de trail,
antes e depois de realizarem um percurso de trail longo (26.2km, desnível acumulado
positivo de 860 metros). Para a caracterização do impacto desta prova nos participantes
foram recolhidos dados sobre a composição corporal, lactato, Perceção Subjetiva de
Esforço e de atenção. Os movimentos dos olhos durante a corrida em pista foram
gravados com recurso a óculos de vídeo-oculografia, que nos permitiram estudar os
padrões de movimentos e de fixações do olhar dos participantes no percurso de teste.
Para o tratamento estatístico a comparação entre experts e não-experts foi feita
recorrendo ao teste t para amostras independentes. Foi ainda utilizado o teste t para
amostras emparelhadas para a comparação entre as variáveis antes e depois da prova de
trail. Para a análise não linear dos dados, a variabilidade dos padrões de fixação foi
estudada através da entropia visual, e da entropia de transições de estados, recorrendo
às matrizes de transição de primeira ordem de Markov. A variabilidade dos padrões de
movimentos dos olhos foi estudada através da entropia aproximada, da sample entropy,
do expoente de Lyapunov e do expoente de Hurst. Os resultados indicam que as
estratégias de busca visual adotadas na corrida de trail são influenciadas tanto pela
experiência dos atletas como pela fadiga. Foram ainda encontradas algumas diferenças
ao nível da variabilidade dos padrões de movimentos dos olhos, apontando também
para a influência do efeito da experiência e da fadiga neste processo.

Palavras-Chave: Variabilidade, Constrangimentos, Controlo Motor, Eye Tracking;


corrida de Trail

v
vi
ABSTRACT

Within the framework of the Dynamical Systems Theory and Newell’s Constraints Led
Approach, this work aimed to study the importance of visual information in trail
running, by assessing the influence of experience and fatigue in visual search strategies
and patterns. The sample was composed of 18 trail running athletes (37.89±5.73 years),
divided in two groups of 9 experienced runners (38.89±6.30 years) and 9 novices
(36.90±4.91 years). Participants were asked to run 10 times on a 21-metre track that
simulated a trail running single-track, before and after a trail running event (26.2km,
positive accumulated ascent of 860 metres). To characterise the physiological impact of
the event, participants’ body composition, blood lactate, Rating of Perceived Exertion
and attention were gathered before and after the event. To analyse the participants’
visual search strategies and patterns, their eye movements were recorded with head-
mounted eye tracking glasses along the 21-metre track. Comparison between expert and
non-expert runners was done using t-test for independent samples. Paired samples t-
test was used to assess the influence of fatigue in the studied variables. Variability of the
eye movements and fixations was studied using nonlinear techniques. Therefore, the
variability of fixation patterns was studied by analysing visual entropy and state-
transition entropy derived from 1st order Markov’s transition matrixes. Variability of eye
movement patterns was studied using approximate entropy, sample entropy,
Lyapunov’s exponent and Hurst exponent. Results indicate that visual search strategies
adopted in trail running are affected by the athletes’ level of experience and fatigue.
Additionally, experience and fatigue were also found to affect the variability of eye
movement patterns.

Key-words: Variability; Constraints; Motor Control; Eye tracking; trail running.

vii
viii
ÍNDICE

CAPÍTULO I ......................................................................................................................................................... 1

INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 1

1.1. Pertinência do Estudo................................................................................................................... 2

1.2. Objetivos do estudo ....................................................................................................................... 4

1.3. Organização do estudo ................................................................................................................. 5

CAPÍTULO II ....................................................................................................................................................... 7

REVISÃO DA LITERATURA........................................................................................................................... 7

2.1. Visão e perceção no controlo dos sistemas de movimento humano............................ 7

2.2. Perspetiva Cognitivista ................................................................................................................. 8

2.2.1. Controlo da visão na linha da perspetiva cognitivista ............................................... 9

2.3. Abordagem ecológica dinâmica.............................................................................................. 11

2.3.1. Psicologia Ecológica ............................................................................................................. 12

2.3.1.1. Affordance ......................................................................................................................... 13

2.3.2. Graus de liberdade ................................................................................................................. 14

2.3.3. Hierarquia das estruturas coordenativas ................................................................... 15

2.3.4. Modelo dos constrangimentos ......................................................................................... 17

2.3.5. Teoria dos Sistemas Dinâmicos ....................................................................................... 18

2.3.6. A variabilidade, estabilidade e complexidade dos movimentos ........................ 20

2.3.6.1. Variabilidade do Resultado ...................................................................................... 21

2.3.6.2. Variabilidade das estruturas coordenativas...................................................... 22

2.3.7. Aprendizagens representativas e design de prática: condições para o


transfer de habilidades motoras..................................................................................................... 23

2.4. Importância da visão na perspetiva ecológica dinâmica .............................................. 23

2.4.1. Fluxo Ótico .............................................................................................................................. 24

ix
2.5. Principais divergências .............................................................................................................. 25

2.6. Bases para a análise dos movimentos dos olhos.............................................................. 26

2.6.1. Estrutura e função do olho ............................................................................................... 27

2.6.2. Terminologia e indicadores de análise dos movimentos dos olhos ................. 29

2.6.3. Investigação com Eye-trackers ....................................................................................... 32

2.6.3.1. Medidas utilizadas para análise .............................................................................. 32

2.6.3.2. Técnicas não lineares para a análise da variabilidade na visão ................. 33

2.7. A visão na marcha, corrida e trail .......................................................................................... 36

2.8. Corrida de Trail: conceito e investigação ............................................................................ 41

2.8.1. Conceito de Corrida de Trail ............................................................................................. 41

2.8.2. Investigação na corrida de trail ...................................................................................... 43

2.9. Definição das hipóteses de estudo......................................................................................... 45

2.9.1. Hipóteses de estudo ............................................................................................................ 45

2.9.2. Hipóteses estatísticas ......................................................................................................... 46

CAPÍTULO III ................................................................................................................................................... 47

METODOLOGIA .............................................................................................................................................. 47

3.1. Classificação do estudo .............................................................................................................. 47

3.2. Tipo de estudo ............................................................................................................................... 48

3.3. Amostra ............................................................................................................................................ 48

3.3.1. Mortalidade da Amostra .................................................................................................... 48

3.4. Consentimento informado ........................................................................................................ 49

3.5. Tarefa ................................................................................................................................................ 49

3.6. Variáveis .......................................................................................................................................... 51

3.7. Setup Experimental ..................................................................................................................... 51

3.8. Organização Experimental e Procedimentos .................................................................... 52

3.8.1. Avaliação de lactato ............................................................................................................. 53

x
3.8.2. Registo antropométrico e composição corporal ...................................................... 53

3.8.3. Teste de Atenção Distribuída .......................................................................................... 54

3.8.4. Perceção Subjetiva de Esforço ........................................................................................ 54

3.8.5. Percurso de Indução de Fadiga ....................................................................................... 54

3.8.6. Eye Tracking Glasses ............................................................................................................ 56

3.8.7. Procedimentos ...................................................................................................................... 57

3.9. Tratamento dos Dados ............................................................................................................... 59

3.9.1. Codificação dos dados do ETG ........................................................................................ 59

3.9.2. Variabilidade intra-observador ...................................................................................... 61

3.9.3. Análise estatística linear ................................................................................................... 62

3.9.4. Análise não linear................................................................................................................. 63

3.9.4.1. Entropia Visual .............................................................................................................. 64

3.9.4.2. Entropia das transições de estado......................................................................... 64

3.9.4.3. Entropia aproximada e Sample Entropy ............................................................. 65

3.9.4.4. Expoente de Lyapunov ............................................................................................... 65

3.9.4.5. Expoente de Hurst ....................................................................................................... 65

CAPÍTULO IV ................................................................................................................................................... 67

RESULTADOS.................................................................................................................................................. 67

4.1. Efeito da prova nos participantes .......................................................................................... 67

4.2. Teste de Atenção Distribuída .................................................................................................. 71

4.3. Análise qualitativa ao olhar na corrida................................................................................ 72

4.4. Análise não linear ........................................................................................................................ 79

CAPÍTULO V .................................................................................................................................................... 87

DISCUSSÃO ...................................................................................................................................................... 87

xi
5.1. Efeito da prova nas variáveis fisiológicas dos participantes ....................................... 87

5.1.1. Massa Corporal...................................................................................................................... 89

5.1.2. Massa Gorda ........................................................................................................................... 89

5.1.3. Água Corporal Total ............................................................................................................ 90

5.1.4. Concentração de lactato..................................................................................................... 91

5.1.5. Teste de atenção distribuída ................................................................................................ 92

5.1.6. Síntese do impacto da prova de trail nos participantes ........................................ 93

5.2. Estratégias de busca visual ....................................................................................................... 95

5.3. Variabilidade dos padrões de busca visual ........................................................................ 99

5.3.1. Entropia dos movimentos sacádicos ......................................................................... 103

5.3.1.1. Expoente de Lyapunov ............................................................................................ 104

5.3.1.2. Análise da Entropia .................................................................................................. 106

5.3.1.3. Expoente de Hurst..................................................................................................... 107

5.4. Discussão geral ............................................................................................................................... 108

5.5. Aplicações práticas ....................................................................................................................... 112

CAPÍTULO VI ................................................................................................................................................ 113

CONCLUSÕES ............................................................................................................................................... 113

6.1. Limitações ........................................................................................................................................ 115

6.2. Recomendações.............................................................................................................................. 116

REFERÊNCIAS.............................................................................................................................................. 119

APÊNDICE 1.................................................................................................................................................. 147

APÊNDICE 2.................................................................................................................................................. 151

xii
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Modelo representativo do papel da visão no controlo dos movimentos


(Adaptado de Land, 2009). ........................................................................................................................ 10

Figura 2: Representação esquemática das relações entre os diferentes níveis de


construção dos movimentos (adaptado de Profeta & Turvey, 2018). ..................................... 15

Figura 3: Modelo dos Constrangimentos de Newell (adaptado de Newell, 1986). ............. 18

Figura 4: Representação esquemática do olho humano (adaptado de Holmqvist, et al.,


2015). ................................................................................................................................................................ 27

Figura 5 : Musculatura responsável pelos movimentos dos olhos (adaptado de


Holmqvist, et al., 2015). .............................................................................................................................. 28

Figura 6: Exemplos de diferentes tipos de instrumentos utilizados para a Video-


Oculografia: A – Torre para captura dos movimentos dos olhos a alta velocidade; B -
Dispositivo de VOG remota, por infra-vermelhos (adaptado de SensoMotoric
Instruments GmbH, 2014); C – óculos para captura dos movimentos dos olhos (ETG)
(Laboratório Robocorp – IIA – IPC). ...................................................................................................... 30

Figura 7: Esquema da pista de testes. ................................................................................................... 50

Figura 8: Pista de testes utilizada: A – vista de pormenor da parte acidentada da pista; B


– vista geral da pista. ................................................................................................................................... 50

Figura 9: Percurso de treino para indução da fadiga. ..................................................................... 55

Figura 10: Gráfico de altimetria do percurso. .................................................................................... 56

Figura 11: Sistema de Eye Tracking Glasses utilizado para a recolha de dados
provenientes dos movimentos dos olhos, composto pelos óculos e por um smartphone
destinado ao armazenamento dos dados (Laboratório Robocorp – IIA – IPC). ................... 57

Figura 12: Imagem de referência utilizada para proceder à codificação dos dados
provenientes dos ETG. ................................................................................................................................ 60

xiii
Figura 13: Variação individual da concentração de lactato em atletas experts e não
experts. ............................................................................................................................................................... 69

Figura 14: Variação dos valores obtidos pelos participantes no teste de atenção
distribuída........................................................................................................................................................ 72

Figura 15: Padrão de amplitudes das sacadas (em graus) do participante número 5, não-
expert, ao longo da pista, nas duas condições de prática. .............................................................. 75

Figura 16: Padrão de amplitudes das sacadas (em graus) do participante número 14,
expert, ao longo da pista, nas duas condições de prática. .............................................................. 76

Figura 17: Heat map das sacadas do participante número 5, não-expert, na condição de
repouso. ............................................................................................................................................................ 76

Figura 18: Heat map das sacadas do participante número 5, não-expert na condição de
fadiga.................................................................................................................................................................. 77

Figura 19: Heat map das sacadas do participante número 14, expert na condição de
repouso. ............................................................................................................................................................ 77

Figura 20: Heat map das sacadas do participante número 14, expert na condição de
fadiga.................................................................................................................................................................. 78

Figura 21: Variação individual da entropia em atletas experts e não-experts, antes e


depois do percurso de indução de fadiga. ........................................................................................... 79

Figura 22: Variação individual da entropia por volta, para cada grupo e condição de
prática. ............................................................................................................................................................... 80

Figura 23: Valores da Sample Entropy nos eixos x e y antes e depois do percurso de
indução de fadiga, em atletas experts e não experts......................................................................... 81

xiv
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Valores típicos dos movimentos oculares mais comuns............................................ 31

Tabela 2: Quadro sinóptico de estudos sobre visão e locomoção. ............................................. 40

Tabela 3 – Valores de referência para a interpretação da dimensão do efeito através do d


de Cohen. .......................................................................................................................................................... 63

Tabela 4: Variação da composição corporal dos atletas experts por efeito da prova. ........ 68

Tabela 5: Variação da composição corporal dos atletas não experts por efeito da prova.68

Tabela 6: Comparação dos parâmetros da composição corporal de atletas experts e não


experts na condição de repouso. ............................................................................................................. 70

Tabela 7: Comparação dos parâmetros da composição corporal de atletas experts e não


experts na condição de fadiga................................................................................................................... 70

Tabela 8: Média e Desvio Padrão da distância total percorrida, ritmo, e Perceção


Subjetiva de Esforço dos atletas no percurso de trail. ................................................................... 71

Tabela 9: valores médios obtidos pelos atletas no teste de atenção distribuída. ................ 71

Tabela 10: Comparação entre grupos do número médio de fixações por AOI e por volta,
em ambas as condições. ............................................................................................................................. 73

Tabela 11: Duração média das fixações (em segundos) por AOI, para ambos os grupos e
em ambas as condições. ............................................................................................................................. 74

Tabela 12: Comparação entre grupos, do número médio de fixações por AOI em ambas a
condições.......................................................................................................................................................... 74

Tabela 13: Comparação entre grupos para a amplitude das sacadas. ..................................... 78

Tabela 14: Comparação dentro dos grupos para a amplitude das sacadas. .......................... 78

Tabela 15: Comparação entre grupos, da entropia visual, na condição de repouso e de


fadiga. ................................................................................................................................................................ 80

xv
Tabela 16: Comparação dentro dos grupos, da entropia visual, na condição de repouso e
de fadiga............................................................................................................................................................ 81

Tabela 17: Comparação dos valores médios e diferenças entre grupos dos valores
entropia e expoente de Lyapunov referentes às coordenadas xx e yy dos movimentos
dos olhos, ao nível análise não linear feita às sacadas, na condição de repouso. ................. 82

Tabela 18: Comparação dos valores médios e diferenças entre grupos, ao nível da
Sample Entropy e do expoente de Lyapunov referentes às coordenadas xx e yy dos
movimentos dos olhos na condição de Fadiga................................................................................... 83

Tabela 19: Comparação dos valores entropia e expoente de Lyapunov referentes às


coordenadas xx e yy dos movimentos dos olhos dos atletas experts, antes e depois do
percurso de indução de fadiga. ................................................................................................................ 83

Tabela 20: Comparação dos valores entropia e expoente de Lyapunov referentes às


coordenadas xx e yy dos movimentos dos olhos dos atletas não experts, antes e depois do
percurso de indução de fadiga. ................................................................................................................ 84

Tabela 21: Comparação dos valores da análise não linear referente à análise do efeito da
fadiga na amplitude das sacadas em experts. ..................................................................................... 85

Tabela 22: Comparação dos valores da análise não linear referente à análise do efeito da
fadiga na amplitude das sacadas em não-experts. ............................................................................ 85

Tabela 23: Comparação entre grupos dos valores da análise não linear referente ao
padrão da amplitude das sacadas na condição de repouso. ......................................................... 86

Tabela 24: Comparação entre grupos dos valores da análise não linear referente ao
padrão da amplitude das sacadas na condição de fadiga. ............................................................. 86

xvi
CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

A visão é o principal mecanismo que o ser humano tem ao seu dispor para
poder interagir com o meio envolvente (Land, 2009; Patla, 1997) e é uma das
capacidades de que mais dependemos para exibirmos comportamentos motores de
elevada performance (Lebeau et al., 2016). Esta relação entre visão e performance
acontece e é estudada nos mais diversos domínios, desde o estudo dos padrões de visão
dos tenistas de mesa, às estratégias visuais em condução automóvel (Land, 2006; Land &
Furneaux, 1997; Lappi, Rinkkala, & Pekkanen, 2017; Ripoll, Fleurance, & Cazeneuve,
1987).

No âmbito do controlo motor, a visão assume um papel de relevo, onde a tarefa


e o contexto em que o praticante está inserido são fatores determinantes para a
definição da direção do olhar (Rothkopf, Ballard, & Hayhoe, 2007). As estratégias visuais
adotadas pelo praticante são fruto da relação que emerge entre este e o ambiente,
estando, portanto, intimamente ligada à manifestação de comportamentos de elevado
desempenho (Manzanares, Menayo, & Segado, 2017; Murray & Hunfalvay, 2016;
Williams, Davids, & Williams, 2005).

As relações entre a visão e a locomoção têm sido estudadas desde os trabalhos


pioneiros de Lee e Lishman (1977) e do neurocientista Aftab Patla (1997, 2004), e tem
continuado a receber a atenção da comunidade científica, particularmente no estudo dos
temas da locomoção em terreno acidentado e em contextos naturais (Matthis, Barton, &
Fajen, 2015; Matthis, Yates, & Hayhoe, 2018; Matthis & Fajen, 2014; Tatler, Hayhoe,
Land, & Ballard, 2011; Zhao, Matthis, Barton, Hayhoe, & Sentis, 2017).

No domínio desportivo, o estudo das relações entre a perceção visual e a ação é


um tema de relevância (Oliveira, 2016; Panchuk, Vine, & Vickers, 2015; Vickers, 2016;
Williams, Davids, & Williams, 2005). A investigação centrada no comportamento da
visão em tarefas desportivas tem sugerido a existência de padrões ótimos de busca
visual, para qualquer nível de aprendizagem (Dicks, Button, Davids, Chow, & van der
Kamp, 2016). Contudo, há uma especificidade destas estratégias e padrões (Decroix et

1
al., 2017; Dessing, Rey, & Beek, 2012; Machado, Cardoso, & Teoldo, 2017; Manzanares,
Menayo, & Segado, 2017), pelo que não deve haver generalização daqueles que são
considerados os padrões ótimos de cada modalidade desportiva.

Os padrões típicos dos experts são, em contextos desportivos, entendidos como


os mais eficientes para a tarefa. Neste sentido, a investigação que se enquadre no
paradigma dos experts versus novatos pode ser útil para a compreensão destes padrões
e, portanto, importante para a melhoria dos gestos desportivos, particularmente nos
atletas menos experientes (Komar, Seifert, & Thouvarecq, 2015; Mann, Williams, Ward,
& Janelle, 2007; Seifert & Davids, 2017).

1.1. Pertinência do Estudo

A corrida de trail, é caracterizada por ser uma corrida de endurance e se


desenvolver quase totalmente em terreno acidentado, com desníveis e declives
acentuados (ATRP, 2018; Chase & Hobbs, 2010; ITRA, 2018). Neste contexto, a
capacidade que estes atletas têm de “ler” o terreno com a antecipação necessária para
poder manter ou alterar a sua trajetória de corrida em função das limitações e
constrangimentos impostos pelo terreno é uma habilidade importante, não só para a
manutenção da economia da corrida, mas também para evitar quedas e eventuais lesões.
Neste sentido, importa perceber de que forma estes padrões e estratégias visuais são
influenciados pelos diversos fatores que, de certa forma, constrangem a sua prestação
desportiva e, neste contexto, a fadiga, entendida como um dos principais fatores
limitadores da performance (Easthope, 2013).

A corrida de trail provoca várias adaptações fisiológicas no contexto do


desenvolvimento da locomoção (Giandolini, Pavailler, Samozino, Morin, & Horvais,
2015; ITRA, 2018; Scheer, Ramme, Reinsberger, & Heitkamp, 2018). Em sentido lato, o
terreno acidentado induz alterações ao padrão biomecânico da corrida (Boey, Aeles,
Schütte, & Vanwanseele, 2017; Creagh, Reilly, & Lees, 1998; Schütte et al., 2016;
Sterzing, Apps, Ding, & Cheung, 2014; Voloshina & Ferris, 2015), pelo que as
características deste tipo de terreno obrigam a uma estratégia por parte do atleta para

2
lidar com o trilho, antecipando o percurso a realizar em função das condições existentes,
tanto para evitar lesões como para melhorar a performance.

A visão assume um papel preponderante na escolha do percurso de corrida, tal


como o tem na marcha (Matthis et al., 2015; Patla, 1997, 2004; Turano, Yu, Hao, & Hicks,
2005; Wilkie & Wann, 2003; Zhao et al., 2017). No entanto, a avaliação quantitativa e
qualitativa das estratégias visuais e dos padrões de busca de informação que precedem a
manifestação física da trajetória de corrida escolhida ainda não foi estudada. Os estudos
analisados centram-se no estudo da marcha e estão assentes fundamentalmente em
contextos laboratoriais. Contudo, o transfer das inferências laboratoriais para o contexto
real pode não ser viável neste tipo de estudos (t’ Hart & Einhäuser, 2012) e apenas
recentemente se iniciaram os estudos do género em ambiente natural (Matthis et al.,
2018).

As teorias de Brunswik (1956) e de Gibson (Gibson, 1979) consubstanciam a


necessidade de criar condições experimentais onde os estímulos representativos são
retirados do ambiente natural do sujeito, permitindo-lhe respostas livres de quaisquer
restrições funcionais. Neste sentido, o uso de sistemas móveis de rastreamento do olhar
permite-nos aproximar os estudos dos contextos reais de prática, não interferindo com a
atividade motora dos praticantes e dando-nos assim a possibilidade de analisar a
informação visual resultante do movimento em contexto mais naturalístico, tal como
tem sido prática recente em investigação nesta área, embora com tarefas distintas
(Decroix et al., 2017; Klostermann & Küng, 2016; Lappi et al., 2017).

Assim, a compreensão dos mecanismos de antecipação que permitem ao atleta


interpretar o terreno para adaptar posteriormente a sua ação em função das
informações retiradas do mesmo assume-se como importante para a explicação da
performance na corrida de trail. Do mesmo modo, importa perceber de que forma os
comportamentos do atleta são afetados pelos constrangimentos que encontra durante
uma prova, sendo a fadiga um dos fatores que influencia de forma mais determinante a
prestação desportiva.

3
1.2. Objetivos do estudo

Perante o exposto, o principal objetivo deste estudo é analisar a importância da


informação visual na corrida de trail. Pretende-se investigar a influência que o nível de
experiência dos atletas tem nas estratégias de busca visual, assim como a influência da
fadiga fisiológica neste processo.

Pretende-se com este trabalho analisar os seguintes aspetos:

I) As diferenças estatísticas entre praticantes experientes e novatos nas estratégias


de busca visual durante a corrida de trail;

II) As diferenças estatísticas entre praticantes experientes e novatos nos processos


cognitivos, expressos através dos padrões de movimentos dos olhos, que
levam à interpretação do terreno;

III) O efeito da fadiga nas estratégias de busca visual e nos padrões de movimentos
dos olhos durante a corrida de trail.

Pretende-se compreender melhor como se processa a corrida em terreno


acidentado e a forma como os atletas retiram a informação que emerge do ambiente.
Nesta base, a inexistência de estudos deste género, reforça, tendo em conta a literatura
da especialidade, a pertinência deste trabalho, quer pela sua capacidade de aproximar as
condições laboratoriais às condições ecológicas quer pelo caracter inovador proveniente
do design experimental e das técnicas de análise dos dados utilizadas.

Em suma, a análise da informação visual necessária para o planeamento da


corrida em terreno acidentado permitirá perceber como a perceção/leitura do terreno é
influenciada pelos constrangimentos individuais e da tarefa.

4
1.3. Organização do estudo

O presente trabalho encontra-se organizado em seis capítulos. O primeiro


capítulo é composto pela introdução e pela apresentação dos objetivos gerais do estudo.

O segundo capítulo contempla a revisão da literatura, os objetivos e hipóteses


definidas para o presente trabalho. São enquadrados os temas à luz das teorias do
controlo motor, bem como são introduzidas as principais metodologias e métricas
utilizadas em estudos de rastreamento do olhar, ligando-os à corrida de trail.

O terceiro capítulo apresenta e explica os métodos, materiais e procedimentos


utilizados na operacionalização do presente estudo.

No quarto capítulo são apresentados os resultados do estudo. Os mesmos são


divididos em três partes:

i) resultados do efeito de prova de trail nos parâmetros de composição


corporal e indicadores de fadiga;

ii) resultados da análise linear feita às fixações e sacadas dos participantes,


durante o percurso de testes;

iii) resultados da análise não linear aos padrões de fixações e de movimentos


dos olhos, durante o percurso de testes.

O quinto capítulo trata da discussão dos dados analisados. À discussão


correspondente a cada uma das partes do capítulo da apresentação dos resultados foi
adicionada uma quarta parte, correspondente a uma discussão geral dos dados, à luz da
perspetiva ecológica-dinâmica.

Por fim, o sexto e último capítulo apresenta as conclusões do estudo, com


respostas objetivas às hipóteses de estudo formuladas, bem como as limitações do
trabalho e recomendações para estudos futuros.

5
6
CAPÍTULO II

REVISÃO DA LITERATURA

O presente capítulo contextualiza os pressupostos teóricos que suportam este


trabalho. São abordados os conceitos fundamentais para a compreensão dos termos,
métricas e técnicas utilizadas. Em seguida, é realizado o estado-da-arte no que diz
respeito ao problema de estudo e são enquadradas as opções metodológicas que foram
utilizadas. Apresenta-se ainda sucintamente a modalidade desportiva sobre a qual se
centrou o estudo, bem como as principais linhas de investigação na área. Por fim, são
definidas as hipóteses de estudo para este trabalho.

2.1. Visão e perceção no controlo dos sistemas de movimento humano

A explicação dos processos conducentes ao controlo dos movimentos tem sido


suportada maioritariamente em dois grandes paradigmas. Por um lado, as teorias
cognitivistas clássicas enfatizam o papel dos processos cerebrais e da memória no
controlo dos movimentos (Adams, 1971; Schmidt, 1975). A analogia entre o cérebro e
um computador, no que diz respeito ao processamento e tratamento da informação
ilustra a visão mecanicista dos processos de controlo motor (Magill, 2007).

Por outro lado, baseado no legado de Bernstein (1967) e Gibson (1979), um


conjunto de investigadores tem sustentado, em sentido lato, a explicação do controlo do
comportamento motor numa interação dinâmica entre organismo e ambiente, baseada
na Teoria dos Sistemas Dinâmicos (e.g. Austin, 2001; Davids, Glazier, Araújo, & Bartlett,
2003; Kelso, 1995; Kuo, 2007; Whitall & Getchell, 1995), onde se defende que a
performance desportiva resulta da emergência de padrões de movimentos que se auto-
organizam em função da informação proveniente do ambiente (Araújo, 2006; Araújo,
Davids, Chow, Passos, & Raab, 2009; Araújo, Hristovski, Seifert, Carvalho, & Davids,
2017).

7
Algo que ambas as perspetivas partilham é a atribuição de um papel
fundamental à visão no controlo dos movimentos, entendendo-a como a principal fonte
de informação necessária para a execução e controlo de todo o tipo de gestos,
desportivos, locomotores ou gerais, presentes em todas as atividades do nosso dia-a-dia
(Land, 2009; Lee & Lishman, 1977; Oliveira, 2016; Rienhoff, Tirp, Strauß, Baker, &
Schorer, 2016; Warren, Kay, Zosh, Duchon, & Sahuc, 2001; Wilkie, & Wann, 2003).

Com o presente capítulo pretende-se apresentar os pressupostos teóricos que


sustentam as Teorias Cognitivas Clássicas e a Teoria dos Sistemas Dinâmicos,
demonstrando a forma como estas duas perspetivas interpretam o papel da visão no
controlo dos movimentos, particularmente no controlo da locomoção.

2.2. Perspetiva Cognitivista

A perspetiva cognitivista assenta no pressuposto de que os programas motores


têm pouca suscetibilidade de ser alterados em função das mudanças no ambiente. Neste
caso, o processamento da informação tende a ocorrer em circuito fechado, dentro das
estruturas do sistema nervoso central responsáveis pelo controlo dos movimentos (e.g.
córtex motor).

O primeiro contributo cognitivista foi dado por Jack A. Adams, com a Teoria do
Circuito Fechado (Adams, 1971), e assenta no pressuposto de que o controlo dos
movimentos é realizado em circuito fechado (Closed-Loop Theory). De acordo com esta
teoria, existem duas estruturas no cérebro que são responsáveis pelo controlo dos
movimentos: a) o traço de memória, responsável pelos processos de parametrização da
direção, sentido e intensidade do movimento e pela iniciação da resposta; b) o traço
percetivo, responsável pela condução e avaliação do movimento, que o compara com a
referência de movimento idealizada. O feedback é entendido como um mecanismo de
retroalimentação do sistema motor, que permite a correção do erro da resposta ou
produzir alterações ao movimento seguinte, aproximando progressivamente a sua
execução a uma ideia pré-concebida de um determinado “gesto”, o programa motor (cf.
Godinho, 2007; Magill, 2007; Tani et al., 2010).

8
Esta teoria apresenta um conjunto de limitações, nomeadamente no que diz
respeito à explicação dos mecanismos subjacentes ao controlo dos movimentos
balísticos como o serviço do ténis (Mendes et al., 2013), à contextualização do
surgimento de movimentos novos, na explicação do papel do traço percetivo e do traço
de memória no controlo dos movimentos, ao papel do erro no processo de
aprendizagem, e ao custo de armazenamento na memória de um programa motor por
movimento.

Richard Schmidt procurou resolver algumas das limitações da Teoria do


Circuito Fechado: a) A explicação do controlo de movimentos balísticos, que ocorrem
sem a interferência do feedback; b) a produção de novos movimentos; c) a limitação, em
termos de armazenamento, de programas motores. A Teoria do Esquema (Schmidt,
1975), cujo paradigma ainda hoje é explorado, introduziu dois conceitos-chave para o
controlo dos movimentos. São eles o programa motor genérico e o conceito de esquema.

O programa motor genérico é uma estrutura abstrata da memória, responsável


por promover a realização de uma classe de movimentos que partilhem características
comuns e cuja execução se realize em circuito aberto (Godinho, 2007; Tani et al., 2010).
O Esquema é uma construção genérica na memória, que contém informações sobre um
conjunto de parâmetros que permitem ao sujeito, por um lado, especificar os
parâmetros da resposta com base na informação disponível, por outro, avaliar os
desvios entre o resultado obtido e o expectado, resultantes da execução da resposta.

Neste contexto, a visão é vista como um processo fundamental para a seleção do


programa motor adequado e, a partir daqui, para executar os eventuais reajustamentos
do programa motor à tarefa, de acordo com o esquema previamente selecionado (Land,
2009; Land & Furneaux, 1997).

2.2.1. Controlo da visão na linha da perspetiva cognitivista

A perspetiva cognitivista atribui um papel fundamental à visão, uma vez que


esta é controlada pelo cérebro, com instruções para selecionar os alvos que serão
percecionados para a execução da tarefa (Land & Hayhoe, 2001). A tarefa, por seu turno,

9
também assume um papel importante e influencia a estratégia visual do sujeito (Hayhoe
& Ballard, 2005; Rothkopf et al., 2007).

A Figura 1 esquematiza as relações entre visão e o olhar no controlo dos


movimentos. Para Land (2009), o papel da visão no controlo dos movimentos é
consubstanciado na sua influência em três sub-sistemas:

i) O sistema do olhar (gaze system), que é responsável por localizar e fixar os


objetos ou eventos relevantes para a tarefa;

ii) O sistema motor, responsável por realizar a tarefa;

iii) O sistema visual, que fornece informação sobre os dois anteriores.

O quarto componente deste modelo é o esquema. Este assume um papel de


governador que planeia e comanda a sequência de ações necessárias para a prossecução
do objetivo da tarefa.

Figura 1: Modelo representativo do papel da visão no controlo dos movimentos (Adaptado de


Land, 2009).

O papel da visão no controlo dos movimentos desportivos e da performance


desportiva tem sido amplamente estudado dentro da perspetiva cognitivista. Neste
âmbito, salientam-se os estudos iniciais com batedores de Cricket (Land & McLeod,
2000) e com jogadores de ténis de mesa (Ripoll et al., 1987), onde se encontrou um
padrão antecipativo do olhar.

10
Para os defensores da abordagem cognitivista, o olhar precede a ação,
reforçando a ideia de que o controlo dos movimentos ocorre em regime de
processamento “top-down”, onde os processos volitivos assumem um papel primordial
(Dogusoy-Taylan & Cagiltay, 2014; Gonzalez et al., 2015; Hayhoe & Ballard, 2005;
Jovancevic-Misic & Hayhoe, 2009; Williams et al., 2005).

Na mesma linha, alguns estudos à luz do conceito de “Quiet-Eye” (QE) [para uma
revisão aprofundada, consultar Lebeau et al., (2016) e Vickers, (2016)] têm reforçado o
papel das estruturas cognitivas no planeamento da ação, uma vez que é durante o
período de QE que as redes neuronais se organizam para o controlo dos movimentos
(Vickers, 2009). No estudo de Williams, Singer e Frehlich (2002) verificou-se, por
exemplo, que os jogadores de bilhar experientes tinham uma duração de QE mais longa
do que os novatos, e que a duração do QE aumentava em função do nível de dificuldade
da jogada para ambas as classes de jogadores. No mesmo estudo (Williams et al., 2002),
constatou-se que a performance dos participantes diminuía em qualquer dos níveis de
dificuldade da jogada, se lhes fosse restringido o tempo de QE. Neste sentido, o tempo de
QE representa, à luz da interpretação cognitivista, o tempo necessário para processar a
informação que está a ser fixada ou seguida e para focalizar a atenção nas necessidades
da tarefa (Vickers, 2009).

2.3. Abordagem ecológica dinâmica

O modelo ecológico dinâmico sustenta uma abordagem científica ao estudo do


comportamento dos sistemas neurobiológicos, particularmente no que diz respeito aos
processos de perceção, ação e cognição (Kugler, Kelso, & Turvey, 1980). Este modelo
emerge da Teoria de Constrangimentos de Karl Newell (Newell, 1986) e das Affordances
de Gibson (1979), que se sustentaram no trabalho de Bernstein (1967). Segundo Kugler,
Kelso e Turvey (1980), a abordagem ecológica representa uma aproximação
multidisciplinar ao estudo dos sistemas vivos, dos seus ambientes e da reciprocidade
que evolui da interação entre estes. Esta abordagem tem como objeto de estudo,
portanto, as transferências de informação entre organismos vivos e o ambiente,
especialmente no que diz respeito à perceção de situações de significância para o
planeamento e execução de ações nesse mesmo ambiente.

11
A perspetiva ecológica dinâmica tem procurado analisar e fornecer uma
orientação sistemática para a análise do comportamento humano, tanto durante a sua
fase de aprendizagem e desenvolvimento como para a análise da performance,
entendendo os praticantes como sistemas dinâmicos adaptativos complexos (Davids et
al., 2014). Esta linha de pensamento tem recolhido conceitos provenientes da psicologia
ecológica e da dinâmica não-linear, ampliando desta forma as fontes de onde o
conhecimento sobre a performance e a aprendizagem de movimentos desportivos
podem surgir (van Emmerik, Ducharme, Amado, & Hamill, 2016).

Perante o exposto, importa apresentar os principais pressupostos das teorias


que sustentam este modelo, nomeadamente a Psicologia Ecológica, com as Affordances
de Gibson (1979), o modelo de Constrangimentos de Newell (1986) e a Teoria dos
Sistemas Dinâmicos.

2.3.1. Psicologia Ecológica

Um aspeto fundamental da perspetiva ecológica dinâmica é a Teoria da


Perceção Direta de Gibson (1979), salientando as interações continuas entre o
organismo e o ambiente como uma escala fundamental de análise para a compreensão
do movimento humano. A contínua regulação do comportamento é baseada, então, no
papel da informação (e.g., ótica, háptica, auditiva ou propriocetiva) que emerge do
sistema indivíduo-ambiente e que permite guiar os comportamentos.

Esta conceptualização da informação difere substancialmente das perspetivas


psicológicas tradicionais, que veem os sistemas sensoriais como recolhedores de
informação de um ambiente que, por sua vez, é visto como ambíguo, empobrecido e que
carece de interpretação, recorrendo para tal a processos cognitivos como a memória, a
atenção e a antecipação, e tem-se afirmado na área das Ciências do Desporto (Araújo,
2006).

Contrariamente, na visão da Psicologia Ecológica Gibsoniana os sistemas


biológicos olham para o ambiente como um todo, entendendo-o como um meio de
ordenamento do comportamento. Mais especificamente, a estrutura e propriedades
físicas do ambiente, a biomecânica do corpo, a informação percetual sobre o estado do

12
sistema individuo-ambiente, e as características da tarefa, todas atuam como
constrangimentos ao comportamento. O comportamento adaptativo, ao invés de ser
imposto por uma estrutura pré-existente, emerge desta confluência de
constrangimentos, dentro das condições definidas para uma determinada tarefa ou
objetivo resultante (Araújo et al., 2009; Davids, Araújo, Vilar, Renshaw, & Pinder, 2013;
Davids, Button, & Bennet, 2008; Seifert, Araújo, Komar, & Davids, 2017; Warren, 2006).

A Teoria da Perceção Direta de Gibson propõe que a perceção é uma ação, um


processo ativo, onde os sistemas percetivos e de ação funcionam de forma altamente
integrada e cíclica (cf. Gibson, 1979). Um conceito chave da psicologia ecológica, que
trataremos de seguida, é o das Affordances, que são entendidas como oportunidades ou
convites à ação, presentes no ambiente envolvente do sujeito, e que este fica habilitado a
perceber através da experiência e dos processos de aprendizagem (Fajen, Riley, &
Turvey, 2008; Gibson, 1979).

Com prática e experiência suficiente, tanto o indivíduo como o ambiente de


prática se podem tornar mais integrados e ser entendidos como sistemas dinâmicos e
auto-organizados, acoplados pela informação recolhida (Warren, 2006). Nestes sistemas
complementares, os comportamentos intencionais emergem de um processo de
exploração e de aprendizagem antes de serem estabilizados em padrões de ação
funcionais (Fajen et al., 2008; Warren, 2006). Deste modo, num ambiente de prática, as
fontes de informação que constrangem os comportamentos do indivíduo de forma mais
significativa são as Affordances, que fornecem oportunidades para a ação e são
influenciadas pela perceção individual das relações funcionais do indivíduo com o
ambiente de prática (Araújo et al., 2017; Baker & Farrow, 2015; Fajen et al., 2008;
Gibson, 1979; Williams et al., 2005).

2.3.1.1. Affordance

O conceito de Affordance fornece uma via para a compreensão de como os


processos de perceção e ação funcionam em sistemas adaptativos complexos, dado que,
no âmbito da perspetiva Gibsoniana, a perceção é um convite à ação, e a ação é um
componente fundamental da perceção (Gibson, 1979). As Affordances são definidas,
portanto, pelas relações de complementaridade entre o individuo e o ambiente. São ao

13
mesmo tempo objetivas e subjetivas para cada praticante, dado que elas são
propriedades ecológicas emergentes do ambiente, que são selecionadas em relação a um
indivíduo (Turvey & Shaw, 1999; Withagen, de Poel, Araújo, & Pepping, 2012).

No fundo, o ambiente é composto por propriedades físicas e o indivíduo é


composto por possibilidades de ação mensuráveis. As Affordances existentes num
determinado ambiente são especificadas num referencial individual, em função das
características e experiências de cada um. Elas são percebidas relativamente às
propriedades relevantes do indivíduo, incluindo a escala das suas dimensões corporais,
ou seja, as Affordances são adaptadas à escala corporal do praticante (body-scaled)
(Araújo et al., 2009; Davids, Button, Araújo, Renshaw, & Hristovski, 2006; Davids et al.,
2003; Fajen et al., 2008).

De um ponto de vista Gibsoniano, a aprendizagem envolve a seleção de


Affordances. Gibson (1979) defende que todos os organismos percebem as Affordances
que podem constranger ou limitar as suas ações. Estas dependem do indivíduo e estão
baseadas no conhecimento que este tem de um determinado ambiente de prática, que
lhe permite selecionar as Affordances relevantes para a prossecução do objetivo da
tarefa. O aumento do nível de proficiência numa tarefa ocorre fruto de uma crescente
sintonização com as Affordances disponíveis (Araújo et al., 2017; Fajen et al., 2008;
Pezzulo & Cisek, 2016; Withagen et al., 2012).

2.3.2. Graus de liberdade

A obra do neurocientista Russo Nikolai Bernstein, aliada ao trabalho de Gibson,


permitiu lançar as bases para a formulação da Teoria dos Sistemas Dinâmicos que foi
posteriormente desenvolvida por um conjunto de cientistas, dos quais destacamos
Davids (2008), Kelso (2012) e Turvey (1990).

Nos seus trabalhos sobre a coordenação motora e a estrutura dos movimentos,


Bernstein (1967) postula que a aquisição dos padrões coordenativos de movimento é
um processo de redução do número de graus de liberdade, por forma a que seja possível
o aumento do seu nível de controlo. Em termos cinemáticos, por exemplo, estima-se que
o aparelho esquelético tenha 244 graus de liberdade [Zatsiorsky (1998), como referido

14
em Li, (2006)]. Além disso, Basdogan e Amirouche (1996), utilizaram a abordagem dos
Sistemas Dinâmicos para modelar a marcha, tendo identificado cinco graus de liberdade
possíveis para o membro inferior. No que diz respeito ao olhar, o olho apresenta três
graus de liberdade (Latash & Zatsiorsky, 2001).

O organismo possui mais graus de liberdade do que os que são necessários para
o controlo de uma determinada tarefa, pelo que, tendencialmente, o sucesso na mesma
passa por encontrar uma estratégia de redução dos graus considerados redundantes
(Latash, Scholz, & Schöner, 2007; Latash & Zatsiorsky, 2001). Uma estratégia passível de
utilização é o “congelamento” de graus de liberdade, como defendido por Newell
(Newell, 1991) para as fases iniciais do processo de aprendizagem. A outra forma de
redução dos graus de liberdade passa pelo estabelecimento de relações entre os
mesmos, uma estratégia sinérgica, defendida por Bernstein (Bernstein, 1967; Profeta &
Turvey, 2018; Turvey, 1990).

2.3.3. Hierarquia das estruturas coordenativas

O modelo de organização do movimento de Bernstein (1967) preconiza quatro


níveis de controlo dos graus de liberdade do movimento, que se relacionam entre si,
contribuindo para um controlo hierárquico da construção dos movimentos (Figura 2).

Figura 2: Representação esquemática das relações entre os diferentes níveis de construção dos
movimentos (adaptado de Profeta & Turvey, 2018).

No modelo de Bernstein (1967), cada um dos níveis resolve uma classe


específica de problemas da construção dos movimentos. Através das relações
esquemáticas presentes no modelo e apresentadas na figura 2, identificamos uma

15
direccionalidade das interações para o nível do Tónus, que é o primeiro nível, e o de
mais baixa ordem. É aqui onde ocorre a comunicação entre o sistema nervoso e o
muscular. A sua principal função é a de preparar o aparelho locomotor para responder
de forma adequada aos comandos provenientes das estruturas superiores do controlo
do movimento, garantindo níveis adequados de excitabilidade dos motoneurónios e
criando condições para que o movimento ocorra de forma rápida e eficiente (Profeta &
Turvey, 2018).

A um segundo nível, temos o nível das Sinergias, que coloca constrangimentos


aos graus de liberdade do aparelho locomotor e garante coerência dos movimentos
através do controlo dos grandes grupos musculares. As sinergias são formadas através
do influxo de informação propriocetiva acerca do estado geral do corpo. Este nível atua
nos bastidores da organização do movimento, corrigindo os detalhes dos movimentos
ou formando padrões de coordenação no segmento ou entre segmentos corporais,
garantindo desta forma que o sistema se mantém estável (Latash, Gorniak, & Zatsiorsky,
2008). A este nível, não há informação dos sistemas visuais ou auditivos, pelo que se
cinge à componente mecânica do movimento (Turvey & Carello, 1996).

O terceiro nível é o do Espaço. Este nível refere-se à forma como fazemos


movimentos intencionais em função do ambiente envolvente. É ao Nível do Espaço que o
organismo recebe informação acústica, háptica e ótica sobre o envolvimento, para a
construção de uma perceção do espaço baseada nestas fontes sensoriais e alicerçada nas
experiências prévias do sujeito, construindo a noção de campo espacial. Esta noção de
campo espacial assume uma dupla função: a perceção objetiva das relações entre o
corpo e o espaço (as relações de movimento de objetos que possam estar presentes no
envolvimento do sujeito, por exemplo), e a capacidade que esse corpo tem para usar o
espaço a favor das suas intenções. O campo espacial suporta então: a) classes de
movimentos que envolvem o deslocamento do corpo ou dos seus segmentos no espaço,
b) classes de movimentos que envolvem a manipulação de objetos (Profeta & Turvey,
2018). Decorrente destas possibilidades de ação, verificamos que os comportamentos
antecipatórios são, de acordo com esta perspetiva, controlados no Nível do Espaço.

O nível da Ação é o quarto desta hierarquia. É responsável por controlar as


sequências de movimentos quando são necessários vários passos para a resolução de
um problema. Segundo esta definição, a ordem dos elementos numa sequência é

16
importante para a prossecução do objetivo da ação, dado que cada movimento
individual providencia uma resposta intermédia a um aspeto específico do movimento
em decurso. Para além disto, existe mais do que uma forma de atingir um objetivo de
movimento, através da organização dos vários elementos de diferentes formas,
assegurando assim flexibilidade neste nível e proporcionando uma grande variedade de
configurações que podem funcionar para a resolução de um determinado problema. Este
facto enfatiza uma característica importante das ações: o significado das partes, os
papéis que cada uma desempenha podem apenas ser definidos e compreendidos no
contexto da unidade funcional de que fazem parte (Profeta & Turvey, 2018).

Recentemente Profeta e Turvey (2018), apresentaram uma visão mais


contemporânea da aplicação da hierarquia dos níveis de construção dos movimentos de
Bernstein à perspetiva ecológica-dinâmica, reinterpretando-os e sugerindo que não
existe concretamente o Nível das Sinergias. As Sinergias são consideradas, segundo os
autores supracitados, abstrações nos vários níveis de análise, que emergem
espontaneamente devido aos constrangimentos materiais e informacionais da tarefa. Ao
nível comportamental, estes constrangimentos são impostos pelos restantes níveis de
análise defendidos por Bernstein (1967) e, por seu turno, as sinergias são elementos
constrangedores destes níveis.

2.3.4. Modelo dos constrangimentos

A abordagem dinâmica-ecológica defende que a escala relevante para a análise


do comportamento motor é a da relação entre o praticante e o ambiente (Davids et al.,
2013) e é da interação entre o último e os diversos componentes do primeiro, que
emergem os padrões de coordenação dos movimentos (Davids et al., 2008; Kelso, 1995).

Newell (1986) define três tipos de constrangimentos (Figura 3),


nomeadamente: i) ambientais, ii) da tarefa e iii) individuais. Esta abordagem permite
compreender a forma como os padrões coordenativos emergem para dar resposta às
necessidades da tarefa.

17
Praticante
Perceção

Ação
Envolvimento Tarefa

Figura 3: Modelo dos Constrangimentos de Newell (adaptado de Newell, 1986).

Os constrangimentos individuais são estruturais ou funcionais, e referem-se às


características (e.g., genéticas, antropométricas, cognitivas, motivacionais ou
emocionais) do praticante. Este conjunto de características únicas são recursos à
disposição do praticante que lhe permitem abordar o problema em questão e encontrar
uma solução única e individualmente adaptada (Davids et al., 2008).

Os constrangimentos ambientais são externos, representando as diferentes


condições ou constrangimentos (e.g., temperatura, humidade, altitude, entre outros) que
o ambiente “coloca” à execução da tarefa. Nesta ótica, as características do terreno num
trilho de corrida de trail são exemplos desta categoria de constrangimentos. A inclinação
do terreno, por exemplo, obriga a que o atleta adapte o seu padrão de corrida em função
do sentido (i.e., ascendente ou descendente) da corrida.

Finalmente, os constrangimentos da tarefa incluem o objetivo da mesma, as


regras, instruções ou especificidades do equipamento. Na corrida de trail, por exemplo,
uma prova em regime de autossuficiência afeta a forma como o atleta corre, já que
obriga a que carregue mais equipamento com ele, alterando, portanto, a sua
performance. Os constrangimentos da tarefa limitam externamente, por via da imposição
de limitações “artificiais”, as possibilidades de ação ao dispor do praticante.

2.3.5. Teoria dos Sistemas Dinâmicos

A compreensão da forma como a informação está relacionada com a dinâmica


de um ambiente de prática tem beneficiado da integração dos conceitos da dinâmica não

18
linear. A Teoria dos Sistemas Dinâmicos (TSD) fornece um enquadramento conceptual
para a compreensão da emergência das tendências de coordenação que existem entre, e
dentro dos componentes de um sistema e níveis de sistemas neurobiológicos complexos,
como são exemplo as relações entre jogadores dentro de equipas no contexto dos
desportos coletivos (Araújo et al., 2009, 2017, Davids et al., 2013, 2006; Seifert & Davids,
2017), mas também sobre o desenvolvimento e o controlo da locomoção (Austin, 2001;
Clark, Truly, & Phillips, 1990; Stachowski & Lowski, 2016; Whitall & Getchell, 1995).

Os princípios físicos e os conceitos dos sistemas não lineares e auto


organizativos explicam as dinâmicas de coordenação como um processo natural, de
formação de padrões, em sistemas neurobiológicos. Partindo deste pressuposto, a Teoria
dos Sistemas Dinâmicos procura explicar e prever como emergem os padrões de
coordenação e como eles se adaptam, persistem e mudam. No fundo, permite perceber
como um determinado padrão persiste num ambiente em mudança - a sua estabilidade -
e como este se ajusta às alterações do sujeito ou do ambiente - a sua adaptabilidade (cf.
Kelso, 1995). Assim, a organização dos sistemas neurobiológicos tende a ser facilitada e
ligada através de um conjunto de constrangimentos que interagem entre si e que
formam a dinâmica dos comportamentos emergentes (Newell, 1986).

Como verificámos anteriormente, os constrangimentos ao comportamento


preconizados pelo modelo defendido por Newell (1986) incluem fatores relacionados
com a tarefa, com o ambiente e com as características do executante. A natureza
imprevisível do ambiente e as diferenças individuais inerentes às características
pessoais e funcionais dos atletas indicam que existe um número indeterminado de
soluções para a maioria das tarefas desportivas. Esta ideia sublinha uma causalidade
circular na relação entre o indivíduo e o ambiente, mediado pelo cérebro e pelo
comportamento, e os processos de perceção e ação (Araújo et al., 2017; Fajen et al.,
2008; Sternad, 2000; Warren, 2006). A causalidade entre o cérebro e o comportamento
e entre os processos da perceção e ação não é linear, mas cíclica, à medida que o
indivíduo constrói continuamente interações com o ambiente. De acordo com esta
perspetiva, o nível de experiência é o resultado de uma adaptação funcional contínua dos
comportamentos a um conjunto de constrangimentos que interagem entre si, em função
da prossecução de um determinado objetivo de performance (Seifert, Button, & Davids,
2013).

19
Um conceito-chave na TSD é o de atractor. Para Araújo (2006), os atractores
contribuem para a formação de padrões ao atrair as partes dinâmicas do sistema. São
“…estados funcionais atractores onde o sistema se poderá fixar” (Araújo, 2006, p. 76). No
contexto do movimento humano, um atractor pode corresponder a um estado de
coordenação e equilíbrio entre as partes do organismo que contribuem para atingir com
sucesso um determinado objetivo, seja ele a locomoção, corrida ou o equilíbrio
(Williams et al., 2005).

Um aspeto relevante para a compreensão dos padrões coordenativos são as


variáveis coletivas, ou parâmetros de ordem, uma vez que fornecem informações sobre
o ponto de equilíbrio do sistema, ou seja, sobre a variabilidade do mesmo. Níveis baixos
de estabilidade são indicadores de que os atractores do sistema são fracos e, em função
da situação, a transição de fase poderá ocorrer (Kelso, 1995).

2.3.6. A variabilidade, estabilidade e complexidade dos movimentos

A variabilidade inerente aos sistemas de movimento humano tende a ser


considerada uma manifestação criativa do movimento humano, que emerge das
possibilidades que são apresentadas ao praticante pelo ambiente (Orth, van der Kamp,
Memmert, & Savelsbergh, 2017). O conhecimento sobre o papel funcional da
variabilidade dos movimentos é fundamental para a compreensão da performance em
indivíduos experts (Davids et al., 2013, 2003; Dias et al., 2015; Newell, 1986). O estudo
do papel funcional da variabilidade dos movimentos envolve a avaliação do
comportamento adaptativo através da análise do equilíbrio entre a manifestação de
comportamentos persistentes e comportamentos variáveis ou exploratórios, e na
relação destes com o contexto de prática (Davids et al., 2003; Komar et al., 2015; Seifert
et al., 2013; van Emmerik et al., 2016).

Do ponto de vista dos sistemas dinâmicos, há dois tipos de variabilidade (van


Emmerik et al., 2016): i) variabilidade do resultado e ii) variabilidade das estruturas
coordenativas.

20
2.3.6.1. Variabilidade do Resultado

A variabilidade do resultado diz respeito ao produto, i.e., ao output final do


gesto, onde os melhores executantes tendem a obter uma menor variabilidade. Para
Kelso (2012), a aprendizagem de um determinado movimento ou tarefa pode significar a
aquisição de um novo padrão de comportamento, que persiste no tempo. Há então,
segundo a TSD, uma “competição” entre fatores que atraem e potenciam a manifestação
de um determinado padrão, i.e., atractores, e fatores que repelem esse mesmo padrão,
gerando manifestações comportamentais dispares. A estabilidade de um sistema refere-
se a um comportamento resiliente, que resiste à mudança provocada por uma
perturbação no padrão estável de um atractor (van Emmerik et al., 2016). O processo de
aprendizagem pode ser entendido, portanto, como a passagem de padrões de
comportamento instáveis para padrões mais estáveis.

Kelso (2012) refere que a meta-estabilidade é a realização simultânea de duas


tendências que competem entre si. Por um lado, há a tendência que os elementos têm
em se acoplar, por outro, a tendência que os elementos têm em exibir os seus
comportamentos intrínsecos. Num nível de performance meta-estável, as tendências de
independência dos componentes coexistem, explicando, desta forma, a multiplicidade da
emergência de movimentos em contextos dinâmicos, em função dos constrangimentos
da tarefa (Hristovski, Balagué, Zivkovic, Aleksovska-Velickovska, & Naumovski, 2012;
Kibele, Granacher, Muehlbauer, & Behm, 2015).

A aprendizagem de gestos motores desportivos dá exemplos de estados de


meta-estabilidade, na medida em que o praticante adapta os seus comportamentos
motores no sentido da prossecução de um determinado objetivo. Estas mudanças
contínuas dos comportamentos motores podem resultar num mero refinamento do
padrão adaptativo, ou seja, um reforço do comportamento estável já adquirido, ou na
adoção de uma nova forma de comportamento. Há alguma evidência de meta-
estabilidade na performance em desportos como o Boxe e Cricket (Hristovski, Davids,
Araújo, & Button, 2006; Pinder, Davids, & Renshaw, 2012; Seifert, Boulanger, Orth, &
Davids, 2015), onde a distância a que o executante se encontra do alvo gera
comportamentos díspares em diferentes sujeitos. No entanto, estes estudos descobriram

21
uma zona intermédia, meta-estável, onde todos os participantes exploram uma
variedade de movimentos.

No que à corrida diz respeito, as regiões meta-estáveis são fundamentais para


que se dê a transição de uma região estável do movimento (fase de apoio) para outra,
passando por um momento de instabilidade. Sem essa instabilidade, o corpo não se
moveria de um estado estável para outro (Kibele et al., 2015).

2.3.6.2. Variabilidade das estruturas coordenativas

A variabilidade das estruturas coordenativas assume um papel importante na


formação de padrões de movimentos adaptáveis. Deste ponto de vista, a realização de
uma tarefa pode ser feita de diferentes formas, utilizando graus de liberdade diferentes.
Este tipo de variabilidade está, portanto, associado à utilização de diferentes formas de
realização de uma mesma tarefa. Ao contrário da variabilidade do resultado, uma maior
variabilidade coordenativa é um indicador de performance (Couceiro et al., 2014; Davids
et al., 2003; van Emmerik et al., 2016).

Em suma, as propriedades fundamentais dos sistemas dinâmicos complexos


influenciam a formação de padrões comportamentais estáveis (i.e. atractores); as
transições não-lineares de um atractor para outro (transições de sistema ou bifurcações,
histerese, abrandamento critico); multi-estabilidade (a habilidade para transitar entre
múltiplos estados de organização quando sujeito a diferentes constrangimentos); meta-
estabilidade (a capacidade de explorar tendências de coordenação coexistentes em
regiões de transição de fase ou em regiões instáveis); e a variabilidade, entendida como
a exploração de flutuações críticas que permitem transições comportamentais
adaptativas que levem à melhoria da performance (Ducharme & van Emmerik, 2018;
Hristovski et al., 2012; Seifert & Davids, 2017).

22
2.3.7. Aprendizagens representativas e design de prática: condições para o
transfer de habilidades motoras

Na perspetiva ecológica dinâmica o conceito de design representativo está na


base da organização de ambientes, tanto de aprendizagem, como experimentais, de
forma a que as observações e a aquisição das habilidades possam ser ligadas aos
comportamentos funcionais emergentes de um determinado contexto de prática
(Pinder, Davids, Renshaw, & Araújo, 2011).

Esta ideia fornece uma linha orientadora para o desenvolvimento de


constrangimentos ecológicos que melhor reflitam as interações continuas entre atleta e
o ambiente, bem como a função da variabilidade durante estas interações. Por exemplo,
ao manipular um constrangimento ambiental, através da manipulação da posição das
pegas numa parede de escalada, Seifert et al. (2015) verificaram que os escaladores
manifestavam uma variedade maior de posicionamentos da mão e do tronco na
abordagem às mesmas, revelando que o escalador explora uma variedade maior de
padrões motores quando se encontra numa região de meta-estabilidade. A criação de
ambientes de prática que explorem a região meta-estável da performance, como
demonstraram Seifert et al. (2015), traduziu-se numa maior adaptabilidade do
praticante às mudanças, permitindo que, ao assegurar que a cognição, a perceção e a
ação fossem utilizadas para regular o comportamento num determinado contexto de
prática, as respostas pudessem ser generalizáveis e passíveis de sustentar a performance
em outros contextos.

2.4. Importância da visão na perspetiva ecológica dinâmica

A capacidade de interpretação de uma determinada situação e a decisão pela


ação mais apropriada está dependente da visão. É esta que nos permite interagir com o
meio envolvente e é uma das capacidades de que mais dependemos para nos
locomovermos, sendo este sentido um elemento central na perspetiva Gibsoniana.

No âmbito da corrente ecológica-dinâmica, a informação relevante para a


tomada de decisão e para a regulação da ação em ambientes dinâmicos emerge

23
continuamente das interações entre o ambiente e o sujeito (Davids et al., 2013). É
através da interação entre esta e o ambiente (entre outros fatores) que o movimento
emerge, estando em permanente avaliação e adaptação, em função dos
constrangimentos emergentes (Warren, 2006). A visão, segundo este modelo, pertence
ao conjunto dos sentidos responsáveis por providenciar informação percetiva sobre o
ambiente. Neste sentido, os padrões visuais emergem da relação do sujeito com o
ambiente, estando intimamente ligadas à interpretação que o primeiro faz deste. Ao
contrário da perspetiva cognitivista, o processamento da informação para a organização
da ação dá-se no sentido “bottom-up” (Bernardin et al., 2012; Oliveira, 2016; Tani et al.,
2010).

O papel da visão no desporto tem sido amplamente estudado à luz desta visão
ecológica dinâmica e, à semelhança da perspetiva cognitivista, também o QE é objeto de
pesquisa e interpretação. Do ponto de vista ecológico dinâmico, o QE otimiza o fluxo
ótico e permite uma melhor orientação do participante em relação ao ambiente. Uma
fixação prolongada ajuda o praticante, ao fornecer atualizações contínuas e
subconscientes do estado da relação deste com os objetos no ambiente, permitindo que
o praticante consiga estimar de forma mais precisa a força, direção e velocidade
necessárias para executar a tarefa com sucesso (Oudejans, Koedijker, Bleijendaal, &
Bakker, 2005).

2.4.1. Fluxo Ótico

Para Gibson (1979), as variáveis óticas utilizadas para o controlo dos


movimentos referem-se às propriedades da luz refletida pelas superfícies e objetos
disponíveis para interação com o sistema visual do praticante. Estas podem ser sobre a
textura e gradientes de densidade do ambiente, a direção de movimento de um
determinado objeto, a distância ao observador ou o tempo que decorre do ponto de
observação ao ponto de contacto (Williams et al., 2005). Uma vez que esta informação
está calibrada de forma individual, em função do sistema resultante da interação
indivíduo-ambiente, as variáveis óticas são caracterizadas pelas possibilidades de ação,
ou Affordances, que elas oferecem a cada indivíduo (Gibson, 1979). A informação que
especifica estas Affordances está disponível nas invariantes dos padrões espácio-

24
temporais referentes à posição do participante. No seu habitat natural existe uma
relação invariante entre as propriedades das superfícies e objetos considerados
importantes e a estrutura espácio-temporal da informação ótica que chega à retina do
sujeito.

Gibson (1950), introduz o conceito de “Optic Flow”, ou fluxo ótico, definindo-o


como o padrão de aparente movimento dos objetos no ambiente, causado pela
movimentação relativa do sujeito nesse mesmo ambiente. Quando ele se move, ocorre
um fluxo ótico translacional específico, um padrão criado que é o reflexo da luz refletida
por estas superfícies na retina. A especificidade deste fluxo ótico permite ao observador
confiar nos padrões dinâmicos da reflexão da luz para suportar as ações. A vantagem
que estas invariantes óticas têm sobre outras variáveis físicas prende-se com o facto de,
quando confrontadas com superfícies ou objetos novos, o sujeito continuar a poder
retirar as Affordances e especificar as ações necessárias à condução da tarefa com
sucesso (Williams et al., 2005).

As mudanças de fluxo ótico durante a ação são, portanto, fundamentais para se


saber a direção que o sujeito está a tomar, ao mesmo tempo que fornece pistas sobre o
ambiente (Royden, Banks, & Crowell, 1992; Warren & Fajen, 2004; Warren & Hannon,
1988; Warren et al., 2001). A expansão radial do fluxo ótico, fazendo parecer ao sujeito
que os objetos mais próximos se movem mais depressa do que os que estão mais
afastados (Gibson, 1950; Wurtz, 1998) permite que se perceba apenas através do fluxo
ótico, e independentemente de outros movimentos (e.g. movimentos dos olhos ou da
cabeça) a direção que o sujeito está a tomar (Regan & Beverley, 1982; Warren &
Hannon, 1988, 1990).

2.5. Principais divergências

No que à relação entre a visão e o controlo dos movimentos diz respeito, é


reconhecido o contributo de fatores Top-down e Bottom-Up (Haider & Frensch, 1999;
Tong, Zohar, & Hayhoe, 2017). Do mesmo modo, parece que as teorias cognitivistas e as
ecológicas tendem a apresentar formas distintas de compreender o papel da visão no
controlo de movimentos.

25
De uma forma geral, ambas teorias dão contributos válidos para a compreensão
do movimento e da performance humanas, sendo os movimentos lentos, com uma
duração superior a 200ms, mais facilmente explicáveis através das teorias cognitivistas,
onde o processamento é top-down (Vickers, 2009). É exemplo desta perspetiva o modelo
apresentado por Sprague, Ballard e Robinson (2007), puramente top-down, que defende
que os comportamentos motores podem ser entendidos pelos seus componentes mais
simples, que são executados considerando o seu potencial de retorno. Os alvos do olhar
são escolhidos com o intuito de reduzir a incerteza sobre o que é necessário para
executar o movimento. O olhar está, portanto, intimamente ligado, no tempo e na
localização, às necessidades momentâneas da tarefa (Land, 2006; Tatler et al., 2011;
Tong et al., 2017). Uma das principais limitações desta abordagem é a falta de
representatividade da tarefa, dado que não foram ainda descobertos modelos top-down
que expliquem os processos internos que contribuem para o controlo do olhar em
contextos naturais (Lappi, 2016). Em contraste, os movimentos mais rápidos, com uma
duração inferior a 200ms são explicados através das teorias ecológicas e dinâmicas
(Vickers, 2009), onde a perceção direta assume um papel fundamental.

Henderson (2017), numa tentativa de proporcionar uma base teórica que


permitisse a interpretação do olhar comum às duas perspetivas, propõe que o controlo
do olhar em contextos naturais possa ser caracterizado pelo resultado da predição de
uma determinada ocorrência em função do conhecimento antecipado.

Esta visão é de certa forma contrária à noção de perceção direta (Gibson, 1979;
Michaels & Carello, 1981) uma vez que atribui um papel preditor ao cérebro. É este que,
com base na experiência, gera expetativas e prediz o quê, onde e que eventos são
expectáveis de ser encontrados, direcionando o olhar para os locais onde essas
ocorrências se possam dar (Droll & Hayhoe, 2007; Henderson, 2017).

2.6. Bases para a análise dos movimentos dos olhos

O presente ponto do trabalho pretende contextualizar o estudo dos movimentos


dos olhos, os instrumentos, técnicas e métricas mais utilizadas, conferindo um

26
enquadramento sobre os conceitos e técnicas utilizadas na recolha e análise dos dados
posteriormente utilizados.

2.6.1. Estrutura e função do olho

O olho humano (Figura 4) é uma estrutura anatómica e fisiologicamente


complexa, componente fundamental do sistema visual (Freddo & Chaum, 2018; Tate,
2009). A luz entra pelo olho através da pupila, que inverte a imagem e a projeta para a
zona posterior da retina. Esta estrutura está repleta de células muito sensíveis à luz – os
cones e bastonetes, que transformam a luz em sinais elétricos para serem enviados
através do nervo ótico para processamento no córtex visual.

Figura 4: Representação esquemática do olho humano (adaptado de Holmqvist, et al., 2015).

Os cones são responsáveis pela visão a cores e pelo detalhe visual, ao passo que
os bastonetes, muito sensíveis à luz, suportam a visão em condições de menor
luminosidade, sendo também responsáveis pela visão monocromática.

A fóvea possui uma grande concentração de cones, ocupando cerca de 2o do


campo visual total (Holmqvist et al., 2015), dispersando-se em menor concentração pelo
resto. Esta maior concentração permite que tenhamos uma maior acuidade visual nesta
pequena área, permanecendo uma imagem desvanecida no restante campo visual. É por

27
esta razão que os olhos têm de estar em permanente movimento, para que o nosso
cérebro possa criar uma imagem clara do cenário.

Os movimentos do globo ocular são realizados através da contração de três


pares de músculos, que permitem que o olho faça movimentos verticais, horizontais e
rotacionais. Estes são os músculos retos inferior e superior (Figura 5, números 2 e 3), os
retos lateral e medial (Figura 5, números 4 e 5), e os músculos oblíquos inferiores e
superiores (Figura 5, números 7 e 8) (Freddo & Chaum, 2018; Tate, 2009).

Figura 5 : Musculatura responsável pelos movimentos dos olhos (adaptado de Holmqvist, et al.,
2015).

Por fim, o controlo do diâmetro da pupila, através do relaxamento e contração


da íris, atua como um obturador de uma máquina fotográfica, conferindo ao olho
profundidade no foco e permitindo visão à distância e de proximidade. Ao diminuir o
diâmetro da pupila por via da contração da íris, há menos luz a entrar no olho e esta
tende a concentrar-se mais no centro da lente. Isto faz com que se consiga focar melhor
o objeto, permitindo desta forma um foco preciso e uma visão detalhada (Freddo &
Chaum, 2018; Tate, 2009).

28
2.6.2. Terminologia e indicadores de análise dos movimentos dos olhos

O registo dos movimentos dos olhos tem sido feito desde o final do século XIX,
onde os movimentos oculares eram registados através de aparelhos específicos,
denominados Eye Trackers, que se caracterizavam por ser muito desconfortáveis
e algo dolorosos para o utilizador (Holmqvist et al., 2015). Desde então, a evolução
tecnológica permitiu o desenvolvimento de novas técnicas, mais práticas e menos
dolorosas, que levaram a uma expressão acentuada no número de publicações
científicas com recurso a este tipo de tecnologia. Como prova disto, uma pesquisa
às bases de dados PubMed pelo termo “eye tracking”, por exemplo
(https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=eye+tracking), devolve 74 artigos no
ano de 2000, valor mais de dez vezes superior (765 artigos) em 2017.

Presentemente, a abordagem de registo dos movimentos dos olhos mais comum


assenta na Video-Oculografia (VOG) (Duchowski, 2017; Singh & Singh, 2012). Esta é uma
técnica baseada no registo em vídeo dos movimentos oculares através de microcâmaras
de vídeo.

As posições dos olhos e os seus movimentos são determinados com base na


informação adquirida através da sequência de imagens gravadas, que são
posteriormente sobrepostas a uma outra câmara de vídeo, que regista a cena do ponto
de vista do participante [(para uma revisão mais aprofundada sobre estas técnicas, cf.
com Duchowski, (2017)]. Esta abordagem tecnológica existe, presentemente, em vários
suportes, desde torres fixas, onde a cabeça se encontra totalmente imóvel, a dispositivos
móveis, por infravermelhos, a Eye Trackers montados em óculos: Eye Tracking Glasses
(ETG).

Considerando a velocidade a que o olho humano se consegue movimentar, com


alguns autores a reportar velocidades na ordem dos 800o/seg. (Harezlak & Kasprowski,
2018), uma das características chave deste tipo de aparelhos é a frequência de captura
de imagens. Consequentemente, e considerando as características dos movimentos
oculares, os aparelhos mais confiáveis são os que têm a capacidade de registar acima de
1000 imagens por segundo (Duchowski, 2017). Presentemente, esta capacidade de
registo está apenas ao alcance das máquinas fixas, como as torres (Figura 6- A). No
entanto, a utilização tanto deste tipo de equipamento como dos aparelhos de VOG

29
remotos traz uma limitação quando pretendemos analisar os movimentos dos olhos em
contextos dinâmicos, como os contextos de prática desportiva. Os ETG, por seu turno, e
em troca de frequências de captura de imagem na ordem dos 30-60 imagens/segundo,
conferem uma maior liberdade de movimentos ao utilizador, aumentando desta forma a
validade ecológica das descobertas.

Figura 6: Exemplos de diferentes tipos de instrumentos utilizados para a Video-Oculografia: A –


Torre para captura dos movimentos dos olhos a alta velocidade; B - Dispositivo de VOG remota, por
infra-vermelhos (adaptado de SensoMotoric Instruments GmbH, 2014); C – óculos para captura dos
movimentos dos olhos (ETG) (Laboratório Robocorp – IIA – IPC).

Outra das vantagens dos ETG prende-se com o facto de ser uma técnica
praticamente não-invasiva e relativamente precisa (tem uma margem de erro na ordem
de 1o de ângulo visual para uma amplitude visual de 30o). A sua limitação a 60Hz indica
que estes sistemas recebem informação sobre a posição do olho a cada 16 milissegundos
o que, considerando o exposto acima, limita a capacidade que o sistema tem em recolher
algumas métricas (Duchowski, 2007, 2017; Holmqvist et al., 2015).

30
As características dos movimentos oculares mais comummente analisados são
apresentados na Tabela 1, sendo as fixações o evento mais analisado. Elas representam
um estado onde a posição do olho se encontra relativamente estável durante um
determinado período. Esta estabilização não significa imobilismo completo, uma vez que
o olho nunca se encontra completamente estagnado. Fenómenos como o tremor
(pequenos movimentos involuntários, semelhantes aos nistagmos, com uma frequência
de cerca de 90 Hz), microssacadas (pequenos e rápidos movimentos dos olhos durante a
fixação, com o intuito de recentrar a mesma) e os drifts (movimentos lentos dos olhos,
que desviam o olho do centro da fixação e que ocorrem entre as microssacadas) estão
presentes durante as fixações (Duchowski, 2017; Harezlak & Kasprowski, 2018;
Holmqvist et al., 2015).

Tabela 1: Valores típicos dos movimentos oculares mais comuns.


Tipo Duração (ms) Amplitude Velocidade
Fixação > 100 - -
Sacada 30-80 4-20o 30-800 o/s
Glissada 10-40 0.5-2 o 20-140 o/s
Smooth Pursuit - - 10-30 o/s
Microssacada 10-30 10-40’ 15-50 o/s
Tremor - <1’ 20’/s
Drift 200-1000 1-60’ 6-25’/s

Os movimentos rápidos dos olhos que ocorrem entre duas fixações são
denominados de sacadas. São os movimentos mais rápidos que o corpo humano
consegue produzir e os humanos são considerados cegos durante este movimento
(Panchuk et al., 2015). Fruto da alta velocidade deste movimento, o olho não consegue
parar exatamente no ponto predeterminado, ocorrendo uma oscilação do globo ocular
antes de parar. Este movimento pós-sacádico é denominado de Glissada.

Por fim, os movimentos de perseguição de um alvo, (e.g., seguimento da


trajetória de uma bola) são chamados de Smooth Pursuit. De sublinhar que estes
movimentos diferem das sacadas, já que necessitam de um alvo para ocorrer, enquanto
que as últimas podem ocorrer até de olhos fechados (Duchowski, 2017; Holmqvist et al.,
2015).

31
2.6.3. Investigação com Eye-trackers

As técnicas lineares são as mais utilizadas para a análise do comportamento


visual dos humanos. As fixações e as sacadas são o indicador de comportamento visual
mais estudado na literatura, existindo uma vasta pesquisa realizada sobre o tema não só
no desporto como também nos diversos domínios científicos, como comprovam as
várias meta-análises e revisões sistemáticas realizadas sobre este tema (Kredel, Vater,
Klostermann, & Hossner, 2017; Lai et al., 2013; McGuckian, Cole, & Pepping, 2018;
Rienhoff et al., 2016; Schutz, Braun, & Gegenfurtner, 2011; Tien et al., 2014).

2.6.3.1. Medidas utilizadas para análise

A investigação no âmbito do estudo do movimento dos olhos tem produzido


pesquisa maioritariamente relacionada com as fixações, onde se geralmente se procura
caracterizar as estratégias visuais de desportistas de várias modalidades, de diferentes
níveis de desempenho ou escalões etários (Afonso, Garganta, McRobert, Williams, &
Mesquita, 2012; Croft, Button, & Dicks, 2010; Decroix et al., 2017; Dessing et al., 2012;
del Campo, Canelo-Fariñas, Domínguez-Márquez, & Morenas-Martín, 2018; Machado et
al., 2017; Manzanares et al., 2017; Murray & Hunfalvay, 2016). A investigação produzida
centra-se no estudo das estratégias de busca visual (visual search strategies).

Para que se possa entender estas estratégias, é fundamental que se atribua


significado às fixações. Os estudos supra sustentam esta abordagem na análise do
número e tempo de fixações que os participantes fazem em regiões de interesse no
campo visual disponível. Isto requer uma análise ao vídeo que contém as fixações
sobrepostas na filmagem da cena, do ponto de vista do participante. É a partir daqui que
as fixações são codificadas em função de Áreas de Interesse (Areas of Interest, ou AOI)
definidas para o estudo. Importa salientar que não há uma regra para definir os AOI.
Estas são selecionadas em função das especificidades de cada modalidade ou área de
estudo. No estudo de Machado et al. (2017), por exemplo, foram comparados os padrões
de busca visual de futebolistas de três escalões etários diferentes. Os autores definiram
cinco AOI, tendo encontrado diferenças significativas no número de fixações nos AOI.
Noutro estudo (Murray & Hunfalvay, 2016), foram usados três AOI para comparar as

32
estratégias de busca visual em tenistas de elite e sub-elite, tendo também encontrado
diferenças entre os grupos estudados. O número de AOI depende, invariavelmente, das
características e objetivos de cada estudo, pelo que não é possível estabelecer qualquer
valor padrão.

Outra das métricas utilizadas neste tipo de estudo centra-se na análise da


velocidade dos movimentos dos olhos, tanto em tarefas de smooth pursuit (Leclercq,
Blohm, & Lefevre, 2013) como na análise da velocidade e amplitude das sacadas
(Crawford, Smith, & Berry, 2017; Di Stasi et al., 2014; Keenan, Huddleston, & Ernest,
2017; Li, Yu, Li, & Greaves, 2014; Tatler et al., 2011). Neste âmbito, por exemplo, os
estudos feitos por Connel e colaboradores (2016, 2017) têm estudado os efeitos da
cafeina, dopamina e norepinefrina na fadiga oculomotora induzida pelo exercício. Em
estudos feitos em laboratório, os ciclistas pedalaram por 180 minutos numa bicicleta
estacionária, tendo-lhes sido aplicada uma bateria de testes visuais, em computador. Os
autores reportaram uma redução da velocidade das sacadas na ordem dos 8%, por efeito
da fadiga (Connell et al., 2016; Connell, Thompson, Turuwhenuwa, Srzich, & Gant, 2017).

2.6.3.2. Técnicas não lineares para a análise da variabilidade na visão

A utilização de técnicas não lineares para analisar a variabilidade dos sistemas


de movimento humanos tem vindo a crescer (Estep, Morrison, Caswell, Ambegaonkar, &
Cortes, 2018; Harbourne & Stergiou, 2009; Stergiou, Jensen, Bates, Scholten, & Tzetzis,
2001; Stergiou & Decker, 2011). Estas técnicas caracterizam-se por revelar a estrutura e
natureza dos sinais ao longo de uma série temporal, que de outra forma (i.e., recorrendo
às técnicas lineares clássicas) permaneceriam por descobrir (Stergiou, 2016).

Neste âmbito, as técnicas de cálculo da entropia de Shannon, da entropia


aproximada, da Sample Entropy, do expoente de Lyapunov e do Expoente de Hurst
proporcionam informação importante sobre o grau de imprevisibilidade e de
complexidade do sistema motor no processo de geração de padrões de resposta,
permitindo a descrição do grau ou de complexidade de uma série temporal (Smith,
Stergiou, & Ulrich, 2010; Stergiou, 2016).

33
A variabilidade dos movimentos é entendida como promotora de flexibilidade e
adaptabilidade do sistema, vendo como positivo o efeito da variabilidade na
performance (Davids et al., 2003; Ducharme & van Emmerik, 2018; Stergiou & Decker,
2011; van Emmerik et al., 2016).

Por exemplo, Yang et al. (2018), ao colocar os participantes a realizar uma tarefa
repetitiva de apontar, mostraram que o aumento da variabilidade dos movimentos
articulares por efeito da fadiga pode indicar que o corpo adota esta estratégia no sentido
de manter a performance relativamente ao objetivo da tarefa, denotando um cariz
adaptativo por via da variabilidade dos movimentos. Este tipo de análises tem sido
explorado em diversos trabalhos centrados na análise dos movimentos dos olhos
(Aştefănoaei, Creangă, Pretegiani, Optican, & Rufa, 2014; Aştefănoaei, Pretegiani,
Optican, Creangă, & Rufa, 2013; Crawford et al., 2017; Di Stasi et al., 2014; Harezlak &
Kasprowski, 2018; Keenan et al., 2017; Murata & Matsuura, 2015; Shiferaw et al., 2018;
Zargari Marandi, Madeleine, Omland, Vuillerme, & Samani, 2018). Os dados necessários
para este tipo de interpretações podem provir tanto das fixações nos AOI como do
posicionamento dos olhos num determinado referencial, representado pelas
coordenadas x e y da posição dos olhos na cena ao longo da série temporal.

A entropia visual é utilizada para avaliar as estratégias de busca visual em


atividades onde existe uma grande necessidade de informação visuo-espacial, tal como a
condução automóvel (Gilland, 2008; Schieber & Gilland, 2008; Shiferaw et al., 2018), a
aviação (Allsop & Gray, 2014; Li et al., 2014) ou, acrescentamos, a marcha e corrida em
terreno acidentado. Neste contexto, a entropia visual é baseada nas equações da
entropia de Shannon (cf. com secção dos Métodos do presente trabalho), sendo útil para
a análise dos padrões de busca visual em ambientes naturais. Este tipo de entropia pode
ser aplicado à distribuição probabilística de ocorrência de fixações nos AOI, calculando
desta forma o nível médio de incerteza na distribuição espacial de uma sequência de
fixações. Neste caso, valores superiores de entropia são indicadores de uma maior
distribuição de fixações ao longo do campo visual, sugerindo assim uma maior dispersão
do olhar (Di Stasi et al., 2016).

Há ainda outra forma de entropia visual, baseada na distribuição condicionada


das fixações pelas AOI: a entropia de transições de estados. Neste caso, é aplicada uma
equação de entropia condicional (cf. com secção dos métodos) às transições de fixações.

34
Estas transições correspondem às mudanças de uma AOI para outra, calculadas através
da matriz de transições de Markov de primeira ordem (Gilland, 2008; Schieber &
Gilland, 2008). Estas fornecem uma medida de previsibilidade de ocorrência de padrões
de busca visual. Aqui, valores superiores de entropia são indicadores de um padrão de
busca visual mais aleatório e menos estruturado (Krejtz et al., 2015).

Neste contexto, foram verificados aumentos nos valores destes dois tipos de
entropia em condutores privados do sono, estando estes valores associados a uma maior
probabilidade de os condutores saírem da estrada (Shiferaw et al., 2018). Do mesmo
modo, um aumento dos valores de entropia está associado à dificuldade de cirurgias (Di
Stasi et al., 2016) ou a estados elevados de ansiedade (Allsop & Gray, 2014).

Outros estudos centraram-se na análise da entropia dos padrões de outros


movimentos oculares, nomeadamente através do estudo dos padrões de variação do
diâmetro da pupila (Zargari Marandi et al., 2018), ou da amplitude das sacadas
(Aştefănoaei et al., 2014; Stan et al., 2014), utilizando para tal a sample entropy, o
Expoente de Lyapunov, a dimensão de correlação através Expoente de Hurst ou da
Detrended Fluctuation Analysis.

O Expoente de Hurst é uma medida das correlações numa série temporal, que
permite estudar a auto-similaridade de uma série temporal, variando entre 0, para uma
correlação negativa, onde há tendência para diminuição dos valores, e 1, para uma
correlação positiva, onde há tendência de aumento dos valores ao longo da escala
temporal. Valores de 0,5 indicam que a série se comporta de forma aleatória
(Aştefănoaei et al., 2014; Stergiou, 2016).

Por fim, o Expoente de Lyapunov quantifica a divergência de duas trajetórias no


espaço-tempo. Valores maiores do Expoente de Lyapunov indicam um sistema
tendencialmente divergente, com grande variabilidade e pouca regularidade. Pelo
contrário, valores mais próximos de 0 são indicadores de um sistema convergente e
regular (Harbourne & Stergiou, 2009). Por exemplo, foi encontrada uma relação entre o
aumento dos valores do expoente de Hurst e as exigências cognitivas de uma tarefa
(Aştefănoaei et al., 2014), indicando que o aumento da carga cognitiva de uma tarefa
pode gerar um grau de complexidade maior ao nível das sacadas. Já no que à análise do
Expoente de Lyapunov diz respeito, os investigadores reportaram valores positivos
próximos de 0, não tendo verificado o efeito da carga cognitiva, indicando que houve a

35
manutenção da regularidade das sacadas, independentemente da carga cognitiva a que
os participantes estavam sujeitos.

Estas métricas permitem ir ao encontro de uma perspetiva de aprendizagem


não linear que tem vindo a ganhar relevo, o modelo de aprendizagem diferencial de
Schöllhorn (Schöllhorn, Hegen, & Davids, 2012; Schöllhorn, Mayer-Kress, Newell, &
Michelbrink, 2009), que defende que a aprendizagem ou o treino de movimentos é um
processo individual e não linear, variando em função das características do praticante.
Esta perspetiva parte do pressuposto que a introdução de variabilidade, ao invés da
repetição, no processo de aprendizagem produz melhores resultados, permitindo ao
sistema motor a aquisição de mais flexibilidade e plasticidade na performance motora
(Frank, Michelbrink, Beckmann, & Schöllhorn, 2008; Schöllhorn et al., 2012).

A literatura pesquisada não encontrou qualquer estudo que analisasse de forma


não linear os movimentos dos olhos ou os padrões de olhar em contextos desportivos.
Esta falha na literatura pode ser explicada por duas razões: i) a complexidade
matemática dos cálculos necessários para a determinação dos valores de entropia e, ii) a
menor disponibilidade tecnológica associada aos instrumentos de recolha de dados, não
muito disponíveis na área das ciências do desporto.

2.7. A visão na marcha, corrida e trail

“Locomotion and manipulation … are controlled not by the brain but by


information… Control lies in the animal-environment system … The rules that govern
behaviour are not like laws enforced by an authority or decisions made by a
commander; behaviour is regular without being regulated.” (Gibson, 1979, p. 225).

A corrida, como qualquer atividade locomotora, requer a resolução de um


conjunto de problemas que se relacionam com a interpretação do meio envolvente, em
linha com o preconizado por Newell (1986) e Gibson (1979). Tomemos a corrida de trail
como exemplo. Para um corredor de trail, o seu objetivo principal é ser o primeiro a
chegar ao final da corrida. Contudo, e embora o percurso esteja delimitado, o primeiro
problema que este atleta encontra é delinear a melhor estratégia para conseguir fazer

36
face às características do terreno. Para isto, ele necessita de informação sobre o tipo de
terreno que vai encontrar, declives e dificuldade do mesmo. Este plano é, contudo,
apenas uma pequena parte do problema geral, uma vez que o próximo problema
locomotor consiste em adaptar este plano à informação obtida pelo sujeito sobre as
características orográficas no momento, que se poderão ter alterado desde o
planeamento inicial.

Durante a corrida, o corpo encontra-se em fluxo dinâmico (Kuo, 2007). As


posições e movimentos relativos das várias partes do corpo estão em permanente
mudança, tal como a posição, orientação e movimento do corpo como um todo
relativamente ao ambiente que o rodeia. É este o terceiro problema do corredor, ou seja,
controlar uma relação de fluxo dinâmico das várias partes corporais com elas próprias, e
do movimento dinâmico do corpo com o meio ambiente em permanente mudança. A
informação necessária para lidar com todos estes problemas provém de vários sistemas,
dos quais a visão se assume como o meio primordial, que supervisiona os padrões de
ação e afina os restantes sistemas percetivos (Lee & Lishman, 1977).

Considerando o exposto, a interpretação atempada das características do


terreno, tende a fornecer ao praticante uma vantagem que se traduz numa melhor
preparação do seu sistema locomotor para a tarefa (Vickers, 2011).

No caso da locomoção, o acoplamento entre informação visual e comportamento


motor tem sido amplamente estudado, desde os estudos pioneiros de Lee e Lishman
(1977), que utilizaram o conceito de “optic flow” introduzido por Gibson (1950), e
definiram a locomoção como sendo controlada internamente pela definição de uma
“linha de fluxo locomotor” (locomotor flow line), que permite o planeamento da direção
que se pretende seguir.

Hollands e Marple-Horvat (2001), e Hollands, Marple-Horvat, Henkes, e Rowan


(1995), analisaram a coordenação entre o movimento dos olhos e dos pés durante uma
tarefa de colocação dos pés em locais precisos. Estes autores confirmaram que a visão é
utilizada para planear tanto o passo seguinte como a próxima fixação, atuando como um
mecanismo de feedforward e reforçam a noção de que a visão é preponderante no
processo de planeamento. No entanto, estes estudos focam-se em tarefas de precisão da
colocação do pé em locais específicos, o que acaba por gerar padrões de locomoção
específicos, limitando as possibilidades de ação dos participantes.

37
Ao colocarem obstáculos ao longo de um percurso, Patla e Vickers (1997)
solicitaram aos participantes que passassem por cima de barreiras físicas. Os autores
observaram uma variedade maior de estratégias visuais para poder antecipar
ajustamentos necessários aos diferentes constrangimentos que surgiram na trajetória,
tendo chegado à conclusão que os participantes fixam o terreno 4 a 6 metros à frente da
sua localização corrente.

Por outro lado, estudos sobre a antecipação do olhar durante a locomoção


(Bernardin et al., 2012; Hollands, Patla, & Vickers, 2002) encontraram uma ordem
hierárquica na organização do olhar e das orientações segmentares durante a marcha. A
direção do olhar antecipou a orientação da cabeça, que por sua vez antecipou a
(re)orientação dos restantes segmentos corporais em direção ao objetivo. Esta natureza
antecipatória do olhar reveste-se de especial importância para a compreensão da
relação entre a informação visual e a locomoção, dando a ideia de que “olhamos para
onde queremos ir” (Bernardin et al., 2012; Lappi, 2016; Wilkie, Wann, & Allison, 2008).

Outros estudos têm-se centrado em objetivos como a compreensão da influência


da visão na biomecânica da locomoção (Matthis et al., 2015; Matthis & Fajen, 2014;
Muller, Haufle, & Blickhan, 2015; Warren, Young, & Lee, 1986), na precisão da passada
(Fennel, Goodwin, Burn, & Leonards, 2015; Patla & Vickers, 2003; Reynolds & Day, 2005;
Smid & Den Otter, 2013), no controlo da locomoção para a passagem por obstáculos
(Hackney, Zakoor, & Cinelli, 2015; Patla & Vickers, 1997) ou na locomoção adaptativa
(Higuchi, 2013; Patla, 2004; R. M. Wilkie, Kountouriotis, Merat, & Wann, 2010).

No que diz respeito à metodologia utilizada, os estudos encontrados utilizam a


análise dos parâmetros de ação do movimento com recurso a vídeo, conjuntamente com
sistemas de eye tracking (Bernardin et al., 2012; Hollands et al., 2002). A quantificação
da informação visual é obtida através do registo de movimentos oculares que nos
permitem inferir sobre a visão central e os padrões de visualização de uma determinada
realidade. O número e tempo de fixações, bem como as sacadas constituem-se como
dados fundamentais (Higuchi, 2013; Hollands et al., 2002; Patla, 1997, 2004).

Ao utilizarem Eye trackers para estudar a relação entre o olhar e os padrões de


locomoção, Patla e Vickers (Patla & Vickers, 2003) depararam-se com dois
comportamentos dominantes quando caminhamos: as fixações no percurso e as fixações

38
nos alvos1, com o primeiro a ser predominante relativamente ao último. Adicionalmente,
quando os participantes fixam um alvo, fazem-no dois passos antes do mesmo. Mais
recentemente, num estudo com recurso a vídeo de alta velocidade e a um percurso
projetado no chão, Matthis et al. (Matthis et al., 2015) verificaram que a informação
visual deixa de ser necessária para a execução precisa da passada a partir da segunda
fase da penúltima passada, classificando esta fase como crítica para o controlo da
marcha.

Deste modo, apresentamos de seguida um quadro resumo com os principais


estudos que têm associado a visão à locomoção (Tabela 2).

1
Os termos originais, em língua Inglesa são respetivamente travel gaze fixation e landing target fixation. A
pesquisa efetuada não encontrou qualquer equivalência destes temos na língua portuguesa, pelo que optámos
por realizar uma tradução livre dos mesmos.

39
Tabela 2: Quadro sinóptico de estudos sobre visão e locomoção.

Amostra e
Autor / Objetivo repetições Variáveis Principais Conclusões
Ano da tarefa
Patla & Perceber para n= 8, 15 Número e tempos A fixação nos obstáculos
Vickers, onde e quando repetições de fixação é usada como
(1997) olhamos ao passar Fixações no mecanismo de
por um obstáculo percurso feedforward para
controlar a locomoção
Hollands Verificar a relação n= 4, 40 Sacadas O olhar actua como um
& Marple- entre o sistema repetições Transição da mecanismo de
Horvat visual e locomotor passada feedforward para o
(2001) em tarefas de controlo da locomoção
precisão
Hollands, Estudar o n= 7, 20 Direção do olhar O olhar e a orientação da
Patla & comportamento repetições Fixações no cabeça são usados como
Vickers do olhar durante a percurso referência para o
(2002) escolha de um controlo da locomoção
percurso
Bernardin Estudar a relação n= 10, 27 Fixações Os padrões de olhar
et al. temporal e repetições Padrões de olhar orientam o planeamento
(2012) espacial dos Posição da cabeça, da trajetória
padrões de olhar tronco e membros
na locomoção
Matthis, Determinar em n= 12, 200 Erro da passada A precisão da passada
Barton & que momento a repetições Condição de deixa de ser controlada
Fajen informação visual invisibilidade do segunda fase da
(2015) deixa de ser percurso penúltima passada.
necessária para o
controlo da
locomoção
Larsen, Perceber como n= 13, 20 Largura da passada Os corredores
Jackson, corredores de repetições Posicionamento do aumentam sempre o
& Schmitt, níveis diferentes, pé comprimento da passada
(2016) em velocidades de Tipo de passada quando encontram um
corrida diferentes, obstáculo.
ajustam a corrida
face a um
obstáculo
Matthis, Registaram o n= 6, 3 Fixações Os participantes
Yates e olhar e a viagens Padrões do mostram estratégias
Hayhoe, locomoção dos para cada movimento distintas de olhar em
(2018) participantes em tipo de função do tipo de
três tipos de terreno terreno.
terreno

A dimensão das amostras, como pode ser visto na tabela acima, tende a ser
reduzida, com valores geralmente inferiores a 13 participantes. Isto deve-se ao elevado
volume de dados produzido por cada sujeito e série temporal de dados, o que implica
um elevado custo de processamento e codificação dos dados.

40
2.8. Corrida de Trail: conceito e investigação

A participação em eventos de corrida de endurance e de ultra-endurance, como


as ultra-maratonas ou os trails e ultra-trails têm vindo a ganhar espaço no panorama
desportivo nacional e internacional (cf. Hoffman, Ong, & Wang, 2010; Knoth, Knechtle,
Rüst, Rosemann, & Lepers, 2012). O interesse da comunidade científica pelo estudo
desta modalidade acompanhou o seu desenvolvimento, manifestando-se num número
significativo e atual de publicações científicas sobre o tema.

Esta parte do trabalho pretende, portanto, apresentar de forma resumida a


corrida de trail, suas características e modelo organizativo, assim como as principais
linhas de investigação que têm sido desenvolvidas nesta modalidade desportiva.

2.8.1. Conceito de Corrida de Trail

A corrida de trail é definida como a corrida em superfícies não pavimentadas ou


alcatroadas, numa variedade de substratos e contendo obstáculos naturais tais como
grandes subidas ou descidas, raízes de árvores ou cruzamentos de água (Chase & Hobbs,
2010; Hicks & Powell, 2016). Já para a International Trail Running Association (ITRA)
(ITRA, 2018), a definição da modalidade é um pouco mais concreta e disponibiliza na
sua página oficial três pontos fundamentais subjacentes à sua caracterização: i) Consiste
numa corrida pedestre aberta a todos, em ambiente natural, não devendo as estradas
pavimentadas ou asfaltadas exceder 20% da distância total do percurso; ii) O tipo de
terreno pode variar e a rota deve estar devidamente marcada, ou seja, os participantes
devem ter informação suficiente para completar a corrida sem se perderem (podendo-se
usar desde marcas físicas a marcas permanentes, coordenadas GPS, ou orientação por
mapa); iii) A corrida deve ser feita preferencialmente em regime de auto ou semi-
suficiência, ou seja, o participante deve ser autónomo entre as estações de ajuda.

No contexto nacional, esta modalidade desportiva é tutelada pela Associação de


Trail Running de Portugal (ATRP) (ATRP, 2018), uma associada da Federação
Portuguesa de Atletismo, e assume como definição desta modalidade na sua página
oficial, uma:

41
“Corrida pedestre em Natureza, com o mínimo de percurso
pavimentado/alcatroado, que não deverá exceder 10% do percurso total,
em vários ambientes (…) e terrenos (…), idealmente – mas não
obrigatoriamente – em semi ou auto-suficiência, a realizar de dia ou
durante a noite, em percurso devidamente balizado e marcado e em
respeito pela ética desportiva, lealdade, solidariedade e pelo meio
ambiente.”(ATRP, 2018).

Verificamos, portanto, que apesar de alguma variabilidade no que diz respeito


às definições apresentadas tanto na bibliografia como pelas entidades que tutelam esta
modalidade, existe um denominador comum na caracterização deste desporto. Salienta-
se apenas o facto de haver alguma discrepância no que diz respeito à quantidade de
percurso pavimentado ou alcatroado permitida pelas entidades oficiais, sendo a
portuguesa, neste aspeto, mais restritiva.

De acordo com a ATRP, as provas são divididas em função da sua distância


e do seu nível de dificuldade. Quanto ao primeiro critério, existem 3 categorias: i) trail,
que compreende provas até à distância oficial de meia-maratona; ii) trail longo, com
provas de distância entre a meia maratona e a maratona e; iii) trail ultra, com 3
subcategorias, trail ultra médio (42 – 69km), trail ultralongo (70 – 99km) e trail ultra
extralongo (mais de 100km). No que concerne ao segundo critério, as provas são
classificadas num ranking de classe 1 a 4, em função da relação entre a distância total da
prova e o desnível positivo acumulado (ATRP, 2018).

A organização de eventos de corrida de trail, à semelhança das corridas


populares, de estrada, tem proliferado no país nos últimos anos. Este tipo de corridas é
organizado livremente, por qualquer pessoa, coletividade, entidade pública ou privada.
Contudo, apenas as provas certificadas pela ATRP pontuam para os Campeonatos
Nacionais e para a Taça de Portugal sendo, para o caso, obrigatória a sua homologação.

42
2.8.2. Investigação na corrida de trail

A corrida de trail, pelas suas características intrínsecas, é uma modalidade


passível de ser analisada à luz da perspética ecológica dinâmica e do modelo dos
constrangimentos de Newell (1986). Vejamos: dá-se em terreno acidentado, o que
coloca uma série de constrangimentos ambientais cuja resposta motora é considerada
pelo praticante em função da sua perceção das características do terreno. Por sua vez,
esta perceção é influenciada pelas suas características físicas e fisiológicas intrínsecas, o
que provoca alguma variabilidade nas respostas motoras que visam lidar com os
obstáculos ambientais com que o praticante se depara durante o seu caminho.

A corrida de trail coloca uma série de problemas de investigação. Do ponto de


vista biomecânico, por exemplo, o facto de se correr numa superfície irregular coloca,
logo à partida, dificuldades ao nível da quantificação do esforço necessário para manter
um determinado ritmo de corrida. Nesta linha, um estudo recente sugere que o modelo
fisiológico tradicional de predição da performance em corrida de endurance não se deve
aplicar ao contexto da corrida de trail, indicando que há outros fatores fisiológicos
preditores da performance (Ehrström et al., 2018). Estes autores avaliaram 9 corredores
de elite numa prova de trail de 27km e em laboratório, sugerindo a inclusão no modelo
de um indicador da economia de corrida em inclinação e outro de endurance local.

No que diz respeito à investigação produzida no âmbito desta modalidade


desportiva, os estudos têm-se debruçado essencialmente em aspetos relacionados com
parâmetros fisiológicos (e.g.; Ferreira, Santos, Aidar, Matos, & Souza, 2016; Lopez et al.,
2016; Mrakic-Sposta et al., 2015), com a fadiga (Easthope, 2013; Easthope et al., 2014;
Giandolini, Horvais, et al., 2015; Koblbauer, van Schooten, Verhagen, & van Dieën, 2014;
Millet, 2011; Vercruyssen, Tartaruga, Horvais, & Brisswalter, 2016), a fadiga mental e a
influência da dor na performance (Blakely, Kemp, & Helton, 2015; Easthope, 2013;
Enoka & Duchateau, 2016; Marcora, Bosio, & de Morree, 2008; Marcora & Staiano, 2010;
McCormick, Meijen, & Marcora, 2015; Millet, 2011; Schmit et al., 2015; Smith, Marcora, &
Coutts, 2015), as tipologias da passada e tipo de calçado e suas relações com a
performance (Boey et al., 2017; Boyer, 2015; Degache et al., 2013; Giandolini et al., 2016;
Giandolini, Pavailler, Samozino, Morin, & Horvais, 2015; Kasmer, Liu, Roberts, &

43
Valadao, 2016; Larsen et al., 2016; Palmer & Eaton, 2014; Pizzuto, Rago, Bailey, Tafuri, &
Raiola, 2016; Vercruyssen et al., 2016; Yandell & Zelik, 2016).

Uma linha de pesquisa interessante está relacionada com o problema da


manutenção dos níveis de hidratação nestas provas. Estes estudos têm-se centrado nos
efeitos do consumo de diferentes tipos de bebidas na manutenção dos estados de
hidratação, da hiponatremia e da composição corporal, tanto em provas curtas (Lopez et
al., 2011, 2016; Tam, Nolte, & Noakes, 2011), ultra-maratonas (Chlíbková, Rosemann,
Posch, Matoušek, & Knechtle, 2016; Hoffman, Goulet, & Maughan, 2018; Hoffman &
Stuempfle, 2014), e até em provas de ultra-resistência de mais que um dia (Chlíbková,
Nikolaidis, Rosemann, Knechtle, & Bednář, 2018; Degache et al., 2014; Hue, Henri,
Baillot, Sinnapah, & Uzel, 2014). Os estudos indicam que há uma preocupação
generalizada por parte dos atletas na manutenção dos níveis de hidratação, o que pode,
inclusivamente, levar a estados hiponatrémicos.

Outra linha de investigação relevante para a corrida de trail é a do estudo da


prevalência de lesões (Boyer, 2015; Malliaropoulos, Mertyri, & Tsaklis, 2015). Neste
ponto, os problemas de visão são contabilizados como um dos fatores que levam a que
os participantes desistam das provas de ulta endurance, representando 0,7% das razões
para a desistência (Hoffman & Fogard, 2011).

Neste âmbito, e com o intuito de tentar perceber as razões para a perda ou as


dificuldades de visão durante uma ultramaratona, Høeg, Corrigan e Hoffman (2015)
encontraram 173 pessoas com histórico de perdas visuais significativas durante as
provas. Os participantes tinham sensivelmente a mesma tipologia de sintomas: a visão a
ficar progressivamente turva, até não conseguirem continuar a corrida, ficando a córnea
com um aspeto esbranquiçado. Estes sintomas desapareceriam 3.5 a 48 horas após o
término da prova. Destes, apenas 10 foram a uma consulta de oftalmologia, sendo que
em oito lhes foi diagnosticado edema corneal e dois sofreram de uma irritação fruto das
lentes de contacto. Ainda nesta dimensão de problemas Cope e Kropelnicki (2015),
apresentam um caso de um corredor que perdeu momentaneamente a visão devido ao
congelamento da córnea, algo que é comum que aconteça em provas de endurance em
ambientes muito frios.

44
2.9. Definição das hipóteses de estudo

Recuperamos aqui os objetivos deste estudo, para que procedamos ao


enquadramento das hipóteses. O principal objetivo deste estudo é analisar a importância
da informação visual na corrida de trail, nomeadamente ao nível da influência que o
nível de experiência dos atletas tem nas estratégias de busca visual, assim como a
influência da fadiga fisiológica neste processo.

A análise da informação visual necessária para o planeamento da corrida em


terreno acidentado permitirá perceber, portanto, como a perceção/leitura do terreno é
influenciada pelos constrangimentos individuais e da tarefa.

2.9.1. Hipóteses de estudo

Em concomitância com a problemática e os objetivos definidos, delinearam-se


as seguintes hipóteses de estudo:

Hipótese 1: “Os praticantes de corrida de trail experientes apresentam diferentes tempos


e número de fixações nas AOI que os praticantes não experientes”;

Hipótese 2: “As estratégias de busca visual dos praticantes experts são diferentes das
estratégias dos não experts”;

Hipótese 3: “Os praticantes de corrida de trail experientes apresentam mais variabilidade


nos padrões de movimentos dos olhos que os não experts”;

Hipótese 4: “Os praticantes de corrida de trail experientes apresentam mais variabilidade


nos padrões de fixações nas AOI do que os não experts”

Hipótese 5: “A instalação de um estado de fadiga provocado pela corrida de trail leva a


uma diminuição do número de fixações e ao aumento dos tempos de fixação”;

Hipótese 6: “A fadiga provocada pela corrida de trail faz diminuir a variabilidade dos
padrões de busca visual”.

45
2.9.2. Hipóteses estatísticas

Decorrente das hipóteses expressas, definiram-se as seguintes hipóteses


estatísticas:

H01: “Não existem diferenças estatisticamente significativas entre os praticantes


experientes e não experientes ao nível do número total de fixações nas AOI”.

H02: “Não existem diferenças estatisticamente significativas entre os praticantes


experientes e não experientes ao nível dos tempos e número de fixações nas AOI.

H03: “Não existem diferenças estatisticamente significativas entre os praticantes


experientes e não experientes ao nível dos valores de variabilidade dos movimentos
sacádicos e da amplitude das sacadas”.

H04: “Não existem diferenças estatisticamente significativas entre os praticantes


experientes e não experientes ao nível dos valores de entropia visual e da entropia de
transições de estado”.

H05: “Não existem diferenças estatisticamente significativas entre o estado de


repouso e o de fadiga, para os atletas experientes e não experientes, ao nível do número
total de fixações nas AOI”.

H06: “Não existem diferenças estatisticamente significativas entre o o estado de


repouso e o de fadiga, para os atletas experientes e não experientes ao nível dos tempos
e número de fixações nas AOI”.

H07: “Não existem diferenças estatisticamente significativas entre o estado de


repouso e o de fadiga, para os atletas experientes e não experientes ao nível dos valores
de variabilidade dos movimentos sacádicos e da amplitude das sacadas”.

H08: “Não existem diferenças estatisticamente significativas entre o estado de


repouso e o de fadiga, para os atletas experientes e não experientes ao nível dos valores
de entropia visual e da entropia de transições de estado”.

46
CAPÍTULO III

METODOLOGIA

Ancorámos este estudo no quadro conceptual teórico e no estado da arte


apresentado nos capítulos anteriores.

Após o enquadramento conceptual, onde foram apresentadas e discutidas


visões concorrentes sobre a forma como os movimentos são controlados, procurámos
perceber o papel da visão e do olhar neste processo e apresentámos as técnicas e
medidas mais utilizadas no escopo do nosso trabalho. Procurámos ainda perceber de
que forma a visão afeta a locomoção em terreno acidentado, transferindo estas noções
para a corrida de trail.

Com este percurso, tentámos estabelecer uma base conceptual teórica que nos
ajudasse e orientasse na contextualização e concretização do estudo empírico. Ao longo
deste capítulo procurámos caracterizar e justificar as opções metodológicas assumidas
no estudo.

Assim, é feita referência à tipologia do estudo, apresentam-se os participantes


sobre os quais incidiu a investigação e critérios que levaram à sua escolha, identificando
e caracterizando ainda as principais estratégias e instrumentos utilizados para a recolha
de dados e descrevendo, também, os processos de validação, recolha e tratamento dos
mesmos.

Pretende-se, assim, esclarecer sobre a forma como se construiu a estrutura


conceptual que suportou todo o estudo empírico.

3.1. Classificação do estudo

O estudo que se apresenta e a metodologia aplicada no mesmo teve por base o


método experimental.

47
3.2. Tipo de estudo

O estudo foi transversal, tendo contemplado a avaliação dos mesmos


parâmetros em duas ocasiões, tendo também analisado as diferenças entre duas
populações diferentes em cada uma das ocasiões.

3.3. Amostra

A amostra foi composta por 18 corredores de trail (37.89±5.73 anos) e foi


dividida em dois grupos de nove, sendo um grupo composto por atletas experientes,
com mais de cinco anos de prática e um mínimo de três corridas de trail longo ou ultra-
trail terminadas na última época desportiva e com uma média de idades de 38.89±6.30
anos. O segundo grupo era composto por praticantes recreativos, não federados, com
tempo de prática entre um e dois anos e uma corrida de trail longo terminada na última
época desportiva. A média de idades deste grupo era de 36.90±4.91 anos.

3.3.1. Mortalidade da Amostra

Após recolha e análise preliminar dos dados, foram eliminados da amostra três
participantes (dois não experts e um expert). A razão para esta decisão sustentou-se no
facto de os resultados das variáveis recolhidas através os ETG terem um “tracking ratio”
inferior a 90%. Não há, na literatura consultada, consenso quanto aos valores de corte
para este parâmetro, pelo que optámos por um valor muito conservador (Decroix et al.,
2017; Holmqvist et al., 2015; Vansteenkiste et al., 2017). As razões para os valores
baixos de “tracking ratio” deveram-se, no caso de dois participantes, à provável
interferência dos óculos que utilizaram para a corrida na captura proveniente do ETG.
No terceiro caso, as razões prenderam-se com o desajuste dos ETG à cabeça do
participante, que levou a que durante a corrida os ETG não assentassem perfeitamente, e
saltassem do devido lugar, o que levou a que não se conseguisse estabilizar a imagem e à
impossibilidade de codificar com fiabilidade os dados.

48
3.4. Consentimento informado

Apresentada a informação e os procedimentos de pesquisa, todos os


participantes procederam individualmente ao preenchimento da declaração de
consentimento livre e informado (cf. Apêndice 1), onde atestaram a sua adesão de forma
voluntária. A salvaguarda da privacidade, do anonimato, da confidencialidade e do uso
da imagem do participante apenas com o propósito da prossecução dos trabalhos de
investigação foram também contemplados pelo investigador e conformidade com a
Convenção de Oviedo e com a Declaração de Helsínquia.

3.5. Tarefa

Foram analisados os movimentos dos olhos, as fixações, os tempos de fixação e


o número de fixações nos AOI, com e sem fadiga, numa pista de corrida em terreno
acidentado. Foi ainda recolhida informação sobre a amplitude das sacadas. A pista tinha
21 de comprimento por 1 metro de largura (Figura 7). A pista foi construída em
aglomerado de madeira MDF hidrófugo com 19 milímetros de espessura, com módulos
de 1,5 metros de comprimento por 1 metro de largura e 25 centímetros de altura. Os
topos de cada módulo tinham 11 centímetros de altura, para que, ao encher de terra, não
se visse nem fosse sentido pelos participantes as transições de módulo. A pista foi ainda
pintada com tinta plástica, para conferir uma melhor resistência ao material de
enchimento.

O material de enchimento era composto por uma base de terra e pequenos


seixos. A pista era, portanto, composta por duas partes. A primeira apenas com terreno
acidentado de dificuldade baixa (12 metros), e a segunda (9 metros) de piso mais difícil
ou acidentado, com terreno composto por terra e pedras de diferentes dimensões e onde
os participantes podiam adotar diferentes comportamentos, como saltar, pisar ou
contornar (Figura 8).

49
Figura 7: Esquema da pista de testes.

Figura 8: Pista de testes utilizada: A – vista de pormenor da parte acidentada da pista; B – vista
geral da pista.

Solicitou-se a todos os participantes que corressem à velocidade máxima de


corrida auto-ajustada, por forma a simular uma situação de prática competitiva, e que, à
saída da pista, seguissem sempre pela esquerda.

50
3.6. Variáveis

A variáveis independentes são, segundo o modelo de Newell (1986), relativas ao


sujeito. Correspondentes aos constrangimentos individuais, são as relacionadas com o
nível de experiência do participante (expert ou não-expert) e com o seu nível de fadiga
(repouso ou fadiga).

No que diz respeito às variáveis dependentes que dizem respeito ao padrão de


visão do terreno, considerou-se o número e local de fixação do olhar dos participantes,
os tempos de fixação do olhar dos participantes nos pontos de interesse do percurso.
Consideraram-se ainda as coordenadas xx e yy referentes à posição do olhar no terreno,
em toda a série temporal da corrida e a amplitude das sacadas.

Ainda no domínio das variáveis dependentes, foram também analisadas


variáveis que permitiram caracterizar o impacto da prova de trail nos participantes,
nomeadamente a concentração de lactato sanguíneo, a massa corporal, a gordura
corporal total, a percentagem de gordura corporal, massa magra, massa livre de gordura,
a quantidade de água corporal, a percentagem de água corporal, a perceção subjetiva de
esforço e a prestação no teste de atenção distribuída.

3.7. Setup Experimental

A análise das variáveis e medidas contemplou o desenho de um setup


experimental composto pelo sistema SMI Eye tracking Glasses, que consiste em uns
óculos que monitorizam e gravam os movimentos pupilares, bem como a imagem visível
proveniente da visão central. As imagens foram gravadas a uma frequência de 60 Hz, em
linha com o estudo de Machado, et al., (2017) e superior a outros estudos na área do
estudo do comportamento visual em contextos desportivos (Decroix, et al., 2017;
Manzanares, et al., 2017)

A pista de corrida localizava-se no interior do pavilhão (Figura 7 e Figura 8),


assegurando desta forma condições similares de temperatura e luminosidade para todos

51
os participantes. Adicionalmente, foi colocada mais uma câmara de filmar, posicionada
frontalmente relativamente à pista, capturando imagens a uma frequência de 30 Hz.

Como requisito prévio para o início da participação de cada atleta, foi


disponibilizada toda a informação sobre os objetivos da investigação. Para tal, os
participantes foram informados que o objetivo da tarefa era correr na pista com
percurso acidentado e voltar no percurso plano 10 vezes, à velocidade máxima de
corrida auto-ajustada, ou seja, aquela que considerassem adequada para fazer o
percurso no menor tempo possível, sem que houvesse perigo de queda.

Os participantes foram igualmente informados que lhes seria oferecido no final


da prova uma fita de cabeça em tecido turco, da marca Artengo. As lembranças foram
oferecidas imediatamente após a recolha de dados referentes a cada participante.

3.8. Organização Experimental e Procedimentos

Esta investigação realizou-se no pavilhão coberto da Associação Cultural e


Recreativa de Anços, em Redinha, Pombal. As razões de escolha deste local prenderam-
se com a sua localização geográfica (N 39,983058o, -O 8,574220o), integrada numa zona
de corrida de trail (serra da Sicó), onde há com alguma frequência provas e treinos da
modalidade.

O facto de ser um espaço coberto permitiu controlar a luminosidade disponível


para a captura das imagens.

Todos os elementos participantes na pesquisa, investigadores e colaboradores


foram instruídos acerca da forma de atuar durante o período de recolha de dados.

O espaço de recolha de dados estava dividido entre uma sala e um pavilhão


cobertos, dando aos investigadores controlo sobre as condições climáticas e de
luminosidade. Na primeira sala, procedia-se à recolha de dados antropométricos, dos
valores de lactato, realizava-se o teste de atenção distribuída e aparelhava-se e
calibravam-se os ETG para cada participante.

52
3.8.1. Avaliação de lactato

A avaliação dos níveis de lactato foi feita com o analisador de campo Lactate pro
2. Foi adotado o seguinte procedimento:

1) escolheu-se o terceiro dígito dos participantes, que foi desinfetado com um


pedaço de algodão embebido em álcool a 97%;

2) esperou-se que o álcool evaporasse e, com o recurso a uma lanceta individual


esterilizada, foi feita uma picada no terceiro dígito do participante;

3) limpou-se a primeira gota de sangue com algodão seco;

4) retirou-se uma amostra de sangue diretamente para a tira de teste específica


do modelo de aparelho utilizado;

5) voltou a desinfetar-se o dedo, colocando-se de seguida um penso rápido.

Foi necessária a colaboração de um assistente para este processo.

3.8.2. Registo antropométrico e composição corporal

As medidas antropométricas e de composição corporal foram recolhidas pelo


investigador principal, recorrendo a um estadiómetro e a uma balança digital Tanita
(modelo BC-420 SMA). O registo dos valores foi estandardizado em todos os
participantes para a opção “athlete”. Recorreu-se a um colaborador para proceder ao
manuseio e registo dos valores obtidos na pesagem. À semelhança dos procedimentos
utilizados na literatura, as variáveis recolhidas foram: peso, % massa gorda, % massa
livre de gordura, % água, quantidade de massa gorda (kg), quantidade de massa livre de
gordura (Kg), quantidade total de água (kg). (Belinchon-deMiguel & Clemente-Suárez,
2018; Casa et al., 2010; Chlíbková, et al., 2016; Regulska-Ilow et al., 2014)

53
3.8.3. Teste de Atenção Distribuída

Recorreu-se ao Teste de Atenção Distribuída BAPCON, para avaliar a velocidade


e capacidade de diferenciação de múltiplos estímulos. O teste consiste na ordenação por
ordem crescente de 25 números (de 1 a 25), no menor tempo possível. Os algarismos
encontram-se dispostos aleatoriamente no ecrã táctil do computador e o participante
tinha de tocar no quadrado correspondente ao número, para proceder à ordenação. Foi
permitido aos participantes um ensaio de adaptação aos procedimentos, onde
organizaram por ordem crescente 9 algarismos. A aplicação do teste foi feita por um
colaborador devidamente treinado para o efeito.

3.8.4. Perceção Subjetiva de Esforço

Para avaliar o grau fadiga sentida pelos participantes, mediu-se a perceção


subjetiva do esforço recorrendo à escala de Borg Modificada no final do protocolo de
corrida, numa escala de 0 (nada cansativo - repouso) a 10 (extremamente cansativo –
esforço máximo).

3.8.5. Percurso de Indução de Fadiga

Foi desenhado um percurso de indução de fadiga em terreno acidentado,


recorrendo ao terreno adjacente ao local de recolha de dados. O percurso era circular,
com uma distância de 6.55 km e com 215 metros de desnível acumulado positivo (Figura
9). As coordenadas geográficas do início do percurso eram: N 39,983058o, -O 8,574220o.

54
Figura 9: Percurso de treino para indução da fadiga2.

Era requerido aos participantes que completassem 4 voltas, perfazendo o total de


26.2km e um desnível acumulado positivo de 860 metros (Figura 10), qualificando o
percurso como sendo de categoria 2 (3.3), de acordo com os parâmetros definidos pela
Associação de Trail Running de Portugal (ATRP, 2018).

Em termos de classificação internacional, e de acordo com a entidade


internacional que enquadra as provas de trail (International Trail Running Association),
esta prova não chegaria, contudo, a dar qualquer ponto ITRA. Apesar da distância e
declive acumulado serem suficientes para a atribuição de 1 ponto, o facto de ser uma
prova por voltas diminuir-lhe-ia o grau de dificuldade (ITRA, 2018).

A marcação do percurso foi feita com fita de plástico listada, vermelha e branca,
similar à tipicamente utilizada nas provas de trail. Adicionalmente, os participantes
tiveram acesso prévio a um ficheiro *.gpx com a marcação do percurso.

2Percurso criado pelo autor e disponível ao público em


https://drive.google.com/open?id=1Oz_keEsmva29p8o_VgEt7YGhRFVJGO23&usp=sharing

55
Figura 10: Gráfico de altimetria do percurso.

O abastecimento foi feito no final de cada volta, tendo sido fornecido aos
participantes água, frutos secos (amendoins, amêndoas, caju e arandos secos), fruta
(laranjas e bananas) e marmelada. A ingestão de alimentos ou bebidas durante a corrida
decorreu ad libitum.

As provas decorreram do dia 21 a 24 de julho 2017, com saídas na parte da


manhã, das 08h00 às 10h, e de tarde das 17h às 18h. Os valores de temperatura do ar
durante a prova situaram-se entre os 21o e os 35o, tendo estes valores sido registados
através de consulta através da aplicação informática METEO@ipma (IPMA, 2017).

3.8.6. Eye Tracking Glasses

Para a captura dos movimentos dos olhos foram utilizados os SMI ETG 2W um
sistema de rastreamento dos movimentos dos olhos que consiste nuns óculos que
monitorizam e gravam os movimentos dos olhos (Figura 11). É composto por 3 câmaras:
uma camara frontal e uma câmara para cada olho.

Na parte frontal dos óculos existe uma câmara (30 Hz) que regista a imagem
visível da visão central. No interior dos óculos existem LED infravermelhos binoculares
que incidem sobre a íris, circundando a pupila. As câmaras (60Hz) registam os
movimentos dos olhos e rastreiam a posição das pupilas a cada instante, permitindo
saber para onde o participante dirige o seu olhar.

56
Figura 11: Sistema de Eye Tracking Glasses utilizado para a recolha de dados provenientes dos
movimentos dos olhos, composto pelos óculos e por um smartphone destinado ao armazenamento
dos dados (Laboratório Robocorp – IIA – IPC).

O sistema grava o campo de visão correspondente à direção do olhar dos dois


olhos sobrepondo o ponto de convergência do olhar no cenário gravado através da
câmara frontal. Os erros de paralaxe são compensados de forma automática e tem uma
precisão de 0,5o para todas as distâncias, conforme descrito no manual de instruções do
aparelho (iViewETG User Guide, versão 2.0 de 2013).

3.8.7. Procedimentos

O processo de recolha de dados decorreu, para cada participante, em dois


momentos distintos, antes e após a indução de fadiga.

À chegada, os participantes eram recebidos pela equipa de investigação e


dirigidos aos balneários para se equiparem para a prova. Cada participante trouxe o seu
equipamento, tendo sido solicitado que corressem em regime de semi-autonomia.

De seguida, os participantes procediam ao preenchimento da declaração de


consentimento informado e eram informados sobre os objetivos e procedimentos de
pesquisa (cf. Apêndice 1).

Foram observados os seguintes procedimentos experimentais e instruções


verbais em ambas as situações:

57
1. Foram recolhidas as medidas antropométricas e de composição corporal,
concentração de lactato e aplicado o teste de atenção distribuída BAPCON na
sala destinada para o efeito;

2. Foi colocado nos participantes o material de recolha de dados: ETG e mochila,


contendo o smartphone para armazenamento dos dados;

3. Procedeu-se à calibração dos ETG, recorrendo ao método de calibração de 3


pontos. Os participantes colocavam-se em pé, a uma distância de 2,5 metros do
alvo de calibração, e fixavam o olhar nos alvos;

4. Conduziu-se o participante para a pista de testes, colocando-o na posição de


partida;

5. Foi dada a instrução verbal:

“Ao ouvir o som “beep”, faça o percurso delineado 10 vezes à


velocidade máxima que considerar adequada para o terreno. No final
de cada volta, volte sempre pelo lado esquerdo do percurso. Sempre
que entrar na pista, olhe inicialmente para a câmara que se encontra à
sua frente, no final da pista.”;

6. Após a primeira prova, sem fadiga instalada, era retirado aos participantes
todo o material de recolha de dados;

7. Dava-se início ao protocolo de indução de fadiga. Cada participante correu à


velocidade que considerou apropriada, tendo-lhes sido solicitado que
corressem à velocidade normal de corrida em prova e que procurassem não
baixar de ritmo entre cada volta;

8. Os participantes foram questionados sobre a sensação de esforço percebido


(Perceção Subjetiva de Esforço através da Escala de Borg Modificada)
imediatamente após o término do protocolo de indução de fadiga;

9. Em seguida, repetiu-se os procedimentos 1 a 5, anteriormente descritos.

Os ETG iniciavam a gravação logo após o momento da calibração. A


sincronização com a câmara de vídeo era feita através do som “beep”, proveniente de um

58
computador, que dava início ao teste. Deste modo, apenas um investigador foi
necessário para dar o início ao processo de recolha de dados em todos os aparelhos.

Durante a prova, foi pedido a todos os presentes que mantivessem silêncio,


mantendo a zona envolvente à pista de testes privada. O investigador principal foi
indicando ao participante o número total de voltas, bem como o número de voltas que
faltavam para completar a prova.

No final de cada volta, os participantes olhavam para câmara que se situava no


final da pista de corrida (a cerca de 25 metros de distância). Este olhar serviu para,
durante a análise dos dados, se procedesse a uma calibração offset do sistema, evitando
desta forma eventuais desvios de calibração decorrente de desajustes dos ETG
provocados pela corrida.

3.9. Tratamento dos Dados

3.9.1. Codificação dos dados do ETG

Foram definidas 5 Áreas de Interesse (AOI): i) Start – Zona inicial da pista de


testes; ii) Ground – Superfície irregular composta maioritariamente por terra, pequenos
seixos e ramos, dentro da pista de testes; iii) Rocks – Terreno composto por pedras com
tamanho suficiente para que o participante tivesse que as saltar ou pisar; iv) End – Zona
final da pista de testes; v) Out – zona adjacente à pista de testes, com uma largura de 2
metros para ambos os lados.

Foram também definidas 3 zonas de terreno: i) terra batida, sem obstáculos; ii)
terra batida, com pedras e obstáculos; iii) terreno plano, de cimento. A zona i era uma
zona de aproximação. A zona ii era a de interesse, onde os participantes teriam de
navegar o terreno contornando, saltando ou pisando as pedras. Por fim, a zona iii era de
retorno ao início da pista de testes.

O número e tempo de fixações em cada AOI foi contabilizado, codificado e


analisado recorrendo ao software BeGaze, versão 3.7, específico para o tratamento dos
dados provenientes do sistema de ETG. Os vídeos foram analisados recorrendo a uma

59
metodologia de análise por fixações. Esta opção metodológica foi sustentada na
evidência de que este método apresenta validade suficiente (correlação de Pearson de
0,930), quando comparado com a metodologia de análise por frame (Vansteenkiste,
Cardon, Philippaerts, & Lenoir, 2015). Esta opção de codificação é também
significativamente mais rápida.

Para a definição das fixações, foram utilizadas as predefinições do Software


BeGaze versão 3.7, que considerava como fixação uma sacada de duração igual ou
superior a 100 ms.

O registo das fixações foi feito recorrendo à funcionalidade “Semantic Gaze


Mapping” do software supramencionado. Foi utilizada uma imagem representativa do
percurso (Figura 12), retirada de um frame do percurso de um dos participantes, que
serviu como imagem de referência.

Figura 12: Imagem de referência utilizada para proceder à codificação dos dados provenientes dos
ETG.

Com o intuito de evitar a variabilidade inter-observador, os dados foram


classificados apenas pelo investigador principal. O processo de codificação obedeceu aos
seguintes procedimentos:

60
1. Identificação do momento de início da prova, coincidente com o “beep”
sonoro indicativo do início do teste, marcando o momento no software com a
anotação “START”;

2. Retrocesso do vídeo até ao momento da fixação no alvo que serviu de


referência para a calibração offset;

3. Calibração offset da fixação do participante;

4. Codificação da primeira volta das fixações em função das AOI, fazendo-a


coincidir com a área previamente definida na imagem de referência, através
do Semantic Gaze Mapping;

5. Ao chegar ao início da pista, repetição dos passos 3 e 4 para cada uma das
voltas feitas pelo participante;

6. No final do teste, anotar no software a marca “END”, que sinalizou o término


dos dados analisados;

7. Voltar ao ponto “START” e definir no campo anotações as zonas do terreno


(1, 2 e 3), com base no vídeo. Estas anotações foram feitas assumindo para a
primeira parte do código os valores de 1 a 3, correspondente à zona, e os
valores de 01 a 10 para a volta (e.g.: 1.01 - zona 1, volta 1; 2.01 – zona 2, volta
1; 3.10 – zona 3, volta 10, …).

Os resultados foram depois exportados em formato *.csv e preparados para


análise estatística.

3.9.2. Variabilidade intra-observador

Para verificar a variabilidade intra-observador, foram selecionados


aleatoriamente para análise os dados de 3 participantes (2 não-experts e 1 expert), que
foram novamente codificados, representando 10% da amostra válida. A fiabilidade foi
calculada através do Alfa de Cronbach para as fixações nos AOI, tendo os resultados
mostrado uma boa consistência interna, com valores de 0,98, 0,99 e 0,99 para cada
participante analisado.

61
Não houve a necessidade de verificar a fiabilidade dos dados obtidos para o
número e tempos de fixações devido ao facto de estes terem sido calculados
automaticamente através do algoritmo presente no software de análise utilizado, não
havendo, portanto, variabilidade.

3.9.3. Análise estatística linear

Numa primeira fase foi feita, para cada condição (repouso e fadiga), a
comparação entre os atletas experientes e não experientes ao nível dos indicadores de
composição corporal, de lactato sanguíneo, da perceção subjetiva de esforço e do teste
de atenção distribuída. Esta comparação foi feita através do teste t para amostras
independentes.

Para cada nível de prática (experts e não-experts), a comparação entre o pré e


pós prova de indução de fadiga ao nível dos indicadores de composição corporal, de
concentração de lactato sanguíneo, de perceção subjetiva de esforço e do teste de
atenção distribuída foi feita através do teste t para amostras emparelhadas.

Para cada condição, a comparação entre praticantes experts e não experts, ao


nível das variáveis respeitantes ao número e tempos de fixação nos AOI, da entropia
visual, da entropia de transições de estado e dos valores de variabilidade dos
movimentos dos olhos e da amplitude das sacadas foi efetuada recorrendo ao teste t
para amostras independentes.

Para cada nível de prática, a comparação entre o pré e pós prova de indução de
fadiga ao nível das variáveis acima descritas, foi feita recorrendo ao teste t para
amostras emparelhadas.

Todos os testes estatísticos acima referidos foram feitos após a validação dos
pressupostos de normalidade e homogeneidade. O pressuposto de normalidade para
cada uma das variáveis dependentes univariadas foi examinado utilizando o teste de
Kolmogorov-Smirnov, quando n ≥ 30. Quando o pressuposto da normalidade de cada
variável dependente não se verificou, considerando que n ≥ 30 e usando o Teorema do
Limite Central (Laureano, 2011; Marôco, 2010; Pestana & Gageiro, 2008) este
pressuposto foi assumido. No caso de as amostras serem inferiores a 30, o pressuposto

62
da normalidade foi averiguado usando o teste de Shapiro-Wilk (O’Donoghue, 2013) e de
Levene, para a igualdade de variâncias (Pallant, 2011). Se não se verificasse a
normalidade da distribuição da amostra, a simetria seria avaliada através da seguinte
equação (Ghasemi & Zahediasl, 2012):

A magnitude do efeito foi medida através do teste d de Cohen (d), tendo adotado
o critério apresentado na Tabela 3 (O’Donoghue, 2013; Sawilowsky, 2009).

Tabela 3 – Valores de referência para a interpretação da dimensão do efeito através do d de Cohen.

Dimensão do Efeito d
Muito pequena < 0,01
Pequena ]0,01; 0,20]
moderada ]0,20; 0,50]
grande ]0,50; 0,80]
Muito grande ]0,80; 1,20]
Enorme < 1,20;

A análise estatística foi feita com o Software IBM SPSS© (versão 25.0) para o
Microsoft Windows©, tendo sido definido um nível de significância de 5% (p<0,05).

3.9.4. Análise não linear

As técnicas não lineares utilizadas na análise dos dados foram a Entropia Visual,
a Entropia das Transições de Estado recorrendo às matrizes de transição de 1.ª ordem
de Markov e à Entropia de Shannon (Gilland, 2008; Holmqvist et al., 2015; Schieber &
Gilland, 2008), a Entropia Aproximada (ApEn), a Sample Entropy (SampEn), o Expoente
de Lyapunov (ExpLyap) e o Expoente de Hurst (Stergiou, 2016).

63
Foi utilizado o programa UPATO (Martins et al., 2018) para proceder à
computação das séries temporais utilizadas na análise não linear dos dados.

3.9.4.1. Entropia Visual

As transições entre as 5 AOI foram caracterizadas através do cálculo das


matrizes de frequência de transição de primeira ordem de p(de i para j), onde i
representa o AOI de origem e j representa o AOI de destino. Foram calculadas as
matrizes individualizadas para cada participante, em cada condição. Em seguida, para
perceber o grau de variabilidade dos padrões de fixação nos AOI, foi calculada a Entropia
de Shannon, tal como recomendado por diversos autores (Allsop & Gray, 2014;
Holmqvist et al., 2015; Schieber & Gilland, 2008).

Os valores de entropia foram depois relativizados em função do valor máximo


possível para cada participante, para que fosse possível efetuar comparações entre os
participantes e entre os grupos. Esta normalização consistiu na divisão do valor de
entropia obtido para cada sujeito pelo valor máximo de entropia que aquela série
temporal permitia. Com este procedimento, foi possível comparar os valores entropia de
diferentes participantes, uma vez que os valores só poderiam variar entre 0 e 1.

3.9.4.2. Entropia das transições de estado

A entropia das transições de estado foi calculada a partir das matrizes de


transição feitas para a entropia visual. Estas foram convertidas em matrizes de
probabilidade condicional de transição de p(j|i), correspondente a uma matriz de
Markov de 1.ª ordem, onde a probabilidade de fixar o AOI j é baseado na presente
fixação no AOI i. O comportamento visual foi posteriormente quantificado através da
Entropia de Shannon, de acordo com a seguinte fórmula:

64
Quando aplicada às matrizes de probabilidade de transição condicional, a
entropia indica a previsibilidade ou não do comportamento de um determinado
participante.

3.9.4.3. Entropia aproximada e Sample Entropy

Para o cálculo da entropia aproximada, usaram-se os valores reportados por


Dias et al. (2011) e em Couceiro et al. (2014). Assim, os valores de entropia aproximada
próximos de zero (0) indicam que o sinal/sistema tem grande regularidade, baixa
variabilidade e pouca complexidade. Valores próximos de 0,1 são característicos de
sinais/sistemas caóticos com alta variabilidade e complexidade (e.g., atractor de
Lorenz). Por fim, valores superiores a 1,5 caracterizam um sinal/sistema com grande
variabilidade, baixa complexidade e regularidade.

Não foram encontrados valores estandardizados para a Sample Entropy, pelo


que a análise feita a este indicador é meramente quantitativa.

3.9.4.4. Expoente de Lyapunov

O cálculo do expoente de Lyapunov abrangeu os valores obtidos por Harbourne


e Stergiou (2009). Neste sentido, valores próximos de zero (0) caracterizam um
sinal/sistema periódico com grande periodicidade e regularidade. Por sua vez, valores
próximos de 0,1 qualificam sinais/sistemas caóticos com grande variabilidade e
complexidade, sendo que, valores maiores ou iguais a 0,4 caracterizam um sistema com
pouca regularidade e grande variabilidade.

3.9.4.5. Expoente de Hurst

A determinação do expoente de Hurst foi feita de acordo com Stergiou (2016) e


Aştefănoaei et al. (2014). Os valores encontrados foram posteriormente analisados à luz
da interpretação que estes autores fizeram deste indicador. Assim, valores que se

65
aproximam de 0 são indicadores de uma correlação negativa, onde há tendência para
diminuição dos valores. Valores que se aproximam de 1 indicam uma correlação
positiva, onde há tendência de aumento dos valores ao longo da escala temporal. Valores
de 0,5 indicam que a série se comporta de forma aleatória.

66
CAPÍTULO IV

RESULTADOS

O presente capítulo apresenta os resultados de todas as medições efetuadas.


Está dividido em três partes: i) apresentação dos dados gerais valores obtidos
relativamente aos dados de caracterização dos dois grupos em estudo, bem como da
variação dos resultados após o percurso de indução de fadiga; ii) apresentação dos
resultados da análise estatística linear; iii) apresentação dos dados relativos à análise
não linear, recorrendo aos valores de Entropia Visual, da Entropia de Transições de
Estados, Entropia aproximada, Sample Entropy, Expoente de Lyapunov e Expoente de
Hurst.

4.1. Efeito da prova nos participantes

As Tabelas 4 e 5 apresentam a caracterização dos participantes, em termos de


composição corporal, antes e depois da prova. Quanto ao grupo dos experts, verificou-se
que a prova produziu alterações significativas relativamente à composição corporal dos
participantes em todas as variáveis analisadas, à exceção da quantidade de água
corporal total.

67
Tabela 4: Variação da composição corporal dos atletas experts por efeito da prova.
Variação
Pre Post t p d
(%)
Peso (Kg) 67,06 ± 2,85 65,18 ± 2,70 -2,88 8,596 0,000** 1,48
MG (%) 7,11 ± 1,09 5,88 ± 0,82 -1,23 3,686 0,006** 1.27
MG (Kg) 4,62 ± 0,56 3,71 ± 0,72 -24,55 4,385 0,002** 1,41
MLG (Kg) 62,43 ± 3,02 61,47 ± 2,82 -1,57 3,491 0,008** 0,33
MM (Kg) 59,67 ± 2,89 58,40 ± 2,69 -1,58 3,44 0,009** 0,45
TBW (Kg) 41,86 ± 1,86 41,33 ± 1,74 -1,26 1,873 0,098 0,29
TBW (%) 62,53 ± 0,73 63,42 ± 0,59 0,89 -2,595 0,032** 1,28
BM 3,11 ± 0,14 3,07 ± 0,13 -1,45 2,53 0,035** 0,3
Lactato (mmol/L) 5,34 ± 1,19 12,48 ± 2,05 133,7 -3,598 0,007** 4,26
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05). Legenda: MG – Massa Gorda; MLG – Massa Livre de
Gordura; MM – Massa Magra; TBW – Água Corporal Total; BM – Densidade Óssea

Relativamente aos não experts, verificou-se que houve menos variáveis com
alterações significativas por efeito da prova, bem como a magnitude destas diferenças
foi menor. Foram encontradas diferenças significativas ao nível da massa corporal (t=
6,025; p= 0,001; d= 0,45; dimensão do efeito moderada), da percentagem de massa
gorda (t= 3,145; p= 0,014; d= 0,68; dimensão do efeito grande) e da quantidade de
massa gorda (t= 3,471; p= 0,008; d= 0,97; dimensão de efeito muito grande).

Tabela 5: Variação da composição corporal dos atletas não experts por efeito da prova.

Variação
Pre Post t p d
(%)

Peso (Kg) 75,53 ± 3,33 74,08 ± 3,13 -1,96 6,025 0,001** 0,45

MG (%) 12,62 ± 2,07 11,26 ± 1,90 -1,37 3,142 0,014** 0,68


MG (Kg) 9,39 ± 1,31 8,20 ± 1,15 -12,14 3,471 0,008** 0,97
MLG (Kg) 66,14 ± 3,47 65,88 ± 3,29 -0,40 0,84 0,425 0,07
MM (Kg) 62,87 ± 3,31 62,62 ± 3,14 -0,39 0,806 0,444 0,08
TBW (Kg) 44,78 ± 2,19 44,89 ± 2,23 0,24 -0,311 0,763 0,05
TBW (%) 59,24 ± 1,27 60,09 ± 1,16 0,84 -2,158 0,063 0,7
BM 3,28 ± 0,16 3,26 ± 0,15 -0,68 1,000 0,347 0,13
Lactato (mmol/L) 4,51 ± 1,27 13,21 ± 2,24 192,9 -2,871 0,021** 4,78
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05). Legenda: MG – Massa Gorda; MLG – Massa Livre de
Gordura; MM – Massa Magra; TBW – Água Corporal Total; BM – Densidade Óssea

68
As tabelas 4 e 5 mostram ainda, na última linha de cada, a evolução da
concentração de lactato sanguíneo. Verificamos que houve acumulação significativa de
lactato em ambos os grupos [(experts: t= -3,598; p= 0,007; d= 4,26; dimensão do efeito
enorme); (não experts: t= -2,871; p= 0,021; d= 4,78; dimensão do efeito enorme)].

No que diz respeito às diferenças entre os grupos à partida (Tabela 6) as


principais diferenças significativas encontravam-se ao nível da percentagem de massa
gorda (t= 2,356; p= 0,036; d= 3,33; dimensão do efeito enorme), da massa gorda (t=
3,345; p= 0,004; d= 4,73; dimensão do efeito enorme) e na percentagem de água
corporal total (t= -2,237; p= 0,044; d= 3,18; dimensão do efeito enorme).

Apesar da inexistência de diferenças entre grupos ao nível da concentração de


lactato sanguíneo (Tabela 6 e 7), é de salientar os valores elevados de lactato sanguíneo
apresentados por ambos os grupos, em ambas as situações. Em termos globais, e à
exceção de um atleta não expert, todos os participantes manifestaram uma variação
positiva dos valores de concentração de lactato sanguíneo (Figura 13). Ao dividir os
resultados por grupo, verificamos que os experts tiveram uma variação nominal positiva
de 7,14 mmol/L (133,7%), enquanto os atletas não experts variaram positivamente em
8,70 mmol/L (192,9%).

Figura 13: Variação individual da concentração de lactato em atletas experts e não experts.

69
Tabela 6: Comparação dos parâmetros da composição corporal de atletas experts e não experts na
condição de repouso.

Repouso

Experts Não Experts t p d

Peso (Kg) 67,06 ± 2,85 75,53 ± 3,33 1,931 0,071 2,73


MG (%) 7,11 ± 1,09 12,62 ± 2,07 2,356 0,036** 3,33
MG (Kg) 4,62 ± 0,56 9,39 ± 1,31 3,345 0,004** 4,73
MLG (Kg) 62,43 ± 3,02 66,14 ± 3,47 0,807 0,432 1,14
MM (Kg) 59,67 ± 2,89 62,87 ± 3,31 0,808 0,431 1,03
TBW (Kg) 41,86 ± 1,86 44,78 ± 2,19 1,018 0,324 1,44
TBW (%) 62,53 ± 0,73 59,24 ± 1,27 -2,237 0,044** 3,18
BM 3,11 ± 0,14 3,28 ± 0,16 0,788 0,442 1,13
Lactato (mmol/L) 5,34 ± 1,19 4,51 ± 1,27 -0,552 0,589 0,67
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05). Legenda: MG – Massa Gorda; MLG – Massa Livre
de Gordura; MM – Massa Magra; TBW – Água Corporal Total; BM – Densidade Óssea

A prova aumentou as diferenças entre os grupos de participantes (cf. Tabela 7).


Para além da manutenção das diferenças existentes à partida, verificámos que houve
ainda diferenças significativas no que à massa corporal diz respeito (t= 2,152; p= 0,047;
d= 3,04; dimensão do efeito enorme).

Tabela 7: Comparação dos parâmetros da composição corporal de atletas experts e não experts na
condição de fadiga.

Fadiga

Experts Não-Experts t p d

Peso (Kg) 65,18 ± 2,70 74,08 ± 3,13 2,152 0,047** 3,04


MG (%) 5,88 ± 0,82 11,26 ± 1,90 2,601 0,025** 3,68
MG (Kg) 3,71 ± 0,72 8,20 ± 1,15 3,708 0,002** 4,68
MLG (Kg) 61,47 ± 2,82 65,88 ± 3,29 1,017 0,325 1,44
MM (Kg) 58,40 ± 2,69 62,62 ± 3,14 1,02 0,323 1,44
TBW (Kg) 41,33 ± 1,74 44,89 ± 2,23 1,255 0,228 1,78
TBW (%) 63,42 ± 0,59 60,09 ± 1,16 -2,56 0,025** 3,62
BM 3,07 ± 0,13 3,26 ± 0,15 0,851 0,356 1,21
Lactato (mmol/L) 12,48 ± 2,05 13,21 ± 2,24 -0,368 0,718 0,34
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05). Legenda: MG – Massa Gorda; MLG – Massa Livre
de Gordura; MM – Massa Magra; TBW – Água Corporal Total; BM – Densidade Óssea

70
A Tabela 8 apresenta os valores da média da distância total percorrida e ritmo
médio (pace) durante a prova. De notar que os atletas pertencentes ao grupo dos experts
foram mais rápidos do que os não experts.

Tabela 8: Média e Desvio Padrão da distância total percorrida, ritmo, e Perceção Subjetiva de
Esforço dos atletas no percurso de trail.

Percepção
Distância Pace
subjetiva de
(km) (min/km) Esforço
Non-experts 22,86 ± 3,29 7'37''±1'27'' 8,89 ± 1,17
Experts 26,76 ± 0,55 5'09'' ± 0'31'' 6,77 ± 0,97

Os atletas não experts percecionaram a prova como sendo mais cansativa, tendo
inclusivamente um atleta desistido ao final da terceira volta. Isto não impediu a sua
inclusão no estudo, uma vez que o objetivo primordial era a instalação de um estado de
fadiga central, algo que foi atingido.

4.2. Teste de Atenção Distribuída

Os atletas experts foram, em média, mais lentos do que os não experts na


concretização da tarefa, tanto antes como após a prova (Tabela 9). Não foram, contudo,
encontradas diferenças estatisticamente significativas que sustentassem esta evidência.

Tabela 9: valores médios obtidos pelos atletas no teste de atenção distribuída.

Não-experts Experts
PRÉ PÓS PRÉ PÓS
Tempo total 41,22 ± 3,87 36,78 ± 2,72 47,33 ± 6,02 39,78 ±5,04
Média / estímulo 1,65 ± 0,16 1,47 ± 0,11 1,89 ± 0,72 1,59 ± 0,20

Decorrente da análise desta tabela, importa notar que, embora também sem
evidência estatística, os atletas foram globalmente mais rápidos no pós-teste.

71
Figura 14: Variação dos valores obtidos pelos participantes no teste de atenção distribuída.

A Figura 14 apresenta a variação individual dos valores médios por estímulo


obtidos pelos participantes no teste de atenção distribuída. Verificamos que, houve
apenas dois não-experts e dois experts a serem mais lentos no teste.

4.3. Análise qualitativa ao olhar na corrida

Relativamente à velocidade de corrida na pista de testes, as velocidades médias


foram similares durante a condição de repouso. Os participantes não-experts
completaram as 10 voltas na pista a uma velocidade média de 11,57±0,86 km/h,
enquanto que os atletas experts foram ligeiramente mais rápidos (12,85 ± 1,52 km/h).
Apesar da diferença, não houve diferenças estatisticamente significativas.

Contudo, na condição de fadiga os corredores experts foram significativamente


mais rápidos que os não-experts (t= -3,141, p= 0,05, d= 1,65; dimensão do efeito
enorme), tendo os primeiros percorrido o percurso à velocidade de 12,94 ± 1,07 e os
segundos a 10,40 ± 1,89 km/h.

72
Tabela 10: Comparação entre grupos do número médio de fixações por AOI e por volta, em ambas
as condições.

AOI Não-experts Experts t p d


Ground 10,17 ± 2,36 7,00 ± 2,09 2,739 0,018** 1,42
Rock 4,20 ± 1,43 3,04 ± 1,11 1,742 0,109 0,91
Repouso End 0,87 ± 0,67 0,90 ± 0,74 -0,078 0,939 0,01
Out 0,29 ± 0,39 0,003 ± 0,004 2,043 0,062* 1,04
Total 15,53 ± 2,97 10,97 ± 2,89 3,01 0,010** 1,56
Ground 9,04 ± 3,28 5,04 ± 1,65 2,923 0,018** 1,55
Rock 4,89 ± 1,39 4,20 ± 1,37 0,96 0,355 0,50
Fadiga End 0,55 ± 0,65 1,55 ± 1,37 -2,171 0,052* 0,93
Out 0,01 ± 0,01 0,36 ± 0,43 -2,124 0,053* 1,15
Total 14,47 ± 4,45 11,16 ± 2,28 1,854 0,087* 0,94
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05). Tendência para uma diferença significativa (p<0,10)
indicadas com *.

Foram encontradas diferenças significativas entre experts e não-experts no


número de total de fixações (t= 3,010, p= 0,010, d= 1,56; dimensão do efeito enorme),
para a condição de repouso (Tabela 10). Foram ainda encontradas diferenças na
condição de fadiga (t= 2,923, p= 0,018, d= 1,54; dimensão do efeito enorme) e repouso
(t= 2,739, p= 0,018, d= 1,42; dimensão do efeito enorme) para o número de fixações no
terreno acidentado. Quanto à duração das fixações, não foram encontradas diferenças
significativas (Tabela 11).

73
Tabela 11: Duração média das fixações (em segundos) por AOI, para ambos os grupos e em ambas
as condições.

AOI Não-experts Experts t p D


Ground 0,18 ± 0,01 0,16 ± 0,007 1,194 0,259 2,32
Rock 0,17 ± 0,007 0,15 ± 0,008 1,601 0,133 2,66
Repouso End 0,16 ± 0,04 0,14 ± 0,005 0,578 0,573 4,42
Out 0,19 ± 0,05 0,11 ± 0,02 1,256 0,239 2,10
Total 0,14 ± 0,02 0,13 ± 0,01 0,608 0,559 0,63
Ground 0,17 ± 0,01 0,15 ± 0,002 1,257 0,231 2,77
Rock 0,17 ± 0,01 0,16 ± 0,009 0,45 0,661 1,05
Fadiga End 0,09 ± 0,03 0,15 ± 0,005 -1,863 0,085* 2,79
Out 0,14 ± 0,01 0,15 ± 0,03 -0,292 0,775 0,45
Total 0,12 ± 0,03 0,11 ± 0,03 0,303 0,767 0,33
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05). Tendência para uma diferença significativa (p<0,10)
indicadas com *.

No que diz respeito à análise em função da condição de fadiga para cada grupo,
não foram encontradas diferenças significativas, conforme se pode verificar através da
Tabela 12.

Tabela 12: Comparação entre grupos, do número médio de fixações por AOI em ambas a condições.

AOI Repouso Fadiga t p d


Ground 10,17 ± 2,36 9,04 ± 3,28 1,046 0,336 0,40
Rock 4,20 ± 1,43 4,89 ± 1,39 -1,499 0,185 0,49
Não-Experts End 0,87 ± 0,67 0,55 ± 0,65 1,418 0,206 0,52
Out 0,29 ± 0,39 0,01 ± 0,01 1,923 0,103 1,01
Total 15,53 ± 2,97 14,47 ± 4,45 0,837 0,435 0,28
Ground 7,00 ± 2,09 5,04 ± 1,65 2,112 0,073* 1,04
Rock 3,04 ± 1,11 4,20 ± 1,37 -1,524 0,171 0,93
Experts End 0,90 ± 0,74 1,55 ± 1,37 -1,211 0,265 0,59
Out 0,003 ± 0,004 0,36 ± 0,43 -2,331 0,053* 1,17
Total 10,97 ± 2,89 11,16 ± 2,28 -0,146 0,888 0,07
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05). Tendência para uma diferença significativa (p<0,10)
indicadas com *.

74
A amplitude das sacadas foi também estudada. Estas representam a amplitude
do movimento dos olhos, estando intimamente associadas aos comportamentos de
busca por informação no meio ambiente. As figuras 15 e 16 representam a distribuição
típica da amplitude das sacadas feitas durante a corrida na pista para os participantes
experts e não-experts. Estas são as representações dos atletas 5 e 14, respetivamente.

Figura 15: Padrão de amplitudes das sacadas (em graus) do participante número 5, não-expert, ao
longo da pista, nas duas condições de prática.

É de salientar que as amplitudes sacádicas dos atletas não-experts parecem ser


de maior dimensão, quando comparadas com as dos experts. Ao analisar a Figura 15,
verificamos que parece haver uma estabilização da amplitude das sacadas com o tempo,
indicando uma tendência de diminuição deste parâmetro. Ainda nesta figura, importa
salientar a aparente redução do número e magnitude dos “picos” de amplitude, facto
mais visível na condição de fadiga.

Este aparente comportamento é mais visível nos atletas experts. Os valores de


amplitude das sacadas parecem manter-se altos, particularmente quando os atletas se
encontram cansados e no início do teste. Ainda assim, pode verificar-se uma aparente
diferença de magnitude da amplitude das sacadas a favor da condição de repouso.

75
Figura 16: Padrão de amplitudes das sacadas (em graus) do participante número 14, expert, ao
longo da pista, nas duas condições de prática.

A inspeção visual aos mapas de calor correspondentes ao padrão dos


movimentos sacádicos dos participantes em torno do eixo xx e yy permite verificar um
padrão que denota uma manifesta redução da variabilidade dos movimentos dos olhos
da condição de repouso para a de fadiga, conforme podemos verificar através da
comparação da Figura 17 e Figura 18.

Figura 17: Heat map das sacadas do participante número 5, não-expert, na condição de repouso.

76
Figura 18: Heat map das sacadas do participante número 5, não-expert na condição de fadiga.

O mesmo se verifica para os participantes experts, embora com uma magnitude


inferior, conforme podemos verificar pelas Figuras 19 e 20. Os restantes mapas de calor
encontram-se presentes e disponíveis para consulta no Apêndice 2 deste trabalho.

Figura 19: Heat map das sacadas do participante número 14, expert na condição de repouso.

77
Figura 20: Heat map das sacadas do participante número 14, expert na condição de fadiga.

A análise estatística ao comportamento da amplitude das sacadas não revelou


diferenças estatisticamente significativas entre grupos, tanto na condição de repouso
como na de fadiga. A variação destes valores por efeito da fadiga induzida pelo percurso
de corrida foi significativa tanto para os grupo de atletas não-experts (t= 2,518, p=
0,045, d= 2,79; dimensão do efeito enorme) como para os experts (t= 3,777, P= 0,007, d=
3,97; dimensão do efeito enorme), conforme podemos verificar através da análise das
Tabelas 13 e 14.

Tabela 13: Comparação entre grupos para a amplitude das sacadas.

Experts Não-experts t p d
AmpSacc_REST 4,497 ± 0,142 4,580 ± 0,274 0,474 0,644 0,38
AmpSacc_Fatigue 5,233 ± 0,220 5,366 ± 0,289 0,254 0,722 0,51
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05).

Tabela 14: Comparação dentro dos grupos para a amplitude das sacadas.

Repouso Fadiga t p d
AmpSacc_EXPERTS 4,497 ± 0,142 5,233 ± 0,220 -3,777 0,007** 3,97
AmpSacc_NON-EXPERTS 4,580 ± 0,274 5,366 ± 0,289 -2,518 0,045** 2,79
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05).

78
4.4. Análise não linear

A análise não linear dos dados permitiu-nos perceber melhor o grau de


variabilidade dos padrões de fixações e dos movimentos dos olhos, em termos
quantitativos. Nesta parte do trabalho apresentam-se os valores referentes à Entropia
Visual, à Entropia das Transições de Estados, da Entropia Aproximada, da Sample
Entropy, do Expoente de Lyapunov e do Expoente de Hurst de cada atleta, divididos
pelas categorias e condições definidas para o estudo. Posteriormente, procede-se à
análise estatística dos valores dentro e entre os grupos, por forma a perceber as
diferenças entre níveis de prática e a influência dos constrangimentos em estudo.

Os valores de entropia encontrados para a variabilidade dos padrões de fixações


em experts e não-experts encontram-se representados na Figura 21. Os valores médios,
para os atletas não-experts, são de 0,13 tanto na condição de repouso como na de fadiga.
Para os experts, os valores de entropia foram superiores em ambas as condições, sendo
0,15 e 0,19, respetivamente.

Figura 21: Variação individual da entropia em atletas experts e não-experts, antes e depois do
percurso de indução de fadiga.

A Figura 22 mostra a distribuição por volta dos valores de entropia visual para as
fixações dos participantes. Como podemos verificar, os valores parecem ser
relativamente constantes ao longo das 10 voltas que compuseram o teste.

79
Figura 22: Variação individual da entropia por volta, para cada grupo e condição de prática.

Apesar da diferença nos valores médios, foi apenas encontrada evidência


estatística na condição de fadiga (t=- 3,383, p= 0,007, d= 4,78; dimensão do efeito
enorme), ou seja, após o término do percurso de indução de fadiga (Tabela 15).

Tabela 15: Comparação entre grupos, da entropia visual, na condição de repouso e de fadiga.

Experts Não-experts t p d
REST Sh_Entropy 0,1567 ± 0,017 0,1361 ± 0,015 0,920 0,374 1,30
FATIGUE Sh_entropy 0,1956 ± 0,016 0,1347 ± 0,008 3,383 0,007 ** 4,78
REST Trans_State_Entropy 1,3284 ± 0,084 1,2945 ± 0,116 0,236 0,817 0,33
FATIGUE Trans_State_Entropy 1,2655 ± 0,062 1,2114 ± 0,070 0,577 0,572 0,82
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05).

No que diz respeito à análise intra-individual, não foi encontrada qualquer


diferença significativa que comprovasse o efeito da fadiga nos valores de entropia
apresentados em ambos os grupos, conforme se pode verificar através da análise da
Tabela 16.

80
Tabela 16: Comparação dentro dos grupos, da entropia visual, na condição de repouso e de fadiga.

Repouso Fadiga t p d
EXPERTS Sh_Entropy 0,1567 ± 0,017 0,1950 ± 0,016 -1,784 0,118 2,36
NON-EXP Sh_entropy 0,1361 ± 0,015 0,1347 ± 0,008 0,144 0,890 0,10
EXPERTS Trans_State_Entropy 1,3284 ± 0,084 1,2655 ± 0,062 0,548 0,601 0,85
NON-EXP Trans_State_Entropy 1,2945 ± 0,116 1,2114 ± 0,070 0,736 0,489 0,87
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05).

A Figura 23 apresenta os valores de entropia nos dois eixos, antes e depois do


percurso de indução de fadiga, para os atletas experts e não-experts. A inspeção visual à
figura indica uma aparente diferença na dispersão dos valores de entropia entre os
grupos e dentro dos mesmos, particularmente no grupo de experts.

Figura 23: Valores da Sample Entropy nos eixos x e y antes e depois do percurso de indução de
fadiga, em atletas experts e não experts.

81
Esta aparente dispersão dos valores de entropia parece ser mais significativa
nos experts em fadiga, indicando que o comportamento visual dos atletas nestas
condições é mais variável. Contrariamente, os valores de entropia dos atletas não experts
parecem manter-se estáveis ou, particularmente para o eixo dos yy, convergir para
valores ligeiramente acima de um, indicando uma certa homogeneidade nos padrões de
movimentos dos olhos dos atletas.

O teste t de comparação dos valores de entropia comprova a existência de


diferenças significativas entre experts e não-experts para o eixo dos xx na condição de
repouso, com uma dimensão do efeito muito grande (t= -4.180, p= 0,001, d= 6,07;
dimensão do efeito enorme), conforme podemos verificar através da análise da Tabela
17.

Tabela 17: Comparação dos valores médios e diferenças entre grupos dos valores entropia e
expoente de Lyapunov referentes às coordenadas xx e yy dos movimentos dos olhos, ao nível
análise não linear feita às sacadas, na condição de repouso.

Repouso
Experts Não-experts t p d
SampEn_x 1,322 ± 0,039 1,108 ± 0,031 -4,180 0,001 ** 6,07
SampEn_y 1,268 ± 0,035 1,223 ± 0,035 -0,913 0,363 1,29
Exp_Lyap_x 0,049 ± 0,002 0,037 ± 0,003 -3,283 0,001 ** 4,71
Exp_Lyap_y 0,045 ± 0,002 0,035 ± 0,002 -3,203 0,002 ** 5,00
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05).

A tabela supra apresenta ainda os valores referentes às diferenças entre grupos


para o Expoente de Lyapunov, onde foram encontradas também diferenças
significativas, com uma magnitude do efeito muito grande tanto para o eixo dos xx (t= -
3,283, p= 0,001, d= 4,71; dimensão do efeito enorme) como para o eixo dos yy (t= -
3,203, p= 0,002, d= 5,00; dimensão do efeito enorme).

A Tabela 18 mostra que estas diferenças se mantêm na condição de fadiga, com


significância estatística no eixo dos xx (t=-5,920, p=0,001, d= 9,41; dimensão do efeito
enorme) e no eixo dos yy (t=-5,410, p=0,001, d=7,00; dimensão do efeito enorme). Pelo
contrário, não foram encontradas diferenças entre os grupos para os valores de entropia
quando os mesmos se encontram em estado de fadiga.

82
Tabela 18: Comparação dos valores médios e diferenças entre grupos, ao nível da Sample Entropy
e do expoente de Lyapunov referentes às coordenadas xx e yy dos movimentos dos olhos na
condição de Fadiga.

Fadiga
Experts Não-experts t p d
SampEn_x 1,085 ± 0,063 1,071 ± 0,029 -0,260 0,796 0,28
SampEn_y 1,025 ± 0,070 1,106 ± 0,029 0,989 0,324 1,51
Exp_Lyap_x 0,052 ± 0,002 0,028 ± 0,003 -5,920 0,001 ** 9,41
Exp_Lyap_y 0,049 ± 0,003 0,028 ± 0,003 -5,410 0,001 ** 7,00
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05).

Relativamente à comparação intra-individual, verificamos que os atletas experts


(Tabela 19) apresentaram menor variabilidade nos movimentos sacádicos depois do
percurso de indução de fadiga, tanto no eixo dos xx (t= -3,149, p= 0,002, d= 4,41;
dimensão do efeito enorme) como no eixo dos yy (t= -2,836, p= 0,006, d= 4,36; dimensão
do efeito enorme), denotando um comportamento mais regular. O mesmo não se verifica
totalmente para o grupo de atletas não-experts, conforme podemos verificar através da
análise da Tabela 20. Apesar da redução da variabilidade dos movimentos sacádicos ter
sido observada em ambos os eixos, houve apenas significância estatística no eixo dos yy
(t= -3,411, p= 0,001, d= 5,82; dimensão do efeito enorme).

Tabela 19: Comparação dos valores entropia e expoente de Lyapunov referentes às coordenadas
xx e yy dos movimentos dos olhos dos atletas experts, antes e depois do percurso de indução de
fadiga.

Experts
Repouso Fadiga t p d
SampEn_x 1,322 ± 0,039 1,091 ± 0,063 -3,149 0,002** 4,41
SampEn_y 1,268 ± 0,035 1,024 ± 0,071 -2,836 0,006** 4,36
Exp_Lyap_x 0,049 ± 0,002 0,052 ± 0,002 1,168 0,246 1,50
Exp_Lyap_y 0,045 ± 0,002 0,049 ± 0,003 1,620 0,109 1,57
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05).

Ainda no que se refere aos resultados provenientes da análise não linear, é de


salientar que apenas os atletas não-experts mostraram diferenças nos valores do

83
expoente de Lyapunov. A influência da fadiga no comportamento deste indicador teve,
em termos nominais, direções opostas, subindo o seu valor médio nos experts e
diminuindo significativamente para os não-experts , tanto para o eixo dos xx (t= -3,595,
p= 0,012, d= 3,00; dimensão do efeito enorme) como dos yy (t= -2,181, p= 0,033, d=
2,33; dimensão do efeito enorme), conforme podemos comprovar nas tabelas 19 e 20.

Tabela 20: Comparação dos valores entropia e expoente de Lyapunov referentes às coordenadas
xx e yy dos movimentos dos olhos dos atletas não experts, antes e depois do percurso de indução
de fadiga.

Não-experts
Repouso Fadiga t p d
SampEn_x 1,119 ± 0,032 1,071 ± 0,029 -1,605 0,113 1,57
SampEn_y 1,293 ± 0,035 1,106 ± 0,029 -3,411 0,001** 5,82
Exp_Lyap_x 0,037 ± 0,003 0,028 ± 0,003 -2,595 0,012** 3,00
Exp_Lyap_y 0,035 ± 0,003 0,028 ± 0,003 -2,181 0,033** 2,33
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05).

Quanto aos valores referentes à amplitude das sacadas dos participantes, a


análise da entropia revelou diferenças significativas no grupo dos experts apenas para a
entropia aproximada (t= -2,626, p= 0,034, d= 3,71; dimensão do efeito enorme). De
salientar também que, apesar de sem significância estatística, os valores da Sample
Entropy manifestam uma tendência para a diferença (t= 2,327; p= 0,053, d= 0,72;
dimensão do efeito grande) (Tabela 21). No entanto, enquanto que a primeira aponta
para uma maior entropia na condição de fadiga, a última indica que é na condição de
repouso que os valores de entropia são superiores.

84
Tabela 21: Comparação dos valores da análise não linear referente à análise do efeito da fadiga na
amplitude das sacadas em experts.

Experts
Repouso Fadiga t p d
SacAmp_ApEn 0,592 ± 0,075 0,861 ± 0,070 -2,626 0,034** 3,71
SacAmp _SampEn 2,455 ± 0,718 2,073 ± 0,200 2,327 0,053* 0,72
SacAmp_LyapExp 0,021 ± 0,005 0,025 ± 0,005 -0,486 0,642 0,80
SacAmp_HurstExp 0,527 ± 0,035 0,572 ± 0,036 -1,132 0,295 1,27
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05). Tendência para uma diferença significativa (p<0,10)
indicadas com *.

Não foram encontradas quaisquer diferenças estatisticamente significativas nos


valores resultantes da análise não linear da amplitude das sacadas dos não-experts,
conforme podemos verificar na Tabela 22.

Tabela 22: Comparação dos valores da análise não linear referente à análise do efeito da fadiga na
amplitude das sacadas em não-experts.

Não-experts
Repouso Fadiga t p d
SacAmp_ApEn 0,829 ± 0,109 0,763 ± 0,096 0,662 0,533 0,65
SacAmp _SamEn 2,089± 0,170 1,947 ± 0,356 0,524 0,619 0,56
SacAmp_LyapExp 0,032 ± 0,009 0,032 ± 0,006 0,052 0,960 0,00
SacAmp_HurstExp 0,637 ± 0,032 0,611 ± 0,031 0,912 0,397 0,82
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05).

A comparação entre experts e não-experts, para a amplitude das sacadas


comprovou a existência de diferenças significativas ao nível do expoente de Hurst. Neste
caso, foram os atletas não-experts que apresentam uma maior tendência de dispersão
(Tabela23).

85
Tabela 23: Comparação entre grupos dos valores da análise não linear referente ao padrão da
amplitude das sacadas na condição de repouso.

Repouso
Experts Non-experts t p d
SacAmp_ApEn 0,592 ± 0,075 0,829 ± 0,109 1,802 0,099 * 2,53
SacAmp _SamEn 2,455 ± 0,718 2,089± 0,170 -1,192 0,256 0,72
SacAmp_LyapExp 0,021 ± 0,005 0,032 ± 0,009 1,064 0,316 1,51
SacAmp_HurstExp 0,527 ± 0,035 0,637 ± 0,032 2,303 0,038** 3,28
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05). Tendência para uma diferença significativa
(p<0,10) indicadas com *.

Esta tendência de dispersão apenas se verifica, contudo, na condição de


repouso.

Tabela 24: Comparação entre grupos dos valores da análise não linear referente ao padrão da
amplitude das sacadas na condição de fadiga.

Fadiga
Experts Non-experts t p d
SacAmp_ApEn 0,861 ± 0,070 0,763 ± 0,096 -0,827 0,425 1,44
SacAmp _SamEn 2,073 ± 0,200 1,947 ± 0,356 -0,307 0,765 0.50
SacAmp_LyapExp 0,025 ± 0,005 0,032 ± 0,006 0,902 0,385 1,98
SacAmp_HurstExp 0,572 ± 0,036 0,611 ± 0,031 0,803 0,437 1,16
Diferenças significativas indicadas com **(p<0,05).

Os restantes parâmetros não mostraram quaisquer diferenças estatisticamente


significativas. Experts e não-experts não apresentam diferenças significativas ao nível da
estabilidade e variabilidade dos padrões de variação da amplitude das sacadas (Tabela
24).

86
CAPÍTULO V

DISCUSSÃO

O presente capítulo visa discutir os resultados obtidos, estando dividido em


quatro partes. Na primeira parte são analisados os dados que decorrem da prova de
indução um estado de fadiga nos participantes, no sentido de tentar perceber se, de
facto, houve instalação de fadiga nos participantes que pudesse influenciar a
performance dos mesmos na pista de testes. Em seguida, discutem-se os resultados
provenientes da análise linear feita aos tempos e números de fixações que os atletas
apresentaram no decurso dos testes, comparando-os entre grupos e dentro dos grupos,
entre o teste antes da prova de fadiga e depois da mesma. A terceira parte desta
discussão centra-se na discussão da análise não linear efetuada, onde serão analisados
os valores de entropia nos padrões de movimentos dos olhos durante a corrida em
terreno acidentado. Por fim, a quarta parte centrar-se-á numa discussão geral dos dados,
à luz do referencial teórico que norteia o presente trabalho.

5.1. Efeito da prova nas variáveis fisiológicas dos participantes

O objetivo desta investigação centrou-se na compreensão das estratégias visuais


adotadas pelos atletas de trail para recolher e interpretar a informação proveniente do
percurso, num paradigma de experts vs novatos. Adicionalmente, pretendeu-se também
perceber se estas estratégias se modificavam com estados de fadiga, entendida como um
constrangimento, à luz do modelo de constrangimentos de Newell (Abd-Elfattah,
Abdelazeim, & Elshennawy, 2015; Dicks, Button, & Davids, 2010; Klostermann & Küng,
2016; Newell, 1986; Rienhoff et al., 2016). Para provocar este efeito, foi desenhada uma
prova com distância e desnível suficientes para provocar os efeitos pretendidos
(descrita na secção dos métodos), que os atletas tinham de percorrer entre as
avaliações.

87
A velocidade e distância total percorrida na prova foi diferente para os dois
grupos (Tabela 8). A performance está intimamente ligada às capacidades físicas e
fisiológicas dos atletas, assim como a sua capacidade de navegar ao longo de um
percurso em ambiente outdoor, sendo naturalmente compreensível que haja diferenças
ao nível dos ritmos de corrida. É também natural que as distâncias totais percorridas
por cada um tenham ligeiras variações, uma vez que podem optar por caminhos
diferentes dentro do percurso.

No que à distância total percorrida diz respeito, as diferenças patentes na


Tabela 8 devem-se a ligeiros desvios que os atletas fizeram relativamente ao traçado
inicial. Apesar de não terem sido encontrados estudos que avaliassem os desvios totais
dos atletas de trail durante uma prova, pensamos que estes desvios ocorrem
naturalmente durante o decurso das provas em meio natural, por via das características
orográficas do terreno e das opções que o atleta toma em função das mesmas.
Adicionalmente, 2 dos atletas não experts pararam a prova ao final da terceira volta
(sensivelmente aos 19,65 km) por se encontrarem exaustos. Esta ocorrência não colocou
em causa a validade dos dados obtidos, dado que o objetivo principal era a indução de
um estado de fadiga.

Todos os atletas foram instruídos para correr ao nível do seu ritmo competitivo.
O ritmo médio dos participantes foi, portanto, elevado, considerando o intervalo de
temperatura com que correram. Tomando como termo de comparação uma prova de
características similares, que decorreu recentemente na mesma serra – o 9.º Trail Terras
de Sicó 2018, com 25 km de distância e 1080m de desnível positivo acumulado –
verificamos que o ritmo médio dos participantes experts estaria ao nível do Top 10
melhores classificados desta competição, ao passo que o dos não experts estaria dentro
do Top 250 (Run Portugal, 2018).

Esta discrepância de valores era expectável pela definição inicial dos critérios
de inclusão nos grupos. No grupo dos experts, por exemplo, contámos com a colaboração
de um atleta da seleção nacional de trail, tendo os restantes já completado, nesse ano,
diversas provas de trail e ultra-trail (provas de ~100Km). O grupo de não experts contou
com atletas recreativos ou que se tinham iniciado na modalidade recentemente.

88
5.1.1. Massa Corporal

As pesquisas sobre o impacto das provas de corrida na composição corporal


têm sido feitas para várias distâncias, sendo mais frequentes nas provas de ultra
maratona (Casa et al., 2010; Cejka, Knechtle, Rüst, Rosemann, & Lepers, 2015; Hoffman
et al., 2018; Hoffman & Stuempfle, 2014; Knechtle et al., 2011; Regulska-Ilow et al., 2014;
Suarez, Campo, & Gonzalez-Rave, 2011; Tam et al., 2011). A literatura tem reportado um
efeito significativo das provas de endurance nos parâmetros da composição corporal,
facto que é, mais uma vez, comprovado no nosso estudo, tanto nos atletas experts como
não experts (Tabela 4 e Tabela 5).

Foram reportadas variações de 2,4 a 2,8% na massa corporal em atletas que


completaram uma prova de 100km (Chlíbková et al., 2016). Ainda no que se refere a
atletas de ultraendurance, Hoffman e Stuempfle (2014) reportaram perdas de 2% da
massa corporal total nos primeiros 48 km de uma ultramaratona de 161km. Após esta
perda, os participantes dessa prova mantiveram aproximadamente o peso até ao final.
Iguais percentagens de perda foram também encontradas por Tam, Nolte e Noakes
(2011), em corredores de provas de 21,1 km. No mesmo estudo, contudo, os autores
reportaram perdas de 3,7% para uma prova de 56 km de distância. No nosso caso, a
variação dos atletas experts foi de 2,88%, e de 1,98% para os atletas não experts. Importa
considerar que não foi feita qualquer restrição alimentar ou de hidratação, tendo os
participantes consumido água e alimentos ad libitum.

5.1.2. Massa Gorda

Quanto à massa gorda (MG), é de salientar que os valores que encontrámos nos
atletas experts para a %MG são significativamente mais baixos que os valores reportados
na literatura para os corredores de ultaendurance, que reportam valores entre 11 a 17%
(Moon & Kendall, 2017; Wardrop et al., 2017) de massa gorda, ou até relativamente a
atletas participantes em provas de distâncias similares, com valores a rondar os 11%
(Moon & Kendall, 2017; Tam et al., 2011).

89
Pela análise da Tabela 4 e da Tabela 5, tanto os atletas experts como os não
experts mostraram um efeito significativo do exercício na %MG, com variações,
respetivamente, de 1,23%, 1,37%. Apesar de não termos encontrado valores na
literatura para provas similares, os valores reportados na literatura para perdas em
provas equivalentes à maratona variaram entre 0,91% e 1,9 %. (Chlíbková et al., 2018;
Regulska-Ilow et al., 2014)Podemos inferir que os valores encontrados estão em linha
com os de Chlíbková et al. (2018) e Regulska-Ilow et al. (2014).

5.1.3. Água Corporal Total

No que diz respeito à variação da percentagem de água corporal total (TBW),


verificou-se uma variação significativamente positiva no grupo dos experts , apesar da
temperatura que se fez sentir nos dias de prova. Em termos de valores absolutos, a TBW
diminuiu 0,52kg (~1,26%) para os atletas experts, tendo aumentado 0,11kg (~0,24%)
para os não-experts (cf. Tabela 4 e Tabela 5, respetivamente). Estes valores encontram-
se dentro dos valores reportados na literatura para provas de endurance (Chlíbková et
al., 2016; Hue et al., 2014; Lopez et al., 2016; Mrakic-Sposta et al., 2015; Suarez et al.,
2011; Tam et al., 2011).

Um dado relevante é a relação entre a variação da massa corporal e a TBW. Com


efeito, a variação da massa corporal foi superior à da TBW, o que indica que a perda de
água não explica, por si só, toda a massa corporal perdida pelos participantes. Esta
relação foi também encontrada diversos estudos (Baillot, Le Bris, & Hue, 2013; Casa et
al., 2010; Chlíbková et al., 2018, 2016; Lopez et al., 2016; Tam et al., 2011), e questiona a
pertinência da estratégia de manutenção dos estados de hidratação adequada
resumindo-a ao controlo da perda de massa corporal em menos de 2% (Hoffman et al.,
2018).

90
5.1.4. Concentração de lactato

A concentração de lactato sanguíneo variou positiva e significativamente com a


prova (Tabela 4 e Tabela 5). Estes resultados estão em linha com a literatura (Balducci
et al., 2016; Easthope et al., 2014; Ferreira et al., 2016), embora se tenha encontrado
valores ligeiramente superiores.

Ao comparar os grupos, não foram encontradas diferenças significativas entre


grupos em nenhuma das condições (Tabelas 6 e 7), o que indica que, ao nível deste
parâmetro, a prova teve um efeito similar em ambos os grupos. De acrescentar, contudo,
que o grupo dos não experts iniciou a prova com valores médios de lactato inferiores
aos experts, tendo terminado com valores superiores. O resultado foi uma variação
nominal positiva de 8,70 mmol/L, valor superior aos 7,14 mmol/L dos experts.

Uma das limitações desta análise foi o facto de não termos controlado a
atividade dos participantes antes do dia da prova. O regime de treino deste tipo de
atletas envolve sessões diárias na maior parte dos casos, o que poderá ter levado a
valores médios iniciais de lactato superiores aos reportados por Balducci et al. (2016),
por exemplo, que referiu valores na ordem dos 2,0 mmol/L. Não obstante, a prova que
realizaram produziu uma acumulação significativa de lactato em todos os atletas, à
exceção de um participante não-expert (Figura 13).

Neste caso, e à semelhança de outros dois casos de atletas experts que


mostraram uma variação positiva na concentração de lactato, mas inferior a 2 mmol/L,
procedeu-se à repetição da medida logo após comparação dos valores. A razão para se
ter procedido desta forma prendeu-se com a suspeita de eventual contaminação ou
defeito nas tiras do analisador de lactato. Os valores obtidos após a repetição do
procedimento praticamente não se alteraram pelo que nestes casos foi utilizada a média
dos dois valores obtidos.

91
5.1.5. Teste de atenção distribuída

De forma empírica, uma das sensações que os atletas de trail reportam ter após
correrem por várias horas prende-se com o facto de passado algum tempo, “não verem
bem o percurso” e isto os levar ou a reduzir a velocidade ou a tropeçar mais nos
obstáculos. Estudos como o de Malliaropoulos et al. (2015), que se debruçou sobre a
prevalência de lesões em corridas de trail, de Hoffman & Fogard (2011), que procurou
caracterizar os fatores limitadores da performance em ultramaratonas, ou o de Høeg et
al. (2015), que estudou a prevalência de lesões da visão em ultra trail, não procuraram
estabelecer qualquer relação entre esta eventual diminuição da acuidade visual ou
“performance visual” e a prevalência de lesões.

Esta falha na literatura levou-nos a interpretar os relatos empíricos dos atletas


como a eventual instalação de um estado de fadiga mental, que poderia levar a
diminuição da performance cognitiva, à semelhança da influência que a fadiga mental
tem na performance de endurance (Marcora & Staiano, 2010; Marcora, Staiano, &
Manning, 2009; Van Cutsem et al., 2017). Consequentemente, a introdução do teste de
atenção distribuída visava recolher informação sobre as eventuais alterações ao nível da
performance cognitiva, sendo que esperávamos que houvesse manifestação de fadiga.

A opção metodológica pelo teste de atenção visual distribuída da bateria de


testes BAPCON, apesar de não haver pesquisas que o tenham utilizado neste âmbito,
prendeu-se com a rapidez de aplicação da mesma. Considerando que os atletas teriam
ainda de percorrer a pista de testes para a recolha dos dados dos ETG, tomou-se a opção
metodológica de reduzir ao máximo o tempo entre o final da prova de indução de fadiga
e o início do teste na pista. A pesquisa efetuada apontava para testes de duração muito
superior e incompatíveis com a limitação temporal característica deste estudo (Marcora
et al., 2009; Pageaux, 2016; Pageaux & Lepers, 2016; M. R. Smith et al., 2015; Van Cutsem
et al., 2017) e este teste adequava-se ao critério.

Verificou-se não haver diferenças entre, ou dentro, dos grupos de praticantes


para o teste de atenção distribuída (Tabela 9). Há vários fatores que poderão explicar o
sucedido. O teste obrigava a que os participantes ordenassem de forma crescente os
números de 1 a 25, sendo que estes se encontravam dispostos desordenadamente num
quadro projetado no monitor. Contudo, a organização era sempre a mesma, o que pode

92
colocar em questão a validade do teste, uma vez que os resultados podem estar
contaminados pelo efeito da aprendizagem da tarefa. Apesar de os testes pré e pós prova
terem sido feitos com uma diferença de cerca de 2,5 a 3 horas, este efeito não deve ser
desvalorizado.

Por outro lado, a explicação pode também ser de índole fisiológica. Apesar de
não se ter procedido à medição, é conhecido o aumento das concentrações de cortisol e
de catecolaminas provocadas pelos exercícios de endurance (Antunes et al., 2017;
Deneen & Jones, 2017; Hambleton, Deckert, & Gallagher, 2015; Millet, Martin, & Temesi,
2018; Žákovská et al., 2017). Numa meta-análise sobre relação entre os estados de
atenção aumentada por via do exercício e a performance cognitiva, Lambourne e
Tomporowski (2010) sugerem que a fadiga induzida pela corrida diminui ligeiramente a
performance cognitiva durante a prova, mas aumenta-a ligeiramente após. Mais
recentemente, outra meta-análise sugere que o exercício moderado produz melhorias ao
nível da performance cognitiva, nomeadamente ao nível da velocidade da resposta
(McMorris & Hale, 2015). Ao relacionar os níveis de cortisol com o tempo de reação
numa tarefa de busca visual, Bullock e Giesbrecht (Bullock & Giesbrecht, 2014)
encontraram a mesma relação, o que poderá trazer alguma luz para a interpretação dos
nossos resultados.

A análise individual dos tempos médios de execução da tarefa indica que, à


exceção de 4 participantes, houve melhorias após a prova. Contudo, a falta de evidência
estatística e a dimensão da amostra obrigam a cautelas no estabelecimento de uma
relação entre a prova que os atletas realizaram e a sua performance neste teste, e muito
menos na extrapolação dos efeitos agudos do exercício de endurance na performance
cognitiva, sendo necessário aprofundar a investigação para descobrir mais sobre este
tema.

5.1.6. Síntese do impacto da prova de trail nos participantes

As provas de Trail Longo são caracterizadas por apresentarem distâncias muito


variáveis, podendo ir dos 21 aos 42 km. Encontram-se numa zona de transição, onde os
atletas menos experientes se sentem suficientemente desafiados para participar e, por

93
outro, são boas provas para os atletas mais experientes experimentarem ritmos de
corrida mais elevados, enquadrados dentro do seu planeamento de treinos.

Este facto traz uma dificuldade quando se pretende comparar atletas


principiantes com experts, uma vez que a experiência e capacidade que os últimos têm
para lidar com estas distâncias lhes permite adaptar melhor a sua estratégia de corrida à
distância, ao clima que se faz sentir e às características do terreno. Adicionalmente, a
experiência dos atletas experts em distâncias mais longas contribui para esta adaptação,
afetando a perceção que estes têm da dificuldade da prova e encarando a distância
escolhida para a prova como um treino longo. Contrariamente, os atletas não experts não
tinham experiência em provas mais longas, o que poderá levar a que tenham
percecionado a prova como mais exigente.

Apesar destas eventuais diferenças de interpretação, ambos os grupos


reportaram valores elevados na perceção subjetiva de esforço. Foram também
verificados marcadores fisiológicos que indicam que houve fadiga física (lactato), e os
indicadores da composição corporal mostraram que houve efetiva diminuição da massa
corporal e da percentagem de massa gorda.

Relativamente à percentagem de água corporal total, verificámos variações


significativamente positivas para os experts, indicando que houve, durante a prova,
hidratação acima dos valores de repouso. Os atletas não-experts não variaram
significativamente neste parâmetro, indicando que mantiveram os seus níveis de
hidratação. Este dado é importante, uma vez que nos permite excluir os efeitos da
desidratação na visão.

O comportamento dos participantes no teste de atenção distribuída não foi


inicialmente ao encontro do esperado. Contávamos que o cansaço produzido pelo
esforço intenso provocado pela prova indicasse fadiga cognitiva, à semelhança dos das
consequências da fadiga mental na performance, mas isso não se verificou. Não podemos
afirmar, portanto, que houve a instalação de um estado de fadiga mental apenas com
base na indicação subjetiva dos participantes.

Em suma, os resultados indicam que a prova permitiu induzir estados de fadiga


física em ambos os grupos de participantes, sem instalação de situações de desidratação
que afetassem a perceção visual.

94
Com base no exposto, entendemos que se pode afirmar válida a introdução e
consideração do constrangimento “fadiga”, com vista à a análise da sua influência nas
estratégias e nos padrões visuais dos corredores de trail experts e novatos, tal como
preconizado nos objetivos deste trabalho.

5.2. Estratégias de busca visual

Os participantes correram em cima de uma pista com 21 metros de


comprimento, retornando pela esquerda da mesma até ao início, perfazendo um total de
10 voltas. No computo total, correram cerca de 420 metros, 210 dos quais em pista.
Destes, cerca de 150 metros foram corridos em terreno acidentado, com pedras de
diferentes formas e tamanhos, que obrigavam o participante a saltar, pisar ou desviar-se
desses obstáculos. Durante a prova, usaram os ETG, que permitiu perceber
posteriormente, em termos qualitativos, para onde dirigiram o seu olhar.

O dispositivo foi ajustado e calibrado individualmente e nenhum participante


reportou qualquer desconforto quer no uso do mesmo, quer no uso da mochila utilizada
para transportar o smartphone de armazenamento dos dados.

No que diz respeito à análise linear dos resultados obtidos3, era esperado que os
atletas experts apresentassem um maior número, e mais curtas fixações, que os atletas
novatos, em ambas as condições. Adicionalmente, esperava-se que ao comparar o
número e a duração das fixações dos atletas nas duas condições, o estado de fadiga
provocasse uma diminuição significativa de ambas as variáveis, e que a magnitude
destas alterações fosse maior nos atletas novatos.

No que diz respeito às categorias de AOI, era esperado que os atletas experts se
fixassem mais no terreno e menos nas pedras e obstáculos, optando por se focar nas
características do terreno que lhes fossem mais vantajosas, no sentido da manutenção
da economia da corrida, e que esta característica se mantivesse na condição de fadiga.

3
Parte da análise destes dados foi apresentada nos dias 23 e 24 de Agosto, no Scandinavian Workshop of
applied Eye Tracking, em Copenhaga, e publicados: Gomes, R., Coelho-e-Silva, M., Mendes, R., & Dias, G. (2018)
Visual Search Strategies in Expert Vs Non-expert trail runners, Journal of Eye Movement Research, Volume 11,
Issue 5.

95
No que diz respeito às diferenças entre grupos, em termos gerais (Tabela 10), os
experts completaram a tarefa com um menor número de fixações nos AOI que os atletas
não experts, tendo sido encontradas diferenças significativas durante a condição de
repouso. Não foi encontrada na literatura qualquer referência a estudos similares nesta
modalidade, pelo que a análise feita toma como referência os dados de outras
modalidades. Assim, os resultados obtidos vão ao encontro das descobertas feitas por
Mann et al. (2007), Gegenfurtner, Lehtinen e Säljö (2011), Murray e Hunfalvay (2016) e
Decroix et al. (2017), que repararam que os praticantes experts apresentam menos
fixações, mais longas, e com menor variabilidade. Neste estudo, apesar dos tempos totais
de fixação serem similares entre ambos os grupos, os atletas experts apresentam um
menor número de fixações, comportamento similar ao comportamento apresentado por
esquiadores de slalom experientes (Decroix et al., 2017). Na condição de fadiga, não
foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, tendo sido identificado,
contudo, uma tendência para tal.

Estes dados não são consensuais na literatura sobre o tema, dado que outros
estudos, embora centrados em outras modalidades e atividades, têm apresentado
resultados opostos (Li et al., 2014; Pizzera, Möller, & Plessner, 2018; Sheridan &
Reingold, 2014). Por exemplo, ao analisar as estratégias de busca visual de juízes de
ginástica, Pizzera, Möller e Plessner (2018) notaram que os juízes de alto nível tinham
mais fixações nos AOI relevantes, no caso o corpo do ginasta, que os de nível mais baixo.
Já Machado, Cardoso e Teoldo (2017), não encontraram diferenças no número e duração
das fixações entre futebolistas de diferentes escalões etários. Este facto leva-nos a
concordar com Manzanares et al. (2017), que defendem que as estratégias visuais talvez
sejam específicas de cada tarefa, sendo, portanto, possível que ocorram variações em
função da modalidade em estudo.

No que à corrida em geral, e ao trail em particular, diz respeito, não foram


encontradas quaisquer indicações sobre a matéria, o que impossibilita qualquer tipo de
comparação com outros estudos. Reforça, no entanto, a pertinência do aprofundamento
do conhecimento nesta área.

Ao analisarmos os dados de forma linear, torna-se importante tomar em


consideração o fator velocidade de deslocação ao longo do percurso como fator que
pode influenciar tanto o número como o tempo de fixação no percurso. Não foram

96
encontradas quaisquer diferenças significativas entre experts e não experts
relativamente à velocidade a que os atletas corriam no terreno, para a condição de
repouso. Para a condição de fadiga, foram encontradas diferenças, sendo os experts mais
rápidos do que os não-experts. Curiosamente, esta diferença não afetou nem o tempo
nem o número de fixações. Uma análise mais detalhada revela que os atletas não experts
aumentaram o seu número de fixações à medida que a velocidade de deslocamento
diminuía, o que é expectável, uma vez que um ritmo de corrida mais lento permite mais
tempo para fazer a leitura do terreno, dando eventualmente origem tanto ao maior
número de fixações como a fixações mais longas.

Relativamente aos atletas experts, isto não se verificou. Os experts mantiveram o


ritmo e aumentaram o número de fixações, embora sem relevância estatística, e sem
alterações ao nível dos tempos de fixações. O facto de a amostra ser de reduzida
dimensão, pode explicar esta irrelevância estatística. Por outro lado, a explicação pode
residir nas especificações técnicas do software de análise dos movimentos dos olhos.
Para este trabalho, e seguindo as recomendações da literatura da especialidade
(Holmqvist et al., 2015), foram assumidas as especificações do software, onde as
fixações são definidas como tal quando os movimentos dos olhos são de uma duração
superior a 100ms (equivalente a sensivelmente três frames consecutivos). Se o atleta se
fixar por menos tempo no alvo, o movimento é contabilizado como uma sacada.

É possível que os atletas tenham adotado este comportamento na condição de


repouso, indicando uma maior variabilidade no olhar, que se traduz numa prevalência
superior de comportamentos de busca de informação relevante no ambiente.

No que diz respeito à análise categorial de fixações, foram definidas cinco áreas
onde era possível o atleta direcionar o seu olhar (cf. Secção de Métodos). Os resultados
apresentados na Tabela 10 não apresentam qualquer referência ao AOI “START”. Isto
deve-se ao design experimental. Os atletas corriam numa pista linear e a análise iniciava
aquando da entrada destes na pista, o que obrigaria a que, para serem contabilizadas
fixações no AOI “START”, os atletas tivessem que olhar para trás, o que não aconteceu.
As fixações no AOI “OUT” apresentadas são residuais. Estas decorrem, provavelmente,
de elementos distratores que levaram os atletas a olharem pontualmente para fora da
pista.

97
Os resultados presentes na Tabela 10 demonstram que os experts olham em
termos globais menos para o AOI “Ground” do que os não experts, em ambas as
condições de teste. Na condição de fadiga estas diferenças parecem intensificar-se uma
vez que os experts aparentam dirigir o seu olhar mais para o final da pista. Há, portanto,
uma tendência para “olhar para a frente” quando navegamos em terreno instável,
utilizando as “travel fixations” à frente dos obstáculos, deixando para a visão periférica a
análise dos mesmos, tal como reportado por Patla e Vickers (1997), Smid e Den Hodder
(2013), Matthis e Fajen (2014) e Matthis, Yates e Hayhoe (2018). Neste caso, o sistema
visual decide sobre a relevância da mudança do olhar para o obstáculo, para uma análise
mais detalhada.

Ainda sobre este tema, e trazendo para a discussão o papel do “Optic Flow” na
locomoção (Salinas, Wilken, & Dingwell, 2017; t’ Hart & Einhäuser, 2012; Turano et al.,
2005; Wilkie et al., 2008; Zadra & Proffitt, 2016), o facto de os experts dirigirem mais o
seu olhar para o final da pista pode indicar que há uma adaptação favorável, onde a
informação sobre as características do ambiente é percecionada perifericamente, com
base na velocidade de deslocamento dos obstáculos no campo visual, mesmo em terreno
acidentado e onde o risco é consequentemente maior.

No que diz respeito às diferenças dentro dos grupos importa referir que não
houve efeito da fadiga nas estratégias visuais adotadas por ambos os grupos (cf. Com
Tabela 12). Verificou-se, contudo, uma tendência para que os experts exibam menos
fixações no chão (AOI “Ground”), distribuindo-as pelas outras áreas de interesse. Este
comportamento pode ser indicador de um aumento ligeiro da variabilidade dos
movimentos dos olhos, analisável à luz das técnicas não lineares de análise dos
movimentos, assunto que será abordado no ponto seguinte da presente discussão.

A amplitude das sacadas foi também analisada. O intuito principal desta análise
tinha como objetivo perceber o efeito da fadiga neste parâmetro. Foram encontradas
diferenças significativas para os dois grupos de atletas (cf. Com Tabela 14). A literatura
consultada não é bem clara na relação entre a fadiga e a amplitude das sacadas. Shiferaw
et al. (2018), por exemplo, encontrou uma relação positiva entre a fadiga e a amplitude
das sacadas em condutores que tinham sido privados do sono. Um aumento da
amplitude das sacadas é, segundo o autor, indicador de uma maior variabilidade dos
movimentos dos olhos. Di Stasi e colaboradores (2014), ao analisarem a velocidade das

98
sacadas, chegaram a conclusões opostas. No seu estudo sobre o impacto da fadiga na
performance de cirurgiões, as sacadas mais lentas eram típicas de cirurgiões em fadiga.
Diaz-Piedra et al. (2016), chegou às mesmas conclusões quando analisaram os
movimentos sacádicos de pilotos de aviação militar. Contudo, os autores referem no seu
estudo a importância de se aprofundar este tema, uma vez que a literatura é
contraditória.

No nosso entender, o fator quase idiossincrático inerente às estratégias de


busca visual, aliado à especificidade que cada modalidade desportiva tem, pode, tal
como afirma Manzanares et al. (2017) para as fixações, influenciar o efeito destes
constrangimentos também nas sacadas.

5.3. Variabilidade dos padrões de busca visual

A entropia é uma métrica que deriva da teoria da informação e fornece um


enquadramento conceptual que permite descrever matematicamente a complexidade de
sistemas com elevado grau de incerteza. A utilidade desta métrica para a análise da
variabilidade dos padrões de fixação tem sido comprovada em diversas áreas de estudo,
como a avaliação dos padrões de olhar no painel de instrumentos em pilotos de avião
(Allsop & Gray, 2014), nos padrões do olhar durante a condução automóvel (Schieber &
Gilland, 2008; Shiferaw et al., 2018), na avaliação de uma cirurgia (Di Stasi et al., 2016)
ou em tarefas de visionamento de imagens (Krejtz et al., 2015).

No contexto das Ciências do Desporto a pesquisa feita não devolveu qualquer


estudo onde fosse aplicada esta abordagem aos dados. Ainda assim, a complexidade da
busca por informação relevante no ambiente, expressa através dos padrões de fixação,
representa uma medida de avaliação da carga cognitiva de uma determinada tarefa
locomotora, sendo a medida da entropia uma ferramenta importante para quantificar as
alterações por efeito da modificação das condições de prática, como no caso do estudo
do efeito da ansiedade nos padrões de fixações de pilotos de aviões (Allsop & Gray,
2014) , ou as diferenças existentes em grupos diferentes, como no caso do estudo da
entropia das fixações na condução automóvel de Gilland (2008), onde o autor comparou
condutores de duas faixas etárias.

99
A análise feita aos dados provenientes deste estudo assentou em dois
paradigmas: os experts Vs novatos, e a influência do constrangimento fadiga. A
construção das nossas hipóteses de estudo centrou-se fundamentalmente nos resultados
dos trabalhos apresentados no parágrafo anterior. Gilland (2008), posteriormente
comprovado por Schieber & Gilland (2008), não encontraram diferenças nos valores de
entropia nas fixações, entre condutores de duas faixas etárias (condutores novos e
idosos). Contudo, ao colocarem os mesmos condutores em tarefas com maior carga
cognitiva (i.e. numa estrada com maior tráfego), verificaram um decréscimo significativo
da entropia em ambos os grupos, sendo que a magnitude deste decréscimo foi muito
maior no grupo de condutores mais velhos.

Por outro lado, no estudo sobre a ansiedade em pilotos de aviões, Allsop e Gray
(2014) verificaram um comportamento mais randómico dos seus padrões de fixações
quando os pilotos voavam sob condições de ansiedade, algo que também se verificou no
estudo de Di Stasi et al. (2016), onde verificaram que os cirurgiões apresentavam maior
aleatoriedade dos comportamentos visuais quando a dificuldade da cirurgia aumentava.

Era esperado que este estudo produzisse resultados em linha com os dos
estudos de condução automóvel (Gilland, 2008; Schieber & Gilland, 2008; Shiferaw et al.,
2018), onde os padrões de fixação dos atletas fossem menos variáveis na presença da
fadiga, e que os atletas experts apresentassem maior variabilidade que os não experts em
ambas as condições. A análise estatística da variabilidade dos padrões de fixações dos
atletas incidiu sobre dois tipos de entropias: A entropia visual e a entropia de transições
de estado. Se a primeira analisou a distribuição probabilística simples da variação das
fixações, a última centrou-se na análise da probabilidade condicionada de, estando num
determinado ponto, passar para outro.

No caso da entropia visual, a informação proveniente desta métrica permitiu


avaliar o grau de variabilidade de um determinado padrão, considerando os casos onde
se repetiram fixações nos mesmos AOI. Ou seja, os participantes poderão ter tido
fixações consecutivas na mesma categoria de AOI. Neste caso, estas fixações foram
incluídas na determinação do padrão de fixações, ou de busca visual.

Pelo contrário, a entropia de transições de estados não contabiliza as fixações


consecutivas no mesmo AOI, uma vez que o participante mantém o olhar na mesma
categoria de AOI, i.e, não transita de categoria de AOI. Importa então perceber o grau

100
probabilístico de, tendo uma fixação numa determinada categoria de AOI, passar para
outra categoria. Esta métrica permite olhar para os padrões de busca visual de outra
forma, assente na compreensão da sequência de categorias de AOI que cada participante
apresenta. A análise dos dados entre os grupos apenas mostrou evidência estatística que
comprovasse diferenças entre experts e novatos para a entropia visual na condição de
fadiga (cf. Tabela 15). Não obstante, os valores médios das entropias foram sempre
maiores para o grupo dos experts. Era expectável que houvesse evidência estatística
mais robusta para sustentar as hipóteses formuladas. Contudo, os resultados são
similares aos estudos que utilizaram este tipo de abordagem (Schieber & Gilland, 2008;
Shiferaw et al., 2018).

Do mesmo modo, a análise que incide sobre o efeito da fadiga nos valores de
entropia não demonstrou evidências estatísticas. Era expectável que a entropia
diminuísse com a instalação de fadiga, indicador de padrões de busca visual mais
estáveis e previsíveis, mas também indicadores de menor riqueza na busca por
informação relevante no ambiente. A análise dos valores médios de entropia visual
mostra que, para os não-experts, não houve praticamente qualquer variação, ao passo
que os experts sofreram um aumento.

Como vimos anteriormente, a literatura não é consensual no que se refere ao


efeito da fadiga na entropia visual e os resultados apresentados acabam por não tender
para qualquer lado. O número de repetições solicitado poderá não ter produzido séries
temporais suficientemente grandes para que os efeitos se manifestassem.

Há, ainda, uma limitação metodológica que deve ser tida em consideração para a
análise destes resultados. O facto de os participantes percorrerem 10 vezes o mesmo
percurso, e este manter-se igual tanto na condição de repouso como na de fadiga, pode
enviesar os resultados, por efeito da aprendizagem. Jordan e Slater (2009, cit por:
Shiferaw et al., 2018), por exemplo, reportaram uma redução dos valores de entropia
por efeito da familiarização visual com o percurso. Esta familiarização, neste caso,
poderia ter ocorrido tanto durante as 10 voltas, levando a uma redução progressiva dos
valores de entropia em cada volta, como entre as duas vezes que realizaram o teste,
mascarando de certa forma o efeito da fadiga por via da aprendizagem e familiarização
com o percurso. Este efeito de aprendizagem parece não se evidenciar neste estudo, uma

101
vez que os valores de entropia intra-individuais não mostram alterações significativas
quer entre cada volta, quer depois da indução do estado de fadiga física.

Duas explicações concorrem, portanto, para justificar a inexistência do efeito da


fadiga na entropia visual. Numa primeira abordagem, e pegando no exemplo do trabalho
com cirurgiões de Di Stasi et al. (2016), a dificuldade da tarefa poderá ter aumentado
por via da indução do estado de fadiga provocado pela prova, levando a que as fixações
fossem mais randómicas. Neste sentido, a fadiga atuaria de forma divergente: por um
lado, aumentando a variabilidade das fixações por via do aumento da perceção cognitiva
da dificuldade da tarefa e, por outro, diminuindo a entropia visual, uma vez que
fisiologicamente, diminui a velocidade e amplitude das sacadas (Stan et al., 2014) e
produz menos fixações e de maior duração (Decroix et al., 2017; Gegenfurtner et al.,
2011; Mann et al., 2007; Murray & Hunfalvay, 2016). Em última análise, estes efeitos
anular-se-iam.

Contudo, uma outra explicação pode emergir, centrada nos trabalhos sobre o
modelo de aprendizagem diferencial de Schöllhorn (Schöllhorn et al., 2012, 2009).
Entendendo a aprendizagem ou o treino de movimentos como um processo individual e
não linear, variando em função das características do praticante, a apresentação de uma
maior variabilidade de padrões de fixações oculares pode ser entendida como intenções,
por parte do praticante, de busca de informação sobre outras formas de interpretação
do meio envolvente, conferindo-lhe uma maior capacidade de identificação da resposta
que melhor se adequa àquela realidade.

A entropia do olhar, neste contexto, pode ser entendida como positiva, uma vez
que é uma medida do grau de capacidade do praticante em “explorar” o ambiente que o
rodeia no sentido de encontrar a melhor resposta. A variabilidade, neste contexto é
entendida como um indicador positivo de performance (Couceiro et al., 2014; Davids et
al., 2003; van Emmerik et al., 2016). Neste seguimento, o aumento dos valores de
entropia nas fixações dos experts, embora sem significância estatística, pode indicar que
este grupo conseguiu manifestar comportamentos eficientes, mesmo em situação de
fadiga, exibindo desta forma comportamentos visuais exploratórios, em busca das
melhores soluções. Este aumento, estatisticamente insignificante (cf. Com Tabela 15 e
Tabela 16), deve ser analisado com reserva. Conforme se pode verificar através da
análise da Figura 21, o aumento da entropia deveu-se a uma variação positiva muito

102
significativa dos valores individuais para três dos participantes. Neste sentido, a
confirmação da validade destas explicações ainda não é totalmente clara.

Em suma, os movimentos oculares expressam a concretização da intenção de


busca por informação relevante no ambiente. A interpretação das fixações, em termos
qualitativos, quantitativos e na expressão de padrões típicos, dão informação sobre as
características que assumem como mais relevantes para o atleta e são, portanto,
indicadores de um melhor afinamento percetual com as affordances (Fajen et al., 2008;
Oliveira, 2016; Seifert & Davids, 2017).

5.3.1. Entropia dos movimentos sacádicos

Uma outra vertente de análise é sustentada na interpretação da variabilidade


dos movimentos sacádicos dos olhos (Harezlak & Kasprowski, 2018). O olho humano
nunca está completamente imobilizado, sendo que as sacadas representam movimentos
de busca, entre fixações.

A análise dos movimentos sacádicos através da aplicação de técnicas não-


lineares, de acordo com a pesquisa bibliográfica feita, ainda não tinha sido feita em
contextos desportivos. Em outros contextos, contudo, a influência da fadiga nos
movimentos sacádicos foi verificada em cenários de condução automóvel ou em pilotos
militares (Diaz-Piedra et al., 2016) e também em contextos médicos (Di Stasi et al.,
2014), por exemplo. A literatura pesquisada aponta para uma diminuição da velocidade
e da duração das sacadas como resposta a este constrangimento (Connell et al., 2017).
Contrariamente, a análise não linear destes movimentos, feita através do Expoente de
Lyapunov (EL), em participantes sujeitos a tarefas de sobrecarga cognitiva não mostra
diferenças significativas, apontando para valores indicadores de que o sistema
responsável pelo controlo das sacadas se comporta de forma instável (Aştefănoaei,
Creangă, Pretegiani, Optican, & Rufa, 2014).

Os movimentos dos olhos foram registados pelo ETG, tendo estes registado o
posicionamento da pupila em função de um referencial bidimensional, que correspondia
ao campo de visão, traduzindo-se em coordenadas xx e yy. Destas, foram extraídos os
valores de amplitude das sacadas, que se constituem como uma métrica importante para

103
a interpretação dos comportamentos de busca visual. Os valores das coordenadas xx e
yy representam apenas a posição do olhar num referencial virtual, que corresponde ao
ponto de cruzamento do olhar com a imagem do cenário em frente ao participante. Não
estando presente a representação da profundidade, não possível fazer convergir o olhar
com o ponto exato, no ambiente, para onde este está a ser dirigido. Consequentemente, a
amplitude das sacadas (em graus), são métricas mais próprias do movimento humano,
uma vez que refletem a variação da posição do olho, dentro do globo ocular. Ainda
assim, toda a análise feita não considera os movimentos da cabeça, que podem atuar em
compensação a uma variação excessiva, ou reduzida, dos movimentos oculares.

Esta parte do trabalho, portanto, discute os valores da entropia aproximada, da


Sample Entropy, do Expoente de Lyapunov e do expoente de Hurst de ambas as métricas,
com o intuito de clarificar o papel dos movimentos oculares na corrida em terreno
acidentado.

5.3.1.1. Expoente de Lyapunov

A análise dos valores referentes ao Expoente de Lyapunov das sacadas,


expressos quer através das coordenadas quer pela amplitude das sacadas indica que
todos os sujeitos, em todas as condições, convergem para valores ligeiramente acima de
0, tal como no estudo de Aştefănoaei et al. (2014). Estes valores indicam que o sistema
responsável pelos movimentos sacádicos é instável e evolui para uma trajetória de
bifurcação. Esta evolução leva a estados de quase-equilíbrio, onde duas trajetórias de
movimentos podem desenvolver-se com probabilidades semelhantes. Por sua vez, cada
uma destas trajetórias poderá levar ao surgimento de novos estados de quase-equilíbrio,
e assim sucessivamente.

Experts e novatos mostraram diferenças ao nível da estabilidade dos


movimentos dos olhos, sendo que os não-experts apresentam valores inferiores do
Expoente de Lyapunov do que os experts tanto no eixo dos xx como dos yy, na condição
de Repouso e Fadiga, (Tabela 17 e Tabela 18). No que diz respeito ao Expoente de
Lyapunov referente à amplitude das sacadas, não foram encontradas diferenças. A opção
por padrões de busca visual mais estáveis e previsíveis pelos não-experts mostra
diferenças entre grupos na dificuldade da tarefa. Harezlak & Kasprowski (2018),

104
demonstraram a relação entre as suas estratégias são mais conservadoras, e este
conservadorismo mantém-se em ambas as condições de teste.

Por oposição, uma maior imprevisibilidade dos movimentos sacádicos pode


indicar que a busca por informação no meio ambiente é mais ativa, não se cingindo a
rotinas pré-determinadas e, consequentemente, aumentando a quantidade de
informação que conseguem retirar do meio envolvente. Esta interpretação é reforçada
com a informação proveniente da análise individual da variação dos valores do Expoente
de Lyapunov, onde se verifica o efeito “estabilizador” da fadiga para ambos os grupos
estudados (Tabela 19 e Tabela 20). A diminuição significativa dos valores do Expoente
de Lyapunov das coordenadas xx e yy na condição de fadiga indica que os participantes,
nesta condição, optaram por uma estratégia mais conservadora de busca por informação
no meio ambiente.

Era esperado que o Expoente de Lyapunov mostrasse a presença de diferenças


que comprovassem tanto a influência da fadiga na variabilidade dos movimentos dos
olhos, como as diferenças entre experts e não-experts na variabilidade destes padrões. A
análise global sobre a estabilidade da posição dos olhos durante o percurso permitiu
verificar parcialmente esta suposição, uma vez que não foram encontradas diferenças
nos valores de Expoente de Lyapunov para a amplitude das sacadas, não obstante a
tendência apresentada pelos valores médios se manter. Apesar destes valores indicarem
a presença de um sistema instável, mas não aleatório, em ambos os grupos, os experts
apresentam valores superiores.

No que diz respeito à fadiga, verifica-se também que o Expoente de Lyapunov é


maior quando os atletas estão descansados, ou seja, a experiência e a ausência fadiga
causam um aumento do grau de caoticidade no sistema visual – mas não de
aleatoriedade, expresso através de valores superiores desta medida. Isto indica que o
sistema é capaz de se movimentar no sentido de percorrer mais espaço visual (i.e., mais
movimentos dos olhos) e afastando-se de uma tendência de convergência das sacadas
numa determinada zona do olhar.

105
5.3.1.2. Análise da Entropia

Relativamente à comparação entre grupos dos valores da “Sample Entropy”,


apenas se verificaram diferenças significativas para o eixo dos xx, na condição
“Repouso”, ou seja, os movimentos dos olhos dos atletas experts foram
significativamente mais variáveis do que os dos não-experts neste eixo (Tabela 17 e
Tabela 18). Relativamente à Sample Entropy da amplitude das sacadas, não foram
encontradas diferenças, embora os valores médios dos experts sejam superiores aos dos
não experts.

No que diz respeito à análise intra-grupos, verificou-se o efeito da fadiga na


variabilidade dos movimentos dos olhos apenas para os atletas experts (Tabela 19), não
se tendo comprovado evidência estatística para a amplitude das sacadas. A redução
significativa dos valores da Sample Entropy, em ambos os eixos, vai ao encontro do
observado com o Expoente de Lyapunov, comprovando uma redução significativa da
variabilidade e previsibilidade dos movimentos dos olhos com uma consequente
redução daquilo que é passível de ser percebido pelos atletas.

Não há, na literatura, muitos estudos que se debrucem sobre a entropia nos
movimentos sacádicos. É uma metodologia recente carecendo de mais estudos que
confirmem a sua validade (Harezlak & Kasprowski, 2018; Zargari Marandi et al., 2018).
Não obstante, tanto os valores entre grupos como os valores intra-grupos confirmam as
nossas hipóteses, demonstrando que a fadiga afeta variabilidade e previsibilidade dos
movimentos sacádicos, condicionando, desta forma, o modo como o ambiente é
percecionado.

Há, contudo, uma limitação metodológica importante e que pode condicionar a


interpretação dos resultados. Os dados provenientes de séries temporais sofrem
influência do ruído do sinal. O alisamento de dados, no sentido de “afinar” o sinal, faz
variar os resultados da entropia, ampliando as diferenças (Harezlak & Kasprowski,
2018). Contudo, não se realizou este procedimento, mantendo os dados conforme
vieram dos ETG.

Em suma, os atletas experts adotaram comportamentos sacádicos mais


imprevisíveis e variáveis, sendo estes afetados pela indução de estados de fadiga. Os
relatos empíricos dos atletas referem que, no final das provas ou quando se sentem

106
cansados, “não veem nada do percurso”. Estes relatos podem encontrar explicação na
diminuição dos valores de entropia dos movimentos sacádicos por efeito da fadiga, que
limitam a capacidade que o sistema visual tem para transmitir informação que possa ser
utilizada posteriormente, no processo percetivo-motor. Nesta linha, a perceção é
limitada à partida pela capacidade do sistema em recolher informação.

5.3.1.3. Expoente de Hurst

O Expoente de Hurst é uma medida das correlações numa série temporal, que
permite estudar a auto-similaridade de uma série temporal e o rácio a que estas
autocorrelações diminuem à medida que a distância entre dois pontos dessa mesma
série aumenta. Se a complexidade da tarefa for maior, espera-se que os valores deste
indicador aumentem concomitantemente.

Valores superiores do Expoente de Hurst indicam que a tarefa é mais complexa.


Isto foi comprovado no estudo de Aştefănoaei et al (2014). Neste caso, os participantes
foram sujeitos a duas condições de teste. Numa primeira, era-lhes solicitado que
olhassem para um alvo assim que o mesmo aparecesse no ecrã. Na segunda condição,
tinham de pressionar um botão no fim de olhar para o alvo. Foi encontrada relação entre
o aumento dos valores do Expoente de Hurst e as exigências cognitivas da tarefa,
indicando que o aumento da carga cognitiva de uma tarefa pode gerar um grau de
complexidade maior ao nível das sacadas.

Na comparação intra-grupos, não foram encontradas diferenças


estatisticamente significativas que comprovassem o efeito da fadiga. Contudo, os valores
relativamente ao Expoente de Hurst mostraram diferenças significativas entre experts e
não-experts, na condição de repouso. Na condição de fadiga, embora a tendência para a
apresentação de valores superiores por parte dos não-experts se mantivesse, não houve
diferença significativa. Esperava-se que, com a fadiga, se verificasse um aumento do
valor desta métrica, uma vez que a fadiga aumenta a perceção cognitiva da dificuldade
de uma tarefa.

Em suma, a comparação dos valores da análise não linear dos movimentos dos
olhos durante a corrida mostrou que, apesar da expectativa de uma maior expressão das

107
diferenças, os atletas experts e não experts apresentam padrões diferentes e que a
fadiga afeta a manifestação desses padrões. No geral, os atletas experts apresentam um
comportamento dos movimentos dos olhos mais variável que os não-expert, e esta
variabilidade diminui com a performance e condições de fadiga.

5.4. Discussão geral

O objetivo principal deste trabalho era verificar se as estratégias e padrões


visuais dos corredores de trail são afetados pela fadiga e pela experiência, ou seja, se a
informação relevante retirada do meio ambiente durante a corrida de trail é afetada por
estes constrangimentos individuais, confirmando assim uma eventual interação
dinâmica entre o praticante, o envolvimento e a tarefa.

Os estudos que visam encontrar em atletas experientes gestos ideais são


entendidos como importantes para a compreensão dos parâmetros de desempenho
ideais, no sentido de se encontrar um modelo de referência para a tarefa em questão.

De uma forma geral, os resultados obtidos no presente estudo mostraram que


as estratégias e os padrões de busca visual, i.e., a informação percebida e retirada do
contexto ambiental durante a corrida de trail, varia em função do nível de experiência
dos atletas. Estas diferenças manifestam-se tanto na análise qualitativa, expressa no
número e tipo de fixações e quantitativa, expressa na definição dos padrões e estratégias
de busca visual. Os experts apresentaram um menor número total de fixações nos AOI,
tal como em estudos semelhantes, embora referentes a outras atividades (Decroix et al.,
2017; Gegenfurtner et al., 2011; Mann et al., 2007; Murray & Hunfalvay, 2016). Contudo,
ao contrário dos estudos supracitados, não se verificaram diferenças no tempo de
fixações. A variabilidade dos padrões visuais, expressa nos valores de entropia visual,
foi também maior.

O facto de os praticantes terem apresentado um menor número de fixações


pode ser explicado pelo facto de a prática continuada levar a um refinamento do
comportamento visual, levando a que os praticantes saibam melhor quais as áreas
relevantes e quando é que estas assumem importância (Derek Panchuk & Vickers,
2013). Por outro lado, a experiência leva a uma modificação na forma como os sujeitos

108
se baseiam em diferentes formas de feedback sensorial, fazendo com que estes confiem
mais na informação cinestésica do que na expropriocetiva para planear a sua ação
(Oliveira, 2016).

Isto explica a razão pela qual os experts necessitam de menos informação visual
para a mesma ação. Contudo, isto não significa que não seja necessária informação visual
sobre o percurso, ou que esta assuma um papel secundário. Manzanares et al. (2017) e
Decroix (2017), por exemplo, defendem a possibilidade de os praticantes de vela e ski,
respetivamente, utilizarem a visão periférica para controlar o percurso, mantendo a
visão central na linha de direção a tomar.

No contexto da corrida em terreno acidentado, contudo, o problema do


praticante não passa apenas por controlar o seu trajeto. O praticante tem de controlar o
posicionamento preciso do pé e planear a próxima passada, ao mesmo tempo que tem
de se deslocar de forma economicamente eficiente, obrigando a que, em certos casos, os
padrões de marcha se alterem em função do terreno (Matthis et al., 2018). A capacidade
de detetar e de tratar informação relevante no campo visual mais rapidamente do que os
novatos traduz-se numa vantagem para os experts (Oliveira, 2016), uma vez que lhes dá
tempo para alterar o posicionamento dos pés em conformidade.

É da conjugação destas características que emerge a capacidade dos experts em


lidar com o terreno acidentado de forma mais eficiente do que os não-experts. No âmbito
da corrente ecológica dinâmica, onde a informação relevante para a regulação da ação
em ambientes dinâmicos emerge continuamente das interações entre o ambiente e o
sujeito (Davids et al., 2013), os padrões visuais emergem da relação do sujeito com o
ambiente, estando intimamente ligadas à interpretação que o primeiro faz deste. Assim,
um menor número de fixações no terreno não é necessariamente sinónimo de pior
performance. Antes, é um indicador de capacidade do sistema em recolher mais
informação do contexto com menos recursos, que se confirma através dos valores
superiores de entropia visual. Um menor número de fixações e uma variabilidade maior
de fixações indica que o sistema recolhe mais informação do ambiente, já que precisa de
menos tempo para recolher a informação necessária para lidar com o obstáculo,
libertando o olhar para a busca por mais características do ambiente relevantes para a
performance.

109
Outro dos objetivos do presente estudo centrava-se no estudo da influência da
fadiga nos padrões de busca visual na corrida de trail. Parte fulcral do trabalho passava
por criar condições de instalação de fadiga nos praticantes. A literatura consultada
mostrou as especificidades da corrida de trail devem ser tidas em consideração na
avaliação das capacidades fisiológicas destes praticantes (Balducci et al., 2016; Easthope
et al., 2014; Ehrström et al., 2018; Giandolini et al., 2016; Mrakic-Sposta et al., 2015;
Saboul, Balducci, Millet, Pialoux, & Hautier, 2016; Scheer et al., 2018). Estas
considerações levaram a que nos afastássemos dos modelos mais tradicionais de
indução de fadiga (em laboratório, numa esteira rolante) e criar um protocolo de teste
onde esta fosse feita em contexto natural, conferindo desta forma alguma validade
ecológica ao processo. Consideramos que este objetivo foi alcançado, já que a rota
escolhida é parte integrante de um conjunto de trilhos utilizados para a prática desta
modalidade, embora com um perfil de altimetria reduzido, principalmente para os
atletas experientes.

A fadiga foi avaliada com base em critérios fisiológicos e cognitivos. As


alterações ao nível da composição corporal, nomeadamente ao nível da quantidade de
água corporal total, permitiram assegurar a ausência de instalação estados de
desidratação ou hiponatremia, que poderiam interferir na associação das variáveis. Os
valores da concentração sanguínea de lactato mostraram um impacto fisiológico
significativo da prova nos participantes, facto que é comprovado pelos valores
reportados referentes à perceção subjetiva de esforço. Adicionalmente, a análise dos
dados referente à amplitude das sacadas confirma que os atletas se apresentavam num
estado de fadiga, uma vez que a amplitude das sacadas aumentou significativamente
depois da prova. Este aumento era expectável e é inclusivamente entendida como um
indicador de fadiga, tendo já sido descrita em estudos onde se analisa a amplitude e
velocidade das sacadas em tarefas de apontar (Yang et al., 2018), de condução
automóvel (Shiferaw et al., 2018; Zhang, Wang, & Fu, 2014) com pilotos de aviação
militar (Diaz-Piedra et al., 2016), cirurgiões (Di Stasi et al., 2014, 2016) e em estudos
sobre o efeito do consumo de cafeína, dopamina e norepinefrina (Connell et al., 2016,
2017), pelo que consideramos que houve efetivamente a instalação de um estado de
fadiga em ambos os grupos.

110
No âmbito do modelo dos constrangimentos de Newell (1986), a fadiga pode ser
entendida como um constrangimento individual, que condiciona a manifestação de um
determinado comportamento. Há, em fadiga, diminuição efetiva da performance física
(Smith et al., 2015; Van Cutsem et al., 2017). Neste contexto, era expectável que este
constrangimento obrigasse a uma modificação nas estratégias e nos padrões de busca
visual.

Não é seguro afirmar, no entanto, que a fadiga influenciou a estratégia e os


padrões de busca visual dos atletas que participaram no presente estudo. A análise dos
dados referentes a este indicador mostrou um ligeiro efeito, não sendo suficientemente
robusto para comprovar esta afirmação. Os valores da análise linear não mostraram o
efeito da fadiga quer ao nível do número, do tempo ou do tipo de fixações nos AOI, o que
vai ao encontro com o estudo de Smith et al. (2016), que não encontrou diferenças
significativas entre as estratégias de busca visual de futebolistas mentalmente fatigados,
comparado com os seus valores de repouso.

Na análise não linear dos dados esta interpretação é comprovada pela análise da
entropia visual, que não sofreu quaisquer alterações para nenhum dos grupos em
estudo, o que contraria as nossas hipóteses e o reportado em Shiferaw et al. (2018), no
seu estudo com condutores em privação de sono. Foram encontradas, contudo,
diferenças que mostraram algum efeito da fadiga nos padrões de busca visual tanto nos
experts como nos não-experts através da entropia aproximada, da Sample Entropy e do
expoente de Lyapunov. No entanto, estes valores não parecem ser robustos o suficiente
para contrariar a nossa conclusão. São sim, indicadores que estas métricas estabelecem
relações entre si que não são ainda claras.

Em suma, os padrões e estratégias visuais dos experts são diferentes dos não
experts, sendo que estas diferenças se acentuam quando os atletas se encontram em
situação de repouso. A instalação da fadiga não produz alterações significativas na
estratégia de busca visual de experts e de não experts. Contudo, as ligeiras mudanças que
ocorrem nas estratégias de busca visual fruto da fadiga são suficientes para esbater as
diferenças entre grupos nesta condição.

111
5.5. Aplicações práticas

Perceber melhor o processo de perceção-ação nos atletas experts permite


delinear estratégias para que se consiga chegar mais depressa ao nível deles. O
conhecimento da forma como estes atletas “leem” o terreno, permite fornecer
informação mais precisa sobre a forma como os praticantes se devem comportar em
prova, para onde olhar para melhor retirar informação do ambiente, no sentido de
serem mais capazes de planear a sua corrida em terreno acidentado e melhorar a
eficiência deste gesto locomotor.

112
CAPÍTULO VI

CONCLUSÕES

Considerando a questão fundadora e os objetivos delineados para esta


investigação e as hipóteses de estudo, conclui-se o seguinte:

Hipótese 1: “Os praticantes de corrida de trail experientes apresentam menos


fixações e de maior duração do que os praticantes não experientes”;

Esta hipótese confirmou-se parcialmente.

Com base nos resultados, foram encontradas algumas diferenças entre experts e
novatos em termos qualitativos, expresso na diferença do número e tipo de fixações
efetuadas nos AOI selecionados. Os atletas experts apresentam menor número de
fixações totais que os não experts. Contudo, a duração das fixações não apresenta
diferenças.

Hipótese 2: “As estratégias de busca visual dos praticantes experts são diferentes
das dos não experts”;

Esta hipótese verificou-se parcialmente.

Foram encontradas diferenças nos locais para onde experts e não experts
olham. Os atletas não experts olham mais vezes para o terreno, mantendo o mesmo
número de fixações nas pedras, o que indica que o olhar nos obstáculos, ou pontos
fundamentais para a manutenção da fluidez da corrida são invariáveis e as fixações
adicionais refletem estratégias exploratórias do sistema visual, de captação de
informação do ambiente.

Hipótese 3: “Os praticantes de corrida de trail experientes apresentam mais


variabilidade nos padrões de movimentos dos olhos do que os não experts”;

Esta hipótese foi confirmada.

113
A análise não linear aos movimentos sacádicos comprovou que os experts
apresentam uma maior variabilidade de movimentos dos olhos do que os não experts.
Estas encontram-se expressas em valores significativamente superiores para a Sample
Entropy nos eixos xx e yy na condição de repouso, assim como valores superiores do
Expoente de Lyapunov para os eixos xx e yy em ambas as condições de teste.

Hipótese 4: “Os praticantes de corrida de trail experientes apresentam mais


variabilidade nos padrões de fixações nas AOI do que os não experts”

Esta hipótese não foi confirmada. Apesar de todos os valores de entropia visual
e da entropia de transições de estado serem superiores nos participantes experts foram
apenas encontradas diferenças na condição de fadiga. Estes valores não nos permitem
afirmar que há diferenças. Contudo, parece-nos haver uma tendência clara, que deve ser
investigada.

Hipótese 5: “A instalação de um estado de fadiga provocado pela corrida de trail


leva a uma diminuição do número de fixações e ao aumento dos tempos de fixação”;

Contrariamente ao que esperávamos, não foi verificado o efeito da fadiga no


número e tempo total de fixações tanto no grupo dos experts como no grupo dos não
experts.

Hipótese 6: “A fadiga provocada pela corrida de trail provoca uma diminuição da


variabilidade dos padrões de busca visual”.

Esta hipótese foi confirmada, tendo-se verificado um efeito significativo da


fadiga na amplitude das sacadas, em ambos os grupos. Este efeito foi posteriormente
confirmado através da análise não linear da variabilidade destes movimentos,
particularmente para os atletas não experts, onde apresentaram valores
significativamente superiores na condição de repouso.

Em síntese, e baseado nos resultados obtidos parece-nos haver diferenças na


forma como os experts buscam informação visual durante a corrida de trail, ou em

114
terreno acidentado, sendo que estas diferenças se acentuam quando os atletas estão
descansados. Os atletas experts apresentam menos fixações nos AOI, mas de mesma
duração, o que lhes permite apresentar uma variabilidade dos padrões de movimentos
sacádicos, i.e., de busca de informação no meio ambiente, maiores que os não experts. A
fadiga não produz alterações significativas na estratégia de busca visual de experts e de
não experts. Contudo, as ligeiras mudanças que ocorrem nas estratégias de busca visual
fruto da fadiga são suficientes para esbater as diferenças entre grupos nesta condição.

6.1. Limitações

Esta pesquisa teve algumas limitações, das quais destacamos:

Para ter um melhor controlo sobre algumas variáveis que pudessem afetar o
processo de recolha de dados com os ETG, a pista foi construída dentro de um pavilhão.
Isto levou a limitações no que ao comprimento total da pista diz respeito, o que limitou,
eventualmente, a quantidade de dados recolhidos por cada volta. Esta limitação levou a
que, embora desta forma tivéssemos aumentado a quantidade de amostras válidas,
perdêssemos alguma validade ecológica.

A opção pela escolha de um teste de avaliação da fadiga mental não validado,


limitou a sua capacidade de avaliação. Os testes validados encontrados na literatura
tinham uma duração demasiado longa, incompatível com o objetivo do presente estudo
(Marcora et al., 2009; Smith et al., 2015; Van Cutsem et al., 2017). Esta escolha foi
ponderada em virtude da necessidade de termos um teste rápido, que não permitisse
que os participantes recuperassem da prova. O facto de ter um indicador fisiológico da
carga cognitiva da tarefa, i.e., a amplitude das sacadas, permitiu, de certa forma,
compensar esta falha.

A atividade dos participantes nos dias anteriores à prova de indução de fadiga e


aos testes não foi controlada. Este facto poderá ter influenciado a velocidade e grau de
instalação da fadiga durante a nossa prova, pelo que estudos futuros deverão controlar a
atividade dos participantes nos dias anteriores à prova.

Tanto quanto sabemos, este é o primeiro estudo deste tipo feito em corredores
de trail. As características deste desporto tornam difícil a organização de um design

115
experimental que conseguisse provocar estados de fadiga acentuada, em contextos
experimentais, a atletas de níveis de performance diferentes, uma vez que os atletas
experts apresentam uma capacidade notável de resistência. Encontrar uma distância
que fosse exequível para ambos os grupos e que induzisse fadiga não foi fácil. Apesar de
os indicadores de fadiga terem sido positivos, inclusivamente através dos valores da
amplitude das sacadas, pensamos que os experts poderiam ter corrido uma distância
maior, no sentido de aumentar os seus índices de fadiga.

6.2. Recomendações

Face ao estudo em análise, apresentam-se um conjunto de recomendações de


estudos a ser desenvolvidos no sentido do aprofundamento da temática em questão:

A aplicação deste estudo em contextos de corrida de trail naturais permitiria


compreender melhor as estratégias visuais utilizadas. Esta opção obrigaria a que fossem
encontradas soluções que maximizassem o sucesso das recolhas, uma vez que situações
de muita luminosidade, por exemplo, podem causar reflexos indesejados que diminuem
a qualidade dos dados recolhidos. Num estudo muito recente (Matthis et al., 2018), a
cabeça de um participante foi coberta, para assegurar as condições de luminosidade
ideais para que os ETG pudessem funcionar corretamente. Pensamos que uma solução
similar talvez se pudesse aplicar ao contexto da corrida de trail. Contudo, esta solução
apresenta risco acrescido para a integridade dos participantes e do material de recolha
de dados, uma vez que os participantes não têm visão completa do ambiente e o risco de
queda ou acidente poderá aumentar.

Em estudos deste âmbito, um controlo mais efetivo da atividade dos atletas nos
dias anteriores aos dias do teste permitirão ter um maior controlo dos níveis de carga de
treino com que iniciam os testes, permitindo compreender melhor o impacto de provas
deste género nos parâmetros de composição corporal, particularmente ao nível da
acumulação de lactato.

Considerando a inexistência de estudos que avaliem o estado de fadiga mental


durante a corrida de trail e a sua influência na performance, ou nos padrões de busca

116
visual, consideramos relevante a realização de estudos de validação de um protocolo
que avalie de forma rápida esta parâmetro.

O presente estudo centrou-se nos movimentos dos olhos, como parte integrante
de um conjunto de recetores de informação sobre o ambiente. Neste contexto ecológico-
dinâmico, pensamos que seria importante incluir em estudos futuros as variáveis
cinemáticas da corrida para um melhor entendimento da relação entre a variabilidade
dos padrões de visão e dos padrões de corrida, o que traria mais informação sobre a
compreensão da relação entre a necessidade de estabilidade durante a corrida e a sua
eficiência, bem como o papel da visão na “leitura” do terreno.

Finalmente, o cariz original deste estudo levanta oportunidades para o


desenvolvimento de estudos similares, com amostras maiores ou de faixas etárias
diferentes, que permitam a construção de um corpo de conhecimento mais sólido sobre
o tema.

117
118
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146
APÊNDICE 1

Declaração de consentimento Informado

147
148
CONSENTIMENTO INFORMADO, ESCLARECIDO E LIVRE PARA PARTICIPAÇÃO EM
ESTUDOS DE INVESTIGAÇÃO (de acordo com a Declaração de Helsínquia e a
Convenção de Oviedo)

Visão e Controlo motor: Influência da Visão no Controlo da Corrida


de Trail

Este estudo realiza-se no âmbito dos trabalhos de Doutoramento em Ciências do Desporto – Ramo
de Treino Desportivo. Tem como objetivo compreender melhor os padrões de locomoção em terreno
acidentado e analisar a relação entre a perceção/leitura do terreno e as adaptações da corrida ao
terreno.

São recolhidas as seguintes medidas: peso, Frequência cardíaca de repouso, concentração de lactato
e tempos obtido num teste de atenção distribuída. Será ainda pedido ao participante que responda a
um questionário sobre o nível de humor. Em seguida, os participantes irão correr num percurso
plano e acidentado, com e sem fadiga, onde serão recolhidas métricas referentes ao padrão de olhar
e ao padrão de corrida dos sujeitos-

O protocolo de indução de fadiga consiste numa corrida de trail, em percurso previamente


delineado. O percurso é circular, na zona de Anços – vale do Poio, com uma extensão de cerca de
6500m e um desnível positivo acumulado de cerca de 215 metros. A prova consiste em repetir este
percurso 4 vezes, perfazendo um total de cerca de 26km e um desnível positivo acumulado de 860
metros, equivalente a uma prova de trail de grau de dificuldade 1 (rácio 2,8). A duração prevista do
teste é de cerca de 3h00 min e decorre em Anços, Redinha – Pombal.

É garantida a confidencialidade e uso exclusivo dos dados recolhidos para o presente estudo, sendo
os mesmos anónimos. Por favor, leia com atenção a seguinte informação. Se achar que algo está
incorreto ou que não está claro, não hesite em solicitar mais informações via email:
rimgomes@gmail.com ou através do 912528493. Se concorda com a proposta que lhe foi feita,
queira assinar este documento.

Coimbra, 21 de julho de 2017

O investigador principal, _________________________

Ricardo Gomes

149
Declaro ter lido e compreendido este documento, bem como as informações verbais que me foram
fornecidas pela/s pessoa/s que acima assina/m. Foi-me garantida a possibilidade de, em qualquer
altura, recusar participar neste estudo sem qualquer tipo de consequências. Desta forma, aceito
participar neste estudo e permito a utilização dos dados que de forma voluntária forneço, confiando
em que apenas serão utilizados para esta investigação e nas garantias de confidencialidade e
anonimato que me são dadas pelo/a investigador/a.

Nome: … … … … … … … …... … … … …... … … … … … … … … … … … …


Assinatura:… … … … … … … …... … … … … ... … … … … … … … … Data: …… /…… /………..

SE NÃO FOR O PRÓPRIO A ASSINAR POR IDADE OU INCAPACIDADE


(se o menor tiver discernimento deve também assinar em cima, se consentir)
NOME: … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … …
BI/CC N.º: ........................................... DATA OU VALIDADE ….. /..… /….....
GRAU DE PARENTESCO OU TIPO DE REPRESENTAÇÃO: .....................................................
ASSINATURA … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … …
ESTE DOCUMENTO É COMPOSTO DE 2 PÁGINA /S E FEITO EM DUPLICADO : UMA VIA PARA O /A
INVESTIGADOR /A , OUTRA PARA A PESSOA QUE CONSENTE

150
APÊNDICE 2

Heat Maps referentes aos movimentos sacádicos dos participantes no espaço


visual

151
152
Participante nº1 – Não expert: Padrões de distribuição dos movimentos sacádicos em
repouso e em fadiga

153
Participante nº2 – Não expert: Padrões de distribuição dos movimentos sacádicos em
repouso e em fadiga

154
Participante nº3 – Não expert: Padrões de distribuição dos movimentos sacádicos em
repouso e em fadiga

155
Participante nº4 – Não expert: Padrões de distribuição dos movimentos sacádicos em
repouso e em fadiga

156
Participante nº6 – Não expert: Padrões de distribuição dos movimentos sacádicos em
repouso e em fadiga

157
Participante nº7 – Não expert: Padrões de distribuição dos movimentos sacádicos em
repouso e em fadiga

158
Participante nº8 – Expert: Padrões de distribuição dos movimentos sacádicos em
repouso e em fadiga

159
Participante nº9 – Expert: Padrões de distribuição dos movimentos sacádicos em
repouso e em fadiga

160
Participante nº10 – Expert: Padrões de distribuição dos movimentos sacádicos em
repouso e em fadiga

161
Participante nº11 – Expert: Padrões de distribuição dos movimentos sacádicos em
repouso e em fadiga

162
Participante nº12 – Expert: Padrões de distribuição dos movimentos sacádicos em
repouso e em fadiga

163
Participante nº13 – Expert: Padrões de distribuição dos movimentos sacádicos em
repouso e em fadiga

164
Participante nº15 – Expert: Padrões de distribuição dos movimentos sacádicos em
repouso e em fadiga

165

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